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Departamento de Artes e Design
DESIGN EMOCIONAL & ENVELHECIMENTO:
UM ESTUDO SOBRE AÇÕES PROJETUAIS INOVADORAS PARA A
PROMOÇÃO DE BEM-ESTAR PARA MAIORES DE 60 ANOS.
Aluna: Mariana Peixoto
Orientadora: Vera Damazio
Colaboração: Marília Ceccon
Introdução
Este trabalho investiga o potencial do campo conhecido como Design Emocional em
contribuir para a promoção do envelhecimento saudável e teve como base dois pressupostos:
o primeiro é o de que a população brasileira está envelhecendo e vivendo cada vez mais, mas
suas demandas não estão atendidas como deveriam pelo Design. Como bem observa a
antropóloga Guita Grin (2000), está ocorrendo um processo de transformação em relação ao
público de mais de 60 anos e “em vez de momentos de perdas, a velhice passou a ser
considerada “um momento de lazer, de novas experiências e projetos". As bengalas, asilos e
pictogramas entre outros produtos e serviços que dominam o universo material destinado a
este público, contudo, ainda dão relevo às perdas e aspectos negativos desta fase da vida, que
merecia ser celebrada, mais do que lamentada. O segundo pressuposto, confirmado em nossos
estudos, é que produtos e serviços mediam práticas sociais, ações cotidianas, relações
interpessoais, experiências e ao mesmo tempo que refletem, podem também moldar nosso
comportamento e atitudes (DAMAZIO, 2014; CSIKSZENTMIHALYI, 1995). Esta visão é
reforçada pelo designer Jorge Frascara (2010) quando atenta que todas as ações
desempenhadas pelos designers carregam uma dimensão simbólica. Concluímos, assim, que
para mudar a visão da sociedade sobre envelhecimento, é preciso redesenhar a dimensão
simbólica de tudo o que diz respeito ao envelhecimento associado à ideia negativa.
Neste contexto, o Design apresenta-se como uma poderosa ferramenta de
transformação social. Em fases anteriores deste estudo, foram identificadas seis importantes
perspectivas para o campo do Design Emocional (CECCON, 2009; SANTOS, 2010):
1. Sociabilidade, que inclui produtos que tem como efeito facilitar e harmonizar o
convívio, promover e fortalecer relações sociais, entre outras ações relacionadas ao
bem viver em uma sociedade plural.
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2. Cidadania, que inclui produtos que tem como efeito promover a civilidade, a
responsabilidade social, ações humanitárias, mudança de comportamentos e atitudes,
entre outras ações em prol do bem coletivo.
3. Humor, que inclui produtos engraçados, surpreendentes e que tem como efeito
tornar a rotina mais divertida.
4. Identidade, que inclui produtos que tem como efeito promover a autonomia, a
independência e a auto expressão.
5. Bem Estar, que inclui produtos que tem como efeito reduzir o stress e promover
estados de calma;
6. Auto Estima, que inclui produtos que tem como efeito promover a avaliação
positiva de si mesmo e o autocuidado.
O presente trabalho foi norteado (1) pelas perspectivas acima apresentadas; (2) pelo
“Estudo para identificação de demandas e geração de ideias de novos produtos e serviços
‘para’ e com idosos moradores da Gávea”, conduzido pelo Laboratório de Design, Memória
e Emoção da PUC-Rio (LabMemo) e no qual foram realizadas visitas à casa de nove idosos
moradores da Gávea, no Rio de Janeiro e (3) pelos resultados da dissertação de mestrado de
Marília Ceccon, intitulada “Design & Envelhecimento: Técnicas para identificação de
demandas dos maiores de 60 anos” (CECCON, 2015), Em sua dissertação, Ceccon (2015)
apresenta dados do envelhecimento, alertando que em pouca décadas teremos mais pessoas
idosas do que jovens no Brasil e questiona a forma como o Design vai tratar dessa inédita e
nova realidade. É fácil supor que se tratada de forma positiva, esta realidade trará benefícios à
sociedade e vice-versa.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apontam um crescimento
exponencial da população idosa no país. Isso demonstra que estamos envelhecendo, e rápido.
Estima-se que em 2025 o país terá mais de 32 milhões de idosos. O Design pode contribuir
com a identificação e o desenvolvimento de ações projetuais para atender as demandas desse
crescente grupo, assim como para a mudança de visão sobre o envelhecimento.
Os estudos que nortearam este trabalho trouxeram subsídios para identificar demandas
dos maiores de 60 anos e perceber que grande parte delas não é de ordem mecânica. Uma
vez identificadas essas demandas, foi construído o protótipo “PUC-Rio mais de 50, serviço de
educação continuada para maiores de 50 anos desenvolvido pelo Laboratório de Design
Memória e Emoção da PUC-Rio (LabMemo) em parceria com a Coordenação Central de
Extensão (CCE) e apoio do Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE). Este
projeto contemplou, sob a forma de atividades variadas, as demandas identificadas no “Estudo
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para identificação de demandas e geração de Ideias de novos produtos e serviços ‘para’ e
com idosos moradores da Gávea” acima citado. Os detalhes da criação e conceituação do
projeto serão expostos na última fase deste relatório.
Objetivos
O objetivo geral deste trabalho é colaborar com subsídios metodológicos para o
desenvolvimento de produtos destinados ao envelhecimento saudável e à promoção de
qualidade de vida da população com mais de 60 anos. Seus objetivos específicos são:
1. Localizar produtos com foco no envelhecimento saudável e nas perspectivas do
design emocional, acima apresentadas;
2. Identificar os atributos e efeitos dos produtos localizados;
3. Identificar perspectivas do design emocional próprias para o desenvolvimento de
produtos e serviços destinados ao envelhecimento saudável e bem viver do público
maior de 60 anos;
4. Colaborar com processo de prototipagem de design de serviço com vistas nos
achados da pesquisa;
5. Organizar dados e elaborar texto de apresentação dos resultados.
Metodologia
Este trabalho foi realizado em quatro fases.
1ª fase e 2a fase
A primeira fase foi dedicada ao levantamento de produtos, serviços e outras soluções
derivadas de processos projetuais caracterizadas pela promoção de qualidade de vida para a
população de maiores de 60 anos. Ela foi realizada a partir de acompanhamento do noticiário
e consultas na internet, visando inovações sociais e tecnológicas. A segunda fase foi dedicada
à identificação dos atributos e efeitos dos produtos localizados. Ela foi realizada a partir de
fichamento, observação e análise do material levantado na 1ª fase e entrevistas especialmente
com pessoas maiores de 60 anos.
Foram levantados cerca de 80 produtos, serviços e outras soluções derivadas de
processos projetuais organizados conforme ilustrado a seguir:
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1. Sociabilidade:
Essa categoria inclui produtos e serviços, com foco no público com mais de 60, que
tem por fim facilitar e harmonizar o convívio, promover e fortalecer relações sociais, entre
outras ações relacionadas ao bem viver em uma sociedade plural.
“Conectando Gerações”
O projeto Conectando Gerações surgiu em 2014, a partir da proposta do engenheiro de
softwares Mórris Litvak e teve como objetivo aproximar gerações, promover a troca de
experiências e a sociabilidade de idosos solitários. Ele propõe que jovens conversem uma vez
por semana, durante 30 minutos via web cam com idosos que moram sozinhos em casa ou em
lares de idosos.1
"Documentário Ciber-Seniors"
Cyber-Seniors é um documentário e foi desenvolvido a partir de um projeto escolar de
duas irmãs, Macaulee e Kascha Cassaday, em 2009. Ele apresenta os episódios da jornada
extraordinária de um grupo de idosos aprendendo a usar ferramentas do computador e da
internet com a ajuda de mentores jovens. Ao longo do documentário pode-se perceber o
desenvolvimento de novos vínculos entre os voluntários do projeto e os maiores de 60 anos e
como um aprende com o outro por meio da socialização.2
1 Veja mais https://queminova.catracalivre.com.br/sem-categoria/site-conecta-jovens-a-idosos-solitarios-para-
trocar-experiencias/ 2 Veja mais em: https://www.youtube.com/watch?v=bemDf6wuHJ0
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2. Cidadania:
Essa categoria inclui produtos e serviços, com foco no público com mais de 60, que
tem como fim promover a civilidade, a responsabilidade social, ações humanitárias, entre
outras ações em prol do bem coletivo.
"Providence Mount St. Vincent"
Iniciativa do lar para idosos Providence Mount St. Vincent, em Seattle, que visa trazer
o carinho e a alegria das crianças e, ao mesmo tempo, desenvolver nelas respeito e admiração
pelos moradores da casa. As crianças até cinco anos interagem diariamente com os idosos, em
atividades ministradas pelas professoras do Intergenerational Learning Center (programa
responsável pelos cuidados com as crianças). O projeto é interessante, pois além de evitar o
isolamento e o sentimento de inutilidade, não incomuns entre o público idoso, traz aos
participantes um sentido de responsabilidade e participação da educação das crianças. 3
3 Veja mais em: http://www.ideafixa.com/e-a-creche-que-fica-no-mesmo-lugar-que-um-lar-para-idosos/
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"Minneapolis Recreation Development Inc"
Iniciativa do aposentado de 70 anos, Allan Law, dedicada a ajudar moradores de rua
levando sanduíches todas as noites há mais de 15 anos. A instituição, Minneapolis Recreation
Development Inc, recebe doações e voluntários que ajudam Allan a servir a comunidade
marginal de Minneapolis, levando suprimentos, necessidades básicas e encorajamento. 4
3. Humor:
Essa categoria inclui produtos e serviços, com foco no público com mais de 60, que
tem como fim divertir, surpreender e tornar a rotina mais divertida.
“Lata 65”
O Lata 65 foi criado pelos organizadores do Woolfest (festival de arte urbana da cidade de
Corvilhã, em Portugal) e teve como objetivo trazer a arte de rua como mais uma opção de
lazer para o público idoso. O grupo oferece oficinas para ensinar técnicas da arte de rua, como
o grafitti, para os maiores de 60 anos. 5
4 Veja mais em: http://www.hypeness.com.br/2015/04/o-aposentado-que-esta-ha-15-anos-distribuindo-
sanduiches-para-moradores-de-rua-da-sua-cidade/ 5 Veja mais em: http://www.hypeness.com.br/2015/05/workshops-de-street-art-pra-idosos-em-portugal/
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“Calendário de filmes famosos”
O calendário criado pelo Asilo Contilia em Essen, na Alemanha, traz imagens de seus
moradores, recriando cenas famosas e emblemáticas do cinema, como Titantic e Rocky. O
Calendário Asilo Contilia ganhou repercussão internacional, promovendo uma visão de que
em qualquer idade é possível ser livre, manter o espírito jovem e se divertir com a vida. 6
4. Identidade:
Essa categoria inclui produtos e serviços, com foco no público com mais de 60, que
tem como fim promover a autonomia, a independência e a auto expressão.
“Hogeweyk"
Hogeweyk é o nome da vila projetada em Weesp, nos Países Baixos, para idosos
especialmente com doenças degenerativas, como Alzheimer, e que tem como objetivo
promover a independência, a privacidade e a autonomia de seus moradores. Dentro da vila
que tem supermercado, restaurante e áreas de lazer, trabalham médicos, enfermeiros e
6 Veja mais em: http://www.buzzfeed.com/ryanhatesthis/a-german-retirement-community-did-a-calendar-
where-seniors-a
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especialistas da saúde que cuidam de mais de 100 residentes. Eles não usam uniformes e
assumem funções como atendentes de loja, vizinhos, entre outras profissões pertinentes à
rotina de uma cidade comum. Os idosos transitam livremente pela vila, fazem suas compras
no supermercado e saem para jantar em restaurantes em um espaço projetado para dar mais
relevo à qualidade de vida e rotina de seus moradores do que à doença. 7
“Objects from another age”
Criados pela designer francesa Eva Rielland, os Objects from another age trabalham
conceitos de objetos antigos com novas tecnologias com o objetivo de aproximar o idoso de
modernidades que ele talvez receie em conhecer. Os objetos possuem apenas uma
funcionalidade cada, como, por exemplo, o tablet de bate-papo, que na parte de trás vem com
um espelho. A ideia é que a pessoa maior de 60 anos olhe para o tablet e veja a si mesma ou a
outra pessoa. Esses objetos visam o entendimento do idoso e sua autonomia no uso de objetos
tecnológicos, por meio de sua semelhança com outros produtos conhecidos. 8
7 Veja mais em: http://awebic.com/cultura/asilo-e-coisa-do-passado-conheca-a-vila-holandesa-projetada-para-
idosos-com-alzheimer/#.VXeawMJbGsc.facebook 8 Veja mais em : http://www.fastcodesign.com/1664664/simple-genius-intuitive-tech-devices-for-the-elderly#1
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"Google Accessibility"
O Google Accessibility View foi uma iniciativa criada por Eduardo Battiston para o
concurso Creative Sandbox do Google que beneficia cadeirantes, idosos e qualquer pessoa
que tenha dificuldade de locomoção. Ele tem como objetivo mapear calçadas das cidades,
criando uma street view do ponto de vista de cadeirantes para facilitar a locomoção de pessoas
com mobilidades reduzidas nas ruas da cidade. O novo serviço contará com a colaboração de
todos, cadeirantes ou não, que utilizarão tags para marcar os pontos críticos das cidades em
tempo real. A partir dessas tags, o Google Maps determina as melhores rotas a pé. 9
5. Bem Estar:
Essa categoria inclui produtos e serviços, com foco no público com mais de 60, que reduzem
o stress, promovem estados de calma e o cuidado com a saúde.
9 Veja mais em: www.youtube.com/watch?v=OO4L1lpbuu8
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“TeleHelp”
Trata-se de um serviço de teleassistência que funciona através de um conjunto que
inclui um aparelho instalado na residência do idoso e um dispositivo em forma de colar ou
pulseira com botão de emergência sem fio e à prova d’água. Caso o idoso necessite de ajuda,
ele pressiona o botão para avisar a uma central de atendimento 24h, que por sua vez
comunicará o ocorrido a pessoas pré-selecionadas pelo idoso (familiares, amigos ou vizinhos)
e também a profissionais especializados. Esse serviço já é utilizado por milhares de idosos em
mais de 19 países e tem contribuído para sua independência e segurança. 10
“Medicine Management System”
10
Veja mais em http://telehelp.com.br/
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O Medicine Management System foi criado por Ying-Lin Chien, Yue-Hua e Li Wei-
Yin Su como uma maneira de lembrar os idosos de tomar seus medicamentos. Trata-se de um
sistema composto por compartimentos para os comprimidos e cápsulas mediado por um tablet
por meio do qual é possível escanear o código de barras dos medicamentos para cadastrá-los
e os médicos podem transmitir informações sobre os remédios para o paciente. 11
6. Auto Estima:
Essa categoria inclui produtos e serviços, com foco no público com mais de 60, que
promovem a avaliação positiva de si mesmo e o autocuidado.
“Série de desenhos Newent House”
Este projeto da artista Alice Moloney reune ilustrações em aquarela feitas durante sua
estadia de uma semana no lar para idosos Newent House, em Londres. Os desenhos retratam o
dia-a-dia dessas pessoas, suas relações e identidades. Em entrevista para o site de notícias
Huffington Post, Moloney revelou que suas intenções mudaram ao longo de sua visita,
chegando à conclusão de que a série tinha se tornado muito mais um retrato do vigor dos
residentes, do que simplesmente um estudo de como eles interagiam entre si. 12
11
Veja mais em: http://www.yankodesign.com/2009/12/04/managing-medicines/ 12
Veja mais em: http://www.huffingtonpost.com/2014/02/21/alice-
moloney_n_4818251.html?utm_hp_ref=pt&src=sp&comm_ref=false
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"Speaking Exchange"
É uma dinâmica criada pela FCB Brasil para a rede de escolas de idiomas CNA,
voltada para a prática da conversação e que possibilita o encontro de estudantes brasileiros e
idosos americanos que vivem em asilos, por meio de vídeo chat. O diálogo começa a partir de
perguntas sugeridas pelos professores e prossegue de forma espontânea com o surgimento de
novos assuntos e do interesse mútuo. Além de aprimorar o inglês dos alunos, o encontro
favorece a criação de vínculos afetivos entre os jovens e seus interlocutores idosos.
Importante ressaltar ainda que, mais do que um sentido de utilidade, o projeto promove a
autoestima de seus participantes. 13
3a fase
O objetivo da terceira fase foi identificar perspectivas do Design Emocional próprias
para o desenvolvimento de produtos e serviços destinados ao envelhecimento saudável e bem
viver do público maior de 60 anos. Ela foi norteada pelos achados da dissertação de Marília
Ceccon acima apresentada (CECCON, 2015) e se deu a partir do cruzamento dos dados
13
Veja mais em: http://educacao.estadao.com.br/blogs/ponto-edu/alunos-brasileiros-aprendem-ingles-com-
idosos-de-asilo-nos-estados-unidos/
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levantados na segunda fase. Os exemplos acima apresentados foram reorganizados de acordo
com as perspectivas do design emocional renovadas com foco no envelhecimento saudável e a
qualidade de vida do público maior de 60 anos. As perspectivas descritas a seguir foram
ilustradas com passagens de depoimentos do público com mais de 60 anos que participou do
estudo.
Design para a renovação da sociabilidade
No estudo realizado junto ao publico com mais de 60 anos, foi percebida a valorização
da convivência com outras pessoas, seja em família ou com amigos. Há também receptividade
para novas relações e amizades, para que possam ampliar seus círculos sociais, e porque
muitos se sentem sozinhos sem ter alguém para conversar:
"Minhas amigas estão morrendo e é difícil conhecer gente nesta idade. Meu filho e a nora
ligam, mas é coisa rápida, só pra saber como estou. Eu entendo. Eles tem a vida deles (...)
Gosto de conversar, mas passo semanas sem ter ninguém para dar um bom dia."
Design para a renovação da sociabilidade inclui ações, produtos e serviços que facilitem e
favoreçam a convivência, o fortalecimento de vínculos afetivos, a ampliação e renovação das
interações sociais dos maiores de 60 anos.
Design para a revitalização da cidadania
Foi percebido o ressentimento dos idosos ao serem percebidos como "pesos para a
sociedade". Os entrevistados participam ou gostariam de participar mais ativamente da vida
social, política, econômica e cultural do país e do mundo, trabalhando com remuneração ou
como voluntários. Alguns demonstraram temor em se sentirem inúteis:
"A velhice pode trazer um sentimento de inutilidade e de não servir mais. Gosto de colaborar.
Sempre que posso participo de uma causa, ajudo alguém. Tenho 70 anos e muita vida pela
frente! Não dá pra ficar parado…”
Design para a revitalização da cidadania inclui ações, produtos e serviços que criem
oportunidades de trabalho, seja ele remunerado ou voluntário, para os maiores de 60 anos.
Esta perspectiva favorece formas e meios de promover sua participação social, engajamento
cívico e pleno exercício de seus direitos e deveres, revitalizando a visão e identificação
própria desse público.
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Design para humor
Foi percebida a importância que os entrevistados dão à atitude de encarar a vida com
leveza e otimismo. Constatou-se que saber rir de si mesmo e de situações adversas resultaram
em um "excelente remédio" para se contornar obstáculos e vivenciar momentos memoráveis:
"Eu penso assim: tudo na vida tem um lado bom. Mas pra ver o lado bom, tem que parar de
ver o lado ruim. Eu penso como aquela música que diz que é melhor ser alegre que ser triste,
alegria é a melhor coisa que existe!"
Design para o humor inclui ações, produtos e serviços que tornem a rotina dos maiores
de 60 anos mais divertida e criam oportunidades de entretenimento, diversão e descontração.
Design para afirmação da identidade
Foi percebida a importância dada pelos entrevistados de continuar a ser o que sempre
foram e de manter suas identidades. Eles expressaram, também, a vontade de experimentar
coisas novas e de fazer o que gostariam de ter feito e que não tiveram a oportunidade quando
jovens. Um bom exemplo foi:
"Todo mundo quer mandar no velho. Mas, ora bolas, quem sabe de mim, sou eu! Chegou a
hora de fazer o que eu sempre quis fazer (...) Não quero morar com minha filha. Quero morar
onde sempre morei, quero aprender a tocar piano, quero pular de paraquedas e quero ver quem
vai me segurar!"
Design para a afirmação da identidade inclui ações, produtos e serviços que promovam
a independência, a autonomia, a segurança e oportunidades para do público maior de 60 anos
de ser e fazer o que ele bem desejar.
Design para o bem-estar
Foi percebida que o estado de bem-estar se relaciona diretamente com a manutenção
tanto física quanto mental e espiritual. Alguns entrevistados contaram que a consciência da
existência de "algo maior" veio com a idade:
"Estava desenganado e me curei inexplicavelmente. Hoje vejo a vida por outro ângulo e busco
formas de vivenciar essa ligação com o que chamam de Deus... Comer bem, respirar bem,
rezar, andar são meios de estar bem.”
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Design para o bem-estar inclui ações, produtos e serviços que promovam estados e
experiências de relaxamento, calma, solitude e o cuidado mais amplo com a saúde para os
maiores de 60 anos.
Design para o autocuidado
Foi percebida a importância dada pelos entrevistados a três ações relacionadas às
mudanças resultantes da idade: tomar consciência, aceitar e se adaptar. Existe risco à
integridade física, mental e financeira ao não se dar conta dessas questões, como revelado em:
“Demorei a perceber que não podia mais fazer certas coisas. Precisei levar muito tombo, bater
de carro e ser roubado pra perceber que tinha mudado. Parar de dirigir foi o pior, mas aceitei,
me adaptei, acostumei e hoje está tudo ótimo.”
Design para o autocuidado inclui ações, produtos e serviços que favorecem a
conscientização, a aceitação e principalmente a adaptação dos idosos às suas novas condições
físicas e mentais.
Design para o aprendizado
Foi percebida a ocorrência das expressões "quero me aprofundar", "quero conhecer
melhor", "faço aulas de", "gostaria de saber mais” e "tenho interesse em” repetidas vezes nas
entrevistas. Isso demonstra a relevância do desejo de aprender e ganhar conhecimento dos
maiores de 60 anos para manter o "espírito jovem":
"Ser velho é um sentimento, não tem nada a ver com corpo. Tenho 78 anos, mas sou mais
jovem do que muito garoto de 20. Tenho espírito jovem! Gosto de aprender, de mudar de
opinião, de trocar minhas ideias por outras melhores. Velho é quem acha que sabe tudo e não
tem mais nada a aprender..."
Design para o aprendizado inclui ações, produtos e serviços que promovem a troca, a
aquisição e o aprofundamento de saberes dos maiores de 60 anos. Pode-se ver aqui a semente
do projeto “PUC-Rio Mais de 50”.
4ª fase
A quarta fase se deu a partir do levantamento de grupos de pesquisa e metodologias
projetuais com foco na promoção do envelhecimento saudável. Esta fase deu-se, também, a
partir de acompanhamento do projeto "PUC-Rio Mais de 50" e incluiu a metodologia
designada "design participativo", centrada no usuário e que abrange métodos de pesquisa
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qualitativa como observação participante, grupos focais e visitas etnográficas. O programa de
educação continuada surgiu da junção entre as demandas encontradas no “Estudo para
identificação de demandas e geração de Ideias de novos produtos e serviços ‘para’ e com
idosos moradores da Gávea”, o interesse da Coordenação Central de Extensão (CCE) em
desenvolver projetos para esse público e pesquisas em artigos e livros que apontavam a
educação continuada como um dos meios de promover o envelhecimento saudável.
Com o objetivo de atender as demandas encontradas na pesquisa de campo citada
acima, o projeto promove cursos, oficinas, eventos exploratórios e colaborativos de educação
continuada. As atividades que são voltadas para o público com mais de 50 anos são oferecidas
por alunos de pós-graduação e professores da universidade. O nome, "PUC-Rio mais de 50"
foi escolhido devido à desconfiança do público em relação a expressões como “terceira
idade”, “melhor idade”, gerontolescência, entre outros considerados estranhos e
discriminativos. Ser um "maior de 50" foi bem mais aceito do que “maiores de 60”, tal como
revelado pelos participantes do programa posteriormente, por faze-los acreditar – em
comunhão com os conteúdos dos cursos - que não se tratava de programa que iria infantiliza-
los ou trata-los como doentes e ultrapassados.
A primeira edição do projeto foi realizada entre os meses de setembro e dezembro de
2014, em parceira com a Coordenação Central de Extensão (CCE) e com o Centro de Estudo
e Pesquisa do Envelhecimento (CEPE). As perspectivas do Design emocional voltadas para o
público maior de 60 anos – apresentadas na terceira fase desse relatório – , principalmente a
do Design para o aprendizado e a do Design para a renovação da sociabilidade, foram
aplicadas e nortearam as atividades do projeto. Foram realizados sete cursos, divididos em
cinco domínios baseados nas áreas de interesse identificadas ao longo da pesquisa de campo
com idosos moradores da Gávea. É importante destacar que esses cursos foram gratuitos, e
que o número de matriculados foi maior que o esperado, mesmo com pouca divulgação.
Segue abaixo as motivações para a criação dos domínios e as atividades oferecidas na
primeira edição:
Atualidades e Conhecimentos Gerais: esse domínio surgiu a partir da perspectiva do
Design para afirmação da identidade. Os temas tratados são relacionados ao País, a assuntos
tratados no noticiário e novos lugares e culturas. Na primeira edição foram oferecidos os
seguintes cursos: “Os Conflitos Atuais do Oriente Médio” ministrado pelo ex-reitor da PUC-
Rio e grande estudioso do tema; “A Repercussão Gráfica da Passagem do Graf Zeppelin pelo
Brasil”, objeto de pesquisa da aluna da pós-graduação em Design e “Fenômenos Físicos
Extraordinários da Natureza”, ministrado por professor do Departamento de Física.
Departamento de Artes e Design
Cultura Religiosa: esse domínio surgiu a partir da perspectiva do Design para o bem-
estar e o interesse dos entrevistados por histórias bíblicas, temas religiosos e espiritualidade.
A atividade oferecida foi o curso “Doenças, Curas e Medicina na Perspectiva da Bíblia”,
ministrado pelo ex-reitor da PUC-Rio e professor do Departamento de Teologia.
Arte e Entretenimento: esse domínio surgiu a partir da perspectiva do Design para
humor e o interesse demonstrado pelos entrevistados em se divertir, praticar e aprender
atividades ligadas à música, teatro e dança. A atividade oferecida foi o curso “The Beatles:
História, Arte e Legado” ministrado por professor do Departamento de Ciências dos Materiais
e grande conhecedor e estudioso da famosa banda inglesa.
Revitalização Profissional: este domínio surgiu a partir da perspectiva do Design
para a revitalização da cidadania e da percepção que alguns entrevistados, depois de
aposentados, buscavam aprimoramento profissional ou novas competências, fontes de renda e
prazer. O domínio tem por fim favorecer novos projetos profissionais e foi inaugurado com o
curso “Exposição e Comercialização de Produtos: potencializando seu negócio”, ministrado
por professora do Departamento de Artes & Design.
Oficinas Digitais: este domínio surgiu com base na categoria sociabilidade e o
interesse dos entrevistados em usar ferramentas digitais para manter, fortalecer e criar novos
vínculos sociais. Ele foi inaugurado com o curso “Vídeo chamadas por Skype”, ministrado
por alunas da pós-graduação em Design.
A divulgação da primeira edição foi controlada e reduzida e feita por meio de cartazes,
email marketing e espaço disponibilizado no site da CCE com informações das atividades
oferecidas. A edição contou com cerca de 160 alunos matriculados.
Ao final do protótipo reunimos alguns alunos para uma sessão de avaliação do projeto.
Os alunos deram sugestões de melhoria que foram incorporadas na segunda edição,
acompanhada de maio a julho de 2014. O projeto ganhou um terceiro parceiro, a Associação
de Antigos Alunos (AAA), por ser um elo em comum com o público, e principalmente com
pessoas que passaram pela PUC-Rio, aproximando elas de novo da instituição e divulgando
para outros interessados. Percebemos na versão anterior que, mesmo com um grande número
de matrículas, poucas pessoas realmente apareciam para o curso. Por sugestão dos próprios
alunos foi estabelecida uma taxa de comprometimento, ou matrícula para cada curso. A
divulgação da 2ª edição foi feita a partir de distribuição de cartões micas, cartazes, busdoor,
envio de email marketing, publicações no Facebook e espaço disponibilizado no site do CCE
com detalhes e informações sobre as atividades. Com as alterações de divulgação e o
acréscimo da taxa de comprometimento percebemos maior comparecimento dos alunos.
Departamento de Artes e Design
Na segunda versão foram oferecidos os seguintes cursos: (1) “Os Conflitos Atuais do
Oriente Médio” ministrado pelo Pe. Jesus Hortal, professor do Departamento de Teologia; (2)
“A Repercussão Gráfica da Passagem do Graf Zeppelin pelo Brasil”, ministrado por Nádia
Leschko, doutoranda do Departamento de Design; (3) “Bossa Nova de Bach a Baden”
ministrado por Fabrício Eyler doutorando do Departamento de Letras; (4) “Caminho de
Santiago de Compostela: história e relatos”, ministrado pelo Prof. Sergio Fontoura do
Departamento de Petróleo e Gás; (5) “Por uma história da amizade: possibilidades antigas e
contemporâneas”, ministrado pela Profa. Flávia Eyler do Departamento de História; (6)
Tomada de decisão e Xadrez, ministrado pelo Prof. Roberto Cintra do Departamento de
Engenharia Industrial; (7) Cidadania & Práticas Sustentáveis na Cidade e no Campo,
ministrado pelo Prof. Fernando Betim do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e (9)
Madame Bovary: encontro com o diretor do espetáculo e ex-aluno da universidade, Bruno
Lara Resende.
No decorrer da segunda edição do programa identificamos que a divulgação não havia
sido tão eficiente quando poderia ser para atingir o público com mais idade. Os posts no
Facebook foram os que trouxeram mais resultados de matrícula. No total, a segunda edição
teve 204 alunos matriculados nos cursos.
A terceira edição estava em fase de planejamento por ocasião da elaboração deste
relatório e será o foco da continuidade deste estudo.
Conclusões
O presente trabalho resultou em um acervo de produtos e serviços destinados à
promoção do envelhecimento saudável e uma revisão das perspectivas de design emocional
com foco no público maior de 60 anos. Este trabalho abrangeu, também, participação em
estudo de design emocional com base em visitas etnográficas que resultou no projeto "PUC-
Rio mais de 50": programa de educação continuada que tem como objetivo promover a troca
de saberes e atender demandas do público com mais de 50 anos através de cursos, oficinas e
eventos exploratórios, colaborativos e interativos. Esta participação resultou no
desenvolvimento de produtos de natureza digital e gráfica destinados à divulgação do projeto
para o público idoso, atendendo suas singularidades e práticas de comunicação.
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Referências
CECCON, M. Design & Envelhecimento: técnicas para identificação de demandas dos
maiores de 60 anos. 2015. 138f. Dissertação (Mestrado em Design). Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 2015.
CECCON, M.; DAMAZIO, V. M. M. Design Emocional: contribuindo para uma nova
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