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Desfiadeiras de Siri

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Este foi meu primeiro porjeto gráfico de livro. Com miolo impresso em papel Pólen Soft e capa em cartão supremo com laminação brillho. Este projeto primou por uma diagramação clássica de rigor com o uso da tipografia Garamond Pro, para o texto corrido, e da tipografia Zap Fino para o título. Em alguns momentos e graciosas vinhetas, da mesma tipogradia do título, são usadas para dar o tom de algo feito manualmente, como é o caso do desfiar do Siri.

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Desfiadeirasde

Siri. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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A O G C

Solange Machado de Souza

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Cooperativa

Desfiadeiras de

SiriA Organização e a

Gestão do Conhecimento

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Cooperativa

Desfiadeiras de

SiriA Organização e a

Gestão do Conhecimento

Solange Machado de Souza

Editora do AutorVitória2008

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Copyright©2008 Solange Machado de SouzaDireitos desta edição reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19.02.98.

É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, da editora.

Capa e Editoração Weberth José de Souza Freitas

NormalizaçãoAna Maria Ramos Pacheco

Revisão de textoDeolinda Machado

FotosSolange Machado de Souza

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP).

Gráfica Santo AntônioRua Pedro Botti, 81 Consolação Vitória ES

Tel (27) 3232 1266Fax (27) 3223 3930

[email protected]

Foi feito depósito legalImpresso no Brasil / Printed in Brazil

2008

Souza, Solange Machado de. Cooperativa desfiadeiras de siri : a organização e a gestão do conhecimento / Solange Machado de Souza. – Vitória : Ed. do Autor, 2008 77 p. : il. ; 19 cm.

ISBN 978-58-908138-0-4 1. Gestão do conhecimento. 2. Desfiadeiras de siri. 3. Cooperativa. 4. Ilha das Caieiras - Vitória. I. Souza,Solange Machado de. II. Título. CDD 658.401

S719c

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“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida”

Rei Salomão

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Agradecimentos

Este livro é fruto de um trabalho produzido em 2006, ori-ginalmente, como monografia para obtenção do título

de especialista em Gestão Estratégica do Conhecimento e Ino-vação, junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Informação da Universidade Federal do Espírito Santo / Ufes.

Algumas pessoas são responsáveis, de forma mais direta, pela conclusão deste projeto. Em especial agradeço ao meu esposo, Edson, pelo apoio contínuo em todos os meus empre-endimentos e a minha mãe, Deolinda, que solícita, revisou o texto final contribuindo com algumas sugestões. Aos meus filhos Victor, Thaís e Esther pelo carinho e compreensão constantes. Aos professores do curso de pós-graduação pelas informações compartilhadas que agregaram conhecimento e alimentaram meu desejo de registrar essa pequena obra. A amiga Ana Maria Ramos Pacheco por seus conhecimentos e cooperação na normalização do texto. Ao jovem profissional Weberth José de Souza Freitas pelo seu talento demonstrado na editoração e idealização da capa. Ao escritor José Tatagiba pelo incentivo, e pela colaboração cedendo-me a cópia do Esboço da Planta da Ilha da Victoria parte integrante de uma de suas obras. As queridas companheiras da Biblioteca Municipal Adelpho Poli Monjardim pela amizade e apoio.

A Deus toda a glória.

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Sumário

Apresentação 13

Introdução 17

A era do conhecimento 21

A gestão do conhecimento 27

A Ilha das Caieiras 33

A preservação do manguezal e a cata do siri 39

As desfiadeiras de siri 45

Sociedade cooperativa 55

A cooperativa e a comunidade 59

Marca como estratégia de marketing 69

Conclusão 73

Referências 75

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Apresentação

Eis aqui a prova mais evidente e clara de como a universidade pública - esse espaço tão escasso e, às

vezes, inatingível para a maioria dos cidadãos brasileiros - deve trilhar seu percurso para que a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão se torne uma reali-dade. Assim como, para que cumpra sua missão social de contribuir para a solução dos problemas socioeconômicos da vida moderna, a partir da “permissão de acesso” aos conhecimentos produzidos em seu ambiente.

A obra que temos oportunidade de conhecer neste mo-mento é resultado da dedicação, esforços e estudos de So-lange Machado de Souza, bibliotecária e especialista em Gestão Estratégica do Conhecimento e Inovação, ambos os títulos conferidos pela Universidade Federal do Espírito Santo, uma profissional sempre envolvida no compromisso de traduzir para a sociedade e inserir no cotidiano os co-nhecimentos que sua trajetória pela Universidade permitiu-lhe assimilar. Tal prática evidencia não só sua competência para a produção do conhecimento técnico e científico, mas também o engajamento na socialização desses conhe-

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cimentos para grupos sociais distintos, o que contribui, sobremaneira, para que alcancem autonomia e dignidade.Para muito além de tudo isso, a pesquisa aqui socializada revela-nos como no cotidiano, a “dobradinha” teoria x prá-tica é viável e concretizável. A experiência da Cooperativa Desfiadeiras de siri permite-nos destacar questões relevan-tes sobre A Organização e A Gestão do Conhecimento:

H no mundo atual dos negócios, sua gestão é funda-mental para dar sustentabilidade à sobrevivência da or-ganização para que seus objetivos estratégicos e táticos sejam atingidos;

H desconhecer o ambiente externo e a sua potenciali-dade é a receita para o fracasso, pois representa despender esforços redundantes e, muitas vezes, ineficazes em suas atividades rotineiras e imprevistas;

H quando vinculado às pessoas, numa economia in-tensiva em conhecimento, adquire características de um bem valioso, às vezes escasso, mas que idealmente deve ser compartilhado;

H não é apenas nas pessoas que reside o conhecimento, embora delas se originem e dependam para progredir, ou seja, procedimentos, políticas, estruturas, marcas, paten-tes e relacionamentos são igualmente manifestações de conhecimento codificado ou intrínseco das organizações.

Nesse emaranhado de surpresas, é válido relembrar que

aquele que conhece o inimigo e a si mesmo, lutará cem batalhas sem perigo de derrota; para aquele que não co-

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nhece o inimigo, mas conhece a si mesmo, as chances para a vitória ou para a derrota serão iguais; aquele que não conhece nem o inimigo e nem a si próprio, será derrotado em todas as batalhas (Sun Tzu, Arte da Guerra),

assim, como as casquinhas de siri, uma deliciosa descoberta.

Isabel Cristina Louzada CarvalhoDiretora da Gestão.Info Consultoria

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Introdução

No estado do Espírito Santo, até meados do século XIX, o açúcar foi o produto que impulsionou o

surgimento de vilas e pequenos povoados.

Bittencourt (2002, p. xviii) declara que

[...] a identidade capixaba de então ficara marcada, como nas demais áreas tradicionais do açúcar, pelo latifúndio patriarcal, monocultor e escravista, a expressão concreta do pensamento mercantilista ibérico aplicado ao Brasil.

Paralelamente às atividades cafeeiras - alicerce da econo-mia do Espírito Santo até a década de 60, quando a políti-ca federal de erradicação dos cafezais nos atingiu de forma consistente - outras culturas, chamadas de subsistência, como a de mandioca, de cereais, de hortifrutigranjeiros em geral, mais a pecuária e a pesca artesanal se fizeram presentes na construção da economia de nosso Estado.

As desfiadeiras de siri e as paneleiras de Goiabeiras são exemplos de culturas de subsistência artesanal. Em nossos dias, essas atividades tornaram-se um atrativo turístico e passaram a ter repercussão na mídia impressa e televisiva.

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Uma visita realizada à Ilha das Caieiras - local onde re-sidem e trabalham as desfiadeiras de siri - e a curiosidade em relação a atividade desenvolvida pelas mulheres da Ilha motivaram a escolha do tema desse trabalho.

Nossa proposta é apresentar a Cooperativa Desfiadeiras de Siri destacando sua organização e importância dentro da comunidade onde se insere.

Primeiramente abordamos o marco teórico-conceitual que envolve a gestão do conhecimento.

A seguir, relatamos um pouco da história da Ilha das Caieiras onde, no decorrer de algumas décadas, vem se perpetuando a prática de desfiar a carne do siri para utili-zação na culinária da própria região e na comercialização em outras áreas da cidade.

Descrevemos, como resultado de uma entrevista reali-zada com a diretora da cooperativa, a importância do co-nhecimento e de sua gestão para um grupo de mulheres que, apesar da pouca instrução escolar, conseguiram apre-ender práticas que possibilitaram um ganho econômico e social decorrentes de sua organização em torno do conhe-cimento adquirido. Abordamos as instituições envolvidas e as contribuições advindas dessas parcerias.

Ressaltamos o valor da marca como estratégia de mar-keting e como ferramenta para valorização do negócio.

Finalmente, apresentamos uma expectativa de resul-tados futuros que poderão ser alcançados se, no cenário atual da cooperativa, forem acrescidos novas informações e investimentos.

Esperamos que as informações, reunidas no trabalho proposto, contribuam para a valorização de outras inicia-

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tivas como essa e que outros grupos produtivos - com potencial para a geração de renda e melhoria do padrão econômico e social da população, que se ocupam de ati-vidades afins - possam ter acesso a informações que lhes dêem suporte para uma gestão eficaz.

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A era do conhecimento

No mundo globalizado, as novas práticas gerenciais e as novas tecnologias têm papel primordial na

sobrevivência das empresas num mercado cada vez mais exigente e competitivo. Segundo Krogh, Ichijo e Nonaka (2001), o conhecimento é hoje a grande vantagem com-petitiva de uma empresa e vem atraindo muita atenção no mundo empresarial e no ambiente acadêmico voltado para a gestão de negócios.

A Era do Conhecimento

[...] refere-se à conjunção e à sinergia de uma série de inovações sociais, institucionais, tecnológicas, organiza-cionais, econômicas e políticas, a partir das quais a in-formação e o conhecimento passaram a desempenhar um novo e estratégico papel. Tais inovações constituem-se em elementos de ruptura (para alguns), ou de forte diferen-ciação (para outros), em relação ao padrão precedente, ainda que com resultados, em grande medida, de tendên-cias e vetores que não são propriamente novos ou recentes (lastres ; albagli, 1999, p. 8).

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Segundo as muitas pesquisas existentes, o conhecimento é, hoje, um termo muito utilizado quando se menciona uma gestão moderna e eficaz. Os estudiosos argumentam que

O conhecimento existe dentro das pessoas, faz parte da complexidade e imprevisibilidade humanas. Embora tradicionalmente pensemos em ativos como algo definível e “concreto”, os ativos do conhecimento são muito mais difíceis de se identificarem. [...]. O conhecimento deriva da informação da mesma forma que a informação deriva de dados. Para que a informação se transforme em conhe-cimento, os seres humanos precisam fazer virtualmente todo trabalho. Tal transformação ocorre através de pala-vras iniciadas com C tais como as seguintes:H Comparação: de que forma as informações relativas a esta situação se comparam a outras situações conhecidas?H Conseqüências: que implicações estas informações trazem para as decisões e tomadas de ação?H Conexões: quais as relações deste novo conhecimento com o conhecimento acumulado?H Conversação: o que as outras pessoas pensam desta informação? (davenport; prusak, 1998, p. 6).

E mais. Consideram o conhecimento um recurso novo na economia ao declarar que

H Informação e conhecimento são recursos intangíveis, não-materiais e, portanto, não esgotáveis e não-deteriorá-veis. Seu consumo não os destrói, assim como seu descarte geralmente não deixa vestígios físicos. Cedê-los (através de venda, por exemplo) não faz com que sejam perdidos. [...]. Dentre outros, a crescente supremacia do conhe-

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cimento nas atividades econômicas está levando ao caos os modelos e enfoques convencionais em economia e ad-ministração, os quais são baseados na fisicalidade e na escassez dos recursos (lastres; ferraz, 1999, p. 52).

O enfoque é em torno do Ser e não do Ter. Do ser na sua totalidade; do somatório das experiências reunidas no de-correr da vida; das habilidades natas ou inatas e da forma-ção teórica adquirida. O conhecimento, bem intangível, é parte da estratégia da empresa que almeja ser competitiva no mundo globalizado. Na era do conhecimento, a van-tagem competitiva das empresas passa pela criatividade peculiar ao indivíduo.

O conhecimento, inerente ao ser humano e resultado de suas vivências, é o valor que permite o desenvolver da ciência. Novas descobertas fundamentam as novas idéias e a busca por melhores condições de aproveitamento dos recursos disponíveis. Cada pessoa, trazendo e comparti-lhando suas muitas experiências, ajuda no avanço das tec-nologias que estão a serviço da humanidade.

Esse conhecimento

[...] é uma abstração interior, pessoal, de alguma coisa que foi experimentada por alguém. [...] não pode ser des-crito inteiramente – de outro modo seria apenas dado ou informação [...] não depende apenas de uma interpreta-ção pessoal, [...] requer uma vivência do objeto do conhe-cimento. [...] não pode ser inserido em um computador por meio de uma representação, pois senão foi reduzido a uma informação. [...] Associamos informação à semân-tica. Conhecimento está associado com pragmática. [...]

a era do conhecimento

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O conhecimento é puramente subjetivo – cada um tem a experiência de algo de forma diferente (setzer, apud sirihal; lourenço, 2002, p. 82).

O conhecimento, seja ele tácito ou explícito, é estudado por pesquisadores da área os quais afirmam que:

O conhecimento é, em grande parte, tácito, isto é, algo altamente pessoal, estando enraizado nas experiências do indivíduo, bem como em suas funções, valores e ideais (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

Já o conhecimento explícito, segundo os mesmos pes-quisadores

[...] formal e sistemático. Assim, é facilmente comunicado e compartilhado por meio de especificações de produtos, fórmulas científicas ou programas de computador (no-naka, 2000, p. 33).

Resumindo, podemos afirmar que

Algumas formas de conhecimento podem ser colocadas no papel, formuladas em orações e períodos ou expres-sas por meio de desenhos. Um engenheiro, por exemplo, manifesta seu conhecimento sobre determinado produto por meio de projetos e especificações, explicitando o que sabe. No entanto, outras formas de conhecimento se vin-culam aos sentidos, à capacidade de expressão corporal, à percepção individual, às experiências físicas, às regras práticas e à intuição. Em geral, é muito difícil descrever

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esse conhecimento tácito para os outros. [...]. Admitir o valor do conhecimento tácito ou descobrir como utilizá-lo é o principal desafio da empresa criadora de conheci-mento, exigindo amplas conversas e bons relacionamentos pessoais – ou seja, a capacidade para o conhecimento. O conhecimento tácito talvez pareça por demais misterioso para ser aplicado de maneira útil e consiste em situações de negócios, mas essa característica de mutabilidade e de especificidade em relação ao contexto é o que o transfor-ma em ferramenta poderosa para a inovação. O desafio consiste em criar condições para o desenvolvimento dessa fonte criativa, em vez de ignorá-la ou amordaçá-la (kro-gh; ichijo; nonoka, 2001, p. 15).

A Era do Conhecimento impõe mudanças. As comu-nidades que trabalham de forma artesanal na geração de renda devem se adaptar às novas práticas de um novo tempo e, sem deixar morrer suas tradições, devem buscar formas para o aproveitamento do conhecimento, tanto tácito como explícito, objetivando a produção de bens com valor agregado.

Do ponto de vista econômico, verificam-se novas práticas de produção, comercialização e consumo de bens e servi-ços, cooperação e competição entre os agentes, assim como de circulação e de valorização do capital, a partir da maior intensidade no uso de informação e conhecimento nesses processos. Tais práticas apóiam-se, por sua vez, em novos saberes e competências, em novos aparatos e ins-trumentais tecnológicos, tanto como em novas formas de inovar e de organizar o processo produtivo [...] (lastres; albagli, 1999, p. 8).

a era do conhecimento

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As histórias de vida, os costumes e as práticas produtivas de grupos não devem ser esquecidas mas, compartilhadas e valorizadas. Os conhecimentos assim transmitidos por tradição oral ou através de registros em algum suporte, certamente, irão permitir o avanço e a diversificação dos processos produtivos.

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A gestão do conhecimento

A s práticas ligadas à Gestão do Conhecimento são realidades não apenas nos países desenvolvidos mas

em toda empresa de qualquer país cujos gestores estejam buscando novas formas de administrar.

É seguro afirmar que

Nos últimos anos, a Gestão do Conhecimento (gc) emer-giu como um dos temas mais importantes na bibliografia sobre gestão empresarial. Já são vários os cursos de nível de pós-graduação tratando do tema, e muitas empresas, inclusive no Brasil, começam a criar cargos do tipo “ge-rente de gc” [...]. Esse importante movimento e soluções, entretanto, está, em sua forma mais visível, limitado às necessidades e condições da grande empresa.Acreditamos, entretanto, que os conceitos e práticas da GC podem ser aplicadas, com bons resultados, à reali-dade da pequena e da média empresa (pme) nacional. E isto é uma prioridade, pois no Brasil cerca de 4,5 mi-lhões de pequenas e médias empresas representam cerca de 98% do universo de empresas e respondem por mais de 60% dos empregos. (kruglianskas; terra, 2003, p. xiii).

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Vários autores têm definido Gestão do Conhecimento. Se-gundo Bukowitz (apud kukla; kruglianskas, 2003, p. 149),

A gestão do conhecimento é um campo em rápida evolu-ção, que foi criado pela coligação de diversos outros – re-cursos humanos, desenvolvimento organizacional, gestão da mudança, tecnologia da informação, gestão da mar-ca e reputação, mensuração e avaliação de desempenho. Todos os dias são geradas novas compreensões, conforme as organizações tem experiências, aprendem, descartam, retêm, adaptam-se e avançam’.

Segundo Nonaka (2000, p. 31) “Os novos conhecimen-tos sempre se originam nas pessoas”. São elas, as pesso-as, as responsáveis pelas inovações em uma empresa/in-dústria criadora de conhecimento cujo “[...] processo de transformação ocorre continuamente em todos os níveis da organização” (nonaka 2000, p. 32).Terra, 2000 (apud korobinski, 2001, p. 111) afirma que

Gestão do Conhecimento é, em seu significado atual, um esforço para fazer com que o conhecimento de uma or-ganização esteja disponível para aqueles que dele neces-sitem, quando se faça necessário, onde se faça necessário e na forma como se faça necessário, com o objetivo de aumentar o desempenho humano e organizacional.

Logo, vale resaltar que as

[...]organizações saudáveis geram e usam o conhecimen-to. À medida que interagem com seus ambientes, elas ab-sorvem informações, transformam-nas em conhecimento

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sorvem informações, transformam-nas em conhecimento e agem com base numa combinação desse conhecimento com suas experiências, valores e regras internas. Elas sen-tem e respondem. Na falta do conhecimento, organiza-ções não poderiam se organizar; elas não conseguiriam manter-se em funcionamento (davenport; prusak,

1998, p. 63, grifo nosso).

As empresas que criam conhecimento e fazem gestão desse conhecimento vivenciam quatro padrões distintos na transferência do conhecimento. Padrões que estão em constante interação. Nonaka (2000, p. 34) aponta esses padrões de transferência – de tácito para tácito, de explí-cito para explícito, de tácito para explícito e de explícito para tácito – assegurando que

A articulação (conversão do conhecimento tácito em ex-plícito) e a internalização (utilização do conhecimento explícito para a aplicação da própria base de conheci-mentos tácitos) são as fases críticas da espiral de conhe-cimentos. O motivo é que ambas exigem o envolvimento ativo do eu – ou seja, o comprometimento pessoal. [...].Com efeito, como o conhecimento tácito abrange modelos mentais e crenças, além do know-how, a evolução do táci-to para o explícito é de fato um processo de articulação da própria visão de mundo – o que é e o que deveria ser. Ao inventarem novo conhecimento, os empregados também estão reinventando a si próprios, a empresa e até mesmo o mundo (nonaka, 2000, p. 36).

Para Krogh, Ichijo e Nonaka (2002, p. 21),

a gestão do conhecimento

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O objetivo da gestão do conhecimento é estimular os pro-fissionais a fazer um excelente trabalho e, ao mesmo tem-po, captar o conhecimento de cada um e convertê-lo em algo que a empresa possa utilizar – novas rotinas, novas idéias sobre clientes, novos conceitos de produto.

Finalmente, valorizar as práticas locais, enfatizar o valor do conhecimento tácito de uma comunidade e agregar uma gestão moderna ao negócio é fundamental para a melhoria da qualidade de vida e da auto-estima do grupo envolvido. Difundir o conhecimento existente entre as pessoas e ter capacidade de subsidiar o processo de apren-dizado/crescimento são experiências empresariais que tem se mostrado positivas em seus meios e fins.

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A Ilha das Caieiras

É antiga e peculiar a história em torno da região de-nominada de Ilha das Caieiras. Registra-se que

[...] teve origem com o primeiro donatário da Capitania do Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho, durante a colonização do Estado. Neste período, a ilha foi centro de movimentação comercial para desembarque de mercado-rias advindas do interior (ilha, 2005).

Não são muitos os registros históricos sobre essa pe-quena região, esse belo recanto do município de Vitória. Grande parte desses registros resulta de depoimentos de antigos moradores que narram o que ouviram de seus an-tepassados que habitavam a pequena ilha.

Segundo relatos dos próprios moradores,

[...] a Ilha das Caieiras já foi ponto de distribuição de escravos. Eles chegavam até o Porto de Vitória e eram le-vados para a Ilha. De lá partiam para as diversas fazen-das que margeavam os rios (Bubu e Santa Maria). [...]. Também ali se encontravam os escravos vendidos de fa-zenda para fazenda. Parece que era um entreposto comer-

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cial de escravos. Os municípios alimentados de escravos que passavam aqui eram: Santa Leopoldina, Cariacica, Serra e Viana.Conta-se também que aqui viveram muitos índios e onde há índios há jesuítas. E Bené, pescador e um dos mais velhos moradores da Ilha, nos conta que havia uma es-cola de jesuítas, onde é a Igreja Batista de São Pedro II. Esta era totalmente separada da Ilha das Caieiras. Hoje este local se chama São Pedro ii (história, 1994, p. 11).

Atualmente a Ilha das Caieiras está ligada à de Vitória.

A Ilha que já foi ilha teve, por volta de 1940, uma trans-formação geográfica de um campo de futebol. O terreno acidentado da Ilha, sem uma faixa plana de terra, os obrigou a aterrar uma parte do mangue. Com isto houve uma leve ligação com a Ilha de Vitória. Este campo que é conhecido com o [sic] campo de ‘Racing’ fez com que a ilha se transformasse em península (história, 1994, p. 11).

A história da região está intimamente ligada à instalação da fábrica de cal, fábrica Boa Esperança, de propriedade do português José Lemos de Miranda, “Foi a fábrica a responsável pelo grande número de pessoas que para ali se dirigiu no início do século vinte. A fábrica atraía como meio de sobrevivência, pois tinha serviço pra todo mun-do” (história, 1994, p. 12).

Não podemos deixar de mencionar que a diminuição da atividade cafeeira foi um outro fator relevante que influenciou fortemente o crescimento da população na pequena ilha.

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Quando a produção cafeeira no vale do rio Santa Maria entrou em declínio, na crise dos anos vinte, e as estradas de rodagem inviabilizaram o transporte fluvial, foram diversas as pessoas, afetadas pela falta de emprego, que trocaram as terras de Santa Leopoldinapela Ilha das Caieiras. Os canoeiros já tinham conheci-mento que, na Ilha, a Fábrica Boa Esperança e a pesca no manguezal ofereciam condições de trabalho e sobrevivên-cia (neves, 1996, p. 18).

Os primeiros moradores da pequena ilha vieram pelos rios Santa Maria e Bubu,

[...] abandonando o trabalho das fazendas e optando pela pesca ou pelo trabalho na fábrica de cal. Os canoeiros co-meçaram a ter a Ilha como ponto de descanso antes de che-gar ao porto, e isto se explica com facilidade. Dependendo da maré, era melhor esperar outro momento, e era isto que eles faziam na ilha: esperar melhor maré. Com o tempo alguns mais espertos fizeram na Ilha estabelecimento co-mercial para servir aos canoeiros e aos passageiros. [...].Subindo o Rio Santa Maria, vamos encontrar várias fa-zendas. [...]. Com o tempo, as pessoas que trabalhavam nestas fazendas resolveram mudar de atividade. E, atra-vés de informação de canoeiros, ou de viajantes, ficaram sabendo da Ilha. Ali poderia haver nova forma de vida. Pescaria abundante e garantia de venda no mercado da Vila Rubim ‘logo abaixo’. Ou então se dedicar à cata das ostras, concerto de canoas e corte de madeira para a fábri-ca de cal. Muitos dos que chegaram eram nordestinos que antes tinham chegado em busca de trabalho, por causa da seca enorme do nordeste no início do século vinte (histó-ria, 1994, p. 13).

a ilha das caieiras

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As características geográficas, destacando-se a presença dos dois rios já citados e a instalação da fábrica de cal, foram elementos de grande importância para a ocupação da Ilha. Foi a fábrica de cal que deu nome a Ilha, “[...] pois todos se referiam à Ilha como a das caieiras, ou seja, aquela ilha que possuía caieira ou fábrica de cal” (histó-ria, 1994, p. 13).

Para a produção da cal, as ostras eram lavadas e lança-das em um forno para serem queimadas por um período de três dias. Após a queima, eram resfriadas com grande quantidade de água. Durante o processo de resfriamento elas eram quebradas com pás até virar pó. O último passo era peneirar o pó.

A fábrica, instalada por volta de 1920 a 1930, também era uma garantia de emprego. Caso não houvesse bom tempo para a pesca, era a cata e venda das ostras que garantiam a subsistência, “afinal cada caixote de ostras custava entre duzentos e trezentos reais. Era um dinheiro razoável, pois com a cata de ostras, durante alguns poucos anos, muitos compraram suas casas” (história, 1994, p. 13).

A população da região se formou a partir de casamentos na própria Ilha em decorrência de seu isolamento, pois,

A Ilha era isolada de tudo, sendo o centro mais próximo, a comunidade de Santo Antônio. Por isso os homens da Ilha se casavam com mulheres dali mesmo, e assim toda a propriedade é passada de pai para filho, e também duran-te muito tempo a profissão do pai era seguida pelo filho, até porque na Ilha ou se era pescador, catador de ostras ou consertador de canoas (história, 1994, p. 14).

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As informações sobre a presença de índios e de jesuítas são confirmadas nos depoimentos. Todos ouviram dizer que anterior aos anos de 1920, mais precisamente no fi-nal do século xix, índios e jesuítas habitaram a região, e, “[...] todos concordam que o pessoal da Ilha das Caiei-ras tem uma ‘cara de índio’.” (história, 1994, p. 14).

Neves (1996, p. 16) afirma que o manguezal, com sua fartura de alimentos, foi sem sombra de dúvida, o primeiro elemento que fixou o “[...] homem na Ilha em tempos in-dígenas; a cal veio muito depois, revigorando esta fixação”.

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A preservação do manguezal e a cata do siri

A característica principal do manguezal é sua localiza-ção geográfica.

Os manguezais são ecossistemas situados na zona entre mares, às margens dos oceanos e dos estuários (encontro do rio com o mar). É um ambiente salobro de solo lama-cento e por isso pouco compactado.

Segundo Faria e Zippinotti (1986, p. 3) “Os mangues são comunidades vegetais anfíbias, lenhosas e perenifó-lias, que se estendem pelos trópicos formando imensos bosques de quilômetros de extensão nos estuários e/ou no mar aberto”.

A importância desse ecossistema para Allegretti (2001, p. 76) pode ser pontuada nos seguintes aspectos:

H o manguezal possui uma alta produtividade de seres marinhos e estuarinos, por servir para a procriação e re-fúgio para diversos tipos de peixes, moluscos e crustáceos, pescados artesanalmente ou industrialmente. Várias co-munidades de pescadores artesanais retiram seu sustento do mangue;

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H é o responsável pela atividade pesqueira na costa ao fornecer nutrientes para os seres decompositores de maté-ria orgânica e a maior parte dela não é aproveitada sendo transferida para o mar;H protege o litoral da ação das ondas;H serve de local de reprodução para aves ameaçadas de extinção.

A baixa velocidade das águas nas regiões de manguezais permite o acúmulo de matéria orgânica em grande quan-tidade tornando o solo rico em nutrientes mas desprovido de oxigênio. Como a falta de oxigênio reduz a presença de compositores,

A maior parte dos nutrientes não é aproveitada, sendo enviada para o mar e outros ecossistemas. Os mangue-zais são os principais fornecedores de nutrientes para a comunidade marinha costeira, favorecendo uma intensa atividade pesqueira nas áreas tropicais. [...].Alguns animais, como certos caranguejos e ostras, passam toda a sua vida nos mangues, mas a maior parte da fau-na é composta por animais marinhos que passam apenas uma fase de sua vida nesse ambiente. Diversos peixes, aves marinhas e invertebrados deslocam-se para os mangues na época reprodutiva, colocando os ovos que, ao eclodirem, produzem larvas e filhotes que passam aí toda a sua fase juvenil, migrando posteriormente para o mar. Por causa dessa característica, nossos manguezais são comumente chamados de ‘berçários do Atlântico’ (neiman, 1989, p. 78).

Infelizmente, “A localização dos manguezais coincide com a área de maior interesse para a ocupação humana.

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Assim, nos últimos tempos, tem havido uma quase total erradicação desse ambiente tão importante para a vida” (neiman, 1989, p. 79).

As principais ameaças aos manguezais destacadas por Allegretti (2001, p. 76), e que podem gerar graves proble-mas ambientais para a comunidade e seu entorno, são:

H derramamento de óleo como o que atingiu os man-guezais da Baía de Guanabara em 2000, provocando danos na fauna, flora e sobrevivência dos pescadores da região;H aterros e drenagens para a construção de residências, empreendimentos turísticos e indústrias;H uso como depósito de lixo e corte excessivo de árvores para a construção civil e outras finalidades;H pesca e coleta exploratórias.

O manguezal, utilizado na cata do siri, já sofreu os efei-tos nocivos da poluição. Segundo registro dos moradores

[...]. Percebemos que as pessoas limpam suas áreas pró-ximas à maré pelo menos duas vezes por dia. Notamos que tudo aquilo que se joga na maré, ela devolve quan-do enche. O lixo vai e volta todos os dias, ou pelo me-nos as pessoas trocam de lixo a cada enchente da maré.[...] o maior problema encontrado foi sem dúvida o da poluição e devastação da Ilha. Com as ocupações vizi-nhas, muita coisa é jogada na maré, ou melhor, tudo é jogado na maré, o que acaba afetando a Ilha das Caieiras (história, 1994, p. 17).

A presidente da Cooperativa declarou que a utilização do manguezal, atualmente, no que diz respeito à pesca, está

a preservaçãodo manguezale a cata do siri

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sendo realizada de forma controlada, sem dano ao ambien-te. A pesca controlada tem sido uma preocupação dos mo-radores da região e dos parceiros públicos e privados que estão atuando junto à cooperativa das desfiadeiras de siri.

Todas as orientações estão sendo dadas no sentido de re-forçar a importância da região, não apenas como provedo-ra de alimento diário mas, também, como base de susten-tação para uma atividade que vem crescendo a cada dia.

A pesca ou cata dos crustáceos é feita de duas maneiras: com o jereréu, ou jereré, uma puçá onde se colocam iscas que atraem o siri, e a pesca de mombó que é realizada a noite à luz de lampiões, sem a utilização de isca. A luz dos lampiões imobiliza os siris e eles são facilmente catados.

As duas formas utilizadas na coleta não causam dano ao ambiente e, também, não colocam em risco a preservação da espécie.

Segundo depoimento de moradora da região da Ilha das Caieiras,

[...] o jereréu é uma puçã grande que tem uma corda e a gente amarra uma isca dentro, de carne ou de peixe, e joga dentro da água, no fundo do mar e deixa quase amarrado no berço da canoa. A canoa fica apoitada [sic] e os jereréus – dois, três – ficam dentro dágua. Quando o siri está beliscando a gente puxa o jereréu e aí vem siri andando pelo jereréu. Às vezes vem dois, três, às vezes não vem nenhum. Doze siris grandes, desses açus grandes, dão um quilo (neves, 1996, p. 27).

Conforme estatística do ibge (2002), a população da Ilha das Caieiras é de 1.354 pessoas que vivem, na sua

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maioria, do produto advindo do manguezal que, por sua área de 891,83 hectares, é considerado um dos maiores manguezais urbanos do mundo.

A pesca é uma das fontes de renda desse ecossistema. É da sua flora que se extrai a tinta negra utilizada pelas paneleiras de Goiabeiras.

É da sua vegetação de mata esclerófila, que se extrai o ta-nino - tinta que dá coloração negra às famosas panelas de barro, utilizadas para preparo da culinária típica capixa-ba. Na área onde a vegetação é mais densa, encontra-se a Estação Ecológica Ilha do Lameirão (ilha, 2005).

A utilização do manguezal é feita de forma ordenada e controlada para fins científicos, educacionais e turísticos.

O manguezal é uma rica fonte de subsistência para os pescadores, catadores, e suas famílias (ilha, 2005).

A cadeia produtiva, em torno da carne de siri, começa no mangue com a cata do crustáceo e termina com os pratos típicos servidos pelos vários restaurantes da ilha.

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a preservaçãodo manguezale a cata do siri

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As desfiadeiras de siri

A desfiadura do siri é uma atividade tipicamente fe-minina na Ilha das Caieiras. É, também, um traba-

lho de paciência.

A técnica da desfiadura é simples, manual, os gestos pre-cisos, repetitivos, mas cada desfiadeira tem o seu método próprio de quebrar o casco do siri, previamente cozinha-do, de usar a faquinha de cabo de madeira para separar a carne das víceras, guardando os cascos para serem ven-didos e servirem de ‘casquinhas’ de siri nos restaurantes e peixarias (neves, 1996, p. 31).

Inicialmente, o trabalho realizado pelas mulheres visava a subsistência da própria família. Não havia interesse co-mercial pela carne de siri desfiada.

Segundo Neves (1996) uma centena de mulheres, na Ilha das Caieiras, se dedica à cata e desfiadura do siri e, no mínimo, cinqüenta delas vivem exclusivamente desse trabalho. Era, em princípio, uma atividade tradicional li-gada a alimentação dos moradores da Ilha e ao consumo de fregueses que, ocasionalmente, iam até a Ilha a pro-

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cura de siri desfiado. Mas, a aprtir de 1960, em razão da grande demanda dos restaurantes e peixarias da região de Vitória e seu entorno, houve necessidade de um aumento da produção.

O prato de entrada mais solicitado nos diversos restau-rantes e bares que servem frutos do mar é o, já, tradicional Casquinha de siri. Um prato apetitoso feito da carne da siri desfiado.

Neves (1996, p. 33), tratando a questão da comercializa-ção da carne de siri desfiada, afirma que

O comércio do siri desfiado mobiliza centenas de pessoas, do pescador e das desfiadeiras de siri aos donos de restau-rantes e peixarias. A venda do siri se faz em sacolas de plásticos, de um a três quilos, conservadas em geladeiras e congeladores quando é preciso esperar os compradores.

As mulheres foram, sempre, as responsáveis pelo traba-lho de desfiar o crustáceo. Tanto no passado como nos nos dias atuais, cabe a elas a tarefa de desfiar o siri pescado pelos homens.

No início, o trabalho era realizado nas próprias casas e os interessados buscavam o produto diretamente nas casas das desfiadeiras. Não havia orientação quanto a padrões de higiene e conservação. O preço do quilo do produto girava, em 1996, em torno de r$5,00 o quilo.

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Manguezal da Ilha das Caieiras (2006).

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Desfiando siri (2006)

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Casquinha de siri (2007)

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Moqueca de siri desfiado (2007)

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Sociedade cooperativa

A Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que define a Política Nacional de Cooperativismo e institui o

regime jurídico das cooperativas, estabelece em seu Ca-pítulo ii,

Art. 3º Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econô-mica, de proveito comum, sem objetivo de lucro.Art. 4º As cooperativas são sociedades de pessoas, com for-ma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas se-guintes características:I adesão voluntária, com número ilimitado de associa-dos, salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços;II variabilidade do capital social, representado por quo-tas-partes;III limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se assim for mais ade-quado para o cumprimento dos objetivos sociais;

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IV inacessibilidade das quotas-partes do capital a tercei-ros, estranhos à sociedade;

Podemos pontuar alguns aspectos de caráter jurídico que caracterizam as sociedades cooperativas:

H Apesar de em muitos as pectos o objetivo e a estru-tura de alguns dos tipos de cooperativas se aproximarem do sistema associativo, é a cooperativa uma sociedade de tipo contratual, com regime estatutário.H Tendo recebido a influência das regras dos diver-sos tipos de sociedades, ditas clássicas, tanto que em seus inícios não tinham a rigor forma própria, com o tempo essas regras foram adaptadas ao espírito cooperativista, configurando a forma jurídica da sociedade cooperativa; e apesar de ter sido considerada essa forma sui generis, hoje se afirmou como forma própria, característica da so-ciedade cooperativa.H Possui a cooperativa hoje, tanto na legislação brasi-leira como na estrangeira forma jurídica própria, equipa-rada às demais sociedades civis ou comerciais.H Apesar de sua estrutura assemelhar-se, em muitos aspectos, à das sociedades por ações, é a sociedade coopera-tiva sociedade de pessoas, pois nela a contribuição pessoal dos associados é máxima, já que eles, além da subordi-nação e da estrutura democrática, ainda exercem duplo papel: associados e usuários (bulgarelli, 2000a, p. 264).

Bulgarelli (2000b, p. 12), discorrendo sobre os princí-pios cooperativistas afirma que

Numa visão geral esses princípios exprimem o alto sentido social do sistema cooperativo. As cooperativas desta forma, se apresentam como entidades de inspiração democrática,

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se apresentam como entidades de inspiração democrática, em que o capital não constitui o determinante da partici-pação associativa, mas, mero instrumento para a realiza-ção dos seus objetivos; elas são dirigidas democraticamente e controladas por todos os associados; não perseguem lu-cros e seus excedentes são distribuídos proporcionalmente às operações de cada associado; nelas se observa a neutra-lidade político-religiosa, o capital é remunerado por taxa mínima de juros e os hábitos de economia dos associados são estimulados pelas aquisições a dinheiro, dando-se des-taque ao aperfeiçoamento do homem, pela educação.

Os princípios cooperativistas, apresentados por Bulgarelli (2000b, p. 13), assim se caracterizam:

H A adesão livre desdobra-se em dois aspectos; a vo-luntariedade, pelo qual não se admite que ninguém seja coagido a ingressar numa sociedade cooperativa, e o da porta-aberta, através do qual não pode ser vedado o in-gresso na sociedade àqueles que preencham as condições estatutárias.H A cada associado um voto, ou gestão democrática, estabelece a predominância da pessoa sobre o capital. [...].H Distribuição do excedente pro rata das transações dos membros, ou retorno, exprime uma das idéias essen-ciais do cooperativismo – a busca do justo preço, afastando qualquer sentido lucrativo. É a refutação manifesta ao es-pírito de lucro que caracteriza a sociedade capitalista. [...].H Juros limitados sobre o capital [...]. Ele decorre da separação estabelecida entre os aportes de capital trazidos pelo associado, que se tornava necessário remunerar, e as sobras líquidas que decorrem das operações do associado com a sociedade.

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H Neutralidade política e religiosa [...].H Vendas à vista Princípio estabelecido mais no sen-tido das cooperativas de consumo, visando educar os asso-ciados na prática da poupança, [...].H Desenvolvimento da educação É uma decorrência da preocupação da doutrina com o aperfeiçoamento do homem, permitindo que ele adquira conhecimentos in-dispensáveis e a formação necessária para a prática do cooperativismo.

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A cooperativa e a comunidade

Registra-se um grande problema enfrentado pelos habitantes da Ilha das Caieiras, que é

[...] a falta de participação da comunidade. Como já dis-semos este povo da Ilha é pacato, sossegado parece que não tem pressa. E isto pode ser explicado pela atividade que durante anos dominou os moradores daqui. Como a pes-ca, geralmente, é um trabalho solitário o homem da Ilha habituou-se a falar pouco, devagar. É próprio do pescador esta ‘preguiça’ nos gestos, e isto passa para os outros. Quase ninguém se interessa em discutir e resolver os problemas que o bairro apresenta, e com isto não há organização de movimentos populares/sociais. As pessoas que entrevista-mos falam que não há no bairro um movimento ‘orga-nizado’, com isto está querendo dizer que não é atuante, não se reúne com regularidade (história , 1994, p. 19).

Objetivando fomentar o desenvolvimento da região, al-gumas entidades públicas e privadas se envolveram com a comunidade da Ilha das Caieiras. Dentre elas citamos: a Prefeitura Municipal de Vitória, o Serviço Brasileiro de

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Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Espírito Santo (sebrae/es) e a ong Centro Cultural de Atividades da Ilha das Caieiras (cecaes). As entidades, em parceria, subsidiaram a criação da Cooperativa e a comunidade participou com as empresas na elaboração do Projeto.

O Projeto Cadeia Produtiva de Turismo e Cultura tam-bém contou com a parceria da Cecaes (Centro Cultural de Atividades da Ilha das Caieiras), uma organização não-governamental, que atua há muitos anos no local. “Sempre trabalhamos com arte como instrumento de in-clusão social”, explica Alcione Dias, diretora da Cecaes e professora de teatro na Escola Francisco Lacerda Aguiar (projeto, 2005).

O sebrae informa que o projeto denominado Cadeia Produtiva de Turismo e Cultura tem por finalidade a “[...] realização de capacitação, levantamentos, implantação de centros culturais e de informações turísticas, dentre ou-tras ações. O projeto se propõe a transformar a Ilha das Caieiras em um núcleo de destinação turística” (cadeia, 2005). E mais,

Ele foi estruturado, considerando a vocação turística e cultural da Ilha das Caieiras, e a proposta de integração do mesmo a um programa de desenvolvimento sócio-eco-nômico, que vem sendo implementado pela Prefeitura Municipal de Vitória. A sua implementação representa um desafio que será enfrentado por meio de um esforço conjunto, entre aquela Prefeitura e o SEBRAE/ES.Com a continuidade das ações em implementação, as-sociada ao envolvimento dos moradores da Ilha, no pro-

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cesso de desenvolvimento sustentável, as ações propostas no Projeto, deverão atender às necessidades de incentivo ao empreendedorismo, gerando um ambiente propício, à constante inovação, dando condições de inserção mais ampla e mais competitiva do APL (Arranjo Produtivo Lo-cal), no mercado turístico e cultural do Estado.No Plano Estratégico da cidade de Vitória, ficou iden-tificado que a Ilha das Caieiras apresenta características marcantes quanto à valorização das suas tradições, cultu-ra, gastronomia, dentro de uma nova forma de atividade, capaz de gerar emprego e renda.Nesse contexto o grande desafio é atuar junto ao segmento de pequenos negócios e ao contingente populacional de de-sempregados e excluídos do convívio social por meio da: H criação de alternativas de qualificação e de desen-volvimento de habilidades básicas, cognitivas e gerenciais de recursos humanos, adequadas às oportunidades do mercado de trabalho e às possibilidades de negócios exis-tentes naquela Ilha;H criação de novas alternativas para o incremento do fluxo turístico para a Ilha e consequentemente, do aumen-to de opções de serviços turísticos e culturais da região;H fomento à melhoria da qualidade dos serviços tu-rísticos, tornando o local mais atrativo, onde os micro e pequenos negócios terão melhores condições de desenvol-vimento.Como principal articulador e facilitador deste projeto, o sebrae/ es estará participando ativamente de todo o processo de definição das estratégias de desenvolvimento do mesmo.Isto possibilitará integrá-lo dentro de um contexto am-plo, com a realização de atividades de consultoria, trei-namento e de mercado, voltadas de forma mais profis-

a cooperativa ea comunidade

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sionalizada, à gestão empresarial, ao associativismo e ao marketing, estimulando a segmentação de atividades das Desfiadeiras, dos Pescadores, dos Profissionais liga-dos aos Estabelecimentos de Alimentação e Bebidas e da Infra Estrutura de Apoio ao Turismo, dos Artesãos, dentre outros (cadeia , 2005, grifo nosso).

A Cooperativa das Desfiadeiras de Siri, criada no dia 08 de fevereiro de 1999 por iniciativa das entidades públicas e privadas, beneficiaram, inicialmente, cinquenta desfia-deiras de siri.

Na Cooperativa das Desfiadeiras de Siri, construída pela Prefeitura de Vitória em 1999, cerca de 50 mulheres desfiam os crustáceos catados pelos homens, mantendo viva uma das maiores tradições da Ilha das Caieiras (ilha, 2005).

Vale ressaltar, também, que

As desfiadeiras foram qualificadas por meio do Progra-ma de Geração e Renda nas áreas de teoria da organi-zação, higiene e manipulação de alimentos, culinária de mariscos, noções de contabilidade e matemática básica, formação de preços e custos e técnicas de congelamento (desfiadeiras, 2006).

Em entrevista realizada com a atual presidente da Co-operativa, Eliete Barreto, registrou-se informações sobre a criação da Cooperativa e os benefícios advindos dessa parceria com algumas instituições públicas e privadas. Foi declarado que

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O siri pescado vai direto para as mãos das desfiadeiras. Antes, o trabalho era feito dentro de casa. Mas, com aju-da do Sebrae, as mulheres se organizaram e criaram a Co-operativa das Desfiadeiras de Siri. Agora, elas trabalham num espaço próprio e conquistam a confiança dos clientes (pesca, 2005).

O cuidado em observar as regras de higiene no manu-seio do produto vem refletindo nos ganhos obtidos na comercialização.

O nosso trabalho é acompanhado pela Vigilância Sanitá-ria, o que garante a higiene dos produtos. Nós tínhamos uma grande dificuldade para estar vendendo para os res-taurantes e, atualmente, não temos mais. Hoje, as pessoas vêm pessoalmente buscar o siri e, às vezes, encomendam antecipadamente por telefone, com medo de ficar em fal-ta” (pesca, 2005).

As 50 mulheres que iniciaram a Cooperativa participa-ram de vários cursos promovidos pelo sebrae. Os cursos versaram sobre temas diversos como: organizar e gerir o negócio, formar preço, investir o lucro, atender com quali-dade o cliente, manusear e conservar o produto e aprovei-tar o material do manguezal para confecção de artesanato.

O período inicial de capacitação da população local levou cerca de um ano. Segundo Eliete Barreto, o conhecimen-to adquirido em decorrência das informações ministradas nos cursos melhorou o ganho econômico sobre a comer-cialização do produto. Destaca-se que “[...] em 1996 o quilo do siri desfiado era vendido a r$ 5,00. Hoje ven-

a cooperativa ea comunidade

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demos por r$ 22,00. Não é preciso nem sair da Ilha para vender a carne do siri, os compradores vêm buscar aqui”.

As informações recebidas, o conhecimento gerado e a execução das atividades de forma orientada agregam valor ao produto que se quer comercializar. Produzir com alto valor agregado significa

Que o produto será adequado às necessidades do mercado, que o produto terá ótimo design, boa marca, várias alter-nativas (flexibilidade), ou seja, que tenha valor, mas que ao mesmo tempo se beneficie dos esquemas logísticos e de vendas para chegar ao consumidor a um preço competiti-vo. O consumidor deve atribuir-lhe intuitivamente mais valor do que seu preço real (casaroto filho, 2002, p. 207).

A Cooperativa chegou a comercializar 40 quilos de siri desfiado por semana. Com o conhecimento alicerçado - em 2001, dois anos após a organização da Cooperativa - as desfiadeiras

[...] criaram o restaurante Siri na Lata, com capacidade atual para atender 50 pessoas. Tanto a cooperativa como o restaurante estão sediados na ex-fábrica de cal de ostras, que deu origem ao nome da ilha. “As 28 associadas se re-vezam na cozinha e na desfiação de siri”, explica Lelete. (projeto, 2005).

O restaurante Siri na Lata garante uma renda mensal, para cada uma das cooperadas, em torno de r$ 500,00 e, em média, são servidas 350 refeições por semana. “Com a sobra a gente compra as coisas que precisa”, declara a presidente da Cooperativa.

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A inserção de novas práticas de trabalho na Ilha das Caieiras trouxe ganhos expressivos à comunidade como um todo.

No rastro da transformação da ex-aldeia de pescadores e desfideiras de siri, hoje a Ilha das Caieiras está se tornan-do um destino turístico marcado pela gastronomia. A Rua da Felicidade é o local onde se concentram os restaurantes. No momento, já são onze, segundo César Azevedo, pro-prietário do Mirante da Ilha.[...] o movimento de turistas já aumentou muito, depois do projeto da Prefeitura de Vitória em parceria com o Sebrae. Os bares estão se transformando em restaurantes aos poucos, devido a melhor qualificação do pessoal (projeto, 2005).

É consenso, a seguinte afirmativa sobre a importância da atividade feminina na região.

As desfiadeiras de siri da Ilha das Caieiras são as gran-des responsáveis pela nova perspectiva socioeconômica da antiga aldeia de pescadores. Ao complementar o trabalho dos maridos e filhos, que vão ao mar e voltam com peixes, crustáceos e frutos do mar, elas iniciaram um novo ciclo de geração de renda local (projeto, 2005).

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a cooperativa ea comunidade

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Restaurante Siri na Lata (2007)

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Marca como estratégia de marketing

Ao longo do século xx, foi dito por diversas persona-lidades que o mundo pertence ao Marketing.

Kotler (apud basta et al., 2003, p. 16) define marketing como sendo “o processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtém aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com os outros”.

Um dos componentes mercadológicos trabalhado pelo marketing é a marca. Tradicionalmente podemos enten-der marca como “um nome diferenciado e/ou símbolo (tal como logotipo, marca registrada ou desenho de em-balagem) destinado a identificar os bens e serviços de um vendedor e diferenciar esses bens e serviços daqueles dos concorrentes” (pinho, 1996, p. 14).

Já, Bedbury (2002, p. 37) define marca de forma mais ampla.

A marca é o somatório do bom, do ruim, do feio e do que não faz parte da estratégia. É definida tanto pelo seu melhor produto quanto pelo pior. É definida tanto

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pela propaganda premiada quanto por aqueles anúncios péssimos que de algum modo se insinuaram pelas frestas, foram aprovados e, como era de se esperar,mergulharam no esquecimento. É definida tanto pelas realizações do seu melhor funcionário – aquele que se destaca e nunca faz nada errado – quanto pelos percalços do pior empregado que você podia ter contratado. É de-finida também pela sua recepcionista e pela música que os seus clientes ouvem enquanto esperam ao telefone. Para cada declaração pública do CEO, com palavras escolhidas a dedo, a marca é definida também pelos comentários ne-gativos de um consumidor, entre ouvidos em um corredor ou em uma sala de bate-papo na internet. As marcas ab-sorvem conteúdo, imagens, sensações efêmeras. Tornam-se conceitos psicológicos na mente do público, onde podem permanecer para sempre. Como tal, não se pode contro-lá-las por completo. No máximo, é possível orientá-las e influenciá-las.

Segundo Pinho (1996) e Aaker (2002), registros históri-cos dão conta da utilização de marcas na Antiga Roma e Grécia, quando produtores de vinho e tijolos desenhavam símbolos para identificar a natureza dos produtos com que trabalhavam e a sua procedência. Artesãos na Euro-pa medieval usavam, também, desse artifício ao registra-rem seus produtos em sociedades comerciais. No século xvi, as destilarias de uisque marcavam a fogo, no barril, o nome do produtor, para evitar a substituição de uma bebida por outra de qualidade inferior.

A marca se constitui, hoje, como um ativo da empresa e muitas delas conferem valores exorbitantes a seus produtos.

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Quando o carimbo que a marca confere ao produto tem o poder de motivar a venda, o empresário a considera um patrimônio da empresa.

Ao falarmos de marca, não tratamos de um mero sig-no visual e/ou sonoro que identifica uma mercadoria ou serviço, mas, de uma entidade que vai assumindo e de-senvolvendo personalidade própria através de elementos físicos, racionais, relacionais, informativos, emocionais e estéticos. São esses elementos que permitem reconhecer e diferenciar as marcas entre si.

Para que a Cooperativa cresça e se torne conhecida re-gionalmente e, quiça, a nível nacional, se faz necessária, entre outras medidas, a implementação de uma marca ao produto. Mas a marca só agrega valor e identidade ao pro-duto quando fornece subsídios ao público para a apropia-ção da mensagem pela linguagem e pelo formato e espaço onde é veiculada.

marca comoestratégia demarketing e valorização do negócio

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Os problemas sociais no Brasil são evidentes e as desigualdades permeiam toda a sociedade. É fato

que os menos escolarizados têm maiores dificuldades de inserção no mercado de trabalho.

Casarotto (1999, p. 23) apresenta uma possível solução e afirma que

[...], existem ainda os problemas sociais crônicos, especial-mente a distribuição de renda.O desenvolvimento regional pode ser a alternativa para o país buscar a superação desses problemas. Uma região competitiva tem condições de aumentar as exportações e gerar empregos. Além disso, o vetor da regionalização so-cial pode atuar no eixo de atenuação das desigualdades.

As desfiadeiras de siri são testemunhas dessa afirmação. A cooperativa, na região da Ilha das Caieiras, gerou renda e minimizou questões ligadas à carência de conhecimen-tos. Ações bem elaboradas materializaram-se e geraram benefícios sociais e financeiros para a população menos favorecida.

Conclusão

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O siri desfiado tem grande aceitação no mercado inter-no. O restaurante das desfiadeiras, não só, serve cerca de 350 refeições semanais mas, também, vende aproximada-mente 40 quilos de carne desfiada de siri por semana.

A organização do trabalho, a partir dos conhecimentos adquiridos, assegurou uma renda mínima fixa para cada cooperada atenuando as desigualdades sócio-econômicas das participantes.

Essa melhoria nas condições de trabalho e de rendimento aconteceu graças a cooperação de algumas empresas pú-blicas e privadas que perceberam o potencial da prática ar-tesanal geradora do negócio. Além das empresas que, efe-tivamente, já contribuíram ou estão contribuindo, outras mais, em toda grande Vitória, poderiam abraçar essa causa.

As universidades, por exemplo, poderiam fornecer mais informações e orientações que se somariam às já adquiri-das. Os meios de comunicação com uma divulgação pro-gramada e sistemática do trabalho realizado pelas desfia-deiras, certamente, aumentaria o número de interessados melhorando o ganho financeiro e social das cooperadas.

E para que não haja solução de continuidade no proces-so de formação/informação faz-se necessário um planeja-mento que implicaria em reuniões periódicas, com todos os parceiros, para avaliar o trabalho da organização garan-tindo e/ou ampliando o nível de qualidade dos produtos e serviços oferecidos. Acreditamos que tais iniciativas con-tribuiriam para uma valorização cada vez maior da região.

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Título: Cooperativa Desfiadeiras de Siri: a organização e a gestão do conhecimento

Autor: Solange Machado de SouzaCapa: Weberth José de Souza Freitas

Editoração Eletrônica: Weberth José de Souza FreitasRevisão de Texto: Deolinda Machado

Normalização: Ana Maria Ramos PachecoFormato: 14 x 21 cm

Tipografia: Garamond ProPapel: Pólen Soft 90 g

Número de Páginas: 77Tiragem: 1000 exemplares

Impressão e Acabamento: Gráfica Santo Antônio

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