Declaração de Hamburgo 1997

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Declarao de Hamburgo sobre Educao de Adultos V Conferncia Internacional sobre Educao de Adultos V CONFINTEAJulho 1997 1. Ns participantes da "V Conferncia Internacional sobre Educao de Adultos", reunidos na cidade de Hamburgo, reafirmamos que apenas o desenvolvimento centrado no ser humano e a existncia de uma sociedade participativa, baseada no respeito integral aos direitos humanos, levaro a um desenvolvimento justo e sustentvel. A efetiva participao de homens e mulheres em cada esfera da vida requisito fundamental para a humanidade sobreviver e enfrentar os desafios do futuro. 2. A educao de adultos, dentro desse contexto, tornase mais que um direito: a chave para o sculo XXI; tanto conseqncia do exerccio da cidadania como condio para uma plena participao na sociedade. Alm do mais, um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecolgico sustentvel, da democracia, da justia da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconmico e cientfico, alm de ser um requisito fundamental para a construo de um mundo onde a violncia cede lugar ao dilogo e cultura de paz baseada na justia. A educao de adultos pode modelar a identidade do cidado e dar um significado sua vida. A educao ao longo da vida implica repensar o contedo que reflita certos fatores, como idade, igualdade entre os sexos, necessidades especiais, idioma, cultura e disparidades econmicas. 3. A educao de adultos engloba todo o processo de aprendizagem, formal ou informal, onde pessoas consideradas "adultas" pela sociedade desenvolvem suas habilidades, enriquecem seu conhecimento e aperfeioam suas qualificaes tcnicas e profissionais, direcionandoas para a satisfao de suas necessidades e as de sua

sociedade. A educao de adultos inclui a educao formal, a educao no-formal e o espectro da aprendizagem informal e incidental disponvel numa sociedade multicultural, onde os estudos baseados na teoria e na pratica devem ser reconhecidos. 4. Apesar de o contedo referente educao de adultos e educao de crianas e adolescentes variar de acordo com os contextos socioeconmicos, ambientais e culturais, e tambm variarem as necessidades das pessoas segundo a sociedade onde vivem, ambas so elementos necessrios a uma nova viso de educao, onde o aprendizado acontece durante a vida inteira. A perspectiva de aprendizagem durante toda a vida exige, por sua vez, complementaridade e continuidade. de fundamental importncia a contribuio da educao de adultos e da educao continuada para a criao de uma sociedade tolerante e instruda, para o desenvolvimento socioeconmico, para a erradicao do analfabetismo, para a diminuio da pobreza e para a preservao do meio ambiente. 5. Os objetivos da educao de jovens e adultos, vistos como um processo de longo prazo, desenvolvem a autonomia e o senso de responsabilidade das pessoas e das comunidades, fortalecendo a capacidade de lidar com as transformaes que ocorrem na economia, na cultura e na sociedade como um todo; promove a coexistncia, a tolerncia e a participao criativa e critica dos cidados em suas comunidades, permitindo assim que as pessoas controlem seus destinos e enfrentem os desafios que se encontram frente. essencial que as abordagens referentes educao de adultos estejam baseadas no patrimnio cultural comum, nos valores e nas experincias anteriores de cada comunidade, e que estimular o engajamento ativo e as expresses dos cidados nas sociedades em que vivem. 6. Esta Conferncia reconhece a diversidade dos sistemas polticos, econmicos e sociais, bem como as estruturas governamentais entre os pases-membros. De

acordo com tal diversidade, e assegurando o respeito integral aos direitos humanos e s liberdades individuais, esta Conferncia reconhece que as circunstncias particulares vividas pelos pases-membros determinaro, em grande parte, as medidas que os Governos devem adotar para avanar na consecuo e no esprito de nossos objetivos. 7. Os representantes de governos e organizaes participantes da V Conferencia Internacional sobre a Educao de Adultos decidiram, unanimemente, explorar o potencial e o futuro da educao de adultos, dinamicamente concebida dentro do contexto da educao continuada por toda a vida. 8. Durante esta dcada, a educao de adultos sofreu profundas transformaes, experimentando um forte crescimento na sua abrangncia e na sua escala. Em sociedades baseadas no conhecimento, que esto surgindo em todo o mundo, a educao de adultos e a educao continuada tm-se tornado uma necessidade, tanto nas comunidades como nos locais de trabalho. As novas demandas da sociedade e as expectativas.de crescimento profissional requerem, durante roda a vida do indivduo, uma constante atualizao de seus conhecimentos e de suas habilidades. No centro dessa transformao, est o novo papel do Estado e a necessidade de se expandirem as parcerias com a sociedade civil visando educao de adultos. O Estado ainda o principal veculo para assegurar o direito de educao para todos, particularmente, para os grupos menos privilegiados da sociedade, tais como as minorias e os povos indgenas. No contexto das novas parcerias entre o setor pblico, o setor privado e a comunidade, o papel do Estado est em transformao. Ele no apenas um mero provedor de educao para adultos, mas tambm um consultor, um agente financiador, que monitora e avalia ao mesmo tempo. Governos e parceiros sociais devem tomar medidas necessrias para garantir o acesso, durante toda a vida dos indivduos, s

oportunidades de educao. Do mesmo modo, dever do Estado garantir aos cidados a possibilidade de expressar suas necessidades e suas aspiraes em termos educacionais. No que tange ao governo, a educao de adultos no deve estar confinada a gabinetes de Ministrios de Educao: todos os Ministrios devem estar envolvidos na promoo da educao de adultos e, para tanto, a cooperao interministerial imprescindvel. Alm disso, empresrios, sindicatos, organizaes no governamentais e comunitrias e grupos indgenas e de mulheres tm a responsabilidade de interagir e de criar oportunidades, para que a educao continuada durante a vida seja uma realidade possvel e reconhecida. 9. Educao bsica para todos significa dar s pessoas, independentemente da idade, a oportunidade de desenvolver seu potencial, coletiva ou individualmente. No apenas um direito, mas tambm um dever e uma responsabilidade para com os outros e com toda a sociedade. fundamental que o reconhecimento do direito educao continuada durante a vida seja acompanhado de medidas que garantam as condies necessrias para o exerccio desse direito. Os desafios do sculo XXI no podem ser enfrentados por governos, organizaes e instituies isoladamente; a energia, a imaginao e a criatividade das pessoas, bem como sua vigorosa participao em todos os aspectos da vida, so igualmente necessrias. A educao de jovens e adultos um dos principais meios para se aumentar significativamente a criatividade e a produtividade, transformando-as numa condio indispensvel para se enfrentar os complexos problemas de um mundo caracterizado por rpidas transformaes e crescente complexidade e riscos. 10. O novo conceito de educao de jovens e adultos apresenta novos desafios s prticas existentes, devido exigncia de um maior relacionamento entre os sistemas

formais e os no-formais e de inovao, alm de criatividade e flexibilidade. Tais desafios devem ser encarados mediante novos enfoques, dentro do contexto da educao continuada durante a vida. Promover a educao de adultos, usar a mdia e a publicidade local e oferecer orientao imparcial responsabilidade de governos e de toda a sociedade civil. O objetivo principal dever ser a criao de uma sociedade instruda e comprometida com a justia social e o bem-estar geral. 11. Alfabetizao de adultos. A alfabetizao, concebida como o conhecimento bsico, necessrio a todos num mundo em transformao em sentido amplo, um direito humano fundamental. Em toda sociedade, a alfabetizao uma habilidade primordial em si mesma e um dos pilares para o desenvolvimento de outras habilidades. Existem milhes de pessoas a maioria mulheres que no tm a oportunidade de aprender nem mesmo o acesso a esse direito. O desafio oferecer-lhes esse direito. Isso implica criar pr-condies para a efetiva educao, por meio da conscientizao e do fortalecimento do individuo. A alfabetizao tem tambm o papel de promover a participao em atividades sociais, econmicas, polticas e culturais, alm de ser requisito bsico para a educao continuada durante toda a vida. Portanto, ns nos comprometemos a assegurar oportunidades para que todos possam ser alfabetizados; comprometemo-nos tambm a criar, nos Estados-Membros, um ambiente favorvel proteo da cultura oral. Oportunidades de educao para todos, incluindo os afastados e os excludos, a preocupao mais urgente. A Conferncia v com agrado a iniciativa de se proclamar a dcada da alfabetizao, a partir de 1998, em homenagem a Paulo Freire. 12. O reconhecimento do "Direito Educao" e do "Direito a Aprender por Toda a Vida" , mais do que nunca, uma necessidade: o direito de ler e de escrever; de questionar e de analisar; de ter acesso a recursos e de

desenvolver e praticar habilidades e competncias individuais e coletivas. 13. O fortalecimento e a integrao das mulheres. As mulheres tm o direito s mesmas oportunidades que os homens. A sociedade, por sua vez, depende da sai contribuio em todas as reas de trabalho e em todos os aspectos da vida cotidiana. As polticas de educao voltadas para a alfabetizao de jovens e adultos devem estar baseadas na cultura prpria de cada sociedade, dando prioridade expanso das oportunidades educacionais para todas as mulheres, respeitando sua diversidade e eliminando os preconceitos e esteretipos que limitam o seu acesso educao e que restringem os seus benefcios. Qualquer argumentao em favor de restries ao direito de alfabetizao das mulheres deve ser categoricamente rejeitada. Medidas devem ser tomadas para fazer face a tais argumentaes. 14. Cultura da paz e educao para a cidadania e para a democracia. Um dos principais desafios de nossa poca eliminar a cultura da violncia e construir uma cultura da paz, baseada na justia e na tolerncia, na qual o dilogo, o respeito mtuo e a negociao substituiro a violncia nos lares e comunidades, dentro de naes e entre pases. 15. Diversidade e Igualdade. A educao de adultos deve refletir a riqueza da diversidade cultural, bem como respeitar o conhecimento e formas de aprendizagem tradicionais dos povos indgenas. O direito de ser alfabetizado na lngua materna deve ser respeitado e implementado. A educao de adultos enfrenta um grande desafio, que consiste em preservar e documenta o conhecimento oral de grupos tnicos minoritrios e de povos indgenas e nmades. Por outro lado, a educao intercultural deve promover o aprendizado e o intercmbio de conhecimento entre e sobre diferentes culturas, em favor da paz, dos direitos humanos, das liberdades2

fundamentais, da democracia, da justia, da coexistncia pacfica e da diversidade cultural. 16. Sade. A sade um direito humano bsico. Investimentos em educao so investimentos em sade. A educao continuada pode contribuir significativamente para a promoo da sade e para a preveno de doenas. A educao de adultos democratiza a oportunidade de acesso sade. 17. Sustentabilidade ambiental. A educao voltada para a sustentabilidade ambiental deve ser um processo de aprendizagem que deve ser oferecido durante toda a vida e que, ao mesmo tempo, avalia os problemas ecolgicos dentro de um contexto socioeconmico, poltico e cultural. Um futuro sustentvel no pode ser atingido se no for analisada a relao entre os problemas ambientais e os atuais paradigmas de desenvolvimento. A educao ambiental de adultos pode desempenhar um papel fundamental no que se refere mobilizao das comunidades e de seus lderes, visando ao desenvolvimento de aes na rea ambiental. 18. A educao e a cultura de povos indgenas e nmades. Povos indgenas e nmades tm o direito de acesso a todas as formas e nveis de educao oferecidos pelo Estado. No se lhes deve negar o direito de usufrurem de sua prpria cultura e de seu prprio idioma. Educao para povos indgenas e nmades deve ser cultural e lingisticamente apropriada a suas necessidades, devendo facilitar o acesso educao avanada e ao treinamento profissional. 19. Transformaes na economia. A globalizao, mudana nos padres de produo, desemprego crescente e dificuldade de levar uma vida estvel exigem polticas trabalhistas mais efetivas, assim como mais investimentos em educao, de modo a permitir que homens e mulheres desenvolvam suas habilidades e possam participar do mercado de trabalho e da gerao de renda.

20. Acesso informao. O desenvolvimento de novas tecnologias, nas reas de informao e comunicao, traz consigo novos riscos de excluso social para grupos de indivduos e de empresas que se mostram incapazes de se adaptar a essa realidade. Uma das funes da educao de adultos, no futuro, deve ser o de limitar esses riscos de excluso, de modo que a dimenso humana das sociedades da informao se torne preponderante. 21. A populao de idosos. Existem hoje mais pessoas idosas no mundo do que havia antigamente, e esta proporo continua aumentando. Esses adultos mais velhos tm muito a oferecer ao desenvolvimento da sociedade. Portanto, importante que eles tenham a mesma oportunidade de aprender que os mais jovens. Suas habilidades devem ser reconhecidas, respeitadas e utilizadas. 22. Na mesma linha da Declarao de Salamanca, urge promover a integrao e a participao das pessoas portadoras de necessidades especiais. Cabe-lhes o mesmo direito de oportunidades educacionais, de ter acesso a uma educao que reconhea e responda s suas necessidades e objetivos prprios, onde as tecnologias adequadas de aprendizado sejam compatveis com as especificidades que demandam. 23. Devemos agir como urgncia para aumentar e garantir o investimento nacional e internacional na educao de jovens e adultos. Da mesma forma, devemos atuar de modo a garantir o engajamento dos recursos do setor privado e das comunidades locais nessa tarefa. A Agenda para o Futuro, que ns adotamos aqui, visa consecuo desses objetivos. 24. Dentro do Sistema das Naes Unidas, a UNESCO tem um papel preponderante no campo da educao. Assim, deve desempenhar um papel de destaque na promoo da educao de adultos, angariando apoios e mobilizando outros parceiros, particularmente aqueles

dentro do Sistema das Naes Unidas. Isso contribuir para a implementao da Agenda para o Futuro, facilitando a prestao de servios necessrios ao fortalecimento da coordenao e da cooperao internacionais. 25. A UNESCO dever encorajar os Estados-Membros a adorar polticas e legislaes que favoream pessoas portadoras de necessidades especiais, assim como a considerar, em seus programas de educao, a diversidade de cultura, de lnguas, de gnero e de situao econmica. 26. Ns solenemente declaramos que todos os setores acompanharo atentamente a implementao desta Declarao e da Agenda para o Futuro, distinguindo claramente as responsabilidades e cooperando com outros parceiros. Estamos determinados a assegurar que a educao continuada durante a vida se torne uma realidade concreta no comeo do sculo XXI. Com tal propsito, assumimos o compromisso de promover a cultura do aprendizado com o movimento "uma hora diria para aprender", e com a promoo, pelas Naes Unidas, da Semana de Educao de Adultos. 27. Ns, reunidos em Hamburgo, convencidos da necessidade da educao de adultos, nos comprometemos com o objetivo de oferecer a homens e mulheres as oportunidades de educao continuada ao longo de suas vidas. Para tanto, construiremos amplas alianas para mobilizar e compartilhar recursos, de forma a fazer da educao de adultos um prazer, uma ferramenta, um direito e uma responsabilidade compartilhada.Hamburgo, Alemanha, jul 1997.

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