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UNIVERSIDADE AUTNOMA DE LISBOA LUS DE CAMES
DEPARTAMENTO DE DIREITO
MESTRADO EM DIREITO
rea: Cincias Jurdicas
DIREITO MARTIMO ADUANEIRO
REALIDADES, DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Trabalho apresentado para obteno do grau de Mestre em Direito
Orientador: Professor Doutor Jos Manuel Albuquerque Martins
Mestrando: Jos Manuel Serra de Andrade
Lisboa, Junho de 2011
2
Dedicatria
A meus Pais,
pelo exemplo, dedicao, sacrifcio e dignidade.
Ao meu filho.
Aos meus amigos.
3
Agradecimentos
Uma das coisas mais agradveis, quando se escreve sobre um tema, a oportunidade de
agradecer aos que contriburam para a sua elaborao.
A lista ser sempre incompleta pelo que estes agradecimentos no fugiram regra.
Ao meu orientador Professor Doutor Albuquerque Martins, pelos conselhos, ensinamentos e
pacincia, aos Presidentes da Comisso do Domnio Pblico Martimo, Almirantes
Espadinha Gallo e Rebelo Duarte, com quem trabalhei pelo muito que me incentivaram e
apoiaram no tratamento deste tema, aos Directores Gerais das Alfndegas e dos Impostos
Especiais sobre o Consumo, Drs. Joo de Sousa e Brigas Afonso, que concordaram na
necessidade de se proceder modernizao da legislao aduaneira de base e aos colegas, e
em especial ao Mestre Nuno Vitorino, pelo incentivo e auxlio sempre pronto.
4
Resumo
O comrcio a principal fonte de riqueza das Naes e
o mesmo no pode prosperar sem uma legislao adequada
s suas diferentes necessidades - Ferreira Borges.
A literatura jurdica nacional em matria de direito martimo escassa, quase praticamente
reduzida s lies universitrias, s dissertaes de acesso ao magistrio ou escassa
colaborao terica de algumas revistas de irregular periodicidade, especialmente se a
compararmos com a proliferao da nossa legislao tributria.
Com este trabalho procurou-se pesquisar e analisar as vrias formas de interveno e
posicionamento das Alfndegas e a sua sustentao jurdica, articulada com os comandos
internacionais, proporcionando uma viso integrada, relativamente ao Mar e aos portos
nacionais que constituem um instrumento poltico fundamental e uma infra-estrutura essencial
ao desenvolvimento da economia.
O Regulamento das Alfndegas de 1941 e a Reforma Aduaneira de 1965 constituem-se, ainda
hoje, como os pilares da legislao aduaneira nacional.
A legislao convencional e o direito comunitrio, entretanto publicados, determinam a sua
actualizao e substituio por um Regulamento ou Cdigo, que para alm da manuteno das
normas ainda em vigor contempladas naquela legislao base, inclua tambm a legislao
avulsa entretanto publicada e faa a necessria articulao com o direito internacional.
Neste contexto crucial torna-se igualmente necessrio que Portugal defina as estratgias e os
mecanismos que permitam optimizar, numa perspectiva integrada, os recursos do oceano e
das zonas e actividades costeiras promovendo o desenvolvimento das actividades econmicas,
o emprego e a proteco do patrimnio natural e cultural e aproveite o potencial das
actividades tradicionais transportes martimos, pesca, construo naval, transformao de
pescado e turismo e tambm das actividades novas como a agricultura off-shore, energia das
ondas e das mars, elicas e biotecnologia, reas em que as Alfndegas devero retomar o seu
papel de regulador da poltica econmica.
Palavras-chave: Direito martimo aduaneiro, legislao nacional, comunitria e
convencional, posicionamento territorial das Alfndegas e viso integrada dos actores
porturios, estratgia poltico-econmica.
5
Abstract
Trade is the main source of wealth of
Nations and even cannot thrive without
adequate legislation to their various needs. -
Ferreira Borges.
The national legal literature on the law of the sea is scarce, and it is practically reduced to
academic lessons, the dissertations of access to the magisterium, or the scarce theoretical
collaboration in magazines of irregular intervals, especially if we compare with the
proliferation of our tax laws.
With this work we tried to search and analyze various forms of intervention and placement of
Customs and its legal support, liaison with international commands, providing an integrated
view on the sea and national ports which constitute a fundamental political instrument and an
infrastructure essential to the development of the economy.
Customs Regulation of 1941 and the Customs Reform of 1965 are, still today, the pillars of
the national customs legislation.
Conventional law and Community law, however published, determine their update and
replacement by a Regulation or Code, which in addition to the maintenance of law still in
force contemplated on that basic law, also include other legislation however published and
make the necessary liaison with international law.
Crucial in this context it is necessary that Portugal set strategies and mechanisms to optimize,
an integrated perspective, of the resources of the ocean and coastal areas and activities
promoting the development of economic activities, employment and protection of natural and
cultural heritage and leverage the potential of traditional activities sea transports, fishing,
shipping, shipbuilding, fish processing and tourism and also new activities such as off-shore
agriculture, wave and tidal power, wind power and biotechnology, areas in which the
Customs must take its role as regulator of economic policy.
Keywords: Customs maritime law, national law, community and conventional, territorial
customs positioning of the Customs and integrated vision of port actors, political-economic
strategy.
6
Siglas e abreviaturas
Ac - Acrdo
AEM - Auto-estrada do mar
CC - Cdigo Civil
CCA - Conselho de Cooperao Aduaneira
Ccom - Cdigo Comercial
CCG - Clusulas Contratuais Gerais
CCI - Cmara de Comrcio Internacional
CDMI - Comisso de Direito Martimo Internacional
CDPM - Comisso do Domnio Pblico Martimo
CEE - Comunidade Econmica Europeia
CLCS - Commission on the Limits of the Continental Shelf
CMR - Conveno relativa ao Contrato de Transporte Internacional de Mercadorias
por Estrada
CNMF - Clusula da Nao Mais Favorecida
CNUCT - Conveno das Naes Unidas sobre o Comrcio Internacional
CNUDM - Conveno das Naes Unidas sobre o Direito do Mar
CPPT - Cdigo do Procedimento e Processo Tributrio
CRP - Constituio da Repblica Portuguesa
DES - Direito Especial de Saque
DGAIEC - Direco-Geral da Alfndegas e dos Impostos Especiais de Consumo
DIP - Direito Internacional Privado
DG - Dirio de Governo
DM - Direito Martimo
DTM - Documento de Transporte de Mercadorias
Em - Estado-membro
EU - European Union
FMI - Fundo Monetrio Internacional
IGCP - Instituto de Gesto da Tesouraria e do Crdito Pblico, I.P.
ICJ - International Court of Justice
IMO - International Maritime Organization
IPTM - Instituto Porturio e dos Transportes Martimos, I.P.
LGT - Lei Geral Tributria
7
LMPAVE - Linha da mxima preia-mar de guas vivas equinociais
MARPOL - Convention for the Prevention of Pollution from Ships
OCDE - Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico
OMA - Organizao Mundial das Alfndegas
OMI - Organizao Martima Internacional
OMC - Organizao Mundial do Comrcio
PE - Parlamento Europeu
RAT - Regime da arbitragem tributria
SAFE - Segurana e Facilitao do Comrcio Mundial
SEF - Servio de Estrangeiros e Fronteiras
STJ - Supremo Tribunal de Justia
TIJ - Tribunal Internacional de Justia
TMI - Conveno sobre o Transporte Multimodal Internacional de Mercadorias
UE - Unio Europeia
ZEE - Zona Econmica Exclusiva
ZMPS - Zona Martima Particularmente Sensvel
8
NDICE
Dedicatria .......................................................................................................................... 2
Agradecimentos ................................................................................................................... 3
Resumo ................................................................................................................................ 4
Siglas e abreviaturas ............................................................................................................ 6
ndice ................................................................................................................................... 8
INTRODUO .................................................................................................................. 11
1. O mar, a economia e as alfndegas. Direito Martimo ............................................... 11
2. Objectivos do trabalho ............................................................................................... 15
2.1. Objectivo geral .................................................................................................. 15
2.2. Objectivo especfico .......................................................................................... 16
3. Estrutura do trabalho .................................................................................................. 17
PARTE I Enquadramento do Direito Aduaneiro no Domnio Martimo do Estado ........ 19
Captulo I - O Domnio Martimo do Estado ...................................................................... 20
1. Caracterizao do territrio nacional ......................................................................... 20
2. Princpios do domnio das guas ................................................................................ 21
3. Soberania territorial e o domnio martimo do Estado ............................................... 23
3.1. As guas interiores ............................................................................................ 23
3.2. Mar territorial .................................................................................................... 24
3.3. Zona contgua .................................................................................................... 24
3.4. Zona Econmica Exclusiva ............................................................................... 25
3.5. Plataforma Continental ou Submarina .............................................................. 27
4. Reivindicao da extenso da Plataforma Continental alm das 200 milhas ............ 28
5. Zona Martima Particularmente Sensvel ................................................................... 32
Captulo II - Utilizao, manuteno e defesa do domnio pblico martimo .................... 36
1. Constituio e funcionamento da CDPM ................................................................... 36
2. O Domnio Pblico Martimo .................................................................................... 37
3. A prova do direito de propriedade particular sobre reas genericamente
classificadas como dominiais ..................................................................................... 40
PARTE II O Direito Martimo dos Transportes ............................................................... 44
Captulo I - O Direito Convencional ................................................................................... 45
1. Conveno de Bruxelas de 1924 ................................................................................ 47
2. Regras de Haia de 1924 .............................................................................................. 50
3. Protocolo de Visby de 1968 e o Protocolo DES de 1979........................................... 50
4. A Conveno das Naes Unidas no domnio do transporte martimo de
mercadorias, de 1978 - Regras de Hamburgo ............................................................ 50\
5. Conveno para a regulamentao do Transporte Internacional Multimodal de
Mercadorias, Genebra 1980 ....................................................................................... 51
5.1. O Transporte Multimodal e as diversas Regras ................................................ 53
5.1.1. Regras de Haia ...................................................................................... 53
5.1.1.1. A clusula Paramount ........................................................ 54
9
5.1.1.2. As clusulas das Seguradoras ................................................. 56
5.1.2. Regras de Hamburgo ............................................................................. 56
5.1.3. Regras UNCTAD/CCI de 1992 ............................................................. 57
5.1.4. O Transporte Multimodal e o MERCOSUL ......................................... 58
6. Conveno de Roma de 1980 ..................................................................................... 60
7. Conveno das Naes Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982 .............................. 60
7.1. Definio de um novo quadro jurdico na CNUDM ......................................... 62
7.2. A interveno das Alfndegas ........................................................................... 62
7.3. A questo jurdica da publicao ...................................................................... 63
8. Evoluo do direito martimo internacional e seus princpios ................................... 64
Captulo II Os Incoterms e os Trade terms ...................................................................... 66
Captulo III - A Poltica de Transportes da Unio Europeia ............................................... 67
1. Base jurdica do Transporte Martimo no Tratado da Unio Europeia e outra
legislao Comunitria ............................................................................................... 68
2. O Princpio da Livre Prestao de Servios ............................................................... 69
2.1 Regime da concorrncia .................................................................................... 74
Captulo IV - Quadro Evolutivo do Direito Comercial Martimo Nacional ....................... 76
1. Caracterizao do Direito Comercial ......................................................................... 76
2. Os Cdigos Comerciais e a legislao avulsa ............................................................ 77
2.1. O Direito Comercial Martimo nos primeiros Cdigos Comerciais ................. 77
2.1.1. O Cdigo Comercial de 1833 ................................................................ 78
2.1.2. O Cdigo Comercial de 1888 ................................................................ 79
2.2. Rever o Cdigo Comercial ou um Cdigo de Navegao Martima ................. 79
2.3. A Reforma faseada ............................................................................................ 80
2.3.1. O Novo Direito Comercial Martimo Portugus (1986-87) .................. 81
2.3.1.1. O Contrato de Transporte de Mercadoria por Mar ................. 81
2.3.1.2. O Contrato de Fretamento ...................................................... 83
2.3.1.3. Outros contratos na legislao dos anos oitenta ..................... 86
2.4. Legislao martima dos anos noventa .............................................................. 86
2.5. Proposta de Lei que aprova a Lei de Navegao Comercial Martima ............. 88
PARTE III - A Ordem Econmica Internacional e o Direito Aduaneiro ............................ 90
Captulo I A Unio Europeia e as Organizaes Internacionais. Direito Aduaneiro ....... 91
1. O Tratado da CEE e os Acordos do GATT ................................................................ 92
2. O Cdigo Aduaneiro Comunitrio (CAC) ................................................................. 93
3. Poltica de segurana martima na Unio Europeia ................................................... 94
3.1. Principais instrumentos em matria de segurana ............................................. 95
3.2. Segurana dos navios de transporte de passageiros .......................................... 96
3.3. Instrumentos de controlo dos navios ................................................................. 97
3.4. Vistorias e inspeces a navios ......................................................................... 98
Captulo II Convenes UNESCO e de Quioto ............................................................... 100
1. Quadro legal especfico para Proteco do Patrimnio Cultural Subaqutico ........... 100
2. Quadro legal especfico dos Regimes e Procedimentos Aduaneiros - Conveno
de Quioto .................................................................................................................... 103
Captulo III - As grandes Organizaes Internacionais e a facilitao das trocas .............. 106
1. A Organizao Mundial das Alfndegas (OMA) ....................................................... 106
10
2. A Organizao Mundial do Comrcio (OMC) ........................................................... 106
2.1. Resoluo de litgios e exame das polticas comerciais .................................... 107
2.2. Acordos da OMC .............................................................................................. 108
2.3. A OMC e a inspeco antes de embarque ......................................................... 109
Captulo IV - A Legislao Aduaneira Nacional ................................................................ 112
1. O Regulamento das Alfndegas e a Reforma Aduaneira ........................................... 112
2. Necessidade de uma poltica legislativa integrada do mar ......................................... 117
3. Medidas preventivas e repressivas a adoptar pelas Alfndegas ................................. 118
3.1. O combate evaso e fraude aduaneira e fiscal ................................................ 118
3.2. Medidas Estratgicas no combate fraude ....................................................... 118
3.2.1. A cooperao aduaneira na Conveno Npoles II ............................... 122
3.3. Medidas Preventivas ......................................................................................... 123
3.3.1. Medidas de carcter administrativo ....................................................... 123
3.3.2. Medidas operacionais: vigilncia, fiscalizao e controlo .................... 124
3.3.3. Medidas relativas a meios de transporte ............................................... 128
3.4. Cooperao bilateral com o Reino de Espanha ................................................. 129
3.5. Cooperao a nvel dos pases da CPLP ........................................................... 129
Captulo V O Transporte de Mercadorias e os Procedimentos Aduaneiros na Via
Martima .............................................................................................................................. 131
1. A Via Martima: Alfndegas martimas ..................................................................... 131
2. Os meios de transporte e os procedimentos aduaneiros ............................................. 132
2.1. O Aviso e a Notcia de chegada ........................................................................ 134
2.2. Ancoradouros e documentao ......................................................................... 135
2.3. Manifestos e Role de equipagem ...................................................................... 136
2.4. Formalidades na sada ....................................................................................... 136
2.5. Formulrios para o despacho de navios ............................................................ 137
2.6. Malas de correio, amostras e esplios ............................................................... 138
2.7. Provises de bordo ............................................................................................ 138
2.8. O manifesto martimo electrnico ..................................................................... 138
2.9. Estados da contramarca ..................................................................................... 140
2.10. O Sistema de Declarao Sumria (SDS) Via martima ................................ 141
3. Assistncia e Salvao Martimas .............................................................................. 141
3.1. A recuperao de salvados ................................................................................ 142
3.2. Assistncia e salvamento de navios .................................................................. 143
Captulo VI - As Auto-Estradas Martimas e a importncia estratgica do Mar ................ 145
1. Portugal como Plataforma Logstica Europeia ........................................................... 145
1.1. A concentrao de fluxos de mercadorias em vias logsticas de base
martima ............................................................................................................ 145
1.2. Funo logstica dos portos e gesto dos terminais porturios ......................... 154
1.3. O sector martimo-porturio nacional Perspectivas ....................................... 156
2. A importncia logstica do transporte e corredor verde ............................................. 158
CONCLUSES ................................................................................................................... 161
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 165
ANEXO ............................................................................................................................... 172
11
INTRODUO
1. O mar, a economia e as alfndegas. Direito Martimo
Ao longo dos ltimos anos no foi fcil discutir o tema do Mar e no queremos correr o risco
de perder esta oportunidade de contribuir para uma estratgia definidora das bases jurdicas
que enformam a economia do mar.
Portugal, enquanto espao independente e por razes de desenvolvimento econmico est
forado a olhar para todas as possveis fontes de crescimento.
Ora, Portugal, entre outros recursos, tem um enorme recurso inexplorado: o Mar.
Neste contexto, sob uma perspectiva integrada e dando sequncia a uma verdadeira poltica
europeia, avanada pela Comisso com o lanamento do Livro Verde, o qual traduz a viso
europeia sobre os oceanos e mares, torna-se crucial que se defina uma estratgia e os
mecanismos que permitam optimizar os recursos do oceano e das zonas e actividades
econmicas, em que as Alfndegas, assim, devero reassumir um papel fundamental.
A Histria de Portugal foi desde sempre influenciada pelo Mar.
Desde as frotas de cruzados que ajudaram na conquista do territrio nacional, ao comrcio
martimo com a Flandres, Inglaterra e cidades do Mediterrneo, at s primeiras descobertas
das ilhas atlnticas e, posteriormente, do caminho martimo para a ndia e do Brasil, so
demonstraes da utilizao pioneira de um poder naval portugus.
As diversas viagens de explorao realizadas permitiram desbravar novas rotas de comrcio
da Europa com frica, Brasil e sia: alcanar o ouro da Mina, o acar e o ouro do Brasil e
as diversas especiarias do Oriente.
As novas rotas martimas procuradas pelos navegadores ocidentais com o Oriente resultam
tambm da necessidade de fugir incidncia das taxas pesadas daquele comrcio oriental que
vinham sendo impostas desde a expanso do Imprio Otomano, cuja bandeira, com uma
estrela de cinco pontas e um crescente, forma tambm a base da actual bandeira da Turquia,
repblica sucessora deste Imprio em 1923, que s entrou em declnio com a perda desse
comrcio. Como refere Oliveira Marques1 o ltimo componente populacional significativo na
histria da Pennsula Ibrica foi o dos povos islmicos.
1 MARQUES, A. H. Oliveira Histria de Portugal. 13. ed. Lisboa: Editorial Presena. 1997. Vol I, p. 30.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeira_da_Turquiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/1923
12
Por tais razes, a viso estratgica que permitiu o controlo do mar esteve sempre presente nos
nossos governantes, implementando-se a criao de colnias em frica, na Amrica e na
ndia, em que assumiram papel preponderante, entre outros, D. Francisco de Almeida e
Afonso de Albuquerque.
Aquelas novas riquezas, por sua vez, e em termos sociais haveriam de transferir a influncia e
o poder da nobreza para a burguesia e transformar uma sociedade feudal em sociedade
burguesa, com benefcio das classes comerciais citadinas.
Refere-se este perodo, os Sculos XV e XVI, para demonstrar a influncia do mar e o papel
que, desde cedo, cabe s Alfndegas nas trocas comerciais martimas.
Para isso, desde logo, o estabelecimento de pontos de apoio para as frotas na costa oriental de
frica foi uma preocupao, criando-se as feitorias como postos de desenvolvimento
comercial.
O desenvolvimento do comrcio seria acompanhado da melhoria dos navios, cujos aparelhos,
equipamento, armamento e solidez de construo se foram adaptando s diversas
necessidades, blicas ou comerciais, em pequenas ou longas viagens, tudo isso, por sua vez,
suportado no engenho da evoluda construo naval portuguesa.
Os progressos na arte de navegar e o afastamento da costa no teriam sido possveis sem o
valioso apoio dos diversos instrumentos martimos como a agulha magntica trazida pelos
rabes e Cruzados da China, e de outros que a partir do Sculo XV foram postos ao servio
dos navegadores, como o astrolbio nutico, cuja criao se deve aos portugueses, do
quadrante ou da balestilha.
Em termos da conquista e expanso territorial portuguesa, segundo Saturnino Monteiro2 os
diversos marcos e cronologia de viagens de descobrimentos permitem que a nossa Histria
Martima comporte os perodos seguintes:
1. Perodo de 1139 a 1250 Conquista do territrio;
2. Perodo de 1251 a 1414 Alianas e guerras com Castela;
3. Perodo de 1415 a 1579 Expanso Ultramarina;
2 MONTEIRO Saturnino - Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa. 1994.Vol I (Obra em 8 volumes).
Comandante da Marinha, especialista em Histria Martima Portuguesa, um dos mais importantes estudiosos da
rea, traa a histria de um pas e das rotas martimas que mudaram o mundo, com base em dados recolhidos nas
mais diversas fontes e nos arquivos oficiais da marinha.
13
4.Perodo de 1580 a 1668 Perda e recuperao da independncia, guerras com os
Ingleses e Holandeses;
5. Perodo de 1669 a 1807 Dependncia econmica em relao ao Brasil;
6. Perodo de 1808 a 1975 Debilidade econmica, diviso ideolgica.
Outros autores, como Marcello Caetano3 e Cabral de Moncada
4 apresentaram para o direito
portugus outras delimitaes adoptando, predominantemente o critrio jurdico-poltico.
Reala-se que no Sculo XVI a XVIII um conjunto de autores e de polticas econmicas
foram divulgados na Europa: designados por mercantilistas e sistema mercantil
(expresso empregue por Adam Smith5) e que determinou o pensamento econmico
dominante nessa poca. Tal pensamento determinaria um nacionalismo econmico
mercantilista, fundado no imprio colonial, que implicaria formas de dirigismo econmico
por parte do Estado (Rei). Fomentando a produo nacional, evitando as importaes,
promovendo as exportaes, o que exigiu um elevado proteccionismo por parte das
Alfndegas6,7
.
O Estado, arbitrrio ou poder rgio, vai intervir nesse perodo legislativamente atravs da
regulamentao dos mais variados aspectos da vida econmica: desde a autorizao da
produo at s pautas alfandegrias de carcter proteccionista, controlo das importaes e
dos pagamentos ao estrangeiro, licenas do comrcio externo, normas sobre a produo,
categorizao de bens como de primeira necessidade ou como sumpturios (v.g., cerveja),
subvenes produo e exportao, isenes, monoplios de produo, feitorias,
entrepostos e at companhias para o comrcio martimo exclusivo dos produtos coloniais,
como foi o caso da Companhia das ndias.
No sentido contrrio, com Hume e Adam Smith8, o livre cambismo, Sculo XIX, reduziu os
direitos aduaneiros, consagrando a Clusula da Nao Mais Favorecida que,
posteriormente, vir a ser abundantemente reflectida em mltiplos tratados e convenes bi e
multilaterais entre Estados, substituindo um apertado dirigismo estatal por um liberalismo
3 CAETANO, Marcello Histria do Direito Portugus. 3. ed. Lisboa/S. Paulo: Editorial Verbo. 1992, p. 30.
Distingue cinco perodos: 1. Formao do Estado (1140-1248), 2. Consolidao do Estado (1248-1495), 3.
Estabilizao do Estado (1495-1750), 4. Reformas da Ilustrao (1750-1820), 5. (1820-1926) Revoluo liberal 4 MONCADA, Cabral de, O Problema Metodolgico na Cincia da Histria do Direito Portugus, in Estudos
de Historia do Direito, Vol II, p. 180-181. 5 SMITH, Adam Inqurito sobre a Natureza e as causas da Riqueza das Naes. 2. ed. Vol 2. Lisboa:
Fundao C. Gulbenkian. 1989. 6 NEVES, Arnaldo Gabriel R. Costa Dos contratos de contrapartidas no comrcio internacional
(Countertrade). 2003. p. 195. 7 TAMANES, Ramn Estrutura da Economia Internacional. 1979. p. 27.
8 Salienta-se que Smith foi Director das Alfndegas de Edimburgo.
14
econmico como, ainda, consagrando o actual princpio da liberdade contratual. Assim,
passando a competir ao Estado unicamente um papel de garantir as regras de uma leal
concorrncia e fiscalizar o seu cumprimento.
, neste quadro evolutivo, que surge a liberdade dos mares e a passagem de um direito
consuetudinrio a um direito comercial martimo, o qual se caracterizava por regular um
conjunto de actividades ligadas navegao por mar9, protegendo o pavilho da potncia
metropolitana atravs do acesso livre a todos os portos, como igualmente regulava o direito
dos navios, o contrato e o transporte martimo de mercadorias e de passageiros e ocorrncias
que com os mesmos pudessem emergir, v.g., avarias, naufrgios, salvados, doenas a bordo,
arrojos ou vistorias.
Dado que as fontes da histria so abundantes e importantes, o conhecimento e a anlise da
realidade da aplicao do direito num determinado perodo e no pas e as ideologias e
doutrinas dominantes susceptveis de influenciar a criao e aplicao do direito aduaneiro
sero tambm, na medida do possvel, minimamente reconstitudas.
Com maior desenvolvimento, dado que as fontes da histria so mais abundantes, sero
analisados os anos noventa, em que a integrao econmica foi determinante.
A este ciclo segue-se a necessidade da redescoberta da eficcia socioeconmica, sem dvida o
maior desafio para o sculo XXI, para a democracia supranacional da Unio.
Pelo que, os conceitos tm vindo a evoluir no sentido do seu alargamento a novas realidades
pelo que actualmente o Direito Martimo (DM) o ramo do direito comercial que trata das
relaes jurdicas dimanadas da navegao martima e da presena do homem no mar, embora
como refere Mrio Raposo10
, no seja feito em Portugal o estudo sistemtico deste direito.
Como exporemos ao longo do presente trabalho, muita da regulamentao que actualmente
vigora nesses aspectos inicialmente contidos em cdigo comercial (como o contrato de
transporte, abalroamentos, naufrgios) foram objecto de conveniente celebrao de Acordos e
Convenes internacionais. Assim, nesta perspectiva, muita da legislao do direito comercial
9 Regular as trocas mercantis processadas pela via martima (relao produtor ou comerciante e dono ou agente
do navio) e a prpria actividade de navegao ou actividade martima (desde a navegabilidade do navio at aos
eventos e risco a que o mesmo e a sua navegabilidade podem estar sujeitos, nomeadamente, as avarias, ou, ainda,
a relao do dono do navio e tripulao). 10
RAPOSO, Mrio Estudos sobre o Novo Direito Martimo. Realidades Internacionais e Situao
Portuguesa., p. 109, refere ficando pelo caminho os tentames de constituio de uma Associao Portuguesa
de DM, homloga das que existem em quase todos os pases mediamente evoludos.
15
martimo decorre dessa fonte internacional. Esse acervo internacional constituiu-se num
verdadeiro direito internacional privado11
.
J o Direito do Mar ou Direito Internacional Pblico do Mar, segundo Marques Guedes12
,
regular as relaes entre Estados que tm como objecto a utilizao do mar e o exerccio dos
poderes de soberania, repousando sobre um acervo de tradies, expressas em usos e
costumes, e em regulamentaes ainda hoje em vigor. A generalizao daquela ltima
expresso Direito Internacional Pblico do Mar relativamente recente e liga-se ao facto
de a Comisso do Direito Internacional, instituda pela Assembleia Geral da ONU em 1947, a
ter utilizado para caracterizar as trs conferncias (1958, 1960 e 1973 a 1982) atravs das
quais se procurou codificar a parte do Direito Internacional Pblico relativa aos espaos
martimos.
Temos, assim, segundo Moreira da Silva13
, um conceito clssico de direito do mar vigente at
III. Conferncia das Naes Unidas de Direito do Mar (1973-1982) que se centrava no
direito dos espaos martimos dando, por isso, essencialmente uma perspectiva dos poderes
atribudos aos Estados sobre o mar e compreendendo os direitos que tm sobre os espaos
martimos a contar das suas costas.
Notou-se depois uma evoluo histrica com reivindicao de soberania com espaos cada
vez mais largos pelo mar adentro e a criao de figuras hbridas de direitos de jurisdio e de
direitos de fiscalizao sobre os espaos martimos que no fazem parte da soberania dos
Estados.
Mas o conceito contemporneo de direito do mar, em vez de se centrar no Estado costeiro,
centra-se na comunidade internacional numa perspectiva dos direitos sobre o mar na sua
globalidade e sobre as actividades nele desenvolvidas, em torno do direito do
desenvolvimento, do direito da cooperao e, sobretudo, com base na viso e conceito de
patrimnio comum da humanidade.
2. Objectivos do trabalho
2.1. Objectivo geral
Face a tais vicissitudes histricas, e ao papel que tem desempenhado consoante a conjuntura
econmica, as Alfndegas martimas portuguesas actualmente devero estar organizadas e
11
MACHADO, Joo Baptista Lies de Direito Internacional Privado. 1985. p. 12. 12
GUEDES, Armando Marques Direito do Mar, Coimbra Editora, 1998. p. 16.
13 SILVA, Jos Lus Moreira da Direito do Mar. 2033. p. 8.
16
posicionadas territorialmente, de modo a que, na rea dos procedimentos aduaneiros e fiscais,
possam exercer aces de fiscalizao e de controlo sobre as mercadorias e meios de
transporte introduzidos no territrio aduaneiro da Comunidade junto das plataformas
logsticas14
.
Na rea da preveno e represso da fraude, e quando da entrada e sada do territrio, bem
como quando na circulao no seu interior, s alfndegas compete fiscalizar os diversos meios
de transporte e as mercadorias sujeitas aco aduaneira, exercendo, para isso, os seus
controlos isoladamente ou em aces conjuntas em articulao com outras entidades
administrativas ou policiais nacionais (GNR, corpo Veterinrio, corpo Diplomtico, etc.),
como, igualmente, com entidades de outros Estados-membros ou organismos internacionais
(UE, Interpol, OMA, OMC, UNCTAD, etc.) e, bilateralmente, no mbito de cooperao
administrativa com outros pases e outras entidades e organizaes (Cmaras de Comrcio e
da Indstria, Cmara do Comrcio Internacional, organizaes de cooperao tcnica e
aduaneira, etc.).
Por seu lado, as exigncias do comrcio internacional determinam que os comerciantes e
transportadores, em qualquer parte do mundo, possam esperar um tratamento similar para as
suas mercadorias ao longo de todo o trajecto de uma transaco internacional pelo que a
modernizao e a harmonizao alfandegria (enfim, a prpria poltica econmica
comunitrio-nacional) representam um objectivo fundamental para facilitar esse mesmo
comrcio, velar pelo cumprimento da legislao nacional e internacional e garantir uma s
concorrncia aos operadores econmicos.
Assim, propomo-nos neste trabalho indagar, em termos da contemplao legislativa, se tal
desiderato est a ser conseguido.
2.2. Objectivo especfico
Constacta-se que, em 2007, 90% do comrcio externo europeu15
e 40% do comrcio
comunitrio recorria ao transporte martimo, tendncia que se tem vindo a acentuar conforme
salientado pela Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE)16
.
14
Plataformas logsticas, ver Decreto-Lei n. 152/2008, de 5.8. 15
LIBERATO, J.; SOARES, C. Guedes; SALVADOR, R. O Cluster Martimo Portugus no Contexto
Mundial e Europeu. In 11.s Jornadas de Engenharia Naval, 25 a 27 de Novembro de 2008, Lisboa - O Sector
Martimo Portugus. 2010. p. 41-58. 16
Conferncia Europeia dos Ministros dos Transportes, de 22 de Maro de 2007, onde igualmente foram
discutidas as ferramentas para melhorar o planeamento dos transportes e abordados os impactos
macroeconmicos das polticas de infra-estruturas de transportes.
17
Acresce que, desde 1997, a criao de uma zona contgua vigiada, logo aps a ratificao da
Conveno do Direito do Mar, tem vindo a ser preocupao governamental, pelo que o
controlo do mar, alargando a capacidade de vigilncia at s 24 milhas da costa, se tornou
uma necessidade em matrias to importantes como o combate ao terrorismo, pirataria ou ao
narcotrfico, como ainda, imigrao clandestina, infraces de tipo aduaneiro e crimes contra
a sade pblica e ambientais.
Assim, j no aspecto do direito do mar, como iremos abordar no Captulo I do presente
trabalho, um outro objectivo de anlise a extenso da plataforma continental para alm das
duzentas milhas, para o qual est criado um grupo de misso com o intuito de apresentar
Comisso de Limites da Plataforma Continental a proposta portuguesa da sua extenso.
Estes novos domnios e o consequente alargamento da capacidade de vigilncia e fiscalizao,
bem como, a criao de plataformas logsticas, a necessidade de harmonizao de
procedimentos e de troca de informaes entre as entidades com competncia na via martima
e o papel a desempenhar pela Instituio Aduaneira e a sustentao jurdica destas novas
posies so igualmente objecto do presente trabalho.
3. Estrutura do trabalho
Face proliferao e disperso da legislao da rea martima a nvel aduaneiro e ao acervo
de convenes e direito comunitrio aplicveis pela Instituio Aduaneira, a que acresce o
conjunto abundante de normativo avulso com dignidade jurdica, refora a nossa convico da
necessidade de uma codificao da legislao e dos procedimentos aduaneiros com a
consequente actualizao do Regulamento das Alfndegas (de 1941) e da Reforma Aduaneira
(de 1965).
Assim, o presente trabalho compreende trs partes distintas, por nos parecer vantajoso em
termos de organizao e anlise do tema escolhido.
Na primeira Parte aborda-se o territrio nacional, bem como as guas jurisdicionais e o direito
martimo internacional, comunitrio e convencional, que os rege e est recebido na ordem
jurdica nacional, bem como as funes desenvolvidas pela Comisso do Domnio Pblico
Martimo17
.
Na segunda Parte, j dentro do direito internacional privado, bem como do direito comercial
martimo, aps a enunciao das convenes deste direito internacional, apresentamos a
17
O autor do presente trabalho o vogal representante do Ministrio das Finanas e da Administrao Pblica na
referida Comisso. Naturalmente, o presente trabalho, no poder deixar de reflectir muito do acervo tomado
pessoal e presencialmente sobre o Domnio do Mar.
18
orgnica aduaneira, o posicionamento das Alfndegas e as suas competncias relativamente
aos meios de transporte, com especial destaque do transporte martimo procurando-se, assim,
investigar se tal legislao d resposta cabal aos novos problemas.
Por fim, dado o papel de regulador econmico, histrica e comunitariamente atribudo s
Alfndegas, desde logo ao longo de oito sculos de nacionalidade ou pela via da corrente do
mercantilismo, do liberalismo e, no sculo XX e no actual do bilateralismo e multilateralismo,
papel esse que ultimamente parece esquecido, identificam-se os factores responsveis por esse
desvio sistemtico entre o que est consagrado a nvel de competncias e o que
efectivamente exercido, apontando os novos desafios e perspectivas que se lhe deparam,
desde logo a recodificao legislativa anteriormente apontada.
19
PARTE I
Enquadramento do Direito Aduaneiro no Domnio Martimo do Estado
A um perodo de descodificao mister
que se siga uma fase de recodificao
Ignacio Arroyo Martinez
Autor de La codificacin de la legislacin martima
(Professor Catedrtico de Derecho Mercantil
de la Universidad Autnoma de Barcelona, 2000)
20
Captulo I O Domnio Martimo do Estado
O domnio das guas pelo Estado abrange tradicionalmente o mar territorial, a zona contgua,
a plataforma continental, os mares interiores, os canais e as guas interiores.
Ao nvel do direito interno, cada Estado tem a liberdade de adaptar as suas disposies e os
seus casos concretos ao direito internacional, dentro dos limites por este fixados.
Torna-se, assim, necessrio que conheamos as disposies das principais convenes e os
direitos que os Estados costeiros tm sobre os vrios espaos martimos, sendo preciso
completar essa viso com uma perspectiva dos direitos da comunidade internacional sobre
esses mesmos espaos e sobre as actividades que neles se desenvolvem, merecendo especial
ateno os problemas suscitados pela nova plataforma jurdica.
Muitas das actividades desenvolvidas nesses espaos so tuteladas pelas Alfndegas, como a
segurana da fronteira externa e das reas em que esta exerce a sua jurisdio com carcter
habitual ou permanente portos e zona martima.
1. Caracterizao do Territrio Nacional
A noo de fronteira, desde logo nuclear actividade aduaneira, associada ideia de um
espao fsico nacional e ao prprio conceito de Estado, estruturante da delimitao do
territrio nacional18,19
.
Portugal um Estado com cerca de 1850 km de extenso de costa, dos quais 950 km so
fronteira martima no continente, 691 km no arquiplago dos Aores e 212 km no arquiplago
da Madeira e com cerca de 1 720 000 Km2 de guas jurisdicionais, pelo que se torna
necessrio garantir a segurana das suas fronteiras e o exerccio de jurisdio especfica sobre
os recursos marinhos.
18
MARTINS, Jos Albuquerque - Actividade, Estrutura e Funcionamento da Direco-Geral das
Alfndegas, Lisboa. 2006. 19
Constituio da Repblica Portuguesa de 1976, (Stima reviso constitucional - 2005), Artigo 5.
(Territrio):
1. Portugal abrange o territrio historicamente definido no continente europeu e os arquiplagos dos Aores e
da Madeira.
2. A lei define a extenso e o limite das guas territoriais, a zona econmica exclusiva e os direitos de Portugal
aos fundos marinhos contguos.
3. O Estado no aliena qualquer parte do territrio portugus ou dos direitos de soberania que sobre ele exerce,
sem prejuzo da rectificao de fronteiras.
Torna-se assim claro, conceptual e vertido na lei fundamental, que o direito ou o domnio do Estado portugus
sobre o mar como parte do seu territrio, torna-o um direito indisponvel.
21
Esse perfil territorial especfico, aliado a uma continuidade martima directa com as guas
arquipelgicas da Madeira e Aores determina que importemos e exportemos, mais de 70% e
50% dos produtos, respectivamente, atravs da via martima. Esta situao e os nove portos
de mar e marinas instalados possibilitam que sejam em grande nmero as embarcaes de
recreio e os navios que circulam nos nossos portos e as mercadorias movimentadas.
Por tais razes, as preocupaes com a delimitao do mar territorial, de forma a proteger o
Estado costeiro e as embarcaes, tm vindo a manifestar-se de grande valor econmico e
estratgico.
2. Princpios do domnio das guas
O gegrafo Marsigli20
, considerado o iniciador da oceanografia moderna assinalou no comeo
do sculo XVIII a existncia de plataformas continentais contnuas linha de costa.
A plataforma continental, expresso utilizada pela primeira vez pelo gegrafo ingls Mill 21
definida como sendo a zona imersa, de declive suave, cuja gradiente normal de 0,1 mas
pode oscilar entre essa inclinao e a de 3, que a partir da linha mdia da baixa-mar prolonga
a terra firme at distncias que variam de escassas centenas de metros a perto de 800 milhas
martimas e cessando geralmente profundidade de 130 a 200 metros.
plataforma continental segue-se o talude ou escarpa continental, o qual vai do seu bordo
exterior aos 4 ou 5 mil metros de fundo e rematado na parte inferior pelo sop continental
onde se acumulam os materiais e detritos cados ao longo do talude ou escarpa. Em termos de
mar, por cima e a seguir quela plataforma terrestre, o incio do Alto Mar.
O sop continental, por sua vez, repousa sobre o fundo ou plancie abissal caracterizado por
uma profundidade entre os 3300 e 5500 metros.
Ao complexo constitudo por plataforma, talude e sop d-se o nome de margem continental.
Em termos de direito martimo, a I Conferncia das Naes Unidas sobre o Direito do Mar
(Genebra, 1958 e depois em 1960), atravs de Comisses constitudas para o efeito, fez surgir
um texto nico de codificao dos princpios fundamentais do Direito do Mar a serem
internacionalmente reconhecidos. Nessa I Conferncia foram votadas quatro Convenes: a
Conveno relativa ao Mar Territorial e a Zona Contgua; a relativa temtica do Alto Mar; a
20
MARSIGLI, L.F. - Breve Ristretto del Saggio Fsico intorno alla Storia del Mar.1711. p. 52. 21
MILL, Hugh Robert, The Realm of Nature. Parte 1 This World, Cap. 1 Of the Nature of Flatland.1892. p. 3.
22
relativa Pesca e a Conservao dos Recursos Biolgicos do Alto Mar; e, por fim, a
Conveno relativa prpria conceptualizao e delimitao da Plataforma Continental.
Dessa conferncia sobressai ainda que eventuais divergncias de interpretao ou aplicao
do disposto nas convenes resolver-se-iam atravs de recurso obrigatrio ao Tribunal
Internacional de Justia.
Na abrangncia do direito martimo, o domnio martimo mundial em concreto, por no se
encontrarem inteiramente definidos os limites impostos pela Conveno das Naes Unidas
sobre o Direito do Mar, realizada em Montego Bay, (Jamaica, 1982)22
, assunto objecto de
discusso entre os pases interessados, dado que a conveno prev at que esses limites
possam at ser estendidos23
.
Ora, a CNUDM dispe sobre o limite das 200 milhas martimas (limite por que se constitui a
Zona Econmica Exclusiva, como abordaremos mais frente), a partir da plataforma
continental, poder ser estendido, desde que os pases signatrios apresentem as caractersticas
desse limite exterior e reivindiquem os seus direitos de explorao e aproveitamento de
recursos vivos e no vivos sobre o subsolo e leito do mar numa faixa de mar. Esse
prolongamento era, at ento, considerado sob o domnio comum da humanidade, e aquele
procedimento fundamenta-se na invocao e no preenchimento dos requisitos do art. 76. da
Conveno junto da Comisso de Limites da Plataforma Continental, rgo vinculado
Organizao das Naes Unidas (ONU).
A Conveno das Naes Unidas sobre o Direito do Mar comporta 155 Estados Partes, e s
entrou em vigor em 1994, com texto em 1997 em portugus.
Os EUA no so, porm, parte da Conveno.
Essas reivindicaes, em termos processuais, devero ser analisadas num prazo de 10 anos a
partir da data de entrada em vigor da Conveno e, nesta perspectiva, alargam-se
substancialmente as competncias, nestas novas reas, das foras e autoridades
administrativas nacionais envolvidas na fiscalizao sobre essa nova extenso do territrio.
22
Conveno das Naes Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), Montego Bay, Jamaica, 1982. A Resoluo da Assembleia da Repblica n. 60-B/97 (DR, I srie A n. 238, de 14.Outubro de 1997) aprova, para ratificao,
a Conveno e o Acordo Relativo Aplicao da Parte XI da mesma Conveno. O texto da conveno foi
aprovado durante a Terceira Conferncia das Naes Unidas sobre o Direito do Mar, que se reuniu pela primeira
vez em Nova York, em Dezembro de 1973, convocada pela Resoluo n. 3067 (XXVIII) da Assembleia-geral
da ONU, de 16 de Novembro do mesmo ano. Participaram na conferncia mais de 160 Estados. 23
FRANCALANCI, Giampiero; SCOVAZZI, Tullio (edits.) e ROMANO (cartoggraphic direction) - Lines in
the sea, 1994. p. 17. Mostra as zonas martimas definidas na CNUDM e sua representao grfica em Mapa-
Atlas,
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_Yorkhttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Resolu%C3%A7%C3%A3o_da_Assembleia_Geral_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidas&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Assembleia_Geral_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Assembleia_Geral_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidas
23
Por aqui, tambm, concluiu-se necessariamente sobre a extenso da actividade efectiva das
alfndegas portuguesas.
3. Soberania territorial e o domnio martimo do Estado
O domnio do Estado portugus sobre as guas, como se j viu na seco anterior, engloba
diversas reas: o mar territorial, a zona contgua, a zona econmica exclusiva (ZEE), a
plataforma continental e as guas interiores.
A par dessa parametrizao, a delimitao do domnio martimo no depende unicamente da
vontade do Estado, embora seja em termos gerais um acto unilateral, que tem de ser validado,
(rectificao de fronteiras, como se viu anteriormente e referido na CRP) em relao a
Estados terceiros, pelo direito internacional.
Nas seces seguintes caracteriza-se cada uma das diferentes zonas por que se compe o
territrio nacional, desde as guas interiores plataforma continental.
3.1. As guas interiores
Por guas interiores no se entende, tradicionalmente, as superfcies de gua doce localizadas
no interior do territrio Estatal, como sejam os rios nacionais, parte dos rios internacionais
que demarcam as fronteiras terrestres ou os lagos.
Em termos de domnio martimo, e segundo Azevedo Soares24
as guas interiores so as que
se situam entre a linha normal da mar baixa e o territrio terrestre abarcando as guas dos
portos, dos golfos, das baas, os esturios dos rios, dos estreitos, dos canais e at os mares
internos.
Sobre as guas interiores25
o Estado costeiro detm soberania plena, dado constiturem parte
integrante do territrio estatal, nem se lhes aplicando o limite da passagem inofensiva, com
excepo dos navios de guerra que gozam de imunidade de jurisdio.
A Conveno de Genebra de 1958 sobre o Mar Territorial e a Zona Contnua apresenta,
relativamente s guas interiores, uma referncia genrica, no n. 1 do artigo 5.: As guas
situadas do lado da linha de base do mar territorial que faz face terra fazem parte das guas
interiores do Estado.
24
SOARES, Albino de Azevedo Perspectivas de um Novo Direito do Mar. 1979. p.9. 25
A Lei n. 54/2005, de 29 de Dez, no art. 4. al. e) define guas interiores como sendo todas as guas
superficiais lnticas ou lticas (correntes) e todas as guas subterrneas que se encontram do lado terrestre da
linha de base a partir da qual so marcadas as guas territoriais.
24
Estes conceitos sofreram forte evoluo como veremos a seguir.
3.2. Mar Territorial
O direito internacional convencional comeou por acolher a regra das 3 milhas na
Conferncia de Haia, de 1930. Porm, julgamos que a utilizao das expresses mar
territorial e guas territoriais no eram neste instrumento totalmente adequadas, pelo que
melhor seriam as expresses dos pases anglo-saxnicos coastal waters e coastal belt.
Sendo a soberania portuguesa no Mar Territorial plena, esse mar compreende uma faixa de 12
milhas martimas de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e
insular portugus, linhas que acompanham a curva do limite mnimo da mar baixa ou so
traadas a partir de pontos apropriados quando a costa muito recortada.
Pelo que, o Estado detm no seu territrio, como neste Mar Territorial, os mesmos direitos
emanados da sua soberania, designadamente, em matria civil, penal, policial e aduaneira.
Como restrio, ou positivamente, quanto ao acesso de navegao dentro desta faixa martima
s podemos referir o direito de passagem de embarcaes estrangeiras ao abrigo do Direito
Internacional.
3.3. Zona Contgua
A Zona Contgua tem este nome por ser vizinha ou adjacente do Mar Territorial, contando-se,
assim, a partir das 12 at s 24 milhas.
Nesta zona Portugal no detm uma soberania plena, mas o poder de fiscalizao aduaneira,
fiscal, sanitria e de imigrao.
Tambm relativamente zona contgua est previsto na CNUDM que o Estado costeiro possa
tomar as medidas de fiscalizao necessrias para evitar infraces legislao aduaneira e
fiscal26
.
Ora, pela Reforma Aduaneira de 1965 (RA)27
, ainda hoje um dos pilares base da legislao
aduaneira, estabelece-se as reas em que desenvolve prioritariamente a aco desta secular
Instituio.
26
CNUDM, art. 33. alnea a) - Evitar as infraces s leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigrao ou sanitrios no seu territrio ou no seu mar territorial.
Igualmente o art. 42. alnea d) prev leis e regulamentos dos Estados ribeirinhos relativos passagem em
trnsito no que respeita a O embarque ou desembarque de produto, moeda ou pessoa em contraveno das leis e
regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigrao ou sanitrios dos Estados ribeirinhos. 27
Reforma Aduaneira, aprovada pelo Decreto-Lei n. 46311, de 27 de Abril de 1965, estabelece no art. 48.:
A jurisdio das alfndegas exercer-se-, com carcter habitual ou permanente, sob a sua aco directa ou por
intermdio dos seus delegados:
1. Nos portos, enseadas e ancoradouros;
25
Assim, por intermdio deste instrumento nuclear actividade aduaneira, o mesmo ao no
contemplar a sua prpria aco dentro da zona contgua, quando as Convenes
Internacionais a contemplam, isso um trao fundamental da sua desactualizao e,
consequentemente, necessidade de reviso.
A proposta de alargamento da capacidade de vigilncia, por parte do Estado costeiro, at s 24
milhas da costa, numa zona contgua ao mar territorial, tem vindo a fazer parte de programas
de Governo, a partir de 1997. Assim, sucessivamente, vem-se assinalando a importncia do
assunto logo aps a ratificao da Conveno do Direito do Mar de 1982.
Em sequncia, o XV Governo Constitucional28
, vem reconhecer que essa zona tampo um
mecanismo jurdico de elevada utilidade em matrias como o combate ao terrorismo e ao
narcotrfico, a imigrao clandestina e a pirataria, infraces de tipo aduaneiro e fiscal e
outras de carcter sanitrio (nas quais se pode incluir a poluio martima).
Ora, para tal requerer-se- uma maior utilizao de meios navais de que a Alfndega era
detentora at Reforma Aduaneira de 1941, o que, por sua vez, assumir um particular
destaque na concretizao do outro objectivo: o da extenso da plataforma continental alm
das 200 milhas.
3.4. Zona Econmica Exclusiva
Segundo Moreira da Silva29
, durante o perodo de elaborao da Conveno de 1982, mais
propriamente em 1977, Portugal foi um dos primeiros pases a reivindicar uma ZEE,
fixando-a nas 200 milhas, no seguimento de declarao da Comunidade Europeia nesse
sentido, como depois veio a ser autorizado na Conveno de 1982.
A Zona Econmica Exclusiva (ZEE) um espao geogrfico martimo que se traduziu numa
figura jurdica adoptada pela Conveno de 1982 (CNUDM). A ZEE compreende uma faixa
que se estende das 12 s 200 milhas martimas (cerca de 350 km), contadas a partir das linhas
de base que servem para medir a largura do Mar Territorial.
O pas contguo a esta Zona, no exerccio da sua jurisdio, tem direitos exclusivos e
soberanos para fins de explorao e aproveitamento, conservao de recursos naturais, vivos
ou no, das guas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e do seu subsolo, e no que se
2. Na zona martima de respeito, considerada de 12 milhas;
3. Numa zona terrestre de 10 km a partir do litoral;
4. Numa zona terrestre de 40 km a partir da fronteira, compreendendo os rios que confinam com essa
zona;..... 28
THOMS, Nuno Fernandes, Secretrio de Estado dos Assuntos do Mar, 1999. Ministrio da Defesa. Palestra. 29
SILVA, Jos Lus Moreira da Direito do Mar. 2003. Parte II, p. 13.
26
refere s actividades que tenham em vista a explorao e o aproveitamento da Zona para fins
econmicos, designadamente os ligados aos recursos geolgicos, pesqueiros, arqueolgicos e
tursticos. Isto para alm do valor turstico, ambiental e de segurana interna da ZEE.
Assim, a ZEE no uma zona de livre acesso a qualquer embarcao estrangeira.
Tais direitos de usufruio de recursos requerem a obrigao de os proteger pelo que esta
zona com cerca de 1.6 milhes de km quadrados, uma rea cerca de 18 vezes a rea
continental, necessariamente, e tal como j conclumos para a zona contgua, ter de ser
objecto de eficaz vigilncia e fiscalizao.
Podemos, igualmente, concluir que Conveno citada teve, essencialmente, como
preocupao a eliminao da pobreza atravs de solues que visavam diminuir a escassez de
alimentos produzidos quer em terra como no mar.
Nesta ZEE, a actividade pesqueira tambm se encontra largamente regulamentada na
Conveno, atravs de 20 artigos, que so de grande relevncia em termos de direito martimo
especialmente para os pases europeus. Pretende ainda a Conveno, como obrigao para o
Estado costeiro, a fixao das capturas permissveis e a adopo de medidas apropriadas, que
evitem o excesso de captura, permitam o restabelecimento das populaes de espcies a nveis
tidos como ptimos, obrigando-se a comunicar a informao cientfica disponvel e as
estatsticas de captura, atravs das organizaes internacionais competentes (vide art. 61. 3 e
art. 64.).
No que respeita ao conceito de gesto da ZEE, assiste-se que o mesmo tem vindo a evoluir de
acordo com os novos interesses. Tal devido aos avanos tecnolgicos, de que decorrem
conflitos em reas como a pesca, extraco de recursos minerais, poluio e passagem de
segurana.
Constata-se assim, que estamos em presena de uma nova filosofia de gesto integrada dos
recursos do oceano, com a prevalncia da negociao e no do conflito armado e que tem
vindo a ser discutida nos fruns internacionais, baseada e sustentada pela Lei do Mar das
Naes Unidas (CNUDM 82), pelas Conferncias Pacen In Maribus (Paz nos Mares 70) e
pelos Relatrios da Comisso Mundial Independente dos Oceanos (em especial o relatrio de
99).
No captulo da vigilncia da ZEE, a que j nos referimos nesta Seco, o designado Projecto
InfoZEE (Sistema de Informao para a Vigilncia e Gesto da Zona Econmica Exclusiva)
tem como objectivo centralizar e fornecer informao para apoiar as actividades de vigilncia
27
e gesto da Zona Econmica a nvel operacional, tctico e estratgico, informao j residente
em bases de dados dos parceiros do projecto, incidindo na construo de um prottipo
dirigido para a poluio martima.
Por sua vez, est tambm em desenvolvimento, no mbito do Projecto MARVIL, um Sistema
de Informao Geogrfica para a vigilncia martima, designado por SIG-VM, cujo principal
objectivo a produo de cartografia e avaliao das potencialidades da ligao da
informao cartogrfica a bases de dados.
3.5. Plataforma Continental ou Submarina
Como foi referido anteriormente, o domnio martimo do Estado abrange diversas reas: as
guas interiores, o Mar Territorial, a Zona Contgua, a Zona Econmica Exclusiva e, agora,
dentro dos limites a seguir apontados, a Plataforma Continental.
Neste captulo, j os gregos e outros povos martimos reivindicavam o domnio sobre as guas
do mar que se estendiam ao longo de suas costas at distncias mais ou menos apreciveis. Os
romanos s demonstraram interesse, com o desenvolvimento das cidades martimas da Itlia.
Nessa poca, tratava-se mais de um dever do Estado costeiro de proteger suas costas da
invaso dos piratas, do que um direito propriamente dito.
A delimitao do domnio martimo, em geral, e como se tem salientado, um acto unilateral,
mas que no depende aqui exclusivamente da vontade do Estado ribeirinho, dado que a
validade da delimitao, em relao a terceiros Estados, depende do Direito Internacional.
As faixas de mar, at os dias de hoje, j passaram por diferentes delimitaes.
Antigamente, media-se o domnio do Estado ribeirinho at a distncia que fosse alcanada por
uma bala de canho e com isso pretendia fazer-se obedecer por aqueles que passassem no dito
mar. Com o desenvolvimento das armas de artilharia, viu-se a necessidade de aplicar outros
conceitos delimitativos.
Assim, outras delimitaes se seguiram, mas a Conveno das Naes Unidas foi a terceira
etapa de uma longa discusso que se iniciou em 1950 e 1958, quando da assinatura da
Conveno de Genebra sobre Mar Territorial e posteriormente sobre a Plataforma
Continental.
A Plataforma Continental ou Plataforma Submarina veio a ser definida, na Conveno de
1982, como uma plancie submersa adjacente costa, como decorrncia da formao
particular do leito do mar em certos litorais, e que se estende a determinada distncia a partir
28
da terra, depois da qual o leito do mar baixa, subitamente, para as grandes profundidades da
regio abissal, conceito perfilhado por Russomano30
.
A definio desta rea tornou-se necessria face ao desenvolvimento tecnolgico e do
consequente aproveitamento das riquezas naturais, tais como minerais, petrleo, da fauna
martima e da reserva biolgica vegetal, em especial pela interveno dos pases ribeirinhos.
Ou seja, os Estados costeiros passaram a deter o exerccio do controlo e jurisdio desta Zona
independentemente da sua ocupao, a partir de estudos da Comisso de Direito Internacional
das Naes Unidas, sesso de Junho de 1950. Nos termos desta Comisso, o leito do mar e o
subsolo das reas submarinas da Plataforma Continental no deviam ser consideradas como
res nullius, nem como res communis, estando, sim, sujeitas ao exerccio do controlo e
jurisdio dos Estados ribeirinhos, para os fins de explorao e aproveitamento. No entanto,
as guas acima da plataforma continental deviam permanecer sob o regime de alto mar, no
havendo direitos de controlo e jurisdio sobre as referidas guas.
Neste sentido, ento, a navegao nessas guas livre da aco dos Estados31
.
Na sequncia da III Conferncia das Naes Unidas sobre o Direito do Mar, cujos trabalhos
decorreram por nove anos, e envolveram 150 pases, foram adoptados novos limites para a
Plataforma Continental e foi tambm aprovada a Conveno das Naes Unidas sobre o
Direito do Mar (CNUDM 82).
Esta importante Conveno entrou em vigor em 16 de Novembro de 1994, ou seja, 12 meses
aps a data de depsito do sexagsimo instrumento de ratificao ou adeso, no caso a
Repblica da Guiana.
4. Reivindicao da extenso da Plataforma Continental alm das 200 milhas
Como se mostrou no ponto anterior, o conceito jurdico de plataforma continental tem
evoludo desde a sua criao com a Proclamao Truman em 28 de Fevereiro de 1945, a qual
deu um impulso decisivo a um novo movimento de apropriao dos espaos martimos e ao
aumento da sua extenso, e mais tarde seria suportada no artigo 76. da CNUDM 82. Este
artigo prev duas formas para estabelecer os limites exteriores da plataforma: at s 200
milhas, mesmo que a plataforma no exista fisicamente e, alm das 200 milhas, no caso de
30
RUSSOMANO, Gilda Maciel Correa Meyer - Direito Internacional Pblico. 1989. Vol 1, p. 287. 31
A Lei n. 58/2005, de 29 de Dez. - Lei da gua, introduz uma nova noo de guas costeiras, como as
guas superficiais situadas entre terra e uma linha cujos pontos se encontram a uma distncia de 1 milha nutica,
na direco do mar, a partir do ponto mais prximo da linha de base a partir da qual medida a delimitao das
guas territoriais, estendendo-se, quando aplicvel, at ao limite exterior das guas de Transio.
29
existncia fsica de margem continental. Neste segundo caso, coloca-se a questo da
delimitao em relao rea32
e os Estados nessas condies devem submeter Comisso
de Limites da Plataforma Continental informaes sobre os limites exteriores da sua
plataforma para efeitos dessa delimitao.
Ora, a possibilidade de estender-se o limite da plataforma continental de 200 milhas
martimas para as 350 milhas martimas prevista na CNUDM parece ser um assunto pouco
divulgado ou somente de conhecimento restrito. E essa Conveno prev no citado artigo que
os pases signatrios podero, apresentando as caractersticas deste limite exterior, reivindicar
os seus direitos nessa faixa de mar. Faixa essa hoje sob o domnio comum da humanidade.
Isso, ir permitir deter a soberania nacional, para determinados efeitos, numa rea 18 vezes
superior dimenso do pas.
Nesse desiderato, o Governo criou um Grupo de Misso com o intuito de apresentar
Comisso de Limites da Plataforma Continental a proposta portuguesa de extenso: expandir
a Zona Econmica Exclusiva da Madeira (ZEEM) at 350 milhas, juntar ZEEM do
continente e ampliar a do arquiplago dos Aores para Sul, numa rea particularmente rica em
recursos naturais.
E, so basicamente dois os critrios que permitem a extenso da plataforma para alm das
200 milhas martimas o critrio da espessura sedimentar e o critrio da distncia fixa de 60
milhas martimas, ambos tomando como referncia o p do talude continental.
Para a restrio da extenso mxima da plataforma coexistem, igualmente dois critrios o
critrio das 350 milhas martimas a partir das linhas de base e o critrio das 100 milhas
martimas a partir da isbata (linha de contorno ligando pontos de profundidade igual num
grfico) de 2500 metros.
Atravs da aplicao conjunta dos quatro critrios torna-se possvel localizar a rea para alm
das 200 milhas martimas, em que cada pas costeiro ter direitos exclusivos sobre o leito do
mar e o subsolo, devendo ser criado a nvel nacional um rgo que proceda a tal estudo.
A Comisso de Limites da Plataforma Continental, nos termos do Anexo II da Conveno,
proceder ao exame dos dados e outros elementos de informao apresentados pelos Estados
32
Segundo GUEDES, Armando Marques Direito do Mar. Parte Sistemtica, p. 216, diferentes terminologias
foram adoptadas nos textos em ingls, francs e castelhano, aparecendo rea designada como Zona nas duas
ltimas lnguas e por rea em ingls, parecendo prefervel adoptar esta para no se confundir com as demais
Zonas (Contgua e Econmica Exclusiva), para definir o espao constitudo pelos fundos marinhos e ocenicos
internacionais. Para este autor os ancoradouros utilizados para carga, descarga e fundeamento ou amarrao,
ainda que situados longe da costa, so pela prtica internacional integrados no Mar Territorial.
30
costeiros sobre os limites exteriores da plataforma continental para alm das 200 milhas,
havendo um perodo de 10 anos, a partir da entrada em vigor da Conveno, para concluir
esse levantamento.
A esta nova plataforma das 350 milhas martimas foi dado o nome de plataforma continental
jurdica.
Na plataforma continental jurdica, o pas costeiro detm apenas direitos sobre os recursos
naturais do leito do mar e do subsolo, pelo que vrios pases costeiros tm vindo a reivindicar
os seus direitos junto Comisso de Limites da Plataforma Continental atravs de programas
especiais de demarcao das suas plataformas continentais jurdicas, o que, por sua vez, ainda
que no em conflito aberto ou de guerra, tem levantado problemas de delimitao entre pases
vizinhos que as Convenes ou a Negociao tm sabido resolver.
As plataformas e a explorao dos respectivos solos e recursos naturais, como refere Loureiro
Bastos33
, permitiro aos Estados costeiros, a eventual explorao de petrleo e minrios, pelo
que se reputa do maior interesse a reivindicao daqueles domnios. Tratou-se de uma forma
de conseguir a legitimao internacional da apropriao e tambm de resolver problemas
de natureza interna relativos repartio de atribuies.
Internamente, e para o efeito, o Instituto Hidrogrfico Nacional vem, h algum tempo,
procedendo ao levantamento exaustivo da plataforma continental de forma a instruir o
respectivo processo junto da Comisso34
.
Por outro lado, a gesto dos recursos martimos constitui uma oportunidade para a economia
nacional devendo ser integrada na Estratgia de Lisboa.
Ora, a fundamentao do projecto de extenso da Plataforma Continental, alm das 200
milhas nuticas, de conformidade com o disposto no citado artigo 76. da Conveno, foi
iniciada a 10 de Janeiro de 2005, pelo NRP D. Carlos35
. Os trabalhos tiveram lugar na zona
da Ilha da Madeira, a partir de levantamentos hidrogrficos com sistema sondador multifeixe
(SMF), prosseguindo ainda hoje.
33
BASTOS, Fernando Loureiro A Internacionalizao dos Recursos Naturais Marinhos. 2005. p. 287. 34 Vide www.hidrografico.pt/cartografia-nautica-nacional.php. 35
As unidades navais do Agrupamento de Navios Hidrogrficos (ANH) tm como misso assegurar, no mbito
da actuao especfica da Marinha Portuguesa (MP), as actividades relacionadas com as cincias e tcnicas do
mar, tendo em vista a sua aplicao militar, bem como contribuir para o desenvolvimento do pas nas reas
cientfica e de defesa do ambiente marinho. O ANH compreende actualmente quatro navios hidrogrficos, de
duas classes: Classe D. Carlos I- NRP D. Carlos I e NRP Almirante Gago Coutinho- e Classe
Andrmeda- NRP Andrmeda e NRP Auriga-.
http://www.hidrografico.pt/cartografia-nautica-nacional.phphttp://www.hidrografico.pt/nrp-d-carlos-i.phphttp://www.hidrografico.pt/nrp-almirante-gago-coutinho.phphttp://www.hidrografico.pt/nrp-andromeda.phphttp://www.hidrografico.pt/nrp-auriga.php
31
O responsvel pela Estrutura de Misso da Extenso da Plataforma Continental (EMEPC)36
apresentou um trabalho cientfico que, numa primeira fase, corresponder a dez meses de
levantamentos hidrogrficos de zonas previamente identificadas, onde se torna necessria
informao batimtrica de elevada qualidade de resoluo.
No ano de 2005, os levantamentos hidrogrficos planeados corresponderam a uma rea com
cerca de 1,4 vezes a subrea da ZEE de Portugal Continental.
O sistema SMF de grandes fundos, que equipa o NRP D. Carlos, constitui-se como um
meio de excelncia para o conhecimento efectivo da ZEE nacional e para a manuteno do
prestgio junto da comunidade tcnico-cientfica internacional.
A CNUDM, assume a extenso da plataforma continental para alm das 200 milhas, como um
instrumento jurdico de referncia no plano do Direito Internacional (novo quadro jurdico-
cientfico), pois, para alm de uma compilao de normas costumeiras no mbito do Direito
do Mar, redefine os novos contornos do mapa poltico do oceano e da necessria cooperao e
equilbrios geopolticos dele resultantes. A estrutura do Direito do Mar, que assentava como
corpus ompa no conceito de zona martima, compunha-se por um lado, da extenso dessa
zona e, por outro, dos direitos e obrigaes dos diferentes Estados, luz do direito
internacional.
A distncia das linhas de base da costa a novos limites exteriores dos espaos martimos, e a
atribuio da titularidade dos direitos aos Estados costeiros sobre essas novas reas dos
oceanos, colocam-nos na presena do entendimento jurdico de que h um prolongamento do
territrio desses Estados, da que, para l dos novos aspectos geo-cientficos importa formular
uma nova realidade jurdica que caracteriza este territrio como plataforma continental
legal ou plataforma continental jurdica. Para Marques Antunes37
, o contedo do direito de
soberania permanece inalterado alm das duzentas milhas apenas existindo um
condicionamento do seu exerccio.
Isso, decorrente da subsidiariedade da aplicao do Direito Portugus em relao ao
hierarquicamente superior derivado das fontes internacionais, no presente caso, as
Convenes que tm vindo a ser analisadas.
36
ABREU, Manuel Pinto de, responsvel pela Estrutura de Misso da Extenso da Plataforma Continental
(EMEPC), Palestra sobre o Projecto de Extenso da Plataforma Continental de Portugal de 200 para 350 milhas,
no ISCIA. Aveiro, 1 Maio de 2010. 37
ANTUNES, Nuno Srgio Marques A delimitao de Espaos Martimos. Lisboa. 1996. p. 81.
32
No entanto, no partilhamos desta opinio dado que o n. 1 do artigo 77. da CNUDM
estabelece que os direitos do Estado costeiro em relao plataforma so direitos de
soberania, no fazendo qualquer distino para os casos em que se estende ou no para alm
das duzentas milhas.
Tambm o n.3 do artigo 2. da Conveno de Genebra de 1980 refere que os direitos do
Estado ribeirinho sobre a plataforma continental so independentes da ocupao efectiva ou
fictcia e, bem assim, de qualquer proclamao expressa.
No mesmo sentido, o Tribunal Internacional de Justia38
(TIJ) no mbito dos Casos da
Plataforma Continental do Mar do Norte, confirmou este entendimento ao decidir que os
direitos do Estado costeiro respeitantes zona da plataforma continental existem ipso facto e
ab initio, tendo considerado existir aqui um direito inerente e para o exercer no tem de ser
seguido nenhum procedimento jurdico especial ou realizados quaisquer actos jurdicos
especiais. Mais considerou que o estado costeiro tem um direito originrio natural e
exclusivo (resumidamente um direito adquirido), regra tambm seguida no n.3 do artigo77.
da CNUDM, cujos termos so quase coincidentes com os da Conveno de Genebra.
Conclui o TIJ que o estado costeiro detm poderes de soberania sobre os espaos em questo
ainda que no os ocupe ou explore efectivamente.
A funo da Commission on the Limits of the Continental Shelf (CLCS), eleita pelos
Estados Partes da CNUDM, analisar as propostas de extenso da Plataforma Continental
apresentadas pelos Estados que fazem parte da Conveno, elaborar as correspondentes
Recomendaes, dando delas conhecimento ao Estado em questo e ao Secretrio-Geral das
Naes Unidas.
Colocam-se aqui questes interessantes como a determinao de qual ser o regime aplicvel
aos Estados no partes da CNUDM, o que refora a nossa convico, como sugere Marisa
Ferro39
, que tal determinar a indagao das regras costumeiras nesta matria.
5. Zona Martima Particularmente Sensvel
A Zona Martima Particularmente Sensvel (ZMPS) foi criada no seio da Organizao
Martima Internacional (OMI)40
e estabelecida em 15 de Outubro de 2004. A figura da ZMPS
38
Casos da Plataforma Continental do Mar do Norte, International Court of Justice (ICJ) Reports 1969. p. 22.
39 FERRO Marisa Caetano A delimitao da Plataforma Continental alm das 200 milhas. 2009. Lisboa:
AAFDL. p. 13. 40
A Organizao Martima Internacional (OMI) foi criada na sequncia da Conferncia de Geneve 1948,
para assegurar o estabelecimento de uma nova organizao tendo em vista a salvaguarda da segurana da
33
teve em vista clarificar os conceitos previstos na International Convention for the Prevention
of Pollution from Ships 73/78 (Conveno MARPOL)41
, sobre reas especiais de proteco,
pelo que esta conveno considerada uma das mais importantes em matria de ambiente
martimo com vista a minimizar a poluio no mar, atravs da eliminao das descargas de
leo e outras substncias.
Atravs das Resolues A.720 (17) e A.885 (21) daquela Organizao e, posteriormente, com
a publicao das orientaes tcnicas Resoluo A.927 (22), de 29 de Novembro de 2001
foram estabelecidas as linhas de orientao que definem os critrios em que se devem basear
as propostas a apresentar OMI sobre esta matria.
Este acervo de legislao visa prevenir os acidentes ocorridos com navios que tm provocado
muitos acidentes com substncias perigosas, como o ocorrido com o Prestige, em 2001, ao
largo da costa da Galiza.
A necessidade de preservar o existente nestas reas levou designao deste tipo de zonas
como sendo zonas particularmente sensveis. Por um lado, visa-se garantir aos Estados
ribeirinhos os recursos de elevada importncia econmica, ecolgica e cientfica, por outro
lado, dada a vulnerabilidade a substncias nocivas derivadas da navegao martima proteger
esse meio ambiente de acidentes ocorridos com navios.
Assim, tm sido identificadas reas mais sensveis a fim de lhes ser atribudo um estatuto
especial de proteco, o que decorreu, com mais vigor, da Conveno MARPOL, e seria
reforado pela Conveno das Naes Unidas sobre o Direito do Mar.
Pela Parte XII, desta Conveno, quando os Estados costeiros tenham motivos razoveis para
acreditar que uma rea particular e claramente definida das suas respectivas zonas econmicas
exclusivas requer a adopo de medidas obrigatrias especiais para prevenir a poluio
proveniente de embarcaes, a mesma prev que esses Estados possam apresentar uma
navegao internacional. Essa conferncia terminou com a adopo da Inter-governamental Maritime
Consultative Organization, ou IMCO, nome que em 1982 mudou para IMO (International Maritime
Organization), em portugus: OMI. Portugal aderiu em 1976. 41
Marpol (International Convention for the Prevention of Pollution From Ships), criada em1973 e
modificada pelo Protocolo de 1978. ("Marpol" a abreviatura de marine pollution). As emendas de 1984,
introduzidas ao anexo ao Protocolo da Conveno Internacional para a Preveno da Poluio por Navios,
concluda em Londres, em 7 de Setembro de 1984, foram aprovadas para adeso pelo Decreto n. 48/90, de 7 de
Novembro. Vide tb. COM (2011) 286 final - Relatrio da Comisso ao Parlamento Europeu e ao Conselho sobre a execuo
do Regulamento (CE) n. 2038/2006, relativo ao financiamento plurianual das actividades da Agncia Europeia
da Segurana Martima no domnio do combate poluio causada por navios, no perodo 2007-2009.
34
proposta fundamentada do ponto de vista cientfico e tcnico, a uma organizao internacional
competente, no sentido de, ento, ser definida uma ZMPS.
A este ttulo, j anteriormente, o Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente
PNUMA 1980)42
, no seu Relatrio Anual sobre o Estado do Ambiente no Planeta, havia
indicado existirem 146 zonas costeiras mortas, por carncia de oxignio, e que desde 1990
essas zonas j tero duplicado, o que se fica a dever poluio de origem telrica e aos
acidentes martimos. Tambm a Unio Internacional para a Conservao da Natureza (IUCN)
havia j aprovado, por Resoluo de 1963, a Convention on International Trade in
Endangered Species of Wild Fauna and Flora (CITES)43
, que obriga que o comrcio
internacional de espcimes das espcies previstas nas listas dos seus anexos sejam sujeitas a
controlos. Estes exigem que toda a importao, exportao, reexportao e a introduo num
dado territrio aduaneiro, designadamente a proveniente do mar, de espcies abrangidas pela
Conveno tem de ser autorizada atravs de um sistema de licenciamento.
Ainda no que se refere ZMPS, e no que respeita a Portugal, a contribuio para a definio
da ZMPS da Europa Ocidental, passou por estudos tcnicos fundamentados, aps recolha de
pareceres de diversas entidades, designadamente, a Direco-Geral da Autoridade Martima,
Instituto de Conservao da Natureza, Instituto Hidrogrfico, Instituto Porturio e dos
Transportes Martimos, Instituto de Investigao Agrria e das Pescas e Direco-Geral do
Turismo.
Estas polticas salientaram, especialmente, os aspectos de carcter biolgico, ambiental,
sociolgico, cultural e econmico que caracterizam a nossa ZMPS, tendo igualmente dado
conta do volume de trfego costeiro que utiliza os espaos martimos sob a soberania
portuguesa, identificando os que transportam mercadorias perigosas. Estes elementos foram
recolhidos pelo sistema de monitorizao costeira VTS de Finisterra.
42
"A Estratgia Mundial para a Conservao" 1980, Nova York. Realizada sob o patrocnio e superviso do
Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), da Unio Internacional para a Conservao da
Natureza (UICN) e do Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF). Tal documento explora, basicamente, as
interfaces entre conservao de espcies e ecossistemas e entre manuteno da vida no planeta e a preservao
da diversidade biolgica, introduzindo pela primeira vez o conceito de "desenvolvimento sustentvel". 43
Conveno sobre o Comrcio Internacional de Espcies da Fauna e da Flora em vias de extino
(CITES) conhecida como Conveno de Washington um acordo internacional entre governos, elaborado como
resultado de uma resoluo aprovada em 1963 durante uma reunio dos membros da Unio Internacional para a
Conservao da Natureza (IUCN). A conveno entrou em vigor em 1 de Julho de 1975, tendo sido aprovada
por oitenta pases em Washington, cujo objectivo garantir que o comrcio de espcimes de animais e plantas
selvagens no ameace a sua sobrevivncia atribuindo diferentes graus de proteco para mais de
33.000 espcies de animais e plantas.
http://en.wikipedia.org/wiki/Species
35
Para alm do Sistema Nacional de Controlo de Trfego Martimo (VTS)44
, foi aprovada uma
medida de proteco associada, consistindo na notificao de entrada e sada por parte dos
navios, obrigatria para todos os petroleiros com mais de 600 tons que transportem crude,
fuelleo e betumes e asfaltos ou emulses, com determinadas caractersticas tcnicas, e que
entrou em vigor em 1 de Julho de 2005.
O Protocolo, que se pode dizer baseado no princpio da precauo, que formaliza a
cooperao entre os 6 Estados Membros subscritores da ZMPS da Europa Ocidental, consiste
em anlise estatstica e outras medidas administrativas associadas, para alm da definio de
mais reas protegidas, bem como a notificao obrigatria para navios que transportem
determinadas cargas. Foi assinado em 30 de Junho de 2005, em Lisboa, sendo os Estados em
causa: Portugal, Espanha, Blgica, Frana, Reino Unido e Irlanda, que se comprometeram a
definir a zona sensvel e a solicitar posterior autorizao Organizao Internacional
Martima (IMO), que uma das entidades com poder legislativo sobre o domnio martimo.
44
O Sistema Nacional de Controlo de Trfego Martimo (VTS), foi aprovado na Organizao Martima
Internacional (OMI), e entrou em vigor em 2005. O VTS tem como objectivos: afastar a navegao da costa
portuguesa das 5 milhas para as 14/15 milhas, harmonizar o sistema com o negociado e acordado com o reino de
Espanha e criar corredores de passagem para navios transportando cargas poluentes.
O sistema instalado no continente tem disponveis dois nveis de servio: o servio Costeiro (toda a costa
continental) e o Porturio (Aveiro, Viana do Castelo, Figueira da Foz, Faro e Portimo).
O VTS, assim