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8ºCurso de Licenciatura de Enfermagem 3º Ano – 1º semestre Psicologia V \ D D EPOIS EPOIS DO DO P P ARTO ARTO , , A A D D OR OR ! ! D D EPRESSÃO EPRESSÃO P P ÓS ÓS -P -P ARTO ARTO Trabalho elaborado por: Ana Filipa Fernandes, nº 28798

Depressao Pos Parto

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trabalho da autoria de discentes da ESSaF-UAlg, no âmbito da disciplina de Psicologia V (Psicologia da Gravidez e Maternidade/Paternidade), leccionada por Celeste Duque, ano lectivo de 2006-2007

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8ºCurso de Licenciatura de Enfermagem3º Ano – 1º semestrePsicologia V

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DDEPOISEPOIS DODO P PARTOARTO, , AA D DOROR!!DDEPRESSÃOEPRESSÃO P PÓSÓS-P-PARTOARTO

Trabalho elaborado por: Ana Filipa Fernandes, nº 28798

Cláudia Portero, nº 28805Lúcia Martins, nº 28814Paula Martins, nº 28817Salomé Pedro, nº 28820

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Faro, 2006

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8ºCurso de Licenciatura de Enfermagem3º Ano – 1º semestrePsicologia V

DDEPOISEPOIS DODO P PARTOARTO, , AA D DOROR!!DDEPRESSÃOEPRESSÃO P PÓSÓS-P-PARTOARTO

Orientadora:Dra. Celeste Duque

Trabalho elaborado por: Ana Filipa Fernandes, nº 28798

Cláudia Portero, nº 28805Lúcia Martins, nº 28814Paula Martins, nº 28817Salomé Pedro, nº 28820

Faro, 2006

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ESSaF PSICOLOGIA V

“Quando se está infeliz, mesmo que se tenha sofrido o golpe mais severo, é-se capaz de procurar conforto e de deixar que esse conforto chegue até nós para aliviar a dor. Pode procurar-se e obter a simpatia e preocupação afectuosa dos outros, pode ser-se afável e confortarmo-nos a nós próprios. Mas, na depressão, nem a simpatia e preocupação dos outros nem o amável amor-próprio está disponível. As outras pessoas podem estar presentes, oferecendo todo o amor, simpatia e preocupação que se possa desejar, mas nenhuma compaixão consegue atravessar a parede que nos separa delas enquanto que, do outro lado da parede, não só recusamos a nós próprios o menor alívio e conforto, mas também nos punimos com palavras e actos.” (Feinenmann, 1997, p. 17)

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ESSaF PSICOLOGIA V

Agradecemos a oportunidade que nos foi concedida, para a realização deste trabalho, pela docente da disciplina de Psicologia do presente 3º ano do curso de Licenciatura de

Enfermagem, Prof. Celeste Duque. Agradecemos igualmente a disponibilidade que sempre demonstrou, ao ceder-nos as directrizes necessárias para a realização do

trabalho, assim como para esclarecer as dúvidas surgidas ao longo da sua realização.

Dedicamos este trabalho a todas as jovens, mulheres, mães que em algum momento da sua vida experimentaram esta agravante no momento da maternidade, que é a

problemática da Depressão Pós-parto, assim como também a todas pessoas significativas envolvidas na vida destas mulheres que de algum modo tiveram

repercussões desta fase tão complexa, onde se da lugar a um turbilhão de sentimentos e emoções “quase” incompreensíveis.

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Índice

1. Introdução......................................................................................................................12. O que é a depressão pós-parto?.....................................................................................1

2.1. Tristeza após o parto...............................................................................................22.1.1. “Blues pós-parto”.............................................................................................2

2.2. Depressão pós-parto...............................................................................................32.3. Psicose pós-parto, psicose pós-natal ou psicose puerperal.....................................4

3. Etiologia........................................................................................................................43.1. Factores Sociais......................................................................................................53.2. Factores Biológicos................................................................................................63.3. Factores Psicológicos.............................................................................................73.4. Factores Relacionais...............................................................................................8

4. Sinais e Sintomas/Comportamentos presentes na Depressão Pós-parto.......................94.1. Sinais e Sintomas da Tristeza após parto...............................................................94.2. Sinais e Sintomas da Depressão Pós-parto...........................................................104.3. Sinais e Sintomas da Psicose Puerperal................................................................11

5. Tratamento – “Que tipo de apoio poderá ajudar?”......................................................125.1. O Aconselhamento...............................................................................................155.2. A Terapia Cognitiva.............................................................................................155.3. A Psicoterapia.......................................................................................................155.4. A Terapia Farmacológica.....................................................................................16

5.4.1. Podem os antidepressivos ser utilizados com segurança durante a gravidez e a amamentação?.......................................................................................................17

5.5. A Terapia Hormonal.............................................................................................175.6. Unidades psiquiátricas para mães e bebés............................................................17

6. O papel do enfermeiro na depressão pós-parto...........................................................187. A nossa opinião a cerca da Problemática que é a Depressão Pós-parto...................218. Conclusão....................................................................................................................229. Bibliografia..................................................................................................................23Anexo I............................................................................................................................24

Escala de Edimburgo...................................................................................................25Anexo II...........................................................................................................................26Anexo III.........................................................................................................................28

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Siglas

ISRS – inibidores selectivos da reabsorção de serotonina

TSH – terapia de substituição hormonal

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1. I1. INTRODUÇÃONTRODUÇÃO

Ser mãe pode não ser um “acontecimento feliz” para todas as mulheres uma vez que

muitas mulheres vivem dias, semanas ou até meses de enorme perturbação a seguir ao

nascimento do bebé. As causas que levam as mulheres a ficarem neste estado podem ser

variadas. Algumas podem achar que é difícil estabelecer laços afectivos com o bebé e

outras acharão que é algo bastante fácil. Em algumas situações, pode ser compreensível

esta perturbação emocional quando, por exemplo, o filho não é desejado ou não é

saudável, o companheiro hostil ou ausente, a sua condição sócio – económica é baixa,

ou quando não existe apoio, isto é, quando o contexto da maternidade é desfavorável.

Pensa-se também que a grande diferença hormonal que a mulher experimenta durante e

após a gravidez possa ser uma mudança acentuada na qual algumas mulheres sentem

alguma dificuldade em ultrapassar. Tal como mulher, o homem que vai ser pai também

pode não iniciar a sua experiência como pai de forma tranquila. Todas estas situações

podem resultar em depressão pós-parto.

Nós optámos por este tema porque, por um lado, a depressão pós-parto é cada vez mais

frequente (ou actualmente é dada mais atenção e importância a esta perturbação) e está

presente, principalmente, na nossa sociedade ocidental. Por outro lado, nós, como

futuros profissionais de enfermagem, ir-nos-emos certamente deparar com pessoas com

depressão pós-parto, sendo pertinente e útil adquirirmos conhecimentos sobre esta

problemática. Deste modo, os objectivos para este trabalho são: definir depressão pós-

parto; definir “baby blues”; definir psicose pós-parto; identificar sinais e sintoma da

depressão pós-parto; identificar as causas da depressão pós-parto; identificar as

intervenções de enfermagem na prevenção e recuperação da depressão pós-parto;

compreender a importância do papel do enfermeiro na prevenção da depressão pós-

parto; e identificar algumas escalas de avaliação da depressão pós-parto.

Para obter o máximo de informação possível, recorremos a livros e revistas alusivos ao

assunto abordado, a sites de Internet, utilizando motores de busca, e pedindo orientação

à docente.

A metodologia usada está de acordo com as exigências prescritas pela professora

orientadora: trabalho escrito e apresentação oral.

2. O 2. O QUEQUE ÉÉ AA DEPRESSÃODEPRESSÃO PÓSPÓS--PARTOPARTO??

Segundo Jane Feinenmann (1997: 17), ainda não existe nenhuma explicação científica

acerca da razão e mecanismo pelo qual as pessoas ficam deprimidas. A teoria mais

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ESSaF PSICOLOGIA V

convincente é que tal sucede quando o equilíbrio mental é perturbado por um ou mais

acontecimentos que ocorrem durante a vida, ocasiões emocionalmente tão esgotantes

que impedem o cérebro de manter o equilíbrio mental. Se existir uma sucessão de vários

desses acontecimentos de vida em pouco tempo, a depressão pode surgir subitamente,

ou então ao longo de um período de meses ou anos.

Desde já, importa referir que a maternidade é um acontecimento que exige um enorme

esforço de adaptação por parte da mulher e que pode transformar o puerpério num

grande período de grande vulnerabilidade emocional. Para além de todas as

transformações físicas, psicológicas e sociais inerentes à gravidez, o parto é também

para a mulher um momento de grande exigência não só a nível fisiológico mas também

psicológico, porque passa a existir a responsabilidade por outro ser que exige atenção

permanente.

Após o nascimento de um bebé, o casal passa por um período de ajustamento à

maternidade e paternidade, tal como acontece quando se enfrenta a perda, a mudança ou

a decepção, em que a pessoa acaba por se ajustar mais fácil ou dificilmente. Contudo,

esse tempo de adaptação pode ser longo e difícil, com várias fases doentias e não

esperadas no seu decurso.

2.1. TRISTEZA APÓS O PARTO

A tristeza após o nascimento do bebé afecta entre 50 a 70% das parturientes,

habitualmente entre o 4º e o 10º dia após o parto. A exaltação de ter dado à luz, o

sentimento de proximidade com o companheiro, a tomada de consciência de ser mãe e

pai pela primeira vez e o sentimento de se apaixonar gradualmente pelo bebé são

repentinamente interrompidos por sentimentos negativos inexplicáveis, que em

medicina é designado por “actividade emocional excessiva”. Poderá apresentar

sentimentos contraditórios em relação ao novo ser humano que deu à luz. Supõe-se que

menos de metade das novas mães desenvolvem imediatamente laços afectivos com os

seus novos bebés. Quando estes laços não se desenvolvem, pode ser assustador para a

mãe tomar consciência da ausência de esperado instinto maternal.

Para além disto, nesta altura, a mulher sente-se ansiosa e questiona-se principalmente no

que diz respeito à sua capacidade de lidar com as situações, no futuro. Isto porque, por

um lado, é o fim de um intenso projecto de noves meses e, por outro, o início de um

longo “contrato” com alguém cuja personalidade a mãe desconhece em absoluto.

2.1.1. “Blues pós-parto”

Segundo alguns autores, o “blues pós-parto” é considerado um dos três distúrbios

mentais maternos do pós-parto. Para outros, é como encarado como o período normal de

ajustamento à maternidade e à paternidade. Algumas psicólogas americanas afirmam ser

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mais correcto designar este período como “loucura normal”, afectando cerca de 6 em

cada 10 mães e seus companheiros. Afecta mais as mães pela primeira vez, uma vez que

têm que reestruturar a sua identidade de modo a dar lugar na sua vida ao bebé, ou seja,

repensar o que delas próprias, antes de serem mães, poderão manter; que tipo de mãe

vão ser, tendo em conta a mãe ideal que planearam; e que importância e influência tem

o modelo dado pelas suas próprias mães. Trata-se de um período transitório de

instabilidade emocional, sem complicações, mas sendo necessário suporte e vigilância

da mulher e do bebé. Esta “loucura normal” é, de acordo com Joan Raphael-Leff, citada

por Jane Feinenmann (1997: 29), “uma depressão necessária de maternidade”, isto é,

um feedback saudável às grandes mudanças provenientes do nascimento de um bebé. O

homem que vive a paternidade pela primeira vez confronta-se com desafios semelhantes

ao da mulher. Geralmente, pode sentir responsabilidade acrescida de ganhar dinheiro

associada, consequentemente, a uma maior carga laboral que, posteriormente, irá

interferir com o tempo de que antes dispunha para si próprio e para a família. Muitas

vezes, o homem sente que a sua mulher, que agora também é mãe, deixou de agir como

a mulher por quem se apaixonou. Um pai afirmou, relativamente a este respeito: “Ter

um bebé é como aceitar um hóspede e descobrir que a nossa mulher anda a dormir com

ele”. O modo como irão enfrentar estas mudanças decorrentes da parentalidade é algo

que se for planeado antecipadamente pelo casal não poderá ter forte garantia de

funcionamento uma vez que a personalidade do bebé e o estado da mãe após o parto são

uma incógnita.

2.2. DEPRESSÃO PÓS-PARTO

De acordo com Figueiredo (2001) citado por Sousa (2006), a depressão pós-parto pode

ser definida como uma perturbação do humor que pode ser reconhecida pela presença

de um episódio depressivo major e desenvolve-se após o parto, tendo quase sempre

início entre o 2º e o 3º mês após esse. A depressão pós-parto é, geralmente, um processo

lento e insidioso. É algo que se vai desenvolvendo gradualmente, há dias em que a

mulher após o parto se sente bem e outros em que se sente mal. Segundo Sousa (2006),

a depressão pós-parto é uma perturbação que tem aumentado nos últimos anos,

afectando, aproximadamente, 10 a 20% das mães.

Caracteriza-se, por exemplo, pelo facto de a mulher apresentar tristeza e dor o que lhe

provoca angústia profunda, por desenvolver sentimentos de raiva para com o bebé, o

companheiro e até para com outros filhos, ou por não conseguirem executar as tarefas

do dia-a-dia (como a limpeza da casa). Muitas vezes, os profissionais de saúde e a

família da mulher não valorizam estas características como sendo sintomas da depressão

pós-parto, associando-as apenas a uma dificuldade passageira em desempenhar a função

de mãe. Estes sinais e sintomas que a mulher apresenta, pode causar danos

(desemprego, divórcio, entre outros), muitas vezes irremediáveis, na sua vida durante

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esses meses. Depois desse período é provável que consigam refazer a sua vida. No

entanto, existem certos casos (10 a 20% das doentes) que permanecem durante um

longo período (até 20 anos mais tarde), em que há uma habituação à depressão. Após

tanto tempo, já se torna improvável recuperar a vida destas mulheres.

Pensa-se que o estado depressivo esteja relacionado, por um lado, com as alterações

hormonais, com a súbita diminuição dos níveis de estrogénio e progesterona e, por

outro, com a preocupação com o bebé inerente à função de mãe.

Um aspecto importante é que as mulheres que pensam que o período de adaptação

inerente ao nascimento de um filho é algo bastante complicado de enfrentar são as que

tendem a sofrerem de depressão pós-parto.

2.3. PSICOSE PÓS-PARTO, PSICOSE PÓS-NATAL OU PSICOSE PUERPERAL

Segundo Jane Feinenmann (1997: 45), a psicose pós-parto é a mais grave de todas as

formas de insanidade mental, que requer tratamento psiquiátrico, sendo, deste modo,

relativamente rara. Surge, geralmente, nas duas primeiras semanas após o parto,

resolvendo-se em um a três meses com tratamento adequado. A recorrência em futura

gravidez é de cerca de 1/3.

Estes distúrbios mentais maternos do pós-parto provocam alterações no relacionamento

mãe-filho. Este vínculo deve ser estabelecido o mais cedo possível, iniciando-se na

gravidez quando a grávida é ajudada a desenvolver sentimentos relativamente ao seu

bebé imaginário para, posteriormente, os direccionar para o seu bebé real. No momento

do parto é fundamental que se proporcione o contacto precoce entre a parturiente e o

recém-nascido. Este primeiro contacto é visto como essencial para o estabelecimento do

vínculo afectivo mãe – bebé e é de extrema importância para o óptimo desenvolvimento

da criança.

3. E3. ETIOLOGIATIOLOGIA

Estudos efectuados por Beck, Rerynold e Rutowski (1992) e por May, Sy e Alice

(2000) (in Sousa, 2006), confirmam a teoria de que as mulheres que experimentam

tristeza pós-parto (maternity blues) de uma forma mais severa estão em maior risco de

desenvolver depressão pós-parto.

São variadíssimos os factores que contribuem para o aparecimento de uma depressão

pós-parto, não interessando a sua profissão, estatuto social, modos de vida ou mesmo

antecedentes pessoais. Assim sendo, qualquer pessoa poderá estar apta para desenvolver

este tipo de depressão.

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Segundo Katharina Dalton (in FEINENMANN, 1997), a depressão pós-parto provém de

uma perturbação no equilíbrio hormonal, o qual ocorre quando a hormona progesterona,

que na gravidez aumenta entre 50 a 100 vezes o nível de uma mulher menstruada

normal, baixa subitamente para níveis insignificantes no espaço de horas após o

nascimento do bebé. Pode então dizer-se, segundo esta autora que, a depressão pós-

parto é uma forma dramática de síndroma pré-menstrual (SPM) e é simplesmente uma

questão de hormonas. Contudo, esta teoria não foi bem aceite pela comunidade médica,

na medida em que afirmam não existir qualquer prova de que as mulheres que ficam

deprimidas passem por uma redução hormonal mais dramática do que as que não ficam

deprimidas. Hoje em dia sabe-se que não são só as mães que deram à luz recentemente é

que sofrem de depressão pós-parto. Esta afecta também os homens e as mulheres que

fizeram adopções.

Assim sendo, são várias as razões que levam uma mulher a desenvolver depressão pós-

parto, podendo identificar-se quatro factores de risco principais: sociais, biológicos,

psicológicos e relacionais.

3.1. FACTORES SOCIAIS

Em relação aos problemas sociais, verifica-se que tais poderão advir de pressões

exercidas sobre os pais, de preocupações financeiras, de habitação, de pressões culturais

ou religiosas. Ocorrem novas pressões sobre os pais, ou seja, a depressão pós-parto

começou a ter mais importância durante uma altura de mudança na vida familiar, nos

países ocidentais, na medida em que existe um aumento do número de famílias

mononucleares, as mulheres têm os filhos cada vez mais tarde e o número de mulheres

que voltam a trabalhar depois do parto aumenta. As mulheres também começam a achar

que “não só podem ter tudo (…) mas também que devem ter tudo” (Feinenmann, 1997:

55). Verifica-se também que as mulheres trabalham até mais tarde na gravidez e voltam

ao trabalho mais cedo do que anteriormente. Hoje em dia, as mulheres também passam

menos tempo no hospital, no puerpério, regressando, muitas vezes a casa, com as

preocupações do bebé, das lides da casa. Assim sendo, a mulher apercebe-se que esta

nova vida, por vezes se torna numa “vida de isolamento, esgotamento, desilusão e

ansiedade” (Feinenmann, 1997: 56). Com a chegada do bebé surgem então novas

despesas e controlos nas compras. Assim, a mulher ao ver que não consegue melhorar

tal situação, encontra-se em risco de ficar deprimida, pois sente que não consegue dar ao

seu bebé tudo o que é necessário. A mulher pode desenvolver sentimento de culpa,

vergonha e ressentimento, os quais poderão condicionar a depressão.

As pressões culturais ou religiosas também vêm ao de cima, a partir do momento em

que a mulher tenta afastar-se de toda a tradição familiar sobre cuidados maternais.

Estudos revelam que a ocorrência de casos de depressão pós-parto é muito menor nas

mulheres asiáticas e nas comunidades tradicionais do Ocidente. Contudo tal facto pode

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apenas dever-se à carência de vocabulário ou de experiência para descrever sentimentos

de depressão, por parte de algumas comunidades.

3.2. FACTORES BIOLÓGICOS

Em relação aos problemas obstétricos, tal pode revelar-se após um parto difícil, com

intervenção médica, que levam a um sentimento de insuficiência, por parte da mãe, e de

perda de controlo, por parte do pai, os quais são, por norma, esquecidos nos dias após o

parto. Contudo, após uma cesariana de emergência, a mulher pode desenvolver uma

“sensação de violação, perda de controlo e insucesso” (Feinenmann, 1997: 60), os

quais podem conduzir à depressão a longo prazo, por sentir que não teve um papel

activo no nascimento do seu filho.

Pode acontecer que, após um parto normal, a mulher sofra de stress pós-traumático,

devido à dor e ao desconforto existente enquanto está a parir, não havendo, futuramente

a hipótese de engravidar novamente ou de fazer um simples Papanicolau. Assim sendo,

“não são os acontecimentos em si que causam a angústia, mas o modo como o parto é

orientado…” (Feinenmann, 1997: 61).

Outra causa para a depressão é a infertilidade prolongada, pois o sentimento de

vergonha e insuficiência vem ao de cima por ambos os parceiros, por não conseguirem

cumprir este papel de progenitores. Por outro lado, o tratamento da infertilidade também

trás grandes perturbações emocionais, como consequência das alterações hormonais.

Embora por vezes se pense que tais perturbações desaparecem após o nascimento do

bebé, o que realmente acontece é que algumas mulheres apercebem-se que a sua vida se

mantém a mesma, embora com um filho, aumentando assim as perturbações já

existentes.

Em relação à adopção, o que se verifica é que os pais adoptivos também podem passar

por conflitos emocionais idênticos, pois muitos deles enfrentaram períodos longos de

infertilidade. Também acontece os pais adoptivos não terem tempo para se prepararem

psicologicamente para a chegada do novo membro.

Os factores biológicos são caracterizados por todas as alterações que ocorrem na mulher

durante a gravidez. Assim sendo, aumenta a quantidade de produção de estrogéneo e de

progesterona em cerca de 50 vezes, que contribuem para as mudanças físicas que

sustentam a mãe e o filho ou para a sensação de bem-estar. Após o parto, os níveis das

hormonas descem, enquanto aumentam os níveis de prolactina, para uma possível

amamentação, a qual interfere com a produção de estrogéneo e progesterona. Estas

interferências levam a alterações de humor, as quais têm um papel importante nos altos

e baixos da depressão pós-parto. Também no desmame poderá ocorrer alterações de

humor, atendendo ao facto de que os níveis de prolactina diminuem, tal como os das

endorfinas, hormona que proporciona a sensação de bem-estar. Em relação ao sindroma

/CDuque 2008-11-14 6

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pré-menstrual (SPM), o que se pode concluir é que as mulheres que desenvolveram

depressão pós-parto, têm uma maior probabilidade de desenvolverem SPM.

3.3. FACTORES PSICOLÓGICOS

São vários os factores psicológicos que podem levar ao desenvolvimento de uma

depressão pós parto, sendo que um deles é o facto de se ser mãe pela primeira vez, na

medida em que se inicia uma vida nova com o bebé, mas termina uma vida a dois, sem

filhos. O facto de uma mulher ter pouco contacto com a maternidade antes de ser mãe,

também pode ajudar ao desenvolvimento de uma depressão, já que a ideia que se faz em

relação ao pós-parto é sempre mais suave do que realmente acontece na realidade. Para

além das alterações corporais, terão que existir ajustes nas rotinas diárias ou mesmo nos

padrões do sono, o que nem todas as mulheres são capazes de o fazer, levando a

mudanças emocionais.

A idade para ser mãe pela primeira vez tem vindo a aumentar, o que não se torna

negativo de todo, pois uma mulher mais velha já terá melhores condições económicas

para receber o seu filho e, segundo investigações, são mais susceptíveis a terem

descendentes mais inteligentes. Em contrapartida, a probabilidade de viverem longe de

familiares é maior, a perda de identidade profissional poderá ter um impacto acrescido,

as expectativas em relação à maternidade podem tornar-se irrealistas ou existirem

hábitos de consumo e de vida que são difíceis de alterar após o nascimento do bebé.

Por vezes as mulheres têm expectativas elevadas quanto a elas próprias para quando

forem mães, acabando por sentir uma enorme sensação de fracasso quando tal não é

concretizado. Acontece que as mulheres, nalgumas vezes, não são capazes de

reconhecer esse perfeccionismo, tornando-se deprimidas, ansiosas ou apavoradas com

os objectivos não atingidos. Em todos os livros sobre bebés ou nas aulas de preparação

para o parto se fala da mãe ter que manter o controlo tanto no parto como na

maternidade inicial. Contudo, é bom que se incentive as mulheres que não conseguem

atingir esse controlo, a falar sobre o que sentem, com vista a não ficarem deprimidas, o

que acontece se por uma questão de aparência, a mulher não quiser admitir tal facto.

A probabilidade de desenvolver depressão pós-parto aumenta se a mulher já tiver

antecedentes de depressões. O facto de nascer um bebé leva a que as mães e os pais

regressem às suas próprias experiências de infância. Assim sendo, se tivemos uma

infância feliz, teremos a tendência para contar as mesmas histórias que os nossos pais

contavam ou mesmo utilizar os mesmos nomes carinhosos que os nossos pais nos

chamavam. Por outro lado, se a nossa infância foi muito traumatizante, com abusos

sexuais, físicos ou emocionais, então a tendência será para nos sentirmos “debilitados,

com falta de confiança e ansiosos quanto ao modo como iremos reagir com os nossos

próprios filhos” (Feinenmann, 1997: 74). Para este último caso, é importante que os

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ESSaF PSICOLOGIA V

pais procurarem algum tipo de aconselhamento antes de decidirem ter um bebé. Ainda

não existe consenso em relação à possibilidade da susceptibilidade à depressão ser

genética, contudo há evidências de que os filhos de pais que sofrem depressão são mais

susceptíveis tanto na infância como no resto da vida.

Por vezes ocorrem certas perdas nas nossas vidas, as quais não são choradas nem

exprimidas como sentimento de dor. Na verdade, tal não deve acontecer, com vista a

que todos os acontecimentos fiquem resolvidos na mente de cada um, para que,

futuramente, não dêem origem a uma depressão, nomeadamente uma depressão pós-

parto. “Quanto mais significativa a perda, mais tempo leva a sentir-se emocionalmente

estabilizada, a não ser que a perda seja enfrentada e chorada” (Feinenmann, 1997: 76).

Outro factor psicológico que pode levar a uma depressão pós-parto é o facto da gravidez

não ser desejada ou planeada. Assim sendo, uma mulher que seja mais aberta a novas

experiências terá menos dificuldade em aceitar uma gravidez deste estilo do que uma

mulher menos flexível e com mais receio para a mudança. Tal atitude pode dever-se a

um depressão “herdada”, pelo que será aconselhável que assuma esses sentimentos e

procure ajuda perto de um profissional de saúde.

3.4. FACTORES RELACIONAIS

Em relação aos relacionamentos, estes podem ficar afectados, quer seja com o seu bebé,

com o seu companheiro, com a sua mãe ou com os seus amigos.

Deste modo, em relação ao bebé, o facto deste chorar durante a noite leva a que os pais

tenham insónias, sendo esta uma das causas da depressão pós-parto. Segundo as

estatísticas, uma em cada duas mulheres que estabelecem uma ligação emocional com o

seu bebé sentem pouco ou nenhum entusiasmo por ele durante cerca de seis semanas e,

ocasionalmente, até um ano. Tal facto poderá causar preocupações e contribuir para um

sentimento de depressão. No caso dos bebés serem prematuros ou se estes necessitarem

de cirurgia ou hospitalização, a mãe poderá achar difícil estabelecer uma ligação

emocional se não forem encorajadas a ficar com o seu bebé, durante esse período difícil.

Se o bebé sofrer de alguma deficiência, poderá também haver uma dificuldade na

relação mãe-filho, principalmente se não existir nenhum apoio psicológico.

Também a relação com o seu companheiro vai ficar afectada, pois a irritabilidade e o

ressentimento podem levar a uma depressão de um ou ambos os elementos de um casal.

Por vezes, as tentativas de reconciliação, após brigas, são tão mínimas, que tal

desespero leva mesmo à separação.

A partir do momento em que uma mulher passa a ser mãe, deixa de ser exclusivamente

filha, não podendo, contudo, deixar de ser tratada como filha com carinho e apoio da

sua própria mãe. O facto de ter uma mãe por perto, que auxilie e com a qual existe uma

/CDuque 2008-11-14 8

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relação saudável, fará com que a transição de maternidade se torne mais fácil. Por outro

lado, se a mãe se encontra emocionalmente ou geograficamente distante, se já não está

viva ou se é demasiado crítica ou intrusiva, a transição de maternidade não será tão sã e

segura.

Normalmente, quando alguém tem um filho, os amigos que não têm filhos não ficam

forçosamente por perto depois do nascimento. Estes podem achar que a nova mãe já não

tem interesse, pelo que o melhor será esta escolher outros amigos. Podem também

acontecer que com a desistência do trabalho ou mesmo com a licença de parto, a mãe

perca alguns contactos e dê com ela própria, isolada. Assim sendo, será uma boa altura

para fomentar amizades com mulheres que partilham a maternidade e o mesmo tipo de

futuro, no entanto, nem sempre é assim tão fácil.

Embora o estereótipo para uma mãe solteira seja os fracos recursos económicos, a

verdade é que nem sempre isto acontece. Atendendo que ser mãe solteira é bem aceite

socialmente, uma mulher pode escolher ter um filho sozinha, sabendo que tem meios

financeiros adequados, independência e o apoio de amigos e família para aceitar a tarefa

com confiança. Contudo, visto que a mulher terá que enfrentar a gravidez e a

maternidade, sem o apoio de um companheiro, fará com que ela ache que tem que ser

corajosa em tudo perante o mundo, e que consegue fazer tudo, pelo que estará mais

vulnerável a desenvolver uma depressão pós-parto. No entanto, não é necessário ser

mãe solteira para se sentir só. Ela pode sentir-se sozinha pela ausência de apoio, afecto e

atenção para si como indivíduo, e não apenas como mãe. O facto de estar rodeada de

gente, por vezes não é o essencial para que a mãe não se sinta em plena solidão.

4. S4. SINAISINAIS EE S SINTOMASINTOMAS/C/COMPORTAMENTOSOMPORTAMENTOS PRESENTESPRESENTES NANA DDEPRESSÃOEPRESSÃO P PÓSÓS--PARTOPARTO

É prático dividir as alterações psíquicas mais comuns no período pós-parto em três

tipos: a Tristeza Materna (Maternity Blues), a Depressão Pós-parto (Cutrona, 1982) e a

Psicose Puerperal.

4.1. SINAIS E SINTOMAS DA TRISTEZA APÓS PARTO

De acordo com Jane Feinenmann (1997:44) a Tristeza Materna caracteriza-se por:

sente-se em baixo, geralmente aborrecida e esgotada; não tem qualquer interesse ou

prazer em coisas normalmente agradáveis; e/ou sofre de pelo menos quatro dos

seguintes sintomas:

/CDuque 2008-11-14 9

Page 17: Depressao Pos Parto

ESSaF PSICOLOGIA V

IrritabilidadeLabilidade do humorTristeza e choro sem nenhum motivo aparente Indisposição  Lapsos curtos de memória Fadiga Ansiedade

Perda de apetiteConcentração reduzidaSentir-se inútilPensamentos mórbidos Inquietação ImpaciênciaSono perturbado

/CDuque 2008-11-14 10

Page 18: Depressao Pos Parto

Estes são também sinais e sintomas de alerta para um possível desenvolvimento, à

posteriori, de uma Depressão Pós-parto.

4.2. SINAIS E SINTOMAS DA DEPRESSÃO PÓS-PARTO

A Depressão Pós-parto afecta 1 em 10 mulheres. Constatando-se a presença da maioria

dos seguintes sintomas, como enuncia Jane Feinenmann (1997:34/41), é importante que

a mulher procure ou seja orientada para um profissional, ou que seja comunicado ao

obstetra para que esse providencie o encaminhamento.

Gritos e choro incontrolável – poderá não afectar todo o dia e/ou todos os dias.

Irritabilidade – poderá originar relações seriamente descontroladas, em particular com o companheiro.

Incapacidade de dominar as situações – sensação esmagadora de não conseguir fazer frente às actividades quotidianas, algo que atinge de modo particularmente severo se a mulher levou uma vida de trabalho activa, energética e capaz.

Sentimento de culpa e insuficiência – sente-se culpada e inadequada por ser a única mãe do mundo a não conseguir lidar com a situação.

Perda de interesse nas actividades habituais – conviver torna-se cada vez mais difícil e os acontecimentos sociais tornam-se insuportáveis.

Medo de magoar o bebé ou a si própria.

Incapacidade de criar ligações afectivas – a ligação afectiva com o bebé pode simplesmente parecer que não acontece, originando, mais uma vez, sentimentos de culpa e vergonha.

Cólera – poderá achar que antipatiza agressivamente com o seu bebé.

Ansiedade – as mães deprimidas podem experimentar ataques de pânico clássicos, com sentimentos de pavor, palpitações, dificuldade de respirar e tremuras, sendo que pode acontecer por varias razões, mas existe uma falta de confiança básica na capacidade da mãe em cuidar da criança.

Falta de concentração – a capacidade de concentração pode desaparecer, é difícil ler ou acompanhar uma conversa vulgar.

Distúrbios do sono – poderá tornar-se difícil adormecer, e ainda mais quando acordada pelo bebé, ou poderá estar num estado de hibernação, querer dormir todo o dia, e nunca acordar retemperada.

Perda de interesse pela comida – poderá deixar de se alimentar ou simplesmente achar impossível ter tempo para se sentar e tomar uma refeição.

Perda de interesse sexual – é provável que a perda normal de interesse sexual, após o nascimento do bebé, seja mais intensa e duradoura.

Perda de memória

Falta de interesse pelo bebé

Fadiga/esgotamento

Tristeza constante

Alterações de humor exageradas

Page 19: Depressao Pos Parto

Confusão

Na maioria dos casos, as mulheres com Depressão Pós-parto recuperam no espaço de

alguns meses. Cada oito em dez mulheres melhoram num espaço de doze a dezoito

meses e, embora durante esse tempo a sua vida se possa ter desmoronado, por vezes têm

efectivamente hipóteses de a refazerem e de começar de novo, quando melhoram.

Contudo, para algumas desafortunadas não há recuperação a curto prazo. Entre 10 a

20% das pacientes ficam envasadas na depressão pelo que, até vinte anos mais tarde, se

habituaram a uma vida que, tanto quanto são capazes de se lembrar, sempre foi

“cinzenta”. Uma vez deprimidas, é muito mais fácil para as mulheres permanecerem

num estilo de vida deprimido, “Esquecemo-nos do que é estar em vantagem

relativamente às coisas e, pior ainda, começamos a pensar que é normal sentirmo-nos

assim constantemente” (Gerrilyn Smith, psicóloga, cit. por Feinenmann, 1997).

4.3. SINAIS E SINTOMAS DA PSICOSE PUERPERAL

A Psicose Puerperal é um estado extraordinário, o mais perigoso de todos os estados

pré-natais, assim como a mais grave de todas as insanidades mentais, de acordo com

vário psiquiatras. Pode acabar em suicídio da mãe e até mesmo no assassínio do bebé. É

relativamente rara, ocorrendo apenas em um de cada 500 nascimentos. Os sintomas

aparecem nos 3 primeiros meses, iniciando-se geralmente nas duas primeiras semanas

após parto e são mais intensos e duradouros, com episódios psicóticos e um contraste

dramático entre a racionalidade a calma da mulher. Necessita acompanhamento

psicológico e internamento hospitalar. Segundo Jane Feinenmann (1997:48) os sintomas

são:

Alucinações ou delírios

Pensa em prejudicar o bebé

Insónia grave ou pouca necessidade de sono e descanso

Pensamentos de autodestruição

Agitação

Comportamentos incomuns

Medo

Ausente

Pensamentos intrusivos

Distúrbios de apetite

Facilmente excitável

Discurso muito rápido, tenso e a tropeçar nas palavras

Embora casos de Psicose Puerperal tenham sido relatados por médicos, desde o surgir

da Medicina, ainda hoje não se consegue compreender totalmente. “Lucy lembra-se dos

olhos de seu bebé mudarem de cor quando olhava para ele, convencendo-se de que ele

Page 20: Depressao Pos Parto

era filho do diabo. Passava a vida a tocar-lhe a testa para se certificar de que não lhe

estaria a nascer cornos” (cit. por Feinenmann, 1997).

Por forma a ajudar a decidir se a ajuda profissional é a melhor opção a tomar, as

psicólogas americanas Ann Dunnewold e Diane Sanford (cit. por Feinenmann,1997)

redigiram as seguintes directrizes:

Sabe que algo está errado, mas não

consegue dominar as coisas.

Simplesmente sente que precisa de uma

perspectiva diferente para dar a volta às

coisas;

Receia poder fazer mal a si própria, ao

bebé ou a qualquer outra pessoa;

Não é capaz de dormir mais de três ou

quatro horas durante várias noites a fio ou

tem outros problemas de sono;

Não tem qualquer interesse pela comida

ou a comida fá-la sentir-se enjoada;

É incapaz de cuidar do bebé ou de si

própria, em termos de se vestir, de se

manter asseada ou de se alimentar;

Sente-se acelerada ou desligada da

realidade;

Alguém que lhe é próximo diz-lhe que é

essencial procurar ajuda;

Tem ataques de pânico ou sintomas de

ansiedade que interferem com as suas

actividades quotidianas;

Tem sintomas persistentes, tais como

choro, raiva, fadiga ou desconsolo, que a

impedem de gerir a sua vida como

gostaria de fazer;

O seu bebé tem agora pelo menos seis

semanas de idade e os sintomas não

desaparecem: permanecem na mesma ou

pioram.

5. T5. TRATAMENTORATAMENTO – “Q – “QUEUE TIPOTIPO DEDE APOIOAPOIO PODERÁPODERÁ AJUDARAJUDAR?”?”

Quando uma pessoa está com uma depressão, torna-se sempre difícil decidir que precisa

de ajuda externa e, tratando-se de uma depressão pós-parto, e, como refere Feinenmann

(1997: 155), essa dificuldade aumenta, por uma de várias razões, ou pelo seu conjunto:

De qualquer maneira, tudo muda com a chegada do novo bebé, fazendo com que a depressão seja ainda mais difícil de reconhecer do que o habitual;

A depressão pós-parto pode facilmente tornar-se um modo de vida, pelo que a pessoa não consegue imaginar uma vida em que não se sinta persistentemente esgotada, zangada, ressentida e letárgica;

Pode recear ser julgada como má mãe ou até que lhe tirem os filhos, se confessar estar “mentalmente doente”;

Page 21: Depressao Pos Parto

Pode sentir que, apesar de saber que está doente, será uma pessoa melhor, se continuar a lutar e vencer a depressão sozinha;

Pode acreditar, como muitas pessoas acreditam, que as terapias e drogas disponíveis para tratar a depressão não são úteis, pelo menos em si mesma, ainda que não sejam activamente prejudiciais.

Se houver oportunidade de se ter apoio profissional sensível e eficaz, este deve ser

procurado sem excitação. No entanto, nem sempre são encontrados profissionais

especializados em problemas com esta delicadeza, e assim, nem sempre a ajuda

profissional tem garantias de ser eficaz, bem como nem sempre os serviços adequados

estarão disponíveis. A mulher, pode adoptar certos comportamentos, de forma a ajudar-

se a si mesma a ultrapassar esta fase depressiva. Em termos alimentares, deve ter uma

alimentação nutritiva, incluindo frutas, verduras e cereais integrais, evitar a cafeína, o

álcool e açúcar, fazer exercício físico moderado (um bom condicionamento físico é

sempre importante, pois a ginástica liberta endorfinas, que são os nossos antidepressivos

naturais e aumentam o nosso bem-estar. O intestino funciona melhor, a pressão arterial

fica mais estável, entre outros.); repousar quando o bebé está a dormir; falar com

alguém dos seus sentimentos, em especial com outras mulheres que são mães; pedir

ajuda para cuidar do bebé, das tarefas domésticas e das demais tarefas necessárias; deve

igualmente reservar um tempo só para si durante o dia, mesmo que por pouco que seja,

deve “guardá-lo” só para si, de modo a poder dar uma caminhada, ler um livro, tomar

um banho relaxante, fazer yoga, meditação ou massagens relaxantes, entre outras

actividades variadas, que sejam do seu agrado; e passar algum tempo só com o seu

companheiro e pedir-lhe que a ajude quando o bebé acorda à noite, bem como nas

restantes actividades domésticas. A mulher não se deve isolar, uma vez que o

isolamento costuma prolongar a depressão. Deve sair, nem que seja por pouco tempo,

de casa, pois o ar fresco e a mudança de cenário vão ajudá-la e também ao seu bebé.

(Adaptado de The American of Family Physicians, The American College of

Obstetricians ans Gynecologists, and The Office on Women´s Health).

O apoio familiar também se torna extremamente importante. Estudos revelam que a

depressão pós-parto é muito menos frequente em culturas onde diversos membros da

família ampliada participam em dar apoio e instrução. Muitas vezes a pessoa pode ser

de grande ajuda por simplesmente ouvir com empatia, reanimando a nova mãe e

evitando fazer críticas ou suposições.

Quando necessário e existindo apoio profissional “adequado”, surge a dúvida de quando

será o momento propício a fazê-lo. É possível que seja a própria mulher a dar-se conta

de que necessita e quer ter essa ajuda, o parceiro também pode aperceber-se de que essa

ajuda é necessária naquele momento, ou o casal em si pode chegar a essa conclusão,

dado que esta compreensão da necessidade de ajuda pode surgir, por exemplo, como

uma revelação.

Page 22: Depressao Pos Parto

Consciente de que necessita de ajuda, a pessoa tem de saber onde procurá-la. Assim

sendo, o médico de família, se conhecer bem a mãe em causa e se estiver consciente da

opções de tratamento disponíveis localmente, é um bom “caminho” para tentar alcançar

a ajuda necessária, tendo em conta que o aconselhamento psicológico se torna

importante no caso de depressão pós-parto, desde que o técnico possua formação e

experiência em lidar com este tipo de situações.

Relativamente às terapias a serem usadas por técnicos sensibilizados para este

problema, actualmente há um consenso crescente de que a melhor terapia é a mistura de

aconselhamento psicológico, auto-educação e farmácos.

As terapias expressivas ganham destaque no tratamento da depressão pós-parto, uma

vez que, pode verificar-se um enorme alívio simplesmente por que a pessoa tem alguém

a quem pode contar o pior do que está a sentir. Não existe uma pessoa específica para

“ouvir os desabafos”. Esta pode ser a mãe, um amigo ou o próprio cônjuge daquela

mulher que necessita de ser ouvida, desde que esta se sinta à vontade para fazê-lo e

contar verdadeiramente o que está a sentir, os medos que tem, os sonhos, o

descontentamento que está a sentir. No entanto, a maioria das vezes torna-se mais

complicado revelar os pensamentos mais íntimos às pessoas que nos são mais próximas

ou queridas, principalmente neste tipo de situações, visto as emoções que vêm à

superfície no caso de depressão pós-parto, serem frequentemente consideradas

vergonhosas e tabu – “é esse o grande benefício de se falar com um conselheiro ou

terapeuta profissional”, diz a psicoterapeuta Dilys Daws (cit. por Feinenmann, 1997:

158) Tendo depressão pós-parto, a mulher considera-se insuficiente, inadequada e

desprezível, tendo uma visão muito negativa de todos os acontecimentos, tanto tratando-

se de acontecimentos bons, como dos menos bons e, assim sendo, ganha uma visão

distorcida do mundo, ficando com muito pouca ou nenhuma motivação para tentar

mudar as coisas, dado achar que mais uma vez irá falhar.

Segundo Dilys Daws (cit. por Feinenmann, 1997), o tipo de apoio poderá funcionar

melhor quando facultado regularmente numa altura específica, para que a “nova” mãe

possa seleccionar os reais problemas para si, para os quais pretende ajuda e, depois de

falar sobre os mesmos, aplicar soluções à sua vida, sabendo que não se trata do fim da

questão, mas que este é um processo contínuo. Assim, a mãe com depressão pós-parto,

deve encontrar uma pessoa para ajudá-la, pessoa esta que a “agrade”, em quem sinta

confiança e segurança para falar abertamente de todos os problemas que reconhece

como perturbadores e que, simultaneamente, tenha os “pré-requisitos” (devidamente

treinado e experiente) para lidar com este tipo de depressão. Posteriormente à primeira

sessão, deve sentir que o conselheiro a orienta numa direcção positiva e que fora

estabelecido um “contrato” para a continuação da terapia. Entre os cuidados para as

pacientes com depressão pós-parto, tem-se destacado muito o sucesso da abordagem

cognitivo-comportamental, preferentemente em grupos de terapia. Meager (1996) refere

Page 23: Depressao Pos Parto

a melhora do quadro depressivo detectado pelas escalas de Edinburgh para Depressão

pós-parto. A mulher deve estar ciente que, quem teve Depressão Puerperal uma vez,

provavelmente também terá na próxima gravidez e/ou no próximo parto, mas é

perfeitamente possível fazer um tratamento preventivo, portanto nada impede a mulher

de engravidar novamente. Existem diferentes terapias disponíveis e, desta forma, como

cada caso é um caso, a terapia deve ser enquadrada para cada pessoa em específico.

5.1. O ACONSELHAMENTO

O aconselhamento pode ser encontrado na instituição de saúde que a mulher costuma

frequentar ou no Centro de Saúde local. Aqui, o médico de família pode indicar um

conselheiro, bem como prescrever antidepressivos. Evidências sugerem que o decorrer

de seis a dez sessões semanais pode ajudar a vencer a depressão. Apesar do conselheiro

nunca julgar ou dar conselhos, na depressão pós-parto torna-se ainda mais importante a

escuta atenta e sensível do mesmo, reflectindo uma imagem do que aconteceu àquela

mulher durante a vida e igualmente do que lhe está a acontecer actualmente no “aqui” e

no “agora”. Existem assim diferentes abordagens do aconselhamento. Alguns

conselheiros optam pela chamada “terapia centrada no problema”, focando-se em

primeira instância nos problemas actuais e só após ser atingido um nível confortável de

funcionamento, haverá lugar para avançar para as demais questões, como sejam as da

primeira infância, relação com os seus pais ou os seus sonhos. Outros defendem que se

torna mais útil confrontar todo o tipo de problemas ao mesmo tempo. Como tal, mais

uma vez se denota que cada caso é um caso e a “escolha” vai variar de pessoa para

pessoa. Independentemente da opção, tem de haver ajuda do conselheiro, para que

aquela mãe/mulher ganhe confiança para tomar a seu cargo a sua própria recuperação.

5.2. A TERAPIA COGNITIVA

A terapia cognitiva é considerada particularmente útil no tratamento da depressão pós-

parto, sendo facultada por técnicos da especialidade. O objectivo desta terapia é o de

lidar com problemas imediatos, fazendo com que os processos de pensamento negativos

que sustentam a depressão, ou seja, os padrões de pensamento negativos, sejam

detectados e se torne possível substitui-los por abordagens mais positivas e eficazes. A

mulher pode mesmo ser incentivada a manter um diário, onde anota os pensamentos

negativos e as situações que lhe deram origem, tentando posteriormente substitui-los por

positivos, para que seja ultrapassada a depressão.

5.3. A PSICOTERAPIA

A psicoterapia pode ter um enorme valor quando usada no tratamento da depressão pós-

parto, principalmente se essas mulheres com depressão pós-parto pertencerem a culturas

Page 24: Depressao Pos Parto

ocidentais dado que, tal como diz a psicanalista Joan Raphael-Leff, “há pouco

reconhecimento das perturbações emocionais e medos ou fantasias relativas ao

nascimento, que são ritualmente favorecidas e dissipadas com todo o cerimonial

noutros locais”. Na altura do nascimento há como que um “renascer” de histórias

interiores, “à mercê de uma mãe ou de um pai, aparentemente omnipotentes.” Assim

sendo, se existem memórias infelizes de uma infância abusiva, por exemplo, então o

ciclo de “abuso emocional e sexual, negligência e violência, pode ser perpetuado, visto

que cada sucessiva geração é infalível e inconscientemente arrastada a projectar,

repetir e realizar fisicamente ambientes emocionais cruciais e relacionamentos,

actualizando-os e inflingindo-os ao que lhe são mais próximos” (Feinenmann, 1997:

163). A psicoterapia ganha então ênfase dado ser a melhor maneira de travar a falta de

amor-próprio e confiança, a cascata de abuso e de deficiente maternidade ou

paternidade, transmitida de pais para filhos. Com uma ou duas sessões semanais, podem

ser interiorizados novos conhecimentos que posteriormente facilitarão a resolução das

questões práticas quotidianas da família. Vão então sendo debatidos problemas, que

farão com que outros submirjam do nível subconsciente, podendo assim, haver uma

resolução dos mesmos e os conhecimentos a adquirir da resolução posterior da

perturbação emocional também podem ser gradualmente integrados na vida da mulher.

A mãe pode ser encaminhada para um psicoterapeuta do Serviço Nacional de Saúde,

quer nos serviços de saúde mental de adultos, quer no seu serviço local de consulta

infantil e familiar. O médico de clínica geral ou técnico de saúde da mãe, pode

aconselhá-la quanto a isso, mas caso não seja possível, o facto de ter de pagar para

frequentar sessões semanais ou bi-semanais durante os meses cruciais pode vir a ser

muito proveitoso para a mãe com depressão pós-parto.

5.4. A TERAPIA FARMACOLÓGICA

A terapia farmacológica é muito controversa, na medida em que a ideia que as pessoas

têm da dependência desesperadamente difícil de debelar dos antidepressivos, bem como

estão mesmo relacionadas com o suicídio ou assassínio, faz com que fiquem muito

relutantes relativamente à aceitação da sua administração. Na melhor das hipóteses,

estes são considerados como pacificadores temporários e, na pior das hipóteses, como

uma espécie de controlo da mente, suprimindo o sentimento de dor existencial e impede

de reagir aos problemas da vida.

No entanto, caso considere tomar um antidepressivo, a mulher deve certificar-se de qual

o que lhe está a ser receitado e quais os seus efeitos secundários.

A maior parte dos especialistas em depressão pós-parto recomendam os ISRS

(inibidores selectivos da reabsorção de serotonina) como “muito adequados para a mãe

deprimida após o parto, tendo em consideração a ausência de efeitos secundários

sedativos e a resposta antidepressiva é relativamente rápida” (Feinenmann,1997: 171).

Page 25: Depressao Pos Parto

Foi até sugerido que os ISRS são particularmente eficazes no período pós-natal, porque

parte do seu efeito é moderar a sensibilidade das aminas biogénicas às mudanças

hormonais que ocorrem nessa altura.

5.4.1. Podem os antidepressivos ser utilizados com segurança durante a gravidez e a amamentação?

A maioria das mulheres fica muito receosa ao considerar o uso de medicamentos

durante a gravidez e até bem pouco tempo, o consenso médico era que os

antidepressivos não deviam ser usados, quer durante a gravidez, quer durante a

amamentação. Quando eram prescritos antidepressivos após o nascimento de um filho, a

mulher era sempre aconselhada a parar com a amamentação antes de iniciar o

tratamento. Shou (1998), na Dinamarca recomenda avaliar-se a relação custo-benefício

do tratamento antidepressivo durante e depois da gravidez, considerando-o de baixo

risco. Contudo, actualmente muitos dos antidepressivos podem ser utilizados de modo

seguro, durante esse período, uma vez que, pequenas quantidades (cerca de 1/40 da dose

do adulto) entram no leite materno, não sendo suficiente para ter qualquer efeito.

Háberg (1997) refere que actualmente muitos antidepressivos estão a ser estudados em

relação à lactação e os Inibidores Selectivos da Recaptação da Serotonina (ISRS) forma

os menos presentes no leite materno. Entre estes, a serotonina e parxetina parecem as

melhores alternativas. Se, no entanto, a mulher ficar mais ansiosa por lhe terem sido

prescritos antidepressivos, a melhor opção é debater com o seu médico ou a enfermeira,

as preocupações que têm, e optar pelo que é melhor para si, depois de devidamente

informada.

5.5. A TERAPIA HORMONAL

Relativamente à terapia hormonal, um estudo recente, entre psiquiatras e ginecologistas,

publicado em The Lancet, em Abril de 1996, sugere que a terapia de estrogéneo,

utilizando adesivos semelhantes aos usados na terapia de substituição hormonal (TSH)

pode ser eficaz no tratamento desse estado. Alguns estudos evidenciam que o

estrogéneo poderá funcionar mais rapidamente do que os antidepressivos e ser mais

eficaz para algumas mulheres. Actualmente ainda não se chegou a um consenso sobre o

papel das hormonas na depressão pós-parto, dado haver relatórios contraditórios

referentes a esta questão. O médico pode sugerir adesivos de estrogéneo, bem como

tratamento com antidepressivos, não havendo quaisquer provas que o uso conjunto de

ambas as terapias apresente quaisquer riscos.

5.6. UNIDADES PSIQUIÁTRICAS PARA MÃES E BEBÉS

Apesar de frequentemente não ser necessário o internamento em casos de depressão

pós-parto, este pode ser adequado em casos graves de depressão e especialmente no

Page 26: Depressao Pos Parto

tratamento de psicose pós-parto, no qual o infanticídio ou o suicídio são uma

possibilidade. É comum, nos hospitais, as mães mentalmente doentes, ficarem

internadas em enfermarias psiquiátricas de adultos que não dispõem de quaisquer

instalações adequadas à presença do bebé.

As unidades para mães e bebés, possibilitam a observação e diagnóstico da mesma.

Estas unidades especiais facultam tempo e espaço para a mãe expressar as suas

emoções, pensamentos, preocupações e interpretações erradas quase ao mesmo tempo

em que estes ocorrem. Ela pode ver outras mães com os seus bebés e aprender com elas

e com as enfermeiras como cuidar e brincar com o seu bebé. Segundo o psiquiatra

professor Ian Brockingtion, que montou uma unidade para mães e bebés em

Birmingham, “ela pode receber gradualmente o poderoso reforço que um bebé

proporciona àqueles que o satisfazem”. O internamento sem o bebé, diz ele, é pior do

que inútil, pois destrói a autoconfiança, a independência e a relação mãe-bebé.

Estas unidades estão a tornar-se mais largamente disponíveis, apesar de muito

lentamente, são projectos a longo prazo, mas as quais começam a ser consideradas cada

vez mais úteis.

6. O 6. O PAPELPAPEL DODO ENFERMEIROENFERMEIRO NANA DEPRESSÃODEPRESSÃO PÓSPÓS--PARTOPARTO

Segundo Feinenmann (1997), os enfermeiros, bem como outros profissionais de saúde,

podem contribuir para o crescente stress da grávida ao não lhe prestarem o apoio que

esta necessita, nomeadamente no esclarecimento de dúvidas. A preocupação dos

profissionais é transmitir confiança à grávida, justificada ou não, e minimizar os

sentimentos negativos, menosprezando o esclarecimento de dúvidas e a desmistificação

de conceitos, o que conduz ao receio, por parte das grávidas, que possa surgir

impaciência da parte dos enfermeiros se não conseguirem pôr em prática tudo o que lhes

foi ensinado.

A atitude dos profissionais na sala de partos também exerce muita influência na

parturiente, sendo que as mulheres são menos susceptíveis de passar pelo estado

depressivo no pós-parto se a assistência for individualizada e sensível. Só recentemente

as parteiras receberam formação em termos de competências de comunicação. Algumas

mulheres poderão projectar na parteira ou no médico sentimentos que advêm de figuras

de autoridade do seu passado, em particular dos pais. Assim, a tarefa da parteira pode

revelar-se difícil porque a parturiente pode ser hostil.

Ainda que as puérperas sejam seguidas regularmente, a depressão não é, na grande

maioria dos casos, reconhecida pelos enfermeiros e outros profissionais de saúde.

Alguns reconhecem os sinais mas por temerem que a pessoa, ao saber da existência de

uma doença que é a depressão pós-parto, possam vir a desenvolvê-la. Contrariando esta

Page 27: Depressao Pos Parto

ideia, Feinenmann afirma que “ter os sentimentos depressivos aceites como válidos

através de um diagnóstico de depressão clínica efectivamente faz com que a pessoa

deprimida se sinta melhor” (Feinenmann, 1997, adaptado de Stern, 1996). As mulheres

deprimidas têm dificuldade em solicitar ajuda, mesmo quando têm a consciência de

estarem deprimidas. Quando vão a consultas fazem queixas triviais ao invés de

exteriorizarem os seus verdadeiros medos, levando a que os profissionais de saúde as

denominem de desocupadas ou hipocondríacas. Os médicos de clínica geral são pouco

conhecedores da depressão pós-parto e de como tratá-la, e mostram-se relutantes para

indicar um psiquiatra por suporem que o estado é pouco grave e de breve duração.

A partir de 1989 foram realizadas uma série de experiências que tornaram possível a

criação de um método cientificamente fiável de identificar mulheres vulneráveis à

depressão pós-parto – a Escala de Edimburgo da Depressão Pós-Parto (ver Anexo I).

Num estudo realizado, mil mulheres identificadas como vulneráveis à depressão foram

divididas em dois grupos, sendo que a um deles foram prestados ensinos sobre a

depressão pós-parto e ao outro não. Os resultados revelaram que 69% das mulheres

vulneráveis às quais foi dado apoio contra apenas 38% das que não receberam

aconselhamento, não desenvolveram depressão pós-parto. “Falar” revelou-se a terapia

particularmente mais eficaz, quer na prevenção quer no tratamento. Um outro estudo

realizado por Heh e Fu (2003), citado por Sousa (2006), demonstrou que as mulheres

que haviam recebido informação de apoio sobre a depressão pós-parto seis semanas

após o parto apresentavam níveis mais baixos de depressão aos três meses do que as

mulheres que não a receberam. A mulher deveria falar com o mesmo profissional ao

longo da gravidez e no pós-parto, pelo que as consultas de vigilância ao longo da

gravidez e as visitas domiciliárias assumem uma grande importância. Existem

directrizes formais que permitem ao profissional uma aproximação mais fácil à mulher e

o “acesso” aos seus sentimentos e emoções, dado que as mulheres têm tendência para os

esconder, por sentirem vergonha dos mesmos. Um esquema de visitas que abarque uma

visita na primeira semana após a alta hospitalar, outra na terceira semana e mensalmente

nos seis meses seguintes é importante. Este esquema pode sofrer adaptações

individualizadas às necessidades da mulher. Os temas a leccionar estão sintetizados no

quadro e pretende-se com eles a redução do stress materno bem como o aumento da

auto-confiança, já que o desconhecimento é apontado como causa da depressão pós-

parto, como prova um estudo de Nahas et al (1999), citado por Heh e Fu (2003) e por

Sousa (2006). A grávida é encorajada a falar de si e dos seus sentimentos relativamente

à gravidez, ao parceiro, a um outro profissional de saúde, tornando claro que o apoio é

também para a mulher e não só para saber como vai o bebé.

As clínicas pré-natais com um ambiente mais acolhedor permitem, entre outras coisas,

que as grávidas possam partilhar experiências entre si, bem como entre os pais, e

permitem o acesso a bibliografia relacionada com o puerpério (o que lhes confere mais

Page 28: Depressao Pos Parto

confiança ao cuidarem dos filhos, o que reduz o stress materno). Os casais são ainda

aconselhados especificamente para mais facilmente superarem a pressão da chegada do

bebé. Ao invés de tentar prevenir ou curar a depressão, o objectivo dos enfermeiros

deve consistir em ajudar “as pessoas a encontrar as suas próprias soluções e a

aproveitar e reforçar os sistemas de apoio existentes” (Feinenmann, 1997: 102). É

importante que a mulher crie os seus próprios mecanismos de defesa e que a família de

suporte da mesma saiba como a ajudar.

Na sala de partos e durante um trabalho de parto, os enfermeiros são encorajados a:

facultar a continuidade de assistência empática durante todo o trabalho de parto e

nascimento; dar aos pais o “papel principal”; estar sensíveis e conscientes do estado

emocional contínuo da parturiente; ouvir as necessidades expressas pela parturiente,

mantê-la sempre informada e envolvê-la em todas as decisões; lembrar-se que as

parturientes têm uma percepção aumentada e podem lembrar-se de um reparo casual

feito por quem está a assistir, não devendo existir diálogos como se ela não estivesse

presente; se a parturiente parecer estar a descontrolar-se, ajudá-la a recuperar o controlo;

ajudar a parturiente a lidar com a dor, reconhecendo-a como válida e não a

subestimando; facultar informação sobre o alívio da dor, respeitando a escolha do que a

parturiente quer, e ajudando-a a decidir quanto a alternativas, se necessário, conscientes

do valor do apoio emocional que poderão prestar; dar tempo aos pais para estarem um

com o outro e com o seu bebé.

No pós-parto, as mulheres necessitam de descansar num ambiente calmo e de apoio

emocional. “A pergunta a fazer, dizem eles, é: o bebé está óptimo, mas como está

VOCÊ?” (Feinenmann, 1997, adaptado de Cox e Holden, 1994). As directrizes para as

visitas após o nascimento são as seguintes: o enfermeiro faculta serviço orientado para a

mãe em vez de orientado para o bebé, para que a mãe saiba que a atenção extra lhe é

dedicada, em vez de imaginar que o enfermeiro está preocupado com a sua capacidade

para cuidar do bebé; o enfermeiro combina com a mãe visitá-la durante um determinado

número de semanas, numa hora previamente estabelecida; ter um conhecimento

semanal regular significa que a mãe sabe quando é que o enfermeiro vai e pode

preparar-se para a visita, pensando em assuntos de que queira falar; pedir à mãe que

providencie quem torne conta do bebé e/ou dos filhos durante esse tempo não só lhe

garante que está a ser levada a sério, mas também lhe dá “autorização” de solicitar a

ajuda de terceiros; a mulher ganha confiança por saber que tem apoio, que alguém

compreende e que outras pessoas passam por experiências semelhantes; a mulher é

incentivada a falar das suas experiências, à sua maneira, sem ter que responder a

perguntas relativas à agenda do enfermeiro; falar sobre os seus sentimentos ajuda a

mulher a pensar mais claramente sobre a sua situação e a decidir o que pode fazer; não

lhe sendo dados conselhos directamente, a mulher ganha confiança na sua capacidade

de tornar as suas próprias decisões.

Page 29: Depressao Pos Parto

O enfermeiro “precisa de ouvir o que a mãe realmente sente por si própria, pelo parceiro

e pelo bebé, e o que é revelado pode ser bastante chocante – ansiedade, raiva, ódio a si

mesma, ódio ao bebé e ao parceiro, sonhos perturbadores, receio de perda”

(Feinenmann, 1997: 102/103). Esta sobrecarga emocional transmitida pode acarretar a

necessidade do enfermeiro recorrer a uma rede de apoio, dado o desgaste que representa

o confronto com estas realidades. (Nursing – Eunice Jesus vieira Sousa, 2006, pp. 11-

12)

7.7. A A NOSSANOSSA OPINIÃOOPINIÃO AA CERCACERCA DADA P PROBLEMÁTICAROBLEMÁTICA QUEQUE ÉÉ AA DDEPRESSÃOEPRESSÃO P PÓSÓS--PARTOPARTO

No caso de uma gravidez desejada, após a mulher ter a confirmação de que está grávida,

é “invadida” por um “turbilhão” de pensamentos e sentimentos acerca de como será o

seu bebé, qual será o seu sexo, que nome escolher, etc. A mulher preocupa-se,

igualmente, com as condições que pode dar ao SEU filho e, com isto, crescem

“problemas” a solucionar, fruto do nascimento de um novo ser.

A mulher é confrontada com uma oscilação do seu humor, havendo períodos de grande

felicidade, contrabalançados com períodos de grande sensibilidade, nos quais,

aparentemente pequenas coisas a fazem chorar, coisas essas de extrema importância e

relevância para si.

Após o parto, os potenciais problemas “criados” e pensados e repensados pela mãe,

tornam-se reais e, assim, ela experimenta uma nova realidade, que até então, estava

focada numa perspectiva de futuro e que, agora, está presente naquele novo ser que já se

“pode tocar”. Desta forma, após o nascimento do bebé, muitas mães ficam com grande

labilidade emocional. Nesta altura, tudo se torna preocupação, ficando estas com medo

de não “estar à altura” de cobrir as necessidades do seu bebé que parece tão frágil mas

que, no fundo, faz com que as mesmas sintam um duo de sentimentos (alegria versus

tristeza).

É frequente todas as mães passarem por um período de declínio após o nascimento dos

seus bebés – as preocupações, a vida que muda, a imagem corporal alterada, o psíquico

“abalado”, uma realidade nova a ser experimentada, entres outras – por vezes pela

primeira vez, tudo faz com que se sintam culpadas ao percepcionarem a tristeza que

sentem, quando tanto desejaram era aquela criança!

Assim sendo, é comum todas as mães “experimentarem” depressão pós-parto, dado toda

a sensibilidade que as envolve. É um período no qual é necessário uma grande

compreensão por parte do marido, que também é “alvo” de uma grande tensão

emocional, e da família, fazendo com que as mesmas se sintam seguras, auxiliando-as

assim a erguerem a sua “força”, “coragem” e “determinação”, para conseguirem “olhar

Page 30: Depressao Pos Parto

em frente” e ultrapassarem esta depressão, de modo a prevenir que a mesma evolua

significativamente para uma depressão mais “alargada”, que se propaga à medida que os

anos passam.

Contudo, é de frisar que nalguns casos e, apesar da maioria das mulheres

experimentarem depressão pós-parto, algumas não têm “esta” depressão, mas sim uma

depressão que teve o seu início anterior à gravidez e que, através de comportamentos

tidos pelas mesmas, foi “mascarada” até à altura do pós-parto, no qual, com uma

fragilidade mais acentuada, fez com que a mesma evidenciasse numa depressão,

percepcionada como uma depressão pós-parto. Regra geral, estas mulheres adoptam

comportamentos contrários aos sentidos, para demonstrarem sentir o que não sentem,

falarem o que não pensam, elas adoptam uma postura “esperada” por uma pessoa não

depressiva.

Nestes casos, é necessário um todo e grande investimento familiar, uma vez que, já com

depressão anterior, esta mulher está numa fase de grande vulnerabilidade e, com as

demais preocupações com o seu bebé, que vão fazer com que cresça e multiplique o seu

eu existencial, o seu ego reduzido, a sua visão enublada da vida, podendo mesmo

evoluir para um quadro preocupante, enveredando para uma psicose, se não

acompanhadas.

8. C8. CONCLUSÃOONCLUSÃO

Após a elaboração deste trabalho, podemos concluir que atingimos os objectivos

definidos, permitindo-nos, deste modo, adquirir conhecimentos acerca do que é a

depressão pós-parto, quem está mais susceptível, quais as suas causas, como se

manifesta e de que modo o enfermeiro pode ajudar na prevenção e tratamento. Para

além disso, a pesquisa que realizamos permitiu encontrarmos vários exemplos de

mulheres com depressão pós-parto que consideramos ter sido fundamentais para uma

melhor compreensão dos conceitos e, posteriormente, facilitar-nos uma melhor actuação

nesta situação como futuras enfermeiras.

A Depressão Pós-parto não é considerada um termo cientificamente íntegro e adequado,

assim como nem uma doença, no sentido cingido do termo. Os médicos utilizam este

termo para interrelacionar e denominar a presença de um certo número de diferentes

sintomas, que ocorrem com gravidade variável e num determinado período do

desenvolvimento humano. Desta forma, estes sintomas poderão, de certa forma, ser

melhor compreendidos se forem aceites como sentimentos normais, como uma

contestação normal a uma determinada situação de mudança, por vezes ingovernável ou

até intransigente. É, então bastante provável que estes sentimentos, e resistências

degenerem em depressão clínica, quando não são exteriorizados, mas, sim, reprimidos.

Page 31: Depressao Pos Parto

Em concordância com Mel Parr, uma pioneira neste campo, que nos diz que “o silêncio

NÃO é de ouro” (cit. por Jane Feinenmann (1997), in Sobreviver à depressão pós-

parto), temos a opinião que se as mulheres tivessem o conhecimento de que esta

conjuntura, estes sentimentos são comuns e compreensíveis, talvez a comunicação com

os seus pares significativos ou com os profissionais de saúde era estabelecida, e o

auxílio permitido, atempadamente e eficazmente. Em suma, concordamos que a solução

adequada para esta problemática seria então uma intervenção junto das mulheres e suas

famílias que tenham como objectivo gerar e receber um novo membro no seio familiar.

Importa salientar que sentimos alguma dificuldade em colocar apenas o essencial acerca

do tema porque, por um lado, encontramos imensa informação e, por outro, foi-nos

exigido limite de páginas.

9. B9. BIBLIOGRAFIAIBLIOGRAFIA

FEINENMANN, Jane – Sobreviver à Depressão Pós-parto – identificar, compreender e superar a depressão pós-parto. Colecção Terra Mãe, Âmbar, Porto, 1997. ISBN:972-43-0389-6.

WIDLOCHER, Daniel – As lógicas da Depressão. Climpsi Editoras, Lisboa, 2001.

SOIFER, Raquel – Psicologia da Gravidez, parto e puerpério. 4ª edi., Porto Alegre, 1986.

MACY, Christopher; FALKNER, Frank – Gravidez e Parto – A psicologia e Você. Casa do Livro Editora lda., Lisboa, 1979.

KITZINGUER, Sheila – Enfermagem Materna e Neonatal – Série de estudos sobre as etapas da gestação e a preparação da maternidade. Ciclo dos Leitores, Londres, 1980.

ROPER, LOGAN, TIERNEY – Modelo de Enfermaria. 4ªedi. Interameicana-MacGraw-Hill, 1993. ISBN:968-25-1971-3.

BOBAK, et all – Enfermagem na Maternidade.4ªedi, Lusociência, 1999. ISBN: 972-8383-09-6.

SOUSA, Eunice J. V. – Nursing – 2006.

http://www.gballone.sites.uol.com.br/colab/carmen.html

www.psiqweb.med.br/sexo/ posparto .html

www.linkdobebe.com.br/temas/ depressao .htm

www.mentalhelp.com/ depressao _puerperal.htm

www.abcdasaude.com.br/artigo.php

http://www.copacabanarunners.net/pos-parto.html

www.manualmerk.net

Page 32: Depressao Pos Parto

AANEXONEXO I I

Page 33: Depressao Pos Parto

ESCALA DE EDIMBURGO

Fonte: Norman C. Smith, Compreender a Gravidez, 2005

Page 34: Depressao Pos Parto

AANEXONEXO II II

Page 35: Depressao Pos Parto

E não há mais nada?

O som de um choro, uma fralda para mudar,biberões para lavar e o sono a faltar,a menina que não pára de chamar pela mãe,o bebé chora, porque o boneco não tem.

A máquina de lavar zumbe constantemente,não consigo um momento para me sentir distante.Há carpetes para aspirar e pó para limpar, não há tempo para engomar, mas há que cozinhar.

É perfeitamente indescritível, esta nova vida,ninguém me avisou disto quando eu era uma querida.Acabou o romance, a paixão, o divertimento,só uma filha que palra e chora a cada momento.

Ninguém com quem falar, todo o dia sozinha,ninguém está em casa para uma conversinha.Ir passear não dá, e chove sem cessar,parece que a minha vida esta a desmoronar.

Anónimo

(Feinenmann, Sobreviver à depressão pós-parto, 2000)

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AANEXONEXO III III

Page 37: Depressao Pos Parto

Tema: Depressão pós – parto Data: 09-11-2006

População alvo: alunos do 3ºano – 1º semestre do Curso de Licenciatura em Enfermagem Hora: 12h

Duração: 25 min

Grupo: Ana Fernandes, Nº 28798; Cláudia Portero, Nº 28805; Lúcia Martins, Nº 28814; Paula Martins, Nº 28817; Salomé Pedro, Nº 28820

Objectivo geral: Sensibilizar para a depressão pós-parto

Objectivos Conteúdo Estratégias / Recursos Avaliação

/CDuque 2008-11-14 30

Page 38: Depressao Pos Parto

- Definir depressão pós-parto;

- Definir “baby blues”;

- Definir psicose pós-parto;

- Identificar sinais e sintoma da depressão

pós-parto;

- Identificar as causas da depressão pós-

parto;

- Identificar as intervenções de

enfermagem na prevenção e recuperação da

depressão pós-parto;

- Compreender a importância do papel do

enfermeiro na prevenção da depressão pós-

parto;

- Identificar algumas escalas de avaliação

da depressão pós-parto.

- Definição de depressão pós-parto;

- Definição de “baby blues”;

- Definição de psicose pós-parto;

- Identificação dos sinais e sintomas da

depressão pós-parto;

- Identificação das causas da depressão pós-

parto;

- Identificação das intervenções de

enfermagem na prevenção e recuperação da

depressão pós-parto;

- Compreensão da importância do enfermeiro

na prevenção da depressão pós-parto;

- Identificação de algumas escalas de

avaliação da depressão pós-parto.

- Utilização de data-show - Método interrogativo

/CDuque 2008-11-14 31