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sid.inpe.br/mtc-m19/2011/05.04.12.08.10-TDI DETERMINA ¸ C ˜ AO DE ´ ORBITA EM TEMPO REAL ATRAV ´ ES DE FILTRO N ˜ AO LINEAR DE KALMAN SIGMA-PONTO Paula Cristiane Pinto Mesquita Pardal Tese de Doutorado do Curso de P´ os-Gradua¸ ao em Engenharia e Tecnologia Espaciais/Mecˆ anica Espacial e Controle, orientada pelos Drs. H´ elio Koiti Kuga, e Rodolpho Vilhena de Moraes, aprovada em 27 de maio de 2011 URL do documento original: <http://urlib.net/8JMKD3MGP7W/39KM826> INPE ao Jos´ e dos Campos 2011

Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

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sid.inpe.br/mtc-m19/2011/05.04.12.08.10-TDI

DETERMINACAO DE ORBITA EM TEMPO REAL

ATRAVES DE FILTRO NAO LINEAR DE KALMAN

SIGMA-PONTO

Paula Cristiane Pinto Mesquita Pardal

Tese de Doutorado do Curso de Pos-Graduacao em Engenharia e Tecnologia

Espaciais/Mecanica Espacial e Controle, orientada pelos Drs. Helio Koiti Kuga, e

Rodolpho Vilhena de Moraes, aprovada em 27 de maio de 2011

URL do documento original:

<http://urlib.net/8JMKD3MGP7W/39KM826>

INPE

Sao Jose dos Campos

2011

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PUBLICADO POR:

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE

Gabinete do Diretor (GB)

Servico de Informacao e Documentacao (SID)

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DETERMINACAO DE ORBITA EM TEMPO REAL

ATRAVES DE FILTRO NAO LINEAR DE KALMAN

SIGMA-PONTO

Paula Cristiane Pinto Mesquita Pardal

Tese de Doutorado do Curso de Pos-Graduacao em Engenharia e Tecnologia

Espaciais/Mecanica Espacial e Controle, orientada pelos Drs. Helio Koiti Kuga, e

Rodolpho Vilhena de Moraes, aprovada em 27 de maio de 2011

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INPE

Sao Jose dos Campos

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Dados Internacionais de Catalogacao na Publicacao (CIP)

Pardal, Paula Cristiane Pinto Mesquita.P213d Determinacao de orbita em tempo real atraves de filtro nao

linear de Kalman sigma-ponto / Paula Cristiane Pinto MesquitaPardal. – Sao Jose dos Campos : INPE, 2011.

xxvi+120 p. ; (sid.inpe.br/mtc-m19/2011/05.04.12.08.10-TDI)

Tese (Doutorado em Engenharia e Tecnologia Espaci-ais/Mecanica Espacial e Controle) – Instituto Nacional de Pes-quisas Espaciais, Sao Jose dos Campos, 2011.

Orientadores : Drs. Helio Koiti Kuga, e Rodolpho Vilhena deMoraes.

1. Determinacao de orbita. 2. Filtro de Kalman sigma-ponto.3. Estimacao de estado. 4. GPS. 5. Perturbacoes orbitais. I.Tıtulo.

CDU 629.783:521.3

Copyright c© 2011 do MCT/INPE. Nenhuma parte desta publicacao pode ser reproduzida, arma-zenada em um sistema de recuperacao, ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio,eletronico, mecanico, fotografico, reprografico, de microfilmagem ou outros, sem a permissao es-crita do INPE, com excecao de qualquer material fornecido especificamente com o proposito de serentrado e executado num sistema computacional, para o uso exclusivo do leitor da obra.

Copyright c© 2011 by MCT/INPE. No part of this publication may be reproduced, stored in aretrieval system, or transmitted in any form or by any means, electronic, mechanical, photocopying,recording, microfilming, or otherwise, without written permission from INPE, with the exceptionof any material supplied specifically for the purpose of being entered and executed on a computersystem, for exclusive use of the reader of the work.

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“Somos a memória

que temos

e a responsabilidade

que assumimos.

Sem memória

não existimos,

sem responsabilidade

talvez não

mereçamos viver.”

José Saramago

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À Luiza, minha mãe e meu exemplo, e ao Luís, meu marido e meu amigo,

eu dedico, com todo o meu amor e gratidão.

Por todo amor, paciência, companheirismo e apoio nestes quatro anos.

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AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Hélio Koiti Kuga, orientador que ensinou muitas lições fundamentais, entre elas

a de que o erro é a melhor forma de aprendizado, por sua paciência nos momentos

difíceis e por ser um exemplo de competência e excelência profissional a ser seguido.

Ao Dr. Rodolpho Vilhena de Moraes, orientador que incentivou com palavras sábias e

apoiou com palavras estimuladoras cada momento de alto e de baixo destes quatro anos.

Aos membros da Banca Examinadora, pelas valiosas contribuições para o

aprimoramento deste trabalho e pela atenção dispensada ao ler e avaliar a minha Tese e

ao me avaliar.

Ao INPE, pelas facilidades oferecidas através da organização do curso de Pós-

Graduação e do suporte e autonomia dados à Biblioteca, no sentido de sempre priorizar

o conhecimento e evolução intelectual e profissional de seu corpo discente.

À FAPESP, pelo apoio financeiro concedido, através do Processo Nº 07/53256-1, o que

permitiu aquisição de um bom equipamento de trabalho e participação em congressos

nacionais e internacionais que, de outra forma, não teriam acontecido.

A todos os amigos que estiveram ao meu lado nesta jornada. Especialmente às queridas

Rosana Aparecida Nogueira Araújo e Roberta Veloso Garcia, pelas valiosas ajudas,

pelas inteligentes sugestões, pelas palavras de incentivo que não deixaram o desânimo

predominar nos momentos de adversidade e pelas boas e necessárias risadas.

Aos funcionários do Serviço de Pós-Graduação do INPE e à Coordenação Acadêmica

do Curso de Mecânica Espacial e Controle.

À DMC do INPE, por disponibilizar o espaço físico necessário para o desenvolvimento

do trabalho e por seu tão competente corpo docente, que através de desafios, mostrou

que o limite é sempre um pouco além, possibilitando acumular conhecimentos sem os

quais não seria possível cumprir este ciclo tão importante em minha vida profissional.

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Em especial à Queila Emerick, secretária da DMC, por facilitar, dentro de suas

possibilidades, o acesso a todo e qualquer recurso necessário para o desenvolvimento

deste trabalho; e por ser figura tão humana e sensível, tornando-se um apoio

imprescindível neste período, com seu lindo sorriso estampado no rosto.

Aos funcionários da Biblioteca do INPE, pela eficiência, pela simpatia, pelo auxílio na

construção dos roteiros para elaboração de referências bibliográficas e também pela

revisão deste trabalho, especialmente à Yolanda Ribeiro da Silva Souza. Agradeço por

estarem sempre prontos a ajudar a encontrar todo o material necessário e pela paciência

durante as correções.

A todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para que esta etapa fosse

vencida, mas que por injustiça minha, nestas palavras tão rapidamente rabiscadas, não

foram citados.

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RESUMO

Neste trabalho determina-se a órbita de um satélite artificial, em tempo real, utilizando sinais da constelação GPS e técnicas modernas de estimação. A finalidade principal é melhorar o desempenho de processos de determinação de órbitas e, ao mesmo tempo, minimizar o custo do procedimento computacional, motivada pela aplicação de técnicas modernas de estimação ao problema de determinação de órbitas de satélites. Foi desenvolvido e implementado um filtro não linear baseado no método Sigma-Ponto, para estimar o vetor de estado que caracteriza a órbita do satélite, com base em um conjunto de observações provenientes do sistema GPS. Aplicações e testes de desempenho e precisão foram feitos, utilizando dados reais do satélite TOPEX/Poseidon. Foram analisados resultados em propagação de órbita e em determinação de órbita. Em propagação de órbita, foram avaliados os principais efeitos que perturbam a órbita do satélite de teste: geopotencial; atração gravitacional luni-solar; e pressão de radiação solar direta. As soluções de determinação de órbita obtidas para o filtro de Kalman não linear sigma-ponto, na sua variante “unscented”, foram comparadas com uma solução de referência, obtida através do filtro estendido de Kalman. Em determinação de órbita, os desempenhos dos filtros foram equivalentes quando as condições iniciais eram precisas. Mais ainda, o filtro não linear “unscented” mostrou-se mais robusto nas situações em que as amostragens estavam mais espaçadas ou as condições iniciais do vetor de estado degradadas. Quanto ao custo de tempo de processamento, verificou-se que o filtro não linear de Kalman “unscented” demanda maior tempo que o filtro estendido de Kalman, em função da natureza do algoritmo, e que, quanto mais complexo é o modelo dinâmico, maior será o tempo necessário para o processamento do vetor de estado que caracteriza a órbita. Os erros médios quadráticos das estimativas em posição, cujas componentes foram transladadas para o sistema de referência orbital, estão em torno de 17 metros em 24 horas de determinação de órbita, para o modelo dinâmico mais preciso analisado. Tais estimativas foram obtidas tanto para os resultados do filtro de Kalman “unscented” quanto para os do filtro de Kalman estendido.

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REAL TIME ORBIT DETERMINATION THROUGH NON LINEAR

SIGMA POINT KALMAN FILTER

ABSTRACT

In this work the orbit of an artificial satellite is determined, in real time, using signals from GPS constellation and modern estimation techniques. The main objective is to improve the performance of orbit determination procedures, and, concomitantly, to minimize the computational procedure cost, associated with the application of such modern estimation techniques to the problem of satellites orbit determination. It has been developed a non linear filter based on the Sigma-Point method, to estimate the state vector that describes the satellite orbit, based upon a set of measurements from the GPS system. Applications, performance and accuracy tests have been done, using real data from TOPEX/Poseidon satellite. Results from orbit propagation and orbit determination have been analyzed. In orbit propagation, the main effects that affect the orbit of the test satellite were evaluated: Earth’s gravitational field; Sun-Moon gravitational attraction; and direct solar radiation pressure. The orbit determination solutions obtained for the non linear sigma-point Kalman filter, in its unscented version, were compared with a reference solution, obtained through the extended Kalman filter. In orbit determination, the performances of the estimators were equivalent when the initial conditions were accurate. And more, the non linear unscented filter has shown more robustness in the situations where the time between two observations was more spaced or the initial conditions of the state vector degraded. Regarding the processing time cost, one verified that the non linear unscented Kalman filter demands more CPU time than the extended Kalman filter, because of the basic nature of the algorithm. Besides, the more complex is the dynamical model, the greater it will be the time needed to process the state vector that describes the orbit. The root mean square errors of the position estimates, which components were translated to the orbital reference frame, are around 17 meters covering 24 hours of orbit determination, for the most precise dynamical model adopted. Such estimates were obtained for the results from the unscented Kalman filter as well as the extended Kalman filter.

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LISTA DE FIGURAS

4.1 - Constelação GPS. ............................................................................................................ 14 5.1 - Filtro de Kalman modificado, gerando o UKF. ............................................................... 23 6.1 - Método Geométrico ......................................................................................................... 28 6.2 - Erros reais e estimados em posição e velocidade para o dia 05/01/1994 –

implementação pelo UKF. .............................................................................................. 34 6.3 - Erros reais e estimados em posição e velocidade para o dia 05/01/1994 –

implementação pelo UKF. .............................................................................................. 34 6.4 - Comportamento típico dos resíduos da pseudo-distância – implementação pelo

UKF. ................................................................................................................................ 35 7.1 - Satélite TOPEX/Poseidon ................................................................................................ 44 7.2 - Sistema de coordenadas de referência do T/P, os ângulos Ω* e β’ . ................................ 45 7.3 - Macromodelo de Marshall e Luthcke. ............................................................................. 46 9.1 - Propagação de órbita em função do tempo: inclusão do geopotencial até ordem

10; do geopotencial até ordem 28; e da atração luni-solar, para os dias 19/11/1993 e 05/01/1994. ............................................................................................... 64

9.2 - Erros nas coordenadas radial, normal e transversal para o dia 19/11/93, resultantes da implementação do geopotencial 10x10 pelo UKF (à esquerda) e pelo EKF (à direita). ....................................................................................................... 69

9.3 - Destaque da primeira hora de estimação do comportamento dos erros nas coordenadas radial, normal e transversal para o dia 19/11/93, resultantes da implementação do geopotencial 10x10 pelo UKF (à esquerda) e pelo EKF (à direita). ............................................................................................................................ 70

9.4 - Erros nas coordenadas radial, normal e transversal para o dia 19/11/93 – comparação entre a implementação do geopotencial 10x10 e a do geopotencial 28x28 pelo UKF (à esquerda) e pelo EKF (à direita). .................................................... 72

9.5 - Erros nas coordenadas radial, normal e transversal para o dia 19/11/93 – comparação entre a implementação do geopotencial 28×28 e a da atração gravitacional luni-solar pelo UKF (à esquerda) e pelo EKF (à direita). ......................... 74

9.6 - Erros nas coordenadas radial, normal e transversal para o dia 19/11/93, resultantes da implementação da pressão de radiação solar direta pelo UKF. ............... 76

9.7 - Resíduo de pseudo-distância ao longo do tempo para o modelo que inclui até a pressão de radiação solar direta, para o dia 19/11/1993. ................................................ 78

9.8 - Comportamento típico de resíduos de pseudo-distância preditos, obtidos via UKF, para um intervalo de amostragem de 60 s e dados do dia 19/11/1993. ................ 83

9.9 - Comportamento dos resíduos de pseudo-distância preditos obtidos via UKF e EKF, para um intervalo de amostragem de 300 s e dados do dia 19/11/1993. ............... 86

9.10 - Comportamento dos resíduos de pseudo-distância: casos de referência e de 1000 km de incerteza nas condições iniciais. ................................................................. 90

9.11 - Comportamento comparativo dos resíduos de pseudo-distância para os casos intermediários de teste de incertezas nas condições iniciais. .......................................... 92

9.12 - Comportamento dos erros em coordenadas RNT: casos de referência e de 1000 km de incerteza nas condições iniciais. .......................................................................... 94

9.13 - Comportamento comparativo dos erros em coordenadas RNT para o caso de 1 km de incerteza nas condições iniciais. .......................................................................... 95

9.14 - Comportamento comparativo dos erros em coordenadas RNT para o caso de 10 km de incerteza nas condições iniciais. .......................................................................... 96

9.15 - Comportamento comparativo dos erros em coordenadas RNT para o caso de 100 km de incerteza nas condições iniciais. ................................................................... 97

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A.1 - Estação central de controle e estações monitoras do GPS. ........................................... 115

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LISTA DE TABELAS

6.1 - Estatíticas dos quatro estimadores implementados ......................................................... 36 6.2 - Comparação de custo de tempo de processamento ......................................................... 37 7.1 - Principais parâmetros do modelo JGM-2 e do sistema WGS-84 .................................... 42 9.1 - Condições de teste para o dia 19/11/1993 ....................................................................... 58 9.2 - Condições iniciais do estimador para o dia 19/11/1993 .................................................. 59 9.3 - Condições iniciais das coordenadas de posição e de velocidade para o dia

19/11/1993 a 0 hora UTC ............................................................................................... 59 9.4 - Condições iniciais do relógio para o dia 19/11/1993 à 0 hora UTC ................................ 59 9.5 - RMS dos erros por componente e total para propagação de órbita ................................. 65 9.6 - Estatísticas resultantes dos erros para cada um dos modelos implementados tanto

pelo UKF quanto pelo EKF, para o dia 19/11/1993 ....................................................... 77 9.7 - Estatísticas dos resíduos de pseudo-distância para o dia 19/11/1993 .............................. 78 9.8 - Comparação de custo de tempo de processamento ......................................................... 79 9.9 - Estatísticas dos resíduos de psudo-distância preditos para cada modelo de forças

considerado e para cada estimador usado na determinação de órbita ............................. 84 9.10 - Velocidade de convergência dos resíduos de pseudo-distância preditos ...................... 88 9.11 - Velocidade de convergência do erro em posição .......................................................... 89 9.12 - Estatísticas dos resíduos de pseudo-distância após convergência do algoritmo ........... 89 9.13 - Erro RMS total em posição após convergência do algoritmo ....................................... 93 A.1 - Estimativa de resíduos, usando medidas de pseudo-distância ...................................... 118

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AGLS Atração Gravitacional Luni-Solar A-S Anti-Spoofing C/A Coarse/Acquisition code CBERS China-Brazil Earth Resource Satellite CDDIS Crustal Dynamics Data Information System CDKF Filtro de Kalman de Diferenças Centrais CNES Centre National d’Etudes Spatiales CPU Central Processing Unit dBW DeciBel Watt (unidade de medida do comprimento de um sinal

expressa em decibeis relativos a 1 W) DO Determinação de Órbita EQUARS EQUatorial Atmosphere Research Satellite ERS-1 first European Remote-Sensing satellite ERS-2 second European Remote-Sensing satellite EKF Filtro de Kalman Estendido FEG Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá FK Filtro de Kalman FORTRAN FORmula TRANslation GB GigaByte GEM10 Gravity model improvement using GEOS3 Geo10 perturbações devidas ao geopotencial até ordem e grau 10 Geo28 perturbações devidas ao geopotencial até ordem e grau 28 GEOSAT GEOdetic SATellite GPS Global Positioning System GSFC Goddard Space Flight Center IERS Internatinal Earth Rotation Service IMU Inertial Measurement Unit INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais JGM Joint Gravity Model JPL Jet Propulsion Laboratory L1 Link de transmissão - portadora 1 (1575,42 MHz) L2 Link de transmissão - portadora 2 (1227,60 MHz) NASA National Aeronautics and Space Administration MCS Master Control Station MEMS Micro Electro-Mechanical System MHz Mega-Hertz MS Monitor Stations NAVSTAR NAVigation Satellite Timing And Ranging OBC On-Board Computer P Precise code PMM Plataforma Multi-Missão PPP Posicionamento por Ponto Preciso PRN Pseudo Random Noise POD Precise Orbit Determination POE Precision Orbit Ephemeris PRS Pressão de Radiação Solar RAM Random Access Memory RF sinais de Ráfio-Frequência

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RINEX Receiver INdependent EXchange format RKF78 Runge-Kutta de Fehlberg de sétima ordem e passo fixo oito RMS Rooth Mean Square RNT componentes Radial, Normal e Transversal do sistema de

referência fixo na órbita RPN Ruído Pseudo Aleatório SA Selective Availability SPKF Filtro de Kalman Sigma-Ponto T/P Ocean TOPography EXperiment (TOPEX)/Poseidon TIMATION TIMe navigATION ToD Earth True equator and equinox of Date UKF Filtro de Kalman “Unscented” UNESP UNiversidade EStadual Paulista ULS UpLoading Station UTC Universal Time Coordinated W Watt WGS World Geodetic System

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LISTA DE SÍMBOLOS

a semi-eixo maior a vetor de aceleração das perturbações modeladas Ak área superficial de cada placa do T/P A área total de um satélite b vetor do desvio do relógio do receptor GPS b0 tendência do relógio do receptor GPS b1 deriva do relógio do receptor GPS b2 taxa de deriva do relógio do receptor GPS c velocidade da luz dt desvio do relógio do usuário dTi desvio do relógio do i-ésimo satélite GPS DION desvio ionosférico em relação à medida da pseudo-distância DTROP desvio troposférico em relação à medida da pseudo-distância e excentricidade fm função vetorial da modelagem adotada no estimador fnm função vetorial da parcela não modelada no estimador Fk força de pressão de radiação solar direta em cada placa do T/P G fluxo de radiação do Sol (W/m2)

( )xh função não linear de dimensão m do estado

[ ]iχh transformação não linear associada ao i-ésimo sigma-ponto

H matriz que relaciona as medidas aos elementos do estado i inclinação I matriz identidade J2 efeito do achatamento da Terra Jnm, nmλ constantes que dependem da distribuição de massa da Terra

K ganho de Kalman K ganho de Kalman obtido através da propagação dos sigma-pontos n versor normal à placa do T/P m dimensão do vetor de observações M anomalia média n dimensão do vetor de estado N ambiguidade inicial (número de ciclos não lidos) Pi pseudo-distância medida pelo usuário em relação ao i-ésimo satélite

GPS Pnm funções de Legendre associadas P matriz de covariância dos erros dinâmicos Pxx covariância de uma variável aleatória Pyy covariância de uma observação Pxy matriz de correlação cruzada Pνν covariância dos resíduos de pseudo-distância preditos (inovação) Pyd matriz de covariâncias dos observáveis de dupla diferença Q matriz de ruído da dinâmica RT raio médio da Terra r distância radial do veículo espacial r vetor posição

iGPSR vetor posição do i-ésimo satélite GPS

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R matriz de ruído das observações s versor de incidência do Sol na placa do T/P Snm, Cnm coeficientes esféricos harmônicos normalizados t tempo T0 instante de transmissão do sinal do i-ésimo satélite GPS Ti instante de recepção do sinal do i-ésimo satélite GPS v vetor velocidade x vetor de estado x média de uma variável aleatória

0x estimativa inicial do estado

y vetor de observações y média de uma observação y conjunto de sigma-pontos transformados

w vetor ruído Wi matriz peso do i-ésimo sigma-ponto α parâmetro de controle do espalhamento dos sigma-pontos β’ declinação do Sol δ coeficiente de reflexão difusa ϕ ir fase da portadora completa ϕ r fase da portadora do receptor no instante de recepção ϕ i fase da portadora do satélite no instante de recepção ϕϕϕϕ matriz de transição que relaciona o estado entre os instantes tk-1 e tk κ fator que fornece mais um grau de liberdade, para o “ajuste fino” dos

momentos de ordens superiores dos sigma-pontos λ longitude nas coordenadas fixas na Terra φ latitude geocêntrica µ constante gravitacional terrestre νννν vetor de erros na observação ρρρρ vetor de medidas de pseudo-distância observada ρ coeficiente de reflexão especular ρρρρc vetor de pseudo-distâncias calculadas ρρρρi pseudo-distância, posição do usuário em relação ao i-ésimo satélite σ desvio padrão

2iσ variância

jiσ correlação

ω argumento do perigeu Ω longitude do nodo ascendente θ ângulo formado entre os versores n

) e s

)

Ω* ângulo da órbita χ vetor de sigma-pontos gerados, a partir da média e da covariância de

uma variável aleatória ∆ρρρρ resíduo de pseudo-distância ∆r vetor erro em posição ∆ti intervalos de tempo de propagação

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Índices Superiores

^ estimado ~ propagado T transposto

Índices Inferiores 0 inicial B sistema de referência fixo no satélite GPS refere-se aos dados dos satélites GPS k instante de tempo atual O sistema de referência orbital T Terra u refere-se ao satélite usuário (carrega o receptor GPS a bordo)

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SUMÁRIO

Pág. 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 1 1.1 Objetivos ........................................................................................................ 2 1.2 Justificativa e Motivações .............................................................................. 2 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................... 5 3 METODOLOGIA ........................................................................................ 9 4 TÉCNICAS DE DETERMINAÇÃO DE ÓRBITA DE SATÉLITES

ARTIFICIAIS ............................................................................................ 11 4.1 Modelagem da Dinâmica Orbital ................................................................. 11 4.2 Modelagem das Medidas Usadas em Determinação de Órbita ................... 12 4.3 Técnicas de Estimação ................................................................................. 14 4.3.1 Estimadores de Tempo Real ........................................................................ 15 4.3.1.1 Filtro de Kalman .......................................................................................... 15 5 FILTROS DE KALMAN DO TIPO SIGMA-PONTO ............. ............. 19 5.1 Introdução .................................................................................................... 19 5.2 Os Filtros da Família Sigma-Ponto .............................................................. 19 5.3 O Filtro de Kalman “Unscented” ................................................................. 20 5.3.1 Transformação “Unscented” ........................................................................ 21 5.3.2 Filtro de Kalman “Unscented” ..................................................................... 23 5.4 Comparação entre EKF e UKF .................................................................... 24 5.5 Aplicações .................................................................................................... 25 6 APLICAÇÃO DO UKF PARA DETERMINAÇÃO DE ÓRBITA COM

CARACTERÍSTICAS DE TEMPO REAL ............................................. 27 6.1 Utilização do UKF em Determinação de Órbita .......................................... 27 6.2 Resultados: Algoritmo do UKF Implementado para Determinação de

Órbita ........................................................................................................... 32 7 MODELO DE FORÇAS ........................................................................... 39 7.1 Perturbações Devidas ao Campo Gravitacional Terrestre ........................... 39 7.1.1 Modelo de Geopotencial Considerado ......................................................... 41 7.2 Perturbações Devidas à Pressão de Radiação Solar ..................................... 42 7.2.1 Modelo Específico de Pressão de Radiação Solar Direta para o T/P........... 44 7.3 Perturbações Devidas à Atração Gravitacional Luni-Solar ......................... 47 8 AJUSTES NECESSÁRIOS PARA APLICAÇÃO DOS ALGORITMOS

DO EKF E DO UKF AO PROBLEMA DE DETERMINAÇÃO DE ÓRBITA ...................................................................................................... 49

8.1 Aplicação do Algoritmo do EKF em DO .................................................... 49 8.2 Aplicação do Algoritmo do UKF em DO .................................................... 53

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9 RESULTADOS .......................................................................................... 55 9.1 Descrição dos Dados Utilizados .................................................................. 56 9.1.1 Resultados Obtidos ...................................................................................... 60 9.2 Análise de Propagação de Órbita ................................................................. 61 9.3 Análise de Determinação de Órbita ............................................................. 66 9.3.1 Resultados Esperados ................................................................................... 67 9.3.1.1 Geopotencial até Ordem e Grau 10 .............................................................. 67 9.3.1.2 Geopotencial até Ordem e Grau 28 .............................................................. 71 9.3.1.3 Atração Gravitacional Luni-Solar ................................................................ 72 9.3.1.4 Pressão de Radiação Solar Direta ................................................................ 75 9.3.1.5 Outras Análises Resultantes da Determinação de Órbita ............................ 77 9.3.1.6 Conclusões de Determinação de Órbita ....................................................... 80 9.4 Impacto de Diferentes Intervalos de Amostragem das Observações na

Determinação de Órbita ............................................................................... 81 9.5 Impacto da Degradação das Condições Iniciais na Determinação de

Órbita ........................................................................................................... 87 10 CONCLUSÕES E SUGESTÕES ............................................................ 100 10.1 Conclusões ................................................................................................. 100 10.2 Sugestões para Extensão do Trabalho ........................................................ 104 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 106 ANEXO A - O SISTEMA GPS .............................................................................. 113 A.1 Segmento Espacial ............................................................................................. 113 A.2 Segmento de Controle ........................................................................................ 114 A.3 Segmento Usuário .............................................................................................. 115 A.4 Estrutura do Sinal e da Mensagem do GPS ....................................................... 115 A.5 Principais Fontes de Erros ................................................................................. 117 A.6 Posicionamento via GPS .................................................................................... 118

Page 29: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

1

1 INTRODUÇÃO

Filtragem, predição e suavização fazem parte de um campo de pesquisa com múltiplas

aplicações práticas. Estes tópicos são abordados em dois importantes campos da

ciência: teoria de estimação e controle, e processamento de sinais digitais. As

aplicações destas teorias abrangem problemas relacionados a satélites artificiais,

geofísica, economia, telecomunicações, processos químicos e biológicos, entre outros.

A determinação de órbita, de um modo geral, envolve vários aspectos físicos e

matemáticos de naturezas distintas, entre os quais se têm: a modelagem da dinâmica

do movimento orbital e dos dados mensurados; a estabilidade numérica dos

algoritmos de processamento; e o esquema de estimação de estado, todos contribuindo

em maior ou menor grau para a precisão final.

O problema de determinação de órbita consiste no processo de obtenção dos valores

dos parâmetros que especificam completamente o movimento de um corpo espacial

(neste caso, um satélite artificial) através do espaço, baseado em um conjunto de

observações do mesmo. Estas observações podem ser coletadas através de uma rede

de rastreio terrestre ou de sensores (neste caso, por exemplo, os receptores GPS,

embarcados no próprio satélite (CHIARADIA et al., 2003).

O Sistema GPS (Global Positioning System) oferece um processo poderoso e

relativamente barato para se determinar órbitas de satélites artificiais. Teoricamente,

quatro satélites GPS, visíveis simultaneamente, são suficientes para se determinar os

parâmetros de posição de um satélite que tenha um receptor GPS a bordo. O satélite

TOPEX/Poseidon (T/P) é um exemplo de utilização deste sistema para

posicionamento no espaço. Este satélite possui um sofisticado receptor GPS a bordo

para determinar a sua posição com precisão.

O método de determinação de órbita de satélites artificiais é um problema não linear

em que as forças perturbadoras não são facilmente modeladas. Os satélites GPS

enviam sinais precisos que, baseados na comparação entre sinais recebidos e gerados

pelo receptor, possibilitam calcular pseudo-distância entre o satélite GPS e a antena

do receptor GPS. Através de um receptor GPS a bordo de um satélite artificial é

possível estimar o vetor de estado que caracteriza a órbita do satélite (KUGA, 2001).

Page 30: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

2

Neste trabalho, propõe-se implementar um filtro não linear, com características de

tempo real, através do método sigma-ponto, para estimar o vetor de estado que

caracteriza a órbita do satélite, com base em um conjunto de observações do sistema

GPS. Esta técnica de filtragem não linear está sendo investigada em várias aplicações

e apresenta características que são vantajosas no aspecto de facilidade de

implementação, robustez e precisão.

1.1 Objetivos

O objetivo principal é desenvolver um filtro não linear, baseado no método Sigma-

Ponto, para estimar o vetor de estado que caracteriza a órbita de um satélite, com base

em um conjunto de observações do mesmo. Para tanto, será necessário:

Formular as equações diferenciais do movimento orbital na forma adequada; Formular as equações das medidas fornecidas pelo receptor GPS; Desenvolver o filtro Sigma-Ponto, inicialmente na forma genérica, e adaptá-lo

para o problema específico de determinação de órbita via GPS;

Analisar consistência estatística dos resultados e avaliar seu desempenho.

A implementação de tal algoritmo é de grande importância para algumas pesquisas

em andamento na Divisão de Mecânica Espacial e Controle do INPE, em colaboração

com o Departamento de Matemática da FEG. De fato, a determinação de órbitas com

GPS, tema de pesquisa em comum entre as duas Instituições, necessita de uma órbita

de referência precisa e a do satélite T/P é, em geral, a utilizada por estar amplamente

divulgada e ser frequentemente utilizada em trabalhos relacionados.

Paralelamente, será formado um pesquisador em uma linha de pesquisa que

certamente será aplicada no programa espacial brasileiro.

1.2 Justificativa e Motivações

Aplicações de satélites artificiais muitas vezes necessitam descrever o movimento

orbital com uma precisão submétrica. A componente radial da posição de satélites

altimétricos como ERS-1, ERS-2 e T/P (BERTIGER et al., 1994) deve ser

determinada com precisão de alguns centímetros para que as medidas de altimetria

Page 31: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

3

possam ser usadas convenientemente. Para evitar colisões de naves espaciais, as

posições de satélites ativos e de “debris” espaciais também devem ser calculadas com

precisão métrica. Diversos processos de determinação de órbita vêm sendo

desenvolvidos para atingir estes objetivos.

Uma metodologia para este processo de determinação de órbitas, incluindo um

processo dinâmico, baixo custo computacional e levando em consideração as

principais perturbações que afetam a órbita, vem sendo desenvolvida no INPE

(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) com a finalidade de ser utilizada em

satélites com participação brasileira em seu desenvolvimento, que estejam equipados

com receptor GPS, como satélites da família CBERS (China-Brazil Earth Resources

Satellite); satélite EQUARS (EQUatorial Atmosphere Research Satellite); e satélites

da PMM (Plataforma Multi-Missão).

A principal motivação para este trabalho é a aplicação de técnicas modernas de

estimação de estado ao problema específico de determinação de órbita. Devem ser

enfocados dois aspectos: o determinístico, que engloba a modelagem do sistema e a

formulação do problema em termos de adequação do sistema de equações adotado

para representar a dinâmica; e o estocástico, no qual a teoria de estimação estatística

deve ser manuseada de forma a tornar plausível sua utilização. A determinação de

órbita, em particular, apresenta um grande inconveniente adicional imposto pela

característica não linear da dinâmica do movimento e das observações.

Até o momento não se tem notícia da aplicação da técnica em um problema real, com

dados GPS reais, para o problema de determinação de órbita. Lee e Alfriend (2003,

2007) estudam a técnica em determinação de órbita convencional (sem utilizar o

sistema GPS), através de simulações e com objetivos distintos.

Para testes preliminares dos algoritmos é frequente utilizar-se no INPE as efemérides

de órbita precisa (POE) do satélite T/P (PARDAL, 2008; VILHENA DE MORAES et

al., 2005; GOMES, 2004; CHIARADIA, 2000), cujos dados do receptor GPS a bordo

e de sua órbita precisa estão disponíveis para a realização de comparações, com a

finalidade de validar os métodos desenvolvidos.

Page 32: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

4

Page 33: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

5

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Kuga (1982) implementou e testou procedimentos de estimação com o objetivo de

verificar a possibilidade de sua utilização na determinação de órbita (DO), em tempo

real, de satélites artificiais de baixa altitude. Neste trabalho, o procedimento de

estimação consistiu em uma técnica adaptativa utilizando o filtro de Kalman.

Paiva (1988) desenvolveu um procedimento para DO a bordo de satélites artificiais

terrestres. Utilizou um modelo simples para a dinâmica do satélite e o filtro estendido

de Kalman como estimador de estado. A dinâmica do movimento do satélite foi

representada por expressões polinomiais para cada elemento orbital. Os resultados de

testes foram obtidos sob condições simuladas.

Kuga (1989) apresentou técnicas de filtragem e suavização aplicadas à determinação

de órbitas de satélites terrestres. O filtro de Kalman foi implementado na forma

fatorizada UD, em conjunto com uma técnica adaptativa para estimar o nível de ruído

dinâmico, a fim de prevenir a divergência das estimativas devido ao modelo impreciso

do movimento orbital. O filtro UD adaptativo se comportou de forma a contornar

problemas de modelagem e não permitir a ocorrência de divergência. O suavizador

UD foi usado para melhorar a precisão.

Nos trabalhos de Binning (1996, 1997) foram apresentados dois modos diferentes de

processamento dos dados do T/P. No primeiro modo, dados pós-processados do GPS

foram usados para estimar o estado do satélite, via suavizador; e, no segundo, os

parâmetros da navegação transmitida foram utilizados para estimar o estado do

satélite em tempo real simulado. A precisão da órbita é aferida comparando as

estimativas do filtro de Kalman com as efemérides de órbita precisa (POE), calculadas

pelo JPL (Jet Propulsion Laboratory). O modelo da dinâmica considerou perturbações

devidas ao geopotencial, à pressão de radiação solar, ao terceiro corpo e às marés

devidas à Lua e ao Sol. O modelo de atitude foi considerado, para remover os efeitos

do movimento da antena.

Em Chiaradia (2000) foi desenvolvido um algoritmo simplificado e compacto, com

baixo custo computacional, para DO de satélites artificiais em tempo real e a bordo,

através do sistema GPS. O vetor de estado foi estimado pelo filtro estendido de

Page 34: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

6

Kalman (EKF). As equações de movimento consideraram perturbações devidas ao

geopotencial até grau e ordem 10. As pseudo-distâncias de única frequência foram

utilizadas como medidas de observação.

Galski (2002) e Galski et al. (2001) desenvolveram e analisaram um sistema

simplificado de determinação autônoma de órbitas de satélites artificiais, a bordo, via

GPS. Em uma primeira etapa foi desenvolvido e analisado um procedimento de

determinação autônoma de órbita, com o objetivo de refinar a solução geométrica

grosseira fornecida por receptores do sistema GPS através da utilização direta desta

solução como entrada para um processo de estimação de estado, em tempo real, via

filtro de Kalman. Em uma segunda etapa, as saídas refinadas desse processo foram

utilizadas na implementação de um sistema de controle autônomo do desvio de fase

no Equador da órbita do satélite.

Em Gomes (2004) foi proposto estimar, em tempo real, o vetor de estado orbital

composto de posição e velocidade através do processamento da solução de navegação

obtida pelo receptor a bordo. Foram determinadas tendência e deriva do relógio do

receptor GPS a bordo de satélites, utilizando o EKF como estimador.

Pardal (2008) determinou a órbita de um satélite artificial, utilizando sinais da

constelação GPS e o Método de Mínimos Quadrados Recursivo via ortogonalização

de Givens como técnica de estimação, com a finalidade de melhorar o desempenho de

processos de determinação de órbitas e, ao mesmo tempo, minimizar o custo do

procedimento computacional. O modelo dinâmico incluiu perturbações devidas ao

geopotencial até ordem e grau 50, à pressão de radiação solar direta e à atração

gravitacional luni-solar. Foi considerada a influência do movimento da atitude do

satélite no processo de DO.

Julier et al. (1995, 2000) e Julier e Uhlmann (1997, 2004) desenvolveram e

demonstraram um novo estimador linear recursivo para modelo dinâmico e modelo de

observações não lineares. Este método usa o princípio de que um conjunto de pontos

discretamente amostrados pode ser usado para parametrizar média e covariância de

uma distribuição de probabilidade (não necessariamente Gaussiana). Esta técnica leva

a um novo filtro: o chamado filtro de Kalman sigma-ponto (SPKF).

Page 35: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

7

A família de algoritmos sigma-ponto, que representa uma nova abordagem, baseada

nos sigma-pontos, para calcular estatísticas posteriores de uma variável aleatória que

passa por uma transformação não linear, foi revisada em van der Merwe et al. (2004).

Estes algoritmos incluem variantes como o Filtro de Kalman “Unscented” (UKF) e o

Filtro de Kalman de Diferenças Centrais (CDKF).

Lee e Alfriend (2003, 2004) utilizaram uma generalização alternativa do EKF para

estimação recursiva robusta dos estados e parâmetros de um satélite orbitando a Terra.

O novo filtro não linear, SPKF, é baseado na transformação “unscented” e seu

desempenho na aplicação é melhor que a do EKF, com a mesma complexidade

computacional, e sem os onerosos passos de linearização para sistemas não lineares,

levando a uma convergência mais rápida e estável.

Um eficiente algoritmo de inicialização do filtro foi proposto por Lee e Alfriend

(2007). O método de Herrick-Gibbs foi usado para fornecer estado inicial e

covariância, mostrando vantagens dos filtros sigma-ponto em relação ao EKF na

estimação sequencial de órbita, com a mesma complexidade computacional.

O trabalho de Kuga et al. (2007) descreveu o alinhamento estático de uma IMU

(Inertial Measurement Unit) de baixo custo baseada na tecnologia MEMS (Micro

Electro-Mechanical System). Foi desenvolvido um filtro de Kalman não linear (UKF

na fase de propagação e o filtro de Kalman linearizado na fase de atualização) para

acompanhar, em tempo real, os parâmetros de calibração estimados, a fim de

minimizar os erros de navegação.

Embora todos os trabalhos acima citados tenham sido instrumentos de referência de

extrema valia para o desenvolvimento da tese de doutorado que se apresenta, os

principais trabalhos que nortearam o desenvolvimento da mesma foram os de: Julier

et al. (1995, 2000); Julier e Uhlmann (1997, 2004); van der Merwe et al. (2004); Lee e

Alfriend (2003, 2004); e Chiaradia (2000).

Na sequência, no Capítulo 3 é apresentada a metodologia utilizada para o

desenvolvimento da tese, enquanto os Capítulos 4, 5 e 7 englobam a revisão teórica

dos principais tópicos estudados durante a elaboração da tese. São eles: modelo da

dinâmica orbital; modelo das medidas usadas em DO; modelos dos principais efeitos

Page 36: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

8

perturbadores que afetam a órbita do satélite T/P, utilizado como caso de teste nesta

tese; e técnicas de estimação, destacando, entre os estimadores aplicados a problemas

com características de tempo real o EKF e o UKF.

Page 37: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

9

3 METODOLOGIA

Em missões espaciais, a DO permite o acompanhamento da espaçonave e, com isso, a

execução de todas as tarefas operacionais durante a sua vida útil. A DO adquire

destaque primordial na medida em que a precisão da mesma permite que algumas das

tarefas operacionais sejam executadas sem contratempos, evitando prejuízos para a

missão. O conhecimento preciso da órbita fornece informações valiosas acerca dos

desvios em relação à trajetória nominal da missão; permitindo correções de órbita,

manobras de transferência orbital e previsão de problemas com a espaçonave, como a

deterioração da missão e a redução do tempo de vida útil. Em trabalhos de precisão,

notadamente os científicos, o conhecimento preciso da órbita é fundamental em

campos da geodésia espacial, oceanografia do nível dos mares, modelagem da

dinâmica da crosta terrestre, topografia e relevo, melhoria dos coeficientes de

modelagem do geopotencial, entre outros.

No problema da DO de satélites artificiais separam-se dois aspectos: o determinístico,

que abrange a modelagem da dinâmica da órbita e a modelagem das observações que

serão utilizadas para DO; e o estocástico, que abrange a aplicação de métodos e

procedimentos da teoria de estimação de estados. Para obtenção de uma boa

eficiência, deve-se modelar o problema da forma mais adequada possível,

considerando os requisitos impostos a sua resolução. Nem sempre a modelagem

dinâmica sofisticada é a mais conveniente; muitas vezes o modelo pode ser

simplificado, reduzido ou descentralizado sem prejudicar o desempenho do

procedimento. Para a DO, uma simplificação comum é a adoção do movimento

kepleriano, que representa a maior parcela da magnitude das forças atuantes no

sistema. Deve-se ressaltar que modelos simplificados podem não ser suficientemente

precisos se as integrações ocorrerem por longos períodos, devendo-se compensar tais

erros com atualizações mais frequentes, via utilização de uma maior quantidade de

medidas a serem processadas pelo estimador de estados.

Caso não houvesse perturbações de qualquer natureza, a órbita de um satélite artificial

terrestre poderia ser modelada como um movimento kepleriano puro (problema de

dois corpos), em que somente a força central gravitacional age sobre ele. Esta força é

de maior magnitude que quaisquer outras forças perturbadoras atuantes e, neste caso

ideal, as equações do movimento seriam integráveis analiticamente, sem necessidade

Page 38: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

10

de integrações numéricas. Excluindo-se esta força principal, existem diversas fontes

de perturbação sobre a órbita, tanto de origem conservativa como dissipativa, tais

como: geopotencial; arrasto atmosférico; pressão de radiação solar direta e indireta;

atração gravitacional luni-solar; e atração de marés terrestres e oceânicas.

Para se determinar uma órbita são necessárias informações obtidas através de medidas

direta ou indiretamente relacionadas com a posição e com a velocidade do satélite

(GOMES, 2004). Alguns tipos de medidas são direcionais e, em geral, medidas mais

precisas são coletadas por sistemas que medem características de propagação do sinal

eletromagnético entre transmissor e receptor, que podem estar baseados na Terra ou

no satélite. Um dos sistemas de grande potencial para DO de precisão e com

possibilidades de navegação autônoma é o sistema de posicionamento global GPS,

que fornece medidas com precisão métrica ou milimétrica, dependendo da abordagem

adotada para solucionar o problema.

Estas medidas devem passar por um processamento de dados adequado.

Invariavelmente, recorre-se a métodos estatísticos embasados em teorias de estimação

de parâmetros e de estado. Estes métodos acomodam a modelagem da dinâmica da

órbita e das medidas, considerando o aspecto estatístico dos erros e dos ruídos

sistemáticos e aleatórios envolvidos nas equações que regem o movimento orbital e as

observações a serem processadas.

O problema de determinação de órbita é não linear e, no caso desta tese, será utilizado

um algoritmo não linear, com características de tempo real, para obter o vetor de

estado a ser estimado.

Page 39: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

11

4 TÉCNICAS DE DETERMINAÇÃO DE ÓRBITA DE SATÉLITES

ARTIFICIAIS

4.1 Modelagem da Dinâmica Orbital

Para se obter uma boa eficiência no problema de DO de satélites artificiais, deve-se

modelar o problema da forma mais adequada possível e que atenda os requisitos

impostos a sua missão. Nem sempre a modelagem dinâmica mais sofisticada é a mais

adequada, pois comumente requisitos de processamento em tempo real, ou quase real,

e memória limitada, estão presentes. Muitas vezes o modelo pode ser simplificado ou

reduzido sem prejudicar o desempenho do procedimento. No caso específico de DO,

uma simplificação comum é a adoção do modelo que representa a maior parcela de

magnitude das forças atuantes no sistema: o movimento kepleriano (KUGA, 2001).

Caso não houvesse perturbações de qualquer natureza, a órbita de um satélite artificial

terrestre poderia ser modelada como um movimento kepleriano puro, em que somente

a força central gravitacional age sobre o veículo espacial. Porém, no caso de satélites

artificiais terrestres, existem diversas fontes de perturbação sobre suas órbitas, tanto

gravitacionais como não gravitacionais, tais como: geopotencial, arrasto atmosférico,

pressão de radiação solar direta e indireta, atração gravitacional luni-solar, efeito de

marés, etc. Tais perturbações podem afetar os chamados elementos keplerianos que

representam a órbita do satélite.

O problema de DO de satélites artificiais terrestres é essencialmente não linear, de

tratamento matemático complexo e agravado pelo fato de o satélite sofrer influência

de perturbações gravitacionais e não gravitacionais. O processo dinâmico (movimento

orbital) mais simples é descrito por equações diferenciais ordinárias vetoriais:

vr =& (4.1)

war

v ++=3r

-µ& (4.2)

definidas em relação ao sistema de referência inercial. Nas Eq. 4.1 e 4.2, r representa

o vetor contendo as componentes de posição (x, y, z), com 222 zyxr ++= ; v , o

vetor contendo as componentes de velocidade; w , o vetor ruído branco com média

Page 40: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

12

zero e covariância Q; e a , o vetor de perturbações modeladas. No equacionamento do

estimador de estado, define-se o estado, x, como:

v

rx (4.3)

As Eq. 4.1 e 4.2 podem ser escritas como segue:

( ) ( )tt)t( ,, nmm xfxfx +=& (4.4)

em que mf é a função vetorial que expressa a modelagem adotada no estimador e nmf é

a função vetorial que expressa a parcela não modelada.

As equações de estado consideradas são:

zx

yx

xx

zx

yx

xx

6

5

4

3

2

1

&

&

&

===

===

=+==

=+==

=+==

=========

6333

6

5232

5

4131

4

363

252

141

far

x-zx

far

x-yx

far

x-xx

fxzx

fxyx

fxxx

µ

µ

µ

&&&

&&&

&&&

&&

&&

&&

(4.5)

O vetor a ser estimado compõe-se de:

[ ]T654321 x x x x xx=x (4.6)

com a condição inicial 0x modelada como um vetor aleatório, normalmente

distribuído.

4.2 Modelagem das Medidas Usadas em Determinação de Órbita

Para se determinar uma órbita são necessárias informações sobre ela. Tais

informações são obtidas através de medidas que direta ou indiretamente se relacionam

com posição e velocidade do satélite. Alguns tipos de medidas são direcionais,

Page 41: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

13

medindo os ângulos de apontamento de uma antena de rastreio localizada em local

conhecido que identificam a trajetória do satélite. Em geral, medidas mais precisas

são coletadas por sistemas que medem características da propagação do sinal

eletromagnético entre transmissor e receptor, que podem estar baseados tanto em

Terra quanto no satélite. Em geral, as medidas podem ser obtidas de medidas de

antenas de radar e de medidas baseadas em satélites.

As observações de antenas de radar baseadas em Terra, normalmente utilizadas em

sistemas de determinação de trajetória, podem ser métricas ou angulares.

Existem também medidas baseadas em satélites. Neste caso, os satélites de um

sistema de posicionamento são os meios externos utilizados para coletar dados que

fornecem informações sobre a trajetória do satélite cuja órbita deve ser determinada.

Um dos sistemas de grande potencial para DO de precisão e com navegação autônoma

é o sistema de posicionamento global GPS. A referência Parkinson e Spilker (1996) é

uma das mais completas em relação ao sistema GPS.

O segmento espacial do GPS consiste de uma constelação nominal de 24 satélites

operacionais e mais três satélites mantidos como reserva, conforme a Figura 4.1. Um

receptor GPS embarcado em um satélite usuário do sistema, ao receber o sinal,

compara-o com uma réplica do sinal codificado gerado pelo satélite GPS, e determina

a diferença entre o instante de chegada (recepção) e o de transmissão do sinal. Este

tipo de observação chama-se pseudo-distância. Outra observação consiste na chamada

fase da portadora, que é uma medida definida como a diferença entre a fase da

portadora do satélite GPS recebida pela antena do receptor e a fase do oscilador

interno do receptor na época da medida. A ideia de utilização das medidas de fase

para a determinação de órbitas justifica-se pela estabilidade das fases e pela precisão

na sua medida. Medidas de fase, basicamente, consistem da mesma quantidade que a

pseudo-distância, com duas diferenças distintas: são cerca de 100 vezes mais precisas;

e têm um desvio de relógio arbitrário resultante de um número desconhecido de ciclos

inteiros entre o transmissor e o receptor. A principal dificuldade de utilização deste

tipo de medida é a resolução da ambiguidade N (o número de ciclos não lidos no

instante da sincronização dos sinais) e produz impacto direto na precisão da medida.

Page 42: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

14

Figura 4.1 - Constelação GPS.

4.3 Técnicas de Estimação

O objetivo de um estimador de estado é calcular estimativas de um vetor de estado

com base em um conjunto de observações, de modo que a estimativa obtida seja ótima

segundo um dado critério. Em outras palavras, é um algoritmo computacional que

processa medidas para produzir uma estimativa, de erro mínimo, do estado de um

sistema utilizando conhecimentos da sua dinâmica, da modelagem das medidas, das

estatísticas do erro do modelo dinâmico do sistema e das medidas, além de

informações da condição inicial.

Para se determinar uma órbita é necessário o processamento dos dados coletados.

Invariavelmente recorrem-se a métodos estatísticos embasados em teorias de

estimação de parâmetros e de estado. Estes métodos acomodam a modelagem da

dinâmica da órbita, a modelagem das medidas e também levam em conta o aspecto

estatístico de erros e de ruídos sistemáticos e aleatórios.

Os métodos determinísticos são pouco utilizados já que a precisão obtida é pobre para

propósitos científicos e tecnológicos. Em geral, baseiam-se no modelo gravitacional

dos dois corpos e em um conjunto limitado de medidas para cálculo da órbita. Podem

ser utilizados para determinação preliminar de órbita, por exemplo, na fase de

lançamento, ou para obter a estimativa inicial de órbita a ser posteriormente refinada

pelos métodos estatísticos.

Page 43: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

15

No processo de estimação existem dois métodos básicos para obtenção do vetor de

estado: estimador por lotes e estimador sequencial. O estimador é dito por lotes

quando o vetor de estado é atualizado em um instante de referência ou época, usando

um bloco de observações obtido durante um intervalo de tempo. Destaca-se aqui o

método de mínimos quadrados por lotes. No estimador sequencial o vetor de estado é

atualizado após cada observação ser processada. Exemplos típicos são os métodos de

mínimos quadrados recursivo e o filtro de Kalman.

4.3.1 Estimadores de Tempo Real

Estes são os estimadores cujas aplicações são prioritariamente em casos nos quais há

necessidade de processamento em tempo real. Eles devem, intrinsecamente, ser

algoritmos recursivos e produzir sequencialmente estimativas do estado e/ou de

parâmetros do sistema. Dentre estes, destacam-se o filtro de Kalman convencional e

suas variantes numericamente robustas.

O filtro de Kalman é um dos estimadores recursivos mais usados atualmente por ser

de fácil implementação e utilização em computador. Por ser recursivo, há uma

economia de memória de armazenamento, já que as observações podem ser

processadas à medida que vão sendo coletadas e, então, descartadas. Este fato o torna

ideal para aplicações em tempo real, caso em que iterações sobre o total de

observações não precisam ser realizadas e a convergência é obtida à medida que certa

quantidade de observações é processada.

4.3.1.1 Filtro de Kalman

Na DO de satélites artificiais, em geral a dinâmica e as medidas são não lineares e,

portanto, para se aplicar o filtro de Kalman, é geralmente feita uma linearização em

torno de uma solução de referência. O filtro de Kalman é reconhecido como uma das

técnicas de estimação de estado mais poderosas. Há dois métodos básicos para a

aplicação do filtro de Kalman em sistemas não lineares: o filtro linearizado de Kalman

e o filtro estendido de Kalman.

O Filtro Linearizado de Kalman gera uma trajetória de referência válida do início ao

fim do processo de estimação e as linearizações são sempre efetuadas em torno dessa

Page 44: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

16

referência. Já o Filtro Estendido de Kalman (EKF), uma versão do filtro de Kalman

para sistemas não lineares, gera trajetórias de referência que são atualizadas a cada

processamento das medidas, a partir das próprias estimativas geradas pelo filtro, no

instante correspondente (BROWN e HWANG, 1985).

Se o modelo da dinâmica de estado é bastante preciso, pode-se utilizar o filtro

linearizado, desde que a informação a priori seja próxima dos valores verdadeiros, de

modo que as linearizações sejam válidas. Caso contrário, se o modelo é impreciso e

simplificado, é preferível o filtro estendido, que converge atualizando sempre a

trajetória de referência.

O filtro de Kalman apresenta vantagens e desvantagens (PAIVA, 1988 e KUGA,

1989):

A utilização do filtro de Kalman reduz a carga de processamento por não

requerer reiterações do processo para resolução das não linearidades;

É útil para processamento a bordo de veículos espaciais porque, ao contrário

dos estimadores por lotes, não precisa iterar sobre dados previamente

observados (minimizando a necessidade de armazenagem) e é frequentemente

capaz de estimar o estado atual em tempo real;

O tempo de execução requerido pelo filtro de Kalman depende da

complexidade dos cálculos necessários para atualizar as matrizes de transição

de estado e de covariância do ruído no estado;

Está frequentemente sujeito ao problema de divergência, que ocorre quando o

estado estimado se desvia do estado verdadeiro.

Filtro Estendido de Kalman

Devido à complexidade de modelar a dinâmica da órbita de um satélite artificial com

precisão, o EKF é geralmente utilizado em trabalhos desta natureza. O algoritmo do

filtro estendido atualiza sempre a trajetória de referência em torno da estimativa mais

atual disponível.

Este filtro consiste em fases de propagação e de atualização. Na primeira, a estimativa

atual do estado e a respectiva matriz de covariância são propagadas do instante tk-1 ao

tk e; na segunda, estado e covariância são corrigidos para o instante tk, de modo a

Page 45: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

17

incorporar informações contidas na observação yk. Esse método tem, portanto,

natureza recursiva e não necessita armazenar as medidas previamente em grandes

matrizes.

Fase de propagação: utilizada para propagar as estimativas do estado e a covariância

entre instantes discretos através do modelo dinâmico do sistema. As equações

utilizadas nesta fase são:

ΓQΓφPφP

xfx

kkkkkkkk

kk

+=

=

−−−

T1,11,

1

ˆ~

)ˆ(~&

(4.7)

sendo kx~ e kP~

o estado e a covariância propagados para o instante tk; ϕϕϕϕ a matriz de

transição que relaciona o estado entre os instantes tk-1 e tk; kQ a covariância da

dinâmica; e Tkkk ΓQΓ a matriz de adição do ruído dinâmico dada por:

∫−

−−= k

1k

t

t 1TT

1 )dtt,(t(t)(t)(t))t,(t kkkkkkk φGQGφΓQΓ (4.8)

em que (t)G é uma matriz de adição do ruído dinâmico.

Fase de atualização: utilizada somente para corrigir o estado e a covariância

propagada para o instante tk na fase de propagação, incorporando as informações

contidas na observação correspondente a esse instante, yk, através do modelo de

observações. A cada instante de amostragem, as medidas do instante tk fornecem

informação para corrigir o estado e a covariância. Nesta fase, as equações são dadas

por:

1)

~(

~ −+= kTkkk

Tkkk RHPHHPK

kkkk PHKIP~

)(ˆ −= (4.9)

( )kkkkkk xHyKxx ~~ˆ −+=

em que K k é o ganho de Kalman; x e P são o estado e a covariância atualizados para

o instante tk; Rk é a matriz de ruídos das observações; e Hk é um matriz m×n que

relaciona as medidas aos elementos do estado no instante tk.

Page 46: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

18

O EKF propaga recursivamente a estimativa do estado 1ˆ −kx e da covariância 1ˆ

−kP , de

um dado sistema dinâmico, para o instante tk. Depois, com auxílio das medidas

geradas no instante tk, ele atualiza as estimativas do vetor de estado e da covariância.

A atualização é realizada através da matriz de ganho de Kalman, resultado da

minimização da soma escalar ponderada dos elementos da diagonal principal da

matriz de covariância. Em outras palavras, o filtro estendido de Kalman tem uma

estrutura preditora-corretora e se baseia na expansão em Série de Taylor do sistema

não linear e das equações das medidas em torno do valor estimado atualizado x .

Page 47: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

19

5 FILTROS DE KALMAN DO TIPO SIGMA-PONTO

Os filtros de Kalman do tipo sigma-ponto utilizam uma nova abordagem do filtro de

Kalman, para dinâmica e modelo de medidas não lineares, baseada em um conjunto

de amostras ponderadas, com a finalidade de parametrizar média e covariância de uma

distribuição de probabilidade. Tal abordagem será aqui discutida.

5.1 Introdução

Quando a dinâmica do sistema e o modelo de observações são lineares, o filtro de

Kalman pode ser amplamente empregado no processo de estimação. Todavia, na

maioria das situações, os sistemas dinâmicos e as equações das medidas são não

lineares e convenientes extensões do filtro de Kalman têm sido procuradas. A solução

ótima para o problema de filtragem não linear exige que uma descrição completa da

densidade de probabilidade condicional seja mantida. Infelizmente, como esta

descrição exata requer um número potencialmente ilimitado de parâmetros,

aproximações sub-ótimas têm sido propostas. Estes métodos podem ser amplamente

classificados como métodos numéricos de Monte Carlo ou aproximações analíticas.

No entanto, a aplicação destes métodos para sistemas de alto grau raramente é prática.

O filtro de Kalman do tipo Sigma-Ponto (“Sigma-Point”) é um novo estimador que

permite desempenho equivalente ao do filtro de Kalman convencional (sistemas

lineares) e se estende elegantemente a sistemas não lineares, sem os onerosos passos

de linearização.

5.2 Os Filtros da Família Sigma-Ponto

A família de algoritmos sigma-ponto representa uma abordagem geral, baseada nos

sigma-pontos, para calcular estatísticas posteriores de uma variável aleatória que

passa por uma transformação não linear. Estes algoritmos incluem variantes

específicas, como o Filtro de Kalman “Unscented” (UKF) e o Filtro de Kalman de

Diferenças Centrais (CDKF). O UKF é baseado em uma transformação não linear,

chamada transformação “unscented”, em que um conjunto de amostras ponderadas

ou sigma-pontos é usado para parametrizar eficientemente a média e a covariância de

uma distribuição de probabilidade. Já o CDKF utiliza um método de linearização

alternativo, chamado transformação de diferença central, em que as derivadas são

Page 48: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

20

substituídas por estimações funcionais, permitindo uma expansão fácil de funções não

lineares para termos de mais altas ordens. Este filtro não é abordado neste trabalho.

A abordagem do filtro sigma-ponto é descrita em 3 passos (van der MERWE et al.,

2004):

1. Um conjunto de amostras ponderadas é deterministicamente calculado, com

base na média e na decomposição de raiz quadrada da matriz de covariância de

uma variável aleatória anterior. Uma exigência mínima é que os momentos de

primeira e de segunda ordem da variável aleatória anterior sejam

completamente capturados. Momentos de ordem superior podem ser

capturados, se desejado, ao custo de um número maior de sigma-pontos.

2. Os sigma-pontos são propagados através da verdadeira função não linear,

usando estimações funcionais somente, ou seja, derivadas analíticas não são

usadas para gerar um conjunto posterior de sigma-pontos.

3. As estatísticas posteriores são calculadas utilizando funções manejáveis dos

sigma-pontos propagados e de seus respectivos pesos. Em geral, elas assumem

a forma de uma simples média ponderada da média e da covariância de uma

variável aleatória, anteriormente calculadas.

A seguir, o UKF é explicado detalhadamente, em função de ser o método de

estimação escolhido para aplicação neste trabalho. Tal escolha deu-se,

essencialmente, por este filtro manter as características não lineares da dinâmica e das

medidas durante o processamento de filtragem, sem utilizar métodos de linearização.

5.3 O Filtro de Kalman “Unscented”

A componente fundamental deste filtro é a transformação “unscented”, que usa um

conjunto de pontos ponderados, escolhidos apropriadamente, para parametrizar média

e covariância da distribuição de probabilidade. Nesse método, a matriz Jacobiana

(matriz de derivadas parciais que torna a linearização do EKF possível) não necessita

ser calculada, explícita ou implicitamente, o que se torna uma grande vantagem da

transformação. Com disso, o algoritmo resultante representará mais fielmente a média

e a covariância do sistema não linear.

Page 49: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

21

5.3.1 Transformação “Unscented”

A transformação “unscented” calcula as estatísticas de uma variável aleatória que

passa por uma transformação não linear. Um conjunto mínimo de amostras é gerado

em torno da média x e da covariância Pxx do estado (JULIER e UHLMANN, 1997),

de forma a ser representativo do sistema não linear. Em seguida, todas as amostras

geradas são propagadas não linearmente, obtendo estatísticas de média y e de

covariância Pyy preditas das medidas, a partir de uma nuvem de pontos transformados.

Neste método, as amostras não são tomadas aleatoriamente; elas são escolhidas

deterministicamente, de forma a capturar informação específica sobre a distribuição.

Esta ideia pode ser aplicada a diferentes espécies de informação, de muitos tipos de

distribuição. No entanto, aqui se considera um caso especial: capturar média e

covariância de uma distribuição assumida gaussiana.

A variável aleatória x , n-dimensional, sendo n o tamanho do estado, com média x e

covariância Pxx é aproximada por 2n + 1 sigma-pontos ponderados do nℜ , dados por:

( )( )

ini

ii

n

n

xx

xx

Px

Px

x

χ

χ

χ

)(

)(

0

κ

κ

+−=

++=

=

+

(5.1)

em que ℜ∈κ , ( )i

n xxP)( κ+ é a i-ésima linha ou coluna, i = 1, ..., n, da matriz raiz

quadrada de xxP)( κ+n . Sejam os valores associados ao peso do i-ésimo ponto, iW ,

definidos por:

( )

( )

( ) njn

W

nin

W

nW

nj

i

,,1,2

1

,,1,2

1

0

K

K

=+

=

=+

=

+=

+ κ

κ

κκ

(5.2)

Page 50: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

22

Então a transformação ocorre da seguinte forma:

1. Usa-se a transformação não linear para produzir um conjunto de sigma-pontos

transformado, a partir de cada ponto:

[ ]iiy χh= (5.3)

2. A média das observações é dada pela média ponderada dos pontos

transformados:

∑=

=n

iii yW

2

0

y (5.4)

3. A covariância é o produto ponderado dos pontos transformados:

[ ][ ]∑=

−−=n

iiiiyy yyW

2

0

TyyP (5.5)

As propriedades do algoritmo são apresentadas resumidamente abaixo (JULIER e

UHLMANN, 1997):

1. Desde que a média e a covariância de x sejam capturados precisamente até a

segunda ordem, os valores calculados de média e de covariância de y estarão

corretos até esta ordem. Em outras palavras, a média é calculada para uma

ordem de precisão superior ao EKF, enquanto a covariância é calculada para a

mesma ordem de precisão.

2. Os sigma-pontos capturam a mesma média e covariância, sem restrição em

relação a matriz de raiz quadrada utilizada. Métodos numericamente eficientes

e estáveis podem ser usados, como a decomposição de Cholesky.

3. A média e a covariância são calculados através de operações clássicas de

vetores e de matrizes, ou seja, o algoritmo é ajustável a qualquer escolha de

processo e a implementação é rápida em razão de não se calcular a matriz

Jacobiana.

4. O fator κ fornece um grau de liberdade a mais, para o “ajuste fino” dos

momentos de ordens superiores, e pode ser usado para reduzir os erros de

predição. Se x é uma variável gaussiana, é útil escolher ( ) 3=+ κn (JULIER

Page 51: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

23

et al., 1995); e se x tiver uma distribuição diferente, a escolha de κ deve ser

mais adequada.

5.3.2 Filtro de Kalman “Unscented”

Com a utilização da transformação “unscented”, o algoritmo do filtro de Kalman

consiste agora nos seguintes passos, mostrados primeiramente na Figura 5.1, e

explicados em seguida.

Figura 5.1 - Filtro de Kalman modificado, gerando o UKF.

Os passos detalhados na Figura 5.1 são explicados abaixo:

1. Predizer o novo estado do sistema ( )kk |1ˆ +x e sua covariância associada

( )kkxx |1+P , levando em conta os efeitos do ruído gaussiano branco do

processo.

2. Predizer a observação esperada ( )kk |1ˆ +y e a covariância de resíduos

(inovação) ( )kk |1+ννP , levando em conta os efeitos do ruído da observação.

Page 52: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

24

3. Predizer a matriz de correlação cruzada ( )kkyx |1+P .

Estes passos são acomodados no filtro de Kalman com a reestruturação do vetor de

estado, do vetor de observações e do modelo da dinâmica:

As matrizes na diagonal principal de ( )kkxx |1+P são as covariâncias dos elementos

do estado e, as fora dela, as correlações entre os erros da dinânima do estado e os

ruídos das observações. Embora este filtro exija um número adicional de sigma-

pontos, com isto pretende-se que os efeitos do processo gaussiano (em termos do

impacto da média e da covariância) sejam introduzidos no estado com a mesma ordem

de precisão que as incertezas.

Existem várias extensões e modificações que podem ser feitas a este método básico

para considerar detalhes específicos de uma dada aplicação. Lü et al. (2007), por

exemplo, apresentam duas formas de implementar o UKF, utilizando a decomposição

de Cholesky e a decomposição modificada de Cholesky para atualizar a covariância,

possibilitando a tais implementações ter boa estabilidade numérica.

5.4 Comparação entre EKF e UKF

Os filtros não lineares convencionais, tais como o filtro linearizado ou estendido de

Kalman, por vezes têm um desempenho pobre face a problemas não lineares, devido a

duas conhecidas desvantagens:

A linearização (dos modelos dinâmico e de medidas) pode levar a um

desempenho altamente instável do filtro se o intervalo do passo não for

suficientemente pequeno;

A derivação da matriz Jacobiana não é trivial na maioria das aplicações e,

usualmente, leva a dificuldades de implementação.

O UKF é mais vantajoso, quando comparado ao EKF, nos seguintes aspectos (LEE e

ALFRIEND, 2004):

Page 53: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

25

1. Permite estimativas mais estáveis e precisas de média e de covariância;

2. Pode estimar funções que apresentem descontinuidades;

3. Não necessita linearizar o sistema dinâmico ou, em outras palavras, desobriga

o cálculo da matriz Jacobiana (matriz de derivadas parciais que torna a

linearização do EKF possível);

4. É ajustável a processamento paralelo.

5.5 Aplicações

O processo de estimação de um estado por meio do UKF é um método que pode ser

amplamente empregado, especialmente para sistemas cuja dinâmica e modelo de

medidas são não lineares. Em relação a este método, vários trabalhos podem ser

encontrados na literatura. As diferenças entre eles estão baseadas essencialmente nas

escolhas de modelos de sistema dinâmico e tipos de medidas.

Podem ser elencadas algumas aplicações, como estimação de: parâmetros e estado

não lineares; sistemas não contínuos no tempo; posição baseada no sistema GPS;

incertezas das medidas; atitude (incluindo quatérnios); e bias de sensores. No

concernente à navegação, tem-se as opções: via GPS; integrada; inercial; via GPS

com integridade em aviação; de espaçonaves, na reentrada ou não. Pode ainda ser

aplicado em reconstrução de trajetória de vôo, combinado com a tecnologia MEMS e

em predição e estimação sequencial de órbita.

Uma discussão de desenvolvimento de determinação de órbita (incluindo predição e

estimação sequencial), com características de tempo real, através do UKF, será

mostrada no Capítulo 6 a seguir.

Page 54: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

26

Page 55: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

27

6 APLICAÇÃO DO UKF PARA DETERMINAÇÃO DE ÓRBITA COM

CARACTERÍSTICAS DE TEMPO REAL

No EKF, a distribuição do estado é suposta ser normal e este é modelado por uma

variável gaussiana aleatória, que é propagada analiticamente através da linearização

de primeira ordem do sistema não linear. Isto introduz erros na média e na covariância

reais posteriores da variável gaussiana aleatória transformada, levando a desempenhos

sub-ótimos e, algumas vezes, à divergência do filtro (WAN e van der MERWE,

2000).

No UKF, a distribuição do estado também é aproximada por uma variável gaussiana

aleatória, porém é representada por um mínimo de pontos amostrados, que são

cuidadosamente escolhidos, de forma a capturar a média e a covariância da referida

variável. Quando pontos amostrados são propagados através do sistema não linear

verdadeiro, a média e a covariância posteriores podem ser capturadas com precisão,

para a terceira ordem da expansão em Série de Taylor, para qualquer sistema não

linear.

A implementação do EKF em DO, sob condições iniciais de pouca precisão e com

medidas de dados esparsas, pode levar a solução instável. O UKF pode representar

uma alternativa eficiente para estimação recursiva não linear do estado de um satélite

em órbita ao redor da Terra.

6.1 Utilização do UKF em Determinação de Órbita

Primeiramente, algumas observações devem ser feitas acerca da DO, do modelo

dinâmico e do modelo de observações:

1. A determinação de órbita será feita com base no sistema GPS, cujo princípio

de funcionamento baseia-se no método geométrico, em que o observador

conhece a posição de um conjunto de satélites em relação a um referencial

inercial e a sua posição em relação a este conjunto, obtendo sua própria

posição no sistema de referência. A Figura 6.1 apresenta os parâmetros básicos

utilizados pelo sistema GPS na determinação da posição do usuário em que

ur é a posição do satélite usuário em relação ao sistema inercial;iGPSR é a

Page 56: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

28

posição do i-ésimo satélite GPS; e iρ é a pseudo-distância, posição do usuário

em relação ao i-ésimo satélite (VILHENA DE MORAES et al., 1994):

Figura 6.1 - Método Geométrico

Fonte: Chiaradia, 2000.

2. No caso de DO via GPS, as equações diferenciais ordinárias vetoriais que

representam o modelo dinâmico são (KUGA, 1989):

vr =& (6.1)

vwar

v ++=3r

-µ& (6.2)

db =& (6.3)

dwd =& (6.4)

em que as Equações 6.1 e 6.2 são equivalentes às Equações 4.1 e 4.2,

respectivamente; b representa a tendência do relógio GPS; d, a deriva do

relógio GPS, ambos do satélite usuário; e dw , o ruído associado ao relógio

GPS.

Page 57: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

29

3. A equação não linear do modelo de observações é dada por:

( ) , kkkk νxhy += t (6.5)

em que ky é o vetor de m observações; ( )kxh é a função não linear de

dimensão m do estado kx ; e kν é o vetor de dimensão m dos erros da

observação. Todos calculados no instante tk.

Contextualizado o problema de DO que se pretende estimar através do UKF, é

possível apresentar uma discussão sobre o assunto.

Os passos da transformação “unscented” para gerar o UKF são acomodados no filtro

de Kalman (Seção 5.3.2). No equacionamento do estimador de estado, o vetor de

estado original, no instante k, é dado por:

=

k

k

k

k

k

d

b

v

r

x (6.6)

O vetor de estado poderia incorporar também o vetor de ruídos dinâmicos kw , de

dimensão q×1, e kυ , o ruído do processo branco gaussiano, que representa o erro da

observação, de dimensão l×1. Em consequência, a matriz de covariância aumentada

teria na diagonal principal Qk, a matriz de covariância do ruído da dinâmica, e kR , a

covariância do erro da observação. O novo vetor de estado teria dimensão

l q n na ++= (LEE e ALFRIEND, 2007). Como, neste problema específico, os

ruídos entram de forma aditiva tanto na equação da dinâmica quanto na equação das

observações, não será necessário trabalhar com o vetor de estado aumentado.

Tendo-se definido composição e dimensão do vetor de estado, o UKF pode então ser

implementado. O passo de propagação se divide em duas etapas:

Page 58: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

30

1. Gerar o conjunto de sigma-pontos do estado:

+−=

=

++=

=

−−−+

−−−

−−

111,

111,

11,0

ˆ)(ˆ

...,,1,ˆ)(ˆ

ˆ

kkkni

kkki

kk

n

nin

Px

Px

x

χ

χ

χ

λ

λ (6.7)

a partir da média, 1ˆ −kx , e da matriz de covariância, 1ˆ

−kP , referentes ao instante

anterior, tk-1. Nas Equações 6.7, ( ) nn −+= καλ 2 , sendo que α controla o

espalhamento dos sigma-pontos em torno da média 1ˆ −kx e é escolhido

usualmente pequeno, no intervalo 110 4 ≤≤− α (JWO e LAI, 2008); κ fornece

um grau de liberdade a mais, que é usado para o “ajuste fino” dos momentos

de ordens superiores (se a distribuição é gaussiana, tem-se n−= 3κ (JULIER

et al., 1995)); e i

kn

+ −1

ˆ)( Pλ é a i-ésima linha ou coluna da matriz raiz

quadrada de ( ) 1ˆ

−+ kn Pλ .

2. Propagar o conjunto de sigma-pontos do estado gerado para o instante tk, a

partir da função não linear da dinâmica:

[ ]

[ ]

[ ]1,,

1,,

1,0,0

−++

=

=

=

knikni

kiki

kk

χχ

χχ

χχ

f

f

f

(6.8)

e, em seguida, com os sigma-pontos propagados através da função da

dinâmica, calcular a média e a covariância preditas:

[ ] [ ] kkki

n

ikkiik

n

ikiik

W

W

QxxP

x

χχ

χ

+−−=

=

=

=

T

,

2

0,

2

0,

(6.9)

Page 59: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

31

A fase de atualização (correção da medida) se divide em mais quatro etapas:

1. Gerar o conjunto de sigma-pontos das observações:

+−=

=

++=

=

+ kkkni

kkki

kk

n

nin

Px

Px

x

χ

χ

χ

)(

,...,,1,)(

,

,

,0

λ

λ (6.10)

propagar os sigma-pontos das observações através da função não linear das

observações:

][

[ ]

[ ]knikni

kiki

kk

y

y

y

,,

,,

,0,0

++ =

=

=

χh

χh

χh

(6.11)

e calcular ky , a média dos sigma-pontos de observação propagados:

∑=

=n

ikiik yW

2

0,y (6.12)

2. Calcular as matrizes de inovação, vvkP , e de correlação, yx

kP , preditas:

[ ] [ ]

[ ] [ ]T,

2

0,

T,

2

0,

y

yy

kki

n

ikkii

yxk

kkki

n

ikkii

vvk

y

yy

W

W

−−=

+−−=

=

=

xP

RP

χ

(6.13)

3. Calcular o ganho de Kalman, kK , com base nas matrizes de inovação e de

correlação determinadas na etapa nº 2 anterior:

( ) 1−= νν

kyx

kk PPK (6.14)

Page 60: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

32

4. E, finalmente, atualizar o estado, kx , e a matriz de covariância, kP :

( )

kkkkk

kkkkk

KK

K

ννPPP

yxx

−=

−+=

(6.15)

sendo ky o vetor de observações efetivamente medido no instante tk.

O processo se repete, a partir da Equação 6.7, o primeiro passo da etapa de

propagação, para o próximo instante, tk+1. A média e a covariância do estado

atualizadas no instante atual tk serão usadas para gerar, deterministicamente, os sigma-

pontos do próximo instante.

6.2 Resultados: Algoritmo do UKF Implementado para Determinação de

Órbita

Os resultados para o desenvolvimento e a implementação de um filtro de Kalman

sigma-ponto não linear, baseado na transformação “unscented”, com o objetivo

específico de determinar a órbita de um satélite artificial em tempo real e usando

medidas GPS, são apresentados aqui.

O algoritmo é simples, compacto e resulta em um estimador recursivo de baixo custo

computacional, o que o torna ideal para aplicações de tempo real. O modelo dinâmico

inclui perturbações devidas ao geopotencial até ordem e grau 10×10. As medidas de

pseudo-distância, de frequência L1, são usadas como vetor de observações. Não

houve correção ionosférica no período de testes e os dados foram utilizados sem

disponibilidade seletiva. Todos os resultados foram obtidos para um longo período de

24 horas de amostragem, referentes ao dia 05/01/1994, data da qual há disponíveis os

arquivos do POE/JPL, usados como referência para determinar os erros dos resultados

obtidos.

Inicialmente, foi implementado o conceito do UKF na fase de propagação do processo

de estimação, utilizando o EKF na fase de atualização. Em seguida, o UKF foi

implementado na fase de atualização, mantendo o EKF na propagação. Por último, o

algoritmo do UKF foi completamente implementado, substituindo o EKF nas fases de

Page 61: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

33

propagação e de atualização. Esta foi a primeira vez, até onde se tem informação, que

resultados de DO, utilizando o conceito do UKF e o processamento de dados reais

pelo filtro, foram apresentados (PARDAL et al., 2009, 2009(a)).

Estes três estágios foram comparados entre si e também foram comparados aos

resultados para o EKF (PARDAL et al., 2009, 2009(a)). Para avaliação do algoritmo

do UKF, foi implementado um algoritmo do EKF simplificado e compacto, de baixo

custo computacional, para DO de satélites artificiais em tempo real e a bordo, usando

o sistema GPS. Este algoritmo funcionou como referência de avaliação dos resultados

obtidos através do UKF no decorrer do desenvolvimento da tese e foi utilizado ainda

para gerar os resultados obtidos através do EKF nesta tese, feitas as modificações

adequadas a cada etapa da tese. O vetor de estado foi estimado pelo EKF e as

equações da dinâmica consideraram perturbações devidas ao geopotencial até grau e

ordem 10 (CHIARADIA, 2000).

As Figuras 6.2 e 6.3 apresentam os módulos dos erros em posição e em velocidade (∆r

e ∆v) para as implementações através do UKF e do EKF. Os resultados dos estágios

intermediários (implementação do UKF apenas na fase de propagação ou apenas na

fase de atualização), como apresentaram o mesmo comportamento dos algoritmos que

implementam o EKF e o UKF completos (nas fases de propagação e de atualização),

serão mostrados apenas por meio das Tabelas 6.1 e 6.2. Na Figura 6.4 são

apresentados os resíduos de pseudo-distância obtidos com o UKF como estimador.

Como pode ser verificado através das referidas tabelas, o comportamento dos resíduos

para o EKF e para os estágios intermediários é praticamente o mesmo que o do UKF.

Com relação aos erros em posição e em velocidade, as Figuras 6.2 e 6.3 indicam que o

UKF atinge valores RMS em torno de 29 m em posição e 0,04 m/s em velocidade, o

mesmo acontecendo com o EKF. A Tabela 6.1 mostra que o UKF implementado

apenas na propagação e o implementado apenas na atualização atingem os mesmos

valores de RMS para os erros em posição e em velocidade. Isto leva a concluir que os

comportamentos de posição e de velocidade são similares nas quatro implementações.

Os valores estatísticos são apresentados em termos do RMS porque seu cálculo

envolve a média e o desvio padrão através de 22 )padrãodesvio()média(RMS +≈ ,

o que auxilia verificar se a consistência estatística está sendo atingida.

Page 62: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

34

De acordo com a Figura 6.4, os resíduos de pseudo-distância apresentam uma

distribuição normal, com RMS próximo de 22 m para um período de 24 horas. E,

conforme a Tabela 6.1, fica claro que os resíduos nas quatro implementações são

muito parecidos, com comportamento e estatísticas bastante similares.

UKF - Geo 10x10 - dia 05/01/1994

0.001

0.01

0.1

1

10

100

1000

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

tempo, [h]

erro

s

r_est, [m] r_real, [m]

v_est, [m/s] v_real, [m/s]

Figura 6.2 - Erros reais e estimados em posição e velocidade para o dia 05/01/1994 – implementação pelo UKF.

EKF - Geo 10x10 - dia 05/01/1994

0.001

0.01

0.1

1

10

100

1000

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

tempo, [h]

erro

s

r_est, [m] r_real, [m]

v_est, [m/s] v_real, [m/s]

Figura 6.3 - Erros reais e estimados em posição e velocidade para o dia 05/01/1994 – implementação pelo UKF.

Page 63: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

35

UKF - Geo 10x10 - dia 05/01/1994

-100

-75

-50

-25

0

25

50

75

100

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

tempo, [h]

resí

duos

, [m

]

Figura 6.4 - Comportamento típico dos resíduos da pseudo-distância – implementação pelo UKF.

Page 64: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

36

Tabela 6.1 - Estatíticas dos quatro estimadores implementados

RMS

Estimador ∆∆∆∆r (m) ∆∆∆∆v (m/s) resíduos (m)

UKF 29,548 0,0412 22,477

UKF - atualização 29,547 0,0412 22,477

UKF - propagação 29,562 0,0411 22,443

EKF 29,561 0,0411 22,443

Nas Figuras 6.2 e 6.3, os erros reais em posição e em velocidade (curvas vermelha e

cinza) estão abaixo dos erros estimados pelos filtros (curvas azul e verde), o que

indica consistência estatística. Todos os estimadores levaram cerca de 1 hora para

atingir valores de convergência.

Ao comparar os resultados obtidos para UKF completamente implementado, UKF

implementado na atualização, UKF implementado na predição e implementação

completa via EKF, todos resumidos na Tabela 6.1, pode-se concluir que para estes

intervalos de amostragem e para as condições deste problema de DO, os quatro

algoritmos são competitivos e apresentam comportamento e estatísticas muito

semelhantes, conforme destacado na Tabela 6.1. É importante ressaltar que todos os

resultados foram obtidos para dados reais de um receptor GPS a bordo do satélite T/P,

ou seja, dados simulados não foram usados.

Os resultados indicam que a transformação “unscented” introduzida na fase de

propagação, e em sequência na fase de atualização do filtro, foi bem sucedida, uma

vez que o comportamento dos resultados continuou muito semelhante ao dos

resultados obtidos com o EKF.

Um outro teste foi feito: comparação em termos de custo de tempo de processamento.

O tempo de CPU foi medido em um computador Pentium 4 ® com 3,06 GHz e 1,00

GB de memória RAM. Havia 2880 épocas no intervalo de amostragem, o que

significa uma nova amostra a cada 30 segundos. O número médio de medidas GPS,

Page 65: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

37

por época, foi 5,7, o que significa que foram processadas quase 6 observações de

satélites GPS a cada época.

O tempo de CPU foi aumentando à medida que o EKF era substituído pelo UKF,

como pode ser conferido na Tabela 6.2. A implementação pura do EKF levou cerca de

1 s para estimar o estado; em seguida, a substituição apenas da parcela de propagação

pelo UKF levou cerca de 2 s; depois, somente a parcela de atualização foi substituída

pelo UKF levou em torno de 3,5 s; e, por último, a implementação completa do UKF

precisou de quase 5 s para processar as medidas e estimar o vetor de estado para o

problema de DO, com medidas reais de satélites GPS.

Tabela 6.2 - Comparação de custo de tempo de processamento

Estimador tempo de CPU (s)

UKF 4,828

UKF - atualização 3,469

UKF - propagação 2,281

EKF 0,938

Neste problema, 2n + 1 sigma-pontos, sendo n o número de variáveis do estado, foram

gerados a partir da média e da covariância iniciais. Este é o procedimento utilizado

pela família de algoritmos SPKF para gerar os sigma-pontos. Devido a isso, era

esperado que o tempo de CPU fosse cerca de 16 vezes maior no UKF que no EKF, já

que neste problema específico o estado tem dimensão n = 8 e cada sigma-ponto é um

vetor de dimensão 2n + 1. Na realidade, o tempo de CPU efetivamente aumentou, mas

cerca de 5 vezes, de 0,938 s no processamento do EKF para 4,828 s no do UKF, ao

invés das 16 vezes esperadas. Estes valores, mostrados na Tabela 6.2, fornecem

evidências de que o tempo de CPU não é diretamente proporcional ao aumento na

dimensão do estado causado pela geração do conjunto de sigma-pontos.

Esta etapa do desenvolvimento da tese de doutorado teve como objetivo implementar

corretamente o algoritmo do UKF para o problema específico de DO com

características de tempo real e dados reais GPS. Para tanto, foi escolhida a mais

simples modelagem dinâmica: perturbações devidas ao geopotencial somente até

Page 66: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

38

ordem e grau 10. E, para verificar se a implementação estava correta, escolheu-se

comparar os resultados com uma referência: o EKF aplicado ao mesmo problema,

sujeito ao mesmo modelo dinâmico. É importante destacar que nestes resultados

preliminares, pontos importantes foram atingidos na implementação do algoritmo do

UKF, como convergência e consistência estatística entre valores estimados e erros.

Tendo-se constatado que convergência e consistência estatística foram alcançadas, é

possível agora concentrar esforços em diminuir os erros entre o estado estimado pelo

filtro e a referência do POE/JPL. Na realidade, sabe-se que só se conhecem os erros

estimados, da covariância do filtro. No entanto, como existem disponíveis arquivos do

estado real do satélite, é possível se basear nesta referência de erro para verificar se os

passos propostos para melhoria dos resultados foram eficientes. Em outras palavras, à

medida que as novas ações propostas forem sendo executadas, mais efetivas elas serão

quanto menor for o erro real resultante.

Buscando a melhoria dos resultados, o que se traduz em menores erros entre o estado

estimado pelo filtro e o estado real de referência do POE/JPL, o próximo passo

consiste em melhorar a precisão do modelo dinâmico adotado, aumentando a ordem

dos harmônicos do geopotencial considerados e incluindo novas perturbações. Neste

modelo dinâmico, para DO com características de tempo real, serão ainda incluídas a

pressão de radiação solar direta e a atração gravitacional luni-solar, preponderantes no

modelo do T/P, o satélite de teste deste trabalho.

Os resultados serão apresentados para os dois estimadores, UKF e EKF, já que os

novos resultados obtidos pelo UKF devem sempre ser comparados a uma referência,

no caso o mesmo problema de DO estimado por um filtro amplamente empregado e

cujos resultados são aceitos e conhecidos: o EKF.

Page 67: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

39

7 MODELO DE FORÇAS

Caso não houvesse perturbações de qualquer natureza, a órbita de um satélite artificial

terrestre poderia ser modelada como um movimento kepleriano puro, em que somente

a força central gravitacional age sobre o veículo espacial. As órbitas elípticas fixas

fornecem referências excelentes para estudo do movimento de um satélite artificial.

No entanto, outras forças agem no mesmo, perturbando seu movimento e afastando-o

de sua órbita nominal (kepleriana). As perturbações são normalmente classificadas em

três tipos: perturbações seculares, que variam linearmente no tempo; perturbações de

curto período, cujo período de variação é menor ou igual ao período orbital; e

perturbações de longo período, que tem período maior que o período orbital.

No caso de satélites artificiais terrestres, existem diversas fontes de perturbação sobre

suas órbitas, tanto gravitacionais como não gravitacionais, tais como: geopotencial,

arrasto atmosférico, pressão de radiação solar direta e indireta, atração gravitacional

do Sol e da Lua, efeito de marés, etc. Tais perturbações podem afetar os chamados

elementos keplerianos que representam a órbita do satélite. A seguir, será feita uma

breve discussão das principais perturbações a serem consideradas neste trabalho:

perturbações devidas a não esfericidade da Terra, considerando harmônicos de alto

grau e ordem; pressão de radiação solar direta; e atração gravitacional luni-solar.

7.1 Perturbações Devidas ao Campo Gravitacional Terrestre

O campo gravitacional terrestre e a força de atração associada a este campo, exercida

sobre uma massa nele colocada, sendo esta qualquer massa que possa ser

negligenciada, serão estudados no caso de um satélite artificial. O campo

gravitacional terrestre apresenta uma das principais perturbações nos movimentos dos

satélites artificiais, devido a sua não esfericidade. O termo principal devido ao

achatamento da Terra é J2 (KAULA, 2000), sendo os demais termos considerados

dependendo da precisão da missão.

No estudo do problema de dois corpos, a Terra é considerada com distribuição de

massa homogênea e simetria esférica. No entanto, na realidade, a Terra não é uma

esfera perfeita com distribuição de massa homogênea e, neste contexto, não pode ser

considerada como um ponto material, devido ao achatamento nos pólos e à forma

Page 68: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

40

irregular da sua composição, fato que tem efeito direto na distribuição de sua

densidade. Estas irregularidades produzem perturbações na órbita de um satélite

artificial, causando alterações nos elementos keplerianos que descrevem a órbita.

Como já foi dito, a distribuição de massa não é homogênea, sendo sua forma

levemente achatada nos pólos e bojuda no Equador. Para a Terra esférica, a função

potencial gravitacional é dada por r

µ

r

GMU == e o módulo da força gravitacional

específica é dado por 2r

µ-

dr

dUF == . No caso real, a função potencial é bem mais

complexa (KAULA, 2000):

( )( )λλφµλφ mSmCPr

R

rrU nmnmnm

n

n

n

m

sencossen),,(0 0

T +

= ∑∑∞

= = (7.1)

em que

µ... constante gravitacional da Terra;

RT... raio médio da Terra;

r... distância radial do veículo espacial;

φ... latitude geocêntrica;

λ ... longitude nas coordenadas fixas da Terra;

Cnm, Snm... coeficientes esféricos harmônicos normalizados, de grau n e

ordem m;

Pnm... funções de Legendre associadas normalizadas, de grau n e

ordem m.

As constantes µ, RT, Cnm, Snm definem um potencial gravitacional específico. As

funções associadas de Legendre são dadas por (BUTKOV, 1988):

( ) ( )nmn

mn

nnmd

d

nP 1sen

sen!2

1sen 2 −= +

φφ (7.2)

Page 69: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

41

O geopotencial também pode ser representado por:

( ) ( )nmnmn

n

mnmn

mPJr

U λλφµ −= ∑∑∞

= =+ cossen

0 01

(7.3)

com nmnmnm JSC ≡+ 22 , em que Jnm e nmλ são constantes que dependem da

distribuição de massa da Terra.

7.1.1 Modelo de Geopotencial Considerado

A assimetria de distribuição de massa da Terra, que gera as perturbações devidas ao

geopotencial, é modelada por coeficientes de harmônicos esféricos, normalmente

obtidos através da redução de medidas de satélites. O primeiro modelo foi o GEM10,

que continha cerca de 450 coeficientes. Este tipo de modelagem causa um alto custo

computacional, diretamente proporcional a quanto mais complexo e completo for o

conjunto de coeficientes harmônicos.

O modelo gravitacional JGM-2 é uma atualização do modelo JGM-1, desenvolvido

pela NASA/GSFC (NASA’s Goddard Space Flight Center) e pela Universidade do

Texas. O modelo JGM-1 foi desenvolvido antes do lançamento T/P como resultado de

um esforço de vários anos para melhorar o modelo gravitacional terrestre através de

uma nova versão de dados de rastreamento de 30 satélites, dados de altímetro do

SEASAT e do GEOSAT e medidas gravitacionais diretas na superfície da Terra. O

modelo JGM-2 é resultado de um ajuste do JGM-1, depois do lançamento do T/P,

pela inclusão de 150 dias das observações rastreadas do satélite. O modelo JGM-2 foi

usado para calcular as órbitas da primeira geração do T/P. Atualmente, este modelo

foi atualizado pelo JGM-3, que representa um ajuste superior ao do JGM-2, pela

inclusão de mais dados rastreados do T/P e, especialmente, pela inclusão de 40 dias de

rastreamento do GPS.

Para o T/P, o erro radial global da órbita, devido aos erros em JGM-2, é estimado em

2 cm RMS. A Tabela 7.1 mostra os principais parâmetros do modelo.

Page 70: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

42

World Geodetic System – WGS-84

O WGS-84 é um conjunto de parâmetros, estabelecido pela Agência de Mapeamento

de Defesa dos Estados Unidos, para determinar uma relação geométrica e física em

uma escala global. O sistema inclui um elipsoide de referência geocêntrico, um

sistema de coordenadas e um modelo de campo gravitacional. O sistema de

coordenadas é uma conversão do sistema terrestre convencional, como estabelecido

pelo IERS. Desde 1987, a descrição das órbitas dos satélites GPS na mensagem de

navegação é referida neste sistema (LANGLEY, 1995). A Tabela 7.1 traz os

principais parâmetros que definem este sistema.

O sistema WGS-84 é baseado no campo gravitacional de ordem e grau 180.

Tabela 7.1 - Principais parâmetros do modelo JGM-2 e do sistema WGS-84

Parâmetro Símbolo JGM-2 WGS-84

Semi-eixo maior, m a 6.378.136,3 6.378,137

Achatamento f 563298,2572231 563298,257223

1

Velocidade angular, rad/s ωe 7,2921151467 ⋅ 10-5 7,2921151467 ⋅ 10-5

Constante gravitacional, m3/s2 µ 398.600,4415 ⋅ 109 398.600, 5 ⋅ 109

2º harmônico zonal 0,2C -484,16548 -484,16685

7.2 Perturbações Devidas à Pressão de Radiação Solar

A pressão de radiação solar é uma força de origem não gravitacional que perturba o

movimento translacional de um satélite artificial (EL’YASBERG, 1967). Sua função

perturbadora pode ser representada através do gradiente do potencial (EL-ENNA,

2003, 2004; EL-SAFTAWY e EL-ENNA, 2002), porém quando o efeito da sombra da

Terra é considerado, esta representação deixa de ser válida, pois a força não deriva

mais de um potencial.

A pressão de radiação solar é gerada através do contínuo fluxo de fótons que se

chocam com a superfície do satélite, podendo esta absorver ou refletir este fluxo. A

taxa da quantidade de movimento de todos os fótons incidentes na superfície do

Page 71: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

43

satélite origina a força de pressão de radiação solar, podendo causar perturbações nos

elementos orbitais.

A sua variação é praticamente independente da altitude do satélite: começa a

predominar sobre a força aerodinâmica a partir dos 700 km e tem influência acentuada

nos satélites de órbita alta, como, por exemplo, os satélites geoestacionários

(aproximadamente 40.000 km de altitude). A importância das forças não

gravitacionais aumentou drasticamente devido ao aumento da precisão na localização

e devido à importância da precisão no planejamento de missões espaciais.

Pressão de radiação solar é uma quantidade vetorial definida pela razão entre força e

elemento de superfície/área deste elemento. Isto é, as perturbações devidas à pressão

de radiação solar dependem da área da seção A do satélite e de sua massa m, sendo tão

mais importante quanto maior for a relação mA , e sendo o Sol a principal fonte de

energia radiante para veículos espaciais dentro do sistema solar. A energia radiante é a

energia de um fóton, que vale fE νh= , em que h é a constante de Planck e fν , a

frequência de um fóton.

O momento (quantidade de movimento) fµ de um fóton é dado por

luz da velocidade

áreatempofluxo ⋅⋅==c

Eµ f . Portanto:

luzdavelocidade

fluxo

áreatempopressão =

⋅= fµ

Ou seja, a pressão de radiação solar depende do fluxo de fótons incidentes na área da

seção do satélite. Como a pressão de radiação é produzida por fluxos de radiação

incidente e refletida, a sua magnitude depende substancialmente do mecanismo de

reflexão desta radiação.

A maneira como as perturbações devidas à pressão de radiação solar afetarão os

elementos keplerianos depende do modelo de pressão adotado (se considera ou não a

sombra, por exemplo). No entanto, no caso geral, ela causa perturbações seculares e

periódicas nas variáveis angulares (Ω, ω, M) e perturbações periódicas nas variáveis

métricas (a, e, i) da órbita.

Page 72: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

44

As componentes da força de pressão de radiação solar podem ser expressas em

diversos sistemas. Através desses sistemas relacionam-se os elementos orbitais do

satélite com a posição do Sol. Este procedimento foi o utilizado neste trabalho, no

modelo de pressão de radiação solar considerado para o T/P, mostrado na sequência.

7.2.1 Modelo Específico de Pressão de Radiação Solar Direta para o T/P

O modelo de forças descreve o movimento do satélite em relação ao seu centro de

massa, mas raramente as distâncias são medidas em relação a este ponto. No caso do

T/P, as medidas dos satélites GPS são tomadas a partir da localização do centro da

antena. Por esta razão é importante o conhecimento acerca da atitude do satélite. A

Figura 7.1 mostra a antena do T/P em relação ao restante da espaçonave.

Figura 7.1 - Satélite TOPEX/Poseidon

Fonte: Marshall e Luthcke (1994).

O T/P possui um sistema de controle de atitude bastante complexo em função do seu

grande e único painel solar. O apontamento solar perfeito (vetor de incidência do Sol

perpendicular ao painel solar) exigiria que a espaçonave fizesse uma guinada (“yaw”)

em torno de seu eixo z, o qual aponta para a Terra, a uma taxa que excede a

capacidade do sistema de controle de atitude. Consequentemente, foi desenvolvido

um comando de atitude senoidal que chega muito perto do apontamento solar perfeito

e não extrapola os limites do sistema de controle de atitude.

O algoritmo de controle de atitude é baseado no sistema de coordenadas fixo no corpo

(xB, yB, zB), cuja origem é no satélite, embora não coincida com o seu centro de massa,

com o eixo positivo yB apontando em sentido oposto ao eixo do painel solar, o eixo

Page 73: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

45

positivo zB apontando na direção do Nadir terrestre e o eixo positivo xB ortogonal a yB

e a zB, completando o sistema destrógiro. O sistema de referência orbital (xO, yO, zO)

tem sua origem no centro de massa do satélite, sendo que o eixo positivo zO coincide

com o eixo zB do sistema fixo no corpo, o eixo positivo yO aponta no sentido oposto

ao vetor momento angular da órbita e o eixo xO é ortogonal a yO e a zO, formando o

sistema destrógiro. Este sistema de coordenadas fixo na órbita também pode ser

descrito como um sistema de referência RTN (radial, transversal, normal), em que a

componente radial corresponde ao Nadir (aponta para a Terra), a normal é

perpendicular ao plano da órbita e a transversal é ortogonal às outras duas

componentes. O sistema de referência da órbita (X, Y, Z) tem o eixo positivo X

perpendicular à órbita do satélite, o eixo positivo Z apontando na direção da projeção

do vetor incidente do Sol na órbita do satélite e o eixo positivo Y perpendicular a

estes eixos. A Figura 7.2 mostra β’ , o ângulo entre o vetor de incidência do Sol e o

plano da órbita, e Ω*, o ângulo de órbita, medido a partir do eixo positivo Y, que se

situa a um ângulo correspondente a 6 horas da manhã na órbita.

Figura 7.2 - Sistema de coordenadas de referência do T/P, os ângulos Ω* e β’ .

Fonte: Modificado de Marshall et al. (1991).

Page 74: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

46

O T/P possui um único painel solar que, para alcançar o apontamento solar perfeito,

exige do satélite uma guinada em torno do eixo zB. Para realizar esta guinada, o

satélite possui um complicado sistema de controle de atitude, como já foi dito.

Considerando a influência da pressão de radiação solar direta na órbita do satélite, foi

desenvolvido o modelo de Marshall e de Luthcke (1994), que se baseia em dois

sistemas de coordenadas: o fixo no satélite (xB, yB, zB) e o de referência para o satélite

(X, Y, Z).

Foi desenvolvido um modelo chamado de macromodelo e mostrado na Figura 7.3, a

fim de aproximar os perfis de aceleração. O modelo escolhido é no formato “box-

wing” (caixa e asa), aproximando as superfícies do satélite por uma combinação de

placas planas alinhadas ao longo do sistema de coordenadas fixo no satélite,

produzindo carga computacional menor e permitindo sua incorporação em softwares

de DO.

Figura 7.3 - Macromodelo de Marshall e Luthcke.

Fonte: Marshall e Luthcke (1994).

Após aproximar a forma do satélite por placas planas, este macromodelo foi

computado com as forças não conservativas (no caso do modelo, forças de radiação)

atuando independentemente em cada placa e desconsiderando quaisquer efeitos de

interação em cada uma das superfícies compostas, tais como sombreamento, reflexão

e condução. Isto permite que todas as acelerações sejam somadas para calcular o

efeito total de perturbação no centro de massa do satélite.

Seguindo o macromodelo proposto por Marshall e Luthcke, a força kF atuando na k-

ésima placa é dada por (MARSHALL e LUTHCKE, 1994):

Page 75: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

47

( )

−+

+= snc

GAkkk

kkkk

)) ρθρδθ1cos

32

cosF (7.4)

sendo:

G ... fluxo de radiação do Sol (W/m2);

Ak ... área superficial da k-ésima placa (m2);

δ ... coeficiente de reflexão difusa (porcentagem da radiação total

incidente);

ρ ... coeficiente de reflexão especular (porcentagem da radiação total

incidente);

n)

... versor normal à placa;

s)

... versor de incidência do Sol na placa;

θ ... ângulo formado entre n)

e s)

;

c ... velocidade da luz (m/s);

E, calculando a força de pressão de radiação solar agindo em cada uma das placas,

tem-se a força total atuando no centro de massa do satélite:

∑=

=8

1kkFF (7.5)

7.3 Perturbações Devidas à Atração Gravitacional Luni-Solar

O Sol e a Lua são responsáveis por perturbações nas órbitas de satélites artificiais

terrestres. Essas perturbações são devidas à força de atração do Sol e da Lua e podem

ser significativas se o satélite estiver muito afastado da Terra. Como as variações

orbitais são do mesmo tipo, quer o corpo atraente seja o Sol quer seja a Lua, podem

ser estudadas sem particularizar o terceiro corpo.

A atração gravitacional luni-solar não apresenta variações seculares nos elementos

orbitais e, a e i. Ela atua principalmente em Ω e ω, o que acarreta precessão do plano

da órbita.

Neste trabalho, é usada uma simplificação do problema geral de três corpos em que se

supõe a existência de dois corpos M1 e M2 de massas finitas m1 e m2, respectivamente.

Page 76: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

48

Deseja-se então estudar o movimento de um terceiro corpo cuja massa pode ser

negligenciada e que orbita o sistema formado pelos dois outros corpos (SZEBEHELY

e MARK, 1967).

Existem diferentes versões do Problema Restrito de Três Corpos, conforme a

modelagem adotada. No caso deste trabalho, adotou-se a mais simples de todas, o

problema restrito-plano-circular de três corpos, que pode ser assim enunciado:

“Deseja-se conhecer o movimento de um terceiro corpo M3, de massa infinitesimal,

em torno de um sistema composto por M3 e dois outros corpos M1 e M2, com massas

finitas m1 e m2. Considera-se que apenas forças gravitacionais atuem no sistema, que

as órbitas de M1 e M2 em torno do centro de massa sejam circulares e que M3 se

mova apenas no plano das órbitas de M1 e M2”.

A equação de movimento para esta versão, que fornece a aceleração sofrida pelo

corpo M3 no referencial inercial, 3r&& , pode ser expressa por (PRADO e KUGA, 2001):

323

2323

13

1313

rr

rrr GmGm −−=&& (7.6)

em que 1313 rrr −= , 2323 rrr −= e 3,2,1, =iir é a distância do i-ésimo corpo ao

centro de massa do sistema.

Page 77: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

49

8 AJUSTES NECESSÁRIOS PARA APLICAÇÃO DOS ALGORITMOS D O

EKF E DO UKF AO PROBLEMA DE DETERMINAÇÃO DE ÓRBITA

Para que o EKF e o UKF sejam aplicados no processo de estimação do vetor de

estado que caracteriza a órbita de um satélite artificial, é necessário que algumas

adaptações sejam feitas, especificando as equações do modelo dinâmico e do modelo

de observações que serão implementadas, de acordo com a abordagem adotada por

cada estimador.

8.1 Aplicação do Algoritmo do EKF em DO

O EKF consiste em fases de propagação e de atualização, genericamente apresentadas

no Capítulo 4, por meio das Equações 4.7 e 4.9. As equações diferenciais ordinárias

que representam o modelo dinâmico já foram apresentadas no Capítulo 6 e aqui são

reapresentadas:

vr =&

vwar

v ++=3r

-µ&

db =&

dwd =&

O estado é, conforme dito anteriormente, descrito através de uma parcela de forças

modeladas, mf , que inclui as equações do movimento e dos efeitos perturbadores que

interferem na órbita do satélite, e de uma parcela de forças não modeladas, mnf ,

composta por todos os ruídos e erros associados à dinâmica do movimento:

)t,()t,()t( xfxfx nmm +=& (8.1)

Para que o EKF possa ser aplicado corretamente no processo de estimação d, é

necessário linearizar a parcela modelada do modelo dinâmico:

xFxfxf ∆+= )t,()t,( mm (8.2)

Page 78: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

50

em que xxx −=∆ ; x é o ponto em torno do qual a linearização é feita; e F

representa a matriz Jacobiana, composta pelas derivadas parciais de primeira ordem

de uma função vetorial. A matriz Jacobiana do sistema pode ser assim representada:

xxx

fF

=∂∂

= m (8.3)

e, já estando ajustada à função vetorial do modelo que descreve a dinâmica de DO,

pode ser expressa detalhadamente da seguinte forma:

=

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

= ××

××

0000

1000

00

00

d

d

b

dddd

b

b

bbbdb

db

3333

3333

0A

I0

vr

vr

vvvv

rv

rrvr

rr

F

&&&&

&&&&

&&&&

&&&&

(8.4)

em que 33×0 representa uma matriz quadrada nula de ordem 3; 33×I , uma matriz

identidade de ordem 3; e 33×A , uma matriz quadrada de ordem 3 composta pelas

derivadas parciais da equação vetorial da dinâmica em relação aos elementos do

estado, dada por:

,

z

f

y

f

x

fz

f

y

f

x

fz

f

y

f

x

f

666

555

444

33

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

=×A (8.5)

sendo if , a aceleração do movimento perturbado (composição do movimento

kepleriano com as perturbações considerados no modelo dinâmico adotado)

relacionado com cada componente xi do estado, i = 1, 2, 3, podendo ser expressas da

seguinte forma:

Page 79: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

51

333

6

232

5

131

4

ar

xf

ar

xf

ar

xf

+−=

+−=

+−=

µ

µ

µ

em que ai a parcela da aceleração devida às perturbações que afetam a órbita relativa à

componente xi do estado, i = 1, 2, 3; e a , o vetor composto pelos efeitos incluídos no

modelo de forças, que neste caso englobam geopotencial, aceleração gravitacional

luni-solar e pressão de radiação solar direta, representados, respectivamente, pelas

siglas GEOa , AGLSa e PRSda . O vetor de perturbações a é definido como

PRSdAGLSGEO aaaa ++= , em que:

( )( )

( )∑

∑∑

=

= =

−+

+==

−−=

+

=−=

8

1PRSdPRSdPRSd

323

2323

13

131AGLS

0 0

TGEO

1cos3

2cos

,1

rr

sencossenrr

),,r(,d

d1

kkkk

kkk

nmnmnm

n

n

n

m

snc

GA

m

GmGm

mSmCPR

UU

m

)) ρθρδθ

λλφµλφ

FFa

rra

ra

Da mesma forma, o modelo não linear de observações ( ) kkkk νxhy += t, ,

apresentado na Equação 6.5, precisa ser linearizado. A função não linear da

observação é modelada através da medida de pseudo-distância:

v)(cρ iii +++−+= TROPION DDdTdtP (8.6)

em que ( ) ( ) ( )222 ZzYyXx iiiiρ −+−+−= representa a distância geométrica; c , a

velocidade da luz; IOND , os desvios ionosféricos; TROPD , os desvios troposféricos; e

v , a parcela dos erros não modelados.

A linearização é aplicada à parcela modelada da função vetorial que descreve o

modelo de observações, para a medida do instante tk, e processada da seguinte forma:

Page 80: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

52

kk νxHy +∆=∆ (8.7)

sendo xxx −=∆ ; x o ponto em torno do qual a linearização é feita; e H a matriz que

define a linearização, dada por:

xxxh

H=∂

∂= (8.8)

Esta matriz, de acordo com a Equação 8.6 não linear do modelo de observações, fica

assim definida, após a linearização:

∆−−−= 1t000

ZzYyXx

i

i

i

i

i

i

ρρρH (8.9)

O EKF, portanto, para poder ser eficientemente aplicado em problemas não lineares,

como o é a DO, necessita linearizar quaisquer modelos não lineares (neste caso, tanto

o que descreve a dinâmica quanto o que descreve as observações). E, para efetuar o

processo de linearização, é necessário construir a matriz Jacobiana das derivadas

parciais de primeira ordem da função vetorial, tanto da dinâmica quanto das

observações. Neste ponto, tornam-se claras as complicações em se utilizar o EKF em

problemas não lineares, uma vez que quanto mais complexos os modelos que definem

o movimento dinâmico e as medidas, mais moroso se torna o processo de construção

da matriz Jacobiana. Por esta razão, métodos alternativos têm sido procurados, com o

intuito de facilitar o processo de estimação de estado de sistemas não lineares, sem

perder precisão e confiabilidade.

A seguir será mostrada a abordagem que o UKF utiliza para estimar o estado do

problema não linear específico de DO, descartando o uso do recurso de linearização e

se baseando na geração dos sigma-pontos.

Page 81: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

53

8.2 Aplicação do Algoritmo do UKF em DO

O UKF consiste em fases de propagação e de atualização, detalhadamente

apresentadas no Capítulo 6. As equações diferenciais ordinárias que representam o

modelo dinâmico são as mesmas reapresentadas na Seção 8.1, com o estado

igualmente composto por uma parcela de forças modeladas e outra de forças não

modeladas, de acordo com a Equação 8.1.

A partir deste ponto surgem as diferenças de abordagem entre o EKF e o UKF, pois

ao invés de linearizar a parcela não linear de forças modeladas, o UKF utiliza a

própria função não linear, substituindo o vetor de estado x pelos sigma-pontos do

estado, 1−kχ , gerados a partir da média e da covariância das variáveis de estado, como

mostrado nas Equações 6.8. Assim, no UKF:

( )kkm ,1)t,( −= χfxf (8.10)

e a única alteração necessária para aplicação do filtro é a geração do conjunto de

sigma-pontos.

Da mesma forma, o modelo não linear de observações ( ) kkkk νxhy += t, ,

apresentado na Equação 6.5, não precisa ser linearizado. A função não linear da

observação é modelada através da medida de pseudo-distância (Equação 8.6) e, para

aplicação do UKF, basta substituir o vetor de estado do instante tk, kx , pelos sigma-

pontos das observações, kχ , gerados a partir da média e da covariância das variáveis

de estado propagadas na fase de predição do UKF, como mostrado nas Equações 6.10.

Assim, na equação não linear da dinâmica, basta efetuar a seguinte modificação:

( ) ( )kkkkk , t, χhxh = (8.11)

O UKF, portanto, para poder ser eficientemente aplicado em problemas não lineares,

como é o problema de DO, necessita gerar dois conjuntos de sigma-pontos, um de

estado e outro de observação, propagando-os diretamente através das equações não

lineares da dinâmica e das medidas, respectivamente. E, embora gerar os sigma-

pontos seja um processo moroso, é bem menos complicado que calcular as derivadas

Page 82: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

54

parciais que compõem a matriz Jacobiana, havendo inclusive estudos para diminuição

do número de sigma-pontos gerados de 2n + 1 para n+ 1 pontos (JULIER e

UHLMANN, 2002). Isto significa que, do ponto de vista da geração dos sigma-

pontos, existe a possibilidade de tornar o processo menos dispendioso do ponto de

vista do tempo e do custo de processamento, ao passo que, em relação à matriz

Jacobiana, nada pode ser feito para melhorar o processo nestes quesitos. Assim,

tornam-se claras as simplificações quando se utiliza o UKF em problemas não

lineares, por não necessitar construir a matriz Jacobiana e permitir a estimação de

estado de sistemas não lineares sem perda de precisão, de robustez e de

confiabilidade.

Page 83: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

55

9 RESULTADOS

Neste Capítulo serão apresentados os resultados obtidos com a melhoria de precisão

do modelo Neste Capítulo serão apresentados os resultados obtidos com a melhoria de

precisão do modelo dinâmico. Os resultados das análises foram confrontados com a

referência POE/JPL do T/P. Posteriormente, os resultados destes erros foram levados

do sistema de referência para o sistema orbital, ou sistema RTN (radial, transversal,

normal), em que a componente radial aponta para o Nadir terrestre, a normal é

perpendicular ao plano da órbita (oposto ao vetor momento angular da órbita) e a

transversal é ortogonal às outras demais componentes, sendo a componente da

velocidade. Assim, é possível analisar diretamente o que ocorre nas componentes

orbitais e, consequentemente, o que ocorre na evolução da órbita, ao invés de analisar

o que ocorre do ponto de vista de um referencial na Terra, visto que nesta situação há

maior dificuldade de visualização.

Para verificar se o modelo havia sido efetivamente melhorado, foi feita uma análise de

propagação de órbita, na qual o filtro é desligado no algoritmo de DO. Com isso,

consegue-se isolar os efeitos das perturbações inseridas no modelo dinâmico. Nesta

configuração do algoritmo, não ocorreu correção de qualquer natureza em função das

medidas GPS usadas como vetor de observação.

Quando o EKF foi utilizado como estimador de estado, decidiu-se implementar a

matriz Jacobiana completa das derivadas parciais das acelerações decorrentes das

perturbações, implementando as derivadas analiticamente calculadas, sem qualquer

aproximação. Com isto, a comparação entre EKF e UKF quanto ao custo do tempo de

processamento tornou-se mais justa. Isto porque, se o UKF usa o modelo não linear,

sem linearizações (portanto sem a matriz de derivadas parciais) e substitui cada

elemento do estado por um vetor de 2n +1 sigma-pontos, para uma boa comparação,

dever-se-ia compará-lo ao EKF na situação em que este calcula a matriz Jacobiana

completa, sem aproximações.

Page 84: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

56

9.1 Descrição dos Dados Utilizados

Para validar e analisar o método proposto, dados reais do satélite T/P foram utilizados.

O T/P foi lançado em 10 de agosto de 1992, pela união de esforços entre a NASA e o

CNES. Algumas de suas características orbitais são: altitude aproximada de 1336 km;

inclinação de 66º; excentricidade próxima de zero; e período orbital nominal de 1,87

horas. O T/P possui um receptor GPS a bordo como experimento, para verificar os

vários métodos propostos para DO, translação de coordenadas geodésicas, nível dos

oceanos e modelos de geopotencial. Este receptor pode rastrear até seis satélites em

ambas as frequências se o “anti-spoofing” (A-S) estiver inativo. O A-S constitui a

capacidade de negar aos usuários não militares os sinais GPS com códigos precisos

(P-code), modulados nas frequências L2 e L5 e, assim, manter os códigos militares

em sigilo.

O receptor GPS de dupla frequência a bordo permite testar a habilidade do sistema

GPS em proporcionar determinação precisa de órbita (POD). Os arquivos utilizados

são (CHIARADIA et al., 2000 (a)):

a) Arquivos de observação: transmitem o código e as medidas de pseudo-

distância em duas frequências, com passo de tempo GPS de 10 segundos e são

apresentados pelo GPS Data Processing Facility do JPL em formato RINEX

(Receiver Independent Exchange Format) (GURTNER, 1994);

b) Arquivos POE: gerados pelo JPL em passo de tempo UTC de 1 minuto, em

coordenadas inerciais verdadeiras da data;

c) Arquivos de mensagem de navegação GPS em formato RINEX:

apresentados pelo CDDIS (Crustal Dynamics Data Information System) do

GSFC.

A posição e a velocidade estimadas neste trabalho, para teste da metodologia em

análise, são comparadas com as efemérides de órbita precisa do T/P. Os arquivos de

referência do POE/JPL apresentam estimativas de posição com erros de no máximo

15 cm (BERTIGER et al., 1994), obtidas através de modelos complexos envolvendo

estações GPS terrestres, efemérides precisas dos satélites GPS e dados e modelos de

elevada dificuldade de obtenção, fora do objetivo do presente trabalho.

Page 85: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

57

As condições de teste consideram dados reais de pseudo-distância, coletados pelo

receptor GPS a bordo do satélite, no dia 19 de novembro de 1993.

O vetor de estado e a matriz de transição (esta apenas para o EKF) são integrados

utilizando o algoritmo de Runge-Kutta de Fehlberg de sétima ordem, com intervalo de

integração de 10 segundos, passo fixo e controle de erro.

A modelagem das forças inclui perturbações devidas ao geopotencial no máximo até

grau e ordem 28, com coeficientes harmônicos do modelo JGM-2, à atração

gravitacional luni-solar e à pressão de radiação solar direta (somente para o UKF). As

medidas GPS (pseudo-distância) de única frequência L1 são utilizadas como medidas

de observação e corrigidas com relação ao atraso dos relógios dos satélites GPS e do

receptor. O modelo das medidas não considera a correção ionosférica, visto que não

há melhoria significativa na precisão em posição e em velocidade quando da sua

inclusão (CHIARADIA et al. 2000(b)).

No período compreendido entre 17/11/1993, 12:00:00 UTC, e 19/11/1993, 00:00:00

UTC, os satélites GPS encontravam-se com disponibilidade seletiva (SA) desativada.

Se a SA estiver ativada, significa que aos sinais GPS públicos, disponíveis para

navegação, podem ser adicionados, intencionalmente, erros variando até 100 m.

Segundo Binning (1997(a)), a SA estava desativada para 18 dos 25 satélites GPS. Os

satélites com SA desativada eram dois do bloco I (PRNs 3, 13), seis do bloco II

(PRNs 14, 15, 16, 17, 20, 21) e dez do bloco II-A (1, 2, 5, 7, 9, 22, 23, 26, 28, 31).

Isso permite aos usuários civis terem acesso às medidas GPS mais precisas. Ao

mesmo tempo, a constelação não estava completamente em operação e, portanto, o A-

S também estava desligado, permitindo aos usuários receberem dados limpos tanta na

frequência L1 quanto na L2.

Um dia de teste foi escolhido: 19 de novembro de 1993, analisado sem a degradação

do sinal, ou seja, sem SA. O período de análise escolhido cobriu um longo período de

24 horas de dados.

Page 86: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

58

As informações estatísticas consideradas para a elaboração dos gráficos e das tabelas

apresentados na sequência são os resíduos de pseudo-distância, a média e o desvio-

padrão dos resíduos, os erros em posição (no sistema de coordenadas orbital RNT) e o

RMS dos erros.

A Tabela 9.1 contém esquematizadas as informações com respeito às condições de

teste. A Tabela 9.2 apresenta as condições iniciais para a DO para o dia de teste,

sendo que σ2 representa o desvio padrão. A Tabela 9.3 traz as condições iniciais de

coordenadas de posição e de velocidade. A Tabela 9.4 apresenta a tendência, a deriva

e a taxa de deriva, relativas ao mesmo dia de teste. As coordenadas de posição e de

velocidade estão no sistema inercial ToD (verdadeiro da data), em metros e em

metros/segundo, respectivamente, e no instante 00:00:00 UTC do respectivo dia. Estes

dados foram extraídos dos arquivos POE do T/P. Na primeira passagem de DO, a

condição inicial é propagada pelo integrador RKF78 até o primeiro instante de

observação, que consiste em cerca de 3 s (ou 30 s no tempo GPS) para todos os casos.

Tabela 9.1 - Condições de teste para o dia 19/11/1993

Integrador RKF78

Passo do integrador numérico (s) 30

Modelo de forças

Geopotencial: JGM-2 até 28×28

Sol-Lua : Problema Restrito-Plano-Circular Três Corpos

Pressão de Radiação Solar Direta (UKF somente)

Correção ionosférica Não

Período de determinação (h) 24

Disponibilidade seletiva (SA) Desativada

Controle de rejeição de medidas, (m) Maior que 300

Estimadores de estado UKF

EKF

Page 87: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

59

Tabela 9.2 - Condições iniciais do estimador para o dia 19/11/1993

Parâmetro 19/11/93

σ2 da posição, (m2) 106

σ2 da velocidade, (m2/s2) 102

σ2 da tendência, (m2) 106

σ2 da deriva, (m2/s2) 102

σ2 da taxa de deriva, (m2/s4) 10-16

σ2 da medida, (m2) 104

Tabela 9.3 - Condições iniciais das coordenadas de posição e de velocidade para o dia 19/11/1993 a 0 hora UTC

19/11/93

ToDx , (m) 0,2973502720511⋅107

ToDy , (m) - 0,2580522134223⋅107

ToDz , (m) - 0,663620581146⋅107

ToDx& , (m/s) 0,65728917166⋅104

ToDy& , (m/s) 0,18681979790⋅104

ToDz& , (m/s) 0,2217053225⋅104

Tabela 9.4 - Condições iniciais do relógio para o dia 19/11/1993 à 0 hora UTC

19/11/93

0b , (m) -37,6

1b , (m/s) 0

2b , (m/s2) 0

Page 88: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

60

9.1.1 Resultados Obtidos

Para melhor entendimento do trabalho, os resultados obtidos foram divididos em três

etapas, que traduzem as fases em que o desenvolvimento foi realizado. Nestas etapas,

as coordenadas estimadas de posição são comparadas com a referência POE/JPL do

T/P. Os resultados obtidos são avaliados através, basicamente, de dois parâmetros:

erro em posição e resíduo de pseudo-distância. O erro em posição é dado pela

diferença entre os valores de referência e os valores estimados obtidos, enquanto o

resíduo de pseudo-distância é definido pela diferença entre a pseudo-distância

observada e a calculada (estimada). O erro em posição pode ser expresso da seguinte

forma:

−−−

≡∆zz

yy

xx

r

em que z) y, x,( e )zˆ ,y ,x( são as componentes de posição de referência e estimada,

respectivamente, no sistema de referência da órbita, que serão posteriormente

transladadas para as componentes radial, normal e transversal do sistema fixo na

órbita. O resíduo de pseudo-distância é dado por:

cρρρ −=∆

em que cρρ e são as medidas de pseudo-distância observada e calculada,

respectivamente.

Os resultados obtidos no desenvolvimento da tese podem ser divididos em três etapas,

de acordo com a melhoria de precisão do modelo dinâmico adotado. São estas etapas:

1. Implementação dos efeitos do geopotencial até ordem e grau 10 nos

estimadores considerados. Os resultados serão apresentados na sub-seção

9.3.1.1.

2. Análise da implementação do geopotencial até ordem e grau 50 e avaliação de

seu impacto nos resultados de DO, comparado aos resultados da Etapa 1. Os

resultados desta análise se encontram na sub-seção 9.3.1.2.

Page 89: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

61

3. Análise da inclusão da atração gravitacional luni-solar no modelo de forças e

da sua influência no processo de DO. Os resultados decorrentes desta análise

serão mostrados na sub-seção 9.3.1.3.

Os resultados das análises das três etapas, resumidamente descritas acima, obtidos via

filtros de Kalman estendido e “unscented”, foram confrontados com a referência

POE/JPL do T/P. Posteriormente, estes resultados foram levados do sistema de

referência para o sistema orbital, ou sistema RNT, em que é possível analisar

diretamente o que ocorre nas componentes orbitais e evolução da órbita, ao invés de

analisar o que ocorre do ponto de vista de um referencial na Terra, pela maior

dificuldade de visualização nesta situação (PARDAL, 2008).

9.2 Análise de Propagação de Órbita

Esta Seção tem o objetivo de analisar o efeito de inclusão de cada uma das

perturbações consideradas neste trabalho na propagação de órbita, antes da DO via

estimação pelos filtros estendido ou “unscented”. Para tanto, foram gerados gráficos

que apresentam a evolução do erro de propagação nas coordenadas radial, normal e

transversal, em metros, em função do tempo, em horas. A análise abrangeu o período

de 24 horas de dados, intervalo de tempo representativo para a propagação de órbita, e

comparou resultados para dois dias iniciais diferentes: 19/11/1993 e 05/01/1994.

Os gráficos de propagação de órbita foram feitos analisando, passo a passo, a inclusão

de cada perturbação considerada, ou seja, a contribuição da perturbação seguinte

comparada com o resultado das anteriores. Sendo assim, inicialmente foi considerado

um modelo de geopotencial de ordem e grau 10; posteriormente, um modelo de

geopotencial mais complexo, de ordem e grau 50; e, finalmente, um modelo de

geopotencial de ordem e grau 50 acrescido da modelagem da atração gravitacional

luni-solar.

Os gráficos a serem apresentados na Figura 9.1 trazem o comportamento dos erros

apenas para os três modelos citados no parágrafo anterior. No entanto, em propagação

de órbita deveria ainda ser analisado o impacto de introduzir a pressão de radiação

solar direta no modelo dinâmico. A inclusão deste efeito perturbador, embora devesse

ser significativo para o modelo do T/P, comprovadamente não acarreta melhorias nos

Page 90: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

62

resultados (PARDAL, 2008). Por este motivo, embora os gráficos para um modelo

que combina geopotencial até alto grau e ordem, atração gravitacional luni-solar e

pressão de radiação solar direta tenham sido gerados, não foram incluídos na Figura

9.1, uma vez que seu comportamento é muito similar ao do modelo menos preciso

(que inclui apenas o geopotencial até ordem e grau 50). Suas estatísticas são

apresentadas na Tabela 9.5, corroborando o que já foi anteriormente comprovado

sobre as melhorias pouco significativas verificadas ao inserir seus efeitos no modelo

dinâmico.

Neste ponto, é importante dizer que o modelo de geopotencial adotado, embora esteja

implementado completamente (até ordem e grau 50×50), na prática computa os

coeficientes do geopotencial até ordem e grau 28×28. Isto se deve a uma limitação do

FORTRAN em ler números muito pequenos (números muito próximos de zero - da

ordem de 10-47 ou menores). Embora os valores dos coeficientes do geopotencial de

ordem superior estejam explicitamente declarados no código do programa, o

FORTRAN os entende como zeros. Desta forma, seus efeitos não são computados no

processo de DO e, por esta razão, daqui para frente o modelo de geopotencial será

referenciado até ordem e grau efetivamente implementados, ou seja, até 28×28.

A Figura 9.1 mostra os efeitos das perturbações na propagação de órbita. Ela

apresenta os resultados para os modelos que incluem: o geopotencial até ordem e grau

10 (Geo10); o geopotencial até ordem e grau 28 (Geo28); e o geopotencial 28×28

acrescido da atração do Sol e da Lua (AGLS), para o dia 19/11/93, correspondendo

aos três gráficos da coluna da esquerda; e para o dia 05/01/94, correspondendo aos

três gráficos da coluna da direita.

A Tabela 9.5 mostra os valores do RMS dos erros em cada coordenada do sistema

RNT e do erro total, para cada modelo apresentado na Figura 9.1 e para o modelo que

considera os efeitos do geopotencial 28×28 e da pressão de radiação solar direta

(PRS), nos dias 19/11/1993 e 05/01/1994. A intenção ao se destacar o RMS por

coordenadas é a de colocar em evidência qual a componente em que os erros são

maiores, provocando, portanto, o aumento do RMS total. É notório, por esta tabela,

que acrescentar a pressão de radiação solar direta não altera significativamente os

resultados obtidos com o modelo menos complexo que é composto pelos efeitos

Page 91: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

63

apenas do geopotencial até ordem e grau 28. Em destaque nesta tabela, em amarelo,

os valores do RMS dos erros que levaram a escolher 19/11/1993 como dia de teste

para as simulações de DO.

Pelos gráficos da coluna da direita da Figura 9.1, nota-se que para o dia 05/01/1994

melhorar o modelo do geopotencial diminui significativamente o RMS dos erros nas

três componentes. Com o auxílio da Tabela 9.5, verifica-se que os valores de queda

foram de aproximadamente 53% na componente radial, 33% na normal e 76% na

transversal, o que refletiu em uma diminuição de 74% no RMS do erro total (uma

composição dos erros nas três coordenadas), caindo de 159,266 m para 41,872 m. Já

para o dia 19/11/1993, a maior precisão do modelo de geopotencial manteve

praticamente os mesmos valores dos RMS dos erros nas componentes radial e normal,

mas ocasionou um aumento de 67% na componente transversal, o que gerou um

aumento de 25% no RMS do erro total, que subiu de 20,945 m para 28,088 m. Tais

fatos são verificáveis através dos gráficos da coluna da esquerda da Figura 9.1 e da

Tabela 9.5.

Page 92: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

64

Modelo: Geo 10 - 05/01/94

-60

0

60

120

180

240

300

0 4 8 12 16 20 24

radial

normal

transversal

Modelo: Geo 10 - 19/11/93

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

erro

[m]

radial

normal

transversal

Modelo: Geo 28 - 05/01/94

-50

-25

0

25

50

75

100

0 4 8 12 16 20 24

radial

normal

transversal

Modelo: Geo 28 - 19/11/93

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

erro

[m]

radial

normal

transversal

Modelo: Geo 28 + AGLS - 05/01/94

-5

0

5

10

15

20

25

0 4 8 12 16 20 24tempo [h]

radial

normal

transversal

Modelo: Geo 28 + AGLS - 19/11/93

-12

-8

-4

0

4

8

12

0 4 8 12 16 20 24tempo [h]

erro

[m]

radial

normal

transversal

Figura 9.1 - Propagação de órbita em função do tempo: inclusão do geopotencial até ordem 10; do geopotencial até ordem 28; e da atração luni-solar, para os dias 19/11/1993 e

05/01/1994.

Page 93: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

65

Tabela 9.5 - RMS dos erros por componente e total para propagação de órbita

radial normal transversal total

AGLS

5/1/1994

19/11/93

7,9987,5891,7201,850

20,945

Geo28

2,501 17,502 37,884 41,807PRS

Geo10 1,764 19,812 6,562

157,010 159,266

Geo28 2,495 17,490 37,962 41,872

28,020

AGLS 2,090 1,367 4,427 5,083

Geo10 5,328 26,180

PRS 1,917 19,788 19,723

1,896 19,891 19,742 28,088

Data ModeloRMS (m)

Quando a atração gravitacional luni-solar é incluída no modelo dinâmico, para os dois

dias de teste há uma diminuição acentuada nos valores dos RMS dos erros nas

componentes. Para 05/01/1994, o valor da componente radial caiu 26%, o da normal

90% e o da transversal 80%, valores que combinaram para uma diminuição de 81%

no RMS do erro total, que caiu de 41,872 m para 7,998 m. Já para 19/11/1993, houve

aumento de 9% no RMS do erro da radial, mas diminuição de 93% no RMS da

normal e 78% no da transversal, o que provocou uma queda de 82% no RMS do erro

total, que foi de 28,088 m para 5,083 m. Tais resultados se verificam no 1º e no 3º

gráficos das colunas da esquerda e da direita da Figura 9.1 e também na Tabela 9.5.

Em razão das condições iniciais felizes do dia 19/11/1993, que culminaram em um

RMS do erro total de cerca de 5 m, contra os quase 8 m do dia 05/01/1994, os efeitos

perturbadores nas componentes RNT se tornaram mais evidentes nos resultados

daquele dia. Em função disso, optou-se por realizar todas as simulações de DO para

os valores de 19/11/1993 como condição inicial dos filtros de Kalman “unscented” e

estendido.

Page 94: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

66

9.3 Análise de Determinação de Órbita

Esta Seção apresenta os resultados dos testes e as análises consequentes dos

algoritmos de DO utilizando os filtros de Kalman “unscented” e estendido,

considerando modelos de forças que incluem perturbações devidas ao geopotencial

até ordem e grau 10; ao geopotencial até ordem e grau 28; e à atração gravitacional

luni-solar combinada com o geopotencial 28×28. Como já foi mencionado, os

algoritmos foram implementados em linguagem FORTRAN. A seguir, são

apresentadas as expectativas, quando da proposição deste trabalho, a descrição dos

dados e os resultados efetivamente obtidos.

Originalmente, pensou-se também em incluir os efeitos da pressão de radiação solar

direta no processo de DO. No entanto, como já foi dito anteriormente, verificou-se

que a inclusão da atração gravitacional luni-solar no modelo dinâmico produz

melhorias significativas nos resultados de propagação de órbita, em comparação com

a adição da pressão de radiação solar direta, conforme mostrado na Tabela 9.5.

Considerando este fato e levando ainda em conta que calcular analiticamente a

aceleração referente à pressão de radiação solar direta do T/P, cujo modelo é

altamente complexo, demandaria tempo e esforço preciosos para obtenção de um

resultado que se mostrou pouco significativo, optou-se por não computar seus efeitos

neste momento. Esta abordagem analítica seria necessária para incluir o efeito da

pressão de radiação solar direta no processo de DO através do EKF, já que a matriz

Jacobiana de derivadas parciais das perturbações tem como origem as expressões

analíticas associadas às perturbações. Considerando as dificuldades de implementação

e o efeito negligenciável da perturbação no caso do T/P, a pressão de radiação solar

direta não foi incluída no modelo utilizado pelo EKF. Todavia, como o UKF se baseia

no próprio modelo não linear, a título de ilustração, um modelo que combina

geopotencial até grau e ordem 28, atração gravitacional luni-solar e pressão de

radiação solar direta, cuja sigla de identificação é “PRS”, foi implementado no

modelo dinâmico considerado para o referido filtro.

Page 95: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

67

9.3.1 Resultados Esperados

Conforme mencionado anteriormente, neste trabalho foi proposta a implementação de

um algoritmo de DO de satélites artificiais através de um estimador não linear, o filtro

não linear “unscented” de Kalman, utilizando dados reais do satélite T/P para

realização de testes de aplicação. As medidas utilizadas para atualização das

estimativas são medidas reais, que foram obtidas de um receptor GPS a bordo do

satélite; dados simulados não são usados na estimação. O modelo dinâmico

considerado no processo de filtragem é refinado gradativamente, a fim de investigar o

impacto da precisão da dinâmica no processo de DO via UKF. Para a verificação de

tais implementações, os resultados obtidos foram confrontados com resultados de um

estimador de referência, cuja teoria já é amplamente empregada em problemas não

lineares: o EKF.

Em particular a órbita do satélite T/P tem sido utilizada por Grupos da Divisão de

Mecânica Espacial e Controle do INPE e pelo Departamento de Matemática da

FEG/UNESP, em pesquisas voltadas ao desenvolvimento de métodos de

determinação de órbitas de satélites artificiais que possuam receptores GPS a bordo.

Os benefícios para as instituições incluem a melhoria do desempenho de processos de

determinação de órbitas e, ao mesmo tempo, a minimização do custo deste

procedimento.

9.3.1.1 Geopotencial até Ordem e Grau 10

A análise isolada dos efeitos do geopotencial até ordem e grau 10 na DO tem como

objetivo reproduzir os resultados de Chiaradia (2000), obtidos para o EKF, a fim de

assegurar a correta continuidade do trabalho, cujo cerne é o desenvolvimento e a

implementação do UKF em DO com características de tempo real.

Como já comentado, optou-se por mostrar os resultados em componentes do sistema

orbital (radial, normal e transversal), tendo como motivação estudar a influência de

diferentes modelos dinâmicos, com distintos níveis de precisão, no comportamento do

UKF aplicado à DO, cujos resultados foram comparados com os resultados do mesmo

problema resolvido através do EKF. Sendo assim, para efeitos de comparação do erro

em coordenadas de posição, os resultados serão mostrados nas componentes radial,

Page 96: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

68

normal e transversal, conforme foi feito na Seção 9.2. Vale novamente ressaltar que,

ao apresentar os resultados nestas componentes, deixa de ser necessário analisar os

erros em velocidade, pois no sistema orbital, a componente transversal já representa o

efeito da velocidade e seu comportamento no transcorrer da órbita.

A Figura 9.2 mostra o comportamento do erro, em metros, em função do tempo, em

horas, em cada uma das componentes do sistema orbital para os três testes. Para

destacar a evolução temporal do erro em cada componente, a escala dos gráficos da

Figura 9.2 não permite visualizar as altas amplitudes dos erros ocorridas nos instantes

iniciais do processo de aplicação dos filtros. Com a finalidade de visualizar estes

erros, a Figura 9.3, na sequência, traz em destaque apenas a primeira hora de

estimação, para os dois filtros. Este tipo de comportamento ocorreu em todos os casos

de estimação e, para evitar repetição de gráficos similares, a Figura 9.3 será

considerada representativa desta situação, para qualquer dos casos mostrados após ela.

De acordo com a Figura 9.3, para o EKF, a maior amplitude da ordem de 85 m ocorre

na componente normal, contra 37 m do UKF, na componente transversal. A Tabela

9.6 indica que o RMS dos erros em coordenadas e o RMS do erro total são

praticamente os mesmos tanto para o UKF quanto para o EKF, mostrando a

competitividade entre os estimadores. Os valores dos RMS diferem entre si no

máximo 11%, na componente radial, quando o UKF apresenta RMS de 4,789 m

contra 5,361 m do EKF. Na Figura 9.2, “Geo10” indica que apenas perturbações

devidas ao geopotencial 10×10 foram consideradas.

Page 97: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

69

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

tempo [h]

tran

sver

sal [

m]

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

tempo [h]

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

norm

al [m

]EKF - Geo 10 - 19/11/93

-30

-15

0

15

30

0 4 8 12 16 20 24

UKF - Geo 10 - 19/11/93

-30

-15

0

15

30

0 4 8 12 16 20 24

radi

al [m

]

Figura 9.2 - Erros nas coordenadas radial, normal e transversal para o dia 19/11/93, resultantes da implementação do geopotencial 10×10 pelo UKF (à esquerda) e pelo EKF (à

direita).

A máxima amplitude observada na componente transversal do UKF, na Figura 9.2,

ocorreu no decorrer do processo de estimação, no intervalo entre 4 e 6 horas, e

também foi verificada no processamento via EKF. Já o valor máximo da componente

normal do EKF representa um pico que ocorreu no início do processo, por uma

dificuldade de convergência nas primeiras iterações, e se repetiu, com valores

diferentes, nas componentes radial e transversal. Este comportamento inicial não foi

observado nos resultados do UKF.

Page 98: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

70

1ª hora de estimação - UKF - Geo 10 - 19/11/93

-90

-60

-30

0

30

60

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1

radi

al [m

]

1ª hora de estimação - EKF - Geo 10 - 19/11/93

-90

-60

-30

0

30

60

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1

-60

-30

0

30

60

90

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1

-30

0

30

60

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1

tempo [h]

-60

-30

0

30

60

90

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1

norm

al [m

]

-30

0

30

60

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1

tempo [h]

tran

sver

sal [

m]

Figura 9.3 - Destaque da primeira hora de estimação do comportamento dos erros nas

coordenadas radial, normal e transversal para o dia 19/11/93, resultantes da implementação do geopotencial 10×10 pelo UKF (à esquerda) e pelo EKF (à direita).

Os resultados acima indicam que após o transitório inicial da aplicação, em que os

filtros se comportam de modos distintos, o comportamento de ambos se estabiliza e

passam a apresentar uma evolução rigorosamente equivalente. Desta forma, a

mencionada diferença nos valores dos erros entre o UKF e o EKF deve-se

exclusivamente às diferenças de comportamento entre os estimadores nos instantes

iniciais do processo de estimação.

Page 99: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

71

9.3.1.2 Geopotencial até Ordem e Grau 28

Após os resultados de referência (implementados para um modelo de geopotencial de

ordem e grau baixos através do EKF) para o dia 19/11/1993 terem sido reproduzidos e

do equivalente do UKF ter sido implementado, os resultados obtidos corroboraram o

que já havia sido concluído no Capítulo 6: ambos os estimadores parecem

competitivos, do ponto de vista dinâmico, gerando resultados dos erros em relação à

referência do POE/JPL com valores praticamente idênticos, nas componentes RNT e

apresentando comportamentos das curvas de erro absolutamente similares, à exceção

das primeiras iterações, como foi mostrado nas Figuras 9.2 e 9.3.

Com base nestes resultados, optou-se por investigar mais detalhadamente a influência

da precisão do modelo dinâmico nos resultados do estado estimado através do UKF.

Sendo assim, nesta segunda etapa, o modelo de geopotencial ganhou mais precisão,

com a inclusão dos coeficientes dos harmônicos zonais e tesserais até ordem e grau

28. Embora estejam disponíveis coeficientes de ordem e grau mais altos, por

limitações do FORTRAN que já foram mencionadas anteriormente, não foi possível

incluí-los. Novamente nesta etapa, os resultados obtidos foram comparados com uma

solução de referência via EKF, que também precisou ser gerada neste trabalho.

A Figura 9.4 mostra o comportamento do erro, em metros, em função do tempo, em

horas, em cada uma das componentes do sistema orbital para os três testes. De acordo

com esta Figura, a maior amplitude da ordem de 83 m ocorre para o EKF, novamente

na componente normal, contra a amplitude da ordem de 37 m alcançada pelo UKF, na

componente transversal. A Tabela 9.6 indica que o RMS dos erros em coordenadas e

o RMS do erro total são muito parecidos para o UKF e para o EKF, evidenciando a

competitividade entre os estimadores. Os valores dos RMS diferem entre si no

máximo 11%, na componente radial, quando o UKF atinge RMS de 4,605 m contra

5,197 m do EKF. Essa diferença, como no caso anterior, reflete apenas a distinção de

comportamento dos filtros nos instantes iniciais da aplicação. Na Figura 9.4, “Geo10”

indica que apenas perturbações devidas ao geopotencial 10×10 foram consideradas e

“Geo28”, que foram incluídas perturbações devidas ao geopotencial 28×28.

Page 100: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

72

EKF - 19/11/93

-30

-15

0

15

30

0 4 8 12 16 20 24

Geo10 Geo28

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

tempo [h]

Geo10 Geo28

UKF - 19/11/93

-30

-15

0

15

30

0 4 8 12 16 20 24

radi

al [m

]

Geo10 Geo28

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

norm

al [m

]

Geo10 Geo28

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

tempo [h]

Geo10 Geo28

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

tempo [h]

tran

sver

sal [

m]

Geo10 Geo28

Figura 9.4 - Erros nas coordenadas radial, normal e transversal para o dia 19/11/93 –

comparação entre a implementação do geopotencial 10×10 e a do geopotencial 28×28 pelo UKF (à esquerda) e pelo EKF (à direita).

9.3.1.3 Atração Gravitacional Luni-Solar

Os resultados apresentados nas duas sub-seções anteriores, 9.3.1.1 e 9.3.1.2,

mostraram que os erros nas estimativas das três componentes não sofreram qualquer

variação significativa, para qualquer dos filtros analisados, quando o modelo de

geopotencial de ordem e grau 10 é substituído por outro mais preciso, de ordem e grau

28. Como o interesse maior está em aplicações de tempo real através do UKF, sugere-

se, em aplicações futuras, a utilização do modelo de ordem e grau 10, já que dos

resultados apresentados pode-se concluir que aumentar a sua complexidade não

implica em qualquer ganho, em termos de precisão das estimativas.

Page 101: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

73

Entretanto, nesta sub-seção ainda se analisa o caso em que, aos efeitos do modelo de

geopotencial mais complexo (até ordem e grau 28), é adicionada a modelagem da

atração gravitacional luni-solar. Esta se trata da terceira perturbação de efeito mais

preponderante na órbita do T/P.

A Figura 9.5 mostra o comportamento do erro, em metros, em função do tempo, em

horas, em cada uma das componentes do sistema orbital para os três testes. De acordo

com esta Figura, a máxima amplitude na componente normal de aproximadamente 83

m ocorre para o EKF, contra cerca de 37 m atingidos pelo UKF, novamente na

componente transversal. A Tabela 9.6 indica que o RMS dos erros em coordenadas e

o RMS do erro total são extremamente similares para os dois estimadores, mostrando

a competitividade entre os estimadores. Os valores RMS diferem entre si no máximo

11%, na componente radial, quando o UKF alcança RMS de 4,576 m contra 5,170 m

do EKF. Na Figura 9.5, “Geo28” indica que foram incluídas perturbações devidas ao

geopotencial até ordem e grau 28 e “AGLS”, um modelo de geopotencial 28×28 e

atração do Sol e da Lua combinados.

Page 102: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

74

EKF - 19/11/93

-30

-15

0

15

30

0 4 8 12 16 20 24

radi

al [m

]

Geo28 AGLS

UKF - 19/11/93

-30

-15

0

15

30

0 4 8 12 16 20 24

radi

al [m

]Geo 28 AGLS

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

norm

al [m

]

Geo28 AGLS

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

norm

al [m

]

Geo28 AGLS

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

tempo [h]

tran

sver

sal [

m]

Geo28 AGLS

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

tempo [h]

tran

sver

sal [

m]

Geo28 AGLS

Figura 9.5 - Erros nas coordenadas radial, normal e transversal para o dia 19/11/93 – comparação entre a implementação do geopotencial 28×28 e a da atração gravitacional luni-

solar pelo UKF (à esquerda) e pelo EKF (à direita).

Page 103: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

75

9.3.1.4 Pressão de Radiação Solar Direta

Como já foi explicado, embora a pressão de radiação solar direta na teoria seja o

efeito perturbador mais significativo para o T/P após o geopotencial, sua inclusão não

ocorreu neste momento por duas razões. A primeira é que, na prática, incluir tal efeito

não melhora significaticamente os erros resultantes (PARDAL, 2008); e a segunda é

que tal inclusão demandaria tempo e esforço preciosos para o cálculo analítico da

derivada de sua aceleração, a ser considerada na matriz Jacobiana do EKF. Contudo, o

UKF se baseia em modelos dinâmico e de medida não lineares, o que permite a

inclusão de tal efeito em sua implementação sem a necessidade de derivadas. Por

estes fatos, os resultados de pressão de radiação solar direta foram analisados apenas

na implementação via UKF.

A Figura 9.6 mostra a comparação entre os erros nas componentes do sistema orbital

resultantes do modelo que considera o geopotencial 28×28 e a atração gravitacional

luni-solar combinados, representado pelo índice “AGLS”, e do modelo que, além de

tais efeitos, leva em conta a parcela de perturbação devida à pressão de radiação solar

direta, representado pelo índice “PRS”. Os resultados para este caso específico foram

obtidos somente para a implementação via UKF, pelos motivos acima explicados. No

entanto, com base nos resultados anteriores de plena equivalência entre os resultados

dos dois estimadores (Figuras 9.3 a 9.5 e Tabela 9.6), é possível extrapolar e dizer que

o mesmo ocorreria neste caso.

De acordo com a Figura 9.6, a máxima amplitude se dá na componente transversal,

com valor de 37,048 m. A Tabela 9.6 indica que os RMS dos erros em coordenadas e

do erro total são praticamente os mesmos, independente de se incluir a pressão de

radiação solar no modelo dinâmico ou não, mostrando realmente que seu efeitos são

poucos sentidos no processo de DO. Os valores dos RMS do erro total e dos erros em

cada componente, para os casos com ou sem a inclusão da pressão de radiação solar

direta, “PRS” e “AGLS”, respectivamente, na Tabela 9.6, diferem entre si por no

máximo 1%

Page 104: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

76

UKF - 19/11/93

-30

-15

0

15

30

0 4 8 12 16 20 24

radi

al [m

]

AGLS PRS

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

norm

al [m

]

AGLS PRS

-50

-25

0

25

50

0 4 8 12 16 20 24

tempo [h]

tran

sver

sal [

m]

AGLS PRS

Figura 9.6 - Erros nas coordenadas radial, normal e transversal para o dia 19/11/93, resultantes da implementação da pressão de radiação solar direta pelo UKF.

A Tabela 9.6, a seguir, apresenta de forma sucinta os RMS dos erros por coordenada e

do erro total, em metros, para ambos os algoritmos de estimação. Os modelos que

incluem geopotencial 10×10 somente, com efeitos de geopotencial 28×28 e atração

gravitacional luni-solar combinados foram implementados pelos dois estimadores,

enquanto o modelo que inclui os efeitos da pressão de radiação solar direta associada

às duas perturbações do modelo intermediário teve implementação apenas pelo UKF,

por razões anteriormente explicadas. Estão destacados, em amarelo, os resultados de

cada estimador, ambos para o modelo que inclui atração gravitacional luni-solar e

geopotencial de altos grau e ordem. Nesta tabela foram incluídas ainda as estatísticas

de média e de covariância do erro em posição, obtidas para cada caso. Como

Page 105: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

77

22TOTAL )padrãodesvio()média(RMS +≈ , os resultados confirmam que a

consistência estatística foi mantida.

Tabela 9.6 - Estatísticas resultantes dos erros para cada um dos modelos implementados tanto pelo UKF quanto pelo EKF, para o dia 19/11/1993

radial normal transversal totalerro RMS (m)

Filtro Modelo

17,184 ± 6,569 13,6344,789 11,389

erro posição (m)média ± desvio padrão

13,673

18,399

17,881

17,575

17,611

18,709

18,178

17,227

13,711

13,690

5,170 10,29216,473 ± 6,940

5,361 11,546

5,197 10,772

17,362 ± 6,964

16,814 ± 6,903

13,61716,659 ± 6,491

16,319 ± 6,519

13,602

13,62910,1504,622

4,576 10,14616,319 ± 6,516

G28

AGLS

UKF

EKF

G10

G28

AGLS

G10

PRS

4,605 10,635

9.3.1.5 Outras Análises Resultantes da Determinação de Órbita

Ainda no que concerne aos resultados de DO, duas outras análises foram consideradas

relevantes: comportamento dos resíduos de pseudo-distância ao longo do tempo; e

custo de tempo de processamento, ambos para diferentes estimadores e modelos

dinâmicos.

A Figura 9.7 apresenta o comportamento típico dos resíduos de pseudo-distância, em

metros, ao longo do tempo, em horas. Este gráfico especificamente foi obtido para o

modelo dinâmico que inclui até a pressão de radiação solar direta, implementado

através do UKF. Os resíduos apresentam uma distribuição normal, com média

próxima de zero e desvio padrão perto de 14 m, para um período de 24 horas.

Conforme a Tabela 9.7, fica claro que os resíduos para os quatro modelos

implementados são muito parecidos, com mesmo comportamento e estatísticas. Em

destaque na Tabela 9.7, em amarelo, os valores referentes ao gráfico da Figura 9.7.

Page 106: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

78

UKF - PRS - 19/11/1993

-100

-75

-50

-25

0

25

50

75

100

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

tempo, [h]

resí

duos

, [m

]

Figura 9.7 - Resíduo de pseudo-distância ao longo do tempo para o modelo que inclui até a pressão de radiação solar direta, para o dia 19/11/1993.

Tabela 9.7 - Estatísticas dos resíduos de pseudo-distância para o dia 19/11/1993

PRS

G28

EKF

G10 (-0,0378)± 14,1777

G28 (-0,0390)± 14,0552

AGLS (-0,0509)± 13,9709

0,0423 ± 13,5534

resíduo pseudo-distância (m)média ± desvio padrão

0,0457 ± 13,6847

UKFAGLS 0,0315 ± 13,4651

0,0314 ± 13,4614

Filtro Modelo

G10

Com relação à comparação de custo de tempo de processamento, foi necessário medir

o tempo de CPU em um mesmo computador: um Pentium 4 ® com 3,06 GHz e 1,00

GB de memória RAM. Havia 2880 épocas no intervalo de amostragem, o que

significa uma nova amostra a cada 30 segundos. O número médio de medidas GPS,

Page 107: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

79

por época, foi 5,7, o que significa que foram processadas quase 6 observações de

satélites GPS a cada época.

O tempo de processamento, à medida que o modelo dinâmico se tornava mais preciso,

tanto na implementação do UKF quanto na do EKF, teve maior acréscimo quando o

modelo de geopotencial se tornou mais completo: 88% no EKF; e 94% no UKF, como

pode ser conferido na Tabela 9.8. A implementação com o modelo de perturbações

devidas somente ao geopotencial 10×10, pelo EKF, levou pouco mais de 1 s para

estimar o estado, enquanto pelo UKF, quase 5 s; em seguida, apenas o aumento da

ordem e do grau do geopotencial para 28×28, pelo EKF exigiu pouco mais de 11 s

para estimar o estado, enquanto que, pelo UKF, quase 82 s; para implementar o

modelo que inclui ainda a atração gravitacional luni-solar, o EKF precisou de quase

13 s, enquanto o UKF, de 98 s; e, para o modelo dinâmico mais completo, que soma a

pressão de radiação solar direta aos outros efeitos, o UKF levou em torno de 111 s

para processar as medidas e estimar o vetor de estado para o problema de DO, com

medidas reais de satélites GPS.

Tabela 9.8 - Comparação de custo de tempo de processamento

Tempo de

CPU (s)

Estimador Geo10 Geo28 Geo28+AGLS Geo28+AGLS

+PRS direta

UKF 4,734 81,953 98,000 110,578

EKF 1,359 11,345 12,516 _______

Conforme mencionado anteriormente, no Capítulo 6, a Tabela 6.2 forneceu evidências

de que o tempo de CPU não é diretamente proporcional ao aumento na dimensão do

estado causado pela geração dos 2n + 1 sigma-pontos. Analisando agora a relação

entre custo de tempo de processamento e complexidade do modelo dinâmico, pode-se

garantir que seu aumento implica seguramente em um custo maior de tempo de

processamento. No entanto, a proporção em que este aumento ocorre não foi possível

determinar. Ficou evidente que processar um modelo de geopotencial com ordem e

grau mais elevados é o ponto mais custoso do ponto de vista do tempo de CPU;

porém, também se garante que incluir outras perturbações demandará mais tempo de

Page 108: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

80

processamento, qualquer que seja a complexidade da inclusão, especialmente quando

o UKF for o estimador em questão.

9.3.1.6 Conclusões de Determinação de Órbita

As Figuras 9.3 a 9.6 e a Tabela 9.6 mostraram que aumentar a precisão do modelo

dinâmico não é fator determinante para a melhoria dos resultados obtidos. Tanto isto é

verdade que o modelo de geopotencial 10×10 apresenta RMS dos erros nas

componentes e do erro total e amplitude de variação dos erros nas componentes

radial, normal e transversal da mesma ordem de grandeza que o modelo completo,

com a inclusão até da pressão de radiação solar direta, para o UKF (PARDAL et al.,

2010).

Este fato já era esperado, uma vez que a estimação via filtros de Kalman não confia

plenamente da dinâmica do sistema, como o faz o Método de Mínimos Quadrados,

por exemplo. Sendo assim, embora a propagação de órbita tenha mostrado que

melhorar o modelo dinâmico diminui os erros entre o estado estimado e a referência

do POE/JPL, como os filtros de Kalman assumem ruído dinâmico diferente de zero,

tal fato não se reflete na DO, quando o estado é estimado via filtros de Kalman

“unscented” ou estendido (PARDAL et al., 2009).

No que se refere ao custo de tempo de processamento, constatou-se que o tempo de

CPU gasto não é diretamente proporcional ao aumento na dimensão do estado

causado pela geração dos 2n + 1 sigma-pontos; e, constatou-se ainda que a inclusão de

qualquer efeito perturbador, independente da complexidade de seu modelo, aumentará

o custo do tempo de processamento, principalmente se a implementação for feita

através do UKF.

Tendo-se constatado que convergência e consistência estatística foram alcançadas, é

possível agora concentrar esforços em diminuir os erros entre o estado estimado por

qualquer dos filtros e a referência do POE/JPL. Dos resultados apresentados pode-se

concluir que, do ponto de vista dinâmico, a extensa investigação realizada indica que

um limite de precisão está sendo atingido. Com isso, outras soluções devem ser

buscadas, com o intuito de diminuir os erros resultantes do processo de estimação

pelos dois estimadores.

Page 109: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

81

Deve-se, neste ponto, ponderar até onde vale a pena sofisticar o modelo dinâmico

adotado, uma vez que um modelo simples de geopotencial de baixos grau e ordem

apresentou, até aqui, resultados rigorosamente equivalentes àqueles obtidos em todas

as modelagens mais complexas consideradas. Isto pode ter ocorrido porque no

processo de DO efetuado até este ponto, a propagação foi feita para um intervalo

pequeno de amostragem das medidas, sendo as estimativas atualizadas pelas medidas

recebidas no instante, após a propagação, fato que reduz o erro. Talvez em função de

se ter utilizado uma taxa de amostragem de observações muito grande, o que se traduz

em intervalo de propagação muito pequeno no filtro, o erro de propagação tenha se

tornado irrelevante no desempenho dos estimadores, mesmo com a adoção de

modelos dinâmicos mais sofisticados. Desta forma, antes de concluir que uma

modelagem dinâmica mais simples pode ser adotada indiscriminadamente, há que se

avaliar o impacto nos erros de propagação no processo de DO para os casos em que os

intervalos de amostragem das observações são maiores.

9.4 Impacto de Diferentes Intervalos de Amostragem das Observações na

Determinação de Órbita

Os resultados de DO apresentados mostraram que a melhoria de precisão dos modelos

dinâmicos não melhorou os erros resultantes entre a referência do POE/JPL e os

valores obtidos via estimação. Em outras palavras, aumentar a precisão do modelo

dinâmico, indo de um modelo simples de geopotencial somente até um modelo

complexo que combinava três dos principais efeitos perturbadores da órbita do T/P,

não diminuiu a magnitude dos RMS dos erros obtidos via UKF ou EKF. Além disso,

tais resultados mostraram uma competitividade equivalente entre os estimadores, fato

verificado pela mesma ordem de grandeza da magnitude dos erros.

A partir disso, um outro teste foi feito. Tal teste teve duas finalidades bem

determinadas: aprofundar os estudos acerca dos benefícios de se aumentar a precisão

do modelo dinâmico adotado; e averiguar a competitividade aparente que se detectou

entre os estimadores implementados. Este teste consistiu basicamente em efetuar o

processo de DO de satélites considerando diferentes intervalos entre as amostragem

das observações (pseudo-distância) GPS. Os intervalos de amostragem consideradas

foram 10, 30, 60 e 300 segundos, indo portanto desde um pequeno intervalo entre a

predição e a posterior correção dos valores preditos pelos filtros (10 s) até um

Page 110: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

82

intervalo extremamente espaçado de 5 minutos (300 s) para efetuar o passo de

atualização do processo (PARDAL et al., 2009).

Com o espaçamento gradativo do intervalo entre o recebimento das medidas,

desejava-se verificar o impacto da complexidade do modelo dinâmico adotado e do

emprego de cada filtro na fase de predição do algoritmo, já que assim a fase de

propagação tem seu efeito aumentado e a precisão da modelagem passa a ter peso

maior na precisão das estimativas em ambos os filtros analisados. Desta forma, neste

teste de utilização de diferentes intervalos de amostragem, foram analisados resíduos

de pseudo-distância preditos (chamados também de inovação), por meio de suas

médias e desvios padrão.

A Figura 9.8 mostra um gráfico de resíduos de pseudo-distância preditos obtidos para

um intervalo de amostragem de 60 s, considerando um modelo dinâmico que combina

perturbações devidas ao geopotencial até ordem e grau 28×28 e à atração

gravitacional luni-solar, e utilizando o UKF como estimador. Esta figura pode ser

encarada como o comportamento típico de resíduos preditos para taxas de

amostragem de 10 e 30 s também, independente da complexidade do modelo

dinâmico adotado e do algoritmo utilizado no processo de estimação da órbita, visto

que os resultados são muito similares. Desta forma, este gráfico é representativo de

todas as dezoito possíveis combinações entre modelos e algoritmos de estimação, para

as três taxas de amostragem anteriormente mencionadas.

Page 111: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

83

Resíduos de pseudo-distância preditos (inovação)Amostragem: 60s - Modelo: AGLS

-100

-75

-50

-25

0

25

50

75

100

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24tempo, [h]

resí

duos

, [m

]

Figura 9.8 - Comportamento típico de resíduos de pseudo-distância preditos, obtidos via

UKF, para um intervalo de amostragem de 60 s e dados do dia 19/11/1993.

Embora o comportamento gráfico dos resultados de pseudo-distância preditos

aparentem similaridade, ao analisar os valores de média e de desvio padrão,

encerrados na Tabela 9.9, há indícios de que os resultados sugerem maior

espalhamento quando a estimação é feita através do EKF, quando comparado ao

UKF, assim como também parece que os resultados menos esparsos (com menor

desvio padrão) ocorrem quanto mais preciso e complexo for o modelo dinâmico

adotado. Tais fatos se verificaram à medida que o espaçamento entre as medidas

aumentou gradativamente de 10 para 60 s.

O teste mais radical realizado utilizou um alto intervalo de amostragem de 300 s e foi

feito com o intuito de verificar se os resultados realmente implicam em uma maior

dispersão (maior desvio padrão) quando a estimação é feita pelo EKF ou pelo UKF e

se há impacto no espalhamento dos resíduos quando são considerados modelos

dinâmicos de diferentes níveis de complexidade (maior ou menor precisão).

A Tabela 9.9 confirma que o UKF apresenta um desempenho mais eficiente que o

EKF, levando a resíduos das medidas menos dispersos (com menor desvio padrão).

Consequentemente, os resíduos de pseudo-distância preditos pelo UKF são menos

esparsos que aqueles obtidos via EKF, o que significa dizer que o UKF prediz muito

Page 112: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

84

melhor o comportamento dos resíduos de pseudo-distância em função da abordagem

em que se baseia seu algoritmo.

Com relação ao modelo dinâmico adotado, modelos mais precisos contribuem para

resultados melhores, o que se traduz em melhor predição dos resíduos das

observações. Através da Tabela 9.9, percebe-se que se a precisão do modelo dinâmico

é aumentada juntamente com o intervalo de amostragem, pode-se claramente verificar

como a média dos resíduos se comporta, aproximando-se mais do valor ideal zero,

com o aumento da complexidade da modelagem dinâmica.

Tabela 9.9 - Estatísticas dos resíduos de psudo-distância preditos para cada modelo de forças considerado e para cada estimador usado na determinação de órbita

Page 113: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

85

modelodinâmico

10 0,124 ± 11,38430 0,046 ± 13,68560 -0,187 ± 14,690300 -22,767 ± 92,79010 0,061 ± 11,37230 0,042 ± 13,55460 -0,277 ± 16,221300 -66,785 ± 142,96510 0,122 ± 12,03630 0,032 ± 13,46560 -0,091 ± 14,363300 -1,234 ± 17,48910 0,059 ± 12,02730 0,031 ± 13,46160 -0,180 ± 15,942300 1,861 ± 45,88610 0,115 ± 12,54730 -0,038 ± 14,17860 -0,109 ± 14,021300 -1,294 ± 15,87210 0,052 ± 12,539

30 -0,039 ± 14,05560 -0,201 ± 15,639300 1,021 ± 43,19710 0,115 ± 12,57030 -0,051 ± 13,97160 -0,109 ± 14,017300 -1,288 ± 15,874

UKF

Geo10

Geo28

AGLS

PRS

UKF

EKF

UKF

EKF

UKF

EKF

Resíduos de pseudo-distância preditos

estimador ∆tamostr (s) média ± desvio padrão (m)

Para concluir os resultados desta Seção, a Figura 9.9 mostra dois gráficos de

resultados de resíduos de pseudo-distância preditos, gerados para o maior intervalo de

amostragem (300 s), cujos valores de média e de desvio padrão se encontram na

Tabela 9.9. Fica claro que a rejeição de medidas (no nível de 150 m) é maior na

estimação feita através do EKF que na feita pelo UKF. Embora a rejeição de medidas

ocorra para ambos os algoritmos, a grande diferença é que o UKF consegue se adaptar

melhor a estas condições adversas que o EKF e predizer pseudo-distâncias mais

precisamente. A Figura 9.9 apresenta os resíduos obtidos via ambos os estimadores,

para o modelo dinâmico que combina geopotencial até ordem e grau 28 e atração

gravitacional luni-solar.

Page 114: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

86

Resíduos de pseudo-distância preditos (inovação)Amostragem: 300s - Modelo: AGLS

-150

-100

-50

0

50

100

150

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

resí

duos

, [m

]

UKF

-150

-100

-50

0

50

100

150

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24tempo, [h]

resí

duos

, [m

]

EKF

Figura 9.9 - Comportamento dos resíduos de pseudo-distância preditos obtidos via UKF e

EKF, para um intervalo de amostragem de 300 s e dados do dia 19/11/1993.

Page 115: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

87

9.5 Impacto da Degradação das Condições Iniciais na Determinação de Órbita

Para este teste, a comparação entre UKF e EKF se baseou na robustez dos filtros para

condições iniciais degradadas. O maior interesse está na análise da velocidade de

convergência e em indícios de ocorrência de divergência, de forma que a abordagem

utilizada consistiu em introduzir desde erros pequenos (da ordem de metros) até erros

grandes (da ordem de quilômetros) nas precisas e conhecidas condições iniciais de

posição (dos arquivos POE). Com isso foi possível analisar os comportamentos de

convergência e de divergência (caso ocorra) de cada estimador nas situações em que

as condições iniciais são desde pouco até muito degradadas.

O modelo dinâmico utilizado neste teste incluiu perturbações devidas ao geopotencial

até ordem e grau 28x28 e à atração gravitacional luni-solar. As medidas de pseudo-

distância foram corrigidas em relação aos erros ionosféricos, uma vez que é mais

apropriado monitorar os resultados sem qualquer interferência nos efeitos que possam

mascarar ou alterar os mesmos.

Primeiro foi gerado, para cada filtro (UKF ou EKF), um filtro finamente ajustado. A

órbita do T/P foi então estimada, através de simulação, utilizando precisas e

conhecidas condições iniciais. Os resultados deste processamento foram usados como

solução de referência para cada estimador. Nesta situação, ambos os algoritmos

apresentaram desempenho equivalente e concordaram muito bem, o que significa

dizer que as estatísticas dos erros em posição e dos resíduos de pseudo-distância

foram equivalentes. Isto leva a concluir que se as condições iniciais forem precisas, o

UKF e o EKF mostram padrões de convergência similares assim que o processo de

estimação se inicia e, desta forma, qualquer dos filtros pode ser usado.

No passo seguinte, os erros introduzidos variaram desde pequenos até grandes

valores, indo desde 0,1 km até 1000 km, com passo em potência de 10 (ou seja, os

erros introduzidos foram 0,1 km, 1 km, 10 km, 100 km e 1000 km). Os resultados

obtidos das condições iniciais imprecisas para o UKF e o EKF foram comparados

com as respectivas soluções de referência para erros em posição (transladados para

coordenadas RNT do sistema fixo na órbita do T/P) e resíduos de pseudo-distância.

Page 116: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

88

A Tabela 9.10 encerra a análise de convergência dos resíduos de pseudo-distância,

que é medida em termos do intervalo entre o processamento dos dados e a efetiva

convergência dos mesmos. Considera-se que o filtro convergiu no momento a partir

do qual os resíduos apresentam as mesmas estatísticas dos resíduos da solução de

referência (PARDAL et al., 2011). Quando um erro pequeno de 0,1 km é introduzido,

a convergência ocorre instantaneamente após o início do processo de estimação, para

ambos os algoritmos. Para introdução de erros de 1 e de 10 km nas condições iniciais,

o UKF novamente converge imediatamente, enquanto o EKF leva 2 e 2,5 horas,

respectivamente, para convergir. Para uma incerteza de 100 km, o UKF precisa de 2

horas de estimação para alcançar a zona de convergência, enquanto o EKF, de 12

horas. E quando o maior erro de 1000 km é adicionado, o EKF não é capaz de

convergir após 24 horas de processamento, enquanto o UKF ainda converge após 8

horas.

Tabela 9.10 - Velocidade de convergência dos resíduos de pseudo-distância preditos

erros introduzidos

(km)

tempo de convergência

UKF (h)

tempo de convergência

EKF (h)

0,1 0 0

1 0 2

10 0 2,5

100 2 12

1000 8 convergência não observada

Na Tabela 9.11 encontra-se a análise de convergência dos erros em posição em

coordenadas RNT, que novamente é medida através do tempo de convergência.

Quando o menor erro de 0,1 km é introduzido, a convergência ocorre

instantaneamente após o início do processo de estimação, para ambos os algoritmos.

Para os casos de incertezas de 1, 10 e 100 km introduzidas, o UKF sempre converge

antes do EKF para quaisquer das componentes analisadas. E quando o erro de 1000

km é adicionado, o EKF não consegue atingir convergência no período de 24 horas de

processamento, enquanto o UKF ainda converge, embora demandando um tempo

muito longo de quase metade de um dia.

Page 117: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

89

Tabela 9.11 - Velocidade de convergência do erro em posição

erros

introduzidos

(km)

tempo de convergência

UKF (h)

tempo de convergência

EKF (h)

R N T R N T

0,1 0,5 0 0 0,5 0 0

1 1 0 1 2,5 1 2

10 3,5 0 1 4,5 1 2

100 3,5 1,5 2 8 16 14

1000 5 11 7 convergência

não

observada

convergência

não

observada

convergência

não

observada

Uma outra verificação estatística foi feita, com o intuito de confirmar que os

algoritmos efetivamente atingem convergência. As estatísticas de pseudo-distância de

referência estão disponíveis na Tabela 9.12, destacadas em sua linha amarela. Elas

são usadas como valores de referência para todos os casos de teste do UKF e do EKF,

cujas estatísticas foram calculadas somente após o alcance da zona de convergência.

A partir da Tabela 9.12 torna-se evidente que os estimadores efetivamente

convergiram (a exceção do EKF para o caso de 1000 km de incerteza), já que suas

estatísticas na região de convergência apresentam valores que se mantém muito

próximos daqueles das respectivas referências.

Tabela 9.12 - Estatísticas dos resíduos de pseudo-distância após convergência do algoritmo

erros introduzidos

(km)

média ± desvio padrão

UKF (m)

média ± desvio padrão

EKF (m)

0 (referência) -1,248 ±±±± 25,638 -1,238 ±±±± 25,614

0,1 -1,160 ± 25,846 -1,154 ± 28,014

1 -1,037 ± 26,870 -1,604 ± 25,721

10 -1,218 ± 27,410 -0,985 ± 25,779

100 -1,318 ± 25,616 -0,994 ± 36,403

1000 -1,133 ± 29,220 convergência não observada

Page 118: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

90

Para representar tais averiguações, a Figura 9.10 ilustra o comportamento dos resíduos

da solução de referência e dos resíduos do caso de teste de 1000 km de incerteza nas

condições iniciais. Tais resultados foram analisados para os dois estimadores e,

claramente, dão indícios de que o EKF tende a divergir mais rapidamente que o UKF

para uma condição inicial muito ruim, ou seja, para casos em que a incerteza sobre as

medidas utilizadas no processo de estimação seja de elevada magnitude.

referência - UKF ou EKF - condições iniciais precis as

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

tempo, [h]

resí

duos

, [m

]

UKF - 1000km de incerteza nas condições iniciais

-400

-300

-200

-100

0

100

200

300

400

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22tempo, [h]

resí

duos

, [m

]

EKF - 1000km de incerteza nas condições iniciais

-400

-300

-200

-100

0

100

200

300

400

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22tempo, [h]

resí

duos

, [m

]

Figura 9.10 - Comportamento dos resíduos de pseudo-distância: casos de referência e de 1000 km de incerteza nas condições iniciais.

Page 119: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

91

A velocidade de convergência dos resíduos de pseudo-distância para o caso de 0,1 km

de incertezas introduzidas nas condições iniciais é instantânea para os dois

estimadores implementados e a maior rapidez de convergência do UKF começa a

partir da introdução de erros da ordem de 1 km ou maiores, conforme mostrado na

Tabela 9.10. A Figura 9.11 traz a evolução comparativa do comportamento dos

resíduos, obtidos via UKF e EKF, para os casos intermediários de 1, 10 e 100 km de

erros. Em todos os casos, embora o UKF e o EKF apresentem convergência, ela é

sempre mais rápida quando o estimador empregado é o UKF. Vale lembrar que se

considera convergência o momento a partir do qual os resíduos apresentam as mesmas

estatísticas dos resíduos da solução de referência, o que se traduz em média em torno

de 1,2 m e desvio padrão da ordem de 26 m (PARDAL et al., 2011).

Page 120: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

92

EKF - 1km de incerteza nas condições iniciais

-300

-200

-100

0

100

200

300

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22EKF - 10km de incerteza nas condições iniciais

-300

-200

-100

0

100

200

300

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22EKF - 100km de incerteza nas condições iniciais

-300

-200

-100

0

100

200

300

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22tempo, [h]

UKF - 1km de incerteza nas condições iniciais

-300

-200

-100

0

100

200

300

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

resí

duos

, [m

]

UKF - 10km de incerteza nas condições iniciais

-300

-200

-100

0

100

200

300

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

resí

duos

, [m

]

UKF - 100km de incerteza nas condições iniciais

-300

-200

-100

0

100

200

300

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22tempo, [h]

resí

duos

, [m

]

Figura 9.11 - Comportamento comparativo dos resíduos de pseudo-distância para os casos intermediários de teste de incertezas nas condições iniciais.

Continuando com a investigação comparativa do comportamento dos filtros para

medidas degradadas, a Tabela 9.13 apresenta o RMS do erro total em posição, e

novamente os valores de referência estão destacados em amarelo na sua primeira

linha. Da mesma forma que ocorreu com os resíduos de pseudo-distância, os RMS dos

erros resultantes da estimação por qualquer dos algoritmos somente foram

computados após a convergência. A Tabela 9.13 corrobora a informação

anteriormente apresentada de que os estimadores efetivamente convergiram (exceto o

EKF para o caso de 1000 km de erro), já que, após atingir a região de convergência,

seus valores estatísticos (RMS) se mantiveram perto das respectivas referências.

Page 121: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

93

Tabela 9.13 - Erro RMS total em posição após convergência do algoritmo

erros introduzidos

(km)

erro RMS

UKF (m)

erro RMS

EKF (m)

0 (referência) 21,835 21,628

0,1 21,656 21,090

1 21,376 19,520

10 18,941 20,264

100 18,708 20,074

1000 22,279 convergência não observada

A Figura 9.12 mostra os erros em coordenadas RNT para os casos de referência do

UKF e do EKF (obtidos para condições iniciais precisas e representados pelos

gráficos à esquerda da figura) e para o caso de introdução da maior incerteza nas

condições iniciais (erros iniciais de 1000 km, representados pelos gráficos à direita da

figura). Tais resultados indicam sinais de divergência do EKF para medidas iniciais

muito degradadas, enquanto o UKF, ainda que tardiamente, consegue atingir a zona

de convergência nas três coordenadas. Na Figura 9.12, as curvas em verde

correspondem à solução do UKF e as curvas em azul, à solução do EKF.

Page 122: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

94

erro - 1000km de incerteza nas condições iniciais

-100

-50

0

50

100

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

-60

-30

0

30

60

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

-160

-80

0

80

160

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

tempo, [h]

erro - solução de referência

-50

-25

0

25

50

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

radi

al, [

m]

UKF EKF

-30

-15

0

15

30

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

norm

al, [

m]

UKF EKF

-80

-40

0

40

80

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

tempo, [h]

trans

vers

al, [

m]

UKF EKF

Figura 9.12 - Comportamento dos erros em coordenadas RNT: casos de referência e de 1000 km de incerteza nas condições iniciais.

Assim como ocorreu com os resíduos de pseudo-distância, a velocidade de

convergência dos erros entre UKF e EKF começou a se diferenciar a partir da

introdução de erros da ordem de 1 km ou maiores, conforme a Tabela 9.11, com um

melhor desempenho do UKF em todos os casos intermediários (erros introduzidos de

1, 10 e 100 km). Em todas as situações, embora o UKF e o EKF apresentem

convergência, ela é sempre mais rápida quando o UKF é o estimador. É importante

lembrar que a convergência se dá no momento em que os erros apresentam estatísticas

similares aos da solução de referência, ou seja, erro com cerca de 22 m de RMS total.

Page 123: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

95

As Figuras 9.13 a 9.15 mostram os comportamentos das coordenadas dos erros para

cada caso intermediário de teste, ou seja, 1, 10 e 100 km, respectivamente. Nas três

figuras, as curvas em verde representam a solução do UKF e as curvas em azul, a

solução do EKF.

Erro - 1km de incerteza nas condições iniciais

-90

-60

-30

0

30

60

90

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

radi

al, [

m]

UKF EKF

-90

-60

-30

0

30

60

90

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

norm

al, [

m]

-90

-60

-30

0

30

60

90

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

tempo, [h]

tran

sver

sal,

[m]

Figura 9.13 - Comportamento comparativo dos erros em coordenadas RNT para o caso de 1 km de incerteza nas condições iniciais.

Na Figura 9.13 é possível perceber que a componente normal do UKF ainda converge

instantaneamente e também é a componente que mais rápido converge do EKF, cerca

de 1 hora após o início do processamento. As componentes radial e transversal do

UKF levam em torno de 1 hora para atingir a zona de convergência, enquanto as

Page 124: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

96

respectivas componentes do EKF precisam de pouco mais de 2 horas para alcançar a

mesma região. Os gráficos da Figura 9.13 corroboram as informações da Tabela 9.11.

Erro - 10km de incerteza nas condições iniciais

-90

-60

-30

0

30

60

90

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

radi

al, [

m]

UKF EKF

-90

-60

-30

0

30

60

90

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

norm

al, [

m]

-90

-60

-30

0

30

60

90

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

tempo, [h]

tran

sver

sal,

[m]

Figura 9.14 - Comportamento comparativo dos erros em coordenadas RNT para o caso de 10 km de incerteza nas condições iniciais.

Na Figura 9.14 vê-se que a componente normal do UKF (curvas em verde) continua

convergindo instantaneamente e permanece sendo a componente do EKF (curvas em

azul) que converge mais rapidamente, ainda em torno de 1 hora após o início do

processamento. As componentes radiais do UKF e do EKF sofreram maior acréscimo

no tempo necessário para atingir a convergência, gastando o primeiro em torno de 3,5

horas e o segundo, em torno de 4,5 horas para convergir. Já as componentes

Page 125: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

97

transversais do UKF e do EKF mantiveram o mesmo tempo necessário para alcançar a

região de convergência (no caso de 1 km de erro nas condições iniciais): em torno de

1 hora o UKF e cerca de 2 horas o EKF. Os gráficos da Figura 9.14 confirmam os

resultados apresentados na Tabela 9.10.

Erro - 100km de incerteza nas condições iniciais

-90

-60

-30

0

30

60

90

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

radi

al, [

m]

UKF EKF

-90

-60

-30

0

30

60

90

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

norm

al, [

m]

-90

-60

-30

0

30

60

90

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22

tempo, [h]

tran

sver

sal,

[m]

Figura 9.15 - Comportamento comparativo dos erros em coordenadas RNT para o caso de 100 km de incerteza nas condições iniciais.

Para valores de erros iniciais nas medidas mais altos (100 km), os resultados da Figura

9.15 mostram que o UKF manteve as 3,5 horas necessárias para atingir a

convergência na componente radial, precisou de 1,5 hora para a componente normal e

aumentou em 100% o tempo necessário para a componente transversal, que levou 2

Page 126: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

98

horas para chegar à zona de convergência. Já o EKF teve aumentos mais

significativos nos tempos para que cada componente atingisse a convergência, mas

ainda assim a alcançou. Foram necessárias 8 horas (78% de aumento) para a

componente radial, 16 horas (1500% de aumento) para a normal e 14 horas (600% de

aumento) para a transversal. Tais fatos fornecem indícios de que o EKF começa a

atingir um limite de convergência, fato já evidenciado na Figura 9.12.

Page 127: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

99

Page 128: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

100

10 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Neste Capítulo serão expostas as principais conclusões do trabalho e serão feitas

sugestões para trabalhos futuros, de acordo com o curso que os fatos seguiram no

desenvolvimento da tese.

10.1 Conclusões

Inicialmente, propôs-se implementar um filtro não linear, com características de

tempo real, através do método sigma-ponto, para estimar o vetor de estado que

caracteriza a órbita do satélite, com base em um conjunto de observações do sistema

GPS. Esta técnica de filtragem não linear vem sendo investigada em várias aplicações

e apresenta características que são vantajosas no aspecto de facilidade de

implementação, robustez e precisão.

Aplicações de satélites artificiais muitas vezes necessitam descrever o movimento

orbital com uma precisão sub-métrica. Uma metodologia para este processo de

determinação de órbita (DO), incluindo um processo dinâmico, baixo custo

computacional e as principais perturbações que afetam a órbita, vem sendo

desenvolvida no INPE.

A principal motivação para este trabalho foi aplicar técnicas modernas de estimação

de estado ao problema específico de DO, que apresenta um grande inconveniente

adicional imposto pela característica não linear tanto da dinâmica do movimento

quanto das observações. Para testes preliminares do algoritmo foram utilizadas as

efemérides de órbita precisa do satélite TOPEX/Poseidon (T/P), cujos dados do

receptor GPS de bordo e estimativas precisas de sua órbita estão disponíveis para a

realização de comparações, permitindo validar os métodos desenvolvidos.

Isto posto, o objetivo fundamental da tese foi o desenvolvimento de um filtro não

linear, baseado no método sigma-ponto, para estimar o vetor de estado que caracteriza

a órbita de um satélite, com base em um conjunto de observações do mesmo. Tal

objetivo foi atingido com a formulação adequada das equações da dinâmica e das

observações utilizadas no filtro sigma-ponto, desenvolvido inicialmente na forma

genérica e posteriormente adaptado e implementado no problema específico de DO

via GPS.

Page 129: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

101

Os trabalhos para o desenvolvimento e a implementação de um filtro de Kalman

sigma-ponto não linear, baseado na transformação “unscented”, com o objetivo

específico de determinar a órbita de um satélite artificial em tempo real e usando

medidas GPS partiram da implementação de um algoritmo simples e compacto. Como

resultado obteve-se um estimador recursivo de baixo custo computacional, o que o

torna ideal para aplicações de tempo real. Inicialmente, foi implementado o conceito

do UKF na fase de propagação do processo de estimação, utilizando o EKF na fase de

atualização. Em seguida, o UKF foi implementado na fase de atualização, mantendo o

EKF na propagação. Por último, o algoritmo do UKF foi completamente

implementado, substituindo o EKF nas fases de propagação e de atualização, sendo

esta a primeira vez, até onde se tem informação, que resultados de DO, utilizando o

conceito do UKF e o processamento de dados reais pelo filtro, foram apresentados

(PARDAL et al., 2009).

Ao comparar os resultados obtidos pelos quatro algoritmos, ficaram evidentes a

competitividade e o comportamento e as estatísticas muito semelhantes;

especialmente o UKF completo contra o EKF. Tais resultados indicam que a

introdução da transformação “unscented” foi bem sucedida, uma vez que o

comportamento dos resultados continuou muito semelhante ao dos resultados obtidos

com o EKF.

Um outro teste foi feito: comparação de custo de tempo de processamento. O tempo

de CPU foi aumentando à medida que o EKF era substituído pelo UKF. Os resultados

obtidos fornecem evidências de que o tempo de CPU (carga computacional) não é

diretamente proporcional ao aumento na dimensão do estado causado pela geração do

conjunto de sigma-pontos.

Tendo-se constatado que convergência e consistência estatística foram alcançadas, foi

possível agora concentrar esforços em diminuir os erros entre o estado estimado pelo

filtro e a referência do POE/JPL. Antes da análise propriamente do desempenho e da

precisão do filtro não linear de Kalman sigma-ponto, através de sua variante

“unscented” (UKF), em um problema de DO real, com dados reais, foi necessário

estabelecer uma solução como referência. Esta solução foi obtida através do filtro de

Kalman estendido (EKF) e, com exceção do caso de perturbações devidas ao

geopotencial até ordem e grau 10, cuja solução já existia (CHIARADIA, 2000), todas

Page 130: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

102

as demais soluções, seja de referência ou do UKF, foram obtidas durante o

desenvolvimento desta tese (PARDAL et al. 2009, 2009(a), 2009(b), 2010, 2011).

Na análise de propagação de órbita foram avaliados os efeitos de cada termo

perturbador antes da aplicação dos filtros de Kalman “unscented” ou estendido.

Verificou-se que a inclusão da atração gravitacional luni-solar no modelo dinâmico

produz melhores resultados, o que se traduz em menor magnitude dos erros (entre o

estado estimado e a referência do POE/JPL), transladados para as componentes radial,

normal e transversal do sistema de referência fixo na órbita, quando comparada ao

modelo que inclui apenas o geopotencial de qualquer ordem e grau ou ao modelo que

combina geopotencial e pressão de radiação solar direta. Anteriormente, a

comparação com o modelo dinâmico composto apenas por geopotencial e pressão de

radiação solar direta, cuja modelagem é altamente complexa, mostrou que tal efeito

não provoca melhorias significativas nos resultados (PARDAL, 2008), fato

corroborado pelos resultados desta tese.

Na análise dos resultados de DO foi visto que aumentar a precisão do modelo

dinâmico não é, em alguns dos casos estudados, fator determinante para a melhoria

dos resultados obtidos. Este fato já era esperado, uma vez que a estimação via filtros

de Kalman não confia plenamente da dinâmica do sistema, como o faz o Método de

Mínimos Quadrados, por exemplo. Sendo assim, embora a propagação de órbita tenha

mostrado que melhorar o modelo dinâmico diminui os erros entre o estado estimado e

a referência do POE/JPL, tal fato não se reflete na DO, pois os filtros de Kalman

assumem um ruído dinâmico diferente de zero. No que se refere ao custo de tempo de

processamento, constatou-se que o tempo de CPU gasto não é diretamente

proporcional ao aumento na dimensão do estado causado pela geração dos sigma-

pontos. Constatou-se ainda que a inclusão de qualquer efeito perturbador,

independente da complexidade de seu modelo, aumenta o custo do tempo de

processamento, principalmente se a implementação for feita através do UKF

(PARDAL et al. 2009).

Os resultados de DO mostram que aumentar a precisão do modelo dinâmico, indo de

um modelo simples de geopotencial até um modelo complexo que combina três dos

principais efeitos perturbadores da órbita do T/P, não diminui, nos caos estudados, a

magnitude dos erros obtidos via UKF ou EKF, e mostram também a competitividade

Page 131: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

103

equivalente entre os estimadores (PARDAL et al. 2010). Com isso, o passo natural do

desenvolvimento da tese, após a análise dos resultados de DO, foi verificar a robustez

dos filtros para dois casos: taxas de amostragem esparsas; e condições iniciais

degradadas.

O teste do primeiro caso teve duas finalidades bem determinadas: aprofundar os

estudos acerca dos benefícios de se aumentar a precisão do modelo dinâmico adotado;

e averiguar a competitividade aparente que se detectou entre os estimadores

implementados. Este teste consistiu basicamente em considerar diferentes intervalos

de amostragem das observações no processo de DO. Com o espaçamento gradativo do

intervalo entre o recebimento das medidas, desejava-se verificar o impacto da

complexidade do modelo dinâmico adotado e de cada filtro utilizado na fase de

predição do algoritmo; desta forma, foram analisados resíduos de pseudo-distância

preditos. À medida que o espaçamento entre as medidas aumentava, o UKF

apresentou um desempenho mais eficaz que o EKF, levando a resíduos das medidas

menos dispersos que aqueles obtidos via EKF, o que significa dizer que o UKF

predisse muito melhor o comportamento dos resíduos de pseudo-distância em função

da abordagem em que se baseia seu algoritmo. Com relação ao modelo dinâmico

adotado, modelos mais precisos contribuem para resultados melhores, o que se traduz

em melhor predição dos resíduos das observações.

Para o segundo caso, a partir de filtros finamente ajustados, foram estabelecidas

soluções de referência para o UKF e o para EKF, obtidas a partir de condições iniciais

conhecidas e precisas. A partir de então, foram introduzidos desde erros pequenos da

ordem de metros até erros elevados da ordem de centenas de metros nas referidas

condições iniciais e foram analisados erro em posição em coordenadas RNT e

resíduos de pseudo-distância. Para condições iniciais pouco degradadas, ambos os

filtros se comportaram de forma equivalente no que tange ao tempo necessário para

convergência e às estatísticas após a convergência. No entanto, à medida que a

degradação aumentava, o UKF mostrou-se mais robusto que o EKF, sempre atingindo

convergência em tempo inferior ao EKF e inclusive alcançando convergência mesmo

no caso de maior degradação, situação na qual o EKF sequer conseguiu convergir

(PARDAL et al. 2011).

Page 132: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

104

Desta forma, conclui-se que o UKF atinge precisão equivalente a do EKF em

problemas similares (com mesma complexidade de modelo dinâmico e mesmas

observações), embora seja mais robusto nos casos em que as condições iniciais estão

degradadas ou o intervalo de amostragem das medidas é muito espaçada. O UKF

também se mostrou competitivo em termos de tempo de processamento, uma vez que,

mesmo demandando maior tempo para efetuar o processo de estimação, este tempo

ainda não configura fator excludente de sua aplicabilidade a problemas de tempo real.

E mesmo que exija maior complexidade de programação e mais tempo de

processamento, como demanda menos trabalho “a priori”, por descartar o cálculo da

matriz Jacobiana, fundamental na implementação através do EKF, e considerando as

velocidades de processamento dos computadores atuais, a viabilidade do emprego do

UKF é pertinente.

10.2 Sugestões para Extensão do Trabalho

Neste trabalho, o procedimento de determinação de órbitas apresentado utilizou dados

reais do T/P. Uma solução de referência foi gerada através da implementação do EKF

e foi usada para comparação dos resultados do UKF. Os resultados obtidos foram

comparados com os arquivos de referência do POE/JPL, que apresentam estimativas

de posição com erro de no máximo 15 cm, enquanto este trabalho apresentou

estimativas de posição com RMS dos erros em torno de 17 m para 24 horas de DO,

considerando o modelo completo de forças utilizado, tanto para os resultados obtidos

via UKF quanto EKF.

Durante a apresentação de trabalho em eventos científicos (especialmente ION GNSS

2010), foi feito um alerta da necessidade de melhorar significativamente o pré-

processamento de dados antes da aplicação de métodos mais sofisticados. Ainda uma

outra sugestão surgiu: a de utilizar outros satélites mais modernos, cuja dinâmica e

cujos dados GPS apresentam redundância maior e receptores GPS embarcados de

melhor desempenho, como os satélites da família JASON, por exemplo. Considerando

estas contribuições recebidas e todos os resultados obtidos durante o desenvolvimento

da tese, para que estes erros sejam reduzidos e para que o tempo de processamento do

UKF diminua, algumas sugestões são feitas, no sentido de melhorar o procedimento

de DO:

Page 133: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

105

Incluir a resolução da ambiguidade inerente à medida de fase da portadora em

tempo real, e não em pré-processamento, como vem sendo feito. Com isso,

cada medida de fase será atualizada com base na medida do instante anterior e,

portanto, a ambiguidade será resolvida a partir da ambiguidade do instante

anterior. Isto significa dizer que, à medida que o tempo passar, a ambiguidade

deve tender a seu valor verdadeiro, de maneira semelhante ao que ocorre com

os métodos PPP (posicionamento por ponto preciso) (MONICO, 2000).

Substituir o satélite de teste do problema de DO pela família JASON, por

algumas razões: satélite mais moderno; satélite que apresenta dinâmica e

dados GPS de maior redundância; e satélite com receptores GPS embarcados

de melhor desempenho.

Reduzir os sigma-pontos gerados através da média e da covariância de uma

distribuição e empregada pela transformação “unscented” do UKF de 2n + 1

para n + 1 pontos (JULIER e UHLMANN, 2002). Com esta abordagem, é

esperado efetuar o processo de DO com menos tempo de processamento, uma

vez que a cada iteração uma nuvem menor de pontos será gerada, processada e

atualizada.

Page 134: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

106

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Page 141: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

113

ANEXO A - O SISTEMA GPS

O sistema GPS, originalmente chamado de NAVSTAR (Navigation System with Time

and Ranging), foi idealizado na década de 1960 pelo Departamento de Defesa dos

Estados Unidos, resultando da junção de dois programas: o TIMATION (Time

Navigation), da Marinha, e o Projeto 621-B, da Força Aérea.

Segundo o Departamento de Defesa norte-americano, inicialmente o sistema deveria

ter potencial para cumprir os seguintes requisitos:

Precisão da ordem de centímetros para o posicionamento;

Determinação exata do tempo e velocidade;

Disponibilidade contínua de dados de navegação com cobertura global e

regional;

Independência das condições meteorológicas;

Base para estabelecimento de um referencial global;

Potencial generalizado de navegação para minimizar a proliferação de

sistemas para fins especiais ou de cobertura regional.

Hoje em dia, pode-se dizer que o sistema, além desses requisitos básicos, é utilizado

em diversas áreas com grande sucesso, tais como: navegação, posicionamento,

geociências, geofísica, com finalidades tanto civis como militares.

O sistema GPS é dividido em três segmentos: espacial, de controle e usuário.

A.1 Segmento Espacial

Basicamente, o sistema GPS consiste de uma constelação nominal de 24 satélites

operacionais e mais três satélites mantidos como reserva, que podem se reposicionar

para substituir satélites com mal funcionamento, de modo a se ter um mínimo de

quatro satélites visíveis simultaneamente 24 horas por dia. Estes satélites estão

divididos em 3 órbitas quase circulares, com período de 11h58min e semi-eixo maior

de cerca de 26.500 km, inclinadas de 63º e espaçadas de 120º (LEICK, 1995). A

Figura 4.1, apresentada no Capítulo 4, esquematiza a configuração da constelação

GPS.

Page 142: Determinação de órbita em tempo real através de filtro não linear de

114

As órbitas de grande altitude foram escolhidas para que os satélites pudessem ser

rastreados durante várias horas antes de desaparecerem no horizonte; pois, do ponto

de vista de um observador fixo na superfície da Terra, um mesmo satélite só é visível

uma vez a cada 24 horas.

À medida que o satélite descreve sua órbita, um mecanismo de controle de atitude

mantém o corpo principal do mesmo orientado de modo que sua parte inferior, onde

estão localizadas as antenas, permaneça sempre apontada para a vertical local;

enquanto os painéis solares giram constantemente em torno de um eixo comum, para

melhor exposição ao Sol.

Cada satélite possui dois relógios atômicos (um de césio e outro de rubídio) a bordo,

duas portadoras de rádio-frequência L1 = 1575,42 MHz e L2 = 1227,60 MHz, com

potência de 450W.

Tais satélites transmitem sinais de navegação gerados a bordo e que consistem de 2

códigos com alta taxa de transmissão, o código C/A (livre) a 1 Mb/s e código P

(protegido) com 2 frequências distintas L1 e L2 a 10 Mb/s. Estes sinais fornecem

dados sobre as efemérides dos satélites GPS (mensagem de navegação) bem como

informações de tempo atômico GPS e outras informações consideradas relevantes

(saúde dos satélites, almanaque, deriva dos relógios de bordo, etc.).

A.2 Segmento de Controle

Este segmento está destinado à coleta de dados, relativos à atmosfera local e à pseudo-

distância de cada satélite, o que permite produzir o tempo GPS e as efemérides dos

satélites. É ainda responsável pelo gerenciamento de veículos espaciais, atualizando

periodicamente as informações que são transmitidas a cada um dos satélites, entre

efemérides, status, dados de relógio e almanaque.

Para isso, existe a estação Central de Controle (MCS – Master Control Station)

localizada na base de Falcon Air Force, Colorado, Estados Unidos. Juntamente com

esta, existem mais quatro estações de monitoramento (MS – Monitor Station),

localizadas no Havaí, Kwajalein, Diego Garcia e Ascención Island; além de uma

estação de Transmisssão de Dados para os satélites (ULS – UpLoading Station),

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115

localizada na base aérea de Vandenberg, na Califórnia. A estação central de controle e

as estações monitoras estão mapeadas na Figura A.1.

Figura A.1 - Estação central de controle e estações monitoras do GPS.

Fonte: Dana (1995).

A.3 Segmento Usuário

O segmento usuário consiste basicamente de receptores militares e civis projetados

especialmente para decodificar e processar os sinais que recebem dos satélites. O

receptor computadorizado grava as transmissões de vários satélites e aplica algoritmos

de solução para obtenção de posição, velocidade e tempo. São necessários pelo menos

quatro satélites em visada para o cálculo das posições e tempo, em um determinado

instante.

Em resumo, os satélites GPS formam um conjunto de pontos de referência no espaço

para navegação sobre a superfície da Terra ou em baixas altitudes e órbitas. Portanto,

o Sistema GPS fornece medidas de distância entre a posição desconhecida do usuário

e as referências do sistema, ou seja, os satélites da constelação GPS (PARKINSON e

SPILKER, 1996).

A.4 Estrutura do Sinal e da Mensagem do GPS

Os sinais que chegam de cada satélite são formados por três componentes: uma

portadora RF; código binário; e dados da mensagem de navegação.

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116

As frequências de transmissão utilizadas pelos satélites são (MONICO, 2000; LEICK,

1995; DOW et al., 1994):

1. Comunicação com os usuários – Link de Transmissão:

a) LINK1 (L1): portadora de 1575,42 MHz; níveis de -160 a -163 dBW; e

modulação em fase.

b) LINK2 (L2): portadora de 227,60 MHz; níveis de -166 dBW; e

modulação em fase.

2. Comunicação com as estações de controle – Link de Transmissão:

a) BANDA – S = 2227,50 MHz.

3. Comunicação com as estações de controle – Link de Recepção:

a) BANDA – S = 1783,74 MHz.

A mensagem transmitida por cada satélite ao usuário contém:

Parâmetros para correção do relógio do satélite;

Efemérides do satélite e parâmetros para correções orbitais;

Almanaque e “saúde” de todos os satélites da constelação;

Dados para correção da propagação ionosférica;

Código de identificação.

Estas informações são chamadas de “System Data” e são transmitidas em formato

binário, sendo antecedidas por um código de identificação, cujo conhecimento é

imprescindível para que o usuário as retire do sinal recebido. As portadoras de

frequências L1 e L2 são moduladas em fase e em quadratura de fase pela composição

de “System Data” com “Identification Code”.

Os códigos de identificação utilizados são os seguintes:

a) Código P (“Precision”): uso militar, transmitido nas bandas L1 e L2;

b) Código C/A (“Coarse/Acquisition”): uso civil, transmitido somente na banda

L1 e sujeito a degradações.

Estes códigos são do tipo RPN (Ruído-Pseudo-Aleatório) e permitem que a

mensagem de posição transmitida do satélite para o usuário seja eventualmente

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117

acrescida de ruído, não necessariamente Gaussiano, que deteriora a precisão com que

o usuário determinará sua posição.

As técnicas de degradação dos sinais dos códigos são duas: Disponibilidade Seletiva

(SA) e “anti-spoofing” (A-S), ambas controladas pelos Estados Unidos.

A.5 Principais Fontes de Erros

As principais fontes de erro do Sistema GPS são (MONICO, 2000; LEICK, 1995):

Erro devido à geometria dos satélites com relação ao observador;

Desvios dos relógios dos satélites;

Atraso de propagação e processamento dos sinais pelos circuitos do receptor

GPS;

Erros devidos ao multicaminho dos sinais;

Efeitos da atmosfera sobre a velocidade e a trajetória de propagação dos sinais

transmitidos;

Erros devidos à resolução, ao não sincronismo e ao ruído do receptor do

usuário;

Erro na determinação da posição dos satélites (erro de efemérides).

Várias formas de representar as efemérides foram estudadas até se chegar a um

conjunto de parâmetros que, sendo uma extensão dos elementos keplerianos, definem

a posição do satélite.

O conjunto de parâmetros utilizado na mensagem transmitida pelo GPS é atualizado

pela Estação de Controle a cada 1 hora, embora cada conjunto seja válido por 1,5

hora. A superposição de 30 minutos garante uma margem de segurança para que o

usuário possa receber o novo conjunto atualizado.

As principais perturbações das órbitas dos satélites GPS, em função das características

do segmento espacial, são o campo gravitacional terrestre, a atração gravitacional

luni-solar e a pressão de radiação solar (incluindo a sombra da Terra). Outra

perturbação a se considerar é a ressonância 2:1, devida a comensurabilidade do

período orbital com o período de rotação terrestre. Em aplicações específicas, para se

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118

atingir a precisão necessária, todas estas perturbações devem ser consideradas

simultaneamente.

Embora o Sistema GPS possua mecanismos e algoritmos para corrigir tais

perturbações, esta correção não é perfeita, sempre existindo, portanto, resíduos não

compensados. Uma estimativa destes resíduos, usando medidas de pseudo-distância,

encontra-se na Tabela A.1.

Tabela A.1 - Estimativa de resíduos, usando medidas de pseudo-distância

Resíduo Estimativa

Desvio do relógio e efemérides 1,5 mEfeitos da atmosfera 2,4 a 5,2 m"Group Delay" 1,0 mMulticaminho 1,2 a 2,7 mResolução/ruído do receptor e dinâmica do usuário 1,5 m

ERRO TOTAL COMBINADO 3,6 a 10,4 m

A.6 Posicionamento via GPS

Nesta Seção, serão descritos os observáveis do GPS, ou seja, os dois tipos de medidas

de observação usados para calcular a distância entre o transmissor e o receptor: a

pseudo-distância e a fase da portadora. O princípio básico do Sistema GPS para

determinação de órbita foi discutido no texto principal da tese, na Seção 6.1.

Observáveis do Sistema GPS

Os observáveis GPS são as distâncias deduzidas das diferentes medidas de tempo ou

fase, baseadas na comparação entre os sinais recebidos e os sinais gerados pelo

receptor. Pode-se dizer que esta diferença de tempo é simplesmente o tempo que o

sinal leva para ser propagado do satélite à antena do receptor. Dois observáveis

básicos do sistema GPS são: pseudo-distância e fase da portadora.

A pseudo-distância é uma medida entre os satélites GPS e a antena do receptor, com

referência às épocas de emissão e de recepção dos códigos. O tempo de transmissão

dos sinais é medido via correlação do código de Ruído-Pseudo-Aleatório (PRN)

gerado pelo satélite (sinal GPS recebido) com os sinais gerados internamente pelo

receptor. Uma vez obtida a correlação, obtém-se o tempo de envio do sinal desde o

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119

satélite GPS até o receptor, que corresponde à pseudo-distância. A denominação

“pseudo” advém do fato de as medidas estarem corrompidas por erros de propagação

do sinal, por refração atmosférica, por erros de relógio, entre outros.

A pseudo-distância ao i-ésimo satélite GPS é definida por (PARKINSON et al.,

1996):

v)dT(dtcρP iii +++−+= TROPION DD

em que Pi é a pseudo-distância medida pelo usuário em relação ao i-ésimo satélite

GPS; iρ é a distância geométrica; c é a velocidade de propagação da luz; dt é o desvio

do relógio do usuário; dTi é o desvio do relógio do i-ésimo satélite GPS; DION são os

desvios ionosféricos; DTROP são os desvios troposféricos; e v representa ruídos de

multi-caminho, erros entre canais do receptor e demais erros.

Já a fase da portadora é uma medida de observação definida como a diferença entre a

fase da portadora do satélite GPS recebida pela antena do receptor e a fase do

oscilador interno do receptor na época da medida. A ideia de utilização das medidas

de fase para a determinação de órbitas justifica-se pela estabilidade das fases e pela

precisão na sua medida. Ela é a mesma quantidade que a pseudo-distância, com duas

diferenças distintas: é cerca de 100 vezes mais precisa em relação à pseudo-distância;

e tem um desvio de relógio arbitrário resultante de um número desconhecido de ciclos

inteiros entre o transmissor e o receptor. A principal dificuldade de utilização deste

tipo de medida é a resolução da ambiguidade N (o número de ciclos não lido no

instante t0 da sincronização dos sinais), que produz impacto direto na precisão da

medida.

A fase da portadora do i-ésimo satélite GPS é dada por (LEICK, 1995):

( ) vc

f(t)(t)(t) irir ++++−= TROPION DDNϕϕϕ

em que ϕ ir(t) é a fase da portadora completa no instante de recepção nominal t; ϕ r(t) é

a fase da portadora do receptor no instante de recepção nominal t (ciclos); ϕ i(t) é a

fase da portadora do satélite recebida no instante de recepção nominal t (ciclos); N é a

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120

ambiguidade inicial; DION são os desvios ionosféricos; DTROP são os desvios

troposféricos; v são outros efeitos e erros; f é a frequência nominal da portadora; e c é

a velocidade da luz.

Vantagens:

Permite navegação autônoma e em tempo real;

Existem sempre satélites visíveis;

Alta imunidade a interferência;

Baixo custo de equipamentos e de manutenção em solo;

Atende inúmeros usuários;

Rápida obtenção das informações transmitidas pelos satélites;

Cobertura global;

Alta precisão no cálculo da posição devida à geometria favorável;

Cálculo de manobras orbitais a bordo.

Desvantagens:

O atraso no tempo pode custar um erro de vários quilômetros na posição do

satélite, visto que o receptor GPS, para calcular a distância, deve multiplicar o

intervalo de tempo pela velocidade da luz;

Necessidade de um receptor por satélite;

Qualificação espacial não totalmente provada para navegação autônoma (o

sistema GPS foi projetado para garantir a visibilidade de pelo menos quatro

satélites para um usuário na Terra; no entanto, para um usuário no espaço, esta

garantia não existe).