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Qualidade de sementes de algodão 477 DESEMPENHO FÍSICO E FISIOLÓGICO DE SEMENTES DE ALGODÃO Deise Laura Cocco 1 Francisco Amaral Villela ² Letícia Winke Dias ³ Tiago Zanatta Aumonde 4 O algodão foi domesticado há mais de quatro mil anos no sul da Arábia, apontando as Índias como a principal região produtora da cultura e sua produção era utilizada como produto de primeira necessidade (RESENDE e MOURA, 1990). No Brasil, o cultivo do algodão teve início nos primeiros anos da colonização. Nesta época, os padres Manoel da Nóbrega e José de Anchieta defenderam a instalação de uma indústria têxtil, contudo o cultivo era apenas realizado ao redor das residências e com isso, apenas poucos fardos foram embarcados para Portugal no primeiro século de colonização (COSTA e BUENO, 2004). No mundo atualmente são cultivados dois tipos diferentes de algodão, o arbóreo caracterizado pelo cultivo permanente em uma árvore de porte mediano e o herbáceo encontrado em um arbusto de cultivo anual, este último com mais de 50 espécies classificadas e descritas (TYAGI et al., 2014). O algodão é uma planta de origem tropical, produzido por mais de 80 países, sendo os principais produtores a China, Índia, Estados Unidos, Paquistão, Brasil e Usbequistão (FAO, 2012). O cultivo do algodão em larga escala é feito com o tipo herbáceo (Gossypium hirsutum L.), também denominado algodão branco, pertencente à família Malvaceae (CARVALHO, 2008). O produto do algodoeiro é composto pela pluma (fibra) e ¹Eng. Agr., Mestre Profissional em C&T de Sementes, PPG em C&T de Sementes, D.Ft./FAEM/UFPel ²Eng. Agr., Dr. Professor do PPG em C&T de Sementes, D.Ft./FAEM/UFPel. E- mail: [email protected] ³ Eng. Agr., Doutoranda do PPG em C&T de Sementes, D.Ft./FAEM/UFPel. 3 Eng. Agr., Dr. Professor do PPG em C&T de Sementes, D.Ft./FAEM/UFPel.

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Qualidade de sementes de algodão

477

DESEMPENHO FÍSICO E FISIOLÓGICO DE SEMENTES DE ALGODÃO

Deise Laura Cocco 1

Francisco Amaral Villela ² Letícia Winke Dias ³

Tiago Zanatta Aumonde4

O algodão foi domesticado há mais de quatro mil anos no

sul da Arábia, apontando as Índias como a principal região

produtora da cultura e sua produção era utilizada como produto

de primeira necessidade (RESENDE e MOURA, 1990). No Brasil,

o cultivo do algodão teve início nos primeiros anos da

colonização. Nesta época, os padres Manoel da Nóbrega e José

de Anchieta defenderam a instalação de uma indústria têxtil,

contudo o cultivo era apenas realizado ao redor das residências e

com isso, apenas poucos fardos foram embarcados para

Portugal no primeiro século de colonização (COSTA e BUENO,

2004).

No mundo atualmente são cultivados dois tipos diferentes

de algodão, o arbóreo caracterizado pelo cultivo permanente em

uma árvore de porte mediano e o herbáceo encontrado em um

arbusto de cultivo anual, este último com mais de 50 espécies

classificadas e descritas (TYAGI et al., 2014). O algodão é uma

planta de origem tropical, produzido por mais de 80 países,

sendo os principais produtores a China, Índia, Estados Unidos,

Paquistão, Brasil e Usbequistão (FAO, 2012).

O cultivo do algodão em larga escala é feito com o tipo

herbáceo (Gossypium hirsutum L.), também denominado

algodão branco, pertencente à família Malvaceae (CARVALHO,

2008). O produto do algodoeiro é composto pela pluma (fibra) e

¹Eng. Agr., Mestre Profissional em C&T de Sementes, PPG em C&T de

Sementes, D.Ft./FAEM/UFPel ²Eng. Agr., Dr. Professor do PPG em C&T de Sementes, D.Ft./FAEM/UFPel. E-mail: [email protected] ³ Eng. Agr., Doutoranda do PPG em C&T de Sementes, D.Ft./FAEM/UFPel. 3 Eng. Agr., Dr. Professor do PPG em C&T de Sementes, D.Ft./FAEM/UFPel.

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Produção Técnico-Científica em Sementes - Volume I

478

pelo caroço (semente) (PENNA, 2005). Possui como principal

produto sua fibra, basicamente constituída de celulose (FANG et

al., 2013). As fibras dessa cultura é a mais importante de todas

as fibras têxteis (ANDRADE JR. et al., 2009).

A cotonicultura desempenha um importante papel no

agronegócio brasileiro, principalmente, no que tange ao valor

agregado aos produtos. Por essa razão, a cultura do algodão tem

se destacado no cenário agrícola nacional, sobretudo a região

localizada no Cerrado brasileiro. Possuindo como maiores

produtores os estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,

Bahia e Goiás. Na safra de 2015/2016, a área semeada de

algodão no Brasil foi de 956,7 mil hectares, sendo estes estados

responsáveis por 93% da produção (CONAB, 2016).

Apesar da aptidão adequada e dos altos desempenhos

das variedades cultivadas, três fatores ainda comprometem a

sustentabilidade desta atividade no Cerrado: a elevação

contínua dos custos da produção, a predominância de cultivares

sensíveis a viroses e a demora de licenciamento de genes e de

tecnologias transgênicas para uso imediato dos produtores

(FARIAS et al., 2007).

Mesmo tendo conhecimento destas limitações, os

produtores de algodão têm exigido, cada vez mais, sementes de

alta qualidade, que possibilitem uma emergência mais rápida e

um estande uniforme no campo. Um dos fatores limitantes para o

sucesso da cultura do algodoeiro tem sido a dificuldade de se

obter sementes com qualidade física, fisiológica e sanitária

capazes de proporcionar o estabelecimento dessa cultura com

população adequada e com plântulas uniformes e vigorosas

(QUEIROGA et al., 2011).

Diante disso, o objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade

física e fisiológica de sementes de algodão.

O experimento foi desenvolvido em laboratório de análise

de sementes e no campo experimental da empresa Usina de

Deslintamento de Sementes de Algodão - UDESIL, localizada no

município de Primavera do Leste – MT. Utilizaram-se sementes

de seis lotes de algodão herbáceo da cultivar FM 993,

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Qualidade de sementes de algodão

479

constituindo um experimento em esquema unifatorial. O

delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado

com quatro repetições.

Todas as sementes utilizadas no experimento passaram

pelo processo de deslintamento químico com ácido sulfúrico e

neutralizadas com carbonato de cálcio a 2%. Para redução de

agentes contaminantes, após deslintadas, as sementes

receberam tratamento com o fungicida Captan 500 PM (n-

[(triclorometil)tio]- 4- ciclohexeno-1,2-dicarboximida).

A qualidade fisiológica das sementes foi avaliada pelos

seguintes testes: Teste de germinação (G), realizado com quatro

amostras de 50 sementes por unidade experimental, dispostas

em substrato de papel, previamente umedecido em água

destilada na proporção de 2,5 vezes a massa do papel seco e

mantidas em germinador à temperatura de 20 °C. As avaliações

foram efetuadas aos doze dias após a semeadura, conforme as

Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009) e os

resultados foram expressos em porcentagem de plântulas

normais. A primeira contagem da germinação (PCG) foi avaliada

aos quatro dias após a semeadura, por ocasião da realização do

teste de germinação.

Índice de velocidade de germinação (IVG), realizado

conjuntamente com o teste de germinação, com contagens

diárias, até a estabilização da germinação das sementes, sendo

consideradas germinadas somente as plântulas com protrusão

da raiz primária superior a 2 mm. O índice de velocidade de

germinação (IVG) foi calculado segundo Maguire (1962), através

da seguinte fórmula:

IVG=G1/N1+G2/N2+⋯Gn/Nn

Onde: G1, G2 e Gn = número de sementes germinadas na

primeira, segunda, até a última contagem e N1, N2, Nn = número

de dias desde a primeira, segunda, até a última contagem.

Emergência de plântulas em canteiro (EC), foram

utilizadas quatro repetições de 100 sementes por lote. A

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Produção Técnico-Científica em Sementes - Volume I

480

semeadura ocorreu no espaçamento de 1,0 x 0,05m e

profundidade de 0,02m. A contagem final foi realizada 14 dias

após a semeadura, computando-se as plântulas emergidas

(NAKAGAWA, 1994).

O índice de velocidade de emergência (IVE), realizado

conjuntamente com o teste de emergência em canteiro, com

contagens diárias até o dia quatorze, em que ocorreu a

estabilização da emergência das plântulas, sendo consideradas

como emergidas, as plântulas que apresentaram as duas

primeiras folhas totalmente livres e normais. Sendo calculado

segundo com Labouriau e Valadares (1976), através da seguinte

fórmula:

IVE = (N/A). 100

Onde: N = número total de plântulas emergidas; A =

número total de sementes utilizadas.

Envelhecimento acelerado (EA), foram utilizadas quatro

repetições de 50 sementes por lote, distribuídas sobre bandejas

de tela de alumínio, fixadas no interior de caixas de plástico, tipo

gerbox, a 41ºC, por um período de 72 horas (MARCOS FILHO,

1994). Decorrido esse período, as sementes foram colocadas

para germinar, seguindo-se as recomendações do teste de

germinação (BRASIL, 2009). A avaliação das plântulas foi

realizada no quarto dia após a semeadura, computando-se a

porcentagem de plântulas normais.

Condutividade elétrica (CE), foram pesadas quatro

repetições de 25 sementes para cada lote, que foram imersas em

75 mL de água destilada por 24 horas à temperatura constante

de 20ºC. A leitura da condutividade elétrica da solução foi

realizada em condutivímetro, marca Digimed, modelo CD-21,

sendo os resultados expressos em μS.cm-1.g-1 de sementes

(VIEIRA et al., 1994).

A qualidade física das sementes foi avaliada pelos

seguintes testes: Peso de mil sementes (PMS), foram utilizadas

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Qualidade de sementes de algodão

481

oito repetições de 100 sementes para cada um dos seis lotes,

pesadas em balança com precisão de 0,001g. A condução do

teste foi realizada de acordo com Brasil (2009) e a média dos

dados expressa em gramas.

Grau de umidade (GU), realizado com quatro repetições de

25 sementes para cada um dos lotes. O método adotado foi de

estufa a 105 ± 3°C, por 24 horas, sendo a pesagem obtida em

gramas, com três casas decimais e os resultados expressos em

porcentagem, em base úmida (TILLMANN; CÍCERO, 1996).

No procedimento estatístico os dados obtidos em cada

teste foram analisados separadamente para cada teste através

da análise da variância, e, conjuntamente, mediante análise de

correlação linear simples. Os valores obtidos em porcentagem

foram transformados em arco seno √x/100 e a comparação das

médias foi efetuada pelo teste de Tukey, em nível de

probabilidade de 5%.

O grau de umidade das sementes de algodão apresentou

homogeneidade, não excedendo 0,7 pontos percentuais de

diferença entre os lotes, portanto, possivelmente não tenha sido

uma fonte significativa de variação para as demais variáveis

avaliadas (Tabela 1). Resultado semelhante foi observado por

Dutra e Medeiros (2008) e Meneses (2007), indicando grau de

umidade relativamente próximos entre lotes de sementes de

algodão, sendo essencial para a padronização das avaliações e

obtenção de resultados consistentes (LOEFFLER et al., 1985;

KRZYZANOWSKI et al., 1991; MARCOS FILHO,1999).

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Produção Técnico-Científica em Sementes - Volume I

482

Tabela 1 - Umidade (U), peso de mil sementes (PMS), primeira

contagem da germinação (PCG), germinação (G) e índice de

velocidade de germinação (IVG) de sementes de algodão.

Lote U (%) PMS (g) PCG (%) G (%) IVG

1 10,9 a* 93,92 bcd 92 ab 98 a 11,88 ab

2 10,8 a 92,59 d 80 c 84 c 10,23 c

3 10,3 a 96,95 a 90 ab 93 ab 11,38 ab

4 10,2 a 95,17 abc 95 a 98 a 12,08 a

5 10,3 a 93,40 cd 86 bc 89 bc 10,99 bc

6 10,9 a 95,66 ab 85 bc 93 ab 11,17 b

Média 10,6 94,60 88 92 11,29

C.V. (%) 4,51 1,43 4,27 3,73 3,54

*Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna não diferem

entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05).

O peso de mil sementes médio foi de 94,6 g, variando 4,36

g entre os lotes de maior e menor massa (Tabela 1). Os lotes 3 e

6 foram os que apresentaram resultado superior, enquanto que

os lotes 2 e 5 foram inferiores. Aparentemente, o peso de mil

sementes é um atributo da qualidade física que pode estar

relacionado a qualidade fisiológica das sementes de algodão,

pois os lotes 2 e 5 obtiveram resultados inferiores na primeira

contagem da germinação, germinação e índice de velocidade de

germinação (Tabela 1). Contudo, maior peso de mil sementes

pode não representar em maior qualidade fisiológica, a exemplo

do lote 6, que apresentou resultados intermediários para as três

variáveis supracitadas. A variação do peso de mil sementes foi

de entre os lotes.

A relação do PMS com a maior a germinação foi

constatada anteriormente por Santos et al., (2001), onde

sementes de maior peso apresentaram maior germinação. Em

sementes de feijão, Machado et al. (1976) sugeriu que a maior

qualidade fisiológica apresentada pelas sementes mais pesadas

poderia estar associada a maior disponibilidade de reservas

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Qualidade de sementes de algodão

483

disponíveis para germinação, contudo, é mais provável que

esteja associada à menor deterioração apresentada pelas

sementes, resultando em maior germinação e vigor.

A primeira contagem da germinação apontou o lote 4 como

superior, o 2 como inferior e os demais como intermediários

(Tabela 1). Já para germinação os lotes 1 e 4 apresentaram

resultados superiores, enquanto que o lote 2 apresentou o pior

desempenho, embora todos os lotes tenham apresentado

resultados acima de 80%, valor mínimo exigido pela legislação

vigente para produção comercialização de sementes de algodão

(BRASIL, 2005).

Os valores elevados de germinação não significam,

necessariamente, que o lote possui alto vigor, uma vez que o

teste de germinação é conduzido em condições favoráveis de

temperatura, umidade e luminosidade, permitindo ao lote

expressar o potencial máximo para produzir plântulas normais

(MARCOS FILHO, 1999). Inclusive, Hampton e Tekrony (1995)

observaram que a maior limitação do teste de germinação é sua

inabilidade para detectar diferenças de potencial fisiológico entre

genótipos com alta germinação, indicando a necessidade de

completar essa informação.

Pelo teste de envelhecimento acelerado, o qual verifica o

potencial de armazenamento das sementes, verificou-se maior

vigor para o lote 3, permitindo inferir que, mesmo após as

sementes serem submetidas a condições de estresse, estas

mantiveram maior valor de germinação. O teste também permitiu

destacar a inferioridade do lote 4 (Tabela 2). As condições de

condução do teste (41⁰C/72 horas) apesar de reduzirem

drasticamente a germinação, permitiram classificar os lotes em

no mínimo três categorias de vigor.

No final da década de 1970, Carraro estabeleceu que um

lote de sementes de soja deveria apresentar no mínimo 70% de

plântulas normais após ser submetido ao envelhecimento

acelerado, correspondendo assim a um bom desempenho no

campo. Embora a legislação brasileira não estabeleça valores

mínimos de vigor para comercialização de sementes certificadas,

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Produção Técnico-Científica em Sementes - Volume I

484

as novas tecnologias e uma mercado cada vez mais exigente

têm estimulado a comercialização de sementes de alto vigor.

Tabela 2 - Envelhecimento acelerado (EA), condutividade elétrica

(CE), emergência em canteiro (EC) e índice de velocidade de

emergência (IVE).

Lote EA (%) CE (µS cm-1 g-1) EC (%) IVE

1 65 b* 306,5 ab 94 a 17,62 a

2 65 b 324,8 c 88 a 16,08 b

3 79 a 291,3 a 92 a 16,81 ab

4 55 c 298,2 ab 91 a 16,96 ab

5 59 bc 320,0 c 90 a 16,59 ab

6 57 bc 322,5 c 95 a 16,94 ab

Média 63 310,6 92 16,72

C.V.(%) 6,31 3, 56 3,99 3,25

*Médias seguidas da mesma letra minúscula na coluna não diferem

entre si pelo teste de Tukey (p≤0,05).

O teste de condutividade elétrica determina os solutos

lixiviados através das membranas, ou seja, quanto mais

deterioradas estiverem as membranas das sementes, maior a

quantidade de solutos lixiviados e, consequentemente, menor o

vigor. Os maiores resultados foram obtidos nos lotes 2, 5 e 6,

sendo considerados de baixo potencial fisiológico enquanto que

os lotes 1, 3 e 4 apresentaram menores lixiviações. Resultados

semelhantes foram encontrados por Mattioni et al. (2012) que ao

trabalharem com classificação de sementes de algodão em

diferentes níveis de vigor encontraram resultados similares em

cinco das sete avaliações realizadas, em especial, que maiores

valores de lixiviação de solutos corresponderam as menores

porcentagens de plântulas normais, mostrando ser este um bom

parâmetro de avaliação da qualidade das sementes.

Apesar das diferenças de vigor observada nas demais

avaliações, o teste de emergência de plântulas em canteiro não

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Qualidade de sementes de algodão

485

foi capaz de detectar diferenças de vigor entre os lotes de

algodão, agrupando-os em um mesmo nível (Tabela 2). Embora

semelhantes, o lote 2 apresentou 88% de emergência em

canteiro e o lote 6 (95%). Possivelmente, as condições

edafoclimáticas tenham sido próximas às ideais para a

germinação e emergência das plântulas.

Assim como a emergência de plântulas em canteiros, o

índice de velocidade de emergência permitiu diferir apenas o lote

1 do lote 2, sendo o primeiro superior (Tabela 2). Os demais

obtiveram resultados semelhantes à ambos.

Os dados da análise de correlação linear simples (Tabela

3) mostraram significância entre os resultados dos testes de

germinação com primeira contagem de germinação (r = 0,93**),

emergência em canteiro (r = 0,75**), índice de velocidade de

emergência (r = 0,56*) e índice de velocidade de germinação (r =

0,98**). Além disso, a primeira contagem da germinação

apresentou alta correlação com o índice de velocidade de

germinação (r = 0,98**).

Frigeri (2007) cita que frequentemente observa-se que

lotes de sementes apresentando porcentagem de germinação

semelhante exibem comportamentos distintos no campo e/ou no

armazenamento. Entretanto, neste trabalho foi possível

correlacionar de forma altamente significativa a germinação das

sementes com o índice de velocidade de germinação e a

emergência em canteiro, alcançando coeficiente de correlação

linear de 0,75** e 0,98**, respectivamente (Tabela 3).

A tentativa de correlacionar testes de vigor com resultados

promissores de emergência e desempenho de plantas de

algodoeiro foram investigadas por Torres (1998) e Freitas et al.

(2000), e mais recentemente por Souza et al. (2014), onde os

testes de condutividade elétrica, lixiviação de potássio, teste de

germinação a baixa temperatura e envelhecimento acelerado

foram eficientes na avaliação do vigor e diferenciação do

potencial fisiológico. Contudo, na presente pesquisa não houve

boa correlação da condutividade elétrica com os demais testes e

a emergência apresentou similaridade com a germinação. É

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Produção Técnico-Científica em Sementes - Volume I

486

possível que esta similaridade entre germinação e emergência de

plântulas em canteiro tenha decorrido das condições favoráveis

de campo.

Tabela 3 - Coeficiente de correlação linear simples (r) entre as

variáveis nos testes de avaliação da qualidade fisiológica de

sementes de algodão.

G PCG EA CE EC PMS U IVE IVG

G 1

PCG 0,93458 ** 1

EA -0,18369 -0,04759 1

CE -0,33184 -0,52933 * -0,41682 1

EC 0,75221 ** 0,52485 -0,11371 0,02247 1

PMS 0,50690 0,48048 0,36857 -0,74618 0,55546 1

U -0,11192 -0,41181 -0,20388 0,80105 0,27632 -0,36452 1

IVE 0,55977 * 0,39981 0,17078 0,25181 0,82538 ** 0,23422 0,38823 1

IVG 0,9837 ** 0,98268 ** -0,14072 -0,42832 0,64825 ** 0,49115 -0,26732 0,48161 1

Germinação (G), primeira contagem da germinação (PCG), envelhecimento acelerado (EA), condutividade elétrica (CE), emergência em canteiro (EC), peso de mil sementes (PMS), umidade (U), índice de velocidade de emergência (IVE) e índice de velocidade de germinação (IVG). * = significativo a 5% e ** = significativo a 1%.

De acordo com Marcos Filho et al. (1984), a correlação

significativa indica apenas tendências de variações semelhantes

entre duas características, de modo que os resultados desta

análise não devem ser interpretados isoladamente.

Numa análise geral, o teste de germinação destacou a

superioridade dos lotes 1, 3, 4 e 6 e a inferioridade do lote 2. Por

outro lado, os testes de vigor, particularmente, condutividade

elétrica, índice de velocidade de germinação e índice de

velocidade de emergência, identificaram os lotes 1, 3 e 4 de vigor

superior, o lote 2 de vigor inferior e os lotes 5 e 6 de vigor

intermediário.

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Qualidade de sementes de algodão

487

Considerações finais O peso de mil sementes pode ser um bom indicativo físico

da qualidade fisiológica das sementes de algodão. Além disso, os

testes de condutividade elétrica, índice de velocidade de

germinação e índice de velocidade de emergência são eficientes

em classificar lotes de sementes de algodão em níveis de vigor.

Referências Bibliográficas

ANDRADE JÚNIOR, A.S. de; MELO SILVA, F.A. de; LIMA, M.G. de; AMARAL, J.A.B. do. Zoneamento de aptidão climática para o algodoeiro herbáceo no Estado do Piauí. Revista Ciência Agronômica, Fortaleza, v.40, p.175-184, 2009. BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLAV, p. 395, 2009. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento. Instrução Normativa n. 25 de 16 de dezembro de 2005. Estabelece normas específicas e os padrões de identidade e qualidade para produção e comercialização de sementes de algodão, arroz, aveia, azevém, feijão, girassol, mamona, milho, soja, sorgo, trevo vermelho, trigo, trigo duro, triticale e feijão caupi. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Seção 1, p. 18, 2005. CARRARO, I.M. Efeito do retardamento da colheita e do tratamento de sementes sobre a germinação, o vigor e a nodulação da soja (Glycine max (L.) Merril). 1979. 102 f. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) Viçosa: Universidade Federal de Viçosa. CARVALHO, L.P. O gênero Gossypium e suas espécies cultivadas e silvestres. In: BELTRÃO, N. E. M.; AZEVEDO, D. M. P. (Org.). O agronegócio de algodão no Brasil. 2. ed. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, v.1, p. 252-270, 2008.

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Produção Técnico-Científica em Sementes - Volume I

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