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0 Universidade Federal do Rio Grande FURG Heloíse Pavanato Julião DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO-MARINHO-DO-SUL NOS REFÚGIOS DO RIO GRANDE DO SUL Rio Grande 2010

DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

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Universidade Federal do Rio Grande

FURG

Heloíse Pavanato Julião

DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO-MARINHO-DO-SUL NOS REFÚGIOS DO RIO GRANDE DO SUL

Rio Grande 2010

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Heloise Pavanato Julião

DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO-MARINHO-DO-SUL NOS REFÚGIOS DO RIO GRANDE DO SUL

Monografia apresentada junto ao Curso de Oceanologia da Universidade Federal do Rio

Grande, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Oceanologia.

Orientador: Prof. Dr. Paul G. Kinas

Rio Grande 2010

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Resumo Na costa do Brasil, apenas dois agrupamentos do leão-marinho-do-sul são encontrados: Ilha

dos Lobos (Torres) e Molhe Leste (São José do Norte), ambos no Rio Grande do Sul. A

maioria dos leões-marinhos-do-sul observados nos refúgios são machos adultos e sub-

adultos. Acredita-se que a presença da espécie nos refúgios seja devido à disponibilidade de

alimento na região e a ausência de cuidado parental pelos machos. Neste estudo, analisou-

se a dinâmica de ocupação e abundância de Otaria flavescens nos refúgios, durante o

período de 1993 a 2002, a partir de dados de contagem de indivíduos observados.

Desenvolveu-se modelos lineares generalizados relacionando abundância de Otaria

flavescens com efeito de covariáveis para os dois refúgios em conjunto, avaliando diferenças

entre os refúgios, tendências de longo prazo, sazonalidade e efeito de El Niño. Os

parâmetros do modelo foram estimados segundo a inferência Bayesiana e o melhor modelo

foi escolhido pelo Critério de Informação de Desvio. Os resultados obtidos mostraram que a

abundância de Otaria flavescens varia sazonalmente atingindo seu máximo entre agosto e

setembro, e aumenta ao longo do período de estudo. A análise dos resíduos mostrou um

bom ajuste do modelo.

Palavras-chave: Otaria flavescens, Modelos Lineares Generalizados, Covariáveis, Abundância.

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Abstract

At the Brazilian coast only two haul-outs of South American sea lions Otaria flavescens are

known: Ilha dos Lobos (Torres) and Molhe Leste, both located in the state Rio Grande do Sul.

Most sea lions observed in the haul-outs are adults and sub-adult males. It is supposed that

the specie’s presence in these areas is related to food supply and absence of parental

assistance from males. This study analyzed the occupation and abundance dynamics of

Otaria flavescens in the haul-outs between 1993 and 2002 based on counting data of

observed individuals. Generalized linear models for abundance of Otaria flavescens were

used for both haul-outs, evaluating differences between the areas, long term tendency,

seasonality and the El Niño effect. Bayesian inference was used to estimate the model’s

parameters and the best model was chose by Deviance Information Criteria. Results showed

that the Otaria flavescens abundance varies seasonally reaching highest abundance between

august and September and increases along the study period. Residual analysis showed a

good model adjustment.

Key words: Otaria flavescens, Generalized Linear Models, Covariates, Abundance.

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Lista de Figuras

Figura 1. Localização das colônias de Otaria flavescens no oceano Pacífico e Atlântico. Fonte: Crespo, 2009........................................................................................... ...................................8 Figura 2. Mapa mostrando na costa do Rio Grande do Sul (B) as áreas de monitoramento REVIS do Molhe Leste (C) e REVIS da Ilha dos Lobos (D)..........................................................13 Figura 3. Esquemas de Modelos Hierárquicos e não Hierárquicos. Adaptado de McCarthy, 2007............................................................................................................................ .............18 Figura 4. Série temporal da Cadeia de Markov para os parâmetros do modelo após período de descarte................................................................................................................... ...........23 Figura 5. Gráfico dos quantis 0.025, 0.05 e 0.95 das distribuições posteriores dos parâmetros..............................................................................................................................24 Figura 6. Auto-correlações dos intervalos 0, 1, 5, 10, 50, 100, 500, 1000, 5000, 10000 da cadeia............................................................................................................................. ..........25 Figura 7. Mediana e intervalo de 80% da covariável MEI à esquerda e intervalo de 80% de todos os parâmetros do Modelo 10 à direita..........................................................................27 Figura 8. Mediana e intervalo de 80% da covariável ONI à esquerda e intervalo de 80% de todos os parâmetros do Modelo 10 à direita..........................................................................27 Figura 9. Mediana e intervalo de 80% da covariável SOI à esquerda e intervalo de 80% de todos os parâmetros do Modelo 10 à direita..........................................................................27 Figura 10. Funções de densidade de probabilidade a posteriori dos parâmetros , ,

, e , obtidas pelo Modelo 16 (sem interação)..............................................................31 Figura 11. Funções de densidade de probabilidade a posteriori do parâmetro , obtida pelo Modelo 16 (sem interação)............................................................................................. .........31 Figura 12. Funções de densidade de probabilidade dos parâmetros (linha contínua) e

(linha tracejada) para os meses de janeiro a junho, obtidas pelo Modelo 24 (com interação)...................................................................................................................... ...........32 Figura 13. Funções de densidade de probabilidade dos parâmetros (linha contínua) e

(linha tracejada) para os meses de julho a dezembro, obtidas pelo Modelo 24 (com interação).................................................................................................................................33

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Figura 14. Funções de densidade de probabilidade a posteriori dos parâmetros e , obtidas pelo Modelo 24 (com interação).................................................................................34 Figura 15. Logaritmo da média mensal estimada de Otaria flavescens pelo Modelo 16 (linhas), com I.Cr. 95%, e números observados por mês (pontos) no REVIS do Molhe Leste............................................................................................................................. ............35 Figura 16. Média mensal estimada de Otaria flavescens pelo Modelo 16 (linhas), com I.Cr. 95%, e números observados por mês (pontos) no REVIS da Ilha dos Lobos............................35 Figura 17. Gráfico de resíduos padronizados, com I.Cr. 95%, e as respectivas médias dos resíduos (pontos) para o REVIS do Molhe Leste. A linha em vermelho representa resíduo igual a 0......................................................................................................................... ...........36 Figura 18. Gráfico de resíduos padronizados, com I.Cr. 95%, e as respectivas médias dos resíduos (pontos) para o REVIS da Ilha dos Lobos. A linha em vermelho representa resíduo igual a 0....................................................................................................................................37 Figura 19. Logaritmo da média mensal estimada de Otaria flavescens pelo Modelo 24 (com interação) (linhas), com I.Cr. 95%, e números observados por mês (pontos) no REVIS do Molhe Leste.............................................................................................................................37 Figura 20. Logaritmo da média mensal estimada de Otaria flavescens pelo Modelo 24 (com interação) (linhas), com I.C. 95%, e números observados por mês (pontos) no REVIS da Ilha dos Lobos...................................................................................................................... ...........38 Figura 21. Média da distribuição posterior do Modelo 9, relacionando número de Otaria flavescens no REVIS do Molhe Leste (preto) e REVIS da Ilha dos Lobos (vermelho)...............39 Figura 22. Probabilidade de ocupação mensal de Otaria flavescens no REVIS do Molhe Leste............................................................................................................................. ............40 Figura 23. Probabilidade de ocupação mensal de Otaria flavescens no REVIS da Ilha dos Lobos........................................................................................................................................40 Figura 24. Número médio de presas encontrado nos estômagos de machos de Otaria flavescens, durante os períodos I (1977 a 1983) e II (2004 a 2006).........................................41 Figura 25. Parábola relacionando o efeito do mês quadrático sobre a abundância de O. flavescens, representada pelo coeficiente ..........................................................................43 Figura 26. Número de indivíduos observados ao longo de um dia no mês de setembro de 1999 (direita) e no mês de agosto de 2001, no REVIS do Molhe Leste...................................45 Figura 27. Desembarques mensais (t) das presas economicamente importantes de Otaria flavescens, durante o período de 1993 a 2002........................................................................48

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Figura 28. Taxas mensais de aumento da abundância para o REVIS do Molhe Leste (em cima) e REVIS da Ilha dos Lobos (abaixo)...........................................................................................52

Lista de Tabelas

Tabela 1. Modelos com diferentes combinações dos parâmetros, média das posteriores e respectivos valores de DIC.......................................................................................................26 Tabela 2. Modelos com diferentes combinações dos parâmetros, média das posteriores e respectivos valores de DIC. O primeiro termo das interações representa o mês (1,2,...,12) e o segundo termo representa o local (1 para ML e 2 para IL)......................................................29

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Sumário

1. Introdução ................................................................................................................................... 8

2. Hipóteses ................................................................................................................................... 11

3. Objetivos ................................................................................................................................... 11

3.1 Gerais ................................................................................................................. 11 3.2 Específicos ................................................................................................... ....... 11

4. Metodologia .............................................................................................................................. 12 4.1 Monitoramento dos Refúgios ................................................................................... 12 4.2 El Niño - Oscilação Sul ............................................................................................... 14 4.3 Análise dos dados ...................................................................................................... 15

4.3.1 Modelos Lineares Generalizados de Abundância ..................................... 15 4.3.2 Seleção do Modelo ...................................................................................... 19 4.3.3 Análise de Resíduos..................................................................................... 20 4.3.4 Probabilidade de Ocupação........................................................................ 20 4.3.5 Análise Preditiva .......................................................................................... 21 4.3.6 Análise das Presas ....................................................................................... 21

5. Resultados ................................................................................................................................. 22 5.1 Modelos Lineares Generalizados de Abundância ................................................... 25 5.2 Análise das Presas ...................................................................................................... 41

6. Discussão ................................................................................................................................... 42 6.1 Covariáveis no Modelo .............................................................................................. 42 6.2 Sazonalidade ............................................................................................................... 46 6.3 El Niño ......................................................................................................................... 49 6.4 Aumento da Abundância........................................................................................... 51

7. Conclusão .................................................................................................................................. 53 Referências Bibliográficas ............................................................................................................ 54

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1. Introdução

O leão-marinho-do-sul Otaria flavescens (Shaw, 1800) é um mamífero marinho da Ordem

Carnívora, Família Ottaridae, pertencente ao grupo de Pinípedes - mamíferos aquáticos

adaptados tanto à vida aquática como à terrestre. A espécie tem distribuição ao longo de

aproximadamente 10.000 km da costa Atlântica e Pacífica da América do Sul: de Torres

(Brasil) (Vaz-Ferreira, 1981) até Cape Horn (Chile), no extremo sul do Atlântico Sul; de Cape

Horn até Zorritos, no nordeste do Peru (Cappozzo, 2002) (Figura 1).

Figura 1. Localização das colônias de Otaria flavescens no oceano Pacífico e Atlântico. Fonte: Crespo,

2009.

A população total é estimada em 110.000 indivíduos no sul do oceano Atlântico Sul, com

maiores densidades na costa da Patagônia e ilhas ao sul. Não há uma estimativa disponível

acerca da população do oceano Pacífico, mas sabe-se que esta é consideravelmente menor

(Cappozzo, 2002). Apesar do pouco conhecimento sobre a população do oceano Pacífico,

sabe-se que esta corresponde a uma unidade evolucionariamente diferente da população do

oceano Atlântico, havendo diferenças filogenéticas entre elas (Túnez et al., 2006).

Como os demais pinípedes, sua distribuição é caracterizada por alguns aspectos que tornam

possíveis a vivência em ambiente terrestre e marinho. Dentre eles, destacam-se a

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necessidade por substrato sólido e a disponibilidade de alimentos no mar (Bowen et al.,

2009; Cappozzo e Perrin, 2009). Os leões-marinhos-do-sul são mergulhadores de águas rasas

que apresentam pequena capacidade pulmonar comparada aos demais mamíferos

marinhos, como a maioria das espécies de leões-marinhos (Boness, 2002). Esta característica

fisiológica torna os hábitos de forrageio da espécie dependentes da batimetria da plataforma

continental (Campagna et al., 2001; Gentry, 2002).

Otaria flavescens é uma espécie de hábitos oportunistas, se alimentando de ampla variedade

de presas que variam entre as áreas de distribuição. A dieta inclui espécies de peixes,

crustáceos e moluscos, alguns deles de valor comercial (Vaz-Ferreira, 1981; Campagna,

2008), o que explica a freqüência com que são encontrados próximos a barcos de pesca (Vaz-

Ferreira, 1981). O principal predador da espécie é Orcinus orca (Cappozzo e Perrin, 2009),

porém, pode exercer controle “top-down” em alguns ecossistemas através da predação e,

portanto, são afetados pelas mudanças na disponibilidade de alimento, constituída

principalmente por mudanças na produção primária e secundária (Bowen et al., 2009).

A reprodução de Otaria flavescens ocorre no verão, entre Dezembro e Janeiro, com alguns

poucos nascimentos em Fevereiro (Vaz-Ferreira, 1981; Campagna, 1985). A presença de

pinípedes fora de suas áreas usuais de reprodução pode ser resultado de movimentos

erráticos em alguns casos. No entanto, algumas espécies, como Otaria flavescens, são

freqüentes e apresentam marcada sazonalidade (Rosas et al., 1994; Messias et al., 1994,

Simões-Lopes, 1995).

A presença de leões-marinhos-do-sul é freqüente nos portos do oceano Atlântico Sul, mas

em poucos deles formam colônias estáveis. Uma exceção a este padrão constituem as

colônias não-reprodutivas dos portos argentinos de Mar del Plata (Rodríguez, 1990) e

Quequén (Westergaard et al., 1979). Nestas colônias os indivíduos permanecem durante a

maior parte do ano, deslocando-se às colônias reprodutivas somente no período de

reprodução. Agrupamentos similares são encontrados na costa do Rio Grande do Sul (RS),

Brasil – Ilha dos Lobos, localizada no município de Torres (29°20´S, 52°06´W), e Molhe Leste,

localizado no município de São José do Norte (32°11´S, 52°04´W) (Vaz-Ferreira, 1981; Rosas

et al., 1994). Os dois locais são protegidos legalmente através de Unidades de Conservação

da categoria Refúgio da Vida Silvestre (REVIS). Supõe-se que os indivíduos presentes nestes

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refúgios sejam provenientes das colônias reprodutivas do Uruguai devido à disponibilidade

de alimento na costa do Brasil (Castello e Pinedo, 1977).

Acredita-se que a abundância de animais em ambos REVIS tem aumentado (Santos e

Messias, 1990). No REVIS do Molhe Leste (ML), Rosas et al. (1994) observaram o número

máximo de 27 indivíduos, Messias et al. (1994) registraram número máximo de 55 animais.

No REVIS da Ilha dos Lobos (IL), Messias et al. (1994) relataram 96 indivíduos em 1994 e

Sanfelice et al. (1999) observaram 101 indivíduos no mesmo ano.

A maioria dos leões-marinhos-do-sul observados nos refúgios são machos adultos e sub-

adultos (Messias et. al., 1994; Rosas et al., 1994; Sanfelice et. al, 1996; Sanfelice et al., 1999;

Estima, 2002; Silva, 2002). A predominância de machos sobre fêmeas pode ser devido à

ausência de cuidado parental pelos machos, permitindo que estes se dispersem a maiores

distâncias que as fêmeas após longo jejum durante o período reprodutivo. Dentre os

machos, a predominância de sub-adultos e adultos pode estar relacionada à menor

proficiência de nado dos indivíduos mais jovens, cujos movimentos se limitam a curtas

distâncias (Rosas et al., 1994). Esta hipótese é favorecida pelo pequeno número de

indivíduos mais jovens que três anos, presentes no sul do Brasil, e pelos movimentos

limitados das fêmeas observados por Vaz-Ferreira (1981) no Uruguai e Campagna et al.

(2001) na Patagônia.

Estudos relacionados à dieta da espécie no RS mostram que as presas mais importantes são

os peixes da família Scianidae, sendo predominantes Macrodon ancylodon, Paralonchurus

brasiliensis, Cynoscion guatucupa e Micropogonias furnieri (Pinedo e Barros, 1983).

Especificamente para machos, Falco (2008) encontrou as mesmas espécies de peixes e ainda

Umbrina canosai como as mais importantes, segundo o Índice de Importância Relativa. A

relevância de estudos que contemplam a dieta do leão-marinho-do-sul e variáveis que a

afetam é demonstrada por pesquisas de George-Nascimento et al. (1985), Soto et al. (2006),

Szteren et al. (2004).

No entanto, poucos são os estudos (e.g. Tunéz et al., 2008; Hoef e Frost, 2003) que analisam

a influência das variáveis ambientais na distribuição de indivíduos, tampouco os que

correlacionam abundância de indivíduos com disponibilidade de presas. Um exemplo desta

interação são os fenômenos climáticos que afetam a distribuição de Otaria flavescens.

Principalmente na costa peruana, o fenômeno El Niño afeta o ecossistema marinho como

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um todo pelo aumento da temperatura superficial do mar (TSM), afetando a teia trófica

desde os organismos planctônicos até os predadores de topo, causando drástica redução da

população de leões-marinhos devido às altas taxas de mortalidade e migração (Cappozzo,

2002).

Neste contexto, estudos sobre a ocupação de áreas tomou considerável importância na

ciência ecológica, em parte pela simplicidade e eficiência dos protocolos de amostragem.

Porém, somente a ocupação descreve pouco a respeito de estados demográficos,

caracterizando de forma imprecisa a dinâmica da população. É difícil fazer inferência sobre

mudanças populacionais quando se estuda somente presença ou ausência de determinada

espécie. Inferências mais concisas sobre mudanças na população podem ser feitas pela

conexão entre ocupação e abundância (Dorazio, 2007), já que altas densidades

correspondem a áreas mais ocupadas e vice-versa (Royle e Dorazio, 2008).

2. Hipóteses

(1) Otaria flavencens apresenta ocupação sazonal nos refúgios do Rio Grande do Sul.

(2) O número médio de indivíduos está aumentando ao longo dos anos.

(3) A abundância de Otaria flavescens é influenciada pelas variáveis ambientais que podem

modificar a disponibilidade de alimento, como eventos de El Niño.

3. Objetivos

3.1 Geral

Analisar a dinâmica de ocupação e abundância de Otaria flavescens nos refúgios do Rio

Grande do Sul.

3.2 Específicos

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- Desenvolver modelos hierárquicos de abundância de Otaria flavescens para os dois refúgios

em conjunto, que avaliem diferenças entre refúgio, tendências de longo prazo (ano),

sazonalidade (oscilação intra-anual) e o efeito de El Niño.

- Ajustar os modelos aos dados disponíveis de monitoramentos.

- Determinar a importância dessas variáveis explicativas para a abundância da espécie nesses

refúgios.

- Estimar a abundância e compará-las com observações reais.

- Avaliar mudanças nas probabilidades de ocupação dos dois refúgios em um ciclo intra-

anual.

- Avaliar relação entre abundância de Otaria flavescens e disponibilidade de recursos

pesqueiros.

4. Metodologia

4.1 Monitoramento dos Refúgios

Foram realizados monitoramentos do Refúgio da Vida Silvestre (REVIS) do Molhe Leste e

REVIS da Ilha dos Lobos (Figura 2) durante o período de janeiro de 1993 a dezembro de

2002.

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Figura 2. Mapa mostrando na costa do Rio Grande do Sul (B) as áreas de monitoramento REVIS do

Molhe Leste (C) e REVIS da Ilha dos Lobos (D).

Na maioria das populações de pinípedes não se pode assumir que todos os indivíduos estão

no local de contagem todo o tempo (Buckland e York, 2002), no entanto, para O. flavescens

o começo da manhã é o período em que ocorre o maior número de indivíduos, havendo um

decréscimo durante o dia e incremento novamente ao final do dia (Rosas et al., 1994;

Sanfelice et al., 1996). Por isso, os monitoramentos foram sistematizados para as 8h.

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As saídas foram feitas com embarcações para os dois locais, além de saídas via terrestre

somente ao REVIS do Molhe Leste. Durante o período foram realizados de uma a quatro

saídas ao mês havendo alguns meses durante o período de estudo em que não foi possível a

realização destas. O Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (NEMA) foi

responsável pelos monitoramentos através do Programa de Conservação e Manejo de

Pinípedes no litoral do Rio Grande do Sul, em parceria com o IBAMA.

Os animais foram observados a olho nu e contados em apenas uma transecção do trajeto,

com duração aproximada de 15 minutos. A fim de verificar a variabilidade do número de

indivíduos durante o curso de um dia houve duas saídas em que a contagem foi feita mais de

uma vez ao dia.

Os monitoramentos consistiram em contagem geral de indivíduos observados, classificação

etária dos indivíduos e sexagem. Otaria flavescens é um dos otarídeos que apresentam

maior dimorfismo sexual: os machos adultos apresentam o focinho dorsalmente

direcionado, são bastante maiores que as fêmeas, alcançando comprimento máximo em

torno de 3m e pesando até 350kg, enquanto as fêmeas medem em torno de 2m e pesam no

máximo 150kg. Machos juvenis não apresentam juba, os sub-adultos tem pequena juba e os

adultos têm uma característica juba e corpo mais robusto (Pinedo at al., 1992; Cappozzo e

Perrin, 2009).

O presente trabalho analisou apenas dados de censos (Silva, 2004), não utilizando distinções

de idade e sexo dos leões-marinhos avistados.

4.2 El Niño - Oscilação Sul

Dados de El Niño - Oscilação Sul (ENOS) foram obtidos como índices por três métodos

diferentes: Southern Oscillation Index (SOI), Oceanic Niño Index (ONI) e Multivariate ENSO

Index (MEI).

O SOI é calculado a partir de flutuações mensais ou sazonais da diferença da pressão do mar

entre Tahiti e Darwin. Valores negativos de SOI indicam episódios de El Niño, enquanto que

valores positivos estão associados a eventos de La Niña. O MEI é obtido a partir das

seguintes variáveis: pressão ao nível do mar, componentes zonais e meridionais do vento

superficial, temperatura superficial do mar, temperatura superficial do ar e cobertura total

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de nuvens. Valores negativos de MEI representam episódios de La Niña, enquanto valores

positivos representam fases de El Niño. O ONI é gerado a partir da anomalia média mensal

da temperatura superficial do mar, computada por três meses para uma região do oceano

Pacífico à latitude equatorial. El Niño é caracterizado quando, em cinco meses consecutivos,

a anomalia é igual ou maior que 0.5, enquanto La Niña é caracterizada quando a anomalia é

igual ou menor que -0.5.

Os índices foram obtidos como bases mensais para todo o período de estudo e foram

considerados fatores de intensidades do fenômeno ENOS. SOI é disponibilizado pelo

Australian Bureau of Meteorology, enquanto MEI e ONI são disponibilizados pela National

Oceanic and Atmospheric Administration (NOOA) (Wolter e Timlin, 1993, 1998).

4.3 Análise dos dados

4.3.1 Modelos Lineares Generalizados de Abundância

Os modelos de abundância para Otaria flavescens foram construídos baseados em Royle e

Dorazio (2008), segundo o qual a estrutura hierárquica é uma ferramenta conceitual que

enfatiza a construção de modelos probabilísticos. A distinção entre variabilidade nos

processos observacionais e variabilidades ou incertezas nos processos ecológicos

subjacentes constituem o objeto principal da inferência. Erros observacionais podem

ocorrer, por exemplo, se alguns indivíduos que utilizam a área amostrada não estão

presentes no momento da análise (McCarthy, 2007). A variação no processo ecológico

latente é modelada por meio de covariáveis. Neste trabalho os processos observacionais

correspondem às contagens de Otaria flavescens e os processos ecológicos subjacentes

correspondem às médias e aos parâmetros estimados.

As análises referentes aos modelos foram executadas segundo a inferência Bayesiana, que

se resume a obtenção de uma distribuição de probabilidade posterior via Teorema de Bayes

para o conjunto dos parâmetros desconhecidos do modelo. Esta distribuição resulta da

combinação de informações prévias, sumarizadas em uma distribuição de probabilidade

chamada priori, com dados observados descritos por algum modelo probabilístico, e

resumidos na função de verossimilhança. A inferência é baseada na distribuição posterior.

Quando não há informações prévias usam-se prioris não-informativas (Ellison, 1996;

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McCarthy, 2007; Kinas e Andrade, 2010). Um aspecto atrativo na análise Bayesiana é que a

hierarquia das relações modeladas entre os parâmetros podem ser estendidas ao se

especificar distribuições hiper-prioris para expressar incertezas referentes aos parâmetros

da priori (Sauer e Link, 2002).

Quando a distribuição posterior dos parâmetros investigados não possui solução analítica

recorre-se aos métodos de simulação estocástica. O princípio básico que fundamenta a

relação entre simulação estocástica e distribuições posteriores está na dualidade entre a

formulação algébrica de uma distribuição e uma amostra simulada obtida

dessa mesma distribuição.

Para obter a distribuição posterior dos parâmetros dos modelos foi utilizado o método

Monte Carlo com Cadeia de Markov (MCMC). Neste processo, fixa-se um valor inicial e,

utilizando uma probabilidade de transição conveniente, faz-se a geração de uma Cadeia de

Markov. Após descartar a fase inicial suficientemente longa para eliminar a dependência do

valor inicial, a cadeia gerada constitui a amostra Monte Carlo da distribuição posterior de

interesse (Kinas e Andrade, 2010).

A teoria da Cadeia de Markov garante que a distribuição gerada converge para a posterior

no limite em que o número de valores gerados tende ao infinito (Plummer et al., 2006).

Como não se dispõe de tempo que garanta a convergência, frequentemente utiliza-se testes

de estacionariedade e convergência que permitam verificar se a cadeia gerada corresponde

à distribuição posterior de interesse. Estacionariedade significa a não dependência da cadeia

aos valores iniciais arbitrários, ou seja, pode-se escolher diferentes pontos iniciais para a

cadeia que a amostra gerada é a mesma. Convergência significa quão longa a cadeia deve

ser para que a estimativa dos parâmetros seja boa (Young, 2005). Os testes executados para

estacionariedade, e, portanto convergência, foram diagnósticos visuais de plotagem dos

parâmetros, quantis acumulados, diagnóstico de Geweke, diagnóstico de Heidelberger-

Welch, estimativa do tamanho efetivo da cadeia e diagnóstico de Raferty-Lewis (Young,

2005). Para verificar a independência entre valores simulados, foi feita análise de auto-

correlação dos valores da distribuição posterior. Os testes foram aplicados para todos os

modelos gerados.

Os cálculos foram efetuados no Software R (R Development Core Team, 2008) versão 2.10.1.

Para o algorítmo MCMC utilizou-se o programa OpenBugs (Thomas et al., 2006) através das

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bibliotecas BRUGS (Thomas et al., 2006) e R2WinBUGS (Sturtz et al., 2005), e para as análises

de convergência e estacionariedade utilizou-se a biblioteca coda (Spiegelhalter et al., 1995).

A verossimilhança foi obtida assumindo-se que cada contagem , para ,

onde é o número máximo de indivíduos, é uma variável aleatória independente que segue

uma distribuição de Poisson com média , cuja distribuição é:

Utilizando o logarítmo natural de como variável resposta, modelou-se, com uma função

de regressão linear, os efeitos das covariáveis ‘Local’, ‘Mês’, ‘Mês2’, ‘Ano’ e índices de ENOS:

‘SOI’, ‘ONI’ e ‘MEI’. Todas as covariáveis utilizadas foram padronizadas para média zero e

desvio padrão igual a 1.

Em modelos lineares generalizados as variáveis podem ser contínuas (numéricas) ou

categóricas (fatores) (McCarthy, 2007). Considerou-se nos modelos o REVIS do Molhe Leste

e o REVIS da Ilha dos Lobos como a covariável categórica ‘Local’. A análise de uma variável

randômica em resposta a um fator é conhecida como análise de variância. Os modelos,

portanto, especificam a média de leões-marinhos-do-sul em cada REVIS. Os efeitos do REVIS

do Molhe Leste e o REVIS da Ilha dos Lobos são identificados no modelo pela

variável indicadora, definida como segue:

Em alguns modelos, incluiu-se um termo de interação que inclui o efeito do ‘Mês’ e ‘Local’

como fatores inter-relacionados, como meio de modelar o efeito da dependência de cada

refúgio temporalmente.

Os dados apresentaram uma ampla variação de , o que pode ocasionar uma sobre-

dispersão na distribuição de Poisson. Geralmente, esta sobre-dispersão é acomodada com a

utilização da distribuição binomial negativa (Gelman et al., 1995). Royle e Dorazio (2008)

sugerem evitar o uso da binomial negativa devido à sua relação média/variância irreal para a

Page 19: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

18

maioria das espécies de vertebrados. Para não se fazer uso da binomial negativa optou-se

por inserir nos modelos um fator aleatório, cujo efeito acrescenta sobre-dispersão ao

modelo de Poisson dos dados. Sua utilização é ideal para adicionar complexidade aos

modelos, permitindo que os modelos sejam descritos por covariáveis determinísticas, mas

ainda permitindo diferenças de probabilidades entre estas. Na estatística frequentista

modelos lineares com fatores aleatórios são conhecidos como Modelos Lineares

Generalizados Mistos (GLMM) (Faraway, 2006).

Desse modo, o fator aleatório é um dos parâmetros desconhecidos dos modelos, sendo

descrito por uma distribuição normal, com média 0 e variância . O parâmetro é chamado

de hiper-parâmetro, por se tratar de uma especificação de outro parâmetro.

Figura 3. Esquemas de Modelos Hierárquicos e não Hierárquicos. Adaptado de McCarthy, 2007.

Portanto, o modelo de abundância é descrito pelos componentes:

O logaritmo da média de leões-marinhos-do-sul, calculado para cada observação, sofre

decréscimo ou incremento dependente das covariáveis inseridas. Quando a observação se

trata do ML o parâmetro é estimado, quando se trata da IL o parâmetro é

estimado. Modelos sem as demais covariáveis não ocasionam qualquer alteração em , e,

reduz-se ao nível médio do corresponde local ou . Como as covariáveis foram

Page 20: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

19

padronizadas, seus valores médios correspondem a 0 e, por isso, ao se calcular para as

covariáveis médias não ocorre modificação da variável resposta. Valores acima ou abaixo da

média causam variabilidade, diminuindo ou incrementando . Portanto, objetiva-se

estimar os parâmetros desconhecidos dos modelos.

Todas as prioris utilizadas nos modelos bayesianos foram “prioris mente-aberta” (open-

minded priors), condicionando as distribuições dos parâmetros a probabilidades positivas, já

que para efeitos biológicos somente estas interessam. Os parâmetros relacionados à média

foram descritos como uma distribuição normal, com média 0 e precisão 0.001 (i.e.

inverso da variância), e o parâmetro de sobre-dispersão foi descrito como uma distribuição

uniforme no intervalo de 0 a 10.

4.3.2 Seleção do Modelo

O modelo de melhor ajuste foi escolhido pelo Deviance Information Criterion (DIC)

(Spiegelhalter, 2002), dado por:

Onde, é o desvio referente à média da distribuição posterior das deviâncias e é o

número efetivo de parâmetros estimados (McCarthy, 2007). O modelo com menor valor de

DIC é o que possui melhor ajuste, ou seja, as covariáveis do modelo compõem os efeitos

mais importantes para explicar a abundância.

O número de parâmetros pode ser de difícil determinação, especialmente quando efeitos

randômicos são computados no modelo. Porém, é facilmente estimado como pelo

MCMC, tornando o DIC uma ferramenta útil na comparação de modelos Bayesianos

(McCarthy, 2007; Royle e Dorazio, 2008).

Page 21: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

20

4.3.3 Análise de Resíduos

Para verificar o ajuste do modelo aos dados utilizou-se uma análise de resíduos para o

modelo escolhido pelo DIC. A estimativa de corresponde aos valores esperado de ,

chamado de valor ajustado de . A diferença é chamada resíduo. O resíduo é

usualmente padronizado pelo erro padrão e denominado resíduo de Pearson (Dobson,

2002). Para a distribuição de Poisson, utilizada neste estudo, o resíduo de Pearson é:

Os resíduos devem ser independentes, apresentando uma distribuição com média 0. No

contexto Bayesiano a distribuição posterior dos resíduos de Pearson torna possível a

identificação de resíduos como sendo aceitáveis ou que resultam de sobre ou subestimativas

do modelo. Esta análise dos resíduos é facilitada pela construção dos intervalos de

credibilidade a eles associados.

4.3.4 Probabilidade de Ocupação

As probabilidades de ocupação dos refúgios durante o período de estudo foram

calculadas a partir das estimativas de obtidas com o modelo de melhor ajuste. Esta

probabilidade refere-se à presença de ao menos um indivíduo em cada um dos refúgios (i.e.

), sendo calculada como uma função de , como segue:

Page 22: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

21

4.3.5 Análise Preditiva

O modelo de melhor ajuste foi utilizado para estimar do período de 1993 a 2002. Nesta

análise, fixam-se valores para as covariáveis cujos efeitos são importantes e estima-se o

.

A análise preditiva foi usada a fim de validar o modelo utilizado, além de estimar o número

de leões-marinhos-do-sul em períodos cujos monitoramentos não puderam ser realizados. A

distribuição preditiva de cada observação tem Intervalo de Credibilidade de 95% (I.Cr. 95).

Este intervalo corresponde à incerteza que existe na estimativa, e significa que há 95% de

probabilidade de que o valor real do parâmetro esteja dentro do intervalo.

4.3.6 Análise das Presas

Foi executada uma re-análise bayesiana com dados de presas encontradas nos estômagos de

machos de O. flavescens no RS em dois períodos distintos: 1977 a 1983 (período I) e 2004 a

2006 (período II) (Falco, 2008). O resultado da análise permite verificar possível alteração na

dieta do leão-marinho-do-sul. Utilizou-se apenas os principais teleósteos da dieta de O.

flavescens que possuem importância comercial, correspondendo a 91% e 99,7% do total de

espécimes de teleósteos contados para o período I e II, respectivamente. As presas são

expressas como número de indivíduos total das espécies Cynoscion guatucupa (pescada-

olhuda), Macrodon ancylodon (pescadinha), Micropogonias furnieri (corvina) e Umbrina

canosai (castanha) presentes nos estômagos analisados de indivíduos machos, encontrados

mortos na costa do RS.

O número de presas de cada espécie presente nos estômagos de O. flavescens é descrito

como uma distribuição de Poisson com os parâmetros e , que é o número de intervalos

onde é observado, respectivamente. A incerteza acerca do parâmetro desconhecido

é descrita por uma distribuição a priori Gama, não-informativa, com parâmetros e

para cada espécie. A distribuição posterior também será uma Gama, com

parâmetros:

Page 23: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

22

A estimativa de de cada espécie foi obtida como número médio de presas de cada

espécie presentes nos estômagos, funcionando como um índice de ocorrência na

alimentação de O. flavescens. É importante salientar que o período de estudo da dieta não

corresponde ao período dos monitoramentos, e também não garante que os indivíduos

encontrados mortos possuam a mesma dieta dos indivíduos que ocupam os REVIS. Por isso,

fixou-se as seguintes situações para realizar a inferência:

(a) Se a importância das presas na dieta não sofrer alteração do período I para o período

II, qualquer pode ser utilizado.

(b) Se a importância entre os dois períodos for diferente, as estimativas de dos dois

períodos devem ser utilizadas.

(c) A dieta dos leões-marinhos-do-sul analisados são semelhantes à dieta dos indivíduos

nos REVIS.

As estimativas foram utilizadas para fins de comparação com desembarques da pesca de

emalhe costeiro - disponibilizados pelo Centro de Pesquisa e Recursos Pesqueiros Lagunares

e Estuarinos (CEPERG/IBAMA) - das espécies supra-citadas. A captura acidental de leões-

marinhos-do-sul pela pesca de emalhe é pouca expressiva, porém os danos às redes são

motivo de constantes conflitos e agressões por parte dos pescadores (Pinedo, 1986; Rosas et

al., 1994; Cardoso, L. G., 2008). Portanto, optou-se por utilizar somente os desembarques

desta arte de pesca para evidenciar uma interação operacional que resulta da predação

sobre os mesmos recursos (Beverton, 1985).

5. Resultados

As distribuições posteriores dos parâmetros dos modelos foram obtidas com uma Cadeia de

Markov de 31000 valores, com descarte dos 10000 valores iniciais (“burn-in period”) e

retenção de 1 valor a cada 2, totalizando uma distribuição posterior de 10500 valores.

A título de ilustração segue os gráficos de estacionariedade e convergência obtidos para um

dos modelos gerados:

Page 24: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

23

Figura 4. Série temporal da Cadeia de Markov para os parâmetros do modelo após período de

descarte.

Page 25: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

24

Figura 5. Gráfico dos quantis 0.025, 0.05 e 0.95 das distribuições posteriores dos parâmetros.

Page 26: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

25

Figura 6. Auto-correlações dos intervalos 0, 1, 5, 10, 50, 100, 500, 1000, 5000, 10000 da cadeia.

Na verificação da estacionariedade (Figura 4) nota-se certo padrão nos valores conforme a

geração da cadeia, parecendo que esta se encontra na forma estacionária. Na Figura 5,

existe certo ruído no início dos gráficos devido à dependência do valor inicial arbitrário.

Conforme a geração dos demais valores os quantis tendem a se tornar estacionários. Na

verificação da convergência (Figura 6), as correlações entre os valores da cadeia decaiem

abruptamente durante a série temporal, proporcionando independência entre os valores.

5.1 Modelos Lineares Generalizados de Abundância

Foram computados um total de 24 modelos com diferentes combinações dos parâmetros. As

médias de cada parâmetro e os respectivos valores de DIC em ordem decrescente estão

apresentadas nas tabelas abaixo. A Tabela 1 se refere a modelos sem interação entre fatores

e a Tabela 2 a modelos com interação entre fatores.

Page 27: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

26

Tabela 1. Modelos com diferentes combinações dos parâmetros, média das posteriores e respectivos

valores de DIC.

Parâmetros

ENOS

Modelos ML IL Mês Ano Mês2 MEI ONI SOI DIC

1 3.282 3.242 - - - - - - - 5035

2 3.247 3.208 - 0.263 - - - - - 4701

3 3.211 3.166 0.386 - - - - - - 4341

4 3.175 3.133 0.385 0.261 - - - - - 4015

5 3.546 3.526 0.534 - -0.435 - - - - 3848

6 3.500 3.485 0.528 0.251 -0.422 -0.002 - - - 3557

7 3.499 3.479 0.527 0.251 -0.419 - 0.020 - - 3555

8 3.499 3.485 0.529 0.252 -0.422 - - - - 3552

9 3.494 3.473 0.532 0.255 -0.414 - -0.040 - 3549

10 3.366 3.166 0.731 0.388 -0.638 -0.075 - - 0.921 1211

11 3.364 3.150 0.730 0.397 -0.629 - -0.036 - 0.925 1211

12 3.379 3.155 0.731 0.391 -0.637 - - 0.026 0.924 1211

13 2.777 2.523 - - - - - - 1.334 1210

14 2.767 2.501 0.697 - - - - - 1.136 1209

15 2.762 2.519 0.694 0.424 - - - - 1.059 1209

16 3.382 3.157 0.728 0.397 -0.642 - - - 0.921 1208

Na Tabela 1, observa-se nos modelos pequena diferença entre as médias e

referentes ao REVIS do Molhe Leste e ao REVIS da Ilha dos Lobos, respectivamente. A

inserção de novas covariáveis ocasiona notável diminuição do DIC. Quanto aos índices de

ENOS, SOI atingiu menor DIC, seguido por MEI e ONI.

Mudanças consistentes nos valores de DIC ocorreram pela inserção do fator aleatório ,

com efeito sobre as médias das covariáveis Mês, Ano e Mês2. Ao se inserir esta variável o DIC

é levemente alterado mediante a combinação de outras covariáveis. Nestes, os índices de

ENOS, em seus Intervalos de Credibilidade de 80% (Figura 7,8 e 9), apresentaram valores

iguais a 0, o que significa nenhum incremento ou decréscimo na média . Os demais

parâmetros, por sua vez, apresentam intervalos que não sobrepõe 0, sugerindo efeito

Page 28: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

27

significativo da covariável. Os parâmetros , , , e causaram aumento em ,

enquanto causou decréscimo em .

Figura 7. Mediana e intervalo de 80% da covariável MEI à esquerda e intervalo de 80% de todos os

parâmetros do Modelo 10 à direita.

Figura 8. Mediana e intervalo de 80% da covariável ONI à esquerda e intervalo de 80% de todos os

parâmetros do Modelo 10 à direita.

Page 29: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

28

Figura 9. Mediana e intervalo de 80% da covariável SOI à esquerda e intervalo de 80% de todos os

parâmetros do Modelo 10 à direita.

O modelo que apresentou o menor DIC foi o que constou com as covariáveis Mês, Ano, Mês2

e (Modelo 16).

Tabela 2. Modelos com diferentes combinações dos parâmetros, média das posteriores e respectivos

valores de DIC. O primeiro termo das interações representa o mês (1,2,...,12) e o segundo termo

representa o local (1 para ML e 2 para IL).

Page 30: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

29

Parâmetros Modelos

17 18 19 20 21 22 23 24

-4.018 3.734 -0.058 2.516 -1.976 2.012 - -

Mês -1.779 -1.641 -0.924 - -1.907 - - -

Ano 0.261 - 0.410 - 0.408 - - 0.410

Mês2 3.449 - 1.196 0.506 - - - -

Interação[1,1] -5.364 -5.408 -3.248 -2.894 -0.075 -1.203 0.806 0.842

Interação[2,1] -0.676 -3.486 -0.636 -0.995 1.905 0.286 2.277 2.281

Interação[3,1] 2.609 -2.292 1.163 0.0290 3.24 1.029 3.035 3.101

Interação[4,1] 4.053 -2.284 1.482 -0.161 3.277 0.559 2.575 2.633

Interação[5,1] 5.830 -1.469 2.349 0.321 4.104 0.928 2.949 2.920

Interação[6,1] 6.772 -1.146 2.637 0.272 4.430 0.775 2.775 2.718

Interação[7,1] 7.464 -0.554 3.103 0.405 5.211 0.917 2.954 2.961

Interação[8,1] 7.391 0.068 3.313 0.492 5.849 1.107 3.115 3.068

Interação[9,1] 6.921 0.686 3.317 0.519 6.510 1.245 3.251 3.226

Interação[10,1] 6.049 1.231 3.134 0.362 7.136 1.367 3.393 3.293

Interação[11,1] 4.460 1.532 2.588 -0.060 7.573 1.218 3.241 3.231

Interação[12,1] 2.470 2.302 2.212 -0.167 8.415 1.496 3.502 3.525

Interação[1,2] -5.924 -5.727 -3.665 -3.207 -0.500 -1.531 0.478 0.426

Interação[2,2] -4.354 -6.857 -4.176 -4.521 -1.625 -3.239 -1.229 -1.252

Interação[3,2] 0.790 -4.119 -0.717 -1.797 1.378 -0.828 1.194 1.242

Interação[4,2] 3.703 -2.433 1.329 -0.318 3.100 0.430 2.436 2.445

Interação[5,2] 5.677 -1.461 2.346 0.351 4.064 0.929 2.954 2.883

Interação[6,2] 7.581 -0.168 3.753 1.303 5.528 1.805 3.812 3.834

Interação[7,2] 8.156 0.447 4.126 1.440 6.174 1.989 3.947 3.920

Interação[8,2] 8.233 1.009 4.245 1.471 6.789 2.033 4.052 4.034

Interação[9,2] 7.571 1.317 4.025 1.215 7.199 1.898 3.912 3.900

Interação[10,2] 6.062 1.203 3.226 0.396 7.239 1.344 3.363 3.393

Interação[11,2] 3.983 1.010 2.125 -0.621 7.135 0.672 2.713 2.777

Interação[12,2] 1.423 1.356 1.241 -1.103 7.422 0.561 2.577 2.541

- 0.889 0.782 0.894 0.781 0.889 0.890 0.782

DIC 2758 1265 1266 1265 1263 1262 1259 1257

Page 31: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

30

Na tabela 2, a Interação [Mês,Local] contribui para a melhoria do DIC em todos os modelos.

Os índices de ENOS foram excluídos dos modelos por não apresentarem efeitos importantes

sobre a abundância após a inserção de na primeira análise. Mesmo assim, testou-se o

efeito do parâmetro de sobre-dispersão. Sua exclusão produziu o maior valor de DIC.

O modelo com as interações entre Mês e Local por si só oferecem os mais importantes

efeitos para a média e, adicionados ao efeito do Ano torna-se o modelo de melhor ajuste

(Modelo 24). De modo geral, as interações evidenciam maiores abundâncias em

determinados meses diferenciada para os dois locais. Apesar dos coeficientes das interações

serem bastante expressivos e mostrarem valores coerentes com os observados, os ajustes

encontrados pelo Modelo 16 são melhores que os encontrados no Modelo 24, segundo o

DIC.

As distribuições posteriores e prioris dos parâmetros do modelo Modelo 16 e Modelo 24 são

apresentadas abaixo (Figura 10, 11, 12, 13 e 14). No modelo 24, cada parâmetro é

específico para cada um dos meses e refúgios, sendo estimados 12 parâmetros para cada

local. A fim de comparar a abundância nos dois REVIS, as distribuições posteriores referentes

ao mesmo mês foram plotadas no mesmo gráfico.

Page 32: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

31

Figura 10. Funções de densidade de probabilidade a posteriori dos parâmetros , , , e

obtidas pelo Modelo 16 (sem interação).

Figura 11. Funções de densidade de probabilidade a posteriori do parâmetro , obtida pelo Modelo

16 (sem interação).

Page 33: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

32

Figura 12. Funções de densidade de probabilidade dos parâmetros (linha contínua) e

(linha tracejada) para os meses de janeiro a junho, obtidas pelo Modelo 24 (com interação).

Page 34: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

33

Figura 13. Funções de densidade de probabilidade dos parâmetros (linha contínua) e

(linha tracejada) para os meses de julho a dezembro, obtidas pelo Modelo 24 (com interação).

Constata-se clara alteração espaço-temporal nos padrões de abundância do Modelo 24 (com

interação). Em janeiro a abundância no ML é baixa, mas levemente maior que na IL; em

fevereiro ocorre maior diferenciação e em março observa-se o primeiro pico de abundância

no ML. Em abril e maio ocorre pouca alteração do estado anterior; a partir de junho ocorre

incremento na abundância da IL e estabilidade no ML. Este padrão se mantém até setembro,

quando o número de animais volta a aumentar no ML, atingindo novo pico em dezembro,

enquanto na IL ocorre ligeiro decréscimo na abundância.

Page 35: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

34

Figura 14. Funções de densidade de probabilidade a posteriori dos parâmetros e , obtidas

pelo Modelo 24 (com interação).

Nota-se que as distribuições posteriores referentes ao parâmetro possuem valores

maiores no Modelo 16 que no Modelo 24, e que as estimativas do são semelhantes aos

dois modelos.

Os dados não foram coletados durante todos os meses do ano, havendo alguns meses em

que não foi possível realizar observações. Por isso, ao se construir modelos em que objetiva-

se conhecer o efeito do ‘Mês’ e ‘Ano’ não foi possível obter a verossimilhança dos dados não

disponíveis. Para reverter este problema, optou-se por utilizar as abundâncias não

observadas como variável latente do modelo. Portanto, elas foram também estimadas como

.

O durante os meses de estudo estimados pelo Modelo 16, e as respectivas observações

são apresentadas na Figura 15 para o REVIS do Molhe Leste e na Figura 16 para o REVIS

da Ilha dos Lobos. Os intervalos utilizados correspondem aos quantis 0.05 a 0.95. A

modelagem apresentou tendência de aumento de indivíduos ao longo dos anos e marcada

variabilidade intra-anual. Nota-se também o número de indivíduos levemente maior no

REVIS do Molhe Leste em relação ao REVIS da Ilha dos Lobos.

Page 36: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

35

Figura 15. Logaritmo da média mensal estimada de Otaria flavescens pelo Modelo 16 (linhas), com

I.Cr. 95%, e números observados por mês (pontos) no REVIS do Molhe Leste.

Figura 16. Média mensal estimada de Otaria flavescens pelo Modelo 16 (linhas), com I.Cr. 95%, e

números observados por mês (pontos) no REVIS da Ilha dos Lobos.

A análise de resíduos, gerados para o Modelo 16, é apresentada nas Figuras 17 e 18.

Intervalos acima da linha vermelha indicam que o modelo subestima os dados, enquanto

que intervalos abaixo indicam sobre-estimativa do modelo aos dados. Aqueles intervalos

que cobrem e se distanciam pouco do zero são as estimativas ideais. Para o REVIS do Molhe

Page 37: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

36

Leste a maioria dos intervalos cobrem o zero, no entanto, alguns sobrestimam o número de

indivíduos observados, sendo que apenas dois intervalos se encontram acima do zero, sem o

sobrepor. O gráfico referente ao REVIS da Ilha dos Lobos não contém intervalos acima do

zero sem o cobrir, porém, alguns intervalos se concentram somente abaixo do zero,

evidenciando uma sobre-estimativa do modelo. É possível notar também que a maioria das

sobre-estimativas do REVIS da Ilha dos Lobos se concentra nos primeiros meses de cada ano.

Figura 17. Gráfico de resíduos padronizados, com I.Cr. 95%, e as respectivas médias dos resíduos

(pontos) para o REVIS do Molhe Leste. A linha em vermelho representa resíduo igual a 0.

Page 38: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

37

Figura 18. Gráfico de resíduos padronizados, com I.Cr. 95%, e as respectivas médias dos resíduos

(pontos) para o REVIS da Ilha dos Lobos. A linha em vermelho representa resíduo igual a 0.

As Figuras 19 e 20 mostram o durante os meses de estudo estimados pelo Modelo 24, e

as respectivas observações para o REVIS do Molhe Leste e REVIS da Ilha dos Lobos,

respectivamente.

Figura 19. Logaritmo da média mensal estimada de Otaria flavescens pelo Modelo 24 (com interação)

(linhas), com I.Cr. 95%, e números observados por mês (pontos) no REVIS do Molhe Leste.

Page 39: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

38

Figura 20. Logaritmo da média mensal estimada de Otaria flavescens pelo Modelo 24 (com interação)

(linhas), com I.C. 95%, e números observados por mês (pontos) no REVIS da Ilha dos Lobos.

As interações provocaram notável diferença entre as abundâncias dos dois refúgios. Ambos

locais apresentam sazonalidade bastante marcada, porém diferem entre os meses do ano.

Para o REVIS do Molhe Leste há incremento da abundância de janeiro a março, decréscimo a

partir de abril, e novo incremento de agosto ao fim do ano, com pico em dezembro. Para o

REVIS da Ilha dos Lobos a variabilidade do número de indivíduos é diferente. De janeiro a

maio ocorre incremento na abundância, grande decréscimo em junho com posterior pico em

julho, e decréscimo novamente até o fim do ano. Este padrão intra-anual se repete ao longo

dos anos, com tendência de aumento gradual para os dois locais.

As médias dos refúgios obtidas pelo Modelo 9 – modelo de menor DIC que contém o efeito

do El Niño – estão representadas na Figura 21. Observa-se leve diferença desta estimativa

para as médias do Modelo 16, no entanto, a abundância no ano de 1998 não segue a

tendência de aumento como nos demais e apresenta valores ligeiramente mais altos que os

demais no mês de janeiro.

Page 40: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

39

Figura 21. Média da distribuição posterior do Modelo 9, relacionando número de Otaria flavescens

no REVIS do Molhe Leste (preto) e REVIS da Ilha dos Lobos (vermelho).

A probabilidade de ocupação e a análise preditiva foram executadas com as médias do

Modelo 16 (Figura 21 e 22). Observa-se tendência de aumento da ocupação ao longo dos

anos, com marcada variação intra-anual - primeiros e últimos meses do ano apresentam

probabilidades mais baixas de ocupação. Há pequena diferença entre as probabilidades de

ocupação entre os refúgios. Principalmente nos meses de inverno, a probabilidade de haver

indivíduos nos dois REVIS é igual a 1, durante todo o período de estudo. Ocorre aumento

gradativo da probabilidade de ocupação durante os meses de verão, sendo que no decorrer

dos anos, gradativamente, as probabilidades chegam em torno de 1.

Page 41: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

40

Figura 22. Probabilidade de ocupação mensal de Otaria flavescens no REVIS do Molhe Leste.

Figura 23. Probabilidade de ocupação mensal de Otaria flavescens no REVIS da Ilha dos Lobos.

Page 42: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

41

5.2 Análise das Presas

Resultados semelhantes aos de Falco (2008) foram obtidos na ré-análise dos itens

alimentares. Na Figura 23, a sobreposição das curvas indica que o número médio de

indivíduos encontrados em cada estômago é semelhante nos dois períodos estudados. Isso

mostra que, no que diz respeito às espécies economicamente importantes, não houve

mudança significativa da dieta. Avaliando o número de presas por estômago foi possível

classificar a importância das espécies na dieta segundo a freqüência de ocorrência. A espécie

mais importante é Macrodon ancylodon, seguidas de Micropogonias furnieri, Cynoscion

guatucupa e Umbrina canosai.

Figura 24. Número médio de presas encontrado nos estômagos de machos de Otaria flavescens,

durante os períodos I (1977 a 1983) e II (2004 a 2006).

Page 43: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

42

6. Discussão

6.1 Covariáveis no Modelo

O sucesso das análises de dados reais e a inferência resultante dependem da escolha do

melhor modelo aproximado. A inferência de dados biológicos deve ser baseada em modelos

parcimoniosos que aproximam a estrutura do dado. O Princípio da Parcimônia sugere que

um modelo deve ter o menor número possível de parâmetros para adequada representação

dos dados, podendo-se usar este número como medida da qualidade estrutural dos dados. O

ajuste de qualquer modelo pode ser feito ao se incrementar o número de parâmetros, no

entanto, a compensação com o incremento da variância deve ser considerada na seleção do

modelo. Quando o número de parâmetros em um modelo é maior que o necessário usa-se o

termo sobre-ajustado (overfitted). Logicamente, inserir mais parâmetros no modelo torna-o

mais próximo aos dados reais, porém, esta proximidade pode ser devida aquele conjunto

específico de dados, e não a outros casos onde a mesma análise pode ser aplicada. Réplicas

da amostra podem identificar aspectos comuns à maioria delas, outros aspectos podem

aparecer em muitas amostras, refletindo considerações reais sobre o processo de estudo

(Burnham e Anderson, 2002).

A inserção de covariáveis nos modelos produziu uma diminuição significativa no DIC. Isso

significa que seus efeitos ajudam a explicar as variações na abundância de Otaria flavescens

nas análises.

A covariável ‘Mês’ representa a variabilidade mensal do número de indivíduos, ou seja,

sugere efeito de sazonalidade na ocupação: existem meses em que há mais indivíduos que

outros. Apesar desta covariável não ser tratada como fator na primeira análise, sua inserção

objetiva evidenciar variação intra-anual. Mediante a inferência do Modelo 16, pode-se

compreender que do inverno a primavera (junho a dezembro) ocorre o maior número de

leões-marinhos-do-sul em ambos os REVIS. Este padrão se repete ano após ano, com leves

incrementos em todos os meses ao longo do ano, representado pelos coeficientes positivos

da covariável ‘Ano’.

No Modelo 24, os parâmetros com interação entre Mês e Local especificam diferenças

importantes nas abundâncias mensais condicionadas a determinado refúgio. Os picos de

Page 44: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

43

abundância, segundo este modelo, são diferentes entre os refúgios: no REVIS do Molhe

Leste é em março e dezembro e no REVIS da Ilha dos Lobos é em junho. Já no Modelo 16, os

picos de abundância representam o efeito da covariável ‘Mês2’. O termo quadrático sugere

uma resposta do mês côncava, e é possível obter o máximo da equação, representando o

mês cujo número de indivíduos é máximo:

Resolvendo a equação para os dois refúgios, o valor 0.876 foi obtido. Os valores discretos da

covariável ‘Mês2’ mais próximos ao resultado foram 0.723 e 1.012, que correspondem aos

meses de agosto e setembro, respectivamente. A abundância intra-anual varia igualmente

entre as duas áreas de acordo com o Modelo 16. A Figura 24 apresenta a variabilidade da

abundância em função do efeito mensal. Valores negativos referem-se a decréscimo do

número médio, enquanto valores positivos referem-se a incremento na média.

Figura 25. Parábola relacionando o efeito do mês quadrático sobre a abundância de O. flavescens,

representada pelo coeficiente .

Page 45: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

44

Os diferentes meses de abundância máxima em cada modelo evidenciam importantes

aspectos da construção dos modelos. Enquanto o Modelo 24 distingue as pequenas

diferenças de abundância entre um mês e outro, tanto intra como entre refúgios, o Modelo

16 parece generalizar as informações e produzir variabilidades mais suaves e não tão

específicas aos dados. A correspondência aos dados é um fator que parece ser melhor no

Modelo 24. No entanto, os aspectos que garantem seu ajuste podem ser únicos para este

conjunto de dados. Aplicando-se o modelo a outras amostras pode ocorrer um sobre-ajuste

aos dados.

O Modelo 16 parece conter os parâmetros que são fortemente replicáveis a outras

amostras. A inferência sobre este modelo parece seguir o Princípio da Parcimônia, de modo

a não excluir parâmetros cujos efeitos são importantes na abundância de leões-marinhos-

do-sul, porém, sem inserir explicações que podem ser importantes somente para este

conjunto de dados em particular. Podemos pensar que, em uma escala global, o Modelo 16

seja mais adequado para estabelecer padrões gerais, enquanto que o Modelo 24 é mais

adequado a inferências que objetivam compreender com mais detalhes a ocupação dos

locais.

Durante os monitoramentos, existe certo número de animais que estão no mar e não são

contados. Portanto, as contagens são consideradas as estimativas mínimas em um particular

local e servem como índices relativos do tamanho da população e padrões de abundância

(Márquez, 2006). De modo a contabilizar os processos observacionais, que impedem a

detectabilidade de todos os indivíduos que ocupam os refúgios, o parâmetro de sobre-

dispersão foi incluído. A variabilidade na abundância não é totalmente explicada pelas

covariáveis, sendo que um erro aleatório somado aos demais coeficientes resulta em

modelos mais próximos a realidade.

A distribuição binomial negativa propicia resultados similares aos encontrados com o

parâmetro de sobre-dispersão. Análises de abundância e encalhes de O. flavescens

realizadas por Silva (2002) e Kinas et al. (2005), respectivamente, mostram comportamento

similar à mudança da distribuição de Poisson pela binomial negativa, produzindo melhores

modelos.

Números flutuantes de leões-marinhos-do-sul nas colônias não-reprodutivas foram

constatados por Giardino e Rodriguéz (2007). Atribuiu-se como causa desta variabilidade os

Page 46: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

45

movimentos diários dos indivíduos, associados possivelmente à alimentação, sugerindo que

o tamanho das colônias pode ser sensivelmente maior que o observado por contagem

direta.

Figura 26. Número de indivíduos observados ao longo de um dia no mês de setembro de 1999

(direita) e no mês de agosto de 2001, no REVIS do Molhe Leste.

Na Figura 25 está representado o número de indivíduos ao longo de dois dias. Durante estes

dias as flutuações do número de indivíduos foi observada, ambas com pico de observação à

noite e no começo da manhã, e decréscimo ao longo do dia. Este resultado não permite

concluir qual o momento do dia em que mais animais estão presentes por se tratar de

apenas duas observações.

Segundo Sepúlveda et al. (2010), a variabilidade ao longo do dia pode ser conseqüência de

ritmos circadianos. Seus resultados mostram que o número máximo de animais, em um

agrupamento do Chile, se concentra em horas de maior temperatura durante o período

vespertino, não havendo diferença entre as classes etárias. Isto pode ocasionar um viés de

disponibilidade de animais nas estimativas de por alterar a probabilidade de detecção dos

indivíduos.

Mediante a análise dos resíduos é possível inferir quando as estimativas não

correspondem bem aos dados . A falta de observações utilizadas na construção da função

de verossimilhança dos modelos, e o efeito de covariáveis que não foram introduzidas neste

Page 47: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

46

estudo, podem ser aspectos importantes na amplitude dos resíduos. Além disso, estes

também podem ser gerados pela não-detecção de alguns indivíduos, que devem resultar em

números de animais observados menores. Uma melhora dos ajustes pode ser obtida ao se

considerar diferenças de detecção entre as observações, sejam ao longo do tempo ou entre

os REVIS. Se considerarmos que a probabilidade de detecção muda em função de

covariáveis, então não considerá-la pode ocasionar distorções nas estimativas. Neste caso, a

probabilidade de detecção e a probabilidade de ocorrência podem ser estimadas através de

Modelos Hierárquicos (Royle e Dorazio, 2008).

6.2 Sazonalidade

O pico de abundância intra-anual parece ter estreita relação com a dinâmica reprodutiva da

espécie, que ocorre entre dezembro e fevereiro (Vaz-Ferreira, 1981; Campagna, 1985). Após

os nascimentos, enquanto as fêmeas dividem o tempo entre viagens de forrageio e períodos

de jejum, nos quais amamentam, os machos não realizam cuidado parental, se distanciando

das colônias reprodutivas, às quais retornam na temporada seguinte (Rosas et al., 1994).

Resultados preliminares de Giardino (2009), em estudo de marcação e recaptura, sugerem

que os machos de Otaria flavescens desenvolvem uma estratégia que os mantém

conectados com as colônias reprodutivas do Uruguai e Patagônia, mas mostrando grande

fidelidade a colônia não-reprodutiva de Porto Quequén, durante o inverno.

Os movimentos sazonais podem ser atribuídos também a disponibilidade de recursos

alimentares próximos as colônias reprodutivas (Rosas et al., 1994; Stern, 2002). Os machos

de O. flavescens podem jejuar por cerca de 2 meses nas colônias reprodutivas (Campagna e

Le Boeuf, 1988) e longas viagens de forrageio parecem possibilitar as demandas energéticas

do período reprodutivo (Campagna et al., 2001). Evitar a competição com fêmeas pode ser

uma estratégia dos machos de O. flavescens para garantir o sucesso reprodutivo e garantir

sua própria alimentação antes da próxima temporada de jejum.

A distribuição de alimento no oceano pode ser fortemente influenciada por propriedades

físicas, tais como temperatura da água e disponibilidade de nutrientes. A localização de

áreas biologicamente produtivas e as frentes físicas associadas com estas áreas podem

Page 48: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

47

resultar em alta abundância das presas que compõem a dieta dos pinípedes (Bowen et al.,

2002).

A abundância de peixes que compõem a dieta de Otaria flavescens no litoral do Rio Grande

do Sul é condicionada por uma série de fatores. A região costeira do sul do Brasil sofre a

influência da Convergência Subtropical, formada pela confluência de massas de água de

origem tropical provenientes da Corrente do Brasil (CB) e de massas de água de origem

subantártica provenientes da Corrente das Malvinas (CM). Mudanças climáticas sazonais

causam deslocamentos latitudinais desta zona de mistura. Além da influência destas massas,

há também aporte continental do Rio da Prata e da Lagoa dos Patos, favorecendo uma alta

produtividade biológica (Castro e Miranda, 1998). Todos estes fatores são aspectos que

exercem influência na abundância de peixes na plataforma continental, principalmente os

teleósteos demersais da família Sciaenidae (Haimovici et al., 1997).

A disponibilidade de cianídeos na costa do Rio Grande do Sul parece influenciar a abundância

de Otaria flavescens nos refúgios estudados, podendo refletir no incremento ou decréscimo

do número de indivíduos. O índice mais adequado para avaliar a relação entre abundância

de presas e abundância de O. flavenscens é a captura por unidade de esforço (CPUE), que

compreende o número de espécimes por unidade amostrada (Haimovici et al., 1997). No

entanto, a CPUE não está disponível na literatura a todo o período de estudo (1993-2002)

para todas as espécies importantes, tanto na dieta de O. flavescens, como nas pescarias. Os

dados que coincidem com a série de estudo correspondem aos registros de desembarques

(Figura 26), disponibilizados pelo Centro de Pesquisa e Recursos Pesqueiros Lagunares e

Estuarinos (CEPERG/IBAMA).

Page 49: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

48

Figura 27. Desembarques mensais (t) das presas economicamente importantes de Otaria flavescens,

durante o período de 1993 a 2002.

Há aumento dos desembarques para todas as espécies ao longo dos anos, sendo que corvina

e pescada apresentam certa sazonalidade. A pesca da corvina é mais intensa durante a

primavera e o verão, enquanto a pescada parece ser mais explorada durante o inverno,

quando ocorre a imigração de regiões mais frias (Haimovici et al., 1998). O aumento da

pesca coincide com o incremento da abundância de Otaria flavescens nos refúgios,

corroborando as observações de Santos e Messias (1990). Além disso, a safra da pescada

coincide com o período de pico de ocupação do leão-marinho-do-sul nos refúgios, enquanto

que a safra da corvina coincide com a chegada e retorno dos indivíduos as colônias

reprodutivas, o que sugere uma relação trófica temporal.

Tomando os desembarques como reflexos de abundância destas espécies de peixes –

apenas contabilizando as quantidades desembarcadas e não o esforço de captura – pescada

e corvina deveriam apresentar as maiores freqüências de ocorrência nos estômagos. No

entanto, a pescada ocorre com menor freqüência que a pescadinha, item mais presente na

dieta. Uma possível causa da diferença entre importância na dieta e desembarques é que o

período dos monitoramentos e desembarques utilizado no presente trabalho não são os

mesmos estudados por Falco (2008). Além disso, estas estatísticas devem ser interpretadas

Page 50: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

49

com reservas devido à cobertura incompleta das amostragens da pesca artesanal (Haimovici

et al., 2006) e também pelo fato de que, apesar da sobre-explotação dos estoques

pesqueiros, os desembarques tendem a persistir devido ao aumento do esforço pesqueiro e

não da abundância das presas (Haimovici et al., 1998).

Outro aspecto relevante nos hábitos de forrageio é a temperatura superficial do mar (TSM).

Em estudo de telemetria com um juvenil, Rodriguéz et al. (2006) verificaram que a área de

forrageio no estuário de Mar Del Plata (Argentina) coincidiu com uma frente termohalina

superficial, onde há disponibilidade da principal presa Cynoscion guatucupa. Associação

também foi encontrada entre movimentos de fêmeas juvenis de elefante-marinho e

gradientes de temperatura superficial do mar oriundos da Convergência Brasil-Malvinas e

seus vórtices (Campagna et al., 1995).

Além de influenciar os hábitos de forrageio dos pinípedes, a temperatura parece condicionar

a chegada dos leões-marinhos-do-sul na costa do Rio Grande do Sul. Segundo Pinedo (1990),

o deslocamento de O. flavescens é facilitado pela águas frias da CM. Durante o inverno,

águas do ramo interno da CM misturadas com águas resfriadas de baixa salinidade do Rio da

Prata se deslocam para o norte sobre a plataforma interna, formando núcleos cuja

temperatura sub-superficial inferior chega a 10°C no Chuí (Castro e Miranda, 1998). O

presente estudo constatou que o incremento da abundância associa-se ao alcance de águas

frias na costa do Rio Grande do Sul.

6.3 El Niño

O período chuvoso associado a baixas salinidades entre julho de 1997 a setembro de 1998 é

atribuído ao forte El Niño de 1997-1998 (Garcia et al., 2003). A principal alteração forçada

pelo El Niño na América do Sul é a perturbação do padrão de chuvas que induz mudanças no

balanço hidrológico. Na zona estuarina temperada do oceano Atlântico ocorre incremento

na descarga dos rios afetando a hidrodinâmica dos estuários e, provavelmente, fertilizando o

oceano adjacente (Acha et al., 2004; Vaz et al., 2006). Através do controle “bottom-up”, a

variabilidade observada nos primeiros níveis da cadeia trófica pode ser transmitida a níveis

superiores, alcançando os predadores de topo (Arnitz et al., 1991).

Page 51: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

50

Apesar de incrementar a produtividade biológica na costa, a alta descarga continental é um

aspecto negativo na abundância de espécies que vivem no estuário, dependem do estuário

em alguma fase da vida, ou se alimentam no estuário. As assembléias de peixes de águas

rasas do estuário da Lagoa dos Patos mostraram diferentes composições de espécies e

padrões de recrutamento durante o evento de La Niña de 1995-1996 e El Niño de 1997-

1998. Baixa precipitação e descarga continental associadas ao episódio de La Niña

incrementam a entrada de juvenis de espécies marinhas nas áreas de criação do estuário.

Durante alta precipitação e baixa descarga associadas ao evento de El Niño a abundância de

espécies marinhas foi significantemente menor no estuário (Garcia et al., 2003).

Espécies importantes na dieta de O. flavencens como Macrodon ancylodon, Micropogonais

furnieri e Paralonchurus brasiliensis, cujos ovos e larvas originam-se no oceano adjacente,

usam o estuário como berçário para o crescimento de larvas e juvenis (Muelbert e Weiss,

1991). O sucesso do recrutamento depende das primeiras fases de vida da ictiofauna, que,

por sua vez, sofre influência dos aspectos físicos da região onde se encontra, causando

possíveis efeitos sobre o estoque adulto do ano seguinte (Bruno e Muelbert, 2009). Desse

modo, o estoque adulto pode influenciar a produção pesqueira e a abundância de

predadores naturais, como os leões-marinhos-do-sul. Baixa disponibilidade das presas

acarreta mudança do comportamento de forrageio, que inclui aumento na duração da

viagem, maiores distâncias e incremento do esforço de forrageio. Por exemplo, o leão-

marinho-californiano Zalophus californianus incrementa o tempo no mar e o esforço de

mergulho durante períodos de recursos limitados (Bowen et al., 2009).

Apesar da inferência deste trabalho não ser baseada em modelos que contabilizem o efeito

do El Niño, a covariável foi introduzida pelas evidências de que o efeito pode ser um

importante aspecto da ecologia de Otaria flavescens. Silva (2002) descreve um

comportamento de O. flavescens diferente no ano de 1998 para o REVIS do Molhe Leste,

baseado na hipótese de que aquecimento das águas na região sul do Brasil provoca o

retardamento dos gatilhos biológicos e alteração do cronograma biológico de migração desta

espécie.

Efeitos mais agudos do ENOS ocorrem com os animais das colônias do oceano Pacífico,

próximas a ressurgência do Chile e Peru, onde o sucesso reprodutivo de Otaria flavescens é

altamente correlacionado com as flutuações da disponibilidade de presas. O evento de 1997-

Page 52: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

51

1998 resultou em severos efeitos de curto-prazo na ecologia reprodutivas dos leões-

marinhos-do-sul. A espécie parece não ter desenvolvido estratégias de adaptação a

mudanças rápidas no ecossistema, pois a baixa disponibilidade de recursos resultou em altos

números de abortos e falhas na reprodução nos anos subseqüentes (Arias-Schreiber, 2003;

Soto et al., 2004). Além disso, aproximadamente 60% da mortalidade de adultos ocorreu

durante e logo após este evento. Em contraste, alta abundância de presas durante La Niña

pode favorecer a reprodução e incrementar a produção de filhotes (Soto et al., 2004).

A importância relativa do ENOS em relação aos demais parâmetros do Modelo 9 explica,

aproximadamente, 1% da variabilidade da variável resposta. Isso demonstra que, mesmo

reduzindo o DIC, o coeficiente quase não altera a média estimada. Mesmo assim, é possível

detectar leve diminuição da abundância em todos os meses do ano de 1998. Talvez SOI, ONI

e MEI utilizados não sejam os melhores índices para representar os efeitos de El Niño sobre a

população de estudo. Efeitos do fenômeno sobre a abundância dos principais itens

alimentares de O. flavescens podem fornecer maiores respostas ao fenômeno por se

tratarem de níveis inferiores da cadeia trófica, que, por sua vez, podem apresentar maior

poder explicativo da variabilidade dos leões-marinhos-do-sul nos refúgios. Acredita-se que

estudos de ocupação de Otaria flavescens nos refúgios utilizando séries temporais possam

evidenciar a real influência do ENOS na abundância.

6.4 Aumento da Abundância

Em linhas gerais, a população de O. flavencens da costa da Argentina tem apresentado

crescimento após a forte depleção de 1900 a 1950. No período de 1970 a 2000 o número de

filhotes do norte da Patagônia cresceu a uma taxa de 2,9% (Dans et al., 2004). Em Porto

Quequén o número de indivíduos também está aumentando, nos últimos 10 anos o número

médio estimado de indivíduos aumentou 45% (Rodríguez et al., 2009). Nas Ilhas Malvinas,

resultados de Thompson et al. (2005) indicam que o declínio ainda continua. O mesmo

parece ocorrer no Uruguai, onde o declínio ocorre a uma taxa anual de 2%. No entanto, a

razão de filhotes/machos mostra incremento de, aproximadamente, 12% ao ano, o que

sugere mudança na estrutura etária da população (Paéz, 2005). Segundo Rodriguéz et al.

(2006), a competição por recursos entre predadores de mesmo hábito – Arctocephalus

Page 53: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

52

australis e Pontoporia blainvillei – e pescadores podem ter contribuído para o declínio da

população de leões-marinhos-do-sul no Uruguai. Monitorar o comportamento durante o

forrageio em regiões de alta dinâmica como o estuário do Rio da Prata ajudará a entender a

dinâmica trófica da espécie e a potencial sobreposição entre pescadores e outros mamíferos

marinhos da região.

A inferência pela mediana do Modelo 16 permitiu verificar que ao contrário das colônias

uruguaias o número de indivíduos no RS tem aumentado. A alta produtividade da região

costeira do RS parece manter e atrair cada vez mais indivíduos para os refúgios. A taxa de

aumento da abundância consta na Figura 28.

Figura 28. Taxas mensais de aumento da abundância para o REVIS do Molhe Leste (em cima) e REVIS

da Ilha dos Lobos (abaixo).

Apesar da abundância encontrada para 2002 ser de três a quatro vezes maior em relação à

1993, as áreas estudadas não apresentam números tão significantes para a recuperação da

população como outras áreas, principalmente onde há reprodução. No entanto, este

Page 54: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

53

aumento é conflitante com a informação de declínio da população do Uruguai, de onde

acredita-se ser a origem dos indivíduos presentes no RS (Castello e Pinedo, 1977).

Dans (2004) sugere que a ocupação de novas áreas como refúgios ou colônias reprodutivas

representam mecanismos potenciais para o restabelecimento da população de Otaria

flavescens, bem como da transformação de refúgios a colônias reprodutivas. O aspecto mais

importante nesse processo deve ser as altas taxas de sobrevivência de juvenis combinados

com hábitats disponíveis a indivíduos recém-maturos. Este mecanismo de colonização, onde

a probabilidade de surgir uma nova colônia decresce com a distância e tamanho da colônia

principal, sugere que áreas potenciais de expansão das populações podem ser próximas de

áreas onde colônias de crescimento já existem (Grandi et al., 2008).

7. Conclusão

Este trabalho permite concluir que a abundância de Otaria flavescens nos refúgios do Rio

Grande do Sul varia sazonalmente, atingindo números máximos no inverno, com pico entre

os meses de agosto e setembro. Este padrão se repete ao longo dos anos com tendência de

incremento.

A probabilidade de ocupação dos refúgios em todos os meses de estudo é alta,

principalmente nos meses de inverno, durante as outras estações há tendência gradual de

aumento.

O efeito de longo prazo do ENOS obtidos pelos índices MEI, ONI e SOI não produz

variabilidades significativas sobre a abundância durante o período de estudo.

O fenômeno de sobre-dispersão é importante para melhorar a qualidade de ajuste dos

dados.

Por fim, o modelo escolhido para realizar as inferências segue características replicáveis a

outras amostragens nos refúgios, como demonstrado pelo bom ajuste entre as observações

e as análises preditivas provido pela análise de resíduos.

Este estudo gera algumas sugestões com o objetivo de melhorar o conhecimento acerca da

ecologia de Otaria flavescens, tanto no que diz respeito aos monitoramentos como no que

concerne à análise dos dados. Sugere-se que observações durante um ritmo circadiano

Page 55: DINÂMICA DE OCUPAÇÃO DO LEÃO_FINAL

54

sejam realizadas com certa freqüência, a fim de possibilitar o conhecimento do padrão atual

de flutuações na abundância dos dois locais. Este conhecimento pode ser útil na

incorporação de probabilidades de detecção dos indivíduos nos modelos. Sugere-se,

também, que modelos bayes-hierárquicos sejam aplicadas aos demais dados disponíveis no

intuito de prever o comportamento da população de estudo. Por fim, sugere-se que a

hipótese de relação entre abundância de Otaria flavescens e disponibilidade de recursos

pesqueiros seja testada, mediante a cooperação entre estudos que envolvam dieta e censo

com dados consistentes de pesca.

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