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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
DESAFIOS NA REQUALIFICAÇÃO URBANA E AMBIENTAL Parque das Lagoas do Norte, Teresina/PI
DE PAAUW, ROBERT
Arquiteto e mestre pela Escola Superior de Arquitectura de Barcelona,
Diretor do escritório JANSANA, DE LA VILLA, DE PAAUW ARQUITETOS e Professor de Desenho da Paisagem e Infraestrutura Verde na Escola da Cidade, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, São Paulo
Jansana, de la Villa, de Paauw, arquitetos Rua General Jardim 645, cj51. 01223-011 São Paulo
RESUMO
Uma região de lagoas ao norte na cidade de Teresina, Piauí, é um lugar originalmente moldado pela natureza e suas dinâmicas hidrológicas e que foi ocupado, manipulado e remanejado pelo homem. Este território recebe os Projetos Básicos e Executivos das Obras de Requalificação Urbana e Ambiental das Áreas 2, 3 e 4, incluindo Plano de Reassentamento, na região de Lagoas do Norte e ainda em fase de andamento. A intervenção, de cunho urbanístico, paisagístico e social, se faz através dos protagonistas do lugar e no marco de um programa impulsado pela Prefeitura de Teresina com financiamento do Banco Mundial. O projeto busca celebrar o convívio entre a natureza e a cidade no que pode ser chamado um “parque habitado”, com enorme potencial para ativar a economia da região e se consolidar não apenas como um destino para negócios e tratamento hospitalar, mas também como destino turístico. A execução do projeto está a cargo do Consórcio Teresina Sustentável, composto pelos os escritórios Jansana, de la Villa, de Paauw Arquitetos, com sede em São Paulo e Barcelona, e MPB Engenharia, com sede em Florianópolis e Brasília.
Palavras-chave: Àgua e barro; convívio e reequilíbrio sistêmico; conectividade territorial; parque
ambiental habitado; quintal urbano de proximidade.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
O elemento
A Água
Atualmente a água é considerada como a mais maravilhosa das substâncias por suas
propiedades únicas. Segundo Boada e Maneja, ela é protagonista de processos vitais, de
forma que, sem ela, a vida não existiria. Porém, a água se encontra em um momento histórico
de dificuldades. Fala-se em “crise da água” essencialmente pelas diferentes alterações em
seu ciclo, assim como pelo acréscimo na sua demanda (BOADA, 2015, p.7).
Definitivamente, podemos afirmar que a razão de existir da região de Lagoas do Norte em
Teresina é pela água, pois ali se encontra a confluência entre os rios Poti e Parnaíba. Esse é
um contexto de grande vulnerabilidade ambiental. Sua configuração de planície fluvio-lacustre
com extensa área plana inundável foi alterada por diferentes intervenções hidráulicas nos
últimos 40 anos: construção de diques, sistema de interligação de lagoas (antigos braços de
rio), sistemas de controle de nível, etc.
A estação chuvosa provoca considerável elevação no nível das águas dos dois rios,
especialmente no mês de abril, marcado por chuvas torrenciais. Essa elevação resulta no
extravasamento dos leitos e, consequentemente, na inundação da planície formada na
confluência fluvial. Trata-se de um fenômeno natural, inerente a muitas outras regiões
ribeirinhas. Na região de Lagoas do Norte, no entanto, a ocupação urbana desordenada tem
acarretado acentuação e descontrole dos processos naturais, com efeitos nefastos à
qualidade de vida da população.
Encontro dos rios: à esquerda, o Rio Parnaíba, e à direita, o Rio Poti. Foto: Eduardo Crispim, 2012.
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O passado
A história do lugar
Teresina foi a primeira capital brasileira planejada, ainda durante o reinado de Dom Pedro II.
Seu nome faz homenagem à emperatriz Tereza Maria de Bourbon, que teria sido mediadora,
junto ao imperador Dom Pedro II, para que a cidade viesse a se tornar a capital do Piauí em
detrimento de Oeiras, até então sede administrativa localizada no sertão do estado. Teresina,
diferentemente, tinha uma localização mais central e próxima aos rios navegáveis Parnaíba e
Poti, podendo estabelecer o contato com o litoral, fundamental para melhoria na atividade
comercial.
O primeiro assentamento do que hoje se conhece por Teresina data de 1760 e se localizava
precisamente à beira do rio Poti, no lugar onde acontece a sedimentação do próprio rio
quando ele se encontra com o Parnaíba. Ali se formam as lagoas do norte da cidade por efeito
de fechamento dos distintos braços de rio, onde pescadores, canoeiros e plantadores de fumo
e mandioca fizeram suas moradias.
No entanto, quando o governador Saraiva constatou que o local à beria dos rios estava sujeito
à instabilidades inerentes à área de várzea com enchentes e epidemias palustres, designou
um local um pouco mais a sul para emprender a nova cidade. Esse novo lugar foi chamado de
Vila Nova do Poti e, posteriormente, a cidade foi rebatizada como Teresina. O traçado da
cidade planejada pelo mestre João Isidoro França começou na atual Praça da Bandeira com a
Igreja de Nossa Senhora de Amparo, padroeira dos Teresinenses.
Ainda com todos os problemas ligados às enchentes periódicas, Vila do Poti não ficou
desabitada. Ao contrário, sua ocupação foi crescendo e é hoje o bairro mais antigo da capital,
conhecido como Poti Velho. Junto a outros 12 bairros, ele integra a área de intervenção do
Programa Lagoas do Norte, que tem aproximadamente 1.300ha e cerca de 100.000
moradores com carência de infraestrutura de saneamento básico.
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Áreas de intervenção: os 13 bairros de Lagoas do Norte. Imagem: Prefeitura de Teresina, 2005.
As necessidades
Programa Lagoas do Norte
O Programa de Melhoria da Qualidade Ambiental Lagoas do Norte da Prefeitura de Teresina
está em andamento desde 2008 e possui financiamento do BIRD. Ele busca contribuir para o
desenvolvimento sustentável dessa parte da cidade através de um conjunto de ações
integradas, interrelacionadas e tecnicamente planejadas, visando a implantação de um
processo estruturado de intervenção na realidade local.
Assim, o programa prevê o desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável,
incluindo: a Modernização da Gestão Municipal, o Desenvolvimento Econômico e Social
através de ações sociais de geração de emprego e renda, a Requalificação Urbana e
Ambiental com a urbanização da região; Reestruturação do Sistema Viário; Reurbanização
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dos Bairros da Região incluindo arborização e iluminação de calçadas; Melhorias
Habitacionais; Loteamentos para reassentamento; Novos conjuntos habitacionais e
infraestrutura; Reabilitação de equipamentos comunitários; Implantação de Parques Urbanos;
Novos equipamentos comunitários; Avaliação Ambiental das Intervenções e Atualização do
Plano de Reassentamento Involuntário (PRI). Além disso, engloba também a Melhoria e
Implantação da Infra-estrutura de Saneamento Ambiental com: a Melhoria do Sistema de
Abastecimento de Água; Implantação do Sistema de Esgotamento Sanitário, incluindo Plano
de Adesão da população atendida; Plano de operação e manutenção dos equipamentos e
infraestrutura implantados com análise de fontes de financiamento; Drenagem Urbana;
Melhoria do Sistema de Macrodrenagem das Lagoas e Recuperação de Áreas Degradadas.
As necessidades são tantas que este desafio representa uma oportunidade única para que,
no processo de desenvolvimento, os diferentes especialistas envolvidos trabalhem a partir de
uma transversalidade profissional e que a interdisciplinaridade consiga um resultado
integrado, sólido e coeso. Desta formula depende o êxito da operação.
Ao poder público, em seu papel indutor do desenvolvimento econômico, social, urbano e
ambiental para a redução das desigualdades urbanas, cabe a prerrogativa de definir a divisão
social e simbólica do espaço, as normas de uso e ocupação do solo, os tipos de construção
adequadas à saúde, bem como os espaços para equipamentos e serviços urbanos e para
preservação ambiental.
Os equilíbrios
Renaturalização versus ocupação e atividade extrativa
Uma realidade onipresente é a ambiental. O projeto urbanístico define o território como um
Parque Ambiental Habitado. Sendo assim, ele tem como desafio fazer a interface entre a
cidade e a natureza, já que uma esta inserida na outra em um equilíbrio atualmente precário e
claramente desestabilizado.
A cidade, com as atividades humanas do dia a dia, pressupõe uma carga excessiva,
sobretudo pela ausência de infraestrutura urbana adequada. Já a Natureza, submetida às
agressões da urbe, está bem representada pelos magníficos corpos d’água das lagoas,
porém, poluídos e parcialmente aterrados, com proliferação de vegetação antrópica e sinais
de fauna local sobrevivente, mas em condições de extrema poluição.
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A ocupação da região de Lagoas do Norte, por ser uma área complicada pelas enchentes
recorrentes, se deu paulatinamente e informalmente por famílias de baixa renda. Além dos
assentamentos irregulares, esse território também foi enormemente prejudicado pela
atividade oleira descontrolada que ocupou a região a partir da década de 1950, por ela possuir
argila de boa qualidade e água em abundância. A partir dessa ação rudimentar, a paisagem
natural sofreu profundas mutações. O processo de extração da argila irregular para produção
de ceramica vermelha (tijolos e artesanato) criou cavas e depressões no solo, quando não
modificando os limites das lagoas. Somado a isso, temos a ocupação e aos aterros informais
gerou uma intensa degradação ambiental. Das 34 lagoas existentes na região, restaram
apenas 12.
Assim, como medida urgente, o Programa Lagoas do Norte atuou logo de ínicio com a
desativação das olarias irregulares existentes na região, mantendo apenas olarias
controladas pelo atual Polo Cerêmico, localizado no bairro de Poti Velho. Os trabalhadores
que se viram prejudicados por isso puderam fazer cursos profissionalizantes em outras áreas,
realizados pela Prefeitura como parte do Programa, ou também participar da Olaria Ecológica
inaugurada, onde se produz em cooperativa de tijolos ecológicos.
Paradoxalmente, as lagoas ainda existentes ficam aparentes apenas na vista aérea, já que
estão escondidas atrás das ocupações informais, não podendo ser vistas a partir das ruas da
cidade. A malha urbana tem crescido ao redor das margens dessas lagoas, dando as costas
para elas, despejando ali esgoto sem restrições. Também foram determinantes para a
degradação ambiental da região os aterros clandestinos que redesenharam o contorno
geográfico, sempre “mutante”, das margens em busca de “fabricar” lotes onde não existia
solo, sempre com o intuito de construir habitações informais ou agregar mais um pedaço de
terreno nos fundos do quintal para uso privado. Assim, as lagoas são espaços
ambientalmente sensíveis, muito maltratados, que desde o início do projeto se busca
resgatar, preservar e dar um uso voltado para toda a sociedade, para o bem comum, em
harmonia com o meio ambiente.
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Condições precárias: à esquerda, esgoto a céu aberto, à direta acima, aterros irregulares para
construção informal, e abaixo, cágados nadam em canal poluído. Imagens: acervo pessoal, 2014.
Se faz indispensável, então, reverter essa situação, conciliando paisagem física com
ocupação/ação humana. Uma ferramenta local usada é a renaturalização, isto é, o
estabelecimento de comunidades vegetais adequadas para estes ambientes. Da-se ênfase
especial na sequência que se criará desde a área mais próxima às moradias e vias com
tráfego até as águas das lagoas, determinando um gradiente de renaturalização desde a
realidade mais urbana até a mais rústica e selvagem. O intuito é consolidar a convivência
entre o ser humano e as espécies de fauna que ali vão se estabelecer ou já estão
estabelecidas.
Outras ações importantes para o processo de renaturalização é a indução de programas
educativos ambientais determinantes, pois incentivará os hábitos culturais conscientes e a
mudanças de hábitos urbanos que deterioram o meio-ambiente. Assim, o apoio às hortas com
um programa adequado, por rexemplo, é fundamental, pois convive perfeitamente com o meio
circustante, uma vez que controlado por uma exploração responsável do solo.
Os desafios do projeto
As identidades, o resgate e a revitalização do turismo
Para que um território seja entendido, respeitado e lembrado é muito importante resgatar as
identidades que ali convergem. Para isso, se faz necessário achar o conjunto de estratégias
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que não permita que essas identidades se percam. Uma intervenção urbana abrangente
como esta é a conjuntura perfeita para estabelecer e consolidar as linhas de trabalho.
Desde a Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural da Unesco,
aprovada em 1972, e a resolução do Comitê do Patrimônio Mundial de 1992, onde foram
reconhecidas “as interações significativas entre homem e o meio natural” como paisagens
culturais, se pode destacar o ponto referente ao “sentido de identidade e pertencimento da
população que habita ou trabalha no território abrangido pela paisagem”. Lagoas do Norte é
exponente de uma das atividades mais tradicionais de Teresina: o trabalho com o barro dos
ceramistas, atividade que deu nome à maior lagoa que ainda existe na região, a Lagoa dos
Oleiros. O atual Polo Cerâmico concentra ainda a cooperativa dos artesãos e é um dos
maiores atrativos turísticos na área junto ao Parque do Encontro das Águas dos dois rios.
Porém, apesar de ser uma atividade controlada, as condições de salubridade e segurança de
trabalho ali não são adequadas, inclusive por se encontrarem em área alagável. Assim, o
Programa contempla não só uma nova localização para os artesãos, mas também a
construção de um novo prédio destinado à atividade. A intenção é que nesse novo polo se
possa ver não apenas o produto cerâmico finalizado, mas também todo o processo de
manipulação do barro, passando pelas etapas de trabalho manual, forno e produto acabado.
Atividade oleira no atual Pólo Cerâmico de bairro de Poti Velho. Fotos: acervo pessoal, 2014.
A proposta urbanística do Programa também busca reconhecer a realidade da tradição oleira
com a iniciativa de implantação do Museu do Barro. O equipamento ocupará um lugar bem
central e representativo, diante de uma das novas praças projetadas na requalificação do que
virá a se chamar Polo Turístico.
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O Polo Turístico é uma porção de território no último trecho do rio Poti, pouco antes de
desembocar no Parnaíba, entre o Parque do Encontro das Águas dos rios e o atual Polo
Cerâmico. Esta fração de território tem uma atenção diferenciada no projeto, pois deve dispor
de uma diversificada oferta de atividades tanto para o visitante quanto para o morador da
área, que una incentivos à interpretação dos atrativos da paisagem, disposição de espaços de
lazer, potencialização da cultura e da tradição, além de equipamentos esportivos.
Polo Turístico: acima, a situação atual, e abaixo, o projeto urbanístico. Imagens: JDVDP, 2015.
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O projeto desvia o último trecho da Av. Boa Esperança, principal via de acesso da região das
lagoas vindo a partir do centro da cidade (a sul), aproveitando sua duplicação. Esse desvio
acontece a uma distância aproximada de 200 metros do rio Poti, reservando uma ampla
porção de solo para abrigar todas as atividades necessárias no local, enquanto afasta o futuro
volume de carros que irão passar por ali. Na via remanescente se consolida um calçadão com
tratamento cívico, onde o pedestre é o protagonista. Como esse pedaço da antiga avenida se
localiza em cima de um dique, nele se consolida um mirante perante o rio Poti (ponto ao
extremo noroeste na imagem acima) e a nova área criada para polo (mais abaixo),
aproveitando-se o talude do dique para integrar uma arquibancada ao longo do mesmo.
A oferta inclue ainda do lado esquerdo da avenida, sentido sul-norte, estacionamentos,
reforma do atual parque do Encontro das Águas, novas áreas de brinquedos ao ar livre para
crianças, mirante panorámico 360º da região, reconversão de um pavilhão existente em
restaurantes, urbanização do calçadão, balanços para o rio Poti, bares, parque para lazer,
feiras e shows, Museu do Barro, fonte interativa, edifício administrativo, quadras cobertas para
badminton, tênnis e poliesportiva, quadra poliesportiva de areia descoberta, espaço para
parcour, nova área para o Polo Cerámico, além de praças, jardins, arborização e iluminação.
Já do lado direito da Av. Boa Esperança desviada, sempre sentido sul-norte, estão previstos
àrea institucional com um Centro de Convenções, restaurantes na beira da Lagoa de Oleiros,
praças e um skate park.
Polo Turístico: à esquerda, arquibancada, e à direita, calçadão em balanço. Imagens: JDVDP, 2015.
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Polo Turístico: à esquerda, vista aérea do local, e à direita, fonte interativa. Imagens: JDVDP, 2015.
Polo Turístico: mirante. Imagens: JDVDP, 2015.
Conexões urbanísticas
Conectividade Ambiental
A área de trabalho apresenta um território que tem se desenvolvido no sentido longitudinal
sul-norte. Porém a relação transversal leste-oeste tem sido sistematicamente esquecida, às
vezes por conta das prórpias lagoas que impõem limites territorialmente bem específicos por
natureza, complicando as relações nesse sentido. O projeto, então, visa estabelecer uma
maior permeabilidade transversal do território através da consolidação de uma “rede cívica”
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de conexões com prioridade para o pedestre e a bicicleta através de caminhos, passarelas,
ciclovias e vias que relacionem todos os atrativos que cada área tem a oferecer.
Por sua vez, com o intuito de dar maior visibilidade às lagoas desde as ruas da cidade e poder
aprimorar a relação ruas/lagoas, o projeto tem trabalhado o conceito de apertura de “janelas
urbanísticas” em pontos estratégicos. Estas operações incluem a remoção de moradias para
criar praças de contato entre a rua e os passeios das orlas requalificadas das lagoas. Estas
praças vem a representar cenários de atividades e funcionam como autênticas aberturas para
as lagoa, cuja visibilidade convida a combinar os deslocamentos dos moradores tanto pela
rua, quanto pelas orlas das lagoas, pois a distância aproximada entre elas é de 100 metros.
Estas novas plataformas urbanas tem a vocação de funcionar como espaços públicos de
proximidade para os moradores, razão pela qual estão provistas de mobiliário urbano
(brinquedos para crianças, pistas de skate, arquibancadas e anfiteatros) ou simplesmente
espaços vazios com arborização e iluminação, a fim de promover a apropiação temporal
desses lugares pelas iniciativas culturas locais da comunidade, como, por exemplo, a
capoeira.
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Janelas Urbanísticas: articulação entre lagoas. Imagens: JDVDP, 2015.
Uma das principais diretrizes do trabalho é a macrodrenagem superficial. A engenharia
hidráulica determina as cotas de inundação (pontos máximos de enchente) das lagoas
através de uma série de estudos hidrológicos e simulações. A partir dessas cotas, as margens
das lagoas podem ser trabalhadas urbanística e paisagisticamente e se consolidar como
novas frentes para todos os bairros lindeiros. Um “quintal urbano” com a devida proximidade
para a população, que atende as necessidades dos locais e de outros visitantes. Isso
possibilita uma configuração de fachada nos atuais “fundos” das moradias através das
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melhorias habitacionais, inclusive com acesso das casas diretamente às orlas, iniciativa
também do programa. Essa é uma oportunidade também singular para melhorar as conexões
entre bairros através de passeios e ciclovias, além de vias de costura para eventuais ruas sem
saída.
Em visitas ao local, a partir dos diferentes levantamentos e diagnósticos, se constatou que as
características de cada uma das lagoas é diferente. Isso permite a implantação de diversos
ambientes, visando o restabelecimento dos equilíbrios ambientais que irão conviver com
outros usos culturais e esportivos perfeitamente compatíveis. Passeios de orla nas margens
das lagoas dialogam com a natureza, organizando circuitos de caminhada.
Por isso, não só a infraestrutura urbana pesada tem um papel relevante no desenho do
território. A infraestrutura verde, através da arborização urbana, também vai contribuir para o
conforto ambiental desta rede, buscando a consolidação de “corredores de sombra” que
protejam o pedestre e o ciclista que se locomovem por ali e os acolham com melhores
condições de temperatura, mitigando as ilhas de calor.
Conectividade viária e fluvial
A duplicação da Av. Boa Esperança assegurará a relação com o centro da cidade de maneira
mais cômoda e com maior segurança viária. Essa avenida, implantada sobre o dique,
possibilitará um trajeto visualmente agradável com vista tanto para o Rio Parnaíba como para
as lagoas. Sendo parte integrante das condições paisagísticas privilegiadas, a avenida será
tratada com elementos de “traffic-calming” para assegurar o conforto ambiental adequado em
uma área com o meio-ambiente especialmente sensível.
Para isso lembramos a importância que as margens dos rios possuem para consolidar a
conectividade dos sistemas ambientais. Assim, a proposta leva em conta a intervenção nos
caminhos de orla, criados através do tempo pelos pescadores da região, com a finalidade de
amarrar essa relação de transversalidade da região tanto com o rio Parnaíba como com o
parque criado. Entre o Rio Parnaíba e o dique da Av. Boa Esperança já existem hortas que
passam a compor o sistema ambiental.
Bolsões de estacionamento são propostos para atender a demanda dos diferentes eventos
que possam ser realizados nas áreas previstas. Também são trabalhados estacionamentos
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próximos aos lugares atrativos para atender demandas mais pontuais, assim como a atenção
às necessidades aos portadores de necessidades especiais.
A disposição dos cais nos rios pode consolidar a conectividade na área tanto para o morador,
quanto para o visitante. Os cais serão lugares de contemplação e de possível mobilidade
hidroviária com a intenção de que a população redescubra as orlas dos rios a partir de
diferentes perspectivas.
Masterplan de Lagoas do Norte. Imagem: JDVDP, 2015.
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Todas estas ações não conseguem se formalizar sem um planejamento que possa priorizar
as intervenções a serem implantadas. Assim, o documento base de implantação do projeto se
materializa através de um masterplan que da visibilidade ao critério principal de trabalho: as
conexões para conseguir encorpar e consolidar todos os potenciais que existem na área, seja
se tratando de pessoas ou do meio ambiente. Isso quer dizer reequilibrar a convivência entre
todos os elementos para se atingir a harmonia entre os sistemas.
As pessoas
Remoções, plano de reassentamento e novos loteamentos
O projeto contempla a remoção e o reassentamento de famílias. Esta remoção obedece a
várias causas, mas objetiva principalmente a redução da ocupação em áreas de risco. Por sua
vez, o desenvolvimento do projeto tem acrescentado outros motivos de remoção de moradia
por: cota de alagamento, proximidade ou localização sobre dreno, abertura de vias,
precariedade construtiva, urbanismo, poligonal de afetação por Área de Proteção Permanente
(APP).
Para efetivar essas remoções, o programa contemplou a elaboração de um Plano de
Reassentamento Involuntário (PRI), seguindo as Políticas Operacionais do BIRD. Após a
definição da quantidade de remoções, foi realizado o estudo de domínio fundiário dos terrenos
para avaliar se eram públicos ou não e assim determinar quais deles podiam ser aproveitados
para a construção das novas habitações sociais, todas no padrões do programa Minha Casa
Minha Vida (MCMV).
Sendo conhecidos os terrenos públicos, foi possível projetar os loteamentos necessários para
atender os afetados com as remoções e que optaram pelo reassentamento. Foi estimado o
custo de implantação para cada um dos loteamentos proposto, mas esse fator não é o único a
ser levado em conta. A distância em relação à área original da população removida é uma
importante determinante, já que o intuito é não desestruturar socialmente os vínculos já
criados pelos moradores na região antes de serem removidos.
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Conclusão
O envolvimento em um projeto destas caraterísticas, com tamanhas dimensões territoriais,
permite ter uma visão global das problemáticas que ali se concentram para compreender
quais são as prioridades e ações a serem tomadas. Começando pelo Planejamento
Urbanístico em forma de Masterplan, se pode estabelecer as fases de intervenção conforme
as urgências. Este documento é imprescindível para que o poder público possa se organizar e
definir quais obras realizar e em quais momentos.
No que diz respeito à implantação do projeto ambiental, para que se tenha sucesso, é
absolutamente necessário organizar um plano de impacto acerca da Educação Ambiental,
necessário para dialogar com os moradores e explicar quais são os processos que estão
sendo lançados na região. Assim, a população é estimulada a modificar alguns de seus
hábitos danosos ao meio-ambiente e adquirir outros hábitos importantes.
Por outro lado, para a gestão dos novos espaços livres públicos, é preciso definir o perfil do
gestor desses espaços, podendo recair tanto em mãos da administração pública como
privada. O dimensionamento desse trabalho de gestão e manutenção do território após a
implantação do projeto é de vital importância, já que isto garante o futuro e êxito do mesmo.
Ficha Técnica
Prêmios Programa Lagoas do Norte
Selecionado 2ª fase World Habitat Awards 2016-2017
9ª edição do Prêmio Melhores Práticas em Gestão Local, Caixa Econômica Federal
Cliente
Prefeitura Municipal de Teresina PMT
Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação – SEMPLAN
BIRD-Banco Mundial
Arquitetos
Jansana, de la Villa, de Paauw Arquitetos
Parceiros
MPB Engenharia
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Área de projeto
1.300 há
Referências
BIRD-Washington. Termo de Referência: SOLICITAÇÃO DE PROPOSTAS SBQC N° 05/2010. Elaboração dos Projetos Básicos e Executivos das Obras de Requalificação Urbana e Ambiental das Áreas 2, 3 e 4, incluindo Plano de Reassentamento, no Município de Teresina-PI. Programa Lagoas do Norte-Teresina/PI. Acordo de Empréstimo nº 7523-BR.
BOADA, Martí e MANEJA, Roser. El Agua y la vida, cooperación en la Esfera del Agua.
2013. Editorial Lunwerg. Barcelona.
Histórico de Teresina. Disponível em:
<http://semplan.teresina.pi.gov.br/historia-de-teresina/>. Acesso: agosto de 2016.
Portal da Prefeitura de Teresina. Disponível em: <http://www.teresina.pi.gov.br/>. Acesso:
julho de 2016.
RIBEIRO, Rafael Winter. Paisagem Cultural e Patrimônio. Série Documentação e Pesquisa
do IPHAN. Rio de Janeiro, IPHAN, 2007.