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4ª Promotoria de Justiça da Comarca de Planaltina
Edifício do Fórum – Praça Cívica, S/N – Centro, Planaltina/GO – CEP 73.750-005
Telefone/Fax: (61) 36373684 / 4536/7970
_____________________________________________________________________ 1
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA
CRIMINAL DA COMARCA DE PLANALTINA – GO
Denunciados: JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO, LEONARDO ANDRÉ
AMORIM MACHADO GOMES, ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO, FÁBIO
BRAZ DE QUEIROZ, MACIEL MORAES DE CASTRO, JOSÉ DOMINGOS GOMES
DE OLIVEIRA, ALEXSANDRO JOSÉ DE OLIVEIRA, GRAZIELLY PEREIRA
BARBOSA e SINTIA MARIA GONÇALVES.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo
Promotor de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições
constitucionais e legais, com fundamento no artigo 129, inciso I, da Carta
Republicana de 1988 e no artigo 24 do Código de Processo Penal, vem oferecer
DENÚNCIA em desfavor de:
1) JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO, brasileiro, casado,
ex-prefeito de Água Fria de Goiás-GO, portador do CPF n. 145.982.991-34, RG
394.018 SSP/DF, título de eleitor n. 007896762003, residente na Rua 14,
Quadra 48, Lote 15, Centro, Água Fria de Goiás-GO ou QNL 21, Bloco C, S/N,
Apto. 104, Centro, Taguatinga Norte-DF, CEP: 72152-113;
2) LEONARDO ANDRÉ AMORIM MACHADO GOMES,
brasileiro, servidor público, nascido em 02/07/1975, natural de Jaraguá/GO,
filho de Paulo Marcos Machado Gomes e Dalva de Lourdes Amorim Machado,
portador do CPF n. 771.726.551-68 e do RG n. 2124142 DGPC/GO, residente
na Avenida Eloy Pinto Araújo, Chácara Vô Manuel, Zona Rural, Água Fria de
Goiás/GO;
3) ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO, brasileiro,
nascido em 20/09/1976, em Penedo/RJ, filho de Benedito de Castro Silva e
Sildete Moraes de Castro, portador do CPF n. 025.514.754-65 e RG n. 2022496
SSP/DF, residente na Rua 20, Quadra 18, Lote 04, Centro, Água Fria de
Goiás/GO;
4ª Promotoria de Justiça da Comarca de Planaltina
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4) FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ, brasileiro, divorciado,
Administrador de Empresas, portador do RG n. 698.637 SSP/DF, CPF n.
297.246.941-00, residente na Rua 03, Quadra 09-A, Lote 33, Cond. Chácaras
Recreio Paraíso, Colonial Park I, Padre Lúcio, Águas Lindas de Goiás-GO;
5) MACIEL MORAES DE CASTRO, brasileiro, solteiro,
motorista, portador do RG n. 2315960 SSP/DF, CPF n. 000.377.861-48,
nascido em 09/06/1983, residente na Rua 20, Quadra 13, Lote 17–A, Etapa II,
Água Fria de Goiás-GO;
6) JOSÉ DOMINGOS GOMES DE OLIVEIRA, brasileiro,
solteiro, motorista, nascido em 06/11/1972, portador do RG n. 1603998
SSP/DF, CPF n. 602.891.201-87, residente na Rua Aníbal Modesto, Quadra 11,
Lote 16, Água Fria de Goiás-GO;
7) ALEXSANDRO JOSÉ DE OLIVEIRA, brasileiro, casado,
comerciante, nascido em 15/09/1984, natural de Santo Antônio-RN, filho de
José Severino de Oliveira e de Maria Galvão de Lima, portador do RG n.
002.415.130 SSP/RN, CPF n. 059.270.814-44, residente na Quadra 08, Lote 3,
Setor de Mansões, Águas Lindas de Goiás-GO, CEP: 72910-000;
8) GRAZIELLY PEREIRA BARBOSA, brasileira, solteira,
comerciante, natural de Brasília-DF, nascido em 18/07/1989, filha de Carlos
Humberto Pereira Barbosa e de Maria de Fátima Alves Pereira, portadora do
RG n. 2.705.449 SSP/DF, CPF n. 026.604.831-59, residente na SNO, Quadra
08, Bloco C, Loja 02, Brazlândia-DF, CEP: 72.720-080;
9) SINTIA MARIA GONÇALVES brasileira, solteira,
servidora pública, natural de Brasília-DF, nascida em 05/04/1979, filha de
Maria José da Cunha Gonçalves, portadora do RG n. 1731634 SESPDS DF, CPF
n. 868.589.801-30, residente na Rua 16, Quadra 15, Lote 11, Centro Água Fria
de Goiás-GO.
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I– DO INTRÓITO:
No bojo do Procedimento nº 201400229044 (Portaria n.
27/2014), instaurado no dia 09 de dezembro de 2014, nesta 4ª Promotoria de
Justiça, foi descortinada a existência de uma organização criminosa1 que agiu
no interior da Prefeitura do Município de Água Fria de Goiás-GO, nos anos de
2013 e 2014, capitaneada pelo Prefeito Municipal à época, o denunciado
JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO, que atuava em concurso com
servidores públicos municipais e com os empresários das pessoas jurídicas
TECNOBRASIL ASSESSORIA E EVENTOS e GENERAL BRAZ LTDA-
ME2, objetivando o desvio de verbas públicas.
A partir de representação formulada pelos cidadãos Nilton
Geraldo da Silva, Nilson Teles Salgado e Francisco Alves de Oliveira,
vereadores da cidade de Água Fria de Goiás-GO à época dos fatos, na qual
noticiaram ao Ministério Público irregularidades na formalização de contratos
entre o Município e as empresas TECNOBRASIL ASSESSORIA E
EVENTOS e GENERAL BRAZ LTDA-ME3, teve início a investigação que
desbaratou a existência da organização criminosa, que atuou em processos
licitatórios destinados à realização das festividades em comemoração aos 26º e
27º aniversários da cidade de Água Fria de Goiás-GO.
Aduziram os agentes públicos que as mencionadas empresas
teriam como sócio oculto o denunciado FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ,
secretário municipal de articulação política4 à época e responsável pela
formalização de contratos entre as suas empresas e o Poder Executivo de Água
Fria de Goiás-GO.
1 Art. 1º, § 1º e Art. 2º, § 4º, II, da Lei n. 12.850/2013.
2 Vide representação de fls.04/08.
3 Vide representação de fls.04/08.
4 Vide documentos de fls. 712 e 715.
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Após minuciosa investigação, evidenciou-se que a organização
criminosa atuou fraudando onze processos licitatórios para a contratação
de empresas especializadas na realização de eventos, bem como para a
contratação de artistas que realizaram shows artísticos nas festividades
comemorativas dos 26º e 27º aniversários da cidade de Água Fria de Goiás-
GO, nos anos de 2013 e 2014.
Apurou-se que as empresas investigadas tinham por função
precípua viabilizar o desvio de verbas públicas, razão pela qual foi deflagrada a
denominada “Operação Show de Horrores”, no dia 20 de fevereiro de 2019,
que esclareceu o “modus operandi” da organização criminosa ao fraudar os
seguintes processos: Processos Licitatórios – Convites – ns. 09/2013 e
10/2013 e Processos Administrativos ns. 61/2013, 80/2013, 81/2013
e 124/2013, realizados no ano de 2013, bem como os Processos
Licitatórios – Convites – ns. 06/2014 e 07/2014 e Processos
Administrativos ns. 06/2014, 07/2014, 92/2014, 93/2014 e 94/2014,
realizados no ano de 2014.
II – DO RESUMO DAS IMPUTAÇÕES
Extrai-se do bojo do Procedimento nº 201400229044 (Portaria
n. 27/2014) que, nos anos de 2013 e 2014, os denunciados JOÃO DE DEUS
SILVA CARVALHO, LEONARDO ANDRÉ AMORIM MACHADO
GOMES, ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO, FÁBIO BRAZ
DE QUEIROZ, MACIEL MORAES DE CASTRO, JOSÉ DOMINGOS
GOMES DE OLIVEIRA, ALEXSANDRO JOSÉ DE OLIVEIRA e
SINTIA MARIA GONÇALVES, agindo de forma consciente e voluntária,
constituíram organização criminosa para a prática de crimes de fraude à
licitação e contra a Administração e a fé públicas, em face do Município de
Água Fria de Goiás-GO.
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Decorre, também, do bojo do Procedimento nº 201400229044
(Portaria n. 27/2014) que, entre os meses de fevereiro e maio de 2013, no
município de Água Fria de Goiás-GO, os denunciados JOÃO DE DEUS
SILVA CARVALHO, LEONARDO ANDRÉ AMORIM MACHADO
GOMES, ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO, FÁBIO BRAZ
DE QUEIROZ, MACIEL MORAES DE CASTRO, JOSÉ DOMINGOS
GOMES DE OLIVEIRA, ALEXSANDRO JOSÉ DE OLIVEIRA e
GRAZIELLY PEREIRA BARBOSA, agindo com consciência e vontade,
fraudaram, mediante ajuste, combinação e outros expedientes, o caráter
competitivo dos Processos Licitatórios n. 09/2013 e 10/2013, com o intuito de
obter, para eles, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação.
Ainda, nas mesmas circunstâncias de tempo e local acima
alinhavados, os denunciados JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO,
FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ, MACIEL MORAES DE CASTRO, JOSÉ
DOMINGOS GOMES DE OLIVEIRA, agindo com consciência e vontade,
inseriram informação falsa nas duas Atas de fls. 43 e 625 (Convite n.
09/2013), 144 e 1466 (Convite n. 10/2013), com a finalidade de alterar a
verdade sobre fato juridicamente relevante.
Extrai-se, do mesmo modo, que, no ano de 2013, no município de
Água Fria de Goiás-GO, o denunciado JOÃO DE DEUS SILVA
CARVALHO, no exercício do cargo de Prefeito do Município, com plena
consciência de seu ato, inexigiu licitação fora das hipóteses previstas em lei e
sem a devida observância às formalidades pertinentes à inexigibilidade, a fim
de beneficiar o denunciado FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ, contratando
5 Por oportuno, vale frisar que as folhas das atas estão fora de ordem, pois preservou-se no
procedimento conforme encaminhado pela Prefeitura de Água Fria de Goiás à época.
6 Por oportuno, vale frisar que as folhas das atas estão fora de ordem, pois preservou-se no
procedimento conforme encaminhado pela Prefeitura de Água Fria de Goiás à época.
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diretamente os serviços da empresa GENERAL BRAZ, nos Processos
Administrativos ns. 61/20137, 80/20138, 81/20139 e 124/201310.
Da mesma forma, os denunciados JOÃO DE DEUS SILVA
CARVALHO e FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ, agindo com consciência e
vontade, inseriram informação falsa nos Contratos Administrativos ns.
10/201311, 61/201312, 80/201313, 81/201314, 121/201315 e 124/201316,
com o objetivo de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.
Prosseguindo, extrai-se do bojo do Procedimento nº
201400229044 (Portaria n. 27/2014) que, entre os meses de abril e maio de
2014, no município de Água Fria de Goiás-GO, os denunciados JOÃO DE
DEUS SILVA CARVALHO, LEONARDO ANDRÉ AMORIM
MACHADO GOMES, ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO,
FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ, SINTIA MARIA GONÇALVES, MACIEL
MORAES DE CASTRO, JOSÉ DOMINGOS GOMES DE OLIVEIRA,
ALEXSANDRO JOSÉ DE OLIVEIRA e GRAZIELLY PEREIRA
BARBOSA, agindo com consciência e vontade, fraudaram, mediante ajuste,
combinação e outros expedientes, o caráter competitivo dos Processos
Licitatórios ns. 06/201417 e 07/201418, com o intuito de obter, para eles,
vantagem decorrente da adjudicação dos objetos das licitações.
7 Vide fls. 204/221.
8 Vide fls. 222/241.
9 Vide fls. 242/259.
10 Vide fls. 260/286.
11 Vide fls. 820/821. (Documentação complementar não encaminhada inicialmente pelo Município de
Água Fria de Goiás).
12 Vide fls. 218/221.
13 Vide fls. 228/230.
14 Vide fls. 248/250.
15 Vide fls. 60/61.
16 Vide fls. 262/264.
17 Vide fls. 287/390.
18 Vide fls. 391/505.
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Do mesmo modo, no ano de 2014, no município de Água Fria de
Goiás-GO, o denunciado JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO, no
exercício do cargo de Prefeito do Município, com plena consciência de seu ato,
inexigiu licitação fora das hipóteses previstas em lei e sem a devida
observância às formalidades pertinentes à inexigibilidade, a fim de beneficiar
os denunciados FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ e ALEXSANDRO JOSÉ DE
OLIVEIRA, contratando diretamente os serviços da empresa
TECNOBRASIL ASSESSORIA E EVENTOS, nos Processos
Administrativos ns. 92/201419, 93/201420 e 94/201421.
Ainda, o denunciado JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO,
valendo-se da sua função de Prefeito Municipal, entre os meses de fevereiro e
maio de 2013, por 06 vezes, pelas mesmas condições de tempo, lugar e
maneira de execução, com plena consciência de seus atos, e com o auxílio do
denunciado FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ, desviou rendas públicas, em
proveito de ambos, que importou na dilapidação do patrimônio do município
de Água Fria de Goiás.
Extrai-se, finalmente, que o denunciado JOÃO DE DEUS
SILVA CARVALHO, valendo-se da sua função de Prefeito Municipal, entre
os meses de março e maio de 2014, por 05 vezes, pelas mesmas condições de
tempo, lugar e maneira de execução, com plena consciência de seus atos, e com
o auxílio dos denunciados FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ e ALEXSANDRO
JOSÉ DE OLIVEIRA, desviou rendas públicas, em proveito deles, que
importou na dilapidação do patrimônio do município de Água Fria de Goiás.
19 Vide fls. 506/540.
20 Vide fls. 541/586.
21 Vide fls. 587/619.
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III – DOS FATOS EM MINÚCIA:
A organização criminosa aqui denunciada teve seu embrião nos
idos de janeiro de 2013, em face da expedição da Portaria nº 01/201322, de 02
de janeiro de 2013, da lavra do denunciado JOÃO DE DEUS, prefeito
municipal à época dos fatos, que nomeou os denunciados FÁBIO BRAZ,
MACIEL e JOSÉ DOMINGOS para comporem a Comissão de Licitação do
Município de Água Fria de Goiás-GO, nas funções de Presidente, Secretário e
Membro, respectivamente, a fim de possibilitar a prática de fraudes em
detrimento da Administração Pública.
Desvelou-se, também, que os denunciados LEONARDO e
ROBERTO MÁRCIO ostentavam, respectivamente, os cargos públicos de
Secretário de Administração e Secretário de Finanças, ocasião em que
recebiam forte influência do ex-prefeito, denunciado JOÃO DE DEUS, para a
realização de licitações, com a finalidade de contratar empresas determinadas.
Nesse ponto, veio à luz que, na composição da organização
criminosa, também figurava o denunciado ALEXSANDRO, cujas empresas
de sua propriedade, GENERAL BRAZ e TECNOBRASIL, foram
beneficiadas pelos esquemas ilícitos perpretados. O denunciado
ALEXSANDRO, no ano de 2013, figurou como sócio da empresa GENERAL
BRAZ, juntamente com Heriberto Laurentino Dias, pessoa falecida no ano de
201123, tendo também sido representante da empresa TECNOBRASIL,
juntamente com a denunciada GRAZIELLY, no ano de 201424.
22 Vide fl. 12.
23 Vide Certidão de Óbito de fl. 742.
24 A empresa encerrou as suas atividades no dia 14 de setembro de 2017 – Vide
documento de fls. 677/678.
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Além disso, foi apurado que FÁBIO BRAZ, a um só tempo,
ocupava as funções de Secretário Municipal de Articulação Política – Decreto
n. 04/201325 –, de presidente da Comissão de Licitação26, e, também, figurava
como sócio oculto de ambas as empresas investigadas, o que viabilizou a
prática das fraudes.
A denunciada SINTIA aderiu às condutas integrando a
organização criminosa no ano de 2014, vez que substituiu FÁBIO BRAZ na
função de presidente da Comissão de Licitação27, chancelando diversas fraudes
a processos licitatórios que sequer chegaram a existir, visando apenas conferir
ares de legalidade às contratações fraudulentas praticadas.
O incremento das investigações, por meio de diversas diligências,
teve o condão de demonstrar que a organização criminosa atuava de forma
estruturalmente ordenada, caracterizada pela divisão de tarefas e com o
objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem indevida, por meio da
prática dos crimes de fraude à licitação, inexigibilidade de licitação, falsidade
ideológica e desvio de verbas públicas.
De início, vale destacar que as atividades criminosas se iniciaram
com a contratação de serviços para a realização das festividades
comemorativas ao 26º Aniversário da Cidade de Água Fria de Goiás-GO. Para
tanto, o Município firmou o Convênio n. 22/2013, com a AGÊNCIA
GOIANA DE TURISMO (GOIÁS TURISMO), que teve como objeto: apoio
à realização do 26º aniversário da cidade, 10º desfile de carros de boi e 7º
festa de moagem, no Município de Água Fria de Goiás, no período de 13 a 16
de junho, mediante o repasse de verba estadual, por intermédio da GOIÁS
25 Vide fl. 712.
26 Vide fl. 12.
27 Vide fl. 286.
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TURISMO, bem como a respectiva contrapartida do Município, conforme
detalhadamente constante do Plano de Trabalho28.
O modus operandi de que se valeu a organização criminosa para
a consecução da fraude à licitação no bojo do PROCESSO LICITATÓRIO –
CONVITE n. 09/2013 –, o primeiro a ser fraudado, foi repetido em
diversas licitações realizadas posteriormente e que serão aqui delineadas.
A investigação demonstrou que, para todas as fraudes realizadas
no ano de 2013, houve a participação da empresa GENERAL BRAZ, que,
na verdade, tratava-se de empresa de fachada utilizada pelo presidente da
Comissão de licitação, FÁBIO BRAZ, para viabilizar que a organização
criminosa pudesse promover o desvio de verbas públicas.
Da análise do Convite n. 09/2013, observou-se que, após as
justificativas da necessidade de abertura e do termo de referência com o valor
da contratação – R$ 79.200,00 (setenta e nove mil e duzentos reais) –,
FÁBIO BRAZ expediu carta-convite para que a empresa GENERAL BRAZ,
participasse do processo licitatório29.
Em seguida, a carta-convite mencionada foi supostamente
recebida e assinada pelo Sr. Heriberto Laurentino Dias, constando, inclusive,
o carimbo da empresa GENERAL BRAZ ao lado de sua assinatura:
28 Ver Cláusula 2ª do Convênio - fl. 827.
Obs. A cláusula 4ª fixou os valores do supracitado Convênio, nos seguintes moldes: “O valor
total deste Convênio é de R$ 158.000,00 (cento e cinquenta e oito mil reais), sendo
concedido pelo Estado, através da GOIÁS TURISMO, o montante de R$ 100.000,00 (cem mil
reais), a ser depositado em conta corrente aberta especificamente para a movimentação dos
recursos, ficando como contrapartida do Município, a importância de R$ 58.000,00
(cinquenta e oito mil reais), que será depositado na mesma conta corrente”. (Destacou-se).
29 Vide documento de fl. 29.
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Esse carimbo indicou que ela estava localizada na cidade de Água
Fria de Goiás-GO. Diante dessa informação, foi expedida a ordem de serviço n.
06/201830, para que o Oficial de Promotoria se dirigisse ao endereço indicado
e certificasse a sua existência.
30 Vide fl. 656.
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Conforme certidão31 lavrada pelo oficial de promotoria, Sr.
Lázaro Barbosa de Barros, constatou-se que a empresa GENERAL BRAZ
não possuía e nunca possuiu funcionamento naquele endereço.
Ainda, na oportunidade, o Oficial de Promotoria certificou que
conversou, pessoalmente, com o denunciado FÁBIO BRAZ, que se
apresentou como atual proprietário da empresa GENERAL BRAZ, ocasião
em que afirmou ter transferido o seu endereço, da cidade de Água Fria de
Goiás-GO, para a cidade de Águas Lindas de Goiás-GO32.
Contudo, fato é que se tratava de empresa de fachada, que nunca
existiu na cidade de Água Fria de Goiás-GO, tendo sido utilizada pelos
denunciados tão somente para a prática das fraudes. Tal afirmação decorre
não apenas da certidão do Oficial de Promotoria, mas também pelas diversas
diligências realizadas por este Órgão Ministerial durante as investigações.
Em declarações prestadas na sede do Ministério Público pelos
Srs. Nilton Geraldo da Silva, Nilson Teles Salgado e Francisco Alves de
Oliveira33, restou uníssono de seus depoimentos que a empresa GENERAL
BRAZ não existia no endereço apontado no carimbo utilizado nos contratos
administrativos celebrados com o Município de Água Fria de Goiás-GO. 31 Vide fl. 657.
32 Confira-se Certidão de fl. 659, em especial que: “General Braz Ltda. não funciona em
Água Fria, vizinhos não tinham quaisquer informações. Em Águas Lindas-GO, conversei
pessoalmente com Fábio Braz de Queiroz (061 99942 8971) e-mail:
[email protected], que se identificou como proprietário da empresa
General Braz LTDA localizada no endereço citado na determinação, o mesmo
afirmou que a empresa existia em Água Fria GO e ele transferiu para Águas
Lindas GO. Fotos anexas. Por ser verdade assino e dou fé”. Destacou-se.
33 Vide termos de declarações de fls. 635/637; 641/643 e 648/650 dos autos. Vejamos, nesse
ponto, pequeno trecho do termo de declarações do Sr. Nilton Geraldo da Silva: “(...); que
chegou a procurar o endereço da sede da empresa GENERAL BRAZ LTDA-ME no local
indicado no contrato, mas não encontrou qualquer empresa na localidade (sede na Av. Eloy
Pinto de Araújo, Quadra 14, Lote 03, Centro, Água Fria de Goiás); (...)”.
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13
O Ministério Público buscou, ainda, informações sobre o quadro
societário da empresa GENERAL BRAZ, em especial pelo documento de fls.
103/106 – REATIVAÇÃO COM ALTERAÇÃO CONTRATUAL N. 02 –,
com as seguintes informações relevantes:
Os Srs. Sidney José Nogueira de Godoy e Marcos Feliciano
Machado, únicos sócios componentes da sociedade denominada “AUTO
POSTO DE COMBUSTÍVEL BAIXÃO LTDA.”, resolvem de comum acordo
reativar e alterar o contrato social, mediante as seguintes cláusulas e
condições:
“PRIMEIRA: Que se retira da sociedade o sócio Sr. SIDNEY JOSÉ
NOGUEIRA GODOY, acima qualificado, possuidor de 30.000 (trinta
mil) quotas no valor de R4 1,00 (um real) cada uma, totalizando R$
30.000,00 (trinta mil reais) equivalente a 30% (trinta por cento) do
capital social, cedendo e transferindo como cedido e transferido estar o
total de suas cotas de capital ao Sr. HERIBERTO LAURENTINO
DIAS, brasileiro, solteiro, empresário, nascido em 13.05.1977, portador
da Identidade n. 36.500.616-6 SSP/SP e do CPF n. 026.572.314-03,
residente e domiciliado na Avenida Eloy Pinto de Araújo, Quadra 14,
Lote 03, Centro, Água Fria de Goiás-GO, CEP 73.780-00034, dando-lhe
plena, geral e irrevogável quitação das mesmas;
SEGUNDA: Que se retira da sociedade o sócio Sr. MARCOS
FELICIANO MACHADO, acima qualificado, possuidor de 70.000
(setenta mil) quotas no valor de R$ 1,00 (um real) cada uma,
totalizando R$ 70.000,00 (setenta mil reais), equivalente a 70%
(setenta por cento) do capital social ao Sr. ALEXSANDRO JOSÉ DE
OLIVEIRA, brasileiro, solteiro, empresário, nascido no dia
15.09.1984, portador da Identidade n. 002.415.130 SESPFC/RN e do
CPF n. 059.270.814-44, residente e domiciliado na Avenida Eloy Pinto
de Araújo, Quadra 14, Lote 03, Centro, Água Fria de Goiás – GO, CEP 34 Atente-se Excelência, que o endereço que consta no documento indicando a residência do
Sr. HERIBERTO é o mesmo em que se situava a suposta sede da empresa GENERAL
BRAZ LTDA-ME.
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14
73.780-00035, e as restantes 60.000 (sessenta mil) quotas de seu
capital, ao outro sócio ora admitido na cláusula anterior, Sr.
HERIBERTO LAURENTINO DIAS, dando-lhes plena, geral e
irrevogável quitação das mesmas;
(...)
QUARTA: Que altera a denominação social da sociedade para:
GENERAL BRAZ LTDA;
QUINTA: Que altera o endereço comercial da sociedade para:
Avenida Eloy Pinto de Araújo, Quadra 14, Lote 03, Loja 02,
Centro, Água Fria de Goiás – GO, CEP: 73.780-00036;
SEXTA: Que altera o objetivo comercial da sociedade para:
Prestação de serviços de soluções tecnológicas e
desenvolvimento de programas de computador sob
encomenda, suporte técnico, manutenção e outros serviços
em tecnologia da informação; Serviços de consultoria
administrativa e de projetos para Órgãos Públicos Federais,
Estaduais e Municipais, empresas privadas e ONG e OCIP;
Serviços de construção; Serviços de manutenção elétrica,
hidráulica, serralheria, marcenaria, fornecimento de mão de
obra especializada e temporária de limpeza, conservação,
dedetização, desratização, conservação de gramados,
jardins, piscinas, e serviços de reforma em geral; Locação de
estruturas de arquibancadas, palco, sonorização, filmagem,
coberturas, circos e tendas, fechamentos, alambrados,
banheiros químicos, iluminação para eventos; Promoção de
eventos, congressos, contratação de shows artísticos e
musicais e rodeios; Locação de veículos leves, pesados,
ambulâncias, utilitários, de passeio, tratores, retro
escavadeiras, moto niveladoras e demais equipamentos 35 Novamente, o endereço que consta no documento indicando a residência do Sr.
HERIBERTO é o mesmo em que se situava a suposta sede da empresa GENERAL BRAZ
LTDA-ME.
36 O mesmo endereço de residência e domicílio dos Srs. HERIBERTO e ALEXSANDRO.
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pertinentes; Transporte de cargas, encomendas, passageiros
e escolares; Manutenção de móveis e mobiliários; Reformas
e pinturas de imóveis; Desmontagem, remanejamento e
montagem de foros e divisórias.
SÉTIMA: Que a administração e gerencia da sociedade cabe apenas ao
sócio Heriberto Laurentino Dias, com poderes e atribuições de
representá-la em juízo ou fora dele ativa e passivamente, autorizado
ainda o uso da denominação social;
(...).
O documento mencionado fora assinado por todos os envolvidos
na transação, no dia 02 de maio de 2012:
Conforme se observa pela análise do contrato social da
GENERAL BRAZ, a pessoa responsável por assinar os atos da empresa,
incluindo os documentos de sua participação nos processos licitatórios, era o
Sr. Heriberto Laurentino Dias.
Contudo, em pesquisa realizada no site da Receita Federal (fl.
632), cadastro nacional de pessoa física, apurou-se que a pessoa de
Heriberto Laurentino Dias faleceu no ano de 2011, ou seja, um ano
antes da alteração do contrato social e dois anos antes dos processos
licitatórios serem realizados pela Prefeitura de Água Fria.
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Visando checar tal informação, foram expedidos os ofícios ns.
332/2018 e 337/2018, ao 2º Tabelionato de Notas, Protestos e Ofício de
Registro Civil da cidade de Santo Antônio-RN, oportunidade em que o Cartório
encaminhou ao Ministério Público cópia da CERTIDÃO DE ÓBITO37 do Sr.
HERIBERTO LAURENTINO DIAS, falecido no dia 28 de agosto de
2011, aos 34 anos de idade.
Chegou-se, dessa forma, à surpreendente conclusão de que o
MUNICÍPIO DE ÁGUA FRIA celebrou inúmeros contratos administrativos
com a empresa GENERAL BRAZ, durante o ano de 2013, que tinha como
proprietário e, inclusive, fora o responsável por assinar todos os documentos
dos processos licitatórios, uma pessoa falecida no ano de 2011, na cidade de
Santo Antônio-RN.
Assim, tem-se o processo licitatório n. 09/2013, modalidade
convite, que fora aberto tendo como objeto a “prestação de serviços na
realização das festividades comemorativas ao 26º aniversário de Água Fria
de Goiás-GO”38.
Em 04 de fevereiro de 2013, o denunciado ROBERTO
MÁRCIO, na condição de Secretário Municipal de Finanças, solicitou a
JOÃO DE DEUS autorização para contratação de empresa especializada na
realização de eventos, justificando a necessidade da medida para atender às
festividades comemorativas ao 26º aniversário de Água Fria de Goiás39.
37 Vide Certidão de Óbito de fl. 742.
38 Vide documentos de fls. 14/112 dos autos.
39 Vide fl. 15.
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Após as justificativas da necessidade de abertura e do termo de
referência com o valor da contratação, na quantia de R$ 79.200,00 (setenta e
nove mil e duzentos reais), o presidente da Comissão de Licitação, FÁBIO
BRAZ, expediu carta-convite para que a empresa GENERAL BRAZ
participasse do processo licitatório40.
O Processo Administrativo n. 09/2013 teve seu objeto
adjudicado41 a duas empresas vencedoras, quais sejam: TOTAL
EMPREENDIMENTOS LTDA (ANEXO II/Itens 1/2/3/4/5), no valor de R$
58.800,00 (cinquenta e oito mil e oitocentos reais) e GENERAL BRAZ
(ANEXO II/Itens 6/7), no valor de R$ 20.500,00 (vinte mil e quinhentos
reais).
Na ATA DE JULGAMENTO DA SESSÃO (fls. 43 e 62 dos
autos42), constou a presença do “de cujus” Heriberto Laurentino Dias na
própria sessão de julgamento das propostas, revelando a participação de todos
os membros da Comissão de Licitação na empreitada criminosa, que
assinaram referido documento:
40 Vide fl. 29.
41 Vide fl. 42.
42 A documentação foi organizada e, inclusive, carimbada fora de ordem pela própria
Prefeitura de Água Fria de Goiás-GO, motivo pelo qual decidiu-se mantê-la dessa forma.
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O denunciado JOÃO DE DEUS homologou o processo
licitatório43 e o contrato n. 121/201344 fora realizado com a empresa
GENERAL BRAZ, no valor de R$ 20.500,00 (vinte mil e quinhentos reais),
sendo o documento assinado pelo ex-prefeito JOÃO DE DEUS, pelo “de
cujus” Heriberto e pelos denunciados FÁBIO BRAZ e LEONARDO, este
Secretário de Administração à época dos fatos.
Dessa forma, tem-se evidenciado o modo de agir da organização
criminosa, que contava com os denunciados MACIEL e JOSÉ DOMINGOS,
como integrantes da Comissão de Licitação45, além de FÁBIO BRAZ,
presidente da Comissão, e sócio oculto das empresas GENERAL BRAZ e
43 Vide fl. 41.
44 Vide documento de fls. 60/61 dos autos.
45 Vide fl. 12.
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19
TECNOBRASIL. Ainda, os denunciados LEONARDO e ROBERTO
MÁRCIO colaboravam, de maneira ativa, para as atividades criminosas, vez
que toda análise documental passava por eles nas Secretarias de
Administração e Finanças, respectivamente.
Além disso, os denunciados LEONARDO e ROBERTO
MÁRCIO eram os responsáveis pela abertura dos processos licitatórios,
mediante Solicitação de Autorização46, para contratação. Eles também
assinavam, na condição de testemunhas, os próprios contratos administrativos
firmados com a empresa GENERAL BRAZ, representada pelo falecido
Heriberto Laurentino Dias.
Após a deflagração da denominada Operação Show de
Horrores, no dia 20 de fevereiro de 2018, constatou-se, novamente, a
inexistência das sessões de julgamentos materializadas nos documentos
encaminhados ao Ministério Público47.
46 Vide fls. 15; 115; 206; 224; 244; 281.
47 Confira-se Termo de Depoimento de JOSÉ DOMINGOS juntado às fls. 1.697 e 1.702
(mídia) dos autos, em especial: “Que é servidor do Município de Água Fria de Goiás desde o
ano de 2006; que ocupa a função de motorista; que, à época dos fatos, foi procurado por
ROBERTO MÁRCIO para compor a Comissão de Licitação, ao que ele respondeu que não
iria, pois não tinha conhecimento acerca de licitação; que lhe foi dito que bastaria assinar; que
participou de julgamentos de licitação para a contratação de máquinas e remédios; que para as
contratações de shows artísticos e serviços de estrutura para shows, não se recorda de ter
participado; que não sabia que FÁBIO BRAZ era presidente da Comissão de Licitação, tendo
tomado conhecimento de tal informação após ter vindo prestar declarações ao Ministério
Público, no ano de 2018; que foi chamado para assinar os documentos em mais de uma
oportunidade, por ROBERTO MÁRCIO e também por LEONARDO; que recebia ligações
pedindo para que ele fosse à Prefeitura para assinar documentos, sendo que outras vezes foi
abordado na rua; que nunca participou das licitações em que houve a contratação da empresa
GENERAL BRAZ; que não conhece a empresa TECNOBRASIL; que não esteve presente à
sessão de julgamento trazida na ata de fls. 406/407; que nunca participou de processos
licitatórios envolvendo a contratação de tal empresa(...)”. José Domingos. Confira-se Termo de
Depoimento de MACIEL, juntado às fls. 1703/1711 (mídia), em especial: “Que pediu para
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20
E não é só! Além dos crimes de fraude à licitação praticados para
a contratação da empresa GENERAL BRAZ, nos processos licitatórios –
CONVITES – ns. 09/2013 e 10/201348, evidenciou-se que a organização
criminosa continuou agindo contra o interesse público nos meses seguintes.
Para atender às festividades comemorativas ao 26º Aniversário
de Água Fria de Goiás-GO, a organização criminosa utilizou novamente a
empresa GENERAL BRAZ para se sagrar beneficiária de processos, por meio
de inexigibilidade de licitação, mediante cessão do direito de exclusividade de
empresas que agenciavam os artistas contratados.
Com relação a esses processos, realizados por meio de
inexigibilidade de licitação (PROCESSOS ADMINISTRATIVOS ns.
61/2013, 80/2013, 81/2013 e 124/2013), tem-se que não houve
observância às normas previstas na Lei n. 8.666/9349.
fazer parte da Comissão de Licitação, em razão da gratificação que era acrescentada à
remuneração; que havia reuniões; que possui pouco conhecimento técnico acerca de licitação,
não conhecendo a lei que trata de licitação; que ao ser questionado acerca de sua função na
Comissão de Licitação, disse não se recordar do que fazia; que não tem conhecimento de que
FABIO BRAZ era presidente da Comissão de Licitação; que se lembra de JOSÉ
DOMINGOS; que é irmão do ROBERTO MÁRCIO e parente do JOÃO DE DEUS; que
não conhece as empresas GENERAL BRAZ e TECNOBRASIL; que não se recorda da
pessoa de Heriberto (...)”.
48 Vide fls. 114/203.
49 A Lei de Licitações, em seu artigo 25, inciso III, exige, para a contratação direta, a
demonstração de que o profissional do setor artístico é consagrado pela crítica especializada
ou pela opinião pública, de modo a inviabilizar a competição: Art. 25. É inexigível a licitação
quando houver inviabilidade de competição, em especial: III- para contratação de
profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através de empresário exclusivo,
desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública.
(Destacou-se).
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21
Em 14 de fevereiro de 2019, o cantor Lindomar Pimenta
Pires50, da dupla Ricardo & Fabiano, foi ouvido pelo Ministério Público,
oportunidade em que declinou a forma como fora assinada a Declaração de
Exclusividade51 com a empresa GENERAL BRAZ, delimitando a atuação dos
denunciados FÁBIO BRAZ e JOÃO DE DEUS.
Nesse mesmo sentido, de modo a evidenciar como o desvio de
verbas públicas era efetivado, tem-se as declarações do Sr. Alessandro Correa
Campos52, contratado por meio do Procedimento Administrativo n. 81/2013.
50 Confira-se Termo de Depoimento juntados às fls. 1320-1322, em especial: “Que compõe
dupla Ricardo e Fabiano; que já havia feito show para o Município de Água Fria de Goiás em
outra oportunidade (...); que conhecia o prefeito JOÃO DE DEUS que o ajudava com
divulgação, tendo participado de seu programa de rádio; que foi convidado por telefone; que
foi à Prefeitura com sua dupla conversar com o prefeito JOÃO DE DEUS; que o cachê foi
fixado em R$ 8.000,00 (oito mil reais); que JOÃO DE DEUS disse que deveriam tratar a
respeito do pagamento com a pessoa de FÁBIO BRAZ; que foram até a sala do FABIO
BRAZ, que determinou ao depoente e a sua dupla que assinassem uma carta de exclusividade,
dizendo que era o proprietário da empresa GENERAL BRAZ; que, na oportunidade, FABIO
BRAZ pagou metade do cache; que após a realização do show, ele pagou mais R$ 4.000,00
(quatro mil reais) mediante a entrega de dinheiro e cheque; que o depoente reconhece sua
assinatura aposta à fl. 276; que FABIO BRAZ, no momento do pagamento, se queixou pelo
fato de JOÃO DE DEUS ter contratado o seu show, pois não irá dar lucro à sua empresa
GENERAL BRAZ; que FABIO BRAZ não quis lhe fornecer recebido; que o cheque que lhe
foi entregue não era da prefeitura, que era em nome de pessoa física (...)”.
51 Vide fl. 276.
52 Restou da investigação, a partir do documento de fls. 1.770/1.771, que o Padre Alessandro
Campos fora procurado pelo denunciado JOÃO DE DEUS, que contratou seu show, a fim de
que participasse do evento destinado à comemoração do aniversário da cidade de Água Fria de
Goiás-GO, pelo valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais).
A testemunha informou que o aludido valor fora pago em espécie, não tendo havido a
celebração de contrato escrito, mas somente do documento de exclusividade com a empresa
GENERAL BRAZ, o qual encaminhou anexo à sua resposta, afirmando ser de praxe a
celebração desse tipo de documento para garantir exclusividade apenas para a realização na
data do show.
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No ano de 2014, a organização criminosa continuou com o
mesmo modo de agir, dessa vez para as contratações destinadas às festividades
do 27º Aniversário de Água Fria de Goiás-GO, por meio da empresa
TECNOBRASIL, que também tinha FÁBIO BRAZ como sócio oculto.
Valendo-se de condutas análogas, a organização criminosa fraudou os
Processos Licitatórios – Convites ns. 06/2014 e 07/2014 –, bem como os
Processos Administrativos ns. 92/2014, 93/2014 e 94/2014.
Para a realização das atividades comemorativas ao 27º
aniversário da Cidade de Água Fria de Goiás-GO, fora firmado o Convênio
nº 043/2014, com a AGÊNCIA GOIANA DE TURISMO (GOIÁS
TURISMO), cujo objeto ficou assim delimitado em sua cláusula segunda: “O
presente Convênio tem por objeto o apoio à realização do 27º Aniversário de
Água Fria de Goiás, 11ª Festa do Carreiro e 8ª Festa da moagem município
de Água Fria de Goiás, no período de 12 a 15 de junho de 2014,mediante o
repasse de verba estadual, por intermédio da Goiás Turismo, bem como a
respectiva contrapartida do MUNICÍPIO, conforme detalhamento do Plano
de Trabalho53.
Conforme mencionado, nessa ocasião, a Comissão de Licitação
era formada pela denunciada SINTIA, que substituiu FÁBIO BRAZ na
função de presidente da Comissão de Licitação, bem como pelos denunciados
MACIEL e JOSÉ DOMINGOS.
53 Vide mídia juntada à fl. 1.761, encaminhado pela Agência Goiana de Turismo (GOIÁS
TURISMO).
A cláusula 4ª fixou os valores do supracitado Convênio, nos seguintes moldes: O valor total
deste Convênio é de R$ 158.000,00 (cento e cinquenta e oito mil reais), sendo concedido pelo
Estado, através da GOIÁS TURISMO, o montante de R$ 100.000,00 (cem mil reais), a ser
depositado em conta corrente aberta especificamente para a movimentação dos recursos,
ficando como contrapartida do Município, a importância de R$ 58.000,00 (cinquenta e oito
mil reais), que será depositado na mesma conta corrente.
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A empresa TECNOBRASIL, que atualmente consta nos
cadastros da Receita Federal com o status de “baixada”54, tinha como sócios os
denunciados ALEXSANDRO e GRAZIELLY, além de FÁBIO BRAZ, seu
sócio oculto.
Nesse período, FÁBIO BRAZ também continuava no exercício
da função de Secretário de Articulação Política da Prefeitura de Água Fria55,
sendo o responsável, juntamente com JOÃO DE DEUS, por firmar
CONVÊNIOS com a autarquia estadual GOIÁS TURISMO, visando a
liberação de recursos públicos para o Município de Água Fria de Goiás-GO 56.
Assim, do mesmo modo que no ano de 2013, os Processos
Licitatórios – Cartas-Convites n. 06/2014 e 07/2014 – também foram
fraudados. Isso porque não existia sessão de julgamento das propostas, sendo
os documentos entregues prontos aos membros da Comissão de Licitação
apenas para serem assinados, a fim de beneficiar a empresa TECNOBRASIL.
Reforçando esses fatos, tem-se o depoimento do denunciado
JOSÉ DOMINGOS, nas duas oportunidades em que foi ouvido pelo
Ministério Público no âmbito da investigação57. Ademais, o denunciado
MACIEL demonstrou total desconhecimento das funções que desempenhava
na Comissão58.
54 Vide fls. 627/628 e 677/678.
55 Decreto n. 04/2013 – fl. 712.
56 Vide documento de fl. 1.014, cujo teor demonstra e-mail encaminhado pela GOIÁS
TURISMO ao denunciado FÁBIO BRAZ. Do mesmo modo, ocorreu no bojo do Convênio n.
22/2013 - fl. 835.
57 Confira-se Termos de Depoimentos de fls. 693/695 e 1.697/1.702.
58 Confira-se Termo de Depoimento de fl. 1.711.
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24
Os denunciados LEONARDO e ROBERTO MÁRCIO, por sua
vez, continuaram auxiliando nas atividades criminosas, vez que toda análise
documental passava por eles nas Secretarias de Administração e Finanças,
respectivamente, a exemplo dos documentos que seriam encaminhados à
AGÊNCIA GOIANA DE TURISMO (GOIÁS TURISMO), em razão do
convênio firmado59.
Também de forma ilegal, foram realizados os Processos
Administrativos ns. 92/2014 e 93/2014, mediante inexigibilidade de
licitação, para a contratação direta de artistas previamente escolhidos, os
quais assinaram carta de exclusividade com a empresa TECNOBRASIL.
- DO ACÓRDÃO N. 07205/2018, DA LAVRA DO TRIBUNAL DE
CONTAS DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DE GOIÁS (TCM-GO)
O Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás (TCM-
GO), em julgamento de tomada de contas especial, constatou a existência de
irregularidades no âmbito da gestão do Município, no exercício de 2013, tendo
por objeto de análise os mesmos fatos da presente denúncia60.
Vê-se do Acórdão n. 07205/2018, que o TCM-GO julgou
irregulares as contas tomadas dos senhores JOÃO DE DEUS (ex-prefeito) e
Simão Rodrigues Mendes (Ex-gestor do Município de Água Fria), resultando
na imputação de débito a eles. Dentre as irregularidades apuradas, destacam-
se as seguintes:
a) Constatação de dano ao erário na condução dos gastos com
prestação de serviços para realização das festividades (rodeio)
comemorativas ao 26º aniversário da cidade, incluindo a
59 Vide mídia juntada à fl. 1.761, encaminhado pela Agência Goiana de Turismo (GOIÁS
TURISMO).
60 Processo n. 20410/2013 – Acórdão nº 07205/2018 – fls. 02/41 do APENSO I.
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contratação de profissionais do setor artístico, despesas estas
efetuadas pelo órgão do Poder Executivo;
b) Falhas formais na condução do Convite nº 9/2013, como por
exemplo a ausência de identificação da data de recebimento,
impossibilitando a verificação de prazo de cinco dias úteis, de
acordo com o art. 21, §2º, da Lei 8.666/1993;
c) Contratação com duplicidade parcial de objetos, oriundo de
pagamentos ilegais do procedimento licitatório objeto do Convite
nº 10/2013 (serviços de sonorização e iluminação profissionais);
d) Pagamentos ilegais de contratações diretas, via inexigibilidade de
licitação (Duplas Sertanejas: JHONY & RAHONY, Leandro &
Ricardo, Ricardo & Fabiano, Diogo Valadares e o cantor gospel
Padre Alessandro Campos61);
De se notar, portanto, que o TCM-GO também constatou a
existência de dano ao erário, entendendo que houve o pagamento em
duplicidade parcial de objetos (sonorização e iluminação), oriundo de
pagamentos ilegais de notas fiscais à empresa GENERAL BRAZ, bem como
em razão de contratações diretas realizadas com diversos artistas, mediante
inexigibilidade de licitação.
No que diz respeito à inexigibilidade de licitação, instrumento de
contratação de diversos artistas, por meio da empresa GENERAL BRAZ,
entendeu o TCM-GO que o denunciado JOÃO DE DEUS não logrou
demonstrar a legalidade das despesas:
Insta destacar que o fundamento para tais contratações diretas foi com
base no art. 25, III, da Lei n. 8.666/93, com apresentação da razão da
escolha dos artistas.
61 Confira-se fl. 04 (v) do Apenso
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Em relação à caracterização da inexigibilidade de licitação, a priori,
não se vislumbra a presença dos requisitos ensejadores da contratação
direta, pois conforme o art. 25 da Lei n. 8.666/93 para que seja viável a
inexigibilidade de licitação há que se ter a inviabilidade de competição.
Desse modo, para a contratação de shows artísticos segundo o art. 25,
III da Lei n.º 8.666/93, não restou provado nos autos que os artistas
Padre Alessandro Campos, Jhony e Rahony, Leandro e Ricardo,
Ricardo e Fabiano e Diego Valadares sejam consagrados pela crítica
especializada ou pela opinião pública.
Inclusive, cumpre ressaltar que os referidos objetos poderiam ser
licitados em plena viabilidade de competição. O que se veda é a
inexigibilidade de licitação para a contratação de bandas não
consagradas pela crítica, processos feitos de forma direta, em ausência
de licitação, não havendo nenhum caso de inviabilidade de licitação
propriamente dita.
Além disso, o art. 17, inciso IV da Instrução Normativa TCM/GO nº
015/12 prescreve que os contratos de show artístico devem ser
instruídos com:
a) Justificativa do preço contratado, com apresentação de cópia de
outros contratos públicos e privados e respectivas notas fiscais,
demonstrando que os valores contratados estão dentro dos parâmetros
do mercado de shows;
b) Apresentar documentos que demonstrem a consagração do
artista pela mídia e/ou crítica dos meios artísticos;
c) Demonstrativo da composição detalhada dos custos unitários
dos itens que compõem os preços contratuais – artista, apoio, palco,
energia, segurança, hospedagem, iluminação e outros;
d) Documentos que demonstrem que a contratação foi realizada
diretamente com o artista ou por meio de empresário exclusivo.
Quanto à inexigibilidade de contratação relativa à dupla “Gian e
Giovani” para o 26º Aniversário de Água Fria de Goiás, apesar de tal
dupla ser notoriamente conhecida pela sociedade, perfazendo o
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requisito legal da contratação direta por inexigibilidade de licitação, os
demais requisitos previstos no inciso VI do art. 17 da IN nº 015/12 não
se encontram nos autos62.
De se notar que as irregularidades descritas pelo TCM-GO se
fizeram presentes também em todos os processos licitatórios realizados, via
inexigibilidade de licitação, pela organização criminosa, no ano de 2014, a
partir da celebração de cessão de exclusividade dos direitos dos artistas que
seriam contratados por meio da empresa TECNOBRASIL.
- DO PROCESSO LICITATÓRIO – CONVITE – N. 09/2013:
Além das fraudes licitatórias já delineadas no âmbito do processo
n. 09/2013, para a celebração do Contrato Administrativo n. 121/201363,
houve a prática de crime de falsidade ideológica, pois o Município de Água Fria
de Goiás, por meio do ex-prefeito JOÃO DE DEUS, firmou contrato com a
empresa GENERAL BRAZ, no valor de R$ 20.500,00 (vinte mil e
quinhentos reais), representada pelo “de cujus” Heriberto Laurentino Dias,
tendo também sido assinado pelos denunciados FÁBIO BRAZ e
LEONARDO, este Secretário de Administração à época dos fatos.
Dessa forma, nota-se, que após a prática dos crimes de fraude à
licitação e falsidade ideológica (na ata de julgamento e no contrato), os
denunciados FÁBIO BRAZ e JOÃO DE DEUS lograram desviar dinheiro do
erário, em proveito de ambos.
O TCM-GO também demonstrou a existência de irregularidades,
apontando que houve omissão na identificação da data de recebimento nas
62 Confira-se fl. 15(v) do Apenso I.
63 Vide fls. 60/61.
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convocações dos licitantes, o que gerou o descumprimento de prazo fixado art.
21, §2º, IV, da Lei 8.666/199364.
Ainda, a retirada do instrumento convocatório formalizado no
documento de fl. 29 reflete que o ato foi realizado por pessoa falecida.
- DO PROCESSO LICITATÓRIO – CONVITE – N. 10/2013:
O processo licitatório n. 10/2013, modalidade convite, teve
novamente por objeto a “prestação de serviços na realização de rodeio para
as festividades comemorativas ao 26º aniversário de Água Fria de Goiás-
GO”65.
Do mesmo modo, o denunciado ROBERTO MÁRCIO exarou
solicitação66 para que o Prefeito Municipal autorizasse a contratação de
empresa especializada na realização de eventos, cujo objeto foi acima
especificado.
64 Diante da irregularidade apontada, o TCM-GO imputou multa ao denunciado JOÃO DE
DEUS, nos seguintes moldes:
65 Vide fls. 114/203.
66 Vide fl. 115.
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Após as justificativas da necessidade de abertura e do termo de
referência com o valor da contratação no valor de R$ 78.800,00 (setenta e oito
mil e oitocentos reais), o presidente da Comissão de Licitação, denunciado
FÁBIO BRAZ, expediu carta-convite para que as empresas GENERAL
BRAZ e TECNOBRASIL, MV Eventos Artísticos LTDA e Star Locação de
Serviços LTDA participassem do processo licitatório67.
No que se refere à empresa GENERAL BRAZ, relevante notar
que a carta-convite acima mencionada foi recebida e assinada pelo falecido
Heriberto Laurentino Dias, constando, inclusive, o carimbo da empresa
GENERAL BRAZ ao lado da assinatura do Sr. Heriberto, nos mesmos
moldes do processo licitatório anterior.
Já com relação à empresa TECNOBRASIL, importante tecer as
seguintes considerações:
1ª – A carta-convite fora retirada pelo representante da empresa,
o denunciado ALEXSANDRO:
67 Vide fls. 130/133.
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2ª – A empresa possuía sede no endereço localizado na Quadra
01, Lote 115, Sala 05, Setor Norte, Brazlândia, Brasília-DF, mesma cidade-
satélite de residência do denunciado FÁBIO BRAZ68;
3ª – Além disso, documento apresentado pelos Srs. Nilton,
Nilson e Francisco – vide doc. de fls. 07/08 – apontava o denunciado FÁBIO
BRAZ como sócio oculto da empresa, constando, inclusive, os seus números
telefônicos e e-mail para contato. Ressalta-se que o e-mail apontado na página
virtual da empresa TECNOBRASIL69 é de propriedade de FÁBIO BRAZ,
qual seja: [email protected]. Esse endereço de e-mail é o mesmo
fornecido por ele ao oficial de promotoria, Lázaro Barbosa de Barros, durante
diligência realizada em 25 de maio de 2018 (vide certidão de fl. 657)70;
4ª – Ademais, a empresa TECNOBRASIL encerrou suas
atividades no dia 14 de setembro de 2017, conforme distrato social
encaminhado pela Junta Comercial do Distrito Federal em 16 de maio de
201871. No documento, assinado pelos denunciados ALEXSANDRO e
GRAZIELLY, mais especificamente em sua cláusula quinta, constou que
ficaria a cargo do denunciado ALEXSANDRO a manutenção dos livros e
documentos da sociedade, podendo eles serem encontrados na Quadra 08,
Lote 03, Bairro Setor Mansões, Águas Lindas de Goiás, CEP: 72910-000;
68 Por meio do Cadastro Nacional de Pessoa Física da Receita Federal (fl. 629) constata-se que
o endereço do investigado FÁBIO BRAZ era na Quadra 19, n. 2, Apartamento 08, CEP:
72720-190, Brazlândia, Brasília-DF, ou seja, na mesma cidade-satélite da sede da empresa
TECNOBRASIL.
69 Vide fl. 08.
70 De igual modo, o denunciado FÁBIO BRAZ utilizou o e-mail [email protected] para
manter contato com a GOIÁS TURISMO, enquanto tratava de assuntos referentes aos
convênios firmados com o Município de Água Fria de Goiás-GO (fls. 835 e 1.014). Esse e-mail é
o mesmo disponibilizado pelo site da empresa TECNOBRASIL (fl. 08).
71 Vide fls. 677/678.
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5ª – Nessa mesma oportunidade, o denunciado FÁBIO BRAZ
também se mudou para Águas Lindas de Goiás e, inclusive, transferiu a sede
da empresa GENERAL BRAZ, de Água Fria de Goiás-GO, para Águas Lindas
de Goiás-GO, conforme certidão de fl. 657 e qualificação de termo de
declarações de fl. 697:
TERMO DE DECLARAÇÕES
AUTOS EXTRAJUDICIAIS N. 201400229044
NOME: FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ
NACIONALIDADE: Brasileira
NATURALIDADE: Brasília-DF
DATA DE NASCIMENTO: 27-09-1963
RG n. 698.637 SSP/DF
CPF n. 297.246.941-00
ESTADO CIVIL: Divorciado
PROFISSÃO: Administrador de Empresas
ENDEREÇO: Rua 03, Quadra 09-A, Lote 33, Colonial Parque I,
Águas Lindas de Goiás (Residencial e empresarial).
TEL: (61) 999428971.
6ª – Se não bastasse, o denunciado ALEXSANDRO, sócio da
TECNOBRASIL, juntamente com a denunciada GRAZIELLY, é o mesmo
que figurava como sócio da empresa GENERAL BRAZ, ao lado do falecido
Heriberto72, antes da empresa ser transferida para o Sr. Firmino Braz de
Queiroz73, pai de FÁBIO BRAZ, tendo ALEXSANDRO se tornado sócio
dessa empresa em maio de 2012, ou seja, um ano antes do contrato com a
Prefeitura de Água Fria;
72 Vide documento de fls. 181/184 dos autos.
73 Vide documento de fls. 625/626 dos autos.
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7ª – Nota-se que o denunciado ALEXSANDRO é da mesma
cidade natal do falecido Heriberto, qual seja, Santo Antônio-RN74, e até os
documentos pessoais de ALEXSANDRO e Heriberto apresentados à
Comissão de Licitação foram autenticados no mesmo dia: 12 de novembro
de 200775, denotando que havia estreita relação entre eles;
8ª – Dessa forma, o denunciado ALEXSANDRO, revelando-se
próximo de FÁBIO BRAZ, presidente da Comissão de Licitação, figurou
como sócio de duas empresas que participaram do certame, que culminou com
a contratação da empresa GENERAL BRAZ, conforme ata de sessão de
julgamento76, termo de adjudicação77, termo de homologação78, nota de
empenho, no valor de R$ 20.150,00 (vinte mil cento e cinquenta reais)79, e
extrato de contrato80, assinado pelo denunciado LEONARDO.
Do mesmo modo que no processo anteriormente analisado, na
ATA DE JULGAMENTO DA SESSÃO (fls. 144 e 146 dos autos81) foram
inseridas informações falsas, porquanto consta a presença do “de cujus”
Heriberto na própria sessão de julgamento das propostas:
74 Vide documentos de fls. 185 e 198.
75 Vide documentos de fls. 185 e 198.
76 Vide documentos de fls. 144 e 146.
77 Vide documento de fl. 143
78 Vide documento de fl. 145
79 Vide documento de fl. 138.
80 Vide documento de fl. 141.
81 A documentação foi organizada e, inclusive, carimbada fora de ordem pela própria
Prefeitura de Água Fria, motivo pelo qual decidiu-se mantê-la dessa forma.
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A partir das fraudes apontadas foi firmada a contratação
consubstanciada no Contrato Administrativo n. 10/201382, no qual também
foram inseridas informações falsas, vez que assinado pelo Sr. Heriberto.
O empenho foi realizado em favor da empresa no valor de R$
20.150,00 (vinte mil cento e cinquenta reais)83, tendo sido o extrato de
contrato84 assinado pelo denunciado LEONARDO.
O TCM-GO, no Acórdão n. 07205/2018, corroborou as
irregularidades do processo licitatório, acrescentando que houve a expedição
de cartas-convites sem data de recebimento, bem como pagamento ilegal em
virtude da duplicidade parcial de objetos, razão pela qual imputou débito ao
denunciado JOÃO DE DEUS. Confira-se:
- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO N. 61/2013:
O processo administrativo n. 61/201385 fora inaugurado para
viabilizar a contratação de show artístico com a dupla sertaneja GIAN &
GIOVANI, que se apresentaria nas festividades do 26º aniversário da cidade.
82 Vide fls. 820/821.
83 Vide fl. 138.
84 Vide fl. 141.
85 Vide fls. 204/221 dos autos.
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De acordo com o termo de referência86, assinado pelo
denunciado LEONARDO, então Secretário Municipal de Administração à
época, o show teria duração de 2 horas e custaria o valor de R$ 120.000,00
(cento e vinte mil reais).
Declarado inexigível o processo licitatório pelo denunciado
JOÃO DE DEUS87, no dia 01º de fevereiro de 2013, a empresa GENERAL
BRAZ, no mesmo dia, ofertou proposta para a realização do show com a dupla
GIAN & GIOVANI, no valor total de R$ 107.483,00 (cento e sete mil,
quatrocentos e oitenta e três reais)88, apresentando uma DECLARAÇÃO DE
EXCLUSIVIDADE, emitida pela empresa SUNSHINE PRODUÇÃO E
EVENTOS LTDA., transferindo a exclusividade da data do show musical, que
foi realizado no dia 15/06/2013, para a empresa GENERAL BRAZ, com a
consequente formalização contratual no mesmo dia 01º de fevereiro de 201389:
86 Vide fl. 208.
87 Vide fl. 209.
88 Vide fl. 210.
89 Vide fls. 218/221.
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Nesse passo, a investigação descortinou que a contratação dos
artistas, a partir da cessão de exclusividade, teve o condão de possibilitar, mais
uma vez, o desvio de verbas públicas, com a contratação sendo firmada por
empresa de fachada.
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- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO N. 80/2013:
Este processo n. 80/201390, instaurado para a contratação da
dupla sertaneja JHONY & RAHONI, para as festividades do 26º Aniversário
da cidade de Água Fria-GO, resultou na contratação da empresa GENERAL
BRAZ, pela quantia de R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais), conforme
contrato administrativo91, para apresentação com data certa, qual seja,
14/06/2013, contando novamente com a assinatura do falecido Heriberto nos
documentos (proposta comercial e contrato administrativo).
Observa-se que a proposta comercial da empresa GENERAL
BRAZ foi oferecida ao Município no dia 12 de março de 2013, ou seja, antes
mesmo do ex-prefeito JOÃO DE DEUS declarar inexigível o processo
licitatório para a contratação da dupla JHONY & RAHONI, o que somente
ocorreu no dia 13 de março de 2013.
Do mesmo modo que no processo anterior, não há nos
documentos encaminhados pela prefeitura de Água Fria de Goiás-GO qualquer
demonstrativo indicando o valor efetivamente auferido pelos artistas.
Assim, foram inseridas informações falsas no Contrato
Administrativo n. 080/201392 celebrado pelo Município de Água Fria de Goiás
e pela empresa GENERAL BRAZ.
Consoante já descrito, o TCM-GO imputou débito ao
denunciado JOÃO DE DEUS, em razão da contratação, ora analisada.
Confira-se:
90 Vide fls. 222/241.
91 Vide fls. 228/231.
92 Vide fls. 228/230.
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- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO N. 81/2013:
Este processo administrativo n. 81/201393, instaurado para a
contratação do show artístico gospel com o PADRE ALESSANDRO CAMPOS,
para as festividades do 26º Aniversário da cidade de Água Fria de Goiás-
GO, resultou na contratação da empresa GENERAL BRAZ, pela quantia de
R$ 30.000,00 (trinta mil reais), conforme contrato administrativo94, para
apresentação com data certa, qual seja, 10/06/2013, contando novamente com
a assinatura do falecido Heriberto nos documentos (proposta comercial e
contrato administrativo).
Observa-se, também, que a declaração de inexigibilidade de
licitação aconteceu no dia 22 de março de 2013, ou seja, no mesmo dia em que
a proposta comercial da empresa GENERAL BRAZ foi oferecida ao
Município, e no mesmo dia da assinatura do contrato administrativo. Assim,
todos os atos foram feitos em um único dia!
Do mesmo modo que no processo anterior, não há nos
documentos encaminhados pela prefeitura de Água Fria de Goiás-GO qualquer
demonstrativo indicando o valor efetivamente auferido pelos artistas. 93 Vide fls. 242/259.
94 Vide fls. 248/250.
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In casu, portanto, não há dúvida de que foram inseridas
informações falsas no Contrato Administrativo n. 81/2013, celebrado entre
Município de Água Fria de Goiás-GO e a empresa GENERAL BRAZ,
representada pelo Sr. Heriberto Laurentino Dias.
Neste caso, o TCM-GO também imputou débito ao denunciado
JOÃO DE DEUS, em razão da contratação, ora analisada. Confira-se:
- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO N. 129/2013:
Este processo administrativo n. 129/201395, instaurado para a
contratação do show artístico com LEANDRO & RICARDO, RICARDO &
FABIANO e DIEGO VALADARES, para as festividades do 26º Aniversário da
cidade de Água Fria-GO, resultou na contratação da empresa GENERAL
BRAZ, pela quantia de R$ 32.000,00 (trinta e dois mil reais), consoante
contrato administrativo96, para apresentações com datas certas – 13/06/2013,
14/06/2013 e 16/06/2013 –, contando novamente com a assinatura do
falecido Heriberto nos documentos (proposta comercial e contrato
administrativo).
95 Vide fls. 260/286.
96 Vide fls. 262/264.
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Observa-se, do mesmo modo, que a declaração de inexigibilidade
de licitação aconteceu no dia 19 de maio de 2013, ou seja, um dia antes da
formalização de contrato administrativo com a empresa GENERAL BRAZ.
Ainda, não há nos documentos encaminhados pela prefeitura de
Água Fria qualquer demonstrativo indicando o valor efetivamente auferido
pelos artistas.
Assim, foram inseridas informações falsas no Contrato
Administrativo n. 129/201397, celebrado entre o Município de Água Fria de
Goiás-GO e a GENERAL BRAZ, representada pelo Sr. Heriberto Laurentino
Dias.
Consoante já descrito, o TCM-GO imputou débito ao denunciado
JOÃO DE DEUS, em razão da contratação, ora analisada. Confira-se:
- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO – CONVITE - N. 06/2014:
No ano de 2014, a organização criminosa continuou com o
mesmo “modus operandi”, passando a agir, no entanto, por meio da empresa
TECNOBRASIL. 97 Vide fls. 262/264.
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Ocorreu, também, no início de 2014, a substituição da
presidência da Comissão de Licitação, com a saída de FÁBIO BRAZ e a
nomeação da denunciada SINTIA para exercer tal função98. Os demais
membros permaneceram os mesmos.
Cumpre salientar que FÁBIO BRAZ continuou a exercer cargo
comissionado no Município nessa época, permanecendo na função de
Secretário Municipal de Articulação Política até 01º de fevereiro de 201599.
No dia 22 de abril de 2014, após solicitação do denunciado
ROBERTO MÁRCIO, foi lançada a carta-convite n. 06/2014, com a
finalidade de contratar empresa para realização de rodeio para as festividades
comemorativas do 27º aniversário de Água Fria de Goiás-GO, entre os dias 12
e 15 de junho de 2014100.
O processo licitatório resultou na contratação das empresas MV
EVENTOS ARTÍSTICOS LTDA. (fls. 292/293) e TECNOBRASIL (fls.
295/296).
De acordo com o contrato administrativo de fls. 295/296, a
empresa TECNOBRASIL venceu a licitação para fornecer serviços técnicos
especializados na sonorização e montagem de iluminação, no valor total de R$
20.270,00 (vinte mil, duzentos e setenta reais).
Conforme já mencionado anteriormente, a empresa
TECNOBRASIL, atualmente inativa, estava registrada em nome do
denunciado ALEXSANDRO, ex-sócio da empresa GENERAZ BRAZ.
98 Vide fl. 286.
99 Vide fls. 709/715.
100 Vide fls. 378/383.
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FÁBIO BRAZ e ALEXSANDRO se uniram para a prática de
crimes de fraude à licitação e contra a Administração Pública, utilizando-se de
duas empresas para a consecução das ilicitudes, quais sejam GENERAL
BRAZ e TECNOBRASIL.
Durante todo o ano de 2013, os investigados utilizaram a
empresa GENERAL BRAZ para a prática dos crimes. Em 2014, foi a vez da
TECNOBRASIL entrar em cena, acarretando a formalização de inúmeros
contratos com o Município de Água Fria de Goiás-GO.
Dessa forma, a partir dos conchavos espúrios realizados entre os
denunciados FÁBIO BRAZ, ALEXSANDRO, JOÃO DE DEUS e os
membros da Comissão de Licitação, os denunciados SINTIA, MACIEL e
JOSÉ DOMINGOS, que contavam com o auxílio dos denunciados
ROBERTO MÁRCIO e LEONARDO, houve, de fato, a realização da
contratação direta da empresa, já que não existiu a realização de processo
licitatório destinado à escolha da melhor proposta para a Administração
Pública.
- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO - CONVITE - N. 07/2014:
No dia 22 de abril de 2014, ou seja, no mesmo dia da licitação
anterior, também foi lançada a carta-convite n. 07/2014, com a finalidade de
contratar empresa para realização de rodeio para as festividades
comemorativas do 27º aniversário de Água Fria de Goiás-GO, entre os dias 12
e 15 de junho de 2014101.
O processo licitatório resultou na contratação das empresas
TOTAL EMPREENDIMENTOS LTDA. (fls. 395/397) e TECNOBRASIL (fls.
399/400).
101 Vide documento de fls. 486/491 dos autos.
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De acordo com o contrato administrativo102, a empresa
TECNOBRASIL venceu a licitação para fornecer serviços técnicos
especializados na montagem de palanque e tendas calhadas, no valor total de
R$ 20.440,00 (vinte mil, quatrocentos e quarenta reais).
Por oportuno, importante mencionar que as notas fiscais
emitidas pela TECNOBRASIL103 orientavam o Município de Água Fria de
Goiás-GO a transferir o dinheiro diretamente para a conta do investigado
ALEXSANDRO, pessoa física, revelando tratar-se de uma transação atípica.
Ademais, observando-se as transferências eletrônicas bancárias
realizadas diretamente para a conta do denunciado ALEXSANDRO,
constata-se que, em uma das transferências, há uma divergência entre o valor
da nota fiscal e o montante depositado pelo Município, cuja autorização da
transação foi feita por meio dos denunciados JOÃO DE DEUS e ROBERTO
MÁRCIO104.
De se notar que tais indicativos de fraude foram corroborados
quando da deflagração da denominada Operação Show de Horrores, no dia 20
de fevereiro de 2019, pois o denunciado JOSÉ DOMINGOS foi categórico ao
afirmar que não participou de qualquer licitação envolvendo a realização de
shows no ano de 2014, muito embora sua assinatura tenha constado nas atas
de julgamento.
102 Vide fls. 399/400.
103 Vide fls. 198/499.
104 Vide fls. 498 e 501.
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Telefone/Fax: (61) 36373684 / 4536/7970
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46
- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO N. 92/2014:
Este processo administrativo n. 92/2014105 fora inaugurado para
viabilizar a contratação de show artístico, com a dupla sertaneja MILIONÁRIO
& JOSÉ RICO, que se apresentaria nas festividades do 27º aniversário da
cidade.
De acordo com o termo de referência106 assinado pelo
denunciado LEONARDO, então Secretário Municipal de Administração à
época, o show teria duração de 2 horas e custaria a quantia de R$ 150.000,00
(cento e cinquenta mil reais).
Declarado inexigível o procedimento licitatório pelo denunciado
JOÃO DE DEUS107, no dia 05 de março de 2014, a empresa
TECNOBRASIL, um dia após a declaração de inexigibilidade, ofertou
proposta para a realização do show com a dupla no valor total de R$
150.000,00 (cento e cinquenta mil reais)108, apresentando uma DECLARAÇÃO
DE EXCLUSIVIDADE109, emitida pelo Sr. ANDRÉ RENATO MARTINS,
transferindo a exclusividade da data do show musical da dupla MILIONÁRIO
& JOSÉ RICO, que foi realizado no dia 14/06/2014, para a empresa
TECNOBRASIL, de propriedade dos denunciados ALEXSANDRO e
FÁBIO BRAZ, com a consequente formalização contratual no mesmo dia 06
de março de 2014110.
Dessa forma, mediante inexigibilidade de licitação absolutamente
ilegal, foi realizada a contratação da dupla MILIONÁRIO & JOSÉ RICO, por
meio da empresa TECNOBRASIL.
105 Vide fls. 506/540.
106 Vide fl. 511.
107 Vide fl. 510.
108 Vide fls. 518/519.
109 Vide fl. 517.
110 Vide fls. 512/515.
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47
- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO N. 93/2014:
Este processo administrativo n. 93/2014111 fora inaugurado para
viabilizar a contratação de show artístico com a dupla sertaneja ANDRÉ &
ANDRADE, que se apresentaria nas festividades do 27º aniversário da cidade.
De acordo com o termo de referência112 assinado pelo denunciado
LEONARDO, então Secretário Municipal de Administração à época, o show
teria duração de 2 horas e custaria o valor de R$ 70.000,00 (setenta mil reais).
Declarado inexigível o processo licitatório pelo investigado
JOÃO DE DEUS113, no dia 05 de março de 2014, a empresa
TECNOBRASIL, no mesmo dia da declaração de inexigibilidade, ofertou
proposta para a realização do show com a dupla no valor total de R$
68.000,00 (sessenta e oito mil reais)114, apresentando uma DECLARAÇÃO DE
EXCLUSIVIDADE115, emitida pelo Sr. JOSÉ DE FREITAS MACHADO,
transferindo a exclusividade da data do show musical da dupla ANDRÉ &
ANDRADE, que foi realizado no dia 13/06/2014, para a empresa
TECNOBRASIL, de propriedade dos denunciados ALEXSANDRO e
FÁBIO BRAZ, com a consequente formalização contratual no dia 06 de
março de 2014116.
Dessa forma, mediante inexigibilidade de licitação absolutamente
ilegal, foi realizada a contratação da dupla ANDRÉ & ANDRADE, por meio da
empresa TECNOBRASIL.
111 Vide fls. 541/586.
112 Vide fl. 545.
113 Vide fl. 510.
114 Vide fls. 554/555.
115 Vide fl. 552.
116 Vide fls. 547/550. Atente-se, Excelência, que o investigado FÁBIO figura como testemunha
nesse contrato administrativo (fl. 550).
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48
- DO PROCESSO ADMINISTRATIVO N. 94/2014:
Por fim, fora realizado o processo administrativo n. 94/2014117,
instaurado para viabilizar a contratação de show artístico com a dupla
sertaneja BONI & BELUCO, que se apresentaria nas festividades do 27º
aniversário da cidade.
De acordo com o termo de referência118 assinado pelo denunciado
LEONARDO, então Secretário Municipal de Administração à época, o show
teria duração de 2 horas e custaria o valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil
reais).
Declarado inexigível o procedimento licitatório pelo denunciado
JOÃO DE DEUS119, no dia 05 de março de 2014, a empresa
TECNOBRASIL, no mesmo dia após a declaração de inexigibilidade, ofertou
proposta para a realização do show com a dupla no valor total de R$
32.000,00 (trinta e dois mil reais)120, com a consequente formalização
contratual no dia 06 de março de 2014121.
Dessa forma, mediante inexigibilidade de licitação absolutamente
ilegal, foi realizada a contratação da dupla BONI & BELUCO, por meio da
empresa TECNOBRASIL.
117 Vide documentos de fls. 587/619 dos autos.
118 Vide fl. 590.
119 Vide fl. 619.
120 Vide fl. 596.
121 Vide fls. 591/594. Atente-se, novamente Excelência, que o denunciado FÁBIO figura como
testemunha nesse contrato administrativo (fl. 594).
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- DOS VALORES PAGOS PELO MUNICÍPIO DE ÁGUA FRIA DE
GOIÁS-GO ÀS EMPRESAS UTILIZADAS PELA ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA
Consoante se observa dos extratos bancários juntados aos
autos122, a empresa GENERAL BRAZ, no ano de 2013, foi beneficiária de
11 (onze) transferências bancárias realizadas da conta da Prefeitura Municipal
de Água Fria de Goiás, perfazendo o valor atualizado de R$ 263.027,96
(duzentos e sessenta e três mil, vinte e sete reais e noventa e seis
centavos)123.
A empresa TECNOBRASIL124, por sua vez, foi beneficiária, no
ano de 2014, da quantia atualizada de R$ 325.891,14 (trezentos e vinte e
cinco mil, oitocentos e noventa e um reais e quatorze centavos)125,
por meio de 14 transferências bancárias realizadas da conta da Prefeitura
Municipal de Água Fria de Goiás para a conta do denunciado
ALEXSANDRO, sócio da aludida empresa.
IV- CONCLUSÃO
Diante de todo o exposto o MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE GOIÁS denuncia:
1) JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO pela prática do crime
de organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da Lei 12.850/2013, bem
como pela prática do crime de fraude à licitação, previsto no art. 90, “caput”,
da Lei 8.666/93, por quatro vezes, na forma do art. 71 do Código Penal;
inexigibilidade de licitação, previsto no art. 89, “caput”, da Lei 8.666/93, por
122 Vide fls. 1.732/1741.
123 Vide fls. 1.777/1.787.
124 Vide fls. 1.743/1756.
125 Vide fls. 1.788/1.801.
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sete vezes, na forma do art. 71 do Código Penal; falsidade ideológica, previsto
no art. 299, parágrafo único, do Código Penal, por seis vezes, na forma do art.
71 do Código Penal; e artigo 1º, inciso I, do Decreto-Lei nº 201, de 27 de
fevereiro de 1967, por onze vezes, na forma do art. 71 do Código Penal, sendo
todos na forma dos arts. 29 e 69 do Código Penal;
2) LEONARDO ANDRÉ AMORIM MACHADO GOMES
pela prática do crime de organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da
Lei 12.850/2013, bem como pela prática do crime de fraude à licitação,
previsto no art. 90, “caput”, da Lei 8.666/93, por quatro vezes, na forma do
art. 71 do Código Penal, sendo todos na forma dos arts. 29 e 69 do Código
Penal;
3) ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO pela prática
do crime de organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da Lei
12.850/2013, bem como pela prática do crime de fraude à licitação, previsto no
art. 90, “caput”, da Lei 8.666/93, por quatro vezes, na forma do art. 71 do
Código Penal, sendo todos na forma dos arts. 29 e 69 do Código Penal;
4) FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ pela prática do crime de
organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da Lei 12.850/2013, bem
como pela prática dos crimes de fraude à licitação, previsto no art. 90, “caput”,
da Lei 8.666/93, por quatro vezes, na forma do art. 71 do Código Penal;
inexigibilidade de licitação, previsto no art. 89, parágrafo único, da Lei
8.666/93, por sete vezes, na forma do art. 71 do Código Penal; falsidade
ideológica, previsto no art. 299, parágrafo único, do Código Penal, por oito
vezes, na forma do art. 71 do Código Penal; e artigo 1º, inciso I, do Decreto-Lei
nº 201, de 27 de fevereiro de 1967, por onze vezes, sendo todos na forma dos
arts. 29 e 69 do Código Penal;
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5) MACIEL MORAES DE CASTRO pela prática do crime de
organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da Lei 12.850/2013, bem
como pela prática do crime de fraude à licitação, previsto no art. 90, “caput”,
da Lei 8.666/93, por quatro vezes, na forma do art. 71 do Código Penal; e
falsidade ideológica previsto no art. 299, parágrafo único, do Código Penal, por
duas vezes, na forma do art. 71 do Código Penal, sendo todos na forma dos
arts. 29 e 69 do Código Penal;
6) JOSÉ DOMINGOS GOMES DE OLIVEIRA pela prática
do crime de organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da Lei
12.850/2013, bem como pela prática do crime de fraude à licitação, previsto no
art. 90, “caput”, da Lei 8.666/93, por quatro vezes, na forma do art. 71 do
Código Penal; e falsidade ideológica previsto no art. 299, parágrafo único, do
Código Penal, por duas vezes, na forma do art. 71 do Código Penal, sendo todos
na forma dos arts. 29 e 69 do Código Penal;
7) ALEXSANDRO JOSÉ DE OLIVEIRA pela prática do
crime de organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da Lei
12.850/2013, bem como pela prática dos crimes de fraude à licitação, previsto
no art. 90, “caput”, da Lei 8.666/93, por duas vezes, na forma do art. 71 do
Código Penal; inexigibilidade de licitação, previsto no art. 89, parágrafo único,
da Lei 8.666/93, por três vezes, na forma do art. 71 do Código Penal; e artigo
1º, inciso I, do Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967, por cinco vezes,
na forma do art. 71 do Código Penal, sendo todos na forma dos arts. 29 e 69 do
Código Penal;
8) GRAZIELLY PEREIRA BARBOSA pela prática do crime
de fraude à licitação, previsto no art. art. 90, “caput”, da Lei 8.666/93, por
duas vezes, na forma dos arts. 29 e 69 do Código Penal;
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9) SINTIA MARIA GONÇALVES pela prática do crime de
organização criminosa, previsto no art. 2º, § 4º, II da Lei 12.850/2013, bem
como pela prática do crime de fraude à licitação, previsto no art. 90, “caput”,
da Lei 8.666/93, por duas vezes, na forma do art. 71 do Código Penal, sendo
todos na forma dos arts. 29 e 69 do Código Penal.
Desse modo, REQUER o MINISTÉRIO PÚBLICO:
a) O recebimento desta denúncia, a citação dos denunciados para
responderem à acusação e sua posterior intimação para audiência, de modo a
serem processados no rito comum ordinário (art. 394, § 1º, I, do CPP), até final
condenação, na hipótese de ser confirmada a imputação, nas penas da
capitulação;
b) O arbitramento de valor mínimo de reparação dos danos
causados pelas infrações a título de danos materiais, que perfaz a quantia
atualizada de R$ 588.919,10 (quinhentos e oitenta e oito mil,
novecentos e dezenove reais e dez centavos), bem como a título de
danos morais coletivos, a ser arbitrado com base no prudente critério do
Magistrado, fundamentando-se o referido pedido no art. 387, “caput”, e IV, do
CPP.
Rol de testemunhas:
1. Lindomar Pimenta Pires, qualificado à fl. 1.320 dos autos.
Planaltina-GO, 20 de março de 2019.
RAFAEL SIMONETTI BUENO DA SILVA
Promotor de Justiça
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA
CRIMINAL DA COMARCA DE PLANALTINA – GO
Denunciados: JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO, LEONARDO ANDRÉ
AMORIM MACHADO GOMES, ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO, FÁBIO
BRAZ DE QUEIROZ, MACIEL MORAES DE CASTRO, JOSÉ DOMINGOS GOMES
DE OLIVEIRA, ALEXSANDRO JOSÉ DE OLIVEIRA, GRAZIELLY PEREIRA
BARBOSA e SINTIA MARIA GONÇALVES.
COTA DE OFERECIMENTO DA DENÚNCIA
MM(a). Juiz(a),
1) O Ministério Público do Estado de Goiás oferece
DENÚNCIA, em 52 (cinquenta e duas) laudas impressas e assinadas, em
desfavor de JOÃO DE DEUS SILVA CARVALHO, LEONARDO ANDRÉ
AMORIM MACHADO GOMES, ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE
CASTRO, FÁBIO BRAZ DE QUEIROZ, MACIEL MORAES DE
CASTRO, JOSÉ DOMINGOS GOMES DE OLIVEIRA, ALEXSANDRO
JOSÉ DE OLIVEIRA, GRAZIELLY PEREIRA BARBOSA e SINTIA
MARIA GONÇALVES, requerendo, nesta oportunidade:
2) Como providência preliminar, que sejam juntadas aos
autos certidões circunstanciadas atualizadas do que constar criminalmente
contra os denunciados, emitidas pelo Instituto Nacional de Identificação –
INI, bem como pelo distribuidor local;
3) A inaplicabilidade da regra estabelecida no art. 2º, I, do
Decreto-Lei n. 201/67:
Como se sabe, alguns procedimentos especiais preveem a
oportunidade de a defesa se manifestar anteriormente ao recebimento da
denúncia, a exemplo dos crimes de responsabilidades dos funcionários
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públicos (artigo 514 do Código de Processo Penal) e nos crimes de
responsabilidade dos Prefeitos (Decreto-Lei 201/67), este objeto da presente
denúncia.
Em que pese a existência de tais previsões normativas, a
jurisprudência entende que a fase de defesa prévia pode ser dispensada,
quando a ação penal for precedida de investigação preliminar, vez que tais
normas visam evitar a instauração de lides desprovidas de lastro indiciário
mínimo.
A presente denúncia, conforme demonstrado, está embasada e
apoiada no procedimento nº 201400229044 (Portaria n. 27/2014), instaurado
no dia 09 de dezembro de 2014, nesta 4ª Promotoria de Justiça, circunstância
que dispensa a notificação prévia, antes do juízo de admissibilidade da
acusação.
Nesse sentido, é o entendimento preconizado pelo Superior
Tribunal de Justiça em sua Súmula nº 330126, ao tratar da resposta
preliminar do artigo 514 do CPP, entendimento que se aplica por analogia ao
procedimento investigatório a cargo do Ministério Público, afastando a
necessidade de apresentação da defesa.
O Supremo Tribunal Federal, analisando a questão, posicionou-
se pela ausência de nulidade em virtude do desatendimento da fase prevista no
artigo 2º, I, do Decreto Lei 201/67, nos casos em que exista investigação prévia
a dar supedâneo ao oferecimento da denúncia, nos termos do voto da Relatora
Ministra Rosa Weber, no bojo da AP 947/MT127.
Vale a transcrição de excerto do voto, confira-se:
126 “É desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo 514 do Código de Processo
Penal, na ação penal instruída por inquérito policial”.
127 http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=311807557&ext=.pdf
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“Apesar de os precedentes tratarem da fase prevista no art. 514
do CPP, e inexistirem precedentes específicos quanto à
supressão da defesa prévia em questão (artigo 2º, I, do DL 201/67),
identifico analogia entre as situações, pois (i) ambas as defesas são
preliminares ao recebimento da denúncia, (ii) estão previstas em
procedimentos especiais e (iii) possuem a mesma razão de ser. A
fortiori, não há nulidade pelo desatendimento da fase prevista no
artigo 2º, I, do DL 201/67 (i) desde que existente investigação
prévia a fornecer substrato mínimo ao oferecimento da denúncia e (ii)
se não demonstrado o prejuízo pelo interessado”.
4) A DECRETAÇÃO da prisão preventiva dos denunciados
ALEXSANDRO e GRAZIELA.
No dia 20 de fevereiro de 2019, por ocasião da deflagração da
denominada Operação Show de Horrores, não se obteve êxito no
cumprimento dos mandados de prisão temporária expedidos em desfavor dos
denunciados ALEXSANDRO e GRAZIELLY, vez que eles não foram
localizados.
Diante da gravidade concreta dos fatos que lhes são atribuídos,
bem como para a aplicação da Lei Penal, observa-se a necessidade da
decretação de suas prisões preventivas, pelas razões que se passa a expor:
Conforme já detidamente analisado, o denunciado
ALEXSANDRO teve suas empresas TECNOBRASIL e GENERAL BRAZ
beneficiadas pelos esquemas ilícitos desbaratados. No ano de 2013, o
denunciado figurou como sócio da empresa GENERAL BRAZ, juntamente
com Heriberto Laurentino Dias, pessoa falecida no ano de 2011, ou seja, em
momento anterior às contratações, sendo que no ano de 2014 figurou como
sócio da empresa TECNOBRASIL, juntamente com a denunciada
GRAZIELLY, tendo firmado diversos contratos com o Município de Água
Fria de Goiás.
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No tocante à prisão preventiva, o arcabouço processual penal
estabelece três requisitos para seu deferimento, por ser medida excepcional,
conforme o escólio do professor Guilherme de Souza Nucci, que apregoa:
prova da existência do crime (materialidade), indício suficiente de autoria,
uma das situações descrias no art. 312 do CPP, a saber: a) garantia da ordem
pública; b) garantia da ordem econômica; c) conveniência da instrução
criminal; d) garantia da aplicação da lei penal128.
O denunciado ALEXSANDRO, num primeiro momento,
integrou a organização criminosa para que sua empresa GENERAL BRAZ,
empresa de fachada, celebrasse seis contratos administrativos com o
Município de Água Fria de Goiás-GO, possibilitando o desvio de verbas
públicas.
Num segundo momento, os denunciados ALEXSANDRO e
GRAZIELLY eram os responsáveis pela empresa TECNOBRASIL, que, por
meio de fraude a cinco processos administrativos, obteve benefícios
decorrentes de fraudes para que se apropriassem de dinheiro público.
Como visto, a materialidade dos crimes perpetrados e os indícios
suficientes de sua autoria delitiva quanto aos denunciados ALEXSANDRO e
GRAZIELLY podem ser observadas por meio da farta prova documental, que
levou à deflagração da denominada Operação Show de Horrores, no dia 20 de
fevereiro de 2019.
Ademais, hipóteses de cabimento da prisão preventiva se aplicam
à espécie, porquanto as prisões preventivas, ora requeridas, se perfazem na
necessidade de se garantir e ordem pública e para a aplicação da lei
penal, vez que os denunciados demonstraram ser pessoas propensas à prática
criminosa, estando, além disso, foragidos. 128 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 6. ed. ver., atual.
e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2010. p. 601.
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Tem-se que os denunciados buscam evitar a atuação da
Justiça. Por oportuno, vale a transcrição de julgado do Superior Tribunal de
Justiça no sentido de que, devidamente fundamentada, a prisão preventiva se
justifica para aplicação da lei penal, mesmo quando o investigado ostenta boas
condições pessoais. Confira-se:
HABEAS CORPUS. SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO ORDINÁRIO.
IMPOSSIBILIDADE. HOMICÍDIO QUALIFICADO. MOTIVO TORPE.
RECURSO QUE DIFICULTOU DEFESA DA VÍTIMA. PRISÃO
PREVENTIVA DECRETADA QUANDO DO RECEBIMENTO DA
DENÚNCIA. NULIDADE DA CITAÇÃO. ADVOGADO CONSTITUÍDO
NOS AUTOS. IRREGULARIDADE SUPERADA. CUSTÓDIA
FUNDADA NO ART. 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
NECESSIDADE DE ASSEGURAR A APLICAÇÃO DA LEI PENAL E
PARA A GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. EVASÃO DO DISTRITO
DA CULPA. GRAVIDADE DIFERENCIADA DA CONDUTA.
SEGREGAÇÃO FUNDAMENTADA E NECESSÁRIA. CONDIÇÕES
PESSOAIS FAVORÁVEIS. IRRELEVÂNCIA. MEDIDAS
CAUTELARES ALTERNATIVAS. INSUFICIÊNCIA E
INADEQUAÇÃO. COAÇÃO ILEGAL NÃO EVIDENCIADA. WRIT
NÃO CONHECIDO.
(...)
3. Não há que se falar em constrangimento ilegal quando a prisão
preventiva está fundamentada nos termos do art. 312 do Código de
Processo Penal, notadamente para assegurar a aplicação da lei penal e
para a garantia da ordem pública.
4. A evasão do distrito da culpa para outra cidade é
fundamento suficiente a embasar a manutenção da custódia
preventiva, que se revela imprescindível para o fim de se
assegurar o cumprimento de eventual condenação, pois
nítida a intenção do réu de evitar a ação da Justiça.
(...)
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6. Condições pessoais favoráveis não têm o condão de
revogar a prisão cautelar, se há nos autos elementos
suficientes a demonstrar a sua necessidade.
7. Indevida a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão
quando a segregação encontra-se justificada e mostra-se
imprescindível para acautelar o meio social da reprodução de fatos
criminosos.
8. Habeas corpus não conhecido. (STJ - HC: 444888 SP
2018/0081884-2, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de
Julgamento: 07/08/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação:
DJe 15/08/2018) – Destacou-se.
5) A MANUTENÇÃO da prisão preventiva dos denunciados
JOÃO DE DEUS e FÁBIO BRAZ.
Após a deflagração da denominada Operação Show de Horrores,
confirmou-se que o denunciado JOÃO DE DEUS liderava organização
criminosa instalada no seio do Município de Água Fria de Goiás-GO, para o
desvio de verbas públicas, sendo que, para atingir tal finalidade, contava com o
imprescindível auxílio do denunciado FÁBIO BRAZ.
Como visto, por meio de fraudes praticadas em onze processos
administrativos para a contratação de serviços para as comemorações festivas
aos 26º e 27º aniversários da cidade de Água Fria de Goiás-GO, tais
denunciados praticaram os crimes de fraude à licitação, inexigibilidade de
licitação, falsidade ideológica e desvio de rendas públicas (Art.1º do DL
201/67).
É de se espantar a gravidade das condutas dos denunciados que
se valeram do nome do Sr. Heriberto Laurentino Dias, pessoa falecida no ano
de 2011, para celebrar contratos administrativos a partir de uma empresa de
fachada, GENERAL BRAZ, tão somente para garantir o sucesso no desvio de
dinheiro público.
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A aludida empresa que, de fato, não existia, se sagrou vencedora
dos CONVITES n. 009/2013 e 010/2013, sendo a segunda contratação
declarada ilegal pelo Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás
(TCM-GO). Além disso, apurou-se que, nos processos administrativos de
inexigibilidade de licitação para a contratação de artistas que realizariam
shows nas festas, não foram observadas as normas previstas na Lei de
Licitações, já que se tratavam de contratações realizadas após escolha do
denunciado JOÃO DE DEUS.
Restou da investigação que as negociações entre os artistas e o
Município eram realizadas pelos denunciados JOÃO DE DEUS, a quem cabia
realizar a escolha, e FÁBIO BRAZ, que efetuava o pagamento, sendo que eles
se valiam da empresa GENERAL BRAZ, sob pretexto de que ela tinha
exclusividade com os artistas contratados. Nesse sentido foram as declarações
feitas pelas testemunhas Lindomar Pimenta Pires e Alessandro Correa de
Campos129.
Ademais, em relação ao denunciado JOÃO DE DEUS, constata-
se dedicação profissional ao crime, já que é réu em outro processo130, por
associação criminosa, peculato e falsificação de documentos referentes a fatos
que ocorreram no Município de Água Fria de Goiás-GO, entre os anos de 2012
e 2013, período em que era prefeito da cidade.
Constatada a gravidade das fraudes praticadas, bem como a
possibilidade de reiteração em condutas criminosas, conclui-se pela presença
de risco concreto à ordem pública, caso o denunciado JOÃO DE DEUS seja
colocado em liberdade.
129 Confira-se Termo de Declarações de Lindomar Pimenta Pires, juntado às fls. 1.320/1.322
dos autos, e também resposta encaminhada por Alessandro Correa de Campos, juntada às fls.
1.770/1.771. 130 Autos n. 201800255440 – 2ª Vara Criminal de Planaltina.
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60
No que diz respeito ao denunciado FÁBIO BRAZ, observa-se
que ele, durante a investigação criminal, buscou atuar embaraçando os
trabalhos do Ministério Público na apuração dos fatos.
Ao que se apurou, a empresa GENERAZ BRAZ foi transferida
para o Sr. Firmino Braz de Queiroz, pai do denunciado FÁBIO BRAZ,
conforme consulta realizada no site da Receita Federal no dia 23 de agosto de
2018 (fls. 625/626).
Ocorre que, a partir de nova consulta ao site da Receita Federal,
realizada no dia 13 de dezembro de 2018, verificou-se que o Sr. Firmino Braz
de Queiroz transferiu a propriedade da empresa para o investigado FÁBIO
BRAZ.
Como visto, FÁBIO BRAZ era servidor público da Prefeitura de
Água Fria, exercendo cumulativamente o cargo de Secretário Municipal de
Articulação Política, além da função de presidente da Comissão de Licitação,
julgando propostas ofertadas pelas suas próprias empresas GENERAZ BRAZ
e TECNOBRASIL.
Restou da investigação, ademais, ter sido a sua participação na
organização criminosa de fundamental importância para a consecução de
todas as fraudes desbaratadas, além de ter realizado os pagamentos
supostamente feitos pela empresa GENERAL BRAZ aos artistas contratados,
entregando valores menores do que aqueles que foram declarados pela
empresa de fachada.
Demonstrou-se que FÁBIO BRAZ agiu com afinco por mais de
2 anos para que as suas empresas formalizassem contratos de apresentação
artística com o Município de Água Fria, mediante inexigibilidade de licitação,
visando desviar recursos da Prefeitura.
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Por ocasião de seu depoimento em decorrência da Operação
Show de Horrores, FÁBIO BRAZ continuou negando os fatos, chegando a
afirmar ter o Sr. Heriberto, falecido em agosto de 2011, participado das sessões
de julgamento ocorridas nos anos de 2013 e 2014. Assim, não há dúvida de que
sua personalidade é propensa a condutas reprováveis, o que coloca em risco a
ordem pública, acentuado pela possibilidade de reiteração criminosa.
Consoante o escólio do Professor Renato Brasileiro de Lima, a
prisão preventiva para garantia da ordem pública firma-se num juízo de
periculosidade do agente, que, caso positivo, justifica a necessidade de sua
retirada cautelar do convívio social131.
Nesse mesmo sentido é o entendimento há muito sufragado pelo
Supremo Tribunal Federal: “É da jurisprudência da Corte o entendimento
segundo o qual, "quando da maneira de execução do delito sobressair a
extrema periculosidade do agente, abre-se ao decreto de prisão a possibilidade
de estabelecer um vínculo funcional entre o modus operandi do suposto crime
e a garantia da ordem pública" (HC nº 97.688/MG, Primeira Turma, Relator o
Ministro Ayres Britto, DJe de 27/11/09). 3. Habeas corpus denegado. (HC
102083, Relator (a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em
25/05/2010, DJe-164 DIVULG 02-09-2010 PUBLIC 03-09-2010 EMENT
VOL-02413-03 PP-00597).
No mesmo sentido:
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA, LAVAGEM DE DINHEIRO E CRIME CONTRA
ECONOMIA POPULAR. PRISÃO PREVENTIVA. PREENCHIMENTO
DOS REQUISITOS. GRAVIDADE CONCRETA DO DELITO.
NECESSIDADE DE GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.
131 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 5. Ed. ver., ampl. e
atual – Salvador: Ed. JusPodivm, 2017. p. 965.
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ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA VOLTADA PARA A LAVAGEM DE
DINHEIRO ORIUNDO DE ROUBOS E TRÁFICO ILÍCITO DE
ENTORPECENTES. NECESSIDADE DE INTERROMPER AS
ATIVIDADES DO GRUPO. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS.
IRRELEVÂNCIA. EXTENSÃO DE BENEFÍCIO CONCEDIDO ÀS
CORRÉS. IMPOSSIBILIDADE. SITUAÇÃO FÁTICO-PROCESSUAL
DISTINTA RECURSO IMPROVIDO.
[...]
2. Mostra-se fundamentada a prisão como forma de garantir a ordem
pública em caso no qual se constata a existência de organização
criminosa destinada a lavagem de dinheiro oriundo de delitos graves,
como roubos e tráfico de entorpecentes, e estruturada com nítida
divisão de tarefas, mormente pelo fato de que as atividades ilícitas
permaneceram mesmo após a prisão de um de seus líderes (Tiago
Gonçalves, companheiro da ora recorrente), evidenciando o alto risco
de reiteração delitiva e a necessidade de desestruturar a organização
criminosa a fim de interromper a atividade ilícita.
3. A jurisprudência desta Corte é assente no sentido de que se justifica
a decretação de prisão de membros de organização criminosa como
forma de interromper as atividades do grupo. [...] 8. Recurso ordinário
improvido. (RHC 83.321/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 22/08/2017, DJe
01/09/2017).
Além disso, há o risco concreto de que em liberdade o
denunciado FÁBIO BRAZ haja de modo a interferir no andamento da
investigação e da ação penal que lhe será movida, seja ocultando outras provas,
seja produzindo documentos falsos ou manipulando testemunhas. Não se
pode, diante do comportamento pretérito verificado, correr novos riscos.
A presunção de inocência, mesmo sendo princípio cardeal em
processo penal do Estado de Direito, não serve de abrigo para a ação de
investigados que ocultam ou destroem provas.
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Nesse passo, a manutenção da prisão preventiva dos denunciados
justifica-se para a garantia da ordem pública em relação ao denunciado JOÃO
DE DEUS, bem como em relação ao denunciado FÁBIO BRAZ, para a
garantia da ordem pública e para conveniência da instrução criminal.
6) A suspensão/proibição do exercício de função pública
pelos denunciados ROBERTO MÁRCIO MORAIS DE CASTRO,
LEONARDO ANDRÉ AMORIM MACHADO GOMES, MACIEL
MORAES DE CASTRO e SINTIA MARIA GONÇALVES.
Como visto, os denunciados, à época dos fatos, concorreram, de
maneira direta, para que processos licitatórios, na modalidade convite, fossem
fraudados, quais sejam, PROCESSOS ADMINISTRATIVOS números
09/2013, 10/2013, 06/2014 e 07/2014, bem como auxiliaram em
processos de inexigibilidade de licitação.
De se notar que o denunciado ROBERTO MÁRCIO, e o
denunciado LEONARDO já respondem a processo criminal132 por associação
criminosa, peculato e falsificação de documentos, referentes a fatos que
ocorreram no Município de Água Fria de Goiás-GO, entre os anos de 2012 e
2013.
O denunciado MACIEL exerce o cargo efetivo de motorista do
no município de Água Fria de Goiás-GO, ao passo que a denunciada SINTIA
ocupa o cargo comissionado de Diretora de Captação de Recursos junto ao
Município de Planaltina-GO133, sendo necessária a decretação do afastamento
de suas funções públicas.
132 Autos n. 201800255440 – 2ª Vara Criminal de Planaltina.
133 Vide Decreto Nº 654, de 27 de novembro de 2018, juntado à fl. 1.776.
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Isso porque os denunciados demonstraram atuar em
descompasso com padrões éticos mínimos, especialmente dos servidores
públicos, que devem ostentar conduta proba, compatível com os princípios
mais comezinhos à Administração Pública e, por consequência, à República.
O vigente arcabouço processual penal prevê a possibilidade de
decretação de medidas cautelares diversas da prisão em qualquer fase da
persecução penal134, como alternativa à segregação provisória que apenas
deverá ser decretada quando a permanência do indivíduo em liberdade obstar
a devida prestação jurisdicional.
Dentre as medidas cautelares, há a expressa previsão da
suspensão do exercício de função pública, como se observa:
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de
natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua
utilização para a prática de infrações penais;
A necessidade da decretação de tal medida cautelar se assenta na
possibilidade de reiteração delituosa, vez que os denunciados praticaram
condutas criminosas valendo-se do cargo para tanto.
Em relação a todos os denunciados não há dúvida de que o
exercício da função pública acentua sobremaneira a possibilidade de reiteração
delituosa, na exata medida em que as práticas delitivas narradas ocorreram
como decorrência das atribuições que lhes propiciavam seus cargos, sendo
134 Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-
se a: § 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das
partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial
ou mediante requerimento do Ministério Público.
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certo que encontrarão meios para, mais uma vez, ofender bens jurídicos caros
à Administração Pública.
Portanto, presentes estão os requisitos para o deferimento de
medida liminar, quais sejam, o fumus commissi delicti e periculum libertatis,
porque a função desempenhada pelos denunciados guarda relação com os
fatos pelos quais estão sendo processados, bem como pelo fato de que, caso
sejam mantidos no exercício da função, poderão reiterar em prática delituosa.
Aliás, nesse sentido é o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça que autoriza o afastamento cautelar da função pública, quando há
possibilidade de reiteração da conduta delituosa:
HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
QUADRILHA, PECULATO, PECULATO POR ERRO DE OUTREM,
INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÕES E
EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU
DOCUMENTO. PLEITO DE REVOGAÇÃO DA MEDIDA CAUTELAR
ALTERNATIVA DE SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO
PÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE. BINÔMIO NECESSIDADE E
ADEQUAÇÃO DEMONSTRADOS. GRAVIDADE DOS DELITOS.
RETORNO À FUNÇÃO QUE ACARRETA O RISCO DE REITERAÇÃO
DAS CONDUTAS E DO COMPROMETIMENTO DE PROVAS.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. ORDEM DENEGADA
(Habeas Corpus n. 2014.030497-0, de Içara, Rel. Des. Substituto José
Everaldo Silva, Primeira Câmara Criminal, j. 27 de maio de 2014).
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E PECULATO (15 VEZES). VEREADOR
E PRESIDENTE DE CÂMARA MUNICIPAL. PRISÃO PREVENTIVA.
FUNDAMENTAÇÃO. IMPRESCINDIBILIDADE NÃO
DEMONSTRADA. MEDIDAS CAUTELARES. ADEQUAÇÃO E
SUFICIÊNCIA. WRIT NÃO CONHECIDO. OREM CONCEDIDA DE
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OFÍCIO. SUBSTITUIÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA POR OUTRAS
MEDIDAS CAUTELARES.
1. O habeas corpus não pode ser utilizado como substitutivo de recurso
próprio, a fim de que não se desvirtue a finalidade dessa garantia
constitucional, com a exceção de quando a ilegalidade apontada é
flagrante, hipótese em que se concede a ordem de ofício.
2. Caso em que o paciente, na condição de Vereador e de Presidente da
Câmara Municipal de Correntina/BA, teve a prisão Documento:
88735009 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 26/10/2018
Página 3 de 7 Superior Tribunal de Justiça preventiva decretada em
23/10/2017 no bojo da operação denominada "Último Tango", a qual
tinha por objetivo apurar a suposta prática de crimes contra a
Administração Pública no âmbito da Câmara de Vereadores do
Município de Correntina/BA, tendo sido denunciado pela suposta
prática dos crimes de peculato (art. 312 do Código Penal), por 15 vezes,
e associação criminosa (art. 2º da Lei nº 12.850/2013).
(...)
6. "A prisão preventiva somente se justifica na hipótese de
impossibilidade que, por instrumento menos gravoso, seja alcançado
idêntico resultado acautelatório." (HC n. 126.815, Relator Ministro
MARCO AURÉLIO, Relator p/ Acórdão Ministro EDSON FACHIN,
Primeira Turma, julgado em 04/08/2015, publicado em 28/8/2015).
7. Para a imposição da medida prevista no artigo 319, VI, do
Código de Processo Penal, consistente na determinação pelo
Poder Judiciário de suspensão do exercício da função
pública, é necessário que se demonstre, concretamente, a
forma pela qual fora esta utilizada indevidamente pelo
agente para a consecução Documento: 88735009 - Despacho
/ Decisão - Site certificado - DJe: 26/10/2018 Página 4 de 7
Superior Tribunal de Justiça do crime sob
investigação/processamento. 8. No caso, mostra-se
imprescindível o afastamento do paciente da função de
Presidente do Legislativo local e de Vereador do município,
tendo em vista que os crimes imputados teriam sido
praticados exatamente em razão dessa posição política que
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exerce. O decreto ressalta a liderança do paciente nas ações
ilícitas, o seu prestígio político, o conhecimento das
vulnerabilidades dos órgãos de controle e que ele agiria em
todas as frentes possíveis para alcançar ganhos em cada
licitação ou gratificação, em claro desvio do interesse público
para alcançar seus intentos delitivos. Esses aspectos
ressaltados pelas instâncias ordinárias demonstram que a
medida se mostra indispensável para interromper e afastar o
risco de reiteração em ações ilícitas. Precedentes.
9. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para
substituir a prisão preventiva do paciente pelas medidas cautelares
relacionadas no voto, as quais deverão ser rigorosamente fiscalizadas
pelo Juízo de primeiro grau, inclusive notificando o paciente de que o
descumprimento ensejará a decretação da prisão preventiva. O
afastamento do mandato de parlamentar e da função de gestor da
Câmara deverá ser reavaliado no prazo máximo de 180 dias, a contar
do efetivo cumprimento desta decisão. (HC 449.680/BA, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
04/09/2018, DJe 13/09/2018). Destacou-se.
7) A proibição de todos os denunciados celebrarem
contratos com quaisquer entes da administração pública, seja na esfera
municipal, estadual ou federal, até a conclusão da presente ação penal.
Como visto, os denunciados ALEXSANDRO, GRAZIELA e
FÁBIO BRAZ se valeram das empresas GENARAL BRAZ LTDA e
TECNOBRASIL ASSESSORIA E EVENTOS para a prática de crimes
contra o processo licitatório, ao passo que os denunciados JOÃO DE DEUS,
LEONARDO, ROBERTO MÁRCIO, FÁBIO BRAZ, MACIEL, JOSÉ
DOMINGOS e SINTIA se utilizaram das funções públicas que ocupavam à
época dos fatos nos quadros da Prefeitura Municipal de Água Fria de Goiás-
GO.
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Nesse passo, a proibição de que contratem com o Poder Público é
medida que se impõe para o resguardo da ordem pública, razão pela qual
requer-se seu deferimento, com fulcro no art. 319, VI, do Digesto Processual
Penal.
8) A DECRETAÇÃO de ARRESTO de bens dos
denunciados, em valor suficiente a garantir a reparação dos danos por eles
causados.
Como é sabido, as medidas assecuratórias ou cautelares
patrimoniais no direito brasileiro são previstas nos artigos 125 a 144-A do
Código de Processo Penal, sendo requeridas por duplo fundamento: a) porque
os bens são produto, proveito ou equivalentes ao produto ou ao proveito da
atividade criminosa e; b) porque os bens, excluídos os relacionados no item a,
são necessários para a indenização do dano (incluído eventual dano moral),
para as despesas processuais e para garantir o pagamento da multa penal.
Ademais, a espécies de medidas cautelares previstas no
ordenamento jurídico brasileiro para os crimes em geral carecem de
sistematização adequada, vez que preocupação da doutrina penal ortodoxa
sempre esteve voltada à apuração de autoria e materialidade de crimes
unitários cometidos por pessoas singularizadas contra um indivíduo ou um
patrimônio.
No Direito Brasileiro, podem ser citadas as seguintes medidas
cautelares patrimoniais: sequestro, especialização e registro de hipoteca legal,
arresto prévio, arresto subsidiário e o sequestro previsto no Decreto-lei
3.240/41, além das medidas previstas em outras leis extravagantes, não
aplicáveis ao presente caso.
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Os instrumentos processuais penais voltados a garantir os efeitos
dos pronunciamentos judiciais definitivos, isoladamente considerados,
portanto, estão defasados, embora sejam coerentes com o suporte teórico que
lhes deu origem.
A manutenção dessa visão teórica contribui negativamente para o
desenvolvimento econômico sustentável nacional, diante do potencial lesivo ao
erário dos delitos praticados pela criminalidade econômica, dos delitos de
corrupção e das fraudes em geral, algo que já havia sido vislumbrado por
Edwin Sutherland na década de 40 ao tratar do white-collar crime, mas que
apenas despertou a atenção do sistema de justiça criminal brasileiro nas
últimas duas décadas.
Dito de outra forma, é dever de um Estado Democrático
de Direito fazer com que o crime não compense, de modo a impedir
a criação de modelos de conduta negativos bem-sucedidos.
A espera até o final do processo criminal para a
decretação do confisco e para a execução da indenização cível e da
multa penal tem demonstrado a sistemática impossibilidade de
obtenção de bens suficientes e a completa ineficiência do sistema,
sendo essa a razão suficiente para o manejo das cautelares aqui
citadas.
In casu, aplica-se o arresto, vez que tal medida se destina à
apreensão de bens de origem lícita de acusados com a finalidade de garantir a
reparação do dano, inclusive o dano moral, o pagamento da multa e das custas
processuais.
Para a decretação das cautelares pleiteadas, basta a certeza da
infração e indícios razoáveis de autoria.
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Da análise do Procedimento nº 201400229044 (Portaria n.
27/2014), tem-se elementos seguros quanto à materialidade dos crimes
praticados em desfavor da Administração Pública, bem como não paira
qualquer dúvida quanto à autoria dos denunciados.
Por se tratar de crime contra a Administração Pública, aplica-se o
Decreto-lei n. 3.204/41, que confirma a desnecessidade de se comprovar atos
de dilapidação patrimonial, vez que em seu artigo 3º não consta previsão e tal
requisito. Confira-se:
Art. 3º Para a decretação do sequestro é necessário que haja indícios
veementes da responsabilidade, os quais serão comunicados ao juiz em
segredo, por escrito ou por declarações orais reduzidas a termo, e com
indicação dos bens que devam ser objeto da medida.
Nesse sentido, aliás, é o entendimento dos Tribunais Pátrios que
entendem ser o arresto medida adequada para a garantia de eventuais danos
causados pelas práticas criminosas, como se colhe do seguinte caso julgado
pelo Superior Tribunal de Justiça:
AGRAVO INTERNO EM MEDIDA CAUTELAR. LAVAGEM DE
DINHEIRO. MEDIDA ASSECURATÓRIA. ARRESTO
COMPLEMENTAR DE BENS MÓVEIS. REPARAÇÃO DO DANO
DECORRENTE DE INFRAÇÃO PENAL ANTECEDENTE.
REQUISITOS CONFIGURADOS.
1. Uma vez que a reparação do dano causado pelo delito é
finalidade, ainda que secundária, da tutela penal
condenatória, o sistema processual penal necessita de
medidas cautelares que assegurem tal resultado, nas
hipóteses em que o tempo necessário para a investigação da
responsabilidade penal permita que a situação patrimonial
do investigado ou do acusado se altere, gerando o risco de
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que, quando do provimento final, tal finalidade seja
frustrada pela demora processual.
2. Quando não houver bens imóveis para o arresto e posterior hipoteca
legal, poderão ser arrestados os bens móveis, assim entendidos aqueles
suscetíveis de penhora. 3. É possível a decretação de medidas
assecuratórias sobre o patrimônio lícito do acusado, para assegurar a
reparação do dano decorrente da infração penal antecedente, além do
pagamento de multa pecuniária e despesas processuais. Inteligência do
§ 4º do artigo 4º da Lei federal nº 9.613/1998. 4. Para que as referidas
providências acautelatórias ocorram, indispensável a existência de
indícios de autoria e materialidade (art. 134 do CPP). Precedentes do
STJ. 5. AGRAVO INTERNO CONHECIDO, MAS DESPROVIDO.
(TJ-GO - MC: 508608620178090000, Relator: DES. ELIZABETH
MARIA DA SILVA, Data de Julgamento: 10/10/2018, ORGAO
ESPECIAL, Data de Publicação: DJ 2614 de 23/10/2018). Destacou-se.
Confira-se o seguinte julgado do Tribunal de Justiça do Estado de
Goiás:
AGRAVO INTERNO EM MEDIDA CAUTELAR. LAVAGEM DE
DINHEIRO. MEDIDA ASSECURATÓRIA. ARRESTO
COMPLEMENTAR DE BENS MÓVEIS. REPARAÇÃO DO DANO
DECORRENTE DE INFRAÇÃO PENAL ANTECEDENTE.
REQUISITOS CONFIGURADOS. 1. Uma vez que a reparação do dano
causado pelo delito é finalidade, ainda que secundária, da tutela penal
condenatória, o sistema processual penal necessita de medidas
cautelares que assegurem tal resultado, nas hipóteses em que o tempo
necessário para a investigação da responsabilidade penal permita que a
situação patrimonial do investigado ou do acusado se altere, gerando o
risco de que, quando do provimento final, tal finalidade seja frustrada
pela demora processual. 2. Quando não houver bens imóveis para o
arresto e posterior hipoteca legal, poderão ser arrestados os bens
móveis, assim entendidos aqueles suscetíveis de penhora. 3. É possível
a decretação de medidas assecuratórias sobre o patrimônio lícito do
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acusado, para assegurar a reparação do dano decorrente da infração
penal antecedente, além do pagamento de multa pecuniária e despesas
processuais. Inteligência do § 4º do artigo 4º da Lei federal nº
9.613/1998. 4. Para que as referidas providências acautelatórias
ocorram, indispensável a existência de indícios de autoria e
materialidade (art. 134 do CPP). Precedentes do STJ. 5. AGRAVO
INTERNO CONHECIDO, MAS DESPROVIDO. (TJ-GO - MC:
508608620178090000, Relator: DES. ELIZABETH MARIA DA SILVA,
Data de Julgamento: 10/10/2018, ORGAO ESPECIAL, Data de
Publicação: DJ 2614 de 23/10/2018).
No caso analisado, o dano causado ao erário perfaz a quantia
atualizada de R$ 588.919,10 (quinhentos e oitenta e oito mil,
novecentos e dezenove reais e dez centavos), considerando os
documentos juntados às fls. 1.732/1.756 e 1.777/1.801, do Procedimento nº
201400229044 (Portaria n. 27/2014), que denotam pagamentos ilegais feitos
às empresas GENERAL BRAZ e TECNOBRASIL.
Assim, constata-se a necessidade do deferimento da medida
cautelar para se assegurar a reparação dos danos provocados pelos
denunciados, a partir da indisponibilidade de bens, a ser realizada: a) por
meio do Sistema Bacen Jud de determinação para que tornem indisponíveis
ativos financeiros existentes em nome dos denunciados; b) em caso de
frustração da ordem anterior, proceda-se à indisponibilidade de veículos
automotores de propriedade dos denunciados no RENAJUD; c) a
indisponibilidade de imóveis dos denunciados, via Central de
Indisponibilidade de bens, na forma que prescreve o Provimento 013/2012, da
CGJ do TJ, procedendo às averbações necessárias.
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73
8) O COMPARTILHAMENTO DA PROVA produzida nos
presentes autos para a instrução de ações penais e cíveis em desfavor dos
denunciados.
Isso porque, certamente, os fatos analisados irão repercutir na
esfera da improbidade administrativa, de tal sorte que o compartilhamento da
prova é medida eficaz para que sejam observados os princípios da razoável
duração do processo e do devido processo legal.
A prova emprestada tem por finalidade maior evitar dilações
desnecessárias na instrução do processo, desde que sejam observadas as
garantias constitucionais asseguradas à defesa do acusado, em especial o
contraditório.
Ainda, a doutrina tradicional estabelece outros requisitos para
permitir o uso da prova emprestada, sendo eles: a) serem os fatos apurados
semelhantes; b) ter sido produzida em processo formado entre as mesmas
partes ou no qual figure como parte quem lhe suportará os efeitos; c) a
observância do procedimento sobre a natureza originária da prova; e d) a
observância do procedimento sobre a prova documental135.
In casu, afiguram-se presentes todos os requisitos elencados, vez
que as ações para as quais se pretende compartilhar a prova produzida nos
presentes autos terão por objeto os fatos analisados e versarão sobre as
pessoas dos denunciados, sendo certo que lhes será assegurada a participação
efetiva no processo.
Há muito a jurisprudência dos Tribunais Superiores sinaliza a
possibilidade do uso da prova emprestada, tanto no processo penal quanto
para a instrução de inquérito civil, como se nota:
135 ARANHA, 2006, p. 256; INELLAS, 200, p. 118.
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PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. EXTORSÃO MEDIANTE
SEQÜESTRO SEGUIDA DE MORTE. UTILIZAÇÃO DE PROVA
EMPRESTADA. POSSIBILIDADE. CONDENAÇÃO AMPARADA EM
VASTO CONTEÚDO PROBATÓRIO PRODUZIDO PERANTE O JUÍZO
DA CAUSA. OPORTUNIZADA À DEFESA A POSSIBILIDADE DE SE
MANIFESTAR SOBRE A PROVA EMPRESTADA. AUSÊNCIA DE
QUALQUER MÁCULA. PROVA LÍCITA. AUSÊNCIA DE ILICITUDE
DAS DEMAIS PROVAS POR DERIVAÇÃO. INDEFERIMENTO DE
DILIGÊNCIA REQUERIDA EM ALEGAÇÕES FINAIS. PRECLUSÃO.
FALTA DE AMPARO FÁTICO A JUSTIFICAR A
IMPRESCINDIBILIDADE DA DILIGÊNCIA. INDEFERIMENTO
MOTIVADO.ORDEM DENEGADA. É possível a utilização de
prova emprestada no processo penal, desde que ambas as
partes dela tenham ciência e que sobre ela seja possibilitado
o exercício do contraditório. Precedentes. Nessa hipótese, não
obstante o precário valor da mencionada prova, inviável a declaração
da nulidade da sentença cujo édito condenatório também se esteou em
vasto conteúdo probatório colhido perante o Juízo da causa, servindo a
prova emprestada apenas para corroborá-lo. Precedentes. Reconhecida
a validade da utilização da prova emprestada, impossível a declaração
da nulidade por derivação das demais provas dela advindas. Inexiste
nulidade quando o Magistrado indefere a realização de diligências
desprovidas de embasamento fático apto a justificá-las, além de que
requeridas em sede de alegações finais, oportunidade em que já se
encontrava preclusa a produção de novas provas. Ordem denegada.
(STJ - HC: 91781 SP 2007/0234423-7, Relator: Ministra JANE SILVA
(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), Data de
Julgamento: 27/03/2008, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação:
DJ 05.05.2008 p. 1). Destacou-se.
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM MANDADO DE
SEGURANÇA. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE.
NÃO OCORRÊNCIA. PROCESSO PENAL. PROVA PRODUZIDA EM
AÇÃO PENAL EMPRESTADA PARA INSTRUÇÃO DE INQUÉRITO
POLICIAL CIVIL. POSSIBILIDADE. DIREITO LÍQUIDO E CERTO
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VIOLADO. INEXISTÊNCIA. RECURSO A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.
1. Não há falar em violação do princípio da colegialidade se a decisão
monocrática foi proferida com fundamento no caput do artigo 557 do
Código de Processo Civil, que franqueia ao relator a possibilidade de
negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível,
improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com
jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo
Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior.
2. A autorização de compartilhamento de prova obtida em
ação penal para fins de instrução de inquérito civil público
que investiga os mesmos fatos não importa em ofensa a
direito líquido e certo do investigado. 3. Agravo regimental
a que se nega provimento. (STJ - AgRg no RMS: 44825 MT
2014/0013787-5, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, Data de Julgamento: 11/03/2014, T6 - SEXTA TURMA,
Data de Publicação: DJe 24/03/2014). Destacou-se.
Planaltina-GO, 20 de março de 2019.
RAFAEL SIMONETTI BUENO DA SILVA
Promotor de Justiça