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Direito Empresarial - Cambiário quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010 Apresentação e introdução ao crédito Professor Sidarta 1. Apresentação 2. Curso 3. Metodologia 4. Bibliografia 5. Frequência 6. Avaliação 7. Introdução 8. O que é crédito? 9. Importância comercial do crédito 10. História do surgimento dos Títulos de Crédito Professor é formado pela UDF com especialização em Direito Comercial em 1997. Principalmente Títulos de Crédito e leasing, depois fez MBA na Fundação Getúlio Vargas. Advogou para bancos e hoje é servidor público. Está no CEUB há 8 anos. Direito Cambiário é chato, uma disciplina praticamente morta. Temos três títulos de crédito principais: nota promissória, cheque e duplicata comercial, mas os outros 40 não se usam mais, quase. Na última reforma no Código Civil isso foi inserido no Direito das Obrigações. Em 2002, com a mudança do Código Civil, o legislador incorporou a teoria empresarial do Direito Comercial no Código Civil. Tanto que vimos os artigos 966 em diante no ano passado. Na evolução do Direito Comercial, temos algumas etapas, que já sabemos. A subjetiva, a primeira delas: era o Direito Comercial que levava em conta a pessoa do comerciante. Se o sujeito era um mercador marítimo, ele seria regido pelas leis próprias dos mercadores marítimos, e só em outro caráter que se aplicaria a lei geral. Com o advento dos títulos de crédito, outras pessoas, não somente comerciantes, passam a se envolver nos negócios. Agora estamos na etapa objetiva, e o objeto da relação é o principal agora, não mais a pessoa. Note que temos atos de comércio sem necessariamente haver comerciantes envolvidos. Importamos o Direito Italiano, e então usamos a pessoa conjugada com a atividade. Aqui no Brasil, dentro do império, Teixeira de Freitas fez a consolidação das leis civis. Agora temos o Direito Societário e também o Cambiário. Veremos os títulos de crédito em geral, depois em espécie. Começaremos com a letra de câmbio, vendo os institutos dentro dela, garantia, prescrição, e, para os demais, faremos a adaptação específica para cada um deles. 21/9/2011 Direito Empresarial 24/02/10 notasdeaula.org/…/direito_empresari… 1/3 1

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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Apresentação e introdução ao crédito

Professor Sidarta

1. Apresentação2. Curso3. Metodologia4. Bibliografia5. Frequência6. Avaliação7. Introdução8. O que é crédito?9. Importância comercial do crédito10. História do surgimento dos Títulos de Crédito

Professor é formado pela UDF com especialização em Direito Comercial em1997. Principalmente Títulos de Crédito e leasing, depois fez MBA na FundaçãoGetúlio Vargas. Advogou para bancos e hoje é servidor público. Está no CEUBhá 8 anos.

Direito Cambiário é chato, uma disciplina praticamente morta. Temos trêstítulos de crédito principais: nota promissória, cheque e duplicata comercial,mas os outros 40 não se usam mais, quase. Na última reforma no Código Civilisso foi inserido no Direito das Obrigações. Em 2002, com a mudança do CódigoCivil, o legislador incorporou a teoria empresarial do Direito Comercial noCódigo Civil. Tanto que vimos os artigos 966 em diante no ano passado.

Na evolução do Direito Comercial, temos algumas etapas, que já sabemos. Asubjetiva, a primeira delas: era o Direito Comercial que levava em conta apessoa do comerciante. Se o sujeito era um mercador marítimo, ele seria regidopelas leis próprias dos mercadores marítimos, e só em outro caráter que seaplicaria a lei geral.

Com o advento dos títulos de crédito, outras pessoas, não somentecomerciantes, passam a se envolver nos negócios. Agora estamos na etapaobjetiva, e o objeto da relação é o principal agora, não mais a pessoa. Note quetemos atos de comércio sem necessariamente haver comerciantes envolvidos.

Importamos o Direito Italiano, e então usamos a pessoa conjugada com aatividade. Aqui no Brasil, dentro do império, Teixeira de Freitas fez aconsolidação das leis civis. Agora temos o Direito Societário e também oCambiário.

Veremos os títulos de crédito em geral, depois em espécie. Começaremos com aletra de câmbio, vendo os institutos dentro dela, garantia, prescrição, e, paraos demais, faremos a adaptação específica para cada um deles.

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Professor acha difícil porque ele mesmo nunca trabalhou com uma letra decâmbio. O próprio cheque já está obsoleto!

Também veremos outros, como a cédula de depósito.

Metodologia das aulas: esqueminha no quadro e ditado. Deixe espaço em seucaderno, portanto. Ele usará o jargão jurídico mesmo para nos ensinar.Estamos na fase para errar. Temos o benefício da dúvida! Imagine só se formarsem saber o devido vocabulário.

Bibliografia: o professor nos passará o plano de ensino. Ele é contra manuais.Ele não gosta do Fábio Ulhoa Coelho; os autores, em geral, compõem suas obrase em seguida redigem um manual, simplificado, mas Coelho fez o contrário. Omanual que ele indicaria seria o do Fran Martins. Veja o plano de ensino paraoutras obras. Rubens Requião tem linguajar arcaico mas a obra ainda é melhordo que Ulhoa Coelho.

Dica: em nosso caso particular, autores com a letra A em geral são ruins. Se forpegar qualquer coisa, pegue algo posterior a 2002. Jamais use um livro anteriorà reforma do Código Civil.

Frequência: ele faz chamada, ainda que não nominal. Depois ele notará quemnão está vindo. Dia de prova é dia de prova. Não existe previsão regulamentarde segunda chamada. O curso é pequeno para o semestre. Dentro dafrequência: o professor não costuma faltar. É possível que no mês de março elefalte uma semana. Mas ele nos avisará com antecedência.

Avaliações: duas. É o que a casa manda. Serão tanto subjetivas quantoobjetivas. Verdadeiro ou falso e múltipla escolha e discursivas. O critério éprogressivo, e a matéria será cumulativa. Não haverá recuperação. Nem penseem trabalho, pois não haverá!

O professor é contra ser o primeiro dia de aula ser apenas de apresentação.Vamos nos ambientar.

O que é crédito? O que é cheque especial? Um empréstimo, um contrato deempréstimo tomado com o banco. O banco nos disponibiliza um dinheiro quenão é nosso. Crédito é nada mais que a permissão para a utilização do capitalalheio. Cuidado: não pense, aqui, em crédito na perspectiva do credor. Nestecaso, o credor é o banco, que deverá receber posteriormente a quantiaempresta acrescida dos juros, mas o crédito é do tomador que, na relaçãoobrigacional, figura como devedor.

Estudaremos o mútuo. É o empréstimo de propriedade. Dinheiro: se emprestodinheiro ao Arthur, estou emprestando a propriedade daquele numerário.Então é um contrato de mútuo.

Por que estudar o crédito? O cheque especial, por exemplo, é um capital alheio,

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posto à minha disposição, que usarei quando não tiver mais dinheiro. Se oDiogo quer porque quer adquirir uma camisa do River Plate, mas não dispõe dedinheiro no momento, ele usará o cheque especial. O crédito possibilita o quechamamos de alargamento da troca. A diferença entre compra e venda e trocaou permuta é a existência do dinheiro. Alargamento porque várias transaçõessucessivas poderão ser feitas sem que todos os envolvidos disponham, naquelemomento, de dinheiro.

O Direito Civil trabalha em cima de patrimônio. Exceto os direitos dapersonalidade, estudamos contratos e bens. Até mesmo direitos de parentescoe sucessões remetem à importância do patrimônio.

Pouco de história: conceito de crédito está atrelado ao surgimento da moeda. Oprimeiro contrato que se fazia era a troca. Depois veio a antiguidade clássicacom a Civilização Grega e o Império Romano, seguido do feudalismo com asrelações de suserania e vassalagem, nascimento dos burgos, as transações emouro, que era de transporte arriscado, o que deu origem à letra de câmbio. Atéque, na modernidade, começou a se pensar no caráter jurídico dodesenvolvimento e aplicação dos títulos de crédito.

Sexta-feira veremos teorias do Título de Crédito.

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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Títulos de crédito

1 – Conceito

BrunnerVivante

2 – Princípios dos títulos de crédito

a) Literalidadeb) Autonomiac) Cartularidade

3 – Teorias acerca dos títulos de crédito

a) Einert / Kuntzeb) Savignyc) Schwepped) Iheringe) Vivante

4 – Extensão das teorias

a) Teoria da criaçãob) Teoria da emissão c) Teoria adotada pelo Direito Brasileiro

Aula bastante chata hoje, mas dentro do conteúdo. É chato porque veremospuramente teoria e pouca prática. Veremos o conceito dos títulos de crédito.Depois vamos às teorias, que são uma tentativa de explicação do que vem a seraquela relação obrigacional que se originam dos títulos.

Vamos afunilar até saber qual é a teoria adotada pelo Direito Brasileiro.

Na aula passada falamos sobre crédito. Conceituamos que crédito é apermissão para utilizar o capital alheio. Vimos o cheque especial, que usamosquando estamos “no aperto”, e assim podemos alargar a troca.

O que é um título de crédito? É um documento que demonstra que uma pessoatem um crédito. Um documento que representa o crédito.

Conceito de Brunner: documento de um direito privado que não se podeexercitar se não se dispõe do título. Note a ênfase na palavra “documento”.

Esse conceito já traz para nós a ideia de que o título de crédito é umdocumento. Precisamos demonstrar a vinculação entre credor e devedor. Qualé a diferença entre documento e instrumento? Veremos o contrato de mandato

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em Direito Contratual. Qual é o instrumento desse contrato? Procuração. É uminstrumento do contrato de mandato. Mas a procuração é um documentotambém. Porque falamos em instrumento e não em documento? Documentoserve para prova, mas o instrumento serve para uma finalidade específica. Otítulo de crédito, de acordo com Brunner, é um também um instrumento.

Mas esse conceito não é completo. Vivante veio com um conceito que a doutrinaentende por perfeito. Art. 887 do Código Civil. Título de crédito é “umdocumento necessário para o exercício literal e autônomo do direito nelemencionado.” Art. 887: “O título de crédito, documento necessário ao exercíciodo direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quandopreencha os requisitos da lei.”

Veja a identidade com o conceito de Vivante. É perfeito porque através desseconceito conseguimos extrair três princípios que norteiam o Direito Cambiário.Título literal e autônomo: literalidade, autonomia e cartularidade.

Princípios dos títulos de crédito

Literalidade

O que é uma interpretação literal, conforme vimos em Direito Civil I e II? Seatém ao texto, também conhecido por interpretação gramatical. Aquele direitoautônomo literal que será exercido é apenas o que está escrito. Se você tem umcheque de R$ 600, você vai ao banco sacá-lo, quanto você espera receber? R$1.000,00? De jeito nenhum. Da mesma forma o banco não pode pagar menos. Oupaga o que está escrito ou não paga nada.

O título é literal porque sua existência regula-se pelo teor de seu conteúdo, quese enuncia em um escrito e somente o que nele estiver inserido será levado emconsideração.

Vimos o exemplo do cheque, que é mais claro e simples. Vamos ver depois acircunstância dos títulos de crédito e isso trará à tona a importância daliteralidade.

Princípio da autonomia

Encontraremos na doutrina que alguns autores desdobram autonomia naabstração e independência. Dois motivos tornam o título autônomo, primeiroporque, via de regra, ele não tem relação com uma causa anterior; segundoporque o possuidor de boa-fé não pode ser restringido no exercício de seusdireitos em virtude de relações preexistentes entre credor e devedororiginários. Essa ideia também é conhecida como inoponibilidade das exceçõespessoais.

Vamos entender. “Via de regra”: não se prende a uma causa preexistente.Significa que ninguém amanhã acordará pensando que vai assinar um título decrédito. O título passa a ter vida própria a partir do momento em que ele écriado. O cheque, por exemplo, nasce da decorrência de uma compra e venda.O comprador tinha uma motivação para fazê-lo. Uma vez emitido o cheque,

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entretanto, ele passa a ter vida própria, independente daquela motivação quelhe deu origem. Se a primeira compra e venda não foi prestada (a mercadoria),não interessa, é outra coisa. O cheque é independente da relação que lhe deucausa.

O segundo motivo: o possuidor de boa-fé não pode ter seus direitos restringidosem virtude das relações entre credor e devedor originários. Para entender,imagine uma operação de factoring com o cheque. O que é isso? Um chequepode estar pós-datado. Cadu compra o carro do Arthur, e eles acertam queaquele dará a este um cheque para daqui a 30 dias. Arthur não pode apresentaro cheque no banco hoje, então ele procura uma empresa e faz uma operação defactoring, que consiste em apresentar um cheque pós-datado para receber odinheiro imediatamente, deduzido de uma quantia chamada deságio. Porexemplo: o cheque pelo veículo era de R$ 15.000,00, mas Arthur precisa dedinheiro imediatamente, não pode esperar pela data. Assim, ele vai à empresade factoring, entrega o cheque, e recebe R$ 14.400,00 por ele, porémimediatamente. Os R$ 600,00 de diferença foram exatamente o deságio.

Pois bem. Cadu, homem sério, pega o carro recém-comprado de Arthur e levanum mecânico, para avaliação. O mecânico constata que o carro tem um tempode vida estimado em quinze minutos; está condenado mesmo. Pronto, Caducomprou gato por lebre. O que ele faz? Liga para o banco e solicita suasustação. Neste momento, o cheque está no cofre da empresa de factoring.

Os dias passam, e chega o dia de depositar o cheque. Lucas, dono da empresade factoring, se dirige ao banco e surpreende-se ao saber que aquele chequehavia sido sustado por Cadu, o emitente. Cadu o fez porque houve um problemaem sua transação com Arthur, o que acabou, por tabela, prejudicando Lucas.

E agora, o que cabe a Lucas, lesado, fazer? Ele irá cobrar de Cadu na justiça. E aação deverá prosperar, justamente por causa da inoponibilidade: ele nada tema ver com o problema entre Arthur, quem lhe entregou o cheque, e Cadu, oemitente. As exceções pessoais dos envolvidos na “história” daquele título nãoatingem Lucas, até porque o título é autônomo.

Princípio da cartularidade

O que é uma cártula? É um papel. É a forma física do documento. O que é esseprincípio? Tenho que ter um documento físico. O cheque, por exemplo, é umafolha de papel, que segue uma regulamentação sobre a formalidade necessária.No entanto, Amanda pode tirar uma folha do caderno e criar uma letra decâmbio para passar a alguém.

Podemos então enunciar o princípio da cartularidade da seguinte forma: otítulo de crédito será necessariamente vinculado a uma cártula, ou seja, a umdocumento sem o qual o seu exercício torna-se impossível.

Observação: esses princípios, em virtude do avanço da tecnologia e daspeculiaridades de cada caso concreto, podem não atingir todos os títulos. Nãose aceitam títulos eletrônicos na doutrina ainda. Não se usam mais papéis paraações, por exemplo. Hoje em dia, se alguém lhe aparece oferecendo papéisdizendo ser ações de determinada companhia, proceda da seguinte maneira:convide-o para entrar, ofereça-lhe um cafezinho e chame a polícia e mande

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prendê-lo por estelionato. Via de regra, as regras não tem vinculação a umacausa. Mas a duplicata tem, por isso ela é chamada de título de crédito causal,que nasce de uma causa preexistente. É um exemplo de título que não obedeceao princípio da autonomia. Daí sua diferença para o cheque.

As teorias sobre os títulos de crédito

Os doutrinadores, ao longo do tempo, queriam entender a origem de um títulode crédito. Selecionamos cinco teorias, sendo que quatro possuem críticassignificativas, e a última, de Cesare Vivante, é considerada a mais importante.Vivante se debruçou ao estudo dos títulos de crédito. No Brasil, José XavierCarvalho de Medonça.

Primeira teoria: criada por Einert e completada por Kuntze: o título de créditoé uma promessa unilateral independente de qualquer relação contratualpreexistente cuja pendência frustraria a concepção da autonomia do título.

Por que essa teoria não foi aceita? A forma que eles colocam é o mesmo quedizer: “vou acordar e criar um título”. Se prendem somente à autonomia, masnão dizem sobre a inoponibilidade das exceções pessoais. É uma teoriaincompleta.

Segunda teoria: de Savigny. Diz que o título é emitido como se fosse umcontrato com pessoa incerta em que a dívida encontra-se incorporada no papeltornando-se credor aquele que se encontra na posse do título, eis que estapresume sua propriedade.

Essa parte final está relacionada à teoria subjetiva da posse. Qual é mesmo adiferença entre a posse a propriedade? Posse é o exercício de alguns direitos dapropriedade. Usar e gozar. Não pode dispor nem reaver. A teoria é equivocada,mas é usada para justificar a parte inicial da teoria: veremos que não existecontrato com pessoa incerta. Teoria falha pela parte inicial. É como se Savignytivesse notado o erro e quisesse consertar na segunda parte da teoria.

Teoria de Schweppe: a mais interessante de todas. Também chamada de teoriada personificação. Dispõe que o título é o detentor de seu próprio direito,tratando-o como uma pessoa e não como uma coisa. Teoria bem absurda. ODireito não atribui personificação a coisas inanimadas. Imagine a cadeiraajuizar usucapião contra o CEUB por estar aqui nesta sala há 15 anos...

Teoria de Ihering: a declaração de vontade do emissor do título produzimediatamente um vínculo passivo obrigacional, sem gerar, no entanto, odireito ao crédito que, durante a circulação do título, existe apenas de formapotencial, isto é, até que deixe de circular, não pertencerá ao patrimônio deninguém.

É outro sujeito que apresentará a teoria objetiva da posse. O que é essa “teoriado germe”, como é conhecida? Ele assume o compromisso de pagar aquelecheque. Mas, enquanto está passando de mão em mão, ele está se vinculandopassivamente. Só valerá como obrigação. Só passará a valer algo quandoalguém tomar o título e o depositar. Somente nesse momento que o título éagregado ao patrimônio.

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Furo: aqueles títulos que estariam sendo vendidos não teriam validade alguma,na bolsa de valores. Compra e venda, por exemplo, tem 3 requisitos: res, pretiuse consensus. Ninguém vai comprar ação da Encol.

Então vem a teoria de Vivante, que dá uma explicação mais correta acerca dosvínculos obrigacional dos títulos de crédito. O devedor do título se obriga poruma relação contratual, motivo pelo qual contra ele mantêm-se intactas asdefesas pessoais que o direito comum lhe assegura; em relação a terceiros, ofundamento da obrigação está na sua firma, que expressa sua vontadeunilateral de se obrigar e esta manifestação não deve defraudar as esperançasque se despertam na circulação do título.

Até o primeiro ponto-e-vírgula: Vivante, ao contrário dos demais, diz que temque haver uma obrigação contratual fundamental, motivo pelo qual surge apossibilidade de se alegarem as exceções pessoais. Para entender, voltamos aoexemplo da compra e venda em que Arthur vendeu seu carro para Cadu, quelhe pagou com cheque. Por algum motivo, Arthur não apresenta o chequeimediatamente, e Cadu, que teve tempo de visitar o mecânico, pôde ir ao bancoa tempo para sustar o cheque. Note que a relação ainda está entre os dois, quesão credor e devedor originários, sem chegar a circular. No dia seguinte, Arthurvai ao banco apresentar o cheque para pagamento, e descobre que ele foisustado. Arthur vai ao encontro de Cadu para reclamar do cheque sustado, quelhe responde que aquele lhe vendera um carro com motor fundido. Essaobrigação contratual que faz com que Cadu tenha o direito de não pagar pelaprestação pois ele não teve uma contraprestação. Isso, como veremos emcontratos, se chama exceção por contrato não adimplido. Se pago por um bemque não funciona, eu tenho o legítimo direito de frustrar o pagamento. Vivantefala que essa relação contratual primeira que dá o direito de defraudar asexpectativas do que porta o título de crédito.

Mas ele vai além dessa relação contratual entre emissor e devedor. Ele passa aver também na ótica do terceiro que recebe aquele título que entrou emcirculação, terceiro esse de boa-fé. É o caso de Lucas, com sua empresa defactoring.

Firma, como sabemos, significa “assinatura”. É a assinatura do Cadu naquelecheque que diz que ele se obriga a pagar o valor ao seu legítimo possuidor. Elesabe que o cheque é um título autônomo e que irá circular, e que Arthurpoderia passá-lo ao Lucas. Lucas irá apresentá-lo para pagamento. E, quandoCadu assina, além de dizer que está se obrigando a pagar aquela obrigação, eletambém está dizendo que não irá frustrar, defraudar as expectativas daquelapessoa que recebeu o cheque de sua circulação.

Teoria da criação e teoria da emissão

De todas essas teorias, chegamos a duas: teoria da emissão e da criação.

Teoria da criação: o título é como um testamento. Tem valor próprio erepudia o acordo de vontades. O emissor fica ligado à sua assinatura eobrigado para com o futuro portador, credor eventual e indeterminado,mas somente com o aparecimento deste é que surge a obrigação. Agoracotejem a teoria da criação com as outras. A teoria da criação é a teoria deEinert/Kuntze, que dispensa o acordo de vontades, tratando como um

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testamento, mais a teoria de Savigny e Ihering, todas em uma só. A partirdo momento em que Cadu assina o título de crédito, ele se obriga. Quandofor apresentado, o pagamento deverá ser feito. Mas a teoria nada fala dacirculação do título. Ainda que o Cadu tenha aquele cheque roubado, eleterá que pagar, mesmo não tendo disposto voluntariamente, e não houveacordo de vontades.Teoria da emissão: é a contrapartida. O ato da assinatura do título, ouseja, a sua criação, por si só não faz surgir vínculo algum, que é criadoapenas com o abandono voluntário da posse, seja por ato bilateral, sejapor tradição, de forma que a circulação fraudulenta do título nãopressupõe a existência de obrigação. A teoria da emissão diz que não bastacriar o título para gerar vínculo obrigacional, mas ele precisa serabandonado voluntariamente.

Qual foi a teoria adotada pelo Direito Brasileiro? Nenhuma! Nos filiamos aambas. Vejamos o art. 905 do Código Civil: “O possuidor de título ao portadortem direito à prestação nele indicada, mediante a sua simples apresentação aodevedor. Parágrafo único. A prestação é devida ainda que o título tenhaentrado em circulação contra a vontade do emitente.”

A obrigação é devida ainda assim. Teoria da criação, caso Cadu tenha sidoroubado. Art. 906: “O devedor só poderá opor ao portador exceção fundada emdireito pessoal, ou em nulidade de sua obrigação.”

Opa, já surge uma situação em que o Cadu poderá deixar de pagar por aquelecheque! É a teoria da emissão.

Art. 909: “O proprietário, que perder ou extraviar título, ou for injustamentedesapossado dele, poderá obter novo título em juízo, bem como impedir sejampagos a outrem capital e rendimentos. Parágrafo único. O pagamento, feitoantes de ter ciência da ação referida neste artigo, exonera o devedor, salvo se seprovar que ele tinha conhecimento do fato.”

A lei garante a obtenção de medida judicial que impeça o pagamento a outrem.Teoria da emissão de novo. Nosso Código Civil contempla ambas as teorias.

Pode-se dizer que o Direito Brasileiro não se filiou a nenhuma das teoriasacima, porquanto o Código Civil brasileiro contempla dispositivos que abarcamtanto uma quanto outra teoria.

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quarta-feira, 3 de março de 2010

Classificação dos títulos de crédito

Assim como os crimes, negócios jurídicos, contratos, obrigações, tratadosinternacionais, filósofos, direitos subjetivos, bens, pessoas jurídicas, normasjurídicas, etc., os títulos de crédito também têm sua classificação. Vamos vê-las.

Quanto ao conteúdo

Propriamente ditos: são títulos que dão direito a uma prestação de coisasfungíveis. Exemplo: letra de câmbio. Título será trocado por dinheiro.Bens fungíveis são dinheiro, créditos e coisas consumíveis em geral.Títulos que servem para a aquisição de direitos reais sobre coisadeterminada: Exemplo: conhecimento de depósito, que é o documento queatesta o departamento de determinada mercadoria. Os direitos reais sãoos direitos sobre as coisas.Títulos que atribuem ao seu proprietário a qualidade de sócio dedeterminada atividade jurídica: Exemplo: ações de uma sociedadeanônima.Títulos que dão direito a um serviço: Exemplo: passagens aéreas e outrostipos.

Quanto à sua natureza

Títulos abstratos ou perfeitos: são so títulos em que não se indaga aorigem, valendo a obrigação disposta na cártula. Ligado ao princípio daautonomia. Basta a simples vontade do emitente de por o título emcirculação.Títulos causais, imperfeitos ou impróprios: são os títulos vinculados auma obrigação e ainda assim considerados como títulos de crédito, umavez que são suscetíveis de circulação, carregando consigo a obrigaçãocorporificada. Exemplo: cheque no pagamento de uma conta e a duplicataque não possui existência própria, já que depende de uma fatura. Veja oart. 172 do Código Penal: “Emitir fatura, duplicata ou nota de venda quenão corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ouao serviço prestado. Pena – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, emulta. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquêle que falsificarou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas.”

Comprovantes da legitimação do credorTítulos de legitimação dos proprietáriosTítulos representativos de mercadoria transferida

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Classificação quanto à circulação

Ao portador: são os títulos emitidos sem se revelar o nome da pessoabeneficiada. Em regra tem inserida a cláusula “ao portador” ou mantémem branco o nome do tomador ou beneficiário do crédito, transferindo-sepela simples tradição manual, de mão em mão. Portador é a pessoa queestá na posse do título. Ela se presume proprietária. Se ela se apresenta aodevedor com o título na mão, o devedor terá que pagar a ela, independentede quem seja. Títulos de crédito à ordem: são os títulos emitidos em favor dedeterminada pessoa, transferindo-se pelo endosso simples sem maioresformalidades. Está escrito o nome do beneficiário, sendo possível atransferência por ele.Nominativos: são os emitidos em favor de determinada pessoa cujo nomeconste no registro do emitente, sendo que este não está obrigado areconhecer como proprietário se não aquele que conste em seus registros.A transferência do título nominativo se faz mediante termo no registro doemitente assinado pelo proprietário e pelo adquirente. Art. 921 do CódigoCivil: “É título nominativo o emitido em favor de pessoa cujo nome consteno registro do emitente.” E o artigo seguinte: “Transfere-se o títulonominativo mediante termo, em registro do emitente, assinado peloproprietário e pelo adquirente.” Exemplo de título nominativo: ações daPetrobras. Se tenho uma e resolvo transferí-la para outrem, não possosimples entregar o papel à pessoa; temos que ir nós dois lá na Petrobrás eassinar a transferência para que conste nos registros da estatal.

Regime jurídico

Os títulos de crédito estão previstos, principalmente, na seguinte legislação:

Código Civil de 2002, art. 903;Decreto 2044/1900Decreto 57663/1966 – os decretos tratam de letra de câmbio e notapromissória – Lei Uniforme proveniente de tratado. Ambas as disposiçõeslegais convivem;Decreto 57595/66Lei 7357/1985Lei 5474/1968

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quarta-feira, 10 de março de 2010

Letra de câmbio

1. Conceito;2. Períodos (italiano, francês, alemão);3. Situações jurídicas (art. 3º da Lei Uniforme: sacador e sacado);4. Requisitos extrínsecos da letra de câmbio;5. Cláusula mandato;6. Título em branco ou incompleto (art. 891, Código Civil, súmula 387 STF).

A letra de câmbio é o primeiro título de crédito em espécie que abordamos. É ode maior importância para a nossa matéria, por duas razões: primeiramentepela razão histórica, e depois pelo fato de encontramos nela todas as cláusulascambiais que veremos ao longo do curso, todos os direitos atinentes a um títulode crédito.

É nada mais que um pedaço de papel em que veremos escrito o nome do títuloe, a partir daí, as disposições atinentes.

Qual é mesmo o conceito da letra de câmbio? Uma ordem de pagamento quepermite a troca por uma quantia de dinheiro? É isso mesmo, inclusive é esse oconceito de Fran Martins. Mas o conceito evoluiu: hoje dizemos que é “umaordem de pagamento à vista ou a prazo que alguém dirige a outrem para pagarterceiro, denominando-se saque o ato de criação da letra de câmbio.”

Vejam que se encaixa no conceito de Fran Martins: é o ato pelo qual umapessoa emite uma ordem de pagamento à vista ou a prazo a alguém para queessa pessoa faça um pagamento a terceiro. Traduzindo em exemplo: Leopoldosacou uma letra de câmbio determinando a Arthur que pague a Diogodeterminada quantia em dinheiro. A letra de câmbio passou por três períodosaté chegar como é hoje: italiano, que vem da Idade Média até o século XVII, queé o simples papel para que alguém troque por dinheiro. Parecia com a notapromissória pois havia só duas pessoas envolvidas. Começou a ser usada nocomércio na Baixa Idade Média para evitar prejuízos com os roubos acarruagens transportadoras de moedas de ouro. Rebeca, que cultiva trigo,precisa de um comprador para sua safra. Ela iria ao centro comercial dacidade recém-criada (burgo), e oferecia a quem tivesse interesse em comprar.Já precavidos, os potenciais compradores não carregavam o ouro, masentregavam à Rebeca a letra de câmbio, que era nada mais do que umdocumento atestando que o comprador possuía determinada quantia em ourodepositada num “banco”. Ela entregava o trigo e recebia o papel, para depois irbuscar, naquele banco, seu ouro.

Temos algumas cláusulas cambiárias: “à ordem”, por exemplo, que circulamediante endosso simples. Surge dentro do período francês, onde tambémsurgiu o aceite, que estudaremos mais à frente, mas com uma peculiaridade.No período francês, a letra de câmbio estava atrelada a um contrato de comprae venda, e era necessário que essa pessoa que recebia a ordem de pagamento

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tivesse uma provisão de fundos em nome da pessoa que dá a ordem depagamento. Como assim? Leopoldo não determinou a Arthur que pagasse aDiogo? O Arthur só iria pagar se o Leopoldo tivesse dinheiro com Arthur. Maisou menos como se fosse um banco: Leopoldo, que tem crédito com Arthur, sacavárias letras de câmbio determinando que este pague a pessoas da praça certasquantias em dinheiro. Uma hora Arthur, depois de dar dinheiro várias vezes apessoas que não conhece, resolve interromper os pagamentos suspeitando queLeopoldo já não está mais na condição de credor ou que simplesmente estámesmo com a intenção de dar-lhe calote.

A partir do século XIX, no que chamamos de período alemão, Einert debruça-sesobre a letra de câmbio. Ela é um título autônomo, então não pode estarvinculada a um contrato de compra e venda. Significa que o Leopoldo podesacar uma letra de câmbio determinando que Arthur pague a Diogo sem aprovisão de fundos.

A letra de câmbio, assim como todo e qualquer título de crédito, terá, dentrodela, situações jurídicas. O que são situações jurídicas de um título de crédito?Primeira é o sacador. O que é?

Sacador: Pessoa que dá a ordem de pagamento;Sacado: pessoa a quem a ordem de pagamento é endereçadaTomador: beneficiário da ordem de pagamento.

Dentro do esquema Leopoldo-Arthur-Diogo, quem é cada um? Arthur é osacado, Diogo é o beneficiário (tomador), e Leopoldo é o sacador.

Quais são as situações jurídicas da letra de câmbio? São as partes da relaçãocambiária. Por que não se fala “parte”, como numa relação jurídica comum?Primeiramente, estamos aqui para falar difícil. Segundo porque “parte”pressupõe pessoa e um determinado lugar. Ocorre que na letra de câmbiopodemos ter uma mesma pessoa ocupando lugares distintos simultaneamente.Podemos ter uma pessoa sacando uma letra de câmbio contra ela mesma. Vejao decreto 57663/66, que é a Lei Uniforme. O art. 3º da LU dispõe que:

A letra pode ser à ordem do próprio sacador;Pode ser sacada sobre o próprio sacador (ele sacando contra ele mesmo)ouPode ser sacada por ordem e conta de terceiro.

Daí chamamos de situações jurídicas e não partes.

Requisitos dos títulos de crédito

Todo e qualquer título de crédito tem que obedecer a requisitos. Os títulos decrédito, especialmente pela cartularidade e literalidade, são marcados porextremo rigor formal. Até mais do que o necessário? Talvez. É para a segurançajurídica de que aquele título corporifica todas as obrigações que estão neleinseridas. Daí os requisitos. Comecemos pelos extrínsecos.

O que é um requisito extrínseco? Externo, que está fora, chamado por algunsdoutrinadores de essenciais. Abordamos os extrínsecos, pois o intrínseco épróprio de um negócio jurídico, e não é próprio de uma letra de câmbio. Quais

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são mesmo os requisitos de validade de todo e qualquer negócio jurídico? Art.104 do CC: “a validade do negócio jurídico requer: agente capaz, objeto lícito,possível e determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa emlei.” A letra de câmbio, quando nasce, já terá, a partir daí, que obedecer aosrequisitos intrínsecos. Se não, não é nem um negócio jurídico. É uma norma desobredireito, que vale para qualquer ramo do Direito.

Para começar, já vemos que o valor não consta dentre os requisitos. Issoporque, se ele está circulando, ele tem que ter um valor, pois é da essência dotítulo. O primeiro requisito, portanto, é a...

Denominação: as palavras letra de câmbio, expressas no corpo do título egrafadas na língua empregada na sua redação. Este requisito foi denominadode cláusula cambiária, cuja função é a de identificar o título de crédito que sepretende circular.

O nome do título de crédito é imprescindível. Segundo requisito:

Ordem: incondicional de pagamento, uma vez que a incondicionalidade é daessência da circulação do título, assim o cumprimento da obrigaçãomaterializada no título não pode se sujeitar ao implemento de condiçãoalguma, seja ela suspensiva ou resolutiva.

Primeira pergunta sobre a ordem: o que é uma condição? Evento futuro eincerto. Sabemos isso desde o estudo dos negócios jurídicos. Os títulos decrédito não podem ter seu cumprimento subordinado a uma condição. Nãoestá escrito “pague-se a Vossa Senhoria se.” Essa incondicionalidade é tão forteque mesmo os países que não se vincularam à Convenção de Genebra adotamesse raciocínio.

Nome da pessoa a quem a ordem é endereçada: qual é mesmo o nome dessapessoa? O sacado. A pessoa responsável tem que ser especificada.

Nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser feito o pagamento: quemé essa pessoa? O tomador. Aqui surge uma peculiaridade: a quem ou à ordemde quem deve ser efetuado o pagamento. Primeira situação: o tomador deveestar especificado, e a letra de câmbio não pode ser sacada ao portador.Significa que a letra de câmbio é um título o quê? Eminentemente à ordem!Pelo menos quando de seu nascimento. Pode eventualmente se tornar aoportador, mas nasce à ordem. É próprio da circulação do título de crédito.

Assinatura de quem dá a ordem de pagamento: quem é? O sacador. Dessaassinatura, geralmente acompanhada do nome do sacador, decorre a criaçãodo título de crédito e a vinculação do sacador como co-devedor do título. Porque a assinatura é essencial? A firma do emitente do título faz com que se crie aobrigação cambiária. O que é isso? Teoria da criação. Lembre-se que nãousamos só a teoria da criação, mas também é necessária a disposiçãovoluntária do título. Ao assinar, a ordem já possui vigência no ordenamentojurídico. Além de criar a letra de câmbio, o sujeito se coloca na condição de co-devedor do título de crédito, o que implica solidariedade passiva. Mesmo assimdeve-se buscar o devedor principal primeiro. Na hipótese de descumprimentoque se busca, em juízo, qualquer um deles.

Data do saque (ato de criação da letra de câmbio): o que é o saque? A criaçãoda letra de câmbio. Por que a data do saque é importante, um requisito

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essencial, extrínseco? Para se apurar o vencimento ou eventual prescrição dotítulo, que é a perda da pretensão da ação para exigir seu pagamento. Tambémpara apurar a capacidade civil do sacador. Isso porque partimos dopressuposto que os requisitos intrínsecos já foram satisfeitos. A importância dadata do saque está relacionada com a verificação do vencimento, o transcursodo pagamento, e a apuração da capacidade civil do sacador.

Lugar do pagamento ou menção de um lugar ao lado do nome do sacado.Observação: o art. 4º da LU permite que a letra seja paga na localidade onde osacado tem seu domicílio ou em qualquer outro lugar à sua indicação. Quandofalamos em lugar em que o pagamento deverá ser efetuado, Leopoldo poderádeterminar ao Arthur que pague ao Diogo no CEUB. Em caso de silêncio, a regraé que se pague no endereço indicado ao lado do nome do Arthur, ou, se nãohouver nada mesmo, no domicílio do Arthur.

Lugar do saque ou menção de um lugar ao lado do nome do sacador: para queisto? Para firmarmos a competência de jurisdição. Quem será competente?Nosso fórum da circunscrição judiciária de Brasília. Ou o endereço ao lado donome do sacador.

Terminamos. Agora veja: qual a importância da data do saque? Verificação dovencimento. Cadê o vencimento? Não seria um requisito essencial da letra decâmbio? Faz sentido sacar uma letra de câmbio sem vencimento? Não é muitointeligível. A LU convencionou que a data do vencimento não é um requisitoessencial, pois, sem a menção da data, pressupõe-se que o vencimento do títulode crédito é à vista. Por isso não temos data do vencimento como requisitoessencial. Se nada for dito acerca do vencimento, ele será à vista.

Cláusula mandato

Não estudamos ainda, mas o que é um mandato? É um espaço de período,certo? Não deixa de ser. A pessoa recebe poderes para exercer funções duranteesse período, e, no caso do político, esse poder é dado pelo povo. E aqui noDireito Civil? Quando outorgamos mandato para alguém, significa o quê? Que apessoa é minha procuradora ou representante. O procurador é uma longamanus do outorgante: uma extensão da mão, para praticar atos sem que omandante esteja presente. Com base nisso, posso outorgar poderes para alguémsacar uma letra de câmbio em meu nome? Sem problema algum. Podemos terprocuração para todo e qualquer ato da vida civil.

Cláusula mandato, portanto, diz que o saque, assim como os demais atoscambiários, pode ser praticado por procurador com poderes especiais.

Não obstante, o enunciado número 60 da Súmula do Superior Tribunal deJustiça proibiu a outorga de poderes do devedor ao credor para que esteemitisse título em nome daquele mas em seu próprio benefício. O que não sepode é exigir que dessa pessoa eu saque títulos em meu favor. Veja a Súmula 60:“É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculadoao mutuante, no exclusivo interesse deste.” Significa que não posso ser exigidode entregar poderes para outra pessoa para que ela, em meu nome, saquetítulos em favor dela própria.

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Títulos em branco ou incompletos

Vimos uma série de requisitos de validade do título, que são extrínsecos ouessenciais. Mas nem sempre isso acontecerá. Os bancos, às vezes, exigem queuma nota promissória em branco seja assinada. É possível. Também ocorre emfinanciamentos de automóveis. O Supremo, através da Súmula 387, disse: “osrequisitos essenciais do título não precisam estar totalmente atendidos nomomento do saque, uma vez que a jurisprudência permite que o credor de boa-fé complete a letra antes da cobrança ou do protesto.” Ele pode, portanto,circular livremente, mas, quando do pagamento, ele terá que satisfazer osrequisitos do título de crédito. Agora também a lei (art. 891 do Código Civil)permite a circulação em completo do título até o momento de seu pagamentoou do seu protesto. Eis o artigo: “O título de crédito, incompleto ao tempo daemissão, deve ser preenchido de conformidade com os ajustes realizados.” Otítulo só será exigível com todos os requisitos.

Próxima aula: endosso.

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sexta-feira, 12 de março de 2010

Endosso

ConceitoEfeitosModalidadesEndosso próprio

Em brancoEm preto

Endosso impróprioMandato/procuraçãoCauçãoPóstumo

Efeitos dos endossos imprópriosEndosso VS. Cessão civilSituações jurídicas: sacador, sacado, tomador.

Já tanto falamos do endosso algumas vezes. Vamos estudar dentro da óticajurídica e da ótica formal.

Até a aula passada estávamos construindo nosssas relações jurídicas dentro daletra de câmbio. Ela possui três situações jurídicas, e não partes, pois a mesmapessoa pode ocupar lugares diferentes nessa relação. As situações jurídicassão: sacador, sacado, tomador.

O tomador pode passar a letra de câmbio adiante, pois, dentro de seusrequisitos, a letra é um título de crédito eminentemente à ordem, ou seja, temum beneficiário identificado; entretanto é possível passar adiante o título. Oendosso é o que fará com que a letra de câmbio seja transferível.

Como seria esse negociar, esse transferir dessa letra de câmbio? Leopoldosacou a letra de câmbio determinando a Arthur que pagasse a Diogo 600unidades monetárias daqui a 30 dias. Mas Diogo quer o dinheirodesesperadamente, e não pode esperar 30 dias. Isso embora ele tenha um títuloque corporifica uma obrigação criada por Leopoldo. Então Diogo vai ao banco,que se recusa a oferecer-lhe crédito pura e simplesmente. Mas o banco propõe,então, que ele entregue uma garantia para então poder pegar certa quantia; obanco lhe dá o dinheiro, mas exige aquela letra de câmbio que está em poder deDiogo. Assim, ele terá que transferir a alguém a letra de câmbio, no caso,Flávia, a gerente do banco, mediante o endosso.

Conceito

O que é endosso? É a transferência de um título. Não é a mera transferência do

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pedaço de papel, mas a transferência da propriedade do título, o que levaconsigo todos os direitos inerentes ele. Significa que Flávia terá o direito de ir aArthur cobrar o valor da letra. Ela é agora a nova proprietária do título.Endosso, portanto, é o ato pelo qual o credor de um título de crédito transmiteseus direitos a outra pessoa. Outro conceito, mais complexo: o endosso é adeclaração cambial lançada na letra de câmbio ou em qualquer outro título decrédito à ordem pelo seu proprietário afim de transferi-lo a terceiros.

Veja o primeiro conceito: ato pelo qual o credor transmite os direitos do títuloa outra pessoa. Fácil de entender. O proprietário do título é seu tomador, seubeneficiário, que tem a intenção de transmiti-lo a terceiros. Flávia, portanto,passa a figurar como nova beneficiária.

Efeitos do endosso

a) Transferência da propriedade do título de crédito; a partir do momentoem que Diogo transfere o título para Flávia, não temos somente umacessão de créditos como na lei civil, mas uma mais complexa operaçãocambiária.b) Com o endosso surgem duas novas situações jurídicas na relaçãocambial, sendo elas: a do endossante, ou seja, o credor do título de créditoque resolve transferi-lo e a do endossatário, pessoa a quem a propriedadedo título é transferida. Observação: o primeiro endossante será sempre otomador. Flávia, posteriormente, poderá transferi-la para outra pessoa,como Cadu. Cadu, que conhece e confia em Diogo e Arthur, passa a ser onovo endossatário, que recebeu a letra de câmbio de Flávia, que acabou depassar de endossatária para endossante. Essa cadeia é ilimitada.c) Vinculação do endossante que passa a ser co-devedor do título, ou seja,responsável pelo cumprimento da obrigação. Dita responsabilidadepoderá ser elidida (afastada) caso o endossatário assim concordebastando, para tanto, que o endosso se proceda com a cláusula “semgarantia”. O que estamos dizendo? Diogo, primeiro beneficiário, passapara Flávia, a endossatária, transferindo, para ela, o direito depropriedade, e ela passa a ser a nova proprietária. E assim por diante. Oendossante é desvinculado da relação cambiária. É como se ela fosseresumida assim: Leopoldo – Arthur – última pessoa da cadeia (Flávia,depois Cadu). Mas, quando os intermediários saem dessa relação, a LeiUniforme diz que eles o fazem na condição de co-devedor. Ou seja, se oúltimo for cobrar de Arthur, que se nega a pagar alegando que não conheceo sujeito, de quem este poderá cobrar? De qualquer um da cadeia, poistodos estão na qualidade de co-devedores do título. Até mesmo Leopoldoestá comprometido, pois ele que deu origem a tudo isso, e o saque o deixa,também, na condição de co-devedor. Perguntamos: os intermediáriosestão obrigatoriamente vinculados na qualidade de co-devedores? Sim,mas podemos afastar essa responsabilidade mediante a inclusão dacláusula “sem garantia”. O que quer dizer isso? Aquele que inclui acláusula se exclui da responsabilidade. Isso, é claro, se o endossatárioconcordar.d) Por ser ato típico da circulação cambial, o endosso traz consigo acláusula “à ordem”. Contudo, a inscrição expressa da cláusula “não àordem”, feita pelo sacador ou pelo endossante, inviabiliza a transferênciado título pelo endosso possibilitando-a, contudo, por meio da cessão civil.

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Na aula passada falamos que a letra de câmbio é um título eminentementeà ordem. Quando nasce, tem seu tomador identificado, mas, no final, podeter a sentença “pague-se a tal pessoa ou à sua ordem”. Diogo passou paraFlávia, que passou para Cadu, que passou para Talita, e assim por diante.Mas tanto o Leopoldo, sacador, quanto qualquer endossante, poderestringir a circulação desse título. Assim, escreve-se “não à ordem”. Aoincluir a cláusula, proíbe-se o endosso, e o último endossatário deverá sero último da cadeia. Tem que estar escrito expressamente. Ainda assim oúltimo endossatário poderá transferir não mediante endosso, mas sim porcessão civil. O que é isso? Transferência de uma obrigação. É a cessão decrédito, a transferência do crédito. Vamos estudar a compra e venda.Maria Helena Diniz diz que a principal diferença entre uma compra evenda e uma cessão civil é a existência material do bem. Exemplo: sequero comprar um apartamento ali na 108 Norte, qual será o nome daoperação? Compra e venda. Se quero comprar uma casa ou terrenoirregular, será compra e venda esse contrato? Não, pois não tem escriturapública, já que é irregular. Então, faz-se cessão de direitos (de créditos).Mesmo que a casa tenha 700 metros quadrados ela não existe para oDireito. Terá o direito obrigacional, mas não o direito real.

Endosso próprio e impróprio

Endosso próprio é aquele que transfere a propriedade do título. O endossoimpróprio transferirá o quê? Ou melhor, não transferirá o quê? A propriedade.Só transferirá alguns direitos atinentes. Endosso próprio, portanto, é aqueletraslativo da propriedade. O que é o “traslado”? A transferência. Traslativo etranslativo são sinônimos. Aqui temos duas espécies de endosso: em branco eem preto.

Endosso em branco: é o endosso realizado pela simples aposição da assinaturado endossante no verso do título, propiciando sua circulação como título aoportador. Verso é a parte de trás, enquanto a parte da frente é o anverso dotítulo. Neste caso, o título passou a ser ao portador. Não está escrito o nome donovo tomador identificado. Basta assinatura do primeiro tomador e pronto, elepoderá circular à vontade.

Detalhe importante: art. 910 do Código Civil:

“O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso dopróprio título.”

§ 1º Pode o endossante designar o endossatário, e para validade doendosso, dado no verso do título, é suficiente a simples assinatura doendossante.

§ 2º A transferência por endosso completa-se com a tradição do título.

§ 3º Considera-se não escrito o endosso cancelado, total ouparcialmente.”

O detalhe é que a simples assinatura caracteriza o endosso. A simplesassinatura é o suficiente para a transferência do título? Errado. Basta atradição, a disposição voluntária daquele título. Se a pergunta for “o endosso

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completa-se com a tradição?”, então é verdadeira a afirmativa.

Endosso em preto: é o endosso que, além da assinatura do endossante, contéma indicação do beneficiário. Aqui não basta a aposição da assinatura no verso.Deve-se dizer: pague-se à Flávia. Continua à ordem, pois temos o nome dotomador. Se ela quiser passar o título para o Cadu, ela terá que fazer novoendosso.

Endossos impróprios

São aqueles que, embora não transfiram a propriedade, transmitem alguns dosdireitos inerentes aos títulos.

Endosso mandato ou procuração: é o primeiro deles. O que é mesmoprocuração? Transferência de poderes a outrem. Lembrem-se da ideia delonga manus. Formalizando, o endosso mandato ou procuração é o atoapropriado para o endossante imputar a outra pessoa o poder de realizardeterminados atos cambiários sem, contudo, transferir a propriedade.Endosso caução: o que é mesmo caução? Uma garantia. O sujeito vai àCasa de Penhores mas não tem a joia, mas tem a letra de câmbio. O que elafaz? Um endosso caução. Ela dá como garantia, mas não transfere apropriedade; apenas cede determinados direitos. Ao final do prazo, osujeito vai à Casa, pega a letra de câmbio e paga. O endosso caução é oinstrumento apropriado para instituição de penhor sobre o título decrédito, onerando-o em favor do credor do endossante, que, ao término daobrigação, deverá restitui-lo ao seu proprietário.Endosso póstumo: nem sempre encontrado na doutrina. O endosso épóstumo quando não tem mais possibilidade de cobrança. Se o sacado nãopagar, deve-se fazer o protesto daquele título, e a relação se tornalitigiosa. O título pode ser transferido depois de se tornar litigioso.Endosso póstumo é o endosso realizado após a realização do protesto ou aexpiração do respectivo prazo. A lei dá um prazo para que se faça oprotesto. Passado o prazo, o endosso se torna póstumo.

Efeitos dos endossos impróprios

Diogo faz o endosso por procuração para Flávia. Ela se torna proprietária dotítulo? Não. Ela só terá alguns direitos. Significa que ela não poderáretransmiti-lo. O primeiro efeito, portanto, é que tanto no endosso mandatocomo no endosso caução o novo endosso será tido como um novo endossomandato. Que novo mandato é esse? Ao fazer um endosso mandato, só algunspoderes foram transferidos, mas não a propriedade. Mas o endossatário aindaassim endossa para um terceiro. Ela transferiu a propriedade? Não, pois nãopoderia fazer isso. Esse endosso, portanto, será entendido como novo endossomandato. O segundo efeito é que no endosso póstumo os efeitos serão própriosda cessão civil, como ocorre com a cláusula “não à ordem”. Já que estamosfalando de cessão civil...

Diferenças entre endosso e cessão civil

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O endosso se transfere com a simples assinatura. A cessão civil, via deregra, se transfere por contrato. Se quero transferir uma letra de câmbio,basta assinar no verso. Daí fazemos um instrumento público ou particularde cessão de direitos.No endosso, o endossante responde pela solvência do devedor. Na cessãocivil, o cedente responde pela existência da obrigação. O que isso querdizer? Diogo, ao endossar para Flávia, que o faz para Cadu que por sua vezfaz o endosso para Talita, eles respondem pela solvência, pois são co-devedores do título. O cedente não é co-devedor, mas responde pelaexistência da obrigação; a obrigação tem que ser verdadeira. Se aobrigação for nula, ele responderá; se não for nula, não responderá. Se aletra de câmbio que parou na mão da Talita for descoberta como falsa, aobrigação não existe, mas todos os que passaram o título responderão.

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quarta-feira, 17 de março de 2010

Conclusão do endosso e aceite

I - Inoponibilidade das exceções pessoais

II – Aceite

1 – Conceito2 – Formas de se prestar o aceite3 – Efeitos da recusa do aceite4 – Recusa parcial

Aceite modificativoAceite limitativo

5 – Efeitos da recusa parcial6 – Cláusula não aceitável

Vamos terminar, ainda na parte de endosso, a questão da inoponibilidade dasexceções pessoais, que não vimos ainda. Também vamos tentar ver toda a partede aceite hoje.

Lembrem-se da cadeia Leopoldo-Arthur-Diogo-Flávia-Cadu-Talita. Leopoldo éo sacador, Arthur é o sacado, Diogo é o tomador, que logo se torna o primeiroendossante (ao passar o título de crédito para Flávia, a endossatária,repetindo-se esse comportamento até Talita.)

Última pergunta sobre essa cadeia: a partir do momento em que essespersonagens se tornaram endossantes do título, eles se tornaram co-devedores.

Para finalizar o tema da aula anterior, vamos ver a inoponibilidade dasexceções pessoais. Já falamos do princípio da autonomia dos títulos de crédito.O que é mesmo? Ele tem abstração e independência. Abstração porque ele nãoestá vinculado a uma relação preexistente. E independência porque o títulocircula e, quando faz isso, ele cria expectativas nas pessoas que receberão essetítulo; expectativas porque a satisfatividade não pode ser frustrada por causada relação entre credor e devedor originários. Flávia, que recebe o chequederivado daquela compra por Cadu do carro com motor fundido de Arthur,nada tem a ver com a relação e o problema entre eles. Ela é uma terceira deboa-fé. Terceiro é a pessoa que não é parte da relação originária, enquanto boa-fé é atuação com moralidade, probidade e honestidade dentro daquelecontrato.

Todos presumidamente agem de boa-fé. Para dizer que alguém agiu de má-fé,deve-se provar. Presume-se a boa-fé, portanto dizemos que ela é objetiva.

A inoponibilidade das exceções pessoais é a impossibilidade em que seencontra o devedor de opor ao endossatário de boa-fé as exceções que teria em

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relação ao endossante.

Referida inoponibilidade é cabível apenas quando se tratar de terceiro de boa-fé, uma vez que, quanto ao devedor originário, poderão ser opostas as exceçõespessoais.

Art. 916 do Código Civil: “As exceções, fundadas em relação do devedor com osportadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, seeste, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.” Neste caso, pode ser que, natransação acima, em que Flávia é a endossatária, esta poderia ter recebido ocheque de má-fé, pois quem lhe passou, sabendo problema do motor do carro,lhe fez a proposta de receber o cheque, cobrá-lo do emitente e então partilhar oproveito dessa maliciosa investida, sabendo que as exceções pessoais (no caso,o problema no negócio jurídico envolvendo o automóvel de motor ruim) nãopoderiam ser opostas ao terceiro de boa-fé, que, nesta história, seria a própriaFlávia. Cadu, quem pagou pelo carro com o cheque, ouviu essa história eimediatamente solicitou ao banco que o sustasse. Se Cadu comprovar a má-fécom a qual foi praticada a transação, ele poderá deixar de pagar Flávia.

Lembre-se que má-fé não se presume, se comprova.

Voltando: Arthur vendeu o carro com motor fundido e Cadu sustou o cheque.Leopoldo poderá cobrar. Mas Diogo se defenderá mostrando o motor fundido.Mas, se um terceiro de boa-fé entrar na história, ele não poderá serprejudicado. Diferente situação é aquela em que uma mulher contrata ummarceneiro para montar sua cozinha, e lhe dá um cheque pelo serviço aindapor prestar. O marceneiro leva o cheque à madeireira, compra algumas toras,que por sua vez paga um de seus empregados com ele. Chega o dia da prestaçãoe nada de o marceneiro aparecer. A dona-de-casa manda sustar o cheque. Sóque, neste momento, ele não está mais na mão do marceneiro, que foi quemdescumpriu sua obrigação, mas sim na mão do empregado da madeireira, quenada tinha a ver com nada disso, e nem conhecia o devedor originário. Nestecaso, a exceção pessoal entre a dona-de-casa e o marceneiro não poderá seroposta contra o terceiro de boa-fé.

Se, entretanto, o cheque não circular além da madeireira, pode ser que tenhahavido conluio entre esta e o marceneiro, que combinaram de este pegar ocheque pelo serviço a prestar com a dona-de-casa, enquanto a madeireiraficaria de cobrar, posando de terceiro de boa-fé, da mulher. Provada essasituação, ela poderá sustar o cheque e se abster de pagar.

Aceite

É a segunda declaração cambiária. Na letra de câmbio, temos quantassituações jurídicas? Três. Uma pessoa emite (saca), determinando que alguém(o sacado) pague (cria uma ordem de pagamento) a um terceiro, o tomador.Mas existe o princípio da legalidade, no art. 5º, inciso II da ConstituiçãoFederal. O que diz mesmo? “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazeralgo senão em virtude de lei”. Perguntamos-nos: existe alguma lei obrigandoArthur a aceitar a letra de câmbio? Não. Quando da emissão, o Arthur sequersabia que essa letra de câmbio tinha sido emitida ou não.

No período francês, essa obrigação do Arthur estava vinculada a uma provissão

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de fundos. Mas Einert, no Direito Alemão surgiu dizendo que não, que o títulode crédito era autônomo; vamos enunciar novamente a teoria dele: “o título decrédito é uma promessa unilateral independente de qualquer relaçãocontratual preexistente cuja pendência frustraria a concepção da autonomiado título” . O que temos que saber é que Arthur não é obrigado a aceitar essaletra de câmbio. Mas, ao aceitar, ele se vincula a ela, tornando-se o principalpagador daquela letra. Daí Diogo ou qualquer outro endossatário terá que sedirigir ao Arthur para comunicá-lo. Este anunciará: eu sou o principal pagadordesta letra. Mas Leopoldo também é co-devedor. Quando ele poderá cobrar deLeopoldo? Continue lendo.

Conceito de aceite, portanto, é “o ato pelo qual o sacado vincula-se aopagamento da letra de câmbio, tornando-se seu principal devedor, cabendo aosco-devedores a responsabilidade do pagamento apenas nas hipóteses de recusado aceite ou descumprimento da obrigação assumida.

Com o aceite, surge a situação jurídica do aceitante. Inicialmente tínhamostrês situações jurídicas (sacador, sacado e tomador), depois com o endossosurgem mais duas (endossante e endossatário), e, com o aceite, surge a sexta: osacado torna-se o aceitante, tornando-se o principal pagador da letra decâmbio.

Formas de se prestar o aceite

Deverá ser prestado no anverso, pois o verso é o local destinado ao endosso. Enão apenas no anverso. O aceite será prestado no anverso do título no cantoesquerdo no sentido vertical. Em geral, num retângulo no canto esquerdo dotítulo, destinado especificamente para o aceite.

Excepcionalmente, o aceite poderá ser prestado no verso do títuloacompanhado da expressão “por aceite”. Por que excepcionalmente? Porque éa regra geral, então deve-se escrever “por aceite”. Assim sabemos que não setrata de um endosso e sim de um aceite. Imagine que haja uma assinatura soltano verso do título de crédito. O que ela significará? A princípio, endosso.

Efeitos da recusa do aceite

Falamos que, ao aceitar, o aceitante se torna o principal pagador da letra decâmbio, mas ele não está obrigado. Os efeitos, portanto, são:

O aceite terá como efeito principal a vinculação do sacado como principalpagador da letra de câmbio, no entanto, considerando-se que este não estáobrigado a se vincular contra sua vontade, poderá recusar o aceite,acarretando o vencimento antecipado do título, tornando-o automaticamentevencido e exigível dos co-devedores do título.

Leopoldo sacou a letra de câmbio a Arthur determinando que pagasse a Diogo aquantia de 600 unidades monetárias em 17/04/10. Diogo endossou-a paraFlávia, que endossou para Cadu, que endossou para Talita. Hoje, dia 17/03,mesmo sabendo que o vencimento é em 17/04, Talita veio à aula e descobriuque deve apresentar essa letra de câmbio para Arthur para que este preste o

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aceite e se torne o principal pagador do título. Ela não poderar cobrar a letrade câmbio de Arthur hoje, mas poderá pedir somente que ele preste o aceite.Arthur diz “sim, aceito”, e assina no canto esquerdo, no sentido vertical, noanverso da letra de câmbio. O que acontecerá? Arthur torna-se o principalpagador do título, devolve-o a Talita e diz: “venha daqui a um mês, que é o diado vencimento.” Mas se Arthur recusar-se a prestar o aceite, por qualquermotivo, Talita poderá cobrar imediatamente de qualquer dos co-devedores. Aconsequência da recusa do aceite é o vencimento antecipado da letra decâmbio. Isso por que não faz sentido esperar um mês por algo que não receberá.Assim, Talita poderá cobrar os co-devedores da letra de câmbio. Quem são?Cadu, Flávia, Diogo e Leopoldo.

Recusa parcial

A pessoa não está obrigada a recusar a obrigação, mas o aceite poderá serparcial. Significa que uma parte é recusada.

O aceite ou recusa parcial será de duas espécies: modificativo e limitativo.

Modificativo, por exemplo, é aquele em que a obrigação inicial é modificada; oaceitante aceita, mas não nos moldes propostos. Pode variar em data, porexemplo. O limitativo é o que limita o valor da obrigação. Vejamos o conceitode recusa parcial: “é possível que em determinadas situações o sacado aceitepagar o título, porém de forma parcial, surgindo duas modalidades, a saber:aceite modificativo, quando são introduzidas mudanças nas condições depagamento da letra, e aceite limitativo, quando o sacado limita a quantia daobrigação a ser paga.”

Efeitos da recusa parcial

Arthur pode dizer que só pagará dia 17/5 ou então dizer que só pagará 300unidades monetárias, e não 600, que é o valor da letra. Se ele se recusarcompletamente, o efeito é o vencimento antecipado do título. E na recusaparcial? Também a antecipação do vencimento! A recusa parcial terá comoprimeiro efeito a antecipação do vencimento do título, além da vinculaçãoparcial do aceitante ao limite do aceite realizado, cabendo ao tomador odireito de cobrar a integralidade da letra dos co-devedores ou apenas a parterecusada pelo aceitante.

Talita recebeu a letra e foi ao Arthur. Ele disse que não pagará 600, mas 300.Nisso Talita terá dois caminhos: cobrar 300 do Arthur e os outros 300 dosoutros co-devedores, ou cobrar os 600 dos co-devedores, que terão o direito depedir a metade de Arthur depois.

Cláusula não aceitável

Quando saca a letra de câmbio, Leopoldo pode começar a ter medo de pagaressa letra de câmbio que ele resolveu criar. Significa que ele poderá antever arecusa de Arthur e ele não poderá pagar caso haja vencimento antecipado do

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título. Para que ele não seja pego de surpresa, ele saca aquela letra de câmbiopara Diogo com a cláusula “não aceitável”. Significa que ele não poderáapresentar a letra de câmbio ao sacado para que este apresente o aceite, e quesó se poderá apresentá-la no dia 17/4, que é o dia do vencimento.Formalizando: “constitui-se de cláusula inserida no título pelo sacadorproibindo o tomador de apresentar o título ao sacado antes do seu vencimento,evitando-se assim que o vencimento antecipado do título na hipótese de recusado aceite.”

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sexta-feira, 19 de março de 2010

Aval

Vamos tratar do aval hoje, figura já mais conhecida de nós. Vamos falar daaplicação do aval no Direito Cambiário. Como sempre, lembrem-se dospersonagens desta nossa saga: Leopoldo, Arthur, Diogo, Flávia, Cadu e Talita.

Talita, a última a receber o título de crédito e que o levou a Arthur, se esteaceitar, ele se tornará o aceitante.

Hoje veremos a figura do avalista.

O que é um avalista? Aliás, o que é um aval? Aprovação, liberação? Isso é umaconotação que não deixa dse ser certa, mas não é tão precisa. E a fiança? É umagarantia fiduciária. A fiança está para o Direito Civil assim como o aval estápara o Direito Cambiário. O aval é uma garantia, pedida por quem não temmuita confiança de que alguém irá pagar o valor de um título. Daí Rebeca entrana relação na qualidade de avalista do Arthur. Assim, se este não pagar aobrigação, Rebeca torna-se obrigada, no lugar dele, a pagar o valor do título.

É uma obrigação autônoma e equivalente. Isso porque o avalista se encontra nolugar do avalizado. O arthur, ao prestar o aceite, torna-se o aceitante. Qual aprincipal característica do aceitante? Ser o obrigado principal. Se Rebecatorna-se avalista de Arthur, ela também será obrigada principal. Se Arthur,depois de prestar o aceite, não pagar, Talita não poderá cobrar dos demais co-devedores antes de procurar a Rebeca para a cobrança, pois ela está numarelação de equivalência com Arthur.

Conceito

O avalista pode entrar em qualquer lugar nessa cascata. Pode ser pedido doLeopoldo, Diogo, Flávia e assim sucessivamente. É isso que estudaremos agora.Vamos começar, portanto, com o conceito de aval: “é o ato cambiário pelo qualuma pessoa se compromete a pagar um título de crédito nas mesmas condiçõesque o devedor desse título.”

Se alguém um dia pedir aval para vocês, corram. Quem paga é sempre oavalista, que quer manter seu nome limpo. Quem precisa de um normalmente éalguém em que o credor não confia, normalmente com motivos para isso.Exemplo: Bancos, ao emprestar dinheiro para quem não comprova ser deconfiança, como ter contracheque não muito elevado.

Características do aval

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São duas: autonomia e equivalência.

Autonomia: significa que o poder de se cobrar do avalista o cumprimento daobrigação, ainda que na sua origem esta seja considerada nula. Como assim?Diogo pediu aval do Arthur, e Rebeca entrou naquela relação antes mesmo de oaceite ser prestado. Ela já está avalizando a obrigação do Arthur. Diogo passaessa letra de câmbio para frente até que chega à Talita. Talita, procurandoobter o aceite, apresenta essa letra de câmbio a pessoa outra que não o Arthur,mas sim Rodrigo, que apõe o aceite como se fosse o aquele. Rodrigo diz: “sim,sem problema, passe aqui daqui a um mês que eu te pago o valor dessa letra decâmbio.” No mês seguinte, ela procura o Arthur, e encontra, desta vez, overdadeiro. Ela estranha, e nota que não foi aquela pessoa quem assinou oaceite no mês passado, e Arthur também alega que nunca havia visto Talita.Pergunta-se: aquela assinatura que Rodrigo após na letra de câmbio éverdadeira ou falsa? Falsa. A obrigação assumida por Arthur é nula porque elenão assumiu obrigação nenhuma. Mas ainda assim obrigação da Rebeca éválida e subsiste, pois é autônoma, e, quando o avalista assina, ele assume ocompromisso de per si adimplir o cumprimento da obrigação. Mesmo que oavalizado não o faça e sua obrigação seja considerada nula. Não sejam avalistasde ninguém.

Equivalência: significa dizer que o avalista é devedor do título nas mesmasproporções e condições do avalizado.

Já falamos há pouco que, se Rebeca avaliza o Arthur, ela seria co-devedora namesma posição do Arthur. Se ela, por outro lado, estivesse avalizando oLeopoldo, ela seria uma co-devedora juntamente com a posição daquele; se elaestivesse avalizando o Diogo, ela seria co-devedora na mesma posição dele.Saberemos melhor a posição que o avalista se encontra quando estudarmos acadeia de anterioridade e possibilidade.

Formas de se praticar o aval

Onde se faz mesmo o endosso do título? No verso. E o aceite? No anverso, cantoesquerdo, sentido vertical. E o aval? Em qualquer lugar no anverso. E, assimcomo o endosso, temos a forma em branco e em preto. São três hipóteses:

a) Assinatura do avalista lançada no anverso do título;b) Assinatura do avalista lançada no verso ou no anverso do títuloacompanhada da expressão “por aval”.c) Assinatura do avalista lançada no verso ou no anverso do títuloacompanhada da expressão “por aval de” juntamente com a indicação doavalizado.

Nas primeiras hipóteses, tem-se a figura aval em branco; na terceira, temos afigura do aval em preto, sendo que, na hipótese de inexistência de identificaçãodo avalizado, esta caberá à lei.

Para a letra de câmbio, diz a Lei Uniforme que o aval em branco será prestadoem favor do sacador. O que temos aqui? Podemos lançar o aval no anverso dotítulo. Se a Rebeca só assinar, será um aval em branco. Se for no verso, terá queescrever “por aval” para não confundir com o endosso. Na terceira hipótese, sea Rebeca quer avalizar o Arthur, é necessário que ela faça, no verso ou anverso

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do título, “por aval de Arthur”. Se não for possível identificar quem está sendoavalizado, a lei prevê que o aval será prestado em favor do sacador (Leopoldo).

Aval sucessivo e simultâneo

Simultâneo quer dizer “ao mesmo tempo”. Sucessivo é “sequencial”. Se otomador não se satisfizer com a assinatura apenas da Rebeca, ele pode pedirque Mariane também avalize. Esse é um aval simultâneo. Vamos aos conceitos.Serão simultâneos os avais quando dois avalistas estiverem garantindo umamesma obrigação. Por outro lado, serão sucessivos os avais quando um avalistaestiver garantindo outro avalista de uma obrigação cambiária.

Acabamos de falar na hipótese do aval em branco, em que não conseguimosidentificar quem está sendo avalizado. Tenho a assinatura da Mariane numtítulo, sem nenhuma identificação. É um aval em branco. Tenho também aassinatura da Rebeca lançada no título sem nenhuma identificação. Também éem branco. Dessa forma, não temos como saber se os avais são simultâneos ousucessivos. Daí o Supremo acabou com a controvérsia: presumir-se-á que sãosimultâneos.

Na hipótese de não se permitir identificar se os avais são sucessivos ousimultâneos, entende o Supremo Tribunal Federal que estes se presumemsimultâneos.

E aqui vem uma nova polêmica sobre o aval.

Art. 897 do Código Civil: “O pagamento de título de crédito, que contenhaobrigação de pagar soma determinada, pode ser garantido por aval. Parágrafoúnico. É vedado o aval parcial.” No caso acima, teriamos avais parciais, cadaum deles sendo “uma parte do aval”, certo? Mas vamos ver o Decreto 57663/66,art. 30: “O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte garantido poraval. Esta garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um signatário daletra.”

A letra de câmbio pode ser garantida em parte pelo aval. Usamos esta normapelo princípio da especialidade. Embora o Código Civil vede a prática do avalparcial, está será permitida em função do que determina o art. 30 do Decreto57663/66 (LU), cuja aplicação decorre de previsão expressa constante no art.903 do Código Civil: “Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se ostítulos de crédito pelo disposto neste Código.”

Distinções entre aval e fiança

No início da aula, perguntamos o que é o aval. Qual a diferença dela para com afiança? São institutos que, embora semelhantes, são distintos. Veja asdiferenças:

a) O aval é autônomo e a fiança acessória. O que significa isso? Qual éaquele ditado que aprendemos sobre o acessório e o principal? “Oacessório segue a sorte do principal”. O aval não, pela característica daautonomia, ainda assim subsiste a obrigação.

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b) A fiança necessita obrigatoriamente da vênia conjugal. O aval, em regra,não. Primeira pergunta: o que é a vênia conjugal? A autorização docônjuge. Vênia conjugal é gênero que possui duas espécies. Vejam só:Rebeca é casada, então ela precisa da vênia conjugal do marido paraprestar a fiança. Sendo do marido, essa vênia se chamará vênia marital.Sendo a mulher do Diogo que prestará a autorização, esta se chamaráoutorga uxória. Não misturem! Muitos doutrinadores inclusive usamuxória para os dois. Uxo denota “mulher”. Se a Rebeca prestar fiança semautorização de seu marido, ela será nula de pleno direito. E o aval, emregra, não. Código Civil, art. 1647, inciso III: “Ressalvado o disposto noart. 1648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto noregime da separação absoluta: [...] III - prestar fiança ou aval;” O CódigoCivil colocou a fiança e o aval no mesmo campo lexical. E fala, pelo caputdo art. 1647, que o cônjuge não poderá, sem autorização do outro, prestarfiança ou aval. Uma atecnia do legislador. Como interpretar isso? Vejambem: a fiança prestada sem a vênia conjugal é nula de pleno direito. Avalprestado sem vênia conjugal é anulável. Qual é mesmo a diferença entreum negócio jurídico nulo e um negócio jurídico anulável? A produção deefeitos. Um não gera efeitos, enquanto outro gerará até que tenha suanulidade decretada. Aval sem vênia conjugal pode ser convalidado. Fiançanunca se convalidará.c) Na fiança, existe a figura do benefício de ordem, benefício esteinexistente no aval. Estudaremos em Direito Civil, na fiança, no final dosemestre, que a fiança é uma obrigação subsidiária, que tem benefício deordem. Imagine que Rebeca afiança Arthur num contrato de locação. Sehouver benefício de ordem, Rebeca só poderá ser demandada se o credorprovar que já executou o devedor principal. Esse benefício pode serafastado expressamente. Um advogado esperto coloca a cláusula, dentroda seção “da garantia”: “Rebeca expressamente renuncia ao benefício deordem previsto no Código Civil”. Ou, de outra forma, o advogado espertoescreve que Rebeca é devedora solidária. Assim, o benefício de ordem éafastado tacitamente.d) O aval, via de regra, encontra-se disciplinado nas obrigaçõescomerciais e a fiança nas relações civis. Para contrato de locação, porexemplo, temos fiança, enquanto para contratos comerciais haverá aval.Fiança mercantil é uma fiança prestada no Direito Comercial.

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sexta-feira, 26 de março de 2010

Exercício: relacionar o teoria de Vivante com o princípio daautonomia dos títulos de crédito

Nossa prova será no dia 23/4, sexta-feira, no primeiro horário.

O exercício: o que era para ser feito? O que diz a teoria? Entre credor e devedorforma-se uma relação contratual, e, entre eles, as exceções pessoais sãooponíveis. Qual a função de Vivante ao relacionar esse vínculo contratual h1entre credor e devedor? Manter intactas as garantias do Direito Comum. Quegarantias são essas? Garantias pessoais, como exceção de contrato nãoadimplido: exceptio non adimplendi contractus. Esse é o primeiro enfoque dateoria de Vivante.

Mas a teoria vai mais além, dispondo sobre os terceiros: em relação a eles, ofundamento da obrigação está na firma do devedor; a partir do momento emque ele firma aquela obrigação com o credor, ele também firma uma obrigaçãoa terceiros. O que diz essa obrigação para com terceiros, em relação aodevedor? A obrigação é que ele não frustrará as expectativas do terceiro emreceber o pagamento. Então, se for passada uma letra de câmbio por Leopoldodeterminando a Arthur que pague Diogo, aquela assinatura representa ocompromisso de que a esperança gerada com a circulação do título não seráfrustrada. Obrigação essa consubstanciada na não-frustação do título.

Mas e a pergunta: o que isso tem a ver com o princípio da autonomia? Vejam, aautonomia pode ser subdividida em abstração e independência. O título nãotem vínculo com uma relação fundamental. É por isso que o terceiro de boa-fé,o portador, não pode ter seus direitos restringidos. É o que falamos quandovimos a inoponibilidade das exceções pessoais. O que temos que fazer é oentrelaçamento dessa parte da teoria em relação ao princípio da autonomia. Oprincípio da autonomia garante ao terceiro de boa-fé que as garantias por eleadquiridas não serão frustradas.

As perguntas da prova não serão teóricas a esse ponto não. Serão mais sobrecasos concretos.

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quarta-feira, 07 de abril de 2010

Vencimento, pagamento e introdução ao protesto

Nossa prova deverá ir até o assunto de nota promissória.

Nunca devemos esquecer de nosso esquema de personagens LA(R-M)DFCT paranos rememorar as situações jurídicas. Precisaremos dela para definir a cadeiade anterioridade e posteridade. Lebrando: L é Leopoldo, o sacador da letra decâmbio, A é o Arthur, o sacado, R e M são Rebeca e Mariane, suas avalistas; D éde Diogo, o tomador (beneficiário) do título, que também figura na situação deendossante, quando endossa o título para Flávia (representada pela letra F)que, ao recebê-lo, passa a ser chamada de endossatária. Ela endossa o títulopara Cadu (C) e este para Talita (T) que, finalmente, apresenta-o a Arthur paraque pague a importância nele descrita.

Vencimento

O que é o vencimento de uma obrigação? O encerramento do prazo paraalguma coisa. E que “alguma coisa” é essa? O pagamento, o adimplementodaquela obrigação. No Direito das Obrigações estudamos que que o credor nãoestá obrigado a aceitar o pagamento antes de seu vencimento. E também odevedor não terá a obrigação de quitar antes. O vencimento de uma letra decâmbio é o momento em que o título de crédito torna-se exigível.

Para o Direito Cambiário e o Direito como um todo, temos várias forams devencimento, e, para a letra de câmbio, temos quatro.

Vamos ao conceito de vencimento: é o fato jurídico que torna exigível o créditocambiário mencionado no título. Na forma ordinária, observa-se pelo decursodo tempo ou pela apresentação do título ao responsável pelo pagamento. Naforma extraordinária, o vencimento decorrerá da falta do aceite ou da falênciado devedor.

Vejam que temos duas formas de vencimento: ordinário, que é pelo decurso dotempo. Veremos que em todas as formas de vencimento ordinário há o decursode tempo: em dia certo, à vista, ou a certo termo da vista: “pague-se a Diogo 600unidades monetárias no dia 30 de abril de 2010”. Significa que de hoje ao dia 30de abril fluiu o tempo e venceu a obrigação a ser cumprida.

Outra forma ordinária de vencimento é à vista, que é o momento em que otítulo é apresentado ao responsável pelo pagamento, o sacado ou aceitantepara que se faça o cumprimento da obrigação. Se o título foi apresentado aosacado, é porque a obrigação está vencida e ela deve ser paga.

Temos também as formas extraordinárias. A primeira delas é a falta de aceite.Estudamos no aceite que uma das consequências de sua recusa é o vencimento

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antecipado do título de crédito. Por que é um vencimento extraordinário e nãoordinário? Porque ele está marcado para vencer daqui a 30 dias, mas, emvirtude da recusa de aceite, o vencimento é antecipado para a data de hoje.

Outra forma de vencimento extraordinário é o que s e opera com a falência dodevedor. Um dos efeitos da falência é o vencimento de todas as obrigações dofalido. Veremos isso semestre que vem. O momento da decretação da falênciaprovoca a antecipação do vencimento de todas as obrigações daquela pessoa,como se todas estivessem vencendo naquele exato momento mesmo.

Se Arthur tem como obrigação o pagamento de uma letra de câmbio e qualquerpessoa, não necessariamente o tomador, mas Leopoldo (o sacador) ajuízapedido de decretação da falência daquele, isso acarretará o vencimentoextraordinário da letra de câmbio. Talita ou Diogo receberão o valor do título?Não, pois Arthur estará falido. Falido não paga os credores. Talita terá quecobrar dos demais devedores.

Espécies

Em dia certo: quando o sacador escolhe uma data certa para ovencimento. “Pague-se dia 30 de abril” é com dia certo. É ordinária essaforma de vencimento.À vista: o Direito é óbvio mesmo; quando o devedor tem a vista do título!Quando o banco tem a vista do título, ele terá que efetuar o pagamento.Formalizando: “ocorre vencimento à vista no momento em que o título éapresentado ao devedor.” Num título com vencimento à vista, nãoprecisamos colocar data. O vencimento é o dia da apresentação,presumidamente.A certo termo da vista: nesta modalidade, o vencimento será marcado como decurso de prazo determinado pelo sacador cujo início coincide com adata do aceite realizado pelo aceitante. Na letra de câmbio, estará escrito:“pague-se por essa única via da letra de câmbio a 30 dias do aceite.” Talitalevou ao Arthur a letra. A partir do aceite, marcamos o termo inicial ecomeçamos a contar o prazo, se for feito nessa modalidade.A certo termo da data: quando o título também vence com o decurso detempo, todavia com início coincidente com a data do saque. Na letra decâmbio estará escrito: “pague-se daqui a 45 dias.” Naquele dia ocorrerá ovencimento.

O vencimento extraordinário caiu na prova do concurso para ProcuradorFederal da semana passada. A situação era: um devedor de uma letra decâmbio teve sua falência decretada por motivo que nada tinha a ver com otítulo. Pergunta-se: essa falência acarretará o vencimento antecipado da letra?A resposta é sim. É uma forma de vencimento extraordinário.

Pouca gente soube responder a essa questão porque a maioria só focou nasformas ordinárias de vencimento de um título de crédito.

Vencido o título, vem o momento da necessidade de se cumprir a obrigação. Daísurgem duas hipóteses. Uma delas é o pagamento. O que é? Forma natural doadimplemento da obrigação. No vencimento, se Talita apresenta o título aArthur e este paga, acabou a história.

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Mas ele poderá não pagar, e isso é o que importará para nós: as consequências!Em outras palavras, protesto.

Pagamento

O pagamento é a forma natural de extinção das obrigações, se realizado pelodevedor principal, extinguirá todas as obrigações documentadas no títulooperando-se, por conseguinte, a desconstituição da totalidade dos vínculoscreditícios existentes.

Talita levou o título para Arthur, que pagou. Se feito pelo devedor principal,que é o aceitante, os vínculos creditícios acabam: ninguém mais na cadeia éresponsável pela obrigação.

No entanto, se realizado por codevedor, o pagamento extinguirá a obrigação dequem pagou e dos devedores posteriores, cabendo ação de regresso contra dosdevedores anteriores.

Vejam bem: dissemos há pouco que se o Arthur, que é o devedor principal,pagar a obrigação, tudo se extingue. Mas e se Talita procurá-lo e este se negar apagar? Todas as pessoas da cadeia se transformarão em codevedores. Nahipótese de inadimplemento do devedor principal, Talita poderá cobrar dequalquer pessoa. Ela pode, por exemplo, eleger Flávia como devedora. Daí, aobrigação da Flávia e dos devedores posteriores a ela estará extinta, garantidoo direito de ação de regresso contra os devedores anteriores.

Flávia, quando endossou o título, se tornou garantidora da obrigaçãoprincipal. Na verdade, quem assumiu a obrigação foi Arthur, quando prestou oaceite. Daí Talita poderá cobrar Arthur na qualidade de devedor anterior.

Cadeia de anterioridade e posterioridade

Devedor principal (aceitante): primeiro devedor.Sacador e endossantes: codevedores em segundo lugar.Avalistas: devedores posteriores aos seus avalizados.

Vamos entender isso. Flávia, quando cobrada por Talita, pagou. Ela écodevedora, e não devedora principal. Anotamos que o codevedor, quandoefetua o pagamento, extingue sua obrigação e dos devedores posteriores. Fláviapoderá cobrar do Cadu? Não, pois ela só garantiu ao Cadu que pagaria, masCadu nunca garantiu nada à Flávia. Cadu só garantiu à Talita, que é umadevedora posterior. Mas Flávia pode cobrar do aceitante, que é o Arthur? Pode,pois ele é o primeiro devedor da cadeia, e é, portanto, anterior a ela.

Pergunta-se: Cadu, ao pagar, poderá depois cobrar da Rebeca, avalista deArthur? Não, pois o avalista é sempre posterior ao avalizado. Agora, Talitacobra do Arthur, que não paga, então ela cobra da Rebeca. Rebeca paga. Poderáela cobrar do Arthur? Pode, pois ela é posterior. Por isso que colocamos aRebeca como equivalente ao avalizado, pois, se Flávia quiser cobrar da Rebeca,ela poderá fazê-lo pois Rebeca é devedora anterior.

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A intervenção de terceiros aqui é o chamamento ao processo, justamente paragarantir o direito de regresso aos demais.

Segunda consequência do vencimento do pagamento: o inadimplemento.Arthur não pagou; Talita levou a ele o título e não recebeu daquele o que lheera de direito. Se o devedor principal não paga, de quem Talita poderá cobrar?Dos codevedores. Então ela vai ao Cadu, cobrá-lo. Mas como ele saberá se otítulo foi mesmo recusado pelo Arthur? O título não estará dizendo nada. Édaqui que surgirá a figura do...

Protesto

Para que ele serve? Justamente para corporificar no título aqueleinadimplemento. Talita, na negativa de Arthur, vai ao cartório competentepara que envie uma notificação ao Arthur para que pague e, caso não o faça,que o cartório lavre um termo de protesto 48 horas depois.

O cartório sequer se importa em saber se o título está ou não prescrito. O STJinclusive entende que não é obrigação do cartório observar isso.

Conceito de protesto: ato formal praticado pelo credor perante o cartóriocompetente para fins de incorporar ao título a prova de fato relevante para asrelações cambiais, como a falta de aceite e a falta de pagamento. Isso nos daráas três espécies de protesto da letra de câmbio. Quais são?

a) Protesto por falta de aceite: ocorrerá quando o sacado recusar-se aaceitar a letra de câmbio, devendo ser realizado até a data do vencimentodo título. Observação: a realização do protesto por falta de aceitedispensará o protesto por falta de pagamento. Já falamos que o Leopoldosaca a letra de câmbio determinando a um terceiro para que paguedeterminada quantia em dinheiro a um beneficiário. No momento dosaque, Arthur é tão somente o sacado, o destinatário da ordem depagamento. Ele só se vincula àquela obrigação no momento em que seapresenta a letra de câmbio para que ele preste o aceite. Se prestar oaceite, ele se vincula como devedor principal. Falamos também que, pelofato de ele não estar obrigado a contrair uma obrigação contra suavontade, ele poderá recusar o aceite. Talita leva a letra até Arthur paraque ele preste o aceite, mas este se recusa. O que Talita fará, depois deficar revoltada? Procurará o cartório e realizará o protesto por falta deaceite. Qual o prazo que ela tem? Até o vencimento da letra. Se foi postoque o vencimento é dia 30/4, e Talita apresenta hoje a Arthur para quepreste o aceite, ela terá até o dia 30 para ir ao cartório realizar o protestopor falta de aceite. Feito isso, não haverá mais necessidade de se fazer oprotesto por falta de pagamento. Isso porque, se ele não aceitou, é que elenão pagará mesmo. Assim, Talita terá que apresentar aos outroscodevedores uma falta de aceite. Lembrem-se que um dos efeitos da recusado aceite é o vencimento antecipado do título. Segunda pergunta: quemserá protestado no protesto por falta de aceite? Não é o sacado, porque elenão tem a obrigação de aceitar. É o sacador e os codevedores que figurarãocomo inadimplentes daquele título.b) Protesto por falta de pagamento: Talita leva a letra ao Arthur para quepreste o aceite, e este o faz. Ao fazê-lo, ele se transforma no devedorprincipal, ou principal pagador, que é o aceitante. No dia do vencimento,

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Talita volta à casa de Arthur, e surpreende-se quando este lhe diz que nãopagará. Na falta do pagamento pelo aceitante, ela terá um dia útil depoisdo vencimento para ir ao cartório competente protestar aquele título.Nessa situação, o nome do Arthur figurará no protesto porque ele aceitou.No protesto por falta de aceite não, pois ele não se vinculou àquelaobrigação. Pergunta-se: como Talita saberá o cartório competente? Seráno domicílio do sacado.c) Protesto por falta da data do aceite: usado quando, na letra de câmbio acerto termo da vista, o sacado aceitar a obrigação, mas sem colocar a dataem que aceitou. Nesta hipótese, o protesto tem por finalidade únicaconvocá-lo a indicar a data em que o aceite foi realizado. No vencimento acerto tempo da vista, o início do prazo é a partir da data que o sacadopresta o aceite. Mas, sem data, não teremos como saber quando se dará ovencimento. Talita fará um protesto por data de aceite, mais nada. A datado aceite será a data do protesto.

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sexta-feira, 09 de abril de 2010

Protesto - continuação

Consequências da falta de protestoCláusula “sem despesa” ou sem protestoCancelamento do protestoAção cambial

ConceitoCondições da ação

Prazos prescricionais

Vamos terminar o estudo da letra de câmbio hoje, na aula que vem vamos paraa nota promissória, que fecha o conteúdo da prova.

Na aula passada, falamos do protesto, que é o ato formal praticado pelo credorperante o cartório competente para se incorporar à obrigação cambiária umfato relevante, como a falta do pagamento ou do aceite.

Hoje vamos falar das consequências da falta de protesto. O que acontece se ocredor deixar aquele prazo para fazer o protesto? É o que veremos.

Qual é o prazo a realização do protesto por falta de pagamento? Primeiro diaútil em seguida.

Se Arthur não paga a letra de câmbio à Talita hoje, que é a data do vencimento,quando será realizado o protesto? Na vida prática, seria na segunda-feirapróxima. Talita, convencida por Arthur, que a persuade a não ir ao cartóriodizendo que irá pagar, não fez o protesto. Vamos às consequências:

A consequência da perda do prazo para a realização do protesto será ainexigibilidade do crédito mencionado na letra contra os codevedores e seusavalistas; já contra o aceitante e seus avalistas, a perda do prazo não osafetará.

Das assertivas acima, extrai-se que o protesto será necessário contra oscodevedores de seus avalistas e facultativo contra o aceitante e seus avalistas.

Vamos traduzir. Quem é o devedor principal do título? Arthur, que é o sacadoe, ao aceitar, torna-se o aceitante, que é o devedor principal. Quem são oscodevedores do título? Diogo, Flávia, Cadu e Leopoldo. Dissemos que Talita tematé segunda-feira para fazer o protesto. A consequência de não fazer é a perdado direito creditício contra os codevedores e seus avalistas. Significa dizer que,se no dia 12/4 ela não for ao cartório, ela não mais poderá cobrar de nenhumdaqueles: nem Leopoldo, nem Diogo, nem Flávia nem Cadu; ela perderá odireito creditício contra essa pessoas, que irá remanescer tão somente contraArthur e Rebeca, sua avalista. Isso na falta de pagamento pelo Arthur, que

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aceitou, se vinculou e se tornou devedor principal. Se Arthur não aceita, nãofalamos em perda do direito creditício contra ele.

Essa consequência trará duas figuras: o protesto facultativo e o protestonecessário. Se o protesto não for realizado, o título deixará de ser exigívelpara Leopoldo, Diogo, Flávia e Cadu, que são os codevedores. Significa entãoque, para essa pessoas, o protesto é necessário, sob pena de não mais se poderdeles exigir o cumprimento da obrigação. Já em relação a Arthur e Rebeca, oprotesto é facultativo, pois eles permanecem na condição de devedor principale avalista, respectivamente, e Talita continuará tendo o direito de cobrar delesdois.

Rebeca é codevedora do título. Por que o protesto contra ela não é necessário,mas facultativo? Porque o Arthur é devedor principal. O avalista se encontraem equivalência em relação ao avalizado. Rebeca está garantindo a obrigaçãodo devedor principal. Se o protesto contra Arthur é facultativo, facultativo serácontra Rebeca.

Se o devedor principal não pagar o título, quem pagará? Qualquer um. SeArthur não quiser pagar, Talita irá diretamente ao cartório. É como se elapassasse a seguinte mensagem ao Arthur: “não quer conversar comigo,converse com o tabelião!”

Cláusula “sem despesa” ou “sem protesto”

Leopoldo pode, no entanto, sacar uma letra de câmbio com a cláusula “semdespesa” ou “sem protesto”. Vejamos o que é isso: é um instituto que asseguraao credor contra qualquer devedor, seja ele principal ou codevedor, os direitosde crédito da cártula independentemente de protesto. Assim, ao credorassistirá o direito de cobrança do título contra qualquer um sem o prévioprotesto. Referida cláusula poderá ser inserida pelo sacador, pelosendossantes ou pelos avalistas.

Então Leopoldo veio à aula e aprendeu as figuras do protesto necessário efacultativo. Ele escreverá: “pague-se a Diogo a quantia de 600 unidadesmonetárias sem despesa (ou sem protesto)”. Neste caso não haveránecessidade de protesto contra qualquer um, seja o devedor principal ou oscodevedores. Assim, Talita poderá ir diretamente ao Judiciário para cobrar dequalquer uma das pessoas, sem a necessidade de ter ido ao cartório fazer oprotesto. Qualquer um da cadeia pode fazer, pois isso é benéfico ao credor.

Na aula passada falamos que, se Talita comparece à casa do Arthur parareceber o valor da letra e aquele não paga, ela leva o título ao cartório, queenvia uma notificação ao Arthur para que pague em 48 horas; se não pagar, ocartório irá lavrar um termo de protesto. Seu nome agora está sujo pois estáprotestado. Sem dar muita importância a isso desde já, Arthur vai ao GamBarbeber hoje depois da aula e dá um cheque para o pagamento. O gerenteconsulta e vê que o nome dele está protestado e recusa o recebimento. Situaçãovexatória para Arthur. Ele, agora com peso na consciência, procura Talita parapagar aquela letra de câmbio, e paga. Ela dá a quitação a ele. Mas ainda assimseu nome permanece sujo.

E agora, como Arthur procederá para limpar seu nome? Ele deverá ir ao

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cartório munido da quitação de prova. O cartório irá cancelar o protesto. Issoremete à ideia de sustação de protesto. O que é sustar um cheque? É impedirque ele seja pago. No protesto, a sustação é impedir que ele seja realizado. Adiferença entre cancelamento e sustação é que esta é uma ação cautelar.Imagine que Talita apresenta para Arthur aquela letra de câmbio para quepague-a. Ele responde dizendo que não foi ele quem prestou aquele aceite, eque a assinatura ali presente é falsa. Talita, farejando um calote, anuncia queirá protestar o título. Ela, então, vai ao cartório e este manda a notificaçãopara que Arthur pague nas 48 horas. Arthur, quando for cobrado sem terprestado aceite verdadeiro, ajuizará ação de sustação de protesto. Se for dadoprovimento pelo juiz, ele informará ao cartório que não proteste o título,provocando a suspensão do ato do protesto do título.

O cancelamento, por sua vez, é posterior ao protesto do título.

A legitimidade para ajuizar ação de sustação de protesto é do devedor, e issoestá pacificado no STJ. Havia um colégio aqui em Brasília em que a taxa deinadimplência entre seus alunos era elevada, então a administração da escolaresolveu que, de pronto, protestaria todas as mensalidades não pagas. O pai doaluno, então, comparecia ao colégio para quitar e, posteriormente, ajuizavapedido de danos morais por ter tido seu nome protestado pela escola. Naverdade, é dever do devedor procurar o cartório e apresentar a quitação paraque se cancele o protesto. Daí se tirou que o pedido de danos morais erainadmissível.

Procede-se ao cancelamento do protesto mediante formulação de pedido pelodevedor ou terceiro interessado perante o cartório em que o protesto seprocessou.

O pedido deverá ser instruído pelo próprio título ou, na falta deste, pordeclaração de anuência do tomador.

Ação cambial

Talita, como sempre, procurou Arthur para cobrar sua letra, mas ele nãopagou. Bastante consciente de seus deveres, Talita foi ao cartório para garantirseus direitos creditícios contra o devedor principal e os codevedores. Se ela nãoconseguiu pela via administrativa, amigável, só restará a Talita ir aoJudiciário.

Para o Direito Cambiário, a doutrina mais clássica e formalista diz que, na açãocambial, o terceiro de boa-fé tem em sua mão a inoponibilidade das exceçõespessoais. Bastante complexo. Mas usaremos uma concepção mais modernapara a ação cambial, além dessa concepção clássica: a ação cambial é a açãoexecutiva tendente à cobrança do título. Por que executiva? Qual é a diferençamesmo entre a ação de conhecimento e a de execução? Satisfatividade. Na açãode conhecimento, obtém-se uma declaração judicial dizendo que se tem umdireito. Transformando-o em liquido, certo e exigível, vai-se à execução. Art.585 do Código de Processo Civil: “São títulos executivos extrajudiciais: I – aletra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;” otítulo de crédito é, portanto, um título executivo, líquido, certo e exigível.

Talita ajuizará execução de título de crédito, ou execução de título executivo

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extrajudicial. A ação de conhecimento não será mais necessária. Como umaação de conhecimento é iniciada mesmo? Petição inicial. O juiz mandará citaro réu, caso defira a inicial. O que o réu fará? Contestação. Volta para o juiz,para que faça o saneamento. Então o juiz verificará se a ação está pronta paraser julgada; se for o caso, então julgará antecipadamente; do contrário, iráatrás dos esclarecimentos, marcando um audiência de instrução e julgamento.Nessa audiência, as partes são convidadas a conciliarem-se, sem conciliação, ojuiz fixa os pontos controvertidos e vai para a produção de provas:testemunhal ou pericial, já que a documental deve ter sido produzida com ainicial. Depois de tudo isso, ele proferirá sentença, dizendo quem está certo equem está errado. Com o título executivo judicial, que é a própria sentença, oautor vai para a execução.

Nisso tudo, foram-se dois anos, pelo menos. Tudo isso para obter um títuloexecutivo, no caso, judicial. Mas, se Talita está de posse do título, não judicial(a sentença em seu favor, obtida depois de tanta paciência), mas extrajudicial(a letra) ela pode ir diretamente à execução!

Ação cambial, portanto, é a cobrança do direito creditício mencionado notítulo de crédito mediante uma ação de execução, uma vez que o art. 585,inciso I do CPC atribui aos títulos de crédito a qualidade de título executivoextrajudicial para. No entanto, para a teoria clássica, será cambial a ação emque o terceiro possuidor de boa-fé tem o direito de invocar a inoponibilidadedas exceções pessoais.

Talita resolve propor ação de execução, sabendo que o art. 585, inciso I atribuiao título de crédito a qualidade de título executivo extrajudicial. Mas, para queo juiz mande citar, ele terá que verificar as condições da ação. Há as genéricas eespecíficas. Genéricas são possibilidade jurídica do pedido, interesse de agir elegitimidade ad causam. Além dessas três, o juiz terá que apreciar outras duascondições da ação próprias da ação cambial. Uma delas: Talita resolveexecutar todo mundo. Para se acionar o codevedor, ela precisará ter feito oprotesto do título na hora certa, pois era um protesto necessário. Se quiseracionar os codevedores, ela precisará estar instruída com o instrumento doprotesto. (Lembrem-se: se não protestar, subsistirá o direito creditício delacontra o devedor principal e seu(a) avalista).

Segunda questão que o juiz observará é se a ação está ou não prescrita. O que éa prescrição? Perda do direito de reclamar um direito em juízo.

Intentada a ação cambial, portanto, deverá ser observado se esta obedece ascondições da ação, em especial o prazo prescricional e a presença do títulodevidamente protestado se a ação for movida contra os codevedores e seusavalistas.

Interesse de agir: traduz-se em binômio e trinômio. O binômio, trazido poralguns autores, é necessidade e utilidade. Talita tem necessidade de ir aoJudiciário para receber. E também seria uma medida útil. Portanto, para essesautores, o interesse de agir estaria satisfeito. Mas outros doutrinadores dirãoque faltaria a adequação, que seria o terceiro elemento, fechando o trinômio.Quando se fala em adequação, precisamos ver se a via eleita é adequada ou nãopara se conquistar o direito. Então, se Talita, por algum motivo, resolve ajuizaruma ação de conhecimento para que então obtenha uma sentença para que sóentão execute o devedor, essa ação deverá ser extinta sem resolução de mérito(CPC, art. 267, inciso VI) pois não é a via adequada: ela já dispõe de um título

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executivo extrajudicial, exigível de pronto, portanto uma ação deconhecimento seria inadequada. Com o título na mão, sem prescrição, deve-seajuizar ação de execução, não de conhecimento.

Prazos prescricionais para a letra de câmbio

Três anos, a contar do vencimento para se cobrar o devedor principal eseus avalistas;Um ano, a contar do protesto para a cobrança dos codevedores;Seis meses, contados do ajuizamento da ação ou do pagamento para que ocodevedor exerça a ação de regresso contra os demais.

Talita quer cobrar do Arthur, o devedor principal. Ela tem três anos a partir dovencimento. Então ela terá até 12/04/2013 para fazê-lo. Contra codevedores, jáque ela não quer receber do Arthur, ela terá até 12/04/2011. Assim, elaprocurou Diogo.

Diogo pagou em 12/04/2010. Ele terá seis meses para ajuizar ação de regressocontra as outras pessoas.

Observação: no regresso, o avalista poderá ser demandado.

Observação 2: transcorridos os prazos prescricionais da letra de câmbio, ocredor ainda terá três anos para ajuizar a cobrança do título nas viasordinárias. Art. 206, § 3º, inciso IV do Código Civil: “Prescreve: [...] § 3º Em trêsanos: [...] IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;”

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Direito Empresarial - Cambiário

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Nota promissória

ConceitoSituações jurídicas

SubscritorTomador

RequisitosRegime jurídico

A matéria da prova vai até esta aula.

Introdução à nota promissória

A nota promissória é algo mais palpável de se estudar, mais próximo darealidade. Letra de câmbio mesmo nunca vimos.

A nota promissória, ao contrário da letra de câmbio, que é uma ordem depagamento, é uma promessa de pagamento. Qual é a peculiaridade quediferencia? A ordem é uma relação tripartite: uma pessoa (sacador) ordenaoutra (sacado) que pague a terceiro (tomador). Na promessa, a relação é diretaentre duas pessoas, e não há um intermediário. Simplesmente aquele que sacaa nota diz: “eu prometo pagar”. Quando falamos em nota promissória, acerteza de exigibilidade do título parte de uma pessoa em relação a outra.

O que é “vender fiado”? “Compro hoje e pago depois!” O comerciante aprendeuque existe a nota promissória. Usa-se a nota promissória para executar ocontrato. A nota promissória é um título de crédito, e dispensa testemunhas.Mais, ela é um título executivo extrajudicial, previsto no art. 585, inciso I doCódigo de Processo Civil.

Comprar apartamento com 60 notas promissórias enseja, em caso deinadimplemento, a imediata execução dos títulos.

Quase tudo que estudamos sobre a letra de câmbio se aplicará à notapromissória. Veremos as diferenças a partir de agora.

Conceito

É promessa de pagamento. Simples assim, nada além disso. Veja o texto:“pagarei por esta via de nota promissória a quantia de 700 unidadesmonetárias na data 14/04/2019...”. É uma promessa porque o pagamento é

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futuro.

Situações jurídicas

Quais as situações jurídicas presentes na nota promissória?

Como é uma promessa, teremos somente duas situações jurídicas. Por quesituações jurídicas e não partes? Porque é possível que uma mesma pessoaocupe lugares simultâneos dentro de uma mesma relação. Claro que isso nãofaz sentido para a nota promissória, mas não é vedado.

Subscritor: aquele que, ao praticar o ato do saque, promete pagar a quantiaestampada no título concordando ainda com a circulação deste.

O subscritor da nota é quem emite a promessa de pagamento. O saque é o ato deemissão do título. O regime jurídico da letra de câmbio se aplica à notapromissória. Significa então que aqui também há endosso. Leopoldo prometepagar Diogo diretamente; Diogo endossa o título para Flávia, que endossa paraCadu, que endossa para Talita, que apresenta ao Leopoldo para que a elapague.

Tomador: é o beneficiário da promessa de pagamento. Aqui não existe ordemde pagamento, mas sim promessa.

Requisitos de validade da nota promissória

Nome: as palavras “nota promissória” expressas no próprio título na línguautilizada para a sua redação.

Pelo princípio da cartularidade e literalidade, posso pegar um papel e criaruma nota promissória. Só o cheque que não é possível de ser criado pois segueuma regulamentação do Banco Central. Precisamos, primeiramente, escreverque se trata de uma nota promissória, daí escrever o nome do título.

Promessa incondicional de se pagar determinada quantia: relembrando que aincondicionalidade do pagamento é própria da circulação dos títulos decrédito. Assim, o cumprimento da obrigação não poderá estar sujeito aoimplemento de condição alguma. A nota promissória não tem a redação:“prometo pagar R$ 121,00 a Ícaro se” ou “prometo pagar R$ 121,00 a Ícarocaso”. Se houver condição na nota, ela está completamente descaracterizada enão terá validade.

O nome do tomador ou beneficiário: aqui estamos falando de requisitosextrínsecos. Significa que a nota promissória é um título à ordem. Qual émesmo a diferença entre um título à ordem e um nominativo? Neste, não bastaa indicação do beneficiário, mas também precisa-se da presença dobeneficiário no banco de dados do devedor.

Os três últimos requisitos são:

Data do saque

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Assinatura do subscritor

Lugar do saque ou menção de lugar ao lado do nome do subscritor.

Esses são os requisitos extrínsecos.

E os intrínsecos? Os mesmos da validade do negócio jurídico. Art. 104 doCódigo Civil: agente capaz, objeto lícito, possível, determinado oudeterminável, e forma prescrita ou não defesa em lei. Já partimos dopressuposto que os requisitos foram observados quando do saque na notapromissória ou quando do saque na letra de câmbio.

Regime jurídico

Tratamos de todas as declarações cambiais inseridas no título: endosso, aval,vencimento, protesto por prazo, etc. menos o aceite. Por que não falamos emaceite aqui na nota promissória, mas sim na letra de câmbio? Por que só háduas pessoas na relação. E qual é o conceito do aceite? Faria sentido eu aceitaruma obrigação que eu mesmo já prometi antes? Não mesmo. A função do aceiteera fazer que o sacado se vinculasse à obrigação como devedor principal.

O regime jurídico da nota promissória será idêntico ao da letra de câmbio,todavia, merecem ser tecidas algumas observações caracterizadoras dadistinção entre os títulos. Vejamos:

1 - A letra de câmbio é uma ordem de pagamento, ao passo que a notapromissória é uma promessa de pagamento, de forma que a ela não se aplicamas regras de aceite e recusa do título.

Quem era o principal pagador da letra de câmbio? O aceitante. Significa que oprotesto contra ele era facultativo. E na nota promissória? O principal pagadoré o subscritor. Em relação ao Leopoldo, portanto, o protesto também seráfacultativo.

2 - É o subscritor da nota o principal pagador do título, recebendo, assim, omesmo tratamento de um aceitante de letra de câmbio, fazendo que contra eleo protesto seja facultativo e não necessário.

Arthur foi até Jéssica e pediu que ela avalizasse uma letra de câmbio. Elaassina, e escreve: “por aval”. Pergunta-se É em branco ou em preto o aval? Essapergunta vai cair na prova. É em branco, pois não se pode saber em favor dequem o aval está sendo prestado. Presume-se então que, na hipótese de não sepuder identificar o avalizado, avaliza-se o sacador, no caso da letra de câmbio.Assim, outra observação a ser feita é que o aval em branco presume-se passadoem favor do subscritor da nota.

Quais as formas de vencimento da letra de câmbio mesmo? À vista, a certotermo da vista, a certo termo da data, e em dia certo. Quanto aos três primeirosnão há problema algum em serem usados na nota promissória. Pode-se ter umanota promissória a certo termo da vista? Não pois não há aceite. Não obstante alei fala que se aplica à nota promissória o regime jurídico da letra de câmbio,inclusive no que diz respeito ao vencimento. Como faríamos, então? Leva-se anota até o subscritor para que ele lance a data que a ele está sendo apresentada

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para que, a partir daí, comece a fluir o prazo.

3 - Embora promessa de pagamento, a nota promissória admitirá também aforma de vencimento a certo termo da vista, em que se leva o título aoconhecimento do subscritor afim de que este lance o seu visto, inciando, assim,o prazo de vencimento da nota.

A ausência da data em que o visto é lançado ensejará a realização de umprotesto por falta da data do aceite. Observação: isto não é um aceite. Osubscritor recebe a nota promissória novamente para lançar uma data. Se elenão indicar, o tomador faz o protesto por falta de aceite ainda assim.

Sexta-feira revisão. Na prova, não queiram entrar às 7:50.

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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Super breve correção das questões objetivas da prova de 23/04

Não consegui copiar o comentário da questão subjetiva. Nas questões abaixo, seo comentário da questão não começar com a palavra "verdadeira", então o item

era falso e o comentário vem em seguida.

1. Essa é a teoria de Schweppe, não de Vivante.2. Essa é a teoria da criação, não da emissão.3. Verdadeira.4. É exatamente essa relação causal que assegurará os direitos.5. Súmula 387 do Supremo. O título de crédito poderá circular em branco.6. Esse é o ao portador.7. Também ao endosso mandato e ao endosso póstumo, não apenas ao

caução.8. Ele tem sim um local específico, que é o verso.9. Ela proíbe o endosso, mas permite a cessão.10. É nominativo porque a transferência se faz mediante a ciência do devedor.11. Não é novo endosso próprio, mas novo endosso caução.12. Verdadeira.13. Verdadeira.14. Acarreta o vencimento antecipado do título.15. O aceite limitativo é permitido, mas traz consequências, que é o

vencimento antecipado do título embora com a vinculação do aceitantelimitada ao valor aceito.

16. Nada a ver.17. É um vencimento extraordinário, que é efeito próprio da falência, não

especificamente do título de crédito.18. É necessário.19. Existe a possibilidade de recebimento nas vias ordinárias.20. Não aceita as disposições acerca do aceite, mas sim do vencimento.

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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Cheque

IntroduçãoConceitoSituações jurídicas

SacadorSacadoTomador

Natureza jurídicaLeis de regência do chequeRequisitos de validade do chequeApresentação do chequePrazos de apresentação do chequeConsequências da não apresentação no prazo

Introdução

Hoje começamos ver o mais polêmico dos títulos de crédito, pura esimplesmente porque ainda faz parte do nosso dia-a-dia e ainda temos muitasdúvidas acerca do funcionamento do cheque.

Ele tem uma origem idêntica à da letra de câmbio, inclusive cronológica. Hámuitas características semelhantes, as situações jurídicas, por exemplo:sacador, sacado e tomador.

O que distinguirá um título do outro? Apesar de terem começado juntos, com amesma função histórica, sobre a letra de câmbio, no período alemão, que é osegundo período de estudo da letra de câmbio, Einert disse que a letra decâmbio tem quem abstrair de uma relação fundamental. Não precisamos quenessa relação entre sacador e sacado exista relação de uma provisão de fundos,que era o que se exigia para a letra de câmbio no primeiro período. Se Leopoldosacasse a letra determinando a Arthur que pague a Diogo, seria necessário queexistisse uma relação de provisão de fundos entre Leopoldo e Arthur. Arthur sófaria esse pagamento a Diogo dessa letra de câmbio caso Leopoldo tivessedinheiro, lastro com Arthur. Mas Einert dizia que a letra de câmbio firmavauma relação abstrata entre as pessoas envolvidas. Essa disposição foi mantidapara o cheque.

Como funcionava? Um banqueiro, uma instituição financeira possuía aprovisão de fundos e anotava o que cada cliente lá deixava. Exemplo: MariaJulia deixou 500 unidades monetárias no banco. Este emitia a ela pequenosbilhetes para que Maria Julia os usasse para pagar quaisquer coisas. Osbilhetes poderiam valer, cada um, 100 unidades monetárias, então o bancodaria 5 deles à cliente. A pessoa que recebia um bilhete de Maria Julia ia aobanco de posse dele, apresentava, e a instituição conferia, no livro, se Maria

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ainda possuía a provisão de fundos na conta e dava ao portador do bilhetedinheiro em troca.

Daí inclusive surge a primeira hipótese do que seria a palavra “cheque”: vem doinglês to check: checar se aquele bilhete corresponderia à provisão de fundosque Maria possuía junto ao banco.

O cheque também está bastante ligado ao início da atividade bancária. Surgiuna Itália. Os italianos migraram para a Inglaterra, que foi onde houve umdesenvolvimento mais profícuo da atividade bancária, portanto também foi láque a legislação se desenvolveu melhor. Em 1800, Portugal dá uma definiçãolegislativa para o cheque tal qual o nosso exemplo de hoje, dissociando porcompleto da letra de câmbio.

Veremos outra diferença: a letra de câmbio é uma ordem de pagamento à vistaou a prazo; o cheque será sempre à vista, não importa o que estiver escrito nele.Só se podem sacar cheques mediante existência de provisão de fundos.

Conceito

É a ordem de pagamento à vista sob quantia determinada sacada contra umbanco ou instituição financeira assemelhada com base em provisão de fundosdepositados pelo emitente ou oriundos de contrato de abertura de crédito.

Primeira pergunta: o que é mesmo um título de crédito com vencimento àvista? Aquele cujo momento do vencimento é aquele em que o devedor tem avista do título. O cheque tem conhecimento neste exato momento.

Qual o nome do cheque usado para pagamento futuro? O chequeequivocadamente chamado de "pré-datado". O certo é pós-datado, em queconsumidores e comerciantes usam a “orelhinha” e escrevem “bom para”. Masa questão do cheque pós-datado passa por sérias controvérsias no Direito.Claro que poderá ser descontado quando da apresentação, pois é à vista! Háautorização do emitente. Ricardo Negrão falava disso há muito tempo: parafins extracambiários, falta a anuência do emitente quando este emite umcheque pós-datado. O banco, todavia, irá pagar o cheque. O banco pode fazer opagamento mesmo que estivesse escrito “bom para 5/6”. O banco não só podecomo deve pagar, independente da data escrita.

Mas veremos na aula de sexta-feira a Súmula 370 do STJ, que trata daapresentação antecipada do cheque pós-datado.

Outra observação é: “sacado contra banco ou instituição financeiraassemelhada”. Só é banco ou instituição financeira assemelhada aquelainstituição que é autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil. Veremosem Direito Administrativo, quando estudarmos as pessoas que compõem aAdministração Direta e Indireta, que o BACEN é uma autarquia do poderpúblico para regular o sistema financeiro. Só bancos pode emitir cheque.Qualquer um pode pegar um papel e emitir uma letra de câmbio, mas chequenão.

Instituição financeira assemelhada: cooperativa de crédito, que nãonecessariamente é um banco, mas pode fornecer cheques.

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“Depositados pelo cliente e oriundos de contrato de abertura de crédito”: o quesão fundos depositados pelo emitente? A quantia que o emitente do cheque temdepositada no banco. Se o sujeito tem apenas 1000 unidades monetárias, ele sópoderá emitir até 1000 unidades em cheques. Abertura de crédito: o maiscorriqueiro exemplo é o cheque especial. O gerente do banco oferece um“limite” de 5000 unidades monetárias. Significa que, se o cliente extrapolar as1000 unidades, o banco o está “dando” 5000. É um mútuo feneratício. Não usemcheque especial, pois os juros, como sabemos, são exorbitantes. Leva-se muitotempo para desescravizar-se.

Crédito, como vimos na primeira aula, é a permissão de utilização do capitalalheio. Utilizo o cheque especial, e terei que repor um dia. Significa que terei6000 unidades monetárias, minhas 1000 mais as 5000 disponibilizadas pelobanco, para gastar.

Se o cheque é “sem fundo”, o que significa isso? Não há contrato de abertura decrédito e não há provisão de fundos, ou há os dois mas as 6000 unidades jáforam gastas. Não pode o sujeito emitir um cheque de 7000. O banco nãopoderá pagar 6000 e ficar devendo 1000, pelo princípio da literalidade. Ocheque não será pago.

Pessoa com cheque sem fundo terá seu nome inscrito no Serasa e/ou SPC.Circular 1682 do BACEN: o cheque é devolvido e o emitente terá 48 horas paradepositar os 1000 de diferença. Só então ele é reapresentado. Se, novamente, osfundos não se verificarem, o emitente entra no CCF: Cadastro de Emitentes deCheques sem Fundo. Antigamente era o Banco do Brasil que administrava essecadastro, agora é o Serasa. Para excluir seu nome é uma dor de cabeça.

Situações jurídicas

Quais as situações jurídicas presentes no cheque? São três, como na letra decâmbio.

Sacador: aquele que dá a ordem de pagamento, isto é, o emitente docheque.Sacado: estabelecimento bancário onde se encontra a provisão de fundosque é responsável pelo pagamento do cheque.Tomador: beneficiário da ordem de pagamento emitida.

Até agora parece idêntico à letra de câmbio! Diferença básica é que, no cheque,o sacado será sempre um banco ou instituição financeira assemelhada.

Natureza jurídica do cheque

Natureza jurídica significa: qual a finalidade, qual sua essência. O cheque, naverdade, não é um título de crédito. É uma moeda de mobilização bancária. Eleé dinheiro mesmo, apenas não em forma de cédulas. Aqui lembramos dealgumas situações interessantes: quando vamos ao McDonalds, vemos umaplaquinha metálica com a mensagem: “este estabelecimento não aceitacheques. CF/88, art. 5º, inciso II.” O que é isso? Princípio da legalidade,eximindo toda e qualquer pessoa da obrigação de fazer ou deixar de fazer o que

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não está previsto em lei. Aceitar cheques não é exceção. Logo, deve haver umalei que regula o direito do estabelecimento de recusar o cheque como forma depagamento. Vamos tentar descobrir qual é.

Lei 8884/94, art. 92: é a Lei Antitruste, a Lei do CADE. Vejam o cabeçalho dodiploma legal: “Transforma o Conselho Administrativo de Defesa Econômica(Cade) em Autarquia, dispõe sobre a prevenção e a repressão às infraçõescontra a ordem econômica e dá outras providências.” Art. 92: “Revogam-se asdisposições em contrário, assim como as Leis nºs 4.137, de 10 de setembro de1962, 8.158, de 8 de janeiro de 1991, e 8.002, de 14 de março de 1990, mantido odisposto no art. 36 da Lei nº 8.880, de 27 de maio de 1994.” Está ficando maiscomplicado... “Revogam-se as disposições em contrário”: em regra, cheque nãopode ser recusado por ninguém, pois é uma ordem de pagamento à vista sobprovisão de fundos. Afinal ele é dinheiro, moeda de mobilização bancária. Qualé o fundamento que as pessoas usam para justificar o não recebimento? Lei9069/95, que institui o Plano Real. Art. 1º: “A partir de 1º de julho de 1994, aunidade do Sistema Monetário Nacional passa a ser o REAL (Art. 2º da Lei nº8.880, de 27 de maio de 1994), que terá curso legal em todo o territórionacional.” Moeda, curso forçado, a única coisa aceitável. Isso não éfundamento para se recusar o cheque. A única desculpa plausível é o prazo decompensação. Demora de 24 a 48 horas de acordo com o valor. Os comerciantesacham também que o brasileiro tem uma certa tendência a ser malandro.

E cheque de outra praça? Também não há nada na legislação que permita arecusa. Também não há fundamento na recusa. E os cheques de clientes quenão têm conta há pelo menos determinado tempo, como “cheques com menosde 1 ano da abertura da conta?” Aqui é que as coisas ficam até engraçadas poisa recusa passa a ser não só legalmente, mas também estrategicamentedescabida: alguém pode abrir a conta, ficar um ano honesto e depois iniciar aatividade criminosa.

Princípios associados

O cheque é estudado como título de crédito, mesmo sendo uma moeda demobilização bancária. Por quê? É um título cambiariforme. Se aplicam a ele osmesmos princípios. Não temos cheque virtual ainda; é um documento. Qual é oprincípio que trata do documento? Cartularidade. E qual o princípio que tratada exatidão de seu conteúdo? Literalidade. Há também, por último, o princípioda autonomia, traduzida na inoponibilidade das exceções pessoais.

O cheque é um título de crédito sui generis (sem igual no gênero) porquanto,embora se constitua como moeda de mobilização bancária, submete-se aoDireito Cambiário em face da aplicação dos princípios da cartularidade, daliteralidade e da autonomia, bem como da inoponibilidade das exceçõespessoais quando se tratar de terceiro de boa-fé.

Leis de regência

Quanto às leis de regência, temos o Decreto 57665/66, que também é uma leiuniforme derivada de uma Convenção de Genebra para fins de cheque; Lei7357/85, Código Civil de 2002 além de resoluções, portarias, circulares e

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normas internas baixadas pelo Banco Central. Foi, por exemplo, uma resoluçãode 1983 que padronizou o formato do cheque.

Requisitos extrínsecos

Por ser um título de crédito sui generis, há requisitos extrínsecos de validadepara serem observados:

1. Denominação: cheque.2. Ordem incondicional de pagamento. A incondicionalidade é própria da

circulação do título de crédito. Submeter a uma condição é frustrar aprópria concepção de autonomia do título.

3. Identificação do banco sacado: todo banco tem um número, que estará nocheque.

4. Nome do beneficiário ou do tomador do cheque. Escrevam o nome dotomador! A Resolução 2090 determina que cheques com valor acima de R$100 devem conter o tomador identificado.

5. Data compreendendo lugar, dia mês e ano da emissão do cheque, sendoque o mês deverá ser expresso por extenso. Não se pode usar o formato05/05/10. É importante para fins de prazo prescricional. Cuidado com oano e a proximidade do final do ano! Fará uma diferença preencher umcheque com a data 3 de janeiro de 2009, quando acabamos de passar a2010.

6. Assinatura do emitente, que poderá ser substituída por mandatário compoderes especiais. Posso emitir um cheque por procuração? Sim, semproblema algum. Devo portar a procuração e apresentá-la a quem querque eu dê o cheque. Ela deve estar junto ao cartão de assinaturas do banco(documento que contém amostras da assinatura do correntista), paracoibir tentativas de falsificação de assinatura.

7. Identificação do emitente, com RG e CPF.

Apresentação do cheque

Na letra de câmbio, temos uma ordem de pagamento à vista ou a prazo em queuma pessoa determina a outra que pague a terceiro. Leopoldo, Arthur e Diogo.Diogo endossou a letra de câmbio para Cadu, que apresenta para Arthuraceitar. Se não aceitar, Cadu terá que protestar por falta de aceite. O cheque,ao contrário da letra de câmbio, não admite aceite. Quando alguém vai aobanco apresentar o cheque, o estabelecimento não prestará aceite, mas fará opagamento de imediato. Essa ida ao banco de posse do cheque é a apresentaçãodo cheque. O pagamento só se dá mediante sua inserção na cadeia bancária.

Se dará mediante depósito em conta corrente, ou quando fazemos o descontodo cheque, equivocadamente chamado “saque do cheque”.

Apresentação do cheque: meio pelo qual o cheque é levado ao conhecimento dosacado para que seja feito o seu pagamento. Essa apresentação possui prazospara que seja realizada. O cheque é mais complexo que imaginamos. Há, porexemplo, dois prazos para apresentação do cheque: 30 e 60 dias. Por que essadiferença? Vejamos:

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a) O cheque terá prazo de apresentação de 30 dias se de mesma praça e

b) 60 dias, se de praças distintas.

O que são cheques de outra praça? De outra cidade ou estado. O que estamosdizendo é que, se passo um cheque para Rebeca, minha agência é de Brasília e adela também, somos da mesma praça. Sendo de praças (cidades) distintas,Rebeca terá 60 dias para apresentá-lo. São câmaras de compensaçãodiferentes.

Se Rebeca perder o prazo de apresentação, o que acontecerá? O banco pagará,independentemente disso! Banco paga cheque prescrito, inclusive. Basta terfundos. O problema é quando Rebeca perde o prazo e não existe a provisão defundos.

Quais as consequências?

Perda do direito creditício contra os codevedores. Saquei um cheque parao Bruno, que endossou para Ligia, que endossou para Cadu, Diogo,Larissa... o direito creditício permanecerá somente contra o emitente. Oscodevedores são responsáveis pelo pagamento, mas é o emitente quemdeve ter a provisão.Perda do direito creditício contra o emitente se havia fundos dentro doprazo de apresentação acima e estes deixaram de existir por culpa alheiaà vontade do emitente. Vejam: no item acima, Rebeca perdeu o prazo deapresentação, apresentou fora do prazo e não havia fundos. Ela mantém odireito creditício contra o emitente. Aqui, ela perde o direito contra oscodevedores e perderá contra o emitente se ficar demonstrado que haviaprovisão de fundos enquanto no prazo mas estes deixaram de existir porfato alheio à vontade do emitente. O primeiro exemplo é a clonagem docartão de crédito. Mas neste caso o banco se responsabilizará. Exemploclássico foi que, em 1/3/90, houve o confisco das poupanças peloPresidente Collor. Foi fato do príncipe: o Estado que determinou, e nadase pode fazer contra a medida.

Sexta-feira: súmula 370 do STJ.

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sexta-feira, 07 de maio de 2010

A Súmula 370 do STJ

Hoje estudamos a Súmula 370 do STJ. O que fizemos em sala foi uma leituracomentada dos julgados que antecederam a edição dessa Súmula. Portanto,pela economia de tempo, não pude transcrever aqui os julgados, que podem serencontrados no site do STJ, conforme dito abaixo. Resumirei aqui, portanto, asprincipais dicas dadas pelo professor enquanto comentava os acórdãos.Infelizmente nem todas consegui anotar. Para aproveitar o máximo destaanotação, procure a Súmula 370 do Superior Tribunal de Justiça e leia osjulgados precedentes. Não é muita coisa.

O enunciado da Súmula 370, aparentemente simples, diz: “Caracteriza danomoral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.” Essa súmula éassunto de bastante polêmica. Tanto que passou a ser cobrada em concursos eexame da Ordem.

Vimos o vencimento do cheque na aula passada, e aprendemos que o cheque é

uma ordem de pagamento à vista. Qualquer coisa que se escreva no cheque que

torne-o diferente desnatura-o como cheque. O banco é obrigado a pagar na

data apresentada, independente da data escrita na cártula.

Desenvolvemos a prática do cheque pós-datado. A relação dele com a súmula370 é que, muitas das vezes, passo um grupo de três cheques pós-datados epode vir a ocorrer de o cidadão depositar os todos de uma vez. E não havia oque fazer, pois o cheque estava regulamentado segundo as resoluções do BancoCentral, e também pela própria legislação, que lhe confere natureza jurídica deordem de pagamento à vista. Se é à vista, ele deverá ser pago quando o sacadotiver a vista do cheque, e não deveria haver mais discussões. Se houver aprovisão de fundos, os cheques deverão ser pagos.

Para fins de Direito Cambiário, a apresentação do cheque antes do vencimentonão traz consequência alguma, mas, para o Direito Civil, poderá sim trazerconsequências. Em fevereiro de 2009, o STJ editou a Súmula 370.

Vejamos: O que é jurisprudência? Decisões reiteradas de um tribunal. Quandosão por demais reiteradas, o tribunal edita uma súmula, ou melhor, umenunciado de súmula, que é um resumo que passará a nortear todos osjulgamentos daquela corte. Até que se chegou ao enunciado atual da Súmula370: “Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.”

Isso significa que, se passo um cheque para daqui a 30 dias para Eleonora e elao deposita hoje, posso ajuizar pedido de dano moral contra ela, certo? Nãoexatamente. O enunciado da Súmula serve apenas como norteador de decisões.

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Visitem a página no site do STJ em que se encontra a Súmula.¹ Ou, se quisernavegar desde a raiz do site (www.stj.jus.br), vá ao menu à esquerda, vá emconsultas, depois súmulas. Você irá para uma página que exibirá as súmulasem ordem decrescente. Então, clique no ícone que contém uma lupa (acima dapalavra ajuda, que por sua vez está acima da lista de súmulas), que lhe enviaráà página de pesquisa de súmulas, e digite o número 370 no campo “número”.Você chegará à página do link acima.

Quando entramos na página de qualquer súmula, vemos o enunciado, onúmero da súmula, a sessão, que é de direito privado. O STJ é dividido em trêssessões, cada uma dividida em duas turmas. A primeira sessão é composta pelaprimeira e pela segunda turma, a segunda sessão pela terceira e quarta turmase a terceira sessão pela quinta e sexta turmas. A primeira trata de DireitoPúblico, a segunda trata de Direito Privado, e a terceira trata de DireitoPrevidenciário, Direito Penal e assuntos referentes a servidores públicos. Hátambém, na página de cada súmula, a referência legislativa, com o Direitoaplicável. No caso, a Lei 7357/85, a Lei do Cheque, que vimos na aula passada.Temos Recursos Especiais desde 1993 sobre o assunto. Por fim, temos osPrecedentes, que são os Recursos Especiais julgados pelo Superior Tribunal deJustiça sobre essa matéria.

A partir de todos os julgados dos RESPs, partiu-se para a montagem da Súmula370.

Para verificar o real espírito da súmula, temos que trabalhar com os julgados,que foram os precedentes, para então saber o que se passou na cabeça dosministros.

Estrutura do acórdão

O que é mesmo um acórdão? É uma decisão do Colegiado. Os ministrosjulgadores que compõem aquele Colegiado julgarão, irão acordar com aproposição feita pelo relator do processo e daí forma-se a decisão. É o opostoda decisão monocrática, feita singularmente. Também chamada de decisãosolitária.

Temos a ementa, que é o resumo do julgado, da matéria que está sendo tratada.A ementa está para o acórdão assim como o dispositivo está para a sentença.Na ementa temos o que foi decidido.

O acórdão tem também um relatório, assim como a sentença, e o voto, que é amanifestação do relator, em que ele diz por que julga daquela maneira, assimcomo a fundamentação está para a sentença, e a parte final, que é a ementa, aparte dispositiva da sentença.

O relatório contém a matéria tratada e o histórico de como aquele processochegou ao STJ.

Quando começou a prática do cheque “pré-datado” no Brasil, os tribunaiscomeçaram a rejeitar os pedidos de indenização por motivo de apresentaçãoantecipada. Entendia-se que, como o cheque é uma ordem de pagamento àvista, ao se colocar uma data futura, ele estaria sendo desnaturado como títulode crédito, então não caberia mais dano moral em virtude de sua apresentação

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antecipada, e o cheque funcionaria apenas um representativo de dívida. Depoisde muito tempo, todos os tribunais passaram a admitir a prática porque eracorriqueira. O Judiciário não poderia virar as costas para a realidade social.“Se todos fazem isso, temos que criar uma jurisprudência própria para ocheque pré-datado!”, pensou-se.

REsp 213.940

Neste julgado, em que uma mulher pedia danos morais pela apresentaçãoantecipada de um cheque, o estabelecimento recorreu alegando que não houveproblemas maiores para a mulher. Ainda assim o recurso restou improvido,pois apesar de a emitente não ter tido seu nome incluso em cadastros deinadimplentes, o constrangimento não deixou de existir, e que o encerramentode conta corrente ou inclusão do nome da consumidora no SPC ou Serasaseriam meras agravantes.

Cuidou o magistrado de pontuar que dano moral é algo de foro íntimo e nãoquantificável objetivamente, portanto a razoabilidade deve ser usada para oarbitramento do valor.

O recorrente (o estabelecimento comercial) também alegou contrariedade dadecisão do TJRJ às normas dos arts. 4º e 5º da a Lei de Introdução ao CódigoCivil, um dos requisitos de admissibilidade. Quando estudarmos recursos,veremos que o REsp, o Recurso Especial encaminhado para o STJ, tem doisrequisitos de admissibilidade: contrariar dispositivo de lei federal e existênciade divergência entre a decisão de um tribunal com outros tribunais do país.Devemos verificar em que ponto a decisão recorrida contraria o dispositivo delei federal, ou onde que há divergência com decisão de outro tribunal.

Quando tivemos o acidente do Boeing da Gol com o jato Legacy da Embraer em29/9/2006, um escritório foi contratado para fazer um levantamento dajurisprudência quanto aos danos morais para as famílias. O STJ pensava em150 salários mínimos, mais o pensionamento vitalício. Isso talvez chegasse aosR$ 80 mil por família, bem menos do que a indenização que seria devida caso acondenação ocorresse nos Estados Unidos.

Note a ementa do julgamento desse REsp: “devolução de cheque sem fundoconstitui fato capaz de gerar prejuízo moral”. Compare com o enunciado.Capaz de gerar significa que não necessariamente gerará. No caso dos autos,houve prejuízo de ordem moral porque houve a devolução de cheque semfundo, que faz negativar a imagem do indivíduo, pois passa a figurar comoemitente de cheque sem fundo.

Segundo acórdão: 557.505

...com relatoria do Ministro Menezes Direito.

O professor entendeu como absurdo esse acórdão já que, nesta hipótese, orecorrente, que é o autor, já tem o nome sujo. A loja, por algum motivo,antecipou o depósito do cheque, e o emitente alegou dano moral. Note tambémque ele é um recorrente em causa própria, logo é advogado. Sem prova de que

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houve combinação de apresentar só na data, que era ônus do requerente, oTribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais negou seu pedido deindenização por danos morais.

Na ementa vemos que o cheque apresentado antes da hora pressupõe o danomoral, seja pelo fator surpresa, seja porque capaz de ensejar uma série deaborrecimentos. Para o REsp, também, indicou inobservância, pelo tribunalque emitiu a decisão recorrida, de dispositivos do CDC (lei federal) que versamsobre propaganda enganosa e inversão do ônus da prova.

Menezes Direito invocou o teor dos precedentes dos REsps 213940 e 237376 e osaplicou ao caso concreto.

REsp 707.272

O Tribunal de Justiça da Paraíba também teve uma decisão sua sobre o assuntorecorrida. Foi o REsp 707.272. A relatora foi a Ministra Nancy Andrighi. Ela, emseu voto, reconhece que a prática de passar cheques pós-datados tornou-senacionalmente aceita e menciona o erro comum na terminologia, chamando-ocorretamente de “pós-datado”.

Já trabalha com outro aspecto do cheque pós-datado: é uma relação deconfiança, uma relação contratual. Estabelece-se um pacta sunt servanda.Então, alegou-se exceptio non adimpleti contractus. "O construtor (promitentealienante) ao aceitar o pagamento com o cheque em data posterior àassinatura do contrato, assumiu a obrigação de não apresentá-lo antes da dataavençada com o consumidor (promissário adquirente)".

Apresentar o cheque em data futura não o desnatura. É uma ordem depagamento à vista de qualquer jeito. A condenação, então, não foi pela simplesdevolução, mas pela quebra de confiança, portanto de contrato, o que geradever de indenizar.

REsp 921.398

Vamos falar pouco sobre este julgado.

No acórdão da ação em que o advogado que postulava em causa própria, este játinha seu nome inscrito no SPC. Aqui, ninguém tem nome sujo, e o quecaracteriza o dano moral é a devolução antes do prazo.

O que é dano moral? O que o caracteriza? É um dano psicológico, que atinge oemocional, a honra. Dano à honra é relativamente fácil de provar, maspsicológico não. Apesar de honra ser subjetiva, ela pode ser percebidaobjetivamente, daí sua alegação não depende de prova. Daí estar dito naementa que o dano moral tem caráter in re ipsa, que quer dizer “por elemesmo”.

O dano precisa ser decorrente da apresentação, não pode ser preexistente.

O que vimos em todos esses acórdãos? Para a caracterização do dano moral, foinecessário: quebra da boa-fé, violação contratual e necessária ocorrência de

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dano, mesmo que não tenham sido externos como a finalização de contacorrente ou inclusão do nome em cadastros desagradáveis. Portanto, oenunciado não é tão sólido como parece.

1 – http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?processo=370&&b=SUMU&p=true&t=&l=10&i=1

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quarta-feira, 12 de maio de 2010

Cheque - continuação

Espécies de chequeCheque visadoCheque cruzadoCheque administrativo

Espécies quanto à circulaçãoNominativo à ordemNominativo não à ordem

Revogação e sustação do chequeEndosso e avalProtestoPrazos prescricionais

Hoje vamos tratar de algumas das espécies de cheque. Além dessas trêsmodalidades de cheque no sumário acima, temos o cheque postal, que caiu emdesuso, e alguns outros.

Vamos às espécies:

Cheque visado: por solicitação do sacador ou do portador do cheque, pode obanco sacado lançar visto no cheque certificando a existência da devidaprovisão de fundos para seu pagamento.

O valor respectivo será debitado da conta do sacador ficando à disposição dotomador durante o prazo de apresentação do título; findo este, o dinheiro serádevolvido à conta do emitente.

Como funciona? Passei um cheque no valor de 5 mil unidades monetárias paraAmanda, em seguida eu ou ela pede que o banco viste o cheque. O bancoverifica se o dinheiro existe na minha conta. Se existe, ele vistará com aassinatura do representante do banco. Feito isso, o banco retirará essedinheiro e colocará numa conta separada, que lá ficará à disposição daAmanda durante o prazo de apresentação do cheque. Qual é mesmo? 30 dias seda mesma praça, ou 60, se de outra.

Qual é a função do cheque visado? Primeiramente, pode ser uma garantia paraAmanda de que ela não se aborrecerá ao comparecer ao banco e ter a notícia deque não há fundos. Pode ser também que ela queira passar o cheque paraRebeca, esta para outra pessoa e assim sucessivamente. O visto certifica que hádinheiro na conta do emitente durante o prazo disponível para apresentação. Éapenas uma garantia para se poder fazer a circulação do dinheiro.

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Cheque cruzado: É o cheque caracterizado pela aposição de duas linhasparalelas e transversais. Referido cheque será pago somente a outro banco ou aclientes do banco sacado mediante depósito em conta corrente.

Qual a finalidade? Podemos ter várias. O cheque só poderá ser depositado emconta corrente. Isso dificultará o endosso. Lembrem-se que títulos de crédito àordem têm o inconveniente de poderem parar na mão de qualquer pessoa,inclusive criminosos, que, quando a polícia os encontrar, apreenderão seuspertences e, quando encontrarem o cheque assinado pelo emitente, este teráseu nome associado à organização criminosa. Dificilmente o traficante quevenha a se tornar portador do cheque terá uma conta corrente em um banco, oque significa que ele, se cruzado, não poderá ser descontado na boca do caixa.

Outra: passo cheque de 5000 unidades monetárias para Jéssica. Ela sabe quepode descontar o cheque, indo ao caixa do meu banco para “sacar” o valor(lembrem-se que o verbo sacar aqui está empregado de acordo com o usopopular, mas não é o mais correto, que seria descontar ou trocar). Passei-lheentão o cheque mas neste momento eu não tenho o dinheiro para pagá-la. Maso cheque não é uma ordem de pagamento à vista? Sim, mas ela irá ao bancodela, depositará, e, durante a noite, ele será compensado: irá para a umacâmara de compensação, e se houver provisão de fundos, meu bancotransferirá para o dela.

Cheque administrativo: o que são mesmo situações jurídicas? As pessoasenvolvidas. Chamam-se situações jurídicas e não partes porque a mesmapessoa pode ocupar a mesma posição. Dito isso, o cheque administrativo é umcheque sacado por um banco contra ele mesmo, figurando, simultaneamente,como sacador e sacado. O beneficiário será um terceiro.

Para que serve? Para evitar, entre outras coisas, que uma pessoa carreguemuito dinheiro numa mala, mochila, bolsa, cueca ou meia. Houve um clientedo professor que somava mais de R$ 600 mil em dívidas tributárias e, quandofoi pagar, o preposto do Administração Fazendária lhe informou que só eraaceito dinheiro. Claro que o cliente não carregaria esse montante numa sacola,ou seria pedir para ser roubado. Então, eles fizeram um requerimento para queo banco da cidade, no qual o cliente possuía conta, emitisse um chequeadministrativo, contra si mesmo, no mesmo valor, indicando o nome dobeneficiário, e aí sim, o órgão saberia que quem estava pagando aquele valorera o banco, daí haveria maior segurança.

Quanto à circulação

Os títulos de crédito, quanto à circulação, recebem três classificações:nominativo, à ordem e ao portador. Voltem um pouco no tempo e lembrem-se:o que é um título à ordem? Aquele no qual consta o nome de uma pessoadeterminada que irá recebê-lo e poderá endossá-lo. Nominativo é aquele cujonome do credor consta nos registros do devedor, e a transferência se fazmediante alteração no registro. Ao portador é aquele que não possui o nome dobeneficiário. Agora muito cuidado com uma sutileza de termos.

O cheque também pode ser nominativo. Mas este “nominativo” nada tem a vercom a classificação usada para os demais títulos de crédito, que acabamos dedescrever acima, aquele em que o devedor mantém um banco de dados com o

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rol de credores e cuja transferência deve se fazer com a alteração dos dadosdesse banco. Aqui no cheque, a classificação “nominativo” se aplicará àquelescujo nome do beneficiário está especificado, mas sem a exigência de que hajaum registro ou banco de dados. No cheque, os escritos padronizados são:“pague por este cheque a quantia de ______________ a _____________ ou àsua ordem.” Viram o pequeno “a” no meio das duas lacunas? É a partir dalimesmo que constará o nome do beneficiário. A complicação se agrava quandoconfundimos essa espécie de cheque com “cheque nominal”, o que estáincorreto. “Nominal” refere-se ao valor literal escrito na cártula. Valornominal é aquele que se contrapõe ao valor real. Imagine um financiamento decarro com juros de 1% ao mês. Ao converter essa taxa de mensal para anual,temos uma taxa de 12% ao ano. Esse é o valor nominal, calculado pela simplesconversão de períodos. Então aqui vem a curiosidade para matar nossasaudade da Matemática: o valor real será calculado com a função exponencial:D(t) = D0 x e

kt, em que D(t) é a função que denota o dinheiro devido em funçãodo tempo t, D0 é o dinheiro inicial (o valor do carro) e k é a taxa de juros.Substituindo os valores, temos que o dinheiro devido depois de 12 meses D(12)= 100.000 x e(0.01 x 12) = 112.749,68. Comparando esse valor de 112.749,68 com ovalor do carro, que é 100 mil Reais, verificamos que houve um aumento de12,749% ao longo desse ano, que é o valor real, diferente da elevação nominalde 12% ao ano.

Não confunda, portanto, cheque nominal com cheque nominativo.

Nominativo à ordem: é o cheque em que se consigna o nome do tomador,permitindo-se, com a cláusula à ordem, sua circulação mediante endosso.

Pague-se “a” ou alguém à sua ordem. Pago para Rebeca ou alguém à ordemdela. Ela poderá passá-lo para qualquer pessoa.

Nominativo não à ordem: quando a circulação do cheque torna-se insuscetívelde endosso mediante a inscrição expressa da cláusula não à ordem. O que seráessa inscrição expressa? Temos que escrever “não à ordem”. Não basta riscar,pois o cheque, por sua essência, é um título à ordem. Não poderá endossar, maspoderá transferir mediante cessão de créditos.

Ao portador: é o cheque que não contém a menção de seu beneficiário sendopago àquele que o apresente ao banco sacado, registrando-se que a Lei 9069/95(Lei que institui o Plano Real) veda a emissão de cheque ao portador em valorsuperior a R$ 100,00.

Passo cheque à Carol. Não coloco nominativo a ela. Se o valor for acima de R$100,00, no momento do pagamento o nome do beneficiário terá que serpreenchido. Se for de até R$ 100,00, ela poderá fazer o depósito em conta semnenhuma identificação do portador.

Revogação e sustação

Sustar o cheque é frustrar seu pagamento. É feita através do envio de umainformação pelo emitente ao banco sacado de que não pague ao tomador.Lembre-se a história da mulher que queria fazer uma reforma em sua cozinha,então contrata um marceneiro, que compra materiais da madeireira. A

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tomadora do serviço paga o prestador (marceneiro) com cheque, mas ele nãoentregou nem um parafuso. Antes disso ele havia passado o cheque àmadeireira, sua parceira de golpes, a pretexto de comprar os materiais.Quando o representante da madeireira vai ao banco trocar o cheque, ele sesurpreende com a sustação, realizada horas antes pela sacadora. Nisso,estudamos a inoponibilidade das exceções pessoais, motivo pelo qual o terceirode boa-fé não poderia ter suas expectativas frustradas por um problemapessoal entre credor e devedor originários. Entretanto, no presente exemploadmitimos a hipótese de haver conluio entre o marceneiro e a madeireira paraque, não prestando o serviço, o cheque seja descontado, sabendo orepresentante desta última que teria direito à proteção garantida pelainoponibilidade das exceções pessoais, portanto, agiu de má-fé.

Qual a atitude que a tomadora (a sacadora do cheque, dona de casa que queriafazer a reforma) deve tomar? Pedir a sustação. O meio mais fácil é esse. Asustação e a revogação precisam de um justo motivo para tanto. Qual seria essejusto motivo? Furto, por exemplo, ou perda do talonário de cheques. Justomotivo é uma expressão jurídica em aberto. Não sabemos o que é um, muitomenos o banco. Devo apresentar o boletim de ocorrência ao banco paraconfirmar o justo motivo.

Na perda do cheque, deve-se buscar o Judiciário, ajuizando ação de anulação esubstituição de título de crédito ao portador. Deve-se, neste caso, fazer umacitação editalícia, já que não se sabe na mão de quem foi parar o bloco. Nesseedital deve-se dizer algo como “o talonário de cheques do cliente tal, do bancotal, folhas 80 a 100 foi extraviado. Quem por ventura estiver com os chequesdeverá procurar o emitente para que se proceda à substituição.” Na prática,não será bem assim, claro. Sumidos os cheques, o cliente imediatamente ligapara o banco pedindo a sustação. Reconhecendo que há periculum in mora, ogerente dirá: “tudo bem, estou sustando, mas traga-me o boletim de ocorrênciaassim que puder!”

Diferença entre revogação e sustação: vamos nos lembrar da diferença entresustação e cancelamento de protesto. Qual é mesmo? O cancelamento se dáposteriormente à realização do protesto, enquanto a sustação é anterior à suarealização. O cheque, no seu caso, é sustado dentro do prazo de apresentação.Após o prazo de apresentação, farei a revogação.

Revogação e sustação do cheque são meios utilizados pelo sacador de sefrustrar o pagamento do título mediante comunicação enviada ao bancosacado acompanhada do justo motivo para tanto, motivo este que não poderáser questionado pelo sacado.

A revogação ou contraordem será utilizada após expirado o prazo deapresentação do cheque. Já a sustação ou oposição será a via a ser utilizadadurante o prazo de apresentação do título.

Endosso e aval

Obedecem as mesmas disposições atinentes aos demais títulos de crédito jáabordados. Isso quer dizer que o endosso pode ser em preto ou em branco,próprio ou impróprio, podemos ter o endosso caução, mandato ou póstumo docheque; o aval também terá as mesmas características, como autonomia e

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equivalência. Podemos ter aval sucessivo, simultâneo, parcial, em branco, eassim sucessivamente.

Quanto ao protesto, poderíamos dizer a mesma coisa, exceto que o chequepossui uma peculiaridade além dos demais títulos de crédito. No que respeitaao cheque, o protesto obedecerá o mesmo regramento dos demais títulos. Noentanto, o protesto essencial ao ajuizamento da competente ação executóriapoderá ser substituído por declaração de não pagamento, fornecida pelo bancosacado.

Significa que o cheque pode ser ou protestado ou, ainda, pode haver a simplesdeclaração de não pagamento pelo banco, e o cheque poderá ser executadodiretamente. No próprio cheque poderá conter carimbos de “motivo 11” e“motivo 12”, respectivamente significando “devolução pela primeira vez” ou“devolução pela segunda vez”, ambas para cheques que não foram pagos porfalta de fundos 1. O cheque não precisará ser protestado caso contenha um ouos dois carimbos.

Prazos prescricionais do cheque

a) Contra o devedor principal e os codevedores: 6 meses, contados dotermo da apresentação para o exercício de ação de execução.b) 2 anos, contados do término dos 6 meses para execução para o ingressode ação de enriquecimento sem causa nas vias ordinárias.

O que diz a letra a? 6 meses do termo da apresentação para a execução. O que é“termo de apresentação”? Fim do prazo de apresentação, simples. E qual é ele?De novo: 30 dias, se o cheque for da mesma praça, ou 60, se de praças distintas.

Passei o cheque para Karina hoje, dia 12/5/10. O prazo de 30 dias termina em12/6/10. Daí ela terá 6 meses para ajuizar execução do cheque, ou seja, prazoque termina em 12/12/10. Se ela depositar hoje mesmo, quando que começará acontar o prazo de 6 meses dela? Hoje ou do termo da apresentação? STJentendeu que o prazo de 6 meses começou a contar da data da efetivaapresentação do cheque. Embora a lei fale do tempo da apresentação, oentendimento do STJ foi esse pois, caso a pessoa apresente imediatamente, ofato de o início do prazo para ajuizar a ação executória ser imediatamente nadata do termo da apresentação do cheque faria com que a pessoa tivesse mais30 dias para agir, pois ela apresenta hoje, 12/5, o prazo para apresentaçãoterminará em 12/6, mesmo que ela já tenha apresentado, e, só então,começariam a contar os 6 meses para ajuizar a execução.

Se não ajuizar ação de execução nos 6 meses, Karina terá até 12/12/12 paraajuizar ação de cobrança nas vias ordinárias.

É o que a lei do cheque prevê. Mas existem alguns autores que dizem que,embora ela tenha 2 anos para ajuizar, ela ainda assim poderia ajuizar umaação causal. O que é? Se em 2012 a dívida ainda existe, o cheque entraria noprazo prescricional comum de 10 anos. Existe um julgado isolado do STJ quedefende essa posição doutrinária.

Para fins de nosso estudo, trabalharemos com 6 meses para execução e 2 anospara ação de cobrança.

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Sexta-feira: duplicata.

1 – http://www.bcb.gov.br/?CHEQUEDEV

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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Duplicata

ConceitoNatureza jurídicaLei de Regência

Lei 5474/68Situações jurídicasRemitente/sacadorSacadoRequisitos de validade

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Introdução

A duplicata é um título de crédito genuinamente brasileiro, que gostaram tantoque depois foi difundido no mundo. Surgiu antes mesmo do Código Comercialde 1850. Ela não tinha, até então, um regramento jurídico próprio, então oCódigo inseriu no ordenamento essa disciplina, e a duplicata passou a serformalizada. Quando surgiu em 1908 o Decreto 2044, ela foi extinta do DireitoBrasileiro. Houve críticas porque era um título único, que se extraía de umaoperação de compra e venda mercantil.

Achou-se por bem extingui-la quando da criação da letra de câmbio, mas houveoposição a esse movimento, tanto que em 1923 as associações comerciais doRio de Janeiro e São Paulo tentaram renascer a duplicata, então osrepresentantes dessas associações convenceram o Ministro da Justiça que ela

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era um instrumento hábil para a tributação, já que se lançavam as mercadoriaslistas com os respectivos valores, daí ficaria fácil calcular o imposto incidentenaquela operação de compra e venda. Assim a duplicata ressurgiu como umaespécie de “moeda de tributação”, até que agora temos uma nova lei sobre aduplicata, que é a Lei 5474/68, que novamente desnaturou-a. Antes era umtítulo de uma operação mercantil, passou a ser um título tributário, e agora elaé um título de valor mobiliário. Desde então ela tem um regramento não sólegal como também é regulada pelo Banco Central. Todo o formato que temosda duplicata é feito mediante resoluções do BACEN, assim como é feito com ocheque.

Com a Lei 5474, a duplicata passa a ter vida própria, independente de qualqueroperação de natureza outra, seja tributária, bancária, comercial, etc.

Aplicam-se a ela todos os princípios, da literalidade, da cartularidade e daautonomia, embora esta última seja mitigada, ela passa a ser estudada comotítulo de crédito por motivos que vamos ver adiante. Rubens Requião disse: “éum título de crédito porque ela pode circular mediante endosso.”

Precisamos ter alguns institutos em mente para chegarmos à duplicatapropriamente dita.

A duplicata é um título de crédito causal, que tem como fonte uma fatura. Oque é uma fatura? Descrição das coisas consumidas, adquiridas ou serviçosprestados, juntamente com seus valores. É um demonstrativo de uma compra evenda.

Será sempre um documento de extração obrigatória quando tivermos umacompra e venda com prazo superior a 30 dias. Se o prazo da compra e venda forinferior a 30 dias, a duplicata será de extração facultativa.

Quando você vai à lanchonete “Arcos Dourados Comércio de Alimentos LTDA”,você recebe um pequeno papel amarelo com os dizeres “cupom fiscal”, e umadescrição do que você pediu com os respectivos valores pagos. A nota fiscal, naverdade, é para fins tributários. O estabelecimento tem que extrair aquiloporque o GDF cobrará ISS, ICMS e outros impostos. Mas existem convênios quesão feitos entre estabelecimentos de médio e grande porte com as FazendasEstaduais para a emissão de notas fiscais-faturas. Em vez de emitir uma notafiscal e uma fatura, que são idênticos na essência, diferindo-se apenas nadestinação, o estabelecimento emitirá um único documento. Então, na maioriadas vezes teremos nota fiscal-fatura, e não somente fatura.

Por que estamos falando tanto da fatura? É que a duplicata é um título que seextrai a partir da fatura. Sou obrigado a tirar uma fatura quando houvercompra e venda de bens e serviços cujo prazo de adimplemento da obrigaçãoseja maior que 30 dias e, a partir dessa fatura, extraio uma duplicata. Se MariaJúlia deseja comprar uma nova BMW, já sabendo que tem dinheiro suficientepara evitar um financiamento, que fatalmente traria juros, ela pode, se ovendedor se dispuser (e vai, já que Maria Julia é fiel àquela concessionária!),pagar a prazo. O vendedor, sabendo que ela não quer financiar, aceitou fazerem três vezes: uma parcela a ser paga em 30 dias, outra para daqui a 60 dias eoutra para 90. Isto é uma compra e venda, a prazo. E é superior a 30 dias, entãoo que a BMW fará? Ela extrairá duplicatas, enviará para a Maria Julia, paraque ela preste o aceite e pague. Esta duplicata tem como base, como supedâneoexatamente a fatura, que acabamos de falar.

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Veremos que um dos requisitos de validade da duplicata é a menção àquelafatura. Só se pode emitir a fatura com base naquela compra e venda emitida.Emitir duplicata em dissonância com a fatura é crime, previsto no art. 172 doCódigo Penal: “Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não correspondaà mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.(Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)

Pena – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redação dada pela Leinº 8.137, de 27.12.1990)

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar ouadulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas. (Incluído pela Leinº 5.474. de 1968)”

Note a menção aos diplomas alteradores na norma penal acima.

O negócio com a BMW é uma compra e venda a prazo, mas também possoextrair uma duplicata para uma compra e venda diferida. Qual a diferençaentre “à vista”, “a prazo” e “diferida”? O que é um contrato de compra e venda àvista? Contrato de execução instantânea. Se quero comprar o netbook da Lígia,que quer vender, pego o computador e pago com o dinheiro, com prestação econtraprestação dadas imediatamente. Se Maria vai comprar o carro a prazo, ovendedor tem uma prestação que é a entrega do carro (instantânea), e acontraprestação ao longo do tempo, que é a entrega do dinheiro pelacompradora.

E a diferida? Pago “de uma vez, lá na frente”. Vou diferi-la no tempo. Se MariaJulia não tem o dinheiro hoje, mas vai ter daqui a 45 dias, ela pode, já que ovendedor confia nela e ela troca de BMW todo ano, adquirir o carroimediatamente e receber duplicata, para pagar daqui a 45 dias. Note que, comoa prestação tem prazo superior a 30 dias, a duplicata será de extraçãoobrigatória.

Existe, na duplicata, uma operação chamada “desconto de título”. Imagine queMaria Julia acaba de adquirir uma BMW 745I para pagar em 45 dias. O dono daconcessionária dá-lhe uma duplicata no valor de R$ 549.000,00 para Mariaassinar, com data do vencimento para daqui a 45 dias, conforme combinado.Maria, em vez de ficar com ela, deixa-a com o dono da loja da BMW, que irá atéo banco e irá descontá-la imediatamente. Ele endossará a duplicata ao banco ereceberá o valor hoje, sem ter que esperar os 45 dias, descontado de uma taxaestabelecida pelo banco. No caso, o banco poderá dar ao dono da loja R$536.000,00, pois não dará o valor integral de 549. Passados os 45 dias, o bancoprocurará Maria Julia.

Isso trará vantagem para o comprador e para o vendedor pois na notapromissória e no cheque essa mobilização do título não é possível.

Conceito de duplicata

É o título que se extrai em consequência de uma compra e venda mercantil oude uma prestação de serviços quando feitas para pagamento a prazo, tendocomo causa a fatura, que é de extração obrigatória, ao passo que a duplicata éde extração facultativa.

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As duplicatas de prestação de serviços são exclusivas dos empresáriosindividuais e das sociedades empresárias, assim como das associações efundações.

Duplicatas de prestação de serviços: contrato Gabriela, que tem uma empresade TI, para fazer a modernização dos meus computadores, instalar softwareatualizado, antivírus, etc., e peço a ela para que faça o serviço para que eupague daqui a 45 dias. Ela tem como faculdade extrair a duplicata de prestaçãode serviços, pois ela tem uma empresa. A duplicata de prestação de serviços éexclusiva de empresários individuais, associações, fundações e sociedadesempresárias. A doutrina diverge um pouco, dizendo, alguns autores, que aduplicata é exclusiva de “sociedades individuais e coletivas”. Empresárioindividual, recapitulando o Direito Societário, é o sujeito que trabalha sozinho,para si mesmo, e tem um registro próprio. Associações e fundações: associaçãonão tem fim lucrativo. Associação é sociedade de pessoas, e fundação é umasociedade de bens voltados para uma destinação específica. Só essas pessoasjurídicas podem emitir duplicata de prestação de serviço. Vivian, amiga deGabriela, com quem aprendeu informática mas ainda não constituiu suaempresa, portanto não tem registro, não é tecnicamente uma empresáriaindividual, e não poderá emitir duplicata, somente conta de serviço.

Hospitais, quando chegava alguém correndo precisando de socorro, exigia umcheque caução como garantia. Durante um tempo pediam um cheque cauçãode valor exorbitante, coisas em torno de R$ 50.000,00. Depois que as pessoascomeçaram a procurar o Ministério Público, o caminho encontrado peloshospitais foi passar a emitir uma duplicata de prestação de serviços, comaceite presumido.

Notem bem: a duplicata tem como causa fatura que extraída de uma compra evenda mercantil. Qual é a importância dessa “causa”? Vamos voltar aosprimórdios desta disciplina. O que é o princípio da autonomia? Via de regra,não há, no título de crédito, a vinculação a uma causa fundamental, embora eusaque um cheque para comprar algum bem. A partir da emissão, o cheque temvida própria e a nada se vincula. É o princípio basilar da autonomia. Aduplicata, por sua vez, tem uma causa. É a fatura; sem ela, nada de duplicata.A duplicata não seria um título de crédito porque foge à regra da autonomia. Éestudada como título de crédito porque ela pode ser circulada. Daí dizer queela é um título de crédito causal.

Natureza jurídica

A duplicata será um título de crédito causal tendo em vista que necessita deuma causa para a sua extração, qual seja, a fatura. Não obstante suacausalidade, ostenta as qualidades de título de crédito jungido, submetido aoDireito Cambiário, haja vista a aplicação dos princípios da literalidade, daautonomia e da cartularidade.

Essa causalidade, conforme já dito, está expressa nas normas cambiárias e noCódigo Penal. A causalidade inclusive tem consequências penais para aextração da fatura ou duplicata, caso simulada. Essa redação do art. 172 se deucom a Lei 8137/90, a lei dos crimes contra a tributação, contra a ordemeconômica. Essa lei, pelo número, é posterior à Lei 8078, que é o Código deDefesa do Consumidor. Qual foi a modificação que houve? Antes do CDC a

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redação era: “emitir fatura, duplicata ou ordem de compra e venda que nãocorresponda à operação realizada”. Hoje a redação é “que não corresponda àmercadoria alienada”. Antes a causalidade era para proteger o própriocomerciante, e hoje é para proteger o consumidor. Tendo, como causa, a fatura.Emissão de duplicata fria é crime e dá cadeia.

Lei de regência

A lei de regência da duplicata é a 5474/1968.

Situações jurídicas

Primeira delas é o emitente ou sacador. Quem será o sacador da duplicata?Quem está vendendo a mercadoria, quem emite é o comerciante. É aquele queemite a duplicata, ou seja, o vendedor ou o prestador do serviço. Se o sacador éo vendedor, o sacado é o recebedor da mercadoria, ou o tomador do serviço,responsável pelo respectivo pagamento.

Requisitos extrínsecos da duplicata

1. Denominação (a palavra “duplicata”), a data de sua emissão, e o númerode ordem, usado para controle;

2. Número da fatura: porque temos que tê-lo? Porque a duplicata évinculada, é causal, então sem fatura não existe duplicata. Para quesaibamos de onde que se extrai a duplicata, precisamos saber o número dafatura;

3. Data certa do vencimento ou declaração no sentido de ser a duplicatavencida à vista;

4. Nome e domicílio do vendedor e do comprador;5. Importância a ser paga em algarismos e por extenso;6. Praça de pagamento;7. Cláusula à ordem;8. Declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la,

a ser assinada pelo comprador como aceite cambial. A frase seguida daassinatura do comprador é o aceite do título de crédito, que estudaremosna próxima aula;

9. Assinatura do emitente.

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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Duplicata - continuação

6 – Endosso e aval7 – Aceite

OrdinárioPor comunicaçãoPor presunção

8 – Recusa do aceite9 – Protesto

Protesto por indicação10 – Triplicata11 – Execução da duplicata/triplicata12 – Prazos prescricionais

Na aula passada vimos conceito, natureza jurídica, partes, a parte introdutóriada duplicata.

Falamos que a duplicata é um título de crédito causal, tendo em vista que elatem uma causa, que é a extração da fatura, para qualquer compra e venda aprazo. Obrigatoriamente o comerciante que vende uma mercadoria ou serviçodeverá extrair uma fatura, e a partir dela ele poderá extrair a duplicata. Mitiga-se, no caso da duplicata, o princípio da autonomia, mas ainda assimaplicam-se os princípios da cartularidade, literalidade, e inoponibilidade dasexceções pessoais.

Por causa da aplicabilidade desses princípios, à duplicata serão aplicadas asmesmas disposições sobre o endosso e aval. Ou seja, teremos endossos própriose impróprios; dentro dos próprios teremos o endosso em preto e o em branco, eentre os impróprios teremos o endosso póstumo, endosso mandato, endossocaução, e os avais, com a mesma regra de equivalência, podendo sersimultâneos ou sucessivos.

Obedecem as duplicatas a mesma normatização dos demais títulos de créditono que respeita ao endosso e ao aval do título.

Aceite de duplicata

Quanto ao aceite, qual é o título de crédito no qual vimos a figura do aceite? Aletra de câmbio. O que significava o aceite na letra de câmbio? Ocomprometimento a pagar. O aceite, na letra de câmbio, era prestado peloterceiro a quem a ordem de pagamento era endereçada, que iria aceitar aquelaobrigação e a partir daquele momento passaria a se vincular à obrigação dotítulo de crédito. Ocorre que, na duplicata, não temos a terceira pessoa. Selembrarmos das situações jurídicas, temos apenas duas: sacador, que é oemitente do título, e o sacado, que o recebedor da mercadoria. Então não faz

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sentido falar em aceite como vinculação da pessoa à obrigação, pois ela já estáobrigada. Mas falamos algo sobre o aceite nos requisitos de validade, lembram?Era a declaração. Existe, dentro dos requisitos de validade, um campoespecífico em que se presta o aceite, onde se escreve uma declaraçãoreconhecendo a exatidão e a obrigação de se pagar aquela duplicata. O aceitena duplicata será exatamente o reconhecimento da exatidão do título, de que otítulo obedece a tudo que foi negociado entre vendedor e comprador.

Vamos formalizar: o aceite é o reconhecimento da exatidão da duplicata pelocomprador caracterizando-se assim o seu compromisso em pagá-la.

A duplicata será encaminhada para o aceite dentro de trinta dias de suaemissão cabendo ao comprador devolvê-la em até dez dias do recebimento seesta não for vencível à vista, obedecendo três formas de operacionalizaçãoprevistas na lei. Antes de sabermos quais são, vejamos como funciona: MariaJúlia comprou uma BMW lá na concessionária e vai pagar com uma faturadaqui a 45 dias. A concessionária tem até 30 dias da emissão da duplicata paraenviá-la à compradora, que prestará o aceite em até 10 dias do recebimento.Ela terá que devolver a duplicata para que a concessionária aguarde o dia do vencimento para que o pagamento seja feito, ou para que se faça a cobrançajudicial. Isso se não for um vencimento à vista, pois, se o for, quando aduplicata é encaminhada à Maria Júlia, ela terá a vista do título, que setornará vencível e terá que ser pago imediatamente.

Então, vamos às formas de prestação do aceite da duplicata que a lê prevê:

Aceite ordinário: quando o comprador assina o título no local apropriadoe o devolve ao vendedor. Quando vimos a duplicata, vimos o campo“reconhecemos a exatidão dessa duplicata”. Maria Júlia, ao receber, vaiassinar naquele campo e devolverá à BMW, dentro dos prazosestabelecidos: 30 dias da BMW para Maria, 10 dias dela para a BMW.Passados esses prazos, Maria Júlia irá à concessionária pagar, ou a BMWirá proceder à cobrança judicial do título.Aceite por comunicação: resultante da retenção da duplicata pelocomprador devidamente autorizada pela instituição credorainterveniente com a comunicação por escrito ao vendedor acerca do aceitedo título. No aceite por comunicação surge a figura de um intermediário.No aceite ordinário, a própria BMW manda para Maria Júlia, que fará opagamento. No aceite por comunicação surge o interveniente porque aBMW não fará a cobrança diretamente. A loja encaminhará a duplicatapara o banco e, ao fazê-lo, a BMW está pedindo que a instituição faça acobrança do título. A concessionária já dá a autorização ao banco paraque remeta a duplicata à Maria Júlia para que ela possa inclusive reteraquela duplicata consigo, desde que ela mande uma informação aovendedor manifestando o aceite do título, restando apenas aguardar seuvencimento. E se Maria Júlia não aceitou o título? Veremos asconsequências depois. O que importa agora é como proceder ao aceite. Nocaso do aceite por comunicação, ela não precisará devolver a duplicata,bastando que envie uma informação ao vendedor dizendo que aceitou.Aceite por presunção: resulta do recebimento da mercadoria pelocomprador desde que não tenha havido causa legal motivadora da recusado aceite, com ou sem a devolução do título. Aqui, a mercadoria éentregue, e envia-se a duplicata. A vendedora terá um comprovante de quea compradora recebeu a mercadoria. Sem razão para recusar o aceite,

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Maria Júlia poderá ficar com a duplicata ainda que não preste o aceite,porque temos um aceite presumido. Desde que não haja motivos legaispara a recusa do aceite, que veremos logo mais quais são.

E qual é o comprovante de que Maria Júlia recebeu a mercadoria? A faturamesmo não é um comprovante; o que a fatura faz é documentar a compra evenda, listando a(s) mercadorias(s) e os respectivos preços. O comprovante é anota fiscal. Mas o que exatamente na nota fiscal, já que ela apenas materializaa operação? No final da nota fiscal tem uma parte destacável, onde assinamos,que é o comprovante de entrega da mercadoria. Uma parte fica com ovendedor, outra com o comprador. No caso de um carro, não será tão simples; aloja fará um termo de aceitação do veículo. Se Maria Júlia tivesse motivos, elafaria a...

Recusa do aceite

Na hipótese da duplicata, o aceite é obrigatório, cabendo sua recusa em apenastrês situações previstas em lei, sendo elas:

Não recebimento da mercadoria ou mercadoria recebida com avarias;Vícios na qualidade ou na quantidade das mercadorias;Divergência no prazo e preço ajustados.

Vamos voltar ao aceite por presunção: a BMW tem um comprovante derecebimento da mercadoria. Se não houver nenhuma dessas hipóteses, MariaJúlia não poderá recusá-la.

Exemplo da primeira situação: a concessionária entregou um comprovante deentrega da mercadoria para Maria, mas, dois dias depois, o carro simplesmentepara de funcionar. Tivemos até um caso em que um homem trocava de carrotodo ano; a concessionária pegou o modelo antigo do sujeito e colocou no pátiode seminovos para venda. Alguém comprou o carro de segunda mão e descobriuque o hodômetro havia sido adulterado, para fazer parecer que o carro haviapercorrido menos quilômetros, e assim justificar a venda por um preço maior.Revoltado, o comprador do seminovo ajuizou contra o fabricante e contra aconcessionária. O fabricante tentou demonstrar que nada tinha a ver comaquela adulteração, pois não vendia carros seminovos, mas somente carros0km para a concessionária. “O ato ilícito foi praticado pela concessionária enão pelo por mim” - sustentou o fabricante.

Isso foi uma mercadoria recebida com avaria. Nessa hipótese, o compradorpoderá recusar a duplicata.

Vício na quantidade ou qualidade: havia uma loja que vendia determinadamarca de calças jeans, que resolveu parar de pagar as duplicatas damercadoria recebida do fabricante porque houve excesso. Incomum, mas nocaso o excesso estava causando prejuízo para a loja pois ela não estavaconseguindo renovar o estoque e incluir a nova coleção.

Por fim, divergência no prazo e preço ajustados. Não posso vender uma BMWpor R$ 549 mil e enviar uma duplicata no valor de R$ 564 mil.

Não havendo nenhuma delas, o aceite da duplicata é obrigatório.

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Se ela não pagar a duplicata, aí sim vamos para as consequências. A loja faráo...

Protesto

Qual a finalidade dele mesmo? Incorporar fato relevante ao título paraassegurar o direito contra os codevedores daquele. Funcionará como os demaistítulos à exceção do prazo. Em razão da finalidade do protesto, a disciplinadeste para com a duplicata será a mesma dos demais títulos, ou seja, aexistência de um protesto facultativo contra o devedor principal e um protestonecessário contra os codevedores.

Para a duplicata, no entanto, a extração do protesto ocorrerá em até 30 dias dovencimento na praça designada para seu pagamento.

Na letra de câmbio, o prazo era de um dia útil. Aqui na duplicata, temos 30 diasdo vencimento para realizar o protesto.¹ Se determinamos que Maria Júliateria que pagar essa duplicata aqui em Brasília, o protesto terá que ser tiradonos cartórios de protesto do Distrito Federal. O local será de acordo com odomicílio do devedor.

No aceite por presunção e por comunicação, existe a hipótese do compradorreter a duplicata. No aceite por comunicação, a compradora aceita e envia umacomunicação por escrito dizendo que aceitou. No protesto por presunção,Maria Júlia não se pronuncia, se aceitou ou não, mas mesmo assim ela tem apossibilidade de reter aquele título. Ela não paga na data do vencimento. Comovou fazer para protestar o título se eu não o tenho? Eu posso fazê-lo, apenaspara duplicata. Não se pode protestar nota promissória, cheque e letra decâmbio sem ter o título em mãos. Mas a duplicata pode ser protestada semestar presente, por previsão legal na Lei da Duplicata e Lei de Protestos. É oprotesto por indicação. Lembram-se dos requisitos de validade da duplicata?Um deles era o número da fatura. Por que eu preciso dele? Porque a duplicata évinculada, e todas as informações da duplicata são oriundas da fatura. Combase nas informações da fatura, envio a informação para o cartório e elelavrará um instrumento de protesto. Extraído o protesto, vamos para acobrança judicial.

Protesto por indicação, portanto, é a forma de protesto prevista para aduplicata em face da ausência do título, consistente na indicação dos seuselementos ao cartório afim de que este realize o protesto do título, cujoinstrumento instruirá a execução judicial a ser promovida.

Duas observações. Primeira: para executar, sempre precisamos do título. Mas ese o devedor o reteve? Faço o protesto por indicação, e o instrumento deprotesto poderá substituir o título na execução judicial. A segunda observaçãoé que a figura do protesto por indicação não significa que a duplicata foge aoprincípio da cartularidade. A cartularidade subsiste, e ainda precisamos ter otítulo, o documento, sendo enviado para Maria Júlia para que depois eu possaextrair um protesto por indicação ou não. Isso não torna o título virtual, comodefendem alguns autores. Ainda não temos legislação específica nesse sentido.A duplicata continua sendo um documento físico. Há bancos que trabalhamcom um serviço chamado “duplicata eletrônica”, que na verdade não é umaduplicata. É apenas um canal de comunicação pelo qual os fornecedores de

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mercadorias ou de serviços enviam para o banco informações sobre a compra evenda. A duplicata ainda obedece ao princípio da cartularidade. Fran Martinsfala sobre isso em sua obra.

Triplicata

O que é mesmo uma duplicata? Título de crédito causal representativo decompra e venda mercantil ou serviço com prazo não inferior a 30 dias. Aduplicata vem da fatura. O nome “duplicata” vem de “segunda via” (da fatura).A triplicata, então, é uma terceira via da fatura ou uma segunda via daduplicata. É nada mais que uma duplicata que foi extraída uma segunda vez.

Não posso extrair ao léu. A legislação prevê as hipóteses em que ela poderá serextraída, como em caso de acidentes. A triplicata terá os mesmos requisitos devalidade da duplicata extraviada; será idêntica. A única coisa que mudará seráo nome. Vamos ao conceito: a duplicata perdida ou extraviada e ainda nãoaceita obrigará o vendedor a extrair a triplicata, que terá os mesmos requisitose os mesmos efeitos daquela. É uma determinação legal. Vejam que, se eumandei e por algum motivo Maria Júlia não recebeu a duplicata, ou ela serecebeu e perdeu, como num caso em que ela esquece a torneira da banheiraaberta, inundando a casa e a água destrói a duplicata, sou obrigado a extrair atriplicata. Não posso simplesmente aguardar que ela não aceite para extrairum protesto por indicação, que só existe na hipótese de retenção da duplicata.Se a hipótese é de perda ou extravio da duplicata, eu sou obrigado a extrairuma triplicata com os mesmos requisitos extrínsecos da duplicata paraposterior reenvio à Maria Júlia. Isso para duplicata não aceita.

E se a duplicata já foi aceita? Ela aceitou, devolveu para mim, e a enchente debanheiro acontece no meu apartamento. Qual seria a solução? A lei determinaque se ajuíze ação de anulação de título. A ação tem que ser ajuizada, a MariaJúlia tem que ser citada para dizer que aceitou aquele título, mas que ele seextraviou em minha casa, portanto tenho cancelar aquele título e extrair umanova duplicata (não será uma triplicata), pois já foi aceita.

Execução da duplicata

Letra de câmbio, nota promissória e cheque são títulos executivosextrajudiciais. Assim como a duplicata, como visto no art. 585 do CPC. Aduplicata é executada, mas trará alguns desdobramentos em virtude dashipóteses de recusa do aceite. Vejamos.

A execução da duplicata ou triplicata será regida pelo Código de Processo Civil,uma vez que o art. 585, inciso I deste trata a duplicata como título executivoextrajudicial. Entretanto, a lei das duplicatas traz algumas disposiçõesespecíficas acerca de suas cobranças.

A duplicata aceita poderá ser executada protestada ou não; quanto à duplicatanão aceita, sua cobrança demandará o protesto, o documento comprobatórioda entrega da mercadoria e inexistência de motivos legais para a recusa doaceite.

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Vamos entender. Primeira hipótese: mandei a duplicata para Maria Júlia. Elaaceitou, devolvendo ou não o título. Ela devolveu, com aceite ordinário, ou porcomunicação, retendo o título. Nessa hipótese, poderei ajuizar a execução daduplicata independentemente de protesto. Não confunda isso com protestofacultativo e protesto necessário. Estamos falando de execução do devedorprincipal. Se eu quiser executar os outros codevedores, o que precisarei fazersempre? Protestar o título. Se a duplicata foi aceita e não protestada, sópoderei executar quem? O devedor principal.

Mas e se ela não aceitou a duplicata, ou devolveu sem o aceite, ou, ainda, retevesem aceitar? Precisarei protestar a duplicata, juntar a comprovação de que amercadoria foi entregue, e demonstrar que não existiam nenhum dos motivosensejadores da recusa do aceite: mercadoria entregue, sem avaria, sem víciosde qualidade e quantidade, e não existiam divergências sobre prazos e valores.

Prazos prescricionais da duplicata

1. Contra o devedor principal e seus avalistas: três anos a contar dovencimento;

2. Contra os codevedores: um ano a contar do protesto;3. Exercício da ação de regresso: um ano a contar do pagamento.

Vamos ver caso concreto de duplicatas na sexta-feira.

1 – Frase incompleta.

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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Conhecimento de depósito e warrant e conhecimento detransporte

Conhecimento de depósito e warrant e conhecimento de transporte1 – Conceito2 – Requisitos do conhecimento de depósito

Conhecimento de transporte4 – Conceito5 – Requisitos

Vamos tentar entender, primeiramente, o que são esses títulos.

Conhecimento de depósito e warrant vêm da ideia de contrato de depósito. Oque é um contrato de depósito? Luísa quer fazer um mestrado em Londres. Elaquer alugar o apartamento onde mora e não tem onde deixar seus bens. Hápessoas que têm como profissão receber essas mercadorias. Rebeca tem umdepósito e celebrará, com Luísa, um contrato de depósito. Rebeca guardará e seresponsabilizará, atendidas as regras do contrato de depósito, eposteriormente devolverá os bens à Luísa.

Temos depositante, depositário, e todos os direitos e deveres das partes.

Vamos para nossa matéria específica.

O conhecimento de depósito surge com a ideia de armazém geral. Armazém é,obviamente, um local de armazenamento, onde se fazem depósitos. Rebeca temum armazém geral e especializa-se em grãos. Luísa, por sua vez, é a rainha dasoja aqui de Brasília, tem fazendas em vários estados e compete até com BlairoMaggi no Mato Grosso. Em suma, ela tem uma colheita extraordinária, mas nãotem condições de armazenar a soja. Então ela procurará o armazém geral daRebeca e lá depositará a soja colhida.

Qual é o documento que a Rebeca passará para Luísa atestando que amercadoria foi depositada lá? Um recibo de depósito, que é o comprovante deque aquele bem de propriedade da Luísa encontra-se dentro da propriedade daRebeca.

Dessa prática, os homens inventaram novos títulos de crédito. São dois:conhecimento de depósito e warrant. São títulos de crédito causais, quenascem juntos, e são passados anexadamente. Nascem juntos, mas podemcircular separadamente.

Luísa tem o conhecimento de depósito e o warrant. Ela precisa de dinheiro

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para uma viagem hoje, mas não tem dinheiro; contudo tem a soja depositada.Algo ela terá que fazer com essa soja, ainda que ela não possa ser diretamenteconvertida em dinheiro (vendida) imediatamente. Ícaro, visionário, querendoentrar no mercado de exportação, apresenta-se para comprar o título que estáem posse de Luísa. Como transferir? Endosso, como os outros. Então ele dá àLuísa R$ 20 mil e pega com ela o conhecimento de depósito e o warrant.

Pouco depois, Ícaro procura Rebeca e diz: “agora eu sou o proprietário da sojaque a Luísa depositou aqui.” Vim levantá-la. Assim ele carrega seu caminhãocom a soja e leva para o comércio.

Agora vejam bem: Luísa tem um motivo para não querer se desfazer da sojaagora. Ela acabou de colher, então está na época de colheita, mas em poucosmeses virá a entressafra e o valor da soja irá aumentar bastante no mercado.Vendê-la agora pode significar arrependimento. Mas ela precisa de dinheiro,agora. Qual a alternativa que ela tem? Ela pode ir ao Banco do Brasil pedir umempréstimo. Mesmo que ela seja uma bem-sucedida mulher de negócios, oBanco, que está sempre atualizado em relação à política e ao mercado noâmbito rural, sabe que há riscos então exige uma garantia. Assim, Luísa tomaR$ 50 mil emprestados e dá o warrant para o Banco como garantia de quepossui soja depositada. Com o warrant, caso Luísa não pague o empréstimo, oBanco irá penhorar a soja. Devolvido o valor do empréstimo, devolvido owarrant.

Muito bem. Luísa foi contatada por Ícaro, interessado em adquirir sua soja. Owarrant não está disponível pois está em poder do Banco, mas o conhecimentode depósito está. Podem os dois títulos circular em caminhos distintos? Sim. Seo conhecimento de depósito for endossado sem o warrant, não haveráproblema, mas o endossatário já deverá ficar ciente de que o warrant estácirculando como garantia de alguma coisa. Isso significa risco.

Vamos trabalhar com o exemplo inverso: Luísa resolve, depois de terminadoseu mestrado, passar três meses em Fortaleza. Por acaso ela se encontra comÍcaro lá. Ela precisa de mais dinheiro para passar suas férias em Fortaleza,então pede a ele R$ 50 mil, que pode pagar esse valor em troca doconhecimento de depósito. Fazendo isso, ela estará alienando um bem que jáestá gravado. O Ícaro pode comprar a soja, mas já sabendo que aquela soja estáapenhada, tendo constituída sobre ela uma garantia, que é o warrant dado porLuísa ao tomar o empréstimo no Banco do Brasil. Ícaro corre o risco de não teressa soja quando precisar dela. Se Luísa deixar de pagar o empréstimo, elaperderá de uma vez a soja dada como garantia, aí Ícaro poderá alegar que elanão pagou ao Banco dolosamente ou mesmo lhe fazer qualquer outraimputação, v.g. ter ignorado que a soja estava em risco no momento daalienação, e isso será um problema para eles resolverem na esfera cível, o quefoge ao nosso escopo aqui.

O que temos que saber é que pode-se assumir a posse do conhecimento dedepósito sem o respectivo warrant.

Igual à hipoteca: no empréstimo, se não há candidatos a fiadores, o Bancopoderá exigir um imóvel do tomador como garantia. Assim, este dá àquele odocumento da hipoteca. Se o empréstimo não for pago, vai-se atrás do bem.Portanto, o dono do imóvel até pode alienar o bem hipotecado, mas oadquirente já ficará ciente de que o imóvel está gravado.

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Quando Ícaro terá a propriedade plena daquela soja? Quando Luísa pagar oempréstimo, pegar o warrant de volta e entregá-lo.

Conceito de conhecimento de depósito e warrant: o conhecimento de depósito éo título representativo de mercadoria depositada cuja propriedade étransferida com o endosso do conhecimento. Já o warrant caracteriza-se comoum título pignoratício cujo endosso investe o endossatário no direito de penhordas mercadorias negociadas.

Não confundam penhor com penhora, que são institutos completamentediferentes. Penhora é um instituto de Processo Civil, usado na execução.Penhor é garantia real, estudada no Direito Civil.

São títulos que nascem juntos quando do depósito de mercadorias emdeterminado armazém geral, possibilitando suas circulações em conjunto ouem separado, entretanto a propriedade plena da mercadoria será daquele queestiver na posse de ambos os títulos.

Warrant serve para instituir garantia.

Requisitos do conhecimento de depósito e warrant

1. Denominação;2. Nome e qualificação do depositante;3. Lugar e prazo do depósito;4. Natureza e quantidade da mercadoria;5. Qualidade da mercadoria;6. Indicação de seguro das mercadorias depositadas;7. Declaração dos tributos, encargos e despesas a que são sujeitas as

mercadorias depositadas;8. Data em que começa a correr a armazenagem;9. Data da emissão dos títulos;10. Assinatura do emitente.

Conhecimento de transporte

É, em quase tudo, idêntico ao conhecimento de depósito. A diferença é que noconhecimento de depósito temos uma mercadoria depositada, enquanto noconhecimento de transporte temos uma mercadoria sendo transportada.

Luísa, então, em outra safra, embarcou o carregamento num navio rumo àChina. O transportador, empresa especializada, emitiu-lhe um conhecimentode transporte. Ao invés de fazer o “endosso do conhecimento de depósito”, faz-se o endosso do conhecimento de transporte. Ícaro, que não abandonou suapretensão de entrar para o mercado de exportação, interessa-se pela soja. Masela está em trânsito!

Sem problema nenhum. Ele, aqui mesmo no Brasil, procura Luísa e pergunta seela quer vender a soja, que concorda. Ele lhe paga o dinheiro, digamos, R$ 150

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mil, e Luísa lhe dá o conhecimento de transporte. Agora Ícaro é o proprietáriodos grãos.

Por que aqui não temos warrant? Porque o bem não está depositado. Não fazsentido constituir um título que dará penhor de uma mercadoria que já está emtrânsito e provavelmente já tem destino certo. E se o destino for um armazémem outro estado? Também não há problemas: em lá chegando, quando fordepositado no armazém na cidade destino, emitir-se-á um conhecimento dedepósito.

Conceito de conhecimento de transporte: título de crédito cambiariformeextraído após a celebração de um contrato de transporte por qualquer via(marítima, terrestre ou aérea) que permite a transferência da propriedade dosbens mediante o endosso do título.

Aquele que estiver na posse do título poderá exigir que a mercadoria sejaentregue no local por ele indicado mediante o pagamento do respectivo frete.

Ícaro vende, para um contato na China, a soja que adquiriu de Luísa por meioda entrega do conhecimento de transporte, ganha um dinheiro razoável, eadquire um lote de eletrônicos. Ele carrega as mercadorias num container noporto de Shenzhen e embarca rumo ao Brasil. A empresa de transportes lhe dáum conhecimento de transporte.

Chegando ao Brasil, a mercadoria desembarca no porto de Aratu, na Bahia, e oproprietário imediatamente contrata uma empresa de transportes brasileira,especializada em transporte por caminhão. Enquanto o caminhão se dirigepara o armazém geral da Rebeca, localizado em Palmas, TO, Luísa, que abriuuma loja de eletroeletrônicos, interessa-se pela mercadoria transportada porÍcaro. Mas suas lojas ficam no Rio de Janeiro, então ela compra a mercadoriade Ícaro, que lhe transfere o conhecimento de transporte enquanto oseletrônicos estão em trânsito, e ordena que o caminhão mude de rota,passando a ter como destino o armazém geral de propriedade de Andreza, quefica em Niterói. Feito isso, ela se responsabiliza pela diferença no valor do fretea ser pago à empresa de transportes.

Requisitos do conhecimento de transporte

1. Denominação e nome da empresa emissora;2. Número de ordem;3. Data;4. Nome do remetente;5. Nome do destinatário;6. Lugares de partida e destino;7. Espécies e quantidades da mercadoria;8. Marcas e sinais exteriores das embalagens (este lado para cima, frágil,

etc.);9. Valor do frete com as declarações indicando se este já está pago ou se é a

pagar;10. Assinatura do emitente.

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sexta-feira, 28 de maio de 2010

Cédula de crédito

1 – Conceito2 – Requisitos3 – Inscrição da cédula de crédito4 – Inadimplemento da cédula de crédito

Vamos ver hoje as cédulas de crédito. Elas se assemelham muito a um contrato,e têm como características primordiais a atividade econômica exercida e osbens que são dados em garantia por uma cédula de crédito. O que queremosdizer com isso? O pai da Carol tem uma fazenda e quer plantar feijão. Mas nãotem dinheiro suficiente para comprar o maquinário, arar a terra, contrataroperadores especializados naquelas máquinas e fazer o plantio. O que ele faz?Vai ao Banco do Brasil e toma um empréstimo, especial, com uma finalidadeespecífica. O Banco o dará uma cédula de crédito rural.

Maria Júlia pode também querer entrar no mercado de exportação de burcaspara o Afeganistão, então celebra um mútuo com o Banco. Ele a dará umacédula de crédito de exportação.

Ou então Letícia deseja montar uma loja de vinhos aqui em Brasília. Pegadinheiro no Banco, que lhe dá uma cédula de crédito comercial.

Essa é a primeira característica da cédula de crédito: são atreladas à atividadecomercial a que é destinada.

É comum vermos, na cédula de crédito rural, que o banco, quando celebra umacédula de crédito de qualquer forma, mantém uma fiscalização para saber se opai da Carol efetivamente empregou o dinheiro na fazenda, ou se Maria Júliarealmente usou o dinheiro obtido para comprar tecidos para burcas econtratar pessoal para operar as máquinas de costura.

Segunda característica: a garantia dada. O pai da Carol pode oferecer a própriafazenda como garantia, então a cédula de crédito será uma cédula de créditorural hipotecária.

No caso das burcas da Maria Júlia, o Banco do Brasil poderá exigir, comogarantia, suas máquinas de costura, que são bens móveis. O que Maria Júlialevará para casa? Uma cédula de crédito comercial pignoratícia. “Pignoratício”é associado a penhor, a garantia real sobre bens móveis, assim como a hipotecaé a garantia real sobre bens imóveis.

Ou, ainda, o Banco, analisando o caso particular do pai da Carol e entendendoque se trata de um risco maior, exigiu a fazenda e o maquinário como garantia.Assim eles celebram uma cédula de crédito hipotecário-pignoratícia.

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Essas são as características principais das cédulas de crédito: a destinação doempréstimo está atrelada à atividade econômica específica e a garantia para acelebração daquele contrato. O estudo que fazemos aqui é genérico e se aplica atodas as cédulas de crédito. Cada espécie tem seu próprio regramento, mas estaaqui é uma teoria geral.

A cédula de crédito em sua forma principal se assemelha a um contrato. Hácláusulas, assinatura das partes e de duas testemunhas. Mas, assim comoocorre com a duplicata e com o cheque, o título é causal e ela pode sernegociada mediante endosso.

Conceito de cédula de crédito: são promessas de pagamento emitidas pelodevedor em razão de financiamento dado pelo credor caracterizadas peladescrição dos bens dados em garantia que se tornam impenhoráveis após aemissão da cédula (cédulas hipotecárias, pignoratícias, hipotecário-pignoratícias).

São títulos de crédito causais que surgem de negócio jurídico necessário e quetem ambiente negocial próprio, uma vez que são oriundas de operaçãofinanceira que tem como credor um banco ou instituição financeiraassemelhada.

A destinação do empréstimo na cédula é elemento essencial do título, sendovedada a utilização dos valores em atividade econômica de natureza diversa.Embora estudadas como títulos de crédito, em suas formas assemelham-se aoscontratos.

Espécies de cédula de crédito

1. Industrial;2. Comercial;3. Rural;4. De exportação.

O que se quer dizer com a parte destacada no conceito? Que a fazenda e ostratores dados pelo pai da Carol não poderão responder por nenhuma outradívida que não a própria cédula. Não podem ser penhorados em execução poroutra obrigação.

Observem que só se pode falar de cédula de crédito associada a um banco ouinstituição financeira, pois são essas as instituições autorizadas pelo BancoCentral do Brasil para trabalhar com operações de financiamento. Quanto àdestinação, os valores não podem ser empregados em atividade diversa. Docontrário será caracterizado o inadimplemento.

Requisitos da cédula de crédito

1. Denominação;2. Data e condições de pagamento;3. Nome do credor e cláusula à ordem;4. Valor do crédito por extenso e em algarismos com a indicação da

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finalidade e da forma de utilização;5. Descrição dos bens dados em garantia indicados pela espécie, quantidade,

qualidade, sinais distintivos, bem como local onde se encontram. Se o paida Carol pegou uma cédula de crédito rural hipotecária, ele dará emgarantia a fazenda, descrevendo: “Fazenda Sem Nome do Norte,localizada em Cocalzinho, com tantos alqueires, limitada ao sul pelapropriedade do Sr. Bento...”;

6. Taxa de juros e demais encargos;7. Praça do pagamento;8. Data e lugar da emissão;9. Assinatura do emitente.

Observações:

Se a descrição dos bens não for possível no corpo da cédula, ocomplemento poderá ser feito em documento à parte. Maria Júlia darátodas as máquinas de costura como garantia. Então ela fará um anexo,arrolando os bens, que passará a ser parte integrante da cédula.Os bens móveis dados em garantia continuam na posse do emitente, queresponderá por suas guardas e conservação na qualidade de fieldepositário. Não se esqueçam que o Supremo decidiu que não existe maisprisão civil do infiel depositário.

Inscrição da cédula de crédito

Para comprar um bem imóvel, o contrato tem que ter a forma escrita por meiode instrumento público. Ao vender um imóvel, eu e o comprador vamos aoimóvel e celebramos uma escritura pública de compra e venda de bem imóvel.O que dá a propriedade do bem imóvel para o Direito Brasileiro? A transcrição.O que é? O registro daquele instrumento público perante o cartóriocompetente.

O mesmo faremos aqui na cédula de crédito, com uma finalidade distinta. Osbens, como sabemos, não podem responder por outras dívidas. O pai da Caroldeu em garantia os tratores. Arthur, dono do Treta Bank S/A, é credor do pai daCarol em obrigação de pagar quantia certa e dispõe de um título executivoextrajudicial pronto para executar o devedor. O que ele requererá? A penhorados tratores. Perguntamos: Arthur tem condições de conhecer a condição dosbens do executado? Não. Qual é, então, a forma que se tem para fazer isso? Ainscrição da cédula de crédito! Ela tem a finalidade de dar conhecimento atodos da situação dos bens dados em garantia para celebrá-la. Ao celebrar umacédula de crédito com o Banco, o pai da Carol deverá inscrever aquela cédulano cartório competente.

Uma vez celebrado o negócio, a cédula de crédito, para que tenha eficáciacontra terceiros, deverá ser inscrita no competente cartório de registro deimóveis, a saber:

1. A cédula pignoratícia, no cartório da circunscrição do imóvel em que osbens estejam localizados;

2. A cédula hipotecária, no cartório da circunscrição do imóvel hipotecado;3. A cédula hipotecário-pignoratícia, nos cartórios da circunscrição do

imóvel hipotecado e do cartório da circunscrição do imóvel onde se

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encontram os bens apenhados.

Vamos esclarecer. Cédula pignoratícia: foram dados como garantia bensmóveis. A loja da Maria Júlia fica em Samambaia, então vamos ao Cartório do3º Ofício de Notas. A fazenda do pai da Carol, que fica em Cocalzinho, seráinscrita no cartório de registro de imóveis de Cocalzinho. Mas se foramsomente os tratores dele ficaram depositados num galpão em Palmas,Tocantins, dados em garantia, será no cartório da circunscrição de Palmas quedeverá ser inscrita a cédula de crédito rural pignoratícia. E, por último, se acédula de crédito era hipotecária e pignoratícia, tendo o pai da Carol dado emgarantia tanto a fazenda em Cocalzinho quanto os tratores situados emPalmas, aquele em hipoteca, estes em penhor, onde a cédula deverá serinscrita? No cartório de Cocalzinho e no de Palmas.

Maria Júlia não levou à frente o negócio. O regime talibã foi derrotado pelosEstados Unidos e cessou a repressão extremista no Afeganistão. Com isso,também mudou a moda local. Agora as mulheres não querem mais andar com orosto coberto. Significa que a venda de burcas ficou severamente prejudicada.Ela não tem dinheiro para pagar o Banco e o contrato, por consequência, ficouinadimplido. O que o Banco do Brasil fará ante ao insucesso da Maria? Comoque se cobra um título de crédito? Execução. Se olharmos as leis de regência decada uma das cédulas de crédito (rural, comercial, industrial e de exportação),que são alguns anos mais antigas, veremos que o credor poderá reter para si osbens dados em garantia.

O Código de Processo Civil, de 1973, instituiu um novo modelo de execução, queé o que conhecemos. Depois de reformado, o CPC instituiu ainda mais novosprocedimentos de execução. O STJ entendeu que o CPC, por ser legislaçãoposterior e específica em execução, deverá ser aplicado em detrimento das leisde regência específicas das cédulas de crédito. Significa então que o Banco nãopoderá ficar com as máquinas de costura para si; ele terá que ajuizar uma açãode execução e pedir para que sejam penhorados, preferencialmente, aquelesbens dados em garantia. Feita a penhora e não havendo embargos, os bens sãolevados a leilão, caso móveis, ou a hasta pública, caso imóveis. O dinheiro éusado para o pagamento da dívida.

Os bens, antigamente, eram simplesmente tomados, como previsto nadisciplina da cédula de crédito.

Inadimplemento

O inadimplemento da cédula importará no vencimento imediato da obrigaçãoindependentemente de qualquer interpelação judicial ou extrajudicial.

Embora as leis de regência da cédula de crédito disciplinem a possibilidade deretenção dos bens pelos credores, o STJ firmou entendimento no sentido deque, em matéria de execução, deverá ser seguido o rito previsto no Código deProcesso Civil.

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quarta-feira, 2 de junho de 2010

Letras imobiliárias, debêntures e commercial papers

Quarta-feira que vem temos revisão e sexta-feira seguinte temos prova. Esta é aúltima aula de nossa matéria!

O entendimento dos comercial papers depende do entendimento dasdebêntures. Os três títulos de crédito que estudaremos hoje têm a ver comcapitalização. O que é capitalização? Arrecadar capital por uma determinadaatividade empresarial. Existem várias formas de se fazer isso, e estudaremostrês específicas.

Vamos voltar à sociedade anônima, que estudamos no semestre passado. Aliás,o que é uma sociedade por ações? Melhor ainda: o que é uma sociedade? Sim,vamos voltar aos fundamentos. Sociedade é a união de duas ou mais pessoascom um mesmo propósito, um contrato social, em que há direcionamento devontades. É o que está no art. 981 do Código Civil: “Celebram contrato desociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ouserviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dosresultados.” Na compra e venda, por exemplo, as vontades são antagônicas; seas duas partes querem comprar ou ambas querem vender, não haverá contrato.No contrato de sociedade, as duas vontades caminham para o mesmo lugar.Qual é esse propósito? Lucro. É, portanto, a união de duas ou mais pessoasnaturais, fazendo uma sociedade de pessoas, em affectio societatis. Asociedade pode ser limitada, se as pessoas resolverem limitar, no contratosocial, a responsabilidade dos sócios perante terceiros.

Há também a sociedade por ações, em que a pessoa do sócio especificamentenão será relevante, mas sim o capital empregado. É, portanto uma sociedade decapital. Também é chamada sociedade anônima, pois um sócio não sabe quemsão os outros. A sociedade limitada pode se transformar numa sociedade decapital. Assim, cada um que entrar com o capital será detentor de uma ação.Não será divisão em quotas, como na LTDA, mas em ações. O lucro seráchamado de dividendos.

O que significa “colocar ações da Petrobrás no mercado”? Ser sócio da estatal.Pouco importa a presença física do sócio.

Se os sócios resolverem aumentar o porte do empreendimento, como, em vez deuma simples academia a céu aberto numa quadra de 6.000m² eles partirempara um SPA flutuante no Lago Paranoá, eles deverão fazer um aumento decapital. A primeira forma de fazê-lo é colocar mais ações no mercado. Assim,mais capital será injetado na empresa, mas o lucro de cada um dos sóciosindividualmente considerados poderá diminuir.

No mercado imobiliário, especificamente, temos as letras imobiliárias. Nomercado de sociedades por ações, temos a debênture e os commercial papers.São formas de se alavancar, de se trazer capital para empresa sem se trazerem

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novos sócios. Trazem-se apenas credores. As letras imobiliárias são destinadasespecificamente para o mercado imobiliário. O empresário que opera comcrédito imobiliário pode lançar letras imobiliárias no mercado e as pessoas quecomprarem serão credoras deles.

As letras imobiliárias foram criadas no âmbito do Sistema Financeiro deHabitação, o SFH, mais especificamente do BNH (Banco Nacional deHabitação). Qualquer pessoa que queria comprar uma casa e não tinhadinheiro recorria ao BNH, tomava um empréstimo, que teria que ser destinadoespecificamente à aquisição de imóveis. Hoje, se alguém quer umfinanciamento para comprar um imóvel, a pessoa deverá ir à Caixa. Ela é asucessora do BNH no que tange aos financiamentos de habitação. Durante certotempo, só a CEF fazia isso; hoje em dia todos os bancos são autorizados a fazeroperações de crédito imobiliário. Se o Itaú quiser arrecadar dinheiro paraemprestar, ele emitirá letras imobiliárias; com o dinheiro arrecadadoimediatamente com as letras, ele emprestará dinheiro e cobrará juros. Omesmo para a Caixa, que precisa ter dinheiro na reserva para emprestar paraas pessoas que procurarem-na para fazer um financiamento habitacional: aCEF emite as letras imobiliárias e ganha dinheiro de imediato; em seguida pegaesse dinheiro e empresta às pessoas que querem construir suas casas.

Conceito de letras imobiliárias: são promessas de pagamento emitidas pelassociedades de crédito imobiliário com a finalidade de captação de recursos.

Esses títulos são emitidos na forma nominativa, cuja transferência se processamediante endosso em preto e averbação no livro de registros do emitente.

Lembrando que o título nominativo é o que só pode ser transferido com acomunicação ao emitente dessa transferência e que fique registrado em seulivro de registros.

Debêntures são parecidas, mas são títulos de crédito específicos das sociedadesanônimas, que estamos tratando desde o início da nossa aula. Elas queremaumentar as ações no mercado, mas não querem diminuir o lucro. O que elasfazem então? Emitem debêntures. Foi o que fez a Volkswagen, no início dadécada de 90, quando incrivelmente lhe faltou dinheiro para fabricar o encostode cabeça do banco do Gol. Quando se emitem debêntures, não se têm novossócios, mas novos credores. Quem tem debênture tem um crédito perante oemitente.

A debênture tem que ser emitida com garantia. Pode ser uma garantiahipotecária, por exemplo. Em vez de executar as debêntures, podem-seexecutar as garantias.

Há também as debêntures conversíveis. O propósito da debênture é emitirtítulos no mercado sem que se tenham novos acionistas. A conversível é aquelaque, caso não paga, se transforma em ação da companhia.

Conceito de debêntures: são títulos emitidos pelas sociedades anônimas emdecorrência de empréstimos contraídos junto ao público, sem que istoconfigure aumento de capital; desta forma, o detentor de uma debênture serácredor e não sócio da companhia.

Pela legislação atual, as debêntures poderão ser emitidas com garantia real,com garantia flutuante, ou com a chamada “cláusula de subordinação”,

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tornando seus detentores subquirografários.

O que é crédito quirografário? Existe uma coisa chamada quadro de credores,que estudaremos em Direito Falimentar. Quando da falência de uma empresa,a lei estabelece que deverão ser pagos, nesta ordem (art. 83 da Lei 11101): oscredores ‘sem concorrência’, depois, os créditos trabalhistas, de até 150salários mínimos. Se sobrar dinheiro, vamos para a segunda categoria, que sãoos credores com garantia real. Foi a quebra da Encol há alguns anos que deuorigem a esta mudança. Depois, caso ainda sobre dinheiro, dívidas tributárias,para os três níveis de governo. Depois créditos com privilégios especiais,créditos com privilégios gerais, créditos quirografários e multas contratuais.Por fim, se ainda sobrar dinheiro, o crédito subquirografário.

Em outras palavras, se alguém lhe oferecer, rejeite uma garantiasubquirografária.

Comercial papers

São idênticos às debêntures, com uma simplicidade maior na emissão. Paralançar debêntures no mercado, precisa-se chamar um agente fiduciário, umespecialista. Ele fará a mediação entre a empresa e os credores. O comercialpaper é lançado diretamente. Nada mais é que uma nota promissória: umapromessa de pagamento. Serve para o empresário fugir do empréstimobancário, já que o banco cobra juros maiores. É um título de crédito que nãotem uma disciplina específica ainda. Tudo que estudamos para notapromissória se encaixa aqui no comercial paper.

Conceito de comercial paper: é o título de crédito utilizado para viabilizar acaptação de recursos destinados ao custeio das empresas como umaalternativa aos empréstimos bancários.

Apesar de não possuir regulamentação própria no ordenamento jurídico, estespodem ser conceituados como título nominativo de curto prazo de emissão depessoa jurídica por intermédio da rede de mercado de capitais ou diretamentepela própria sociedade por ações.

Nosso programa acaba aqui :(

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Direito Empresarial - Cambiário

terça-feira, 9 de junho de 2010

Revisão

ChequeConceitoNatureza jurídicaSituações jurídicasApresentação

Prazos de apresentaçãoConsequências da não apresentaçãoCheque pós-datado

ApresentaçãoSustação e revogaçãoPrazos prescricionais

DuplicataConceitoNatureza jurídicaSituações jurídicasAceite

Formas de aceiteRecusa do aceiteProtestoTriplicataExecução

Conhecimento de depósito e warrant

Conhecimento de transporte

Cédulas de crédito

Prova será de 20 questões de V ou F. Matéria é toda a do semestre, exceto aparte de teorias sobre os títulos de crédito. Circulação dos títulos, institutosanexos, endosso, aval, protesto, ação de execução, tudo que vimos. É bom sabercomo funciona a letra de câmbio para entender tudo desta disciplina.

Cairá pouco de conhecimento de depósito e “warrant”. Cheque e duplicataserão os mais cobrados.

Cheque

Ordem de pagamento à vista emitida contra banco ou instituição financeira

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assemelhada mediante a competente provisão de fundos oriunda de depósitoou de contrato de abertura de crédito. À vista e não a prazo! Reputa-se nãoescrita qualquer disposição em contrário. Colocar no cheque “bom para” ou“favor depositar somente dia 09 de junho de 2011” é inócuo para efeitoscambiários.

O sacado é sempre banco ou instituição financeira assemelhada, que são asinstituições autorizadas pelo Banco Central para emitir cheques.

O cheque não depende de aceite, apesar de ser uma ordem de pagamento talqual a letra de câmbio. O banco paga ao beneficiário se houver todo o dinheironecessário na conta do sacador. Se não houver provisão de fundos ou esta foiinsuficiente, o banco simplesmente não pagará.

Natureza jurídica: é título de crédito sui generis, anômalo ou impróprio,porque é moeda de mobilização bancária. Mas, pelo fato de aplicarem-se a eleos princípios dos títulos de crédito, que são a literalidade, a cartularidade eautonomia, esta subdividida na abstração e na inoponibilidade das exceçõespessoais, o cheque é estudado como título de crédito.

Situações jurídicas: emitente (sacador); o banco ou instituição financeira(sacado), e o beneficiário.

Formas de circulação do cheque: ao portador, em que o nome do beneficiárionão é escrito, ou à ordem, com identificação do beneficiário ao final dacláusula à ordem. Assim ele poderá ser endossado como um título de créditoqualquer.

Cheque nominativo à ordem: indicamos outra pessoa. É possível também havercheque não à ordem, mediante inscrição expressa na cláusula do título. Nãobasta riscar a expressão “à ordem” que está ao final por causa da literalidade.A expressão “não à ordem” deve ser escrita.

Apresentação: o cheque, para ser pago, precisa ser inserido na cadeia bancária.Pode ser por desconto na boca do caixa, ou por depósito em conta corrente dobeneficiário. Depois há a compensação e comunicação entre bancos.

Prazo: variará de acordo com a praça. 30 dias, se da mesma praça, ou 60, se depraças diferentes. Mesma praça é mesma cidade ou comarca.

Consequência da não apresentação dentro do prazo de apresentação: recebium cheque, apresentei fora do prazo, tem provisão de fundos, o que o bancofará? Ele vai pagar. Não importa quando; importa que tenha dinheiro. O banconão poderá discutir se houve prescrição ou qualquer outra coisa.

Apresentado fora do prazo e descoberto que não há fundos, a primeiraconsequência é a perda do direito creditício contra os codevedores: eventuaisendossantes e avalistas.

Segunda consequência: passei um cheque à Sofia. Em vez de ir rapidamente aobanco, ela demora e o prazo se esgota. Em seguida ela apresenta o chequeextemporaneamente, para então descobrir que os fundos (dinheiro na minhaconta, que satisfariam a obrigação de pagar em favor dela) foram perdidos porfatos alheios à minha vontade, como foi com o confisco das poupanças noPlano Collor. Neste caso Sofia não terá direito contra mim porque ela dormiu,

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deixou passar o prazo e os fundos foram perdidos por conta de fatos alheios àminha vontade. Outro exemplo é a liquidação extrajudicial de uma instituiçãofinanceira, como o Banco Santos.

Cheque pós-datado: vedado pela lei, porém a prática comercial brasileira vemsendo aceita pelos tribunais. Tanto que se editou a Súmula 370 do SuperiorTribunal de Justiça, cujo enunciado é “a apresentação antecipada do chequeenseja indenização por dano moral”. Por quê? O STJ entende que houve umaquebra do princípio da boa-fé objetiva e seus princípios anexos, como o dalealdade. Além disso, é necessário que haja um dano, seja moral ou material.Havendo a conjunção desses fatores, o STJ permite a indenização por danomoral em virtude da apresentação antecipada.

Apresentação, sustação, revogação: sustação é feita antes de findo o prazo deapresentação, enquanto a revogação é feita posteriormente. Ambas dependemde “justo motivo jurídico”, o que não sabemos o que é; não está delineado.Ainda assim, qualquer que seja esse motivo não competirá ao banco discutirsua validade.

Prazos prescricionais: 6 meses para ação de execução. Passados os 6 mesescomeça a contar outro prazo, de 2 anos, para se propor a ação de cobrança. Oprazo de 6 meses é contado do termo da apresentação: não é do último dia doprazo de apresentação, mas do momento em que o cheque foi apresentado.Significa que, se o cheque foi apresentado no 30º dia, ou seja, no último dia doprazo para apresentação do cheque de mesma praça, é daquele dia que vamoscontar os 6 meses prescricionais para a execução do cheque e, depois deles,contamos os 2 anos para se ajuizar ação de cobrança. Atenção: se o cheque foiapresentado no primeiro dia, não aguardamos os 30 dias para iniciar acontagem do prazo prescricional.

Protesto do cheque: pode ser protestado como qualquer outro título de crédito,mas a declaração do banco informando que o cheque não foi pago já vale comoprotesto.

Lei de regência: Lei 7357/85 e regramentos do banco central.

Duplicata

Também é um título de crédito emitido nas operações de compra e vendamercantil ou prestação de serviços cujo prazo não seja inferior a 30 dias. Se eu,empresário individual, prestei o serviço cujo pagamento foi combinado paraser feito em prazo superior a 30 dias, poderei extrair uma duplicata.

A duplicata tem como causa a fatura, que é o documento que consubstanciará aoperação de compra e venda mercantil ou prestação de serviços. A fatura éobrigatória para compra e venda acima de 30 dias.

Regra é que a fatura é obrigatória para compra e venda mercantil ou prestaçãode serviços com pagamento a ser realizado em prazo acima de 30 dias. E aduplicata? Será sempre de extração facultativa.

Natureza jurídica da duplicata: assim como o cheque, é um título de créditoimpróprio principalmente por ser causal, cuja existência está intrinsecamente

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ligada à extração da fatura. Sem compra e venda mercantil ou prestação deserviços não existe duplicata.

No que tange à prestação de serviços, a duplicata só pode ser sacada porsociedades empresárias ou empresários individuais. Não está autorizado osaque de duplicata por mero prestador de serviços esporádicos. A lei prevê,para isso, a conta de serviço.

Lei de regência: lei 5474/68.

Situações jurídicas: emitente, que é o vendedor ou prestador de serviços, esacado, necessariamente o comprador.

Aceite da duplicata: é obrigatório. Já se tem o aceite como figura obrigatória.

Formas de se prestar o aceite na duplicata são três. Há o aceite ordinário: eu,dono de uma microempresa, mando para o comprador a duplicata, ele assinano campo específico que contém a declaração de reconhecimento de exatidãoda obrigação de pagar a duplicata e me devolve. Essa emissão para ocomprador tem que ser feita em até 30 dias, e ele terá 10 dias após orecebimento para me devolver.

Outra forma de se prestar o aceite é por comunicação: em vez de enviardiretamente para a Maria Júlia, que comprou a BMW na minha loja, quem faz oenvio da duplicata é uma instituição financeira. Maria é autorizada a reter aduplicata, desde que ela preste o aceite por escrito.

E o aceite presumido: tendo em vista que o aceite da duplicata é obrigatório,apenas em situações específicas Maria Júlia poderá recusar, retendo o título.Não havendo hipóteses de recusa, o aceite é tido como prestado. Hipóteses derecusa são: 1) não envio da mercadoria ou envio com avarias, 2) vício dequantidade ou qualidade e 3) divergências nos prazos ou preços. Inexistindotudo isso, a duplicata é passível de cobrança.

Protesto da duplicata: a duplicata tem a mesma disciplina jurídica de protestodos títulos de crédito à exceção de que o prazo para protesto da duplicata é de30 dias a contar da data do vencimento. Outra exceção é que, se mandei aduplicata para Maria e ela reteve o título, presumo que ela aceitou. Se parto dapresunção do aceite, espero que na data do vencimento ocorra o pagamento. Seela não pagar, protestarei o título. Mas é ela quem está com o título, então oque fazer? Protesto por indicação, indicando ao cartório os elementos daduplicata para que ele extraia o instrumento de protesto ainda que eu nãotenha o título em mãos.

Perda da duplicata e extração da triplicata: Mandei a duplicata para MariaJúlia, mas o documento se perdeu. Nessas situações, podemos extrair atriplicata, que terá os mesmos elementos da duplicata extraviada. Serãoidênticas, só mudando de nome.

Observações: a duplicata aceita poderá ser executada protestada ou não. Dei aduplicata para Maria, que assinou e devolveu. Só que ela não paga. Eu nãoprecisarei protestar essa duplicata porque ela já foi aceita e posso ingressardiretamente com a execução. Se Maria Júlia não aceita a duplicata, comoexecutar? Protestar, e a petição inicial deverá estar acompanhada com ocomprovante da entrega da mercadoria e a inexistência das hipóteses de

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recusa do aceite, ou seja, devo provar que a mercadoria não tinha avarias, nãotinha vícios de quantidade ou qualidade e que não havia divergências nosajustes sobre preços ou prazos.

Prazos prescricionais da duplicata: 3 anos contra o devedor principal (sacadoe seus avalistas), 1 ano contra os codevedores, e 1 ano para o exercício da açãode regresso contra o devedor principal.

Conhecimento de depósito e “warrant”

São títulos de crédito causais originários de um contrato de depósito que têmcomo origem um recibo de depósito, a partir do momento em que deposito umamercadoria em armazéns gerais ou galpão de depósitos destinadosespecificamente a essa finalidade. Nascem juntos mas poderão, depois,circular isoladamente um do outro.

O conhecimento de depósito outorga a propriedade da mercadoria. Se Marianetem grãos depositados em um armazém, ao endossar o conhecimento dedepósito para Larissa, ela estará transferindo a propriedade dos grãos paraesta. Se ela endossa o warrant ela está instituindo no seu possuidor o direito defazer cair penhor sobre aqueles bens. Nisso, o exemplo que vimos foi aquele emque Mariane vai ao banco pedir um empréstimo para uma viagem; a instituiçãoexigirá uma garantia. Ela poderá endossar o warrant, de forma que o bancoconstitui penhor daqueles grãos que estão no silo. E, caso não pague ao final doprazo avençado, o banco tomará os grãos. Nesse meio tempo Mariane poderáendossar o conhecimento de depósito para Larissa. Ela obterá a propriedadedos grãos, porém será uma propriedade precária, pois o warrantcorrespondente está circulando como garantia de uma outra obrigação.

Só será proprietário pleno da mercadoria quem tiver os dois documentos. Apartir do momento em que Mariane paga o empréstimo para o banco, ela tomade volta o warrant e volta a ser proprietária plena. Caso já tenha passado oconhecimento de depósito para Larissa, reobtido o warrant pela poderá passá-lo também para Larissa e esta passará a ter a propriedade segura dos grãosadquiridos de Mariane.

Conhecimento de transporte

Muito assemelhado ao conhecimento de depósito. Embarca a mercadoria viadeterminado transporte, extrai-se o conhecimento de transporte cujo endossoirá transferir a propriedade daquela mercadoria transportada para oendossatário. Mesmo exemplo: Mariane está transportando grãos. Ela os vendepara Larissa. Em vez de despejar tudo na casa da Larissa basta que Marianefaça o endosso do conhecimento de transporte e Larissa assume a qualidade deproprietária.

Cédulas de crédito

Caracterizadas por dois elementos. Primeiro é a destinação econômica que

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fundou a emissão do título, que poderá ser rural, comercial, industrial ou deexportação. A cédula de crédito tem feição de contrato. É só lembrar do pai daCarol, que é fazendeiro, e precisa de recursos para fazer o plantio de feijão,então ele vai ao banco pedir dinheiro, que celebra com ele uma cédula decrédito rural. O dinheiro deverá ser destinado necessariamente à atividaderural. Analogamente para as cédulas comercial, industrial e de exportação.Segundo elemento é a garantia ofertada. Se foi dado bem imóvel em garantia,será uma cédula de crédito hipotecária; se a garantia for de bem móvel acédula será pignoratícia e, se foram dados os dois tipos de bens, a cédula seráhipotecário-pignoratícia.

A cédula de crédito pignoratícia será inscrita, registrada, averbada no Cartóriode Registro de Imóveis onde os bens imóveis estão localizados.

Não cairá letra imobiliária, debênture e comercial paper na prova.

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