145
Pós-graduação em Ciências Fisiológicas Centro de Ciências da Saúde Universidade Federal do Espírito Santo Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos de alcoolismo, de acordo com a Tipologia de Lesch VITÓRIA, ES 2008

Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

  • Upload
    others

  • View
    11

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Pós-graduação em Ciências Fisiológicas

Centro de Ciências da Saúde

Universidade Federal do Espírito Santo

Diferenças no desempenho das funções frontais nos

subtipos de alcoolismo, de acordo com a Tipologia de

Lesch

VITÓRIA, ES 2008

Page 2: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Maria da Penha Zago Gomes

DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES FRONTAIS NOS

SUBTIPOS DE ALCOOLISMO DE ACORDO COM A TIPOLOGIA DE

LESCH.

Tese de doutorado apresentada à Universidade Federal do Espírito Santo, para obtenção do título de Doutor em Ciências Fisiológicas.

Orientadora: Profª. Drª. Ester Miyuki Nakamura Palácios

Programa de Pós-graduação em Ciências Fisiológicas.

Área de concentração: Fisiologia.

Centro de Ciências da Saúde

Universidade Federal do Espírito Santo.

VITÓRIA, ES 2008

Page 3: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)

Zago-Gomes, Maria da Penha, 1957- Z18d Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos de

alcoolismo de acordo com a tipologia de Lesch / Maria da Penha Zago-Gomes. – 2008.

145 f. : il. Orientadora: Ester Miyuki Nakamura-Palacios. Tese (doutorado) – Universidade Federal do Espírito Santo, Centro

Ciências da Saúde. 1. Alcoolismo. 2. Alcoolismo - Classificação. 3. Lobo frontal. 4.

Neurofarmacologia. I. Nakamura-Palacios, Ester Miyuki. II. Universidade Federal do Espírito Santo. Centro Ciências da Saúde. III. Título.

CDU: 61

Page 4: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

FRONTAIS NOS SUBTIPOS DE ALCOOLISMO DE

ACORDO COM A TIPOLOGIA DE LESCH.

Maria da Penha Zago Gomes

Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Ciências Fisiológicas (Neurofarmacologia), Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Ciências Fisiológicas. Aprovada em 27 de março de 2008 por:

_____________________________________________________

Profª Drª Ester Miyuki Nakamura Palácios – Orientadora, UFES

_______________________________________ Profº Drº. Gilberto Fernando Xavier , USP

________________________________________ Drª Ana Cecília Petta Roselli Marques, ABEAD

_______________________________________________ Profº. Drº. Roney Welinton Dias de Oliveira, EMESCAM

_________________________________________ Profº. Drº Fausto Edmundo Lima Pereira, UFES

____________________________________________________ Profº Drº Luiz Carlos Schenberg- Coordenador PPGCF-UFES

Page 5: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Agradecimentos

Quando me submeti ao exame de qualificação, mostrei uma figura que, a primeira vista, era

austera, mas a um olhar mais demorado mostrava uma imagem terna. Comparei esta figura

ao alcoolismo, por considerar, nesta época, o alcoolismo uma doença, que necessitava de

um novo olhar para poder “enxergar” a verdade. Ao defender o doutorado, após esse

período de convivência no laboratório da professora Ester onde encontramos seriedade,

dedicação, atenção, carinho, abertura para novos valores, competência profissional e

companheirismo, me propiciaram uma mudança de pensamento. Hoje enxergo o alcoolismo

mais como uma síndrome, na qual várias doenças apresentam sintomatologias

semelhantes. Para tratarmos corretamente os indivíduos que apresentam estas alterações,

precisamos identificar as diferenças e individualizar as condutas. Estas mudanças de

pensamento só foram possíveis porque encontrei no meu caminho pessoas especiais: Profª

Ester com seu carinho, apontando, nos seminários, novos rumos a serem seguidos, os

amigos do laboratório sempre disponíveis. Por exemplo: O Roney um dia trouxe para

Simone vários trabalhos, ela olhou e em um deles falou que era muito clínico e perguntou-

me se eu queria. Foi a primeira vez que tive contato com a classificação do alcoolismo da

Tipologia de Lesch. Era o que eu pensava sobre as diferenças do alcoolismo, mas nunca

havia encontrado na literatura uma classificação que completasse o meu pensamento.

Deste modo é que surgiu o projeto desta tese. Foi muito bom trabalhar com todos: na

Madrugada Viva, nos Seminários, no Laboratório. Um agradecimento especial para Josué,

Fonseca e Cláudia, sempre dispostos a ajudar. A todos vocês do Laboratório: Josi, Carol,

Simone, Fernando, Saavedra, Marcelo, Celestino, Lívia, Roney, etc., meu agradecimento.

Ao grupo da Gastroenterologia que soube me compreender neste período, confesso que era

isso que esperava de vocês. À Jackelini e à Simone, que me ajudaram a aplicar os testes. À

dona Célia, que nos dias quentes de janeiro, mantinha os pacientes até tarde, conversando

com eles e dizendo que seria bom fazer os testes, pois iriam “brincar”, “batendo palminha”, e

todos ficavam. Agradeço a Deus todos os dias por ter amigos como vocês.

Muito obrigada.

Page 6: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Dedicatória

Dedico esta tese a minha professora, amiga e orientadora: Profª Drª Ester Miyuki

Nakamura Palacios.

Dedico aos pacientes do ambulatório de alcoolismo, que me ensinam cada dia,

como eu posso melhorar.

Dedico especialmente ao meu querido esposo Toninho e aos meus filhos Bruno e

Beatriz. Amo muito vocês.

Agradeço a Deus por ter vocês ao meu lado

Page 7: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Resumo

Page 8: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Introdução: Alcoolismo é uma doença heterogênea, com apresentações clínicas, resultados

terapêuticos e recaídas variáveis, indicando vulnerabilidade biológica diferentes. Lesch e

cols (1988) distinguiram quatro categorias de alcoolismo: Tipo I: com sintomas de

abstinência grave; Tipo II: usam o álcool como solução para conflitos; Tipo III: usam álcool

para “tratamento” de desordens psiquiátricas, e, Tipo IV: com história pré-álcool de

alterações neurológicas. Déficits cognitivos são encontrados em alcoolistas (principalmente

das funções frontais) com implicações diretas no tratamento. Objetivo: Avaliar funções

frontais nas diferentes categorias de alcoolismo de acordo com a Tipologia de Lesch:

Materiais e Métodos: Bateria de Avaliação Frontal (FAB) e Mini-Exame do Estado Mental

(Mini-Mental) foram aplicados em 170 alcoolistas classificados em categorias de acordo com

Lesch e 40 controles não-alcoolistas pareados por idade, gênero, características sócio-

demográficas e escolaridade. Nos alcoolistas também foi avaliado o quociente de

inteligência (QI). Resultados: A classificação da Tipologia de Lesch mostrou: Tipo I =

21,2%; Tipo II = 29,4%; Tipo III = 28,8% e Tipo IV = 20,6%. Foi encontrado um desempenho

significativamente prejudicado em tarefas que requerem a função cognitiva frontal, nos

pacientes classificados como Tipo IV de Lesch, comparados aos controles não-alcoolistas e

também aos pacientes alcoolistas classificados como Tipos I, II e III de Lesch. Estas

alterações das funções frontais não se correlacionaram com o padrão de ingestão ou com a

idade de inicio do uso de álcool, e tampouco com a escolaridade dos pacientes. Os

pacientes classificados como Tipo IV de Lesch também apresentaram menor pontuação do

QI e prejuízos do estado mental, sendo o subgrupo que apresentou maior porcentagem de

pontuação sugerindo demência. O prejuízo frontal neste subgrupo de alcoolistas (Tipo IV de

Lesch) também foi verificado mesmo excluindo-se aqueles com suspeita de demência. E

ainda, este prejuízo persistiu mesmo com abstinência acima de 90 dias. Em análise

adicional verificou-se que o tipo de alcoolismo, aliado ao desempenho mental e intelectual,

são fatores que podem predizer uma disfunção frontal. Conclusão: As verificações do tipo

clínico de alcoolismo, através da aplicação de uma classificação simples como a da

Tipologia de Lesch, do estado mental e da função frontal, por meio de testes breves de fácil

aplicação como o Mini-Mental e o FAB, podem constituir-se em ferramentas

extraordinariamente úteis e seguras na avaliação clinica dos alcoolistas, possibilitando

inclusive identificar aqueles que apresentam alterações disexecutivas subclínicas,

proporcionando significativas mudanças nas estratégias de enfrentamento individualizadas,

importantes no tratamento do alcoolismo.

Page 9: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Abstract

Page 10: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Introduction: Alcohol dependence is a heterogeneous disease with a clear variability in

clinical presentations, therapeutic results and relapses, indicating different biological

vulnerability. Lesch et al (1988) distinguished four categories of alcohol dependence: Type I:

with severe symptoms of abstinence; Type II: uses alcohol as a solution for conflicts; Type

III: uses alcohol as self-medication for psychiatric symptoms, and Type IV: with a history of

neurological lesions preceding the development of alcohol dependence. Cognitive deficits

have been usually reported in alcoholics (mainly frontal dysfunction) with direct implications

in the treatment. Objectives: This study aimed to evaluate frontal functions in different

categories of alcohol dependence according to Lesch’s Typology. Methods: Frontal

Assessment Battery (FAB) and Mini-Mental State Examination (MMSE) were applied in 170

alcoholics patients classified into categories according to Lesch’s Typology and in 40 non-

alcoholics controls matched for age, gender, socio-demographic characteristics and

education. The quotient of intelligence (IQ) was also evaluated in alcoholics. Results: The

alcoholics in the present study were classified according to Lesch’s Typology in: Type I =

21.2%, Type II = 29.4%, Type III = 28.8%, and Type IV = 20.6%. It was observed a

significant impairment in the performance of tasks demanding cognitive frontal function in

patients classified as Type IV as compared to non-alcoholics controls and alcoholics

classified as Type I, II and III. This frontal dysfunction was not correlated with the pattern of

alcohol intake or with the age for the first use of alcohol, and neither with the education level

of the patients. Alcoholics classified as Type IV also showed lower IQ and MMSE scores,

and it was the subgroup that showed higher percentage of scores suggesting dementia.

However, the frontal dysfunction in this subgroup of alcoholics (Lesch’ Type IV) was still

observed even excluding those with dementia scored by MMSE. And yet, this frontal

dysfunction was seen even with abstinence over 90 days. In further analysis it was found that

the types of alcohol dependence, along with mental and intellectual performance, are factors

that can predict a frontal dysfunction. Conclusion: Categorization of clinical type of alcohol

dependence by applying a simple classification as Lesch’s Typology, along with mental state

and frontal function examinations through the applications of MMSE and FAB instruments,

respectively, may be of an extraordinarily relevance in the clinical examination of alcoholics,

allowing even the identification of those who have subclinical executive dysfunction,

providing significant changes in strategies for individualized approaches, which may be of a

great importance in the treatment of alcohol dependence.

Page 11: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Lista de Figuras

Figura 1 – Mapas comparativos indicando, em escala mundial, os padrões de

consumo e grau de risco de cada país (escala crescente de 1 a 4)..........................

Figura 2 - Freqüência (em porcentagem) de consumo de álcool entre os

brasileiros dividida por gênero....................................................................................

Figura 3 - Freqüência (em porcentagem) de consumo de álcool entre os

brasileiros dividida por faixa etária.............................................................................

Figura 4 – Quantidade usual de consumo de álcool (em porcentagem) quando o

brasileiro faz uso de bebida, por gênero....................................................................

Figura 5 – Tipo de bebida alcoólica utilizada por brasileiros adultos quando

bebem.........................................................................................................................

Figura 6 - Freqüência (em porcentagem) de dirigir alcoolizado nos últimos 12

meses, verificada nos brasileiros adultos que responderam que bebem e dirigem...

Figura 7- Freqüência de vezes que brasileiros adultos que declararam dirigir após

consumo de bebida alcoólica, o fizeram após uso 03 doses ou mais de

álcool..........................................................................................................................

Figura 8 – Mapas comparativos indicando a mortalidade atribuível ao consumo de

álcool (em porcentagem)............................................................................................

Figura 9 - Mortalidade no Brasil de doenças crônicas associadas com o uso de

álcool..........................................................................................................................

Figura 10 – Árvore de decisão de Lesch ..................................................................

Figura 11 – Mini-Exame do Estado Mental (Mini-Mental)..........................................

19

23

24

25

25

26

27

30

30

61

63

Page 12: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Figura 12 – Bateria de Avaliação Frontal (FAB)........................................................

Figura 13 - Distribuição dos alcoolistas pela classificação da Tipologia de

Lesch..........................................................................................................................

Figura 14 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total do Mini Exame do

Estado Mental (Mini-Mental) nos grupos controle e alcoolista...................................

Figura 15 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total do Mini Exame do

Estado Mental (Mini-Mental) no grupo controle e os subgrupos de alcoolistas

classificados de acordo com a Tipologia de Lesch....................................................

Figura 16 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total do teste

simplificado do WAIS para avaliação da inteligência nos subgrupos de alcoolistas

classificados de acordo com a Tipologia de Lesch....................................................

Figura 17 - Distribuição da porcentagem de indivíduos em cada pontuação obtida

na aplicação da Bateria de Avaliação Frontal (FAB), sendo 18 a pontuação

máxima, nos grupos controle (n = 40) e alcoolista (n = 170).....................................

Figura 18 - Distribuição das pontuações obtidas na aplicação da bateria de

avaliação frontal (FAB) no grupo controle e nos subgrupos de alcoolistas

classificados de acordo com a Tipologia de Lesch....................................................

Figura 19 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total da Bateria de

Avaliação Frontal (FAB) no grupo controle e alcoolista. ...........................................

Figura 20 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total da Bateria de

Avaliação Frontal (FAB) no grupo controle e nos subgrupos de alcoolistas

classificados de acordo com a Tipologia de Lesch....................................................

Figura 21 - Destaque de curvas de regressão linear das variáveis que foram

preditivas [tipologia de Lesch, pontuações totais dos testes de avaliação mental

64

72

82

83

84

86

87

88

89

Page 13: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

(Mini-Mental) e do quociente de inteligência (WAIS)] para o desempenho da

função rontal mensurada pela bateria de avaliação frontal (FAB). Os pontos

representam um ou mais indivíduos em uma dada pontuação do FAB.....................

Figura 22 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total da Bateria de

Avaliação Frontal (FAB) no grupo controle e os subgrupos de alcoolistas

classificados de acordo com a Tipologia de Lesch obtida no grupo total (A) e em

um subgrupo com a exclusão dos indivíduos com provável demência (B)................

Figura 23 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total do Mini Exame do

Estado Mental (Mini-Mental) no grupo controle e os subgrupos de alcoolistas

classificados de acordo com a Tipologia de Lesch obtida no grupo total (A) e em

um subgrupo com a exclusão dos indivíduos com provável demência (B)................

Figura 24- Mediana e intervalo interquartil da pontuação total da Bateria de

Avaliação Frontal (FAB) nos subgrupos de alcoolistas classificados de acordo com

a Tipologia de Lesch obtida em pacientes com abstinência menor que 90 dias e

maior ou igual à 90 dias.............................................................................................

Figura 25 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total da Bateria de

Avaliação Frontal (FAB) em cada subgrupo de alcoolistas classificados de acordo

com a Tipologia de Lesch (I, II, III e IV) obtida em pacientes com abstinência

menor (<) que 90 dias e maior ou igual (>=) à 90 dias..............................................

92

93

94

96

97

Page 14: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Lista de Tabelas

Tabela 1. Risco relativo para doenças crônicas categorizadas por sexo e média

de consumo de álcool.................................................................................................

Tabela 2. Distribuição percentual de “DALYs” (percentual de anos perdidos em

razão de doença ou mortalidade precoce por ingestão alcoólica), por 1.000

habitantes, das condições mórbidas atribuíveis ao consumo alcoólico e DALYs

global (ano base 2000- OMS)....................................................................................

Tabela 3. Dados demográficos dos subgrupos de alcoolistas pela classificaçãoda

Tipologia de Lesch e controles não alcoolistas.........................................................

Tabela 4. Características do uso de bebidas alcoólicas pelos subgrupos de

alcoolistas pela classificação da Tipologia de Lesch e controles não alcoolistas......

Tabela 5. Uso de cigarro e/ou outras drogas pelos pacientes dos subgrupos de

alcoolistas pela classificação de Lesch e controles não alcoolistas..........................

Tabela 6. Complicações clínicas................................................................................

Tabela 7. Mediana e intervalo interquartil das pontuações obtidas nos subitens da

Bateria de Avaliação Frontal (FAB) pelos pacientes alcoolistas e controles não

alcoolistas..................................................................................................................

Tabela 8. Regressão linear de múltiplas variáveis sobre a pontuação total da

Bateria de Avaliação Frontal (FAB). Mini-Mental: Mini-Exame do Estado Mental;

WAIS: Teste reduzido de WAIS para avaliação do quociente de inteligência...........

29

32

73

77

80

81

90

91

Page 15: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Lista de Abreviaturas e de Siglas

AA - Alcoólicos Anônimos

ANOVA – Análise de variância

Cat - Categoria

CID - Classificação Internacional das Doenças.

CID 10 - Classificação Internacional das Doenças - 10ª edição revisada

DALYs - Disability Adjusted Life Years- índice de ajuste de anos na vida, prejudicado pela

inabilidade decorrente do álcool)

DP - Desvio padrão

DSM-IV - Manual Estatístico de Desordens Mentais, quarta edição

ERP - potencial evocado para eventos

FAB - Bateria de Avaliação Frontal (Frontal Assessment Battery)

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Mini-Mental – Mini Exame de Estado Mental

MTHFR - metilenetetrahidrofolase redutase

nAChRs - receptores acetilcolina induzido pela nicotina

OCDS - Escala do Beber compulsivo-obsessivo (Obsessive Compulsive Drinking Scale)

OMS - Organização Mundial de Saúde.

PAA/HUCAM/CCS/UFES - Programa de Atendimento ao Alcoolista do Hospital Universitário

Cassiano Antônio Moraes, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Espírito

Santo

QI - coeficiente de inteligência

QI E - escala de execução do coeficiente de inteligência

QI V - escala verbal do coeficiente de inteligência

SAA - Síndrome de Abstinência Alcoólica

SDA - Síndrome de Dependência do Álcool

Page 16: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

SENAD - Secretaria Nacional Anti-drogas

SUS - Sistema Único de Saúde.

WAIS - Escala de Inteligência de Wechsler para adultos (Wechsler Adult Intelligence Scale)

WAIS III- Escala de Inteligência de Wechsler para adultos III

WAIS-R. Escala de Inteligência de Wechsler para adultos revisada

Page 17: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Sumário

Lista de Figuras

Lista de Tabelas

Lista de Abreviaturas

Resumo

Abstract

1. INTRODUÇÃO

1.1- Álcool, consumo de álcool: Dados Globais............................................

1.2- Consumo de álcool: Dados Brasileiros...................................................

1.3- Dados relacionados ao consumo de álcool............................................

1.4- História do uso do álcool e do alcoolismo..............................................

1.5- Alcoolismo: Diagnóstico...........................................................................

1.6- Alcoolismo: Classificações......................................................................

1.7- Tipos de alcoolismo de acordo com Lesch............................................

1.8- Funções executivas e álcool....................................................................

1.9- Alterações morfológicas do lobo frontal no alcoolismo.......................

1.10- Bateria de Avaliação Frontal (Frontal Assessment Battery (FAB).....

1.11- Mini Exame do Estado Mental (Mini-Mental).........................................

1.12- Forma Reduzida para Avaliação do Coeficiente de Inteligência –

Teste de WAIS forma reduzida................................................................

1.13- Considerações Finais.............................................................................

2. OBJETIVOS

2.1 - Objetivo Geral...........................................................................................

2.2 - Objetivos específicos..............................................................................

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Sujeitos experimentais.............................................................................

3.1.1- Grupo alcoolista................................................................................

3.1.2- Grupo controle não alcoolista..........................................................

19

20

27

33

35

37

40

44

47

48

50

51

52

55

55

57

57

58

Page 18: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

3.2. Caracterização da amostra.......................................................................

3.3. Quantificação do consumo de álcool......................................................

3.4. Diferenciação dos subgrupos de alcoolismo segundo a Tipologia de

Lesch..........................................................................................................

3.5. Miniexame do Estado Mental (Mini-Mental).............................................

3.6. Bateria de Avaliação Frontal (Frontal Assessment Battery – FAB)......

3.7. Forma Reduzida para Avaliação do Coeficiente de Inteligência –

Teste de WAIS forma reduzida................................................................

3.8. Etilometria pulmonar (teste do bafômetro).............................................

3.9. Análise dos resultados..............................................................................

4. RESULTADOS

4.1 - A Classificação da Tipologia de Lesch...................................................

4.2 - Características sócio-demográficas......................................................

4.3 - Padrão de consumo de álcool................................................................

4.4 - Uso de tabaco e outras drogas...............................................................

4.5 - Outros diagnósticos................................................................................

4.6- Avaliação cognitiva nos alcoolistas classificados pelo subtipos de

Lesch: Miniexame do Estado Mental (Mini-Mental).............................

4.7 - Avaliação cognitiva nos alcoolistas classificados pelo subtipos de

Lesch: Forma Reduzida para Avaliação do Coeficiente de

Inteligência................................................................................................

4.8 - Avaliação cognitiva nos alcoolistas classificados pelo subtipos de

Lesch: Bateria de Avaliação Frontal (FAB)...........................................

4.9 - Análises de Regressão Linear Múltipla..................................................

4.10 - Análise do FAB excluindo-se demência................................................

4.11 - Abstinência prolongada e FAB..............................................................

5. DISCUSSÃO

5.1 - Limitações do estudo....................................................................................

5.2- Dados demográficos e sociais......................................................................

5.3 - O uso de Tabaco e de drogas ilícitas...........................................................

5.4 - Classificação do alcoolismo de acordo com a Tipologia de Lesch..........

59

59

60

62

63

67

68

68

71

73

76

79

80

81

84

85

91

93

95

99

100

101

102

Page 19: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

5.5- Tipos de alcoolismo e padrão de ingestão de álcool..................................

5.6 - Tipos de alcoolismo e escolaridade.............................................................

5.7 - Emprego da Classificação do alcoolismo pela Tipologia de Lesch.......

5.8 - Tipos de alcoolismo, função mental e intelectual......................................

5.9 - Classificação da Tipologia de Lesch e funções executivas.....................

5.10 – Considerações finais..................................................................................

6. CONCLUSÕES....................................................................................................

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................

8. ANEXOS .............................................................................................................

104

105

106

113

115

120

124

126

136

Page 20: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Introdução

Page 21: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

19

1. Álcool

1.1- Consumo de álcool: Dados globais

A Organização Mundial de Saúde - OMS - (World Health Organization – WHO)

estima que cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo consumem bebidas

alcoólicas e 76,3 milhões têm o diagnóstico de desordens associadas ao álcool

(OMS, 2004). A China é a maior produtora e consumidora de destilados do

planeta (725 milhões de litros de baijiu – bebida destilada a partir do arroz),

seguida pela Rússia, que consome cerca de 350 milhões de litros de vodka por

ano. As avaliações dos dados brasileiros indicam o consumo de 195 milhões

de litros de aguardente no mercado interno, ocupando a quarta posição em

consumo no mundo (MELONI e LARANJEIRA, 2004).

Figura 1 – Mapas comparativos indicando, em escala mundial, os padrões de consumo e grau

de risco para cada país (escala crescente de 1 a 4)

Fonte: OMS – 2003

Page 22: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

20

Os padrões de consumo de bebidas alcoólicas variam conforme a cultura, o

país, o gênero, a faixa etária, as normas sociais vigentes e o subgrupo social

considerado. A figura 1 mostra a distribuição mundial de consumo de álcool,

segundo a OMS, em 2003.

1.2 - Consumo de álcool: Dados brasileiros

O consumo alcoólico no Brasil, em 1995, foi estimado em 3,0 (três) litros de

álcool puro per capita da população acima de 15 anos (OMS, 2001), porém

pode ser maior, uma vez que a produção ilegal de aguardente é estimada em

01 (hum) bilhão de litros por ano (OMS, 2004).

Estudos epidemiológicos do consumo de álcool e drogas são importantes, pois

permitem direcionar políticas públicas. Dados brasileiros mais relevantes são

encontrados nos levantamentos entre estudantes (CARLINI-COTRIN e cols,

1987 e 1990; CARLINI e cols, 1990; GALDURÓZ e cols 1994; GALDURÓZ,

NOTO e CARLINI, 1997; GALDURÓZ e CAETANO, 2004); pesquisas com

crianças e adolescentes moradores de rua (NOTO e cols., 1997; NOTO e cols.,

2004); dados sobre internações hospitalares (NOTO e cols., 2002); três

levantamentos domiciliares conduzidos em 1999, 2001 e 2005 (GALDUROZ e

cols., 2000; CARLINI e cols., 2002; II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de

Drogas Psicotrópicas no Brasil, 2005) e I Levantamento Nacional sobre os

Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira, em 2007, publicado

pela Secretaria Nacional Anti-drogas (SENAD).

Page 23: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

21

No Brasil foram realizados amplos levantamentos entre estudantes de Ensino

Médio e Ensino Fundamental. O último levantamento, do ano de 2004, mostra

uso de álcool na vida (definido como qualquer consumo em qualquer momento

da vida) de 65% entre todos os estudantes. Entre as crianças da faixa etária de

10-12 anos, 41% já haviam experimentado bebidas alcoólicas ao menos uma

vez na vida. O consumo freqüente de bebidas alcoólicas (definido como 6 ou

mais vezes no último mês) foi cerca de 11%. O uso pesado (definido como 20

vezes ou mais no último mês) foi quase 7%. Entre todas as substâncias

psicotrópicas avaliadas no levantamento, o álcool apresentou a menor média

de idade de início do consumo, pouco mais de 12 anos de idade. Na região

Sudeste, onde dados do Espírito Santo compõem as amostras, o uso pesado

de álcool foi de 7,2% entre os estudantes do ensino fundamental e médio

(GALDURÓZ e CAETANO, 2004)

Entre as crianças em situação de rua, Noto e cols. (1998; 2004) demonstram

que o uso de drogas é muito alto entre as crianças de 09 a 18 anos, porém o

álcool não aparece como droga principal. No último levantamento (NOTO e

cols., 2004) o consumo de álcool entre crianças em situação de rua nos últimos

30 dias, foi de 43%, nas cidades pesquisadas.

Sobre os dados de internações hospitalares, desde 1988 o Ministério da Saúde

recebe informações sobre os hospitais que admitem pacientes com transtornos

relacionados ao consumo de substâncias psicotrópicas. Na última análise

realizada em 1999 foram relatadas 44.680 admissões das quais 84,5% foram

relacionadas ao uso de bebidas alcoólicas (NOTO e cols., 2002).

Page 24: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

22

A primeira publicação sobre pesquisa domiciliar no Brasil ocorreu em 1999 e

forneceu dados sobre 24 cidades com mais de 200.000 habitantes no Estado

de São Paulo. A bebida alcoólica foi a substância psicotrópica mais utilizada.

Entre os adolescentes de 12-17 anos, o uso de álcool na vida foi de 35%; e 2%

desses jovens relataram ter tido problemas com o consumo de etanol

(GALDUROZ e cols., 2000).

Em 2001 foi publicada a versão completa do I Levantamento Domiciliar sobre o

Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil em 107 cidades com mais de 200.000

habitantes, representando cerca de 39% da população brasileira, que mostrou

uso de álcool na vida por 68,7% dos entrevistados, e 11,2% com

características de dependência. Problemas relacionados ao consumo de álcool

foram relatados por 4% dos entrevistados nas faixas etárias de 12-17 e por

10% entre 18-25 anos (CARLINI e cols; 2002).

Em 2005, o II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no

Brasil, estudo envolvendo as 108 maiores cidades do país (CARLINI e cols,

2006), apontou que houve aumento de consumo de bebidas alcoólicas pela

população brasileira nos últimos quatro anos. O uso na vida de álcool foi de

54,3% entre os adolescentes de 12-17 anos e de 78,6% entre os jovens de 18

a 24 anos. Problemas relacionados ao consumo de álcool foram relatados por

5,7% e 12% dos entrevistados nas faixas etárias entre 12 e 17 anos e entre 18

e 24 anos, respectivamente.

Page 25: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

23

Em 2007, foi publicado pela SENAD o I Levantamento Nacional sobre os

Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira que investigou em

detalhes como o brasileiro usa bebida alcoólica, o que ele pensa sobre as

políticas de bebidas alcoólicas, quais são os problemas associados com o uso

do álcool no Brasil e quantos brasileiros fazem uso nocivo ou são dependentes

do álcool. Foram entrevistadas 3.007 pessoas, sendo 2.346 adultos com mais

de 18 anos e 661 adolescentes entre 14 e 17 anos.

A figura 2 abaixo resume os principais resultados do uso de álcool, em relação

ao gênero, encontrados no I Levantamento Nacional sobre os Padrões de

Consumo de Álcool na População Brasileira. Entre os homens, somente 35%

não fizeram uso de bebidas alcoólicas no último ano, sendo que, 39% destes

usam álcool frequentemente ou muito frequentemente. Entre as mulheres, 59%

relataram ser abstinentes.

Figura 2 - Freqüência (em porcentagem) de consumo de álcool entre os brasileiros dividida por

gênero.

Fonte: I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População

Brasileira- SENAD, 2007.

Page 26: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

24

A figura 3 mostra a freqüência de consumo de álcool, de acordo com a faixa

etária encontrada I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de

Álcool na População Brasileira. A freqüência do beber variou muito no que diz

respeito às faixas etárias. Enquanto o índice de beber diário (muito freqüente)

é relativamente constante entre as várias faixas etárias, a abstinência é maior

entre os brasileiros de 60 anos ou mais.

Figura 3 – Freqüência (em porcentagem) de consumo de álcool entre os brasileiros dividida

por faixa etária.

Fonte: I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População

Brasileira- SENAD, 2007.

Além de estabelecer a freqüência do uso de álcool, o I Levantamento Nacional

sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira também

procurou estabelecer o padrão de quantidade usual dos brasileiros, quando

estes fazem uso de bebidas alcoólicas, pois além da freqüência, é importante

saber a quantidade ingerida de uma única vez, para avaliar o risco do beber

excessivo. Os resultados estão sumarizados na figura 4. Observamos que os

homens ao beberem, usam mais doses de álcool que as mulheres.

Page 27: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

25

Figura 4 – Quantidade usual de consumo de álcool (em porcentagem) quando o brasileiro faz

uso de bebida, por gênero.

Fonte: I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População

Brasileira- SENAD, 2007

Quanto ao tipo de bebida alcoólica mais consumida pelos brasileiros, o I

Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População

Brasileira encontrou que a cerveja é relatada como o principal tipo de bebida

consumido, sendo a mais utilizada por 61% dos entrevistados. A figura 5

mostra a percentagem de doses por tipo de bebida alcoólica para a população

adulta de bebedores.

Figura 5 – Tipo de bebida alcoólica utilizada por brasileiros adultos quando bebem.

Fonte: I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População

Brasileira- SENAD, 2007.

Page 28: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

26

Um dos grandes riscos do uso do álcool é a sua combinação com a direção

automotiva. Os resultados estão sumarizados na figura 6.

Figura 6 - Freqüência (em porcentagem) de dirigir alcoolizado nos últimos 12 meses, verificada

nos brasileiros adultos que responderam que bebem e dirigem. Fonte: I Levantamento Nacional

sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira- SENAD, 2007.

Como vimos na figura 6, no I Levantamento Nacional sobre os Padrões de

Consumo de Álcool na População Brasileira quando indivíduos adultos que

bebiam foram questionados sobre beber e dirigir, observamos que 46,5% dos

Page 29: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

27

homens e 13,6 % das mulheres relataram já ter dirigido após ingerir bebidas

alcoólicas.

Outra linha de investigação dos pesquisadores foi a avaliação da freqüência de

beber 03 (três) ou mais doses de álcool e dirigir, cujo resultado está

sumarizado na figura 7. Dos entrevistados, 20,2% responderam que mais da

metade das vezes ou todas as vezes que bebiam, já haviam assumido a

direção de um veículo automotor.

Figura 7- Freqüência de vezes que brasileiros adultos declararam dirigir após o consumo de 03

doses ou mais de bebida alcoólica. Fonte: I Levantamento Nacional sobre os Padrões de

Consumo de Álcool na População Brasileira- SENAD, 2007.

1.3- Danos relacionados ao consumo de álcool

Para o cálculo do peso global dos danos relacionados ao consumo do álcool, a

OMS caracterizou o padrão de consumo em cada nação do globo terrestre,

classificando-as em quatro níveis de risco com variação crescente de 1 a 4,

conforme o padrão encontrado. No ano de 2003, o Brasil foi classificado como

Page 30: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

28

padrão de consumo com elevado grau de risco (nível 4) (ver MELONI e

LARANJEIRA, 2004).

Várias características no Brasil são responsáveis pelo elevado grau de risco de

uso de álcool. O preço da bebida mais consumida por alcoolistas no Brasil, a

aguardente, é extremamente baixo, sendo que um litro de aguardente pode até

custar menos que um litro de leite (LARANJEIRA e HINKLY, 2002). Há uma

alta densidade de pontos de vendas que foi evidenciado por Laranjeira e Hinkly

(2002) e também por Garcia e Basílio (2007) na cidade de Vitória, no estado do

Espírito Santo onde encontraram no bairro Vila Rubim 01 ponto de venda de

bebidas alcoólicas para cada 2,6 moradias. As leis que definem a idade mínima

para a venda de bebidas alcoólicas não são devidamente observadas e há uma

falta de restrições às propagandas de bebidas alcoólicas (LARANJEIRA, 2004

b; LARANJEIRA e cols, 2004a).

Basílio e Garcia (2006) demonstraram em um bairro no centro da cidade de

Vitória, Espírito Santo, que os estabelecimentos comerciais que vendiam

bebidas alcoólicas funcionavam 07 dias por semana, 68,8% vendiam a crédito,

o preço médio da dose de aguardente foi de R$ 0,41 e 93,8% dos funcionários

dos estabelecimentos não solicitavam documento de identidade ao cliente na

compra de bebidas alcoólicas para a comprovação da idade mínima. Estas e

outras características culturais favorecem a acessibilidade dos cidadãos às

bebidas alcoólicas.

Page 31: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

29

O uso do álcool está relacionado a complicações clínicas, mentais e sociais

MARQUES e cols., 2002). O consumo de bebidas alcoólicas está relacionado a

mais de 60 (sessenta) complicações clínicas (OMS, 2004; GUTJAHR, GMEL e

REHM, 2001).

Segundo a OMS o risco relativo de algumas doenças de acordo com a

categorização do uso de álcool e sexo se apresentam conforme a tabela 1 a

seguir:

Tabela 1: Risco relativo para doenças crônicas categorizadas por sexo e média de consumo

de álcool. Adaptado de OMS (2004).

Tipo de doença Homens

Cat. I Cat .II Cat. III

Mulheres

Cat. I Cat. II Cat. III

Doenças do período perinatal

Baixo peso ao nascer

Neoplasias malignas

Câncer de boca e orofaringe

Câncer de esôfago

Câncer de fígado

Câncer de pulmão

Diabetes Mellitus

Condições neuropsiquiátricas

Epilepsia

Doenças cardiovasculares

Hipertensão arterial

AVC-I

AVC-H

Cirrose hepática

1.00 1.40 1.40

1.45 1.85 5.39

1.80 2.38 4.36

1.45 3.03 3.60

1.14 1.41 1.59

0.92 0.87 1.13

1.34 7.22 7.52

1.40 2.00 2.00

0.52 0.64 1.06

0.59 0.65 7.98

1.30 9.50 13.00

1.00 1.40 1.40

1.45 1.85 5.39

1.80 2.38 4.36

1.45 3.03 3.6

n.a. n.a. n.a

1.00 0.57 0.73

1.23 7.52 6.83

1.40 2.00 4.10

0.94 1.33 1.65

1.27 2.19 2.38

1.30 9.50 13.00

Definição das categorias de uso de álcool. Categoria I: até 19,9 gramas álcool por dia para

mulheres e 39,9 g/dia para homens. Categoria II: de 20 a 39,9 g/dia para mulheres e de 40 a

59,9 g/dia para homens. Categoria III: mais de 40 g/dia para mulheres e mais de 60 g/dia para

homens.

Os resultados do estudo reportado pela OMS em 2000 mostram que, para a

população masculina, 5,6% de todas as mortes que ocorrem no planeta são

atribuíveis ao consumo de álcool e 0,6% das mortes ocorridas entre as

Page 32: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

30

mulheres, concluindo-se que o álcool determina 3,2% da mortalidade global

(BABOR e cols, 2003). A distribuição mundial destes dados é apresentada na

figura 8.

Figura 8 – Mapas comparativos indicando a mortalidade atribuível ao consumo de álcool (em

porcentagem)

Fonte: OMS – 2003

Os dados da OMS (2004) de mortalidade de doenças crônicas no Brasil, que

tem relação direta com o uso de álcool, são mostrados na figura 9.

Figura 9: Mortalidade no Brasil de doenças crônicas associadas com o uso de álcool.

Fonte: OMS – 2004

Doenças por uso de álcool

Cirrose hepática

Câncer de boca e orofaringe

Doença isquêmica cardíaca

Mortalidade por 1000

anos

Page 33: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

31

Além do consumo excessivo de álcool aumentar o risco individual para

ocorrência de problemas de saúde, também leva a um alto custo social,

estudado recentemente pela OMS (2004).

Os índices de problemas na população variam conforme a cultura, as camadas

sociais e, dentro de cada cultura, ao longo do tempo. Por exemplo: em muitos

países têm-se a cultura do uso de bebidas fermentadas de grãos ou frutas da

região, porém com a globalização e a industrialização estes hábitos culturais

estão sendo modificados (OMS, 2004).

As categorias de problemas sociais relacionadas ao álcool incluem:

vandalismo; desordem pública; problemas familiares, como conflitos conjugais

e divórcio; abuso de menores; problemas interpessoais; problemas financeiros;

problemas ocupacionais, que não os de saúde ocupacional; dificuldades

educacionais. Ainda que uma causalidade direta não possa ser estabelecida, o

estudo dessas categorias de danos demonstrou que as conseqüências sociais

do uso do álcool colocam este produto como um fator adicional ou mediador

que contribuem para a ocorrência de problemas (MELONI e LARANJEIRA,

2004; OMS, 2004; POLDRUGO, 1998).

Desta forma, a quantificação da força da relação existente entre o consumo do

álcool e o surgimento de problemas fornece instrumentos para a tomada de

decisões sobre políticas de prevenção adequadas.

Page 34: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

32

O peso global de danos à saúde foi apresentado pela OMS em 2004 através de

um indicador de saúde, designado DALYs (Disability Adjusted Life Years-

índice de ajuste de anos na vida, prejudicado pela inabilidade decorrente do

álcool). Este indicador se refere ao percentual de anos que são perdidos em

razão de doença ou mortalidade precoce, atribuível à ingestão alcoólica. No

ano de 2000 foi encontrado um valor de 4% para o mundo todo. Na tabela 2 é

apresentado o índice DALYs para as diferentes doenças, e podemos observar

que para as doenças neuropsiquiátricas o índice DALYs foi de 38%, mostrando

a gravidade do álcool nestas doenças (MELONI e LARANJEIRA, 2004).

Tabela 2 – Distribuição percentual de “DALYs” (percentual de anos perdidos em razão de

doença ou mortalidade precoce por ingestão alcoólica), por 1.000 habitantes, das condições

mórbidas atribuíveis ao consumo alcoólico e DALYs global (ano base 2000, adaptado de OMS,

2004)

Tipo de doença Homens Mulheres Total “DALYs” (%)

Doenças do período perinatal

Neoplasias malignas

Condições neuropsiquiátricas

Doenças cardiovasculares

Outras doenças de notificação não

obrigatória (diabetes, cirrose, etc.)

Causas externas não intencionais

Causas externas intencionais

0,680

3,180

18,090

4,411

3,695

14,008

5,945

0,550

1,021

3,814

-0,428

0,860

2,487

1,117

1,230

4,201

21,904

3,983

4,555

16,495

7,062

0%

7%

38%

7%

8%

28%

12%

Peso total da morbi-mortalidade

relacionada ao álcool (DALYs)

Morbi-mortalidade total

DALYs Total relacionada ao álcool em

percentagem

49,397

755,176

6,5%

8,926

689,993

1,93%

58,323

1.445,169

4%

100%

Nos países em que a economia de mercado é pouco desenvolvida e são mais

altas as taxas de mortalidade geral, como nos países africanos, os problemas

sanitários básicos prevalecem como causa de adoecimento e morte, por isso o

álcool não chega a constar entre as dez principais causas de morbi-

Page 35: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

33

mortalidade, embora seja importante a situação relacionada ao seu consumo.

Nos blocos econômicos mais ricos, apesar da existência de políticas de

prevenção e controle eficazes, o consumo de álcool aparece como terceiro

fator de morbi-mortalidade, sendo o índice DALYs nos Estados Unidos situado

entre 4 e 7,9%. Para os países com economias de mercado de pobreza

intermediária, entre os quais se encontra o Brasil, o álcool é a mais importante

causa de doença e morte, encontrando o índice DALYs entre 8% e 14,9% do

total de problemas de saúde do nosso país (MELONI e LARANJEIRA, 2004).

1.4- História do Uso de Álcool e do Alcoolismo

O álcool é uma substância psicoativa que acompanha a humanidade desde

tempos mais remotos. Sempre ocupou um local privilegiado em todas as

culturas, como elemento fundamental nos rituais religiosos, fonte de água não

contaminada ou presença constante nos momentos de comemoração e de

confraternização (GIGLIOTTI e BESSA, 2004).

Através da história, o álcool tem tido múltiplas funções: na vida social, religiosa

e no tratamento de doenças. Fez parte do hábito diário de famílias em todo o

mundo, servindo de alimento e de laço de comunhão entre as pessoas. Porém

após a Revolução Industrial houve uma mudança profunda na maneira da

sociedade e dos homens se relacionarem com o álcool, pois o aumento da

produção reduziu de modo drástico os seus preços, aumentando a

disponibilidade de bebidas alcoólicas (GIGLIOTTI e BESSA 2004). Em muitos

países europeus e nos Estados Unidos, movimentos para diminuir o uso de

Page 36: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

34

álcool foram estimulados devido ao consumo excessivo de bebida destiladas,

que traziam desinibição, alterava as tradições culturais e apresentavam

problemas especialmente com as famílias de classes trabalhadoras mais

pobres durante a industrialização (MANN, HERMANN e HEINZ, 2000).

Em 1784, Benjamin Rusch já havia caracterizado o “desejo incontrolável e

irresistível” para se consumir o álcool. O delirium tremens foi descrito por dois

pesquisadores, Pearson e Sutton, independentemente em 1813 (ver MANN,

HERMANN e HEINZ, 2000). Em 1849, Magnus Huss propôs o conceito de

alcoolismo crônico, momento em que o alcoolismo passa a ser considerado

uma doença orgânica (ver LESCH e cols, 1990). Em 1893, na primeira versão

da Classificação Internacional das Doenças (CID), proposta pela OMS, o

alcoolismo foi incluído como uma doença geral (ver MANN, HERMANN e

HEINZ, 2000).

Nos primeiros anos do século XX, devido à grande alteração no consumo de

álcool nas classes trabalhadoras, os Estados Unidos proibiu a industrialização

e comercialização de bebidas alcoólicas, conhecida como “lei seca”, que durou

de 1919 a 1933. No início, a lei obteve sucesso em reduzir o consumo de

álcool, porém, após 1920, a produção, o comércio e o uso ilegal de álcool

voltaram ainda de maneira mais grave (ver MANN, HERMANN e HEINZ, 2000).

Na Alemanha, o foco individualizado e a vulnerabilidade para a adição de

álcool, levaram o regime nazista a indicar a esterilização compulsória dos

indivíduos alcoolistas para que não pudessem ter descendentes (ver MANN,

HERMANN e HEINZ, 2000).

Page 37: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

35

Em 1931, na quarta revisão da CID, o alcoolismo passou a ser considerado

como uma doença mental (ver RAMOS e WOITOWITZ, 2004). Um ponto

decisivo para o reconhecimento do alcoolismo foi a fundação dos Alcoólicos

Anônimos (AA) (auto-denominados de irmandade) na década de 30 (ver

MANN, HERMANN e HEINZ, 2000). Entretanto, foi apenas com JELLINEK, em

1942, que o conceito de alcoolismo-doença se popularizou. Em 1976, Griffith

Edwards e Milton Gross definiram a Síndrome de Dependência do Álcool (SDA)

ampliando a percepção de alcoolismo, que de quadro unitário com uma única

conduta terapêutica passou para uma síndrome multifacetada, poli-

determinada e que comporta um espectro abrangente de propostas

terapêuticas (ver RAMOS e WOITOWITZ, 2004).

Os problemas relacionados ao consumo de álcool podem acometer indivíduos

de todas as idades. Eles devem ser investigados por todos os profissionais de

saúde, em todos os pacientes (GAGLIARDI e cols., 2002).

1.5. Alcoolismo: Diagnóstico

A CID – 10ª edição revisada editada pela OMS (1993) - incorpora as

dependências das substâncias psicoativas dentro da classificação dos

transtornos mentais e do comportamento, sendo o alcoolismo classificado

como item F-10, apresentando o quarto e quinto caracteres posteriores para

especificar as condições clínicas (OMS, 1993; LARANJEIRA e cols, 2000) (ver as

subdivisões no ANEXO I).

Page 38: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

36

A síndrome de dependência ao álcool (SDA) está classificada como F10.2.

As diretrizes para o diagnóstico prevêem a presença de pelo menos três, dos

seguintes itens: 1) compulsão para consumir o álcool, 2) dificuldade de

controlar o uso de álcool, 3) sinais e sintomas de abstinência, 4) presença de

tolerância ao uso de álcool, 5) relevância do uso de álcool, em detrimento de

outras atividades e 6) persistência do uso de álcool, mesmo após

consequências nocivas.

Cumpre mencionar que uma das razões para a opção da realização do

diagnóstico de alcoolismo pela CID-10, e não pelo DSM-IV (Manual de

Diagnóstico e Estatística das Desordens Mentais- quarta edição, da

Associação Norte-Americana de Psiquiatria), um manual com fins de

sistematização e pesquisa, se deu pelo mais fácil acesso e conhecimento do

primeiro instrumento pelo profissional médico, independente de sua

especialidade, já que se trata de uma classificação internacional de todas as

doenças. Sendo o segundo instrumento elaborado e até mesmo o mais

empregado para fins de pesquisa, porém com maior domínio de médicos

especialistas da Saúde Mental. E ainda, como o presente estudo pretende

estender a responsabilidade da detecção mais precoce do alcoolismo para

todas as especialidades médicas, e, considerando-se que ambos os

instrumentos apresentam critérios muito similares para a SDA, e que o CID-10

é um instrumento rotineiramente empregado no ambulatório de alcoolismo no

qual o presente estudo seria desenvolvido, o mesmo foi naturalmente

incorporado ao presente estudo.

Page 39: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

37

1.6 - Alcoolismo: Classificações

Quanto à etiologia do alcoolismo, vários estudos indicam diferentes fatores de

riscos ao desenvolvimento da doença (hereditariedade, cultura, raça, condições

psico-sociais, etc.), sendo por muitos autores, considerado de etiologia multi-

fatorial (LESCH e cols, 1988).

Apesar do enorme esforço de uniformização dos sinais e sintomas que

caracterizam a SDA pelos critérios de diagnóstico do DSM-IV e do CID-10, na

prática clínica são observados distintos quadros de manifestação desta

condição patológica. A variabilidade observada na diversidade de intensidade

da Síndrome de Abstinência Alcoólica (SAA), em diferentes resultados

terapêuticos com medicações ou com psicoterapia, na prevenção da recaída e

na variabilidade genética dos estudos com alcoolistas, mostram que diferentes

vulnerabilidades biológicas podem existir (LESCH e cols, 1988; CARDOSO e

cols, 2006).

Na tentativa de esclarecer a história natural do alcoolismo, algumas categorias

de alcoolismo têm sido propostas, tipificando o alcoolismo de acordo com

comportamento e apresentação clínica de diferentes pacientes.

Jellinek, em 1960, foi o primeiro a desenvolver uma sistematização em cinco

(05) diferentes tipos de apresentação clínica dos pacientes com quadro de

alcoolismo, dividindo em alfa, beta (considerou estágios preliminares ao

alcoolismo), gama, delta e épsilon (estes três últimos, o alcoolismo em si). O

Page 40: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

38

paciente classificado como tipo alfa depende psicologicamente do efeito do

álcool diante de seus problemas físicos e mentais; o seu beber é indisciplinado,

mas consegue abster-se. O tipo beta não apresenta sinais de dependência

física ou psicológica, porém pode ter complicação clínica pelo álcool, como

gastrite aguda ou polineuropatia periférica. Os indivíduos classificados como

tipos gama são representados por aqueles que apresentam elevada tolerância,

com maior dependência psicológica do que física. Os tipos delta apresentam,

além da tolerância, dependência física importante, com menor dependência

psicológica. Os tipos épsilon alternam períodos grandes sem beber com

períodos de excessivo consumo alcoólico (JELLINEK, 1960).

Cloninger, Bohman e Sigvardsson (1981) desenvolveram uma classificação

teórica de alcoolistas de acordo com os traços de personalidades e

características clínicas. De acordo com esta classificação, o Tipo 1 é

caracterizado pelo indivíduo com idade superior a 25 anos, pode ser do sexo

masculino ou feminino, não apresenta dificuldade de abster-se do álcool e

apresenta personalidade passiva e dependente, enquanto o Tipo 2 acomete

indivíduos do sexo masculino, com idade inferior a 25 anos, com

comportamento de busca constante de novidades e personalidade anti-social.

Schuckit (1985) preconizou a noção de alcoolismo primário, que correspondia a

cerca de 70% dos casos diagnosticados precocemente, predominantemente

masculinos, e com forte hereditariedade; e alcoolismo secundário, com

diagnóstico tardio e psicopatias subjacentes.

Page 41: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

39

Morey e Skinner (1986) diferenciaram 3 tipos de alcoolismo designados como

estágio precoce do problema com o álcool, bebedores afiliados e bebedores

esquizóides (ver WOBER e cols, 1998).

Zucker (1987) descreveu quatro tipos de dependência ao álcool, distinguindo-

os entre (1) anti-social, (2) desenvolvimento cumulativo, (3) afeto negativo e (4)

alcoolismo limitado ao desenvolvimento (ver WOBER e cols, 1998).

Babor e cols (1992) propuseram a divisão de alcoolismo em Tipos A e B. O

Tipo A com apresentação tardia de problemas relacionados ao álcool, com

melhor prognóstico, e o tipo B foi categorizado como o alcoolismo precoce,

marcado por fatores de riscos na infância, história familiar de alcoolismo, grave

dependência e co-morbidades psiquiátricas.

Hauser e Rybakowski (1997) delinearam 03 (três) subtipos de alcoolismo

masculino: Tipo 1 caracterizado por início tardio, sem história familiar de

alcoolismo, e gravidade moderadas da doença em curso; o Tipo 2

caracterizado por início precoce, alta prevalência de história familiar de

alcoolismo, personalidade anti-social, muitos problemas relacionados com o

álcool, e; o Tipo 3 caracterizado por início precoce da dependência do álcool,

história familiar de doenças psiquiátricas, vários problemas relacionados ao

álcool e grande prevalência de distúrbios psiquiátricos e somáticos.

Entretanto, de todas as classificações, a apresentada por Lesch e cols (1988),

foi a mais extensa, visto que estes autores realizaram um estudo prospectivo

Page 42: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

40

por 18 (dezoito) anos, com 444 (quatrocentos e quarenta e quatro) alcoolistas

crônicos, acompanhados em média por 5,33 anos e observaram dados sociais

(família, ocupação, cultura, etc.), dados de personalidade (personalidade

aditiva típica ou não típica, comportamento passivo) e do uso de álcool

(potência da adição, tolerância e uso de outras drogas). Com esse

acompanhamento os autores puderam perceber diferenças marcantes entre os

indivíduos que preenchiam os critérios para o diagnóstico da SDA. Com base

nestas observações, propuseram a classificação do alcoolismo em 04 (quatro)

tipos: I, II, III e IV (LESCH e cols, 1988; LESCH e cols, 1990; LESCH e

WALTER, 1996).

1.7- Tipos de Alcoolismo de acordo com Lesch

O Tipo I apresenta comprometimento somático da SAA importante, muitas

vezes com crises convulsivas de abstinência. Porém, apresentam boa

adaptação social, participam de atividades de lazer, têm boa relação com

familiares, não apresentam distúrbios na infância e não têm história de

envolvimento em crimes. Começam o uso de álcool de modo social, e

desenvolvem uso de álcool constante, inclusive para aliviar os sintomas de

abstinência. Apresentam compulsão: uma dose leva ao uso adicional de álcool.

Apresentam história familiar de alcoolismo. Esses pacientes podem ser

classificados como o “modelo de alergia”, e a meta do tratamento é a

abstinência total.

Page 43: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

41

O Tipo II não apresenta comprometimento somático, e muitas vezes de difícil

diagnóstico. Pode ser considerado como beber controlado, pois apresenta

aparentemente um beber apropriado, tem boa atividade social, apesar da

menor atividade de lazer, boa parceria com os pais, porém sofrem com o

domínio materno. Apresentam comportamento passivo e quando alcoolizado

mudam o comportamento. O álcool seria usado como um “tratamento” para as

dificuldades enfrentadas no seu desenvolvimento psíquico, usado como

sedativo para a ansiedade, e muitas vezes consumido em conjunto com drogas

sedativas. Estes pacientes podem apresentar moderado grau de dependência

e poucas complicações clínicas. Esses pacientes podem ser classificados

como “modelo de ansiedade”, sendo a psicoterapia e tratamentos alternativos

possíveis ofertas para terapêuticas deste grupo.

O Tipo III apresenta comprometimento psiquiátrico. Bebem sozinhos,

apresentam vários problemas sociais com o uso do álcool, envolvendo,

principalmente sua família com agressões (com e sem álcool), crimes

relacionados ao álcool, desemprego freqüente, situação social ruim. O álcool é

consumido como auto-medicação para as desordens psiquiátricas. Apresentam

tendências auto-destrutivas, como pensamentos suicidas com ou sem álcool. A

história familiar é positiva para doenças psiquiátricas. Apresentam períodos

sem beber ou com uso de álcool mínimo, pois eles tendem a beber quando a

doença psiquiátrica está ativa. Frequentemente apresentam agressividade

quando estão intoxicados, ou mesmo sóbrios. Esses pacientes podem ser

classificados como “modelo de depressão”.

Page 44: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

42

Os indivíduos classificados como Tipo IV apresentam danos cerebrais neonatal

ou até a idade de 14 anos, com complicações somáticas importantes:

deteriorização cerebral, epilepsia, polineuropatia, etc. Na história pregressa da

infância apresentam evidências de distúrbios de comportamento (como, por

exemplo, enurese noturna, gaguejar, etc.) e dificuldade social (como, por

exemplo, dificuldade escolar). Não conseguem ter uso apropriado de álcool, e

apresentam grande dificuldade em interrompê-lo. Apresentam graves sinais de

intoxicação alcoólica, mesmo com baixas doses de álcool. A evidência de

anormalidades psiquiátricas, somáticas e sociais não está limitada aos

períodos de consumo de álcool. Histórias de crises convulsivas são relatadas

também fora do período de abstinência. Não apresentam atividades de lazer,

são geralmente desempregados e envolvem-se com crimes. A relação familiar

geralmente apresenta a figura da mãe como dominante. O relacionamento

paterno é difícil. A expectativa de vida é, na maioria das vezes, curta. Esses

pacientes podem ser classificados como modelo de “adaptação”.

Ressalte-se que vários estudos científicos têm empregado esta Tipologia de

Lesch a fim de identificar diferenças entre os alcoolistas, para propor

estratégias diferentes para o enfrentamento do problema.

Assim, têm-se correlacionado os tipos de alcoolismo de Lesch e o predomínio

de algumas manifestações, como a ataxia (WOBER e cols, 1998) e

lateralização para o hemisfério cerebral esquerdo no tipo IV (SPERLING e cols,

2000), a depressão no tipo III (KIEFER e BAROCKA, 1999), níveis elevados de

homocisteína, possivelmente relacionada à manifestação de convulsões na

Page 45: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

43

abstinência, no Tipo I (BLEICH e cols, 2004), níveis séricos elevados de ácido

glutâmico nos Tipos I e IV (WALTER e cols, 2006). E ainda, têm-se sugerido

que os diferentes tipos de alcoolistas de Lesch podem apresentar

determinação genética (SAMOCHOWIEC e cols, 2006; BÖNSCH e cols, 2006),

e que os Tipos II e III parecem estar mais envolvidos em atos violentos, visto

terem-se relacionados a maior índice de homicídios (REULBACH e cols, 2006).

Também se tem demonstrado uma maior pontuação de compulsão na escala

de beber compulsivo no Tipo IV, porém uma correlação positiva entre número

de desintoxicações recorrentes e “craving” principalmente no Tipo I

(HILLEMACHER e cols, 2006a), enquanto que o volume de álcool ingerido e a

presença de sintomas compulsivos se correlacionaram com o Tipo II

(HILLEMACHER e cols, 2006b).

O tratamento do alcoolismo ainda é um grande desafio para os profissionais

que trabalham com dependência. Poucos pacientes beneficiam-se apenas das

orientações seguras de um profissional sobre a doença, porém a maioria

necessita de abordagens terapêuticas diferentes. A compreensão das

diferenças individuais pode nos permitir melhores resultados. Por exemplo,

Chick e cols (2000) demonstraram que os pacientes do Tipos I e II de Lesch

apresentaram maior tempo de abstinência sob tratamento com o acamprosato.

Segundo Lesch e cols (1996), alcoolismo é uma condição clínica com muitas

causas. O diagnóstico pode ser feito baseado nos subtipos do alcoolismo e os

seguintes critérios devem ser levados em consideração: diferenciação do tipo

Page 46: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

44

de paciente de acordo com a psicopatologia; gravidade da doença, de acordo

com o DSM-IV; curso da doença (critérios diferentes de remissão, DSM-IV); e,

prognóstico da doença. O autor ressalta que os estudos que se propõem a

investigar drogas novas para o tratamento do alcoolismo estarão testando os

seus efeitos em populações heterogêneas caso não se faça uma diferenciação

dos subtipos de alcoolismo. Sendo assim, algumas drogas que poderiam ser

eficazes para o tratamento de determinados tipos de alcoolistas não estariam

sendo identificadas. Este autor considera ainda que, sendo as razões para o

consumo do álcool bastante diversas, as diferentes causas para a compulsão

ou recaídas irão requerer tratamentos farmacológicos distintos.

1.8- Funções Executivas e Álcool

As funções executivas consistem num conjunto de processos que capacitam o

indivíduo a realizar, de maneira independente e autônoma, atividades dirigidas

a metas, como por exemplo, em situações de novidades, conflitos ou tarefas

complexas. Estas funções traduzem-se em comportamentos que dependem

da integridade de diversos processos cognitivos, emocionais, motivacionais e

volitivos (SABOYA, FRANCO e MATTOS; 2002). As funções executivas se

referem a uma variedade de habilidades que incluem iniciação, planejamento,

desenvolvimento de estratégias, persistência, flexibilidade, controle inibitório,

memórias operacionais verbal e não-verbal, auto-regulação e velocidade de

processamento mental (LEZAK, 1994).

Page 47: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

45

Lesões que acometem áreas do córtex cerebral pré-frontal resultam em

quadros de alteração de comportamento e desorganização de processos

cognitivos, conhecidos como síndrome disexecutivas. Um grande número de

doenças que envolvem o córtex pré-frontal, ou as estruturas profundas, tais

como o striatum ou o tálamo, podem alterar as funções executivas e a

autonomia do paciente (GODEFROY, 2003).

As descrições de conseqüências clínicas de danos frontais mostram uma

grande variedade de distúrbios de comportamento como abulia (incapacidade

de tomar decisões), apatia, falta de espontaneidade, mutismo cinético, estados

pseudo-depressivos, pobreza de motivação, euforia, distratabilidade,

impulsividade, agitação, estado pseudo-psicopático, anosognosia

(incapacidade do doente reconhecer e admitir a realidade da sua doença),

indiferença, confabulação e perseveração. A identificação dessas alterações é

importante na prática clínica, pois as mesmas indicam a existência de uma

síndrome frontal, o que tem grande importância na autonomia do paciente

(GOUDRIAAN e cols, 2006; GODEFROY, 2003; PARSONS, 1998).

A avaliação de alcoolistas com testes neuropsicológicos padronizados

demonstra que não existem alterações entre os alcoolistas e indivíduos

controles quanto aos testes de inteligência, mas os alcoolistas demonstram

déficit na flexibilidade cognitiva, solução de problemas, abstração verbal e não

verbal, coordenação visuo-motora, aprendizagem, condicionamento e memória,

quando comparados a indivíduos controles (MOSELHY, GEORGIOU e KAHN;

2001).

Page 48: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

46

A literatura atual enfatiza a hipótese de dano primário no lobo frontal em

alcoolistas, principalmente em sua parte anterior (MOSELHY, GEORGIOU e

KAHN; 2001). O uso crônico de álcool altera a memória, aprendizagem,

análise e síntese visuo-espacial, velocidade psico-motora, funções executivas e

tomada de decisões, podendo chegar a transtornos persistentes de memória e

demência alcoólica. Os déficits cognitivos encontrados nos dependentes de

álcool (principalmente das funções executivas) têm implicações diretas no

tratamento (CUNHA e NOVAES, 2004; GOLDSTEIN e VOLKON, 2002).

A disfunção executiva pode persistir mesmo depois de superada a fase aguda

da abstinência alcoólica. A extensão e o tipo da disfunção nem sempre são

bem categorizados, porém são importantes, pois tem implicação na estratégia

de tratamento (ZINN, STEIN e SWARTZWELDER, 2004).

Zinn, Stein e Swartzwelder (2004) considerando que as disfunções executivas

seriam os prejuízos cognitivos que persistem após a abstinência em

dependentes do álcool, procuraram determinar quais aspectos das funções

executivas estariam prejudicadas no início da abstinência do álcool,

comparando o desempenho cognitivo de alcoolistas crônicos atendidos em

clínicas especializadas, com controles ambulatoriais não-alcoolistas pareados

por idade. Estes autores observaram que os alcoolistas apresentaram prejuízos

significativos em várias funções executivas como o raciocínio abstrato

(subtestes do Wechsler Adult Intelligence Scale III - WAIS-III), a memória

discriminativa (Teste de Aprendizagem Verbal de Hopkins), a velocidade

psicomotora e a flexibilidade cognitiva (Teste de trilhas A e B). Estes autores

Page 49: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

47

acreditam que esta disfunção executiva no início da abstinência constitui um

desafio ao tratamento e encoraja as futuras pesquisas de fatores que possam

moderar o seu desenvolvimento, os seus efeitos e a sua recuperação.

1.9 – Alterações morfológicas do lobo frontal no alcoolismo

Em pacientes alcoolistas crônicos tem sido descrito alterações morfológicas do

lobo frontal que incluem redução do metabolismo, redução do fluxo sanguíneo

e do volume tecidual. Esses déficits são acompanhados de menor densidade

neuronal e de células gliais (possivelmente astrócitos). Esta redução ocorre no

córtex pré-frontal dorso-lateral e no córtex órbito-frontal (MIGUEL-HIDALGO e

cols, 2006).

Os astrócitos apresentam função crucial no processo de neurotransmissão ao

transferirem substratos energéticos do sangue para os neurônios corticais.

Miguel-Hidalgo, em 2005 analisando ratos com preferência ao álcool exposto

somente a água, ratos com preferência a álcool expostos ao álcool e ratos

Wistar normais (não apresentavam a preferência a álcool), expostos a água,

verificou que a densidade dos astrócitos foi significantemente menor nos ratos

com preferência ao álcool, expostos ou não ao etanol, em comparação aos

ratos Wistar, podendo ser este um dos fatores que aumenta o risco de

dependência ao álcool.

Este mesmo grupo (MIGUEL-HIDALGO e cols, 2002) avaliou a redução de

células da glia pós-mortem em 17 aloolistas crônicos e 21 controles e

Page 50: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

48

demonstrou densidade glial reduzida em 11-14% nas lâminas V e VI do córtex

pré-frontal dorso-lateral.

A ressonância magnética funcional por espectroscopia também tem

demonstrado alterações no lobo frontal de alcoolistas crônicos. Ende e cols, em

2006, avaliando o sinal da colina no lobo frontal em 24 indivíduos bebedores

sociais e 18 alcoolistas crônicos, observaram correlação significativa das

medidas de colina com o consumo de álcool, indicando possível lesões

cerebrais dependente de colina (alteração de membrana celular) nos

alcoolistas crônicos.

1.10- Bateria de Avaliação Frontal (Frontal Assessment Battery – FAB)

A maioria dos testes neuropsicológicos para avaliar as síndromes

disexecutivas, devido a lesões frontais, é extensa, requerendo grande

demanda de tempo, e várias vezes de difícil interpretação, pois também

envolvem áreas corticais de associação diferentes das áreas frontais (DUBOIS

e cols, 2000).

DUBOIS e cols (2000) desenvolveram uma bateria para avaliar a presença e a

gravidade das síndromes disexecutivas, que afetam a cognição e o

comportamento motor, sendo denominado de FAB (“Frontal Assessment

Battery”) – uma bateria de avaliação frontal breve, cuja aplicação será

pormenorizada mais adiante.

Page 51: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

49

Esta bateria breve considera as teorias atuais de que o lobo frontal controla a

conceituação, reação abstrata, flexibilidade mental, programação motora e o

controle executivo da ação, resistência para interferência, auto-regulação,

controle inibitório e autonomia comportamental. Estes processos precisam ser

elaborados apropriadamente para poderem concluir uma boa resposta

comportamental e se adaptar às novas situações, funções que são

essencialmente mediadas pelo córtex pré-frontal.

A validação do FAB foi feita comparando seus resultados com um teste de

avaliação da função frontal mais complexo, o teste de cartões de Wisconsin, e

com a Escala de Pontuação de Demência de Mattis, avaliando a sensibilidade

e a especificidade (DUBOIS, 2000). Para determinar a habilidade do FAB de

discriminar entre o controle normal e paciente com déficit frontal, foram

incluídos no trabalho original de Dubois (2000) 42 controles e 121 pacientes,

sendo 32 com déficit frontal de pequena intensidade (24 com Doença de

Parkinson e 06 com atrofia multi-sistêmica), 22 pacientes com alteração

moderada (degeneração cortico-basal) e 70 pacientes com disfunção frontal

grave (23 com demência fronto-temporal e 47 com paralisia supra-nuclear

progressiva). A correlação entre o FAB e a Escala de Pontuação de Demência

de Mattis nos 121 pacientes foi bastante significativa. Similarmente, a

pontuação do FAB correlacionou-se positiva e significativamente com o teste

de cartões do Wisconsin, tanto no parâmetro de número de critérios atingidos

quanto de erros perseverativos. Além disso, o FAB foi eficaz em discriminar

89,1% dos casos de disfunção frontal.

Page 52: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

50

No Brasil, o único estudo utilizando o FAB, encontrado por nossas pesquisas

em revistas indexadas foi o de Cunha e Novaes, em 2004, no qual foi

apresentada uma tradução para o português do FAB, versão esta que foi

utilizada como instrumento no presente estudo.

1.11- Miniexame do Estado Mental (Mini-Mental)

O Mini-Mental é uma escala cognitiva para adultos, desenvolvida por Folstein e

cols em 1975, usada como teste de rastreamento, para quantificar o estado

mental de uma pessoa. Tem demonstrado validade e replicabilidade em

psiquiatria, neurologia, geriatria e em clínica médica em geral (LOURENÇO e

VERAS, 2006).

É um teste que tem alta dependência da linguagem e consta de vários itens

relacionados com a atenção. Sua aplicação é feita em aproximadamente 10

(dez) minutos, podendo ser aplicada na prática diária por qualquer profissional

bem treinado. Avalia a orientação do indivíduo, o registro de informação, a

atenção e cálculo, a memória recente, a linguagem e a construção lógica. Cada

item tem uma pontuação própria, chegando a um total de 30 (trinta) pontos. A

classificação de demência baseia-se em pontos de cortes que consideram a

escolaridade e a idade do indivíduo. A sua aplicação será detalhada mais

adiante.

No Brasil, a primeira tradução para o português foi feita por Bertolucci e cols,

em 1994, e por Almeida, em 1998. Lourenço e Veras, em 2006, avaliaram a

Page 53: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

51

versão para o português adaptada por Bertolucci e cols (1994) e por Almeida

(1998), e encontram sensibilidade de 80,8%, especificidade de 65,3%, valor

preditivo positivo de 44,7%, valor preditivo negativo de 90,7% e área dentro da

curva ROC (Receive Operator Caracteristic Curve, ferramenta estatística que

estabelece o ponto de corte, otimizando a sensibilidade e especificidade) em

0,807, para o Mini-mental aplicado em população geriátrica.

1.12- Forma Reduzida para Avaliação do Coeficiente de Inteligência –

Teste de WAIS forma reduzida.

A escala WAIS, publicada originalmente em 1955, foi desenvolvida como

resultado de uma revisão, extensão e padronização da Escala de Wechsler-

Belleueve (1939) e a substituiu como instrumento para medida de inteligência

de indivíduos acima de 16 anos. Em 1981, foi publicada a escala revisada, o

WAIS-R, padronizada para adultos de 16 a 74 anos (NOFFS e cols, 2006).

Em 1997 foi concluído nos Estados Unidos um extenso trabalho de revisão e

re-normatização do WAIS-R, resultando na terceira versão desta escala. O

WAIS-III representa uma continuidade do WAIS-R, porém com

aperfeiçoamentos substanciais.

A escala WAIS-III compreende dois módulos para obtenção do coeficiente de

inteligência (QI): verbal e de execução. A escala verbal (QI V) inclui os

subtestes de Vocabulário, Informação, Compreensão, Aritmética,

Semelhanças, Dígitos e Seqüência de Números e Letras. A escala de

execução (QI E) abrange os subtestes de Completar Figuras, Cubos, Arranjo

de Figuras, Armar Objetos, Código, Raciocínio Matricial e Procurar Símbolos.

Page 54: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

52

Foram também introduzidos os Índices Compreensão Verbal, Organização

Perceptual, Memória de Trabalho e Velocidade de Processamento, como

medidas mais puras das habilidades cognitivas anteriormente agrupadas em QI

V e QI E. Os subtestes avaliam diferentes aspectos do funcionamento

intelectual (NOFFS e cols, 2006).

No Brasil, a escala WAIS-III foi pela primeira vez adaptada e validada por

Nascimento e Figueiredo (2002) o que vem permitindo seu uso em estudos em

nossa cultura. Assim, alguns subtestes verbais foram adaptados para que se

adequassem melhor à língua e à cultura brasileira, sem que a estrutura original

do teste fosse afetada.

Uma forma reduzida (“short-forms”), que será a empregada no presente estudo

e que será detalhada posteriormente, foi proposta por Silverstein (1985) e

contém dois subtestes utilizando os subtestes “Completar Figuras” e

“Vocabulário”, para a obtenção do valor do QI.

1.13- Considerações Finais

O tratamento do alcoolismo ainda é um grande desafio para os profissionais

que trabalham com a dependência. A realidade dos atendimentos em serviços

públicos hospitalares e ambulatoriais, clínicas especializadas e consultórios

médicos, demonstram que são poucos os pacientes que se beneficiam apenas

das orientações simples e seguras de um profissional sobre a doença, e

mesmo de abordagens clínicas e/ou comportamentais de curta duração. A

maioria necessita de múltiplas abordagens terapêuticas.

Page 55: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

53

O alcoolismo é uma doença heterogênea. A variabilidade observada na

apresentação clínica, na intensidade dos sintomas, nos resultados

terapêuticos, nas diferenças das recaídas mostram claramente diferenças de

vulnerabilidade biológica, que precisam se consideradas.

Trabalhos avaliando subtipos de pacientes portadores do alcoolismo indicam a

importância da avaliação individual, para identificar apresentações clínicas

diferentes, pois estas observações podem nortear condutas terapêuticas.

Alterações na função frontal em usuários crônicos de etanol são descritas e

podem prejudicar a condução do tratamento proposto, uma vez que dificultam a

compreensão de orientações comportamentais importantes.

Desta forma, o conhecimento da correlação dos diferentes tipos de alcoolistas

às alterações neurocognitivas frontais poderá ser um caminho a ser percorrido

para definir diferentes abordagens clínicas, a fim de conseguir melhores

resultados no tratamento de alcoolistas.

Page 56: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

54

2. Objetivos

Page 57: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

55

2.1- Objetivo geral:

Avaliar a função frontal e mental de pacientes alcoolistas atendidos no

Programa de Atendimento ao Alcoolista do Hospital Universitário Cassiano

Antônio Moraes do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do

Espírito Santo (PAA/HUCAM/CCS/UFES) classificados clinicamente pela

Tipologia de Lesch.

2.2- Objetivos específicos:

• Estabelecer a classificação dos diferentes tipos de alcoolismo de acordo

com a Tipologia de Lesch no PAA/HUCAM/CCS/UFES;

• Comparar as disfunções frontais entre os diferentes tipos de alcoolismo

empregando uma bateria breve para avaliação das funções frontais

(“Frontal Assessment Battery” – FAB);

• Verificar a aplicabilidade do FAB para avaliar a função frontal em rotina

ambulatorial de um serviço público especializado em atendimento de

alcoolistas;

• Comparar o estado mental entre os diferentes tipos de alcoolismo

empregando um teste de avaliação mental simples (Mini-Exame de

Estado Mental – Mini-Mental)

Page 58: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

56

3. Materiais e Métodos

Page 59: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

57

O presente estudo do tipo caso-controle de caráter prospectivo, transversal,

aberto, com amostra de conveniência, foi aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa em Seres Humanos do Centro de Ciências da Saúde da

Universidade Federal do Espírito Santo. Foi desenvolvido no Programa de

Atendimento ao Alcoolista do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes,

do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo

(PAA/HUCAM/CCS/UFES).

O PAA/HUCAM/CCS/UFES foi criado em 1985 para o atendimento

ambulatorial de alcoolistas e seus familiares, contando com equipe

interdisciplinar formada por Assistentes Sociais, Médicos, Enfermeiros e

Psicólogos, além de alunos e estagiários de graduação e pós-graduação dos

cursos de Medicina, Enfermagem e Serviço Social da Universidade Federal do

Espírito Santo.

3.1. Sujeitos experimentais

3.1.1- Grupo alcoolista

Após detalhamento do estudo e obtido o consentimento por escrito (Anexo II),

170 pacientes que preenchiam os critérios para o diagnóstico da SDA pelos

critérios do CID-10, atendidos no PAA/HUCAM/CCS/UFES no período de

novembro de 2006 a fevereiro de 2007, foram incluídos no estudo.

Responderam a uma avaliação médica onde foi aplicada uma entrevista

Page 60: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

58

estruturada para a classificação da Tipologia de Lesch, de acordo com a árvore

decisória publicada por LESCH em 1990 (Anexo III).

O diagnóstico de alcoolismo foi baseado nos critérios do CID-10 (OMS, 1993) e

a gravidade da doença baseada em sintomas clínicos: classificados como

síndrome de dependência grave aqueles pacientes que apresentavam história

e/ou exame clínico de síndrome de abstinência grave, caracterizado por

alucinações e/ou crises convulsivas de abstinência; como síndrome de

dependência moderada, os indivíduos que apresentavam sinais evidentes de

síndrome de abstinência como: insônia grave, tremores, taquicardia,

hipertensão arterial, etc.; porém nunca desenvolveram alucinações e/ou

convulsões, e classificados como dependência leve aqueles pacientes com

sinais e sintomas de dependência de menor gravidade dos que os relatados

anteriormente.

3.1.2- Grupo controle não alcoolista

Para controle foram entrevistados no mês de março de 2007, após

consentimento por escrito (Anexo II), 40 (quarenta) indivíduos não alcoolistas,

pelos critérios do CID-10, que freqüentavam o ambulatório no mesmo horário

que os pacientes alcoolistas, como acompanhantes ou em consulta em outras

especialidades. Para estratificar a idade semelhante aos casos, optou-se por

incluir indivíduos na faixa etária entre 30 e 60 anos, e para estratificar por sexo,

em cada 09 (nove) homens entrevistados, entrevistava-se 01 (uma) mulher.

Page 61: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

59

3.2- Caracterização da amostra

Na entrevista estruturada (Anexo III), aplicada tanto no grupo controle não

alcoolista quanto no grupo alcoolista, constavam dados sócio-demográficos

(idade, sexo, cor, estado civil, profissão, escolaridade, situação trabalhista e

vínculo social), informações sobre o uso de bebidas alcoólicas (idade do início

do uso, quantidade de uso médio por dia em gramas, tipo de bebida mais

utilizada e tempo de abstinência), informações sobre o uso de tabaco e drogas

ilícitas e informações sobre outros diagnósticos já estabelecidos.

3.3- Quantificação do consumo de álcool

As informações sobre o álcool foram registradas de acordo com o relato do

indivíduo, tanto do paciente alcoolista, como do controle.

A quantidade média de álcool consumida por dia foi calculada levando-se em

consideração que uma dose de bebida destilada contém em média um volume

de 50 ml, sendo a concentração de álcool em bebidas destiladas de 40 a 50%,

e o peso específico do álcool 0,8 (oito décimos).

Assim, para efeito de cálculo aproximado, considerou-se que 01 (uma) dose de

bebida destilada contém 20 (vinte) gramas de etanol, 01 (uma) garrafa de

destilado 240 (duzentos e quarenta) gramas de etanol, e 01 (um) litro de

destilado 400 (quatrocentos) gramas de etanol.

Page 62: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

60

A cerveja foi calculada considerando 5% de etanol em cada 100 ml, portanto

contendo 05 ml de álcool, que multiplicado por 0,8 (oito décimos), representa

04 (quatro) gramas de etanol por cada 100 ml de cerveja.

O valor registrado foi calculado pela média de sete dias da semana. O tempo

de uso de álcool registrado baseia-se na informação da primeira experiência do

indivíduo com bebidas alcoólicas, e, o tempo de abstinência como o último dia

de uso de álcool, mesmo que tenha sido apenas um lapso.

3.4- Diferenciação dos subgrupos de alcoolismo segundo a Tipologia de

Lesch

Em 1990, Lesch e cols publicaram um instrumento para base do diagnóstico do

processo de alcoolismo crônico para a Tipologia de Lesch de I-IV, que recebeu

posteriormente a denominação de “árvore de decisão” (decision tree) da

Tipologia de Lesch (Fig. 10), instrumento até hoje utilizados para definir a

classificação da Tipologia de Lesch (adaptado de LESCH e cols, 1990), que

deve ser utilizado como um organograma progressivo, baseado na anamnese

do paciente alcoolista.

Page 63: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

61

Figura 10 – Árvore de decisão de Lesch (traduzido de LESCH e cols. 1990).

Page 64: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

62

Desta forma, para a avaliação da Tipologia de Lesch foram pesquisados na

história clínica: condições da gravidez em que o indivíduo foi gerado, condições

do parto, seu desenvolvimento físico e psíquico na infância e adolescência,

situação do ensino fundamental (com ênfase nas dificuldades escolares),

relação com amigos, história de enurese noturna e gagueira, tipo de relação

familiar, comportamento passivo e tempo ocupado, história de delinqüência e

traumas físicos com álcool, quadros depressivos (com ênfase nas idéias

suicidas), história de crises convulsivas com e sem álcool, alucinações e

delírios, quadro de polineuropatia periférica e de demência.

3.5- Miniexame do Estado Mental (Mini-Mental)

Foi aplicado o Miniexame do Estado Mental (Mini-Mental) desenvolvido por

Folstein e cols em 1975, versão traduzida para o português, em todos os 170

pacientes alcolistas e 40 controles, considerando-se as modificações feitas por

Bertolucci e cols, em 1994, e por Almeida, em 1998, para a sua aplicação na

população brasileira (Fig. 11).

A pontuação foi estratificada de acordo com a escolaridade, sendo

considerados portadores de demências aqueles que não atingiram o ponto de

corte, conforme os seguintes critérios:

Analfabetos: 18 pontos

De 01 (um) a 03 (três) anos de escolaridade: 21 pontos

De 04 (quatro) a 07 (sete) anos de escolaridade: 24 pontos

O8 (oito) anos ou mais de escolaridade: 26 pontos.

Page 65: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

63

Questões

1- Qual é: Ano? Estação (Metade do ano)? Data? Dia? Mês? 2- Onde estamos: Estado? País? Cidade? Bairro ou Hospital?

Andar? 3- Nomeie três objetos (carro, vaso, janela) 4- Soletre “MUNDO” de trás para frente. 5- Peça ao paciente que nomeie os 3 objetos aprendidos na questão

3. 6- (caneta relógio). Peça ao paciente que os nomeie 7- Peça ao paciente que repita “nem aqui, nem ali, nem lá”. 8- Obedeça à instrução: “Pegue o papel com sua mão direita. Dobre-

o ao meio com as duas mãos. Coloque o papel no chão”. 9- Ler e obedecer: “Feche os olhos”. 10- Escreva uma frase de sua escolha. 11- Copie o seguinte desenho

Escore total: (máximo de 30) __________

Pontos 5 5 3 5 3 2 1 3 1 1 1

Figura 11 – Miniexame do Estado Mental (Mini-Mental).

3.6- Bateria de Avaliação Frontal (Frontal Assessment Battery – FAB)

Para a avaliação das funções executivas, foi realizada pela aplicação do teste

de rastreio breve, a Bateria de Avaliação Frontal (Frontal Assessment Batery -

FAB), desenvolvida por Dubois e cols em 2000, versão em português (CUNHA

e NOVAES, 2004) em todos os 170 pacientes e nos 40 controles (Fig. 12).

Page 66: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

64

FAB - Bateria de Avaliação Frontal

1) Semelhanças ( ) Em que se parecem... a) Banana e Laranja ______________________ b) Mesa e Cadeira________________________ c) Tulipa, rosa e margarida_________________

3 corretas: 3 pontos 2 corretas: 2 pontos 1 correta: 1 ponto Nenhuma Correta: 0

2) Fluência Verbal ( ) Palavras que começam com a letra “s”, não podendo ser nome próprio: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 3) Seqüência Motora ( )

Punho, palma, lado (primeiro junto, após sozinho) 6 séries consecutivas corretas sozinho: 3 pontos Pelo menos 3 séries consecutivas sozinho: 2 pontos 3 séries consecutivas com o examinador: 1 ponto Não realiza 3 consecutivas mesmo com examinador: 0

4) Instruções Conflitantes ( )

Bata duas vezes quando eu bater uma 1-1-1 Bata uma vez quando eu bater duas 2-2-2 1-1-2-1-2-2-2-1-1-2

Nenhum erro: 3 pontos 1 ou 2 erros: 2 pontos Mais do que 2 erros: 1 ponto O paciente bate como o examinador por pelo menos 4 vezes consecutivas: 0

5) Go-No-Go ( ) Bata uma vez quando eu bater uma 1-1-1 Não bata quando eu bater duas 2-2-2 1-1-2-1-2-2-2-1-1-2

Nenhum erro: 3 pontos 1 ou 2 erros: 2 pontos Mais do que 2 erros: 1 ponto O paciente bate com o examinador por pelo menos 4 vezes consecutivas: 0

6) Comportamento ( )

Não toque as minhas mãos (O paciente deve ficar com as mãos no joelho, com palma para cima. Sem nada dizer o examinador coloca suas mãos perto das mãos do paciente, se este toca-las, então o examinador vai dizer: Agora não toque as minhas mãos. A seguir repete a execução)

Se o paciente não tocar as mãos do examinador: 03 pontos Se o paciente hesitar e perguntar o que deve fazer: 02 pontos Se o paciente tocar as mãos do examinador sem hesitar: 01 ponto O paciente toca a mão do examinador, mesmo após receber a instrução para não tocar: 0

Figura 12 – Bateria de Avaliação Frontal (FAB).

Esta bateria é aplicável em aproximadamente 10 (dez) minutos e consiste de

06 (seis) subtestes (LIPTON e cols, 2005; APPOLLONIO e cols, 2005; CUNHA

e NOVAES, 2004; DUBOIS, 2000):

Page 67: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

65

1) Conceitualização: avaliação da abstração, onde o indivíduo deve fazer uma

ligação entre dois objetos e definir sua categoria. Exemplo banana e laranja.

Pacientes com disfunção frontal podem apresentar dificuldades em estabelecer

a relação abstrata que estes dois objetos são frutas, procurando uma relação

concreta entre os objetos (exemplo: ambos são amarelos), ou às vezes tentam

estabelecer uma ligação sobre a similaridade (ex: um é redondo e outro é

alongado).

2) Flexibilidade mental: Pacientes com lesão do lobo frontal apresentam

dificuldades específicas em situações fora da rotina, quando estratégias

cognitivas são necessárias para organizar uma resposta. Testes de

flexibilidade verbal não fazem parte de rotinas da vida das pessoas e requer

uma organização na memória semântica. Neste teste é solicitada que a pessoa

mencione a maior quantidade de palavras iniciada com a letra “s”, não sendo

nomes próprios, por um tempo de 01 (um) minuto. Lesões frontais produzem

decréscimo na fluência verbal, conseqüentemente um menor número de

palavras é observado.

3) Programação motora: testes que requerem organização temporal,

manutenção e execução de sucessivas ações também estão prejudicados nos

pacientes com lesão frontal. Neste teste o pesquisador solicita que o indivíduo

repita por 06 (seis) vezes a seqüência motora “punho-palma-lado”. Geralmente

os pacientes com lesão frontal não conseguem executar a série em ordem

correta, ou simplificam, utilizando apenas dois movimentos, ou perseveram em

uma repetição inapropriada.

Page 68: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

66

4) Susceptibilidade para interferência: Déficit no comportamento de auto-

regulação pode ser observado em testes em que o comando verbal conflita

com as informações sensoriais. Neste subteste ocorre um conflito de instrução:

pede-se para o indivíduo bater palma uma vez, quando o examinador bater

duas vezes, e bater palma duas vezes quando o examinador bater uma. O

sujeito tem que obedecer ao comando verbal, e inibir a informação sensorial, o

que pode estar comprometido em pacientes com lesões frontais, quando este

indivíduo tende a imitar o examinador.

5) Controle inibitório: Este teste tende a ser alterado em pacientes com dano da

parte ventral do lobo frontal. Ocorre por uma incapacidade de controlar a

impulsividade, e inibir uma resposta que estava previamente condicionada a

um estímulo. Neste subteste o examinador solicita ao indivíduo que bata palma

o1 (uma) vez quando o examinador bater 01 (uma), e não bata palma quando o

examinador bater 02 (duas) vezes.

6) Comportamento automático: Pacientes com lesão frontal são

excessivamente dependentes de comportamentos aprendidos. Neste subteste

o examinador estende sua mão em direção às mãos do indivíduo que

previamente foi instruído para ficar com as mãos estendidas com as palmas

voltadas para cima. O comportamento automático é pegar na mão do

entrevistador como se fosse cumprimentá-lo, porém os indivíduos normais

inibem este ato automático, o que pode não ocorrer em pacientes com lesão

frontal.

Page 69: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

67

A sua pontuação seguiu as orientações dos autores que desenvolveram o

teste, em sua versão original, com pontuação máxima de 18 pontos.

3.7- Forma Reduzida para Avaliação do Coeficiente de Inteligência – Teste

de WAIS forma reduzida.

Para avaliar se a capacidade intelectual poderia estar interferindo nos

resultados dos testes de avaliação frontal e estado mental, foi aplicado o teste

de WAIS em sua forma reduzida, estratificado pela escolaridade, apresentando

como resultado o valor do quociente de inteligência (QI).

A forma reduzida do teste de WAIS contém dois subtestes utilizando os

subtestes “Completar Figuras” e “Vocabulário”, para a obtenção do valor do QI.

O subteste “Completar Figuras” é composto por 25 figuras incompletas em que

o indivíduo avaliado deve dizer o que está faltando naquela imagem, por

exemplo, a primeira figura apresentada é um pente, onde falta 01 dente. O

examinador instrui ao indivíduo que, assim como nesta figura falta 01 dente no

pente, as demais figuras sempre estarão incompletas, e ele terá 20 segundos

para descobrir. Caso não o faça no tempo determinado, não pontua.

No subteste “Vocabulário” 33 palavras são apresentadas, dando intervalo de 20

segundos, no qual o entrevistado deve verbalizar outra palavra que demonstre

compreender aquela apresentada. Caso seja um complemento (exemplo:

apresentada a palavra “centavo”, o entrevistado responde “dinheiro”) pontua-se

Page 70: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

68

02 pontos. Caso seja uma palavra derivada (por exemplo: apresentada a

palavra “goiaba”, fale “goiabada”) pontua-se 01 ponto.

3.8- Etilometria pulmonar (teste do bafômetro)

Foi realizado o teste de etilometria pulmonar (bafômetro) antes das aplicações

dos testes cognitivos, de forma a evitar que as avaliações do estado mental e a

frontal fossem feitas sob a ação aguda do álcool. Aos pacientes com etilometria

maior que zero, foi solicitado o retorno posterior, porém 04 (quatro) pacientes

não conseguiram abster-se do álcool por mais de 02 (duas) tentativas. Como

estas condições poderiam fazer parte das características do tipo de alcoolismo

de acordo com Lesch, e subseqüentemente, no comprometimento das funções

frontais, o FAB foi aplicado mesmo com etilometria positiva (01 paciente com

0,20 mg/l; 01 paciente com 0,70 mg/l e dois pacientes com 1,50 mg/l).

3.9- Análise dos resultados

As análises estatísticas e a confecção gráfica foram feitas por meio de

programas estatíticos como o SPSS (“Statistical Package for Social Sciences”)

8.0 para Windows, o Epi Info 3.4, o Gbstat 6.0 e o Graphpad Prism 4.0.

Para análise descritiva foi utilizada a média e desvio padrão da média ou

mediana e intervalo interquartil. Para a comparação de dados nominais foi

empregado o teste de Chi-quadrado.

Page 71: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

69

Para as comparações entre o grupo controle não alcoolista e o grupo alcoolista

foi empregadas uma análise para duas amostras independentes não

paramétrica, o teste U de Mann-Whitney.

Em todas as comparações entre os subgrupos de alcoolistas, incluindo ou não

o grupo controle não alcoolista, foi empregada uma análise de variância

(ANOVA) de uma via não paramétrica de Kruskal-Wallis seguida do teste de

comparações múltiplas de Dunn.

A regressão linear múltipla foi utilizada para verificar as relações entre múltiplas

variáveis quantitativas de tal forma a detectar se a pontuação total da FAB

poderia ser predita a partir de outras variáveis. Foram avaliadas as

características sócio-demográficas (idade, sexo, cor, escolaridade, estado civil

e situação trabalhista), características de uso do álcool (idade de início,

quantidade de álcool por dia, tempo de abstinência, gravidade da

dependência), outras características (idade de início de cigarro, quantidade de

cigarros por dia, uso de drogas ilícitas, outros diagnósticos), o tipo de

alcoolismo de acordo com Lesch (I, II, III e IV), o desempenho da função

mental (pontuação no teste de Mini-Mental) e da função intelectual (pontuação

no teste de WAIS forma reduzida).

Em todas as análises, foi considerado o valor de p < 0,05 para se considerar as

diferenças observadas como sendo estatisticamente significantes.

Page 72: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

70

4. Resultados

Page 73: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

71

4.1 - A Classificação da Tipologia de Lesch

Durante o período de novembro de 2006 a março de 2007 foram avaliados 170

pacientes alcoolistas atendidos no PAA/HUCAM/CCS/UFES e 40 indivíduos

não alcoolistas para controle.

Para classificar o alcoolismo pela Tipologia de Lesch utilizou-se a entrevista

estruturada descrita em material e métodos, apresentada no anexo III. Foram

classificados como Tipo IV de Lesch aqueles que as seguintes alterações:

complicações no período gestacional da mãe (em que o paciente foi gerado);

sofrimento no parto; história de doenças na infância (como meningite e

traumatismos crânio-encefálico); história de crises convulsivas na infância;

déficit escolar; dificuldade na relação com grupos de amigos e história de

dificuldades (como enurese e gaguejar).

Seguindo a “árvore decisória” publicada por Lesch e cols (1990), foi investigada

a história de quadros psiquiátricos na infância e adolescência (depressão,

ansiedade, etc.), o relacionamento deste indivíduo com grupos específicos e

história de tentativa de suicídio sem uso de álcool. Aqueles pacientes que

tinham história psiquiátrica antes do uso de álcool, ou quadros depressivos

durante grandes períodos de abstinência alcoólica, foram classificados como

Tipo III de Lesch.

Pacientes que não preenchiam os critérios acima eram avaliados quanto a

apresentação clínica da síndrome de abstinência alcoólica. Aqueles que

Page 74: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

72

apresentavam alucinações auditivas, visuais ou delírio persecutório durante o

período de abstinência foram classificados como Tipo I de Lesch.

Para classificar o Tipo II, além de não preencher os critérios anteriores, era

necessário que o paciente apresentasse pelo menos 2 dos seguintes critérios:

ser de uma família com característica matriarcal, ter comportamento passivo,

apresentar história de delinqüências quando embriagado (ex: multas de

trânsito, brigas, confusões), ter boa inserção social, ter sintomas da síndrome

de abstinência ao álcool de fácil controle.

Após a aplicação da anamnese semi-estruturada 168 (cento e sessenta e oito)

pacientes foram classificados na primeira análise, e em 02 (dois) foram

necessárias novas consultas, sendo ambos, posteriormente, classificados

como Tipo II.

Quando se subdivide o grupo dos alcoolistas pela classificação de Lesch,

encontramos que, dos 170 pacientes com diagnóstico de alcoolismo, 36

(21,2%) foram classificados como Lesch Tipo I, 50 (29,4%) como Lesch Tipo II,

49 (28,8%) como Lesch Tipo III e 35 (20,6%) como Lesch Tipo IV, conforme

mostra a figura 13.

36

50

35

49

Lesch I - 21,2%

Lesch II - 29,4%

Lesch III - 28,8%

Lesch IV -20,6%

Figura 13: Distribuição dos alcoolistas pela classificação da Tipologia de Lesch.

Page 75: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

73

4.2 - Características sócio-demográficas

Do total de pacientes alcoolistas, 148 (87,1%) eram homens, e esse gênero

predominou absoluto no Tipo II de Lesch, enquanto nos pacientes classificados

como Tipo III, 28,6% eram mulheres (Tab. 3).

Tabela 3. Dados demográficos dos subgrupos de alcoolistas pela classificação de Lesch e

controles não alcoolistas

Controle Lesch I

Lesch II

Lesch III

Lesch IV

Total álcool

N (%)

40 36 (21,2)

50 (29,4)

49 (28,8)

35 (20,6)

170 (100)

Sexo: n (%) M F

35 (87,5) 5 (12,5)

33 (91,7) 3 (8,3)

50 (100)

-

35 (71,4) 14 (28,6)

30 (85,7) 5 (14,3)

148 (87,1) 22 (12,9)

Cor (%) Branco Pardo Preto Indígena

62,5 20,0 17,5 -

48,6 42,9 8,6 -

52,0 42,0 6,0 -

55,1 38,8 6,1 -

40 40 17,1 2,9

49,7 40,8 8,9 0,6

Idade (anos) Média Desvio Padrão Mediana Intervalo interquartil Mín e Máx

44,58 8,66 45,50

37,5 - 51 29-63

46,36 11,02 44,50 39 -57 20-70

47,98 9,05 48,0 41 - 54 30-74

43,84 9,02 45

36 -49 24-62

47,1 9,91 47

40 -53 33-76

46,37 9,73 46

39 -52 20-76

Estado Civil União estável Separado Solteiro Viúvo

77,5 12,5 10,0 -

50,0 27,8 16,7 5,6

60,0 32,0 8,0 -

67,4 24,5 6,1 2,0

57,1 14,3 25,7 2,9

59,4 25,3 12,9 2,4

Escolaridade (%) Analfabeto Só 1º ano Até 4ª série Até 8ª série Ens médio Ens. Superior

- 5,0 35,0 22,5 35,0 2,5

5,7 -

45,7 34,3 14,3 -

4,0 6,0 42,0 28,0 14,0 6,0

8,2 2,0 34,7 30,6 24,5 -

5,7 25,7 37,1 28,6 2,9 -

5,9 7,7 39,6 30,2 14,8 1,8

Situação trabalhista (%) Cart. Assin. S/ cart. Asin. Autônomo Desempregado Aux. Doença Aposentado

38,5 02,6 33,6 7,7 5,1 12,8

16,7 13,9 47,2 13,9 2,8 5,6

18,0 10,0 26,0 28,0 4,0 14,0

22,0 4,9 24,4 24,4 14,6 9,8

23,5 5,9 20,6 35,3 5,9 8,8

19,9 8,7 29,2 25,5 6,8 9,9

Com quem vive (%) Cônjuge Familiares Sozinho Amigos Outros

82,5 12,5 05,0 - -

47,2 47,7 11,1 - -

64,0 20,0 16,0 - -

67,3 16,3 12,2 2,0 2,0

57,1 28,6 11,4 2,9 -

60,0 25,3 12,9 1,2 0,6

Município (%) G. Vitória Outros

61,5 38,5

86,1 13,9

94,0 6,0

89,8 10,2

82,9 17,1

88,8 11,2

Page 76: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

74

Observe-se que do total da amostra feminina (n = 22) na população estudada,

14 (63,6%), a maioria, foram classificadas como Lesch Tipo III, lembrando que

este tipo apresenta um componente depressivo importante, sendo considerado

como o “modelo de depressão”.

A maior parte dos indivíduos era oriunda da área geográfica da Grande Vitória

(88,8%). 49,7% eram da cor branca, 40,8% da cor parda, 8,9% preta e 01 (um)

paciente era de origem indígena (Tab. 3). Esses dados estão de acordo com a

distribuição de cor dos indivíduos residentes nas cidades da região da Grande

Vitória, segundo o Censo Demográfico ano base de 2000 do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE, 2002).

A média de idade entre os alcolistas foi de 46,37 anos (DP ± 9,73), e a

mediana de 46 anos (Tab. 3). O mais jovem tinha 20 anos e o mais idoso 76

anos. Como pode ser observada na tabela 3, houve uma equivalência de

média de idade nos grupos classificados de acordo com a Tipologia de Lesch.

A maioria dos pacientes apresentava união matrimonial estável (59,4%),

25,4% estavam separados e 12,9% nunca tiveram qualquer união matrimonial

estável (Tab. 3). Curioso observar que mesmos os pacientes classificados

como Tipo IV (com história de lesão cerebral prévia ao uso de álcool)

apresentam semelhante distribuição no estado civil, principalmente para a

união estável (57,1%), muitas vezes tendo o cônjuge como cuidador. Os

pacientes alcoolistas, quando comparados com os controles, apresentaram

proporcionalmente menor índice de união estável (59,4% versus 77,5%), porém

Page 77: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

75

não houve diferença estatisticamente significante na comparação entre os

grupos e subgrupos.

Quanto ao vínculo social, 60% dos alcoolistas viviam com o cônjuge e/ou filhos;

25,3% com algum familiar que não o cônjuge ou filhos, 12,9% sozinhos (Tab.

3), 2 pacientes viviam com amigos e 01 paciente morava em abrigo.

Com relação à escolaridade (Tab. 3), entre os pacientes do

PAA/HUCAMCCS/UFES, 13,6% nunca tinham freqüentado escola ou

concluíram apenas o primeiro ano escolar, sendo que estes indivíduos não

sabiam ler, apenas assinavam o nome, enquanto entre os controles este índice

ficou em 5%. 39,6% dos alcoolistas fizeram até o quarto ano do ensino

fundamental; 30,2% freqüentaram escola até o final do ensino fundamental; e

14,8% completaram o ensino médio (entre os controles, 35% dos indivíduos

completaram o ensino médio). Somente 1,8% dos alcoolistas cursaram ensino

superior (2,5% dos controles). Embora os índices apresentem discretas

discrepâncias, não houve diferenças estatisticamente significantes na

comparação entre os grupos e subgrupos.

Na avaliação da situação trabalhista (Tab. 3), 57,8% dos alcoolistas estavam

inseridos no mercado de trabalho (em contraste com 74,7% dos controles),

porém somente 19,9% tinham vínculo trabalhista com carteira assinada (em

comparação a 33,6% dos controles), 8,7% trabalhavam para terceiros, mas não

tinham seus direitos assegurados e 29,2% trabalhavam como autônomos

(grande parte sem contribuir com a previdência oficial). Dos demais, 25,5%

Page 78: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

76

declaravam-se desempregados, 6,8% estavam recebendo auxílio oficial do

sistema previdenciário sob a forma de “auxílio-doença” e 9,9% estavam

aposentados (alguns por tempo de serviço e outros por invalidez permanente).

4.3 - Padrão de consumo de álcool

Os pacientes alcoolistas fizeram o primeiro uso de álcool em média aos 14,93

anos (DP ± 4,6 anos), com mediana de 15 anos (Tab. 4). A menor idade

relatada para a primeira experiência com álcool foi com 6 anos e a maior idade

de 30 anos (paciente feminina, que iniciou uso após óbito do esposo). Não

houve diferença estatisticamente significante na idade de início de uso de

álcool entre os diferentes tipos da classificação de Lesch. Tampouco se

diferiram da média e mediana da idade de início do uso de álcool entre os

controles que foi de 17,03 e 17 anos, respectivamente (Tab. 4). Estes dados

sugerem que a idade de início do uso de bebidas alcoólicas não parece

determinar o desenvolvimento ou a gravidade da dependência ao álcool.

Quanto à quantidade de álcool, a média relatada pelos pacientes foi de 374,56

gramas/dia (DP ± 309,79), com mediana de 320 gramas/dia (Tab. 4). A menor

média relatada foi de 60 gramas/dia e a maior de 2400 gramas/dia, o que seria

o equivalente a 6 (seis) litros de aguardente por dia. Entre os controles a média

diária de consumo de álcool foi substancialmente menor, de 9,86 gramas/dia, e

mediana de 4 gramas por dia, o que era o esperado. Houve diferenças

estatisticamente significantes na comparação entre os subgrupos de alcoolistas

classificados pela tipologia de Lesch e o grupo controle pela ANOVA de uma

Page 79: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

77

via para medidas não paramétricas de Kruskal Wallis (X2 = 96,43, gl = 4, p <

0,0001), sendo que o teste de comparações múltiplas de Dunn demonstrou que

o consumo de álcool foi significativamente maior (p < 0,01) em todos os

subgrupos de alcoolistas comparados ao controle (Tab. 3).

Tabela 4. Características do uso de bebidas alcoólicas pelos subgrupos de alcoolistas pela

classificação de Lesch e controles não alcoolistas

Controle Lesch I

Lesch II

Lesch III

Lesch IV

Total álcool

N 40 36 50 49 35 170 Idade início de uso (anos) Média Mediana Desvio Padrão Intervalo interquartil Mín e máx

17,03 17,00 3,89 15 -18 6-30

14,69 14,5 4,03

12 -17,5 7-25

15,28 15,5 4,79

12 -17,5 7-27

14,88 15 5,40

10,5 -17,5 6-30

14,74 15 3,99 12 -18 6-21

14,93 15 4,6

12 -18 6-30

Quantidade de álcool (gramas/dia) Média Mediana Desvio Padrão Intervalo interquartil Mín e máx

9,86 4 11,44 1 -16,5 0-40

368,89 360 ** 272,48 200 -400 80-1200

299,80 200 ** 246,96 120 -400 60-1200

478,96 400 ** 404,64 245 -475 80-2400

344,00 240 ** 242,82 200 -400 60-800

374,56 320 309,79 190 -400 60-2400

Tempo de abstinência (dias) Média Mediana Desvio Padrão Intervalo interquartil Mín e máx

- - - - -

241,28 56,5 457,45 11,5 -202,5 0-2160

136,26 35 312,23 6,5 -112,5 0-1710

161,98 30 395,79 7 - 91 1-2520

269,57 10 570,67 2 -300 0-2880

193,36 36 429,6 5 -142,5 0-2880

Abstinência categorizada (%) Bebeu no dia 1 a 14 dias 15 a 30 dias 31 a 90 dias 3 a 6 meses 6 a 12 meses Mais de 1 ano

- - - - - - -

2,8 22,2 8,3 30,6 8,3 11,1 16,7

2,0 36,0 6,0 28,0 10,0 12,0 6,0

- 41,7 10,4 22,9 4,2 6,3 14,6

5,7 45,7 2,9 14,3 2,9 8,6 20,0

2,4 36,7 7,1 24,3 6,5 9,5 13,6

Bebida mais utilizada (%) Aguardente Cerveja Outros Qualquer um Dois tipos

5,6 66,7 5,6 2,8 19,4

69,4 2,8 -

19,4 8,3

56,0 14,0 6,0 4,0 18,0

49,0 4,1 2,0 26,5 18,5

71,4 8,6 2,9 5,7 11,4

60,0 7,6 3,6 14,1 14,7

Gravidade do alcoolismo (%) Leve Moderado Grave

- - -

- 2,8 97,2

6,0 56,0 38,0

-

24,5 75,5

2,9 17,1 80,0

2,4 27,6 70,0

** p < 0,01 comparado ao controle (teste de comparações múltiplas de Dunn que segue

ANOVA de uma via não paramétrica de Kruskal-Wallis)

Page 80: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

78

O atendimento foi feito aos pacientes que compareciam ao ambulatório,

independente se fosse a primeira consulta ou se o paciente já havia sido

atendido anteriormente neste serviço. Por norma do ambulatório, após 1 (um)

ano de abstinência o paciente recebe alta, porém alguns pacientes têm

complicações clínicas (pancreatites, hepatopatias, diabetes, hipertensão

arterial, neuropatias, etc.) e necessitam manter o acompanhamento médico, e

também são orientados a comparecerem ao ambulatório em caso de alguma

complicação, independente do uso do álcool. Desta maneira, o tempo de

abstinência apresentou grande variação, estando os pacientes em média de

193,36 dias (DP ± 429,6) abstinentes, com a mediana de 36 dias, variando de 0

(alcoolizado no dia) a 2880 dias sem ingestão de nenhum tipo ou quantidade

de bebida (Tab. 4). Não houve diferença significante entre o tempo de

abstinência, considerando-se apenas os subgrupos da classificação alcoolismo

de Lesch, pois não é possível caracterizar abstinência no grupo controle uma

vez que são indivíduos que não apresentam dependência ao álcool.

Observa-se, na categorização do tempo de abstinência, que dos 170 pacientes,

4 haviam bebido no dia da entrevista, 36,7% tinham bebido nos últimos 14 dias

e estavam no período de abstinência aguda, 31,4% estavam entre 15 e 90 dias

abstêmios (período considerado como abstinência crônica) e 29,6% tinham

mais de 03 meses sem beber, sendo que destes, 13,6% já tinham mais de 1

ano sem usar álcool (Tab. 4). Não houve diferenças estatísticamente

significantes no tempo de abstinência entre os subtipos de alcoolismo pela

classificação de Lesch.

Dos alcoolizados (total de 4 indivíduos) 1 paciente foi classificado como Tipo I e

apresentou alcoolemia estimada de 0,20 mg/l; 1 indivíduo foi classificado como

Tipo II, com alcoolemia estimada de 1,5 mg/l; e 2 foram classificados como

Tipo IV de Lesch, com 1,5 mg/l e 0,7 mg/l de resultado no etilômetro.

Page 81: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

79

A aguardente sozinha ou associada a outras bebidas foi relatada como o

produto alcoólico mais utilizado por nossos pacientes (60%), enquanto entre os

controles a bebida mais utilizada foi a cerveja (66,7%) (Tab. 4). Estes dados

dos controles estão de acordo com o I Levantamento Nacional sobre os

Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira, em 2007.

Quando se analisou os dados de gravidade da dependência ao álcool,

observou-se que 70% dos pacientes já apresentavam história de alucinações

e/ou crises convulsivas, sendo classificados como dependência grave (Tab. 4).

Observe-se que entre os subgrupos classificados de acordo com a tipologia de

Lesch, a maior parte dos pacientes dos tipos I, III e IV apresentava

dependência grave (97,2%, 75,5% e 80%, respectivamente), sendo que a

maioria do tipo II (56%) apresentava dependência moderada. Somente os

subgrupos classificados como tipos II e IV de Lesch apresentaram alguns

pacientes com dependência leve (6% e 2,9%, respectivamente).

4.4- Uso de tabaco e outras drogas

A dependência à nicotina frequentemente associa-se à dependência do álcool,

desse modo é importante avaliar o perfil do uso de tabaco entre os pacientes

alcoolistas. Nesta amostra, 78,8% dos pacientes diagnosticados como

alcoolistas eram também tabagistas crônicos (Tab. 5), iniciaram o uso de

tabaco com idade semelhante a quando iniciaram o uso de álcool (média 15,13

anos com DP± 5,72 anos e mediana 15 anos) e fumavam em média 24,5

Page 82: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

80

cigarros por dia. Dos 40 indivíduos controles, 12 (30%) fumavam, tendo

iniciado o uso em média com 17,56 anos, mediana de 17 anos e fumavam em

média 17,29 cigarros por dia.

Tabela 5. Uso de cigarro e/ou outras drogas pelos pacientes dos subgrupos de alcoolistas pela

classificação de Lesch e controles não alcoolistas

Controles Lesch I

Lesch II

Lesch III

Lesch IV

Total álcool

N 40 36 50 49 35 170 Fumo (%) Sim Não

30,0 70,0

77,8 22,2

80,0 20,0

79,6 20,4

77,1 22,9

78,8 21,2

Idade início fumo (anos) Média Mediana Desvio Padrão Intervalo interquartil Mín e máx

17,56 17

13,50 15 -19 3-25

14,82 15 4,20 12 -17 7-23

16,73 15 6,64

12 -18,5 6-36

15,35 14 6,26 12 -18 6-39

12,71 13 3,20 10 -15 5-19

15,13 15 5,72 12 -18 5-39

Droga (%) Sim Não

7,5 92,5

16,7 83,8

20,0 80,0

24,5 75,5

11,4 88,6

18,8 81,2

Entre os alcoolistas, 18,8% relataram já ter feito uso de drogas ilícitas na vida,

sendo relatado principalmente uso de maconha e cocaína, e entre os controles

este relato foi positivo em 7,5% dos entrevistados (Tab. 5).

4.5- Outros diagnósticos

Os pacientes alcoolistas ao serem atendidos no PAA/HUCAM/CCS/UFES

realizam investigação e tratamento das complicações clínicas. Dos 170 (cento

e setenta) alcoolistas incluídos neste estudo, 83 pacientes (48%) tinham outro

diagnóstico clínico, sendo que alguns tinham mais de uma complicação,

conforme são apresentados na tabela 6.

Page 83: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

81

Tabela 6. Complicações clínicas.

Diagnóstico

Nº de pacientes

%

Doença hepática

Doença cardiovascular

Doença pancreática

Doença endócrina

Doença infecto-parasitária

Doença neurológica grave

Úlcera péptica

Neoplasia

Doença psiquiátrica

Doença renal

38

25

13

9

8

4

3

2

2

1

22,35

14,70

7,74

5,29

4,70

2,35

1,76

1,18

1,18

0,59

4.6 - Avaliação Cognitiva nos alcoolistas classificados pelos subtipos de

Lesch: Miniexame do Estado Mental (Mini-Mental)

A pontuação média do Mini-Mental no grupo dos alcoolistas (n = 170) foi de

24,93 (DP ± 4,41) pontos, com mediana de 26, enquanto os controles

apresentaram média de 27 (DP ± 2,72) e mediana de 28 pontos (Fig. 14). A

mediana de pontuação obtida pelo grupo alcoolista foi significativamente menor

(U de Mann-Whitney = 2.428,5, p < 0,01) comparado ao grupo controle.

Page 84: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

82

17040N =

Grupos

alcoolistacontrole

Mini-Mental (pontuação total)

40

30

20

10

0

**

Figura 14 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total do Mini Exame do Estado

Mental (Mini-Mental) no grupo controle e alcoolista. ** p < 0,01 comparado ao grupo controle

(teste U de Mann-Whitney).

Em uma análise mais detalhada, comparando-se os subgrupos de alcoolistas

classificados de acordo com a Tipologia de Lesch em I, II, III e IV, a ANOVA de

uma via não-paramétrica de Kruskal-Wallis demonstra haver diferenças

estatisticamente significantes entre o grupo controle e subgrupos de alcoolistas

(X2 = 44,3, gl = 4, p < 0,0001). O teste de comparações múltiplas de Dunn

demonstra que o subgrupo de alcoolistas do Tipo IV é o que apresenta um

significativo menor desempenho comparado ao grupo controle (p < 0,01) e até

mesmo aos outros subgrupos de alcoolistas (p < 0,05), como demonstrado na

figura 15.

Page 85: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

83

3549503640N =

Grupos e Subgrupos

Lesch IVLesch IIILesch IILesch Icontrole

Mini-Mental (pontuação total)

40

30

20

10

0

***

Figura 15: Mediana e intervalo interquartil da pontuação total do Mini Exame do Estado Mental

(Mini-Mental) no grupo controle e os subgrupos de alcoolistas classificados de acordo com a

tipologia de Lesch. * p < 0,05 comparado aos subgrupos Lesch I, II e III; ** p < 0,01 comparado

ao grupo controle (teste de comparações múltiplas de Dunn).

Na determinação da pontuação de corte para a classificação de demência no

Miniexame do Estado Mental, se considera a escolaridade do indivíduo. Para

excluir a suspeita de demência, considerou-se para pacientes analfabetos a

pontuação mínima de 18 pontos; para indivíduos com 1 a 3 anos de estudo, o

ponto de corte foi 21 pontos, naqueles com 4 a 7 anos de escolaridade, o valor

de corte foi 24 pontos e nos pacientes com mais de 7 anos de estudo, o valor

de corte foi 26 pontos. Desta forma, foram classificados como possíveis

portadores de demência pelo resultado do Mini-Mental 25,9% dos alcoolistas,

enquanto nos pacientes controles atingiram pontuação para demência apenas

12,5% dos entrevistados. Ressalte-se que nos pacientes classificados como

Page 86: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

84

Lesch Tipo IV, 62,9% apresentavam pontuação compatível com grau de

demência.

4.7 - Avaliação Cognitiva nos alcoolistas classificados pelos subtipos de

Lesch: Forma Reduzida para Avaliação do Coeficiente de Inteligência-

WAIS

Uma variável interferente que poderia proporcionar um viés de confundimento,

nos resultados da avaliação da função frontal, seria o nível de inteligência dos

pacientes alcoolistas crônicos. Para análise mais precisa, foi aplicada a escala

reduzida para avaliação de inteligência (Avaliação do Coeficiente de

Inteligência WAIS, forma reduzida) apenas para o grupo alcoolista do presente

estudo, conforme podemos avaliar na figura 16.

31444634N =

Subgrupos

Lesch IVLesch IIILesch IILesch I

WAIS (pontuação total)

120

110

100

90

80

70

60

50

*

Figura 16 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total do teste simplificado do WAIS

para avaliação da inteligência nos subgrupos de alcoolistas classificados de acordo com a

tipologia de Lesch. * p < 0,05 comparado ao subgrupo Lesch III.

Page 87: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

85

A pontuação de QI média nos pacientes alcoolistas do presente estudo foi de

80,26 (DP ± 11,98) e mediana de 78 pontos. Foram encontradas diferenças

estatisticamente significantes na comparação entre os subgrupos de alcoolistas

pela ANOVA de uma via para medidas não paramétricas de Kruskal-Wallis (X2

= 15,93, gl = 3, p = 0,001). Os pacientes Lesch tipo III foram os que obtiveram

melhor rendimento neste teste, com média de 83,86 pontos (DP ± 12,75) e

mediana de 84 (Fig. 16) enquanto que os pacientes Lesch tipo IV obtiveram

pontuação muito inferior com média de 74 pontos (DP ± 10,05) e mediana de

71 pontos, sendo significativamente menor (p < 0,05) quando comparados aos

pacientes Lesch Tipo III (Fig. 16).

4.8 - Avaliação Cognitiva nos alcoolistas classificados pelos subtipos de

Lesch: Bateria de Avaliação Frontal (FAB)

Para avaliar as funções frontais utilizamos o teste de Avaliação Frontal Breve –

FAB. A figura 17 mostra a pontuação global obtida pelos indivíduos

entrevistados, alcoolistas e controle.

No grupo controle, quase a metade (48%) dos indivíduos apresentaram

desempenho bom, acima de 14, sendo as pontuações de maior freqüência de

14 (18%) e 15 (15%), somando-se 33%, seguido de um pico na pontuação de

10 (15%). Observe-se que a menor pontuação obtida foi de 6.

Page 88: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

86

Figura 17 - Distribuição da porcentagem de indivíduos em cada pontuação obtida na aplicação

da Bateria de Avaliação Frontal (FAB), sendo 18 a pontuação máxima, nos grupos controle (n =

40) e alcoolista (n = 170).

Entre os alcoolistas, houve uma distribuição com discretas concentrações de

maior freqüência nas pontuações 9 (12%), 12 (11%) e 15 (11%). Entretanto,

observe-se que a maior parte dos indivíduos apresentou pontuações baixas

(30% entre 7 e 9), ou médio-baixas (20% entre 11 e 12). Considerando-se as

pontuações baixas a médio-baixas juntas, entre 7 e 12, obtém-se a maior parte

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

Controle

FAB (pontuação total)

Porcentagem

de indivíduos

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

Controle

FAB (pontuação total)

Porcentagem

de indivíduos

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

Alcoolistas

FAB (pontuação total)

Porcentagem

de indivíduos

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

Alcoolistas

FAB (pontuação total)

Porcentagem

de indivíduos

Page 89: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

87

dos indivíduos alcoolistas (58%). Observe-se que diferente do grupo controle, a

menor pontuação obtida foi de 2.

Desta forma, as pontuações obtidas pelos pacientes alcoolistas foram mais

baixas, configurando um desvio para a esquerda comparado ao grupo controle.

Ao se analisar as pontuações obtidas individualmente pelos subgrupos de

alcoolistas, este desvio se evidencia no subgrupo classificado como Tipo IV de

Lesch (Fig. 18) enquanto que os outros subgrupos (Tipos I, II e III de Lesch)

apresentam perfis semelhantes ao controle.

Figura 18- Distribuição das pontuações obtidas na aplicação da bateria de avaliação frontal

(FAB) no grupo controle e nos subgrupos de alcoolistas classificados de acordo com a

Tipologia de Lesch.

Page 90: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

88

Quando se calcula a média e mediana, a avaliação do FAB mostrou que os

alcoolistas obtiveram uma média de 10,34 pontos (DP ± 3,47) do total de 18

pontos possíveis, com mediana de 10 pontos, em comparação com os

controles que obtiveram pontuação superior, em média 12,7 pontos (DP ± 2,84)

e mediana de 13 pontos (Fig. 19). A mediana de pontuação obtida pelo grupo

alcoolista foi significativamente menor (U de Mann-Whitney = 2.076, p <

0,0001) comparado ao grupo controle (Fig. 19).

17040N =

Grupos

alcoolistacontrole

FAB (pontuação total)

20

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

***

Figura 19 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total da Bateria de Avaliação Frontal

(FAB) no grupo controle e alcoolista. *** p < 0,0001 comparado ao grupo controle (teste U de

Mann-Whitney).

Dentre os subgrupos, os que tiveram pior desempenho nesta bateria também

foram os Tipo IV de Lesch, com a média de pontuação de 7,57 (DP ± 2,32) e

mediana de 8. A ANOVA de uma via não-paramétrica de Kruskal-Wallis

demonstra haver diferenças estatisticamente significantes entre o grupo

Page 91: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

89

controle e subgrupos de alcoolistas (X2 = 45,4, gl = 4, p < 0,0001). O teste de

comparações múltiplas de Dunn demonstra que o subgrupo de alcoolistas do

Tipo IV é o que apresenta um significativo menor desempenho comparado ao

grupo controle (p < 0,01) e até mesmo aos outros subgrupos de alcoolistas (p <

0,05), como pode ser visto na figura 20.

3549503640N =

Grupos e Subgrupos

Lesch IVLesch IIILesch IILesch Icontrole

FAB (pontuação total)

20

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

***

Figura 20 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total da Bateria de Avaliação Frontal

(FAB) no grupo controle e os subgrupos de alcoolistas classificados de acordo com a Tipologia

de Lesch. * p < 0,05 comparado aos subgrupos Lesch I, II e III; ** p < 0,01 comparado ao grupo

controle (teste de comparações múltiplas de Dunn).

Dos alcoolizados (total de 4 indivíduos) 1 paciente foi classificado como Tipo I,

tinha alcoolemia de 0,20 mg/l e obteve 11 pontos no FAB; 1 indivíduo foi

classificados como Tipo II, com alcoolemia de 1,5 mg/l e no FAB apresentou 15

Page 92: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

90

pontos; e 2 foram classificados como Tipo IV de Lesch, com 1,5 mg/l e 0,7 mg/l

de alcoolemia no etilômetro, obtendo respectivamente 7 e 9 pontos no FAB.

Algumas funções frontais são descritas como mais pronunciadamente

alteradas em alcoolistas, deste modo procedeu-se uma análise individualizada

dos subitens do FAB, entre os grupos (controle e alcoolista) e entre o controle e

os subgrupos de alcoolistas classificados de acordo com a Tipologia de Lesch

em I, II, III e IV (Tab. 7).

Na análise entre os grupos controle e alcoolistas, os subitens mais

comprometidos do FAB foram programação motora, susceptibilidade para

interferência e controle inibitório, sendo as pontuações médias

significativamente menores no grupo alcoolista (U = 2.272,5, p < 0,0001; U =

1.989, p < 0,0001; e, U = 2503, p < 0,01, respectivamente) comparadas às

obtidas pelo grupo controle (Tab. 7).

Tabela 7. Mediana e intervalo interquartil das pontuações obtidas nos subitens da bateria de

avaliação frontal (FAB) pelos pacientes alcoolistas e controles não alcoolistas.

Subitens do FAB Controle

Lesch I

Lesch II

Lesch III

Lesch IV

Total Álcool

N 40 36 50 49 35 170 Conceitualização 1

0 -1 1 0 -2

0 0 -1

0 0 -2

0 0 - 0

0 0 - 1

Flexibilidade Mental

2 1 - 3

3 2 - 3

2 1 - 3

2 2 - 3

1 0 - 2

2 1 - 3

Programação motora

3 2,5 - 3

2,5 2 - 3

2 1 - 3

2 1 - 3

1 1 - 3

2 *** 1 - 3

Susceptibilidade para interferência

3 2 - 3

2 1 - 3

2 1 - 3

2 1 - 3

1 * 0 -2

2 *** 1 -3

Controle inibitório 2 0 - 3

1 0 – 2,5

1 0 – 2,5

1 0 - 2

0 * 0 - 1

1 ** 0 - 2

Comportamento automático

3 3 - 3

3 3 - 3

3 3 - 3

3 3 - 3

3 3 - 3

3 3 - 3

Page 93: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

91

4.9- Análises de Regressão Linear Múltipla

Através de uma análise de regressão linear múltipla foi possível identificar a

existência de variáveis que poderiam predizer o nível de desempenho na FAB.

O coeficiente de correlação (R) foi de 0,709 e a ANOVA da regressão foi

estatisticamente significante [F(14,354) = 6,486, p < 0,0001], sendo verificado

que o tipo de alcoolismo de acordo com Lesch (p = 0,011), a pontuação total do

Mini-Exame do Estado Mental (Mini-Mental) (p = 0,001) e a pontuação total do

teste reduzido de WAIS para a determinação do quociente de inteligência (QI)

(p = 0,001) foram as variáveis que se mostraram significativamente preditivas

de alteração no desempenho da função frontal (Tab. 8).

Tabela 8. Regressão linear de múltiplas variáveis sobre a pontuação total da Bateria de

Avaliação Frontal (FAB). Mini-Mental: Mini-Exame do Estado Mental; WAIS: teste reduzido para

avaliação do quociente de inteligência.

Variável t Sig.

Tipologia de Lesch (Lesch I, II, III e IV) -2,570 0,011 *

Mini-Mental (pontuação total) 3,860 0,001 *

WAIS- reduzido (pontuação total) 3,554 0,001 *

Idade -1,344 0,181

Sexo 0,363 0,717

Escolaridade 0,738 0,462

Idade de início do uso de álcool -1,504 0,135

Quantidade de álcool por dia -0,319 0,750

Tempo de abstinência 0,192 0,848

Gravidade da dependência -0,105 0,916

Page 94: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

92

Lesch I Lesch II Lesch III Lesch IV

FAB (pontuação total)

20

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

Mini-Mental (pontuação total)

353025201510

FAB (pontuação total)

20

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

WAIS (pontuação total)

1201101009080706050

FAB (pontuação total)

20

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

Figura 21. Destaque de curvas de regressão linear das variáveis que foram preditivas

[Tipologia de Lesch, pontuações totais dos testes de avaliação mental (Mini-Mental) e do

quociente de inteligência (WAIS)] para o desempenho da função frontal mensurada pela

Bateria de Avaliação Frontal (FAB). Os pontos representam um ou mais indivíduos em uma

dada pontuação do FAB. Os traços representam a média (central) e os intervalos de confiança

de 95%.

As curvas de regressão linear destas variáveis (Fig. 21) demonstram que o

desempenho da função frontal decresce de acordo com classificação do

alcoolismo pela Tipologia de Lesch, sendo mais baixo principalmente para o

Tipo IV. Também demonstram que as pontuações baixas obtida nos testes

para avaliação do estado mental (Mini-Mental) e do quociente de inteligência

(WAIS) relaciona-se a desempenhos inferiores na Bateria de Avaliação Frontal

(FAB). Desta forma torna-se possível predizer que o tipo de alcoolismo,

associado a um desempenho pobre da função mental e intelectual, apresentará

um desempenho frontal comprometido.

As demais variáveis como: características sócio-demográficas (idade, sexo,

cor, escolaridade, estado civil, situação trabalhista), bem como do padrão de

consumo de álcool (idade de início de uso, quantidade consumida, tempo de

abstinência e mesmo a gravidade da dependência), e finalmente outras

características como o tabagismo, uso de drogas ilícitas e outros diagnósticos,

não se mostraram preditivas para o desempenho da função frontal (Tab. 8).

Page 95: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

93

3549503640N =

Grupos e Subgrupos

Lesch IVLesch IIILesch IILesch Icontrole

FAB (pontuação total)

20

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

***

1340403334N =

Grupos e Subgrupos

Lesch IVLesch IIILesch IILesch Icontrole

FAB (pontuação total)

20

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

*

4.10- Análise do FAB excluindo-se demência

Os resultados acima sugerem que pacientes com demência também podem

apresentar comprometimento da função frontal. Entretanto, era preciso

determinar se esta relação seria obrigatória, ou seja, o comprometimento

frontal necessariamente ocorreria associado ao comprometimento da função

mental, ou se seriam disfunções dissociadas. Para tanto, foi feita uma análise

dos casos, estratificando-os pelo diagnóstico de demência, realizado pela

pontuação do Mini-Mental considerando-se o ponto de corte para escolaridade

(Fig. 22).

A - Todos B - Excluindo demência

Figura 22 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total da Bateria de Avaliação Frontal

(FAB) no grupo controle e os subgrupos de alcoolistas classificados de acordo com a Tipologia

de Lesch obtida no grupo total (A) (Obs.: Reprodução da figura 20) e em um subgrupo com a

exclusão dos indivíduos com provável demência (B) (A) * p < 0,05 comparado aos subgrupos

Lesch I, II e III; ** p < 0,01 comparado ao grupo controle; (B) * p < 0,05 comparado ao grupo

controle e ao subgrupo Lesch I (testes de comparações múltiplas de Dunn).

Page 96: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

94

3549503640N =

Grupos e Subgrupos

Lesch IVLesch IIILesch IILesch Icontrole

Mini-Mental (pontuação total)

40

30

20

10

0

***

1340403335N =

Grupos e Subgrupos

Lesch IVLesch IIILesch IILesch Icontrole

Mini-Mental (pontuação total)

40

30

20

10

0

Nesta análise ainda foi observada a existência de diferenças significantes entre

os grupos e subgrupos pela ANOVA de uma via não-paramétrica de Kruskal-

Wallis (X2 = 18,14, gl = 4, p = 0,0012) mesmo após a exclusão dos indivíduos

com provável demência (Fig. 22 B).

O teste de comparações múltiplas de Dunn demonstrou que o subgrupo de

alcoolista classificados como Tipo IV de Lesch é o que ainda apresenta um

desempenho significativamente comprometido (p < 0,05) comparado ao grupo

controle e ao subgrupo de alcoolista tipo I (Fig. 22 B), mesmo tendo-se

excluído todos os indivíduos, em todos os grupos, com pontuações no teste de

avaliação do estado mental (Mini-Mental) sugestivo de demência.

A - Todos B - Excluindo demência

Figura 23 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total do Mini Exame do Estado Mental

(Mini-Mental) no grupo controle e os subgrupos de alcoolistas classificados de acordo com a

Tipologia de Lesch obtida no grupo total (A) (Obs.: Reprodução da figura 15) e em um

subgrupo com a exclusão dos indivíduos com provável demência (B). (A) * p < 0,05 comparado

aos subgrupos Lesch I, II e III; ** p < 0,01 comparado ao grupo controle (teste de comparações

múltiplas de Dunn).

Page 97: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

95

Fazendo-se uma nova análise do desempenho do próprio teste de avaliação do

estado mental entre o grupo controle e os subgrupos de alcoolistas (Fig. 23), as

pontuações obtidas no subgrupo Lesch Tipo IV ainda se apresenta menor,

porém não de forma estatisticamente significante, após a exclusão dos

indivíduos com provável demência (Fig. 23 B).

4.11- Abstinência prolongada e FAB. Em uma análise adicional foi verificado se a abstinência, e principalmente o

período de abstinência teria alguma influência em melhorar o desempenho da

função frontal. Sendo assim, foi considerado o desempenho na FAB pelos

subgrupos de alcoolistas classificados de acordo com a Tipologia de Lesch, em

um período menor de 90 dias (Fig. 24, à esquerda) em contraste com um

período igual ou maior de 90 dias de abstinência (Fig. 24, à direita). De um

modo geral observa-se que o perfil de desempenho nas duas condições foi

semelhante ao observado para o desempenho total da FAB demonstrado

anteriormente.

As ANOVAS de uma via não-paramétrica de Kruskal-Wallis demonstraram

haver diferenças estatisticamente significantes entre os subgrupos tanto na

condição de abstinência menor que 90 dias (Fig. 24, à esquerda) quanto

naqueles com abstinência superior a 90 dias (Fig. 24, à direita) (X2 = 19,94, gl =

3, p = 0,002; X2 = 13,70, gl = 3, p = 0,003; respectivamente).

Page 98: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

96

22353522N =

Tempo de abstinência menor que 90 dias

Subgrupos

Lesch IVLesch IIILesch IILesch I

FAB (pontuação total)

20

10

0

*

13141514N =

Tempo de abstinência maior ou igual a 90 dias

Subgrupos

Lesch IVLesch IIILesch IILesch I

FAB (pontuação total)

20

10

0

*

Figura 24 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total da Bateria de Avaliação Frontal

(FAB) nos subgrupos de alcoolistas classificados de acordo com a Tipologia de Lesch obtida

em pacientes com abstinência menor que 90 dias (esquerda) e maior ou igual à 90 dias

(direita). Esquerda: * p < 0,05 comparado aos subgrupos Lesch I, II e III. Direita: * p < 0,05

comparado ao subgrupo Lesch I (teste de comparações múltiplas de Dunn).

As análises de cada subgrupo de Lesch categorizados por abstinência menor

de 90 dias ou igual/maior que 90 dias, por comparações múltiplas de Dunn

demonstraram que o subgrupo Lesch IV foi o que apresentou um desempenho

significativamente menor (p < 0,05) no teste do FAB, comparado aos outros

subgrupos (I, II e III) nos pacientes que estavam abstinentes por período

inferior a 90 dias (Fig. 24, à esquerda), e comparados ao subgrupo Lesch I nos

pacientes abstinentes por período igual ou superior a 90 dias (Fig. 24, à

direita).

As comparações de desempenho intra-subgrupo (Fig. 25) da FAB entre os

pacientes com abstinência por período inferior a 90 dias e os pacientes com

abstinência com período igual ou superior a 90 dias não mostraram diferenças

Page 99: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

97

1535N =

Lesch II

Tempo de abstinência

>= 90 dias< 90 diasFAB (pontuação total)

20

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

1435N =

Lesch III

Tempo de abstinência

>= 90 dias< 90 dias

FAB (pontuação total)

20

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

1422N =

Lesch I

Tempo de abstinência

>= 90 diasabaixo de 90 dias

FAB (pontuação total)

20

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

1322N =

Lesch IV

Tempo de abstinência

>= 90 dias< 90 dias

FAB (pontuação total)

20

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

estatisticamente significantes em nenhum dos tipos de alcoolismo, sugerindo

que o período de abstinência não interferiu no desempenho da FAB.

Figura 25 - Mediana e intervalo interquartil da pontuação total da Bateria de Avaliação Frontal

(FAB) em cada subgrupo de alcoolistas classificados de acordo com a Tipologia de Lesch (I, II,

III e IV) obtida em pacientes com abstinência menor (<) que 90 dias (esquerda) e maior ou

igual (>=) à 90 dias (direita).

Page 100: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

98

5. Discussão

Page 101: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

99

5.1 - Limitações do estudo

O trabalho foi desenvolvido no PAA/HUCAM/CCS/UFES, um ambulatório

especializado em atendimento de pacientes alcoolistas, e a amostra utilizada

para a realização da pesquisa foi de conveniência, realizando o atendimento

naqueles pacientes que compareciam para consulta e aceitavam participar do

estudo. Esta metodologia pode ter produzido algumas distorções no resultado

final dos subgrupos de alcoolistas pela Tipologia de Lesch, pois o retorno de

pacientes que tem dificuldade de abster-se do álcool, em geral, é mais

freqüente do que naqueles que conseguem permanecer bem com orientações

simples. Para avaliar se este fator pode ter influenciado nos resultados, novos

estudos deverão ser realizados avaliando apenas os pacientes atendidos pela

primeira vez na vida para o tratamento da dependência ao álcool.

O grupo controle não representa a população geral, porém podem representar

o tipo de público que é atendido no Hospital Universitário Cassiano Antônio

Moraes, hospital que realiza o atendimento de SUS.

O grupo controle foi planejado com o número de pacientes semelhante a cada

um dos subgrupos da Tipologia de Lesch, porém em algumas avaliações, onde

as comparações eram realizadas entre alcoolistas e não alcoolistas, não foi

possível identificar diferenças, por apresentar número pequeno de indivíduos

no grupo controle.

Page 102: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

100

Foram avaliados homens e mulheres. As diferenças entre os sexos não foram

possíveis de serem demonstrada por número desigual entre o gênero. Novos

estudos devem ser planejados para avaliar separadamente homens e

mulheres.

5.2- Dados demográficos e sociais

As avaliações dos dados demográficos dos 170 (cento e setenta) pacientes

alcoolistas descritos no nosso trabalho, estão de acordo com a literatura

mundial, nacional e regional.

Trabalhos publicados no Espírito Santo desde a década de 90 mostram

distribuição por sexo, faixa etária, cor, procedência, situação trabalhista e

estado civil semelhantes aos encontrados neste estudo (MACIEIRA, ZAGO-

GOMES, GARCIA, 1993,1992; ZAGO-GOMES e cols, 1995; GONÇALVES,

1995), assim como trabalhos nacionais (I Levantamento Nacional sobre os

Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira – SENAD, 2007) e

internacionais (WOBER e cols, 1998; SPERLING e cols, 2000; BÖNSCH e

cols, 2006).

Observe-se que o baixo índice educacional encontrado nos indivíduos que

compuseram as amostras de alcoolistas e controles não alcoolistas reflete o

público atendido no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, hospital

público, que atende exclusivamente pacientes do Sistema Único de Saúde

(SUS), ou seja, indivíduos da faixa sócio-econômica de baixa renda.

Page 103: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

101

5.3 – O uso de Tabaco e de drogas ilícitas

Na análise da dependência ao tabaco encontramos que 78,8% dos alcoolistas

apresentavam uso de cigarro, em comparação a 30% dos controles. Um estudo

anterior de Macieira e cols, em 1993, no PAA/HUCAM/CCS/UFES já havia

mostrado que 70% dos pacientes alcoolistas atendidos naquele período

apresentavam a co-dependência à nicotina.

Hillemacher e cols (2006) afirmam que a prevalência de alcoolismo em

fumantes é estimada em dez vezes mais do que em não fumantes, e

aplicando-se uma escala desenvolvida para avaliar o grau de compulsão

(Obsessive Compulsive Drinking Scale - OCDS) concluem que a gravidade da

dependência a nicotina está associada a uma elevada compulsão para o

álcool. Conclusão semelhante é apresentada por Hertling e cols (2005) em um

estudo no qual avaliam alcoolistas fumantes e não fumantes.

Algumas explicações são aventadas na literatura para a existência desta

associação. Dohrman e Reiter (2003), por exemplo, demonstram que o álcool

promove uma supersensibilização (“up-regulation”) da expressão de receptores

nicotínicos. Polich e Ochoa (2004), avaliando a onda p300 produzida pelo

córtex pré-frontal durante tarefas de conflito em indivíduo jovens com alto risco

de alcoolismo, comparado a jovens de baixo risco de alcoolismo, fumantes e

não fumantes, observou que a depressão da onda p300 é mais acentuada nos

indivíduos de alto risco de alcoolismo e que eram fumantes.

Page 104: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

102

Quanto ao uso de drogas ilícitas na vida, dos 40 controles, apenas 3 já haviam

feito uso de drogas na vida (7,5%) enquanto entre dos 170 alcoolistas 32

(18,8%) já haviam feito uso de outras drogas na vida, sugerindo uma

propensão maior ao uso de outras drogas em alcoolistas. No entanto, a

comparação destes dados entre os grupos não foi estatisticamente significante,

possivelmente pelo menor número de indivíduos que compunham a amostra do

grupo controle.

5.4- Classificação do alcoolismo de acordo com a Tipologia de Lesch

Quando os pacientes alcoolistas foram classificados em subgrupos segundo a

Tipologia de Lesch, encontramos que, dos 170 pacientes, 21,2% foram

classificados como Tipo I, 29,4% como Tipo II, 28,8% como Tipo III, e, 20,6%

como Tipo IV.

Esta distribuição difere um pouco da encontrada por Lesch e Walter em 1996.

Estes autores demonstraram que de 260 pacientes alcoolistas, 97 (37,3%)

foram classificados como Tipo I, 61 (23,5%) como Tipo II, 58 (22,3%) como

Tipo III e 47 (18,07%) como Tipo IV.

Lesch e Walter (1996) ressaltam a importância da correta classificação dos

diferentes subtipos de alcoolismo, o que algumas vezes dificulta a comparação

de resultados entre diferentes centros de pesquisa, por apresentarem uma

desproporção entre os pacientes de diferentes locais. Estes autores indicam

que a correta observância da árvore decisória de classificação necessita ser

Page 105: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

103

seguida para homogeneização dos resultados. Entretanto, variações nas

proporções podem ser encontradas em um mesmo centro de atendimento e

pelo mesmo grupo de pesquisadores. Por exemplo, em um estudo recente,

Walter (2006), estudando dosagens de ácido glutâmico no sangue de

alcoolistas, observou que de 159 pacientes, 11,3% dos indivíduos foram

classificados como alcoolismo do Tipo I de Lesch, 53,3% do Tipo II, 22,0% do

Tipo III e 11,3% do Tipo IV.

A distribuição dos tipos de alcoolismo encontrados no presente estudo se

aproxima do observado por Wöber e cols, na Áustria, em 1998. Estes autores,

estudando ataxia em 82 pacientes, classificaram 20,7% dos alcoolistas como

Tipo I, 25,6% Tipo II, 31,7% Tipo III, e, 21,9% Tipo IV de Lesch.

Estudos recentes conduzidos na Alemanha apresentam diferentes distribuições

dos Tipos de Lesch. Hillemacher e cols (2006), avaliando a compulsão em

pacientes internados para desintoxicação, observaram que 192 pacientes

estavam distribuídos, pela classificação de Lesch nos Tipos I, II, III e IV, em

19,3%, 49,0%, 19,7% e 12,0%, respectivamente. Bönsch e cols (2006),

avaliando 167 alcoolistas quanto a diferenças genéticas, observaram que

15,5% foram classificados como Lesch Tipo I, 38,9% como Tipo II, 34,7% como

Tipo III, e, 10,8% como Tipo IV.

Estes dados demonstram que a distribuição da Tipologia de Lesch difere de

acordo com o grupo de pacientes estudados (ambulatoriais, internados, etc.) e,

Page 106: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

104

principalmente, de acordo com a região estudada, provavelmente

considerando-se as características sócio-econômicas e culturais.

No Brasil, não encontrou-se na literatura indexada nenhum estudo que tenha

utilizado a classificação de alcoolistas de acordo com a Tipologia de Lesch,

mas visto o exposto acima, é possível que haja diferenças regionais na

distribuição dos tipos de alcoolismo que deverão ser investigadas futuramente.

Entretanto, os resultados do presente estudo estão relativamente congruentes

com os observados em estudos europeus. Sendo assim, corroborando a

sugestão de Lesch e Walter (1996), a correta observância da árvore decisória

sugerida por Lesch, facilita a classificação do tipo de alcoolismo, podendo ser

realizada já na primeira consulta, utilizando apenas de uma anamnese dirigida,

sendo um procedimento fácil de ser realizado, uma vez incorporado no

protocolo de atendimento. De fato, não houve nenhuma dificuldade de sua

realização em um ambulatório de atendimento público de grande demanda no

qual foi conduzido o presente estudo.

5.5- Tipos de alcoolismo e padrão de ingestão de álcool

O padrão de ingestão de álcool não foi diferente entre os subgrupos da

classificação de Lesch em nenhum dos seus parâmetros avaliados: idade de

início para beber, quantidade de álcool relatada como uso diário, tempo de

abstinência. A idade de início de uso do álcool também não foi

substancialmente diferente do grupo controle não alcoolista, indicando que o

Page 107: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

105

padrão de uso do álcool, sobretudo a idade de início do uso, não parece,

necessariamente, definir o estabelecimento da dependência ao álcool.

Tampouco se mostram como parâmetros úteis na diferenciação dos tipos de

alcoolismo.

Curiosamente, houve uma discrepância quanto ao tipo de bebida

habitualmente ingerida. Os pacientes classificados como Lesch III, apesar de

referir a aguardente como a bebida mais utilizada como os outros tipos de

alcoolistas, também apresentaram um percentual de consumo de dois tipos

diferentes de bebidas ou de qualquer bebida maior do que os outros

subgrupos, podendo este perfil estar relacionado ao fato de serem os pacientes

classificados como alcoolismo do Tipo III de Lesch indivíduos com

complicações psiquiátricas e, possivelmente usam o álcool como auto-

medicação (LESCH e WALTER, 1996).

Além disso, estas observações também nos levam a considerar que

provavelmente o padrão de ingestão de álcool não parece determinar os

déficits na função frontal observados nos nossos resultados, uma vez que ele

se assemelha entre os diferentes tipos de alcoolismo.

5.6 – Tipos de alcoolismo e escolaridade

No subgrupo de alcoolismo do Tipo IV de Lesch, 68,5% dos indivíduos tinham

estudado somente até a 4ª série do ensino fundamental, porém não foi

significantemente diferente dos outros subgrupos. Ressalte-se que

Page 108: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

106

considerando as características sócio-econômicas da amostra estudada, a

baixa escolaridade é uma característica equivalente entre todos os subgrupos

de alcoolistas, e, inclusive do grupo controle não alcoolista. Entretanto, a

dificuldade escolar é um dos itens a serem investigados e que compõe a

classificação do alcoolismo do Tipo IV de Lesch, considerando-se que estes

pacientes apresentam algum dano cerebral precoce (LESCH, 1990 e LESCH e

WALTER, 1996), geralmente no pré, peri ou pós-parto.

5.7- Emprego da Classificação do alcoolismo pela Tipologia de Lesch

Vários estudos têm utilizado a classificação do alcoolismo de acordo com a

Tipologia de Lesch, a fim de identificar diferenças entre os alcoolistas, para

propor estratégias diferentes para o enfrentamento do problema.

Wöber e cols (1998) ao avaliarem a prevalência de ataxia nos diferentes tipos

de dependência ao álcool, analisaram 82 pacientes alcoolistas abstinentes e 54

controles. Entre os alcoolistas, 61% apresentavam alterações nos testes para

avaliar ataxia, sendo mais comum nos alcoolistas do Tipo IV de Lesch.

Segundo estes autores, os seus dados também sugerem que a degeneração

cerebelar alcoólica não apresentou perfil de dose-dependência (Wöber e cols,

1998).

Kiefer e Barocka (1999) aplicaram a Escala de Avaliação de Depressão de

Hamilton na terceira e quinta semanas de internação de 36 alcoolistas

masculinos internados para desintoxicação. Eles demonstraram que os

Page 109: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

107

pacientes classificados como Tipo III de Lesch apresentaram pontuações

significativamente maiores na Escala de Hamilton comparadas aos outros tipos

de alcoolismo, o que os levou a concluir que os alcoolistas Tipo III de Lesch

poderiam necessitar de tratamento com antidepresivos.

Sperling e cols (2000), considerando o conceito da ocorrência de uma

organização anormal do hemisfério cerebral na dependência, examinaram a

dominância hemisférica em 250 alcoolistas internados, comparados com 250

controles normais, por meio da avaliação da preferência do uso da mão

esquerda ou direita como parâmetro periférico na determinação da dominância

cerebral. Em geral, o uso da mão direita é mais freqüente que o da mão

esquerda (8:2). Entretanto, têm-se observado que em pacientes com

desordens mentais há uma proporção maior de canhotos, tanto quanto se tem

observado na dependência de drogas. De fato, estes autores observaram uma

proporção muito grande de canhotos na população alcoolista masculina (44%),

mas não na feminina, contrastada com 12% na população controle masculina.

Esta proporção foi ainda maior (77,3%) nos alcoolistas Tipo IV segundo a

Tipologia de Lesch. Assim, segundo estes autores a hipótese de lateralidade

desviante na presença de uma elevada freqüência de fatores de risco de

desenvolvimento (danos pré, peri e pós-natal) foi confirmada exclusivamente

em alcoolistas masculinos, sendo o Tipo IV de Lesch o subtipo mais vulnerável

(SPERLING e cols, 2000).

Em um estudo multicêntrico que avaliou os efeitos do acamprosato em

pacientes alcoolistas (CHICK e cols, 2000) não demonstrou diferenças

Page 110: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

108

significantes na resposta ao tratamento com a droga estudada entre os

diferentes tipos da classificação de Lesch. Porém dos 270 pacientes incluídos

por Lesch e Walter (1996) em Viena (Áustria) que fizeram parte deste estudo

multicêntrico, os pacientes do Tipo I e II mantiveram sóbrios por mais tempo,

comparado ao placebo. Os pacientes do Tipo I apresentaram média de

sobriedade (em 360 dias) de 138 dias para os que fizeram uso de

acamprosato, contra 87 dias para o placebo, sendo esta diferença

estatisticamente significante. Para os pacientes classificados como Tipo II que

foram tratados com acamprosato tiveram uma média de sobriedade de 160

dias contra 115 dias para aqueles que receberam placebo, sendo também a

diferença estatisticamente significante.

Walter e cols (2001), considerando os trabalhos em animais que demonstram

alteração no comportamento relacionado ao uso de álcool com agentes

dopaminérgicos, usaram a substância flupentixol (antagonista D1 e D2 e D3) e

placebo, em um trabalho clínico europeu multicêntrico prospectivo, duplo-cego,

em 281 pacientes alcoolistas (sendo 27,4% mulheres). Os pacientes que

utilizaram flupentixol apresentaram taxa de recaída maior que os indivíduos

que usaram placebo. Não houve diferença entre os subgrupos na Tipologia de

Lesch.

Têm-se sugerido que o aumento de homocisteína no plasma estaria

relacionado à presença de convulsões na abstinência do álcool. Bleich e cols

(2004) analisaram os níveis de homocisteína no plasma de 144 alcoolistas

crônicos não abstinentes. Os pacientes classificados como Tipo I de Lesch

Page 111: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

109

apresentaram altos níveis de homocisteína no plasma, em comparação aos

classificados como Lesch II, III e IV. Os autores sugerem que, na admissão dos

pacientes alcoolistas em uso de etanol, a dosagem deste elemento pode

identificar o risco de crises convulsivas, principalmente nos pacientes

classificados como Tipo I de Lesch.

A neurotransmissão glutamatérgica está modificada nos pacientes alcoolistas

crônicos, sendo um fator excitatório importante durante a SAA. Mudanças na

dosagem do ácido glutâmico sérico, embora não reflita diretamente a

concentração cerebral, pode indicar mudanças na concentração central. Walter

e cols (2006) analisaram 159 alcoolistas internados e dosaram o ácido

glutâmico sérico, comparando a Tipologia de Lesch e a Tipologia de Cloninger.

Houve associação da classificação de Lesch e os níveis séricos do ácido

glutâmico, encontrando níveis elevados do ácido glutâmico nos Tipos I e IV de

Lesch, o que não ocorreu com a Tipologia de Cloninger.

Hillemarcher e cols (2006-a) examinando a manifestação do desejo

incontrolável para o uso do álcool (“craving”) nas recaídas, e conhecendo o

impacto de desintoxicações recorrentes influenciando o grau elevado de

“craving”, com aumento dos riscos de convulsões conseqüentes ao efeito de

abrasamento cerebral (“kindling”), avaliaram os subgrupos da classificação de

Lesch em 192 alcoolistas e aplicaram a Escala do Beber Compulsivo-obsessivo

(OCDC), distinguindo entre a pontuação total, e as sub-escalas de compulsão e

obsessão. As pontuações na sub-escala de compulsão foram significantemente

maiores para os pacientes classificados como Lesch IV quando comparados

Page 112: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

110

aos pacientes dos Tipos I, II e III. Por outro lado, houve uma correlação

significativa entre o número de desintoxicações recorrentes e a gravidade do

“craving” em todos os pacientes, mas principalmente para aqueles classificados

como Tipo I de Lesch.

Ainda este mesmo grupo de pesquisadores (HILLEMARCHER e cols, 2006-b)

avaliando o volume de álcool ingerido e a presença de sintomas compulsivos,

pela Escala do Beber Compulsivo-obsessivo encontrou relação positiva entre

estes dados, nos indivíduos alcoolistas classificados como Tipo II de Lesch.

Alguns estudos recentes têm sugerido que os diferentes tipos de alcoolistas de

Lesch podem ser determinados geneticamente. Samochowiec e cols (2006),

em um estudo de associação de base familiar, empregando um teste de

desequilíbrio de transmissão de alelos entre pais heterozigóticos e filhos

afetados de genes polimórficos supostamente relacionados a diferentes

fenótipos de alcoolismo, em 100 (cem) famílias de alcoolistas polonesas,

observaram diferenças na transmissão de alelos de alguns genes polimórficos

do sistema dopaminérgico que têm sido relacionados à predisposição de

alcoolismo grave. Houve uma preferência estatisticamente significante na

transmissão do alelo A2 do gene polimórfico DRD2 (receptor D2) TaqIA e do

alelo A10 do gene polimórfico DAT (trasnportador da dopamina) em famílias de

alcoolistas. E ainda, naqueles alcoolistas com início de uso mais precoce e

também naqueles com complicações graves na abstinência (Tipo I de Lesch)

foi encontrada uma preferência significativa de transmissão do alelo A2 do

gene polimórfico DRD2 TaqIA. Segundo estes autores, estes dados confirmam

Page 113: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

111

um papel parcial dos genes candidatos no desenvolvimento da dependência ao

álcool (especialmente DRD2 e DAT), que está de acordo com a hipótese de

que alguns subtipos de dependência ao álcool, especialmente o alcoolismo

complicado por convulsões e delírio, diferem de outros tipos sob uma base

genética, o que tem uma importância fundamental na individualização do

tratamento do alcoolismo.

Outro estudo avaliando polimorfismo genético associado ao alcoolismo

comparando os diferentes tipos de alcoolismo pela classificação de Lesch é de

Bönsch e cols (2006). Considerando-se que a dependência ao álcool está

associada a elevados níveis de homocisteína, estes autores examinaram

diferentes genótipos para a enzima metilenetetrahidrofolase redutase (MTHFR)

que está relacionada ao metabolismo da homocisteína em alcoolistas

classificados de acordo com a Tipologia de Lesch. Para tanto compararam 3

apresentações genotípicas da enzima MTHFR em 134 alcoolistas não

abstinentes (26 do Tipo I, 65 do Tipo II, 58 do Tipo III e 18 do Tipo IV), com 115

controles. Apesar da amostragem pequena, estes autores observaram

variantes menos eficientes da enzima MTHFR nos alcoolistas Tipos I e IV

comparados aos Tipos II e III, sugerindo a existência de uma determinação

genética para os tipos de alcoolistas de acordo com Lesch.

Samochowiec e cols, em 2008, mantendo a linha de pesquisa de avaliação

genética do alcoolismo, analisam genes para neurotransmissão de dopamina e

serotonina em 122 alcoolistas, divididos em subgrupos pela Tipologia de Lesch,

comparados a 150 controles, pareados por grupos étnicos, idade e gênero.

Page 114: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

112

Avaliaram os genes DRD2 Taq-1A, exon 8 e o promotor -141 ins/del, para

avaliar o polimorfismo; bem como COMT Val 158met, 5HTT 44 bp del como

promotor, e DAT 40 bp VNTR. Não houve diferenças entre os alcoolistas e

controle, assim como também não houve diferenças entre os subgrupos da

Tipologia de Lesch.

Por fim, crimes violentos e ofensas estão relacionados ao uso do álcool em

cerca de 60% dos casos. Nos grupos de alcoolistas, dois subgrupos são

considerados particularmente mais violentos: os alcoólicos com impulsividade e

aqueles com desordens sociais. Reulbach e cols (2006) avaliaram 50

(cinqüenta) alcoolistas que haviam cometido crimes e classificaram os

subgrupos de alcoolismo pela Tipologia de Cloninger e Lesch. Os Tipos II e III

da classificação de Lesch apresentaram alta incidência de homicídios, sendo

que o crime praticado pelos pacientes Lesch II geralmente foi o primeiro ato de

infração, enquanto os pacientes Lesch III praticaram crime mais de uma vez.

Não houve nenhuma diferença estatisticamente significante na avaliação dos

dados quando se empregou a classificação de Cloninger.

Enfim, todos os estudos acima mencionados mostram claramente que há

diferentes tipos de alcoolismo, com diferentes características comportamentais,

metabólicas, e inclusive genéticas, que devem ser observadas ao se

estabelecer um tratamento adequado. Mostram ainda que a Tipologia de Lesch

parece ser a que melhor diferencia os tipos de alcoolismo, sendo recomendável

que esta classificação seja adotada nas investigações científicas, mas

Page 115: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

113

sobretudo no atendimento aos pacientes alcoolistas, vislumbrando tornar mais

efetivo, e possivelmente mais precoce, o tratamento da SDA e da SAA.

5.8- Tipos de alcoolismo, função mental e intelectual

Como foi justificado, diferentes características de manifestações clínicas

podem ser observadas nos diferentes tipos de alcoolismo. Entretanto, as

funções mentais e intelectuais nos diferentes tipos de alcoolismo ainda não

haviam sido investigadas.

No presente estudo, a pontuação média do teste de Mini-Mental foi de 24,93

pontos para o grupo alcoolista, em contraste com uma pontuação média do

grupo controle de 27, sendo esta diferença estatisticamente significante.

Smith, Horton e Samet (2005) sugerem que a utilização do teste de Mini-Mental

possibilita detectar, como um teste de rastreio (“screening”), e, por conseguinte,

excluir uma pequena, mas substancial, população de alcoolistas que

apresentam um prejuízo da função mental nos estudos de investigação da

adição e dependência. Entretanto, no tratamento da dependência de rotina não

seria possível, e muito menos recomendável, que se exclua estes indivíduos. É

interessante, portanto, observar que a detecção das disfunções cognitivas pode

representar uma mudança e/ou introdução de estratégias diferenciadas para o

tratamento da dependência nestes indivíduos, incluindo a possibilidade de uma

rehabilitação cognitiva.

Page 116: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

114

Assim, as alterações cognitivas identificadas no teste do Mini-Mental, tais como

as alterações da abstração visuo-espacial, da resolução de problemas, do

planejamento e organização de respostas, de novas aprendizagens, da

flexibilidade cognitiva e da habilidade de memória, são importantes serem

identificadas quando se planeja um tratamento, pois o desempenho cognitivo

prejudicado está diretamente relacionado à menor participação no tratamento,

e conseqüentemente, ao abandono, ou seja, menor aderência ao tratamento, e

à dificuldade de um adequado seguimento após o tratamento inicial.

Classificamos como portadores de demência 25,9% dos pacientes alcoolistas

do presente estudo, sendo que, os pacientes do Tipo IV de Lesch foram os que

apresentaram percentual muito elevado (62,9%) de pontuação no teste do Mini-

Mental compatível com provável demência. Cumpre lembrar que a

caracterização do Tipo IV de Lesch considera uma história de alguma lesão

cerebral pregressa (pré, peri e pós-natal), o que por si só já constitui condição

para uma inadequação no desenvolvimento cognitivo nestes indivíduos, e,

conseqüentemente, uma dificuldade maior no tratamento da dependência.

Também por conseqüência do que foi mencionado acima, os pacientes do Tipo

IV de Lesch foram os que apresentaram menor desempenho intelectual (QI) no

teste de WAIS forma reduzida.

Ressalte-se, no entanto, que os outros três tipos de alcoolismo, Tipos I, II e III,

não apresentaram deficiências da função mental, mensurada pelo teste de

Mini-Mental, e intelectual, pelo teste de WAIS forma reduzida. Assim, é

Page 117: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

115

imperioso que se pontue que, as disfunções cognitivas no alcoolismo não se

apresentam de forma generalizada como se tem considerado na literatura, mas

que se restringiriam, ou pelo menos seriam mais característicos, em um subtipo

de alcoolistas, o Tipo IV de Lesch.

5.9- Classificação da Tipologia de Lesch e funções executivas

Assim como mencionado para as funções mentais e intelectuais, não há ainda

na literatura, uma investigação das funções executivas frontais nos diferentes

tipos de alcoolismo, mais particularmente de acordo com a Tipologia de Lesch.

No presente estudo, ao se proceder a análise das funções frontais em

alcoolistas pelo teste FAB, observou-se que o subgrupo de alcoolistas do Tipo

IV de Lesch foi o que apresentou um déficit importante das funções executivas.

Além disso, esta disfunção se manteve mesmo após se ter excluído aqueles

que apresentaram pontuação sugestiva de demência e mesmo após

abstinência prolongada (mais de 90 dias).

Alterações nas funções executivas em alcoolistas, indicando alteração da

função frontal, já foram previamente descritas, como no estudo de Ihara,

Berrios e London (2000) que demonstrou a ocorrência de uma síndrome

disexecutiva em alcoolistas sem déficit de memória, quando comparados a

indivíduos normais.

Page 118: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

116

Noël e cols, em 2001, também descreveram déficits na função executiva e na

memória operacional de alcoolistas. Indivíduos que usam cronicamente o

álcool, mesmo neurologicamente assintomáticos, podem apresentar disfunções

na área pré-frontal, implicando em déficits na fluência verbal e no controle

inibitório que se caracteriza pela dificuldade de suprimir respostas automáticas

e habituais (CUNHA e NOVAES, 2004). É importante considerar que as

complicações produzidas pelo déficit cognitivo têm implicações diretas no

tratamento, sendo necessário adaptar estratégias terapêuticas em diferente

pacientes.

George e cols (2004) verificaram a atividade eletrofisiológica, usando potencial

evocado para eventos (ERP) avaliando especificamente a onda p300, e o seus

componentes – p3a e p3b, gerada no córtex pré-frontal quando o indivíduo esta

executando uma tarefa que necessita utilizar a memória operacional,

comparando-se indivíduos normais, alcoolistas, pacientes com lesão frontal e

pacientes com lesões subcorticais. Foi observado que os alcoolistas

apresentam uma amplitude da onda p300 significativamente menor, de forma

equivalente aos indivíduos com lesão frontal, comparados aos indivíduos

controles ou àqueles com lesões subcorticais, sugerindo que os alcoolistas

apresentam uma disfunção da atividade frontal semelhante aos que

apresentam lesão frontal (GEORGE e cols, 2004).

Diversos estudos desenvolvidos por Polich e cols (HADA e cols, 2001; REESE

e POLICH, 2003; POLICH e OCHOA, 2004) demonstram alterações na

geração da onda p300 em alcoolistas, mesmo com longos períodos de

Page 119: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

117

abstinência, quando comparados a controles não alcoolistas. Também

demonstraram alterações na geração da onda p300 em jovens não alcoolistas,

porém filhos de alcoolistas, comparados a jovens que não apresentavam

história familiar de alcoolismo na primeira e segunda geração. Estas alterações

na geração desta onda p300 – principalmente seu componente p3a, está

relacionada a déficits de funções frontais, podendo, portanto, ser hereditária e

poderá constituir-se em um marcador eletrofisiológico do alcoolismo. Em um

estudo adicional, este grupo de pesquisadores demonstrou que a onda p300

em indivíduos jovens pode ser modulada pelo uso do tabaco.

No presente estudo, estudou-se a avaliação dos subitens do teste da FAB que

os pacientes alcoolistas apresentaram menor pontuação em todos os subitens,

exceto na avaliação de automatismo (pressão manual), onde não houve

diferença. Entre os subgrupos, o Tipo IV de Lesch foi o que apresentou menor

pontuação em todos os seis subitens, embora somente tenha mostrado

significância estatística na avaliação da semelhança, que observa a

capacidade de abstração.

Assinala-se que durante a execução do teste da FAB chamou a atenção dos

aplicadores duas características. No subitem ”controle motor”, os pacientes

concluíam a seqüência motora com poucos erros, mas o tempo gasto na

realização do teste era visivelmente superior aos controles. No subitem

“pressão manual”, que avalia o automatismo, o pesquisador instrui ao indivíduo

para não “pegar” em suas mãos, e solicita ao mesmo que estenda os braços

com as palmas das mãos para cima, e, na seqüência dirige-se a ele como se

Page 120: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

118

fosse cumprimentá-lo. O teste é pontuado quando o indivíduo não pega na mão

do avaliador, inibindo o automatismo. Porém, nos alcoolistas, percebia-se que

eles mantinham as mãos por muito tempo ainda estendidas mesmo tendo o

entrevistador comunicado que o teste havia terminado.

As alterações das funções frontais em pacientes alcoolistas Tipo IV de Lesch

encontram ressonância no estudo de Wober e cols (1998) que demonstram

que as alterações nos exames neurológicos não estão distribuídas entre os

alcoolista, mas estão focalizados em um grupo bem definido de pacientes

caracterizado por desordens prévias neuropsiquiátricas.

Sperling e cols (2000) relatam que nos pacientes classificados como Tipo IV de

Lesch, certos distúrbios são evidentes antes do uso de álcool em comparação

aos Tipos I, II e III. Estes pacientes apresentam dano cerebral precoce,

resultando em problemas de comportamento na infância, apontando aspectos

importantes como o controle inadequado do impulso e a dificuldade no

julgamento crítico.

Ihara, Berrios e London (2000) chamam a atenção para a concepção geral de

que as síndromes disexecutivas em alcoolistas estariam sempre associadas à

demência. Desta forma, estes autores apresentam um estudo no qual

examinam as funções frontais em pacientes alcoolistas sem demência,

comparados a controles. Eles mostraram que os resultados dos testes de

inteligência e memória foram semelhantes entre alcoolistas e controles. No

Page 121: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

119

entanto, os testes de avaliação frontal foram estatisticamente diferentes entre

os grupos (Ihara, Berrios e London, 2000).

Deste modo, procedeu-se à avaliação da função frontal dos pacientes sem a

provável demência, excluindo-se aqueles que tinham pontuação sugestiva de

demência pelo Mini-Mental, e os nossos resultados foram semelhantes aos

observados por Ihara, Berrios e London (2000), ou seja, as alterações

disexecutivas permaneceram, com o mesmo padrão, primordialmente nos

pacientes alcoolistas do Tipo IV de Lesch.

Também em consonância com os nossos resultados, no qual demonstra que

pacientes com abstinência por mais de 90 dias, permanecem com o mesmo

padrão de alteração das funções executivas, Furieri (2005) em um ensaio

clínico duplo-cego, realizado no Laboratório de Neuropsicofarmacologia do

Programa de Pós-graduação em Ciências Fisiológicas, do Centro de Ciências

da Saúde, da Universidade Federal do Espírito Santo, no qual pacientes que

fizeram uso de gabapentina apresentaram redução significativa da ingestão de

álcool, permaneceram significativamente mais tempo em abstinência e

apresentaram menores pontuações de compulsão ao uso de álcool,

comparados a pacientes tratados com placebo (FURIERI e NAKAMURA-

PALACIOS, 2007), porém, apesar de apresentarem alguma melhora no

desempenho de alguns testes cognitivos, o desempenho de testes que

avaliavam as funções frontais não foram significativamente modificados mesmo

naqueles pacientes que se mantiveram abstinentes (FURIERI, 2005).

Page 122: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

120

É necessário, contudo, ressaltar que os pacientes dos outros três tipos de

alcoolismo, Tipos I, II e III, não apresentaram deficiências substanciais das

funções executivas, mensurada pela FAB. Desta forma, aliado ao que foi

observado para as funções mental e intelectual, é importante que se pontue

que as disfunções cognitivas, principalmente as frontais, no alcoolismo não se

apresentam indiscriminadamente entre os alcoolistas, mas, ao contrário,

parecem se limitar, ou serem mais freqüentes, em um subtipo de alcoolistas, o

Tipo IV de Lesch.

5.10- Considerações finais

O desenvolvimento das desordens psiquiátricas é extremamente complexo,

porém as predisposições genéticas e danos neurológicos precoces são dois

fatores que aumentam em muito o risco para a predisposição de várias

doenças psiquiátricas, incluindo-se o abuso e dependência de drogas, e,

particularmente ao álcool.

Os resultados do presente estudo demonstrando que um dos tipos de

alcoolismo, o Tipo IV de Lesch, foi o que apresentou características

comportamentais e, principalmente cognitivas, discrepantes dos outros tipos de

alcoolismo, mostrando claramente a heterogeneidade do alcoolismo.

A demonstração de vulnerabilidade de subtipos específicos de alcoolismo

sugere diferenças na história natural da doença em termos de qualidade e

quantidade de complicações ao longo do curso. Por exemplo, variações

Page 123: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

121

genéticas que predispõe ao alcoolismo têm sido descritas ao longo dos anos.

Lawford e cols (1995) conduziram um ensaio clínico mostrando que a

bromocriptina (agonista dopaminérgico D2), comparado ao placebo, foi eficiente

em diminuir o “craving” e a ansiedade nos pacientes que possuíam o

polimorfismo do gene DRD2 Taq1A. Samochowiec e cols (2006), estudando o

polimorfismo genético em alcoolistas observaram que o gene DRD2 Taq1

estava presente principalmente nos pacientes que tinham alucinações e crises

convulsivas, que são classificados como Tipo I de Lesch. Estes dados levam a

supor que a bromocriptina poderia ser útil para o tratamento dos pacientes

alcoolistas classificados como Lesch Tipo I, o que necessitaria de uma

investigação específica para averiguar esta possibilidade.

Os resultados do presente estudo podem ser iniciais, mas uma questão maior

de interesse clínico sobre a relevância terapêutica deste achados não pode

deixar de ser colocada. Diferentes conceitos de vulnerabilidade deverão

resultar em uma reorientação no tratamento do alcoolismo.

A classificação da Tipologia de Lesch é passível de ser aplicada por médico

treinado, sendo identificada normalmente em uma anamnese bem feita, e

deveria se adotada na rotina das unidades de atendimento de dependência ao

álcool para nortear à terapêutica.

O FAB, por sua vez, é um instrumento útil e de fácil aplicação, podendo ser

adotado como rotina para a avaliação das funções frontais de alcoolistas nas

unidades de atendimento de dependência ao álcool.

Page 124: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

122

Portanto, as verificações do tipo clínico de alcoolismo, através da aplicação de

uma classificação simples como a da Tipologia de Lesch, do estado mental e

da função frontal, por meio de testes breves de fácil aplicação como o Mini-

Mental e o FAB, podem constituir-se em ferramentas extremamente úteis e

seguras na avaliação clinica dos alcoolistas, possibilitando inclusive identificar

aqueles que apresentam alterações disexecutivas subclínicas e proporcionar

significativas mudanças nas estratégias de enfrentamento individualizadas,

importantes no tratamento do alcoolismo.

Como foi comentado anteriormente, Lesch em 1996 já afirmava que “se o

paciente alcoolista crônico não for diferenciado entre os subgrupos, ao

analisarmos resultados de estudos com novas drogas ou estratégias de

tratamento, estaremos avaliando uma população heterogênea, e os resultados

de terapias efetivas podem não ser devidamente identificadas”.

Assim, considerando-se que o alcoolismo é uma condição clínica com muitas

causas, e que as razões para o consumo do álcool não são universais,

apresentando, desta forma, diferentes deflagradores da compulsão e, portanto,

das recaídas, faz-se necessário o estabelecimento de diferentes tratamentos

farmacológicos, incluindo-se antidepressivos, ansiolíticos, agentes

dopaminérgicos e/ou glutamatérgicos, e abordagens adicionais, incluindo

estratégias de neurorehabilitação cognitiva, particularmente das funções

frontais, dependendo do tipo de alcoolismo no qual o paciente é classificado.

Page 125: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

123

6. Conclusões

Page 126: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

124

• A classificação da Tipologia de Lesch no nosso meio mostrou que

aproximadamente 20% dos alcoolistas classificaram-se como Tipo I,

30% como Tipo II, 30% como Tipo III e 20% como Tipo IV.

• As alterações da função frontal em alcoolistas foram significativamente

observadas nos pacientes classificados como Tipo IV de Lesch. Essas

alterações provavelmente não foram decorrentes do padrão de ingestão

do álcool e persistiram mesmo com abstinência acima de 90 dias, e

ainda, elas se apresentaram mesmo nos pacientes que não

apresentaram sugestão de demência pelo Mini-Mental.

• As alterações do estado mental e no teste de inteligência também foram

primordialmente encontradas no Tipo IV de Lesch.

• Os pacientes classificados como Tipos I, II e III, de Lesch não

apresentaram deficiências da função mental, mensurada pelo teste de

Mini-Mental, e intelectual e pelo teste de WAIS forma reduzida.

Page 127: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

125

7. Referências Bibliográficas

Page 128: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

126

1. ALMEIDA OP. Mini-exame do estado mental e o diagnóstico de demência no Brasil. Arquivos de Neuro-Psiquiatria.1998;56(3B):605-12.

2. APPOLLONIO I, LEONE M, ISELLA V, PIAMARTA F, CONSOLI T,

VILLA ML, FORAPANI E, RUSSO A, NICHELLI P. The Frontal Assessment Battery (FAB): normative values in an Italian population sample. Journal of the Neurological Sciences. 2005;26(2):108-16.

3. BABOR TF, DOLINSKY ZS, MEYER RE, HESSELBROCK M,

HOFMANN M, TENNEN H. Types of alcoholics: concurrent and predictive validity of some common classification schemes. British Journal of Addiction.1992;87(10):1415-31.

4. BABOR T, CAETANO R, CASWELL S, EDWARDS G, GIESBRECH N,

GRAHAN K, GRUBE J, GRUENEWALD P, HILL L, HOLDER H, HOMEL R, OSTERBERG E, REHM J, ROOM R E ROSSOW I. Alcohol: no ordinary commodity: The global burden of alcohol consumption. Oxford: University Press. 2003:57-92.

5. BASÍLIO, M.C.V.; GARCIA, M.L.T. Vendas de bebidas alcóolicas:

questões (im)pertinentes. Psicologia & Sociedade. 2006;18 (3):104-112. 6. BERTOLUCCI PH, BRUCKI SM, CAMPACCI SR, JULIANO Y. O mini-

exame do estado mental em uma população geral: impacto da escolaridade. Arquivos de Neuro-Psiquiatria.1994;52:1-7.

7. BLEICH S, BAYERLEIN K, REULBACH U, HILLEMACHER T, BONSCH

D, MUGELE B, KORNHUBER J, SPERLING W. Homocysteine levels in patients classified according to Lesch's typology. Alcohol and Alcoholism. 2004;39(6):493-498.

8. BONSCH D, BAYERLEIN K, REULBACH U, FISZER R, HILLEMACHER

T, SPERLING W, KORNHUBER J, BLEICH S. Different allele-distribution of mthfr 677 C -> T and mthfr -393 C -> a in patients classified according to subtypes of Lesch's typology. Alcohol and Alcoholism. 2006;41(4):364-367.

9. CARDOSO JM, BARBOSA A, ISMAIL F, POMBO S. NETER alcoholic

typology (NAT). Alcohol and Alcoholism. 2006;41(2):133-9. 10. CARLINI EA, CARLINI-COTRIN B, SILVA-FILHO AR, BARBOSA MTS.

Levantamento nacional sobre o uso de psicotrópico em estudantes de 1o

e 2o graus, 1989. São Paulo: CEBRID/Escola Paulista Medicina (UNIFESP), 1990.

11. CARLINI EA, GALDURÓZ JCF, NOTO AR, NAPPO SA. I Levantamento

domiciliar sobre uso de drogas psicotrópicas no Brasil. SENAD, 2002.

Page 129: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

127

12. CARLINI-COTRIN B, CARLINI EA, SILVA-FILHO AR, BARBOSA MTS.

O uso de drogas psicotrópicas por estudantes de 1º. e 2º. graus da rede estadual, em dez capitais brasileiras, 1987. In: Centro de Documentação do Ministério da Saúde. Brasília: DF, 1989. n.9-84. (Série C: Estudos e Projetos: Consumo de drogas psicotrópicas no Brasil em 1987).

13. ______. 2º Levantamento nacional sobre o uso de psicotrópico por

estudantes de 1o e 2o graus. São Paulo: CEBRID/Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), 1990

14. CHICK J, HOWLETT H, MORGAN MY, RITSON B. United Kingdom

Multicentre Acamprosate Study (UKMAS): a 6-month prospective study of acamprosate versus placebo in preventing relapse after withdrawal from alcohol. Alcohol and Alcoholism. 2000;35(2):176-87.

15. CLONINGER CR, BOHMAN M, SIGVARDSSON S. Inheritance of

alcohol abuse. Cross-fostering analysis of adopted men. Archives of General Psychiatry. 1981;38(8):861-8.

16. CUNHA PJ, NOVAES MA. Avaliação neurocognitiva no abuso e

dependência do álcool: implicação no tratamento. Revista Brasileira de Psiquiatria. 2004;26 Suppl 1:S23-7.

17. DOHRMAN DP, REITER CK. Ethanol modulates nicotine-induced

upregulation of nAChRs. Brain Research. 2003;975(1-2):90-8. 18. DUBOIS B, SLACHEVSKY A, LITVAN I, PILLON B. The FAB: a Frontal

Assessment Battery at bedside. Neurology. 2000;55(11):1621-6.

19. ENDE G, WALTER S, WELZEL H, DEMIRAKCA T, WOKRINA T, RUF M, ULRICH M, DIEHL A, HENN FA, MANN K. Alcohol consumption significantly influences the MR signal of frontal choline-containing compounds. Neuroimage. 2006;32(2):740-6.

20. FOLSTEIN MF, FOLSTEIN SE, MCHUGH PR. “Mini-mental state". A

practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician. Journal of Psychiatric Research.1975;12(3):189-98.

21. FURIERI FA. A gabapentina reduz a compulsão e o consumo de álcool,

e melhora a atenção e a memória em alcoolistas. Tese de mestrado, Vitória, 2005.128 f. Dissertação.(Mestrado em Ciências Fisiológicas), Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória.

22. FURIERI FA, NAKAMURA-PALACIOS EM. Gabapentin reduces alcohol

consumption and craving: a randomized, double-blind, placebo-controlled trial. Journal of Clinical Psychiatry. 2007;68(11):1691-700.

23. GALDURÓZ JCF, D'ALMEIDA V, CARVALHO V, CARLINI EA. 3º

Levantamento sobre uso de drogas entre estudantes de 1o. e 2o. graus

Page 130: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

128

em 10 capitais brasileiras (1993). São Paulo: CEBRID/ Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), 1994.

24. GALDURÓZ JCF, NOTO AR, CARLINI E. IV levantamento sobre o uso

de drogas entre estudantes de 1º e 2º graus em 10 capitais brasileiras - 1997. São Paulo: Departamento de Psicobiologia e Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da Unifesp - CEBRID; 1997.

25. GALDURÓZ, JCF; NOTO, AR; NAPPO, SA; CARLINI, EA. I

Levantamento domiciliar sobre o uso de drogas. Parte A: estudo envolvendo as 24 maiores cidades do Estado de São Paulo – 1999. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina, 2000. 143p.

26. GALDURÓZ, J.C.F.;CAETANO R. Epidemiologia do uso de álcool no

Brasil. Revista Brasileira de Psiquiatria. 2004:28(supl I)3-8

27. GARCIA MLT, BASÍLIO MCV. Bebidas alcoólicas no município de Vitória: reflexões sobre mecanismos de prevenção ao consumo do álcool. Vitória, EDUFES, 2007 (no prelo).

28. GEORGE MRM, POTSS G, KOTHMAN D, MARTIN L, MUKUNDAN CR.

Frontal deficits in alcoholism: an ERP study. Brain and cognition. 2004;54(3):245-7.

29. GIGLIOTTI A, BESSA MA. Síndrome de Dependência do Álcool:

critérios diagnósticos. Rev Bras Psiquiatr 2004;26 Suppl 1:S11-13.

30. GODEFROY O. Frontal syndrome and disorders of executive functions. Journal of Neurology. 2003;250(1):1–6.

31. GOLDSTEIN RZ; VOLKON ND. Drug Addiction and its underlying

neurobiological basis: neuroimaging evidence for the involvement of the frontal cortex. American Journal of Psychiatry 2002;159:1642-1652.

32. GONÇALVES LL, ZAGO-GOMES MP, ZANOTTI WM, MACIEIRA MS,

GARCIA MLT. Aspectos epidemiológicos da Pancreatite Crônica no Espírito Santo. Tema livre do XI Congresso Brasileiro de Alcoolismo e Outras Dependências, Belo Horizonte, MG; 10-14 maio, 1995.

33. GOUDRIAAN AE, OOSTERLAAN J, DE BEURS E, VAN DEN BRINK W.

Neurocognitive functions in pathological gambling: a comparison with alcohol dependence, Tourette syndrome and normal controls. Addiction. 2006;101(4):534-47.

34. HADA M, PORJESZ B, CHORLIAN DB, BEGLEITER H, POLICH J.

Auditory P3a Deficits in Male Subjects at High Risk for Alcoholism. Biological Psychiatry. 2001;49(8):726–738.

Page 131: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

129

35. HAUSER J, RYBAKOWSKI J. Three clusters of male alcoholics. Drug and Alcohol Dependence. 1997,15;48(3):243-50.

36. HERTLING I, RAMSKOGLER K, DVORAK A, KLINGLER A, SALETU-

ZYHLARZ G, SCHOBERBERGER R, WALTER H, KUNZE M, LESCH OM. Craving and other characteristics of the comorbidity of alcohol and nicotine dependence. European Psychiatry. 2005;20(5-6):442-50.

37. HILLEMACHER T, BAYERLEIN K, WILHELM J, BÖNSCH, D POLEO D,

SPERLING W, KORNHUBER J, BLEICH S. Recurrent detoxifications are associated with craving in patients classified as type 1 according to Lesch’s typology. Alcohol and Alcoholism. 2006;41(1):66-9. (a)

38. HILLEMACHER T, BAYERLEIN K, WILHELM J, POLEO D, FRIELING

H, ZIEGENBEIN M, SPERLING W, KORNHUBER J, BLEICH S. Volume intake and craving in alcohol withdrawal. Alcohol and Alcoholism. 2006;41(1):61-5. (b)

39. HILLEMACHER T, BAYERLEIN K, WILHELM J, FRIELING H,

THURAUF N, ZIEGENBEIN M, KORNHUBER J, BLEICH S. Nicotine dependence is associated with compulsive alcohol craving. Addiction. 2006;101(6):892-7.(c)

40. I Levantamento Nacional sobre os padrões de consumo de álcool na

população brasileira. LARANJEIRA R, DUARTE PCAV e cols. Brasília : Secretaria Nacional Antidrogas, 2007, acesso eletrônico em 27/12/07.

41. IHARA H, BERRIOS GE, LONDON M. Group and case study of the

dysexecutive syndrome in alcoholism without amnesia. Journal of neurology, neurosurgery, and psychiatry. 2000;68(6):731-7.

42. II Levantamento Domiciliar sobre uso de drogas psicotrópicas no Brasil:

estudo envolvendo as 108 maiores cidades do país. CARLINI EA, GALDURÓS JCF e cols - São Paulo: CEBRID. UNIFESP, 2005

43. IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico

Brasileiro de 2000. Disponível em registro eletrônico 2002.

44. JELLINEK, E.M. The Disease Concept of Alcoholism. College and University Press,1960, New Haven.

45. KIEFER F, BAROCKA A. Secondary depression in weaned alcoholics:

implications of Lesch's typology of chronic alcoholism. Alcohol and Alcoholism. 1999;34(6):916-7.

46. LARANJEIRA R; SÉRGIO NICASTRI S; JERÔNIMO C; MARQUES AC

e cols. Consenso sobre a Síndrome de Abstinência do Álcool (SAA) e o seu tratamento. Departamento de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria. Revista Brasileira de Psiquiatria. 2000;22(2):62-71.

Page 132: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

130

47. LARANJEIRA R, HINKLY D. Avaliação da densidade de pontos de

vendas de álcool e sua relação com a violência. Revista de Saúde Pública – USP 2002;36(4):455-61.

48. LARANJEIRA R, ROMANO M, MARQUES AC, GIGLIOTTI A, MACIEL

C, SILVA CJ, VIEIRA DL, PECHANSKY F, KERR-CORRÊA F, CORDEIRO F, PINSKY I, DIAS JC, GALDURÓZ JCF, MELONI JN, RATTO L, RIBEIRO M, BESSA MA, ZALESKI M, FORMIGONI ML, ZILBERMAN M, FIGLIE N, MACEDO P, AZEVEDO R, SCIVOLETTO S, RAMOS SP, SILVA VA. Consenso brasileiro sobre políticas públicas do álcool. Revista Brasileira de Psiquiatria. 2004;26(Supl I):68-77.

49. LARANJEIRA R. Álcool: da saúde pública à comorbidade psiquiátrica.

Revista Brasileira de Psiquiatria. 2004b;26(suppl.1)S:1-2.

50. LAWFORD BR, YOUNG RM, ROWELL JA, QUALICHEFSKI J, FLETCHER BH, SYNDULKO K, RITCHIE T, NOBLE EP. Bromocriptine in the treatment of alcoholics with the D2 dopamine receptor A1 allele. Nature Medicine. 1995;1(4):337-41.

51. LESCH OM, DIETZEL M, MUSALEK M, WALTER H, ZEILER K. The

course of alcoholism. Long-term prognosis in different types. Forensic Science International.1988;36(1-2):121-38.

52. LESCH OM, KEFER J, LENTNER S, MADER R, MARX B, MUSALEK M,

NIMMERRICHTER A, PREINSBERGER H, PUCHINGER H, RUSTEMBEGOVIC A, et al. Diagnosis of chronic alcoholism-classificatory problems. Psychopathology. 1990;23(2):88-96.

53. LESCH OM, WALTER H. Subtypes of alcoholism and their role in

therapy. Alcohol and Alcoholism. 1996;1 (suppl):63-7.

54. LEZAK MD. Domains of behavior from a neuropsychological perspective: the whole story. Nebraska symposium on motivation.1994;41:23-55.

55. LIPTON AM, OHMAN KA, WOMACK KB, HYNAN LS, NINMAN ET,

LACRITZ LH. Subscores of the FAB differentiate frontotemporal lobar degeneration from AD. Neurology. 2005;65(5):726-31

56. LOURENÇO RA, VERAS RP. Mini-Mental State Examination:

psychometric characteristics in elderly outpatients. Revista de Saúde Pública. 2006;40(4):712-9.

57. MACIEIRA MS, ZAGO-GOMES MP, GARCIA MLT. Tratamento do

alcoolismo: atuação de uma equipe interdisciplinar. Informação Psiquiátrica. 1992;11(4):130-131.

58. ______. Programa de Atendimento ao Alcoolista do Hospital

Universitário Cassiano Antônio Moraes da Universidade Federal do

Page 133: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

131

Espírito Santo (PAA/HUCAM/UFES). Jornal Brasileiro de Psiquiatria. 1993;42(2):97-109.

59. MANN K, HERMANN D, HEINZ A. One hundred years of alcoholism: the

Twentieth Century. Alcohol and Alcoholism. 2000; 35(1):10–15.

60. MARQUES ACPR; RIBEIRO M; LARANJEIRA R;ALVES, ARAÚJO MR; BALTIERI DA; BERNARDO WM; CASTRO LAPG; KARNIOL IG; KERR-CORRÊA F; NICASTRI S; NOBRE MRC; OLIVEIRA RA; ROMANO M; SEIBEL SD; SILVA CJ. Abuso e dependência de drogas- Projeto Diretrizes. Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, agosto de 2002.

61. MELONI JN, LARANJEIRA R. The Social and Health burden of alcohol

abuse. Revista Brasileira de Psiquiatria. 2004;26,Suppl 1S:7-10.

62. Miguel-Hidalgo JJ, Wei J, Andrew M, Overholser JC, Jurjus G, Stockmeier CA, Rajkowska G. Glia pathology in the prefrontal cortex in alcohol dependence with and without depressive symptoms. Biological Psychiatry. 2002;52(12):1121-33.

63. MIGUEL-HIDALGO JJ. Lower packing density of glial fibrillary acidic

protein-immunoreactive astrocytes in the prelimbic cortex of alcohol-naive and alcohol-drinking alcohol-preferring rats as compared with alcohol-nonpreferring and Wistar rats. Alcoholism: Clinical and Experimental Research. 2005;29(5):766-72.

64. MIGUEL-HIDALGO JJ, OVERHOLSER JC, MELTZER HY,

STOCKMEIER CA, RAJKOWSKA G. Reduced glial and neuronal packing density in the orbitofrontal cortex in alcohol dependence and its relationship with suicide and duration of alcohol dependence. Alcoholism: Clinical and Experimental Research. 2006;30(11):1845-55.

65. MOREY LC, SKINNER HA. Empirically derived classifications of alcohol-

related problems. Recent developments in alcoholism. 1986;4:145-68. 66. Moselhy HF, Georgiou G, Kahn A. Frontal lobe changes in alcoholism: a

review of the literature. Alcohol and Alcoholism. 2001;36(5):357-68.

67. NASCIMENTO E, FIGUEIREDO VLM. WISC-III e WAIS-III: alterações nas versões originais americanas decorrentes das adaptações para uso no Brasil. Psicologia: Reflexão e Crítica. 2002;15(3):603-612.

68. NOEL X, SFERRAZZA R, VAN DER LINDEN M, PATERNOT J,

VERHAS M, HANAK C, PELC I, VERBANCK P. Contribution of frontal cerebral blood flow measured by (99m)Tc-Bicisate spect and executive function deficits to predicting treatment outcome in alcohol-dependent patients. Alcohol and Alcoholism. 2002;37(4):347-54.

Page 134: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

132

69. NOFFS MHS, YAZIGI L; PASCALICCHIO TF; CABOCLO LOSF, YACUBIAN EMT. Desempenho cognitivo de pacientes com epilepsia do lobo temporal e epilepsia mioclônica juvenil: avaliação por meio da Escala WAIS-III. Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology. 2006;12(1):7-12.

70. NOTO AR, NAPPO S, GALDURÓZ JCF, MATTEI R, CARLINI EA. IV

levantamento sobre o uso de drogas entre meninos e meninas em situação de rua de seis capitais brasileiras - 1997. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas - Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina; 1998.

71. NOTO AR, MOURA, YG, NAPPO SA, GALDUROZ JCF, CARLINI EA.

Internações por transtornos mentais e de comportamento decorrentes de substâncias psicoativas: um estudo epidemiológico nacional do período de 1988 a 1999. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. 2002;51(2):113-21.

72. NOTO, AR; GALDURÓZ, JCF; FONSECA, AM; CARLINI, CMA;

MOURA, YG; CARLINI, EA - Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas entre Crianças e Adolescentes em Situação de Rua nas 27 Capitais Brasileiras – 2003. CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, Departamento de Psicobiologia da UNIFESP São Paulo, 2004.

73. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (Word Health Organization).

Classificação de transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10. Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas; tradução da edição brasileira Dorgival Caetano.- Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

74. ______. Alcohol per capita consumption, patterns of drinking and

abstention worldwide after 1995. Appendix 2. European Addiction Research, 2001, 7(3):155–157.

75. ______. Global Status Report on Alcohol 2003. Department of Mental

Health and Substance Abuse,Genebra; 2003.

76. ______. Global Status Report on Alcohol 2004. Department of Mental Health and Substance Abuse,Genebra; 2004.

77. PARSONS OA. Neurocognitive deficits in alcoholics and social drinkers:

a continuum? Alcoholism: Clinical and Experimental Research. 1998;22(4):954-61.

78. POLDRUGO F. Alcohol and criminal behaviour. Alcohol and Alcoholism.

1998;33(1):12-5. 79. POLICH J, OCHOA CJ. Alcoholism risk, tobacco smoking, and P300

event-related potential. Journal of Clinical Neurophysiology. 2004;115(6):1374-83.

Page 135: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

133

80. RAMOS SP; WOITOWITZ AB. From one beer with friends to alcohol

dependence: a synthesis about our knowledge of this path. Revista Brasileira de Psiquiatria. 2004;26 Suppl 1:S18-22.

81. REESE C, POLICH J. Alcoholism risk and the P300 event-related brain

potential: Modality, task, and gender effects. Brain and cognition. 2003; 53(1):46–57.

82. REULBACH U, BIERMANN T, BLEICH S, HILLEMACHER T,

KORNHUBER J, SPERLING W. Alcoholism and homicide with respect to the classification systems of Lesch and Cloninger. Alcohol and Alcoholism. 2007;42(2):103-7.

83. SABOYA, E; FRANCO, CA; MATTOS, P. Relações entre processos

cognitivos nas funções executivas / Relationship among cognitive processes in executive functions. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. 2002;51(2):91-100.

84. SAMOCHOWIEC J, KUCHARSKA-MAZUR J, GRZYWACZ A,

JABŁONSKI M, ROMMELSPACHER H, SAMOCHOWIEC A, SZNABOWICZ M, HORODNICKI J, SAGAN L, PEŁKA-WYSIECKA J. Family-based and case-control study of DRD2, DAT, 5HTT, COMT genes polymorphisms in alcohol dependence. Neuroscience Letters. 2006;410(1):1-5.

85. SAMOCHOWIEC J, KUCHARSKA-MAZUR J, GRZYWACZ A, PELKA-

WYSIECKA J, MAK M, SAMOCHOWIEC A, BIENKOWSKI P. Genetics of Lesch's typology of alcoholism. Progress in Neuropsychopharmacology and Biological Psychiatry. 2008;32(2):423-7.

86. SCHUCKIT MA. The clinical implications of primary diagnostic groups

among alcoholics. Archives of General Psychiatry.1985;42(11):1043-9. 87. SILVERSTEIN AB. Two- and four-subtest short forms of the WAIS-R: a

closer look at validity and reliability. Journal of Clinical Psychology. 1985;41(1):95-7.

88. SMITH KL, HORTON NJ, SAITZ R, SAMET JH. The use of the mini-

mental state examination in recruitment for substance abuse research studies. Drug and Alcohol Dependence. 2006;82(3):231-7.

89. SPERLING W, FRANK H, MARTUS P, MADER R, BAROCKA A,

WALTER H, LESCH M. The concept of abnormal hemispheric organization in addiction research. Alcohol and Alcoholism. 2000;35(4):394-9.

90. WALTER H, RAMSKOGLER K, SEMLER B, LESCH OM, PLATZ W.

Dopamine and alcohol relapse: D1 e D2 antagonists increase relapse

Page 136: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

134

rattes in animal studies and clinical trials. Journal of Biomedical Science. 2001;8:83-88.

91. WALTER H, RAMSKOGLER-SKALA K, DVORAK A, GUTIERREZ-

LOBOS K, HARTL D, HERTLING I, MUNDA P, THAU K, LESCH OM, DE WITTE P. Glutamic acid in withdrawal and weaning in patients classified according to Cloninger's and Lesch's typologies. Alcohol and Alcoholism. 2006;41(5):505-11

92. WOBER C, WOBER-BINGOL C, KARWAUTZ A, NIMMERRICHTER A,

WALTER H, DEECKE L. Ataxia of stance in different types of alcohol dependence -a posturographic study. Alcohol and Alcoholism. 1998;33(4):393-402.

93. ZAGO-GOMES MP, GONÇALVES LL, MACIEIRA MS, GARCIA MLT,

GONÇALVES CS. Hepatopatia Alcoólica no Espírito Santo. Tema livre do XI Congresso Brasileiro de Alcoolismo e Outras Dependências, Belo Horizonte, MG; 10-14 maio, 1995.

94. ZINN S, STEIN R, SWARTZWELDER HS. Executive functioning early in

abstinence from alcohol. Alcoholism: Clinical and Experimental Research. 2004;28(9):1338-46.

95. ZUCKER RA. The four alcoholisms: a developmental account of the

etiologic process. Nebraska Symposium on Motivation.1986;34:27-8

Page 137: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

135

8. Anexos

Page 138: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Anexo I

CID-10

Classificação dos transtornos mentais e do comportamento

Classificação de Alcoolismo

F10.0 – Intoxicação aguda –seria uma condição transitória seguindo-se a administração

de álcool, resultando em perturbação no nível de consciência, cognição

percepção, afeto, comportamento ou outras funções ou respostas

psicofisiólogicas. Um quinto código pode ser usado para indicar se a

intoxicação aguda estava associada com quaisquer outras complicações:

F10.00 - Não complicada

F10.01 - Com traumatismo ou outra lesão corporal

F10.02 - Com outras complicações médicas (exemplo: hematêmese, aspiração de

vômitos)

F10.03 - Com delirium

F10.04 - Com distorções perceptivas

F10.05 - Com coma

F10.06 - Com convulsões

F10.07 - Intoxicação patológica. Início abrupto de agressão e comportamento violento

que não é típico do indivíduo quando sóbrio, logo após ter ingerido

quantidades de álcool que não produziriam intoxicação na maioria das

pessoas. Geralmente relacionado a um foco de arritmia cerebral.

F10.1 Uso nocivo – Um padrão de uso de álcool que está causando dano a saúde. O

dano pode ser físico (exemplo: hepatite), ou mental (exemplo: episódios de

transtornos depressivos secundário a um grande consumo de álcool). Padrões

nocivos de uso são frequentemente criticados por outras pessoas e associados a

conseqüências sociais, mas o fato de um padrão de uso não ser aceito por outra

pessoa ou pela cultura, não é por si só evidência de uso nocivo. O diagnóstico

requer um dano real à saúde física ou mental do usuário.

F10.2 Síndrome de dependência – É um conjunto de fenômenos fisiológicos,

comportamentais e cognitivos, no qual o uso do álcool alcança uma prioridade

Page 139: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

muito maior para um determinado indivíduo que outros comportamentos que

anteriormente tinham valor. As diretrizes diagnósticas da dependência são:

1. Forte desejo ou senso de compulsão de consumir álcool.

2. Dificuldade de controlar o comportamento de álcool em termo de seu início, término ou

níveis de consumo.

3. Um estado de abstinência fisiológico quando o uso de álcool cessou ou foi reduzido,

caracterizado pela síndrome de abstinência ou pelo uso novamente da droga com a

intenção de aliviar ou evitar os sintomas de abstinência. Os sinais e sintomas mais

comuns do estado de abstinência ao álcool são: agitação, ansiedade, alteração de

humor (irritabilidade. disforia), tremores, náuseas, vômitos, taquicardia, hipertensão

arterial, etc.

4. Evidência de tolerância, necessitando de doses crescentes de álcool para alcançar os

efeitos da droga.

5. Abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor ao uso de

álcool, aumento do tempo necessário para obter ou usar a droga, ou recuperar de seus

efeitos.

6. Persistência do uso de álcool, a despeito de evidência clara de conseqüências nocivas.

O estreitamento do repertório pessoal do padrão de uso (exemplo: tendência a

usar bebidas alcoólicas da mesma forma, a despeito de restrições sociais) também

tem sido descrito como aspecto característico.

O diagnóstico de Síndrome de Dependência pode ser especificado com os

seguintes subitens:

F10.20 - Atualmente abstinente

F10.21 - Atualmente abstinente, mas em ambiente protegido

F10.22 - Atualmente em regime de substituição supervisionada

F10.23 - Atualmente abstinente, porém recebendo tratamento de drogas aversivas ou

bloqueadoras

F10.24 - Em dependência ativa (usando o álcool)

F10.25 - Uso contínuo

F10.26 - Uso episódico (dipsomania)

F10.3 - Estado de abstinência. É um conjunto de sintomas, de gravidade variável, que

ocorre em abstinência absoluta ou relativa do álcool. O início e o curso do estado

de abstinência são limitados no tempo. O estado de abstinência pode ser

Page 140: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

complicado por convulsões. É um indicador da síndrome de dependência ao

álcool. O estado de abstinência pode ser codificado como diagnóstico principal,

se é a razão do encaminhamento e grave o suficiente para requerer atenção

médica por si só.

O diagnóstico de estado de abstinência pode ser especificado usando o quinto

caractere em:

F10.30 - Não complicado

F10.31 - Com convulsões

F10.4 - Estado de abstinência com delirium. Delirium tremens induzido por álcool é um

estado toxiconfusional breve, mas ocasionalmente com risco de morte, que se

acompanha de perturbações somáticas. É usualmente uma conseqüência de

abstinência absoluta ou relativa em dependentes graves. Os sintomas

prodrômicos incluem insônia, tremores e medo. O início pode ser precedido de

convulsões por abstinência. A tríade clássica é obnubilação de consciência,

alucinações e ilusões vívidas, afetando qualquer das modalidades sensoriais, e

tremor marcante. Delírios, agitação, insônia, inversão do ciclo do sono/vigília e

hiperatividade autonômica estão também usualmente presentes.

O diagnóstico de estado de abstinência com delirium pode ser especificado

usando o quinto caractere em:

F10.40 - Não complicado

F10.41 - Com convulsões

F10.5 - Transtorno psicótico. Um conjunto de fenômenos que ocorrem durante ou

imediatamente após o uso de substâncias psicoativas, inclusive o álcool. São

caracterizados por alucinações vívidas, falsos reconhecimentos, delírios e/ou

idéia de referência, transtornos psicomotores e afeto anormal. O transtorno

tipicamente se resolve parcialmente dentro de 01(um) mês e completamente

dentro de 06 (seis) meses.

Inclui: Alucinação alcoólica

Ciúme alcoólico

Paranóia alcoólica

Psicose alcoólica sem outras especificações

Page 141: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

O diagnóstico de estado psicótico pode ser especificado pelos seguintes

códigos:

F10.50 - Esquizofrênico

F10.51 - Predominantemente delirante

F10.52 - Predominantemente alucinatório

F10.53 - Predominantemente polifórmico

F10.54 - Predominantemente sintomas depressivos

F10.55 - Predominantemente sintomas maníacos

F10.5 6 - Misto

F10.6 - Síndrome amnésica. Uma síndrome associada a um comprometimento crônico e

proeminente da memória recente; a memória remota está às vezes

comprometida, enquanto a imediata está preservada. Perturbações da

orientação cronológica e temporal são evidentes, assim como dificuldade e

aprender material novo. Confabulações podem ser marcantes. Os defeitos

amnésicos são desproporcionais as outras alterações das funções cognitivas.

Inclui psicose ou Síndrome de Korsakov.

F10.7 - Transtorno psicótico residual de início tardio. Quando as alterações de cognição,

afeto, personalidade ou comportamento, induzidas pelo álcool persistem além do

período durante o qual a droga pode ser operante.

O diagnóstico de transtorno psicótico residual de início tardio pode ser

especificado pelos seguintes códigos:

F10.70 - Flashbacks (revivências), episódicos, com duração muito curta

F10.71 - Transtorno de personalidade ou de comportamento.

F10.72 - Transtorno afetivo residual

F10.73 - Demência

F10.74 - Outro comprometimento cognitivo persistente

F10.75 - Transtorno psicótico de início tardio.

F10.8 - Outros transtornos mentais e de comportamento

F10.9 - Transtorno mental e de comportamento não especificado

Page 142: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Anexo II

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Estas informações estão sendo fornecidas para sua participação voluntária no estudo denominado “Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos de alcoolismo de acordo com a Tipologia de Lesch” Objetivo do estudo Este trabalho propõe-se a realizar um estudo em pacientes alcoolistas atendidos no Programa de Atendimento ao Alcoolista do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes, da Universidade Federal do Espírito Santo (PAA/HUCAM/UFES) classificando clinicamente o Tipo do alcoolismo e correlacionando com os resultados do teste de Avaliação da Função Frontal e do Estado Mental.

Procedimentos

Você será avaliado inicialmente através de uma consulta médica clínica. Você será informado sobre o trabalho, e se aceitar participar, você será submetido a dois (02) testes psicológicos para avaliar o seu estado mental e a sua capacidade frontal: o Mini-exame do estado mental (mini-Mental) e a Bateria de Avaliação Frontal (FAB), e ao teste do bafômetro (se aceitar).

Os responsáveis por este estudo são: Dra. Maria da Penha Zago Gomes, CRM 2724/ES e Dra. Ester Miyuki Nakamura Palácios, CRM 4746/ES,

Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre ética em pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa – situado no Centro de Ciências da Saúde da UFES. Todas as informações obtidas relativas a sua participação neste estudo serão analisadas em conjunto com aquelas obtidas com outros pacientes, resguardando, desta forma, a confidencialidade da sua participação.

Desta forma, acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo: “Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos de alcoolismo de acordo com a Tipologia de Lesch” ____________________________________ Data: ___/___/_____ Assinatura do paciente/representante legal Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste paciente ou representante legal para participação neste estudo.

________________________________________ Dra Maria da Penha Zago Gomes CRM/ES 2724 _________________________________________

Dra. Ester Miyuki Nakamura Palácios CRM/ES 4746

Médicos responsáveis pelo estudo Data: ___/___/____

Page 143: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Anexo III

Instrumento para Avaliação da Tipologia de Lesch em Alcoolistas Crônicos Data da coleta dos dados: ____ / ____ / _______ 1. DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS Nome:______________________________________________ No do prontuário:____________ Data de Nascimento: ___/___/______ Idade:________________ Sexo: ( ) M ( ) F Cor ou raça: ( 1 ) Branca ( 2 ) Parda ( 3 ) Amarela ( 4 ) Preta ( 5 ) NR Escolaridade: EFI ( 1 ) EFC ( 2 ) EM ( 3 ) ES ( 4 ) NR ( 5 ) Profissão:_______________________________________________________________________ Situação Trabalhista: ( 1 ) Com Carteira de Trabalho Assinada ( 2 ) Sem Carteira de Trabalho

assinada ( 3 )Aposentado ( 4 ) Autônomo ( 5 )Desempregado ( 6 )NR ( 7 ) Auxílio-Doença

Estado Civil: ( 1 ) Solteiro ( 2 ) União estável ( 3 ) Separado ( 4 ) Viúvo ( 5 ) NR Município: ( 1 ) Vitória ( 2 ) Viana ( 3 ) Vila Velha ( 4 ) Cariacica ( 5 ) Serra ( 6 ) Guarapari (7 ) Outros ( 8 ) NR Com quem vive atualmente: ( 1 ) Companheiro ( 2 ) Companheiro e filhos ( 3 ) Familiares

( 4 ) Amigos ( 5 ) Sozinho ( 6 ) NR ( 7 ) Outros Telefone: _________________________________ 2. ANAMNESE

Condições da gravidez: ( 1 ) normal ( 2 ) anormal Qual____________________ ( 3 ) NR Condições do parto: ( 1 ) normal ( 2 ) anormal Qual____________________ ( 3 ) NR Infância: : ( 1 ) normal ( 2 ) anormal Qual____________________ ( 3 ) NR Situação no ensino fundamental: ( 1 ) normal ( 2 ) anormal Qual__________________ ( 3 ) NR Amigos: ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) NR Quadros psiquiátricos na infância e adolescência: ( 1 ) Sim Qual __________ ( 2 ) Não ( 3 ) NR Enurese noturna: ( 1 ) Sim Idade _________ ( 2 ) Não ( 3 ) NR Relação familiar: ( 1 ) Matriarcal ( 2 ) Patriarcal ( 3 ) sem predomínio ( 4 ) NR Pessoa importante na vida:_____________________ Comportamento passivo: ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) NR

Page 144: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES

Pouco tempo ocupado: ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) NR Delinqüência com o álcool: ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) NR Traumas físicos: ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) NR Quadros depressivos: ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) NR Idéias suicidas sem álcool: ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) NR Crises convulsivas com álcool: ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) NR Crises convulsivas sem álcool: ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) NR Alucinações: ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) NR Polineuropatia periférica: ( 1 ) Sim Grau___________ ( 2 ) Não ( 3 ) NR Demência: ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) NR Síndrome de abstinência: ( 1 ) grave ( 2 ) moderado ( 3 ) leve ( 4 ) NR SADD______ Outras complicações orgânicas: ( 1 ) Sim Qual?_________________ ( 2 ) Não ( 3 ) NR Idade do início do álcool _______________________

Data Última ingestão:_________________________ Bebida mais utilizada:__________________________ Quantidade de álcool por dia (média)______________________ Teste do bafômetro: _____________________________ Usa drogas ilícitas? ( 1 ) Sim ( 2 ) Não ( 3 ) NR Quais? ____________________________________ Faz uso de tabaco? ( 1 ) sim ( 2 ) não ( 3 )NR Há quanto tempo? ____________ Quantidade

diária:______

Pesquisador: ______________________

Page 145: Diferenças no desempenho das funções frontais nos subtipos ...portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_2989_Tese Maria da Penha Zago Gomes.pdf · DIFERENÇAS NO DESEMPENHO DAS FUNÇÕES