DESVAIRADOS · ... uma garota que morre de ciúmes por ... Matheus… quem é Sheila? MATHEUS ... tá? HORÁCIO – É, acho que a Magda não vai gostar de saber que

DESVAIRADOS

Escrito por

ROBERTO R. FILHO

Em homenagem a pessoa que inspirou o personagem Matheus

Wanderson Emanoel dos Santos

Copyright © 2017 por Roberto R. Filho

Todos os Direitos Reservados

Registrado sob o nº 23812

Roberto R. Filho

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DESVAIRADOS

Sinopse: Matheus e Horácio são amigos de longa data e dividem um apartamento. Enquanto, Horácio e

Patrícia elaboram um plano para enrolar Tornado, pai da garota, Matheus vive uma história perturbada

com Magda, uma garota que morre de ciúmes por qualquer coisa. A vida desses dois casais está a um

passo de piorar, quando Matheus decide ajudar o amigo a se passa pela sua mãe. O pior está para

acontecer, quando Tornado acaba se apaixonando pela encantadora Maritéia.

Personagens:

Matheus/Maritéia: é um jovem rapaz que saiu do subúrbio para crescer na cidade

grande. Crescidos juntos desde pequeno, Matheus é capaz de fazer qualquer coisa

pelo amigo. Apesar de sua inteligência, Matheus não consegue fechar a boca e tão

pouco pensa antes de agir. Com ele… não há tempo ruim.

Horácio: estudante e trabalhador são características que o definem como um rapaz

objetivo. Mas além disso, romântico, fiel e amoroso são as suas armas principais.

Apesar de vir de uma família com um passado desengonçado, Horácio é mente aberta

e tudo o que quer é namorar a jovem Patrícia.

Patrícia: filha única de Tornado, é uma jovem encantadora e independente.

Equilibrada, gentil e astuta, ela arma o plano com o namorado de enrolar o pai, que

insiste em conhecer os pais do seu namorado. Tem zero paciência com o Matheus, por

não aturar suas loucuras.

Magda: se a palavra ciúme caracteriza a namorada de Matheus, então ninguém

conhece o ciúme em pessoa. É o tipo da namorada que não larga do pé do amado e tá

sempre ali fuçando, pronta para dar o bote se necessário. Mesmo com esse defeito,

Magda ama profundamente o desvairado.

Tornado: é um homem de sucesso na vida, exceto no casamento. Mas quando sua filha

completou cinco anos, descobriu que foi traído pelo médico que levou a sua esposa.

Tornado foi pai e mãe de Patrícia, além de um homem honesto e trabalhador. Acaba se

apaixonando pela Maritéia, acreditando que ela pode ser o seu verdadeiro amor.

Histórico: O personagem Matheus é inspirado 100% em Wanderson Emanoel dos Santos. Ele fez

parte da Cotesf durante dois anos, alternativos, e quando preparava o seu retorno aos

trabalhos da cia., Deus decidiu dar descanso eterno. Quando foi escrita em 2006,

Wanderson dos Santos, Beralice Moraes, Roberto R. Filho, Kássia Taylane e Francis

formavam o elenco. A peça não vingou e foi arquivada.

Sendo lembrada em 2014, o roteiro sofreu uma alteração e a personagem de Magda

foi removida, sendo apenas citada. Johnny Araújo, Janaína Gonçalces, David Milla e

Roberto R. Filho eram os escalados da vez. Outrora, o elenco não vingou também e o

espetáculo voltou a ser arquivado. No início de 2015, a peça quando chegou a sonhar

com os palcos, mas foi arquivada dias depois.

Agora, o espetáculo que antes recebia o título EXCITAÇÃO, encontrou a sua verdadeira

proposta e passou a se chamar DESVAIRADOS. E a melhor parte é que ela é uma das

favoritas a ser produzida em 2018, além de trazer a história original com os cinco

personagens que vai deixar qualquer um maluco.

Por Roberto R. Filho

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Desvairados Ao abrir das cortinas, ouve-se uma voz vindo da coxia.

MATHEUS (O.S) – Chega no seu carro no meio da multidão e liga o som. Ao som do instrumental “LIGAÇÃO A COBRAR” de Companhia do Calypso, Matheus entra na sala, gesticulando na batida da música e dançando esquisitamente. Ele bagunça toda a casa, revirando os objetos presentes em busca de algum objeto.

MATHEUS – Pedaço de Brad Pitt / pedaço de Gianecchini / pedaço de Matheuszinho / eu sou pura sedução / o celular danou-se a tocar / chamada a cobrar / (T) Tem um pobre ligando pra mim / Tem um pobre ligando pra mim / Não me ligue a cobrar do celular. Porra! (P) Cadê esta merda?

Matheus procura por trás do sofá. Horácio entra quase que desesperado.

HORÁCIO (procurando) – Matheus?! Matheus?! MATHEUS – Que é?

Horácio se assusta.

MATHEUS – Porra, é? Vai dar a luz, é? HORÁCIO – Palhaço! MATHEUS – Diga logo que é que ‘cê’ quer? HORÁCIO – Preciso que…

MATHEUS (cortando) – Não! HORÁCIO – Não o quê? MATHEUS – Você já vem me pedir dinheiro emprestado e pra mim isso não dá certo.

HORÁCIO – Mas eu nunca te pedi dinheiro emprestado. MATHEUS – Tudo tem sua primeira vez. HORÁCIO – Deixa de palhaçada… e para de jogar as coisas pro ar. Me escuta, cacete. MATHEUS – Diz logo, infeliz. Num tá vendo que eu tô procurando uma coisa.

HORÁCIO – Preciso de um favor seu.

MATHEUS – Para, para, para, para, parou. Num senti firmeza nesse seu pedido, não. Diz aí mais sofrido: “MATHEUS, EU PRECISO DE UM FAVOR”.

HORÁCIO (imitando Matheus) – MATHEUS, EU PRECISO DE UM FAVOR.



MATHEUS – Explêndido! Agora, fica treinando aí que eu vou procurar as minhas coisas lá no quarto. HORÁCIO – Tá bom… (caindo na real) Porra, Matheus?! Volta aqui! Come back here. MATHEUS – Da próxima vez que tu se astrever de me xingar em japonês eu dou na tua face. Agora, desembucha. HORÁCIO – É o seguinte… MATHEUS (cortando) – Não é para se vestir em alguma fantasia, é? Por que se for… eu tô fora. HORÁCIO – Por quê?

MATHEUS – Tá pensado que eu me esqueci daquela que vez que me fantasiei para festa de ‘crionças’?

Horácio revira o olhar, já sem paciência.

MATHEUS – Pode revirar os ‘zoin’, mas eu não esqueci, não, viu senhor?! Primeiro, eu não sabia que o Estatuto da Criança e do adolescente estava incluso os jumentões de 20 anos. (imitando Horácio) “Não. É só uma festa pra criança”. A pessoa chega lá tá todo mundo no lepo lepo e bilu bilu. Ah, pelo o amor de Deus. Odeio pagode arrochado. Segundo, as criancinhas inofensivas, ficavam puxando o meu rabo. HORÁCIO – Você pediu isso. Você lembra de que estava a caráter? MATHEUS – Lembro. Você pediu pra se fantasiar com uma temática infantil. HORÁCIO – Matheus, desde quando o capeta é temática infantil? MATHEUS – É assim que me agradeces brutus? Fiz isso pra quebrar teu galho. (se aproxima de Horácio mexendo na cabeça) Falando nisso, agora eu sei por quê você tá pedindo.

HORÁCIO – Para com isso. Você vai me ajudar ou não? MATHEUS – Diz! HORÁCIO – Hoje, a Patrícia vai vim aqui com o pai. E ele quer conhecer a minha mãe…

MATHEUS – Num acredito nisso. Tu tá querendo que eu vá atrás dela nos inferno, é isso? Por que tu sabe que ela tá lá, né? E ela tá lá por que era ruim. Ela era tão ruim que negava comida pro cachorro. HORÁCIO – Nunca tivemos cachorro.

MATHEUS – O cachorro de teu pai. Isso sem falar que no dia que sua mãe me convidou para almoçar, nem café eu tomei. Fui de bucho vazio. Quando cheguei lá o almoço era uma azeitona e ainda tive que guardar o caroço pra chupar na janta.



HORÁCIO – Para de por minha vida pessoal a exibição gratuita e me ajuda. É o seguinte… preciso que você se vista dela.

Ao som de uma música dramática, Matheus simula um ataque do coração indo até o sofá, cai e se joga no chão indo à plateia.

MATHEUS – O quê? Não! Por favor! Vá! Fuja do zumbis.

HORÁCIO – Matheus! EU preciso que você me ajude. E você vai fazer isso por mim, ou vou contar pra Magda onde você estava domingo passado.

MATHEUS – Fi da peste. Bubônica. Fi do capeta dos inferno. Posso saber por quê não posso me vestir de pai? HORÁCIO – Por que sem querer eu disse que meu pai já morreu. MATHEUS – Que família mais invertida é essa? É a novela de Manoel Carlos? Teu pai num tá preso, infeliz? HORÁCIO – Mas pra mim ele tá morto e chega de papo.

Som de batidas forte na porta.

MAGDA (em off – gritando) – Matheus! Matheus procura por um espaço pra se esconder. MATHEUS – Puta merda! HORÁCIO – Que foi que você já aprontou?

MATHEUS – Até parece que tu não conhece a Magda. É preciso aprontar pra ela gritar comigo? MAGDA (em off – gritando) – Matheus!

Horácio vai à porta e abre. Magda entra segurando a sua bolsa. Matheus abre os braços e vai de encontro à ela. Horácio senta no sofá e assiste a tudo. MATHEUS (todo carinhoso) – ‘Bebegim’, dá beijin dá. Magda segura a cara do Matheus. MATHEUS – Ai! Quê é isso? Já chega agredindo? Virou padre, vai exorcizar? MAGDA – Matheus… quem é Sheila? MATHEUS – Sheila?

MAGDA – Matheus, eu vou reformular a pergunta: (mostrando o celular já na cara dele) Quem é esta quenga?



MATHEUS – Mas o quê é isso? Por que tanta raiva? MAGDA – Matheus! Esta Sheila, esta quenga, reagiu a uma foto sua no facebook. Deixou coraçãozinho e tudo mais MATHEUS – Sheila, deixa eu ver aqui. Aaahhhh! Lembrei, amor. É… é uma amiga minha. Migona, sabe? MAGDA – Matheus… desde quando, homem tem amiga quenga? MATHEUS – Amor… você precisa ficar mais calma. Em primeiro lugar, ela não é quenga. Em segundo, ela é minha dentista, uma doutora super atenciosa, respeitosa. Ela deve ter curtido a minha foto por ter feito um bom trabalho nos meus dentes… olha lá que sorriso mais lindo e encantador do seu namorado, foi ela que ajudou. MAGDA – Matheus, tu num vem de piadinha não, hein. Você fica se engraçando (ela dá tapas a cada palavra) com essas sirigaitas. MATHEUS – Aaaaiiiiiê. José da Penha. MAGDA – Olha, Matheus… tudo na vida tem limite. MATHEUS – Você não. Você já chega estrabuçando, batendo, agredindo. (percebendo Horácio) Vem cá, tu num tem o que fazer não, é? HORÁCIO – Tenho, mas aqui tá mais divertido. MAGDA – Olha só… vou voltar pro meu trabalho. Mas essa conversa ainda não acabou. Me aguarde.

Magda sai, batendo a porta muito forte. MATHEUS (gritando) – Quebra! Magda retorna ao palco. MAGDA – É o que? MATHEUS – Não. Eu não disse nada. Magda sai. Horácio se aproxima de Matheus. HORÁCIO – Acho que não vai ter outra, né? Você vai me ajudar.

MATHEUS – É tão lindo ver você sonhando alto. Cuidado pra não cair e estragar esse rostinho de bebê lindo, tá?

HORÁCIO – É, acho que a Magda não vai gostar de saber que você preferiu uma despedida de solteiro do que ir no casamento da prima com ela no domingo passado.



MATHEUS (boquiaberto) – Já vi que amigo, não é coisa de Deus. O capeta deve ter te mandado direto pra me atentar. Maldita hora que te conheci naquele fliperama. Bem que minha mãe dizia que isso era coisa do capeta, mas eu não quis dar ouvidos. Olha ai, o que eu ganho por se envolver com uma agressora e um chantagista. HORÁCIO – Eu sabia que podia contar com você. Agora vem cá, que eu comprei uns presentinhos pra você. MATHEUS – Ai, credo. Você me chamando desse jeito parece mais aquele palhaço do It a Coisa. You’ll float too. HORÁCIO – Vem logo.

Horácio e Matheus saem. Patrícia entra com o celular ao ouvido.

PATRÍCIA – Não, pai! Pode ficar tranquilo, daqui a pouquinho tô indo te buscar. Tá. Um beijo. Tchau. (desligando) Amor?!

Som da Mulher do Whatsapp.

PATRÍCIA – Que é isso? Horácio entra às pressas.

HORÁCIO – A música de chamada do Matheus. (atendendo) Oi, Magda. (P) Matheus?! Ele… Não… ele… ele tá ocupado. (P) Tá fazendo umas coisas. (P) Coisas estranhas. (P) Não, tá tudo bem. Não precisa. Não, não precisa. Mas… Desligou.

Horácio e Patrícia se beijam.

PATRÍCIA – Então, amor. Tô indo agora pegar meu pai lá no aeroporto. Mas passei aqui pra saber se estava tudo certo. Já falou com a atriz? HORÁCIO – Tudo certinho. PATRÍCIA – E o Matheus? HORÁCIO – Que é que tem o Matheus? PATRÍCIA – Ele não vai estar aqui, não é? Ele pode acabar estragando todo o nosso plano. HORÁCIO – Não, não. Ele já saiu. Pode ficar tranquila amor. PATRÍCIA – Ué, mas você acabou de dizer para a Magda que ele estava ocupado fazendo não sei o quê. HORÁCIO – É que ele saiu e deixou celular justamente se caso ela ligasse.

PATRÍCIA – Menos mal. Agora, depois que ele conhecer a sua mãe e der a benção, boto ele pra correr e não teremos mais nenhum empecilho pra namorar.



HORÁCIO – E se ele descobrir algum dia? PATRÍCIA – Já terá passado, né, Horácio? Não vai amarelar. HORÁCIO (arranhando a voz) – Amarelar? PATRÍCIA – Você tá com medo do meu pai? HORÁCIO – Eu não. Onde já se viu? PATRÍCIA – Que bom. Relaxa, amor. Vai dar tudo certo. Agora, deixa eu ir, que eu vou buscar a criança.

Patrícia beija Horácio e sai. Ao som da música “MACHO MAN” do Village People, Matheus entra com um vestido enquanto interpreta e canta, dançando com Horácio. No término da música, Matheus pula nos braços de Horácio, que deixa-o cair.

MATHEUS – Sentindo cheiro de chifrinho queimado. (rindo) Então, amor! Como eu tô? HORÁCIO – Parecendo o cão chupando manga. MATHEUS – Então tô a cara de tua mãe. Tu acha que isso vai dar certo? HORÁCIO – O plano é perfeito. Basta você fazer o quê eu já te disse. MATHEUS – Não sei, não, cara. Tô aqui pensando: 2 e 2 você somaria ou multiplicaria? HORÁCIO – Sei lá… os dois vão chegar no mesmo resultado. MATHEUS – Escolhe um. HORÁCIO – Somaria?! MATHEUS – Prazer, sou Matheus. Ainda não entendi essa da calcinha. HORÁCIO – Mulher usa calcinha.

MATHEUS – Magda não. HORÁCIO – Magda não usa calcinha? MATHEUS – Ela usa as calçolas da bisavó.

Horácio e Matheus começam a rir. Matheus para. Horácio prossegue e só depois de muito tempo, percebe, que Matheus está apenas observando-o.

HORÁCIO – Essa foi boa. MATHEUS - Não foi, não. HORÁCIO – Tá. Vamos ensaiar. Meu nome é José.



MATHEUS – Mentira. É Horácio. Mentindo pra sua mãe? Mamãe te ama, desgraçado. Não minta pra mamãe. Diga o carinho que você sente por mim. Mostre esse amor, que você sente por mim. Me abrace, me ame, me beije…

Matheus derruba Horácio no sofá, ficando aos beijos. Magda entra e fica pasma ao ver aquilo. MAGDA (gritando) – Matheus… Mas eu não estou acreditando nisso. MATHEUS – Fudeu! Ma-Magda eu posso explicar tudo.

MAGDA – Você acha que sou idiota, Matheus? Eu assisto novela e os canalhas sempre dizem a mesma coisa. Eu não acredito que eu estou namorando um… um… boiola. HORÁCIO – Magda! Está havendo uma grande confusão. Não é nada disso. MAGDA – Você cala a sua boca, Horácio. Logo você? Que namora a pobre Patrícia. Fico imaginando quantos chifres vocês dois já deram em nós duas. Que destino cruel. MATHEUS – Amor… isso é só uma brincadeira. MAGDA – Num se aproxima de mim, viado. Agora tudo bate. No dia dos namorados você quis vestir a minha camisola. No dia do meu aniversário você me deu um Kit de maquiagem e no dia do seu aniversário deixou que eu introduzisse… MATHEUS – Éééééééé… vamos parar com essa história. Onde já se viu querer questionar a minha masculinidade. MAGDA – Olha só, Matheus. Quer saber. Não tô nem aí. Quer ser viado, que seje. MATHEUS – Mas pelo o amor de Deus, olha esse português, Magda. MAGDA – Querendo me corrigir? Logo você, que está caracterizado feito uma vadia de Copacabana. MATHEUS – Mas o quê é isso? As meninas de lá se vestem exatamente igual. (P) Você acha que tá faltando mais alguma coisa? MAGDA – Você ir pro inferno, Matheus.

Magda pega a bolsa e sai. Matheus olha para Horácio, encarando-o. HORÁCIO – Pelo menos você vai ter mais tempo pra ir naquela convenção de games. Som de campainha.

HORÁCIO – Ih! (vendo) Cacete são eles. MATHEUS – Ih! Cacete! São eles! (P) Eles quem? HORÁCIO – O pessoal.



MATHEUS – Isso é pra hoje? HORÁCIO – Qual parte você não entendeu? MATHEUS – Eu sei lá. Às vezes eu vejo você movendo a mandíbula e não entendo nada do que você fala. HORÁCIO – Vai logo terminar de se trocar (empurrando Matheus). MATHEUS – Olha lá como você fala comigo. Não empurra, não.

Matheus dá um beijo em Horácio e sai. Patrícia entra, segurando a mão de Tornado.

PATRÍCIA – Pode entrar, pai.

HORÁCIO – É! Pode entrar, pai… (caindo em si, estende a mão) Meu nome é Horácio, namorado de sua filha, a Patrícia… (improviso – ele vai falando sobre as características de Patrícia) TORNADO – Minha filha… tem certeza que quer namorar um dogrado em café? PATRÍCIA (rindo) – Ah! Pai! (para Tornado) Para.

TORNADO (estendendo a mão) – Tornado Padrão.

Horácio aperta a mão de Tornado, que aperta duas vezes mais. Horácio grita de dor.

TORNADO – Algum problema? HORÁCIO (cômico) – Não! Podem sentar. (para Patrícia) Ele tem mãos de ferro? PATRÍCIA – Para.

Todos se sentam.

HORÁCIO – Pode ficar a vontade, viu? O senhor quer beber ou comer alguma coisa? TORNADO – Sua mãe? HORÁCIO – Respeita a minha mãe. (improviso)

Patrícia se levanta tentando conter o namorado.

PATRÍCIA – Amor! Amor! Amorrrr! Oi? Meu pai quer saber onde está a sua mãe! HORÁCIO – Aaaaaaaaaaaaah! A minha mãe! Minha mãe? Minha mãe tá lá dentro, terminando de se arrumar. Espera aí um instantinho que eu vou lá chamar ela.

Horácio sai.

TORNADO – Pelo o amor de Deus, minha filha. Até onde você foi se envolver com este rapaz?



PATRÍCIA – É melhor o senhor não saber. Ele só está nervoso. Mas como vê, ele mora num lugar bem, não é ladrão, nem psicopata, não usa drogas…

Tornado encara a filha. PATRÍCIA – Tá bom, ele bebe café. Mas o que o senhor achou?

TORNADO – O lugar combina com ele. Feia, horrorosa e chata. Mas gostei da caixinha.

PATRÍCIA – Ah! Eu que dei pra ele (enquanto Patrícia fala, Tornado pega a caixa e guarda. Patrícia conclui horrorizada), mas se o senhor quiser pode pegar, que eu dou outra pra ele. Vou ao banheiro e já volto.

Patrícia sai. Horácio entra.

HORÁCIO – Ela já está vindo seu Vulcão, pode ficar frio. Tornado pega Horácio pela camisa.

TORNADO – Olha aqui, seu moleque. Meu nome é Tornado! Tornado! Entendeu? HORÁCIO – Perdoe o equívoco. TORNADO (olhando para os lados) – Olha só. Vou te mandar a real. Particularmente não fui muito com sua cara.

HORÁCIO – Não? TORNADO – Não! E eu acho bom que essa viagem valha muito à pena. Por que se não… (estalando os dedos) Alguém será tão massacrado, quanto os dedos dos pés.

HORÁCIO – Que tal um acordo financeiro? Não seria melhor? (Tornado desaprova com o olhar) Melhor não… também não tenho dinheiro. Então tudo que me resta é rezar que minha mãe lhe convença. Não é, mesmo? (rindo).

Horácio sai. Patrícia entra.

PATRÍCIA – Amor?! Engraçado. Juro que ouvi a voz dele. TORNADO – No, my Darling. Aquele tribufu não esteve aqui. PATRÍCIA – PAI?! O senhor prometeu que não ía fazer graça com o Horácio. TORNADO – Tem razão. Aquele do Ensino Inferior Fundamental plantado pelo governo para escola pública onde as siglas já falam por tudo: FDP!

Horácio entra.

HORÁCIO – Seu furacão…? TORNADO (irritando) – Tornado!



HORÁCIO – Mil perdões. (T) Quero apresentar… a minha mãe.

Ao som de “PERIGOSA” das Frenéticas, Matheus entra se rebolando com uma bolsa, com óculos e salto alto. Ele requebra o corpo e acaba caindo por trás do sofá.

MATHEUS (O.S.) – Cão da peste. (ele se levanta) Tô bem. Matheus dá a volta no sofá.

MATHEUS – Oi, gente! (para Horácio) Ah, coisinha da mamãe. Tornado encanta-se.

TORNADO – Quanta beleza. Qual a sua graça? MATHEUS – Contar piada.

Matheus e Tornado começam a rir. Horácio e Patrícia disfarçam os sorrisos.

MATHEUS – Tá bom. Cabou as risadas. Cansei. TORNADO – Qual o seu nome? MATHEUS – é Ma… HORÁCIO – Maritéia! PATRÍCIA – Maritéia? TORNADO – Estou estonteantemente fascinado por uma rara beleza natural. Meus sentimentos se aguçaram desesperados depois de tantos anos sem encontrar alguém do seu porte. MATHEUS – Oh! São os seus zóios.

TORNADO – Tornado Padrão, encantado. MATHEUS – De encantado você não tem nada, filho. HORÁCIO (dando uma cotovelada) – Mãe?! MATHEUS – Ai, menino que é isso? Jogos ossais? Eu, hein! Prazer, viu, seu coisa. Meu nome é Maritéia Carmem Lúcia Viana dos Anjos Silva Santos Souza Alves Gonçalves Duarte Fagundes Ribeirão Pinto da Cunha. TORNADO – Prazer!

Tornado beija a mão de Matheus e depois passa a língua.

MATHEUS (para Horácio) – Se eu sair casada com este homem hoje, quero 90% da herança.



HORÁCIO – Vamos sentar.

Horácio e Patrícia se sentam. Tornado e Matheus improvisam quem senta primeiro. Horácio cansa e puxa, fazendo o Matheus se sentar.

MATHEUS – Ai, garoto. Estúpido. Doido. Quer arrancar meu braço? Quer deslocar? Credo! A peruca saiu do lugar. TORNADO – E então? Quando a senhora chegou de viagem? MATHEUS – Cheguei hoje, mas estou indo hoje mesmo. Espero que seja pra nunca mais voltar. (para Horácio) Não é, traste? (improviso)… TORNADO – E para onde a senhora pensa em ir? MATHEUS – Ah! Eu vou pra fora. TORNADO – Hum. Interessante. Europa? Ásia? América do Norte? MATHEUS – Não! Pra fora do Rio de Janeiro. Talvez, Petrópolis, Duque de Caxias, Teresópolis. PATRÍCIA – E onde estão suas malas? MATHEUS – Ué? Pra quê? TORNADO – Pra colocar suas roupas.

MATHEUS – E eu por acaso vou viajar nua?

Horácio dá um beliscão.

MATHEUS (p/ Horácio, aos berros) – Ai, menino. TORNADO – É casada? MATHEUS – Deus me livre. A vida só me deu esse traste por que não pude adotar.

PATRÍCIA – Vocês querem beber algo? TORNADO – Sim! MATHEUS – Não! TORNADO – A senhora vai querer algo?

MATHEUS – Sapupara. TORNADO – Essa eu ainda não conheço. MATHEUS – Tiro e queda, meu filho.



TORNADO – Eu vou querer um copo do sapupara. PATRÍCIA – Querido… por que você não vem me ajudar? HORÁCIO – Claro, amor.

Patrícia pega Horácio pela camisa.

PATRÍCIA – Olha… jamais pensei que essa atriz fosse tão… tão parecida com o Matheus. Então, antes que me levem presa por te matar, vou dar a chance de você se confessar! HORÁCIO – Impressionante! Você pareceu a Magda. Tá bom. A atriz me cobrou três vezes mais e eu não tive dinheiro pra pagar. Aí… PATRÍCIA – Aí, o quê? HORÁCIO – Chamei o Matheus. PATRÍCIA (gritando) – Você o quê? TORNADO – Tá tudo bem? PATRÍCIA (para Tornado) – Tá sim, paizinho. (para Horácio) Nós vamos lavar a louça suja na cozinha. Vem!

Patrícia sai com Horácio. Aos efeitos sonoros de pratos quebrando, copo, gato miando, Tornado e Matheus estão assustados. Tornado aproveita a falta de atenção de Matheus e se aproxima sem que ele note.

MATHEUS – O amor desses dois é tão lindo que às vezes fico pensando que brigam por mim.

Matheus vira para o lado e se assusta. Tornado fica fazendo expressões de sedução.

MATHEUS – Ai, demônio! Tá amarrado em nome de Jesus. Matheus se afasta. Tornado se aproxima. Eles fazem esse jogral até que Matheus sai correndo e Tornado segue.

MATHEUS – Pode parar que minha mãe não gosta dessas ousadias, não, viu?

TORNADO – Perdoe-me, mas sua formosura é um brilho nos meus olhos. Você tem os olhos de Flávia Alessandra. Os cabelos da Glória Pires, o sorriso da Monalisa, a simpatia da Carolina Dieckman… MATHEUS – Êpa! Não apela. Tava bom demais, até chegar na Monalisa.

Horácio e Patrícia voltam com bandejas com comida e bebida. Matheus vai até Horácio e Patrícia até o pai. Eles se cruzam demonstrando nojo um pelo o outro.



MATHEUS (para o público) – Nora é o cão mesmo. (para Horácio) Horácio, o coroa está dando em cima de mim e isso não estava no acordo.

HORÁCIO – Aproveita que a Magda acabou e já marca data do casamento com o ele?

MATHEUS – Eu vou marcar a minha mão na sua cara se você não me tirar dessa roubada. Só quero ver se a vai peça acabar e eu ainda vou estar vestido assim…por tua causa. HORÁCIO – Tá, bom, tá bom. Eu vou dar um jeito aqui.

PATRÍCIA – Horácio… Você não sabe o que eu acabo de saber pelo meu querido pai. HORÁCIO – O quê, amor? PATRÍCIA – Meu querido pai disse que sua mãe… é uma adorável companhia. HORÁCIO – Minha mãe é demais. (Horácio bate com a mão na bunda de Matheu). MATHEUS – Você que está passando dos limites até demais, gracinha. TORNADO – Gostaria de conversar mais com a senhora. MATHEUS – Converse. TORNADO – Gostaria de um passeio comigo?

MATHEUS – Adoraria. Mas… (fazendo gesto de quem está agorando catarro e limpa no Horácio). Estou ficando gripadinha. PATRÍCIA – Um pouco de ar vai lhe ajudar Dona Maritéia. MATHEUS – Vai? Então vá no meu lugar.

Horácio se aproxima de Patrícia.

HORÁCIO – E agora, o quê é que a gente faz? PATRÍCIA – Precisamos bolar um plano, pra tirar os olhos do meu pai de cima da sua mãe… aliás do Matheus. HORÁCIO – E o quê você está pensando? PATRÍCIA – Ainda não sei. Mas vamos nós dar uma volta e vê se pensamos em algo. (para Tornado) Papai… tô saindo, mas volto logo, trate bem a D. Maritéia, né, sogra?

MATHEUS – Isso. Muito bem, roga praga. Mas roga mesmo. Quando tu tiver buchuda, eu sei como vou tratar essa praga. Palavras de Malévola. TORNADO – Pode deixar, filha. (acariciando a mão) Em minhas mãos, (abraçando) em meus braços ela estará segura.



Matheus se solta.

MATHEUS (tentando se soltar) – Não precisa exagerar tanto. Me solta… me solta… (empurrando Tornado) me soooooolta. Obrigada.

Patrícia e Horácio saem.

MATHEUS – Vão com Deus e voltem feito notícia ruim. Tornado fica paquerando na base do beijo e do psiu.

MATHEUS – Não tô aguentando mais isso gente. Vem cá, seu Twister.

TORNADO – Tornado!

MATHEUS – É o que eu quiser. Escuta! Por que a gente não dá logo as bênçãos para essas duas criaturas, aí o senhor vai embora, eu vou embora e todo mundo fica feliz? O negócio era só nos encontrarmos para dar a benção. TORNADO – Mas acho que fiquei interessado por algo mais. MATHEUS – Foi, é? Já sei. É a sapupara. Eu mando uma caixa de sapupara pro senhor, se quiser, tá? TORNADO – De fato não foi a sapupara. MATHEUS – Tô até com medo de perguntar.

TORNADO – Estou muito feliz que minha filha esteja entrando na sua família, mas acho que ainda não é o suficiente. Minha filha precisa de mais. MATHEUS – Então deixe toda sua herança para ela. Por que minha família é lascada. TORNADO – Não tô falando da herança. Ela precisa de uma mãe. MATHEUS – Já tentou pelo bate papo uol? Lá é assim (mexendo com as mãos) de mulher querendo casar. Se não, faz que nem Ronaldinho, pega um traveco, que tá de bom tamanho. TORNADO – Traveco? (rindo) A senhora é mesmo uma piada. Embora não tenho nada contra, mas não sou chegado a essa diversidade sexual. Meu negócio é (abraçando Matheus a força, tentando beijar) você. MATHEUS – Você tá doido, homem? Nossos filhos namoram, isso é um incesto. Isso é pecado. Para!

Tornado ainda tenta beijar e é surpreendido com um tapa dado pelo Matheus.

TORNADO – Você me bateu? MATHEUS – Bati, mesmo.



TORNADO – Eu devia era deixar você aí sozinha.

MATHEUS – Seria um favor. TORNADO – Mas gosto desse tipo de mulher. Brava, forte, que bate com amor. MATHEUS – O senhor que num se atreva. TORNADO – Vem cá, meu amor. MATHEUS – Larga de ser teimoso. Agora já sei a quem Patrícia tanto puxou. TORNADO – Me diz uma coisa, D. Maritéia… após a morte de seu marido, nunca mais teve vontade se casar? MATHEUS – Sim. Com um militar. TORNADO – Mas por que um militar? MATHEUS – Elementar, meu caro. Ele sabe cozinhar, fazer a cama e ainda por cima obedece as ordens. TORNADO – E o que a senhora me diz da gente pegar um cineminha? MATHEUS – Não quero. Tenho trauma. TORNADO – Por quê? MATHEUS – Uma vez eu fui com o falecido, passei a maior vergonha da minha vida. Eu disse que queria dois ingressos. O homem lá do ticket perguntou “Para Romeu e Julieta?” eu respondi: Não para eu e meu marido mesmo. TORNADO (rindo) – A senhora devia ser atriz. Fascinante. Cada momento mais eu tenho vontade de beijar a sua boca. De adoçar esses lábios até você passar a língua pedindo mais e mais e mais e…

Horácio e Patrícia entram.

PATRÍCIA – Estamos atrapalhando? TORNADO – Sim! MATHEUS – Não! TORNADO – Sim!

Matheus dá um tapa nele.

MATHEUS – Isso é jeito de falar com sua filha? Não atrapalhou não querida. Entra. PATRÍCIA – Trouxemos um lanchinho pra vocês.



MATHEUS – Ah! Filhinho do coração. Não precisava.

HORÁCIO – Precisava sim, mamãe. MATHEUS – Precisava não, desgraçado. Precisava era de trazer um dedetizador. PATRÍCIA – Para meu pai, trouxe hot Filadélfia, sushi. TORNADO – Obrigado. MATHEUS – E pra mim?

PATRÍCIA – Pra senhora? Eu trouxe ovo cozido com repolho refogado e salada de maionese. Uma delícia. MATHEUS – Ah! Não, assim não dá. Para vai. Mas tem uma alma penada neste cenário que está me amaldiçoando. Não pode ser outra coisa. Ah! Lá. O cara vai comer comida japonesa, eu tenho que comer isso. Horácio? Vem cá, ódio do meu país. Ovo cozido e repolho refogado? Essa menina esqueceu que eu tenho sérios problemas de bujão? Eu não vou segurar peido.

HORÁCIO – Isso faz parte do plano. MATHEUS – Qual Plano? HORÁCIO – Que a Patrícia inventou.

Matheus senta ao lado de Tornado que já está comendo.

MATHEUS – Eu sabia! (para Patrícia) Cobra! Seja o que os órgãos quiser. Matheus come o repolho e ovo. Patrícia e Horácio ficam na expectativa. Som de peido faz com que todos tapem os narizes. Tornado olha para Matheus.

TORNADO – Minha nossa! MATHEUS – Muito feijão. TORNADO – Feijão? Isso tá com cheiro de ovo podre. MATHEUS (rindo) – O senhor acertou. (som de peido) TORNADO – Quer saber, minha filha? Você tem certeza de que quer realmente namorar com o filho da Sra. Maritéia?

MATHEUS - Maritéia Carmem Lúcia Viana dos Anjos Silva Santos Souza Alves Gonçalves Duarte Fagundes Ribeirão Pinto da Cunha. Exijo que seja falado completo. TORNADO – (improvisa tentando). MATHEUS – Quer saber? Desisto. Ele não vai conseguir mesmo. (som de peido)



TORNADO – Você tem minha bênção. Pode namorá-lo.

PATRÍCIA – Obrigada, pai. Fico muito feliz. MATHEUS – E eu mais ainda. PATRÍCIA – Como tradição da família, vou fazer um chá para nós.

Horácio vai abraçar Tornado, que deixa-o no vácuo.

HORÁCIO – Sou o homem mais feliz… (se abraçando) do mundo. TORNADO – A senhora gostaria de um abraço? (pegando na mão de Maritéia). MATHEUS – Não, obrigada. Muita gentileza…

Magda entra. E se depara com Matheus e Tornado conversando próximos.

MAGDA – Mas eu não acredito nisso. MATHEUS (com voz grossa) – Magda?! (se tocando) Magda! Querida… como você está? MAGDA – Muito bem. Já você… não basta os novinhos, agora pega os velhinhos. TORNADO – Ora… mas isso é um absurdo. MAGDA – Absurdo um cacete. Absurdo é o que você (para Matheus) fez comigo. Como pode me trair? TORNADO – Sra. Maritéia… a senhora é lésbica? MAGDA – Maritéia? Mas isso só pode ser golpe. Não basta o presidente? TODOS DO ELENCO – Fora Temer! MATHEUS – Não é nada disso, meu bem. Senta aqui que vou te explicar tudinho.

Patrícia se aproxima com uma bandeja com xícaras.

PATRÍCIA – Olha o cházinho. Tornado vira-se e se esbarra com Patrícia, que derruba o chá sobre Matheus. Ele tira a peruca e começa a limpar o líquido.

MATHEUS – Ai! Ai! Tá queimando! Tá queimando! Todos ficam perplexos. Matheus se toca.

MATHEUS – Ele está olhando, não está? Horácio e Patrícia confirmam.



TORNADO – Patrícia? (P) O quê significa tudo isso? PATRÍCIA – Calma, pai. Eu posso explicar. HORÁCIO – Não. Deixa. Eu mesmo faço. É o seguinte seu Twister… TORNADO – Tornado. Meu nome é Tornado. MAGDA – Pois deixa que eu explico essa safadeza toda. Esse safado que dizia me amar tem um caso com o melhor amigo, namorado da sua filha, e, agora, por algum motivo, quer ter um caso com o senhor.

Matheus encara Magda, que o desafia com braços cruzados.

MATHEUS – Jura? Depois do dia do nosso aniversário de namoro? MAGDA – Você deve ter usado viagra.

HORÁCIO – Chega! Chega! O senhor quer a verdade? Pois aí vai… Minha mãe já morreu. Meu pai está cumprindo seus pecados na cadeia, já que decidiu viver a vida de tráfico. E desde meus nove anos, moro com minha tia. Trabalho doze horas por dia, depois dessa reforma desgraçada, e tento concluir minha faculdade à noite. Ganho míseros R$962,00 por mês. É o que dá para manter este local, com meu melhor amigo. TORNADO – Com um traveco? MATHEUS – Hei, hei, hei, hei, hei, hei, hei, hei, hei… pode parar viu. Aqui não tem nenhum traveco. MAGDA – É traveco sim. HORÁCIO – Magda! A culpa é minha. Eu o forcei.

TORNADO – E com tudo isso ainda querem que eu dê a benção? (P) Esqueçam. PATRÍCIA – Pai? TORNADO – Nenhuma palavra a mais. Vamos embora, Patrícia. MATHEUS – Espera. Ninguém sai sem eu falar. HORÁCIO – Matheus! Não piora. TORNADO – Fala Priscila. MATHEUS – Priscila?

TORNADO – A rainha do deserto. (Tornado se acaba de rir. Todos encaram-no. Tornado para) Diga!



MATHEUS – São meus amigos e se fosse preciso faria tudo de novo. Olha… não agimos correto tentando enganar o senhor, mas que solução tínhamos para que o senhor não o visse com um olhar preconceituoso? TORNADO – Olhar preconceituoso? MATHEUS – Qual é, ô da gravatinha? Vai me dizer que se soubesse que a mãe do meu amigo já havia morrido e o pai é um presidiário você aceitaria de boa a relação dos dois? Du-vi-d-o-dó! Ninguém aceita a condição do próximo, não. Ninguém dá lugar a pobre. A gente que tem que se virar num país que afunda cada dia que passa, onde neguinho só quer humilhar a gente. O senhor pode até pensar que filho de peixe, peixinho é. Mas para o tipo de peixe que o senhor pensa que ele é, o senhor encontra no planalto. Tá cheio deles lá. Conheço o Horácio e ele é muito melhor do que qualquer um pode imaginar. Não vejo partido melhor pra sua filha, que o meu amigo. TORNADO – Ridículo! MATHEUS – Ridículo? O que o senhor entende sobre o amor? Até quinze minutos quando eu era uma mulher, me convidou para ser a futura mãe de sua filha. PATRÍCIA – Pai?! TORNADO – Que culpa, eu tenho? Não mando no meu coração. Exceto, agora. MATHEUS – Viu? O senhor acha que alguma mulher um dia pode te olhar e sentir amor, quando sua alma está suja? Não queira enxergar a perfeição. Enxergue a alma.

TORNADO – Terminou? Afasta-se (P) Mais. (P) Mais. (P – gritando) Mais. Patrícia!

Patrícia pega sua bolsa, olha para Horácio, e anda em direção de Tornado, que a segura pelo braço.

TORNADO – Não tem nada a dizer? (Horácio balança a cabeça) Como não? Vim à toa? Vim por que queria algo… Acabou o amor?

Entra a música de Diana “FOI TUDO CULPA DO AMOR”.

TODOS – PARE! Entra música de Zezé di Camargo “PARE”. Matheus sai de cena e ouvimos gritos e som de pancadarias. Entra uma música mais suave. Matheus retorna.

TORNADO (para Patrícia) – Você está feliz com esse rapaz? PATRÍCIA – Sim. TORNADO – Tem minha bênção. PATRÍCIA (abraçando) – Obrigada, pai.

Patrícia e Horácio se abraçam.



HORÁCIO – Valeu mesmo, seu Tornado. TORNADO – Cuide bem dela. E você (para Matheus) juízo. PATRÍCIA – Vai encontrar uma mulher que te ama, pai. MATHEUS – Ou um travesti. TORNADO (para Matheus) – É melhor ficar calado. Meu voo sai em uma hora, é melhor eu adiantar. Até mais (para Matheus) Tchau, Priscila.

Tornado sai. Magda se aproxima.

MATHEUS – Acho que alguém me deve umas boas desculpas. E sim, falei no plural. MAGDA – Não força a barra. (ela se aproxima sem jeito) Desculpa. MATHEUS – No plural!

MAGDA – Desculpas! Poxa! Primeiro aquela história da dentista reagir com um coraçãozinho, depois encontro você e o Horácio aos beijos no sofá.

Patrícia encara Horácio, que faz sinal de Magda é “LOUCA”. MATHEUS – Te perdoo sim, meu mojim, bunitim. Matheus dá um beijo em Magda.

PATRÍCIA – Ai que bom que tudo acabou. MATHEUS – Ainda não! (Matheus volta a procurar).

HORÁCIO – O quê é que você está procurando? MATHEUS – Perdi uma chave. HORÁCIO – Que chave? MATHEUS – A chave do meu cofrinho. Preciso pegar algo para dar pra minha tesoura. HORÁCIO – Ah! Se você tivesse me dito mais cedo o que estaria a procurar, eu teria lhe dado. Eu a coloquei bem aqui. (procurando) Cadê a minha caixinha que tava aqui?

PATRÍCIA – Eu a dei pro meu pai. HORÁCIO – Você o que?

Tornado entra.

TORNADO – Encontrei essa chave na minha caixinha. De quem é?

MATHEUS – É minha. (pegando) Obrigado amor.



TORNADO (gritando) – Tchau. MATHEUS – Vai me engolir? HORÁCIO – O quê será esse grande tesouro?

Matheus pega a caixa e abre, tirando um anel. Horácio reconhece.

MATHEUS – Magda meu amor… você aceita se casar comigo? MAGDA – Oh! (quase chorando) Sim! Sim! Sim!

Todos batem palmas.

HORÁCIO – Espera aí… Tô reconhecendo esse anel. MATHEUS – Tá nada. HORÁCIO – Esse anel é da minha mãe. MATHEUS – Achado não é roubado.

Improviso de Cena, até que Matheus sai de cena. Patrícia e Magda seguram Horácio.

PATRÍCIA – Calma, meu amor. É só um anel. Tá tudo bem. HORÁCIO – Não, amor! Não é só um anel. Escuta, aquele anel pertenceu a geração da minha família que tinha o candomblé como religião. Basicamente era tradição. As mulheres passavam esse anel para a próxima mulher da família. Pertenceu a minha bisavó, depois a minha avó, depois a minha mãe. Como minha mãe não teve filha mulher, eu tive que ficar com ele. PATRÍCIA – Tá, mas ainda assim é só um anel. HORÁCIO – É só um anel pra quem é candomblecista. Para aqueles que não acreditam na religião, são amaldiçoados. Se usar o anel vai baixar o espírito de que minha vó conseguiu prender. O orixá de Ogum…

Som de batuques do candomblé. Magda, Patrícia e Horácio se entreolham.

PATRÍCIA/MAGDA/HORÁCIO (para o público) – Essa não. Matheus entra e persegue a todos, que saem fugindo. Fecham-se as cortinas e abrem-nas com a música “BUILD ME UP” de Foundations para agradecimento ao público. O elenco entra com cartazes com o nome de todos da equipe e elenco. Fim!

Escrito originalmente em 2006 Redigido em 9 de Dezembro de 2017


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DESVAIRADOS · ... uma garota que morre de ciúmes por ... Matheus… quem é Sheila? MATHEUS ... tá? HORÁCIO – É, acho que a Magda não vai gostar de saber que