DIP - Carolina

Embed Size (px)

Citation preview

Madalena Afra Rosa14 Dezembro de 2009

O DIP tido como o ramo de direito que rege a sociedade internacional, assim, havendo uma sociedade internacional distinta das comunidades internas ou estaduais, a mesma reclama regras jurdicas prprias (ubi societas, ibi ius).

A sociedade internacional comeou por se afirmar como uma sociedade interestadual em sentido histrico e, no tempo presente, ainda se afirma predominantemente como uma sociedade de Estados, pelo que a histria do Direito Internacional tem acompanhado a histria do Estado.

Direito Internacional como Direito das Gentes:

O direito romano estabeleceu muito cedo a distino entre o ius civile e o ius gentium. Enquanto o primeiro s disciplinava as relaes entre cidados romanos, o segundo consistia na parte do Direito interno romano que regulava relaes entre cidados romanos e estrangeiros ou apenas entre estes ltimos. Depressa o ius gentium ganhou maior maleabilidade.

Era, assim, um Direito Universal, no sentido que possua aceitao generalizada, pois destinava-se a satisfazer necessidades comuns a todos os homens (Gaio).

Ulpiano preferia o mtodo da enumerao das matrias para chegar a uma definio quase exaustiva do ius gentium, uma definio que historicamente se aproximava do moderno conceito de Direito Internacional o direito das gentes a ocupao do territrio, a construo de edifcios, a defesa, a guerra, a captura de escravos, a servido, as fronteiras, os tratados, a paz e as trguas, o respeito da religio pelos legados, a proibio do casamento entre estrangeiros, por isso, Direito das gentes o que usado por todos os povos:Esta impreciso e a confuso terminolgica que dela resultou s seriam removidas pela escola clssica espanhola do Direito Internacional Pblico, atravs de Vitria e Suarez.

O conceito de DIP parte de uma base objectiva: a existncia de uma Comunidade Internacional, que transcende os limites da Respublica Christiana. Surge-nos como a Ordem Jurdica da Comunidade Internacional porque regula as relaes entre os povos que compem aquela comunidade.

O Ius gentium j no aparece em nenhum dos primitivos sentidos romanos, j no designa normas reguladoras das relaes entre indivduos, mas entre povos, e normas cuja validade deriva da prpria existncia da comunidade internacional.

O Direito das Gentes em sentido prprio aquele que vincula os Estados nas relaes entre si. este o conceito moderno de Direito Internacional, embora numa verso simplificada. J assim o definia, em 1927, o Tribunal Permanente de Justia Internacional, no clebre caso Lotus.

O Direito Internacional clssico manter-se-ia com este contedo, como Direito Internacional da Paz e da Guerra at ao fim da 1 Guerra Mundial (importante contributo portugus, atravs da Expanso e da doutrina lvaro Pais e Serafim de Freitas).A 1 Guerra Mundial poria em causa a ideia de soberania indivisvel dos Estados, sobre a qual assentava toda a construo do Direito Internacional da Paz e da Guerra e faria desencadear um movimento que conduziria progressiva absoro pela Comunidade Internacional de matrias de ndole econmica e social, que tradicionalmente constituam monoplio dos Estados soberanos. Um e outro facto levariam transformao do Direito Internacional Pblico, do clssico Direito Internacional da Paz e da Guerra, no novo e moderno Direito Internacional, em que as questes da cooperao, do desenvolvimento e da integrao, inclusivamente como formas de melhor se preservar a paz e segurana internacionais, preocupam a Comunidade Internacional tanto ou mais que as matrias tradicionais da Paz e da Guerra.Hoje em dia, ensina-se o DIP aplicando as regras ao caso concreto (teortico-dedutivo) mas sempre tendo em conta as decises anteriores (indutivo-jurisprudencialistas), uma juno destes dois mtodos.

Perodos de evoluo histrica do Direito Internacional:

Perodo de Formao:

1. Antiguidade Clssica:O DIP no era desconhecido, existiam relaes entre colectividades pr-estatais, acordos para manter a paz, tanto orais como escritos.

As primcias histricas do moderno conceito de Direito Internacional nasceram com o surgimento do ius gentium no Imprio Romano, o direito que regulava as relaes entre os romanos e os estrangeiros.[Ver assunto anterior]

2. Idade Mdia e incio da Idade Moderna:H uma grande influncia da Igreja, a comunidade de Estados da Respublica Christiana, tendo, nesta altura, o Papado o papel de Organizao das Naes Unidas da comunidade internacional (Tratado de Tordesilhas, Bula Papal, etc.). A influncia da Igreja na formao de regras tornou-se significativa, sobretudo relativamente guerra justa e ao direito da paz.Com o renascimento da escola clssica espanhola (Vitria) e no esteio dos ensinamentos de Ricardo Zouch, comeou-se a construir as bases do DIP moderno. Readaptaram o ius gentium, transformando-o num ius inter-gentes.

Mais tarde, Hugo Grotius surge como o pai do DIP, fazendo a diviso entre a paz e a guerra, elaborando, assim, os ramos de DIP positivo da Guerra e da Paz. A este se seguiu Suarez que procurou encontrar um conceito mais racional, uma vez que tal direito teria que incluir tratados no ligados religio: laicizao do DIP e separao do jusnaturalismo e etimologias crists.3. Da Paz de Vesteflia s revolues norte-americana e francesa:

Verifica-se o nascimento e afirmao do Estado-nao, tendo uma soberania com duas vertentes, interna e externa. A primeira residiria no Rei, enquanto na segunda vertente, a diminuio das relaes vassalticas contribuiu para que cada Estado tivesse a soberania de no se subordinar a outro Estado, consagrando-se uma nova ordem inter-estadual na Europa (ainda que tais relaes vassalticas tenham permanecido fora da Europa). Tambm se verificou a fundao das escolas positivistas do DIP (Vattel, Moser, Martens).

Os tratados de Vesteflia (1648) reconheceram o princpio da soberania como princpio da independncia dos Estados europeus entre si e de excluso de qualquer poder que lhes seja superior.

H um equilbrio de facto, baseado na fora militar.

Vo-se multiplicando relaes polticas e relaes comerciais, celebram-se tratados e vo surgindo normas consuetudinrias em reas to vitais como os poderes do Estado sobre os limites (terrestre e martimo) dos seus territrios, as representaes diplomticas e a prpria guerra.

Com a independncia dos EUA, pela primeira vez um Estado geograficamente no europeu entra para o campo dos Estados reconhecidos como sujeitos do Direito Internacional.

a Revoluo Francesa que introduz ou pretende introduzir mais significativas novidades, ao afirmar, na linha dos seus princpios, que a soberania reside no povo e no nos monarcas; que o Direito Internacional no o Direito das relaes entre os soberanos, mas o Direito das relaes entre os povos; que todos os povos tm direito autodeterminao.Perodos de Afirmao e Desenvolvimento:

1. O Incio da Idade Contempornea e as revolues liberais:

Os tratados de Vesteflia (1648) reconheceram o princpio da soberania como princpio da independncia dos Estados europeus entre si e de excluso de qualquer poder que lhes seja superior.

A disciplina do direito internacional foi baptizada em 1780 por Jeremias Bentham.

Foi reforada a noo de Estado soberano e surgiu a ideia de Direito Internacional como Direito que rege relaes entre Estados soberanos e no entre casas reais.

Surge ainda o princpio da autodeterminao dos povos, sobretudo na Amrica Latina, levando ao alargamento da sociedade internacional a Estados no europeus China, Imprio Persa, Imprio Otomano, etc. naes civilizadas, por oposio s civilizaes brbaras. Verifica-se tambm o unilateralismo e anarquia nas relaes internacionais, pois a guerra era apenas a continuao simples da poltica.

2. Da Sociedade das Naes Ordem Internacional criada com as Naes Unidas:

a fase decorrente do Tratado de Versalhes e marcada pelo malogro da institucionalizao tentada atravs da Sociedade das Naes.A derrota e o desmembramento dos chamados Imprios Centrais levam reafirmao dos princpios de autodeterminao dos povos e das nacionalidades. Desenham-se movimentos anticolonialistas fora da Europa.

Em anexo ao Tratado de Versalhes (1919) criada a Sociedade das Naes, a primeira organizao internacional em sentido poltico.

Ao mesmo tempo institui-se a Organizao Internacional do Trabalho e , tambm, de registar a criao de um Tribunal Permanente de Justia Internacional formao, pela primeira vez, de uma instncia jurisdicional, de um rgo de soluo de litgios internacionais de harmonia com critrios estritamente jurdicos.A Sociedade das Naes acaba por falir, incapaz de enfrentar as agresses japonesas na China e italiana na Etipia, o rearmamento alemo e a guerra civil de Espanha.

As potncias vencedoras de 1945 implantaram um novo, mais completo e mais dinmico sistema mundial. A Organizao das Naes Unidas foi pensada como o seu instrumento por excelncia. Verifica-se, a partir desta criao, o reforo dos movimentos de autodeterminao dos povos e a tutela internacional dos direitos do homem.Apareceram tambm outras unies, sobretudo de carcter regional (EU, Mercosul, etc.) apontando para o multilateralismo no mbito da cooperao internacional.

Surgem as correntes de Direito Internacional positivo (Quoc-Dinh) e jurisprudencialista (Brownlie).

O mundo seria atravessado, a partir de 1945 e at 1989, pelo confronto ideolgico e estratgico de dois grandes blocos (o ocidental e o sovitico). Tal diviso levou a que os conflitos entre essas duas superpotncias se transferissem para as suas zonas de influncia e significou uma bipolarizao, em contraste com a multiplicidade que, exceptuando o perodo das duas guerras, sempre havia assinalado as relaes internacionais. Isto levou a uma paralisao da actuao da ONU, uma vez que os seus membros do Conselho de Segurana, como os EUA e a URSS, detinham o direito de veto.3. A queda do Muro de Berlim em 1989 e o incio da Idade da Informao:

O desmoronamento do comunismo europeu e a desagregao da URSS alterariam radicalmente este estado de coisas. Entrar-se-ia numa nova fase, de contornos pouco claros uma ideia efmera de uma Nova Ordem Internacional em que as Naes Unidas ainda no conseguiram afirmar-se com toda a autonomia perante a unipolaridade americana agora estabelecida.

Assistiu-se, tambm, ao retorno do unilateralismo, isto , as potncias mais fortes intervm sozinhas, ignorando o DIP.

Entre os aspectos mais candentes da actualidade internacional podem ser apontados:

A globalizao econmica e financeira, com o peso crescente das empresas transnacionais; A globalizao tambm da comunicao social e cultural, conexa com a chamada sociedade da informao; O agravamento das desigualdades entre os pases do Norte e os do Sul do planeta;

Os extensos movimentos de pessoas, migraes, refugiados, etc.

O exacerbamento de contrastes nacionais, rcicos e religiosos, quer a nvel interno, regional ou mundial.

A Sociedade Internacional hoje constituda por uma pluralidade de Estados soberanos. A ordem jurdica de hoje est muito marcada pela interveno de organizaes no s a nvel nacional, mas tambm regional.Definio conceptual do Direito Internacional PblicoConceitos tradicionais:

Critrio dos sujeitos

Concebe o DIP como o conjunto de normas que regulam as relaes entre Estados ou sujeitos de DIP. Crtica: O TPJI, no clebre caso Lotus (1927) afirmou que o DIP era formado pelos princpios em vigor entre as naes independentes. Aps a I Guerra Mundial, multiplicaram-se os sujeitos/Estados. O facto do DIP regular sujeitos no claro. Sobretudo depois da II Guerra Mundial aumentou o nmero e a importncia das Organizaes Internacionais e alm destas e do Estado, surgem ainda outras entidades revestidas de personalidade jurdica internacional, incluindo o indivduo.Esta definio no aceite. Saber quais so os sujeito do Direito Internacional determinar quais so as entidades para as quais resulta da norma de Direito Internacional a titularidade de direitos e obrigaes. Critrio do objecto

Concebe o DIP como o conjunto de normas que regulam matrias de natureza intrinsecamente internacional. Seria necessrio e possvel separar as matrias da competncia interna do Estado daquelas que interessam Comunidade Internacional.

Ex.: O TIJ, no Acrdo proferido no caso Nottebohm, em 1955, concluiu pela dificuldade em separar as duas Ordens Jurdicas em questo por um critrio material.

Este critrio tambm ser de rejeitar, pois entendemos que a norma de Direito Internacional pode regular qualquer matria e ser dirigida a qualquer entidade susceptvel de personalidade jurdica.

Critrio formalDefine o DIP como o conjunto de normas jurdicas criadas pelos processos de produo e revelao normativa prprios da Sociedade Internacional.

o critrio melhor formulado, mas tambm no define o que a Sociedade Internacional.

Critrio misto

O DIP o conjunto de normas de direito produzidas pelas fontes prprias da Sociedade Internacional e que se destinam a reger as relaes jurdicas internacionais.

Atributos da definio adoptada:

Fontes de Direito Internacional - os modos de produo, revelao, justificao das regras jurdicas internacionais, isto , os critrios de deciso por regras gerais e abstractas produzidas e reveladas pelos processos tpicos da comunidade internacional.

Sociedade Internacional - associao inorgnica de pessoas colectivas pblicas que estabelecem nesse mbito relaes jurdicas de natureza pblica. A Comunidade Internacional uma realidade mais restrita que agrupa um conjunto de Estados com objectivos e valores comuns. Relaes jurdicas internacionais - so manifestaes travadas entre sujeitos activos do DIP que produzem efeitos:

a) Relaes de subordinao a supra-ordenao de um sujeito de DIP em relao a outro ou outros. Existem sujeitos em posies jurdicas diferenciadas hierarquicamente. Estabelecem-se relaes de domnio entre o sujeito supra-ordenado e o sujeito infra-ordenado.

Relaes de protectorado um Estado, o protector, compromete-se a garantir a salvaguarda de outro Estado, o protegido. Est sujeito ratificao de um conjunto de actos pelo primeiro Estado.

Organizaes internacionais supranacionais a relao mais importante de subordinao aquela que existe entre as organizaes e os seus Estados-membros. Ex.: a EU emite actos que prevalecem sobre os seus Estados membros.

b) Relaes de reciprocidade relaes equiordenadas de satisfao mtua dos interesses especficos dos sujeitos de DIP; h um equilbrio de sacrifcios e benefcios entre os sujeitos

Convenes bilaterais

Tratados celebrados por um pequeno nmero de Estados

c) Relaes de coordenao relaes horizontais; as partes esto em posio idntica, entre sujeitos de DIP, tendo em vista a satisfao de interesses comuns.Tratados multilaterais que regem relaes de cooperao que se revem nos objectivos prprios da sociedade internacional.

O problema da juridicidade do DIP

Posies negacionistas:

i. Escola realista: defendem que os princpios so derrogados pela prtica, logo, o DIP no direito, apenas um conjunto de regras morais com uma imperatividade mnima.

Crtica: esta posio no consegue destruir completamente um Direito Internacional existente, pois no nega a sua existncia mas a sua efectividade.

ii. Escola positivista: o Direito uma realidade estadual, assim as normas jurdicas da comunidade internacional no se aplicam, no tm fora interna. Os positivistas criticam, ainda, o facto de no haver um legislador nico, no existindo, assim, uma verdadeira legislao internacional e no existindo tambm tribunais, polcias internacionais, faltando, portanto, a coercibilidade.Crtica: H um dfice de construo, pois pode-se falar em Direito fora do Estado, visto que, onde h sociedade, h Direito. Tambm no verdade que seja necessrio um nico legislador, mas sim que haja fontes jurdicas.

Teses favorveis juridicidade do Direito:

i. Concepo jusnaturalistaii. Concepo voluntarista

O direito interno e externo existe quer por causa do Estado, quer atravs do Estado e a Comunidade Internacional um conjunto de Estados.iii. Concepo positivista

Se a Constituio determina que o DIP direito, ento DIP intrinsecamente Direito. Este reconhecido e legitimado por normas constitucionais, as normais mais importantes.Posio adoptada: DIP como direito incompleto e em formao

a. O reconhecimento da positividade jurdica do DIP atravs das Constituies dos Estados. A CRP tutela o DIP e reconhece-o como direito (mecanismos e regras de aplicao). O Estado s vinculado pelo DIP na medida em que o reconhea.b. O carcter descentralizado do Direito, no que toca ao modo de produo das normas internacionais, tendo tambm um carcter descentralizado a determinao das relaes jurdicas e a aplicao poltica e jurisdicional do DIP. As fontes so descentralizadas; no h legislador, as regras fluem dos tratados e algumas so reveladas pela jurisprudncia. Vrios modos de produo do direito: Tribunais que servem a UE; Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, que aplica sanes, que por vezes no so acatadas, o que provoca fragilidade no DIP, mas no lhe retira normatividade.c. A dbil parametricidade e completude do DIP geral ou comum: os recentes desvios do unilateralismo.

d. O reforo da juridicidade do DIP nas organizaes internacionais de carcter regional: o caso particular da EU e o Conselho da Europa.e. Convico de obrigatoriedade no seu elemento psicolgico.Prof. J. Miranda: O direito internacional faz parte do universo jurdico e possui o mesmo fundamento e a mesma razo de ser do restante Direito. Contm aquilo que de essencial assinala o Direito: a estrutura normativa necessria de uma sociedade ou de certo tipo de convivncia entre as pessoas humanas, individual ou colectivamente consideradas.Existe uma pluralidade de ordenamentos, em atinncia com a pluralidade de sociedades.Por que motivo se obedece a qualquer norma jurdica? Para alm da reciprocidade de interesses, para alm do temor ou no de sanes, o que determina a obedincia o sentido racional e tico, mais ou menos conscientemente assumido, da pertena a um grupo, a uma comunidade, a um sistema de relaes. O destinatrio da norma livre de cumprir ou no cumprir, mas a norma que se lhe dirige no tem por base a sua vontade; funda-se em princpios objectivos de ordem que o transcendem ou num sentido de bem comum; e isto vale tanto para o direito interno como para o direito internacional.

As crescentes tendncias institucionalizadoras e, antes de mais, o jus cogens s por si demonstram a incapacidade de uma fundamentao voluntarista do Direito Internacional. E nem se alegue, em contrrio, outro sinal dos tempos, que seria a democratizao introduzida no acesso de todos os Estados ONU com o mesmo direito de voto na respectiva Assembleia Geral. Justamente, esta democratizao alicera-se num princpio de igualdade e num sentido de pertena a uma mesma comunidade s explicveis numa linha jus-universalista.At a clebre locuo segundo a qual em Direito Internacional no h nem legislador, nem juiz, nem polcia no resiste hoje a uma observao crtica mais atenta.

As Fontes do DIPClassificao das fontes de DIP:

Fontes formais e fontes materiais

Fontes formais processos de produo e revelao de normas jurdicas internacionais (convenes internacionais, costume e actos jurdicos unilaterais)

Fontes materiais enunciados de valores que fundamentam regras jurdicas internacionais (princpios gerais de DIP). O enunciado geral e abstracto de determinado valor no tem necessariamente valor superior s normas.

Fontes imediatas e mediatas

Fontes imediatas modos de criao ou justificao de regras jurdicas que se aplicam directamente s relaes internacionais (ex.: convenes, costume internacional, actos jurdicos unilaterais e princpios gerais de DIP).

Fontes mediatas medidas de valor e ensinamentos subsidirios que concretizam e integram normas jurdicas internacionais criadas pelas fontes imediatas (jurisprudncia, doutrina e equidade contra-legem).

Preferncia sistemtica de fontes para efeitos aplicativosNa relao entre as vrias fontes mantm-se o elenco constante no art. 38. do Estatuto do Tribunal Internacional de Justia, tendo este artigo uma funo indicativa das fontes de DIP. O artigo dispe:1.- O Tribunal, cuja funo resolver, de acordo com o Direito Internacional, os litgios que lhe sejam submetidos, aplicar:

a) As convenes internacionais que estabeleam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;

b) O costume internacional, como prova de uma prtica geral aceite como direito;

c) Os princpios gerais de direito, reconhecidos pelas naes civilizadas;

d) Com ressalva das disposies do art. 59., as decises judiciais e a doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes naes, como meio auxiliar para a determinao das regras do direito.

2.- Esta disposio no prejudicar a faculdade de o tribunal decidir uma questo ex aequo et bono, se as partes assim convierem.Crtica:

Suposta mistura entre fontes materiais, formais, directas e indirectas Blanco de Morais no concorda meramente exemplificativo e esto em alneas diferentes, no h mistura entre fontes.

Ambiguidade quanto enunciao de uma hierarquia entre fontes B. Morais defende que no existe qualquer hierarquia enunciada.

Elevao indevida da equidade a fonte de DIP segundo B. Morais, reconhecida em grande parte pela doutrina.

Incompletude derivada da ausncia de meno dos actos jurdicos unilaterais.

Caractersticas gerais das fontes de DIP:

Convenes internacionais fonte formal e imediata de formao voluntria; o acordo jurdico entre sujeitos de Direito Internacional que valem como sendo de direito.

Costume fonte formal e imediata de formao espontnea, pois nunca se pode determinar o preciso momento em que surgir uma norma costumeira.

Actos jurdicos unilaterais fonte formal e imediata de formao voluntria; actos jurdicos, em regra normativos, emanados por um s sujeito de DIP e cuja validade e eficcia no depende da prtica concorrente de qualquer outro acto jurdico internacional.

Actos jurdicos unilaterais dos Estados podem ser actos autnomos manifestaes jurdicas e vontade vlidas e eficazes de per se, no necessitam de ver o seu regime estabelecido previamente (ex.: protesto, renncia, promessa e certas formas de reconhecimento); actos no autnomos manifestaes jurdicas de vontade cuja validade e eficcia depende do disposto numa fonte formal de DIP (a denncia, o recesso, a reserva e a adeso); actos autonormativos decises jurdicas normativas que tm como destinatrio imediato dos seus efeitos o sujeito que as emitiu (a promessa e renncia); e actos heteronormativos decises jurdico-normativas que tm como destinatrios imediatos dos seus efeitos, outros sujeitos de DIP diversos do que as aprovou (o reconhecimento e o protesto).

As fontes materiaisFontes materiais perceptivas os princpios de Direito Internacional como fonte de formao espontnea. Para B. Morais, os princpios de DIP tm natureza normativa.

Diversidade dos princpios fundamentais de DIP:a) Princpios gerais de direito comuns ao DIP e aos ordenamentos estaduais: boa f (pacta sunt servanda); proporcionalidade; respeito pelo caso julgado; abuso de direito; nus da prova; segurana jurdica; enriquecimento sem causa; faculdade dos tribunais internacionais definirem o mbito das suas competncias.b) Princpios originrios do DIP: respeito pela integridade territorial e soberania dos Estados; no agresso; no interferncia nos assuntos internos dos outros Estados; coexistncia pacfica; autodeterminao dos povos sob ocupao estrangeira ou domnio colonial; princpio da especialidade das organizaes internacionais.

c) Princpios especficos de organizaes internacionais.

Fontes indirectas e subsidirias: a jurisprudncia e a doutrina

A jurisprudncia certo que a jurisprudncia internacional geral no obrigatria e que no vigora, quanto a ela a regra do precedente. Mas nem por isso ela perde significado na revelao de outras fontes e na formao do costume. Devido ao seu carcter fragmentrio, a jurisprudncia tem grande relevncia, na medida em que em certas situaes pode criar um costume, sendo assim, fonte subsidiria.

Muito relevante a jurisprudncia do Tribunal de Justia das Comunidades Europeias.

Doutrina papel de grande relevo na revelao e interpretao de outras fontes.

Problemtica da equidade como fonte de direito internacional:

Art. 282./4 CRP algum relevo tambm no que toca a tratados internacionais

Prof. A. Gonalves Pereira no a considera como fonte de direito, pois a especificidade do caso implica uma aplicao retorcida da norma raciocnio tpico. Refere, ainda, que a equidade no uma medida de Direito, mas sim de valor.

Classificao de equidade: secundum legem (meramente interpretativa), praeter legem (meramente integrativa); contra legem (meramente derrogativa).

O Prof. Blanco Morais considera a equidade como realidade jurdica, mas que apela a um raciocnio tpico, s podendo ser chamada coaco em certos casos. A equidade aplicada quando o tratado o disser expressamente. O Prof. Blanco de Morais no aceita a equidade secundum legem, porm aceita a contra legem.Fontes e NormasFontes formas de produo e justificao das normas

Normas objectivo produzido pelas fontes, regras gerais e abstractas.

No existe hierarquia entre fontes imediatas, todas tm a mesma hierarquia, excepo da relao entre actos unilaterais no autnomos e convenes internacionais.Existe, contudo, uma predominncia das fontes imediatas sobre as mediatas.

Hierarquia entre as normas de DIP1. Direito imperativo ou cogente princpios e normas convencionais ou costumeiras de aceitao geral que fundamentam a ordem pblica internacional e constituem parmetro de validade sobre as restantes normas.

At agora, no existe jurisprudncia que sustente a revogao de normas de ius cogens.2. Relaes hierrquicas entre normas convencionais no quadro das organizaes internacionais: o caso do primado da Carta das Naes Unidas e do Pacto do Atlntico Norte sobre as convenes celebradas pelos respectivos Estados-membros.3. Superioridade hierrquica das convenes internacionais de carcter principal sobre os acordos administrativos que as desenvolvam. a mesma relao que existe entre uma lei e um decreto regulamentar.4. Superioridade dos tratados institutivos de organizaes internacionais sobre os actos jurdicos normativos unilaterais de direito derivado emitidos ao seu abrigo.

Relaes entre normas no quadro dos princpios da cronologia e especialidade aplica-se o mesmo regime aplicvel s leis, isto , havendo duas convenes sobre o mesmo objecto, prevalece a nova sobre a antiga. Em caso de conflito entre uma conveno geral e uma conveno especial, prevalece esta ltima.Princpios gerais de Direito InternacionalO Direito Internacional compreende regras e princpios, e apenas os princpios logicamente anteriores permitem integrar as regras num todo sistemtico, ultrapassar o seu carcter parcelar, fragmentrio e, por vezes, conjuntural, e submet-las a comuns critrios de interpretao e aplicao.Os princpios no se colocam alm ou acima do Direito. Tambm eles fazem parte do complexo ordenamental. E tanto exercem uma aco imediata, enquanto directamente conformadores ou capazes de abrir caminho a solues jurdicas, como exercem uma aco mediata por meio da interpretao e da construo doutrinal.Em qualquer poca da histria do Direito Internacional se encontram princpios a comear por princpios inerentes a todo o Direito como o da boa f, o de pacta sunt servanda e o da responsabilidade.

O j mencionado art. 38. do ETIJ contempla expressamente os princpios gerais de Direito reconhecidos pelas naes civilizadas, que so colocados a par do costume e do tratado como fontes do DireitoJus cogensDentre os princpios de Direito Internacional geral ou comum, avultam aqueles que a doutrina tem chamado princpios de jus cogens (Direito cogente, imperativo).

So princpios que esto para alm da vontade ou do acordo de vontades dos sujeitos de Direito Internacional; que desempenham uma funo eminente no confronto de todos os outros princpios e regras; e que tm uma funo jurdica prpria, com os inerentes efeitos na subsistncia de normas e actos contrrios.

Alguns grandes princpios jurdicos foram reconhecidos em todas as pocas como prevalecendo nas relaes entre os Estados. Outros foram considerados pela doutrina (com relevo para Vitria e Grcio) como devendo ser respeitados de forma incondicionada, fossem ou no tidos como decorrentes do direito natural.Foi s recentemente (1945), que os princpios com essa caracterstica e esse valor so proclamados em textos solenes, internacionais e nacionais, foram tomados como critrios de deciso para efeitos de soluo de conflitos e se lhes procura conferir plena consistncia.Os grandes passos conducentes ao reconhecimento e afirmao da relevncia do jus cogens viriam a ser:

A Carta das Naes Unidas, ao estabelecer que a Organizao far que os Estados que no so membros ajam de acordo com os princpios da Carta em tudo quanto for necessrio manuteno da paz e da segurana internacionais (art. 2./6) e ao estatuir que em caso de conflito entre as obrigaes decorrentes de qualquer outra conveno internacional prevalecero as primeiras (art. 130./1); O acrdo do Tribunal de Nuremberga, declarando nulo o convnio entre o Governo alemo e o Governo francs de Vichy pelo qual os prisioneiros de guerra franceses eram obrigados a trabalhar em fbricas de armamento alems (caso Krupp);

As Convenes de Genebra, revistas em 1949, prescrevendo que a sua eventual denncia no teria eficcia sobre as obrigaes a que as partes num conflito estivessem adstritas em virtude dos princpios de Direito das Gentes, tal como resultam dos usos entre naes civilizadas, leis da humanidade e exigncias da conscincia pblica (arts. 62., 63., 142. e 158.); Os tratados de direitos do homem (art. 15. da Conveno Europeia, art. 4. do Pacto de Direitos Civis e Polticos);

Vrios pareceres e acrdos do TIJ desde 1951, designadamente nos casos das reservas Conveno sobre Preveno e Represso do Crime de Genocdio (1951);

As Convenes de Viena sobre Direito dos Tratados entre Estados, de 1969, e sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Organizaes Internacionais ou entre Organizaes Internacionais, de 1986;

A Resoluo n. 2625 (XXV) da Assembleia Geral das Naes Unidas, de 24 de Outubro de 1970; A criao de tribunais criminais internacionais, culminando na do Tribunal Penal Internacional, em 1998.Como so estabelecidas essas regras? Nenhuma organizao internacional goza de poder para tal: o costume internacional no poderia aplicar-se a um Estado que se opusesse sua formao; uma espcie de representao mental tendente a ver a comunidade internacional como vagamente personificada, com um instrumento novo chamado consenso e podendo por essa via legiferar mesmo por tratado.A teoria do jus cogens, tal como aplicada pela Conveno de Viena sobre o Direito dos Tratados, francamente hostil ideia do consentimento como base necessria do Direito Internacional.

O jus cogens pressupe hierarquia de normas, No entanto, numa sociedade privada de aparelho legislativo como a sociedade internacional, torna-se muito difcil determinar que normas entram na categoria de normas cogentes.As duas Convenes de Viena sobre o Direito dos Tratados so os dois textos paralelos de formal consagrao de um regime prprio do jus cogens.

Uma e outra ocupam-se dele nos arts. 53., 64., 71., 66./a, 44./5, 60./5.

Os preceitos bsicos so os arts. 53., 64. e 71.:

nulo todo o tratado que, no momento da sua concluso, seja incompatvel com uma norma imperativa de Direito Internacional geral (art. 53./1 parte);

Uma norma imperativa de Direito Internacional a que seja aceite e reconhecida pela comunidade internacional no seu conjunto como norma qual nenhuma derrogao permitida e que s possa ser modificada por uma nova norma de Direito Internacional geral com a mesma natureza (art. 53./2: parte).

Se sobreviver uma norma imperativa de Direito Internacional geral, todo o tratado existente que for incompatvel, com esta norma tornar-se- nulo (art. 64.);

Quando um tratado for nulo, as partes sero obrigadas: a) eliminar, na medida do possvel, as consequncias de todo o acto praticado com base numa disposio que seja incompatvel com a norma imperativa de Direito Internacional geral; b) a tornar as suas relaes mtuas conformes com essa norma (art. 71./1); Se um tratado se tornar nulo, a cessao da sua vigncia: a) libertar as partes da obrigao de continuar a executar o tratado; b) no afectar nenhum direito, nenhuma obrigao, nem nenhuma situao jurdica das partes criadas pela execuo do tratado antes de ele se extinguir, mas este direito, obrigao ou situao no se manter no futuro, salvo na medida em que a sua eliminao no for em si mesma incompatvel com a nova norma imperativa de Direito Internacional geral (art. 71./2).Traos especficos do jus cogens:

a) O jus cogens faz parte do Direito Internacional geral;

b) O jus cogens pressupe aceitao e reconhecimento;

c) O jus cogens tem de ser aceite e reconhecido pela comunidade internacional no seu conjunto, o que significa que tem de ser universal, no podendo haver um jus cogens regional;

d) O jus cogens possui fora jurdica superior a qualquer outro princpio ou preceito de Direito Internacional;

e) O jus cogens opera erga omnes;f) A violao de jus cogens envolve invalidade de norma contrria, e no simplesmente responsabilidade internacional.O jus cogens no se assimila ao Direito natural internacional.

Nenhum preceito da Conveno de Viena de 1969 aponta o modo como se revela ou determina o jus cogens, nem sistematiza e analisa os princpios em que se desdobra.No tocante revelao do jus cogens, o exigir-se que sejam normas aceites e reconhecidas pela comunidade internacional no seu conjunto implica que se deva ter em linha de conta essencialmente as fontes mais prximas dessa dimenso universal ou quase universal. So elas:

O costume internacional geral;

Os tratados multilaterais gerais, como a Carta das Naes Unidas, as prprias Convenes de 1969 e 1986 e os tratados sobre direitos do homem;

As resolues da Assembleia Geral das Naes Unidas; A jurisprudncia dos tribunais de proteco dos direitos do homem e dos tribunais criminais internacionais institudos nos ltimos anos.

Quanto aos princpios em si mesmos, desde logo o prembulo da Conveno de Viena faz referncia a princpios de Direito Internacional que no oferecem dvidas sobre o seu alcance.

Neste prembulo definido que os princpios do livre consentimento e da boa f e a regra pacta sunt servanda so universalmente reconhecidos e proclama-se os princpios da cooperao pacfica entre os Estados, sejam quais forem os regimes constitucionais e sociais; da soluo pacfica dos conflitos; da igualdade e do direito dos povos de disporem em si prprios; da igualdade soberana e da independncia dos Estados; da no-ingerncia nos assuntos internos; da proibio da ameaa e do emprego da fora; e do respeito universal e efectivo dos direitos do homem e das liberdades fundamentais.

Alm disso, o art. 52. estatui que nulo todo o tratado cuja concluso tenha sido obtida pela ameaa ou emprego da fora em violao dos princpios de direito internacional contidos na Carta das Naes Unidas (art. 2. da CNU).

O Prof. Jorge Miranda prope o seguinte quadro de princpios de jus cogens:

No que toca comunidade internacional como um todo

Princpio da cooperao entre os Estados da comunidade internacional;

Princpio da resoluo pacfica dos conflitos;

Princpio do acesso aos benefcios do patrimnio comum da humanidade;

Quanto s obrigaes dos sujeitos de DIP

Princpio do livre consentimento;

Princpio da reciprocidade de interesses e da equivalncia de relaes contratuais;

Princpio de pacta sunt servanda;

Princpio da boa f;

Princpio da responsabilidade por actos ilcitos;Princpios atinentes s relaes entre os Estados:

Princpio da igualdade jurdica dos Estados;

Princpio do respeito pela integridade territorial;

Princpio da no interferncia nos assuntos internos dos outros Estados;

Princpio da legtima defesa contra agresso;

Princpio da continuidade do Estado;

Princpios atinentes pessoa humana:

Princpio da igual dignidade de todos os homens e mulheres;

Princpio da proibio da escravatura, do trfico de seres humanos e de prticas semelhantes;

Princpios da proibio do racismo;

Princpio da proteco das vtimas de guerra e conflitos;

Princpio da garantia dos direitos inderrogveis enunciados no art. 4. do Pacto Internacional de Direitos Civis e Polticos.

O costume internacional Prtica geral reiterada com convico de obrigatoriedade, por parte dos sujeitos de DIP.Tem em DIP um papel maior do que no direito interno. A ausncia de uma autoridade central, a nvel mundial, explica-o em parte. Mas, mais que isso, explica-o o prprio contributo decisivo fundador do costume para o nascimento do DIP.

Ainda hoje, h importantes princpios que continuam regulados principalmente pelo costume, como a responsabilidade internacional e as imunidades dos Estados. O caminho para a institucionalizao no impede a formao de normas consuetudinrias.

O costume internacional no resulta apenas da prtica dos Estados nas suas relaes bilaterais ou multilaterais, resulta tambm da prtica que se desenvolva no interior das organizaes internacionais. Uma grande parte do Direito interno das organizaes internacionais produto do costume.

Elementos constitutivos do costume internacional:

I. O elemento material: O uso, como conduta adoptada de uma forma reiterada e consequente num determinado sentido e que se mostra apta a constituir um precedente. O uso exige tempo e repetio de comportamentos de diversa natureza: actos diplomticos, actos de execuo de tratados, actos no mbito das organizaes internacionais. No possvel fixar critrios de apuramento rgidos, embora parea mais fcil a observao de actos bilaterais ou multilaterais do que a de actos unilaterais dos Estados.Quanto ao perodo de tempo necessrio, existe uma grande incerteza. A tendncia jurisprudencial internacional, guia-se hoje no sentido de promover o encurtamento do tempo, considerando dez anos o perodo de tempo mnimo para a formao do costume.Para que o uso preencha o requisito da constncia o que releva a uniformidade da repetio da prtica (caso do Direito de Asilo, TIJ, 1950).Quanto ao nmero de Estados, pode dizer-se que o uso deve ter sido seguido pelos Estados cada vez que tiveram oportunidade disso e de maneira uniforme, podendo formar-se, at independentemente da vontade de alguns Estados.Tambm o silncio reiterado e as condutas passivas uniformes desempenham o seu papel na expresso de aquiescncia na formao de normas costumeiras (caso Lotus).

II. O elemento psicolgico:

A consciencializao da obrigatoriedade jurdica de uma conduta a opinio iuris. S quando os Estados actuem na esfera internacional na convico de exercer um direito ou cumprir um dever que se pode pr o problema da existncia do costume. Como a sua averiguao particularmente difcil, o TIJ tem seguido na prtica, o critrio de supor que a prtica constante acompanhada de opinio iuris. H, assim, uma presuno iuris tantum a favor da obrigatoriedade de uma prtica geral, constante e uniforme. No h, portanto, costumes instantneos, trata-se de uma realidade que implica um tempo mnimo.Concepes sobre a formao do costume:

1. Teoria do acordo tcito sobrevalorizao do elemento psicolgico. Esta concepo desmentida pela realidade e pela prtica internacional, j que no exige a interveno de todos os Estados na formao do costume. Embora o costume internacional se imponha como Direito Comum quando a convico da sua obrigatoriedade existir na grande maioria dos Estados, no possvel dizer-se qual a maioria numrica necessria, reconhecendo-se, assim, que o Direito Internacional Comum, de base consuetudinria, se impe a todos os Estados, quer tenham ou no participado na sua elaborao. Para certos tipos de costume, nomeadamente costumes locais, o elemento voluntrio tem maior importncia.2. Teoria do comportamento habitual sobrevalorizao do uso. Esta teoria confunde as praxes diplomticas com o uso na formao do costume, mas um direito e o outro no . As praxes no so regras de direito.

3. Teoria objectivista (adoptada por B. Morais) o costume forma-se espontaneamente, sendo um equilbrio do elemento psicolgico com o elemento material, contribuindo ambos para a sua formao. O costume nasce quando se percebe que h um precedente e no futuro essa regra ser aplicada.A prova da formao do costume:

Existncia de leis ou tratados que reconheam tal existncia;

Sentena do tribunal;

Actos de execuo a uma norma consuetudinria:

Correspondncia diplomtica;

Declaraes oficiais de responsveis do Estado;

Condutas passivas: silncio, mas aplica-se a norma consuetudinria.

Existe, contudo, grande dificuldade de apresentao de provas, sendo que existe um nus do requerente em provar a existncia da norma consuetudinria.Tipos de costumes em razo do seu mbito espacial:

1. Costumes locais envolvem-se apenas dois Estados (o caso do direito de passagem por territrio indiano, TIJ, 1960)

2. Costumes regionais envolvem uma pluralidade de Estados

3. Costumes gerais envolvem toda ou quase toda a Comunidade Internacional.

Tratados InternacionaisConceito geral de Tratado acordo concludo entre dois ou mais sujeitos de DIP com capacidades para o tal, destinado a produzir efeitos jurdicos regidos pelo mesmo direito.Conceito de Tratado de acordo com a CVDT de 1969 um acordo internacional concludo por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer esteja consignado num instrumento nico quer em dois ou mais instrumentos conexos e qualquer que seja a sua designao.

No cabe a uma Conveno Internacional dar definies, por isso o art. 2./1/a da CV afirma que a noo de tratado de que parte se destina apenas para os fins da presente Conveno. Quer dizer, que no fica excludo que possa haver tratados que no caibam naquela definio: apenas se no lhes aplicar aquela Conveno e eles ficaro sujeitos ao Direito Internacional independentemente da CV, ou seja, s regras costumeiras que lhes forem aplicveis.

A CV no se aplica a convenes celebradas por sujeitos sem a natureza de Estado-soberano (como entre Estados e Organizaes Internacionais; entre Organizaes Internacionais; entre Estados federados; entre casas reais; e entre Estados-soberanos e outros sujeitos com capacidade limitada, tais como estados federados, movimentos de libertao e governos no exlio).

Os Tratados devem reger-se e submeter-se s normas jurdicas internacionais.

A exigncia de celebrao dos tratados sob forma escrita meramente instrumental. Do art. 3. CV, resulta que a no aplicao da CV aos acordos que no revestem a forma escrita no afecta quer a validade destes, quer a aplicao dos princpios nela contidos, quando tal aplicao resultar do costume internacional ou dos princpios gerais do direito.A prpria dinmica processual imposta concluso de Tratados pelo Direito Constitucional dos vrios Estados e o facto de os Tratados concludos entre os Estados membros da ONU estarem sujeitos a registo acabaro por impor na prtica que os tratados revistam a forma escrita.

Multiplicidade das denominaes adoptadas: alguma anarquia terminolgica tratado, acordo, carta, protocolo, concordata, pacto, declarao.

Classificao de Tratados:1. Quanto ao objecto

i. Tratados-lei conjunto de regras que se aplicam uniformemente a todos e que tendem a reger relaes jurdicas internacionais de coordenao. No tratado-lei d-se a criao de uma regra jurdica pela vontade das partes.

ii. Tratado-contrato no h uma aplicao igual para os dois contraentes. Rege relaes de reciprocidade. As vontades so divergentes, no surgindo, assim, a criao de uma regra geral de Direito, mas a estipulao recproca das respectivas prestaes e contraprestaes.

iii. Tratados mistos contm dois tipos de tratados, so uniformes mas acautelam algumas relaes especficas. Ex: Tratado de Lisboa, tem aspectos de tratado-lei e tratado-contrato.2. Quanto ao mbito material:

i. Tratados gerais aplicam-se ao geral da comunidade internacional, tendo por objecto um fim de alcance geral.

ii. Tratados especiais visam apenas reger determinadas parcelas do DIP.

3. Quanto pluralidade entre as partes:

i. Tratados bilaterais

ii. Tratados multilaterais

4. Quanto forma:

i. Tratados solenes: necessitam de ratificao como expresso do consentimento e vinculao dos Estados que o celebram.

ii. Acordos sob forma simplificada: tornam-se vlidos e eficazes mediante assinatura e consentimento. Desenvolveram-se extraordinariamente pois a ratificao de que careciam os tratados em forma solene era sempre um processo complexo e moroso, politicamente difcil de obter, uma vez que dependia quase sempre da aprovao do rgo legislativo, que podia no ter a mesma orientao do executivo. Os acordos sob forma simplificada correspondem necessidade de que a poltica externa dos diversos Estados seja completamente eficaz e activa, e a um imperativo de dinamizao da vida diplomtica. Estes acordos esto todos sujeitos a registo.Celebrao de TratadosRegime geral: processo geral de celebrao das convenes bilaterais.

Estrutura da Conveno:

Prembulo no tem valor normativo mas pode ser importante para a interpretao das normas. um texto discursivo, um conjunto de pressupostos e consideraes ou fundamentos da sua celebrao. Corpo normativo (articulado e clusulas finais) composto pelos preceitos da Conveno que contm ainda um conjunto de clusulas transitrias, disposies chaves, normas instrumentais. No articulado normal que exista um artigo, geralmente o 2., que procure descodificar conceitos presentes no corpo normativo. Anexos tudo o que no normativo, remetido para os anexos.A NegociaoOs Estados travam encontros e procedem a conversaes com vista celebrao da conveno, discutem-se os interesses de ambas as partes, tentando relacionar-se, de modo a que possam reger reciprocamente as matrias que pretendam, numa situao de paridade.

A elaborao do texto: parte sempre de um ante-projecto de ambas as partes em ronda de negociao, encontram-se na capital de uma das partes (alternando) ou num terceiro pas.Os plenipotencirios so representantes diplomticos que detm plenos poderes para a elaborao de uma Conveno, atravs de uma Carta de poderes que os conceda e os peritos, que so tcnicos especialistas em funo da matria que assistem os plenipotencirios nas negociaes.

CV, art. 7./1 (): a) Quando apresente plenos poderes apropriados, ou; b) Quando resulta da prtica dos Estados interessados, ou de outras circunstncias, que estes tinham a inteno de considerar essa pessoa como representante do Estado para esses efeitos e de prescindir da apresentao de plenos poderes.

Porm, no n2 do art. 7., em virtude das suas funes e sem terem que apresentar plenos poderes, so considerados representantes do seu Estado:

a) Os chefes de Estado, os chefes de Governo e os Ministros dos Negcios Estrangeiros, para todos os actos relativos concluso de um tratado;b) Os chefes de misso diplomtica ()

c) Os representantes acreditados dos Estados a uma Conferncia Internacional ou junto duma organizao internacional ou de um dos seus rgos ().

O objectivo essencial desta fase de celebrao dos tratados conseguir o acordo dos plenipotencirios quanto ao texto do tratado.

A aprovao do texto do tratado exige voto unnime de todos os Estados que o negoceiem, salvo quanto aos tratados aprovados numa conferncia internacional que se exige maioria de 2/3 dos Estados presentes e votantes, salvo se estes, tambm por maioria de 2/3, decidirem fixar uma regra de votao diferente. Art. 9. CV

Uma vez fixado o texto do tratado, segue-se a redaco do texto do tratado. Este consta de um articulado precedido por um preambulo onde se designam as partes contratantes, os motivos do tratado, o local de celebrao.

Quando os plenipotencirios actuam sem poderes, o seu acto no produz efeitos jurdicos, porm tal acto praticado por falta de competncia pode ser confirmado posteriormente pelo respectivo Estado (art. 8. CV).A negociao das Convenes Internacionais em Portugal:

ao Governo quem compete negociar e ajustar convenes internacionais (art. 197./1/b CRP). Para o efeito, cabe ao Ministrio dos Negcios Estrangeiros a conduo das negociaes.

A rubrica ou a assinatura de qualquer tratado internacional necessita de prvia autorizao expressa por parte do Conselho de Ministros. Todavia, essa competncia encontra-se tacitamente delegada no Primeiro-Ministro.

A autenticao e a assinatura:

Autenticao fixao e certificao do texto definitivo do tratado por acordo dos plenipotencirios, mediante um acto de assinatura (art. 10. CV).

No tratado solene, a assinatura no significa ainda a vinculao do Estado ao tratado, mas nem por isso deixa de gerar vrios efeitos jurdicos:

a) Exprime o acordo formal entre os plenipotencirios quanto ao texto do tratado;

b) Produz para o Estado signatrio o direito de ratificar o Tratado;

c) Faz surgir o dever para os Estados signatrios de se absterem de aces ou omisses que privem o tratado do seu objecto ou do seu fim (imperativo do princpio de boa f (art. 18. CV);

d) Autentica o texto, que fica definitivamente fixado (art. 10./b, CV);

e) Marca a data e o local da celebrao do tratado, uma vez que a ratificao vai ser feita posteriormente e em datas diferentes por cada um dos Estados.Ao contrrio do que ocorre nos tratados solenes, nos acordos em forma simplificada, a assinatura pode vincular de imediato os Estados cujos plenipotencirios assinarem.

Alm da assinatura stricto sensu, tambm existe a assinatura ad referendum e a rubrica. Ambas reflectem apenas uma confirmao provisria do texto, sendo este confirmado mais tarde pelo Governo.

Assinatura sob reserva de aceitao.

Em funo do respectivo Direito Constitucional, um mesmo tratado pode revestir a forma de tratado solene para um Estado signatrio e de acordo de forma simplificada para outro, a assinatura pode assumir efeitos diferentes conforme os Estados que negociaram.

A vinculao:

Noo: expresso definitiva de consentimento do Estado em relao aos tratados.

Os tratados solenes no vinculam o Estado simplesmente pela assinatura, mas pela ratificao acto jurdico e solene pelo qual o rgo competente do Estado afirma a vontade deste se vincular ao tratado cujo texto foi por ele assinado (art. 14. CV). Sinnimos: aceitao, aprovao e adeso.A ratificao um acto poltico ou de governo. tambm um acto livre, salvo a hiptese de o dever de ratificar derivar de um tratado anteriormente concludo.

Os motivos para a reserva da ratificao so vrios:

Recusa pelo Parlamento da aprovao do tratado, necessria para a ratificao.

Declarao de inconstitucionalidade do tratado;

Veto poltico do Chefe de Estado;

Simples inoportunidade ou inconvenincia poltica do tratado.

Normalmente, o chefe de Estado que emite a carta de ratificao, incorporada no instrumento de ratificao, a que anexado o texto do tratado.

Seguidamente procede-se troca de ratificaes, modo habitual dos Estados se darem mutuamente a conhecer que ratificaram os tratados entre si j negociados.

A ratificao passa a ser a forma de expresso da vontade do Estado no plano internacional nos termos previstos nas diversas Constituies.

Consequentemente, a ratificao e no a assinatura, que vincula o Estado ao tratado.Por outro lado, a ratificao um acto livre, isto , no h para o Estado dever jurdico de ratificar um Tratado assinado pelos seus plenipotencirios nem para o fazer dentro de certo prazo.O problema das ratificaes imperfeitas:

Pode acontecer que no processo de concluso do tratado um Estado no respeite os requisitos formais constantes do seu direito interno e do seu direito constitucional. Por exemplo: no se observam as formalidades definidas para a aprovao parlamentar do tratado; ou no se cumprem as exigncias em matrias de designao dos plenipotencirios.A CV decidiu disciplinar to importante questo no art. 46..Este preceito defende a validade internacional do tratado, salvo quando a violao do direito interno manifesta e diga respeito a uma norma interna de importncia fundamental. A soluo da CV tambm garante uma maior segurana no relacionamento internacional e protege a boa f dos Estados contratantes.

Quando a ilegalidade interna na concluso do tratado seja manifesta compreende-se que o outro Estado no possa prevalecer-se dela. Uma violao manifesta se objectivamente evidente para qualquer Estado que proceda de acordo com a prtica habitual e de boa f (art. 46./2 CV)

O mesmo se ter de dizer quando estiver em causa uma disposio de importncia fundamental do Estado em questo.

A eficcia:

Entrada em vigor do tratado nos termos do art. 24. CV

Registo no Secretariado das Naes Unidas e publicao nos jornais oficiais das partes (art. 102. da CNU).

Celebrao das Convenes MultilateraisA elaborao do texto do tratado multilateral d-se quer numa Conferncia Internacional, convocada para esse efeito, quer numa Organizao Internacional, podendo ser aprovado por uma resoluo. A consequncia principal disso que o texto poder resultar no de um acordo unnime mas de uma votao maioritria, para a qual se exige a maioria de 2/3, daqui derivando o aparecimento de reservas (art. 9./2)

No h normalmente lugar a assinatura. Por isso se designa por adopo o acto pelo qual fixado o texto (art. 9. CV).

Assinatura diferida postergao da assinatura do Estado que participou na negociao para o momento em que a Conveno pode fica aberta assinatura de outros Estados que no participaram no processo negocial. Assinatura posterior.Art. 12. - expresso do consentimento em ficar vinculado pelo tratado.

Convenes abertas quando o tratado se encontra aberto a outros Estados que no participaram na sua negociao.Convenes semi-abertas quando o tratado est aberto a alguns do restantes Estados, segundo uma restrio geogrfica, econmica ou poltica.

Convenes fechadas o tratado no est aberto a Estados que no participariam na sua negociao.

Assinatura sob reserva de ratificao - o Estado promete ratificar se do ponto de vista interno lhe for permitido. As assinaturas definitivas ficam para mais tarde. Esta assinatura tem de ser confirmada pelo Estado respectivo. No se confunde com a ratificao.

Na adeso, outro modo pelo qual a participao de Estados num tratado multilateral pode ser feita, alm da assinatura diferida, o Estado no participou na negociao do tratado e exprime o seu consentimento definitivo quanto ao seu texto e vincula-se a ele (art. 11. e 15. CV).

Na adeso, o Estado no participou na negociao do tratado mas vem posteriormente produzir uma declarao unilateral de vinculao a este, afirmando que quer ser nele parte. Tem, portanto o mesmo alcance que a assinatura e a ratificao.

Tambm a adeso deve respeitar o direito constitucional do respectivo Estado. Se para a vinculao internacional do Estado a sua Constituio impe a prvia aprovao do tratado por qualquer rgo poltico, essa aprovao deve ser obtida antes da adeso.A adeso est sujeita a duas condies:

1. O tratado no pode ser um tratado fechado, isto , um tratado que no admite a participao de outros Estados alm dos que originariamente o assinaram.

2. Circunstncia de nenhum Estado ter o Direito de se tornar parte num tratado originariamente concludo por dois ou mais Estados. A sua participao nesse tratado depende exclusivamente da vontade das partes originrias no tratado ou tambm daqueles que lhe aderiram.

possvel serem celebrados Tratados de adeso.

Nos tratados multilaterais, as ratificaes quer dos Estados que participaram na negociao, quer dos que praticaram a assinatura diferida, bem como os instrumentos de adeso, no so trocados, mas depositados junto de uma entidade que escolhida como depositria depsito.

A prtica internacional escolher como depositrio o Governo do Estado em cujo territrio se realizou a conferncia de onde provm o Tratado.

Por regra, a entrada em vigor do tratado far-se- ento depender do depsito de um certo nmero de ratificaes, ou de ratificaes de certos Estados (art. 76., 77. e 78. CV).

A aceitao na celebrao de tratados multilaterais engloba quer a adeso quer a ratificao ou outra forma de participao que seja vlida segundo o direito constitucional dos Estados.A adeso, a aceitao, a ratificao e a aprovao, todas designam formas de consentimento de um Estado em ficar vinculado a um Tratado.

As reservasReserva declarao, feita por um Estado no momento da sua vinculao a uma conveno, da sua vontade de se eximir de certas obrigaes, dela resultantes ou de definir o entendimento que d a certas ou todas essas obrigaes.

Reserva s possvel em Tratados multilaterais.

Em que condies so admitidas reservas?

A CV distingue trs possibilidades:

Nos tratados com um nmero restrito de Estados, em que vale a regra da unanimidade (art. 20./2)

Nos tratados celebrados entre um grande nmero de Estados, as reservas s so admitidas quando compatveis com os fins do tratado. Considera-se que aceitaram a reserva, quando os restantes Estados a ela no se opuserem expressamente durante um perodo de 12 meses aps terem sido notificados da formulao. Quanto aos tratados que instituem Organizaes Internacionais caber aos rgos da prpria Organizao a deciso sobre a admissibilidade ou no de reservas.

Limites das reservasOs limites podem ser expressos (proibio de reservas pelo tratado ou autorizao de certas reservas) e tcitos (incompatibilidade da reserva com o objecto e fim do tratado) art. 19., a), b) e c) CV.

Limites materiais

H tratados que desde logo no consentem reservas: os de Direito Internacional Constitucional, como a Carta das Naes Unidas, o estatuto do TIJ e o ETPJ.

E h outros muito restritivos os respeitantes aos direitos do homem.

To-pouco seriam possveis reservas opostas ao jus cogens (art. 53.).

Limites Temporais

A reserva tem de ser formulada durante o processo de vinculao ao tratado e no depois, ou seja, no momento da assinatura, aceitao, ratificao, adeso ou aprovao do tratado (art. 19.) se o Estado nada disser h aceitao tcita. Limites Formais

Reserva tem de ser formulada por escrito e comunicada aos Estados contratantes e a outros Estados que tenham o direito de se tornar partes no Tratado (art. 23.).

A aceitao das reservas pode ser tcita (art. 20./5 CV).

Em face das reservas, a vinculao ao tratado pelos diversos Estados-partes recorta-se nos seguintes termos:

Para os Estados que no formularam reservas nem objectaram formulao de reservas cumprimento integral do tratado;

Para os Estados que formularam reservas e para os que as aceitaram as reservas modificam, quanto s disposies que delas so objecto, as relaes entre esses Estados (art. 21.);

Havendo Estados que objectaram s reservas relacionamento com os Estados que as formularam depende da atitude que aqueles assumirem

Objeco simples - pode ter simplesmente formulado as objeces (art. 21./3). O Estado formula uma objeco reserva, dizendo que no concorda com ela, mas isso no implica a entrada em vigor do tratado; na prtica tem o mesmo efeito que a aceitao da reserva (art. 20./4/b CV). As disposies sobre que incide a reserva no se aplicam entre os dois Estados.Objeco qualificada o Estado formula objeces reserva, o que implica a no aplicao na totalidade do tratado entre ele e o Estado que emitiu a reserva (art. 20./4 a contrario sensu); a ordem interna no lhe permite aceitar a reserva.As reservas podem ser revogadas a todo o tempo, sem que seja necessrio o consentimento do Estado que as tenha aceitado (art. 22.).

Tambm a objeco a uma reserva pode em qualquer momento ser revogada (art. 22./2), j no a aceitao.

Figuras afins das reservas:

Declaraes interpretativas posicionamento formal e unilateral de um Estado quanto ao sentido que confere a determinadas normas de um tratado por ele adoptado ou ao qual se vinculou. No modificam os efeitos jurdicos das normas do tratado.

Declaraes polticas

Clusulas opting out critrios de excluso da vinculao de um Estado a certas normas de um tratado, que no sendo aceites por todos os Estados-parte, tm efeitos idnticos aos das reservas, que esto inseridos no prprio Tratado.

Invalidade dos TratadosDesvalor jurdico traduzido na inaptido dos tratados portadores de vcios nos seus pressupostos (vontade e competncia do acto) e elementos (elementos intrnsecos, forma e contedo) para produzirem a totalidade dos efeitos jurdicos que tipicamente lhes corresponderiam.

CONDIES DE VALIDADE:

Vcios relativos capacidade dos sujeitos para celebrar a conveno

i. Incapacidade dos sujeitos de DIP para celebrar tratados. S os Estados soberanos so capazes no que toca celebrao de convenes internacionais.ii. Insusceptibilidade de qualificao de uma entidade como sujeito de DIP

Geram nulidade absoluta,

Vcios do consentimento da vontade

i. Expresso do consentimento com violao de parmetros de direito interno necessrio que os outorgantes respeitem o direito interno. A Constituio o parmetro necessrio de validade dos tratados celebrados (art. 46.). Perante uma conveno bilateral, o vcio, dentro dos requisitos impostos pelo art. 46., resultar numa nulidade. Se for numa conveno multilateral, apenas o Estado no qual se verificou o vcio ver a conveno desaplicada. O art. 277./1 da CRP prev a possibilidade da conveno ser originariamente inconstitucional em matria pouco importante e manter a vinculao.

ii. Desrespeito das restries fixadas aos plenipotencirios para vincular o Estado a um Tratado (art. 47.) desrespeito dos limites previstos no mandato. Existe uma necessidade de notificar os outros Estados contratantes do teor do mandato, como requisito para a relevncia jurdica da invocao do vcio no consentimento.

iii. Erro (art. 48.) consiste numa desconformidade entre o conhecimento e a vontade. O erro tem de ser essencial, tem de se tratar de um motivo essencial do consentimento do Estado; tem que ser um erro de facto, devendo ser ostensivo; tem de ser desculpvel, na medida em que o Estado que nele contribuiu no possa invoc-lo. Gera nulidade relativa.iv. Dolo (art. 49.) a inteno fraudulenta de induzir em erro as restantes partes. Tem que haver intencionalidade e conhecimento da ilicitude por parte do Estado que deu origem conduta dolosa, excluindo-se, assim a possibilidade deste invocar o vcio.v. Corrupo do representante do Estado (art. 50.) um acto deliberado de atribuio de uma vantagem significativa ao plenipotencirio de outro Estado, de forma a induzi-lo a vincular esse mesmo Estado ao tratado. Existe uma diferena entre benefcios com relevo significativo e actos de cortesia. Gera nulidade relativa.vi. Coaco sobre o representante do Estado (art. 51.) o uso da fora, a ameaa do uso da fora tendo em vista impelis o representante a vincular o respectivo Estado a um tratado. O essencial celebrao a vontade das partes, sem presso ilegtima.vii. Coaco sobre o Estado (art. 52.) o uso da fora ou ameaa do uso da fora sobre um Estado como forma de o compelir a vincular-se a um Tratado. A presso econmica no relevante (ex.: se o Estado interromper relaes comerciais).A ilicitude do objectoa) Tratados, moralidade e ordem pblica internacional

b) A consagrao do primado do direito imperativo jus cogens na CV. Estas normas so inviolveis. Refere-se normas atinentes a direitos fundamentais.

c) Tipos de ilicitude decorrentes da violao do direito imperativo Violao originria de direito imperativo (art. 53.) gera nulidade absoluta.

Violao superveniente de jus cogens (art. 64.) norma do jus cogens surge depois da celebrao do tratado. Nulidade da conveno e cessao da sua vigncia. B. Morais: actos anteriores mantm-se vlidos.

d) Violao de tratados de hierarquia superior previsto nas convenes de superior hierarquia. Lacuna da CV. Aplica-se regime da nulidade relativa ilicitude do objecto.

Tipos de nulidade e Invalidades mistas

I. Nulidade absoluta Fundamentos ilicitude do objecto, na sua vertente de violao originria do jus cogens; coaco.

Legitimidade para invocar qualquer membro da comunidade internacional poder invocar a nulidade, excepto o Estado que tenha contribudo para tal vcio.

Os efeitos da invalidade podem estender-se a todo o Tratado ou apenas a uma parte. O art. 44./5 prev a invalidade total da conveno no caso de nulidade absoluta.II. Nulidade relativa Fundamentos vcios no consentimento por violao de direito interno e de restries ao mandato do plenipotencirio; erro; dolo; corrupo e ilicitude do objecto quando no se trate de violao de direito cogente. Legitimidade para invocar a regra geral a da excluso da invocao do vcio por parte do Estado que tenha contribudo para a sua consecuo. Excepo art. 47..

Efeitos existem regras comuns e regras especficas para alguns vcios (art. 69.)III. Invalidade mista violao superveniente do direito imperativo Qualquer Estado pode invocar a nulidade e cessao de vigncia um problema de ordem pblica internacional. Efeitos a conveno cessa a vigncia a partir do momento em que emerge uma norma de direito imperativo. Se continuar a ser executada, entrar no domnio da nulidade com efeitos retroactivos invalidade total.

Modificao das convenes Implcita existe um tratado A com dada matria, mais tarde os mesmos Estados celebram novo tratado com a mesma matria, sendo incompatvel com o primeiro revogao tcita. Explcita art. 29. CV, um tratado posterior faz alterar ou revogar um tratado anterior. No que toca aos tratados multilaterais: quando os tratados so silentes quanto ao regime da sua alterao (art. 40.) os Estados no esto vinculados s alteraes, se j forem partes no Tratado e no participarem no acordo de modificao; acordos de modificao de tratados multilaterais, apenas nas relaes entre algumas das partes, s possveis se nos termos do art. 41..Cessao e suspenso da vigncia

Por vontade originria das partes

a) Clusulas expressas de caducidade uma conveno deixa de vigorar em virtude da ocorrncia de determinado facto ou preenchimento de dado prazo, previsto expressamente numa sua clusula. Estipulado pelas partes. Podem ser clusulas resolutrias com determinao do prazo de vigncia (mediante condio resolutiva).b) Clusulas implcitas de caducidade o tratado cessa a vigncia por execuo da obrigao.

c) Clusula de denncia ou recesso (arts. 55. e 56.) a denncia s lcita se for prevista pelo prprio tratado, pois reconduz-se vontade das partes. Quando no prevista pelo tratado, s ser lcita se as partes tiverem admitido a sua possibilidade e assim tiver sido estabelecido ou o direito de denunciar puder ser deduzido da natureza do tratado (art. 56./1). As partes devem notificar com pelo menos doze meses de antecedncia a sua inteno de proceder denncia ou ao recesso do tratado.H tratados que so insusceptveis de denncia, pela sua prpria natureza tratados de integrao e tratados que criam e modificam as Comunidades Europeias.

A denncia pode no acarretar a extino do tratado, se se tratar de tratado multilateral, que s deixa de vigorar quanto parte denunciante a ser no denncia mas recesso.Por vontade superveniente das partesAb-rogao do tratado, isto , a celebrao de um novo tratado que revogue expressa e implicitamente o tratado anterior. Pode ser tcita, se as partes celebram um novo tratado que regula a mesma matria por forma incompatvel com o primeiro. A vigncia do tratado anterior cessa por novatio, prevista no art. 59..

Ocorrncia de circunstncias no previstas na convenoi. Incumprimento substancial (art. 60. CV). Em situaes muito limitativas admite, ainda, no caso de violao do tratado por uma das partes, que qualquer outra invoque a inexecuo do tratado.

ii. Ruptura de relaes diplomticas (art. 63.) entre as partes contratantes no produz efeitos nas relaes jurdicas criadas pelo tratado.

iii. Conflito armado/guerra (rege-se por regras de direito costumeiro) tal circunstncia determina a caducidade dos tratados bilaterais entre beligerantes, excepto se o tratado prever a sua vigncia em tempo de guerra, ou daqueles que criem situaes territoriais objectivas (delimitao de fronteiras). Quanto aos tratados multilaterais, continuam a vigorar, embora a sua vigncia seja suspensa durante o conflito, renascendo aquando o seu termo.

iv. O costume revogatrio determinada conduta das partes pode levar criao de uma norma costumeira que leve derrogao ou revogao da conveno.v. Impossibilidade superveniente de execuo (art. 61.) previso de caducidade do tratado por impossibilidade superveniente do seu cumprimento.

vi. Alterao fundamental das circunstncias art. 62. - clusula rebus sic stantibus aceita-se que seja invocada, e para se pr fim a um tratado bilateral, para o recesso de um tratado multilateral ou, apenas, para a parte interessada suspender a vigncia do tratado (ns 1 e 3 do art. 62.). Limita-se a dois casos em tal invocao poder ser atendida: a alterao fundamental das circunstncias respeitar a um facto ou a uma situao que era a base essencial do consentimento das partes; a alterao fundamental gerar a transformao radical da natureza das obrigaes que resultam do tratado (art. 62./1).Exceptuam-se sempre os tratados de delimitao de fronteiras e as alteraes de circunstncias que as partes tenham previsto ou provocado regra de que ningum pode beneficiar da sua prpria actuao (art. 62./2).

O princpio geral da CV o de que a alterao das circunstncias no faz cessar a vigncia do tratado internacional (art. 62./1 CV). Dever rever-se o tratado por acordo das partes ou por via jurisdicional.

Relaes entre o DIP e ordem jurdica interna dos Estados

Concepes doutrinriasA. Dualismo

O Direito Internacional e o Direito Interno so mundos separados, dois sistemas com fundamentos e limites distintos. No existe comunicao directa e imediata entre ambos. Uma norma pertencente a um sistema no pode valer, como tal, no interior de outro sistema; no passa de mero facto para este. Quanto muito, o seu contedo poder aqui ser retomado, reproduzido ou transformado, surgindo uma nova norma. Exige-se a transformao de normas internacionais mediante actos jurdicos de direito interno, como pressuposto da sua aplicao nas ordens jurdicas dos Estados.B. Monismo

Afirma a unidade sistemtica das normas de Direito Internacional e das normas de direito interno, existindo uma comunicabilidade entre os dois ordenamentos.

Monismo com primado de direito interno acaba por reverter numa forma de negao do direito internacional, por se aproximar muito da orientao doutrinal (hoje completamente ultrapassada) que v o direito internacional como o direito estatal externo. Reconhece-se a existncia de um s universo jurdico, mas quem comanda esse universo jurdico o direito interno e, em ltimo termo, a vontade dos Estados. O fundamento da unidade do Direito Internacional encontrar-se-ia numa norma de Direito Interno.Monismo com primado de direito internacional reitera a necessria integrao das normas jurdico-internacionais e das normas jurdico-estatais num todo mais amplo. A unidade no pode resultar seno do prprio direito internacional ou da projeco dos seus princpios sobre o direito interno.

A tese do monismo com primado de direito internacional a regra.

C. Sistema misto

No existem sistemas puros. Em Portugal h um sistema monista com excepo das directivas comunitrias, implicando um dualismo parcial.

A relevncia do Direito Internacional na ordem constitucional portuguesa Sistema monista

A recepo automtica simples do direito internacional geral (art. 8./1 CRP) no necessrio acto jurdico de reconhecimento; inclui os princpios gerais de DIP e o costume internacional geral. A recepo automtica condicionada do direito convencional (art. 8./2 CRP) sujeio condio de validade da publicao oficial das convenes e condio de eficcia da regularidade do processo de vinculao de Portugal regularmente aprovadas ou ratificadas. O regime misto aplicvel ao direito derivado das organizaes internacionais (art. 8./3 e 4 e art. 112./8 CRP) no que toca s resolues normativas do Conselho de Segurana da ONU, aos regulamentos comunitrios e s decises comunitrias, verifica-se a sua recepo automtica (aplicabilidade e efeitos directos); no entanto, verifica-se para as directivas (art. 112./8) e decises-quadro da UE, o regime da transposio.Relaes de prevalncia entre o DIP e o Direito interno portugus:Direito internacional e Direito Constitucional:

Prof. J. Miranda jus cogens uma espcie de direito supremo que se sobrepe Constituio de qualquer Estado enquanto membro da comunidade internacional. Tem valor supraconstitucional.

Prof. F. de Quadros o prprio Direito Comunitrio prevalece sobre as Constituies estatais.

Declarao Universal dos Direitos do Homem recebida automaticamente sobre a CRP (art. 16./2 da mesma) CRP transpem-na como norma constitucional, que vincula o Estado Portugus. Prof. J. Miranda defende que perante o desrespeito de um direito fundamental prevalece a interpretao da Declarao face interpretao da CRP. O Prof. B. de Morais afirma que a Declarao Universal consiste numa norma constitucional, no prevalecendo sobre a CRP.

Refutao da tese da prevalncia do direito imperativo sobre a Constituio todo o DIP se encontra subordinado CRP, o que tambm extensvel ao costume. Assim, permite-se a fiscalizao de normas de DIP. Um juiz pode basear a sua deciso numa norma consuetudinria, logo, pode haver fiscalizao do costume.

Refutao da tese da prevalncia absoluta do direito europeu sobre a Constituio Prof. Fausto de Quadros defende que existe uma prevalncia absoluta do direito europeu sobre a CRP, posio que negada pelo Prof. J. Miranda.

O direito comunitrio originrio Tratados institutivos aplica-se na ordem interna e prevalecem sobre as normas ordinrias internas.

O direito comunitrio derivado regulamentos, directivas (normas-resultado), decises-quadro no prevalecem sobre a CRP.

Prof. Blanco de Morais: diz que um ramo de Direito no se extingue por desrespeito das suas normas. As contradies entre o Direito europeu e o Direito interno so raras, alm de que existem sanes para o seu desrespeito, logo o desacatamento por coliso com a CRP no pe em causa a sua subsistncia.

UE uma realidade institucional e no primria, existe porque os Estados o quiseram.

O direito comunitrio derivado inferior Constituio. Todos os tratados so objecto de fiscalizao (art. 278. e 279.), logo os tratados da UE tambm podem ser. O direito comunitrio derivado pode ser fiscalizado por ser hierarquicamente inferior aos tratados.

A celebrao de convenes internacionais no Estado portugusConvenes so quaisquer tratados (ou tratados abrangidos pela CV).

Tratados so os tratados solenes, submetidos a ratificao.

Acordos internacionais so os acordos sob forma simplificada, apenas carecidos de aprovao e no de ratificao. Na ordem constitucional portuguesa, a simples assinatura no vincula o Estado, apenas uma autenticao.

Na ordem constitucional portuguesa sempre necessria a interveno do Presidente da Repblica, seja na ratificao de tratados solenes (art. 135./b), seja na assinatura dos decretos ou resolues de aprovao (art. 134./b CRP).

Fase negocial reserva de competncia do Governo (art. 197./1/b CRP) e no da AR ou do PR. Ao Ministrio dos Negcios Estrangeiros compete a conduo das negociaes internacionais e a responsabilidade pelos procedimentos que visem a vinculao internacional do Estado. No que toca rubrica ou assinatura do texto final, esta compete ao Conselho de Ministros, entendendo-se esta competncia delegada no Primeiro-Ministro.Fase instrutria a eventual participao das regies autnomas (art. 227./1/t) se se tratar de matria que lhes diga respeito. Se o representante da regio no estiver presente, h violao constitucionalmente formal.Fase constitutiva

Os Tratados

a) Reserva necessria de tratado e reserva eventual de tratado (art. 161./i CRP) competncia da AR para aprovar Tratados. Os acordos sob forma simplificada sobre matrias de competncia reservada da AR (art. 164. e 165.) tambm so aprovados por esta.

Aprovao pela AR competncia reservada: todos os tratados e matrias necessariamente da sua competncia.Maioria de aprovao regra geral maioria relativa; matrias sobre leis orgnicas maioria absoluta;

Legislao aprovada por maioria de 2/3: art. 168./6.

b) Ratificao um acto livre levado a cabo pelo PR, que pode ratificar ou no os tratados internacionais (art. 135./b). A ratificao a expresso da vinculao feita pelo Chefe de Estado, sendo assim, um acto livre. Pe termo ao processo de concluso do tratado o PR no pode fazer reservas. A ratificao s no ser um acto livre quando tenha havido referendo (art. 242. da Lei 15-A/98). O PR no pode recusar a ratificao na parte correspondente resposta favorvel a tratado resultante de referendo.A referenda ministerial que se ape ratificao (art. 140. CRP) necessria e obrigatria.

Os acordos internacionaisi. Aprovao a competncia repartida pela AR e pelo Governo: arts. 161./i, 197./1/c CRP. Depender da natureza reservada ou concorrencial da matria em questo. Se for de matria reservada da AR, ser esta a aprovar, se se tratar de matria concorrencial, tanto um como outro podem aprovar (art. 161./i/in fine).

ii. Assinatura art. 134./b CRP pelo PR. Os Profs. Gonalves Pereira e Fausto de Quadros defendem que a assinatura um acto vinculado, pelo que o PR no se poderia opor.

O Prof. Blanco de Morais entende que a assinatura um acto livre do PR, sendo condio de existncia jurdica interna do acordo internacional: na falta desta temos uma invalidade jurdica na ordem interna, que poder ou no afectar a sua validade externa.

Fase de eficcia interna (art. 119./1/b CRP)A previso da publicao a sua violao d azo a ineficcia jurdica, o que no afecta a vinculao na ordem jurdica internacional.

Sem publicao o Estado no se encontra vinculado.

Diferenas de mbito material e de regime jurdico entre Tratados e Acordos Internacionais:

Se face do Direito Internacional, indiferente a distino, em contrapartida, o Direito Interno pode impor, atravs da CRP, a forma do tratado solene, assim como excluir o acordo sob forma simplificada.

O ponto de partida na nossa CRP encontra-se no art. 161./i CRP. Com este preceito, a conjugar com o art. 197./1/c, relativo ao Governo, visa-se assegurar a interveno da AR nas convenes que assumem maior relevncia na vida do pas.

Assim, as matrias indicadas na primeira parte do art. 161./i e as correspondentes aos arts. 161., 164. e 165. integram uma reserva absoluta de aprovao parlamentar de convenes internacionais. E, desde logo, as primeiras tm de ser objecto de tratado.

Contrariar-se-ia o escopo da CRP admitir que, para alm daquela primeira parte, o Governo pudesse optar livremente pela forma de tratado ou acordo. Se o Governo tivesse esse poder, a alnea i) do art. 161. degradar-se-ia, tornando-se uma espcie de norma em branco: por um lado AR compete aprovar todos os Tratados; por outro, ficaria na disponibilidade do Governo estabelecer, caso a caso, quais as convenes que lhe competiria aprovar.

Quais so, afinal as matrias objecto de Tratado, segundo a CRP?i. As matrias referidas no art. 161.

ii. As matrias contempladas em preceitos avulsos de reserva de conveno cidadania, exerccio em comum de poderes necessrios integrao europeia, Tribunal Penal Internacional, previso de novos direitos fundamentais, extradio, funes do Banco de Portugal.

iii. Matrias que envolvam deciso poltica relevante ou primria ou um domnio sensvel matrias de direitos fundamentais, que alteram a ordem da vida social.

Quando s matrias de reserva de competncia legislativa:

Art. 161./i garante-se sempre a interveno da AR. No entanto, mesmo aqui no deixa de fazer sentido distinguir entre tratado e acordo; quando estejam em causa opes polticas primrias, quando a nvel interno tenha de haver uma deciso legislativa, deve preferir-se a forma de tratado. Arts. 4., 7./6, 15./3, 33./3 e 4 e 273./2 reas em que no se concebe que o Estado se vincule internacionalmente sem a participao decisria da AR e do Presidente da Repblica, ainda que algumas destas matrias sejam de competncia concorrencial. Para que a AR mantenha uma prerrogativa de deciso fundamental em quaisquer domnios, necessrio que, mesmo que no lhe sejam esses domnios reservados a nvel de competncia legislativa, eles lhe sejam reservados a nvel de tratado (ainda que a quem caiba a iniciativa de celebrao de tratados seja ao Governo)

A questo do modo e do procedimento da vinculao do Estado no contexto das relaes entre os rgos de soberania um problema de direito interno.

A atribuio AR do poder de aprovar acordos em forma simplificada representou uma medida cautelar de defesa da sua competncia de aprovao de tratados. No tm de coincidir as competncias na ordem interna e na ordem internacional. A aprovao de tratados e acordos uma faculdade poltica e de fiscalizao e AR cometido um poder de apreciao dos actos do Governo e da Administrao (art. 162./a).

A fiscalizao da constitucionalidade do Direito Internacional na ordem interna portuguesa:A fiscalizao preventiva da constitucionalidade (art. 278./1)

Os tratados e acordos internacionais so passveis de fiscalizao preventiva da constitucionalidade pelo Tribunal Constitucional, a requerimento do PR, antes da ratificao no caso de tratado e antes da assinatura dos correspondentes actos de aprovao no caso de acordos sob forma simplificada.No faz sentido submeter os tratados aprovados por referendo a fiscalizao preventiva.

A CRP no prev o expurgo da norma considerada inconstitucional constante de tratado ou acordo internacional. Resta AR ou ao Governo uma possibilidade: aprovar a conveno de novo e introduzir-lhe reservas. o que consente o Regimento da AR (art. 214./1). Nada obsta a que o PR neste caso requeira de novo a apreciao preventiva (art. 214./2).

O Parlamento poder em segunda deliberao, aprovar por maioria de dois teros dos Deputados presentes, desde que superior maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funes, um Tratado de que constem normas objecto de pronncia de inconstitucionalidade. O PR poder ou no ratific-lo (art. 279./2).A fiscalizao abstracta sucessiva (art. 281./1/e e art. 277./2)

Pressupostos do desvalor de irregularidade de tratados inconstitucionais:

A conveno tem que ser regularmente ratificada s se aplica aos tratados.

Os vcios em causa devem ser formais ou orgnicos, de forma ou de competncia.

A disposio viciada no pode recair sobre preceitos fundamentais. Ex..: o vcio s pode ser leve Governo aprovar conveno sem autorizao, tratando-se de reserva relativa da AR, trata-se de um vcio formal. Princpio da reciprocidade o efeito tem de se reproduzir nas duas ordens jurdicas (art. 277./2).

Defesa da extenso do regime da irregularidade aos acordos internacionais o Prof. B. de Morais defende que o regime da irregularidade deve ser aplicado no s aos tratados mas tambm aos acordos.

O controlo concreto (art. 280.)

Qualquer norma da ordem jurdica interna pode ser alvo de controlo concreto. O art. 8./2 da CRP dispe que, em caso de conflito entre duas normas, prevalecem os tratados internacionais sobre as leis ordinrias internas.

Ver art. 70./1/i) da Lei do TC.

Os sujeitos de DIPSujeito de DIP todo o ente que seja titular de direitos e destinatrio de obrigaes fixadas por normas de DIP.

Personalidade e capacidade internacional Na personalidade, ao sujeito reconhecida a titularidade de direitos e obrigaes. Ex.: o Estado com direitos de soberania.Capacidade a faculdade dos sujeitos de praticar actos com efeitos jurdicos no mbito do DIP medida de direitos que um sujeito pode ter (capacidade de gozo) ou que pode exercer, livre e directamente (capacidade de exerccio).

Na ordem internacional o Estado soberano que beneficia de uma capacidade genrica, podendo ser titular de direitos que essa ordem venha a prever, e todos os demais sujeitos se encontram submetidos a uma regra de especialidade ou de limitao. capacidade segue-se a responsabilidade, a sujeio s consequncias negativas desses actos quando ilcitos ou lesivos de direitos e interesses internacionalmente protegidos.

Os diferentes nveis de capacidade dos sujeitos de DIP Capacidade plena - sujeitos que gozam de todos os direitos de participao previstos em normas jurdico-internacionais jus tractum (poder de celebrar tratados), jus legationis (poder de criar representaes diplomticas) e jus bellum (poder de exercer o direito de legtima defesa). Capacidade limitada no goza de todos os direitos de participao previstos.

Tipologia dos sujeitos em razo do critrio da capacidade:

Estado soberano tem capacidade plena. No entanto, h um conjunto de limitaes ao alcance da soberania: organizaes internacionais de carcter supranacional associaes de Estados que delegam na organizao poderes de soberania autolimitaao da soberania. O carcter pleno de um Estado est sujeito a alguma variabilidade, depende do Estado.

Organizaes internacionais e outras associaes de Estados investidas, em razo dos seus tratados constitutivos, de capacidade plena, como a NATO, e a UE. Os sujeitos com capacidade limitada organizaes internacionais que em razo dos seus tratados constitutivos no estejam investidas de capacidade plena.

Estados de soberania diminuda, protectorados de Direito Internacional e Estados exguos. Protectorados exerccio de certo tipo de poderes depende da autorizao ou homologao. Relao de subordinao.

Estados exguos dimenso muito pequena que depende de outros Estados para exerccio da carta de faculdades. So Estados que no tm recursos para assegurar a sua defesa e representao diplomtica. Ex.: Mnaco.

Beligerantes e insurrectos Beligerantes movimento rebelde que pe em causa o poder poltico do Estado, desencadeando uma revolta armada com sucesso relativo que permita dominar parte do territrio. Pode ser reconhecido como sujeito de DIP por outros Estados ou pelo poder.

Insurrectos pressupem o reconhecimento, mas sem consequncias jurdicas. A partir dos anos 90, na Amrica do Sul, chegou-se concluso de que os movimentos insurrectos poderiam celebrar tratados, pelo que seriam sujeitos de DIP.

Governos no exlio so governos legtimos de um Estado que, em funo de invaso estrangeira, so obrigados a refugiar-se noutro pas. So sujeitos com capacidade plena.

Movimento de libertao nacional - age em nome de uma nao ou de um povo que pretende erigir um Estado. A despeito da proclamao do princpio das nacionalidades ou do da autodeterminao, tal no implica a atribuio de personalidade jurdica aos povos no autnomos ou dependentes. Tm capacidade para celebrar tratados subordinados ao objecto do movimento libertao, mas com a independncia, tais acordos perdem o seu objecto pelo que deixam de vigorar.

O indivduo para que exista personalidade internacional do indivduo tem de haver ainda a possibilidade de uma relao com outros sujeitos de DIP, nomeadamente com as organizaes internacionais.Justificao da subjectividade internacional do indivduo:

Quando membro de uma minoria nacional, tnica, religiosa ou de povo no autnomo a que seja conferido direito de petio perante qualquer organizao internacional (art. 87./b CNU). Quando cidado de Estado que possa dirigir-se a rgo internacional invocando violao ou leso de um seu direito por esse mesmo Estado.

Quando cidado de qualquer dos Estados das Comunidades e da UE e enquanto titular do direito de petio perante rgos comunitrios e de direito de queixa perante o Provedor de Justia Europeu relativamente a aces e omisses daqueles rgos (arts. 21., 194. e 195. TCE).

Quando titular de um rgo de organizao internacional. Quando rbitro ou membro de um tribunal arbitral internacional.

Quando funcionrio internacional.

Quando arguido de crimes sujeitos jurisdio de tribunais internacionais.Pressupostos da subjectivizao internacional do indivduo:

O indivduo tem direito de petio: capacidade de requerer a rgos internacionais a tutela dos seus direitos;

O indivduo tem responsabilidade criminal internacional;

Enquanto titular de um rgo de organizao internacional, representante de um Estado, juiz, rbitro ou membro de tribunal arbitral internacional e funcionrio internacional.

garantido o direito autodeterminao dos povos, proteco de minorias; proteco internacional dos Direitos do Homem; Proteco internacional dos Direitos do Homem a nvel regional: Conveno Europeia dos Direitos do Homem 1950 os Direitos j existem antes dos Estados aderirem ao Tratado; a Conveno tem efeito directo na ordem interna; Portugal aderiu em 1978 e fez 8 reservas, duas das quais ainda subsistem: pr