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DIREITO DOS TRATADOS PROFA.ME. ÉRICA RIOS [email protected]

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DIREITO DOS TRATADOS

PROFA.ME. ÉRICA RIOS

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CODIFICAÇÃO DO DIPPRÓS

➢ Segurança jurídica

➢ Dinamismo

➢ Representatividade

➢ Autenticidade

CONTRAS

➢ Falta de coercibilidade

➢ Juridificação excessiva

➢ Conflitos de interesses

➢ Paradigma ocidental judaico-cristão

PROCESSO HISTÓRICO➢Princípios consuetudinários regiam as RI:➢Livre consentimento

➢Boa-fé dos contraentes

➢Pacta sunt servanda

➢A partir de 1815, por força da intensificação da solidariedadeinternacional:➢ Tratados multilaterais

➢ Organizações internacionais de caráter permanente, com capacidadepara celebrar tratados, ao lado dos Estados (início do séc. XX)

Princípios gerais do DI (Carta da ONU, 1945)➢ Igualdade de direitos;

➢Livre determinação dos povos;

➢ Igualdade soberana e independência de todos os Estados;

➢ Não intervenção nos assuntos internos dos Estados;

➢ Proibição da ameaça ou uso da força;

➢ Respeito universal aos direitos humanos, às liberdadesfundamentais de todos; e

➢ Efetividade de tais direitos e liberdades.

PROPÓSITOS DAS NAÇÕES UNIDAS (CARTA DA ONU – 1945)

➢Manutenção da paz e da segurança internacionais;

➢Desenvolvimento das relações amistosas; e

➢Consecução da cooperação entre as nações.

CONCEITOS – Convenção de Viena (1969, art. 2)

a)“tratado” significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo DireitoInternacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos,qualquer que seja sua denominação específica;

b)“ratificação”, “aceitação”, “aprovação” e “adesão” significam, conforme o caso, o ato internacionalassim denominado pelo qual um Estado estabelece no plano internacional o seu consentimento emobrigar-se por um tratado;

c)“plenos poderes” significa um documento expedido pela autoridade competente de um Estado epelo qual são designadas uma ou várias pessoas para representar o Estado na negociação, adoção ouautenticação do texto de um tratado, para manifestar o consentimento do Estado em obrigar-se porum tratado ou para praticar qualquer outro ato relativo a um tratado;

d)“reserva” significa uma declaração unilateral, qualquer que seja a sua redação ou denominação, feitapor um Estado ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, com o objetivo deexcluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua aplicação a esse Estado;

(cont.)e)“Estado negociador” significa um Estado que participou naelaboração e na adoção do texto do tratado;

f)“Estado contratante” significa um Estado que consentiu em seobrigar pelo tratado, tenha ou não o tratado entrado em vigor;

g)“parte” significa um Estado que consentiu em se obrigar pelotratado e em relação ao qual este esteja em vigor;

h)“terceiro Estado” significa um Estado que não é parte no tratado;

i)“organização internacional” significa uma organizaçãointergovernamental

RESERVAS À CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO

CONTRA A MULHER (1979)➢Protocolo facultativo

➢Atualmente ratificada por 181 Estados

➢Mais de 50 países que ratificaram a convenção sujeitaram aassinatura a declarações, reservas e objeções (incluindo 38 paísesque rejeitaram o art. 29, que trata de meios de resolução de litígiosrelativos à interpretação ou aplicação da Convenção)

➢Foi a norma foi que recebeu o maior número de reservas por partedos Estados, dentre todos os tratados internacionais de direitoshumanos.

Um elevado número de reservas concentrou-se na cláusula referente àigualdade entre mulheres e homens na família. Tais reservas foramjustificadas com base na ordem religiosa, cultural ou mesmo legal. SegundoSanto (2006), houve países, como Bangladesh e Egito, que acusaram oComitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher de praticar“imperialismo cultural e intolerância religiosa”, ao infundir a ideia deigualdade entre homens e mulheres, até mesmo na família. (ONU, 2015)

Fonte: Wikimedia Commons, 2008. Disponível em <https://commons.wikimedia.org/wiki/File%3ACEDAW_Participation.svg> Acesso em 28 mai. 2016

DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS

Principais regulações feitas pela Convenção de Viena (1969)

➢ Questões pré-negociais (capacidade para concluir tratados eplenos poderes);

➢ Processo de formação dos tratados (adoção, assinatura,ratificação, adesão, reservas etc.);

➢ Entrada em vigor, aplicação provisória, observância einterpretação; e

➢ Nulidade, extinção e suspensão de sua execução. (ex: art. 62 -reconhecimento da cláusula rebus sic stantibus, que permite a denúncia de um tratado quandopassa a existir uma mudança fundamental nas circunstâncias que tenham ocorrido em relaçãoàquelas existentes ao tempo da estipulação do mesmo.)

TIPOS DE TRATADOS?É irrelevante a classificação dos tratados, pois o art. 2° da

CVDT é claro:

“TRATADO significa um acordo internacional concluídopor escrito entre Estados e regido pelo DireitoInternacional, quer conste de um instrumento único,quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquerque seja sua denominação específica.”

ESTRUTURA MÍNIMA DE TRATADOS➢Título

➢Preâmbulo ou Exórdio➢ Enumeração dos Estados-partes

➢Motivos

➢Articulado ou Dispositivo

➢Fecho (especifica local, data, idioma original e nº de exemplares originais)

➢Assinaturas dos Chefes de Estados (ou delegados com plenos poderes)

➢Selo de lacre

➢Anexos e apêndices

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CLASSIFICAÇÃO DOS TRATADOS➢ Quanto ao nº de partes:➢ Bilaterais ou particulares

➢Multilaterais, gerais ou coletivos

➢Quanto ao procedimento utilizado:➢Bifásicos (assinatura + ratificação) – tratados stricto sensu

➢Unifásicos (assinatura) – tratados simplificados

➢Quanto à sua execução no tempo:➢Transitórios (criam situações jurídicas estáticas e que se exaurem às vezes no próprio

ato) – Ex: Venda ou cessão de territórios.

➢Permanentes (execução por prazo indeterminado) – Ex: de cooperação científica etecnológica, de arbitragem, de proteção de DH, etc.

Mutalizáveis (descumprimento por parte de alguma ou algumasdas partes entre si não tem o condão de comprometer aexecução do acordo como um todo)

Não mutalizáveis (não cabe divisão em sua execução)

➢Quanto à natureza jurídica:➢Tratados normativos ou tratados-lei (fixar normas gerais e abstratas de

DIP)➢Tratados-contrato (estipulação recíproca e concreta das respectivas

prestações e contraprestações com fim comum)➢Quanto à possibilidade de adesão posterior:➢Abertos➢De adesão limitada a contextos regionais/geográficos. Ex:Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985)

➢De adesão ilimitada. Ex: Convenção sobre os Direitos da Criança(1989)

➢Condicionados. Ex: Carta da ONU (1945, art. 4º, § 1°)➢Incondicionados. Ex: todos sobre DH

➢Fechados

“Em verdade, todo e qualquertratado internacional prevalecesobre a lei interna e não podepor esta ser revogado, sob penade responsabilização do Estadono âmbito internacional. Nodireito convencional positivo,tanto os tratados-lei como ostratados-contrato têm o mesmovalor jurídico, sem diferençahierárquica entre eles.”(MAZZUOLI, p. 197)

PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS TRATADOS

➢Problemas na forma (procedimento) -> inconstitucionalidade extrínsecado tratado, questão de DIP.

➢Divergência material com o d. interno de um Est. Nac. ->inconstitucionalidade intrínseca, questão de direito interno.

➢Ato solene composto por 4 fases:➢Negociações preliminares e assinatura;

➢Aprovação parlamentar dentro de cada Estado que queira ser parte;

➢Ratificação ou adesão do texto convencional, concluída com a troca ou depósito dosinstrumentos que a consubstanciam; e

➢Promulgação e publicação do texto convencional na imprensa oficial do Estado. (Fasecomplementar, apenas para dar aplicabilidade interna ao ato)

(MAZZUOLI, p. 199)

REQUISITOS PARA A CONCLUSÃO E ENTRADA EM VIGOR DOS TRATADOS

➢Partes com capacidade (personalidade jurídicainternacional) para o ato;

➢Agentes signatários legalmente habilitados;

➢Mútuo consentimento, vontade inequívoca; e

➢Objeto lícito e materialmente possível.

Art. 24 da Convenção de Viena (1969)1. Um tratado entra em vigor na forma e na data previstas no tratado ou acordadas pelosEstados negociadores.

2. Na ausência de tal disposição ou acordo, um tratado entra em vigor tão logo oconsentimento em obrigar-se pelo tratado seja manifestado por todos os Estadosnegociadores.

3. Quando o consentimento de um Estado em obrigar-se por um tratado for manifestadoapós sua entrada em vigor, o tratado entrará em vigor em relação a esse Estado nessa data, anão ser que o tratado disponha de outra forma.

4. Aplicam-se desde o momento da adoção do texto de um tratado as disposições relativas àautenticação de seu texto, à manifestação do consentimento dos Estados em obrigarem-sepelo tratado, à maneira ou à data de sua entrada em vigor, às reservas, às funções dedepositário e aos outros assuntos que surjam necessariamente antes da entrada em vigor dotratado.

Qual a natureza jurídica da assinatura de um tratado internacional?

Presentemente, a assinatura de um tratado tem natureza jurídica dúplice:trata-se de um aceite precário e formal, que não acarreta (salvo a exceçãodo art. 12 da Convenção de 1969) efeitos jurídicos vinculantes. Trata-se deaceite:

➢ precário por ser provisório, uma vez que o tratado poderá jamais vir a ser ratificado enunca entrar em vigor, visto que só a ratificação (troca ou depósito dos seusinstrumentos) pode exprimir o consenso efetivo das partes relativamente ao acordado;

➢ formal porque atesta tão somente que o texto ali produzido não apresenta vícios deforma, dispondo de todas as condições para prosseguir no seu processo de conclusão.

Qualquer alteração no texto após a assinatura anula o procedimento e as negociaçõestêm que ser retomadas, caso os envolvidos ainda queiram.

(MAZZUOLI, p. 211-212)

FASES DO PROCEDIMENTO INTERNO1. Assinatura do tratado pelo Chefe de Estado.

2. O Chefe do Estado pode, mesmo após a assinatura, desistir dastratativas, sequer submetendo o texto ao referendo parlamentarem seu país.

3. No Brasil, o referendo parlamentar é necessário antes daratificação.

4. Ratificação pelo Chefe de Estado – comprometimento definitivo.A partir desse momento, o tratado produz efeitos (ex nunc).

5. Promulgação e publicação no D.O.U.

VALIDADE E VIGÊNCIA DE TRATADOS(art. 42 da Convenção de Viena)

1. A validade de um tratado ou do consentimento de umEstado em obrigar-se por um tratado só pode sercontestada mediante a aplicação da presente Convenção.

2. A extinção de um tratado, sua denúncia ou a retirada deuma das partes só poderá ocorrer em virtude da aplicaçãodas disposições do tratado ou da presente Convenção. Amesma regra aplica-se à suspensão da execução de umtratado.

ANULABILIDADE DOS TRATADOS(Arts. 48 a 53 da Convenção de Viena)

➢Erro: ato ou situação que esse Estado supunha existir no momento em que o tratado foiconcluído e que constituía uma base essencial de seu consentimento em obrigar-se pelo tratado.

➢Dolo: um Estado foi levado a concluir um tratado pela conduta fraudulenta de outro Estadonegociador.

➢Corrupção de representante de um Estado pela ação direta ou indireta de outro Estadonegociador.

➢Coação de representante de um Estado por meio de atos ou ameaças dirigidas contra ele.

➢Coação de um Estado pela Ameaça ou Emprego da Força.

➢Tratado em conflito com uma norma imperativa de Direito Internacional Geral (= norma aceitae reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como norma da qualnenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior de DireitoInternacional geral da mesma natureza.)

EXTINÇÃO E SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO DE TRATADOS (Arts. 54 a 64)

➢Extinção de um tratado ou retirada de uma das partes

➢N° de partes ficou aquém do necessário para sua entrada em vigor – não extingue

➢Denúncia ou retirada – em regra, não pode

➢Suspensão da Execução:➢em virtude de suas disposições ou pelo consentimento das partes

➢por acordo apenas entre algumas da partes

➢Tratado posterior – em regra, extingue o anterior, mas também pode apenassuspender. A vontade das partes tem que ficar clara.

➢Violação substancial – os demais Estados-partes podem invocar como causa parasuspensão ou extinção, a depender do caso. Se for sobre DH, nem isso.

➢Impossibilidade superveniente de cumprimento - pode ocasionarsuspensão (se temporária), extinção ou retirada, se for em relação aobjeto central do tratado.

➢Mudança fundamental de circunstâncias – via de regra, não afetatratados.

➢Rompimento de relações diplomáticas ou consulares – via deregra, não afeta tratados.

➢Superveniência de uma nova norma imperativa de DireitoInternacional Geral – o anterior torna-se nulo e extinto.