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DIREITO PROCESSUAL CIVIL III

葡京法律的大学 Miguel Teixeira de Sousa

大象城堡 | 2016/2017

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Não dispensa

a consulta dos

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Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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Índice

Lebre de Freitas:

第一 Parte Geral ......................................................................................................... 12

A – Conceito e fins da ação executiva ........................................................................ 12

Delimitação ............................................................................................................................. 12

Tipos ........................................................................................................................................ 13

Função ..................................................................................................................................... 13

Normas substantivas e normas processuais ....................................................................... 14

O acertamento e a execução ................................................................................................. 15

Juiz e agente de execução...................................................................................................... 16

B – Pressupostos da ação executiva ......................................................................................... 17

Pressupostos específicos ....................................................................................................... 17

Pressupostos gerais ................................................................................................................ 18

C – Titulo Executivo.................................................................................................................. 19

Noção ...................................................................................................................................... 19

Espécies ................................................................................................................................... 19

1. A sentença condenatória ...................................................................................................... 19

2. O documento exarado ou autenticado por notário ................................................................. 24

3. Os títulos de crédito ............................................................................................................. 27

4. O título executivo por força de disposição especial .................................................................. 28

Natureza e função do título executivo ................................................................................ 30

Consequências da falta de apresentação do título executivo ........................................... 33

Uso desnecessário da ação declarativa ................................................................................ 33

D – Certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação ................................................................ 34

Conceito .................................................................................................................................. 34

Regime: certeza e exigibilidade ............................................................................................. 35

Regime: a liquidez .................................................................................................................. 40

E – Competência do Tribunal .................................................................................................. 43

Competência em razão da matéria ...................................................................................... 43

Competência em razão da hierarquia .................................................................................. 43

Competência em razão do valor .......................................................................................... 44

Competência em razão do território ................................................................................... 44

Competência internacional ................................................................................................... 45

Competência convencional e regime da incompetência .................................................. 47

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F – Legitimidade das partes ...................................................................................................... 48

Quem é parte legítima ........................................................................................................... 48

Consequências da ilegitimidade das partes ......................................................................... 51

G – Patrocínio judiciário ........................................................................................................... 51

H – Pluralidade de sujeitos e pluralidade de pedidos ............................................................ 52

Litisconsórcio ......................................................................................................................... 52

Coligação ................................................................................................................................. 55

Consequências da falta de litisconsórcio, quando necessário, e da coligação ilegal ..... 56

Cumulação simples de pedidos ............................................................................................ 56

I – Formas de processo executivo ........................................................................................... 57

O tipo e a forma do processo .............................................................................................. 57

Âmbito das formas processuais ........................................................................................... 57

Direito supletivo .................................................................................................................... 58

第二 Processo ordinário de execução para pagamento de quantia certa ................ 60

J – Delimitação ........................................................................................................................... 60

K – Fase Inicial ........................................................................................................................... 60

Requerimento inicial e tramitação complementar ............................................................. 60

Despacho liminar ................................................................................................................... 62

Citação do executado ............................................................................................................ 63

L – Oposição à execução .......................................................................................................... 64

Meio ......................................................................................................................................... 64

Fundamentos .......................................................................................................................... 64

Oposição por requerimento ................................................................................................. 68

Processo .................................................................................................................................. 69

M – Objeto da penhora ............................................................................................................. 74

Noção ...................................................................................................................................... 74

Princípios gerais ..................................................................................................................... 75

Penhora e disponibilidade substantiva ................................................................................ 75

Impenhorabilidade diretamente resultante da lei .............................................................. 79

Penhorabilidade subsidiária .................................................................................................. 81

A penhora da ação contra o herdeiro ................................................................................. 86

Extensão da penhora ............................................................................................................. 87

N – A fase da penhora ............................................................................................................... 88

Atos preparatórios ................................................................................................................. 88

O ato da penhora ................................................................................................................... 90

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O depositário .......................................................................................................................... 95

O registo da penhora ............................................................................................................. 96

Levantamento da penhora .................................................................................................... 97

O – Função e efeitos da penhora ............................................................................................. 98

Função da penhora ................................................................................................................ 98

Perda dos poderes de gozo ................................................................................................... 98

Ineficácia relativa dos atos dispositivos subsequentes...................................................... 99

Preferência do exequente .................................................................................................... 100

P – Oposição à penhora .......................................................................................................... 100

Meios de oposição ............................................................................................................... 100

1. Oposição por simples requerimento ..................................................................................... 100

2. Incidente de oposição à penhora .......................................................................................... 101

3. Embargos de terceiro ......................................................................................................... 103

4. Ação de reivindicação ........................................................................................................ 109

Q – Convocações e concurso ................................................................................................. 110

Convocações ......................................................................................................................... 110

Pressupostos específicos da reclamação de créditos....................................................... 113

A ação de verificação e graduação de créditos ................................................................ 116

R – Venda executiva ................................................................................................................ 119

Modalidades .......................................................................................................................... 119

Remissão e preferências ...................................................................................................... 122

Efeitos.................................................................................................................................... 123

Anulação ................................................................................................................................ 126

Natureza ................................................................................................................................ 128

S – Pagamento .......................................................................................................................... 128

Meios de atingir o pagamento ............................................................................................ 128

Consignação de rendimentos ............................................................................................. 128

Ordem dos pagamentos ...................................................................................................... 129

Pagamento em prestações ................................................................................................... 129

T – Extinção e anulação da execução .................................................................................... 130

Extinção da execução .......................................................................................................... 130

Anulação da execução ......................................................................................................... 132

Renovação da ação executiva ............................................................................................. 132

Recursos ................................................................................................................................ 134

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第三 Outros processo de execução .......................................................................... 135

U – A forma sumária de execução comum para pagamento de quantia certa ................ 135

V – O processo de execução comum para entrega de coisa certa .................................... 136

Delimitação ........................................................................................................................... 136

Características ....................................................................................................................... 136

Tramitação ............................................................................................................................ 137

Conversão da execução ....................................................................................................... 140

X – O processo de execução comum para prestação de facto .......................................... 141

Delimitação ........................................................................................................................... 141

Prestação de facto com prazo certo .................................................................................. 141

Prestação de facto sem prazo certo ................................................................................... 145

Violação de obrigação negativa .......................................................................................... 145

Z – Processos executivos especiais ........................................................................................ 146

Execução por alimentos ...................................................................................................... 146

Investidura em cargos sociais ............................................................................................. 147

Execução por custas e execução de despejo .................................................................... 147

RUI PINTO ............................................................................ Erro! Marcador não definido.

I – Introdução .......................................................................... Erro! Marcador não definido.

A – Fundamento. Princípios e fontes ...................................... Erro! Marcador não definido.

§1.º - Fundamento constitucional e material ...................... Erro! Marcador não definido.

Justificação constitucional ................................................ Erro! Marcador não definido.

Realização coativa da prestação ....................................... Erro! Marcador não definido.

Fundamento material; o direito à execução ................... Erro! Marcador não definido.

Âmbito processual ............................................................. Erro! Marcador não definido.

Natureza jurídica. Remissão ............................................. Erro! Marcador não definido.

§2.º - Princípios gerais e privativos ...................................... Erro! Marcador não definido.

Princípios gerais ................................................................. Erro! Marcador não definido.

Princípios privativos .......................................................... Erro! Marcador não definido.

B – Objeto e espécies de execução ......................................... Erro! Marcador não definido.

§3.º - Pedido ............................................................................ Erro! Marcador não definido.

Objeto imediato ................................................................. Erro! Marcador não definido.

Espécies de pedidos executivos pelo objeto mediato ... Erro! Marcador não definido.

Execução específica e execução não específica ............. Erro! Marcador não definido.

§4.º - Causa de pedir............................................................... Erro! Marcador não definido.

Discussão doutrinal. Posição ............................................ Erro! Marcador não definido.

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Conclusão: aquisição do direito à pretensão de prestaçãoErro! Marcador não

definido.

III – Condições de ação .......................................................... Erro! Marcador não definido.

A – Título executivo ................................................................ Erro! Marcador não definido.

§5.º - Generalidades ............................................................... Erro! Marcador não definido.

Conceito, natureza e funções ........................................... Erro! Marcador não definido.

Função constitutiva ........................................................... Erro! Marcador não definido.

Características e classificação ........................................... Erro! Marcador não definido.

§6.º - Sentença condenatória ................................................. Erro! Marcador não definido.

Âmbito primário ................................................................ Erro! Marcador não definido.

Âmbito eventual ................................................................. Erro! Marcador não definido.

1. Obrigações prejudicadas de fonte legal: admissibilidade de execução de condenação implícitaErro!

Marcador não definido.

2. Posições negatórias ........................................................... Erro! Marcador não definido.

3. Posição pessoal ................................................................ Erro! Marcador não definido.

4. (Conclusão): o artigo 703.º, n.º2 CPC ............................ Erro! Marcador não definido.

Simples declaração judicial do direito ............................. Erro! Marcador não definido.

Execução provisória .......................................................... Erro! Marcador não definido.

Obtenção aparentemente desnecessária de ação declarativaErro! Marcador não

definido.

§7.º - Documentos privados ................................................. Erro! Marcador não definido.

Requisitos comuns ............................................................. Erro! Marcador não definido.

Requisitos específicos na execução de obrigações futuras (artigo 707.º CPC) ........ Erro!

Marcador não definido.

Limites objetivos ................................................................ Erro! Marcador não definido.

Prescrição da obrigação cartular ...................................... Erro! Marcador não definido.

§8.º - Documentos avulsos.................................................... Erro! Marcador não definido.

Título judiciais impróprios ................................................ Erro! Marcador não definido.

Outros títulos judiciais impróprios .................................. Erro! Marcador não definido.

Títulos particulares............................................................. Erro! Marcador não definido.

Títulos administrativos ...................................................... Erro! Marcador não definido.

B – Obrigação exigível e determinada .................................... Erro! Marcador não definido.

§9.º - Generalidades. Exigibilidade ...................................... Erro! Marcador não definido.

Natureza e sentido dos requisitos da obrigação exigível, certa e líquida .................. Erro!

Marcador não definido.

Exigibilidade, em especial ................................................. Erro! Marcador não definido.

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§10.º - Determinação ............................................................. Erro! Marcador não definido.

Generalidades ..................................................................... Erro! Marcador não definido.

Certeza ................................................................................. Erro! Marcador não definido.

Liquidez ............................................................................... Erro! Marcador não definido.

Consequências da iliquidez da obrigação ....................... Erro! Marcador não definido.

IV – Pressupostos processuais ................................................ Erro! Marcador não definido.

A – Pressupostos relativos ao Tribunal ................................... Erro! Marcador não definido.

§11.º - Competência internacional ....................................... Erro! Marcador não definido.

Introdução ........................................................................... Erro! Marcador não definido.

Normas internas de competência internacional ............ Erro! Marcador não definido.

§12.º - Competência interna .................................................. Erro! Marcador não definido.

Competência em razão da matéria e da hierarquia ........ Erro! Marcador não definido.

Competência em razão da forma e do valor .................. Erro! Marcador não definido.

2. No quadro da nova Lei de Organização do Sistema Judiciário (LOSJ)Erro! Marcador

não definido.

Competência em razão do território ............................... Erro! Marcador não definido.

Extensão de competência na cumulação de execuções Erro! Marcador não definido.

Competência convencional .............................................. Erro! Marcador não definido.

§13.º - Regime de incompetência ......................................... Erro! Marcador não definido.

Incompetência internacional ............................................ Erro! Marcador não definido.

Incompetência interna ....................................................... Erro! Marcador não definido.

B – Pressupostos relativos às partes ........................................ Erro! Marcador não definido.

§14.º - Personalidade e capacidade judiciária ...................... Erro! Marcador não definido.

Requisitos ............................................................................ Erro! Marcador não definido.

Regime da falta de personalidade, da incapacidade e representação irregular ......... Erro!

Marcador não definido.

§15.º - Legitimidade processual singular; interesse processualErro! Marcador não

definido.

Generalidades ..................................................................... Erro! Marcador não definido.

Credor e devedor ............................................................... Erro! Marcador não definido.

Execução sub-rogatória..................................................... Erro! Marcador não definido.

Terceiros à dívida ............................................................... Erro! Marcador não definido.

Regime da ilegitimidade singular...................................... Erro! Marcador não definido.

Interesse processual ........................................................... Erro! Marcador não definido.

§16.º - Legitimidade processual plural ................................. Erro! Marcador não definido.

Generalidades ..................................................................... Erro! Marcador não definido.

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Litisconsórcio necessário: ................................................. Erro! Marcador não definido.

Litisconsórcio voluntário .................................................. Erro! Marcador não definido.

Litisconsórcio superveniente ............................................ Erro! Marcador não definido.

a. Doutrina....................................................................... Erro! Marcador não definido.

b. Jurisprudência ............................................................. Erro! Marcador não definido.

c. Posição pessoal ........................................................... Erro! Marcador não definido.

§17.º - Patrocínio judiciário ................................................... Erro! Marcador não definido.

Âmbito ................................................................................. Erro! Marcador não definido.

Regimes da falta ou irregularidade de patrocínio judiciárioErro! Marcador não

definido.

C – Pressupostos relativos ao objeto ....................................... Erro! Marcador não definido.

§18.º - Pressupostos gerais .................................................... Erro! Marcador não definido.

Positivos .............................................................................. Erro! Marcador não definido.

Negativos ............................................................................ Erro! Marcador não definido.

§19.º - Pluralidade de objetos processuais .......................... Erro! Marcador não definido.

Cumulação de pedidos ...................................................... Erro! Marcador não definido.

Coligação ............................................................................. Erro! Marcador não definido.

Regime da pluralidade ilegal de execuções ..................... Erro! Marcador não definido.

PROCEDIMENTO DE EXECUÇÃO DE PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA

................................................................................................. Erro! Marcador não definido.

I – Fase Introdutória ............................................................... Erro! Marcador não definido.

A – Formas procedimentais .................................................... Erro! Marcador não definido.

§26.º - Processo comum e processos especiais .................. Erro! Marcador não definido.

Processo comum ................................................................ Erro! Marcador não definido.

Processos especiais ............................................................ Erro! Marcador não definido.

B – Forma ordinária (citação prévia à penhora) ..................... Erro! Marcador não definido.

I – Impulso processual .......................................................... Erro! Marcador não definido.

§27.º - Ato de impulso (Requerimento Executivo) ........... Erro! Marcador não definido.

Conteúdo ............................................................................. Erro! Marcador não definido.

Formalidades ...................................................................... Erro! Marcador não definido.

Apresentação ...................................................................... Erro! Marcador não definido.

Custas, despesas e apoio judiciário .................................. Erro! Marcador não definido.

Especialidades da apresentação de requerimento de execução de sentença ............ Erro!

Marcador não definido.

II – Distribuição, admissão, despacho liminar e citação ... Erro! Marcador não definido.

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Página 9 页

§28.º - Distribuição e admissão ............................................ Erro! Marcador não definido.

Distribuição. Controle administrativo liminar (admissão)Erro! Marcador não

definido.

Controle liminar administrativo ....................................... Erro! Marcador não definido.

Efeitos do recebimento ..................................................... Erro! Marcador não definido.

§29.º - Despacho liminar ....................................................... Erro! Marcador não definido.

Regime anterior à reforma de 2013 ................................. Erro! Marcador não definido.

Regime posterior à reforma de 2013 ............................... Erro! Marcador não definido.

Conteúdo ............................................................................. Erro! Marcador não definido.

Despacho sucessivo ........................................................... Erro! Marcador não definido.

§30.º - Citação ......................................................................... Erro! Marcador não definido.

Introdução ........................................................................... Erro! Marcador não definido.

Regime anterior à reforma de 2013 ................................. Erro! Marcador não definido.

Regime posterior à reforma de 2013 ............................... Erro! Marcador não definido.

Ato de citação ..................................................................... Erro! Marcador não definido.

III – Oposição à execução .................................................... Erro! Marcador não definido.

§31.º - Caracteres .................................................................... Erro! Marcador não definido.

Funcionalidade ................................................................... Erro! Marcador não definido.

Consequência da acessoriedade ....................................... Erro! Marcador não definido.

§32.º - Objeto mediato ........................................................... Erro! Marcador não definido.

Pedido .................................................................................. Erro! Marcador não definido.

Causa de pedir .................................................................... Erro! Marcador não definido.

1. Aspetos gerais ................................................................. Erro! Marcador não definido.

2. Fundamentos comuns ...................................................... Erro! Marcador não definido.

b. Inexistência, inexequibilidade ou invalidade formal do títuloErro! Marcador não

definido.

c. Incerteza, inexigibilidade ou iliquidez da obrigaçãoErro! Marcador não definido.

d. Factos impeditivos, modificativos ou extintivos e impugnação do crédito

exequendo ........................................................................... Erro! Marcador não definido.

3. Fundamentos específicos ................................................... Erro! Marcador não definido.

§33.º - Procedimento ............................................................. Erro! Marcador não definido.

Generalidades ..................................................................... Erro! Marcador não definido.

Impulso inicial .................................................................... Erro! Marcador não definido.

Contestação e sequência sumária ..................................... Erro! Marcador não definido.

Saneamento, instrução, discussão e julgamento ............ Erro! Marcador não definido.

Sentença............................................................................... Erro! Marcador não definido.

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§34.º - Efeitos da sentença final ........................................... Erro! Marcador não definido.

Sentença de forma ............................................................. Erro! Marcador não definido.

Sentença de mérito ............................................................ Erro! Marcador não definido.

Relações com outros objetos processuais ...................... Erro! Marcador não definido.

Limites subjetivos da eficácia decisória .......................... Erro! Marcador não definido.

C – Forma sumária (dispensa de citação prévia à penhora) ... Erro! Marcador não definido.

§35.º - Pressupostos ............................................................... Erro! Marcador não definido.

Antes da reforma de 2013................................................. Erro! Marcador não definido.

Depois da reforma de 2013 .............................................. Erro! Marcador não definido.

§36.º - Especialidades ............................................................. Erro! Marcador não definido.

Tramitação inicial ............................................................... Erro! Marcador não definido.

Citação ................................................................................. Erro! Marcador não definido.

Oposição à execução e à penhora ................................... Erro! Marcador não definido.

Oposição à execução de requerimento de injunção, em especialErro! Marcador não

definido.

Responsabilidade do exequente ....................................... Erro! Marcador não definido.

II – Penhora ............................................................................. Erro! Marcador não definido.

A – Objeto e sujeitos ................................................................ Erro! Marcador não definido.

§37.º - Delimitação primária ................................................. Erro! Marcador não definido.

Funcionalidade. Objeto ..................................................... Erro! Marcador não definido.

Âmbito subjetivo; bens em poder de terceiro ............... Erro! Marcador não definido.

§38.º - Limites substantivos .................................................. Erro! Marcador não definido.

Responsabilidade ................................................................ Erro! Marcador não definido.

2. Limitação legal e convencional de responsabilidade ............ Erro! Marcador não definido.

a. Quanto às limitações legais, considerem ........................ Erro! Marcador não definido.

v. Pelos atos relativos à profissão, arte ou oficio do menor e pelos atos praticados no exercício dessa

profissão, arte ou oficio só respondem os bens de que o menor tiver a livre disposição (artigo 127Erro!

Marcador não definido.

3. Separação plena de património ......................................... Erro! Marcador não definido.

4. Separação condicional de património ................................ Erro! Marcador não definido.

a. Responsabilidade subsidiária real ou objetiva ........ Erro! Marcador não definido.

b. Responsabilidade pessoal ou subjetiva .................... Erro! Marcador não definido.

5. Responsabilidade subsidiária objetiva ............................... Erro! Marcador não definido.

a. Benefício de excussão real ........................................ Erro! Marcador não definido.

i. Bens comuns, sendo dívida própria, ou bens próprios, sendo dívida da responsabilidade de ambos

os cônjuges (artigos 1695......................................................... Erro! Marcador não definido.

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ii. Bens onerados com garantia real a favor do credor (beneficium excussionis realis – ........... Erro!

Marcador não definido.

iii. Na execução de dívidas: .............................................. Erro! Marcador não definido.

1. Da associação sem personalidade jurídica, o património dos associados que a contrario, após a

penhora do fundo comum (artigo 198.º, n.º2 CC), e, na falta ou insuficiência daquele, o património

dos restantes associados, proporcionalmente à sua entrada no fundo comum;Erro! Marcador não

definido.

2. Do titular do EIRL, alheias à exploração do estabelecimento, os bens do EIRL, quando sejam,

de modo comprovado, insuficientes os demais bens do comerciante (artigo 10.º, n.º1 e 22.º Decreto-Lei

n.º248/86 ); .......................................................................... Erro! Marcador não definido.

b. Associações sem personalidade e EIRL .................. Erro! Marcador não definido.

6. Responsabilidade subsidiária subjetiva: ............................ Erro! Marcador não definido.

a. Fundamento substantivo: .......................................... Erro! Marcador não definido.

b. Procedimento: ............................................................. Erro! Marcador não definido.

i. Antes da reforma de 2013: ............................................. Erro! Marcador não definido.

Várias hipóteses se abriam no regime procedimental, consoante contra quem fosse

movida a execução, consoante houvesse ou não citação prévia do devedor subsidiário

e consoante o momento da citação. Acrescia ainda a necessidade de adequar o regime

da invocação do benefício da excussão prévia. ............. Erro! Marcador não definido.

ii. Depois da reforma de 2013: ............................................ Erro! Marcador não definido.

Disponibilidade e transmissibilidade ............................... Erro! Marcador não definido.

§39.º - Impenhorabilidades objetivas ................................... Erro! Marcador não definido.

Impenhorabilidades absolutas. A impenhorabilidade da Constituição da República. O

direito à habitação .............................................................. Erro! Marcador não definido.

Impenhorabilidades relativas ............................................ Erro! Marcador não definido.

Impenhorabilidades parciais ............................................. Erro! Marcador não definido.

1. Penhora de créditos de rendimentos pessoais ...................... Erro! Marcador não definido.

a. Objeto e limites; as alterações da Reforma de 2013Erro! Marcador não definido.

b. Aplicabilidade às indemnizações de seguro ............ Erro! Marcador não definido.

c. Isenções e reduções de penhora. As alterações da Reforma de 2013 ................ Erro!

Marcador não definido.

d. Aumento da penhora. As alterações da Reforma de 2013Erro! Marcador não

definido.

e. Penhora de quantias pecuniárias ou de saldo bancário de conta à ordem ........ Erro!

Marcador não definido.

§40.º - Dívidas conjugais ....................................................... Erro! Marcador não definido.

Enquadramento material .................................................. Erro! Marcador não definido.

Execução de dívida comum ............................................. Erro! Marcador não definido.

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Execução de dívida própria .............................................. Erro! Marcador não definido.

Execução de dívida comunicável ..................................... Erro! Marcador não definido.

§41.º - Proporcionalidade e adequação ............................... Erro! Marcador não definido.

Proporcionalidade .............................................................. Erro! Marcador não definido.

Adequação; relação com o princípio da proporcionalidadeErro! Marcador não

definido.

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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第一 Parte Geral1

A – Conceito e fins da ação executiva

Delimitação: há, no esquema de Direito Processual Civil, duas espécies fundamentais de

ações (artigo 10.º, n.º1 CPC):

1. A ação declarativa: que pode ainda ser (artigo 10.º, n.º2 e 3 CPC):

a. De simples apreciação: nesta ação é pedido ao tribunal que declare a

existência ou inexistência dum direito ou dum facto jurídico;

b. De condenação: nesta ação vai-se mais longe; sem prejuízo de o tribunal

dever ainda emitir aquele juízo declarativo, dele se pretende também (e

fundamentalmente) que, em sua consequência, condene o réu na

prestação duma coisa ou dum facto. O pedido de declaração prévia do

direito ou do facto jurídico pode ser expresso, caso em que se verifica

uma cumulação de pedidos (artigo 555.º CPC). Mas pode o autor limitar-

se a pedir a condenação do réu, e então o juízo prévio de apreciação mais

não é do que um pressuposto lógico do juízo condenatório pretendido.

Pressuposto lógico da condenação é também a violação dum direito; mas

não é necessário que a violação esteja consumada à data do recurso a

juízo ou mesmo à data da sentença. A ação de condenação pode, com

efeito, ter lugar na previsão da violação do direito, dando então lugar a

uma intimação ao réu para que se abstenha de o violar (artigo 1276.º CC)

ou à sua condenação a satisfazer a prestação no momento do vencimento

(artigos 557.º e 610.º CPC);

c. Constitutiva: o juízo do tribunal já não é limitado, como nas duas

subespécies anteriores, pela situação de direito ou de facto pré-existente.

Pela sentença, o juiz, perante o exercício judicial dum direito potestativo,

cria novas situações jurídicas entre as partes, constituindo, impedindo,

modificando ou extinguindo direitos e deveres que, embora fundados em

situações jurídicas anteriores, só nascem com a própria sentença. O

aspeto declarativo da sentença, indo além do juízo prévio sobre a

existência do direito potestativo, reside fundamentalmente na definição,

só para o futuro ou retroativamente, da situação jurídica constituída.

2. A ação executiva: diferentemente da ação declarativa, esta ação tem por

finalidade a reparação efetiva dum direito violado. Não se trata já de declarar

direitos, pré-existentes ou a constituir. Trata-se, sim, de providenciar pela

realização coativa de uma prestação devida. Com ela, passa-se da declaração

concreta da norma jurídica para a sua atuação prática, mediante o desencadear

do mecanismo de garantia. Que espécies de direitos são reparáveis por via da

1 FREITAS, José Lebre de; A Ação Executiva à luz do Código de Processo Civil de 2013; &.ª edição; Coimbra Editores; Coimbra, fevereiro de 2014.

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ação executiva e como tem lugar essa reparação? Trata-se sempre, como inculca

a redação, defeituosa, do artigo 10.º, n.º4 CPC, de obrigações?

Tipos: resulta do artigo 10.º, n.º6 CPC a existência de três tipos de ação executiva:

1. Para pagamento de quantia certa: um credor, o exequente, pretende obter o

cumprimento duma obrigação pecuniária através da execução do património do

devedor, o executado (artigo 817.º CC). Para tanto, apreendidos pelo tribunal os bens

deste que forem considerados suficientes para cobrir a importância da dívida e das

custas, tem lugar, normalmente, a venda desses bens a fim de, com o preço obtido,

se proceder ao pagamento. O exequente obtém assim o mesmo resultado que com a

realização da prestação que, segundo o título executivo, lhe é devida.

2. Para entrega de coisa certa: o exequente, titular do direito à prestação duma coisa

determinada, pretende que o tribunal apreenda essa coisa ao devedor (executado) e

seguidamente lha entregue (artigo 827.º CC). Pode, porém, acontecer que a coisa não

seja encontrada e, neste caso, o exequente procederá à liquidação do seu valor e doo

prejuízo resultante da falta da entrega, penhorando-se e vendendo-se bens do

executado para pagamento da quantia liquidada (artigo 867.º CPC). Neste tipo de

processo, pode assim o exequente obter um resultado idêntico ao da realização da

própria prestação que, segundo o título, lhe é devida ou um seu equivalente. Por

outro lado, o direito à prestação da coisa pode ter por base uma obrigação ou um

direito real.

3. Para prestação de facto:

a. Quando o facto é fungível: o exequente pode requerer que ele seja prestado

por outrem à custa do devedor (artigo 828.º CC), sendo então aprendidos e

vendidos os bens deste que forem necessários ao pagamento do custo da

operação;

b. Quando o facto não é fungível: o exequente já só pode pretender a

apreensão e a venda de bens do devedor suficientes para o indemnizar do

dano sofrido com o incumprimento (artigo 868.º CPC).

c. Quando ocorre a violação de um dever de omissão (prestação de facto

negativo): o exequente, consoante os casos, pedirá a demolição da obra que

porventura tenha sido efetuada pelo devedor, à custa deste, assim como a

indemnização do prejuízo sofrido, ou uma indemnização compensatória

(artigo 829.º CC e 876.º CPC). Assim, neste tipo de processo o credor pode

obter o mesmo resultado que obteria com a realização, ainda que por terceiro,

da prestação que, segundo o título, lhe é devida ou um seu equivalente. E,

embora em todos os casos se realize uma prestação de natureza obrigacional,

a obrigação de demolir ou indemnizar pode resultar da violação dum direito

real.

Função: desta breve análise dos tipos de ação executiva, algumas conclusões é possível tirar:

1. A ação executiva pressupõe sempre o dever de realização duma prestação: esta

prestação constitui, na maioria das vezes, o conteúdo duma relação jurídica

obrigacional, primária ou de indemnização. Mas nem sempre: também nos direitos

reais podem fundar pretensões a uma prestação a efetuar a favor do seu titular

(pretensões reais). A afirmação de que apenas obrigações podem dar lugar à ação

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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executiva só tem cabimento quando se utilize o termo obrigação num sentido lato que

abranja qualquer relação jurídica que tenha por conteúdo, ainda que só

subordinadamente a uma relação ou situação jurídica de outra natureza, o dever de

realizar uma prestação, e significará então que as restantes relações ou situações

jurídicas de Direito Privado não podem, enquanto tais, dar lugar a procedimento

executivo. Este aspeto é comum ao objeto da ação executiva e ao da ação declarativa

de condenação.

2. A ação executiva não pode ter lugar perante a simples previsão da violação

dum direito: através dela, o exequente via separar um direito violado. O autor que

tenha obtido a condenação do réu a abster-se de certa conduta violadora dum seu

direito ou a cumprir uma obrigação ainda não vencida só poderá propor ação de

execução depois de consumada a violação ou de se ter tornado exigível a obrigação.

Das duas situações (dúvida e violação) que originam o processo civil, apenas a

violação tem a ver com a génese do processo executivo, que, sem deixar de ter na sua

base, tal como o processo declarativo, um conflito de interesses, logicamente

pressupõe a prévia solução da dúvida que possa haver sobre a existência e a

configuração do direito exequendo.

3. Através da ação executiva, o exequente pode obter resultado idêntico ao da

realização da própria prestação que, segundo o título executivo, lhe é decida

(execução específica): quer por

a. Meio direto:

i. Apreensão e entrega da coisa ou quantia devida;

ii. Prestação do facto devido por terceiro.

b. Meios indiretos:

i. Apreensão e venda de bens do devedor e subsequente pagamento; ou, em sua

substituição,

ii. Um valor equivalente do património do devedor (execução por equivalente);

4. O tipo de ação executiva é sempre determinado em função do titulo executivo:

consoante deste conste uma obrigação pecuniária, uma obrigação de prestação de

coisa ou uma obrigação de prestação de facto, assim se utiliza um ou outro dos três

tipos de ação, ainda que por esta se vise obter, não a prestação, mas o seu equivalente.

5. A satisfação do credor na ação executiva é conseguida mediante a

substituição do tribunal ao devedor: porque este não efetuou voluntariamente a

prestação devida, ou não procedeu à demolição da obra que não podia ter feito, o

tribunal procede à apreensão de bens para, em substituição do devedor, pagar ao

credor, ou para conseguir meios que permitam custear a prestação, por terceiros em

vez do devedor, do facto por este devido.

Normas substantivas e normas processuais: instrumental como qualquer outro, o

processo executivo visa um resultado de Direito substantivo: a satisfação do direito de exequente.

Como, fora dos casos de execução específica direta, tal implica a apreensão, normalmente

seguida da venda, de bens do património do devedor, os efeitos de natureza real destes atos

executivos e a necessidade de os articular com eventuais direitos de terceiros sobre os bens

apreendidos importa o estabelecimento de normas que são também de Direito substantivo.

As disposições dos artigos 819.º a 826.º CC Vêm responder a esta necessidade. Ao Direito

substantivo cabe ainda a prévia definição dos regimes de responsabilidade patrimonial e de

sujeição (sujeitabilidade) à execução dos bens objeto de garantia real e de obrigação de

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prestação de coisa determinada, bem como do da exequibilidade intrínseca da pretensão (as

normas gerais dos artigos 817.º, 818.º, 827.º a 829.º, 400.º, n.º2, 548.º e 777.º, n.º2 e 3 CC).

Cabe-lhe, finalmente, a criação de medidas que visam a coação indireta do devedor ao

cumprimento de obrigações impostas, mas insuscetíveis de execução específica (artigo 829.º-

A CC). Para além destes grupos de normas, que definem os parâmetros substantivos da tutela

jurisdicional executiva e dos efeitos dos atos executivos, estão as que respeitam aos

pressupostos processuais da ação executiva e à sua tramitação, as quais constam da lei de

processo.

O acertamento e a execução: ficou dito que a ação executiva logicamente pressupõe a

prévia solução da dívida sobre a existência e a configuração do direito exequendo. A

declaração ou acertamento (dum direito ou de outra situação jurídica; dum facto), que é o

ponto de chegada da ação declarativa, constitui, na ação executiva, o ponto de partida. Esta

constatação leva a concluir que o processo executivo, ainda que estruturalmente autónomo,

se coordena com o processo declarativo no ponto de vista funcional, sempre que por ele é

precedido; nem sempre, porém, tal precedência se verifica e, quando o título executivo não

é uma sentença, cessa esta coordenação funcional dos dois tipos de processo. Mas, em

qualquer caso, no processo executivo enquanto tal, que visa a satisfação do direito duma das

partes contra a outra, os princípios da igualdade de armas (artigo 4.º CPC) e do contraditório

(artigo 3.º, n.º3 e 4 CPC) não têm o mesmo alcance que no processo declarativo:

1. O princípio da igualdade de armas: exigindo o equilíbrio entre as partes na

apresentação das respetivas teses, na perspetiva dos meios processuais de que para o

efeito dispõem, implica a identidade dos direitos processuais das partes e a sua

sujeição a ónus e cominações idênticos, sempre que a sua posição no processo é

equiparável, e um jogo de compensações, gerador do equilíbrio global do processo,

quando a desigualdade objetiva intrínseca de certas posições processuais, leve a

atribuir a uma parte meios processuais particulares não atribuíveis à outra;

2. O princípio do contraditório: que não se confunde com o direito de defesa (artigo

3.º, n.º1 CPC), não só implica que o mesmo jogo de ataque e resposta em que

consistem a ação e a defesa deve ser observado ao longo de todo o processo, de tal

modo que qualquer posição tomada por uma parte deve ser comunicada à

contraparte para que esta possa responder, mas também que às partes deve ser

fornecida, ao longo do processo, a possibilidade de influírem em todos os elementos

que se encontrem em efetiva ligação com o objeto da causa e em qualquer fase do

processo se pressinta serem potencialmente relevantes para a decisão.

Ambos estes princípios, manifestação do princípio mais geral da igualdade das partes, que

implica a paridade simétrica das suas posições em face do tribunal, são hoje tidos como

fundamentais, diretamente decorrentes do direito constitucional de acesso à justiça e como

tal de absoluta observância no processo civil de tipo contencioso. Mas a circunstância de no

processo executivo estar apenas em causa a atuação da garantia dum direito subjetivo pré-

definido leva a que:

1. O executado não goze de paridade de posição com o exequente;

2. A sua participação no processo se circunscreva no âmbito:

a. Da substituição dos bens penhorados; ou

b. Duma eventual indicação de bens a penhorar;

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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c. Da audição sobre a modalidade da venda e o valor-base dos bens a

vender; e

d. Do controlo da regularidade ou legalidades dos atos do processo;

3. O seu direito à contradição seja fundamentalmente assegurado ex post, através

da possibilidade de oposição aos atos executivos (máxime, a penhora) já praticados

ou através da oposição à execução, que constitui uma ação declarativa

estruturalmente autónoma relativamente ao processo executivo.

Sem que os princípios da igualdade de armas e do contraditório deixem de ser observador

no processo executivo, o primeiro circunscreve a sua atuação ao uso dos meios técnicos

gerais do processo civil e o segundo só ocasionalmente apresentará a estrutura dialética que

tem no processo declarativo, podendo-se dizer que a igualdade das partes é, no processo

executivo, meramente formal. Esta particularidade do processo executivo leva a que, sempre

que, na sua pendência, deva ter lugar uma atividade de tipo cognitivo, tal aconteça enxertado

na tramitação do processo executivo, uma e outro estruturalmente autónomos, embora

funcionalmente subordinados ao processo executivo. Nestas ações ou incidentes recuperam

os princípios da igualdade de armas e do contraditório a sua amplitude integral. Mas estamos

então fora da tramitação executiva propriamente dita.

Juiz e agente de execução: no Direito Português anterior à reforma da ação executiva,

cabia ao juiz a direção de todo o processo executivo, em paralelismo com o que acontece na

ação declarativa, e a norma do atual artigo 6.º, n.º1 CPC aplicava-se sem especiais restrições:

cumpria-lhe providenciar pelo andamento regular e célere do processo, promovendo

oficiosamente as diligências necessárias ao seu normal prosseguimento. A jurisdicionalização

da ação executiva acarretava, neste modelo do processo executivo, igualmente vigente (ainda

hoje) em outros ordenamentos, o proferimento de numerosos despachos judiciais, que, na

sua grande maioria, não constituíam atos de exercício da função jurisdicional. Com a reforma,

o modelo foi abandonado e, seguindo-se o exemplo de outros sistemas jurídicos europeus

(Suécia, França, Holanda), optou-se por outro, em que o juiz exerce funções de tutela,

intervindo em caso de litígio surgido na pendência da execução (artigo 723.º, n.º1, alínea b)

CPC), e de controlo, proferindo nalguns casos despacho liminar (controlo prévio aos atos

executivos: artigos 723.º, n.º1, alínea a) e 726.º CPC) e intervindo para resolver dúvidas (artigo

723.º, n.º1, alínea d) CPC), garantir a proteção de direitos fundamentais ou matéria sigilosa

(artigos 738.º, n.º6, 749.º, n.º7, 757.º, 764.º, n.º4 e 767.º, n.º1 CPC) ou assegurar a realização

dos fins da execução (artigos 759.º, 773.º, n.º6, 782.º, n.º2 e 3 e 4, 814.º, n.º, 820.º, n.º1, 829.º,

n.º1 e 2 e 833.º, n.º2 CPC), mas deixou de ter a seu cargo a promoção das diligências

executivas, não lhe cabendo, nomeadamente, em regra (ao invés do que até então acontecia),

ordenar a penhora, a venda ou o pagamento, ou extinguir a instância executiva. A prática

destes atos, eminentemente executivos, bem como, em geral, a realização das várias

diligências do processo de execução, quando a lei não determine diversamente, passaram a

caber ao agente de execução (artigos 719.º, n.º1 e 720.º, n.º6 CPC). Foi assim deslocado para

um profissional liberal (designado, em regra, pelo exequente na petição executiva2 – artigos

720.º, n.º1 e 724.º, n.º1, alínea c) CPC) o desempenho dum conjunto de tarefas, exercidas em

nome do tribunal, sem prejuízo da possibilidade de reclamação para o juiz dos atos ou

2 Mas a sua eficácia fica resolutivamente condicionada à recusa do agente designado (artigo 720.º, n.º 8 CPC). Quando o exequente não faça a designação, bem como quando a designação feita fique sem efeito, passa ela a caber à secretaria, já não por livre escolha (de entre os inscritos em qualquer comarca do país), mas segundo a ordem da escala constante da lista oficial (artigo 720.º, n.º2 CPC).

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omissões por ele praticados (artigo 723.º, n.º1, alínea c) CPC). Tal como o hussier 3francês, o

agente de execução é um misto de profissional liberal e de funcionário público, cujo estatuto

de auxiliar da justiça implica a detenção de poderes de autoridade no processo executivo. A

sua existência, sem retirar a natureza jurisdicional ao processo executivo, implica a sua larga

desjudicialização (entendida como menor intervenção do juiz nos atos processuais) e também

a diminuição dos atos praticados pela secretaria. Não impede a responsabilidade do Estado

pelos atos ilícitos que o agente de execução pratique no exercício da função, nos termos

gerais da responsabilidade do Estado pelos atos dos seus funcionários e agentes, decorrente

da Lei n.º 67/2007, 31 dezembro.

B – Pressupostos da ação executiva

Pressupostos específicos: para que possa ter lugar à realização coativa duma prestação

devida (ou do seu equivalente), há que satisfazer dois tipos de condição, dos quais depende

a exequibilidade do direito à prestação:

1. O dever de prestar deve constar dum título: o título executivo. Trata-se de

um pressuposto de caráter formal, que extrinsecamente condiciona a

exequibilidade do direito, na medida em que lhe confere o grau de certeza que o

sistema reputa suficiente para a admissibilidade da ação executiva. A configuração

do título executivo como pressuposto processual não é muito duvidosa, sem

prejuízo da sua articulação com o direito exequendo, cujo acertamento no título

já foi dito constituir a única condição da ação executiva.

2. A prestação deve mostrar-se:

a. Certa;

b. Exigível;

c. Líquida;

Certeza, exigibilidade e liquidez são pressupostos de caráter material, que

intrinsecamente condicionam a exequibilidade do direito, na medida em que sem

eles não é admissível a satisfação coativa da pretensão. Quanto à configuração

como pressuposto processual da certeza, exigibilidade e liquidez da prestação,

embora também como pressupostos usem aparecer, entre nós, qualificadas, dir-

se-ia que melhor lhes cabe a qualificação de condições da ação executiva,

enquanto características conformadoras do conteúdo duma relação jurídica de

Direito material. Mas a certeza, a exigibilidade e a liquidez só constituem

requisitos autónomos da ação executiva quando não resultem já do título

executivo; caso contrário, diluem-se no âmbito das restantes características da

obrigação e a sua verificação é, tal como elas, presumida pelo título, sem qualquer

especialidade de regime a ter em conta. Trata-se assim de exigências de

3 Embora seja um funcionário de nomeação oficial e, como tal, tenha o dever de exercer o cargo quando solicitado, é contratado pelo exequente e, em certos casos (penhora de bens móveis ou de créditos), atua extrajudicialmente, sem prejuízo de poder recorrer ao Ministério Público, quando o devedor não dê informação sobre a sua conta bancária e a sua entidade empregadora, e de poder desencadear a hasta pública, quando o executado não vende, dentro de um mês, os bens móveis penhorados (o que normalmente este não faz); pela sua atuação, não só responde perante o exequente, mas também perante o executado e terceiros.

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complemento do titulo executivo, que acabam por exercer uma função

processual paralela à deste. A certeza, a exigibilidade e a liquidez da prestação,

desde que entendidas menos como características duma relação de Direito

material do que como verificação autónoma dessas características, quando elas

não constem do título executivo, constituem pressupostos processuais. Diverso

é, porém, o estatuto da liquidez, desde a reforma da ação executiva, quando

referida à sentença judicial condenatória: esta só constituí título executivo após a

liquidação da obrigação pecuniária que não dependa de mero cálculo aritmético,

a qual tem lugar no próprio processo declarativo (artigo 704.º, n.º6 CPC); neste

caso, a liquidez integra o próprio título, em vez de complementar um título já

constituído. Integra também o próprio título executivo a liquidez da obrigação

pecuniária (sempre ressalvada a liquidação por mero cálculo aritmético), quando

se está perante um título de crédito (artigo 703.º, n.º1, alínea c) CPC). Até à

revisão do CPC de 1961, o regime da certeza e da exigibilidade, por um lado, e o

da liquidez, por outro, divergiam. Enquanto a liquidação da obrigação podia ter

lugar no processo executivo, a certeza e a exigibilidade tinham de estar já

verificadas à data em que a ação era proposta. Mas o facto de as providências

executivas propriamente ditas, das quais a penhora é a primeira, não poderem ter

lugar enquanto a obrigação fosse ilíquida conferia à liquidez a mesma natureza de

pressuposto de que se revestiam a certeza e a exigibilidade, tendo todas as três

que se verificar para que a pretensão do credor exequente obtivesse satisfação.

Estas mesmas razões passaram a valer para a certeza e a exigibilidade, que, tal

como a liquidez (quando não integra o título executivo), passaram a poder

verificar-se na fase liminar da ação executiva.

Como pressupostos processuais, o título executivo e a verificação da certeza, da exigibilidade

e da liquidez da obrigação exequenda são requisitos de admissibilidade da ação executiva,

sem os quais não têm lugar as providências executivas que o tribunal deverá realizar com

vista à satisfação da pretensão do exequente e que são, no processo executivo, o equivalente

à decisão de mérito favorável no processo declarativo, dificilmente se podendo encontrar no

processo executivo um equivalente da decisão de mérito desfavorável. A esta desnecessidade

duma distinção rigorosa entre pressuposto processual e condição da ação no âmbito do

processo executivo se devem as concomitantes afirmações de que o título executivo é um

pressuposto processual e de que é condição necessária e suficiente da ação executiva.

Pressupostos gerais: além dos pressupostos específicos da ação executiva, têm nela de se

verificar os pressupostos gerais do processo civil, nomeadamente:

1. A competência do tribunal;

2. A personalidade e a capacidade judiciária das partes;

3. A sua representação ou assistência quando incapazes;

4. O patrocínio judiciário quando obrigatório;

5. A legitimidade das partes4.

4 Quanto ao interesse em agir, não se vê como possa faltar numa ação pela qual é atuada a garantia do direito do exequente.

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C – Titulo Executivo

Noção: vimos como o acertamento é o ponto de partida da ação executiva, pois a realização

coativa da prestação pressupõe a anterior definição dos elementos (subjetivos e objetivos) da

relação jurídica de que ela é objeto. O título executivo contém esse acertamento

«A pretensão material está acertada, sobre ela não devendo ter lugar mais nenhuma controvérsia

no processo de execução, [mesmo no caso de] exequibilidade provisória da sentença antes de

formado o caso julgado, [em que ocorre um] acertamento condicionado»5;

daí que se diga que se diga que constitui a base da execução, por ele se determinando o fim

e os limites da ação executiva (artigo 10.º, n.º5 CPC), isto é, o tipo de ação e o seu objeto,

assim como a legitimidade, ativa e passiva, para ela (artigo 53.º, n.º1 CPC), e, sem prejuízo

de poder ter que ser complementado (artigos 714.º a 716.º CPC), em face dele se verificando

se a obrigação é certa, líquida e exigível (artigo 713.º CPC). O termo título inculca a ideia de

que se trata dum documento. Adiante veremos, ao tratar da natureza do título executivo, se

esta ideia é rigorosa. Sem, por ora, irmos mais longe no estudo do seu conceito, contemo-

nos em constar que o título executivo ganha a relevância especial que a lei lhe atribui da

circunstância de oferecer a segurança mínima reputada suficiente quanto à existência do

direito de crédito que se pretende executar. Há que fazer, assim, a análise das diversas

espécies de título executivo, só depois partindo da tipologia legal para o conceito.

Espécies: o artigo 703.º, n.º1 CPC enumera, nas suas alíneas, quatro espécies de título

executivo. Embora não corresponda a um critério doutrinário rigoroso (bastará atender ao

caráter residual da alínea d)), esta enumeração constitui o ponto de partida da análise que se

segue. Assim, são as seguintes, as espécies de título executivo:

1. A sentença condenatória:

a. Conceito: ao utilizar a expressão sentença condenatória (artigo 703.º, n.º1,

alínea a) CPC), quis o legislador (embora de modo não muito feliz) demarcar

o conceito do de sentença de condenação, expressão utilizada no regime

anterior e considerável de ser tomada como equivalente a sentença proferida

em ação declarativa de condenação. É que, em qualquer tipo de ação (não

apenas de condenação, mas também de mera apreciação, constitutiva ou até

de execução), tem, em princípio, lugar a condenação em custas e a decisão

que a profere constitui título executivo para o efeito da sua cobrança coerciva.

O mesmo se diga quanto à condenação da parte em multa, em indemnização

como litigante de má fé ou em sanção pecuniária compulsória. Por outro lado,

discute-se se a sentença de mérito favorável proferida em ação declarativa

constitutiva é, enquanto tal, suscetível de ser executada. O problema põe-se

quando por ela são criadas obrigações, que, como tais, podem ser objeto de

incumprimento. À primeira vista, dir-se-á que, nestes casos, a sentença

constituí título executivo, por forma perfeitamente análoga à sentença

proferida em ação declarativa de condenação. Mas, se bem se vir, o efeito

constitutivo da sentença produz-se automaticamente, nada restando dele para

5 Bruns-Peters

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executar, e o que pode vir a ser objeto de execução é ainda uma decisão

condenatória, expressa ou implícita, que com ele se pode cumular

(condenação no pagamento dos alimentos fixados, condenação na

desocupação e entrega do prédio arrendado: artigos 936.º, n.º4 CPC e 1081.º,

n.º1 CC). Quanto às sentenças de mérito proferidas em ações de simples

apreciação, é pacífico que não se pode falar de título executivo. Efetivamente,

ao tribunal apenas foi pedido que aprecie a existência dum direito ou dum

facto jurídico e a sentença nada acrescenta quanto a essa existência, a não ser

o seu reconhecimento judicial. Pela sentença, o réu não é condenado no

cumprimento duma obrigação pré-existente, nem sequer constituído em

nova obrigação a cumprir. Vigorando o princípio do dispositivo,

compreende-se que tal sentença não possa ser objeto de execução. Pode

ainda acontecer que a condenação seja proferida em processo de natureza

não civil, por exemplo de caráter penal (sentença em que o réu seja

condenado a pagar uma indemnização ao ofendido) ou administrativo

(sentença de condenação do Estado em indemnização por ato de gestão

pública, ilícito ou lícito). Também aqui temos uma sentença condenatória.

Das sentenças judiciais, só a de condenação constitui, pois, nos termos

explanados, título executivo. O termo sentença abrange os acórdãos

(artigo 156.º, n.º3 CPC).

b. Trânsito em julgado e liquidez: para que a sentença seja exequível, é

necessário que tenha transitado em julgado, isto é, que seja já insuscetível de

recurso ordinário ou de reclamação (artigo 628.º CPC), salvo se contra ela

tiver sido interposto recurso com efeito meramente devolutivo (artigo 704.º,

n.º1 CPC). A atribuição de efeito meramente devolutivo significa que é

possível executar a decisão recorrida na pendência do recurso. Constitui hoje

a regra no recurso de apelação (artigo 647.º CPC); tem sempre lugar no

recurso de revista (artigo 676.º CPC). Ora, se tiver sido instaurada execução

na pendência de recurso com efeito meramente devolutivo, essa execução,

por natureza provisória sofrerá as consequências da decisão que a causa

venha a ter nas instâncias superiores. Assim, quando a causa vier a ser

definitivamente julgada, a decisão proferida terá o efeito:

i. De extinguir a execução, se for totalmente revogatória da decisão exequenda,

absolvendo o réu (executado);

ii. De modificar, se apenas em parte revogar a decisão exequenda, mantendo uma

condenação parcial do réu (artigo 704.º, n.º2, 2.ª parte CPC).

Se pelo tribunal de recurso vier a ser proferida decisão que, por sua vez, seja

objeto de recurso para um tribunal superior, a execução:

i. Suspender-se-á ou modificar-se-á, consoante a decisão da 2.ª instância for total

ou parcialmente revogatória da anterior, se ao novo recurso for também atribuído

efeito meramente devolutivo;

ii. Prosseguir-se-á tal como foi instaurada e só poderá ser extinta ou modificada

com a decisão definitiva, se, pelo contrário, for atribuído ao recurso efeito

suspensivo, o qual se traduz em suspender a execução da decisão intermédia

proferida (artigo 704.º, n.º2, 2.ª parte CPC).

À ação executiva proposta na pendência do recurso pode também ser

suspensa a pedido do executado que preste caução, destinada a garantir o

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dano que, no caso de confirmação da decisão recorrida, o exequente sofra

em consequência da demora da execução. É o que dispõe o artigo 704.º, n.º5

CPC, em expressa equiparação desta situação à do executado que se tenha

oposto à execução. Não havendo lugar a esta suspensão e prosseguindo a

execução, não é admitido pagamento, enquanto a sentença estiver pendente

de recurso, sem prévia prestação, pelo credor (exequente ou reclamante), de

caução (artigo 704.º, n.º3 CPC). Qualquer destas cauções é prestada nos

termos gerais do artigo 623.º CC e dos artigos 906.º e seguintes CPC.

Proferida condenação judicial genérica (artigo 609.º, n.º2 CPC) e não

dependendo a liquidação da obrigação pecuniária de simples cálculo

aritmético, esta tem lugar, desde a reforma da ação executiva, em incidente

do próprio processo declarativo, renovando-se para tanto a instância se já

estiver extinta (artigo 704.º, n.º6 e 358.º, n.º2 CPC). Neste caso, a sentença

de condenação só se torna exequível com a sentença de liquidação, que a

complementa, completando a formação do título executivo. Tal não

prejudica, evidentemente, a imediata exequibilidade da parte da sentença de

condenação que seja já líquida (artigo 609.º, n.º2 CPC). Esta imposição da

liquidação da obrigação na ação declarativa rege igualmente em caso de

obrigação de entrega duma universalidade, mas só quando o autor possa

caracterizar os elementos que a compõem antes do ato da apreensão (artigo

716.º, n.º7 CPC). Não obstante a distinta função que assim é desempenhada

pela liquidação da obrigação reconhecida na sentença declarativa de

condenação, a liquidação em si tem lugar nos mesmos termos dentro ou fora

da execução, pelo que lhe são aplicáveis, com algumas adaptações, os

conceitos e regimes a ter em conta na liquidação em execução da sentença.

c. A sentença proferida por tribunal estrangeiro: a sentença proferida por

tribunal estrangeiro é exequível, por força do mesmo artigo 703.º, n.º1, alínea

a) CPC. Se o é, porém, após revisão e confirmação pelo competente tribunal

da relação (artigos 706.º e 979.º CPC), visto que só depois de confirmadas é

que, salvo tratado, convenção, regulamento comunitário ou lei especial em

contrário, as sentenças estrangeiras têm eficácia em Portugal (artigo 978.º,

n.º1 CPC). A confirmação é assim necessária, não apenas para efeitos de

execução, mas também para qualquer outro efeito de direito, com a única

ressalva da sua invocabilidade em tribunal como meio de prova, a apreciar

livremente pelo julgador (artigo 978.º, n.º2 CPC). A confirmação tem lugar

quando se verifiquem os requisitos enunciados no artigo 980.º CPC. De entre

eles, são de elencar:

i. O trânsito em julgado da sentença, segundo a lei do país em que foi proferida

(alínea b)): não é, assim, possível a execução (provisória) duma

sentença estrangeira pendente em recurso;

ii. A não ocorrência de competência internacional exclusiva dos tribunais portugueses,

nos termos do artigo 63.º CPC, nem de fraude à lei que, fora do domínio dessa

reserva de competência, tenha provocado a competência do tribunal estrangeiro

(alínea c)): é assim desde a revisão do CPC de 1961; até aí o regime

remetia para as normas do atual artigo 62.º CPC (fatores de atribuição

de competência internacional não exclusiva aos tribunais

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portugueses), bilateralizando-o: a competência do tribunal

estrangeiro só era reconhecida, sem prejuízo da competência

alternativa dos tribunais portugueses, quando a teria se fosse

português. O regime atual, apenas salvaguardando a fraude à lei (cuja

prova pode ser difícil), representa uma abertura demasiado arriscada;

iii. O respeito pelo direito de defesa (citação do réu, nos termos da lei do país de origem)

e a observância dos princípios do contraditório e da igualdade de armas (alínea

e));

iv. A ininvocabilidade da exceção de litispendência ou de caso julgado com

fundamento na afetação da causa a um tribunal português – exceção essa que

é ininvocável se, não obstante essa afetação, a ação em que tenha sido

proferida a sentença a rever tiver sido proposta em primeiro lugar

(alínea d));

v. A não contradição da decisão com a ordem pública internacional portuguesa

(alínea f)).

O âmbito de aplicação dos preceitos da lei portuguesa sobre a revisão de

sentenças estrangeiras encontra-se grandemente reduzido em consequência

da vigência do Regulamento 1215/2012 ( R)e da Convenção de Lugano, que

estabelecem o reconhecimento automático das sentenças proferidas noutro

Estado da União ou, no caso da Convenção de Lugano (CL), noutro Estado

Contratante, sem necessidade de recurso a qualquer processo: delas conhece

qualquer tribunal perante o qual a decisão seja invocada a título incidental,

isto é, como resolução duma questão prévia de que dependa a decisão a

proferir ou para dedução da exceção de caso julgado; mas, se for invocada a

título principal, isto é, extrajudicialmente, e houver impugnação, isto é, não

for aceite por aquele perante quem é invocada, o reconhecimento pode ser

pedido por quem a invocou, em ação de simples apreciação dirigida ao

tribunal de comarca em cuja área de jurisdição esteja domiciliada a parte

contra a qual a pretenda fazer valer ou ao do lugar da execução (artigos 26.º

e 32.º CL e artigos 36.º e 39.º6 R). A decisão só não será reconhecida nos

casos enunciados nos artigos 27.º e 28.º CL e 45.º R:

i. Contrariedade à ordem pública;

ii. Ofensa do direito de defesa;

iii. Inconciabilidade com outra decisão;

iv. Inobservância de normas de competência.

Em qualquer caso, a execução de sentença proferida por tribunal dum Estado

da União ou de outro Estado Contratante da Convenção de Lugano sobre

matéria não excluída e que tenha força executiva no Estado em que foi

proferida deve ser precedida de declaração de executoriedade, a emitir, a

requerimento de qualquer interessado, pelo tribunal de comarca

determninado segundo os referidos fatores atributivos de competência

territorial (artigos 38.º e 39.º Regulamento Bruxelas I7 31.º e 32.º CL). Na

pendência do recurso que eventualmente seja interposto da decisão do

6 Não encontramos equivalente no novo regulamento 1215/2012, portanto, este artigo é, ainda, relativo ao regulamento Bruxelas I – o regime foi alterado com o Regulamento 1215/2012 portanto não terá aplicação 7 Pensamos poder ser regime substituído o presente no artigo 36.º R 1215/2012. Dentro das limitações da revogação

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tribunal de comarca para o tribunal da relação ou deste para o STJ (artigos

43.º e 44.º Regulamento Bruxelas I8 e 36.º, 37.º, 40.º e 41.º CL), só podem ser

requeridas medidas cautelares (nos termos da lei portuguesa) sobre os bens

do devedor, com base na declaração de executoriedade emitida em 1.ª

instância (artigo 47.º, n.º1 e 29 Regulamento e artigo 39.º Convenção), sem

prejuízo, como ressalva o artigo 47.º, n.º1 Regulamento, de,

independentemente dessa declaração, se recorrer a tais medidas, nas

condições em que a lei interna as permite.

d. Despachos judiciais e decisões arbitrais: às sentenças a que se refere a

alínea a) do artigo 703.º, n.º1 CPC são equiparados os despachos e outras

decisões ou atos de autoridade judicial que condenem no cumprimento duma

obrigação, assim como as decisões dos tribunais arbitrais (artigo 705.º CPC).

Como exemplos de despachos condenatórios exequíveis, temos os que

imponham multas às partes ou a testemunhas, condenem em indemnizações

ou fixem horários de peritos, depositários, agentes de execução ou

liquidatários judiciais. Estão também nesse caso as decisões que ordenem

providências cautelares que não sejam executadas, por medida de tipo

executivo especificamente prevista, nos próprios autos do procedimento

cautelar. Quanto às decisões dos tribunais arbitrais, estão, quando proferidas

no estrangeiro, sujeitas a revisão, nos termos da Convenção de Nova Iorque

sobre o Reconhecimento e Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras, de

10 junho 1958, e dos artigos 55.º a 58.º LAV e, quando proferidas no

território nacional, sujeitas às regras de exequibilidade das sentenças judiciais

de 1.ª instância.

e. A sentença homologatória: na categoria das sentenças condenatórias, tal

como foi definida, cabem as sentenças homologatórias, das quais são

exemplo a sentença homologatória de transação ou confissão do pedido

(artigo 290.º, n.º3 CPC) e a decisão homologatória de partilha (artigo 66.º

Regime Jurídico do Processo de Inventário, aprovado pela Lei n.º31/31013,

20 março). Em confronto com as sentenças em que o juiz decide o litígio

entre as partes, mediante a aplicação do Direito substantivo ao caso que lhe

é presente, as sentenças homologatórias caracterizam-se por o juiz se limitar

a sancionar a composição dos interesses em litígio pelas próprias partes,

limitando-se a verificar a sua validade enquanto negócio jurídico. Por esta

razão, foram já tais sentenças qualificadas como títulos executivos

parajudiciais ou títulos judiciais impróprios, em oposição às sentenças

propriamente ditas (títulos executivos judiciais, ou judiciais próprios). É

assim que Anselmo de Castro define os títulos executivos para-juridicais

como aqueles que, formando-se num processo (portanto, de caráter

formalmente judicial), não procedem, todavia, de uma decisão judicial, mas

de um ato de confissão expressa ou tácita das partes (tendo, assim, caráter

substancialmente extrajudicial). À distinção destes dois tipos de título

8 Não encontramos paralelo para atualizar face ao regulamento 1215/2012, mas atente-se aos artigos 45.º e seguintes deste Regulamento (talvez seja isso). 9 Idem.

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executivo corresponderiam, pelo menos, ainda segundo Anselmo de Castro,

duas especialidades de regime:

i. Por um lado, a oposição à execução da sentença homologatória de conciliação,

confissão ou transação é possível com maior amplitude do que a oposição à sentença

judicial propriamente dita, pois nela se pode invocar qualquer causa de nulidade

ou anulabilidade desses atos (artigo 729.º, alínea i) CPC);

ii. Por outro lado, a sentença homologatória proveniente de tribunal estrangeiro não

teria de ser objeto de revisão e confirmação por um tribunal português, devendo ser

equiparada aos títulos estrangeiros parajudicial, que delas não carecem.

Em face do Direito português, esta qualificação não é de adotar. Na lógica

da sua definição, Anselmo de Castro considerava também título executivo

parajudicial, entre outros, a sentença de condenação provisória do réu

(fundada na confissão expressa, ou na simples admissão da autoria da

assinatura do documento em que se baseasse a ação). Franqueando mais um

passo, está igualmente na lógica daquela definição considerar título executivo

parajudicial toda a sentença (ou despacho) proferida por via de um efeito

cominatório pleno (artigo 716.º, n.º4, 773.º, n.º3 e 4 e 791.º, n.º4 CPC). Ora

nada permite distinguir estas decisões, quanto ao seu regime, designadamente

de validade e eficácia, da sentença a que vimos chamando de propriamente

dita; nem, no que respeita à sua execução, é defensável que a elas se apliquem

as duas especialidades acima indicadas. Por seu lado, a sentença

homologatória constitui, no nosso Direito, uma sentença de condenação

como as restantes, sem prejuízo de os atos dispositivos das partes que a

determinam estarem, como negócios jurídicos de Direito Civil, sujeitos a um

regime de impugnação que não se confunde com o da sentença

homologatória, da qual resulta, designadamente, o efeito da exequibilidade.

Tenha-se em conta, em sede de ação declarativa, o artigo 291.º, nº.2 CPC (o

trânsito em julgado da sentença homologatória não obsta a que se intente

ação de declaração de nulidade ou de anulação da transação ou confissão, ou

se peça a revisão da sentença com esse fundamento) e os artigos 70.º a 73.º

Lei n.º 23/2013, 29 junho (possibilidade de emenda e anulação da partilha

judicial após o trânsito em julgado da sentença que a homologue), e, em sede

de ação executiva, o já citado artigo 729.º, alínea i) CPC, que consideramos

aplicável, não apenas à confissão do pedido e à transação em geral, mas

também à partilha em processo de inventário (tido em conta, quanto a esta,

o regime dos citados artigos da Lei n.º23/2012, dos quais o artigo 72.º

limitando os fundamentos de anulação). Quanto à revisão das sentenças

homologatórias proferidas por tribunais estrangeiros, cremos, pelo menos,

muito duvidosa a sua dispensabilidade, embora, dos requisitos para a

confirmação indicados no artigo 980.º CPC, apenas se apliquem ao caso os

que puderem ser.

2. O documento exarado ou autenticado por notário:

a. Conceito: os documentos exarados ou autenticados por notário, ou outra

entidade a que a lei para tanto atribua competência (artigo 703.º, n.º1, alínea

b) CPC), são, tal como os título de crédito (artigo 703.º, n.º1, alínea c) CPC),

títulos extrajudiciais, visto não se produzirem em juízo, ou negociais, porque

emergentes dum negócio jurídico celebrado extrajudicialmente.

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i. São exarados por notário (documentos autênticos), entre outros, o

testamento público e a escritura pública.

ii. São documentos autenticados por notário aqueles que, por ele não exarados,

lhe são posteriormente levados para que, na presença das partes,

ateste a conformidade da sua vontade com o respetivo conteúdo. Na

categoria dos documentos autenticados inclui-se, porque aprovado

por notário (artigo 2206.º, n.º4 CC), o testamento cerrado.

Evidentemente que o testamento, ato de disposição de bens por morte, não

pode constituir título executivo enquanto nele radica a transmissão dos bens

do testador. Mas já o será, por nos situarmos então no campo das obrigações,

quando o testador nele confessa uma dívida sua ou constitui uma dívida que

impõe a sucessor. Em ambos os casos, tem de se verificar a posterior

aceitação da herança pelo sucessor, a qual constitui, no primeiro caso,

condição da transmissão da dívida, e portante fundamento da legitimidade

passiva do sucessor para a execução, e, no segundo, condição suspensiva da

própria obrigação. Por isso, a aceitação tem de ser alegada e, pelo menos no

segundo caso, provada pelo exequente (artigos 54.º, n.º1 e 715.º, n.º1 CPC,

respetivamente); mas o título executivo é sempre o testamento e não,

contrariamente ao que, para o segundo caso já se defendeu (Eurico Lopes

Cardoso), o ato de aceitação da herança. A atribuição de força executiva aos

documentos exarados ou autenticados por serviço com competência para tal

(é o caso dos registos predial, comercial, de automóveis, de navios, de

aeronaves) tem em conta a atribuição aos conservadores e entidades

equiparadas do poder de exarar e autenticar documentos dentro da esfera da

sua competência.

b. Documento recognitivo: os documentos autênticos e autenticados não

constituem título executivo quando formalizem o ato de constituição duma

obrigação. Também o são quando deles conste o reconhecimento, pelo

devedor, duma obrigação pré-existente:

i. Confissão do ato (ou mero facto) que a constituiu (artigos 352.º, 358.º, n.º2 e

364.º CC);

ii. Reconhecimento de dívida (artigo 458.º CC).

É o que expressamente consta do artigo 703.º, n.º1, alínea b) CPC. A prova

da obrigação tanto pode ser feita através do documento original como através

duma sua certidão ou fotocópia autêntica (artigos 383.º, 384.º, 386.º e 387.º

CC).

c. A promessa de contrato real e a previsão de obrigação futura: a norma

hoje constante do artigo 707.º CPC teve, antes da revisão do Código de 1961,

uma redação que deu lugar a dificuldades de interpretação. Dizia-se que

cabiam no âmbito de previsão do preceito os contratos de abertura de crédito,

fornecimento, empreitada e outros de execução continuada, sendo nele

consideradas as prestações futuras a efetuar por aquele que se quisesse

prevalecer do título executivo: a entidade financiadora, o fornecedor, o

empreiteiro ou outro credor que, segundo o título executivo, tivesse que

efetuar uma prestação posteriormente à sua emissão devia provar tê-la

efetuado por um documento complementar, emitido de acordo com a

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própria escritura ou revestido de exequibilidade própria. Desta afirmação

resultaria que, sempre que, por escritura pública, fossem contraídas

obrigações bilaterais recíprocas no âmbito dum contrato de execução

continuada, nenhum dos contraentes poderia propor execução sem fazer essa

prova documental, salvo se a contraparte estivesse obrigada a cumprir antes

dele. Mas a norma hoje constante do artigo 715.º CPC já estatuía para todos

os casos de obrigações recíprocas em que o exequente devesse cumprir ao

mesmo tempo ou antes do executado, qualquer que fosse o título executivo

e estivesse em causa um contrato de execução instantânea ou um contrato de

execução continuada, contentando-se com a oferta da prestação e admitindo

mais largamente os meios de prova. Não fazendo sentido um regime mais

apertado no caso de escritura pública do que no de outro título executivo, a

única maneira de compatibilizar os dois preceitos consistia em restringir a

expressão prestação futura, por forma a fazê-la coincidir com prestação

constitutiva dum contrato real (prestação quoad constitutionem): a prova

complementar seria exigida apenas quando fosse apresentado um título

executivo negocial que provasse a contração, unilateral ou bilateral, da

obrigação de celebrar um contrato real, por só assim ficar suficientemente

assente, para efeitos de execução, a contração da obrigação exequenda. Para

que a execução fosse então possível, não bastava a escritura era preciso outro

documento, que provasse a realização de alguma das prestações integradoras

do contrato prometido e que fosse passado de acordo com a própria escritura,

ou, no silêncio desta, com alguma das alíneas da norma atualmente no artigo

703.º, n.º1 CPC (normalmente, a alínea c)). Com a revisão do Código, o

preceito ganhou nova redação, mas não maior clarificação textual. Nele se

preveem dois tipos de situação:

i. A convenção de prestações futuras: exige-se a prova de que alguma

prestação foi realizada para conclusão do negócio. Correspondendo

à formulação do Direito anterior, a substituição da expressão em

cumprimento do negócio pela expressão para conclusão do negócio abona a

ideia de que se quis exigir a prova complementar da realização da

prestação constitutiva dum contrato real prometido por documento

autêntico ou autenticado, assim consagrando nesta parte, embora em

termos que podiam ser mais claros, a interpretação mais racional do

preceito revogado. Os contratos de abertura de crédito, bem como

os de promessa de mútuo, fornecimento, comodato, depósito ou

locação, são abrangidos por esta primeira previsão do preceito.

ii. A previsão da constituição de obrigações futuras: exige-se a prova de que

alguma obrigação foi constituída na sequência da previsão das partes.

Procura abranger casos em que as partes não se tenham vinculado,

bilateral ou unilateralmente, à celebração dum negócio jurídico, mas

se tenham limitado a prever, em documento autêntico ou autenticado,

a possibilidade dessa celebração, nomeadamente constituído logo

garantia (maxime hipotecária) que cubra a realização dessa previsão.

A abolição, no CPC de 2013, de exequibilidade do documento particular em

geral leva a que o preceito se aplique hoje, fundamentalmente, ao documento

autêntico que contenha estipulação sobre o documento complementar.

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3. Os títulos de crédito:

a. O regime anterior: o CPC 1961 conferia exequibilidade aos documentos

particulares, assinados pelo devedor, constitutivos ou recognitivos de

obrigações. A norma resultou duma progressiva evolução do nosso Direito

no sentido de generalizar a exequibilidade dos documentos particulares. Para

que os documentos particulares, não autenticados, constituíssem título

executivo, era imposto:

i. Como requisito de fundo: que deles constasse a obrigação de pagamento

de quantia determinada ou determinável por simples cálculo

aritmético, de entrega de coisa ou de prestação de facto;

ii. Como requisito de forma: que, quando se tratasse de documento assinado

a rogo, a assinatura do rogado estivesse reconhecida por notário.

b. O título de crédito, enquanto tal: o CPC de 2013 restringiu drasticamente

a exequibilidade dos documentos particulares, arrepiando o caminho que

entre nós ela tomava: a alínea c) do artigo 703.º, n.º1 CPC apenas concede

exequibilidade aos títulos de crédito, ainda que meros quirógrados, desde que,

neste caso, os factos constitutivos da relação subjacente constem do próprio

documento ou sejam alegados no requerimento executivo. A letra, a livrança

e o cheque são, pois, os únicos documentos particulares a que a lei geral hoje

confere exequibilidade. Quanto ao cheque, alguma jurisprudência

(minoritária) tinha entrado, após a revisão do CPC de 1961, a negar-lhe

exequibilidade, com o argumento de que ele mais não é do que uma ordem

de pagamento, pela qual não se constitui nem reconhece qualquer obrigação

(Ribeiro Coelho). Assim se esquecia que o preenchimento do cheque à ordem

ou a sua entrega ao portador tem implícita a constituição ou o

reconhecimento duma dívida, a satisfazer através da cobrança dum direito de

crédito (cedido), contra a instituição bancária. Só é exigido o reconhecimento

da assinatura do devedor no título de crédito quando ele não saiba ou não

possa ler, sendo então assinado a rogo. Fora deste caso, o reconhecimento,

por notário, da assinatura do devedor tem a utilidade de obstar ao pedido de

suspensão da ação executiva pelo executado que, em embargos, alegue a não

genuinidade da assinatura.

c. O título de crédito, enquanto quirógrafo: prescrita a obrigação cartular

constante de uma letra, livrança ou cheque, poderá o título de crédito

continuar a valer como título executivo, desta vez enquanto escrito particular

consubstanciando a obrigação subjacente? Assim foi entendido na vigência

do CPC 1961, antes e depois da revisão de 1995-1996, embora com vozes

discordantes (Eurico Lopes Cardoso ou João de Castro Mendes). E é essa

orientação que claramente se vê hoje consagrada no artigo 703.º, n.º1, alínea

c) CPC). Quando o título de crédito mencione a causa da relação jurídica

subjacente, o título prescritivo vale como documento particular respeitante à

relação jurídica subjacente. Quanto aos títulos de crédito prescritos dos quais

não conste a causa da obrigação, há que distinguir consoante a obrigação a

que se reportam:

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i. Emerja de um negócio jurídico formal: uma vez que a causa do negócio

jurídico é um elemento essencial deste, o documento não constitui

título executivo (artigos 221.º, n.º1 e 223.º, n.º1 CC; ou

ii. Não emerja dum negócio jurídico formal: a autonomia do título executivo

em face da obrigação exequenda e a consideração do regime do

reconhecimento de dívida (artigo 458.º, n.º1 CC) leva a admiti-lo

como título executivo, sem prejuízo de a causa da obrigação dever

ser invocada na petição executiva e poder ser impugnada pelo

executado; mas, se o exequente não a invocar, ainda que a título

subsidiário, no requerimento executivo, não será possível fazê-lo na

pendência do processo, após a verificação da prescrição da obrigação

cartular e sem o acordo do executado (artigo 264.º CPC), por tal

implicar alteração da causa de pedir. A invocação da causa da

obrigação subjacente introduz esta como objeto do processo

executivo, mesmo que ainda não tenha prescrito a dívida abstrata.

d. Legalização de documentos estrangeiros: os documentos exarados em

país estrangeiro, quer sejam autênticos quer particulares, não carecem de

revisão para serem exequíveis em Portugal (artigo 706.º, n.º2 CPC), mas

devem, em princípio, ser objeto de legalização. Esta legalização tem lugar,

para os documentos autênticos e autenticados, mediante o reconhecimento

da assinatura do oficial público que os emitiu ou autenticou pelo agente

diplomático ou consular português no Estado respetivo, de acordo com a

exigência feita pelo artigo 440.º, n.º1 CPC, só dispensável, para além dos

casos abrangidos por regulamento comunitário ou por convenção aprovada

e ratificada pelo Estado Português, como é o caso do Regulamento

1215/2012, da Convenção de Lugano e da Convenção de Haia de 1961,

quando a autenticidade do documento for manifesta. A idênticas

formalidades estão sujeitos os títulos de créditos que, para serem exequíveis,

careçam do reconhecimento notarial da assinatura do subscritor: este

reconhecimento só tem valor quando a assinatura da entidade que os

reconhece seja, por sua vez, assim reconhecida (artigo 440.º, n.º2 CPC).

4. O título executivo por força de disposição especial: a. Títulos judiciais impróprios: alguns dos títulos cuja força executiva resulta

de disposição especial da lei (artigo 703.º, n.º1, alínea d) CPC) formam-se no

decurso dum processo. Assim, no processo de prestação de contas, quando

o réu as apresente e delas resulte um saldo a favor do autor, pode este

requerer que o réu seja notificado para pagar a importância do saldo, sob

pena de lhe ser instaurado processo executivo (artigo 944.º, n.º5 CPC). Aqui,

o título executivo são as próprias contas apresentadas pelo réu. Assim

também, nos termos do Decreto-Lei n.º 269/98, 1 setembro, e do Decreto-

Lei n.º 32/2003, 17 fevereiro, que regulam o processo de injunção, o titular

de direito de crédito pecuniário, decorrente de contrato, cujo valor não

exceda a alçada do tribunal de 1.ª instância, ou que constitua remuneração

estabelecida em contrato de fornecimento de mercadorias ou prestação de

serviços, celebrado entre empresas ou entre empresas e entidades públicas,

pode requerer, na secretaria do tribunal do lugar do cumprimento da

obrigação ou do do domicílio do devedor, a injunção deste para o

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Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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cumprimento da obrigação (artigo 1.º DL n.º269/98, artigo 8.º, n.º1 do

regime anexo e artigo 2.º DL n.º 32/2003). O requerido é notificado para,

em 15 dias, pagar ao credor a quantia pedida ou deduzir oposição à pretensão.

Se se opuser, tal como se a notificação se frustrar, seguem-se os termos do

processo especial de ação declarativa criado pelo mesmo diploma (artigos

16.º e 17.º regime anexo); mas, se o requerido não deduzir oposição, o

secretário judicial, sem que o processo seja concluso ao juiz, escreverá no

requerimento de injunção que este documento tem força executiva, a menos

que não se verifiquem os requisitos do processo de injunção (artigo 14.º, n.º1

e 3 regime anexo). O requerente pode propor, no componente juízo civil,

ação executiva com base no título executivo assim formado pelo

requerimento de injunção a que é aposta a fórmula executória. Os títulos

deste tipo, formados num processo mas não resultantes duma decisão judicial,

têm sido classificados como judiciais impróprios. Alguns têm a

particularidade de se formarem na pendência dum processo executivo.

b. Títulos administrativos: exemplos de outro tipo de título executivo especial:

i. Títulos de cobrança de tributos, coimas, dívidas determinadas por ato

administrativo, reembolsos ou reposições e outras receitas do Estado (artigos 148.º

CPPT e 162.º CPPT);

ii. Certificado de conta de emolumentos e demais encargos devidos por ato de registo

ou de notariado (artigo 13.º Decreto Regulamentar n.º 55/80, 8 outubro);

iii. Certidão de dívida de contribuições a uma instituição de segurança social (artigo

9.º Decreto-Lei n.º 511/76, 3 julho);

iv. Cópia do despacho do diretor-geral do DAFSE que determine a restituição de

quantias recebidas no âmbito das ações do Fundo Social Europeu, acompanhas

das outras cópias referidas no artigo 1.º, n.º2 Decreto-Lei n.º 159/90, 17 maio;

v. Certidão, passada pelos serviços efetuadas com obras de conservação ou demolição

por ela ordenadas e não feitas no prazo estabelecido (artigos 89.º, 91.º, 106.º e

108.º, n.º2 Decreto-Lei n.º 555/99, 16 dezembro (c.f. artigo 3.º Decreto-Lei n.º

157/2006, 8 agosto).

A este tipo de títulos, emitidos por repartições do Estado, de autarquias locais

ou de outras determinadas pessoas coletivas públicas e tendo por conteúdo

créditos próprios, tem sido dada a designação de títulos administrativos ou

de formação administrativa.

c. Títulos particulares: também documentos particulares podem constituir

título executivo por disposição especial de lei. Deles constituem exemplo:

i. A ata de reunião da assembleia de condóminos: assinada pelo

condómino devedor, em que se encontrem fixadas as contribuições

a pagar ao condomínio (artigo 6.º, n.º1 Decreto-Lei n.º 268/94, 25

outubro);

ii. O documento de contrato do arrendamento de prédio urbano, acompanhado de

comprovativo da comunicação ao arrendatário: efetuada nos termos do artigo

9.º NRAU, da resolução ou da denúncia do contrato pelo senhorio,

nos termos do artigo 1084.º, n.º1 CC, do artigo 1097.º CC ou do

artigo 1101.º CC, fundando execução para restituição do local

arrendado (artigo 15.º, n.º1 NRAU, alíneas c), d) e e));

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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iii. O extrato de conta passado por sociedade, com sede em Portugal, dedicada à

concessão de crédito por via de emissão e utilização de cartões de crédito, titulando

o respetivo saldo (artigo 1.º Decreto-Lei n.º 45/79, 9 março);

iv. Os certificados passados pelas entidades registadoras de valores mobiliários

escriturais, a estes relativos (artigo 84.º CVM);

v. O documento de contrato de mútuo concedido pela Caixa Geral de Depósitos, nos

termos do artigo 9.º, n.º4 Decreto-Lei n.º 287/93, 20 agosto.

Natureza e função do título executivo:

1. O título é um documento: após a análise feita, é altura de tirarmos conclusões sobre

a natureza e a função do título executivo. Quer os títulos criados pelas alíneas b) e c),

quer aqueles a que se reporta a alínea d) do artigo 703.º, n.º1 CPC constituem,

inequivocamente, documentos escritos. Sabido que o documento escrito é um objeto

representativo duma declaração e como tal constitui meio de prova legal plena

(artigos 362.º, 371.º, n.º1 e 376.º, n.º2 CC), parece impor-se a conclusão de que o

título executivo extrajudicial ou judicial impróprio é um documento, que constitui

prova legal para fins executivos, e que a declaração nele representada tem por objeto

o facto constitutivo do direito de crédito ou é, ela própria, este mesmo facto. No

caso, porém, da sentença condenatória, o aspeto dinâmico da injunção ao réu para

que realize uma prestação devida sobressai sobre o aspeto estático do documento em

que ela se materializa. Se a tomarmos como paradigma do título executivo – ato

jurídico esse que, aplicando e concretizando o direito, torna possível, graças à sua

estrutura de comando, a subsequente atuação prática da sanção se a ordem judicial

não for cumprida. Esta diferente perspetiva de aproximação do conceito de título

executivo deu origem a uma célebre polémica, hoje clássica, entre

a. Carnelutti, para quem a sua natureza era de documento; e

b. Liebman, para quem revestia a natureza de ato.

Esta segunda conceção acabaria, no caso dos títulos executivos negociais, por fazer

coincidir o título com o próprio negócio, quando há muito a doutrina vem afirmando

que a ação executiva, baseada no título, goza, em face da obrigação exequenda, duma

autonomia paralela à do título de crédito em face da obrigação subjacente. Quanto a

definição do título como documento, compatibiliza-se com esta autonomia, desde

que no documento, enquanto título, se veja mais a materialização ou corporalização

dum direito exequível do que o meio de prova do facto constitutivo desse direito. O

título executivo extrajudicial constitui documento probatório da declaração de

vontade constitutiva duma obrigação ou duma declaração direta ou indiretamente

probatória do facto constitutivo duma obrigação e é este seu valor probatório que

leva a atribuir-lhe exequibilidade. Por sua vez, o título executivo judicial constitui

documento probatório dum ato jurisdicional que acerta (dá por provado, nem que

seja por implicação) esse facto constitutivo. Mas a consideração da inexequibilidade

da sentença de mera apreciação, que também realiza esse acertamento, leva a concluir

que tal não chega para explicar a constituição do título executivo judicial, o qual

requer também a emanação duma ordem (jurisdicional) emitida em função dum

pedido (do autor). Talvez esta dualidade de justificações da figura seja insuperável e,

na tentativa de chegar a um conceito unitário, se tenha de ficar pela afirmação de que

uma e outra são consideradas, cada qual no seu campo específico, base suficiente da

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radicação da própria obrigação no título (documento) para efeitos executivos, dado

constituir qualquer delas o grau de certeza (sobre a existência do direito) que o

sistema entende exigível para a admissibilidade da ação executiva. De qualquer modo,

a função executiva do documento, embora pressupondo sempre a sua função

probatória, não se confunde com ela e o documento constitui base da ação executiva,

com autonomia relativamente à atual existência da obrigação, que não tem, em

princípio, de ser questionada na ação executiva, e em conformidade com a lei vigente

à data em que o tribunal tenha de verificar a exequibilidade. O título executivo é, pois,

um documento; e, no caso da sentença, a ordem do tribunal fica representada nas

próprias folhas do processo em que é exarada, as quais não se confundem com o ato

da condenação que lhe constitui o conteúdo.

2. O título como condição da ação: do título executivo é frequente dizer-se que é

condição necessária e suficiente da ação executiva. A primeira afirmação não oferece

dificuldade de maior. O título é condição necessária da ação executiva porque não há

execução sem título, o qual tem, em termos que estudaremos, de acompanhar o

requerimento inicial ou, nos casos de processo misto de declaração e de execução, de

se formar dentro do próprio processo, antes que tenha lugar qualquer diligência de

ordem executiva. Maior dificuldade levanta a configuração do título como condição

suficiente da ação executiva. Não porque isso brigue como a existência de outros

pressupostos da ação executiva, uma vez que a afirmação não tem outro alcance que

não seja o de dispensar qualquer indagação prévia sobre a real existência ou

subsistência do direito a que se refere, de onde decorrerá que o juiz não pode

conhecer oficiosamente da questão da conformidade ou desconformidade entre o

título e o direito que se pretende executar. Mas, mesmo com este alcance, a afirmação

não tem valor absoluto:

a. Consideremos os títulos negociais: a desconformidade entre o título e a

obrigação exequenda pode resultar de vício formal ou substancial da

declaração de vontade ou de ciência que lhe constitui o conteúdo ou do ato

jurídico a que a declaração de ciência se reporte ou ainda de causa que afete

a ulterior subsistência da obrigação.

i. Ora, no plano da validade formal: é obvio que, quando a lei

substantiva exija certo tipo de documento para a sua constituição

ou prova, não se pode admitir execução fundada em documento

de menor valor probatório para o efeito de cumprimento de

obrigações correspondentes ao tipo de negócio ou ato em causa.

Do mesmo modo, não deve ser admitida a execução pretendida

se tiver sido convencionada pelas partes certa forma voluntária e

dado conhecimento ao tribunal desta estipulação, que não tenha

sido respeitada no ato de contração da obrigação exequenda.

ii. Paralelamente, no campo da validade substancial: devem ser conhecidas

todas as causas de nulidade do negócio ou ato que o título

formaliza ou prova, desde que sejam de conhecimento oficioso e

o juiz se possa servir dos factos de que decorrem, nos termos do

artigo 5.º CPC. Também aqui a desconformidade manifesta entre

o título e o direito que se pretende fazer valer impede a realização

dos atos executivos. Estes não deverão ter lugar se, por exemplo,

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a simulação do negócio jurídico resultar seguramente do próprio

título (o que é hipótese meramente académica), de elementos de

facto fornecidos ao tribunal pelo próprio exequente no

requerimento inicial (o que é altamente improvável) ou de prova

produzida ou admitida em embargos à execução, ainda que

deduzidos com outro fundamento, ou ainda se ela tiver sido

reconhecida por sentença proferida em ação declarativa que tenha

corrido no mesmo tribunal. A mesma orientação deve ser seguida

quanto à ocorrência de factos modificativos ou extintivos

posteriores à constituição do título. Toda a desconformidade

entre o título e a realidade substantiva pode e deve, pois, ser

conhecida pelo juiz, desde que a sua causa seja de conhecimento

oficioso e resulte do próprio título, do requerimento inicial de

execução, dos embargos de executado ou de facto notório ou

conhecido pelo juiz em virtude do exercício das suas funções. Da

articulação do artigo 726.º, n.º2, alínea c) CPC com o artigo 734.º

CPC resulta que o juiz deve indeferir liminarmente o

requerimento de execução com algum dos fundamentos referidos;

mas resulta também que, não o tendo feito, deverá rejeitar

ulteriormente a execução, extinguindo-a, quando se aperceba da

situação, ainda que em virtude de embargos de executado

deduzidos com outro fundamento ou quando o processo lhe seja

concluso, por outro motivo, até ao primeiro ato de transmissão

de bens. O que o juiz não pode é levar mais longe a sua indagação

sobre a obrigação exequenda, quer oficiosamente, quer

solicitando elementos complementares de prova ao exequente. A

obrigação exequenda tem de constar do título e a sua existência é

por ele presumida, só nos termos que se deixam referidos

podendo ser ilidida tal presunção, salvo o recurso à ação

declarativa de embargos de executado, movida com essa

finalidade. Só neste sentido julgamos poder ser afirmada a

suficiência do título para a ação executiva e a sua consequente

autonomia em face da obrigação exequenda.

3. O título e a causa de pedir: próxima da afirmação da suficiência do título executivo,

por este dispensar a indagação do direito que pressupõe, é a configuração do título

como a causa de pedir na ação executiva, de acordo com a qual a causa de pedir

deixaria, na ação executiva, de ser o facto jurídica de que resulta a pretensão do

exequente (artigo 581.º, n.º4 CPC) para passar a ser o próprio título executivo (que,

como vimos, dela constitui prova ou acertamento). Não constituindo o título

executivo um ato ou facto jurídico, esta construção não se harmoniza com o conceito

de causa de pedir. Resultaria também na impossibilidade de deduzir a exceção de

litispendência, por serem diversas as causas de pedir, quando o mesmo crédito

estivesse representado por dois títulos executivos e ambos fossem executados, cada

um em seu processo. Se assim fosse, um resultado prático semelhante ao da

litispendência poderia conseguir-se mediante a invocação do artigo 752.º, n.º1 CPC

(constituição, pela primeira penhora efetuada, de garantia real a favor do exequente

e consequente inadmissibilidade da penhora de outros bens, no outro processo,

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enquanto não se verificasse a insuficiência do bem penhorado); mas, afastada a

configuração do título executivo como causa de pedir, a exceção de litispendência,

deduzida nos termos do artigo 729.º, alínea c) CPC, impede mais radicalmente (artigo

732.º, n.º4 CPC) o prosseguimento da segunda exceção.

Consequências da falta de apresentação do título executivo: pressuposto formal

da ação executiva, o título (ou uma sua cópia) deve, em regra, acompanhar o requerimento

inicial de execução (artigo 724.º, n.º4, alínea a) CPC). Só assim não é quando o requerimento

executivo é apresentado nos autos da ação declarativa em que foi proferida a sentença

exequenda (artigo 85.º, n.º1 CPC), visto que esta conta do próprio processo, a menos que –

caso em que a regra volta a jogar – dela tenha sido interposto recurso com efeito meramente

devolutivo (a sentença é então verificada por traslado: artigo 649.º, n.º1 CPC). Como

proceder se, fora o caso excecional referido, der entrada no tribunal um requerimento

executivo desacompanhado do título (ou da sua cópia) que lhe serve de base ou

acompanhado dum título que nada tem a ver com a execução instaurada? Já foi defendido

(José Alberto dos Reis) que o juiz devia proferir despacho de indeferimento liminar. Mais

correta, porque respeitadora do princípio da economia processual, é, porém, a solução do

despacho de aperfeiçoamento, que resulta claramente do artigo 726.º, nº.2 e 4 CPC: quando

seja manifesta a falta ou insuficiência do título, tem lugar o indeferimento do requerimento

executivo pelo juiz; não o sendo, o juiz deve convidar o exequente a suprir a irregularidade,

apresentando o título em falta ou corrigindo o requerimento inicial. No caso de se pedir mais

do que o constante do título, tem lugar o indeferimento parcial (artigo 726.º, n.º3 CPC). As

soluções que acabamos de referir aplicam-se, devidamente adaptadas, aos casos em que

vimos que o juiz pode conhecer da desconformidade entre o título e a obrigação exequenda.

Já no caso de serem deduzidos vários pedidos e nem todos constarem do título, não sendo

manifesta a falta de título para os pedidos a descoberto, deve o juiz mandar aperfeiçoar a

petição, ordenando a apresentação de título do qual constem os pedidos a descoberto e, no

caso de a apresentação não ser feita, indeferir a petição inicial quanto a eles. Se o executado

for citado, em caso em que a petição devia ter sido recusada, indeferida ou mandada

aperfeiçoar, pode o executado deduzir oposição à execução (artigo 729.º, alínea a) CPC).

Uso desnecessário da ação declarativa: o facto de se dispor de título executivo não

impede que o credor legitimado proponha contra o devedor legitimado uma ação declarativa,

embora desnecessária. Admite-o implicitamente o artigo 535.º, n.º2, alínea c) CPC, ao

entender que o réu não dá causa à ação declarativa, e por isso o autor pagará as respetivas

custas, sempre que o título de que o autor dispõe tenha manifesta força executiva e não haja

necessidade do processo de declaração. Este regime afasta-se de uma das consequências que

teria a consagração geral (e não excecionada) do pressuposto do interesse processual ou

interesse em agir, servindo de argumento para quem rejeita a sua consagração no direito

constituído.

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D – Certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação

Conceito: como verificámos ao tratar da articulação entre o título e a obrigação exequenda,

a existência desta não é pressuposto da execução: presumida pelo título executivo, dela não

há necessidade de fazer prova. Vimos também dentro de que limites o juiz pode, em face do

título, julgar oficiosamente da validade formal e substancial, bem como da subsistência, da

obrigação exequenda. Ao exequente mais não compete, relativamente à existência desta

obrigação, do que exibir em tribunal o título (executivo) pelo qual ela é constituída ou

reconhecida. Vimos, por outro lado, que a ação executiva pressupõe o incumprimento da

obrigação. Ora o incumprimento não resulta do próprio título quando a prestação é, perante

este, incerta, exigível ou, em certos casos, ilíquida. Há então que a tornar certa, exigível ou

líquida, sem o que a execução não pode prosseguir (artigo 713.º CPC).

1. A certeza: é certa a obrigação cuja prestação se encontra qualitativamente

determinada (ainda que esteja por liquidar ou individualizar). Não é certa aquela em

que a determinação (ou escolha) da prestação, entre uma pluralidade, está por fazer

(artigo 400.º CC). Tal acontece nos casos de obrigação alternativa (em que o devedor

está obrigado a efetuar uma de duas ou mais prestações, segundo escolha a efetuar:

artigo 543.º. CC) e nos de obrigação genérica de espécie indeterminada (o devedor

está obrigado a prestar determinada quantidade dum género que contém duas ou

mais espécies diferentes: artigo 539.º CC). A certeza da obrigação não é requisito da

ação declarativa de condenação, em que é possível deduzir pedidos em alternativa

(artigo 553.º CPC).

2. A exigibilidade: a prestação é exigível quando a obrigação se encontra vencida ou

o seu vencimento depende, de acordo com estipulação expressa ou com a norma

geral supletiva do artigo 777.º, n.º1 CC, de simples interpelação ao devedor. Não é

exigível quando, não tendo ocorrido o vencimento, este não está dependente de mera

interpelação. É este o caso quando:

a. Tratando-se duma obrigação de prazo certo, este ainda não decorreu (artigo 779.º CC);

b. O prazo é incerto e a fixar pelo tribunal (artigo 777.º, nº.2 CC);

c. A constituição da obrigação foi sujeita a condição suspensiva, que ainda não se verificou

(artigos 270.º CC e 715.º, n.º1 CPC);

d. Em caso de sinalagma, o credor não satisfez a contraposição (artigo 428.º CC). Aqui,

a lei processual equipara a falta de realização ou oferta da prestação a

efetuar pelo exequente às situações de pura inexigibilidade (artigo 715.º,

n.º1 CPC).

O conceito de exigibilidade não se confunde com o de vencimento nem com o de

mora do devedor. A obrigação pura cujo devedor não tenha sido ainda interpelado

não está vencida e, no entanto, a prestação é exigível (artigo 777.º, n.º1 CC). Por

outro lado, pode a prestação ser exigível e a obrigação estar vencida, e, no entanto,

não haver mora do devedor: basta que tenha ocorrido mora do credor, por este não

ter aceite a prestação ou não ter realizado os atos necessários ao cumprimento (artigo

813.º CC), quer se trate de obrigação pura em que já tenha sido feita a interpelação

(ou a oferta da prestação pelo devedor), quer de obrigação a prazo em que este já

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tenha decorrido. A exigibilidade da prestação não é requisito da ação declarativa de

condenação.

4. A liquidez: no seu conceito rigoroso de Direito das Obrigações, é obrigação ilíquida

aquela que tem por objeto uma prestação cujo quantitativo não esteja ainda apurado.

A obrigação ilíquida distingue-se, assim, da obrigação genérica, que é aquela cujo

objeto é referido a um género que o contém. A obrigação genérica pode ter objeto

qualitativamente indeterminado (obrigação de espécie indeterminada) ou

determinado e, neste último caso, a concretização do objeto depende dum mero ato

de individualização das unidades que serão prestadas (para o processo de execução

para entrega de coisa certa: artigo 861.º, n.º2 CC). Normalmente, a obrigação genérica

é uma obrigação líquida, a menos que também quantitativamente o seu objeto de

apresente indeterminado. Mas o Código faz coincidir os conceitos de pedido

genérico (que nada tem a ver com a obrigação genérica) e de pedido ilíquido, isto é,

de pedido (de condenação ou de execução) respeitante a uma obrigação ilíquida,

abrangendo neste conceito o caso da universalidade. O conceito de pedido genérico

retira-se dos artigos 556.º e 557.º, n.º1 CPC. O primeiro indica casos em que, na ação

declarativa, ele é admitido e é expresso em que a subsequente concretização do

pedido genérico em prestação determinada se pode fazer mediante o incidente de

liquidação dos artigos 358.º a 360.º CPC, sempre que ele se refira a uma

universalidade ou às consequências de um facto ilícito. Mas pedido genérico é

também o respeitante a outros casos de obrigação ilíquida, de acordo com o conceito

restritivo do Direito das Obrigações, para o que aponta o artigo 557.º, n.º1 CPC.

Quando o pedido genérico não é subsequentemente liquidado na pendência do

processo declarativo, bem como quando o pedido se apresenta determinado, mas os

factos constitutivos da liquidação não foram provados, o tribunal condena no que

vier a ser liquidado, sem prejuízo de condenação imediata na parte que já seja líquida

(artigo 609.º, n.º2 CPC. Esta redação do artigo 609.º, n.º2 CPC proveio da reforma

da ação executiva. É que a liquidação da obrigação tem, desde a reforma, sempre

lugar na ação declarativa que decorra nos tribunais judiciais (artigo 704.º, n.º6 CPC),

renovando-se, para o efeito, a instância quando o pedido de liquidação tenha lugar

depois do trânsito em julgado da sentença (artigo 358.º, n.º2 CPC). Excetuam-se os

casos em que a liquidação dependa de simples cálculo aritmético. O artigo 716.º CPC

trata da liquidação da obrigação na ação executiva, aplicando-se a todos os casos em

que a obrigação exequenda (constante de título diverso da sentença judicial ou de

sentença que condene no cumprimento de obrigação para cuja liquidação baste o

cálculo aritmético) se apresente ilíquida em face do título executivo. O n.º1 refere-se

à obrigação pecuniária ilíquida e o n.º7 à obrigação de entrega de uma universalidade.

Neste último caso, bem como quando a liquidação da obrigação não dependa de

simples cálculo aritmético, pode ter lugar um incidente de liquidação na ação

executiva.

Regime: certeza e exigibilidade

1. Obrigações alternativas: nas obrigações alternativas, a escolha ou determinação da

prestação a efetuar, entre a pluralidade de prestação que constitui o seu objeto, pode

incumbir ao credor, ao devedor ou a terceiro (artigo 543.º, n.º2 e 549.º CC).

a. Se a escolha pertencer ao credor: e este não a ti ver ainda feito, fá-la-á no

requerimento inicial da execução (artigo 724.º, n.º1, alínea h) CPC). Assim,

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quando este der entrada no tribunal (primeiro ato do processo executivo), a

obrigação é já certa);

b. Se a escolha pertencer ao devedor: é este notificado (ao mesmo tempo que

é citado) para, no prazo da oposição à execução, se outro não tiver sido fixado

pelas partes, declarar por qual das prestações opta (artigo 714.º, n.º1 CPC);

na falta de escolha pelo devedor, escolhe o credor (artigo 714.º, n.º3 CPC).

Esta norma, que vem da reforma da ação executiva, é fruto duma evolução

de regimes que foi controvertida. De acordo com ela:

i. Se o prazo de escolha estiver fixado no título executivo, basta, sem prejuízo de o

credor poder preferir a notificação judicial avulsa do devedor (artigo 256.º CPC),

que este seja convidado, no ato da citação, a escolher a prestação;

ii. Se o prazo de escolha não estiver fixado, o devedor tem o ónus de escolher no prazo

de 20 dias do arrigo 728.º, n.º1 CPC (em conformidade com o que dispõe,

desde a reforma da ação executiva, o artigo 548.º CC);

iii. Se o executado não escolher, é notificado o exequente para o fazer;

iv. Sendo vários os devedores e não sendo possível formar maioria quanto à escolha,

cabe esta ao exequente (artigo 714.º, n.º3 CPC);

v. Escolhida a prestação, seguem-se os termos da execução que lhe corresponda.

E se o prazo, previamente fixado, se mostrar há muito excedido? Ou se, não tendo

sido expressamente fixado prazo algum para a escolha, a obrigação for a prazo e este

já tiver decorrido? Embora qualquer das questões apresente dificuldades, inclino-me

para pensar que:

a. No primeiro caso: o direito de escolha ter-se-á por automaticamente

devolvido ao exequente;

b. No segundo caso: depende da interpretação do contrato saber se o prazo

da escolha coincide com o previsto para o cumprimento ou se, uma vez este

decorrido, deve ter lugar a notificação do devedor para que escolha (caso em

que só depois poderá ocorrer o vencimento da obrigação).

Se a escolha couber a terceiro e este não tiver efetuado, há lugar, na fase liminar do

processo executivo, à sua notificação para o efeito (artigo 714.º, n.º2 CPC) e, se não

escolher, passa o exequente a fazê-lo (artigo 714.º, n.º3 CPC). A remissão para o

artigo 714.º, n.º1 CPC («nos termos do número anterior»), implica, tomada à letra, que, não

estando o prazo da escolha determinado, o terceiro a deva fazer até ao termo do

prazo para a oposição do executado. A solução é absurda:

a. Por um lado, o terceiro tem de controlar um prazo que conta a partir

da citação de outrem;

b. Por outro lado, o devedor pode não saber, ao opor-se, qual a prestação

escolhida, designadamente quando o terceiro não escolha e deva ser

por isso o credor a fazê-lo, de acordo com o artigo 714.º, n.º3 CPC.

Uma interpretação restritiva da remissão legal impõe-se, porquanto o artigo 713.º

CPC impõe que a determinação seja feita na fase liminar da execução, anterior à

oposição do executado. Mas grave é a reversão para o exequente da faculdade de

escolher. Com ela pode perigar o equilíbrio negocial das prestações, tal como as

partes o estabeleceram. O desfasamento com o regime de Direito substantivo não

tem explicação aceitável. Se a escolha tiver sido feita antes do processo de execução,

seja pelo devedor, por terceiro ou pelo tribunal, cabe ao exequente, ao propor a ação

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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017

Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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executiva, fazer nela prova de que foi efetuada, por aplicação analógica do artigo

715.º, n.º1 a 4 CPC.

2. Obrigações genéricas: vimos que só são incertas quando, no género em que se

recorta o seu objeto, há uma pluralidade de espécies, podendo a quantidade que o

devedor está obrigado a prestar ser de uma ou outra dessas espécies. Aplica-se a todo

o regime descrito para as obrigações alternativas, sendo certo que esta figura é um

misto de obrigação genérica e alternativa.

3. Obrigações a prazo: se a obrigação tiver prazo certo, só decorrido entre a execução

é possível, pois até ao dia do vencimento a prestação é inexigível. Fica então o

devedor imediatamente constituído em mora (artigo 805.º, n.º2, alínea a) CC), a

menor que o credor não tenha realizado os atos de cobrança da prestação que

porventura lhe incumbissem, como acontece, com especial relevância (dada a regra

do artigo 772.º CC), nos casos em que a prestação deva ser efetuada no domicílio do

devedor. Esta situação de mora do credor não impede a propositura da ação

executiva, como resulta do artigo 610.º, n.º2, alínea b) CPC, conjugado com o artigo

551.º, n.º1 CPC, bem como do Direito substantivo. O preceito do artigo 610.º, n.º2,

alínea b) CPC só é diretamente aplicável aos casos de obrigação pura em que não

tenha sido feita interpelação ou esta tenha tido lugar fora do local do cumprimento.

Mas é aplicável, por analogia, ao caso de obrigação a prazo em que o credor deva

proceder à cobrança no domicílio do devedor, mas não a mora do devedor.

Adaptando o preceito a esta situação, temos que a dívida está vencida no momento

da propositura da ação, mas a mora do devedor só tem lugar a partir da citação. A

responsabilidade pelas custas incumbe, porém, neste caso, ao autor (artigo 535.º, n.º2,

alíneas b) CPC). Se ele a quiser evitar, deve proceder previamente ao ato de cobrança,

provado que, por sua parte, o efetuou, nos termos do artigo 715.º, n.º1 a 4 CPC.

Note-se, por último, que o artigo 610.º, n.º2, alínea b) CPC não utiliza o termo

inexigibilidade no sentido técnico do termo, mas como sinónimo de não vencimento.

No caso de obrigação com vencimento dependente de prazo a fixar pelo tribunal,

tem o credor, na fase liminar da ação executiva, de promover a fixação judicial do

prazo, nos termos aplicáveis dos artigos 1026.º e 1027.º CPC (artigo 874.º CPC, no

domínio da obrigação para prestação de facto). Pelo artigo 713.º CPC, trata-se,

também neste caso, de transição que precede a determinação do tipo de ação

executiva. Controvertida é a questão da licitude do pactum de non exequendo ad tempas,

pelo qual credor e devedor acordam em que a obrigação, já vencida, não será sujeita

a execução durante determinado prazo. Contra a sua admissibilidade diz-se que

representa uma renúncia (embora parcial) ao direito de ação, que é irrenunciável. Mas

a favor dela argumenta-se que, no campo do direito disponível, não há razão para

que o credor, que pode remitir a obrigação, não se possa vincular a retardar a sua

execução. Enquanto configurado como modalidade do pactum de non petendo, o pactum

de non exequendo é, como este, ilícito; mas, se for entendido como estipulação de novo

prazo de cumprimento da obrigação, não se vê razão que obste à sua validade. É pura

questão de interpretação da vontade das partes. Quando o pacto é válido, a obrigação

fica, após a sua celebração, sujeita ao regime das obrigações a prazo.

4. Obrigações puras: o vencimento depende, neste tipo de obrigações, do ato de

interpelação, intimação dirigida pelo credor ao devedor para que lhe pague. Tratando-

se de prestações exigíveis a todo o tempo, a citação equivale a interpelação, se esta

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José Lebre de Freitas | 大像城堡

Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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não tiver tido lugar anteriormente (artigos 610.º, n.º2, alínea b) e 551.º, n.º1 CPC).

Quer a interpelação não tenha sido efetuada, quer ela tenha sido feita mas não

acompanhada (nem seguida) dos atos que ao credor incumbia realizar, a ação

executiva pode ter lugar, embora com a consequência de o autor pagar as custas. Se

a interpelação tiver sido devidamente realizada, ao credor exequente competirá

prova-lo, nos termos do artigo 715.º CPC, para evitar a sua condenação em custas.

5. Obrigações sob condição suspensiva: a prestação de obrigação sob condição

suspensiva só é exigível depois de a condição se verificar, pois até lá todos os efeitos

do respetivo negócio constitutivo ficam suspensos (artigo 270.º CC). Daí que o artigo

715.º, n.º1 a 4 CPC, exija ao credor exequente a prova da verificação da condição,

sem o que a execução não é admissível. Claro que no caso de condição resolutiva o

problema não se põe: a obrigação produz todos os seus efeitos em face do título

executivo e ao executado caberá, em oposição à execução, provar que a condição

ulteriormente se verificou, extinguindo ex tunc a obrigação (artigo 729.º, n.º1, alínea

g) CPC).

6. Obrigações sinalagmáticas: estando o credor obrigado para com o devedor a uma

contraprestação a efetuar simultaneamente, para o que basta não terem sido

estipulados diferentes prazos de cumprimento (artigo 428.º CC), incumbe-lhe,

independentemente da invocação, pelo devedor, da exceção de não cumprimento,

provar que a efetuou ou ofereceu (artigo 715.º, n.º1 a 4 CPC), sob pena de não poder

promover a execução. Embora não se trate de caso de inexigibilidade, é-lhe dado, no

plano dos pressupostos da execução, tratamento semelhante ao dos casos de

prestação inexigível. Como, por sua vez, também o exequente podia invocar a seu

favor a exceção de não cumprimento do contrato, basta-lhe provar que ofereceu a

sua prestação contra a exigência da que lhe é devida. O mesmo regime, devidamente

adaptado, se aplica ao caso de o credor (exequente) dever cumprir a sua prestação

antes da do seu devedor.

7. Prova complementar do título: da exposição feita deriva que a certeza e a

exigibilidade da obrigação exequenda têm de se verificar antes de serem ordenadas

as providências executivas, pelo que, quando não resultem do próprio título nem de

diligências anteriores à propositura da ação executiva, se abre uma fase liminar do

processo executivo que visa tornar certa ou exigível a obrigação que ainda não o seja,

sem prejuízo de ter lugar no próprio requerimento de execução a atuação, a

desenvolver para o efeito, que dependa pura e simplesmente da vontade do credor,

bem como a solicitação, por ele, da atuação do tribunal, do devedor ou de terceiro

que para o mesmo efeito seja necessária (fixação de prazo; escolha da prestação). Mas,

quando a certeza e a exigibilidade, não resultando do título, tiverem resultado de

diligências anteriores à propositura da ação executiva, há que provar no processo

executivo que tal aconteceu. Trata-se agora duma atividade, também liminar, de

prova, a ter lugar, como a anterior, no início do processo. A esta atividade de prova

(prova complementar do título) se refere o artigo 715.º CPC, nos seus n.º1 a 4, os

quais têm alcance geral, pelo que se aplicam, para além dos casos neles expressamente

previstos (obrigação dependende de condição suspensiva ou duma prestação por

parte do credor ou de terceiro), a todos aqueles em que a certeza e a exigibilidade não

resultam do título executivo, mas já se verificavam antes da propositura da ação

executiva, assim como ainda àqueles em que, sendo a prestação exigível em face do

título, o credor queira provar que ocorreu o vencimento e a mora do devedor, para

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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017

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evitar a sua condenação em custas. Nas execuções com processo sumáario, em que

não há lugar a despacho liminar (artigo 855.º, n.º1 CPC), a certeza e a exigibilidade

da obrigação exequenda são verificadas pelo agente de execução, sem intervenção do

juiz:

a. Em face do título executivo, se à data esses requisitos já se verificavam

ou se a exigibilidade resultar do simples decurso dum prazo certo nele

estipulado;

b. Perante documento, apresentado no processo, que prove a ocorrência,

posterior à formação do título, do facto constitutivo da certeza ou

exigibilidade.

Tendo, porém, o agente de execução dúvida quanto à verificação desses pressupostos,

cabe-lhe suscitar a intervenção do juiz, que decidirá (artigo 855.º, n.º2, alínea b) CPC).

Nas execuções com processo ordinário, em que há despacho liminar (artigo 726.º,

n.º1 CPC), cabe ao juiz verificar se a obrigação exequenda é certa e exigível, em face

do título executivo e da prova documental complementar. Sendo necessária a

produção de prova (extradocumental) para a verificação da certeza ou exigibilidade

da obrigação, o exequente oferece-a no requerimento executivo (artigo 724.º, n.º1,

alínea h) CPC), seguindo-se sempre despacho liminar (artigo 715.º, n.º3 CPC). Não

ocorrendo causa de indeferimento ou aperfeiçoamento (artigo 726.º, n.º2, alínea b) e

4 CPC), o juiz, a menos que entenda necessária a audição do executado, designa dia

para a produção de prova, a qual é sumariamente feita, em termos semelhantes aos

estatuídos pelo artigo 345.º CPC para a fase liminar dos embargos de terceiro, após

o que, se o juiz entender provada a certeza e a exigibilidade, o processo prossegue

(com ou sem citação prévia do executado, conforme o caso). Tem caráter de exceção

a audição do devedor: inculca-o a redação do artigo 715.º, n.º3 CPC («a menos que…»)

e justifica-o a evolução legislativa no sentido de proporcionar a realização da penhora

antes da citação e da oposição. Entendendo, porém, o juiz que essa audição é

necessária, o devedor é logo citado para pagar ou opor-se à execução (artigo 715.º,

n.º4 CPC), com a advertência de que, não contestando os factos, alegados no

requerimento executivo, constitutivos da certeza ou exigibilidade da obrigação, eles

se terão por assentes, sem prejuízo das exceções vigentes no processo comum de

declaração (artigo 568.º CPC). A contestação do executado só pode ter lugar na

oposição à execução, mediante invocação do fundamento consistente na incerteza

ou inexigibilidade da obrigação exequenda (artigo 729.º, alínea e) CPC). Continua,

porém, o exequente a ter o ónus da prova dos factos de que depende a exigibilidade

e a certeza da obrigação exequenda (verificação da condição; efetivação ou oferta da

contraprestação ou da prestação devida por terceiro; escolha extrajudicial da

obrigação) ou o seu vencimento (interpelação extrajudicial; cobrança frustrada no

domicílio do devedor).

8. Consequências da falta de certeza ou exigibilidade: proposta execução baseada

em título de que resulte a incerteza da obrigação ou a inexigibilidade da prestação,

não sendo imediatamente oferecida e efetuada prova complementar do título nem

requeridas as diligências destinadas a tornar a obrigação certa ou a prestação exigível,

foi discutido, na vigência do Direito anterior à revisão do CPC 1961, se o juiz devia

proferir despacho de indeferimento liminar ou despacho de aperfeiçoamento.

Constitui orientação fundamental do Código a de proporcionar o aproveitamento

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José Lebre de Freitas | 大像城堡

Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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das ações, mediante o suprimento da falta de pressupostos processuais, bem como a

correção de irregularidades formais, suscetíveis de sanação (artigos 6.º, n.º2 e 590.º,

n.º2 CPC). Por isso, a orientação que já anteriormente à revisão preconizava a solução

do aperfeiçoamento no caso que nos ocupa é, depois dela, indiscutível (atual artigo

726.º, n.º4 CPC) e só no caso de o requerente não aperfeiçoar a petição é que se

seguirá, tal como no de falta de apresentação do título executivo, o indeferimento do

requerimento executivo (artigo 726.º, n.º5 CPC). A apreciação judicial tem lugar no

despacho liminar, sem prejuízo de, não tendo, poder ainda vir a ser feita até à primeira

transmissão de bens penhorados (artigo 734.º, n.º1 CPC). Ao executado, se a

execução prosseguir sem que a falta do pressuposto seja sanada, fica sempre salva a

possibilidade de se opor à execução (artigo 729.º, alínea e) CPC).

Regime: a liquidez

1. Os meios de liquidação: como já foi dito, a liquidação (conversão da obrigação em

líquida) tem também lugar em fase liminar do processo executivo, quando não deva

fazer-se no processo declarativo. A lei processual distingue entre a liquidação que

depende de simples cálculo aritmético e a que dele não dependa, referindo-se ainda

à liquidação por árbitros e à liquidação da obrigação de entrega duma universalidade

(artigo 716.º, n.º4 a 7 CPC).

2. Liquidação por simples cálculo aritmético: quando a liquidação dependa de

simples cálculo aritmético, o exequente deve fixar o seu quantitativo no requerimento

inicial da execução, mediante especificação e cálculo dos respetivos valores (artigo

716.º, n.º1 CPC). Dá lugar a este meio de liquidação, por exemplo, a obrigação de

pagamento dum preço e determinar de acordo com a cotação (duma moeda, ação ou

mercadoria) verificada em determinado dia, a de pagamento de uma indemnização

em montante a ratear por vários credores conjuntos na proporção dos respetivos

direitos, ou ainda a de pagamento de juros, cujo montante dependerá do período de

tempo durante o qual se vençam. Quanto a esta última, deve ser deduzido um pedido

ilíquido quando os juros continuem a vencer-se na pendência do processo executivo,

sendo liquidados no requerimento inicial os já vencidos (de acordo com a regra geral)

e liquidados a final, pelo agente de execução, os vincendos (artigo 716.º, n.º2 CPC).

A liquidação pelo agente de execução tem também lugar no caso de sanção pecuniária

compulsória:

a. Executando-se obrigação pecuniária: a liquidação não depende de

requerimento do executado, devendo ser feita a final (artigo 716.º, n.º3 CPC);

b. Executando-se obrigação de prestação de facto infungível: o exequente

tem de a requerer, quer já tenha sido fixada na sentença declarativa, quer se

pretenda que seja pelo juiz da execução (artigos 868.º n.º1, 874.º, n.º1 e 876.º,

n.º1, alínea c) CPC).

Estes são os únicos casos de pedido ilíquido (ou genérico, na terminologia do artigo

556.º CPC) admitidos na execução para pagamento de quantia certa. Não se segue

qualquer procedimento especial. Pode, porém, o agente de execução, não havendo

lugar a despacho liminar, suscitar a intervenção do juiz, nos termos do artigo 855.º,

n.º2, alínea b) CPC. Pode o executado, que discorde da liquidação feita pelo

exequente, opor-se à execução, quando para ela citado, com fundamento no artigo

729.º, alínea e) CPC (iliquidez da obrigação, tal como ela é definida pelo exequente

ao deduzir a liquidação). Pode ainda do ato do agente de execução, que liquide os

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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017

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juros vencidos na pendência da execução, reclamar-se para o juiz, nos termos do

artigo 723.º, n.º1, alínea c) CPC, sem prejuízo de o agente encarregado de os contar

poder suscitar previamente perante ele a resolução de alguma dúvida que tenha

(artigo 723.º, n.º1, alínea d) CPC).

3. Liquidação não dependente de simples cálculo aritmético: não dependendo a

liquidação de simples cálculo aritmético, o exequente, no próprio requerimento

inicial da execução, especificará os valores que considera compreendidos na

prestação devida e concluirá por um pedido líquido (artigo 716.º, n.º1 CPC). O

executado era, antes da reforma, citado para contestar a liquidação e só depois de

esta julgada era notificado para pagar ou nomear bens à penhora. A contestação era

feita:

a. Em articulado próprio, seguindo-se os termos do processo sumário de

declaração;

b. Quando o executado se opusesse à execução, na petição de embargos,

que assumia assim o duplo papel de contestação no incidente e de

petição da ação de oposição, na qual se conhecia a matéria dos

embargos e a da liquidação.

Desde o Decreto-Lei n.º 38/2003, procede-se logo à citação do executado, que é feita

com a advertência de que, na falta de contestação, a obrigação se considera fixada

nos termos do requerimento executivo; a impugnação da liquidação só pode ter lugar,

tal como a contestação da certeza ou exigibilidade da obrigação, em oposição à

execução (artigo 716.º, n.º4 CPC). Apresentada a contestação, seguem-se, por apenso

(artigo 732.º, n.º1 CPC), os termos subsequentes do processo comum de declaração

(artigo 360.º, n.º3 CPC por remissão dos artigos 716.º, n.º4 e 732.º, n.º2 CPC); mas,

quando o executado não conteste nem se oponha e a revelia seja inoperante, já os

termos subsequentes do processo sumário têm lugar nos autos do processo executivo,

como incidente deste. Não se verificando nenhum dos casos do artigo 568.º CPC, a

obrigação considera-se liquidada nos termos constantes do requerimento inicial, o

que caracteriza um efeito cominatório pleno. Quando a prova produzida pelos

litigantes seja insuficiente para fixar a quantia devida, deve o juiz completá-la

oficiosamente, nos termos gerais do artigo 411.º CPC, ordenando designadamente a

produção de prova pericial, nos termos do artigo 478.º CPC (artigo 360.º, n.º4 CPC).

Como último recurso, estando em causa o montante duma indemnização, o juiz

julgará segundo a equidade, nos termos do artigo 566.º, n.º3 CC.

4. Liquidação por árbitros: em conformidade com o artigo 716.º, n.º6 CPC, quando

uma lei especial determine ou as partes estipulado que a liquidação se faça por

árbitros, a arbitragem tem lugar extrajudicialmente, sem prejuízo de ao juiz presidente

do tribunal de execução caber a nomeação do terceiro árbitro (se os dois primeiros

não o designarem) ou do segundo (no caso de o requerido não o designar), nos

termos dos artigos 10.º, n.º4 e 59.º, n.º1, alínea a) ambos LAV. Só assim não será

quando se trate de liquidar obrigação constante de sentença judicial, caso em que se

aplica diretamente o artigo 361.º CPC, ou de liquidar a obrigação constante de título

de crédito, cuja exequibilidade não admite iliquidez que não dependa de mera cálculo

aritmético. Constituindo a arbitragem o exercício da função jurisdicional, como

decorre do artigo 209.º, n.º2 CRP, o princípio do contraditório, aplicável à arbitragem

voluntária (artigo 30.º, n.º1, alínea c) LAV), assim como à arbitragem necessária

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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(artigo 1085.º CPC), impõe que as partes possam expor as suas razões de facto de de

Direito antes da decisão dos árbitros. Designadamente, o executado pode querer pôr

em causa, mediante contestação da liquidação, a própria imposição da arbitragem e,

baseando-se esta em estipulação das partes, necessitar de provar, por exemplo, que

o compromisso não existiu ou caducou. Por outro lado, ao devedor há de ser dada a

possibilidade de impugnar os valores alegados. Não basta, por isso, que o exequente

requeira a arbitragem e nomeie o seu árbitro, sem necessidade de especificar, nos

termos aplicáveis do artigo 716.º, n.º1 CPC, os valores que considera compreendidos

na prestação devida. A remissão do artigo 361.º, n.º1 CPC (para o qual, por sua vez,

remete o artigo 716.º, n.º6 CPC) para o artigo 358.º, n.º2 CPC, que trata da dedução

do incidente de liquidação, com sujeição às normas gerais do artigo 293.º CPC,

aponta para a necessidade dessa especificação na petição inicial da arbitragem (artigo

33.º, n.º3 LAV), seguida de contraditório – isto não obstante a simplicidade de que

normalmente se reveste a liquidação da obrigação exequenda constituída ou

reconhecida em título extrajudicial. A liquidação considera-se feita:

a. Em conformidade com o laudo dos dois árbitros nomeados pelas

partes, no caso de acordo entre eles (artigo 361.º, n.º3 CPC);

b. Em conformidade com o laudo do árbitro nomeado pelo tribunal, se

se verificar divergência, único caso em que esse árbitro intervém, não

para desempenhar, mas com autonomia relativamente aos laudos dos

dois outros (artigo 361.º, n.º3 e 4 CPC).

As restantes normas processuais a aplicar na arbitragem determinam-se de acordo

com a lei geral (artigo 30.º, n.º2 e 3 LAV).

5. Pedido de entrega de universalidade: quando o exequente pede, de acordo com

o título executivo, que lhe seja entregue uma universalidade, constituiria

desnecessária complicação do acesso à justiça negar a possibilidade de dedução

genérica do pedido, na ação executiva, quando ao exequente não seja possível fazê-

lo no requerimento inicial, por a universalidade se achar na posse do executado e não

ter meios para a ela aceder. Neste caso, devidamente justificado, o pedido ilíquido é

admitido, procedendo-se à liquidação em incidente imediatamente posterior à

apreensão dos bens e anterior à sua entrega ao exequente (artigo 716.º, n.º7 CPC).

6. Formação de caso julgado: a decisão de mérito favorável proferida no incidente

de liquidação tem como efeito quantificar ou especificar o objeto da obrigação

constante (normalmente) do documento autêntico, completando o título mediante o

acertamento dum aspeto do seu objeto que nele está por acertar e ao qual se

circunscreve o juízo declarativo. Não se trata propriamente de delimitar o objeto da

obrigação exequenda, mas sim o de determinado título executivo. Consequentemente,

a sentença de liquidação da obrigação exequenda constitui caso julgado que obsta a

que, em nova execução fundada no mesmo título, se volte a discutir a liquidação da

mesma obrigação; mas não poderá impedir que tenha lugar um novo incidente de

liquidação da mesma obrigação em execução fundada noutro título; nem é invocável

como caso julgado numa ação declarativa autónoma (inclusive de restituição do

indevido). Quando, sendo o título executivo uma sentença (de condenação no que

se vier a liquidar), a liquidação tem lugar na instância declarativa, a sentença de

liquidação que a complementa fica a integrar o âmbito objetivo do caso julgado por

ela formado.

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7. Consequências da iliquidez da obrigação: se não for a liquidação de obrigação

ilíquida, deve o juiz nos mesmos termos e condições em que nos casos de incerteza

ou inexigibilidade, proferir despacho de aperfeiçoamento e só no caso de a petição

não ser consequentemente aperfeiçoada vir a indeferi-la, podendo, se não o fizer,

haver oposição à execução (artigo 729.º, alínea e) CPC).

E – Competência do Tribunal

Competência em razão da matéria: tal como na ação declarativa, a competência dos

tribunais judiciais para a ação executiva determina-se por um duplo critério:

1. Um critério de atribuição positiva: cabem na competência dos tribunais judiciais

todas as ações executivas baseadas na não realização duma prestação devida segundo

as normas de Direito Privado;

2. Um critério de competência residual: os tribunais judiciais são também

competência atribuída para as ações executivas que não caibam no âmbito da

competência para as ações executivas que não caibam no âmbito da competência

atribuída aos tribunais de outra ordem jurisdicional (artigos 40.º, n.º1 LOSJ e 64.º

CPC). Mais ampla do que em processo declarativo, esta competência residual

verifica-se quanto à execução de sentenças proferidas por tribunais carecidos de

competência executiva.

No sistema da LOSJ, os tribunais de comarca desdobram-se em:

1. Instâncias centrais: integradas por secções de competência especializada;

2. Instâncias locais: nas quais sobressaem as secções de competência genérica (artigos

80.º, n.º2 e 81.º, n.º1 LOSJ).

Entre as secções de competência especializada estão as secções cíveis e as secções de

execução (artigo 81.º, n.º2 LOSJ). As secções de competência genérica das instâncias locais

podem desdobrar-se, daí resultando secções cíveis (artigo 81.º, n.º3 e 130.º, n.º2 LOSJ).

Quando haja secção especializada de execução, esta tem competência exclusiva (artigo 129.º,

n.º1 LOSJ), inclusivamente para a execução das decisões proferidas pela secção cível da

instância central (artigo 129.º, n.º3 LOSJ). Quando não haja secção especializada de execução,

a secção especializada cível da instância central tem competência para as ações executivas de

valor superior a 50 000€ (artigo 117.º, n.º1, alínea b) LOSJ) e a secção de competência

genérica da instância local tem-na para as execuções de valor igual ou inferior a 50 000€

(artigo 130.º, n.º1, alínea d) LOSJ). Dentro dos tribunais judiciais, a competência do tribunal

de competência genérica ou da secção especializada de execução cede quando é atribuída a

outro tribunal ou secção de competência especializada competência para a execução das

decisões (sentenças ou meros despachos) por ele proferidas. Carecem de competência

executiva os tribunais arbitrais, que não são dotados de ius imperii.

Competência em razão da hierarquia: apenas os tribunais de 1.ª instância têm

competência executiva (artigos 85.º e 86.º CPC). Esta abrange, designadamente, a

competência para a execução de decisão proferida em ação proposta na Relação ou no

Supremo, em algum dos casos especiais (indemnização contra magistrados; revisão de

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sentenças estrangeiras) em que, no âmbito da ação declarativa, o tribunal superior funciona

como 1.ª instância. Não havendo nunca lugar a atos executivos em tribunal superior, os

tribunais da relação e o Supremo limitam-se, no que concerne às decisões proferidas no

decurso da ação executiva, a decidir, nos mesmos termos que na ação declarativa, os recursos

para eles interpostos e os conflitos de jurisdição e de competência.

Competência em razão do valor: as normas de competência em razão do valor

estabelecem quais as execuções que competem às secções cíveis das instâncias centrais e

quais as que competem às secções de competência genérica das instâncias locais, quando não

haja na instância central secção especializada de execução.

Competência em razão do território:

1. Tipologia: sem prejuízo da aplicação subsidiária das disposições reguladoras do

processo declarativo (artigos 70.º a 84.º CPC), a competência para a ação executiva

em razão do território é estabelecida nos artigos 85.º a 90.º CPC, bem como, em caso

de cumulação de pedidos, nos artigos 709.º, n.º2 a 4 e 56.º, n.º3 CPC. Tratamos agora

das normas gerais constantes dos primeiros. Há que distinguir entre a execução

baseada em:

a. Decisão do tribunal judicial: baseando-se a execução em sentença

condenatória proferida por tribunal judicial (português), há ainda que

distinguir os casos em que a ação declarativa tenha sida proposta num

tribunal de 1.ª instância e aqueles em que tenha funcionado como 1.ª instância

um tribunal superior. No caso de a ação em que foi proferida a decisão

exequenda ter sido proposta num tribunal de 1.ª instância, é competente para

a execução o tribunal da comarca em que a causa foi julgada em 1.ª instância

(artigo 85.º, n.º1 e 2 CPC), ainda que a sentença proferida tenha sido revogada

em recurso e por isso se execute a decisão proferida, em sua substituição, por

um tribunal superior. No caso de a ação em que foi proferida a decisão

exequenda ter sido proposta na Relação ou no Supremo, a execução

promovida no tribunal de 1.ª instância do domicílio do executado (artigo 89.º,

n.º1 CPC) ou, se este não tiver domicílio em Portugal, mas aqui tiver bens,

no da situação desses bens (artigo 89.º, n.º3 CPC).

b. Decisão do tribunal arbitral: para a execução das sentenças proferidas por

árbitros (em arbitragem que tenha tido lugar em Portugal) é competente o

tribunal do lugar da arbitragem (artigo 85.º, n.º3 CPC, para o qual remete o

artigo 59.º, n.º9 LAV). Esta norma aplica-se mesmo quando o objeto do

processo tenha conexão com ordens jurídicas estrangeiras.

c. Outros títulos: baseando-se a execução em título que não seja decisão dum

tribunal judicial ou dum tribunal arbitral, há que distinguir:

i. Se a execução for para entrega de coisa certa ou dívida com garantia real: é

competente o tribunal do lugar em que a coisa se encontre ou situe

(artigo 89.º, n.º2 CPC);

ii. Nos restantes casos (execução por dívida pecuniária ou de prestação de facto, sem

garantia real): é competente o tribunal do lugar do domicílio do

executado ou, em alternativa, tratando-se de ação movida contra

pessoa coletiva ou em que exequente e executado tenham domicílio

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na área metropolitana de Lisboa ou do Porto, o tribunal do lugar

onde a obrigação devia ser cumprida (artigo 89.º, n.º1 CPC).

Estas normas aplicam-se, nomeadamente, no caso de a execução se fundar

em título executivo extrajudicial ou em sentença condenatória proferida por

tribunal não integrado na ordem dos tribunais judiciais. O artigo 89.º, n.º4

CPC contém uma norma residual: sendo o tribunal português

internacionalmente competente por os bens a executar se situarem no

território nacional, mas não se verificando com o território português

nenhuma das conexões relevantes para a determinação da competência

territorial, é competente o tribunal em cuja circunscrição se situem os bens a

executar.

2. Sentenças estrangeiras: foi controvertida a competência para a execução de

sentença estrangeira (proferida por tribunal estrangeiro ou por árbitro no estrangeiro)

revista e confirmada pela Relação. No CPC 1939 era expressa a sua sujeição ao regime

geral, então no artigo 94.º. O CPC 1961 deixou de o dizer, determinando apenas, no

então artigo 95.º, que a execução fundada em sentença estrangeira corresse por

apenso ao processo de revisão; mas a doutrina continuou prevalentemente orientada

no mesmo sentido, em conformidade com a ideia de que a sentença que se executa

é a proferida pelo tribunal estrangeiro, que da Relação portuguesa recebe uma mera

confirmação, não aplicando ao caso o regime de competência para as execuções

fundadas em sentença proferida por tribunal português, mas sim o regime geral. A

letra dos artigos 90.º, n.º1 e 95.º CPC 1961 e a colocação sistemática deste último

depois do artigo 94.º, por sua vez situado após as normas relativas à execução das

sentenças dos tribunais comuns e dos tribunais arbitrais, inclinavam para a posição

referida; mas também da diferente redação do artigo 91.º, n.º1 CPC era possível

pretender retirar a conclusão inversa, que melhor se conformava com a natureza da

decisão confirmatória da sentença estrangeira. É que, enquanto não é confirmada, a

sentença estrangeira não tem eficácia em Portugal, carecendo designadamente de

exequibilidade. Esta advém da confirmação. Passa-se com a confirmação da sentença

estrangeira, no que à exequibilidade se refere algo semelhante ao que se dá com a

sentença homologatória do negócio de autocomposição do litígio, à qual se devem

os efeitos de produção de caso julgado e de constituição de título executivo. Sendo

assim, a execução funda-se na sentença de confirmação e não na sentença confirmada,

o que levava a entender que era competente o tribunal da comarca do domicílio do

executado e só na falta dele o da situação dos bens penhoráveis. Isto mesmo passou

o artigo 95.º CPC 1961 a determinar expressamente após a reforma da ação executiva,

aliás, não apenas para os casos em que a sentença estrangeira careça de confirmação,

mas também naqueles em que, como acontece no âmbito do Regulamento de

Bruxelas I e da Convenção de Lugano, não há lugar a revisão. A norma passou, tal

qual, para o artigo 90.º do atual Código. Note-se que também a competência para a

ação de revisão se determina, prima facie, pelo local de domicílio do requerido (artigo

979.º CPC), observando-se, na falta deste, os critérios do artigo 80.º, n.º2 e 3 CPC.

Por sua vez, a LAV de 2011 atribui também ao tribunal da relação do distrito em que

se situe o domicílio do executado a competência para o reconhecimento da sentença

arbitral estrangeira (artigo 59.º, n.º1 LAV), mas, tal como aliás o Regulamento

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Bruxelas I e a Convenção de Lugano, deixa incólumes as normas da lei de processo

determinativas da competência para a execução (artigo 59.º n.º9 CPC).

Competência internacional:

1. A lei portuguesa: fora do âmbito de aplicação do Direito Convencional, a doutrina

tradicional, confrontada com a inserção das normas de competência internacional na

Parte Geral do Código e com a ausência de qualquer outra norma que explicitamente

as afastasse no âmbito da ação executiva, procedia à sua aplicação direta a esta ação,

utilizando assim os mesmos critérios para definir a competência internacional dos

tribunais portugueses na ação declarativa e na ação executiva. Mas houve quem

defendesse a inaplicabilidade dessas normas à ação executiva, com a consequência de

os tribunais portugueses terem para ela competência internacional sempre que a

execução deva correr sobre bens sitos em Portugal, e só neste caso, ou de só terem

competência para se ocuparem daquelas execuções para as quais resultam já

competentes por aplicação das normas de competência territorial. Estas teses,

criticáveis no plano do Direito então constituído, tiveram o mérito de, no plano do

Direito a constituir, chamarem a atenção para a conveniência de atender na ação

executiva a elementos de conexão distintos dos utilizados na ação declarativa, dada a

especificidade funcional da primeira quando se dirige à realização coativa do direito

a uma prestação. A esta mesma especificidade atendeu a reforma da ação executiva,

ao introduzir a norma hoje constante, com restrição aos bens imóveis, da alínea d)

do artigo 63.º CPC. Em consequência, sempre que se pretenda penhorar coisa

imóveis existente, à data da propositura da execução, em território português, a regra

de competência exclusiva leva a que a execução deva ser proposta em tribunal

nacional, sem que outro possa ser reconhecido como competente. Não pode, pois,

proceder-se à penhora de bens imóveis aqui existentes por mera carta rogatória, ainda

que a decisão em que a execução se funde se mostre revista e confirmada (artigo

180.º, alínea d) CPC). O mesmo se diga da ação executiva para entrega de coisa

imóvel certa que se localize em Portugal. Mas a norma de competência exclusiva do

artigo 63.º, alínea d) CPC, não afasta as normas de competência (não exclusiva) do

artigo 62.º CPC, pelo que a competência do tribunal português para uma execução a

incidir sobre bens imóveis não localizados em Portugal pode resultar do critério da:

a. Coincidência (artigo 62.º, alínea a) CPC);

b. Causalidade (artigo 62.º, alínea b) CPC);

c. Necessidade (artigo 62.º, alínea c) CPC).

Quanto aos critérios que, uma vez assente a competência dos tribunais portugueses

à luz da alínea c) do artigo 62.º CPC, permitirão determinar o tribunal interno

territorialmente competente, duas vias são defensáveis:

a. O recurso, à falta de outros no plano do Direito constituído, aos

critérios constantes do artigo 80.º CPC, a aplicar subsidiariamente;

b. A aplicação analógica da norma do artigo 89.º, n.º4 CPC.

A segunda via é a que melhor se enquadra no atual sistema. Incidindo a execução

sobre coisa móvel ou direito, não há preceito especial em matéria de execuções, pelo

que se aplicam tão-só as normas gerais de competência internacional (não exclusiva)

do artigo 62.º CPC. Podem, por fim, as partes celebrar, nos termos gerais do artigo

94.º CPC, pactos de jurisdição.

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2. O Regulamento Bruxelas I e a Convenção de Lugano: o Regulamento Bruxelas

I e a Convenção de Lugano sobrepõem-se às normas internas sobre a competência

internacional dos tribunais portugueses. No entanto, não contêm normas de

competência para a ação executiva propriamente dita. Segundo o artigo 22.º, n.º5

Regulamento e o artigo 16.º, n.º5 CL, são exclusivamente competentes, em matéria

de execução de decisões, os tribunais do Estado-Membro do lugar da execução. A

interpretação que desta norma usa ser feita é que estatui para os procedimentos

declarativos que tenham lugar por causa duma execução: a competência para a ação

executiva é determinada pelas normas internas de cada Estado Membro e, uma vez

ela assente, esses procedimentos correrão nos tribunais do mesmo Estado. Trata-se,

pois, duma pura norma de extensão de competência, circunscrita aos casos de

execução de decisões.

Competência convencional e regime da incompetência:

1. Doutrina tradicional: em processo declarativo, a infração das normas de

competência em razão da matéria e da hierarquia gera incompetência absoluta (artigo

96.º CPC); trata-se de normas imperativas, que não podem ser afastadas por vontade

das partes e cuja violação é oficiosamente cognoscível (artigos 95.º, n.º1 97.º, n.º1

CPC). O mesmo regime de imperatividade e oficiosidade têm as normas de

competência em razão do valor, que geram, porém, incompetência relativa (artigos

95.º, n.º1 e 104.º, n.º2 CPC). Quanto às normas de competência em razão do

território, são em regra supletivas, podendo ser afastadas por acordo expresso das

partes, exceto nos casos a que se refere o artigo 104.º CPC (artigo 95.º, n.º1 CPC), e

a sua infração gera incompetência relativa, só oficiosamente cognoscível nesses

mesmos casos (artigos 102.º a 104.º CPC). Por sua vez, a infração das normas de

competência internacional gera incompetência absoluta, também oficiosamente

cognoscível (artigos 96.º, alínea a) e 97.º, n.º1 CPC), mas, dentro de certos limites,

essas normas são supletivas, pois podem ser afastadas por vontade das partes (artigo

94.º CPC). Na vigência dos textos anteriores à revisão, a doutrina e a jurisprudência

correntes aplicavam estas normas à ação executiva.

2. A doutrina de Anselmo de Castro: diversa foi a posição defendida por Anselmo

de Castro: as normas de competência em razão do território são, na ação executiva,

tão imperativas como as restantes; geram também a incompetência absoluta do

tribunal; não podem ser afastadas por um pacto de competência. Razão de ser desta

posição é entender-se que na ação executiva, diferentemente do que acontecer na

ação declarativa, não está em causa somente o interesse particular das partes, pelo

que já que atender também ao interesse público em que o processo executivo, pelo

qual eminentemente se exerce o poder coercivo do Estado, corra no tribunal mais

adequado. Os argumentos apresentados de iure constituto não são hoje invocáveis.

3. Regime atual: desde a revisão do Código, a subordinação do regime da

incompetência na ação executiva ao regime geral da incompetência na ação

declarativa é bem acentuada, nomeadamente quando, no artigo 104.º, n.º1 CPC, são

enunciadas, lado a lado, as exceções, no campo de uma e da outra, à regra da não

oficiosidade do conhecimento da incompetência relativa. As disposições reguladoras

da competência dos tribunais enquadram-se na Parte Geral do Código e por isso,

ressalvadas especialidades e exceções, são diretamente (e nem sequer

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subsidiariamente) aplicáveis à ação executiva, uma vez que, sem prejuízo de poderem

não ser as mais conformes com este tipo de ação, não lhe são, no entanto, contrárias.

Não obstante, a revisão atendeu às razões invocáveis de iure constituindo para que não

fossem admitidos desvios às normas de competência para a execução das decisões

judiciais. O mesmo se dispôs, em paralelismo com o regime vigente na ação

declarativa referente a direitos reais ou pessoais de gozo sobre bens imóveis (artigo

70.º, n.º1 CPC), quanto à ação executiva para entrega de coisa certa e por dívida com

garantia real (artigos 89.º, n.º2 e 104.º, n.º1, alínea a) CPC); mas aqui foi-se longe

demais e estendeu-se a regra aos casos em que a coisa a entregar ou o bem onerado

é um bem móvel. Longe demais foi também, a meu ver, a Lei n.º14/2006, 26 abril,

ao impor o conhecimento oficioso da incompetência fundada na inobservância da

regra geral da 1.ª parte do artigo 89.º CPC (ressalvadas as exceções da 2.ª parte do

mesmo artigo). Passo a passo, o regime legal vai-se aproximando da posição outrora

defendida por Anselmo de Castro, mas no âmbito dum regime da incompetência

relativa também descaracterizado no âmbito da ação declarativa. O artigo 104.º, n.º1,

alínea a) CPC impede, sem distinguir, o afastamento das normas dos artigos 85.º, n.º1

e 89.º, n.º1, 1.ª parte e n.º2 CPC. Só fora do âmbito destas normas é admitida às

partes a liberdade de estipulação do foro competente (artigo 95.º, n.º1 CPC) e

consentida ao exequente, desde que o executado não se oponha, a determinação do

tribunal em que pretende que siga a ação executiva.

F – Legitimidade das partes

Quem é parte legítima:

1. Critérios de aferição: a legitimidade das partes determina-se, na ação executiva, com

muito maior simplicidade do que na ação declarativa. Enquanto nesta há que indagar

da posição das partes em face da pretensão, o que implica averiguar a titularidade,

real ou meramente afirmada pelo autor, da relação ou outra situação jurídica material

em que ela se funda e dá por vezes lugar a dificuldades de distinção perante a questão

de mérito, na ação executiva a indagação a fazer resolve-se no confronto entre as

partes e o título executivo: têm legitimidade como exequente e executado quem no

título figura, respetivamente, como credor e como devedor (artigo 53.º CPC). Esta

regra consente, quanto à legitimidade passiva, um desvio (no caso de execução por

dívida provida de garantia real) e exceções (por alargamento a terceiros abrangidos

pela eficácia do caso julgado). Há, além disso, que considerar a legitimidade específica

do Ministério Público para a ação executiva.

2. Adaptação do regime-regra: a regra geral da legitimidade para a ação executiva

carece de ser adaptada nos casos de:

a. Sucessão: quando tenha ocorrido sucessão, singular ou universal, na

titularidade da obrigação, quer do lado ativo, quer do lado passivo desta, a

execução deve ser promovida por ou contra os sucessores da pessoa que,

como credor ou devedor, figura no título, pelo que o exequente deve, no

próprio requerimento para a execução, alegar os factos constitutivos da

sucessão (artigo 54.º, n.º1 CPC).

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i. Sendo o título extrajudicial: a sucessão prevista ocorre entre o momento

da sua formação e o da propositura da ação executiva;

ii. Tratando-se de sentença: pode também ter ocorrido na pendência da ação

declarativa, uma vez que a sucessão entre vivos no Direito litigioso

pode não dar lugar à habilitação do adquirente na pendência da

instância, nos termos do artigo 356.º CPC. A formação, perante ele,

do caso julgado (artigo 263.º, n.º 3 CPC) tem como principal razão

de ser proteger a contraparte (autor ou réu) do efeito que, de outro

modo, teria a transmissão efetuada: o autor teria de propor nova ação

contra o adquirente, não atingindo na ação proposta o efeito prático

pretendido (máxime, entrega ou restituição da coisa); o réu estaria

sujeito à eventualidade de nova ação declarativa, máxime quando,

confrontado com a eminência duma decisão desfavorável, o autor

transmitisse o seu direito a terceiro. Mas, quando a sentença seja de

procedência e a transmissão se tenha dado no lado ativo, a

consideração do interesse do adquirente, que pode até ter ignorado a

pendência da ação declarativa, e o princípio da economia processual

aconselham a que lhe seja atribuída legitimidade para a ação executiva,

sem necessidade de previamente propor nova ação declarativa, que

estaria sujeita, aliás, à invocação da exceção de caso julgado. Tendo

sido transmitida a situação litigiosa do réu, a legitimidade do

adquirente para a ação executiva baseada na sentença de condenação

estaria sempre assegurada pelo artigo 55.º CPC, mas a equiparação

das duas situações (sucessão no crédito; sucessão no débito) leva a

abrange-las ambas na norma do artigo 54.º, n.º1 CPC, que prevalece

no concurso aparente dos dois preceitos. E assim dispensado o

incidente de habilitação no caso de sucessão ocorrida antes da

propositura da ação executiva. Mas tal não dispensa o exequente de,

liminarmente, provar, como nele faria, os factos constitutivos que

alega. Já no caso de a sucessão ocorrer na pendência do processo

executivo, é o incidente de habilitação o meio adequado para a fazer

valer, pelo que têm de se observar então as normas dos artigos 351.º

a 355.º CPC (para a sucessão universal), 356 CPC para a sucessão

singular) e 357.º CPC (para a habilitação perante os tribunais

superiores), com as necessárias adaptações.

b. Título ao portador10: a regra geral tem, obviamente, de ser adaptada no que

se refere à legitimidade ativa. Não constando o nome do credor no título

executivo, a execução é promovida pelo portador (artigo 53.º, n.º2 CPC).

3. O terceiro proprietário ou possuidor bem onerado: pode acontecer que a garantia

real dum crédito incida sobre bens de terceiro, ou porque já assim tenha sido

constituída, ou porque, constituída embora sobre bens do devedor, este os tenha

posteriormente alienado, em data anterior à propositura da ação executiva. Dado não

ser possível a penhora de bens pertencentes a pessoa que não tenha a posição de

executado, a ação executiva tem, na medida em que se queira atuar a garantia prestada,

10 De que o cheque é um exemplo.

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de ser proposta contra o proprietário do bem. A esta é equiparável a situação do

adquirente dos bens após procedência da impugnação pauliana, pelo que é de

analogicamente lhe aplicar o regime do artigo 54.º, n.º2 CPC. A renúncia do credor

à garantia real só pode ter lugar pelas formas indicadas na lei civil, entre as quais não

se conta a mera propositura duma ação em que a garantia não seja invocada, embora,

em alguns casos, seja admissível a renúncia no requerimento inicial, desde que

expressa. Mas, fora o caso de exercício desta faculdade, o exequente só não pode,

sob pena de ilegitimidade, deixar de propor a ação executiva contra o proprietário

dos bens quando pretenda fazer valer, na execução, o direito real de garantia, pois no

caso contrário pode mover a ação executiva apenas contra o devedor e nela penhorar

os seus bens, sem que ele lhe possa opor a necessidade de previamente se reconhecer,

nos termos do artigo 725.º, n.º1 CPC, a insuficiência dos bens dados em garantia para

o fim da execução. Por isso, o artigo 54.º CPC, nos seus n.º2 e 3, é bem expresso em

estabelecer que, quando os bens em garantia pertençam a terceiro, o exequente que

queira fazer valer a garantia na execução tem opção entre:

a. A propositura da execução contra o terceiro e, mais tarde, se os bens

forem insuficientes, o chamamento do devedor;

ou

b. A propositura da execução, desde logo, contra o terceiro e o devedor,

em litisconsórcio voluntário.

Mas, se o título executivo for uma sentença condenatória, a propositura da ação

executiva contra o proprietário que sobre os seus bens haja constituído a garantia real

pressupõe que contra ele tenha sido também proposta a ação de condenação e que

nesta tenha sido declarada a existência da garantia (artigos 635.º, n.º1, 667.º, n.º2 e

717.º, n.º2 CC). Pode ainda acontecer que, sendo o devedor o proprietário pleno dos

bens dados em garantia, estes estejam na posse de terceiro. Neste caso, o credor pode

livremente escolher entre a propositura da execução só contra o devedor ou contra

este e o possuidor, visto que em qualquer dos casos a penhora dos bens é possível

(artigo 54.º, n.º4 CPC).

4. Terceiros abrangidos pelo caso julgado: quando o título executivo é uma

sentença, a legitimidade passiva para a ação executiva é alargada às pessoas que, não

tendo sido por ela condenadas, são, porém, abrangidas pelo caso julgado (artigo 55.º

CPC), em manifestação da ideia de que o âmbito subjetivo da eficácia executiva do

título coincide, no caso da sentença, com o âmbito da eficácia subjetiva do caso

julgado. Esta extensão da eficácia subjetiva passiva do título executivo de caráter,

também ela, excecional, não abrange, por já ser abrangido pela norma do artigo 54.º,

n.º1 CPC, o caso de transmissão da situação jurídica do réu, por ato entre vivos, sem

subsequente intervenção do adquirente no processo, em que há caso julgado perante

o adquirente, desde que a transmissão seja posterior à propositura da ação ou,

estando sujeita a registo, seja registada depois do registo da ação (artigo 263.º, n.º3

CPC). Sobram, assim, para a integração da previsão do artigo 55.º CPC, os casos de

chamamento à intervenção principal de terceiro titular de situação suscetível de gerar

litisconsórcio voluntário passivo, nos termos do artigo 32.º, n.º2 CPC, que não

intervém na causa. O chamamento à intervenção principal pode ser requerido por

qualquer das partes quando haja lugar a litisconsórcio necessário, pelo autor quando

haja lugar a litisconsórcio voluntário passivo, principal ou subsidiário, e pelo réu haja

lugar a litisconsórcio voluntário, ativo ou passivo (artigos 316.º e, também, 261.º, n.º1

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CPC). A sentença que vier a ser proferida constituirá caso julgado perante o chamado

não interveniente, por imposição do artigo 320.º CPC, sendo que, no caso de

litisconsórcio necessário, tal solução resulta da sua própria natureza e da finalidade

de assegurar a legitimidade das partes a que obedece o preceito do artigo 261.º, n.º1

CPC. No regime do novo Código, a sentença condenatória pronuncia-se sobre a

situação jurídica do chamado, mesmo que o litisconsórcio seja voluntário (artigo

320.º CPC), pelo que, ainda que não intervenha, o terceiro fica, com a citação,

constituído como parte e, sendo condenado, aplica-se-lhe a norma do artigo 53.º

CPC e não a do artigo 55.º CPC. Nos casos de intervenção acessória (artigos 321.º e

326.º CPC), embora o interveniente, provocado ou espontâneo, tal como o não

interveniente provocado, seja abrangido pelo caso julgado (artigos 323.º. n.º4 e 332.º

CPC), não lhe é conferida legitimidade para a ação de execução da sentença que o

constitui, visto que, sendo na causa um mero auxiliar da parte principal, a apreciação

da sua posição jurídica terá lugar em ação autónoma, embora condicionada pelos

limites decorrentes da formação daquele caso julgado (prejudicial). Não se vê, pois,

que tenha hoje aplicação a norma do artigo 55.º CPC.

5. O Ministério Público: ao Ministério Público compete promover a execução por

custas e multas impostas em qualquer processo (artigo 57.º CPC). Além desta

legitimidade específica do Ministério Público para a ação executiva, conservam

aplicação as normas que, em geral, regulam a sua legitimidade processual (artigos 21.º

a 24.º CPC).

Consequências da ilegitimidade das partes: a ilegitimidade constitui uma exceção

dilatória de conhecimento oficioso (artigos 577.º, alínea e) e 578.º CPC). Consequentemente,

cabe ao juiz, quando se verifique, seja insanável e haja lugar a despacho liminar, indeferir

liminarmente a petição inicial (artigo 726.º, n.º2, alínea b) CPC); mas, sendo sanável, cabe-

lhe proferir despacho de aperfeiçoamento (artigos 6.º, n.º2 e 726.º, n.º4 CPC) e, seguidamente,

só se não for sanada indeferir o requerimento executivo (artigos 726.º, n.º5 CPC). Aplica-se

igualmente o artigo 734.º CPC. Quando seja citado não obstante uma ilegitimidade insanável,

ainda que não manifesta, o executado tem a possibilidade de se opor à execução por

embargos (artigo 729.º, alínea c) CPC, quanto à sentença).

G – Patrocínio judiciário

A lei é menos exigente quanto ao patrocínio em processo executivo do que em processo

declarativo. Nas ações executivas cujo valor exceda a alçada da Relação, é obrigatória a

constituição de advogado em processo executivo (artigo 58.º, n.º1, 1.ª parte CPC). Naquelas

cujo valor se contenha entre a alçada da comarca e a da Relação, o patrocínio é igualmente

obrigatório, mas pode ser exercido por advogado, advogado estagiário ou solicitador (artigo

58.º, n.º3 CPC). Quando, porém, tenha lugar uma ação ou incidente que corra por apenso

ao processo executivo ou nele se enxerte, mas siga os termos do processo declarativo, isto é,

duma tramitação de natureza declarativa principal (não incidental), segue-se um regime

decalcado do regime geral deste processo:

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José Lebre de Freitas | 大像城堡

Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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1. Em regra, a constituição de advogado é obrigatória desde que o valor seja

superior ao da alçada do tribunal de 1.ª instância (artigo 58.º, n.º1, 2.ª parte

CPC). Assim acontece nos embargos de executado, nos embargos de terceiro e no

incidente de qualificação;

2. Se se tratar de ação de reclamação e verificação de créditos, a constituição de

advogado é obrigatória quanto à apreciação dos créditos cujo valor seja

superior à alçada do tribunal de comarca (artigo 58.º, n.º2 CPC). De notar que

o patrocínio judiciário não é obrigatório para a reclamação, mas apenas para a

apreciação, isto é, apenas quando for impugnado o crédito reclamado e a partir do

momento da impugnação.

É, por outro lado, aplicável o artigo 40.º, n.º1, alínea c) CPC, que exige constituição de

advogado nos recursos: a norma do artigo 58.º CPC é especial em face da norma geral do

artigo 40.º, n.º1, alínea a) CPC, mas não derroga a alínea c) do mesmo artigo.

H – Pluralidade de sujeitos e pluralidade de pedidos

Litisconsórcio:

1. Litisconsórcio inicial: o conceito e o regime do litisconsórcio são, na ação executiva,

os mesmos que na ação declarativa. Assim, quer vários autores formulem contra um

só réu um pedido único (litisconsórcio ativo), quer um autor formule contra vários

réus um pedido único (litisconsórcio passivo), quer um pedido único seja formulado

por vários autores contra vários réus (litisconsórcio simultaneamente ativo e passivo),

são-lhe aplicáveis as mesmas normas que o regem no processo declarativo, sem que

o facto de constar do título uma pluralidade de devedores, ou um terceiro com

património sujeito à execução para além do devedor, implique, só por si, a necessária

propositura da ação executiva contra todos os obrigados ou sujeitos à execução. Há,

pois, litisconsórcio voluntário sempre que, podendo o pedido ser formulado apenas

por um autor ou apenas contra um réu, tenha sido deduzido por vários autores ou

contra vários réus. Convém ter presente que tanto a obrigação conjunta (artigo 32.º,

n.º1 CPC), como a solidária (artigo 517.º CC) e a garantia por bens de terceiro (artigos

641º., n.º1, 667.º, n.º2 e 717.º CC), assim, como, do lado ativo, a obrigação indivisível

com pluralidade de credores (artigo 538.º, n.º1 CC) e as relações reais que lhe são

equiparadas (artigos 1286.º, n.º1, 1405.º, n.º2 e 2078.º, n.º1 CC), podem configurar

casos de litisconsórcio voluntário. Há, por outro lado, litisconsórcio necessário

quando a lei, o negócio jurídico ou a própria natureza da prestação a efetuar imponha

a intervenção de todos os interessados na relação controvertida. Os casos em que

esta imposição surge são, na ação executiva, muito mais raros do que na ação

declarativa e por isso já foi defendida a inexistência de litisconsórcio necessário em

sede de execução. No entanto, alguns casos de litisconsórcio necessário são

verificáveis na ação executiva:

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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017

Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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a. Há litisconsórcio necessário passivo quando, na ação para entrega de

coisa certa, esta pertença a vários (artigos 1405.º, n.º1, 1404.º e 2091.º,

n.º1 CC; para os cônjuges 34º., n.º3, in fine CPC)11;

b. Há, também, litisconsórcio passivo quando, na execução para

prestação de facto, a obrigação incumba a vários também;

c. Na execução para pagamento de quantia certa, pode o negócio

jurídico ou a lei12 (artigo 2091.º, n.º1 CC na sua aplicação às obrigações

pecuniárias), exigir a intervenção de todos os interessados.

2. Litisconsórcio sucessivo: na ação declarativa, verifica-se a figura do litisconsórcio

sucessivo quando e, consequência da dedução dum incidente de intervenção de

terceiro, este fique a ocupar na ação proposta a posição de autor ou de réu, ao lado

da parte primitiva. Percorrendo as disposições reguladoras dos vários tipos de

incidente de intervenção de terceiros, verifica-se que, à exceção do incidente da

assistência, eles foram pensados em função da ação declarativa. Concluir-se-á que

não podem ter lugar na ação executiva? O problema só se põe em relação à

intervenção principal (baseada na admissibilidade do litisconsórcio ou da coligação),

pois, quanto aos restantes incidentes, o objetivo da intervenção só se pode realizar

em processo declarativo. A sua admissibilidade, em geral, só é defensável quanto a

pessoas com legitimidade para a ação executiva, pois de outro modo a favor ou contra

terceiros, o que só se compadece com o fim (artigo 10.º, n.º4 CPC) e os limites (artigo

10.º, n.º5 CPC) da ação executiva quando uma norma excecional o preveja. Um caso

há logo em que se impõe a admissibilidade do incidente em processo executivo:

quando o exequente careça de chamar a intervir determinada pessoa para assegurar

a legitimidade duma parte, nos termos do artigo 261.º CPC. Convidado o exequente,

nos termos do artigo 726.º, n.º4 CPC, a requerer a intervenção, proferido despacho

de indeferimento liminar nos termos do artigo 726.º, n.º5 CPC, rejeitada

11 Já o artigo 34.º, n.º1 CPC não se aplica à ação executiva porque o exequente nunca, por via dela, perde ou vê limitado um seu bem ou direito. Dir-se-á, porém, que, dada a formulação do caso julgado nos embargos de executado e nos embargos de terceiro, o litisconsórcio pode vir a ser necessário, nos termos gerais da ação declarativa, nessas ações apensas ao processo executivo: qualquer dos cônjuges poderá pedir, em ação de execução para entrega de coisa certa, a entrega da casa de morada de família e, ainda que casado em regime de comunhão, a do bem imóvel ou estabelecimento comercial, comum ou próprio (artigo 1682.º-A CC); mas, porto em causa, em qualquer dos embargos, o direito do exequente, o cônjuge deste teria de intervir como réu nessa ação declarativa. 12 Quanto ao artigo 34.º, n.º3 CPC só se aplica à ação executiva para entrega de coisa certa, por via da sua última parte, como ficou referido: considerado na sua 1.ª parte, além das dificuldades a que a sua aplicação daria lugar quando a prática do ato e a subscrição do título não coincidissem (atos dos dois cônjuges mas título referido a um só, ou vice-versa), não se verifica na ação executiva a razão de ser do preceito, dirigido à salvaguarda de ambos os cônjuges quando está em causa a definição (mas não a execução) dum regime de responsabilidade patrimonial comum; a 2.ª parte do artigo, apenas diretamente aplicável à ação declarativa e nem sequer nela gerando um litisconsórcio necessário (ao autor é facultado optar entre a propositura da ação só contra o autor do ato ou também contra o seu cônjuge), só poderia defender-se impor o litisconsórcio na ação executiva quando tivessem sido condenados ambos os cônjuges, mas apenas se se entendesse que configuravam litisconsórcio necessário os casos de sentença de condenação de vários réus litisconsortes; considerada, finalmente, a última parte do artigo, tão-pouco é defensável a sua aplicação à execução da obrigação pecuniária com base na ideia de tutela do interesse do cônjuge do devedor perante a possibilidade de alienação de bens comuns ou carecidos do seu consentimento para poderem ser alienados, pois essa tutela é assegurada, como veremos, pelo mecanismo próprio que resulta dos artigos 741.º e 787.º CPC. (Castro Mendes é contra e Miguel Teixeira de Sousa também, porém, limitadamente, aos casos em que há título executivo contra ambos os cônjuges e mesmo quando há título executivo apenas contra um cônjuge, bastando, pois, que a dívida seja comunicável) e Rui Pinto quando haja título executivo contra ambos os cônjuges.

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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oficiosamente a execução nos termos do artigo 734.º CPC, ou julgada procedente a

oposição à execução, o exequente pode requerer o chamamento da pessoa em falta,

tal como o pode requerer espontaneamente. Já no âmbito do litisconsórcio

voluntário a admissibilidade geral do incidente é discutível. Quatro casos há em que

hoje a lei é expressa em admiti-lo:

a. Quando o exequente demande apenas o proprietário dos bens

onerados, tem a possibilidade de, mais tarde, demandar o devedor, se

os bens que garantem o cumprimento da obrigação se vierem a revelar

insuficientes (artigo 54.º, n.º2 CPC);

b. Instaurada execução apenas contra o devedor principal, cujos bens se

revelem insuficientes, pode o exequente demandar o devedor

subsidiário (artigo 745.º, n.º3 CPC);

c. Instaurada a execução apenas contra o devedor subsidiário, que

invoque o benefício da excussão prévia o exequente pode demandar o

devedor principal (artigo 745.º, n.º2 CPC);

d. Instaurada a execução contra o devedor obrigado no título e citado o

cônjuge, a requerimento do exequente ou do executado, para declarar

se aceita a comunicabilidade da dívida, constitui-se ele como

executado se a aceitar ou nada declarar, bem como quando, tendo

impugnado a comunicabilidade, venha a ser desta convencido em

decisão incidental da própria execução (artigos 741.º, n.1º a 5 e 742.º

CPC).

Deixando de lado este último caso, cuja principal particularidade consiste na criação

dum título executivo, vemos que os dois primeiros têm de comum a responsabilidade

subsidiária dos chamados subsequentemente à intervenção principal, mas o terceiro,

em que a relação de subsidiariedade é inversa, permite defender que o incidente de

intervenção principal é, em geral, admissível na modalidade de intervenção passiva

provocada pelo exequente, em nome da economia processual. Ao invés, fora o caso

particular do artigo 742.º CPC (em que não basta a sua vontade), a intervenção

principal provocada pelo executado não é admitida. Da supressão do artigo 330.º,

n.º2 CPC 1961, resultou a inadmissibilidade do chamamento à demanda na ação

executiva. De facto, constituindo o meio do chamamento à demanda forma de tutela

dum interesse do réu na ação declarativa de condenação (interesse em nela não ser o

único condenado, assim proporcionando a formação do título executivo também

contra o chamado), dele não carece o executado que, não beneficiando do privilégio

da excussão prévia, não possa, uma vez chamado, procurar evitar a penhora dos seus

bens mediante a nomeação de bens do devedor principal: a imposição ao credor da

intervenção no processo de outra pessoa, ainda que também obrigada no título, ao

lado do executado, deixou de ter a justifica-la a satisfação dum interesse atendível

deste último. Finalmente, há quem configure como de litisconsórcio sucessivo a

situação decorrente da intervenção na ação executiva para pagamento de quantia

certa, após a penhora, do cônjuge do executado (independentemente do caso em que,

hoje, assume a posição de executado) e dos credores com garantia sobre os bens

penhorados, convocados nos termos do artigo 864.º CPC. Defendi, nas três

primeiras edições desta obra, que tanto o cônjuge como os credores eram partes

acessórias. Com o aumento dos poderes processuais do cônjuge do executado, em

consequência primeiro da revisão e depois da reforma (aumento mantido no novo

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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017

Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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Código) é hoje mais adequado considera-lo, a partir da citação, uma parte principal,

dado ter um estatuto equiparado ao do executado, continuando os credores

reclamantes a ser meras partes acessórias. A equiparação do cônjuge do executado a

estes consta do artigo 787.º CPC: tendo direitos idênticos aos do executado, os dois

estatutos processuais pouco diferem após a citação (ponto de divergência: a

responsabilidade pelas custas da execução), sendo assim o cônjuge parte principal.

Quanto aos credores reclamantes, ficam, uma vez citados, com alguns dos poderes

processuais que cabem ao exequente e, por outro lado, a falta da sua citação, tal como

a do cônjuge do executado, tem, embora limitadamente, o mesmo efeito que a falta

de citação do réu (artigo 786.º, n.º6 CPC), o que permite considera-los como partes.

Dado, porém, que é taxativamente limitado o elenco dos poderes processuais que

podem exercer no processo de execução e que não têm a disponibilidade do seu

objeto, não se constituem como partes principais, mas como partes acessórias. Ora

a oposição do litisconsorte (parte principal) e a da parte acessória ou auxiliar (artigo

328.º CPC) não se confundem.

Coligação: por força do artigo 56.º CPC, a coligação é admitida em processo executivo

quando, não se baseando um dos pedidos em decisão judicial a executar nos autos da ação

declarativa (artigo 709.º, n.º1, alínea d) ex vi artigo 56.º, n.º1 CPC), cumulativamente se

verifiquem os seguintes pressupostos:

1. A espécie de ação executiva decorrente de cada um dos pedidos deve ser a

mesma (pagamento de quantia certa, entrega de coisa certa ou prestação de facto), a

menos que todos se baseiem numa mesma sentença (artigos 709.º, n.º1, alínea b) e

710.º, ex vi 56.º, n.º1 CPC);

2. Tendo a execução por fim o pagamento de quantia certa, as várias obrigações

devem ser líquidas ou liquidáveis por simples cálculo aritmético (artigo 56.º,

n.º2 CPC);

3. O Tribunal deve ser competente internacionalmente e em razão da matéria e

da hierarquia para a apreciação de todos os pedidos, ainda que não o seja em

razão do valor ou do território (artigo 709.º, n.º1, alínea a) ex vi 56.º, n.º1 CPC);

4. Cada um dos pedidos, individualmente considerado, deve ter de ser apreciado

em processo executivo comum, ou no mesmo processo executivo especial que

caberia para a apreciação dos outros pedidos, não interessando, para o efeito, se

se tratar de execução de sentença, a forma de processo declarativo em que ela tenha

sido proferida, e sem prejuízo de o juiz poder autorizar a cumulação, adequando a

forma processual às necessidades do caso concreto (artigo 709.º, n.º1, alínea c) ex vi

56.º, n.º1 CPC)13;

5. Tratando-se de coligação passiva, é ainda necessário que a execução tenha

por base, quanto a todos os pedidos, o mesmo título (artigo 56.º, n.º1, alínea

b) CPC) ou que os devedores sejam titulares de quinhões no mesmo

património autónomo ou de direitos relativos ao mesmo bem indiviso,

quando um ou outro sejam objeto de penhora (artigo 56.º, n.º1, alínea c) CPC).

13 A exceção é corolário do princípio da adequação formal (artigo 547.º CPC), que a economia processual aconselha.

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José Lebre de Freitas | 大像城堡

Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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Por virtude da remissão do artigo 56.º, n.º3 CPC para os n.º2 a 5 do artigo 709.º CPC

observam-se na coligação, quanto à competência em razão do valor e do território, as regras

seguintes:

1. Quando todos os pedidos se fundem em títulos judiciais impróprios, a ação

executiva corre no tribunal do lugar onde haja corrido o processo de valor mais

elevado;

2. Quando haja pedidos fundados em título judicial impróprio e outros em título

extrajudicial, a ação executiva corre no tribunal em que haja corrido o processo em

que o título se formou;

3. Quando todos os pedidos se fundem em título extrajudicial, a competência

determina-se nos termos dos n.º2 e 3 do artigo 82.º CPC;

4. Segue-se a forma de processo ordinário quando os pedidos originariam,

isolados, formas de processo comum distintas.

Consequências da falta de litisconsórcio, quando necessário, e da coligação

ilegal:

1. Havendo lugar a litisconsórcio necessário, a falta de qualquer dos litisconsortes

é fundamento de ilegitimidade da parte (artigo 33.º, n.º1 CPC). No despacho liminar,

quando o houver, o juiz deve convidar o exequente a requerer a intervenção principal

do terceiro (artigos 6.º, n.º2 e 726.º, n.º4 CPC) e, se o exequente não corresponder

ao convite, indeferir liminarmente e requerimento executivo (artigo 726.º, n.º5 CPC

– ver também o artigo 734.º CPC). O vício pode, porém, ser corrigido pelo exequente

até 30 dias sobre o trânsito em julgado do despacho de indeferimento liminar (ou de

rejeição oficiosa da execução, nos termos do artigo 734.º CPC) ou da sentença que

julgue procedentes os embargos de executado. Permite-o o artigo 261.º CPC,

mediante o chamamento da pessoa cuja falta é motivo de ilegitimidade, e, se já estiver

extinta à data do chamamento, a instância é renovada, pagando o exequente as custas.

2. No caso de coligação ilegal, por não verificação de algum dos pressupostos atrás

enunciados, o juiz, havendo lugar a despacho liminar, profere despacho de

aperfeiçoamento, convidando o exequente – ou exequentes – a que escolha o pedido

relativamente ao qual pretende que o processo prossiga, e só no caso de ele não o

fazer absolverá o executado da instância (artigos 38.º e 726.º, n.º4 e 5 CPC); quando,

quanto a algum dos pedidos, se verificar a incompetência absoluta do tribunal ou a

inadequação da forma de processo, o princípio da economia processual impõe que

se profira um despacho de indeferimento parcial e a causa prossiga relativamente aos

outros pedidos (artigo 726.º, n.º3 CPC; verificada a incompetência absoluta do

tribunal ou a inadequação da forma de processo quanto a todos os pedidos, tem lugar

o indeferimento liminar total (artigo 726.º, n.º1, alínea b) CPC).

Quer no caso de preterição de litisconsórcio necessário, quer no de coligação ilegal, o

executado pode opor-se à execução (artigo 729.º, alínea c) CPC).

Cumulação simples de pedidos:

1. Formas: a coligação constitui uma cumulação de pedidos. Mas pode também o

exequente (ou os mesmos exequentes litisconsortes) cumular pedidos contra o

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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017

Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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mesmo executado (ou os mesmos executados litisconsortes). Esta cumulação simples

de pedidos pode ser:

a. Inicial (artigo 709.º CPC): quanto tem lugar logo no ato de propositura da

ação executiva;

b. Sucessiva (artigo 711.º CPC): quando, na pendência duma execução já

instaurada, o exequente deduz, no mesmo processo, novo pedido executivo.

2. Pressupostos: quer seja inicial, quer seja sucessiva, a cumulação simples de pedidos,

também excluída quando um deles se baseie em sentença a executar nos autos da

ação declarativa, pressupõe a verificação das circunstâncias atrás referidas, sob as

alíneas a) (tipo de ação executiva), c) (competência) e d) (forma de processo). Mas,

ainda que sejam diferentes os tipos de ação executiva, a cumulação sucessiva é

admitida quando, em virtude da conversão da ação executiva para entrega de coisa

certa ou para prestação de facto em ação executiva para pagamento de quantia certa

(artigos 867.º e 869.º CPC), as diligências executivas acabam por ser apenas as deste

tipo de ação. A cumulação torna-se possível a partir da conversão. Tenha-se também

em conta a cumulabilidade, na mesma execução, dos pedidos baseados na mesma

sentença (artigos 709.º, n.º1, alínea b) e 710.º, ex vi 56.º, n.º1 CPC). A cumulação

simples não exige que as obrigações devam ser líquidas ou liquidáveis por simples

cálculo aritmético. Os pedidos cumulados podem fundar-se no mesmo título ou em

títulos diferentes. Observam-se as mesmas regras relativas à competência e à forma

de processo que encontrámos ao tratar da coligação (artigo 709.º, n.º2 a 5 CPC).

3. Consequências da cumulação indevida: põem-se aqui as mesmas questões e

valem as mesmas soluções que foram avançadas a propósito da coligação ilegal.

Sendo a cumulação sucessiva, o juiz, se o novo título exigir despacho liminar ou o

suscitar o funcionário judicial, aprecia a admissibilidade no despacho que proferir

sobre o requerimento do exequente. Haja ou não despacho liminar, o executário

pode, se entender que a cumulação é indevida, opor-se à execução (artigo 729.º, alínea

c) CPC). Em tudo o mais valem as considerações feitas a propósito da coligação ilegal.

I – Formas de processo executivo

O tipo e a forma do processo: vimos já quais os tipos de ação executiva:

1. Execução para pagamento de quantia certa;

2. Execução para entrega de coisa certa;

3. Execução para prestação de facto.

Em princípio, são entre si incumuláveis; mas deixam de o ser quando os pedidos que os

caracterizam tenham origem na mesma sentença. Cada um destes tipos de ação pode seguir

uma forma de processo comum ou uma forma de processo especial. O processo especial

tem lugar quando a lei impõe, para a execução de determinado tipo de obrigação, uma

tramitação especial, que pode, nessa sua especialidade, ser mais ou menos ampla. O processo

comum tem forma única nas execuções para entrega da coisa certa e para prestação de facto

(artigo 550.º, n.º4 CPC) e duas formas (ordinária e sumária) nas execuções para pagamento

de quantia certa (artigo 550.º n.º1, 2 e 3 CPC).

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José Lebre de Freitas | 大像城堡

Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

Página 59 页

Âmbito das formas processuais:

1. Processos especiais: são muito mais raros do que os processos especiais

declarativos, devendo considerar-se duas categorias:

a. Processos exclusivamente executivos: está neste caso a execução por

alimentos (artigos 933.º a 935.º CPC);

b. Processos mistos: que têm a particularidade de a uma primeira fase

declarativa se seguir uma fase executiva. É o caso do processo de investidura

em cargos sociais (artigos 1070 e 1071.º CPC).

Há, para além disso, processos declarativos em que podem ter lugar atos executivos.

É, nomeadamente, o caso dos processos de divisão de coisa comum (artigo 929.º,

n.º2 CPC), de liquidação da herança vaga em benefício do Estado (artigo 939.º, n.º2

e 4 CPC), e de apresentação de coisa ou documento (artigo 1047.º CPC).

2. Processo comum: até à revisão do CPC de 1961 em 1995-1996, o processo

executivo comum podia ser ordinário, sumário ou sumaríssimo, consoante o valor

da execução e o título executivo. A revisão reduziu as formas de processo comum a

duas, determinadas em função da espécie do título executivo, conjugada, em certos

casos, com o valor da ação, o objeto da penhora e a necessidade de liquidar a

obrigação exequenda:

a. Sumária: emprega-se, em regra, nas execuções baseadas em:

i. Decisão arbitral ou judicial, esta nos casos em que não deva ser executada nos

autos do processo declarativo;

ii. Requerimento de injunção ao qual tenha sido aposta a fórmula executória;

iii. Título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida, garantida por hipoteca ou

penhor;

iv. Título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida cujo valor não exceda o dobro

da alçada do tribunal de 1.ª instância.

b. Ordinária: emprega-se em todos os outros casos e ainda quando, apesar de

se verificar uma das situações que normalmente dão lugar ao processo

sumário, ocorra alguma das exceções seguintes:

i. A obrigação não é certa e a determinação da prestação não cabe ao credor;

ii. Há que fazer prova complementar do título executivo;

iii. A obrigação carece de ser liquidada na execução e a liquidação não depende de

simples cálculo aritmético;

iv. O exequente alega no requerimento executivo a comunicabilidade de dívida

constante de título, diverso da sentença, que apenas obrigue a um dos cônjuges;

v. A execução é movida apenas contra devedor subsidiário que não haja renunciado

ao benefício da excussão prévia.

Com a reforma da ação executiva, o processo comum passou a ter forma única.

Deixou de ser assim no novo Código, que basicamente retomou a classificação

introduzida em 1995-1996, mas com recurso a outros elementos, a maioria dos quais

provenientes de pontos de regime oriundos da reforma da ação executiva. A dispensa

de despacho liminar e a efetivação do penhor antes da citação do executado são os

pontos caracterizadores do regime do processo sumário.

Direito supletivo: o processo ordinário de execução para pagamento de quantia certa vem

regulado nos artigos 724.º a 854.º CPC e o processo sumário nos artigos 855.º a 858.º CPC;

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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017

Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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o processo comum para entrega de coisa certa é regulado nos artigos 859.º a 867.º CPC e o

que visa a prestação de facto nos artigos 868.º a 877.º CPC. Supletivamente, aplicam-se:

1. Ao processo sumário de execução para pagamento de quantia certa, as disposições

do processo ordinário (artigo 551.º, n.º3 CPC);

2. À execução para entrega de coisa certa e para prestação de facto, as disposições

aplicáveis da execução para pagamento de quantia certa (artigo 551.º, n.º2 CPC);

3. Aos processos especiais, as disposições reguladoras do processo comum ordinário

(artigo 551.º, n.º4 CPC).

Tenha-se, finalmente, em conta a disposição do artigo 551.º, n.º1 CPC, que determina que

são subsidiariamente aplicáveis ao processo de execução, com as necessárias adaptações, as

disposições reguladoras do processo de declaração. Nesta aplicação, deve sempre atender-se

à diferente natureza dos processos e, portanto, não são aplicáveis as disposições reguladoras

do processo declarativo que estejam em desacordo com a natureza da ação executiva, mas

só as que com essa se mostrem compatíveis.

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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第二 Processo ordinário de execução para pagamento de

quantia certa

J – Delimitação

Só os títulos dos quais conste uma obrigação pecuniária podem dar lugar a processo

executivo para pagamento de quantia certa. Através deste, pretende obter-se o cumprimento

forçado duma obrigação desta natureza, quer ela resulte diretamente dum negócio jurídico,

quer tenha uma causa diferente, em que se inclui o não cumprimento dum negócio jurídico

do qual derivem obrigações não pecuniárias. Mas tal não evita que os processos de execução

para entrega da coisa certa (artigo 867.º CPC) e para prestação de facto (artigo 869.º CPC) se

possam converter em processos de execução para pagamento de quantia certa, visando o

pagamento duma indemnização ao exequente e, quanto ao segundo, quando não haja

conversão, o devedor é executado pela quantia necessária ao custeamento da prestação de

facto a efetuar por outrem (artigo 870.º CPC). A obrigação pecuniária reveste normalmente

a natureza de obrigação de quantidade, cujo objeto é um certo valor expresso em moeda que

tenha curso legal em Portugal (artigo 550.º CC). Quanto às outras duas modalidades que

pode assumir (obrigação de moeda específica e obrigação em moeda em curso legal apenas

no estrangeiro), a primeira dá sempre lugar à execução para pagamento de quantia certa,

mesmo que falte ou não tenha curso legal a moeda estipulada (artigo 555.º e 556.º CC),

enquanto a segunda se executa através do processo para entrega da coisa certa.

K – Fase Inicial

Requerimento inicial e tramitação complementar:

1. O requerimento inicial: a petição com que se inicia a ação executiva é, desde a

revisão do Código, designada como requerimento executivo (epígrafe do artigo 724.º

CPC). O requerimento executivo obedece ao formulário que se encontra no sítio

eletrónico indicado no artigo 2.º, n.º1 Portaria n.º 282/2013, 29 agosto; ver artigos

132.º, n.º1 e 725.º, alínea a) CPC e é transmitido eletronicamente ao tribunal (e ao

agente de execução nela designado), acompanhado pela cópia do título executivo

(sem prejuízo de o original dever ser apresentado nos dez dias subsequentes à

distribuição, quando se trate de título de crédito; artigo 724.º, n.º5 CPC) e pelos

documentos relativos aos bens a penhorar e ao pagamento da taxa de justiça (artigo

724.º, n.º4 CPC). Deve o autor designar o tribunal em que a ação é proposta,

identificar as partes, indicar o domicílio profissional do mandatário judicial e a espécie

da execução, formular o pedido, declarar o valor da causa e fornecer os pagamentos

(artigo 274.º, n.º1, alíneas a), b), d), e), f), g) e k) CPC). Uma vez que a execução tem

sempre por base um título executivo e este deve acompanhar a petição inicial, a

indicação da causa de pedir só tem de ter lugar quando ela não conste do título (artigo

724.º, n.º1, alínea e) CPC). Quando o título executivo contenha uma promessa de

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cumprimento ou o reconhecimento duma dívida sem indicação da respetiva causa

(artigo 458.º CC) máxime tratando-se de título de crédito (letra, livrança ou cheque)

relativamente ao qual tenham decorrido já os prazos de prescrição da obrigação

cartular e tendo sido a prescrição já invocada pelo devedor ou querendo-se,

prudentemente, prevenir a hipótese da sua invocação em oposição à execução, o

exequente deve alegar a causa da obrigação, competindo ao tribunal ajuizar da sua

validade nos termos que ficaram indicados a propósito do título executivo.

Executando-se o título referente a negócio jurídico para o qual a lei exija a forma

escrita, o problema não se põe, visto que a causa deve constar do próprio título, sob

pena de este não poder fundar a execução: quer a alínea b), quer a alínea c), do artigo

703.º, n.º1 CPC exigem, como vimos, a validade da obrigação titulada. A indicação

de factos na petição inicial tem igualmente lugar quando:

a. A obrigação precise de ser liquidada para tal não bastando fazer

cálculos aritméticos, caso em que o requerimento executivo precisa de

ser deduzido por artigos (artigos 147.º, n.º2, 716.º e 724.º, n.º1 CPC);

b. O título careça de prova complementar, por a certeza ou a

exigibilidade dele não resultar (artigo 724.º, n.º1, alínea h) CPC), por

ter ocorrido sucessão no crédito ou no débito ou no caso de escritura

pública contendo a promessa de contrato real ou a previsão de

obrigação futura;

c. O exequente requeira a dispensa da citação prévia do executado, com

base no receio de perda da garantia patrimonial do crédito (artigos

727.º e 724.º, n.º1, alínea j) CPC);

d. O exequente alegue que é comum a dívida constante de título, diverso

de sentença, formado apenas contra um cônjuge (artigos 741.º, n.º1 e

724.º, n.º1, alínea e) CPC).

Constituem outras menções, facultativas ou eventuais, do requerimento executivo:

a. A escolha da prestação, quando ela caiba ao credor (artigo 724.º, n.º1,

alínea h) CPC);

b. A designação do agente de execução (artigo 724.º, n.º1, alínea c) CPC);

c. O requerimento de citação do devedor subsidiário antes da excussão

do património do devedor principal (artigo 745.º, n.º1 CPC);

d. A indicação do empregador do executado, das contas bancárias de que

ele seja titular e dos seus bens e créditos, devidamente especificados,

bem como dos ónus e encargos que sobre eles incidam (artigo 724.º,

n.º1, alínea i), 2 e 3 CPC).

A apresentação do requerimento executivo só se considera concluída, para o efeito

do prosseguimento do processo, com o pagamento ao agente de execução da quantia

que lhe seja inicialmente devida a título de honorários e despesas (artigo 724.º, n.º6,

alínea a) CPC), ressalvando o regime do apoio judiciário (artigos 724.º, n.º6, alínea a)

e 552.º, n.º5 e 6 CPC). Se não tiver sido reembolsado das custas de parte, por falta

de pagamento das custas da ação declarativa pelo réu nela condenado, o exequente

poderá exigir o reembolso no requerimento inicial, fazendo neste uma cumulação de

pedidos. No regime do novo Código, a apresentação do requerimento executivo tem

lugar no próprio processo em que haja sido proferida a sentença, proveniente de

tribunal (estadual) português e não pendente de recurso, que se pretenda executar

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José Lebre de Freitas | 大像城堡

Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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(artigos 85.º, n.º1 e 626.º CPC). Não tem, neste caso, de ser acompanhada por cópia

da sentença.

2. Tramitação complementar do requerimento inicial: o requerimento inicial pode

ser recusado pela secretaria, nos casos do artigo 725.º, n.º1 CPC (paralelo ao artigo

558.º CPC, que rege a ação declarativa):

a. Quando tenha sido omitido um requisito do requerimento executivo

(assinatura; utilização da língua portuguesa; utilização do modelo aprovado;

elemento exigido pelo artigo 724.º, n.º1 e 4 CPC, quando que só

eventualmente);

b. Quando não seja apresentado o título executivo ou seja manifesta a

insuficiência do título apresentado.

O ato de recusa é reclamável para o juiz, mas a decisão deste é irrecorrível, salvo

quando se funde na falta de exposição dos factos (artigo 725.º, n.º2 CPC). Recebido

o requerimento inicial, seguem-se, como na ação declarativa, a distribuição (salvo

quando a execução tenha lugar nos autos do processo declarativo em que tenha sido

proferida a decisão exequenda) e a autuação, bem como as eventuais diligências para

tornar certa ou exigível a obrigação, a designação do agente de execução pela

secretaria, quando o exequente o não tenha designado ou ele tenha recusado a

designação feita (artigo 720.º, n.º2 e 8 CPC), e a subsequente notificação a este da

designação efetuada (artigo 720.º, n.º3 CPC). Segue-se a produção de prova

complementar do título, nos casos em que deva ter lugar.

Despacho liminar:

1. Tem sempre lugar: a revisão do Código aboliu o despacho liminar, como regra, na

ação declarativa, mas manteve-o na ação executiva. A reforma da ação executiva

continuou a afirmar, como regra, a necessidade do despacho liminar, mas introduziu

tantas exceções que ele passou a constituir estatisticamente uma exceção. O novo

Código, ao desdobrar em ordinária e sumária a forma do processo comum, impõe

na primeira o despacho liminar e dispensa-o na segunda. Aliás, esse controlo judicial

prévio constitui a característica fundamental da forma ordinária em face da forma

sumária. O despacho liminar pode ser, nos termos gerais, de indeferimento de

aperfeiçoamento ou de citação.

2. Aperfeiçoamento e indeferimento liminar: desde a sua revisão, o Código

privilegia claramente a providência de mérito, em preterição da decisão proferida em

aplicação de normas processuais. Esta opção legislativa, conforme com as

orientações processualísticas hoje correntes, traduz-se na ação executiva,

designadamente, no realce dado ao aperfeiçoamento do requerimento inicial: quando

haja despacho liminar, o juiz deve convidar o exequente a suprir a falta de

pressupostos processuais e as outras irregularidades de que enferme o requerimento

executivo, desde que sanáveis (artigo 726.º, n.º4 CPC), e só no caso de não

suprimento deve, num segundo despacho, indeferir o requerimento (artigo 726.º, n.º5

CPC)14. O indeferimento liminar imediato é reservado para os casos em que seja

manifesta:

14 Assim, por exemplo, nos casos de representação irregular do exequente, de falta de autorização ou deliberação que o exequente devesse ter obtido, de falta de constituição de advogado por parte do exequente, quando obrigatória, ou de falta, insuficiência ou irregularidade de mandato judicial por parte do mandatário que tenha proposto a ação executiva (artigos 27.º a 29.º, 34.º, n.º2 e 48.º CPC), tal como também nos de falta de

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a. A falta insuprível de pressuposto processual de conhecimento oficioso,

não tendo a secretaria, se se tratar da falta do título executivo 15o,

recusado o requerimento executivo (artigo 726.º, n.º2, alíneas a) e b)

CPC);

b. A atual inexistência da obrigação exequenda constante de título

negocial, por causa oficiosamente cognoscível (artigo 726.º, n.º2,

alínea c) CPC).

3. Rejeição oficiosa da execução: passado o momento do despacho liminar, é ainda

possível ao juiz vir a conhecer até ao primeiro ato de transmissão de bens penhorados

(venda, adjudicação, entrega de dinheiro) ou, por extensão, de consignação dos

respetivos rendimentos, de qualquer das questões que, nos termos do artigo 726.º,

n.º2 a 5 CPC, podiam ter conduzido ao convite ao aperfeiçoamento ou ao

indeferimento liminar do requerimento executivo (artigo 734.º CPC). Só co esse

primeiro ato de transmissão preclude, pois, a possibilidade de apreciação, no âmbito

do processo executivo, dos pressupostos processuais gerais (incluindo a

incompetência absoluta, pois creio que o artigo 734.º CPC derroga, no âmbito da

ação executiva, o artigo 97.º, n.º1 CPC) e das questões de mérito respeitantes à

existência da obrigação exequenda (que no âmbito da oposição à execução, essa

apreciação continua a ser possível: artigo 728.º, n.º1 e 2 CPC), diversamente do que

acontecia no Direito anterior à revisão do Código. Até esse momento, o juiz deve

convidar à supressão da irregularidade ou da falta do pressuposto ou rejeitar

oficiosamente a execução, proferindo neste caso despacho de extinção da instância,

logo que se aperceba da ocorrência de alguma das situações suscetíveis de fundar o

aperfeiçoamento ou indeferimento liminar, quer tenha ou não havido despacho

liminar e quer tal situação fosse já mantida à data em que este foi proferido, quer só

posteriormente se tenha revelado no processo executivo ou, mesmo, no processo

declarativo dos embargos de executado.

4. Indeferimento parcial: desde a revisão, o Código é expresso em admitir o

indeferimento liminar parcial (artigo 726.º, n.º3 CPC). A introdução deste preceito oi

concomitante com a supressão de um outro que, em sede de ação declarativa, não

admitia o indeferimento liminar parcial da petição, a não ser que dele resultasse a

exclusão de algum dos réus. A aplicação desta norma à ação executiva não tinha

qualquer razão de ser. Foi o que na revisão do Código se pretendeu deixar claro.

Citação do executado: proferido despacho de citação, é o executado citado para, no prazo

de 20 dias, pagar ou se opor à execução (artigo 726.º, n.º6 CPC). Pode, porém, o exequente

requerer a dispensa da citação prévia do executado quando justificadamente receie perder a

garantia patrimonial do crédito (artigo 727.º CPC). Trata-se, neste caso, como que no enxerto

duma providência cautelar na fase liminar da ação executiva: em vez de requerer o arresto

como preliminar desta, nos termos do artigo 364.º, n.º1 CPC, o credor serve-se da própria

execução para conseguir o efeito de acautelamento do seu direito, que a citação do devedor

apresentação do título executivo, de omissão do requerimento das diligências destinadas a tornar certa,, exigível ou líquida a obrigação, de falta de alegação ou requerimento de prova dos factos constitutivos da transmissão do crédito ou do débito e de coligação ou cumulação simples ilegal, impõe-se a utilização do despacho liminar de aperfeiçoamento, só seguido de indeferimento no caso de, na sua sequência, o vício não ser sanado. 15 O juiz indefere o requerimento executivo quando seja manifesta a falta ou a insuficiência do título executivo (artigo 726.º. n.º2, alínea a) CPC), escapando a segunda situação ao controlo da secretaria.

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ameaçaria. Para tanto, deve alegar e provar os factos que justifiquem o perigo de perda da

garantia patrimonial, já por via do conhecimento que o devedor tome da execução, já em

consequência do tempo que decorra até à penhora. A semelhança com o arresto é grande e

o requisito do periculum in mora idêntico; só a prova do fumus boni iuris é dispensada, visto que

o título executivo já presume a existência do direito exequendo. A dispensa da citação prévia

pode ser requerida relativamente a qualquer executado, incluindo o devedor subsidiário com

benefício da excussão prévia. Dispensada a citação prévia, o executado é citado depois da

penhora, podendo, nos 20 dias subsequentes, opor-se à penhora ou à execução ou a ambas

cumulativamente (artigos 727.º, n.º4 CPC e 856.º, n.º1 e 3 CPC). Se a oposição à execução

improceder, o exequente responderá pelos danos que culposamente cause ao executado, se

não tiver atuado com a prudência normal, além de incorrer em multa e sem prejuízo de

eventual responsabilidade criminal (artigos 727.º, n.º4 e 858.º CPC). Esta norma de

responsabilidade é paralela à do artigo 374.º, n.º1 CPC, relativa ao requerente da providência

cautelar julgada injustificada ou que venha a caducar. Quando ocorra a cumulação sucessiva,

o executado já não é de novo citado (para pagar ou opor-se à execução do segundo título),

mas apenas notificado para o efeito (artigo 728.º, n.º4 CPC).

L – Oposição à execução

Meio: uma vez citado (ou notificado, nos termos do artigo 728.º, n.º4 CPC, em consequência

de cumulação sucessiva), o executado pode opor-se à execução por meio de embargos (artigo

728.º, n.º1 CPC). A oposição do executado visa a extinção da execução, mediante o

reconhecimento da atual inexistência do direito exequendo ou da falta dum pressuposto,

específico ou geral, da ação executiva. Constituindo os embargos de executado uma

verdadeira ação declarativa, que corre por apenso ao processo de execução, nela é possível

ao executado, não só levantar questões de conhecimento oficioso, mas também alegar factos

novos, apresentar novos meios de prova e levantar questões de Direito que estejam na sua

disponibilidade. Como resulta do artigo 787.º CPC, pode também opor-se à execução o

cônjuge do executado, citado nos termos do artigo 786.º, n.º1, alínea a) CPC.

Fundamentos:

1. Na execução da sentença: a nossa lei processual enumera os fundamentos de

oposição à execução de sentença, distinguindo:

a. A sentença dos tribunais estaduais (artigo 729.º CPC): e, no âmbito desta,

dando tratamento especial à sentença homologatória de confissão ou

transação das partes (artigo 729.º, alínea i) CPC);

b. A sentença do tribunal arbitral (artigo 730.º CPC).

A enumeração constante das alíneas a) a h) do artigo 729.º CPC (execução de

sentença dos tribunais estaduais) engloba a falta de pressupostos processuais gerais,

a falta de pressupostos processuais específicos da ação executiva e a inexistência atual

da obrigação exequenda, incluindo a compensação. Algumas observações sobre

aqueles, destes fundamentos, que não foram já anteriormente analisados:

a. Falsidade: verifica-se nos casos indicados no artigo 372.º, n.º2 CC, pode

revestir a modalidade de falsidade ideológica o de falsidade material,

incluindo nesta última a contrafação, e tem por objeto todo o processo

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declarativo, a sentença nele proferida ou o traslado (certidão emitida para

servir de base à execução: artigo 649.º, n.º1 CPC). Ocorrendo falsidade de

um ato do processo executivo ou de qualquer documento deste que não seja

o título executivo, deverá ser arguida nos termos dos artigos 446.º a 450.º

CPC, nada disto tendo a ver com a oposição à execução. Tão-pouco pode

ser fundamento de oposição a falsidade de um ato do processo declarativo,

ou a de qualquer documento nele produzido e em que a sentença se tenha

baseado, o que apenas pode fundar recurso de revisão (artigo 696.º, alínea b)

CPC). A falsidade é de conhecimento oficioso se for evidente em face dos

sinais exteriores do processo ou do translado (artigo 372.º, n.º3 CC).

b. Infidelidade: a infidelidade do traslado ao original integra-se no conceito de

falsidade da própria certidão ou fotocopia, a que se referem os artigos 385.º

e 387.º, n.º1 CC, e, em paralelismo com o regime da falsidade do original, não

dá lugar ao incidente do artigo 444.º, n.º3 CPC (como acontece com a

infidelidade da cópia dum documento, diferente do título executivo,

produzido em processo executivo), mas à dedução de oposição por embargo.

Este vício só pode ser de conhecimento oficioso quando o processo

declarativo (original) se encontre no tribunal da execução; mas nada impede

que, no caso de existirem sinais exteriores do traslado que revelem a falsidade,

o juiz requisite o processo para confronto (artigo 436.º CPC).

c. Falta de pressuposto processual geral: a dedução de oposição em que se

queira fazer valer a falta de qualquer pressuposto processual que se queira

fazer a falta de qualquer pressuposto processual geral não preclude a

possibilidade do seu suprimento, nos autos do processo executivo, nos

termos gerais do artigo 6.º, n.º2 CPC. Suprida a falta do pressuposto

processual, cessa o fundamento da oposição, que o juiz julgará,

consequentemente, improcedente (adaptando-o, o artigo 611.º CPC). Mas se,

dependendo o suprimento da falta do pressuposto dum ato do exequente, o

juiz tiver proferido despacho de aperfeiçoamento do requerimento executivo,

o exequente não tiver sanado o vício e o juiz tiver omitido o subsequente

despacho de indeferimento liminar, pode ter precludido a possibilidade de

suprir a falta do pressuposto (artigos 29.º, n.º2 e 48.º, n.º2 CPC) ou ser ainda

admissível o suprimento (designadamente o artigo 261.º CPC).

d. Falta ou nulidade da citação: há

i. Falta de citação para a ação declarativa nos casos indicados no artigo

188.º CPC. A falta da citação só fica sanada se o réu intervier no

processo sem logo a arguir (artigo 189.º CPC). Note-se, ainda, que a

falta de citação é de conhecimento oficioso (artigo 196.º CPC) donde

resulta que pode fundar o indeferimento liminar; e

ii. Nulidade quando, fora desses casos, tenha havido, na realização do

ato, preterição de formalidade prescrita por lei (artigo 191.º, n.º1

CPC). Embora a sua arguição no processo declarativo deva, em regra,

ter lugar no prazo indicado para a contestação (artigo 191.º, n.º2

CPC), pode ser invocada em embargos de executado quando não

tenha sido feita valer no processo declarativo, desde que a ação tenha

corrido à revelia do réu. A nulidade, contrariamente à falta de citação,

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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tem de ser arguida pelo réu (artigo 197.º, n.º1 CPC), de onde resulta

que a só pode ser arguida nos embargos.

Com este vício (falta ou nulidade da citação para a ação declarativa) nada tem

a ver com a falta ou nulidade da citação para a ação executiva, a qual é

fundamento de anulação da execução (artigo 851.º CPC). Tenha-se ainda em

conta o fundamento da revisão do artigo 696.º, alínea e) CPC.

e. Caso julgado: quando, fora do esquema das impugnações, são proferidas

duas decisões sobre a mesma questão,, apenas é eficaz a que primeiro

transitar em julgado (artigo 625.º CPC), com a consequência de ser

inexequível a segunda, pelo que, pedida a execução desta, pode o executado

opor-se. Esta exceção é de conhecimento oficioso (artigo 578.º CPC) e,

quando o processo em que foi proferida a decisão primeiramente transitada

tenha corrido no mesmo tribunal, também o é o facto em que ela se funda

(artigo 412.º, n.º2 CPC).

f. Facto extintivo ou modificativo da obrigação: abrange as várias causas de

extinção das obrigações, designadamente o pagamento, a dação em

cumprimento, a consignação em depósito, a novação, a remissão e a confusão

(artigo 837.º CC e seguintes), bem como aquelas que as modificam

(designadamente por substituição do seu objeto, extinção parcial ou alteração

de garantias), a prescrição e, no que respeita às pretensões reais, as causas de

extinção e de modificação do direito em que se baseiam (incluindo aquelas

de que decorre a transmissão do direito real), em como a usucapião. A

compensação é, no novo Código, autonomizada na alínea h) do artigo. Ao

exigir-se a prova documental destes factos (com a exceção da prescrição) e

sem prejuízo da prova por confissão do exequente, introduz-se um

desfasamento entre o direito substantivo (em que só vigora a limitação do

artigo 395.º C e o direito processual executivo. A alínea g) do artigo 729.º

CPC põe ainda a questão de saber se, ao estatuir, por respeito pelo caso

julgado, que o facto extintivo ou modificativo há de ser posterior ao

encerramento da discussão no processo de declaração – ou conhecido depois

dele: superveniência subjetiva –, ela se contenta, no caso das exceções sem

sentido próprio, com a ocorrência, ao tempo, dos respetivos pressupostos ou

exige que também até então tenha tido lugar a declaração de querer fazer

valer a exceção, dado que tal declaração constitui um pressuposto do efeito

jurídico dela decorrente. Da consideração do lugar paralelo do artigo 860.º

CPC (invocanbilidade de benfeitorias na ação executiva para entrega de coisa

certa) retira-se, tido em conta o n.º3 que lhe foi aditado na revisão do Código,

que a exceção em sentido próprio não pode ser feita valer na oposição

quando se baseie em pressupostos já verificados à data do encerramento da

discussão. Não obstante a alínea g) não referir os factos impeditivos, devem

entender-se sujeitos ao mesmo regime (da invocabilidade em oposição,

quando os respetivos pressupostos se tenham verificado já depois de

encerada a discussão da causa) aqueles que integrem exceções em sentido

próprio.

g. Compensação: a nova qualificação processual que se pretendeu dar à

compensação no artigo 266.º, n.º2, alínea e) CPC levou à sua autonomização

como fundamento de embargos de executado. É que, excedendo a

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reconvenção a função defensiva dos embargos, a caracterização adjetiva da

compensação como reconvenção levaria a negar a sua invocabilidade na

dependência da ação executiva, o que seria contrário ao seu regime

substantivo. Em minha opinião, a compensação contínua a constituir uma

exceção perentória e o que a nova lei estabelece é, quando muito, um ónus

de reconvir na ação declarativa (pedindo a mera apreciação da existência do

contracrédito) cuja observância é suporte necessário da invocação da exceção.

A nova norma tem a utilidade de deixar claro que, seja como for, a

compensação (até ao montante da obrigação exequenda), pode constituir

fundamento de embargos de executado. Fora de questão está, agora como

dantes, que o executado cujo contracrédito seja superior ao do exequente

possa invocar a sentença que a seu favor venha a ser proferida como uma

sentença de condenação do exequente no pagamento da diferença entre os

dois créditos, nem sequer como sentença de mero reconhecimento da

existência da dívida pelo excesso, nem (muito menos) obter o pagamento

forçado dessa diferença no processo executivo a que se opôs; mas, quer o seu

crédito seja igual ou inferior, quer seja superior ao do exequente, é-lhe

permitido deduzir a exceção de compensação, seja como objeção (no caso de

já extrajudicialmente ter declarado querer compensar), seja como exceção

propriamente dita (no caso de essa declaração ser feita no requerimento de

oposição). A consideração do fundamento da compensação em alínea

separada da dos restantes factos extintivos da obrigação exequenda liberta o

executado do ónus de provar através de documento, quer o facto constitutivo

do contracrédito e as suas características relevantes para o efeito do artigo

847.º CC, quer a declaração de querer compensar (artigo 848.º CC), no caso

de esta ter sido feita fora do processo. Permitir-lhe-á também essa

consideração separada fazer valer a compensação quando o executado o

podia já ter feito na ação declarativa? As mesmas razões que, tido em conta

o lugar paralelo do artigo 660.º CPC, justificam a extensão da preclusão

estabelecida na alínea d) do artigo 729.º CPC à exceção em nome próprio

cujos pressupostos estejam já verificados à data do encerramento da

discussão na ação declarativa levaria a uma resposta negativa; mas uma vez

entendido que o titular do contracrédito tem hoje o ónus de reconvir, o

momento preclusivo recua à data da contestação (a reconvenção não pode

ser deduzida em articulado superveniente); a invocação da compensação só

não será pois, admissível quando ela já era possível à data da contestação da

ação declarativa, só assim se harmonizando o regime da alínea h) com o da

alínea g) do artigo 729.º CPC.

h. Prescrição: o prazo de prescrição é, em regra, o ordinário, uma vez que a

sentença transitada em julgado altera o prazo de prescrição dos direitos que

reconhece, ainda que este último prazo fosse o da prescrição presuntiva

(artigo 311.º, n.º1 CC). No entanto, se a sentença exequenda tiver condenado

em prestações futuras, continua, em relação a elas, a contar-se a prescrição

de curto prazo (artigo 311.º, n.º2 CC).

Nos casos em que o fundamento dos embargos de executado constitui também

fundamento do recurso extraordinário de revisão, a pendência deste à data em que o

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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executado é citado para a execução da sentença recorrida não dispensa o executado

de se opor à execução, que o recurso de revisão não suspende (artigo 699.º, n.º3 CPC).

Uma vez deduzida a oposição, terá lugar, normalmente, a suspensão da instância de

recurso, até que a oposição seja definitivamente julgada. No caso de execução de

sentença homologatória de confissão ou transação, podem, além dos fundamentos

indicados nas alínea a) a h) do artigo 729.º CPC, ser invocadas quaisquer causas que,

segundo a lei civil, determinem a nulidade ou a anulabilidade do negócio jurídico

homologado (artigo 729.º, alínea i) CPC): simulação, dolo, erro, inidoneidade do

objeto, incapacidade, etc. Os atos de autocomposição do litígio constituem negócios

jurídicos, como tais sujeitos ao respetivo regime geral (artigo 291.º, n.º1 CPC), sem

que o trânsito em julgado da sentença que os homologue obste à propositura da ação

de declaração de nulidade ou de anulação (artigo 291.º, n.º2 CPC), e esta pode surgir

sob a forma de embargos de executado. Note-se que, nos casos de anulabilidade,

nunca terá ocasião de se verificar a caducidade de um ano estabelecida no artigo 287.º,

n.º1 CC. Esta caducidade pressupõe o cumprimento do negócio e, enquanto este não

ocorrer, a causa de anulabilidade é invocável a todo o tempo (artigo 287.º, n.º2 CC).

Quando se trata de executar a sentença homologatória do negócio jurídico, este não

está, obviamente, cumprido. Na execução de sentença de tribunal arbitral, os

fundamentos de oposição são, além dos enumerados no artigo 729.º CPC, aqueles

em que se pode bastar a anulação da decisão arbitral (artigo 730.º CC), desde que a

anulabilidade não esteja sanada pelo decurso do prazo para a ação de anulação e

desde também que a ação de anulação não tenha sido definitivamente julgada

improcedente (artigo 48.º LAV).

2. Na execução de outro título: diferentemente do que acontece nos embargos à

execução de sentença, os embargos à execução baseada em outro título podem

fundar.se em qualquer causa que fosse lícito deduzir como defesa no processo de

declaração (artigo 731.º CPC). Compreende-se porquê: o executado não teve ocasião

de, em ação declarativa prévia, se defender amplamente da pretensão do exequente.

Pode, pois, o executado alegar nos embargos matéria de impugnação e de execução

(artigo 571.º, n.º2 CPC). Mas não pode reconvir: a reconvenção, que não é um meio

de defesa mas de contra-ataque, não é admissível nem no processo executivo nem

nos processos declarativos que a ele funcionalmente se subordinam.

Oposição por requerimento: a enunciação dos fundamentos de oposição à execução

deve ter-se por taxativa? Assim o inculca a redação, não só do artigo 729.º CPC, mas também

a dos artigos seguintes, e, em sede de execução para entrega de coisa certa, a do artigo 860.º

CPC. Resta, porém, saber se, não obstante a letra da lei e a mens legislatoris, a interpretação

extensiva do artigo 729.º CPC não se imporá, por necessidade, de outro modo insuperável,

de configuração de outros fundamentos de oposição. Foi o que defenderam, na vigência do

CPC anterior à revisão:

1. Castro Mendes: o executado podia deduzir oposição à execução de sentença, não

só com algum dos fundamentos indicados, mas também com base em outro qualquer

fundamento que fosse de conhecimento oficioso, designadamente a incompetência

absoluta e a litispendência.

2. Anselmo de Castro: entendendo que podia fundar a oposição a falta de qualquer

pressuposto processual geral, citava a incompetência e a nulidade por erro na forma

de processo como devendo engrossar a enumeração legal.

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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017

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Quer a incompetência absoluta, como falta de pressuposto processual, quer a litispendência,

como pressuposto processual negativo, passaram, com a revisão do Código, a ser abrangidas

na previsão da norma hoje na alínea c) do artigo 729.º CPC. Mas, fora do campo dos

pressupostos, outros fundamentos processuais de oposição do executado são hipotizáveis.

Assim, além do erro na forma do processo, que constitui uma nulidade, pode dar-se o

exemplo da não indicação do valor da ação no requerimento executivo, que dá lugar a que o

juiz convide o exequente a declará-lo, sob pena de extinção da instância (artigo 305.º, n.º3

CPC); o mesmo acontece se faltar outro requisito legal da petição (artigo 590.º, n.º3, 726.º,

n.º4 e 734.º CPC). Se, ocorrendo um destes casos, o juiz tiver proferido despacho de citação,

ou se não tiver havido despacho liminar, o executado poderá querer levantar a questão, no

primeiro caso não precludida (artigo 226.º, n.º5 CPC), após a sua citação para a ação executiva.

Através da oposição à execução ou por simples requerimento. Tratando-se de vícios cuja

demonstração não carece de alegação de factos novos nem de prova, o meio da oposição à

execução seria demasiado pesado, pelo que basta um requerimento do executado em que

este suscita a questão no próprio processo executivo. O preceito do artigo 723.º, n.º1, alínea

d) CPC (admissibilidade, em geral, do requerimento da parte ao juiz do processo – sem

prejuízo da multa a que pode dar lugar quando manifestamente infundado: artigo 723.º, n.º2

CPC), não permite duvidar da admissibilidade deste meio. A redação do artigo 729º. CPC

não constitui obstáculo a esta solução: o direito de defesa do executado e o princípio do

contraditório não podem nunca ser preteridos; mas, sempre que a contraditoriedade possa

ser assegurada por um simples requerimento, essa é a via que permitirá colmatar as lacunas

das normas que regulam a defesa do executado, com as vantagens da maior simplicidade do

meio (princípio da economia processual) e da não violentação do texto legal do artigo 729.º

CPC. Não se vendo que possa surgir algum outro fundamento carecido de alegação em

oposição à execução e podendo esta só ter lugar, nos casos dos artigos 729.º e 730.º CPC,

pelos fundamentos aí indicados, o meio do requerimento constitui, melhor depois da revisão

do Código do que anteriormente, uma solução satisfatória.

Processo:

1. Natureza: diversamente da contestação da ação declarativa, a oposição à execução,

constituindo, do ponto de vista estrutural, algo de extrínseco à ação executiva, toma

o caráter duma contra-ação tendente a obstar à produção dos efeitos do título

executivo e (ou) da ação que nele se baseia. Quando veicula uma oposição de mérito

à execução, visa um acertamento negativo da situação substitutiva (obrigação

exequenda), de sentido contrário ao acertamento positivo consubstanciado no título

executivo (judicial ou não), cujo escopo é obstar ao prosseguimento da ação executiva

mediante a eliminação, por via indireta, da eficácia do título executivo enquanto tal;

e autores há que, levando mais longe a incidência da procedência da oposição no

plano da exequibilidade, negam que ela tenha por objeto a apreciação da subsistência

da obrigação titulada, afirmam que o seu fim é tão-só combater diretamente a

exequibilidade do título, mediante a declaração da inadmissibilidade da execução nele

fundada, e consequentemente defendem a natureza constitutiva da sentença que a

julgue procedente. Quando a oposição tem um fundamento processual, o seu objeto

é, já não uma pretensão de acertamento negativo do direito exequendo, mas uma

pretensão de acertamento, também negativo, da falta dum pressuposto processual,

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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que pode ser o próprio título executivo, igualmente obstando ao prosseguimento da

ação executiva, mediante o reconhecimento da sua inadmissibilidade.

2. Ónus e preclusões: constituindo petição duma ação declarativa e não contestação

duma ação executiva, a dedução da oposição à execução não representa a observância

de qualquer dos ónus cominatórios (ónus de contestação, ónus da impugnação

especificada) a cargo do réu na ação declarativa: nem a omissão de oposição produz

a situação de revelia nem a omissão de impugnação dum facto constitutivo da causa

de pedir da execução produz qualquer efeito probatório, não fazendo sentido falar,

a propósito, de prova de factos alegados pelo exequente ou de definição do direito

decorrente do título executivo, o qual continua, após o decurso do prazo para a

oposição como até aí, a incorporar a obrigação exequenda, com dispensa, em

princípio, de qualquer indagação prévia sobre a sua real existência. Mas, na medida

em que a oposição à execução é o meio idóneo à alegação dos factos que em processo

declarativo constituiriam matéria de exceção, o termo do prazo para a sua dedução

faz precludir o direito de os invocar no processo executivo, a exemplo do que

acontece no processo declarativo. A não observância do ónus de excecionar,

diversamente da não observância do ónus de contestar ou do de impugnação

especificada, não acarreta uma cominação, mas tão-só a preclusão dum direito

processual cujo exercício se poderia revelar vantajoso. Com uma diferença, porém,

relativamente ao processo declarativo: enquanto neste o efeito preclusivo se dissolve,

com a sentença, no efeito geral do caso julgado, tal não acontece no processo

executivo, em que não há caso julgado, pelo que nada impede a invocação duma

exceção não deduzida (que não respeite à configuração da relação processual

executiva) em outro processo. A decisão neste subsequente proferida não tem

eficácia no processo executivo, mas pode conduzir à restituição ao executado da

quantia conseguida na execução, pelo mecanismo da restituição do indevido.

3. Formação do caso julgado: a decisão de mérito proferida nos embargos à execução

constitui, nos termos gerais, caso julgado material quanto à existência, validade e

exigibilidade da obrigação exequenda (artigo 732.º, n.º5 CPC). Esta disposição,

introduzida no novo Código, resolve uma questão doutrinariamente controvertida.

A doutrina divide-se:

a. Aqueles que circunscrevem ao processo executivo, baseado num título

executivo determinado, o caso julgado formado nos embargos de

executado (Brox-Walker);

b. Aqueles que atribuem à decisão de mérito neles proferida eficácia de

caso julgado material (Enrico Redenti). Esta posição surge como

consequência natural da autonomia do meio de oposição para quem leve essa

autonomia ao ponto de nele admitir a reconvenção. Mas, embora

estruturalmente autónomo, o processo de embargos de executado está ligado

funcionalmente ao processo executivo e o acertamento que nele se faz, seja

um acertamento de mérito, seja um acertamento sobre pressupostos

processuais da ação executiva, serve as finalidades desta. Está na lógica desta

construção circunscrever o seu efeito à ação executiva e defender que a

eficácia extraprocessual só seria de admitir se, no próprio processo executivo,

tivesse lugar uma decisão dotada da força de caso julgado, mas então por

força desta outra decisão e não como direta consequência da decisão dos

embargos à execução. Mesmo quando o objeto desta ação é uma pretensão

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de acertamento da inexistência do direito exequendo, este acertamento

subordinar-se-ia aos fins da execução, com a consequência, quando a

oposição é procedente, de destruir a eficácia do título que contém o

acertamento positivo do direito. Por isso também, se o devedor obter a

segurança duma decisão material definitiva, deveria lançar mão duma ação

declarativa autónoma, estrutural e funcionalmente, em que pediria que fosse

declarada a inexistência da obrigação. E, por isso também, na falta desta ação,

o devedor poderia ser de novo demandado pelo credor para satisfação da

mesma obrigação, não obstante ter obtido vencimento nos embargos, assim

como, no caso de não ter obtido, poderia, com o mesmo fundamento, mover

uma ação contra credor para obter a restituição do que indevidamente tivesse

pago no processo executivo ou (e) para lhe pedir uma indemnização. Mas,

em Direito, a pura lógica deve ceder à consideração dos interesses em jogo,

quando estes imponham uma solução diversa da daquela e por isso era

defendida, nas edições desta obra anteriores à reforma da ação executiva, a

formação de caso julgado na ação de embargos de executado. Esta posição

tinha como pressuposto que, ao estatuir que a oposição do executado desse

lugar a uma ação declarativa que, ao estatuir que, a partir dos articulados,

seguia a forma de processo ordinário ou sumário, consoante o valor, a lei

processual vigente até à reforma da ação executiva estabelecia para os

embargos de executado uma forma quase tão solene como a do processo

comum. Uma vez que o princípio do contraditório nela é plenamente

assegurado, não se justificaria admitir posteriormente outra ação com a

mesma causa de pedir em que se pudesse voltar a pôr em causa a existência

da obrigação exequenda. Era assim possível concluir que, no caso de

oposição de mérito, a procedência dos embargos não se limitava a ilidir a

presunção estabelecida a partir do título e, embora sempre nos limites

objetivos definidos pelo pedido executivo, gozava de eficácia extraprocessual

nos termos gerais, como definidora da situação jurídica de Direito

substantivo reinante entre as partes. A sentença proferida sobre uma

oposição de mérito era, pois, dotada da força geral do caso julgado, sem

prejuízo de, quando fosse de improcedência, os seus efeitos se

circunscreverem, nos termos gerais, pela causa de pedir invocada (negação

dum fundamento da pretensão executiva ou exceção perentória contra ela),

não impedindo nova ação de apreciação baseada em outra causa de pedir.

Esta solução tornou-se questionável com a reforma da ação executiva, dado

que os embargos de executado com ela passaram a seguir sempre, após os

articulados, os termos do processo sumário, independentemente do valor. As

ações que, propostas autonomamente, seguiriam a forma ordinária passaram

assim a conhecer, como maior limitação, a redução a metade do número de

testemunhas por parte (10, em vez de 20) e por facto (3, em vez de 5), o que

constituía importante limitação do direito à prova. Não julguei, porém, que

tal levasse automaticamente à conclusão de que o caso julgado não se

formava na ação de embargos de executado: só concretamente se poderia

verificar se o direito à prova tinha sido efetivamente limitado, para o que seria

adequado o recurso ao critério perfilhado para o caso da assistência

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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(atualmente, artigo 332.º, alínea a) CPC), a aplicar com as adaptações que a

distinta natureza das duas situações implicava: em princípio, o caso julgado

produzia-se; era, porém, admissível à parte provar, em ação que

autonomamente viesse a ser proposta, que as limitações de prova referidas a

tinham impedido de fazer uso de testemunhos que poderiam ter influído na

decisão final. A reabertura da discussão só afastaria, no final, a decisão

anterior se as novas testemunhas se revelassem efetivamente determinantes

duma convicção judicial de conteúdo diverso do primeiro. A norma

introduzida no CPC 2013 não distingue. Nem tinha que distinguir: com a

redução das formas de processo comum a uma só, o regime da prova

testemunhal passou a ser o mesmo na ação declarativa comum e na ação de

embargos de executado. Tornou-se assim indiscutível que faz caso julgado

material a decisão dos embargos sobre a existência da obrigação exequenda.

Um dos corolários da autonomia estrutural da ação de embargos de

executado relativamente à ação executiva é a possibilidade de não serem as

mesmas as partes num e noutro processo. Basta, para tanto, que, havendo

vários executados litisconsortes, nem todos se oponham à execução. Em tal

caso, a sentença proferida na oposição só é vinculativa entre o embargante

(ou embargantes) e o exequente, não sendo os restantes executados

abrangidos pela eficácia do caso julgado (artigos 580.º, n.º1, 581.º, n.º1 e 2, e

619.º, n.º1 CPC). Consequentemente, se a oposição for julgada procedente,

só perante o embargante se produzirá, consoante o caso, o efeito direto de

caso julgado material da decisão da oposição de mérito ou o de caso julgado

formal (estendido apenas ao processo executivo) da decisão sobre

pressupostos processuais. Os restantes executados, terceiros relativamente ao

processo de oposição, não são abrangidos pela eficácia direta do caso julgado

que nele se forme: as situações jurídicas de que são titulares limitam-se a

registar, se for caso disso, as repercussões indiretas que lhes possam caber

segundo o Direito substantivo, em nada mais lhe aproveitando a dedução dos

embargos. Excetuam-se os casos de imposição de litisconsórcio na ação

executiva, em que, aliás, o recurso ao mecanismo do artigo 261º, n.º1 CPC é

necessário para garantir a legitimidade do embargante.

4. Prazo: a oposição à execução deve ser deduzida no prazo de 20 dias a contar da

citação do executado (artigo 728.º, n.º1 CPC) ou, no caso de cumulação sucessiva de

pedidos, da sua posterior notificação. Há, no entanto, a possibilidade de embargos

supervenientes:

a. Quando o facto que os fundamentos ocorrer depois da citação do

executado;

b. Quando este só tiver conhecimento do facto depois da sua citação.

O prazo de 20 dias conta-se a partir da ocorrência do facto ou do seu conhecimento

pelo executado (artigo 728.º, n.º3 CPC). Sendo vários os executados, pôs-se, na

vigência do Direito anterior à revisão do Código, o problema de saber se tem

aplicação a norma atualmente no artigo 569.º, n.º2 CPC (aproveitamento pelos

restantes réus do prazo para contestar daquele que foi citado em último lugar). À

primeira vista, dir-se-ia que sim, dada a remissão genérica da norma hoje do artigo

551.º, n.º1 CPC para as disposições reguladoras do processo de declaração. Mas a

dedução dos embargos de executado não constitui uma contestação e a norma do

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artigo 569.º, n.º2 CPC é excecional em face da norma geral do artigo 139.º, n.º3 CPC

(extinção da faculdade de praticar o ato com o termo do prazo perentório),

aparecendo ligada ao estabelecimento do efeito cominatório decorrente da falta de

constestação, que, como vimos, a omissão de embargar não tem. Ora a aplicação do

artigo 569.º, n.º2 CPC ao prazo para a oposição implicaria que os atos executivos,

máxime a penhora, tivessem de aguardar o termo do prazo para a oposição do

executado citado em último lugar, em detrimento do exequente em contradição com

o caráter individualizado das providências executivas. Por isso, defendemos, perante

as normas originárias do CPC de 1961, a sua inaplicabilidade. A revisão do Código

consagrou esta exclusão, em norma que agora se encontra no artigo 728.º, n.º3 CPC.

5. Efeitos da pendência: deduzida a oposição à execução, esta não é, em regra,

suspensa (artigo 733.º, n.º1 CPC), mas nem o exequente nem outro credor pode ser

pago, na pendência dela, sem prestar caução (artigo 733.º, n.º4 CPC). Há, no entanto,

três possibilidade de o embargante conseguir a suspensão da execução (alíneas a), b)

e c) do artigo 733.º, n.º1 CPC):

a. De alcance geral, consiste na prestação de caução: se o embargante

presta caução, o juiz deve determinar a suspensão da execução. Não é

estabelecido prazo para a prestação de caução, devendo entender-se que ela

pode ter lugar a todo o tempo e não apenas com a petição inicial de oposição,

pois não se justificaria qualquer restrição temporal. A caução é prestada nos

termos do incidente referido no artigo 915.º CPC e regulado no artigo 913.º

CPC.

b. Circunscrita às ações fundadas em documento particular sem a

assinatura reconhecida, tem lugar quando o embargante alegue que a

assinatura não é genuína: quando a execução se funde em documento

escrito particular cuja assinatura não tenha sido notarialmente reconhecida e

o executado alegue, em oposição à execução, que não o assinou o pretenso

devedor, o juiz, ouvido o exequente, pode suspender a execução se for junto

documento que indicie que a alegação do opoente é verdadeira. Neste caso,

a suspensão não é automática: o juiz só suspenderá a execução, dispensando

a prestação de caução se, ouvido o embargado, se convencer da séria

probabilidade de a assinatura não ser do devedor;

c. Tem lugar quando o embargante impugne a exigibilidade ou a

liquidação da obrigação: também neste caso, onde é impugnada a

exigibilidade da obrigação exequenda ou contestada a liquidação feita pelo

exequente, o que o executado só pode fazer por embargos pode o juiz,

ouvido o embargado, suspender a execução com dispensa de prestação de

caução.

De acordo com o artigo 733.º, n.º3 CPC, cessa a suspensão se, durante mais de 30

dias, o embargante mantiver, com negligência, o processo de embargos parado. A

suspensão mantém-se na fase de recurso, tenha a oposição sido julgada procedente

ou improcedente. Com a decisão definitiva sobre a oposição, a execução extingue-se,

quando a oposição proceda (artigo 732.º, n.º4 CPC), ou prossegue, quando

improceda, os mesmos efeitos se produzindo se não tiver havido suspensão.

6. Tramitação: sabemos já que os embargos à execução constituem uma verdadeira

ação declarativa, que corre por apenso ao processo de execução. Iniciam-se com uma

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petição inicial, que terá de ser articulada em obediência à norma do artigo 147.º, n.º2

CPC. Uma vez ela autuada, o processo é concluso ao juiz para proferir despacho

liminar. O despacho deve ser de indeferimento:

a. Se os embargos tiverem sido deduzidos fora do prazo (artigo 732.º, n.º1,

alínea a) CPC);

b. Se for invocado fundamento para além dos admitidos pelos artigos

729.º a 731.º CPC (artigo 732.º, n.º1, alínea b) CPC);

c. Se for manifesta a improcedência da oposição do executado (artigos

732.º, n.º1, alínea c) CPC).

Deve sê-lo também se ocorrer, nos embargos de executado, exceção dilatória

insuprível de que o juiz deva conhecer oficiosamente (artigo 590.º, n.º1 CPC).

Proferido despacho de citação, o exequente é notificado para contestar no prazo de

20 dias, sem mais articulados (artigo 732.º, n.º2 CPC). Não contestando o exequente,

consideram-se admitidos os factos alegados na petição de embargos, aplicando-se o

artigo 567.º, n.º1 CPC (revelia do réu), com as exceções do artigo 568.º CPC; mas,

porque, diferentemente do que acontece em processo declarativo comum, o

exequente que não conteste já assumiu a posição de vir a juízo, propondo a ação

executiva, não são dados com os expressamente alegados no requerimento inicial da

execução (artigo 732.º, n.º3 CPC). Terminada a fase dos articulados, aplicam-se aos

termos subsequentes do processo as normas do processo comum de declaração

(artigo 732.º, n.º2 CPC). É admissível a suspensão da instância dos embargos de

executado por ocorrência de causa prejudicial (artigo 272.º, n.º1 CPC).

M – Objeto da penhora

Noção: a satisfação do direito do exequente é conseguida, no processo de execução,

mediante a transmissão de direitos do executado, seguida, no caso de ser feita para terceiro,

do pagamento da dívida exequenda. Mas, para que essa transmissão se realize, há que

proceder previamente à apreensão dos bens que constituem o objeto desses direitos, ao

mesmo tempo paralisando ou suspendendo, na previsão dos atos executivos subsequentes,

a afetação jurídica desses bens à realização de fins do executado, que fica consequentemente

impedido de exercer plenamente os poderes que integram os direitos de que sobre eles é

titular, e organizando a sua afetação específica à realização dos fins da execução. É nessa

apreensão judicial de bens do executado que se traduz a penhora, que é assim o ato judicial

fundamental do processo de execução para pagamento de quantia certa, aquele em que é

mais manifesto o exercício do poder coercitivo do tribunal: perante uma situação de

incumprimento, o tribunal priva o executado do pleno exercício dos seus poderes sobre um

bem que, sem deixar ainda de pertencer ao executado, fica a partir de então especificamente

sujeito à finalidade última de satisfação do crédito do exequente, a atingir através da

disposição do direito do executado nas fases subsequentes da execução. Destas se poderá,

assim, dizer que são como que a consequência natural da penhora, que é o ato executivo por

excelência. Depois de estudado o objeto da penhora e a forma de a realizar, estaremos em

melhores condições para, em desenvolvimento da sua noção, lhe precisar a função e os

efeitos.

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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017

Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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Princípios gerais: como se sabe, a garantia geral das obrigações é, em princípio,

constituída por todos os bens que integram o património do devedor. Esta sujeitabilidade da

generalidade dos bens do devedor à execução para satisfação do direito do credor a uma

prestação pecuniária constitui a responsabilidade patrimonial, que, resultante do

incumprimento, é o fundamento de toda a execução por equivalente, bem como da execução

específica, ainda quando por meio direito, das obrigações pecuniárias. Mas as figuras da

garantia especial (fora do âmbito da responsabilidade patrimonial) e da impugnação pauliana,

em como as limitações e condicionamento da responsabilidade patrimonial, introduzem

exceções e especialidades a que há que atender se põe a questão do objeto possível da

penhora. Da articulação dos artigos 735.º, n.º1 e 2 e 736.º a 739.º CPC com os artigos 601.º

e 818.º CC, assim como da sua aproximação dos artigos 740.º a 745.º, 752.º, n.º1 e 54.º, n.º2

CPC, podem extrair-se os seguintes princípios gerais:

1. Todos os bens que constituem o património do devedor, principal ou

subsidiário, podem ser objeto de penhora, à exceção dos bens inalienáveis

e de outros que a lei declare impenhoráveis;

2. Os bens de terceiro só podem ser objeto de execução em dois casos:

a. Quando sobre eles incida direito real constituído para garantia do

crédito exequendo;

b. Quando tenha sido julgada procedente impugnação pauliana de

que resulte para o terceiro a obrigação de restituição dos bens ao

credor.

3. Há que ter em conta os desvios resultantes da existência de patrimónios

autónomos, da constituição de garantias reais sobre bens próprios do

devedor e da articulação de responsabilidades entre devedor principal e

devedor subsidiário, desvios estes que, na maior parte dos casos, se exprimem

em diferentes regimes de penhorabilidade subsidiária;

4. Nunca podem ser penhorados senão bens do executado, seja este o

devedor principal, um devedor subsidiário ou um terceiro. Esta regra não

tem exceções.

Penhora e disponibilidade substantiva:

1. Indisponibilidade objetiva: uma vez que a penhora consiste na apreensão dum

bem com vista a uma ulterior transmissão, seria inútil admiti-la quando, segundo a

lei substantiva, o bem apreendido é objetivamente indisponível. Em consequência,

são impenhoráveis os bens do domínio público (artigo 736.º, alínea b) CPC). São-no

também os bens inalienáveis do domínio privado (artigo 736.º, alínea a) CPC). Não

podem, por isso penhorar-se, entre outros, o direito a alimentos (artigo 2008.º, n.º1

CC), o direito de uso e habitação (artigo 1488.º CC), o direito à sucessão de pessoa

viva (artigo 2028.º CC), a propriedade de nome ou insígnia de estabelecimento

separadamente deste (artigo 297.º CPI), a propriedade de recompensa industrial sem

a parte do estabelecimento cujos produtos justifiquem a concessão (artigo 279.º CPI)

ou a posição do arrendatário de prédio para habitação, a qual, fora o caso de divórcio

ou separação judicial de pessoas e bens (artigo 1105.º CC), só é transmissível por

morte do titular e para pessoas determinadas, quando verificados determinados

requisitos (artigo 1106º. CC).

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José Lebre de Freitas | 大像城堡

Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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2. Indisponibilidade subjetiva: também os regimes de indisponibilidade subjetiva

geram, em regra, regimes de impenhorabilidade. As normas de indisponibilidade

subjetiva, atuam eliminando ou restringindo os poderes de disposição do sujeito

sobre bens próprios. No primeiro caso, o poder de disposição é atribuído a um não

titular do direito, quer para o exercício dum direito próprio da pessoa a quem é

atribuído, com fim de garantia, quer para a realização do interesse atribuído com fim

de garantia, quer para a realização do interesse do respetivo titular, incapaz de o

exercer. No segundo caso, a limitação do poder de disposição traduz-se na

necessidade de o titular do direito obter, para dispor, uma autorização ou

consentimento alheio, também quer por consideração do seu próprio interesse, quer

por consideração do interesse da pessoa que terá de autorizar ou consentir o ato

dispositivo. O primeiro tipo de situação não oferece relevância em sede de

penhorabilidade: quando a atribuição do poder de disposição visa um fim de garantia,

a pessoa a quem ele é atribuído tem direito a ser paga antes do exequente, se o bem

for penhorado antes de exercício o direito que justifica a atribuição (artigo 666.º CC);

quando, ao invés, a atribuição é feita no interesse do titular do direito, a regularidade

da penhora é assegurada mediante o mecanismo da representação deste no próprio

processo executivo (artigo 16.º, n.º1 CPC). Tão-pouco oferece dificuldade o caos em

que a limitação do poder de disposição se faz no interesse do titular do direito: sendo

a penhora um ato independente da vontade do executado e que pode ter lugar sem a

sua colaboração, basta, também, aqui, fazer intervir no processo executivo, ao lado

do executado, a pessoa que, se o ato fosse voluntário, o deveria autorizar (artigo 10.º,

n.º1 CPC). Mais complexa é a situação em que o poder de disposição é restringido

no interesse da pessoa legitimada para conceder a autorização ou consentimento. À

primeira vista, dir-se-ia que, não tendo essa pessoa responsabilidade pela dívida, iria

afetar ilegitimamente o seu interesse a admissão da venda executiva do bem quando

o consentimento exigido pela lei substantiva não é prestado. Mas a constatação de

que assim se poderia vir a prejudicar gravemente o exequente, nomeadamente em

casos em que é íntima a ligação entre o titular do direito e o titular do poder de

autorização ou consentimento, leva a distinguir. Em primeiro lugar, há casos em que

a limitação é extrínseca ao direito em causa. Assim, o casamento atua do exterior

sobre certas situações jurídicas próprias de cada um dos cônjuges, adquiridas quer na

sua vigência, quer até antes dele. Compreende-se que a situação conjugal do titular

do direito justifique essa limitação quando está em causa um ato dela

independentemente: embora o interesse que explica a limitação nele não radique, a

não organização desse interesse em direito subjetivo leva naturalmente a sacrificá-lo

ao interesse, mais forte, do credor. Assim se explica que, na vigência do regime de

comunhão geral de bens ou de comunhão de adquiridos, os bens imóveis e o

estabelecimento comercial próprios de um dos cônjuges possam ser penhorados sem

o consentimento conjugal (artigo 1696.º, n.1º CC), não obstante só poderem ser

alienados com consentimento do outro cônjuge (artigo 1682.º-A, n.º1 CC) e este ter,

se não o tiver dado, o direito de anular o ato praticado (artigo 1687.º, n.º1 CC).

Noutros casos, trata-se duma limitação intrínseca do direito, fora ou dentro dum

esquema de cumprimento contratual. Como paradigma de limitação intrínseca não

inserta num esquema de cumprimento contratual, temos o caso da autorização social

exigida, pela lei ou pelo pacto, para a cessão de quota ou parte social. A limitação é

intrínseca porque respeita diretamente ao regime do direito em causa. Não se insere

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num esquema de cumprimento contratual porque, embora os direitos do sócio

tenham como primeira referência o pacto social, dele se destacam no âmbito de

relações duradoiras que abstraem do contrato constitutivo da sociedade. Para bem

compreender as soluções legais neste caso, há que atender a que a posição do sócio

duma sociedade, civil ou comercial, tem uma estrutura complexa, que integra direitos.

Enquanto nas sociedades de capitais a responsabilidade do sócio é limitada às

entradas convencionadas no contrato ou ao valor da quota-parte do capital por ele

subscrito, nas sociedades de pessoas os sócios são subsidiariamente responsáveis

pelas obrigações sociais, em solidariedade entre si. A exigência do consentimento da

sociedade, de pessoas ou de capitais, para a transmissão das posições sociais explica-

se por ela implicar a transmissão, não só de direitos, mas também de deveres. Por

isso, nas sociedades anónimas, em que os deveres dos sócios se apresentam reduzidos

à realização do valor da ação própria e de eventuais prestações acessórias, a

transmissão das ações é livre – imperativamente quanto às ações ao portador e

supletivamente quanto às ações nominativas, cuja transmissão o pacto social pode

condicionar ao consentimento da sociedade ou a outros requisitos conformes com o

interesse social (artigo 328.º, n.º2, alíneas a) e c) CSC). Mas nos outros tipos de

sociedade o consentimento é, ainda que supletivamente, uma exigência legal. Quando

passa ao tratamento da penhora, a lei opta explicitamente por a libertar de qualquer

restrição no caso da sociedade de capitais (artigo 239.º, n.º2 e 475.º CSC, para as

quotas da sociedade por quotas e em comandita simples; artigo 328.º, n.º5 CSC, para

as ações nominativas da sociedade anónima), o mesmo não fazendo no caso da

sociedade de pessoas (artigo 999.º, n.º1 CC, para a sociedade civil; artigos 183.º, n.º1

e 474.º CSC, para as partes sociais na sociedade em nome coletivo e em comandita

simples). A disparidade de regimes compreende-se: nas sociedades de capitais,

realizadas as entradas contratualmente convencionadas, os deveres do sócio esbatem-

se, a ponto de já quase só lhe caberem direitos e deveres acessórios, e, não tendo sido

realizada a entrada inicial, a não exoneração do transmitente da quota ou ação da

obrigação de a realizar (artigos 206.º e 286.º, n.º5 CSC) implica que as garantias da

sociedade não diminuem com a entrada do novo sócio pelo contrário, nas sociedades

de pessoas permanece, por cada obrigação social contraída, a responsabilidade

pessoal do sócio, pelo que a identidade deste nunca é indiferente. A transmissão

forçada da quota para o terceiro implicaria a assunção, por este, sem o consentimento

da sociedade ou dos seus sócios, de importantes responsabilidades. Por isso, só é

admissível a penhora do direito ao lucro e à quota de liquidação da parte social do

devedor na sociedade pessoal, liquidação essa só exigível na falta de outros bens do

devedor (artigos 999.º CC, 183.º e 474.º CSC). Daqui se retira, nomeadamente, que

o afastamento entre o regime de penhorabilidade e o de alienabilidade, no caso da

sociedade de capitais, se dá por determinado expressa da lei, que estatui a exceção (a

penhorabilidade) depois de estabelecer a regra (a inalienabilidade); já no caso da

sociedade civil a lei não cuida tanto de determinar a impenhorabilidade da quota (que

apenas aflora) como de determinar a penhorabilidade da quota de liquidação (artigo

999.º, n.º1 CC). A impenhorabilidade da quota aparece, assim, mais como um

pressuposto da norma que estabelece essa penhorabilidade do que como objeto da

estatuição normativa, sendo fácil a conclusão de que tal acontece porque já decorre

da anterior norma sobre a inalienabilidade, sem consentimento, da parte social. Caso

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de limitação intrínseca inserta num esquema de cumprimento contratual é o da

exigência do consentimento do autor para a transmissão dos direitos resultantes para

o editor do contrato de edição, feita no artigo 100.º CDA. Em causa está a cessão

duma posição contratual, em que a lei especial assume, como natural imposição da

lei geral, a derivação do regime de inalienabilidade para o regime de

impenhorabilidade. Pelo contrato de edição é concedida pelo autor autorização a

outrem para produzir por conta própria um número determinado de exemplares

duma obra ou conjunto de obras, que a outra parte tem obrigação de distribuir e

vender (artigo 83.º CDA). O autor conserva o direito de publicar a obra, mas o editor

adquire o de a reproduzir e comercializar nos precisos termos do contrato (artigo

88.º, n.º1 CDA). Este direito do editor não pode ser transmitido a terceiros sem

consentimento do autor, salvo no caso de trespasse do seu estabelecimento (desde

que não cause prejuízos morais ao autor, que, neste caso, tem o direito de resolver o

contrato) ou de liquidação, judicial ou extrajudicial, da sociedade editora de que

resulte a adjudicação a algum dos seus sócios (artigo 100.º, n.º1 e 2 CDA). É

manifesto que a exigência do consentimento é feita no interesse do autor, que não

perde, com o contrato de edição, o direito de publicar a obra e tem o direito à

retribuição estipulada no contrato de edição ou determinada supletivamente pela lei

(artigo 91.º CDA). A lei nada diz, expressamente, sobre a penhorabilidade ou

impenhorabilidade dos direitos do editor, mas vê-se claramente que está subjacente

à norma do artigo 100.º, n.º4 CDA a ideia de que a medida da intransmissibilidade

do direito implica a da sua impenhorabilidade: fora o caos do trespasse, a apreensão

e a subsequente transmissão forçada só são permitidas, excecionalmente, em

processo de insolvência, desde que para sócio da sociedade editora, nos mesmos

termos em que é admitida a transmissão negocial, em liquidação extrajudicial, ou a

transmissão, por acordo ou não, em processo de liquidação judicial subsequente à

dissolução da sociedade. A bilateralidade do contrato de edição explica um regime de

alienabilidade conforme com o do artigo 424.º, n.º1 CC, sobre o qual se molda, sem

necessidade de a lei o expressar, o regime de penhorabilidade. Vê-se assim que as

normas excecionais que rompem a coincidência entre a indisponibilidade subjetiva e

a impenhorabilidade dos bens, mediante a admissão de penhora fora das condições

exigidas para a transmissão negocial, regulam casos em que com isso não são – nem

podem ser – ofendidos direitos subjetivos de terceiro e, finalmente, que a necessidade

desta salvaguarda se faz sentir quanto está em jogo a cessão da posição contratual

derivada de contrato com prestações recíprocas. Tal não impede a penhorabilidade

dos direitos resultantes de contrato bilateral que possam ser objeto autónomo de um

subsequente ato de transmissão, de tal modo que os correspondentes deveres não

sejam com eles transmitidos. Do contrato de compra e venda, por exemplo, resulta

a obrigação de o vendedor entregar a coisa que dele é objeto e de o comprador pagar

o preço convencionado (artigo 879.º CC). Mesmo que nenhuma destas obrigações

tenha sido ainda cumprida, é possível penhorar o direito ao preço, sem que tal

implique cessão de posição contratual. Criado embora pelo contrato, o direito do

vendedor integra uma relação jurídica obrigacional diversa da relativa à entrega da

coisa e é como tal suscetível de constituir objeto da cessão de crédito em que a

subsequente adjudicação ou venda forçada se traduzirá, do mesmo modo que o

vendedor pode, extrajudicialmente, ceder o seu crédito ou onerá-lo. Nestes casos,

permanecendo o sinalagma, o devedor pode opor ao cessionário (artigo 585.º CC)

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ou ao credor pignoratício (artigo 684.º CC) a exceção de não cumprimento do

contrato (artigo 428.º CC), mas tal não impede a eficácia da cessão ou oneração do

crédito. Do mesmo modo, feita a penhora do direito ao preço, o executado é

notificado para entregar a coisa ao comprador e, se não a entregar, pode o exequente

substituir-se ao devedor, promovendo contra ele execução para entrega da coisa certa

(artigo 859.º, n.º1 e 2 CPC).

3. Impenhorabilidade convencional: no âmbito da disponibilidade das partes,

podem estas, por negócio jurídico, estipular a impenhorabilidade específica de

determinados bens por dívidas também determinadas. Isso é permitido, entre outros,

pelos seguintes preceitos da lei civil:

a. Artigo 602.º CC: permite que, por convenção entre credor e devedor, se

limite a responsabilidade do devedor a alguns dos seus bens e, por maioria

de razão, que determinados bens do devedor sejam excluídos da sujeição à

execução pela dívida contraída. Note-se que esta convenção nada tem a ver

com a estipulação duma garantia real sobre certos bens do devedor: o credor

é um credor comum e os bens do devedor a que se limite a responsabilidade

ou que não sejam excluídos só responderão pela dívida, nos termos gerais,

enquanto permanecerem integrados no seu património. A limitação ou

exclusão não pode ir ao ponto de praticamente suprimir a exequibilidade do

crédito, por os bens sujeitos à execução só simbolicamente o garantirem, o

que, a ser válido, corresponderia a uma renúncia (inadmissível) ao direito de

ação (executiva);

b. Artigo 603.º CC: permite que, por doação ou testamento, se convencione

que os bens transmitidos não responderão pelas dívidas do beneficiário já

existentes à data, salvo se a natureza dos bens obrigar a registo e a penhora

for registada antes do registo da cláusula);

c. Artigo 833.º CC: o artigo 831.º CC prevê a cessão de bens aos credores para

estes os alienarem e, com o produto da alienação, satisfazerem os seus

créditos. Os credores que não participem na cessão podem fazer penhorar os

bens cedidos, enquanto a alienação não tiver lugar. Mas, relativamente aos

credores cessionários e aos posteriores à cessão, já assim não é e os bens

cedidos não são por eles penhoráveis.

Impenhorabilidade diretamente resultante da lei:

1. Enunciação: a impenhorabilidade não resulta apenas da indisponibilidade (objetiva

ou subjetiva) de certos bens ou de convenções negociais que especificamente a

estipulem. Resulta também da consideração de certos interesses gerais, de interesses

vitais do executado ou de interesses de terceiro que o sistema jurídico entende

deverem-se sobrepor aos do credor exequente. Esta impenhorabilidade é, em alguns

casos, absoluta e total (os bens não podem, na sua totalidade, ser penhorados, seja

qual for a dívida exequenda), enquanto, noutros casos, é relativa (os bens podem ser

penhorados apenas em determinadas circunstâncias ou para pagamento de certas

dívidas) ou parcial (os bens só podem ser penhorados em certa parte).

a. São declarados impenhoráveis, por razões de interesse geral, os objetos

cuja apreensão seja ofensiva dos bons costumes, os objetos especialmente

destinados ao exercício de culto público e os túmulos (artigo 736.º, alíneas c),

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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d) e e) CPC), bem como os bens do Estado, das restantes pessoas coletivas

públicas, de entidades concessionárias de obras ou serviços públicos e de

pessoas coletivas de utilidade pública, quando se encontrem especialmente

afetados à prossecução de fins de utilidade pública, salvo se a execução for

para pagamento de dívida com garantia real (artigo 737.º, n.º1 CPC).

b. Impenhoráveis por estarem em causa interesses vitais do executado

são aqueles bens que asseguram ao seu agregado familiar um mínimo de

condições de vida (bens imprescindíveis a qualquer economia doméstica que

se encontrem na residência permanente do executado: artigo 737.º, n.º3 CPC),

são indispensáveis ao exercício da profissão do executado (instrumentos de

trabalho indispensáveis e objetos indispensáveis ao exercício da sua atividade

ou à sua formação profissional: artigo 737.º, n.º2 CPC), constituem uma parte

do rendimento do seu trabalho por conta de outrem ou se reputam

indispensáveis ao seu sustento (artigo 738.º, n.º1 e 5 CPC), à sua integridade

física (instrumentos e objetos indispensáveis aos deficientes e ao tratamento

de doentes: artigo 736.º, alínea f) CPC) ou à sua personalidade moral. Fora

do Código, outros bens foram, por razões semelhantes, declarados

impenhoráveis. O Tribunal Constitucional veio a pronunciar-se pela

inconstitucionalidade de algumas dessas estatuições específicas, por

implicarem um sacrifício excessivo do direito do credor e violarem o

princípio da igualdade. O artigo 12.º Decreto-Lei n.º 329.º-A/95 revogou as

disposições que estabeleciam a impenhorabilidade absoluta de rendimentos,

independentemente do seu montante. A impenhorabilidade dos direitos de

crédito, máxime dos referidos no artigo 728.º CPC, estende-se à quantia em

dinheiro ou ao depósito bancário que resulte da sua satisfação (artigo 739.º

CPC). A equiparação deve, porém, cessar, atenta a razão da

impenhorabilidade do direito de crédito, quando cesse a presunção de que a

quantia ou depósito se destina ao mesmo fim típico que o crédito visava

satisfazer.

c. Exemplo de impenhorabilidade por consideração de interesses de

terceiro constitui o do artigo 1184.º CC: os bens que o mandatário sem

poderes de representação haja adquirido em execução do mandato e que,

consequentemente, devem ser transferidos para o mandante (artigo 1181.º,

n.º1 CC) não respondem pelas dívidas do mandatário, desde que o mandato

conste de documento anterior à data da penhora (cautela destinada a garantir

a seriedade da exclusão) e não tenha sido feito o registo da aquisição, se se

tratar de bens sujeitos a registo (por razão de tutela dos interesses de terceiros

que hajam confiado na aparência registal). Subordinando-se a penhora à

finalidade de satisfação de direitos patrimoniais, é igualmente vedada a

apreensão de bens de valor económico nulo ou diminuto (artigo 736.º, alínea

c) CPC).

2. A satisfação do direito a alimentos: antes da reforma da ação executiva, punha-se

a questão de saber se a regra da impenhorabilidade parcial dos direitos de crédito a

que atualmente se refere o artigo 738.º CPC (vencimentos, salários, pensões, etc.) se

mantinha no caso da execução por alimentos. Dada a natureza e os fins da obrigação

alimentícia, era sustentada a resposta negativa, embora com o limite do que fosse

absolutamente indispensável à sobrevivência do próprio devedor de alimentos. A

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solução, defendida nas primeiras edições da presente obra, teve aparentemente

contra si, depois da revisão do Código, o facto de não ter sido então expressamente

consagrada entre as disposições gerais relativas ao objeto da penhora. Mas a

consideração da finalidade da norma de impenhorabilidade em causa, conjugada com

a facilidade com que o devedor de alimentos, atenta a lenta operacionalidade dos

nossos tribunais, se podia colocar em situação de dever, por prestações vencidas,

quantias que o limite do artigo 738.º CPC não mais permitiria que fossem cobradas,

continuava a aconselhar a defesa dessa interpretação. Teve-a em conta a reforma da

ação executiva, que afastou, nesse caso, a garantia mínima de um salário mínimo

nacional; mas o ponto permaneceu em aberto quanto ao limite de penhorabilidade

de um terço, hoje estabelecido no artigo 738.º, n.º1 CPC. O novo código resolver a

questão: sendo o crédito exequendo de alimentos, é impenhorável a quantia

equivalente à totalidade da pensão social do regime não contributivo (artigo 738.º,

n.º4 CPC).

Penhorabilidade subsidiária:

1. Enunciação: além dos casos de impenhorabilidade, há a considerar aqueles em que

determinados bens, ou todo um património, só podem ser penhorados depois de

outros bens, ou outro património, se terem revelado insuficientes para a realização

do fim da execução. Isso acontece, em princípio, em consequência da separação entre

património comum dos cônjuges e património próprio de cada um deles, nos regimes

de comunhão geral e de comunhão de adquiridos. Acontece, em segundo lugar, por

negócio ou por lei, há um devedor principal, ou um património coletivo que responde

em primeiro lugar, e um devedor subsidiário com o benefício da excussão prévia.

Acontece ainda quando há bens do devedor especialmente afetados ao cumprimento

da obrigação. Acontece também quando a consideração de determinados interesses

leva a só permitir em último lugar a penhora de certos bens.

2. Responsabilidade comum e responsabilidade própria dos cônjuges:

a. No regime de comunhão geral, são excetuadas da comunhão os bens

indicados no artigo 1733.º CC;

b. No regime de comunhão de adquiridos, são grosso modo próprios os

bens indicados no artigo 1722.º CC, os sub-rogados no lugar desses (artigo

1723.º CC) e os adquiridos por virtude da titularidade de bens próprios (artigo

1728.º CC), ao passo que são comuns os bens a que se refere o artigo 1724.º

CC. Por outro lado, são dívidas comuns as indicadas nos artigos 1691.º,

1693.º e 1694.º, n.º1 CC e próprias as que constam dos artigos 1692.º, 1693.º,

n.º1 e 1694.º, n.º2 CC. Ora:

i. Pelas dívidas que são da responsabilidade de ambos os cônjuges respondem os bens

comuns do casal e só na sua falta ou insuficiência é que respondem, solidariamente,

os bens próprios de qualquer dos cônjuges (artigo 1695.º, n.º1 CC);

ii. Pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges respondem os bens

próprios do devedor (e, com eles, os bens comuns a que se refere o n.º2) e só na sua

falta ou insuficiência é que responde a sua meação nos bens comuns (artigo 1696.º

CC).

Todas as dívidas da exclusiva responsabilidade de um cônjuge podem dar

hoje lugar à penhora subsidiária de bens comuns, sem se ter de esperar a

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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dissolução do casamento, a declaração da sua nulidade ou anulação ou ainda

a separação de bens do casal, como acontecia no regime anterior – revogado

pelo Decreto-Lei n.º329.º-A/95. A adjetivação deste regime substantivo é

feita nos artigos 740.º a 742.º CPC. O artigo 740.º, n.º1 CPC aplica-se à

execução movida contra um só dos cônjuges e nela admite, em consonância

com o artigo 1696.º CC, a penhora de bens comuns do casal. É de notar,

porém, que, enquanto o artigo 1696.º CC estatui para as dívidas da exclusiva

responsabilidade de um dos cônjuges, o artigo 740.º CPC fá-lo para todos os

casos de execução movida contra um só dos cônjuges. Cabem, assim, no

âmbito da previsão deste artigo, não só os casos de responsabilidade exclusiva

do executado, mas também aqueles em que a responsabilidade é comum,

segundo a lei substantiva, mas a execução foi movida contra um só dos

responsáveis – quer haja título executivo contra ambos (caso em que o credor

podia ter movido a execução contra os dois), quer haja título executivo

apenas contra o executado (caso em que o credor, querendo executar ambos

os cônjuges, teria de propor previamente ação declarativa contra marido e

mulher: artigo 34.º, n.º3 CPC). Em todos estes casos, aplica-se, portanto, o

artigo 740.º, n.º1CPC. Simplesmente, há que atender, na ordem a observar

na penhora, á diferença dos regimes substantivos aplicáveis:

iii. Sendo a dívida da responsabilidade exclusiva do executado, a penhora deve

começar pelos bens próprios dele e só depois pode ser penhorada a

meação;

iv. Sendo a dívida comum e havendo título executivo contra ambos os cônjuges, a

penhora deve começar pelos bens comuns e só na sua falta ou

insuficiência pode incidir sobre bens próprios. Assim, só se não

houver bens comuns é que se justifica a propositura da execução

contra um só dos obrigados no título.

v. Sendo a dívida comum e baseando-se a execução em sentença que apenas constitua

título executivo contra um só dos cônjuges, o executado, que não chamou o

cônjuge a intervir no processo declarativo, para o convencer da sua

responsabilidade (artigo 316.º, n.º3, alínea a) CPC), não pode alegar

no processo executivo que a dívida é comum. Segue-se assim o

regime da penhora das dívidas de responsabilidade exclusiva do

executado, sem prejuízo do apuramento ulterior de contas entre os

cônjuges (artigo 1697.º, n.º1 CC) e da possibilidade de o credor ainda

propor nova ação declarativa contra o cônjuge não condenado. O

chamamento à intervenção principal do cônjuge não demandado

constitui assim um ónus do cônjuge demandado na ação declarativa,

cuja inobservância preclude a invocação da comunicabilidade da

dívida;

vi. Sendo a dívida comum e baseando-se a execução em título extrajudicial contra

um só cônjuge, a doutrina formada anteriormente à reforma da ação

executiva dividia-se na solução a dar ao caso:

1. Segundo uma opinião (José Alberto dos Reis e Miguel Teixeira de

Sousa), o executado, sob pena de ficar em desvantagem de

meios relativamente à ação declarativa, podia chamar o

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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017

Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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cônjuge a intervir na ação executiva e alegar, em oposição à

execução por embargos, a responsabilidade comum;

2. Segundo outros (Eurico Lopes Cardoso), esse chamamento não

podia ter lugar, sendo o regime a seguir na penhora do

mesmo do das dívidas de responsabilidade exclusiva do

executado.

Foi sustentado, nas edições desta obra anteriores à reforma, em

harmonia com a posição geral tomada em sede de legitimidade, que

a intervenção principal provocada pelo executado não era admissível,

sendo, aliás, que, neste caso, com ela se visaria, afinal, obter a

condenação do chamado (e, logo, um título executivo contra ele),,

para ser seguidamente executado juntamente com o executado

primitivo, o que não se compadecia nem com o fim nem com os

limites da execução, e que, considerando que o interesse do credor

havia de prevalecer sobre o do executado, a equiparação do

tratamento do caos ao da dívida própria era inevitável. Com a

reforma da ação executiva, passou a proporcionar-se ao exequente,

no requerimento executivo, e ao executado, no prazo para a oposição,

a invocação da comunicabilidade da dívida, com a consequência do

convite ao cônjuge do executado para vir declarar se aceite a

comunicabilidade; a não negação desta (expressamente, ou mediante

requerimento de separação de bens ou prova da pendência do

processo de separação) constitui automaticamente um título

executivo extrajudicial contra o cônjuge, que passa, com base nele, a

ser também executado. Estes pontos de regime mantêm-se no novo

código (artigos 741.º e 742.º CPC), com três alterações:

1. É facultada ao exequente a invocação da comunicabilidade, em

requerimento autónomo, até ao início das diligências para venda ou

adjudicação dos bens penhorados, quando não a tenha feito no

requerimento executivo;

2. Restringe-se a invocação da comunicabilidade pelo executado, em

oposição à penhora, ao caso em que lhe tenham sido penhorados bens

próprios e onera-se o executado com a indicação, logo, dos bens comuns

que podem ser penhorados;

3. É minuciosamente regulada a impugnação, pelo cônjuge, da

comunicabilidade da dívida (em oposição à execução ou em oposição

autónoma), mas sem menção da impugnação tácita consistente no pedido

de separação de bens (que, porém, tem de ser considerada).

Mas a principal inovação no regime é outra: negada, pelo cônjuge, a

comunicabilidade da dívida, segue-se instrução, discussão e

julgamento, nos termos gerais dos incidentes da instância (artigos

741.º, n.º1 e 4, 742.º, n.º2 e 785.º, n.º2 CPC).

Excluída permanece a possibilidade de o executado inutilizar a execução,

mediante a oposição à penhora de bem próprio, nos termos do artigo 784.º,

n.º1, alínea b) CPC, com fundamento em que a dívida é comum e há que

penhorar primeiro os bens comuns do casal. Contra esta solução, embora

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José Lebre de Freitas | 大像城堡

Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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conforme com o regime substantivo, é invocável o disposto no artigo 34.º,

n.º3 CPC, que confere ao credor a possibilidade de, no caso de facto

praticado por um só cônjuge, mas da responsabilidade de ambos, escolher

entre acionar um ou os dois. Com efeito, o interesse do executado deve ceder

aqui perante o interesse do credor, por uma razão de segurança na celebração

dos contratos: o credor pode desconhecer que a dívida é da responsabilidade

comum dos cônjuges, e não apenas daquele que a contraiu, e seria violento

impor-lhe, quando o descobrisse, a inutilização da execução e a consequente

necessidade de propor uma ação de condenação, seguida de nova execução

contra ambos os cônjuges. O novo ponto do regime consistente na criação

dum incidente para determinar se a dívida é própria ou comum mantém

afastada, ainda que de outro modo, a possibilidade dessa inutilização. Após a

penhora dos bens do casal na execução movida contra um dos cônjuges, tem

lugar a citação do cônjuge do executado, para requerer a separação de bens

ou mostrar que ela está já requerida (artigo 740.º, n.º1 CPC). Citado o cônjuge

do executado (artigo 786.º, n.º1, alínea a) CPC), pode ele, no prazo de 20 dias

de que dispõe para a oposição (artigo 787.º, n.º1 CPC):

i. Requerer a separação de bens, em processo de inventário que corre

por apenso à execução e tem, entre outras, a particularidade de

poder ser impulsionado, não só pelo cônjuge do executado, como

parte principal, mas também pelo exequente, e de nele poderem ser

ouvidos os credores conhecidos (artigo 740.º CPC e artigo 80.º

Regime Jurídico do Processo de Inventário, aprovado pela Lei n.º

23/2013, 5 março); ou

ii. Untar aos autos certidão comprovativa da pendência de processo

de separação de bens já instaurado, por apenso a outra execução,

ou perante notário nos termos da Lei n.º23/2013 (artigo 740.º, n.º1

CPC).

Se o cônjuge do executado nada fizer, a execução prosseguirá nos bens

penhorados (artigo 740.º, n.º1 CPC). Caso contrário, a execução é suspensa

até que se verifique a partilha e se, nesta, os bens penhorados não forem

atribuídos ao executado, poderão ser penhorados outros que lhe tenham

cabido (artigo 740.º, n.º2 CPC). Sendo o cônjuge citado para declarar se aceita

que a dívida é comum, nos termos que ficaram referidos, essa aceitação é,

obviamente, incompatível com a separação de bens, pelo que, se esta tiver

sido requerida, ou se o cônjuge tiver provado que a requereu antes de o

executado suscitar a questão da comunicabilidade, a citação do cônjuge para

o efeito de se pronunciar sobre esta já não tem de ter lugar.

3. Responsabilidade subsidiária com excussão prévia: são devedores subsidiários

com o benefício da excussão prévia os sócios da sociedade comercial em nome

coletivo e da sociedade civil, bem como os sócios comanditados da sociedade

comercial em comandita, que respondem solidariamente entre si, mas

subsidiariamente à sociedade, pelas dívidas sociais (artigos 175.º, n.º1, 465.º e 997.º

CSC), e, fora os casos do artigo 640.º CC, o fiador, que é igualmente titular passivo

duma obrigação acessória da do devedor principal e, tal como o sócio daquelas

sociedades, pode exigir a prévia excussão do património do devedor principal ante

os seus bens respondem pela dívida (artigo 627.º, n.º2 e 638.º CC). A lei material faz

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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017

Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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depender a excussão prévia da manifestação de vontade do devedor subsidiário.

Movida uma execução contra o devedor principal e o devedor subsidiário, constitui

um ónus deste a invocação do benefício da excussão prévia (artigo 745.º, n.º1 CPC).

Se o invocar, a penhora começa pelos bens do devedor principal e só pode incidir

em bens do devedor subsidiário depois de, efetuada a venda dos primeiros, se apurar

que eles são insuficientes para o pagamento das custas da execução, do crédito

exequendo e dos dos credores reclamantes que antes dele tenham sido graduados. Se

a execução tiver sido movida apenas contra o devedor principal, o problema não se

põe, uma vez que nela não podem ser penhorados bens de terceiro (o sócio ou o

fiador), contra quem a execução não foi proposta; mas, como vimos ao tratar do

litisconsórcio sucessivo, sempre que haja título executivo contra o devedor

subsidiário, é possível a sua citação ulterior para a execução, depois de verificada,

após excussão, a insuficiência do património do devedor principal (artigo 745.º, n.º3

CPC). Se a execução tiver sido movida apenas contra o devedor subsidiário, poderá

este, invocando o benefício da excussão prévia, obter a sua suspensão, até que o

exequente requeira a citação do devedor principal, contra quem tenha também título

executivo, para excutir o respetivo património (artigo 745.º, n.º2 CPC). Mas, se o

título executivo for uma sentença proferida apenas contra o devedor subsidiário, em

ação em que não tenha intervindo o devedor principal, o benefício da excussão prévia,

não é já invocável, por o réu, na ação declarativa, não ter chamado a intervir o

devedor principal, nos termos do artigo 316.º, n.º3, alínea a) CPC, a menos que então

expressamente tenha declarado que não pretendia renunciar ao benefício da excussão

(artigo 641.º, n.º2 CC). Qual a forma e qual o prazo em que o sócio ou o fiador se

pode valer do benefício da excussão prévia, quando este não é automático? Quanto

à forma, basta um simples requerimento. Quanto ao prazo, foi defendido, na vigência

do texto anterior à revisão do Código, que era omisso, que o requerimento podia ser

apresentado até ao despacho ordinatório da penhora, sem prejuízo de, não o sendo,

o devedor subsidiário poder ainda opor-se à penhora efetuada. Era, porém, mais

harmónico com o processamento da penhora entender que o sócio ou o fiador tinha

o ónus de invocar a razão por que não procedia à nomeação de bens próprios (sendo

devedor subsidiário, tinha o benefício da excussão prévia) dentro do prazo que lhe

era concedido para pagar ou nomear bens à penhora, visto estar em causa o exercício

dum direito condicionante da nomeação. Por isso, é expresso desde a revisão do

Código, que o benefício da excussão prévia deve ser invocado no prazo para os

embargos de executado (artigo 745.º, n.º1 CPC). Estas regras aplicam-se,

devidamente adaptadas, aos casos em que, por via da existência de outro património

coletivo, só após a excussão deste respondem os bens dos respetivos titulares.

Tratando-se de dívida contraída na prossecução das finalidades visadas com a criação

do património coletivo, respondem, em primeiro lugar, os bens que o integram e só

na sua falta ou insuficiência os bens dos titulares. Assim acontece, por exemplo, com

as associações sem personalidade jurídica (artigo 198.º, n.º1 e 2 CC).

4. Dívida com garantia real: bem (do devedor ou de terceiro) especialmente afetado

ao cumprimento da obrigação há quando se tenha constituído uma garantia real. Ora,

quando o bem onerado pertença ao devedor, a penhora de outros bens só pode ter

lugar depois de se verificar a insuficiência daquele. Esta regra de penhorabilidade

subsidiária não tem lugar quando, incidindo a garantia sobre bem de terceiro, a

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José Lebre de Freitas | 大像城堡

Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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propositura da execução tenha lugar só contra o devedor ou o exequente nomeie à

penhora bens deste; e cessa quando, por forma válida segundo a lei civil, tenha lugar

a renúncia á garantia real constituída. Nestes casos, o exequente pode, desde logo,

fazer incidir a penhora em outros bens do devedor.

5. Bens que respondem em último lugar: só respondem em último lugar, entre os

bens do devedor, no caso de execução por dívida pessoal do sócio, o direito ao

produto da liquidação da quota deste na sociedade civil (artigo 999.º CC), na

sociedade comercial em nome coletivo (artigo 183.º CSC) e, quanto aos sócios

comanditados, na sociedade comercial em comandita simples (artigo 464.º CSC); o

mesmo quanto ao estabelecimento individual de responsabilidade limitada, que só

responde em último lugar pelas dívidas não respeitantes à atividade da empresa,

quando sejam insuficientes os restantes bens do comerciante (artigos 10.º, n.º1 CPC

e 22.º Decreto-Lei n.º 248/86, 25 agosto). Estes preceitos têm a sua razão de ser nos

regimes da sociedade civil e da sociedade comercial em nome coletivo (ou em

comandita simples), bem como no do estabelecimento individual de responsabilidade

limitada. Na sociedade civil, predominando o elemento pessoal sobre o elemento

capital, a morte (artigo 1001.º CC), a exoneração (artigo 1002.º CC) e exclusão (artigo

1003.º CC) dum sócio dão lugar à liquidação da sua quota, por não ser possível, sem

alteração do contrato de sociedade por unanimidade, a admissão de novo sócio em

sua substituição (artigo 1021.º CC). Na sociedade comercial em nome coletivo,

idêntico regime de responsabilidade pessoal (subsidiária e entre si solidária) dos

sócios pelas dívidas sociais, importando consequências semelhantes nos casos de

morte, exoneração e exclusão de sócios (artigos 184.º, 185.º, 186.º, 188.º e 195.º, n.º1

CSC), igualmente explica que também nela se procure evitar a liquidação da quota.

Assim, o credor particular do sócio pode, sem restrições, obter pagamento através

dos lucros da quota, mas só pode exigir a liquidação desta no caso de insuficiência

dos restantes bens do património do devedor, sem prejuízo de o seu direito ficar

garantido com a penhora da quota de liquidação. Quanto ao estabelecimento

individual de responsabilidade limitada, ao qual o titular afeta uma parte do seu

património (artigo 1.º, n.º3 Decreto-Lei nº 248/86), em princípio exclusivamente

responsável pelas respetivas dívidas, impede-se que os credores comuns por ela se

paguem enquanto outros bens houver no património do devedor, mas, quando não

haja, sobre ela tem de se admitir o funcionamento da garantia patrimonial.

A penhora da ação contra o herdeiro: a limitação da responsabilidade do herdeiro pelas

dívidas da herança, consequência, por sua vez, da ideia de que o credor deve continuar, para

além da morte do devedor, a contar com a garantia patrimonial comum do crédito, mas o

património pessoal do herdeiro não deve responder por dívidas de que o de cuius não era o

devedor, traduz-se em que, na execução contra ele movida, só se podem penhorar os bens

recebidos do autor da herança (artigo 744.º, n.º1 CPC). À penhora que recaia sobre outros

bens, pode o executado opor-se por simples requerimento em que pedirá que seja levantada,

indicando os bens da herança que tenha em seu poder (artigo 744.º, n.º2 CPC). Ouvido o

exequente, a penhora é levantada se ele não deduzir oposição. Opondo-se o exequente, das

duas uma:

1. Ou a herança foi aceite a benefício de inventário e basta ao executado juntar

certidão do respetivo processo, da qual constem os bens que recebeu da

herança. Sem prejuízo da arguição da falsidade da certidão junta e do direito de

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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017

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recurso do despacho que o juiz vier a proferir, o incidente fica por aqui e o exequente

só em ação separada poderá demonstrar a existência de outros bens da herança para

além dos inventariados;

2. Ou a aceitação foi pura e simples e o executado tem, em oposição à penhora,

de alegar e provar que os bens penhorados não provieram da herança e que

dela não recebeu mais bens do que aqueles que indicou, ou, se recebeu mais,

que os outros foram todos aplicados em solver encargos dela (artigo 744.º, n.º3

CPC).

Outros patrimónios autónomos há que implicam semelhante limitação da responsabilidade

do proprietário, não podendo credores constituídos por via da prossecução dos respetivos

fins pagar-se por bens do património geral do respetivo titular. Assim acontece no caso do

estabelecimento individual de responsabilidade limitada.

Extensão da penhora:

1. Âmbito inicial: de acordo com o artigo 758.º, n.º1 CPC (integrado na secção da

penhora de imóveis, mas aplicável à penhora de móveis e de direitos pelos artigos

772.º e 783.º CPC), a penhora abrange as partes integrantes (se se tratar dum bem

imóvel: artigo 204.º, n.º3 CC) e os frutos, naturais ou civis (artigo 212.º, n.º2 CC), do

bem penhorado. Mas a mesma disposição legal admite que as partes integrantes e os

frutos sejam expressamente excluídos no ato da penhora e igualmente os exclui da

penhora quando estão sujeitos a algum privilégio. Tratando-se de frutos naturais ou

de partes integrantes, só o proprietário (ou o titular de direito real menor de gozo

que o consinta) tem a faculdade de operar a separação jurídica da coisa móvel.

Embora esta pressuponha a sua desafetação (separação material definitiva) do prédio,

é admissível, antes dela, um ato de alienação autónoma, cujo efeito translativo apenas

se produz com a separação (artigo 408.º, n.º2 CC), sem prejuízo do direito a

indemnização do adquirente condicional no caso de o transmitente não a efetuar.

Paralelamente, a exclusão da penhora tem também em vista a futura desafetação e,

produzindo o efeito imediato de restrição do objeto da penhora, só virá a restringir

identicamente o objeto da venda executiva se, entretanto, a separação material tiver

lugar. Assim, só pode quanto a eles, haver exclusão da penhora se o executado

(proprietário ou titular de outro direito real de gozo) nela consentir: designadamente,

tratando-se de partes integrantes, só o proprietário as pode materialmente separar,

dada a perda de valor (delas e do imóvel) decorrente da separação. Mas, no caso dos

frutos pendentes, que são suscetíveis de penhora autónoma quando não falte mais

de um mês para a época normal da colheita, a sua separação material do bem que os

produz, quando tenham sido excluídos da penhora, pode ter lugar sem intervenção

do proprietário, na época em que normalmente devam ser colhidos, de onde se retira

que também podem ser excluídos da penhora. Estando em causa os frutos civis, cuja

autonomização como objeto duma penhora separada não põe os mesmos problemas,

a sua exclusão da penhora é admissível, sem restrições, sem prejuízo da integração

dos frutos civis futuros no objeto da venda subsequente. O termo privilégio está, no

artigo 758.º, n.º1 CPC, usado num sentido amplo, em que se incluem, não só o

privilégio creditório sobre frutos (naturais ou civis), torna claro que são excluídos da

administração do depositário e que são eficazes os atos de disposição do direito sobre

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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eles (a preferência da penhora não é o único efeito da penhora). Mais duvidoso e o

caso do penhor duma parte integrante do bem penhorado. Dos termos em que é

admissível o negócio de alienação duma parte integrante, resulta que o efeito de

oneração da coisa fica condicionado ao ato da separação, pelo que, quando este não

tiver tido ainda lugar à data da penhora, o privilégio não está constituído, não tendo

o credor pignoratício qualquer direito sobre a coisa.

2. Sub-rogação: se o bem penhorado se perder, for expropriado ou sofrer diminuição

de valor e, em qualquer dos casos, houver lugar a indemnização de terceiro, a penhora

passa a incidir sobre o crédito de indemnização ou sobre as quantias pagas a esse

título (artigo 823.º CC).

3. Divisão do prédio penhorado: quando, penhorado um bem imóvel divisível, o seu

valor manifestamente exceder o da dívida exequenda e dos créditos reclamados, o

executado pode requerer autorização para proceder ao seu fracionamento (artigo

759.º, n.º1 CPC). Este pode ter duas finalidades: permitir a venda separada,

viabilizando que parte do prédio primitivo se mantenha na titularidade do executado,

por se vir a revelar desnecessária a sua venda para o fim da execução; possibilitar o

levantamento parcial da penhora quanto à parte destacada do prédio primitivo, por

a parte restante manifestamente bastar para a satisfação do exequente e dos credores

reclamantes. No primeiro caso, a penhora mantém-se, aguardando o momento da

venda executiva; no segundo, o executado terá de requerer o levantamento da

penhora (artigo 759.º, n.º2 CPC). A autorização é concedida pelo juiz.

N – A fase da penhora

Atos preparatórios:

1. Descoberta de bens: antes da reforma da ação executiva, cabia às partes (o

executado, em primeiro lugar; o exequente, subsidiariamente; desde logo o exequente,

no processo sumário) nomear os bens a penhorar, ao que se seguia um despacho

judicial a ordenar a penhora (ou a recusá-la, sendo ilegal ou excessiva). No Direito

oriundo da reforma, deixou de haver nomeação e despacho. No requerimento

executivo, é dada indicação dos bens do executado que o exequente conheça (artigo

724.º, n.º1, alínea i) CPC), com as precisões que lhe seja possível fornecer (artigo

724.º, n.º3 CPC, quanto à penhora de direitos), indicação que é dada na medida do

possível. O agente de execução não fica vinculado a penhorar os bens indicados:

deve, em princípio, respeitar a indicação que lhe é feita, mas só se tal não importar a

inobservância da cláusula de proporcionalidade e adequação que lhe cabe, em

primeira linha, respeitar e que pode levar a que outros bens sejam penhorados (artigo

753.º, n.º3 e 751.º, n.º1 a 3 CPC). Assim:

a. A apreensão terá em conta o montante da dívida exequenda e o das

despesas previsíveis da execução, a eles se devendo adequar tanto

quanto possível, o valor pecuniário estimado como realizável com a

alienação dos bens a apreender;

b. Devem ser penhorados os bens cujo valor pecuniário seja de mais fácil

realização;

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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017

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c. Só quando se deva presumir que a penhora de outros bens não

permitirá a satisfação integral do credor nos prazos constantes do

artigo 751.º, n.º3 CPC (6, 12 e 18 meses, consoante o valor do crédito

exequendo e considerando se o bem imóvel serve à habitação própria

permanente do executado) é que é admissível a apreensão de bens

imóveis e do estabelecimento comercial cujo valor se estime excessivo

em face do montante do crédito exequendo.

Não estando vinculado à indicação feita pelo exequente (até eventualmente

inexistente), para descoberta dos bens do executado o agente de execução começa

por consultar o registo informático de execuções (artigo 748.º, n.º2 CP), que contém

o rol das execuções pendentes, findas e suspensas, com informação, entre outras,

sobre as partes (incluindo os credores reclamantes), os montantes envolvidos, os

bens penhorados e indicados para penhora, os casos em que não foram encontrados

bens para penhorar e os de insolvência (artigo 717.º CPC). Procede seguidamente a

qualquer diligência que tenha utilidade para a identificação e a localização de bens

penhoráveis, incluindo a consulta de bases de dados oficiais, só precedida de

autorização judicial no caso de a base de dados estar sujeita a regime de

confidencialidade ou sigilo fiscal e não ser nenhuma das referidas no artigo 749.º,

n.º1 (artigo 749.º, n.º1 a 7 CPC). Não sendo encontrados bens suficientes no prazo

de três meses, são notificados o exequente e o executado para indicação de bens

penhoráveis e, na falta de indicação, extingue-se a instância (artigo 750.º, n.º1 e 2

CPC), sem prejuízo de se vir a renovar se forem encontrados posteriormente bens

penhoráveis (artigo 850.º, n.º5 CPC).

2. Autorização da penhora: excecionalmente, a penhora de certos bens é precedida

de despacho judicial, por poder estar em jogo a proteção de direito fundamental ou

de sigilo. Assim acontece com a penhora de casa de domicílio (isto é, onde uma

pessoa singular tenha a sua residência habitual, permanente ou alternada: artigo 82.º,

n.º1 CC16) ou de bem móvel nela existente (artigos 757.º, n.º4, 764.º, n.º4 e 767.º, n.º1

CPC), em que cabe ao juiz ordenar a requisição da força pública, por imposição da

norma constitucional que garante a inviolabilidade do domicílio (artigo 34.º, n.º2 CRP)

– sem prejuízo de, não se tratando de domicílio, a poder solicitar diretamente o

agente de execução quando seja oposta resistência no ato da penhora, ou quando

haja receio justificado de oposição de resistência (artigo 757.º, n.º2 CPC), bem como

quando seja necessário proceder a arrombamento de porta e substituição de

fechadura (artigo 757.º, n.º3 CPC). Assim acontecia também com a penhora de

depósito bancário, atento o regime legal de proteção do sigilo bancário (artigos 78.º

e 79.º, n.º1 Decreto-Lei n.º 298/92, 31 dezembro); mas deixou de ser no novo

Código (artigo 780.º, n.º1 CPC).

3. Penhoras subsequentes: efetuada a penhora, é admissível ao executado requerer a

substituição dos bens penhorados por outros que igualmente assegurem os fins da

execução (artigo 751.º, n.º4, alínea a), e 5 CPC). Mas o artigo 751.º, n.º4 CPC enumera

outros casos em que é admissível vir a penhorar outros bens, além ou em substituição

dos inicialmente penhorados:

16 Na falta de residência habitual, já não parece que a residência ocasional ou, muito menos, a casa onde a pessoa se encontre (artigo 82.º, n.º2 CC) preencha o requisito do artigo 757.º, m.º4 CPC, pelo que não será para elas necessário despacho judicial.

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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a. Manifesta insuficiência dos bens penhorados (dando normalmente lugar

ao reforço da penhora, mas podendo, em alternativa, dar lugar à substituição

dos bens penhorados, no caso de os novos bens serem suficientes);

b. Situação de oneração dos bens penhorados (dando normalmente lugar à

substituição por bens desonerados, mas podendo, em alternativa, dar lugar

ao reforço da penhora);

c. Recebimento de embargos de terceiros contra a penhora, com a

automática consequência da suspensão da execução (artigo 347.º

CPC);

d. Oposição à penhora com prestação de caução e consequente

suspensão da execução sobre os bens penhorados (artigo 785.º, n.º3

CPC) (dando normalmente lugar à substituição de bens penhorados, mas

podendo, em alternativa, dar lugar ao reforço da penhora);

e. Desistência da penhora, por outra incidir já anteriormente sobre os

mesmos bens (dando lugar à substituição dos bens penhorados);

f. Invocação do benefício da excussão prévia pelo devedor subsidiário

não previamente citado (dando normalmente lugar à substituição, total ou

parcial, dos bens penhorados); salvo quando, neste último caso, o exequente

não haja movido a execução contra o devedor principal e haja bens deste ou,

tendo a execução sido movida contra amos os devedores, o devedor

subsidiário indique bens do devedor principal suficientes para os fins da

execução (artigo 745.º, n.º4 CPC), a penhora inicial, cuja substituição seja

pedida, só é levantada depois de penhorados os novos bens, a fim de evitar

a perda da garantia por ela conseguida (artigo 751.º, n.º6 CPC).

O ato da penhora:

1. Formas: a lei distingue entre:

a. Penhora de bens imóveis (artigos 755.º e seguintes CPC): faz-se, de

acordo com o artigo 755.º, n.º1 CPC, por comunicação à conservatória do

registo predial competente, com o valor de apresentação registal (artigos 41.º,

48.º, n.º1 e 60.º CRPr): penhora e ato de apresentação confundem-se. Tem

assim lugar uma transferência de posse meramente jurídica, á qual se segue a

feitura do auto da penhora (artigo 753.º, n.º1 e 755.º, n.º3 CPC), a afixação

dum edital na porta ou noutro local visível do prédio penhorado (artigo 755.º,

n.º3 CPC) e a tradição material da coisa para o depositário (artigo 757.º CPC).

b. Penhora de bens móveis (artigos 764.º e seguintes CPC):

i. Penhora de bens móveis sujeitos a registo: a comunicação à conservatória,

como vimos na alínea a., é também o meio de efetuar a penhora de

bem móvel sujeito a registo (artigo 768.º, n.º1 CPC), a que se segue,

consoante os casos, a imobilização do automóvel, quando não tenha

precedido a comunicação (artigo 768.º, n.º2 CPC), e a notificação às

autoridades de controlo do navio e da aeronave (artigo 768.º, n.º4 e

5 CPC), bem como a penhora de direito a bem indiviso sujeito a

registo (artigo 781.º, n.º1, alínea a) CPC a contrario), se quota em

sociedade (artigo 781.º, n.º6 CPC), de direito real de habitação

periódica e de outros direitos reais cujo objeto não deva ser

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apreendido (artigo 781.º, n.º5 CPC), lavrando-se depois o respetivo

auto (artigo 753.º, n.º1 CPC) e havendo notificações a fazer.

ii. Penhora de bens móveis não sujeitos a registo: tem lugar mediante a tradição

material da coisa, que é removida para um depósito, público ou não,

salvo caso de impossibilidade ou grande dificuldade na remoção,

lavrando-se auto da diligência (artigos 764.º, n.º1, 2 e 5, e 766.º CPC).

c. Penhora de direitos (artigos 773.º e seguintes CPC):

i. A penhora de direitos não sujeitos a registo: faz-se por notificação a terceiros.

São figuras expressamente previstas:

1. A penhora do direito de crédito: tratando-se dum direito de crédito,

é notificado ao devedor que o crédito fica à ordem do agente

de execução (artigo 773.º, n.º1 CPC). Pode, então, o devedor,

no prazo de 10 dias:

a. Impugnar a existência do crédito (artigo 775.º, n.º1

CPC), caos em que, se o exequente mantiver a

penhora, o crédito passa a ser considerado litigioso

(artigo 775.º, n.º2 CPC);

b. Invocar a exceção de não cumprimento de obrigação

recíproca (artigo 776.º, n.º1 CPC), podendo arguir-se,

por apenso , uma execução acessória para exigir a

prestação ao executado, se este confirmar a

declaração, o que constituirá título executivo (artigo

776.º, n.º2 e 4 CPC), e passando o crédito a ser

considerado litigioso, se o executado impugnar a

declaração e o exequente mantiver a penhora (artigo

776.º, n.º3 CPC).

c. Reconhecer a existência do crédito (artigo 773.º, n.º2

CPC), com o que ele fica imediatamente assente no

âmbito do processo executivo, podendo ser como tal

adjudicado ou vendido (artigo 777.º, n.º2 CPC) e

servindo o ato de reconhecimento de base à formação

dum título executivo em que se pode fundar uma

execução contra o terceiro devedor (que não pague,

por depósito efetuado à ordem do agente de execução

ou da secretaria: artigo 777.º, n.º1 CPC), por meio de

substituição processual (do executado pelo exequente,

mas constituído título executivo a declaração de

reconhecimento do devedor) ou por ação do

adquirente (mediante a atribuição de exequibilidade

ao título de aquisição do crédito) e por apenso ao

processo executivo (artigo 777.º, n.º3 CPC);

d. Fazer qualquer outra declaração sobre o crédito

penhorado que interesse à execução (artigo 773.º, n.º2

CPC);

e. Nada fazer, o que tem o efeito cominatório de

equivaler ao reconhecimento do crédito, nos termos

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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constantes da indicação do crédito à penhora (artigo

773.º, n.º4 CPC), se a houver, e transmitidos ao

terceiro devedor no ato da notificação, constituindo

título executivo a notificação efetuada e a falta de

declaração (artigo 777.º, n.º3 CPC); mas se, não

pagando o terceiro devedor, contra ele for proposta

execução, é-lhe ainda possível, em oposição, provar

que o crédito não existia, com o que a penhora do

direito de crédito se extingue e a venda, a ter tido

lugar, é anulada, sem prejuízo do direito do exequente

a haver do terceiro devedor uma indemnização, que

pode ser feita valer na própria oposição (artigo 777.º,

n.º4 CPC).

Constituindo o crédito no direito a depósito em instituição

bancária ou equiparada, há que atender às especialidades do

artigo 780.º CPC.

2. A penhora do direito a bens indivisos: na penhora de direitos a bens

indivisos integra o artigo 781.º CPC diferentes situações:

a. O direito de quota em coisa comum

(compropriedade ou outra contitularidade de direitos

reais);

b. O quinhão numa universalidade de direito (herança,

meação de bens do casal, etc.), de que trata, tal como

do direito de quota em coisa comum, o artigo 743.º

CPC;

c. O direito real de habitação periódica ou outro direito

real menor que não acarrete a posse efetiva do seu

objeto;

d. A quota em sociedade, civil ou comercial.

No último caso, é feita notificação à sociedade. Nos restantes,

tratando-se de bem não sujeito a registo, é feita notificação

ao administrador dos bens, se o houver, e aos terceiros

titulares ou contitulares dos restantes direitos implicados, e a

penhora considera-se feita à data da primeira notificação.

Tratando-se de bem sujeito a registo, as (mesmas)

notificações seguem-se à comunicação à conservatória, com

a qual se tem por feita a apreensão. Os notificados podem

também contestar a existência do direito penhorado ou fazer

acerca dele outras declarações pertinentes (artigo 781.º, n.º2

e 5 CPC); mas, não tendo o seu silêncio qualquer efeito

cominatório, ele não impede, designadamente, a dedução de

embargos de terceiro. Podem os contitulares notificados

declarar que pretendem que a venda executiva tenha por

objeto a totalidade do bem ou do património, caso em que,

tendo todos feito tal declaração, a venda abrangerá essa

totalidade (artigo 781.º, n.º2 e 4 CPC). A penhora ao direito

ao produto da liquidação de quota em sociedade de pessoas

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constitui penhora de bem indiviso, mas não assim a penhora

do direito ao lucro, que tem o tratamento dos direitos de

crédito.

3. A penhora de direitos ou expectativas de aquisição: a penhora pode

incidir sobre direito ou expectativa real de aquisição do

executado 17 . Aplicam-se então as disposições relativas à

penhora de direito de crédito, com as necessárias adaptações

(artigo 778.º, n.º1 CPC). A penhora é feita por notificação à

contraparte, a qual pode impugnar a existência do direito

penhorado, invocar o direito a qualquer prestação de que a

aquisição dependa, reconhecer o direito, fazer sobre ele

qualquer outra declaração relevante ou nada declarar, tendo-

se neste caso o direito como reconhecido, nos mesmos

termos em que se tem por reconhecido o direito de crédito.

À verificação e à exigência da prestação a efetuar pelo

executado aplica-se o artigo 776.º CPC. O exercício

tempestivo do direito apreendido (quando, sem ele, este corra

o risco de se extinguir ou de outro modo perder consistência),

pelos meios para tanto facultados pela lei civil, pode ter lugar,

antes da venda executiva e mediante autorização judicial

(artigo 773.º, n.º6 CPC), por ato do exequente ou credor

reclamante (que, quando atue judicialmente, assim se

substitui processualmente ao executado), e, depois dela, por

ato do adquirente do direito (por adaptação do disposto no

artigo 773.º, n.º3 CPC), sem prejuízo de o próprio tribunal,

através do agente de execução, devidamente autorizado pelo

juiz, poder praticar os atos necessários ao exercício do direito

(artigo 773.º, n.º6 CPC). Sendo o meio uma ação judicial,

pode a contraparte, na contestação, alegar que, não obstante

o silêncio por si observado, o direito não existia, estando

sujeita a indemnizar os danos que o exequente demonstre ter

sofrido em consequência da falta de declaração. No caso de

bens sujeitos a registo, a este há também que proceder.

Quando o objeto a adquirir for uma coisa, móvel ou imóvel,

que esteja na posse ou detenção do executado, a garantia do

interesse do exequente torna necessária, para além da

notificação constitutiva da penhora, a apreensão material da

coisa (artigo 778.º, n.º2, 757.º e 764.º, n.º1 CPC), sem prejuízo

do direito de propriedade da contraparte, que a penhora não

afeta e que permanecerá com a eventual resolução do

17 Por exemplo, é penhorável a posição do promitente comprador fundada em contrato com eficácia real, bem como a do titular de direito de preferência de origem legal ou fundado em contrato a que as partes tenham atribuído eficácia real. É também penhorável, na pendência da condição, o direito que seja objeto de negócio condicional, cuja alienação, de eficácia subordinada à do próprio negócio, a lei expressamente admite (artigo 274.º, n.º1 CC); está neste caso a expectativa de aquisição de bem vendido com reserva de propriedade.

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contrato de alienação (artigo 934.º e 936.º, n.º1 CC). Ao

aplicar o artigo 778.º, n.º2 CPC, há, porém, que ter em conta:

a. Por um lado, que as situações de simples detenção (artigo

1253.º CC), máxime quando meramente toleradas

(artigo 1253.º, alínea c) CC), têm de ceder perante a

pretensão real da contraparte;

b. Por outro, que, quando o executado não tenha a

posse da coisa, mas a ela tenha direito por via do

contrato que celebrou, o ato de reconhecimento da

contraparte (ou a omissão da sua declaração) serve de

ase à formação de título executivo, em que se pode

fundar uma execução para entrega de coisa certa

contra ela dirigida (artigo 773.º, n.º3, por via da

remissão do artigo 778.º, n.º1 CPC).

Este ato de apreensão não implica a penhora da própria coisa.

A realização desta penhora tem sido defendida, no caso da

compra e venda com reserva de propriedade, com o

argumento de que, ocorrido o pagamento, que é o habitual

fator condicionante da aquisição, antes da venda executiva, a

penhora da expectativa se tornaria inútil se a coisa não ficasse

automaticamente a garantir a dívida, com a anterioridade

resultante da data da penhora. Mas a penhora da coisa não

deixaria de pôr problemas pelo facto de ela à data ainda

pertencer a outrem. É, por isso, melhor solução a de,

semelhantemente ao que se passa no caso da penhora do

direito à prestação duma coisa, entender que, consumada a

aquisição, o objeto da penhora passa automaticamente a

incidir sobre o bem transmitido (artigo 778.º, n.º3 CPC). A

anterior apreensão material da coisa, quando tenha tido lugar,

e destinada apenas a acautelar o seu eventual extravio ou

destruição, sem, porém, constituir uma penhora e, portanto,

com inteira ressalva dos direitos da contraparte.

4. A penhora de outros direitos: outros direitos penhoráveis são:

a. Os (outros) direitos potestativos autónomos;

b. O conteúdo patrimonial do direito de autor (artigo

47.º CDA);

c. O direito de edição e os direitos emergentes de

patentes, modelos de utilidade, registos de modelos e

desenhos industriais e registos de marcas (artigo 29.º,

n.º1 CPI).

Nos casos de direito absoluto, a penhora efetua-se mediante

simples notificação ao executado; mas, tratando-se de direito

sujeito a registo, é constituída pela comunicação à entidade

registadora, nos termos aplicáveis do artigo 755.º CPC. Sendo

o direito relativo, a penhora constitui-se com a notificação à

contraparte.

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Da leitura das disposições legais por exclusão de partes: ela tem lugar quando não

está em causa o direito de propriedade plena e exclusiva do executado sobre coisa

corpórea nem um direito real menor que possa acarretar a posse efetiva e exclusiva

de coisa (corpórea) móvel ou imóvel. Esta tripartição legal (a., b. e c.) deve-se mais

a considerações práticas de regime, designadamente atinentes ao modo de realização

da penhora, do que a uma tripartição rigorosa. Não obstante a heterogeneidade da

categoria da penhora de direitos, poder-se-á falar de três diferentes formas básicas de

penhora, embora, com a reforma da ação executiva, tenham deixado de corresponder

inteiramente aos três indicados tipos de objeto da penhora.

O depositário: a penhora implica, em regra, um depositário. Este é:

1. Na penhora de coisas imóveis e, por aplicação subsidiária, na de coisas

móveis sujeitas a registo e na de direitos (artigos 772.º e 783.º CPC): o agente

de execução ou, quando as diligências de execução são realizadas por oficial de justiça,

pessoa por este designada (artigo 756.º, n.º1 CPC);

2. Na penhora de coisas móveis não sujeitas a registo (artigo 764.º, n.º1 CPC): o

agente de execução que efetua a diligência;

3. Na penhora de estabelecimento comercial (artigo 782.º, n.º4 CPC): pessoa

designada pelo juiz, quando estiver paralisada ou deva ser suspensa a atividade do

estabelecimento (artigo 784.º, n.º4 CPC).

Além dos deveres gerais do depositário (artigo 1187.º, 1188.º, 1191.º e 1195.º CC), cabe-lhe

administrar os bens ou direitos penhorados, com a diligência dum bom pai de família, e

prestar contas da sua administração (artigo 760.º, n.º1 CPC). Através dele, é exercida a posse

do tribunal, sempre que a esta haja lugar. Mas há casos em que não há lugar, por desnecessária,

à figura do depositário. Assim acontece, desde logo, no caso da penhora de direito de crédito.

Se o devedor cumprir a obrigação, relativamente à prestação principal e às prestações

acessórias (máxime juros) porventura devidas, fará depósito à ordem do agente de execução

ou, na sua falta, da secretaria, ou entregará a coisa ao agente de execução ou à secretaria, que

funcionará como depositário, conforme os casos (artigo 777.º, n.º1 CPC). Se não cumprir,

caberá ao exequente (ou ao adquirente do direito pela venda) executar o crédito (artigo 777.º,

n.º3 CPC). Excetuam-se apenas os casos em que haja de ser apreendida uma coisa dada em

garantia, como acontece, em regra, com o penhor (artigo 773.º, n.º7 CPC). Tão-pouco há

lugar a depositário no caso de penhora de direito ou expectativas de aquisição, quando não

haja lugar à apreensão complementar da coisa sobre que incide, e no de penhora de (outro)

direito potestativo, bem como no de penhora de automóvel não apreendido. Quanto aos

casos de penhora de direito a bem ou património indiviso, de quota em sociedade comercial

ou de direito de habitação periódica, podem implicar a constituição de depositário; assim

será, pelo menos, sempre que o direito penhorado careça de ser administrado (artigo 760.º,

n.º1 CPC). Quando não seja o agente de execução, o depositário pode ser removido se não

cumprir os deveres do seu cargo (artigo 761.º, n.º1 CPC). Sendo depositário o agente de

execução, a violação dos seus deveres constitui atuação, dolosa ou negligente, sancionada

nos termos do artigo 720.º, n.º4 CPCP e podendo levar à sua destituição, pelo órgão com

competência disciplinar, para todos os efeitos do processo (e não apenas para os decorrentes

do depósito).

O registo da penhora:

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1. Quando tem lugar e para quê: já sabemos que a penhora de bens sujeitos a registo

se efetua, em regra, com a comunicação à conservatória competente. É o que

acontece nos casos de:

a. Imóveis ou direitos reais sobre imóveis (artigos 755.º, n.º1, 781.º, nº.5,

783.º CPC e 2.º, n.º1, alíneas a) e n) CRPr);

b. Móveis sujeitos a registo ou direitos reais sobre eles (artigos 768.º, n.º1,

783.º CPC, artigo 5.º, n.º1, alínea f) Registo da Propriedade Automóvel,

artigo 4.º, alínea f) Decreto-Lei n.º 42.644, 14 novembro 1959, e artigo

6.º, alínea i) dos Estatutos do Instituto Nacional de Aviação Civil,

aprovado pelo Decreto-Lei n.º133/98, 15 maio);

c. Quota do contitular de direito que dê lugar a registo (artigos 781.º, n.º1

e 783.º CPC);

d. Quota ou direito sobre quota de sociedade comercial (artigos 781.º,

n.º6 e 3.º, alínea f) CRCom);

e. Direito ao lucro e à quota de liquidação de sociedade em nome coletivo

ou de parte social de sócio comanditado de sociedade em comandita

simples (artigo 781.º, n.º6, por analogia, ou artigo 783.º CPC e 3.º,

alínea e) CRCom);

f. Direito de autor (artigos 783.º CPC e 215.º, n.º1, alínea d) CDA);

g. Direito a patente, modelo, desenho ou marca (artigos 783.º CPC e 31.º

CPI).

Mas outras vezes, o registo da penhora constitui um ato a esta subsequente, a efetuar

com base em certidão do auto que atesta a sua realização. É o que acontece nos casos

de:

a. Direito de crédito com garantia real sujeita a registo (hipoteca,

consignação de rendimentos e penhor de crédito garantido por

hipoteca: artigos 773.º, n.º7 CPC, 2.º, n.º1, alínea o) CRPr e 5.º, n.º1,

alínea e) Registo de Propriedade Automóvel);

b. Direito ou expectativa real de aquisição de bem sujeito a registo

(artigos 778.º, n.º1 e, por analogia, 773.º, n.º7 CPC);

c. Bens ou direitos sujeitos a registo que integrem o estabelecimento

comercial (artigo 782.º, n.º6 CPC).

No segundo grupo de casos, o registo é obrigatório, constituindo ónus do exequente.

Com efeito, não só é condição da eficácia do ato da penhora perante terceiros, nos

termos gerais, como é também condição do prosseguimento do processo de

execução, o qual só tem lugar após a junção do certificado do registo da penhora e

da certidão dos ónus que incidam sobre os bens por ela abrangidos (artigo 755.º, nº.2

CPC).

2. Inscrição em nome de terceiro: pode acontecer que o bem penhorado esteja

inscrito em nome de terceiro. Tem então aplicação o artigo 119.º CRPr, que ordena

a citação do titular da inscrição registada para, no prazo de 10 dias, vir declarar se o

bem penhorado lhe pertence, sob pena de a execução prosseguir. Se o titular da

inscrição declarar que o bem lhe pertence, o exequente, se quiser manter a penhora,

instaurará contra ele uma ação declarativa de propriedade, autónoma relativamente à

execução, que fica, entretanto, suspensa quanto ao bem em causa, sem prejuízo de o

exequente poder desistir da penhora ou requerer a sua conversão em penhora de

direito litigioso.

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Levantamento da penhora:

1. Em geral: efetuada a penhora, ela irá, em princípio, subsistir até à venda do bem

penhorado. Pode, porém, extinguir-se por causa diferente da venda executiva, quer

essa causa implique a realização do fim da execução, quer não. Então, a penhora é

levantada. É o que acontece:

a. Quando ocorra uma causa de extinção da execução, diferente do

pagamento posterior à venda executiva;

b. Quando seja julgada procedente a oposição à penhora;

c. Quando o exequente desista da penhora, nos casos em que lhe é

permitida a substituição por outro bem penhorado (artigo 751.º, n.º4,

alínea a) a e) CPC);

d. No esquema dos efeitos legais do acordo do pagamento em prestações;

e. Se a execução estiver parada durante seis meses, por negligência que

não seja imputável ao executado, e este requerer o levantamento

(artigo 763.º, n.º1 CPC);

f. No caso de desaparecimento do bem penhorado.

Determinado o levantamento da penhora, procede-se ao cancelamento do respetivo

registo, se a ele tiver havido lugar (artigo 101.º, n.º2, alínea g) CRPr).

2. Desaparecimento do bem penhorado: se ocorrer o desaparecimento do bem

penhorado, das duas uma:

a. Ou há lugar a indemnização e a penhora transfere-se para o bem sub-

rogado (crédito ou quantia paga), nos termos do artigo 823.º CC;

b. Ou não há lugar a indemnização e a penhora extingue-se, por falta de

objeto (para o caos análogo da hipoteca: artigo 730.º, alínea c) CC).

3. Paragem da execução:

a. Anteriormente à reforma da reforma: a penhora era levantada, a

requerimento do executado e mediante despacho judicial, quando a execução

estivesse parada nos seis meses anteriores ao requerimento, por negligência

do exequente. Tal pressupunha que este tivesse o ónus de impulso da

execução, isto é, que uma norma especial, tal como previsto no artigo 6.º,

n.º1 CPC, o onerasse com a prática dum ato de que dependesse o

prosseguimento da ação executiva, entendendo-se que não podia o exequente

perder a garantia que lhe é conferida pela penhora em consequência dum ato

que não lhe fosse imputável.

b. Com a reforma da reforma: passou, porém, o Código a determinar que o

levantamento da penhora tenha lugar (sempre a pedido do executado,

dirigido agora ao agente de execução) em qualquer caso em que no processo

não tenha sido efetuada nenhuma diligência para a realização do pagamento

nos seis meses anteriores ao requerimento do executado, por ato ou omissão

que não seja da sua responsabilidade. A norma passou, tal e qual, do artigo

847.º, n.º1 CPC de 1961 para o atual artigo 863.º, n.º1 CPC. Prescinde-se

assim, hoje, do conceito de ónus, fazendo recair na esfera jurídica do

exequente o efeito, não só de omissão por ele praticada, caso em que pagará

custas (artigo 763.º, n.º3 CPC), mas também de omissão que se deva ao

agente de execução ou ao tribunal (juiz, oficial de justiça ou secretaria).

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Levantada a penhora, resta ao exequente o direito de indemnização contra o

Estado, quando a paragem do processo a ele não se deva. O credor, com

crédito vencido e reclamado, que queira evitar o levantamento da penhora,

pode, passados três meses sobre o inicio da atuação negligente do exequente,

substituir-se a este na prática do ato que ele tenha negligenciado (artigo 763.º,

n.º4 CPC). Não pode, porém, obviamente, substituir-se ao juiz, ao agente de

execução ou ao funcionário judicial negligente.

O – Função e efeitos da penhora

Função da penhora: apreensão judicial de bens que constituem objeto de direitos do

executado, a penhora é o ato fundamental do processo executivo, de que as restantes fases

do processo são como que o desenvolvimento natural. Mas ato fundamental embora, a

penhora não esgota em si mesma a sua finalidade: delimitando o objeto dos atos executivos

subsequente e assegurando a sua viabilidade, pela apreensão dos bens sobre os quais tais atos

irão incidir, a penhora é dirigida aos atos ulteriores de transmissão dos direitos do executado

para, através deles, direta ou indiretamente, ser satisfeito o interesse do exequente. Esta é a

sua função. Deste conceito e desta função da penhora decorrem os seus efeitos jurídicos,

que podem consubstanciar-se em três:

1. A transferência para o tribunal dos poderes de gozo que integram o direito do

executado;

2. A ineficácia relativa dos atos dispositivos do direito subsequente;

3. A constituição de preferência a favor do exequente.

A natureza civil destes efeitos da penhora não deve levar a confundi-la com uma figura de

Direito Privado. Ato de apreensão judicial, a penhora é uma manifestação de ius imperii e o

primeiro ato pelo qual se efetiva a garantia da relação jurídica pecuniária.

Perda dos poderes de gozo: pela penhora, o direito do executado é esvaziado dos

poderes de gozo que o integram, os quais passam para o tribunal, que, em regra, os exercerá

através dum depositário. Quando a penhora incide sobre o objeto corpóreo dum direito real

(penhora de bem imóvel, penhora de bem móvel, penhora de quota em bem indiviso), a

transferência dos poderes de gozo importa uma transferência de posse. Cessa a posse do

executado e inicia-se uma nova posse pelo tribunal: o depositário passa, em nome deste, a

ter a posso do bem penhorado. Estando em causa um direito de natureza diferente (direito

de crédito, direito real de aquisição, direito a quinhão numa universalidade, direito a quota

em sociedade, direito potestativo, direito real sobre coisa incorpórea), já não se pode falar

em posse (artigo 1251.º CC), mas continua a verificar-se a transferência, do executado para

o tribunal, dos poderes de gozo que integram o direito. Mesmo no caso da penhora do direito

de crédito, em que não há depositário, o agente de execução ou a secretaria fica com o poder

de receber e provisoriamente reter a prestação principal, assim como as prestações acessórias

do crédito, quando este é pecuniário (artigo 770.º, n.º1 CPC). A receção e a retenção da

prestação creditícia, principal ou acessória, representam o exercício de poderes de gozo do

credor. Por isso também, o terceiro devedor não fica exonerado, perante a execução, quando,

depois da penhora, pague ao executado ou a terceiro ou acorde com o executado a prática

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de outro ato extintivo da obrigação (novação, dação em cumprimento, remissão), ou ainda

quando declare querer compensar o débito com um crédito seu por causa que só depois da

penhora tenha permitido a compensação (artigo 820.º CC, no caso da compensação, o artigo

853.º, n.º2 CC). Semelhantemente, no caso de penhora dum direito potestativo, destinado a

extinguir-se com o seu exercício sem que este produza qualquer modificação no mundo

material, o poder de produzir a declaração de vontade em que esse exercício se consubstancia,

em momento anterior à caducidade ou à criação de outra situação que possa levar à perda do

direito, passa a pertencer ao tribunal. Algo de semelhante se dirá do caso em que o direito

real de aquisição apreendido, não constituindo (ainda) um direito potestativo, dê lugar a uma

atividade extrajudicial, como a de celebração do contrato prometido. Diversamente, a

penhora da expectativa de aquisição, dando apenas lugar a que se aguarde a verificação da

condição, só quando, por esta se verificar, passa a incidir sobre o bem transmitido é que se

traduz no exercício de poderes de gozo (já sobre a coisa) pelo tribunal.

Ineficácia relativa dos atos dispositivos subsequentes: o executado perde os

poderes de gozo que integrem o seu direito, mas não o poder de dele dispor. Mantém, assim,

a titularidade dum direito esvaziado de todo o seu restante conteúdo. E, sendo assim,

continua a poder praticar, depois da penhora, atos de disposição ou oneração. Os atos de

disposição ou oneração dos bens penhorados comprometeriam, no entanto, a função da

penhora se tivessem eficácia plena. Por isso, são inoponíveis à execução. Não se tratando de

atos nulos, mas apenas relativamente ineficazes, eles readquirirão eficácia plena no caso de a

penhora vir a ser levantada. Mas se, pelo contrário, da execução resultar a transmissão do

direito do executado, o direito do terceiro que tiver contratado com o exequente caduca,

embora transferindo-se, por sub-rogação objetiva, para o produto da venda (artigo 824.º CC).

Fazendo-se a penhora por registo ou devendo este ter lugar depois dela efetuada, as regras

próprias do registo imporiam que se considerasse as datas de registo da penhora e do ato

dispositivo para determinar a anterioridade ou posterioridade do ato da penhora em face

dum ato de alienação ou oneração. Há, porém, que ter em conta o disposto no artigo 5.º,

n.º4 CRPr, que, seguindo, pelo menos, a intenção do legislador, exclui da proteção conferida

pela prioridade registal, por não os considerar terceiros, os adquirentes por causa dum ato

dipositivo do titular anterior da inscrição registal. Com a reforma da ação executiva, passou

a ser também estabelecida a inoponibilidade à execução do contrato de arrendamento. Não

caducando com a venda executiva o direito ao arrendamento, o contrato celebrado pelo

executado após a penhora mantém a sua inoponibilidade perante o adquirente do bem

arrendado. Como atos jurídicos que são, a disposição, a oneração e o arrendamento

dependem da vontade do titular do direito e a norma do artigo 819.º CC pressupõe a prática

dum ato voluntário do executado. Assim, a regra da ineficácia relativa não abrange os atos

constitutivos de direito real de garantia sobre os bens penhorados em que o titular destes não

intervenha. É o que acontece com a penhora (artigo 794.º C), com o arresto (artigo 391.º CC)

e com a hipoteca legal ou judicial (artigos 704.º e 710.º CC). Do mesmo modo, a usucapião,

as sentenças constitutivas proferidas contra o executado, a amortização da sua quota e outros

atos independentes da sua vontade estão excluídos da aplicação da regra.

Preferência do exequente: dada a função que lhe é própria, a penhora envolve a

constituição dum direito real de garantia a favor do exequente. Como tal, tem este direito o

atributo da preferência (ou prevalência): o exequente fica como o direito de ser pago com

preferência a qualquer outro credor que não tenha garantia real anterior (artigo 822.º, n.º1

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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CC). A anterioridade da penhora reporta-se à data do arresto, quando o exequente tenha

feito arrestar previamente os bens penhorados (artigo 822.º, n.º2 CC) e, tratando-se de bens

sujeitos a registo, à data da efetivação deste. Se sobrevier a insolvência do executado, a

preferência resultante da penhora cessa, tal como, de resto, a resultante de hipoteca judicial

(artigo 140.º, n.º3 CIRE). A preferência do exequente, mas já nos termos do penhor ou da

hipoteca, mantém-se após o acordo de pagamento da dívida exequenda em prestações, a

menos que outro credor queira prosseguir com a execução e o exequente desista da garantia

ou não denuncie o acordo celebrado com o executado.

P – Oposição à penhora

Meios de oposição: o nosso sistema jurídico concede quatro meios de reagir contra uma

penhora ilegal:

1. Oposição por simples requerimento: penhorada uma coisa móvel encontrada

em poder do executado, a lei concede a possibilidade de se fazer, perante o juiz do

processo, prova documental inequívoca de que ela pertence a terceiro, mediante

simples requerimento acompanhado dessa prova, presumindo até lá que a coisa

pertence ao executado (artigo 764.º, n.º3 CPC). Esta disposição surgiu em

consequência da supressão do protesto no ato da penhora, de que anteriormente

tratava o artigo 832.º CPC 1961. Meio específico de oposição que a lei apenas

facultava ao executado (ou a alguém em seu nome), o protesto no ato da penhora

esgotava o seu âmbito de aplicação no domínio da impenhorabilidade subjetiva

(pertença dos bens a terceiro ou, por interpretação extensiva, ao executado e a

terceiro: compropriedade, desdobramento da propriedade plena bem comum do

casal). Feita, no ato da penhora, o funcionário encarregado da penhora procedia a

uma averiguação sumária, após o que, se fossem apresentados documentos que

claramente provassem a declaração, deixaria de a efetuar, sem prejuízo do direito de

decisão final do juiz; mas, sendo a prova apresentada duvidosa, a penhora era

efetuada, decidindo depois o juiz. Pressupunha-se que a questão da penhorabilidade

subjetiva do bem não tinha sido suscitada no processo antes do despacho ordinatório

da penhora, pois, assim sendo, o funcionário judicial não podia sobrepor-se ao juiz.

Suprimindo o meio do protesto no ato da penhora, a lei processual presume que

pertencem ao executado os bens móveis encontrados em seu poder: tal como para

os efeitos do artigo 747.º CPC, relativos aos bens encontrados em poder de terceiro,

entende-se estarem em poder do executado todos aqueles sobre os quais ele exerce

posse ou detenção, ou pode exercê-la por se encontrarem na sua esfera de controlo,

designadamente em imóvel que lhe pertença ou que em nome próprio utilize. Para a

ilisão desta presunção, com as consequências de a penhora efetuada não se manter e

a coisa ser restituída, é exigido um documento do qual resulte inequivocamente que

os bens pertencem a terceiro, ou que terceiro tem sobre eles direito real menor de

gozo que implique a sua usufruição (caso em que o objeto da penhora deve ser

reduzido, de modo a abranger apenas o direito do executado). A apresentação de

documento autêntico com data anterior à da penhora, ou de documento particular

que tenha sido autenticado, reconhecido ou apresentado em serviço público (que

nele tenha atestado a apresentação) em data anterior à da penhora, é normalmente

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suficiente para o efeito, se não houver motivo sério para duvidar da sua genuinidade

ou da validade do ato documentado. A ilisão da presunção por este meio expedito só

pode ter lugar em casos em que se torne manifesto o direito do terceiro. A ilisão faz-

se perante o juiz, dado a decisão a proferir constituir exercício da função jurisdicional.

Tal implica que o levantamento, ou a redução, da penhora não seja ordenado, salvo

caso de manifesta desnecessidade, sem a prévia audição do exequente, em

observância do princípio do contraditório (artigo 3.º, n.º3 CPC). Não ordenando o

juiz o levantamento da penhora, não fica precludido o direito de o terceiro deduzir

oposição por embargos, mesmo quando tenha sido ele a requerer o levantamento. A

oposição à penhora por simples requerimento é hipotizável em outros casos. A

questão da sua admissibilidade vem de muito antes da reforma da ação executiva,

tendo havido inclusivamente quem entendesse que o executado podia sempre reagir

por esse meio a uma penhora ilegal, sem prejuízo de seguidamente, quando não

cumprido o seu levantamento, poder ainda recorrer aos embargos de terceiro. Eu

próprio sustentei nesta obra que, quer o exequente, quer o executado, podiam, entre

o momento da nomeação do bem à penhora (pela contraparte) e do despacho que a

ordenasse, introduzir no processo, por simples requerimento, elementos que

possibilitassem ao juiz decidir da penhorabilidade ou impenhorabilidade (subjetiva

ou objetiva) do bem nomeado; mas que, fora o caso em que o juiz não tivesse

conhecido de questão concreta de penhorabilidade que se levantasse, apesar de o

dever ter feito, por o processo conter os elementos suficientes para o efeito (caso

este que era de nulidade e dava lugar, consoante os casos, a recurso ou reclamação:

atual artigo 615.º, n.º4 CPC), o uso do requerimento, após o despacho ordinatório

da penhora, só era admissível para o exequente, quando a nomeação tivesse sido feita

pelo executado. Perante o disposto no atual artigo 723.º, n.º1, alínea c) e d) CPC, é

indubitável que, na falta de outro meio de impugnação da penhorabilidade do bem

apreendido ou a apreender, o exequente pode suscitar perante o juiz a questão da

impenhorabilidade. Por outro lado, indicado pelo exequente, na petição inicial,

determinado bem como suscetível de penhora, pode o executado, antes mesmo da

sua apreensão. Nestes casos, o requerente levanta, em requerimento, a questão da

impenhorabilidade, carreando para o processo os elementos indispensáveis à sua

verificação e oferecendo a prova para tanto necessária. Ouvida a contraparte, essa

prova, é seguidamente produzida, juntamente com a que esta ofereça, decidindo o

juiz em conformidade. Restam ainda os casos em que a lei admite o requerimento

(artigos 744.º, n.º2 CPC; e 738.º, n.º6 CPC, quando o requerimento seja apresentado

depois da penhora).

2. Incidente de oposição à penhora: meio de oposição privativo do executado (e

do seu cônjuge, por via do disposto no artigo 787.º, n.º1 CPC) constitui o incidente

de oposição à penhora. Trata-se, desta vez, de casos de impenhorabilidade objetiva,

visto ser pressuposto que os bens penhorados pertencem ao executado. Três são as

situações que, segundo o artigo 784.º CPC, podem fundar a oposição do executado

à penhora:

a. Inadmissibilidade da penhora dos bens do executado concretamente

apreendidos ou da extensão com que ela foi realizada;

b. Imediata penhora de bens do executado que só subsidiariamente

respondam pela dívida exequenda;

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c. Incidência da penhora sobre bens do executado que, não respondendo,

nos termos do Direito substantivo, pela dívida exequenda, não deviam

ter sido atingidos pela diligência.

A alínea b. não oferece dúvidas: em qualquer caso de responsabilidade subsidiária, o

executado pode opor-se à penhora de bens seus que só deviam responder na falta de

outros (igualmente seus ou de outro património), se, existindo estes, por eles não

tiver começado a execução. Se gozar do benefício da excussão prévia e o tiver

invocado, constituirá fundamento de oposição o facto de não terem sido previamente

penhorados e vendidos os bens do património do principal responsável. Se não gozar

do benefício da excussão prévia, a oposição basear-se-á no facto de não terem sido

previamente penhorados os bens, seus ou alheios, que respondiam em primeiro lugar

ou de não ter sido verificada a sua insuficiência para a satisfação dos créditos a

satisfazer por força deles; fundando-se a oposição na existência de patrimónios

separados, deve o executado indicar logo os bens penhoráveis que tenha em seu

poder e se integrem no património autónomo que responde pela dívida exequenda

(artigo 784.º, n.º2 CPC). Quanto às alíneas a. e c., visam cobrir todos os outros casos

de bens objetivamente impenhoráveis. Mas, enquanto a alínea c. se reporta às causas

de impenhorabilidade, específica ou derivada dum regime de indisponibilidade

objetiva, resultantes do direito substantivo, a alínea a. visa as causas de

impenhorabilidade enunciadas na lei processual, derivem delas situações de

impenhorabilidade absoluta e total, de impenhorabilidade relativa ou de

impenhorabilidade parcial. O executado tem, para se opor, o prazo de 10 dias,

contados da notificação da penhora (artigo 785.º, n.º1 CPC), estando o incidente

sujeito às normas gerais dos artigos 293.º e 295.º CPC (artigo 785.º, n.º2 CPC), bem

como às do artigo 732.º, n.º1 e 3 CPC, devidamente adaptados, em tudo quanto não

esteja especialmente regulado no artigo 785.º (n.º2, 3 e 4) CPC. Assim:

Com o requerimento de oposição, são oferecidos os meios de prova, sendo

de cinco (5) o limite do número de testemunhas (artigos 293.º, n.º1 e 294.º,

n.º2 CPC);

Há despacho liminar, indeferindo o juiz a oposição quando esta tenha sido

deduzida fora de prazo, não se funde em causa de impenhorabilidade objetiva

prevista no artigo 784.º, n.º1 CPC ou seja manifestamente improcedente

(artigo 732.º, n.º1 CPC);

O exequente pode responder no prazo de 10 dias, contados da data em que

é notificado da oposição, oferecendo logo os meios de prova, com a mesma

limitação do número de testemunhas (artigos 293.º, n.º1 e 2 e 294.º, n.º1 CPC);

A falta de resposta ou a omissão de impugnação tem efeito cominatório

semipleno, não sendo, porém, considerados provados os factos, dos alegados

pelo executado, que estiverem em oposição com o que o exequente tenha

dito no requerimento executivo ou com o que ele próprio ou outro sujeito

com o poder de indicar bens haja dito no respetivo requerimento (artigo 723.º,

n.º3 CPC);

A execução só é suspensa, na sequência da admissão da oposição e

limitadamente aos bens em causa, se o executado prestar caução (artigo 785.º.

n.º3 CPC), sem prejuízo do reforço ou substituição da penhora (artigo 851.º,

n.º4, alínea d) CPC); mas, tal como na pendência do recurso da decisão

exequenda (artigo 704.º, n.º4 CPC) e dos embargos do executado (artigo 733.º,

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n.º5 CPC), quando a oposição respeite à casa de habitação do executado e a

venda possa causar prejuízo irreparável ou de difícil reparação, o juiz pode

determinar que a venda aguarde a decisão dos embargos em 1.ª instância

(artigo 785.º, n,º4 CPC);

Tal como na pendência do recurso da decisão exequenda (artigo 704.º, n.º3

CPC) e dos embargos de executado (artigo 733.º, n.º4 CPC), nem o exequente

nem outro credor pode, na pendência da oposição, obter pagamento sem

prestar caução (artigo 785.º, n.º5 CPC);

O incidente corre por apenso (artigo 732.º, n.º1 CPC).

Relativamente aos bens cuja penhora haja suscitado a sua intervenção na execução,

o cônjuge do executado tem os mesmos poderes processuais que este (artigo 787.º,

n.º1 CPC).

3. Embargos de terceiro:

a. Terceiro legitimado: sabemos que à penhora só estão sujeitos bens do

executado, seja este o próprio devedor, seja um terceiro (relativamente à

obrigação exequenda), este nos casos excecionais em que a lei substantiva

admite a penhora de bens de pessoa diversa do devedor. Consequentemente,

os bens de terceiro (relativamente à execução), isto é, de pessoas que não seja

exequente nem executado (termo que coincide com o presente no artigo

342.º, n.º1 CPC), não são penhoráveis, regra esta que permanece válida

quanto às pessoas abrangidas no título conjuntamente com o executado, mas

contra as quais não tenha sido proposta a execução. Mas já são penhoráveis

os bens do executado que estejam em poder de terceiro, ainda que este deles

seja possuidor em nome próprio. Por outro lado, porém, o possuidor em

nome próprio (exerça a posse diretamente ou através de outrem, possuidor

em nome alheio: artigo 1252.º, n.º1 CC) goza da presunção da titularidade do

direito correspondente à sua posse (artigos 1268.º, n.º1 CC e 1251.º CC), pelo

que lhe deve ser consentido valer-se dessa presunção até que ela seja ilidida,

mediante a demonstração de que o proprietário do bem possuído é o

executado. Os embargos de terceiro, como meio de oposição à penhora,

mantêm-se na lei civil configurados como um meio possessório, paralelo às

ações de prevenção, manutenção e restituição da posse (artigos 1276.º e

1278.º CC) e, portanto, facultando, em primeira mão, ao possuidor em nome

próprio (artigo 1285.º CC) e negócio, em princípio, ao proprietário não

possuidor, ao simples detentor de facto e ao possuidor em nome alheio,

figuras que o artigo 1253.º CC equipara e que não gozam da presunção de

propriedade de que goza o possuidor em nome próprio. Mas a lei civil faculta

também os meios possessórios a determinados possuidores em nome alheio

(artigos 1037.º, n.º2, 1125.º, n.º2, 1133.º, n.º2 e 1188.º, n.º2 CC). Sendo difícil

sustentar a tese de que, ao fazê-lo, a lei civil exclui os embargos de terceiro

do elenco das providências facultadas a esses possuidores em nome alheio

para a defesa da sua posse, não se pode, porém, dizer que o direito de ação

que lhes é conferido se baseia como o dos possuidores em nome próprio, na

presunção de que neles radica a titularidade do direito real sobre a coisa, mas

antes na especial relevância do seu interesse próprio em continuar no gozo

da coisa que contratualmente detêm, conjugado com a presunção de que a

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titularidade do direito real, correspondente à posse da pessoa em nome de

quem possuem, radica efetivamente nesta. A atribuição ao possuidor em

nome alheio de legitimidade para embargar só se compreende como medida

de tutela direta do interesse do terceiro (pessoa diversa do executado) que

através dele possui, na medida em que dele dependa o interesse do

embargante. Quando o locatário (se se entender que não tem um direito real),

o parceiro, o depositário ou o comodatário possui a coisa penhorada em

nome do executado, os embargos de terceiro não são admissíveis, visto que,

no conflito entre o direito real (constituído através da penhora) e o direito de

crédito, este, independentemente da data da sua constituição, terá de ceder

perante o primeiro: as expressões mesmo contra o locador (artigo 1037.º CC),

mesmo contra o parceiro proprietário (artigo 1125.º, n.º2 CC), mesmo contra

o comodante (artigo 1133.º, n.º2 CC) e mesmo contra o depositante (artigo

1188.º n.º2 CC) não têm aplicação aos embargos de terceiro, em que não está

em causa a defesa do possuidor em nome alheio em face da pessoa que

através dele possui, mas a sua defesa perante o terceiro exequente que, através

da penhora, agride o património dela. Mas, quando a posse tiver lugar em

nome dum terceiro, da sintonia entre o interesse deste e o do possuidor em

nome alheio resulta a legitimação extraordinária deste último para embargar,

em substituição processual daquele. Daqui resulta a necessidade de o

possuidor em nome alheio, na petição de embargos, alegar o título da sua

posse e identificar a pessoa em nome de quem possui, em regime diverso do

vigente para o possuidor em nome próprio e justificado pela excecionalidade

da sua legitimação para embargar; e, na contestação dos embargos, a exceptio

dominii continuará a poder ser deduzida nos mesmos termos em que é

dedutível perante o possuidor em nome próprio, isto é, mediante a invocação

do direito de propriedade (ou outro direito de fundo) do executado. A

excecionalidade desta atribuição de legitimidade para embargar a certos

possuidores em nome alheio não permitia, antes da revisão do Código,

atribuí-la, na falta duma norma expressa, ao promitente adquirente duma

coisa a quem antecipadamente tivesse sido feita a sua entrega, em

cumprimento de obrigação estabelecida no contrato celebrado, não obstante

o aconselhasse o facto de ele exercer a posse na expectativa duma aquisição

futura: impedia-o, não obstante esta expectativa, o facto de esse exercício se

fazer com base num direito de crédito e em nome do promitente alienante.

O meso obstáculo não existia para o possuidor baseado em direito real de

garantia (credor pignoratício, titular do direito de retenção ou, em certos

casos, consignatário de rendimentos: artigo 670.º, alínea a), 758.º e 759.º, n.º3,

e 661.º, n.º, alínea b) CPC), visto ter uma posse em nome próprio. A sua

posse não é, em regra, ofendida pela penhora, pois tem mero fim de garantia

dum crédito do possuidor e, reclamando-o no processo de execução, o

credor verá o seu interesse totalmente satisfeito. Mas pode haver casos em

que se vislumbre um interesse jurídico do credor em embargar. É o que

acontece quando o prazo para o cumprimento é estabelecido no interesse,

ainda que não exclusivo, do credor pignoratício ou consignatário. Se o

proprietário da coisa (ou titular de outro direito real de gozo sobre ela) for o

executado, a consideração da finalidade do direito real de garantia não

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permitirá defender que o credor possa embargar de terceiro, sem prejuízo do

seu eventual direito a uma indemnização que pode, em conformidade com o

contrato celebrado, ser igualmente abrangido pela garantia constituída. Mas

se o proprietário for um terceiro, já é defensável que o credor possa, como

possuidor em nome próprio, embargar de terceiro, em termos semelhantes

àqueles em que o pode fazer o possuidor em nome alheio a quem a lei civil

concede o poder de embargar. Desde a revisão do Código, a norma

atualmente no artigo 342.º, n.º1 CPC veio alargar a legitimidade ativa para os

embargos de terceiro: por um lado, desvinculou-a da posse, ao admitir que

os embargos se fundem em direito incompatível com a realização ou o

âmbito da diligência; por outro lado, conferiu-a a todo o possuidor (em nome

próprio ou alheio) cuja posse seja incompatível com essa realização ou esse

âmbito. Para bem compreender o âmbito de previsão do preceito, há que

partir do conceito de direito incompatível. Sabido que a penhora se destina a

possibilitar a ulterior venda executiva, é com ela incompatível todo o direito

de terceiro, ainda que derivado do executado, cuja existência, tido em conta

o âmbito com que é feita, impediria a realização desta função, isto é, a

transmissão forçada do objeto apreendido (artigo 840.º, n.º1 CPC). É

incompatível com a penhora do direito de propriedade plena, que sempre

impedirá a venda executiva do bem sobre o qual incide; e também o são os

direitos reais menores de gozo que, considerada a extensão da penhora,

viriam a extinguir-se com a venda executiva. Seja de quem for que o terceiro

tenha derivado o seu direito (do executado ou de outrem), os embargos são-

lhe consentidos. Se estiver em causa um direito real de aquisição ou um

direito real de garantia, a incompatibilidade não se verifica, visto que o

respetivo titular encontrará satisfação no esquema da ação executiva. Ponto

é, porém, que esse direito, não tendo sido derivado do executado, não possa

ser posto em causa pelo facto de o bem penhorado a este pertencer, pois,

ocorrendo esta situação, o titular do direito real de aquisição ou de garantia

tem interesse em embargar de terceiro, a fim de demonstrar que o bem

penhorado pertence à pessoa de quem o seu direito derivou e, feita esta

demonstração, encontramo-nos, como no caso em que o direito real de gozo

do embargante é incompatível com a penhora, perante um direito (de terceiro)

impeditivo da realização da função desta: a incompatibilidade do direito deste

terceiro com a penhora resulta também na incompatibilidade com ela do

direito dele derivado. Ponto é ainda que, no caso de o contrato-promessa,

não haja divergência quanto ao seu conteúdo (ou, no limite, quanto à sua

atual existência), pois, de outro modo, o terceiro promitente adquirente

poderá optar por mover uma ação de execução específica, devendo, na ação

executiva, o bem ser vendido como litigioso, ou seja, com as cautelas do

artigo 840.º CPC (os embargos de terceiro, cuja procedência teria de ficar

dependente do êxito da ação de execução específica, continuam a ser

inadmissíveis). Quanto aos direitos pessoais de gozo e aos direitos pessoais

de aquisição, não são nunca incompatíveis com a penhora: quando

constituem direitos de crédito contra o executado, os bens deste não deixam

de, como tais, estar sujeitos à penhora, sem que, no segundo caso, o dever de

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os transmitir a terceiro seja oponível ao exequente; quando se trata de direitos

de crédito contra terceiro, que seja proprietário do bem penhorado (ou titular

de direito real menor sobre ele), há incompatibilidade entre o direito deste

último e a penhora, mas o direito pessoal que no primeiro se baseie continua

a não ser oponível ao exequente e, portanto, incompatível com a penhora, ao

seu titular cabendo, contra o seu devedor, o direito a ser indemnizado. Por

sua vez, posse incompatível com a realização da penhora é, em primeiro lugar,

aquela que, sendo exercida em nome próprio, constitui presunção da

titularidade dum direito incompatível: enquanto esta presunção não for

ilidida, mediante a demonstração de que o direito de fundo radica no

executado, o possuidor em nome próprio é admitido a embargar de terceiro.

Incompatível com a realização da penhora é também a posse que, exercida

em nome de outrem que não o executado, respeite a direito pessoal de gozo

ou de aquisição do bem penhorado. Cabem aqui, em primeiro lugar, as

situações, previstas no Código Civil, de posse do locatário, do comodatário,

do depositário e do parceiro pensador. É o caso também do promitente

adquirente para quem, em cumprimento de obrigação contratual, tenha sido

transferida a posse da coisa prometida. A tradição do bem penhorado para o

tribunal, via depositário judicial, implicaria a insubsistência da posse destes

detentores e, com ela, a das pessoas em nome de quem possuem, em quem

radica a presunção da titularidade do correspondente direito de fundo. Assim,

a incompatibilidade entre penhora e o direito de terceiro verifica-se no plano

funcional, com apelo ao âmbito e aos efeitos da futura venda executiva, ao

passo que a incompatibilidade entre ela e a posse de terceiro, sem que deixe

de ter o plano funcional como ultima ratio, verifica-se em face dos efeitos

imediatos da penhora, só assim se explicando a atribuição da legitimidade

para os embargos de terceiro a qualquer possuidor em nome alheio afetado

pela diligência. Mantendo a legitimidade para embargar dos possuidores que

já a tinham antes da revisão do Código, a norma proveniente da revisão veio,

pois, estender, não apenas aos titulares de direitos reais não possuidores, mas

também a possuidores em nome alheio a quem a lei civil não a atribuía, a

legitimidade para embargar de terceiro.

b. A titularidade do direito de fundo: quando os embargos de terceiro são

fundados apenas na posse (do embargante ou do terceiro em nome do qual

ele possui), a legitimidade ativa baseia-se numa presunção de propriedade (ou

de outro direito real de gozo) que, como tal, pode ser ilidida, vindo o artigo

348.º, n.º2 CPC proporcionar, quer ao exequente, quer ao executado, a

alegação e a prova de que o direito de fundo (seja o direito de propriedade,

seja outro direito real de gozo) pertence a este. Provada a alegação, os

embargos serão julgados improcedentes. Uma vez que a questão da

propriedade, após a sua invocação pelo embargado, prevalece sobre a da

posse, só o possuidor causal, ou o possuidor formal de coisa não pertencente

ao executado, pode ter a segurança, uma vez provada a causa de pedir, de que

os embargos não serão julgados improcedentes. O primeiro caso (de

possuidor atual) abrange, quer o possuidor-proprietário, quer o possuidor

cuja posse se baseie na titularidade dum direito real menor de gozo

(usufrutuário, proprietário de raiz, etc.): este não pode impedir a penhora do

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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017

Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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direito real menor de que não é titular, mas embargará procedentemente para

evitar a penhora do seu direito. Para que a ação seja, pois, decidida no plano

da titularidade do direito de fundo, e não no da posse, é necessário que esse

direito seja invocado pelo embargante na petição inicial ou pelo embargado

na contestação, sem prejuízo, porém, da cognoscibilidade oficiosa da exceção

de propriedade quando sejam alegados e provados os factos em que ela se

baseia.

c. Embargos do cônjuge do executado: os embargos de terceiro são,

portanto, o meio específico de reação contra a penhora por parte de terceiros,

baseando-se na impenhorabilidade subjetiva dos bens destes. Mas terceiro

pode ser o cônjuge do executado. Permite-lhe expressamente o artigo 343.º

CPC, quando tenha essa posição, a dedução de embargos para defesa dos

seus direitos relativos aos bens próprios, bem como dos relativos aos bens

comuns que indevidamente hajam sido atingidos pela penhora. Ao

embargante cabe provar a natureza (própria ou comum) dos bens

penhorados. Tratando-se de bens próprios, a penhora não pode subsistir,

uma vez que, mesmo quando respondam pela dívida segundo o direito

substantivo, não podiam ser apreendidos sem que o seu proprietário fosse

executado. Tratando-se de bens comuns, em dois casos não pode o cônjuge

do executado embargar:

i. Quando tenha sido citado nos termos do artigo 740.º, n.º1 CPC e o executado

não tenha bens próprios;

ii. Quando a penhora incida sobre bens levados para o casal pelo executado ou por

ele posteriormente adquiridos a título gratuito e/ou sobre os rendimentos de uns e

outros desses bens, ou sobre bens sub-rogados no lugar deles, ou ainda sobre o

produto do trabalho e os direitos de autor do executado, dado que estes bens, ainda

que comuns, respondem ao mesmo tempo que os bens próprios (artigo 1696.º,

n.º2 CC). Mas os embargos já são admissíveis quando, por haver bens

próprios do executado, não esteja verificado o condicionalismo em

que atua a responsabilidade subsidiária, bem como quando não tenha

sido feita a citação do cônjuge nos termos do artigo 740.º, n.º1 CPC.

d. Tramitação: anteriormente qualificados como ação (possessória) e, após a

revisão do Código, como incidente (de intervenção de terceiro) da instância

executiva, os embargos de terceiro constituem, quando deduzidos contra a

penhora, uma tramitação declarativa dependente do processo executivo e que

corre por apenso a este (artigo 344.º, n.º1 CPC). Devem ser deduzidos no

prazo de 30 dias subsequentes à penhora, ou ao possuidor conhecimento

desta pelo embargante (artigo 344.º, n.º2 CPC), podendo, no entanto, sê-lo

ainda antes da penhora, desde que depois do despacho que a ordena (artigo

350.º CPC); nunca, porém, depois da venda ou adjudicação dos bens (artigo

344.º, n.º2 CPC). Devem ser deduzidos contra o exequente e o executado

(artigo 348.º, n.º1 CPC). Têm a particularidade de se desdobrarem em duas

fases:

i. Uma fase introdutória: tem por finalidade a emissão, pelo tribunal, dum

juízo de admissibilidade. O embargante deve, na petição inicial,

oferecer prova sumária dos factos em que funda a sua pretensão

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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(artigo 344.º, n.º2 CPC), bem como da data em que teve

conhecimento da penhora, se sobre ele já tiverem decorrido 30 dias.

Proferido despacho liminar, logo se entra na fase da produção de

prova, seguida do recebimento ou rejeição dos embargos (artigo 345.º

CPC);

ii. Uma fase contraditória: tem início com a notificação dos embargados

para contestar, segue os termos do processo declarativo comum

(artigo 348.º, n.º1 CPC) e tem como única especialidade a norma de

legitimidade passiva constante do artigo 348.º, n.º2 CPC.

Relativamente à primeira fase, é de salientar que o Decreto-Lei n.º 329-A/95

revogou o preceito que anteriormente estabelecia como fundamento de

rejeição dos embargos a circunstância de a posse do embargante se fundar

em alienação feita pelo embargado com o fim de frustrar a execução. Dado

o desfasamento que o preceito introduzia relativamente ao regime do Direito

Civil, a sua supressão foi ajustada. Em consequência, só na fase contraditória

dos embargos e com sujeição aos requisitos gerais da impugnação pauliana é

que o exequente embargado pode pôr em causa a alienação que o executado

tenha feito, tal como, aliás, pode fazer com qualquer outro fundamento de

impugnação do ato ou causa da sua nulidade. Após o despacho de

recebimento dos embargos, o processo de execução fica suspenso quanto aos

bens a que os embargos digam respeito (artigo 347.º CPC) e, se estes tiverem

sido deduzidos antes da penhora, esta não chegará a realizar-se até decisão

final, sem prejuízo da fixação de caução (artigo 350.º, n.º2 CPC). No

despacho que receba os embargos, o juiz ordena a restituição provisória da

posse ao embargante, se este a tiver requerido, podendo, porém, condicioná-

la à prestação de caução (artigo 350.º, n.º2 CPC por interpretação extensiva).

Outra consequência do recebimento dos embargos é possibilitar o reforço

ou a substituição da penhora (artigo 751.º, n.º4, alínea d) CPC). Relativamente

à segunda fase do processo de embargos, é de salientar que:

i. Os termos do processo comum aplicam-se logo após a notificação

dos embargados para contestar, pelo que o prazo para a contestação

é, não o de 10 dias do artigo 293.º, n.º2 CPC (oposição nos incidentes

da instância), mas o de 30 dias do artigo 569.º, n.º1 CPC (contestação

da ação);

ii. Qualquer dos embargados pode alegar na contestação, em

reconvenção ou por exceção, que o bem penhorado pertence ao

executado (artigo 348.º, n.º2 CPC), caso em que o tribunal conhecerá

da questão da propriedade (ou da titularidade de outro direito real de

gozo).

e. Natureza: na vigência do Direito anterior à revisão, não se duvidava de que

os embargos de terceiro constituíam uma ação declarativa, como tal

classificada entre os meios possessórios. Com a revisão, os embargos de

terceiro passaram a ser regulados entre os incidentes da instância, mais

especificadamente entre os de intervenção de terceiros, classificados como

incidente de oposição, o que o novo Código manteve. Esta qualificação,

concomitante com o desaparecimento do tratamento como especiais das

ações declarativas de prevenção, manutenção e restituição da posse (que

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Miguel Teixeira de Sousa | 2016/2017

Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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passaram, em 1995-1996, a constituir processos comuns), não corresponde a

qualquer alteração de regime, nem sequer se aplicando os artigos 293.º e 295.º

CPC, cujas disposições gerais sobre a prova, o efeito cominatório da revelia

e o julgamento só se aplicariam, como aliás expressamente dispõe o artigo

292.º CPC, na falta duma disposição como a que manda seguir, após o

recebimento dos embargos, os termos do processo comum de declaração.

Debalde se procurará, no capítulo dos incidentes da instância, outro incidente

com tramitação tão pesada. Na realidade, a estrutura dos embargos de

terceiro é a de uma ação, cuja finalidade é verificar a existência dum direito

ou duma posse. A formação, nessa ação, de caso julgado material, como

claramente diz a lei de processo, acentua inequivocamente a natureza de ação

declarativa (de mera apreciação) que os embargos de terceiro constituem, não

obstante o enquadramento sistemático que hoje têm.

f. A formação do caso julgado: se, no final, os embargos forem julgados

procedentes, a penhora, se já tiver sido efetuada, é levantada. Mas terá a

sentença, de procedência ou de improcedência, eficácia de caso julgado fora

do processo executivo? A questão, que é a mesma que se põe para os

embargos de executado, tem tido, na doutrina, solução mitigadamente

afirmativa. Não sendo as garantias das partes nem a complexidade da

tramitação inferiores nos embargos de terceiro às da ação declarativa com

processo comum, o caso julgado produz-se. Quanto ao seu âmbito, estando

sujeito às regras gerais que presidem à delimitação subjetiva e objetiva da sua

eficácia, será distinto consoante o fundamento dos embargos e o facto de,

quando baseados na posse, ter sido levantada, na contestação, a questão da

propriedade:

i. Se os embargos se fundarem em direito de fundo do terceiro, ficará assente a

existência ou inexistência deste direito;

ii. Se a causa se mantiver no âmbito da posse, ficará assente que o terceiro era ou

não possuidor do bem penhorado à data da penhora;

iii. Se for invocado em reconvenção o direito de propriedade (ou outro direito real de

gozo) do executado, ficará assente que este é ou não o proprietário do bem

penhorado (ou titular do direito real menor invocado.

É o que está, desde a revisão do Código, expressamente consagrado na

norma que hoje encontramos no artigo 349.º CPC.

4. Ação de reivindicação:

a. A sua autonomia: trata-se da ação declarativa comum, ao alcance do

proprietário (ou titular de outro direito real menor) cujo direito tenha sido

ofendido pela penhora. É um meio totalmente autónomo relativamente ao

processo executivo e que, como resulta do artigo 839.º, n.º1, alínea d) CPC,

pode levar, a todo o tempo, à anulação da venda que neste foi efetuada. Não

deixa, porém, a sua propositura de poder ter efeitos na ação executiva: se for

proposta antes da entrega dos bens móveis ao adquirente e do levantamento

do produto da venda pelos credores (artigo 841.º CPC), ou se o reivindicante

tiver protestado pela reivindicação antes de efetuada a venda (artigo 840.º

CPC), a entrega só terá lugar depois de o adquirente prestar caução, destinada

a garantir o direito do reivindicante e, por sua vez, os credores e restantes

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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titulares de direitos sobre o produto da venda só poderão proceder ao seu

levantamento depois de prestarem também caução, esta em garantia do

direito do comprador à restituição do preço no caos de proceder à

reivindicação. O proprietário pode, alternativamente, usar o meio dos

embargos de terceiro ou o da ação de reivindicação. Poderão também os dois

meios ser usados cumulativamente, se os embargos forem e permanecerem

fundados na posse, caso contrário havendo litispendência.

b. As interferências do registo: se a penhora incidir sobre bem sujeito a

registo, há que ter em conta as limitações decorrentes, para o terceiro

reivindicante, das regras próprias do registo. Assim, registadas a penhora e a

venda subsequente em processo executivo, o exequente e o adquirente do

direito penhorado, que estejam de boa fé, gozam da proteção do registo, se

este for anterior ao registo da ação de reivindicação e, alternativamente:

i. O direito do reivindicante se fundar na nulidade ou anulação do negócio jurídico

pelo qual o executado adquiriu o direito penhorado e a ação de reivindicação não

for registada nos três anos posteriores à conclusão do negócio (artigo 291.º CC);

ii. Houver, dora desse condicionamento, registo pré-existente a favor do executado,

salvo se o direito do reivindicante se fundar em usucapião (artigos 17.º, n.º2 e 5.º,

n.º2, alínea a) CRPr).

Já no caso de o direito do reivindicante se fundar em transmissão efetuada

pelo executado, esta prevalece hoje, ainda que não registada, sobre os direitos

decorrentes da penhora e da venda executiva.

Destes meios, os dois primeiros (oposição por simples requerimento e incidente de oposição

à penhora) têm lugar no próprio processo de execução, ainda que o segundo por apenso, e

os dois últimos constituem ações declarativas, sendo os embargos, que constituem o meio

mais específico de reação contra a ilegalidade do ato, também processados por apenso à

execução, em que igualmente se inserem funcionalmente; mas a ação de reivindicação é um

meio geral, plenamente autónomo dela. A ilegalidade da penhora pode assentar:

1. Objetivamente: no facto de se terem ultrapassado os limites objetivos da

penhorabilidade (penhoram-se bens que não deviam ser penhorados, em absoluto,

ou não deviam ser penhorados naquelas circunstâncias, ou sem excussão de todos os

outros, ou para aquela dívida);

2. Subjetivamente: quando a penhora seja subjetivamente ilegal (são penhorados bens

que não são do executado).

Q – Convocações e concurso

Convocações:

1. Em geral: feita a penhora, são convocados para a execução os credores do executado

e, em certos casos, o seu cônjuge (artigo 786.º, n.º1 a 5 CPC). Por estas convocações,

vai dar-se a possibilidade de intervenção na ação executiva a outras pessoas para além

do exequente e do executado. Vimos já que essas pessoas convocadas, uma vez que

intervenham no processo, passam a desempenhar, ao lado do exequente ou do

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executado, a função de parte, acessória ou principal. Sendo chamadas pela primeira

vez ao processo, a sua convocação faz-se sob a forma de citação, cuja falta ou

nulidade tem o mesmo efeito que a falta ou nulidade da citação do réu (artigo 187.º

a 191.º CPC), mas com restrições quanto à anulação derivada dos atos posteriores

(artigo 786.º, n.º6 CPC).

2. Dos credores: no esquema da nossa lei processual civil, só são convocados os

credores que gozam de garantia real sobre o bem penhorado (artigos 786.º, n.º1,

alínea b) e 788.º, n.º1 CPC). Esta delimitação do âmbito do concurso de credores dá-

nos a finalidade que é visada com a sua convocação: visto que a penhora será,

normalmente, seguida da transmissão dos direitos do executado, livres de todos os

direitos reais de garantia que os limitam (artigo 824.º, n.º2 CC), os credores vêm ao

processo, não tanto para fazerem valer os seus direitos de crédito e obterem

pagamento, como para fazerem valer os seus direitos de garantia sobre os bens

penhorados. Daí, três consequências:

a. O credor reclamante só pode receber pelo valor dos bens penhorados sobre os quais tem

garantia (artigo 796.º, n.º2 CPC) e, se esse valor não chegar para o pagamento integral do

seu crédito, a única possibilidade que tem é a de mover outra execução, onde nomeará outros

bens do devedor à penhora;

b. Qualquer resultado que deixe incólume o direito real de garantia pode ser obtido, na ação

executiva, sem atenção ao credor. Ora, o direito real de garantia só caduca com a

transmissão do bem onerado na ação executiva (artigo 824.º, n.º2 CC), pelo que, quando

ela não ocorra, o direito do credor não tem de ser atendido na execução. Assim, nos casos

de consignação de rendimentos, pagamento voluntário, extinção da

obrigação (exequenda) por causa diferente do pagamento, desistência da

instância, revogação da sentença (exequenda) em instância de recurso ou

procedência da oposição à execução, os credores reclamantes não obtêm

satisfação na ação executiva, ressalvada a exceção consignada no artigo 920.º,

n.º2 CPC (para os que tenham credito vencido e graduado, obterem

pagamento pelos bens sobre que tenham garantia).

c. Os poderes processuais do credor reclamante, para além dos que respeitam à verificação e

graduação do seu próprio crédito, circunscrevem-se nos limites do seu direito de garantia: o

credor só pode impugnar os créditos que tenham igualmente garantia sobre

os bens que especialmente garantem o seu crédito (artigo 789.º, n.º3 CPC);

só pode pedir a adjudicação dos bens penhorados sobre os quais tem garantia

(artigo 799.º, n.º2 CPC); só pode tomar posição quanto à venda dos mesmos

bens (artigos 821.º, n.º2 e 3 e 834.º, n.º1, alínea a); também assim nos casos

dos artigos 382.º, alíneas a) e v), e 835.º, n.º1, todos CPC); só é dispensado

do depósito do preço quando tenha garantia sobre o bem que haja adquirido

(artigo 815.º, n.º1 CPC); só pode substituir-se ao exequente, na prática de ato

que ele tenha negligenciado, quanto aos bens sobre os quais tenha invocado

garantia (artigo 763.º, n.º4 CPC).

São citados os credores com direito real de garantia registado e os que forem

conhecidos (artigos 747.º, n.º2 e 786.º, n.º1, alínea b) e 3 e 4 CPC), bem como ainda

a Fazenda Pública, o Instituto de Segurança Social, IP, e o Instituto de Gestão

Financeira da Segurança Social (artigo 786.º, n.º2 CPC e artigos 9.º a 11 Portaria n.º

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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331-A/2009, 30 março). O Decreto-Lei n.º 38/2003 suprimiu a citação edital dos

credores (artigos 786.º, n.º7 CPC).

3. Do cônjuge do executado: o cônjuge do executado é convocado em dois casos:

a. Quando a penhora tenha recaído sobre bem comum do casal, nos

termos do artigo 740.º CPC (que já analisámos);

b. Quando a penhora tenha recaído sobre bem imóvel ou

estabelecimento comercial que o executado não possa alienar

livremente (artigo 786.º, n.º1, alínea a) CPC): entre os bens que só podem

ser alienados por ambos os cônjuges, estão, salvo na vigência do regime da

separação de bens, os imóveis próprios ou comuns e o estabelecimento

comercial (artigo 1682.º-A, n.º1 CC), bem como, no regime de separação de

bens, a casa de morada de família (artigo 1682.º-A, n.º2 CC). Na ação

declarativa, tal como na ação executiva para entrega de coisa certa baseada

no direito de propriedade do exequente, impõe o artigo 34.º, n.º3 CPC, em

consonância com o regime substantivo, a propositura contra ambos os

cônjuges das ações de que possa resultar a perda ou oneração de bens (móveis

ou imóveis) que só por ambos podem ser alienados ou a perda de direitos

que só por ambos podem ser exercidos. Na ação executiva para pagamento

de quantia certa, a citação do cônjuge do executado visa a mesma finalidade

de adequação do regime processual ao de direito substantivo, mas

circunscritamente aos bens imóveis e ao estabelecimento comercial. Note-se,

porém, que, ao referir os bens imóveis e o estabelecimento comercial, o artigo

786.º, n.º1, alínea a) CPC está incluindo os direitos reais menores de gozo

sobre eles (ver, para os primeiros, o artigo 204.º, n.º1, alínea d) CC); e que,

impondo o artigo 740.º, n.º1 CPC, a citação do cônjuge do executado quando

são penhorados bens comuns, o que o artigo 786.º, n.º1, alínea a) CPC

acrescenta é a imposição da citação do cônjuge nos casos de penhora de bem

próprio do executado. Em qualquer dos casos, o cônjuge do executado, uma

vez convocado, pode, como resulta do artigo 787.º CPC:

i. Deduzir o incidente de oposição à penhora (artigo 784.º, n.º1 CPC);

ii. Impugnar os créditos reclamados (artigo 789.º, n.º2 CPC);

iii. Pronunciar-se sobre o objeto, a forma e as condições de alienação dos bens, nos

mesmos termos em que tal é consentido ao executado (artigos 812.º, n.º1, 813.º,

n.º3, 814.º, n.º2, 821.º, n.º1, 825.º, n.º1, alíneas a) e b), 832.º, alíneas a) e b),

834.º, n.º1, alínea a) CPC);

iv. Impugnar irregularidades que se cometam quanto à alienação dos bens (artigos

822.º, n.º1 e 835.º, n.º1 CPC);

v. Pedir a sustação da venda, nos termos do artigo 813.º, n.º1 CPC;

vi. Opor-se ao acordo dos credores quanto à entrega da venda ao agente

de execução (artigo 833.º, n.º2 CPC), reclamar de ato deste (artigo

723.º, n.º1, alínea c) e, em especial, 812.º, n.º7 CPC) e suscitar

questões perante o juiz (artigo 723.º, n.º1, alínea d) CPC);

vii. Opor-se à execução.

Havendo oposição entre a posição tomada pelo executado e a assumida pelo

cônjuge, em matéria em que releve a pura vontade da parte (por exemplo,

artigos 813.º, n.º3 ou 821.º CPC), o juiz decidirá, nos termos gerais do artigo

723.º, n.º1, alínea d) CPC. A oposição do cônjuge à execução e à penhora

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contra ele, por aceitação da comunicabilidade da dívida ou decisão do

incidente de comunicabilidade, ao cônjuge não é consentido fazer valer, em

oposição, fundamento já invocado pelo executado em oposição própria: o

cônjuge do executado atua, na oposição à execução, como um substituto

processual deste.

Pressupostos específicos da reclamação de créditos:

1. Enunciação: são pressupostos específicos da reclamação de créditos:

a. A existência de garantia real sobre os bens penhorados;

b. A existência de título executivo;

c. A certeza e a liquidez da obrigação.

Diferentemente da obrigação exequenda, a obrigação do credor reclamante pode ser

ainda inexigível, e, se assim for, há lugar ao desconto, no final, dos juros

correspondentes ao período de antecipação (artigo 791.º, n.º3 CPC).

2. A garantia real: só o credor com garantia real sobre os bens penhorados tem o ónus

de reclamar o seu crédito na execução, a fim de concorrer à distribuição do produto

da venda. Será este ónus extensivo ao credor cuja garantia incida apenas sobre os

rendimentos dos bens penhorados (credor com o privilégio dos artigos 739.º e 740.º

CC ou credor consignatário nos termos do artigo 656.º CC)? O problema põe-se na

medida em que a penhora não abrange os frutos, naturais ou civis, sobre os quais

exista privilégio (artigo 758.º, n.º1 CPC). Sendo o objeto da venda delimitado pelo

objeto da penhora, dir-se-ia que a transmissão de bens nessas condições não abrange

os respetivos rendimentos: o privilégio ou a consignação de rendimentos subsistiria

para além da venda em processo executivo e o credor não poderia reclamar neste o

pagamento. Analisando, porém, melhor os preceitos aplicáveis, concluímos em

sentido contrário. Por um lado, são causas paritárias de exclusão dos frutos do objeto

da penhora a existência de garantia real sobre eles e a restrição expressa (artigo 758.º,

n.º1 CPC). Ora, transferindo a venda em execução para o adquirente os direitos do

executado sobre a coisa vendida (artigo 824.º, n.º1 CC) e integrando o direito de

propriedade os poderes de fruição da coisa (artigo 1305.º CC), não pode deixar de se

entender que a venda abrange esses poderes e, portanto, também os frutos que

tenham sido expressamente excluídos da penhora. Se assim não fosse, estaríamos

perante um fracionamento do direito de propriedade não admitido por lei. Da

equiparação das duas situações resulta que a limitação do objeto da penhora não

implica a limitação, em qualquer delas, do objeto da venda. Por outro lado, o artigo

805.º, n.º2 CPC, ao prever a venda, livre desse ónus, dos bens penhorados sobre os

quais seja constituída consignação de rendimentos a favor do exequente, está-se

reportando, necessariamente, à venda em processo executivo, considerando-lhe

assim plenamente aplicável o artigo 824.º, n.º2 CC. A opção da nossa lei positiva é,

pois, no sentido de atribuir ao titular de garantia sobre os rendimentos do bem

penhorado o ónus de reclamação do seu crédito. Restringindo a lei ao credor com

garantia real a possibilidade de reclamação, não é de aceitar, de iure condendo, que os

credores com preferência de pagamento sobre património autónomo possam, com

base nela, reclamar os seus créditos quando sejam penhorados bens desse património

em execução movida por credor que não goze de igual preferência. A esses credores

cabe, para defesa dos seus direitos, requerer a falência do devedor, se tal for o caso;

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mas nada poderão fazer no processo de execução. O afastamento do esquema de

execução coletiva mal se compadeceria com este chamamento à execução de todos

os credores dum património autónomo. O credor que tenha garantia real à data da

penhora pode obtê-la no decurso do prazo das reclamações, mediante a constituição

de hipoteca judicial, se tiver sentença a seu favor e o bem penhorado for um imóvel

ou móvel sujeito a registo (artigo 710.º CC), ou mediante arresto do bem penhorado

(artigos 619.º, 622.º, n.º2 CC e 391.º CPC). Fora desse prazo, pode ainda efetuar

penhora sobre o mesmo bem em execução própria, após o que reclamará o seu

crédito na outra execução (artigos 788.º, n.º5 e 794.º CPC). Do mesmo modo, pode

o credor com direito a hipoteca legal sobre bens penhorados (artigo 705.º CC)

constituí-la mediante registo (artigo 708.º CC). A reforma da ação executiva intentou

circunscrever a reclamação de créditos por parte do credor com privilégio creditório

geral, tida em conta a subversão da função da ação executiva que o privilégio

creditório propicia. No projeto que acompanhou o pedido de autorização legislativa

concedida pela Lei n.º 23/2002, 21 agosto, o credor com privilégio creditório geral

não era admitido a reclamar (salvo tratando-se de crédito de trabalhador) quando

fosse penhorado algum bem só parcialmente penhorável (artigo 738.º CPC), renda

ou outro rendimento periódico (artigo 779.º, n.º1 CPC), veículo automóvel (artigo

768.º, n.º2 CPC), moeda corrente, nacional ou estrangeira, ou depósito bancário em

dinheiro (artigo 798.º, n.º1 CPC), e ainda quando o exequente requeresse

procedentemente a consignação de rendimentos (artigo 803.º, n.º1 CPC) ou a

adjudicação, em dação em cumprimento, do direito de crédito no qual a penhora

tivesse incidido, antes de convocados os credores (artigo 799.º, n.º1 e 5 CPC). Mas,

fora dos casos de bem só parcialmente penhorável, rendimento periódico e veículo

automóvel, o Decreto-Lei n.º38/2003 introduziu um requisito de valor que muito

limitou o alcance da inovação: o crédito exequendo há de ser inferior a 190 UC, ou,

em interpretação extensiva, os bens penhorados hão de ter valor inferior a esse limite,

ainda que o valor da obrigação exequenda lhe seja inferior. A norma mantém-se no

artigo 788.º, n.º4 CPC, com ligeira ampliação: também quando a penhora tenha

incidido em bens móveis de valor inferior a 25 UC é inadmissível a reclamação do

credor com privilégio creditório geral. Nos casos em que a reclamação é admitida, e

salvo tratando-se de crédito de trabalhador (artigo 796.º, n.º4 CPC), o crédito com

privilégio creditório geral pode sofrer uma redução: nos termos do artigo 796.º, n.º3

CPC, é reduzido até 50% do remanescente do produto da venda, deduzidas as custas

da execução e as quantias a pagar aos credores que devam ser graduados antes do

exequente, na medida do necessário ao pagamento de 50% do crédito do exequente,

até que este receba o valor correspondente a 250 UC. Desta norma, resulta que:

a. Quando concorram ao produto da venda apenas o exequente e o

credor privilegiado, o pagamento a este é reduzido na medida

necessária ao pagamento de 50% do crédito do exequente, mas com a

garantia mínima de 50% do remanescente do produto da venda após a

dedução das custas; logo, porém, que o exequente atinja o plafond das 250

UC, a limitação para o credor privilegiado deixa de se aplicar.

b. Quando concorra ao produto da venda, além do exequente e do credor

privilegiado, outro credor que deva proferir ao exequente (credor

hipotecário ou pignoratício com garantia real anterior, por exemplo),

a redução do crédito com privilégio só tem lugar na medida em que tal

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aproveite ao exequente, sem que dela possa beneficiar ou por ela possa

ser prejudicado esse outro credor. Assim, devendo o credor pignoratício

ser pago antes do credor privilegiado (artigo 749.º CC), a questão só se porá

se algo sobrar depois dele pago, aplicando-se a norma à distribuição do

remanescente; e, devendo o credor hipotecário, naqueles casos em que tal

não importe inconstitucionalidade, ser pago depois do credor privilegiado, há

que apurar o remanescente do produto da venda hipotizando o pagamento

integral ao credor hipotecário, fazer, na base desse remanescente, o

apuramento da parte devida ao exequente nos termos da norma do n.º3 e

seguidamente deduzir na parte do credor privilegiado a parte assim atribuída

ao exequente.

Quer a norma do artigo 788.º, n.º4 CPC, quer a do artigo 796.º, n.º3 CPC, conhecem

a restrição decorrente da inadmissibilidade, por inconstitucionalidade, dos privilégios

creditórios imobiliários gerais.

3. O título executivo: é aplicável tudo quanto se disse sobre o título executivo

enquanto pressuposto da ação executiva. Mas, podendo um credor com garantia real

sobre o bem penhorado não dispor ainda de título no termo do prazo para a

reclamação, é-lhe facultado requerer, dentro deste prazo, que a graduação dos

créditos aguarde a sua obtenção (artigo 792.º, n.º1 CPC), em ação já pendente ou a

propor no prazo de 20 dias (artigo 792.º, n.º7, alínea a) CPC), sem prejuízo de o

processo executivo prosseguir até à venda ou adjudicação dos bens penhorados e de

se fazer entretanto a verificação dos restantes créditos (artigo 792.º, n.º6 CPC). É,

porém, ainda possibilitada a formação dum título executivo judicial impróprio, que

evitará a propositura da ação: o executado é notificado para, no prazo de 10 dias, se

pronunciar sobre a existência do crédito invocado (artigo 792.º, n.º2 CPC) e, se o

reconhecer ou nada disser (a menos, neste caso, que esteja pendente ação declarativa

para a sua apreciação), considera-se formado o título executivo, sem prejuízo de o

crédito poder ser impugnado pelo exequente ou restantes credores (artigo 792.º, n.º3

CPC). Havendo que propor ação (por o executado ter negado a existência do crédito),

nela intervêm, como partes em litisconsórcio necessário, o exequente e os credores

reclamantes com garantia real sobre o mesmo bem (artigo 792.º, n.º5 CPC). Constitui

ónus do credor provar que propôs a ação e ónus do exequente, quando a ação esteja

já pendente à data do requerimento, provar que o credor nela não requereu a

intervenção principal do exequente e dos restantes credores. Cabe também ao

exequente provar a negligência do credor em promover os termos da ação, com a

consequência de esta estar parada durante 30 dias; no final, cabe ao credor provar,

em 15 dias, a obtenção de decisão favorável e ao exequente que foi proferida decisão

desfavorável (artigo 792.º, n.º7 CPC). Ao possibilitar a formação do título executivo

judicial impróprio, a reforma da ação executiva simplificou o processo conducente à

obtenção do título. Outra solução, que radicalmente suprimiria a necessidade da ação

autónoma, consistiria em dispensar o título executivo, reservando a apreciação da

existência do crédito para o apenso de verificação e graduação.

4. A certeza da obrigação: se a obrigação do credor não for qualitativamente

determinada, ele lançará mão dos meios que o exequente tem à sua disposição para

a tornar certa (artigo 788.º, n.º7 CPC). Quando a escolha não dependa do credor e

este não torne certa a obrigação dentro do prazo que tem para reclamar, a dedução

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do direito terá lugar em forma alternativa, a resolver no momento em que a obrigação

se tenha tornado certa.

5. A liquidez da obrigação: tal como no caso da obrigação exequenda, a liquidez do

crédito reclamado não tem de se verificar à data da reclamação, também aqui

dispondo o credor dos meios de que dispõe o exequente (artigo 788.º, n.º7 CPC).

Assim, quando a liquidação é feita na ação executiva, por o título executivo não ser

uma sentença judicial, a reclamação tem logo lugar requerendo-se com ela a

liquidação, nos termos do artigo 716.º CPC, a que se procede no próprio apenso das

reclamações (artigo 788.º, n.º8 CPC). Quando o título executivo é uma sentença, é

na ação declarativa que a liquidação há de ter lugar, nos termos dos artigos 358.º a

360.º CPC, dado que o credor reclamante em execução alheia dispõe dos mesmos

meios de que dispõe o exequente. Visa, porém, a existência de prazo para reclamar

(seja do n.º2, seja do n.º3) ao credor que, no termo do prazo que tem para a

reclamação, ainda não tenha obtido decisão que liquide a obrigação de sentença

genérica, tem de ser permitido, em aplicação analógica do artigo 792.º, n.º1 CPC,

requerer que a graduação dos créditos, relativamente ao bem sobre o qual tenha

garantia, aguarde a liquidação na ação declarativa, entenda-se esse requerimento

como veículo duma reclamação a completar mais tarde ou como mero anúncio duma

reclamação futura.

A ação de verificação e graduação de créditos:

1. Fases: o concurso de credores é processado por apenso ao processo de execução

(artigo 788.º, n.º8 CPC). Trata-se de mais um processo declarativo de estrutura

autónoma, mas funcionalmente subordinado ao processo executivo. A convocação

é feita nos autos do processo executivo e só com as reclamações (petições iniciais) é

que tem início a ação declarativa. Esta é uma só para todas as reclamações. Vamos,

sucessivamente, considerar:

a. Articulados: citados os credores, estes podem, no prazo perentório de 15

dias (artigo 788.º, n.º2 CPC), reclamar os seus créditos, mediante a

apresentação de petição, que é articulada quando o crédito for de valor

superior à da alçada do tribunal da 1.ª instância (artigos 58.º, n.º2 e 147.º, n.º2

CPC). Terminado o último prazo para a reclamação dos créditos, as

reclamações apresentadas são notificadas ao exequente, ao executado, ao

cônjuge deste e aos outros credores reclamantes, que, em articulado, podem

impugnar os créditos reclamados e as respetivas garantias, limitadamente, no

que aos credores respeita, àqueles de que seja invocada garantia sobre os

mesmos bens; podem ainda os credores, no mesmo prazo, impugnar o

crédito do exequente e as respetivas garantias, igualmente em articulado

(artigo 789.º, n.º3 a 5 CPC). Se não houver impugnação, o crédito ter-se-á

por reconhecido (artigo 791.º, n.º2 CPC): trata-se, pois, dum processo

cominatório pleno. Havendo impugnação, o credor reclamante tem o direito

a resposta, a dar em 10 dias (artigo 790.º CPC).

b. Verificação dos créditos: se nenhum crédito tiver sido impugnado ou,

tendo havido impugnação, não houver prova a produzir, o juiz proferirá

sentença de verificação dos créditos reclamados, acabando aí o processo

(artigo 791.º, n.º2 CPC). Se, pelo contrário, a verificação de algum dos

créditos reclamados estiver dependente de produção de prova, seguir-se-ão

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os termos do processo comum de declaração, sem prejuízo de, no despacho

saneador, o juiz julgar verificados os créditos cujo reconhecimento não

estiver dependente de produção de prova (artigo 791.º, n.º1 CPC). Segue-se,

relativamente aos restantes, a fase de instrução e, no final, tem lugar sentença

a verifica-los. A verificação pode, nos termos gerais, consistir no

reconhecimento do crédito ou no seu não reconhecimento, podendo

igualmente o tribunal não entrar na verificação de certo crédito por julgar

procedente uma exceção dilatória conducente à absolvição da instância (com

alcance limitado a esse crédito).

c. Graduação dos créditos: logo que estejam verificados todos os créditos

reclamados, o juiz gradua-os, isto é, estabelece a ordem pela qual devem ser

satisfeitos, incluindo o crédito do exequente, de acordo com os preceitos

aplicáveis de Direito substantivo. É assim que:

i. Em caso de concurso sobre a mesma coisa móvel, prevalece o direito real de

garantia que mais cedo tiver sido constituído, salvo disposição em contrário (v.g.

artigo 746.º CC) e com a exceção do privilégio mobiliário geral, que é graduado

em último lugar (artigos 749.º e 750.º CC);

ii. Em caso de concurso sobre a mesma coisa imóvel, o privilégio imobiliário é

graduado em primeiro lugar, seguido do direito de retenção e, a seguir, da hipoteca

e da consignação de rendimentos, prevalecendo entre as duas últimas a que for

registada em primeiro lugar (artigos 751.º, 759.º, n.º2 CC e 6.º, n.º1 CRPr);

iii. Concorrendo entre si vários privilégios creditórios, a ordem de prevalência é, em

geral, a dos artigos 745.º a 748.º CC, mas há varias disposições avulsas,

designadamente no Direito Fiscal, que estabelecem o lugar em que são

graduados determinados privilégios;

iv. O crédito do exequente, se for apenas garantido pela penhora, será graduado

depois destes créditos (a menos que, estando sujeitos a registo, o registo da penhora

lhes seja anterior), mas antes dos credores que, por segunda penhora, arrestou ou

hipoteca judicial, constituam garantia real posteriormente á penhora. Se o

exequente tiver direito real de garantia, deve atender-se à natureza e

à data de constituição deste.

Obedecendo a uma preocupação de tutela dos interesses do Estado e de

outras pessoas coletivas públicas, em detrimento dos credores particulares, o

nosso legislador tem vindo a criar numerosos privilégios creditórios gerais

para garantia das dívidas de impostos e de contribuições para a Segurança

Social. É assim subvertida a finalidade do processo executivo, desviado da

sua função de realização coativa do crédito do exequente para a de cobrança,

mediante o aproveitamento da atividade deste, desses créditos fiscais e

parafiscais. Por lei graduado à frente do exequente, o credor privilegiado, cujo

crédito é normalmente desconhecido quando a execução é instaurada, acaba

frequentemente por ser o único a ser pago pelo produto da venda dos bens

penhorados, enquanto o exequente não consegue encontrar no património

do devedor bens que lhe permitam a satisfação do seu direito. Esta subversão,

que o Código Civil quis, na sua época, atenuar, constitui, ao menos em alguns

casos, violação do direito fundamental de acesso à justiça e do princípio da

confiança, pois possibilita a retirada ao exequente da tutela judiciária

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assegurada pela ação executiva e altera, por forma não transparente, a base

em que assenta a constituição das garantias especiais, razão esta pela qual

alguns privilégios creditórios gerais foram declarados inconstitucionais, com

força obrigatória geral.

2. Formação de caso julgado: tal como relativamente às outras ações declarativas em

dependência funcional da ação executiva, também em face da ação de verificação e

graduação dos créditos se coloca a questão da eficácia extraprocessual da sentença

nela proferida. Mas, diversamente do que acontece nos embargos de terceiros, nos

embargos de executado, a ação de verificação e graduação dos créditos não oferece

ao devedor garantias idênticas ou equiparáveis às da ação declarativa comum. Nela

vigora o efeito cominatório pleno, que a revisão do Código aboliu no âmbito do

processo declarativo comum, mesmo quando o executado, não pessoalmente

notificado do despacho que admita as reclamações (designadamente, por se verificar

o condicionalismo do artigo 240.º CPC), tenha sido citado editalmente para a

execução. O reconhecimento do crédito não impugnado tem assim lugar, ainda que

os factos alegados pelo reclamante não permitam essa conclusão e que o executado

não tenha tido efetivo conhecimento da ação. Por outro lado, se esta constatação

levará a defender que o caso julgado material só se produz na ação de verificação e

graduação de créditos quando o executado nela tenha intervenção efetiva ou quando

para ela tenha sido pessoalmente notificado e todos os créditos sejam impugnados

(pelo exequente, por outro credor reclamante ou pelo cônjuge do executado), a

consideração de que, em qualquer caso, o objeto da ação de verificação e graduação

não é tanto a pretensão de reconhecimento do direito de crédito como a de

reconhecimento do direito real que o garante relega o reconhecimento do crédito

para o campo dos pressupostos da decisão, como tal não abrangido pelo caso julgado.

Assim se explica que, apesar de expressamente reconhecer a força de caso julgado,

nos termos gerais, às sentenças de mérito proferidas nos embargos de executado

(artigo 732.º, n.º5 CPC) e nos embargos de terceiro (artigo 349.º CPC), o Código

nada diga sobre a sentença de verificação e graduação de créditos. O caso julgado

produz-se, pois, apenas quanto ao reconhecimento do direito real de garantia, ficando

por ele reconhecido o crédito reclamado só na estrita medida em que funda a

existência atual desse direito real. Verificado o pressuposto da intervenção do

executado na ação, o caso julgado forma-se quanto à graduação, mas não quanto à

verificação dos créditos.

3. Estado de insolvência do executado: se ocorrer a situação de insolvência do

executado (artigo 3.º CIRE) e for, em consequência, requerida, no respetivo processo

especial, a recuperação de empresa ou a insolvência, pode qualquer credor requerer

a suspensão da execução, a fim de impedir que nela se façam os pagamentos (artigo

793.º CPC). No processo de insolvência o concurso é universal, nele reclamando

também pagamento os credores comuns do insolvente. Sabemos já que, decretada a

insolvência, cessa a preferência concedida pela penhora.

R – Venda executiva

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Modalidades:

1. Quais são: uma vez os bens penhorados, pode a sua venda não dever esperar o

momento normal para ser realizada, sendo então feita antecipadamente (artigo 814.º

CPC). Tal pode acontecer por os bens estarem sujeitos a deterioração ou depreciação

ou por haver manifesta vantagem na antecipação da venda. Cabe então ao juiz

autorizar a venda antecipada, que é efetuada pelo depositário ou, quando este seja o

executado, pelo agente de execução, em ambos os casos por negociação particular

(artigo 828.º, alínea c) CPC). Fora estes casos excecionais, as diligências para a venda

dos bens só se iniciam com o termo do prazo para as reclamações de créditos.

Terminado o prazo para as reclamações de créditos, a execução prossegue, sem

prejuízo de correr paralelamente o apenso de verificação e graduação (artigo 796.º,

n.º1 CPC). Tem então lugar, em regra, a venda dos bens penhorados para, com o

produto nela apurado, se efetuar o pagamento da obrigação exequenda e das

verificadas no apenso de verificação e graduação. Distinguindo-se, até à reforma da

ação executiva, entre venda judicial e venda extrajudicial. Embora a venda seja

sempre um ato executivo, pretendia a lei distinguir assim os casos em que esse ato

tem lugar no próprio tribunal daqueles em que tem lugar fora do tribunal. Continua

a venda por propostas em carta fechada a ser feita no tribunal, ainda que por vezes

presidida pelo agente de execução, com ausência do juiz (artigos 800.º, n.º3 e 829.º,

n.º2 CPC). Mas a distinção deixou de ser expressa. Deixou, por outro lado, a venda

de ter de ser ordenada pelo juiz, como acontecia antes da reforma (ressalvados os

casos de venda antecipada). São modalidades de venda (artigo 811.º, n,º1 CPC):

a. A venda em leilão eletrónico;

b. A venda em mercados regulamentados;

c. A venda direta a pessoas ou entidades que tenham direito a adquirir

os bens penhorados;

d. A venda mediante propostas por carta fechada;

e. A venda por negociação particular;

f. A venda em estabelecimento de leilões;

g. A venda em depósito público.

Caso especial de venda executiva constitui a adjudicação dos bens penhorados

(artigos 799.º e seguintes CPC), que se articula com a modalidade da venda por

propostas em carta fechada.

2. Quando têm lugar: a indicação da modalidade de venda cabe ao agente de execução

(artigo 812.º, n.º2, alínea a) CPC). Limita-se ele, em regra, a verificar os requisitos de

que a lei faz depender a modalidade de venda. Tem, porém, a possibilidade de escolha

entre a venda por negociação particular e a venda em estabelecimento de leilão,

quando se frustre a venda de coisa móvel em depósito público (artigos 832.º, alínea

e) e 834.º, n.º1, alínea b) CPC), e pode, por motivo justificado, entender que não é

de recorrer à modalidade (preferencial) da venda em leilão eletrónico. Fora os casos

seguidamente indicados (entenda-se, na modalidade excecional por imposição da lei),

a venda em leilão eletrónico constitui, no CPC 2013, a modalidade preferencial de

venda dos bens móveis e imóveis (artigo 837.º, n.º1 CPC). Se ela não for, por motivo

justificado, utilizada, ou se frustrar, a venda por propostas em carta fechada

constituirá a forma normal da venda executiva de bens imóveis e a venda em depósito

público ou equiparado a forma normal da venda executiva de bens móveis (artigo

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764.º, n.º1 e 836.º, n.º1 CPC), constituindo as restantes formas excecionais. Sendo o

bem penhorado um direito, a venda por propostas em carta fechada deve ter lugar,

não só quando tenha por objeto um estabelecimento comercial de valor superior a

500 UC (artigos 816.º, n.º1 e 829.º, n.º1 CPC), mas também, por analogia, quando

esteja em causa um direito real respeitante a bem imóvel ou a estabelecimento

comercial de valor superior a 500 UC; nos outros casos (direitos reais menores sobre

coisas móveis, quotas-partes em coisas móveis, direito ou expectativa de aquisição

de coisa móvel ou direito de crédito), deve o agente de execução, também por

analogia, poder escolher entre a venda por negociação particular e a venda em

estabelecimento de leilão. As modalidades excecionais têm lugar:

a. Quando a lei as impõe, como acontece com:

i. Os instrumentos financeiros e as mercadoras com cotação em mercados

regulamentados, que nestes são vendidos (artigo 830.º CPC);

ii. Os bens que determinadas pessoas têm direito a comprar e por isso lhes são

vendidos diretamente (artigo 831.º CPC), incluindo os que tenham sido objeto de

contrato-promessa com eficácia real;

iii. Os bens cujo valor seja inferior a 4 UC, que são vendidos por

negociação particular (artigo 832º, alínea g) CPC);

iv. Os bens que não se tenha conseguido vender mediante propostas em carta fechada,

que são vendidos, em regra, por negociação particular (artigo 832.º, alínea d)

CPC);

b. Quando o exequente, o executado ou um credor reclamante com

garantia sobre os bens a vender proponha a venda em estabelecimento

de leilão e não haja oposição dos restantes (artigo 834.º, n.º1, alínea a)

CPC), ou quando todos estejam de acordo na venda por negociação

particular (artigo 832.º, alíneas a) e b) CPC);

c. Quando a lei concede ao agente de execução a opção entre mais de

uma modalidade de venda.

A determinação da modalidade de venda é precedida da audição do exequente, do

executado e dos credores com garantia sobre os bens a vender (artigo 812.º, n.º1 CPC)

e comunicada seguidamente aos mesmos, que podem reclamar para o juiz. Este

decide, sem admissibilidade de recurso (artigos 812.º, n.º6 e 7 CPC). A venda em

leilão eletrónico faz-se nos termos da Portaria n.º 282/2013, 29 agosto (artigo 837.º,

n.º1 CPC). Quanto à venda por propostas em carta fechada, consta das seguintes

formalidades:

a. É ficado em 85% do valor-base dos bens o valor a anunciar para a

venda (artigo 816.º, n.º2 CPC);

b. São publicados editais e anúncios, sem prejuízo do recurso a outros

meios que garantam maior publicidade (artigo 817.º CPC);

c. Entre o momento das publicações e o da venda, o depositário tem

obrigação de mostrar os bens a quem pretenda examiná-los (artigo

818.º CPC);

d. São notificados os titulares do direito de preferência na alienação dos

bens (artigo 819.º CPC);

e. As propostas são abertas na presença do juiz, salvo quando, na venda

de estabelecimento comercial, ele não o entenda necessário (artigo

829.º, n.º2 CPC), tendo lugar, quando necessária, licitação entre os

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proponentes (que tenham oferecido preço igual e superior aos

restantes) ou sorteio (artigo 820.º, n.º1 a 3 CPC);

f. O exequente pode manifestar a vontade de adquirir os bens e, se o fizer,

abre-se licitação entre ele e o proponente de maior preço ou, estando

este ausente, faculta-se ao exequente a possibilidade de cobrir a

respetiva proposta (artigo 820.º, n.º5 CPC);

g. O executado, o exequente e os credores presentes deliberam sobre as

propostas apresentadas, salvo se nenhum estiver presente, caso em

que é automaticamente aceite a proposta de maior preço, desde que

superior ao valor anunciado para a venda (artigo 821.º CPC);

h. São interpelados os titulares do direito de preferência presentes para

que declarem se o querem exercer, abrindo-se, se necessário, licitação

entre eles (artigo 823.º, n.º1 e 2 CPC);

i. Quer os proponentes, com a proposta, quer o preferente, ao preferir,

devem apresentar, como caução, um cheque visado de 5% do valor

anunciado para a venda ou garantia bancária no mesmo valor (artigos

824.º, n.º3 e 824.º, n.º1 CPC);

j. O preço da venda é depositado pelo proponente aceite ou pelo

preferente, deduzido o valor do cheque que haja entregue, à ordem do

agente de execução ou, na sua falta, da secretaria, dentro de 15 dias

(artigo 824.º, n.º2 CPC), com o que a venda se aperfeiçoa, produzindo

os seus efeitos, mas podendo o agente de execução, se o depósito não

for feito, determinar que a venda fique sem efeito (artigo 825.º, n.º1,

alíneas a) e b) CPC), em vez de exigir o cumprimento forçado (artigo

825.º, n.º1, alínea c) CPC);

k. Após o depósito e cumpridas as obrigações fiscais (IMI ou IVA),

passa-se título da transmissão (artigo 827.º, n.º1 CPC)m com base no

qual o adquirente pode requerer contra o detentor, no próprio processo

de execução, a entrega dos bens (artigo 828.º CPC), e comunica-se a

venda à conservatória competente para registo oficioso, sendo caso

disso (artigo 827.º, n.º2 CPC).

A venda em depósito público ou equiparado (isto é, depósito aberto ao público, ainda

que pertencente a entidade concessionária privada) realiza-se nos termos de portaria

(artigo 836.º, n.º3 CPC), que é atualmente a Portaria n.º 282/2013, 29 agosto.

3. Dispensa de depósito: a compra pode ser efetuada por terceiro, pelo exequente ou

por um credor reclamante. O exequente ou o credor com garantia sobre o bem

comprado é dispensado de depositar a parte do preço que não seja necessária para

pagar a credores graduados antes dele (Estado, pelas custas, incluído) e não exceda a

importância que tem direito a receber (artigo 815.º, n.º1 CPC). Dá-se assim, com

atenção ao lugar em que o crédito do comprador tenha sido graduado e ao seu

montante, a compensação (total ou parcial) entre a dívida do preço e o crédito

exequendo ou verificado.

4. Adjudicação de bens: semelhante compensação dá-se no regime geral da

adjudicação de bens. No seu regime geral, a adjudicação dos bens penhorados tem a

particulariza-la:

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a. Ter lugar a partir da proposta de compra do bem penhorado,

formulada pelo exequente ou por um credor com garantia real sobre

esse bem, por conta do respetivo crédito (artigo 799.º, n.º1 e 2 CPC),

em requerimento que indique o preço oferecido (artigo 799.º, n.º3

CPC);

b. Constituir preferência, pelo preço oferecido, a favor do requerente, a

quem o bem será atribuído se não surgirem propostas de compra por

preço superior, quer em venda judicial que esteja já anunciada à data

do requerimento (artigos 799.º, n.º4 e 801.º, n.º3 CPC), quer em cartas

fechadas recebidas após a sua publicação (artigos 800.º e 801.º, n.º1

CPC).

A reforma da ação executiva criou um regime especial: no caso de adjudicação de

direito de crédito pecuniário não litigioso, o valor da adjudicação determina-se pelo

valor da prestação devida, descontado o juro negativo correspondente ao período de

tempo que falte até ao vencimento; este regime é obrigatório quando a data do

vencimento é próxima e facultativo quando assim não seja (artigo 799.º, n.º5 CPC);

encontramo-nos agora perante uma verdadeira dação em cumprimento. O

apuramento do valor da adjudicação depende de mero cálculo aritmético e, por isso,

é dispensável o concurso de outros interessados; não é também admitida a

reclamação do credor com privilégio creditório geral quando o crédito do exequente

ou o crédito adjudicado (se outros bens não houver penhorados) dor inferior a 190

UC (artigo 788.º, n.º4, alínea c) CPC), o que, a menos que incida um penhor sobre o

crédito, implicará o risco da incobralidade do crédito, o requerente pode pretender

que a adjudicação lhe seja feita a título de dação pro solvendo (artigo 799.º, n.º6 CPC;

c.f. artigo 840.º, n.º2 CC), só sendo então determinado o valor a abater no seu crédito

quando, ocorrido o vencimento, o terceiro devedor entregue ao requerente a

prestação (artigo 777.º, n.º2 CPC). Com as necessárias adaptações, aplicam-se

subsidiariamente as disposições relativas à venda (máxime as relativas à venda por

propostas em carta fechada), incluindo a respeitante à dispensa do depósito do preço

(artigos 800.º, n.º3, in fine e 802.º CPC).

Remissão e preferências:

1. Direito de remissão: a lei processual concede ao cônjuge e aos parentes em linha

reta do executado um especial direito de preferência, denominado direito de remição.

Tendo por finalidade a proteção do património familiar, evita, quando exercido, a

saída dos bens penhorados do âmbito da família do executado. Direito de preferência

pela sua natureza, o direito de remição é, no entanto, um direito de preferência

qualificado, na medida em que, em caso de concorrência, prevalece sobre o direito

de preferência em sentido estrito (artigo 844.º CPC). Mas, circunscrito ao processo

executivo, o exercício do direito remição só pode ter lugar num prazo apertado, que

varia consoante a modalidade da venda e a formalização (ou não) desta por escrito:

até à emissão do título de transmissão ou ao termo do prazo para a preferência, no

caso do artigo 825.º, n.º3 CPC, quando a venda se faz por propostas em carta fechada

(artigo 843.º, n.º1, alínea a) CPC); até à assinatura do título de venda, se o houver, ou

à entrega do bem, na falta de forma escrita, nas outras modalidades de venda (artigo

843.º, n.º1, alínea b) CPC).

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Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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2. Direito de preferência: o direito de preferência convencional sem eficácia real não

é reconhecido em processo executivo (artigo 422.º CC). Mas são nele reconhecidos

o direito de preferência legal e o direito de preferência convencional que tenha

eficácia real. O primeiro prevalece sobre o segundo (artigo 422.º CC). Os titulares do

direito de preferência são notificados para o exercer (artigos 800.º, n.º2, 810.º, n.º2 e

819.º, n.º1 CPC), devendo fazê-lo no próprio ato e estando sujeitos às mesmas regras

do proponente quanto ao pagamento do preço (artigo 823.º, n.º3 e 824.º, n.º2 CP, na

venda por propostas em carta fechada). Quando não seja feita a notificação, segue-

se o regime geral da lei civil e o titular do direito pode propor a ação de preferência

no prazo que a lei, consoante a causa do seu direito, lhe concede (artigo 819.º, n.º4

CPC).

Efeitos:

1. O enunciado legal: as particularidades da venda executiva levam a que ela tenha

outros efeitos além dos essenciais da compra e venda em geral. Assim (artigo 824.º,

n.º2 e 3 CPC):

«2. os bens são transmitidos livres dos direitos de garantia que os oneram, bem como

dos demais direitos que não tenham registo anterior ao de qualquer arresto, penhora

ou garantia, com exceção dos que, constituídos em data anterior, produzam efeitos em

relação a terceiros independentemente de registo;

«3. Os direitos de terceiro que caducarem nos termos do número anterior transferem-

se para o produto da venda dos respetivos bens».

A interpretação deste normativo não é isenta de dificuldades.

2. Caducidade dos direitos reais: comecemos pelo preceituado do n.º2:

a. Quanto aos direitos reais de garantia, todos eles caducam: os bens são

sempre transmitidos livres de todos eles, sejam de constituição anterior ou

posterior à penhora, tenha havido ou não reclamação na execução dos

créditos que garantem.

b. No campo dos direitos reais de gozo, há que distinguir entre:

i. Os que sejam de constituição (ou registo, se se tratar de coisas imóveis ou de móveis

a ele sujeitos) anterior à constituição (ou registo) de todos os direitos reais de

garantia invocados ou constituídos no processo de execução: é preciso, pois, que

os direitos de garantia de todos os credores (incluindo o exequente)

sejam de data posterior à do direito real de gozo dum terceiro. E

quando a lei refere qualquer arresto, penhora ou garantia, abrange tanto o

direito real constituído, fora do processo de execução, por um credor

reclamante (e que serve de fundamento à sua reclamação) como o

direito real do exequente, quer este seja anterior à execução, quer seja

constituído na própria execução. Ora, neste primeiro caso, o direito

real de gozo do terceiro subsiste. De resto, normalmente, a penhora

não terá abrangido esse direito e, se tal aconteceu, o terceiro ter-se-

lhe-á provavelmente oposto por embargos. Mas, mesmo que o bem

tenha sido penhorado como se o executado sobre ele tivesse a

propriedade plena, o terceiro não tenha embargado e a venda tenha

tido por objeto a propriedade plena o direito do terceiro subsiste,

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podendo ele propor uma ação comum em que o seu direito será

reconhecido contra o adquirente na venda executiva.

ii. Os que sejam de constituição (ou registo) posterior à constituição (ou registo) de

qualquer deles: distingamos, aqui, três momentos possíveis de

constituição (ou registo) do direito real de gozo:

1. Posterior à constituição (ou registo) da penhora;

2. Anterior à constituição (ou registo) da penhora, mas depois

da constituição (ou registo) dum direito real precedente do

exequente;

3. Anterior à constituição (ou registo) de qualquer direito real

do exequente, mas depois da constituição (ou registo) do

direito real de garantia invocado por um dos credores

reclamantes;

Em qualquer destas hipóteses, a lei determina que os bens se

transmitam livres do direito real do terceiro, o que é o mesmo que

dizer que se transmite a propriedade plena e não apenas o direito real

menor de gozo do executado. Nas hipóteses 1. e 2., tal não oferece

dificuldade: o direito do exequente não pode ser limitado por um

direito posterior, que na primeira hipótese até normalmente lhe é

inoponível e na segunda deu certamente lugar a uma execução

movida, nos termos do artigo 54.º, n.º4 CPC, contra o devedor e o

terceiro. A penhora, consequentemente, abrangeu a propriedade

plena e é essa que é transmitida. Mas, na hipótese 3., as coisas

complicam-se. Agora a penhora não abrangeu certamente, tal como

não abrangeu no primeiro caso (direito real de gozo anterior a

qualquer direito real de garantia), o direito real de gozo do terceiro,

mas a lei vem dizer que, pela venda, o bem se transmite livre desse

direito real. Estaremos perante um caso em que o objeto da venda

pode ir além do objeto da penhora? Ou deverá o artigo 824.º, n.º2

CC ser interpretado restritivamente, quando se refere a qualquer

arresto, penhora ou garantia a favor do exequente? A interpretação

literal do artigo (o termo qualquer dificilmente se referirá apenas ao

exequente) tem por si a consideração da grande probabilidade de

prejuízo que, para o credor com garantia constituída antes da

limitação da propriedade plena, adviria de, na interpretação restritiva,

obter na execução o pagamento de parte apenas do seu crédito, em

consequência da restrição apresentada pelo direito do executado à

data da execução, vendo-se obrigado a nova execução contra o

terceiro para obter o pagamento do resto do crédito. Embora a

reclamação de créditos tenha, como vimos, a finalidade de garantia

do credor, e não tanto a de pagamento do seu crédito, certo é que a

venda, não da propriedade plena, mas de direitos parcelares, pode

prejudica-lo: a soma do que estes renderem será o que renderia a

propriedade plena. Certa parece ser, portanto, a conclusão de que o

artigo 824.º, n.º2 CC tem de ser interpretado como estamos fazendo;

mas, então, o único meio de aproximar o objeto da penhora do da

venda estará na disponibilidade do credor com direito real de garantia

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anterior e consistirá em este, uma vez citado, requerer a extensão da

penhora ao objeto da sua garantia e, simultaneamente, a citação do

terceiro, com base no artigo 54.º, n.º2 CPC, para tomar a posição de

executado no processo. Se não o fizer, aceita o credor que o seu

crédito seja pago na execução só pelo produto do direito penhorado,

subsistindo o direito de gozo do terceiro e conservando o credor a

sua garantia, pelo remanescente, quando a esse direito. Note-se que

esta última solução está de acordo com o que decorre do artigo 824.º,

n.º2 CC quanto aos direitos reais de garantia que contam para o efeito

de verificar a anterioridade do direito real de gozo: apenas interessam,

para este efeito restrito, os direitos reais que garantem créditos

reclamados e, portanto, também com o âmbito com que foram

reclamados; se o credor não requerer a extensão da penhora ao objeto

da sua garantia, está implicitamente renunciando a invocar a

totalidade deste objeto na execução.

3. Transferência para o produto da venda: a lei considera caducos os direitos que

não acompanham a transmissão pela venda executiva, mas acrescenta que eles se

transferem para o produto da venda. Não estamos, assim, perante uma verdadeira

caducidade, mas perante uma sub-rogação objetiva. A norma, constante do n.º3 do

artigo que examinamos, não sofre qualquer limitação literal. É, no entanto, corrente

excluir do seu âmbito de aplicação os direitos reais, de garantia ou de gozo,

constituídos pelo executado posteriormente à penhora (ou ao seu registo), bem como

os direitos reais anteriores constituídos para garantia de créditos não reclamados na

execução. Argumenta-se, neste sentido, com a ineficácia do ato de constituição dos

primeiros relativamente à execução (artigo 819.º CC) e, quanto aos segundos, com o

facto de não poderem ser tomados em consideração no processo executivo créditos

que aí não tenham sido oportunamente reclamados. Creio, no entanto, que, não

fazendo a lei qualquer distinção literal, não há também qualquer razão para a fazer,

desde que nos entendamos sobre o conceito de transmissão para o produto da venda.

Vendido o direito penhorado, o produto da venda é, no processo executivo,

distribuído pelo exequente e demais credores reclamantes, de acordo com a ordem

estabelecida na sentença de graduação dos créditos. Caducando um direito real de

gozo posterior a algum dos direitos reais de garantia (do exequente ou dum credor

reclamante) que se tenha feito valer no processo, mas anterior à penhora nele

efetuada, tem o respetivo titular também direito a receber a sua parte do produto da

venda do bem, com respeito pela ordem decorrente das datas de constituição (ou

registo) dos vários direitos em causa. Só estes direitos são atendidos no processo de

execução. Se algo restar ainda do preço da venda, deve ser restituído ao executado.

Mas a norma da ineficácia relativa do ato dispositivo, precisamente porque

circunscreve a inoponibilidade do ato à esfera da execução, não impede que, uma vez

atingido o fim desta, os titulares de direitos reais constituídos pelo executado

posteriormente à penhora reclamem direitos sobre o eventual remanescente do

produto da venda. E o mesmo se dirá dos titulares de direitos reais de garantia que

não tenham reclamado pagamento na execução. Não há razão alguma para que a sub-

rogação do objeto do direito não tenha lugar. Pelo contrário, a ideia de sub-rogação

corresponde a um princípio geral dedutível de várias normas sobre a extinção dos

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direitos reais (artigos 692.º, 823.º, 1478.º a 1481.º e 1539.º, n.º2 CC). Claro que,

recorrendo a juízo, o titular do direito real terá de fazê-lo em processo distintivo e

autónomo da execução. Por outro lado, só pode fazer valer o seu direito, no plano

real, enquanto o remanescente da venda não for recebido pelo executado ou, uma

vez recebido, enquanto for possível provar a origem da quantia em dinheiro à qual

se arroga direito. Julgamos que esta é a interpretação mais conforme com os

princípios e com os interesses dos titulares de direitos reais preteridos na execução.

4. Cancelamento de registos: caducando, nos termos estudados, direitos sobre bens

sujeitos a registo, o agente de execução comunica a venda ao serviço de registo

competente e este procede, oficiosamente, ao cancelamento das inscrições respetivas,

incluindo a da própria penhora (artigo 827.º, n.º2 CPC). O cancelamento faz-se

perante o título da transmissão dos bens, do qual constará, quando a venda não tenha

lugar mediante propostas em carta fechada ou em depósito público, que ela é feita

pela pessoa para tanto legitimada (artigo 833.º, n.º1, 834.º, n.º2 e, também, 831.º CPC),

no âmbito da execução. Efetuada simultaneamente com o cancelamento das

inscrições relativas aos direitos que tenham caducado, a inscrição da venda obedece,

tal como a da penhora (artigo 755.º, n.º1 CPC), ao princípio da instância.

Anulação:

1. Casos de anulação: a venda executiva é anulável quando ocorra algum dos

fundamentos indicados nos artigos 838.º e 839.º CPC. Desses, alguns respeitam a

vícios nos pressupostos do ato:

a. Existência de ónus ou limitação que não tenha sido tomado em

consideração e exceda os limites normais inerentes aos direitos da

mesma categoria;

b. Erro sobre a coisa transmitida, por desconformidade com o que tiver

sido anunciado (artigo 838.º, n.º1 CPC).

Outros integram nulidades processuais:

c. Falta ou nulidade da citação do executado revel (artigo 839.º, n.º1,

alínea b) CPC);

d. Nulidade de ato anterior de que a venda dependa absolutamente

(artigos 839.º, n.º1, alínea c) e 195.º, n.º2 CPC);

e. Nulidade da própria venda (artigos 839.º, n.º1, alínea c) e 195.º, n.º1

CPC).

Outros ainda têm a ver com a irregular constituição, originária ou superveniente, do

processo executivo, por falta de pressupostos ou inexistência da obrigação

exequenda:

f. Anulação ou revogação da sentença exequenda;

g. Procedência da oposição à execução ou à penhora (artigo 839.º, n.º1,

alínea a) CPC).

Consagra-se, enfim, a impenhorabilidade subjetiva do bem vendido, reconhecida em

ação de reivindicação (artigo 839.º, n.º1, alínea d) CPC).

2. A tutela do comprador: os dois primeiros fundamentos (existência de ónus ou

limitação não considerado e erro sobre a coisa transmitida), constantes do artigo

838.º CPC, visam a tutela do comprador e por isso estão na sua exclusiva

disponibilidade. Integram situações de erro acerca do objeto jurídico (ónus ou

limitação) ou material (identidade ou qualidade da coisa transmitida) da venda, mas

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têm a caracteriza-los, quando comparado o seu regime com o regime geral da

anulação do negócio jurídico por erro (artigos 257.º e 251.º CC), a dispensa de

requisitos de que a lei faz depender, designadamente a essencialidade para o

declarante e o seu conhecimento ou cognoscibilidade pelo declaratário; basta por isso

que o ónus ou limitação não tenha sido tomado em consideração ou que a identidade

ou as qualidades do bem vendido divirjam das que tiverem sido anunciadas. A

anulação da venda começa por ser pedida no processo executivo. Mas se, por

complexidade da questão, o comprador for remetido para uma ação de anulação, a

correr autonomamente, esta terá de ser proposta no prazo geral de um ano do artigo

287.º, n.º1 CC (artigo 838.º, n.º 3 CPC). O comprador pode fazer também valer o

seu direito a uma indemnização (artigo 838.º, n.º1 CPC). A anulabilidade é sanável

com o desaparecimento do ónus, limitação ou desconformidade (artigo 906.º CC).

Não só por erro a venda executiva pode ser anulada a requerimento do comprador.

Este pode também fazer valer contra ela os restantes fundamentos de anulação do

negócio jurídico (incapacidade, dolo, coação). O preceito do artigo 838.º CPC tem a

justifica-lo o especial regime consagrado para o erro, mas, considerado o interesse do

comprador, tão merecedor de tutela como o comprador na compra e venda privada,

não visa impedir a anulação no caso de ocorrer outro fundamento de acordo com a

lei geral. No entanto, esses outros fundamentos são de muito difícil verificação na

venda executiva.

3. A tutela de outros interessados: os restantes fundamentos, constantes do artigo

839.º CPC, não visam já tutelar o comprador, mas sim o executado (alíneas a) e b)),

o terceiro proprietário (alínea d)) ou uma das partes no processo (alínea c)). Não

vamos proceder à sua análise. Salientamos apenas as particularidades mais salientes

do seu regime:

a. Nos casos das alíneas a), b) e c), a restituição tem de ser pedida no

prazo de 30 dias a contar da decisão definitiva proferida sobre o recurso,

a oposição ou anulação, sob pena de o executado só ter direito ao preço.

Pedida a restituição, o comprador só tem de restituir o bem vendido depois

de ser reembolsado do preço e das despesas da compra (IMI, escritura, etc.).

A restituição do preço é feita pelo tribunal, no caso de o produto da venda

estar ainda depositado à sua ordem, ou pelo exequente e pelos credores que

o hajam recebido, se o pagamento tiver sido efetuado, caso em que a

obrigação de restituição pode estar garantida por caução (artigos 704.º, n.º3

e 733.º, n.º4 CPC).

b. A anulação da execução por falta ou nulidade da citação do executado,

consignada no artigo 851.º CPC, pode ter lugar a todo o tempo, com o

limite da usucapião da coisa transmitida (n.º4), e ressalvada sempre a

sanação da nulidade por intervenção do executado no processo (artigo

189.º CPC). O mesmo efeito tem a falta ou nulidade da citação de credores

ou do cônjuge do executado, mas só quando apenas beneficiar o exequente

(artigo 786.º, n.º6 CPC), isto é, quando tiver sido ele o adquirente.

c. A anulação do ato da venda nos termos dos artigos 195.º e seguintes

CPC pode ocorrer, quer por nulidade da própria venda (n.º1), quer por

nulidade de ato anterior de que dependa absolutamente (n.º2).

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d. Procedendo a reivindicação, o comprador tem direito ao preço que

desembolsou, o qual lhe deve ser restituído pelo exequente e pelos

credores que o hajam recebido, podendo ainda pedir uma

indemnização, pelos danos que tenha sofrido, ao exequente, aos

credores e ao executado que hajam procedido com culpa (artigo 825.º,

n.º1 CC). Este direito à indemnização não existe, porém, em regra, se o

proprietário tiver protestado pela reivindicação antes do ato da venda, pois

se entende então que o risco decorrente da reivindicação foi assumido pelo

comprador (artigo 825.º, n.º2 CC e 840.º CPC).

Natureza: é discutido se a venda executiva é um ato de Direito Privado ou de Direito

Público. A questão põe-se, não só pena intervenção que o tribunal tem na venda executiva,

para a qual não conta, ou só conta em pequena medida, a vontade do proprietário do bem

vendido, mas também considerando particularidades do seu regime que a afastam do regime

da compra e venda comum. Designadamente, a regra de caducidade do artigo 824.º, n.º2 CC

tem como consequência a aquisição pelo comprador de mais do que aquilo que o proprietário

lhe poderia transmitir, a anulação do ato tem um regime distinto do de Direito Civil e

distintos são também o regime do pagamento do preço e as sanções decorrentes, nos termos

do artigo 825.º CPC da sua inobservância. Mas a sujeição da venda executiva, para além

destas disposições especiais, ao regime geral da compra e venda leva a caracterizá-la como

um contrato especial de compra e venda com características de ato de Direito Público.

S – Pagamento

Meios de atingir o pagamento: nem sempre a venda (adjudicação de bens incluída) é

necessária para se atingir o fim último da execução. Ao pagamento se pode chegar também,

mais diretamente, pela entrega de dinheiro que tenha sido apreendido ou resulte do

pagamento de créditos pecuniários que hajam sido objeto de penhora (artigo 798.º CPC). No

primeiro caso, a própria natureza do objeto da penhora é incompatível com a venda; no

segundo caso, idêntica incompatibilidade surge, por via de sub-rogação, quando o pagamento,

mediante depósito em instituição de crédito à ordem do agente de execução ou da secretaria

(artigo 777.º, n.º1 CPC), tem lugar antes da venda do crédito penhorado. Pode, por outro

lado, ter lugar a consignação de rendimentos, caso em que o fim da execução se consegue

dispensando a venda dos bens. Debrucemo-nos um pouco sobre este caso.

Consignação de rendimentos: a consignação de rendimentos é condicionada pela

natureza do objeto da penhora, pois só pode ter lugar quando esteja em causa:

1. Um bem imóvel ou um bem móvel sujeito a registo (artigo 803.º, n.º1 CPC),

seja qual for o direito que sobre ele tenha o executado;

2. Um título de crédito nominativo (artigo 805.º, n.º3, c.f. artigo 774.º CPC).

Só o exequente tem legitimidade para requerer, ao agente de execução, a consignação de

rendimentos e pode fazê-lo entre o momento da realização da penhora e o da venda ou

adjudicação dos bens penhorados (artigo 803.º, n.º1 CPC). É necessário o acordo ou o

silêncio do executado (artigo 803.º, nº.2 CPC). A consignação de rendimentos tem a

particularidade de dispensar a convocação dos credores, se for requerida antes de a ela se

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proceder (artigo 803.º, n.º2 CPC). É efetuada, tal como a penhora, por comunicação à

conservatória (artigo 803.º, n.º4 CPC), que a regista por averbamento ao registo da penhora

(artigo 803.º, n.º5 CPC), ou, no caso do título de crédito, por comunicação à entidade

registadora (artigos 102.º, 103.º CVM, 305.º, n.º3, alínea i) e 340.º CSC), sendo seguidamente

objeto de averbamento no título (artigos 805.º, n.º3 CPC, 102.º, n.º1 e 103.º CVM). Consiste,

como a designação inculca, na afetação, com eficácia real, dos rendimentos dos bens

penhorados ao pagamento do crédito do exequente (artigo 656.º, n.º1 CC), na totalidade

deste ou no remanescente que esteja por pagar. Das três modalidades da consignação

admitidas pelo artigo 661.º, n.º1 CC, apenas a de atribuição de rendimentos provenientes de

contrato de locação ou equiparado é possível, mas tal não exclui que o contrato possa ser

celebrado com o próprio exequente. Uma vez feita a consignação e pagas as custas da

execução, esta é julgada extinta, levantando-se as penhoras que incidam sobre outros bens

(artigo 805.º, n.º1 CPC) e mantendo-se a penhora sobre o bem cujos rendimentos foram

consignados, no seu efeito de assegurar a preferência a favor do exequente (artigo 805.º, n.º2

CPC). Esta preferência virá, designadamente, a interessas ao exequente no caso de venda

judicial do bem penhorado, em outra execução: se esta for movida por credor que não tenha

direito real de garantia constituído em data anterior à penhora, o consignatário será pago

antes dele, do mesmo modo, será pago antes dos credores reclamantes que tenham garantia

real posterior. Vê-se também que, existindo credor com garantia real anterior à penhora, que

não tenha sido convocado para reclamar o seu crédito (em virtude do artigo 803.º, n.º3 CPC),

o consignatário pode ter de mover nova execução para penhora de novos bens, se o valor

obtido pela venda judicial em execução que venha a ser movida por esse credor não chegar

para o seu pagamento. Este risco está em perfeita consonância com a dispensa da citação

dos credores ainda não efetuada, pois de outro modo seriam injustificadamente prejudicados

os não convocados. Note-se, finalmente, que este regime caracteriza a consignação de

rendimentos como uma dação pro solvendo (artigo 840.º CC).

Ordem dos pagamentos: o pagamento coercivo tem lugar segundo a ordem determinada

na sentença de graduação de créditos, sendo, porém, sempre pagas em primeiro lugar as

custas da execução (artigo 541.º CPC) e sendo atendidos igualmente, na respetiva ordem, os

direitos reais de gozo que tenham caducado com a venda executiva e sejam oponíveis à

execução. Ao executado é entregue o eventual remanescente. Mas, por imposição da lei

tributária (artigo 81.º CPPT), o levantamento desse remanescente não pode ter lugar sem que

o executado, ou o adquirente do remanescente, prove que nada deve à Fazenda Nacional.

Os direitos da Fazenda Nacional, já excessivamente tutelados através do esquema dos

privilégios creditórios criados por lei especial, voltam assim a sê-lo na fase do pagamento.

Feita a distribuição, sem precedência de despacho judicial que a ordene (como acontecia no

Direito anterior à reforma), a execução, atingido o seu fim, extingue-se.

Pagamento em prestações: com a revisão do Código, tornou-se admissível, fora do

esquema da transação, o pagamento em prestações da dívida exequenda. Necessário é que o

exequente e o executado manifestem o seu acordo com um plano de pagamento, que

comunicam ao agente de execução (artigo 806.º, n.º1 CPC), antes da transmissão do bem

penhorado ou, no caso de venda por propostas em carta fechada, até à aceitação da proposta

vencedora (artigo 806.º, n.º2 CPC). No CPC 1961, seguia-se a suspensão da instância

executiva. O novo Código optou pela sua extinção (artigo 806.º, n.º2 CPC), embora a

instância se renove quando o acordo não seja cumprido e o exequente pretenda obter a

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satisfação do remanescente (artigo 808.º, n.º1 CPC), bastando para tanto a falta de pagamento

de uma prestação (artigo 781.º CC). Como, a partir da reclamação de créditos, há que atender

também ao interesse dos credores reclamantes, também o credor cujo crédito esteja vencido

pode requerer a renovação da instância para satisfação do seu crédito (artigo 809.º, n.º1 CPC).

Se o fizer, ao exequente é conferido o direito de denúncia do acordo, a exercer no prazo de

10 dias contados da notificação que para o efeito lhe é efetuada; se exercer esse direito, o

remanescente do seu crédito será satisfeito pelo produto da venda do bem penhorado, nos

termos da graduação de créditos (a efetuar ou já efetuada); se não o exercer, perde o direito

de garantia constituído a seu favor pela penhora e, assumindo a posição de exequente o

credor que tenha exercido o direito a prosseguir com a execução, esta prossegue apenas para

satisfação do seu crédito e dos restantes credores reclamantes com garantia real sobre o bem

penhorado (artigo 809.º, n.º2 e 4 CPC). O acordo de pagamento a prestações pode, no novo

Código, abranger os credores reclamantes, estando nesse caso sujeito ao regime do artigo

810.º CPC (acordo global). No regime oriundo da revisão do CPC 1961, salvo convenção

em contrário e sem prejuízo da constituição de outras garantias, a penhora já feita mantinha-

se, após o acordo, até integral pagamento. O novo Código fez outra opção: se o exequente

declarar que não prescinde da penhora, esta converte-se automaticamente em hipoteca ou

penhor, como tal averbado no registo sendo caso disso e mantendo a prioridade da anterior

garantia (artigo 807.º, n.º1 a 4 CPC). Sob pena de injustificada desigualdade entre os credores,

esta hipoteca ou penhor legal deve entender-se sujeita ao regime de ininvocabilidade no

processo de insolvência que é estatuído pelo artigo 140.º, n.º3 CIRE para a hipoteca legal,

idêntico ao da penhora.

T – Extinção e anulação da execução

Extinção da execução:

1. Causas: a causa normal de extinção da execução é o pagamento coercivo. Mas, tal

como a ação declarativa se pode extinguir sem que se tenha atingido a sentença de

mérito, também na ação executiva a extinção pode ter lugar por causas diferentes do

pagamento coercivo, seja por extinção da obrigação exequenda, seja por motivos

diferentes.

2. Extinção da obrigação exequenda: o pagamento pode efetuar-se coercivamente

na sequência dos atos executivos que conheceremos, ou por ato voluntário do

executado ou de terceiro. A este se refere o artigo 846.º CPC. Embora o preceito se

refira apenas ao pagamento das custas e da dívida exequenda, no cálculo da quantia

a depositar há que entrar também em conta com os créditos reclamados, quando o

requerimento for feito após a venda ou adjudicação de bens, cuja eficácia em nada é

afetada pelo ato de pagamento que lhe seja posterior. A este pagamento voluntário

se chama remição da execução. Mas, além de pelo pagamento (coercivo ou

voluntário), a obrigação exequenda pode extinguir-se por qualquer outra causa

prevista na lei civil: dação em cumprimento, consignada em depósito, compensação,

novação, remissão, confusão (artigo 837.º a 873.º CC). Ocorrida extrajudicialmente a

extinção, é junto ao processo documento que a comprove, após o que tem lugar a

liquidação da responsabilidade do executado (quanto a custas ou, após a venda ou

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adjudicação de bens, também quanto aos créditos reclamados para serem pagos pelo

produto da venda desses bens) e a subsequente extinção da execução.

3. Outras causas: a execução pode ainda extinguir-se em consequência da revogação

da sentença exequenda (em instância de recurso, que tenha efeito meramente

devolutivo) ou da procedência dos embargos de executado. Pode também o juiz,

oficiosamente, extinguir a instância nos termos do artigo 734.º CPC (rejeição

oficiosa), até ao primeiro ato de transmissão de bens penhorados. Pode também a

execução extinguir-se por não serem encontrados nem indicados bens penhoráveis

(artigos 748.º, n.º3, 750.º, n.º2, 855.º, n.º4 CPC), bem como em consequência da

adjudicação pro solvendo do direito de crédito (artigo 806.º, n.º2 CPC) ou da

sustação integral da segunda execução sobre o mesmo bem (artigo 794.º, n.º4 CPC).

Pode ainda o exequente desistir da instância ou do pedido, caso em que, porém, a

exemplo do que acontece com as causas de extinção referidas no número anterior,

serão pagos os credores graduados se já tiver havido venda ou adjudicação de bens

(artigo 848.º CPC). A desistência do pedido, tendo na ação executiva a mesma

natureza de Direito Privado que tem na ação executiva, não pode ser entendida como

renúncia ao direito de executar o crédito (o que brigaria com a irrenunciabilidade do

direito de ação), mas como renúncia ao próprio crédito exequendo. De particular

tem, porém, que não é homologada por sentença, produzindo diretamente, não só

os seus efeitos de Direito Civil (como na ação declarativa), mas também o efeito

processual de extinção da instância executiva. Podem, finalmente, dos casos de

extinção da instância (em geral) indicados no artigo 277º CPC, verificar-se na ação

executiva a deserção (artigo 281.º CPC) e a transação (com alcance paralelo ao da

desistência do pedido).

4. Termo do processo executivo: até à reforma da ação executiva, a extinção da

execução tinha lugar, salvo o caso de deserção da instância (artigo 281.º CPC),

mediante uma sentença que lhe punha termo e devia (tal como hoje a ocorrência da

extinção automática da execução: artigo 849.º, n.º2 CPC), ser notificada ao executado,

ao exequente e aos credores reclamantes. A natureza desta sentença era controvertida.

Para quem entendia haver lugar à formação de caso julgado material no processo

executivo, constituía-o essa sentença, sempre que por ela se julgasse extinta a

execução por extinção da obrigação exequenda. Mas, atenta a estrutura e a função da

ação executiva e a circunscrição do atributo de caso julgado às decisões sobre a

relação material controvertida (artigo 619.º, n.º1 CPC), as quais, por sua vez,

pressupõem uma atividade processual desenvolvida em contraditoriedade, defendi,

nas edições desta obra anteriores à reforma da ação executiva, que a sentença de

extinção da execução não era dotada da eficácia de caso julgado material. Por ela era

tão-só verificado o termo da ação executiva e, mesmo quando tal ocorresse por

extinção da obrigação exequenda, cuja característica de definitividade se colocava

tão-só no plano da relação processual, por ela extinta com a mera eficácia de caso

julgado formal (artigo 620.º CPC). A sentença de extinção da execução não surtia,

pois, eficácia fora do processo executivo. Com a reforma da ação executiva, deixou

de ter lugar essa sentença, produzindo-se automaticamente o efeito extintivo da

instância (artigo 849.º, n.º1 CPC). A questão da formação de caso julgado no

processo executivo deixou, pois, de se poder pôr. Mas, hoje como ontem, o efeito

de Direito substantivo do facto extintivo da obrigação exequenda (pagamento ou

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outro) invocados na ação executiva não deixa de se produzir, obstando ao êxito duma

nova ação executiva, mas não impedindo a propositura, pelo executado, duma ação

de restituição do indevido.

Anulação da execução: o processo de execução pode ser anulado, salvando-se apenas o

requerimento inicial. Tal acontece quando se verifique a falta ou nulidade da citação, a qual

pode ser arguida a todo o tempo, enquanto não deva considerar-se sanada pela intervenção

do interessado. A falta ou nulidade da citação rege-se pelas disposições dos artigos 187.º a

191.º CPC que não estejam em contradição com o artigo 851.º, n.º1 CPC, decorrendo do

artigo 187.º CPC que a anulação do processo não implica nulidade do requerimento inicial

de execução, que se aproveitará.

Renovação da ação executiva:

1. Causas: depois de extinta, a ação executiva pode renovar-se no mesmo processo.

Isso pode acontecer:

a. Por iniciativa do exequente, para cobrança coerciva de prestações

vincendas (artigo 850.º, n.º1 CPC) ou do remanescente do crédito

exequendo após o pagamento efetuado por força do direito de crédito

penhorado (artigos 779.º, n.º2 CPC e, implicitamente, 799.º, nº.6 CPC),

bem como mediante indicação superveniente de bens penhoráveis

(artigo 850.º, n.º5 CPC), nomeadamente após a extinção, sem venda do

bem penhorado, da execução em que ele tenha reclamado, como titular de

segunda penhora sobre o mesmo bem (artigo 794.º, n.º4 CPC);

b. Por iniciativa dum credor reclamante que pretenda prosseguir com a

execução (artigo 809.º, n.º1 e 850.º, n.º2 CPC);

c. Por iniciativa do exequente ou dum credor reclamante, para cobrança

coerciva do remanescente do crédito, quando alguma das prestações

acordadas para pagamento não seja paga (artigos 808.º, n.º1 e 810.º,

n.º3 CPC);

d. Por iniciativa do executado, que requeira a anulação da execução, por

falta ou nulidade da citação.

2. A satisfação de prestações vincendas: o primeiro caso pode verificar-se quando a

execução tem por base um título de trato sucessivo. Trata-se dum título executivo do

qual conste uma obrigação periódica ou a pagar em prestações. Vencidas novas

prestações, a execução pode renovar-se no mesmo processo, a fim de nele se

proceder à sua cobrança. Claro que isto só é possível quando no título conste a

obrigação de pagamento de todas essas prestações (sentença que julgue procedente

um pedido formulado nos termos do artigo 557.º, n.º1 CPC; escritura pública de

abertura de crédito ou de fornecimento, em execução da qual sejam efetuadas várias

prestações nos termos do artigo 707.º CPC; etc.).

3. A satisfação de crédito reclamado: o segundo caso pode verificar-se quando a

extinção da execução tenha lugar após a reclamação dum crédito já vencido, mas

antes da venda ou adjudicação dos bens que o garantem. Pode então o credor

requerer, no prazo de 10 dias contados da notificação da extinção da execução (artigo

849.º, n.º2 CPC), o prosseguimento desta para pagamento dos eu crédito, após

verificação e graduação (se estes atos ainda não tiverem tido lugar), por força dos

bens sobre os quais tem garantia. O requerente assume a posição de exequente e a

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ação executiva prossegue, limitadamente a esses bens, pelo produto de cuja venda

serão pagos, não só o novo exequente, mas também os credores para o efeito

graduados. A renovação da ação executiva por iniciativa do credor reclamante pode,

nomeadamente, ter lugar quando a extinção da execução tenha ocorrido por extinção

da obrigação exequenda, por desistência do exequente ou por transação. Mas já não

pode nos casos de procedência da oposição à execução ou de revogação da sentença

exequenda, como resulta do regime que decorre dos artigos 839.º, n.º1, alínea a) CPC

(há lugar à anulação da venda executiva por revogação da sentença ou procedência

da oposição), 847.º, n.º2 e 848.º, n.º1 CPC (o pagamento aos credores graduados para

serem pagos pelo produto de bens vendidos ou adjudicados é apenas previsto nos

casos de extinção da obrigação e de desistência do exequente). A solução harmoniza-

se com a ideia geral de que a reclamação de créditos não visa diretamente a satisfação

dos créditos reclamados. A norma do artigo 850.º, n.º2 CPC alia a uma razão de

economia processual a consideração duma presunção de responsabilidade do

executad6o que, no caso da procedência da oposição à execução ou da revogação do

título executivo judicial, se mostra ilidida.

4. A entrega dos bens ao adquirente: o artigo 828.º CPC concede ao adquirente dos

bens penhorados o direito de requerer a sua entrega na própria execução. É assim

enxertado, na ação executiva para pagamento de quantia certa, um pedido de

execução para entrega de coisa certa, dirigida contra quem os detenha. Não se trata

duma ação executiva para entrega de coisa certa nem da conversão duma execução

para pagamento de quantia certa em execução para entrega certa. Se, como deve ter

tido lugar, a tomada de posse efetiva do bem penhorado pelo depositário (artigos

757.º, 764.º, n.º1 e 782.º, n.º4 CPC, entre outros), o adquirente será, por sua vez,

normalmente empossado (artigo 827.º, n.º1 CPC), não tendo de recorrer ao artigo

828.º CPC; mas, se o depositário não tiver cumprido estes seus deveres, resta ao

adquirente exigir a entrega, sem prejuízo de eventual indemnização moratória. Por

outro lado, nos casos em que, por consentimento do exequente ou por o bem

penhorado ser a casa de habitação efetiva do executado, é este o depositário, bem

como naqueles em que sobre o bem penhorado incida direito de retenção de terceiro,

também designado depositário (artigo 756.º, n.º1 CPC; no caso de arrendamento,

este sobrevive à venda executiva), não se aplica o artigo 757.º, n.º1 CPC, mas aplica-

se o artigo 827.º, n.º1 CPC: extintos, com a venda, os direitos reais do executado e

do titular do direito de retenção (artigo 824.º, n.º1 e 2 CC), o depositário deve

imediatamente entregar o bem ao agente de execução para este o entregar ao

adquirente ou dele fazer a este entrega direta; se não o fizer, não cumprindo o seu

dever de restituição, o adquirente requererá a entrega, sem prejuízo do direito a

indemnização que tenha contra o depositário relapso. Resta, finalmente, a

possibilidade, ainda que remota, de o depositário designado pelo oficial de justiça

(artigo 756.º, n.º1 CPC) ou o próprio agente de execução (enquanto depositário, ou

enquanto destinatário da restituição efetuada pelo depositário) não entregar o bem

ao adquirente. Não sendo estabelecido limite temporal para o exercício deste direito,

pode acontecer que ele ocorra já depois de proferido o despacho de extinção da

execução, caso em que, embora a lei expressamente não o diga, o prosseguimento da

ação executiva implicará a sua renovação. Pode, com efeito, acontecer que o

adquirente só então conclua pela necessidade de obter a entrega judicial, que até aí

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haja tentado sem êxito. Tal como no caso da arguição da falta ou nulidade da citação

do executado (artigo 851.º, n.º3 CPC), o requerimento de entrega pode ter lugar

mesmo depois de transitada em julgado a sentença que declare extinta a execução.

Recursos:

1. Apelação autónoma: estão sujeitas a recurso de apelação (autónomo), a interpor no

prazo geral de 30 dias (artigo 638.º, n.º1 CPC) e com sujeição às condições gerais de

admissibilidade do artigo 629.º CPC, as decisões finais proferidas nas ações

declarativas que correm por apenso ao processo de execução (embargos de

executado, nos termos do artigo 732.º, n.º2 CPC; verificação e graduação dos créditos;

nos termos do artigo 791.º, n.º1 CPC), bem como as proferidas no incidente

declarativo de liquidação (artigo 853.º, n.º1 CPC). É indiferente o fundamento

(substantivo ou processual) da oposição à execução, bem como o título (judicial,

arbitral, judicial impróprio, extrajudicial) em que se tenha baseado a execução. A

decisão proferida no incidente de oposição à penhora dos artigos 784.º e 785.º CPC

pode também ser objeto de recurso de apelação, mas com redução para 15 dias do

prazo para o interpor (artigo 853.º, n.º1, 644.º, n.º2, alínea i) e 638.º, n.º1 CPC). Cabe

também recurso de apelação (a subir imediatamente, em separado e com efeito

meramente devolutivo: artigo 853.º, n.º4 CPC) das decisões interlocutórias do

processo de execução enunciadas no artigo 853.º, n.º2 CPC, bem como das decisões

(finais) de indeferimento liminar e de rejeição do requerimento executivo (artigo

853.º, n.º3 CPC).

2. Impugnação não autónoma: as decisões interlocutórias proferidas nas ações e

incidentes declarativos no artigo 853.º, n.º1 CPC, bem como as decisões

interlocutórias, não constantes dos n.º2 e 3 do artigo 853.º CPC, proferidas no

processo de execução, só podem, em princípio, ser impugnadas com o recurso que

venha a ser interposto da decisão final (artigos 644.º, n.º3 e 852.º CPC). Mas, não

havendo recurso da decisão final, podem ser autonomamente impugnadas em

recurso único, a interpor após o trânsito daquela decisão, desde que tenham interesse

para o apelante independentemente dela (artigos 644.º, n.º4 e 852.º CPC).

3. Revista: além dos casos em que é sempre admissível recurso de revista (artigo 629.º,

n.º2 CPC), este só pode ser interposto, nos termos gerais, dos acórdãos da relação

proferidos sobre apelação das decisões finais do incidente de liquidação, da ação de

verificação e graduação de créditos e dos embargos de executado (artigo 854.º CPC).

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第三 Outros processo de execução

U – A forma sumária de execução comum para pagamento de quantia

certa

O regime do processo sumário pouco diverge do processo ordinário, como facilmente se

constata lendo os artigos 855.º a 858.º CPC. A principal diferença reside em que não há, em

regra, despacho liminar. O requerimento executivo, acompanhado pelos documentos com

ele apresentados, é imediatamente enviado por via eletrónica ao agente de execução, que

inicia as buscas e outras diligências necessárias à efetivação da penhora (artigos 748.º a 750.º

CPC), só depois desta feita tendo lugar a citação do executado. Só assim não é quando:

1. Ocorra fundamento de recusa do requerimento executivo, nos termos do

artigo 725.º, n.º1 CPC: o próprio agente de execução recusa o requerimento

executivo, aplicando-se o disposto no artigo 725.º CPC.

2. Ao agente de execução se afigure provável a ocorrência de fundamento de

indeferimento liminar, irregularidade do requerimento de fundamento de

indeferimento liminar, irregularidade do requerimento executivo ou falta de

algum pressuposto processual, nos termos do artigo 726.º, n.º2 a 4 CPC: o

agente de execução suscita a intervenção do juiz, que decide.

3. O agente de execução duvide da verificação dos pressupostos de aplicação da

forma de processo sumário (artigo 550.º, n.º2 e 3 CPC): o agente de execução

suscita a intervenção do juiz, que decide.

Efetuada a penhora, o executado é simultaneamente citado para a execução e notificado do

ato da penhora, sendo-lhe comunicado, no ato, que pode deduzir embargos de executado ou

opor-se à penhora no prazo de 20 dias (artigo 856.º, n.º1 CPC), bem como que pode também

requerer a substituição dos bens penhorados por outros de valor suficiente (artigo 751.º, n.º4,

alínea a) CPC). Se o executado se pretender opor simultaneamente à execução e à penhora,

fa-lo-á nos embargos de executado, em que assim se cumularão as duas oposições (artigo

856.º, n.º3 CPC). A dedução dos embargos, sendo posterior à penhora, suspende o processo

de execução, sem necessidade de prestação de caução: o exequente está já garantido, pelo

que o prosseguimento da execução aguardará a decisão da oposição; mas o embargante pode

requerer a substituição da penhora por caução que, como ela, satisfaça o fim da execução

(artigo 856.º, n.º5 CPC). Todavia, se falhar o respetivo pressuposto, o exequente pode, em

qualquer altura, pedir o reforço da penhora, nos termos do artigo 751.º, n.º4, alínea b) CPC.

A suspensão tão-pouco impede a substituição do objeto da penhora, nos termos do artigo

751.º, n.º4, alínea a) e 6 CPC. Segundo o artigo 857.º, n.º1 CPC, a taxatividade dos

fundamentos de oposição à sentença do tribunal do Estado estende-se, com as devidas

adaptações, à oposição à execução fundada em requerimento de execução em que tenha sido

aposta a fórmula executória. Ressalva-se o caso de justo impedimento (artigo 857.º, n.º2 CPC)

e admite-se que o executado deduza oposição baseada na inconcludência do requerimento

de injunção (no qual são indicados sucintamente os factos que fundamentam a pretensão:

artigo 10.º, n.º2, alínea d) Decreto-Lei n.º 269/98, na sua versão atual) ou na ocorrência de

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exceções, perentórias ou dilatórias, de conhecimento oficioso, que sejam manifestas no

procedimento de injunção (artigo 857.º, n.º3 CPC). Dada a natureza não jurisdicional do

processo de injunção, a menor garantia que o devedor encontra na notificação que nele lhe

é efetuada, máxime quando a notificação é dirigida, por carta simples, para o domínio

convencionado (artigo 12.º-A Decreto-Lei n.º269/98, 1 setembro), e o facto de a formação

do título prescindir de qualquer juízo de adequação do montante da dívida aos factos em que

ela se fundaria, esta equiparação é fortemente criticável. A ressalva do artigo 857.º, n.º3 CPC

ainda permite superar a crítica fundada na falta dum jogo sobre a adequação do montante da

dívida aos factos de que ela derivaria. Mas o uso de meios de notificação expeditos não se

compadece com a garantia constitucional do direito de defesa. A única forma de

compatibilizar o artigo 857.º CPC com a Constituição da República consiste em, na

adaptação a fazer, o circunscrever de tal modo que ele só se aplique nos casos em que o

devedor, na execução, não invoque a diminuição de garantias regista no anterior processo de

injunção e naqueles em que se prove que ele teve efetivo conhecimento da notificação,

contendo esta a advertência de que a não oposição à injunção preclude definitivamente a

discussão sobre a existência da dívida (o que a muito pouco reduzirá o âmbito da

equiparação). Dado que a penhora tem lugar sem citação prévia do executado, o exequente

responde, nos termos gerais da responsabilidade civil, pelos danos decorrentes, para o

executado, da penhora efetuada, quando a oposição à execução é julgada procedente; e paga

uma multa, sem prejuízo de eventual responsabilidade criminal (artigo 858.º CPC).

V – O processo de execução comum para entrega de coisa certa

Delimitação: a ação executiva para entrega de coisa certa tem lugar sempre que o objeto da

obrigação, tal como o título o configura, é a prestação duma coisa. Tal como no caso da

obrigação pecuniária, o qualificativo certa tem a ver com o pressuposto processual da certeza

da prestação, pelo que não obsta à execução a necessidade de se proceder à individualização

das unidades que serão objeto da prestação a efetuar no caso de obrigação genérica cujo

objeto se apresente qualitativa e quantitativamente determinado. Sempre, portanto, que o

título configure uma obrigação de prestação de coisa, deve usar-se o processo de execução

para entrega de coisa certa, ainda que esta já não exista, seja objeto dum direito incompatível

com o do exequente ou não venha a ser encontrada, casos estes em que tem lugar a

subsequente conversão da execução para entrega de coisa certa em execução para pagamento

de quantia certa.

Características: diversamente da ação executiva para pagamento de quantia certa, a ação

executiva para entrega de coisa certa não se traduz na efetivação de direitos sobre o

património do devedor. Por ela, o credor faz valer, não a garantia patrimonial do seu crédito,

mas sim a faculdade de execução específica, mediante a apreensão da coisa que o devedor

está obrigado a prestar-lhe. Não é requerida a execução do património do devedor (artigo

817.º CC), mas sim a entrega judicial da coisa devida (artigo 827.º CC). Não há, por isso,

neste tipo de ação, lugar a penhora. Para realizar o direito exequendo, o tribunal procederá à

apreensão da coisa e à sua imediata entrega ao exequente, após efetivação das buscas e outras

diligências que forem necessárias (artigo 861.º CPC). Como diz expressamente o n.º1 deste

artigo, a este ato de apreensão aplicam-se, conforme os casos, em tudo quanto não esteja

especialmente previsto, as normas processuais reguladoras da penhora de bens imóveis, de

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bens móveis ou da quota dum comproprietário que forem compatíveis com a natureza da

ação executiva em causa. Mas a apreensão da coisa devida não tem a função nem os efeitos

da penhora. Assim, não consubstancia a constituição dum direito real de garantia nem é

dirigida à ulterior transmissão da coisa apreendida, mas sim à sua entrega ao exequente, que

normalmente lhe é feita ato contínuo. Em consequência, não confere ao exequente qualquer

direito de preferência nem opera a transferência da posse da coisa para o tribunal. Podendo

a ação executiva ter na sua base um direito real ou um direito de crédito, a entrega da coisa

logo investe o exequente numa posse em nome próprio ou em nome alheio, quando nela

não se limita a mantê-lo; e, mesmo quando a apreensão e a entrega aparecem como atos

temporalmente bem separados, o tribunal não deixa de atuar, desde a apreensão, como mero

detentor da coisa em nome do exequente, a quem a irá entregar. Não se põe normalmente o

problema da ineficácia dos atos dispositivos subsequentes, pois o executado conserva, após

a apreensão, exatamente os mesmos direitos que anteriormente tinha: se for titular dum

direito real sobre a coisa, com o poder de dela dispor, continuará a poder valer-se da mesma

forma deste seu poder; se não tiver qualquer direito real sobre a coisa ou o seu direito não

englobar a faculdade de dela dispor, será nulo, por ilegitimidade, qualquer negócio jurídico

de disposição que celebre, antes ou depois da apreensão. Só no caso excecionalíssimo de a

transferência da propriedade se processar com a entrega da coisa ao exequente e esta não ter

lugar logo a seguir à apreensão é que se poderia ver utilidade na aplicação da disposição do

artigo 819.º CC; mas, uma vez entendido que a apreensão logo constitui o exequente na posse

da coisa apreendida, através do tribunal, dificilmente a transferência da propriedade deixará

de operar com o ato de apreensão. Acresce que os limites objetivos à penhorabilidade dos

bens não têm aplicação ao caso de execução específica da obrigação de entrega de coisa

determinada, uma vez que a cobertura da pretensão do credor pelo título executivo constitui

já demonstração suficiente de que não há razões sociais (de interesse geral ou de interesse

particular do devedor) que obstem à entrega. Do que se deixa dito decorrem dois outros

aspetos deste tipo de ação executiva:

1. Não há lugar a concurso de credores;

2. Não há lugar à venda executiva.

Tramitação:

1. Requerimento e oposição: apresentado o requerimento executivo, realizada a

tramitação que lhe é complementar e proferido o despacho liminar de citação, o

executado é citado para, no prazo de 20 dias, fazer a entrega da coisa ou opor-se à

execução (artigo 859.º CPC). A oposição segue o mesmo regime que na execução

para pagamento de quantia certa. Mas, quando o cumprimento da obrigação possa,

na oposição deduzida à execução de sentença, ser verificado por meio de inspeção

judicial ou perícia, não se justifica a restrição probatória do artigo 729.º, alínea g) CPC,

visto que por esse meio se pode atingir segurança maior do que a decorrente dum

documento, que, por isso mesmo, as partes normalmente dispensarão. Por outro lado,

o executado pode – salvo se, tratando-se de execução de sentença, tiver tido a

possibilidade de o fazer na ação declarativa e não o tiver feito (artigo 860.º, n.º3 CPC)

– invocar na oposição, além dos fundamentos previstos nos artigos 729.º e 730.º CPC

(respetivamente, nos casos de execução de sentença judicial e de sentença arbitral), a

realização de benfeitorias que tenha feito (artigo 860.º, n.º1 CPC). Basear-se-á para

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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tanto, normalmente, no direito de retenção por elas conferido. A redação que a

norma hoje no artigo 860.º, n.º2 CPC tinha antes da revisão do Código era expressa

em que o recebimento dos embargos fundados em benfeitorias que concedessem o

direito de retenção suspendia a execução, sem necessidade de caução, até que o

exequente pagasse o respetivo valor, ou consignasse em depósito ou caucionasse a

quantia pedida. Desde a revisão, a norma do mesmo artigo 860.º, n.º2 CPC limita-se

a determinar que, se o exequente caucionar a quantia pedida a título de benfeitorias,

o recebimento da oposição não suspende o prosseguimento da execução suscitando

a dúvida sobre se, na falta dessa caução, a suspensão da ação executiva é automática

ou depende de caução a prestar pelo executado, nos termos gerais do artigo 733.º,

n.º1, alínea a) ex vi artigo 551.º, n.º2 CPC, questão que só faz sentido no pressuposto

de que só as benfeitorias que concedam direito de retenção é que continuam a estar

previstas no artigo 860.º, n.º2 CPC. No sentido da primeira solução, dir-se-á que a

natureza garantística do direito de retenção implica que a coisa não seja entregue ao

exequente sem que o direito à indemnização seja satisfeito e que não faz sentido

exigir ao executado a prestação de caução para manutenção dum efeito civil a lei já

lhe assegura. No sentido da segunda, dir-se-á que a invocação das benfeitoras não

garante a sua existência e que o direito do exequente, que não preste caução, à coisa

que lhe é devida pode ser gravemente ofendido com a demora da execução, por esta

ser suspensa, quando os embargos sejam improcedentes ou o pedido de

indemnização seja exorbitante. É certo que a lei civil mantém o direito de retenção

até que o devedor da indemnização preste caução suficiente (artigo 756.º, alínea d)

CC); mas também o é que à posse por ele conferida não corresponde qualquer direito

de usufruição, mas o mero fim de garantia do credor (artigos 671.º e 672.º CC,

aplicáveis por força dos artigos 758.º e 759.º CC). Ora, este puro fim de garantia não

será afetado pelo prosseguimento da execução se a coisa, entretanto apreendida ao

executado, só for entregue ao exequente quando este pague a indemnização a que o

executado tenha direito: o lugar paralelo do artigo 733.º, n.º4 CPC permite defender,

em face da redação do artigo 860.º, n.º2 CPC, que, não prestada caução pelo

executado, a coisa devida ao exequente deve ser imediatamente apreendida, mas não

entregue na pendência dos embargos. Esta solução tem por si a harmonização dos

interesses legítimos do titular do direito de retenção e do devedor da indemnização,

com economia de meios processuais. Fora o caso do direito de retenção, não se nos

afigura que o direito à indemnização pro benfeitorias possa fundar a oposição à

execução. A ser assim, a invocação de benfeitorias, desligada do dever de entrega da

coisa, configuraria um pedido reconvencional, que julgamos nunca ter lugar em

processo executivo. Não obstante o artigo 860.º, n.º2 CPC falar de quantia pedida a

propósito da indemnização pelas benfeitorias invocadas, o que inculca a ideia do

pedido reconvencional previsto no artigo 266.º, n.º6, alínea b) CPC, afigura-se-me

que a invocação das benfeitorias configura antes um caso de exceção perentória, que,

como tal, obsta à procedência do pedido executivo, mas com a particularidade de

cessar com o pagamento das benfeitorias. Sendo assim, a decisão que o tribunal

profira no processo de embargos quanto ao direito do executado a uma

indemnização por benfeitorias nunca pode ser executada no próprio processo de

execução para entrega de coisa certa.

2. Convocação do cônjuge do executado: note-se ainda que, embora não haja

convocação de credores, se deve aplicar, por analogia, o artigo 786.º, n.º1, alínea a)

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CPC, que impõe a citação do cônjuge do executado quando a coisa apreendida for

um bem imóvel ou estabelecimento comercial próprio do executado, mas de que ele

não possa livremente dispor. No entanto, a convocação só pode ter por fim permitir

ao cônjuge citado a impugnação do crédito exequendo na oposição à execução.

3. Apreensão e entrega: feitas as buscas e outras diligências que forem necessárias à

apreensão da coisa, o tribunal apreende-a e investe o exequente na posse. O

investimento tem lugar mediante:

a. Tradição ou entrega material da coisa móvel, precedida, se se tratar de

coisa fungível (artigos 207.º e 539.º CC), das operações necessárias à

concentração da obrigação (artigo 861.º, n.º2 CPC);

b. Entrega simbólica da coisa imóvel, mediante entrega material de

chaves e documentos e notificação do executado, bem como dos

arrendatários e outros possuidores em nome próprio ou alheio (cuja

situação jurídica, derivada do executado, ou do próprio exequente,

porque compatível com o direito deste, deva subsistir), para que

reconheçam e respeitem o direito do exequente (artigo 861.º, n.º3 CPC),

havendo ainda que observar os artigos 863.º a 866.º CPC quando a

entrega tenha por objeto coisa imóvel arrendada (artigo 862.º CPC);

c. Investimento do exequente comproprietário na posse da sua quota-

parte, com notificação do administrador dos bens, se o houver, e dos

comproprietários (artigos 861.º, n.º3 e 781.º, n.º1 CPC).

Quid iuris se a coisa a entregar se encontrar penhorada em ação executiva para

pagamento de quantia certa? A apreensão não é possível. Mas, desde que o facto de

que resultou o seu direito não esteja afetado por ineficácia perante a execução para

pagamento de quantia certa, o exequente pode opor-se à penhora, se para tanto

estiver legitimado, por embargos de terceiro ou por invocação de sentença proferida

em ação de reivindicação (que constitua o seu título executivo ou, quando este for

extrajudicial, tenha vindo mais tarde a obter em ação que proponha), após o que,

levantada a penhora, a execução para entrega de coisa certa, entretanto suspensa,

poderá prosseguir. Quando porém, tenha um mero direito de crédito, só lhe resta o

recurso à ação de indemnização por incumprimento. O mesmo se aplica no caso de

arresto da coisa a apreender. Ficou dito que a notificação do possuidor, em nome

próprio ou alheio, para que reconheça e respeite o direito do exequente deve ter lugar

quando a sua posse tenha procedido do executado (ou do próprio exequente), deva

subsistir e seja compatível com o direito do exequente. Mas pode um terceiro ter a

posse da coisa a apreender por via dum título autónomo, isto é, originário ou

procedente de outro terceiro, ou ter derivado do executado uma posse incompatível

com o direito do exequente. Deverá a execução ficar suspensa, por falta de título

executivo contra o terceiro ou, no caso de ele existir, por o terceiro não ter sido

demandado na ação executiva, ou deverá a apreensão ter lugar, sem prejuízo do

direito do terceiro a fazer valer o seu direito em ação autónoma? Não sendo

extrapoláveis para outras ações de execução para entrega de coisa certa as soluções

específicas consignadas nos artigos 863.º a 866.º CPC para a execução de despejo, há

que procurar nas normas do direito substantivo a solução do conflito de situações

jurídicas que se apresente, tendo em conta que, diversamente do que acontece na

ação executiva para pagamento de quantia certa, nem o titular do direito real de

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garantia nem o titular do direito real de aquisição têm modo de satisfazer os seus

direitos no processo de execução e que o ato de apreensão não desempenha uma

função normal de garantia. Assim, o agente de execução que seja confrontado com a

oposição do terceiro possuidor no ato da apreensão, deve, em regra, suscitar a

questão perante o juiz, nos termos do artigo 723.º, n.º1, alínea d) CPC; mas, se o juiz,

ao abrigo do artigo 727.º, n.º2 CPC, tiver dispensado a citação prévia do executado,

se o direito do exequente dever manifestamente prevalecer sobre o invocado pelo

terceiro ou se se tratar de coisa suscetível de fácil sonegação, a apreensão não deve

deixar de ser feita, mediante aplicação analógica do artigo 747.º, n.º1 CPC, quando o

exequente funde a ação executiva num direito real ou numa obrigação de restituir

(por via de esbulho, nulidade, anulação ou resolução dum contrato, cessação dum

direito pessoal de gozo, etc.), mas já não quando a execução se funde em mero direito

pessoal de gozo do exequente. Suscitada a questão perante o juiz é aplicável

analogicamente o artigo 764.º, n.º3 CPC e, seja a coisa móvel ou imóvel, a apreensão

não será ordenada quando o terceiro produza prova documental inequívoca

(considerado, por seu lado, o título do exequente) de que é o proprietário da coisa,

ou titular de outro direito real que dela lhe conceda a posse, o mesmo se aplicando

quando, realizada a apreensão, a prova documental seja subsequentemente

apresentada ao juiz; não sendo inequívoca a prova apresentada e não havendo

urgência na apreensão, pode o juiz ordenar que se aguarde o decurso do prazo para

a dedução de embargos. O terceiro pode opor-se à apreensão através de embargos

de terceiro, que podem ter função preventiva (artigo 350.º CPC), ou lançar mão da

ação de reivindicação. Os embargos, se forem fundados na posse, improcederão se

neles ficar assente a propriedade do exequente ou a do executado (artigo 348.º, n.º2

CPC) ou, no caso de esbulho, a sua melhor posse (artigo 1278.º, n.º2 e 3 CC); mas,

sendo procedentes, a execução extingue-se, sem prejuízo da possibilidade da sua

conversão e execução para pagamento de quantia certa. Fundando-se a execução em

mero direito pessoal de gozo do exequente, a apreensão só se manterá se o possuidor

tiver derivado a sua situação jurídica do executado por causa sobre a qual deva

prevalecer o direito do exequente. De qualquer modo, a prevalência do interesse do

exequente ou do do terceiro resulta dos regimes de Direito substantivo aplicáveis.

Conversão da execução: quando não é encontrada a coisa a cuja entrega o exequente tem

direito, máxime quando ela já não exista, tem lugar a conversão da ação executiva. Liquidada

a indemnização devida pelo incumprimento (correspondente ao valor da coisa e à reparação

de quaisquer outros danos), seguem-se a penhora e os demais termos da ação executiva para

pagamento de quantia certa (artigo 867.º CPC). Nela, só por fundamento superveniente (nos

termos do artigo 728.º, n.º2 CPC) pode ter lugar oposição do executado. Mas não só quando

a coisa não é encontrada se dá a conversão da execução. A esse é de assimilar o caso em que

sobre a coisa incida direito de terceiro que, prevalecendo sobre o do exequente e com ele

sendo incompatível, impeça o investimento material ou jurídico na posse. Quer num quer

noutro caso, o exequente, mesmo sabendo já que a execução específica se malogrará, deve

instaurar a ação executiva para entrega de coisa certa e só na sua pendência poderá requerer

a ulterior conversão.

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X – O processo de execução comum para prestação de facto

Delimitação: a ação executiva para prestação de facto tem lugar sempre que o objeto da

obrigação, tal como o título o configura, é uma prestação de facto, seja este de natureza

positiva (obrigação de facere) ou negativa (obrigação de non facere). Mais uma vez, é ao título

executivo que há que recorrer, em obediência à norma do artigo 10.º, n.º5 CPC, para

determinar o tipo da ação executiva, ainda que o exequente venha a obter, pela execução, em

vez da prestação de facto que lhe é devida, um seu equivalente pecuniário – ou porque, sendo

o facto infungível, não é possível obter de terceiros a sua prestação, ou porque, tratando-se

embora de facto fungível, o exequente vem, perante o incumprimento e nos termos da lei

civil, a optar pela resolução do contrato e pela indemnização por perdas e danos. Claro que

o direito à indemnização pecuniária, quando o exequente possa por ela optar, pode ser

exercido, não em execução para prestação de facto, mas em ação declarativa em que se peça

a condenação do réu na indemnização pretendida; e então, uma vez obtida sentença a seu

favor, o credor lançará mão de ação executiva para pagamento de quantia certa. Mas, sempre

que o título configure uma prestação de facto, e sem prejuízo da norma do artigo 710.º CPC

sobre a cumulação de pedidos baseados numa única sentença, é à correspondente execução

que há que recorrer. Por outro lado, a distinção entre a execução para entrega da coisa certa

e a execução para prestação de facto nem sempre é fácil de fazer e determinar figuras situam-

se na fronteira entre as duas espécies de prestação. É o que acontece nos casos em que o

devedor está obrigado a entregar uma coisa após a sua criação ou montagem ou após

determinadas alterações, ou obrigado a prestar um facto e ao mesmo tempo a entregar certas

coisas acessórias. As dificuldades do primeiro tipo de situação são bem ilustradas pelas

divergências doutrinárias a que dá lugar a distinção entre a empreitada e a compra e venda

de coisa futura, a fabricar pelo vendedor. Nos outros dois tipos de situação, em que há uma

prestação principal e uma prestação acessória de diferente natureza, têm, em regra, de ser

movidas duas ações executivas para a realização duma e de outra (artigo 709.º, n.º1, alínea b)

CPC); mas quando, movida execução pela prestação principal, haja lugar à indemnização por

equivalente pecuniário de ambas as prestações, a liquidação da indemnização pelo

incumprimento da prestação acessória deve ser feita juntamente com a liquidação da

indemnização pelo incumprimento da prestação principal, no âmbito da conversão da

execução interposta. Por outro lado, a apreensão duma coisa acessória, isto é, destinada a

servir a finalidade de cumprimento duma obrigação de prestação de facto, pode ter lugar na

ação executiva para prestação do facto.

Prestação de facto com prazo certo:

1. Direitos do credor perante o incumprimento: na interpretação do artigo 868.º,

n.º1 CPC, é inequívoco que, quando a obrigação é de prestação de facto infungível,

isto é, insubstituível por uma prestação de terceiro por lhe ser essencial a pessoa do

devedor, o credor não pode senão executar o seu direito à indemnização, a menos

que, não sendo a infungibilidade natural, a ela renuncie, pedindo a prestação por

terceiro do facto que tenha sido objeto do contrato. Quanto à prestação de facto

fungível, o artigo 868.º, n.º1 CPC consagra, aparentemente, a possibilidade de o

credor optar entre a execução específica (por outrem) e a indemnização

compensatória. Esta possibilidade de opção, que o artigo 828.º CC não contraria, é

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admitida pela doutrina dominante, mas negada por Castro Mendes, para quem o

credor, em paralelo com o que acontece na execução para entrega de coisa certa, não

pode optar pela indemnização enquanto a prestação por outrem for possível, uma

vez que esta terá para ele o mesmo resultado que a prestação pelo devedor e o artigo

566.º, n.º1 CC estabelece como princípio geral que a indemnização pecuniária só é

admissível quando a reconstituição natural não seja possível. Recordemos o regime

geral do incumprimento das obrigações. Atrasando-se o devedor na realização da

prestação, mas sendo esta ainda possível, ocorre a situação de mora do devedor

(artigo 804.º, n.º2 CC), pela qual este é constituído na obrigação de reparar os danos

causados ao credor em consequência do atraso (artigo 804.º, nº1 e 806.º, n.º1 CC),

sem prejuízo de permanecer obrigado a efetuar a prestação, com o correspondente

direito do credor de exigir judicialmente o cumprimento (artigo 817.º CC). Mas, se,

em consequência da mora, o credor perder o interesse objetivo que tinha na prestação

ou se esta não for realizada dentro do prazo que razoavelmente for fixado (artigo

808.º CC), tal como quando a prestação se torne impossível por causa imputável ao

devedor (artigo 808.º, n.º1 CC), a simples mora cede lugar ao incumprimento da

obrigação e, então, o credor tem direito, em lugar da prestação, a uma indemnização

compensatória. Ora, de acordo com este esquema de soluções, uma vez não prestado

certo facto pelo devedor, na data do vencimento, o credor fica com direito à

indemnização moratória, mantendo o de exigir a prestação que lhe é devida: a simples

mora do devedor não lhe confere o direito de, desde logo, pedir a indemnização

compensatória. Mas, quando, citado para uma ação que pode revestir natureza

executiva, o réu não realize a prestação, na impossibilidade legal de o forçar

fisicamente a fazê-lo, a obrigação deve ter-se por definitivamente incumprida e só no

plano da indemnização é que o credor poderá fazer valer o seu direito contra o

devedor. Ora, quer tenha lugar a realização do facto por terceiro, quer o simples

recebimento, pelo credor, duma indemnização compensatória, isto traduz-se sempre,

para o devedor, no pagamento duma indemnização fixada em dinheiro: a execução

para prestação de facto positivo fungível visa menos a execução específica da

obrigação, no sentido comum do termo, do que garantir ao credor a prestação do

facto por outrem sem contestação do seu custo e sem se expor a ter de suportar o

excesso sobre esse custo. A ser assim, quando a prestação de facto fungível não é

efetuada, das duas uma:

a. Ou é ainda possível a prestação por terceiro e a indemnização

compensatória a suportar pelo devedor deve ser calculada em função

do custo atual da prestação do facto por terceiro: o devedor pagará o que

ao credor for necessário para que fique em situação idêntica àquela em que

estaria se a obrigação tivesse sido cumprida;

b. Ou a prestação por terceiro já não é possível e a indemnização

compensatória deve ser calculada em função do incumprimento: o

devedor compensará o credor dos danos sofridos por ter ficado sem a

prestação a que tinha direito.

No primeiro caso, é indiferente ao devedor que ao credor, recebida a indemnização

devida, recorra ou não à prestação por terceiro. Mas, se o credor pretender

efetivamente a prestação do facto por terceiro, poderá o seu custo efetivo ser

controlado pelo tribunal e não correrá o risco de, recebida a indemnização, vir a

pagar mais do que aquilo que recebeu. Tendo o credor a faculdade de optar, atende-

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se ao seu interesse, sem sacrifício de qualquer interesse atendível do devedor. Este

regime não difere, afinal, do que vigora para o incumprimento da obrigação de

prestação da coisa. Ainda que esta seja fungível, a execução para prestação de coisa

certa converte-se em execução para pagamento de quantia certa logo que as buscas

no património do devedor se revelem infrutíferas, sem que, no processo, se proceda

a compra de coisa idêntica a terceiro. A reforma da ação executiva veio esclarecer

que a sanção pecuniária compulsória pode ser fixada na ação executiva para prestação

de facto (artigo 868.º, n.º1, e também 876.º, n.º1, alínea c) CPC). Enquanto na

obrigação pecuniária ela é automática e por isso não precisa de ser requerida ao

tribunal nem fixada pelo juiz, na obrigação de prestação de facto infungível a fixação

da sanção pode ter lugar na ação declarativa ou na ação executiva. A questão era

controvertida antes da reforma. A redação dada pelo Decreto-Lei n.º 329-A/95, ao

então artigo 933.º, n.º1 CPC, bem como ao então artigo 941.º, n.º1 CPC era ambígua

e, conjugada com o artigo 829.º-A, n.º1 CC, permitia entender que só na ação

declarativa era possível a fixação da sanção pecuniária compulsória. No entanto, a

consideração de que, embora não seja uma medida executiva, a sanção pecuniária

compulsória visa a obtenção de resultados semelhantes, para o credor, aos que a

execução específica da prestação de facto fungível, por outrem proporciona, leva a

concluir que é útil que ela possa ser fixada posteriormente à sentença de condenação

(máxime quando, à data desta, é de esperar que o devedor condenado cumpra

voluntariamente, por isso não se tendo procedido então à sua fixação), desde que se

aceite que, depois de citado, o devedor pode ainda cumprir e tida em conta a

preferência da lei pela execução específica. Esta foi a interpretação que o Decreto-

Lei n.º 38/2003 clarificou. Se a sanção pecuniária compulsória tiver sido fixada na

ação declarativa e o exequente, na petição inicial, requerer o seu pagamento, o juiz

da execução não terá de se pronunciar, cabendo ao agente de execução liquidar, a

final, o seu montante (artigo 716.º, n.º3 CPC). Havendo que a fixar na execução, o

processo vai concluso ao juiz, a fim de que ele a fixe antes da citação do devedor,

cabendo, de qualquer modo, ao agente de execução, no final, fazer a respetiva

liquidação, se o incumprimento persistir.

2. Posição do devedor em face da execução: apresentado o requerimento inicial e

proferido despacho liminar de citação, quando deva ter lugar, é o devedor citado para,

em 20 dias, deduzir oposição à execução, na qual pode provar por qualquer meio o

cumprimento posterior da obrigação, ainda que a execução se funde em sentença

(artigo 868.º, n.º2 CPC). Por outro lado, se o credor pretender a prestação do facto

por outrem, o executado pode embargar com fundamento na ilegalidade do pedido,

isto é, em infungibilidade do facto que decorra da sua natureza ou tenha sido

estabelecida em benefício do devedor (artigo 875.º, n.º2 CPC). Discute-se se o

devedor, uma vez citado, pode ainda realizar voluntariamente a prestação. Se o credor

tiver optado pela prestação do facto por outrem, não se vislumbra razão

suficientemente forte para impedir o executado de cumprir, prestando o facto, se a

prestação puder ter lugar dentro dos 20 dias concedidos para a oposição ou se,

exigindo prazo superior, a prestação tiver início dentro desse prazo e o juiz, ouvidas

as partes, se convencer de que o executado irá com ela prosseguir, ordenando então

a suspensão da instância; mas, neste caso, se porventura o devedor suspender a

prestação ou demorar desrazoavelmente a sua realização, a suspensão do processo

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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deve imediatamente cessar. Se o exequente tiver optado pela indemnização

compensatória, mas a prestação do facto for ainda possível, deve, a meu ver, admitir-

se ainda o cumprimento pelo devedor, dada a preferência da lei pela execução

específica (aqui, no sentido rigoroso do termo) e o disposto no artigo 846.º CPC

(extinção da execução pelo pagamento voluntário), desde que o contrato em que a

prestação se funda não tenha sido já resolvido; mas, ainda assim, não me parece que

possa ter lugar, sem anuência do exequente, a suspensão da execução, cabendo ao

executado o ónus de deduzir oposição superveniente, quando a prestação terminar,

e o eventual dever de indemnizar se a prestação por terceiro já então tiver sido

iniciada.

3. Termos posteriores quando seja pedida a prestação do facto por outrem: findo

o prazo para a oposição (ou julgada ela improcedente, quando suspenda a execução),

o exequente requer a nomeação de perito que avalie o custo da prestação (artigo 870.º,

n.º1 CPC) e, feita a avaliação, procede-se à penhora dos bens do executado

necessários ao custeamento da prestação e ao pagamento das custas, seguindo-se a

tramitação do processo de execução para pagamento de quantia certa (artigo 870.º,

n.º2 CPC). A realização da prestação tem lugar extrajudicialmente, podendo ser feita

pelo próprio exequente, ou por terceiro por ele contratado, fiscalizado e pago (artigo

871.º, n.º1 CPC), caso em que, concluída a prestação, o exequente presta contas do

seu custo, que o executado pode contestar no prazo de 30 dias (artigos 871.º, n.º3 e

946.º, n.º1 CPC), seguindo-se os demais termos do processo de prestação de contas

(artigos 944.º, 945.º e 946.º, n.º2 CPC), que corre por apenso à execução (artigo 947.º

CPC, por analogia). Aprovadas as contas pelo agente de execução, o crédito que delas

resultar para o exequente (e que poderá ser superior ou inferior ao montante da

avaliação efetuada pelos peritos) é pago pelo produto obtido na execução de

custeamento (artigo 872.º, n.º1 CPC); se ele não chegar, proceder-se-á à penhora e

venda de novos bens, até que o exequente seja integralmente pago (artigo 872.º, n.º2

CPC). Saliente-se ainda que, não sendo obtida do executado a importância estimada

como custo da obriga, o exequente pode, a todo tempo, desistir da prestação do facto

e pedir indemnização compensatória, levantando, a seu requerimento, a quantia

porventura apurada na execução; mas, se já estiver iniciada a prestação do facto, cessa

a possibilidade de o exequente optar pela indemnização compensatória, tendo-se a

escolha por definitiva (artigo 873.º CPC). Se o credor pretender exigir o pagamento

da indemnização moratória, deverá fazê-lo quando opte pela execução do facto por

outrem (artigo 868.º, n.º1 CPC), liquidando-a juntamente com a prestação de contas

(artigo 871.º, n.º2 CPC). Esta cumulação de pedidos correspondentes a dois tipos

diversos de execução, já defendida antes de o Decreto-Lei n.º 226/2008

expressamente a consagrar, junta-se a outras já antes admitidas no âmbito da ação

executiva para prestação de facto e permite questionar a razão de ser da regra

(contrária) do artigo 709.º, n.º1, alínea b) CPC. A aprovação das contas tem lugar por

despacho judicial (artigo 872.º, n.º1 CPC).

4. A conversão da execução: se, seja o facto infungível ou fungível, o exequente pedir

a indemnização compensatória da falta de cumprimento da prestação devida, findo

o prazo para a oposição, ou julgada esta improcedente quando suspensa a execução,

dá-se a conversão da execução para prestação de facto em execução para pagamento

de quantia certa, que se processa nos mesmos termos da execução para entrega de

coisa certa convertida (artigo 869º CPC), isto é, inicia-se com o incidente de

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liquidação, a que se segue a penhora e os demais termos do processo de execução

para pagamento de quantia certa. Tal como no caso de conversão da execução para

entrega de coisa certa, o pedido de indemnização moratória é cumulável com o de

indemnização compensatória: o artigo 867.º CPC, para o qual o artigo 869.º CPC

remete, permite ao exequente, no mesmo processo, fazer liquidar o seu valor [da

coisa; da prestação de facto] e o prejuízo resultante da entrega.

Prestação de facto sem prazo certo: podendo o facto a prestar ser de execução

duradoura, compete ao tribunal fixar o prazo para a sua prestação, no caso de as partes nele

não terem acordado (artigo 777.º, n.º2 CC). O exequente indica no requerimento inicial o

prazo que reputa suficiente e o executado é citado para, em 20 dias, dizer o que se lhe oferecer

(artigo 874.º, n.º1 CPC). Uma vez que a execução se tem por instaurada, conta a partir da

citação o prazo para oposição à execução, na qual, se for deduzida, o executado deve dizer o

que se lhe oferecer sobre o prazo indicado pelo exequente (artigo 874.º, n.º2 CPC). O juiz

fixa o prazo, depois de terem lugar as diligências que entender ordenar (artigo 875.º, n.º1

CPC). Se o executado prestar o facto dentro do prazo fixado, extingue-se a execução; se não

o prestar, seguem-se os termos da execução para a prestação de facto com prazo certo, numa

das suas duas modalidades, substituindo-se a citação do devedor por notificação e apenas se

admitindo oposição com fundamento na ilegalidade do pedido de prestação por outrem ou

em facto posterior à citação inicial (artigo 875.º, n.º2 CPC). Saliente-se que pode haver lugar

á fixação judicial de prazo nos termos do artigo 874.º CPC quando, embora tenha sido

estipulado prazo para o início da prestação, não tenha sido fixado o período de tempo em

que ela deve ser realizada.

Violação de obrigação negativa:

1. Direitos do credor perante o incumprimento: fala-se de execução para prestação

de facto negativo para qualificar a ação executiva em que, em face da violação

(necessariamente positiva) duma obrigação de não fazer, o credor requer as

providências adequadas à reparação do dano. O objeto da execução não é, no entanto,

um facto negativo, mas sim o facto positivo da reparação, embora esta possa (e deva,

sempre que possível) consistir na reconstituição natural da situação anterior à

violação. Trata-se, pois, duma execução para prestação de facto positivo, embora

baseada na violação duma obrigação negativa, no sentido lato que o termo obrigação

tem na ação executiva e, portanto, mesmo quando na sua base esteja um direito

absoluto. Perante a violação, se esta consistir numa obra, resulta dos artigos 566.º e

829.º CC que o credor não pode optar entre a reconstituição natural e a indemnização

compensatória, podendo tão-só exigir a primeira, isto é, a destruição ou demolição

da obra à custa do devedor, a menos que o prejuízo resultante da demolição seja

muito superior ao derivado da execução da obra, caso em que só terá direito a

indemnização. Mas ao credor resta sempre a possibilidade de, simultaneamente com

a demolição, exigir uma indemnização complementar pelo prejuízo sofrido,

indemnização esta que é pedida e liquidada na própria ação executiva pela qual tem

lugar a demolição (artigo 876.º, n.º1 e 877.º, n.º1 CPC). Se não houver obra feita, o

exequente terá apenas direito à indemnização compensatória. O pedido de

pagamento da quantia devida a título de sanção pecuniária compulsória pode ser

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Lebre de Freitas |Direito Processual Civil III | Direito Executivo

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formulado, quer ela já tenha sido fixada na ação declarativa, quer se pretenda agora a

sua fixação (artigo 876.º, n.º1 CPC).

2. A verificação da violação: uma vez que o ato ilícito do executado tem sempre, neste

tipo de obrigações, natureza positiva, a sua prova tem sempre de ser efetuada, por

aplicação analógica do artigo 715.º CPC, na fase liminar da execução. De particular

há, porém, que, quando a violação consista numa outra, esta deve ser verificada

através de perícia, que ao autor cabe requerer (artigo 876.º, n.º1 CPC). Verificada a

violação, o perito avalia logo o custo da demolição (artigo 876.º, n.º3 CPC). Se não

houver obra feita e a violação não tiver deixado quaisquer vestígios materiais, a prova

do ato ilícito do executado terá de ser feita por outros meios, inclusivamente pelo

depoimento de testemunhas. Claro que, se a verificação da violação tiver sido feita

em ação declarativa prévia, não há que repetir na ação executiva, a qual será proposta

em conformidade com o decidido na sentença exequenda.

3. Posição do executado face à execução: citado para a ação executiva, o executado,

além de intervir na fase liminar de verificação da violação, pode:

a. Proceder à demolição da obra, se obra houver, reparando assim

voluntariamente o dano;

b. Opor-se à execução: quanto a esta, pode ter por fundamento, quando haja

obra feita, o facto de a sua demolição representar para o executado um

prejuízo consideravelmente superior ao sofrido pelo exequente (artigo 876.º,

n.º2 CPC), caso em que a execução é suspensa logo após a realização da

perícia, independentemente de caução (artigo 876.º, n.º4 CPC).

4. Termos posteriores: reconhecida a falta de cumprimento da obrigação o juiz ordena

a demolição da obra, se a houver, à custa do executado, e fixa a indemnização devida

ao exequente (ou apenas fixa esta, se não houver demolição), seguindo-se, conforme

os casos, os demais termos da ação executiva para prestação de facto com prazo certo,

ou a sua conversão em ação executiva para pagamento de quantia certa (artigo 877.º,

n.º2, que remete para os artigos 869.º a 873.º, todos CPC). Quando a obrigação

violada for uma obrigação de pati, isto é, de tolerar certas obras ou factos a realizar

pelo credor, entende Anselmo de Castro que pode haver lugar a atos de assistência

judicial à realização da obra, a fim de impedir a continuação da violação pelo

executado. Não obstante o silêncio da lei, a solução impõe-se, em integração da

lacuna.

Z – Processos executivos especiais

Execução por alimentos: pode ter por base um documento autêntico ou particular que

contenha a sua fixação por acordo das partes (artigo 2006.º CC) ou uma decisão judicial, quer

proferida no procedimento cautelar de alimentos provisórios (artigos 384.º a 378.º CPC),

quer em processo comum de alimentos definitivos. Aplicam-se-lhe as normas reguladoras

do processo comum para pagamento de quantia certa, com especialidades que têm em conta

a especial natureza da obrigação em causa:

1. O exequente pode requerer a adjudicação de parte dos vencimentos, pensões ou

outras prestações periódicas que o executado receba, ou a consignação de

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rendimentos dos seus bens, para pagamento das prestações vencidas e vincendas de

alimentos, o que tem lugar sem precedência de penhora (artigo 933.º, n.º1, 2 e 3

CPC)M

2. Não há citação prévia (artigo 933.º, n.º5 CPC);

3. A oposição à execução ou à penhora não suspende a execução (artigo 933.º, n.º5

CPC).

Outra especialidade consiste no enxerto, no processo executivo pendente, da ação declarativa

de cessação ou alteração dos alimentos, provisórios ou definitivos (artigo 936.º, nº.1 e 2 CPC).

Não sendo estipulado prazo para a propositura desta ação, é de entender que pode ter lugar

a todo o tempo, sem efeito suspensivo da execução.

Investidura em cargos sociais: a pessoa eleita ou nomeada para um cargo social que for

impedida de o exercer pode requerer a investidura judicial (artigo 1070.º, n.º1 CPC). Após

contraditório (artigo 1070.º, n.º2 e 3 CPC), se o juiz ordenar a investidura, abre-se a fase

executiva do processo. A investidura é feita por funcionário judicial, que faz a entrega ao

requerente de todas as coisas de que deva ter a posse, após as diligências executivas, incluindo

arrombamento, que para o efeito forem necessárias (artigo 1070.º, n.º1 CPC). São

seguidamente notificados os requeridos de que não deverão impedir ou perturbar o exercício

do cargo (artigo 1071.º, n.º2 CPC).

Execução por custas e execução de despejo: não constitui hoje processo executivo

especial a execução por custas. Quanto à execução de despejo, é enquadrada no processo

comum destinado à entrega da coisa certa. A ambas, porém, se seguem algumas referências.

Ao abrigo da legislação revogada pelo Decreto-Lei n.º 224-A/96, 26 novembro, a execução

por custas tinha lugar, em certos casos, em processo especial. Desde então, o processo de

execução por custas segue os termos do processo comum, ainda que com a dispensa da

citação de credores, quando os bens penhorados sejam insuficientes para o pagamento das

custas e o executado não disponha de outros bens penhoráveis (artigo 35.º, n.º5 Regulamento

de Custas), e com observância do disposto no artigo 36.º RegCustas sobre a cumulação de

execuções. Nela não intervém agente de execução, cabendo a realização das diligências do

processo de execução a um oficial de justiça (artigo 722.º, n.º1, alínea a) CPC). A ação de

despejo foi, até à Lei n.º 49/90, 10 agosto, que aprovou o Regime do Arrendamento Urbano,

um processo especial de natureza mista, iniciado com uma fase declarativa e seguindo, se

necessário, por uma fase executiva. Revogadas as disposições do Código que regulavam a

ação de despejo, esta, quando respeitante a prédio urbano, conservou a natureza mista, mas

passou, na sua fase declarativa, a ser um processo comum (artigo 56.º, n.º1 RAU), em que,

proferida a sentença, se podia enxertar a fase executiva, que continuou a revestir a natureza

de processo especial de execução para entrega de coisa certa, que se processava mediante um

mandado emitido para o efeito (artigo 59.º, n.º1 RAU). Com o NRAU, a ação executiva de

despajo autonomizou-se da ação declarativa, constituindo título executivo alguns dos

indicados no artigo 15.º NRAU. Embora se afirme como processo comum, o processo

executivo para entrega de coisa imóvel arrendada está sujeito às regras específicas dos artigos

863.º a 866.º CPC. A execução tem lugar em face de toda e qualquer pessoa que esteja na

detenção do prédio, e não apenas perante o arrendatário, a não ser que o detentor exiba título

de subarrendamento ou cessão do direito ao arrendamento que perante ele seja eficaz (artigo

863.º, n.º2 CPC). Nestes casos excecionais, a execução do mandado é suspensa, mas incumbe

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ao detentor o ónus de pedir a confirmação da suspensão, no prazo de 10 dias, após o que o

juiz decide sumariamente se ela deve ser mantida ou não (artigo 863.º, n.º4 e 5 CPC). Se o

detentor não tiver título de arrendamento ou de sublocação naquelas condições, só poderá

valer-se do meio de oposição por embargo de terceiro, se para ele tiver fundamento. Era

ponto controvertido o de saber se, após a entrega, o arrendatário executado devia ser

notificado e podia, nos termos gerais, opor-se à execução, após a notificação. Com o NRAU,

ficou claro o direito de arrendatário a opor-se, determinando-se que, quando a execução se

fundasse em título executivo extrajudicial, oposição suspendia sempre a execução. Mas a

norma que assim dispunha (artigo 930.º-B, nº.1, alínea a) CPC revogado) não se manteve no

novo Código (artigo 863.º, n.º1 CPC), que assim deixou de determinar a suspensão da

execução, mas sem que o executado tenha deixado de se poder opor à execução, de acordo

com a norma geral do artigo 859.º CPC.