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  Diálogo inter-religioso ‘real ou aparente’ durante a Idade Média hispânica: Ramon Llull (1232-1316) Dialogue inter-religious ‘real or apparent’ during the Hispanic Middle  Ages: Ramon Llull (1 232-1316) Marcelo Pereira Lima 1  Resumen: El present treball tracta de l’existència del diàleg interreligiós durant l’Edat Mitjana. Per a presentar l’staust quaestionis es prenen elements històrics i, sobre tot, la figura de Ramon Llull i la seva obra  Llibre del gentil e dels tres savis .  Abstract:  This paper speaks about the dialogue between religions in the Middle Age. We’re taking historical methods and The Book of the Pagan and the three Wises  of Ramon Llull for introducing the status quaestionis. Palavras-clave: Ramon Llull,  Llibre del gentil e dels tres savis , diàleg interreligiós.  Keywords: D. Ramon Llull, The Book of the Pagan and the three Wises , dialogue between religions. Obs.: Esse texto é a transcrição de uma palestra apresentada no Centro de cultura judaica  no dia 29 de julho de 2004 (trad.: Profa. Danielle Werneck Nunes. Revisão: Prof. Dr. Ricardo da Costa - Ufes) *** 1  Membro do PEM/UFRJ.

Dialogo Interreligioso Real Ou Aparente Durante A Idade Média

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Filosofia da Idade Média

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  • Dilogo inter-religioso real ou aparente durante a Idade Mdia

    hispnica: Ramon Llull (1232-1316) Dialogue inter-religious real or apparent during the Hispanic Middle

    Ages: Ramon Llull (1232-1316) Marcelo Pereira Lima1

    Resumen: El present treball tracta de lexistncia del dileg interreligis durant lEdat Mitjana. Per a presentar lstaust quaestionis es prenen elements histrics i, sobre tot, la figura de Ramon Llull i la seva obra Llibre del gentil e dels tres savis. Abstract: This paper speaks about the dialogue between religions in the Middle Age. Were taking historical methods and The Book of the Pagan and the three Wises of Ramon Llull for introducing the status quaestionis. Palavras-clave: Ramon Llull, Llibre del gentil e dels tres savis, dileg interreligis. Keywords: D. Ramon Llull, The Book of the Pagan and the three Wises, dialogue between religions. Obs.: Esse texto a transcrio de uma palestra apresentada no Centro de cultura judaica no dia 29 de julho de 2004 (trad.: Profa. Danielle Werneck Nunes. Reviso: Prof. Dr. Ricardo da Costa - Ufes)

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    1 Membro do PEM/UFRJ.

  • PASTOR, Jordi Pardo (coord.). Mirabilia 5 Ramon Llull (1232-1316): la convivencia entre las diferentes culturas y el dilogo inter-religioso

    Ramon Llull (1232-1316): the cooperation among different cultures and the inter-religious dialogue

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    I. Consideraes preliminares Como natural, estou preparando esta pequena conferncia alguns meses antes da data de nosso encontro. Como se importaram em vir, sabem perfeitamente qual ser o tema que nos ocuparemos hoje durante pouco mais de uma hora: o dilogo inter-religioso real ou aparente durante a Idade Mdia e, em particular, em um pensador do calibre de Ramon Llull. Certamente, esse intelectual, nascido na ilha de Maiorca em 1232, nunca pensou que seu nome seria mencionado em terras brasileiras. Mas vejam vocs: hoje falaremos dele. Alm disso, saibam que a cidade de So Paulo possui em seu centro um Instituto, o Instituto Brasileiro de Filosofia e Cincia Raimundo Llio, que se dedica a difundir a obra e a figura desse maiorquino no Brasil. Com profundo desconsolo e digo isso sem o desejo de ofender a ningum, nem aos presentes, nem queles que possam ler em qualquer momento essas pginas o termo dilogo inter-religioso algo que no existe hoje em dia. No existe porque o prprio homem coloca entraves s relaes inter-culturais, fazendo cumprir a mxima que um povo somente pode ter uma religio. Independente de qual seja ela, ela deve ser a nica. Se agora mesmo enquanto escrevo essas pginas em meu computador fizer uma breve pausa para ligar a televiso, inevitavelmente assistiria aos acontecimentos fatais que ocorrem em nosso mundo: o conflito entre Palestina e Israel, a Faixa de Gaza, a guerra do Iraque, os atentados integralistas islmicos, a xenofobia dos pases europeus com relao ao fenmeno da imigrao, fatos que colocam continuamente judeus, cristos e muulmanos em conflito. No sei se sou utpico ao pensar assim, mas desejo de todo corao que nesse momento que estou frente de vocs tudo o que acabo de mencionar seja to somente uma recordao e que o homem, independente de sua religio e sua procedncia, tenha se sentado para conversar, eliminando de uma vez por todas suas diferenas com o outro. Se nos voltarmos para a Idade Mdia, o panorama no ser diferente ou mais esperanoso que o que observamos em nosso sculo. E ela no nos d mais esperanas pelo mesmo motivo: aquele que tinha o poder o exercia de maneira opressiva diante daquele que lhe era diferente. Como exemplo do que desejo expor, volto meu discurso para a Idade Mdia hispnica, e me deparo com o que muitos afirmam ter ocorrido: uma verdadeira convivncia entre judeus, cristos e muulmanos, convivncia que

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    deveria servir como modelo histrico para enfrentar as situaes cotidianas de nossa poca. No entanto, a partir de meu ponto de vista e no quero ser pessimista essa convivncia, no sentido estrito do termo, no existiu, e a vida na Pennsula Ibrica foi muito diferente do que querem nos convencer mediante uma historiografia de fico, que muito mais hollywoodiana que o rigor cientfico obrigatrio que deve ser imposto a qualquer historiador. Entretanto, aqui no o lugar nem o momento para encaminhar a palestra queles que, em minha opinio, erram com esse otimismo sem medidas, pois tambm no minha inteno ser atingido por suas lnguas. Simplesmente, quero me remeter a uns fatos palpveis e que os interpreto a partir dos seguintes pontos de vista e dados que passo agora a expor. Centrar-me-ei nas origens hispnicas e suas primeiras manifestaes, o aduersus Iudaeos na Pennsula Ibrica e suas ilhas: os cnones XVI, XLXIX, L e LXXVIII do Conclio de Elvira; o Liber Apotheosis vv. 321-551 de Prudncio (348-410); o Tractatus origenis de Gregrio de Elvira (393) e a Carta Encclica do bispo Severo de Menorca (s. IV), obras nas quais se apresenta o mal-estar e a tensa convivncia de ento entre ambos os povos. Essas breves composies sero as que prepararo o terreno para os grandes textos da polmica antijudaica encontrados em Isidoro de Sevilha (c. 560-636), um dos expoentes mais importantes da Espanha crist e, por sua vez, um coetneo dos mais reconhecidos. Diante da polmica de seu tempo com os judeus, encontro nas obras de Isidoro textos como o De haeresibus liber, onde so descritos em oitenta e quatro pargrafos as heresias crists, judias e as seitas filosficas; o De fide catholica ex ueteri et nouo testamento contra Iudaeos, onde ele expe a verdade crist mediante as profecias do Antigo Testamento (Livro I), e mostra a vocao dos gentios (Livro II); as Allegoriae quaedam Scripturae Sacrae, com importantes aluses aos judeus, e as Etymologiae, onde alude as onze classes de heresias no mbito judaico. Entretanto, esses textos so apenas o incio de um panorama muito mais amplo complementado com os cnones dos Conclios de Toledo e as disposies do Fuero Juzgo. No entanto, esse panorama se torna muito mais complexo a partir da conquista da Pennsula em 711 pelos muulmanos. As relaes entre cristos e judeus se deterioraram ainda mais, pois foram os judeus que abriram as portas das principais cidades s frentes invasoras. Por outro lado, a convivncia entre as populaes muulmanas e crists que povoavam a Pennsula era um pouco forada, pois apesar de os muulmanos terem consentido que os cristos conservassem seu culto e pudessem

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    convocar os infiis, a rapidamente a blasfmia contra o profeta passou a ser punida com o aoite. Em reao a essa punio, a exaltao religiosa procedente de ambas as frentes no tardou em produzir os primeiros mrtires, conhecidos como Mrtires de Crdoba. A partir de ento, a histria medieval hispnica foi a histria de duas Espanhas, a muulmana e a crist, que acabaram se unindo, grosso modo, a partir da conquista de Toledo (1085). A conquista de Toledo por Afonso VI (1109) foi um feito que condicionou enormemente a progresso histrica da Espanha medieval. Basta apenas observar a Catedral de Toledo que notaremos que h algo diferente na casa de Deus: l existe uma unio do velho com o novo, do judeu com o cristo e com o rabe. Em Toledo, Deus convive com todos os homens. Toledo se converteu ento em uma cidade onde se respirava certa harmonia, uma cidade que no precisava ter inveja de outra, chamada jia do mundo, segundo Hroswitha de Gandershein. Refiro-me a Granada, cidade-pice da cincia andaluza. Apesar disso, nem tudo to simples, e como diz o provrbio uma andorinha no faz vero, pois a Idade Mdia hispnica se caracterizou a partir de ento como um lugar de contnua confrontao, um lugar de fronteira onde a guerra era o motivo dirio, e para se conseguir o po de cada dia era necessrio matar o inimigo. A chegada dos almadas e almorvidas complicou ainda mais as coisas para morabes e judeus, pois muitos deles chegaram a imigrar para as terras do norte. De maneira semelhante, esse foi o mesmo caso de Jud Halevi (1075-1141). Assim, as populaes medievais hispnicas passaram grande penria nesses momentos. A esse respeito, as palavras do jogral do Cantar de Mio Cid so muito esclarecedoras, pois evocam o dramtico quadro de uma Valncia sitiada:

    M coisa, senhor, ter falta de po, e ver filhos e mulheres morrerem de fome! (Mala cueta es, seores, aver mingua de pan, / fijos e mujieres verlos murir de fanbre) (vv. 1178-1179)

    Este o panorama, embora um tanto exagerado ou ficcional com as palavras do jogral do Mio Cid, reconheo, da Espanha medieval: um lugar de batalha onde a cristandade estava conquistando aqueles territrios que tinham sido arrebatados sculos atrs pelos muulmanos.

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    No entanto, a cidade de Toledo nos passa a impresso que tudo era harmonia entre os povoadores da Pennsula Ibrica, que era possvel a convivncia entre as diferentes culturas e conhecer intelectualmente o outro. E talvez fosse A conhecida Escola de Tradutores de Toledo que viveu seus momentos de maior esplendor no reinado de Afonso X, o Sbio (1221-1284) nos faz pensar assim, isto , boa parte das geraes posteriores de intelectuais acreditam que existiu uma convivncia entre as cultas e belas tradues de alguns intelectuais que pertenceram s trs religies: Judasmo, Cristianismo e Islamismo. Entretanto, essa perspectiva deve ser cuidadosamente revista, pois essas tradues podem ter sido feitas para um aproveitamento intelectual da classe crist dirigente, devido falta de conhecimentos cientficos da Europa crist latina (GARCA FRITZ, 2003: 13-56). Mas isso um tema que no cabe aqui. Porm, no h dvida que o Cristianismo latino se enriqueceu com os tesouros culturais de Al-andaluz. A jia do mundo e o rei-sbio so grandes eptetos que enaltecem a grandiosidade da Idade Mdia hispnica e sua heterogeneidade. Contudo, me atenho aos fatos. Eles indicam que alm da conquista crist dos territrios muulmanos, as autoridades polticas e eclesisticas impuseram normas nada flexveis ao contato e relao com judeus e muulmanos, alm de algumas obrigaes destes ltimos para com a lei do estado catlico em que viviam. Existe, sem dvida, uma manipulao partidarista que ocorre atualmente, no apenas nos meios informativos, mas tambm em investigadores, que apresenta a Espanha medieval como um lugar de tolerncia e convivncia. Ela se deve a uma necessidade antropolgica de possuir um mito com essas caractersticas em nosso momento atual, em que as relaes entre as trs culturas so bastante espinhosas. Caso trate de um elemento como, por exemplo, a estrutura poltica, a anlise pende para a convivncia, pois observo que tanto muulmanos quanto cristos criaram um entrelaado jurdico que propiciou a suposta tolerncia hispnica, feito que no se entende para alm dos Pireneus. No entanto, esta tolerncia no aconteceu em p de igualdade, ou seja, em que as regras do jogo so claras e cada um sabe seu lugar no tabuleiro: uns dominados, outros dominadores. Portanto, deduzo que conviver no significa integrar, e mesmo que se tolere o outro, no se evita que ele seja humilhado com determinadas disposies legais (a ostentao de sua condio em seu vesturio, sinais determinados, marcao de suas casas), convertendo-o em um cidado de segunda categoria.

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    Por outro lado, Afonso X, pilar historiogrfico da tolerncia hispnica, disps leis e ordens que no faziam outra coisa seno recordar, de forma vexatria, o crime dos judeus:

    Antigamente os judeus foram muito honrados e tiveram grande privilgio acima de todas as outras gentes, pois eram chamados povo de Deus. Mas como desconheceram Aquele que os tinha honrado e privilegiado, e ao invs de lhe fazer honra, desonraram-No, dando-Lhe uma aviltante morte na cruz; foi coisa correta e direita que por causa desse grande erro e maldade que cometeram, perdessem a honra e o privilgio que tinham. Por fim, a partir desse dia que crucificaram Nosso Senhor Jesus Cristo, eles nunca tiveram rei, nem sacerdotes como antes. E os imperadores que antigamente foram senhores de todo o mundo, decidiram por bem e por direito que, pela traio que eles cometeram matando seu Senhor, perdessem todas as honras e privilgios que possuam, de maneira que nenhum judeu jamais tivesse lugar honrado nem ofcio pblico com o qual pudesse, de alguma forma, premiar algum cristo. (Las Siete Partidas del sabio rey don Alonso el nono, glosadas por el Licenciado Gregorio Lpez del Consejo Real de Indias de su Magestad, Salamanca, 1555, vol. I, p. 75r)

    A partir disso deduzo o seguinte: um erro identificar os processos de intercmbio cultural com convivncia, pois as escolas de tradutores que este monarca foi artfice implicaram no seguinte:

    1) uma aproximao cultura do outro, devido ao desconhecimento e 2) um aproveitamento cientfico do outro.

    Por outro lado, Afonso X violou capitulares anteriores de Fernando III, repovoando territrios que, por aquele tratado, deveriam ter uma populao castelhana limitada; decretou em textos jurdicos, como o citado Las Siete Partidas, que os judeus deveriam viver em submisso para lembrarem sempre que foram os assassinos de Cristo. Alm disso, eles eram escarnecidos em obras como as Cantigas de Santa Maria, que mostram os judeus como usurrios. Mas sem sombra de dvida, existe um forte movimento em prol da integridade moral do outro, fato que provocar mais tarde a converso de muitos ao cristianismo, para poderem optar por uma vida mais digna. As coisas no eram muito diferentes na coroa catal-aragonesa. L as disposies de Ramon de Penyafort em sua Summa de poenitentia seguiam um mesmo rumo que as Partidas afonsinas. Embora as disposies de Penyafort advogassem uma converso dos infiis com argumentos, razes e agrados, elas no descartavam a idia de utilizar a fora bruta se necessrio:

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    [] a Igreja determinou que devem ser executados publicamente os judeus que entre os infiis tenham tentado subverter os batizados. E penas similares, como tambm pecunirias, segundo a qualidade que o delito pede. Freqentemente, a Igreja as instituiu contra eles, mas com aquela moderao nos aoites, fez com que no parecesse, de forma alguma, uma vingana de sangue; a execuo da pena deveria ser sempre deixada para o brao secular (PENYAFORT, 1999: 54). Tanto judeus quanto muulmanos sofriam um constrangimento em suas liberdades pessoais, pois eram afastados dos cargos pblicos e encarcerados em bairros distantes das cidadezinhas crists, quase extramuros. No entanto, mais fortes foram as disposies da coroa catal-aragonesa, alm da famosa Disputa de Barcelona de 1263, quando o rei Jaime I, junto com seu conselheiro real, Ramon de Penyafort, defendeu uma poltica religiosa que pretendia a converso dos infiis ao cristianismo (PARDO PASTOR e COSTA, 2005). As disposies reais foram categricas: os judeus deveriam assistir de bom grado, ou por meio da fora, s solicitaes que os frades dominicanos quisessem outorgar-lhes, sempre que esses ltimos desejassem. II. Ramon Llull (1232-1316) Apesar desse longo prembulo, retorno supramencionada Maiorca, arrebatada dos muulmanos por Jaime I, o Conquistador, em 1229. No de estranhar que nessa pequena ilha do Mediterrneo Ramon Llull encontrasse os ingredientes fundamentais para escrever a histria da humanidade, pois teve a sorte de poder se relacionar desde muito jovem com a cultura judaica e sarracena, cultura esta que o jovem monge Gerbert de Aurillac (938-1003), futuro papa Silvestre II, havia descoberto quase trs sculos antes no bispado de Vic e no mosteiro de Ripoll, onde realizou seus estudos cientficos. Essa cultura, a rabe, estava anos-luz frente do que os cristos aspiravam nesses momentos. Os novos caminhos propostos pela investigao luliana sugerem que Ramon Llull foi mais um gerente colonial, ou seja, que fazia parte das elites crists que se dedicavam colonizao e cristianizao da ilha (SOTO, 1985/6: 345-369). Portanto, no de surpreender que os primeiros contatos que Ramon Llull teve com a religio judaica e muulmana foram graas aos escravos que povoavam a ilha. Da mesma maneira, um texto como a Vita coaetanea (1311) informa que Ramon Llull, depois de sua converso, comprou um escravo muulmano para que ele o ensinasse a lngua e cultura rabes. Outro testemunho nos informa que uma das obras de Ramon Llull foi copiada para um dos rabinos de Barcelona (HAMES, 1998: 319-344). Assim,

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    o judasmo e o islamismo que Ramon Llull conheceu e expressou em suas obras provm dos setores mais populares daquelas culturas. No entanto, o fato de Ramon Llull absorver elementos externos sua f no significa ainda que seja um ecumnico, um pioneiro do dilogo inter-religioso ou algo parecido, como alguns afirmaram, mas que tentou buscar pontos comuns entre as trs religies para poder mostrar a primazia da f crist e, mediante os articula fidei das outras duas religies reveladas, demonstrar os elementos principais que as separam: a Essncia da Trindade e que Cristo o Filho de Deus Encarnado. Portanto, no devemos esquecer qual a postura de Ramon Llull diante das outras duas religies: Imponho este nome fiis aos cristos; este outro nome infiis aos judeus e aos sarracenos (ROL I: 489). Ramon Llull queria converter judeus e muulmanos ao cristianismo, exatamente como Jud Halevi desejava demonstrar a primazia do Judasmo ao escrever o Kuzari, ou ento como Ibn Tufayl al-Qaysi (1110-1185) tambm conhecido como Abentofail queria mostrar o esplendor do Isl ao escrever a novela filosfica conhecida como O filsofo autodidata. A Idade Mdia se move sob esses parmetros: somente existe uma verdadeira religio salvfica que deve demonstrar ao infiel o grau de seu erro. Nesse sentido, Ramon Llull no inova, pois o feito de polemizar com o outro para demonstrar a ele a gravidade do erro de sua f se produziu nos trs grupos, chegando a ser criado um termo como teologia de controvrsia. Ramon Llull recebe hoje nossa ateno pelo seu mtodo, que pretende demonstrar aos judeus e aos muulmanos que eles se encontravam no erro, baseando-se no nos elementos que diferenciam as trs religies, mas servindo-se dos elementos que as unem, isto , a crena em um nico Deus e os princpios absolutos que O definem, elementos que nenhum dos membros das trs religies reveladas podiam negar. II.1. Os princpios absolutos Com relao aos princpios absolutos, ou como Ramon Llull os denominava dignitates dei, foram polemizados por dois grupos de crticos lulianos. Uns afirmavam que as dignitates dei eram de origem agostiniana (PLATZECK, 1964; YATES, 1985), enquanto outros defendiam uma origem hebraica e muulmana (com relao influencia hebraica, ver: MILLS VALLICROSA, 1958: 241-253; IDEL, 1988: 170-174; id., 1996: 69-72; sobre a influncia muulmana indico CRUZ HERNNDEZ, 1977; y URVOY, 1980.).

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    As duas opinies, a meu ver, podem se complementar a partir do seguinte ponto de vista: possvel afirmar a origem crist dos princpios absolutos, porm, em Ramon Llull, essas dignidades divinas exerciam um papel determinante, j que possuam elementos comuns s trs religies. Apoiando essa idia agostiniana, Ramon Llull est consciente de que tais princpios so elementais na religio judaica e muulmana e que tambm correspondem perspectiva luliana de converso dos infiis pelo cristianismo. Ainda que fossem incontestveis na religio judaica ou muulmana, esses princpios absolutos provinham da religio crist. Por tanto, se estabelecia uma hermenutica teolgica entre judasmo, cristianismo e islamismo, pois as trs religies partiam da existncia de um nico Deus que possua qualidades inatas que se relacionavam com a criao. Porm, sem negar as origens agostinianas das dignitates dei lulianas, existe em Ramon Llull muitos pontos que relacionam tais dignidades com os sefirot hebraicos e com as hadras muulmanas. Entendo essa questo da seguinte maneira: Ramon Llull necessitava criar una obra missionria inovadora diante de todas as que j existiam. Para Llull, a verdade deixava o homem livre. Isso se baseava na necessidade de converter as classes cultas dirigentes, para que estas convertessem o povo. Para isso, Llull criou uma cincia das cincias que se encaixava no seu programa apologtico de converso. Ela tinha como premissa principal demonstrar as metforas do mundo atravs de procedimentos da Ars. Esse mtodo artstico usava dos atributos comuns s trs religies, pois Ramon Llull no esqueceu em momento algum que o cristianismo derivava do judasmo e o islamismo do cristianismo. As trs religies reveladas possuam em comum o monotesmo, as heranas da filosofia e tambm da cincia grega que permitiam que Llull proporcionasse estruturas conceituais e cosmovisionais que todos poderiam aceitar e compreender. Alm disso, esse monotesmo permitia que Llull construsse seu sistema a partir das dignitates dei, de forma slida e perceptvel para todos (PRING-MILL, 1991: 31-112). O primeiro esboo dessas dignitates dei aparece em uma obra pr-artstica: o Compendium logicae Algazelis (1270). Em seguida, no Libre de contemplaci en Du (1274), e no Ars compendiosa inueniendi ueritatem (1274-1289) onde aparecero com uma forma definida em dezesseis dignidades e sete figuras. Aps essa primeira tentativa de uma arte geral, a primeira grande reviso da Ars ser feita na Ars demonstratiua (1283), com dezesseis dignidades e dezesseis figuras. Porm, ser na obra Ars inuentiua ueritatis (1290) que Llull realizar uma substancial simplificao

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    dessa Ars, passando de dezesseis dignidades para nove, e depois para apenas quatro. Assim, com pouqussimas modificaes, a Ars luliana manter os preceitos impostos na etapa ternria. As dignitates dei que Ramon Llull prope so: Bonitas, Magnitudo, Duratio, Potestas, Sapientia, Voluntas, Virtus, Veritas e Gloria. Todas elas so predicados divinos relacionados a nomes abstratos retirados das Sagradas Escrituras. Estas dignidades se relacionam per se com os sefirot e com as hadras. Apresento rapidamente suas semelhanas e diferenas: uma das qualidades inatas de Deus sua Bondade, qualidade que encontramos tanto nos sefirot quanto nas hadras. A Grandeza substituda pelos judeus pelo Esplendor, enquanto que os rabes consideram esse mesmo vocbulo. A Durao nas dignidades lulianas substituda parcialmente nos sefirot e, totalmente, nas hadras pela Eternidade, ainda que Llull tambm fale de Eternidade ao se referir Durao: aeternitas seu duratio. O Poder aceito pelas trs. A Sabedoria aceita tambm pelas trs, e ampliada no caso muulmano pelo vocbulo Cincia. Recordemos, ainda que rapidamente, uma das mximas lulianas: sense cincia no hi ha amncia. Em detrimento dos outros dois, apenas para o caso das dignidades lulianas Deus possui Vontade. A Virtude coincide nos trs. A Glria coincide nos trs. Nos sefirot hebraicos aparece um elemento chamado fundamento que no consta nem nas dignidades lulianas, nem nas hadras muulmanas. O quadro abaixo ilustrar o que foi anteriormente dito:

    Dignidades lulianas

    Sefirot hebraicos

    Idem (traduo)

    Hadras islmicas (Ibn Arabi)

    Idem (traduo)

    1. Bondade 4. Hsed Bondade 12. Ihsan Bondade

    2. Grandeza 8. Hod Explendor 5. Kibriyya Grandeza

    3. Durao 7. Nesah Durao Eternidade

    15. Samadiyya Eternidade

    4. Poder 5. Guibbur Poder 16. Iqtidar Poder

    5. Sabedoria 2. Hokma Sabedoria 7. Ilm Hikma Cincia Sabedoria

    6. Vontade --- --- --- ---

    7. Virtude 6. Tifret Virtude 4. Quwwa Virtude

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    8. Verdade 3. Bin Verdade 14. Haqq Verdade

    9. Glria 1. Keter Glria 3. Izza Glria

    9. Yesod Fundamento

    Para Mills Vallicrosa e Cruz Hernndez essas semelhanas provinham do Sefer Yesir e tambm de Ibn Arab, respectivamente, para sefirot e hadras. Em uma anlise mais profunda, na enumerao dos sefirot existem trs divises ternrias. Na primeira: Glria, Sabedoria, Verdade, se apresentam a partir de um ngulo intelectivo. O primeiro a aparecer sefir de Glria, porque esta qualidade de glria acompanha de maneira imanente toda obra de Deus. Logo seguem os sefirot de Sabedoria e Verdade. Na segunda diviso ternria os sefirot atuantes se polarizam em uma viso afetiva ou moral: Bondade, Potestade, Virtude. E na ltima trade os sefirot se revestem de uma qualidade comum, sinttica ou resultante da atuao das duas trades anteriores, e manifestam trs coordenadas essenciais da obra de Deus, em relao s criaturas: a Durao ou Eternidade, a Grandeza e a Fundamentao. (MILLS VALLICROSA, art. cit.: 249; y CRUZ HERNNDEZ, op. cit.: 78). Com respeito s hadras, o paralelismo obvio e no necessita de muita explicao. Definitivamente, a originalidade de Ramon Llull no est na utilizao desses princpios absolutos, e sim na ampliao desse mtodo para explicar as trs pessoas da Trindade: Pai, Filho e Esprito Santo. A seguir, utilizando o Livro do gentio e dos trs sbios (1274-1276), observem que Ramon Llull utiliza esses principia absoluta para expressar a verdade da Trindade partindo dos pontos comuns que o Judasmo, Cristianismo e Islamismo tm entre eles. III. O Livro do gentio e dos trs sbios O Livro do gentio e dos trs sbios uma obra baseada em um dilogo entre um gentio e trs sbios, cada um de uma das trs religies reveladas. Salvador Galms, esgrimindo essa linguagem potica que tanto o caracterizava definiu a obra como [...] bela controvrsia religiosa ou polmica das trs leis (GALMS, 1990: 71). Ramon Llull afirmou que esse livro era composto de maneira semelhante ao livro do gentio rabe (Cfr. BUTI: 37-54; Id.: 195-208; Id.: 1997: 45-61). Este gentio que intitula a composio luliana desejava conhecer a magnificncia de Deus e dos sbios, ensinando a grandeza de seu Deus nico e das trs religies. Tudo isso se realizar mediante a combinao de rvores e flores que a Inteligncia outorgou aos sbios. A interveno dos

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    sbios ser disposta por Ramon Llull da seguinte forma: primeiro o judeu, depois o cristo e por ltimo o muulmano, pois acreditava que essa era a ordem de apario das trs religies no mundo. Alm de servir para outros fins apologticos, apresenta a existncia de um nico Deus atravs do judasmo, a chegada do Messias anunciada no Antigo Testamento pelo cristianismo e a falsidade da religio muulmana. Ao final aparecem contradies em muitos aspectos entre as trs religies. A seguir apresento as rvores e seus significados de acordo com o pensamento de Ramon Llull. III.1. A Primeira rvore A primeira rvore, na qual vedes 21 flores, significa Deus e suas Virtudes essenciais incriadas, cujos nomes esto escritos nas flores, conforme podeis ver. Aquela rvore possui duas condies principais: a primeira que se deve reconhecer e atribuir a Deus sempre a maior nobreza na essncia, nas Virtudes e nas obras. A outra condio que as flores no sejam contrrias umas s outras, nem sejam umas menos que as outras. Se no tivermos conhecimento dessas duas condies, no ser possvel o conhecimento da rvore, nem de suas Virtudes, nem de suas obras (LLIO, 2001, 45-46). Nesta primeira rvore, Ramon Llull mostra a primeira verso das dignitates lulianas, uma primeira verso muito prxima da figura A, a figura das virtudes incriadas. Se na figura A da Ars breuis (1308), temos as seguintes virtudes: Bonitas, Magnitudo, Duratio, Potestas, Sapientia, Voluntas, Virtus, Veritas e Gloria; nessa primeira rvore do Livro do gentio, temos Bondade, Grandeza, Eternidade, Poder, Sabedoria, Amor e Perfeio. Todas essas Virtudes so qualidades inatas Divindade que no podem ser negadas por nenhuma das trs religies reveladas. Os sete princpios que Ramon Llull apresenta so, obviamente, as dignitates dei. Ainda que Llull no utilize no Livro do gentio este nome para design-las, ele utiliza os termos virtudes divinas ou virtudes incriadas. Dos dezesseis elementos que compem as dignitates dei, Ramon Llull escolhe sete para facilitar o jogo combinatrio entre as sete virtudes criadas e os sete vcios (BONNER, 2000: 19).

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    III.2. A Segunda rvore A segunda rvore tem 49 flores sobre as quais esto escritas as sete Virtudes da primeira rvore, e as sete Virtudes criadas pelas quais os bem-aventurados alcanam a felicidade eterna. Esta rvore tem duas condies principais: a primeira que as Virtudes criadas sejam tanto maiores e mais nobres quanto mais fortemente signifiquem e demonstrem a grande nobreza das Virtudes incriadas; a segunda, que as Virtudes incriadas e as criadas nunca sejam reciprocamente contrrias (p. 46). A segunda rvore apresenta as sete virtudes anteriormente mencionadas (Bondade, Grandeza, Eternidade, Poder, Sabedoria, Amor e Perfeio) e tambm as virtudes criadas no pertencentes de forma exclusiva divindade como Justia, Prudncia, Fortaleza, Temperana, F, Esperana e Caridade. III.3. A Terceira rvore A terceira rvore tem 49 flores, onde esto escritas as sete Virtudes da primeira rvore e os sete vcios que so pecados mortais, pelos quais os malditos vo al fogo infernal. Esta rvore tem duas condies principais: a primeira que as Virtudes de Deus no sejam concordantes com os vcios; a segunda, que convm afirmar tudo aquilo mediante o qual, pelos vcios, as Virtudes de Deus sejam mais bem significadas ao entendimento humano, e negar tudo aquilo que for contrrio maior significao anteriormente dita, e tambm tudo quanto diminua a contrariedade entre as Virtudes e Deus e os vcios humanos salvas as condies das outras rvores (ibid.). Esta terceira rvore contm, alm das virtudes incriadas j mencionadas, os sete vcios capitais: Avareza, Gula, Luxria, Soberba, Acdia, Inveja e Ira. III.3. A Quarta rvore A quarta rvore tem 21 flores, que so as sete Virtudes criadas. Esta rvore tem duas condies principais: a primeira que nenhuma destas Virtudes seja contrria outra; a segunda, que aquilo que for mais conveniente para os homens serem maiores e terem maior mrito atravs delas, seja Verdadeiro; e o contrrio seja falso; salvando-se as condies das outras rvores (ibid.). Esta rvore contm a combinao das sete virtudes criadas: Justia, Prudncia, Fortaleza, Temperana, F, Esperana e Caridade.

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    III.3. A Quinta rvore A quinta rvore tem 49 flores, onde esto escritas as Virtudes criadas principais e os sete pecados mortais. Esta rvore tem duas condies principais: a primeira que as Virtudes no concordem nunca com os vcios; a segunda, que as Virtudes mais contrrias aos vcios sejam as mais amveis, e os vcios que so mais contrrios s Virtudes sejam os mais odiosos (ibid.). A ltima rvore apresenta a relao entre as virtudes criadas e os vcios capitais. Como embasamento final a essas rvores, Ramon Llull diz:

    As dez condies acima mencionadas resumem-se em duas condies ou princpios: o primeiro, que todas as dez condies estejam em concordncia com um fim; o segundo, que no se oponham a esse fim. E tal fim amar, conhecer, temer e servir a Deus (p. 47).

    A seguir analisarei o significado dessas rvores e do pensamento luliano com relao converso dos judeus e dos muulmanos. Os princpios absolutos da primeira rvore correspondem aos apresentados anteriormente no quadro: se Llull fala de Bondade, Grandeza, Eternidade, Poder, Sabedoria, Amor e Perfeio, certamente correspondem a Hsed, Hod, Nesah, Guibbur, Hokma, ainda que Amor e Perfeio no se encontrem entre os sefirot hebraicos. Por outro lado, as hadras Ihsan, Kibriyya, Samadiyya, Iqtidar e Hikma tambm correspondem s cinco primeiras virtudes, sem serem representadas Amor e Perfeio. Da mesma forma, estas duas virtudes que no aparecem nos sefirot nem nas hadras so virtudes que falam do nosso Deus, pois o Amor uma de Suas virtudes incriadas e inatas, assim como a Perfeio. Deus Perfeito em si mesmo e amoroso com Suas criaturas. Porm, melhor considerar que Amor o nome que transforma uma virtude como Voluntas nas primitivas origens das dignidades lulianas. Todos os princpios aqui representados correspondem aos nomes abstratos, retirados das Sagradas Escrituras. Dada a semelhana entre esses princpios absolutos que Ramon Llull apresenta e os sefirot e as hadras, estamos diante de uma das primeiras verses da hermenutica teolgica luliana que mais tarde acabaria se definindo em obras posteriores.

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    Os princpios que Ramon Llull apresenta nesta primeira rvore so reconhecidos pelas trs religies, e, partindo desses princpios, as trs religies possuem mais pontos em comum que diferenas. Todas elas aceitam a existncia de um Deus nico que se caracteriza por Sua Bondade, Grandeza, Eternidade, Poder, Sabedoria, Amor e Perfeio. O artigo de Mills Vallicrosa apresenta outras analogias existentes entre os sefirot ao recorrer sentena do clebre rabino da Babilnia, Rav (sculo XIII):

    Dez so as qualidades que contriburam para a criao do mundo: Sabedoria, discernimento, saber, poder, testemunho, fora, justia, direito, amor e compaixo (Hagig 126). A referncia s sete qualidades (middot) que se encontram diante do trono de Deus tambm so apresentadas: Sabedoria, direito, justia, amor e compaixo, Verdade e paz (Abbot de R. Natn 123) (MILLS VALLICROSA, art. cit.: 247).

    Observa-se um ntido paralelismo com relao s hadras. Ainda assim, o fato de utilizar um cone como o da rvore suscitou em Cruz Hernndez, em seu trabalho de 1977 e em outros posteriores, as relaes entre Ramon Llull e o mundo rabe (CRUZ HERNNDEZ, 1989: 19-25. Outros investigadores tambm trataram do mesmo tema (SANTIAGO SIMN e URVOY). Definitivamente, todos os princpios que definem o Deus devem se encontrar em igualdade de condies e no podem se contradizer. Tais premissas se cumprem nas trs religies e mediante a utilizao da rvore ficam graficamente expostas em cmaras que so simbolizadas pelas folhas. A seguir, a segunda rvore toma as sete virtudes incriadas, que definem Deus e as sete Virtudes criadas que definem os demais sujeitos. O quadro do Alfabeto luliano correspondente elaborao da Ars a partir de nove dignidades apresenta:

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    Princpios absolutos

    Princpios relativos

    Perguntas Sujeitos Virtudes Vcios

    B Bonitas Differentia Utrum? Deus Iustitia Avaritia

    C Magnitudo Concordantia Quid? Angelus Prudentia Gula

    D Aeternitas Contrarietas De quo? Caelum Fortitudo Luxuria

    E Potestas Principium Quare? Homo Temperantia Superbia

    F Sapientia Medium Quantum? Imaginativa Fides Accidia

    G Voluntas Finis Quale? Sensitiva Spes Invidia

    H Virtus Maioritas Quando? Vegetativa Caritas Ira

    I Veritas Aequalitas Ubi? Elementativa Patientia Mendacium

    K Gloria Minoritas Quo modo / cum quo?

    Instrumentativa Pietas Inconstantia

    Em primeiro lugar pode-se observar os principia absoluta pertencentes primeira rvore e, posteriormente, localizar os princpios que aparecem nas demais rvores. Na segunda rvore encontramos Justia, Prudncia, Fortaleza, Temperana, F, Esperana e Caridade, que correspondem s virtudes criadas. Essa segunda rvore do Gentio corresponde s relaes que se produzem entre Deus e os demais sujeitos da criao, ou seja, os Anjos, o Cu, o Homem e as propriedades (Imaginativa, Sensitiva e Vegetativa). Entre essas virtudes existe uma relao de subordinao, pois as virtudes incriadas, ou seja, os principia absoluta, devem ser mais nobres que os principia relativa, pois os primeiros se referem a Deus, enquanto os segundos s suas criaturas. Ainda assim, no podem produzir contrariedade alguma entre ambos os princpios, pois todos procedem das qualidades inatas da Divindade: os principia absoluta como qualidades diretas e os principia relativa como qualidades relacionadas aos sujeitos da criao e como qualidades indiretas de Deus, pois dEle procedem. A terceira rvore apresenta as virtudes incriadas e sua relao com os vcios capitais: Avareza, Gula, Luxria, Soberba, Acdia, Inveja e Ira. Nessa rvore se mostra a oposio das dignidades divinas com os vcios de tal modo que aqueles que desejassem servir a Deus deveriam evitar os pecados mencionados, pois se observa claramente a contrariedade que se estabelece entre as qualidades de Deus e os pecados.

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    Do mesmo modo, na quinta rvore se estabelece tambm uma oposio entre as virtudes criadas e os vcios. Assim, nem virtudes incriadas nem virtudes criadas podem estabelecer nenhum tipo de relao com os vcios ou pecados capitais, pois ambas provm de forma direta ou indireta de Deus. De tal modo, qualquer tipo de relao entre as virtudes e os vcios seria afirmar que Deus no Bom, Grande, Eterno, Poderoso, Sbio, Amoroso ou Perfeito, coisa que impossvel. A quarta rvore poderia ser denominada de rvore humana, pois apresenta a relao entre as virtudes criadas (aquelas que so prprias aos homens) e as criaturas de Deus. O homem deve seguir todas estas virtudes, pois, como foi demonstrado na segunda rvore, todas elas provm de forma indireta das virtudes incriadas, das dignitates dei, pois Deus nos fez Sua imagem e semelhana. Se seguirmos estas virtudes criadas nos aproximaremos cada vez mais da Divindade, fato que nos ajudar a compreend-La em toda Sua Bondade, Magnificncia, Eternidade, Poder, Sabedoria, Afetuosidade e Perfeio. Com estas cinco rvores temos exposta, de maneira superficial, a doutrina luliana sobre as dignidades divinas nos incios da Ars luliana. Todos os princpios que essas cinco rvores apresentam so aceitos pelas trs religies reveladas. Isso leva Ramon Llull a provar a existncia de Deus e da ressurreio da seguinte forma:

    Senhor, disse o sbio ao gentio , vs vedes que todo o bem que est nas plantas e nas coisas viventes e em todas as outras coisas do mundo limitado e finito. Por isso, se Deus no existisse, seguir-se-ia que nenhum bem conviria ao ser infinito, e todo o bem que existe conviria ao ser finito e limitado, e o ser infinito e o no-ser conviriam. Por isso, como o ser finito convm ao menor ser, e o bem infinito convm grandeza e a finitude convm a paridade, por isto significado e demonstrado que se o bem finito menor, que existe e convm ao no-ser, existe, quanto muito mais, sem qualquer comparao, convm que exista um bem infinito que esteja no ser! Este bem , bons amigos, nosso Senhor Deus, que bem soberano a todos os bens [] (p. 52).

    Mas a existncia de Deus se prova tambm mediante as dignitates dei, que se apresentam a partir de prismas como as qualidades imanentes (Sabedoria e Perfeio), viso afetiva ou moral (Bondade, Poder, Amor) e a atuao com relao s criaturas (Grandeza, Eternidade). Essas dignidades divinas se relacionam com os principia relativa concernentes aos homens. Portanto, as virtudes ad intra da divindade e as virtudes ad extra, que provm da Divindade, finalizam com a Encarnao, desejando demonstrar em primeiro lugar, a existncia de Deus mas, a seguir, de Jesus Cristo, Deus encarnado.

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    Assim, as virtudes divinas se manifestam de forma exterior nas criaturas atravs da Encarnao. Com isso, se os princpios encontrados nas flores das cinco rvores devem seguir o fim de amar, conhecer, temer e servir a Deus, judeus e muulmanos no cumprem esses princpios pois negam a divindade de Jesus, divindade que existe graas a combinao desses princpios que seguem o fim anunciado graas a sua concordncia. Este processo de demonstrao da Trindade em Ramon Llull uma antropologizao da teologia, pois torna mais prximo ao homem o processo da Encarnao de Deus:

    Quanto mais uma pequena caridade tende a parecer-se maior com a caridade, tanto maior ser em bondade e em Virtude que a caridade que no to parecida com a caridade maior. Ora, se Deus em Unidade e Trindade, o homem, que em unidade e em trindade, mais semelhante a Deus do que no seria, se Deus no fosse em Unidade e Trindade. E quanto mais o homem se assemelha a Deus, melhor preparado est para ser bom e ter maior caridade para com ele, para consigo mesmo e para com seu prximo. Ora, como conforme as condies da segunda rvore, o homem deve reconhecer aquilo pela qual a caridade e a bondade criadas melhor convm bondade e caridade incriadas de Deus, por isso, conforme a aqueles princpios, conforme aquelas condies da segunda rvore, a Trindade manifestada (p. 139).

    Porm, apesar dessa crtica construtiva e do fato de utilizar dos elementos das outras religies reveladas para demonstrar os articula fidei cristos, Ramon Llull deixa entrever qual sua concepo interna sobre os infiis. Ele est convencido que esses se encontram no erro e, por isso, decide falar a seu gentio, homens leigos em matria religiosa. Ele se refere ao Sbio judeu:

    Ora, como ns, pela grande caridade que temos a Deus, sustentamos e temos sustentado longamente o grande cativeiro em que estamos, no qual somos muito ultrajados e menosprezados pelos povos cristos []. Disse o gentio ao judeu: possvel que estejas em estado de pecado pelo qual sejas contra a bondade de Deus, e neste pecado, no pensas estar nem peas perdo bondade de Deus, que convm justia? Por esta justia no vos querer livrar at que reconheais o pecado e peais o perdo (pp. 107-108).

    Da mesma maneira, quando o gentio dialoga com o muulmano, chega a afirmar que Maom um falso profeta. Afirma que o fundador do Islamismo um impostor e, por conseqncia, a religio islmica uma religio de infiis, alm de apontar provas de sua Luxria ao falar do paraso islmico:

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    Disse o sarraceno ao gentio: conforme narra o Alcoro, que palavra de Deus, no Paraso haver muitas e grandes bem-aventuranas de manjares de diversas qualidades, as quais sero muito prazerosas para se comerem, e haver muitas e belas vestimentas, e belos palcios, com belos aposentos. E haver muitos leitos onde haver muitas belas mulheres, onde o homem ter agradveis prazeres corporais. Ora, para destruir a gula, a avareza e a luxria deste mundo, Deus enviou Maom para que os povos esperassem os deleites do Paraso e no pecassem com os deleites deste mundo. E como aquilo pelo qual mais a esperana e a gula possam ser mais contrrias convm ao ser, e a esperana e a gula podem ser mais contrrias, se existe a bonana acima mencionada no Paraso, por isso a maior contrariedade, conforme as condies da rvore onde colhida a flor acima mencionada, significa que Maom profeta. Respondeu o gentio: Conforme as condies das flores, segue-se que se uma flor significa que existe alguma coisa, esta flor tem de opor-se s outras flores que significam o contrrio. Porque, se isto no fosse assim, as flores poderiam ser contrrias umas s outras, e isso impossvel (pp. 206-207).

    Essa longa citao nos permite perceber como um gentio que no conhece a Deus nem tem nenhum conceito teolgico pode responder com tanta preciso um dos argumentos que o muulmano apresenta ao tentar provar sua f, e negar que Maom foi um verdadeiro profeta. Colomer defende uma idia similar, ao dizer que o gentio no realiza nenhum tipo de objeo aos ensinamentos que o cristo prega, mas suas perguntas ou comentrios servem para acabar de enaltecer a perspectiva crist. Entretanto, quando se relaciona com o judeu o com o muulmano suas objees so muito claras: [] en posa diverses i, val a dir-ho, desde el punt de vista cristi, molt ben posades [] (COLOMER, 1983: 61-80, aqui 73). Entretanto, no quero me alongar mais em explicaes, e sim realizar duas ou trs pontuaes que sirvam de resumo ao que foi dito at agora e dem presente conferncia uma unidade temtica que pode ter se perdido. IV. A busca da verdade Tudo o que falamos nestes momentos sobre a Ars do Ramon Llull poderamos denominar como hermenutica teolgica, pois o fim do sistema artstico luliano criar um novo sistema formado por os outros sistemas das outras duas religies reveladas. Este sistema, que alguns o denominaram Arte alternativa, tem como primeira finalidade a procura da verdade: o principio da verdade fundamental para Ramon Llull.

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    A verdade to importante para ele que em um texto apologtico como a Disputatio Raimundi Lulli et Homer Sarraceni, que narra a experincia de Llull num crcere tunisino, nosso maiorquino diz aos sbios muulmanos que se eles tivessem argumentos suficientes ele se converteria ao Isl. Este , sem dvida, uma das originalidades do sistema luliano, pois concede (supostamente) aos infiis a possibilidade de que estejam na verdade. Para todos os integrantes de uma discusso, a procura da verdade muito importante para a consecuo do verdadeiro dialogo, pois a verdade torna o homem livre. Esta procura da verdade faz com que Llull considere que o outro possa ter a verdade (e na mesma regra, que ele mesmo se encontre errado), o que o mesmo que supor que os homens possam entender-se graas sua capacidade racional. Estas ltimas palavras so um claro exemplo do que demonstramos at aqui. Na opinio de Llull, sua Ars um sistema que, partindo daqueles pontos comuns das religies monotestas e continuando mediante regras do raciocnio aceites por todos, possvel mostrar-se a esplendor da Trindade do dogma cristo. Voltando ao nosso texto principal, o Livro do gentio e dos trs sbios, finalizamos esta palestra com as prprias palavras de Llull. O final do livro muito significativo, pois os sbios no mostram nenhum interesse em conhecer qual a religio escolhida pelo gentio, pois se aceitassem qualquer uma delas ficaria definida a verdade para sempre, e cessaria o dilogo (PARDO, 2004: 217-260; Id., 2003-2004: 433-446):

    Quando o gentio terminou estas palavras e se ps em p, para se ajoelhar e de joelhos manifestar a Lei que desejava escolher, viu, longe de si, vir pelo bosque dois gentios da sua terra e seus conhecidos, que estavam no mesmo erro em que ele estivera. E, por isso, o gentio disse aos trs sbios que ele gostaria de esper-los at que l chegassem, pois queria manifestar-lhes em sua presena a Lei, o caminho da verdade, que escolhera. Mas os trs sbios se puseram em p e se despediram do gentio com agrado e devotamento. Muitas foram as bnos que os trs sbios dirigiram ao gentio, e o gentio aos trs sbios, e abraos, beijos, lgrimas e prantos ocorreram em sua despedida e no fim de suas palavras. Antes, porm, que os trs sbios tivessem partido daquele lugar, o gentio lhes perguntou e disse que muito se admirava por eles no esperarem ouvir qual era a Lei que ele escolhera. Os trs sbios responderam e disseram que como cada um deles pensava que o gentio escolhera a sua Lei, no queriam saber qual Lei de fato escolhera. - Este um assunto para discutir entre ns, a fim de que encontremos, pela fora da razo e pela natureza do entendimento, qual a Lei que poders escolher. Se, em nossa presena, dissesses qual a Lei que mais amas, no

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    teramos mais assunto para discutir, nem verdade a descobrir. Acabadas estas palavras, os trs sbios voltaram cidade de onde haviam sado. E o gentio, olhando para as flores das cinco rvores e lembrando aquilo que tinha recebido, esperou a chegada dos dois gentios (p. 245).

    Como se v, Ramon Llull aposta na fora da razo. Com efeito, ele sempre afirmou que o homem foi feito para entender, e que a f, embora nos abra para umas realidades divinas superiores, e nos d certeza delas, em si mesma tem uma categoria inferior e, portanto, devemos sempre com ajuda da razo intentar penetrar nos mistrios da f e tentar entend-los. Bibliografa BONNER, A, (ed.), Ramon Llull, Llibre del gentil e dels tres savis,

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    gentil, Miscellnia Germ Coln IV, Estudis de llengua I Literatura Catalanes XXXI, Publicacions de lAbadia de Montserrat, pp. 37-54

    BUTI, J., No busquem Llull entre savis, Revista de lAlguer, V, pp. 195-208

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