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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DE TURISMO E DESPORTOEVENTO: Audiência Pública N°: 0265/09 DATA: 02/04/200 9INÍCIO: 09h59min TÉRMINO: 12h36min DURAÇÃO: 02h36minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 02h36min PÁGINAS: 55 QUARTOS: 32
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
DAGOBERTO SANTOS – Secretário-Executivo do Clube do s 13.PAULO MARCOS SCHMITT – Procurador-Geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva.JORGE PAULO DE OLIVEIRA GOMES – Presidente da Assoc iação Nacional de Árbitros deFutebol – ANAF.WEBER MAGALHÃES – Vice-Presidente da Confederação B rasileira de Futebol – CBF.PAULO GOYAZ – Presidente da Sociedade Esportiva do Gama.
SUMÁRIO: Debate sobre o sistema de arbitragem no fu tebol brasileiro em vista deacontecimentos registrados nos estádios nos últimos tempos.
OBSERVAÇÕES
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Turismo e DesportoNúmero: 0265/09 Data: 02/04/2009
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Edinho Bez) - Declaro aberta esta reunião de
audiência pública que tem a finalidade de debater o sistema de arbitragem no futebol
brasileiro em vista de acontecimentos registrados nos estádios nos últimos tempos,
atendendo ao Requerimento nº 136/08, de minha autoria.
Gostaria de agradecer a presença a todos.
Convido para compor a Mesa o Sr. Dagoberto dos Santos,
Secretário-Executivo do Clube dos 13; o Sr. Jorge Paulo de Oliveira Gomes,
Presidente da Associação Nacional de Árbitros de Futebol — ANAF; o Sr. Paulo
Marcos Schmitt, Procurador-Geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva; o Sr.
Weber Magalhães, Vice-Presidente da Confederação Brasileira de Futebol — CBF.
Esses são nossos convidados. Depois abriremos espaço para quem quiser se
manifestar, complementando as informações dos nossos convidados.
Informo que a lista de inscrições para o debate encontra-se sobre a mesa. Os
Deputados que desejarem interpelar os expositores deverão registrar seus nomes
na referida lista; só poderão abordar o assunto da exposição pelo prazo máximo de
3 minutos, tendo o interpelado igual tempo para responder, facultadas a réplica e a
tréplica pelo mesmo prazo. É vedado ao coordenador interpelar qualquer dos
oradores.
Informo, ainda, que não haverá aparte durante a exposição dos convidados.
Gostaria de dar uma satisfação aos nossos convidados e a todos os
presentes, justificando a ausência de inúmeros Parlamentares, dizendo que houve
uma coincidência. Em contato conosco e com a assessoria da nossa Comissão de
Turismo e Desporto muitos Deputados deram a informação de que viajaram para
cumprir compromissos nos seus Estados, pois o Presidente da Casa, Deputado
Michel Temer, hoje os liberou e os convocou para segunda-feira, quando daremos
continuidade à votação nesta Casa de matérias importantes na segunda-feira, na
terça-feira e na quarta-feira.
Passo a palavra ao nosso primeiro convidado, Sr. Dagoberto dos Santos, que
dispõe de até10 minutos.
O SR. DAGOBERTO DOS SANTOS - Inicialmente gostaria de cumprimentar
todos os Parlamentares presentes, os participantes da Mesa, minhas senhoras e
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meus senhores. Serei bastante breve na minha análise inicial, tocando
particularmente no assunto da arbitragem no Brasil.
Não sou um especialista da área. Entretanto, procurei fazer algumas
pesquisas para saber exatamente como abordar este assunto.
Queria, de pronto, destacar o objeto da análise, que é o árbitro de futebol.
Procurei verificar quais seriam as aptidões necessárias para que um profissional
pudesse desempenhar adequadamente essa função.
Encontrei nos papéis da FIFA que, segundo o padrão da referida Federação,
o árbitro de futebol é aquele que tem dotes indispensáveis, entre os quais o preparo
físico, a disciplina pessoal e profissional, o comportamento ético, a capacidade de
exercer liderança, a autoridade de enfrentar situações de conflito, compartilhar e
tomar decisões, capacidade de lidar com comportamento agressivo em situação de
stress, conviver com pressão, suspeita e insultos e, ainda assim, ter agilidade de
raciocínio, julgamento e ação.
Esses são os dotes indispensáveis, segundo o padrão da FIFA, para um
árbitro de futebol.
Então, quando destacamos o objeto da análise, ao enxergar um árbitro
estamos enxergando uma pessoa que tem que ter esse tipo de aptidão. E com
apenas um apito e 2 cartões, ele tem que controlar 22 jogadores, 2 técnicos,
satisfazer o interesse de toda uma torcida que está no espetáculo e mais aquela que
assiste ao jogo pela televisão, que é absolutamente crítica, que julga o árbitro em
tempo real com base em várias câmaras de televisão, que pegam ângulos
diferentes, aos quais o árbitro não tem acesso. Esse é o objeto da nossa análise.
Antes de entrar no mérito, quero discutir um pouco o que acontece no futebol.
O futebol passa por um processo importante de alterações estruturais. Não vejo, na
indústria do futebol, uma outra solução que não seja a profissionalização. Isso já
acontece no cenário externo através do papel do Estado, que busca um novo marco
regulatório.
Temos a Timemania, o Projeto de Lei nº 586 e a Lei de Incentivo Fiscal. E
ainda, no cenário externo, nos deparamos com uma crise econômica que restringe o
mercado de transferência de jogadores. Então, aquela receita que era importante
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para clubes de futebol está cada vez menor em função da crise econômica e da
diminuição da demanda por atletas brasileiros.
No cenário interno, há a percepção dos dirigentes de clubes no sentido de
que não há solução fora da competência, do conhecimento e do saber. Cada vez
mais se está investindo na capacitação humana das pessoas que dirigem o futebol
brasileiro.
Porém, o produto do futebol é o espetáculo. Esse espetáculo é altamente
profissionalizado. Todos os atores do espetáculo, como os atletas que fazem parte
dele, têm com os seus clubes uma relação de trabalho, uma relação formal de
trabalho e se dedicam ao clube em regime de dedicação exclusiva. Eles
quotidianamente se preparam física, técnica e taticamente para aumentar o seu grau
de competitividade.
A comissão técnica que faz parte do espetáculo também é composta de
profissionais ligados ao clubes em regime de dedicação exclusiva.
O grande paradoxo disso é que aquele que comanda o espetáculo, que
responde pela legitimidade do resultado, não é profissional, não tem um regime de
dedicação exclusiva para exercer a sua atividade e ter as aptidões indispensáveis
segundo os padrões da FIFA.
Analisei e peguei para minha pesquisa os dados da Federação Paulista de
Futebol. Apenas 54% dos árbitros que atuam nos quadros da Federação Paulista
têm curso superior, e, pasmem, não é curso superior de educação física; 98% dos
árbitros têm uma outra atividade complementar, ou seja, a arbitragem é uma
atividade acessória, uma atividade complementar, em que o árbitro não tem o tempo
necessário e suficiente para se preparar da mesma forma como os demais atores do
espetáculo. Essa é uma questão importante para se refletir.
A profissão do árbitro de futebol não é regulamentada. Temos que começar a
pensar até que ponto é possível buscar uma solução nesse sentido. Isso, por si só,
não resolve os problemas da arbitragem. É necessário, inclusive, que se faça uma
fiscalização, um acompanhamento da performance do árbitro durante as partidas.
Encontrei, também na Federação Paulista, uma estrutura de
acompanhamento bastante interessante. A criação de uma ouvidoria de arbitragem,
que tem como função ser a mediadora na comunicação entre a entidade e os
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clubes, receber denúncias e reclamações e fazer uma indicação quanto à
performance do árbitro para a comissão de arbitragem, para que esta avalie a
deficiência constatada e exerça as punições cabíveis.
Além disso — são órgãos independentes da comissão —, existe uma
corregedoria de arbitragem, que se responsabiliza por toda a parte pessoal do
árbitro, que investiga sua conduta ética e moral fora dos gramados e analisa cada
caso de denúncia recebida pela auditoria.
São estes os pontos iniciais que gostaria de mencionar: a importância da
profissionalização — e quando falo em profissionalização é muito mais no sentido da
dedicação exclusiva do árbitro na sua preparação para comandar um espetáculo
que é, por si só, eivado de emoção e, portanto, extremamente estressante; a
criação, dentro das estruturas das entidades de administração de desporto, de
órgãos que fiscalizem e mantenham atualizado o aprimoramento do árbitro daí para
frente.
Inicialmente, Sr. Presidente, são essas as considerações, no sentido de criar
uma reflexão importante sobre a participação dos árbitros, como eles se colocam
dentro de um espetáculo de futebol.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eugênio Rabelo) - Agradeço ao Sr.
Dagoberto dos Santos os esclarecimentos.
Concedo a palavra ao Sr. Paulo Marcos Schmitt, pelo tempo de 10 minutos.
O SR. PAULO MARCOS SCHMITT - Bom dia a todos. Agradeço o convite
para participar desta audiência pública.
Cumprimento os Parlamentares presentes que ora se debruçam sobre esse
espinhoso tema; o nosso Presidente da Federação do Distrito Federal; o Sr. Jorge
Paulo, incansável lutador por melhores condições da arbitragem do futebol
brasileiro; e o Sr. Dagoberto, representante do Clube dos 13, também um incansável
lutador pelos clubes e pelo desenvolvimento do desporto.
Eu já me debrucei sobre essa temática algumas vezes. Como atuamos na
esfera da Justiça Esportiva, não raro nos deparamos com questões disciplinares
originadas dos chamados erros da arbitragem. Aliás, o tema colocado em pauta por
esta Comissão diz respeito à arbitragem e ao reflexo da atividade da arbitragem,
com episódios lamentáveis de violência nos estádios de futebol.
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Entendo que o árbitro de futebol encontra-se absolutamente fragilizado em
relação aos meios eletrônicos, a toda uma gama de aparato tecnológico que acaba,
de certa forma, o desmoralizando nas suas decisões. É preciso dizer que o árbitro,
em uma fração de segundos, tem de adotar decisões imediatas no cumprimento das
regras de qualquer modalidade esportiva.
E existe também um problema muito mais sério no que diz respeito a tudo
isso, como diz o Dagoberto, que é esta sensação de falta de regulamentação na
atividade do árbitro de futebol.
Já fiz um breve estudo sobre esse tema e consegui concluir mais ou menos o
seguinte: a visão humana do campo de jogo é linear, enquanto os chamados olhos
eletrônicos, com a quantidade de câmaras e ângulos de cobertura televisiva,
conseguem capitar cenas que jamais um árbitro vislumbraria, notadamente
considerando a velocidade com que o desporto é praticado na atualidade.
Em entrevista ao Esporte Espetacular, da TV Globo, em matéria sobre os
erros de arbitragem, exibida em 2 de setembro de 2007, o comentarista José
Roberto Wright foi enfático: “Para todos nós que trabalhamos em televisão é clara a
imagem, não tem dúvida com relação a isso, mas para ele em campo é muito difícil
observar isso tudo.”
Na mesma reportagem, o Dr. Ricardo Lamy, oftalmologista e professor da
UFRJ, asseverou que “a nossa visão de detalhes, a nossa visão que consegue
perceber minúcias, diferenças de cores, que seria uma visão mais precisa, se dá
principalmente nos dez graus centrais. Na maioria das vezes, o que acontece é isto:
ele olha para o jogador, vê a jogada, faz o movimento, foca naquela distância e aí,
sim, ele consegue apitar ou não, por exemplo, o impedimento. Isso é uma fração de
segundo. E sabemos que um corredor de 100 metros, em um segundo, consegue
correr aproximadamente 10 metros. Então, realmente é um erro e é um erro
aceitável.
A grande questão é que, nos dias de hoje, pela violência, pela falta de
tolerância, pelo despreparo, muitas vezes, daqueles que estão à frente da gestão de
diversas modalidades, colocamos sempre a culpa no árbitro.
O insucesso é culpa do árbitro. O atleta perde o gol, o técnico o substitui de
forma equivocada; a equipe não se prepara. Há toda uma questão que envolve
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poder econômico no futebol brasileiro, no futebol mundial, mas a culpa é sempre do
árbitro.
É preciso que não só o Poder Público, mas também a iniciativa privada —
assim como vêm fazendo as entidades que hoje administram o futebol brasileiro,
especialmente a Federação Paulista, que tem dado um exemplo no sentido de
modernização do futebol, de experiências na tentativa de minimizar os problemas
em diversas áreas no futebol e também na arbitragem, e a CBF com as sucessivas
gestões após o caso Edilson Pereira de Carvalho, uma vergonha para todos nós, do
futebol brasileiro, a máfia do apito — faça uma reflexão com maior profundidade
sobre o enfoque simplista do tema regulamentação da profissão do árbitro de
futebol.
A meu ver, a profissão já existe. Sei que muitos discordam desse meu
pensamento, mas entendo que a Lei nº 9.696, de 1998, que regula a atividade do
profissional de educação física, é suficiente também para o árbitro. Era preciso que
as confederações, no caso a CBF, o futebol, as federações reconhecessem aqueles
árbitros em atividade no quadro atual, e permitissem que a partir de determinado
momento só ingressassem no quadro profissionais da área de educação física
dotados das respectivas carteiras, Conselhos Regionais, Conselho Federal de
Educação Física.
Como bem observou o Dagoberto, temos necessidade de um melhor preparo
físico, técnico e tático também ao árbitro de futebol, mas é preciso lembrar que isso
tudo é essencial à atividade do árbitro de futebol, sem dúvida, mas não nos
podemos esquecer da ciência. A cientificidade, que também deve permear essa
atividade, do ponto de vista profissional, como já amealhou tantas outras áreas
dentro do próprio futebol mundial, existe e está à disposição, se olharmos na
perspectiva do profissional de educação física, que tem sua profissão
regulamentada.
Hoje, temos uma maioria de árbitros — e o Jorge Paulo vai poder me corrigir
se eu estiver em erro —, de profissionais liberais e até de servidores públicos,
policiais que atuam como árbitro de futebol, porque têm flexibilidade do tempo de
trabalho na linha da idéia de dedicação exclusiva, que ninguém pode ter, para poder
exercer a atividade do apito quando escalado.
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Agora, temos alguns problemas a serem superados que talvez, no
reconhecimento da CBF, das federações em relação aos profissionais de educação
física, pudessem ser superados.
Como vamos falar em regulamentação numa atividade específica, criarmos
um projeto de lei, como deve haver alguns já tramitando na Casa, de
regulamentação da profissão do árbitro de futebol, se o árbitro de futebol é escolhido
por sorteio? Estamos jogando à sorte àquele que poderá ou não atuar no futebol
brasileiro nas suas diversas competições. O Estatuto do Torcedor impõe que o
árbitro de futebol seja escolhido mediante sorteio. Não há profissão no mundo em
que se exija a atividade mediante colocar o profissional à própria sorte. Precisamos,
então, prosperar essas dificuldades.
A meu sentir, reconhecer, de uma vez por todas, que o profissional de
educação física é aquele que na atividade acadêmica se depara com todos os
problemas referentes ao domínio do conhecimento das regras, das modalidades, da
questão que envolve a psicologia desportiva, da questão que envolve a anatomia
desportiva. Enfim, áreas que têm relação direta com a área da educação física e do
desporto. São profissionais do esporte. E, em se especializando, passando por
cursos específicos de formação permanente dentro das federações e da CBF,
poderíamos, sim, muito bem pensarmos numa carreira, também, como é a carreira
já reconhecida de exigência aos técnicos de futebol profissional que tenham a sua
carteira dos Conselhos Regionais de Educação Física, Conselho Nacional de
Educação Física. A OAB demorou 50 anos ou mais para se estruturar na forma que
existe hoje; temos profissões regulamentadas demais no País para pensar numa só
profissão para árbitro de futebol, mas devemos pensar numa profissão de educação
física, uma profissão do esporte, que é o que já existe e que poderia muito bem ser
aproveitado pela área específica na atividade do árbitro de futebol.
O tema é riquíssimo e a Casa deve debruçar-se sobre o sistema de sorteio.
Só para ilustrar algumas denúncias sobre acertos ou manipulações dos sorteios, de
certa forma, eles trazem uma fragilidade aos departamentos, às diretorias e às
federações que pretendem colocar bons árbitros ou árbitros de maior competência
ou conhecimento em relação à estrutura dos quadros atuais, para apitar partidas
importantes, mas, de vez em quando, esses sorteios também acabam sendo
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fragilizados porque são feitos em 2 ou 3 colunas, bolinha 1, bolinha 2, tendo de
colocar o mesmo árbitro na primeira coluna para uma partida e na segunda coluna
para outra partida, para se ter certeza de que bons árbitros ou árbitros melhor
qualificados sejam escolhidos pelo sorteio.
Então, são temas complexos que vão muito além da chamada culpa sempre é
do árbitro.
Essas as minhas breves considerações a respeito do tema.
Obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eugênio Rabelo) - Agradeço ao Sr. Paulo
Marcos, Procurador-Geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, pelo
esclarecimento.
Passo a palavra ao Sr. Jorge Paulo de Oliveira Gomes, Presidente da
Associação Nacional de Árbitros do Futebol. S.Sa. dispõe de 10 minutos.
Posteriormente, concederei a palavra ao Sr. Weber Magalhães,
Vice-Presidente da Confederação Brasileira de Futebol.
O SR. JORGE PAULO DE OLIVEIRA GOMES - Exmo. Deputado Eugênio
Rabelo, Presidente desta reunião, demais autoridades presentes, senhoras e
senhores, a arbitragem brasileira sente-se honrada e prestigiada por ter sido
convidada para discutir, mais uma vez, assuntos inerentes à nossa tão sofrida
atividade.
Depois do que disseram o Dr. Dagoberto e o Dr. Paulo Schmitt, pouca coisa
nos resta a acrescentar, porque foi ampla e profundamente dito aqui em público o
que passa a arbitragem brasileira. São tópicos realmente históricos, questões que
estamos vivendo há pelo menos 50 anos — só 26 eu vivi dentro da arbitragem e há
4 anos parei por conta da idade, pois se para aos 45 anos, e sabemos que
podemos, em cada tópico desses, desmembrar muitas coisas, como conquistas e
até procedimentos para podermos atuar como profissionais do apito. Seria uma
longa discussão, que não é o caso desta reunião, por isso, atenho-me aos tópicos
aqui explanados ressaltando que foram de profunda importância para a nossa
atividade.
Como bem disse o Dr. Dagoberto, após sua pesquisa, as condições são
sobre-humanas, mas estas são opção do árbitro de futebol. Porque ele vai
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desenvolver os quesitos básicos para atuar como árbitro e, caso não consiga
alcançá-los, será uma seleção natural. Por isso, há bons árbitros, medianos e outros
que não têm realmente boa performance e não chegam ao quadro. No Brasil, temos
mais de 6 mil árbitros de futebol federados, temos 400 árbitros, incluindo o feminino
em torno de 430 árbitros, inscritos no quadro nacional, temos 20 árbitros masculinos
no quadro da FIFA, 10 como assistentes e 10 como árbitros centrais, e temos mais o
quadro feminino, que gira em torno de 12 meninas, entre árbitras centrais e árbitras
assistentes.
Enfim, como disse o Dr. Paulo Schmitt, é uma atividade que realmente, por si
só, já é profissional. É uma atividade cuja cobrança existe há muito tempo, cobrança
não só oriunda da paixão, mas de outros aspectos, como treinamento físico — tem
de se passar em teste físico para alcançar a marca para entrar no quadro nacional
ou permanecer no mesmo quadro; cultural — há testes de conhecimento tanto da
regra do futebol quanto de conhecimentos gerais. Hoje, para que o árbitro seja
inscrito na relação nacional, exige-se curso superior, e até concordo com o Dr. Paulo
Schmitt que deveria ser conduzido à área de educação física, que é uma área afim.
E nós devemos fazer essa distinção — o Dr. Paulo Schmitt é Procurador-Geral, o Dr.
Dagoberto é do Clube dos 13 e conhecem bem como funciona a arbitragem
brasileira — porque o público em geral não tem muito conhecimento.
Gostaria de agradecer de público pela oportunidade que, nos últimos 2 anos,
estamos tendo nesta Casa de podermos mostrar o trabalho do árbitro de futebol.
Isso tirou um manto de mais de 20 anos. Como falei, fiquei 26 anos na arbitragem. O
Weber, que foi Presidente da nossa federação e hoje é Vice-Presidente da CBF,
sabe o quanto lutamos aqui com a primeira Associação dos Árbitros, em 1979,
comandada pelo Dr. Edson Rezende. Enfim, isso é histórico só que nunca tivemos
oportunidade de mostrá-lo em público, e hoje estamos fazendo isso. E, mais ainda,
quero agradecer às autoridades, algumas não presentes por outros motivos, como
os Deputados Silvio Torres, Deley, Gilmar Machado e José Rocha, enfim, uma gama
de autoridades que se estão empenhando no sentido de dar o reconhecimento à
atividade. Não queremos nada mais do que podermos prestar um serviço de
qualidade ao futebol brasileiro.
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Hoje, a arbitragem brasileira não acompanha o conceito do futebol brasileiro,
futebol pentacampeão, altamente lucrativo e difundido no mundo todo. Tive
oportunidade de participar da Copa do Mundo de 2002, no Japão e Coréia, como
árbitro, com muito orgulho, e vi o quanto, no Oriente, na Austrália, na Oceania, o
futebol brasileiro sofre o efeito da paixão fora do Brasil. As pessoas que têm contato
direto sabem, mas eu, particularmente, não tinha idéia do quanto o futebol brasileiro
é querido e de como as pessoas têm necessidade de conviver com o futebol
brasileiro. E a arbitragem brasileira não está acompanhando isso, está ficando em
segundo, terceiro plano, porque, infelizmente, não houve investimento na arbitragem
brasileira. Em muitos dos assuntos aqui discutidos ou explanados vamos nos
deparar com uma situação gritante, que é a falta de recursos. Muitos dos problemas
aqui enumerados poderiam ser sanados, se houvesse canalização de recursos para
a atividade da arbitragem.
Hoje, o árbitro de futebol vive com uma taxa de arbitragem, já falei diversas
vezes nesta Casa, e só a recebe se trabalhar. Se ele sofrer uma contusão, que é
normal num treinamento, ou um estiramento muscular ou uma fissura, pode ser uma
contusão leve mas também pode ser grave, ou um acidente de trânsito que pode
acontecer na volta de um jogo — há vários jogos no interior e temos muitos
exemplos de árbitros que sofreram acidente e estão inutilizados, aliás, até para a
vida normal, não só como árbitro, não só como desportista —, enfim, se houver
algum desses impedimentos de trabalho, o árbitro não recebe nada.
Por isso, conforme disse o Dr. Dagoberto, 98% dos casos não têm condições,
acho que as estatísticas são ciência, como disse o Dr. Paulo Schmitt falou, e eu fico
até com 100%. Não há condições de o árbitro não ter qualquer outro suporte
financeiro, senão ele não consegue desenvolver a atividade da arbitragem, com a
cabeça que lhe é solicitada, pelas características da atividade. Então, é muito difícil
hoje ser árbitro de futebol no Brasil. Mas, ao mesmo tempo, vejo com muito otimismo
e satisfação que todos estão imbuídos do sentimento de que é preciso melhorar
nossa atividade, para que ela faça ombro ao nosso futebol e à sua importância.
Espero ter sido breve porque muitos assuntos deverão discutidos aqui.
Agradeço a oportunidade de estar aqui e poder debater este tema.
Muito obrigado.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Eugênio Rabelo) - Agradeço ao Sr. Jorge
Paulo pelo esclarecimento prestado. Realmente, as questões do árbitro são
polêmicas.
Como cheguei um pouco atrasado, aproveito a oportunidade para parabenizar
e agradecer o Deputado Edinho Bez pelo requerimento que nos levou ao rico debate
que está sendo construído aqui e que conta com figuras como o Dagoberto, o
Lourival.
Passo a palavra para o Sr. Weber Magalhães, Vice-Presidente da
Confederação Brasileira de Futebol, que disporá de 10 minutos.
O SR. WEBER MAGALHÃES - Bom dia a todos.
Cumprimento o Presidente Eugênio Rabelo, ex-presidente do Ceará,
Deputado que, além de ter sensibilidade esportiva, conhece bem a matéria. Tenho
satisfação em representar aqui nossa entidade. É uma pena que o Presidente da
Comissão Nacional de Arbitragem da CBF, Sérgio Corrêa, não esteja presente.
Cumprimento o Dagoberto, representante do Clube dos 13, que vem
trabalhando, há muito tempo não só nas questões do clube, mas do esporte em
geral, dedicando sua competência em assuntos importantes para o futebol brasileiro;
o Dr. Paulo Schmitt, Procurador-Geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva,
que tem atuado de maneira profissional, acompanhando diuturnamente todos os
acontecimentos do futebol brasileiro. É importante ressaltar que o STJD tem
desenvolvido um trabalho sério e competente no que tange à questão da disciplina
do futebol brasileiro.
Jorge Paulo, é uma satisfação vê-lo aqui. Quando Presidente da Federação,
tive a felicidade de acompanhar seu trabalho. Não é à toa que hoje está à frente da
ANAF, porque passou pela arbitragem e por todos os segmentos, chegando à Copa
do Mundo de 2002. Eu, na ocasião, chefiando a delegação do Brasil, tive
oportunidade de estar junto com ele. Para mim é uma satisfação, vê-lo, hoje, depois
de ter saído dos quadros da Federação, passar por uma Copa do Mundo, Presidente
da ANAF. Parabéns pelo trabalho, Jorge Paulo, que também não se tem furtado a
comparecer em eventos em que se comenta a arbitragem, e isso faz com que
possamos conhecer melhor a arbitragem no Brasil.
Ao James Lewis, Secretário da Comissão, obrigado pelo convite.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Turismo e DesportoNúmero: 0265/09 Data: 02/04/2009
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Praticamente já foi comentada pelo Dagoberto, pelo Dr. Paulo Schmitt e pelo
próprio Jorge Paulo, a questão da arbitragem. Hoje, na Confederação Brasileira de
Futebol, temos a CONAF, presidida pelo Dr. Sérgio Corrêa. Anteriormente, com
muita satisfação também, foi presidida pelo Edson Rezende, que foi meu diretor de
arbitragem durante 8 anos na Federação de Brasília e com quem tive a grata
satisfação de trabalhar lado a lado.
Eu participava dos eventos da arbitragem e estava sempre presente. Valorizei
muito arbitragem de Brasília. Tivemos um trabalho reconhecido nacionalmente.
Tivemos 2 árbitros na FIFA: o Jorge de Paulo e o Luciano Almeida. Tivemos outros
aspirantes à FIFA, um quadro da federação que tinha mais de 12 árbitros e
assistentes, num trabalho de reciclagem de trabalho dentro da Federação que
fazíamos lado a lado não só com a Comissão Estadual de Árbitros de Futebol —
CEAF, mas também com o sindicato. Sempre trabalhamos juntos. Além de
participar, eu acompanhava até os trabalhos físicos. Algumas vezes, participei das
reuniões.
Graças a Deus, nossos campeonatos tiveram começo, meio e fim, e não
houve graves problemas de arbitragem em Brasília. Erros, nós vamos ter, não só a
arbitragem, mas nós, dirigentes, também.
Hoje, os árbitros, como disse muito bem o Dr. Paulo Schmitt, estão totalmente
fragilizados, porque são acompanhados de perto por equipamentos tecnológicos e,
sem dúvida nenhuma, fica muito difícil não cometerem alguns erros. Tenho certeza
de que a arbitragem brasileira e a de Brasília estão sendo conduzidas de maneira
profissional. A própria Confederação Brasileira de Futebol tem realizado reciclagem
e encontros na Granja Comary. Mas há pouca divulgação desses eventos. Os testes
físicos são feitos por todo o Brasil, inclusive com instrutores da FIFA, como o Sr.
Jorge Paulo. E, com esse sistema da arbitragem, ficou muito bom para que
possamos conhecer e passar para os senhores ainda mais o que está acorrendo na
arbitragem.
Lembro que foi citada a questão da regulamentação da profissão, que
considero importante. A parte da educação física, citada aqui, eu também acho
muito importante. Eu, na qualidade de professor de educação física, que fui, e treino
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futebol por gostar do esporte, entendo que, sem dúvida nenhuma, os árbitros teriam
melhores condições para aprimorar a parte física.
Em relação ao sorteio, relatado aqui também, nós, à frente da Federação por
8 anos, nunca tivemos sorteio. Quando eu fui Presidente, nunca tivemos qualquer
problema, até porque nós, que dirigimos a parte futebolística, temos sensibilidade e
temos um termômetro para colocar árbitros A, B ou C em algumas partidas, que são
mais importantes ou menos importantes ou partidas vitais, que sabemos que podem
ocorrer. Nunca tivemos sequer problemas graves em relação a essa questão.
A CBF tem observadores em todo o Brasil. Temos observadores em cada
Estado, acompanhamos campeonatos locais. Quero fazer aqui uma reflexão. No
Brasil, no fim de semana, quando se inicia o Campeonato Brasileiro, nós temos por
volta de 50 a 60 jogos das Séries A, B e C, além dos campeonatos estaduais nos
Estados. Vejam bem, a mídia ressalta só aquele que cometeu o erro. E as
arbitragens que foram bem produzidas, bem-feitas nos Estados? Isso pouco se fala.
Os árbitros, quando não aparecem, não são comentados, pois quanto menos
aparecer é melhor para o árbitro. Pouco se comenta a questão da arbitragem.
Lembro-me muito bem de um fato na Federação, onde nós tivemos um jogo no Rio
de Janeiro apitado pelo Luciano Almeida, árbitro da FIFA, que, quando esteve em
Brasília, foi altamente criticado pela imprensa. Eu fiquei ao lado dele e pedi-lhe que
assumisse o erro que cometeu no jogo do Rio de Janeiro. E, naquele momento, eu
até o defendi. Quantas arbitragens perfeitas Luciano de Almeida fez para chegar à
FIFA? Mas isso pouco foi comentado.
Portanto, os árbitros estão sujeitos a muita agressividade por parte de
dirigentes que hoje têm de ter, primeiro, tranquilidade para dirigir não só as
Federações, como os clubes, e ver que realmente entrar numa partida de futebol
para apitar um jogo não é fácil. Já dizia Dr. João Havelange, numa entrevista
recente, que ele não entraria em campo para dirigir uma partida entre São Paulo e
Corinthians pela responsabilidade. Ele se sentia sem condições de apitar, devido à
pressão, uma partida com 60, 70 mil espectadores e sendo observado por todos,
porque o erro do jogador ou do técnico, como bem frisou o Sr. Paulo Schmitt, não é
contestado tanto quanto o erro de arbitragem.
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Mas eu acho que o caminho é esse. Nós temos cada vez mais de tentar
aprimorar. As federações estão partindo para a profissionalização, a Confederação
Brasileira também. O Tribunal está atento à questão da arbitragem. Mas o
importante é promover mais debates, abrir a arbitragem cada vez mais e, acima de
tudo, conduzir da melhor maneira possível a arbitragem nacional.
No mais, quero agradecer a todos os Deputados a presença. Coloco-me à
disposição para discutir qualquer assunto.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eugênio Rabelo) - Agradeço ao Sr. Weber
Magalhães os esclarecimentos oportunos. Vemos, cada vez mais, a necessidade de
legislar a questão do esporte nacional, principalmente no que se refere aos árbitros.
Encerradas as exposições, passo à fase dos debates.
Os Deputados inscritos poderão interpelar os convidados estritamente sobre o
assunto da exposição pelo prazo de 3 minutos, tendo o interpelado igual tempo para
responder, facultadas a réplica e a tréplica, pelo mesmo prazo. É vedado ao orador
interpelar qualquer dos presentes.
Gostaria também de informar a todos que esta reunião está sendo gravada e
será publicada.
Passo a palavra ao Deputado Edinho Bez, autor do requerimento.
O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ - Sr. Presidente, quero agradecer a
presença de nossos convidados. Ao abrir esta reunião, antes de V.Exa. assumir a
Presidência, assumi o compromisso de, logo após a manifestação de os convidados,
passar a palavra ao Sr. Paulo Goyaz, Presidente do Gama, que aqui nos veio
prestigiar. Convidamos alguns presidentes, e todos justificaram suas ausências.
Assim, Sr. Presidente, antes de me manifestar, gostaria que V.Exa. desse
oportunidade ao Sr. Paulo Goyaz, Presidente do Gama, de se manifestar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eugênio Rabelo) - Seu pedido será
atendido, Deputado.
Com a palavra o Sr. Paulo Goyaz.
O SR. PAULO GOYAZ - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, demais
membros da Mesa, o Deputado Edinho Bez, de Santa Catarina, nos convidou
porque, segundo ele, não constava da Mesa nenhum presidente de clube. Em que
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pese a presença do representante do Clube dos Treze, não havia um presidente de
clube, que é a parte diretamente envolvida nesse processo da arbitragem.
Alguns assuntos nos chamam a atenção. Com relação à profissão de árbitro,
por exemplo, pessoalmente não tenho nenhuma dificuldade em interpretar que o
árbitro é um funcionário da entidade de administração do desporto, seja ela a CBF,
seja ela a federação.
Digo isso porque a Lei do Torcedor, em seu art. 30, diz que é direito do
torcedor que a arbitragem das competições esportivas seja independente, imparcial,
previamente remunerada e isenta de pressões. E o seu parágrafo único diz que a
remuneração do árbitro e de seus auxiliares será de responsabilidade da entidade
de administração do desporto ou da liga.
Talvez a Comissão não saiba, mas hoje o STJD — Dr. Paulo Schmitt é nosso
Procurador-Geral e tem feito um excelente trabalho junto àquela entidade — baixou
uma resolução estabelecendo essa obrigação para os clubes, sendo que nós, os
clubes, na maioria das vezes, não temos renda nem para pagar aos árbitros das
partidas.
Ora, quando a lei fala em remuneração, não há dúvida de que remeteu para a
CLT. E a CLT estabelece vínculo trabalhista para quem tiver subordinação,
remuneração e cumprimento de jornada. O árbitro se enquadra na CLT como um
contratado das entidades de administração dos desportos, bastando eles fixarem os
salários a serem pagos por essa entidade, e não pelos clubes, até para que eles
tenham total isenção. Quer dizer, a partir do momento que eu estou pagando o
árbitro, pode ser que algum árbitro entenda que ele tenha subordinação ao clube,
quando, na verdade, não é isso o que nós queremos.
Sobre o árbitro que faz a arbitragem bem feita, como disse o Weber,
parece-me que é obrigação geral do árbitro, como norma ordinária, fazer arbitragem
bem feita. A extraordinária, que deveria ser no caso dos erros, erros humanos ou
mesmo aqueles mais grosseiros, que utilizam recursos indevidos, até por
pagamentos.
Chama-nos atenção também o fato de que não existe relação — e o Estatuto
a estabelece — entre o árbitro e o torcedor-consumidor. É importante que haja uma
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legislação sobre isso porque, hoje, vemos nos estádios o torcedor que vai e paga e
banca toda essa estrutura milionária do futebol.
Os clubes, as partidas estão esvaziadas de torcedores. Eu até me dou por
bem, porque o Gama, nos campeonatos nacionais, é um dos poucos clubes que têm
a média de 10 mil espectadores, por partida, em seu estádio, o Bezerrão. Mas
outros clubes não têm essa realidade. Meu concorrente direto, o Brasiliense, não
leva mais do que 2 mil pessoas ao estádio, excepcionalmente.
Então, vemos que há responsabilidade por parte do árbitro em relação ao
clube de futebol, pelos erros grosseiros. Nós montamos uma equipe, fazemos altos
investimentos, e determinado árbitro pode cometer erro grosseiro e, como
consequência, todos os investimentos feitos pelo clube vão por água abaixo —
porque um árbitro cometeu um erro grosseiro.
Parece-me que o erro humano não deve ser punido, mas o erro grosseiro,
que constatamos muitas vezes — e até cheguei a denunciar aqui em Brasilia um
árbitro por estar a 2 metros, e de frente, para o lance, e não ter visto um pênalti
claro, em que um jogador chuta o joelho e a barriga de meu jogador. Então, para
mim, aquilo não foi erro humano, mas um erro grosseiro, para não dizer outra
expressão mais pesada. Então, nós representamos aqui.
Para se ter idéia, em Brasília, o Presidente da Comissão de Arbitragem fez
uma denúncia sobre eventuais compras de árbitro no campeonato do DF. O Tribunal
de Justiça Desportivo daqui recebeu o pedido em 13 de fevereiro; em 13 de março,
ele transformou em inquérito, que está correndo. Nós não tivemos nenhuma
participação nisso, mas, a partir de 13 de março, começamos a observar mais e
colher alguns dados. Chamou-nos atenção, no caso específico de Brasília, o fato de
que a própria Comissão de Árbitros puniu 5 árbitros. Desses, 4 árbitros apitaram 8
jogos do Brasiliense, sendo que esses 4 árbitros foram punidos pela Federação. Não
sabemos o motivo, tendo em vista que não é dado conhecimento ao clube nem ao
grande público no site. Está lá o site da Federação para quem assim o quiser ver.
Parece-nos que tem de haver responsabilidade por parte do árbitro, caso cometa
erro grosseiro ou má-fé numa arbitragem.
Por outro lado, ouvi uma crítica aqui em relação ao sorteio dos árbitros.
Parece-me que essa expressão foi mal empregada. O art. 32 do Estatuto do
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Torcedor diz que o sorteio é entre aqueles árbitros previamente selecionados. Ora,
se a Federação tem 5, 10 árbitros tidos como excelentes, então, são esses que vão
participar do sorteio de determinados jogos e não todos os árbitros — aquele com
nota 10 e aquele com nota 5. Portanto, é preciso restabelecer essa verdade em
relação ao sorteio. O sorteio deve ser feito em lista pré-selecionada pelo próprio
órgão que acompanha e não de forma geral, como está ocorrendo em alguns
Estados. Confesso que não sei se isso ocorre em Brasília.
Feitas essas observações, parece-nos que os árbitros têm direito e já estão
regulamentados, como disse o Dr. Paulo Schmitt, e que cabe a eles apenas
transformar essa regulação por meio do vínculo trabalhista com a entidade de
administração do desporto. E, consequentemente, serem fiscalizados pelo
Conselho, e, nos erros, vamos dizer, humanos, serem absolvidos, mas, nos erros
grosseiros e mal-intencionados, serem apenados na forma da lei, inclusive
respondendo pelos danos que causar, como qualquer brasileiro trabalhador.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eugênio Rabelo) - Dando prosseguimento à
audiência pública, passo a palavra ao Deputado Edinho Bez e, posteriormente, aos
inscritos. Temos ainda a réplica dos expositores.
O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ - Sr. Presidente, mais uma vez, agradeço
aos nobres colegas desta Comissão a aprovação, por unanimidade, desta audiência
pública, que tem por objetivo levantar os problemas referentes à arbitragem no
futebol brasileiro.
Independentemente das palestras proferidas e da presença das pessoas, e se
o ambiente for propício, quando entramos no assunto, quando somos interrogados,
tenho dito sempre — e disse ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, quando era
Presidente, falei ao Presidente Lula, conversei como os 2 ex-Governadores de
Santa Catarina, Esperidião Amin e Luiz Henrique da Silveira — que o cidadão
comum não fala com o Presidente da República nem com o Governador. Pode
conversar por acaso. E se o cidadão comum de Santa Catarina ou do Ceará disser:
Irei a Brasília que eu quero bater um papo, conversar com o Lula. Não é assim, até
pela função que exerce o Presidente da República. Costumo dizer, muitas vezes,
quando alguns torcedores ou eleitores querem falar conosco, que, quando eles
querem falar com o próprio juiz de primeira instância da sua cidade, é preciso marcar
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audiência para conversar com ele. Agora, com o Vereador, ele fala na comunidade.
Com os Deputados eles falam. E aquele que não conseguir falar com o Deputado
Edinho Bez ou com um colega, ele fala com o Vereador e o Vereador fala com o
Deputado. Nós sabemos direitinho o sentimento da população. Outro dia, viajando
com o Presidente Lula, senti que S.Exa. não estava bem a par das coisas, o que é
natural — o Fernando Henrique, o meu Governador —, porque nós é que estamos
convivendo com as pessoas no dia a dia. Até mesmo aqui no Congresso Nacional,
na Câmara dos Deputados, nos deparamos com as pessoas, certo, Gilmar, que nos
pegam pelo braço e vamos até o plenário conversando. Eles contam as coisas e
desabafam.
E todos nós sabemos, não quero ser repetitivo. E quero concordar com Jorge
Paulo que o Brasil é querido em todos os sentidos. Conheço 40 países, fui
Relator-Geral do Sistema Financeiro Nacional, no Governo Fernando Henrique
Cardoso. Com a Comissão, visitamos inúmeros países para discutir, e tivemos a
oportunidade de saber do sentimento das pessoas em muitas áreas. Mas aqui
estamos falando de futebol. Futebol, então, eles conhecem os jogadores, às vezes,
mais que nós, dos respectivos clubes. Até já passei vergonha conversando, por
exemplo, na Turquia, em Istambul, pois eles citavam os nomes dos nossos
jogadores, sem falar em Pelé e Zico, porque esses já fazem parte da história do
futebol brasileiro.
E foi dito aqui, e não estamos condenando árbitro A ou B, estamos falando
que o contexto da arbitragem não está correspondendo ao potencial futebolístico
que tem o País.
Isso mexe com o sentimento. Temos funcionários, e bons funcionários nesta
Casa, e converso com muitos deles — todos nós, Parlamentares. Temos colegas
funcionários que, quando o seu time perde, não dormem, até mesmo o filho. Ainda
existe isso. Eu pensei que não mais existia, mas ainda existe, o caso do torcedor
combinar com o filho que não mais vão torcer, mas, no outro jogo, começa tudo de
novo, é outro dia.
Então aonde queremos chegar? Queremos aproveitar a experiência dos
convidados para trocar ideias, colher sugestões, porque os senhores é que sentem
mais na pele do que nós no comando.
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E foi citado aqui, acho que pelo Sr. Weber Magalhães, que a imprensa, por
exemplo, não divulga quando um árbitro se sai bem, que ele não aparece. Se ele
não aparece, é porque fez uma boa partida. Mas passamos por isso também, Nós,
Parlamentares, os políticos. A imprensa está atrás dos erros, e, às vezes, temos de
pagar para divulgar as coisas boas. Às vezes, saem, às vezes não saem. Mas temos
consciência disso. A imprensa vive de audiência e ela quer também chamar
atenção. E chama atenção para os erros, não para as qualidades.
Temos consciência também que estamos expostos. Se eu não quero ser
criticado, tenho de deixar de ser Deputado. Então, o árbitro tem de ter consciência
de que será criticado, sem falar do xingamento da mãe, da família etc. Portanto, ele
tem de ter consciência de que está lá e será xingado. O torcedor, que às vezes não
pode xingar o chefe, xinga o árbitro na hora da partida. Sabemos de tudo isso, e é
verdadeiro.
Precisamos melhorar, treinar, capacitar, profissionalizar o árbitro, tamanha é a
responsabilidade. Não é possível, na visão do torcedor fanático, como é o brasileiro,
que ainda tenhamos o árbitro que poderá mudar o resultado. Já mudou; sabemos
disso.
O São Paulo foi campeão agora, sem demérito, pois sabemos que São Paulo
é um dos grandes times do mundo, e não só aqui. Mas o São Paulo foi o campeão
nas últimas 7 rodadas por 2 erros de 2 árbitros. Contra o Botafogo, quando foi
anulado aquele gol, ali, ele ganhou 2 pontos. E na partida final foram mais 3 pontos,
por aquele que não foi gol. Ganhou o título. O Grêmio poderia ter sido campeão, se
os 2 árbitros não tivessem cometido erros. Não estamos aqui contestando,
considero aquele um erro humano, até pela forma como ocorreu.
O gol do Brasil, ontem, também foi de impedimento. Mas também cobrar
detalhe do juiz? Estamos falando aqui de erro grosseiro, de despreparo, do geral do
contexto. Queremos ajudá-los, não criticá-los. Sabemos também da tarefa difícil dos
senhores. Queremos mudar a legislação.
Meu pai jogou futebol, chegou a jogar no Coritiba. Eu joguei futebol até há
pouco tempo, deixei por causa da política, pois não mais tenho tempo para nada. E
sabemos do carinho, do tesão que tem o torcedor brasileiro. Obviamente que
aumenta a responsabilidade.
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Comentava ainda há pouco com o Presidente do Gama, quando trocávamos
aqui umas ideias, e eu disse que outro dia, nesta Comissão, citei o exemplo de 2
clubes rivais, que conhecemos, o que é salutar e faz parte, Vasco e Flamengo; lá em
Santa Catarina, há o Avaí e o Figueirense. Então, quando se diz que, no domingo,
vão jogar o Avaí e o Figueirense, no Maracanã, Vasco e Flamengo, a primeira coisa
que o torcedor faz é perguntar quem vai ser o árbitro. A preocupação com o árbitro é
maior do que a preocupação com o adversário, em muitos casos, não é verdade?
Estávamos comentando isso.
Então, acho que deveríamos passar para o torcedor a tranquilidade de que o
árbitro está preparado, de que fizemos uma legislação que vai corresponder... O que
sei, e os senhores sabem mais do que eu, porque estou à distância, e qualquer leigo
sabe, é que o árbitro tem de ser uma pessoa rápida no raciocínio, tem de ter reflexo,
não pode ser um marcha lenta. Ainda mais com o avanço tecnológico de hoje, como
foi citado aqui pelo Paulo Marcos Schmitt — sabemos disso. Aí mesmo é que se
exige do árbitro. O Jorge, que foi árbitro, sabe mais do que eu. Eu já apitei, mas fui
amador, e levei pau também. E não tem nada a ver com o negócio.
Então, o que queremos aqui é contar com a experiência dos senhores e nos
colocar à disposição para melhorar a arbitragem. Nada justifica, Sr. Presidente
Eugênio Rabelo, que foi Presidente do Ceará, os investimentos altíssimos que foram
citados aqui para se manter um clube de futebol, um jogador caríssimo, igual ao
Ronaldo, agora no Corinthians, custando uma grana para o Corinthians, e, de
repente, um erro do árbitro, o que pode desmotivar qualquer outro clube.
Então, defendemos a profissionalização e nos colocamos à disposição
principalmente dos convidados que aqui vieram. Lamento a ausência dos outros que
não puderam comparecer. Nós nos colocamos à disposição para, juntamente com
os senhores, preparar uma legislação que dê segurança ao torcedor. A função maior
do árbitro, além da legitimidade do espetáculo, é dar segurança ao torcedor.
Queremos colaborar, em função da importância do futebol não só para o Brasil, mas
para o mundo.
Obrigado por terem vindo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eugênio Rabelo) - Agradeço ao Deputado
Edinho Bez o esclarecimento. Quero parabenizá-lo também por ser o autor do
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requerimento. Realmente essa questão é importante. O Presidente do Gama está
presente — é Presidente, não existe ex-Presidente. Esse questionamento é uma
questão muito polêmica em todo o Brasil. V.Exa. foi muito oportuno no seu
requerimento. Lamentavelmente, a maioria dos nossos colegas, o Deputado Deley e
toda aquela bancada do esporte não estão presentes nesta audiência de hoje.
O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ - Permita-me, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eugênio Rabelo) - Pois não.
O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ - Eu justifiquei as ausências no início.
Inclusive, o Presidente da Casa, Deputado Michel Temer, dispensou os Deputados
hoje e nos convocou para segunda-feira, tendo em vista assuntos importantes,
medidas provisórias. As discussões vão de segunda-feira até quarta à noite. Então,
tudo isso contribuiu para a ausência dos nossos companheiros.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eugênio Rabelo) - Exatamente. E está sendo
realizada a nossa convenção nacional do Partido Progressista, no Plenário 2. O
Presidente, inclusive, está lá. Posteriormente, S.Exa. poderá vir encerrar este
debate. Mas esta é uma ocasião oportuna e importante para todos nós. O
Presidente do Gama falou... Eu também fui Presidente, modéstia à parte, de um dos
poucos clubes do País de maior torcida do Nordeste. A minha amiga Lídice da Mata
não está aqui. Senão, ela iria combater e dizer que é o Bahia. E eu digo que é a do
Ceará Sporting Club. Geralmente, quando jogam os clássicos brasileiros, nós temos
a maior... Mas tudo bem.
Dando prosseguimento aos trabalhos, passo a palavra ao Deputado
Valadares Filho.
Vamos fazer o seguinte: formaremos um grupo, com os Deputados Valadares
Filho, Gilmar Machado e José Rocha, para as perguntas serem respondidas em
bloco.
Com a palavra o Sr. Deputado Valadares Filho.
O SR. DEPUTADO VALADARES FILHO - Inicialmente, quero cumprimentar
o Sr. Presidente, Deputado Eugênio Rabelo, os convidados Jorge Paulo de Oliveira
Gomes, Dagoberto dos Santos, Paulo Marcos Schmitt, Weber Magalhães, e
agradecer a presença de todos.
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Quero cumprimentar também o autor do requerimento, Deputado Edinho Bez,
que nos proporcionou, nesta manhã, um debate rico e proveitoso para o futebol
brasileiro, que, sem dúvida alguma, é uma paixão nacional.
Deputado Edinho Bez, V.Exa. você fez uma síntese de todos os nossos
sentimentos em relação à arbitragem brasileira. Sem dúvida, como há jogos
importantes, é uma preocupação nossa. Debatíamos informalmente, antes de
começar a audiência, sobre quem será o árbitro. Queremos nos colocar à disposição
de todos esses órgãos. Sem dúvida alguma daremos uma colaboração direta para
que a arbitragem fique cada vez melhor.
Ouvi atentamente o Jorge Paulo. Quero parabenizá-lo e me somar às suas
palavras. A profissionalização e a valorização do árbitro, sem dúvida alguma,
poderão melhorar o trabalho em campo. Assim poderemos contribuir diretamente
para que não tenhamos erros grosseiros como há hoje na arbitragem.
Quero dizer que assino em baixo, estou de acordo com tudo o que o
Deputado Edinho Bez falou. Queremos ouvi-los agora nas respostas e ver o que
poderemos fazer. Vejamos o que vocês e nós podermos fazer para chegarmos a um
denominador comum. Que a arbitragem brasileira não seja mais um problema, mas
uma solução para nosso futebol. Que não haja mais erro de arbitragem, que venham
a mudar os resultados.
Quero aproveitar a oportunidade e fazer uma pergunta ao Paulo Marcos.
Conversamos também informalmente antes da audiência sobre o projeto, de lei de
autoria do Deputado Bruno Araújo, quanto à mudança da sede do STJD do Rio de
Janeiro para o Distrito Federal. Também queria ouvir sua opinião sobre isso, Weber
Magalhães. No meu voto, concordo com o Deputado Bruno. Colocar o STJD mais
próximo dos órgãos superiores da Justiça brasileira daria uma independência maior,
apesar de o STJD não fazer parte do Poder Judiciário brasileiro. Haveria uma
imparcialidade ainda maior, já que os órgãos superiores da Justiça brasileira têm
costume de conviver com esses conflitos intersubjetivos. Acredito que seria uma
contribuição que nós Parlamentares poderíamos dar para uma imparcialidade ainda
maior. Quero também parabenizar o Marcos Paulo pelo trabalho brilhante que tem
feito à frente da Procuradoria-Geral.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Edinho Bez) - Concedo a palavra ao
Deputado Gilmar Machado.
O SR. DEPUTADO GILMAR MACHADO - Sr. Presidente, quero
cumprimentá-lo pela iniciativa deste debate. Não tive oportunidade de estar aqui
ouvindo todos os expositores, mas quero fazer uma pergunta, porque o Presidente
do Gama tocou em um ponto essencial. Fui o Relator do Estatuto do Torcedor, e a
lei para mim é muito clara. Não vejo dúvida de interpretação do capítulo VIII no que
diz respeito à arbitragem. Deve-se cada vez mais buscar sua profissionalização, não
só os árbitros como também os bandeiras, porque fazem parte da equipe. Inclusive
quem está fora pode ajudar. O quarto árbitro não deve só ficar anotando ou
perturbando o técnico que fica na beira do campo dando orientações. Acho que o
quarto árbitro não pode servir só para isso. Há um conjunto.
Naquela jogo escandaloso do meu Botafogo, que todos viram, a bola não
tinha entrado mesmo, foi por fora. Aí o quarto árbitro foi lá, avisou o bandeirinha e
ajudou o árbitro a não cometer um erro. Acho que isso tudo ajuda. Acho que todos
têm que participar do processo. O Estatuto diz o quê? Vamos organizar. Se as
competições estão sendo organizadas, os árbitros também têm que se organizar.
Não tem como ser diferente. Acho que já melhoramos muito desde a implementação
do Estatuto do Torcedor. Não só os campeonatos brasileiros de futebol estão
organizados como também a Superliga de Vôlei, porque árbitro não é só no futebol.
Graças a Deus, o basquete está voltando à normalidade. Voltamos a ter
basquete no Brasil, campeonato organizado, como está estabelecido no estatuto.
Deve-se ter campeonato com a regra anterior, de 2 meses antes. Assim, é
publicado, todos sabem o dia do jogo, com quem e como vai jogar, e o estádio que
tem condições de realizar a partida. Por exemplo, o time feminino de vôlei de
Uberlândia, infelizmente ficou em nono lugar, não conseguiu chegar ao playoff, no
primeiro ano que está na Superliga. Os jogos contra os grandes times não poderiam
ser realizados no ginásio do Praia Clube, onde são realizados jogos com times
menores. Por quê? Em um grande clássico, tem-se um público maior. Assim, os
jogos deveriam ser realizados no Sabiazinho, onde cabem 6 mil pessoas. Não podia
ser realizado no ginásio onde cabem 1.500 pessoas.
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O estatuto já diz isso. Não se pode colocar as pessoas em risco, em um
evento. O árbitro tem de ter sua segurança e ser remunerado. Todos têm de pagar.
Agora, quem paga? Isso não conseguimos resolver. No meu entendimento, como
Relator, entendo que deva ser quem organiza a competição.
Mas quanto a organizar uma competição, há uma divergência. Por quê? A
CLT realmente estabelece normas. Agora, isso não significa que a entidade
organizadora tem de contratar. Ela pode contratar uma entidade. Os árbitros se
organizam e ela faz um contrato. Isso não cria vínculo. Há hoje outros eventos para
os quais se pode contratar uma empresa, que prestará o serviço. Não é preciso
diretamente fazer isso. Temos que garantir que as pessoas que vão arbitrar sejam
imparciais, não sejam filiadas ao Vitória, por exemplo, para apitar o jogo. Essas
coisas, no regulamento, ficam mais ou menos definidas.
Tivemos uma guerra, uma boa disputa no que se refere ao sorteio. Quanto a
isso, nós fomos muito claros: quem vai definir os árbitros que entram no sorteio é a
entidade. Mas se ela põe um árbitro no sorteio no qual ela não confia, o problema é
da entidade que está organizando o evento. Se ela põe uma pessoa que não dá
conta de apitar, ela está errada, não poderia ter posto esse árbitro para apitar. Não o
coloque no sorteio, então. Essa é a minha ideia.
Jorge Paulo, acho deveríamos ter uma estrutura melhor. Segundo a lei, já é
permitido fazer um contrato de gestão. É preciso que vocês tenham uma entidade,
como o Clube dos 13 ou a CBF, ou quem vai organizar que faça um contrato e
acerte isso. Sobre quem vai pagar, isso está no acordo de gestão de quem vai fazer
o evento, assim como se os clubes vão participar ou não. Cada um vai definir a
regra do processo. Aqui não impede. As leis do Brasil não são produzidas para
impedir. Aliás, a lei não é criada para ficar toda hora vigiando tudo. Tem-se de dar
liberdade a quem organiza, aos árbitros. O que temos de vigiar são as coisas mais
graves.
Eu acho que nunca vamos conseguir acertar 100%. Nós, como
Parlamentares, fazemos de tudo para tentar acertar, mas em alguma coisa erramos.
Duvido que alguém diga: "Eu não cometo erro". Na hora de elaborarmos a lei, às
vezes, exageramos numa coisa ou outra, tiramos uma letra, mudamos. Isso pode
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trazer um transtorno ou outro. Mas não pode ser imputado o mesmo quando dizem:
"Ah, é a mesma coisa que eu acho do árbitro".
Temos de ter uma norma, e não sei como podemos fazer o julgamento do
árbitro. Apenas, nesta Comissão é meio complicado. Para a punição tem de haver
regra. Em Minas Gerais, pune-se de um jeito. O Alício, da minha região, sofreu uma
pena que foi um exagero. Eu o considero muito bom, ele treina árbitros de ligas
amadoras maravilhosas. Estão tão bem que estão subindo. Mas, pelo amor de
Deus, aplicaram-lhe uma pena! Eu acho que realmente errou. E errar num clássico
Cruzeiro e Atlético é duro. A pessoa sofre mesmo. Mas eu acho que houve um
exagero.
Deve haver uma regra, pois no Sul é de um jeito; no Paraná, de outro; em
Santa Catarina, de outro, em Brasília, de outro. É preciso haver uma norma. Não sei
como, por meio da Justiça Desportiva, poderíamos criar uma norma, uma regra, na
qual pudéssemos definir um erro escandaloso. Todos tentam acertar. É lógico que
cometem-se erros. Por exemplo, no final do jogo do meu Botafogo com o
Fluminense foi um escândalo o que o juiz fez com o Botafogo; uma falta daquela foi
uma vergonha! mas, tudo bem. O Fluminense ganhou o jogo, mas na final não
ganhará.
Acho que temos que tentar fazer esse acerto, criar essa norma, uma regra
padrão para o País. Não sei se é possível fazer isso, se a Justiça Desportiva poderia
entrar nisso, porque ela é mais para jogador. Mas deveríamos ter uma norma para
tentar ajustar, uma regra para o Brasil todo. Nos contratos vocês já têm o amparo
para poder receber, não tem problema de pagamento. Basta criar uma estrutura de
vínculo, como um contrato entre vocês. Quem quiser se dedicar mais terá essa
garantia. É só se decidir a apitar, porque também não dá para a pessoa viver
apitando um jogo aqui, outro ali. Ela não vai conseguir sobreviver. Tem que ter outra
função. Teríamos que tentar estruturar melhor. Dentro desse contrato que vai-se
fazer com a entidade organizadora que sejam estabelecidas as condições do
treinamento que vocês têm de receber dos profissionais de educação física,
nutricionistas. Acho que nos contratos com a entidade organizadora isso é possível.
No vôlei e no basquete isso já começa a acontecer. Poderíamos utilizar a
experiência para o futebol também.
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Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eugênio Rabelo) - Concedo a palavra ao
nobre Deputado José Rocha.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
quero cumprimentar todos que participam deste debate e dizer das minhas escusas
por não ter chegado a tempo. Saúdo o autor do requerimento, Deputado Edinho
Bez, que traz uma discussão importante para esta Casa, principalmente para a
nossa Comissão, em relação às arbitragens.
Entendo que a Associação dos Árbitros deve se organizar para saber qual a
melhor maneira de trabalhar. É um assunto que diz respeito aos árbitros. Realmente
a profissionalização é o caminho. Já temos o jogador que é profissional, os
dirigentes, os executivos de clubes que são profissionais, as comissões técnicas que
também são profissionais. Então não tem por que os árbitros também não se
profissionalizarem, para exercer seu trabalho nesse período que coincide mais ou
menos com o período de atuação dos jogadores — talvez seu período seja um
pouco menor. Mas, enfim, que ele possa se organizar dentro de uma profissão e ter
sua remuneração como profissional.
Em relação à escala, se é sorteio se não é sorteio, entendo que poderia se
constituir uma comissão com uma representação máxima dos árbitros em cada
Estado, e a nacional, e com as entidades de administração das modalidades
esportivas, dentro do seu departamento de árbitros. Então, seria o departamento de
árbitros da entidade de administração do desporto com a Associação dos Árbitros,
tanto em âmbito regional, quanto nacional. E que essa comissão fosse responsável
pela escalação dos árbitros. A maneira de operacionalizar fica a cargo da própria
comissão, que vai baixar as normas, os critérios para a escalação desses árbitros, e
acabaria com o sorteio. É uma idéia.
Sobre as falhas das arbitragens, entendo que elas comprometem títulos, e
não existe nada que possa reparar um título perdido. É a morte. Quer dizer, não tem
como recuperar mais a vida.
Os árbitros tinham que ser julgados pelos Tribunais de Justiça Desportiva,
pelos seus erros, assim como o jogador é julgado, como o dirigente é julgado. Por
que não os árbitros serem julgados pelos Tribunais de Justiça Desportiva, pelos
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seus erros? Se eles erraram, o Tribunal de Justiça vai julgá-los, eliminá-los, afastá-
los de tantos jogos, aplicar-lhes penas, efeito suspensivo, se for o caso, mas que
eles sejam julgados pelos Tribunais, e com as punições como hoje são dadas aos
atletas, aos dirigentes. Os dirigentes são julgados pelos Tribunais de Justiça
Desportivo, a comissão técnica é julgada, os atletas são julgados, por que não os
árbitros? Deveriam ser julgados também.
São essas as colocações que eu queria fazer e, no mais, parabenizar a todos
que acompanham esse debate, porque realmente é um debate importante. Pena
que hoje seja um dia em que não há Ordem do Dia, e por isso os Parlamentares
viajaram cedo, e não temos aqui uma maior representatividade de Parlamentares
nesta Comissão.
Mas esta Comissão é de uma importância muito grande. Cada segmento da
área do esporte, do desporto tem que ser realmente debatido, discutido, porque o
espetáculo é um conjunto de variáveis. Quando falha uma dessas variáveis, o
espetáculo todo pode estar comprometido. Então, na medida em que se discutem
todas as variáveis que compõem esse espetáculo, visando ao aperfeiçoamento, a
melhorar a atuação e a participação, não tenha dúvida de que quem ganha com isso
é quem vai ao espetáculo, é quem produz o espetáculo, é quem participa do
espetáculo, enfim, é o torcedor, que quer ir para um espetáculo desses e ter o
melhor possível dos seus atores.
Era isso o que eu queria colocar, e agradeço a oportunidade.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eugênio Rabelo) - Antes de encerrar o
debate, eu gostaria de apresentar aos expositores as minhas observações. Várias
perguntas que eu tinha elaborado durante esse debate já foram feitas, tanto pelo
Valadares, quanto pelo José Rocha, o Gilmar Machado e o próprio autor do
requerimento, e inclusive completadas pelo presidente do Gama.
Então, para mim só resta agora encerrar o debate. Os expositores poderão
fazer as suas considerações finais.
Passo a palavra, pela ordem — até porque ele já marcou a hora do voo —, ao
Procurador-Geral, Sr. Paulo Marcos.
O SR. PAULO MARCOS SCHMITT - Vou direto aos pontos que foram
abordados pelos Parlamentares e pelo convidado, o Presidente do Gama.
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Primeira questão: remuneração do árbitro de futebol. Embora o Estatuto do
Torcedor tenha feito referência expressa ao termo "remuneração", a Lei nº 9.615,
parágrafo único do art. 88, é taxativa no sentido de dizer que árbitros e auxiliares
não têm vínculo empregatício com entidades, federações e confederações. E a
remuneração deles se dá como autônomos, sem quaisquer tipo de responsabilidade
das entidades trabalhistas, securitárias e previdenciárias. Então, não têm vínculo
com entidades diretivas.
Nesse aspecto, como ficaria, então, a tão sonhada profissionalização da
arbitragem? Alguns Parlamentares não acompanharam a nossa explanação no
início, na abertura dos debates, mas eu volto a insistir na tese de que a profissão já
existe, aliás, já existem muitas profissões regulamentadas no País, e não haveria a
menor necessidade de se criar uma nova profissão ao árbitro de futebol. A profissão
é a do profissional de educação física, a lei é a de nº 9.696, de 1998.
É preciso, reitero, reconhecer aqueles que estão atuando na arbitragem no
Brasil e, a partir de um determinado momento, as confederações, as diversas
modalidades, as federações, admitirem em seus quadros, junto às comissões e à
ANAF, apenas árbitros que detenham a prerrogativa de profissionais de educação
física, que recebam todo o conteúdo científico na formação e, para atuar
especificamente, que possam se submeter aos cursos de formação, ao curso
permanente de formação de arbitragem.
Isso resolve o problema que tanto se alardeia, que é a questão da sanção
profissional ao árbitro. Porque se o advogado pratica uma conduta antiética, faltando
com o dever em relação ao seu cliente, ele certamente poderá ser responsabilizado
na Comissão de Ética da OAB. E a profissão de educação física tem as suas
comissões de ética junto aos Conselhos Regional e Nacional de Educação Física.
Porque falar em erro grosseiro é também colocar num balaio uma série de outros
erros, os demais erros, à luz de certos comentaristas, à luz de certas pessoas que
às vezes não estão no campo de jogo naquele momento.
O Paulo Goyaz — me permitam — meu xará, é daqueles que bate o
escanteio e vem cabecear na área, porque ele foi tanto tempo já Presidente do TJD
e é hoje presidente de clube, então, ele conhece muito bem como funciona tudo
isso.
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Se hoje o STJD, a Justiça Desportiva, punir um árbitro porque errou ao não
marcar um pênalti, uma falta, um escanteio, pode esquecer a arbitragem brasileira.
Não sobra um.
E, ao contrário do que muitos pensam — eu até fiquei espantado, eu falava
isso para o Weber aqui —, árbitros são punidos na Justiça Desportiva todos os dias,
todos os dias. Quem é jurisdicionado na Justiça Desportiva Brasileira? Todos — art.
1º do Código Brasileiro da Justiça Desportiva: “Todas as pessoas físicas e jurídicas
que têm vínculo direto e indireto com os que integram o Sistema Nacional do
Desporto”. Quem integra o Sistema Nacional do Desporto, pela Lei nº 9.615? As
federações, os clubes, confederações — e vamos excluir o Comitê Paraolímpico
Brasileiro, que não se submete à Justiça Desportiva porque pode ter uma estrutura
própria. Então, o árbitro faz parte do espetáculo e é jurisdicionado.
Vou pegar um caso só para ilustrar: Edilson Pereira de Carvalho. Corrupto
confesso. Criou toda uma celeuma no Campeonato de 2005. Eliminado. Alício Pena
Júnior. Fez um relatório malfeito dizendo que tinha recebido uma cabeçada no
Campeonato Mineiro. Ou seja, relatou aquilo que não ocorreu na súmula. Violação
do art. 266 do STJD. Foi punido por 60 dias. Excelente árbitro, mas errou, e errou de
uma forma grosseira no seu relatório por não ter prestado atenção naquilo que
efetivamente ocorreu. Foi punido por 60 dias. Eu poderia dar vários exemplos. São
10 ou 15 infrações previstas aos árbitros.
Mas o erro? E aquele erro grosseiro? O Jorge Paulo pode dizer porque foi
árbitro. Aliás, hoje, aqui mesmo, a gente está fazendo isso: eu olho e não vejo. Há
muito disso. É a distração, a falta de foco. É aquilo que o Deputado disse muito bem:
a falta de preparo, o árbitro que não tem uma condição física, um preparo adequado,
uma condição psicológica em determinadas situações de jogo, está de frente para o
lance, olha e não vê. Prove má-fé, prove desconhecimento da regra, prove a
intencionalidade na violação da regra, que, certamente, se for um campeonato
nacional, a nossa equipe de procuradores fará a denúncia. Os campeonatos têm as
equipes de procuradores nos TJDs dos Estados.
Só na minha gestão, nos últimos 5 anos como Procurador-Geral da TJD,
foram punidos: 2 presidentes de federação, 2 presidentes de TJDs — vamos falar,
porque esse é o dia a dia —, atleta, técnico, dirigentes, 2 presidentes do TJD e um
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procurador do TJD de Minas Gerais, que achou que só porque estava num estádio,
trabalhando também como delegado da federação mineira, podia chegar e ofender a
arbitragem e ainda usando a expressão “eu sou procurador”. Abuso de poder,
punido no STJD no Campeonato Nacional. Então, nós também cortamos na própria
carne. Todos nós somos jurisdicionados e podemos ser responsabilizados perante
os Tribunais Desportivos, que têm uma estrutura — e é preciso entender essa
estrutura —, que têm uma codificação própria.
Acho que demos passos importantes. Falta aquilo que disse o Deputado José
Rocha, repensar o sorteio, dar maior transparência — essa sempre foi a ideia, o
Deputado Gilmar confirmou aqui — ao espetáculo de futebol. Vamos pegar a última
rodada do Campeonato Brasileiro. De 20 equipes, pelo menos 15 disputavam ou o
título, ou o rebaixamento, ou a Copa Sul-Americana ou a Copa Libertadores. Então,
havia uma partida importante, a do Goiás e São Paulo, obviamente, em função da
pontuação em relação ao título. Mas eram 10 partidas importantes. Durante todo o
período de 1 ano temos lá na CBF Jorge Paulo, Sérgio Correa, analisando a
performance dos árbitros nas mais de mil partidas disputadas neste País. É o maior
campeonato do mundo. E, nesse análise, podem concluir: "Opa, o árbitro "x" é o
melhor para apitar Goiás e São Paulo". Mas não tenho como colocar no sorteio.
Coloco-o no lado esquerdo, mas ele foi sorteado do lado direito. Então ele vai apitar
Figueirense, que foi rebaixado, contra o Vasco do Gama. Essa é a questão.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA - Permite? Em casos, por exemplo, de
flagrantes de impedimentos não marcados pelo bandeira auxiliar, ou em casos de
penalidades máximas flagrantes em que o árbitro não marca, a Justiça Desportiva
não podia levar isso para um julgamento?
O SR. PAULO MARCOS SCHMITT - Deputado, é isso que se discute. O erro
de fato, que é o erro na visualização da jogada, não pode ser punível na esfera
desportiva, sob pena de compararmos o grande erro com um erro... E daí os
especialistas, mas eles são flagrantes. Já cheguei a pensar nisso. Se regulássemos
o futebol brasileiro estabelecendo, por exemplo, que a partir de hoje as próximas
partidas seriam transmitidas por uma única câmera, e não por aquelas 40 e tantas
que há no campo — seria o que veríamos em casa: uma câmera — certamente não
teríamos a angulação de alguns erros que nos aprecem flagrantes, porque há 40
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câmeras. Daí vem o tira-teima e diz: "Nossa, mas foi 30 centímetros. O árbitro, o
bandeira não viram".
Trouxe aqui para a minha fala o que um especialista e oftalmologista da UFRJ
diz sobre o assunto. E diz que a visão de detalhe se dá só nos 10 graus centrais. O
que acontece é que ele gira, ele foca, há uma diferença de cor de camisa, e,
conforme o giro, não lhe permite a visão de detalhe. O erro é absolutamente
aceitável. Somos levados pelo conhecimento do erro flagrante, do chamado erro
grosseiro, porque existe um aparato tecnológico que hoje nos permite isso.
Eu fui assistir a alguns jogos. Uma coisa é você estar lá fazendo, às vezes,
atividade burocrática na Justiça Desportiva, denunciando — é uma militância muito
na prática, envolve teoria e prática. Mas eu fui assistir a alguns jogos em campo. Se
V.Exas. tiverem oportunidade, é uma experiência incrível. Vão assistir a um jogo do
banco de reservas, da visão linear do árbitro. Porque se você subir um degrau da
arquibancada você já tem uma outra visão. Se subir um pouco mais, e com 38
câmeras, você tem uma outra perspectiva.
Então, estamos diante de uma situação de fragilização do árbitro de futebol. O
que temos que punir na Justiça Desportiva é o árbitro corrupto, que relata aquilo que
não acontece, que abusa do poder, que xinga, que agride, tudo isso previsto no
CBJD. Agora, deixar de cumprir as regras da modalidade — art. 259, do CBJD —,
não sobra um para apitar. Vão ser todos punidos. O árbitro não pode ser punido por
partida. Sabem por quê? Por que ele vai para o sorteio. Como é que eu vou saber a
partida que ele ainda vai apitar? Então, não tem como fazer o controle. Estamos
fazendo isso, não há como punir nessa perspectiva, mas há como sancionar nas
Comissões de Ética, nas Comissões de Arbitragem. Teria que haver um Código de
Ética próprio, uma estrutura própria para essa análise, porque essa é a análise do
erro, do erro! Um erro que pode ser aceitável pelo despreparo. Então, o árbitro vai
pagar pelo seu despreparo, remuneração essa que é variável, que é compreensível
que seja repassada à incumbência dos clubes, porque são eles que acabam
manuseando toda a questão que envolve a renda, a captação de recursos, e é por
isso que se cobra isso.
Só queria fazer uma menção, rapidamente, em função da solicitação, ao
projeto de lei que transferiria a sede do STJD para Brasília. A Lei nº 9.615 é clara, §
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4º, art. 51. É questão de verificar: “O custeio das atividades da Justiça Desportiva é
da responsabilidade das repectivas federações e confederações.”
Esse é um ponto sobre o qual devemos nos debruçar. Por que digo isso?
Hoje — vamos pegar só o futebol —, no STJD, temos 4 comissões disciplinares; 1
tribunal pleno — só daí temos 29 membros; 25 procuradores; e uma estrutura
cartorial. O Tribunal é nacional. Dos 25 procuradores que eu comando, só tenho de
8 a 10 do Rio de Janeiro. O resto é do Brasil inteiro. E, lógico, do Rio de Janeiro por
uma questão logística, estrutural. E também o restante, esses 29 membros, do total
daqueles que decidem, uma boa parte é do Rio de Janeiro, mas não todos, porque
tem pelo menos metade de fora, porque é um tribunal nacional.
Não tem STJD só no futebol, tem em todas as modalidades esportivas. Impor
à CBF custeio para Brasília é uma coisa, impor à Confederação Brasileira de
Ciclismo (sou o seu 2º Vice-Presidente), ou à Confederação Brasileira de Handebol
(sou seu consultor jurídico), que fica em Aracaju, e mudar para Brasília, é uma outra
situação.
Então, temos de resolver esse problema do custeio, que é sério. Já se tentou
trazer a CBF para Brasília, mas esse projeto não foi aprovado, porque violava a
autonomia das entidades esportivas. A questão é próxima disso. A Justiça Esportiva
é uma instância não judicial, vamos esquecer então o dinheiro e vamos para o dia a
dia do STJD. A motivação é futebol, aliás, sei qual foi a motivação quando foi
apresentado o projeto. Foi o caso Náutico, Botafogo, pressão da imprensa carioca
naquela celeuma, e tivemos que deslocar o STJD para Brasília. Aí nós vamos trazer
a pressão política, legítima, diga-se de passagem, para um tribunal das paixões. Sou
de Curitiba, não há problema algum em vir para o Rio de Janeiro ou vir para cá. Vai
ser um prazer vir para Brasília. Tenho certeza que vão adorar me receber aqui,
vamos poder trocar figurinhas um pouco mais de perto sobre questões importantes
do futebol até junto ao Parlamento.
O Dr. Aprobata é de São Paulo, também não teria problema nenhum de vir à
Brasília. A questão é também do dia a dia do Tribunal. Hoje um caso é julgado, da
data do jogo em primeira instância, em 7 a 10 dias. Demora em segunda instância
mais 15 a 20 dias. Ou seja, leva de 30 a 40 dias para se julgar um caso. Não tem
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tribunal no mundo que, assegurando a ampla defesa e o contraditório, e a agilidade
e a celeridade, em 40 dias resolva uma demanda.
Se trouxer para Brasília, é só ver como funciona a Justiça Desportiva. A
súmula chega na entidade, a entidade tem que remeter ao Presidente do Tribunal,
manda para a Procuradoria, em 2 dias, a denúncia, marca a pauta. Pode colocar 90
dias, se a CBF continuar no Rio de Janeiro e o Tribunal vier para Brasília, porque as
súmulas vão ter que estar no processo, ainda que elas sejam publicadas na Internet.
Isso tudo dá para resolver? Tudo dá para resolver e conversar. Mas acho que
não é o momento de mexer nisso.
Vou dar exemplo das outras modalidades. No andebol, estamos fazendo toda
a estrutura da Justiça Esportiva em São Paulo, porque é onde acontecem a maioria
das competições, mas as súmulas ficam lá, os documentos ficam lá. E a demanda
não é nem de perto os 1.500 processos que julgamos no STJD de futebol. São 10 a
15 ao ano. Pode fazer onde quiser no tribunal que não tem problema, as
competições são diferentes, a forma de disputa é diferente.
Acho que tudo isso tem que ser avaliado. E na questão custeio as federações
e confederações têm que ser trazidas para se manifestar, porque a lei impõe a elas
o custeio. E daí a estrutura da Justiça Desportiva vem para Brasília e elas ainda
ficam responsáveis pelo custeio? Isso tudo tem que ser equalizado.
Eu, da forma como foi apresentado, pela motivação apresentada e pelos
empecilhos que vislumbro do ponto de vista legal, vejo como um projeto que não
deveria ser aprovado neste momento sem uma análise mais profunda do tema e no
bojo das próprias alterações do PL nº 5.186, de que o Deputado José Rocha é
Relator. Agradeço, Sr. Presidente, e desculpe-me pelo tempo estendido.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eugênio Rabelo) - Obrigado pelas
considerações finais.
Gostaria de aproveitar o momento até para dizer quando é que vão acabar as
alegrias e as tristezas dos dirigentes e torcedores. De uma certa forma, o nosso
clube foi penalizado uma época, deixamos de ser campeões brasileiros, fomos vice-
campeões da Copa do Brasil por um erro trágico de um árbitro, nitidamente
veiculado por todas as televisões, que deixou de marcar um pênalti aos 44 minutos.
Por isso perdemos um título. Toda a imprensa brasileira mostrou isso. Mas até
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quando isso vai acontecer? O presidente do Gama já passou muito por isso. Já
verificou que muitas vezes é em cima do lance, e, às vezes, até não se vê.
Por outro lado, quero frisar a seriedade do Dr. Paulo Marcos, Procurador-
Geral do STJD. Eu presenciei no aeroporto do Rio de Janeiro quando um árbitro
errou o nome de um atleta — parece que era Jorge Henrique, Henrique Jorge, eu sei
que trocou um sobrenome na súmula do 4º árbitro —, e ele, chorando, feito uma
criança, ou um pai de família, bem-intencionado, foi punido por 120 dias pelo STJD.
Quer dizer, vemos a seriedade do trabalho que os senhores estão fazendo. Mas
logicamente essa audiência pública é para isso, é para tornar mais sério, para
diminuir os erros, para, como disse o José Rocha: aplicar a lei.
Bom, encerrando a minha participação, queria agradecer ao presidente,
delegado do meu partido lá do Ceará, que é o Domingos Far; meu irmão que está
presente; ao presidente do Partido Progressista da minha terra, que também está
presente, Ubiratan; e ao Mário Parente, que se encontra aqui.
Aproveito, antes de passar a palavra ao Dagoberto, para convidar o nosso
Presidente da Comissão, Afonso Hamm, para ocupar o seu lugar à mesa.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Afonso Hamm) - Em primeiro lugar, quero
pedir escusas até porque eu me encontrava acompanhando a Seleção Brasileira, e
foram e são importantes todos os debates que estamos fazendo na nossa Comissão
de Turismo e Desporto, de uma forma absolutamente equilibrada. E os temas de
relevância, como este encaminhado pelo Deputado Edinho Bez, são também de
muita pertinência.
Já estamos no final e não vou me estender, até para não cansá-los. Mas
quero dizer da importância do tema e da seriedade com as representações que
estamos tendo e o aprofundamento do que aqui está sendo referenciado, registrado
e que nos sirva também para propiciarmos avanço.
Ainda ontem também fizemos a grande discussão em relação à reformulação
da Lei Pelé, Deputado José Rocha, aprofundando temas importantes. Portanto, a
nossa Comissão está procurando aprofundar a discussão de forma significativa,
buscando resultados, aperfeiçoamento e melhorias.
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Antes de passar a palavra ao Dr. Dagoberto Santos, só quero comentar que
falei agora com o nosso Relator, Deputado Valadares Filho, para que nós, sobre
esse tema e sob essa ótica da transferência, aprofundemos a discussão para
vermos da efetiva necessidade dessa transferência, do envolvimento dos prós e
contras, mas também para o verdadeiro aprofundamento da necessidade ou não, e
dos meios necessários, se decidirmos que esse projeto deva ser levado a frente,
deva ser aprovado. Toda pauta que estamos procurando trabalhar dentro desta
gestão tem um caráter de contribuição, de melhora e de incremento.
Fundamentalmente, estamos nos preparativos da Copa. Está aqui nosso
Vice-Presidente, Dr. Weber, e não pode ser diferente tudo que façamos em termos
de pauta, de aprofundamento e de deliberações, de maneira que possamos avançar
em preparar o País, seus instrumentos, suas entidades, as instituições, sejam elas
de organização do setor esportivo, sejam elas de responsabilidade dos Estados,
sejam elas de competência da esfera que for.
Então, só para podermos passar a tranquilidade nesta Comissão, neste
debate vamos aprofundar ainda mais o Projeto de Lei nº 3.586.
Agradeço também o Deputado Eugênio, que coordenou e presidiu nossa
audiência pública, o Deputado Edinho Bez e todos os colegas que estão aqui.
Pela ordem, com a palavra o Dr. Dagoberto Santos, Secretário-Executivo do
Clube dos 13, para suas considerações.
O SR. DAGOBERTO DOS SANTOS - Obrigado, Sr. Presidente. Serei breve
nas minhas considerações finais.
Acho importante mudarmos um pouco o foco do problema. Estamos
discutindo aqui o erro do árbitro, e estamos discutindo se é um erro grosseiro, se é
um erro humano, se ele olha e não vê. O importante, no meu ponto de vista, é
olharmos as causas que geram esse tipo de comportamento. Isso é que é
importante. Aí me coloco na seguinte condição, e vou levantar essa bola aqui para o
Jorge Paulo: será que o tempo que o árbitro dedica durante a semana para sua
preparação pessoal para o próprio jogo é suficiente para que ele entre do estádio
tranquilo, capaz, autoconfiante para exercer um bom trabalho?
Sinceramente, tenho dúvidas, porque ele está convivendo com uma outra
atividade, um outra atividade laboral que tira dele o tempo que deveria ser dedicado
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a olhar um videoteipe, analisar seus próprios erros, verificar onde errou, se seu
condicionamento físico está adequado, quanto distante do lance ele está, para poder
fazer seu julgamento e sua decisão em tempo real.
Então, essa é uma questão que passa pela profissionalização, por
regulamentação de profissão e coisa desse tipo. Temos que atuar sobre a causa, o
que gera a má arbitragem, e não simplesmente olhar a má arbitragem e sacrificar o
árbitro por conta disso. Nesse particular, acho que o Jorge Paulo pode dissertar
muito mais sobre a matéria, porque é um especialista da área, foi árbitro de futebol e
sabe dessa necessidade de se preparar durante a semana para enfrentar um
desafio de um próximo jogo.
Então, basicamente era isso que queria considerar, não perder esse foco,
porque esse foco é o norte do problema, no meu ponto de vista.
Obrigado, Sr. Presidente. Estamos à disposição para poder discutir em outras
oportunidades.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Afonso Hamm) - Com certeza, Dr.
Dagoberto. Destaco a importância dessa organização que constitui o Clube dos 13,
pelo que representou em modelo de organização, em termos de tabela, em termos
de proposta e o sucesso que tem tido todas as iniciativas coordenadas por esta
instituição.
Passo a palavra, neste momento, para suas considerações finais e alguma
observância de relevância, ao Dr. Weber Magalhães, Vice-Presidente da
Confederação Brasileira de Futebol — CBF.
O SR. WEBER MAGALHÃES - Muito obrigado, Sr. Presidente Afonso Hamm,
que acompanhou o jogo do Brasil ontem, uma festa bela, no Rio Grande do Sul.
Sem dúvida alguma, para nós, a vitória de 3 pontos é muito importante.
O Procurador Paulo Schmitt já simplificou tudo aqui, já colocou tudo que não
só a Confederação Brasileira de Futebol também tem feito nas questões das
arbitragens, e nós aqui da Confederação também. O importante é, como o
Dagoberto falou, prepararmos, termos o apoio hoje da ANAF, o apoio de reciclagem,
o apoio de grandes encontros de arbitragens, as federações cada vez mais se
profissionalizarem, evitar realmente essa questão dos erros, preparando mais o
árbitro, preparando não só a cabeça, mas também fisicamente, para que o árbitro
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Turismo e DesportoNúmero: 0265/09 Data: 02/04/2009
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entre no jogo e tenha a consciência plena da responsabilidade que está assumindo
naquele momento.
Não é fácil também para o árbitro dirigir partidas importantes, é uma pressão
muito grande, mas acima de tudo a preparação, a reciclagem, a própria conversa
com o árbitro, a concentração. O árbitro também tem de fazer parte de uma
concentração, como assim o faz o jogador. O mais importante é que está aberto
esse diálogo.
A ANAF vem se colocando sempre à disposição para esse diálogo. As
federações têm de procurar as suas comissões e profissionalizar cada vez mais,
como a Confederação Brasileira tem feito. Os clubes têm de procurar estar junto das
federações para fazerem esse trabalho, como bem fez o Paulo Goyaz, procurando
não só o aperfeiçoamento da arbitragem, mas também citando o que está ocorrendo
na arbitragem. Isso é importante para todos nós. Temos a semana para preparar a
equipe para entrar em campo e realmente acontecem alguns erros que afetam
diretamente aquele trabalho semanal.
Quero me colocar à disposição dos senhores e também registrar a presença
do Sr. Arggeu, que acompanha a Sociedade Esportiva do Gama, do Paulo Goyaz,
que assumiu o clube num momento difícil, passando por toda uma remodelação,
com estádio novo e a torcida exigindo cada vez mais a vitória. Não é fácil dirigir hoje
os clubes brasileiros, porque as torcidas estão exigindo sempre a vitória. Sabemos
que não está diretamente na nossa mão a condução do time à vitória. Todos
queremos que a Seleção ganhe, que o nosso clube ganhe, mas não é fácil o
momento atual do futebol. Os times estão muito equiparados, igualados, e não é
fácil, hoje, ter sucesso à frente de alguns campeonatos.
No mais, agradecemos novamente pelo convite e nos colocamos à disposição
do Deputado Edinho Bez; do Relator do Estatuto de Defesa do Torcedor, Deputado
Gilmar Machado; do nosso querido Deputado José Rocha, que tem feito um trabalho
fantástico com a Lei Pelé.
Agradecemos e parabenizamos o Deputado Afonso Hamm pela Presidência.
S.Exa. também jogou futebol e é sensível à causa. Isso é importante, porque faz
com que possamos dialogar com mais facilidade.
Muito obrigado a todos e nos colocamos à disposição sempre.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Afonso Hamm) - Agradecemos ao Dr. Weber
pela importante participação, comentando aqui a dimensão e a profundidade desse
debate e dos encaminhamentos que vamos fazer.
Quero fazer um pequeno comentário em relação ao Presidente da entidade
máxima do futebol, o Dr. Ricardo Teixeira, que sem dúvida gostou muito do que viu
no Rio Grande do Sul e do que está sendo proposto para sediar os jogos da Copa
do Mundo de 2014. Tivemos um dia inteiro de convivência. Os Estados estão se
preparando, o torcedor está consciente, todos os agentes do processo, os
dirigentes, os representantes e os próprios atletas têm colaborado. Por isso temos a
convicção absoluta de que vamos realizar uma grande Copa do Mundo, a exemplo
do que se viu ontem no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, com o envolvimento e a
paixão, num treino, de mais de 30 mil torcedores. É isso que move o futebol, e por
isso temos que ter muita responsabilidade.
Antes de passar a palavra ao último dos palestrantes, ressalto que, sem
dúvida alguma, estamos pautando aqui a profissionalização, que já existe, e também
o reconhecimento do profissional do árbitro, das necessidades de avanço em termos
de apoio, de suporte e de meios. Não basta apenas cobrarmos do árbitro,
precisamos criar as condições e o ambiente para que realize a sua tarefa.
Deputado Edinho, pelo que foi comentado e pelo que fluiu ao longo dos
debates, chamando atenção para as deliberações, tenho certeza de que o nosso
relatório final deverá encaminhar para isso.
O Dr. Dagoberto Santos precisa sair e pede para se despedir, antes de
concedermos a palavra ao Dr. Jorge. Vou lhe disponibilizar 1 minuto.
O SR. DAGOBERTO DOS SANTOS - Na verdade, tenho um compromisso às
15h, em São Paulo. De modo que preciso sair para pegar o avião às 13h.
Renovo meus agradecimentos pelo convite. O Clube dos 13 sempre estará à
disposição para discutir temas importantes para o futebol. Espero que saia daqui
algum documento que vá ao foco do problema. Para mim, o foco do problema está
nas causas que levam à má arbitragem.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Afonso Hamm) - Obrigado.
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Passamos a palavra ao Dr. Jorge Paulo de Oliveira Gomes, Presidente da
Associação Nacional de Árbitros de Futebol — ANAF.
O SR. JORGE PAULO DE OLIVEIRA GOMES - Sr. Presidente, Deputado
Afonso Hamm, comentei com o Dr. Dagoberto que vou requisitar, não sei se é
possível, acredito que sim, o áudio produzido aqui hoje, para que possamos colocar
na nossa página, porque tudo que eu disser sobre o que foi exposto aqui não serei
entendido na plenitude. Por quê? Porque hoje, mesmo com todas as dificuldades da
Câmara, em função dos vários compromissos que têm os Deputados que não
puderam comparecer a esta reunião, tenho certeza de que houve um avanço
tremendo nesta questão, neste assunto.
A arbitragem realmente está em foco. Mas, na verdade, o que se discorre
aqui é a excelência do futebol. A arbitragem é apenas um braço disso.
Fiz uma ordem cronológica das falas, mas vou ser bem sucinto para dizer
qual é o nosso pensamento e o que pretendemos com tudo isso. Não podemos ficar
só esperando as coisas acontecerem, temos que fazer a nossa parte. A arbitragem
tem que fazer a parte dela, e estamos buscando isso.
Mais uma vez, agradeço, como fiz no início, alguns Parlamentares ainda não
estavam presentes em função de outro compromisso, por esta oportunidade.
Angariamos amigos, angariamos pessoas que estão brigando por nossa causa,
lutando por nossa causa, pela causa do futebol.
Ao Dr. Paulo Goyaz ressalto o seguinte: comecei a minha carreira no Gama,
em 1970, apitando o juniores. O Ministro Valmir Campelo era apenas Administrador
do Gama. E o futebol do Gama, em 1979, já era a paixão de Brasília, apesar de
todas as deficiências.
O Weber acompanhava bastante o futebol. Somos colegas de faculdade. Na
época, ele e eu ainda teimávamos em jogar bola, mas eu sabia que ele tinha outras
qualidades — eu fui para a arbitragem, e ele continuou jogando bola. Mas eu
acompanho realmente.
Entendemos que o árbitro, como o Dr. Dagoberto disse, tem que ter tino,
percepção para ver quando o atleta ou o dirigente são movidos pela emoção, pela
razão. Entendemos, como o senhor declinou, que a sua conceituação sobre erro
grosseiro foi em decorrência de um pênalti não marcado.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Turismo e DesportoNúmero: 0265/09 Data: 02/04/2009
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Para efeito de reflexão, pergunto: se visse um pênalti não marcado do lado da
outra equipe, o senhor questionaria o árbitro? “Poxa, o senhor não marcou um
pênalti a favor do meu adversário?” Nós respeitamos isso. Por quê? Porque se o
senhor está a frente da equipe, tem que...
O SR. PAULO GOYAZ - Você me permite? É um fato interessante. Há 2 dias,
não sei qual foi a equipe, mas recebi a informação de que na Europa foi marcado um
pênalti porque 2 jogadores se chocaram na área e o jogador do time que recebeu o
pênalti foi ao árbitro e disse: “Não, não foi pênalti. Foi uma jogada nossa. Eu apenas
declinei o corpo para não machucar”.
Tenho certeza de que cada um tem o direito de defender os seus direitos. Sou
um crítico quando o árbitro erra. Ontem mesmo, no jogo do Gama, vi um lance que o
árbitro errou, mas ele não teve culpa nenhuma. Não vou me preocupar com o
árbitro. Por quê? O jogador caiu, o goleiro veio e deu uma cotovelada. Mas, pela fita,
ele já estava virando. Eu só representei contra porque, na fita, está muito claro que o
árbitro está de frente para o lance.
Cabe a cada um defender o seu direito. Não cabe ao Gama defender direito
dos outros clubes.
O SR. JORGE PAULO DE OLIVEIRA GOMES - Lógico, lógico. Somente
perguntamos para constar da posição cultural do nosso partido. Essa pergunta é só
para efeito de reflexão, não é nenhum questionamento. O senhor me perdoe se
houve essa interpretação, até pelo respeito que tenho aos dirigentes e como árbitro
que fui durante muitos anos.
Responsabilidade sobre interpretação. O Dr. Paulo Schmitt discorreu bastante
sobre isso, porque para conseguirmos detectar dolo, numa decisão do árbitro, é
muito subjetivo e difícil. Acredito que em mais uns 100 ou 200 anos não vamos
conseguir, porque o árbitro tem uma série — que já foi declinado aqui — de nuanças
que às vezes prejudicam até a imagem, a visualização, principalmente na questão
da interpretação.
Deputado Edinho Bez, a iniciativa é extremamente louvável, vemos que são
pessoas incorporadas ao futebol, são pessoas que têm conhecimento de causa.
V.Exa. demonstra isso com muita clareza e transparência e defende — por isso
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solicito o áudio para apresentar a nossa categoria — ferrenhamente o
aprimoramento da categoria. Isso é muito importante.
Tenho certeza de que o Dr. Paulo Goyaz, mesmo sendo defensor da equipe
do Gama, também defende essa questão, como todos nós que estamos imbuídos
desse pensamento.
O Deputado Gilmar Machado é um incansável defensor de nossa classe. Não
era nem Presidente da Associação, ainda era o Márcio Rezende de Freitas,
conterrâneo de S.Exa., de Minas Gerais, e já nos reuníamos por diversas vezes —
até sei a formalidade que é uma Comissão — para tratar de nossos assuntos. Eu
era árbitro ainda, encerrei em 2004, aos 45 anos. Então, antes disso, já vínhamos
tratando de muitas questões com o Deputado José Tomaz Nonô, à época.
Enfim, Deputado Gilmar Machado, como Relator do Estatuto de Defesa do
Torcedor, disse que há muita coisa solicitada com intenção de acertar e pode ter
havido, naquele momento, naquela oportunidade, um erro de percurso, e nós vamos
tendo oportunidade de conduzir para o caminho certo. Mas é um incansável
representante desta Casa, porque tem lutado muito por isso.
A questão do sorteio. O Deputado Gilmar Machado pertencia àquela
comissão que criou o sorteio, por conta de uma situação que nós também
abominamos: a corrupção na arbitragem.
Sempre ouvimos lendas de que houve acerto de resultado aqui e ali, mas
nunca se provou nada. Houve até repercussão mundial. Na época, eu estava
fazendo um curso da FIFA, em Zurique, e lá muitos instrutores internacionais me
questionaram sobre como o Brasil conduziu o processo, porque também houve
corrupção na Itália, na Alemanha, inclusive antes da Copa do Mundo. Mas isso foi
bem recente, em 2005.
Esse sorteio veio como uma forma de prevenir. Entendemos isso. Não somos
favoráveis ao sorteio. Muito pelo contrário. Hoje somos o único país do mundo com
sorteio. O outro era um país da África Central, se não me engano, não tenho
certeza, que também já aboliu o sorteio. Mas hoje somos o único país do mundo
com sorteio.
Sabemos que gestões estão sendo feitas para que esse sorteio seja
eliminado da arbitragem do futebol brasileiro, porque é prejudicial para a arbitragem,
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para o espetáculo, porque tem jogo que tem o nome do árbitro. Isso, na linguagem
popular, quem é boleiro antigo sabe que há jogo com a cara do árbitro. Sabemos
disso. Nos clássicos regionais, todo mundo conhece. Cada clássico regional aqui,
todo mundo sabe quem apita, quem pode levar aquele clássico e quem não pode.
Então, o sorteio é uma forma subjetiva e pode advir até do resultado que a
própria Comissão não desejaria.
A questão do sorteio é bem complicada, mas já há estudos bem avançados
no sentido de se eliminá-lo, mesmo porque parece que já não consta na nova
regulamentação da lei do desporto. Então, se ele não entrar — foi o que ouvimos —
talvez seja até abolido. É uma gestão nossa. É uma solicitação nossa.
Contrato de gestão. Pena que o Dr. Dagoberto tenha saído. Ele também nos
abriu muitas portas. Por quê? Porque está trabalhando com o Clube dos 13 que —
hoje fala-se em alguma vantagem, até da pecuniária —, que é um instrumento para
que tenhamos o direito a essa vantagem.
Não vamos ficar buscando vantagens e entidades — entidades que eu digo
são de administração do desporto. A atribuição do Clube dos 13 é administrar o
desporto, mas, ao mesmo tempo, ele arrecada. Não fazemos nada sem dinheiro
hoje. O Dr. Dagoberto tem aberto essas portas.
O Weber, Vice-Presidente da CBF, ainda não sabe, mas na terça-feira,
quando do seu retorno a Brasília, manteremos contato para marcamos um jantar ––
peço o auxílio dele, que sempre nos ajuda em tudo ––, com o objetivo de chegarmos
a um consenso e, assim, darmos uma resposta à categoria.
O Deputado José Rocha também — todos estamos em uníssono a essa
questão — defende não somente a profissionalização. A profissionalização pode ser
um estágio inatingível, mas defendemos a regulamentação da profissão.
Por último, sem qualquer demérito –– isso até foi citado num evento realizado,
no final de semana, em Teresina, sobre o qual falarei mais à frente ––, a notícia que
tivemos é de que a profissão de prostituta foi regulamentada por esta Casa.
Discordo do Dr. Paulo Schmitt, que tem grande conhecimento jurídico,
quando diz que já existe profissão demais no País. Talvez eu até não tenha
entendido sua opinião, mas ele considera que o árbitro é profissional, porém não
defende a sua profissionalização. Se ele é profissional, temos que trabalhar apenas
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Turismo e DesportoNúmero: 0265/09 Data: 02/04/2009
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a forma, porque o conteúdo já temos. E um título a mais ou a menos para uma
categoria profissional não fará diferença, nada vai mudar. O Dr. Paulo Schmitt
defende ter-se conhecimento jurídico, o que lhe é peculiar. Acho que a
profissionalização do árbitro, se a alcançarmos, sempre será bem-vinda. Nós
lutamos pelo reconhecimento da profissão, pela natureza jurídica da condição de
árbitro. Isso é o mais importante. Por que isso? Só para o título? Não queremos o
título. É que com essa natureza jurídica conseguimos ingressar, conseguimos a
tutela de muitas leis, de muitos diplomas legais, enfim, conseguimos existir no
mundo. Dizem –– eu também fiz Direito –– que o que não está nos autos, não está
no mundo, não é Dr. Paulo? Então, se não estamos no diploma legal, não
existimos. Como pediremos algum reconhecimento legal se, grosso modo, não
somos nada ainda. Se não somos nada, não existimos. Então, fica difícil. Temos que
fazer parte com profissionalismo, com personalidade jurídica, enfim, com todos os
quesitos necessários para uma profissão.
O Dr. Paulo Schmitt esclareceu a dúvida do Deputado José Rocha, que é
incansável. Hoje vemos que o exército de incansáveis está se multiplicando,
tomando corpo, graças a Deus, o que é muito importante para o futebol brasileiro. O
Dr. Paulo aqui falou sobre o julgamento da Justiça Desportiva.
O Dr. Paulo Schmitt, como diz o Aprobato, é o carrasco da arbitragem. Mas
não o considero carrasco, mas muito justo. Queria dizer isso na presença dele, mas
ele sabe que penso assim. Ele é muito justo, porque, atendendo aos ditames ––
aqui, um livro muito interessante Legislação de Direito Desportivo, do Dr. Paulo
Schmitt. Para nós, árbitros, isso tem que ser uma bíblia, porque temos de buscar
muitos subsídios para poder atuar de forma condizente com a lei –– defende que o
árbitro seja punido quando necessário. E assim está sendo feito. Nós, da
Associação, defendemos o mesmo, porque não queremos, no meio da arbitragem,
primeiro, árbitros que não sejam qualificados. Se ele não é qualificado,
substancialmente, haverá uma seleção natural, ele é afastado pela própria
performance. No caso, não há qualquer tipo de punição. Não queremos árbitro
desqualificado. Mas, ao mesmo tempo, não queremos árbitros que tenham dolo, que
tenham vontade, que queiram fazer resultado, que queiram denegrir toda a classe.
Defendemos que esses árbitros sejam afastados. Até mesmo sem o dolo, sem a
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vontade, mas que não tenham performance técnica aceitável. Porque, muitas vezes,
o árbitro –– o que popularmente se diz –– não leva jeito para a coisa. E não leva
mesmo. Insiste, insiste, quer. É como acontece com o jogador. Só que o jogador tem
mais 10 para dividir responsabilidades. O que já não acontece no voleibol. Na
arbitragem isso não existe. Se o árbitro está dentro de campo, em jogo, terá de
mostrar que tem qualidade para ser árbitro. Se não tem essa qualidade, deve ficar
fora, não pode estar no nosso meio — e não estou nem falando da má intenção.
Somos ferrenhos defensores de que a excelência da arbitragem seja no mais alto
nível.
Sobre o que disse o Sr. Paulo Schmitt a respeito do vínculo empregatício — já
estivemos na Câmara em várias situações e tivemos a grata oportunidade de
sermos ouvidos. Nos últimos 2 anos, repito, fomos mais frequentes nesta Casa do
que em 30 anos, 40 anos de história. Fiquei na arbitragem por 26 anos. Mesmo
depois ter parado de atuar, continuo trabalhando e, há 2 anos, estou à frente da
Associação. Eu já ajudava, antes de ingressar na Associação. Antes, não havia
espaço para a discussão desses assuntos.
Tivemos também um encontro com o Ministro do Desporto, Orlando Silva, e
clubes de futebol. Inclusive, sobre aquela história de que somos água e óleo, que
clubes e arbitragem não se misturam, é preciso dizer que não é nada disso. Muito
pelo contrário. Estamos tendo apoio de todos os clubes, grandes e pequenos, do
próprio Ministro do Desporto, do Executivo e do Legislativo. Com toda certeza,
estamos dando passos largos nessa conquista da forma de trabalhar na arbitragem,
que é o mais importante.
Pois bem. Voltando ao tema, abordou o Dr. Paulo Schmitt a remuneração e o
vínculo. Em todas as oportunidades que aqui estivemos expressamos que não
estamos buscando vinculação com a CBF ou com quem quer que se seja, porque
dessa forma, sabemos, prejudicaremos todo o processo, daremos um tiro no pé. Se
solicitarmos a vinculação com a simples ideia de que, estando vinculados, vamos
auferir vantagens e outras coisas, prejudicaremos esse processo. E por esse motivo
deixamos bem claro aos ilustres Parlamentares que a Associação Nacional dos
Árbitros não tem o desejo de fazer essa vinculação, que prejudicará, entravará todo
o processo. É muito importante que isso fique claro.
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Quanto ao reconhecimento, algumas ideias vão surgindo — e aqui são
inúmeras. O reconhecimento da atividade da arbitragem como um braço da
atividade de Educação Física, por exemplo, é salutar. O nosso Presidente, assim
como o Deputado Gilmar Machado e muitos outros, é professor de Educação Física.
Sabemos, então, que isso é salutar. E pode haver essa renovação, se há o direito
adquirido, afinal, o árbitro já está no quadro e com 45 anos pode parar de trabalhar.
Se for bem conduzido, pode ir até os 45. Se ele tiver algum problema, técnico ou
físico, poderá sair a qualquer momento, porque a relação nacional dos árbitros é
renovada a cada ano. O árbitro pode permanecer ou pode ser substituído mesmo
antes de completar os 45 anos. Então, a tese que se levanta é a de que, com o
tempo, com o apoio do CREF, surgirá uma situação nova, mas que, com certeza,
virá para o engrandecimento da arbitragem, porque a trará para o lado desportivo.
Deixará a arbitragem de fora, como se fosse, simplesmente, uma opção de
emprego. Queremos tirar este cunho: “Não tem nada para fazer na vida, então vai
ser árbitro, para ganhar uns trocados, no final do jogo”. Também não é essa a
intenção. A arbitragem tem de estar na plenitude do exercício da profissão, o que é
muito importante mesmo.
O Dr. Paulo Schmitt falou sobre todas essas punições para fazer um paralelo.
Tenho acompanhado alguns julgamentos do STJD, no Rio de Janeiro, que tem sido
justo. Não digo que é pesado, porque se o árbitro –– como o Alício, um grande
árbitro e muito meu amigo –– escreveu o que não ocorreu, tem de ser punido
mesmo. Isso está claro, está no Código, no CBDF. Ele tem que ser punido. E é o
que está acontecendo nos tribunais: se o árbitro erradamente deu causa para
qualquer outra eventualidade, ou uma consequência mais drástica, pelo ato de um
atleta ou por qualquer outra coisa, deve ser punido, com toda certeza.
A súmula não é mais a rainha das provas. Hoje, a súmula, que tem o cunho
de trazer informação, é meramente informativa, é um avanço. Por quê? Porque a
arbitragem tirou o manto de que o que o árbitro escreveu é a expressão da verdade.
É muito fácil o árbitro pegar a caneta e colocar na súmula, por exemplo, que o
Presidente do Goiás ou o Presidente do Ceará –– e trabalhei com o Deputado,
quando S.Exa. ainda era o Presidente do Ceará –– tenham dito “isso” sobre o
árbitro, sem que “isso” seja a expressão da verdade, e sem que lhes seja dado o
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direito de defesa, o que é assegurado. Também defendemos que esse foi um
avanço do STJD. A arbitragem brasileira está trabalhando pari passu com o Tribunal
— pelo menos nesta minha gestão à frente da ANAF —, justamente para que nos
adequemos e não cobremos nada. Há um instrumento legal; portanto, temos de nos
adequar às leis. As leis existem para isso: para que nos adequemos a elas. A lei não
foi feita para proteger, nem defender ninguém, mas para ser cumprida. E nós,
árbitros, temos essa preocupação. Por isso, queremos mudar realmente esse perfil
da arbitragem brasileira.
Referiu-se o Deputado Afonso Hamm aos Projetos de Lei nºs 35 e 36, em
tramitação nesta Casa. São vários os projetos e são vários os assuntos, mas o mais
importante para a arbitragem brasileira — e vou falar disso daqui a pouco — será
um feito inédito no Brasil, e não pelo ineditismo.
Não sou, em nada, melhor do que ninguém, mas acho que a Associação dos
Árbitros não tem de ficar preocupada se vai aumentar taxa ou se terá ganho com
isso ou aquilo. São ganhos superficiais, momentâneos, porque uma taxa pode
aumentar num ano e ficar 10 anos sem aumentar. Então, é promoção pessoal, o que
não é o meu perfil.
O Dr. Dagoberto falou sobre as principais causas de todos os problemas que
deságuam na arbitragem. Nós somos cientes, sim, de que a causa principal, hoje, é
a falta de recursos para o árbitro. O árbitro sem recurso não pode treinar, não pode
pagar nutricionista, não pode ter bons equipamentos. Um tênis bom para
treinamento — e até brincamos com isso, dizendo que custa o mesmo que um fusca
— está perto de R$1.000,00. Ele ainda precisa de fisicultor, fisiologista,
fisioterapeuta e de médico desportivo.
Muitas vezes, aqui em Brasília mesmo, precisamos solicitar médicos de
clubes –– e nem preciso falar do falar do Dr. Rios, que dispensa comentários –– e os
médicos sempre se oferecem para ajudar a arbitragem, sem qualquer contrapartida,
porque sabem da nossa carência. Como acontece, hoje, por exemplo, com o Dr.
José Luís Runco, médico que ajuda muito a arbitragem brasileira. Quando surge um
árbitro precisando de tratamento específico, o médico está sempre pronto a ajudar,
inclusive muitos deixam sua clínica particular à disposição dos árbitros. Então, há
uma carência. E essa é apenas uma gavetinha da carência que temos.
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O Clube dos 13, que citei anteriormente, é um instrumento por meio do qual
podemos começar a suprir essa carência. Sabemos da participação dos atletas. Em
várias reuniões tivemos as presença do Presidente Wilson Piazza e do Marco
Aurélio. Sabemos que os atletas têm onde buscar recursos, mas precisamos ser
alguém para buscarmos esses recursos. Temos de criar, então, a ponte da nossa
personalidade jurídica para buscarmos recursos a quem de direito, calcados na lei,
nos orçamentos previstos em lei. Esse é o nosso grande objetivo.
O que o Presidente Weber tem explanado é o que sempre escutamos: que
temos de estar sempre juntos. Aliás, o Weber também dispensa comentários, por ser
meu amigo pessoal há muitos anos. Ele serve de elo entre a CBF e a arbitragem,
talvez por essa distância que temos do Rio de Janeiro — hoje, a Presidência da
ANAF é em Brasília. Segundo o Estatuto, a Presidência será no domicílio do
Presidente eleito. Na época do José de Assis Aragão, em 2007, era em São Paulo.
Depois que assumimos, em 14 de novembro de 2007, passou para Brasília. E o
Weber tem feito essa ligação, independentemente de qualquer coisa, porque
qualquer pedido nosso ele atende e tem sempre boa vontade.
Fala-se muito sobre esse diálogo que a ANAF está estabelecendo, mas, na
verdade, é um diálogo que estamos aprendendo a fazer e a buscar, porque se
sairmos, como entidade representante dos árbitros, dando murro em ponta de vaca,
não vamos chegar a lugar nenhum. Até neste espaço aqui, que temos conquistado e
pelo qual estamos muito agradecido, vimos tratando com pessoas que têm
sensibilidade de entender. Como vimos hoje, todos estão entendendo essa
sensibilidade. E, repito: a cópia do áudio vai ser muito importante para nós, porque
como vou explicar tudo o que se passou aqui hoje? Vou colocar na nossa página
para que as pessoas interessadas ouçam.
Já vou encerrar e peço perdão pela demora.
A Associação Nacional dos Árbitros — ANAF realiza um congresso anual .
Isso está previsto no nosso estatuo. Podemos fazer outros congressos, mas só
realizamos um. O de 2009 ocorreu no final de semana passado, no Piauí, na cidade
de Teresina, que já havia apresentado sua proposta para sediar o evento no
congresso de 2008, que foi em Porto Alegre.
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O que tenho visto nesses congressos é que discutimos muita perfumaria.
Muita coisa do tipo aumento de taxa, cor de uniforme, isso e aquilo. É o perfil de
cada um.
Em Porto Alegre, o meu primeiro congresso como Presidente da instituição,
propus o seguinte: vamos nos aprofundar nos temas. E já estávamos com este
espaço nesta Casa. Isso foi muito importante, porque, quando chegamos ao Piauí,
levei a proposta aos 27 Presidentes de sindicatos que lá estavam — a ANAF é uma
associação, mas temos também a nossa federação. Ela é composta de 27
Presidentes, cada qual representando uma unidade da Federação. Temos sindicatos
muito importantes, como, por exemplo, os de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa
Catarina, enfim, de todo o Centro-Sul e também do Nordeste, como os de
Pernambuco, Ceará e Bahia.
Pois bem. Levei a seguinte proposta a todos eles: precisamos criar um evento
nacional. Por quê? Porque a imprensa dá muito apoio, divulga, mas o congresso fica
muito restrito ao Estado ou, nem ao Estado todo, mas apenas à Capital, como
ocorreu este ano com Teresina e, no ano passado, com Porto Alegre. A proposta foi
aceita por unanimidade, e já estamos criando o primeiro fórum brasileiro de
discussão dos assuntos de arbitragem, que será aqui em Brasília, no segundo
semestre deste ano. Por quê? Porque entre um congresso e outro, há um ano de
hiato, o que é um período muito longo. Nesse tempo, as coisas caem no
esquecimento.
Como eu disse antes, queremos muita coisa. Lógico, temos nossos anseios,
mas não podemos só ficar esperando que o Legislativo tenha essa preocupação,
que o Executivo ponha isso em prática. Precisamos buscar e mostrar a realidade, o
que está acontecendo, abrir um grande canal de discussão, como tem sido feito nas
Comissões aqui na Câmara.
Assim, estou trazendo essa proposta e pedindo apoio, e todos os presentes
foram unânimes em dizer que precisamos disto: mostrar o que temos feito, todos
juntos, o segmento do futebol brasileiro, não só Legislativo, a ANAF, nada disso.
Nós todos estamos formando aqui uma corrente muito forte em relação a isso. E a
preocupação é uma só: a boa administração do futebol. Essa é a grande
preocupação.
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A arbitragem, como disse aqui em outras oportunidades, é um braço do
futebol, tema cujo debate envolve contrato de jogadores, contratos de publicidade,
enfim vários outros assuntos. E, hoje, no tocante à arbitragem, temos a proposta de
trazer para cá e, por pelo menos 5 dias, realizar um grande debate com a presença
dos Parlamentares, de técnicos, como disse o Dr. Paulo Schmidtt, de pessoas
ligadas à Medicina Desportiva, que podem mostrar que um árbitro não tem a visão
mecânica que muitos esperam, temos uma visão humana; estudos de fisiologistas
mostrando o trabalho do árbitro durante 90 minutos, quanto o árbitro percorre, qual o
gasto, qual o desempenho, de onde vem a dificuldade do árbitro durante o jogo,
porque, muitas vezes o Dr. Paulo Goyaz pode ter pensado, com todo direito: “Ah, o
árbitro não marcou o pênalti”. Dependendo do momento do jogo, isso pode ter
acontecido devido a uma falha, vamos dizer assim, produzida por um esgotamento
físico, pode ser um momento em que o organismo se ressente daquilo. Enfim, são
temas que serão debatidos e são temas interessantes, mas não para justificar erros
— isso, jamais.
Mas, Sr. Presidente, voltando para o que o Dr. Dagoberto e muitos outros têm
abordado aqui: é preciso buscar a causa.
Quando o árbitro não está bem preparado, fica suscetível a esse tipo de erro,
porque chega aos 15 minutos do segundo tempo e, com todas essas
transformações físico-químicas que sofremos, pode até ter um lapso, um branco, e
não conseguir raciocinar direito dentro de campo. Já aconteceu comigo e acontece
com todos os árbitros, dependendo da temperatura ambiente, dependendo da
alimentação, da hidratação.
Então, são muitos assuntos sobre os quais deveremos discorrer. Agora,
repito: não são assuntos para servir de desculpa para o erro do árbitro, de forma
alguma. São assuntos para minimizar o erro dos árbitros.
Então, eu vou encerrar, Deputado...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Afonso Hamm) - Eu já ia pedir a V.Sa. que
finalizasse em razão do tema. O tema é importante e apaixonante, mas é preciso
que V.Sa. caminhe no sentido da conclusão.
O SR. JORGE PAULO DE OLIVEIRA GOMES - Então, Sr. Presidente,
senhoras e senhores, estamos criando esse primeiro fórum. E vamos escolher uma
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data que seja a mais apropriada para o Legislativo principalmente, que é quem está
nos dando essa tutoria. Acredito que o ideal será depois do recesso parlamentar de
julho. Assim, em agosto ou no início de setembro, realizaremos em Brasília esse
evento, que, com toda certeza, terá repercussão internacional, porque nos demais
países não se discute esse assunto no âmbito de governo e de poder legislativo.
Agradeço realmente a todos a oportunidade. Sei que até tomei bastante
tempo, mas é a chance que temos de falar sobre essas coisas, e a atenção
dispensada muito me envaideceu.
A Associação Nacional dos Árbitros se coloca à disposição para a qualquer
momento — eu resido em Brasília — participar de encontros informais ou formais.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Afonso Hamm) - Agradecemos ao Dr. Jorge
Paulo de Oliveira Gomes, Presidente da Associação Nacional de Árbitros, e em
quem vemos vontade, idealismo, desprendimento e conhecimento. Isso, com
certeza, faz com que tentemos auxiliá-lo.
Tenho certeza — e, em seguida, vou passar a palavra ao Deputado
proponente, Deputado Edinho Bez — que esse fórum de arbitragem vai ter o apoio
desta Casa.
Também já quero adiantar que faremos o que é da competência desta Casa.
No que se refere à nossa competência legislativa — o amparo do ponto de vista da
legalidade no que se refere à profissão, às necessidades e à busca dos princípios e
dos meios —, sabemos da importância e, portanto, vamos tratar o tema como
prioridade, como neste momento, à medida que decidimos fazer esta audiência
pública, atendendo a pedido especial do Deputado Edinho Bez.
Então, agradecemos a V.Sa. e passamos a palavra ao Deputado Edinho Bez
para fazer o seu fechamento.
O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ - Sr. Presidente, antes de me manifestar,
gostaria de rapidamente ouvir a manifestação final do Presidente do Gama, Dr.
Paulo Goyaz.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Afonso Hamm) - Vamos, então, passar a
palavra a S.Sa.
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O SR. PAULO GOYAZ - Sou Presidente da Sociedade Desportiva do Gama
de Brasília
O SR. PRESIDENTE (Deputado Afonso Hamm) - Correto.
Com a palavra V.Sa.
O SR. PAULO GOYAZ - Chamamos a atenção, durante o debate, da situação
em Brasília. É preciso esclarecer bem. Quem fez a denúncia de eventual corrupção
dos árbitros não foi o Gama, foi o Presidente do Conselho Distrital de Arbitragem. E
foi assinada pelo Vice-Presidente em exercício da Federação.
Coincidentemente, quem puniu 5 árbitros ou auxiliares foi a COAF. E nós,
agora, ao analisar esses árbitros punidos, vemos que, coincidentemente, em 14
partidas, eles atuaram em 8 partidas do time do Brasiliense.
A denúncia de corrupção seria em cima do time do Brasiliense. É claro que
estou fiscalizando agora a situação do Brasiliense. Não preciso dizer quem é o dono
e nem qual é a forma de comportamento dele. Ele é um ex-Senador da República
cassado. Diga-se de passagem, o primeiro a ser cassado.
Então, não temos nada contra os árbitros. Brasília tem excelentes árbitros,
que nós aplaudimos. Eu não me lembro de, como torcedor, ter xingado o Jorge
alguma vez em campo. Posso até ter achado que ele errou, mas não me lembro de
tê-lo xingado, como é hábito do torcedor.
Eu, antes de ser Presidente do Gama, sou torcedor do Gama. Em 1999,
mostrei isso, quando ajudamos, inclusive, no Estatuto do Torcedor — aquela guerra
que houve.
Então, não é nada contra os árbitros como um todo, mas houve uma denúncia
que está sendo apurada. Acho que a Justiça desportiva não tem condições de
apurar, porque ela não tem como quebrar sigilo telefônico, sigilo bancário para
descobrir se houve ou não corrupção. Só por depoimento não se chega à corrupção.
O segundo ponto que me parece importante debater é: quem paga a taxa de
arbitragem. O Estatuto do Torcedor brasileiro, que é uma lei feita por esta Casa, com
os representantes do povo, diz que quem paga são a CBF e as Federações — ou as
Federações ou as Ligas. Só que uma determinação do STJD diz que quem tem de
pagar são os clubes. E os clubes estão sobrecarregados de despesas.
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Hoje, na condição de Presidente de clube, eu respondo se um policial bate
num torcedor dentro de campo, se um torcedor morre, se uma arquibancada do
estádio público cai. Se na rua, num raio de 1 quilômetro, acontecer algum problema
com o torcedor, o primeiro que responde sou eu. Nós tivemos o caso de um jogador
do time do São Caetano que caiu e morreu, e o seu Presidente está sendo
processado criminalmente.
Que competência tem um presidente para saber se o jogador tem ou não
determinado problema cardíaco? O clube tem um departamento médico, mas quem
responde primeiro por tudo que acontece é o presidente. Quando um jogo tem
arbitragem, se o árbitro erra, quem é xingado também é o presidente. Quando um
jogador erra uma jogada, quem é xingado é o presidente. Então, o presidente do
clube, hoje, é igual à figura da “Geni”: só serve para levar porrada. E tem toda a
responsabilidade de manter esse grande espetáculo, esse grande futebol.
Se houver laranja podre, por exemplo, no caso do Distrito Federal ou de
outros Estados onde está havendo problemas, elas devem ser tiradas, extirpadas
para evitar que contaminem as boas. É esse o nosso objetivo. Não queremos punir
nenhum árbitro inocente. Agora, se o árbitro errou na minha partida, e eu considerar
o erro grosseiro, vou representar contra ele.
Respondendo ainda ao Jorge, se ele errou em favor do outro clube, eu não
tenho legitimidade, como Presidente do Gama, de representar contra ele, porque
não sou parte interessada. É o que está no Código. O nosso objetivo é que o futebol
seja o mais limpo possível. Já conseguimos grandes vitórias com isso. E o Gama é
um exemplo do que se faz. Hoje, eu chamo o Ministério Público, o INSS, a
Federação para fiscalizarem a minha bilheteria e a minha entrada, para ter certeza
de que o público que está lá dentro pagou e eu estou pagando os tributos, que no
fim têm de ser recolhidos.
Nós nos preocupamos com tudo isso. Se fazemos o espetáculo e se existe
laranja pobre, ela tem de ser retirada.
Deixo bem claro para quem fez a denúncia que os fatos não são meus.
Apenas a partir da denúncia, a partir da 13ª rodada, comecei a olhar o árbitro e ver
quando ele é mal-intencionado. Dá para saber. O senhor sabe que dá para saber. O
árbitro, quando está correndo, vê um lance, vê outro. Mas, quando o árbitro está
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mal-intencionado, sabemos que a primeira coisa que ele faz é amarelar a zaga para
ela ficar com medo. Se isso não der certo, o segundo ponto é expulsar um jogador
importante. Aí o time começa a perder o equilíbrio emocional. Então, o árbitro
esperto faz isso. Ele manipula um resultado de jogo e ainda diz que foi um erro de
fato, um erro de direito. Tudo bem. Naquilo que pudermos ver como um erro, tudo
bem. Agora, quando a câmera... E aí, até falo do Paulo Schimitt. O Gama, desde
2000, filma todos os seus jogos com uma câmera. Uso uma câmera para fazer a
representação contra árbitros. Só uma câmera, que fica posicionada no canto do
estádio e filma todos os jogos. Depois, antes de eu fazer a denúncia contra qualquer
árbitro, vejo a fita, revejo-a junto com o meu departamento técnico. Digo: “Realmente
aqui o árbitro não teve culpa, porque estava num determinado ângulo, ou o
bandeirinha estava olhando para outro lado”. Tomamos cuidado com isso.
Hoje, no Bezerrão, os jogos são transmitidos simultaneamente por telão. Todo
torcedor pode ver, por essa câmera minha que filma, o jogo que está sendo
realizado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Afonso Hamm) - Dr. Paulo Goyaz, suas
observações são importantes. Lembro que também tive uma experiência como
diretor, como vice-presidente. Não é fácil ser dirigente de futebol. Foi em Bagé,
minha cidade, no Grêmio Esportivo Bagé.
O propósito de todos é fazer um grande espetáculo. Quem é dirigente deve
ter responsabilidade e desempenhar bem o seu papel, assim como o chefe de
torcida, os árbitros e até o dirigente de uma instituição maior, como a CBF. Mesmo
para os árbitros, com os meios de que dispõem, vê-se que é difícil, mas é preciso
ser feito. Acho que foi muito providencial este debate para sensibilização.
Se forem bem definidas as competências, além de sermos o País do futebol,
teremos o melhor futebol, dentro e fora do campo, com certeza, com a
responsabilidade de todos.
Passo a palavra ao Deputado Edinho Bez.
O SR. DEPUTADO EDINHO BEZ - Obrigado, Sr. Presidente.
Faço apenas 4 observações. Está clara a intenção de todos. Gostaríamos de
colaborar com o resumo, na qualidade de representantes do povo brasileiro no
Congresso Nacional. Todos foram importantes, mas o Dagoberto fez um resumo da
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questão: identificar a causa e tomar atitudes para a solução do problema. Como
legisladores, colocamo-nos à disposição dos senhores para colaborar.
Sabemos da importância do futebol para o Brasil. Ele é reconhecido
internacionalmente.
Quando uma seleção joga mal, sentimo-nos ofendidos, às vezes nem só pelo
jogo, mas pela repercussão. As pessoas lá fora, os outros países esperam que o
Brasil sempre jogue bem. Isso aumenta a nossa responsabilidade. Então, o árbitro é
uma peça importante numa partida de futebol.
Como disse o Dr. Jorge Paulo, se não estamos nos autos, não existimos. Meu
saudoso pai, que faleceu num acidente, dizia que, num debate, os ausentes nunca
têm razão. Se estivermos aqui falando do meu querido amigo Presidente e de
repente ele chegar, é natural pararmos de falar dele naquele momento. Isso é
psicológico. Então, temos de nos fazer presentes.
Defendo a regulamentação da profissão de árbitro, indiscutivelmente. Ela é
muito importante, conforme foi dito por todos aqui. Não é possível que não tenhamos
uma regulamentação clara.
Meu saudoso pai, que foi músico, jogador de futebol, político, exerceu uma
série de profissões importantes, dizia que sempre há pessoas envolvidas, pois se
trata de uma equipe. Não se faz futebol sozinho, assim como não se faz política
sozinho. Existe uma equipe. Não se chega aqui sozinho. Uma orquestra tem de
estar afinada para ser boa. Ele dizia que, quando houver um músico desafinado,
precisamos nos reunir e afinar a viola. O que queremos aqui é afinar a viola com os
senhores, colocando-nos à disposição.
A Câmara dos Deputados, por meio da Comissão de Turismo e Desporto, em
nome do Presidente Afonso Hamm, coloca-se à disposição dos senhores e
agradece a presença de todos. Ela foi muito importante para que as dúvidas fossem
tiradas.
No início, ao conversar com o Presidente do Gama, a quem agradeço a
presença, eu disse que o cidadão comum não fala com as altas autoridades, com o
Presidente da República, com o Governador, mas fala com o Deputado. Se não
consegue falar com o Deputado, fala com o Vereador e este fala com o Deputado.
Agradeço a todos a presença. Estamos sempre à disposição.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Afonso Hamm) - Agradecemos.
Como é de praxe, informo que estão disponíveis no site da Câmara dos
Deputados o áudio deste debate e esses registros tão importantes.
Antes de finalizar, cumprimento os nossos convidados. Agradeço, pelo seu
desprendimento, ao Dr. Dagoberto dos Santos, Secretário-Executivo do Clube dos
13; ao Dr. Jorge Paulo de Oliveira Gomes, Presidente da Associação Nacional dos
Árbitros de Futebol — ANAF; ao Dr. Paulo Marcos Schmitt, Procurador-Geral do
Superior Tribunal de Justiça Desportiva — STJD; e ao Dr. Weber Magalhães,
Vice-Presidente da Confederação Brasileira de Futebol — CBF.
Agradecemos aos Parlamentares, aos colegas, ao Deputado Edinho Bez pela
iniciativa, aos membros que participaram desta reunião, às assessorias e a todos os
presentes.
Nada mais havendo a tratar, vou encerrar a presente reunião, antes, porém,
convocando os Srs. Parlamentares para reunião ordinária deliberativa a realizar-se
no dia 8 de abril, quarta-feira próxima, às 14 horas, aqui no Plenário nº 5.
Sucesso a todos. Contem com esta Comissão.
Está encerrada a reunião.