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DIREITO AMBIENTAL E AGRÁRIO – 1º BIMESTRE A QUESTÃO AMBIENTAL E AS CONCEPÇÕES ÉTICAS SOBRE O MEIO AMBIENTE 1. A Crise Ambiental A partir dos anos 60 do século passado, os países começaram a editar normas jurídicas mais rígidas para a proteção do meio ambiente. No Brasil, pode-se citar, por exemplo, a promulgação do Código Florestal (Lei 4.771/1965), assim como a Lei 6.938/1981, que aprovou a Política Nacional do Meio Ambiente. Mundialmente, o marco foi a Conferência de Estocolmo (Suécia), ocorrida em 1972, promovida pela ONU , com a participação de 113 países, onde se deu um alerta mundial sobre os riscos à existência humana trazidos pela degradação excessiva, em que pese à postura retrógrada do Brasil à época, que buscava o desenvolvimento econômico de todo o modo, pois de maneira irresponsável se pregava a preferência por um desenvolvimento econômico a qualquer custo ambiental (“riqueza suja”) do que uma “pobreza limpa”. Em 1992 realizou-se no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida como ECO-92 ou RIO-92, oportunidade em que se aprovou a Declaração do Rio, documento contendo 27 princípios ambientais, bem como a Agenda 21, instrumento não vinculante com metas mundiais para redução da poluição e alcance de um desenvolvimento sustentável. Note-se que tais documentos não têm natureza jurídica de tratados internacionais, pois não integram formalmente o ordenamento jurídico brasileiro, mas gozam de forte autoridade local e mundial. O Fundo Mundial para a Natureza divulgou o Relatório Planeta Vivo 2012, no qual concluiu que o homem já está consumindo 20% além da capacidade de reposição e suporte do meio ambiente terrestre. Ou seja, nestes termos, a humanidade transformou o Planeta Terra em uma verdadeira bomba-relógio, estando as presentes gerações consumindo as reservas das futuras. Será preciso que o Poder Público intensifique as suas políticas públicas ambientais, que normalmente são de

Direito Ambiental e Agrário - 1º Bimestre

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Direito Ambiental e Agrário

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DIREITO AMBIENTAL E AGRRIO 1 BIMESTRE

DIREITO AMBIENTAL E AGRRIO 1 BIMESTRE

A QUESTO AMBIENTAL E AS CONCEPES TICAS SOBRE O MEIO AMBIENTE

1. A Crise Ambiental

A partir dos anos 60 do sculo passado, os pases comearam a editar normas jurdicas mais rgidas para a proteo do meio ambiente. No Brasil, pode-se citar, por exemplo, a promulgao do Cdigo Florestal (Lei 4.771/1965), assim como a Lei 6.938/1981, que aprovou a Poltica Nacional do Meio Ambiente.

Mundialmente, o marco foi a Conferncia de Estocolmo (Sucia), ocorrida em 1972, promovida pela ONU, com a participao de 113 pases, onde se deu um alerta mundial sobre os riscos existncia humana trazidos pela degradao excessiva, em que pese postura retrgrada do Brasil poca, que buscava o desenvolvimento econmico de todo o modo, pois de maneira irresponsvel se pregava a preferncia por um desenvolvimento econmico a qualquer custo ambiental (riqueza suja) do que uma pobreza limpa.

Em 1992 realizou-se no Rio de Janeiro a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida como ECO-92 ou RIO-92, oportunidade em que se aprovou a Declarao do Rio, documento contendo 27 princpios ambientais, bem como a Agenda 21, instrumento no vinculante com metas mundiais para reduo da poluio e alcance de um desenvolvimento sustentvel. Note-se que tais documentos no tm natureza jurdica de tratados internacionais, pois no integram formalmente o ordenamento jurdico brasileiro, mas gozam de forte autoridade local e mundial.

O Fundo Mundial para a Natureza divulgou o Relatrio Planeta Vivo 2012, no qual concluiu que o homem j est consumindo 20% alm da capacidade de reposio e suporte do meio ambiente terrestre. Ou seja, nestes termos, a humanidade transformou o Planeta Terra em uma verdadeira bomba-relgio, estando as presentes geraes consumindo as reservas das futuras.

Ser preciso que o Poder Pblico intensifique as suas polticas pblicas ambientais, que normalmente so de trs naturezas: as regulatrias, consistentes na elaborao de normas jurdicas que regulam a utilizao dos recursos naturais, bem como as instituies responsveis pela fiel execuo das leis ambientais; as estruturadoras, realizadas mediante a interveno estatal direta na proteo ambiental, como a criao de espaos territoriais especialmente protegidos pelos entes polticos; as indutoras, em que o poder pblico adota medidas para fomentar condutas em prol do equilbrio ambiental, como a utilizao de instrumentos econmicos como a tributao ambiental, que visa estimular condutas com um tratamento privilegiado em favor daqueles que reduzem a sua poluio, por meio da extrafiscalidade.

2. O Antropocentrismo, o Ecocentrismo e o Biocentrismo

Culturalmente, salvo as linhas teocntricas ainda adotadas por muitos pases (notadamente os orientais), o Direito tradicionalmente informado por uma viso antropocntrica, ou seja, o homem o ser que est no centro do Universo, sendo que todo o restante gira em seu redor.

Por essa linha, a proteo ambiental serve ao homem, como se este no fosse integrante do meio ambiente, e os outros animais, as guas, as florestas, o ar, o solo, os recursos minerais no fossem bens tutelveis por si ss, autonomamente, independentemente da raa humana. O antropocentrismo valoriza a natureza de um ponto de vista meramente instrumental.

J o ecocentrismo defende o valor no instrumental do ecossistema, e da prpria ecosfera, cujo equilbrio se revela preocupao maior do que a necessidade de florescimento de cada ser vivo em termos individuais. Perante o imperativo de assegurar o equilbrio ecossistemtico, o ser humano deve limitar determinadas atividades agrcolas e industriais, e assumir de uma forma notria o seu lado biolgico e ecolgico, assumindo-se como um dos componentes da natureza.

J para o biocentrismo, conforme as lies de Peter Singer e de outros pensadores, sustenta-se a existncia de valor nos demais seres vivos, independentemente da existncia do homem, notadamente nos mais complexos, a exemplo dos mamferos, pois so seres sencientes (que tm percepo, como dor e prazer).

Por essa linha, a vida considerada um fenmeno nico, tendo a natureza valor intrnseco, e no instrumental, o que gerar uma considerao aos seres vivos no integrantes da raa humana.

De efeito, inspirada no biocentrismo, nasceu a defesa dos direitos dos animais (abolicionismo), movimento que vai de encontro utilizao dos animais como instrumentos do homem, sua propriedade, chegando a coloc-los como sujeitos de alguns direitos, notadamente os animais sencientes e autoconscientes.

bom salientar que em 27 de janeiro de 1978, em Bruxelas, a UNESCO proclamou a Declarao Universal dos Direitos dos Animais, com o objetivo de influenciar positivamente na elaborao das leis das naes, aduzindo no prembulo que todo animal possui direitos (biocdio morte de um animal sem necessidade).

A fim de facilitar a diferenciao entre as trs teorias, far-se- a anlise de estilo da alimentao humana luz das tratadas doutrinas ticas ambientais.

O antropocentrismo e o ecocentrismo so favorveis ao consumo humano de animais, mas por premissas diversas. Para os antropocntricos, decorre da liberdade humana de escolha de sua alimentao, no sendo prejudicial sua sade (se for racional), ainda que gerando uma sensao de bem-estar.

De seu turno, para os ecocntricos, corolrio da natureza humana carnvora, sendo uma necessidade natural, tpica da condio de predador natural ostentada pelo homem.

Por outro lado, os biocntricos defendem apenas o consumo de vegetais ou de produtos de origem animal (como ovos e leite), sob o argumento do direito vida dos animais no racionais, alm da vedao ao seu sofrimento.

3. As Concepes ticas Ambientais na Constituio Federal de 1988

Entende-se que o novo ordenamento constitucional brasileiro adotou o antropocentrismo, mitigado por doses de biocentrismo e de ecocentrismo, o que acentua o dialeticismo constitucional.

Deveras, o caput do art. 225 da CF de 88 tem ntida carca antropocntrica, ao instituir o direito fundamental de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

J o inciso VII, do 1, do art. 225, que determina que o Poder Pblico proteja a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as prticas que coloquem em risco sua funo ecolgica, provoquem a extino de espcies ou submetam os animais crueldade, foi inspirado primordialmente nas linhas eco e biocntricas (o STF proibiu a farra do boi e as brigas de galo com base nesse dispositivo).

MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL

1. Definio de Meio Ambiente

Segundo o dicionrio Aurlio, ambiente o Que cerca ou envolve os seres vivos ou as coisas, por todos os lados. Por isso, alguns entendem que a expresso meio ambiente redundante, podendo se referir ambiente.

Definio legal de meio ambiente (Lei 6.938/81):

Art 3 - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - meio ambiente, o conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e biolgica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;

Alguns estados da federao brasileira optaram por inserir em suas leis um conceito prprio (ex: Bahia), mas tal no recomendvel, j que se trata de norma geral de Direito Ambiental, cuja competncia para legislar da Unio.

Resoluo 306/2002 CONAMA Anexo I:

XII - Meio ambiente: conjunto de condies, leis, influncia e interaes de ordem fsica, qumica, biolgica, social, cultural e urbanstica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

2. Espcies de Meio Ambiente

A definio legal de meio ambiente recebe diversas crticas, pois apenas foi dada nfase ao elemento biolgico, no ao social. Entrementes, certo que o meio ambiente em sentido amplo gnero que abarca o meio ambiente natural, cultural e artificial.

J h quem entenda existirem, ainda, o meio ambiente do trabalho e o gentico, mas cr-se que o primeiro integra o artificial e o segundo o natural, ressalvando-se que no h uniformidade doutrinria sobre a questo.

* O STF j reconheceu a existncia do meio ambiente do trabalho.

possvel afirmar que o meio ambiente do trabalho, extenso do meio ambiente artificial, respeitado quando as empresas cumprem as normas de segurana e medicina do trabalho, proporcionando ao obreiro condies dignas e seguras para o desenvolvimento de sua atividade laborativa remunerada, a exemplo da disponibilizao dos equipamentos de proteo individual, a fim de preservar a sua incolumidade fsica e psicolgica.

Para quem admite sua existncia autnoma, o meio ambiente gentico composto pelos organismos vivos do planeta Terra, que formam a sua diversidade biolgica.

prevalente que a expresso Direito Ecolgico no deve ser tomada como sinnimo de Direito Ambiental, pois aquela apenas abarca o meio ambiente natural, excluindo o cultural e o artificial.

3. Definio, Autonomia e Objeto do Direito Ambiental

Direito Ambiental: ramo do direito pblico composto por princpios e regras que regulam as condutas humanas que afetem, potencial ou efetivamente, direta ou indiretamente, o meio ambiente, quer o natural, o cultural ou o artificial.

Autonomia didtica

A certido de nascimento do Direito Ambiental do Brasil foi a lei 6.938/81, primeiro diploma legal que regulou o meio ambiente como um todo, e no em partes, ao aprovar a Poltica Nacional do Meio Ambiente, seus objetivos e instrumentos, assim como o Sistema Nacional do Meio Ambiente SISNAMA, que tem misso de implement-la.

Diploma transversal:

- Direito Civil;

- Direito Administrativo;

- Direito Constitucional;

- Direito Penal;

- Direito Tributrio;

- Direito Econmico;

- Direito Processual Civil;

- Direito Previdncirio.

LEGISLAO AMBIENTAL BRASILEIRA

A legislao ambiental carece de uma codificao geral na esfera federal, ou mesmo de uma consolidao, existindo inmeras leis esparsas, muitas editadas antes da promulgao da Constituio de 1988, de duvidosa recepo constitucional e outras de discutvel vigncia.

Poluio regulamentar.

Meio Ambiente Cultural

Artigos 215 e 216 da CF de 88;

Decreto-lei 25/1937 (Lei Geral do Tombamento);

Decreto 3.551/2000 (Registro de Bens Imateriais).

Meio Ambiente Natural

Artigo 225 da Constituio Federal de 1988;

Lei 6.938/1981 (Poltica Nacional do Meio Ambiente);

Lei 4.771/1965 (Cdigo Florestal);

Lei 5.197/1967 (Proteo Fauna);

Lei 9.433/1997 (Poltica Nacional de Recursos Hdricos);

Lei 9.605/1998 (Crimes e Infraes Ambientais);

Lei 9.985/2000 (Sistema Nacional das Unidades de Conservao);

Lei 11.105/2005 (Biossegurana);

Lei 11.284/2006 (Gesto de Florestas Pblicas);

Lei 11.428/2006 (Bioma Mata Atlntica);

Lei 11.959/2009 (Poltica Nacional de Desenvolvimento Sustentvel da Aquicultura e da Pesca);

Lei 12.187/2009 (Poltica Nacional de Mudanas do Clima);

Lei 12.305/2010 (Poltica Nacional de Resduos Slidos);

Resoluo 237/1997-CONAMA (Licenciamento Ambiental);

Resoluo 01/1986-CONAMA (EIA-RIMA);

Resoluo 09/1987-CONAMA (audincia pblica em EIA-RIMA).

Meio Ambiente Artificial

Art. 182 da CF de 88;

Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade).

Direito Intertemporal Ambiental

- No h direito adquirido de poluir.

As normas editadas com o escopo de defender o meio ambiente, por serem de ordem pblica, tm aplicao imediata, vale dizer, aplicam-se no apenas aos fatos ocorridos sob sua vigncia, como tambm s conseqncias e aos efeitos dos fatos ocorridos sob a gide da Lei anterior (fato pendente) dis Milar.

Constituicionalizao do Direito Ambiental no Brasil

Esse recente fenmeno poltico decorre do carter cada vez mais analtico da maioria das constituies sociais, assim como da importncia da elevao das regras e princpios do meio ambiente ao pice dos ordenamentos, a fim de conferir maior segurana jurdico-ambiental.

Comearam a nascer as constituies verdes (Estado Democrtico Social do Direito Ambiental), a exemplo da portuguesa (1976) e da espanhola (1978), que tiveram influencia na elaborao da CF brasileira de 1988, notadamente na redao do art. 225, principal fonte legal do patrimnio ambiental natural.

Base do Direito Ambiental Constituio de 1988 (Direito Constitucional Ambiental):

- competncias legislativas (art. 22, IV, XII e XXVI, 24, VI, VII e VIII, e 30, I e II);

- competncias administrativas (art. 23, III, IV, VI, VII e XI);

- Ordem Econmica Ambiental (art. 170, VI);

- meio ambiente artificial (art. 182);

- meio ambiente cultural (art. 215 e 216);

- meio ambiente natural (art. 225);

- entre outras legislaes esparsas.

O legislador constituinte reconheceu expressamente o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, caput), de terceira dimenso, pois coletivo, transindividual, com aplicabilidade imediata, vez que sua incidncia independe de regulamentao.

O bem ambiental autnomo, imaterial e de natureza difusa, transcendendo tradicional classificao de bens pblicos (das pessoas jurdicas de direito pblico) e privados, pois toda a coletividade titular desse direito.

Direito difuso ao meio ambiente equilibrado, criando um dever genrico para o Poder Pblico e a coletividade, realizado com aes comissivas (recuperao de reas degradadas) e omissivas (como a obrigao de no degradar fora dos permissivos legais, ou seja, dentro dos padres de poluio, aps regular licenciamento ambiental):

Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv- lo para as presentes e futuras geraes.

Deveres especficos do Poder Pblico:

1 - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Pblico:

I - preservar e restaurar os processos ecolgicos essenciais e prover o manejo ecolgico das espcies e ecossistemas;(Regulamento)II - preservar a diversidade e a integridade do patrimnio gentico do Pas e fiscalizar as entidades dedicadas pesquisa e manipulao de material gentico;(Regulamento)(Regulamento)III - definir, em todas as unidades da Federao, espaos territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alterao e a supresso permitidas somente atravs de lei, vedada qualquer utilizao que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteo;(Regulamento)IV - exigir, na forma da lei, para instalao de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradao do meio ambiente, estudo prvio de impacto ambiental, a que se dar publicidade;(Regulamento)V - controlar a produo, a comercializao e o emprego de tcnicas, mtodos e substncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;(Regulamento)VI - promover a educao ambiental em todos os nveis de ensino e a conscientizao pblica para a preservao do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as prticas que coloquem em risco sua funo ecolgica, provoquem a extino de espcies ou submetam os animais a crueldade.(Regulamento)Deveres especficos ao Poder Pblico e coletividade:

2 - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com soluo tcnica exigida pelo rgo pblico competente, na forma da lei.

3 - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitaro os infratores, pessoas fsicas ou jurdicas, a sanes penais e administrativas, independentemente da obrigao de reparar os danos causados.

Reconhecimento dos biomas brasileiros (foram esquecidos o Cerrado e a Caatinga):

4 - A Floresta Amaznica brasileira, a Mata Atlntica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira so patrimnio nacional, e sua utilizao far-se-, na forma da lei, dentro de condies que assegurem a preservao do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

Meio ambiente cultural:

Art. 215. O Estado garantir a todos o pleno exerccio dos direitos culturais e acesso s fontes da cultura nacional, e apoiar e incentivar a valorizao e a difuso das manifestaes culturais.

1 - O Estado proteger as manifestaes das culturas populares, indgenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatrio nacional.

2 - A lei dispor sobre a fixao de datas comemorativas de alta significao para os diferentes segmentos tnicos nacionais.

3 A lei estabelecer o Plano Nacional de Cultura, de durao plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do Pas e integrao das aes do poder pblico que conduzem :(Includo pela Emenda Constitucional n 48, de 2005)I defesa e valorizao do patrimnio cultural brasileiro;(Includo pela Emenda Constitucional n 48, de 2005)II produo, promoo e difuso de bens culturais;(Includo pela Emenda Constitucional n 48, de 2005)III formao de pessoal qualificado para a gesto da cultura em suas mltiplas dimenses;(Includo pela Emenda Constitucional n 48, de 2005)IV democratizao do acesso aos bens de cultura;(Includo pela Emenda Constitucional n 48, de 2005)V valorizao da diversidade tnica e regional.(Includo pela Emenda Constitucional n 48, de 2005)Patrimnio cultural brasileiro:

Art. 216. Constituem patrimnio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referncia identidade, ao, memria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expresso;

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criaes cientficas, artsticas e tecnolgicas;

IV - as obras, objetos, documentos, edificaes e demais espaos destinados s manifestaes artstico-culturais;

V - os conjuntos urbanos e stios de valor histrico, paisagstico, artstico, arqueolgico, paleontolgico, ecolgico e cientfico.

Instrumentos de proteo ao patrimnio cultural brasileiro:

1 - O Poder Pblico, com a colaborao da comunidade, promover e proteger o patrimnio cultural brasileiro, por meio de inventrios, registros, vigilncia, tombamento e desapropriao, e de outras formas de acautelamento e preservao.

Interpretao constitucional nas normas ambientais

- Primeiro passo: verificar a competncia da entidade editora do ato luz da CF.

Em se tratando de regulamento, curial investigar o seu fundamento de validade, pois tradicionalmente no poder inovar no mundo jurdico.

Princpio da Interpretao Conforme: dever ser priorizado na exegese da legislao brasileira ordinria, pois, no caso de normas plurissignificativas, sero agasalhados o sentido e o alcance compatveis com a CF, haja vista sua presuno relativa de validade com o ordenamento constitucional.

Todavia, quando houver mais de uma interpretao possvel, ante a clareza da norma analisada, sendo patente sua incompatibilidade constitucional formal ou material, no ser possvel a aplicao desse princpio.

Importante destacar que as leis sobre o meio ambiente editadas sob a gide de Constituies pretritas penas devero ter afinidade material com o atual sistema, e no formal, a fim de se verificar a sua recepo, o que explica a vigncia de decretos-leis ou mesmo leis imperiais (ex: Lei das Terras, de 1850).

* Meio ambiente como patrimnio pblico (art. 2, I, Lei 6.938/81) interpretao conforme art. 225 CF no como propriedade das pessoas jurdicas de direito pblico, e sim como bem de uso comum do povo, de titularidade difusa, com feio imaterial e no patrimonial.

Princpio da Mxima Efetividade ou da Interpretao Efetiva: interpretao dos direitos fundamentais a fim de conferir-lhes sempre a mxima eficcia sempre que possvel (nada impede que a legislao ordinria possa prestar bons servios quando verse sobre o meio ambiente).

STF: no se pode utilizar instrumentos apenas jurdicos, mas tambm estudos de outras cincias.

COMPETNCIAS CONSTITUCIONAIS AMBIENTAIS

Federalismo e Cooperao

consabido que o Brasil adota na CF um federalismo de cooperao tricotmico, na forma de seu art. 18, ncleo intangvel da Magna Carta.

- Princpio da Preponderncia do Interesse.

Competncias materiais ambientais

A todas as entidades polticas compete proteger o meio ambiente, sendo esta atribuio administrativa comum.

Art. 23. competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios:

[...]

III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histrico, artstico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notveis e os stios arqueolgicos;

IV - impedir a evaso, a destruio e a descaracterizao de obras de arte e de outros bens de valor histrico, artstico ou cultural;

[...]

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluio em qualquer de suas formas;

VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

[...]

XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concesses de direitos de pesquisa e explorao de recursos hdricos e minerais em seus territrios;

[...]

Pargrafo nico. Leis complementares fixaro normas para a cooperao entre a Unio e os Estados, o Distrito Federal e os Municpios, tendo em vista o equilbrio do desenvolvimento e do bem-estar em mbito nacional.

Por outro lado, excepcionalmente, determinadas competncias materiais restaram reservadas exclusivamente Unio;

Art. 21. Compete Unio:

[...]

IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenao do territrio e de desenvolvimento econmico e social;

XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades pblicas, especialmente as secas e as inundaes;

XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hdricos e definir critrios de outorga de direitos de seu uso;

XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitao, saneamento bsico e transportes urbanos;

[...]

XXIII - explorar os servios e instalaes nucleares de qualquer natureza e exercer monoplio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrializao e o comrcio de minrios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princpios e condies:

a) toda atividade nuclear em territrio nacional somente ser admitida para fins pacficos e mediante aprovao do Congresso Nacional;

b) sob regime de permisso, so autorizadas a comercializao e a utilizao de radioistopos para a pesquisa e usos mdicos, agrcolas e industriais;

c) sob regime de permisso, so autorizadas a produo, comercializao e utilizao de radioistopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;

d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existncia de culpa.

Restou reservada aos municpios a competncia material de promover, no que couber, o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento urbano e controle do uso, do parcelamento e da ocupao do solo urbano (art. 30, VIII, CF).

Competncias legislativas ambientais

Especificamente na rea ambiental, em face do interesse comum na preservao dos recursos ambientais e no seu uso sustentvel, a regra que todas as entidades polticas tm competncia para legislar concorrentemente sobre o meio ambiente, cabendo Unio editar normas gerais, a serem especificadas pelos estados, DF e Municpios, de acordo com o interesse regional e local, respectivamente.

Art. 24. Compete Unio, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

[...]

VI - florestas, caa, pesca, fauna, conservao da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteo do meio ambiente e controle da poluio;

VII - proteo ao patrimnio histrico, cultural, artstico, turstico e paisagstico;

VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artstico, esttico, histrico, turstico e paisagstico;

Se a Unio quedar-se inerte em editar normas gerais, os estados e o DF podero faz-lo de maneira suplementar, exercendo competncia legislativa plena para atender s suas peculiaridades, por expressa autorizao do 3 do art. 24 da CF ( 3 - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercero a competncia legislativa plena, para atender a suas peculiaridades), sendo que a ulterior edio de norma geral pela unio ter o condo de suspender a eficcia (no invalidar) a lei estadual no que lhe for contrria.

A competncia dos municpios decorre do art. 30, I e II, da CF, cabe a eles legislar sobre assuntos de interesse local e suplementar legislao federal e estadual no que couber.

Art. 30. Compete aos Municpios:

I - legislar sobre assuntos de interesse local;

II - suplementar a legislao federal e a estadual no que couber.

- O meio ambiente do trabalho est fora da competncia legislativa concorrente.

Questo tormentosa a resoluo de conflito entre normas ambientais federais, estaduais (ou distritais) e municipais. Em razo da inexistncia de hierarquia entre as entidades que compem a federao, as referidas leis esto no mesmo patamar.

Destarte, preciso se definir caso a caso qual pessoa poltica invadiu a esfera legiferante da outra. Por conseguinte, o conflito entre leis ambientais de diferentes esferas, caso no seja a hiptese de aplicabilidade do Princpio da Especialidade, ser solucionado pela delimitao pontual do que considerado como norma geral sobre meio ambiente e o que disposio que verse sobre peculiaridades regionais ou locais.

Logo, se a norma federal extrapolar a sua zona de atribuio, adentrando em terreno afeto ao legislador estadual ou municipal dever ser pronunciada a sua inconstitucionalidade formal. Ao revs, se a lei estadual veicular matria geral, ser esta que dever ser invalidada.

Normalmente inexiste qualquer conflito quando as normas estaduais, distritais ou municipais so mais restritivas que as federais, ou seja, instituam regras mais protetivas ao meio ambiente, desde que a lei federal disponha literalmente a respeito, ao abrir essa possibilidade.

Mas a questo no nada simples e nem sempre a norma ambiental mais restritiva prevalecer EX: caso do amianto crisotila (branco) p causador de asbestose.

Excepcionalmente, no caso de legislao sobre guas, energias, jazidas, minas e outros recursos minerais, bem como atividades nucleares de qualquer natureza, caber privativamente Unio legislar sobre o assunto, por fora do art. 22, IV, XII e XXVI da CF.

No obstante a previso de competncia privativa da Unio para legislar sobre guas (art. 22, IV da CF), a competncia para proteger o meio ambiente e fiscalizar explorao de recursos hdricos em seus territrios comum da Unio, Estados e Municpios (art. 23, VI e XI, da CF), sendo as guas subterrneas bens dos Estados (art. 26, I, da CF).

PRINCPIOS SETORIAIS

Definio e funes

Com o advento do ps-positivismo, os princpios passaram de meras fontes de integrao a espcie de normas jurdicas, dotados, portanto, de contedo normativo.

Os princpios so normas jurdicas que fundamentam o sistema jurdico, com maior carga de abstrao, generalidade e indeterminao que as regras, no regulando situaes fticas diretamente, carecendo de intermediao para a aplicao concreta. Devem ser pesados com outros princpios em cada caso concreto, luz da ponderao casual (princpio da proporcionalidade). Ou seja, inexiste princpio absoluto.

O conflito entre regras se resolve com os critrios da hierarquia, especialidade e revogao, ao contrrio dos princpios. Enquanto as regras valem ou no (tudo ou nada), os princpios pesam ou no.

Em Direito Ambiental, no h uniformidade doutrinria na identificao dos seus princpios especficos, bem como o contedo jurdico de muitos deles.

Princpio da Preveno

Por esse princpio, implicitamente consagrado no art. 225 da CF, j se tem base cientfica para prever os danos ambientais decorrentes de determinada atividade lesiva ao meio ambiente, devendo-se impor ao empreendedor condicionantes no licenciamento ambiental para mitigar ou elidir prejuzos.

Ele se volta a atividades de vasto conhecimento humano (risco certo, conhecido ou concreto), em que j se definiram a extenso e a natureza dos danos ambientais, trabalhando com boa margem de segurana.

Princpio da Precauo

De origem alem, no tem previso literal na CF, mas pode-se afirmar que foi implicitamente consagrado no seu artigo 225.

previsto na Declarao do Rio (ECO/1992), no principio 15.

Declarao Rio 1992 compromisso mundial tico.

Se determinado empreendimento puder causar danos ambientais srios ou irreversveis, contudo inexiste certeza cientfica quanto aos efetivos danos e a sua extenso, mas h base cientfica razovel fundada em juzo na probabilidade no remoto da sua potencial ocorrncia, o empreendedor dever ser compelido a adotar medidas de precauo para elidir ou reduzir os riscos ambientais para a populao.

Assim, a incerteza cientfica milita em favor do meio ambiente e da sade (in dubio pro natura). A precauo caracteriza-se pela ao antecipada diante do risco desconhecido. Enquanto a preveno trabalha com o risco certo, a precauo vai alm e se preocupa com o risco incerto. Preveno se d em relao ao perigo concreto, ao passo que a precauo envolve perigo abstrato ou potencial.

com base no princpio da precauo que parte da doutrina sustenta a possibilidade de inverso do nus da prova nas demandas ambientais, arreando o ru (suposto poluidor) a obrigao de provar que a sua atividade no perigosa nem poluidora, em que pese inexistir regra expressa nesse sentido, ao contrrio do que acontece no Direito do Consumidor.

Princpio do desenvolvimento sustentvel

Tem previso implcita no caput do art. 225, combinado com o artigo 170, VI, ambos da CF e expressa no Princpio 04 da Declarao do Rio.

- Brasil: art. 4, I, Lei 6.938/81 compatibilizao do desenvolvimento econmico social com a preservao da qualidade do meio ambiente e do equilbrio ecolgico.

As necessidades humanas so ilimitadas (fruto de um consumismo exagerado incentivado pelos fornecedores de produtos e servios), mas os recursos ambientais naturais no, tendo o planeta Terra uma capacidade mxima de suporte, sendo curial a busca de sustentabilidade.

Princpios da vida sustentvel:

1) Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos;

2) Melhorar a qualidade da vida humana;

3) Conservar a vitalidade e a diversidade do planeta;

4) Minimizar o esgotamento de recursos no renovveis;

5) Permanecer nos limites da capacidade de suporte do planeta Terra;

6) Modificar atitudes e prticas pessoais;

7) Permitir que as comunidades cuidem de seu prprio meio ambiente;

8) Gerar uma estrutura nacional para a integrao de desenvolvimento e conservao;

9) Construir uma aliana global.

Este princpio decorre de uma ponderao que dever ser feita casuisticamente entre o direito fundamental ao desenvolvimento econmico e o direito preservao ambiental, luz do Princpio da Proporcionalidade.

Outras vezes esse conflito j vem solucionado especificamente por regras jurdicas. Frise-se que a livre iniciativa que fundamenta a Ordem Econmica no absoluta, tendo limites em vrios princpios constitucionais, em especial devendo observar a defesa do meio ambiente, conforme previso expressa do art. 170, VI, da CF, inclusive devendo-se dar tratamento privilegiado aos agentes econmicos que consigam reduzir os impactos ambientais negativos em decorrncia de seus empreendimentos.

Assim, caso a caso, preciso que o Poder Pblico verifique a viabilidade ambiental da atividade a ser desenvolvida, de modo que os proveitos justifiquem os eventuais danos ambientais que possam dela advir.

O desenvolvimento sustentvel aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de existncia digna das geraes futuras, sendo possvel melhorar a qualidade de vida dos vivos sem prejudicar o potencial desenvolvimento das novas geraes.

Um instrumento de implantao que aos poucos vem sendo utilizado mundialmente para se atingir o ideal da sustentabilidade o pagamento pelos servios ambientais.

Salienta-se que esse princpio tem aplicao aos recursos naturais renovveis, a exemplo das florestas e animais, e no aos no renovveis, como os minrios. Nestes casos, a sua utilizao deve ser racional e prolongada ao mximo, devendo-se optar, sempre que possvel, pela substituio por um recurso renovvel, a exemplo do etanol em vez da gasolina, que, inclusive, menos agressivo ao ar atmosfrico.

Princpio do poluidor (ou predador)-pagador ou da responsabilidade

Por este princpio, deve o poluidor responder pelos custos sociais da degradao causada por sua atividade impactante, devendo-se agregar esse valor no custo produtivo da atividade, para evitar que se privatizem os lucros e se socializem os prejuzos. Ele se volta principalmente aos grandes poluidores.

Logo, caber ao poluidor compensar ou reparar o dano causado. Ressalta-se que este Princpio no deve ser interpretado de forma que haja abertura incondicional poluio, desde que se pague (no pagador-poluidor), s podendo o poluidor degradar o meio ambiente dentro dos limites de tolerncia previstos na legislao ambiental, aps licenciado.

Declarao do Rio, Princpio 16;

Art. 14, 1, Lei 6.938/81 (necessidade de indenizao dos danos por parte do poluidor);

Art. 19, 3, Lei 4.771/1965 (reposio florestal);

Destinao ambiental de pilhas e baterias que contenham chumbo, cdmio e mercrio por seus fabricantes e importadores (resolues CONAMA 401/2008 e 416/2009);

Obrigao da destinao das embalagens vazias de agrotxicos pelas empresas produtoras e comercializadoras deles (art. 6, 5, Lei 7.802/1989).

Princpio do usurio pagador

No se trata de mera reproduo do Princpio do Poluidor-Pagador. Por ele, as pessoas que utilizam recursos naturais devem pagar pela sua utilizao, mesmo que no haja poluio, a exemplo do uso racional da gua. Veja-se que difere do Princpio do Poluidor-Pagador, pois neste h poluio e a quantia paga pelo empreendedor funciona tambm como sano social ambiental, alm da indenizao.

Art 4 - A Poltica Nacional do Meio Ambiente visar:

VII - imposio, ao poluidor e ao predador, da obrigao de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usurio, da contribuio pela utilizao de recursos ambientais com fins econmicos.

H uma progressiva tendncia mundial na cobrana do uso dos recursos naturais, notadamente os mais escassos, a fim de racionalizar a sua utilizao e funcionar como medida mais educativa para inibir o desperdcio, mas este instrumento no dever ser utilizado para privar os economicamente menos favorecido dos recursos indispensveis sua qualidade de vida.

Princpio da cooperao entre os povos

Celebrao de tratados internacionais na esfera ambiental.

Princpio da solidariedade intergeracional ou equidade

Por este Princpio, que inspirou a parte final do caput do art. 225 da CF, as presentes geraes devem preservar o meio ambiente e adotar polticas ambientais para a presente e as futuras geraes, no podendo utilizar os recursos ambientais de maneira irracional de modo que prive seus descendentes do seu desfrute. No justo utilizar recursos naturais que devem ser reservados aos que ainda no existem.

Princpio da natureza pblica (ou obrigatoriedade) da proteo ambiental

Este princpio inspirou parcela do caput do art. 225 da CF, pois dever irrenuncivel do Poder Pblico promover a proteo do meio ambiente, por ser bem difuso (de todos ao mesmo tempo), indispensvel vida humana sadia e tambm da coletividade.

Dever o Estado atuar como agente normativo e regulador da Ordem Econmica Ambiental, editando normas jurdicas e fiscalizando de maneira eficaz o seu cumprimento.

Princpio da participao comunitria

Pontifica que as pessoas tm o direito de participar ativamente das decises polticas ambientais, em decorrncia do sistema democrtico semidireto, uma vez que os danos ambientais so transindividuais.

Exemplo da aplicao desta norma a necessidade de realizao de audincias pblicas em licenciamentos ambientais mais complexos, nas hipteses previstas; na criao de unidades de conservao (consulta pblica); na legitimao para propositura de ao popular ou mesmo no tradicional direito fundamental de petio ao Poder Pblico.

Princpio da funo socioambiental da propriedade

J se fala atualmente da funo socioambiental da propriedade, uma vez que um dos requisitos para que a propriedade rural alcance a sua funo social o respeito legislao ambiental, bem como a propriedade urbana, pois o plano diretor dever necessariamente considerar a preservao ambiental, a exemplo da instituio de reas verdes.

Art. 1.228. O proprietrio tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reav-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.

1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonncia com as suas finalidades econmicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilbrio ecolgico e o patrimnio histrico e artstico, bem como evitada a poluio do ar e das guas.

Princpio da informao

Ele mantm ntimo contato com o princpio da participao comunitria e da publicidade, que informa a atuao da administrao pblica, notadamente no que concerne aos rgos e entidades ambientais, que ficam obrigados a permitir o acesso pblico aos documentos, expedientes e processos administrativos que tratem de matria ambiental e a fornecer todas as informaes ambientais que estejam sob sua guarda, em meio escrito, visual, sonoro ou eletrnico.

Princpio do limite

Cuida-se do dever estatal de editar e efetivar normas jurdicas que instituam padres mximos de poluio, a fim de mant-la dentro de bons nveis para no afetar o equilbrio ambiental e a sade pblica.

Outros princpios ambientais

Princpio do direito ao meio ambiente equilibrado

Princpio do direito sadia qualidade de vida

Princpio da reparao

Princpio da correo, prioritariamente na fonte

Princpio da integrao

Princpio do nvel elevado de proteo

Princpio da proibio do retrocesso ecolgico

Princpio do progresso ecolgico

Princpio do mnimo existencial ecolgico

Princpio da responsabilidade comum, mas diferenciada

Princpio da ubiquidade

Princpio do protetor-receptor ou recebedor

A POLTICA NACIONAL E O SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Princpios

A Poltica Nacional do Meio Ambiente PNMA foi instituda pela Lei 6.938/81, regulamentada pelo Decreto 99.274/90, tendo como objetivo geral a preservao, a melhoria e a recuperao da qualidade ambiental propcia vida, com os seus princpios arrolados no art. 2:

Art 2 - A Poltica Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservao, melhoria e recuperao da qualidade ambiental propcia vida, visando assegurar, no Pas, condies ao desenvolvimento scio-econmico, aos interesses da segurana nacional e proteo da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princpios:

I - ao governamental na manuteno do equilbrio ecolgico, considerando o meio ambiente como um patrimnio pblico a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;

II - racionalizao do uso do solo, do subsolo, da gua e do ar;

III - planejamento e fiscalizao do uso dos recursos ambientais;

IV - proteo dos ecossistemas, com a preservao de reas representativas;

V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;

VI - incentivos ao estudo e pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteo dos recursos ambientais;

VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

VIII - recuperao de reas degradadas; (Regulamento)

IX - proteo de reas ameaadas de degradao;

X - educao ambiental a todos os nveis de ensino, inclusive a educao da comunidade, objetivando capacit-la para participao ativa na defesa do meio ambiente.

O art. 2, I, considera o meio ambiente como um patrimnio pblico a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo, sendo a expresso utilizada no no sentido e bem de pessoa jurdica pblica, e sim expressando o interesse de toda a coletividade na preservao ambiental.

A educao ambiental talvez seja a sada para o futuro equacionamento da questo ambiental, tendo a Lei 9.795/99 institudo a Poltica Nacional da Educao Ambiental PNEA, sendo definida como os processos por meio dos quais o indivduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas para a conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Alm dos rgos componentes do Sistema Nacional do meio Ambiente SISNAMA as instituies de ensino pblicas e privadas e as organizaes no governamentais que atuem na rea tm o dever de executar a PNEA.

Art. 4o So princpios bsicos da educao ambiental:

I - o enfoque humanista, holstico, democrtico e participativo;

II - a concepo do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependncia entre o meio natural, o scio-econmico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade;

III - o pluralismo de idias e concepes pedaggicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade;

IV - a vinculao entre a tica, a educao, o trabalho e as prticas sociais;

V - a garantia de continuidade e permanncia do processo educativo;

VI - a permanente avaliao crtica do processo educativo;

VII - a abordagem articulada das questes ambientais locais, regionais, nacionais e globais;

VIII - o reconhecimento e o respeito pluralidade e diversidade individual e cultural.

Art. 5o So objetivos fundamentais da educao ambiental:

I - o desenvolvimento de uma compreenso integrada do meio ambiente em suas mltiplas e complexas relaes, envolvendo aspectos ecolgicos, psicolgicos, legais, polticos, sociais, econmicos, cientficos, culturais e ticos;

II - a garantia de democratizao das informaes ambientais;

III - o estmulo e o fortalecimento de uma conscincia crtica sobre a problemtica ambiental e social;

IV - o incentivo participao individual e coletiva, permanente e responsvel, na preservao do equilbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparvel do exerccio da cidadania;

V - o estmulo cooperao entre as diversas regies do Pas, em nveis micro e macrorregionais, com vistas construo de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princpios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justia social, responsabilidade e sustentabilidade;

VI - o fomento e o fortalecimento da integrao com a cincia e a tecnologia;

VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminao dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade.

A regulamentao foi realizada pelo Decreto 4.281/2002, tendo sido criado o rgo gestor da PNEA.

A lei que instituiu o PNEA foi vedada no tocante implantao da educao ambiental como disciplina especfica no currculo de ensino, sendo apenas tema transversal nas demais disciplinas, a ser desenvolvida como uma prtica educativa integrada, contnua e permanente em todos os nveis e modalidades do ensino fundamental.

Ainda foi prevista a educao ambiental no formal, assim entendendo as aes e as prticas educativas voltadas sensibilizao da coletividade sobre as questes ambientais e sua organizao e participao na defesa da qualidade do meio ambiente.

Demais, obrigatria a adoo de livros escolares de leitura que contenham textos de educao florestal, sendo que as estaes de rdio e televiso incluiro, obrigatoriamente, em suas programaes, textos e dispositivos de interesse florestal.

Foi instituda a Semana Florestal, comemorada, obrigatoriamente, nas escolas e estabelecimentos pblicos ou subvencionados, por meio de programas objetivos em que se ressalte o valor das florestas, em face dos seus produtos e utilidades, bem como sobre a forma correta de conduzi-las e perpetu-las.

Objetivos especficos

Art 4 - A Poltica Nacional do Meio Ambiente visar:

I - compatibilizao do desenvolvimento econmico-social com a preservao da qualidade do meio ambiente e do equilbrio ecolgico;

II - definio de reas prioritrias de ao governamental relativa qualidade e ao equilbrio ecolgico, atendendo aos interesses da Unio, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territrios e dos Municpios;

III - ao estabelecimento de critrios e padres de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais;

V - difuso de tecnologias de manejo do meio ambiente, divulgao de dados e informaes ambientais e formao de uma conscincia pblica sobre a necessidade de preservao da qualidade ambiental e do equilbrio ecolgico;

VI - preservao e restaurao dos recursos ambientais com vistas sua utilizao racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manuteno do equilbrio ecolgico propcio vida;

VII - imposio, ao poluidor e ao predador, da obrigao de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usurio, da contribuio pela utilizao de recursos ambientais com fins econmicos.

Instrumentos

Art 9 - So instrumentos da Poltica Nacional do Meio Ambiente:

I - o estabelecimento de padres de qualidade ambiental;

II - o zoneamento ambiental; (Regulamento)

III - a avaliao de impactos ambientais;

IV - o licenciamento e a reviso de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;

V - os incentivos produo e instalao de equipamentos e a criao ou absoro de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

VI - a criao de espaos territoriais especialmente protegidos pelo Poder Pblico federal, estadual e municipal, tais como reas de proteo ambiental, de relevante interesse ecolgico e reservas extrativistas; (Redao dada pela Lei n 7.804, de 1989)

VII - o sistema nacional de informaes sobre o meio ambiente;

VIII - o Cadastro Tcnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental;

IX - as penalidades disciplinares ou compensatrias ao no cumprimento das medidas necessrias preservao ou correo da degradao ambiental.

X - a instituio do Relatrio de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis - IBAMA; (Includo pela Lei n 7.804, de 1989)

XI - a garantia da prestao de informaes relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Pblico a produz-las, quando inexistentes; (Includo pela Lei n 7.804, de 1989)

XII - o Cadastro Tcnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais. (Includo pela Lei n 7.804, de 1989)

XIII - instrumentos econmicos, como concesso florestal, servido ambiental, seguro ambiental e outros.

O Sistema Nacional de Informao sobre Meio Ambiente - SINIMA o instrumento da Poltica Nacional de Meio Ambiente, Lei 6.938/81, responsvel pela gesto da informao ambiental no mbito do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, de acordo com a lgica da gesto ambiental compartilhada entre as trs esferas de governo.

O SINIMA gerido pela Secretaria de Articulao Institucional e Cidadania Ambiental do Ministrio do Meio Ambiente - SAIC (Art. 31, Decreto 6.101/07), por meio do Departamento de Coordenao do Sisnama - DSIS (Art. 32), e possui trs eixos estruturantes: o desenvolvimento de ferramentas de acesso informao baseadas em programas computacionais livres; a sistematizao de estatsticas e elaborao de indicadores ambientais; a integrao e interoperabilidade de sistemas de informao de acordo com uma Arquitetura Orientada a Servios - SOA.

Este processo de implementao conta com o apoio do Comit Gestor do SINIMA, institudo pela Portaria n 310, de 13 de dezembro de 2004, no sentido da definio das diretrizes, acordos e padres nacionais para a integrao da informao ambiental.

O Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNIMA)

Art 6 - Os rgos e entidades da Unio, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territrios e dos Municpios, bem como as fundaes institudas pelo Poder Pblico, responsveis pela proteo e melhoria da qualidade ambiental, constituiro o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado:

I - rgo superior: o Conselho de Governo, com a funo de assessorar o Presidente da Repblica na formulao da poltica nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais; (Redao dada pela Lei n 8.028, de 1990)

II - rgo consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de polticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no mbito de sua competncia, sobre normas e padres compatveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial sadia qualidade de vida; (Redao dada pela Lei n 8.028, de 1990)

III - rgo central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidncia da Repblica (Ministrio do Meio Ambiente), com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como rgo federal, a poltica nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente; (Redao dada pela Lei n 8.028, de 1990)

IV - rgo executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis, com a finalidade de executar e fazer executar, como rgo federal, a poltica e diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente; (Redao dada pela Lei n 8.028, de 1990)

V - rgos Seccionais: os rgos ou entidades estaduais responsveis pela execuo de programas, projetos e pelo controle e fiscalizao de atividades capazes de provocar a degradao ambiental; (Redao dada pela Lei n 7.804, de 1989)

VI - rgos Locais: os rgos ou entidades municipais, responsveis pelo controle e fiscalizao dessas atividades, nas suas respectivas jurisdies; (Includo pela Lei n 7.804, de 1989)

Art. 8 Compete ao CONAMA:

I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critrios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poludoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA; (Redao dada pela Lei n 7.804, de 1989)

II - determinar, quando julgar necessrio, a realizao de estudos das alternativas e das possveis conseqncias ambientais de projetos pblicos ou privados, requisitando aos rgos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informaes indispensveis para apreciao dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatrios, no caso de obras ou atividades de significativa degradao ambiental, especialmente nas reas consideradas patrimnio nacional. (Redao dada pela Lei n 8.028, de 1990)

IV - homologar acordos visando transformao de penalidades pecunirias na obrigao de executar medidas de interesse para a proteo ambiental; (VETADO);

V - determinar, mediante representao do IBAMA, a perda ou restrio de benefcios fiscais concedidos pelo Poder Pblico, em carter geral ou condicional, e a perda ou suspenso de participao em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crdito; (Redao dada pela Vide Lei n 7.804, de 1989)

VI - estabelecer, privativamente, normas e padres nacionais de controle da poluio por veculos automotores, aeronaves e embarcaes, mediante audincia dos Ministrios competentes;

VII - estabelecer normas, critrios e padres relativos ao controle e manuteno da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hdricos.

Art. 1o Fica criado o Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade - Instituto Chico Mendes, autarquia federal dotada de personalidade jurdica de direito pblico, autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministrio do Meio Ambiente, com a finalidade de:

I - executar aes da poltica nacional de unidades de conservao da natureza, referentes s atribuies federais relativas proposio, implantao, gesto, proteo, fiscalizao e monitoramento das unidades de conservao institudas pela Unio;

II - executar as polticas relativas ao uso sustentvel dos recursos naturais renovveis e ao apoio ao extrativismo e s populaes tradicionais nas unidades de conservao de uso sustentvel institudas pela Unio;

III - fomentar e executar programas de pesquisa, proteo, preservao e conservao da biodiversidade e de educao ambiental;

IV - exercer o poder de polcia ambiental para a proteo das unidades de conservao institudas pela Unio; e

V - promover e executar, em articulao com os demais rgos e entidades envolvidos, programas recreacionais, de uso pblico e de ecoturismo nas unidades de conservao, onde estas atividades sejam permitidas.

Pargrafo nico. O disposto no inciso IV do caput deste artigo no exclui o exerccio supletivo do poder de polcia ambiental pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - IBAMA.

O ZONEAMENTO AMBIENTAL

O zoneamento ambiental, que pode ser chamado de zoneamento ecolgico-econmico (ZEE), um instrumento para a efetivao da Poltica Nacional do Meio Ambiente, importante ferramenta para o planejamento ambiental, ainda de pouco uso pelo Poder Pblico. Trata-se de uma modalidade de interveno estatal sobre o seu territrio, a fim de reparti-lo em zonas consoante o melhor interesse na preservao ambiental e no uso sustentvel dos recursos naturais.

O ZEE dever observar os princpios da funo socioambiental da propriedade, da preveno, da precauo, do poluidor-pagador, do usurio-pagador, da participao informada, do acesso equitativo e da integrao, conforme expressa previso regulamentar.

Definio

Art. 2o O ZEE, instrumento de organizao do territrio a ser obrigatoriamente seguido na implantao de planos, obras e atividades pblicas e privadas, estabelece medidas e padres de proteo ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental, dos recursos hdricos e do solo e a conservao da biodiversidade, garantindo o desenvolvimento sustentvel e a melhoria das condies de vida da populao.

Objetivo geral

Art. 3o O ZEE tem por objetivo geral organizar, de forma vinculada, as decises dos agentes pblicos e privados quanto a planos, programas, projetos e atividades que, direta ou indiretamente, utilizem recursos naturais, assegurando a plena manuteno do capital e dos servios ambientais dos ecossistemas.

Competncia para a realizao

Art. 6 Compete ao Poder Pblico Federal elaborar e executar o ZEE nacional e regionais, quando tiver por objeto biomas brasileiros ou territrios abrangidos por planos e projetos prioritrios estabelecidos pelo Governo Federal.

Note-se que se trata de competncia administrativa comum entre as entidades polticas, de modo que caber aos Estados, ao DF e aos municpios elaborar zoneamentos que atendam as suas peculiaridades regionais e locais, respectivamente, observados os parmetros do ZEE federal, que no poder adentrar em detalhes de forma a retirar a competncia material das demais entidades polticas, salvo se promovido de maneira conjunta.

Pressupostos

Art. 7o A elaborao e implementao do ZEE observaro os pressupostos tcnicos, institucionais e financeiros.

Art. 8o Dentre os pressupostos tcnicos, os executores de ZEE devero apresentar:

i - termo de referncia detalhado;

II - equipe de coordenao composta por pessoal tcnico habilitado;

III - compatibilidade metodolgica com os princpios e critrios aprovados pela Comisso Coordenadora do Zoneamento Ecolgico-Econmico do Territrio Nacional, instituda pelo Decreto de 28 de dezembro de 2001;

IV - produtos gerados por meio do Sistema de Informaes Geogrficas, compatveis com os padres aprovados pela Comisso Coordenadora do ZEE;

V - entrada de dados no Sistema de Informaes Geogrficas compatveis com as normas e padres do Sistema Cartogrfico Nacional;

VI - normatizao tcnica com base nos referenciais da Associao Brasileira de Normas Tcnicas e da Comisso Nacional de Cartografia para produo e publicao de mapas e relatrios tcnicos;

VII - compromisso de disponibilizar informaes necessrias execuo do ZEE; e

VIII - projeto especfico de mobilizao social e envolvimento de grupos sociais interessados.

Art. 9o Dentre os pressupostos institucionais, os executores de ZEE devero apresentar:

I - arranjos institucionais destinados a assegurar a insero do ZEE em programa de gesto territorial, mediante a criao de comisso de coordenao estadual, com carter deliberativo e participativo, e de coordenao tcnica, com equipe multidisciplinar;

II - base de informaes compartilhadas entre os diversos rgos da administrao pblica;

III - proposta de divulgao da base de dados e dos resultados do ZEE; e

IV - compromisso de encaminhamento peridico dos resultados e produtos gerados Comisso Coordenadora do ZEE.

Art. 10. Os pressupostos financeiros so regidos pela legislao pertinente.

Contedo

Art. 11. O ZEE dividir o territrio em zonas, de acordo com as necessidades de proteo, conservao e recuperao dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentvel.

Pargrafo nico. A instituio de zonas orientar-se- pelos princpios da utilidade e da simplicidade, de modo a facilitar a implementao de seus limites e restries pelo Poder Pblico, bem como sua compreenso pelos cidados.

Alterao

Art. 19. A alterao dos produtos do ZEE, bem como mudanas nos limites das zonas e indicao de novas diretrizes gerais e especficas, podero ser realizadas aps decorridos prazo mnimo de dez anos de concluso do ZEE, ou de sua ltima modificao, prazo este no exigvel na hiptese de ampliao do rigor da proteo ambiental da zona a ser alterada, ou de atualizaes decorrentes de aprimoramento tcnico-cientfico.

1o Decorrido o prazo previsto no caput deste artigo, as alteraes somente podero ocorrer aps consulta pblica e aprovao pela comisso estadual do ZEE e pela Comisso Coordenadora do ZEE, mediante processo legislativo de iniciativa do Poder Executivo.

2o Para fins deste artigo, somente ser considerado concludo o ZEE que dispuser de zonas devidamente definidas e caracterizadas e contiver Diretrizes Gerais e Especficas, aprovadas na forma do 1o.

3o A alterao do ZEE no poder reduzir o percentual da reserva legal definido em legislao especfica, nem as reas protegidas, com unidades de conservao ou no.

Regras de transio

Art. 21. Os ZEE estaduais que cobrirem todo o territrio do Estado, concludos anteriormente vigncia deste Decreto, sero adequados legislao ambiental federal mediante instrumento prprio firmado entre a Unio e cada um dos Estados interessados.

Zoneamento industrial

Art . 1 Nas reas crticas de poluio a que se refere o art. 4 do Decreto-lei n 1.413, de 14 de agosto de 1975, as zonas destinadas instalao de indstrias sero definidas em esquema de zoneamento urbano, aprovado por lei, que compatibilize as atividades industriais com a proteo ambiental.

1 As zonas de que trata este artigo sero classificadas nas seguinte categorias:

a) zonas de uso estritamente industrial;

b) zonas de uso predominantemente industrial;

c) zonas de uso diversificado.

2 As categorias de zonas referidas no pargrafo anterior podero ser divididas em subcategorias, observadas as peculiaridades das reas crticas a que pertenam e a natureza das indstrias nelas instaladas.

3 As indstrias ou grupos de indstrias j existentes, que no resultarem confinadas nas zonas industriais definidas de acordo com esta Lei, sero submetidas instalao de equipamentos especiais de controle e, nos casos mais graves, relocalizao.

Art . 2 As zonas de uso estritamente industrial destinam-se, preferencialmente, localizao de estabelecimentos industriais cujos resduos slidos, lquidos e gasosos, rudos, vibraes, emanaes e radiaes possam causar perigo sade, ao bem-estar e segurana das populaes, mesmo depois da aplicao de mtodos adequados de controle e tratamento de efluentes, nos termos da legislao vigente.

1 As zonas a que se refere este artigo devero:

I - situar-se em reas que apresentem elevadas capacidade de assimilao de efluentes e proteo ambiental, respeitadas quaisquer restries legais ao uso do solo;

II - localizar-se em reas que favoream a instalao de infra-estrutura e servios bsicos necessrios ao seu funcionamento e segurana;

III - manter, em seu contorno, anis verdes de isolamento capazes de proteger as zonas circunvizinhas contra possveis efeitos residuais e acidentes;

2 vedado, nas zonas de uso estritamente industrial, o estabelecimento de quaisquer atividades no essenciais s suas funes bsicas, ou capazes de sofrer efeitos danosos em decorrncia dessas funes.

Art . 3 As zonas de uso predominantemente industrial destinam-se, preferencialmente, instalao de indstrias cujos processos, submetidos a mtodos adequados de controle e tratamento de efluentes, no causem incmodos sensveis s demais atividades urbanas e nem perturbem o repouso noturno das populaes.

Pargrafo nico. As zonas a que se refere este artigo devero:

I - localizar-se em reas cujas condies favoream a instalao adequada de infra-estrutura de servios bsicos necessria a seu funcionamento e segurana;

II - dispor, em seu interior, de reas de proteo ambiental que minimizem os efeitos da poluio, em relao a outros usos.

Art . 4 As zonas de uso diversificado destinam-se localizao de estabelecimentos industriais, cujo processo produtivo seja complementar das atividades do meio urbano ou rural que se situem, e com elas se compatibilizem, independentemente do uso de mtodos especiais de controle da poluio, no ocasionando, em qualquer caso, inconvenientes sade, ao bem-estar e segurana das populaes vizinhas.

Art . 5 As zonas de uso industrial, independentemente de sua categoria, sero classificadas em:

I - no saturadas;

II - em vias de saturao;

III - saturadas;

Art . 6 O grau de saturao ser aferido e fixado em funo da rea disponvel para uso industrial da infra-estrutura, bem como dos padres e normas ambientais fixadas pela Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA e pelo Estado e Municpio, no limite das respectivas competncias.

1 Os programas de controle da poluio e o licenciamento para a instalao, operao ou aplicao de indstrias, em reas crticas de poluio, sero objeto de normas diferenciadas, segundo o nvel de saturao, para cada categoria de zona industrial.

2 Os critrios baseados em padres ambientais, nos termos do disposto neste artigo, sero estabelecidos tendo em vista as zonas no saturadas, tornando-se mais restritivos, gradativamente, para as zonas em via de saturao e saturadas.

3 Os critrios baseados em rea disponvel e infra-estrutura existente, para aferio de grau de saturao, nos termos do disposto neste artigo, em zonas de uso predominantemente industrial e de uso diversificado, sero fixados pelo Governo do Estado, sem prejuzo da legislao municipal aplicvel.

Art . 7 Ressalvada a competncia da Unio e observado o disposto nesta Lei, o Governo do Estado, ouvidos os Municpios interessados, aprovar padres de uso e ocupao do solo, bem como de zonas de reserva ambiental, nas quais, por suas caractersticas culturais, ecolgicas, paisagsticas, ou pela necessidade de preservao de mananciais e proteo de reas especiais, ficar vedada a localizao de estabelecimentos industriais.

Art . 8 A implantao de indstrias que, por suas caractersticas, devam ter instalaes prximas s fontes de matrias-primas situadas fora dos limites fixados para as zonas de uso industrial obedecer a critrios a serem estabelecidos pelos Governos Estaduais, observadas as normas contidas nesta Lei e demais dispositivos legais pertinentes.

Art . 9 O licenciamento para implantao, operao e ampliao de estabelecimentos industriais, nas reas crticas de poluio, depender da observncia do disposto nesta Lei, bem como do atendimento das normas e padres ambientais definidos pela SEMA, pelos organismos estaduais e municipais competentes, notadamente quanto s seguintes caractersticas dos processos de produo:

I - emisso de gases, vapores, rudos, vibraes e radiaes;

II - riscos de exploso, incndios, vazamentos danosos e outras situaes de emergncia;

III - volume e qualidade de insumos bsicos, de pessoal e de trfego gerados;

IV - padres de uso e ocupao do solo;

V - disponibilidade nas redes de energia eltrica, gua, esgoto, comunicaes e outros;

VI - horrios de atividade.

Pargrafo nico. O licenciamento previsto no caput deste artigo da competncia dos rgos estaduais de controle da poluio e no exclui a exigncia de licenas para outros fins.

Art . 10. Caber aos Governos Estaduais, observado o disposto nesta Lei e em outras normas legais em vigor:

I - aprovar a delimitao, a classificao e a implantao de zonas de uso estritamente industrial e predominantemente industrial;

II - definir, com base nesta Lei e nas normas baixadas pela SEMA, os tipos de estabelecimentos industriais que podero ser implantados em cada uma das categorias de zonas industriais a que se refere o 1 do art. 1 desta Lei;

III - instalar e manter, nas zonas a que se refere o item anterior, servios permanentes de segurana e preveno de acidentes danosos ao meio ambiente;

IV - fiscalizar, nas zonas de uso estritamente industrial e predominantemente industrial, o cumprimento dos padres e normas de proteo ambiental;

V - administrar as zonas industriais de sua responsabilidade direta ou quando esta responsabilidade decorrer de convnios com a Unio.

1 Nas Regies Metropolitanas, as atribuies dos Governos Estaduais previstas neste artigo sero exercidas atravs dos respectivos Conselhos Deliberativos.

2 Caber exclusivamente Unio, ouvidos os Governos Estadual e Municipal interessados, aprovar a delimitao e autorizar a implantao de zonas de uso estritamente industrial que se destinem localizao de plos petroqumicos, cloroqumicos, carboqumicos, bem como a instalaes nucleares e outras definidas em lei.

3 Alm dos estudos normalmente exigveis para o estabelecimento de zoneamento urbano, a aprovao das zonas a que se refere o pargrafo anterior, ser precedida de estudos especiais de alternativas e de avaliaes de impacto, que permitam estabelecer a confiabilidade da soluo a ser adotada.

4 Em casos excepcionais, em que se caracterize o interesse pblico, o Poder Estadual, mediante a exigncia de condies convenientes de controle, e ouvidos a SEMA, o Conselho Deliberativo da Regio Metropolitana e, quando for o caso, o Municpio, poder autorizar a instalao de unidades industriais fora das zonas de que trata o 1 do artigo 1 desta Lei.

Art . 11. Observado o disposto na Lei Complementar n 14, de 8 de junho de 1973, sobre a competncia dos rgos Metropolitanos, compete aos Municpios:

I - instituir esquema de zoneamento urbano, sem prejuzo do disposto nesta Lei;

II - baixar, observados os limites da sua competncia, normas locais de combate poluio e controle ambiental.

Art . 12. Os rgos e entidades gestores de incentivos governamentais e os bancos oficiais condicionaro a concesso de incentivos e financiamentos s indstrias, inclusive para participao societria, apresentao da licena de que trata esta Lei.

Pargrafo nico. Os projetos destinados relocalizao de indstrias e reduo da poluio ambiental, em especial aqueles em zonas saturadas, tero condies especiais de financiamento, a serem definidos pelos rgos competentes.