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Fernando Campos Scaff Fernando Campos Scaff Fernando Campos Scaff Fernando Campos Scaff Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo AS PATENTES VEGETAIS E AS CULTIVARES - Questão da importância da biotecnologia - Justificativa para a criação de novas espécies vegetais e animais que comprovadamente possam alcançar o ponto de serem disponibilizadas ao consumo mediante a utilização de técnicas de cultivo e de criação, em comparação com aquelas tradicionais, que se mostrem menos agressivas em relação ao meio ambiente, na medida em que se acomodem a uma utilização reduzida de defensivos agrícolas, de água ou que não exijam o uso de grandes extensões de terras aráveis, por exemplo. A invenção, portanto, é também objeto de estudo e de normatização no ambiente do Direito Agrário, que constrói figuras típicas geradoras de direitos e faculdades àquele que é reconhecido como o inventor, dentre as quais, inclusive, aquela que lhe garante a prerrogativa de manter secreta a sua criação. A evolução história - Ano 1400 na República de Veneza: edição formal de uma primeira lei que regulava a concessão de monopólios de exploração, pelo prazo de dez anos, a todo inventor de um nuovo ed ingegnoso artifício. - Ano 1614 na Inglaterra no chamado Statute of Monopolies e em 1641 nos Estados Unidos da América. - Especificamente sobre patentes: o Patent Act norte-americano de 1790, seguido pela regulamentação ocorrida na França em 1791 e pela lei alemã de 1877. - Nos Estados Unidos da América: 1890, a partir do interesse dos agricultores em proteger novas espécies de frutas por eles inventadas mediante o uso de técnicas tradicionais de cultivo, o Patent Office passou a concordar com a outorga de uma patente para suas plantas, valendo-se, pois, dos mesmos critérios utilizados para expedição de patentes de inventos em geral. - Ano de 1980 - a Corte Suprema norte-americana decidiu reconhecer o direito de um cientista de patentear uma cepa particular de bactérias Pseudomonas, para auxiliar nos trabalhos de despoluição das águas marítimas em situações de vazamento de petróleo. Considerou-se que a linha de demarcação entre o patenteável e o não-patenteável não estava colocada nos limites entre seres viventes e não-viventes. - As patentes vegetais - Requisitos para a concessão de patente sobre uma invenção: aplicação industrial, novidade, e atividade inventiva.

DCV0513 - Direito Agrário - Prof Scaff - T182 - 2013 (2a Prova) (1)

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Caderno de Direito Agrário

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    AS PATENTES VEGETAIS E AS CULTIVARES

    - Questo da importncia da biotecnologia

    - Justificativa para a criao de novas espcies vegetais e animais que comprovadamente possam alcanar o ponto de serem disponibilizadas ao consumo mediante a utilizao de tcnicas de cultivo e de criao, em comparao com aquelas tradicionais, que se mostrem menos agressivas em relao ao meio ambiente, na medida em que se acomodem a uma utilizao reduzida de defensivos agrcolas, de gua ou que no exijam o uso de grandes extenses de terras arveis, por exemplo.

    A inveno, portanto, tambm objeto de estudo e de normatizao no ambiente do Direito Agrrio, que constri figuras tpicas geradoras de direitos e faculdades quele que reconhecido como o inventor, dentre as quais, inclusive, aquela que lhe garante a prerrogativa de manter secreta a sua criao.

    A evoluo histria

    - Ano 1400 na Repblica de Veneza: edio formal de uma primeira lei que regulava a concesso de monoplios de explorao, pelo prazo de dez anos, a todo inventor de um nuovo ed ingegnoso artifcio.

    - Ano 1614 na Inglaterra no chamado Statute of Monopolies e em 1641 nos Estados Unidos da Amrica.

    - Especificamente sobre patentes: o Patent Act norte-americano de 1790, seguido pela regulamentao ocorrida na Frana em 1791 e pela lei alem de 1877.

    - Nos Estados Unidos da Amrica: 1890, a partir do interesse dos agricultores em proteger novas espcies de frutas por eles inventadas mediante o uso de tcnicas tradicionais de cultivo, o Patent Office passou a concordar com a outorga de uma patente para suas plantas, valendo-se, pois, dos mesmos critrios utilizados para expedio de patentes de inventos em geral.

    - Ano de 1980 - a Corte Suprema norte-americana decidiu reconhecer o direito de um cientista de patentear uma cepa particular de bactrias Pseudomonas, para auxiliar nos trabalhos de despoluio das guas martimas em situaes de vazamento de petrleo. Considerou-se que a linha de demarcao entre o patentevel e o no-patentevel no estava colocada nos limites entre seres viventes e no-viventes.

    - As patentes vegetais

    - Requisitos para a concesso de patente sobre uma inveno: aplicao industrial, novidade, e atividade inventiva.

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    - Dependem, para que sejam exercidos e opostos perante terceiros, do expresso reconhecimento do Estado.

    A patente pipeline tem carter de revalidao e no de concesso de patente originria, porque vinculado ao primeiro depsito do invento no pas de origem. Logo, aplica-se patente pipeline regime jurdico diferenciado daquele a que se sujeitam os inventos nacionais que optarem pelo regime geral de patentes, notadamente com as seguintes especificidades: i) no pipeline, no h exame tcnico, no Brasil, relativo aos requisitos de patenteabilidade, aceitando-se, para tanto, o exame feito no pas estrangeiro; ii) o prazo de vigncia da patente pipeline no igual ao da patente convencional, uma vez que se toma por base aquele remanescente de proteo da patente estrangeira, desde que no ultrapasse 20 anos a partir da data do depsito (prazo previsto no art. 40, da Lei 9279/96), no havendo aplicao, todavia, do prazo mnimo de proteo de 10 anos contados a partir da concesso da patente; iii) a patente pipeline no possui iter instrutrio semelhante ao contemplado nos artigos 31 e 32 da Lei 9.279/96.

    No regime da patente pipeline h inmeras circunstncias e consequncias jurdicas que denotam inequivocamente a existncia de dependncia do pipeline em relao patente estrangeira. Logo, no se pode pretender exigir para a revalidao os mesmos requisitos materiais da concesso originria.

    - Problemas no Direito Agrrio: temas da segurana alimentar e tutela da sade do consumidor, da rotulagem dos produtos agrrios, da proteo ao meio ambiente e da preservao das atividades e do patrimnio daqueles que continuam a realizar a agricultura e a pecuria sob mtodos e tcnicas tradicionais. Questes de Biotica e da especialidade de conceitos de natureza biolgica.

    - Convenes internacionais que tratam do tema: Union pour la Protection des Obtensions Vgtales (a Conveno UPOV1). Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights Anexo 1C (o acordo TRIPs), de 15 de Abril de 1994 e em vigor desde 1 de Janeiro de 19952.

    - As Cultivares

    A Lei de Cultivares n 9.456, de 25/4/1997

    Sua fonte o tratado da UPOV, ao qual o Brasil estava em fase de adeso. A fonte remota o Cdigo da Propriedade Industrial de 1945, o Decreto n 7903.

    (sujeito de direito art. 3, I). O melhorista o autor da cultivar. No ser, necessariamente, o titular do direito.

    - Surge, no art. 5, a figura do obtentor (...). Essa pessoa fsica ou jurdica que tiver obtido cultivar ser o titular do direito.

    Do objeto do Direito. Aparentemente, o objeto do direito uma cultivar, considerado bem mvel para todos os efeitos legais (art. 2).

    Conforme o inciso IV do art. 3, cultivar a variedade de qualquer gnero ou espcie vegetal superior (se se tratar de microrganismo), a proteo decorre da lei da propriedade industrial; os animais superiores no encontram tutela nas leis de propriedade intelectual). Deve ser distinta de

    1- De 2 de Dezembro de 1961, revisada em 10 de Novembro de 1972, em 23 de Outubro de 1978 e em 19 de Maro

    de 1991. http://www.upov.int/export/sites/upov/en/publications/conventions/1991/pdf/act1991.pdf. 2- http://www.wto.org/english/docs_e/legal_e/27-trips.pdf.

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    outras cultivares conhecidas, ter denominao prpria, ser homognea e estvel, passvel de uso complexo agroflorestal e descrita em publicao especializada disponvel e acessvel ao pblico.

    Na verdade, o direito exclusivo no conferido cultivar, mas semente (...), ou ao material propagativo.

    O art. 27 (matria patentevel), pargrafo 3, b, do TRIPs, permite que os membros considerem como no patenteveis:

    - plantas e animais, exceto microrganismos; - processos essencialmente biolgicos para a produo de plantas ou animais, excetuando-se os processos no biolgicos e microbiolgicos.

    - No so patenteveis, nomeadamente:

    a) os processos de clonagem de seres humanos;

    b) os processos de modificao da identidade gentica germinal (isto , reprodutiva) do ser humano;

    c) as utilizaes de embries humanos para fins industriais ou comerciais;

    d) os processos de modificao de identidade gentica que possam causar sofrimentos aos animais sem utilidade mdica substancial para o homem ou para o animal, bem como os animais obtidos por esses processos;

    e) o corpo humano, nos vrios estgios de sua constituio e desenvolvimento, bem como a simples descoberta de um dos seus elementos, incluindo a seqncia ou a seqncia parcial de um gene;

    f) as variedades vegetais ou as raas animais, assim como os processos essencialmente biolgicos de obteno de vegetais ou animais. Esta limitao visa garantir a biodiversidade e o ecossistema em geral.

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    Biodiversidade, biotecnologia e biossegurana.

    a) Procedimentos administrativos decisrios:

    a) num primeiro momento, a fase da avaliao de risco (risk assessment), na qual, por iniciativa pblica ou privada, se determina atravs do recurso Cincia a probabilidade de ocorrncia de determinados danos;

    b) num segundo momento, a fase da gesto de risco (risk management), na qual se decide acerca das medidas a adotar perante um risco cuja existncia e cuja medida se determinaram previamente;

    c) a fase da comunicao de risco na qual se divulgam os resultados do processo e se informa comunidade em geral e certos destinatrios em particular, da existncia de determinados riscos.

    Os alimentos exticos so introduzidos no mercado europeu, em consequncia de fenmenos de globalizao (econmica e cultural) e de imigrao refletindo a influncia de outros hbitos alimentares e de outras culturas. Embora muitos desses alimentos sejam antigos e tenham longa tradio nos pases de que so originrios, a Unio Europeia incluiu-os verificados determinados requisitos na categoria dos novos alimentos e os sujeita a um regime jurdico prprio.

    No caso dos complementos alimentares, trata-se de produtos comercializados como alimentos e no como medicamentos os quais, visando complementar a ingesto de nutrientes na dieta normal, surgem na forma de plulas, barras, ampolas bebveis ou lquidos, podendo conter vitaminas, sais minerais, fibras, cidos gordos ou extratos de ervas.

    Pelos alimentos enriquecidos pretende-se, adicionando nutrientes a determinados alimentos, compensar a perda natural de nutrientes durante o processo produtivo ou aumentar o nvel normal de nutrientes do produto. o caso dos leites, dos iogurtes ou das bolachas enriquecidas com mega 3, clcio, vitaminas, antioxidantes ou bactrias tipo bifidus. Com essa tcnica, procura-se compensar situaes de insuficiente ingesto de nutrientes atravs da alimentao normal, associadas a eventuais razes de natureza diettica, social, cultural ou esttica. A verdade que estes alimentos envolvem riscos ligados ao consumo excessivo de minerais e de vitaminas (por exemplo, o aumento dos nveis de ferritina srica ligada a determinados tipos de cncer devido ao consumo excessivo de ferro).

    - A expresso alimentos funcionais ter surgido no Japo, nos anos 80, para designar alimentos concebidos especificamente para produzir certos efeitos benficos sobre a sade. Na maior parte dos casos, trata-se de, numa lgica preventiva, procurar reduzir os fatores de risco associados a determinadas doenas, ao atuar sobre os sistemas imunitrio, endcrino, circulatrio ou digestivo. Tais alimentos comportam, antes de mais, riscos associados ao fato de induzirem no consumidor falsas sensaes de segurana, em relao ao seu comportamento alimentar.

    - Em suma, as diversas categorias de novos alimentos (novel foods) recortam-se em funo

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    de critrios diferentes: critrios de origem (alimentos exticos); critrio da funo (complementos alimentares, alimentos funcionais); critrio do modo de produo (alimentos geneticamente modificados).

    b) Os Alimentos Geneticamente Modificados

    - So OGM aqueles organismos viventes, vegetais ou animais, que sofreram variaes genticas atravs das tcnicas que intervm com interpolaes ou substituies dos elementos do DNA a serem modificados; todas as outras modificaes genticas, e inmeras foram as modificaes genticas introduzidas em plantas e animais realizadas com cruzamento mesmo que forado ou com outras tcnicas diversas de insero forada de elementos de DNA provenientes de outras plantas ou animais, mesmo que de reinos diversos receptores, no se consideram, para os fins de regulamentao comunitria.

    - Os OGM (Organismos Geneticamente Modificados) so organismos (com exceo do ser humano), cuja matria gentica foi alterada de um modo que no ocorre naturalmente.

    - Organismos Geneticamente Modificveis pertencem a uma categoria abrangente na qual possvel destacar outra mais restrita, a dos transgnicos, ou seja, aqueles organismos geneticamente modificados cujo patrimnio gentico alterado a partir da incorporao de genes a uma espcie distinta.

    - Uma das principais vantagens invocadas pelos defensores destas tcnicas , antes de mais, a do aumento da resistncia das colheitas e, assim, a reduo do uso de qumicos.

    - Outra das vantagens que se pretende obter atravs das referidas tcnicas de manipulao gentica a de aumento dos nveis de nutrientes dos alimentos.

    - As empresas de biotecnologia aplicam tambm as tcnicas de engenharia gentica a animais destinados ao consumo humano. o caso de determinadas espcies de peixes, sobretudo o salmo, nos quais se pretende obter taxas de crescimento aumentadas, ou o caso de vacas s quais, atravs de um hormnio geneticamente modificado (somatestropina bovina), se procura aumentar a quantidade de leite produzida.

    c) A avaliao de riscos em matria de OGM - Existem basicamente dois tipos de procedimentos para avaliar a segurana de um alimento: uma avaliao histrica, baseada na observao dos resultados alcanados ao longo de um perodo de consumo do alimento em causa o que, obviamente, significa que se trata de uma tcnica apenas adequada para alimentos j consumidos h uma srie de anos; ou, pelo contrrio, uma avaliao baseada na realizao de anlises e de testes (de laboratrio e de campo destinados a apurar, dentre outros, aspectos, a toxidade aguda, a crnica, a carcinogenicidade, a imunotoxicidade ou a genotoxicidade do alimento.

    - Do ponto de vista dos riscos associados ao OGM, importa distinguir os riscos para a sade humana e os riscos para o ambiente, em especial, os riscos para outras espcies vegetais e animais.

    - Do ponto de vista dos riscos para o ambiente, tenha-se em considerao o fenmeno de outcrossing, ou seja, de transferncia de genes de plantas geneticamente modificadas para as culturas tradicionais. bvio que tais fenmenos de mistura de culturas que resultam de mtodos de cultivo tradicionais com os que utilizam plantas geneticamente modificadas,

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    podem ter efeitos indiretos na segurana alimentar.

    d) Gesto de riscos e Parmetros Decisrios: o princpio da precauo

    O princpio da precauo parmetro decisrio fundamental, nos casos em que a avaliao de riscos no conduz a uma resposta unvoca, o que, em matria de OGM, frequente, se no mesmo a regra. Em caso de incerteza cientfica, o princpio da precauo determina que, em termos de gesto de risco, se opte pela soluo mais cautelosa. A ausncia de provas cientficas conclusivas no pode servir de argumento para deixar de adotar medidas adequadas a procurar controlar os riscos da ocorrncia de possveis danos.

    - O princpio da proporcionalidade desempenha, neste contexto, papel fundamental no recordo do tipo e da medida adequada da deciso a tomar em cada caso concreto.

    e) Do campo mesa: sistemas de rastreabilidade

    Sob o lema do campo mesa, a Unio Europeia estabeleceu, nesta matria, um sistema de rastreabilidade assente em indicadores nicos, ou seja, cdigos que servem para identificar todos e cada um dos OGM, permitindo acessar informaes especficas, relativamente a cada um.

    f) A Proteo do Consumidor de OGM: obrigaes de rotulagem

    Segundo as regras europeias, todos os produtos alimentares que contenham mais de 0,9% de material geneticamente modificado devem conter a advertncia de que contm OGM, sendo a rotulagem instrumento fundamental de proteo dos consumidores.

    - Ou seja, optou-se, em termos europeus, por um sistema de rtulos indicativos de riscos e perigos, ao invs de um sistema de rtulos de qualidade (no qual, ao contrrio, a indicao a constar no rtulo seria a de produto livre de OGM).

    - Tal rotulagem imposta no apenas no caso de produtos destinados a consumo humano, mas tambm no caso de raes para animais.

    - Por etiquetagem que o complexo das indicaes a se opor nos produtos alimentares destinados venda ao consumidor no mbito do mercado nacional, no apenas a sua apresentao e a relativa publicidade entende-se o conjunto das menes, das indicaes, das marcas de fbrica ou de comrcio, das imagens ou dos smbolos que se referem ao produto alimentar e que figuram diretamente sobre a embalagem ou sobre cartelas, anis ou sobre tiras de papel ligados ao prprio produto, ou, na sua falta, em conformidade com o quanto estabelecido nos artigos 14, 16 e 17, sobre documentos de acompanhamento do produto alimentar (art. 1, 2, letra a), do dec. legisl. de 27/1/1992, n 109).

    g) O Mtodo de Produo Biolgica

    O mtodo de produo biolgica se aplica aos produtos vegetais e animais no transformados e aos produtos destinados alimentao humana, compostos, essencialmente, por um ou mais ingredientes de origem vegetal ou animal que tenham sido obtidos respeitando as normas para a produo biolgica no interior do estabelecimento.

    O mtodo se caracteriza, em particular, pela obrigao impostas aos produtores de

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    respeitar uma disciplina que veda o uso de muitssimas substncias de uso comum na agricultura, e permite, por outro lado, de utilizar, no cultivo ou na criao, as substncias e os produtos indicados em um elenco positivo de natureza taxativa.

    Em qualquer caso deve-se ter bem presente o fato de que a etiquetagem biolgica no garante uma qualidade ou um requisito especfico do produto, mas apenas que esse foi obtido utilizando um processo fixado pelo regulamento no qual se fornece um elenco dos produtos coadjuvantes produo utilizveis.

    g) Segurana alimentar - A expresso segurana alimentar ambgua, enviando a, pelo menos, dois conceitos na linguagem jurdica e poltica anglo-sax bem distintos e no confundveis: food security e food safety.

    O primeiro conceito est vinculado preocupao de segurana das disponibilidades alimentares. Uma boa definio textual aquela dada pelo pargrafo 1 do World Food Summit Plan of Action: food security exists when all people, at all times, have physical and economic Access to sufficient safe and nutritious food to meet their dietary needs and food preferences for an active and healthy life; assim definida, a segurana alimentar pe em primeiro plano as exigncias de tipo quantitativo ligadas assim necessidade de tornar possvel um adequado nvel de nutrio.

    A food safety apenas um componente da security: os elementos que devem ter a disponibilidade de garanti-la devem ser seguros e permitir uma vida saudvel.

    - Ambos os aspectos da segurana alimentar so objeto de disciplina no mbito das normas que regulam o comrcio internacional de produtos agrcolas.

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    AVIAMENTO E CONCORRNCIA

    - As Qualidades e a Proteo do Estabelecimento Agrrio:

    AVIAMENTO definio: finalidade de perseguir objetivos produtivos, realizados de forma economicamente vivel.

    Pressuposto: existncia de uma atividade desenvolvida pelo empresrio, atravs do complexo de bens que compem o estabelecimento.

    Segundo alguns, a aptido para auferir lucros. Para outros, aptido para obter resultados economicamente apreciveis.

    No prescinde da organizao, mas tambm no se resume a ela.

    Natureza jurdica: para alguns, configurar-se-ia num bem imaterial. Para outros, uma qualidade, que atribui ao estabelecimento um valor presumivelmente maior do que a mera soma dos elementos que o compem. No preexiste criao do estabelecimento.

    Tipos de aviamento:

    a) Objetivo: fatores permanentes, inerentes coordenao funcional existente entre os bens. Pode ser transferido entre empresrios.

    b) Subjetivo: decorrente da habilidade do empresrio sobre o mercado.

    CLIENTELA: o conjunto de pessoas que mantm com a empresa agrria relaes estveis de procura e de consumo dos vegetais e dos animais produzidos.

    uma das conseqncias do aviamento, no se confundindo com ele, portanto, apesar de serem conceitos indubitavelmente ligados.

    Trata-se tambm de uma qualidade do estabelecimento.

    - Direito concorrencial: atuao com referncia ao aviamento e clientela, ainda que indiretamente. Visa preservao, fundamentalmente, dos consumidores dos produtos agrrios.

    II DIREITO CONCORRENCIAL NA AGRICULTURA E SUBSDIOS

    - Pases exportadores e importadores de produtos agrcolas.

    - Custos e rentabilidade de produo.

    - As questes de natureza poltica. Funo social. Setor primrio da economia.

    - Tanto a proteo contra os atos de Concorrncia Desleal, tanto quanto a do Direito de Autor, tiveram origem na Inglaterra, durante o sculo XVIII. A origem daquela era, basicamente, jurisprudencial.

    A forma primria de represso (indireta) da Concorrncia Desleal foi a concesso de privilgios pelas monarquias absolutas na Idade Mdia para a reproduo de obras clssicas (v.g. A Repblica, de Plato), at ento reproduzidas a mo nos mosteiros e conventos.

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    Assim, sob o conceito deste privilgio real, de finalidade exclusivamente poltica, de autoproteo, j se pode vislumbrar a noo econmica do monoplio.

    Com a Revoluo Francesa, estabeleceu-se o sistema oposto da livre iniciativa. Via de regra, o cnon constitucional da livre iniciativa gera, sob o ponto de vista da economia poltica, o conceito de concorrncia perfeita, ou pura, que para os economistas A. W. Stonier e D. C. Hague envolve trs requisitos bsicos, a saber:

    a) grande nmero de firmas;

    b) produtos homogneos;

    c) livre ingresso ao mercado.

    - Justificativas para as Restries Concorrncia:

    a) A eficincia, que aparece como fundamento para a aprovao de concentrao de empresas;

    b) A poltica industrial.

    b.1) a pesquisa tecnolgica;

    b.2) as empresas em crise;

    b.3) o apoio pequena e mdia empresa;

    b.4) os monoplios naturais;

    Outras justificativas - Regras de tarifao e de barreiras fitossanitrias - A livre circulao de produtos - A valorizao de produtos de qualidade - Agricultura e tutela do meio-ambiente - Agricultura e segurana alimentar - A questo do dumping social e ambiental - Rotulagem e rastreamento

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    I- A Desapropriao Por Interesse Social Para Fins de Reforma Agrria:

    I- DEFINIO: ato unilateral de direito pblico administrativo, cuja caracterstica principal a transferncia da propriedade sobre o bem desapropriado, em virtude de dispositivo legal, calcado no interesse pblico da coletividade.

    II- DISCIPLINA PROCESSUAL: Lei Complementar 76, de 6/7/1993, com as modificaes introduzidas pela Lei Complementar 88, de 23/12/1996

    A competncia para a apreciao da ao de desapropriao por interesse social para fins de reforma agrria da Justia Federal. Autor da ao: o INCRA Ru: proprietrio do bem.

    III- DISCIPLINA MATERIAL: em especial, Lei 8629, de 25/2/1993.

    IV- VEDAES DESAPROPRIAO: imvel produtivo; pequena e mdia propriedade, desde que o proprietrio no possua outra (art. 185 da Constituio Federal).

    Produtividade estabelecida pelo grau de utilizao da terra igual ou superior a 80% da rea utilizvel e pelo grau de eficincia na explorao, igual ou superior a 100%.

    Cadastro das Propriedades Rurais CCIR documento indispensvel para a alienao dos imveis rurais ou sua outorga como bem em garantia.

    V- INDENIZAO: pagamento em TDAs (Ttulos da Dvida Agrria), para a terra nua, e de dinheiro, para as benfeitorias teis e necessrias.

    II- Colonizao

    No Brasil, processo que se diferenciou daquele do Mxico, Estados Unidos e Canad, realizado, basicamente, pela iniciativa privada.

    Definio legal: art. 4, inc. IX do Estatuto da Terra.

    V- A Reforma Agrria em Outros Pases

    EUA

    Baseada na propriedade pequena, primeiro no Norte e, aps a Guerra da Secesso, no Sul. Abraham Lincoln Homestead Law

    Populao rural - 8% da populao total em 1974, 3% em 1999.

    Frana

    1 momento: aps a Revoluo de 1789; 2 momento: aps a 1 Grande Guerra

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    Espanha

    O latifndio teve sua origem na Reconquista. Reforma Agrria: 1916 efeitos modestos.

    Mxico

    Terras desapropriadas foram redistribudas segundo o formato dos ejidos (art. 27 da Constituio Federal de 1917). Atualmente, coexistem a propriedade privada e o ejido.

    Rssia

    1819 Alexandre I decretou a libertao dos camponeses 1861 Alexandre II decretou a libertao dos servos deu-lhes terras em propriedades individuais ou comunais, com obrigao de pagar o preo em 49 anos.

    Revoluo Bolchevique Decreto de 26 de Outubro de 1917 extinguiu a propriedade privada das terras, nacionalizando-as.

    1922 promulgado o Cdigo Agrrio s quem trabalha na terra tem direito a possu-la. 1928 novo Cdigo criao dos Kolkoz fazendas coletivas e do sovkoz fazendas estatais.

    China

    Constituio de 1954 arts. 8 e 13.

    - Desapropriao com pagamento em $ e possibilidade dos camponeses se tornarem proprietrios de terras.

    Japo

    Reforma agrria imposta pelos EUA, aps a 2 Grande Guerra Dez. de 1946.

    Brasil

    Estatuto da Terra: possibilidade de expropriao do latifndio (por dimenso, acima ou igual a 600 mdulos, ou por explorao) e do minifndio.

    Mdulo Rural: rea trabalhada direta e pessoalmente por uma famlia de composio mdia, com auxlio apenas eventual de terceiros.

    Elementos: uma medida de rea, fixada para a propriedade familiar; varia de acordo com a regio e com a explorao; deve implicar num mnimo de renda, que deve representar progresso econmico.

    Representa uma frao mnima de fracionamento bem indivisvel art. 65 do Estatuto da Terra.

    reas Prioritrias art. 13 do Estatuto da Terra.

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    III-DISCRIMINAO DE TERRAS DEVOLUTAS

    I- HISTRICO: SESMARIA utilizada pelo conquistador portugus para consolidar o povoamento.

    Primeira Lei de Sesmarias (26/6/1375) D. Fernando I. Baseada em precedentes romanos (Lei Licnia e Lei Semprnia). Posteriormente, incorporadas s Ordenaes do Reino (Afonsinas, Manuelinas e Filipinas).

    Brasil:

    - Regime de Sesmarias (1504 a 1822). H a concesso do uso de terras, no a sua alienao. - Regime das Posses (1822 a 1850). Suspenso da concesso de sesmarias. Perodo de hiato legal. - Lei de Terras do Imprio (1850): definiu o que seriam as terras devolutas. - Registro Paroquial: criado pelo art. 13 da Lei de Terras. Mero recenseamento dos possuidores de terras.

    TERRAS DEVOLUTAS:

    So espcie de bens pblicos, inserindo-se, especificamente, naqueles bens ditos dominicais.

    - Faixa de fronteira a partir da Constituio Federal de 1937, uma faixa de 150 km das fronteiras nacionais.

    No podem ser adquiridas, por particulares, pelo usucapio.

    Compreendem tanto as terras devolvidas ao domnio da Unio como as que se acham vagas, no ocupadas por no terem sido dadas ou no usadas pelo Poder Pblico.

    As terras devolutas podem pertencer Unio e aos Estados. No aos Municpios.

    AO DISCRIMINATRIA

    O carter devoluto deve ser reconhecido administrativamente ou judicialmente, sendo esta ltima a situao mais comum.

    Aps a discriminao das terras, o destino delas ser a iniciativa privada.

    IV- USUCAPIO DE IMVEIS. USUCAPIO DE MVEIS. USUCAPIO DE OUTROS DIREITOS REAIS. A USUCAPIO NO CDIGO CIVIL DE 2002

    - Ponto comum com a prescrio extintiva ou liberatria perda de ao atribuda a um direito; ou aquisitiva, no caso da usucapio.

    - Ponto em comum: decurso do tempo. - Distino: um gera direitos; outro extingue pretenses.

    Origem: Lei das Doze Tbuas (ano 455 A.C.).

    Fundamento: subjetivo: presuno de que h o nimo de renncia ao direito de propriedade.

    Objetivo: funda-se na utilidade social, na convenincia de se dar segurana e estabilidade propriedade, bem como consolidar as aquisies e facilitar a prova do domnio.

  • Fernando Campos ScaffFernando Campos ScaffFernando Campos ScaffFernando Campos Scaff Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de So PauloProfessor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de So PauloProfessor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de So PauloProfessor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo

    Efeitos: opera-se ex tunc projeta os seus efeitos para o passado incio da posse. Os acessrios acompanham a aquisio por usucapio.

    Requisitos pessoais: pessoa capaz; sendo o possuidor pessoa fsica ou jurdica. Titular originrio ou cessionrio de direitos.

    Requisitos reais: domnio e outros direitos reais, vinculados a bens corpreos mveis e imveis.

    Coisas e Direitos insuscetveis de Usucapio: - bens de incapazes; - bens gravados com clusula de inalienabilidade - bens sujeitos a fideicomisso (polmico). - coisas acessrias; - bens pblicos.

    Boa-f: subjetiva.

    - Aquisio do domnio pela posse prolongada (art. 550 do CCivil antigo). Aquisio da propriedade ou outro direito real pelo decurso do tempo estabelecido e com a observncia dos requisitos institudos em lei. Aquisio do domnio ou de direito real sobre coisa alheia, mediante posse mansa e pacfica, durante o tempo estabelecido em lei.

    Fundamento: funo social da propriedade.

    - Modo originrio de aquisio da propriedade. Na derivada, observa-se um ato de transmisso.

    - Como sinnimo de prescrio aquisitiva.

    - Atual CCivil (arts. 1238 a 1244) bens imveis arts. 1260 a 1262 bens mveis.

    CF art. 183 usucapio especial urbano. Art. 191 usucapio especial rural. Pro labore.

    Elementos: posse, tempo, animus domini e objeto hbil.

    Tempo ininterrupto. Mansido da posse.

    Posse justa no violenta (a que se obtm pela fora), clandestina (exercida de modo oculto) ou precria (decorre de abuso de confiana). (art. 1200 CCvil).

    Art. 1208 possvel sanar os vcios de violncia e de clandestinidade.

    Sentena cunho declaratrio e no constitutivo. Reconhece direito preexistente.

    Objeto hbil. Bens pblicos no podem ser usucapidos. Tambm no os direitos pessoais, as coisas insuscetveis de apropriao, aquelas fora de comrcio.

    Usucapio extraordinria. Art. 1238 do CCivil. Prescinde do justo ttulo e da boa-f.

    Usucapio ordinria. Art. 1242 do C. Civil. necessrio, para que se configure o justo ttulo, o registro?

    Sobre a enfiteuse, tem sido admitida a usucapio, em relao ao domnio til. O enfiteuta no pode pretender usucapir o domnio direto do senhorio.

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    Servides (art. 1378 CC). As servides aparentes podem ser adquiridas por usucapio, no as no aparentes (art. 1379). Estas repelem a idia de posse, alm de no serem visveis. S se estabelecem pelo registro (art. 1378).

    Usufruto. Era definido pelo artigo 713 do CCivil antigo. O atual no o define. Segundo Clvis, o direito real, conferido a uma pessoa, durante certo tempo, que a autoriza a retirar da coisa alheia os frutos e utilidades, que ela produz.

    Apesar de intransmissvel, pode ser adquirido pela Usucapio. RE 94.580-RS.

    Fideicomisso. Passagem Forada.

    Usucapio Especial Urbana art. 1240 do Cdigo Civil. Rural art. 1239 do Cdigo Civil. - Pode ter por objeto outros direitos reais, tais como as servides, o domnio til na enfiteuse, o usufruto, o uso e a habitao.

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    CONTRATOS AGRRIOS

    - Noo de contrato agrrio:

    - Classificao:

    a) contratos agrrios em sentido estrito: so constitudos pelos assim chamados contratos de concesso, de natureza pura ou de natureza mista.

    Os de natureza pura abrangeriam a concesso da terra (obrigao de entregar), mas tambm o gado e o capital empregado.

    Os de natureza mista corresponderiam queles que englobassem simultaneamente a concesso e tambm uma prestao de servios, de uma das partes contratantes ou de ambas. Ex.: parceria.

    b) contratos de empresa, ao qual pertencem os contratos para a proviso de capital de exerccio, com operaes nitidamente conexas, tais como os contratos de seguro de safra, de consrcio para a coordenao da produo, da transformao dos produtos e de comercializao, dentre outras.

    c) contratos de sociedade, tendo forma civil, comercial ou mutualista.

    - Outras classificaes:

    Contratos agroindustriais: so aqueles que se estabelecem por iniciativa de um empresrio industrial que predispe um particular modelo contratual pelo qual, em toca de um preo determinado, ao trmino do contrato com referncia a uma unidade de produtos expressada geralmente em peso obriga-se o produtor rural a entregar a produo futura de seu estabelecimento, cujo cultivo deve ser desenvolvido sob o controle da outra parte e segundo diretivas precisas desta, em funo de programas de produo no tempo e com as tcnicas previamente estabelecidas. No h cesso de uso ou de gozo de um imvel.

    - Contratos de agrobusiness: expresso utilizada pela primeira vez em 1957, em trabalho de Ray Goldberg e John Davis, ambos professores de Harvard.: a soma total das operaes de produo nas unidades agrcolas, do armazenamento, processamento e distribuio dos produtos agrcolas e itens produzidos a partir deles.

    - Tentativas de Sistematizao dos Contratos Agrrios em Categoria Unitria

    - Tendncia verificada na Europa Ocidental (Frana, Itlia e Espanha).

    - Natureza jurdica: novao extintiva ou modificativa.

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    - Fundamento: necessidade de interveno governamental na planificao da economia.

    - Classificao dos Contratos Agrrios no Estatuto da Terra

    - Contratos Tpicos: arrendamento e parceria (que pode ser agrcola, pecuria, agroindustrial, extrativa e mista).

    - Atpicos: devero ser regulados pelas mesmas regras (artigo 2 do Estatuto da Terra).

    - Podem ser escritos ou verbais.

    - ARRENDAMENTO: o contrato agrrio comutativo por excelncia, correspondendo a uma locao de prdio rstico, mediante sua entrega temporria por uma soma determinada em dinheiro, com o fim especfico da prtica de atividade agrria.

    - Def.: artigo 3 do Regulamento (Decreto 59.566/66).

    - Partes: - arrendador ou arrendante, que a pessoa que cede a outrem por tempo determinado o imvel rural mediante o pagamento de um aluguel. Pode ou no ser o proprietrio.

    - Obrigaes: a) entrega do prdio de modo que o arrendatrio possa dele

    fazer livremente uso e gozo no desempenho da atividade agrria, no se interrompendo o contrato por alienao;

    b) fazer no imvel as obras e os reparos necessrios, bem como pagar as taxas, impostos, foros e toda e qualquer contribuio que incida ou venha a incidir sobre o imvel rural afetado, se de outro mvel no houver convencionado.

    - arrendatrio: a pessoa ou o conjunto familiar que recebe o imvel rural e o toma por aluguel.

    - Obrigaes: a) pagar o aluguel, pelo modo, nos prazos e locais

    avenados;

    b) no uso do imvel consoante o convencionado ou presumido, e trat-lo com o mesmo cuidado que teria se fosse seu, no podendo mudar sua destinao contratual;

    c) levar ao conhecimento do arrendador qualquer ameaa ou ato de turbao ou de esbulho que contra a sua posse vier a sofrer, e ainda de qualquer fato do qual resulte a necessidade de execuo de obras e reparos indispensveis garantia do uso do

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    imvel rural

    d) devolver o imvel, ao final do contrato, tal como foi recebido, com seus acessrios, salvo deterioraes naturais pelo uso regular, responsabilizando-se por eventuais danos.

    - Objeto: consiste o objeto do arrendamento no uso e gozo de um imvel rural com fins execuo de uma atividade agrria, com vistas funo social inerente propriedade.

    - Remunerao: constitui clusula obrigatria do contrato e deve ser sempre fixada em dinheiro. H a total impossibilidade de fixao do valor do aluguel atrelado a uma quantia fixa de produtos, ou seu equivalente em dinheiro. Contudo, o pagamento poder ser realizado diretamente em frutos ou produtos.

    - Remunerao mxima: 15% do valor declarado do imvel (caso englobe a rea toda) ou 30% se abranger rea determinada e parcial do imvel, no podendo exceder o percentual anterior.

    - Prazos mnimos:

    - Corresponde ao menor lapso de tempo legalmente admissvel para a durao de um contrato visando explorao temporria da terra. clusula obrigatria e de ordem pblica, geradora de direitos e de deveres irrenunciveis.

    - Fixao pelo Decreto 59.566/66 (art. 13, II, a)

    - Extino do Arrendamento:

    a) Trmino do prazo do contrato ou de sua renovao (art. 26, I do Decreto 59.566/66);

    b) Retomada (exerccio direto e pessoal pelo arrendador) (art. 22, 2 do Decreto);

    c) confuso (art. 381 do CC);

    d) Distrato ou resciso (anulao de um ato em virtude de leso);

    e) Inadimplemento das obrigaes assumidas pelas partes e inobservncia da clusula seguradora dos recursos naturais (art. 13, inciso II, letra c);

    f) Resoluo ou extino do direito do arrendador (arts. 1359 e 1360 do Cdigo Civil);

    g) Fora maior (evento natural) ou caso fortuito (fato alheio);

    h) Sentena judicial irrecorrvel;

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    i) Perda do imvel rural (perecimento do imvel);

    j) Desapropriao;

    - Ao de Despejo: adequada para que se obtenha a desocupao compulsria do imvel rural, mediante sentena judicial.

    - Art. 32 do Decreto 59.566/66: situaes, em rol taxativo, nas quais se d o despejo pleiteado compulsoriamente.

    - Ter direito de indenizao ou de reteno pelas benfeitorias teis e necessrias (art. 25 do Decreto).

    - DIREITO DE PREFERNCIA OU DE PREEMPO: consiste no direito inerente ao contrato de arrendamento que outorga preferncia ao arrendatrio na aquisio do imvel, na hiptese de sua alienao a terceiro por parte do proprietrio (art. 92, 3 do Estatuto da Terra). O no cumprimento da notificao d ensejo ao anulatria, bem como de adjudicao compulsria. O direito teria, assim, natureza real.

    - Direito de preferncia para renovao contratual na explorao agrria: art. 95, inciso IV do Estatuto da Terra.

    - DIREITO DE PRELAO OU PREFERNCIA DOS HERDEIROS: art. 26, nico do Decreto 59.566/66.

    - PARCERIA: (art. 96, 1 do ET). Caractersticas: bilateral, oneroso, consensual, aleatrio, estabelece vnculos de natureza pessoal, temporrio, prev a partilha dos riscos. A direo da empresa pode ser do parceiro outorgado ou mantida nas mos do parceiro outorgante.

    - Modalidades: - Parceria agrcola - Parceria pecuria - Parceria agroindustrial - Parceria extrativa

    - Falsa parceria referncia no art. 96, 4 do Estatuto da Terra.

    - Partes: parceiro outorgante e parceiro outorgado.

    - Obrigaes do Parceiro Outorgante:

    a) entregar o imvel rural objeto do contrato na data estabelecida, ou segundo usos e costumes da regio;

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    b) garantir ao outorgado o uso pacfico do imvel cedido pelo tempo estipulado;

    c) efetuar durante a vigncia contratual as obras e reparos necessrios;

    d) pagar taxas, impostos, foros e toda e qualquer contribuio que incida ou venha a incidir sobre o imvel rural dado em parceria;

    e) ceder casa de morada higinica e rea suficiente para horta e criao de animais de pequeno porte, na hiptese do outorgado passar a residir no imvel;

    f) assumir as despesas com tratamento e criao de animais.

    - Obrigaes do parceiro-outorgado:

    a) entregar ao outorgante sua cota na partilha, no dia e hora e local ajustados;

    b) usar o imvel como foi convencionado e trat-lo como se seu fosse, vedada a alterao de destinao contratual;

    c) levar ao conhecimento do outorgante qualquer ameaa sua posse ou ainda qualquer fato que enseje a realizao de reparos;

    d) realizar as benfeitorias teis e necessrias no imvel, durante a vigncia do contrato;

    e) restituir o imvel ao trmino do prazo, tal como o recebem com seus acessrios.

    - Partilha dos frutos, produtos, lucros e riscos: na parceria no h pagamento de valor em dinheiro. Haveria verdadeira sociedade, com partilha dos riscos e lucros. - Percentuais de partilha: definidos em lei (art. 96, VI do Estatuto da Terra).

    - Prazos mnimos: 3 anos.

    - SUPERFCIE: (arts. 1369 a 1377 do CC). um direito real sobre coisa alheia, pelo qual o superficirio recebe do proprietrio de determinado terreno, de modo gratuito ou oneroso, o direito de nele edificar ou plantar por prazo determinado. Regulamentao subsidiria: Lei 10257/2001 (Estatuto da Cidade).

    - Natureza jurdica: direito real de fruio ou gozo sobre coisa alheia.

    - Caractersticas:

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    - finalidade: o direito de superfcie atende ao interesse social de incrementar o aproveitamento da propriedade sob o prisma social e econmico;

    - durao: o CC estabeleceu prazo determinado;

    - destinao: levantamento de construes e prtica de atividade agrria;

    - modos de constituio: ttulo oneroso ou gratuito; ato inter vivos ou mortis causa, sempre por escritura pblica, a ser registrada no Registro Imobilirio;

    - nus de arcar com os tributos.

    - Traz implcito o direito de preferncia recproco;

    - Uso do subsolo: no autorizado, no silncio das partes.