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democracia · caso de absorção do modelo? 2. ... didatar-se às eleições do conselho de trabalhado-res. Basta que seu nome seja apresentado por três outros empregados

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coisa em comum, sobretudo os erros. A União So-viética e os Estados Unidos, perseguindo por ca-minhos e conceitos diferentes unia democracia in-dustTlial, acabariam chegando a um mesmo tipode distorção: modelos de organização empresarialem que o idealizado principio da participação de-mocrática seria suplantado pelo de hierarquia.

No socialismo de modelo soviético sacramen-tou-se a burocracia; no capitalismo de modelo nor-te-americano, a gerência especializada. Em ambosos casos, prevaleceria sempre o princípio hierár-quico, dando margem à formação de castas pro-fissionais isoladas dos elementos que participamdiretamente da produção. '

"A Iugoslávia é o único país do mundo onde setem feito um esforço sério para transformar emrealidade o velho sonho da democracia industrial"_ diz Robert A. Dah1.2 Os conselhos de trabalha-dores, organizados dentro das empresas e instru-mentos da política de autogestão, "parecem terproduzido não apenas uma economia relativamen-te descentralizada como também um aumentosubstancial de participação dos trabalhadores naorientação da indústria e do próprio trabalho, deum modo geral". E embora considere impossívela comparação dos níveis de produção iugoslavo .enorte-americano, lembra que a implantação daautogestão na Iugoslávia foi seguida por um rápi-do aumento de- produtividade.

Isso ocorreu dentro de um modelo de organiza-ção econômica muito mais compatível com umsistema de governo democrático, como extensãoda participação política dos cidadãos ao .campoempresarial, do que com um sistema de governodo tipo iugoslavo, de partido único. Não seria ocaso de absorção do modelo?

2. As famílias tecnocrátlcas

Uma das dúvidas quanto à aplicabilidade da auto-gestão no sistema capitalista situa-se no profissio-nalismo a que chegou a administração de empre-sas dentro desse sistema. Foram-se os tempos emque um administrador vinculava sua vida à em-presa em que trabalhava, orgulhando-se das pro-moções que conquistava gradativamente. O novoexecutivo, altamente especializado, muda facil-mente de emprego. Embora não seja menos dedí-cado ao êxito da empresa do que o velho tipo deadministrador, esse êxito o interessa sobretudo àmedida que o valoriza como profissional, queaumenta seu conceito no mercado de' traba-lho. Se a escolha desses profissionais obedece aocritério de eficiência, tanto poderiam ser contra-tados por um conselho de trabalhadores como POIum conselho de acionistas.

De um ponto-de-vista técnico não haveria di-ferença. Mas, nos Estados Unidos, teóricos preo-cupados com o problema, como Richard Barber,!já assinalam a inquietação trazida pelos podereshoje em mãos dessas "famílias de tecnocratas", quese comportam exclusivamente como profissionais,embora manobrem interesses legítimos de pessoasmais ligadas à empresa, como os trabalhadores.Quem os controlaria, quem disciplinaria seu tec-nicismo em principio ligado apenas à produtivi-dade? Barber não dá a resposta, que Dahl consi-dera "muito óbvia": os conselhos de trabalhado-res, atualmente uma solução que só poderia serignorada num "país cego, ilogicamente vinculadoà concepção ortodoxa de empresas p7'Ívadns, dasquais os acionistas seriam dO'Tw8".

S. ResIstência dos trabalhadores

Para Dahl, o grande entrave à implantação daautogestão nos Estados Unidos talvez fosse umapossível resistência dos próprios trabalhadores àparticipação nos conselhos. "Embora sentimenta-listas da esquerda possam considerar a idéia re-pugnante a seus estômagos, trabalhadores e sindi-catos podem ser as grandes barreiras a qualquerreconstrução do sistema empresarial neste país".

Os trabalhadores qualificados norte-americanose de outros países desenvolvidos integram hoje achamada sociedade afluente, com aspirações vol-tadas principalmente para o consumo.Deste modo,o individualismo, o interesse apenas na família,predominaria sobre a "consciência de classe".Essa tendência deixaria pouco campo para aspi-rações de participação efetiva no comando dasempresas. O espírito de classe, embora funcionedurante os acordos trabalhistas ou nas greves pormelhores salários ou melhores condições de tra-balho, não é movido por qualquer desejo de mudará estrutura do poder dentro da empresa.

A esse desinteresse talvez se some a oposição delíderes sindicalistas, que poderiam ver na autoges- 97tão uma ameaça à sua influência.

Dahl acredita que a idéia da autogestão venhaa ter seus maiores defensores não nas camadassociais que "a esquerda convencional há tantotempo corteja", e sim entre funcionários admi-nistrativos, técnicos e até mesmo entre os executi-vos. "Se um número significativo de empregados,sejam operários ou pessoal de administração, des-cobrir que a participação nos assuntos da empresacontribui para reforçar sua própria noção de qua-lificação individual e lhes fornece o controle sobreparte significativa de sua vida diária, o descasoe a indiferença diante da participação poderátransformar-se em interesse e comprometímento".'

Autol1elt40

._----_. ---'~-------------- -~----_ .._--Autogestão alternativa socialista para o capitalismoes Antônio Robaquim e Roberto Antonio Quintaes

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4. Os grupos de interesse

Mas Dahl reconhece que a exístêncía de uma em-presa vai muito além do que diz respeito apenasa acionistas e empregados. Envolve consumidorese outras pessoas ocasionalmente afetadas por de-cisões a respeito de aluguéis, locação de serviço,problemas de poluição, de segurança etc. Decisõestomadas na indústria automobílístíca têm, porexemplo, conseqüências óbvias fora de seu âmbito.

Como teriam as pessoas vulneráveis a decisõestomadas no âmbito de uma empresa particular acerteza de que seus interesses seriam tomados emconsideração nessas' decisões? Fazer do Estado oúnico defensor desses interesses, conservando aestrutura atual, na opinião de Dahl, levaria a umaespécie de socialismo burocrático. Afrouxar o con-trole sobre a atividade das empresas seria, em con-trapartida, um liberalismo incompatível com a mo-derna vida comunitária. "Precisamente porque nospermite escapar a esse dilema é que a autogestãocresce como alternativa valiosa".

Isto não implicaria a ilusão de que os membrosde um conselho de trabalhadores se transformas-sem, automaticamente, em defensores ardorososda coletivididade. Mesmo assim, estariam identi-ficados mais de perto com seus problemas e supri-riam o controle de poder público sobre a empresa.À primeira vista pareceria lógico estender a

representação no conselho das empresas não ape-nas aos empregados mas também a instituiçõese grupos interessados em seu adequado funciona-mento social. O conselho diretor de uma empresapoderia ter lugar, por exemplo, para representan-tes dos consumidores e para delegados estatais ..l!:o que Dahl denomina de grupo administrativo deinteresses.

Na prática, ele não acredita na eficácia dessasolução, aparentemente mais democrática do quea autogestão. "Os representantes dos interesses.envolvidos, de uma forma ou de outra seriam indí-

98 cados pelo governo, por grupos organizados, porassociações profissionais. Haveria o melindrosoproblema de se decidir sobre quais interesses de-veriam ser representados e em que proporções,um problema que as organizações socialistas en-frentam há muito tempo, sem jamais terem encon-trado', suponho, uma solução satisfatória".

O grupo administrativo de interesses seria umprogresso em relação aos tipos atuais de organí-zação, mas estaria longe de representar uma mu-dança estrutural capaz de reduzir a incapacidadede decisão de que ainda é vitima o trabalhadorcomum no âmbito da empresa.

Além disso, esses grupos não eliminariam a ne-cessidade de controles governamentais sobre as

Revista de Adminutraç40 de Empresas

empresas, numa época em que o capitalismo temque adequar-se às necessidades sociais e a polí-ticas econômicas globais, e não apenas a uma sim-ples realidade de mercado.

Não há mais sistema econômico que conceda aosetor privado ilimitados poderes de fixar preçosou ilimitado acesso a fundos de investimentos. Re-conhecida a necessidade de controle externo, per-gunta Dahl, os interesses comunitários não esta-riam melhor representados nesse controle do quenos conselhos das empresas? Os grupos adminis-trativos de interesses seriam espécies de redundân-cias, ou tentativas de se alcançar um determina-do resultado pelo caminho mais longo, mais difí-cil e mais incerto?

E o que contrabalançaria o controle estatal,num sentido de garantia democrática, seria justa-mente a autogestão. "Dentro das alternativas, so-mente a autogestão pode dar algo aproximado àautoridade genuinamente democrática no sistemaempresarial americano. Nem o atual sistema, nemo socialismo burocrático, nem os grupos adminis-trativos de interesse trazem consigo qualquer es-perança verdadeira de reconciliação dos imperati-vos da organízação econômica com a autoridadedemocrática" .

5. Conselhos de trabalhadores: o que são?Como funcionam

A autogestão, como idéia e prática, é genuinamen-te iugoslava. Implantada a partir de 1950, quandoa Iugoslávia libertou-se da esfera de influência so-viética, o sistema de administração de empresaspor seus próprios trabalhadores se solidificaria aponto de transformar-se' num "verdadeiro tabunacional", como o considera o sociólogo suíçaAlbert Meister, que tem vários livros dedicadosao assunto.

Durante a década de 50 e primeira metade daseguinte, a autogestão obedecia ao controle exter-no de um plano de desenvolvimento nacional, ca-bendo aos trabalhadores a aplicação desse planono âmbito das empresas. Com as reformas intro-duzidas a partir de 1965, a Iugoslávia aderiu auma economia regida mais pelo mercado quepelo planejamento, o que implicou muito maior .autonomia para as empresas. Essa autonomia é abase da autogestão em seu estágio atual. Teóricosdividem-se na apreciação dos benefícios ou pre-juízos advindos com a reforma, mas mesmo algunsde seus defensores reconhecem uma crise na eco-nomia iugoslava em razão das medidas adotadasem 1965. "A reforma deu grande estímulo ao mer-cado, mas desarticulou a planificação, acentuandoa inflação e facilitando a penetração capitalista"

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_ diz Jean Rous, autor do livro Ou va Z'autoge8-tion yougoslave? Entretanto, ele acha que, "se aautogestão passa por uma crise, onde seus aspec-tos positivos nivelam-se aos negativos, parece, en-tretanto, estar às vésperas de uma correção e deum novo salto à frente."

A autogestão, em sua fase atual, funcionaassim:

O conjunto de empregados de uma empresa ele-ge de dois em dois anos um conselho de trabalha-dores, único órgão habilitado a tomar as grandesdecisões de política empresarial, como aquelassobre distribuição de .lucros, plano de investimen-tos, comercialização etc.

Empregados de qualquer categoria podem can-didatar-se às eleições do conselho de trabalhado-res. Basta que seu nome seja apresentado por trêsoutros empregados. Pelo menos teoricamente, nemos sindicatos nem o Partido Comunista têm o po-der de indicar candidatos. O conselho de trabalha-dores elege seu presidente, que tem mandato dedois anos.

Cabe ainda ao conselho de trabalhadores desig-nar um comitê de administração, encarregado daexecução da política empresarial. A -escolha, commuita freqüência, recaí no escalão superior dediretores da empresa. -

O diretor-geral é eleito por quatro anos (reno-váveis) por um colegiado composto de três mem-bros do conselho de trabalhadores, dois membrosda comuna (proprietária da empresa) e de um re-presentante da República, ou seja, do Estado local,já que ~ Iugoslávia é uma federação de estados. Odiretor-geral pode -ser destituído pelo conselho. detrabalhadores.

6. Um retrato de duas empresas iugoslavas.Em 1969, quando começaram a avolumar-se osdebates sobre a validade ou não da auto gestão ,tendo em vista principalmente a reforma econô-mica iugoslava de quatro anos antes, o jornalistafrancês. Jean Dru, especialista em economia e deformação marxista, passou várias semanas naIugoslávia, para estudar objetivamente a situação.A parte mais importante de seu trabalho talvezseja a descrição do funcionamento de duas dasmaiores organizações .industriais iugoslavas, umfuncionamento que apresenta originalidades tantopara o mundo capitalista como para o comunistade modelo soviético.

Em resumo, narrou Jean Dm: "A ElektronskaIndustrija, com 18 mil funcionários, está instala-da em Nis, na Sérvia. Fundada em 1950, contoude início com a assistência técnica da Phílíps edesenvolveu-se comprando patentes de fabricaçãoeuropéias e [aponesas. Agrupa hoje .20 estabeleci-

mentos. Em 1967 fabricou 280 mil televisores,25% dos quais foram exportados. Embora o pes-soal seja remunerado exclusivamente à base donúmero de peças fabricadas, os níveis de produ-ção se apresentam muito mais baixos do que naFrança: mil pessoas produzem 10 milhões de tu-bos receptores por ano, quando na fábrica de Char-tres, da Radiotechnique, o mesmo número de pes-soas produz um pouco mais de 15 milhões.

"Em 1968, os lucros deveríam representar 37%dos investimentos, mas esses índices não podemser comparados aos resultados obtidos pelas tírmasfrancesas, pois na Iugoslávia a remuneração dopessoal é computada como lucro. Em 1971, os in-vestimentos deverão ser 50% maiores que em 1968.

"O conselho de trabalhadores compreende umconselho central e conselhos departamentais paracada unidade ou grupo de produção. Atualmente,o presidente do conselho central-é um operário me-cânico-eletricista, ex-deputado da República daSérvia. Mas a maioria dos membros do conselhopossui diploma universitário. Na verdade, o pes-soal elege (por votação secreta) de preferênciacandidatos de qualificação técnica superior. Assimé que, entre os eleitos, não há mais de 7% de pes-soal não qualificado, ao mesmo tempo em queesse pessoal representa 67% do efetivo da orga-nização.

"A Iskra, a maior empresa da Eslovênia, com13.500 empregados, fabrica também material ele-trônico e faz concorrência à Elektronska. Em1967 fez investimentos um pouco superiores aosda Elektronska, com 32% de lucros, sendo 26,5%para remuneração do pessoal e 5% para reinves-timentos. .

"O conselho central da Iskra é presidido por umengenheiro e compreende 70 membros. Tambémali o pessoal técnico de nível superior e adminis-trativamente qualificado tem muito maior repre-sentação do que os operários, embora compreen-dam apenas 5% do efetivo da empresa.

Os operários qualificados, embora representem 9950% do pessoal, têm apenas um representante noconselho central. :É sintomático constatar que osengenheiros e o pessoal administrativo são eleitoscom um número muito maior de sufrágios do queos operários." ••

1 Robert A. Dahl é professor de ciências políticas daUniversidade de Yale e autor dos seguintes livros: Mo·dem política1 anaW8iB, Oongres8 and foreign polic'y,Plurali8t Democrad'Jj in the United Btates: Oonflict andconsent e Atter the revolution'2 Artigo Power to the worker?, publicado no The NewYork Review. Nov. 19.1970.8 Autor do livro The American corporation: !t8 power,1t8 money, 1t8 poZi.tic8.Dutton. 1970., Artigo -Power to the workers?

Autogutão

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