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1 DESENVOLVIMENTO DA CADEIA PRODUTIVA DO TOMATE INDUSTRIAL NO BRASIL: Antecedentes Históricos e Contribuições do Governo para a Organização. RESUMO: O estudo mostra o itinerário histórico do processamento de tomate no Brasil que teve início em 1890 no município de Pesqueira – PE, e no século XX começou em São Paulo de forma artesanal. Após 1940 teve início a instalação de fábricas em Monte Alto – SP. Na década de 1970 formou-se o complexo agroindustrial. Nessa época o governo do Estado de São Paulo foi pioneiro na organização da cadeia produtiva que instituiu o Comitê da Agroindústria do Tomate com o propósito de intermediar negociação de preços e difundir tecnologia da produção, por meio da Secretaria de Agricultura. A EMBRAPA fundada em 1973 com os seus Centros Regionais de Pesquisas, criou para o Nordeste variedades de tomate industrial, técnicas de produção e irrigação no cerrado que dariam apoio à atividade no Nordeste e Centro-Oeste. No período 1964-2011 a produtividade do tomate industrial em São Paulo iniciou-se com pouco mais de 11 toneladas por hectare e chegou a 78,6 toneladas por hectare. Nesse período os produtores paulistas mantiveram-se no mercado utilizando novas tecnologias de produção. No início da década de 1980 o pólo de produção foi deslocado para o Vale do Rio São Francisco (PE- BA) que teve a maior participação na produção nacional no período 1986-90, com 47,0% do total, a produtividade em 1996, chegou a 40,0 toneladas por hectare, máximo possível à variedade IPA-5 da EMBRAPA predominante no cultivo. Após o ano de 1996 a incidência de geminivirus e a falta de tecnologia adequada reduziram drasticamente a produção nordestina. Em 1986 teve inicio a produção de tomate industrial em Goiás e Minas Gerais com produtividade menor que 45,0 toneladas por hectare. Na década de 1990 até 2011 foi expandido a área cultivada e a produtividade atingiu mais de 80 toneladas por hectare utilizando híbridos, irrigação, produção de mudas e colheita mecanizada. No período 2005-11 essa região produziu cerca de 80,0% do total nacional de tomate para indústria. O parque industrial brasileiro tem 23 unidades fabris distribuído nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste com a capacidade de 17,08 mil toneladas por dia no setor de primeiro e segundo processamento de polpa concentrada. Palavras-Chave: Tomate Industrial, histórico, área e produção regional.

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DESENVOLVIMENTO DA CADEIA PRODUTIVA DO TOMATE INDUSTRIAL NO BRASIL: Antecedentes Históricos e Contribuições do Governo para a

Organização.

RESUMO: O estudo mostra o itinerário histórico do processamento de tomate no Brasil que teve início em 1890 no município de Pesqueira – PE, e no século XX começou em São Paulo de forma artesanal. Após 1940 teve início a instalação de fábricas em Monte Alto – SP. Na década de 1970 formou-se o complexo agroindustrial. Nessa época o governo do Estado de São Paulo foi pioneiro na organização da cadeia produtiva que instituiu o Comitê da Agroindústria do Tomate com o propósito de intermediar negociação de preços e difundir tecnologia da produção, por meio da Secretaria de Agricultura. A EMBRAPA fundada em 1973 com os seus Centros Regionais de Pesquisas, criou para o Nordeste variedades de tomate industrial, técnicas de produção e irrigação no cerrado que dariam apoio à atividade no Nordeste e Centro-Oeste. No período 1964-2011 a produtividade do tomate industrial em São Paulo iniciou-se com pouco mais de 11 toneladas por hectare e chegou a 78,6 toneladas por hectare. Nesse período os produtores paulistas mantiveram-se no mercado utilizando novas tecnologias de produção. No início da década de 1980 o pólo de produção foi deslocado para o Vale do Rio São Francisco (PE-BA) que teve a maior participação na produção nacional no período 1986-90, com 47,0% do total, a produtividade em 1996, chegou a 40,0 toneladas por hectare, máximo possível à variedade IPA-5 da EMBRAPA predominante no cultivo. Após o ano de 1996 a incidência de geminivirus e a falta de tecnologia adequada reduziram drasticamente a produção nordestina. Em 1986 teve inicio a produção de tomate industrial em Goiás e Minas Gerais com produtividade menor que 45,0 toneladas por hectare. Na década de 1990 até 2011 foi expandido a área cultivada e a produtividade atingiu mais de 80 toneladas por hectare utilizando híbridos, irrigação, produção de mudas e colheita mecanizada. No período 2005-11 essa região produziu cerca de 80,0% do total nacional de tomate para indústria. O parque industrial brasileiro tem 23 unidades fabris distribuído nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste com a capacidade de 17,08 mil toneladas por dia no setor de primeiro e segundo processamento de polpa concentrada.

Palavras-Chave: Tomate Industrial, histórico, área e produção regional.

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SUPPLY CHAIN DEVELOPMENT OF INDUSTRIAL TOMATO IN BRAZIL: Historical Background and Government contributions to the Organization.

ABSTRACT: This study shows the historical itinerary of processing tomatoes in Brazil that began in 1890 in Pesqueira - PE, and in the twentieth century began in Sao Paulo ( handmade). After 1940 began the installation of factories in the city of Monte Alto - SP. In the 1970s formed the agroindustrial complex. At that time the state government of the state of Sao Paulo was apioneer in the supply chain organization that established the Committee of the Tomato Agribusiness in order to mediate the negotiation of prices and production technology spread through the State Department of Agriculture(SAA). EMBRAPA was founded in 1973 with its Regional Research Centers, created for the Northeast industrial tomato varieties, production techniques and irrigation in the cerrado that would support the activity in the Northeast and Midwest. In the period 1964-2011 the productivity of tomato in São Paulo began with just over 11 tonnes per hectare and reached 78.6 tonnes per hectare. During this time the producers of São Paulo have remained in the market using new production technologies. In the early 1980s the production center was moved to the Valley of the São Francisco (PE-BA) which had the highest participation in national production in the period 1986-90, with 47.0% of the total productivity in 1996 , reached 40.0 tonnes per hectare, the maximum possible variety IPA-5 predominant in the cultivation of EMBRAPA. After the year 1996 the incidence of geminivirus and the lack of appropriate technology have drastically reduced the production of the Northeast. In 1986 was started the production of tomato in Goiás and Minas Gerais, with a productivity of less than 45.0 tonnes per hectare. In the decade from 1990 to 2011 was expanded acreage and yield reached more than 80 tons per hectare using hybrid, irrigation, seedling production and mechanized harvesting. In the period 2005-11 this region produced about 80.0% of total national tomato industry. The Brazilian industry has 23 production plants distributed in the Midwest, Southeast and Northeast have the capacity to 17,080 tons per day in the sector of the first and second processing concentrated pulp.

Key Words: Industrial Tomato, history, area and regional production.

DESENVOLVIMENTO DA CADEIA PRODUTIVA DO TOMATE INDUSTRIAL NO BRASIL: Antecedentes Históricos e Contribuições do Governo para a

Organização.

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Felipe Pires de Camargo 1

Waldemar Pires de Camargo Filho 2

1. Introdução e ObjetivosO tomate é um dos produtos olerícolas com maior utilização de uso no

mundo para consumo fresco ou processado juntamente com a batata, a cebola e o alho. O mercado de tomate constitui–se em duas cadeias produtivas distintas, desde o cultivo, processamento, até a distribuição ao consumidor final. A produção de tomate industrial é realizada com preços previamente acordados em contratos entre produtores e industriais. Enquanto o tomate de mesa tem o mercado livre com forte estacionalidade de preços e quantidades, o principal canal de distribuição no Brasil são os entrepostos normatizados e as redes supermercadistas.

Este trabalho terá como foco o desenvolvimento do mercado de tomate industrial no Brasil. Os seus objetivos são relatar antecedentes históricos até a formação do complexo agroindustrial de tomate na década de 70 e as ações do governo na organização da cadeira produtiva. Serão apresentados os principais países processadores de polpa e os estados brasileiros maiores produtores de tomate para indústria e mesa separadamente. Serão mostradas as evoluções das produções regionais de tomate industrial, em diversos períodos no estado de São Paulo, Nordeste, Minas Gerais e Goiás agregados serão analisados, por meio de cálculo de taxas de crescimento da área, da produção e da produtividade, a partir disso avaliar a contribuição da área e da produtividade na expansão da produção. Estas informações permitem traçar o itinerário da produção nacional de 1964 a 2011, bem como a incorporação tecnológica refletida na produtividade da cultura. Os dados foram coletados por meio de revisão de literatura e a partir dos sistemas de informações disponíveis e citados na literatura.

2. MATERIAL E MÉTODO

O material consiste das estatísticas de produção que foram obtidas da Associação Brasileira de Indústria de Alimentos - ABIA e também divulgadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA (2010), ANUÁRIO IEA (2011) e IBGE (2011).

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE em sua publicação: Levantamento Sistemático da Produção Agropecuária agrega o tomate industrial e o de mesa por estado, para divulgar a área e a produção por estado no Brasil. Dessa maneira quando se estuda essas cadeias produtivas é necessário a elaboração de planilhas para separar a área cultivada e a produção dos dois produtos.

Para calcular a contribuição da produtividade e da área, para expansão da produção, o método foi conforme o procedimento descrito em Vera Filho & Tollini (1979).

Considerando o período estudado para aplicação desse método, inicialmente são calculadas as taxas geométricas médias anuais de crescimento da área e da produção, obtidos por equação de regressão e pelo método dos mínimos quadrados ordinários de forma:

1 - Engenheiro Agrônomo, Pesquisador Científico do Instituto de Economia Agrícola da Agência APTA,2 - Engenheiro Agrônomo, MS, Pesquisador Científico do Instituto de Economia Agrícola da Agência APTA,

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lny = a+bt sendo:lny = logaritmo natural da área ou da produção;t = variável tempoa e b = parâmetros da regressão.

A vantagem deste método é que as taxas de crescimento das variáveis em estudo mostram o comportamento do perfil produtivo no período. Em razão da produção ser resultado da área cultivada multiplicada pela produtividade, é possível calcular a contribuição das variáveis para expansão. O aumento da produtividade do solo evidencia a incorporação tecnológica.

As estimativas das contribuições do aumento da área e do aumento da produtividade para o acréscimo da produção, são dadas pelas fórmulas:

CA = (Ta/Tp) x 100CP= (( Tp - Ta) / Tp) ) x 100 onde:CA = contribuição da área, CP = contribuição da produtividade.Ta = taxa geométrica média anual de crescimento da área.Tp = taxa geométrica média anual de crescimento da produção.

3. Antecedentes Históricos da Industrialização de Tomate no BrasilO início da industrialização de tomate no Brasil ocorreu em 1890,

quando a família Carlos de Brito instalou uma indústria para processamento em Pesqueira - PE que utilizava tomate de mesa na produção de molho para conservas de sardinha. Ao final da década de 1920, a empresa começou a produzir concentrados por meio de evaporadores PONCE, (1993).

A colonização de São Paulo e do Brasil teve contribuição dos povos de origem africana, portuguesa, européia, asiática e árabes que consolidaram a diversificação da produção agropecuária paulista e deram sustentabilidade para a expansão do mercado de alimentos in natura e industrializados. A industrialização de tomate, outras frutas e hortaliças, inclusive derivados de produtos de origem animal, até meados do século XX, ocorriam de forma artesanal pelas famílias de origem européia. O processamento de concentrados e molhos tinha como matéria prima o tomate de mesa.

Nas décadas de 1940 e 1950 já existiam em funcionamento em Monte Alto no estado de São Paulo três fábricas para processamento de tomate. As quais consumiam 80% do tomate de mesa da região, Minami (1982) Hespanhol (1991) apud NUEVO (1994).

3.1. Papel da Secretaria da Agricultura em São Paulo – SAAEm 1813, Beyer disse: “Quando São Paulo comprehender a utilidade

das fábricas e chegar o tempo de sua installação, esta capitania terá dentro de si mesma tudo quanto é preciso para ser independente de todas as mais”, apud MARTINS, (1991)

Com a proclamação da República Federativa do Brasil em 1889, a constituição foi promulgada em 1891 e facultava aos Estados a sua organização administrativa.

Assim em 1892 começava a funcionar a Secretaria de Agricultura, Commércio e Obras Públicas, que incorporou a “Imperial Estação Agronômica de Campinas, criada por D. Pedro” em 27 de junho de 1887. A pasta tinha como atribuição a investigação, o ensino, classificação agroclimatológica das regiões, conservação de recursos florísticos e faunísticos e divulgação de informações. Ao final do século XIX até meados de século XX a preocupação

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das autoridades era organizar a produção de alimentos de origem vegetal e expandir a exploração pecuária para produção de carne, leite e derivados, quando já despertava interesse pela indústria, mormente a têxtil com a expansão da cotonicultura.

Durante o primeiro século de sua existência a Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo foi reorganizada, periodicamente para atender os objetivos da organização na época. Assim o Secretário de Agricultura Carlos José Botelho (1904-1908) promoveu reforma que dava organização estrutural: Diretorias de Agricultura, de Indústria e Comércio de Terras, Colonização e Imigração, de Viação, de Obras Públicas, Geral e Contadoria. As quais seriam complementadas com a Diretorias de Indústria Animal, de Estradas de Rodagem, de Publicidade Agrícola, o Serviço de Meteorologia, o Departamento Estadual de Trabalho, o Patronato Agrícola, o Instituto de Veterinária e a Comissão de Debelação da Praga do Café. Outras alterações se sucederam até aquela promovida por Fernando Costa em 1927, que disse: “O desdobramento da Secretaria de Agricultura Commércio e Obras Públicas era uma medida que há muito, se impuha, attendendo-se à complexidade dos serviços, sempre em crescente augmento com o desenvolvimento e progresso do Estado”, apud MARTINS, (1991).

A imigração e o movimento geral do Porto de Santos era de responsabilidade da Secretaria da Agricultura, havendo albergues para os imigrantes se alojarem até serem conduzidos ao seu destino. No local destinado os imigrantes recebiam instruções sobre o cultivo do café, milho, feijão, frutas, hortaliças, pecuária, etc. Além de receber um “kit” de sementes para semear e obter alimentos, com o compromisso de comunicar no futuro quanto havia colhido. Surgia assim a Seção de Previsões e Estimativas de Safras Agrícolas, que é um serviço organizado nos 645 municípios até o século XXI, pelo IEA – CATI. Pode se perceber que o próprio nome da Secretaria de Agricultura mostrava sua missão.

A Secretaria de Agricultura no século XX desenvolveu ações em todos os municípios paulistas para organizar a produção, o desenvolvimento de pesquisa e a modernização do setor agropecuário e florestal, inclusive chegou a agregar a parte de ensino com a ESALQ – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em 1925.

Em 1942 como conseqüência dos acontecimentos históricos no mundo e no Brasil e a 2ª guerra mundial em curso a denominação torna-se Secretaria de Agricultura, com ênfase à extensão rural. Até então a pasta incorporava estações experimentais no Estado que era dividido em diretorias, quando foi criada a Diretoria de Produção Vegetal e a Divisão de Economia Rural (hoje IEA). Em 1955 foi instituída comissão para organização do ensino nas escolas agrotécnicas.

No governo de Carvalho Pinto (1959-65) foram instaladas Casas da Lavoura. No final da década de 1960 outra reforma organizaria os serviços da CATI com a criação do Departamento de Extensão Rural (DEXTRU) que tinha a atribuição de reunir informação para divulgação como um pacote tecnológico, apud MARTINS (1991).

O Secretário da Agricultura Rubens Araujo Dias (1971-75) foi a principal autoridade que promoveu a organização da pesquisa agropecuária e os recursos naturais no Estado de São Paulo. Na segunda metade do século XX organizou os comitês de agroindústria, inclusive o de tomate, no qual havia a

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elaboração de contratos para produção. Além do que em sua gestão iniciou em 1973 a publicação do prognóstico agrícola, que teria no final da década 1970 abrangência do Centro Sul brasileiro. Também em sua gestão foi criada a carreira do pesquisador científico, que deu sustentabilidade aos cientistas das Secretarias de Saúde, da Agricultura e do Meio Ambiente do governo paulista.

Em 1978 a denominação passou a Secretaria de Agricultura e Abastecimento. No início do século XXI foi criado a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) para organizar a pesquisa agropecuária agregando os institutos: Agronômico (IAC); Biológico (IB); de Economia Agrícola (IEA); de Pesca (IP); de Zootecnia (IZ) e o de Tecnologia de Alimentos (ITAL). Nesse tempo foi criada a Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) que teria como atribuição a fiscalização da produção e assuntos ligados a saúde e meio ambiente no setor agropecuário. A CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral) continuaria com a extensão, avaliação de safras e orientação da produção animal, vegetal e do fomento com fornecimento de sementes nas casas de agricultura.

A Secretaria da Agricultura no campo da técnica, englobando a pesquisa, e a assistência técnica, nunca parou de desenvolver...A Secretaria da Agricultura mostrou ter sido uma máquina que pôde ser transformada , expandida, reduzida, controlada, mas nunca parada. DULLEY (1988), apud MARTINS (1991). Esse autor analisou as transformações da Pasta e os serviços prestados à agropecuária paulista desde a sua criação.

3.1.1. Histórico da Produção do Tomate Industrial em São PauloNo final da década de 1960 havia duas formas de cultivo de tomate:

rasteiro – para uso industrial e com tutoramento (envarado) para mesa, consumo in natura. O Instituto de Economia Agrícola – IEA, em convênio com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral – CATI, ambas da Secretaria de Agricultura e Abastecimento – SAA, realizam em cada município paulista, o levantamento de área e produção de todas as atividades agrosilvopastoris no Estado, conforme dito anteriormente.

Quanto à distribuição de hortigranjeiros foram criados em 1966 como projeto piloto 02 (duas) CEASAs, (em São Paulo-SP e Recife-PE). Na cidade de São Paulo a comercialização de hortaliças, tomate e frutas, até 1966, era realizada, no entorno do Mercado Central da Cantareira. Com a inauguração, da Central Estadual de Abastecimento Sociedade Anônima do Estado de São Paulo (CEASA-SP), que foi agregada a Companhia de Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (CAGESP) em 1969, deu origem à Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (CEAGESP), a comercialização de hortigranjeiros passou a ser no Entreposto Terminal de São Paulo - ETSP.

Em 1975, o ETSP negociou 53,3% do total de tomate fresco comercializado no Sistema Nacional de Abastecimento Central (SINAC), nesse ano haviam 16 CEASA’s no Brasil, PROHORTI (1977).

A partir do ano 2000, por meio do Centro de Qualidade em Horticultura da CEAGESP ([email protected]), foi instituída a classificação de tomate no Brasil, como um programa de adesão voluntária, graças aos trabalhos da equipe coordenada por Anita Gutierrez. No Estado de São Paulo por lei não é permitida a venda de tomate rasteiro para o consumo in natura.

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A CEAGESP até 2002 ficou subordinada à Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. A partir desse ano o governo federal assumiu o controle.

No período 1964-70 houve estímulo a produção de tomate rasteiro para abastecer as indústrias, mediante contrato de preços acordados. O restante era originário de tomate enviado para consumo in natura. Nessa época havia cotação no ETSP para o tomate fora do padrão para o consumo, as indústrias PAOLETTI e CICA adquiriam no entreposto ou na lavoura e transportavam para Jundiaí/SP. No triênio 1968-69 o tomate rasteiro atendeu a 80,7% do processamento industrial em São Paulo. Quanto às indústrias elas promoviam a difusão de sementes, lista de produtos permitidos para o controle de pragas e doenças. Enquanto a pesquisa e a extensão com o apoio das indústrias investiam em tecnologia de produção.

Em 1964-67 a produção de tomate industrial (rasteiro) participava com 36,8% do total produzido no triênio 1968-70 aumentou para 44,0%. Em 1971 subiu para 46,7% com excesso de produção e crise no setor. Nesse período cerca de 10,0% do tomate rasteiro era desviado ao consumo in natura, em contrapartida 34,0% do tomate envarado era absorvido pelas indústrias. A quantidade de processamento na época era de 187 mil t/ano.

Nos anos de 1971 a 1975 houve expansão da produção e contratos com os produtores de tomate rasteiro, tendo como mediadores técnicos da Secretaria da Agricultura. Assinaram os acordos de preços representantes dos produtores, o Secretário da Agricultura, a Indústria Alimentícia Carlos de Brito, a Companhia Industrial e Mercantil Paoletti; a Companhia de Indústrias Alimentícias (CICA) e a Associação Brasileira de Indústria Alimentícia (ABIA) 3.

No período 1972-78 a participação do tomate rasteiro foi de 41,0% do total de tomate produzido e no período 1979-89 foi de 50,0% mostrando a eficácia do acordo de preços. A produção média anual no final da década de 1960 era de 150 mil t/ano e passou na década de 1980 para 325 mil t/ano aumento de 116,7%. Até 1980 São Paulo foi o principal produtor e promotor da organização da cadeia produtiva de tomate industrial. A partir de 1982 o Nordeste entrou no mercado e os preços recebidos eram com base nos preços acordados em São Paulo, fato que mudou na década de 1990.

As freqüentes geadas no início da década de 1970 fizeram com que se promovesse a expansão do tomate de mesa para o planalto, no caso do tomate industrial optou-se pela organização do cultivo ao Norte do Estado. Para organizar a produção decidiu-se pela integração do setor produtivo com as indústrias, onde o mediador era o governo de São Paulo por meio da SAA, que tinha suporte das instituições de extensão, pesquisa e fomento. Assim foram criados os comitês de agroindústria do estado de São Paulo. No caso do tomate a reunião de representantes da indústria, produtores de tomate, técnicos da CATI, pesquisadores do IEA e de outros institutos de pesquisa tinham a missão de determinar o período de plantio e colheita, elaborar planilha de custo de produção para o acordo contratual de preços a serem pagos. Além disso, o contrato definia os insumos a serem utilizados, sua forma de aplicação, tratos culturais, espaçamento, épocas de semeadura, de colheita e local de

3 - As informações sobre a produção de tomate industrial nas décadas de 1960 e 1970, a organização do Comitê da Agroindústria de tomate em São Paulo estão nos relatórios de acompanhamento que a Diretoria do IEA fornecia ano Gabinete do Secretário de Agricultura (GSAA).

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entrega, conforme a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos – ABIA (1992), apud NUEVO (1994).

O governo paulista instituiu programa para promover a irrigação da produção de tomate industrial e de feijão ao Norte do Estado, no início da década 1980, o Comitê da Agroindústria de tomate funcionou razoavelmente até 1992. Em 1993 os industriais não aceitaram o valor calculado do custo de produção de tomate e resolveram negociar à parte com cada agricultor, NUEVO (1994).

3.2. Desenvolvimento Econômico e Tecnológico da Agricultura, pós 1950Nas décadas de 1920, 1930, 1940 e 1950 o Sudeste e Sul do Brasil,

tiveram diversificação e expansão da produção agropecuária, que foi acelerada pela quebra da Bolsa em Nova Iorque – Estados Unidos da América do Norte (EUA) em 1929, posto que o café predominava na economia brasileira. No período 1920 a 1931 a área cultivada com café, arroz, feijão, batata, milho, cana de açúcar e algodão aumentou em 78,0% no Estado, enquanto a cidade de São Paulo em 1930 atingira 1 milhão de habitantes e contava com o Mercado Central da Cantareira recém inaugurado e a Cooperativa Agrícola de Cotia deste 1927 para abastecer a metrópole.

O Estado expandiu a produção mercantil de alimentos e a pecuária simultaneamente à industrialização que teve expansão de 1933 a 1955. CAMARGO FILHO (1990) citando outros autores apud MARTINS, 1991.

No período pós guerra (1950-60) houve elaboração do plano Marshall para desenvolvimento e reconstrução da economia mundial e a preocupação dos governos dos países do Hemisfério Norte (EUA e Europa) em traçar políticas de linhas de crédito com intuito de modernizar a agricultura. O governo brasileiro ao final do decênio seguiu as diretrizes ”sugeridas” pelo mercado mundial. Foram instituídas políticas públicas de “modernização” do setor agropecuário que promoviam o mercado de máquinas de insumos (adubos, fertilizantes, sementes, defensivos agrícolas etc.) com vista a expansão do mercado de alimento e seu processamento.

No final da década de 1960 o Banco do Brasil atuava na carteira de crédito rural com incentivo à implementação do uso de máquina que o Brasil chegasse ao estágio de complexo agroindustrial, tal qual os países do primeiro mundo no hemisfério norte, CAMARGO FILHO (2011).

3.2.1. Ações do Governo: Políticas Agrícolas 1970-1985Na década de 1970 iniciaram-se as alterações mais profundas na cadeia

produtiva de tomate e na política agrícola no Brasil. No período 1969-85 os três mandatos do governo militar tinham como prioridade promover o desenvolvimento econômico sem se preocupar com a distribuição de renda. No início do decênio de 1970 o governo brasileiro na gestão do presidente general Emílio Garrastazu Médici, (1969) foi fundada a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, (1973) com o objetivo de elevar a produtividade na agricultura.

Na gestão do presidente general Ernesto Geisel (1974) o governo brasileiro definiu diretrizes de política para o setor agropecuário. Foi solicitado diagnóstico, por produto, em cada estado. Na gestão do ministro da agricultura Alisson Paulineli desse governo, foi nomeado o extensionista mineiro Sérgio Mário Regina como Gerente Nacional de Horticultura. Dessa maneira, foi

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implantado o Programa de Apoio à Produção e Comercialização de Produtos Hortigranjeiros (PROHORTI), que foi um plano de intenções em política olerícola que mudaria a produção e comercialização de hortigranjeiros no País, PROHORTI (1977). Os produtos prioritários foram: abacaxi, banana, laranja, maçã, alho, batata, cebola e tomate. Cada um desses produtos continha um plano com metas e o tomate tinha o Programa Nacional de Produção e Abastecimento de Tomate (para indústria e mesa), implantados na gestão do Presidente General João Baptista de Oliveira Figueiredo (1979-85).

Com o PROHORTI foram reorganizadas a pesquisa, a produção e a comercialização de semente de tomate e outras hortaliças. Para o tomate industrial as ações foram de criar variedades e deslocar o polo para o nordeste, CAMARGO FILHO (2011) .

O Ministério da Agricultura (MA), que na década de 1990 passou a chamar Ministério da Agricultura Pecuária, Abastecimento (MAPA), tinha diretrizes em todos os instrumentos de política agrícola e integração com o setor produtivo nos estados brasileiros. Os financiamentos eram céleres, para todos os segmentos da produção. Além da criação da EMBRAPA em 1973, houve conseqüência dos relatórios estaduais, realizados no governo Geisel, com a visão dos pesquisadores e extensionistas, que assessoravam o governo. Em 1980, inaugurou-se o Centro Nacional de Pesquisa em Hortaliças (CNPH - EMBRAPA-Hortaliças), foi criado com a função de centralizar as decisões e projetos de pesquisa a serem desenvolvidos em olericultura em Brasília e integrados às atividades nos estados. A partir de 1980, as ações do PROHORTI ocorriam em todos os estados produtores de hortaliças e frutas.

No período de 1965 a 1985 o governo militar traçou diretrizes de política agrícola bem sucedidas. Os instrumentos de apoio à produção e comercialização foram mais efetivos, quando comparados aos do período 1990-2010 (cinco mandatos e três presidentes).

O governo do Estado de São Paulo em 1968 havia reorganizado os trabalhos de pesquisa, assistência técnica e de defesa agropecuária com publicações elaboradas para atender o setor produtivo desde os tratos culturais, aplicação de insumos até o planejamento da produção com disponibilidade de crédito e integração com os atores da cadeia produtiva. Esse fato também aconteceu nos outros estados produtores de tomate.

O modelo de integração dos setores produtivo e industrial de alimentos e matérias primas no mundo e no Brasil na segunda metade do século XX são similares. Assim a cadeia agroindustrial do tomate a partir da década de 1970 é vista como uma interdependente ordenação de organizações, recursos, leis e instituições, envolvendo a aquisição de insumos, produção de matéria-prima, processamento primário, secundário e de distribuição do produto final. É formada pelos seguintes setores: o agrícola, o de primeiro processamento (produtor de polpa concentrada), aquele do segundo processamento, representado pelas indústrias de alimentos com maior valor adicionado (extratos, purês, molhos e catchups) e o mercado consumidor, esquematizada na Figura 1, conforme Kageyama (coord. 1990), apud NUEVO (1994).

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Coadjuvantes

Equipamentos

Sementes

Fertilizantes

Defensivos

Máquinas e

Setor

Agrícola

Setor de

Primeiro

Setor de

Segundo

Mercado

Consumidor

Final e

Exportação

Setor de Apoio

Transporte,

Energia,

Armazenagem,

InstituiçõesMercados:

Industrial

Institucional

Consumidor Final

FIGURA 1 – Fluxograma da Cadeia Agroindustrial do Tomate no Brasil, 1994.

Fonte: NUEVO, Paulo A. S. ASPECTOS DA CADEIA AGROINDUSTRIAL DO TOMATE NO BRASIL, Informações Econômicas, SP, v.24, n.2, p. 33, fev. 1994.

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4. Contexto Mundial de Tomate Processado no Mundo A produção mundial de tomate Licopersicon esculentum, Mill, no biênio

2007-08 foi de 131,46 milhões de toneladas cultivados em 5,18 milhões de hectares. O comércio mundial de tomate fresco é relativamente pequeno, 3,9% da produção global e ocorre principalmente entre os países do hemisfério norte (Europa e Estados Unidos da América), FAO, (2009). Nesse período a quantidade de tomate destinada ao processamento industrial no mundo foi cerca de 26,6% do total produzido, (WPTC, 2011) 4.

Os maiores produtores mundiais de tomate são: China (25,6%), Estados Unidos da América (10,2%), Turquia (8,0%), Índia (7,7%), Itália (4,8%), Egito (4,9%), Irã (3,8%), Espanha (2,9%), Brasil (2,8%) e México 2,3%. Esses dez países produziram 69,2% da produção global de tomate (FAO, 2009). Os países citados em negrito são maiores produtores de purê ou pasta processada de tomate e participam com: EUA (30,8%), China (18,6%) Itália (13,6%), Espanha (6,3%), Brasil (3,7%) outros cinco (17,5%) da produção industrial no mundo. Essa cadeia produtiva teve evolução significativa nas últimas duas décadas, nos setores produtivo e industrial, com ampliação de mercado maior, que aquela para o consumo in natura.

Conforme Silva e Giordano (2000) a produção mundial de tomate para processamento, em 1982, foi estimada em 10 milhões de toneladas, enquanto que em 1992 foi de 19 milhões de toneladas. No período 1993-1998 a produção média anual no mundo foi de 84,8 milhões de toneladas de tomate segundo a FAO, enquanto que o tomate industrial participou com 30,5% do total (25,9 milhões de toneladas). Em 1999-2000 a média foi de 28,3 milhões de toneladas. Assim, no período 1980-2000, o processamento mundial de tomate aumentou 183% e no biênio 2009-10 foi 41,1% maior relativamente a 1999-2000, MELO, VILELLA & FONTES (2011). Cerca de 30% da produção de concentrado é transacionada no mercado mundial. A maioria dos países produz para seu abastecimento e participa ocasionalmente do comércio internacional. No entanto, alguns são tradicionalmente consumidores de concentrado tomate, poucos participam como grandes produtores e existem aqueles que são exportadores (PONCE, 1993).

Como foi dito a maior parte da produção mundial de tomate é dirigida para o consumo in natura e outra para fins industriais. Nas três últimas décadas houve acréscimo de produção, com maior contribuição da produtividade do tomate industrial, devido à utilização de variedades e híbridos mais produtivos, enquanto que na produção de tomate para consumo in natura a expansão acompanhou apenas o crescimento populacional (FAO, 2009). Outro fato importante é que houve acréscimo no consumo de derivados de tomate devido ao aumento da população urbana, embora de forma heterogênea, conforme as regiões no mundo e de acordo com a renda per capita da população.

Conforme dados da FAO a evolução da produção mundial de tomate entre os triênios 1979-81 e 1989-91 apresentou acréscimo de 23,7%, enquanto que entre os triênios 1989-91 e 1999-2001 a produção aumentou 42,9%, sendo a contribuição da produtividade de 48,0% e da área 36,2%. A participação do tomate industrial sobre o total produzido mundialmente, no triênio 1999-2001, foi de 24,8%. A população mundial aumentou 18,1% entre 1980 e 1990 e 15,1% entre 1990 e 2000. Isso mostra que a expansão da produção de tomate foi maior que o crescimento populacional. 4 - Word Processing Tomato Council, 2011, Conselho Mundial de Tomate para Processamento

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Estudo que avalia o consumo de tomate processado em 114 países no mundo no início da década de 90 mostra que a média de consumo mundial foi de 5,6 kg/hab/ano. O consumo mundial é bastante variável, enquanto nos EUA o consumo foi de 37 kg per capita ano, na Índia foi de apenas de 0,1 kg. Os países com consumo per capita acima de 25 kg por ano foram: EUA, Líbia, Tunísia, Itália, Canadá e Argélia. Esse grupo deteve 8% da população mundial, e consumiu 50% do tomate processado. Outro grupo de 26 países consumiu entre 10 e 18 kg/per capita, sendo composto pelos países anglo-saxônicos do Oriente Médio, França e Alemanha. O grupo de 59 países formado pelos asiáticos, africanos e alguns latinos americanos consumiu menos de 5 kg per capita (9% do tomate processado), e representa 70% da população mundial. Segundo dados da pesquisa citada, o consumo per capita ano no Chile foi de 10,3 kg, no Uruguai de 4,9 kg, no Paraguai de 4,4 kg e no Brasil de 3,5 kg (dados de 1992) (CAMARGO FILHO e MAZZEI, 1997). O consumo de tomate processado aumentou em razão da urbanização e facilidade de aquisição

A razão desse crescimento no mundo e no Brasil tem a ver com a industrialização em grande escala e com o aumento da demanda de alimentos preparados nas diversas formas, refeições fora do domicílio e na necessidade das donas de casa gastarem menos tempo no preparo dos alimentos. Isso se deve à urbanização e à elevação da quantidade de trabalho das mulheres fora do lar, CAMARGO et al (2006b).

O consumo de tomate processado no Brasil aumentou no período 1995-2010 devido à estabilização da moeda, urbanização e substituição do uso do tomate fresco por seus derivados. Indicador desse contexto é o aumento constante da produção industrial para o abastecimento interno do País e a diminuição do consumo de tomate de mesa em domicilio. O consumo de atomatados (derivados de tomate processado) chegou em 2010 a 7,8 kg/percentual no Brasil, MELO, VILELLA & FONTES (2011).

4.1. O Complexo Agroindustrial de Tomate no BrasilNos últimos 30 anos, de acordo com Brandão e Lopes (2001), as

atividades da cadeia produtiva de tomate industrial experimentaram notáveis investimentos, com grande incremento na produção, adoção de novas variedades e híbridos, além de técnicas modernas de cultivo. No Brasil, a expansão do cultivo para o Centro-Oeste proporcionou a implantação da mecanização para o plantio com mudas e colheita mecânica de tomate com cultivo na palha de milho, soja ou feijão.

4.1.1. Contexto do Mercado de Tomate Industrial no Brasil, Pós 1990Na década de 1990 foram intensificadas a globalização econômica e a

formação de blocos econômicos de países para o comércio internacional, enquanto as grandes indústrias transnacionais, que participam da economia mundial, tiveram reorganização com agregação de empresas. Assim, dentro do grupo das companhias que trabalham com alimentos e bebidas, as 11 maiores faturaram em 1996 US$229,85 bilhões, sendo que as 5 maiores participaram com 61% deste total. Entre elas, a Nestlé S/A da Suíça e a Unilever do Reino Unido e Holanda, contribuíram com 30% e aumentaram seus investimentos na produção de alimentos no Brasil, adquirindo marcas, fabricas e instalando novas unidades (MELLO, 2001). Estas mudanças na geografia econômica da produção e do processamento de tomate têm reflexos da economia mundial e

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das vantagens comparativas das regiões do Brasil e da América do Sul, o que influenciou na organização do processamento industrial na década de 1990. O abastecimento do mercado nacional, consolidado com o Plano Real, possibilitou o aumento do consumo interno e a possibilidade de competir no mercado internacional.

Vilela (2001) descreve os aspectos formais da cadeia agroindustrial do tomate em Goiás, informando as seqüências de operações no processamento de tomate e examinando os sistemas de plantio, a localização das indústrias, a influência e a competitividade da cadeia. Realizou matriz contábil dos sistemas agroindustriais, afirmando que o setor agroindustrial de tomate é composto por dois sub-setores principais: o do primeiro processamento, que opera a partir da matéria prima bruta até a obtenção de cubeteados ou polpa concentrada (28-30º Brix), e a do segundo processamento, que trabalha com a matéria-prima semi-industrializada para a obtenção de produtos finais, mais sofisticados e de maior valor agregado (extratos, molhos, purês e ketchups). Segundo analise da evolução do cultivo do tomate e do deslocamento ao Centro-Oeste, houve formação de pólos de produção em alguns municípios, geralmente devido à instalação de fábricas nos estados produtores, visando o primeiro processamento, enquanto que o segundo processamento ocorria em unidades de São Paulo e Minas Gerais, seja do mesmo grupo ou em indústrias menores. Com isso, formaram-se diversos corredores de abastecimento, VILELA (2001).

Conforme relatório da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos (ABIA) em 1998, apud Vilela, 2001, o segmento de primeiro processamento do complexo agroindustrial contava com uma capacidade instalada de processamento da ordem de 17.080 t/dia, distribuídos entre São Paulo (3.396t/dia), Minas Gerais (1.590 t/dia), Goiás (3.960 t/dia), Bahia (2.020 t/dia), Pernambuco (4.080 t/dia) e Ceará (420t/dia), englobando cerca de 16 empresas com 22 fábricas. Em termos porcentuais, a capacidade utilizada, com relação à capacidade instalada das indústrias, é de 90,5%, distribuídas especialmente entre regiões de Pernambuco-Bahia (39,4%); Goiás-Minas Gerais (35,9%), São Paulo (22,0%) e Ceará (2,7%). Análise do mercado de derivados de tomate no Brasil, indica que no período 1996-2002 o consumo médio anual foi cerca de 430,7 mil toneladas. Os extratos e purês detiveram cerca de 65% desse mercado, com participação semelhante, enquanto que os molhos participaram com aproximadamente 24% e os catchups com 11%. Os principais produtos derivados de tomate, no mercado industrial são o extrato, o purê, os molhos e o tomate inteiro em conserva. A Unilever Bestfoods detém cerca de 40% do mercado de extratos e purês e em torno de 47% do mercado de molhos e catchups. Em seguida aparecem as empresas Parmalat e Cirio/Quero, que participam com cerca de 27% do mercado de purês e extratos e 24% dos derivados de molhos e catchups no Brasil. A autora cita que ao final da década de 1990 a Unilever adquiriu as marcas Cica e Arisco, enquanto a Parmalat incorporou a Etti e o grupo Bombril-Cirio adquiriu as marcas Peixe e Quero, SATO (2005).

Em 2010 a Cargill comprou as marcas da Unilever e suas marcas, sendo assim a principal processadora de tomate no País. Em 2011 a Heinz adquiriu a Quero. Essas empresas esperam maior crescimento de consumo nos países emergentes do que no País sede. A Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE indicou aumento em 56,0% do consumo de molho em domicílio de 2002 a 2008 (HORTIFRUTI – Brasil 2011).

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5. Contexto Produtivo Atual de Tomate no BrasilEm 2011 a produção brasileira de tomate foi de 3,95 milhões de

toneladas quando o tomate industrial participou com 43,5% da produção. A área cultivada com tomate industrial foi de 20.839 hectares, produção de 1,67 milhão de toneladas (produtividade 80,2 toneladas por hectare), produzido 79,0% em Goiás, São Paulo contribuiu com 16,5% e Minas Gerais 4,5% (Figura 2).

Figuras 2 - Distribuição Geográfica da Produção de Tomate Industrial no Brasil, 2011

Fonte: Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – IBGE, Dezembro 2011 , IEA-CATI e

EMBRAPA-HORTALIÇAS 2011, Elaborado pelos autores

Figuras 3 - Distribuição Geográfica da Produção de Tomate de Mesa no Brasil, 2011

Fonte: Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – IBGE, Dezembro 2011 , IEA-CATI e

EMBRAPA-HORTALIÇAS 2011, Elaborado pelos autores

A produção média brasileira do tomate de mesa em 2011 foi de 2,3 milhões de toneladas. A região Sudeste contribuiu com 54,4%, São Paulo

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25,8% e Minas Gerais 17,9%, o Rio de Janeiro e Espírito Santo juntos 10,7%. A região Sul que produz somente tomate de mesa participou com 23,6%, aparece Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul em ordem decrescente de importância. A região Nordeste contribuiu com 22,0% (Figura 3).

Para que o País chegasse a esse estágio foi necessário que tivesse inicio a organização dos setores produtivo, das industrias e dos órgãos públicos ligados à pesquisa, extensão e defesa da tomaticultura, como foi dito. Para a cadeia agroindustrial do tomate, bem como outras hortaliças, frutas, grãos e cereais, a década de 1970 foi período que exigiu modernização da produção agrícola e industrial no Brasil

É possível analisar a evolução do cultivo do tomate industrial por meio do itinerário do deslocamento da produção em busca de maior produtividade e de menores custos de produção nos últimos 40 anos (1970-2010), inclusive para obter sustentabilidade frente ao mercado mundial.

5.1. Evolução da Produção de Tomate Industrial em São Paulo de 1964 a 1990

Nos sub-períodos analisados de 1964 a 1990 observa-se o aumento da produtividade do tomate rasteiro em São Paulo, no período 1971-80 foi 124,0% maior que em 1968-70. Na década de 1980 aumentou 13,8%. Com isso a área cultivada recuou de 11.959 hectares para 10.983 hectares o que permitiu que a produção aumentasse 137,0% (Tabela 1). No período 1968-1990 a contribuição da área para expansão da produção foi negativa (-5,9%) enquanto a produtividade compensou a redução e contribuiu em 105,9% que passou de 11,25 para 28,7 t/ha.

Tabela 1 – Médias de Áreas Cultivadas, Produção e Produtividade de Tomate Industrial (Rasteiro) em São Paulo no período 1964-1990

PERÍODO ÁREA (HA) PRODUÇÃO (T) PRODUTIVIDADE (T/HA)

PARTICIPAÇÃO (%)TOMATE

RASTEIRO/TOTAL1964-67 - 19.400 - 36,81968-70 13.431 151.113 11.253 37,11971-80 17.616 267.900 25.203 45,91981-90 10.983 315.212 28.700 48,7

Fonte: Instituto de Economia Agrícola – IEA e Relatório Técnico enviado ao Gabinete do Secretário da Agricultura (1974)

No primeiro estágio de cultivo de tomate rasteiro 1968-74 a área média anual cultivada com tomate rasteiro foi de 15.535 hectares, produtividade 11,44 tonelada por hectare e produção de 177,6 mil toneladas. No período 1975-79 a área média foi de 17.459 hectares, produção de 217 mil toneladas e a produtividade 18,2 toneladas por hectare, 58,8,0% maior que o período anterior. Nas décadas de 1970 e 1980 com a integração produtor-indústria, a área cultivada diminuiu em 32,3% e a produtividade aumentou em 131,0% e a produção aumentou 31,2%, CAMARGO et al (2010).

Na década de 1970 a taxa média anual de crescimento da produção de tomate industrial foi de 9,1% e a produtividade contribuiu com 68,48% para expansão. Na década de 1980 a produção teve taxa negativa (3,55%) mas a produtividade cresceu 3,97% ao ano, contribuindo para amenizar a queda da área cultivada. Na década de 1990 a área continuou reduzindo e a produtividade cresceu 6,28% ao ano, o que proporcionou redução de produção

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menor. No século XXI a produtividade manteve acima de 68 toneladas por hectares, CAMARGO FILHO et al. (2006a).

Apenas como parâmetro. A produção de tomate industrial no nordeste no período 1984-90 produziu 328 mil t/ano apenas 1,1% maior que em São Paulo. A produtividade em São Paulo era 34 t/ha e no nordeste 31,7 t/ha.

No período 1990-2010 a área cultivada em São Paulo continuou diminuindo 3,87% ao ano enquanto a produtividade aumentou 3,65%, chegando a 68 toneladas por hectare o que resultou em estabilidade de produção em torno de 250 mil toneladas ano, (Tabela 3), CAMARGO et al (2010). O contexto da produção de tomate industrial em São Paulo ocorrido no final da década de 1960 até o século XXI, somente foi possível devido a incorporação tecnológica.

A partir de 2008 os produtores paulista de tomate indústria receberam ágio de 50,0% sobre o valor pago pela indústria aos tomaticultores goianos. Em São Paulo as indústrias operam no primeiro e segundo processamento.

5.2. Evolução da Produção de Tomate Industrial no Nordeste, 1982-2004A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA criou

diversas variedades de olerícolas adaptadas a cada região brasileira uma delas foi o tomate rasteiro (IPA-5) de polinização aberta e que chegou a 70,0% de adoção pelos produtores de Petrolina – PE e Juazeiro – BA no Vale do Rio São Francisco. Além disso, a EMBRAPA investiu no desenvolvimento de irrigação para o cerrado e Nordeste brasileiro, bem como no aperfeiçoamento de técnicas de cultivo de tomate e outros produtos no Brasil.

Em Pernambuco, o cultivo localiza-se em Petrolina, Moxotó e Pesqueira, na Bahia, em Juazeiro, Abaré e Mirangaba, no Ceará, em Brejo Santo, Morada Nova e Limoeiro do Norte. O Vale do Rio São Francisco (PE-BA) teve a maior participação na produção nacional em1986-90, com 47,0% do total. Enquanto a área diminuiu 13,06% no período 1982-96, culminando num resultado em que a produtividade que era baixa, 35t/ha a 39 t/ha, diminuiu ainda mais. Essa região produziu de 1982 a 2004, em razão desse contexto cabe analisar a evolução da produção nordestina no período 1982-1996.

No primeiro quadriênio 1982-85 a produção média anual foi de 183,4 mil toneladas, produtividade 27,0 toneladas por hectare. No quadriênio 1993-96 a produção anual foi de 222,7 mil toneladas e produtividade de 37,75 toneladas por hectare com acréscimo de 40,7%. A contribuição da área para expansão da produção foi negativa (63,8%) e da produtividade foi positiva (163,8%) mais que compensando a retração da área cultivada.

No período 1990-2009 com o aparecimento de Goiás a taxa anual de crescimento foi negativa em 17,3% para área e 16,8% para a produção. Em 1990-96 as taxas foram menores (Tabela 2). A variedade IPA-5 de polinização aberta cultivada no Nordeste e em São Paulo conseguiu o máximo de produtividade possível a cultivar. A produtividade dos híbridos juntamente com outras técnicas superam as variedades, CAMARGO et al (2010).

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A cadeia produtiva de tomate para indústria no pólo Petrolina-Juazeiro foi estudada por Oliveira et al (1998), afirmam que na primeira transformação, a capacidade instalada no pólo era de 400 mil toneladas ano. Avaliaram a estrutura da produção e suas transformações. Na caracterização da cadeia, explicam que os preços eram acordados através de reunião de comitês compostos por tomaticultores, técnicos e representantes da indústria no mês de janeiro de cada ano. O custo de produção variou entre US$32,00 e US$62,00 por tonelada e os tomaticultores receberam o equivalente a 80% do valor recebido pelos produtores paulistas. Em geral as sementes, os fertilizantes e a assistência técnica são fornecidos pela indústria, mediante contratos de produção. O cultivo é feito com transplante de mudas obtidas em viveiros de propriedade dos produtores (variedades IPA-5 e IPA-6), com utilização de irrigação e de tratos culturais. A primeira colheita manual é feita aos 110-120 dias após o transplante, quando 80% dos frutos estão maduros e a segunda colheita depende da condição dos tomates. Os frutos são acondicionados em contentores plásticos com cerca de 20 kg e transportados em caminhões até a fábrica. Os autores descrevem que em 1994 o sistema

Ano Área Produção Produtividadeha t t/ha

1982 8.262 190.016 23,00 1983 4.199 90.949 21,66 1984 8.110 237.515 29,30 1985 6.500 215.000 32,00 1986 10.966 337.496 30,00 1987 14.169 399.764 28,20 1988 10.529 400.000 38,00 1989 10.000 375.000 37,50 1990 12.422 337.000 27,00 1991 6.877 291.000 42,00 1992 4.485 190.000 42,00 1993 5.200 180.000 34,00 1994 5.836 212.000 36,00 1995 6.000 235.500 39,00 1996 6.350 259.080 40,00 1997 6.400 128.000 20,00 1998 6.500 130.000 20,00 1999 2.850 106.000 37,00 2000 1.370 65.000 47,00 2001 1.350 54.000 40,00 2002 1.200 60.000 50,00 2003 980 26.900 27,00 2004 480 16.800 35,00 Fonte: EMBRAPA – Hortaliças, 2009, IBGE; IEA/CATI e ABIA (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos)

em Pernambuco e na Bahia,1982-2004TABELA 2 - Área, Produção e Produtividade de Tomate Industrial,

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produtivo contava com 3.900 agricultores, sendo 66,3% proprietários e 71,3% possuíam menos que 10 hectares cultivados. A área irrigada era de 7.834 hectares (área média de 2,5 ha/propriedade) a produtividade média de 36 t/ha, enquanto em São Paulo era 57,3/ha e em Goiás e Minas Gerais 59,6 t/ha. O processamento de tomate no pólo em 1995 foi de 350 mil toneladas. A produção em 1995 foi cerca de 34% do total nacional e o valor foi de US$61,00 milhões. Afirmam, ainda, que o Brasil importou em 1995 31,7 mil toneladas de pasta, equivalente a 75% da produção do Vale do São Francisco, ou a uma área de 5 mil hectares. A segunda transformação da pasta do nordeste é realizada no Sudeste do Brasil.

A presença de Geminivirus foi analisada em 120 plantios de tomate efetuados em 12 municípios do Vale do São Francisco nos anos de 1996 e 1997 e detectada em todas as plantações, variando a incidência entre 20% e 100% (LIMA et al, 2001). Após esse ano a produtividade oscilou e ficou insustentável a produção. A área cultivada no nordeste foi ascendente até 1990 e a produtividade atingiu 40 toneladas por hectares, declinando em seguida.

Os Estados de Pernambuco e da Bahia apresentaram os piores desempenhos, pois além de concorrerem com as outras duas regiões, com nível tecnológico superior, ainda sofreram com a incidência da traça do tomateiro (Tuta absoluta) e da mosca branca (Bemisia argentifolii, B. tabaci), vetores do geminivírus que atacaram o cultivo no Vale do Rio São Francisco. O vírus se instala em plantas novas e quando chega a fase de frutificação ocorre o murchamento e a morte de tomateiro, devido à ação do agente etiológico. A região produtora de tomate industrial em Pernambuco e Bahia sofreu com a incidência do vírus, por ter pouca inovação tecnológica no cultivo, relativamente ao Centro Oeste e Sudeste brasileiro, além de outros fatores já comentados, que levaram a região à situação atual no cultivo de tomate industrial.

No Nordeste, a unidade da Peixe em Pesqueira – PE, que foi a primeira indústria instalada no Brasil pela família Carlos de Brito, realizava o primeiro processamento e enviava a polpa a São Paulo. A fábrica da Bom Preço (Maperon), com mais de 10 anos em operação, foi vendida para a Arisco em 1997, a qual possui unidades de processamento na Argentina. Posteriormente a Arisco foi incorporada a outro grupo industrial (Unilever Bestfoods), que suas marcas foram incorporados pela Cargill em 2010 com foi dito.

5.3. Evolução da Produção no Brasil, 1990-2011Na década de 1990 com nível tecnológico maior: uso de sementes

hibridas, produção de mudas, cultivo na palha de soja e milho, entre outras técnicas fizeram com que a produtividade de tomate que era menor que 40 toneladas por hectare na década de 1980, ficasse maior que 80 toneladas por hectare no segundo quinquênio do século 21.

A tabela 3 mostra a evolução da área cultivada, a produção e a produtividade de tomate industrial nas três principais regiões e estados no Brasil.

No período 1990-1996 os três principais pólos de cultivos participaram do abastecimento industrial. O Estado de São Paulo contribuiu com 35,4% da quantidade produzida, Goiás-Minas Gerais 32,7% e Pernambuco-Bahia 31,9%. A produtividade média variou entre 36 e 42 toneladas por hectare.

TABELA 3 - Área e Produção e Produtividade de Tomate para Indústria, no Brasil,1990-2010

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Ano

Pernambuco - Bahia São Paulo Goiás - Minas Gerais Brasil

Área Produção Produtividade Área Produção Produtividade Área Produção Produtividade Área Produção Produtividade

ha t t/ha ha t t/ha ha t t/ha ha t t/ha

1990 12.422

337.000 27,1

8.260 297.400 36,0 6.410 300.000 46,8 27.092 934.400 34,5

1991 6.877

291.000 42,3

7.620 301.000 39,5 5.050 168.000 33,3 19.547 760.000 38,9

1992 4.485

190.000 42,4

7.250 287.000 39,6 9.980 230.000 23,0 21.715 707.000 32,6

1993 5.200

180.000 34,6

5.690 237.360 41,7 6.314 273.000 43,2 17.204 690.360 40,1

1994 5.836

212.000 36,3

6.380 275.480 43,2 6.184 253.000 40,9 18.400 740.480 40,2

1995 6.000

235.500 39,3

5.560 267.300 48,1 6.000 258.500 43,1 17.560 761.300 43,4

1996 6.350

259.080 40,8

4.560 226.080 49,6 5.950 264.775 44,5 16.860 749.935 44,5

1997 6.400

128.000 20,0

4.407 322.538 73,2 9.300 689.685 74,2 20.107 1.140.223 56,7

1998 6.500

130.000 20,0

4.851 273.805 56,4 9.100 637.000 70,0 20.451 1.040.805 50,9

1999 2.850

106.000 37,2

4.112 260.401 63,3 13.400 951.000 71,0 20.362 1.317.401 64,7

2000 1.370

65.000 47,4

3.941 271.884 69,0 12.088 862.212 71,3 17.399 1.199.096 68,9

2001 1.350

54.000 40,0

3.179 206.694 65,0 11.820 919.000 77,7 16.349 1.179.694 72,2

2002 1.200

60.000 50,0

3.727 268.536 72,1 12.600 964.000 76,5 17.527 1.292.536 73,7

2003 980

26.900 27,4

4.299 297.470 69,2 15.255 1.192.000 78,1 20.534 1.516.370 73,8

2004 480

16.800 35,0

4.250 296.060 69,7 13.285 1.048.000 78,9 18.015 1.360.860 75,5

2005 - - - 4.590 323.670 70,5 11.760 948.660 80,7 16.350 1.272.330 77,8

2006 - - - 4.680 318.330 68,0 11.143 896.000 80,4 15.823 1.214.330 76,7

2007 - - - 3.610 246.550 68,3 13.270 1.072.000 808,0 16.880 1.318.550 78,1

2008 - - - 3.030 208.760 68,9 14.527 1.235.000 85,0 17.557 1.443.760 82,2

2009 - - - 3.710 253.480 68,3 16.576 1.350.346 81,5 20.286 1.603.826 79,1

2010 - - - 4.170 286.840 68,8 16.480 1.408.265 85,5 21.022 1.768.024 84,2

2011 - - - 3.520 276.550 78,6 17.319 1.395.500 80,0 20.839 1.622.100 80,2

Fonte: Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – IBGE, Dezembro 2011 , IEA-CATI e

EMBRAPA-HORTALIÇAS 2011, Elaborado pelos autores

Em São Paulo a área média diminuiu 47,8% e a produção retraiu apenas 8,5%, conseqüência da produtividade que aumentou 74,4%, contribuindo para a sustentabilidade da produção. No período 2005-11 o estado de São Paulo participou com 18,7% da produção de tomate industrial no Brasil.

O Estado de Minas Gerais teve sua maior participação no abastecimento brasileiro em 2001-02, quando produziu mais de 300 mil toneladas/ano. A produtividade foi de 80 toneladas por hectare. No entanto, no triênio 2008-11 a área média cultivada foi de 805 hectares e a produção 68,8 mil toneladas. Esse decréscimo ocorreu devido o deslocamento de parte do pólo industrial para Goiás. Apesar dessa retração de área cultivada o estado mineiro adotou técnicas e cultivo com produtividade similar à Goiás. Em razão disso será analisado esses dois estados como região do cerrado, posto que no início da década de 1990 os dados de área cultivada e a produção dos dois estados eram agregados.

Os estados de Goiás e Minas Gerais foram os que tiveram melhor desempenho no período estudado. A área cultivada expandiu em 39,5% e a produtividade em 9,4% no período. No último triênio o Estado de Goiás participou com 79,3% e Minas Gerais 4,5% da quantidade produzida ou juntos 83,8% do tomate industrial no Brasil. Assim a contribuição da área para

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expansão da produção foi de 40,2% e da produtividade 59,8%, no período 1990-2010.

5.4. Contexto Produtivo do Tomate em São PauloNo Estado de São Paulo a produção de tomate de mesa é cultivada com

tutoramento (envarado ou estaqueado), ocorre nas regiões serranas e no planalto, próximas à capital paulista. O principal EDR produtor é o do Itapeva na região da Serra do Mar no sudoeste, com isso a época de maior quantidade ofertada é de agosto a fevereiro (primavera-verão, época de chuvas). Os EDR’s de Campinas, Mogi Mirim e São João da Boa Vista localizados no Planalto abastecem durante o outono-inverno.

O tomate cultivado para uso industrial (rasteiro) não tem estaqueamento na condução da planta. As suas plantações são desenvolvidas ao norte e noroeste do Estado, regiões livres de geadas e próximas aos pólos industriais - Araçatuba, Jaboticabal e Presidente Prudente

No biênio 2009-10 a área média cultivada com tomate industrial em São Paulo foi de 3.940 hectares, produção de 270.160 toneladas. Nesse biênio os Escritórios de Desenvolvimento Regional – EDR(s) de Araçatuba, Catanduva e Jabuticabal detinham 49,0% da área cultivada (Figura 4).

Figura 4 – Distribuição percentual da área cultivada de tomates1 de mesa e para indústria, por EDR no Estado de São Paulo no biênio 2009-10. Em 2011 a área média anual com tomate envarado foi de 8.534 ha e produção de 587.980 t e o tomate industrial com 3.520 ha e produção de 276.550t Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA) e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI).

6. Considerações Finais

Todo esse desenvolvimento da produção nos últimos 40 anos ocorreu porque o estado de São Paulo e o Brasil planejaram políticas públicas de pesquisa, difusão e de apoio à cultura nos três principais pólos de produção.

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Em 40 anos a produtividade de tomate industrial em São Paulo foi sempre menor que a do tomate para consumo in natura, tendo iniciado na década 1970 com cerca de 10 t/ha chegou em 2010 a 68,8 t/ha maior que a produtividade de tomate de mesa, graças ao uso de insumos e tecnologia de produção, resultado do investimento em pesquisa e organização

Atualmente são cultivados tomates híbridos, grande parte das operações são mecanizadas, a produção de mudas é terceirizada, há uso intensivo de insumos e irrigação e a colheita é mecânica. As industrias fornecem acompanhamento técnico do cultivo por meio de agrônomos. Em 2010 o custo da produção de tomate industrial em São Paulo foi de R$ 128/t com produtividade de 85 t/ha. As participações dos valores para composição do custo foram: administração 7,1%, mão de obra 6,7%, insumos 42,2% e operações de máquinas 44,2% (AGRIANUAL, 2011). Com isso a disponibilidade de tomate (mesa e industrial) aumentou em quatro décadas (1970-2010); a população brasileira teve acréscimo de 107,50% e a produção de tomate 436,5%. Enquanto a produtividade média passou de 17,0 t/ha para 68,8 t/ha.

No final da primeira década do século XXI o sistema agroindustrial de tomate no Brasil consolidou-se juntamente com os ajustamentos econômicos globalizados na produção e processamento de tomate no mundo. O setor industrial teve aglomerações que mostrou tendência à maior concentração de grandes empresas que trabalham com alimentos e produtos para o lar, inclusive com reflexos no País. Enquanto o setor produtivo em Goiás alcançou maior produtividade e custo de produção menor do que a Califórnia (EUA) e Itália, que são os principais produtores e negociadores de polpa concentrada no mundo.

O mercado de alimentos processados deverá continuar se expandindo dada a urbanização da população mundial. Além disso, a maior parte dos países em desenvolvimento ou pobres tem aumentado o consumo de tomate processado, posto que a urbanização ocorrem em todos.

O Brasil e o Chile têm os maiores parques industriais de processamento na América do Sul se realizarem acordo para o abastecimento da América Latina, podem, inclusive participar do mercado internacional.

7. LITERATURA CITADA

AGRIANUAL - Anuário da Agricultura Brasileira. São Paulo: FNP Consultoria & Comércio, p 500, 2010. Disponível em: http://www.fnp.com.br.

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