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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E MINORIASEVENTO: Audiência Pública N°: 2000/07 DATA: 07/11/200 7INÍCIO: 14h26min TÉRMINO: 17h56min DURAÇÃO: 3h29minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 3h28min PÁGINAS: 64 QUARTOS: 42
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
ROSA MARIA MONTEIRO DE BARROS - Representante da Co ordenação Nacional dosDemitidos e Anistiados nas Estatais e Serviços Públ icos — CNDAESP.MARCELLO LAVENÈRE MACHADO - Ex-Presidente do Consel ho Federal da Ordem dosAdvogados do Brasil — OAB.ADÉLIO JUSTINO LUCAS - Procurador do Trabalho da 10 ª Região.DUVANIER PAIVA FERREIRA - Secretário de Recursos Hu manos do Ministério doPlanejamento, Orçamento e Gestão.JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI - Advogado-Geral da União .ERIKA KOKAY - Presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética eDecoro Parlamentar da Câmara Legislativa do Distrit o Federal.EMMANUEL VASCONCELOS - Membro do Grupo de Trabalho instituído pelo Decreto nº 6.077,de 2007, do Ministério do Planejamento.
SUMÁRIO: Debate sobre o tema Demitidos do Plano Col lor (Lei nº 8.878/94) — Problemas eSoluções.
OBSERVAÇÕES
Houve intervenções fora do microfone. Inaudíveis.Há orador não identificado.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Direitos Humanos e MinoriasNúmero: 2000/07 Data: 07/11/2007
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Declaro aberta a presente
reunião de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, que tem
por finalidade debater o tema Demitidos do Plano Collor (Lei nº 8.878/94):
Problemas e Soluções, em atendimento a requerimento de autoria deste Presidente,
aprovado no âmbito desta Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
Este evento busca responder ao clamor de milhares de pais e mães de
famílias que foram demitidos do serviço público federal em todo o País,
sumariamente e sem justa causa, durante a reforma administrativa do Governo
Collor e que, diuturnamente, buscam na Câmara dos Deputados e no Governo
Federal o apoio necessário para o equacionamento de uma situação que se tem
arrastado de maneira perversa.
Entre alguns dos problemas diagnosticados como supostos obstáculos para o
andamento processual das anistias funcionais encontram-se a falta de otimização
dos trabalhos da CEI — Comissão Especial Interministerial, do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, e as posições levadas a termo pela CONJUR
— Consultoria Jurídica, órgão da AGU responsável pelo assessoramento jurídico do
Ministério do Planejamento e pela emissão dos pareceres sobre a anistia.
Diante do grave quadro que se construiu ao longo de 17 anos no que diz
respeito a essas mães e pais de famílias, a Comissão de Direitos Humanos e
Minorias vem tentando, com a contribuição de outros Parlamentares que defendem
a readmissão dos anistiados, fazer com que a Lei nº 8.878/94 seja efetivamente
cumprida pelo Governo Federal.
Com o objetivo de facilitar os trabalhos, faremos uma seleção de
Parlamentares que se encontram presentes e que poderão também se pronunciar.
Convido para compor a Mesa o Sr. Ministro José Antonio Dias Toffoli,
Advogado-Geral da União; o Sr. Duvanier Paiva Ferreira, Secretário de Recursos
Humanos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; a Sra. Rosa Maria
Monteiro de Barros, representante da Coordenação Nacional dos Demitidos e
Anistiados nas Estatais e Serviços Públicos — CNDAESP; o Sr. Marcello Lavenère
Machado, ex-Presidente nacional da OAB; o Sr. Adélio Justino Lucas, Procurador do
Trabalho da 10ª Região; e o Sr. Cláudio Santana, representante do SINDSEP-DF.
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O Senador Paulo Paim ainda não chegou. S.Exa. terá assento à mesa e a
palavra assegurada no momento oportuno. O Sr. Emmanuel Vasconcelos também
não chegou, bem como a Deputada Distrital Erika Kokay. No momento em que
chegarem poderão tomar assento na primeira fila deste auditório.
Sem mais delongas, em primeiro lugar, ouviremos a representante da
Coordenação Nacional dos Demitidos e Anistiados nas Estatais e Serviços Públicos,
Sra. Rosa Maria Monteiro de Barros, que disporá de 10 minutos, improrrogáveis,
para o seu pronunciamento. Tem S.Sa. a palavra.
A SRA. ROSA MARIA MONTEIRO DE BARROS - Boa-tarde a todos os
presentes. Agradeço à Comissão o convite, em nome de todos os companheiros
presentes. Graças a Deus, podemos contar com um grande número. Cumprimento
os Deputados presentes, que estão conosco há tempo, os representantes do
Governo, os representantes do movimento dos anistiados e todos os trabalhadores
beneficiados com a Lei nº 8.878/94.
Companheiros, elaborei uma história da nossa luta que contém 7 laudas.
Deixarei registrada nesta audiência e entregarei ao Deputado Luiz Couto. Quero
lembrar algumas fases.
Em 1990, Ivan Moraes Rego demitiu-se do Governo justificando náusea e
discordância do processo e afirmando: “Não se dão aos algozes sequer tempo para
distinguirem quem deve ou não ser sacrificado. O Governo pensa no número e se
recusa a perceber que por trás desse número tem gente e família sangrando”. E,
entre 1993 e 1994, reconheceu-se que anistia era um conceito moderno e que,
portanto, deveria ser absolutamente interpretado na sua essência.
Tenho muita coisa a dizer, mas só disponho de 10 minutos. Quais são os
nossos principais problemas e quais são as soluções? As soluções cabe ao Governo
apresentar; os problemas vamos denunciar.
Grande parte dos processos deliberados e que haviam sido homologados
pela CEI, sob o instituto da decadência, foram novamente analisados, revistos.
Houve deliberações, homologações e, agora, de repente, passaremos pelo calvário
de novo com o retorno do processo. Por quê? Porque existe conflito de
entendimento quanto ao que vem a ser anistia e sua aplicação.
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Fica difícil entender essa situação, porque desde o início da sua
implementação, em 2004, a CEI tinha entre os seus componentes representantes da
AGU. Embora não na velocidade desejada, firmaram-se conceitos, entendimentos, e
os trabalhos fluíram, até a substituição de um membro, em novembro de 2006. A
partir daí, os conflitos se instalaram e não foram superados. Há mais de 1 ano a CEI
patina no processo de deliberação.
Por conta desses conflitos, as decisões da CEI, deliberações e homologações
vêm sendo sistematicamente questionadas pela Consultoria Jurídica e pela AGU. As
decisões da CEI não geram resultado prático. A CEI não é reconhecida como
instância soberana de decisão, apesar do Decreto nº 5.115. E pior: fica na
dependência de pareceres jurídicos posteriores às suas deliberações.
O Grupo de Trabalho proposto pelo Decreto nº 6.077/07 não gerou resultado
prático. Ninguém voltou. Não foi editada, infelizmente, nenhuma portaria
determinando o retorno ao trabalho. Por quê? Pelos mesmos argumentos há pouco
expostos. O conflito de entendimento vem impedindo que os encaminhamentos do
Grupo de Trabalho, apesar de as alternativas terem sido estudadas e
encaminhadas, cheguem ao Ministro; ficam parados na Consultoria Jurídica do
Ministério.
Houve algumas reuniões na AGU, de junho a outubro, com o Consultor-Geral
da União, para tentarmos contornar os impasses. Entretanto, até o momento, não
houve solução. Grande parte dos companheiros que aqui estão ainda pensam que
nada do que está acontecendo representa a vontade política do Presidente da
República, que se manifesta periodicamente pela reparação da injustiça imposta aos
trabalhadores demitidos por Collor e anistiados pela Lei nº 8.878.
A esperança de retorno ao trabalho depositada no Governo Lula está sendo
jogada por terra por um grupo de pessoas que não querem que essa injustiça seja
reparada. É o que podemos concluir. Mas não nos parece que esse grupo possa
vencer algo superior aos seus desejos, a vontade do Presidente da República. Esse
grupo não pode e não vai fazer com que essas questões sejam em absoluto
superiores ao que determinou, no Aviso Ministerial nº 21, o Presidente: que essa
injustiça precisa ser reparada. Este é o compromisso do Presidente da República, do
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Partido dos Trabalhadores e deste Governo. Não deixaremos que isso seja jogado
por terra.
Companheiros, desculpem-me a emoção. Nós nos desgastamos muito nesse
processo. Afinal, há 17 anos pleiteamos nossos postos de trabalho. Entretanto,
esses obstáculos não anulam nossa força e a nossa coragem para lutar e enfrentar
todo tipo de dificuldade. Temos como aliados às nossas iniciativas as Centrais, a
coragem dos companheiros que se mobilizam em seus Estados, em seus sindicatos,
aqueles que vêm fazendo vigília em frente ao Ministério do Planejamento,
incansáveis, a energia e a determinação da Coordenação Nacional, que é
respeitada e reconhecida no Governo, mas que precisa ter mais voz.
Todas as iniciativas dos trabalhadores anistiados organizados dão a
visibilidade necessária ao Governo sobre o nosso descontentamento, a nossa
decepção e evidenciam nossa coragem para continuar pressionando em busca de
alternativas de solução.
Estamos cientes de que não cabe a nós a solução dos impasses, e sim ao
Governo. Entretanto, saibam todos: não fugiremos à luta. Os anistiados, unidos e
num coro só, clamam pelo quê? Retorno já! (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Concedo a palavra, também
pelo tempo de 10 minutos, ao Dr. Marcello Lavenère Machado, ex-Presidente
nacional da OAB.
O SR. MARCELLO LAVENÈRE MACHADO - Sr. Presidente, Deputado Luiz
Couto; eminentes companheiras e companheiros injustiçados pelos Governos Collor
e Lula (palmas); eminente Sr. Ministro José Antonio Dias Toffoli; eminente Secretário
de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Sr. Duvanier Paiva Ferreira,
meus cumprimentos.
Srs. Toffoli e Duvanier, esta é a nossa gente. Quando digo nossa gente refiro-
me a trabalhadores brasileiros que não querem vantagem, nenhuma situação de
privilégio, mas apenas trabalhar (palmas), direito que lhes foi roubado numa
pseudorreforma administrativa do Governo Collor. Roubaram-lhes o trabalho sem
motivo algum.
Depois veio a Lei nº 8.878, com o beneplácito de todos aqueles que não
concordavam com o que havia sido feito. Essa lei por muito tempo não funcionou,
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porque a administração federal não queria que ela funcionasse. Há 5 anos, com a
eleição de outro Governo, a esperança retornou a cada coração dos que estão aqui,
Ministro Toffoli e Secretário Duvanier. E por 4 anos, de alguma forma, essa
esperança foi acalentada por alguns atos do Governo. No entanto, infelizmente, nos
últimos 12 meses o Governo mudou de orientação.
Infelizmente, não posso dizer às pessoas que estão aqui que acreditem que
voltarão a trabalhar. O Ministério do Planejamento parece não querer devolver o
trabalho a essas pessoas. (Palmas.)
A AGU, representando o pensamento do antigo regime, constitui-se num
obstáculo injustificado, Ministro Toffoli. Não há sequer um único argumento jurídico
para a AGU e o Ministério do Planejamento, Sr. Duvanier, retardarem a volta dessas
pessoas aos seus postos de trabalho. (Palmas.) A lei precisa ser cumprida.
O Presidente da República faz a sua parte, e a área federal faz de conta que
não lê o que o Presidente escreve. (Palmas.) O horizonte está cheio de nuvens, de
opiniões técnicas e pareceres equivocados de muitos servidores da AGU e do
Ministério do Planejamento. (Palmas.) Ainda estão lá velhas cassandras que não
querem a anistia determinada pela Lei nº 8.878.
Felizmente, todas as decisões do Supremo Tribunal Federal e do STJ, 2
órgãos dos mais importantes do País, são favoráveis à Lei 8.878. E quem está
contra a Lei 8.878 não aparece. Mas o processo não anda. A comissão de revisão
não funciona. Vai-se ao Planejamento, não se consegue falar com ninguém, perde-
se a audiência. (Palmas.) E quando há uma reunião é para coisíssima nenhuma de
concreto.
Passei recentemente, Dr. Toffoli, 12 meses com uma sentença transitada em
julgado para ser cumprida pelos Ministérios de Minas e Energia e do Planejamento.
Foram 42 despachos dos Ministros do STJ. A AGU foi intimada, o Ministério do
Planejamento foi intimado e fizeram vista grossa à reintegração do pessoal da
CAESB. (Palmas.) Isso é desobediência e má vontade. Se o Governo é contra a Lei
8.878, diga: nós somos contra os anistiados.
Nós não vamos ter medo não. Vamos continuar trabalhando, como fizemos
no Governo Collor e depois, até ser aprovada essa lei. (Palmas.)
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Ministro Toffoli, ilustríssimo Secretário de Recursos Humanos, façam um
gesto de justiça, ponham na mesa de V.Exas. a vida desses trabalhadores, que só
querem trabalhar. Há uma lei que os anistia. Eles foram atingidos durante 8 anos
pelas CERPAs da vida, pelas COINTERs da vida. Pelo amor de Deus, Dr. Toffoli, Dr.
Duvanier, não transformem a CEI em outra comissão para cortar a cabeça dos
anistiados. (Palmas.)
Esses anistiados que aqui estão não vão suportar serem atingidos de novo
por um Governo em que confiaram. Basta o que sofreram de Collor, basta o que
sofreram de Fernando Henrique. É inaceitável que eles passem pela mesma
perseguição com o Presidente Lula; é inaceitável.
Se o Ministro Toffoli e o Ministro Paulo Bernardo, que não está aqui, mas está
o Sr. Duvanier, quiserem resolver isso, resolvem logo. Mas é preciso que queiram. E
não poderão dizer que não o fazem porque há obstáculo jurisprudencial ou legal.
Não há. (Palmas.) O que falta é vontade política de resolver o problema de milhares
de pessoas que estão esperando desde 1992 para que seja feita a justiça, cumpra-
se a lei e se diga que esses anistiados, perseguidos por 2 Governos, não serão
perseguidos de novo. Nós não faremos isso.
Tenho certeza, Ministro Toffoli, Dr. Duvanier, que este Governo não vai
carregar nas costas esse pecado de ter sido o terceiro a derrubar por terra as
esperanças de trabalho dos anistiados. (Palmas prolongadas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Companheiros, essa
manifestação nos prejudica, porque temos um tempo limitado. Toda vez que
aplaudimos, prejudicamos a oitiva daqueles que querem se pronunciar. O Plenário
14 está preparado com um telão. Quem quiser ficar lá pode ir.
Solicito que ouçamos os companheiros, cada um com sua argumentação.
Depois vamos ouvir o Ministro Toffoli, o Sr. Duvanier e todas as pessoas que aqui
estão para falar. Esse é o objetivo da audiência pública, que terá encaminhamentos
levados ao Governo Federal, na perspectiva de que a Lei 8.878, de 1994, seja
cumprida na sua totalidade. É isso o que queremos efetivamente: unir forças, unir
energia.
Passo a palavra ao Dr. Adélio Justino Lucas, Procurador do Trabalho da 10ª
Região.
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O SR. ADÉLIO JUSTINO LUCAS - Sr. Presidente, em primeiro lugar, gostaria
de agradecer a V.Exa. o convite encaminhado ao Ministério Público do Trabalho,
que tem tido experiência longínqua com o trabalho com os anistiados. Em nome de
V.Exa., Sr. Presidente, cumprimento os demais integrantes da Mesa bem como os
ilustres Parlamentares e os senhores e senhoras presentes neste ambiente.
Cuidei, em face da delicada situação que os anistiados vivem no Brasil, de
fazer um pronunciamento direcionado.
De início, cumpre-me expressar entendimento no sentido de ser necessária
uma retrospectiva para a melhor contextualização dos fatos.
As demissões dos anistiados de que trataremos ocorreram de 1990 a 1992,
no Governo Collor. Por certo, as contratações dos demitidos ocorreram antes de 5
de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal.
Em 12 de maio de 1994, foi editada a Lei 8.878, que trata da anistia aos
servidores e empregados públicos. Ante tal premissa, estabelece-se de imediato
visão lógica e social do objetivo dessa lei, que, a nosso ver, se traduz no resultado
de entendimentos político-administrativos tendentes a reparar injustiças, equívocos e
erros praticados pela Administração Pública contra seus servidores, seus
empregados públicos.
Essa anistia anunciada pela Lei 8.878, no meu sentir, representa um pacto
social patrocinado pelo Estado, impulsionado pela provocação da sociedade civil,
mediante o uso de meios legais postos à sua disposição, com destaque especial
para o Congresso Nacional, que, ao atender ao clamor dessa parcela da sociedade
brasileira, editou a referida lei concessiva, porém, condicionadora do anistiamento.
Condicionadora porque o anistiamento está sujeito a pleitos e provas a serem
submetidos à Administração Pública para análise, possivelmente deferidos, se
atendidos os requisitos de lei.
Aliados a esses argumentos, é preciso também demonstrar a forma que a
Administração Pública, antes de 1988, utilizava para a contratação do seu pessoal
para a execução de suas políticas públicas.
Muito embora vigente regra constitucional que previa a contratação de
pessoal mediante concurso público, a Administração valeu-se fortemente da
terceirização irregular, de convênios, de contratos, de tabelas, de funções de
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assessoramento superior, os quais eram formalizados através de empresas,
universidades, fundações, dentre outros, para atendimento de sua necessidade de
pessoal.
Tal contexto precisa ser vivificado para entendermos a situação funcional
ocorrida antes de 1988, uma vez que a maioria dos casos transcorreu há mais de 20
anos, e isso talvez esteja ausente da memória daqueles que hoje emitem, sem
substrato histórico fático, pareceres obstativos do retorno dos anistiados. Isso sem
considerar que muitos dos contratados à ocasião, sem concurso público, prestando
serviço há mais de 5 anos à Administração Pública, em 5 de outubro de 1988, foram
considerados estáveis, nos termos do art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias.
Como mencionado, no Governo Collor, de 1990 a 1992, houve dispensa em
massa de servidores e empregados públicos, sob o pálio de uma reforma
administrativa do Estado brasileiro. Entretanto, tal dispensa foi efetivada sem
planejamento, sem critério, sem avaliação, sob o impacto da ação do Estado na vida
desses trabalhadores.
Com o impeachment do Presidente Collor, tal posição foi parcialmente
revertida, no sentido de sustar as expensas com o anistiamento aos demitidos que
se enquadrassem nos critérios estabelecidos em lei.
Com a edição da Lei 8.878, foi editado o Decreto 1.153, de 1994, criando as
subcomissões setoriais e a Comissão Especial de Anistia, para efetivar e estudar o
retorno. Essas comissões tinham poderes decisórios em primeiro e segundo graus,
conforme dispõe o art. 6º, §§ 2º, 3º e 4º.
Após a análise dos processos, quer por elas, subcomissões, quer em grau de
recurso, pela Comissão Especial de Anistia, era feito um relatório contendo o
deferimento ou indeferimento e, em seguida, publicada a portaria da anistia
contendo o nome dos anistiados.
Em 1995, o Decreto 1.485 suspendeu os atos administrativos referentes às
decisões proferidas por essas comissões.
O Decreto 3.363, de 2000, criou uma Comissão Interministerial, a famosa
COINTER, para reexaminar os processos de anistia vindos de qualquer instância
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concessiva de anistia na base — detalhe — que ainda não tivessem sido objeto de
parecer publicado no Diário Oficial da União.
O Decreto 5.115, de junho de 2004, instituiu a famosa Comissão Especial
Interministerial — CEI, com o objetivo de revisar todos os atos praticados pelas
comissões anteriores, criadas pelos Decretos 1.498, 1.499 e 3.363, referentes aos
processos de anistia.
Em seguida, recentemente, em abril de 2007, foi editado o Decreto 6.077, que
regulamenta o art. 3º da Lei 8.878, disciplinando o retorno dos anistiados.
É de observar-se, pois, que esse decreto não se caracteriza como solução do
caso dos anistiados, como esperado, porque repete e não simplifica os caminhos da
efetivação do retorno dos anistiados, o que lhes gera angústia, o que os leva à
morte, quando não física, moral e psicológica, por se sentirem imprestáveis e
improdutivos, tanto no seio de suas famílias quanto na sociedade. São verdadeiros
mortos-vivos que perambulam pelos nossos gabinetes à procura dos seus direitos,
os quais se confundem com a própria identidade. (Palmas.)
Quero fazer aqui uma referência especial ao pessoal da Fundação de
Tecnologia Industrial, que trabalhava no então Ministério da Ciência e Tecnologia. O
Decreto 3.363, de 2000, que criou a Comissão Interministerial, a COINTER,
considerou, em parecer publicado no dia 7 de agosto de 2001, ilegal a anistia do
pessoal da FTI, concedida pela Portaria nº 41, de 1994.
Entretanto, houve recurso para o Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia,
ainda pendente de análise, fato certificador de que a anistia decretada pela Portaria
nº 41 não foi cancela, não restando, portanto, impedimento para que os anistiados
retornassem aos postos de trabalho.
Pareceres da Consultoria Jurídica apegam-se a detalhes no sentido de que
falta motivação de fato e de direito, quando a própria CEI declara que não houve
cancelamento da anistia concedida aos anistiados da FTI, além da ferrenha
informação de que os mesmos não eram empregados do Ministério.
O disciplinamento de pessoal anistiado recebeu, na fase inicial, tratamento
diferenciado pela Administração Pública Federal, quando da instituição das
comissões destinadas à análise dos pleitos de retorno ao trabalho, uma vez que a
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essas comissões, em primeiro e segundo graus, foram concedidos poderes
decisórios para declarar anistiados ou não os interessados.
Considerando a soberania dos atos das comissões destinadas à análise dos
pedidos de retorno, não cabe, data venia, aos órgãos consultivos emitir pareceres de
mérito ou opinativos sobre aquelas decisões, mas, no máximo, quando for o caso,
sobre o aspecto formal do processo, disciplinando fases e modos procedimentais,
não quanto ao mérito.
Depois de declarada anistiada, a situação cairia na regra estabelecida na
legislação quanto às oportunidades e necessidade de orçamento, número de vagas,
local de trabalho dos anistiados em processo de retorno.
Esse é o motivo da existência das comissões com o objetivo de examinar
cada situação. Caso contrário, o interessado faria pedido direto ao órgão ao qual
estava vinculado e, a partir daí, a AGU ou a CONJUR, quando solicitadas, opinariam
sobre a legalidade ou não do pleito, subsidiando a decisão da autoridade
administrativa competente.
No caso específico do pessoal da FTI, não resta dúvida de que os mesmos
ocupavam empregos públicos de natureza permanente quando foram demitidos e
que foram contratados de forma terceirizada antes de 5 de outubro de 1988.
A própria orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho diz que,
salvo os casos de trabalho temporário, serviço de vigilância previsto na Lei 6.019 e
na Lei 7.112, é ilegal a contratação de trabalhadores por empresa interposta
formando-se vínculo empregatício diretamente com o empregador do serviço,
inclusive ente público, em relação ao período anterior à Constituição de 1988.
Os motivos que fizeram com que a Administração Pública contratasse por
meio de intermediação de mão-de-obra não estão afetos a esta discussão. O que é
correto afirmar é que é antijurídica a forma de contratação e atrai a aplicação do
Enunciado 256 do TST, emitido em 1986, agora revisto pela OJ 231.
O fato de o pessoal estar vinculado a essa ou aquela empresa é de somenos
importância, pois o que importa é a situação irregular da contratação para gerar
vínculo direto com a Administração Pública. Ademais, a publicação da Lei nº 9.784,
de 1999, em seu art. 4º, instituiu o instituto da decadência pelo período de 5 anos.
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Tem-se que se não retroagir para alcançar o ato da anistia do pessoal da FTI, os
alcança pelo futuro, qual seja a contar da publicação da lei.
Agora, quero dizer que em mandato de segurança no STJ, publicado em 11
de setembro de 2002, envolvendo o pessoal da FTI, há disposição clara de
argumento que não se discutia a questão se havia ou não vínculo empregatício, uma
vez que esta questão estava solvida pela decisão da Subcomissão Setorial da
Anistia ou pela Comissão Especial da Anistia, ou seja, houve reconhecimento e não
houve desconstituição do ato da anistia.
Finalmente, a Administração Pública deve estabelecer modelos claros e não
obstativos para patrocinar o verdadeiro retorno dos anistiados a seus postos de
trabalho, praticando dessa forma a verdadeira anistia a que tantos anima, com a
possibilidade de retornar ao trabalho, serem úteis às suas famílias e à sociedade
como seres capazes e produtivos. Até porque o retorno dos anistiados não gera
passivo trabalhista. O impacto financeiro será compensado com a diminuição dos
terceirizados. Há geração de emprego e cidadania com justiça social. Com os
salários parcos que recebem, apenas manterão suas famílias com sua subsistência.
E o que é mais relevante é que com o resultado do seu trabalho movimentarão a
economia, o que, por sua vez, gerará renda para o próprio Estado patrão.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Muito obrigado, Dr. Adélio
Justino.
Passo a palavra ao Sr. Duvanier Paiva Ferreira, Secretário de Recursos
Humanos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. S.Sa. dispõe de até
10 minutos.
O SR. DUVANIER PAIVA FERREIRA - Obrigado, Sr. Presidente, Deputado
Luiz Couto.
Trago aqui os cumprimentos do Sr. Ministro do Planejamento ao Dr. Toffoli;
ao Senador Paim; ao Dr. Marcello Lavenère; ao Dr. Adélio Justino Lucas, Procurador
do Trabalho; à Deputada Erika Kokay; e à nossa companheira Rosa, do sindicato.
Agradeço a oportunidade, especialmente ao conjunto dos Deputados
membros da Comissão. Mais uma vez estamos aqui. Não é a primeira vez que a
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Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento vem ao Congresso
Nacional para prestar esclarecimentos em relação à luta dos anistiados.
Tivemos oportunidade de participar também, por iniciativa desta mesma
Comissão presidida pelo Deputado Luiz Couto, do 1º Seminário de Anistiados
Políticos do Brasil.
Nós da Secretaria de Recursos Humanos temos responsabilidade em relação
a esse contingente. Temos um trabalho importante com relação a ele, que é cuidar
da folha de benefícios. A partir daquele seminário, firmamos um compromisso
importante com o conjunto das entidades que representam esses anistiados, o de
manter formalmente uma reunião por mês, de tal forma que eles pudessem
participar de todas as atividades que a Secretária desenvolve para o trabalho de
gestão relacionado com seus interesses.
Conto isso porque é parte do compromisso da Secretaria de Recursos
Humanos com esse contingente aqui. Não é a primeira vez que temos oportunidade
de discutir com o grupo. Estivemos recentemente no Auditório Nereu Ramos com
provavelmente a mesma quantidade de pessoas que há hoje neste recinto, para
discutirmos exatamente a mesma questão, por iniciativa de vários Parlamentares.
Naquela oportunidade tivemos de renovar também o compromisso da Secretaria de
Recursos Humanos de procurar ser instrumento para esse trabalho, encaminhando
todas as questões da nossa competência, para desenvolver nosso compromisso.
Tivemos várias reuniões por nossa iniciativa e sabemos que a questão não é
simples, tem uma complexidade que todos compreendem que não é simples. Mas
também quero reafirmar aqui que vários anistiados já voltaram.
(Tumulto no plenário.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Companheiros...
O SR. DUVANIER PAIVA FERREIRA - Quero dizer que, na oportunidade em
que estivemos no Nereu Ramos, trouxemos o relatório que foi apresentado a vocês
com todos os números. A partir de abril deste ano, com o novo decreto, realmente
reconhecemos as dificuldades que encontramos. E em todas as oportunidades que
tivemos, e não foram poucas — e aqui consigo identificar várias pessoas com quem
conversamos praticamente todas as semanas, e o que sempre caracterizou o nosso
trabalho, o nosso contato, a nossa comunicação, o nosso diálogo foi a franqueza —,
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sempre reafirmamos que nunca dissemos que tínhamos possibilidade de
encaminhar o retorno ao trabalho de maneira simples. Vocês tinham acesso à
informação sobre todas as dificuldades desse processo.
Mais do que isso, a partir da reunião no Nereu Ramos, nós nos
comprometemos a receber, por escrito, a situação de uma por uma de todas as
empresas. Se esse fosse o entendimento da comissão que os representa,
prestaríamos a informação detalhada empresa por empresa. Esse foi o
compromisso, mas não recebemos essa solicitação.
A CEI, com toda a dificuldade que reconhecemos e que foi descrita aqui, já
analisou mais de 4 mil processos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Companheiros e companheiras,
solicitamos que ouçam o expositor. Depois, teremos o momento para confrontá-lo.
Senão, vamos prejudicar a audiência pública. Toda vez que alguém fala prejudica a
exposição. Então, solicito aos companheiros e companheiras, a fim de que
encontremos a saída definitiva para essa questão, que coloquemos a nossa energia
na perspectiva da nossa luta, porque o tumulto pode prejudicar a audiência, e nós é
que seremos prejudicados na realidade.
Ouviremos em seguida o Dr. Toffoli, mas vamos respeitar agora o tempo,
porque vários Parlamentares estão chegando e querem participar também da
audiência. Solicito que a segunda Mesa seja para que os Parlamentares possam ter
acesso e, no momento em que forem perguntar ou fazer suas falas, possam ter
espaço próprio para emiti-las.
Reponho o tempo que foi tirado do orador e peço aos companheiros e
companheiras que escutem com respeito a exposição e, ao final da reunião,
veremos os encaminhamentos que tomaremos.
O SR. DUVANIER PAIVA FERREIRA - Retomo, rapidamente, a minha fala,
porque há várias autoridades também para se pronunciar.
Quero renovar o compromisso da Secretaria de Recursos Humanos do
Ministério do Planejamento. Primeiro, reconhecemos as dificuldades. Nunca
dissemos que não havia dificuldades. Sempre expusemos as dificuldades
detalhadamente para a comissão que representa os anistiados. Sempre estivemos
na Secretaria abertos para participação, discussão, co-participação nos
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encaminhamentos que tínhamos responsabilidade de fazer e procuramos sempre
atender as reivindicações.
As dificuldades estão apresentadas. Há um compromisso de procurar cumprir
rigorosamente a lei, porque nós gestores públicos não temos outra alternativa a não
ser procurar fazer de forma correta, seguindo exatamente o que diz a lei e todos os
processos que dêem conforto jurídico aos atos do Governo.
Sempre houve esforço no sentido de interpretar melhor os atos, a fim de dar
condições de esses anistiados retornarem ao trabalho. Procuramos nos estruturar
na CEI. Criamos um grupo de trabalho paralelo, para identificação inclusive de locais
onde esses anistiados pudessem ser reintegrados. Portanto, fizemos todos os
esforços que estavam na nossa competência. Podem dizer que isso não foi
suficiente. Pode não ter sido, mas reafirmo aqui, de forma franca e aberta, o nosso
compromisso, como dissemos na reunião que fizemos no Nereu Ramos, a convite
do Deputado Magela, aqui presente.
Não esperamos reconhecimento disso, pois não fizemos nada mais do que a
nossa obrigação. Por isso, reafirmamos todos os compromissos assumidos naquela
reunião, como o de ter um espaço aberto, compartilhado, para serem feitos todos os
encaminhamentos, como a CEI e a Comissão de Trabalho vão funcionar, como
serão dados todos os esclarecimentos e informações, a partir de reuniões
permanentes que podemos fazer na Secretaria de Recursos Humanos.
Não vou entrar em detalhes em relação à dificuldade, à questão do conforto
jurídico que vamos procurar, porque foi isso que o Ministro veio trazer para nós,
como já levou ao Ministério do Planejamento. E é essa a orientação que vamos
seguir. Temos certeza de que há condições de organizar o trabalho com eficácia, a
fim de que finalmente a situação de todos os anistiados seja examinada, e eles
possam ser reintegrados ao trabalho, se for o que a lei determinar.
Estou aberto a perguntas, como estive durante todo o tempo. Reafirmo o
compromisso do Ministério do Planejamento e da Secretaria de Recursos Humanos
com a causa dos anistiados do Plano Collor.
Era o que eu tinha a dizer. Agradeço a oportunidade. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Obrigado, Dr. Duvanier Paiva
Ferreira, Secretário de Recursos Humanos.
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Companheiros, estamos aqui em uma audiência pública, e não em uma
assembléia sindical. Cada um tem a sua maneira de se expressar. Vamos respeitar
isso. Ao final, depois dos encaminhamentos, os senhores poderão, com energia,
cobrar dos responsáveis.
Concedo a palavra ao Dr. José Antonio Dias Toffoli, Advogado-Geral da
União, por 10 minutos.
O SR. JOSÉ ANTONIO DIAS TOFFOLI - Quero cumprimentar o Exmo. Sr.
Deputado Luiz Couto, Presidente da Comissão de Direitos Humanos; o Exmo.
Senador Paulo Paim, do Estado do Rio Grande do Sul; o caro Dr. Duvanier,
representando o Ministro de Estado do Planejamento, Paulo Bernardo; o meu amigo
Marcello Lavenère, advogado firme na luta pelos anistiados há muito tempo, tendo
inclusive patrocinado muitas causas na Justiça nas quais conseguiu muitas vitórias,
mostrando como deve ser o trabalho da advocacia, do advogado, que pega uma
causa e fica 10, 15, 20 anos examinando-a. O Dr. Marcello Lavenère já foi
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, para orgulho dos que somos
advogados, e enobrece a advocacia brasileira. Vejo aqui alguns Parlamentares que
também são advogados e reconhecem isso.
Cumprimento também o caro Procurador do Trabalho Adélio Justino Lucas e
minha amiga Rosa, com quem já dialoguei tantas vezes, desde 2003. Cumprimento,
na sua pessoa, todos os anistiados aqui presentes. Sem dúvida nenhuma, a Rosa
esteve à frente da retomada desse movimento, depois de 8 anos parado, por conta
da posição do Governo de Fernando Henrique Cardoso, que não recebia os
senhores anistiados em nenhum Palácio e em nenhum Ministério. Que isso fique
registrado. Em 2003, os anistiados foram recebidos inúmeras vezes, e não foi em
Ministérios, mas no 3º andar do Palácio do Planalto, na sala do chefe de gabinete do
Presidente da República. Todos aqui são testemunhas disso.
Querida Deputada Erika Kokay, Sras. e Srs. Parlamentares aqui presentes,
gostaria de iniciar dizendo que, apesar da velocidade ou das dificuldades — quero
abordar aqui algumas delas; não vou me furtar disso neste evento —, não posso
deixar de repudiar as palavras que comparam o atual Governo a qualquer outro no
tratamento aos anistiados. Repudio absolutamente qualquer tipo de manifestação
nesse sentido. E a Rosa está aqui como testemunha. Vejo aqui companheiros que
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foram recebidos diversas vezes, inclusive acompanhados de Parlamentares, como
os Deputados Carlos Santana, Geraldo Magela, Maurício Rands, o Senador Paulo
Paim e tantos outros que nos acompanham nessa luta.
Em agosto de 2003, o então Ministro da Casa Civil, José Dirceu de Oliveira e
Silva, encaminhou ofício circular a todos os Ministérios, determinando que, de
imediato, reintegrassem todos os anistiados com decisão judicial favorável. Desde o
Governo Fernando Henrique Cardoso havia decisões judiciais que não foram
efetivamente cumpridas. Fizemos esse levantamento. Os anistiados as levaram para
o Ministro-Chefe da Casa Civil, que, em agosto de 2003, fez um ofício circular para
resolver, de imediato, pendência de um bom número de pessoas que já haviam tido
sua anistia reconhecida pelo Poder Judiciário.
Estabeleceu-se ali um canal de diálogo permanente com os anistiados e se
restabeleceu a comissão com outro viés, não com aquele viés da época do Governo
Fernando Henrique Cardoso, que era para cassar as anistias efetuadas.
Gostaria também de registrar aqui, Dr. Adélio, que o que fundamentou o
decreto para revisão das anistias no Governo de Fernando Henrique Cardoso foi, a
princípio — sem entrar no mérito das revisões —, uma ação do Ministério Público da
União, do então Procurador-Geral da República Dr. Aristides Junqueira. Se o
Ministério Público, naquela época, não tivesse tido essa atitude, talvez não
precisássemos estar aqui hoje debatendo esse problema.
Registro, portanto, que foi por ação do Ministério Público que se iniciaram
aquelas revisões. Não preciso entrar no mérito da questão. Todos nós sabemos qual
era a visão político-ideológica do outro Governo em relação a isso. Mas é necessário
registrar que o Ministério Público foi quem provocou as revisões e deu os
balizamentos. E aí estão as dificuldades que encontramos do ponto de vista jurídico.
Quais são? Vou à lei rapidamente.
Se a lei tivesse estabelecido que seriam anistiados todos aqueles que foram
demitidos entre 16 março de 1990 e 30 de setembro de 1992, não precisaria haver
comissão para analisar os casos, pois todos os senhores seriam reintegrados.
Ocorre que a lei fixou critérios. O que ocorreu? No Governo Itamar Franco, criaram-
se comissões setoriais, como previa a lei, e uma comissão central. A partir dali,
várias anistias foram concedidas. O que fez o Ministério Público? Não estou aqui
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falando da pessoa do Dr. Adélio, que mostrou a sua posição. Contudo, a instituição
Ministério Público se manifestou no sentido de que, as anistias concedidas pelas
comissões do Governo Itamar Franco não estavam levando em conta os critérios da
lei. Basta aquele que foi dispensado do serviço, aquele que foi demitido, fazer o
pedido, e o estão considerando anistiado. Assim, o Administrador Público estaria
descumprindo a lei. E, ao fazê-lo, responderia perante o Tribunal de Contas e o
Poder Judiciário.
Houve um inquérito civil público na Procuradoria-Geral da República, com a
recomendação de se fazer a análise do caso. Evidentemente, no Governo Fernando
Henrique, essa análise foi feita por outro viés. No atual Governo, essa análise está
sendo feita de outra forma. Basta registrar aqui que nas comissões anteriores não
havia participação dos anistiados. Na primeira comissão no Governo Lula se deu a
participação de 1 representante e, depois, foi alterado o decreto para a participação
de 2 representantes dos anistiados.
Senhoras e senhores, faço esses registros para que não nos posicionemos na
condição de adversários. Isso não é bom para as senhoras e para os senhores, não
é bom para nós e não é bom para os Parlamentares que defendem a causa das
senhoras e dos senhores. Grande parte desses Parlamentares são, inclusive, da
base do Governo. Grande parte deles participaram da comissão desde à época do
movimento de anistia, seja aqui, na condição de Parlamentar, seja nas atividades
políticas anteriores.
Temos de ter claro que a postura de diálogo e de identificação das
dificuldades é a melhor a ser tomada para que possamos superar as dificuldades e
dar encaminhamento à melhor solução, uma solução que seja legalmente
defensável e justificável.
Na condição de advogado público, na condição de Advogado-Geral da União,
não posso permitir que uma atitude de gestão leve futuramente o gestor público a
responder por algo no Tribunal de Contas, a ser condenado pelo Poder Judiciário ou
a ser processado pelo Ministério Público por ter feito análise de uma lei de maneira a
não levar em conta seus devidos critérios.
Temos o mesmo objetivo. Qual é o objetivo do Governo Lula? Reintegrar
todos aqueles que foram anistiados nos termos da lei. É isso o que o Governo Lula
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está e continuará fazendo. Se isso ocorre numa velocidade que não é a correta, que
não é a melhor, vamos identificar o porquê.
Logo que assumi a Advocacia-Geral da União, em março deste ano, uma das
primeiras audiências que concedi foi exatamente à coordenação que trata da
questão das senhoras e dos senhores. Considero a Rosa, que se encontra aqui, no
momento, uma amiga, pelos mais de 4 anos de convivência quase semanal ou, no
mínimo, mensal. Às vezes, não vejo um irmão por 7 ou 8 meses, mas a Rosa eu
vejo sempre. (Risos.) Tenho quase tantos irmãos quantos os anistiados que existem
no Brasil. Tenho bastantes irmãos espalhados pelo Brasil.
Encontra-se aqui também o Dr. Ronaldo, Consultor-Geral da União. Ele fez
um levantamento das audiências que concedeu, desde que assumiu a Consultoria-
Geral da União, órgão da Advocacia-Geral da União, levado por mim. Desde que
S.Sa. assumiu a Consultoria-Geral, 60% das suas audiências foram concedidas para
o tema dos anistiados. Repito, 60% das audiências foram destinadas a tratar da
questão dos anistiados. A afirmação então de que este Governo não dá prioridade
ao tema ou que não está preocupado com isso é algo que deve ser repelido.
Quais são as dificuldades? Não posso, na condição de Advogado-Geral da
União, emitir parecer dizendo que se pode reintegrar todos, tendo em vista que a lei
estabeleceu critérios. Se o Congresso Nacional aprovar nova lei, e o Presidente da
República sancioná-la, dizendo que todos serão reintegrados, no período tal a tal,
isso seria fácil, o parecer já estaria pronto. Bastaria fazer o requerimento para ser
reintegrado. Mas não é isso o que estabelece a legislação. Estou dizendo isso para
que todos tenham clara a situação. Há requisitos estabelecidos na lei.
Na primeira audiência concedida por mim à Rosa e aos demais que lá
estiveram — e vários deles estão aqui —, foram feitos 3 pedidos: mudança do
representante da Advocacia-Geral da União na comissão, o que foi feito;
disponibilização de uma força-tarefa ou de apoio para ajudar a comissão a analisar
os procedimentos, e isso foi colocado à disposição do Ministério do Planejamento; e
reestudo de todos os pareceres anteriores da Advocacia-Geral da União, para que
se fizesse uma consolidação. Não foi isso, Rosa? Foi feita solicitação de revisão e
consolidação de posicionamentos de pareceres anteriores, que eram restritivos.
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Iniciamos então esse processo de consolidação desses pareceres, que têm
de levar em conta a jurisprudência de todos os processos judiciais havidos,
jurisprudência de todas as questões administrativas e problemas administrativos
levantados. Estamos concluindo esse trabalho. Já fizemos reunião com os
anistiados, semana passada, dia 31 de outubro, ocasião em que o Dr. Ronaldo
apresentou todos os itens e temas que serão abordados no parecer, que já está
quase pronto — tem 60 ou 70 laudas —, exatamente procurando alargar ao máximo
possível, dentro da legalidade, as possibilidades da comissão, para balizar o seu
trabalho na análise dos requerimentos das senhoras e dos senhores.
Uma questão, por exemplo, a ser deixada clara no parecer — já temos um
posicionamento e posso adiantá-lo aqui — é que toda demissão que não tenha sido
motivada, que não tenha ocorrido por justa causa, enquadra-se naquilo que
estabeleceu a lei. (Palmas.)
Aqueles que não foram demitidos por justa causa estão amparados pela lei.
Agora, aquele que foi demitido porque não ia ao trabalho, porque bebia em serviço,
causas de demissão em qualquer lugar do mundo, no serviço público ou em
empresa privada, esse não terá direito.
Estamos procurando a forma de atuar, dentro dos limites da lei, no arcabouço
de jurisprudência existente. Já existe jurisprudência nos tribunais do País no sentido
de que a demissão, mesmo em empresa pública, tem de ser motivada. Ou seja, se
não há motivo, porque foi demitido o cidadão A e não o cidadão B. Então, estamos
ajustando questões como essa, em vários itens. Para quê? Para que futuramente os
trabalhos da comissão não sejam novamente interrompidos por divergências
jurídicas. Estamos resolvendo todas as divergências jurídicas, dando balizamento e
orientação para valer para todos os Ministérios, porque existem comissões em vários
os órgãos, e para a própria comissão central, no Ministério do Planejamento. Para
quê? Para que as anistias sejam concedidas e não sejam depois contestadas; para
que o gestor público, responsável pela análise, não fique intimidado ou com medo
de acatar um requerimento na dúvida jurídica de futuramente responder por ação na
Justiça ou no Tribunal de Contas. Nesse sentido, na próxima semana, faremos nova
reunião com os anistiados e com os Parlamentares.
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Quero registrar, publicamente, para todas as senhoras e todos os senhores
que tenho sido procurado semanalmente por vários Deputados, alguns deles aqui
presentes, como os Deputados Geraldo Magela, Carlos Santana, Maurício Rands,
Fernando Ferro e outros.
Para concluir quero novamente dizer que o compromisso do Governo Lula é o
de cumprir a lei. A posição do Ministério do Planejamento, já externada aqui, é
também cumprir a lei, só que os gestores precisam ter segurança jurídica. Então o
compromisso da AGU é dar essa segurança jurídica, dentro dos requisitos da lei.
Agora não posso dizer que todos têm o direito de receber o carimbo de anistiados,
porque não foi isso o que a lei definiu. Tem que ser feita uma análise.
Do ponto de vista gerencial, também quero expor que, em reunião ontem, no
Ministério do Planejamento, com a presença de vários Parlamentares que estão aqui
presentes, o Ministro Paulo Bernardo assumiu o compromisso também de dar toda a
estrutura possível de apoio ao trabalho. A AGU também se comprometeu com o
apoio jurídico, com consultores, para acelerar a análise dos processos com a
definição das balizas que sairão desse parecer da Advocacia-Geral da União.
Então, não estamos aqui em lados opostos. Acho que todos temos o mesmo
objetivo. Existe uma lei em vigor. As senhoras e os senhores têm todo o direito de
reivindicar o que estão reivindicando. As senhoras e os senhores têm pedidos
protocolados junto ao Estado brasileiro, que tem o dever de responder “sim” ou “não”
aos seus pedidos. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Como há muitos inscritos, vou
conceder 3 minutos a cada orador.
Com a palavra a Deputada Distrital Erika Kokay, Presidenta da Comissão de
Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar da Câmara
Legislativa do Distrito Federal.
A SRA. ERIKA KOKAY - Boa-tarde a todos. Minhas homenagens a
guerreiros e guerreiras que lutam há 17 anos para que se faça justiça e para que o
País pague uma dívida que tem não apenas com os servidores públicos, mas
também com a própria concepção de nação e dos serviços públicos no Brasil. Minha
saudação em especial a todos os que compõem a Mesa.
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Estamos aqui na perspectiva de que tenhamos uma solução para esse caso.
Temos clareza muito grande da diferença imensa entre a concepção de Estado do
Governo Fernando Henrique Cardoso e a do Governo Luiz Inácio Lula da Silva. São
Estados diferentes. Vocês foram vítimas de uma concepção de Estado mínimo, em
que o mercado abocanhou uma função do Estado e capturou, inclusive, a própria
subjetividade, colocando o consumo acima de qualquer coisa no País. Vocês foram
vítimas, portanto, de uma concepção de Estado mínimo, que não deveria ser
fortalecido, na perspectiva de eliminar as desigualdades sociais. Não foram só vocês
as vítimas; o País inteiro foi vítima dessa concepção.
Se houve uma mudança de concepção de Estado, e o Governo Lula significa
um Estado diferente, um Estado que pode eliminar definitivamente a história de
reedições de casas grandes e senzalas no País, não tem sentido que vocês ainda
não estejam trabalhando nos seus órgãos de origem. (Palmas.)
Exatamente pelo fato de a concepção de Estado ser diferente, o País precisa,
para seu desenvolvimento estratégico, do retorno de vocês ao trabalho. Não faz
sentido convivermos ainda com vários segmentos do Estado terceirizados e vocês
não anistiados. Também não faz sentido que se estabeleçam concursos públicos
para suprir vagas que foram tiradas de vocês injustamente. (Palmas.)
Falo isso porque o ritmo de vocês não é o ritmo da máquina, que engole e
que não consegue capturar as esperanças e os sentimentos. O ritmo de vocês é
diferenciado. O ritmo do Estado tem que buscar acompanhar essa mesma batida,
esse mesmo compasso, porque são 17 anos excluídos da cidadania plena, por uma
concepção de Estado que saqueou as esperanças do Brasil.
Portanto estamos aqui para dizer que é preciso que esse processo se acelere
e que possamos sair daqui com prazos mais concretos. (Palmas.)
Não duvido da vontade e da decisão do Governo Lula que nos foi passada há
mais de 1 ano, no sentido de que seriam todos anistiados, desde que dentro dos
critérios da lei. Não duvido disso. O que queremos apenas é que isso se concretize
e que as pessoas possam organizar sua própria vida.
Na condição de dirigente sindical dos bancários vi coisas que marcaram
minha história e minha compreensão de vida. Em 1990, vi o Banco Nacional de
Crédito Cooperativo, fundamental para o desenvolvimento do País, ser fechado por
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decreto, assim como muitos órgãos foram fechados por decreto. Muitos servidores
foram trabalhar e descobriram que o Estado já não os queria, porque estava vergado
à concepção de um Governo que não intentava fortalecer o Estado para resolver as
desigualdades sociais.
Esse ritmo dos anistiados, pautado por uma injustiça que o País tem que
cicatrizar e corrigir, tem que dar o ritmo do trâmite dessa questão no âmbito do
Estado.
Já vi muita coisa nessa luta dos anistiados. Já vi muitas decisões e participei
de muitas reuniões. Já vi os funcionários da CONAB serem alvo de portaria com
cronograma de retorno. Nenhum deles retornou. (Palmas.)
Aqui foi dito pelo meu companheiro Duvanier Paiva Ferreira que 4 mil
processos já foram analisados. E digo que nenhum deles retornou. (Palmas.)
É preciso, portanto, sem questionar a vontade, sem fechar os olhos para a
diferença de concepção de Estado que há no Governo Lula, acelerarmos o ritmo do
processo.
Encerro, calo-me e dou voz a Betinho, que dizia que quem tem fome tem
pressa. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Passarei a palavra agora aos
Deputados inscritos.
Concedo a palavra ao Deputado Carlos Santana, do PT do Rio de Janeiro.
O SR. DEPUTADO CARLOS SANTANA - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Parlamentares, aqui fala um Deputado que não é advogado, mas um metalúrgico
caldeireiro que está no 5º mandato de Deputado Federal e que, desde a primeira vez
que entrou nesta Casa, teve como questão central o problema dos anistiados. E a
luta começou com o nosso sindicato, na Rua de Santana, 77. Lá houve a primeira
reunião de anistiados neste País. E muitos nem acreditavam que estaríamos aqui
hoje, porque, ao sairmos em uma caravana no Rio de Janeiro, 2 companheiros
nossos morreram, quando um ônibus virou. Mas continuamos a nossa caminhada.
Estou dizendo isso porque, na primeira versão do primeiro ato do Governo
Itamar Franco, eu estava sentado à mesa, e só houve um Ministro, naquela época
— e ele não está preso —, que teve coragem e reintegrou todo mundo na área da
saúde, o Ministro Jamil Haddad, que depois foi eleito Deputado Estadual. O ex-
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Ministro Jamil Haddad reintegrou todos os companheiros, sem levar em
consideração se aquela lei era falha ou não, e não foi para a cadeia. (Palmas.)
Nenhum outro Ministro teve a coragem de fazer o que ele fez. Waldir Pires também
assumiu isso. E por que foi assim? Porque dentro do Governo havia concepções
diferentes. Esses Ministros, Waldir Pires e Jamil Haddad, tinham posição diferente
em relação ao modelo de Estado que queriam. Da mesma forma sabemos que
dentro do nosso Governo, no terceiro e no quarto escalões, existem muitos
escondidos com a concepção antiga.
Apesar de a nossa companheira Deputada Distrital ter saído, quero comentar
que não podemos nos equivocar na discussão política, porque estou cansado de ver
aqueles que nem vinham às reuniões no passado hoje subirem nos palanques para
dar uma de bonzinho. (Palmas.) Parece que isso não tem nada a ver, mas a razão
está em as pessoas votarem no homem, e não na concepção. Aquele que vota no
homem está errado. Quando nos referimos à Palavra do Senhor, falamos a partir da
Bíblia, porque o homem é falho. Repito, qualquer homem é falho. Ele está sujeito às
mazelas da sociedade como um todo.
Sempre retorno à minha origem. Como sempre digo, não moro na Zona Sul
do Rio de Janeiro, continuo morando em Bangu e, para chegar lá, tenho que passar,
no mínimo, por 50 favelas, de maneira que o meu fim de semana é nas favelas. Por
quê? Para eu não deixar estes tapetes, quando passo por aqui, afundarem o meu pé
e levantarem o meu queixo. É preciso voltar à nossa realidade. (Palmas.) Sabe o
que acontece? É triste saber que existe um monte de companheiros que perderam
suas famílias, que entraram nas drogas. A família é a base de tudo. Quando se
perde a família, perde-se tudo. (Palmas.)
Confio e tenho amizade pelo José Toffoli, pelo Duvanier Ferreira, que
conheço do movimento sindical, há muito temo, mas gostaria que os companheiros
agilizassem esses processos. Se vocês tiverem que pegar cadeia, nós pegamos
também. Pau que dá em Chico dá em Francisco. Não temos que ser amigos só nas
coisas boas não. (Palmas.) Se der para vocês, assinamos juntos qualquer
documento.
Quando eu fazia negociação na Rede Ferroviária Federal, eu dizia para os
caras: “Meu amigo, não entendo nada de economia. Só quero saber quanto vai dar
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no bolso do peão”. É isso que preciso saber para dizer na assembléia, para 5 mil, 6
mil peões. E o modelo de Estado do Governo anterior acabou com a nossa
categoria. Mandaram todo o mundo embora. Fizeram o diabo. Mas continuamos
resistindo. Isto é uma luta. A luta de classe está presente.
Concluindo, Sr. Presidente, serei sincero com os companheiros: gostaria que
saíssemos daqui com alguma data. (Palmas.) Para nós, é importante dar uma
sinalização a esses companheiros. Serei sincero com os companheiros advogados:
se observarem as pessoas que estão presentes, poderão ver que a maioria dos
Parlamentares sentados faz parte do Partido dos Trabalhadores. Agradecemos aos
outros Deputados que estão presentes, mas isso demonstra o nosso interesse.
Somos da base do Governo e orgulhamo-nos de fazer parte dele, um Governo de
peão, de operário e que tem sensibilidade em relação ao nordestino. Esperamos, em
2010, dar continuidade a um Governo que tenha a mesma sensibilidade.
É preciso entender que existem conflitos internos dentro do Governo. Um
puxa para um lado, outro puxa para o outro. Todos conhecem a minha concepção.
Obrigado por tudo e por receberem esses companheiros, porque passei 8
anos aqui, durante o Governo FHC, sem conseguir uma audiência sequer. Repito,
sem conseguir uma audiência sequer para levar um companheiro lá. Hoje não
precisa de Deputado, porque os senhores os recebem. No entanto, precisamos de
uma data para o retorno desse companheiros. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Obrigado, Deputado Carlos
Santana.
Com a palavra o Deputado Dr. Talmir. (Pausa.) Ausente.
Com a palavra a Deputada Janete Rocha Pietá, do PT de São Paulo.
A SRA. DEPUTADA JANETE ROCHA PIETÁ - Sr. Presidente, Deputado
Luiz Couto, em nome de quem cumprimento todos os que fazem parte da Mesa,
gostaria, em primeiro lugar, de dizer que, nesta audiência da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados, com a presença também do Presidente da
Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, a nossa constatação inicial é a
seguinte: 17 anos é muito tempo para um trabalhador esperar por uma reintegração
e para sobreviver. A primeira constatação que gostaria que ficasse bem clara, Dr.
José Toffoli, diz respeito, então, à importância de acelerar esse processo.
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Gostaria de apresentar algumas questões, na condição de membro da
Comissão.
A primeira questão que gostaria de fazer é: quais são os principais aspectos
que têm que ser analisados e quais são as divergências jurídicas para que
possamos agilizar o processo de anistia desses trabalhadores? (Palmas.)
O senhor deixou bem claro que o Estado tem hoje outra postura e quer
participar desse processo de anistiamento. Mas isso tem que ser visto caso a caso,
pelo menos aqueles casos que se enquadrem na lei.
A segunda questão que levantaria — e já foi citada nesta Casa —, diz
respeito a uma força-tarefa. Creio que temos que formalizá-la para agilizar o
processo. É uma via-crúcis, um calvário, essas pessoas irem de um lugar ao outro,
sem data, sem perspectiva de agilizarem seus processos. O que se quer aí é
dignidade. O homem ou a mulher que não trabalham não têm dignidade. Como eles
têm esse direito, temos que tornar isso mais eficiente. Temos que sair desta
audiência da Comissão de Direitos Humanos com um calendário pronto, a fim de
agilizar essas pendências e, talvez, quem sabe, em menos de 1 ano resolver a
situação.
Não sou criança, no sentido de dizer que isso se resolverá amanhã. Gostaria
que isso tivesse sido solucionado ontem ou há 15 anos, mas não o foi. Portanto,
com o pensamento de pessoas e de Deputados que querem que a lei seja cumprida,
é preciso formar uma força-tarefa para resolver a questão das pendências.
É necessário também dialogar com o Ministro do Planejamento, que tem boa
vontade, sobre as formas de agilizar esses processos. Meu primeiro trabalho foi
numa Prefeitura. Lá entendi como as coisas eram demoradas. Para nada havia
pressa. Entretanto, o trabalhador tem pressa, porque está em jogo a sua vida, a sua
família, o seu direito. Hoje vivemos em um Estado de Direito, um Estado que
defende a democracia, e democracia significa plenitude de direito dos trabalhadores.
Para concluir, gostaria de dizer que esta Comissão, eu, embora seja uma
Deputada de primeiro mandato, e aqueles que batalham nesta causa estamos à
disposição de todos para buscar mecanismos que agilizem a concretização dos
direitos dos trabalhadores, porque anistia é democracia. Nós buscamos, como diz a
Carta Aberta ao Congresso Nacional, a democracia plena e participativa.
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Muito obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Obrigado.
Solicito aos próximos oradores que se atenham ao tempo, pois há bastantes
inscritos, além de membros da Mesa e de outros que também usarão a palavra.
Concedo a palavra ao Deputado Chico Alencar, do PSOL do Rio de Janeiro.
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Boa-tarde a todos. Esta é uma
audiência de várias compreensões comuns. Primeiro, ela é quente e emocionada
porque há clamor em relação a uma injustiça que fere onde a pessoa mais se
plenifica: o direito ao trabalho. E isso não é mole, é algo que emociona mesmo.
Esse ambiente que o Deputado Luiz Couto comparou ao de uma assembléia
é mais do que natural, porque quem está há 17 anos sofrendo uma injustiça é que
sabe como isso mexe, angustia, exaspera e até enlouquece, quando não leva
inclusive a suicídio, ao fim da vida. Então, todo o mundo sabe que é uma situação
angustiante. Essa compreensão é comum.
Segundo, a reintegração realiza a anistia. A anistia no decreto, no papel, sem
a reintegração, é anistia irrealizada, é semi-anistia. (Palmas.)
Terceiro, todo o mundo já disse aqui e repetiu, inclusive o Dr. Adélio, que a
reintegração é boa para o serviço público. É claro, cada um considera que o maior
problema do mundo é o seu próprio, somos seres egocentrados. Porém está mais
do que claro que a reintegração não gera passivo trabalhista, libera os terceirizados
que apequenam o serviço público. Portanto é boa para a população. Todo o mundo
disse isso aqui.
Quarto, ouvi aqui um compromisso renovado e reiterado de quem fala pelo
Governo, pelo Executivo, seja o Dr. Duvanier, do Ministério do Planejamento, seja o
Dr. Toffoli, da AGU, no sentido de que se quer e se vai reintegrar de acordo com a
lei. Aí chegamos à seguinte questão: o que está pegando, então, se há tanta
concordância aqui?
Há o sério problema da máquina pública e do Estado brasileiro, que vem lá do
Império, a defasagem, o buraco, o vazio entre a intenção proclamada e o gesto
praticado. Isso aproxima governos.
Como lembrou o Deputado Carlos Santana, meu amigo e companheiro do Rio
de Janeiro — só ficamos separado em geral nas arquibancadas; ele vai para a turma
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Direitos Humanos e MinoriasNúmero: 2000/07 Data: 07/11/2007
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do Vasco, dos colonizadores; eu sou da negrada, do Flamengo, que ele representa
bem —, no tempo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, quando ele era
Deputado, eu não, não havia nem diálogo. Tudo bem. Aplauda-se o diálogo. Agora,
queremos um Governo que receba e resolva. Aí está o diferencial. (Palmas.)
Sei, claro, que o Advogado-Geral da União tem de falar do primado da lei,
mas ele sabe também que há o direito insurgente, e a melhor lei é aquela que vai se
formando — não é, Dr. Lavenère? — e que se aproxima da justiça. Então, é preciso
combinar legalidade com a ousadia e a pressa daqueles que querem a fruição do
seu direito.
Em relação a isso, solicitaria ao Dr. Duvanier — que falou do compromisso
renovado de que vai reintegrar, mas que há dificuldades; ele reconhece as
dificuldades — que elencasse objetivamente quais são ainda as dificuldades, o que
está pegando. Será que são razões não mencionadas aqui, mas que, em geral,
aparecem no subtexto da equipe econômica, que acha ser uma despesa que o
Estado do ajuste fiscal não comporta? Tem por aí alguma razão que se leve a
questionar o próprio modelo econômico, que não pode gastar com pessoal?
Aliás, a grande imprensa às vezes critica o Governo por estar fazendo muito
concurso público, por estar ampliando o Estado. Queremos um Estado presente e
forte. Tem de fazer concurso e contratar, sim, pelas vias legais. Mas há razões aí?
Será que tem gente segurando no Ministério do Planejamento, no Ministério da
Fazenda, autoridades monetárias? (Palmas.)
A segunda pergunta dirijo ao Dr. Toffoli, que tem uma virtude muito boa, e
rara em quem está exercendo cargo público: a franqueza. Eu, que não tenho a
menor simpatia política pelo PFL, pelo DEM, achei interessante o Governador do
Distrito Federal — que foi nosso colega Deputado, muito inteligente — dizer que
está proibido o gerúndio. Ouvi aqui um certo “gerundismo” da sua parte: “Não,
estamos concluindo o parecer”; “Vamos estar procedendo às últimas avaliações...”
Há possibilidade de se estabelecer, de se fixar um prazo? Não é preciso que seja 22
de dezembro deste ano, mas um prazo de meses: em 3 meses, ou em 2 meses, ou
em 1 mês vamos resolver. (Manifestação do plenário.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Conclua, Deputado.
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O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Fiz uma pergunta bem concreta, em
termos de prazo. É claro que o auditório aqui já indicou que se puder ser no dia 6 de
novembro, ontem, seria melhor. A lei, aliás, pode retroagir para beneficiar. É ou não
é? (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Concedo a palavra ao
Deputado Maurício Rands, do PT de Pernambuco.
O SR. DEPUTADO MAURÍCIO RANDS - Sr. Presidente Deputado Luiz
Couto, na pessoa de quem saúdo todos os integrantes da Mesa, nobres pares, acho
que o essencial aqui é a concepção que temos de que todos estamos aqui —
Parlamentares, representantes dos anistiados pela Lei nº 8.878/94, representantes
do Poder Executivo —, imbuídos do propósito de acelerar a solução do problema.
Estaria incorrendo em ilusão aquele que dissesse que basta um ato, uma
assinatura para cumprir nosso objetivo de anistiar todos aqueles que foram vítimas
da perseguição do Governo Collor entre 1990 e 1992, que bastaria um estalar de
dedos para resgatar uma injustiça que foi feita, como disse a Deputada Erica Kokay,
por forças políticas conservadoras no Brasil que continuam atuando em nosso País,
no Parlamento e em todas as esferas, que têm uma concepção do Estado mínimo e
que cometeram a grande injustiça de tentar passar a idéia de que a culpa por todos
os problemas da má prestação do serviço público no Brasil é dos servidores.
Aqueles que quiseram fazer os servidores de bode expiatório já tiveram uma
primeira resposta na lei, mas depois governaram o Brasil e fizeram aquilo que todos
nós sabemos: postergaram, entraram com ações judiciais, muitas vezes usando o
princípio da autotutela da administração, recebendo acolhida em órgãos superiores
do Poder Judiciário que, na verdade, expressavam concepção diferente da que está
expressa aqui pelo atual Poder Executivo, pelo Governo Lula e pelos Parlamentares
que estão nesta luta com as senhoras e os senhores, com as companheiras e os
companheiros. Então, não vamos semear a ilusão de que é simples, basta um ato
de caneta. Se fosse simples assim, já temos a clareza da determinação deste
Governo, a começar pela posição do Presidente Lula, que é pela anistia de todos os
que foram vítimas da perseguição do Governo Collor; se assim fosse, o ato já estaria
praticado.
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E aqui quero falar como advogado que fui da CUT, advogado de alguns
sindicatos de Pernambuco, inclusive alguns presentes — Sindicato dos Servidores,
dos Correios, dos Urbanitários, das Telecomunicações, todos sindicatos aos quais
tive a honra de prestar serviços de advogado.
Aqui falo também como advogado e procurador. Já fui procurador
concursado, já fui Procurador-Geral do Recife, e sei que um procurador tem de ter
responsabilidade, até em defesa de quem está sendo beneficiado pelo ato
administrativo, porque, se for desfundamentado, esse ato será questionado na
Justiça pelo Ministério Público, e o próprio beneficiário do ato pode depois perder
aquele benefício. Então, é preciso compreendermos que, no nosso próprio interesse,
é essencial que os atos sejam fundamentados. É essencial também que esses atos
sejam tomados no mais curto espaço de tempo. Daí por que penso, Deputado Luiz
Couto, que esta audiência pública e as sucessivas audiências que temos tido com
os órgãos do Governo Federal contribuem para acelerar esse processo.
Penso que essa idéia do parecer consolidado vai superar problemas
existentes. Meu companheiro Carlos Santana foi muito feliz ao dizer que a disputa
de concepção de Estado, entre aqueles que querem fazer do servidor bode
expiatório, entre aqueles que querem o Estado mínimo, e nós que queremos
resgatar o papel do Estado e do servidor público, passa-se aqui dentro do
Congresso Nacional, passa-se dentro do Poder Executivo, passa-se dentro de
qualquer Procuradoria do Estado brasileiro, e passa-se dentro do Ministério Público
e do Poder Judiciário. Ou não?
Se temos clareza disso, e temos um inventário de pareceres que foram
realistas mais do que o rei, aquele rei que está contra o servidor, aquele rei que não
quer a anistia — temos pareceres das Procuradorias, temos entendimentos dos
Ministérios Públicos, temos entendimentos do Judiciário que querem colocar
restrições onde não existem —, daí por que eu acho que é altamente auspicioso
esse pronunciamento do nosso Ministro Advogado-Geral da União, quando diz que,
no parecer consolidado, vai-se fazer o estudo aprofundado de certas situações que
vão reverter pareceres setoriais anteriores. Esse exemplo do ato de despedida (falha
na gravação) vários, dezenas de trabalhadores a empresas públicas estatais que
tinham sido demitidos sem justo motivo, sem o direito de defesa. Penso que só essa
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Direitos Humanos e MinoriasNúmero: 2000/07 Data: 07/11/2007
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categoria que vai estar nesse roteiro que vai ser o parecer da Advocacia-Geral da
União já vai permitir a reversão de muitos casos que estavam sem condição de
avançar para receber o direito advindo da Lei nº 8.878/94. Então, temos uma série
de situações.
Eu também quero dar um depoimento aqui, Presidente Luiz Couto. Como
Procurador-Geral, muitas vezes, quando eu queria resolver um problema e recebia
parecer da minha Procuradoria, restritivo, eu, como sou advogado também, sabendo
que havia uma outra interpretação mais abrangente, muitas vezes conseguia que
viesse um parecer mais abrangente. Então, é essa a sugestão, a solicitação, o apelo
que quero fazer à área jurídica do nosso Governo, ao Consultor Geral, ao
Advogado-Geral da União: muitas vezes temos uma zona cinzenta de interpretação,
e podemos ousar, a partir de 2 pressupostos; o primeiro pressuposto é o de que a
Lei da Anistia reconheceu que havia uma discriminação, havia uma perseguição
genérica ao conjunto dos servidores que foram naquele momento considerados o
bode expiatório do Estado brasileiro. Então, havia uma situação de injustiça geral,
uma concepção de Estado, uma concepção de reforma administrativa que vitimava
os servidores e os empregados das estatais. Ou não havia?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Conclua, Deputado.
O SR. DEPUTADO MAURÍCIO RANDS - Então, se isso é verdade, temos de
resgatar o contexto daquele período nefasto da história do Brasil, de 1990 a 1992, e
esse cânone vai nortear, na minha interpretação, as opções que vão ser feitas
naquelas áreas cinzentas, onde há 2 interpretações jurídicas plausíveis.
E o segundo ponto é o de que essa é uma vontade do povo brasileiro,
manifestada pelos 2 Poderes que são eleitos: o Poder Executivo, o Presidente Lula,
que já ratificou sua vontade de vê-los anistiados, de ver reparada a injustiça
cometida contra tantos trabalhadores e servidores perseguidos pelos liberais, pelos
conservadores; e, em segundo lugar, o Poder Legislativo. Essa vontade é expressa
de forma muito forte aqui no Congresso Nacional, composto pelos representantes do
povo, que foram legitimamente eleitos.
Eu concluo, Sr. Presidente, dizendo que acho que é muito feliz a reflexão que
ouvi aqui em algumas falas: não existem aqui lados opostos. Nós todos estamos
aqui juntando forças para resolver o problema do modo mais rápido possível. Agora,
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há objeções, sim, em escalões inferiores. Há objeções, sim. Estão só à espreita
setores do Ministério Público que não pensam como o Dr. Adélio Justino Lucas, que
quero louvar pela sua posição ousada juridicamente e pela compreensão política
que revelou em sua fala, mas sabe o Dr. Adélio que dentro do Ministério Público
Federal existem procuradores que estão sintonizados com aquela concepção do
Estado mínimo, o time que quer penalizar os servidores, o time que não quer o
resgate da anistia.
Então, precisamos saber que temos adversários que estão à espreita, e por
isso a conclusão desse processo, na minha visão, tem de ter estes 2 critérios: tem
de ser a mais rápida possível e a mais fundamentada possível, para resgatar o
direito dos servidores. (Palmas. Manifestação do plenário.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - O Senador Paulo Paim quer
fazer uma saudação, pois terá de se retirar, uma vez que há Ordem do Dia no
Senado Federal. Concedo a palavra a S.Exa.
O SR. SENADOR PAULO PAIM - Serei bem rápido, pessoal. Primeiro, quero
cumprimentar o Deputado Luiz Couto por esta audiência pública. Efetivamente,
minha intenção era ficar até o final, mas começou já a Ordem do Dia no Senado, e
tenho de voltar para lá.
Eu só quero, rapidamente, dizer-lhes que essa luta dos senhores já chega a
praticamente 2 décadas. São 2 décadas querendo voltar a trabalhar; só por isso, já
merecem uma grande salva de palmas todos os senhores (palmas). Não são palmas
para nós que estamos aqui, não são para nós, não.
Em segundo lugar, quero dizer-lhes que lembro, Paulo Rocha, meu querido
amigo Deputado, que V.Exa. era Presidente da Comissão quando lá começou esse
debate. Eu era, lá, seu discípulo. Mas lembro-me com tristeza também de um grande
companheiro nosso que, neste momento, poderia simbolizar todos aqueles que já
tombaram, morreram nessa luta, que foi o nosso inesquecível Deputado Amaury
Müller, que muito colaborou para a elaboração da lei e para aquela eterna
negociação com o Governo Itamar Franco, para que ela se tornasse realidade.
Eu só quero, nesta rápida saudação, dizer que fizemos audiência no Senado,
os Deputados estiveram lá, e de lá para cá eu sei que os senhores dirão que muito,
muito, muito pouco se avançou, ou praticamente nada. Mas digo isso não pelas
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palmas, não. Quero ser muito rápido. Quero dizer-lhes que me agradou ouvir a
palavra de Toffoli, que foi meu líder aqui, na Liderança do PT. Muitas foram as
orientações dele que eu segui aqui, quando me assessorava na nossa bancada.
Quero dizer que Toffoli me agradou quando disse o seguinte: todos aqueles que não
foram demitidos por justa causa, ou seja, que não roubaram, que não mataram, que
não foram trabalhar bêbados, poderão voltar rapidamente ao trabalho. Isso é muito
bom! Essa foi a primeira resposta, a mais concreta que ouvi até hoje, neste debate.
Com certeza aqui não há ninguém — Ninguém! Ninguém! —, não há nenhum aqui
que efetivamente cometeu qualquer tipo de delito que mereceria uma demissão por
justa causa. Com certeza!
Por isso é que saio daqui hoje com um pouco mais de esperança, porque o
meu temor era termos de voltar amanhã para uma outra audiência pública, na
Câmara ou no Senado. E eu sei o esforço que os senhores fazem. Calculo,
ponho-me no lugar dos senhores, porque já fui um desempregado, calculo o esforço
que estão fazendo para se deslocarem dos Estados, virem para cá, acamparem em
frente aos Ministérios e estarem aqui neste momento. Entendo que é impossível
continuar esta situação. Por isso, aqui foi dito, e eu repito: é claro que é uma sessão
de muita emoção, muito sentimento, muita vontade de terminar com as audiências
públicas e voltar definitivamente ao trabalho. É só isso que os senhores querem.
Como eu dizia outro dia, ninguém quer emprego: quer voltar a trabalhar.
Só queria dizer a todos os senhores que contem não só comigo como com
inúmeros Senadores, de inúmeros partidos, que têm o compromisso de fazer aquilo
que for possível para que efetivamente essa verdadeira cruzada dos senhores, de 2
décadas, eu diria, arredondando, termine. Tem de terminar. É muito castigo para
quem foi punido sem motivo com a demissão, e a única coisa que quer é voltar ao
trabalho.
Tenho de ir. Espero não ter de voltar para novas reuniões. É o que todos nós
gostaríamos: que rapidamente possamos fazer — quem sabe? — não mais uma
audiência pública, mas uma assembléia mesmo, que chamaríamos de assembléia
da vitória, e todos voltarem ao trabalho. (Palmas.)
Um abraço a todos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Obrigado, Senador Paulo Paim.
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Concedo a palavra à Deputada Iriny Lopes, do PT do Espírito Santo. (Pausa.)
A SRA. DEPUTADA IRINY LOPES - Boa tarde a todos e a todas. Na pessoa
do nosso Presidente Luiz Couto cumprimento toda a Mesa. Acho que agora todos
teremos de ser breves, porque nossa Ordem do Dia também vai começar daqui a
pouco.
Eu queria dizer a todos o seguinte: nos últimos dias, um conjunto de
Parlamentares, de Deputadas e Deputados, tem intensificado junto ao Governo a
discussão, na busca de uma solução definitiva para um problema que não pode ser
mais postergado; as soluções precisam vir com muita segurança, e também de
forma definitiva. E sentimos mais segurança e mais tranqüilidade quando o Dr.
Toffoli aqui fez algumas afirmativas, que eu acho que são uma síntese, sem
qualquer prejuízo às falas de todos os demais — mas, de qualquer maneira, é do
Executivo que se espera a solução para o problema que está posto; portanto, a fala
do Dr. Toffoli abre-nos, como resultado desta audiência pública, uma nova
perspectiva, e eu acho que é isso que dará condições ao Ministério do Planejamento
para a efetivação do retorno de todas as pessoas que a lei permitir.
Então, aqui, trata-se, portanto — e acho que Maurício tem razão —, de
trabalhar sobre 2 questões: os conteúdos que darão sustentação às ações de
reintegração, que farão parte do parecer, e a celeridade, o tempo a ser gasto para
que o Ministério possa analisar caso por caso; não caso por caso individualmente,
não é disso que estou falando, mas sim os diversos casos, porque há diferenças;
uns são assim, outros não, por esse ou aquele motivo, ou pelo período; então, não
estou falando de indivíduos, mas das categorias diferenciadas que há nesse
processo. Que o Ministério do Planejamento, com base na segurança de um parecer
jurídico, não proteja só o gestor, e também não dê condições de que outros setores,
como o próprio Ministério Público, setores do MP, e mesmo alguns setores da
tecnocracia do Executivo, mantenham essa visão de Estado diferenciada, que
sustentou durante tanto tempo a tese dos governos anteriores.
Então, acho que este é o momento, agora, de nós todos, nós aqui da Câmara
que somos comprometidos com essa questão do retorno dessas pessoas ao
trabalho, pela injustiça que foi cometida, pelo processo autoritário de afastamento
dos trabalhadores dos seus postos de trabalho, termos esse compromisso
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ideológico com um Estado que sirva à população, e para servir à população ele não
pode ser mínimo, nem tratar dessa forma os servidores públicos. Para nós, isso é
tranqüilo, como para o Governo, que aqui está — porque se esse Governo não
tivesse responsabilidade com questões dessa natureza não teria vindo dialogar
publicamente; não ficou lá, na sala em que recebe as Comissões; está aqui, na
Casa que representa o povo brasileiro. Está aqui, conversando publicamente, com a
presença do Ministério Público, que vai, com certeza, acompanhar passo a passo
tudo que for pactuado nesta audiência pública.
Então, eu acho que é disso que se trata agora, e na fala final dos membros da
Mesa poderemos ouvir as respostas às questões aqui levantadas sobre as
possibilidades de celeridade que vão orientar a ação de todos nós.
Bem, é isso. Parabéns a todos pela resistência. Cumprimentando Rosa,
cumprimentamos cada uma das senhoras, cada um dos senhores e a nossa
Comissão de Direitos Humanos, por estar, aqui, dando-nos esta possibilidade de
estarmos, olho no olho, conversando sobre a solução desse problema. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Muito obrigado, Deputada Iriny
Lopes.
Registramos que a Ordem do Dia na Câmara já foi iniciada, e pedimos à
assessoria que fique atenta, porque, se houver votação nominal, seremos chamados
a votar. Se alguém ainda não registrou sua presença, é bom que registre, para que
não haja nenhum problema. Peço à assessoria que fique atenta ao momento, se
houver alguma votação nominal, para que possamos fazer um rodízio; alguns ficam,
outros votam, para que possamos dar continuidade a este debate.
Com a palavra o Deputado Magela, do PT do Distrito Federal.
O SR. DEPUTADO MAGELA - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero
saudar o Presidente desta Comissão, Deputado Luiz Couto, e os demais integrantes
da Mesa, especialmente o Ministro Toffoli e, aqui representando o Ministério do
Planejamento, o Secretário Duvanier.
Esta é a terceira audiência pública que o Congresso Nacional realiza em
pouco mais de 30 dias; houve a primeira no Senado Federal, na Comissão de
Direitos Humanos do Senado; uma segunda, que nós promovemos para um debate
com o Secretário de Recursos Humanos, o Dr. Duvanier, e esta.
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É verdade que parece que muito pouco avançou, mas precisamos entender o
que está acontecendo, porque talvez, nestes 30 ou 40 dias, tenha sido construída a
perspectiva de se andar mais do que antes. E não podemos esquecer nem deixar de
saudar todos aqueles que, em momentos distintos, desde as demissões vieram
lutando pela anistia.
Mas quero relatar algumas questões que estão a me preocupar. É que,
invariavelmente, quando realizamos audiências públicas, as expectativas são muito
positivas, os anistiados saem com uma dose de esperança maior do que quando
entram, e no dia seguinte começamos a ver que as dificuldades são enormes.
Convenci-me, de uns dias para cá, de que o Presidente da República quer fazer a
anistia, de que o Ministro do Planejamento quer fazer a anistia, de que o
Advogado-Geral da União quer fazer a anistia, mas que há burocratas do terceiro ou
quarto escalão que impedem que a vontade do Presidente da República seja
executada, infelizmente. (Palmas. Manifestação do plenário.)
E por que isso? Eu já recebi notícias as mais diversas, em momentos
distintos, indicando: agora vai. Agora vai! E o pior é que acabo passando por uma
situação constrangedora, porque passo essa informação adiante, e depois o
mentiroso fica sendo eu, porque nem todo o mundo, a não ser nestas audiências,
tem como falar com as pessoas.
E eu quero fazer aqui alguns registros também, para que não se cometam
injustiças, porque eu compreendo a angústia de quem está na pele dos anistiados.
Não vou relatar aqui, porque certamente as situações muito distintas, mas às vezes,
na angústia, corre-se o risco de cometer injustiças. Ontem, nós Deputados — e aqui
está o Deputado Fernando Ferro — ouvimos o Dr. Toffoli e o Ministro do
Planejamento dizerem-nos textualmente que eles têm compromisso com a anistia, e
querem superar os óbices, o que, na minha visão, pelo que ouvi ontem, pelo que
ouvi aqui, é o que todos os Ministros querem, e vou pedir ao Dr. Toffoli que reafirme
algumas questões, de ontem e de hoje, para que nós percebamos que de fato é o
que os Ministros querem.
Não posso aceitar que se jogue, por exemplo, sobre o Ministro do
Planejamento a responsabilidade por não fazer. Agora, também é incompreensível
que o Ministro tenha que ouvir um funcionário de terceiro ou quarto escalão dizer: eu
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não assino, e aí ele ficar impedido de assinar (palmas), ele ficar impedido de fazer, e
o desejo do Presidente da República não seja cumprido. Eu acho que a
manifestação do Congresso Nacional nessas 3 sessões, no Senado Federal, no
Nereu Ramos e agora, demonstram, Ministro Toffoli, demonstram, Dr. Duvanier, que
os Parlamentares também já estão angustiados, que os Parlamentares já estão
numa situação de tensão, pela pressão que recebem.
Então, quero apresentar aqui algumas questões e apontar alguns problemas.
Primeiro, há uma tese que é levantada, de que não seria necessário analisar caso a
caso, porque isso já teria sido feito no passado, e bastaria cancelar o cancelamento
das anistias que Fernando Henrique fez. (Palmas.) Se canceladas, se cancelado o
cancelamento que Fernando Henrique fez, isso já daria, por si só — e pergunto aí
aos advogados —, o conforto jurídico para a assinatura?
Agora, eu ouvi ontem 2 questões que me deixaram bastante tranqüilo, e vou
pedir calma àquelas pessoas que às vezes, até aqui ao meu lado, dizem: tem de ser
amanhã! Tem de ser amanhã! Até parece que quem esperou 17 anos não pode
esperar mais 15 dias. Pode! Pode, sim. (Manifestação do plenário.) Porque eu não
estou aqui para fazer jogo de cena. Se for para resolver, ou para começar a resolver
efetivamente, pode-se esperar 15 dias. O queremos é saber o seguinte: vai ou não
vai resolver? Se for para resolver, pode, sim. Pode, sim! (Palmas.)
Eu ouvi ontem 2 informações que me deixaram bastante tranqüilo quanto à
possibilidade da solução e que quero pedir aos representantes que aqui reafirmem.
Primeiro: se, na hipótese de que não se pode cancelar o cancelamento e isso por si
só resolver tudo, prevalecer a tese de que é necessário analisar caso a caso, foi-nos
dito que haverá a possibilidade, ou está em análise a possibilidade de haver uma
súmula vinculante de casos. O que seria? Analisado um caso, todos os idênticos
estariam automaticamente analisados, o que permitiria abrangência nas decisões.
(Palmas.)
A segunda questão é o que eu ouvi da boca do Ministro do Planejamento, e
não fui apenas eu; todos os demais ouviram. E, para que fiquemos, se não
tranqüilos, pelo menos cientes, o Ministro do Planejamento assumiu o compromisso
de que, assim que o parecer estiver em suas mãos, dando conforto jurídico, aqueles
casos já analisados que estiverem de acordo com o parecer ele assinará e publicará
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Direitos Humanos e MinoriasNúmero: 2000/07 Data: 07/11/2007
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imediatamente, sejam eles 10, sejam 200. Nós temos a tal pendência dos 4 mil, que,
na minha avaliação, pode ser resolvida com a tal súmula vinculante, com a decisão
vinculante, ou a análise vinculante, Cito, por exemplo, o caso da CONAB. Se todos
os demais se assemelham àquele caso, solucionam-se todos.
Portanto, quero reiterar a minha confiança no Governo. Tenho plena
confiança no Governo, nos Ministros e nas pessoas que estão conduzindo este
processo, mas quero fazer um pedido. Às vezes a trava é aquele burocrata
adversário do Governo que, por ser adversário, impede que as coisas andem. Não
sei se isto está ali ou aqui, mas não importa onde esteja; o que importa é que estas
pequenas travas não impeçam que a vontade do Presidente da República, do
Ministro Toffoli e do Ministro Paulo Bernardo e a esperança de milhares de pais e
mães de família sejam finalmente atendidas.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - O Sr. Marcello Lavanère vai ter
que sair, porque tem uma audiência às 17 horas e não pode ficar até o final desta
reunião.
Com a palavra o Deputado Nilson Mourão, do PT do Acre.
O SR. DEPUTADO NILSON MOURÃO - Sr. Presidente, Deputado Luiz
Couto, demais autoridades presentes, quero cumprimentar o Dr. Toffoli e todos
aqueles que estão nesta audiência pública. Sou Deputado Federal pela Acre,
pertenço à base do Governo e com muito orgulho nesta Casa procuro contribuir com
o projeto político que vem sendo liderado pelo Presidente Lula.
Faço isso com muito orgulho, mas devo reconhecer que nesta questão o
nosso Governo teria que ter mais ousadia. O nosso Governo está examinando essas
questões todas com excesso de prudência. Não é possível analisar quase 10 mil
casos um a um com esse nível de prudência, eu diria, exagerada.
Fui sensibilizado por esta causa com os anistiados do Acre, que são poucos,
mas existem, e a sua maioria da CONAB. Eles continuamente vão ao meu escritório.
Não sei exatamente como eles descobrem que estou lá. Vou ao Acre de 15 em 15
dia e eles não sabem a data em que chego, mas, quando chego, estão lá no meu
escritório.
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Peguei esta causa como uma questão importante dos colegas do Acre e
levei-a até o fim. Hoje, talvez fazendo um reparo àquilo que a Deputada Distrital
Erica Kokay falou, vários da CONAB já foram reintegrados. Não é que nunca
ninguém foi reintegrado; vários foram reintegrados, sim! Foram vários da CONAB,
dentro daquele cronograma. O cronograma não foi cumprido da forma como havia
sido proposto. Faz um ano que o cronograma foi estabelecido. Devo dizer para
vocês que praticamente todos da CONAB do Acre já foram reintegrados, com
exceção de um outro ou outro, mas faltam as demais instituições.
Mas quero compartilhar uma idéia: acho que o momento talvez exija de nós
menos de memória do passado — muito embora isso seja importante —, para
buscarmos soluções concretas para o momento. Acho que é disso que estamos
precisando. O Presidente Lula tem que ter mais ousadia nesta questão, como já teve
em tantas outras.
O princípio essencial o Dr. Toffoli já apresentou. No exame dessas questões
todas, já tendo havido o exame preliminar dos processos que foram solicitados, creio
que se está raciocinando assim atualmente: examina-se um processo
exaustivamente e, depois de concluído, reintegra-se. Acho que poderíamos inverter
isso: todos aqueles que não foram demitidos por justa causa devem ser
reintegrados. Esse é o princípio. Se houver problemas com alguns casos, esses
serão resolvidos de outra forma.
No Acre são poucos. Houve um caso de um colega meu que queria ser
reintegrado. Fui buscar exatamente as razões. Ele não estava na listagem da
CONAB, e baixava a marreta na CONAB. Fui atrás deste caso específico. Fui
informado, com documentação suficiente, de que ele de fato não estava na listagem
porque foi demitido por outra razão. E eu o informei disso. Disse-lhe: “Irmão, você
realmente não vai estar mesmo, porque sua demissão ocorreu por outra razão”.
Mostrei para as razões. Ele sorriu para mim e disse: “É verdade mesmo, e tal”.
Casos como esses devem ser reexaminados posteriormente, e não o contrário.
Aqueles que já passaram por exame preliminar, em que há sustentação, em que há
evidências da correção de sua justificativa, devem ser reintegrados; depois se
verificam os casos em que houver conflitos.
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Por último, Ministro Toffoli, creio ser necessária uma decisão imediata sobre
isso, porque tem de haver previsão orçamentária. Não basta boa vontade para se
readmitir, tem que haver previsão orçamentária, porque ninguém quer voltar a
trabalhar e não receber. Estamos neste momento fazendo o Orçamento. Há o
momento oportuno de colocarmos no Orçamento essa previsão e tomarmos uma
decisão com mais ousadia. Sei que da parte de V.Exa. e da parte de tantos outros
essa posição existe, inclusive do Presidente Lula, mas acho necessária, a partir de
agora, depois de tantas reuniões feitas, uma decisão mais clara e ousada com
relação à reintegração de tantas famílias, que estão aqui de maneira legítima e justa.
Seus pleitos já foram examinados e esse processo deve chegar ao seu fim.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Obrigado.
Convido a Deputada Janete Rocha Pietá para assumir a presidência dos
trabalhos, uma vez que devo ir a plenário assinar uma ata.
Com a palavra o Deputado Fernando Ferro, do PT do Pernambuco.
O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Sr. Presidente, Deputado Luiz
Couto, Dr. Toffoli, representantes do Ministério Público e do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, representantes dos anistiados, meus caros
colegas Parlamentares presentes e demais participantes da luta pela anistia,
primeiramente quero confirmar integralmente o depoimento do nosso companheiro
Deputado Magela. Na reunião que tivemos ontem com o Ministro do Planejamento,
saímos exatamente com a mesma impressão sobre o andamento desse processo.
O Deputado Chico Alencar não está presente, mas falou que o ambiente é de
muita emoção. Foram 17 anos de luta, sofrimento, frustrações, angústias, esperas.
Não nos sentimos bem aqui. Gostaríamos de estar trabalhando, participando da vida
do País, sem a necessidade desse episódio. É evidente que chegamos aqui porque
alguém queria promover um intenso programa de privatizações e preparar as
empresas para esse processo, e foi no bojo dessa política citada que aconteceram
essas demissões. Foi proposta uma espécie de limpeza no serviço público, e a
limpeza significava exatamente demitir trabalhadores, para ficar mais fácil vender
essas empresas, privatizá-las. Não podemos esquecer isso. Temos que lembrar
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isso, porque faz parte de uma história nefasta que aconteceu há pouco tempo, faz
parte da história e da memória deste País.
Quero lembrar também outro episódio em relação a anistiados. Alguns
presentes a conhecem. Depois de mais de 40 anos, muitos anistiados políticos do
golpe de 64 ainda não foram atendidos. Alguns foram mortos, torturados, demitidos,
humilhados. Trata-se de uma luta muito grande, e tínhamos ali elementos muito
dolorosos: pessoas sacrificadas, famílias destroçadas, mortas, torturadas, e toda
uma corrente contrária a isso. Foi preciso formar-se a cultura da anistia, para
concedê-la a essas pessoas que sofreram.
Nós, os anistiados do Collor, guardada a proporção, estamos vivendo um
processo parecido. Há sofrimento, muita dor e muita angústia? Há. Não podemos
esquecer que muitos anistiados políticos sofreram para conseguir sua vitória. Alguns
não conseguiram, mas suas famílias foram indenizadas por conta do martírio desses
anistiados.
Essa questão não é simples. Estamos nessa luta há muito tempo e sabemos
que não a ganharemos com emoção. Não quero o aplauso, mas a solução, a fim de
comemorarmos nossa vitória. (Palmas.)
Espero que não percamos a esperança. É claro que, enquanto não houver
resposta, não parará a mobilização. Não arredaremos pé do direito de reivindicar
nessa luta, que vem de outros governos e entrou no Governo Lula. Queremos
resolvê-la neste Governo e não abriremos mão disso. Meu sentimento é a certeza
de que estamos caminhando para uma solução.
A Deputada Federal Fátima Bezerra, do PT do Rio Grande do Norte, nossa
companheira, para discutir esse assunto, levou um chá de cadeira de uma
empregada do quarto escalão do Ministério do Planejamento. (Apoiado. Palmas.)
Infelizmente isso aconteceu, porque a pessoa estava com má vontade para
resolver o problema. Quando falo isso, não o faço para provocar, mas para mostrar
que infelizmente algumas pessoas demonstram desrespeito para com alguns de
nossos companheiros, para discutir esse assunto.
Não é esse o sentimento que tenho pelo Duvanier, pelo Toffoli, pelo Ronaldo,
pelo Ministro Paulo Bernardo e muito menos pelo Presidente da República. Há uma
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situação de respeito, de compreensão por este momento em que estamos vivendo,
mas essa máquina do Estado é curiosa. Ela precisa ser azeitada e acompanhada.
O Deputado Maurício Rands lembrou o seguinte: qualquer ato que tomarmos
será acompanhado, fiscalizado pelo Ministério Público, pelo Tribunal de Contas da
União, por uma série de instâncias. Por isso, a pressa, muitas vezes boa para nossa
emoção, pode não ser correta para o ajuste, para o resultado que queremos.
Estamos trabalhado para um desfecho e vamos acompanhá-lo.
Companheiros, tenham certeza de que estamos vigilantes!
Pressionamos e exigimos do Ministro Toffoli manifestações, primeiro porque é
nossa competência e nossa obrigação política; segundo porque estamos
preocupados, sim, com essa situação. Enquanto dirigente sindical e funcionário de
uma empresa estatal, vivi, e ainda vivo, esse problema quotidianamente e quero
chegar a uma solução.
Companheiros, não podemos baixar um minuto as armas, não podemos
arrefecer a mobilização, não podemos arrefecer a organização por essa luta. Se não
fossem vocês, esta audiência não estaria acontecendo. Muitas vezes a ira, a revolta
e a descrença de alguns fazem parte exatamente dessa pressão. Sabemos que
vocês estão aqui legitimamente. Mais do que ninguém, têm direito de gritar e cobrar.
(Palmas.)
Podem contar conosco. Nós, Parlamentares e Senadores, cobraremos tudo o
que for preciso. Nosso compromisso é arrancar uma saída. Cada movimento nosso,
conforme esta plenária, é mais um passo que damos. Queremos avançar na direção
dessa conquista.
Portanto, com todo o respeito aos nossos companheiros, digo que queremos
uma solução. Acho que não temos opiniões divergentes. Talvez alguns estejam com
excesso de zelo e preocupação. Sentirão que o excesso de zelo pode ser reduzido
por conta do desejo, da pressão do fato e do ato político. Em todo gesto
administrativo há conteúdo político. Não existe gesto puramente administrativo. Para
mim, o componente político é que o Governo Lula quer uma solução. Não quer
carregar nos seus ombros, nas suas costas, a memória do Governo Collor de Mello,
nem a memória do Governo FHC, em relação aos anistiados. (Apoiado. Muito bem.
Palmas.)
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Não merecemos nem levaremos nas costas essa acusação, porque nosso
propósito é exatamente um Estado a serviço da população, da justiça e dos direitos
humanos. Por isso estamos firmes com vocês na busca dessa solução.
Muito obrigado, Sra. Presidenta. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Janete Rocha Pietá) - Antes de retornar a
presidência dos trabalhos ao Deputado Luiz Couto, peço aos poucos Deputados que
ainda falarão que sejam breves, a fim de não só ouvirmos a resposta da Mesa, mas
fazermos encaminhamentos, porque é isso que os senhores querem.
Cortei o som do Deputado ao final para dizer exatamente que S.Exa. havia
ultrapassado os 5 minutos. Vamos estabelecer o tempo de 3 minutos, a fim de
ouvirmos todos até as 17 horas, porque daqui a pouco haverá votação e será muito
difícil fazermos encaminhamentos.
Muito obrigada.
Retorno a palavra ao nosso Presidente, Deputado Luiz Couto. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Concedo a palavra à Deputada
Fátima Bezerra, do PT do Rio Grande do Norte.
A SRA. DEPUTADA FÁTIMA BEZERRA - Boa tarde, companheiras e
companheiros.
Sr. Presidente, Deputado Luiz Couto, Ministro Toffoli, Dr. Duvanier, sinto-me
muitíssima contemplada com as manifestações dos meus colegas. Sou do Rio
Grande do Norte, professora, tenho uma vida muito dedicada à luta em defesa dos
servidores públicos. Desde o primeiro mandato, por delegação da bancada do PT,
assumo essa luta com vocês.
O que o Deputado Fernando Ferro enfatizou há pouco, das dificuldades que
tivemos junto aos setores de terceiro escalão do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão, é verdade. Quando digo isso, não o faço em tom depreciativo,
de forma alguma, mas com tristeza, porque acho que as pessoas lá têm de colocar
na cabeça, em primeiro lugar, que o Governo é outro e que há decisões políticas a
serem tomadas. Elas têm mais é que se dedicar para que essas decisões andem, e
não dificultar, como infelizmente o fizeram, e muito.
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Perguntamo-nos, Ministro Toffoli, como existem 4 mil processos aptos a
retornar. Esses processos já passaram pela CEI, mas, quando chegam à CONJUR,
engancham. Fiquei muito feliz com a ida de V.Exa. e do Dr. Ronaldo para a
Advocacia-Geral da União, porque já percebemos diferenças. Sinceramente, quem
mais tem dificultado o andamento de todo esse processo tem sido a CONJUR.
Desculpem-me, mas isso é verdade. Quantas vezes, quantos prazos foram
anunciados? O Ministro Paulo Bernardo inclusive se empenhou, mas não resolveu.
Nas conversas que já tivemos com Dr. Duvanier, S.Exa. demonstrou não só
preocupação mas empenho.
Meus companheiros e companheiras, no meu Estado, Rio Grande do Norte,
temos acompanhado esse trabalho. Todas as semanas o pessoal nos está
esperando e perguntando se há novidade, se vai sair e quando vai sair. Dessa
forma, a minha participação é fundamentalmente reafirmar meu compromisso nessa
luta e dizer que a minha expectativa é de que as coisas comecem a acontecer de
fato.
Uma audiência como esta não é uma audiência qualquer, de maneira alguma.
Estamos dialogando e contando com a presença de Ministros de todas as instâncias
envolvidas diretamente nesta temática. Este é um momento muito rico dessa luta
que vem sendo travada há mais de 10 anos e que nos ensina, mais do que nunca,
que a luta se faz com teimosia, com resistência e com coragem. O processo de
mobilização é fundamental, decisivo.
Concluo saudando a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, porque não
tenho dúvida alguma de que, no que diz respeito ao Governo do Presidente Lula, há,
sim, um entendimento muito claro de que o Estado brasileiro precisa reparar essa
dívida contraída com os senhores.
Vamos à luta, se Deus quiser! (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Muito obrigado, Deputada
Fátima Bezerra.
Concedo a palavra ao Sr. Deputado Paulo Rocha, do PT do Pará.
O SR. DEPUTADO PAULO ROCHA - Saúdo a todos os presentes e à Mesa.
Gostaria de dar um testemunho do que vivi, até para expressar o sentimento do
legislador, uma vez que está em tela a análise da anistia.
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Gostaria de dizer diretamente aos companheiros Duvanier e Toffoli que
qualquer expressão de uma ação mais agressiva é produto de ansiedade, de
desespero e até da perda de esperança que esses companheiros têm vivido.
Estou no quinto mandato de Deputado Federal e posso dizer que sou um dos
autores desse sentimento. Eu era Presidente da Comissão do Trabalho. Fui um dos
autores da lei e, ao mesmo tempo, um dos principais, se não o principal, negociador
perante o ex-Presidente da República Itamar Franco. O sentimento, naquele
momento, sem dúvida nenhuma, era de uma reparação de injustiça. É público na
história do Brasil que o ato do ex-Presidente Collor foi um ato político. Escolher
quem saía e quem ficava foi um ato de escolha política. Portanto, ficou quem
agradava a S.Exa. e saiu quem desagradava ao ex-Presidente. (Palmas.)
Foi feita uma listagem. Só isso já foi um ato de injustiça e de discriminação.
Na maioria dos casos, havia um chamado “fazedor de lista” dentro dos órgãos, que
dizia para o chefe quem ficava e quem não ficava. Todos conhecem os “listadores”.
Foi um ato de perseguição política e, portanto, de injustiça. A mesma matriz que
decidiu isso decidiu o confisco das cadernetas de poupança. O Governo
desmantelou o Estado. Demitiu, naquela época, cerca de 80 mil, além de extinguir,
fundir, etc. Quantos aqui não são das extintas?
O que moveu os Parlamentares da época? Corrigir essa injustiça, essa
perseguição política, e o fizemos depois de muito debate democrático. A Comissão
do Trabalho era o grande celeiro desse debate. Contamos com a participação de
Parlamentares de todas as concepções políticas e com a representação de todos os
chamados demitidos do Governo Collor. Eu próprio sou autor de 3 leis referentes
àquele ato desastrado do Governo Collor.
Cito, por exemplo, uma lei minha conhecida no meio sindical como Lei Paulo
Rocha. Foram perseguidos dirigentes sindicais. Naquela época, demitiriam cerca de
3.500 dirigentes sindicais. Portanto, havia posições políticas e perseguição política.
O que moveu a feitura dessa lei foi exatamente a concepção de anistia. Uma lei de
anistia é uma lei feita para se perdoar, para se resgatar um estado de justiça.
Inclusive já há decisões no próprio TST, que reconhece que aquele foi um ato de
perseguição política.
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Relatarei uma questão mais para o pessoal da área jurídica. Na negociação
da lei, havia uma figura importante plantada no Ministério da Fazenda, Fernando
Henrique Cardoso, que impôs, depois de negociar o processo da lei — e
negociamos diretamente com o Presidente da República, que naquela época tinha
como Ministro do Trabalho o Walter Barelli —, um tal art. 4º, que estabeleceu
algumas regras — Dr. Toffoli, V.Exa. pode verificar isso. Na prática, o artigo impediu
que a lei fosse efetivada imediatamente, que a Justiça fizesse as correções. O artigo
envolvia questões como concurso e orçamento, ainda lembro muito bem. Talvez
seja esse artigo que coloque todo esse processo em debate. Todos sabem dessa
história. Não estou falando nada de novo. Naquela época, eu era oposição, agora
sou governo.
Quando o então Ministro da Fazenda virou Presidente da República, S.Exa.
baixou um decreto que, na prática, causava ainda mais impedimentos. Transformou-
se a tal da CEI em uma espécie de instância de recurso, porque as comissões
internas de cada órgão, conforme a lei, já tinham condição de analisar caso a caso,
como havia sido proposto no processo. Não havia por que ir para a tal da CEI, que
na verdade se transformou em uma instância de recurso. Foi lá que morou o perigo,
foi ali que aconteceu o impedimento. Figuras foram postas lá para impedir a anistia.
(Palmas.)
É bom recuperar a história, companheiros, porque eu acho que, quanto ao
processo antigo do desmantelamento, da desorganização do serviço público, o
nosso Governo pegou a batata quente. O nosso grande problema — e por isso os
mais idosos estão sendo mais cobrados — é que não podemos cometer o erro com
o tempo: urge que façamos isso mais depressa, para acabar com essa angústia.
(Palmas.) É bom recuperarmos a história, porque esse processo vem de longe.
Aliás, os Parlamentares estão com outro problema, produto dessa falta de
gerenciamento da questão do serviço público: o caso da PEC nº 54. Acontece nos
Estados e Municípios o caso dos chamados temporários. Companheiros com 15, 18,
20 anos de serviço estão sendo obrigados pelo Ministério Público a ser demitidos,
porque os governantes não fizeram concurso público para absorver funcionários. De
quem é a culpa? Do governante que não fez o concurso ou daquele que presta
serviço há 15 ou 18 anos, e agora é obrigado a sair?
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Isso é uma injustiça, um problema social que está na Casa e que nós
precisamos resolver. São cerca de 500 mil pessoas. Não são terceirizados, são
temporários. Só em São Paulo são 200 mil; em Minas Gerais são 100 mil; no meu
Estado são 21 mil. Estão espalhados por todo o Estado brasileiro, nos empregos dos
Estados e dos Municípios.
O que está posto aqui, Sr. Duvanier e Sr. Toffoli? Há ansiedade, porque não
vamos recuperar tudo que já aconteceu com eles e com suas famílias, com aqueles
que não estão aqui, mas que estavam na luta também.
Um companheiro veio cobrar-me: “Mas os Deputados não são os que fazem
as leis? Como vocês não têm força?” O sentimento que quero expressar, o
sentimento do legislador, que nos moveu naquela época, foi o de que havia um
Governo que tomara decisões desastradas, que desmantelara o serviço público
brasileiro, mas, ao fazer isso, ao tomar essa posição política, ele cometera injustiça,
cometera perseguição política. Essa lei que está aí foi elaborada exatamente para
corrigir isso e para assegurar direitos e justiça para todos os que estão presentes,
ainda clamando.
Quero falar aos companheiros que não percam a esperança, porque esse é
um processo que vem de longe. O que se exige do nosso Governo agora é que
conserte isso mais rápido.
Como o Natal é tempo de paz, companheiro Duvanier, quem sabe neste Natal
voltará a brilhar a esperança nos olhos desses grandes companheiros que estão
aqui? (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Obrigado, Deputado Paulo
Rocha.
Com a palavra o último inscrito, Deputado Chico Lopes, do PCdoB do Ceará.
O SR. DEPUTADO CHICO LOPES - Boa tarde a todas as mulheres
presentes, boa tarde a todos os homens. Quero dizer da alegria de estar junto aos
senhores.
Cumprimento a Mesa, nas pessoas do Sr. Duvanier e do Sr. Ministro.
Serei prático e rápido. Estou incorporando-me agora a essa luta, porque
agora sou Deputado, neste mandato.
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Embora eu seja anistiado, com um processo aqui, nunca falaram em pagar. E
tenho outro processo no Ceará. A anistia, em nosso País, é uma palavra que não
parece ter muita força. Sou ex-preso político. Há companheiros, como o
(ininteligível), que já morreram. A família tem necessidade do dinheiro. Outros estão
evocando o Estatuto da Terceira Idade, para ver se conseguem algo. Não estou
dizendo isso para tirar o tesão de ninguém nesta sala, mas para mostrar que a
situação é complicada.
Estou com o pessoal do BMB, do Sr. Tasso Jereissati, que perseguiu e botou
um bocado de gente para fora, estupidamente, na época. Deram ao plano o nome
de Plano de Desligamento Voluntário. Quem é que vai sair do trabalho
voluntariamente? Só o fazem na “livre pressão”. Há, portanto, todos esses casos.
Os companheiros do PT que vêm há mais tempo, como os Deputados
Geraldo Magela e Paulo Rocha, têm muita preocupação. Eu também tenho, porque
eu estava do outro lado do muro, junto com outros companheiros, esculhambando
com o PSDB, dizendo que ele era isso e aquilo. Agora estou do lado de cá. Digo o
quê? Não sei. (Palmas.)
O que me faz estar aqui é acreditar que o meu Governo, que foi nossa
liderança, que passou pelo que passamos, compreenda e elabore um plano de curto
ou longo prazo para oferecer aos senhores, já que a questão envolve dinheiro e
orçamento. Não é possível não haver um plano.
Estou solidário aos senhores. Serei mais um Deputado comunista que se
juntará aos senhores. Contudo, a solução está lá, e não aqui.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Muito obrigado.
Concedo a palavra, por 3 minutos, ao Sr. Emmanuel Vasconcelos,
representante do Grupo de Trabalho instituído pelo Decreto nº 6.077, de 2007, do
Ministério do Planejamento.
O SR. EMMANUEL VASCONCELOS - Boa-tarde. Desculpem-me o atraso.
Eu estava em outra reunião, no Palácio do Planalto, na Presidência.
Na verdade, participei do grupo de trabalho que tem o encargo de viabilizar o
retorno dos anistiados ou daqueles que tiveram a anistia homologada pela CEI ou
concedida por comissões anteriores.
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Recebi um bilhete pedindo-me que falasse sobre os burocratas. Na verdade,
posso falar sobre mim, porque sou um burocrata. Sou Analista de Controle Externo
do TCU e estava cedido para esse trabalho, para o qual recebi apoio total do
Secretário Duvanier. Posso dar testemunho disto: S.Exa. está interessado, está
empenhado na resolução desse problema.
Vocês sabem mais do que eu que há uma lei. Trata-se de uma lei antiga, que
já tem 14 anos. Só neste Governo do PT, já tivemos três decretos assinados pelo
Presidente. Um criou a comissão atual, a CEI, vinculada à Secretaria de Recursos
Humanos; e há outros dois. Com esses decretos, aconteceu algo interessante.
Alguém falou em superestrutura e operacionalização, e esses dois decretos ilustram
bem essa situação. O primeiro decreto, o de número 5.115, criou a comissão. Já no
final do ano de 2006, houve um novo decreto alargando as atribuições da CEI, que
passaria a analisar, além dos atos anulatórios daquelas comissões que foram
criadas em 1995 e em 2000, os atos pendentes de decisão final.
Surpreendentemente, depois desse decreto que alargou as atribuições da
CEI, a comissão passou quase um ano sem deliberar. Agora, em abril deste ano, o
Presidente assinou mais um decreto — o que vocês conhecem —, que viabiliza o
retorno. Trata-se do Decreto nº 6.077. Por motivos operacionais, políticos ou de
coordenação — não posso falar exatamente por quê —, não houve mais retorno
após isso. O decreto facilitaria o retorno, porque concentrou no Ministério do
Planejamento aqueles casos já homologados pela CEI e publicados no Diário Oficial
ou os casos que a CEI não precisou analisar porque as anistias estavam mantidas.
No final, o retorno é o que, na verdade, as pessoas querem. A pessoa quer
ter o status de anistiado e ser reconhecida como tal. Ela quer que reconheçam que
uma injustiça foi praticada contra ela, mas também quer retornar ao serviço. O
tempo passa. Existe gente com 68, 69 anos. Conheço essas pessoas. O que a lei
garante é o retorno, é receber o salário e o retorno.
Sou um burocrata. Tive, durante alguns meses, essa atribuição. Estou vendo
aqui muita gente para quem, recorrentemente durante esse período, tive que dar
más notícias, dizer que não seria naquela semana que a coisa seria resolvida, que
as coisas não estavam prontas para ser encaminhadas.
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Hoje talvez eu possa dar uma boa notícia. Conseguimos preparar cerca de
200 processos, que estão em uma situação boa. Depois desses 200, virão 300 ou
500, se vierem. Contudo, começamos com alguma coisa.
(Manifestação das galerias.)
O SR. EMMANUEL VASCONCELLOS - Não, você não vai ter promessa
nenhuma de mim, porque nem tenho como fazer isso. Não tenho poder para fazer
promessa. Quero que você entenda que não estou participando mais desse
processo.
Esses processos, para cuja feitura recebemos o apoio do Secretário — S.Exa.
assinou e convalidou —, referem-se a situações homologadas pela CEI e publicadas
no Diário Oficial. São empresas que demitiram uma parcela significativa da força de
trabalho de forma imotivada e que continuam operando.
Pelo critério mencionado antes da minha chegada, o qual não ouvi, os
processos aparentemente estão prontos para ser assinados, a fim de que esse
pessoal comece a retornar. Se retornarem 200 na semana que vem, daqui a 15 dias
podem ser 500.
Dentre esses casos, que infelizmente não são todos, estão milhares de
pessoas. A solução não ocorre em massa, mas a fila anda. Espero que isso
aconteça.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Obrigado, Sr. Emmanuel
Vasconcellos.
Passo a palavra ao Dr. José Antônio Dias Toffoli, Ministro da Advocacia-Geral
da União, para responder às indagações dos Srs. Parlamentares e também oferecer
informações para esta audiência pública.
O SR. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI - Sr. Presidente, agradeço a todos os
Parlamentares que se manifestaram. Agradeço também a todos os presentes a
compreensão e a paciência no momento da minha manifestação. Levarei em conta a
maneira como as senhoras e os senhores nos receberam aqui, mesmo estando há
14 anos...
(Manifestação das galerias.)
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O SR. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI - Se contarmos desde a admissão,
são 17 anos; da lei, quase 14 anos. São 17 anos da demissão, mas 14 anos a partir
da lei, para análise do Estado brasileiro.
Gostaria de responder a todas as manifestações e perguntas que foram
feitas, sem deixar nenhuma sem resposta.
A primeira pergunta objetiva foi feita pela Deputada Janete Rocha Pietá.
S.Exa. perguntou quais são as divergências. Cito algumas divergências. O que é o
conceito de motivação política? Quais demissões podem ou não ser consideradas
como afrontosas à legislação trabalhista, à legislação de contrato coletivo de
trabalho? E há questões como estas: necessidade de adotar fundamento utilizado
em decisão judicial concessiva a outros servidores e empregados que estejam na
mesma situação, ou seja, verificar a jurisprudência, aquilo que já foi obtido na
Justiça, e trazer como paradigma para ser aplicado na análise da Comissão. Enfim,
há uma série de situações. Se formos ler tudo, veremos que são bastantes.
Transferências e absorções que estejam em curso e possibilidade de
aplicação ao atual momento da organização administrativa: o que é isso? Empresas
que, no momento da extinção, em 1992, não tiveram transferidas as suas
competências para outro órgão da administração, mas hoje estão em outro órgão ou
em outra empresa de administração. Assim, estamos dizendo que, do ponto de vista
mais amplo, mesmo que na época em que ela foi extinta a competência não tenha
sido transferida para outra entidade da administração pública, se hoje está prevista
essa competência em algum ente da administração pública, pode ser feita a
reintegração desse servidor.
Há outra série de questões, como contemporaneidade da verificação da
condição socioeconômica do anistiado, para priorizar o prazo; direitos da não-
incidência da vedação do administrador público, contida no art. 73, inciso V, da Lei
nº 9.504. Esse dispositivo trata da não-incidência daquela vedação de, em ano
eleitoral, fazer reintegração. Evidentemente a lei mudou, mas o princípio é o mesmo.
Não se pode dizer que, em determinado período anterior ao eleitoral, é vedada a
readmissão, porque não se trata de fazer concurso público nem contratação em
cargo de comissão. O princípio é fazer justiça, aplicando-se a Lei da Anistia.
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Enfim, Deputada Janete Rocha Pietá, senhoras e senhores, há uma série de
elementos que estamos consolidando, até para que não surjam novas discussões e
novos problemas e para que possamos dar a maior celeridade possível à análise.
O Deputado Chico Alencar fez uma pergunta a respeito das dificuldades.
S.Exa. direcionou a pergunta ao Sr. Duvanier, mas, como Ministro de Estado do
Governo Lula, não posso deixar de responder à questão.
O Deputado perguntou se a questão orçamentária seria uma resistência.
Tenho que dar meu testemunho do Governo Lula e da posição do Ministro Paulo
Bernardo, que foi esclarecida ontem a vários Parlamentares. Está aqui o Deputado
Geraldo Magela, que presenciou o fato. Outro Deputado também perguntou
posteriormente se a questão orçamentária condicionava ou não a situação.
O Deputado Paulo Bernardo deixou bastante claro isto: questão orçamentária
não condiciona nada porque, uma vez verificado que aquele que foi demitido tem
direito à reintegração, a aplicação da Lei da Anistia é uma questão de Justiça. Não
há que se discutir se é preciso haver ou não previsão orçamentária, até porque o
impacto dessa legislação não criou nenhum esqueleto. A pessoa só passa a receber
após ser reintegrada. Não existe retroativo, então não há que se falar em impacto.
Apesar de existirem milhares de pessoas no âmbito de toda a administração pública,
sempre há gente sendo contratada, há novos concursos, há gente se aposentando
ou falecendo. Isso faz parte da vida. Portanto, a questão orçamentária não é
problema, não é dificuldade. Não há nenhuma consideração a respeito de eventual
ajuste fiscal para esse tema.
Peço desculpas ao Sr. Duvanier, mas, na condição de Ministro, eu não
poderia deixar de fazer o registro desta resposta à pergunta do Deputado.
(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)
O SR. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI - Exatamente. O Deputado Chico
Lopes perguntou e o Deputado Chico Alencar também. Os dois Chicos perguntaram
a mesma coisa, mas o Deputado Chico Alencar adotou um outro viés, sugerindo que
isso estaria vinculado à questão de ajuste fiscal. Isso não tem, evidentemente,
nenhuma procedência.
E o Deputado Chico Alencar fez uma pergunta para mim a respeito do prazo
do parecer. Como eu já disse na minha primeira exposição, os vários temas
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abordados no parecer, que já está concluído — não está sendo finalizado, já está
concluído, em fase de revisão —, já foram apresentados às senhoras e aos
senhores e aos representantes das senhoras e dos senhores, na última semana. Na
próxima semana teremos uma nova reunião.
Estamos fazendo isso com a maior transparência e com o maior diálogo
possível. Poderíamos simplesmente estar no gabinete, fazer um parecer e dizer: “Eu
sou a autoridade jurídica aqui. Acabou, morreu, não tenho mais nada com isso”. No
entanto, estou aqui representando o Governo Lula. Eu não poderia deixar de estar
presente na Comissão de Direitos Humanos e de reconhecer o que está no parecer.
Vou ler para V.Exas. — e peço desculpas ao Presidente Luiz Couto por estender-me
um pouco — o contido no parecer, que reconhece que esse tema da anistia é um
tema de direitos humanos.
(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)
O SR. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI - Exatamente quando abordamos um
tema que já citei aqui logo de início, que é o fato de a demissão que for sem justa
causa dar ensejo à reintegração.
Leio parte do parecer:
“A ruptura da relação estatutária ou trabalhista com
o Estado, em afronta aos dispositivos constitucionais e
legais, estaria a ensejar, então, a mitigação do direito
fundamental ao trabalho como elemento essencial à
consecução da dignidade humana.
Lembre-se, pois, que a Lei nº 8.878 originou-se da
constatação de ocorrência de desmandos e ilegalidades
que atingiram parcela significativa dos servidores e
empregados durante o Governo Collor e que tiveram
como conseqüência a negação do exercício de um direito
fundamental, que é o direito ao trabalho (art. 5º, XIII, da
Constituição Federal), no caso, trabalho no setor público,
fonte primeira da dignidade do cidadão, fundamento da
República Federativa do Brasil, consoante o inciso III do
art. 1º da Constituição Federal.
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O texto constitucional de 1988 repudia a ruptura
desmotivada e arbitrária de vínculo trabalhista, de acordo
com o previsto no art. 7º, inciso I, da Carta de 1988. Tal
regra irradia-se, quando se trata da administração pública,
a ponto de a atual redação do art. 41, § 1º, da
Constituição Federal, prever, expressamente, em seus
três incisos, as hipóteses de perda do cargo por servidor
estável.
O não-estável, também, somente de forma
motivada perderá seu cargo, caso não logre demonstrar
capacidade e aptidão necessárias ao exercício de seu
cargo, conforme estabelecido no art. 20 da Lei nº 8.112,
que é o Estatuto do Servidor Público, o Regime Jurídico
Único.
Nem as novas regras constitucionais inseridas com
a Emenda Constitucional nº 19 — ou seja, nem com as
alterações da reforma administrativa do Governo
Fernando Henrique —, que prevêem, respectivamente, a
perda do cargo do não-estável e do estável, afastam-se
do imperativo da motivação.
A interpretação sistêmica do texto constitucional
quanto à matéria traz uma clara mensagem ao legislador
e ao gestor público: a República Federativa do Brasil
repudia a demissão, a exoneração ou a dispensa
imotivada e arbitrária de seus servidores e trabalhadores.
É o que consta, afinal, da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Resolução
217-A, da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 10
de dezembro de 1948, que, em seu art. XXIII,
dispõe:<!ID820890-2>
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Direitos Humanos e MinoriasNúmero: 2000/07 Data: 07/11/2007
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1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre
escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de
trabalho e à proteção contra o desemprego.
Leio esse trecho para registrar exatamente que a administração pública, e eu,
como integrante da administração pública, como Advogado-Geral da União, tenho o
dever de registrar que o Estado brasileiro está sem dúvida alguma em mora, ou seja,
está em atraso, está em dívida com a análise dos pedidos das senhoras e dos
senhores. (Palmas.)
Acho que isso responde a qualquer tipo de insinuação de gerundismo, de
redundância.
Em relação à finalização do parecer, temos a perspectiva de fazer, já na
próxima semana, uma reunião final com os representantes. A Rosa tem
acompanhado isso e estará nessa próxima reunião, juntamente com outros
representantes das senhoras e dos senhores, quando traremos essas balizas finais.
Outro Parlamentar que fez pergunta diretamente foi o Deputado Magela, que
nos honra com a sua presença até o final da nossa participação. Anotei: não seria
necessário analisar caso a caso? Conversei muito com o Dr. Marcelo Lavenère, que
dizia exatamente isto: “Por que não se faz um decreto e se cancela o decreto do
Fernando Henrique?” Na primeira vez que recebi uma comissão de anistiados, eu
era Subchefe Jurídico da Casa Civil, da Presidência da República. Foi levada
exatamente essa questão para análise.
O fato é o seguinte: no Governo Fernando Henrique foi criada uma comissão
para rever aquelas anistias que haviam sido concedidas, e várias dessas anistias
foram revistas. Então, existe ato concreto praticado, mas o ato que existe é o da
revisão. Revogar o decreto por si só não faz com que caia por terra o ato
administrativo que reviu aquela anistia. Então — e, assim, também respondo a
algumas afirmações —, de fato houve Ministério na época do Itamar Franco que fez
a análise, reconheceu e inclusive publicou no Diário Oficial a anistia de diversos
servidores. Só que isso foi revisto no Governo, não por ato de decreto, mas por ato
concreto de análise. Então, tem que haver um outro ato para reanalisar isso, porque,
caso contrário, isso não vai sustentar-se juridicamente. Infelizmente, esse é um
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Direitos Humanos e MinoriasNúmero: 2000/07 Data: 07/11/2007
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entrave, do nosso ponto de vista, insuperável, porque a revogação do decreto por si
só não é o suficiente.
Evidentemente, desde a primeira vez que tratamos desse assunto, em 2003,
quando fiz o acompanhamento do assunto, nós dissemos — a Rosa está aqui na
Mesa e é testemunha disto — que, em relação a todos aqueles atos que não foram
revistos em 5 anos, a partir do momento em que foi criada a comissão do Fernando
Henrique, aqueles que ficaram sem revisão e para os quais foi concedida a anistia,
decaiu o direito do Estado de fazer a revisão.
(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)
O SR. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI - Vou responder juridicamente.
Juridicamente, no que se refere àquelas pessoas que tiveram as anistias concedidas
no Governo Itamar Franco, em relação às quais a comissão do Fernando Henrique
não fez a revisão, como já estamos em 2007, há a decadência do direito do Estado
de praticar essa revisão. Evidentemente, é preciso analisar questões como prazo,
protocolo, etc., mas o paradigma geral é esse.
Portanto, Deputado Magela, infelizmente revogar por si só o decreto do
Fernando Henrique não é suficiente para reintegrar todos, porque o decreto é
normativo, e há atos concretos praticados.
V.Exa. também perguntou, caso não seja possível a revogação, sobre a idéia
de se introduzirem súmulas vinculantes. Está na Lei da Anistia que, por exemplo, se
a empresa pública tinha contrato coletivo de trabalho que vedava a demissão, e o
servidor, o empregado era demitido, essa demissão evidentemente se enquadrava
nos pressupostos da lei para a reintegração, porque se descumpriam o contrato de
trabalho, a legislação trabalhista, as normas do País.Assim, identificado o caso de
uma empresa que tinha o contrato coletivo de trabalho que previa a estabilidade,
todos os empregados demitidos por aquela empresa, naquele período, estarão
enquadrados na lei. Evidentemente, a partir daí, estabelece-se uma espécie de
súmula vinculante.
Esse é um trabalho gerencial a ser feito. E a idéia do parecer, na sua
conclusão, é exatamente estabelecer esses pontos jurídicos que depois podem ser
utilizados pela comissão e pelas subcomissões para trazer uma padronização e uma
rapidez maior na análise de cada caso. Por que analisar todos os processos dos
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servidores de uma empresa pública que tinha contrato coletivo de estabilidade? Se
analisarmos um, os outros daquela mesma empresa... Terá que ser verificado,
evidentemente, se o protocolo estava dentro do prazo, se a demissão ocorreu dentro
do prazo previsto na lei. Mas, se houve demissão e ele era estável, e se a demissão
não teve justa causa — como disse o Senador Paulo Paim, se o empregado não
roubou, não estava bêbado —, se não houve uma causa motivada, ele tinha
estabilidade e não poderia ser demitido.
(Intervenção fora do microfone. Ininteligível.)
O SR. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI - A anistia tem uma previsão legal de
tempo. Protege aqueles que foram demitidos de 16 de março de 1990 a 30 de
setembro de 1992.
(Intervenção fora do microfone. Ininteligível.)
O SR. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI - O parecer também está abordando
isso, a empresa que não existe mais, aquela empresa que foi extinta na época ou
posteriormente.
(Intervenção fora do microfone. Ininteligível.)
O SR. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI – Vai-se analisar o caso, da mesma
forma que se analisa o caso daquelas empresas que foram extintas, exatamente.
(Intervenção fora do microfone. Ininteligível.)
O SR. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI - Vamos responder aos
Parlamentares primeiro. Estou respondendo aos Parlamentares.
O SR. DEPUTADO MAGELA - Sim, Sr. Presidente, porque é preciso
esclarecer que, se formos responder caso a caso, ninguém, nem o Ministro, terá
condições de fazê-lo. S.Exa. tem que falar sempre sobre o caso geral. Depois o
sindicato e as comissões vão esclarecendo caso a caso. Não há como esclarecer
caso a caso, infelizmente.
O SR. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI - Concluindo as respostas às
perguntas do Deputado Magela, a idéia é exatamente estabelecer paradigmas para
serem aplicados a casos idênticos. Com isso, a comissão, do ponto de vista
gerencial, vai facilitar o trabalho.
Também já respondi ao Deputado Nilson Mourão, que havia perguntado
sobre a previsão orçamentária, conforme registrei.
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Acho que foram essas as perguntas.
(Intervenção fora do microfone. Ininteligível.)
A SRA. ROSA MARIA MONTEIRO DE BARROS - Vou reforçar o que disse
o Sr. Ricardo em sua intervenção. É preciso encaminhar a solicitação de celeridade
com relação a esses 4 mil, que já estão na iminência de voltar ao trabalho.
Outro ponto é o tratamento que vai ser dado às pessoas que estão com a
anistia mantida. Eu e o Geraldo fizemos um levantamento, para apresentar ao Dr.
Duvanier, das pessoas que estão com a anistia mantida, que infelizmente estão
sendo colocadas na mesma vala. É preciso reforçar que são situações
diferenciadas, que essas pessoas têm que voltar imediatamente, não dependem de
nada. Eu gostaria que V.Exa. reforçasse isso à Secretaria de Planejamento.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Volto a palavra ao Dr. Toffoli.
O SR. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI - Em relação à questão levantada
pela Deputada Fátima Bezerra a respeito da CONJUR, que estaria criando
obstáculos, na medida em que há o parecer da Advocacia-Geral da União, órgão
superior de orientação jurídica do Poder Executivo, o que passa a valer é a
orientação da Advocacia-Geral da União. Então, a partir do momento em que o
parecer estiver formalizado, essa orientação vai passar a prevalecer não só para o
Ministério do Planejamento, mas para todas as subcomissões de todos os
Ministérios e para a Comissão Central no Ministério do Planejamento, ou seja, não
haverá mais a possibilidade de um consultor “a”, “b” ou “c” de um determinado
Ministério dar pareceres divergentes ou diferentes.
Esse foi exatamente um pleito que os anistiados nos levaram, que a comissão
das senhoras e dos senhores nos levou, assim que assumimos a Advocacia-Geral
da União. E estamos prestes a concluir o parecer. Passará a haver um parecer
único. E o que pautou o nosso espírito, como eu já disse, é poder atender ao
máximo a lei.
Como eu disse há pouco, quando me ausentei para atender a imprensa, uma
lei de anistia é uma lei da generosidade, da paz social, e toda lei desse tipo tem que
ter uma interpretação generosa. Se a lei é generosa, a interpretação dela também
tem que ser generosa. A interpretação tem que ir ao encontro, o máximo possível,
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do que ela visa a atender. Com esse espírito estamos concluindo, na verdade, a
revisão do parecer, que já está pronto. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Com a palavra o Dr. Duvanier
Paiva Ferreira.
O SR. DUVANIER PAIVA FERREIRA - Acho que só me cabe reafirmar os
nossos compromissos de continuar junto com a nossa equipe, na Secretaria de
Recursos Humanos; reafirmar os compromissos do Ministro do Planejamento em
relação a envidar esforços para concluir o nosso trabalho. A partir de agora, com a
orientação do Ministro Toffoli e a consolidação dos pareceres, temos certeza de que
poderemos reunir todas as condições necessárias para estabelecermos uma
dinâmica em que haja um retorno numa questão de dias. (Palmas).
Muitos Parlamentares perguntaram a respeito de prazos. Tenho dito, inclusive
em reuniões anteriores, que é sempre muito difícil nos comprometermos com
prazos, mas nós nos comprometemos com o processo de transparência e em
receber a comissão dos senhores. Vamos estabelecer uma agenda permanente de
reuniões, de tal forma que a representação de todos os anistiados possa
acompanhar nosso trabalho e verificar que estamos mobilizando todas as condições
para que ele se efetive numa dinâmica que atenda minimamente à expectativa de
todos.
Muito obrigado, Sr. Presidente, Deputado Luiz Couto, pela oportunidade de
estar aqui novamente, prestando esclarecimentos. Essa é nossa obrigação.
Era isso o que tinha a dizer.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. DEPUTADO MAGELA - Sr. Presidente, V.Exa. me permite uma
intervenção?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Há ainda membros da Mesa
que querem falar.
O SR. DEPUTADO MAGELA - Apenas gostaria de pedir algo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Tem a palavra V.Exa.
O SR. DEPUTADO MAGELA - Perguntei ao Ministro Toffoli se S.Exa. tinha
condições de precisar melhor o prazo para a conclusão do parecer.
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Há a possibilidade de V.Exa. estabelecer uma previsão, por mais pessimista
que seja?
O SR. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI - Podemo-nos comprometer com
que, no máximo em 15 dias, esse parecer será concluído. (Palmas)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Quinze dias, para que, no dia
10, Dia Universal dos Direitos Humanos, todos nós já estejamos reintegrados ao
trabalho. (Palmas.)
Concedo a palavra ao Dr. Adélio Justino Lucas, Procurador Regional do
Trabalho, para as considerações finais.
O SR. ADÉLIO JUSTINO LUCAS - Sr. Presidente, saio daqui bastante
engrandecido com o posicionamento do Ministro Toffoli e do Secretário de Recursos
Humanos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, tendo em vista que
essas atitudes irão socorrer as atividades do Ministério Público e a peregrinação
desses ex-servidores da Administração Pública Federal, que procuram amparar-se
na última esperança: retornar ao trabalho.
Esclareço ao Sr. Ministro que, no primeiro processo de anistia em que nós
atuamos como membro do Ministério Público, fomos capazes de retornar
administrativamente, por meio de um trabalho árduo, quase 800 empregados da
CONAB. A alegria deles foi tamanha, que chegou a mudar todo o perfil de suas
vidas. O Ministério Público tem atuado de forma bastante tranqüila, V.Exa. é
testemunha disso. Outros colegas têm tido essa interlocução.
No processo dos anistiados, um fator corre contra nós e contra eles: o tempo.
Se todos observarmos esta platéia, veremos que não ela não é formada por jovens
musculosos e sedentos. Não, nós estamos procurando mesmo a sobrevivência.
Acabei de dizer para o Sr. Secretário de Recursos Humanos, que representa
o Ministro de Estado, que também atuamos, numa fase inicial, com o retorno de
mais 1.200 empregados da CONAB. Ressalto que já estavam em fase de
negociação os recursos e vagas aportadas. Todavia, com a edição do Decreto nº
6.077, de 2007, o curso desse processo automaticamente se deslocou para o
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Solicitei, então, ao Sr. Secretário,
que é de uma sensibilidade extremada, que analisasse também com carinho essa
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questão, visto que esse processo já está passando de maduro e os anistiados da
CONAB podem retornar tecnicamente a partir de agora.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Concedo a palavra à Sra. Rosa
Maria Monteiro de Barros para as considerações finais. (Palmas.)
A SRA. ROSA MARIA MONTEIRO DE BARROS - Em primeiro lugar, tenho
certeza de que todo o nosso coletivo está mais ou menos satisfeito com esses
encaminhamentos e o compromisso do Ministro José Antônio Dias Toffoli e do Sr.
Duvanier Paiva Ferreira firmado conosco. Agora, vou fazer uma pergunta bem
objetiva. Primeiro, Sr. Duvanier, o pessoal com a anistia mantida tem de retornar
ontem. O Ministro Toffoli acabou de dizer que anistia mantida é decadência, tem de
voltar. Vamos resolver isso nesta semana? (Pausa.) Então, vai resolver esta
semana. (Muito bem. Apoiado. Palmas.)
O SR. DUVANIER PAIVA FERREIRA - Precisamos ter claro que o prazo do
Ministro é 15 dias. Nós vamos retomar os trabalhos a partir da orientação do Ministro
Toffoli e da AGU.
A SRA. ROSA MARIA MONTEIRO DE BARROS - Vou esclarecer, pois há
uma dúvida. O Ministro Toffoli falou do parecer com relação ao restabelecimento da
anistia. Nós estamos falando do pessoal que está com a anistia mantida. Então, nós
vamos conversar com o Secretário amanhã, tudo bem? (Muito bem. Apoiado.
Palmas.)
Faço uma última pergunta. Temos 4 mil casos que já estão deliberados. Meu
caro companheiro Duvanier, recebido o parecer da AGU, nesses 15 dias,
imediatamente após promoveremos a entrega dos encaminhamentos para o Ministro
determinar o retorno, certo? Vamos colaborar, coloco-me à disposição nessa
logística, tudo bem? (Apoiado. Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Tudo bem, Rosa. (Palmas.)
A SRA. ROSA MARIA MONTEIRO DE BARROS - Obrigada, Deputado Luiz
Couto.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Concedo a palavra ao Sr. José
Antônio Dias Toffoli para as considerações finais.
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O SR. JOSÉ ANTONIO DIAS TOFFOLI - Sr. Presidente, Deputado Luiz
Couto, agradeço à Comissão de Direitos Humanos e Minorias o convite formulado
para participar desta audiência pública, e a todos, principalmente às senhores e aos
senhores que estão nessa luta, a presença.
Reconheço de público que o Estado brasileiro está em mora nessa análise.
Entendo que essa questão tem de ser prioridade hoje para o Estado brasileiro, visto
que existe uma lei aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente
da República, à qual tem que se dar efetividade e eficácia.
Hoje tive de acompanhar sessão do Supremo Tribunal Federal, como
Advogado-Geral da União. Mesmo assim, compareci à reunião da Comissão de
Direitos Humanos e Minorias, seja pelo fato de jamais poder furtar-me de vir ao
Congresso Nacional quando convidado, seja pelo fato de se tratar da Comissão de
Direitos Humanos, que temos em primeira conta — toda a nossa vida política,
pessoal e profissional foi voltada para as questões relativas aos direitos humanos —,
seja pelo tema a ser tratado, que é da maior relevância.
Aproveito a oportunidade para mais uma vez registrar, apesar de todo o
direito que as senhores e os senhores têm de estar — e vamos dizer a palavra mais
forte mesmo — revoltados com a demora do Estado, o respeito com que as
senhoras e os senhores nos trataram, a nós como representantes do Estado
brasileiro.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Obrigado.
Concedo a palavra ao Sr. Duvanier Paiva Ferreira para as considerações
finais.
O SR. DUVANIER PAIVA FERREIRA - Sr. Presidente, agradeço a V.Exa. a
oportunidade de estar aqui mais uma vez. É sempre uma honra participar da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias, que tem realizado um trabalho
extremamente diferenciado e importante para o conjunto do Parlamento.
Agradeço a todos os Parlamentares o acompanhamento pari passu não só
dessa luta, mas de quase todas as questões que envolvem os servidores. É muito
comum o nosso relacionamento com a participação ativa de uma parcela importante
dos Parlamentares no trabalho que realizamos na Secretaria de Direitos Humanos.
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Reafirmo o nosso compromisso com os anistiados e quero deixar claro que o
principal deles é justamente a nossa dedicação a esse trabalho e o compromisso
com a transparência. Reafirmamos o compromisso, por exemplo, de fazer de forma
agendada e permanente — como fizemos com as associações nacionais que
representam os anistiados políticos — reuniões permanentes para o
acompanhamento do trabalho que vamos desenvolver em relação à causa dos
anistiados. É esse o compromisso.
Vamos reorganizar todo o nosso trabalho quando recebermos o parecer
consolidado do Ministro Toffoli, mas isso não significa que não podemos, antes,
discutir essa reorganização.
Era o que tinha a dizer
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Agradeço ao Senador Paulo
Paim, à Sra. Rosa Maria Monteiro de Barros, ao Sr. Marcelo Lavenère, ao Sr.
Cláudio Santana, ao Sr. Emmanuel Vasconcelos, ao Dr. Adélio Justino Lucas, à
Deputada Erica Kokay, ao Dr. José Antônio Dias Toffoli e ao Sr. Duvanier Paiva
Ferreira por terem aceitado o nosso convite.
Temos certeza de que essa é uma questão de direitos humanos. Foi
confirmado, inclusive no parecer, que o problema dos anistiados demitidos no
Governo Collor é uma questão de direitos humanos, e como tal tem que ser tratada.
Anistia não significa esquecimento. Aprendemos, do ponto de vista religioso,
que quem cometer alguma falta tem que, primeiro, reconhecer o erro; segundo, tem
que confessar; depois vem a penitência. A penitência, neste caso, é fazer com que
todos nós possamos ser reintegrados ao trabalho.
Teremos uma assembléia de celebração do Natal, que, na verdade, será uma
missa campal, para que todos possam comparecer.
O diálogo é fundamental. Aprendemos isso aqui. A Comissão de Direitos
Humanos tem trabalhado muito. Promove audiências e seminários, traz as pessoas
para conversar. Ninguém tem medo da verdade; ela pode até doer, mas faz com que
aprendamos a buscar a realização plena da justiça.
Além de Parlamentar, sou sacerdote. Há um trecho da Bíblia que diz: “Justiça
e paz se abraçarão; verdade e amor se encontrarão”. Esse é um aspecto que está
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Direitos Humanos e MinoriasNúmero: 2000/07 Data: 07/11/2007
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presente nesta reunião, pois, com o tempo, verificamos que há questões que devem
ser resolvidas. Espero que essa, dos anistiados, seja resolvida.
Proponho tanto ao representante do Ministério do Planejamento quanto ao
representante da AGU que, uma vez publicadas essas normas, V.Exas. constituam
forças-tarefas para analisar e agilizar todos os casos. Em 2008 não haverá tempo
para analisá-los; teremos um período eleitoral e faremos campanhas nos municípios.
Dr. Toffoli, muitos procuram saber como estão os trabalhos referentes a esses
processos de anistia na Comissão. Como anteriormente V.Exa. não era da AGU,
nem o Sr. Duvanier ocupava o cargo que ocupa agora, a cada dia que íamos à
CONAB tínhamos uma informação. Diziam: “Amanhã ou daqui a 10 dias vai sair uma
lista de 200, etc.” Eu repassava essas informações, mas já estava com síndrome de
Pinóquio. Deixei de fazer isso. Pensei: “Agora vou fazer silêncio obsequioso. Não
vou falar, mas vou chamar os responsáveis, para que eles mesmos venham prestar
informações”. Foi esta a nossa preocupação: fazer com que todos possamos
trabalhar na situação dos anistiados do Governo Collor. O próprio Collor de Mello
afirmou, por meio de documento que encaminhou aos servidores da
ELETRONORTE, que sua ação foi um ato político e que todos teriam direito efetivo
de receber anistia.
Agradecemos a todos a presença.
(Não identificado) - Sr. Presidente, antes de V.Exa. encerrar a reunião, peço
a palavra para uma consideração.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Tem V.Sa. a palavra.
(Não identificado) - Há uma camada de anistiados do Governo Collor que
está insatisfeita, está em dúvida. Com relação aos anistiados das empresas
privatizadas, o Dr. Toffoli enfatizou que havia uma norma e que ela seria cumprida.
Acontece que não vemos luz no final do túnel para essas pessoas anistiadas com
base na Lei nº 8.878. O parágrafo único do art. 2º da Lei nº 8.878 diz que as
empresas privadas ou extintas não são capacitadas para anistiar as pessoas.
Acontece que elas foram anistiadas, porque preenchiam os requisitos da lei. Três
anos depois, ainda em processo de reintegração, a empresa foi vendida e esses
funcionários ficaram à mercê de uma decisão do Governo.
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O Governo ainda não tomou nenhuma decisão. Fica procurando as empresas
para as quais as atividades foram transferidas, mas muitas vezes as empresas que
foram privatizadas não transferiram atividades. Elas não querem saber de
anistiados, sob alegação política, e jogam o problema para o Governo, mas o
Governo não tem uma solução.
Estamos anistiados desde 2002, há 5 anos e 3 meses, e não temos
perspectiva se voltaremos ou não, porque não há empresa para nos aproveitar. As
empresas que têm relação com nosso trabalho não nos aceitam, mesmo empresas
do Governo. O próprio Governo nomeou seus presidentes e seus diretores. Uma
parcela considerável de anistiados do Banco Meridional do Brasil, do BNCC e de
muitos outros estão sem saber se embarcam, se navegam.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Companheiro, a Sra. Rosa, que
se reunirá com o Dr. Duvanier e o Dr. Toffoli, dará todas essas informações para as
companheiras e para os companheiros.
Muito obrigado. (Palmas.)
Nada mais havendo a tratar, declaro encerrada esta audiência pública.