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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA GEORREFERENCIAMENTO DE IMÓVEIS RURAIS E URBANOS GERALDO JOSÉ SIGWALT RAMIRES O PROCESSO ADMINISTRATIVO DA ANUÊNCIA EM LIMITES DE FAIXA DE DOMÍNIO NAS ESTRADAS FEDERAIS CURITIBA 2015

Desapropriação de Imóveis para Construção de Estradas Federaistcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/O-PROCESSO-ADMINISTRATIVO.pdf · pleito, o requerente é informado sobre a impossibilidade

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA

GEORREFERENCIAMENTO DE IMÓVEIS RURAIS E URBANOS

GERALDO JOSÉ SIGWALT RAMIRES

O PROCESSO ADMINISTRATIVO DA ANUÊNCIA EM LIMITES DE FAIXA DE

DOMÍNIO NAS ESTRADAS FEDERAIS

CURITIBA

2015

GERALDO JOSÉ SIGWALT RAMIRES

O PROCESSO ADMINISTRATIVO DA ANUÊNCIA EM LIMITES DE FAIXA DE

DOMÍNIO NAS ESTRADAS FEDERAIS

Monografia apresentada em cumprimento parcial das exi-

gências da Universidade Tuiuti do Paraná para obtenção

de título de especialista em georreferenciamento de imó-

veis rurais e urbanos.

Orientador: Professor Eng. Alex Soria Medina

CURITIBA

2015

GERALDO JOSÉ SIGWALT RAMIRES

O PROCESSO ADMINISTRATIVO DA ANUÊNCIA EM LIMITES DE FAIXA DE

DOMÍNIO NAS ESTRADAS FEDERAIS

Monografia apresentada ao Curso de Pós-graduação em Georreferenciamento de Imóveis Ru-

rais e Urbanos, da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito à obtenção do título de Es-

pecialista.

COMISSÃO EXAMINADORA

____________________

1º Membro da Banca

Universidade Tuiuti do Paraná

_______________________________________

2º Membro da Banca

Universidade Tuiuti do Paraná

_______________________________________

3º Membro da Banca

Universidade Tuiuti do Paraná

Curitiba, ____ de ____________ de 2015.

Dedicado a todos aqueles, que direta ou

indiretamente ajudaram na elaboração

desse trabalho

AGRADECIMENTOS

Ao DNIT - Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes, cujas normas vigentes

para concessão de gratificação de qualificação foram decisivas na minha tomada de decisão

em me tornar um especialista.

Si vis pacem, para belum

Renatus (390 DC)

RESUMO

O objetivo desse trabalho é de mostrar as particularidades que norteiam o levantamento topo-

gráfico de áreas que têm divisa com faixa de domínio de rodovias e ferrovias federais, as eta-

pas administrativas e a documentação necessária para obtenção de uma Carta de Anuência.

Deu-se ênfase nesse trabalho aos detalhes que envolvem o Processo Administrativo de Con-

cessão de Anuência. Vale lembrar que o Órgão Federal responsável por administrar as faixas

de domínio de rodovias e ferrovias é o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transpor-

tes (DNIT). Dessa forma, foram utilizadas como base das pesquisas os processos administra-

tivos e métodos de trabalho do DNIT e a Legislação vigente. A documentação e projetos a

serem apresentados variam conforme o tipo de estrada e o seu regime de administração. Por-

tanto, chega-se à conclusão que existindo dados técnicos suficientes para caracterizar o respei-

to à faixa de domínio e a área não edificável, a anuência ocorre sem qualquer empecilho. Con-

tudo, muitos responsáveis técnicos pelo projeto de levantamento e execução desconhecem o

conceito de faixa de domínio e área não edificável, além de não apresentarem levantamentos

claros e detalhados. Espera-se que esse trabalho venha ajudar os profissionais interessados em

conseguir, de forma rápida e tecnicamente correta, a anuência solicitada junto ao DNIT nas

divisas com faixa de domínio de estradas federais.

Palavras Chave: Anuências. Divisas. Faixas de Domínio. Rodovias. Ferrovias.

ABSTRACT

The goal of this work is to show the particularities that give the north to the topographic study

of areas which have borders with Federal highways and railroads government stripes, the ad-

ministrative steps and the necessary documentation to gain a Letter of Agreement. This paper

gave emphasis to details that involve the administrative process of concession of agreement. It

is worth remembering that the Federal Agency responsible for administrating the government

stripes in highways e railroads is the Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes

(DNIT). The DNIT service instructions and current legislation were used as the basis of sur-

veys. The documentation and projects to be shown vary due to the type of road and the way it

is administrated. In conclusion, if there are enough technical data to locate the good use of the

government stripe and the forbidden building area, the agreement occurs without any issue.

Nevertheless, many responsible technical workers for the topographic study do not know the

meaning of government stripes and the forbidden building area. Moreover, they do not show

clear and detailed topographic studies. Hopefully, this work will help the professionals inter-

ested in gain, in a fast and correct way, the agreement ordered from the DNIT in the borders

of government Federal roads.

Key words: Agreements. Borders. Government Stripes. Highways. Railroads.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Estratégia Analítica Geral .................................................................................... 14

Figura 2 - Planta Padrão ....................................................................................................... 19 Figura 3 – Posição da Pista em Relação à Faixa ................................................................... 20

Figura 4 - Eixo de Referência ............................................................................................... 21 Figura 5 - Exemplo Real de Carta de Anuência .................................................................... 25

Figura 6 – Situação Crítica ................................................................................................... 26 Figura 7 - Lote 114 Corrigido .............................................................................................. 27

Figura 8 - Lote 114B – Corrigido ......................................................................................... 27 Figura 9 - Lote 115 – Corrigido ............................................................................................ 28

Figura 10 - Lote 115B - Corrigido ....................................................................................... 28 Figura 11 - Situação Intermediária ....................................................................................... 29

Figura 12 - Situação Intermediária – Corrigida ..................................................................... 30 Figura 13 - Situação ideal ..................................................................................................... 31

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART – Anotação de Responsabilidade Técnica

CREA – Conselho Regional de Engenharia e Agronomia

DNIT – Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes

DOU – Diário Oficial da União

EPMA – Estudos, Projetos e Meio Ambiente

RFFSA – Rede Ferroviária Federal S/A

SNV – Sistema Nacional de Viação

TRF4 – Tribunal Regional Federal da 4ª Região

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 12

3 MÉTODO ........................................................................................................................ 13

3.1 ESTRUTURA TEÓRICA .......................................................................................... 13 3.2 COLETA DE EVIDÊNCIAS ..................................................................................... 13

3.3 ESTRATÉGIA ANALÍTICA GERAL ....................................................................... 13 4 O REQUERIMENTO DE ANUÊNCIA ......................................................................... 16

4.1 ABERTURA DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DE ANUÊNCIA ...................... 16 4.2 DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA ......................................................................... 17

4.2.1 Projeto ................................................................................................................. 19 4.2.2 Memorial Descritivo ............................................................................................ 22

4.3 ANÁLISE DA DOCUMENTAÇÃO APRESENTADA ............................................. 22 5. CARTA DE ANUÊNCIA ............................................................................................... 24

6. ESTUDO DE CASO ....................................................................................................... 26

6.1 CASO “A” – Situação Crítica ..................................................................................... 26 6.2 CASO “B” – Situação Intermediária ........................................................................... 29

6.3 CASO “C” – Situação Ideal ........................................................................................ 31 7. JURISPRUDÊNCIA ...................................................................................................... 32

8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ...................................................................... 34

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 36

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1 INTRODUÇÃO

A Lei nº 10.233 de 5 de junho de 2001, no seu art. 79 criou o DNIT e no seu art. 80

constituiu o objetivo do órgão como sendo de administração da infra-estrutura do Sistema

Federal de Viação. Desta forma, o DNIT é responsável pela administração das Faixas de Do-

mínio de Rodovias e Ferrovias.

Por motivos diversos, um proprietário de imóvel que possua divisa com essas Faixas

de Domínio pode precisar que o órgão apresente uma declaração aceitando o posicionamento

da divisa em questão. Essa declaração será analisada pelo DNIT através de um Processo de

Anuência.

O Processo de Anuência em divisas com estradas federais é a maneira pela qual o

DNIT atende os interessados em conseguir uma Carta de Anuência assinada por seu represen-

tante, usando das atribuições que lhe foram delegadas através de Portarias publicadas no Diá-

rio Oficial da União.

Não existe um manual ou instrução interna que defina com exatidão qual o procedi-

mento a ser adotado para a análise de um Processo de Anuência. Contudo, a principal preocu-

pação do DNIT é a preservação da Faixa de Domínio e da Área não Edificável.

Desta forma, todos os esforços do DNIT estão voltados para que haja uma locação

exata do imóvel, a fim de se verificar se Faixa de Domínio e a Área não Edificável estão sen-

do preservadas. A documentação, projetos e memoriais descritivos juntados ao processo vi-

sam criar uma declaração de ciência do proprietário e do responsável técnico da obrigação de

respeitar os limites apresentados nas plantas.

Dependendo do tipo de estrada que pode ser uma rodovia federal, rodovia compreen-

dida em contrato de concessão federal ou estadual e ferrovia federal, o interessado na anuên-

cia deverá apresentar diferentes tipos de documentos.

O pedido de anuência deve ser feito pelo proprietário do imóvel ou por procurador au-

torizado. Além disso, é necessária a apresentação de profissional responsável técnico pelo

levantamento e projeto.

Finalmente, é imprescindível que seja indicado um endereço válido para troca de cor-

respondências, pois toda solicitação de informação complementar e a própria Carta de Anuên-

cia será enviada, via correio, para esse endereço.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A fim de se fazer a revisão bibliográfica sobre o assunto, foram pesquisados os autores

relacionados abaixo:

O DNIT através da publicação Diretrizes Básicas para Elaboração de Estudos e Proje-

tos Rodoviários (2005) forneceu subsídios para o item Projeto desse trabalho.

O Portal da Justiça Federal da 4ª Região, através do sítio Jurisprudência, forneceu sub-

sídios para item Via Judicial desse trabalho.

O autor Wanderley Kampa Ribas através da apostila Montagem de Processo para Ge-

orreferenciamento (2014) forneceu subsídios para o item Carta de Anuência desse trabalho.

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3 MÉTODO

Por ser tratar de um estudo de caso genérico, optou-se pela revisão bibliográfica. Para

isso alicerçou-se na publicação de YIN (2002).

Trata-se de uma questão do tipo “como” sobre um conjunto contemporâneo de aconte-

cimentos sobre o qual esse pesquisador tem pouco ou nenhum controle. Ou seja, descreve

como o processo administrativo da anuência em limites de faixa de domínio em estradas fede-

rais é feito nesse momento ou há poucos anos atrás. A maneira que esse processo ocorre inde-

pende do pesquisador, pois é determinada por leis e normas.

3.1 ESTRUTURA TEÓRICA

A revisão bibliográfica mostrará qual é a estrutura do processo administrativo no caso

de anuências em limites de faixa de domínio de estradas.

Trata-se de um projeto de estudo de caso genérico. Pois a pesquisa é sobre as anuên-

cias realizadas pelo DNIT, com o objetivo de analisar a natureza global do processo adminis-

trativo de anuências realizado pela autarquia.

3.2 COLETA DE EVIDÊNCIAS

Foram utilizadas as seguintes fontes na coleta de evidências para a realização dessa

pesquisa:

a) documentação;

b) observação direta;

c) observação participante.

3.3 ESTRATÉGIA ANALÍTICA GERAL

Segue abaixo, na figura 1, o fluxograma que explica a seqüência e relação entre os di-

versos itens que fizeram parte da pesquisa. Optou-se por iniciar com o Requerimento da Soli-

citação de Anuência. A partir disso foram desenvolvidas as etapas necessárias para a análise

do pedido de anuência, solicitação de informações complementares, verificação das condições

em campo e finalmente a liberação da Carta de Anuência.

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Figura 1 - Estratégia Analítica Geral

Fonte: o autor, 2014

No item “Requerimento da Anuência” trabalhar-se com a definição das informações

mínimas necessárias para que se possa identificar as necessidades do requerente.

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No item “Abertura do Processo de Anuência” comenta-se aquilo que regula a abertura

de um processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal.

No item “Análise do Processo de Anuência” explica-se qual o procedimento a ser ado-

tado em relação à documentação apresentada pelo requerente.

No item “Documentação” atende às necessidades do DNIT” decide-se se há necessi-

dade de solicitação de informação complementar ou se o processo pode ir adiante.

No item “É legalmente possível atender ao pedido” decide-se se a documentação apre-

sentada torna legal o pedido de anuência. Caso a documentação evidencie a ilegalidade do

pleito, o requerente é informado sobre a impossibilidade da liberação da Carta de Anuência.

No item “Feita vistoria em campo” verifica-se se a documentação apresentada reflete a

realidade no local do imóvel.

No item “Faixa de Domínio e Área não Edificável estão sendo preservadas”, decide-se

se tudo está de acordo com a documentação aceita pelo DNIT. Caso seja detectada invasão na

Faixa de Domínio ou construção na Área não Edificável, o requerente é informado sobre a

impossibilidade da liberação da Carta de Anuência.

No item “Liberação da Carta de Anuência”, elabora-se a Carta de Anuência para envio

ao requerente.

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4 O REQUERIMENTO DE ANUÊNCIA

A fim de solicitar a anuência do DNIT em imóvel com divisa com faixa de domínio de

rodovia ou ferrovia federal, o requerente deve se manifestar perante o órgão através de um

requerimento de anuência. Esse documento reflete a intenção do requerente. Ou seja, esclare-

ce exatamente o que está sendo solicitado. Por isso não pode faltar nesse requerimento o no-

me do proprietário do imóvel e um endereço válido para correspondência. A identificação da

rodovia ou ferrovia e a quilometragem do imóvel em relação à estrada são necessárias para

que se possa verificar de que forma o local se encontra sob administração do DNIT e sua res-

pectiva faixa de domínio.

O requerente pode verificar a quilometragem através do SNV (Sistema Nacional de

Viação), cujo arquivo, contendo planilha para consultas, encontra-se disponível no sítio

www.dnit.gov.br/sistema-nacional-de-viacao/snv-2014-1. O SNV foi instituído pela Lei nº

12.379 de 06/01/2011 e trata da constituição da infra-estrutura física e operacional de estradas

ferrovias e hidrovias. No arquivo disponível no sítio acima mencionado é possível verificar a

lista completa de rodovias no país. O requerente poderá identificar exatamente em qual trecho

de rodovia seu imóvel está localizado, qual a jurisdição desse trecho e seu intervalo de quilo-

metragem.

Atualmente, a planilha disponibilizada pelo DNIT trata apenas de rodovias. Caso o re-

querente precise de dados ferroviários, será necessário consultar a Inventariança da Extinta

Rede Ferroviária Federal, pois a memória técnica das ferrovias federais ainda não foi repassa-

da para o DNIT.

O requerimento de anuência deve ser feito pelo proprietário do imóvel que receberá

anuência ou por seu procurador. Obviamente é necessário datar e assinar esse requerimento.

4.1 ABERTURA DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DE ANUÊNCIA

O processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal é regulado pe-

la Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999. O objetivo do processo administrativo é organizar e

dar clareza na tramitação da análise do pedido de anuência do requerente. A comunicação

entre o órgão e o requerente é feita através de ofícios, sendo estes juntados ao processo. Ou

seja, o processo administrativo nada mais é do que um histórico, um registro completo e cro-

nologicamente organizado de todos os atos praticados entre as partes interessadas.

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Não há custas processuais na concessão de anuência. Apenas quando o requerente so-

licita cópias do conteúdo do processo, será cobrada a despesa referente à reprodução destes

documentos.

O requerente tem o direito de ter ciência da tramitação do processo. Para isso é dispo-

nibilizado um número de telefone para contato com o servidor público responsável. Os pro-

cessos administrativos do DNIT possuem um número para identificação e rastreamento. Este

número é composto por dezesseis dígitos conforme o exemplo a seguir: 50609.000321/2014-

32. A primeira parte desse número, 50609, indica que o processo foi aberto no DNIT e na

Superintendência Regional do Paraná. A segunda para parte, 000321, indica a sequência do

processo dentro do ano vigente. A terceira parte, 2014, indica o ano de abertura do processo e

finalmente os dígitos 32 são apenas elementos verificadores gerados pelo sistema. O reque-

rente encontrará esse número, sem os elementos separadores, no rodapé dos ofícios enviados

pelo DNIT.

Durante a análise do processo administrativo de anuência, o requerente poderá apre-

sentar novos documentos para serem juntados. Além disso, o órgão poderá solicitar do reque-

rente informação complementar. O interessado tem obrigação de expor os fatos conforme a

verdade, desta forma, toda a documentação apresentada pelo requerente é considerada como

sendo de boa-fé. Caso seja descoberta alguma irregularidade após o encerramento do proces-

so, o documento de anuência será considerado nulo pelo órgão.

4.2 DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA

A fim de dar andamento no processo de concessão de anuência, o DNIT exige que seja

apresentada uma série de itens. O objetivo dessa documentação é tornar claro que o requeren-

te é um legítimo interessado no processo, preservar faixa de domínio e área não edificável,

assegurar que existe responsável técnico pelo projeto e levantamento topográfico apresentado

e criar condições para que representantes do órgão possam ir até o local do imóvel com a fina-

lidade de vistoriá-lo.

Quando o trecho da rodovia em questão estiver compreendido em contrato de conces-

são federal ou estadual, o interessado deverá também apresentar um laudo de vistoria da con-

cessionária informando que o imóvel analisado está respeitando a faixa de domínio e a área

não edificável.

Conforme a Lei nº 11.483, de 31 de maio de 2007, no seu art. 8º, a propriedade dos

bens imóveis operacionais da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA) foi transferida para o

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DNIT. A faixa de domínio é um bem imóvel operacional. Apesar de a propriedade ter sido

transferida para o DNIT, a memória técnica das ferrovias ainda não o foi. A autarquia não

possui em seus arquivos os projetos de engenharia mostrando a disposição das faixas de do-

mínio. Portanto, em se tratando de imóvel com divisa com ferrovia federal, o interessado de-

verá apresentar ofício da Inventariança da RFFSA informando a largura da faixa de domínio

no local. Além disso, será necessária uma planta de situação mostrando o acesso rodoviário ao

imóvel.

Quando o requerimento não for feito pelo proprietário do imóvel, será necessária a

apresentação de procuração do proprietário da área autorizando o requerente a solicitar a carta

de anuência junto ao DNIT.

Uma cópia integral e atualizada da matrícula registral do imóvel é um documento es-

sencial para a identificação do proprietário e do imóvel. Aliás, o número do registro e o nome

do cartório serão citados na carta de anuência.

Com a intensão de tornar legal a participação do responsável técnico, a Anotação de

Responsabilidade Técnica (ART) fornecida pelo Conselho Regional de Engenharia e Agro-

nomia (CREA) deverá ser juntada ao processo. Nunca é demais lembrar que tanto o projeto

como o memorial descritivo deverão ser assinados pelo responsável técnico.

Finalmente, a apresentação de projeto e memorial descritivo que serão discutidos no

item a seguir.

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4.2.1 Projeto

Figura 2 - Planta Padrão

Fonte: O Autor, 2014

O projeto deve ser apresentado em uma escala que permita a perfeita visualização de

detalhes, em especial a distância entre os marcos localizados sobre a faixa de domínio e o eixo

de referência. O tamanho da folha fica a critério do responsável técnico. Contudo, o DNIT

não aceita projetos retalhados para que sejam juntados ao processo em formato A4, a não ser

que todos os detalhes do projeto realmente caibam nesse formato.

A rodovia deve ser identificada através de sua numeração e quilometragem, conforme

o item “A” da Planta Padrão. Esses dados podem ser conferidos na planilha do SNV, disponí-

vel no sítio do DNIT. No caso de ferrovias, deve-se consultar a Inventariança da Extinta

RFFSA para se levantar esses dados.

A quilometragem das rodovias pode mudar ao longo do tempo devido a construção de

novos trechos, variantes, contornos e federalização de trechos estaduais. Nem sempre a sinali-

zação de quilometragem implantadas ao longo das estradas está atualizada, por esse motivo é

necessário indicar ou mostrar uma planta de localização com a posição do imóvel em relação

a um dispositivo fixo, tal como uma ponte, viaduto, interseção ou rua, conforme o item “B”

da Figura 2.

20

A apresentação de todos os elementos da poligonal deve ser clara. Vértices, lados, me-

didas lineares e angulares devem ser disponibilizados conforme o item “C” da Figura 2. Para

segmentos em curva, solicita-se que sejam adotadas distâncias entre marcos de no máximo 40

metros.

Conforme BRASIL (1999, p.5), a faixa de domínio é a área desapropriada pelo órgão,

necessária para implantar todos os elementos de uma estrada, sendo considerados os limites

da terraplenagem, as obras de arte correntes e especiais, obras de drenagem superficial e con-

siderando ainda o espaço necessário para futuras ampliações de faixas ou duplicações. Na

prática, dificilmente a faixa de domínio desapropriada para a implantação de uma estrada vai

considerar as futuras, duplicações e implantações de faixas extras. Pois para que isso ocorres-

se seria necessário ter em mãos no momento do projeto de desapropriação um projeto execu-

tivo que contemplasse essas futuras ampliações. Como o intervalo de tempo entre a elabora-

ção de um projeto executivo e a respectiva construção da obra pode levar muitos anos, os pro-

jetos de desapropriação acabam ficando desatualizados. Desta forma, a materialização da fai-

xa de domínio vai acontecendo durante a construção das estradas. Essa faixa tende a ser de

largura contínua, mas podem existir variações na largura, devido a implantação de pátios de

ferrovias, praças de pedágio, interseções, inutilização de áreas remanescentes de imóveis de-

sapropriados ou cortes e aterros com largura muito acima da faixa adotada.

Nem sempre a pista fica localizada sobre a linha longitudinal de simetria da faixa de

domínio, como pode ser visto na Figura 3. A linha dos limites da faixa de domínio é um dos

itens mais relevantes para a autarquia. Por isso, essa linha deve ser representada conforme o

item “D” da Figura 2.

Figura 3 – Posição da Pista em Relação à Faixa

Fonte: o Autor, 2015

21

O profissional responsável técnico deve ficar atendo a respeito do eixo de referência a

ser adotado. Em rodovias de pista simples, o eixo de referência é também o eixo da pista, con-

forme o item “E” da Figura 2 e o exemplo na esquerda da Figura 4. Em rodovias com mais de

uma pista, o eixo de referência costuma ficar sobre o canteiro central, como pode ser visto na

Figura 4, contudo isso não é uma regra geral, desse modo é aconselhável consultar o Setor de

Estudos, Projetos e Meio Ambiente (EPMA) das Regionais do DNIT e questionar qual o é o

eixo de referência adotado pelo órgão. No caso de ferrovias adota-se o eixo da linha principal

como referência, inclusive no caso de pátios de manobra ou de passagem.

Figura 4 - Eixo de Referência

Fonte: o Autor, 2015

As linhas de cota do limite da faixa de domínio em relação ao eixo de referência de-

vem ser apresentadas no projeto, conforme o item “F” da Figura 2. Quando existir variação da

largura da faixa de domínio, deverão ser cotadas todas as diferentes distâncias em relação ao

eixo de referência.

A área não edificável foi regulamentada pela Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de

1979, no seu art. 4º. Trata-se de uma faixa de 15 metros de largura contadas a partir da

linha limite da faixa de domínio, onde não é permitida a construção de edificações que

possam ser caracterizadas como risco de obstáculo para tráfego em rodovias e ferrovi-

as. Essa área pode ser comparada ao afastamento obrigatório que existe em terrenos

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urbanos ao longo das vias das cidades. A linha da faixa não edificável deve ser apre-

sentada no projeto, conforme o item “G” da Figura 2. A cota do limite da linha da fai-

xa não edificável deve estar presente no projeto, conforme o item “H” da Figura 2. O

projetista poderá indicar essa área como estacionamento de veículos, jardim ou qual-

quer outro uso que não afete a segurança da trafegabilidade das estradas junto ao imó-

vel.

A fim de deixar claro em qual lado da estrada o imóvel se encontra, o sentido e

a direção das localidades mais próximas na confrontação com a faixa de domínio de-

verá ser indicada, conforme o item “I” da Figura 2.

4.2.2 Memorial Descritivo

O memorial descritivo da área deve apresentar todos os vértices, lados, medidas linea-

res e angulares e descrição de todos os marcos, em especial dos marcos instalados na divisa

com a faixa de domínio.

Tomando-se a Figura 2 como exemplo, os marcos instalados na divisa com a faixa de

domínio devem ser descritos da seguinte forma: marco 0PP, instalado na divisa com a faixa

de domínio da rodovia federal BR-XXX/PR, a XX metros de distância contados a partir do

eixo de referência; marco 01, instalado na divisa com a faixa de domínio da rodovia federal

BR-XXX/PR, a XX metros de distância contados a partir do eixo de referência.

Para o DNIT a descrição, conforme o parágrafo acima, é de extrema importância, pois

trata-se de uma declaração do assistente técnico que está ciente da largura da faixa de domínio

no local do imóvel. De nada adianta para o órgão a apresentação de um memorial aprovado

por outros Órgãos Públicos, se nesse não for adicionado a descrição específica dos marcos

instalados na divisa com a faixa de domínio.

4.3 ANÁLISE DA DOCUMENTAÇÃO APRESENTADA

Uma vez aberto o processo administrativo de anuência, esse é despachado para que um

analista de infra-estrutura de transportes verifique a documentação juntada ao mesmo. Caso a

documentação apresentada não atenda às necessidades do DNIT, o requerente receberá um

ofício do órgão solicitando informação complementar. Com todos os documentos em ordem,

é chegada a vez de se verificar se existe algum empecilho de ordem legal, tal como projeto

mostrando invasão na faixa de domínio ou construção na área não edificável. Constatada al-

23

guma irregularidade desse tipo, o requerente é informado através de ofício que não será possí-

vel dar a anuência e os motivos.

Com os documentos em ordem e não havendo qualquer inconformidade legal, o pro-

cesso é despachado para a Unidade Local do DNIT que tenha jurisdição sobre o trecho de

rodovia ou ferrovia em questão, para que se possa realizar uma vistoria no local do imóvel. O

objetivo dessa vistoria é checar se o projeto apresentado condiz com a realidade do trecho. Ou

seja, os servidores do DNIT vão verificar se a faixa de domínio e a área não edificável estão

sendo preservadas. Constatada invasão na faixa de domínio, o invasor será notificado para que

desocupe a área. Caso isso não aconteça, o órgão entrará com uma ação de reintegração de

posse. Se for verificado que existe construção sobre a área não edificável, o responsável pela

obra será notificado para que realize a demolição dessa construção. Se a demolição não acon-

tecer, o órgão entrará com uma ação demolitória contra o respectivo responsável. Obviamen-

te, nos dois casos descritos acima, não será possível dar a anuência até que tudo seja regulari-

zado. O requerente é avisado através de ofício do órgão sobre esse impasse.

Depois que a vistoria constate que tanto a faixa de domínio como a área não edificável

estão sendo preservadas, o analista de infra-estrutura responsável pelo exame do processo irá

sugerir à Superintendência Regional do DNIT que seja dada a carta de anuência.

24

5. CARTA DE ANUÊNCIA

A carta de anuência é lavrada em forma de ofício e enviada ao requerente pelo correio.

Nela o Superintendente Regional do DNIT no Paraná, usando das atribuições que lhe foram

delegadas através de Portarias e publicadas no Diário Oficial da União (DOU), concorda com

os dados da Planta do Levantamento Topográfico e Memorial Descritivo elaborados pelo res-

ponsável técnico.

Na carta de anuência constam os números das portarias de delegação de atribuição e a

data de publicação no DOU, o nome e número do CREA do responsável técnico, o número do

processo administrativo e o número das folhas onde se encontram o Levantamento Topográfi-

co e Memorial descritivo, a designação da Rodovia ou Ferrovia e sua quilometragem, o Cartó-

rio de Registro e a respectiva matrícula do imóvel.

A anuência fornecida pelo DNIT refere-se unicamente à descrição existente na planta

e memorial descritivo apresentados entre o imóvel e o Limite da Faixa de Domínio da Rodo-

via.

Conforme Ribas (2014), para fins de retificação de registro uma carta inequívoca de

anuência é suficiente para atender as necessidades do requerente. Naturalmente, a carta de

anuência deve conter elementos que a vinculem direta e claramente ao imóvel em questão.

O DNIT não assina qualquer concordância diretamente na Planta do Levantamento

Topográfico. Eventualmente o requerente pode precisar de um visto diretamente na planta.

Nessa situação, é fornecido cópia das folhas onde se encontram a planta e o memorial descri-

tivo no processo. Essas cópias são certificadas através de carimbo e assinatura de funcionário

do órgão, com os dizeres “CONFERE COM O ORIGINAL”. Normalmente isso atende às

necessidades do requerente, pois a carta de anuência faz menção direta a essas folhas no pro-

cesso administrativo que concedeu a anuência.

25

Figura 5 - Exemplo Real de Carta de Anuência

Fonte: DNIT, 2014

26

6. ESTUDO DE CASO

A fim de deixar claro os critérios de avaliação do projeto apresentado para concessão

de anuência, serão apresentados três casos de processo de anuência realizados e finalizados na

Regional do DNIT do Paraná. O objetivo é apresentar uma situação crítica, onde o projeto

praticamente não atende a nenhum dos requisitos necessários, uma situação próxima da ideal

e finalmente um projeto pronto para vistoria em campo.

6.1 CASO “A” – Situação Crítica

Trata-se de processo onde o requerente solicita anuência em divisa com faixa de do-

mínio na BR-116, em Pranchita. Na verdade, o requerente queria anuência em quatro lotes

diferentes. O projeto apresentado não deixava claro, quais eram os lotes e suas respectivas

matrículas, além disso faltavam:

Identificação correta da rodovia e quilometragem.

Elementos da poligonal.

Linhas de Faixa de Domínio.

Linha do Eixo de Referência.

Linha limite da área não edificável.

O requerimento foi feito em 23/09/2014, após serem feitas as alterações solicitadas e

verificação em campo, a carta de anuência foi assinada em 26/11/2014, foram 64 dias de tra-

mitação.

Figura 6 – Situação Crítica

Fonte: DNIT, 2014

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Figura 7 - Lote 114 Corrigido

Fonte: DNIT, 2014

Figura 8 - Lote 114B – Corrigido

Fonte: DNIT, 2014

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Figura 9 - Lote 115 – Corrigido

Fonte: DNIT, 2014

Figura 10 - Lote 115B - Corrigido

Fonte: DNIT, 2014

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6.2 CASO “B” – Situação Intermediária

Trata-se de processo onde o requerente solicita anuência em divisa com faixa de do-

mínio na BR-277, em Paranaguá. Faltavam os seguintes itens no projeto:

Posição em relação a um dispositivo fixo.

Linha Limite da Faixa de Domínio.

Linha Limite da área não edificável.

O requerimento foi feito em 12/09/2014, após serem feitas as alterações solicitadas e

verificação em campo, a carta de anuência foi assinada em 03/03/2015, foram 172 dias de

tramitação. Apesar de necessitar menos alterações, esse processo demorou mais tempo que o

descrito no “Caso A”, porque o requerente não soube solicitar que fossem juntadas as infor-

mações complementares no processo original. Desse modo, acabaram abrindo dois processos

para o mesmo assunto, situação que causou atraso na tramitação da solicitação.

Figura 11 - Situação Intermediária

Fonte: DNIT, 2014

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Figura 12 - Situação Intermediária – Corrigida

Fonte: DNIT, 2014

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6.3 CASO “C” – Situação Ideal

Trata-se de processo onde o requerente solicita anuência em divisa com faixa de do-

mínio na BR-476, em Paula. Apesar de estar faltando a quilometragem do imóvel em relação

à rodovia, o projeto atendia às necessidades do DNIT.

O requerimento foi feito em 21/11/2014, após verificação em campo, a carta de

anuência foi assinada em 06/01/2015, foram 46 dias de tramitação.

Figura 13 - Situação ideal Fonte: DNIT, 2014

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7. JURISPRUDÊNCIA

Seguem algumas ementas emitidas pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região

(TRF4), onde o DNIT e o tema área não edificável ou faixa de domínio são citados.

EMENTA: ADMINISTRATIVO. AÇÃO DEMOLITÓRIA. DNIT. LEGITIMIDA-

DE ATIVA. BARRACÃO. COMPROVAÇÃO DE EDIFICAÇÃO PARCIAL NA

FAIXA NON AEDIFICANDI. PREPONDERÂNCIA DA SEGURANÇA NO

TRÂNSITO SOBRE O DIREITO DE PROPRIEDADE. 1. O DNIT possui legitimi-dade para ajuizar ação demolitória com o objetivo de coibir a ocupação desordenada

às margens de rodovia federal, pois, conforme o art. 82 da Lei nº 10.233/01, a autar-

quia é órgão gestor e executor da infra-estrutura do Sistema Viário Federal. 2. Com-

provado que parte do barracão situa-se dentro da área não edificável, corretas a de-

molição e a limpeza determinadas na sentença. 3. Em caso de eventual colisão dos

princípios do direito de propriedade em face da segurança pública, deve-se conferir,

na espécie, maior peso e importância a este último, sob pena de ficar inviabilizado,

em breve espaço de tempo, a circulação automobilística do local

Essa ementa determina a necessidade de demolição de construção sobrea a área não

edificável. O requerente de solicitação de anuência deve ter em mente que seu imóvel será

vistoriado para a liberação da Carta de Anuência. Existindo invasão nessa área, além de não

conseguir a anuência o requerente vai ser alvo de uma ação demolitória.

EMENTA: AÇÃO DEMOLITÓRIA. FAIXA NOS AEDIFICANDI. PERÍCIA.

COMPROVAÇÃO DA LOCALIZAÇÃO DO IMÓVEL. PRINCÍPIOS CONSTI-

TUCIONAIS. PREDOMINÂNCIA DA SEGURANÇA NO TRÂNSITO SOBRE A

LIBERDADE DE EXPLORAÇÃO DE ATIVIDADE PROFISSIONAL, PECULI-

ARIDADES DO CASO CONCRETO. 1. Comprovado que o estabelecimento co-mercial situa-se dentro da área não edificável, conforme laudo pericial, corretas a

demolição e limpeza determinadas. 2. Em caso de eventual colisão dos princípios da

liberdade de exploração de atividade profissional ou livre iniciativa em face da segu-

rança pública, deve-se conferir, na espécie, maior peso e importância a este último,

sob pena de ficar inviabilizado, em breve espaço de tempo, a circulação automobilís-

tica do local. 3. Há, todavia, de ser observada a peculiaridade do caso concreto. Sen-

do o DNIT extremamente omisso no seu dever de fiscalizar, não zelando adequada-

mente pela área objeto desta ação, pois há muito tempo tinha conhecimento da ocu-

pação irregular, é de ser mantida a sentença que na área não edificável contígua da-

quela, caberá ao mesmo indenizar-lhe, antes de exigir-lhe a demolição e saída do lo-

cal.

Nesse caso, determinou-se que por omissão na fiscalização, o DNIT deveria indenizar

a demolição antes de exigir a saída do local. Portanto, quando ocorre uma solicitação de

anuência o Órgão deve solicitar apresentação de projeto deixando claro que a área não edifi-

cável está devidamente desocupada.

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. FAI-

XA DE DOMÍNIO FERROVIÁRIO. DNIT. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDE-RAL. 1. Compete a Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico

que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públi-

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cas. 2. Havendo interesse do poder público federal, em questão envolvendo reinte-

gração de posse de faixa de domínio de ferrovia federal, compreendida em contrato

de concessão, a competência para processar e julgar a causa é da Justiça Federal. 3.

A área de faixa de domínio em questão refere-se a bem imóvel operacional de pro-

priedade da autarquia, o que justifica o ingresso do DNIT no polo ativo da ação.

Nessa Ementa deixa-se claro que mesmo no caso de ferrovia federal compreendida em

contato de concessão, o DNIT faz parte no polo ativo de ação de reintegração. O requerente

de solicitação de anuência deve ter em mente que seu imóvel será vistoriado para a liberação

da Carta de Anuência. Existindo invasão nessa faixa, além de não conseguir a anuência o re-

querente vai ser alvo de uma ação de reintegração de posse.

EMENTA: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. SETENÇA EXTRA

PETITA – OCORRÊNCIA. AÇÃO DEMOLITÓRIA. DNIT. COMPROVAÇÃO

DE EDIFICAÇÃO NA FAIXA DE DOMÍNIO DA BR-101/SC. PREPONDERÂN-

CIA DA SEGURANÇA NO TRÂNSITO SOBRE O DIREITO DE PROPRIEDA-

DE. 1. O princípio da congruência, consagrado nos artigos 128 e 460 do Código de

Processo Civil, impõe ao julgador o dever de proferir a sua decisão dentro dos limi-

tes do pedido, conhecendo tão somente das questões que foram suscitadas pelo autor

na petição inicial, à exceção daquelas consideradas de ordem pública. 2. Comprova-

do que a edificação situa-se dentro da faixa de domínio da União, ela deve ser demo-

lida as expensas da ré. 3- Em caso de eventual colisão dos princípios do direito de propriedade em face da segurança pública, deve-se conferir, na espécie, maior peso e

importância a este último, sob pena de ficar inviabilizado, em breve espaço de tem-

po, a circulação automobilística do local.

Por fim, nessa Ementa deixa-se claro que também no caso de rodovia federal, a faixa

de domínio deve estar livre de qualquer edificação. E a demolição deve ocorrer às expensas

da ré. O requerente de solicitação de anuência deve ter em mente que seu imóvel será vistori-

ado para a liberação da Carta de Anuência. Existindo invasão nessa faixa, além de não conse-

guir a anuência o requerente vai ser obrigado a demolir as edificações na área indevidamente

ocupada.

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8 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Foram analisados 174 processos de solicitação de anuência. A carta de anuência foi

concedida em 75 delas. Em 6 processos foi constatado invasão de faixa de domínio ou cons-

trução em área não edificável. Em 21 processos o requerente foi informado que o trecho em

questão não era de jurisdição do DNIT. Nos restantes 72 processos, o órgão ainda aguarda

informações complementares para dar andamento na análise do pedido de anuência.

Resumidamente o interessado deverá apresentar os seguintes itens:

a) Procuração do proprietário da área autorizando o requerente a solicitar a carta de

anuência junto ao DNIT ou requerimento de anuência assinado pelo proprietário da

área com endereço válido para correspondência;

b) Quando se tratar de trecho compreendido em contrato de concessão, Laudo de vis-

toria da Concessionária do trecho informando que a faixa de domínio e a área não

edificável do imóvel em questão estão sendo respeitados;

c) Cópia integral e atualizada da matrícula registral do imóvel;

d) Memorial descritivo da área, com todas as informações, tais como vértices, lados,

medidas lineares e angulares e descrição de todos os marcos, em especial dos mar-

cos instalados na divisa com a faixa de domínio, explicitando a rodovia ou ferrovia

e a distancia desses marcos até o eixo de referência;

e) ART de projeto e execução;

f) Em se tratando de ferrovia, planta de situação mostrando acesso rodoviário ao lo-

cal do imóvel;

g) Cópia de ofício da Inventariança da RFFSA informando a largura da faixa de do-

mínio no local;

h) Na planta, identificação da Rodovia ou Ferrovia;

i) Na planta, distância do imóvel em relação a um dispositivo fixo, tais como ponte,

viaduto, interseção ou rua;

j) Na planta, apresentação clara de todos os elementos da poligonal, tais como vérti-

ces, lados, medidas lineares e angulares;

k) Na planta, em segmentos em curva deverão ser adotadas distâncias entre marcos de

máximo 40 metros;

l) Na planta, linha dos limites das Faixas de Domínio das Rodovias ou Ferrovias, in-

dicando com o texto “Linha Limite da Faixa de Domínio”;

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m) Na planta, linha do eixo de referência, indicando com o texto “Eixo de Referên-

cia”;

n) Na planta, as cotas entre a linha limite da faixa de domínio e o eixo de referência;

quando houver variação da largura da faixa de domínio, deverão ser cotadas todas

as variações de largura;

o) Na planta, área não edificável, indicando com o texto “Linha Limite da Área não

Edificável”;

p) Na planta, a cota entre a linha limite da área não edificável e a linha limite da faixa

de domínio;

q) Na planta, sentido e direção das localidades próximas na confrontação com a faixa

de domínio;

Cabe ao DNIT o desenvolvimento de uma padronização entre as Superintendências

Regionais do órgão para os procedimentos a serem adotados na avaliação da documentação

apresentada pelo requerente da anuência. Feito isso, o trabalho a ser realizado pelos responsá-

veis técnicos será sensivelmente minimizado. Atualmente, a eventual demora em se conseguir

uma anuência deve-se a morosidade dos requerentes quando são instados a apresentar a do-

cumentação solicitada. Havendo nivelamento e divulgação de informação sobre o processo de

anuência, a tendência é que o órgão consiga emitir cartas de anuência com mais eficiência.

Conclui-se que anuência em limites com faixas de domínio em rodovias federais é um

serviço corriqueiro prestado pelo DNIT. Basta o interessado apresentar a documentação soli-

citada, preservar a faixa de domínio e a área não edificante que a carta de anuência será libe-

rada.

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REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Justiça, Portal da Justiça Federal da 4ª Região. Consulta Jurispru-

dência do TRF4. Disponível em: <http://www.trf4.jus.br/trf4/jurisjud/pesquisa.php>. Acesso

em 04 jul. 2014.

BRASIL, Ministério dos Transportes, Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transpor-

tes – Diretrizes Básicas para Elaboração de Estudos e Projetos Rodoviários, 2005.

RENATUS, Publio Flavius Vegetius – Epitoma rei Militaris, 390 DC. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Si_vis_pacem,_para_bellum>. Acesso em 26/04/2011.

RIBAS, Wanderley Kampa – Montagem de Processo para Georreferenciamento, 2014

YIN, Robert K. – Estudo de Caso – planejamento e métodos. 2 ed. Porto Alegre: Bookman,

2002.