DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

Embed Size (px)

Citation preview

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    1/641UNI DADE I . INTRODUO AO DIREITO INTERNACIONAL PBL ICO

    DIREITO INTERNACIONAL PBLICO

    Prof. Luiz Albuquerque

    2014

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    2/642

    PARTE GERALTTULO I

    NOES FUNDAMENTAIS DE DIREITOINTERNACIONAL

    UNIDADE 1

    INTRODUO AODIREITO INTERNACIONAL PBLICO

    Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    3/64

    1 CONTEXTUALIZAODODIREITOINTERNACIONALDENTRODODIREITO

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    4/64

    Para o direito, existe um ns

    composto por aqueles que fazemparte de uma sociedadesubmetida a um Estado.

    Mas, para se compreender oDireito Internacional precisoprimeiro lembrar que: Nsnoestamos sozinhos no mundo.

    Alm da sociedade juridicamenteorganizada dentro de um Estado, existe uma

    outra sociedade:

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    5/64

    Ns no estamos inseridos apenas nasociedade contida na dimenso interna de umEstado. Existe uma outra sociedade para alm

    do nosso Estado: A sociedade internacional

    A Sociedade Internacional

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    6/64

    6

    A sociedade internacional

    formada no apenas pelainteraoentreindivduos, empresas einstituies oriundas de

    diferentes pases. Elatambm formada pelascomplexas relaes entreos Estados, atravs dosgovernosque representamesses indivduos e essasinstituies.

    A sociedade internacional formada por diferentestipos de interaes entre pessoas

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    7/64

    Luiz Albuquerque 7

    H uma sociedade internacional formada pela interao dediversas sociedades nacionais, cada uma organizada atravs do seuEstado.

    Os Estados, pela sua prpria natureza, representam as mltiplas

    diversidadesque eles tm, cada um, em sua sociedade interna. Mas,quando os Estados se relacionam na sociedade internacional, por maisdiversificados que sejam os interesses dentro daquela sociedade nacional,ser necessrio que o Estado se relacione com os demais Estados na

    qualidade de indivduo.

    A sociedade internacional composta por diversassociedades nacionais. Na sociedade internacional, um

    Estado apenas mais um membro da sociedade.

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    8/64

    Ubi Societas, Ibi Jus.O direito o resultado doprocesso de interao dossujeitos na sociedade. Nesse

    sentido, o direito reflete essasociedade.Onde houver uma sociedade,

    haver a necessidade do direito.Se houver uma sociedade

    internacional, ento dever haverum direito que regule as relaes

    entre seus membros.

    Onde houver uma sociedade (ainda que internacional),haver a necessidade de um direito(internacional)

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    9/64

    Para uma sociedadecomo a sociedadeinternacional ...

    O direito internacional estpara o direito, como a

    sociedade internacional estpara a sociedade nacional.Esperar o contrrio seria

    ingnuo.

    Luiz Albuquerque 9

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    10/64

    ... um direitocomo o direitointernacional.

    Luiz Albuquerque 10

    Por isso, parece intil, apostura (comum entre jovensestudiosos) de querer cobrardo direito internacional algoque a sociedade internacional

    no permite que ele seja

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    11/64

    Quando falamos desta sociedade

    internacional, ento temos que o direito que produzido neste mbito de relacionamento social chamado de:

    - direito internacional,- direto das gentes- international law,

    - law of nations,- droit international,- derecho international,

    - Vlkerrecht.

    O direito da sociedade internacional

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    12/64

    12

    Trata-se de uma sociedade mais rstica, menosdesenvolvida, mas, nem por isso, deixa de ser umasociedade.

    Por isso, o relacionamento entre diversos Estados ,do ponto de vista da sua organizao poltica ejurdica, bem mais complicado do que o

    relacionamento entre pessoas dentro de um s Estado.

    A sociedade internacional diferente da sociedadenacional. Ela mais complexa e menos sofisticada.

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    13/64

    Luiz Albuquerque 13

    Consequentemente, o nvel de sofisticao destasociedade internacional ser menor. Ou seja, ograude desenvolvimento civilizatrio da sociedadeinternacional muito menor do que aquele que

    sociedade estatal experimenta.

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    14/64

    Comparando diferentesramos do Direito no que serefere ao seu grau dedesenvolvimento tcnico,alguns civilistas dizem queo Direito Privadoseria

    uma espaonave, enquantoo Direito Pblicoseriauma carroa.

    Nesta linha, como estariao Direito Internacional??

    E por que?

    14Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    15/64

    Quando se estuda o direito internacional no mesmo contexto em quese estuda outras disciplinas de direito, fundamental no perder de vista

    o fato de que cada direito reflete uma determinada sociedade.Portanto, diferentes sociedades desenvolvero diferentes tipos dedireito.

    Uma sociedade sofisticada ter um direito sofisticado e,naturalmente, uma sociedade primitivacomo o caso da sociedadeinternacionalter uma organizao jurdica primitiva.

    Sociedade rstica = Direito rstico

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    16/64

    Diversamente do que ocorre em relao aos estados de direitocontemporneos, e no mbito interno de considervel parte destesnosquais se respeitam os assim chamados direitos fundamentais, garantias

    individuais, direitos polticos e direitos sociais

    nas relaesentreosestados, no mbito internacional, pode-se dizer, comparavelmentefalando, estarmos em poca em torno do ano 500 a.D. na altura econtexto em que o ento homo lber comear o percurso de cerca demil anos, at atingir a condio do cidado nos estados de bemestar

    social.(ACCIOLY: 2009, p. 755) 16Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    17/64

    Para entender a razo desta diferena, preciso analisar as diferenasentreuma sociedade de pessoas e uma sociedade de entidades soberanas

    17Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    18/64

    SISTEMA INTERNACIONAL

    A igualdade soberanasignifica que um Estado no

    pode ser formalmente subordinado a outroEstado, resultando em uma sociedade horizontal.

    SISTEMA ESTATAL

    Poder:Normativo,Econmico,

    Jurisdicional ,Coercitivo

    ESTADO DOS

    ESTADOS

    No plano externo, a soberaniaimplica naindependncia, i.e. no h subordinao (a pri ori) deum Estado a qualquer entidade superior.

    No plano interno a soberaniaimplica nasupremacia, i.e. na subordinao dos sujeitos

    ao Estado, resultando em uma sociedadevertical.

    ESTADO

    Sujeito1 Sujeito 2 Sujeito 3

    O Estado e sua Soberania sob a perspectiva interna e externa.

    E1 E2 E3 E4 E5

    18Luiz Albuquerque

    SISTEMA INTERNACIONAL SISTEMA ESTATAL

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    19/64

    19

    SISTEMA INTERNACIONAL

    Baseado na IgualdadeSoberana;

    Estado no reconhece qualquer

    autoridade superior que lhe definaobrigaes, direitos e competncias;

    Estados se relacionam

    juridicamente no mesmo plano,

    criando, atravs de negociaesvoluntrias, as normas (tratados)que vo reger as relaes entre eles;

    Por isso a sociedade internacional

    descentralizada e horizontalorganizada na idia de cooperao;

    Sistema coercitivo fraco; eficcia

    muito dependente de fatorespolticos

    SISTEMA ESTATAL

    Baseado na supremaciadoEstado;

    Sociedade elege governo que

    administra o Estado e impe suajurisdioaos cidados,instituies;

    Relao entre Estado, como

    agente normativo, e cidados, comodestinatrios das normas, vertical;

    Sistema centralizado,estruturado na idia de

    subordinao;Sistema coercitivoforte com oaparato estatal que garante ocumprimento das normas;

    Tradio positivista, legalista no

    estudo do direito;Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    20/64

    Mas ateno: NADA impede que os Estados criem,por sua prpria vontade soberana, uma instituio

    internacionaldotada de poderes e competncias.

    Ainda assim, seria uma relao horizontalmarcadapela especializao de competnciase no por uma

    su erioridade hierr uica.

    E1

    E3

    E2

    E4

    OrganizaoInternacional

    dotada de poderesoriundos dos

    Estados

    20Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    21/64

    2 DEBATESOBREAJURIDICIDADEDODIREITOINTERNACIONAL

    Mas, afinal, o direito internacional

    direito, mesmo?

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    22/64

    2.1 O Ceticismo quanto juridicidadedo direito internacional

    22Luiz Albuquerque

    Ento, voc acredita em direito

    internacional??

    Conte-me como voc pretende fazer o

    Obama acreditar tambm.

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    23/64

    Muitos estudiosos de Relaes Internacionais, CinciasPolticas, Jornalismo e mesmo do Direito resistem a acreditarque direito internacional possa ser considerado, realmente,como um ramo do direito.

    Haveria por partes deles um preconceito com relao aos

    jus-internacionalistas como se fosse ingnuo e incultoacreditar que aquilo que ns chamamos direitointernacionalse enquadrasse dentro do que eles chamariam genericamentede direito. Seria, na opinio destes crticos, uma cortesia

    diplomtica, um arranjo polticoou, no mximo um soft law.23Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    24/64

    Muitos estudantes de Direitoreagem com uma certa indulgncia

    quando encontram o termo direito

    internacional,como se dissessem:

    24

    Bem, ns sabemos queno realmentedireito, mastambm sabemos que os

    advogados e professores dedireito internacional tminteresse profissional emcham-lo de direito...

    Luiz Albuquerque

    2.1.1 Introduo de DAmato ao DIP:

    Indulgnciados alunos para com o professor

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    25/64

    ... Ou eles podem

    concordar em

    conversar sobredireito internacional

    como se fossedireito, uma espcie

    de quasi-direito...

    25Luiz Albuquerque

    Sacou?!

    M d d d i t di it di l

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    26/64

    Mas no pode ser verdadeiramente direito, dizem eles, porqueno se pode garantir a sua execuo compulsor iamente (i.e.o seu cumprimento atravs de uma ao institucional ou de

    uso ou ameaa de sano [it cannot be enforced]) : como sepoderia forar todo um Estado a cumprir uma norma,especialmente se for uma superpotncia como os Estados

    Unidos ou a Unio Sovitica? (traduo nossa) (DAMATO in

    SIMPSON: 2001, p. 137)

    26Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    27/64

    27Luiz Albuquerque

    2.1.1 .1 A crtica da experincia pessoal

    A maioria dos

    estudantes de Direito notrabalham diretamentecom o direito

    internacional; O nico contato que osestudantes geralmente tem

    o direito internacional pela mdia;

    Neste assunto, a viso doestudante de direito, em

    geral, to desinformadaquanto a viso do leigo nosestudos jurdicos.

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    28/64

    Anedota da conversa entre oestatstico e o jornalista na fazenda.

    Luiz Albuquerque 28

    P l i d di it l i d di it

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    29/64

    29Luiz Albuquerque

    Pelo que eu sei do direito e pelo que eu sei do direito

    internacional, o direito internacional no me parece direito

    ?

    Estes tipos de opinio so bastante

    compreensveis tendo em vista que aaior parte dos exemplos demanifestaes do direto a que asessoas esto diariamente submetidas,

    como constitucional, civil ou direito

    enal, apresentam caractersticas umanto diferentes daquilo que elas

    enxergam como sendo o direitonternacional.

    O que o estudante de direito conheceuempiricamente como sendo direitoorma um parmetro de anlise pela qual

    ele tem a sensao de que o direito

    nternacional no seria direito.

    Abordagem jornalstica no-especial izada

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    30/64

    30Luiz Albuquerque

    Abordagem jornalstica no-especial izada insuf iciente para embasar estudo do direito

    internacional em nvel universitrio.

    O tipo de anlise que feito pela mdia segue umalgica prpria do jornalismo, com recursos, mtodose objetivos que so muito diferentes daquelesutilizados pelos operadores do direito internacional

    ou pelos acadmicos;2 1 1 2 A crtica mi l i tar :

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    31/64

    Eduardo Prado, autor de A IlusoAmericana, obra publicada em 1893,

    ressaltou que "no se leva a srio o direito internacional, exceto entreas potncias cujas foras se equilibram. E como o nico direito queno prescreve o da fora os juristas universalmente reconhecidos soArmstrong, Bange e Krupp,i. e., os grandes fabricantes de armamentos

    nos fins do sculo XIX.

    31Luiz Albuquerque

    2.1.1.2 A crtica mi l i tar :O dip visto como o direito da fora

    2 1 1 3 A crtica poltica:

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    32/64

    32Luiz Albuquerque

    2.1.1.3 A crtica poltica:O DIP visto como mero arranjo poltico

    Um tipo de crtica comum o que sustenta que o direito internacionalno seria direito porque ele seria (meramente) o resultado de umacordo diplomtico condicionado pela assimetria no poder de barganhadas partes.

    Esta crtica parece ser inconsistente na medida em que ignora o fato de

    que tambm o direito interno o resultado de um processo polticocondicionado pela assimetria no poder de barganha das partes

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    33/64

    Este tipo de ceticismo temsua origem histrica associada

    tradio do pensamento deautores como Hobbes eSpinosa, Lasson, Lundstedt,

    Aron, Morguenthau, Austin eBinder (DINH, DAILLER,PELLET: 1992, pp. 78-79)

    33Luiz Albuquerque

    2.1.2 Fundamentos tericos do ceticismo

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Thomas_Hobbes_%28portrait%29.jpg
  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    34/64

    Luiz Albuquerque 34

    O jurista ingls John Austin (1790-1859)desenvolveu uma teoria do direito segundo aqual o direito consistiria em comandos

    (ordens, expresses de vontade), oriundos deuma autoridade superior direcionados a umsubordinado, aos quais estariam vinculadas

    sanes no caso de descumprimento.

    2.1.2.1 A crtica austiniana

    P A ti

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    35/64

    Para Austin,direito internacional no

    poderia ser considerado direito Para Austin, como o direito internacionalrege a relao entre Estados (igualmente)soberanos, ele no poderia ser

    considerado direito positivo porque noresultaria do comando de um soberanosobre seus subordinados, assim como

    porque naquela poca o direito

    internacional no contava com um sistemacoercitivo considervel.

    Luiz Albuquerque 35

    Ento, o direito internacional, na sua opinio no poderiaser propriamente considerado como direito, mas , to

    somente como uma ordem moral.

    2 1 2 2 A

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    36/64

    2.1.2.2 AINCOMPATIBILIDADE

    CONCEITUALENTREANOOAUSTINIANA

    DEDIREITOEOPRINCPIODA

    SOBERANIANA

    FORMAODODIREITONASOCIEDADE

    INTERNACIONALLuiz Albuquerque 36

    O maior problema/diferena do DIP residiria na ausnciade um

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    37/64

    37

    O maior problema/diferena do DIP residiria na de umLeviat na Sociedade Internacional. Ou seja, uma fora (estatal)

    central e superior capaz de impor o cumprimento do direito atravsde sanes. Sem isso, a sociedade internacional seria anrquica

    (de acordo com a TRI) ou apenas descentralizada (DIP)

    Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    38/64

    Destas premissas conclui-seque a existncia do direitointernacional est[r ia]condicionada pela de umaorganizao SUPERESTATALda sociedade internacional .Ora, uma tal organizao inteiramente incompatvel comasoberania do Estado. Nopodem existi r e, de fato, noexistem na sociedadeinternacional [ [ a priori ] ] , nemlegislador, nem juiz, nempolcia. F al tando esta tradenecessria, o direitointernacional seriasimplesmente um mito.(DINH, DAILLER, PELLET:

    1992, p. 77)38Luiz Albuquerque

    2 3 A S

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    39/64

    2.3 KELSENE A SANONABASEDOCONCEITODEDIREITO

    39Luiz Albuquerque

    2 3 1 A S i di i

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    40/64

    2.3.1 A Sano caracter iza o direito Entendendo o Direito como ordem normativa de

    coao, Kelsen repudiou a possibilidade da existncia, sempreafirmada pela doutrina, de obrigaes jurdicas sem sano

    para o seu descumprimento, de dever jurdico sem coao.Assim se expressa o autor:

    por isso, de rejeitar uma definio do direito que no odetermine como ordem de coao, especialmente porque satravs do elemento coao no conceito do direito estepode ser distintamente separado de toda outra ordem

    social, e porque, como elemento de coao, se toma porcritrio um fator sumamente significativo para conhecimentodas relaes sociais e altamente caracterstico da ordem sociala que chamamos de direito(KELSEN apudAFONSO: 1997,

    p. 5)40Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    41/64

    2.3.2 Kelsen se pergunta se haver iasano no Direi to I nternacional

    Estabelece o Direito Internacional atos coercitivos(aes de imposio de sanes) como consequnciaestabelecida pelo direito Internacional para certa

    conduta de Estados?Ou, em outros termos: O Direito Internacionaldetermina certa conduta dos Estados comocondio para a aplicao de determinadas aesde coero, fazendo assim dessa conduta um delitointernacional e tendo as aes de coero o carter de

    sano ?(KELSEN: 2010, p. 51-52)41Luiz Albuquerque

    Para Kelsen h sim sanes no

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    42/64

    Para Kelsen h, sim, sanes noDireito Internacional

    No h, portanto, nada que nos impea de chamar as

    represliasde sanesde Direito Internacional, poisretaliaes so reaes a violaes do DireitoInternacional, isto aos delitos internacionais. ODireito Internacional geral confere a cada Estado o

    poder jurdico de tomar determinadas medidascoercitivasque tm o carter de represlia [...]

    O Estado que, autorizado pelo Direito Internacional,recorrer a retaliaes*, pode ser considerado um rgo

    da comunidade internacional constitudo por DireitoInternacional. A ao coercitiva, na condio de aodessa comunidade, reao violao de DireitoInternacional (KELSEN: 2010, p. 54-55)

    * A definio usual de retaliao a seguinte: so atos queapesar de, normalmente, ilegaisso excepcionalmente

    permitidos como reao de um Estado violao de seus direitos por outro. (KELSEN: 2010, p. 53) 42Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    43/64

    2.3.4 Exemplos de Sanes em DireitoI nternacional poster iores a Kelsen

    Sanes comerciais na OMC e no Mercosul;

    Suspenso de financiamentos, ajudahumanitria, assistencia tcnica, etc.;

    Congelamento de bens, confisco depropriedade,

    Bloqueio de comunicaes, comrcio, e trnsito

    Suspenso ou expulso de organizaesinternacionais como a OEA;

    Uso da fora pelo Conselho de Segurana;43Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    44/64

    2.3.5 Dif iculdades no Sistema Coercitivoda Sociedade I nternacional

    H vrios tipos de sanes no Direito Internacional.

    Contudo, preciso reconhecer que a aplicao ou aeficcia destas sanes, muitas vezes, dependem defatores no jurdicos, como:

    Conjunturas polticas,

    Situao econmica e

    Capacidade militar.

    A fragilidadedo sistema coercitivo no faz com queo Direito Internacional deixe de ser um sistema

    jurdico.44Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    45/64

    3 ESPCIESDIFERENTESDOMESMOGNERO:O direito internacional como subdiviso do direito

    DIREITO

    Direito Civil Direito Penal Direito do Trabalho Direito Processual

    Direito Humanos Direito Ambiental Direito Previdencirio Direito Internacional

    45Luiz Albuquerque

    direito interno e

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    46/64

    direitointerno edireitointernacional

    Na bela sntese transcrita do clssico do Direito Internacional:

    No sem paradoxo, os negadores do direitointernacional contestam a sua existncia em nome deuma definio abusivamente exigente do direito.Par tindo do pr incpio de que s existe direito quando

    este apresenta osmesmo caracteres e a mesmaestrutura do direito interno,eles ver if icaram que talno o caso do direito internacional e portanto,

    que ele noconsti tui verdadeiraordemjurdica.(...)46Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    47/64

    Um tipo de direito iferente... Na verdade, [o DIP] existe, mas

    diferente tanto no que respeita elaboraodas regras como sua aplicao, ou mais

    exatamente, apresenta sob estes dois pontos

    de vista caracteres que no so

    desconhecidos em direito internacional masno tm a mesma intensidade ou no se

    produzem com mesma freqncia estatstica.

    (DINH, DAILLER, PELLET: 1992, p. 77)

    (...) a negaoda especificidadedodireito internacional em relao ao direitointerno cor re o r isco de lanar uma sriadvida sobre a prpr ia existncia doprimeiro.(1992, p. 78).

    47Luiz Albuquerque

    direito e

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    48/64

    direito edireito internacional

    Pellet aponta que As objees comuns dir igidas contra odireito internacional der ivam de uma concepo geral dodireito(1992, p. 77).

    Neste debate de opinies, o que precisaria ser esclarecidopelos crticos do direito internacional seria o que elesentenderiam por direito. Neste esforo, talvez se verifique

    que dentro desta grande categoria direito cabeminstitutos diferentes entre si, mas nem por isso mais oumenos jurdicos.

    48Luiz Albuquerque

    Tabela de reas de Conhecimentos da CAPES

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    49/64

    Tabela de reas de Conhecimentos da CAPES600000060100001

    Cincias Sociais AplicadasDIREITO

    60101008 TEORIA DO DIREITO60101016 TEORIA GERAL DO DIREITO60101024 TEORIA GERAL DO PROCESSO60101032 TEORIA DO ESTADO60101040 HISTRIA DO DIREITO60101059 FILOSOFIA DO DIREITO60101067 LGICA JURDICA60101075 SOCIOLOGIA JURDICA

    60101083 ANTROPOLOGIA JURDICA60102004 DIREITO PBLICO60102012 DIREITO TRIBUTRIO60102020 DIREITO PENAL60102039 DIREITO PROCESSUAL PENAL60102047 DIREITO PROCESSUAL CIVIL60102055 DIREITO CONSTITUCIONAL

    60102063 DIREITO ADMINISTRATIVO60102071 DIREITO INTERNACIONAL PBLICO60103000 DIREITO PRIVADO60103019 DIREITO CIVIL60103027 DIREITO COMERCIAL60103035 DIREITO DO TRABALHO

    60103043 DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO60104007 DIREITOS ESPECIAISLuiz Albuquerque 49

    O direito internacional

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    50/64

    O direito internacionaltambm direito interno.

    Por fim, vale esclarecer que o direito internacional direito

    porque alm de tudo ele tambm parte do direito internopositivado na legislao ordinria. Um tratado no apenasuma norma de direito internacional, ele provoca a criaode uma formulao jurdica de direito interno. Porexemplo, um tratado internalizado atravs de um Decreto

    Executivo com a aprovao prvia pelo Legislativo. Nessesentido, o Decreto 1.355/94, cujo contedo semntico dedireito internacional (Acordos da OMC) to direitointerno quanto o Decreto 1.354/94sobre, p. ex., direito

    previdencirio, ou o Decreto 1.356/94 sobre direito tributrio.Luiz Albuquerque 50

    O Di it I t i l di it

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    51/64

    O Direito Internacional direito

    para o Estado. Como o Direito Internacional uma disciplina de um curso superior,

    importante saber que de acordo como entendimento do Ministrioda Educao do Brasil e dos demais pases o direito internacional direito;

    O direito internacional tambm considerado direito peloMinistrio das Relaes Exteriorese pelos demais rgos pblicosestatais do Poder Executivo, Legislativo e Judicirio;

    O direito internacional considerado direito pelo prprio

    direito interno. Isso no significa que no possa haver conflito entre diferentes

    normas de direito. Mas o prprio fato de poder haver conflitos refleteo fato de direito internacional ser uma parte daquilo que se chama dedireito.

    Luiz Albuquerque 51

    Vale ainda lembrar que o direito um fruto da sociedade, e por isso

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    52/64

    q pacompanha as transformaes da sociedade. Se a sociedade se globaliza,ento no h nada mais natural do que o direito se internacionalizar.

    52

    Neste sentido importante que os estudiosos do direito tenham acapacidade analtica e a flexibilidade intelectual para compreender adinmica das transformaes da sociedade e a forma pela qual elas

    modificam o que se pode entender por direito.Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    53/64

    O marco terico aqui adotado entende que o:

    direito internacional

    , sim,

    direito.

    53

    4 A Natureza doDireito Internacional

    Luiz Albuquerque

    4 1 Direito Internacional obrigatrioe

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    54/64

    54

    4.1 Direito Internacional obrigatrioeseu descumprimento enseja sanoes

    Luiz Albuquerque

    As fontes de direito internacional tmnatureza jurdica. Isso significa que so

    normas cujo cumprimento tido, pelos prpriossujeitos de direito internacional que as criaram,como obrigatrio, e, portanto, seu

    descumprimento est sujeito a sanes, aindaque, s vezes, no seja juridicamente oufactualmente possvel garantir a sua

    observncia4 1 Direito Internacional diferente de

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    55/64

    55

    Isso no significa dizer que o direitointernacional seja idntico a outros ramos dodireito, como o constitucional, civil ou penal (que,alis, nem so idnticos entre si). diferente mas

    da famlia.Mas as diferenas que, de fato, existem no so

    suficientes para descaracterizar a essncia jurdica

    do direito internacional.

    4.1 Direito Internacional diferente deoutros ramos do direito em alguns aspectos

    Luiz Albuquerque

    E alm de ter natureza jurdica e ser obrigatrio, o direito internacional

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    56/64

    tambm tem eficcia e aplicabilidade. Basta observar, sem cinismo oupreconceitos, a realidade cotidiana das chancelarias ao redor do mundopara perceber que, nas palavras de Henkin: quase todas as naes

    obedecem quase todos os pr incpios de direito internacional e quasetodas as suas obr igaes quase todo o tempo(traduo nossa). (HENKIN,L. apud DAMATO,138).

    56Luiz Albuquerque

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    57/64

    5 Conceitos de Direito Internacional

    Construo coletiva de um conceito de direitointernacional em sala. Quais seriam as palavraschave que comporiam este conceito?

    _____________________

    _____________________

    _____________________

    _____________________

    __________________________________________

    _____________________

    _____________________

    1 C

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    58/64

    58

    5.1 CONCEITOTRADICIONAL

    Conjunto de regras e princpios

    que regem as relaes jurdicasentre os Estados na sociedade

    internacionalLuiz Albuquerque

    5 2 CONCEITO OPERACIONAL

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    59/64

    59

    5.2 CONCEITOOPERACIONALADOTADO

    Sistemade normas jurdicas aplicvel aos sujeitosde direito internacional pelo qual se estabelecemconceitos, direitos e obrigaes em seus inter-relacionamentos na sociedade internacional.

    Este sistema normativo constitudo,essencialmente, por (fontes): princpios, costumes,convenes (tratados), atos unilaterais, normas deorganizaes internacionais e sentenas proferidaspor jurisdies internacionais.

    Luiz Albuquerque

    O d J di d W t h li

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    60/64

    60

    Ordem Jurdica de Westphalia

    O que hoje se chama direito internacional,em sentido amplo, se configurou a partir daregulamentao do relacionamento entre

    Estados soberanos na ordem de Westphalia, ese desenvolveu de forma a reger outrasdimenses das relaes internacionais.

    Luiz Albuquerque

    P i A l i

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    61/64

    61

    Perspectiva Analtica

    A compreenso da evoluo histricadodireito internacional parece ser fundamentalpara o entendimento do que seja o direito

    internacionalhoje.

    Luiz Albuquerque

    Q t id d

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    62/64

    62

    Questes a serem consideradas

    A perspectiva analtica aqui adotada entende que aefetividade do direito internacional condicionadapor diversos fatores no-jurdicos como aconjuntura internacional e a correlao entrepoder de barganha entre as partes.

    Nesse sentido, para se compreender melhor oprprio direito internacional importante considerarojogo das interaes poltico-estratgicastanto nomomento da criao do direito, quanto no momentode sua aplicao.

    Luiz Albuquerque

    O que caracteriza o Direito Internacional?

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    63/64

    O que caracteriza o Direito Internacional? O Direito Internacional, enquanto ramo autnomo das

    cincias jurdicas com um objeto de estudo prprio, no temsua natureza definida por algum tipo de contedosemntico especfico(como direito penal ou civil), e sim porum elemento formal, qual seja, o de se encontrar previsto em

    alguma fonte formal de direito internacional. Como existem fontes de DIP que regulam os mais variados

    temas (economia, meio ambiente, direitos humanos, guerraetc.), ento as normas de DIP no tm, entre si, uma

    identidade material, mas, to somente, uma coincidnciaformal.

    Por isso, temos uma teoria geral do DIP e vrios temasespecficos, cada um regulado por suas fontes.

    63Luiz Albuquerque

    7 OS LIMITES DA TEORIA: DIREITO

  • 5/27/2018 DIP Un 1- Introducao Ao DIP 2014

    64/64

    No til tentar entendero direito internacionalpela perspectiva de outra

    disciplina diferente, comoo direito penal ou direitocivil, nem tampouco fazsentido tentar exigir queele apresente ascaractersticas de outrosramos.

    7 OSLIMITESDATEORIA: DIREITOINTERNACIONAL NOUMACINCIAEXATA