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DIAGNÓSTICO SINDRÔMICO
Maurício Viotti Daker
Departamento de Saúde Mental da FM-UFMG
Simpósio do Departamento de Diagnóstico e Classificação em Psiquiatria
XXV CBP – Porto Alegre
Sistematização da apresentação:
a) Introdução taxonomia – categoria - conceito
b) Categoria x Contínuo
c) Causa x Manifestação Clínica
d) Sintomas x Síndrome x Morbus
Taxonomia
taxon = ordemnomos = lei ou ciência
Esquemas taxonômicos ou classificações são compostos de unidades taxonômicas ordenadas freqüentemente em uma estrutura hierárquica.
CategoriasCategorização é o processo em que idéias e objetos
são reconhecidos, diferenciados e apreendidos. Categorização implica que objetos são agrupados em
categorias, geralmente para algum propósito específico.
ConceitosConceito: unidade fundamental do conhecimento simbólico. Também podem ser organizados em
esquemas e em redes semânticas.
Categorias e conceitos podem ser subdivididos em concretos (acessíveis à sensopercepção) e abstratos.
Categorial x Contínuo
Característica de Nosso Objeto - Os Transtornos Mentais
“Sempre que ousamos classificar processos vitais num esquema sem resíduos e sem graus intermediários, chegamos à conclusão que os limites inicialmente nítidos cada vez mais se confundem ante um conhecimento mais exato do objeto, que de cada tipo observado transitam para os tipos vizinhos inúmeros membros imperceptivelmente desviantes. Quanto à impossibilidade de uma separação radical entre estados saudáveis e doentios, já refletimos anteriormente. ... Uma especial expansão tem que adquirir o campo das formas intermediárias nos transtornos mentais devido à circunstância de que as partes singulares do cérebro não possuem funções iguais. Não apenas o modo e a intensidade da alteração doentia, mas também sua especial localização será capaz de provocar, possivelmente, uma ilimitada série de finas graduações na configuração do estado psíquico.”Kraepelin, Temas 58: 35-45, 2000.
Protótipo / Prototípico
Protótipo é um tipo, forma ou instância original de alguma coisa que serve como exemplo, base, modelo
ou padrão típico para outras coisas da mesma categoria.
Relativiza o conceito aristotélico de categoria.
Tipo Ideal
Ênfase na subjetividade.“Através de tipos, é apenas a uma flúida variedade uma
estrutura dada, que a torna acessível ao intelecto” (Jaspers, que aplicou o conceito para os transtornos endógenos, em
contraposição a “espécies” de doenças exógenas, que seriam discerníveis categorialmente)
Não se tratam de hipóteses ou proposições e portanto não são falsos ou verdadeiros, mas sim válidos ou não. (Relacionam-se com “compreensão” de Dilthey e não visam a
generalizaçõe uniformes deduzívies em leis das ciências naturais.O conceito tem suas raízes na sociologia de Max Weber.)
Perspectivas
AspectosSubjetivos
VISÃO ESTÁTICA xVISÃO DINÂMICA
AspectosObjetivos
CARACTERÍSTICAMAIS OU MENOSDINÂMICADO OBJETO
Causa x Manifestação Clínica
Pressuposto de influência positivista:Causa ↔ achados neuroanatômicos ↔ mani-
festação clínica
“Contradição com as leis básicas científicas naturais” (Kraepelin)
Etiologia – Patogenia – Sintomatologia
“de modo que a relação causal de dadas manifestações clínicas quase nunca se deixam
transparecer com aquela clareza como no curso de uma doença infecciosa.” (Kraepelin)
- constituição do organismo- as causas geralmente atuam em associação umas com as outras (por exemplo, lesão mais predisposição) - o tempo entre causa e sintomas é geralmente longo- quadros de doença em suas essências totalmente diferentes podem apresentar uma aparência externa coincidente e vice-versa
EMIL KRAEPELIN
Conceito de unidade de doença com causa, achado anátomo-patológico e sintomatologia correspondentes não existiriam. Mesmo quando causas exógenas são conhecidas, elas sempre estarão à mercê dos efeitos de outras causas ou fatores internos, pessoais e gerais do ser humano. Esses efeitos internos possuem em psiquiatria um papel mais relevante que na medicina geral e podem, até mesmo, atuar por si sós, “sem atuação de acometimentos externos, emergir apenas dos estados de dada personalidade” (Kraepelin)Obs: tendência kraepelineana a buscar características universais
Psiquiatria Fenomenológico-Antropológica
PSIQUIATRIA PSICODINÂMICA
Sintomas x Síndrome x Morbus
Elementos (Sintomas) e Complexos de SintomasKahlbaum
Centrípeto/Aferente – Central – Centrífugo/Eferente
. A. I. a. 1.
. B. II. b. 2.
. C. III. c. 3.
, , = transtornos da sensibilidadeA, B, C = transtornos do afeto (hipertimia, paratimia, atimia)I, II, III = transtornos da inteligência (hipernoésia, paranoésia, anoésia)a, b, c = transtornos da ação/vontade (hiperergia, paraergia, anergia)1, 2, 3 = transtornos da motricidade
Complexos de Sintomas NuclearesRevisão de Kahlbaum
• MELANCOLIA• MANIA• FORMA DE PERTURBAÇÃO PSÍQUICA• DEMÊNCIA
Syn-dromé = andar junto; concurso
Grupo de sinais e sintomas que se apresentam em associação regular uns com os outros = complexo de sintomas
Não constaria no Corpus Hipocrático, mas surgiria poucos anos depois.
Até Sydenham (século XXVII) o termo foi usado como sinônimo de doença, quando cresceu o interesse por causas determinantes de unidades de doenças, cada qual com sua sintomatologia e curso
natural característicos (uma mesma doença poderia, portanto, repetir-se em diferentes pacientes). O entusiasmo com essa nova concepção de doença fez com que o conceito de síndrome ficasse praticamente
esquecido por muitos anos.
“Sintropia” e “Índice de Sintropia” (relação com diagnóstico prototípico e com diagnóstico criteriológico?)
O uso do conceito de síndrome pode sinalizar vários graus de conhecimento etiológico e patogenético:
Etiologia Patogênese Sintomatologia
(Fenótipo)
heterogênea
desconhecida
heterogênea
desconhecida definida(transtornos mentais psiquiátricos primários em geral)
heterogênea ou
desconhecida
homogênea definida(síndrome ictérica, de Cushing, de Parkinson)
homogênea ou
conhecida
desconhecida definida(muitas síndromes genéticas, de Marfan; transtornos mentais orgânicos e tóxicos)
Variações ou não da denominação ao longo do tempo (geram confusão terminológica):
Síndrome de Fölling → Fenilcetonúria
Síndrome de Hurler → Mucopolisacaridose
Síndrome de Imunodeficiência Adquirida → idem
Catatonia, Hebefrenia → Síndrome psicótica esquizofrênica
Síndrome = “Um agrupamento de sinais e sintomas com base em sua freqüente co-ocorrência, que pode sugerir uma patogênese básica, curso, padrão familial ou tratamento comuns.” (DSM-IV)
O conceito indica algo provisório, de conhecimento incerto.
Concluindo
O conceito de síndrome, o diagnóstico sindrômico, aplica-se sobremaneira à psiquiatria, em especial aos transtornos mentais primários (na acepção original de síndrome desvinculada à causa), mas também aos orgânicos e tóxicos, cujas patogêneses são desconhecidas.
O diagnóstico sindrômico pode ser considerado prototípico.
Possui características comuns com o diagnóstico criteriológico, mas este é mais objetivo e restritivo.
Numa visão mais subjetiva relacionada às ciências humanas, pode-se traçar paralelo com o diagnóstico tipológico.
Os limites geralmente imprecisos entre as síndromes (alguns sintomas comuns) permitem certa maleabilidade ao diagnóstico, evitando-se enrijecimento em rotulações não bem estabelecidas, com benefícios clínicos e científicos.
O caráter provisório ou inacabado envolvido no conceito de síndrome favorece investigação além do Morbus, rumo à pessoa e à valorização da relação médico-paciente, fundamentais em psiquiatria.