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1 DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRECTIVO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE I INTRODUÇÃO Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde (doravante ERS) conferidas pelo artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio; Considerando os objectivos da actividade reguladora da ERS estabelecidos no artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio; Considerando os poderes de supervisão da ERS estabelecidos no artigo 42.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio; Visto o processo registado sob ERS n.º 032/10; II DO PROCESSO A) Introdução 1. No seguimento de notícias divulgadas pela Comunicação Social Nacional, a respeito de situações de distinta natureza, sobre o Centro Hospitalar do Porto, EPE e de denúncias apresentadas por utentes de cuidados de saúde, o Conselho Directivo da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) deliberou a abertura de processo de inquérito sob n.º ERS_032/10. B) Caracterização do estabelecimento prestador de cuidados de saúde 2. De acordo com a informação confirmada no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER), o Centro Hospitalar do Porto EPE procedeu

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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DIRECTIVO

DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

I

INTRODUÇÃO

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde (doravante ERS)

conferidas pelo artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio;

Considerando os objectivos da actividade reguladora da ERS estabelecidos no artigo

33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio;

Considerando os poderes de supervisão da ERS estabelecidos no artigo 42.º do

Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio;

Visto o processo registado sob ERS n.º 032/10;

II

DO PROCESSO

A) Introdução

1. No seguimento de notícias divulgadas pela Comunicação Social Nacional, a

respeito de situações de distinta natureza, sobre o Centro Hospitalar do Porto,

EPE e de denúncias apresentadas por utentes de cuidados de saúde, o Conselho

Directivo da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) deliberou a abertura de

processo de inquérito sob n.º ERS_032/10.

B) Caracterização do estabelecimento prestador de cuidados de saúde

2. De acordo com a informação confirmada no Sistema de Registo de

Estabelecimentos Regulados (SRER), o Centro Hospitalar do Porto EPE procedeu

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ao registo obrigatório, nos termos do disposto no art. 3.º e art. 1.º da Portaria n.º

38/2006, de 6 de Janeiro, tendo sido atribuído o n.º 19061.

III

DOS FACTOS

3. Teve esta ERS conhecimento, através de notícias divulgadas pela Comunicação

Social Nacional e de denúncias apresentadas por utentes sobre o Centro

Hospitalar do Porto, E.P.E., da alegada falta de condições de actividade e

funcionamento do Hospital Geral de Santo António e o Hospital Central

Especializado de Crianças Maria Pia, unidades hospitalares que integram aquele

centro.

4. A factualidade veiculada através das denúncias apresentadas pelos utentes e das

informações noticiosas dão conta de alegada falta de condições a nível de

instalações, equipamentos, segurança e organização daquelas unidades para o

exercício da actividade.

5. Evidenciando-se no caso do Hospital Geral de Santo António a falta de condições

das instalações de alguns serviços e a suspensão das obras de reestruturação do

edifício neoclássico, a deficiente ventilação das instalações, sobretudo na unidade

de farmácia de oncologia, a falta de manutenção adequada dos geradores, que

colocam em causa a qualidade da assistência dos cuidados de saúde e a

segurança dos utentes.

6. Relativamente ao Hospital Central Especializado de Crianças Maria Pia são

evidenciadas as falhas infra-estruturais, a deficiência das medidas de segurança

e, sobretudo, a solvabilidade de medidas que possibilitem a prestação de

cuidados de saúde visando a garantia da qualidade e segurança dos utentes.

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IV

DA INSTRUÇÃO DO PROCESSO DE INQUÉRITO

7. Face a multiplicidade de matérias trazidas ao conhecimento da ERS determinou-

se superiormente a realização de um conjunto de diligências, com vista ao

apuramento da verdade material dos factos.

8. Nesse sentido, houve a necessidade de enxertar três processos autónomos

dentro do presente processo de inquérito, pelo facto de o Centro Hospitalar do

Porto, EPE integrar três unidades hospitalares, a saber Hospital Geral de Santo

António, Hospital Central Especializado de Crianças Maria Pia e a Maternidade

Júlio Dinis.

9. Assim, perante a existência de factos que apenas podiam ser comprovados

mediante a realização de diligências locais, o Departamento de Protecção da

Qualidade e dos Direitos dos Cidadãos (designado DPQ) da ERS, no âmbito das

suas atribuições, promoveu diversas acções de fiscalização.

10. Uma das quais incidiu sobre o Hospital Central Especializado de Crianças Maria

Pia e que teve como pressuposto a averiguação dos níveis de segurança e

qualidade dos cuidados de saúde e da garantia dos direitos e interesses legítimos

dos utentes.

A) A Acção de Fiscalização

11. O plano da acção incluiu o levantamento da legislação aplicável à elaboração da

check-list orientadora, a utilizar in loco, referente aos requisitos mínimos atinentes

à actividade e funcionamento daquela unidade hospitalar, bem como

recomendações e especificações técnicas relativas aos edifícios hospitalares e

artigos de cariz técnico referentes a cuidados pediátricos.

12. Tendo presente que a especificidade da matéria obrigava a uma análise

pormenorizada, o Conselho Directivo nomeou uma comissão de inquérito,

composta por três elementos da Entidade Reguladora da Saúde colaboradores

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directos do Departamento de Protecção da Qualidade e Direitos dos Cidadãos

(DPQ), Dr.ª Ana Morais, Dr.ª Ana Paula Cabral e Dr.ª Susana Monteiro, e por um

perito médico, Dr. Sampaio da Veiga.

13. No âmbito dessa acção, executada no dia 17 de Setembro de 2010, a par da

verificação dos critérios mínimos de actividade e funcionamento da unidade

hospitalar, foram realizadas outras diligências, reputadas necessárias e

pertinentes, designadamente a obtenção de informações e de esclarecimentos

junto dos profissionais que acompanharam a fiscalização, a Directora do Serviço

de Pediatria, o Director do Serviço de Cirurgia Pediátrica, o Director do Serviço de

Internamento Médico-Cirúrgico, a Administradora e Directora do Departamento de

Gestão da Qualidade, Risco, Higiene, Saúde e Segurança, o Director do Serviço

de Instalações e Equipamentos e Gestor de Risco Geral, a Gestora de Risco

Clínico e 3 enfermeiras.

14. A acção de fiscalização levada a efeito assentou nos seguintes propósitos:

a) Verificar o cumprimento dos requisitos de exercício da actividade e

funcionamento das unidades de saúde e a sua conformidade com as

disposições legais e regulamentares aplicáveis e os padrões de qualidade

mínimos exigíveis;

b) Analisar as condições higio-sanitárias;

c) Averiguar os níveis de segurança.

B) O Relatório da Acção de Fiscalização

15. No que respeita ao cumprimento das normas legais e regulamentares de

actividade e funcionamento do Hospital Central Especializado de Crianças Maria

Pia constatou a comissão de inquérito algumas das não conformidades

denunciadas1.

16. O Hospital, fundado em 1882, é uma importante e prestigiada unidade hospitalar

pediátrica, que funciona num edifício composto por cave e três andares.

1 Vide o relatório da acção de fiscalização junto em anexo.

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17. O Hospital oferece uma variedade de serviços, designadamente, serviço de

internamento, serviço de meios complementares de diagnóstico e terapêutica,

hospital de dia e cirurgia de ambulatório, funcionando ambos em regime idêntico.

18. Presentemente o serviço de urgência funciona nas instalações do Hospital de S.

João, ficando, no entanto, o Hospital Central Especializado de Crianças Maria Pia

responsável pelas áreas de pedopsiquiatria e doentes com patologia crónica.

19. O serviço de internamento dispõe das seguintes especialidades para áreas

referenciadas na consulta externa geral: cirurgia pediátrica, oftalmologia,

otorrinolaringologia, estomatologia, nefrologia e hemodiálise, ortopedia,

cardiologia pediátrica, endocrinologia, gastrenterologia, hematologia, hepatologia,

metabolismo, neuropediatria, pedopsiquiatria e unidade de cuidados intensivos

pediátricos e neonatais.

20. Quanto ao serviço de consultas externas o hospital dispõe de cuidados nas

seguintes especialidades: anestesiologia, cardiologia pediátrica, cirurgia

pediátrica, cirurgia plástica reconstituição e estética, dermato-veneralogia,

endocrinologia e nutrição, estomatologia, gastrenterologia, genética médica,

hematologia clínica, imunoalergia, medicina física e de reabilitação, nefrologia,

neurocirurgia, oftalmologia, ortopedia, otorrinolaringologia, pediatria, psiquiatria da

infância e da adolescência e urologia.

(i) Meio físico e espaço envolvente

21. Efectivamente, constatou aquela comissão de fiscalização que o estabelecimento

prestador de cuidados de saúde visado, ao nível de meio físico e espaço

envolvente:

­ Dispõe de um prédio urbano, composto por cave e três andares;

­ Situa-se em meio físico salubre e arejado, dispõe de infra-estruturas viárias, de

abastecimento de água, de saneamento, de recolha de lixos, de energia

eléctrica e de telecomunicações;

­ Não dispõe de acessibilidades adequadas para pessoas com mobilidade física

condicionada, em virtude da antiguidade das instalações.

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(ii) Normas genéricas de construção

22. No que respeita a normas genéricas de construção, aquela comissão constatou

que:

­ O pavimento é revestido por material lavável e antiderrapante, no entanto, os

acabamentos não permitem a manutenção do grau de higienização compatível

com a actividade desenvolvida;

­ As instalações têm áreas desadequadas às finalidades a que se destinam, em

detrimento da segurança, higiene, conforto e respeito individual pelos utentes;

­ A unidade hospitalar dispõe de dois ascensores para doentes, público e

serviço, ambos permitem o acesso directo ao bloco operatório, contudo,

apenas um permite o transporte de doentes em macas, sendo que este se trata

de um aparelho obsoleto, demasiado lento e sem climatização ou entrada de ar

nos moldes devidos;

­ As áreas de circulação e evacuação são exíguas, labirínticas e insuficientes,

com difícil circulação e manobra de macas e cadeiras de rodas;

­ Os corredores são estreitos e não permitem a circulação fácil de camas e

macas;

­ Existe uma insuficiência de áreas para apoio logístico e técnico;

­ O pé direito, apesar de muito alto nalgumas zonas, noutras é insuficiente.

(iii) Bloco operatório e enfermarias

23. Relativamente às instalações, equipamentos, organização e funcionamento do

bloco operatório a comissão constatou que:

­ Há cruzamento de doentes que vão ser intervencionados com os operados,

numa sala de espera dentro do bloco;

­ Os doentes vindos da enfermaria, acompanhados pelos pais esperam a sua

vez para intervenção, enquanto os que foram operados são levados para a

sala de recobro, onde acompanhados dos familiares fazem a sua recuperação;

­ Não existe área de transfer que separe o exterior do que se passa no bloco.

(área de risco acentuado, que deve ser impedido de continuar a funcionar);

­ A sala de recobro tem dimensões insuficientes, já que por causa das

camas/berços, as enfermeiras, circulantes e familiares, não se podem deslocar

com facilidade;

­ A observação é feita presencialmente por enfermeira, não havendo sistema de

chamada;

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­ Não existe carro de emergência; Não duvidando da existência de

equipamentos e medicamentos, para estas situações, encontra-se disperso o

que não prefigura nada de bom se alguma emergência surgir.

­ A unidade hospitalar possui gerador que garante as ligações e o

funcionamento dos equipamentos do bloco operatório, em caso de falha de

energia;

­ A climatização é central com tratamento do ar;

­ Os circuitos de sujos e limpos não são independentes;

­ A saída dos sujos faz-se por uma porta, oposta à entrada no bloco, sendo

aqueles encerrados em sacos e contentores que são levados para a saída

junto ao elevador, seguindo os diversos destinos;

­ Os materiais sujos são levados por um corredor onde se encontram armários

abertos com materiais esterilizados (há uma promiscuidade que não é

admissível e que não deveria existir);

­ A esterilização do material é efectuada no Hospital Geral de Santo António;

­ Não há assinatura do familiar no momento da alta;

­ Não fazem cirurgia de ambulatório, pois não possuem condições para tal.

24. No que concerne à área clínica do bloco operatório verificou-se que:

­ Não existe sala/zona de transfer e sala de indução;

­ A área clínica/técnica de recuperação cumpre os requisitos mínimos exigíveis,

assim como no referente à área do pessoal;

­ Verificou-se que não se procede à lavagem ou desinfecção de camas e tampos

e sala de equipamento;

­ A nível de equipamento técnico e geral e equipamento médico a unidade

hospitalar possui o mínimo indispensável.

25. Relativamente à área de enfermaria constatou-se que:

­ As enfermarias, nomeadamente a enfermaria destinada ao internamento de

lactentes, não asseguram o respeito pela privacidade e dignidade dos doentes

e, fundamentalmente, atendendo ao nível etário destes, o dos respectivos

acompanhantes;

­ Nas enfermarias os espaços são diminutos para doentes e acompanhantes;

­ As camas encontram-se dispostas lado a lado, sem cortina separativa,

havendo assim uma violação das regras básicas de privacidade;

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­ Os quartos ou enfermarias de internamento dispõem de ar condicionado, no

entanto o ar é saturado, há pouco arejamento e pouca luz natural;

­ Os gabinetes e salas de trabalho são diminutos, com problemas de privacidade

e sem condições de trabalho ao nível das exigências ergonómicas.

(iv) Unidade de Cuidados Intensivos

26. A Unidade de Cuidados Intensivos funciona no terceiro piso e, à data da acção de

fiscalização, apresentou a realidade que se descreve:

­ A acessibilidade ao serviço é efectuada através de ascensor, de aspecto

antigo, com porta de abertura vertical;

­ Os corredores, exíguos, estão equipados com rampas de dimensão que

permitem a passagem de camas ou macas;

­ O serviço tem capacidade para 7 a 8 camas (posto);

­ Existe uma área de acolhimento para os pais, com cacifos, onde estes podem

guardar os seus pertences e vestir o equipamento de protecção necessário;

­ Não existe instalação sanitária pública dentro do serviço;

­ Não existe sala de reanimação/emergência, sendo que, se necessário, a

mesma é feita em cada posto;

­ A inaloterapia, a recuperação e a pequena cirurgia são realizadas, se

necessário, em cada posto, não existido salas específicas para o efeito;

­ Não existe gabinete de consulta, nem sala de observação;

­ Tem equipamento de RX, portátil, protegido por uma parede, amovível, de

chumbo. Os profissionais utilizam coletes de protecção contra radiações;

­ Existe um ecografo;

­ O pessoal afecto a este serviço dispõe de uma sala de descanso com copa

(espaço exíguo);

­ Existe uma área de vestiário de pessoal, com zona de cacifos, separado por

sexos, sendo que o balneário masculino situa-se na zona de equipamento;

­ Numa pia hospitalar procede-se apenas à lavagem do material;

­ Não existe zona de despejos;

­ Não existe sala de sujos, sendo utilizado um compartimento para

armazenamento dos resíduos hospitalares;

­ Verificou-se a existência de uma zona de armazenagem de material de roupa

limpa, zona de armazenagem de material de consumo e zona de

armazenagem de material clínico (armários/estantes);

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­ Não existe zona de armazenagem do material de limpeza;

­ As camas têm características técnicas adequadas, no entanto, não têm

sistema de cortinas que preserve a privacidade dos doentes;

­ As mesas-de-cabeceira não têm instalado sistema de chamada visual e/ou

sonoro;

­ Existe fornecimento de energia em situações de emergência e de segurança

de instalações eléctricas.

(v) Serviço de Imagiologia

27. No que respeita às instalações, organização e funcionamento do serviço de

imagiologia concluiu-se que:

­ Os equipamentos de electromedicina são obsoletos;

­ Possui dois equipamentos de imagiologia tradicional, um deles permite

executar exames mais elaborados;

­ Possui um ecógrafo e um aparelho de pantotomografia;

­ O espaço é pequeno, mesmo tendo em conta que se destina a crianças, mas

que agora se agrava devido ao alargamento dos grupos etários a tratar;

­ Os acessos a deficientes possuem áreas exíguas e de difícil limpeza.

(vi) Segurança das instalações

28. Ao nível da segurança hospitalar a comissão constatou:

­ A existência de extintores de incêndio dentro da validade, verificados de acordo

com as normas de manutenção;

­ A deficiente cobertura de equipamentos para detecção automática de incêndio,

uma vez que não estão presentes em todas as áreas (em zonas já

remodeladas estes equipamentos estão ainda a ser instalados);

­ A falta uma área de segurança na zona de armazenamento de oxigénio a

granel bem como das balas de oxigénio;

­ A existência de plantas de emergências afixadas em local visível;

­ A instalação de tomadas de corrente eléctrica situadas a um nível superior, fora

do alcance das crianças.

(vii) Condições ambientais em geral

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29. No que respeita às condições ambientais verificou-se que:

­ O prestador possui deficientes condições ambientais em termos de

climatização e qualidade do ar;

­ A existência de ar condicionado nas enfermarias e bloco cirúrgico, contudo,

verificou-se que, nestes locais, há apenas correcção da temperatura, não

existindo equipamentos de controlo/avaliação da qualidade do ar;

­ A existência de problemas ambientais relacionados com o combustível usado

nas caldeiras de aquecimento e ar condicionado (nafta), bem como com o

isolamento térmico e acústico desta área.

(viii) Gestão de resíduos

30. No que concerne à gestão de resíduos hospitalares verificou-se a:

­ Inexistência da definição de circuitos independentes de limpos e sujos, dado

que o circuito é o mesmo e passa por áreas comuns a profissionais e doentes,

não existindo uma metodologia capaz de salvaguardar padrões de qualidade e

segurança dos serviços;

­ Ausência de locais adequados para despejos, sendo os sujos recolhidos por

uma auxiliar às 8h e às 14h e armazenados numa das casas de banho e

removidos antes de as crianças tomarem banho;

­ Triagem e a remoção de resíduos hospitalares são efectuadas sob contratação

com empresa certificada – Such (Serviço de Utilização Comum dos Hospitais).

(ix) Procedimentos de desinfecção e esterilização de materiais e equipamentos

31. Ao nível dos procedimentos de desinfecção e esterilização, a comissão de

inquérito verificou que;

­ Não existe autoclave;

­ Todos os procedimentos de esterilização são centralizados no Hospital de

Santo António;

­ São utilizados artigos descartáveis, que não são reprocessados;

­ São utilizados artigos esterilizados em entidade externa certificada;

­ Os dispositivos potencialmente contaminados são manipulados, recolhidos e

transportados em caixas fechadas para a área de descontaminação;

­ Existe recolha de instrumentos e dispositivos médicos, limpeza de artigos;

­ Não existe desinfecção, triagem, montagem e embalagem dos artigos.

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V

DO DIREITO

32. Competindo à ERS a missão de regulação da actividade dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde, por força do disposto no n.º 1 do art. 3.º do

Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio;

33. Cabendo no âmbito das atribuições da ERS “a supervisão da actividade e

funcionamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, no que

respeita ao cumprimento dos requisitos de exercício da actividade e de

funcionamento e à garantia dos direitos dos utentes”, nos termos do disposto no

art. 3.º n.º 2 do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio;

34. Constituindo objectivo da actividade reguladora, nos termos da alínea a) e c) do

art. 33.º do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, em geral:

a) “Velar pelo cumprimento dos requisitos do exercício dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde”, nomeadamente no que respeita à

segurança e qualidade dos cuidados de saúde;

b) “Garantir os direitos e interesses legítimos dos utentes”.

35. Encontrando-se o estabelecimento Centro Hospitalar do Porto, EPE, na qualidade

de estabelecimento prestador de cuidados de saúde, sujeito à regulação da ERS

e, consequentemente, sujeito às obrigações que decorrem do Decreto-Lei n.º

127/2009, de 27 de Maio;

36. Propôs-se a Entidade Reguladora da Saúde, no âmbito da sua intervenção

regulatória, a analisar a qualidade e a segurança dos cuidados de saúde em

termos gerais, tendo por base padrões mínimos exigíveis no âmbito da medicina

hospitalar, bem como a garantia dos direitos e interesses legítimos dos utentes,

em particular.

37. O Centro Hospitalar do Porto, EPE foi criado pelo Decreto-Lei n.º 326/2007, de 28

de Setembro, por fusão do Hospital Geral de Santo António com o Hospital

Central Especializado de Crianças Maria Pia e a Maternidade de Júlio Dinis.

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38. Este Centro Hospitalar acha-se integrado no Sistema Nacional de Saúde2, o qual,

de acordo com o n.º 2 da Base XII da Lei de Bases da Saúde3, “(…) abrange

todas as instituições e serviços oficiais prestadores de cuidados de saúde

dependentes do Ministério da Saúde que garantem a imposição constitucional de

“acesso de todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica,

aos cuidados da medicina preventiva, curativa ou de reabilitação4”.

39. O Hospital Central Especializado de Crianças Maria Pia, enquanto unidade

daquele Centro Hospitalar, tem desempenhado um papel de elevada relevância

na prossecução de tal imposição.

40. A factualidade denunciada e ora em apreço abrange questões atinentes à

segurança e qualidade dos cuidados de saúde, mormente no que respeita aos

níveis mínimos indispensáveis ao exercício da actividade, e à garantia dos direitos

e interesses legítimos dos utentes.

41. Pelo que, as diligências encetadas pela ERS tiveram como pressuposto averiguar

o regular funcionamento do Hospital Central Especializado de Crianças Maria Pia

tendo em conta a prestação de cuidados de saúde pediátricos, mediante a

observância de padrões mínimos de segurança e qualidade indispensáveis ao

exercício desta actividade.

42. A Lei de Bases da Saúde5 isenta os estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde do sector público da aplicação das regras previstas em matéria de

licenciamento, dado ser o próprio acto da sua constituição que os habilita ao

exercício da actividade a que se destinam.

43. No entanto, estão sujeitos ao poder orientador e de inspecção dos serviços

competentes do Ministério da Saúde, de forma a salvaguardar a qualidade e a

segurança dos serviços prestados, pelo que devem garantir o bom funcionamento

das instalações e equipamentos das suas unidades de saúde, a qualidade e

2 O SNS é definido como o “(…) conjunto ordenado e hierarquizado de instituições e serviços oficiais prestadores de

cuidados de saúde, funcionando sob a superintendência ou a tutela do Ministro da Saúde” - cfr. art. 1.º do Estatuto do SNS, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 11/93, de 15 de Janeiro de 1993. 3 Lei n.º 48/90, de 24 de Agosto, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 27/2002, de 8 de Novembro.

4 Cfr. al. a) do n.º 3 do artigo 64.º da Constituição da República Portuguesa.

5 Lei n.º 48/90, de 24 de Agosto, alterada pela declaração de rectificação n.º 42/93, de 31 de Março.

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eficiência dos serviços, colaborar com a autoridade sanitária local e dar

cumprimento às recomendações e directivas impostas.

44. Inexistindo diploma legal que determine as regras de funcionamento e

organização da actividade dos estabelecimentos públicos e tendo presente que os

princípios referentes à qualidade e à segurança na prestação de cuidados de

saúde são transversais ao sector público, privado e social, a actuação da ERS

pautou-se pelas regras previstas na legislação que regulamenta o licenciamento

dos estabelecimentos privados prestadores de cuidados de saúde6, nas

recomendações e especificações técnicas relativas a edifícios hospitalares e

directivas técnicas de prevenção de incêndios em hospitais, ambas publicadas

pela ACSS, em artigos técnicos no âmbito de cuidados de saúde pediátrico e

legislação nacional e internacional atinentes aos direitos e deveres dos utentes,

no geral, e das crianças, em particular.

45. Na concepção de edifícios hospitalares dever-se-á ter em conta a implementação

das soluções técnicas mais vantajosas, de modo a permitir a durabilidade,

facilidade de manutenção e flexibilidade dos mesmos.

46. De um modo sucinto e genérico, tendo por referência as Recomendações e

Especificações Técnicas do Edifício Hospitalar7 e a Directiva Técnica 01-02/20078,

a concepção, construção e manutenção de um edifício hospitalar deve considerar

uma série de parâmetros, contando-se os que se seguem:

­ Contemplar a eliminação de barreiras arquitectónicas;

­ Possuir vias de comunicação vertical;

­ Gozar de apoios à mobilidade ou seja apoios sanitários em

compartimentos de higiene de doentes, instalações sanitárias para

deficientes e para utentes;

­ Ter sinalização interior e exterior que preste aos utentes uma informação

clara e eficiente, sistematizada, abundante e visível;

­ Contemplar soluções que permitam o conforto acústico, térmico, visual e

de ambiente interior, como elementos preponderantes para a humanização

dos cuidados de saúde;

6 Decreto-Lei n.º 13/93, de 15 de Janeiro e Decreto Regulamentar n.º 63/94, de 2 de Novembro.

7 Publicadas no sítio da internet da Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS).

8 Emitida pela ACSS, na qual se plasmam os requisitos de prevenção de incêndios em hospitais.

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­ Permitir uma eficaz articulação dos serviços, devendo atender às inter-

relações funcionais respectivas com hierarquização e adequada separação

dos circuitos internos e externos;

­ Assegurar a dignidade e a privacidade dos doentes facilitando, no entanto,

a observação dos mesmos pelos profissionais de saúde;

­ Contemplar aspectos de segurança contra radiações internas, resíduos

perigosos, descargas atmosféricas e intrusão;

­ Considerar todas as medidas que limitem o risco de eclosão e de

desenvolvimento de incêndio, que garantam a segurança dos utentes e

facilitem a evacuação de pessoas e o combate do mesmo, em

cumprimento da legislação vigente;

­ Possuir um serviço de esterilização de todos os equipamentos,

possibilitando procedimentos de lavagem, desinfecção e esterilização

adequados à descontaminação de materiais e instrumentos;

­ Criar condições para a gestão integrada de resíduos hospitalares, tendo

particular importância a fase atinente à recolha e transporte interno,

devendo os resíduos ser transportados convenientemente acondicionados

e devendo ser estabelecidos circuitos de fluxo unidireccional, de modo a

garantir a manutenção de uma boa higienização do hospital e a prevenção

do risco clínico e não clínico.

47. Os edifícios hospitalares devem, também, possuir flexibilidade funcional, interna,

estrutural, de demolição e de expansão, tendo em vista futuras remodelações ou

alterações do layout dos serviços, compartimentos e equipamentos.

48. Acresce ainda que tais edifícios devem ser projectados, construídos e geridos

durante a sua vida útil, isto é tendo por base valores de referência expectáveis de

todos os elementos e equipamentos que compõem a estrutura.

49. Assim, e no que se refere a eventuais violações do cumprimento dos requisitos

mínimos de qualidade e segurança para o exercício da actividade pelo prestador

de cuidados de saúde visado, atente-se as conclusões da comissão de

fiscalização, emitidas na sequência da acção de fiscalização, no que respeita à

necessidade de rever os circuitos dos doentes, os circuitos de sujos e limpos, os

procedimentos do bloco operatório no que respeita à inexistência de área de

transfer (potenciando uma área de risco clínico acentuado), às dimensões

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insuficientes da sala de recobro, à inexistência de sistema de chamada de

enfermagem, às dimensões reduzidas dos gabinetes e salas de trabalho, com

problemas de privacidade e sem condições de trabalho ao nível das exigências

ergonómicas, o desrespeito pela privacidade e dignidade dos doentes e

respectivos acompanhantes, dada a falta de condições das instalações das

enfermarias, nomeadamente a enfermaria destinada ao internamento de lactentes

(vide ponto Ponto IV – alínea B).

50. Apesar de o Hospital Central Especializado de Crianças Maria Pia ser

considerado uma referência a nível nacional entre a comunidade médica, no que

respeita ao nível da qualidade dos cuidados de saúde pediátrica, no decurso da

acção de fiscalização tornou-se evidente a existência de não conformidades no

que respeita aos fluxos operacionais, infra-estruturais e organizacionais que

comprometem a vida daquela unidade hospitalar e que, consequentemente

brigam com padrões de qualidade e segurança, embora estejam assegurados os

parâmetros mínimos exigíveis para o exercício daquela actividade.

51. Nos termos da al. c) do art. 33.º do Decreto-Lei nº 127/2007, de 26 de Maio, a

ERS no cumprimento da sua missão de regulação deve garantir os direitos e

interesses legítimos dos cidadãos.

52. Precisando o art. 36.º do citado diploma legal que na prossecução desses direitos

e interesses incumbe à ERS:

al. a) “Monitorizar as queixas e reclamações dos utentes;

al. b) Promover um sistema de classificação dos estabelecimentos de

saúde quanto à sua qualidade global, de acordo com critérios objectivos e

verificáveis, incluindo os índices de satisfação dos utentes;

al. c) Verificar o não cumprimento da Carta dos direitos dos utentes dos

serviços de saúde;

al. d) Verificar o não cumprimento das obrigações legais e regulamentares

relativas à acreditação e certificação dos estabelecimentos”.

53. No caso concreto, coube à ERS, além da monitorização das denúncias

apresentadas por utentes, verificar o não cumprimento da “Carta dos direitos dos

utentes” dos serviços de saúde.

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54. Chamando-se à colação a averiguação não de todos os direitos dos utentes de

cuidados de saúde mas aqueles que se acham em relação directa com os

padrões mínimos de qualidade e segurança da prestação cuidados de saúde

prestados no Hospital Central Especializado de Crianças Maria Pia.

55. No que respeita aos direitos dos utentes torna-se necessário clarificar que os

mesmos estão contemplados em diversos diplomas legais, nacionais e

internacionais.

56. Na ordem jurídica portuguesa a consagração destes direitos acha-se plasmada,

ainda que de forma indirecta, na Constituição da República Portuguesa (CRP), no

art. 64.º, no n.º 2 e n.º 5 da Base V e no n.º 1 da Base XVI da Lei de Bases da

Saúde9, no Estatuto do Serviço Nacional de Saúde10, no Regulamento Jurídico da

Gestão Hospitalar11 e na Carta dos Direitos de Acesso aos Cuidados de Saúde

pelos Utentes do SNS12.

57. Refira-se, também, que tais direitos estão previstos na Carta dos Direitos e

Deveres dos Doentes, elaborada pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) e pela

Comissão de Humanização para os Cuidados de Saúde, na Carta dos Direitos do

Doente Internado, apresentada pela DGS, em 15/02/2005, ainda que tais

diplomas não tenham consagração legal.

58. A consagração internacional dos direitos dos utentes está prevista em diversos

diplomas, destacando-se, em especial, aqueles que respeitam aos utentes

menores de idade, a saber: a Carta da Criança Hospitalizada13, a Carta Europeia

dos Direitos da Criança e do Adolescente relativamente à Pediatria Ambulatória14

e a Convenção sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas, de 20 de

Novembro de 198915.

9 Lei n.º 48/90, de 24 Agosto.

10 Lei n.º 11/93, de 15 de Janeiro, alterada pelos Decretos-Lei n.º 53/98, de 11 de Março, n.º 401/98, de 17 de

Dezembro, n.º 68/2000, de 26 de Abril, n.º 223/2004, de 3 de Dezembro, n.º 222/2007, de 29 de Maio, e n.º 276-A/2007, de 31 de Julho. 11

Lei n.º 27/2002, de 8 de Novembro. 12

Portaria n.º 1529/2008, de 26 de Dezembro. 13

Aprovada em Leiden por várias associações europeias, em 1988 e divulgada em Portugal pelo Instituto de Apoio à Criança (IAC). 14

Congresso SEPA-ESAP 2003 15

Ratificada por Portugal em 21 de Setembro de 1990.

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59. A consagração de um conjunto de direitos e deveres dos utentes assume-se como

um instrumento de parceria na saúde, que contribuiu para a consagração do

primado do cidadão, considerando-o como figura central do sistema de saúde, a

reafirmação dos direitos humanos fundamentais na prestação dos cuidados de

saúde e, especialmente, a protecção da dignidade e integridade humanas, bem

como o direito à autodeterminação, a promoção da humanização dos cuidados de

saúde, e o desenvolvimento de um bom relacionamento entre os doentes e os

prestadores.

60. No caso concreto, importou averiguar se a prestação de cuidados de saúde,

atendendo às vulnerabilidades físicas e materiais das instalações acautelam os

seguintes direitos:

a) Direito à privacidade e dignidade;

b) Direito à observância/cumprimento das normas de qualidade;

c) Direito à segurança;

61. A Base V n.º 2 da Lei de Bases da Saúde estabelece que “os cidadãos têm direito

a que os serviços públicos de saúde se constituam e funcionem de acordo com os

seus legítimos interesses”.

62. Por sua vez, a Base XIV, n.º 1 al. c) da Lei de Bases da Saúde consagra que “os

utentes têm o direito de ser tratados pelos meios adequados, humanamente e

com prontidão, correcção técnica, privacidade e respeito”.

63. O direito de respeito do doente de cuidados de saúde é um direito ínsito à

dignidade humana e manifesta, em termos gerais, que aquele deve ser respeitado

por todos os profissionais de saúde envolvidos no processo de prestação de

cuidados, no que se refere quer aos aspectos técnicos, quer aos actos de

acolhimento, orientação e respectivo encaminhamento.

64. No caso concreto, o direito de respeito abrange ainda as condições das

instalações e equipamentos, que têm de proporcionar o conforto e o bem-estar

exigidos pela situação de vulnerabilidade em que o doente se encontra.

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65. Exigindo-se que a unidade hospitalar ofereça às crianças um ambiente que

corresponda às suas necessidades físicas, afectivas e educativas, quer no

aspecto do equipamento, quer no do pessoal e da segurança.

66. A privacidade na prestação de cuidados de saúde é, à semelhança do anterior,

um direito do doente e que exprime que qualquer acto de diagnóstico ou

terapêutica só pode ser efectuado na presença dos profissionais indispensáveis à

sua execução, salvo se o doente consentir ou pedir a presença de outros

elementos.

67. Evitando-se desse modo que ocorram intromissões na vida privada ou familiar do

doente, a não ser que se mostre necessária para o diagnóstico ou tratamento e o

doente expresse o seu consentimento.

68. Tendo presente que tais direitos respeitam a menores de idade, a Carta da

Criança Hospitalizada, a Carta Europeia dos Direitos da Criança e do

Adolescente, relativamente à Pediatria Ambulatória e a Convenção sobre os

Direitos da Criança das Nações Unidas estabelecem um conjunto de direitos aos

beneficiários de tais serviços e um conjunto de obrigações e orientações aos

Estados que aderiram a tais convénios, com o objectivo de garantir a promoção e

a protecção da saúde da criança, através da adopção de medidas e políticas

internas ou através da cooperação internacional.

69. Representando a realidade presenciada no decurso da acção de fiscalização, é

forçoso concluir pela inequívoca violação de tais direitos, na medida que os

doentes não gozam de privacidade e respeito na prestação de cuidados de saúde

atendendo às condições infra-estruturais e organizacionais do Hospital Central

Especializado de Crianças Maria Pia (vide ponto Ponto IV – alínea B).

70. Já quanto ao direito dos utentes à observância e cumprimento das normas de

qualidade pela instituição hospitalar, é de referir que, atentas as conclusões do

relatório da acção de fiscalização, não se vislumbraram procedimentos

susceptíveis de comprometer adequados níveis de qualidade dos serviços de

saúde.

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71. Aliás, deve ser enaltecida a dedicação e reconhecido o empenho de todos os

profissionais para ultrapassar as limitações infra-estruturais e organizacionais,

bem como a capacidade de adoptarem medidas/procedimentos de modo a suprir

tais limitações.

72. Quanto ao direito à segurança do utente na prestação de cuidados de saúde

verificou-se, in casu, que o mesmo não é acautelado na totalidade, dadas as

deficiências verificadas a nível de infra-estruturas e organização, sobretudo no

que respeita à implementação de um adequado sistema automático de detecção

de incêndios, instalações deficitárias quer do ponto de vista de acessos,

dimensões, quer da funcionalidade e operatividade dos serviços, inexistência da

definição de um circuito independente para sujos e limpos, a inexistência de zona

de transfer e a inexistência de um circuito definido para doentes.

VI

DAS CONCLUSÕES

73. É no sector da prestação de cuidados de saúde que a necessidade de garantir os

requisitos de qualidade e segurança, ao nível dos recursos humanos, do

equipamento e das instalações, está patente de uma forma mais acentuada.

74. O Hospital Central Especializado de Crianças Maria Pia enquanto entidade

técnica e organizacionalmente diferenciada, na prestação de cuidados de saúde,

em todo o ciclo da vida humana, numa perspectiva integrada, constituiu-se ao

longo do tempo como um centro de referência regional e nacional, reconhecido

como um importante e prestigiado hospital pediátrico do nosso país.

75. Excluindo-se à partida a averiguação de matéria que se insere no âmbito das

atribuições e competências de outros organismos, tais como a Inspecção-Geral

das Actividades em Saúde, a Entidade Reguladora da Saúde, no âmbito da sua

intervenção, propôs-se a analisar a qualidade e a segurança dos cuidados de

saúde em termos gerais, tendo por base padrões mínimos exigíveis no âmbito da

medicina hospitalar, bem como a garantia dos direitos e interesses legítimos dos

utentes, em particular.

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76. Após análise dos elementos carreados no âmbito da instrução do presente

processo de inquérito, não existindo outras diligências a adoptar, constatou-se

existirem várias não conformidades a nível de infra-estruturas, organização e

funcionamento, que apenas asseguram a prestação de cuidados de saúde

pediátricos tendo em conta padrões mínimos de qualidade e segurança.

77. Mais se constatou que, perante algumas dessas não conformidades, o direito ao

respeito da dignidade humana e o direito de privacidade dos utentes são postos

em causa.

78. Efectivamente, concluiu-se que a antiguidade das instalações e a ausência de

flexibilidade estrutural e funcional daquelas prejudicam a capacidade de actuação

clínica dos profissionais, apesar do empenho demonstrado por estes para

ultrapassar as limitações impostas pelas condições infra-estruturais existentes e

prestar os melhores cuidados de saúde.

79. Sendo uma unidade hospitalar centenária e considerando as não conformidades

evidenciadas no Hospital Central Especializado de Crianças Maria Pia, constata-

se que as condições actuais existentes perigam a satisfação integral da qualidade

e segurança na prestação de cuidados de saúde.

80. No entanto, apesar de esta ser uma realidade notória, considera-se estarem

assegurados os padrões mínimos exigíveis para garantir a qualidade das

prestações de cuidados de saúde.

81. Por outro lado, não se pode olvidar que a vida útil das instalações há muito que foi

ultrapassada, inviabilizando a adopção de quaisquer medidas de flexibilidade

estrutural e funcional, na medida em que a estrutura do edifício não possui

capacidade de alteração do uso nem de sofrer ampliações, sem perda de coesão

do mesmo.

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VII

DA AUDIÊNCIA DE INTERESSADOS

82. A presente decisão foi precedida da necessária audiência escrita de interessados,

nos termos do art. 101.º, n.º 1 do Código de Procedimento Administrativo, tendo

sido chamado a pronunciar-se, relativamente ao projecto de deliberação da ERS,

o Centro Hospitalar do Porto, EPE, que exerceu o respectivo direito de pronúncia

nos termos que seguidamente se apresentam e analisam.

A) Pronúncia do Centro Hospitalar do Porto, EPE

83. O Centro Hospitalar do Porto, EPE exerceu o seu direito de pronúncia

relativamente ao projecto de deliberação em apreço, mediante ofício que deu

entrada nos serviços da ERS no dia 12 de Outubro de 2010.

84. E veio esta entidade, desde logo, afirmar que:

­ “Entende o presente processo como uma mais-valia, na medida em que o

mesmo, e particularmente o projecto de decisão notificado, identifica áreas de

intervenção prioritárias, as quais serão objecto da melhor atenção e, dentro das

limitações existentes, intervenções que resolvam ou pelo menos minimizem os

problemas detectados”;

­ Assume, assim, o compromisso de intervir no sentido de resolver/minimizar as

questões levantadas nas alíneas c), d), e), f) e h) do projecto de decisão.”

85. Reportando-se tais alíneas à adopção de medidas que assegurem a dignidade e a

privacidade dos doentes, a reorganização das instalações das enfermarias, a

implementação de um sistema de chamada de enfermagem, a reforma dos

gabinetes e salas de trabalho e proceder à instalação de equipamentos para

detecção automática de incêndio.

86. Relativamente às demais alíneas do projecto de decisão, aquela entidade afirmou

que “são de mais difícil resolução dadas as limitações estruturais do edifício e/ou

os volumes financeiros envolvidos”.

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87. Nesse sentido, o Centro Hospitalar do Porto EPE declarou que, no prazo de 180

dias, dará cumprimento ao estatuído pela ERS, antecipando que:

­ “Promoverá a disponibilização de biombos amovíveis/cortinas que sejam de

fácil higienização e ao mesmo tempo limitem o grau de vigilância dos doentes;

­ Procurará implementar um sistema de chamada nas enfermarias, dada a

normal presença de um progenitor/acompanhante. Relativamente ao recobro, e

considerando a) a dimensão do espaço e grau de proximidade com o elemento

de enfermagem sempre em presença física; b) a monitorização clínica dos

parâmetros vitais com alarmes sonoros e visuais ajustados; c) o grau de

colaboração dos pacientes no pós-operatório imediato, assim como d) a faixa

etária não ser muitas vezes adequada à compreensão do sistema de chamada,

entende ser seu dever, face às circunstâncias, proceder a reflexão mais

aprofundada.”

­ Compromete-se a proceder a um levantamento exaustivo da situação e a criar

um plano de substituição e ajustamento progressivo do mobiliário aos postos

de trabalho.”

­ Accionará um levantamento e identificação dos pontos que carecem de

instalação de sistema de detecção para de seguida promover a sua aquisição e

instalação.”

88. Mais declarou que, sem prejuízo do escrupuloso cumprimento dos compromissos

acima assumidos, velará pela “reinstalação do Hospital Central Especializado de

Crianças Maria Pia – agora Unidade Maria Pia do Centro Hospitalar do Porto, EPE

– em instalações que proporcionem, no respeito da lei e dignidade da criança

hospitalizada, a prestação de cuidados de saúde de qualidade em ambiente

seguro.”

B) Análise dos argumentos aduzidos na pronúncia

89. Refira-se, ab initio, que os argumentos apresentados na pronúncia do Centro

Hospitalar do Porto, EPE foram considerados e ponderados pela ERS.

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90. Assim, considerando tais argumentos verificou-se que os mesmos não são de

molde a infirmar os factos e a apreciação tal como constantes do projecto de

deliberação da ERS.

91. Aliás, a argumentação apresentada sufraga o enquadramento factual e normativo

do projecto de deliberação da ERS, confirmando o entendimento aí assumido.

92. Seja porque os argumentos apresentados pelo Centro Hospitalar do Porto, EPE

encerram um compromisso de encetar um conjunto de medidas correctivas, com

vista a colmatar as não conformidades evidenciadas pela comissão da ERS,

mormente no que respeita à definição do circuito dos doentes no bloco operatório,

à reorganização das instalações das enfermarias, à reforma dos gabinetes e salas

de trabalho, à definição de circuitos independentes de sujos e limpos, à instalação

de equipamentos de detecção automática de incêndio, à instalação de sistema de

controlo da temperatura e qualidade do ar e à implementação de medidas que

assegurem a privacidade dos doentes e seus acompanhantes;

93. Seja porque o Centro Hospitalar do Porto, EPE assume, perante a ERS, que

envidará esforços no sentido de velar pela reinstalação do Hospital Central

Especializado de Crianças Maria Pia (Unidade Maria Pia) em instalações que

proporcionem a prestação de cuidados de saúde de qualidade em ambiente

seguro.

94. Considerando todo o supra anotado, deve a ERS garantir, mediante a

manutenção da instrução delineada e oportunamente notificada, o efectivo

cumprimento do dever imposto ao Centro Hospitalar do Porto, EPE, de prover

pelo direito de prestação de cuidados de saúde com qualidade e segurança,

solvendo as não conformidades evidenciadas a nível de infra-estruturas,

organização e funcionamento, e pelos direitos ao respeito da dignidade humana e

privacidade dos utentes.

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VIII

DA DECISÃO

95. O Conselho Directivo da ERS delibera, assim, nos termos e para os efeitos do

preceituado no art. 42.º al. b) do Decreto-Lei n.º 127/2009, de 27 de Maio, emitir

uma instrução ao Centro Hospitalar Porto, EPE, relativa ao Hospital Central

Especializado de Crianças Maria Pia (Unidade Maria Pia), nos seguintes termos:

a) Proceder à definição do circuito dos doentes no bloco operatório;

b) Implementar uma zona de transfer de doentes no bloco operatório, de

modo a minimizar os riscos clínicos associados;

c) Adoptar medidas de modo a assegurar a dignidade e a privacidade dos

doentes e seus acompanhantes;

d) Reorganizar as instalações das enfermarias de modo a assegurar a

prestação de cuidados de saúde no respeito da dignidade e privacidade

dos doentes;

e) Implementar um sistema de chamada de enfermagem, que acautele a

segurança dos doentes e garanta uma resposta rápida face à

necessidade dos cuidados saúde;

f) Reformar os gabinetes e salas de trabalho tendo em vista a melhoria

das condições de trabalho ao nível das exigências ergonómicas;

g) Proceder à definição de um circuito de sujos e limpos independentes,

evitando a promiscuidade dos procedimentos;

h) Proceder à instalação de equipamentos para detecção automática de

incêndio, de modo a suprir as deficiências evidenciadas e garantir a

segurança dos doentes;

i) Equipar a unidade hospitalar de um sistema de controlo da temperatura

e qualidade do ar, garantindo o arejamento e a ventilação adequada das

instalações.

96. O Centro Hospitalar do Porto, EPE deve dar cumprimento imediato à presente

instrução, dando conhecimento à ERS, no prazo máximo de cento e oitenta (180)

dias contados da notificação da mesma, dos procedimentos adoptados para

efeito.

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97. Mostrando-se inviável o cumprimento da instrução emitida deve o Centro

Hospitalar do Porto, EPE proceder ao encerramento da actividade nas instalações

do Hospital Central Especializado de Crianças Maria Pia, no prazo máximo de três

(3) anos, contados da presente notificação.

98. O Conselho Directivo da ERS igualmente delibera proceder à abertura de

processo de monitorização com a finalidade de acompanhar o comportamento

adoptado pelo Centro Hospitalar do Porto, EPE, tendente ao cumprimento da

instrução emitida.

99. Será dado conhecimento da presente deliberação à Administração Regional de

Saúde do Norte, IP.

100. A versão não confidencial da presente deliberação será publicitada no sítio oficial

da Entidade Reguladora da Saúde na internet.

O Conselho Directivo