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Decisão Análise dos recursos interpostos contra o resultado preliminar da prova objetiva do concurso para estagiários da área de Direito da Procuradoria da República no Estado do Piauí Ano de 2014, primeiro semestre Inscrição n. 36 Questão n. 27 (prova tipo C) Resumo do recurso: Pedido de alteração de gabarito ou de anulação da questão. A alternativa considerada correta no gabarito preliminar é a da letra "c" ("A liminar no processo de mandado de segurança é uma tutela sumária provisória "). Porém, a alternativa "e" ("O julgamento antecipado do processo ocorre por meio de decisão de cognição sumária") estaria correta. Afirma o(a) recorrente que, segundo o art. 273 do CPC, o julgamento antecipado da lide deve ocorrer por meio de decisão de cognição sumária. Decisão: o julgamento antecipado do processo - ou , na dicção do CPC, o julgamento antecipado "da lide" - não se confunde com a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional. Aquele, disciplinado nos arts. 330 e segs. do CPC, pressupõe sentença definitiva, de cognição exauriente. Esta, a antecipação de tutela, prevista no art. 273 e no art. 461 , §3°, do CPC, ocorre, em geral, mediante decisão interlocutória, provisória e de cognição sumária. o instituto do julgamento antecipado do processo, com o qual o juiz resolve "a lide" definitivamente, pressupõe uma decisão de cognição exauriente das questões do processo com a peculiaridade de haver dispensa da instrução probatória que seria cabível naquele procedimento (por essa dispensa se diz que o julgamento é antecipado). Não é correto afirmar, portanto, que "O julgamento antecipado do processo ocorre por meio de decisão de cognição sumária" (alternativa "e" da questão 27, na prova tipo C). Por seu turno, é certa a assertiva de que "A liminar no processo de mandado de segurança é uma tutela sumária provisória" (considerada correta no gabarito preliminar). A liminar no processo de mandado de segurança é concedida por meio de decisão interlocutória e provisória (sujeita a confirmação, ou não, na sentença), cuja cognição é sumária (dependente da

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Decisão Análise dos recursos interpostos contra o resultado preliminar da prova objetiva do concurso para estagiários da área de Direito da

Procuradoria da República no Estado do Piauí Ano de 2014, primeiro semestre

Inscrição n. 36

Questão n. 27 (prova tipo C)

Resumo do recurso:

Pedido de alteração de gabarito ou de anulação da questão.

A alternativa considerada correta no gabarito preliminar é a da letra "c" ("A liminar no processo de mandado de segurança é uma tutela sumária provisória "). Porém, a alternativa "e" ("O julgamento antecipado do processo ocorre por meio de decisão de cognição sumária") estaria correta. Afirma o(a) recorrente que, segundo o art. 273 do CPC, o julgamento antecipado da lide deve ocorrer por meio de decisão de cognição sumária.

Decisão:

o julgamento antecipado do processo - ou , na dicção do CPC, o julgamento antecipado "da lide" - não se confunde com a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional. Aquele, disciplinado nos arts. 330 e segs. do CPC, pressupõe sentença definitiva , de cognição exauriente. Esta, a antecipação de tutela , prevista no art. 273 e no art. 461 , §3°, do CPC, ocorre, em geral , mediante decisão interlocutória, provisória e de cognição sumária.

o instituto do julgamento antecipado do processo , com o qual o juiz resolve "a lide" definitivamente, pressupõe uma decisão de cognição exauriente das questões do processo com a peculiaridade de haver dispensa da instrução probatória que seria cabível naquele procedimento (por essa dispensa se diz que o julgamento é antecipado). Não é correto afirmar, portanto, que "O julgamento antecipado do processo ocorre por meio de decisão de cognição sumária" (alternativa "e" da questão 27, na prova tipo C).

Por seu turno, é certa a assertiva de que "A liminar no processo de mandado de segurança é uma tutela sumária provisória" (considerada correta no gabarito preliminar) . A liminar no processo de mandado de segurança é concedida por meio de decisão interlocutória e provisória (sujeita a confirmação, ou não, na sentença), cuja cognição é sumária (dependente da

análise apenas do denominado fumus boni juris, ou seja, da aparência de correção dos fundamentos do pedido - e não de certeza quanto a essa correção) .

Recurso desprovido.

Questão n. 30 (prova tipo C)

Resumo do recurso:

Pedido de anulação por desconforrnidade com o programa do edital.

A alternativa considerada correta no gabarito preliminar é a letra "b" (ICA decisão que recebe a petição inicial de ação de improbidade administrativa desafia recurso de agravo\ que, porém, corresponderia a dispositivo constante no Capítulo V da Lei 8.429/1992 (Do Procedimento Administrativo e do Processo Judicial- art. 17, §10) , o qual não estaria previsto no edital.

Decisão:

A questão recorrida está na parte da prova correspondente ao Grupo li , que, segundo o edital do certame, se refere às matérias de Direito Civil e de Direito Processual Civil.

No conteúdo programático de Direito Processual Civil, previsto no edital, consta o item 23 com a seguinte descrição "Dos procedimentos especiais: Mandado de Segurança. Ação Popular Ação Civil Pública. Ação de Improbidade Administrativa". Ou seja, o edital previa expressamente no conteúdo programático de Direito Processual Civil o procedimento da denominada ação de improbidade administrativa; procedimento esse que está disciplinado principalmente no art. 17, caput e §§, da Lei 8.429/1992 (o § 10 do art. 17 da Lei 8.429/1992 tem disposição literal no sentido da alternativa "b" da prova tipo C).

Ademais , o edital indica também como conteúdo programático de Direito Processual Civil as disposições gerais sobre recursos (item 19), com o que se esperava tivessem os candidatos conhecimento acerca do recurso cabível (agravo) contra decisão interlocutória como aquela que recebe a petição inicial de ação de improbidade administrativa.

Logo, a questão 30 está em perfeita consonância com o conteúdo programático de Direito Processual Civil , do Grupo 11 , à qual pertence.

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Recurso desprovido .

Inscrição n. 38

Questão n. 01 (prova tipo C)

Resumo do recurso:

Pedido de anulação por não haver resposta correta .

A alternativa indicada no gabarito preliminar, da letra "b" ("As leis anteriores à Constituição da República de 1988, se incompatíveis com esta, podem ser declaradas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal no âmbito do controle concentrado"), estaria errada. A doutrina majoritária e a jurisprudência entendem, segundo o(a) recorrente, que as normas pré­constitucionais (anteriores à Constituição) não podem sofrer controle de (in)constitucionalidade, mas sim análise de "revogação" ou de "recepção". Embora a ADPF permita o controle concentrado das normas pré­constitucionais , tal controle não ocorre por meio de um "juízo de constitucionalidade", mas sim de um juízo de "recepção" ou "não-recepção".

Decisão:

A ADPF, disciplinada por lei de 1999, permitiu fosse superada a jurisprudência do c. STF no sentido de que as normas anteriores à nova Constituição de 1988 não poderiam ser objeto do controle concentrado de constitucionalidade naquela Corte .

Porém, impõe-se reconhecer que há ainda, mesmo com a ADPF, divergência quanto à natureza da decisão que reconhece a incompatibilidade da norma pré-constitucional com o texto da Constituição atual. Isto é, divergência sobre se a procedência da ADPF implica em decisão que "declara a inconstitucionalidade" da regra pré-constitucional ou em decisão que "declara não recepcionada , ou revogada", tal regra .

..,

.)

Por isso, a redação da alternativa "b", ao afirmar que as leis anteriores à Constituição da República de 1988 podem ser "declaradas inconstitucionais" pelo STF no controle concentrado, não foi suficientemente precisa em relação aos efeitos da procedência de ADPF. Como a alternativa indicada no gabarito preliminar pode ser interpretada, de maneira razoável , como sendo incorreta, impõe-se anular a questão, já que todas as demais assertivas estão efetivamente erradas.

Recurso provido, para anular a questão 01 da prova objetiva , concedendo a respectiva pontuação para todos os candidatos.

Questão 04 (prova tipo C)

Resumo do recurso:

Pedido de anulação.

Além da alternativa "e" ("A Constituição da República admite a possibilidade da contratação de obras sem licitação"), indicada no gabarito preliminar, também estaria certa a alternativa "c".

Argumenta o(a) recorrente acerca do art. 31 da Lei 12.527/2011 e da decisão do STF na SS 3.902-SP, para então asseverar que as informações relativas ao servidor público decorrentes de sua atuação nessa qualidade não estão incluídas na garantia de preservação da privacidade.

Decisão:

A alternativa "c" da questão 04 da prova tipo C trata de atos de improbidade administrativa ("Os atos de improbidade administrativa ensejam sanções de natureza criminar). Não há, portanto, compatibilidade entre a fundamentação do recurso,acima sumariada, e o respectivo pedido (anulação da questão porque, além da alternativa "e", também estaria certa a alternativa "c").

Ademais, o recurso deverá ser desprovido ainda que se considere que o(a) recorrente pretendia defender o acerto da alternativa "b" da prova do tipo C ("A publicidade oficial pode divulgar as qualidades pessoais do gestor público, desde que em estrita vinculação com o caráter informativo ou de orientação sociar) - já que as demais alternativas, letras "a" e "b", tratam de concurso público e de nomeação para cargos em comissão e efetivos. Explica-se.

A publicidade oficial não pode ser veiculada para divulgar qualidades

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pessoais do gestor público, na esteira do princípio da impessoalidade e da regra do §1° do art. 37 da Constituição da República . A questão da divulgação de informações sobre servidores a título de transparência (Lei 12.527/2011) não se confunde com a vedação à promoção pessoal de agentes públicos na publicidade oficial (i. e., na propaganda de governo).

Por seu turno, acima constam mais fundamentos acerca do acerto do gabarito preliminar no que tange à questão 04, ora reiterados.

Recurso desprovido.

Questão 28 (prova tipo C)

Resumo do recurso:

Pedido de anulação.

A questão requeria que o(a) candidato assinalasse a assertiva incorreta. O gabarito preliminar indicou a alternativa "b" ("O processamento de mandado de segurança pressupõe a existência de um ato administrativo supostamente ilegal praticado por autoridade pública ou por pessoa investida de função pública").

O(A) recorrente assevera, porém, que a alternativa "c" ("O Ministério Público deve ser intimado obrigatoriamente nos processos de mandado de segurança) para proferir parecer a respeito da causa") também está incorreta. Isso porque o Ministério Público não está obrigado a se manifestar em processos de mandado de segurança , nos termos de ato do CNMP.

Decisão:

A alternativa "b" ("O processamento de mandado de segurança pressupõe a existência de um ato administrativo supostamente ilegal praticado por autoridade pública ou por pessoa investida de função pública '; está errada, consoante preconiza o gabarito preliminar. É que nas hipóteses de mandado de segurança preventivo, o impetrante, apontando apenas uma ameaça de ilegalidade, pleiteia justamente ordem para que a autoridade impetrada se abstenha de editar o ato ilegal.

A redação da alternativa "c", na sua parte final , está precisa. Não há dúvidas de que o Ministério Público deve ser intimado obrigatoriamente nos processos de mandado de segurança, conforme previsão legal. Essa

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intimação, ademais, tem por fim que o membro do Ministério Público profira parecer a respeito da causa. Ou seja, a assertiva "c", ora em análise, está correta, segundo os seus exatos termos.

É certo que, intimado(a), não está obrigado(a) o(a) promotor(a)/procurador(a) a se manifestar sobre o mérito, ou sobre a causa, de todo e qualquer mandado de segurança. Há hipóteses em que o Ministério Público pode legitimamente deixar de se manifestar sobre a causa debatida na via do mandado de segurança. Isso, inclusive, nos termos de regulamentação do CNMP e de ampla corrente doutrinária hoje consagrada pela prática. Porém, em qualquer hipótese, segundo o procedimento legal da ação de mandado de segurança , o Ministério Público deverá obrigatoriamente ser intimado para proferir parecer sobre a causa, não obstante possa o(a) promotor(a)/procurador(a) apenas registrar não haver interesse público a determinar o seu pronunciamento sobre o mérito.

Dessa forma, a assertiva "c" em tela , pela sua redação, está correta, não podendo ser assinalada pelo(a) candidato(a), já que o enunciado da questão requeria fosse marcada a assertiva incorreta.

Recurso desprovido.

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Inscrição n. 104

Questão 04 (prova tipo C)

Resumo do recurso:

Pedido de anulação. Além da alternativa "e" ("A Constituição da República admite a possibilidade da contratação de obras sem licitação '), indicada no gabarito preliminar, também estaria certa a alternativa "c".

Argumenta-se no recurso acerca do art. 31 da Lei 12.527/2011 e da decisão do STF na SS 3.902-SP, asseverando-se que as informações relativas ao servidor público decorrentes de sua atuação nessa qualidade não estão incluídas na garantia de preservação da privacidade.

Decisão:

A alternativa "c" da questão 04 da prova tipo C trata de atos de improbidade administrativa ("Os atos de improbidade administrativa ensejam sanções de natureza criminar) , não havendo, portanto, compatibilidade entre a fundamentação do recurso e o seu pedido (anulação da questão porque, além da alternativa "e", também estaria certa a alternativa "c").

Ademais , o recurso deverá ser desprovido ainda que se considere que o(a) recorrente pretendia defender o acerto da alternativa "b" da questão 04 prova tipo C ("A publicidade oficial pode divulgar as qualidades pessoais do gestor público, desde que em estrita vinculação com o caráter informativo ou de orientação sociar) - já que as demais alternativas, das letras "a" e "b", tratam de concurso público e de nomeação para cargos em comissão e efetivos.

A publicidade oficial não pode ser utilizada para divulgar qualidades pessoais do gestor público, na esteira do princípio da impessoalidade e da regra do §1° do art. 37 da Constituição da República .

A questão da divulgação de informações sobre servidores a título de transparência (Lei 12.527/2011) não se confunde com a vedação à promoção pessoal de agentes públicos na publicidade oficial (i. e., na propaganda de governo).

Recurso desprovido.

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Questão 25 (prova tipo C")

Resumo do recurso:

A alternativa correta, para o(a) recorrente, seria a da letra "c" ( "A competência originária dos Tribunais Regionais Federais para julgar ações de improbidade administrativa ajuizadas em face de Prefeitos Municipais (art. 29, X, CF) se extingue com o término do mandato destes"), e não a indicada no gabarito preliminar, da letra "e" ("Todas as alternativas anteriores estão erradas').

Decisão:

Assim como as alternativas "a", "b" e "d"da questão 25, a alternativa "c" também está errada - o que exigia que o(a) candidato(a) assinalasse a alternativa "e" (" Todas as alternativas anteriores estão erradas ))), conforme o gabarito preliminar.

Conforme a jurisprudência atual , inclusive do c. STF, não há falar em foro por prerrogativa de função para prefeitos municipais em ações de improbidade administrativa. A competência para tal espécie de ação é dos juízos comuns da primeira instância, estadual ou federal. É nesse sentido também a doutrina amplamente majoritária .

Recurso desprovido.

Questão 28 (prova tipo C)

Resumo do recurso:

Pedido de anulação.

A questão requeria que o(a) candidato assinalasse a assertiva incorreta. O gabarito preliminar indicou a alternativa "b" ("O processamento de mandado de segurança pressupõe a existência de um ato administrativo supostamente ilegal praticado por autoridade pública ou por pessoa investida de função pública").

O(A) recorrente assevera, porém, que a alternativa "c" ("O Ministério Público deve ser intimado obrigatoriamente nos processos de mandado de

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segurança, para proferir parecer a respeito da causa") também está incorreta. Isso porque o Ministério Público não está obrigado a se manifestar em processos de mandado de segurança , nos termos de ato do CNMP.

Decisão:

A alternativa "b" ("O processamento de mandado de segurança pressupõe a existência de um ato administrativo supostamente ilegal praticado por autoridade pública ou por pessoa investida de função pública '') está errada , consoante preconiza o gabarito preliminar. É que nas hipóteses de mandado de segurança preventivo, o impetrante, apontando apenas uma ameaça de ilegalidade, pleiteia justamente ordem para que a autoridade impetrada se abstenha de editar o ato ilegal.

A redação da alternativa "c", na sua parte final , está precisa. Não há dúvidas de que o Ministério Público deve ser intimado obrigatoriamente nos processos de mandado de segurança, conforme previsão legal. Essa intimação, ademais, tem por fim que o membro do Ministério Público profira parecer a respeito da causa. Ou seja , a assertiva "c", ora em análise, está correta , segundo os seus exatos termos.

É certo que, intimado(a), não está obrigado(a) o(a) promotor(a)/procurador(a) a se manifestar sobre o mérito, ou sobre a causa, de todo e qualquer mandado de segurança . Há hipóteses em que o Ministério Público pode legitimamente deixar de se manifestar sobre a causa debatida na via do mandado de segurança. Isso, inclusive, nos termos de regulamentação do CNMP e de ampla corrente doutrinária hoje consagrada pela prática. Porém, em qualquer hipótese, segundo o procedimento legal da ação de mandado de segurança , o Ministério Público deverá obrigatoriamente ser intimado para proferir parecer sobre a causa , não obstante possa o(a) promotor(a)/procurador(a) apenas registrar não haver interesse público a determinar o seu pronunciamento sobre o mérito.

Dessa forma , a assertiva "c" em tela , pela sua redação , está correta, não podendo ser assinalada pelo(a) candidato(a), já que o enunciado da questão requeria fosse marcada a assertiva incorreta.

Recurso desprovido.

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Questão 36 (prova tipo C)

Resumo do recurso:

o gabarito preliminar indica a alternativa "e" ("O Ministério Público pode recorrer contra sentença penal condenatória, pedindo a absolvição do réu") como correta , mas a alternativa "d" ("A denúncia pode descrever genericamente a conduta do acusado quando a investigação criminal não tiver coligido elementos suficientes da sua participação no fato típico, postergando-se a análise e a comprovação da culpa para a instrução processual" ) também estaria certa. Isso porque o processo penal brasileiro admite a denominada "denúncia genérica" , conforme a jurisprudência do ST J.

Decisão:

A redação da alternativa "d" está, de fato , imprecisa. Há relevante discussão jurisprudencial e doutrinária acerca da possibilidade de formulação de "denúncia genérica" nos denominados "crimes societários" e em outras situações (valendo ressalvar também as divergências terminológicas e a respeito da extensão cabível para imputação que não descreve a conduta individual de cada agente).

Dessa forma , importa reconhecer que a assertiva "d" contém imprecisão que pode levar a entendimento equivocado, no sentido de que estaria ela se referindo à possibilidade de imputação sem descrição minuciosa da conduta de agentes envolvidos nos denominados "crimes societários", por exemplo - com o que poderia ser reputada correta a assertiva , consoante respeitável corrente doutrinária e jurisprudencial.

Assim, e registrando o inegável acerto da assertiva "e" - pois , no processo penal pátrio , o Ministério PIJblico pode recorrer em favor do réu condenado, pedindo a absolvição -, constata-se que há possibilidade de serem tidas como corretas duas assertivas, "d" e "e". Isso impõe a anulação da questão.

Recurso provido, para anular a questão 36 e atribuir a todos os candidatos os pontos correspondentes.

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Inscrição n. 171

Questão n. 04 (prova tipo B)

Resumo do recurso:

Pedido de anulação.

Duas alternativas estariam corretas. Além da alternativa "e" ("A Constituição da República admite a possibilidade da contratação de obras sem licitação"), indicada no gabarito preliminar, também estaria certa a alternativa "c": "Os atos de improbidade administrativa ensejam sanções de natureza criminaf'.

O art. 37 , §4°, da Constituição, estabelecendo que a ação penal não fica prejudicada em razão das sanções próprias dos atos de improbidade administrativa , confirmaria a tese do(a) recorrente. Isso porque, em que pese a natureza jurídica civil das sanções dos atos de improbidade administrativa (que ola recorrente reconhece) , não está excluída a possibilidade de sanções de natureza criminal , para os mesmos atos de improbidade administrativa, após a propositura de ação penal.

Decisão:

A assertiva tida como correta pelo(a) recorrente está vazada nos seguintes termos: "Os atos de improbidade administrativa ensejam sanções de natureza crimina/".

"Ato de improbidade administrativa" é uma categoria jurídica prevista no art. 37, §4°, da Constituição da República e nos arts. 9°, 10 e 11 da Lei 8.429/1992 (além de em outros dispositivos esparsos). E essa categoria jurídica, o ato de improbidade administrativa, enseja sanções de natureza civil ou administrativa, e não criminal. Aliás, é traço distintivo dos atos de improbidade administrativa a natureza extrapenal das sanções punitivas aplicáveis em razão deles. Ou seja, o ato de improbidade administrativa, como categoria jurídica que é, tem como efeito jurídico sanções extrapenais (i. e., sanções que não são criminais).

Justamente por isso, aliás, a parte final do §4° do art. 37 da Constituição da República, invocada pelo(a) recorrente , ressalva que não está prejudicada , em razão das sanções dos atos de improbidade administrativa, a "ação penal cabível" - ou seja , a ação penal que, eventualmente, seja cabível , mas que nem sempre será.

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Como as sanções aplicáveis em caso de atos de improbidade administrativa não são criminais , pode haver, se cabível, ação penal em relação aos mesmos fatos. Não incide a vedação que advém do princípio ne bis in idem (proibição da aplicação de mais de uma sanção criminal para o mesmo delito), inerente ao Direito Penal.

Mas, atente-se, a sanção criminal em relação aos mesmos fatos que ensejaram a configuração dos atos de improbidade administrativa exige a incidência concomitante de um tipo penal. Será esse tipo penal, reconhecido em juízo, que ensejará a sanção criminal também cabível para aquele caso, e não o enquadramento do mesmo fato como ato de improbidade administrativa .

Assim , os atos de improbidade administrativa , como categoria jurídica, não ensejam sanção de natureza criminal, mas sim sanções de natureza extrapenal. Isso não obsta que os mesmos fatos objeto da configuração de ato de improbidade administrativa , eventualmente, sejam também considerados para o reconhecimento da prática de ilícito penal. Sem embargo, em muitas hipóteses os fatos qualificados como atos de improbidade administrativa não ensejam a incidência concomitante de crime, afastando-se a possibilidade da aplicação de sanções CriminaiS concomitantes.

Outrossim, a assertiva indicada no gabarito preliminar, <tA Constituição da República admite a possibilidade da contratação de obras sem licitação", está efetivamente correta.

A contratação direta , sem licitação, disciplinada na Lei 8.666/1993 e em normas esparsas, é compatível com a Constituição da República. Por isso, pode-se dizer que a Constituição da República admite, na forma da lei, a contratação sem licitação, inclusive de obras públicas (por exemplo, no caso de contratação de obra de valor inferior ao mínimo fixado por lei , em que a licitação é dispensada).

Recurso desprovido.

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Sumário da decisão:

1 - Desprover os recursos do(a) candidato(a) de inscrição n. 36 em relação às questões 27 e 30.

2 - Prover o recurso do(a) candidato(a) de inscrição n. 38 em relação à questão 01 ; e desprover os recursos do(a) mesmo(a)s candidato(a)s em relação às questões 04 e 28.

3 - Prover o recurso do(a) candidato(a) de inscrição n. 104 em relação à questão 36; e desprover os recursos em relação às questões 04, 25 e 28.

4 - Desprover o recurso do(a) candidato de inscrição n. 171 em relação à questão 04.

5 - Anular, dessa forma, as questões 01 e 36 , nos três os tipos de prova objetiva, atribuindo os respectivos pontos a todos os candidatos .

6 - No mais, ratificar o gabarito preliminar para as outras questões.

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