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DIREITO DO TRABALHO II Apostila Direito do Trabalho II TURMA 2º Semestre/2013 1

Direito Trabalho II

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DIREITO DO TRABALHO II

Apostila

Direito do Trabalho IITURMA 2 Semestre/2013Apresentao

Apresentaes individuais; explicao pelo professor da forma que sero desenvolvidas as atividades no semestre; organizao dos grupos de trabalho; reviso dos assuntos.

Como ficam as plantas se durante certo perodo no recebem gua? As folhas amolecem, e em vez de se levantarem, buscando a direo da luz, permanecem viradas para baixo, como as orelhas dum cachorro medroso. Para mudar tal quadro basta reg-la ( MEDEIROS, Jos Rafael de. Renovando o Trabalho. p 179. Vozes. Petrpolis, 1999)

Estamos iniciando um novo semestre letivo. Uma nova perspectiva comea a ser desenhada e todos estaremos imbudos num nico propsito: construir e edificar o saber. Assim, queremos que as palavras acima descritas sejam a fora motivadora para as nossas aes vindouras. Na expectativa de que atravessaremos juntos esta etapa importante em nossas vidas, coube-me a misso de realizar, atravs da disciplina Direito do Trabalho II, a troca de experincias para que o saber jurdico possa aflorar e permitir formarmos excelentes profissionais para nossa sociedade. Para a realizao deste mister estaremos, durante as aulas repassando vrios informes. Entregamos no transcorrer do semestre, exerccios, para que possam ser arquivados tais informes e os exerccios inerentes disciplina. Conserve-a e ter um material futuro de consulta.

Em nome da Faculdade de Direito da Universidade Catlica do Salvador, boas vindas,iremos juntos regar o grande jardim do conhecimento para que as condies necessrias para se tornar um bom profissional sejam praticadas e vivenciadas. Pedimos a Deus que nos ilumine para alcanarmos todos os nossos objetivos.

01/02/20131. DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

1.1 Introduo, Denominao: Direito Corporativo, Direito Sindical e Direito Coletivo do Trabalho1.2 Conceito e contedo. Diviso.1.3 Relaes com o Direito Individual do Trabalho, com o Direito Processual do Trabalho e com o Direito da Seguridade Social.1.4 Fontes e Princpios do Direito Coletivo. 2. ORIGENS HISTRICAS DOS SINDICATOS

2.1 Precedentes gregos e romanos; as corpo raes de ofcio e as associaes de companheiros.

2.2 A Revoluo Industrial e a Questo Social. 2.3 Pressupostos: liberdade de coalizo e direito de associao.

3. DIREITO SINDICAL INTERNACIONAL

3.1 Evoluo histrica do sindicato na Inglaterra, na Frana, na Alemanha, na Itlia, nos Estados Unidos e na Unio Sovitica.

3.2 O movimento sindical internacional e a OIT. Convenes Internacionais do Trabalho sobre sindicalismo.

4. LIBERDADE SINDICAL

4.1 Conceito. 4.2 Sindicalizao livre e obrigatria.4.3 Autonomia e dirigismo sindical.4.4 Unidade e pluralidade sindical.5. ORGANIZAO SINDICAL BRASILEIRA

5.1 Breve esboo histrico.

5.2 Sistema legal vigente.

5.3 Sistema confederativo: sindicatos, federaes e confederaes. Constituio, administrao e funes das entidades sindicais. Estabilidade sindical.

5.4 Sindicato. Terminologia. Conceito. Natureza jurdica. Classificao. Categoria. Representao e delegao. Prerrogativas e deveres.6. CONVENO COLETIVA DE TRABALHO

6.1 Denominao e conceito6.2 Distino de acordo coletivo de trabalho6.3 Natureza jurdica6.4 Disciplina no Direito Brasileiro o princpio da flexibilizao

7. FORMAS DE SOLUO DOS CONFLITOS COELTIVOS DE TRABALHO

7.1 Conceito de conflito coletivo de trabalho7.2 Formas de solues: voluntrias e imperativas7.3 Negociao Coletiva, conciliao e mediao7.4 Arbitragem facultativa e obrigatria7.5 Jurisdio dissdio coletivo de trabalho

8. A GREVE E O LOCK-OUT

8.1 Formas de autodefesa: greve e lock-out8.2 Greve. Conceito, Sujeitos. Oportunidade. 8.3 Direitos dos grevistas estabilidade provisria. Servios ou atividades essenciais. 8.4 Abuso do direito de greve.8.5 Responsabilidade dos grevistas

01/02/20131. DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

1.1. Introduo, Denominao: Direito Corporativo, Direito Sindical e Direito Coletivo do Trabalho

1.1.1. Introduo.

As relaes coletivas de trabalho surgiram com a Revoluo Industrial. Surgiu uma nova classe de trabalhadores, o proletariado, que individualmente no podia enfrentar os graves problemas sociais conseqentes desta nova situao. A aglutinao em torno dos plos industriais permitiu a comunicao entre os trabalhadores e facilitou a formao de uma conscincia coletiva, ficando visvel para eles que a situao de penria, misria e explorao era comum a todos, exigindo uma soluo coletiva. Os trabalhadores se organizaram coletivamente para reivindicao de direitos e defesa de seus interesses. O Resultado desse enfrentamento foi o surgimento das primeiras normas coletivas criando direitos e regulando as condies de trabalho.

1.1.2. Denominao:

Diversas denominaes, entre as quais o Direito Industrial, Direito Operrio, Direito Corporativo, entre outras que j foram utilizadas historicamente, no retratam o contedo que esta parte do Direito do Trabalho representa. Da mesma forma, Direito Social no denominao precisa porque qualquer direito social e, principalmente, o Direito do Trabalho, como um todo, um direito social por excelncia.

Tratando de regras coletivas aplicveis aos contratos de trabalho, o direito coletivo do trabalho vai alm das relaes sindicais e da organizao sindical.

Por isso, a denominao Direito Sindical, preferida por parte da doutrina, restringe o alcance deste direito, ou ao menos no representa todo o seu contedo. Por isso, a denominao mais abrangente e mais adequada a de Direito Coletivo do Trabalho.

Superadas:

Direito Industrial / Direito Operrio: denominaes restritivas que no condizem com a realidade por abranger apenas uma categoria de trabalhadores.

Direito Corporativo: superada no fim da 2 Guerra, a expresso foi marcada pela influncia do fascismo de Mussolini na Itlia meados do sc. XX, sendo um elogio ao modelo sindical de forte interferncia estatal, sem a preocupao real com o objeto cientfico.

Atuais:

Direito Sindical: Amauri Mascaro; Gino Giugni e Antnio Ojeda Aviles

Justificativa: tradicionalmente, este setor do Direito do Trabalho confunde-se com a histria do sindicalismo, alm de ter por objeto preponderante o estudo e a regulamentao dos institutos que dizem respeito ao sindicato. ...prope tratar da questo sindical sob o ngulo jurdico e no sobre outro prisma... (Amauri Mascaro). Crtica: no pode ser direito coletivo porque todo ramo jurdico destina-se coletividade.

Direito Coletivo do Trabalho: Bezerra Leite, Maurcio Godinho Delgado, Alice de Barros Monteiro, Octvio Bueno Magano e Srgio Rodrigues Pinto.

Justificativa:

Denominao restritiva que exclui outras associaes (ex. Centrais Sindicais);

Oposio ao dir. individual;

CLT prev a possibilidade de ACT sem a participao do sindicato (recp. CF/88);

Relao coletiva fixando regras coletivas para os contratos individuais.

Direito Sindical e Direito Coletivo do Trabalho: posio intermediria, adotada por Jos Augusto Rodrigues Pinto para evitar a celeuma em torno do nomem iuris da disciplina. Godinho traz ainda a expresso Direito Social extremamente ampla

1.2 Conceito. Objetivos e Caractersticas. Importncia da distino entre o Direito Individual e Coletivo. Diviso e contudo.1.2.1. Conceito:

O Direito Coletivo do Trabalho a parte do Direito do Trabalho que trata da organizao sindical, dos conflitos coletivos de trabalho e sua soluo e da representao dos trabalhadores. o elo de ligao entre o direito pblico e o direito privado do trabalho.

Maurcio Godinho demonstra a existncia de definies subjetivistas (enfocadas nos sujeitos) e objetivistas (vinculadas ao contedo objetivo das relaes jurdicas) e formula uma definio mista, nestes termos:

Complexo de institutos, princpios e regras jurdicas que regulam as relaes laborais de empregados e empregadores e outros grupos jurdicos normativamente especificados, considerada sua ao coletiva, realizada autonomamente ou atravs das respectivas entidades sindicais.

Esse conceito, alm de ser sinttico, enfatiza que a finalidade fazer com que os interesses - individuais e coletivos - de cada uma das determinadas partes sociais logrem uma soluo jurdica satisfatria..

Para Alfredo J. Ruprecht o Direito Coletivo do Trabalho a parte do Direito do Trabalho que tem por objeto regular os interesses da categoria profissional de cada um dos sujeitos laborais.H trs correntes diversas: subjetivistas, objetivistas e eclticos.

- Subjetivistas na teoria da hipossuficincia, segundo a qual fundamental a posio dos sujeitos. a posio do eminente professor CESARINO JNIOR: "ao conjunto de leis sociais que consideram os empregados e empregadores coletivamente reunidos, principalmente na forma de entidades sindicais, d-se o nome de direito coletivo de trabalho". FBIO LEOPOLDO DE OLIVEIRA, a parte do Direito do Trabalho que estuda a organizao sindical, o desenvolvimento das negociaes coletivas, os conflitos coletivos do trabalho e suas solues, bem como, a representao dos empregados nas empresas.

- Objetivistas fundamental o objeto da relao.

- Ecltico Do relevo a ambos, aos sujeitos e objeto. MOZART VICTOR RUSSOMANO assinala que o direito coletivo do trabalho " a parte do Direito do Trabalho que estuda as organizaes sindicais, a negociao coletiva e os conflitos coletivos". Ecltico

ALBERTO JOS CARRO IGELMO define Direito Sindical como o "ramo da Cincia Jurdica referente estrutura e organizao das instituies resultantes do exerccio da faculdade de associao profissional, assim como as normas imanentes de tais agrupaes". Ecltico.

AMAURI MASCARO NASCIMENTO, leciona que Direito Coletivo do Trabalho o ramo do Direito do Trabalho que tem por objeto o estudo das relaes coletivas de trabalho e estas so as relaes jurdicas que tm como sujeitos grupos de pessoas e como objetos interesses coletivos. Ecltico.

1.2.2. Objetivos e caractersticas:O Direito Coletivo do Trabalho destina-se a estabelecer por mtodo peculiar a proteo do trabalho humano dependente, e, por conseqncia, a proteo pessoa humana, na sua atividade profissional, por via indireta, mediante a mediao do grupo social profissional reconhecido pela ordem jurdica. Trata-se... de um conjunto de normas que se dirige indiretamente aos indivduos e diretamente aos grupos profissionais, proporcionando aos primeiros uma tutela de ao mediata. Enquanto as normas jurdicas elaboradas pelo Estado para regular o Direito Individual do Trabalho so aplicativas, criando para o indivduo direitos subjetivos, as normas elaboradas para disciplinar o Direito Coletivo do Trabalho so normas instrumentais, porque fornecem aos grupos profissionais o instrumento tcnico adequado autocomposio de seus prprios interesses. So os grupos que, usando esses instrumentos, criam direitos subjetivos. Sua funo propiciar a organizao de grupos sociais e estabelecer as regras disciplinadoras de suas relaes. Por isso as normas elaboradas com fulcro no direito coletivo podem suprimir ou diminuir direitos individuais em prol do benefcio de toda a categoria profissional.

Normas aplicativas - criam direito subjetivo para o indivduo - So normas criadas pelo Estado (normas heternomas) ou pelas partes (normas autnomas) para regular o direito individual do trabalho.

Normas instrumentais - so normas jurdicas elaboradas para o Direito Coletivo do Trabalho. Fornecem instrumento ao grupo para autocomposio dos seus prprios interesses. So os grupos exercendo esses instrumentos que criam direitos subjetivos para os indivduos que os compem.

O "carter neutralista" caracterstica destacada do Direito Coletivo do Trabalho. No confronto capital e trabalho ele devolve aos grupos a defesa dos interesses profissionais, fornecendo-lhes os instrumentos tcnicos para a ao sindical, como ensinam Orlando Gomes e Elson Gottschalck.

Apesar dessa neutralidade, o Direito Coletivo no deixa o trabalhador ao desamparo. A proteo real e efetiva decorre da fora do agrupamento da categoria profissional em sindicato. Esse ramo do direito confere aos sindicatos a fora de barganha proveniente do nmero de associados, da disciplina, da organizao tcnica e do poder material, quando de suas relaes com a classe patronal. Assim, fica atenuada a inferioridade decorrente da hipossuficincia econmica, posicionando-se o empregado em plano de igualdade com o empregador para ao e negociao coletiva.

Caractersticas do Direito Coletivo: reconhecer o poder de organizao dos grupos profissionais e a independncia da profisso, e ter inspirao democrtica.

1.2.3. Importncia da distino entre o Direito Individual e o Coletivo.O direito coletivo tem por finalidade igualar as foras dos grupos em conflito, promovendo a equivalncia subjetiva. As partes envolvidas na negociao coletiva no podem sofrer presses desproporcionais umas das outras. Sendo o empregador uma coalizo pelo seu poder econmico, o empregado deve ser uma coalizo pela sua fora de trabalho aglutinada pelo sindicato profissional respectivo.

O direito coletivo autodisciplina as relaes de trabalho, formando um direito do trabalho autnomo e at particular para uma determinada categoria profissional ou empregados de uma empresa, totalmente diferente do conjunto de direito ou benefcios de outras categorias.

1.2.4. Diviso e contedo:

O estudo, neste captulo, compreende a liberdade sindical, o histrico e a situao atual da estrutura e organizao sindical (incluindo as propostas e perspectivas de alterao da legislao), a autocomposio (acordos, convenes e contrato coletivo de trabalho), a heterocomposio ( conciliao, mediao, arbitragem e dissdio coletivo), e a autodefesa, que engloba o direito de greve.

O Direito Coletivo do Trabalho tem sua referncia bsica nas relaes grupais, coletivas, entre empregados e empregadores, cuja origem est no nascedouro do capitalismo, das relaes industriais de produo. A conscincia coletiva dos trabalhadores resultou na vontade coletiva e na ao coletiva, permitindo a estruturao do ser coletivo, o sindicato.

Assim, o contedo do Dir. Coletivo do Trabalho engloba princpios, regras e institutos que regem a existncia e desenvolvimento das entidades coletivas trabalhistas, suas inter-relaes e as regras criadas em decorrncia de tais vnculos.

14/08/2012

1.3 Relaes com o Direito Individual do Trabalho, com o Direito Processual do Trabalho e com o Direito da Seguridade Social.1.3.1 Relaes entre direito do trabalho e outros ramos do direito

1.3.1.1 Relaes com o direito internacional

O direito internacional pblico destina-se a regular os diversos ordenamentos jurdicos nacionais nas relaes entre si. Mais precisamente, as relaes entre os pases considerados sujeitos de uma comunidade internacional.

regulamentao internacional do trabalho e

Setores no direito do trabalho

s relaes estatais voltadas para esse objetivo.

Owen (1818)

Precursores do direito internacional do trabalho

Le Grand (1845

Seguindo-se, historicamente, uma ao sindical internacional das mais expressivas e que resultou na constituio de vrias entidades de defesa do trabalhador na esfera internacional, das quais restou como a mais importante

a Organizao Internacional do Trabalho, criada pelo Tratado de Versalhes, em 1919;

as Declaraes Internacionais, como a Declarao Universal dos Direitos do Homem;

a Carta Social Europia;

a Carta Interamericana de Direitos Sociais etc.

1.3.1.2 Relaes com o direito constitucional

O conceito central do direito constitucional o de Constituio

de movimentos constitucionalistas. Assim, so muito prximas as relaes entre o direito do trabalho e o direito constitucional, especialmente quanto constitucionalizao do direito do trabalho e implicao recproca de um em outro.

O fenmeno da constitucionalizao do direito do trabalho, isto , da sua insero nos quadros constitucionais, est comprovado pela simples enumerao de algumas das muitas Constituies que trata da matria jurdica trabalhista:

Constituio do Mxico (1917).

Rssia (1918),

Alemanha (1919),

Iugoslvia (1921),

Chile (1925),

ustria (1925),

Espanha (1931),

Peru (1933),

Brasil (1934),

Uruguai (1934),

Bolvia (1938),

Portugal (1975) etc.

As Constituies brasileiras, a partir de 1934, passaram a se dedicar ordem econmica e social. Na Constituio encontram-se fixados os princpios fundamentais que inspiram a ordem trabalhista. Normas de carter programtico e ideolgico, a estrutura bsica dos rgos estatais destinados ao problema do trabalho e a ao sindical so linhas de ao que se acham traadas nas normas constitucionais.

A cincia poltica atua e influi na elaborao do direito do trabalho. Pode-se, mesmo, dizer que conforme a estrutura poltica vigente ser o direito positivo do trabalho, como no liberalismo, no corporativismo, no socialismo etc. De outro lado, o problema do trabalho, tambm chamado de questo social, atua sobre as estruturas constitucionais, o que pode ser facilmente demonstrado pela verificao de que hoje o Estado intervencionista o fruto direto das necessidades de soluo dos problemas do trabalho. Foi exatamente a questo social que levou o Estado a descruzar os braos na cmoda posio de mero espectador em que se achava aps a Revoluo Francesa e a Revoluo Industrial, para tornar-se um participante ativo do curso da histria. Assim, se os rumos da cincia poltica nos levam atualmente para o neoliberalismo, tal se d em face do problema trabalhista, causa eficiente dessa alterao fundamental. Portanto, h um fluxo e refluxo entre o direito trabalhista e o direito constitucional.

Cabe fazer uma observao. A anlise dos modelos constitucionais mostra que so trs as ordens de valoraes que se desenvolvem no plano das Constituies: a do trabalho, a dos direitos sociais e a dos direitos trabalhistas. No se confundem, conquanto apresentem relaes pela proximidade em que se situam, da por que h disposies constitucionais sobre uma, algumas ou essas trs importantes ordens constitucionais.

O trabalho, no nvel constitucional, um direito, um dever ou um direito-dever, situando-se as declaraes constitucionais nessas diretrizes programticas, que se condicionam a diversos fatores, dentre os quais o tipo de concepo poltica em que se funda uma determinada ordem constitucional.

O trabalho um "honroso dever de todos os cidados aptos a faz-lo", dispe a Constituio da China (1982, art. 42). um direito-dever, proclama a da Espanha (1978, art. 35), ao dizer que "todos os espanhis tm o dever de trabalhar e o direito ao trabalho, livre escolha da profisso e ofcio, promoo por meio do trabalho e a uma remunerao suficiente para satisfazer suas necessidades e as de sua famlia". Diretriz semelhante a da Constituio do Japo (1946, art.27), que prescreve que "todos tm o direito e a obrigao de trabalhar", a de Portugal (1976, art. 59), ao declarar que "o dever de trabalhar inseparvel do direito ao trabalho", e a de Cuba (1976, art. 44)para a qual o trabalho " um direito, um dever e um motivo de honra para o cidado".

O dever de trabalhar no um princpio que desatende situaes excepcionais, da a Constituio da Itlia (1948, art. 4) dispor que "cada cidado tem o dever de exercer, segundo as prprias possibilidades e a prpria opo, uma atividade ou funo que contribua para o progresso material ou espiritual da sociedade". No querem as Constituies, com isso, dar ao trabalho carter coativo, uma vez que se referem ao livre e assalariado, sob a "proteo especial da lei", como na Constituio do Uruguai (1967, art. 53), porque "toda pessoa tem o direito livre contratao e livre escolha do trabalho com uma justa retribuio", como observa a Constituio do Chile (1981, art. 16).

A Constituio do Brasil (1988) trata do trabalho como um dos princpios gerais da atividade econmica, declarando como tais a valorizao do trabalho humano e da livre iniciativa (art. 170) e a busca do pleno emprego (art. 170, VIII). Entre os direitos e garantias fundamentais incluiu o direito ao livre exerccio do trabalho, ofcio e profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei estabelecer (art. 5, XIII).

No foi curta a linha de valorizao do trabalho at atingir o nvel constitucional, a partir da concepo depreciativa da Antigidade grega e romana, perodo em que o trabalho foi considerado um desvalor, visto como castigo dos deuses ou punio imposta ao homem, contrastando com a sua consagrao como fundamento da organizao poltica da sociedade, como na Constituio da Itlia (1948, art. 1.): "a Itlia uma Repblica Democrtica fundada no trabalho".

O trabalho passou por vrias avaliaes nos diferentes sistemas constitucionais, como a do liberalismo, que no o protegeu, a da ditadura do proletariado, que o considerou um valor nico e absoluto na organizao poltica da sociedade, a do corporativismo, que o organizou proibindo a luta de classes, e a do neoliberalisrno, contrrio aos excessos do liberalismo da Revoluo Francesa de 1789 e em cujo perodo surgiram as primeiras leis trabalhistas, a liberdade sindical e o direito de greve.

Direitos sociais so garantias, asseguradas pelos ordenamentos jurdicos, destinadas proteo das necessidades bsicas do ser humano, para que viva com um mnimo de dignidade e com direito de acesso aos bens materiais e morais condicionantes da sua realizao como cidado. A Constituio do Brasil (1988, art. 6) enuncia os direitos sociais, mostrando a maior amplitude que os caracteriza diante dos direitos trabalhistas, ao declarar que o so "a educao, a sade, o trabalho, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados, na forma desta Constituio".

O direito do trabalho nas Constituies um ramo com princpios e normas prprias, tendo por objeto disciplinar o trabalho profissional, suas garantias consideradas fundamentais, as regras de organizao e os direitos e deveres bsicos que devem presidir as relaes de trabalho. As normas de organizao tm escopo estrutural de rgos pblicos ou privados, do Estado e dos particulares, dentre aqueles os da Administrao Pblica do trabalho, como o Ministrio do Trabalho, e da Jurisdio Trabalhista, como a Justia do Trabalho e a Procuradoria da Justia do Trabalho. Particulares so as organizaes a que se refere a Constituio representativas dos trabalhadores e dos empregadores. As normas de garantias e direitos fundamentais so individuais, como a proteo vida, sade e integridade fsica do trabalhador, e coletivas, como o reconhecimento das convenes coletivas de trabalho.

Para uma teoria, desnecessria a incluso do direito do trabalho no texto constitucional, da as Constituies omissivas, como, por exemplo, a dos Estados Unidos da Amrica. Para outras, no entanto, essa medida indispensvel como meio de dar uma garantia mais rgida aos referidos direitos, da o constitucionalismo social. Todavia, no h uniformidade de critrios quanto aos direitos que devem ser includos nas constituies. As latino-americanas so mais detalhadas e intervencionistas; as europias valorizam os direitos coletivos, respaldando a autonomia privada coletiva, a organizao e a ao sindical, com um mnimo de dispositivos sobre direitos individuais, salvo excees como Portugal, que tem uma longa lista de direitos trabalhistas.

Outras formas de composio poltica, econmica e social existem, ao lado das Constituies, denominadas pactos sociais, bilaterais quando tm como sujeitos as representaes de trabalhadores e empregadores e trilaterais quando, alm dos citados, participa tambm o Governo, visando fixar, pelo consenso, diretrizes sobre metas a cumprir num determinado prazo, quanto a problemas como desemprego, automao, desenvolvimento econmico e outros. So instrumentos mais geis e permitem constantes redirecionamentos de acordo com a eficcia com que atuam na sociedade.

Uma questo jurdica que tem merecido a ateno dos especialistas em direito constitucional a da aplicabilidade das leis constitucionais, e, para esse fim, classificao tradicional adicionou-se a moderna, aquela dividindo as leis constitucionais em programticas, auto-executveis e no auto-executveis, as primeiras quando enunciadoras de princpios para o legislador, as segundas como completas e em perfeitas condies de aplicao, as terceiras como dependentes de leis infraconstitucionais que as completem para que possam ser aplicadas. Mais recente a teoria segundo a qual todas as leis constitucionais so eficazes, alterando-se o tipo de eficcia. Nesse sentido, as normas constitucionais so consideradas de eficcia plena e aplicabilidade imediata, de eficcia contida e aplicabilidade imediata, mas passveis de restries, e de eficcia limitada, cuja estruturao definitiva o legislador deixou para providncia ulterior. O que se nota que h leis constitucionais que, em razo do seu contedo, necessitam de legislao integradora, enquanto outras no esto condicionadas existncia dessa legislao e podem, em toda a sua plenitude, ser aplicadas nos casos concretos. Pode-se dizer, tambm, que inafastvel que h princpios constitucionais que so destinados ao legislador e que no se confundem com comandos atuantes sobre as organizaes e pessoas.

Qual a relao existente, no direito do trabalho, entre leis constitucionais e infraconstitucionais ou outras normas integrantes do ordenamento jurdico mltiplo trabalhista? No demais sublinhar que esse ordenamento integrado por normas estatais e no estatais, estas resultantes da autonomia privada coletiva, como as convenes coletivas de trabalho, conjunto de fontes que apresenta um interessante problema de hierarquia, que resolvido, em princpio, pela aplicabilidade da norma que contiver disposies mais favorveis ao trabalhador.

1.3.1.3 Relaes com o direito administrativo

O problema trabalhista no prescinde de uma infra-estrutura de rgos estatais voltados para a proteo do trabalho, regulados pelo direito administrativo, visto que pertencentes Administrao Pblica.

o caso, no Brasil, dos Ministrios do Trabalho, Previdncia Social, das Delegacias Regionais do Trabalho, do Instituto Nacional de Seguridade Social etc., rgos do Poder Executivo destinados proteo do trabalho. No Estado de So Paulo, a Secretaria do Trabalho e Administrao. Na esfera judicial, a Justia do Trabalho, que federal.

Administrao, legislao e jurisdio so funes estatais absolutamente distintas segundo a perspectiva da clssica separao de

poderes, que definiu como independentes e inconfundveis as atribuies do Executivo, do Legislativo e do Judicirio; porm, a concepo contempornea admite que tal separao no deve ser considerada em termos absolutos, mas relativos, porque o funcionamento do Estado mostra que no h uma rigidez como a que propunha inicialmente a teoria clssica sem perda das funes precpuas pertinentes a cada rgo.

As mesmas observaes so pertinentes na esfera das relaes de trabalho quando se v que h casos em que a Administrao e o Legislativo julgam e o Judicirio legisla.

A Administrao Pblica tem, como atribuio central, organizar, manter e executar a inspeo do trabalho (CF, art. 21, XXIV), organizar o sistema nacional de empregos e condies para o exerccio das profisses (CF, art. 22, XVI) e desenvolver, por meio do Ministrio do Trabalho, inmeras atribuies relacionadas com o trabalho nas reas da migrao da mo-de-obra, treinamento, colocao de desempregados e mediao de conflitos, sendo atualmente vedada a sua interveno ou interferncia na organizao sindical (CF, art. 8. I).

Alm dessas atividades, o Ministrio do Trabalho competente para apreciar procedimento administrativo de anotao de carteira de trabalho e previdncia social quando a relao de emprego comprovada de modo incontroverso, caso em que, efetuadas as necessrias diligncias, e desde que o feito esteja suficientemente esclarecido, far o julgamento (CLT, art. 36), que s no ser efetuado quando houver dvidas sobre a existncia da relao de emprego, hiptese na qual encaminhar o processo Justia do Trabalho.

A Justia do Trabalho, como o nome mostra, julga dissdios individuais e coletivos, mas tambm profere sentenas normativas, que

so, para alguns, um misto de deciso judicial e atividade legislativa, no exerccio do poder normativo conferido pela lei (CF, art. 114).

Tanto o Ministrio do Trabalho como a Justia do Trabalho aprovam instrues normativas, das quais so exemplos as do Ministrio do Trabalho sobre registro de entidades sindicais no Cadastro Nacional das Entidades Sindicais e as do Tribunal Superior do Trabalho sobre dissdios coletivos.

Quanto ao Legislativo, a sua funo principal a elaborao de leis trabalhistas, e, para esse fim, a competncia exclusiva do Congresso Nacional (CF, art. 22, I).

Como h relaes de trabalho tanto no setor privado como no pblico, nosso sistema distingue o pessoal estatutrio, cujo trabalho prestado para a Administrao Pblica, direta, autrquica e fundacional, regido pelo direito administrativo, do celetista, do setor privado, incluindo empresas pblicas e sociedades de economia mista (CF, art. 173, 1.).

Os princpios que presidem as relaes estatutrias esto na Constituio Federal, na parte em que dispe sobre a Administrao Pblica (arts. 37 e s.) e os servidores pblicos civis (art. 39) e militares (art. 42). Esses servidores tm regime jurdico nico (CF, art. 39), em seus aspectos gerais, e peculiar, como nos casos de concurso pblico para ingresso em cargo ou emprego pblico (CF, art. 37, II), salvo cargos que a lei declarar de livre nomeao ou exonerao, exigncia inexistente no setor privado; limite mximo e relao de valores entre a maior e a menor remunerao deles (CF, art. 37, XI); proibio de equiparao de vencimentos (art. 37, XIII); e estabilidade dos concursados aps dois anos de efetivo exerccio, com a perda do cargo condicionada a sentena judicial ou mediante processo administrativo (CF, art. 41 ). As questes desses servidores no so julgadas pela Justia do Trabalho, mas pela Justia Federal ou dos Estados.

Alm dos princpios e regras prprias de direito administrativo, h princpios comuns ao setor privado e ao regime celetista aplicveis, por fora da Constituio Federal, aos servidores pblicos: direito livre associao sindical (CF, art. 37, VI); direito de greve nos termos de lei complementar (art. 37, VII); contratao por prazo determinado para atender a necessidade temporria de excepcional interesse pblico (CF, art. 37, IX); salrio mnimo; irredutibilidade do salrio, salvo acordo ou conveno coletiva; garantia de salrio varivel no inferior ao mnimo: dcimo terceiro salrio; remunerao do trabalho noturno superior do diurno; salrio-famlia; jornada diria normal de trabalho no superior a oito horas e quarenta e quatro semanais, facultada a compensao de horrios e a reduo mediante acordo ou conveno coletiva de trabalho; repouso semanal remunerado; frias anuais remuneradas com acrscimo de 1/3 do salrio; licena gestante; licena-paternidade; proteo ao mercado de trabalho da mulher mediante incentivos especficos previstos em lei; reduo dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de sade,higiene e segurana; adicional de remunerao para as atividades penosas, insalubres ou perigosas na forma de lei; e proibio de diferena de salrios, de exerccio de funes e de critrio de admisso por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil (CF, art. 39, 2). Ao militar so proibidas a sindicalizao e a greve (CF, art. 42, 5).

Manuais e tratados de direito do trabalho dedicam um captulo ao denominado direito administrativo do trabalho, destinado a estudar a estrutura de rgos do Estado que fiscalizam o trabalho e exercem funes diversas de documentao e proteo.

A obra especial de Trueba Urbina, Nuevo derecho administrativo del trabajo (Mxico, 1973), sustenta que "o direito administrativo do trabalho se compe de princpios, instituies, normas protetoras e reivindicatrias dos trabalhadores, estatutos sindicais. assim como de leis e regulamentos que regulam as atividades sociais da Administrao Pblica e da Administrao Social do trabalho". Portanto, emprega o vocbulo administrao em sentido amplo, pblico e privado. Deveali, em Lineamientos de derecho del trabajo (Buenos Aires,1956), escreve que "sob este ltimo aspecto pode ser conveniente agrupar sob o nome de direito administrativo do trabalho as normas que se referem formao e ao funcionamento dos rgos estatais que fiscalizam o cumprimento das prescries legais em matria de trabalho".

1.3.1.4 Relaes com o direito processual

O direito do trabalho e o direito processual do trabalho relacionam-se; porm so ramos autnomos. O primeiro ramo do direito material, o segundo do direito processual. Este compreende, em linhas gerais, o estudo das figuras da ao, jurisdio e do processo. O direito do trabalho surgiu antes. Da necessidade de disciplinar a soluo dos conflitos trabalhistas, perante rgos judiciais, nasceu o direito processual do trabalho, cujo fim atuar o direito do trabalho (Amauri Mascaro Nascimento, Curso de direito processual do trabalho, So Paulo, Saraiva, 1990).

Diante dos conflitos entre o capital e o trabalho que surgem em toda sociedade, cujas causas so mltiplas, corno a questo social, o problema econmico, a desigual distribuio de riquezas, o descumprimento das obrigaes legais e contratuais pelo empregador e os pleitos fundados ou infundados dos trabalhadores, que se desenvolvem em dois planos, os conflitos coletivos e os conflitos individuais, os ordenamentos jurdicos so instrumentalizados no sentido de absorv-los por meio de trs principais tcnicas de composio: a autodefesa, a autocomposio e a heterocomposio.

A autodefesa consiste na soluo direta dos conflitos pelos prprios interessados, por meio da greve e do locaute.

A autocomposio, acompanhada ou no de mediao, cada vez mais valorizada, inclusive na Amrica Latina, apesar da sua tradio de intervencionismo nas relaes de trabalho, uma forma democrtica de soluo por intermdio da negociao coletiva, para a qual esto legitimados os sindicatos ou, como em outros pases, os grupos informais de trabalhadores, de um lado, e os empregadores, por suas representaes ou diretamente, de outro, sublinhando-se a transformao do modelo brasileiro, nesse ponto, com a Lei n 8.542/92, segundo a qual as normas e condies de trabalho devem ser fixadas, entre outros meios, por contratos coletivos de trabalho, a Lei n 8.630/93, sobre porturios, transferindo, igualmente, a fixao dessas normas para a negociao coletiva, embora at hoje no terminada, e a Lei n 8.880/93, sobre o Programa de Estabilizao Econmica, que remete a discusso dos salrios para a negociao coletiva, encerrando com o longo perodo de leis de poltica salarial mediante indexao oficial iniciada em 1994.

A heterocomposio significa a soluo do conflito por um rgo ou pessoa supraparte por meio da arbitragem ou da jurisdio. A arbitragem prevista no Brasil facultativa e restrita aos conflitos coletivos (2), de reduzida aceitao entre ns e de grande uso nos Estados Unidos da Amrica para os conflitos individuais. H pases nos quais a arbitragem obrigatria. A principal forma heternoma a jurisdio. comum - a mesma para questes trabalhistas e outras - ou especial - um rgo especializado para relaes de trabalho.

Em praticamente todos os pases questes trabalhistas de greve so apreciadas pelos tribunais. Nos Estados Unidos da Amrica, com menor freqncia; na Europa, h vasta jurisprudncia dos tribunais sobre greve.

H pases que instituram, para dirimir os pleitos trabalhistas, representao classista, como Alemanha e Frana, sendo este tambm o

caso do Brasil. Em outros, como a Itlia, a jurisdio confiada, pela lei, a juzes de direito.

A competncia jurisdicional no Brasil fracionada. Apreciam demandas trabalhistas no s a Justia do Trabalho, que competente para dissdios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, mas, tambm, a Justia Federal, atuar nas lides sobre previdncia social. Na Espanha, a competncia concentrada. O fracionamento cria conflitos entre rgos judiciais quanto a matrias incidentais e desaconselhvel. Exemplifique-se com os recentes processos de aes civis de defesa do meio ambiente, no Superior Tribunal de Justia, para decidir qual a Justia competente e com a jurisprudncia, nesse mesmo tribunal, divergente. O mesmo problema h quanto a questes de representao sindical apreciadas tanto pela Justia Comum, por competncia originria, como pela Justia do Trabalho, incidentalmente, para poder decidir dissdios coletivos.

Peculiaridade do Brasil, da qual se afastaram Itlia e Espanha, o poder normativo atribudo pela Constituio Justia do Trabalho para decidir dissdios coletivos econmicos fixando reajustes salariais.

A Constituio Federal de 1988, no art. 114, diz que: "Compete Justia do Trabalho conciliar e julgar os dissdios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito pblico externo e da administrao pblica direta e indireta dos Municpios, do Distrito Federal, dos Estados e da Unio, e, na forma da lei, outras controvrsias decorrentes da relao de trabalho, bem como os litgios que tenham origem no cumprimento de suas prprias sentenas, inclusive coletivas (...) 2. Recusando-se qualquer das partes negociao ou arbitragem, facultado aos respectivos sindicatos ajuizar dissdio coletivo, podendo a Justia do Trabalho estabelecer normas e condies, respeitadas as disposies convencionais e legais mnimas de proteo ao trabalho".

O problema pode agravar-se com a desindexao dos salrios pela lei e a possibilidade de indexao por meio das sentenas normativas dos dissdios coletivos.

1.3.1.5 Relaes com o direito civil

As relaes entre o direito do trabalho e o direito civil so, inicialmente, de ordem histrica, pois o direito do trabalho provm do direito civil; depois de ordem doutrinria, porque no so poucas as teses e as figuras do direito civil desenvolvidas e adaptadas pelo direito do trabalho, como ocorre na parte geral, nas obrigaes, nas coisas etc.; a seguir de ordem legislativa, porque o direito civil fonte subsidiria do direito do trabalho, existindo no Brasil, inclusive, expressa determinao legal nesse sentido.

O direito civil aplicvel subsidiariamente s relaes de trabalho por fora da prpria lei trabalhista, que assim dispe (CLT, art. 8, pargrafo nico), ao declarar que o direito comum ser fonte subsidiria do direito do trabalho naquilo em que no for incompatvel com os princpios fundamentais deste, preceito que tem aberto uma larga porta, necessria para cobrir as lacunas da lei trabalhista e promover a integrao do ordenamento jurdico.

Essa aplicao ampla e vedada apenas quando a lei trabalhista dispuser sobre a mesma regra, caso em que ter prioridade, afastando a aplicao do direito civil, como tambm desautorizado ser o uso deste nas relaes de trabalho quando, ainda que havendo lacunas, as suas normas mostrarem-se incompatveis com os princpios do direito do trabalho.H uma tendncia atual em alguns pases para a aplicao mais ampla do direito civil nas relaes de trabalho que tem como pressuposto a valorizao do contrato, quer nas relaes coletivas, para fundamentar os instrumentos coletivos negociados, quer nas individuais, para servir de base para as relaes de trabalho concebidas nos moldes do contrato de direito civil, mas que no cresceu, obstada pelas peculiaridades existentes tanto nas convenes coletivas como nas relaes de emprego, que exigem normas prprias coerentes com as suas caractersticas.Do direito civil, independentemente dessa concepo, socorre-se o direito do trabalho, sem perda da prioridade das regras especficas que tem, quanto a alguns princpios que o completam, exemplificando-se com o "pacta sunt servanda", porque tambm no mbito trabalhista o contrato faz lei entre as partes; a clusula "rebus sic stantibus", que serve de base para a reviso peridica dos salrios por meio de negociaes anuais; a "exceptio non adimpleti contractus", que justifica a greve por falta de pagamento de salrios; a proibio do enriquecimento ilcito, fundamento de algumas decises judiciais; a teoria do abuso de direito, para dar suporte coibio de greves abusivas, nmero elevado de diretores eleitos por um sindicato para favorecer a estabilidade e atos patronais de desvirtuamento dos fins da lei.

Parte da teoria dos fatos e atos jurdicos aplicvel s relaes de trabalho, nas quais tambm so considerados como defeitos dos atos jurdicos o erro, o dolo, a coao, a simulao e a fraude; as nulidades ou anulabilidades dos atos jurdicos so declaradas, salvaguardando, no entanto, a jurisprudncia um efeito especfico denominado, pela doutrina, teoria da irretroatividade das nulidades no contrato individual de trabalho, para dizer, com isso, que os salrios, ainda que de um contrato nulo, so devidos porque houve contraprestao do trabalho; o direito das obrigaes , tambm, fonte de soluo de questes jurdicas sobre o contrato individual de trabalho, sendo comum falar-se em obrigaes condicionais, como o salrio sob condio, obrigaes alternativas, como a concesso do descanso no feriado ou o pagamento em dobro, em salrio diferido, como o dcimo terceiro, em responsabilidade solidria entre empresas do mesmo grupo ou subsidiria, como nos casos de subcontratao.

1.3.1.6 Relaes com o direito comercial

As relaes entre o direito do trabalho e o direito comercial so, tambm, de natureza histrica, porque muitas das primeiras leis trabalhistas surgiram nos cdigos comerciais, e ainda na atualidade, como na Argentina, grande parte dos dispositivos do Cdigo Comercial aplicada na soluo das controvrsias trabalhistas; como de natureza legislativo, porque tambm o direito comercial subsidiariamente aplicado na soluo dos problemas trabalhistas; como, ainda, de natureza doutrinria, porque existem pontos comuns e figuras estudadas tanto num como noutro ramo do direito, como a empresa, o comerciante individual e coletivo, a sucesso das empresas, a falncia e a concordata etc. De outro lado, verifica-se a fora expansiva do direito do trabalho sobre o direito comercial, no sentido de regulamentar figuras antes exclusivas do direito comercial. o que ocorre com os vendedores, viajantes e pracistas, assunto que hoje no mais pertence exclusivamente ao direito comercial, pois h representantes comerciais autnomos como existem os vendedores subordinados, estes ltimos considerados empregados protegidos pelas normas trabalhistas. A mesma situao se verifica quanto ao trabalho martimo e porturio, isto , a penetrao do direito trabalhista num campo pertencente ao direito comercial.

1.3.1.7 Relaes com o direito fiscal

As relaes entre o direito do trabalho e o direito fiscal levaram alguns autores a falar em direito tributrio trabalhista. Isto porque existem no direito do trabalho determinadas instituies, como a contribuio sindical (antes chamada imposto sindical), o salrio-educao etc., tpicas imposies tributrias sobre as empresas e os empregadores.

1.3.1.8 Relaes com o direito penal

As principais relaes entre o direito do trabalho e o direito penal residem na incluso entre as infraes penais de matria trabalhista e na unidade de figuras e conseqente problema das relaes entre o ilcito penal e o ilcito trabalhista.

No Brasil, um captulo do Cdigo Penal destinado aos "Crimes contra a Organizao do Trabalho". Probe a lei penal o atentado contra:

a liberdade de trabalho de contrato de trabalho, e a boicotagem violenta, o atentado contra a liberdade de associao, a frustrao de direito assegurado por lei trabalhista, a frustrao de lei sobre a nacionalizao do trabalho, o exerccio de atividade com infrao de deciso administrativa o aliciamento para o fim de emigrao.

H uma discusso sobre a natureza do denominado direito disciplinar do trabalho, se penal ou no. A empresa, por lei, pode aplicar determinadas sanes ao empregado (advertncia, suspenso etc.).

A propsito do assunto, Luiz Jos de Mesquita (Direito disciplinar do trabalho, So Paulo, Saraiva, 1950, p. 86) escreveu: "Esse direito disciplinar , em ltima anlise, um verdadeiro direito penal das instituies, pois h, de fato, uma semelhana, no igualdade, note-se, de natureza entre o crime e a falta disciplinar, ambos fatores de desorganizao de uma coletividade. Entretanto, o direito penal e o direito disciplinar apresentam uma diferena de ordem essencial, pois ambos punem faltas em sociedades que diferem uma da outra pela sua natureza. Enquanto se trata, num caso, de tutelar uma sociedade perfeita, como a sociedade estatal, no outro trata-se de proteger uma sociedade imperfeita e at "sui generis", como a empresa-econmica.

Por isso no pode haver, claro, confuso entre o poder disciplinar dos grupos particulares com o poder punitivo geral do Estado". Em princpio, o ilcito penal e o ilcito trabalhista so autnomos e sujeitos a tratamento jurdico prprio. No entanto, muitas vezes o mesmo fato apresenta um ilcito penal e um ilcito trabalhista. o caso do furto. O empregado que furta incorre em justa causa de improbidade. O empregado que rouba tambm. O mesmo ocorre quanto apropriao indbita. Justa causa para o despedimento do trabalhador ser igualmente a prtica de ofensas fsicas a superior hierrquico, colega ou terceiro, e o conceito trabalhista de ofensas fsicas outro no seno o de vias de fato ou leses corporais. A prtica constante de jogos de azar tambm configura a justa causa trabalhista. Os atos contra a segurana nacional, idem. O mesmo sucede quanto embriaguez no servio ou habitual. Portanto existem relaes entre o problema trabalhista e o penal.

15/02/20131.4 FONTES E PRINCPIOS DO DIREITO COLETIVO. FONTES DO DIREITO DO TRABALHO

1.4.1.1 - Conceito

Inicialmente devemos compreender o significado da palavra, um substantivo que quer dizer: nascente ou origem.

Para Washigton de Barros Monteiro fontes so meios pelos quais se formam ou pelos quais se estabelecem as normas jurdicas. So rgos sociais de que dimana o direito objetivo.

As Fontes podem tambm serem enumeradas como a fora criadora do Direito, ou mesmo como o Direito se exterioriza.

Indo mais alm nas palavras de Maurcio Godinho Delgado, fontes do Direito consubstancia a expresso metafrica para designar a origem das normas jurdicas

1.4.1.2 - Classificao: a) Materiais (fato social) e Formais (exteriorizao)

1.4.1.2.1- Fontes materiais (fato social):

Para prof. Vlia Bonfim, as fontes materiais de Direito do Trabalho encontram-se num estgio anterior s fontes formais, porque contribuem com a formao do direito material: antecedente lgico das fontes formais.

O fenmeno da movimentao social dos trabalhadores, em busca de melhoria das condies de trabalho atravs de protestos, reivindicaes e paralisaes, constitui fonte material de Direito o Trabalho. Da mesma forma, as presses dos empregadores em busca de seus interesses econmicos ou para flexibilizao das regras rgidas trabalhistas tambm so consideradas fontes materiais

No tm fora vinculante; servem para esclarecer o sentido das fontes formais.

Fontes potenciais, que emergem do prprio direito material;

Exemplos: ideologias, greves.

1.4.1.2.2 - Fontes formais (exteriorizao - direito positivo):

Na pesquisa e conceituao das fontes formais, procura-se o fenmeno de exteriorizao final das normas jurdicas, os mecanismos e modalidades mediante os quais o Direito transparece e se manifesta. Portanto, so fontes formais os meios de revelao e transparncia da norma jurdica os mecanismos exteriores e estilizados pelos quais as normas ingressam, instauram-se e cristalizam na ordem jurdica.

Exteriorizao do direito;

Tem fora vinculante;

Classificao: As fontes Formais classificam-se em heternomas e autnomas

1.4.1.2.2.1 - Fontes Formais Heternomas

A produo no efetuada pelo destinatrio direto da norma. So aquelas que emanam do Estado e normalmente so impostas ou aquelas em que o Estado participa ou interfere.

a) Constituio Federal da Repblica

Principal fonte no sentido de que todas as demais fontes de trabalho tm de guardar correspondncia com o comando principal da Constituio Federal. Existe uma busca da validade das demais fontes na superior, afinal ela se encontra no pice da hierarquia das normas jurdicas (arts. 6 a 11 CF ).

b) Convenes e Tratados Internacionais

Podemos encontrar a Organizao Internacional do Trabalho (OIT) -rgo da ONU que delibera sobre matria trabalhista, l temos comisses tripartites.

Tratado Internacional: o documento obrigacional feito por dois pases-membros ou dois organismos internacionais, ou por vrios organismos internacionais.

Conveno = Tratado multilateral, sem delimitao do nmero de participantes, indeterminvel, pode ser assinado posteriormente por outros pases, no tem um nmero certo de participantes, aberto porque pode ser adotado, assinado, subscrito, ratificado pelos pases que esto no momento deliberando, ou por outros pases no futuro que nem eram da OIT poca da conveno.

Trs tipos de diplomas:

b.1) convenes So essas regras jurdicas internacionais, que podem ser adotadas pelos pases ou no.

No se aplica imediatamente no pas membro Obrigao de submeter a conveno autoridade competente no Brasil: Congresso Nacional, art. 49, I CF RATIFICAO.

Expedio de um Decreto Legislativo -Poder Executivo tem de depositar na OIT e promulgar um Decreto publicando a conveno em lngua portuguesa

b.2) recomendaes apenas recomendam, no so fontes formais, no podem ser ratificadas, apenas recomendam que o pas adote uma poltica em certo sentido. Uma recomendao normalmente precede uma conveno. Servem como fonte material, servem de inspirao para outras regras jurdicas.

b.3) declaraes so uma espcie de esclarecimento sobre a matria, tambm no tem fora vinculante, no tem aplicao imediata, no uma futura conveno, ou seja, s uma orientao da OIT.

c) Leis em sentido lato: Complementares, Delegadas, Ordinrias, Medida Provisria.

Lei, em acepo lata (lei em sentido material), constitui-se em toda regra de Direito geral, abstrata, impessoal, obrigatria, oriunda de autoridade competente e expressa em frmula escrita (contrapondose, assim, ao costume).

No existe hierarquia entre leis complementares e ordinrias, s h diferena da matria inerente a elas e o quorum de votao.

d) Decretos do Poder Executivo

Atribuio do Presidente da Repblica, art. 84, IV da CF, tem a funo especfica de regulamentar outra norma jurdica, de regulamentar as leis, no podendo exorbitar o que a lei dispe. Do ponto de vista tcnico jurdico, equivale lei em sentido material, por consistir em diploma componente de normas gerais, abstratas, impessoais e obrigatrias. O decreto distancia-se, contudo, da lei em sentido formal no apenas em virtude da diferenciao de rgos de origem e expedio, como tambm em face do regulamento normativo servir lei, sendo a ela hierarquicamente inferior.

e) Portarias, avisos, instrues e circulares.

A rigor no tem fora vinculativa geral nenhuma, s regulamentam. Passam a ter alguma fora vinculativa prpria, ou seja, passam a ter um patamar de fonte formal de direito, quando a lei remete alguma regulamentao para esses diplomas. Ex.: normas regulamentares sobre medicina e segurana do trabalho (NR)

f) Sentena Normativa -art. 114, 2 CF

So aquelas proferidas em dissdios coletivos do trabalho. Natureza econmica (criao de normas) e natureza jurdica (interpretao) Econmica: resultado de um dissdio coletivo do trabalho. Toda vez que tentada uma negociao coletiva e as partes no conseguem por fim quela negociao, uma das duas partes pode instaurar o dissdio coletivo do trabalho, que, em princpio vai ter a funo de, entre aspas, substituir a negociao. Como no se chegou a uma soluo, necessita-se de algum para decidir a questo.

1.4.1.2.2.2 - Fontes Formais Autnomas

a) Conveno coletiva e acordo coletivo de trabalho

Conceito

Conveno Coletiva de trabalho o acordo de carter normativo pelo qual dois ou mais sindicatos representativos de categorias econmicas e profissionais estipulam condies de trabalho aplicveis, no mbito das respectivas representaes, s relaes individuais de trabalho. Acordos Coletivos so facultados aos sindicatos celebrarem com uma ou mais empresas da correspondente categoria econmica, que estipulem condies de trabalho aplicveis no mbito da empresa ou das empresas acordantes s respectivas relaes de trabalho. art. 611 CLT e 1 - acordo de vontades bilateral com objetivo de formular normas para aplicao erga omnes nos contratos individuais dos integrantes das categorias convenentes. Lembrar que at 1967 chamava-se contrato coletivo de trabalho Diferenas -sujeitos: CC -sind X sind Ac -sindXE Natureza jurdica no se enquadra em nenhuma figura ante da normatividade, que resulta de um acordo de vontades. Tem natureza complexa, com caractersticas de norma e de contrato (corpo de contrato e alma de lei Carnelutti)

b) Usos e costumes art. 8

CLT trata em conjunto, mas so figuram diferentes. Uso uma prtica adotada dentro de uma relao jurdica especfica e que somente produz efeitos entre essas partes Funciona como clusula tacitamente ajustada No DT, ocorre normalmente gerando direitos aos empregados. Se funcionar apenas como meio de interpretao de negcios jurdicos, no ser fonte formal de direito, mas meio de interpretao da vontade das partes. Costume ocorre quando um ncleo social adota e observa, constante e espontaneamente, certo modo de agir de contedo jurdico. Os integrantes do ncleo agem com o sentimento de que tal norma deve ser cumprida.

Reveste-se, portanto de uma obrigatoriedade espontnea. No se encontra na forma escrita (diferena para lei).

A doutrina classifica os costumes em trs tipos:

1Secundum legem (lei se refere expressamente integra o contedo da norma escrita).

2Praeter legem (supre lacuna da lei).

3Contra legem (que contraria a lei no se admite em princpio, mas deve-se reconhecer a fora dele que atua no sentido de forar o desuso da lei; em DT se for mais favorvel pode ser aplicado em detrimento da lei, salvo de a lei for imperativa proibitiva)

1.4.1.2.2.3 - Figuras controvertidas

a) Jurisprudncia art. 8

Origem da jurisprudncia: direito anglo-saxnico.

No Brasil -cristalizao de entendimentos dos tribunais superiores.

Repetio de interpretaes semelhantes No possuem fora vinculante, ou seja, no so de aplicao obrigatria, no traduzindo uma regra jurdica. Todos passam a interpretar as normas jurdicas em consonncia com o entendimento cristalizado pela jurisprudncia .

Assim, poder-se-ia enquadrar a jurisprudncia como fonte material de direito. Pode ocorrer at do legislador incorporar a jurisprudncia que serve de fato originador da norma legal que fonte formal de direito (ex. horas in itinere art. 58, 2 da CLT acrescido pela Lei 10.243/01) -EC 45/04 smula vinculante "Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poder, de ofcio ou por provocao, mediante deciso de dois teros dos seus membros, aps reiteradas decises sobre matria constitucional, aprovar smula que, a partir de sua publicao na imprensa oficial, ter efeito vinculante em relao aos demais rgos do Poder Judicirio e administrao pblica direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder sua reviso ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. 1 A smula ter por objetivo a validade, a interpretao e a eficcia de normas determinadas, acerca das quais haja controvrsia atual entre rgos judicirios ou entre esses e a administrao pblica que acarrete grave insegurana jurdica e relevante multiplicao de processos sobre questo idntica. 2 Sem prejuzo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovao, reviso ou cancelamento de smula poder ser provocada por aqueles que podem propor a ao direta de inconstitucionalidade. 3 Do ato administrativo ou deciso judicial que contrariar a smula aplicvel ou que indevidamente a aplicar, caber reclamao ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anular o ato administrativo ou cassar a deciso judicial reclamada, e determinar que outra seja proferida com ou sem a aplicao da smula, conforme o caso."

b) Precedente normativoReflete o entendimento da Justia do Trabalho quanto s condies de trabalho relativas aos dissdios coletivos.

Diferem das smulas orientam a criao de sentenas normativas (fontes formais)

-por tal motivo inclusive criticam-se esses precedentes que tendem a desaparecer para viabilizar a real negociao coletiva.

c) Princpios art. 8 CLT

c.1) informam a criao (agindo assim como fontes materiais) informam a interpretao das normas jurdicas existentes atuam na integrao das normas quando existe lacuna da lei utiliza-se a mesma orientao que informou a criao das diversas normas sobre o assunto para ser suprida a ausncia de norma mera forma de integrao das normas (majoritrio Dlio Maranho, Srgio PintoMartins). Maurcio Godinho chama de fonte supletiva subsidiria

d) Doutrina os trabalhos doutrinrios servem como fontes materiais eis que atuam como subsdios aos intrpretes e ao legislador na compreenso do sistema jurdico

e) Regulamento de empresa no se enquadra como fonte formal de direito eis que resta limitado ao mbito de vontade do empregador, pois resulta de seu ato unilateral de vontade. Integra-se aos contratos de trabalho como clusulas. Posio majoritria.

-Otvio Calvet: pode ser considerado fonte quando edita regras gerais e abstratas. Modernamente: regulamento negociado pelos representantes dos empregados

f) Analogia forma de integrao das normas jurdicas. A analogia um mtodo de integrao. Processo de preenchimento de lacunas normativas verificadas no sistema jurdico quando da aplicao a um caso concreto, feito pela busca a outras fontes normativas subsidirias.

-Corresponde ao princpio da plenitude na ordem jurdica, pois o juiz no pode se eximir de sentenciar alegando lacuna ou obscuridade da lei art. 126 CPC.

-No constituem fontes de direito.

g) Laudo arbitral no mbito coletivo, a deciso do rbitro pode ser considerada como fonte formal heternoma (semelhante sentena normativa)

h) Contratos no so fontes materiais ou formais; no informam a criao de normas e nem tm carter geral, impessoal e abstrato (Srgio Pinto Martins enquadra como fonte).

1.4.1.2.3 - Hierarquia das fontes conflitos e suas solues

Fundamento na validao de uma norma em cotejo com outra de eficcia mais ampla, ou seja, a norma inferior no pode contrariar a superior. Constituio da Repblica, como norma fundamental do direito positivo, tem posio hierrquica mxima, j que todas as outras fontes no podem contrari-la. Em Direito do Trabalho temos o Princpio protetivo na sua regra da norma mais favorvel. O Direito do Trabalho surgiu como uma base de comandos mnimos de observncia obrigatria pelas partes no intuito de amparar o trabalhador frente ao poder econmico do empregador.

O fundamento do Direito do Trabalho traz em si a idia de possibilitar que os interessados livremente possam efetuar a estipulao de regras mais favorveis (que criam melhores condies de trabalho e de vida) ao empregado.

Dessa forma, no ramo laboral no se pode falar em hierarquizao rgida das diversas fontes de direito, pois obviamente figura no topo da pirmide aquela mais favorvel ao empregado.

Obs.: as figuras consideradas como divergente assim o so, pois encontram vrias posies na doutrina. O ideal que essas figuras no caiam em prova, pois podem ser impugnadas.

Deve-se verificar se no edital da prova tem bibliografia e havendo, ler essa parte do edital, pois ai sim o que o autor entende sobre esse assunto pode ser cobrado sem que o examinador se importe com as eventuais divergncias.

1.4.2 - PRINCPIOS DO DIREITO DO TRABALHO

Os princpios atuam na formao da regra, direcionando-a na edificao do direito. Tal importncia e percepo em relao os princpios encontra-se esposada na obra de Sergio Pinto Martis quando afirma que o princpio e seu fundamento representam base que ir formar e inspirar as normas jurdicas. No Direito Coletivo os princpios objetivam alcanar o ser como entidade coletiva e as relaes que envolvem os sujeitos - ser coletivo empresarial e organizao dos trabalhadores.Baseado na doutrina os princpios do Direito Coletivo classificam-se em trs grupos que diferenciam quanto o objeto de estudo e seu escopo: Princpios assecuratrios da existncia do ser coletivo obreiro, os que abordam as relaes entre seres coletivos obreiros e empresariais no contexto da negociao coletiva e por fim os princpios que produzem efeitos no somente no seio coletivo geradoras das normas, mas tambm em toda a rbita jurdica.Os princpios assecuratrios da existncia do ser coletivo obreiro viabilizam o florescimento de tais organizaes coletivas, buscando o seu fortalecimento, pois permite exprimir a vontade coletiva dos trabalhadores. Dentre eles esto o princpio da liberdade associativa e sindical que se subdivide em liberdade de associao (mais abrangente) e liberdade sindical. O primeiro uma garantia constitucional prevista no art. 5, inciso XX, o qual versa que ningum poder ser compelido a associar-se ou a permanecer associado, assim a criao ou vinculao a entidade associativa livre, como tambm sua desfiliao. O princpio da liberdade sindical, tambm est assegurado pela Carta Magna no mesmo supracitado artigo discorrendo que ningum ser obrigado a filiar-se ou manter-se filiado a sindicato.O princpio da autonomia sindical garante que as entidades sindicais sejam geridas livremente sem intromisso de empresas particulares ou do Estado, permitindo com isso que o sindicato tenha livre performance externa e liberdade de estruturao interna.Quanto aos princpios regentes das relaes entre os seres coletivos trabalhistas entende-se que estes buscam conformar os parmetros da negociao coletiva. Dentre esses, poderem-se encontrar o princpio da interveno sindical na normatizao coletiva, em que a legitimidade do processo negocial coletivo deve ser submetido interveno do sindicato, evitando com isso a negociao informal entre o empregador e os grupos coletivos de obreiros que possivelmente estar enfraquecida no poder de negociao. J o princpio da equivalncia dos contratantes coletivos visa o reconhecimento da igualdade dos sujeitos do direito coletivo, tanto na natureza em que ambos so seres coletivos, como no poder dos instrumentos utilizados para ensejar a negociao. O princpio da lealdade e transparncia na negociao coletiva busca a persecuo da boa-f na negociao e clareza nas condies da negociao.Os princpios regentes das relaes entre normas coletivas negociadas e normas estatais referem-se relao e efeito entre normas provindas da negociao coletiva. O primeiro princpio refere-se criatividade jurdica da negociao coletiva dispe que os processos negociais coletivos possuem a fora de criarem normas jurdicas, desde que esteja em consonncia com a ordem estatal. E por fim existe o princpio da adequao setorial negociada que impe limites na negociao coletiva visando harmonia da norma coletiva com a norma estatal.

1.4.2.1 PRINCPIO DA LIBERDADE ASSOCIATIVA E SINDICAL:

O princpio da liberdade de associao assegura a liberdade de reunio e associao pacfica de um grupo de pessoas, agregadas por objetivos comuns, no necessariamente ligadas em funo de interesses econmicos ou profissionais.

Os direitos de reunio pacfica e de associao sem carter paramilitar esto assegurados na Carta Maior (art. 5., XVI e XVII).

O princpio da liberdade sindical consiste na faculdade que possuem os empregadores e os obreiros de organizarem e constiturem livremente seus sindicatos, sem que sofram qualquer interferncia ou interveno do Estado, objetivando a defesa dos interesses e direitos coletivos ou individuais da categoria, seja ela econmica (patronal), seja profissional (dos trabalhadores), inclusive em questes judiciais ou administrativas. A liberdade sindical materializa-se em 2 plos de atuao, a saber:

liberdade sindical individual: faculdade que o empregador e o trabalhador, individual e livremente, possuem de filiar-se, manter-se filiado ou mesmo desfiliar-se do sindicato representativo da categoria (CF/1988, arts. 5., XX, e 8., V); liberdade sindical coletiva: possibilidade, que possuem os empresrios e trabalhadores agrupados, unidos por uma atividade comum, similar ou conexa, de constituir, livremente, o sindicato representante de seus interesses (CF/1988, arts. 5., XVIII, e 8., caput).

Ainda no podemos afirmar que a CF/1988 permitiu a liberdade sindical plena, uma vez que ainda manteve resqucios da antiga estrutura corporativista, como a unicidade sindical (art. 8., II), a contribuio sindical obrigatria a todos, filiados ou no (art. 8., IV) e o poder normativo da Justia do Trabalho (art. 114, 2.). 1.4.2.2 PRINCPIO DA AUTONOMIA SINDICAL:

Consiste na faculdade que possuem os empregadores e trabalhadores de organizarem internamente seus sindicatos, com poderes de auto-gesto e administrao, sem a autorizao, interveno, interferncia ou controle do Estado (CF/1988, art. 8., I). Decorre do princpio da autonomia sindical a liberdade dos associados encerrarem livremente as atividades do sindicato (auto-extino), exigindo-se, para suspenso de suas atividades por ato externo ou dissoluo compulsria, deciso judicial, sendo necessrio, no ltimo caso, o trnsito em julgado (CF/1988, art. 5., XIX). O princpio da autonomia sindical somente ganhou fora com a nova Constituio, que eliminou o controle do Estado sobre a estrutura dos sindicatos quanto sua criao e gesto e ampliou consideravelmente as prerrogativas de atuao dessas entidades na defesa dos interesses e direitos coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questes judiciais ou administrativas (art. 8., III) e tornou obrigatria a participao sindical nas negociaes coletivas de trabalho (art. 8., VI). 1.4.2.3 PRINCPIO DA PREPONDERNCIA DO INTERESSE COLETIVO SOBRE O INDIVIDUAL: O interesse coletivo prevalece sobre o interesse meramente individual, sendo possvel, em determinadas situaes, em nome da manuteno da sade da empresa e dos empregos, a negociao coletiva para suprimir, flexibilizar ou alterar direitos antes garantidos.1.4.2.4 PRINCPIO DA CRIATIVIDADE JURDICA DA NEGOCIAO COLETIVA:Vlia Bonfim nomina este princpio de princpio da Autonomia Coletiva ou Poder de Auto-regulamentao.

Os sindicatos representativos das categorias dos empregados e empregadores (ou empresas em situaes particularizadas) negociam com a finalidade de criarem, alterarem ou suprimirem direitos trabalhistas, em regra, de carter privado, que iro vincular as partes atingidas pelo convnio coletivo resultante da negociao coletiva. 1.4.2.5 PRINCPIO DA PAZ SOCIAL:Atravs da negociao coletiva bem sucedida, ao solucionar o conflito, os interessados restabelecem o equilbrio social, a paz social. 1.4.2.6 PRINCPIO DA ADEQUAO SETORIAL NEGOCIADA:A finalidade da negociao coletiva a de adequar os direitos trabalhistas a cada categoria, de acordo com a regio, poca, situao econmica, empresa, condies de trabalho, etc.

Normas de indisponibilidade absoluta; Normas de indisponibilidade relativa;

14.2.7 PRINCPIO DA BOA-F OU DA LEALDADE: Deve haver entre os negociantes mtua colaborao e transparncia nas tratativas. Torna-se necessria uma anlise adequada das proposies do adversrio, que retrate com fidelidade a situao real da empresa e das necessidades apontadas na pauta de reivindicaes dos trabalhadores. 1.4.2.8 PRINCPIO DA INTERVENO OBRIGATRIA DOS SINDICATOS: Para a validade da negociao coletiva, o ordenamento jurdico exige a interveno obrigatria dos sindicatos (art. 8, III e VI, da CF/88 c/c art. 611 da CLT). 1.4.2.9 PRINCPIO DA EQUIVALNCIA ENTRE OS NEGOCIANTES:Os sindicatos da categoria econmica e profissional possuem, em princpio, equivalncia jurdica e econmica nas negociaes coletivas.

1.4.2.10 PRINCPIO DA ATUAO DE TERCEIROS:Quando a negociao coletiva for frustrada, o impasse poder ser resolvido por um terceiro, seja o Estado no exerccio do Poder Normativo, seja um terceiro, mediador ou rbitro, livremente escolhido pelas partes (art. 114, 1 e 2, da CF/88)

22/02/20132. ORIGENS HISTRICAS DOS SINDICATOS

2.1 Precedentes gregos e romanos; as corpo raes de ofcio e as associaes de companheiros.

2.1.1. O trabalho na Antigidade remota: fases arqueolgicas, egpcios

H grande dificuldade de se impor uma causa primeira e nica para explicar as origens do direito arcaico, devido ao amplo quadro de hipteses possveis e proposies explicativas distintas.

A sociedade pr-histrica fundamenta-se no princpio do parentesco, assim, natural que se considere que a base geradora do jurdico encontra-se primeiramente nos laos de consanginidade, nas prticas de convvio familiar de um mesmo grupo social, unido por crenas e tradies. Nasceu espontnea e inteiramente nos antigos princpios que constituram a famlia, derivando das crenas religiosas universalmente aceitas na idade primitiva desses povos e exercendo domnio sobre as inteligncias e sobre as vontades.

Posteriormente, num tempo em que inexistiam legislaes escritas, as prticas primrias de controle so transmitidas oralmente, marcadas por revelaes sagradas e divinas. O receio da vingana dos deuses, pelo desrespeito aos seus ditames, fazia com que o direito fosse respeitado religiosamente.

2.1.2. FASES ARQUEOLGICAS

O homem sempre trabalhou para obter seus alimentos. Desenvolvia o seu trabalho de forma primitiva, com instrumentos de trabalho rudimentares, objetivando apenas a satisfao de suas necessidades imediatas para sobreviver, sem o intento de acmulo. Ele caa, pesca e luta contra o meio fsico, contra os animais e contra os seus semelhantes. Era, portanto, uma economia apropriativa.

Quando comeou a sentir a necessidade de se defender dos animais e de outros homens, iniciou-se na fabricao de armas e instrumentos de defesa. Mais tarde aperfeioa as armas de caa e pesca, cria novos instrumentos de trabalho, ferramentas de produo.

Posteriormente, o homem descobre formas de polir seus instrumentos de trabalho e luta. Dessa forma, houve uma organizao social e certa diviso de trabalho.

No momento em que o homem desenvolve os utenslios, fica acima dos outros animais, a partir de um instrumento novo. J era possvel obter abastecimento para dias. No perodo paleoltico, passa a lascar pedras para fabricar lanas e machados, criando, assim, sua primeira atividade industrial. Dessa forma, restava tempo para o lazer. Passa o homem a domesticar animais.

O trabalho consistia em uma simples cooperao. No havia diviso de trabalho. At ento, o homem e sua famlia trabalhavam para o seu prprio sustento. A populao se dispersava em pequenos agrupamentos. Trabalhavam conjuntamente, visto que o homem no dominava tecnicamente a natureza, e a cooperao era essencial, uma questo de sobrevivncia. Assim, foi organizada uma diviso de trabalho por sexo: os homens dedicavam-se ao trabalho de maior risco, enquanto as mulheres colhiam os frutos (espontneos) da natureza.

O homem no mais se contentava em colher os frutos espontneos da natureza, e passou a controlar as leis naturais. Domestica, ento, outros animais, agregando aos seus hbitos o pastoreio e a prtica da agricultura. O homem, que era nmade, torna-se sedentrio, principalmente por causa da agricultura, que fixou a vida humana.

H maior densidade do grupo social, com organizao de comunidades, inclusive com hierarquizao. Surge ento o chefe, na figura do patriarca. Este se torna chefe e uma espcie de lder militar nos perodos de guerra.

Finalmente, surge para o homem a Era dos Metais e a economia transformativa, havendo a complexidade na elaborao dos produtos econmicos. Inventou-se a roda. A fuso de metais j no era mais segredo. A humanidade agora caminha rumo civilizao. As relaes se tornam mais complexas, surgindo a necessidade de regras e leis de regulamentao. Conclui-se, assim, a fase arqueolgica, fazendo surgir as primeiras civilizaes.

2.1.3 O TRABALHO ENTRE OS EGPCIOS

H indcios da existncia da vida humana no Egito j na Era Neoltica, em 5.500 a.C. Os primeiros textos em hierglifos surgem no perodo entre 3.100 a 3.000 a.C.

No Egito, a urbanizao se d de forma gradual, concomitante unificao dos povos do Sul e Norte (Baixo e Alto Egito), o que resultou na formao das cidades entre 3.100 e 2.890 a.C.

O povo egpcio da antigidade era predominantemente dedicado agricultura, visto que dispunha de condies geogrficas vantajosas. O Egito banhado pelo rio Nilo (as civilizaes egpcias se formaram em torno do rio Nilo), que proporcionava a fertilidade do solo, tornando-o propcio agricultura, bem como navegao fluvial, essencial para o transporte de mercadorias e sofisticao do comrcio. Foram realizadas grandes obras de irrigao e construdos audes e diques. Os perodos de cheia e recuo das guas do Nilo so previsveis e estveis.

Todos esses fatores contribuem para um crescimento mais acelerado da populao, bem como um maior desenvolvimento poltico e econmico.

Ao Estado cumpria a direo e a regulamentao do trabalho rural do pas, que era feito por escravos, servos da gleba e trabalhadores livres, todos obrigados, quando necessrio, prestao de servios em obras pblicas. A manufatura constitua tambm um ramo econmico de grande importncia.

O Egito era rico em vrios materiais (ouro, cobre, slex, ametista, marfim e granito para a construo). A madeira era importada do Lbano. O comrcio era feito base de trocas, sem a utilizao de moedas, o chamado escambo.

Foram realizadas tambm atividades de importncia, como a fabricao de tecidos e a construo de navios, tambm controlados pelo Estado.

aceita a idia de ter havido tambm grupos profissionais de artesos, onde os ofcios eram passados de pai para filho.

2.1.4. O TRABALHO NA ANTIGIDADE CLSSICA.

2.1.4.1 ROMA: A ESCRAVIDO

A estratificao social composta por homens livres e escravos. O trabalho escravo predominava.

A prtica escravagista surgiu das guerras. Nas lutas contra grupos ou tribos rivais, os adversrios feridos eram mortos. Posteriormente, ao invs de mat-los, percebeu-se que era mais til escravizar o derrotado na guerra, aproveitando os seus servios. A escravido foi um fenmeno universal no mundo antigo.

Na Roma republicana, a reposio de escravos era confiada principalmente s regras expansionistas; no Alto Imprio, a criao e o comrcio do "gado humano" predominaram com a captura de prisioneiros em batalha. Aristteles afirmava que "a arte de adquirir escravos... como uma forma da arte da guerra ou da caa".

Calcula-se que na Itlia do final do sculo I a.C. os escravos chegaram a dois milhes numa populao total de seis milhes. No perodo imperial, entre 50 a.C. e 150 d.C., os escravos nos territrios romanos chegaram a dez milhes numa populao total de 50 milhes.

O trabalho manual exaustivo era exclusivo dos escravos, portanto, considerado atividade subalterna, desonrosa para os homens vlidos e livres. Era tratado como carga, fadiga, penalidade. Isso gerou vrios preconceitos sobre o trabalho humano.

Ao lado do trabalho escravo, existia tambm o trabalho livre. A vida de um escravo, do momento da escravizao at a morte, durava cerca de dez anos.

Da infncia at a morte os romanos livres eram rodeados, servidos e mantidos pelo trabalho dos escravos: no cultivo da terra, nas minas, nas oficinas, nas tarefas domsticas, nas prticas pblicas, na amamentao, nos favores sexuais.

No direito romano predominava a economia rural fundada latifndios. A relao de trabalho era estabelecida entre o dominus (sujeito titular de direitos) e a res (coisa). Era uma relao de direito real, e no pessoal. O escravo era uma coisa do proprietrio, da qual ele podia usar e abusar e sobre a qual o senhor exercia o direito de vida e morte. No era, portanto, considerado um sujeito de direito. No passava de uma mercadoria, sem nenhum direito, muito menos trabalhista, e sem acesso aos bens que ele produzia.

Era exigido do escravo um trabalho produtivo. Era um trabalho realizado por conta alheia, visto que a titularidade dos seus resultados pertencia ao amo.

Mais tarde, alguns pensadores gregos ensinaram que a noo de escravo no era ser servo por natureza, e sim por conveno dos homens, no era instituio de direito natural.

Muitos escravos, posteriormente, vieram a se tornar livres. Quanto s causas da libertao da escravido, preciso levar em conta no s a relao entre oferta e procura de escravos, mas, sobretudo, entre o custo dos escravos e o custo de outros tipos de trabalhadores, alm do papel exercido pelo cristianismo, pelo progresso tecnolgico e pela exigncia de trabalhadores cada vez mais motivados. O senhor percebera que o trabalho livre mais produtivo do que o trabalho escravo, os trabalhadores rendiam mais quando eram melhor tratados. Adam Smith constatou que "o trabalho executado por homens livres, no final das contas, mais barato do que o executado por escravos". O custo para manter os escravos nos latifndios tornou-se cada vez mais elevado que o custo da subdiviso dos latifndios em pequenas propriedades, chefiadas pelos colonos. Tambm crescia a tendncia de os escravos fugirem ou se rebelarem, assim como crescia a tendncia de os patres exercerem uma seleo e controle severssimos. Com a passagem do baixo Imprio Idade Mdia e com o enfraquecimento da autoridade central, ficaria cada vez mais difcil manter sob controle as grandes massas de "gado humano": as fugas tornaram-se freqentes e ameaadoras, como as rebelies e a formao de maltas de escravos transformados em delinqentes.

Dessa forma, se juntarmos aos custos da vigilncia os da manuteno, compreende-se como os proprietrios chegaram a preferir a libertao dos escravos e a sua transformao em servos da gleba, obrigados, desse modo, a se sustentar, a pagar a corvia, a serem com efeito mais fiis, mais produtivos e menos perigosos. Se os escravos constituam para o proprietrio prejuzo certo quando adoeciam, envelheciam ou morriam, os rendeiros podiam ser substitudos de um dia para o outro sem danos relevantes para o senhor.

Os escravos ganhavam a liberdade, mas no tinham outro direito seno o de trabalhar nos seus ofcios habituais ou alugando-se a terceiros, mas com a vantagem de ganhar o salrio. Foram os primeiros trabalhadores assalariados.

Mesmo nos tempos medievais a escravido tambm existiu e os senhores feudais faziam grande nmero de prisioneiros, especialmente entre os brbaros e infiis.

At mesmo na Idade Moderna, a escravido continuou, principalmente com o descobrimento da Amrica. Os colonizadores espanhis escravizavam os indgenas e os portugueses tambm faziam viagens pela costa africana, conquistando escravos para trazer para o Novo Continente.

2.1.4.2 Os colgios romanos

Eram associaes corporativas. Seus objetivos principais eram de ordem religiosa e funerria. Agrupavam pessoas humildes, com cotizaes regulares, para celebrar um culto e assegurar funerais decentes. Mas, por tornarem s vezes o aspecto de pequenos clubes e por participarem nas perturbaes polticas, o Imprio, no seu comeo, desconfiou delas, submetendo a criao autorizao prvia e impondo sua atividade limites que a polcia se encarregava de manter. S se demonstrou maior benevolncia no decorrer do sculo II, quando o Imprio foi ao ponto de permitir sua livre formao e reunio, reconhecendo sua existncia financeira e jurdica. Os progressos de certas idias filantrpicas explicam essa mudana de atitude; mas as necessidades econmicas intervinham tambm, pois comeava-se a esperar das corporaes a prestao de servios ou a execuo de encomendas.

Nas provncias ocidentais, os colgios se haviam organizado desde o princpio do Imprio. Com seus "patronos" honorrios, escritrios e festas, desempenharam grande papel na formao e na renovao das burguesias municipais.

Mais tarde surgem para organizar a produo romana, que era rudimentar. Assim, foram criados grupos de artesos que se reuniam para exercer a mesma funo. Davam assistncia a seus membros, tendo esses passado a ter o trabalho regulamentado.

2.1.4.3 "Locatio Conductio: Rei, Operarum, Operis"

A locatio conductio o contrato de arrendamento ou locao de empreitada. Havia trs diferentes operaes: a locatio rei, a locatio operarum e a locatio operis faciendi. Tinha por objetivo regular a atividade de quem se comprometia a locar suas energias ou resultado de trabalho em troca de pagamento. Assim, estabelecia a organizao do trabalho do homem livre.

A locatio rei era o aluguel (arrendamento) de coisas, contrato pelo qual o locator se obrigava a proporcionar ao conductor, mediante pagamento, o desfrute ou uso dessa coisa. O objeto podia ser qualquer coisa corprea, no consumvel. O aluguel devia ser certo, determinado.

A locatio operarum (locao de servios) a prestao de servios, pela qual o locator se comprometia a prestar determinados servios durante certo tempo mediante remunerao. Os servios eram locados mediante pagamento. Tinham por objeto os servios manuais no especializados, de homens livres. Corresponde ao contrato de prestao de servios. apontada como precedente da relao de emprego moderna, objeto do direito do trabalho.

A locatio operis faciendi (locao de obra ou empreitada) era a execuo de uma obra, na qual o conductor se comprometia a trabalhar sobre uma coisa que lhe confiava o locator, sobre promessa de retribuio. O locator entregava ao conductor uma ou mais coisas para que servissem de objeto do trabalho que este comprometeu a realizar para aquele, mediante recebimento de aluguel. Era a empreitada, ajustada entre conductor e locator.

2.1.4.4 Direito Hebreu

O Direito hebraico religioso, e a religio monotesta. A religio se derivou do cristianismo e exerceu enorme influncia nos pases ocidentais.

Entre os hebreus, a prtica da escravido foi menos dura, graas atuao da lei mosaica e talvez tambm por j terem sido escravos no Egito. So reconhecidos direitos iguais aos homens. Todos os homens so iguais perante o Criador. Probem-se os maus-tratos aos escravos e assalariados, proclama o sentido alimentar do trabalho e tambm condena a preguia. Exalta o trabalho como arena de virtudes e fator de preservao do cio. Probe, ainda, que o trabalho seja utilizado como fator de opresso.

Os hebreus prezavam e valorizavam o trabalho, colocando como um santo o homem que constri sua casa, que lavra a terra, que planta o trigo.

Foi com a civilizao hebria que o trabalho adquiriu um elevado sentido. Se o reino terreno, pelos hebreus esperado, se estabelecer pela graa de Deus, preciso, entretanto, prepar-lo no s com a prece, mas com o trabalho que cria o esprito da disciplina. O reino no s ddiva, mas tambm conquista.

2.1.4.5 Mesopotmia Cdigo de Hammurabi

Tudo indica que h existncia de vida humana na Mesopotmia desde o ano de 7.000 a.C. As primeiras inscries cuneiformes aparecem em 3.100 a.C. As cidades j existem entre 3.100 e 2.900 a.C..

A civilizao se formou em torno dos rios Tigre e Eufrates. O solo era propcio agricultura e navegao fluvial. Em regra, havia carncia de minerais (com exceo do cobre) e o solo, apesar de bastante frtil, apresentava problemas quanto dificuldade de drenagem e de conteno do avano da vegetao desrtica. As cidades mesopotmicas dependiam do comrcio.

Quando se fala da existncia de "cdigos" na antiga Mesopotmia, essa expresso no deve ser entendida no seu sentido moderno (como um documento sistematizado, dotado de princpios gerais, categorias, conceitos e institutos).

O primeiro desses "cdigos" da antiga Mesopotmia surge no perodo entre 2.140 e 2.004 a.C., na regio da Sumria. o Cdigo de Ur-Nammu. A estrutura da sociedade transmitida pelo texto do cdigo demonstra que existem duas grandes classes de pessoas, os homens livres e os escravos, bem como uma camada intermediria, de funcionrios que servem os palcios reais e os templos e que possuem uma liberdade limitada.

Na cidade de Esnunna, na Acdia, foi descoberto um cdigo editado por volta de 1.930 a.C. Na cidade de Isin, na Sumria, foi encontrado o Cdigo de Lipit-Ishtar, redigido possivelmente em 1.880-1.870 a.C.O Cdigo de Hammurabi foi descoberto na Prsia, em 1901. O documento legal gravado em pedra negra. Foi promulgado, aproximadamente em 1.694 a.C., no perodo do apogeu do imprio babilnico.Hammurabi governou na Babilnia entre 1792 e 1750 a.C. autor de 282 sentenas que foram reunidas e publicadas em estelas que constituram o seu Cdigo. Como administrador, retificou o leito do rio Eufrates, construiu e manteve canais de irrigao e navegao, incrementando a agricultura e o comrcio. Aos povos conquistados, permitiu o culto da religio local, enquanto reconstrua suas cidades e ornamentava seus templos. Implantou a noo de direito e ordenou o territrio sob o seu poder. Hammurabi no foi apenas um grande conquistador, um estrategista excelente, um rei poderoso e criador do Imprio Babilnico. Ele foi, antes de tudo, um exmio administrador. Uma de suas primeiras preocupaes foi a implantao do direito e da ordem no pas. Uma das caractersticas que marcaram a personalidade de Hammurabi e fizeram dele uma das maiores figuras de monarca do Oriente Antigo, foi o seu sentido de justia. O seu Cdigo seconstitui num extenso prlogo, no qual fica explicitado o conjunto de leis oferecido ao povo da Babilnia pelo deus Samas, por intermdio do rei Hammurabi, e no por deciso deste.A organizao da sociedade segue os padres j estabelecidos no Cdigo de Ur-Nammu. Assim, h um estrato de homens livres, uma camada de homens dotados de personalidade jurdica, mas com responsabilidade limitada, e a ltima camada da populao babilnica era formada por escravos (equiparados a um bem mvel), de quem geralmente a sorte dependia do sentimento humanitrio de seus senhores. Devido reforma de Hammurabi, houve preocupao com o direito dos escravos. Fixou, em seu Cdigo, por exemplo, limite mximo de tempo de servio para aqueles que, em razo de dvidas, eram obrigados escravido ( 117: "Se uma dvida pesa sobre um awilum homem livre e ele vendeu sua esposa, seu filho ou sua filha ou (os) entregou em servio pela dvida, durante trs anos trabalharo na casa de seu comprador ou daquele que os tem em sujeio, no quarto ano ser concedida a sua libertao"). O legislador quer determinar o tempo mximo de servio pela dvida, a que um membro da famlia de awilum pode ser submetido. 175: "Se um escravo do palcio ou um escravo de um musknum tomou por esposa a filha de awilum e ela lhe gerou filhos o dono do escravo no poder reivindicar para a escravido os filhos da filha de um awilum"). Os filhos do matrimnio sero livres. O palcio (musknum) no tem direito nenhum sobre eles. O Cdigo tambm disciplina como proceder diviso da herana no matrimnio de um escravo com a filha de um homem livre. ( 176: (...) "se o escravo morreu, a esposa tomar consigo o seu dote; mas tudo o que seu esposo e ela adquiriram depois que se uniram, dividiro em duas partes; o dono do escravo tomar uma metade, a filha do awilum tomar a outra metade para seus filhos").Hammurabi tambm regulou a aprendizagem profissional ( 188: "Se um arteso tomou um filho, como filho de criao, e lhe ensinou o seu ofcio, ele no poder ser reclamado". 189: "Se ele no lhe ensinou o seu ofcio, esse filho de criao poder voltar para a casa de seu pai".), os direitos e obrigaes de classes especiais de trabalhadores, mdicos, veterinrios, barbeiros, pedreiros e barqueiros. 219: "Se um mdico fez uma operao difcil com um escapelo de bronze no escravo de um musknum e causou-lhe a morte, ele dever restituir um escravo como o escravo". 224: "Se um mdico de um boi ou de jumento fez uma operao difcil em um boi ou em um jumento e curou-o, o dono do boi ou do jumento dar ao mdico, como seus honorrios, 1/6 (de um siclo) de prata". 226: "Se um barbeiro, sem o consentimento do dono do escravo, raspou a marca de um escravo que no seu, cortaro a mo desse barbeiro". 228: "Se um pedreiro edificou uma casa para um awilum e lha terminou, ele lhe dar, como seus honorrios, por cada sar de casa 2 siclos de prata". 234: "Se um barqueiro calafetou um barco de 60 GUR para um awilum, ele lhe dar 2 ciclos de prata como seus honorrios".No que se refere ao domnio econmico, o Cdigo consagra alguma interveno na atividade privada, por meio da delimitao de preos e salrios. 257: "Se um awilum contratou um trabalhador rural, dar-lhe- 8 GUR de cevada por ano". 258: "Se um awilum contratou um vaqueiro, dar-lhe- 6 GUR de cevada por ano". Os 257-258 fixam a remunerao anual de dois tipos de trabalhadores rurais. 261: "Se um awilum contratou um pastor para apascentar o gado maior ou o gado menor, dar-lhe- 8 GUR de cevada por ano". 271: "Se um awilum alugou bois, um carro e o seu condutor, dar 3 parsiktum de cevada por dia". Determinando um bom nmero de salrios e preos, a legislao de Hammurabi surge como uma ampla experincia, uma poca antiga, de tabelamento oficial.Graas ao Cdigo de Hammurabi, o trabalhador mereceu tratamento mais suave, pelo reconhecimento de alguns direitos civis.

2.1.4.6 Os pensadores gregos

A filosofia grega a primeira a ter uma preocupao racional