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Depreciação de bens Um método para determinação da depreciação de edificações Osmar Sadi Nether (*) [email protected] A depreciação dos bens não é fato novo e está presente no dia-a-dia de todas as pessoas, seja na utilização do automóvel, da moradia, dos equipamentos de informática e todos os demais. A princípio, todos os bens possuem durabilidade limitada. Sua melhor utilização ou eficácia ocorre enquanto novos, e, com a utilização, vão gradualmente perdendo características materiais, seja por desgaste, seja por decadência física dos seus componentes, até chegar ao ponto da utilização ser inviável economicamente. Este período denominamos de vida útil e é quantificado usualmente em anos. No tocante à importância da depreciação, a Legislação Brasileira (Lei 9.249/95 – art. 13) prevê que as empresas podem deduzir para efeito de determinação do lucro real e da base de cálculo da Contribuição Social sobre o lucro líquido, as despesas de depreciação e amortização de bens móveis ou imóveis, desde que estejam intrinsecamente relacionados com a produção ou comercialização dos bens e serviços. Os planejadores econômicos necessitam conhecer informações relativas à vida útil provável do maquinário industrial, instrumentos, equipamentos, instalações e edificações, para determinar e dimensionar o projeto de produção e a viabilidade econômica da planta industrial. Percebe-se a importância do conhecimento a priori do comportamento provável da depreciação do capital físico de produção no tempo. Nos contratos de risco que as empresas seguradoras oferecem ao mercado, em geral estão previstas indenizações limitadas ao valor dos bens à época do sinistro. No caso dos automóveis, a importância segurada em geral está limitada ao valor dos mesmos no momento da contratação

Depreciação de imóveis

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DDeepprreecciiaaççããoo ddee bbeennssUUmm mmééttooddoo ppaarraa ddeetteerrmmiinnaaççããooddaa ddeepprreecciiaaççããoo ddee eeddiiffiiccaaççõõeess

Osmar Sadi Nether (*)

[email protected]

A depreciação dos bens não é fato novo e está presente no dia-a-dia

de todas as pessoas, seja na utilização do automóvel, da moradia, dos

equipamentos de informática e todos os demais.

A princípio, todos os bens possuem durabilidade limitada. Sua

melhor utilização ou eficácia ocorre enquanto novos, e, com a utilização,

vão gradualmente perdendo características materiais, seja por desgaste,

seja por decadência física dos seus componentes, até chegar ao ponto da

utilização ser inviável economicamente. Este período denominamos de

vida útil e é quantificado usualmente em anos.

No tocante à importância da depreciação, a Legislação Brasileira (Lei

9.249/95 – art. 13) prevê que as empresas podem deduzir para efeito de

determinação do lucro real e da base de cálculo da Contribuição Social

sobre o lucro líquido, as despesas de depreciação e amortização de bens

móveis ou imóveis, desde que estejam intrinsecamente relacionados com

a produção ou comercialização dos bens e serviços.

Os planejadores econômicos necessitam conhecer informações

relativas à vida útil provável do maquinário industrial, instrumentos,

equipamentos, instalações e edificações, para determinar e dimensionar o

projeto de produção e a viabilidade econômica da planta industrial.

Percebe-se a importância do conhecimento a priori do comportamento

provável da depreciação do capital físico de produção no tempo.

Nos contratos de risco que as empresas seguradoras oferecem ao

mercado, em geral estão previstas indenizações limitadas ao valor dos

bens à época do sinistro. No caso dos automóveis, a importância segurada

em geral está limitada ao valor dos mesmos no momento da contratação

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do risco, portanto, limitado ao valor, já considerando a depreciação dos

mesmos, em comparação com automóveis novos.

No caso dos imóveis, a importância segurada pode estar atrelada ao

valor do custo de reposição novo ou ao valor no estado que se encontra à

época da contratação, ou seja, valor depreciado em comparação com o

novo.

Porém, é a determinação do valor depreciado (ou valor atual dos

bens imóveis) que tem gerado, muitas vezes, "discussões acaloradas"

entre segurados e seguradoras, por ocasião da indenização, por

divergirem dos valores calculados, sendo muitas vezes estas discussões

levadas ao Judiciário para uma solução definitiva do impasse gerado por

interpretações divergentes.

Para uma visão mais ampla da depreciação dos imóveis e sugerir um

critério prático na determinação deste cálculo, passamos a alguns

conceitos usuais:

AAvvaalliiaaççããoo:: Determinação técnica de valor de um imóvel ou de um

direito sobre o imóvel.

VVaalloorr:: Expressão monetária do bem à data de referência da

avaliação.

BBeennffeeiittoorriiaa:: Qualquer melhoramento incorporado permanentemente

ao solo pelo homem, de modo que não se possa retirá-lo sem destruição,

fratura ou dano.

DDeepprreecciiaaççããoo ((DD)):: Perda da aptidão de servir ao fim a que se destina.

É a de cadência do valor intrínseca do bem. No caso das edificações

representa perda de interesse, de comodidade, diminuição da demanda e

conseqüentemente do valor.

VViiddaa úúttiill ddee uumm bbeemm ((nn)):: Período decorrido entre a data em que foi

concluída a edificação e o momento em que deixa de ser utilizado devido

à necessidade de reformas de grande monta.

IIddaaddee rreeaall ((xx)):: Período decorrido entre a data que foi concluído o

prédio e a data de referência da avaliação.

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VViiddaa rreemmaanneesscceennttee ddee uumm bbeemm ((VVrree)):: Tempo estimado entre a data

de referência da avaliação e o fim da vida útil (Vu).

Vu = x + Vre

VVaalloorr rreessiidduuaall ((VVrr)):: é o valor de demolição ou de reaproveitamento

de parte dos materiais no fim de sua vida útil.

VVaalloorr nnoovvoo:: é o custo de reprodução de uma edificação nova. (Por

orçamento). (Vn)

VVaalloorr ddeepprreecciiáávveell ((VVdd)):: é o valor novo menos o valor residual.

Vd = Vn – Vr

Os quadros a seguir visam ilustrar o comportamento da depreciação

e a visualização do comportamento da depreciação pelo método da linha

reta:

QQuuaaddrroo II

RReessuummoo ddaa ddeepprreecciiaaççããoo

eemm eeddiiffiiccaaççõõeess ee ssuuaass ccaauussaass

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QQuuaaddrroo IIII

IIlluussttrraaççããoo ddaa

ddeepprreecciiaaççããoo ppeelloo

MMééttooddoo ddaa LLiinnhhaa RReettaa

Depreciação de ordem física: é decorrente do desgaste das várias

partes que constituem a edificação e que pode ser devido ao uso normal,

falta de manutenção ou emprego de materiais de baixa qualidade.

A depreciação de ordem física teve diversas formulações como os

métodos da linha reta (Quadro II – utilizada junto ao fisco, limitado aos

percentuais fixados na Lei 9.249/95 – Art. 13) e o método de Ross, que

possui a seguinte formulação:

Vdnx

nx

21

D2

2

+=

Ambos os métodos combinam idade da edificação com vida útil

provável da mesma.

No entanto, o método que ao nosso ver tem explicado melhor a

realidade do valor depreciado é o Método de Ross – Heidecke, que combina

Ross com vários estados de conservação com a seguinte formulação.

Vdxcxnx

nx

21

1nx

nx

21

D2

2

2

2

+−+

+=

onde c = Coeficiente do estado de depreciação, com definição no

quadro III a seguir:

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O critério de Heidecke considera como princípios básicos os seguintes:

• a depreciação é perda de valor que não pode ser recuperada com

gastos de manutenção;

• as reparações podem apenas dilatar a durabilidade;

• um bem regularmente conservado deprecia-se de modo regular,

enquanto que um bem mal conservado deprecia-se mais rapidamente.

Com base nestes princípios estabelece cinco categorias de estado de

conservação, com quatro categorias intermediárias, atribuindo a cada uma

delas coeficiente próprios, conforme o Quadro III.

É importante salientar que:

• O estado da edificação é obtido em vistoria pormenorizada

interna e externa;

• A vida útil de edificações similares deverá ser objeto de estudo

específico;

• O valor residual (ou de demolição) e decorrente da composição

material, do estado da edificação e da demanda.

A tabela a seguir relaciona os cinco estados de conservação mais

utilizados, contemplando a incidência da depreciação em termos

percentuais e o correspondente coeficiente de valor atual ou valor

depreciado da edificação, a ser aplicado sobre o valor novo.

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Depreciação funcional pode ser decorrente dos fatores:

• Por inadequação – devido falha de projeto ou na execução que

resultam em inadequação à finalidade para a qual foi concebido. Exemplo:

residência de padrão luxo construído em zona de padrão predominante

popular – Projeto mal concebido ao fim a que se destina a edificação.

• Por superação – devido ao surgimento de novos métodos

construtivos ou materiais. Exemplo para edificações – casa com piso em

ladrilhos hidráulicos em zona de padrão luxo, onde são utilizados para

pisos materiais como cerâmica vitrificada, mármore, granito etc.

• Por anulação – inaptidão a fins diferentes para os quais foi

concebido. Exemplo: impossibilidade de uso de determinada edificação

para o fim que foi concebido devido alteração na legislação de uso e

ocupação do solo.

• O cálculo de depreciação de ordem funcional não possui

equacionamento que possibilita enquadrar em formulações matemáticas

genéricas, devendo cada caso ser estudado à parte, com levantamentos

estatísticos adequados ou através de consulta a profissional especializado

da engenharia de avaliações.

• A determinação fundamentada da depreciação, pautada em

metodologia científica, é fundamental e necessária para estabelecer com

clareza os valores efetivamente em risco, como é o caso de contratos de

cobertura de seguros. O método permite estabelecer com fundamentação

técnica e precisão o valor dos prejuízos ocorridos na propriedade

sinistrada e propiciar o cálculo do justo valor da indenização.

Bibliografia

• CAÍRES, H. – Engenharia de Avaliações – Instituto Brasileiro de

Avaliações e Perícias de Engenharia. São Paulo, Pini, 1974.

• CANTEIRO, João R. – Construções: Seus Custos de Reprodução na

capital de São Paulo de 1939 a 1979; Terrenos: Subsídios à Técnica de

Avaliação. São Paulo, Pini, 1981.

Page 8: Depreciação de imóveis

• LOPES, J. T. Doubek – Depreciação de Edificações – VIII Congresso

Brasileiro de Avaliações e Perícias. Florianópolis, 1995.

• FERRARO, A. M. Pedro – Depreciação de Equipamentos – VIII Congresso

Brasileiro de Avaliações e Perícias. Florianópolis, 1995.

• CASAROTTO Filho, Nelson e Kopittke, Bruno Hartmut – Análise de

Investimentos. 5a Edição, Ed. Vértice, 1992.

• WOILEER, Sansão e Mathias, W. Franco – Projetos, Planejamento,

Elaboração e Análise – Ed. Atlas, 1996.

• Lei Federal 9.249/95

• NBR 5.676/89 – Avaliação de Imóveis Urbanos.

• NBR 12.721/92 – Avaliação de Custos Unitários e Preparo de

Orçamento de

Construção para Incorporação de Edifício em Condomínio.

(*) Engenheiro e Bacharelando em Ciências Econômicas

Ex-Presidente do IBAPE/RS

Instituto de Perícias e Engenharia de Avaliações de Rio Grande do Sul

Diretor da Avalbrás S/C Ltda.

Empresa Brasileira de Estudos Patrimoniais e Pesquisas Imobiliárias S/C Ltda.