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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO MESTRADO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO CONVÊNIO UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA LEANDRO CIANCONI DE PAIVA RODAS DEMOCRACIA E CIDADANIA NA WEB SOCIAL: PARTICIPAÇÃO, COLABORAÇÃO E PRODUÇÃO COLETIVA DE CONHECIMENTO Niterói Rio de Janeiro 2009

Democracia e Cidadania na Web Social - Leandro Cianconi - Mestrado em Ciência da Informação - UFF - 256p

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

MESTRADO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

CONVÊNIO

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - INSTITUTO DE ARTE E

COMUNICAÇÃO SOCIAL

INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

LEANDRO CIANCONI DE PAIVA RODAS

DEMOCRACIA E CIDADANIA NA WEB SOCIAL:

PARTICIPAÇÃO, COLABORAÇÃO E PRODUÇÃO COLETIVA DE CONHECIMENTO

Niterói

Rio de Janeiro

2009

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

MESTRADO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

CONVÊNIO

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - INSTITUTO DE ARTE E

COMUNICAÇÃO SOCIAL

INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

LEANDRO CIANCONI DE PAIVA RODAS

DEMOCRACIA E CIDADANIA NA WEB SOCIAL:

PARTICIPAÇÃO, COLABORAÇÃO E PRODUÇÃO COLETIVA DE CONHECIMENTO

Orientadora: Professora Doutora

Liz-Rejane Issberner

Niterói

Rio de Janeiro

2009

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AGRADECIMENTOS

Confirmei que um trabalho acadêmico pode ser feito de diversas formas. Com ritmo mais

intenso, ou mais espaçadamente. Uma pesquisa mais abrangente, ou mais focada. Que traga

indicadores novos, ou que reforce alguns antigos. Existem muitas possibilidades. Só não é

possível fazê-lo só. Em primeiro lugar pela fundamental presença de minha orientadora Liz-

Rejane, que tem uma maneira única e cuidadosa de plantar, ceder e podar. E assim

construímos este trabalho, traçando metas alcançáveis, dando asas à criação e lapidando o

indesejado.

Em segundo lugar pelos demais tipos e condições de ajuda que invariavelmente recebemos

durante os longos meses de concentração. Em uma aula ouvi certo professor dizer que o

pesquisador deve-se apaixonar pelo seu objeto de pesquisa. Nós, alunos rimos e achamos

aquilo engraçado. Provavelmente não nos encaixávamos no estereótipo do pesquisador que

abre mão do mundo e passa a respirar um só problema. E não é preciso. Como tudo na vida,

nossa pesquisa flui melhor quando estamos em paz. Comecei a perceber os frutos brotarem ao

superar todos os obstáculos que impediam que desenvolvesse o tema com liberdade. E me

apaixonei. Por isso agradeço a todos os professores e colegas de turma do PPGCI pelas ricas

experiências. Agradeço à professora Nélida Gonzalez de Gómez pela iniciação ao pensamento

complexo que ela provocou. Sua capacidade de abstração é algo excepcionalmente inspirador.

Agradeço à professora Sarita Albagli que me ajudou a dar melhor direção neste trabalho,

avaliando-o por ocasião da Qualificação e recomendando leituras que se encaixavam

perfeitamente nos pontos mais fracos percebidos naquele momento. É grande também minha

gratidão à professora Ana Mallin que participou e ajudou igualmente na Qualificação e em

outros importantes momentos em minha vida. Já disse a ela e reforço que a tenho como minha

guru.

Agradeço aos amigos que participaram do início de tudo e entenderam minha ausência no

período das aulas. Rita Roque pelo jeito provocativo e ao mesmo tempo carinhoso de lidar

comigo. André Rocha pelo companheirismo em ouvir. Tatiana Cascardo pelo apoio e

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simplicidade. Vagner Pontes pelo incentivo e por acreditar. Fábio Costa por ler sempre com a

máxima atenção o que escrevo. E ao amigo Fabiano Caruso por realizar comigo tantos

debates sobre as mídias sociais e seus campos de aplicação e limitações. E pelas inúmeras

indicações de leitura que me enviou durante todo o período do trabalho.

Agradeço ao Paulo Roberto Braga e Mello, meu chefe no Inmetro, pela oportunidade e boas

conversas sobre política e democracia. E pelo imediato apoio que recebi ao apresentar o tema

proposto neste trabalho. Sem sua força esta pesquisa não seria possível.

Obrigado meu pai, Sergio, pelo desenvolvimento dos primeiros indícios de consciência sócio-

política que brotaram em mim e pelos constantes debates. Letícia, minha irmã pelos debates

sobre tecnologia, redes sociais e interfaces. E minha irmã Flavia pela companhia nas

fundamentais manhãs de praia em que levei meu material de estudo.

Agradeço à minha namorada, Clara, por me acompanhar com imenso companheirismo nesta

construção. Por me aturar nos momentos mais difíceis que misturam estudo e trabalho, pelas

crises de existência e autoconfiança, e pelas horas cedidas para minha concentração nesta

caixinha chamada computador.

E por fim, e ainda mais importante, agradeço à minha mãe, Regina. Por todas as razões óbvias

da natureza, mas, em especial, pelo apoio, ou melhor, pelo direcionamento ao pensamento

acadêmico e científico o qual tanto valoriza. Obrigado por me incentivar, discutir, conversar,

chamar a atenção, cobrar, e principalmente, por me guiar até aqui.

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RESUMO

As dinâmicas colaborativas da web têm provocado diversas mudanças no modo de

produção e organização social. A Internet assume a posição de esfera pública interconectada,

onde usuários e produtores de informação passam a se auto-organizar, dividir papéis e atuar

de forma coletiva na produção de conhecimento, além de definir e controlar suas próprias

regras e valores em ambientes específicos. As mídias sociais ajudam a intensificar as relações

entre indivíduos, e a sistematizar a produção e a disseminação de conhecimento. Neste

contexto, os governos são desafiados a modernizar suas estruturas, promover a participação

social e a gestão centrada nos cidadãos. Este trabalho propõe uma análise crítica deste

cenário, apontando perspectivas, possibilidades e limitações da atuação do governo brasileiro

nesta área.

Palavras-chave: web 2.0, mídia social, e-democracia, participação social, governo

eletrônico, geração de conhecimento.

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ABSTRACT

Collaborative web has caused several changes in the production mode and social

organization. The Internet takes over as an interconnected public sphere, where information

consumers and producers auto-organize themselves, exchanging roles and acting collectively

in the development of knowledge assets. In this process, the collaborative web is defining and

controlling their own rules and values for specific environments. Social media helps to

intensify the relationship among individuals, and also to synthesize knowledge production and

dissemination. In this context, governments are challenged to modernize their structure,

promoting accountability and citizen focused management. This work presents a critical

analysis of this scenario, pointing out the perspectives, possibilities and bottlenecks to the

government initiatives in the area.

Keywords: web 2.0, social media, e-democracy, accountability, e-government,

knowledge creation.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Níveis de interação governo-cidadão........................................................................27

Figura 2. Qualidades da Ética do Discurso...............................................................................32

Figura 3. Privatização do espaço público .................................................................................34

Figura 4. Estatização da esfera privada ....................................................................................36

Figura 5. Abstração tecnológica versus apropriação social......................................................42

Figura 6. Principais aspectos cobertos pelo Governo Eletrônico .............................................57

Figura 7. Características do blog..............................................................................................99

Figura 8. Curva da neutralidade em um ambiente wiki ..........................................................102

Figura 9. Quadro de perfil dos usuários do serviço Peer2Patent............................................119

Figura 10. Processo do Peer2Patent .......................................................................................120

Figura 11. Serviços disponíveis na seção Open Government do portal Change.gov.............126

Figura 12. Evolution os Security: Política de comentários ....................................................131

Figura 13. Show Us a Better Way: Quais dados públicos estão disponíveis?........................138

Figura 14. Show Us a Better Way: Formulário de submissão ...............................................139

Figura 15. Show Us a Better Way..........................................................................................140

Figura 16. Police Act Review.................................................................................................144

Figura 17. Fórum Safe As! .....................................................................................................148

Figura 18. Sustainability.........................................................................................................152

Figura 19. Sustainability: Fórum de discussão.......................................................................153

Figura 20. Sustainability: Discussão em detalhe....................................................................154

Figura 21. Future Melbourne: revisões de um texto no wiki ..................................................159

Figura 22. Future Melbourne: Quadro de metas, indicadores e resultados esperados. ..........160

Figura 23. Australian Youth Fórum: Serviços do portal ........................................................165

Figura 24. Australian Youth Fórum: Temas em discussão ....................................................165

Figura 25. Australian Youth Fórum: Youth Engagement Steering Committee .....................166

Figura 26. Australian Youth Fórum: Fluxo do processo........................................................167

Figura 27. Relatos do Patient Opinion ...................................................................................172

Figura 28. Patient Opinion: Compartilhe a sua história .........................................................173

Figura 29. Patient Opinion: Detalhe de uma história.............................................................174

Figura 30. Patient Opinion: Comparação entre hospitais.......................................................175

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Figura 31. Fix My Street ........................................................................................................180

Figura 32. Fix My Street: visualização de um local ...............................................................181

Figura 33. Fix My Street: relate um problema .......................................................................182

Figura 34. My Bike Lane: Registro de violação.....................................................................187

Figura 35. My Bike Lane: Ranking de violadores .................................................................188

Figura 36. My Bike Lane: Lista de cidades............................................................................189

Figura 37. Public Markup.......................................................................................................193

Figura 38. Public Markup: Discussão dos atos legais............................................................194

Figura 39. Public Markup: Comentários agrupados...............................................................195

Figura 40. They Work For You..............................................................................................199

Figura 41. They Work For You: Perfil de um membro do parlamento..................................200

Figura 42. They Work For You: Debates...............................................................................201

Figura 43. Legislação Inmetro................................................................................................206

Figura 44. Consulta Pública - Governo Eletrônico.................................................................209

Figura 45. Consulta Pública: detalhe do texto........................................................................209

Figura 46. Consulta Pública: lista de contribuições...............................................................210

Figura 47 – Consulta Pública: detalhe de uma contribuição ..................................................211

Figura 48. Blogs do Ministério da Cultura: Direito Autoral ..................................................215

Figura 49. Blogs do Ministério da Cultura: Reforma da Lei Rouanet ...................................216

Figura 50. Blogs do Ministério da Cultura: Internet Governance Forum ..............................217

Figura 51. Câmara dos Deputados: Dados do Deputado........................................................221

Figura 52. Câmara dos Deputados: Contratos........................................................................222

Figura 53. Câmara dos Deputados: Detalhe do Contrato .......................................................222

Figura 54. Câmara dos Deputados: Verba indenizatória........................................................223

Figura 55. Câmara dos Deputados: Detalhamento de verba indenizatória.............................223

Figura 56. Câmara dos Deputados: Participação social .........................................................224

Figura 57. Câmara dos Deputados: Arquivo de bate-papos ...................................................225

Figura 58. Câmara dos Deputados: Fóruns ............................................................................226

Figura 59. Portal da Transparência.........................................................................................230

Figura 60. Portal da Transparência: Transferência de recursos aos estados ..........................231

Figura 61. Portal da Transparência: Transferência de recursos aos municípios ....................231

Figura 62. Portal da Transparência: Transferência de recursos aos programas municipais...232

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Figura 63. Portal da Transparência: Distribuição do Programa Bolsa Família ......................233

Figura 64. Portal da Transparência: Beneficiário do Programa Bolsa Família ......................234

Figura 65. Portal da Transparência: Gastos diretos por órgão executor.................................234

Figura 66. Portal da Transparência: Orçamento destinado à UFF .........................................235

Figura 67. Portal da Transparência: Diárias pagas .................................................................236

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ............................................................11

1.1 Objetivos...........................................................................................................................19

1.2 Metodologia......................................................................................................................20

2. WEB SOCIAL: A ESFERA PÚBLICA INTERCONECTADA .........................................22

2.1 Governo, Informação e Internet........................................................................................22

2.1.1 A esfera pública em Habermas........................................................................................28

2.1.2 A comunicação de massas: decadência da esfera pública ...............................................33

2.1.3 Sociedade em rede: A esfera pública interconectada ......................................................37

2.1.4 As faces da tecnologia .....................................................................................................41

2.1.5 Governo Eletrônico: Quando a tecnologia compõe a plataforma de governo.................45

2.2 Tecnologia e comportamento na web social.....................................................................62

2.2.1 Colaboração e atitude na rede: A web social...................................................................62

2.2.2 As redes descentralizadas: Emergência e auto-organização............................................68

2.2.3 Modelo aberto e economia livre ......................................................................................82

2.2.4 Comunicação ponto-a-ponto ...........................................................................................86

2.2.5 Cultura digital: As próximas gerações.............................................................................89

2.2.6 Plataforma para colaboração: as mídias sociais ..............................................................95

2.2.4 Open Government: de olho na emergência....................................................................108

3. AMBIENTES DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL: APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

DA PESQUISA EMPÍRICA ..................................................................................................113

3.1 Serviços de Governos Estrangeiros .................................................................................118

3.2 Serviços de Organizações Não-Governamentais..............................................................169

3.3 Serviços do Governo Brasileiro........................................................................................203

4. ANÁLISE DOS SERVIÇOS EXPLORADOS ..................................................................238

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................243

6. REFERÊNCIAS ...............................................................................................................253

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1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

Nos últimos anos os modelos de produção, organização e distribuição de bens

ligados à cultura, entretenimento, trabalho, pesquisa e diversos outros domínios intensivos em

conhecimento, vêm sofrendo inúmeras transformações em decorrência de uma sociedade cada

vez mais interconectada. A dinâmica acelerada das redes apresenta possíveis sinais de que

estamos acompanhando o início de uma reorganização de valores que poderão orientar a

reformulação dos modelos econômicos, sociais, educacionais e governamentais.

Do ponto de vista econômico, o mercado passa a sofrer influência do aumento da

capacidade de oferta de bens intensivos em tecnologias de informação e comunicação. Mas

principalmente, por estar baseado em uma economia de informação digital em plena explosão

das redes, passa a conviver com um fenômeno inusitado: a crescente dificuldade em distinguir

produtores de consumidores, uma vez que a produção, por ser baseada em ativos de

conhecimento, pode ser construída por estes dois grupos de forma coletiva. A produção é

construída por usuários consumidores e produtores, o que nos obriga a repensar os modelos de

troca, valorização e propriedade. Em última análise, o mercado e a inovação passam a buscar

um equilíbrio entre a propriedade intelectual e a colaboração, como forma de garantir a

sustentabilidade em uma economia baseada no conhecimento.

Os aspectos sociais são marcados pelas conexões entre indivíduos e entre

organizações que, ao mesmo tempo em que agregam um grande número de riquezas e

saberes, elevam nosso nível de dependência desta capacidade de interconexão. Na Internet os

indivíduos são cada vez mais definidos pelas relações sociais que estabelecem. Aspectos

ligados à reputação, influência e formação de identidade, de uma maneira geral, fazem parte

da agenda de discussões que gira em torno das redes sociais. A interconectividade traz

possibilidades e ameaças, seu uso de maneira estratégica poderá direcionar os governos e

sociedades.

Do ponto de vista da aquisição de conhecimento, acompanhamos o processo de

desenvolvimento de competências digitais e informacionais. Diversos estudos indicam que os

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jovens têm mais facilidade para compreender as dinâmicas conversacionais e colaborativas na

Internet, pois teriam desenvolvido maior capacidade cognitiva no modelo virtual durante sua

formação. Outro ponto importante é o fato de que a Internet hoje apresenta uma grande

disponibilidade de informação unida à facilidade de contato entre pessoas especialistas e

interessadas em diversas áreas. As relações sociais podem ser tão produtivas para o

aprendizado quanto o acesso à produção intelectual, valorizada nos meios tradicionais. As

redes sociais permitem que o usuário de informação mantenha contato com o autor de

determinada obra e possa trocar experiências, agregar valor, desenvolver novas perspectivas,

aprender e produzir continuamente. Neste cenário, o desafio se lança tanto sobre a formação

de competência digital nos jovens e adultos, quanto na capacidade de migrar de dinâmicas de

aquisição de conhecimento rígidas e centralizadas, para dinâmicas flexíveis e

descentralizadas, presentes nos espaços virtuais.

Por sua vez, os governos têm sido desafiados a promover mudanças em seus

modelos de governança, passando a adotar abordagens cada vez mais centradas nos cidadãos,

isto é, promovendo a transparência pública e incentivando a participação social como forma

de fortalecer a democracia. Diversos países buscam incorporar em seus processos políticos,

iniciativas que estimulam o surgimento de comunidades virtuais1 e presenciais de cidadãos,

além de forte interação com organizações privadas e terceiro setor, com o objetivo de agregar

competências, consolidar a participação dos cidadãos, e estimular a inovação nos setores

público e privado.

Todas estas mudanças sociais, culturais, políticas e econômicas materializadas na

Internet, também têm como parte um processo contínuo de desenvolvimento das tecnologias

de informação e comunicação (TIC). Fatores como o desenvolvimento dos sistemas de

telecomunicação, aumento da velocidade de conexão, barateamento e promoção do acesso à

rede mundial, estimulam um número cada vez maior de pessoas a passarem mais tempo

1 O termo comunidade virtual foi cunhado por Howard Rheingold (1993) em seu livro The Community Virtual.

Refere-se ao surgimento de comunidades focadas em trocas de informação baseadas em interações no ciberespaço, ou um

espaço comunicativo.

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conectadas. Como conseqüência, a web passa a ser vivida, observada, analisada, modificada,

construída e reformulada por um número cada vez maior de indivíduos com seus diferentes

valores, gostos, vontades, saberes e atitudes. Este aumento de volume e intensidade de

participação e colaboração na rede é o que tem sido chamado de web 2.0, ou web social,

sendo que neste trabalho optou-se pela segunda alternativa. É no comportamento social

baseado em informação e no uso das mídias sociais emergentes embutidas no cenário político

que está baseado este trabalho.

Embora exista uma marcante vertente tecnológica no tema desenvolvido neste

estudo, adota-se aqui o pressuposto de que a atual fase da web está relacionada,

principalmente, ao comportamento social: os indivíduos conectados na rede expõem suas

competências, gostos e personalidades, se desenvolvem e ajudam a construir o espaço virtual.

Este espaço é percebido como algo que vai além do espaço regulamentado por instâncias

políticas e governos, trata-se de um espaço público – ou esfera pública no sentido

habermasiano – interconectado, onde são elaborados e problematizados os assuntos dos

participantes desta grande “organização social”.

A dimensão tecnológica será abordada a partir de dois importantes papéis: em

primeiro lugar, como fornecedora da camada de infraestrutura que torna possível a construção

da grande rede por meio da qual a sociedade pode se conectar. Em segundo lugar, e

principalmente, a tecnologia é abordada como responsável pelo ferramental comunicativo que

permite a interação cada vez mais direta e participativa entre os diversos indivíduos nos

ambientes virtuais. Trata-se de plataformas, como blogs e wikis2, que compõem a geração dos

fluxos participativos de produção de conhecimento na web.

A participação é um dos principais aspectos percebidos nas transformações

tecnológicas e comportamentais da web atual. E, por isso, foi escolhida como o tema deste

trabalho. Sob esta perspectiva é desenvolvida uma análise das características e tendências nas

2 Blogs e wikis são duas, entre outras ferramentas de colaboração online, que representam bem a capacidade

colaborativa da web atual.

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relações entre Estado e sociedade.

A natureza das dinâmicas sociais é, eminentemente, colaborativa e participativa.

Desde os primórdios o ser humano busca formas de organização coletiva, possivelmente

devido à percepção de que seu desenvolvimento depende da interação com seus semelhantes.

Os modos de organização social já alcançaram diversas formas e, o que podemos perceber

hoje, é um movimento de construção de redes descentralizadas que detêm o potencial de

minimizar o controle que ameaça a democratização do acesso e produção dos principais

recursos culturais, econômicos, sociais por parte da sociedade. Iniciativas como o software

livre3, o open access4, e fatos como a crise na indústria da música e do entretenimento5 são

apenas alguns exemplos de redes que se formam de maneira descentralizada para permitir o

acesso do maior número possível de pessoas aos ativos de conhecimento, assim como buscam

facilitar a produção e transformação destes ativos por parte de usuários até então posicionados

como consumidores passivos.

Considerando além destes, outros inúmeros casos de desenvolvimento de

movimentos e comunidades virtuais6, observa-se a valorização da participação e do aumento

da diversidade de perspectivas e opiniões na solução dos problemas das comunidades. Tais

3 O movimento do software livre é uma das redes descentralizadas mais consolidadas agindo em prol da

universalização do acesso e produção de sistemas informatizados. Iniciativas, como o sistema operacional Linux

(http://www.linux.org), mobilizam centenas de milhares de pessoas a desenvolver e melhorar um produto livre.

O governo brasileiro mantém um progama de software livre com o objetivo de incentivar a troca de experiências

entre órgãos e tornar o desenvolvimento de soluções livre de interesses privados, além de otimizar os

investimentos em tecnologia da informação no setor público (http://www.softwarelivre.gov.br.). 4 Open Access representa um movimento a favor do acesso livre à informação e cultura. No Brasil, o

Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia age como um grande incentivador (http://www.ibict.br). 5 A indústria da música e do entreterimento vem sofrendo grandes transformações quanto às suas

formas de obtenção de lucro, em parte devido à facilidade de troca de arquivos digitais na Internet. Por outro

lado, as produções independentes tornam-se cada vez mais viáveis, o que leva ao aumento considerável de oferta

de novas produções, além de criatividade e inovação neste segmento.

6 Este trabalho tem como um dos objetivos, apresentar e analisar diversas iniciativas de ambientes

colaborativos online com foco na interação entre governo e cidadãos.

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fatores vão ao encontro da necessidade de aproximação entre cidadão e governo, pela via da

incorporação de práticas colaborativas e estímulo à participação social.

As comunidades virtuais possuem dinâmicas colaborativas que são

essencialmente conduzidas por práticas conversacionais. As relações entre indivíduos com

interesses comuns, e muitas vezes diferentes perspectivas, representam a alma das

comunidades. A troca de informação entre estes atores sociais gera benefícios para todos os

participantes com algum interesse no tema em questão. Tais comunidades geram como

resultado, desde o mero aprendizado, até o desenvolvimento de ações concretas, como no

caso do segmento de software.

As redes de interação entre Estado e sociedade apresentam as oportunidades de

diálogo e de transformação do quadro social a favor dos interesses dos participantes. Para isto,

é indispensável que o cidadão esteja presente nos embates políticos. A consciência crítica

política é também um elemento-chave neste cenário, por isso, questões sobre cidadania serão

abordadas ao longo deste trabalho. Outro fator fundamental é a garantia de transparência que

o governo deve estabelecer em seus processos. Confiança é um fator importante em grande

parte dos relacionamentos e, portanto, necessário ao desenvolvimento de comunidades e redes

de interação. Além disso, as partes envolvidas devem deter o domínio técnico dos recursos e

ferramentas de interação, o que deve fazer parte do planejamento de qualquer política que siga

a orientação do uso intensivo de tecnologias de informação e comunicação.

Com diferentes abordagens, diversos autores no Brasil exploram a relação entre

política e informação, seja pela via da transparência (JARDIM, 1999), governança pública

(MALIN, 2003) ou desenvolvimento científico (GONZALEZ DE GÓMEZ, 2002). É possível

notar que grande parte das investigações situa a Internet como um espaço de mudanças das

políticas de informação.

Na visão de diversos especialistas, a Internet aparece como um ambiente propício

à universalização da informação, por sua característica altamente distribuída e globalizada. O

surgimento da World Wide Web possibilitou uma série de oportunidades em favor do uso e

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compartilhamento de informações em um relacionamento caracterizado como muitos-para-

muitos (LEVY, 1999; CASTELLS, 1999). Em contraposição ao controle existente das mídias

de massa, a Internet foi concebida sem que houvesse a existência de um gestor, ou a figura de

um dono, ao invés disto, é controlada por diversas entidades representantes de diversos

segmentos, e tem a maior parte do seu conteúdo construído pelos próprios indivíduos. Esta

característica transforma a web em um ambiente único, propício ao desenvolvimento de

modos de produção altamente colaborativos e baseados em interatividade e descentralização.

As chamadas mídias sociais, em ascensão na Internet, detêm o potencial de

promover um maior grau de participação do coletivo em torno de uma discussão,

transformando o indivíduo em um membro ativo da comunidade, que acessa e consome

informações, ao mesmo tempo em que as produz e transforma, dando origem a um processo

rico e contínuo de geração coletiva de conhecimento.

A experiência da web social está se desenvolvendo em diversos contextos,

inclusive o governamental. O termo open government7 refere-se a um modo de gestão em que

a opinião dos cidadãos está cada vez mais inserida nas atividades governamentais. Ou seja, no

próprio aperfeiçoamento da democracia. Adota-se também o termo e-democracia, cabendo

ressaltar a importância da participação não somente nos processos decisórios, mas também no

planejamento, execução e controle da administração pública.

As iniciativas voltadas ao desenvolvimento de ambientes, serviços e comunidades

online, especificamente para promover a inserção do cidadão nos assuntos públicos, em uma

perspectiva de criação compartilhada do conhecimento e definição de planos, metas e

políticas públicas, vêm surgindo em todo o mundo. Grande parte desse movimento é

estimulada por entidades não-governamentais, nacionais ou internacionais, e absorvida pelos

governos preocupados em acompanhar as tendências de mudanças em seus modelos de

governança. Estes ambientes são o reflexo das tentativas de promover maior transparência e

participação social em uma abordagem de governança centrada no cidadão.

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Pretende-se apresentar um conjunto destes ambientes, a serem selecionados e

analisados sob a ótica de seus objetivos, tipo de conteúdo, público usuário, fluxos de

informação, entre outros aspectos. E com isso apresentar a Internet como ambiente de

interação, e analisar a aplicação das mídias sociais nas atividades voltadas para o engajamento

do cidadão na construção de políticas. Acredita-se que o uso intensivo destas novas

tecnologias, e planejado sob a ótica informacional, pode fortalecer o relacionamento entre

Estado e sociedade, e reforçar também o conceito de participação e de democracia, uma vez

que estejam facilitadas a visibilidade e o acesso às informações, e a oportunidade de

expressão da opinião pública individual e coletiva.

O marco teórico está dividido em duas partes:

A primeira parte aborda a relação cada vez mais explícita do Governo e sociedade

com os fenômenos da informação, e a Internet como ambiente onde se consolida esta relação.

Inicialmente é visitada a noção de Estado seguida da teoria de esfera pública

desenvolvida pelo sociólogo alemão Jurgën Habermas, que explora os conceitos de sociedade

civil, esfera pública de opinião e de poder político. Neste ponto é sugerido que a Internet seja

reconhecida como um espaço público virtual, que revitaliza o sentido democrático e

participativo, assim como nas praças públicas e cafés da sociedade burguesa do século XVII,

e potencializa o surgimento de uma pluralidade de opiniões, que poderão ser debatidas e

endereçadas ao sistema político. Em seguida são traçados os laços entre informação,

aprendizado e senso de cidadania, atribuindo à informação um papel fundamental na

formação de personalidades ativas em suas comunidades. Por fim são abordadas as

possibilidades de melhorias nos modelos de governança pública sob a perspectiva da gestão

centrada no cidadão. São percorridos os aspectos da democracia e da participação social sob a

ótica das políticas de governo eletrônico que têm sofrido impactos significativos das

dinâmicas comunicacionais e instrumentais da chamada web 2.0.

7 Open Government tem na literatura um significado próximo a government 2.0, ou e-gov 2.0.

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A segunda parte apresenta a evolução das teorias da sociedade em rede, apontando

para o potencial da chamada inteligência coletiva. São apresentados estudos recentes que

mostram como a participação em massa, fenômeno possibilitado pelo avanço da

conectividade promovido pela Internet, afeta e é afetada pela economia, nas relações sociais,

na educação e na política. Em seguida são abordados aspectos da cultura digital, e as

mudanças provenientes deste processo evolutivo. Também são percorridas as dinâmicas e

plataformas da web social e seus impactos nos fluxos informacionais dos usuários ativos dos

serviços que aplicam os principais conceitos colaborativos. Por fim é explorado o conceito de

open government de forma a apresentar sua abordagem, diferenciais que podem ser

significativos e são apresentados alguns exemplos ilustrativos.

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1.1 Objetivos

Esta dissertação tem como objetivo geral identificar e analisar as principais

características e tendências dos ambientes online de interação entre atores da sociedade e do

Estado, que façam uso de mídias sociais em prol da elaboração conjunta de políticas,

diretrizes e ações promovidas pelas entidades governamentais, visando subsidiar a adoção

destas práticas pelo governo brasileiro.

Os objetivos específicos apresentam-se da seguinte maneira:

• Identificar e analisar ambientes de práticas de participação social, realizadas

por meio da Internet, considerando o uso de mídias sociais, em governos de outros países;

• Identificar e analisar ambientes de práticas de participação social, realizadas

por meio da Internet, considerando o uso de mídias sociais, por organizações não-

governamentais;

• Identificar e analisar ambientes de práticas de participação social, realizadas

por meio da Internet, por órgãos governamentais no Brasil, considerando o uso de mídias

sociais;

• Identificar as características e uso de ferramentas e mídias sociais utilizadas

nestes ambientes;

• Elaborar uma visão crítica sobre o avanço da web social na área

governamental, particularmente no Brasil, focalizando o aspecto da promoção da participação

democrática do cidadão;

• Contribuir para o avanço do conhecimento na área da Ciência da Informação,

em particular no que se refere aos processos de co-criação, participação e colaboração na

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geração de conhecimento, também considerando as novas ferramentas de interatividade

baseadas na web social e suas aplicações para o aprimoramento da democracia.

1.2 Metodologia

Diante da novidade do tema e, portanto da falta de uma perspectiva histórica, que

permita identificar claramente padrões e regras de comportamento da web social, optou-se

nessa dissertação por apresentar um quadro descritivo desse ambiente no âmbito internacional

e no governo brasileiro. A idéia é identificar e caracterizar os principais elementos envolvidos

nesse ambiente, de modo a possibilitar o entendimento do processo de mudança e contribuir

para a elaboração de um quadro conceitual relacionado a web social.

Para caracterização dos ambientes investigados elaborou-se um quadro contendo

algumas iniciativas de web social, onde são descritos os serviços, identificados o gestor, o

público-alvo, a abrangência, os objetivos, as ferramentas incorporadas, o período de atividade,

a intensidade de uso (cadastros, quando for o caso, e acessos). As informações foram

coletadas a partir da investigação de ambientes governamentais disponíveis na Internet e de

fontes secundárias que apresentem os atributos descritos acima. Foram também analisadas

iniciativas fora da área de governo com a intenção de destacar aspectos tecnológicos que

podem ser adotados também na esfera pública.

As fontes de informação primária são, portanto, os sítios onde estão hospedados os

ambientes online de interação que serão mapeados e analisados. As fontes secundárias são

relatórios consolidados das instituições ONU8 e OCDE9 a respeito das iniciativas avançadas

em governo eletrônico, sobretudo as que destacam o uso de mídias sociais nas relações entre

8 ONU - Organização das Nações Unidas. 9 OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

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governo e cidadão.

A amostra dos ambientes de interação online foi constituída de forma dinâmica

(amostra não-probabílistica acidental). Foram utilizados instrumentos de busca na web para

identificar alguns ambientes selecionados conforme critérios relacionados a confiabilidade

institucional, ou seja, aquelas que já tem uma reputação notória e que utilizam ferramentas de

interação com a sociedade e que já detêm algum tempo de utilização dessa prática. Além

disso, os países selecionados necessitam estar bem posicionados no relatório das políticas de

governo eletrônico elaborado pela ONU em 2008 – UN E-Government Survey 2008: From E-

Government to Connected Government10, que apresenta um ranking com os países de

políticas de governo eletrônico mais avançadas.

A pesquisa documental foi realizada a partir de relatórios de entidades

governamentais e não-governamentais que tratem das iniciativas de aproximação do governo

com os cidadãos pela via online.

10 Relatório disponível em: <http://unpan1.un.org/intradoc/groups/public/documents/un/unpan028607.pdf>

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2. WEB SOCIAL: A ESFERA PÚBLICA INTERCONECTADA

O referencial teórico desta pesquisa está dividido em duas partes. Na primeira, os

aspectos de governo e da esfera pública serão associados aos fenômenos da transmissão e

comunicação da informação, aonde a vertente digital vem crescendo substancialmente,

levando ao governo desafios que irão exigir mudanças culturais e estruturais. É utilizada a

referência da Internet como instrumento de possibilidades do surgimento de uma esfera

pública interconectada, seguindo os princípios de Habermas.

Na segunda parte é abordado como a colaboração em massa - presente na fase

atual da web - transforma as diversas áreas da sociedade (TAPSCOTT, 2007). Além disso, as

dinâmicas emergentes e auto-organizadas são exploradas segundo visão do pesquisador

Steven Johnson (2003). Serão descritas quais as atitudes e ferramentas que formam o

arcabouço das mudanças que estão em andamento. E por fim, como os governos vêm

adequando suas estruturas para utilizar o potencial de aplicações da web social.

2.1 Governo, Informação e Internet

Nas últimas décadas, diversos avanços na área de governança do Estado têm sido

realizados. A gestão da informação reafirma uma posição extremamente importante nas

atividades governamentais, e recebe, em muitos casos, políticas próprias que orientam a forma

como é produzida, selecionada, organizada, distribuída e utilizada. A importância da

informação pode ser vista tanto na prestação de serviços, contemplando o jogo democrático

no debate com a sociedade, como no desenvolvimento científico e tecnológico, e até mesmo

na melhoria dos processos governamentais internos.

Os processos governamentais vêm sofrendo grandes mudanças, sobretudo devido

ao desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação. A Internet conecta cada

vez mais o governo aos cidadãos, parceiros e fornecedores, bem como às suas próprias

estruturas internas. Ao mesmo tempo, a Internet cria novas possibilidades de geração de

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conhecimento, ganho de produtividade e de participação da sociedade.

Dado que em diversos momentos deste trabalho serão feitas referências aos

termos Estado e governo, e que são muitas as possibilidades de definição destes conceitos,

faz-se necessário diferenciar e dar um contexto a essas duas expressões.

O cientista político e economista Bresser-Pereira atenta para o fato de que na

tradição anglo-saxã, fala-se em governo ao invés de Estado. E reforça que isto implica na

perda da distinção entre governo e Estado, e nos explica que

na tradição européia, o Estado é freqüentemente identificado ao estado-nação, ou seja, ao país. Expressões como “Estado liberal” ou ‘Estado burocrático’ são normalmente uma indicação que a palavra “Estado” está sendo utilizada como sinônimo de regime político. Finalmente, expressões do tipo “Estado capitalista” ou “Estado socialista”, identificam o Estado com um sistema econômico. (BRESSER-PEREIRA, 1995, p.86)

Embora estas expressões provoquem uma interpretação do Estado como regime

político ou como sistema econômico, as mesmas seriam válidas para diferenciar, por exemplo,

o Estado em uma democracia daquele em um regime autoritário.

Neste trabalho, o Estado caracteriza-se por ser uma estrutura política e

organizacional. Esta maneira de olhar o Estado contempla a existência de um poder político

soberano, o que significa ser detentor da posição de poder. O governo, por sua vez, assume o

papel de instância administrativa do Estado formado por membros da esfera política,

responsável pela gestão da coisa pública. O governo é representado por membros transitórios,

pois, a alternância dos gestores é uma regra fundamental no jogo democrático.

Pode-se ainda utilizar a noção de Estado como a res publica, a coisa pública.

Bresser-Pereira acrescenta uma noção do público e do privado a partir da evolução da

democracia, e defende que

o Estado é teoricamente o espaço da propriedade pública. Na prática só o será se a democracia assegurar esse fato. Nas sociedades pré-democráticas o Estado era por definição “privado”: estava a serviço da classe ou do grupo poderoso que controlava

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o Estado e, através dele, se apropriava do excedente social. O avanço da democracia é a história da desprivatização do Estado. (BRESSER-PEREIRA, 1995, p.87)

Há aqui que se tomar cuidado com a interpretação equivocada de que toda

propriedade pública é estatal. Existem ainda os serviços voltados para o interesse público, que

não são contempladas pelo aparelho do Estado.

A constituição e as funções do Estado variam ao longo da história e conforme o

país. Tradicionalmente tais funções estão ligadas basicamente à manutenção da ordem e da

garantia de segurança interna e defesa externa, o que justifica o aparato de segurança pública

que dá origem a força pública policial e militar. Estão ligadas ainda à administração dos

recursos recolhidos e aplicados, que provê condições de planejar e desenvolver ações políticas

públicas.

Bresser-Pereira (1995, p. 88) baseado nas definições de duas correntes, uma

histórico indutiva, que coleciona as teses de Aristóteles, passa por Santo Tomás, Vico, Hegel,

Marx e Engels, e os filósofos pragmáticos norte-americanos, outra lógico-dedutiva baseada

nos estudos de Hobbes, Rousseau e Kant, elaborou um conjunto de elementos constitutivos do

Estado:

(a) um governo formado por membros da elite política, que tendem a ser recrutados junto à classe dominante; (b) uma burocracia ou tecnoburocracia pública, ou seja, um corpo de funcionários hierarquicamente organizados, que se ocupa da administração; e (c) uma força policial e militar, que se destina não apenas a defender o país contra o inimigo externo, mas também a assegurar a obediência das leis e assim manter a ordem interna. Por outro lado, como propõe Weber, essa organização política detém o monopólio da violência institucionalizada, ou seja, tem o poder de estabelecer um sistema legal e tributário, e de instituir uma moeda nacional. Dessa forma, além do governo, da burocracia e da força pública, que constituem o aparelho do Estado, o Estado é adicionalmente constituído (d) por um ordenamento jurídico impositivo, que extravasa o aparelho do Estado e se exerce sobre toda a sociedade. (BRESSER-PEREIRA, 1995, p.89)

Já a noção de sociedade poderia ser concebida de forma a contemplar o Estado,

entretanto a definição que melhor se aplica ao contexto deste trabalho reflete a noção de

sociedade civil, família e mercado. Bresser avalia a sociedade civil não como o objeto cujo

Estado exerce seu poder, mas como um de seus elementos constitutivos.

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No capitalismo contemporâneo, bem como em qualquer outro sistema de classes, o poder político deriva da sociedade civil. Na sociedade civil o povo, constituído pelos cidadãos, se organiza, formal e informalmente, das formas mais variadas: como classes sociais, frações de classes grupos de interesse, associações. Desta forma pode-se afirmar que a sociedade civil é o povo organizado e ponderado de acordo com os diferentes pesos políticos de que dispõem os grupos sociais em que os cidadãos estão inseridos. (BRESSER-PEREIRA, 1995, p.91)

Nos países capitalistas pode-se também entender que a sociedade civil é

organizada pelo mercado. Assim como pela esfera dos interesses privados, na vida familiar.

Desta forma, a sociedade civil está à margem do Estado, mas engloba todas as relações sociais

que exercem algum tipo de influência sobre ele.

A idéia aqui é representar as duas partes nas arenas de reivindicação dos direitos e

interesses privados, sendo estas o Estado e a sociedade.

Os diferentes papéis do Estado estão cobertos de um forte caráter informacional

na sua relação com a sociedade. Na visão mais tradicional, o apelo político da informação

ganha destaque, onde são tratadas questões mais relacionadas à democracia, como

transparência, accountability11 e participação social. Uma segunda visão prioriza os aspectos

da informação relacionada à gestão pública baseada nos princípios da eficiência (medida

econômica do uso de recursos em um processo) e eficácia (medida qualitativa do alcance dos

resultados esperados).

Este trabalho focaliza a dimensão democrática do Estado, onde são analisados os

aspectos de interação entre governo e cidadãos, e destacado o aumento de expressão e voz

ativa da sociedade nas articulações políticas. A transparência e participação social das

atividades governamentais ganham ênfase e são discutidas mais detalhadamente.

11 Accountability é um termo sem tradução que pode ser interpretado como a vocação do governo à

prestação de contas junto à sociedade.

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Jardim (1999, p. 49) entende que a "visibilidade social do Estado constitui um

processo de dimensões políticas, técnicas, tecnológicas e culturais, tendo como um dos seus

produtos fundamentais a informação ‘publicizada’". O autor reforça a classificação do

cidadão como sujeito informativo, uma vez instrumentalizado para exercer o acesso à

informação governamental, e para participar dos processos decisórios. O que revela as

diferentes formas de interação pela via informacional que o Estado democrático é capaz de

articular junto à sociedade.

A OCDE (2001, p.1), em relatório sobre o engajamento dos cidadãos na

formulação de políticas públicas, sugere que os governos devam priorizar investimentos em

tempo e recursos na construção de aparatos legais, políticas e infra-estrutura institucional,

para desenvolver ferramentas adequadas e melhorar seu próprio desempenho no engajamento

dos cidadãos nos processos políticos. O relatório ainda sugere que processos mal desenhados,

medidas inadequadas de informação, consulta e participação pública podem corromper o

relacionamento entre governo e cidadãos. A participação social teria a função de promover

credibilidade e legitimação das decisões políticas.

O engajamento social pode melhorar a qualidade democrática da construção

política, além de permitir ao Estado ampliar seus recursos informacionais, suas perspectivas e

potenciais de solução dos problemas públicos, principalmente considerando atividades

complexas e emergentes. Os governos precisam estar atentos às chamadas por iniciativas para

aumentar a transparência e participação, e com isso promover mais confiança em suas

atividades.

Quanto ao uso da informação pelo cidadão no processo político-decisório, pode-se

perceber que existem diversos meios por onde as informações circulam para atingir a

sociedade, e partem desta para intervir no contexto político do Estado. A relação governo-

cidadão na formulação de políticas públicas pode seguir três fluxos de informação, que

indicam, sobretudo, o nível de engajamento que um Estado democrático pode estabelecer

junto à sociedade. Tais interações são representadas pela figura abaixo:

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Figura 1. Níveis de interação governo-cidadão

• Informação (transparência): via de mão única pela qual o governo produz e

dissemina informação para a sociedade. Neste fluxo os cidadãos são tidos como

agentes passivos no relacionamento com o governo, o que os coloca em uma

posição menos participativa e influente.

• Consulta (feedback12): via de mão-dupla pela qual o governo dissemina

informação, e recebe o feedback da comunidade, que é analisado como elemento-

chave para adequação dos processos governamentais. No entanto, as formulações

políticas continuam centralizadas no governo.

• Participação ativa: relacionamento aberto baseado em parceria entre governo e

12 O termo feedback é utilizado aqui para representar opinião e retorno.

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cidadãos, com elementos que garantem o diálogo na formulação, crítica e revisão

constante dos processos políticos.

Este esquema aponta uma escala de legitimação da participação do cidadão,

entendendo que a visibilidade das informações criadas e organizadas pela administração

pública não é suficiente para a promoção de uma gestão baseada na participação ativa da

sociedade na coisa pública. Em outras palavras, além de transparecer seus processos políticos

e administrativos o Estado democrático tem o desafio de convocar a sociedade para atuar em

conjunto nas formulações políticas. Esta compreensão é muitas vezes ignorada por diversos

autores que dedicam toda atenção nas questões de transparência, deixando enfraquecida a

idéia da participação social.

Ainda é necessário atentar para o fato de que, para ser efetivamente influente na

participação da administração pública, o cidadão precisaria alcançar a condição de produtor

de informação e conhecimento, podendo assumir uma postura mais ativa e tendo melhores

condições de argumentação pela via da racionalidade, além de ter garantidos seus direitos nas

atividades políticas. Tal condição será explorada ao compreendermos como as mudanças

estruturais e comportamentais no novo espaço público virtual possibilitam que indivíduos

engajados aumentem sua noção de pertencimento de classe e tornem-se agentes produtores, ao

invés de assumirem a postura de observadores passivos.

2.1.1 A esfera pública em Habermas

O jogo democrático pressupõe o diálogo constante entre a sociedade e o Estado.

Entre outros, fatores sociais, econômicos, culturais e tecnológicos têm impactado a forma

como este diálogo se constrói e até mesmo os ambientes onde este é realizado. A teoria da

Esfera Pública, apresentada pelo filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas, faz uma

importante análise das mudanças sofridas nos espaços de formação de opinião e de debate

político, e a forma como os problemas da sociedade são endereçados ao sistema político.

De forma resumida, a teoria de Habermas distingue a esfera do poder público

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como sendo aquela referente ao Estado, onde reside o poder público que opera sob voz de

comando, força e ordem, e a propriedade pública, que impede a apropriação do que é

considerado um bem público; da esfera da opinião pública onde são travados os embates

políticos e onde se propaga a voz a favor dos interesses privados.

A primeira noção para a construção conceitual do que vem a ser espaço público é

a de “público” propriamente dita, que está ligada à noção de visibilidade e de acessibilidade,

em contraposição ao que é privado e, portanto, restrito quanto ao acesso.

São chamados de públicos certos eventos quando eles, em contraposição às

sociedades fechadas, são acessíveis a qualquer um – assim como se fala de locais públicos ou

de casas públicas (HABERMAS, 1984, p.14 apud SCHEID, 2006).

O termo “público” ainda pode designar locais que abrigam instituições públicas, e

o próprio Estado. Mas é com a noção do que é visível a todos que se pode acompanhar a

construção do termo “esfera pública”, que se desenvolve juntamente com o advento da

sociedade burguesa, apesar das referências às sociedades gregas e romanas em tempos

anteriores.

Na teoria habermasiana, o espaço público político é descrito como uma "caixa de

ressonância", capaz de ecoar os problemas a serem elaborados e desenvolvidos pelo sistema

político. Para compor este conceito, Habermas recorre a uma abordagem panorâmica da sua

própria concepção sobre esfera pública, que define como "um sistema de alarme dotado de

sensores não especializados, porém, sensíveis no âmbito de toda a sociedade" (HABERMAS,

2003, p.90).

Entretanto, no sistema participativo, pressuposto das democracias, a percepção

dos problemas sociais não pode deixar de ganhar uma face política, ou seja, estes devem ser

moldados de forma a serem capturados e priorizados na agenda de governo.

Um dos cenários de estudo mais utilizados para a compreensão desta abordagem

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constitui-se no espaço público burguês que, com o advento da imprensa de opinião,

responsável pela reprodução de idéias literárias e artísticas, fortalece a construção de um

círculo de discussão que desenvolve a conversação e a crítica.

No início do século XVIII, os freqüentadores dos cafés já tinham acesso aos

jornais, que atuavam como condutores da opinião pública e permitiam o diálogo contínuo

entre o público e os editores a respeito de suas vidas privadas, seus gostos e suas opiniões

políticas. Os burgueses julgavam que o espaço da sua vida privada familiar era independente

dos ditames colocados pelo setor privado do mercado e, como tal, reino da pura humanidade.

Tal representação da família lhes conferia uma autonomia em relação à coação social e às

relações de poder econômico-políticas, pois acreditavam estar a instituição familiar baseada

apenas na vontade de indivíduos livres e na permanente comunhão amorosa dos cônjuges,

cabendo-lhe a função de resguardar o livre desenvolvimento das faculdades das pessoas

cultas. (ARAGÃO, 2002, p. 183)

Pode-se dizer que os encontros nos eventos musicais, salões e cafés, foram os

espaços onde a burguesia se reunia para o debate político e para o desenvolvimento do capital

cultural que diferenciavam as diversas classes sociais, através da música, arte e literatura.

Habermas (2003) ainda divide a esfera pública em: esfera do poder público, que é

o legítimo detentor da propriedade pública, que se expressa pelo monopólio do uso da força, e

que é o responsável pela administração da sociedade; e esfera da opinião pública, constituída

pelos interesses privados, onde reside a sociedade que se contrapõe ao poder público.

Fica nítida a noção de um lugar de representação social, onde as vontades públicas

são apresentadas, defendidas e priorizadas.

[...] esfera de pessoas privadas reunidas num público; reivindicam esta esfera pública regulamentada pela autoridade, mas diretamente contra a própria autoridade, a fim de discutir com ela as leis gerais do intercâmbio de mercadorias e do trabalho social (HABERMAS, 1997 apud ARAGÃO, 2002).

Com efeito, a idéia de esfera pública se consolida como ambiente da

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racionalidade, da comunicação, e da legitimação de decisões de poder. Originalmente, o

debate e a argumentação marcados pela participação dos cidadãos nas questões públicas

trariam o equilíbrio por meio da razão, ou seja, sem a presença do poder ou do capital, o que

representaria a igualdade de condições na resolução dos conflitos de interesse.

Segundo Maia (2000, p.3), a noção presente do debate crítico e da concepção do

uso público da razão, do valor da publicidade e da importância do argumento, conduzido de

maneira racional, entre cidadãos considerados como iguais moral e politicamente, recebe uma

formulação muito mais detalhada e complexa no paradigma lingüístico da ética do discurso.

Discurso refere-se a situações de argumentação idealizada, seguindo basicamente

as condições de universalidade, racionalidade, não-coerção e reciprocidade. Discursos são

tipicamente contra-factuais e não serão, como regra, satisfeitos; pois são realizados, ao invés

disso, apenas de maneira aproximativa. (MAIA, 2000, p.3)

Ou seja, o discurso representaria uma situação lingüística ideal: a leitura de um

modelo utópico que precisaria ser o pressuposto de qualquer processo de comunicação que

vise o entendimento mútuo, a base de toda interação.

Para Habermas, 'discurso' significa uma interação comunicativa que não se propõe

a trocar informações sobre algo, mas a fundamentar as pretensões de validade levantadas na

ação comunicacional. A linguagem é compreendida como ação, estratégica (intencional) e

racionalizada (pela via da argumentação).

A figura abaixo busca representar as qualidades que validam um discurso aberto,

franco e transparente:

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Figura 2. Qualidades da Ética do Discurso

Na ética do discurso prevalecem as condições de igualdade entre os participantes,

reforçando o objetivo de trazer à zona de discussão as características interiores de cada

indivíduo bem como oferecer-lhes um conjunto igualmente distribuído de oportunidades de

diálogo.

A teoria da ação comunicativa, de Habermas, traduz o discurso não como uma

troca ou exposição de informações a respeito de algo, mas como a fundamentação das

pretensões de validade através das redes interativas entre atores sociais. Compreende-se

assim, que a convivência e a socialização dos sujeitos dariam origem às normas sociais

constituintes da esfera da sociedade. Portanto, na ação comunicativa prevalece uma interação

onde se definem "as expectativas recíprocas de comportamento" que devem ser entendidas e

reconhecidas por pelo menos dois sujeitos agentes. (HABERMAS, 1987, p. 57)

A importância da interação social na sociedade contemporânea pode ser

compreendida pela perspectiva da construção do sujeito:

A subjetividade do indivíduo não é construída através de um ato solitário de auto-

reflexão, mas, sim, é resultante de um processo de formação que se dá em uma complexa rede

de interações. A interação social é, ao menos potencialmente, uma interação dialógica,

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comunicativa. A penetração da racionalidade instrumental no âmbito da ação humana

interativa, ao produzir um esvaziamento da ação comunicativa e ao reduzi-la à sua própria

estrutura de ação, gerou, no homem contemporâneo, formas de sentir, pensar e agir –

fundadas no individualismo, no isolamento, na competição, no cálculo e no rendimento –, que

estão na base dos problemas sociais. (GONÇALVES, 1999, p. 130)

Para Habermas, tanto na perspectiva do desenvolvimento científico e tecnológico,

quanto na apropriação dos meios de comunicação pelo mercado, a unilateralidade como

abordagem de evolução, ignora ou impede, a discussão sobre as questões vitais que definem a

história da sociedade.

Na definição de Habermas, as discussões têm origem, tanto nas conversações da

vida cotidiana, quanto nos fóruns organizados da sociedade civil. Quanto à intencionalidade

dos encontros, Habermas ainda apresenta três tipos de esfera pública:

[...] esfera pública episódica (bares, cafés, encontros na rua); esfera pública de presença organizada (encontro de pais, público que freqüenta o teatro, concertos de Rock, reuniões de partido ou congressos de igrejas) e esfera pública abstrata, produzida pela mídia (leitores, ouvintes e espectadores singulares e espalhados globalmente) (HABERMAS, 1997, p.107 apud MAIA, 2000, p.5).

Na sociedade atual, as possibilidades de comunicação entre indivíduos privados

fazem eco ao apelo de Habermas sobre a importância da interação entre agentes sociais, com

o objetivo de discutir e, portanto, participar das práticas sociais que apontam os rumos do

desenvolvimento humano. A esfera pública abstrata, relacionada aos meios de comunicação,

está intimamente ligada ao espaço público da sociedade atual, em que cidadãos

interconectados são capazes de articular redes globais de interesses comuns.

2.1.2 A comunicação de massas: decadência da esfera pública

Um ponto de destaque no estudo de Habermas está no entendimento de que o

advento da imprensa e da mídia pela classe burguesa incorporou o capitalismo em seu

funcionamento. Tal fenômeno iria causar a “morte” do espaço público, uma vez que este se

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torna palco das disputas de mercado e de manipulação de poder político e econômico. Os

interesses privados estariam então praticamente circunscritos na família burguesa, já que os

espaços públicos foram tomados pelas corporações. O “domínio de racionalidade expresso na

opinião pública se transforma em consumismo cultural, ou seja, em veículo de propaganda de

produtos, pessoas e símbolos, com a finalidade de influir econômica e politicamente sobre os

indivíduos” (ARAGÃO, 2002, p. 185).

A figura abaixo busca representar o fenômeno da privatização do espaço público

descrito por Habermas:

Figura 3. Privatização do espaço público

As características do espaço público são claramente destorcidas pela influência do

capitalismo, causando o que Habermas chama de privatização do espaço público. Nesta

dimensão não é possível diferenciar o espaço público reservado para a esfera do indivíduo e

da família, daquele reservado ao consumo e ao mercado.

Como conseqüência da privatização do público, existem diversos fatores como a

transformação da “esfera pública em meio de propaganda e atuação de proprietários privados

sobre pessoas privadas”. Por poder influir nos interesses privados, a propaganda assume um

caráter quase político, na tentativa de manipular os indivíduos a consumir certos produtos,

aceitar certas autoridades, pessoas ou símbolos.

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Enquanto os jornais serviam de espaço para o debate aberto e argumentado, apesar

de perderem a característica dialógica que existia em espaços públicos anteriores, eles

mantinham o princípio da argumentação racional e de publicização de opiniões. Ao

assumirem a lógica do mercado, teriam substituído a racionalidade pelos interesses

coorporativos e comerciais (BRITTO, 2005, p.2).

Entre as principais técnicas de manipulação utilizadas, destaca-se a fabricação de

consenso. Mercadorias e influências disfarçadas de produtos e cultura passam a moldar a

opinião pública em favor das classes dominantes. Neste contexto, o cidadão já não tem

clareza para discernir quais são de fato suas necessidades básicas, pois são constantemente

induzidos ao consumo de bens e serviços.

A cultura produzida para as massas provoca o nivelamento por baixo, o que traz

como benefício a democratização do acesso aos bens culturais, porém ao preço da diversidade

e liberdade de escolha de cada indivíduo. A cultura de massas ainda coloca o público em uma

postura passiva, por impossibilitar o diálogo. No rádio, televisão e cinema, o público é mero

espectador, e não tem a oportunidade de dialogar com os editores, ou com seus pares, o que

provoca a “perda do uso público da razão, da capacidade crítica, do poder de contrapor, de

contradizer, de assumir uma distância em relação aos fatos oferecidos para consumo”

(ARAGÃO, 2002, p. 185).

Tais considerações apontam para o fato de que enquanto os espaços de

visibilidade pública e de prestação de contas mantiveram-se ativos, o espaço do debate

racional tornou-se restrito.

Em paralelo a este fenômeno de privatização do público, ocorre o oposto, ou seja,

a estatização da esfera privada, como resposta do poder público como forma de intervir nas

relações de poder, pacificação dos conflitos, e governabilidade, no esforço por conservar um

espaço público de comunicação sem vícios.

[O Estado] passou a intervir diretamente na economia, assumindo, no capitalismo contemporâneo, a função de preservar as relações de produção, submetendo-se às

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determinações do capital global, com o qual busca conciliar os interesses nacionais. (GONÇALVES, 1999, p. 129)

Figura 4. Estatização da esfera privada

Tanto no mercado de consumo, quanto no campo da ciência e tecnologia, e

fatalmente em outras tantas áreas, nota-se o envolvimento dos interesses de organizações

privadas nos espaços antes ocupados pelo Estado. O Estado, portanto, passa a atuar como

agente regulador, no estabelecimento de regras e contratos de produtividade, sustentabilidade

e desenvolvimento econômico e social.

Quando abordamos as intervenções da mídia na vida privada, vimos que a

sociologia da comunicação de massa restringe a formação de opiniões democráticas. Uma vez

que ao tempo que contribui para agregar interesses, o faz a seu próprio favor, pois enxerga

nesta oportunidade a maneira de sustentar suas próprias estruturas de poder. Por outro lado,

embora os movimentos da sociedade civil defendam seus interesses, acabam por emitir sinais

muito fracos para provocarem receptividade em curto prazo pelo sistema político. O

enfrentamento desta questão pode estar na capacidade de construção dos problemas

verdadeiramente nascidos na esfera privada, e na penetrabilidade destas questões no núcleo do

sistema político.

A unificação da opinião pública através dos meios de comunicação de massa

aponta para o distanciamento das reais vontades do sujeito privado. O processo de influência

legítima é transformado num processo de poder de persuasão. É possível afirmar que os

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processos públicos de comunicação sofrem menos distorção, quanto mais estiverem próximos

à sociedade civil oriunda do mundo da vida, segundo Habermas, os pilares dos interesses

privados autênticos. Com este objetivo, é preciso garantir que os atores da sociedade civil

possam assumir um papel ativo e “pleno de conseqüências”, que torne possível "inverter a

direção do fluxo convencional da comunicação na esfera pública e no sistema político"

(HABERMAS, 2003, p.115).

O que vem a se chamar fluxo convencional da comunicação, neste contexto, é o

processo centralizado por meio do qual a informação é produzida e disseminada. Os meios de

comunicação são dominados pelas principais estruturas de poder, seja o Estado na esfera do

poder público, seja a classe dominante, na esfera de opinião pública. Desta maneira, não seria

possível resgatar o discurso ético, que coloca todos os participantes em igualdade de

oportunidades de diálogo, franco, aberto e transparente. A descentralização deste fluxo

comunicacional surge como possibilidade de minimizar os efeitos desta hierarquia de

informação, e de promover a estabilidade e confiança mútua reservada ao equilíbrio das

dinâmicas democráticas.

A seguir será detalhado como o surgimento de um ambiente que aproxima os

indivíduos para a interação e livre comunicação pode representar um novo rumo para a

retomada do sentido habermasiano da esfera pública. Um lugar onde as opiniões se formam

no diálogo entre sujeitos privados e públicos até que ganhem luz e possam gerar seus

desdobramentos. Esta retomada trata justamente da inversão de sentido nos fluxos de

informação que percorrem a sociedade e o Estado.

2.1.3 Sociedade em rede: A esfera pública interconectada

Como foi visto, a comunicação e a informação assumem papel central no mundo

contemporâneo. Estão ligadas ao desenvolvimento científico, tecnológico, econômico, social,

e em todas as dimensões da vida humana. Muitos autores batizam este fenômeno como Era do

conhecimento, como forma de simbolizar um estado-tempo centrado na informação e no

conhecimento.

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Lastres e Albagli entendem que a Era do conhecimento refere-se

à conjunção e à sinergia de uma série de inovações sociais, institucionais, tecnológicas, organizacionais, econômicas e políticas, a partir das quais a informação e o conhecimento passaram a desempenhar um novo e estratégico papel. Tais inovações constituem-se em elementos de ruptura (para alguns), ou de forte diferenciação (para outros), em relação ao padrão precedente, ainda que resultantes, em grande medida, de tendências e vetores que não são propriamente novos ou recentes. (LASTRES; ALBAGLI, 1999, p.8)

Esta definição, ao mesmo tempo em que reforça o caráter emergente e inovador

do conhecimento na sociedade atual, indica que muitas das características deste momento já

estão presentes há muito tempo. Ou como Castells esclarece, a informação passa a fazer

"parte integral de toda atividade humana, todos os processos de nossa existência individual e

coletiva são diretamente moldados (embora não determinados) pelo novo meio tecnológico".

E diferente de outros momentos de nossa história, "a informação é a matéria-prima:

tecnologias para agir sobre a informação, e não apenas informação para agir sobre

tecnologia". Estes fatores tipicamente se baseiam em aspectos que conviviam com sociedades

anteriores, porém sob uma abordagem bastante limitada e diferente. (CASTELLS, 1999, p.78)

Ainda sobre o papel da informação e comunicação na sociedade, foi visto na

teoria da esfera pública de Habermas que a concepção de cidadania passa por um processo de

diálogo entre os indivíduos membros de uma sociedade que compõe a esfera pública em suas

diversas faces. E percebemos que a promoção do capitalismo unida ao surgimento de algumas

mídias de comunicação de massa inverteram algumas das premissas para a formação do

espírito cívico e para a consolidação da democracia.

As mídias convencionais dominaram a comunicação por décadas: jornais, revistas

e emissoras de televisão vêm ditando quais informações são passíveis de serem veiculadas em

quais canais. Dominam a forma como esta informação é recebida, processada, organizada e

distribuída. Além disso, tais meios de comunicação impedem o diálogo, e transformam a

comunicação num processo unilateral (um-para-muitos).

A noção de redes propõe um novo arranjo social, baseado em relações não-

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lineares, multilaterais. Castells (1999) descreve um novo tipo de sociedade emergente a partir

da década de 80, como resultado da evolução das tecnologias de informação e comunicação, a

sociedade em rede. A Internet é a base instrumental desta nova sociedade que permanece

interconectada em muitas de suas funções, em todos os momentos. Com a Internet, os antes

passivos cidadãos da esfera pública agora aumentam suas possibilidades de diálogo e

participação nos discursos constituintes da opinião pública.

Não se pretende aqui, fazer uma vasta revisão do conceito de sociedade em rede,

apenas uma breve conexão entre sua constatação, segundo o sociólogo Manuel Castells e o

surgimento de um espaço público autêntico, como descreve Habermas. Castells atribui ao

desenvolvimento tecnológico e às mudanças estruturais no capitalismo o surgimento de uma

nova organização da sociedade, ou, em suas palavras:

A revolução da tecnologia da informação e a reestruturação do capitalismo introduziram uma nova forma de sociedade, a sociedade em rede. Essa sociedade é caracterizada pela globalização das atividades econômicas decisivas do ponto de vista estratégico, por sua forma de organização em redes; pela flexibilidade e instabilidade do emprego e pela individualização da mão-de-obra. Por uma cultura de virtualidade real construída a partir de um sistema de mídia onipresente, interligado e altamente diversificado. (CASTELLS, 2000 p. 17)

Assim, o autor deixa claro o vínculo entre o surgimento de uma nova sociedade

interconectada, e o surgimento de novas mídias. O que diferencia estes novos meios de

comunicação é a capacidade de interligar os participantes desta nova sociedade, fazendo com

que sejam também produtores em um processo mútuo de comunicação ativa e passiva.

Pode-se afirmar que um dos fortes componentes deste movimento emergente, que

leva as questões sociais da "periferia ao centro", foi a evolução dos meios de comunicação e

seu potencial de interconectar a sociedade civil. Mais precisamente, foi o amadurecimento da

Internet como meio de comunicação, que reverteu a lógica um-para-muitos das tradicionais

mídias de comunicação de massa.

O surgimento do espaço público virtual, ou interconectado, oferece novas

oportunidades para o desenvolvimento da sociedade civil e remete às idéias desenvolvidas na

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teoria de Habermas (2003). Assim, espera-se acompanhar e estimular a crescente influência

da sociedade civil para fazer ecoar seus problemas nas mídias de comunicação de massa e,

principalmente, no sistema político.

De acordo com Habermas (2003), devido às características de sua configuração, a

mídia tradicional não é o espaço da discussão, mas de uniformização das idéias, do

convencimento, de exposição pública das opiniões das classes dominantes, da tentativa de

naturalização destas opiniões como sendo de toda a sociedade, e da tentativa de neutralização

da capacidade crítica de outras classes sociais.

A comunicação unilateral não dá oportunidade ao diálogo, necessário para o

desenvolvimento da argumentação racional. Além disso, poucos agentes se transformam em

produtores de conteúdo, e passam a utilizar sua ocupação dos espaços públicos em favor de

seus próprios interesses. Como a massificação vem na forma da prática da vida cotidiana –

para viver o ser humano precisa comer, beber, vestir-se, abrigar-se, mover-se, reproduzir-se –

a sociedade passa a ser facilmente cercada pela “fabricação” de modos de organização social

que interessam tipicamente às classes dominantes.

Esta dissertação trabalha com a premissa de que a Internet, e o potencial das novas

mídias interativas e de comunicação multilateral, representam uma possibilidade para o

ressurgimento da originalidade do espaço público como espaço do debate e da argumentação.

É neste ponto que o advento das tecnologias de comunicação e informação ganha

importância. Em especial a Internet - por ser caracterizada como a rede das redes - que abriga

os diversos coletivos sociais agrupados por interesses comuns, e lhes concede a prática da

expressão de suas idéias e de suas vontades, e ainda, devido a sua topologia altamente

descentralizada, recebe menores níveis de influência do sistema político e econômico que

formam as hierarquias de poder. A Internet é um possível espaço social de formação da

opinião pública e da problematização das questões do mundo da vida, com visibilidade e

alcance suficiente para endereçar tais questões ao sistema político, e facilitar a elaboração das

soluções de maneira coletiva e participativa.

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2.1.4 As faces da tecnologia

Ao tratar do tema tecnologia, os estudiosos do campo da política e da informação

podem se apropriar de diversas perspectivas de análise. Uma delas busca compreender quais

benefícios a sociedade pode usufruir deste elemento que acompanha o seu desenvolvimento

desde os primórdios. Outra perspectiva aponta para uma tendência que aprisiona a sociedade

em prol do desenvolvimento tecnológico. Grande parte dos cientistas da informação

compreende que a tecnologia não carrega nenhum vestígio de neutralidade, tampouco é

determinante para o desenvolvimento social. Isto significaria que há algum grau de influência,

possivelmente recíproca, não passível de ser facilmente medido, na relação entre tecnologia e

sociedade. Para uma melhor compreensão desta relação e, por sua vez, entre tecnologia e

governo, são revistas algumas abordagens sobre este tema sob a luz da Ciência da

Informação. Desta maneira, acredita-se ser possível deixar mais transparente a posição

assumida no decorrer deste trabalho.

Visando compreender o papel da tecnologia e sua relação com a sociedade,

Braman (2004, p. 124) classifica a tecnologia em três possíveis leituras:

Ferramentas - podem ser consideradas como individuais tanto na sua produção

quanto no seu uso. Uma pessoa sozinha pode utilizar uma pá, um isqueiro. Não consiste

necessariamente em um ato social.

Tecnologias - são sociais na sua produção e no seu uso, isto é, requerem um dado

número de pessoas trabalhando em conjunto. A tecnologia torna possível o processo de

transformação e industrialização, através do processamento de determinados tipos de

materiais. No campo da comunicação podem ser citados como exemplos tecnologias como a

imprensa ou o rádio, que foram produzidos socialmente em um processo seqüencial de

transformação de bens e materiais.

Meta-tecnologias - amplia significativamente a liberdade com que o homem pode

agir no mundo social e material. As meta-tecnologias envolvem muitas etapas de

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transformação e caracterizam um processo infinito de produção e uso de maneira social. São

tipicamente informacionais, e um bom exemplo seria a constante evolução da Internet, mais

precisamente dos produtos e serviços tecnológicos e informacionais continuamente alterados

e reconstruídos no plano social.

Figura 5. Abstração tecnológica versus apropriação social

Estas definições constituem uma escala de apropriação e abstração do aparato

tecnológico em relação ao coletivo social que o produz e usa. A figura 5 tenta complementar

esta mesma leitura, reforçando que quanto maior o nível de abstração da tecnologia, mais

incorporada ao mundo social ela estará. Uma possível análise destas definições permitiria

dizer que quanto mais aderente à natureza social e humana, maior será o grau de adoção de

determinada tecnologia por parte da sociedade. A Internet é citada como exemplo por ser

considerada uma meta-tecnologia, na verdade um modus operandi, pelo qual a sociedade vive

a virtualização sem perder a noção do real, mas usufruindo de novos paradigmas de tempo,

espaço, liberdade, acesso à informação e comunicação.

Latour (2000) apresenta uma compreensão instigante ao explorar a relação entre

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natureza, sociedade e tecnologia. Seu foco é tentar compreender tais relações e seu vínculo

com a produção de conhecimento nos tempos atuais. Para o sociólogo, a dificuldade de

entendimento do desenvolvimento técnico e científico na atualidade está relacionada ao

emprego equivocado de categorias limitadas para a compreensão de elementos fortemente

entrelaçados. O autor chama por purificação o processo de distinguir as margens ontológicas

de humanos e não-humanos. E por tradução o movimento contrário, de mistura entre gêneros

de natureza distintas, que ocorre no surgimento de elementos híbridos.

Sua crítica está no fato de que ao longo do tempo adotamos a postura de purificar

os elementos, buscando dar visibilidade a sua natureza original, quando no entanto, este

processo tornaria ainda mais complexa a relação entre humanos e não-humanos. Por sua vez,

o autor sugere a compreensão dos híbridos a partir de uma nova categoria, que não permite

dissociar as duas zonas de natureza e sociedade.

A perspectiva traçada por Latour recai sobre o conceito de redes, uma vez que

concebe um híbrido como um agenciamento de sociedade, técnica e natureza. Pedro (2003)

sugere que iremos perceber a amplitude das ligações entre os gêneros, na medida em que

tentarmos estabelecer fronteiras entre os mesmos.

Cada vez que um elemento trafega na rede, ele carrega consigo toda a sua história, transportando-a para outros locais que não o seu de origem e estendendo seu alcance - transformando, assim, toda a rede. Neste movimento, humanos e não-humanos são igualmente mobilizados. (PEDRO , 2003, p. 29)

Embora a noção de rede seja um dos alicerces teóricos e práticos do que está

sendo proposto neste trabalho, este percurso será tratado em outro momento. A menção às

redes aqui se refere ao paralelo possível entre o conceito de meta-tecnologia, trazido por

Braman, com a compreensão sócio-técnica da tecnologia apresentada por Latour. Em ambas

as análises, há um grau elevado de entrelaçamento entre sociedade e tecnologia, que dá

origem a uma noção maior, sistêmica e abstrata. Tal noção possivelmente nos impediria de

tentar a distinção dos papéis de cada gênero em um contexto social mediado pela técnica.

Sobre as características funcionais da tecnologia, Braman (2004, p. 126) chama

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atenção para o fato de que nem sempre ela torna as coisas mais fáceis, mais eficientes, mais

eficazes em termos de custos, mais agradáveis, mais estéticas, mais sadias, ou mesmo faz o

que se destina a fazer. A tecnologia pode até mesmo ser regressiva em alguns aspectos.

"Crianças que assistem muita televisão podem deixar de desenvolver importantes capacidades

motoras". Ou mesmo destruidora, como no caso do armamento bélico, fonte, aliás, de

importantes evoluções tecnológicas na história da humanidade, incluindo a computação.

Fazer com que novas tecnologias deslanchem por vezes se transforma numa tarefa

ainda mais difícil do que o próprio processo de criação que gerou seu desenvolvimento.

Inúmeras barreiras podem surgir ao longo do processo de adoção de uma tecnologia, muitas

dificilmente poderiam ser previstas. Para obter sucesso, uma nova tecnologia precisa

satisfazer diversas condições de custo, localidade, clima, cultura, legado tecnológico, para

citar algumas. Inúmeras tecnologias surgem a todo o momento, mas sua aplicação real a um

número significativo de pessoas, não é trivial. Para exemplificar, a telefonia convencional

vem sendo ameaçada por serviços de VOIP13 que prometem substituir os serviços de

telecomunicação via voz pagos, por serviços gratuitos viabilizados por conexões na Internet.

Entretanto a disseminação massificada desta tecnologia depende de diversos aspectos, como a

própria expansão da Internet, aspectos culturais e interesses privados que unem forças

contrárias às novas tecnologias. Embora autores como Don Tapscott (2006) e Cris Anderson

(2008) afirmem que o futuro das telecomunicações é ser gratuita, há, no mínimo, um longo

caminho até lá. Neste meio tempo, outros fatores podem modificar aquilo que parece ser o

rumo natural das evoluções tecnológicas e fazer surgir novas tendências e possibilidades.

De fato, existem inúmeros fatores a serem analisados quando se pensa em

inovação tecnológica. Entre outras precauções torna-se importante distinguir tecnologias

potenciais, ou seja, aquelas que pretendem viabilizar algum benefício para a sociedade em

algum tempo futuro; daquelas atuais, que de fato já estão incorporadas no sistema produtivo e

13 Voz sobre IP (Internet Protocol): Refere-se a uma tecnologia capaz de transmitir voz humana em

tempo real pelas redes de computadores tal como a Internet.

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contribuem de alguma forma para o desenvolvimento da sociedade.

Não é nenhum exagero afirmar que a Internet já é uma tecnologia, ou como

preferem alguns autores, um sistema tecnológico, incorporado no sistema produtivo mundial.

Sua interferência na sociedade já percorre a política, educação, economia, cultura,

entretenimento, para citar alguns. Diante deste cenário, e, considerando que um sistema

tecnológico não é fim em si mesmo e, menos ainda assume um status finalizado - ou pronto -,

quais seriam as implicações do uso desta tecnologia por parte do governo? Quais os rumos

possíveis? Em quais processos governamentais o uso da cibernética se aplicaria? E,

finalmente o que este trabalho busca responder, a Internet seria mesmo uma plataforma com

potencial de fortalecer a democracia e a participação social?

2.1.5 Governo Eletrônico: Quando a tecnologia compõe a plataforma de governo

Os desafios impostos ao governo quanto ao atendimento das demandas da

sociedade, ao relacionamento com a diversidade de atores e provedores de serviços, a novos

campos de regulação e, ao esforço pelo cumprimento das metas sociais, econômicas,

educacionais, entre muitas outras, são responsáveis por acionar uma postura ativa na busca

pela melhoria de seus processos.

Nas últimas décadas, as abordagens dos modelos de gestão governamental vêm

sofrendo mudanças, principalmente devido ao ritmo acelerado com que a tecnologia é

empregada pela sociedade. Os governos já recebem estes estímulos há algum tempo, e a

maior evidência está nas políticas de governo eletrônico, que reúnem ações no campo

gerencial, na gestão informacional e em sua própria constituição política.

Muitos países buscam modernizar a administração pública para atingir melhores

níveis de pró-atividade, eficiência, eficácia, transparência e, principalmente, como forma de

estabelecer uma gestão mais centrada no cidadão. Estes esforços passam pela revitalização

das estruturas de governo, desenvolvimento de novas práticas e competências que visam

resultar em mobilização política e social. A forma pela qual estes objetivos são perseguidos

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considera a incorporação da perspectiva tecnológica nos processos governamentais. Estas

diretrizes por vezes estão alinhadas com políticas de informação, que dizem respeito às

formas com que a informação produzida em um território, seja público, privado ou estatal, são

articuladas nos fluxos de comunicação entre Estado e sociedade. Em boa parte dos casos, tais

questões estão compreendidas nas políticas de governo eletrônico.

A noção mais abrangente de governo eletrônico aparece na literatura relacionada

aos esforços dos governos em alinhar suas políticas ao processo contínuo de evolução

tecnológica de informação e comunicação, de forma a aumentar a qualidade de seus processos

e acelerar o cumprimento de seus objetivos constitucionais.

As diretrizes estão tipicamente relacionadas à:

• formulação de políticas para o plano das tecnologias de informação e

comunicação - TIC no âmbito nacional, e internacional quando for o caso;

• revisão de suas estruturas e processos internos e de relacionamento com

sua cadeia de valores;

• orientação da atividade de prestação de serviços voltada ao meio digital;

• fortalecimento do debate democrático com a sociedade e estímulo a

participação social por meio de canais interativos.

Em recente relatório, uma comissão especializada da ONU14 (2008, p.xii) afirma

que o governo eletrônico pode contribuir para o processo de transformação da administração

pública em direção a uma gestão mais ágil e mais eficaz em termos de custos, além de

14 Organização das Nações Unidas (ONU)

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facilitar, estimular e melhorar a comunicação e coordenação das autoridades em diferentes

níveis, e promover maior transparência e estímulo à participação social.

Atualmente o referencial teórico sobre a temática do governo eletrônico já se

apresenta com boa densidade e a maior parte das definições aponta para aspectos muito

semelhantes, o que sugere certo amadurecimento desta discussão.

Ruediger definiu o termo governo eletrônico como tendo foco

no uso das novas tecnologias de informação e comunicação [TIC] aplicadas a um amplo arco das funções de governo e, em especial, deste para com a sociedade. Em conjunto, tecnicamente, o governo eletrônico, além de promover essas relações em tempo real e de forma eficiente, seria ainda promotor de boas práticas de governança e, potencialmente, catalisador de uma mudança profunda nas estruturas de governo, proporcionando mais eficiência, transparência e desenvolvimento, além do provimento democrático de informações para decisão. (RUEDIGER, 2002, p.1)

Para o autor, as oportunidades originadas pelo avanço das tecnologias de informação e

comunicação podem oferecer mais do que a automação dos processos governamentais, mas

sim estabelecer um modelo de governança que provoque mudanças de fato nas estruturas de

governo. Em outro trecho Ruediger constata que

o governo eletrônico é, atualmente, um experimento em construção, e sua dimensão política mais avançada – a governança eletrônica – não pode ser considerada um mero produto ofertado ao cliente em formato acabado, mas, considerando-se sua natureza eminentemente política, e, portanto pública, pode ser percebido como um bem público, passível de acesso e desenvolvido por processos também sociais, o que o leva a constantes transformações. Justamente essa dimensão faz com que a noção de governança eletrônica, refira-se ao estado, em sua concepção republicana, e em teoria, não se limite apenas a uma experiência de gestão por serviços ad hoc, retificada pelo mercado, mas antes, possa servir de arena cívica, em contraponto a privatização da esfera pública. (RUEDIGER, 2002, p.1)

Tesoro apresenta uma definição que contempla outros possíveis termos

compreendidos pela mesma noção:

[...] O termo "governo eletrônico", "Governo Digital", "Governo online", "Administração [online]" e "Estado Digital" como equivalente ao anglo-saxônico "electronic government", "e-government" e "e-gov", destinado para se referir a um "novo" paradigma tecnológico associado ao fornecimento de serviços telemáticos

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por parte das autoridades públicas, para: a) prestar mais e melhores serviços aos cidadãos, b) fornecer pontos de acesso unificados e flexíveis para satisfazer múltiplas necessidades de informação e serviços, c) aumentar a produtividade, qualidade e valor dos seus serviços, d) estar atento "à medida" das necessidades de cada usuário, e) resolver trâmites, consultas, reclamações e sugestões online, f) aumentar a participação social, g) melhorar a qualidade e reduzir os custos das transações no interior do Estado, h) reduzir o custo (em dinheiro, tempo e transtornos) dos procedimentos do público, i) aumentar a transparência da gestão pública. (TESORO, 2004, p.2)

Outros autores consideram que o termo governo eletrônico ocupa uma posição

passageira, ou ao menos conceitualmente limitada, sendo na verdade um esforço para que seja

alcançada a governança eletrônica, que pode ser definida como

uma idéia emergente, baseada na rejeição da governança burocrática que não responde às exigências da sociedade do conhecimento, às realidades de um mundo mais complexo e interligado, à natureza interdisciplinar da política de hoje e das ferramentas de TIC. (SARKER, 2005)

A diferença de sentido entre governança e governo é algo importante. Sarker

afirma que

a governança corresponde ao modo ou ao processo de conduzir uma sociedade para melhor atingir suas metas e interesses, enquanto o governo é a instituição ou o aparato para se efetuar essa tarefa. Isso significa que o governo é uma (das muitas) instâncias da governança. (SARKER, 2005)

Neste quadro, as práticas de governo eletrônico tendem a impactar, não apenas

suas estruturas internas, mas todo o ambiente onde vigora a presença direta ou indireta do

Estado. Por esta e outras razões, acredita-se que

o governo eletrônico poderia ser reconsiderado - e construído - dentro de uma perspectiva mais ampla, como vetor privilegiado para promoção de mecanismos de governança, tanto no incremento da capacidade cívica e de capital social, quanto na promoção do desenvolvimento econômico, eficiência governamental e de relações mais democráticas e transparentes entre governo e sociedade civil. (RUEDIGER, 2008, p.235)

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2.1.5.1 Breve introdução ao governo eletrônico no Brasil

O programa de governo eletrônico brasileiro já assumiu diversas faces ao longo

das mudanças sofridas pela administração pública, entre as quais, mudanças de governo e, por

conseguinte, diretrizes estratégicas para a informação e para a tecnologia, o que é inerente ao

próprio processo democrático.

A evolução da dimensão tecnológica no governo brasileiro pode ser considerada

como reflexo de uma série de acontecimentos internos e externos. Um primeiro

acontecimento seriam as mudanças estruturais provocadas pela reforma de Estado de 1995,

que provocou a descentralização da máquina administrativa e criou modelos de gestão

baseado em contratos administrativos. Um segundo ponto está na evolução do

microprocessamento e principalmente da Internet, que só foi liberada à iniciativa privada em

1995, e se instalou em diversas dimensões do Estado brasileiro e teve profundo impacto em

diversos setores.

Em 21 de janeiro de 1994, durante o Governo Itamar Franco, foi instituído o

Sistema de Administração dos Recursos de Informação e Informática (SISP) do Governo

Federal, por meio do Decreto nº 1048/94, cujas principais atribuições eram:

I - assegurar ao Governo Federal suporte de informação adequado, dinâmico,

confiável e eficaz;

II - facilitar aos interessados a obtenção das informações disponíveis,

resguardados os aspectos de sigilo e restrições administrativas ou previstas em dispositivos

legais;

III - promover a integração entre programas de governo, projetos e atividades,

visando à definição de políticas, diretrizes e normas relativas à gestão dos recursos do

Sistema;

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IV - estimular o uso racional dos recursos de informação e informática, no âmbito

da Administração Pública Federal, visando à melhoria da qualidade e da produtividade do

ciclo da informação;

V - estimular o desenvolvimento, a padronização, a integração, a normalização

dos serviços de produção e disseminação de informações, de forma desconcentrada e

descentralizada;

VI - propor adaptações institucionais necessárias ao aperfeiçoamento dos

mecanismos de gestão dos recursos de informação e informática;

VII - estimular e promover a formação, o desenvolvimento e o treinamento dos

servidores que atuam na área de informação e informática.

Como destaca Zugman (2005, p. 48) em 2 de abril de 2000, foi criado, mediante

decreto presidencial, o Grupo de Trabalho em Tecnologia da Informação (GTTI) com o

objetivo de analisar e propor políticas, diretrizes e normas relacionadas com as novas formas

de comunicação eletrônica. O grupo tinha por objetivo lançar as bases para a sociedade digital

e seus esforços concentraram-se em três linhas de ação: universalização dos serviços, refere-

se ao acesso à Internet; o governo ao alcance de todos promove a informatização dos

processos da administração pública; enquanto a infraestrutura avançada mantém o foco no

estabelecimento de uma rede entre governo, setor privado e P&D (pesquisa e

desenvolvimento).

Uma das primeiras iniciativas de destaque com foco na prestação de serviços

online foi o portal Rede Governo15 que foi lançado reunindo uma série de serviços prestados

por diversos órgãos governamentais, como:

15 Disponível em: <http://www.redegoverno.gov.br>

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51

• Entrega de Declarações de imposto de renda;

• Emissão de certidões de pagamentos de impostos;

• Divulgação de editais de compras governamentais;

• Cadastramento de fornecedores governamentais;

• Matrícula escolar no ensino básico;

• Acompanhamento de processos judiciais;

• Acesso a indicadores econômicos e sociais e a dados dos censos;

• Prestação de informações sobre aposentadorias e benefícios da previdência

social;

• Acesso a sites de museus e cultura em geral;

• Divulgação de oportunidades de trabalho;

• Informações sobre abertura de empresas, entre outros.

Embora diversas iniciativas de serviços eletrônicos já existissem, o marco legal do

governo eletrônico brasileiro ocorreu em setembro de 2000, quando o Grupo de Trabalho

Novas Formas Eletrônicas de Interação apresentou o documento Proposta de Política de

Governo Eletrônico para o Poder Executivo Federal. Este documento apontou algumas

deficiências dos avanços do governo na internet, tais como: baixa interoperabilidade entre os

sistemas, sistemas centralizados e pouco integrados, e foco nas funções e não nos processos.

Este quadro, entre outros fatores, sintetizou a demanda por uma estratégia geral para a

Tecnologia da Informação no Estado brasileiro.

Pouco tempo depois, em 18 de outubro de 2000, foi institucionalizado o Conselho

Executivo de Governo Eletrônico, cujos objetivos de longo prazo contemplavam16:

• oferta na Internet de todos os serviços prestados ao cidadão, com melhoria

dos padrões de atendimento, redução de custos e facilidade de acesso;

• ampliação do acesso a informações pelo cidadão, em formatos adequados,

16 Conforme destacado no Balanço Preliminar de dois anos de Governo Eletrônico. Disponível em:

<http://www.governoeletronico.gov.br/anexos/E15_198Balanco_preliminar_2_Anos.pdf>

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por meio da Internet;

promoção da convergência entre sistemas de informação, redes e bancos

de dados governamentais para emitir o intercâmbio de informações e a

agilização de procedimentos;

• implantação de infra-estrutura avançada de comunicações e de serviços,

com padrões adequados de segurança e serviços, além de alto

desempenho;

• utilização do poder de compra do Governo Federal para a obtenção de

custos menores e a otimização do uso de redes de comunicação;

• estímulo ao acesso à Internet, em especial por meio de pontos de acesso

abrigados em instituições públicas ou comunitárias; e

• fortalecimento da competitividade sistêmica da economia.

As diretrizes da proposta de política para o governo eletrônico estavam baseadas

em três frentes principais que envolviam maior integração entre órgãos governamentais,

maior interação com o cidadão e integração com parceiros e fornecedores.

Em relação ao cidadão, estão sendo disseminados portais na Internet que

funcionam como balcões virtuais de informação e de atendimento para a prestação de

serviços. Para a gestão interna, está sendo promovida a integração entre os sistemas em rede

interna (intranet). A integração entre parceiros e fornecedores está sendo desenvolvida na

forma de uma extranet conectada aos sistemas de informação do Governo Federal que

compreende, dentre outros, os sistemas de administração financeira, de compras

governamentais, de apoio à educação, à saúde e à previdência social. A estrutura relacional

que está sendo construída entre os principais atores neste processo, envolve o Governo,

cidadãos/clientes e empresas, dentro das diversas possibilidades de transações eletrônicas (e-

business e e-gov).

A estrutura do Programa Governo Eletrônico é baseada no Comitê Executivo de

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Governo Eletrônico (CEGE), que desde 2003 passou a ser formada pelos seguintes comitês

técnicos:

• Implementação do Software Livre;

• Inclusão Digital;

• Integração de Sistemas;

• Sistemas Legados e Licenças de Software;

• Gestão de Sítios e Serviços On-line;

• Infra-Estrutura de Rede;

• Governo para Governo - G2G, e

• Gestão de Conhecimentos e Informação Estratégica.

Em 2006, o Tribunal de Contas da União realizou uma Avaliação do Programa

Governo Eletrônico para acompanhar sua evolução até aquele momento, tendo em vista o

aumento do número de cidadãos e empresas brasileiras com acesso à Internet.

Com relação às barreiras e impedimentos, as principais constatações foram:

• Falta de formalização das diretrizes do Programa;

• Enfraquecimento das instâncias de discussão e formulação da política de

governo eletrônico;

• Desconhecimento, por parte da coordenação do Programa, sobre os sítios

do Governo;

• Federal, e seus respectivos responsáveis, nos órgãos da Administração

Pública Federal;

• Divulgação deficiente das diretrizes e documentos gerados pelo Programa;

• Descompasso na implementação de serviços eletrônicos, pelos órgãos da

Administração Pública;

• Federal, com base nas diretrizes do Programa;

• Inexistência de monitoramento e avaliação por parte da Coordenação do

Programa;

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• Ausência de indicadores de desempenho para o Programa;

• Divulgação deficiente de boas práticas de governo eletrônico pela

coordenação do Programa;

• Falta de controle do Programa Governo Eletrônico sobre a criação e

extinção de sítios dos órgãos da APF;

• Desconhecimento, por parte dos gestores, do público-alvo dos serviços

eletrônicos, suas necessidades e opiniões sobre a qualidade desses

serviços;

• Baixa porcentagem de serviços transacionais, orientados diretamente ao

cidadão;

• Inobservância de recomendações propostas nos documentos gerados pelo

Programa que facilitariam o acesso e o uso de serviços públicos

eletrônicos pelo cidadão;

Atualmente não existem grandes mudanças previstas na forma como o Programa

de Governo Eletrônico vem sendo conduzido, mas novos focos começam a ser discutidos em

grupos e comunidades especializadas no tema. A maior parte das discussões acompanha as

tendências internacionais, que direcionam os programas de governo eletrônico em uma linha

ainda mais participativa e centrada no cidadão.

A configuração das possibilidades de interação da Internet na sociedade atual

pode ser considerada como um dos principais estímulos à reflexão das políticas de atuação do

governo em relação a sua sociedade, considerando o meio digital como plataforma de

interação. No próximo capítulo serão analisadas quais as mudanças comportamentais da

perspectiva do usuário ocorreram na Internet nos últimos anos, o que provocaram estas

mudanças, como estas têm impactado os atores presentes na Internet, principalmente os

governos.

2.1.5.2 As faces do governo eletrônico

Ao longo da evolução da tecnologia nas funções de governo, são percebidas

diversas classificações que esquematizam os tipos de atividade e suas verdadeiras funções.

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Uma classificação bastante disseminada atualmente distingue governo eletrônico, democracia

eletrônica e governança eletrônica, onde:

• Governo eletrônico (e-government)

Reúne o conjunto de práticas direcionadas a prestação de serviços de utilidade pública,

e a automação dos processos governamentais com seus clientes e parceiros. Esta abordagem é

também muito importante, pois tem um grande impacto na redução da burocracia. As

possibilidades vão de serviços básicos como emissão de documentos e pagamento de

impostos, até serviços mais direcionados como registro de marcas e patentes, ou pedido de

crédito bancário.

• Democracia eletrônica (e-democracy)

Mantém seu foco na participação social e é traduzida em iniciativas que

estimulam o cidadão a atuar no plano político. A sociedade participa ativamente dos

processos de construção política e decisão, fornecendo insumos consistentes para que o gestor

público assuma sua função como representante dos cidadãos na coisa pública. Estas práticas

têm por objetivo maior estabelecer um contato mais direto e contínuo do cidadão com seus

governantes, um acesso direto aos planos políticos, evitando que isto ocorra somente nas

épocas eleitorais, ou que somente haja participação das classes dominantes.

Os setores democráticos compreendem um conjunto de atores, incluindo governos

e representantes eleitos, entidades políticas e grupos de interesse, mídia, sociedade civil

organizada, organizações governamentais internacionais, e por fim, os próprios cidadãos. A

democracia eletrônica pressupõe: em primeiro lugar, um alto índice de conectividade entre

estes atores, que passam a se comunicar e interagir de forma intensiva, fortalecendo o caráter

participativo nestas relações; em segundo, um aumento do interesse do cidadão nos assuntos

públicos, que se reflete no aumento do engajamento cívico, mas também tecnológico do

cidadão.

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Nos países democráticos, o estímulo à participação tem impacto altamente

positivo no aumento da confiança do cidadão em seus representantes, e, portanto, na

legitimidade do governo. A prática de accountability refere-se à capacidade de

acompanhamento das ações públicas por parte da sociedade. A transparência pública tem

como objetivo maior dar visibilidade aos gastos, decisões e planos do governo para que a

sociedade seja capaz de reivindicar as questões que vão de acordo com suas expectativas.

Os objetivos e condições da democracia eletrônica são complexos, e fazem parte

do foco principal deste trabalho.

• Governança Eletrônica

Esta face do empreendimento tecnológico nas atividades governamentais se

dedica a garantir agilidade nas atividades internas às estruturas de governo e em seus

relacionamentos. A governança eletrônica está voltada ao ganho de produtividade nas

tomadas de decisão e implantação das ações e políticas ora definidas na esfera democrática.

A união das funções democráticas e de governança, com o ganho de produtividade

trazido pelas tecnologias da informação e comunicação, podem gerar diversos benefícios ao

Estado e sociedade, a começar pelo aumento da transparência pública e participação social,

aumento da confiança dos cidadãos em seu governo, melhoria nas decisões governamentais,

redução dos gastos públicos, redução da corrupção, habilidade de conduzir a administração

pública com os valores cívicos legítimos, envolvimento de todas as partes interessadas nos

encontros políticos, incluindo cidadãos, empresas e organizações não-governamentais.

Com o amadurecimento das políticas de governo eletrônico, muitos aspectos

podem ser destacados como fatores que evidenciam o aumento de produtividade do governo.

A figura abaixo visa representar alguns destes aspectos, que estarão descritos em seguida.

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Figura 6. Principais aspectos cobertos pelo Governo Eletrônico

Redução de custo. Além do aumento da oferta dos serviços de utilidade pública.

O investimento inicial para o desenvolvimento de um portal de serviços pode ser tão custoso

quanto à construção de um prédio. Entretanto a ampliação da capacidade de atendimento no

mundo virtual tende a ser muito inferior que no mundo físico. Para atender mais cidadãos ao

mesmo tempo não será preciso construir um novo prédio e novas instalações, mas aumentar a

capacidade de acesso online. Os serviços digitais têm um ganho significativo de

escalabilidade.

Melhoria da infraestrutura de telecomunicação. Para ser capaz de prover todas

as melhorias que o governo eletrônico promete apoiar, um primeiro passo estaria na

realização de investimentos junto ao setor privado nas estruturas de comunicação. O resultado

traz ganhos diretos e indiretos para o Estado. Primeiro, por permitir um conjunto de outras

políticas mediadas pelo governo. Segundo, pois a diminuição das barreiras de acesso ao

mundo digital contribui para o desenvolvimento do país como um todo, nos campos social e

econômico inclusive.

Serviços de melhor qualidade. A informatização visa aumentar o controle dos

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processos, garantir a diminuição do tempo, e o aumento do conforto do cidadão e da

disponibilidade do serviço. Além disso, sistemas informatizados acumulam indicadores de

desempenho com mais precisão, desde que bem definidos e programados. Como resultado o

acompanhamento dos serviços torna-se mais eficaz e o processo pode ser retro-alimentado

com respostas mais rápidas.

Ubiqüidade. Aspecto que vem chamando bastante atenção em temos de acesso

móvel a rede. Os cidadãos desejam ter acesso a serviços e informações em qualquer lugar,

bastando terem à disposição algum dispositivo de acesso, seja um celular, ou qualquer ponte

de acesso público. Além disso, os serviços podem ser oferecidos em portais especializados

(como exemplo o site do Detran do Rio de Janeiro) ou portais genéricos (como o Rede

Governo). O mesmo serviço pode ser localizado em diferentes portais de acesso, públicos ou

privados. E apenas um link separa o cidadão-usuário do serviço desejado mesmo podendo

estar a quilômetros de distância da sede física do órgão prestador do serviço.

Acompanhamento e rastreabilidade. Os serviços podem ser acompanhados

online e o fluxo de tramitação pode ser rastreado: a qualquer momento é possível saber a

localização e situação de um processo através de seu número de protocolo ou qualquer outro

indicador.

Redução da burocracia. A comunicação integrada entre os órgãos pode evitar o

típico desencontro de informações e passos repetidos em diferentes órgãos. Sistemas passam a

se comunicar e evitar múltiplos cadastros, filas, e o "vai-e-vem" de processos.

Gestão de recursos. Aprimoramento dos gastos, processos de compra, gestão de

contratos, gestão e comunicação com os servidores e prestadores de serviço.

Transparência. Políticas de acesso à informação intensivas em tecnologia e

interconectividade que permitem dar visibilidade aos assuntos públicos a um número cada vez

maior de pessoas. A transparência vem sendo citada como um dos mais fortes instrumentos

contra a corrupção. Porém, neste ponto devem ser considerados todos os aspectos necessários

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à garantia da privacidade e segurança da informação, para que os direitos civis não sejam

violados.

Cidadania e conscientização do cidadão. A capacidade de distribuir e direcionar

informações sobre o governo, pode aproximar o cidadão do sistema político, educando-o a

endereçar suas demandas de forma que seja absorvida por seus representantes.

Participação social. O potencial interativo da Internet viabiliza experiências que

consideram o cidadão na construção de políticas públicas. Comunidades online, ferramentas

colaborativas de comunicação e gestão de conteúdo podem ser utilizadas para aproximar os

cidadãos entre si e com o governo.

Todos estes fatores estão voltados para o aumento da eficácia, eficiência e

efetividade do governo, e com isso, aumentar o grau de confiança do cidadão na

administração pública, o que significa uma conquista fundamental ao engajamento da

sociedade nas questões de governo.

Embora esta seja uma questão de alto teor técnico, os fatores culturais são ainda

mais fortes nas iniciativas que buscam gerar resultados rápidos. Serna (2004) destaca que as

mudanças organizacionais não estão restritas aos elementos técnicos (tecnologia, estrutura,

processos, etc.), porém, ainda mais importante, envolve também a troca de valores e

comportamentos que configuram a cultura organizacional existente.

Neste sentido, o governo eletrônico ganha outra dimensão, enquanto processo de

mudança da máquina administrativa do estado. Shon (1971 apud ZUGMAN, 2005) afirma

que um processo de mudança em uma organização deve levar em conta três dimensões

simultaneamente:

Teórica - onde são revistas todas as teorias que orientam as decisões, políticas e

ações administrativas dos governantes e servidores do aparelho estatal. Toda organização

desenvolve uma maneira própria de enfrentar mudanças, alimentando suas crenças e

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convicções sobre como pensar e agir sobre seus problemas.

Estrutural - engloba a revisão e modernização das estruturas utilizadas pelo

Estado no cumprimento dos seus papéis. São o conjunto de relações estáveis e interações

simbólicas, representadas pelos normas, padrões, métodos, relacionamentos, estruturas de

poder e comando.

Tecnológica - abrange as tecnologias utilizadas pela organização na

transformação de seu ambiente e modo de funcionamento.

Ainda pode-se acrescentar uma forte e, talvez, prioritária, vertente cultural às

mudanças provocadas pelo paradigma informacional, comunicacional e tecnológico

endereçado ao governo eletrônico. Logo, as políticas para equacionar estas questões não

devem, de forma alguma, limitar-se aos meios técnicos, mas sim prover toda a estrutura

pública de condições de mudança, medição de impacto, planos piloto, estudos de caso e

outros métodos para desenvolver as mudanças culturais que passam a compor a agenda

pública.

Analisando uma outra perspectiva da evolução tecnológica e cultural na

sociedade, nota-se que os modelos de relações sociais existentes hoje na Internet intensificam

a comunicação, estimulam a colaboração, a produção coletiva de conhecimento, e promovem

forte interação entre autores de conteúdo e usuários. A maturidade destes processos faz com

que o governo seja pressionado a incorporar novas tecnologias colaborativas em seus modelos

de gestão.

Estes modelos têm recebido o nome de open government ou governo 2.0, baseado

na abertura, transparência e, principalmente, na constante interação com a sociedade em busca

de um aumento na participação do cidadão no desenvolvimento de políticas públicas e

melhoria dos serviços. Sob uma ótica tecnocrata, podemos entender o open government como

a incorporação das novas tecnologias de comunicação, informação e colaboração, nos

processos governamentais. Já sob uma ótica política podemos entender o open government

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como uma mudança de atitude de governo com relação ao cidadão, colocando este último no

centro dos processos políticos e estimulando ao máximo seu espírito cívico e participativo. A

intensidade nas relações entre os sujeitos sociais e os representantes do Estado promove a

possibilidade de amadurecimento das dinâmicas democráticas sem, no entanto, limitar-se a

compreensão destas mudanças a uma noção meramente técnica.

Gregório (2008), que intitula tal processo de mudança como governo 2.0, afirma

que este toma por base a incorporação de novas tecnologias como soluções da prática

institucional pública, capaz de acompanhar o processo de mudança de uma sociedade aberta e

atual. Estas mudanças estão associadas à gestão centrada no cidadão, à compreensão do

governo integrado e organizado em rede, a co-produção de serviços e políticas públicas.

Não contemplará o escopo deste trabalho, buscar uma definição brasileira para o

conceito apresentado, e pela ausência de uma investigação mais profunda do termo adequado

para representar este status de governo, será utilizado o termo open government nas

referências futuras.

Os desdobramentos do conceito de open government serão vistos em detalhes no

próximo tópico, já que para sua melhor compreensão são necessários conhecimentos sobre as

dinâmicas sociais e interativas promovidas pela web social.

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2.2 Tecnologia e comportamento na web social

As mudanças no modo de organização, produção e distribuição de capital, cultura,

entretenimento pela via do conhecimento e da colaboração vêm sendo estudadas por diversos

autores, desde o surgimento do conceito de uma sociedade interconectada (LEVY, 1999;

CASTELLS, 1999; TAPSCOTT, 2007, FRIEDMAN, 2005).

O potencial de geração de novos valores provocados pela dinâmica das redes

apresenta sinais de que vivemos apenas um começo de mudanças. Nesta pesquisa acredita-se

ser possível analisar tais mudanças, ou ao menos as possibilidades existentes nas estruturas

governamentais, sobretudo nos processos democráticos e de desenvolvimento de cidadania no

sentido social e político.

Diante do desafio aqui exposto pretende-se analisar, em diferentes aspectos, a

combinação dos sistemas emergentes e auto-organizados, configurados em um plano digital,

onde indivíduos sensibilizados e motivados para a colaboração e participação em massa nas

dinâmicas produtivas, experimentam novas formas de relacionamento, atitudes, competências

informacionais e tecnológicas, em busca de expressão, criação de valor, identidade,

reconhecimento e realização. E por fim, identificar e analisar possíveis iniciativas

governamentais que estejam alinhadas a estas dinâmicas.

2.2.1 Colaboração e atitude na rede: A web social

Existem inúmeras maneiras para explicar o que alguns autores chamam de web

2.0, ou ,como adotado neste trabalho, web social. Boa parte das definições diz respeito a um

aspecto muito mais tecnológico do que social, uma vez que os códigos e ferramentas nos

quais as informações são formatadas e processadas estão permitindo uma comunicação cada

vez mais interativa. As interfaces dos sítios web estão mais dinâmicas e as experiências de

navegação exploram um comportamento ágil e baseado em multimídia, com muitos recursos

de som, filme e animação, não tão presentes no que seria a primeira fase da web. Estes novos

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modelos de interação são fundamentais para prover melhores experiências na produção e uso

da informação no meio digital, e também para a interação entre diversos usuários em um

mesmo ambiente, o que é imprescindível em espaços colaborativos.

Todavia, não são nas ferramentas ou na tecnologia que estão embarcadas as

principais características do que para alguns representa uma nova fase da web, mas para

outros, apenas o amadurecimento de uma plataforma que já nasceu com as características

colaborativas originais da web. Buscar uma resposta para esta problemática conceitual não

resultaria em nada de muito valor para este trabalho. Por outro lado, torna-se fundamental

compreender a web em sua fase atual, ou melhor, em seu aspecto altamente colaborativo e

participativo. Então, o que de fato caracteriza a web social? Quais seriam suas causas e

conseqüências? Os próximos parágrafos serão uma tentativa de responder a estas questões.

Para Tim O'Reily, que criou o termo web 2.0 em uma conferência em 200417, a

nova fase da web começou a ser liderada pelas iniciativas que sobreviveram a bolha da

Internet em 200118. Ele e sua equipe tentavam entender o que diferenciava as principais

empresas e serviços presentes na web no período pré e pós bolha. Em 2005 ele chegou a

conclusão de que era a "inteligência coletiva", cujo significado o autor não chegou a explorar,

mas a partir do seus exemplos pode-se constatar que se tratava das maneiras de agregar valor

aos serviços disponíveis na web, por meio do consistente relacionamento entre pessoas e

conteúdos. Nas suas palavras: "A lição: Efeitos na rede resultantes das contribuições dos

usuários são a chave para a supremacia de mercado na era web 2.0" (O'Realy, 2005). Ou seja,

O'Realy concluiu que os usuários da rede estavam privilegiando os serviços que exploravam a

sua capacidade de participar e contribuir para a melhoria do serviço e desenvolvimento da

web.

17 O evento atualmente é conhecido por Web2.0 Summit. Disponível em:

<http://conferences.oreillynet.com/pub/w/62/about.html> 18 A bolha da Internet foi um fenômeno de quebra em cascata de diversas bolsas de investimento no

final dos anos 90.

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Sobre a arquitetura da participação na web, O'Realy acrescenta:

[...] Usuários adicionam valor. Mas apenas uma pequena percentagem de usuários se darão ao trabalho de adicionar valor ao seu aplicativo através de meios explícitos. Portanto, as companhias web 2.0 programam padrões para agregar dados do usuário e gerar valor como um efeito paralelo ao uso comum do aplicativo. Como assinalado acima, elas constroem sistemas que ficam melhores quanto mais as pessoas os utilizam. (O'Realy, 2005)

Com o desenvolvimento de novos serviços colaborativos e participativos em larga

escala, percebe-se o engajamento de usuários nos mais diversos segmentos de conteúdo,

sejam vídeos, fotos, compartilhamento de arquivos, e textos. E com isso, a passividade do

usuário típico, acostumado a receber conteúdo ao invés de produzi-lo, começa a ser

substituída por uma atitude ativa, assumindo o usuário a condição de co-produtor.

Naturalmente esta atitude não atinge a todos, como observado por O'Realy. Trata-se de um

movimento gradativo, pois implica em aspectos culturais, educacionais, e até mesmo legais

em muitos casos, como por exemplo, a produção de uma obra de forma colaborativa, o que

impediria a requisição pela autoria individual por parte de qualquer usuário co-produtor.

O'Realy elencou o que seriam os temas-chave da web 2.019, entretanto, sua visão

tecnocrata dispensa aspectos importantes no contexto da participação pública e da

democracia. Para atender a esta necessidade, Chadwik (2008, p.11-16) reconstruiu o modelo

inicial de O'Realy de forma a conceder um aspecto político democrático à web 2.0, ou web

social. Os temas propostos por Chadwik serviram como inspiração para a seleção dos fatores-

chave abaixo:

• Internet como uma plataforma para o discurso político

A web não surgiu como um meio de comunicação que impedisse a comunicação

19 Os temas-chave elencados por O’Realy podem ser lidos no artigo original disponível em <

http://oreilly.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-20.html>

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bilateral ou multilateral. Mas recentemente pôde-se acompanhar uma explosão de ferramentas

propícias a comunicação entre muitos usuários, tais como blogs e wikis. Grande parte dos

sítios web atualmente oferecem um canal de colaboração entre os usuários, como forma de

enriquecer o conteúdo e tornar sua presença mais relevante no mundo digital. O princípio do

discurso está baseado na capacidade comunicativa da web. Grupos de usuários podem se

relacionar, compartilhar informações e criar em conjunto a um custo, disponibilidade e

alcance impossíveis em outra época. Como já foi visto, a fase atual da web é caracterizada

pela vontade de participação dos usuários em diversos campos, entre outros aqueles que

envolvem os aspectos políticos de sua comunidade, para que seja possível debater e

reivindicar as soluções para suas necessidades e até mesmo a garantia de sua liberdade de

acesso ao conteúdo e aos serviços públicos da web.

• Inteligência coletiva emergente do uso político da web

O conceito de inteligência coletiva apresentado por Lévy (1998; 2003) é estendido

ao campo político, indicando o aumento da consciência política através das redes de pessoas

interconectadas. A natureza cívica dos indivíduos seria estimulada pela participação em

grupos com apelo político, criando uma dinâmica emergente a favor da cidadania e

democracia. A essência do termo "inteligência coletiva" implica em redes distribuídas de

contribuidores capazes de produzir conteúdo relevante de tal maneira que isoladamente não

poderiam fazê-lo.

• A importância do conteúdo

Apesar da grande importância da interatividade e do relacionamento interpessoal

na web atual, a disponibilidade da informação é também fundamental. Com o acesso ao

conteúdo produzido pelas instituições e pelas massas de usuários, o poder de aprendizado,

reuso e criação de novos conteúdos torna-se imensurável. Com isto, a todo o momento

surgem novos estoques de informação agregada, que por sua vez estimulam novos usos e

novas formas de produção.

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• Experimentação permanente dos serviços disponíveis

A busca pela qualidade e o potencial de reconstruir caracterizado pela colaboração

trouxeram à tona um modelo de criação totalmente baseado na melhoria contínua. Produtos e

serviços não adquirem mais o status de finalizados. Ao invés disto assumem a condição

"beta" permanente, representando um contínuo processo de desenvolvimento, melhorias e

adaptações. Esta abordagem garante o desenvolvimento de soluções centradas no usuário,

pois é a partir da experimentação e uso efetivo dos serviços que são modelados e

implementados os requisitos funcionais de um produto ou serviço.

• Criação de formas de engajamento político em pequena escala

O poder de auto-organização das redes sociais existentes na web podem

potencializar o surgimento de comunidades segmentadas pelo interesse político de cada grupo

de usuários. A especialização funciona como um estímulo à participação, pois cada

comunidade discute os temas de seu contexto social, o que torna os indivíduos mais

motivados e, possivelmente, mais capacitados, à interação com seus pares.

• Disseminação e apropriação de conteúdo público

Os acervos de informação são facilmente distribuídos e reorganizados, muitas

vezes de forma diferente da sua produção original. A web oferece determinada facilidade para

que os indivíduos acessem, organizem e produzam informação à sua maneira. Os estoques de

informação podem e devem ser também produzidos pelo governo, mas isto não significa que

este passa a deter total controle sobre estes estoques. Esta condição garante a autonomia e

liberdade sobre o objeto da informação fundamental à democracia.

• Experiências mais ricas com usuários

A colaboração pressupõe a interação entre usuários, o que torna necessário a

disponibilização de recursos interativos cada vez mais funcionais e, ao mesmo tempo, mais

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simples de utilizar. Para atender a este fim, novas tecnologias e ferramentas de comunicação

são desenvolvidas e aprimoradas a todo o momento, com o objetivo único de promover maior

poder interativo e uma experiência mais rica do usuário quanto ao uso das interfaces de

software e hardware.

O princípio da web social está no fato de que ela está sendo construída de maneira

colaborativa. Grande parte dos indivíduos usuários da Internet participam da construção deste

ambiente digital interconectado de forma ativa. O que significa que a Internet não é apenas

um lugar para navegar, recuperar informações e consumi-las. Trata-se de um espaço virtual

por onde os sujeitos são motivados a compartilhar, socializar, colaborar, e, principalmente,

criar livremente através de comunidades interconectadas. A cultura da colaboração tem forte

impacto nas estruturas de governança e de comando, uma vez que as regras de

comportamento não apenas são alteradas para uma dinâmica mais livre, mas são ditadas pela

própria comunidade. Como conseqüência, surge uma série de mudanças nos sistemas

produtivos, na ordem política e no próprio sentido de cidadania.

A web social é aquela que convoca os indivíduos a se organizarem em grupos para

rever e reconstruir o ambiente a seu redor. Para estes grupos, a informação e a comunicação

são poderosos instrumentos de transformação emergente, ou seja, guiada por eles próprios.

Em curtas palavras a web social é a colaboração como plataforma. Isto significa

que os princípios da web passam a ser compostos pela transparência, abertura,

compartilhamento e produção coletiva de conhecimento.

O potencial democrático e a forma como a web vem se propagando em todas as

áreas de atuação do homem são alguns dos principais aspectos que elevam este tema à

dimensão estratégica, tanto nos aspectos econômicos quanto nos políticos. Isto implica no

entendimento mais profundo de algumas características presentes no universo da web social.

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2.2.2 As redes descentralizadas: Emergência e auto-organização

Ao refletirmos sobre as organizações sociais é natural buscarmos compreender

suas lideranças. Quem comanda o grupo? Quem traça as diretrizes? Por onde a ordem é

dirigida aos membros? E desta forma acreditamos ser mais fácil partir para questões que

refletem as funções do grupo. Imaginar e compreender organizações sem líderes não é um

raciocínio trivial, afinal, se olharmos rapidamente grande parte das organizações

contemporâneas têm lideranças bem estabelecidas, e uma cadeia hierárquica que reflete

controle e comando. Nas empresas estão as diretorias executivas, suas responsabilidades são

tipicamente relacionadas à condução de estratégias por todo o corpo funcional seguindo uma

escala de comando até o nível mais baixo de poder de decisão. As comunidades acadêmicas

conferem titularidades para impor níveis hierárquicos de domínio sobre determinado campo

de pesquisa. Governos, mesmo em democracias, são os legítimos representantes dos cidadãos,

a quem se atribui a responsabilidade pelas tomadas de decisão e desenvolvimento de planos

políticos.

As organizações centralizadas não são necessariamente ruins, muitas das

atividades que vivenciamos necessitam de algum grau de controle para funcionar

adequadamente. Pode não ser a melhor experiência deixar que os passageiros de um avião

decidam sobre quais instrumentos manipular numa aeronave, é muito provável que o

comandante seja de fato a pessoa mais indicada para controlar um vôo. Assim como cidadãos

sem governos líderes, podem encontrar dificuldades em manter a ordem em áreas importantes

como segurança e economia.

Entretanto, será possível que organizações descentralizadas sejam mais adequadas

a determinados cenários? A seguir, para efeito de ilustração, apresentamos uma experiência

real relatada por Brafman e Beckstrom (2007, p.29):

Uma organização descentralizada conhecida em todo o mundo pode ajudar a

responder esta questão. Em 1935, o americano Bill Wilson sofria um problema muito comum

entre os homens até hoje, o alcoolismo. Seu médico havia o advertido a parar de consumir

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álcool, do contrário sua expectativa de vida estaria em torno de seis meses. Bill já havia

tentado parar de diversas maneiras, até que percebeu que sozinho não seria possível vencer o

vício. Foi então que teve a idéia de formar um grupo de pessoas que passavam pelo mesmo

problema. Desta forma era mais fácil formar vínculos de confiança, afinal todos ali entendiam

o que os outros membros estavam passando. Desta forma surgiram os Alcoólicos Anônimos

(AA). Com o sucesso novos grupos se formaram e Bill, percebendo as características

imprescindíveis para que a idéia funcione, abriu mão do controle. Em qualquer lugar do

mundo é possível criar novos grupos. Não há uma unidade central e nem comando. Não há

fichas de inscrição, e ninguém controla a forma como cada grupo se organiza os como os

participantes procedem. Ao invés disto, o AA divulga suas práticas em uma cartilha que pode

ser seguida, ou alterada por qualquer indivíduo ou grupo. A fórmula idealizada por Bill foi

copiada por outros grupos de apoio, tomando proveito da descentralização para viabilizar

organizações que explorassem a colaboração entre os participantes da maneira mais autêntica

possível, baseando-se na confiança e liberdade. (BRAFMAN; BECKSTROM, 2007, p. 29)

Do ponto de vista estratégico Brafman e Beckstrom (2007) afirmam que um dos

fatores que mais diferencia organizações centralizadas daquelas distribuídas é a capacidade de

manterem-se vivas. Para isso, os autores fazem analogia entre a aranha e a estrela-do-mar. A

aranha, por possuir uma cabeça, representa uma organização tipicamente centralizada, que

pode ser atacada facilmente, bastando-se atingir seus líderes. Quando a cabeça é atingida,

todo o corpo morre junto. Já estrelas-do-mar não possuem cabeças, seu organismo é um

complexo de ligações sensitivas. Ao cortar um braço de uma estrela, esta tem a capacidade de

desenvolver um novo braço, e em algumas espécies, este braço arrancado pode gerar um novo

organismo.

Para fortalecer sua argumentação Brafman e Beckstrom fazem analogia com um

conhecido caso de conflito entre a indústria da música, representada por entidades como a

Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) e softwares de compartilhamento de arquivos ponto-a-ponto,

como o Napster. O Napster foi desenvolvido por jovens programadores com o objetivo de

compartilhar arquivos digitais, entre outros formatos, os de música. Bastava instalar o

software em um computador para ter acesso a uma lista de arquivos disponíveis para

download nas máquinas dos próprios usuários. A este tipo de rede dá-se o nome de ponto-a-

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ponto, ou peer-to-peer (P2P). Em fevereiro de 2000 os tribunais deram o ganho da causa para

as gravadoras, entendendo que o Napster facilitava a pirataria, seus proprietários foram

processados e impedidos de desenvolver novos programas. Mas o processo não surtiu o efeito

esperado, as redes P2P são descentralizadas e logo apareceram diversos outros programas de

compartilhamento de arquivos ainda mais descentralizados e dificilmente rastreados.

Enquanto o Napster tinha um autor conhecido, Shawn Fannig, os programas similares que

surgiram depois, como o Emule, são anônimos. Não se sabe quem os desenvolveu e, ao

contrário de seu predecessor, ele não mantém uma lista de arquivos em servidores centrais,

mas são totalmente distribuídos. Sem entrar no mérito da legalidade destas redes, seu

desenvolvimento, estrutura e motivação são fatos importantes de serem analisados do ponto

de vista da troca e compartilhamento de conhecimento. Estas novas práticas estão

transformando antigos valores de propriedade intelectual de maneira a impactar todo um

segmento a estabelecer novos modelos de negócio.

A sociedade atual vive com uma disponibilidade de interconexão não percebida

em outras épocas, o que ocorre na facilidade de comunicação de muitos indivíduos com tantos

outros em uma escala tempo-espaço que possibilita encontros virtuais em qualquer lugar e em

qualquer horário. Em outros momentos não era tão viável, do ponto de vista do custo e da

disponibilidade, mobilizar grandes grupos de pessoas para uma mesma causa. Grupos de

pessoas conectadas utilizam espaços comuns para criar software, cultura, conteúdo, pesquisas

científicas, e até mesmo produzir bens tangíveis, em escalas superiores às das maiores

organizações existentes no modelo tradicional e desconectado.

Plataformas abertas e colaborativas surgem a cada dia e contam com o poder de

inovação e produção dos usuários interconectados para gerar valor e conhecimento. Para citar

alguns exemplos, a Wikipédia20, uma enciclopédia livre e online, já é a maior do mundo em

número de artigos. Sua versão na língua inglesa já supera os 2.400.000 artigos21, vinte vezes

20 Wikipédia é uma enciclopédia livre que conta com a colaboração de milhares de usuários na Internet.

Disponível em <http://www.wikipedia.org>.

21 Esta estatística é atualizada diariamente na página inicial da Wikipédia. Disponível em

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maior do que a tradicional Britannica22. A precisão das informações é um dos assuntos mais

questionados da enciclopédia livre. No entanto, esta mantém um artigo exclusivamente para

correção de erros da Britannica, numa espécie de demonstração de força23. O modelo

colaborativo e dinâmico da Wikipédia é um fenômeno da nova abordagem aberta e conectada

da sociedade atual. Os impactos das mudanças são tão grandes que a própria Brittanica

recentemente passou a adotar o modelo colaborativo24. Agora estudantes, professores e

pesquisadores podem submeter revisões nos artigos da tradicional enciclopédia, que até pouco

tempo se destacava como um modelo de produção centralizado.

No segmento editorial, o grupo Elsevier - tradicional em pesquisa e disseminação

de informação nas áreas de ciência, tecnologia e medicina - lançou há pouco tempo uma rede

social de apoio à pesquisa. Neste ambiente os pesquisadores e autores podem compartilhar

informações sobre suas pesquisas, unir idéias, realizar descobertas e inovar25. A rede social

2collab é aberta a qualquer pessoa interessada, e tem diversas ferramentas que auxiliam a

conversação e aproximação de especialistas das mais diversas áreas. As metodologias de

pesquisa tradicionais sugeriam um enorme nível de proteção da propriedade intelectual das

pesquisas em andamento, e com isso perdiam todo o potencial de troca e aprendizado que a

colaboração pode prover. Os modelos de pesquisa emergentes sugerem que a abertura de

alguns pontos à discussão na comunidade enriquece o resultado final, de forma muito mais

<http://en.wikipedia.org/wiki/Main_Page>.

22 Informações obtidas na versão eletrônica vendida em DVD. Disponível em:

<http://britannicashop.britannica.co.uk/epages/Store.sf/?ObjectPath=/Shops/BritannicaShop/Products/ENCL_A

DLT_081>.

23 A lista de erros da Britannica é atualizada freqüentemente na Wikipédia. Disponível em:

<http://en.wikipedia.org/wiki/Wikipedia:Errors_in_the_Encyclop%C3%A6dia_Britannica_that_have_been_corr

ected_in_Wikipedia>.

24 O novo modelo foi anunciado em junho de 2008 no próprio blog da enciclopédia Brittanica. Embora

tenha adotado o modelo participativo, a Brittanica continua sendo um produto comercial, somente assinantes

podem acessar artigos e submeter revisões. Disponível em: <http://britannicanet.com/?p=86>.

25 A plataforma 2collab é uma iniciativa do grupo Elsevier destinada à criação de comunidades online de autores e

pesquisadores, como forma de incentivar a inovação baseada no princípio de pesquisa aberta. Disponível em:

<http://www.2collab.com>.

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relevante do que ameaça da perda da propriedade intelectual. Embora em áreas estratégicas

para o desenvolvimento da sociedade humana haja uma tendência na revisão dos modelos de

propriedade intelectual, esta ainda é tida como instrumento fundamental ao estímulo

econômico à pesquisa e ao desenvolvimento, o que não impede a colaboração e troca de

informações como ferramenta de produção, desde que bem planejadas.

A economia aberta e participativa pode ser percebida também na área acadêmica.

O renomado MIT (Massachussets Institute of Technology) disponibiliza, desde 2002,

materiais de inúmeros cursos universitários gratuitamente pela Internet através do MIT

OpenCourseWare26. Qualquer estudante interessado pode ter acesso ao currículo dos cursos

de um dos mais influentes institutos de pesquisa do mundo. Entre os materiais disponíveis

estão apostilas, notas de aula, exercícios de laboratório, vídeos e apresentações. O portal web

não requer nem mesmo cadastro, e tem como objetivo tornar possível que estudantes em todo

o mundo tenham acesso a um material de ensino de primeira linha. O próprio portal define

como público-alvo, educadores de instituições sem fins lucrativos, estudantes e autodidatas, o

que significa que a iniciativa pode ser explorada individualmente, por qualquer aprendiz

interessado e minimamente instruído, ou institucionalmente, por agentes educacionais. Os

cursos estão liberados para tradução e já são explorados por instituições de ensino e governos

que utilizam o material como apoio dos cursos locais, como é o caso da rede Universia Brasil

que reúne os cursos abertos do MIT traduzidos para o português em um portal online27.

A iniciativa do MIT é na verdade parte de um programa muito maior promovido

pelo OpenCourseWare Consortium28 que envolve mais de 200 instituições de ensino superior

de todos os continentes (UNIVERSIA BRASIL, 2008). A abordagem dos cursos abertos

aponta para uma grande possibilidade de mudança nos modelos tradicionais de ensino, pois

representa um ganho de qualidade para muitas comunidades que não têm condições de

desenvolver seu próprio material instrucional, além de aproximar as ferramentas e conteúdos

26 O MIT OpenCourseWare está disponível em: <http://ocw.mit.edu>.

27 A lista das dezenas de cursos disponíveis pode ser acessada em: <http://www.universia.com.br/mit/index.jsp>.

28 Disponível em: <http://www.ocwconsortium.org>.

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de ensino dos países desenvolvidos àqueles em fase de desenvolvimento. Naturalmente, como

todas as áreas que são impactadas pela globalização, a educação também terá suas questões e

problemas a serem equacionados, como o idioma, aspectos culturais e lacunas na formação. O

que está sendo destacado é a capacidade de agregar valor, conhecimento e desenvolvimento

de grandes proporções a um custo muito baixo a partir de iniciativas de conhecimento livre e

da colaboração.

Cultura e entretenimento são áreas que igualmente vêm sofrendo grandes

mudanças devido à capacidade de compartilhamento da sociedade atual. O portal de vídeos

Youtube29 é construído pelos próprios usuários e atualmente está entre os cinco portais mais

acessados da Internet30. Todo o conteúdo é publicado pela própria comunidade de usuários,

que publicam desde filmes sobre sua vida privada, até cursos, palestras e todo o tipo de

material. O impacto nas produtoras e mídias tradicionais é tão grande que muitas delas já

atuam como parceiras de conteúdo do portal como é o caso da BBC, Sony Music Group,

Warner Music Group, Rede Globo e Rede Bandeirantes.

Neste mesmo segmento, pensando em aumentar a qualidade do material veiculado

na rede e se tornar a nova televisão da Internet, o portal de vídeos Joost31 é alimentado por

produtoras, e seu conteúdo é de qualidade de imagem e som muito superior ao do Youtube,

devido a sua lógica de transmissão de dados que aproveita a capacidade de conexão de todos

os usuários, como em uma rede P2P. Já existem dezenas de canais e centenas de programas de

TV disponíveis no portal, que é pioneiro de um modelo que poderá vir a substituir a TV

tradicional.

Um dos exemplos mais clássicos de redes de usuários produzindo abertamente e

de forma colaborativa está no segmento de software, e foi idealizado em 1991 pelo

29 Disponível em: <http://www.youtube.com>.

30 O Portal Alexa mantém um ranking global atualizado dos sítios web mais acessados. Disponível em:

<http://www.alexa.com>.

31 Disponível em: <http://www.joost.com>.

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programador Linus Torvalds. Ao criar um sistema operacional chamado Linux, teve a idéia de

abrir e compartilhar o código com outros programadores com o objetivo de aprimorar a base

inicial. Logo de início ocorreram mudanças significativas pela, ainda pequena, comunidade de

programadores, quando Linus resolveu disponibilizar o sistema operacional sob uma licença

pública dando margem para que qualquer pessoa pudesse utilizar ou modificar o sistema,

contanto que disponibilizasse as mudanças realizadas. Hoje o sistema operacional Linux é

utilizado por milhões de usuários, disputa mercado com grandes fornecedores de software, e é

amplamente utilizado em universidades, governos e na iniciativa privada. O software é

embutido em inúmeros equipamentos de marcas como IBM, Motorola, Philips, Sony, entre

outras (TAPSCOTT, 2007, p.37). Muitos outros casos de desenvolvimento de software de

código aberto se seguiram, e hoje representam uma tendência no segmento de tecnologia.

Nestes mercados a economia vem sendo movimentada pela prestação de serviços como

customização e capacitação ao invés da venda direta de produtos e licenciamento de software.

Tais iniciativas de software de código aberto demonstram que a colaboração e a participação

de milhares de indivíduos em um mesmo produto pode ser muito rica, e que o resultado final

é algo público que pode ser utilizado de forma livre.

No campo social a colaboração em massa pode ajudar a resolver problemas que os

governos sozinhos não conseguem como a questão da violência. O Wikicrimes32 é um portal

que apresenta um mapa de crimes em todo o Brasil, mas que pode ser utilizado por qualquer

indivíduo conectado em todo o mundo. Nele é possível que qualquer usuário indique o local,

tipo de crime (roubo, furto, assassinato ou outros) e faça uma breve descrição do ocorrido.

Como resultado é gerado um mapa da criminalidade que indica regiões mais violentas por

tipo de crime. Além de permitir que cada ocorrência seja visualizada de forma individual.

Plataformas deste tipo podem ajudar a sociedade a identificar regiões mais violentas, prover

informação detalhada para mobilização social e apoiar estratégias políticas das autoridades

públicas competentes.

32 Disponível em: <http://www.wikicrimes.org>.

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Existem inúmeros outros exemplos de serviços e comunidades sendo

desenvolvidos seguindo uma nova abordagem econômica, tecnológica e social. Diversas

possibilidades antes inimagináveis agora são estratégicas para a sobrevivência num contexto

amplamente conectado e aberto.

Mas afinal, como se formam as organizações descentralizadas? Brafman e

Beckstrom (2007, p.73) identificaram os aspectos a seguir como princípios da

descentralização:

• Círculos

Os círculos representam pequenos grupos de usuários em torno de uma rede

maior. Os círculos são importantes, pois concedem um grau de intimidade entre os membros

necessário para haver confiança. Além disso, círculos são mais ágeis, e por serem

independentes podem seguir o exemplo do restante da rede, ou desenvolver novos hábitos.

Quando um círculo é desfeito a rede como um todo não é impactada, e novos círculos podem

ser formados. Esta arquitetura é um dos fatores que melhor representam as qualidades

distribuídas de uma rede.

Círculos em redes descentralizadas não têm regras a serem impostas, uma vez

que, por não possuir hierarquia, não seria possível impô-las. Em contrapartida existem as

normas que podem ou não serem seguidas. Tal autonomia é parte da motivação que convoca

de forma recorrente novos membros para a organização.

• Catalisador

O catalisador é definido como o agente capaz de atrair outros indivíduos para a

organização. Ele planeja o ambiente, sugere as normas, mas não interfere na forma como a

rede irá se auto-organizar. Tipicamente os catalisadores saem de cena após terem formado os

primeiros círculos. Catalisadores não assumem posição de liderança, mas ao contrário,

buscam definir parâmetros para garantir a descentralização e autonomia da organização.

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• Ideologia

A ideologia é tipicamente o principal fator motivacional dos membros de uma

organização descentralizada. Como não há hierarquia nem comando, as pessoas se reúnem e

atuam de maneira espontânea, por acreditar nos benefícios de agir daquela maneira. O apoio

mútuo ocorre pela pré-disposição em ajudar, ou pela crença de que ambas as partes irão se

beneficiar mais sendo colaborativas. Cada indivíduo faz sua parte por entender que a rede

funcionará melhor com sua ajuda.

• Estrutura (a rede preexistente)

Construir uma rede a partir de outra pode ser mais fácil do que iniciar uma nova.

Os esforços para encontrar novos membros podem ser minimizados se for possível alinhar os

objetivos de uma nova organização às necessidades de membros de uma organização

preexistente. Por exemplo, promover um dicionário wiki (colaborativo) a partir dos usuários

da Wikipédia.

• Ativismo

Brafman e Beckstrom analisaram inúmeros casos de organizações

descentralizadas que tiveram sucesso em seus objetivos, desde os conflitos dos espanhóis

contra os índios Apache até o movimento abolicionista inglês33. Em todos os casos haviam

foram percebidas a formação dos círculos, a ideologia, em alguns outros havia uma estrutura

já definida e a figura de um ativista. Alguém que acredita de forma mais intensa nos valores

da organização e os defendem de maneira convincente.

33 Nos estudos citados os espanhóis perderam as batalhas contra os Apache que apresentavam uma topologia

altamente descentralizada, e viviam como nômades, mudando de lugar a cada perseguição. Quando um grupo era atacado

outro poderia se formar, e não havia um grande líder a ser caçado. Os espanhóis não tiveram a mesma dificuldade ao derrotar

os Astecas, que após terem seus líderes atacados, ficaram completamente enfraquecidos. Já o movimento abolicionista inglês

contou com diversos ativistas importantes como Thomas Clarkson e Willian Wilberforce.

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Estes princípios não correspondem a uma metodologia, mas são aspectos

percebidos em muitas organizações que não possuem uma liderança para comandar os demais

membros. São pontos específicos que podem ser analisados quando se buscam razões ou

fatores para o sucesso ou fracasso de uma comunidade auto-organizada.

2.2.2.1 O equilíbrio entre complexidade, ordem e go vernança

Os sistemas auto-organizados têm sido estudados desde a segunda metade do

século XX, com grande ênfase no campo da matemática, biologia e economia, quando

diversos pesquisadores iniciaram experiências para entender o comportamento, desde

organismos primitivos, passando pelas formigas, até chegar ao homem e seus sistemas sociais

complexos.

Uma pesquisa de destaque foi conduzida pela física e bióloga Evelyn Fox Keller,

que fez seu doutorado em tema relacionado à teoria da complexidade. Suas pesquisas iniciais

eram relacionadas ao campo da matemática, mas em 1968 iniciou uma pesquisa para entender

o até então estranho comportamento do organismo Dictyostelium discoideum, que é

semelhante a uma ameba. O pequeno organismo, habitante de bosques, é normalmente

reconhecido como uma massa alaranjada cobrindo alguns centímetros de madeira apodrecida.

Ao observar o fungo por algum período de tempo será possível perceber que ele se

movimenta, porém sob certas condições climáticas ele terá simplesmente desaparecido. O

comportamento deste organismo era um mistério até a realização da pesquisa da Doutora

Keller, que apresentou um resultado bastante curioso.

O discoideum passa grande parte da sua vida como milhares de outras criaturas unicelulares, cada uma delas movendo-se separadamente das companheiras. Sob condições adequadas, essas miríades de células aglomeram-se novamente em um único organismo maior [...]. O discoideum oscila entre ser uma criatura única e uma multidão. (JOHNSON, 2001, p.10)

O desafio imposto pela descoberta – que atraiu uma série de disciplinas como

embriologia, matemática, informática e sociologia – era entender de fato como se dá o

comportamento de grupo coordenado. As primeiras teorias para explicar o fenômeno

buscavam pela presença de células líderes que comandariam toda a tropa com mensagens de

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ordem. A comunicação entre as células se dá pela liberação de uma substância chamada

acrasina (também conhecida como AMP cíclico), entretanto os tais líderes jamais foram

encontrados. A pesquisa veio concluir que a variação dos níveis de concentração da

substância liberada era suficiente para coordenar a ação das células independentes. Cada

microorganismo separado simplesmente libera o AMP cíclico com base na sua própria

avaliação local das condições gerais, então a comunidade dirige seu comportamento

realizando a leitura acumulada dos níveis de substância emitida. A presença de um líder

estava descartada na conclusão da pesquisa da Doutora Keller, mas o reconhecimento

científico só apareceu 30 anos depois, pois a comunidade científica não conseguia aceitar que

um organismo tão simples, pudesse de forma espontânea e auto-organizada, dispor de um

comportamento tão majestosamente coordenado. (JOHNSON, 2001, p.13)

Este é um dos clássicos estudos de caso em comportamento emergente, mas não é

o único. As formigas também foram alvo de estudo semelhante, com o objetivo de responder

a uma simples pergunta: Qual a função da rainha em uma comunidade? A bióloga Deborah

Gordon realizou uma consistente pesquisa com a espécie das formigas cortadeiras.

Resumidamente, a pesquisa concluiu que a única função da formiga-rainha não tinha a menor

relação com autoridade, apesar do nome concedido. Sua única função é pôr os ovos de todos

os membros do formigueiro. Todas as outras atividades relacionadas à manutenção da colônia

é função das outras formigas, como garantir a segurança e buscar alimentos. As tarefas são

definidas na própria comunidade de formigas e cada indivíduo tem autonomia para realizar ou

não determinada atividade.

As formigas têm um sistema de comunicação bastante primitivo, liberam uma

substância que geram variados níveis de odor e alguns sinais de contato físico. A liberação da

substância é uma ação isolada, que cada formiga faz a partir da sua leitura do ambiente. Os

níveis de concentração de odor indicam o comportamento que o grupo deve tomar, seja para

procurar comida em determinada direção, ou para se preparar para um confronto com um

possível inimigo.

Um ponto importante deste estudo foi a percepção de que formigueiros idades

avançadas, com 15 anos de existência, têm comportamentos completamente distintos daqueles

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mais jovens, e embora uma formiga sobreviva apenas 12 meses, o coletivo desenvolve um

aprendizado superior.

O sistema de organização das formigas cortadeiras é um dos mais impressionantes comportamentos descentralizados da natureza: inteligência, personalidade e aprendizado emergem de baixo para cima. (JOHNSON, 2001, p.23)

Johnson não busca fazer nenhuma analogia direta entre formigas e seres humanos,

mas interpreta: se seres tão primitivos podem desenvolver tal inteligência coletiva,

possivelmente seres humanos também. E realizou estudos semelhantes a partir do

desenvolvimento das cidades. Concluiu que de fato as cidades aprendem, criam hábitos e

comportamento na medida em que se passam os anos, muito embora seus cidadãos não

sobrevivam por toda sua existência, como no caso de algumas cidades européias que

ultrapassam mil anos.

Johnson cita o trabalho de Paul Krugman sobre "a economia auto-organizada"

para tratar de um modelo iniciado na Teoria dos Jogos, que ajuda a explicar o surgimento e

equilíbrio na formação de grandes cidades. Em seu exemplo Krugman pressupõe uma cidade

voltada “somente para negócios, em que cada um toma a decisão de se instalar com base na

localização dos outros negócios. Algumas forças centrípetas aproximam os negócios (porque

as firmas desejam compartilhar uma base de clientes ou outros serviços locais) e outras,

centrífugas, os dispersam (porque as firmas competem por mão-de-obra, terras e, em alguns

casos, clientes)”. (JOHNSON, 2003, p. 66)

Este mesmo exemplo pode ser ampliado para diversos outros contextos, e mostra

de fato o equilíbrio entre forças que representam os interesses privados de cada indivíduo em

uma comunidade.

Em áreas como a inovação, já se percebeu que estratégias top-down simplesmente

não se aplicam, pois algumas partes envolvidas, como a iniciativa privada, não estão sob a

hierarquia do governo. Ao mesmo tempo governos têm como missão conduzir políticas de

inovação que dêem sinal de direção para a economia de um país, mesmo considerando o

percentual de livre condução envolvido nesta área. A inovação muito provavelmente obedece

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a uma estrutura complexa, de múltiplos atores, portanto a estratégia mais utilizada tem sido

fortalecer as interações entre estes atores, quais sejam comunidade científica e acadêmica,

setor privado, setor público, entre outros. A governança estabelece parâmetros básicos como

incentivos e estrutura para interação e atribuições gerais dos atores envolvidos, a partir deste

ponto a complexidade em um sistema de inovação passa a se auto-gerir. Este modelo

funcional se aplica a muitas outras áreas, onde incentivos dão a partida em sistemas

complexos com a finalidade de buscar um equilíbrio entre a auto-organização e a ordem.

Um ponto que fica em evidência sobre o desenvolvimento de comunidades de

interação, é quanto à participação. Fatores como motivação, qualidade da conversação e

resultados práticos podem ser facilmente questionados por qualquer um que esteja interessado

neste tema. Contudo, uma primeira questão seria: Como provocar a participação, ou ainda,

como tornar cada participação um elemento verdadeiramente útil considerando a fraca base

política dos cidadãos de uma maneira geral?

Então Johnson (2003) mostra que a inteligência em uma ordem superior se forma

a partir da reunião de fatores simples como a informação local. Cada indivíduo em uma

cidade visualiza e se preocupa com os problemas que estão na sua fronteira, como retirar o

lixo, aumentar a segurança da sua rua, melhorar a educação da escola do seu filho. No

entanto, somadas todas as interações, e principalmente, passado tempo suficiente para

provocar mudanças, esta informação local, forma uma espécie de consciente coletivo. Isto

acontece mesmo em sistemas primitivos como em formigueiros ou colônias de bactérias. Ou

seja, indivíduos em uma comunidade não precisam necessariamente de uma macrovisão,

bastando estarem preocupados e engajados com suas próprias questões para participarem de

um movimento maior, que buscar responder aos problemas próprios da comunidade. Johnson

esclarece:

[...] interações locais aleatórias conduzindo à ordem global; componentes especializados criando uma inteligência não especializada; comunidades de indivíduos solucionando problemas sem que nenhum deles saiba disto. (JOHNSON, 2003, p. 68)

Em outro trabalho, Jane Jacobs (1961) descreve o comportamento das cidades

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dando suma importância às calçadas como o meio pelo qual ocorrem as interações entre os

moradores. Sem as calçadas não haveria interações, e problemas comuns não poderiam ser

compartilhados e discutidos. As calçadas são os meios pelos quais os fluxos de informação

especializada passam gerando um legado não especializado de informação. As autovias e

viadutos não cumprem o mesmo papel, pois a distância e a alta velocidade dos carros

impedem a livre comunicação, e não havendo troca de informação, não há experiência

acumulada e, portanto, não há aprendizado consistente, tampouco consciente coletivo.

Construir boas calçadas em cidades significa dar aos cidadãos a oportunidade de interagirem,

problematizarem e elevar o nível de consciência da comunidade.

Steven Johnson explica a origem latente das cidades:

O sistema urbano de divisão em comunidades funciona como uma espécie de interface com o usuário da mesma forma que interfaces tradicionais dos computadores: há limites para a quantidade de informação que nossos cérebros podem processar em um tempo determinado. Precisamos de interfaces visuais em nossos computadores porque a quantidade de informação armazenada nos nossos discos rígidos - sem mencionar a Internet - excede enormemente a capacidade de estocagem da mente humana. As cidades são soluções para problemas comparáveis, tanto em nível coletivo quanto individual. Elas armazenam e transmitem idéias novas e úteis a um maior número de pessoas, garantindo que novas e potentes tecnologias não desapareçam logo que são inventadas. Entretanto, os aglomerados auto-organizados das comunidades também servem para tornar as cidades mais inteligíveis para seus habitantes […]. A especialização da cidade a torna mais esperta, mais útil para seus habitantes. (JOHNSON, 2003, p.79)

E desta forma ele atribui à administração da informação como um dos problemas

que levam indivíduos a se organizarem em cidades.

A administração da informação – subjugando a complexidade do povoamento humano de larga escala - é o objetivo latente de uma cidade, pois quando as cidades aparecem, seus habitantes são impelidos por outros motivos, como segurança e comércio. Ninguém funda uma cidade com a explícita intenção de armazenar informação mais eficientemente ou tornar sua organização social mais palatável para a limitada capacidade da mente humana. A administração da informação acontece somente mais tarde, com um tipo de pensamento a posteriori da coletividade: trata-se de outro macrocomportamento que não pode ser previsível a partir de micromotivos. As cidades podem funcionar como bibliotecas e interfaces, mas não são construídas com esse objetivo explícito. (JOHNSON, 2003, p.79)

Esta noção é também muito clara em ambientes online. Diversos sítios da web,

incluindo os governamentais, são desenvolvidos sem "calçadas", isto é, sem espaços de

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conversação entre os visitantes. Esta limitação impede a comunicação entre pares de

interesses comuns, e impede que a própria comunidade eleve seu grau de consciência e

maturidade. De fato, ambientes que não promovam e estimulem a interação impedem o

surgimento de comunidades, tornando cada indivíduo isolado em seu próprio universo.

Os exemplos citados mostram uma série ambientes que se tornam melhores

quanto mais utilizados pelos usuários, e mais maduros e “inteligentes” quanto mais ocorre

interação entre os indivíduos. Espaços muitas vezes abertos a modificação e reorganização

pelos próprios usuários.

A Internet mostra-se um ambiente fértil para o surgimento de sistemas

descentralizados, pois apresenta características importantes para este tipo de ambiente,

principalmente pelo potencial de relacionamento entre indivíduos e organizações. O

diferencial estaria por conta do aspecto digital, que implica em uma nova forma de olhar, com

novos valores e novas ferramentas.

2.2.3 Modelo aberto e economia livre

Usualmente as organizações protegem de modo absoluto todo o seu conhecimento

como forma de sobreviver à economia competitiva, dinâmica e global. Entretanto, o acesso

facilitado ao conhecimento provê um potencial de aprendizado e inovação muito acelerado,

além disso, a facilidade de comunicação ocorre na troca de experiências e saberes, seja de

forma direcionada ou ocasional. O conhecimento e poder de inovação existente dentro dos

limites de uma organização, seja ela pública ou privada, não dá conta do ritmo de renovação

imposto pelo ecossistema global. As organizações que melhor aproveitarem a riqueza de

conhecimento externo às suas fronteiras têm uma tendência maior a manter ativo o ciclo de

inovação. Para isto, será necessário explorar formas de capitalizar o conhecimento externo a

favor de sua missão, e de consolidar estratégias de superação das formas tradicionais de

comunicação.

Uma outra perspectiva bastante discutida atualmente diz respeito à limitação

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imposta pelos sistemas fechados e até mesmo pelos direitos autorais quanto às dinâmicas de

inovação e acesso à cultura. Lawrence Lessig (2004, p.29) chama atenção para a

democratização das máquinas fotográficas, liderada pela inovação da Kodak em 1988, quando

George Eastman desenvolveu o filme flexível possibilitando criar máquinas que podiam ser

utilizadas por amadores, conforme o próprio manual de instruções da máquina:

O princípio do sistema Kodak é a separação do trabalho que qualquer um de nós pode fazer ao tirar fotos do trabalho que apenas um especialista pode fazer. [...] Estamos oferecendo a qualquer um, homem, mulher ou criança, que seja suficientemente inteligente para apontar uma caixa e apertar um botão, um instrumento que irá remover da prática da fotografia a necessidade de habilidades excepcionais, ou ainda, de qualquer conhecimento especial na arte. Ela pode ser feita sem nenhum estudo preliminar, sem ter-se uma sala escura e sem se envolver com química. (LESSIG, 2004, p.30)

Vale lembrar que até então a fotografia era uma prática extremamente profissional

somente exercida por pessoas capacitadas. A Kodak criou um mecanismo que permitiu que

qualquer cidadão passasse a se expressar, sem a presença de intermediários. "Ferramentas

democráticas dão à pessoa comum um meio de se expressarem de maneira mais simples do

que com as ferramentas que existiam antes." (LESSIG, 2004, p.31)

Isto transformou a história da fotografia. Todavia, nos bastidores das cortes

americanas ocorria uma importante discussão: “o fotógrafo, amador ou profissional, deveria

pedir permissão antes de tirar e revelar qualquer imagem que ele desejasse”? Hoje pode

parecer absurdo tal questionamento, mas na época era uma questão nova a ser tratada. Lessig

aponta que os argumentos para defender os dois lados, tanto daqueles que desejavam receber

por direitos sobre o objeto ou tema fotografado: "o fotógrafo estava ‘tomando’ alguma coisa

da pessoa ou construção que ele estava fotografando — pirateando algo de valor", quanto

daqueles que queriam fotografar com maior liberdade: "algo de valor estava sendo usado, mas

os cidadãos deveriam ter o direito de capturar pelo menos aquelas imagens que estavam no

espaço público". (LESSIG, 2004, p.31)

E a resposta das cortes foi que a fotografia era livre para ser experimentada por

qualquer pessoa sem que esta precise pedir permissão, com poucas exceções. O que permitiu

um avanço democrático e criativo na fotografia global. Hoje estes mesmos argumentos são

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muito familiares em outros cenários de luta contra a economia livre e aberta como na música,

filmes, livros etc. As resistências às evoluções tecnológicas são naturais, quando os sistemas

econômicos são abalados por novas práticas sociais. Entretanto decisões como a da

propriedade do objeto fotografado, no final do século XIX são tão importantes para o

desenvolvimento da cultura que não podem passar despercebidas.

Lessig chama atenção para o fato de que atualmente vivemos uma era digital, em

que a alfabetização digital, ou seja, o domínio sobre as mídias digitais é tão importante quanto

a alfabetização tradicional. Aprender a raciocinar nesta nova ordem é fundamental ao

desenvolvimento cognitivo de qualquer criança ou adulto. Lessig entende que as limitações

legais quanto ao compartilhamento e uso de conteúdo digital criam uma barreira semelhante a

que impediria a evolução e popularização da fotografia caso a resposta das cortes do século

XIX fossem favoráveis à proibição das fotografias sem permissão. Isto implica em um uso

retraído da capacidade criativa dos indivíduos que manipulam conteúdo e tecnologias. As

restrições legais aprisionam a criatividade humana, em favor do lucro sobre a proteção restrita

a pequenos grupos. Para Lessig a forma como as crianças são educadas e o sistema legal que

sustentamos são um terreno fértil para a formação de "foras-da-lei", ou da capacidade de

suprimir o potencial criativo dos jovens. Nós devemos

entender como as crianças que crescem no ambiente digital pensam e o que elas querem aprender. [...] Estamos criando um sistema legal que suprime completamente a tendência natural das crianças digitais de hoje em dia. [...] Nós construímos uma arquitetura que libera 60% do nosso cérebro [e] um sistema legal que fecha exatamente essa parte do cérebro. (LESSIG, 2004, p.42)

Com efeito, estamos educando os jovens para viver em uma sociedade digital com

valores do mundo físico. Mesmo que não tentemos responder, de fato, a polêmica pergunta se

a propriedade intelectual é mesmo equivalente a outros tipos de propriedade, não é possível

deixar de notar que o compartilhamento de uma idéia ou de um arquivo digital é diferente do

empréstimo ou roubo de um livro ou um automóvel. Ao ceder um livro impresso, ficamos

sem a posse deste, ao compartilharmos uma idéia ou permitirmos a cópia de um arquivo,

nossa propriedade continua em nosso domínio, assim como uma idéia. Isto já seria motivo

suficiente para que haja reflexão sobre os rumos da economia digital e da informação.

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85

A regra nova da sociedade conectada preza pela participação e colaboração em

massa dos usuários, clientes, consumidores e cidadãos nos serviços disponíveis na Internet. A

exploração de padrões de comunicação torna-se fator-chave nesta dinâmica. O conhecimento

desenvolvido em uma comunidade ou organização pode ser rapidamente disseminado,

absorvido e modificado por outra, e o resultado desta mistura de contribuições pode trazer a

solução de problemas de maneira criativa e inovadora. A Internet hoje é tão forte em

conceitos de conectividade e participação, quanto em emprego de tecnologias e padrões

visando à interoperabilidade, facilidade de uso, filtragem de conteúdo e distribuição.

Empresas bem sucedidas como a Amazon disponibilizam todo o conhecimento a

respeito de sua logística de comércio eletrônico codificada em linhas de programação

disponíveis abertamente para que os desenvolvedores interessados possam implementar

soluções distribuídas a partir deste conhecimento. Este tipo de iniciativa aumenta

exponencialmente a capilaridade da Amazon em sites na Internet, dispositivos de acesso como

celular, entre outros. O fenômeno do sistema operacional Linux deu asas para um sem número

de casos semelhantes de softwares sendo desenvolvidos a muitas mãos. O portal SourceForge

é ao mesmo tempo um repositório de sistemas de código aberto - que já conta com mais de

180.000 projetos registrados - e rede social colaborativa, com uma comunidade de 1.800.000

usuários que criam, compartilham e modificam software para diversos tipos de situações34. A

Apple viu uma oportunidade entre a guerra da indústria da música e os programas de

compartilhamento de arquivos digitais. Permitiu a compra de músicas isoladas, e não apenas

os álbuns completos com músicas que os usuários simplesmente não queriam, a preços muito

menores e em formatos compatíveis com os tocadores de música do mercado.

Em outra perspectiva os governos têm uma proximidade ainda maior com a

questão da abertura, transparência e visibilidade, uma vez que a democracia historicamente

demanda a capacidade de acompanhamento das ações dos dirigentes públicos por parte da

sociedade. A situação que vivemos agora aproxima ainda mais a sociedade da infraestrutura

pública na revisão de seus processos e na formulação das políticas públicas de forma

34 Disponível em http://sourceforge.net

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participativa.

2.2.4 Comunicação ponto-a-ponto

A história da humanidade apresenta diversos modelos de organização que foram

determinantes no processo evolutivo de muitas sociedades ao longo do tempo. Na grande

maioria dos casos predominaram os sistemas hierárquicos com uma cadeia de comando

claramente estabelecida. A Igreja, as Forças Armadas e o Governo de um modo geral são

ótimos exemplos de autoridades impostas de cima para baixo, que também foram absorvidos

pelos sistemas econômicos, mercado e administração. Tipicamente estes modelos têm uma

característica sólida, duradoura e rígida, entretanto diversos fenômenos inerentes à própria

evolução da humanidade têm apresentado demandas por novos tipos de organização.

Dificilmente tais demandas irão substituir em completo as cadeias de comando milenares, mas

trarão grandes mudanças por estarem alinhadas à economia do conhecimento global,

oferecendo dinamismo, flexibilidade e capacidade de inovação, onde antes reinavam

formalismo e centralização.

Nas dinâmicas atuais com ênfase em um sistema de comunicação ágil e

abrangente, os integrantes das comunidades conectadas podem se comunicar sem a presença

de líderes ou intermediários. As relações se constroem diretamente a partir das afinidades,

tipos de trabalho, gostos e valores.

Estas mudanças nas formas de produção e de comunicação da sociedade vêm

sendo chamada de peer production (ou peering). Inicialmente a noção de peering estava

associada a uma visão puramente de técnica, de interconexão de redes de computador sem a

existência de um ponto de transmissão central. A percepção de que a sociedade passa a

produzir conhecimento, e demais bens derivados, a partir desta mesma lógica de organização

deu origem ao conceito de "produção ponto-a-ponto", ou seja, sem a concentração de

esforços, planejamentos ou diretrizes guiadas por alguma força centralizadora, ou pelo

controle de algum intermediário (TAPSCOTT, 2007, p.35).

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A produção neste cenário tem um forte apelo voluntário, mas não necessariamente

altruísta, pois é movida pelo interesse de cada indivíduo no desenvolvimento de algo novo. As

leis da economia tendem a apontar demanda por uma produção cada vez mais focada no

indivíduo, seus valores, personalidade e gosto. A produção de bens e serviços em massa perde

há algum tempo espaço para ofertas personalizadas e adequadas à necessidade de cada

consumidor. Portanto, faz algum sentido que redes auto-organizadas de produtores de

conhecimento poderão contribuir no processo produtivo, pois têm melhores condições de

especializar sua produção para atender novas demandas.

Uma das teorias mais adequadas para este contexto, a Lei de Coase, data de 1937

e foi elaborada pelo socialista inglês Ronald H. Coase. O pesquisador procurava entender o

sucesso do modelo fordista, que contrariava as leis de oferta e demanda, segundo seu

entendimento, já que tais leis apontariam para o surgimento de compradores e vendedores

individuais, ao invés de se reunirem em grandes empresas que padronizam oferta (COASE,

1937, p.1). Uma das principais razões para este comportamento apontadas pelo autor estava

no custo de produção. Naquela época os custos de fragmentação da produção ainda eram

muito altos, os efeitos da globalização ainda não podiam ser percebidos. Como conseqüência,

era muito mais barato produzir internamente um bem como um veículo, em toda a sua cadeia

de produção. Em resumo, a Lei de Coase afirma que enquanto o custo para produzir um bem

internamente for menor que fragmentar esta mesma produção com terceiros, faça-o

internamente. Esta lei é importante, pois se manteve intacta até os dias de hoje, uma vez que

as mudanças ocorreram justamente nos custos de produção colaborativa. Os custos da

economia de bens imateriais, baseada em informação, aliados aos avanços da globalização e

ao surgimento da rede mundial de comunicação, permitiram que os consumidores, antes

agentes passivos no processo produtivo, passassem a acumular a função de produtores. Surge

então uma grande cadeia de produtores e consumidores individuais, tal como previsto pelas

leis de oferta e demanda.

Diversos autores, a exemplo do economista Don Tapscott, têm percebido uma

mudança nos fluxos de produção, principalmente na chamada relação produção-consumo. Ao

passo que boa parte dos produtos que circulam com peso na economia sejam baseados em

conhecimento, estes apresentam, no mínimo, custos físicos de produção reduzidos em

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88

comparação à produção industrial. Soma-se a isto a crescente facilidade dos consumidores de

conexão com diversos atores envolvidos no processo de produção, incluindo o próprio

produtor e demais consumidores, que passam a interagir, expressar-se, e redefinir a forma

final de um produto ou serviço, atuando como co-produtores, ou prosumer35. Este termo vem

sendo utilizado para definir este novo papel do consumidor ativo, que participa do processo de

produção, modificação e validação daquilo que consome. No Brasil, já temos inúmeros

exemplos de modelos de negócio que seguem esta linha, e o Camiseteria.com36 é um deles.

Neste sítio online, a comunidade de usuários elabora e elege as estampas das camisas que

serão produzidas e comercializadas. Antes mesmo da confecção, o produto final é elaborado e

aprovado pela comunidade de usuários. Segundo os idealizadores do negócio isto garante uma

produção 100% adequada à demanda. Em outros países existem diversos negócios

semelhantes e abertos em outros mercados como o de jóias e até mesmo cerveja37.

Todo este entendimento a respeito do comportamento de mercado é importante

para o estudo e implementação de políticas públicas em democracias capitalistas. E por este

motivo foram analisados os diversos aspectos sociais e econômicos que estão em processo de

mudança. Como foi dito na introdução deste trabalho, estas mudanças são responsáveis pela

necessidade de resposta e posicionamento dos governos, uma vez que seja percebido um novo

tipo de comportamento dos indivíduos em suas relações com seus pares, com o mercado e

com o governo.

Neste sentido, as mesmas regras do peering existentes no comportamento de

mercado podem ser - e têm sido - incorporadas nas dinâmicas democráticas. Em outras

palavras, é fundamental que uma sociedade democrática disponha de espaços de comunicação

sem intermediários (filtros) para que seja elaborada a pauta de questões mais próximas da

necessidade dos cidadãos. A grande mudança na esfera pública citada por Habermas diz

35 Prosumer é uma expressão para representar a função de produtor e consumidor em um mesmo

agente. 36 Disponível em: <http://www.camiseterias.com.br> 37 Disponível em: <http://www.freebeer.org>

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respeito à intervenção da mídia na vida privada, que provoca distorção na formação da

opinião pública. Logo, não se pode afirmar que a Internet seja isenta dos grandes canais de

mídia, mas é muito mais democrática no sentido da facilidade de expressão e alcance das

opiniões. As forças de influência da mídia, das entidades representativas, das empresas, e dos

próprios órgãos governamentais tende a ser minimizada em uma rede de indivíduos

interconectados, que se comunicam de maneira livre e direta. Contrariamente às mídias de

massa como rádio e televisão, na Internet não existem apenas algumas dezenas de emissoras

centralizando todo o conhecimento a ser teletransmitido, mas sim milhões de pequenos

produtores de informação atuando de forma coletiva, com um alcance inimaginável sem a

estrutura de redes.

2.2.5 Cultura digital: As próximas gerações

A colaboração tem gerado profundas transformações na maneira como a

sociedade se organiza, debate, produz e consome. A partir desta prática, a Internet não é

apenas um espaço de múltiplas opções de acesso e consumo, mas também um local onde se

pode cada vez mais transformar-se em produtor. É dado aos usuários que estão presentes neste

espaço, o poder de reconstruir a oferta para atender sua própria demanda. A liberdade para

participar, criticar, compartilhar, criar e reconstruir de maneira contínua e coletiva tem

impacto tão profundo nos contratos sociais existentes até o presente momento, que todas estas

mudanças são, teoricamente, melhor percebidas pelos mais jovens. São estes que estão tendo

a oportunidade de crescer moldados por um novo contrato social, onde prevalecem os valores

da sociedade em rede, da economia global, da facilidade de expressão e, claro, das novas

tecnologias.

As limitações éticas e instrumentais das gerações mais antigas impossibilitam a

absorção desta nova série de valores comportamentais da web atual. A grande aposta para

maximizar os impactos que esta nova cultura está construindo, está na geração de jovens

atuais e nas futuras. São estes indivíduos que levarão para a escola, para os locais de trabalho

e para sua comunidade, as novas habilidades, atitudes e valores capazes de conduzir e

explorar o potencial que a organização em redes é capaz de proporcionar para toda a

sociedade.

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Ao tratar dos estudos sobre as próximas gerações de jovens, vale notar que a

maior parte das pesquisas existentes são realizadas em países desenvolvidos, onde diversos

obstáculos de inclusão social e digital estão mais bem equacionados, se comparados a países

em desenvolvimento como o Brasil. As políticas de educação também são tipicamente mais

desenvolvidas o que é determinante para o resultado final. O objetivo da análise destes

estudos está na compreensão do potencial que as novas gerações têm em absorver as

mudanças de uma sociedade que se organiza em redes, desenvolve criticidade e quebra

diversas regras dos modelos tradicionais. Não é objetivo do presente trabalho, afirmar

tendências, tampouco assegurar tais perspectivas como único caminho para o

desenvolvimento da sociedade para os próximos anos, mas sim compreender e poder justificar

uma oportunidade viável de transformação social pela via da informação e da capacidade de

agregar valor democrático em um mundo conectado.

Uma pesquisa de grande destaque deu o nome de Geração Net a este novo grupo

de jovens conectados. Tapscott (2006, p.64) ressalta que "o modus operandi da Geração Net é

a formação de redes": Orkut, MySpace, Facebook, Youtube, Flickr, etc., são só alguns

exemplos de comunidades online quase totalmente gerenciadas por grupos de jovens que

passam boa parte do seu tempo explorando conexões com seus pares, e tentando tirar o maior

benefício disto possível. As redes sociais concentram o maior volume de tráfego de

informações existente na Internet atualmente, e a tendência é que esta concentração se torne

ainda maior. Seja pelo fortalecimento das comunidades existentes, seja pelo aparecimento de

novas comunidades.

O mesmo autor realizou uma pesquisa para caracterizar estes jovens em 1997, em

seu livro A Economia Digital. Tal pesquisa foi atualizada em 2006, enquanto escrevia seu

novo livro Wikinomics. A geração estudada é nascida nos Estados Unidos, entre 1977 e 1996,

crescida em meio à explosão dos computadores pessoais e da própria Internet. "É a primeira

geração a crescer na era digital, e isso a torna uma força para a colaboração. Esses jovens

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estão crescendo banhados em bits 38." (TAPSCOTT, 2007, p.63).

A grande mudança de comportamento destes jovens está na participação ativa em

suas comunidades. Ao invés de gastarem seu tempo na web apenas acessando e processando

informações, estes jovens pesquisam, aprendem, inspecionam, criticam, se expressam,

compartilham, eliminam e criam desde conteúdo a outras formas de produtos.

De fato, os integrantes da Geração Net estão não apenas criando novas formas de

arte, mas ajudando a engendrar uma nova abertura criativa e filosófica. A capacidade de

reprocessar a mídia, fragmentar produtos, ou de alguma forma, alterar a cultura do consumo é

um direito inato, e eles não deixarão que antiquadas leis sobre propriedade intelectual os

atrapalhem. (TAPSCOTT, 2007, p. 69)

Mais estudos acompanham as mudanças de perfil da nova geração de jovens.

Outro que se destaca dá o rótulo de Millenials a estes jovens, nascidos entre 1980 e 2000. O

principal objetivo destes estudos é traçar este novo perfil de jovens e estudantes e que tipo de

mudanças nas estruturas sociais serão naturalmente conduzidas por eles. Algumas

características destes jovens são descritas a seguir (RAINES, 2002):

• Expressão: A autoridade é dada pelo reconhecimento de determinado indivíduo por sua

competência (seus saberes) em face de um grupo. Portanto, é a expressão deste indivíduo

neste grupo que o caracteriza e ajuda a compor sua personalidade e reputação. O fato de

tipicamente não haver cadeia de comando não significa que não haja diferentes níveis de

reputação. A principal característica está na forma de conquistar poder de influência e

autoridade, com base no conhecimento, argumentação e na capacidade de liderar outros

membros do grupo. A expressão torna-se um dos principais instrumentos de

posicionamento, e é através dela que é acordada a maior parte da distribuição de

responsabilidades nos grupos. O amadurecimento neste meio conduz a necessidade e a

38 Unidade mínima de processamento em um computador ou máquina digital.

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facilidade natural de se expressar, e de criar sua identidade e reputação.

• Respeito ao próximo e solidariedade: Estes jovens foram criados próximos a outras

culturas, devido à quebra da barreira espacial provocada pela lógica das redes e pela

globalização. Como conseqüência, houve um aumento da sua tolerância a outras raças,

religiões, orientações sexuais e valores culturais de um modo geral.

• Conectividade: Passam boa parte do seu tempo interagindo com outros indivíduos na

realização de atividades entretenimento, aprendizado, produção e demais tipos de

relações sociais.

• Auto-estima: Acreditam na importância de confiar nas suas próprias atitudes. A

predeterminação em transformar os ambientes de convivência com o tradicionalismo, os

fazem pensar e agir de maneira influente. O poder individual de convencimento é fator-

chave na busca da superação de desafios, frente a um mundo cheio de ameaças e

oportunidades.

• Otimistas: Eles têm uma visão otimista sobre a maior parte das questões e procuram levar

tudo de forma produtiva e responsável, porém com descontração. Sua expectativa com

relação aos locais de trabalho é que estes apresentem desafios, que possam ser

solucionados de forma colaborativa e criativa, e que sejam financeiramente

compensadores.

• Direcionados: Muitos jovens chegam, ou pretendem chegar, em seu primeiro dia de

trabalho com metas pessoais bem definidas. Encaminham suas vidas com objetivos

concretos e alcançáveis.

• Colaboração: São acostumados a trabalhar em equipe desde muito novos. Produzem

resultados coletivos sem individualismo e vantagens pessoais. A diversidade é estimulada

e injustiças são confrontadas com o poder coletivo da comunidade.

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Preocupada com as mudanças provocadas pela chegada dos jovens criados junto a

novos valores tecnológicos e de redes na sociedade, a Escola de Direito de Harvard

juntamente com outras universidades e institutos de pesquisa, mantém um estudo denominado

Digital Natives39 junto a pais, professores e pesquisadores especialmente para melhor

compreender as características dos jovens atuais, habituados à tecnologia e à informação

desde que nasceram, e que irão compor a sociedade futura.

Entre as linhas de pesquisa propostas pelo grupo, destacam-se:

• Introdução à vida digital – o que é um nativo digital? Qual o impacto estrutural que sua

geração provoca nos campos jurídico, social, educacional? O método de pesquisa

investiga a vida de jovens que utilizam a tecnologia de forma intensiva e busca problemas

e possíveis soluções para este fato.

• Identidade digital – investiga as questões de autoridade, os mecanismos de expressão, a

relevância dos pensamentos, opiniões, experiências pessoais e convicções políticas. A

identidade é construída em meio a um equilíbrio entre um universo aparentemente

infinito de informações, e uma rede de influência e filtragem, que ajuda a moldar os

traços de personalidade dos jovens em seu meio.

• Segurança digital – analisa cuidadosamente os impactos das ameaças e vulnerabilidades

existentes no mundo digital, frente à resistência natural da sociedade às novas

tecnologias.

• Privacidade digital – a conectividade destes jovens é constante, logo muitas de suas

ações são registradas e postergadas. O que para alguns é somente a expressão de sua

personalidade, para outros se torna um grave problema da perda de privacidade.

39 Disponível em: <http://www.digitalnative.org>

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• Criatividade digital – estes estudos investigam questões relacionadas à arte, à

comunicação e ao direito, sobre o material produzido e comercializado no habitat dos

nativos digitais.

• Pirataria digital – os nativos digitais cresceram com valores próprios com relação à

autoria e propriedade. A posse indevida e a distribuição de produtos de base intelectual

como músicas, filmes e livros, não são vistas como irregularidades, mas sim como direito

autêntico dos cidadãos. Isto implica na negação da propriedade intelectual e na

necessidade de revisão das formas de penalidade, ou das formas de comercialização

destes produtos.

• Sobrecarga de informação – a Internet apresenta um volume demasiado de

informações. A capacidade humana de absorção de novos conhecimentos não

acompanha a disponibilidade de conteúdo, o que faz prevalecer a demanda por

mecanismos de filtragem e relevância. As redes de influência respondem por grande parte

do filtro juntamente com o próprio avanço das técnicas de organização e seleção da

informação em meio digital.

• Qualidade da informação digital – a leitura típica dos nativos digitais se dá por fontes

de informação online. Existe uma precaução com a qualidade da informação digital, pelo

fato de que qualquer um, em tese, possa ser um editor de um site. Porém, a própria

dinâmica de influência e colaboração classificam as fontes de informação quanto à sua

relevância em determinado campo. A criação, disseminação e acesso a informação digital

de qualidade é fundamental para a sociedade da informação, bem como o aprendizado

individual sobre como recuperar fontes confiáveis de informação.

• Oportunidades digitais – o novo modo de desenvolvimento em rede faz surgir novos

serviços e produtos adequados às necessidades do crescente público consumidor da

Internet. Surge um novo modelo de negócios baseado na colaboração e forte interação

entre produtores e consumidores, que demanda criatividade e visão de futuro.

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• Educação digital – os métodos de aprendizagem digital alteram os processos

convencionais de educação, na figura do professor e da sala de aula. A aprendizagem via

Internet se dá de forma muito mais independente. O auto-aprendizado passa a ser a

disciplina básica para todos os estudantes – o que seria o aprender a aprender. Todos

estes diferente aspectos estão diretamente ligados ao perfil de cidadão e aos valores

digitais que se espera da sociedade para os próximos anos. Seria incompleto propor

qualquer tipo atuação do governo mais próximo ao cidadão sem antes conhecer o

comportamento esperado deste sujeito, sobretudo no uso intensivo de tecnologias e nas

mudanças de atitude. Este estudo não irá investigar a fundo tais valores, mas deixa

margem para outros trabalhos que precisem focar neste quadro.

É possível, e bastante provável, que estes tipos de conclusões tiradas a partir do

estudo de comportamento dos jovens da atualidade estejam equivocados em alguns pontos, ou

que existam outros fatores, não expostos, ou não percebidos. No entanto, o que se pretende

mostrar é que a tecnologia e a Internet impactam de alguma maneira na forma como os jovens

se desenvolvem. Ou seja, não podemos utilizar os mesmos parâmetros de algum tempo atrás

para desenvolver serviços para as próximas gerações.

2.2.6 Plataforma para colaboração: as mídias sociais

A web social trata como já foi visto fundamentalmente de uma mudança nas

relações entre produtores e consumidores de conteúdo, e na incorporação do aumento da

capacidade produtiva dos usuários de informação nos fluxos comunicacionais. Entretanto, o

desenvolvimento de uma série de ferramentas colaborativas é o componente técnico que torna

possível uma interação mais equilibrada e homogênea entre quem produz e quem consome

informação, tornando difícil a simples distinção destes dois grupos de agentes.

Tal conjunto de ferramentas recebe o nome de social media, ou mídia social.

Trata-se de um tipo específico de ferramenta que permite a colaboração de um número

irrestrito de pessoas consumindo, analisando, criticando, modificando e construindo conteúdo

simultaneamente. Estas tecnologias exploram o potencial da conectividade de diversos

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usuários em um mesmo ambiente para tornar possível a edição simultânea de páginas

eletrônicas, textos, planilhas, imagens e diversos tipos de documentos.

De uma forma geral, pode-se afirmar que as tecnologias sociais são a base

ferramental da esfera pública interconectada, tomando por base os espaços de discussão

presentes na teoria de Habermas, onde defende a função democrática das praças públicas nos

primórdios das sociedades burguesas. As ferramentas de comunicação de massa passam a

conviver com aquelas que permitem interatividade entre um número maior de pessoas. A

esfera pública interconectada opõe a natureza passiva dos leitores e usuários de informação,

ao invés disto, convoca todos os indivíduos conectados a participar do processo produtivo.

Benkler (2006, p.212) afirma que as democracias liberais estão adotando as

ferramentas sociais entendendo o enfraquecimento dos regimes centralizados e controlados de

forma excessiva pelo governo.

Sobre os diferentes estilos informacionais das mídias tradicionais e das mídias

sociais, Benkler afirma que a mudança vivenciada pelo indivíduo.

é representada pela experiência de ser um potencial orador, em oposição a um simples ouvinte ou eleitor. Trata-se da auto-percepção dos indivíduos na sociedade e na cultura de participação que podem adotar. A simples possibilidade de comunicar-se eficazmente na esfera pública permite aos indivíduos reorientar-se da passividade de leitores e ouvintes aos potenciais participantes e oradores em uma conversa (BENKLER, 2006, p. 213).

Essencialmente as mídias sociais não passam de ferramentas, mas a

intencionalidade com que foram desenvolvidas revela um esforço a favor de relações mais

democráticas entre os indivíduos conectados na rede. Se a web é construída socialmente,

como afirmam diversos autores (LEVY, 1999; CASTELLS, 1999; TAPSCOTT, 2007), pode-

se dizer que a sociedade deseja fazê-lo de maneira democrática e colaborativa.

Com o objetivo de descrever os fluxos informacionais e as possíveis relações de

comunicação entre usuários das novas tecnologias, algumas das principais ferramentas da web

social são descritas a seguir.

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2.2.3.1 Blogs

O termo blog é um diminutivo de weblog. Caracteriza-se como uma ferramenta de

comunicação que se destaca pela facilidade e agilidade em publicar conteúdo na web.

Tipicamente os conteúdos são apresentados na forma cronológica. As mensagens ou artigos

(posts - como são chamados os conteúdos publicados nestes ambientes) mais recentes

aparecem primeiro. Um blog pode ter um autor ou um conjunto de autores, que assinam cada

mensagem publicada como forma de registrar autoria e consolidar sua competência em

determinado assunto. Normalmente a participação dos usuários leitores é permitida e

transparente a partir dos comentários que ficam associados a cada artigo publicado. É

justamente esta abertura e transparência que enriquece estes ambientes, pois consolidam

comunidades de usuários em temas diversos, de acordo com a pauta de assuntos do blog. É

comum acompanharmos discussões e comentários mais ricos do que o próprio artigo original.

Esta dinâmica não é possível nas mídias tradicionais, como jornais e revistas.

No campo da Ciência da Informação existem blogs bastante conhecidos entre os

pesquisadores, como o Blog do Kura40, que reúne artigos de interesse sobre a área e permite

interação com o autor, e entre toda a comunidade de usuários que acompanham o blog. O blog

Bibliotecários Sem Fronteiras41 aborda diversas questões sobre Biblioteconomia e Ciência da

Informação, e é mantido por estudantes e pesquisadores da área.

Uma busca no portal Technorati42, um dos principais portais de busca de conteúdo

em blogs, aponta mais de 6.000 blogs sobre o termo "government" (6), e mais de dois milhões

de artigos publicados sobre o mesmo termo.

Como estão normalmente associados a indivíduos, os blogs representam um dos

mais poderosos instrumentos de expressão da Internet. Esta é uma das ferramentas mais

40 Disponível em: <http://blogdokura.blogspot.com>. 41 Disponível em: <http://bsf.org.br>. 42 Disponível em: <http://technorati.com>.

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representativas da produção de conteúdo distribuída presente na web social. O potencial

democrático dos blogs é destacado por Lessig:

[...] há muitos que usam-os para se envolverem na discussão pública. Discutindo assuntos de interesse público, criticando aqueles que estão enganados em sua visão, criticando políticos sobre as decisões tomadas por eles, oferecendo soluções para problemas que todos enxergam: os blogs criam uma idéia de uma grande convenção pública, mas uma na qual não precisamos estar todos ao mesmo tempo e nas quais as conversas não precisam estar exatamente relacionadas. As melhores entradas em um blog são relativamente pequenas; elas apontam para as palavras usadas por outros, criticando-as ou corroborando com elas. Eles são possivelmente a mais importante forma de discurso público não ensaiado que temos. (LESSIG, 2004, p.37)

Estatísticas do Technorati indicam que existem mais de 110 milhões de blogs

indexados pelo portal. O número de blogs criados por dia chega a 120.00043. O número total

não cresce na mesma proporção (embora o crescimento também seja alto), pois milhares de

blogs também são desativados diariamente, o que mostra o caráter dinâmico e renovador desta

tecnologia.

Apesar de serem tipicamente ambientes individuais, os blogs também podem estar

associados a organizações. A empresa Google mantém um blog para cada linha de produto,

onde divulga as últimas novidades e recebe retorno instantâneo da comunidade de usuários.

No governo brasileiro já existem iniciativas, como a do Ministério da Cultura, que mantém

uma série de blogs44 onde discute pautas como direito autoral, produção digital, cultura na

educação, e diversidade cultural como um todo.

Quais as principais características de um blog?

43 Estatísticas colhidas no próprio portal Technorati pelo endereço <http://technorati.com/about>. 44 Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/site/blogs-do-minc>.

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Figura 7. Características do blog

São assinados. Pode haver conteúdo anônimo, mas não é tão interessante, pois o

foco está justamente na opinião. Isto não significa que as identidades reais tenham que ser

reveladas, mas associar o conteúdo, seja um tópico ou um comentário, a um autor é uma boa

prática e torna a conversa mais aberta e sincera.

Disseminador. Espalham conhecimento pela rede. Os linkbacks45 funcionam aos

moldes da teoria do caos, e do projeto original do hipertexto. Um blog não tem o objetivo de

desenvolver um domínio de saber limitado a sua fronteira. Mas sim de provocar insights46. De

gerar impacto. Perder o controle. É um ambiente para gerar idéias a partir de idéias.

Conversação. Blogs são tipicamente uma conversa. Há diálogo. Tipicamente,

ninguém edita as palavras de outro autor, mas as critica positiva ou negativamente através dos

comentários.

45 Linkback é um recurso que possibilita mapear a origem de um link tornando possível realizar o

caminho de volta. Pode ser comparado aos vínculos de mão-dupla previstos por Ted Nelson no projeto Xanadu,

que alguns críticos acusam que o criador da web, Tim Berners-Lee, teria deixado de fora. 46 Idéias, provocações.

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Questionador. Blogs levantam questões. Polêmica é muitas vezes considerada o

mesmo que produtividade e de idéias novas.

Simplicidade. Blogs não são complexos, formam redes complexas. O conteúdo é

simples, curto e direto.

Intercâmbio de idéias. O conhecimento se espalha pelo espaço e tempo. A

desordem torna a conversa mais inteligente. E as experiências com pessoas com outras visões

resultam em algo diferente, novo.

Blogs têm sido utilizados por indivíduos pelo simples desejo de se manifestar, por

empresas que passam a adotar estratégias de marketing em comunidades, em ambientes

corporativos como ferramenta de registro e troca de conhecimento, por governos que desejam

diminuir a impessoalidade e a distância no relacionamento com os cidadãos.

2.2.3.2 Wikis

Wikis são ambientes online de produção ágil e coletiva de conteúdo. As

ferramentas de administração são bastante flexíveis e seguem os parâmetros do hipertexto. O

conteúdo é montado de maneira não-sequencial obedecendo a uma lógica semântica de

cruzamento entre informações e links que direcionam os leitores para outras páginas. O

principal diferencial do wiki está na impossibilidade de distinguir usuários leitores de

escritores, uma vez que, tipicamente, o conteúdo pode e deve ser alterado pelos membros da

comunidade.

Woods (2007, p.10), autorizado por Ward Cunningham que inventou o conceito

em 199547, define wiki como sendo "uma coleção de páginas web que qualquer um pode

editar". Ainda assim, diferente do que se imagina, os ambientes wiki não são desprovidos de

47 O primeiro wiki, com o nome de WikiWikiWeb, foi desenvolvido em 1995 por Ward Cunningham.

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regras e de governança. Cada comunidade tem suas regras para publicar e modificar

conteúdos, e as ferramentas gerenciam tais níveis de permissão.

Cada página de um ambiente wiki normalmente tem um gestor associado elegido

pela própria comunidade, tal como ocorre na Wikipédia, um dos ambientes wikis mais

conhecidos da web. Neste ambiente, os gestores podem avaliar as modificações e voltar a

qualquer momento ao estado do texto anterior a modificação que não foi aprovada, uma vez

que a ferramenta de gestão de conteúdo mantém o histórico de todas as alterações, indicando

qual o usuário responsável por cada uma.

A plataforma wiki tem como objetivo a busca contínua pela neutralidade, por meio

da conversação aberta. Há a premissa de que o debate entre muitos colaboradores com idéias

diferentes sobre o mesmo assunto pode gerar como resultado o consenso. Tipicamente as

discussões iniciam mais calorosas e participativas até se estabilizarem. Quando atingem o

estágio menos dinâmico, o conteúdo é considerado como válido pela maioria do grupo, o que

pode ser interpretado como consenso.

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Figura 8. Curva da neutralidade em um ambiente wiki

A figura 8 procura mostrar uma simples equação: assuntos debatidos com maior

intensidade em uma discussão tendem a neutralidade, ou seja, o consenso os debatedores. Na

Wikpedia, por exemplo, os debates normalmente iniciam com um alto índice de participação

até que se consolidam as definições dos termos. Como não existe autoridade, a discussão só

pára quando as argumentações de uns se sobressaem à de outros, o que representa algo bem

próximo do consenso.

Os ambientes wikis são um dos principais responsáveis por levarem os usuários

passivos da web à condição de co-criadores de conteúdo. A sabedoria coletiva é explorada em

contraposição à visão tradicional da especialização. A riqueza de conteúdo trazida pela

diversidade das multidões vem substituindo os modelos tradicionais de produção individual.

2.2.3.3 Social bookmarking

Funcionam como as ferramentas de marcação de sites favoritos, presentes desde as

primeiras versões dos navegadores web. Mas o fato de serem abertos e colaborativos os faz

funcionar de forma completamente diferente de uma lista de favoritos individual. A idéia é

simples: ao invés de gravar os favoritos em um único computador, onde somente o

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proprietário pode visualizar os links salvos por ele naquele mesmo computador, os links

passam a ser salvos em um portal na web, em uma página associada ao usuário. Tanto o

proprietário da página quanto qualquer outro indivíduo pode acessar as páginas indicadas

como favoritas. Este tipo de serviço traz muita agilidade aos processos de troca de referências,

além de estimularem o compartilhamento do conhecimento.

Com isto, um usuário que aprecia determinado autor, pode não apenas ler o

material produzido por este autor, mas também acompanhar o que esta pessoa julga relevante.

Este exemplo pode ser ampliado para professores e alunos, bibliotecas e usuários, e muitos

outros cenários onde o conhecimento é a base da relação.

Os links ainda podem ser associados a etiquetas (termos escolhidos pelo próprio

usuário que funcionam como marcadores), o que facilita muito a recuperação posterior de

qualquer conteúdo salvo. O serviço de etiquetas, também conhecido como tagging, ou

“folksonomia”, é um tipo de classificação bastante utilizado na web social. Parte do princípio

de que a melhor maneira de classificar um conteúdo destinado a determinado público, é deixar

esta tarefa por conta dos próprios usuários. Desta maneira a organização do conteúdo estará

sempre associada ao perfil da comunidade, o que evita distúrbios de linguagem ou

imposições. Autores como Weinberg (2007) afirmam que quem detém poder sobre a forma de

organização do conhecimento sobre determinada comunidade, detêm poder sobre esta

comunidade. Para resolver este tipo de problema o autor sugere que recursos que atribuem a

tarefa de organização do conhecimento à própria comunidade sejam mais bem explorados.

Alguns estudos indicam que os ambientes ideais são aqueles que conseguem mixar

as formas tradicionais de classificação, realizadas por especialistas e técnicas específicas, com

as emergentes, elaboradas pela comunidade de usuários.

O Portal Del.Icio.Us48 é um dos principais serviços de social bookmarking da web.

48 Disponível em: <http://delicious.com>.

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Este serviço permite salvar e compartilhar links favoritos entre redes de contato, além de

monitorar temas que são salvos pelos diversos usuários da comunidade. Representa um dos

mais eficientes mecanismos de filtragem, pois ao invés do usuário recorrer a um serviço de

busca genérico, pesquisa sobre conteúdos apontados como relevantes pela comunidade em

geral, ou mesmo por aqueles indivíduos que este usuário considere como referência no tema

em que pesquisa.

Redes de colaboração podem fazer um bom uso de serviços como o social

bookmarking, dando conhecimento não só às produções intelectuais de cada membro, mas

também incentivando a troca de referências de leituras de maneira simples e funcional.

2.2.3.4 Mashups

Mashups podem ser entendidos como aplicativos ou serviços compostos a partir de

elementos e conteúdos de outros serviços. Trata-se da combinação de aplicativos em novas

soluções de forma a gerar um novo produto. Os padrões de interoperabilidade49 entre sistemas

permitem que aplicações construídas por um grupo de desenvolvedores possam ser

aproveitadas e reutilizadas por outros grupos. A recombinação destes aplicativos multiplica a

capacidade de prover soluções adequadas a diferentes necessidades.

Produtos combinados a partir de outros não são, necessariamente, uma novidade.

Na indústria cinematográfica por exemplo, é muito comum um filme se basear em outras

produções como as paródias, por exemplo. Os mashups se aproveitam de um produto para

gerar algo completamente novo, dando novas perspectivas para a criação original.

Alguns exemplos já citados neste trabalho foram desenvolvidos sob a filosofia de

mashups, como o Wikicrimes que faz uso do serviço gratuito do Google Maps50 para

disponibilizar mapas de crimes e configurar a densidade da violência nos principais centros

49 O termo interoperabilidade dis respeito à capacidade de comunicação entre sistemas computcionais.

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urbanos no Brasil e no mundo.

Para citar outro exemplo, o Yahoo Pipes51 combina uma série de fontes de

informação como sites, blogs, bases de dados online e permite que o usuário faça a

combinação desejada com os diversos conteúdos, promova filtros, manipule os conteúdos

com ferramentas de tradução e dezenas de outras possibilidades. Como resultado o serviço

gera uma lista das informações que passaram por todo o fluxo de filtragem e tratamento de

informação configurada pelo usuário.

O serviço Flight Wait52 combina dados atualizados da Federal Aviation

Administration-FAA53 com o serviço Google Maps para traçar graficamente as rotas dos vôos

em território americano.

O portal Programmableweb.com54 reúne uma coleção atualizada de milhares de

mashups classificados por áreas como governo, esportes, compras, celebridades, jogos,

notícias, viagens e muito mais. Já o portal Apps for Democracy55 mantém uma lista de

aplicativos destinados a cidadãos de diversas cidades.

2.2.3.5 Really Simple Syndication (RSS)

RSS é um padrão que permite e facilita a sindicância de conteúdo na web. Os

portais de conteúdo passam a disseminar informação neste formato que pode ser interpretado

por ferramentas que agregam inúmeras fontes de informação e podem ser organizadas,

classificadas e selecionadas pelo usuário da forma como este preferir. Desta maneira usuários

50 Google Maps é um serviço de mapas online. Disponível em: <http://maps.google.com>. 51 Disponível em: < http://pipes.yahoo.com>. 52 O serviço Flight Wait está disponível em: <http://www.flightwait.com>. 53 Disponível em: <http://www.faa.gov>. 54 Disponívem em: <http://www.programmableweb.com>. 55 Disponívem em: <http://www.appsfordemocracy.org>.

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não precisam mais acessar dezenas ou centenas de sítios web para manterem-se atualizados,

pois passam a reunir todo o conteúdo de interesse, atualizado automaticamente, em um único

local.

As ferramentas ou serviços de agregação de conteúdo RSS normalmente possuem

recursos adicionais como busca por conteúdo de artigos, opção de salvar como favorito,

compartilhar links com rede de contatos, entre outros. As fontes de informação são conhecidas

como RSS feeds, ou feeds, e correspondem aos endereços eletrônicos que deverão ser

adicionados à ferramenta de leitura a ser utilizada pelo usuário.

Um dos serviços mais completos e mais utilizados é o Google Reader56, que

funciona inteiramente via navegador e não necessita da instalação de nenhum aplicativo.

Além deste, diversos outros aplicativos ou serviços online podem ser utilizados como

BlogLines e FeedReader57, ou mesmo navegadores web conhecidos como Internet Explorer

ou Firefox58.

De certo modo, o padrão RSS, pode ser comparado aos tradicionais Serviços de

Disseminação da Informação (SDI), e modificou a forma como a web pode ser lida, dando

agilidade e conforto os usuários de informação que desejam manter-se atualizados.

2.2.3.6 Podcasting

O Podcast surgiu em 200459, e é uma espécie de conteúdo assinado em formato

áudio. Ao invés de utilizar blogs para redigir textos, os produtores de informação passam a

56 Disponível em: <http://reader.google.com>. 57 Disponível em: <http://www.bloglines.com> e <http://www.feedreader.com>. 58 Disponível em: <http://www.microsoft.com/brasil/windows/products/winfamily/ie/default.mspx> e

<http://br.mozdev.org>. 59 O termo é creditado ao jornal britânico The Guardian, que apresentou uma matéria sobre a revolução do áudio na web.

Disponível em: <http://www.guardian.co.uk/media/2004/feb/12/broadcasting.digitalmedia>.

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gravar mensagens em áudio e disponibilizar em fontes de conteúdo, que podem ser assinadas

por inúmeros usuários utilizando aplicativos e dispositivos de áudio.

O surgimento de uma diversidade de dispositivos de áudio com uma capacidade de

armazenamento significativa a um custo relativamente baixo, age como estímulo à criação de

conteúdo neste formato. O que possibilita aos usuários processar conteúdo em situações

diversas, como ao volante de um automóvel, no banho, ou no ambiente de trabalho. As

mudanças também têm aspecto cognitivo, uma vez que existem diferenças entre o

processamento de informações na forma textual e na forma auditiva. Além dos benefícios em

acessibilidade, considerando usuários que enfrentam dificuldades de leitura, por exemplo, ou

usuários analfabetos, com deficiência visual, ou ainda, sem a disponibilidade de dispositivos

como monitores.

Existem poucas formas consolidadas de colaboração neste formato, portanto sua

grande contribuição está em fornecer novas possibilidades de processar informação. Um

exemplo é o portal Gengibre60 que permite que usuários enviem pequenas mensagens de voz

através do celular.

Existem inúmeras fontes de informação no formato podcast na web atualmente, os

principais portais de conteúdo, os grandes blogs, e até mesmo canais que disseminam

conteúdo especificamente em formato áudio. O portal Podcast.com61 reúne milhares de

arquivos em áudio que podem ser ouvidos online, ou baixados para ouvir em dispositivos

tocadores de áudio.

O objetivo maior de explicitar estas ferramentas foi a necessidade de tornar mais

claras as características de cada uma, de forma a possibilitar uma compreensão melhor da

análise empírica que será apresentada neste trabalho.

60 Disponível em: <http://www.gengibre.com.br> 61 Disponível em: <http:www.podcast.com>.

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2.2.4 Open Government: de olho na emergência

Open Government é também conhecido como governo 2.0 por alguns autores, que

traduziram o termo government 2.0. Diz respeito ao impacto da série de mudanças

provocadas, sobretudo, pela nova fase da web - abordada nos tópicos anteriores - nas

estruturas tradicionais de governo de países democráticos. O modus operandi da sociedade

conectada vem sofrendo modificações, entre outros aspectos, pela absorção e

desenvolvimento das tecnologias e comportamentos emergentes da web social.

A concepção do open government trata da adoção de novas posturas na relação

Estado-sociedade, que visam intensificar a democracia a partir do desenvolvimento de

iniciativas de colaboração, transparência e participação social. O verdadeiro sentido está na

aplicação das características comportamentais e tecnológicas da web social na esfera de

relação entre Estado e sociedade.

O conceito open government é bastante recente e está em construção. De forma

simplificada diz respeito a uma forma de relacionamento entre a administração pública e os

cidadãos. Pode ser entendida como uma atitude aberta por parte da administração pública, na

busca por conectar, informar e manter uma relação constante com os cidadãos, através do

estabelecimento de canais de comunicação de contato direto utilizando as mídias sociais da

fase atual web com objetivos de transparência, receptividade e interação.

Alguns aspectos são importantes para uma melhor compreensão da abordagem:

Mudança cultural: É imprescindível entender os objetivos da organização pública

e de todos que trabalham nela. As fronteiras do setor público tendem a ser mais abertas e

flexíveis, habilitando a criação de um propósito público muito mais amplo e diversificado que

a administração pública tradicional. De fato, os governos estão o sendo pressionados a serem

cada vez mais abertos e transparentes. Servir ao cidadão está no centro da questão.

Modelos hierárquicos substituídos por redes de colaboração: A abordagem

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109

open government modifica as cadeias tradicionais de comando, privilegiando a comunicação

entre os diversos níveis da administração pública. As decisões a partir de informações locais

são priorizadas, pois são colhidas em contato intenso com os cidadãos.

Colaboração, participação social e co-criação: A reestruturação dos processos

governamentais passa a incorporar modelos colaborativos para quebrar barreiras da

comunicação centralizada e hierárquica. Além disso, é necessário repensar o caminho a seguir

aplicando flexibilidade e o sentido comum, e estabelecendo os controles mínimos de

segurança.

Engajamento dos cidadãos: Os cidadãos passam a analisar e fazer mais por eles

próprios, pois têm a oportunidade de participar de maneira individual ou coletiva como co-

produtores das políticas públicas.

Governo como facilitador: É esperada uma mudança na postura do governo, que

deixará de ser o controlador e prestador de serviços para ser o real facilitador do discurso

público de interesse da sociedade.

Estes, entre outros aspectos, fazem parte das bases do conceito e ambiente de

aplicação do open government. Um dos principais pontos desta abordagem está no

envolvimento do cidadão nas questões públicas de seu interesse. Ou melhor, está na

publicização dos interesses privados, a partir do engajamento dos cidadãos nas ações de

governo.

O engajamento e participação do cidadão nesta atmosfera de discussão envolvem

questões de atitude, formação e domínio de algumas tecnologias. Juntos estes componentes

podem ser capazes de transformar um usuário passivo em um colaborador ativo e produtor de

informações, o que o permitirá atuar diretamente junto a seu governo.

2.2.4.1 Possíveis aplicações, políticas e iniciativas

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De uma forma geral, o Governo Eletrônico continua sendo o pano de fundo desta

discussão, uma vez que estejam sendo considerados os aspectos tecnológicos que deverão

influenciar governo e sociedade nos próximos anos. As políticas atuais de Governo Eletrônico

já representam uma nova forma de governança que possibilitam maior agilidade,

transparência, mobilidade e presença do governo junto ao cidadão e empresas. A diferença

está na aplicação dos recursos colaborativos da web social, que além do acesso eletrônico às

informações e serviços do governo, garantem ao cidadão a possibilidade de consultar, opinar,

deliberar e construir ações conjuntas sobre diversos temas, sobretudo aqueles de seu interesse.

Os principais objetivos da iminente modernização das estruturas de governo

baseadas em uma gestão mais aberta e participativa são:

• Gestão centrada no usuário/cidadão

Serviços podem ser desenvolvidos de forma aberta e transparente para captar

opiniões e críticas sobre serviços governamentais, servindo tanto como elemento que irá

orientar as reformas políticas em determinado setor da administração pública, quanto para a

consolidação da conscientização política da sociedade a respeito dos serviços prestados pelo

governo. A comunidade atua tanto de forma individual, emitindo opiniões isoladas, quanto de

forma coletiva, pressionando as estruturas de governo a receber suas reivindicações.

O serviço PatientOpinion62 ajuda o governo britânico a coletar opiniões dos

cidadãos a respeito do Serviço Nacional de Saúde. As opiniões são públicas e transparentes,

de maneira a pressionar o governo a atuar nos pontos críticos apontados pela sociedade.

• Participação social e co-criação

Podem ser representados de diversas maneiras. Dentre outras, através de políticas

62 Disponível em: <http://www.patientopinion.org.uk>.

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de participação social nas atividades de formulação de políticas públicas, como consultas

públicas, petições online cujo objetivo é contar com a participação do cidadão no debate,

deliberação e, em alguns casos, na tomada de decisão.

O serviço do governo britânico e-Petition63 permite a qualquer cidadão britânico

criar petições que serão debatidas e transformadas em atos legislativos em meio a uma

comunidade civil em conjunto com o sistema político governamental.

O governo da Nova Zelândia iniciou, em outubro de 2007, o serviço chamado

Police Act Review64 com o objetivo de convocar os cidadãos a participarem da reformulação

da legislação relacionada à polícia nacional. O serviço disponibiliza um ambiente wiki que

possibilita a qualquer cidadão daquele país enviar comentários, rever trechos da legislação e

acompanhar a participação de toda a sociedade no tema.

O governo brasileiro tem iniciativa semelhante na área de regulamentação técnica

de governo eletrônico65. As consultas públicas ficam abertas para participação online, onde é

possível que qualquer cidadão faça comentários e indique alterações no texto do regulamento.

Todas as contribuições ficam transparentes e são respondidas caso sejam, ou não,

incorporadas ao texto final.

• Transparência e prestação de contas

Serviços que apresentam como os representantes políticos estão atuando a respeito

de cada tema da administração pública, e que mostram como o orçamento público é

distribuído e aplicado em cada setor, órgão ou projeto.

63 Disponível em: <http://petitions.pm.gov.uk>. 64 Disponível em: <http://wiki.policeact.govt.nz>. 65 O serviço de consultas publicas da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do

Planejamento está disponível em: <http://www.governoeletronico.gov.br/consulta-publica>.

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O portal Theyworkforyou.com66 apresenta as deliberações parlamentares do Reino

Unido, por onde é possível acompanhar e opinar sobre o debate político entre os

parlamentares em diversas áreas do governo.

O governo brasileiro disponibiliza o Portal da Transparência67 por onde é possível

acompanhar os gastos públicos por Ministério ou por órgãos. Apesar das importantes

informações sobre a prestação de contas, o portal não permite a participação da sociedade,

menos ainda o debate aberto e coletivo sobre aplicação dos gastos em cada segmento.

Estes exemplos representam uma ínfima parcela dos serviços já existentes em

diversos países que favorecem a participação da sociedade por meio da Internet, devido à

capacidade de reunir pessoas em um mesmo ambiente, estimular a participação, facilitar a

criação colaborativa de conhecimento, informar-se e reivindicar políticas e ações do governo.

São estas características que fazem da Internet o novo espaço público, que

atualmente reúne novas esperanças para a democracia e para efetividade dos governos.

66 Disponível em: <http://www.theyworkforyou.com>. 67 Disponível em: <http://www.portaltransparencia.gov.br>.

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3. AMBIENTES DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL: APRESENTAÇÃO D OS

RESULTADOS DA PESQUISA EMPÍRICA

Devido à própria constituição temática deste trabalho, optou-se por realizar a

pesquisa a partir de elementos disponíveis na web. Entidades com autoridade em temas como

democracia e políticas governamentais foram o ponto de partida para a localização do

material empírico desta pesquisa, além dos relatórios citados no capítulo referente à

metodologia. Também se optou por dar evidência a materiais referenciados e coletados a

partir da ligação entre documentos relevantes, característica de ambientes hipertextuais, o que

concede uma característica não linear a pesquisa, tornando-a passível de novas descobertas.

Foi dada ênfase, sobretudo, aos ambientes que utilizam as mídias sociais como

plataformas de interação, o que inclui as ferramentas descritas no capítulo “4.2.6 Plataforma

para colaboração: as mídias sociais” deste trabalho. Contudo, a própria definição do que

constitui as mídias sociais não é muito precisa. Também não há exatidão sobre o que difere

uma tecnologia colaborativa como sendo uma mídia social e as tecnologias colaborativas que

não se configuram desta maneira. Tudo indica que as mídias sociais foram classificadas desta

maneira por pertencerem a um conjunto mais recente de ferramentas que estimularam a

participação em massa, não restringindo o acesso a um número limitado de pessoas. Por esta

dificuldade conceitual, a preocupação maior esteve em identificar ambientes que provocassem

o diálogo entre os cidadãos, e destes com os representantes de esferas governamentais e isto

incluiu ferramentas que não são descritas na literatura como sendo parte das mídias sociais, e

por isto também não foram descritas neste trabalho, como por exemplo os fóruns de discussão

e as salas de bate-papo, que aparecem em alguns casos analisados.

O estudo gerou a descoberta de 20 iniciativas, utilizadas como amostra, e foram

criados filtros que separaram os tipos de ambientes analisados em:

• Grupo 1: Dez iniciativas que estimulam a participação social gerenciadas por governos

estrangeiros.

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• Grupo 2: Cinco iniciativas que estimulam a participação social gerenciadas por

organizações não-governamentais estrangeiras.

• Grupo 3: Cinco iniciativas que estimulam a participação social gerenciadas pelo

governo brasileiro.

As iniciativas mapeadas do Grupo 1 correspondem aos países:

• Estados Unidos: 3 casos

• Nova Zelândia: 3 casos

• Reino Unido: 2 casos

• Austrália: 2 casos

Todos estes países ocupam boas posições no relatório das políticas de governo

eletrônico elaborado pela ONU em 2008 – UN E-Government Survey 2008: From E-

Government to Connected Government - que contemplava os critérios para seleção de casos a

serem analisados.

Os dados obtidos foram categorizados em Serviços de Governos Estrangeiros (casos:

Peer2Patent, Change.gov, Evolution of Security, E-petitions, Show Us a Better Way, Police

Act Review, Safe As, Sustainability, Future Melbourne, Australian Youth Forum); Serviços

de Organizações Não-Governamentais (casos: Patient Opinion, Fix My Street, My Bike Line,

Public Markup, They Work For you); e Serviços do Governo Brasileiro (casos: Legislação

Inmetro, Consulta Pública do Governo Eletrônico,Blogs do Ministério da

Cultura,Transparência no Portal da Câmara dos Deputados, Portal da Transparência do

Governo Federal), que estão sistematizados e apresentados a seguir.

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Quadro resumido dos serviços analisados:

Serviço País Objetivo Período Uso

Serviços de Governos Estrangeiros

Peer2Patent Estados Unidos Exame de patentes aberto e colaborativo Desde 2007 2.000 membros

500 discussões ativas

Change.gov Estados Unidos Convocar os cidadãos para formular a transição

do governo após as eleições presidenciais de 2008

De novembro de

2008 a janeiro de

2009

125.000 cidadãos

44.000 sugestões

1.400.000 votações

Evolution os Security Estados Unidos Estabelecer um diálogo permanente com a

sociedade sobre segurança e rastreio anti-terror

nos transportes públicos

Desde janeiro de

2008

200 artigos

10.000 comentários

E-petitions Reino Unido Estimular a transparência e o diálogo para

melhorar o processo de encaminhamento análise

de petições

Desde novembro de

2006

Em menos de 2 anos:

29.000 petições

5.800.000 assinaturas

Show Us a Better Way Reino Unido Organizar um concurso de idéias para a criação

de novos serviços de participação social

De junho a novembro

de 2008

100 idéias reunidas

Police Act Review Nova Zelândia Revisar a legislação da polícia nacional 2007 e 2008 Não disponível

Safe As Nova Zelândia Formular a política de transportes em conjunto

com a sociedade

2006 e 2007 295 cidadãos

625 tópicos

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3.346 comentários

Sustainability Nova Zelândia Discutir boas práticas de sustentabilidade

ambiental em conjunto com a sociedade

Desde dezembro de

2007

70 tópicos

200 comentários

Future Melbourne Austrália Elaborar a visão estratégica da cidade de

Melbourne no horizonte 2010-2020 junto com os

cidadãos

De maio a junho de

2008

30.000 visitas

6.500 cidadãos

200 contribuições

Australian Youth

Forum

Austrália Engajar os jovens nos assuntos que irão

influenciar seu futuro

Desde março de 2008 113 idéias

400 votos

Serviços de Organizações Não-Governamentais

Patient Opinion Reino Unido Avaliar os hospitais do sistema nacional de saúde Desde 2006 10.000 opiniões

Fix My Street Reino Unido Evidenciar e discutir problemas locais Desde 2008 800 relatos por

semana

800 soluções por mês

28.000 registros

They Work For You Reino Unido Evidenciar as atividades dos membros do

parlamento

Desde 2006 2.000.000 acessos em

2007

My Bike Line Global Denunciar violações nas ciclovias de diversas

cidades

Desde agosto de 2006 6.000 denúncias

1.700 cidadãos

Page 117: Democracia e Cidadania na Web Social - Leandro Cianconi - Mestrado em Ciência da Informação - UFF - 256p

117

Public Markup Estados Unidos Estimular a participação social na consulta

pública das legislações

Desde 2008 6 atos legais

discutidos

1.000 comentários

Serviços do Governo Brasileiro

Legislação Inmetro Brasil Disseminar a legislação técnica sobre metrologia

e qualidade

Desde março de 2008 Não disponível

Consulta Pública do

Governo Eletrônico

Brasil Aumentar a transparência e a participação na

consulta pública da regulamentação do Governo

Eletrônico

Desde 2004 20 regulamentos

discutidos

800 comentários

Blogs do Ministério da

Cultura

Brasil Discutir com a sociedade temas da pauta da

cultura no Brasil

Desde 2003 Não disponível

Transparência no Portal

da Câmara dos

Deputados

Brasil Estimular a transparência e a participação social

no legislativo

Desde 2005 49 bate-papos

10 fóruns de

discussão

1 blog

Portal da Transparência

do Governo Federal

Brasil Prover transparência na aplicação dos recursos do

Governo Federal

Desde de novembro

de 2004

Não disponível

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118

3.1 Serviços de Governos Estrangeiros

Serviço

Peer2Patent

URL

http://www.peertopatent.org

País

Estados Unidos

Entidade gestora

United States Patent and Trademark Office (USPTO)

Público-alvo

Qualquer usuário da web.

Abrangência

As comunidades são formadas por qualquer usuário que tenha interesse em colaborar

com informações nas discussões durante o processo de exame de patentes.

Page 119: Democracia e Cidadania na Web Social - Leandro Cianconi - Mestrado em Ciência da Informação - UFF - 256p

119

Figura 9. Quadro de perfil dos usuários do serviço Peer2Patent

O quadro extraído do relatório de um ano de disponibilidade do serviço68 mostra que o

maior índice de participação é entre profissionais da área da computação e engenharia,

mas que há bastante diversidade entre os demais grupos de usuários.

Os processos de registro de patentes colocados à discussão são aqueles localizados no

âmbito da USPTO.

Objetivos

Realizar o exame dos processos de patentes de forma transparente e colaborativa com a

participação social, e com isso reunir um maior número de informações e tornar o

registro mais eficiente.

68 Disponível em: <http://dotank.nyls.edu/communitypatent/P2Panniversaryreport.pdf>

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Ferramentas e recursos

• Sistema de comentários

• RSS

O portal implementou uma plataforma própria de colaboração que mistura alguns

conceitos de fóruns de discussão e blogs, mas não se resume a isto. A origem das

discussões são realizadas a partir dos processos de patentes, e não de artigos livres, uma

vez que o objetivo é reunir o maior conjunto de informações possíveis sobre cada

processo de forma a agilizar o registro.

Período de atividade

No ar desde o primeiro semestre de 2007.

Intensidade de uso

Mais de 2000 membros e mais de 500 discussões ativas

Descrição

O projeto mantém ativa a Comunidade de Revisão de Patentes, que é uma iniciativa da

New York Law School Institute for Information Law & Policy (NYLS) em colaboração

com o United States Patent and Trademark Office (USPTO).

A estratégia do projeto é criar uma rede de colaboração entre peritos e inovação e

especialistas nos temas dos processos para prover maior eficiência na examinação dos

pedidos.

Figura 10. Processo do Peer2Patent

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Comentários

O serviço foi a primeira iniciativa deste tipo na área de patentes. Os principais

problemas identificados pelos pesquisadores do NYLS foram:

• crescente volume de pedidos de registros;

• tamanho da equipe e tempo para gerar as respostas bastante limitado;

• grande volume de informação em áreas novas como tecnologia da informação e

biotecnologia;

• dificuldade técnica em novas áreas (o USPTO não mantém um processo

contínuo de educação em ciência, desta forma era muito difícil conseguir

manter-se apto a analisar processo de áreas novas ou em constante atualização);

• pouco diálogo com a comunidade científica.

As principais dificuldades eram como resolver estes problemas sem encarecer ainda

mais os custos do processo? O que seria inevitável caso fosse necessário ampliar a

equipe de analistas, investir em formação contínua e estabelecer convênios com a

comunidade científica. A solução foi propor um modelo aberto de examinação dos

processos de patentes, desta forma brotam benefícios para diversas partes:

• o processo passa a contar com o apoio da comunidade de especialistas que

agregam valor à análise e facilita o trabalho dos examinadores;

• a revisão aberta também funciona como incentivo para que os inventores

redijam pedidos mais bem elaborados;

• muitas das questões mais complexas acabam sendo respondidas nos comentários

e discussão, antes mesmo da análise substancial do examinador;

• o conhecimento gerado em um processo é facilmente aproveitado em outros; por

serem mais examinados a cobertura das patentes está mais garantida;

• a discussão gera mais informações sobre inovações no mercado, dando mais

visibilidade e potencialmente gerando maiores recompensas financeiras;

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• reivindicações ruins são facilmente criticadas, funcionando como um filtro para

que apenas as melhores se destaquem; entre muitos outros benefícios.

Características identificadas:

Impactos na tomada de decisão: A comunidade de Revisão de Patentes tem impacto

direto no exame do processo de registro.

Facilidade em participar e acompanhar as discussões: as atualizações podem ser

recebidas via email, fontes RSS, ou acessadas via dispositivos como celulares e

smartphones.

Busca: por áreas de interesse, relevância, autoria, data entre outras.

Tagging: A classificação das discussões é realizada pela própria comunidade, o que lhes

garante autonomia e um domínio próprio de conhecimento.

Capacitação: existem diversos tutoriais online (vídeo, áudio, texto) que explicam como

participar efetivamente.

Ranking das reclamações: a comunidade pode elaborar um ranking das reclamações

sobre os pedidos de registro para facilitar a recuperação e a análise do que é prioritário.

Avaliação dos participantes: os participantes podem receber avaliações positivas quando

seus comentários forem considerados como relevantes por outros membros da

comunidade.

Trata-se de um serviço inovador, que estimula a participação da sociedade com o

objetivo de equacionar problemas comuns a qualquer governo no campo da inovação.

Ele reúne aspectos importantes em ambientes colaborativos como a transparência, o

forte estímulo à interação e a facilidade de reconhecer os membros que colaboram de

maneira mais efetiva.

Benefícios

• Agilizar o processo de análise dos pedidos de registro de patentes.

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• Melhorar a qualidade dos registros, uma vez que sejam analisados por um

volume maior de especialistas nas áreas específicas, e não apenas por técnicos

burocratas.

• Demanda uma infra-estrutura menos por parte do órgão de registro de patentes.

Riscos

• Baixa participação.

• Baixa qualidade dos comentários e análises.

• Manipulação dos comentários e análises.

• Abuso da informação contida nos processos.

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Serviço

Change.gov

URL

http://www.change.gov

País

Estados Unidos

Entidade gestora

Governo dos Estados Unidos

Público-alvo

Cidadãos norte-americanos

Abrangência

Cidadãos norte-americanos que tenham idéias sobre melhorias possíveis no novo

governo.

Objetivos

Reunir e disponibilizar todas as informações sobre a transição entre o governo anterior

e o governo eleito.

Como objetivos secundários, destacam-se:

• Reunir e discutir um sólido conjunto de idéias para o novo governo a partir da

colaboração entre os próprios cidadãos.

• Promover fóruns de discussão sobre temas específicos.

• Responder a dúvidas de qualquer cidadão sobre o próximo governo.

Ferramentas e recursos

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• Blog

• Fórum de discussão

• Sistema de comentários

• Sistema de votação

Período de atividade

De novembro de 2008 a janeiro de 2009.

Intensidade de uso

Nos aproximadamente 3 meses em que o sítio ficou disponível ocorreu uma intensa

participação nos diversos serviços oferecidos, para destacar:

Citizen’s Briefing Book: trata-se de um brainstorm sobre reivindicações dos cidadãos

norte-americanos:

• 125.000 usuários participaram das discussões

• 44.000 idéias foram apresentadas e discutidas

• 1.400.000 votações sobre as idéias disponíveis

Join the discussion: Fórum livre de discussão sobre diversos temas apresentados sobre

forma de questão.

A última pergunta apresentada foi: “Quais causas sociais e serviços fazem a diferença

em sua comunidade?”. Para esta única questão ocorreram mais de 4.000 comentários.

Descrição

O sítio reúne informações sobre o processo de transição entre o governo de George W.

Bush e o presidente eleito em 2008, Barak Obama.

O sítio é organizado em várias seções que apresentam a fase de transição, entre outras,

a equipe de governo, a agenda sobre os diversos temas como educação, economia,

segurança, saúde, trabalho.

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Outra seção é destinada a participação social com serviços como fórum de discussão,

submissão de idéias e propostas, cartas recebidas de grupos e movimentos sociais

durante a campanha e uma área de perguntas e respostas.

O sítio ficou disponível logo após a divulgação da vitória de Barak Obama e foi

desativado em 20 de janeiro de 2009, dia da posso do presidente eleito.

Comentários

Trata-se de uma idéia para promover transparência e continuidade da campanha

participativa promovida por Obama, que fez desde o princípio um uso intensivo das

mídias sociais, tornando sua campanha como uma referência global para as eleições

futuras em qualquer democracia.

No portal Change.gov há uma explícita preocupação com o Open Government, e foram

criados serviços específicos de forma a promover maior participação e transparência

nas ações do futuro governo.

Figura 11. Serviços disponíveis na seção Open Government do portal Change.gov

Page 127: Democracia e Cidadania na Web Social - Leandro Cianconi - Mestrado em Ciência da Informação - UFF - 256p

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Citizen’s Briefing Book

Trata-se de um espaço de livre troca de idéias e discussão. Cada cidadão pode

apresentar uma idéia que será discutida e votada pelos outros cidadãos como relevante

ou não. Algumas idéias tiveram aproximadamente 100.000 avaliações positivas. Ao

todo foram mais de 44.000 idéias e reivindicações entre a liberação das drogas,

melhoria nos serviços públicos de saúde, iluminação nos trens, paz mundial, entre

outros. É uma iniciativa que aproxima governo e cidadãos e dá às futuras autoridades

do Estado conhecimento sobre as reais expectativas de seus eleitores.

Join the discussion

Nesta seção as questões são levantadas pela equipe de governo e discutidas pelos

cidadãos. Pôde-se notar um acompanhamento preciso da equipe, ao retirar dúvidas e

responder a críticas de forma transparente. Algumas questões tiveram mais de 4.000

participações dos cidadãos.

Your Seat of the Table

Este espaço permite que os cidadãos tenham acesso aos documentos e relatórios

enviados por diversos grupos de interesses ou de movimentos sociais. Os textos

encaminhados para o novo governo são disponibilizados para a discussão por onde

passam pelo crivo social, que determina suas posições e a relevância do assunto sob

suas perspectivas.

Open for Questions

Espaço para responder as dúvidas, críticas e sugestões para o novo governo de forma

aberta e transparente.

Uma característica importante é uma versão em espanhol do portal, devido ao grande

número de imigrantes naturais deste idioma naturalizados nos Estados Unidos.

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O portal Change.gov apresenta fortes traços de democracia, em primeiro lugar por ser

um espaço de transição entre partidos opostos num mesmo governo. O fato de ser um

serviço oficial mostra o convício democrático entre governo em exercício e governo

eleito, apresentando a transição como um processo natural da democracia.

Benefícios

• Possibilidade de reunir um conjunto de questões importantes ainda no começo

de um novo governo.

• Discutir a pauta de governo junto aos cidadãos.

• Promover a transparência no processo eleitoral e na posse do novo governo,

mantendo o compromisso e zelo pela transparência e participação.

• Aumentar a qualidade e autenticidade das propostas políticas.

• Aproximar governo e cidadãos e ouvir as questões cotidianas da comunidade.

Riscos

• Baixa participação

• Domínio do espaço de discussão por grupos influentes

• Direcionamento e manipulação das discussões

• Rejeição por parte do governo em exercício

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129

Serviço

Evolution of Security

URL

http://www.tsa.gov/blog

País

Estados Unidos

Entidade gestora

Transportation Security Administration (EUA)

Público-alvo

Cidadãos norte-americanos

Abrangência

Informações sobre segurança nos transportes.

Objetivos

Facilitar um diálogo permanente sobre inovações em segurança, tecnologia, processos

de rastreio e anti-terror nos transportes públicos em conjunto com a sociedade.

Ferramentas e recursos

• Blog

• Sistema de comentários

Período de atividade

Início em janeiro de 2008.

Intensidade de uso

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• Em 11 meses:

• Mais de 200 artigos

• Mais de 10.000 comentários

• 845 assinantes do feed via RSS

Descrição

O blog foi implementado com o objetivo de acompanhar a evolução tecnológica dos

terroristas com a participação da sociedade. A agência de transporte baseia-se na idéia

de que o terrorismo evolui, as ameaças evoluem, e que a maneira de estar sempre à

frente é através da colaboração.

Os artigos são escritos apresentando novas idéias, que são imediatamente discutidas

com os cidadãos.

Comentários

A complexidade, diversidade e alta capacidade de evolução das técnicas utilizadas por

terroristas se apresentaram como um grande problema a ser resolvido pelo governo

norte-americano. A colaboração e troca de informações junto aos cidadãos aumenta a

capacidade inovadora e a diversidade de leituras de situações típicas do sistema de

transportes.

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Figura 12. Evolution os Security: Política de comentários

O blog possui política clara de participação e sofre moderação, para que abusos sejam

evitados. Além disso os administradores recomendam o anonimato para que os

participantes não se coloquem em situação de risco e possam contribuir de forma mais

aberta. A identidade dos participantes de comunidades online é necessária em muitos

contextos para aumentar a confiança, mas como este caso envolve riscos à vida dos

membros, torna-se uma exceção. O anonimato pode ser fundamental para a riqueza de

detalhes e sinceridade nas opiniões e informações compartilhadas em grupo.

O governo norte-americano possui muitas iniciativas de blogs, e a questão da segurança

está entre as que recebem maior participação.

Benefícios

• Aumentar a participação social

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• Aumentar a diversidade de leituras de uma mesma situação

• Receber informações valiosas sobre comportamentos suspeitos de estarem

associados ao terrorismo.

• Aprender sobre novas técnicas com a colaboração dos cidadãos.

Riscos

• Baixa participação

• Comentários de baixa qualidade, tendenciosos ou que levem ao racismo ou

preconceitos.

• Dificuldade de moderação de assuntos tão polêmicos e estratégicos quanto à

segurança pública contra o terrorismo.

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Serviço

E-petitions

URL

http://petitions.number10.gov.uk

País

Reino Unido

Entidade gestora

Primeiro Ministro do Reino Unido

Público-alvo

Cidadãos e grupos sociais do Reino Unido.

Abrangência

Temas de interesse dos cidadãos do Reino Unido.

Objetivos

Aproximar Primeiro Ministro e cidadãos, aumentando a participação social.

Aumentar a capacidade de receber e analisar petições, além de estimular a conversação

entre os cidadãos.

Ferramentas e recursos

Formulário de envio das petições e sistema de votação.

Período de atividade

Início em novembro de 2006.

Intensidade de uso

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Dados de março de 2008, menos de 2 anos de uso:

• 29.000 petições submetidas.

• 14.601 assinaturas foram rejeitadas (o principal motivo é a duplicidade)

• 8.000 petições ativas.

• 6.000 petições finalizadas.

• 5.800.000 de assinaturas, sendo que 3.900.000 pessoas diferentes.

Descrição

O serviço foi criado com o objetivo de oferecer novos canais para que os cidadãos do

Reino Unido pudessem encaminhar petições. Antes os meios mais comuns eram o

correio tradicional e a entrega pessoal do edifício do gabinete do Primeiro Ministro.

A idéia da criação do serviço online surgiu para ampliar a capacidade de recebimento

das petições, aumentar a participação social e promover a transparência no processo de

análise das petições.

Comentários

O serviço e-Petitions foi criado para solucionar um problema real vivido tanto pelos

cidadãos do Reino Unido, quanto do governo do Reino Unido, que utilizavam um meio

limitado de tratar questões coletivas, tal como as petições.

Antes do serviço online, as petições deveriam ser criadas pelos cidadãos, que ainda

deveriam reunir um número significativo de assinaturas antes de submetê-lo ao

gabinete do Primeiro Ministro. Com isso, ocorriam inúmeros casos de petições

redundantes, e cidadãos que reivindicavam a mesma causa não tinham visibilidade um

do outro. Além disso não havia transparência no processo de análise e avaliação das

petições, o diálogo era dificultado pela falta de canais de comunicação.

Após o lançamento do serviço usuários que enviam petições sobre o mesmo tema são

orientados a se reunirem. Tipicamente o governo dá prioridade às petições mais

antigas, e as demais semelhantes são rejeitadas.

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O portal permite tanto a criação de novas petições, quanto a consulta às petições

criadas por outros cidadãos. Todas as petições aceitas, rejeitadas e ativas estão

disponíveis para consulta por parte de qualquer usuário com acesso à Internet. Apenas

os cidadãos do Reino Unido têm acesso à área de assinaturas.

Existe uma política bastante transparente quanto ao julgamento das petições com

critérios sobre falsidade, relevância, duplicidade entre muitos outros casos.

A idéia do serviço veio de uma parceria com a organização não-governamental

mySociety69, que implementou o sistema que roda por trás do portal, e o disponibilizou

em código livre70, para que outras pessoas ou governos possam utilizar a mesma idéia

em seus processos.

Benefícios

• Aumentar a capacidade de receber e processar petições

• Aproximar cidadãos com interesses comuns

• Promover a participação social

• Promover a transparência na avaliação das petições encaminhadas

• Facilitar o recolhimento de assinaturas

Riscos

• Baixa participação

• Gerenciar a duplicidade

• Garantir a transparência no processo de avaliação das petições

• Garantir eficiência na solução dos problemas encaminhados

69 Disponível em: < http://mysociety.org > 70 Código-fonte disponível em: < https://secure.mysociety.org/cvstrac/dir?d=mysociety/pet>

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Serviço

Show Us a Better Way

URL

http://www.showusabetterway.co.uk/call/ideas/index.html

País

Reino Unido

Entidade gestora

Governo do Reino Unido

Observação: Em parceria com o grupo do site Power of Information Taskforce.

Público-alvo

Cidadãos do Reino Unido e usuários da Internet

Abrangência

Idéias para utilização dos dados públicos do governo do Reino Unido.

Objetivos

Organizar um concurso de idéias sobre a criação de serviços e mashups com as bases de

dados públicas disponibilizadas pelo governo.

Ferramentas e recursos

• Submissão de idéias, no estilo de um blog.

• Sistema de comentários.

Período de atividade

De junho a novembro de 2008.

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Intensidade de uso

100 idéias recolhidas aproximadamente.

Descrição

O governo produz massas de informação sobre diversas áreas como saúde, educação e

criminalidade. Partindo deste cenário existem inúmeras bases de dados públicas que

estão sendo liberadas para uso com aplicações combinadas, dando a possibilidade de

surgir novos serviços com a ajuda da sociedade.

Para estimular a participação social na busca por idéias da utilização destes dados

públicos o governo, em parceria com o sítio Power of Information Taskforce, criou um

concurso para reunir um conjunto de idéias relevantes que possam compor sua agenda

de desenvolvimento. Diversas iniciativas projetadas por entidades privadas e não-

governamentais deram inspiração ao governo, que pretender estimular a criatividade e

inovação e melhorar a oferta de serviços de informação.

Comentários

A idéia central do concurso é reunir um conjunto de idéias para a criação de serviços

governamentais a partir dos dados públicos. Para facilitar a indicação de idéias algumas

bases de dados foram citadas como mostra a tela abaixo:

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138

Figura 13. Show Us a Better Way: Quais dados públicos estão disponíveis?

Entre as bases de dados estão:

• Censo sobre diversos temas como educação, saúde, trabalho etc.

• Informação sobre transporte.

• Informações do National Health Service (NHS).

• Informações do London Gazette (Jornal oficial do governo britânico)

• Informações da base de endereços Royal Mail

• Lista de escolas

• Mapas da agência Ordnance Survey

• Informações sobre a emissão de carbono

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• Gastos públicos

O concurso está dividido em três serviços. Os cidadãos podem submeter uma nova

idéia, e também analisar e discutir as idéias submetidas por outros usuários.

Figura 14. Show Us a Better Way: Formulário de submissão

O formulário é bastante simples, e solicita informações pessoais a fim de garantir que a

idéia seja associada a cada autor, e que não possa ser apropriada por outras pessoas ou

por agências do governo.

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Figura 15. Show Us a Better Way

As idéias submetidas estiveram abertas para avaliação por outros usuários. Ao final

foram escolhidas 14 idéias que serão estudadas e implementadas em parcerias entre o

governo e empresas.

A iniciativa é uma referência para outros concursos e bancos de idéias semelhantes, que

parte do princípio que de grandes idéias podem surgir da sociedade, se os fatores ideais

são satisfeitos, como abertura e transparência. Além disso, o conjunto de idéias reunidas

oferece um potencial criativo para que governos e voluntários de outros países também

possam usufruir.

Benefícios

• Reunir um rico conjunto de idéias a partir das diferentes perspectivas e

necessidades de cada cidadão.

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• Estimular a criatividade entre os cidadãos.

• Desenvolver projetos que já tenham demanda e receptividade garantida.

• Utilizar a estrutura e colaboração externa para resolver problemas do governo e

dos cidadãos.

Riscos

• Baixa participação.

• Baixa qualidade das idéias submetidas.

• Tentativas de proteção intelectual das idéias concedidas.

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Serviço

Police Act Review

URL

http://www.policeact.govt.nz

País

Nova Zelândia

Entidade gestora

Governo da Nova Zelândia

Público-alvo

Cidadãos da Nova Zelândia

Abrangência

Legislação da polícia da Nova Zelândia.

Objetivos

Rever em conjunto com a sociedade a legislação da polícia da Nova Zelândia.

Ferramentas e recursos

Wiki

Período de atividade

O projeto de revisão da legislação foi de março de 2006 a setembro de 2008, porém o

ambiente wiki que tornou possível a elaboração conjunta e direta com os cidadãos teve

início em 2007.

Intensidade de uso

Não disponível.

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Descrição

O projeto teve como objetivo principal rever a legislação da polícia da Nova Zelândia,

que datava de 1958. Naquela época a estrutura do governo era completamente diferente,

bem como os desafios, técnicas e ferramentas disponíveis. A intenção desta revisão é

desenvolver uma nova polícia.

A participação social no projeto foi dividida em três fases: na primeira fase foram

disponibilizados uma série de documentos com as questões básicas que seriam

discutidas, o que gerou um documento único e consolidado após as discussões e

respostas encaminhadas pela sociedade. Este documento foi encaminhado ao

Parlamento, que gerou uma versão preliminar para ser novamente discutida, desta vez

utilizando a plataforma wiki como ferramenta. Nesta fase também foi promovida um

concurso entre colégios e universidades com o objetivo de aproximar os jovens desta

questão e da consciência política de uma maneira geral. A terceira etapa é a

disponibilização do projeto de lei resultante deste processo participativo.

Comentários

O governo da Nova Zelândia foi pioneiro ao implementar uma plataforma altamente

colaborativa como wiki para a revisão de uma lei de segurança. Os cidadãos da Nova

Zelândia tiveram a oportunidade de não somente revisar as idéias empregadas na

legislação como redigir as palavras que consideravam mais adequadas a cada parágrafo.

A plataforma wiki permite que determinada idéia seja discutida em comunidade até que

se chegue a uma versão final. Todo o histórico de discussões fica mantido, o que facilita

o nivelamento entre usuários mais novos e mais antigos, e garante maior legitimidade

ao texto final, uma vez que tenha sido debatido de forma transparente e coletiva.

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Figura 16. Police Act Review

O principal diferencial do projeto foi justamente implementar um mecanismo de

participação onde os cidadãos pudessem literalmente redigir a lei, e não apenas emitir

sua opinião.

Um dos maiores benefícios da plataforma wiki foi poder contar com a participação de

especialistas espalhados pelo mundo, de forma colaborativa. É uma nova fronteira para

a democracia e uma nova forma de participação social.

Benefícios

• Aumentar a rede de especialistas consultados para uma finalidade tão específica.

• Ampliar a consciência política entre os cidadãos.

• Fortalecer as relações democráticas através da transparência e participação

direta.

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• Evitar resistência à nova legislação devido a legitimidade coletiva com que foi

elaborada.

Riscos

• Baixa participação.

• Tentativas de manipulação por grupos interessados.

• Difícil moderação e manutenção de uma ordem mínima nas discussões.

• Baixa qualidade nas contribuições.

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Serviço

Safe As

URL

http://www.safeas.govt.nz

País

Nova Zelândia

Entidade gestora

Ministério dos Transportes

Público-alvo

Cidadãos da Nova Zelândia

Abrangência

Política pública para os transportes

Objetivos

Discutir os pontos mais importantes da política de transporte nacional, como parte do

programa Government’s Road Safety to 2010 strategy.

Ferramentas e recursos

• Fórum de discussão

• Sistema de comentários

Período de atividade

2006 e 2007

Intensidade de uso

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• 295 Usuários cadastrados

• 625 Tópicos

• 3346 comentários

Descrição

O programa idealizado pelo National Road Safety Committee (NRSC) prevê diversas

etapas até a elaboração da política nacional de transporte em 2010. Inicialmente foram

realizados 15 workshops presenciais em todo o país com o objetivo de lançar questões e

engajar cidadãos e alguns segmentos importantes para a revisão da política de

transportes. Em seguida foi disponibilizado um fórum, livre à qualquer usuário da web,

com o objetivo de reunir informações e opiniões sobre aspectos importantes como

segurança e meio ambiente relacionado aos transportes. O fórum serviu como

ferramenta de apoio a elaboração da estratégia, fornecendo insumos para a discussão,

estimulando a troca de experiências e opiniões, e reunindo cidadãos e especialistas a

cerca dos problemas no transporte nacional.

Entre os objetivos do programa estão promover o engajamento dos cidadãos na temática

dos transportes e também apresentar-se como uma maneira democrática de fornecer

educação sobre os transportes. Os temas discutidos vão desde a segurança no trânsito e

nas estradas, até a emissão de gases e demais preocupações ambientais.

Comentários

O fórum esteve disponível por um pouco mais de 12 meses. Inicialmente os tópicos

foram lançados por moderadores com questões como os jovens motoristas, álcool na

direção, entre outros.

O fórum foi organizado em duas grandes categorias: temas e cidades onde foram

realizados os workshops.

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Figura 17. Fórum Safe As!

A participação social neste programa foi estimulada pela via indireta, ou seja, os

cidadãos tiveram acesso aos documentos base da política de transporte, e podiam

contribuir com suas opiniões e informações. Por outro lado os usuários não podiam

editar diretamente o texto do documento final, pois esta seria uma atribuição do comitê

responsável.

Ambientes como este, são boas plataformas para agregar informações e opiniões a cerca

de um tema não propriamente fechado. As discussões têm tipicamente um horizonte,

mas não se resumem a pergunta inicial, deixando a conversa tomar a forma da

comunidade.

O Safe As! acompanha uma tendência do Governo da Nova Zelândia em explorar o

ambiente online para a promoção da participação social na revisão de suas políticas.

Benefícios

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• Ampliar a rede de contribuição para uma nova política.

• Ter acesso a situações reais que envolvem o transporte.

Riscos

• Baixa participação.

• Baixa qualidade dos comentários realizados pelos cidadãos.

• Dificuldade em moderar e orientar os temas das discussões.

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Serviço

Sustainability

URL

http://www.sustainability.govt.nz

País

Nova Zelândia

Entidade gestora

Ministério do Meio Ambiente

Público-alvo

Cidadãos neozelandeses

Abrangência

Práticas de sustentabilidade ambiental.

Objetivos

Promover a consciência dos cidadãos da Nova Zelândia quanto à importância e melhores práticas de sustentabilidade ambiental para o dia-a-dia.

Ferramentas e recursos

Fórum de discussão.

Período de atividade

No ar desde dezembro de 2007.

Intensidade de uso

• 70 tópicos. • 200 comentários aproximadamente.

Descrição

A crescente preocupação dos governos com a questão da sustentabilidade, fez com que

o Governo da Nova Zelândia, mais precisamente por seu Ministério para o Meio

Ambiente, levasse adiante a iniciativa de criar um serviço de informações voltado aos

cidadãos. O portal Sustainability oferece uma série de informações sobre reciclagem,

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água, energia, construção, transporte e mudança climática.

Com o objetivo de dar evidências às práticas de sustentabilidade conhecidas pelos

próprios cidadãos e possibilitar a troca de experiências entre eles o portal possui um

fórum de discussão. Os usuários cadastrados são livres para postar novos tópicos e

discutir tópicos abertos com mensagens sobre como reutilizar o óleo velho, ou como

aproveitar as cascas das frutas, entre muitas outras práticas ecológicas e saudáveis.

Comentários

O portal é dedicado aos cidadãos que desejam obter informações sobre sustentabilidade

e, principalmente, para aqueles que desejam mudar suas práticas cotidianas a fim de

conseguir levar uma vida mais consciente e saudável, para si, sua família e sua

comunidade.

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Figura 18. Sustainability

Entre os serviços está uma seção de notícias, que destacam outras ações de governo

como disponibilização de cartilhas e novos portais para o meio ambiente.

As áreas temáticas se dividem em Lixo, Água, Energia, Construção, Transporte e

Mudança Climática. Em cada um destes temas encontram-se informações sobre

pesquisas e estudos de caso que apontam soluções para problemas comuns à sociedade.

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Figura 19. Sustainability: Fórum de discussão

O ponto de interação do portal é o fórum de discussão, que pode gerar conversas e

trocas de experiências sobre práticas que alguns já experimentaram.

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Figura 20. Sustainability: Discussão em detalhe

O diálogo permite que os usuários defendam e critiquem as experiências e dicas uns dos

outros. Como exemplo, o caso de um cidadão que sugeriu que o óleo velho utilizado em

máquinas, fosse reaproveitado como lubrificante para ferramentas de jardinagem, que

tendem a oxidar por conta da areia e umidade. Entretanto, outro usuário lembrou que

óleo utilizado em máquinas pode ser ácido, ou conter outros metais e venenos que

podem prejudicar a saúde, a terra ou a água dos jardins. Como sugestão ele indicou

refinarias que reciclam óleo com maior segurança.

Essa troca de conhecimento é a razão pela qual governos têm investido em ambientes

colaborativos. A conversação é capaz de gerar inovação e melhorar o cotidiano dos

cidadãos a partir de práticas simples, antes mitificadas ou desconhecidas.

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Benefícios

• Aumentar a consciência de cada cidadão

• Promover a participação social na questão da sustentabilidade

• Trocar experiências e dicas sustentáveis com outros cidadãos

• Gerar conhecimento coletivo que pode ser reutilizado em outros serviços e

ambientes

Riscos

• Baixa participação

• Contribuições de baixa qualidade

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Serviço

Future Melbourne

URL

http://www.futuremelbourne.com.au/wiki/view/FMPlan

País

Austrália

Entidade gestora

Governo da Austrália

Público-alvo

Cidadãos da cidade de Melbourne (Austrália)

Abrangência

Políticas públicas para o desenvolvimento da cidade de Melbourne até o horizonte

2020.

Objetivos

Elaboração da visão estratégica no horizonte 2010 – 2020 da cidade de Melbourne junto

aos cidadãos.

Ferramentas e recursos

Wiki

Período de atividade

17 de maio à 14 de junho de 2008.

Intensidade de uso

• 30.000 visitas

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• 6.500 pessoas

• 200 contribuições

Descrição

O plano de elaboração da visão estratégica da cidade de Melbourne vem em resposta a

um rápido crescimento da cidade na última década. O crescimento não-planejado

provoca riscos de desordem em diversas áreas sob gestão pública como transporte,

segurança, saúde, educação. Os riscos sobre impactos sociais significativos apresentou-

se grande o suficiente para que as autoridades públicas estabelecem metas de

crescimento a médio e longo prazo.

O plano está baseado no desenvolvimento das comunidades que se organizam

naturalmente pela cidade, e tem como prioridades:

• Envolver os cidadãos para uma visão de futuro.

• Estimular e fazer uso das redes locais.

• Foco sobre as pessoas e lugares sob uma abordagem orientada a serviços.

• Integração das estratégias top-down e bottom-up para fazer com que os

processos políticos influenciem o desenvolvimento urbano.

O projeto de Melbourne está orientado aos seguintes valores:

• Uma cidade para a saúde e para o bem estar

• Uma cidade para todos

• Uma cidade diversa, multicultural e de harmonia

• Uma cidade inteligente e criativa

• Uma cidade seguro e democrática

• Uma cidade verde

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• Uma cidade próspera

Estes valores são traduzidos em seis metas definidas por categorias, quais sejam:

• Pessoas

• Criatividade

• Prosperidade

• Conhecimento

• Ecologia

• Conectividade

A governança do projeto é exercida pelo governo australiano com apoio dos governos

locais, empresas e universidades. Além da participação social, que é o principal agente

de condução do projeto.

Comentários

O projeto Future Melbourne foi planejado com uma visão bastante distinta entre

consulta pública e participação social. Um dos estudos estruturais recebeu o título

“From consultation to participation”, no qual os idealizadores explicam a diferença

entre ser consultado e efetivamente implementar um plano de forma colaborativa.

Neste mesmo documento são apontadas as razões pela escolha da plataforma wiki,

sendo que a colaboração e edição de textos por um número significativo de pessoas foi

destacado como o principal referencial.

A principal vantagem da plataforma wiki para o projeto foi a capacidade de habilitar a

colaboração em massa, tornando possível que milhares de cidadãos se tornassem

editores, sem necessitar de uma forte estrutura de governança e controle. A plataforma

wiki facilita o trabalho dos administradores, pois permite que a comunidade discuta e

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159

encontrem o consenso.

Entre os recursos está o histórico de revisões, nativo de qualquer plataforma wiki, como

aponta o exemplo abaixo:

Figura 21. Future Melbourne: revisões de um texto no wiki

Este recurso garante a qualquer usuário ou ao administrador comparar as alterações

realizadas ao longo da vida de um documento, e permite restaurar qualquer estado

anterior do texto.

Todo o projeto foi divido em visões pelas categorias, das metas (pessoas, criatividade,

prosperidade, conhecimento, ecologia, conectividade), sendo que em cada visão existem

subtemas específicos que foram discutidos, como por exemplo a qualidade dos locais

públicos, ou a disponibilidade de conteúdo e serviços online. Para cada subtema foi

elaborado um quadro com metas, indicadores e resultados esperados.

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Figura 22. Future Melbourne: Quadro de metas, indicadores e resultados esperados.

Os cidadãos tiveram a oportunidade de opinar sobre cada ponto, tendo não apenas uma

visão crítica pontual, mas sim uma visão estratégica, podendo fornecer suas idéias de

como atingir resultados melhores.

Este tipo de iniciativa tira o cidadão da postura passiva de agente de consumo dos

serviços públicos para o conceito mais amplo do termo cidadania, onde cada indivíduo

faz parte das diversas funções existentes em uma comunidade, inclusive as políticas e

estratégicas.

Benefícios

• Possibilidade de se conhecer múltiplos contextos.

• Aumentar a consciência política e cívica dos participantes.

• Dar evidência aos reais problemas da cidade, e deixar que a própria população

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ajude a encontrar as soluções.

• Conduzir o cidadão para uma visão estratégica sobre os problemas que afetam

seu cotidiano.

• Garantir a legitimidade e receptividade do plano, uma vez que tenha sido

elaborado com a participação direta dos cidadãos.

Riscos

• Baixa participação.

• Influência de grupos de interesse.

• Dificuldade em elevar o cidadão comum a uma condição de agente estratégico.

• Dificuldade de administrar a diversidade de opiniões e contribuições.

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Serviço

Australian Youth Forum

URL

http://www.youth.gov.au/ayf

País

Austrália

Entidade gestora

Ministério da Juventude

Público-alvo

Jovens cidadãos australianos com idade entre 15 e 24 anos.

Abrangência

Políticas públicas de longo prazo que poderão impactar na vida dos jovens no futuro.

Objetivos

Estimular o engajamento dos mais jovens nas questões políticas que irão influenciar no

seu futuro.

Ferramentas e recursos

• Formulário de envio de idéias.

• Fórum de discussão.

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• Sistema de votação.

Período de atividade

Início em março de 2008.

Intensidade de uso

Em dois tópicos já fechados foram encaminhadas: • 113 idéias • 400 votos aproximadamente

No momento desta análise haviam 3 tópicos abertos que reuniam 9 idéias sugeridas

pelos jovens participantes e 53 votos sobre estas idéias.

Descrição

O ambiente foi idealizado e promovido pela Ministra da Juventude, que defende a idéia

de que com o passar do tempo as gerações mudam a forma como interpretam e se

relacionam com as questões políticas.

As questões que hoje estão na pauta dos mais jovens envolvem problemas críticos como

o álcool, droga, e a mudança climática. São temas que irão impactar na vida dos jovens

a médio prazo, e por isso estes devem também estar no centro das discussões.

Além disso, os mais jovens têm familiaridade com as novas mídias que potencializam a

interação entre grupos e a conversação. Este ambiente deve ser aproveitado para

incentivar também a consciência política dos jovens.

O projeto visa capacitar os jovens e estabelecer um diálogo para buscar em parceria

soluções de longo prazo para os problemas que os afetarão.

O Australian Youth Forum é um ambiente de diálogo entre os jovens australianos e

entre eles próprios, e obedece a dois objetivos principais:

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O envolvimento generalizado da juventude em todo o país.

Compromisso significativo e permanente com a juventude, os indivíduos e organizações

que trabalham com e para os jovens.

Comentários

O ambiente foi estruturado em um processo de consulta pública em que participaram

mais de 1.000 jovens representantes, que ajudaram a identificar e compor a estrutura de

participação e ferramentas para fomentar o diálogo com o governo e entre si.

Como resultado, o portal possui uma estrutura simples, baseado em um fórum de

discussão. Os temas são idealizados pelos gestores do portal, ou sugeridos pelos jovens

usuários.

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Figura 23. Australian Youth Fórum: Serviços do portal

Entre os serviços disponíveis estão uma seção de notícias e o fórum. Os jovens usuários

podem submeter uma idéia ligada ao tema principal, como “Imagem do Corpo”. As

idéias passam por uma moderação, e quando aprovadas ficam abertas à votação até o

encerramento daquele fórum, com duração entre 60 e 90 dias.

Os próximos temas a serem discutidos em fórum também podem ser sugeridos pelos

usuários, assim como a indicação do fórum para amigos por email.

Figura 24. Australian Youth Fórum: Temas em discussão

Até o momento desta análise já haviam sido concluídos dois fóruns sobre os temas

“Intimidade” e “Imagem do Corpo”. Estavam abertos os fóruns para debater os temas

“Contribuição para nossa Democracia”, “Direitos Humanos” e “Violência e

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Segurança”.

Junto aos temas são disponibilizados documentos para dar o tom e provocar a conversa

entre os jovens.

Figura 25. Australian Youth Forum: Youth Engagement Steering Committee

O projeto conta ainda com um comitê composto por 11 jovens, e organizado a cada 2

anos, responsável pela pauta de discussões, análise das idéias, sugestões e representação

extra-oficial do serviço.

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Figura 26. Australian Youth Fórum: Fluxo do processo

O fórum está baseado em um mecanismo de feedback que permita que ações e idéias

circulem a partir de iniciativas do Ministério da Juventude, mas que as discussões

possam realimentar o processo. O fórum está baseado em um grau de autonomia, a

partir da criação do comitê que se relaciona com outras entidades representantes dos

jovens para estabelecer planos e idéias que encorajem os jovens nos debates políticos.

Benefícios

• Promover o engajamento dos jovens nas questões políticas

• Realizar planejamentos de longo prazo com os jovens

• Aumentar a consciência política sobre as questões que afetarão cada vez mais os

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jovens durante a sua vida.

• Conhecer as reais vontades e valores dos jovens.

• Aproveitar a plataforma em que os jovens já se relacionam atualmente.

Riscos

• Baixa participação e pouco interesse em questões políticas.

• Pouco conhecimento sobre as questões políticas.

• Dificuldade em definir políticas de moderação e participação.

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3.2 Serviços de Organizações Não-Governamentais

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Serviço

Patient Opinion

URL

http://www.patientopinion.org.uk

País

Reino Unido

Entidade gestora

Entidade não-governamental.

Não está diretamente ligado ao governo ou a qualquer entidade do National Health

Service (NHS).

Público-alvo

Cidadãos usuários e agentes provedores de serviços do NHS.

Abrangência

Hospitais e funcionários do sistema de saúde do Reino Unido.

Objetivos

Estabelecer o diálogo entre pacientes e provedores de serviços do NHS, e favorecer a

troca de experiências entre aqueles cidadãos que dependem do serviço de saúde do

Reino Unido.

Outro objetivo é provocar mudanças na qualidade dos serviços do NHS por meio da

transparência, do diálogo e da reivindicação popular.

Ferramentas e recursos

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Sistema de comentários.

Sistema de votação dos serviços do NHS utilizados, desde atendimento nos hospitais até

competência médica.

O formato utilizado se assemelha ao do blog, apresentando relatos associados a nomes

de usuários, e com a conversa habilitada.

Período de atividade

Início em 2006.

Intensidade de uso

Aproximadamente 10.000 opiniões cadastradas entre críticas, reclamações, sugestões e

elogios.

Descrição

O serviço foi idealizado para permitir a troca de experiências, sejam positivas ou

negativas, entre os pacientes, e dar visibilidade aos cidadãos e gestores do serviço

nacional de saúdo do Reino Unido.

O diferencial está na transparência do feedback que cada usuário da comunidade está

habilitado a dar. Desta forma usuários podem fornecer ajuda mútua a partir de

problemas comuns, ou fazer eco junto às autoridades responsáveis pelo serviço médico

criticado.

A plataforma do Patient Opinion permite que relatos sejam cadastrados e comentários

sejam realizados por outros usuários. Como não se trata de um serviço do governo, a

resposta oficial do órgão em evidência não é obrigatória, mas aparece em destaque caso

ocorra.

Comentários

O Patient Opinion é um exemplo de serviço organizado para melhorar a experiência

entre os usuários dos serviços médicos, bem como prover os órgãos do NHS de diálogo

e transparência com os cidadãos.

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Figura 27. Relatos do Patient Opinion

O que pode ser feito?

• Conte o que aconteceu

• Veja o que outras pessoas estão dizendo

• Descubra como outros pacientes estão mudando a NHS

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Figura 28. Patient Opinion: Compartilhe a sua história

Quem pode compartilhar experiências?

• Um paciente

• Um usuário de serviço

• Um atendente

• Um parente

• Um amigo

• Outros

Que tipo de história pode ser compartilhada?

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• Reclamação

• Avaliação

• Acontecimento

• Sugestão

• Agradecimento

• Dica

Figura 29. Patient Opinion: Detalhe de uma história

A história em destaque é um agradecimento feito por um paciente do hospital Barnsley

District General Hospital “Minha gratidão ao corpo de médicos e enfermeiras”. No caso

do Patient Opinion, aproximadamente metade das histórias são sobre avaliações

positivas.

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Nesta tela é possível ver mais informações sobre o hospital, ler comentários de outros

pacientes ou a resposta do hospital, quando houver.

Figura 30. Patient Opinion: Comparação entre hospitais

O serviço Patient Opinion ainda permite que os pacientes dêem nota aos serviços do

hospital, o que possibilita uma classificação. Os serviços sob votação são:

• Padrão de cuidados médicos

• Padrão de enfermagem

• Limpeza

• Estacionamento

• Tratamento com respeito e dignidade

• Informações e tomadas de decisão apropriadas

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• Pontualidade do serviço

Esta pontuação permite que usuários façam pesquisa por hospitais por região, na qual o

resultado da busca é apresentado como um quadro comparativo entre as pontuações

recebidas por cada hospital. Desta forma o paciente pode optar qual hospital deseja ser

atendido, com base na sua avaliação coletiva feita por outros usuários.

Embora os gestores do serviço defendam que o fato de não estar diretamente vinculado

a nenhum órgão do governo lhes garante maior neutralidade – o que é possível -,

governos podem promover espaços como estes a fim de incentivarem a participação

social em seus processos, apresentando transparência e abertura ao diálogo.

A visibilidade dos problemas endereçados ao NHS funciona como um instrumento de

melhoria que pode ser aproveitado tanto pelos pacientes, quanto pelas autoridades, que

passam a ter a oportunidade de oferecer soluções para os problemas reais dos cidadãos.

Benefícios

• Troca de experiência e ajuda mútua entre pacientes do NHS.

• Permitir dar visibilidade às críticas e sugestões ao NHS.

• Capacidade de resposta aos problemas ocorridos nos órgãos do NHS.

• Ter acesso a problemas reais dos pacientes.

• Evidenciar o que funciona e o que não funciona no NHS.

• Oportunidade de melhorar continuamente o serviço através da participação

social e colaboração.

Riscos

• Pouca participação.

• Informações muito parciais e pouco construtivas.

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• Falta de diálogo com os órgãos competentes do NHS.

• Aumento da sensação de descaso das autoridades.

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Serviço

Fix My Street

URL

http://fixmystreet.com

País

Reino Unido

Entidade gestora

Ministério da Justiça

Público-alvo

Cidadãos do Reino Unido

Abrangência

Reportar problemas da locais.

Objetivos

Evidenciar e discutir os problemas locais (dos bairros), levando-os às autoridades

competentes, ou encaminhando uma solução pela própria comunidade.

Ferramentas e recursos

• Blog

• Mashup com mapas

• RSS

Período de atividade

Início no primeiro semestre de 2008.

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Intensidade de uso

• 833 relatos na última semana.

• 842 problemas resolvidos e reportados no último mês.

• 28.316 registros entre relatos e soluções de problemas.

Nota: Análise realizada em 28 de janeiro de 2009.

Descrição

O serviço Fix My Street foi idealizado com o objetivo de evidenciar, discutir e

solucionar problemas locais, das ruas e bairros próximos aos locais ligados aos

cidadãos.

Pelo portal é possível enviar relatos, pesquisar relatos próximos a qualquer endereço

indicado, receber alertas sobre relatos nos locais de interesse, cobrar ações corretivas

das autoridades, e discutir problemas junto à comunidade.

O portal foi desenvolvido pela organização não governamental mySociety, que foi

criada com o objetivo de implementar soluções baseadas em open government,

envolvendo atitude amplamente democrática e tecnologia, sustentada a partir de

trabalho voluntário e doações.

Comentários

O portal foi criado com objetivos simples como dar evidência aos problemas da

comunidade de forma a que as autoridades sejam cobradas. Um segundo objetivo é dar

voz coletiva e instrumentos para que a sociedade atue de forma mais presente junto a

seus representantes, exercendo pressão nos pontos que considera decididamente

relevantes e evitando distorções entre suas vontades e as ações de política local. Em

alguns casos a própria comunidade pode dar solução a problemas como paredes

pichadas.

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Figura 31. Fix My Street

O serviço é baseado em um mashup desenvolvido com a combinação com um

aplicativo de mapas licenciado para uso livre pela Ordnance Survey, agência de

mapeamento do Reino Unido.

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Figura 32. Fix My Street: visualização de um local

A partir de um endereço, código postal, rua ou alguma referência, são apresentados os

relatos mais próximos. Os problemas que já foram resolvido aparece com esta

informação. É possível navegar pelo mapa e encontrar problemas relatados próximos a

qualquer região selecionada.

O cidadão pode assinar a fonte RSS do local e passar a receber todos os relatos

cadastrados daquele período em diante, de forma que possa se manter atualizado sobre

os problemas na sua região, e com isso possa intervir junto a outros moradores e o

governo local.

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Figura 33. Fix My Street: relate um problema

Para reportar um problema basta fornecer referências sobre o local e apontar com

precisão no mapa. A partir daí é preciso informar a categoria do problema, o assunto e

uma descrição. É possível enviar fotos como evidência. O nome e email são solicitados,

mas é possível torná-los ocultos a outros usuários na visualização do relato.

Entre as categorias estão:

• Veículos abandonados;

• Paradas de ônibus

• Estacionamento

• Pichações

• Calçadas

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• Parques e paisagens

• Buracos

• Banheiros públicos

• Sinais e placas de trânsito

• Ruas, avenidas e auto-estradas

• Lixo

• Iluminação das ruas

• Árvores

• Outros

Ao receber os problemas, uma equipe que gerencia os novos registros, analisa e

encaminha as questões para as autoridades locais referentes, para que possam agir sobre

o problema, tal como fariam normalmente. As soluções tanto podem ser informadas

pelas autoridades quanto pelos próprios usuários.

Benefícios

• Permitir dar visibilidade aos problemas locais da comunidade

• Capacidade de resposta aos problemas ocorridos nas autoridades competentes

• Evidenciar a agilidade ou lentidão na solução de problemas

• Oportunidade de melhorar continuamente as ruas através da participação social e

colaboração.

Riscos

• Pouca participação

• Pouca objetividade nos relatos

• Falta de diálogo com os órgãos competentes

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• Aumento da sensação de descaso das autoridades

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Serviço

My Bike Line

URL

http://www.mybikelane.com

País

Global

Entidade gestora

Pessoa física.

Público-alvo

Ciclistas.

Abrangência

O serviço contempla diversas cidades espalhadas pelo mundo com ciclovias pelas ruas.

Objetivos

Denunciar violações em ciclovias de diversas cidades, em sua maioria, cometidas por

motoristas de carros estacionados em locais reservados aos ciclistas.

Ferramentas e recursos

• Blog

• Fórum de discussão

Período de atividade

O serviço teve início em agosto de 2006, contemplando a cidade de Nova Iorque.

Intensidade de uso

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• 6.000 denúncias

• 1.700 membros

Descrição

O serviço foi idealizado e criado por uma única pessoa, que percebeu que poderia

resolver um problema que afetava sua rotina caso se unisse a demais ciclistas. Greg,

como o autor se intitula sem dar maiores detalhes, criou o serviço e passou a registrar as

violações causadas por motoristas nas vias reservadas aos ciclistas, com fotografia e

placa do veículo.

A política do portal prevê que:

• Os ciclistas constantemente são vítimas das violações de motoristas irregulares

• Os veículos estacionados ilegalmente tornam o passeio do ciclista mais

perigoso.

• Os ciclistas têm câmeras ou celulares.

• Usando o poder da comunidade, espera-se que possamos fazer o problema mais

evidente e chegar às autoridades para que possam agir sobre isso.

Comentários

Os carros estacionados sobre as ciclovias causam transtornos aos ciclistas que ficam

impossibilitados de seguir a via destinada ao seu passeio, de forma a garantir a sua

segurança e a de pedestres.

O portal permite que qualquer cidadão registre e divulgue as violações cometidas por

motoristas estacionados irregularmente sobre ciclovia.

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Figura 34. My Bike Lane: Registro de violação

As denúncias são disponibilizadas com fotos, que devem ser nítidas o suficiente para

que seja possível identificar a placa.

As denúncias podem ser comentadas e discutidas dentro da comunidade de usuários do

serviço. Os representantes não tomam nenhuma atitude legal, mas evidenciam as

denúncias para as autoridades locais para que tomem conhecimento e possam agir de

acordo, aumentando a fiscalização ou a penalidade, por exemplo.

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Figura 35. My Bike Lane: Ranking de violadores

Também é possível ver os campeões de violações em uma determinada cidade, alguns

veículos já foram flagrados mais de 20 vezes. Motoristas também podem procurar

registros a partir da identificação de suas placas.

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Figura 36. My Bike Lane: Lista de cidades

O serviço está disponível em mais de 60 cidades de diversos países, e é possível sugerir

ao autor que disponibilize novas cidades.

Benefícios

• Reunir uma comunidade de interesse comum e torná-la mais forte para lutar por

seus direitos.

• Evidenciar inflações para a comunidade e as autoridades locais.

• Endereçar questões de interesse dos cidadãos ao sistema político.

• Provocar a consciência dos motoristas, uma vez que estejam sobre novas formas

de vigilância.

Riscos

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• Baixa participação.

• Uso indevido do serviço de forma a causar danos a inocentes.

• Necessidade de domínio de ferramentas básicas de fotografia para capturar e

editar flagrantes.

• Falta de providências por parte das autoridades.

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Serviço

Public Markup

URL

http://www.publicmarkup.org

País

Estados Unidos

Entidade gestora

Entidade não-governamental

Público-alvo

Cidadãos norte-americanos.

Abrangência

Legislação norte-americana.

Objetivos

Estimular a participação social na consulta pública das legislações em fase de

elaboração pelo congresso norte-americano.

Ferramentas e recursos

• Blog

• Sistema de comentários

Período de atividade

Início em 2008.

Intensidade de uso

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• 6 atos legais sob consulta pública.

• Mais de 1.000 comentários.

Descrição

O serviço foi criado para estimular a participação social na legislação elaborada pelo

congresso antes de se tornar oficial. Para isto usa de mecanismos de colaboração em

massa existentes na web, como a plataforma blog.

O portal foi idealizado e desenvolvido pela Sunlight Fundation, uma organização sem

fins lucrativos voltada ao uso da Internet e da tecnologia para fazer a informação sobre

o congresso e o governo federal norte-americano tornar-se mais acessível aos cidadãos.

E com isso estimular a consciência política e a participação social.

O projeto não se destina a implementar as últimas tendências tecnológicas na

elaboração de informação legislativa, mas sim um experimento que provoque e facilite

a colaboração a partir da redação de trechos da legislação e respectivos comentários.

Comentários

O portal Public Markup foi desenvolvido após o envolvimento da Sunlight Fundation na

elaboração de um ato legal e encaminhamento ao congresso. Após isso, percebeu-se que

a participação dos cidadãos deveria anteceder a chegada dos textos no congresso, pois

isso representaria uma expressão melhor do que a sociedade pensa sobre determinado

assunto. Fazendo uso das tecnologias de colaboração emergentes na web, o portal foi

lançado para simplificar a colaboração em massa e dar visibilidade às conversações

sobre atos legais em fase de elaboração.

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Figura 37. Public Markup

O portal reúne uma pequena quantidade de legislação a cada período. No momento

desta análise estavam disponíveis os textos e históricos de comentários dos seguintes

atos:

• Senate Emergency Economic Stabilization Act of 2008

• Emergency Economic Stabilization Act of 2008

• Dodd's Legislative Proposal From Treasury Department for Authority to Buy

Mortgage-Related Assets

• Treasury's Legislative Proposal From Treasury Department for Authority to Buy

Mortgage-Related Assets

• Transparency In Government Act 2008 (Revised)

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• Transparency in Government Act 2008

Todos os atos estavam fechados para comentários e já haviam sido encaminhados pela

Sunlight Fundation às autoridades competentes.

Figura 38. Public Markup: Discussão dos atos legais

Para facilitar a discussão, os atos legais são divididos em capítulos e seções, de forma

que cada grupo de comentários seja vinculado ao trecho de texto correspondente. Os

participantes tanto podem registrar comentários sobre um capítulo ou seção, quanto

comentários gerais sobre todo o conteúdo da legislação em questão.

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Figura 39. Public Markup: Comentários agrupados

Os comentários aparecem agrupados abaixo de cada capítulo ou seção, tal como ocorre

na estrutura de um blog.

Ao final do período determinado para colaboração os comentários são reunidos,

compilados em uma versão final do documento que é então encaminhado ao congresso

para que sejam levados em consideração na próxima revisão do texto. As versões

futuras dos textos são novamente disponibilizadas no Public Markup até que finalize o

processo de consulta pública daquele ato legal.

Benefícios

• Aumentar a rede de especialistas consultados para discutir temas muitas vezes

técnicos.

• Ampliar a consciência política entre os cidadãos.

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• Fortalecer as relações democráticas através da transparência e participação.

• Legitimar o processo de elaboração da legislação do congresso.

Riscos

• Baixa participação.

• Tentativas de manipulação por grupos interessados.

• Difícil compilação das discussões em um documento final.

• Baixa qualidade nas contribuições.

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Serviço

They Work For you

URL

http://www.theyworkforyou.com

País

Reino Unido

Entidade gestora

Entidade não-governamental.

Público-alvo

Cidadãos do Reino Unido

Abrangência

Representantes políticos do parlamento do Reino Unido.

Objetivos

Dar evidência a todas as atividades políticas dos membros do parlamento do Reino

Unido e oferecer um canal de diálogo com os cidadãos.

Ferramentas e recursos

• Mashup

• Sistema de comentários

• RSS

Período de atividade

Início em 2006.

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Intensidade de uso

• 2 milhões de acessos em 2007.

Descrição

O portal They Work For You fornece aos cidadãos um grande conjunto de informações

sobre os políticos do Reino Unido, entre as quais:

• Quem são os membros locais do parlamento

• O que os deputados têm dito nos debates e projetos

• Como os deputados têm votado

• Textos e vídeos de debates no parlamento

• Perguntas e respostas encaminhadas aos deputados

• Email alerta ou fonte RSS sobre as atualizações no perfil de um deputado

• Comentários dos cidadãos sobre o que foi apresentado

O portal reúne uma série de informações a respeito do perfil de cada membro do

parlamento, com o objetivo de intensificar a transparência e o engajamento dos

cidadãos nas atividades políticas de seus representantes.

Comentários

O governo do Reino Unido já disponibiliza informações sobre as atividades políticas em

bases de dados públicas na Internet. Iniciativas como o They Work For You reúne este

conjunto de informações e dá novo formato, de modo a agregar novos conteúdos e

possibilidades de participação.

O objetivo maior do portal é prover informação sobre os políticos e dar instrumentos

para que os cidadãos possam analisar e reivindicar suas demandas aos governantes.

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199

Figura 40. They Work For You

A página de entrada apresenta um resumo das conversas nos debates e uma ferramenta

de busca por políticos ou regiões a partir de códigos postais. Com isso, são apresentados

os políticos que atuam naquela região, juntamente a seus perfis com diversos tipos de

atuação política e estatísticas.

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Figura 41. They Work For You: Perfil de um membro do parlamento

No perfil do membro do parlamento é possível:

• Enviar uma mensagem ao político através do serviço Write to Them71.

• Receber mensagens do político.

• Acompanhar os discursos e participações em debates do político.

• Ver estatísticas de votações em diversos temas.

• Ver os comitês de que participa e tópicos de interesse.

71 O serviço Write To Them é outra iniciativa do grupo mySociety. Disponível em: <

http://www.writetothem.com>

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201

• Orçamento, despesas e gastos públicos.

• Propostas recentes assinadas pelo político.

• Ler biografias e artigos escritos por diversas fontes

Figura 42. They Work For You: Debates

As seções de debates no parlamento são gravadas e transcritas, e permanece aberta para

que qualquer cidadão possa acompanhar as intervenções dos políticos debatedores e

participar da discussão através de comentários.

Os debates são restritos aos representantes, não podendo os cidadãos emitirem sua

opinião a respeito de cada tema. Esta plataforma possibilita aos cidadãos tomarem

posições quanto às questões que os envolvem, e aos políticos tomar ciência das opiniões

da comunidade que representam.

Benefícios

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• Prover informação, capacitação política e instrumental para os cidadãos.

• Estimular e fortalecer a transparência pública.

• Fortalecer a participação social.

• Permitir acompanhar de perto as atividades políticas, evitando filtros como a

mídia de massa.

• Explorar recursos audiovisuais como forma de garantir a acessibilidade.

• Oferecer múltiplos canais de interação junto aos representantes políticos.

Riscos

• Baixa participação e interesse por questões políticas.

• Má qualidade do conteúdo das conversas.

• Dificuldade técnica em utilizar os recursos do serviço.

Manipulação do espaço público por grupos de interesse.

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203

3.3 Serviços do Governo Brasileiro

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Serviço

Legislação Inmetro

URL

http://www.inmetro.gov.br/legislacao

País

Brasil

Entidade gestora

Inmetro – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Público-alvo

Cidadãos, empresas, técnicos, estudantes e pesquisadores.

Abrangência

Legislação elaborada e disseminada pelo Inmetro.

Objetivos

Disseminar a legislação técnica brasileira sobre metrologia e qualidade para cidadãos e

empresas brasileiras.

Ferramentas e recursos

• RSS

Período de atividade

Início em março de 2008.

Nota: Já havia base de consulta desde 1998, mas o serviço RSS só foi implementado em

2008.

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Intensidade de uso

Não disponível.

Descrição

Dentre outras funções, o Inmetro atua como órgão regulamentador nas áreas de

metrologia e avaliação da conformidade. Uma das maiores dificuldades sempre esteve

na disseminação das informações produzidas pelo órgão para a sociedade, de maneira

que cidadãos e empresas possam participar do processo regulamentário, além de tomar

ciência das mudanças e novas regulamentações.

O canal RSS surgiu como uma boa opção, uma vez que dá ao usuário o controle sobre

os filtros que deseja ter, e dissemina a informação de forma não abusiva como ocorre no

email, por exemplo. As ferramentas de filtro e organização de fontes de RSS permitem

que o usuário customize a maneira como quer receber e organizar a informação técnica

do Inmetro. Além de permitir que novos serviços de informação sejam produzidos e

combinados em mashups.

Antes do serviço de informações via RSS os usuários interessados deveriam

acompanhar diariamente as atualizações nas bases de dados de legislação do Inmetro,

após o serviço as atualizações são enviadas automaticamente via mecanismo RSS e

organizadas da forma que melhor convir a cada usuário.

Comentários

O Inmetro possui nove bases de dados de legislação com acesso ao público externo, e o

sítio possui cerca de 2 milhões de acesso ao mês, sendo que boa parte dos acessos são

destinados às bases de legislação.

Encontrar uma legislação atualizada, ou consulta pública pode ser um trabalho difícil

pois os usuários têm que manter um controle próprio sobre o que já foram informados, e

ao realizar novas consultas por data ou assunto, efetuarem os filtros e análises para

descobrir se existem novos registros.

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206

Figura 43. Legislação Inmetro

A disseminação da informação via RSS não apenas evita que o usuário tenha que

manter um controle sobre novas legislações e atualizações na base, como atualiza

automaticamente a fonte RSS que os usuários assinantes possuem. Desta maneira toda

vez que houver atualização nos registros, as fontes de informação são atualizadas e o

usuário é informado.

Benefícios

• Permitir acompanhar as novas regulamentações de forma mais fácil.

• Dar autonomia ao usuário para que crie seus próprios filtros e organize as

informações como pretender.

Riscos

• Dificuldades com a nova tecnologia

• Falta de preparo técnico e capacidade de suporte aos usuários que desconhecem

a tecnologia.

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Serviço

Consulta Pública do Governo Eletrônico

URL

http://www.governoeletronico.gov.br/consulta-publica

País

Brasil

Entidade gestora

Ministério do Planejamento

Público-alvo

Cidadãos brasileiros.

Abrangência

Regras e normas para o governo eletrônico brasileiro.

Objetivos

Tornar o processo de regulamentação técnica conduzido pelo Governo Eletrônico mais

transparente e participativo.

Ferramentas e recursos

• Sistema de comentários

Período de atividade

Início em 2004.

Intensidade de uso

• 20 regulamentos técnicos disponibilizados para discussão.

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• 800 comentários ao todo aproximadamente.

Descrição

O Governo Eletrônico tem por função regulamentar as questões referentes à tecnologia

da informação e comunicação no Governo Federal. Entre outras questões, neste fórum,

representado pela Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação, do Ministério do

Planejamento, são discutidos e elaborados os planos para desenvolvimento de sítios no

governo, regras e padrões de acessibilidade, usabilidade e interoperabilidade. Além de

políticas de uso de software livre, infraestrutura de hardware e software no governo.

As consultas públicas ficam disponíveis para acesso e comentários durante um período

que pode variar entre 60 e 90 dias. Os comentários são analisados pela equipe

responsável pela redação do regulamento técnico. Cada comentário recebe uma

avaliação, informando se foi ou não contemplado no texto final.

Comentários

A consulta pública é um processo altamente democrático, pois permite a expressão dos

cidadãos diretamente na legislação que o impacta. O serviço prestado pelo Governo

Eletrônico é pioneiro no Brasil, pois torna transparente os comentários que antes eram

submetidos via mídias como correio, fax ou email. A visibilidade das contribuições é

tão importante quanto a abertura do canal a favor dos feedbacks, pois é o que fortalece a

legitimidade da participação. De outra maneira fica difícil os cidadãos perceberem quais

os critérios utilizados para filtrar os comentários, e quais outros membros têm idéias

parecidas e já comentaram questões de maneira semelhante.

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Figura 44. Consulta Pública - Governo Eletrônico

O portal oferece as consultas públicas organizadas em dois blocos: consultas em

andamento e consultas realizadas.

Figura 45. Consulta Pública: detalhe do texto

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210

A figura 45 mostra links para os detalhes, onde é possível ler a íntegra do texto

disponíveis nos formatos PDF e ZIP (formato de arquivo compactado), que são os

documentos de referência para o debate. Também neste local são apresentadas as seções

do documento e links para “contribuir” e “ver contribuições” realizadas em cada seção.

Figura 46. Consulta Pública: lista de contribuições

As contribuições aparecem agrupadas por usuário e data. Para visualizar é preciso clicar

no link “ver contribuições e comentários”.

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Figura 47 – Consulta Pública: detalhe de uma contribuição

As contribuições e comentários são estruturados por seção do texto, o usuário deve

informar qual a contribuição e a justificativa da modificação sugerida no texto.

Embora o serviço seja de grande contribuição para o processo de regulamentação, seu

formato inviabiliza a conversação entre a comunidade, pois os formulários de

comentários direcionam a conversa ao documento de referência, sendo necessário citar

qual trecho está sendo criticado e porquê. Esta forma rígida dificulta contribuições

superficiais ou injustificáveis, mas ao mesmo tempo tira a flexibilidade criativa e

inteligente de uma conversa natural.

Benefícios

• Estimular a participação de especialistas em tecnologia da informação de fora do

governo.

• Ampliar a consciência política entre os cidadãos e agentes do próprio governo.

• Fortalecer as relações democráticas através da transparência e participação.

• Legitimar o processo de regulamentação técnica.

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Riscos

• Baixa participação.

• Tentativas de manipulação por grupos interessados.

• Difícil compilação das discussões em um documento final.

• Baixa qualidade nas contribuições.

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Serviço

Blogs do Ministério da Cultura

URL

http://www.cultura.gov.br/site/blogs-do-minc

País

Brasil

Entidade gestora

Ministério da Cultura

Público-alvo

Cidadãos brasileiros

Abrangência

Temas gerais sobre cultura.

Objetivos

Difundir e discutir junto à sociedade temas da pauta da cultura brasileira.

Ferramentas e recursos

• Blog

• Sistema de comentários

Período de atividade

Os primeiros blogs entraram no ar em 2003, mas a iniciativa só ganhou força em 2007.

Intensidade de uso

Não há indicadores disponíveis. Alguns blogs demonstraram participação efetiva

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214

acumulando centenas de comentários.

Descrição

Como política de participação social e inserção da sociedade nos debates dos temas

relacionados à cultura, o órgão adotou o uso da plataforma blog. O objetivo é gerar

ambientes de conversação sobre temas na pauta do Ministério da Cultura, e com isso

envolver os cidadãos nas questões que envolvem os planos, políticas e ações de cunho

cultural.

Existem atualmente ao menos 7 blogs temáticos no portal do Ministério da Cultura,

sendo estes:

� Diversidade Cultural

Endereço: http://www.cultura.gov.br/blogs/diversidade_cultural/

� Internet Governance Forum

Endereço: http://www.cultura.gov.br/blogs/igf/

� Rede Olhar Brasil

Endereço: http://www.cultura.gov.br/blogs/rede_olhar_brasil/

� Mercosul Cultural

Endereço: http://www.cultura.gov.br/blogs/mercosul/

� Fórum Nacional de Direito Autoral

Endereço: http://www.cultura.gov.br/blogs/direito_autoral/

� ProExt - Extensão Universitária e Cultura

Endereço: http://www.cultura.gov.br/blogs/proext_cultura/

� Reforma da Lei Rouanet

Endereço: http://blogs.cultura.gov.br/blogdarouanet/

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Além destes, o canal de notícias do próprio portal também opera na plataforma de um

blog, estando as notícias abertas a comentários e interação.

Comentários

Há tempos o Ministério da Cultura iniciou experiências em ambientes online de forma a

promover maior interação com os cidadãos. As primeiras iniciativas com blogs

iniciaram em 2003, ainda de forma não estruturada e experimental. Ao longo do tempo

estes testes vieram ganhando maturidade, quando no final de 2007 o portal foi

totalmente reestruturado, apresentando-se como a mais nova plataforma interativa no

governo.

Os blogs do Ministério da Cultura vêm sendo explorados para cumprir e apoiar muitas

iniciativas importantes como alterações na legislação, definição da pauta de eventos,

divulgação cultural, entre outras. Abaixo serão apresentados alguns destes casos.

Figura 48. Blogs do Ministério da Cultura: Direito Autoral

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No blog sobre Direito Autoral são discutidas as novas tendências globais voltadas ao

compartilhamento de conteúdo e os impactos na produção de cultura e na legislação que

estas tendências vêm provocando. São apresentadas e discutidas as alternativas

possíveis tanto por iniciativa da equipe do Ministério, quanto dos leitores e participantes

do blog. Esta participação é interpretada pelo órgão como uma abertura criativa para as

mudanças constantes.

Figura 49. Blogs do Ministério da Cultura: Reforma da Lei Rouanet

Para discutir a reforma da Lei Federal de Incentivo à Cultura o Ministério da Cultura

optou pela criação de um blog. No ambiente são apresentados as agendas de eventos,

permitindo que os cidadãos opinem sobre a montagem de programações. Também são

apresentados estudos e versões preliminares do texto da reforma, que também podem

ser encaminhados pelos participantes. A consulta pública também será veiculada pelo

blog, por onde se espera utilizar de todo o potencial interativo da plataforma para

discutir de maneira democrática e participativa a versão final da reforma.

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217

Figura 50. Blogs do Ministério da Cultura: Internet Governance Forum

O Ministério da Cultura também é membro do Internet Governance Fórum, que discute

as políticas de governança da Internet. Como forma de engajar os cidadãos na discussão

a equipe do Ministério criou um blog onde são divulgadas as ações, eventos ante e

depois de ocorridos. Isto permite a qualquer cidadão omitir sua opinião e ajudar a

fortalecer uma postura que garanta a maior neutralidade possível na governança da

Internet.

Outros temas são discutidos na plataforma de blogs criada pelo Ministério da Cultura.

Junto ao lançamento em 2007, iniciou-se uma campanha a favor dos blogs no governo e

a equipe responsável pelo projeto, vem desde então atuando em apoio a equipes de

outros órgãos de governo que tenham interesse em explorar as mídias sociais.

Benefícios

• Disseminar a cultura em vias de comunicação que permitam a interação.

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• Engajar o cidadão em questões fundamentais ao desenvolvimento da sociedade.

• Receber contribuições sobre os temas complexos que envolvem a pauta de

assuntos do Ministério da Cultura.

• Discutir de forma transparente e participativa questões que extrapolam as

fronteiras do governo brasileiro.

Riscos

• Baixa participação e pouco interesse da sociedade por temas relacionados à

cultura.

• Baixa qualidade nas contribuições e conversas.

• Manipulação das discussões por grupos de interesse.

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219

Serviço

Transparência no Portal da Câmara dos Deputados

URL

http://www2.camara.gov.br/transparencia

País

Brasil

Entidade gestora

Câmara dos Deputados

Público-alvo

Cidadãos brasileiros.

Abrangência

Membros constituintes da Câmara dos Deputados.

Objetivos

Promover a transparência pública do processo legislativo e estimular a participação

social na construção política.

Ferramentas e recursos

• Bate-papo

• Fórum de discussão

• Blog

Período de atividade

Algumas iniciativas, como o bate-papo, iniciaram em 2005, já os fóruns e o blog

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220

surgiram em 2008.

Intensidade de uso

• 49 bate-papos realizados disponíveis entre o período de 16/02/2005 à

05/11/2008

• 2 videoconferências com arquivos textos transcritos

• 10 Fóruns abertos

900 comentários nos fóruns aproximadamente

1 blog sobre Cultura e Educação

200 artigos publicados

50 comentários aproximadamente

Descrição

O Portal da Câmara dos deputados reúne uma série de serviços de transparência e

participação social.

O objetivo principal é aproximar o cidadão de seus representantes no poder legislativo e

com isso estimular a participação social nas discussões das questões políticas que

precedem a elaboração da legislação brasileira.

Pelo portal é possível acompanhar o perfil que qualquer deputado, suas presenças e

faltas nas sessões, suas votações em plenário, as proposições de sua autoria e relatadas,

participação em comissões, discursos e biografia.

Além disso, é possível ter acesso a informações sobre licitações, contratos, cargos

especiais e ocupações como gabinete, assessoria, relatórios de viagens em missão

oficial, orçamento e gastos em verbas indenizatórias.

Outras iniciativas visam a interação da sociedade com os deputados da câmara, e

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221

promovem espaços de participação como bate-papos, fóruns de discussão,

videoconferências, blogs e formulários de contato direto.

Comentários

A Câmara dos Deputados oferece muitas possibilidades de acompanhamento e

participação dos cidadãos na pauta de assuntos dos representantes políticos. Por este

ambiente é possível manter-se informado a respeito das atividades, posicionamentos e

gastos dos deputados e, ao mesmo tempo, discutir assuntos importantes ao

desenvolvimento social em todos os seus aspectos.

Figura 51. Câmara dos Deputados: Dados do Deputado

A figura 41 mostra a consulta ao perfil completo do deputado selecionado. É possível

ler sua biografia, conhecer as comissões da qual participa, ter acesso aos textos das

proposições relatadas e de sua autoria, assim como aos discursos proferidos,

acompanhar suas presenças, ausências justificadas e não justificadas, bem como suas

votações em plenário. Também é possível receber resumos das atualizações no perfil do

deputado por email, bastando realizar um cadastro.

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Figura 52. Câmara dos Deputados: Contratos

Figura 53. Câmara dos Deputados: Detalhe do Contrato

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223

A relação de contratos vigentes em nome da Câmara dos Deputados pode ser consultada

por qualquer cidadão, como mostra as figuras 52 e 53.

Figura 54. Câmara dos Deputados: Verba indenizatória

Figura 55. Câmara dos Deputados: Detalhamento de verba indenizatória

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224

As figuras 54 e 55 apresentam os relatórios de gastos e indenizações concedidas pelo

governo aos deputados por despesas com aluguel de imóveis, combustível, consultorias,

gastos com telefonia, acesso à Internet e aquisição de software, entre outros. É possível

acompanhar os gastos mensais e anuais de cada deputado, e com isso tomar ciência

sobre as prioridades e a responsabilidade de cada um com o dinheiro público.

Figura 56. Câmara dos Deputados: Participação social

O portal oferece uma seção exclusiva à iniciativas de participação, onde estão

disponíveis canais de bate-papo, fóruns de discussão, videoconferência, blogs, e

formulário de contato com os deputados.

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225

Figura 57. Câmara dos Deputados: Arquivo de bate-papos

A câmara divulga que realiza bate-papos quinzenais com deputados relatores de

assuntos polêmicos, ou seja, que provoquem interesse da população. Na relação pôde-se

notar que a freqüência não chega a ser semanal, mas 6 vezes ao ano em 2008 e mensal

em 2007. O debate é aberto a participação dos cidadãos e permanece disponível para

consulta após a realização do mesmo. Os temas são diversos e variam entre biodiesel,

TV digital, dívida rural, voto secreto, entre muitos outros.

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Figura 58. Câmara dos Deputados: Fóruns

Os cidadãos podem participar de fóruns sobre diversos temas, como proibição de

animais em circo, educação, mudança ortográfica, reforma tributária, entre outros.

Alguns fóruns conquistaram participação efetiva com mais de 700 comentários, como o

debate sobre “animais no Circo: regulamentar ou proibir? Por quê?” Já outras

provocações como “o que está faltando para que a cultura tenha papel de destaque no

governo federal?” não tiveram nenhuma participação. De uma forma geral questões

mais objetivas e que envolvam opinião conquistam participantes com maior facilidade,

o que não significa que temas menos popular não devam ser explorados com um pouco

mais de criatividade.

Por fim, pode-se analisar que o portal da Câmara dos Deputados possui muitas formas

pelas quais os cidadãos possam manter-se informados e participar das questões que

impactam sua vida. Por reunir um conjunto muito grande de serviços num mesmo

ambiente pode ser difícil para o usuário comum localizar os canais de participação, ou

encontrar as informações que procura. Esta divulgação pode ser melhor explorada pelos

gestores do portal, por outros órgãos de governo ou mesmo por entidades não-

governamentais que incentivem a transparência pública e a participação social nas ações

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de governo.

Benefícios

• Dar transparência às informações do orçamento utilizado pelos deputados.

• Apresentar as despesas de cada deputado dando a oportunidade ao cidadão de

cobrar maior eficiência no uso dos recursos.

• Estabelecer diversos canais de participação social como bate-papo e fóruns de

discussão.

• Estimular o aumento da consciência política, buscando participação e maior

cobrança da sociedade quanto à eficiência na administração pública.

• Dar vozes aos cidadãos quanto aos temas em processo legislativo, ou em ênfase

pela mídia tradicional.

Riscos

• Baixa participação.

• Dificuldade de divulgação dos serviços.

• Dificuldade de formatar formas eficientes de recuperar o grande volume de

informação disponível.

• Participação de baixa qualidade.

• Uso dos ambientes de discussão por grupos de interesse.

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Serviço

Portal da Transparência do Governo Federal

URL

http://www.transparencia.gov.br

País

Brasil

Entidade gestora

Controladoria-Geral da União

Presidência da República

Público-alvo

Cidadãos brasileiros.

Abrangência

Orçamento da União.

Objetivos

Prover transparência na aplicação dos recursos do Governo Federal e com isso

promover a participação social e o combate à corrupção.

Ferramentas e recursos

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Sistema de consulta

Período de atividade

Início em novembro de 2004.

Intensidade de uso

Não disponível.

Descrição

É um canal pelo qual o cidadão pode acompanhar a execução financeira dos programas

de governo, em âmbito federal. Estão disponíveis informações sobre os recursos

públicos federais transferidos pelo Governo Federal a estados, municípios e Distrito

Federal – para a realização descentralizada das ações do governo – e diretamente ao

cidadão, bem como dados sobre os gastos realizados pelo próprio Governo Federal em

compras ou contratação de obras e serviços, por exemplo.

Ao acessar informações como essas, o cidadão fica sabendo como o dinheiro público

está sendo utilizado e passa a ser um fiscal da correta aplicação do mesmo. O cidadão

pode acompanhar, sobretudo, de que forma os recursos públicos estão sendo usados no

município onde mora, ampliando as condições de controle desse dinheiro, que, por sua

vez, é gerado pelo pagamento de impostos.

O Portal da Transparência é uma iniciativa da Controladoria-Geral da União (CGU)

para assegurar a boa e correta aplicação dos recursos públicos. Sem exigir senha de

acesso, o objetivo é aumentar a transparência da gestão pública e o combate à corrupção

no Brasil.

Comentários

O Portal da Transparência cumpre um importante papel nas ações de participação social

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e combate à corrupção. A publicização das informações sobre a aplicação dos recursos

públicos é fundamental para o engajamento e um aumento de conscientização, popular e

política, sobre o destino do orçamento do governo.

Figura 59. Portal da Transparência

As consultas estão divididas em três grande grupos: Transferência de recursos, Gastos

diretos e convênios.

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Figura 60. Portal da Transparência: Transferência de recursos aos estados

Figura 61. Portal da Transparência: Transferência de recursos aos municípios

Estas consultas permitem que o cidadão conheça a quantia do orçamento anual recebida

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por seu governo estadual e por seu governo municipal.

Figura 62. Portal da Transparência: Transferência de recursos aos programas municipais

Também é possível saber qual a fatia do orçamento destinada a cada programa

municipal, tais como apoio à alfabetização, saúde bucal, Bolsa Família, entre muitos

outros.

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233

Figura 63. Portal da Transparência: Distribuição do Programa Bolsa Família

A consulta exibida na figura 37 apresenta a relação de beneficiários com o total

acumulado no exercício selecionado, no caso 2008, referente ao município de Acopiara

no estado do Ceará.

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Figura 64. Portal da Transparência: Beneficiário do Programa Bolsa Família

É possível conhecer todo o histórico de saques efetuados por qualquer beneficiário do

programa Bolsa Família.

Figura 65. Portal da Transparência: Gastos diretos por órgão executor

A figura 65 mostra a consulta por orçamento destinado à administração direta, que

inclui os Ministérios e a Presidência da República.

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Figura 66. Portal da Transparência: Orçamento destinado à Universidade Federal

Fluminense

É possível consultar o repasse do orçamento dos Ministérios às organizações sob sua

gestão. A figura 40 mostra o orçamento destinado pelo Governo Federal e Ministério da

Educação à Universidade Federal Fluminense no exercício 2008.

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Figura 67. Portal da Transparência: Diárias pagas

O portal ainda permite que os cidadãos tenham acesso às informações sobre diárias

pagas aos servidores públicos e contratados que receberam diárias por deslocamento no

exercício de suas funções, como mostra a figura 41.

O Portal da Transparência cumpre um importante papel ao evidenciar os gastos e

possíveis distorções que podem ser questionadas por qualquer cidadão. Ao dar

visibilidade aos gastos públicos o Governo Federal solicita e recebe apoio popular na

luta contra o gasto ineficiente e contra a corrupção.

Entretanto o Portal da Transparência não atua como um facilitador do diálogo entre

governo e cidadão e não oferece canais diretos de comunicação. Com isso o cidadão

toma ciência de possíveis atos ilícitos ou práticas inadequadas, mas acaba por ter que

procurar outros meios de reivindicar seus direitos. Canais estes muitas vezes pouco

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transparentes e colaborativos, tornando o cidadão um indivíduo frágil na luta contra a

ineficiência pública.

Benefícios

• Dar ampla visibilidade dos gastos públicos do Governo Federal.

• Permitir ao cidadão ter acesso ao orçamento destinado aos programas que

impactam sua vida.

• Aumentar a consciência cívica quanto a importância da divisão do orçamento.

Riscos

• Dificuldade de estabelecer eficientes mecanismos de consulta devido ao grande

volume de informação.

• O portal não permite interação, portanto não oferece riscos quanto à participação

social.

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4. ANÁLISE DOS SERVIÇOS EXPLORADOS

A maior parte das iniciativas analisadas apresentou um volume significativo de

participação, como o caso do portal Change.gov que representou a transição entre o governo

norte-americano de George W. Bush para o governo do presidente Obama, durante o período

de novembro de 2008 a janeiro de 2009. O portal contou com mais de 125.000 cidadãos

participando nos fóruns, com 44.000 idéias para fazer um governo melhor apresentadas e mais

de 1.400.000 votos e discussões sobre estas idéias.

Outra iniciativa com participação expressiva foi o E-petitions, lançado em 2006

pelo Primeiro Ministro do governo britânico. Em menos de dois anos de atividade o canal já

havia sido utilizado por cidadãos que encaminharam 29.000 petições e 5.800.000 assinaturas,

sendo que 3.900.00 de pessoas diferentes.

Como esperado, algumas iniciativas não apresentaram informações e nem meios

de verificar o volume de usuários ativos, assim como a densidade da participação. Nestes

casos a informação foi classificada como “não disponível”. Mas os serviços foram mapeados

e analisados por estarem aderentes aos critérios de seleção e se mostrarem relevantes a este

trabalho.

De uma maneira geral, os países analisados têm apresentado esforços na

construção de ambientes participativos, com mais de uma iniciativa em todas as situações

analisadas. A participação vem conquistando bons resultados e os projetos demonstram

continuidade, como o caso do portal Change.gov que foi encerrado após a posse do presidente

Obama, no mesmo momento em que o portal da Casa Branca72 ganhou nova versão com

serviços participativos.

72 Disponível em: <http://www.whitehouse.gov>

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Com a finalidade de mostrar e analisar que os esforços de aproximação entre

Estado e sociedade não precisam necessariamente ter como ponto de partida iniciativas

governamentais, foram mapeados e analisados casos promovidos por entidades não-

governamentais, que estão reunidos no Grupo 2.

Durante a pesquisa do Grupo 2 foi possível perceber uma grande quantidade de

serviços colaborativos com fins de incentivar a democracia e cidadania organizados pelo

terceiro setor. Grande parte destes serviços utiliza a própria massa de dados disponibilizada

pelo governo em formatos que permitam a reutilização e mixagem destas informações

gerando novos serviços. Em muitos casos os governos disponibilizam propositalmente as

informações como forma de estimular a sociedade na criação de ambientes participativos, em

outros casos cidadãos e organizações com conhecimento técnico utilizam informações

públicas para criar serviços que incentivem a participação social e o aumento de consciência

política.

O portal Patient Opinion utiliza a relação de hospitais e médicos credenciados no

sistema nacional de saúde Reino Unido para criar um sistema de votação quanto à qualidade

dos serviços recebidos. Com isso é possível que um paciente conte sua experiência em

qualquer hospital, se foi bem ou mal atendido pelos profissionais de saúde, por exemplo. As

reclamações e os elogios são visualizados também pelas autoridades responsáveis pelos

serviços de saúde, e podem responder aos fatos se assim desejarem. Os números de

participação no Patient Opinion são significativos, chegando a aproximadamente 10.000

opiniões registradas.

É possível convocar os cidadãos a participarem de discussões que não estão

vinculadas a nenhum órgão específico de governo. O portal My Bike Lane foi criado por um

único cidadão utilizando os recursos de mapas do Google, com o objetivo de denunciar de

forma aberta e colaborativa, motoristas infratores que violam as faixas exclusivas de ciclovia

estacionando seus veículos sobre estas. A finalidade do portal é chamar a atenção destes casos

e estimular que a própria comunidade de ciclistas denuncie e discuta o problema, estimulando

os motoristas a melhorarem seus hábitos, ou chamando a atenção das autoridades para o

aumento da fiscalização. Ao todo já são 1.700 cidadãos e 6.000 denúncias registradas com

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fotografia e número da placa do veículo infrator.

Nestes dois casos os governos podem participar de maneira corretiva, dando

solução imediata aos problemas, mas também de maneira estratégica utilizando estas

informações para reformular suas políticas de prestação de serviços.

Outra possibilidade é que os cidadãos sejam estimulados a participar diretamente

da formulação das políticas públicas, como faz o serviço Public Markup, que dá visibilidade e

oportunidade de participação aos cidadãos nos textos legislativos enquanto estão em consulta

pública. O Public Markup funciona como uma comunidade que revê e discute pontos de

interesse de maneira coletiva e encaminha as considerações ao sistema político, representando

os cidadãos como uma entidade organizada. Foram identificados 6 atos legais que estiveram

sob consulta pública e pouco mais de 1.000 comentários a estes. Embora a participação em

números não seja tão expressiva quanto em outros serviços, este tipo de iniciativa coloca o

cidadão no centro das discussões e por isso deveria ser estimulada.

Um dos objetivos deste trabalho é trazer à discussão a questão da relevância da

participação social utilizando o poder colaborativo da web para o cenário brasileiro, e com

isso estimular novos estudos e iniciativas à luz do que já é possível acompanhar em outros

governos, tendo naturalmente a preocupação em localizar tais análises para a realidade

brasileira. Para entender como estamos avançando nesta perspectiva, foram analisados casos

que estimulam a participação social em ambientes colaborativos online promovidos pelo

governo brasileiro, correspondentes ao Grupo 3.

Percebeu-se que o Brasil conta com boas iniciativas de estímulo à participação

social, e que esta tem sido uma preocupação recorrente nas agendas de governo. Como

exemplo este tópico fez parte do programa de Governo Luiz Inácio Lula da Silva desde o

primeiro mandato, e o Governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso, também já abordava

a questão. As análises serviram para compreender como tais iniciativas estão sendo

organizadas no ambiente online, e onde é possível melhorar.

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Foram analisados casos do Inmetro, Governo Eletrônico, Ministério da Cultura,

Câmara dos Deputados e Presidência da República.

Pôde-se notar que algumas iniciativas estão voltadas para a transparência pública,

mas deixam de estimular a participação social, não oferecendo canais de colaboração aberta.

É o caso do Inmetro que oferece um serviço de disseminação seletiva da regulamentação

técnica que emite, mas não dispõe de ambientes onde a regulamentação sob consulta pública

possa ser discutida de forma aberta pela sociedade. O Portal da Transparência se mostrou uma

fonte muito rica em informações sobre os gastos públicos, porém também deixa de oferecer

canais participativos. O tema aparece rotulado como “Controle Social” onde são indicados os

conselhos municipais e órgãos de fiscalização que podem ser procurados para dúvidas e

participação no orçamento. No entanto, não há formas de discutir ou questionar o

direcionamento dos gastos através do portal, o que certamente limita a atuação dos cidadãos.

Iniciativas como a do Ministério da Cultura dão maior apoio à participação. O

portal disponibiliza uma série de blogs para disseminar e discutir com a sociedade questões

relevantes à sua pauta política, como os direitos autorais e a Lei Rouanet. Através dos blogs

os cidadãos podem emitir sua opinião, tirar suas dúvidas e ajudar a compor a agenda de ações

e eventos maiores.

O portal da Câmara dos Deputados se destaca pelo volume de serviços voltados à

transparência pública e à participação social. É possível consultar os gastos anuais e mensais

dos deputados, suas faltas (justificadas ou não) nos plenários, as comissões das quais

participam e as votações abertas. Assim como ter acesso aos contratos e licitações realizados

pela Câmara. Para promover participação junto aos cidadãos, o portal utiliza plataformas de

bate-papo, fóruns de discussão e blogs. Nestes espaços os deputados são convidados a

interagir com os cidadãos, retirar dúvidas, defender suas posições e ouvir as opiniões do

público. A participação ainda não aparece em grandes números, mas alguns temas são

debatidos por um volume considerável de pessoas como a questão dos animais nos circos que

reuniu mais de 700 comentários.

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O Governo Eletrônico foi pioneiro ao lançar, em 2004, uma plataforma aberta de

consulta pública em seu processo de regulamentação técnica. Pelo site é possível ter acesso ao

texto do regulamento sob consulta pública e publicar críticas e sugestões em cada seção do

documento. Os comentários ficam abertos a consulta por parte de qualquer usuário. Ao final

do processo são informadas quais críticas foram incorporadas ao texto final, e as que não

foram com as devidas explicações de defesas. Toda a conversa fica acessível mesmo após o

fim do prazo de consulta pública. Ao todo foram disponibilizados mais de 20 documentos que

receberam aproximadamente 800 contribuições.

De modo geral iniciativas que estimulem participação aberta e autêntica ainda são

raras no governo brasileiro, e isto pode ter como razão diversos motivos, desde a mentalidade

do gestor público brasileiro, o amadurecimento das tecnologias utilizadas nestes ambientes, o

baixo número de cidadãos com acesso à Internet, entre outros. De fato esta pesquisa permite

observar um cenário em evolução, e dá tanto ao gestor público quando aos cidadãos um

conjunto de experiências em andamento pelo mundo. Já é possível criar iniciativas que,

combinadas com as condições ideais de colaboração e abertura, podem gerar um volume

significativo de participação.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho foi elaborado a partir de outros estudos no campo da ciência da

informação, que possibilitaram a construção de elos entre as teorias da democracia enfatizada

na conversação e comunicação com evidências de avanços tecnológicos, e a superação de

novas fronteiras de colaboração. Por conseguinte, espera-se também deste trabalho ser um

ponto de partida para novos estudos nos campos democráticos e participativos, levando-se em

conta os avanços para uma sociedade interconectada, sobretudo no cenário brasileiro.

As teorias exploradas nesta pesquisa buscaram a compreensão da formação e

equilíbrio das sociedades em busca de um ideal democrático, a partir da ascensão de valores

cívicos e participativos. Entendeu-se que um dos papéis do Estado e, portanto, do governo,

está em convocar a sociedade para o diálogo contínuo entre suas próprias subestruturas e

destas com seus representantes políticos.

Posto que a prática da conversação seja então inerente à democracia, buscou-se

apoio na idéia de que nas últimas décadas estamos vivenciando uma transformação nos

paradigmas comunicativos a partir de constantes evoluções tecnológicas. As tecnologias de

comunicação e informação conquistam cada vez mais espaço na sociedade, tal como ocorreu

com tecnologias passadas, como na industrialização da sociedade. Estamos vivenciando a

construção de uma sociedade interconectada, ainda abundante de desafios para superar as

barreiras da divisão digital, mas que com uma significativa parcela de indivíduos conectados,

já começa a apresentar o desenvolvimento de novas práticas, baseadas em valores

colaborativos e emergentes.

A teoria da esfera pública pôde ser usada para representar o retorno de uma

condição de diálogo mais homogênea entre os agentes comunicadores, o que foi tratado na

relação produtor-consumidor, cada vez mais igualada devido à intensidade de participação no

processo produtivo de uma maneira geral. Ao mesmo tempo, fica claro que a esfera pública

está agora calçada por um novo ferramental, que traz consigo questões técnicas, mas

principalmente, implica na geração de novos valores que em muitos casos entram em conflito

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com valores históricos, como por exemplo, a virtualidade e digitalização, extrapolando os

limites e frutos do mundo físico, ou questões de ordem econômica como as relativas à

propriedade intelectual em um contexto cada vez mais colaborativo.

A tecnologia foi tratada como um fato da atualidade, e não se buscou interpretá-la

como uma categoria à parte da sociedade, mas sim como um emaranhado sócio-técnico, que

não justificaria a distinção entre agentes tecnológicos e sociais. A tecnologia é apropriada pela

sociedade, tornando-se parte de seu cotidiano e parte de suas práticas sociais. Considerou-se

aqui que esta relação seria suficiente para embasar as premissas e buscar as respostas para a

democracia em uma sociedade que se relaciona através de um arcabouço tecnológico.

Tais referenciais permitiram pesquisar e tentar compreender os esforços

perseguidos e, ao mesmo tempo, impostos aos governos pela busca de novas plataformas de

interação com a sociedade, considerando a transparência e, principalmente, o diálogo como

instrumentos fundamentais desta relação.

Verificou-se a escassez de material bibliográfico que aborde as teorias

democráticas sob as lentes da sociedade em rede. Pode-se notar que grande parte dos estudos

está voltada a uma perspectiva econômica, o que deixa a perspectiva política e social com

muitas questões em aberto. Entidades internacionais como a ONU e a OCDE apresentam um

volume mais significativo de relatórios e pesquisas sobre os avanços dos governos na

democracia eletrônica, dando ênfase ao engajamento dos cidadãos nos assuntos políticos por

meio da Internet. Porém faltam pesquisas que associem as mídias sociais, atualmente em

expansão na web, às iniciativas governamentais.

Outra linha de estudos que carece de pesquisas é a análise das novas mídias

quanto ao fluxo de informação que estas estimulam. Áreas como a sociologia e a antropologia

têm apresentado bons estudos quanto à formação das redes sociais, porém, a Ciência da

Informação pode contribuir ao dar ênfase nos fluxos informacionais consolidados nestas redes

a partir das interações e das estruturas de comunicação estimuladas por cada plataforma

tecnológica.

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A metodologia usada na pesquisa empírica apresentou flexibilidade suficiente

para que esta pesquisa ocorresse de maneira natural e investigativa. Apresentando como

resultado um conjunto de casos significativos que foram analisados. Com isso, puderam ser

identificados casos com diversidade de países, áreas de aplicação no governo como cultura,

meio ambiente, segurança, tecnologia, e operando sob diversas plataformas como blogs, wikis

e fóruns de discussão. O mapeamento realizado neste trabalho permitiu um olhar crítico a

partir das experiências analisadas, percepções que podem receber diversos ângulos de

observação, sendo expostos aqui parte deles.

Foi possível perceber que os governos de alguns países se mostram bastante

decididos quanto ao uso de ambientes online para promover o engajamento dos cidadãos na

política. O Governo da Nova Zelândia explora estes ambientes em diversas iniciativas e vem

fazendo uso intensivo das mídias sociais, como wikis. Esta postura traz novos horizontes de

participação ao permitir que os cidadãos redijam parte dos textos que futuramente irão

corresponder à sua base legal. É preciso uma postura muito democrática para estimular tal

processo, mesmo ciente dos riscos de receber contribuições de baixa qualidade ou

tendenciosos. São experiências que irão ensinar os demais governos os prós e contras de

processos como este.

O Governo do Reino Unido se destaca pela compreensão de que não precisa fazer

tudo sozinho. Os dados públicos são disponibilizados com o intuito de estimular grupos de

cidadãos e organizações não-governamentais a criarem serviços participativos que promovam

o engajamento da sociedade nas questões políticas. Estimulou até mesmo concursos de idéias

de serviços que possam ser implementados pelo governo ou por terceiros, como o caso da

iniciativa Show Us a Better Way, analisada neste trabalho, e que reuniu mais de 100 idéias

para novos serviços colaborativos para o governo. Esta estratégia pode gerar um número

significativo de ambientes de participação já passaram pelo crivo social, e representam algo

de útil no entendimento de parte dos cidadãos. A inteligência nesta iniciativa está em perceber

que os governos podem contar com a própria sociedade para ter idéias de como implementar

os serviços que aproximem governo e cidadãos.

O Governo dos Estados Unidos promete entrar num novo rumo de participação

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social. A campanha eleitoral do Presidente Barak Obama ficou famosa pela forma como a

Internet foi explorada. A equipe de campanha foi pioneira ao explorar diversos ambientes de

redes sociais, criar inúmeros canais de participação, gerenciar de maneira autêntica todo o

feedback recebido do público e estimular a conversação e o engajamento político. A

campanha presidencial de Barak Obama soube ocupar os espaços públicos virtuais e provocar

a discussão nestes locais. Criou ambientes próprios, mas também usou as redes pré-existentes,

um dos princípios dos sistemas emergentes, que também significa “ir onde as pessoas estão”.

O governo de Obama após a posse em 20 de janeiro de 2009, dá indícios de que irá continuar

sua política participativa, pois manteve seu perfil criado em diversas redes sociais e transferiu

as ferramentas participativos do portal Change.gov para o WhiteHouse.gov. Em um país onde

o voto não é obrigatório ações como estas podem ajudar no aumento da consciência política

dos cidadãos.

No setor da inovação, o registro de patentes colaborativo, oferecido pelo portal

Peer2Patent, mostra um forte investimento do governo norte-americano na direção da

inovação aberta, que incorpora a contribuição de agentes externos no processo criativo. É um

passo de grande risco, e mais um caso que pode ensinar aos demais governos o que funciona e

o que não funciona nesta área estratégica.

O Brasil por outro lado ainda está muito atrasado no processo eletrônico de

patentes, nem mesmo é possível solicitar ou acompanhar o registro pelo portal do INPI –

Instituto Nacional de Propriedade Intelectual. Pode-se supor que estamos muito distantes de

um processo aberto e colaborativo, no entanto não é uma alternativa a ser ignorada como

mostra o exemplo norte-americano.

As iniciativas do Governo Brasileiro apresentam um importante começo, mas é

preciso dar o próximo passo em alguns destes serviços. O Portal da Transparência, por

exemplo, necessita de um espaço para a colaboração de maneira que o cidadão possa

expressar suas opiniões e participar de fato das definições de prioridades nos setores onde isto

é possível. Diversas prefeituras já exercitam o orçamento participativo, logo esta prática

poderia também ser estimulada pela Internet, dando assim a oportunidade de um maior

número de cidadãos participarem. O processo de consulta pública é um direito do cidadão, e

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diversas organizações que legislam mantêm canais para receber opiniões do público.

Entretanto, a Internet não tem sido explorada para criar ambientes colaborativos. São muito

raros os casos de organizações que permitem discussões abertas e participativas sobre os atos

legais em consulta pública, como faz o Governo Eletrônico. E mesmo neste caso os

comentários ficam distantes entre si e o sistema de colaboração é rígido demais fazendo com

que os cidadãos opinem apenas sobre o texto em discussão, não podendo opinar sobre os

comentários de outros cidadãos, o que de fato geraria uma conversação e um debate aberto.

Um outro ponto crítico está na linguagem utilizada pelo governo brasileiro que, ao

invés de se aproximar da sociedade simplificando seus processos e adequando sua linguagem,

busca doutrinar os cidadãos em sua fala burocrática. O portal da Câmara dos Deputados, por

exemplo, mantém um canal aberto aos cidadãos para que estes encaminhem propostas de lei.

O problema começa quando o cidadão deve estudar qual modelo de sugestão ele tem em

mente, pois existem mais de dez formulários para os casos de resolução, lei ordinária, lei

complementar, decreto legislativo, entre muitos outros. É como se o cidadão precisasse de

bons conhecimentos de direito para emitir sua opinião. Além disso, os formulários devem ser

salvos no computador do cidadão, que deve ter licença do software editor de texto Microsoft

Word, uma vez que o formato dos documentos seja a extensão .DOC, da qual a empresa

Microsoft é proprietária. Após isto será necessário enviar o documento à Comissão

Legislativa Participativa por correio (Caixa Postal), disquete ou CD, email ou fax. Por sua vez

o Primeiro Ministro Britânico foi bem mais objetivo em sua iniciativa E-petition ao criar um

formulário eletrônico por meio do qual as petições podem ser encaminhadas sem necessidade

de conhecimento sobre os trâmites e linguagens técnicas e burocratas do sistema legislativo.

As petições ainda ficam acessíveis a qualquer usuário com acesso à Internet, e os cidadãos do

Reino Unido podem votar nas petições que consideram mais relevantes. A equipe do governo

analisa os textos, agrega petições quando se repetem ou tratam do mesmo assunto, julgam

indevidas e explica os motivos, apostando na visibilidade como ferramenta democrática.

Serviços de participação aberta como o Patient Opinion oferecem esta visibilidade

que se transforma em uma arma democrática para a sociedade na luta por serviços de melhor

qualidade. As velhas “caixinhas de sugestões” estão distantes demais dos olhos da sociedade e

por isso não funcionam como sistema de feedback. Agora os governos, criando ou não

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serviços abertos de avaliação, passam a lidar com seus problemas expostos a toda a sociedade,

com a voz dos próprios cidadãos. Não é preciso que canais de televisão ou jornais atuem

como intermediários para fazer chegar a informação aos interessados e a própria sociedade, os

cidadãos comuns podem fazê-lo. E, principalmente, o fazem de modo colaborativo, trocam

experiências e reforçam críticas. A crítica de um único cidadão a um serviço é diferente de

centenas ou milhares de críticas ao mesmo serviço. Este tipo de iniciativa parte do simples

princípio de que os cidadãos sabem onde estão os problemas e são capazes de apontá-los com

precisão. E que a colaboração é uma poderosa arma para reforçar suas reivindicações.

O estudo possibilitou tecer diversas considerações que podem ser vistas como

recomendações para os gestores públicos, pesquisadores e cidadãos interessados:

• O cenário brasileiro ainda oferece inúmeros desafios para o fortalecimento da

democracia pela via digital. Questões como acesso e capacitação da sociedade no uso

adequado das ferramentas tecnológicas ainda são grandes obstáculos para iniciativas

governamentais online. O desenvolvimento de ambientes de participação social pode

compor o universo de serviços que incorporam as políticas de inclusão digital dirigida

aos telecentros, bibliotecas públicas e outros.

• As tecnologias estudadas neste trabalho não isentam os ambientes de influência da

propaganda nos espaços públicos. É muito provável que a propaganda e a publicidade

encontrem caminho para cumprir seu papel enquanto agente de estímulo de consumo.

Esta nova esfera pública apresentada permite, no entanto, manter os fluxos de

comunicação operando de maneira multilateral, podendo trazer mais equilíbrio no

discurso entre os atores sociais.

• Fazer melhor o uso das plataformas das redes sociais existentes, como Youtube,

Flickr, Facebook, MySpace, entre muitas outras, para divulgar os serviços

governamentais. Em muitos casos, como no Portal da Câmara dos Deputados, o canal

de participação está aberto, mas o cidadão não consegue chegar até ele. O governo

deveria ir onde o cidadão está. As redes sociais foram muito bem exploradas em casos

como o das eleições norte-americanas em 2008. Este exemplo pode se repetir para

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fazer chegar a agenda política no terreno dos cidadãos. O instituto Ibope mostrou que

ações online podem ter um impacto 500 vezes maior fazendo uso de redes sociais

existentes do que criando novas nos sites da própria organização73.

• Muitos órgãos insistem em criar sua própria plataforma de colaboração. Adquirir ou

desenvolver a própria plataforma colaborativa, o próprio servidor de transmissão de

vídeos, etc. Isto implica em um alto custo de implementação dos projetos web. Todo

este recurso pode ser melhor aproveitado em novos projetos ou campanhas de

engajamento. O mercado de software oferece uma série de recursos livres que podem

ser usados de maneira estratégica com significativa redução de custos. Desde

ferramentas open source até serviços online gratuitos, muitos governos estão

conseguindo inovar com baixo custo e menor risco, transferindo boa parte destes

riscos para estruturas externas. No caso das plataformas online de redes sociais, ainda

há o fato de que é lá que estão os usuários, então não faz sentido criar um novo

ambiente e convocar todo mundo novamente.

• Foi percebido que o governo ainda insiste em utilizar uma linguagem técnica muito

utilizada nos trâmites burocráticos de sua estrutura interna, que em nada se assemelha

com a realidade prática dos cidadãos. Os órgãos de governo devem se esforçar para

simplificar sua linguagem e seus processos ao invés de buscar doutrinar os cidadãos

em utilizar sua linguagem técnica, o que parece ser uma realidade brasileira.

• Nos serviços de consulta às informações públicas são oferecidos poucos filtros. As

equipes de desenvolvimento no governo devem pensar em recursos de busca mais

flexíveis que ofereçam cruzamentos e ranking. Como, por exemplo, no caso do

acompanhamento dos gastos dos deputados, faltam respostas a questões como: Quais

deputados cuidam melhor dos seus recursos? Quais partidos tem deputados com maior

73 Disponível em: < http://is.gd/iqeY> ou < http://www.ibope.com.br>.

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gasto? Quais deputados mais faltam às seções plenárias? São consultas importantes

que não estão disponíveis.

• Para dar conta de todas estas demandas o governo deve buscar a colaboração da

própria sociedade, disponibilizando os dados públicos em formato bruto para que

possam ser reutilizados em mashups desenvolvidos por grupos de cidadãos e

organizações não-governamentais.

• A preocupação maior com tecnologia deve estar nos padrões de disseminação de

dados, visando à interoperabilidade.

• Embora apresentem grandes benefícios as práticas online não substituem as

tradicionais, portanto outros mecanismos de participação social como eventos

presenciais devem continuar sendo explorados.

• As consultas públicas são mecanismos fáceis de serem explorados via blogs e wikis,

órgãos legislativos deveriam olhar mais atentamente para esta possibilidade.

• A tecnologia da informação não é tão cara, como provam alguns casos analisados

neste trabalho, que foram desenvolvidos por uma única pessoa, com uma boa idéia,

vontade de executá-la e um bom aproveitamento das plataformas de código livre e

padrões abertos.

• Uma das premissas no ambiente de desenvolvimento de soluções que se baseiam em

software e forte interação com o usuário atualmente é o princípio da melhoria

contínua. Para isto é preciso lançar a iniciativa com rapidez, mesmo que esteja

inacabada. A comunidade irá ajudar a moldar o serviço a partir do uso.

• A preocupação com usabilidade (no caso, a facilidade de uso dos sites) e

acessibilidade (o direito de toda a sociedade ao acesso aos sites, inclusive os

portadores de deficiências) deve também estar sempre no topo da lista dos pré-

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requisitos para novas iniciativas.

• Uma das principais preocupações deve estar no mecanismo de feedback, se está

implementado de modo realmente convidativo e se é aberto, permitindo a colaboração

também entre os próprios cidadãos.

Tentou-se neste trabalho investigar alguns caminhos possíveis para o avanço

das práticas colaborativas na relação entre governo e cidadãos, sobretudo no Brasil, que está

diante da oportunidade de melhorar seu sistema democrático tendo a Internet como uma

importante ponta de apoio. Diversos governos estão inovando e buscando soluções para os

problemas da sociedade em conjunto com a população. No Brasil ainda se percebe uma ênfase

muito grande na transparência, que tem sua enorme importância para a consolidação da

democracia, entretanto, é possível ir mais longe com criatividade, liderança e flexibilidade.

Com relação às tecnologias digitais e de redes, o governo brasileiro parece

estar muito atento aos riscos, como a preocupação com crimes virtuais, e vem chamando

atenção de todo o mundo por implementar soluções como o voto eletrônico e a declaração de

imposto de renda via Internet. Isto reforça que é preciso administrar os riscos sem perder o

potencial inovador.

De toda maneira, são inúmeros os desafios e possibilidades, tanto para o

governo brasileiro, quanto para os países mais avançados nas ações de governo eletrônico e

democracia. Encontrar as doses certas de participação, adequação tecnológica, enfrentar a

barreira da exclusão digital e social, educação política são só alguns dos muitos desafios

impostos aos governos. A colaboração, entretanto, deve ser entendida como uma aliada à

democracia. Sejam as iniciativas originadas pelo governo ou pela própria sociedade

organizada, os cidadãos carecem de mecanismos de participação que tragam melhores

oportunidades em prol da cidadania. Cabe então ao governo e sociedade abrir os olhos para as

novas possibilidades que surgem no campo da colaboração e participação social.

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