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DIDÁTICA DA GEOLOGIA A GEOLOGIA E A EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Filomena Amador Universidade Aberta ; Centro de Geologia da Universidade do Porto; Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores [email protected]

DIDÁTICA DA GEOLOGIA · a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005 a 2014). Esta iniciativa teve origem na II Cimeira da Terra, que decorreu nesse mesmo ano

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DIDÁTICA DA GEOLOGIA A GEOLOGIA E A EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

Filomena Amador Universidade Aberta ; Centro de Geologia da Universidade do Porto; Centro de

Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores [email protected]

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ÍNDICE

- Um olhar retrospetivo

- Caminhos didáticos: diversidade de opções

- A Geologia e a Educação para o Desenvolvimento Sustentável a partir de um relato histórico

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O ensino da Geologia antes da criação dos liceus em 1836

No Colégio das Artes, em Coimbra, eram ensinados alguns rudimentos de Geologia na disciplina de Filosofia através da leitura e comentário das obras de Aristóteles, nomeadamente os tratados Metereológicos, Phisica e De Coelo

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Até 1836, ano em que foram criados os primeiros liceus, Portugal apenas possuía algumas estruturas de ensino secundário herdadas do Pombalismo (1759 e 1772/73) ou mesmo anteriores e reformados durante este período: “Aula de Comércio e Escola Náutica (Porto), Colégios dos Nobre, de Mafra e das Artes (reformado em finais do século XVIII), rede de cadeiras de Gramática Latina, Grega, Retórica e Filosofia, às quais tinham sido adicionados, nos começos de Oitocentos, os cursos de Aritmética, Geometria, Geografia e História, reputados de interesse para o ingresso no ensino superior” (Fernandes 1998, p.35).

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Criação dos primeiros liceus 1836

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As propostas inovadoras de Passos Manuel (1801-1862), terão sido da responsabilidade de José Alexandre de Campos, professor da Universidade de Coimbra, que para o efeito se inspirou no modelo francês, introduzindo, em paralelo com o tronco humanístico, várias disciplinas científicas. Entre estas últimas encontrava-se uma disciplina intitulada Princípios de Historia natural dos tres reinos da natureza aplicada às artes e ofícios, onde a par de outras matérias se abordavam temas da área da Geologia.

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Conhecer com rigor o país, solos e subsolos, para deles poder obter as riquezas necessárias ao desenvolvimento industrial de uma nação que se encontrava mergulhada numa grave crise económica. Em 1870, ainda se acreditava que a indústria portuguesa podia ser uma realidade na Europa, defendendo Nery Delgado (1835-1908) a importância do estudo dos terrenos Paleozóicos por estes estarem associados a riquezas minerais que facilitariam o nosso desenvolvimento industrial:

“sendo certo que nos terrenos paleozóicos se comprehendem os que commummente encerrram maior abundância e melhor qualidade de carvão mineral, substancia que na actualidade pode considerar-se um dos principais elementos da riqueza territorial, e a bem dizer, o primeiro agente da industria” (Delgado 1870).

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No preâmbulo de um diploma legal, de 1866, reconhece-se que devido “à tolerância das leis e à insuficiência dos vencimentos” dos professores os decretos anteriores não tinham alcançado os objetivos a que se propunham, tendo chegado a hora de:

“fixar e definir o caráter geral enciclopédico da instrução secundária, pondo de parte as matérias que lhe são estranhas, ou por exorbitantes ou por especiais,...” (Decreto de 29 de Julho de 1886).

Mais tarde, em 1888, Luciano de Castro considerando existir demasiado fracionamento em algumas disciplinas e uma excessiva “vastidão” de outras e que para além disso os alunos deveriam ser aliviados de trabalhos escolares “excessivos”, propõe uma redução e simplificação dos currículos, fundamentada na estatística dos resultados dos exames, a qual evidenciaria que os estudantes não poderiam obter sucesso no estudo de mais de duas disciplinas por ano, com lições diárias.

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Uma das reformas curriculares mais importantes, no intervalo de tempo objeto de análise, foi conduzida por Jaime Moniz (1837-1917), nos anos de 1894 e 1895, período em que era ministro do Reino João Franco. Esta reforma, inspirada pelo idealismo alemão e pela reforma francesa de 1902, suscitou intenso debate nos meios republicanos. Privilegiava a integração e interação dos vários saberes, preocupando-se igualmente com as capacidades que cada disciplina possuía para o “desenvolvimento do espírito”.

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No 7º ano o programa Geologia incluía o estudo dos seguintes tópicos: - Mineralogia (Noções preliminares; Morfologia mineral; Mineralogia física; Mineralogia química; Mineralogia descritiva). - Geologia (Definição e divisão da geologia; Morfologia e fisiografia terrestres; Petrografia ou geologia petrográfica; Geologia dinâmica; Geologia petrogenética; Geologia arquitectónica; Geologia histórica ou estrutural)

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De acordo com os diplomas que suportam esta reforma o ensino secundário passou a ter como objetivo o “desenvolvimento gradual do espirito pela acquisição methodica e progressiva de dado saber: a habilitação por meio d’aquelle desenvolvimento e d’este saber para a entrada á instrução superior” (Decreto de 14 de Agosto de 1895, artigo 1º), sendo referido que

“A maioria dos estudantes entra ás aulas maiores sem o desenvolvimento de espirito indispensavel; desfallece perante o mais rudimentar trabalho analytico; raciocina errado se raciocina; não sabe observar; não sabe classificar; deduz mal, induz peior; enfim arrasta-se pelos bancos da escola forçada a tratar com uma população incapaz de as seguir em seus exercicios” (Decreto de 14 de Agosto de 1895, artigo 1º).

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Assim, em 1905, Eduardo José Coelho fez aprovar uma outra refor- ma (Decretos de 29 de Agosto de 1905, Decreto de 3 de Novembro de 1905) que se traduziu, entre outros aspectos, em alterações curriculares. Afirmava-se na altura que “O fim d’estes programmas não é criar naturalistas, mas desenvolver no alumno o habito da exacta observação dos phenomenos que a cada passo nos offerece a historia dos tres reinos, e ao mesmo tempo incutir nelle a ideia da necessidade de uma rigorosa observancia dos preceitos hygienicos” (Decreto de 29 de Agosto de 1905, programmas de Sciencias Naturaes). Era ainda referido que o ensino das Ciências da Natureza deveria ser prático nos três primeiros anos, descritivo no 4º e 5º anos e geral nos 6º e 7º anos.

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A educação tinha sido uma das principais bandeiras da propaganda republicana, a partir da última década do século XIX, criticando os republicanos o caráter excessivamente enciclopédico do nosso ensino secundário, segundo afirmavam resultado da cópia, sem preocupações de adaptação à realidade portuguesa, dos currículos de outros países. O pensamento pedagógico republicano encontrava-se profundamente influenciado pelo positivismo comtiano, considerando-se que a educação deveria ser conduzida de forma científica, retirando-se dela tudo o que respeitasse aos estados religioso e metafísico. Como Teófilo Braga (1892), um dos principais ideólogos da 1ª. República, afirma: na

“instrução secundária há um vício ainda mais profundo; persiste o defeito tradicional do antigo ensino dos jesuítas: despendendo-se um tempo precioso em disciplinas humanistas, completamente estéreis, como a retórica, a lógica formal, e a gramática nacional (...). Todas estas disciplinas embaraçam o desenvolvimento dos alunos pelo exclusivo abuso da memória e pelo pedantismo magistral, cujos métodos estão em antimonia absoluta com os que se empregam no ensino da matemática elementar e da física, da química, botânica, zoologia e geologia, a que se chama introdução”.

A ciência passou a ser vista de uma forma quase mística, como o único meio de alcançar a verdade absoluta, convertendo-se em modelo de referência para outras áreas de conhecimento.

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Alterações significativas só surgem com a década de trinta, do século XX, quando Cordeiro Ramos (Decretos de 15 de Abril e 18 de Dezembro de 1931) e Carneiro Pacheco (Decreto de 14 de Outubro de 1936) “acentuam o papel ideológico da educação, sobrepondo à transmissão de conhecimentos a inculcação de valores” (Proença, 1998: 63). O ensino secundário passa a ter como objetivo principal o fornecer do que se designou à época por “cultura geral útil para a vida”, a qual em termos práticos se traduziu numa redução e simplificação dos programas escolares. Em 1947, voltam a registar-se novas reduções nos programas, desta vez conduzidas por Fernando Andrade Pires de Lima.

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Mudança conceptual

Conceções alternativas

Ensino experimental

Ensino por pesquisa

Resolução de problemas

Perspetiva CTSA

Aprendizagem significativa

Educação para a

cidadania

Competênc

ias

TIC

Ensino por descoberta

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PROBLEMAS DA TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA (TD) Definição - Processos de transformação e de adaptação de saberes produzidos pela comunidade científica, que os tornem aptos a serem usados como objectos de ensino Origem - Foi desenvolvido inicialmente por Yves Chevallard, no decurso da década de oitenta, baseado por sua vez nos trabalhos do sociólogo Michel Verret. A transformação do conhecimento científico em “objectos de ensino”, de acordo com a terminologia de Chevallard, não é um mero processo de simplificação. Muito pelo contrário, corresponde a transformações complexas para as quais precisamos fazer apelo a vários domínios de conhecimento.

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objecto de saber → objecto a ensinar → objecto de ensino

A primeira alteração corresponde a uma TD externa e a segunda a uma TD interna. Fases da “cadeia didáctica”: (i) a esfera da produção científica (comunicações e publicações de resultados

originais); (ii) a esfera da planificação didáctica (currículos e manuais); (iii) a esfera da formação de professores (cursos universitários e formação

permanente); (iv) a esfera escolar (o currículo realmente ensinado nas salas de aula).

Ao longo de toda essa cadeia os saberes vão sofrendo alterações.

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Trabalhos de Clément (2006) - atribuição de uma não linearidade ao processo, considerando que a TD corresponde a uma transformação que envolve outros níveis - modelo KVP.

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“desenvolvimento sustentável” e “sustentabilidade” são termos que estão a adquirir, nos últimos anos, uma dimensão distinta à escala planetária. Este conceito teve a sua origem num relatório produzido pela União Internacional para a Conservação da Natureza, em 1980, cujas ideias foram posteriormente retomadas no célebre Relatório Brundtland (WCED 1987), que define desenvolvimento sustentável como o “desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades” (WCED 1987, p. 8).

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As Nações Unidas proclamaram, em 2002 (Resolução 57/254), a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005 a 2014). Esta iniciativa teve origem na II Cimeira da Terra, que decorreu nesse mesmo ano em Johannesburgo, assumindo como objectivo prioritário a promoção de programas educativos, formais e não formais, dirigidos para o desenvolvimento de formas de cidadania activas, atentas às problemáticas ambientais, vocacionadas, em particular, para a aquisição de competências que possibilitem aos cidadãos participarem de forma activa em processos de tomada de decisões

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23 José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838)

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Perceções e transformações

O homem, a natureza e o

ambiente

Geodinâmica

Litoral português

Costa de Lavos

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Natureza versus ambiente. Imaginário e ideologia

territorial

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H

H H

Idade Moderna Geocentrismo (Período clássico)

Presente

Quando o ambiente aparece a natureza desaparece? A natureza deixa de existir, passando a ser considerada como um produto humano. Isso implica responsabilização perante as gerações futuras.

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DESERTO

Modelos errados de

desenvolvimento

Locais perigosos

Desleixo e preguiça dos

povos

FLORESTA/MATAS

Proveitos naturais e políticos

Abrigo

Investimento com retorno a curto

prazo

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Dimensão territorial

Dimensão simbólica

Dimensão institucional

Dimensão identitária

(sociedade)

Região

Imaginário geográfico

Ideologia territorial

PRODUÇÃO REGIONAL

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Utopia da Isle de France (Ilha Maurícia)

Philibert Commerson (1727-1773) Pierre Poivre (1719-1786) Bernardin de Saint-Pierre (1737-1814)

Preocupação com as mudanças climáticas - 1769 (decreto obriga a que 25% dos

terrenos sejam floresta, principalmente nas vertentes montanhosas)

- Protecção às florestas situadas a menos de 200 m de um curso de água ou de um lago

- 1803 (criado um serviço florestal)

Henri Pierre Léon Pharamond Blanchard. Paul et Virginie, 1844, oil on canvas

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- “E donde vem tantas sezões e febres malignas nos

campos abertos e calorossos de Portugal, senão da falta de bosques em paragens próprias, e de agoas correntes, que alimentavão? Sem matas, quem absorverá os miasmas dos charcos?” (p.13)

- “Sem matas desappareceo a caça, que fartava o rico e o pobre” (p. 14)

- “Ellas sustentão a terra vegetal das ladeiras e assomados, que pela regular filtração das agoas adubão os valles e planicies. Em balcedos nas margens dos rios, que extravasão, poem os arvoredos peito ás cheas devastadoras, cortando-lhes a força; e coando as agoas das arêas, fazem de pôr os nateiros, que fertilizão as Lisirias e insuas” (p. 14)

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Contextualização geográfica e temporal

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Description del Reyno de Portugal y de los Reynos de Castilla de Pedro Teixeira (1595-1662), impressa em Madrid em 1662 (ca. 1:660 000).

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Descripção do Reino de Portugal. Mss. Colorido, 31 x 46,6 cm. Alexandre Massaii, 1621 Museu da Cidade (Códice Massay), Lisboa.

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“… nam tem valles nem montes dignos de memoria mas sim muitas inundações de arcos que saem do mar que a vem atravessando de sorte que há muitos annos a esta parte que pousa das mesma se vem os moradores sucedendo para novas casa que fabricam e por causa da mesma inudançam de arcos se foram todos o moradores do lugar de Lavos, que antes era villa para as fazendas que fora do dito tinham … “ Memórias Paroquiais (1758)

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CHART/OF THE / COAST OF PORTUGAL / From / Cape Silleiro To Huelba Bar / Constructed From Astronomical and Trigonomical Observations / Made at different Periods in that Kingdom. / Dedicated To His Royal Highness the Prince Regent of Portugal/ through intervention of His ExcellY. the Conde de Linhares His Minister /& Secretary of State for the Departments of Foreign affairs & War,/Executed by Command & Assistance of His ExcellY. the Hon. George /Cranfield Berkeley, Admiral of the Blue in H.B. Ms. service & /Admiral in that of H.R.Il. the Prince Regent of Portugal/By Marino Miguel Franzini, / Major in the Por tuguese Royal Corps of Engineers. "London, Engraved and Published 16th September 1811. under the direction of A.Arrowsmith Hydrographer to H.R.H de Prince of Wales, nº 10 Soho Sauare". Trata-se da folha norte da carta de Franzini. Com sondas ao longo da costa e diversas vistas de zonas desta.

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Pedro Teixeira (1634), El Atlas del Rey Planeta

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1800 1820

1815 data de

publicação

1802 encarregue de dirigir as sementeiras e plantações

dos areais

1805 1806 início e fim

das obras

1808/09/10 Invasões francesas

1813 Fim da Guerra

Peninsular

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1ª INVASÃO FRANCESA

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DESEMBARQUE INGLÊS (1808)

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“A batalha das dunas”: problema, causas e soluções

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"E pela costa, outrora deserta e árida, como tudo mudou! O mar caótico das dunas, que invadia progressivamente as terras de cultivo, foi contido e semeado de penisco. Sobre as altas vagas de areia nasceu a espuma verde do mato e os pinheiros, escuros e rugosos, afundam as raízes. Já os pinhais são cruzados por aceiros, alamedas perpendiculares ao mar, e "arrifes", ruas transversais e mais estreitas, uns e outros orlados de rosmaninho. E assim, os Serviços Florestais, trabalhando desde 1917, conquistaram para Portugal um longo trato de árvores e hortedos.“ Jaime Cortesão (1959), "A Batalha das Dunas" em Portugal, a Terra e o Homem

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Litoral português 1º período Anterior a 1800, onde para além de algumas povoações e cidades era uma extensão vazia, habitada apenas em alguns locais por comunidades de pescadores. Cais de embarque para novos mundos, porto de chegada de riquezas e produtos exóticos. Local perigoso (piratas, invasões, tempestades, naufrágios) 2º período Posterior a 1800, em que se assiste a um processo de ordenamento e conquista dessas regiões. A evolução destes locais é indissociável da própria história do homem

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- F.A.L. Von Burgsdorff (1747-1802) naturalista autor de um tratado sobre florestação publicado em 1788

- George-Ludwig Harting (1764-1837), professor da Universidade de Berlim e diretor dos serviços florestais da Prússia.

- Nicolas Brémontier (1738-1809) de 1786 a 1793 dirigiu um processo de intervenção na região da Gasconha, que compreendia a construção de estruturas capazes de reter as areias, assim como a plantação de pinheiros. Em 1796, publicou um trabalho sobre este assunto intitulado: Mémoire sur les dunes, et particulièrement sur celles qui se trouvent entre Bayonne et la pointe de Grave, à l'embouchure de la Gironde.

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Origem das areias - zonas baixas (mar, rios, lagoas e pauis) localizados a norte, noroeste ou oeste dos locais em que as encontramos depositadas. Causa próxima para esta deslocação - inundações, provocadas por fortes tempestades, que transportaram areias para a zona emersa, ou, ainda, com base nesta mesma causa poderia ocorrer um fenómeno de lexiviação que retiraria dos solos as “terras glutinosas” e deixaria apenas as areias, o saibro e os pedregulhos.

O sistema dunar apresenta-se com uma orientação de noroeste para sudeste, que se justifica pelo facto do vento dominante na estação seca soprar de noroeste. Este efeito seria reforçado, de acordo com José Bonifácio, pelas correntes marítimas dominantes na costa, de norte para sul, o que provocaria a formação de cabedelos na embocadura dos rios. A taxa de invasão dos terrenos do litoral é referida com valores de 3 braças por ano ou mesmo de meia légua por ano na região entre Mira e Quiaios.

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1ª Fase Fazer um levantamento topográfico completo da região e identificar a natureza dos terrenos, isto é, “se he toda de area solta, se tem algumas porções de chão arneiro, ou salão, descubertas, ou com pouca area por cima, que se possão facilmente sorribar” (Bonifácio, p. 29). Registar a composição do solo até uma altura de 8 palmos. Para esse efeito prevê a realização de sondagens com uma “tareira de brocas de pata e de colher” (ibid.). Destacar a linha de areamento da costa, evidenciando as várias reentrâncias. 2ª Fase i) Fixar as areias, através da sementeira e colocação de árvores como os pinheiros bravos.

ii) Quebrar a força dos ventos, com a utilização de cercados direcionados de forma a “refractarem” os ventos. Posteriormente o próprio arvoredo assumirá esta função. iii) Impedir o contacto do vento com a areia seja através de sebes ou cercados, seja por uma cobertura vegetal. iv) Intervir na camada superficial, “misturando-lhe terras glutinosas, como parros, salão, e marna argillosa, …, ou pelos detritos e residuos sucessivos das folhas e ramada” (ibid, p. 37)

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Quando se iniciou a “Arborização dos Areais Móveis de Portugal”, a partir de …, foi utilizada a designada técnica do “ripado móvel” em que se utilizaram estacas com 3 metros de altura colocadas na zona da ante-praia paralelamente à linha de costa. Depois destas estruturas ficarem cobertas por areia e era então plantado estorno, madorneira, tojo, giesta, camarinheira e sargaço. Depois plantavam-se filas de penisco em regos paralelos à duna como 1,30 cm de distância entre si.

As estacas deveriam ser feitas de madeira de pinho, de salgueiro, de choupo ou ainda de outras espécies que tenham um ramo direito e um preço reduzido. Para além disso seria necessário dispor de ramos para tecer sebes e cobrir terrenos. As estacas devem ter 8 palmos de comprimento e ser enterradas 2 ½ palmos, com uma distância entre elas de 18 polegadas. Estas estacas seriam depois entrelaçadas de ramos para ficarem impermeáveis à areia. Deveriam formar um ângulo de 66º a 67º com a linha de costa.

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COSTA DE LAVOS

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“cumpre não confundir o que he obstaculo sensível com o que he modificação necessaria” (p. 5)

José Bonifácio (1815)