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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica Desenvolvimento de biossensor baseado em Polímeros Molecularmente Impressos (MIPs) via eletropolimerização para detecção celular Thaina Brumatti de Oliveira Trabalho de Conclusão do Curso de Farmácia-Bioquímica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Orientador(a): Prof. Dr. Jonas Gruber São Paulo 2020

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica

Desenvolvimento de biossensor baseado em Polímeros

Molecularmente Impressos (MIPs) via eletropolimerização para

detecção celular

Thaina Brumatti de Oliveira

Trabalho de Conclusão do Curso de

Farmácia-Bioquímica da Faculdade de

Ciências Farmacêuticas da

Universidade de São Paulo.

Orientador(a):

Prof. Dr. Jonas Gruber

São Paulo

2020

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Célula eletroquímica ............................................................................12

Figura 2 – Célula preparada para eletropolimerização ..........................................13

Figura 3 – Configuração do potenciostato .............................................................13

Figura 4 – Pirrol ....................................................................................................14

Figura 5 – Levedura Dr. Oetker ............................................................................. 15

Figura 6 – Fio de titânio oxidado ...........................................................................15

Figura 7 - Palm Sens4 e Multiplexer oxidado ........................................................17

Figura 8 – Superfície polimerizada pré-lavagem ...................................................20

Figura 9 – Superfície polimerizada pós-lavagem ................................................... 21

Figura 10 – Camada polimérica em 3D .................................................................22

Figura 11 - Relação frequência x porcentagem da ligação à cavidade polimérica.23

Figura 12 – Relação impedância x concentração celular para CH1 e CH2 ...........24

Figura 13 – Gráfico dose-resposta normalizado para levedura ............................. 26

Figura 14 – Seletividade em diferentes meios .......................................................27

Figura 15 - Gráfico dose-resposta normalizado matriz complexa ..........................29

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LISTA DE ABREVIATURAS

MIP

NIP

OCT

PBS

Molecular-Imprinted Polymer – Polímero Molecularmente Impresso

Non-Imprinted Polymer – Polímero Molecularmente Não-impresso

Optical Coherence Tomography – Tomografia de Coerência Óptica

Phosphate-Buffered Saline – Tampão Fosfato Salino

FDA

FAO

Food and Drug Administration – Administração de Alimentos e

Medicamentos

Food and Agriculture Organization – Organização das Nações

Unidas para Alimentação e Agricultura

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RESUMO

DE OLIVEIRA, T.B. Desenvolvimento de biossensor baseado em Polímeros Molecularmente Impressos (MIPs) via eletropolimerização para detecção celular. 2020. 40. Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia-Bioquímica – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020. Palavras-chaves: Biossensor. MIP. Eletropolimerização. Os métodos de detecção utilizados em laboratórios atualmente podem levar até duas semanas para revelarem resultado. Tal fato pode ser extremamente prejudicial em diversas áreas da ciência, principalmente para detecção de doenças e de contaminações bacterianas ou virais em alimentos. O desenvolvimento de um novo método que possa realizar essa detecção em menos tempo e de forma mais prática traria muitos benefícios nesse sentido. Este trabalho tem como objetivo o desenvolvimento de um método efetivo de detecção de células patogênicas com um biossensor baseado em polímeros molecularmente impressos (MIPs). Foram realizados experimentos para a confecção do biossensor via eletropolimerização, para a formação do MIP, e sua efetividade e seletividade foi medida posteriormente via espectroscopia de impedância eletroquímica e análises da impedância. Também se utilizou de técnicas de imagem para melhor visualização das cavidades obtidas no processo de impressão molecular. O método se mostrou positivo para a produção de um biossensor baseado em MIP para detecção de leveduras, porém ainda precisa de ajustes para detecção de Escherichia coli. A eletropolimerização é um método viável, rápido e barato para a realização de impressão de moléculas em uma base de polímero, podendo ser utilizado para produção de biossensores. Deve-se, porém, levar em consideração a particularidade de cada célula a ser utilizada e realizar adaptações ao procedimento como um todo.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 7

2 OBJETIVOS..................................................................................................... 9

3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................. 10

3.1 ELETROPOLIMERIZAÇÃO ............................................................................ 10

3.2 CÉLULA DE FLUXO ...................................................................................... 11

3.3 ESCOLHA DO MONÔMERO ......................................................................... 14

3.4 ESCOLHA DA CÉLULA ................................................................................. 14

3.5 LAVAGEM ...................................................................................................... 15

3.6 ANÁLISE DE IMAGEM ................................................................................... 16

3.7 VERIFICAÇÃO DA LIGAÇÃO VIA ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA

ELETROQUÍMICA ................................................................................................... 16

3.8 TESTES DE SELETIVIDADE ......................................................................... 18

3.9 SOLUÇÕES COMPLEXAS ............................................................................ 18

3.10 REPRODUÇÃO DO PROCESSO EXPERIMENTAL COM E. COLI ............... 19

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 20

4.1 TÉCNICAS DE IMAGEM ................................................................................ 20

4.1.1 Microscopia eletrônica ................................................................................. 20

4.1.2 Tomografia de coerência óptica (OCT) ....................................................... 22

4.2 ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA ELETROQUÍMICA ........................... 23

4.3 SELETIVIDADE ............................................................................................. 26

4.4 SOLUÇÕES COMPLEXAS ............................................................................ 28

4.5 E. COLI .......................................................................................................... 29

5 CONCLUSÕES .............................................................................................. 31

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 32

APÊNDICE A ................................................................................................. 35

APÊNDICE B ................................................................................................. 36

APÊNDICE C ................................................................................................. 37

APÊNDICE D ................................................................................................. 38

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APÊNDICE E ................................................................................................. 39

APÊNDICE F ................................................................................................. 40

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1. INTRODUÇÃO

O projeto trata do desenvolvimento de um biossensor capaz de detectar

microorganismos, analisando, em tempo real, a resistência elétrica da interface de

uma camada polímérica. Esse biossensor é baseado em Polímeros

Molecularmente Impressos (MIP), e consiste num tipo de receptor biomimético que

é produzido para ser seletivo na detecção de um alvo e funciona simulando

sistemas biológicos do tipo ligante/receptor de seres vivos.

O funcionamento do biossensor se resume à detecção de células por meio de

uma camada de polímero. Essa camada se comporta como um receptor para as

células, devido à impressão de células-modelo em sua superfície. A impressão

dessas células forma um padrão de microcavidades que são compatíveis com as

células-alvo em tamanho, forma e distribuição de grupos funcionais (EERSELS et

al, 2013), tornando possível uma ligação seletiva e de alta afinidade entre as

células e suas impressões correspondentes.

O processo atual de detecção de células realizado em laboratórios pode levar

até duas semanas (BELL et al, 2016), e, segundo a FAO (apud ONU, 2019),

tratando-se de contaminação de alimentos, isto pode implicar em deterioração de

grandes lotes de alimentos e infecção da população, levando à resistência

bacteriana, sobrecarga do sistema de saúde e mortes, além do desperdício de

alimentos. As enfermidades transmitidas por comida levam à óbito cerca de 420

mil pessoas no mundo anualmente (FAO, apud ONU, 2019).

Existem diversos tipos de doenças transmitidas por alimentos e contaminações

bacterianas são responsáveis por uma grande fração destes (BRASIL, 2010).

Alimentos e bebidas podem ser infectados em vários estágios, como já em

uma fazenda, mais à frente em uma fábrica de processamento de alimentos, ou,

ainda, devido ao armazenamento e manuseio inadequado na loja ou na casa do

consumidor.

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É aconselhável identificar amostras estragadas o mais cedo possível na cadeia

de produção para evitar a deterioração de grandes lotes de alimentos e descartar

amostras infectadas antes do consumo ser realizado.

O impacto dos alimentos inseguros gera, todos os anos, uma perda de

produtividade estimada em cerca de US$ 95 bilhões às economias em

desenvolvimento, segundo a FAO (apud ONU, 2019). A Organização Mundial de

Saúde (OMS) (apud RASZ, 2018) estima que as enfermidades transmitidas por

comida acometam mais de 77 milhões de pessoas por ano nas Américas, e,

destas, mais de 9 mil falecem. No mundo, o número chega a 420 mil mortes e, de

acordo com a OMS (apud RASZ, 2018), com o aumento de bactérias resistentes

aos antibióticos, este número tende a aumentar.

Visando o desenvolvimento de uma opção viável para resolução dos

problemas apresentados, este projeto trata do desenvolvimento de um biossensor

para a detecção in loco de Escherichia coli, um indicador geral de higiene no

manuseio de alimentos (CORNELIS et al, 2019), para o estabelecimento de um

método mais rápido e ágil que poderá salvar lotes alimentícios de maiores

contaminações e evitar a distribuição de alimentos contaminados à população.

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2. OBJETIVOS

Este projeto visa ao desenvolvimento de receptores sintéticos para células

baseados em polímeros molecularmente impressos (MIP) obtidos pela técnica de

eletropolimerização. Com esses receptores, será possível a detecção de uma

célula-alvo em uma solução aquosa.

O método de detecção desenvolvido é rápido e pode, teoricamente, ser

aplicado para detecção de qualquer tipo de célula, trazendo inovação

principalmente para os campos medicinal – para detecção de doenças e infecções

– e alimentício. Recentemente, os biossensores vêm sendo desenvolvidos,

visando segurança alimentar e garantia de qualidade em alimentos devido à sua

rapidez e facilidade de uso, que os fazem vantajosos (MEHROTRA, 2016).

É importante ressaltar que, para o desenvolvimento de biossensores

efetivos, estes devem possuir alta afinidade e especificidade quando se fala de

reconhecimento do elemento/célula escolhido. (CHAMBERS et al, 2008;

MORALES, HALPERN, 2018; VAN DORST et al, 2010).

Ainda, deve-se considerar que o desenvolvimento de um biossensor que é

capaz de reconhecer células patogênicas em uma solução, contendo apenas a

célula em si não é o suficiente, visto que em matrizes alimentares há, na maioria

das vezes, a presença de outras células que podem também ligar-se às cavidades

e interferir na detecção.

Busca-se com esse projeto, portanto, o desenvolvimento de um biossensor

que seja não só capaz de detectar a célula desejada, mas que possa detectá-la

em meios complexos de forma viável, ágil, seletiva e eficiente.

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

Para a confecção da camada polimérica a ser utilizada no biossensor foi

aplicada a técnica de eletropolimerização em presença celular, seguida por

lavagem do polímero, para a limpeza das cavidades formadas, e realização de

medições referentes à criação destas, bem como testes para averiguar sua

efetividade e seletividade.

Para visualizar a presença de ligação celular às cavidades formadas,

utilizou-se o método de espectroscopia de impedância eletroquímica para medir a

alteração de resistência na camada de polímero e, para confirmação de sua

seletividade, realizaram-se medições de impedância em presença de outras

células que não as células alvo que foram impressas molecularmente no polímero.

Além disso, utilizaram-se de microscopia eletrônica e da técnica de

tomografia de coerência óptica para análise da superfície formada via imagem.

Esses procedimentos serão descritos nos próximos parágrafos.

3.1 ELETROPOLIMERIZAÇÃO

A eletropolimerização é um meio simples de obtenção de filmes de

polímeros com uma certa espessura que pode ser controlada pelo número de

ciclos ou pela corrente aplicada ao eletrodo de trabalho durante o procedimento.

(ANTUÑA-JIMÉNEZ et al, 2012).

Para esta ocorrer, é necessário que a superfície do eletrodo de trabalho,

esteja submersa em uma solução com o monômero desejado, um solvente e um

eletrólito de suporte e, ainda, que haja a presença de um contra-eletrodo e

eletrodo de referência. (DE LEON, A; ADVINCULA, R. C., 2014). Depois, é

necessária a aplicação de uma corrente elétrica para efetivação do processo.

Os elétrons seguem através da interface eletrodo-eletrólito quando um

potencial é aplicado ao eletrodo de trabalho e então a camada de polímero é

formada na sua superfície. O método de eletropolimerização utilizado foi o

potenciostático, no qual o potencial foi controlado durante todo o procedimento.

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Ao realizar a eletropolimerização em presença de um monômero e de uma

célula alvo desejada, espera-se que a camada formada possua tais células

afixadas a ela. Assim, obtém-se o MIP.

Para efeito de comparação, uma das polimerizações é realizada sem

presença de nenhuma célula, resultando, assim, em uma camada polimérica sem

impressões (NIP – Polímero Não-Impresso), para que se possa comparar a

diferença de resposta entre um polímero que possui cavidades impressas (MIP) e

outro que não as possui (NIP).

Como soluções de polimerização foram preparadas soluções contendo 60

μL de pirrol, como monômero, e 2 mL de KCl, como eletrólito suporte. Para o caso

do MIP, adicionaram-se células de levedura, Sacharomyces cerevisiae, e de

Escherichia coli para realizar a impressão, ambas na quantidade de 3x10⁷ células.

Além disso, foi utilizada uma célula de fluxo, dois fios de titânio como

superfície de polimerização (eletrodos de trabalho), um fio de platina como contra-

eletrodo e um eletrodo de referência de Ag/AgCl, conectados ao potenciostato,

para que a reação de polimerização fosse possível. Todos os experimentos foram

realizados no Laboratory for Soft Matter and Biophysics da Katholieke Universiteit

Leuven (KU Leuven), e os materiais e células foram cedidos pelo Deparment of

Physics and Astronomy da KU Leuven.

3.2 CÉLULA DE FLUXO

Para realização da polimerização, é necessária uma célula de fluxo em que

se possa adicionar as soluções para formação do polímero e posteriormente

aplicar a corrente elétrica para finalizar o processo.

O material utilizado para tal foi fabricado pelos doutorandos do Department

of Physics and Astronomy da KU Leuven e consiste em um compartimento em

resina amarela confeccionado em impressora 3D com cinco entradas e uma

cavidade central (Figura 1). A região central possui um espaço no qual é

depositado o líquido utilizado para polimerização, que entra em contato com os

fios inseridos pelas entradas do lado esquerdo e do lado direito (eletrodos de

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trabalho). Esses fios são de titânio (0,8 mm de diâmetro) e foram fornecidos pela

universidade KU Leuven. As pontas dos fios foram polidas com lixa para que

ficassem uniformes e planas, pois é nelas que ocorre a deposição da camada

polimérica durante o processo de polimerização.

Figura 1 – Célula eletroquímica

Fonte: Elaborado pela autora

Para adição do líquido de polimerização na cavidade central, utilizou-se da

agulha inserida na entrada inferior da célula. Por meio dessa, foi possível inserir o

líquido desejado com o uso de uma seringa.

Na parte superior da célula, existem mais duas entradas: uma para o

eletrodo de referência e uma para o fio de platina (contra-eletrodo).

Os parafusos inseridos na superfície da célula funcionam como fixadores

dos fios de titânio, impedindo movimentações que possam interferir no processo

eletroquímico.

Após a organização da célula de fluxo, esta foi fixada com uma garra num

suporte, conforme mostrado na Figura 2, e conectada ao potenciostato Palm-

Sens4, que forneceu potencial constante aos eletrodos de trabalho de modo a

permitir o fluxo de uma corrente elétrica entre esses eletrodos e o contra-eletrodo,

tornando possível a polimerização do pirrol.

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Figura 2 – Célula preparada para eletropolimerização

Fonte: Elaborado pela autora

Iniciou-se o processo de polimerização, após a inserção dos dados no

software do Palm-Sens4. Foram realizados 10 ciclos de corrente elétrica de 1 mA..

Esse procedimento levou cerca de 15 minutos, como pode se observar na Figura

3 a seguir.

Figura 3 – Configuração do potenciostato

Fonte: Elaborado pela autora

Como desejava-se preparar o NIP e o MIP nas mesmas condições, após a

conclusão da polimerização do NIP no primeiro eletrodo de trabalho, mudou-se o

cabo vermelho do potenciostato para o outro eletrodo de trabalho, inseriu-se a

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solução de polimerização para o MIP (contendo as células) e realizou-se o mesmo

procedimento, nas mesmas condições, depositando o MIP no segundo eletrodo de

trabalho.

3.3 ESCOLHA DO MONÔMERO

O monômero de escolha para realização da eletropolimerização foi o pirrol.

O pirrol é um composto orgânico heterocíclico aromático insaturado, cuja fórmula

molecular é C4H5N e sua fórmula estrutural é mostrada na Figura 4.

Figura 4 - Pirrol

Fonte: Merck Millipore, 2020

A reação de polimerização eletroquímica do pirrol ocorre prontamente e é

de fácil visualização, pois forma uma camada de polímero escura (YI, 2016).

O polímero possui alta condutividade elétrica e existem relatos de que ele

seja biocompatível (RAMANAVICIENE, 2007), fator imprescindível, visto que o

MIP pode ser utilizado para diagnósticos médicos e em alimentos. Ainda, o

polímero possui baixo custo, o que o torna ideal para os experimentos.

3.4 ESCOLHA DA CÉLULA

Por se tratar do início do desenvolvimento do MIP, a célula de escolha para

os experimentos foi a levedura (Figura 5). As leveduras possuem parede celular

resistente, custo baixo e são inofensivas, sendo, portanto, ideais para esta fase do

projeto.

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Figura 5 – Levedura Dr. Oetker

Fonte: Dr. Oetker, 2020

O uso de Escherichia coli ocorreria após a obtenção de resultados positivos

com a levedura, pois se trata de uma célula mais sensível às condições aplicadas

na polimerização.

3.5 LAVAGEM

Após a finalização do processo de polimerização, os fios de titânio laterais

foram cuidadosamente retirados e foi possível notar, a olho nu, que esses

possuíam uma camada preta em sua ponta, devido à polimerização do pirrol

formando polipirrol (Figura 6).

Figura 6 – Fio de titânio oxidado

Fonte: Elaborado pela autora

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Supondo-se que a eletropolimerização ocorreu de forma correta, para o NIP

foi utilizada uma superfície de polímero “vazia” (sem impressão) e, para o MIP,

uma superfície polimérica com células de levedura fixadas na camada formada.

O próximo passo foi a retirada das células do MIP para obtenção das

cavidades formadas vazias, que seriam utilizadas para a verificação da

capacidade de religação das células de levedura ao MIP e, assim, se tornaria

possível utilizar este na detecção dessas células.

Para tal, foi realizado um processo de lavagem com ácido e base. Os fios

foram submersos em uma placa de petri contendo HCl 0,5 M por 10 minutos, e

logo após, em uma placa contendo NaOH 0,5 M por mais 10 minutos.

Após as lavagens, os eletrodos foram submersos em PBS (Tampão

Fosfato-Salino) para remover os resíduos de ácido e base da superfície, deixando,

portanto, as cavidades formadas limpas e neutras.

3.6 ANÁLISE DE IMAGEM

Para verificação visual da ligação célula-polímero, que ocorre na camada

polimérica formada, foi utilizado o método de microscopia eletrônica, em maior

aumento, das pontas dos eletrodos de titânio. Visou-se, também, verificar a

efetividade do procedimento de lavagem para liberação das cavidades.

Além dessa técnica, um dos eletrodos de titânio polimerizados e

posteriormente lavado foi enviado para um laboratório parceiro da Universidade

KU Leuven para que pudesse ser realizada a Tomografia de Coerência Óptica

(OTC), para, assim, ser possível visualizar as cavidades formadas na camada

polimérica. Com essa técnica, pode-se obter imagens tridimensionais da superfície

formada de acordo com a dispersão, espalhamento ou reflexão da luz de baixa

coerência no meio (FUJIMOTO, 2000).

3.7 VERIFICAÇÃO DA RELIGAÇÃO VIA ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA

ELETROQUÍMICA

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Para verificação da ocorrência da religação das leveduras às cavidades por

elas impressas, foi medida a impedância elétrica da camada polimérica em

soluções com diferentes concentrações de levedura em PBS.

Como espera-se que as ligações ocorram de forma dependente da

concentração, foram feitas 12 soluções, sendo que se iniciou o processo de

preparação destas pesando 0,36 g de levedura Dr. Oetker e misturando este com

1 mL de PBS, resultando em uma solução principal.

A partir da solução principal, que contém 3x10⁷ células de levedura/mL de

PBS, realizou-se a diluição para as concentrações de 10⁷, 3x10⁶, 10⁶, 3x10⁵, 10⁵,

3x10⁴, 10⁴, 3x10³, 10³, 3x10² e 10². Também foi realizada a medição da resistência

apenas em PBS, para que pudéssemos ter uma linha de base considerada como

um valor nulo para impedância.

O equipamento Palm Sens4 foi novamente conectado à célula de fluxo,

porém desta vez acoplado também ao Multiplexer MUX8-R2, como demonstrado

na Figura 7, para que fosse possível medir a impedância tanto no NIP quanto no

MIP automaticamente, já que esse aparelho permite realização de medições em

mais de um eletrodo de trabalho simultaneamente.

Ao adicionar as soluções na célula de fluxo, espera-se que haja alteração

na impedância do revestimento de polímero, visto que a presença de células nas

cavidades oferece resistência para a passagem da corrente elétrica pela cavidade.

Figura 7 – Palm Sens4 e Multiplexer

Fonte: Elaborado pela autora

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Apesar de o NIP não possuir nenhuma cavidade, é importante realizar a

medição de sua impedância para que seja possível descontar, posteriormente, os

efeitos externos, ligações passivas e interferências de outros fatores, como

integridade da camada polimérica e estabilidade do líquido, que podem ocorrer e

modificar a resistência da camada em si. Assim, torna-se possível a discriminação

de uma ligação ativa, que efetivamente ocorre, das leveduras nas cavidades.

3.8 TESTES DE SELETIVIDADE

Para verificar se a ligação que ocorre entre a célula e a cavidade é seletiva,

ou seja, se somente a célula de levedura se liga a esta cavidade ou se, ao inserir

outra célula, também ocorre a ligação, realizaram-se as medições com soluções

de E. coli e uma matriz complexa. Essas medições foram feitas com as mesmas

concentrações posteriormente utilizadas para as leveduras para se manter um

padrão e aumentar a confiabilidade do estudo.

Além disso, caso seja registrada a existência de ligação às cavidades em

presença de outra célula que não a levedura, espera-se que esta seja uma ligação

aleatória, ou seja, que não possua uma correlação de ligação concentração-

dependente. Este é o principal motivo de se utilizar diversas concentrações para a

realização desse teste.

3.9 SOLUÇÕES COMPLEXAS

Para verificar se a levedura pode ser detectada em uma solução com outros

compostos inseridos, e não somente a célula-alvo em presença de PBS, foi

realizada a medição de diferentes soluções, em diferentes concentrações, em

presença de levedura e uma matriz complexa na quantidade fixa de 100 μL.

Como na realidade dificilmente se tem uma solução que contenha apenas a

célula alvo, que, no caso, é a levedura, sem mais nenhum interferente, é

necessário verificar se a presença de outros compostos dificulta essa detecção.

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3.10 REPRODUÇÃO DO PROCESSO EXPERIMENTAL COM E. COLI

Com a obtenção de resultados positivos na produção do biossensor com

uma célula relativamente simples, como a levedura, iniciaram-se os testes para

reprodução do experimento com células da bactéria Escherichia coli.

Todo o procedimento anteriormente realizado com a levedura foi repetido

com essa bactéria.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 TÉCNICAS DE IMAGEM

4.1.1 Microscopia eletrônica

Com a imagem obtida pelo microscópio, no aumento de 1000 vezes, pode-

se verificar, na Figura 8, diversas células de levedura acopladas à superfície

polimérica, demonstrando que a eletropolimerização ocorreu de forma efetiva no

que se diz à impressão celular na superfície.

Figura 8 – Superfície polimerizada pré-lavagem

Fonte: Elaborado pela autora

Porém, a eletropolimerização não ocorreu de forma completa no sentido de

formação íntegra da camada polimérica. As partes prateadas da Figura 8, que

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representam a reflexão da luz do microscópio, demonstram que a superfície do fio

de titânio não foi coberta integralmente por polipirrol.

Tal fato pode ser explicado por uma possível quantidade insuficiente de

ciclos de corrente elétrica durante a polimerização, ou, até mesmo, que o

polimento da superfície do fio não foi suficiente, deixando este com relevos e não-

uniformidades que dificultaram a finalização da polimerização por completo.

Figura 9 -Superfície polimerizada pós lavagem

Fonte: Elaborado pela autora

Na Figura 9, pode-se observar a camada polimérica em aumento de 2000

vezes, e nota-se que, neste ponto do experimento, a maioria das células que

estavam impressas na superfície foram retiradas, deixando somente cavidades

com o formato celular desejado, o que era esperado após o procedimento de

lavagem com ácido e base.

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4.1.2 Tomografia de coerência óptica (OCT)

A Figura 10 foi obtida em um aparelho de OCT de um laboratório parceiro

ao Laboratory for Soft Matter and Biophysics, após envio de um dos eletrodos de

titânio já recoberto pelo polímero para análise por esta técnica que reproduz, em

um software, a superfície formada pelo polímero de forma tri-dimensional.

Figura 10 – Camada polimérica em 3D (Ampliação de 150 x)

Fonte: Elaborado pela autora

Nota-se claramente por meio desta técnica a presença de cavidades,

representadas em vermelho, na superfície verde, que representa a camada

polimérica produzida.

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4.2 ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA ELETROQUÍMICA

Como as medições foram realizadas em diversas frequências,

primeiramente analisou-se em qual frequência seriam obtidos os melhores

resultados para a ligação da levedura na cavidade.

Foram subtraídos todos os valores de impedância do NIP dos valores do

MIP, para então obter o valor da ligação ativa da levedura na cavidade, sem

nenhuma outra interferência que poderia estar relacionada à presença da camada

polimérica no eletrodo de titânio.

Os resultados abaixo, na Figura 11, são representados em porcentagem de

ligação, relacionados as frequências utilizadas para medição no laboratório.

Figura 11 – Relação frequência x porcentagem da ligação à cavidade polimérica

Fonte: Elaborado pela autora

Chegou-se à conclusão de que nas menores frequências obtém-se a maior

porcentagem de ligação da levedura à camada polimérica. Isto já era esperado, de

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acordo com a teoria, visto que em frequências menores é possível ver exatamente

a ligação mais próxima à superfície, sem grandes interferências de outros fatores

presentes no meio, como, por exemplo, a solução utilizada para a medição.

Sendo assim, após análise individual dos gráficos de menores frequências

e levando-se em consideração o desvio padrão de cada um deles, chegou-se a

conclusão que a frequência de 39.811Hz é considerada como ótima para medição

das ligações, e, portanto, esta foi utilizada para demonstração dos próximos

resultados.

Como foram realizadas medições de impedância em diferentes

concentrações de células presentes, foi possível obter gráficos que demonstram

se há ligação nas cavidades e se esta é concentração-dependente.

Essas medições foram realizadas tanto para o MIP quanto para o NIP,

portanto temos 2 gráficos para analisar. O gráfico denominado CH1 refere-se à

ligação das células de levedura no MIP e o CH2 às ligações passivas que ocorrem

na superfície do NIP.

Figura 12 – Relação impedância x concentração celular para CH1 e CH2

Fonte: Elaborado pela autora

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O gráfico do CH1 mostra que, à medida que a concentração celular

aumenta, há também um aumento da impedância, uma vez que mais leveduras se

ligam às cavidades no MIP.

Já o gráfico do CH2 demonstra que a impedância não está diretamente

relacionada à concentração, porém é possível notar que há um aumento na

impedância à medida que a concentração aumenta. Em teoria, nenhuma ligação

ou pouca ligação passiva deve ocorrer no NIP e o gráfico deveria apresentar uma

linha horizontal, mas isso não é totalmente observado na prática. Existem alguns

fatores que podem ter contribuído para isso, podendo-se citar dentre estes o fato

de o revestimento polimérico não estar cobrindo todo o fio, levando a algumas

falhas nessas medições.

É importante ressaltar que os gráficos estão em escala diferente, portanto

analisá-los lado a lado pode levar a conclusões errôneas.

Foi construído um gráfico normalizado para análise da ligação efetiva da

levedura à cavidade, como pode-se verificar na Figura 13, e isso só foi possível de

realizar pois retiraram-se os valores de impedância obtidos no NIP (CH2) dos

valores do MIP (CH1), eliminando assim quaisquer outros fatores que poderiam

causar interferência na cavidade, como já dito anteriormente, e normalizando o

valor final.

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Figura 13 – Dose-resposta normalizado para levedura

Fonte: Elaborado pela autora

Com isso, nota-se que a ligação ativa ocorre de forma concentração-

dependente, o que comprova a efetividade do biossensor produzido.

4.3 SELETIVIDADE

Os seguintes gráficos foram obtidos para o biossensor moldado para

detecção de levedura em soluções de levedura (coluna 1), de E. coli (coluna 2) e

em uma matriz complexa (coluna 3), demonstrados na Figura 14. Estes podem ser

visualizados em tamanho original nos Apêndices. As medições apresentadas

foram realizadas na frequência determinada como ótima, de 39.811Hz.

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Figura 14 – Seletividade em diferentes meios

Fonte: Elaborado pela autora

Na primeira linha da Figura 14, os três gráficos se referem à impedância, no

eixo horizontal, com relação à concentração, no eixo vertical, do revestimento

obtido no MIP em presença de soluções de levedura, E. coli e uma matriz

complexa, respectivamente. Já na segunda linha, essas mesmas medições são

obtidas para o NIP.

Pode-se concluir, após análise dos gráficos, que a impedância obtida pela

ligação da levedura ao MIP está relacionada diretamente à concentração de célula

presente, ou seja, quanto mais células presentes, mais ligações às cavidades

ocorrem, o que é de se esperar para um biossensor funcional.

Já para os casos de medição de impedância para o biossensor em

presença de E. coli e matriz complexa tal fato não ocorre. Os pontos de

impedância se tornam mais aleatórios e não relacionados diretamente ao aumento

de concentração, e, portanto, as mudanças representadas pela impedância não

representam ligações ativas das células nas cavidades.

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Para as medidas obtidas no NIP, teoricamente nenhuma das soluções

deveria apresentar significante modificação de impedância com o aumento de

concentração celular presente, mas nota-se a presença de interações que

ocorrem com a camada polimérica. Porém, estas são em escala bem menor do

que a ligação efetiva em si demonstrada para o MIP da levedura, e ainda se

demonstram aleatórias e não correlacionadas diretamente à concentração,

indicando que o que ocorre são ligações passivas a outras influências possíveis

do meio de medição, como a composição da solução ou a integridade da

superfície polimérica.

4.4 SOLUÇÕES COMPLEXAS

Para a detecção de levedura em solução complexa, apresenta-se o gráfico,

demonstrado na Figura 15, já com o resultado de sinal diferencial (%MIP - %NIP),

que demonstra a obtenção da ligação ativa da levedura à cavidade, em frequência

definida experimentalmente como ótima. O PBS foi utilizado como o zero para

padronização das medições, já que as soluções de leveduras foram dissolvidas

em PBS.

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Figura 15 – Dose resposta normalizado matriz complexa

Fonte: Elaborado pela autora

No eixo horizontal pode-se verificar a concentração de levedura e o eixo

vertical representa a ligação ativa da levedura à sua cavidade no polímero MIP.

Como nota-se uma linha crescente com a concentração, comprova-se que a

ligação ocorre mesmo em presença de outras matrizes que poderiam vir a

atrapalhar em tal ligação.

4.5 E. COLI

Ao realizar a reprodução do procedimento com o uso da bactéria

Escherichia coli como célula alvo, os resultados obtidos não foram positivos.

A eletropolimerização ocorreu de forma aparentemente normal e os

eletrodos de titânio finalizavam o processo com a camada polimérica preta

característica formada.

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Contudo, ao realizar medições de impedância, após as lavagens, com o

método de espectroscopia de impedância eletroquímica, os resultados diferiam do

esperado e não seguiam a correlação impedância-concentração dependente,

indicando que a ligação das bactérias às cavidades não estava ocorrendo.

Algumas hipóteses foram aventadas que poderiam justificar a não

adaptação da bactéria ao procedimento realizado da mesma forma que para a

levedura.

Chegou-se à conclusão de que a concentração salina da solução utilizada

para a polimerização pode ser elevada demais para as condições ideias de

sobrevivência da E. coli (ABDULKARIM, 2009), levando à uma ruptura da

membrana celular destas durante o procedimento.

Ainda, a corrente elétrica aplicada no procedimento pode deformar as

células, fazendo com que as cavidades formadas não possuam o formato real de

uma bactéria em condições naturais.

Também se encontrou na literatura que o pirrol pode ter propriedades

antibióticas, o que pode também deformar a célula utilizada para a impressão

molecular (KAUR, 2017).

O próximo passo do projeto é, portanto, investigar possíveis causas de

erros e buscar alternativas plausíveis e aplicáveis para solucioná-los.

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5. CONCLUSÕES

Foi possível confeccionar um biossensor baseado em um MIP de levedura

que respondeu a diferentes concentrações da mesma, e este resultado foi obtido

mais de uma vez, provando que o experimento pode ser reprodutível.

Também foi possível visualizar as cavidades formadas por técnicas de

imagem e a diferença de impedância com o aumento da concentração celular da

célula alvo comprovou a efetividade e o funcionamento da técnica e do

biossensor.

Além disso, o biossensor apresentou seletividade e funcionalidade em

meios complexos, com mais de uma célula presente, características

extremamente importantes para tornar o mesmo aplicável em detecções nas

indústrias e hospitais.

Contudo, ao realizar o procedimento de polimerização e confecção de

sensor com uma diferente célula-alvo, E. coli, notou-se que este precisaria de um

maior aprimoramento e adaptação para poder ser utilizado em uma célula que

possui maior sensibilidade que à célula de levedura.

Como a técnica já se demonstra efetiva para um tipo celular, é uma questão

de tempo e estudo para que surjam adaptações do procedimento, tornando

possível a obtenção de biossensores produzidos por eletropolimerização para

detecção, não somente de E. coli, mas de outras bactérias e células patogênicas.

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REFERÊNCIAS

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heat-stressed and unstressed Escherichia coli. Journal of Food Agriculture and

Environment. Scotland, v.7, p. 51-54, 2009.

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APÊNDICE A – MIP de levedura

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APÊNDICE B – NIP de levedura

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APÊNDICE C – MIP de E. coli

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APÊNDICE D – NIP de E. coli

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APÊNDICE E – MIP de matriz complexa

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APÊNDICE F – NIP de matriz complexa

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Data e assinatura da aluna Data e assinatura do orientador

tah_cherry
Typewriter
31/05/2020
tah_cherry
Typewriter
31/05/2020