72
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA Arthur Bernardes Lara Melo DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO FIBRAS DE VIDRO E MICROPARTÍCULAS CERÂMICAS São João Del-Rei, 25 de novembro de 2016

DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

Arthur Bernardes Lara Melo

DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO

CONTENDO FIBRAS DE VIDRO E MICROPARTÍCULAS

CERÂMICAS

São João Del-Rei, 25 de novembro de 2016

Page 2: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

Arthur Bernardes Lara Melo

DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO

CONTENDO FIBRAS DE VIDRO E MICROPARTÍCULAS

CERÂMICAS

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em

Engenharia Mecânica da Universidade Federal de São João

Del-Rei, como requisito para obtenção do título de Mestre

em Engenharia Mecânica.

Área de Concentração: Caracterização e Propriedades

Mecânicas dos Materiais.

Orientador: Prof. Dr. Tulio Hallak Panzera

São João Del-Rei, 25 de novembro de 2016

Page 3: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram
Page 4: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram
Page 5: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

iv

“O homem não teria alcançado o possível se,

repetidas vezes, não tivesse tentado o impossível. ”

Max Weber

Page 6: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

v

DEDICATÓRIA

Dedico primeiramente aos meus pais a quem devo toda a minha educação, pois, eles são

as minhas grandes referências, meus exemplos de dedicação, de responsabilidade e

honestidade.

Dedico à minha família em especial aos meus avós na pessoa da minha avó Marlene.

Dedico à UFSJ, a instituição responsável por toda minha trajetória acadêmica.

À Deus pelas graças concedidas.

Page 7: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

vi

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao Pai, por iluminar novos caminhos e guiar meus passos à

conclusão deste trabalho.

À minha família a qual esteve ao meu lado todo tempo sendo o meu porto seguro à

todas as dificuldades e meus maiores motivadores. Em especial à minha mãe que sempre me

amparou e a maior incentivadora, sempre soube interpretar os meus medos me ajudando a

superá-los. Ao meu pai com palavras firmes me dava rigidez para alçar voos mais altos, e a

minha irmã Ana. À minha namorada Jordana, que fez parte de todos os momentos, quem me

deu forças e incentivou nos momentos de dificuldade e escolhas.

Ao orientador, Dr. Tulio Hallak Panzera o qual acreditou em minha competência para

realizar este projeto, agradeço por toda a dedicação e esforço para contribuir com minha

formação durante todos estes anos como mentor e amigo. A todos os professores que

participaram desta jornada contribuindo cada um à sua maneira para a minha formação

acadêmica.

Agradeço a todos os colegas de trabalho que participaram das horas dedicadas ao

projeto, e que de alguma maneira contribuíram em especial à Joseane, companheira de

estudos e de práticas no laboratório, ao Júlio, Luciano, ao Luiz Fernando, aluno de iniciação

científica que contribuiu imensamente, dedicando horas de trabalho, que além de colega de

trabalho se tornou um amigo. Aos técnicos e funcionários da UFSJ que se fizeram presentes e

participaram da jornada o meu muito obrigado e meu sinceros agradecimentos por todo o

auxílio.

Page 8: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

vii

RESUMO

O avanço do setor aeronáutico/aeroespacial impulsiona principalmente o

desenvolvimento de novos materiais. Os compósitos reforçados com fibras podem ser

considerados substitutos aos materiais metálicos estruturais, com propriedades mecânicas

semelhantes, de fácil fabricação, moldagem e de baixa densidade. Pesquisas recentes na área

de materiais compósitos têm focado no aumento de desempenho mecânico dos mesmos.

Compósitos laminados exibem elevadas propriedades mecânicas quando estão submetidos aos

esforços de tração, por sua vez, o mesmo desempenho não pode ser obtido sob esforços de

compressão devido à geometria do reforço. Por outro lado, os compósitos particulados exibem

propriedades mecânicas superiores sob esforços de compressão. A fim de combinar o elevado

desempenho mecânico à tração e compressão dos compósitos fibrosos e particulados,

respectivamente, este trabalho investiga compósitos híbridos de matriz epóxi reforçados por

fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos

(DOE- Design of Experiment) foram conduzidos neste trabalho para identificar os efeitos dos

seguintes fatores, tempo de cura (7 e 28 dias), tipo de endurecedor (HY 951 e HY 956), tipo

de partícula (cimento e sílica), fração mássica de adição de partícula (0,0; 2,5; 7,5 e 10,0),

local de adição de partículas (sem, com, inferior e superior), fração volumétrica fibra/matriz

(49%F/51%M e 30%F/70%M) e o processo de fabricação (com e sem vácuo), sobre as

propriedades físico-mecânicas dos compósitos. O experimento I está voltado para a

investigação do efeito da incorporação de partículas cerâmicas em matriz epóxi, enquanto o

experimento II verifica o efeito das partículas em compósitos laminados de fibras de vidro. O

compósito híbrido fabricado com cimento Portland obteve propriedades mecânicas superiores

ao compósito laminado de referência. O endurecedor mais indicado para o material foi o HY

951, devido conferir menor viscosidade, maior tempo de trabalho e resistência semelhante ao

HY 956 aos 28 dias de cura. A fração adicionada de partícula afeta significativamente as

propriedades dos compósitos, sendo atribuído ao fator de acomodação destas com as fibras. A

inclusão de 10% de partículas de cimento Portland com endurecedor HY 951 e tempo de cura

de 28 dias permite a obtenção de um compósito híbrido bastante promissor para fins

estruturais.

PALAVRAS-CHAVE: compósitos híbridos, resina epóxi, fibra de vidro, cimento e sílica.

Page 9: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

viii

ABSTRACT

Advances in the aviation and aerospace industries have been driven by the development

of new materials. Fibre reinforced composites have been considered alternatives to metallic

materials, with similar mechanical properties, easy manufacturing and low density. Recent

researches in composite materials have been focused on the increase in specific structural

performance. Higher mechanical performance of laminate composites can be achieved mainly

when the structure is subjected to traction, in opposite, the same behaviour cannot be

considered for compressive loadings. Particulate composites reveal superior mechanical

properties under compressive stresses. In order to achieve higher mechanical performance in

traction, by the use of fibres, and compression, by the use of particles, this work investigates

hybrid composites reinforced with glass fibres and cement or silica particles.

A Design of Experiment (DoE) was conducted to identify the effects of the following

factors, curing time (7 and 28 days), type of hardener (HY 951 and HY 956), type of particle

(cement and silica), mass fraction of particle inclusion (0.0, 2.5, 7.5 and 10.0), location of

particles (without, with, lower and higher), matrix volume fraction (49/51 and 30/70) and

manufacturing process (with or without vacuum), on the physic-mechanical properties of the

composites. Experiment I investigated the effect of ceramic particles within the epoxy matrix,

while Experiment II verified the effect of particle inclusions in glass fibre reinforced

composites. The hybrid composite manufactured with Portland cement achieved higher

mechanical properties compared to the reference laminate composite. HY 951 hardener was

considered a promise use since it reveals lower viscosity, longer working time and similar

strength to HY 956 after 28 days of cure. The particle amount significantly affected the

mechanical properties of the composites, being attributed to the interlocking effect at the

interlaminar region. The inclusion of 10wt% of Portland cement particles with HY 951

hardener and 28 days of curing time reached a promising hybrid composite for structural

applications.

KEY-WORDS: hybrid composites, epoxy resin, glass fibre, cement and silica.

Page 10: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

ix

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 2.1. Classificação baseada no reforço (YANGA, 2011).

FIGURA 2.2. Formas que as fibras podem possuir em compósitos (MARQUES, 2012).

FIGURA 2.3. Esforços em vigas bi apoiadas e engastadas.

FIGURA 3.1. (a) Peneiras utilizadas na classificação das partículas; (b) processo manual de

peneiramento e c) cimento e sílica após classificação.

FIGURA 3.2. (a) molde confeccionado (b) silicone branco especial e catalizador RTV e (c)

modelo do corpo de prova para ensaio de compressão.

FIGURA 3.3. a) Processo de cura dos corpos de prova em estufa com temperatura média de

50°C.

FIGURA 3.4. Corpos de prova preparados para MEV.

FIGURA 3.5. Desenho esquemático do processo de fabricação das placas do compósito a)

processo com vácuo; b) processo sem vácuo e c) processos de fabricação com e

sem vácuo.

FIGURA 3.6. Ilustração do ensaio de flexão em três pontos e da configuração do laminado.

FIGURA 3.7. a) Corpos de prova preparados para digestão térmica; b) Forno utilizado no

procedimento; c) Corpos de prova após digestão.

FIGURA 3.8. a) Algumas das placas fabricadas; b) Ensaio de flexão e c) Corpos de prova

cortados e ensaiados.

FIGURA 3.9. a) Vista frontal da máquina de corte; b) Vista de todo do corte / faceamento; e

c) Vista da mesa de corte linear.

FIGURA 4.1. Imagens de MEV das partículas de cimento (a, b) e sílica (c, d).

FIGURA 4.2. MEV dos compósitos particulados de cimento e sílica, imagens do topo e da

base do corpo de prova a 180x.

FIGURA 4.3. Teste de normalidade Anderson-Darling para as variáveis resposta do

Experimento A teste de compressão, a) Resistência; b) Módulo de elasticidade e

c) Densidade.

FIGURA 4.4. Experimento A: Gráficos de interação de segunda ordem dos fatores para as

variáveis respostas: a) e b) resistência à compressão; c) e d) módulo de

elasticidade e, e) densidade volumétrica.

Page 11: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

x

FIGURA 4.5. Teste de normalidade Anderson-Darling para as variáveis resposta do

Experimento B teste de compressão, a) Resistência; b) Módulo de elasticidade e

c) Densidade.

FIGURA 4.6. Experimento B: Gráficos de interação dos fatores de segunda ordem para as

variáveis-respostas, a) resistência à compressão e b) módulo de elasticidade e de

primeira ordem para c) densidade volumétrica.

FIGURA 4.7. Comportamento mecânico sob esforços de compressão; a) endurecedor HY

956 e b) endurecedor HY 951.

FIGURA 4.8. Gráfico da TGA (Análise Termogravimétrica) das condições que obtiveram

melhor desempenho mecânico.

FIGURA 4.9. Teste de normalidade Anderson-Darling para as variáveis resposta do

Experimento C teste de flexão, a) Resistência; b) Módulo de elasticidade e c)

Densidade.

FIGURA 4.10. Gráficos de interação dos fatores do Experimento C; a) posição vs. vácuo vs.

tempo para resistência; b) posição vs. vácuo vs. tempo para módulo de

elasticidade e c) posição vs. vácuo para densidade.

FIGURA 4.11. Teste de normalidade Anderson-Darling para as variáveis resposta do

Experimento D: a) Resistência à ruptura; b) Módulo de elasticidade e c)

Densidade volumétrica.

FIGURA 4.12. Gráficos de interação dos fatores; a) Primeira ordem fração volumétrica e %

partícula em resistência à ruptura; b) Segunda ordem fração volumétrica vs. %

partícula em módulo de elasticidade c) Segunda ordem fração volumétrica vs. %

partícula para densidade.

Page 12: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

xi

LISTA DE TABELAS

TABELA 2.1. Propriedades das principais matrizes termorrígidas (MARQUES, 2012).

TABELA 3.1. Condições experimentais para os ensaios de compressão compósitos

particulados.

TABELA 3.2. Condições experimentais para os experimentos de flexão compósitos híbridos.

TABELA 4.1. Propriedades obtidas dos Experimento A.

TABELA 4.2. ANOVA: Experimento A.

TABELA 4.3. Propriedades obtidas dos Experimentos B.

TABELA 4.4. ANOVA Experimento B.

TABELA 4.5. Digestão térmica dos compósitos laminados.

TABELA 4.6. Ensaio de flexão Experimento C.

TABELA 4.7. ANOVA Experimento C.

TABELA 4.8. Ensaio de flexão Experimento D.

TABELA 4.9. ANOVA Experimento D.

Page 13: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

xii

LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

ANOVA – Análise de Variância

Dr. – Doutor

CITeC – Centro de Inovação e Tecnologia em Compósitos

CV – Coeficiente de variação

DCNAT – Departamento de Ciências Naturais

DOE – Designs of Experiments

DP – Desvio Padrão

F-valor – Estatística de Fisher utilizada como classificatória para teste de hipóteses

GPa – Giga Pascal

LATES – Laboratório de Análises Térmicas

MEV – Microscópio de eletrônico de varredura

MINITAB – Software para análises estatísticas

MPa – Mega Pascal

NBR – Norma Brasileira oC – Graus Celsius

P-valor – Estatística utilizada para sintetizar o resultado de um teste de hipóteses

RTV – Tipo de catalizador para silicone

TGA – Análise termogravimétrica

UFSJ – Universidade Federal de São João del Rei

UK – Reino Unido

US-Tyler – Tamanho de malha para seleção

Page 14: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

xiii

LISTA DE SIMBOLOS

𝑚𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 : massa de fibras no compósito restante do processo de digestão;

𝑚𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 : massa de matriz no compósito;

𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 : massa total da amostra;

𝑅² : coeficiente de determinação da regressão linear;

𝑉𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 : volume total de fibras utilizados;

𝑉𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 : volume total de matriz utilizados;

𝑉𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙: volume total da amostra (medindo as três dimensões);

𝑉𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜: volume total descartando os vazios e imperfeições;

𝑉𝑣𝑎𝑧𝑖𝑜𝑠 : volume de vazios;

𝜌𝑐𝑜𝑚𝑝ó𝑠𝑖𝑡𝑜𝑣𝑜𝑙: densidade volumétrica obtida pela divisão da massa da amostra pelo seu

volume;

𝜌𝑐𝑜𝑚𝑝ó𝑠𝑖𝑡𝑜𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑎: densidade do compósito teórica, descartando os vazios e imperfeições;

𝜌𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠: densidade das fibras;

𝜌𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧: densidade da matriz;

%𝑣𝑜𝑙𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜𝐹𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 : porcentagem volumétrica da quantidade de fibras;

%𝑣𝑜𝑙𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜𝑀𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 : porcentagem volumétrica da quantidade de matriz;

%𝑣𝑜𝑙 𝑉𝑎𝑧𝑖𝑜𝑠 : porcentagem de vazios final no compósito;

%𝑣𝑜𝑙 𝐹𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 : porcentagem de fibras final no compósito;

%𝑣𝑜𝑙 𝑀𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 : porcentagem de matriz final no compósito.

Page 15: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

xiv

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 ................................................................................................................. 16

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 16 1.1. Introdução ........................................................................................................ 16

1.2. Objetivos .......................................................................................................... 18

CAPÍTULO 2 ................................................................................................................. 20

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................... 20 2.1. Materiais Compósitos ....................................................................................... 20

2.1.1. Breve histórico .......................................................................................... 20

2.1.2. Aspectos da matriz .................................................................................... 21

2.1.3. Aspectos dos reforços ................................................................................ 22

2.2 Interface ............................................................................................................ 25

2.3. Materiais Compósitos Híbridos (Fibra-Partícula) .............................................. 26

CAPÍTULO 3 ................................................................................................................. 29

METODOLOGIA EXPERIMENTAL ....................................................................... 29 3.1. Materiais .......................................................................................................... 29

3.2. Métodos ........................................................................................................... 30

3.2.1. Etapa I – Compósito particulado (Fase matriz reforçada) ............................... 30

3.2.2. Etapa II – Compósito híbrido ......................................................................... 33

3.2.3. Corte e preparação dos corpos de prova ......................................................... 38

CAPÍTULO 4 ................................................................................................................. 39

RESULTADOS .............................................................................................................. 39 4.1. Organização e Interpretação estatística dos Resultados ..................................... 39

4.2 Etapa I: Compósito Particulado ......................................................................... 39

4.2.1. Experimento A .......................................................................................... 42

4.2.2. Experimento B .......................................................................................... 47

4.3. Etapa II: Compósitos híbridos .......................................................................... 54

4.3.1. Experimento C .......................................................................................... 56

4.3.2. Experimento D .......................................................................................... 61

CAPÍTULO 5 ................................................................................................................. 65

CONCLUSÃO ............................................................................................................... 65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 68

Page 16: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

xv

Page 17: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

16

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1. Introdução

O desenvolvimento de novos materiais se faz necessário conforme o aumento das

exigências do mercado. Muitos produtos ou aplicações demandam materiais com

propriedades específicas elevadas. Em resposta a estas exigências veio a surgir os materiais

compósitos, constituídos de dois ou mais materiais em formando uma única estrutura. A fase

matriz, normalmente em maior proporção pode ser cerâmica, metálica ou polimérica, sendo a

última a mais utilizada devido a facilidade de aplicação, adequada adesão interfacial com os

reforços, além de exibir baixas temperaturas de trabalho durante o processo de cura. Os

reforços são caracterizados conforme o seu tipo, sendo eles estruturais, particulados, fibrosos

ou híbridos (REINHART, 1987).

Os compósitos reforçados com fibras possuem características de duas fases

constituintes. Os reforços são responsáveis pela resistência mecânica e a matriz, normalmente

polimérica, responsável pela geometria, resistência à abrasão, proteção química e distribuição

das solicitações mecânicas. A elevada propriedade específica das fibras confere ao compósito

características como elevada resistência aos esforços mecânicos de tração e baixo peso

específico. As fibras podem ser subdivididas em diversos grupos de classificação, conforme o

tipo, sintéticas e naturais, ou conforme o tamanho, curtas (aleatórias ou orientadas), longas

(unidirecionais, bidirecionais (tecido) ou tridimensional). A geometria do compósito depende

da disposição destas fibras e tecidos, sendo possível alterar o ângulo formado entre elas com o

objetivo de atingir um determinado desempenho mecânico (ROMÃO, 2013a).

As partículas também podem ser consideradas reforços embutidos em matrizes

poliméricas. Sílica, argila, carbono, cimentos e carbeto de silício são alguns dos principais

exemplos de partículas reforçadoras em compósitos estruturais. Estas podem ser utilizadas em

diversos tamanhos, em escalas micro ou nano, e faixas granulométricas. Como reforço elas

tendem a alterar as propriedades mecânicas, normalmente aumentando a rigidez do sistema de

cadeias do polímero, aumentando o atrito de deslocamento das cadeias poliméricas ou

Page 18: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

17

funcionando como barreias ao deslocamento de trincas evitando a fratura prematura quando

solicitados à compressão. As partículas podem ser utilizadas como preenchimento de matrizes

a fim de reduzir o volume polimérico, consequentemente reduzindo os custos de fabricação, já

que o polímero possui maior valor agregado (YANGA, 2011).

Os compósitos híbridos têm sido amplamente investigados a fim de maximizar a

eficiência mecânica dos materiais compósitos. Os híbridos são materiais constituídos de mais

de um tipo de reforço. Os reforços podem ser de mesma natureza (fibra-fibra ou partícula-

partícula) ou de naturezas diferentes (fibra – partícula). Melhorias na resistência e rigidez,

podem ser proporcionadas pelo uso de dois tipos de reforços. O uso de partículas em

compósitos laminados tem sido investigado a fim de aumentar o desempenho mecânico de

vigas principalmente sob esforços de flexão, pois elas podem conferir uma maior rigidez à

matriz e travamento mecânico entre lâminas (interlocking effect) (KOSTOPOULOS et al.,

2001).

Um número significativo de pesquisas veem sendo realizadas sobre os compósitos

híbridos, contendo micro e nano partículas a fim de promover o aumento de rigidez e

tenacidade deles. O grupo de pesquisa CITeC (Centro de Inovação e Tecnologia em

Compósitos) localizado em São João del Rei – MG, tem investigado a adição de diferentes

partículas cerâmicas em matrizes poliméricas e materiais compósitos, apontando um futuro

promissor no que diz respeito ao aumento de suas propriedades mecânicas, durabilidade e

redução de custos de fabricação.

Devido ao baixo custo e fácil dispersão em polímeros termorrígidos, a incorporação de

micropartículas de cimento Portland e sílica foram avaliadas neste trabalho não apenas em

matrizes epóxi, mas também em compósitos estruturais reforçados com fibras de vidro

normalmente empregados nas indústrias aeroespacial, automotiva, construção civil, esportiva,

entre outras. O crescente desenvolvimento do setor aeronáutico, na fabricação de aviões de

pequeno e grande porte, faz-se necessários materiais de elevado desempenho mecânico e

durabilidade. Esta investigação tem por motivação contribuir para o avanço científico em

materiais compósitos híbridos.

Page 19: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

18

1.2. Objetivos

Este trabalho foi dividido em dois experimentos. O experimento I está voltado para a

investigação do efeito da incorporação de partículas cerâmicas em matriz epóxi, enquanto o

experimento II verifica o efeito das partículas em compósitos laminados de fibras de vidro.

O objetivo principal do trabalho é desenvolver e investigar um compósito híbrido

contendo fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica, identificando a composição que

maximiza suas propriedades mecânicas.

Os objetivos secundários do Experimento I são:

i. Caracterizar a matriz epóxi reforçada com diferentes frações mássicas de

partículas submetidos a esforços de compressão.

ii. Por meio de dois planejamentos de experimento chamados de A e B, descritos

mais adiante, investigar o efeito dos fatores e níveis listados abaixo, sobre as

variáveis respostas, resistência e módulo de elasticidade à compressão e

densidade aparente.

a) Tempo de cura (7 e 28 dias);

b) Tipo de endurecedor (HY 951 e HY 956);

c) Tipo de partícula (sílica e cimento);

d) Fração mássica de adição de partículas (0,0; 2,5; 5,0; 7,5 e 10,0);

ii. Por meio de análise microestrutural verificar a distribuição das partículas dentro

da fase matriz.

Por meio dos resultados do Experimento I, idealizou-se o Experimento II. Os

compósitos particulados desenvolvidos na primeira fase da pesquisa foram utilizados como

fase matriz de compósitos laminados contendo fibras de vido. Os compósitos foram

laminados com nove camadas de tecido bidirecional de fibra de vidro contendo oito camadas

internas de matriz. A quantidade de matriz em cada intervalo foi controlada através do peso.

Os objetivos secundários do Experimento II são:

iii. Caracterizar os compósitos laminados com diferentes configurações de reforços

de partículas sob esforços de flexão em três pontos.

iv. Por meio de dois planejamentos de experimento chamados de C e D, descritos

mais tarde, investigar o efeito dos fatores e níveis listados abaixo, sobre as

Page 20: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

19

variáveis respostas, resistência e módulo de elasticidade à flexão e densidade

aparente.

a) Tempo de cura (7 e 28 dias);

b) Processo de fabricação com e sem vácuo;

c) Posição da inserção das micropartículas;

d) Fração volumétricas de fibras;

A metodologia experimental será apresentada seguindo a ordem listada nos objetivos,

assim como os resultados dos ensaios realizados.

Page 21: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

20

CAPÍTULO 2

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Materiais Compósitos

Os materiais compósitos são caracterizados pela união de dois ou mais constituintes

tendo como resultado propriedades superiores a cada material separadamente (REINHART,

1987). Muitas são as aplicações, estas podendo variar de aplicações que não demandam de

altas propriedades mecânicas como compensados em madeira a painéis de revestimento das

fuselagens de aeronaves. Através dos compósitos pode-se enxergar aplicações para resíduos

até então descartados e novas aplicações para já conhecidos matérias, como as partículas de

sílica atuando como reforços em compósitos híbridos.

2.1.1. Breve histórico

Não é possível determinar um marco histórico do surgimento dos materiais compósitos.

Sabe-se que os primeiros compósitos surgiram à milhões de anos, a fim de suprir as

necessidades do homem, sendo elas na construção de armas, utensílios e na construção civil.

A adição de feixes de palha (fibra natural) em barro para a confecção de tijolos mais

resistentes permitiu um avanço nas tecnologias de construção civil pelos povos do Egito. Este

mesmo povo usou o papiro (fibra natural), como material fibroso alinhado e prensado para

produzir uma espécie de filme fino, este por sua vez foi utilizado em diversos utensílios

domésticos, papel, cordas, barcos e velas (VENTURA, 2009).

Em uma outra época, um determinado grupo de guerreiros Mongóis, utilizaram esta

tecnologia de unir diversos materiais para fabricar arcos “compostos”. Estes eram mistos de

madeira, fibras de origem animal (tendões de animais) e vegetal (milho), configuração esta

que era capaz de conferir maior rigidez e potência às armas, sendo conhecidas como as mais

eficientes, antes da invenção da pólvora (GAY, HOA e TSAI, 2003).

A segunda era dos compósitos se deu a partir da década de 60, com os avanços na área

de ciência de materiais e novos processos de fabricação que permitiram o desenvolvimento de

Page 22: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

21

materiais com propriedades avançadas (FERNANDES, 2008). A indústria aeroespacial, com

o objetivo de desenvolver a aviação comercial e o avanço espacial, impulsionou novos

projetos para obtenção de materiais com baixa densidade e alta eficiência mecânica. Neste

contexto, tanto a indústria automobilística quanto a ortopédica demandavam materiais de

elevado desempenho mecânico específico (GIANCASPRO et al.,2009; SHIMOKAWA et al.,

2007). Portanto, os primeiros compósitos desenvolvidos durante este período eram

conhecidos como plásticos reforçados com fibras (PRF), devida a adição de reforços de fibras

sintéticas (principalmente fibras de vidro) aos termoplásticos já desenvolvidos pela indústria

da época.

2.1.2. Aspectos da matriz

As matrizes de forma geral podem ser classificadas quanto ao tipo de material, podendo

ser cerâmicas, metálicas ou poliméricas. Os polímeros são utilizados como matriz devido ao

fácil processamento, custos e propriedades específicas (propriedades mecânicas / massa

específica) satisfatórias à temperatura ambiente. Os polímeros podem ser divididos em dois

grandes grupos: os termorrígidos e os termoplásticos (FERNANDES, 2008; SCHWARTZ,

1984).

Os termorrígidos são caracterizados por serem líquidos no estado de pré-polímero e

após a reação dos catalizadores e aceleradores, geralmente em ambiente controlado

(temperatura e pressão), tem-se um material homogêneo com propriedades isotrópicas e

impossível de ser moldado ou fundido novamente. A principal característica destes é a baixa

viscosidade e capacidade de molhabilidade, propriedade que permite a fácil impregnação das

fibras. As principais resinas termorrígidas são: epóxi, fenólica, poliéster e poliimida

(CALLISTER JR, 2007).

Os termoplásticos, ao contrário dos termorrígidos, são de difícil impregnação devido ao

seu estado inicial ser sólido, ou de elevada viscosidade quando fundido. A dispersão da matriz

termoplástica sobre o reforço ou do reforço na matriz, se dá após a fusão do material. A

maleabilidade é obtida com o aumento da temperatura, o que também permite alterações de

forma após a peça acabada, soldas e emendas. Por outro lado possuem a desvantagem de

baixa temperatura de trabalho, não resistindo às temperaturas elevadas. Os principais grupos

são: poliamida, polipropileno e policarbonato.

Page 23: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

22

A principal função da matriz é a transferência de esforços entre os reforços. Entre as

outras responsabilidades da matriz estão (YANGA, 2011):

Proteger a superfície das fibras de ataques físicos;

Proteção química;

Propriedades elétricas (isolantes ou condutores);

Dureza;

Comportamento à fadiga e fratura;

Abrasão;

Limitador nos processos de fabricação;

Limitador no processo de reciclagem;

Coeficiente de dilatação térmica;

Condutibilidade térmica;

Comportamento ao fogo.

A Tabela 2.1 exibe algumas propriedades físicas e mecânicas das principais matrizes

termorrígidas utilizadas como fase matriz em materiais compósitos.

TABELA 2.1. Propriedades das principais matrizes termorrígidas (MARQUES, 2012).

Matriz

Peso

específico

(g/cm³)

Deformação

na ruptura

(%)

Módulo de

Elasticidade

(GPa)

Resistência

à tração

(MPa)

Coeficiente

de dilatação

(10-6/°K)

Contração

pós-cura

(%)

Epóxi 1,1-1,4 1 2,1-6,0 35-90 55-110 1,5

Poliéster 1,1-1,5 1,5 1,3-4,5 45-85 100-200 6,0

Fenólica 1,3 2,5 4,4 50-60 45-110 -

Poli-

imida 1,2-1,9 1 3-3,1 80-190 14-90 -

2.1.3. Aspectos dos reforços

Os compósitos podem ser classificados conforme o tipo de reforço, fibras, partículas e

estruturais (Figura 2.1). As fibras são reforços cujo comprimento é muito maior que seu

diâmetro podendo estar dispersa de forma orientada em forma de tecidos ou não, de forma

contínua (longas) ou descontínuas (wiskers), estas são de fácil fabricação e melhores em

Page 24: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

23

esforços de tração. As partículas são classificadas conforme o seu tamanho, sendo elas micro

ou nano, possuem formas mais compactas, não necessariamente esféricas. Estas podem

desenvolver papel de carga, preenchimento de espaço sem que ocorra perca de resistência

diminuindo o volume de matriz e o papel de reforço sendo elas responsáveis por melhorar as

propriedades mecânicas do material. Os reforços estruturais são alternativas de construção de

um compósito que tem como objetivo aumento de resistência ou diminuir a densidade. Os

laminados são empilhamentos de tecidos de fibras para aumento das propriedades mecânicas

e os compósitos sanduíches recebem a adição de um núcleo de baixa densidade, afim de

atingir o objetivo de redução de massa do material (YANGA, 2011).

FIGURA 2.1. Classificação baseada no reforço (YANGA, 2011).

Os reforços também podem ser classificados quanto geometria e/ou forma de aplicação

(Figura 2.2).

Classificação Baseada na Geometria do Reforço

Fibras

Particulados

Estruturais

Page 25: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

24

FIGURA 2.2. Formas que as fibras podem possuir em compósitos (MARQUES, 2012).

A principal forma de aplicação das fibras é em forma de tecidos. Desta forma podemos

prever as propriedades mecânicas dos materiais devido conhecer a orientação do reforço. As

fibras são responsáveis por resistir a maior parte da carga axial, sendo a matriz responsável

por distribuir estas tensões e proteger as fibras de danos externos como os pequenos impactos.

As fibras devem cumprir os seguintes requisitos (ROMÃO, 2013a; ROMÃO, 2013b):

um módulo de elasticidade superior ao do polímero;

tensão de ruptura superior ao polímero;

proporcionar melhor adesão possível à matriz;

geometria conveniente;

não deteriorar em contato com a matriz;

molhabilidade, e

ser de fácil manuseio.

As fibras podem se apresentar como reforços eficientes e estarem dispersas na matriz de

diferentes formas (Figura 2.2). As fibras orientadas podem ser encontradas nos processos de

fabricação que usam tecidos (bidirecionais e unidirecionais) e de enrolamento com o uso de

um “roving”. Os tecidos podem ser diferentes quanto o alinhamento das fibras. A trama e o

urdume (fibras no alinhamento horizontal e vertical respectivamente) que podem variar

conforme o interesse da indústria e obter diferentes resultados de tecidos e com diferentes

Forma das Fibras

Mantas

Mantas de filamentos cortados

Mantas de filamentos contínuos

Mantas de superfície

Roving

Tecidos

1D/2D/3D

Pré-impregnados

Page 26: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

25

gramaturas ou densidade por área. O “roving” é um feixe de fibras unidas e torcidas

formando uma corda enrolada em bobinas. Este é o feixe de fibra base, após ser processada,

pode ser transformada em outras geometrias como tecidos, “whiskers”, mantas de fibras

curtas e longas, dentre outros. Os “whiskers”, são conhecidos no processo de fabricação de

banheiras e caixas d’agua, usando fibras de vidro curtas e/ou aleatórias embebidas de resina,

aplicadas sob camadas sobre uma superfície. As mantas são fibras distribuídas aleatoriamente

e unidas com ligantes especiais que são solúveis às resinas, estas podem apresentar diferenças

quanto ao comprimento das fibras (MARQUES, 2012).

As fibras podem ser classificas quanto a forma de fabricação (sintética ou natural),

quanto a sua origem (vegetal, animal ou mineral) e quanto ao local onde foi retirada As fibras

sintéticas estão associadas à solução dada no início do processo de desenvolvimento dos PRF,

em que o objetivo era melhorar as propriedades mecânicas dos plásticos. As fibras sintéticas

possuem elevadas tensões de ruptura e módulos de elasticidade, no geral são materiais muito

frágeis que tendem a romper com muito pouca deformação ou alongamento. As principais

fibras sintéticas são carbono, aramidas e vidro (MARQUES, 2012).

2.2 Interface

As condições de interface são predominantes na obtenção de uma adequada eficiência

do material compósito. A adesão entre as fases presentes deve ser a melhor possível,

garantindo uma proteção mecânica, química e total transferência de cargas entre elas. A

interface está relacionada com a forma como ocorre a ligação entre matriz e fibra. Esta é

responsável pelo coeficiente de eficiência que relaciona as propriedades reais dos compósitos

e as propriedades teóricas estimadas. Geralmente, a interface é influenciada pelas

características hidrofílicas ou hidrofóbicas entre matriz/reforço. A adesão entre fibra e matriz

pode se dar de forma química, onde interações entre as moléculas e átomos destes materiais

podem ser previstos (KALIA, 2009) e de forma física.

A funcionalização química das superfícies das fibras tem sido amplamente investigada a

fim de melhorar sua adesão com a matriz (TSAI et al., 2009a). A incorporação de partículas,

em escala nano ou micro, tem sido reportada na literatura no aumento do coeficiente de atrito

entre camadas, conhecido como mecanismo de travamento interlaminar (interlocking effect),

sendo estes denominados por compósitos híbridos (DETOMI et al. 2012).

Page 27: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

26

2.3. Materiais Compósitos Híbridos (Fibra-Partícula)

O aumento da resistência à ruptura e rigidez, baixos índices de propagação de trincas e

resistência ao impacto têm sido o foco de pesquisas recentes envolvendo compósitos

estruturais híbridos. Os compósitos híbridos envolvem o uso de duas ou mais fases

reforçadoras diferentes, sejam elas fibra-fibra, fibra-partícula ou partícula-partícula. Este

trabalho visa o estudo de compósitos híbridos fibra-partícula, sendo este tema abordado nesta

revisão da literatura.

Vigas sob esforços de flexão trabalham simultaneamente sob esforços de compressão e

tração. É importante ressaltar que determinados elementos de uma viga são responsáveis por

resistir uma grande parte dos esforços, estes são conhecidos como os elementos estruturais

críticos. A Figura 2.5 exibe a partir da linha neutra a parte que sofre esforços de tração e de

compressão (HIBBELER, 2005). Neste contexto, é possível projetar materiais compósitos que

atendam às exigências estruturais singular de cada parte ao longo da espessura.

FIGURA 2.3. Esforços envolvidos em vigas bi apoiadas e engastadas.

Soluções localizadas para o aumento de eficiência permite obter materiais mais leves e

por sua vez, com propriedades específicas superiores. O uso de partículas, seja em escala

micro ou nano, dentro de compósitos laminados tem sido empregado na tentativa de aumentar

a rigidez da fase matriz e/ou a resistência aos esforços cisalhantes presentes nas regiões

interlaminares (KOSTOPOULOS et al., 2001). Tensões interlaminares coplanares (in-plane)

não podem se projetar para o plano das fibras (out-plane), e, portanto, tendem a se

desenvolver na fase matriz (ABOT et al., 2008). Esta por sua vez tem uma baixa resistência à

formação e propagação de trincas levando o compósito à ruptura (PETHRICK, MILLER e

RHONE, 2009). As tensões interlaminares são consideradas críticas à integridade estrutural

Page 28: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

27

de um compósito (ABOT et al., 2010; TSAI e CHENG, 2009b). A fim de melhorar a rigidez

estrutural de compósitos laminados, partículas cerâmicas (micro ou nano) de elevada rigidez

têm sido incorporadas em matrizes poliméricas, revelando um aumento significativo do

comportamento mecânico principalmente sob esforços de compressão (FU et al., 2008).

O uso de micro e nano partículas de sílica adicionadas em frações mássicas de 1%, 2% e

3,5%, em compósito laminado de fibra de vidro foi avaliado em flexão, tração e densidade

aparente. A matriz utilizada foi a resina epóxi Renlam M e catalizador HY 951 em tecido de

fibra de vidro 200g/cm² e partículas de tamanho micro (34-45 μm) e nano (10 – 20 nm) em

cinco camadas de tecido. Observou-se que a adição de micropartículas de sílica aumentou

ligeiramente o módulo de elasticidade e reduziu os valores de tensão máxima à flexão

(SANTOS, 2015).

Alguns autores reportaram o efeito benéfico da inclusão de partículas em compósitos

laminados relacionado ao seu comportamento mecânico. Detomi et al. (2012), investigaram o

efeito da adição de carbeto de silício e sílica em tamanhos de 38 – 75 μm, disperso na matriz

de um compósito de cinco camadas de fibra de vidro de gramatura 200g/cm². Foram avaliadas

as condições 10% e 20% de partículas, adicionadas na metade superior do corpo de prova ou

em todo o corpo de prova, para ensaio de flexão em três pontos e densidade aparente. Um

aumento de 110% na resistência à flexão e 112% na resistência específica para adição de

partícula na parte superior do compósito foram obtidos. A sílica adicionada em 20%

promoveu a maior tensão de ruptura que a de 10% em massa. O carbeto de silício diminuiu a

tensão à ruptura com o aumento da porcentagem, entretanto, a adição de partículas na parte

superior da viga teve melhor comportamento que no compósito todo (DETOMI et al., 2014).

A adição de micropartículas de sílica e cimento Portland (CP-V) e o número de camadas

de fibras de vidro unidirecionais (VF = 30%) foram investigadas em função da densidade

aparente, módulo de elasticidade e tensão de ruptura à flexão. Os compósitos com cimento

foram ensaiados após 28 dias, devido à possível hidratação do cimento; e os com sílica foram

ensaiados aos 7 dias. Preliminar aos ensaios de flexão realizou-se um ensaio de compressão

buscando avaliar a melhor porcentagem de adição das partículas dentro da fase matriz. As

frações de 3%, 5% e 10% foram investigadas para ambas as partículas. O melhor resultado

mecânico foi obtido para os compósitos constituídos de 5% de partículas, sendo esta

quantidade selecionada para a fabricação dos laminados. A condição experimental contendo

maior número de camadas de fibras com adição de cimento promoveu maior aumento das

propriedades mecânicas comparado à sílica (TORRES, 2013).

Page 29: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

28

Compósitos híbridos com fibras naturais foram desenvolvidos a partir de fibra de

bananeira e sisal em frações volumétricas de 30% e 50%, com a adição de 0%, 20% e 33% de

sílica e tratamento superficial com 2% de anidrido maleico, a fim de avaliar o comportamento

mecânico à flexão. Os testes preliminares mostraram que a adição de sílica nas porcentagens

citadas promoveu na matriz uma redução da tensão de ruptura e o aumento do módulo de

elasticidade à compressão. A adição de sílica no compósito diminui o módulo de elasticidade,

este comportamento foi atribuído ao aumento de área superficial interfacial, promovido pela

adição das partículas, afetando não só a reologia do sistema, mas diminuindo a capacidade de

molhabilidade da matriz perante as fibras, além de aumentar a porosidade final do compósito

(SILVA et al., 2012).

Page 30: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

29

CAPÍTULO 3

METODOLOGIA EXPERIMENTAL

3.1. Materiais

A fase matriz consistiu de uma resina epóxi Renlam M com os catalizadores Aradur HY

951 e HY 956 fabricados pela Empresa Hunstsman do Brasil. As proporções em peso de

resina/catalizador foram de 10:1 para o endurecedor HY 951 e 5:1 para o endurecedor HY

956, conforme recomendações do fabricante. Os polímeros possuem densidades de 1,17 g/cm³

e 1,15 g/cm³ quando curados com os endurecedores HY 951 e HY 956, respectivamente.

As fibras de vidro foram fabricadas pela Owens Corning, sendo fornecidas pela

Empresa Resinplast Ltda (Brasil). O tecido cross-ply possui fibras de vidro tipo E com

gramatura de 200g/cm² e densidade de 2,54 g/cm². As partículas de sílica cristalina foram

fornecidas pela empresa Moinhos Gerais (Brasil). O cimento Portland utilizado foi o CP-V

ARI fabricado pela Lafarge-Holcim (Brasil).

As partículas de sílica foram classificadas na faixa granulométrica 325-400 US-Tyler

(37 – 44 μm) e o cimento Portland passante na malha 400 Mesh (<44μm) (Figura 3.1). A

diferença entre as faixas granulométricas dos materiais ocorreu devido a indisponibilidade de

sílica de tamanho inferior a 400US-Tyler. As densidades das partículas, foram obtidas por

picnometria à gás, sendo de 3,17 g/cm³ para o cimento e 2,20 g/cm³ para a sílica.

Page 31: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

30

FIGURA 3.1. (a) Peneiras utilizadas na classificação das partículas; (b) processo manual de

peneiramento e c) cimento e sílica após classificação.

3.2. Métodos

3.2.1. Etapa I – Compósito particulado (Fase matriz reforçada)

Moldes de silicone do tipo branco especial foram utilizados na preparação dos corpos de

prova cilíndricos para ensaio de compressão (Figura 3.2a). Este tipo de silicone é capaz de

resistir temperaturas até 200°C. O catalizador RTV foi utilizado na proporção de 1 kg de

silicone para 20ml do catalizador (Figura 3.2b). Os modelos cilíndricos foram usinados em

alumínio conforme as dimensões (Ø20mm x 40 mm) indicadas pela norma ASTM D 695

(2002) (Figura 3.2c).

FIGURA 3.2. (a) molde confeccionado (b) silicone branco especial e catalizador RTV e (c)

modelo do corpo de prova para ensaio de compressão.

A

B

C

(a)

(b)

(c)

Page 32: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

31

Os corpos de prova epóxi-particulado foram preparados misturando-se manualmente a

resina e as partículas por 5 minutos, e posteriormente adicionando-se o endurecedor em

mistura por mais 5 minutos. O preenchimento dos moldes foi realizado lentamente, evitando o

surgimento de bolhas de ar, em seguida os mesmos são levados à estufa por 12 horas a 50°C,

alcançando a cura completa após 7 dias (conforme fabricante). Todos os corpos de prova em

processo de cura foram acomodados em local com temperatura ambiente, isolados do meio

externo por plástico filme e sem contato com radiação solar (ver Figura 3.3).

FIGURA 3.3. a) Cura dos corpos de prova em estufa por 12 horas a uma média de 50°C.

A baixa viscosidade da matriz durante os primeiros minutos do processo de cura pode

alterar a dispersão das partículas inseridas. Este regime é atenuado após o período de

gelificação, aproximadamente 80 minutos em temperatura ambiente. A adição de calor ao

processo de cura acelera a polimerização e assim, diminui o tempo de baixa viscosidade

evitando a decantação das partículas. Os corpos de prova (ver Figura 3.4) foram cortados

longitudinalmente e avaliados por meio de um microscópio eletrônico de varredura (MEV) da

marca Hitachi modelo TM-3000, a fim de verificar a distribuição das partículas no “topo”,

“centro” e “parte inferior”. As imagens foram obtidas em modo de elétrons retroespalhados

(5kV) com ampliação de 100, 180 e 500 vezes.

956 951 951

Page 33: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

32

REF 10% cim REF 10% CIM 7,5% sil 10% sil

FIGURA 3.4. Corpos de prova preparados para MEV.

Alguns testes preliminares foram realizados para verificar as condições de reologia do

sistema em função da adição de partículas. Quatro frações mássicas de partículas (2,5; 5,0;

7,5; 10,0%) foram investigadas utilizando-se dois tipos de endurecedores (HY951 e HY956),

e dois tipos de partículas (sílica e cimento) considerando dois tempos de cura (7 e 28 dias).

Esta etapa foi dividida em dois experimentos fatoriais completos (A e B) contendo duas

réplicas (R1 e R2) cada. No experimento A, o tempo de cura, o tipo de endurecedor e a fração

de partículas foram avaliados seguindo o planejamento fatorial do tipo 2251 totalizando 20

condições experimentais. No experimento B avaliou o efeito dos fatores fração e tipo de

partícula nas propriedades do compósito particulado, por meio do planejamento 2151, obtendo

10 condições experimentais. Os planejamentos estatísticos fatoriais (Design of Experiment -

DOE) estão mostrados na Tabela 3.1.

TABELA 3.1. Condições experimentais para os ensaios de compressão compósitos particulados.

Experimento Tempo de

cura [dias]

Tipo de

endurecedor

Tipo de

partícula

Fração de

adição de

partícula [%]

Número de

corpos de

prova

A 7 e 28 HY 951 e

HY 956 Cimento

0,0; 2,5; 5,0;

7,5 e 10,0 6

B 7 HY 951 Cimento e

Sílica

0,0; 2,5; 5,0;

7,5 e 10,0 6

Os ensaios sob esforços de compressão foram realizados no laboratório do Centro de

Inovação e Tecnologia em Compósitos (CITeC – UFSJ) utilizando a máquina de ensaios

universal SHIMADZU modelo AG-X plus equipada com célula de carga de 100kN à

Page 34: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

33

temperatura ambiente e uma velocidade de 2 mm/min. As propriedades módulo de

elasticidade (a deformação medida pelo deslocamento do cabeçote da máquina), resistência

máxima e comportamento mecânico foram avaliadas. A densidade volumétrica foi obtida

fazendo a medição do volume e massa de cada corpo de prova.

O método de digestão térmica de materiais pode ser aplicado em diversas situações,

desde que os constituintes do compósito (reforço e matriz) volatizem em diferentes

temperaturas. Deste modo é possível calcular as porcentagens mássicas de cada material e

investigar comportamentos distintos com a adição de novos constituintes ou alterações das

frações (GIOVEDI, MARINUCCI e ROUSE, 2004). Esta técnica conhecida por

termogravimetria, permite avaliar a variação da massa em função do tempo ou temperatura

sob ambientes controlados (BANDEIRA et al., 2012). Uma análise termogravimétrica (TGA)

foi realizada no equipamento, DTG-60H Simultaneous DTA - TG SHIMADZU®, no

Laboratório de Análises Térmicas (LATES) do Departamento de Ciências Naturais (DCNAT)

da Universidade Federal de São João del- Rei. Amostras retiradas dos compósitos

particulados foram aquecidas a uma taxa 10°C/min, sob um fluxo de atmosfera constante de

nitrogênio, conforme as recomendações de Giovedi, Marinucci e Rouse (2004) e Bandeira et

al. (2012).

3.2.2. Etapa II – Compósito híbrido

Laminados de matriz epóxi com endurecedor HY 951 contendo fibras de vidro e

partículas de cimento foram testados sob esforços de flexão em três pontos. O compósito foi

fabricado utilizando o processo de laminação manual (hand lay-up). Os processos de cura via

compactação sob vácuo e pressão uniaxial foram avaliados a fim de investigar o efeito dos

mesmos na porosidade, qualidade da superfície e quantidade de matriz perdida dos laminados,

conforme reportado por Stringer (1989) e Tsai e Cheng (2009). O vácuo gerado pela bomba

foi de 0,9 bar. A massa utilizada na pressão uniaxial foi calculada considerando 10% da

pressão exercida pela bolsa de vácuo sobre o laminado, ou seja, 890 gramas (Figura 3.5).

Ambas as formas de cura, os laminados ficaram expostos à pressão por 24 horas.

Page 35: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

34

FIGURA 3.5. Desenho esquemático do processo de fabricação das placas do compósito a) Processo

com vácuo; b) Processo sem vácuo e c) Processos de fabricação com e sem vácuo.

O compósito foi fabricado com nove camadas de tecido de fibra de vidro crossply e

oito camadas de matriz, como ilustra a Figura 3.6. As partículas foram adicionadas em três

modos: (i) nas quatro camadas superiores, (ii) nas quatro camadas inferiores e (iii) em ambas

as partes. Os cinco fatores investigados foram, local de adição da partícula de cimento (sem

partícula, superior, inferior e com partícula), tempo de cura (7 e 28 dias), tipo de fabricação

(com e sem vácuo), fração volumétrica fibra/matriz (48,6/51,4 e 29,6/70,4) e fração mássica

de partícula (0,0; 2,5; 5,0; 7,5 e 10,0).

FIGURA 3.6. Ilustração do ensaio de flexão em três pontos e da configuração do laminado.

Saco de Vácuo

Vidro

Armalon

Compósito

Vedação

Vidro

Armalon

Compósito

Peso

(a)

(b)

(c)

Page 36: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

35

A fração volumétrica de 48,6% de fibras e 51,4% de matriz foi determinada com base

em testes preliminares para identificar a menor quantidade de matriz capaz de laminar as nove

camadas de tecido com reologia e acabamento adequados. A segunda fração volumétrica de

29,6% de fibras e 70,4% de matriz foi considerada o limite superior do nível de matriz no

experimento. Este nível foi selecionado com base na perda de resina do laminado sem que

fosse aplicada qualquer pressão ou vácuo.

Esta etapa foi dividida em dois experimentos (C e D). O experimento C do tipo 4122

avaliou o efeito do local de adição de partícula, o tempo de cura e o tipo de fabricação nas

propriedades dos compósitos, exibindo 16 condições experimentais (em negrito na Tabela

3.2). Os fatores fração de adição de partícula de 10 % em fração mássica e fração volumétrica

fibra/matriz de 48,6/51,4 foram mantidos constantes no experimento. O experimento D, do

tipo 5121 totalizando 10 condições experimentais, foi realizado variando a porcentagem de

adição de partícula e a fração volumétrica fibra/matriz sem a aplicação de vácuo e partículas

adicionadas apenas na parte superior em 28 dias de cura (em negrito na Tabela 3.2).

TABELA 3.2. Condições experimentais para os experimentos de flexão compósitos híbridos.

Experimento

Local de

adição da

partícula

Tempo

de cura

[dias]

Tipo de

fabricação

Fração

volumétrica

fibra/matriz [%]

Fração

partícula [%]

Número

corpos de

prova

C

Sem

partícula,

superior,

inferior e

tudo com

partícula

7 e 28

Com e

sem

vácuo

49/51 10,0 5

D Superior 28 Sem

vácuo 49/51 e 30/70

0,0; 2,5; 5,0;

7,5 e 10,0 10

Os compósitos foram submetidos a uma digestão térmica (Figura 3.7a-c), a fim de

medir a real fração fibra/matriz presentes nos compósitos. Pequenas amostras foram retiradas

dos corpos de prova de referência (sem partículas) e levadas à estufa e posteriormente

pesados. Estas foram colocadas dentro de um cadinho e levadas ao forno elétrico da marca

EDG modelo 10P-S FC-2. O processo se iniciou a temperatura ambiente com uma taxa de

aquecimento de 10° C/min até 600° C com patamar de 120 minutos e resfriamento natural. O

Page 37: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

36

objetivo é fazer a incineração da matriz epóxi, restando apenas as camadas do tecido de fibra

de vidro. Os cálculos foram realizados segundo as premissas da norma ASTM D792 (2008),

que mostra os procedimentos para determinar as proporções volumétricas em materiais

laminados.

Conhecendo-se as respectivas massas e densidades,

𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙; 𝑉𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙; 𝜌𝑐𝑜𝑚𝑝ó𝑠𝑖𝑡𝑜𝑣𝑜𝑙; 𝑚𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠; 𝜌𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 e 𝜌𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎, é possível calcular a densidade teórica

e as frações volumétricas teóricas utilizando a massa total (𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙) e massa de fibras

(𝑚𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 − 𝑟𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜 𝑑𝑎 𝑑𝑖𝑔𝑒𝑠𝑡ã𝑜 𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑎). A massa de fibras restante subtraída da massa

total tem-se a massa de matriz (ver Eq. 1.1).

𝑚𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 = 𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 − 𝑚𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 Eq. 3.1

O volume de cada material, 𝑉𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑒 𝑉𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧, foi calculado com base nas densidades

conhecidas dos materiais separadamente (ver Eq. 2.2).

𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 =𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎

𝑑𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒

Eq. 3.2

A fração teórica de fibras pode ser calculada por meio do volume de fibras dividido do

volume total teórico (ver Eq. 3.1 a Eq. 3.3).

𝑉𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜= 𝑉𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 + 𝑉𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 Eq. 3.3

𝑉𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠

𝑉𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙= %𝑣𝑜𝑙𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜

𝐹𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 Eq. 3.4

%𝑣𝑜𝑙𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜𝑀𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 = 100 − %𝑣𝑜𝑙𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜

𝐹𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 Eq. 3.5

A densidade teórica do laminado (não considerando os vazios) é calculada através da

Regra da Mistura, sendo conhecidas as densidades individuais (ver Eq. 4.1).

𝜌𝑐𝑜𝑚𝑝ó𝑠𝑖𝑡𝑜𝑡𝑟ó𝑟𝑖𝑐𝑎= %𝑣𝑜𝑙𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜

𝐹𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 ∗ 𝜌𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 + %𝑣𝑜𝑙𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜𝑀𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 ∗ 𝜌𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 Eq. 3.6

A densidade volumétrica do material calculada por meio da medição do volume e peso,

permite calcular as porcentagens reais em volume de fibras, matriz e vazios do material (ver

Eq. 5 e Eq. 6.1 a 6.3).

𝑉𝑣𝑎𝑧𝑖𝑜𝑠 =𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

𝜌𝑐𝑜𝑚𝑝ó𝑠𝑖𝑡𝑜𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑎

− (𝑉𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 + 𝑉𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧) Eq. 3.7

Page 38: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

37

𝑠𝑒𝑛𝑑𝑜, 𝜌𝑐𝑜𝑚𝑝ó𝑠𝑖𝑡𝑜𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑎=

𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

𝑉𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

Eq. 3.8

%𝑣𝑜𝑙 𝑉𝑎𝑧𝑖𝑜𝑠 =𝑉𝑣𝑎𝑧𝑖𝑜𝑠

𝑉𝑣𝑎𝑧𝑖𝑜𝑠 + 𝑉𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 + 𝑉𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧

Eq. 3.9

%𝑣𝑜𝑙 𝐹𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 =𝑉𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠

𝑉𝑣𝑎𝑧𝑖𝑜𝑠 + 𝑉𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 + 𝑉𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧

Eq. 3.10

%𝑣𝑜𝑙 𝑀𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧 =𝑉𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧

𝑉𝑣𝑎𝑧𝑖𝑜𝑠 + 𝑉𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎𝑠 + 𝑉𝑚𝑎𝑡𝑟𝑖𝑧

Eq. 3.11

FIGURA 3.7. a) Corpos de prova preparados para digestão térmica; b) Forno utilizado no

procedimento; c) Corpos de prova após digestão.

Os ensaios de flexão foram realizados com objetivo de medir as variáveis respostas:

módulo de elasticidade e resistência máxima.. A máquina de ensaios universal SHIMADZU

modelo AG-X plus equipada com célula de carga de 100kN operando com velocidade de 2

mm/min foi utilizada na realização do ensaio de flexão em três pontos seguindo as

recomendações da norma ASTM D790 (2010) (Figura 3.8 a-c).

(a) (b) (c)

Page 39: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

38

FIGURA 3.8. a) Algumas das placas fabricadas; b) Ensaio de flexão e c) Corpos de prova

cortados e ensaiados.

3.2.3. Corte e preparação dos corpos de prova

Uma mesa de corte projetada e construída durante este trabalho (ver Figura 3.9) foi

utilizada para obtenção dos corpos de prova de compressão e flexão conforme respectivas

normas ASTM D695 (2007) e ASTM D790 (2010). Os corpos de prova de compressão foram

cortados e faceados tendo dimensões finais de 20mm de diâmetro e 40 mm de altura. Os

corpos de prova de flexão, de dimensões 50,8 mm x 12,7 mm, foram obtidos pelo corte de

uma placa laminada de 80 mm x 160 mm.

FIGURA 3.9. a) Vista frontal da máquina de corte; b) Vista de todo do corte / faceamento; e c)

Vista da mesa de corte linear.

(a) (b) (c)

(a) (b) (c)

Page 40: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

39

CAPÍTULO 4

RESULTADOS

4.1. Organização e Interpretação estatística dos Resultados

Os resultados estão apresentados utilizando a mesma sequência dos experimentos: (i)

análise microestrutural, e (ii) ensaios de compressão dos compósitos particulados, (iii)

digestão térmica e (iv) ensaio de flexão dos compósitos híbridos.

A análise estatística dos resultados, contendo os Planjemanentos de Experimentos

(DOE) e as Análises de Variância (ANOVA), foi realizada utilizando-se o software Minitab®.

A existência de efeito dos fatores sobre as variáveis respostas, pode ser verificado quando os

P-valores são inferiores ou iguais a 0,05. O F-valor permite identificar a relevância de cada

fator sobre a resposta avaliada, quando dois ou mais fatores são significativos. Quando efeitos

de ordem superior são significativos, os efeitos principais podem ser interpretados

conjuntamente via gráfico de interação dos fatores (Werkema e Aguiar, 1996). As condições

para validação da ANOVA foram verificadas por meio do teste de normalidade Anderson-

Darling utilizando-se os resíduos de cada variável-resposta. Neste caso, o P-valor deve ser

igual ou superior a 0,05, satisfazendo as condições de normalidade dos dados verificados.

4.2 Etapa I: Compósito Particulado

As características físicas, como geometria e tamanho, das partículas de cimento (Figura

4.1a e 4.1b) e sílica (Figura 4.1c e 4.1d) foram observadas por meio de imagens obtidas em

MEV. As imagens revelam uma geometria angular em ambas partículas, devido ao processo

de cominuição (britagem e moagem) sofrido. Nota-se que os tamanhos das partículas de

cimento são em média menores que as partículas de sílica, confirmando a classificação

granulométrica previamente realizada.

Page 41: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

40

100x

(a) (c)

500x

(b) (d)

FIGURA 4.1. Imagens de MEV das partículas de cimento (a, b) e sílica (c, d).

A dispersão das partículas dentro da matriz epóxi foi verificada por meio da inspeção

das imagens obtidas via MEV. Duas imagens foram avaliadas, uma no topo e outra na base do

corpo de prova. Cinco condições foram avaliadas, entre elas, a referência (sem partículas) e a

de maior concentração (10%) de cimento e sílica, cuja a probabilidade de decantação era

superior, em ambos endurecedores. As imagens (Figura 4.2) não revelam nenhum tipo de

decantação ou aglomeração, o que valida o processo de fabricação escolhido, garantindo

assim, uma dispersão homogênea das partículas em toda a matriz.

Page 42: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

41

Topo Base

951

Referência

951 10%

Cimento

956

Referência

956 10%

Cimento

951 10%

Sílica

FIGURA 4.2. MEV dos compósitos particulados de cimento e sílica, imagens do topo e da base do

corpo de prova a 180x.

Page 43: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

42

4.2.1. Experimento A

Os resultados obtidos para os compósitos particulados são apresentados na Tabela 4.1.

Os dados experimentais alcançaram desvios padrão (DP) e coeficientes de variação (CV)

inferiores a 5 por cento, revelando um processo de fabricação uniforme. Estes resultados

foram avaliados via Planejamento de experimento (DOE) e análise de variância (ANOVA)

em dois experimentos.

Os testes de normalidade via Anderson-Darling realizados para os dados do

Experimento A apresentaram P-valor superior a 0,05, sendo para resistência à ruptura de

0,942, módulo de elasticidade de 0,594 e densidade de 0,074. Estes valores validam os

resultados estatísticos obtidos pela ANOVA (ver Figura 4.3).

TABELA 4.1. Propriedades obtidas dos Experimento A.

PL

ICA

EN

DU

RE

C.

PA

RT

ÍC.

TE

MP

O

% M

ÁS

SIC

A

PA

RT

ÍCU

LA

Resistência máxima

[MPa]

Módulo elasticidade

[GPa]

Densidade volumétrica

[g/cm³] Médias

CV

MÉDIA DP MÉDIA DP MÉDIA DP

R1

HY

95

1

CIM

EN

TO

7

0,0 67,35 0,61 1,96 0,09 1,18 0,01 2,0%

2,5 66,19 1,02 2,11 0,01 1,19 0,01 0,9%

5,0 66,33 0,97 2,09 0,02 1,20 0,01 1,1%

7,5 66,70 1,30 2,19 0,05 1,24 0,01 1,5%

10,0 68,44 1,22 2,34 0,07 1,24 0,00 1,6%

CIM

EN

TO

28

0,0 71,91 0,30 2,14 0,03 1,17 0,00 0,6%

2,5 69,22 1,64 2,27 0,02 1,19 0,00 1,1%

5,0 70,84 0,19 2,26 0,05 1,21 0,01 1,0%

7,5 71,85 0,13 2,31 0,02 1,22 0,01 0,6%

10,0 73,63 1,01 2,55 0,07 1,25 0,01 1,5%

HY

95

6

CIM

EN

TO

7

0,0 68,94 1,61 2,14 0,04 1,16 0,01 1,9%

2,5 74,95 0,46 2,34 0,05 1,18 0,01 1,1%

5,0 75,46 0,88 2,48 0,04 1,20 0,01 1,2%

7,5 75,35 0,49 2,44 0,04 1,21 0,01 1,0%

10,0 72,21 0,15 2,42 0,03 1,22 0,00 0,6%

CIM

EN

TO

28

0,0 67,16 1,40 2,17 0,07 1,16 0,01 1,9%

2,5 72,03 1,25 2,26 0,07 1,18 0,00 1,7%

5,0 72,86 0,57 2,47 0,03 1,21 0,00 0,8%

7,5 73,80 0,86 2,45 0,05 1,21 0,00 1,2%

10,0 71,46 0,74 2,44 0,08 1,23 0,01 1,7%

R2

HY

95

1

CIM

EN

TO

7

0,0 66,22 0,61 2,06 0,09 1,17 0,01 1,9%

2,5 64,43 1,02 2,10 0,01 1,19 0,01 0,9%

5,0 65,69 0,97 2,06 0,02 1,22 0,01 1,1%

7,5 65,69 1,30 2,12 0,05 1,23 0,01 1,6%

10,0 67,27 1,22 2,22 0,07 1,25 0,00 1,6%

Page 44: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

43

CIM

EN

TO

28

0,0 71,48 0,30 2,11 0,03 1,18 0,00 0,6%

2,5 71,54 1,64 2,24 0,02 1,19 0,00 1,1%

5,0 71,11 0,19 2,19 0,05 1,20 0,01 1,0%

7,5 71,66 0,13 2,28 0,02 1,23 0,01 0,6%

10,0 72,20 1,01 2,46 0,07 1,25 0,01 1,5%

HY

95

6 C

IME

NT

O

7

0,0 68,57 1,61 2,19 0,04 1,14 0,01 1,9%

2,5 75,74 0,46 2,31 0,05 1,21 0,01 1,1%

5,0 73,97 0,88 2,42 0,04 1,20 0,01 1,2%

7,5 76,02 0,49 2,47 0,04 1,21 0,01 1,0%

10,0 71,99 0,15 2,37 0,03 1,22 0,00 0,6%

CIM

EN

TO

28

0,0 67,69 1,40 2,24 0,07 1,15 0,01 1,9%

2,5 70,66 1,25 2,30 0,07 1,18 0,00 1,7%

5,0 73,16 0,57 2,47 0,03 1,21 0,00 0,8%

7,5 72,96 0,86 2,36 0,05 1,22 0,00 1,3%

10,0 70,71 0,74 2,46 0,08 1,23 0,01 1,7%

FIGURA 4.3. Teste de normalidade Anderson-Darling para as variáveis resposta do Experimento A

teste de compressão, a) Resistência; b) Módulo de elasticidade e c) Densidade.

O resultado da ANOVA exibido na Tabela 4.2 mostra os efeitos de interações de

primeira e segunda ordem para todas as variáveis-respostas. Nota-se que os efeitos de ordem

superior significativos estão sublinhados. Os fatores principais, em negrito, também afetaram

significativamente estas propriedades apresentando P-valores menores que 0,05. Avaliando o

F-valor para os efeitos principais, verifica-se que o fator “endurecedor” é o que mais afeta as

respostas para módulo de elasticidade (129,86) e resistência (198,53), por outro lado, o fator

fração de partícula adicionada (126,74) promoveu maior variação nos valores de densidade.

Os valores de R2 superiores a 95% revelam que os modelos se adequaram satisfatoriamente

aos dados experimentais.

10-1

99

90

50

10

1

RESI_RESIST

%

Mean -3,90799E-15

StDev 0,5298

N 40

AD 0,161

P-Value 0.942

0,050,00-0,05

99

90

50

10

1

%

Mean 1,998401E-16

StDev 0,03129

N 40

AD 0,290

P-Value 0.594

0,010,00-0,01

99

90

50

10

1

RESI_DEN

%

Mean -2,22045E-17

StDev 0,005186

N 40

AD 0,670

P-Value 0.074

a) b)RESI_MOD_ELAST

c)

Page 45: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

44

TABELA 4.2. ANOVA: Experimento A.

Efeitos e Interações

Resistência

máxima

Módulo de

elasticidade

Densidade

volumétrica

F-valor P-valor F-valor P-valor F-valor P-valor

Pri

nci

pai

s Endurecedor 198,53 0,000 129,86 0,000 39,49 0,000

Tempo 42,24 0,000 13,33 0,000 0,08 0,782

Fração de Partícula 20,28 0,000 46,25 0,000 126,74 0,000

Inte

raçõ

es

Endurecedor*Tempo 235,77 0,000 30,40 0,000 0,76 0,394

Endurecedor* Partícula (%) 35,05 0,000 11,71 0,000 3,28 0,032

Tempo*Partícula (%) 1,20 0,341 1,60 0,214 1,35 0,288

Endurecedor*Tempo*Partícula (%) 1,46 0,253 0,64 0,638 0,60 0,669

R2 = 97,25 % R2 = 95,89 % R² = 96,60 %

Os gráficos de efeito das interações dos fatores são observados na Figura 4.4. O

endurecedor HY 956 promoveu uma resistência à compressão superior ao HY 951 em todas

as frações de partículas. Nota-se que o endurecedor HY 956 alcança elevada resistência em 7

dias de cura, por outro lado, o HY 951 atinge a mesma resistência em 28 dias de cura (Figura

4.4a e 4.4b). A Figura 4.4c mostra que o endurecedor HY 956 exibe módulo de elasticidade

superior ao HY 951 em todos os percentuais de partículas incorporados. A existência ou não

de interações químicas do cimento Portland na matriz epóxi ainda não pôde ser comprovado,

entretanto, o aumento do módulo elástico se deu até 7,5%, considerando o uso do HY 956,

sendo reduzido posteriormente com a inclusão de 10%. Este comportamento pode ser

atribuído à maior área superficial das partículas de cimento, que por sua vez, refletem em uma

maior área interfacial matriz-partícula. O tempo de cura não afetou o módulo de elasticidade

do polímero com HY 956, entretanto, o HY 951 apresentou um crescimento significativo de 7

para 28 dias de cura (ver Figura 4.4d). Conclui-se que o endurecedor HY 956 promove uma

polimerização da resina epóxi mais rápida do que o HY 951. A Figura 4.4e revela um

aumento de densidade em função da quantidade de partículas incorporadas.

Page 46: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

45

Page 47: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

46

Page 48: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

47

FIGURA 4.4. Experimento A: Gráficos de interação de segunda ordem dos fatores para as variáveis

respostas: a) e b) resistência à compressão; c) e d) módulo de elasticidade e, e) densidade volumétrica.

4.2.2. Experimento B

A Tabela 4.3 exibe os resultados médios, desvios-padrão e coeficientes de variância

para as variáveis-respostas investigadas no Experimento B.

TABELA 4.3. Propriedades obtidas dos Experimentos B.

RÉP

LIC

A

EN

DU

RE

C.

PA

RT

ÍC.

TE

MP

O

%

SS

ICA

PA

RT

ÍCU

LA

Resistência

máxima [MPa]

Módulo de

elasticidade [MPa]

Densidade volumétrica

[g/cm³] Médiais

C.V.

MÉDIA D.P. MÉDIA D.P. MÉDIA D.P.

R1

EX

PE

RIM

EN

TO

II

HY

95

1

CIM

EN

TO

7

0,0 67,35 0,61 1,96 0,09 1,18 0,01 2,0%

2,5 66,19 1,02 2,11 0,01 1,19 0,01 0,9%

5,0 66,33 0,97 2,09 0,02 1,20 0,01 1,1%

7,5 66,70 1,30 2,19 0,05 1,24 0,01 1,5%

10,0 68,44 1,22 2,34 0,07 1,24 0,00 1,6%

SÍL

ICA

7

0,0 67,35 0,61 1,96 0,09 1,18 0,01 2,0%

2,5 67,65 0,47 1,95 0,15 1,18 0,00 2,8%

5,0 70,25 0,49 2,11 0,07 1,21 0,01 1,4%

7,5 69,33 0,77 2,12 0,09 1,22 0,00 1,9%

Page 49: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

48

10,0 69,40 - 2,27 - 1,24 - -

R2

EX

PE

RIM

EN

TO

II

HY

95

1

CIM

EN

TO

7

0,0 66,22 0,61 2,06 0,09 1,17 0,01 1,9%

2,5 64,43 1,02 2,10 0,01 1,19 0,01 0,9%

5,0 65,69 0,97 2,06 0,02 1,22 0,01 1,1%

7,5 65,69 1,30 2,12 0,05 1,23 0,01 1,6%

10,0 67,27 1,22 2,22 0,07 1,25 0,00 1,6% S

ÍLIC

A

7

0,0 66,22 0,61 2,06 0,09 1,17 0,01 1,9%

2,5 68,26 0,47 1,77 0,15 1,18 0,00 3,0%

5,0 69,45 0,49 2,20 0,07 1,21 0,01 1,4%

7,5 69,50 0,77 2,17 0,09 1,23 0,00 1,9%

10,0 69,40 - 2,27 - 1,24 - -

A fim de validar a ANOVA para o Experimento B, o teste de Anderson-Darling foi

realizado, apresentando P-valores de 0,338 para resistência à compressão, 0,897 para módulo

de elasticidade e 0,742 para densidade, todos superiores a 0,05 validando a ANOVA (ver

Figura 4.5).

FIGURA 4.5. Teste de normalidade Anderson-Darling para as variáveis resposta do Experimento B

teste de compressão, a) Resistência; b) Módulo de elasticidade e c) Densidade.

A Tabela 4.4 exibe a ANOVA para o Experimento B, revelando efeitos significativos de

interações dos fatores (P-valores ≤0,05, sublinhados) em todas as variáveis respostas.

Observa-se também a existência de efeitos principais significativos, sendo estes não

interpretados individualmente.

10-1

99

90

50

10

1

RESI_RESIST

%

Mean -7,10543E-15

StDev 0,5011

N 20

AD 0,396

P-Value 0,338

0,10,0-0,1

99

90

50

10

1

RESI_MOD_ELAST

%

Mean 2,109424E-16

StDev 0,04667

N 20

AD 0,184

P-Value 0,897

0,010,00-0,01

99

90

50

10

1

RESI_DEN

%

Mean -8,88178E-17

StDev 0,003700

N 20

AD 0,241

P-Value 0,742

a) b) c)

Page 50: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

49

TABELA 4.4. ANOVA Experimento B.

A Figura 4.6 apresenta os gráficos de interações obtidos para o Experimento B,

mostrando os efeitos da adição de dois tipos de partículas (sílica e cimento) no polímero com

endurecedor HY 951 e 7 dias de cura. O comportamento do módulo de elasticidade é similar

para os níveis de 7,5 e 10% em ambas partículas. Observa-se que para o nível de 2,5% o

cimento Portland é superior à sílica, exibindo uma inversão quando 5% de partículas são

adicionadas (Figura 4.6b). Este comportamento poder ser atribuído às diferentes reologias do

sistema, acarretando em distribuições de partículas distintas. A maior rigidez foi obtida com

10% de partículas para ambas partículas (cimento ou sílica). A incorporação de partículas de

cimento nos níveis de 2,5%, 5% e 7,5% não obteve êxito no aumento de resistência à

compressão, diferentemente das partículas de sílica que alcançaram máxima resistência com

5%. A densidade volumétrica dos compósitos é aumentada em função da inclusão de

partículas (Figura 4.6c). O efeito da inclusão de partículas cerâmicas em matrizes poliméricas

pode ser compreendido pela regra da mistura, ou seja, quando se adiciona uma fase dispersa

mais rígida, a mesma tende a aumentar o módulo de elasticidade efetivo do polímero.

Entretanto, fatores como a aglomeração de partículas, a não homogeneização do sistema e a

interação físico-química das fases podem influenciar na obtenção de uma “dosagem

volumétrica ideal”, a qual é capaz de maximizar suas propriedades mecânicas.

Efeitos e Interações

Resistência

máxima

Módulo de

elasticidade

Densidade

volumétrica

F-valor P-valor F-valor P-valor F-valor P-valor

Partícula 53,02 0,000 1,64 0,230 3,41 0,095

Partícula (%) 5,84 0,011 13,17 0,001 130,52 0,000

Partícula*Partícula

(%) 4,81 0,020 3,69 0,043

1,26 0,349

R² = 90,53 % R² = 87,35 % R² = 98,15 %

Page 51: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

50

Page 52: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

51

FIGURA 4.6. Experimento B: Gráficos de interação dos fatores de segunda ordem para as variáveis-

respostas, a) resistência à compressão e b) módulo de elasticidade e de primeira ordem para c)

densidade volumétrica.

O gráfico que representa o comportamento mecânico tensão versus deformação das

duas condições experimentais investigadas pode ser observado na Figura 4.7. Os polímeros

reforçados com cimento Portland exibem desempenhos semelhantes com pequenas variações

para o módulo de elasticidade e resistência máxima. Uma menor tenacidade foi alcançada

com a presença de cimento Portland. O compósito epóxi/sílica apresentou uma menor rigidez

inicial, tendo a curva em formato de “S”, caracterizando uma maior tenacidade do material

quando comparado à referência e às demais condições.

Page 53: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

52

FIGURA 4.7. Comportamento mecânico sob esforços de compressão; a) endurecedor HY 956 e b)

endurecedor HY 951.

Page 54: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

53

Análises termogravimétricas foram realizadas nas condições que obtiveram o melhor

desempenho mecânico, a fim de verificar a degradação térmica e algumas inferências quanto

o comportamento químico do material principalmente perante a incorporação de partículas.

Dois ensaios para cada condição selecionada foram realizados (Figura 4.8). Entre 0°C e

150°C as partículas cerâmicas perdem umidade e de 150°C a 250°C o polímero perde os

monômeros não reagidos. Nota-se que o polímero sem partícula perde mais massa do que os

demais, o que pode ser atribuído à possível interação química entre monômeros e partículas.

A degradação química da resina epóxi se dá após os 200°C. A perda de massa é mais

acentuada para o polímero puro, subsequentemente para o polímero com adição de sílica e

cimento. De 380oC a 600oC, o polímero contendo 10% de cimento demonstra uma

estabilidade térmica superior aos demais, podendo ser atribuído a existência de ligações

químicas entre a matriz e o cimento Portland, como previsto por Panzera et al. (2010).

FIGURA 4.8. Gráfico da TGA (Análise Termogravimétrica) das condições que obtiveram melhor

desempenho mecânico.

Page 55: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

54

4.3. Etapa II: Compósitos híbridos

A Etapa II da pesquisa consiste em investigar a adição de partículas em um compósito

laminado. Estes compósitos híbridos têm como matriz os polímeros reforçados com partículas

estudados na Etapa I. Duas frações fibra/matriz foram avaliadas durante a fabricação dos

laminados (Tabela 3.2). A digestão térmica foi utilizada a fim de verificar as frações

volumétricas fibra/matriz reais, devido ao possível vazamento da matriz durante o processo de

fabricação. Neste caso, apenas as condições de referência (sem partículas) foram testadas,

visto que as partículas e fibras não podem ser separadas após a digestão. Duas amostras foram

testadas em cada condição e os resultados teórico, real, sem e com os vazios e defeitos, estão

exibidos na Tabela 4.5. No experimento C, a fração real possui uma porcentagem maior de

fibras do que a fração teórica devido a aplicação de pressão uniaxial ou de vácuo. A aplicação

de vácuo no processo de fabricação (valores sublinhados Tabela 4.5) promoveu a expulsão de

matriz em maior quantidade que a pressão uniaxial (valores em negrito Tabela 4.5).

Entretanto, uma maior porcentagem de vazios e defeitos foi verificada nas condições que não

foram fabricadas com vácuo.

O Experimento D exibe uma grande variação da fração fibra/matriz fabricada para

teórica e real. Os compósitos foram fabricados com uma maior quantidade de matriz, a qual

durante o processo ocorre uma perda devido a compactação do laminado e o acúmulo nas

bordas. Portanto, é de suma importância realizar uma análise termogravimétrica (TGA) ou

digestão térmica para avaliar a real densidade, volume de vazios e imperfeições além da

fração volumétrica fibra/matriz. Ressalta-se que a condição de menor fração volumétrica de

matriz possui maior porcentagem de vazios e imperfeições, ou seja, o excesso de matriz

diminui os defeitos em valores significativos. As frações de fibra/matriz utilizadas quando da

adição de partículas foram semelhantes aos percentuais considerados para matriz sem reforço

(Tabela 4.5).

Page 56: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

55

TABELA 4.5. Digestão térmica dos compósitos laminados.

% F

ibra

s

fab

rica

da

% M

atri

z

fab

rica

da

Méd

ia %

fib

ras

teó

rica

Méd

ia %

mat

riz

teó

rica

Den

sid

ade

com

sito

teó

rica

[g

/cm

³]

Den

sid

ade

com

sito

vo

l.

[g/c

m³]

% m

édia

vaz

ios

% M

édia

fib

ras

% M

édia

mat

riz

EXPERIMENTO

C

7DIAS

SEM VAC 48,6 51,4 50,5 49,5 1,86 1,76 5,5 47,8 46,8

7DIAS

COM VAC 48,6 51,4 50,9 49,1 1,87 1,77 5,2 48,3 46,5

28DIAS

SEM VAC 48,6 51,4 50,6 49,4 1,86 1,73 7,1 47,0 45,9

28DIAS

COM VAC 48,6 51,4 53,9 46,1 1,91 1,79 6,2 50,5 43,3

EXPERIMENTO

D

28DIAS

SEM VAC 48,6 51,4 51,7 48,3 1,88 1,72 8,4 47,3 44,2

28DIAS

SEM VAC 29,6 70,4 39,1 60,9 1,71 1,65 3,3 37,8 58,9

Page 57: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

56

4.3.1. Experimento C

Os resultados de flexão e densidade do Experimento C incluindo médias, desvios

padrão e coeficiente de variação estão mostrados a Tabela 4.6.

TABELA 4.6. Ensaio de flexão Experimento C.

RÉP

LIC

A

TEM

PO

CU

O

POSIÇÃO

Resistência à ruptura [MPa]

Módulo de Elasticidade [GPa]

Densidade Volumétrica [g/cm³]

MÉDIA C.V.

MÉDIA D.P. MÉDIA D.P. MÉDIA D.P.

R1

7

SEM

SEM 356,88 9,32 16,16 0,47 1,75 0,00 1,9%

SUPERIOR 337,01 22,32 15,70 0,55 1,74 0,01 3,6%

INFERIOR 351,53 24,64 16,71 1,07 1,75 0,02 4,8%

COM 357,96 21,02 17,42 0,54 1,79 0,03 3,5%

CO

M

SEM 371,27 42,12 18,07 0,68 1,75 0,03 5,5%

SUPERIOR 321,82 10,15 16,88 0,67 1,72 0,01 2,6%

INFERIOR 276,57 33,16 14,70 2,10 1,70 0,04 9,6%

COM 245,52 14,01 14,77 0,33 1,71 0,02 3,0%

28

SEM

SEM 402,56 28,52 16,73 0,79 1,72 0,02 4,3%

SUPERIOR 466,69 32,89 17,71 0,94 1,76 0,02 4,6%

INFERIOR 429,78 21,30 18,29 0,45 1,75 0,01 2,6%

COM 459,43 25,84 18,16 0,19 1,78 0,01 2,5%

CO

M

SEM 448,78 10,65 18,79 0,53 1,78 0,01 1,9%

SUPERIOR 394,46 10,65 17,54 0,53 1,73 0,01 2,0%

INFERIOR 356,62 14,56 16,74 0,08 1,74 0,02 1,8%

COM 361,62 17,24 17,05 0,40 1,73 0,01 2,5%

R2

7

SEM

SEM 371,03 9,32 16,77 0,47 1,75 0,00 1,8%

SUPERIOR 353,95 22,32 15,88 0,55 1,73 0,01 3,4%

INFERIOR 322,26 24,64 16,33 1,07 1,74 0,02 5,0%

COM 388,27 21,02 16,70 0,54 1,75 0,03 3,4%

CO

M

SEM 422,92 42,12 18,97 0,68 1,79 0,03 5,0%

SUPERIOR 313,62 10,15 16,37 0,67 1,70 0,01 2,6%

INFERIOR 275,09 33,16 16,54 2,10 1,74 0,04 9,1%

COM 260,57 14,01 14,85 0,33 1,71 0,02 2,8%

28

SEM

SEM 410,06 28,52 17,30 0,79 1,75 0,02 4,2%

SUPERIOR 491,24 32,89 18,25 0,94 1,76 0,02 4,4%

INFERIOR 403,31 21,30 18,62 0,45 1,75 0,01 2,7%

COM 434,05 25,84 17,94 0,19 1,76 0,01 2,6%

CO

M

SEM 464,56 10,65 18,70 0,53 1,79 0,01 1,8%

SUPERIOR 384,15 10,65 17,30 0,53 1,69 0,01 2,1%

INFERIOR 356,25 14,56 16,85 0,08 1,72 0,02 1,8%

COM 390,58 17,24 17,39 0,40 1,74 0,01 2,4%

Page 58: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

57

Testes de normalidade via Anderson-Darling foram realizados a partir dos resíduos do

ensaio de flexão e densidade do Experimento C. A resistência à ruptura (0,651), o módulo de

elasticidade (0,427) e densidade (0,516) apresentaram P-valores superiores a 0,05, o que

valida o tratamento estatístico (ver Figura 4.9).

FIGURA 4.9. Teste de normalidade Anderson-Darling para as variáveis resposta do Experimento C

teste de flexão, a) Resistência; b) Módulo de elasticidade e c) Densidade.

A Tabela 4.7 apresenta a ANOVA para o Experimento C. Os valores de R² de 81% para

densidade, 91% para módulo de elasticidade e 96% para resistência demonstram que os dados

experimentais se ajustaram adequadamente aos modelos estatísticos. As interações de segunda

ordem foram sublinhadas, enquanto os fatores principais foram destacados em negrito na

Tabela 4.7. Os F-valores indicam que o tempo de cura é o fator que mais interfere nos

resultados de resistência à ruptura (209,32) e módulo de elasticidade (65,09), enquanto para

resistência (56,78) e densidade (10,61) o fator vácuo foi o mais relevante.

200-20

99

90

50

10

1

RESI_RESIST

%

Mean 8,881784E-15

StDev 11,66

N 32

AD 0,271

P-Value 0,651

10-1

99

90

50

10

1

RESI_MOD

%

Mean 1,887379E-15

StDev 0,3234

N 32

AD 0,360

P-Value 0,427

0,020,00-0,02

99

90

50

10

1

RESI_DEN

%

Mean -9,02056E-17

StDev 0,01122

N 32

AD 0,321

P-Value 0,516

a) b) c)

Page 59: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

58

TABELA 4.7. ANOVA Experimento C.

Efeitos e Interações Resistência Módulo de elasticidade Densidade volumétrica

F-valor P-valor F-valor P-valor F-valor P-valor

Pri

nci

pai

s Tempo 209,32 0,000 65,09 0,000 2,47 0,135

Vácuo 56,78 0,000 1,51 0,237 10,61 0,005

Posição 20,27 0,000 6,88 0,003 6,16 0,005

Inte

raçõ

es

Tempo*Vácuo 0,02 0,903 0,68 0,423 0,42 0,525

Tempo*Posição 4,18 0,023 3,60 0,037 0,30 0,827

Vácuo*Posição 26,54 0,000 24,53 0,000 11,49 0,000

Tempo*Vácuo*Posição 4,16 0,023 3,58 0,038 0,97 0,431

R2 = 96,43 % R2 = 91,96 % R² = 81,45 %

As Figuras 4.10a e 4.10b exibem os efeitos de interação dos fatores sobre a resitência à

ruptura e módulo de elasticidade, respectivamente. Nota-se que o fator tempo promove um

aumento significativo na resistência à ruptura e módulo de elasticidade aos 28 dias de cura,

conforme identificado na Etapa I deste trabalho. Ressalta-se que a variável-resposta densidade

não foi afetada pelo fator tempo, sendo este um comportamento já esperado. O processo de

fabricação sem a utilização de vácuo, em condições que possuem partículas, permitiu alcançar

maiores valores de resistência e módulo dos compósitos. A fabricação utilizando-se vácuo

tende a expulsar um pequeno volume de matriz, o que pode prejudicar a adesão interlaminar

principalmente quando se tem a inclusão de partículas. Por outro lado, os compósitos

fabricados com vácuo e sem partículas alcançaram propriedades mecânicas superiores às

demais condições, o que pode ser atribuído a uma melhor compactação, reduzindo o número

de vazios e retirando o exceso de matriz. Esta condição, por sua vez, é aquela que exibe a

maior densidade (ver Figura 4.10c).

O fator posição das partículas adicionadas afeta significativamente as propriedades

mecânicas e densidades dos compósitos. A resistência à flexão exibe maiores valores quando

as partículas são adicionadas apenas na parte superior e na totalidade em compactação

uniaxial. Já para o módulo de elasticidade, a adição de partículas em todas as camadas

alcançou maiores valores de rigidez. As partículas podem aumentar a resistência e rigidez da

matriz polimérica principalmente sob esforços de compressão mecânica. Em geral, os

compósitos fabricados sem partículas e com vácuo exibiram um desempenho mecânico

superior às demais condições. As variações de densidade em função do processo de

Page 60: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

59

fabricação e posicionamento de partículas refletem a complexidade do sistema na

compactação das fases presentes. Estes resultados sugerem que o uso de partícula é benéfico

desde que o volume da fase polimérica se mantenha constante. A falta de matriz com a

inclusão de partículas não é portanto recomendada, pois o desempenho mecânico é

significativamente reduzido. Além disso, ressalta-se que o processo de fabricação à vácuo

expulsa a resina, não sendo recomendado quando partículas são adicionadas. Outros processos

de fabricação que envolvem infusão de resina podem ser mais adequados para compósitos

híbridos.

Page 61: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

60

FIGURA 4.10. Gráficos de interação dos fatores do Experimento C; a) posição vs. vácuo vs. tempo

para resistência; b) posição vs. vácuo vs. tempo para módulo de elasticidade e c) posição vs. vácuo

para densidade.

Page 62: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

61

4.3.2. Experimento D

A eficiência da adição de partículas na metade superior do laminado pôde ser

comprovada pelo Experimento D. Este tem como objetivo, avaliar o efeito de duas diferentes

frações volumétricas de fibra/matriz e diferentes porcentagens de adição de partículas na

metade superior do laminado. A Tabela 4.8 mostra as médias, desvios-padrão e os

coeficientes de variação dos resultados encontrados para as duas réplicas.

TABELA 4.8. Ensaio de flexão Experimento D.

RÉPLICA FRAÇÃO

FIBRA / MATRIZ

PA

RTÍ

CU

LA (

%)

Resistência à ruptura [MPa]

Módulo de elasticidade [GPa]

Densidade Volumétrica [g/cm³] MÉDIA

C.V.

MÉDIA D.P. MÉDIA D.P. MÉDIA D.P.

R1

48,6F/51,4M

0,0 437,34 28,54 17,13 1,35 1,73 0,02 5,2%

2,5 484,55 9,01 17,45 0,61 1,75 0,02 2,1%

5,0 437,09 27,55 17,84 0,64 1,75 0,03 3,9%

7,5 422,37 36,72 17,00 1,26 1,74 0,04 6,0%

10,0 435,25 36,29 17,63 0,29 1,79 0,03 3,8%

29,6F/70,4M

0,0 411,91 3,82 14,56 0,63 1,65 0,02 2,2%

2,5 425,82 18,31 14,33 0,31 1,65 0,06 3,4%

5,0 387,48 16,43 14,48 0,40 1,63 0,09 4,2%

7,5 417,15 6,34 13,86 0,73 1,66 0,03 2,8%

10,0 376,24 17,10 12,62 0,92 1,60 0,05 4,9%

R2

48,6F/51,4M

0,0 407,07 85,69 16,92 1,19 1,69 0,03 9,9%

2,5 475,94 12,18 17,11 0,18 1,75 0,02 1,6%

5,0 452,26 27,60 18,21 0,29 1,78 0,03 3,2%

7,5 467,30 3,52 17,86 0,11 1,76 0,01 0,7%

10,0 422,52 29,72 17,21 0,29 1,77 0,01 3,1%

29,6F/70,4M

0,0 404,03 20,42 15,06 0,25 1,65 0,01 2,5%

2,5 423,41 19,41 14,50 0,49 1,67 0,01 2,8%

5,0 399,79 15,23 13,84 0,49 1,63 0,01 2,7%

7,5 427,43 33,39 13,82 0,80 1,66 0,01 4,7%

10,0 405,58 17,45 13,52 1,01 1,64 0,03 4,4%

A normalidade dos resíduos obtidos na ANOVA foi testada via Anderson-Darling

exibindo P-valores superiores a 0,05 em todas as propriedades, validando a análise estatística

(Figura 4.11).

Page 63: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

62

FIGURA 4.11. Teste de normalidade Anderson-Darling para as variáveis resposta do Experimento D:

a) Resistência à ruptura; b) Módulo de elasticidade e c) Densidade volumétrica.

A ANOVA, por sua vez, identificou o efeito de fatores principais sobre a resistência à

ruptura, e de interações de segunda ordem sobre o módulo de elasticidade e densidade

volumétrica dos compósitos (ver P-valores em negrito na Tabela 4.9). Os valores de R2

superiores a 84.58% indicam que os ajustes dos dados experimentais foram satisfatórios. Os

F-valores (sublinhados) apontam que o fator fração volumétrica exibiu um maior efeito sobre

as variáveis-respostas avaliadas.

TABELA 4.9. ANOVA Experimento D.

A Figura 4.12 apresenta os gráficos de efeitos significativos para cada variável-resposta.

Nota-se que a maior resistência mecânica foi obtida quando os compósitos foram fabricados

com 51.4vol% de matriz (Figura 4.12ai) e 2.5% em massa de partículas (Figura 4.12aii). A

maior rigidez dos compósitos foi alcançada com a incorporação de 5% em massa de partículas

e uma fração volumétrica de matriz de 51.4%. Verifica-se um efeito positivo das partículas no

aumento do módulo de elasticidade somente quando a fração volumétrica de 48.6F/51.4M%

foi considerada (Figura 4.12b). Este comportamento condiz com os resultados obtidos na

200-20

99

90

50

10

1

RESI_RESIST

%

Mean -3,12639E-14

StDev 10,99

N 20

AD 0,210

P-Value 0,837

0,50,0-0,5

99

90

50

10

1

RESI_MOD

%

Mean -6,21725E-16

StDev 0,2666

N 20

AD 0,160

P-Value 0,938

0,020,00-0,02

99

90

50

10

1

RESI_DEN

%

Mean -5,55112E-17

StDev 0,01174

N 20

AD 0,238

P-Value 0,750

a) b) c)

Efeitos e Interações

Resistência a

ruptura

Módulo de

elasticidade

Densidade

volumétrica

F-valor P-valor F-valor P-valor F-valor P-valor

Fração 28,70 0,000 422,48 0,000 220,17 0,000

Partícula (%) 5,15 0,016 3,12 0,066 1,78 0,210

Fração*Partícula

(%) 1,38 0,307 5,27 0,015

5,05 0,017

R² = 84,58 % R² = 97,85 % R² = 96,12 %

Page 64: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

63

Etapa I deste trabalho. De fato, a inclusão de partículas rígidas em compósitos laminados

poliméricos aumenta seu módulo de elasticidade desde que se garanta uma correta reologia

partícula-matriz entre camadas. O gráfico da Figura 4.12c mostra a variação da densidade dos

compósitos em função da fração volumétrica das fases e percentual de partículas, revelando

novamente a complexidade do sistema após o processo de compactação.

Page 65: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

64

FIGURA 4.12. Gráficos de interação dos fatores; a) Primeira ordem fração volumétrica e % partícula

em resistência à ruptura; b) Segunda ordem fração volumétrica vs. % partícula em módulo de

elasticidade c) Segunda ordem fração volumétrica vs. % partícula para densidade.

Page 66: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

65

CAPÍTULO 5

CONCLUSÃO

A adição de partículas nos compósitos laminados tem se mostrado promissor perante as

propriedades mecânicas à flexão. Foram avaliadas as partículas de sílica e cimento na matriz

epóxi, como compósito particulado em testes de compressão. Conhecendo o comportamento

mecânico desses particulados, os mesmos foram aplicados sobre camadas de tecidos de fibras

de vidro bidirecionais em diferentes configurações e testados à flexão.

O presente trabalho mostrou que o uso de micropartículas, tanto de cimento quanto de

sílica, permite o aumento do desempenho mecânico do polímero epóxi. O tamanho das

partículas e os processos de fabricação utilizados podem ser considerados adequados,

exibindo dispersão uniforme e ausência de bolhas e macro poros internos. Os dois

experimentos A e B realizados na etapa I deste trabalho permitiram as seguintes conclusões:

i. Os testes de normalidade via Anderson Darling validaram as Análises de variância

realizadas nos experimentos.

ii. A maior resistência à compressão foi obtida utilizando-se endurecedor HY 956 e 7,5%

de partículas. Avaliando apenas aos 28 dias de cura, o particulado como endurecedor

HY 951 mostrou-se ter um processo de cura lento, alcançando aos 28 dias de cura uma

resistência similar ao HY 956, principalmente com a incorporação de 10% de partículas.

Por outro lado, as condições experimentais contendo 2,5%, 5,0% e 7,5% de partículas

em conjunto com HY 951 obtiveram uma resistência à compressão inferior.

iii. Os valores do módulo de elasticidade foram bastante semelhantes em todas as

condições, sendo observado um pequeno aumento para o endurecedor HY 951 quando

comparado 7 e 28 dias.

iv. A densidade volumétrica varia em função da quantidade de partículas cerâmicas

adicionadas, ou seja, quanto maior a quantidade, maior a densidade dos polímeros

reforçados.

v. O comportamento mecânico (tensão x deformação) do catalizador HY 956 exibe uma

característica diferente do HY 951, exibindo uma curva em formato de “S”, mostrando

Page 67: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

66

que no início do regime elástico, até 0,5% de deformação, o mesmo não oferece rigidez

mecânica, podendo ser atribuído ao tipo de estrutura atômica do polímero. A estrutura

cristalina dos polímeros não foi avaliada neste trabalho.

vi. A análise termogravimétrica (TGA) revelou comportamentos diferentes entre os níveis

de adição de partículas. A inclusão de 10% ofereceu uma menor perda de massa do

polímero reforçado com cimento Portland, indicando uma possível interação química

entre matriz e particulado.

A incorporação de partículas à matriz epóxi em níveis adequados pode promover o

aumento da resistência à compressão e módulo de elasticidade. Tanto a sílica quanto o

cimento Portland aumentaram as propriedades mecânicas dos compósitos particulados, sendo

o cimento mais adequado devido ao seu baixo custo e à possibilidade de realizar reações

químicas com o polímero. O catalizador HY 951 exibiu um tempo de polimerização mais

lento, entretanto, o mesmo demonstrou ser o mais indicado devido ao baixo custo e as

propriedades mecânicas finais. O tempo de cura afetou significativamente as propriedades

mecânicas dos compósitos contendo diferentes endurecedores. Em se tratando da obtenção de

uma matriz epóxi para fabricação de compósitos híbridos, a inclusão de 10% de partículas de

cimento Portland com endurecedor HY 951 e tempo de cura de 28 dias caracteriza uma

condição experimental bastante promissora para tal aplicação.

A Etapa II deste trabalho avaliou o efeito do uso da matriz polimérica reforçada com

partículas, da etapa I, em um compósito laminado de fibra de vidro. Dois experimentos (C e

D) foram realizados. As principais conclusões do Experimento C são:

i. A aplicação de vácuo no processo de fabricação promove a retirada de uma quantidade

de fase matriz do laminado, deixando-o com alta concentração de partículas por volume

de matriz, tornando-o menos resistente e rígido. Fica evidente que o uso de vácuo

promove o aumento das propriedades mecânicas quando não há a presença de

partículas.

ii. Os laminados testados aos 28 dias de cura com endurecedor HY 951 exibem resistência

à flexão e módulo de elasticidade superiores.

iii. O local da adição das partículas interfere significativamente na resistência mecânica. O

melhor desempenho mecânico é obtido quando as partículas foram adicionadas apenas

na metade superior, sem o uso de vácuo.

Page 68: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

67

O Experimento D investigou a fração volumétrica de fibra e diferentes porcentagens de

partículas incorporadas na matriz apenas na metade superior devido ao benefício revelado

pelo Experimento C. As conclusões do experimento D são:

i. A fração 48,6F/51,4M alcançou um comportamento mecânico superior, sendo atribuído

à menor quantidade de matriz presente no compósito laminado.

ii. A inclusão de 2,5% de partículas promoveu uma maior resistência à flexão, enquanto o

maior módulo de elasticidade foi obtido com 5,0% de partículas.

iii. As densidades dos compósitos variaram em função da quantidade de partícula

adicionada.

Finalmente, o trabalho permitiu verificar e comparar o efeito do uso de partículas

cerâmicas dentro da fase matriz separadamente e, posteriormente, dentro de um compósito

laminado de fibras de vidro. Nota-se que o uso de partícula é indicado para o aumento de

propriedades mecânicas de compósitos laminados principalmente quando se utiliza um

processo de laminação manual (hand lay-up) sem o uso de bomba de vácuo, ou seja, quando a

quantidade de fase matriz se mantém inalterada e por sua vez garantindo a adesão entre as

fases. Concluiu-se que é possível aumentar o desempenho mecânico de compósitos laminados

pela incorporação de micropartículas cerâmicas em percentuais adequados, principalmente em

regiões sob carregamentos de compressão.

Page 69: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

68

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABOT, J. L., SONG, Y., SCHULZ, M. J., SHANOV, V. N.. Novel carbon nanotube

arrayreinforced laminated composite materials with higher interlaminar

elastic properties, Compos Scie Technol, 68(13):2755–2760, 2008.

ABOT, J. L.. On the mechanical response of carbon nanotube array laminated

composite materials, J Reinf Plast Compos 2010; 29:3401–3410.

ASTM Standard D695 – 02, 2007. “Standard test method for compressive

properties of rigid plastics.” ASTM International, United States, 2007.

ASTM Standard D790. Standard Test Methods for Flexural Properties of

Unreinforced and Reinforced Plastics and Electrical Insulating Materials

ASTM Inter doi: 10.1520/D0790-10, 2010.

ASTM Standard D792:2008. Standard Test Methods for Density and Specific

Gravity (Relative Density) of Plastics by Displacement, ASTM Int doi:

10.1520/ D792-08.

BANDEIRA, C. F. et al. Thermogravimetry use for determining the fiber. Anais do

Congresso: 1st Brazilian Conference on Composite Materials – BCCM1. p.

0-4, 2012.

BOONYAPOOKANA, A., NAGATA, K., MUTOH, Y.. Fatigue crack growth

behavior of silica particulate reinforced epoxy resin composite, Compos Sci

Technol; 71:1124-1131, 2011.

CALLISTER, W. D. Material science and engineering: an introduction. 7. Ed.

[S.1.]: Jhon Wiley and Sons, Inc, 2007.

DETOMI, A. C., SANTOS, R. M., FILHO, S. L. M. R., MARTUSCELLI, C. C.,

PANZERA, T. H., SCARPA, F.. Statistical effects of using ceramic particles

in glass fibre reinforced. Materials and Design, 55, 463–470, 2014.

ECOCOMP. Cashew nut shells used in biocomposites snowboard. 5th International

Conferefunce on Sustainable Materials, Polymers and Composites, 2012.

FERNANDES, T.. Preparação e caracterização de novos materiais compósitos

baseados em fibras de celulose. Universidade de Aveiro: Departamento de

Quimica, 2008.

Page 70: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

69

FU, S. Y., FENG, X. Q., LAUKE, B., MAI, Y. W.. Effects of particle size,

particle/matrix interface adhesion and particle loading on mechanical

properties of particulate–polymer composites, Compos Part B: Eng 2008;

39:933–961.

GAY D., HOA S. V., TSAI S. W. Composite Materials: Design and Applications.

Springer, 2003.

GIANCASPRO, J., PAPAKONSTANTINOU, C., NAZIER, M., BALAGURU, P..

Aerospace technology for strengthening of bridges, Constr Build Mater

2009; 23:748–757.

GIOVEDI, C.; MARINUCCI, G.; ROUSE, P. R. Determinação das frações

volumétricas de compósito de fibra de carbono e matriz epóxi por diferentes

metodologias. Anais do congresso: XVI Congresso Brasileiro de Engenharia

e Ciências dos Materiais, 2004.

HIBBELER, R. C. Resistência dos Materiais. 8ª ed. PEARSON, 2005

KALIA, S. K.. Pretreatments of natural fibers and their applications as reinforcing

material in polymer composites - A review . Polymer Engineering and

Science, pg. 1253-1272, 2009.

KOSTOPOULOS, V., KARAPAPPAS, P., LOUTAS, T., VAVOULIOTIS, A.,

PAIPETIS, A., TSOTRA, P.. Interlaminar fracture toughness of carbon

fibre-reinforced polymer laminates with nanoand micro-fillers, Strai,

47:269–282, 2001.

LAI, C. R.. Palm-oil-based unsaturated polyester. Plastics Research Online, 2013.

MARQUES, A. T.. Apontamentos das Aulas Teóricas de Materiais Compósitos.

Porto, 2012.

MANJUNATHA, C. M. et al. The effect of rubber micro-particles and silica nano-

particles on the tensile fatigue behaviour of a glass-fibre epoxy composite.

Journal of Materials Science, v. 44, n. 1, p. 342-345, 2008.

PANZERA, T. H.; SABARIZ, A. L. R. ; Strecker K ; BORGES, P. H. R. ;

WASCONCELOS, D. C. L. ; VASCONCELOS, W. L. . Propriedades

mecânicas de materiais compósitos à base de cimento Portland e resina

epoxi. Cerâmica (São Paulo. Impresso), v. 56, p. 77-82, 2010.

PETHRICK, R. A., MILLER, C., RHONE, I.. Influence of nanosilica particles on

Page 71: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

70

the cure and physical properties of an epoxy thermoset resin, Polym Int

2009; 59:236-241.

REINHART, T.. Composites (Vol. 1). USA: ASM International, 1987.

ROMÃO, C. M.. Compósitos de matriz termoplástica de baixa viscosidade

reforçados com fibras naturais de origem vegetal. Porto: Faculdade de

Engenharia da Universidade do Porto, 2013b.

ROMÃO, C.. Estudo do comportamento mecânico de materiais compósitos de

matriz polimérica reforçados com fibras naturais. Porto: Faculdade de

Engenharia da Universidade do Porto, 2013a.

SANTOS, J. C.. Hybrid glass fiber reinforced composites with micro. Materials and

Design, 65, 543–549, 2015.

SCHWARTZ, M.. Composites Marerials Handbook. Mc-Graw-Hill Book

Company, 1984.

SHIMOKAWA, T., KAKUTA, Y., SAEKI, D., KOGO, Y.. Carbon plain-weave

fabric low temperature vacuum cure epoxy composite: static and fatigue

strength at room and high temperatures and practicality evaluation, J

Compos Mater 2007; 41:2245–2265.

SILVA, L. J., PANZERA, T. H., CRISTOFORO, A. L., RUBIO, J. C. C., SCARPA,

F. Micromechanical analysis of hybrid composites reinforced with

unidirectional natural fibers, silica microparticles and maleic anhydride.

Materials Research, 15, 1003-1012, 2012.

SPLASH, E. R.. Based on Alga-base polymers Kicks Off, 2013.

STRINGER, L. G. Optimization of the wet lay-up/vacuum bag process for the

fabrication of carbon fibre epoxy composites with high fibre fraction and

low void content. Composites, v. 20, n. 5, p. 441-452, 1989.

TORRES, R. B.. Desenvolvimento de compósitos híbridos de fibra de vidro e

micropartículas de sílica e cimento para uso em caneleiras. Dissertação de

Mestrado. São João Del Rei, Brasil, 2013.

TSAI, J. L., HUANG B. H., CHENG Y. L.. Enhancing fracture toughness of

glass/epoxy composites by using rubber particles together with silica

nanoparticles, J Compos Mater; 43:3107–3123, 2009a.

TSAI, J.-L.; CHENG, Y.-L. Investigating Silica Nanoparticle Effect on Dynamic

Page 72: DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO HÍBRIDO CONTENDO … · fibras de vidro e partículas de cimento ou sílica. Planejamentos fatoriais de experimentos (DOE-Design of Experiment) foram

71

and Quasi-static Compressive Strengths of Glass Fiber/Epoxy

Nanocomposites. Journal of Composite Materials, v. 43, n. 25, p. 3143-

3155, 2009b.

VENTURA, A. M. F. M.. Os Compósitos e a sua aplicação na Reabilitação de

Estruturas metálicas. C.Tecn. Mat., Lisboa, v. 21, n. 3-4, 2009.

YANGA, Y. B.. Recycling of composite materials. Elsevier,2011.