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Direito Processual Civil - Intensivo I - 2015
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7/21/2019 Direito Processual Civil - Intensivo I - 2015
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INTENSIVO I – 2015
PROCESSO CIVIL
Linhas gerais do Novo Código de Processo Civil
Questionamentos iniciais
Considerando que o CPC/73 possui diversos problemas, o primeiroquestionamento a ser feito seria sobre quais as propostas iniciais de soluções. Nesse
sentido, algumas dessas soluções foram pensadas pela comissão de elaboração do
novo CPC e devem ser destacadas:
a) O novo CPC precisaria ser mais simples;
b) O novo Código precisaria ter regras que fizessem que ele não fosse o
centro das atenções dos juízes, como muitas vezes ocorre. Considerando que o
Código trata de processo civil e, por consequência, essa matéria trata de um
conjunto de regras que se consubstanciam em um método de resolução de conflitos,seria um contrassenso pensar que o método deve ser complexo. O método deve ser
simples visto que, por definição, ele é um caminho facilitador;
c) O novo CPC deveria ser mais coeso haja vista que o CPC/73 passou por
diversas reformas autônomas (leis que foram editadas em momentos distintos) e
isso comprometeu a sua coesão e sua sistemática;
d) Pensou-se em deixar claro para o operador do Direito que o CPC é um
diploma legislativo que está inserido em um sistema normativo mais amplo e que no
topo desse sistema está a CRFB/88. Essa é a leitura mais constitucionalizada do
processo civil. Assim, pensou-se em abordar no novo CPC com a subordinação do
processo civil a CRFB/88, para alguns determinados casos;
e) Criação de institutos e estímulos para que houvesse mais respeito a
jurisprudência dos Tribunais Superiores.
Esse é um problema que aflige todos os brasileiros e toda América Latina
(com exceção do Chile e Costa Rica), considerando as recentes pesquisas sobre esse
ponto.
Vale dizer que para que haja esse respeito, os próprios Tribunais
Superiores devem entender que precisam construir uma jurisprudência mais sólida e
menos oscilante a fim de estimular a confiança dos juízes e operadores do Direito
sobre as suas decisões.
No decorrer da construção do novo CPC, houve "dois códigos": o projeto
inicial elaborado pela comissão organizadora e outro, após sua passagem pela
Câmara dos
Deputados. No entanto, quatro das inovações propostas pela comissão
inicial do Senado Federal foram respeitadas e aprimoradas pela Câmara. Essasinovações são as seguintes:
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PROCESSO CIVIL
Tolerância maior do legislador no que diz respeito as nulidades. No
novo CPC, todos os vícios, por mais graves que sejam, podem ser sanados, com a
ressalva da diferença ainda existente entre nulidades absolutas e relativas;
Criação de institutos para que o processo tivesse o condão de resolver
definitivamente a controvérsia. O Processo Civil atual é um processo que permite
que as ações judiciais / os processos gerem “frutos” e não cheguem à solução final
do Judiciário;
Criação do incidente de demandas repetitivas;
Reforço na autoridade da jurisprudência consolidada.
Passado esse estudo, vale frisar que dois desses primeiros objetivoscomuns, acima expostos (questionamentos iniciais), não foram perseguidos pela
comissão da Câmara dos Deputados.
A Câmara, em sua alteração, não observou o objetivo de tornar o novo
CPC um Código mais simples e mais coeso. O novo CPC está atualmente muito
minucioso, mas se deve destacar que na sua última fase resolveu problemas
pontuais que existiam no CPC/73.
Diante disso, pode-se fazer a seguinte reflexão: quando há lacunas na lei, o
consenso é muito mais fácil de ser obtido em comparação as interpretações
existentes sobre o texto da mesma lei.
Exemplo: ação judicial de alimentos da esposa contra o ex-marido em
busca de alimentos para os dois filhos do casal. O juiz arbitrará o valor de 1/3 do
salário do réu a título de pensão alimentícia, apesar de isso não estar positivado em
lugar algum e de haver um consenso sobre esse ponto.
Tolerância maior às nulidades e aos vícios em geral
Neste ponto, não foi ignorada a diferença entre os vícios mais e menos
graves. Objetivou-se tratar esse tema de uma maneira diferente em relação ao
Direito Civil e Direito Privado.
No Direito Privado, há as nulidades absolutas e elas são sinônimos de
nulidades insanáveis enquanto as nulidades relativas são consideradas sinônimos de
nulidades sanáveis.
No entanto, isso não existe nem no Direito Público nem no Direito
Processual haja vista que nessas matérias todas as nulidades são sanáveis. Justifica-
se: as situaçõespresentes no Direito Público e Processual são custeadas com o
direito público e, assim, deve-se observar o princípio do aproveitamento e dafungibilidade.
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PROCESSO CIVIL
Nesse sentido, deve-se observar que o regime jurídico dos vícios mais e
menos graves é mantido no novo CPC. Os mais graves são aqueles que podem ser
reconhecidos de ofício pelo juiz e não são acobertados pela preclusão com a ressalva
que o novo CPC impõe a obrigatoriedade da oitiva das partes antes da decretação dovício.
Exemplo: falta de citação é um vício grave já presente no CPC/73 e pode
ser sanado com o comparecimento espontâneo do réu.
Nessa linha de raciocínio, há no novo CPC a previsão de correção da
representação no recurso. O novo Código dispõe que quando houver problemas na
representação da parte ou do procurador, isso pode ser feito em qualquer fase do
processo, inclusive na fase recursal. Sobre o tema, já há doutrina que entende que
essa correção de representação também ser aplicada aos Tribunais Superiores emobservância ao princípio da instrumentalidade das formas.
Em continuação ao assunto, há um artigo genérico no novo CPC o qual
dispõe que se houver algum elemento ou óbice a admissibilidade de um Recurso
Especial ou Recurso Extraordinário que possa não ser considerado sério, esse
elemento poderá ser afastado e relevado para que haja o julgamento do recurso ou
para que haja a determinação do relator de correção desse óbice. Esse dispositivo
tem como finalidade “desmanchar” as armadilhas processuais que se
consubstanciam na jurisprudência defensiva.
Exemplo: a guia do preparo que mal preenchida não será mais um caso de
inadmissibilidade do recurso. Se há dúvida se o preparo foi recolhido corretamente
ou não, o relator deve solicitar que isso seja comprovado de forma mais eficiente.
Institutos para resolução definitiva da controvérsia
O Processo Civil atual é um processo que permite que as ações judiciais/os
processos gerem “frutos” e não cheguem a solução final do Judiciário, mas isso foi
alterado no novo CPC.
O primeiro ponto a se destacar foi a alteração do âmbito de abrangência
objetiva da coisa julgada, ou seja, alteração do que na decisão judicial passa a ser
indiscutível.
No Direito Processual Civil Brasileiro, tem-se a regra no sentido de que a
parte da sentença que fica acobertada pela coisa julgada é a parte decisória da
sentença. O novo CPC já trata o assunto de forma diversa, ou seja, dispõe que a
autoridade da coisa julgada sob oviés objetivo também é extensível as questões
prejudiciais (causa de pedir e pedido serão analisadas com a mesma qualidade de
cognição).
Observação: lembra-se que as questões prejudiciais são aquelas que são
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PROCESSO CIVIL
prévias emrelação ao mérito. No entanto, essas questões prejudiciais, apesar de
prévias influirão no julgamento do mérito.
Exemplo: primeiro discute-se se o individuo é filho do de cujus para depois
saber se ele tem ou não direito à herança ou como será decidida a partilha de bens.
Em continuação ao assunto, cita-se que foi previsto pelo novo CPC a
possibilidade de remessa de um recurso de um Tribunal Superior para outro Tribunal
Superior quando a questão do recurso tiver natureza constitucional ou
infraconstitucional. Isso era pauta de discussão no CPC/73 quando havia conflito de
competência entre os Tribunais Superiores (ambos julgam ou nenhum deles quer
julgar).
Exemplo: no novo CPC, haverá a previsão que quando um recurso for
interposto perante o STF e esse Tribunal verificar que a questão discutida noprocesso não é de natureza constitucional, mas sim infraconstitucional, haverá a
remessa do recurso ao STJ. O entendimento contrário também se aplicará (STJ
remessa parte para incluir repercussão geral, caso queira remessa ao STF).
Ainda dentro do julgamento de recursos nos Tribunais Superiores, há a
previsão no novo CPC tratando da seguinte hipótese: possibilidade do julgamento de
outra causa de pedir ou outro fundamento da defesa que não foi objeto de recurso.
Essa regra tem como objetivo resolver a seguinte situação: impetra-se Mandado de
Segurança alegando-se que há o pagamento do tributo não é devido considerando
(i) sua inconstitucionalidade, (i) a alíquota aplicada está errada e (iii) que já houve
prescrição. Nesse sentido em 1ª instância decide-se que a cobrança do tributo é
inconstitucional. Em 2ª instância decide-se no mesmo sentido. O Fisco recorre para o
STF e tal Tribunal Superior tem o entendimento que a cobrança do tributo é
constitucional. No entanto, isso não é suficiente para determinar o pagamento do
tributo haja vista as duas outras causas de pedir, ou seja, (i) a alíquota aplicada está
errada e (ii) que já houve prescrição. Com o novo CPC, o próprio STF nesse caso
poderá remeter o processo para o STJ julgar essas outras causas de pedir haja vista
que não são de competência do STF.
Constitucionalização do Processo Civil
Aspectos gerais
O legislador quis deixar muito claro no novo CPC que ele tinha que ser lido
e aplicado à luz da CRFB/88. Isso influi nos métodos interpretativos, no teor de
alguns dispositivos e na finalidade de alguns institutos.
Contraditório
O primeiro instituto que merece destaque é do contraditório. Nesse
sentido, o novo CPC traz uma novidade: a proibição da chamada decisão de terceiravia, ou seja, uma decisão “surpresa” sobre questões que o juiz, em regra, pode
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PROCESSO CIVIL
decidir de ofício.
Essa novidade já tinha um destaque pela doutrina e isso já estava presente
também no Direito Italiano. O novo CPC, no entanto, dispõe que será obrigatória a
oitiva das partes antes da prolação de decisões, mesmo que essas tenham comoconteúdo matérias que podiam ser decididas de ofício. Essa obrigatoriedade tem
justamente como finalidade proibir que essas chamadas decisões de terceira via ou
“decisões surpresa” sejam proferidas.
E não é só. Mesmo que a matéria trate de ordem pública, o contraditório
deve ser observado antes da prolação de uma decisão. Nesse caso, se o juiz detectar
uma matéria de ordem pública ou uma das partes alegar essa matéria, o juiz deve
ouvir a outra parte antes de proferir sua decisão.
Observação: esse contraditório em relação às matérias de ordem pública já estápresente no CPC/73. Há um atual dispositivo no CPC/73 que dispõe que
quando o réu alega nas preliminares de contestação temas como litispendência,
coisa julgada, falta das condições da ação, isso impede o juiz de julgar diretamente o
mérito. Além disso, a presença dessas questões na contestação, atualmente o
CPC/73 obriga o juiz a dar oportunidade da parte autora novamente se manifestar
nos autos. Com a manifestação da parte autora, ai sim o juiz poderá decidir se
extinguirá ou não o feito, acolhendo ou rejeitando essas questões preliminares.
Vale dizer que há algumas exceções para a prolação de decisões
“surpresa”, como, por exemplo, em caso de medidas urgentes. No entanto, isso foi
abordado com exceção no novo CPC haja vista que a regra a ser seguida é da
observância do contraditório antes da prolação de qualquer decisão judicial.
Sobre este ponto, interessante é a discussão de reconhecimento de
matéria de ordem pública em fase recursal quando esse tema não tenha sido
discutido pelas partes em 1º grau. Nesse sentido, o novo CPC traz um artigo
inovador que trata dos poderes do relatorcom o seguinte conteúdo: se o relator
perceber que o recurso possui matérias de ordem pública em sua discussão e que
elas não foram discutidas anteriormente, isso poderá ser conhecido pelo relator. No
entanto, mesmo que essas matérias possam ser reconhecidas pelo relator, deve-se
provocar o contraditório da mesma forma.
Assim, apesar das críticas da magistratura sobre esse último ponto, a regra
do contraditório também em fase recursal, tem como finalidade primordial dar
importância ao contraditório não só em uma fase do processo, mas na fase recursal
também.
Incidente de desconsideração da personalidade jurídica
Nessa linha de constitucionalização do processo civil, passa-se ao estudo
do instituto do incidente de desconsideração da personalidade jurídica.