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Descida do Alto Paraitinga na Regiao de
Lagoinha e Sao Luiz
Alvaro R. De Pierro
O plano era descer o rio Paraitinga desde um ponto ao norte de
Lagoinha ate Sao Luiz do Paraitinga, perto da serra do mar no estado de Sao
Paulo. Um pouco menos de 65 kms no total, em dois dias. Mes de outubro de
2004, o rio sem muita agua, mas correndo relativamente rapido. Juca e Sadao
numa canoa canadense (da Companhia de Canoagem, as melhores do mundo) e
eu no meu kayak de descida Corsica S, a primeira vez que eu carregava o Corsica
com barraca, saco de dormir e comida para mais de um dia. As cartas indicavam
algumas partes complicadas, com possıveis portagens, ja que apareciam pelo
menos dois trechos onde o rio corre muito encaixado com caracterısticas decanyon; em menos de 200 metros, 80 metros de subida nas duas margens do rio,
o que depois confimamos ‘in situ’.
Entramos no rio numa ponte (23 K 0491000 7455000) sobre a estrada
de terra que une Lagoinha com a SP 171. O rio tem barranco e tivemos que
pedir permissao para entrar na fazenda que contem a ponte, onde o barranco
e mais suave. Imediatamente depois da ponte (50ms), uma curva e a primeira
corredeira. Era facil e passamos sem problema, mas sempre no comeco minha
dose de medo e um pouco maior ate que vou me acostumando com a agua.
Acrescentada a apreensao sobre a possıvel instabilidade do meu kayak por causa
da carga para a qual nao foi pensado; era um teste, que acabou sendo bem
sucedido porque a carga nao somente nao diminuiu a estabilidade, senao que
nao tirou a flutuaccao como verifiquei posteriormente (contra a minha vontade).
Depois de um km de calma, a segunda corredeira tambem facil e tudo parecia
calmo demais salvo pelo fato de que estavamos nos aproximando do primeiro
trecho marcado como suspeito de ser problematico (23 K 0488500 7451000)
onde comecava o canyon de pelo menos um km. Tinhamos remado uns 10 kms,
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e passamos por alguns pescadores. Deveriamos ter pedido informacoes mas nos
limitamos ao ‘Bom dia, boa pesca?’. Lembro que o ultimo deles me respondeu
‘apenas alguns bagres’. Nesse ponto o rio ja estava estreitando e apareciam
grandes rochas no nosso caminho.
Primeiro ponto de portagem (F1), com cordas pela agua para passar a canoa,
eu passei sem problemas ate o primeiro remanso a esquerda, esperei para ajudar
os canoistas canadenses e depois carreguei o kayak sobre as pedras uns 5ms.
F1: Primeira portagem
Depois veio uma corredeira mais forte, mas facil. Passei e fiquei filmando a
passagem de Juca e Sadao, que continuaram rio abaixo, e isto foi outro erro;
fiquei tirando fotografias e depois continuei; 50 metros rio abaixo, vi o Juca
com a canoa virada e nao conseguia ver o Sadao, que tinha sumido. Fiquei
preocupadissimo ate que me aproximei e vi que Sadao tinha conseguido sair uns
30 metros rio abaixo, depois de uma sequencia de corredeiras. Me aproximei
do Juca, que estava com a canoa virada, dentro da agua, encostado contra uma
rocha na margem direita. Cheguei perto dele e ajudei a desvirar, por milagre
nenhum saco de equipamento tinha ido rio abaixo e ficou tudo retido embaixo
da canoa. Desviramos recuperamos tudo e, ja com Sadao, comecamos a tarefa
de tirar a agua da canoa e puxar com as cordas (elemento indispensavel neste
tipo de descidas) ate o ponto em que Juca e Sadao pudessem remar rio acima.
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F2: Comeca o primeiro canyon
Um susto e tanto, mas tivemos muita sorte. Depois de descansar e de nos re-
cuperar, comecamos a pensar em como passar o canyon (F2), que nao parecia
curto. Subimos a margem e chegamos a conclusao que nao dava para fazer a
portagem completa ate o final do canyon e que o melhor era faze-la em duas
etapas: primeiro a parte mais longa que passava pelo trecho mais cheio de pe-
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dras. Desde cima vimos que o rio entrava por baixo de uma enorme rocha e
pensamos o que teria sido se Sadao, a canoa ou o equipamento tivessem con-
tinuado rio abaixo. Depois da primeira portagem de uns 500 metros montanha
acima, reentramos na agua, e remamos uns 150 metros ate a primeira corredeira.
Desci para inspeccionar, mas decidimos sair de novo da agua, outra portagem de
talvez uns 100 metros pela margem esquerda, cruzamos o rio e fizemos portagem
pela margem direita sobre as pedras (F3).
F3: Juca na dura realidade da portagem pelas pedras no 1o canyon
Estavamos pura e simplesmente exaustos, caındo aos pedacos, tinhamos feito
apenas 12 kms, eram as 4 da tarde e pintava chuva. Discutimos o que fazer. Eu
fui de opiniao de acampar ai mesmo, entre as duas ultimas corredeiras, um local
que tinha boa protecao de arvores (e alguns carrapatos). Continuar naquele es-
tado de cansaco absoluto nos tiraria a concentracao se tivesse mais corredeiras
pela frente. Juca e Sadao votaram por continuar e continuamos. Um pouco
depois dava para ver algumas casas e Juca achou que poderiamos dormir por
perto. Passamos pelas casas, uma capela na margem esquerda e uma ponte
(23K 0486300 7446858). Pouco depois da ponte, o rio ficou mais largo e calmo,
depois de receber um afluente importante pela margem direita (o rio Jacuı).
Com a noite caindo comecamos a procurar um local para acampar, nao tinha
muitos, vimos uma casa, estava novinha, vazia e decidimos acampar embaixo
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do teto. Foi uma sorte, porque choveu a noite toda muito forte. E ninguem
apareceu para reclamar a casa.
Na manha seguinte saimos cedo as 6.40 para compensar os poucos kms
que tinhamos conseguido remar o primeiro dia (menos de 20). Umas poucas
corredeiras faceis e chegamos num local muito bonito (23 K 0479203 7441694).
Nesse ponto o rio estreita ate uns 5ms de largo e corre bastante rapido sem
apavorar, com algumas corredeiras leves com rochas pontudas dos dois lados,
paralelas ao curso do rio e com muitas arvores com muita sombra; como um
tunel de uns 200ms (F4).
F4: Os bravos canoistas, Juca e Sadao, na saida do ‘tunel’
Mas estava se aproximando o segundo canyon que finalmente apareceu.
Muito bonito mas sem os perigos do primeiro (23K 0478917 7441061). Desci a
primeira corredeira para inspecionar, mas nao conseguia ver como continuava
desde a agua, entao voltei com Sadao e Juca e subimos para observar. Tinha 3
corredeiras, a primeira facil (F4), a segunda mais forte e a terceira parecia forte,
mas nao dava para ver bem. Desci a primeira e fiquei esperando a canoa; nao
sei o que aconteceu, mas houve um vacilo e viraram espalhando o equipamento.
Nao sabia por onde comecar o resgate e Juca gritou o obvio: os remos primeiro.
Peguei os remos, dei para o Juca e desci rapidamente para pegar os 3 sacos que
tinham ido embora. Passei limpas as duas corredeiras que faltavam e peguei
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dois sacos. Minha mochilinha com a roupa (o dinheiro e a chave do carro!!!!!!
como e possıvel esse erro?) ficou parada antes da terceira, peguei facilmente e
esperei a canoa. Passaram bem na segunda, e ficaram preocupados na terceira
que puxaram pela agua. Foi um trecho muito bonito.
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F5: Primeira corredeira do 2o canyon
Depois do segundo canyon (uns 45 kms remados) comecamos a ficar pre-
ocupados pela hora, ainda que nao tivesse mais portagens, faltavam ainda pelo
menos 15 kms. E tinha mais. Chegamos num ponto com bastante pedra onde
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o rio faz uma curva a direita depois de uma corredeira leve. Passei a corredeira
(balancei e quase virei) e Juca e Sadao fizeram a portagem pela agua. Fomos
inspecionar o que tinha depois da curva: umas pedras dividiam o rio em dois;
pela direita uma arvore nao deixava espaco para passar e nao dava para ver o
que tinha do outro lado. Passei com meu kayak pela esquerda sem problemas e
avisei que nao tinha problemas embora a passagem de saida fosse estreita (ape-
nas a canoa); a canoa passou com um pouco de ajuda de cordas na saida.
F6: A felicidade do kayakista
E tinha mais. Na seguinte, tive que fazer uma manobra para entrar num canal
entre duas rochas perpendiculares ao rio e evitar sair pela direita, onde tinha
uns galhos perigosos. Juca e Sadao fizeram portagem pela direita pela pedras.
Quando pararam um pouco as corredeiras estavamos cansados, e eu remava com
alguma displicencia, nao vi um toco sobresaindo da agua embaixo de uma ponte
e quase sem perceber virei, rapidamente cheguei na margem e Juca e Sadao me
ajudaram a tirar a agua; a experiencia que faltava para provar que o meu kayak
nao perdia muita flutuacao com a carga. Ate que foi bom. Eu nao teria feito
de proposito. Depois teve duas corredeiras mais ou menos rapidas passando
embaixo de uma ponte que foram sem problemas e o rio continuou calmo. Mas
a noite estava chegando. Nao dava para continuar no escuro e aoredor das
7 decidimos sair numa fazenda depois de perguntar a uma pessoa que estava
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pescando (Expedito, morador de Taubate que visitava seu primo da fazenda).
Deixamos os barcos na margem, alguma tralha na casa do primo de Expedito e
caminhamos um km ate a estrada (23K 0469548 7435997) para pedir carona ate
Sao Luiz. Um velho campones levou a gente na sua antiga Variant ate a cidade.
Tremiamos mais que nas corredeiras quando o bom senhor contava que cada vez
enxergava menos por causa das cataratas. Mas chegamos vivos na aconchegante
Pousada dos Curiangos, pegamos os carros e voltamos para carregar os barcos.
Uma experiencia e tanto que valeu a pena.
Um comentario necessario para o final. A mata ciliar praticamente inex-
iste, foi destruıda, salvo nos dois canyons de difıcil acesso e am alguns trechos
finais perto de Sao Luiz onde parece ter sido reconstruıda. Perto do final do
dia, cruzamos por uma draga, que praticamente fechava o rio, deixando apenas
um par de metros para passar contra a margem esquerda; uma ativdade ilegal.
O RETORNOUm mes depois voltamos ao Paraitinga para completar o trajeto
anterior. Sadao, solo com a canadense, Eurico e Fabiano numa outra e eu
no meu Corsica. Juca estava com gripe e desistiu. Entramos no km 17 da
descida anterior, mas dessa vez foi tudo mais rapido, 30 kms do rio conhecidos e
ninguem virou. No primeiro dia tivemos apenas uma portagem num local com
muita pedra onde Fabiano levou um pequeno susto quando caiu na agua e a
canoa foi encima dele, mas nao foi muita coisa. Encontramos a mesma draga
da vez anterior, so que agora fechando completamente o rio (no ponto 23 K
0473260 7433718), e tivemos que fazer alguns malabarismos para passar por
baixo dos tubos (uma denuncia para o IBAMA). Depois de passar o ponto de
saıda da descida anterior, bem proximo de Sao Luiz (talvez dois kms antes), um
bom ponto de corredeiras, com uma ilha no meio. Eurico passou pela direita,
mais difıcil, Sadao e eu passamos pela esquerda sem problemas.
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F7: Eurico e Alvaro na saıda da corredeira perto de S. Luiz
Como estavamos tao perto de Sao Luiz, decidimos dormir numa pousada e
preparar a saıda do trecho seguinte. Pegamos os carros e acompanhados de um
taxi para voltar, os deixamos no bairro de Santa Cruz (23K 0461061 7424544), o
ponto de chegada, um vilarejo com uma igrejinha e um bar na margem esquerda
do rio. Chovia.No dia seguinte acordamos cedo e saimos as 8 da manha. O novo trecho
me pareceu mais bonito, e com a mata mais preservada, com corredeiras leves,
salvo a ultima, uns 500 ms antes do ponto de saıda. Uma boa opcao para um
passeio de um dia.
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F8: Paissagem do segundo dia
F9: Com calma no segundo dia
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F10: Eurico desfrutando e a mata ciliar
F11: O caboclo Eurico
Foi tudo muito calmo e bom para apreciar a paisagem com muitas partes de
floresta preservada nas margens do rio. Na ultima corredeira, inspeccionando
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o rio, a melhor passagem era pela margem esquerda. Eurico, teimoso, fez uma
portagem complicada pela agua pela margem direita e quase virou, Fabiano e
Sadao fizeram pela direita. Eu desci pelo rio.
F9: Chegando na ultima corredeira
A chegada foi otima. Procuramos uma sombra, ao lado do campo de
futebol e com muita calma devoramos um lanche com passas, salame e queijos e
com aquele vinho tinto argentino. Aquele prazer de estar realizado sem gastar
muito mais do que energia.
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F10: Alvaro na ultima corredeira
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