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De Turistas a peregrinos: Recuperando um sentido do sagrado* Uma publicação do Escritório de Justiça Internacional da Santa Cruz e da Comissão de Justiça da Congregação das Irmãs da Santa Cruz.

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De Turistas a peregrinos:

Recuperando um sentido do sagrado*

Uma publicação do Escritório de Justiça Internacional da Santa Cruz e da Comissão de Justiça da Congregação das Irmãs da Santa Cruz.

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Satish Kumar, autor indiano, diz que há duas maneiras de ver o mundo que nos rodeia. Peregrinos veem a Terra, na verdade o universo inteiro, como imbuído com o divino, cheio de prodígios e mistério e permeado por completo com o espírito. Para os peregrinos, o mundo é um lugar sagrado no qual devemos nos envolver com reverência e gratidão. Turistas veem a Terra e suas riquezas como "recurso" – uma fonte de bens e serviços para consumo e prazer humano. O seu valor reside unicamente na utilidade para nós.

Faça uma pausa e reflita por um momento.

O que você vê quando olha o mundo ao seu redor? Você o vê principalmente com os olhos de um peregrino ou com os olhos de um turista?

A sua visão mudou ao longo do tempo? Caso tenha mudado, quais as influências que estimularam essa mudança?

Como a sua cultura vê e se relaciona com a natureza e o mundo material? Como isso pode influenciar a sua visão?

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Por mais de 99% da nossa história, nós, seres humanos, caminhamos sobre a Terra como peregrinos, à vontade em um cosmos habitável e espiritualizado, e íntimos da grande comunidade da vida. Mas com o advento da Revolução Científica e do Iluminismo, tudo isso mudou. A mudança na compreensão científica exorcizou o espírito da matéria, e o reino material passou a ser visto como morto, uma "coisa" inerte para os seres humanos explorarem e consumirem. Começamos a nos definir como radicalmente distintos e superiores à natureza; o universo foi visto cada vez mais como um lugar frio e hostil, a ser conquistado e controlado. Uma cosmologia peregrina enraizada e viva foi grad-ualmente substituída por uma cosmologia turística mecanicista de dominação e exploração, com conse-quências desastrosas para nós e para todos os nossos parentes repudiados.

Embora raramente percebido, perder uma cosmologia viva nos deixou à deriva, com uma grande dor. Sentindo-nos sem casa e sozinhos, separados uns dos outros e da comunidade cosmológica, procuramos preencher esse vazio com uma cosmologia substituta de consumo (Tao da Libertação, p. 137). Humanos anteriores reuniam-se sob as estrelas, em grutas ou em catedrais para discernir o sentido da vida e do uni-verso. Mas, como o cosmólogo Bri-an Swimme observou:

Reflexão:

Quais são as consequências da mudança para uma cosmologia turista que você percebe?

Quais são as conexões que você vê entre o consumo maníaco e a perda de uma cosmologia viva?

Pelos últimos 400 anos ou mais, o empreendimento científico e a cosmologia a que deu origem têm gov-ernado, produzindo enormes benefícios, mas também prejuízos terríveis. Mas uma nova cosmologia pere-

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grina, fundamentada na história científica do universo, está agora lentamente chegando ao nascimento. Ao longo do século passado, uma nova visão do cosmos tem emergido da própria ciência que pronunciou a “morte” da maté-ria. Pela primeira vez, novas e poderosas tecnologias estão permitindo que os seres humanos vejam profundamen-te o reino dos áto-mos, assim como o reino das estrelas. O que os cientistas estão descobrindo é surpreendente: quanto mais profun-damente eles perscrutam, mais complexa, sutil e mis-teriosa se torna a re-alidade. Em todos os níveis, o cosmos é visto como radicalmente relacional e interligado. Ao invés de "estático" e "morto", a própria ma-téria é revelada como sendo uma dança dinâmica de energia e relacionalidade. Mais uma vez, a Terra e todo o cosmos são vistos como sendo em algum sentido "vivo", repleto de criatividade e emergência, e cheio de espírito. A ciência está validando o que místicos como Teilhard de Chardin e Tagore há muito compreenderam:

Reflexão:

Quais sentimentos um universo vivo pulsando com o Divino evocam em você?

Quais perguntas e quais respostas surgem?

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Os peregrinos são pessoas que amam este mundo. Em um universo vivo em que tudo manifesta o Divino, esta é a única resposta humana autêntica. Como esse amor se expressa é exclusivo a cada peregrino, mas alguns contornos da vida peregrina surgem: Os peregrinos têm um senso profundo de que não estão apenas sobre a Terra... eles são a própria Terra que, nesta fase da sua evolução, começou a sentir, pensar, amar, admirar e cuidar (Tao da Libertação, p. 333). Os peregrinos reconhecem sua profunda necessidade de ouvir, comungar e aprender com o mundo sobre-humano (transcendente), a fim de se tornarem totalmente eles mesmos. Os peregrinos se enraízam no local, investigando os segredos do seu próprio local, tornando-se muito conscientes de tudo o que torna aquele lugar especial e único: sua história, sua tradição, e, principalmente, a sua comunidade sobre-humana (transcendente). Os peregrinos são bem materialistas – materialistas não no sentido da cultura dominante, mas no sentido de reverenciar profundamente o

mundo, atendendo a ele carinhosamente, usando seus dons frugal e sabiamente, e preservando, protegendo e curando-o de todas as maneiras que puderem. Reflexão:

Como você expressa seu amor por este mundo? Quais práticas apoiam a sua transição pessoal de turista a peregrino?

Que maneiras você descobriu de comungar e aprender com o mundo sobre-humano (transcendente)?

Como você está enraizada em sua localidade? O que você pode fazer para aprofundar essas raízes?

Como podemos facilitar uma transição da sociedade para um novo materialismo de reverência para com a Terra e toda a comunidade da Terra?

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Escritório de Justiça Internacional da Santa Cruz 403 Bertrand Annex Saint Mary’s Notre Dame, IN 46556-5018 USA Teléfono: (574) 284-5502 E-mail: [email protected] www.holycrossjustice.org

Comissão de Justiça da Congregação das Irmãs da la Santa Cruz 400 Bertrand Annex-Saint Mary’s Notre Dame, IN 46556-5018 USA Teléfono: (574) 284-5991 E-mail: [email protected] www.cscsisters.org

LIVROS

Recovering a Sense of the Sacred: Conversations with Thomas Berry [Recuperando um Sentido do Sagrado]. Toben, Carolyn W. Whitsett, NC: Timberlake Earth Sanctuary Press, 2012.

The Sacred Balance: Rediscovering Our Place in Nature [O Equilíbrio Sagrado]. Suzuki, David. 2nd edition. Vancouver, BC: Greystone Books, 2006.

Spiritual Ecology: The Cry of the Earth [Ecologia Espiritual]. Vaughan-Lee, Llewellyn, editor. Point Reyes, CA: The Golden Sufi Center, 2013.

The Tao of Liberation: Exploring the Ecology of Transformation [Tao da Libertação]. Hathaway, Mark and Leonardo Boff. Maryknoll, NY: Orbis Books., 2009.

*De Turistas a Peregrinos: Recuperando um Sentido do Sagrado Recovering a Sense of the Sacred ("Recuperando um Sentido do Sagrado") refere-se ao livro de Carolyn Toben, Recovering a Sense of the Sacred: Conversations with Thomas Berry (“Recuperando um Sentido do Sagrado: Conversas com Thomas Berry”) (2012), um livro de memórias baseado em notas pessoais, práticas e reflexões de Carolyn a partir dessas conversas. Somos gratas a Carolyn Toben por sua generosidade em nos conceder permissão para usar seu material.

A arte da capa, página 1: TOWARD A NEW TIME (“RUMO A UM NOVO TEMPO”), copyright 2002, por Marion C.

Honors, CSJ, é usado com permissão.

Crédito das fotos: Página 1—NASA/JPL-Caltech/UCLA Página 2—NASA/JPL-Caltech/UCLA

Página 4—NASA/JPL-Caltech/UCLA; NASA---JPL/Caltech/McGill Página 7—NASA/JPL-Caltech/UCLA

Holy Cross International Justice Office, Congregation of the Sisters of the Holy Cross, © 2014.