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ESTUDO IN VITRO DO PERFIL DE LIBERAÇÃO DE MICROEMULSÕES TÓPICAS DE DICLOFENACO DE DIETILAMÔNIO Valéria Ferreira da Costa Borba 1 ; Davi Pereira de Santana 2 1 Estudante do Curso de Farmácia – CCS – UFPE; E-mail: [email protected], 2 Docente/pesquisador do Depto de Ciências Farmacêuticas – CCS – UFPE. E-mail: [email protected]. Sumário: A administração percutânea dos AINES tem sido estudada como uma forma de melhorar a eficácia terapêutica destes fármacos. Este trabalho teve como objetivo realizar um estudo in vitro do perfil de liberação para avaliação da permeação e retenção do diclofenaco de dietilamônio em microemulsões tópicas. Para avaliação do perfil cinético utilizou-se células de difusão tipo Franz com área difusional de 1,15 cm 2 , volume de ± 6 mL e usando membranas artificiais hidrofílicas de acetato de celulose 0,45 μm. O compartimento receptor foi preenchido com tampão fosfato pH 7,4 num sistema composto de seis células individuais conectados a um banho termostatizado à 37 ± 0,5 o C sob agitação magnética constante por 12 horas. A quantidade de fármaco liberada no compartimento receptor foi quantificada por CLAE-UV através do método analítico desenvolvido. A permeação desta formulação foi comparado à permeação de 300 mg do medicamento de referência. Observou-se que houve uma diferença significativa entre as formulações testadas, cuja ordem foi emulgel genérico > ME-DDA F10 gel. A literatura relata que as ME têm grande capacidade de liberação de drogas. No entanto, neste ensaio, foi encontrado resultado contraditório, pois a ME apresentou um menor fluxo e quantidade liberada que o emulgel de referência. Palavras–chave: diclofenaco de dietilamônio; microemulsão; perfil de liberação in vitro INTRODUÇÃO O diclofenaco pertence à classe dos Antiinflamatórios Não-esteroidais (AINES) e quando administrado oralmente é exaustivamente metabolizado no fígado, devido ao seu curto tempo de meia-vida. A administração percutânea dos AINES tem sido estudada como uma forma de melhorar a eficácia terapêutica. Recentemente, sistemas particulados como lipossomas, nanoparticulas e microemulsões estão sendo investigados como alternativa de veículos para a absorção de drogas (KNEPP, 1990). Observa-se uma maior aceitação de sistemas transdérmicos nos últimos anos devido a uma série de fatores como a grande adesão dos pacientes ao tratamento, níveis plasmáticos constantes, resultado da liberação contínua de fármaco por determinado período; menor incidência de efeitos colaterais, devido à ausência de picos de concentração, eliminação do efeito de primeira passagem e disponibilidade de tecnologia para formulação de adesivos confiáveis e confortáveis ao uso (SHAH, 1993). A pele é formada por três camadas: epiderme, derme e hipoderme, da mais externa para a mais profunda, respectivamente. Na superfície da pele existe uma película de material emulsificado, composta por complexa mistura de sebo, suor e lâmina córnea descamativa, a última das camadas de células epidérmicas mortas chamada de “estrato córneo”(ANSEL, 2007). A barreira oferecida pelo estrato córneo, leva a limitações muito específicas. Apenas compostos dotados de certa lipofilia, não ionizados e de baixo peso

Diclofenaco Em Microemulsao

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  • ESTUDO IN VITRO DO PERFIL DE LIBERAO DE MICROEMULSES TPICAS DE DICLOFENACO DE

    DIETILAMNIO

    Valria Ferreira da Costa Borba1; Davi Pereira de Santana2

    1Estudante do Curso de Farmcia CCS UFPE; E-mail: [email protected], 2Docente/pesquisador do Depto de Cincias Farmacuticas CCS UFPE. E-mail: [email protected].

    Sumrio: A administrao percutnea dos AINES tem sido estudada como uma forma de melhorar a eficcia teraputica destes frmacos. Este trabalho teve como objetivo realizar um estudo in vitro do perfil de liberao para avaliao da permeao e reteno do diclofenaco de dietilamnio em microemulses tpicas. Para avaliao do perfil cintico utilizou-se clulas de difuso tipo Franz com rea difusional de 1,15 cm2, volume de 6 mL e usando membranas artificiais hidroflicas de acetato de celulose 0,45 m. O compartimento receptor foi preenchido com tampo fosfato pH 7,4 num sistema composto de seis clulas individuais conectados a um banho termostatizado 37 0,5 oC sob agitao magntica constante por 12 horas. A quantidade de frmaco liberada no compartimento receptor foi quantificada por CLAE-UV atravs do mtodo analtico desenvolvido. A permeao desta formulao foi comparado permeao de 300 mg do medicamento de referncia. Observou-se que houve uma diferena significativa entre as formulaes testadas, cuja ordem foi emulgel genrico > ME-DDA F10 gel. A literatura relata que as ME tm grande capacidade de liberao de drogas. No entanto, neste ensaio, foi encontrado resultado contraditrio, pois a ME apresentou um menor fluxo e quantidade liberada que o emulgel de referncia.

    Palavraschave: diclofenaco de dietilamnio; microemulso; perfil de liberao in vitro

    INTRODUO O diclofenaco pertence classe dos Antiinflamatrios No-esteroidais (AINES) e quando administrado oralmente exaustivamente metabolizado no fgado, devido ao seu curto tempo de meia-vida. A administrao percutnea dos AINES tem sido estudada como uma forma de melhorar a eficcia teraputica. Recentemente, sistemas particulados como lipossomas, nanoparticulas e microemulses esto sendo investigados como alternativa de veculos para a absoro de drogas (KNEPP, 1990). Observa-se uma maior aceitao de sistemas transdrmicos nos ltimos anos devido a uma srie de fatores como a grande adeso dos pacientes ao tratamento, nveis plasmticos constantes, resultado da liberao contnua de frmaco por determinado perodo; menor incidncia de efeitos colaterais, devido ausncia de picos de concentrao, eliminao do efeito de primeira passagem e disponibilidade de tecnologia para formulao de adesivos confiveis e confortveis ao uso (SHAH, 1993). A pele formada por trs camadas: epiderme, derme e hipoderme, da mais externa para a mais profunda, respectivamente. Na superfcie da pele existe uma pelcula de material emulsificado, composta por complexa mistura de sebo, suor e lmina crnea descamativa, a ltima das camadas de clulas epidrmicas mortas chamada de estrato crneo(ANSEL, 2007). A barreira oferecida pelo estrato crneo, leva a limitaes muito especficas. Apenas compostos dotados de certa lipofilia, no ionizados e de baixo peso

  • molecular podem penetrar passivamente a pele, a ponto de sofrerem absoro percutnea. (AULTON, 2005). Os medicamentos podem penetrar na pele por trs rotas: a via transcelular, a intercelular e atravs das paredes dos folculos pilosos, das glndulas sudorparas ou sebceas (MOSER, 2001). O frmaco deve vencer a barreira do estrato crneo para atingir as camadas mais profundas, sem que haja permeao e absoro sangunea. Na difuso passiva, a matria se move de uma regio do sistema para outro sem que haja influncia de outras molculas e/ou gasto de energia. A hiptese bsica de que a taxa de transferncia da substncia difundida por unidade de rea de uma seo proporcional ao gradiente de concentrao medido perpendicularmente a essa seo (AULTON, 2005). Isso expresso pela primeira lei de Fick. A determinao da quantidade de frmaco que chega ao local de ao uma medida importante para poder avaliar a eficcia do produto dermatolgico. Uma grande quantidade de artigos, assim como guidelines do FDA, recomenda o uso de clulas de difuso como a clula de Franz, equipada com membrana sinttica para determinar a liberao in vitro de formulaes tpicas, como cremes, geles e loes, e tambm de sistemas transdrmicos (BEMVINDO, 2006). A clula de difuso de Franz tornou-se um mtodo popular de estudo da difuso e permeao de substncias atravs da pele. Depois de algum tempo foi tambm utilizada para determinao da liberao in vitro de semi-slidos (SHAH, 1989; CLEMENT, 2000). O objetivo do teste no necessariamente mimetizar o comportamento in vivo, e sim avaliar indicadores de performance da formulao (SIEWERT, 2003). A taxa de liberao de um frmaco a partir de determinada formulao depende diretamente das caractersticas fsico-qumicas do veculo e do frmaco (BEMVINDO, 2006 apud SANTOYO, 1996).

    MATERIAIS E MTODOS Foi preparada uma microemulso a partir da mistura dos ingredientes polietilenoglicol-8 cprico caprlico glicerdeo como tensoativo (35,3 %) com poligliceril 6-dioleato como co-tensoativo (17,6 %) e, a esta mistura, foi adicionado o miristato de isopropila como fase oleosa (5,9 %) e em seguida gua purificada tipo Milli-Q (41,2 %). O diclofenaco de dietilamnio foi incorporado ao sistema por simples solubilizao na concentrao de 1,16%. A microemulso foi preparada 48 horas antes dos testes para estabilizao termodinmica das micelas na temperatura ambiente. As cinticas de difuso in vitro foram conduzidas utilizando-se clulas de difuso tipo Franz com rea difusional de 1,15 cm2, volume de 6 mL e usando membranas artificiais hidroflicas de acetato de celulose 0,45 m. O compartimento receptor foi preenchido com tampo fosfato pH 7,4 num sistema composto de seis clulas individuais conectados a um banho termostatizado 37 0,5 oC sob agitao constante de 100 rpm em agitador magntico por um perodo de 12 horas. As membranas foram colocadas na parte superior da clula receptora. No compartimento doador, foram aplicados 300 L da formulao diretamente sobre a membrana e, posteriormente, o sistema foi fechado. As amostras da soluo receptora foram coletadas nos seguintes tempos: 0,5; 1,0; 1,5; 2,0; 2,5; 3,0; 4,0; 6,0; 8,0; 10 e 12 horas. O volume total da fase receptora foi substitudo a cada amostragem com tampo fosfato pH 7,4 para manuteno das condies sink do sistema. A quantidade de frmaco liberado no compartimento receptor foi quantificada por CLAE-UV atravs do mtodo analtico desenvolvido. A permeao desta formulao foi comparado permeao de 300 mg do medicamento Referncia.

  • RESULTADOS A Figura 1 mostra a liberao in vitro da ME-DDA gel e da formulao comercial emulgel genrico, usando membranas hidroflicas de acetato de celulose aps 12 horas de cintica.

    Figura 1. Liberao in vitro do DDA da ME-DDA gel e da formulao comercial emulgel genrico.

    A partir desta dos dados da Figura 1, foi possvel calcular o fluxo (J) no steady-state a partir da poro linear. J o coeficiente de permeabilidade (Kp) foi calculado a partir do fluxo (J) no estado de equilbrio vs a concentrao de DDA no compartimento doador (Cdoador) conforme equao abaixo sugerida por OZGUNEY (2006): Kp = J/Cdoador . O Kp da ME-DDA gel (5,76 x 10-3 7,1x10-4 cm h-1) foi menor em relao ao medicamento genrico (1,28 x 10-2 2,3x10-3 cm h-1). Nesta triagem, os valores de J da ME-DDA gel, emulgel comercial genrico foram, respectivamente, 20,06 2,48 e 44,84 8,01.

    DISCUSSO Na avaliao de produtos de ao dermatolgica como, por exemplo, uma ME de DDA, testes clnicos devem ser precedidos, e em algumas vezes substitudos, por testes in vitro. Estes testes, devido s suas peculiaridades, permitem entender alguns fenmenos que ocorrem entre a aplicao do produto e o efeito medido farmacologicamente, de maneira prtica, rpida e sem a interferncia de fatores biolgicos. A eleio de uma soluo receptora para os experimentos in vitro depende da solubilidade do frmaco, pois necessria a manuteno das condies sink para garantir a obteno de resultados efetivos. No caso do DDA, o mesmo mostrou-se muito solvel em tampo fosfato pH 7,4, com solubilidade superior 6 mg mL-1 e por isso o mesmo foi escolhido. A literatura relata que as ME tm grande capacidade de liberao de drogas (OZGUNEY, 2006). No entanto, neste ensaio, foi encontrado resultado contraditrio, pois a ME apresentou um menor J e menor quantidade liberada que o emulgel genrico comercial.

  • CONCLUSES O mtodo de quantificao do DDA por CLAE-UV apresentou confiabilidade e segurana necessrias em procedimentos analticos do tipo cintica de liberao in vitro. Com o estudo de liberao in vitro do DDA, utilizando o modelo de clulas de Franz em membranas sintticas de acetato de celulose, foi possvel calcular e entender os fenmenos cinticos envolvidos neste tipo de estudo como quantidade liberada, fluxo e coeficiente de permeabilidade.

    AGRADECIMENTOS Agradeo a PROPESQ/CNPq o auxlio financeiro durante o desenvolvimento desta pesquisa, ao Departamento de Cincias Farmacuticas da UFPE por ceder o laboratrio de Farmacotcnica, ao Prof. Dr. Davi Pereira de Santana, orientador, e ao Prof. Jos Alexsandro da Silva, autor deste projeto de doutorado, a oportunidade me concedida.

    REFERNCIAS ANSEL - JUNIOR, L. V. et al. 2007. Formas Farmacuticas e Sistemas de liberao de frmacos. Editora Artmed.

    AULTON, M. E. 2005. Delineamento de formas farmacuticas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed.

    BEMVINDO, C. S.2006. Estudo comparativo da liberao e penetrao cutnea de nitrato de miconazol de emulses tpicas comerciais.Dissertao de Mestrado em Cincias Famacuticas Faculdade de Farmcia, Universidade Federal do Rio de Janeiro

    CLEMENT, P.; LAUGEL, C. & MARTY, J.P. 2000. Influence of three synthetic membranes on the release of caffeine from concentrated w/o emulsions, Journal of Controlled Release, v. 66, p. 243-254.

    KNEPP, V. M., SZOKA, F. C., JR & GUY, R. H.1990. Controlled drug release from novel liposomal delivery system: II. Transdermal delivery characteristics. J. Control. Rel., v.12,p. 25-30.

    MOSER, K. et al. Passive skin penetration enhancement and its quantification in vitro. European Journal of Pharmaceutics and Biopharmaceutics, v. 52, p. 103-112, 2001. OZGUNEY, I. S. et al. 2006. Transdermal delivery of diclofenac sodium through rat skin from various formulations. : AAPS PharmSciTech. v.7, n.4, p.88, 2006

    SHAH, V. P. et al. 1989. Determination of in vitro drug release form hydrocortisone creams. International Journal of Pharmaceutics, v. 53, p. 53-59.

    SHAH, V.P. et al. 1993. Bioavailability and bioequivalence of transdermal drug delivery systems. In Shah e Maibach: Topical drug bioavailability, bioequivalence and penetration. Nova Iorque: Plenum Press, p. 415-424.

    SIEWERT, M. et al. 2003. FIP/AAPS Guidelines to Dissolution/in vitro release testing of Novel/Special dosage forms. AAPS PharmSciTech, v. 4, n. 1, p. 1-10.