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Direitos autorais e creative commons
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULFACULDADE DE BIBLOTECONOMIA E COMUNICAO
DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA INFORMAO
ANA PAULA MEDEIROS MAGNUS
DIREITO AUTORAL E CREATIVE COMMONS: a participao do bibliotecrio na promoo do acesso aberto informao
Porto Alegre2009
ANA PAULA MEDEIROS MAGNUS
DIREITO AUTORAL E CREATIVE COMMONS: a participao do bibliotecrio na promoo do acesso aberto informao
Trabalho de Concluso de Curso apresentado como requisito para a obteno do ttulo de Bacharel em Biblioteconomia da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Orientadora: Prof. Dr. Ana Maria Mielniczuk de Moura.Co-orientadora: Prof. Me. Rita do Carmo Ferreira Laipelt.
Porto Alegre2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULReitor: Prof. Dr. Carlos Alexandre NettoVice Reitor: Prof. Dr. Rui Vicente Oppermann
FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAODiretor: Prof. Bel. Ricardo Schneiders da SilvaVice-diretor: Prof. Dr. Regina Helena Van der Laan
DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA INFORMAOChefe: Prof. Dr. Ana Maria Mielniczuk de MouraVice-substituta: Prof. Dr. Helen Beatriz Frota Rozados
COMISSO DE GRADUAO DA BIBLIOTECONOMIACoordenadora: Prof Me. Glria Isabel Sattamini FerreiraCoordenadora Substituta: Prof Dr. Samile Andra de Souza Vanz
CIP. Brasil. Dados Internacionais de Catalogao na Publicao
Departamento de Cincias da InformaoRua Ramiro Barcellos, 2705, sala 507CEP: 90.035-007 Porto Alegre/RSTel.: (51) 3308.5143Fax: (51) 3316.5435E-mail: [email protected]
M199d Magnus, Ana Paula Medeiros Direito Autoral e Creative Commons : a participao do bibliotecrio na promoo do acesso aberto informao / Ana Paula Medeiros Magnus ; orientadora Ana Maria Mielniczuk de Moura ; co-orientadora Rita do Carmo Ferreira Laipelt. Porto Alegre, 2009.
114 f. : il. ; 30 cm.
Trabalho de Concluso de Curso (Graduao) Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Biblioteconomia e
Documentao. Curso de Biblioteconomia.
1. Direito Autoral. 2. Creative Commons. I. Moura, Ana Maria Mielniczuk de. II. Laipelt, Rita do Carmo Ferreira. III. Ttulo.
CDU 02:347.78
ESTA OBRA LICENCIADA POR UMA LICENA CREATIVE COMMONS
Atribuio Uso no-comercial Compartilhamento pela mesma licena 2.5
Voc pode:
copiar, distribuir, exibir e executar a obra;
criar obras derivadas.
Sob as seguintes condies:
Atribuio. Voc deve dar crdito ao autor original.
Uso no-comercial. Voc no pode utilizar esta obra com finalidades
comerciais.
Compartilhamento pela mesma licena. Se voc alterar, transformar ou criar
outra obra com base nesta, somente poder distribuir a obra resultante sob uma
licena idntica a esta.
Para cada novo uso ou distribuio, voc deve deixar claro para outros os termos
da licena desta obra.
Qualquer uma destas condies podem ser renunciadas, desde que voc obtenha
permisso do autor.
Qualquer direito de uso legtimo (ou fair use) concedido por lei ou qualquer
outro direito protegido pela legislao local no so, em hiptese alguma,
afetados pelo disposto acima.
ANA PAULA MEDEIROS MAGNUS
DIREITO AUTORAL E CREATIVE COMMONS: a participao do
bibliotecrio na promoo do acesso aberto informao
Trabalho de Concluso de Curso apresentado como requisito para a obteno do ttulo de Bacharel em Biblioteconomia da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Aprovado em 07 de dezembro de 2009.
Banca examinadora:
_____________________________________________________Prof. Dr. Ana Maria Mielniczuk de Moura
Departamento de Cincias da Informao UFRGS
_____________________________________________________Prof. Dr. Snia Elisa Caregnato
Departamento de Cincias da Informao UFRGS
_____________________________________________________Bel. Ana Gabriela Clipes Ferreira
Bibliotecria da Faculdade de Educao UFRGS
AGRADECIMENTOS
Agradeo a todos que de alguma forma contriburam para a realizao desta
conquista:
querida Prof. Ana Moura a qual sempre me incentivou e acolheu. Seus
ensinamentos foram de fundamental importncia para a elaborao do meu TCC.
Hoje a tenho como uma amiga!
querida Prof. Rita que sempre teve a pacincia de ler e corrigir todos os meus
erros de portugus! E, juntamente com a Prof. Ana Moura, contribuiu para o
amadurecimento deste trabalho. Muito obrigada!
Aos queridos amigos Mari e Arthur, casal nota 10, que sempre estiverem dispostos a
me ajudar.
Aos meus queridos pais, Srgio e Maria Francisca, que contriburam para a
formao do meu carter e que sempre incentivaram os meus estudos. Eles so um
exemplo de vida a ser seguido e, se hoje eu sonho em conquistar mais objetivos na
vida, por causa deles e para eles.
s minhas amadas cadelas, Paloma e Pretinha, que nos momentos de cansao
estavam l esperando por um afago e retribuindo com outro.
E por ltimo, ao grande amor da minha vida, Tiago Cattani, que apesar das brigas
teve pacincia de permanecer ao meu lado e, claro, me ajudou com as tradues,
verses e revises deste trabalho. Te amo!
Quem somos ns, quem cada um de ns seno uma
combinatria de experincias, de informaes, de leituras, de
imaginao? Cada vida uma enciclopdia, uma biblioteca, um
inventrio de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo
pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as
maneiras possveis. (talo Calvino)
RESUMO
Pesquisa de carter descritivo, realizada a partir de estudo de casos mltiplos, que aborda o Direito Autoral e as licenas Creative Commons como forma de manter um equilbrio entre os direitos dos autores e os da sociedade em obter acesso informao. Possui como objetivo geral analisar a percepo do bibliotecrio sobre a importncia do uso da licena Creative Commons na comunidade cientfica e universitria. Arrola um referencial terico que engloba a Propriedade Intelectual; as vertentes histricas do Direito Autoral no mundo e no Brasil; os aspectos da atual lei de Direito Autoral brasileira; o Direito Autoral relacionado era digital; o direito informao relacionado atuao do bibliotecrio e as possveis solues para esse entrave social, que vo desde o Open Access, o Open Archives Initiative, a Pasta do Professor, o Fair Use, o Copyleft e o Creative Commons. Relata as etapas da realizao da pesquisa, sendo a primeira a exposio de um vdeo sobre o Creative Commons; a segunda a apresentao em PowerPoint de explicaes sobre as licenas e a terceira e ltima a aplicao de um questionrio com perguntas abertas e fechadas aos alunos do Curso de Especializao em Gesto de Bibliotecas Universitrias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul durante aula da disciplina de Servios de Informao para a Educao a Distncia, no dia 17 de junho de 2009. Verifica que 52% dos profissionais possuem conhecimento sobre o Direito Autoral brasileiro e que 100% consideram importante conhec-lo. Constata que 58% dos sujeitos auxiliam, de alguma forma, professores, pesquisadores e alunos de sua instituio a publicarem seus trabalhos. Aponta que 74% dos sujeitos j ouviram falar sobre as licenas Creative Commons, no entanto, 53% afirmaram que no sabiam como as licenas funcionavam. Contudo, 95% dos sujeitos consideram importante que o bibliotecrio participe sobre os debates acerca das questes ligadas ao Direito Autoral e, por isso, conclui que esse profissional necessita se engajar mais a essas questes a fim de garantir o acesso cultura e informao por parte da sociedade.
Palavras-chave: Direito Autoral. Creative Commons. Open Access. Direito Informao. Bibliotecrio.
ABSTRACT
The work presents a research descriptive in character, carried out through multiple case studies, which deals with Copyright and the Creative Commons licenses, aiming at proposing a balance between the rights of Author and the rights of Society in being granted access to information. Its general objective is to analyze the Librarians perception about how important the use of the Creative Commons license is in the scientific and academic community. It lists a theoretical reference which comprehends the Intellectual Property; the historical trends of Copyright in Brazil and the world; the aspects of the current state of Brazilian law of Copyright; the Copyright in relation to the Digital Era; the right to information in relation to the Librarians activity and the possible solutions for that social obstacle, going from the Open Access, the Open Archives Initiative, the teachers folder, the Fair Use, the Copyleft, and the Creative Commons. It reports the research steps, being the first of those steps an exhibition of a video about Creative Commons; the second an explanation of the licenses by means of PowerPoint; and the third a questionnaire with open and closed questions given to the students of University Library Management Postgraduate Course of Universidade Federal do Rio Grande do Sul, during a class of Information Services for Distance Learning discipline, on the 17th of July 2009. It states that 52% of those professionals have knowledge about Brazilian Copyright and that 100% consider it to be worthy of concern. It finds out that 58% of the individuals help, in some way, their professors, researchers and students to publish their works. It points out that 74% of the individuals had already heard about the Creative Commons licenses, even if 53% of them did not know how the licenses work. However, 95% of the individuals consider it to be important that Librarians take part in debates about Copyright, and therefore concludes that it is necessary for this kind of professional to engage deeper into matters about the subject, in order to grant society the access to culture and information.
Keywords: Copyright. Creative Commons. Open Access. Right to Information. Librarian.
LISTA DE ILUSTRAES
QUADRO 1 Relao entre o direito informao e os deveres dos profissionais,
cidados e poder pblico...........................................................................................39
FIGURA 1 Licena creative commons atribuio...................................................67
FIGURA 2 Licena creative commons uso no comercial .....................................67
FIGURA 3 Licena creative commons no a obras derivadas ...............................68
FIGURA 4 Licena creative commons compartilhamento pela mesma licena .....68
FIGURA 5 Recombinao (sampling) ....................................................................68
FIGURA 6 GNU GPL E GNU LGPL .......................................................................69
QUADRO 2 Relao entre as etapas da pesquisa e objetivos especficos ...........74
GRFICO 1 Conhecimento sobre o direito autoral ................................................77
GRFICO 2 Conhecimento para auxiliar o usurio no registro de obras junto ao
escritrio de direitos autorais.....................................................................................78
GRFICO 3 Formato dos documentos disponibilizados aos usurios de outra
instituio ..................................................................................................................80
GRFICO 4 Formato do material disponibilizado ao usurio da instituio...........81
GRFICO 5 Preocupao com o direito autoral quando realizam pesquisas e
obtm fontes consultadas na internet........................................................................85
GRFICO 6 Conhecimento sobre o modelo open access .....................................87
GRFICO 7 Nvel de interferncia dos peridicos de acesso aberto na busca de
informao na biblioteca onde trabalham..................................................................89
GRFICO 8 Indicao de peridicos de acesso aberto para a publicao de
trabalhos e pesquisas dos usurios ..........................................................................90
GRFICO 9 Confiabilidade dos artigos publicados em peridicos de acesso
aberto ........................................................................................................................91
GRFICO 10 Auxlio aos alunos, professores e pesquisadores na publicao dos
seus trabalhos ...........................................................................................................93
GRFICO 11 Forma de auxlio para publicar trabalhos dos usurios....................93
GRFICO 12 Onde ou como conheceram a licena creative commons................96
GRFICO 13 Conhecimento sobre o funcionamento da licena creative
commons...................................................................................................................97
GRFICO 14 Usurios que se interessariam pela utilizao da licena creative
commons...................................................................................................................98
SUMRIO
1 INTRODUO ............................................................................................................13
1.1 Justificativa.............................................................................................................14
1.2 Problema .................................................................................................................16
1.3 Objetivos .................................................................................................................17
1.3.1 Objetivo Geral ...................................................................................................... 17
1.3.2 Objetivos Especficos ........................................................................................... 17
2 PROPRIEDADE INTELECTUAL ................................................................................18
2.1 Direito Autoral: um pouco de histria ..................................................................19
2.1.1 Direito Autoral no Mundo e no Brasil: tratados internacionais .............................. 22
2.1.2 Direito Autoral no mundo e no Brasil: o direito autoral brasileiro.......................... 27
2.1.3 Aspectos sobre a atual Lei Brasileira de Direito Autoral....................................... 30
2.2 Direito Autoral na Era Digital.................................................................................35
2.3 Direito Informao: atuao do bibliotecrio ...................................................38
2.4 Possveis Solues ................................................................................................42
2.4.1 OA Open Access............................................................................................... 46
2.4.2 OAI Open Archives Initiative.............................................................................. 50
2.4.3 Pasta do Professor ............................................................................................... 52
2.4.4 Fair Use e Licenas de Uso Colaborativo ............................................................ 55
2.4.5 Creative Commons............................................................................................... 58
2.4.6 Como Utilizar e Tipos de Licenas Creative Commons........................................ 66
3 METODOLOGIA .........................................................................................................70
3.1 Tipo de Pesquisa ....................................................................................................70
3.2 Mtodo da Pesquisa...............................................................................................71
3.3 Sujeitos da Pesquisa..............................................................................................71
3.4 Sensibilizao sobre o Creative Commons .........................................................72
3.5 Instrumento de Coleta de Dados ..........................................................................73
3.6 Coleta e Anlise dos Dados ..................................................................................73
4 RESULTADOS............................................................................................................76
4.1 Nvel de Conhecimento sobre o Direito Autoral Brasileiro.................................76
4.2 Importncia de Conhecer o Direito Autoral Brasileiro ........................................78
4.3 Busca de Informao na Internet ..........................................................................83
4.4 Open Access...........................................................................................................85
4.5 Peridicos de Acesso Aberto................................................................................88
4.6 Apoio para Publicao...........................................................................................92
4.7 Licena Creative Commons ..................................................................................95
5 CONSIDERAES FINAIS ......................................................................................101
REFERNCIAS............................................................................................................105
APNDICE A QUESTIONRIO................................................................................112
APNDICE B TERMO DE CONSENTIMENTO PARA PARTICIPAO DA
PESQUISA...................................................................................................................116
13
1 INTRODUO
Diariamente uma grande quantidade de informaes, de diferentes tipologias,
surgem em nossas vidas. Dependemos das informaes para viver, desde uma
simples previso do tempo na televiso, at informaes para a realizao de uma
produo cientfica. Com a inveno da imprensa, em meados do sculo XV, por
Johann Gutenberg, as informaes e os documentos tiveram a possibilidade de se
desenvolver e difundir com maior velocidade do que at ento.
Conforme a humanidade se desenvolvia intelecto-culturalmente, surgia a
necessidade de suas criaes serem protegidas. Era preciso garantir que essa
criao fosse nica e exclusivamente propriedade de seu criador e daqueles que
possuem o direito de explor-la economicamente. Assim, iniciou-se a viso atual
sobre o Direito Autoral como benefcio apenas aos criadores e/ou detentores desse
direito e no sociedade que deseja usufruir da informao, causando, na maioria
das vezes, uma barreira ao acesso cultura.
Do ponto de vista histrico, o Direito Autoral subdividido em duas vertentes.
A primeira no sculo XVI, vinculada realeza inglesa; e a segunda no sculo XVIII,
vinculada Revoluo Francesa, como demonstrado no captulo 2. No Brasil esse
um campo de estudo relativamente novo. Somente em 1898 o Direito de Autor
teve o seu reconhecimento, com a lei de n 496, a lei Medeiros de Albuquerque.
Hoje, estamos imersos na era das Tecnologias da Informao e Comunicao
(TICs) e a Internet tornou-se um dos maiores meios de comunicao. Desde a
inveno da imprensa, dos peridicos cientficos at o surgimento dos
computadores, tem-se como um dos objetivos a divulgao de pesquisas e
informaes cientficas. No caso da Cincia, a Internet permitiu a divulgao e a
troca de informaes entre os pesquisadores com maior rapidez e facilidade,
mudando a viso estruturada que se tinha sobre o Direito Autoral e as publicaes
cientficas. Mas tambm trouxe a tona, e com fora maior, o conflito de interesses
entre autores e leitores. De um lado estava o direito dos autores protegerem suas
obras, e de outro, o direito de acesso a essas informaes pela sociedade.
Pensando nisso, muitos estudiosos da rea do Direito e da rea das Cincias
Sociais buscam meios apropriados e menos burocrticos de garantir a propriedade
14
da obra ao autor e o direito de acesso informao sociedade. Assim, surgiram
duas idias: a primeira foi o modelo Open Access (OA), que prima pelo acesso
aberto e gratuito das informaes no meio digital; e a segunda foi a licena Creative
Commons. Essa licena garante e permite o acesso s obras sem maiores
restries, possibilitando aos interessados utiliz-la sem necessariamente pedir a
autorizao do autor, pois essa autorizao ter sido concedida previamente. O
Creative Commons surge para propor um equilbrio existencial entre a lei que
protege o Direito Autoral e a sociedade que tem direito ao acesso cultura e
informao. Ele tambm pode ser um complemento para aqueles que desejam
publicar suas obras na Internet atravs do modelo OA, possibilitando maior
segurana a quem publica e maior autonomia a quem acessa a publicao. Nesse
contexto, temos o bibliotecrio, profissional que deve buscar alternativas e solues
para divulgar o conhecimento, permitindo que todos tenham acesso cultura e
informao respeitando os Direitos Autorais.
Partindo dos aspectos citados, este estudo pretende apresentar
consideraes tericas sobre quatro tpicos: O Direito Autoral, a licena Creative
Commons, o modelo Open Access e a questo do direito ao acesso cultura e
informao, sob a tica da Biblioteconomia e da atuao do bibliotecrio na
disseminao e no processo de divulgao da informao. Para isso, foi elaborada
e exibida uma breve apresentao sobre o tema a um grupo de bibliotecrios do
Curso de Especializao em Gesto de Bibliotecas Universitrias da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), de forma a sensibiliz-los para a existncia
da licena Creative Commons no incentivo ao desenvolvimento, disseminao e
ao acesso cultura e informao, em equilbrio com a lei de Direito Autorais.
1.1 Justificativa
Alm do interesse da aluna pelas questes que envolvem o Direito Autoral, a
escolha do tema, focando a licena Creative Commons e o modelo Open Access,
tambm se deu pelo interesse no debate sobre todos os direitos reservados e
15
alguns direitos reservados, e o direito de acesso cultura e informao na
sociedade.
importante salientar que o profissional da informao, em especial o
bibliotecrio, trabalha diretamente com o produto final da criao, ou seja, a obra ou
publicao propriamente dita. E est entre suas atividades a disponibilizao de
informaes, da melhor forma possvel, ao usurio. Por isso o bibliotecrio tambm
faz parte do processo de comunicao e disseminao da informao, devendo
entender os anseios e as necessidades daqueles que a produzem e daqueles que a
utilizam, bem como o funcionamento e os elementos que envolvem a publicao e o
acesso dessas informaes. Contudo, um dos problemas que afetam o trabalho do
bibliotecrio, aqui no Brasil, so as barreiras impostas pela atual lei de Direito
Autoral, que, atualmente, muito proibitiva. De certa maneira, esses profissionais,
em questes referentes a cpias e digitalizaes de livros, mesmo que seja para
preservar o conhecimento ou o acervo da biblioteca, ficam impossibilitados de
cumprir sua funo de disseminao e disponibilizao da informao de forma
plena.
O Direito Autoral, matria bastante discutida e polmica, atualmente no
contempla as necessidades da sociedade e dos autores (LEMOS, 2005a; LESSIG,
2005; SANTOS, 2009; TRIDENTE, 2009). Tal incompatibilidade ocorre pelas
barreiras impostas pela lei em vigor, que dificulta e at mesmo probe certos
usos de obras protegidas. Alm disso, autores, professores, pesquisadores, dentre
outros criadores, muitas vezes no querem ceder seus direitos patrimoniais a
nenhuma editora ou qualquer outra instituio que os desejam adquirir para usufruir
o direito de explorao econmica de tal obra, pois eles no visam o lucro sobre a
criao, mas sim a divulgao da mesma.
A licena Creative Commons surge para tentar suprir e equilibrar as barreiras
impostas pela lei, proporcionando uma opo, com validade jurdica, para aqueles
que desejam autorizar certos usos de suas obras, mas mantendo o direito autoral
sobre as mesmas. Ou seja, essa licena proporciona flexibilidade e liberdade por
parte da sociedade no uso de obras protegidas pelo Direito Autoral.
Atravs do progresso da Internet sabe-se que possvel divulgar qualquer
conhecimento na rede, mas tambm que muito fcil apropriar-se e utilizar
contedos sem a autorizao do seu criador. Hoje, com a Web 2.0, as fronteiras
16
entre os autores e os usurios se misturam, pois quem cria consome e quem
consome tambm cria. Estamos na era da colaborao. E o modelo Open Access
surge para defender o acesso aberto e gratuito das informaes cientficas pelo
usurio final. Ele deveria estar diretamente ligado ao uso da licena Creative
Commons, pois a sua prioridade garantir o acesso e a disseminao livre dessas
informaes na Internet. No entanto, a concepo no to livre assim para os
criadores que, em alguns casos, precisam transmitir seus direitos patrimoniais s
instituies ou rgos publicadores que utilizam o modelo de acesso aberto. A
informao deveria ser livre nos dois sentidos: livre para quem a consome e para
quem a criou e deseja disponibiliz-la. Desta forma, importante encontrar o
equilbrio entre a divulgao do conhecimento, o direito daquele que o criou e o
direito de acesso informao pela sociedade. Ser mesmo que o Direito Autoral
um propulsor do conhecimento ou um entrave para o desenvolvimento cultural?
As questes apresentadas contriburam para que a aluna, como futura
bibliotecria, comeasse a pensar como ficam as questes de Direito Autoral dentro
da biblioteca, levando-a a estudar os tpicos levantados e elaborar um estudo com a
finalidade de apresentar reflexes ao tema. Esses aspectos foram estudados sob o
ponto de vista da atuao do bibliotecrio na disseminao da informao e da
cultura sociedade.
1.2 Problema
Partindo-se do pressuposto de que a licena Creative Commons surgiu para
propor um equilbrio na lei de Direito Autoral no Brasil e no mundo, pergunta-se: de
que forma o bibliotecrio pode promover o uso dessa licena para incentivar a
produo e o acesso aos variados tipos de documentos, a fim de garantir
sociedade o acesso informao e cultura de forma mais livre?
17
1.3 Objetivos
Os objetivos deste trabalho esto divididos em geral e especficos.
1.3.1 Objetivo Geral
Analisar a percepo do bibliotecrio sobre a importncia do uso da licena
Creative Commons na comunidade cientfica e universitria.
1.3.2 Objetivos Especficos
So objetivos especficos deste trabalho:
a) sensibilizar os bibliotecrios da UFRGS para a existncia da licena
Creative Commons;
b) averiguar qual o conhecimento que o bibliotecrio possui a respeito
da licena Creative Commons;
c) identificar os impactos do modelo Open Access (OA) na demanda e
busca de informaes nas bibliotecas onde o profissional atua;
d) identificar a participao do bibliotecrio no processo de publicao
dos resultados das pesquisas dos pesquisadores;
e) verificar de que maneira o bibliotecrio pode incentivar o uso da licena
Creative Commons.
18
2 PROPRIEDADE INTELECTUAL
O Direito Autoral ou Direito do Autor subrea de uma rea maior chamada
Propriedade Intelectual que, por sua vez, subdivide-se em Propriedade Industrial e
Direito Autoral. Cabe salientar que, dentre as subreas, aprofundaremos apenas a
do Direito Autoral, mas, primeiramente, faremos uma breve contextualizao sobre
Propriedade Intelectual.
Pode-se afirmar que, no Brasil, o conceito de Propriedade Intelectual
relaciona-se ao conjunto de direitos que o homem dispe sobre as criaes
desenvolvidas intelectualmente, ou seja, a Propriedade Intelectual cuida da proteo
dos bens imateriais, sejam estes uma inveno, um livro, uma marca, um modelo
industrial, dentre outros.
Para Pimentel (2005, p. 17):
O Direito de Propriedade Intelectual brasileiro compreende hoje o conjunto da legislao federal, oriunda do legislativo e executivo, de carter material, processual e administrativo. Este Direito abrange as espcies de criaes intelectuais que podem resultar na explorao comercial ou vantagem econmica para o criador ou titular e na satisfao de interesse morais dos autores. O ordenamento jurdico neste campo um conjunto disperso de normas (princpios e regras).
A Propriedade Industrial abrange as patentes de inveno, os modelos de
utilidade, os modelos e desenhos industriais e as marcas. J o Direito do Autor
compreende os trabalhos artsticos, cientficos e literrios bem como os programas
de computadores (softwares). No Brasil destaca-se uma rea chamada Cultivares,
tambm parte da Propriedade Intelectual, que lida com espcies da natureza que
possuem caractersticas morfolgicas, fisiolgicas, bioqumicas ou moleculares
(UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, 2003).
Pimentel (2005) destaca que o Brasil foi um dos pases pioneiros a regular,
atravs de legislaes prprias, os Direitos Propriedade Intelectual, a saber: lei
9.279/96 que regula os direitos referentes Propriedade Industrial; lei 9.610/98 que
altera, atualiza e consolida os Direitos Autorais; lei 9.609/98 que protege a
Propriedade Intelectual dos Programas de Computadores; e lei 9.456/97 que institui
19
a lei de proteo de Cultivares. Alm disso, a Propriedade Industrial protegida pelo
artigo 5, incisos XXVII, XXVIII, XXIX, da Constituio Federal de 1988 (SANTOS,
2009).
Apesar de o Direito Autoral e a Propriedade Industrial assemelharem-se pelo
fato de fornecerem proteo a bens imateriais e intangveis, h diferenas que os
distinguem entre si. Dentre essas, salienta-se a necessidade de registro, que para o
Direito Autoral facultativo. No momento da criao de um trabalho artstico,
cientfico ou literrio, a obra j est protegida. Para a Propriedade Industrial o
registro obrigatrio e para isso o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)
analisa formalmente o pedido para, posteriormente, fornecer o registro.
A World Intellectual Property Organization (WIPO), Organizao Mundial de
Proteo Intelectual, entende a Propriedade Intelectual como a criao da mente
que inclui as invenes, a literatura e os trabalhos artsticos, inclusive os smbolos,
os nomes e as imagens destinadas ao uso comercial (WHAT..., [200-?]). Ao
contrrio do que ocorre no Brasil, que tambm inclui cultivares, a WIPO subdivide a
Propriedade Intelectual em apenas duas categorias: a Propriedade Industrial e o
Direito de Autor.
Aps breve conceitualizao sobre Propriedade Intelectual, aprofundaremos a
matria sobre o Direito Autoral.
2.1 Direito Autoral: um pouco de histria
A necessidade humana de se comunicar sempre esteve presente ao longo da
histria. Primeiramente atravs da oralidade, com expresses corporais, gestos e
palavras, passando pelos manuscritos, com a descoberta do papiro e do
pergaminho, at a descoberta do papel e, por ltimo, com a impresso grfica
utilizando tipos mveis, que revolucionou a produo de livros.
Alguns autores salientam que h relao entre o nascimento do Direito
Autoral com a Grcia e Roma Antigas. Abro (2002, p. 27) comenta: A exigncia do
depsito oficial de textos literrios na Grcia e Roma Antigas, com vistas
20
preservao da memria escrita daquela civilizao, apontada por alguns
doutrinadores como o embrio dos direitos morais do autor.. No entanto, outros
autores argumentam (GANDELMAN, 1997; MANSO, 1987; MARTINS, 2002;
SANTOS, 2009; TRIDENTE, 2009) que foi com a inveno da imprensa por
Gutenberg, no sculo XV, que o Direito Autoral comeou a dar os primeiros
passos. Atravs da tecnologia inventada por Gutenberg houve uma verdadeira
revoluo na arte de produzir textos que, inicialmente, era realizada pelos copistas, o
que gerava uma baixa produo, j que publicar um livro manualmente demorava
muito mais do que publicar um impresso. A era ps-Gutenberg permitiu a produo
de livros em larga escala. Para fins de comparao, antes da inveno de
Gutenberg, tem-se que na Europa circulavam 30 mil livros, sendo na sua maioria a
Bblia e, aps, esse nmero chegou a 13 milhes de livros, dos mais variados
assuntos (TRIDENTE, 2009).
At ento, antes da revoluo da impresso de livros, a sociedade no
necessitava de meios legais rgidos para defender os direitos dos autores, uma vez
que no existia grande circulao de livros e o aspecto econmico das obras
literrias no era ainda explorada. Conforme comenta Manso (1987, p. 12-13):
As leis nascem das necessidades sociais. Enquanto as obras intelectuais no se prestavam a uma explorao econmica de natureza verdadeiramente comercial, porque sua produo no podia realizar-se em escala industrial, nenhuma razo parecia haver para legislar-se sobre as violaes do que deveria ser direito dos autores. Essas violaes resumiam-se, praticamente, no plgio, isto , no furto da obra, para obter glria, muito mais do que algum proveito econmico. Somente aps o advento da imprensa, com os melhoramentos que Gutenberg introduziu com os tipos mveis, no sculo XV, que surgiu a concreta necessidade de legislar sobre a publicao das obras, principalmente literrias. Inicialmente, por razes de ordem poltica ou religiosa, mas sempre com propsito de efetivar a censura das idias, surgiram os privilgios, concedidos pelos governantes, por prazos limitados e que estavam sempre sujeitos a ser revogados, segundo interesses desses mesmos governantes. E, mesmo assim, os primeiros privilgios no foram concedidos aos autores das obras, mas aos editores.
Porm, devemos destacar duas vertentes histricas que tm relaes diretas
com o Direito Autoral conhecido atualmente. A primeira delas foi a criao do
sistema copyright (em portugus direito de cpia), surgido na Inglaterra, no sculo
21
XVI. O copyright nada mais era do que uma concesso, dada pela realeza inglesa,
de direitos de explorao econmica e impresso de livros aos editores da poca.
Para os editores garantirem tais direitos era necessrio participar da Stationers
Company (que era uma organizao de editores). Em troca dessas concesses a
realeza inglesa exigia o controle, atravs da censura, do que era produzido naquele
pas. Nota-se que, num primeiro momento, a proteo era dada apenas aos editores
e no aos autores das obras: Na origem, [...], o direito autoral nada tem a ver com a
proteo dos autores [...]. O copyright ingls favorecia amplamente o poder real (por
meio da censura) e os editores (por meio do monoplio) [...] (TRIDENTE, 2009, p.
5). Os autores no tinham escolha, sujeitando-se censura e aos preos impostos
pelos editores que, na poca, eram os nicos compradores disponveis no mercado.
Conforme aumentava o desenvolvimento da indstria editorial, atravs do
monoplio e da censura, aumentava a insatisfao dos autores, que reclamavam
seus direitos. Ento, em 1694, a Inglaterra ps fim ao monoplio dos livreiros,
fazendo com que a indstria se enfraquecesse. No contentes, os livreiros decidiram
apoiar os autores, pedindo que fosse concedida a proteo aos mesmos e a suas
obras, no intuito de, aps essa concesso, negociar os direitos de explorao e
impresso.
Em 1710, a Rainha Ana (ocupante do trono da Inglaterra na poca) criou o
Statute of Anne, mais conhecido como o Ato da Rainha Ana. Esse ato continuou
permitindo que os editores imprimissem livros; no entanto, s poderiam faz-lo se
pedissem a autorizao, atravs de um contrato, para o autor da obra. Tambm foi
concedido aos editores o direito de cpia de obras pelo prazo de 21 anos (ABRO,
2002). A criao desse ato permitiu que os autores negociassem mais com os
diferentes editores, garantindo a concorrncia entre os diversos editores e livreiros
da poca, e tambm que os autores colocassem seus nomes nos livros, tirando-os
do anonimato. No mais, o Statute of Anne no favoreceu os direitos dos autores,
propriamente dito, sobre a sua obra, mas foi um grande passo para o
desenvolvimento do Direito Autoral.
No decorrer dos anos, inmeros atos, decretos e regras foram estabelecidos
para cuidar dos direitos dos autores ou simplesmente cit-los. Santos (2009) destaca
as leis estaduais sobre o copyright, elaboradas pelos Estados Unidos da Amrica no
ano de 1783. Mas foi somente no ano de 1787 que a Constituio americana
22
amparou, pela primeira vez, os direitos dos autores com o objetivo de estimular a
proteo das obras e dos autores, alm de estimular o desenvolvimento da cultura
naquele pas.
No entanto, a segunda vertente histrica foi a que mais se aproximou e
influenciou o Direito Autoral que hoje conhecemos. Ocorrida na Revoluo Francesa,
em 1789, com os moldes de igualdade, liberdade e fraternidade, a Frana foi o
primeiro pas a estabelecer direitos queles que criavam as obras de fato, ou seja,
os autores. Houve, ento, o surgimento do Droit dAuteur (em portugus direito de
autor) que enfoca tambm os aspectos morais, o direito que o autor tem ao
ineditismo, paternidade, integridade de sua obra, que no pode ser modificada
sem o seu expresso consentimento. (GANDELMAN, 1997, p. 30). Esses privilgios
concedidos so parecidos com os conhecidos atualmente.
Portanto, o surgimento do Direito Autoral, segundo Abro (2002), tem relao
com dois fatos: um deles foi o tecnolgico (com o surgimento de equipamentos que
comearam a produzir obras em larga escala) e outro foi o ideolgico (que carregam
os princpios da Revoluo Francesa, focando a pessoa do autor). Outros atos,
convenes, leis e resolues tambm foram importantes para o desenvolvimento e
firmamento do Direito Autoral perante a sociedade. Esses fatos sero descritos
posteriormente com maiores detalhes. A seguir, ser aprofundado o Direito Autoral
no mundo e no Brasil.
2.1.1 Direito Autoral no Mundo e no Brasil: tratados internacionais
Existem diversos tratados, acordos e convenes internacionais referentes
matria do Direito Autoral. Aqui destacaremos, no entanto, as mais significativas na
histria da estruturao do Direito Autoral, em escala mundial. O conhecimento
avanou, e ainda avana, proporcionalmente ao avano das tecnologias, fazendo
com que as formas de proteo das obras intelectuais, cientficas e artsticas
gerassem uma preocupao mundial. Conforme explica Martins (2002, p. 403-404):
23
Os meios cada vez mais rpidos e mais fceis de divulgao da obra escrita tornaram necessrias medidas tendentes a assegurar-lhes a proteo no apenas nos limites restritos de cada pas, mas em escala mundial. Ocorre, assim, na evoluo dos direitos autorais um alargamento cada vez maior e simultneo da concepo jurdica e da base geogrfica: inexistentes nos primeiros tempos, passam a ser toscamente reconhecidos em certas cidades, depois melhor configurado em Estados da mesma nacionalidade, a seguir ainda mais rigorosamente definidos em pases inteiros, mais tarde adotados por um grupo de naes que os protegiam reciprocamente, at chegar aos nossos dias em que a respectiva Conveno chama-se, significativamente, de universal. Ela universal nos dois sentidos da palavra: no apenas porque visa obter a adeso de todos os pases do mundo, mas ainda porque protege indistintamente todas as obras cientficas, literrias ou artsticas, qualquer que seja o seu meio de expresso ou a sua forma de realizao.
A primeira conveno internacional que tratou do reconhecimento da proteo
do Direito Autoral de obras intelectuais e artsticas data do dia 09/09/1886. Tal
conveno levou o nome da cidade de Berna, na Sua, que sediou as reunies para
a sua elaborao. A Conveno, em seus 21 artigos e 1 adicional, estabeleceu
diretrizes para a aplicao da norma jurdica sobre o Direito Autoral em todos os
pases que a aderiram. No entanto, a Conveno de Berna, tambm chamada de
Unio Internacional de Berna, sofreu diversas revises, dentre as quais citamos a de
Paris em 1896, a de Berlim em 1908, a de Roma em 1928, a de Bruxelas em 1948, a
de Estocolmo em 1967, e por ltimo, novamente, a de Paris, em 1971 e 1979
(MARTINS, 2002). Diversos pases adotaram a Conveno de Berna desde ento,
dentre eles os Europeus, os Africanos, os Asiticos, a Austrlia e o Canad. O Brasil
aderiu Conveno em 19/11/1951, quando o Congresso Brasileiro aprovou o
decreto de n 59, mas somente em 18/01/1954 o decreto de n 34.954 foi
promulgado (MARTINS, 2002).
A Conveno de Berna consiste em diretrizes de proteo mnima das obras
intelectuais e artsticas, [...] deixando a cargo das legislaes internas o
disciplinamento da matria, e a respectiva punio, de acordo com os usos e
costumes de cada pas. (ABRO, 2002, p. 43-44). A partir desses princpios, cada
pas que adotou a Conveno deveria elaborar suas prprias leis nacionais sobre a
matria do Direito Autoral. Sendo assim, a soberania de cada pas era respeitada.
Atualmente, ela administrada pela Organizao Mundial de Propriedade Intelectual
(OMPI), rgo pertencente s Naes Unidas (ONU).
24
As diretrizes propostas pela Conveno de Berna garantem aos autores e s
obras trs nveis mnimos de proteo:
a) o princpio do tratamento nacional, segundo o qual ser dispensado s obras estrangeiras o mesmo tratamento dispensado por qualquer pas s obras dos seus respectivos nacionais; b) o princpio de proteo automtica, segundo o qual a proteo independe do cumprimento de qualquer formalidade como o registro ou o depsito para o gozo da proteo legal; c) o princpio da independncia na proteo, segundo o qual a fruio e o exerccio dos direitos independem at mesmo da existncia de proteo no pas de origem da obra, desde que circule por outros pases membros da Unio. (ABRO, 2002, p. 44)
Curiosamente, os Estados Unidos da Amrica no aderiram Conveno de
Berna, pois no concordavam com o princpio da proteo automtica, ou seja,
independentemente do registro, a obra estaria protegida. Foi ento que, aps muitas
discusses e reunies com diversos pases, no ano de 1952, em Genebra, a
UNESCO, organismo pertencente a ONU, juntamente com os Estados Unidos da
Amrica, organizou e redigiu a Conveno Universal do Direito de Autor, tambm
conhecida como Conveno de Genebra. Essa foi adotada tambm por diversos
pases, inclusive os que faziam parte da Conveno de Berna.
So princpios da Conveno de Genebra:
a) o do tratamento nacional, ou o princpio de assimilao das obrasestrangeiras s nacionais; b) o da formalidade mnima dispensvel, segundo o qual entender-se- como protegida a obra, independentemente da existncia ou no das exigncias internas dos pases signatrios, que desde a primeira publicao consentida, traga impresso o smbolo (copyright) acompanhado do nome do titular do direito de autor, seguido da indicao do ano da primeira publicao. (ABRO, 2002, p. 46)
Igualando-se Conveno de Berna, a Conveno de Genebra foi revista em
Paris, no ano de 1971 e, atualmente, tambm administrada pela OMPI. O Brasil
adotou-a no ano de 1975. A nica diferena entre as duas convenes o princpio
de proteo das obras. Embora a Conveno de Genebra no tivesse o intuito de
substituir os tratados e acordos at ento firmados, os pases que a adotaram
deveriam instituir ou modificar as suas leis internas para a aplicao dos princpios
adotados na prpria Conveno.
25
Abro (2002, p. 47) conclui sobre as duas convenes:
Enquanto Berna garante a qualquer nacional de qualquer pas proteo obra desde o instante em que concebida, no importando esteja ou no publicada, posto que lhe atribui uma proteo de carter moral, independentemente de meno de reserva, registro ou depsito, Genebra, ao invs, s garante a proteo aos nacionais de outros estados sob duas condies: estar a obra publicada, em qualquer pas signatrio, e estar identificada sob a formalidade mnima da meno de reserva, acrescida do nome e do ano de publicao da obra.
As Convenes de Berna e de Genebra foram os primeiros tratados
internacionais referentes proteo da propriedade intelectual e ainda esto
vigentes e so respeitados pelos diversos pases que as aderiram. Contudo, elas
foram o marco, fornecendo normas norteadoras, para que cada pas discutisse e
elaborasse a sua prpria lei de proteo da matria do Direito Autoral, permitindo,
assim, a evoluo deste para a maneira como o conhecemos atualmente.
Aps a consolidao das duas convenes, Berna e Genebra, surgiram
debates em torno da comercializao da informao. As discusses sobre a
Propriedade Intelectual e o comrcio internacional sugeriram a igualdade nos [...]
mtodos de ao, de punio e de proteo entre pases de sistemas jurdicos
diferentes, o que era evitado por Berna e Genebra [...] (ABRO, 2002, p. 49), que
sempre priorizaram o respeito s leis internas e a soberania de cada Estado-
membro. Em 1979, essas discusses comearam a ser organizadas pelo General
Agreement on Tariffs and Trade (GATT), em portugus Acordo Geral de Tarifas e
Comrcio. E em 1986 teve incio as negociaes Rodada Uruguai do GATT, que
s terminou em 1994. Como resultado, criou-se a Organizao Mundial do Comrcio
(OMC) que, dentre outras funes, passou a regulamentar o [...] comrcio
internacional dos bens imateriais por meio do Acordo Relativo aos Aspectos da
Propriedade Intelectual Relacionados ao Comrcio, conhecido pela sigla TRIPS [...].
(ABRO, 2002, p. 49).
Abro (2002, p. 50) explica qual foi o resultado desse acordo no que diz
respeito aos Direitos Autorais:
26
Deu-se, ento, a grande guinada, no trato internacional da matria [Direito Autoral]: de obras do esprito, de carter esttico, cultural, artstico passaram a ser consideradas como mercadoria, de alta aceitao e consumo no mundo inteiro [...], posto que fixadas emsuporte mecnico. A razo da mudana residia a percepo por parte dos pases sede das multinacionais da propriedade intelectual da ocorrncia: a) de um aumento brutal nos rendimentos internos e externos em virtude das licenas e concesses de uso de obras intelectuais [...]; b) no aumento dos respectivos nveis de emprego; c) no aumento paralelo da pirataria, que provocava escapes considerveis de renda.
Esse foi um dos motivos que descaracterizou um dos objetivos dos Direitos
Autorais, que o de promover o acesso cultura, j que o produto desenvolvido
pelo criador passou a ser visto somente como mercadoria comercial, passvel de
lucro (diga-se de passagem, lucro maior para os editores e publicadores do que para
os autores), desconsiderando os anseios e os direitos da sociedade de consumir
informao.
No ano de 1994, o Brasil, juntamente com 132 pases, aderiram em suas
legislaes internas ao acordo da OMC. Vale salientar que o acordo TRIPS (da
OMC) trata apenas do aspecto comercial relacionado ao Direito Autoral, no
desqualificando as convenes administradas pela OMPI que continua trabalhando
nas questes da harmonizao e atualizao dos Direitos Autorais. Como exemplo,
citamos a WIPO Copyright Treaty (WCT), que a OMPI, em 1996, patrocinou,
justamente, pensando na atualizao dos Direitos Autorais e no desenvolvimento de
novas tecnologias como a Internet. A ttulo de conhecimento, o Brasil no aderiu ao
acordo WCT.
Pensando nas novas tecnologias que estavam surgindo, o Congresso dos
Estados Unidos da Amrica, no ano de 1998, a partir da aprovao de lei interna,
modificou o ttulo 17 de seu Cdigo Norte-Americano, referente propriedade
intelectual dos Direitos Autorais e conexos, que ficou conhecido como a Lei de Cpia
Digital do Milnio (Digital Millenium Copyright Act). Essa lei trata da matria
relacionada s novas tecnologias e aos programas de computadores em relao ao
copyright (o direito de cpia americano) e s regras quanto ao registro de obras
protegidas pelo Direito Autoral (ABRO, 2002).
Por fim, em 21/05/2001 a Comunidade Europia resolveu rever o assunto
atravs da Diretiva 2001/29/CE do Parlamento Europeu e do Conselho. Essa
Diretiva teve por objetivo equilibrar certos aspectos abordados pelo Direito Autoral e
27
conexos entre a atual sociedade da informao e os pases da Unio Europia,
respeitando a tradio das legislaes internas de cada pas membro, visando uma
poltica legislativa mais flexvel que [...] estimule o desenvolvimento e a
comercializao de novos produtos e servios bem como a criao e a explorao
de seu contedo na sociedade da informao na Europa. (ABRO, 2002, p. 55).
Conclui-se que os diversos tratados, normas, diretivas, dentre outros acordos
sobre o Direito Autoral s acrescentaram e desenvolveram a matria em escala
mundial. Os desafios encontrados na sociedade imersa, a cada dia, em novas
tecnologias e em quantidades inimaginveis de informaes alimentam o debate
sobre o tema e as possveis solues para harmonizar o Direito Autoral com as
necessidades informacionais da sociedade.
No prximo item mostrado como foi a evoluo e como se deu o
desenvolvimento do Direito Autoral brasileiro.
2.1.2 Direito Autoral no mundo e no Brasil: o direito autoral brasileiro
Conforme visto anteriormente, o Direito Autoral brasileiro considerado
recente, se comparado com as vertentes histricas apresentadas. Os primeiros
passos para o seu desenvolvimento surgiram da regulamentao, atravs de lei, dos
cursos jurdicos no Brasil, no ano de 1827. Essa lei permitia aos professores,
mediante apresentao das smulas de suas aulas, se aprovadas pelas
Assemblias Gerais, os direitos de publicao dos seus compndios por um perodo
de dez anos (MANSO, 1987). Essa foi a primeira norma que estabeleceu certo
direito aos autores. No entanto, esse pequeno privilgio s circulou nas primeiras
faculdades de Direito de Olinda e So Paulo, no abarcando os demais autores.
Trs anos mais tarde, em 1830, o Cdigo Criminal disps, em um artigo, o que era
considerado ilegal em relao s obras produzidas por brasileiros, com a devida
punio. Conforme nos explica Santos (2009, p. 45):
28
Em sntese, o referido artigo institui o delito de contrafao, punindo com a perda dos exemplares. Alm disso, criou indiretamente o direito autoral de reproduo a partir de um tipo incriminador que proibia vrias modalidades de reproduo, como imprimir, gravar ou litografar escritos ou estampas feitas por brasileiros. Observa-se a ausncia de proteo para os estrangeiros.
O escritor Jos de Alencar tentou, em 1875, reivindicar os seus direitos como
autor e props um projeto de lei ao Parlamento Brasileiro. Porm o projeto nem
chegou a ser votado (HAMMES, 1984).
O Cdigo Penal de 1890 abarcou as mesmas idias j estabelecidas no
Cdigo Criminal de 1830. Em oito artigos versava sobre as infraes e violaes de
obras literrias e cientficas. No entanto, foi com a primeira Constituio da
Repblica, em 1891, que o Direito Autoral foi tratado explicitamente, no 26 do artigo
72, onde era garantido e assegurado aos autores o direito exclusivo de reproduo
das suas obras. Tambm era assegurado aos herdeiros gozarem de tal garantia
conforme determinaes na lei (SANTOS, 2009). No foi por acaso que a
Constituio Brasileira de 1891 abordou tal assunto, pois esta foi editada cinco anos
depois da Conveno de Berna. Aps tratamento constitucional da matria, o Brasil,
influenciado pela Constituio, promulgou a primeira lei que reconheceu o Direito
Autoral, sob o n 496, no dia 1/08/1898. No entanto, a lei no estava de acordo com
os princpios da Conveno de Berna, pois exigia o registro da obra e garantia a sua
proteo por 50 anos contados da data da primeira publicao. Com a primeira lei
publicada, conforme nos explica Hammes (1984, p. 29) [...] Seguiu-se um grande
nmero de leis esparsas regulando matria que direta ou indiretamente afeta o
Direito de Autor, criando um labirinto de disposies sempre mais difcil de penetrar
mesmo para o estudioso e especialista..
Aps o surgimento de diversas leis e cdigos que tratavam sobre a matria do
Direito Autoral, surge, em 1973, a primeira regulamentao especfica sobre o tema,
a lei n 5.988, que regulou os direitos autorais e os direitos conexos. A lei de 1973
era uma compilao das leis que, direta ou indiretamente, discutiam o Direito Autoral
e estava de acordo com as diretrizes propostas pela Conveno de Berna de 1886,
aderida pelo Brasil. Isso fez com que o Direito Autoral se desvinculasse por completo
do Cdigo Civil brasileiro.
29
Nesse sentido, importante lembrar que tambm ocorreram diversas
mudanas na Constituio da Repblica, que a partir de 1891 sofreu diversas
alteraes nos anos de 1934, 1937, 1946, 1967, 1969 at chegar na Constituio de
1988, que a Carta Magna que rege o nosso pas at hoje. Todas as leis provm
dela. No caso do Direito Autoral, a Constituio de 1988 reservou em seu artigo 5,
incisos XXVII e XXVIII, a sua proteo atravs dos direitos e das garantias
fundamentais dos brasileiros:
Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes:XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilizao, publicao ou reproduo de suas obras, transmissvel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;XXVIII - so assegurados, nos termos da lei:a) a proteo s participaes individuais em obras coletivas e reproduo da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;b) o direito de fiscalizao do aproveitamento econmico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intrpretes e s respectivas representaes sindicais e associativas. (BRASIL, 1988)
Salienta-se que a violao dos Direitos Autorais nada mais do que a
violao da carta maior que rege o nosso pas, ou seja, a Constituio da Repblica.
Seguindo o desenvolvimento da humanidade, bem como as novas tendncias
tecnolgicas, o Brasil comeou a perceber que a lei de Direito Autoral de 1973 no
contemplava e, sobretudo, no se encaixava nos novos padres sociais. Ento, em
1998, uma nova lei sobre a matria foi promulgada. A lei n 9.610, de 19 de
fevereiro, observou os conceitos j seguidos por outros pases, bem como os
princpios constitucionais de 1988. Tambm no deixou de se ater s diretrizes da
Conveno de Berna e da Conveno de Roma. Essa ltima trata de regras para os
direitos conexos, ou seja, regras que abordam os direitos dos intrpretes, produtores
de fonogramas e organismos de radiodifuso (tal assunto ser melhor abordado no
item 2.1.3).
O Brasil tambm promulgou, no mesmo ano, a lei n 9.609/98, que regula a
proteo da propriedade intelectual dos programas de computadores. Antes disso,
em 1996, a lei n 9.279 regulou os direitos e as obrigaes relativas propriedade
30
industrial e, em 1997, instituiu a lei n 9.456, que regulou a lei dos cultivares, que faz
parte das divises da Propriedade Intelectual (pelo menos no Brasil).
Percebe-se que o Brasil se preocupou em se desenvolver, pelo menos no que
tange legislao, perante o progresso das cincias, das artes, das tecnologias e da
literatura. No entanto, com a chegada do sculo XXI, discusses surgem a respeito
do equilbrio da legislao do Direito Autoral e o direito da sociedade em acessar as
obras publicadas. Hoje, diversos debates e seminrios so promovidos pelo
Ministrio da Cultura que, inclusive, criou, em 2007, o Frum Nacional de Direito
Autoral, com o intuito de discutir com a sociedade a legislao existente para tentar
solucionar essas questes.1
No prximo item, aspectos importantes sobre a lei autoral brasileira sero
analisados, bem como se a mesma est adequada aos anseios e ao
desenvolvimento da sociedade.
2.1.3 Aspectos sobre a atual Lei Brasileira de Direito Autoral
Como visto anteriormente, hoje, a lei que regula no Brasil os Direitos Autorais
e os que lhes so conexos a de n 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Pretende-se,
nesse item, esclarecer alguns pontos relevantes sobre a Lei, bem como seus
objetivos junto sociedade. Porm, antes de uma reflexo sobre os objetivos
primordiais da Lei de Direito Autoral, sero abordados conceitos importantes para o
seu entendimento.
Segundo o site do Ministrio da Cultura Brasileiro, o conceito de Direito
Autoral:
um conjunto de direitos morais e patrimoniais sobre as criaes do esprito, expressas por quaisquer meios ou fixadas em quaisquer suportes, tangveis ou intangveis, que se concede aos criadores de obras intelectuais. A proteo aos direitos autorais no requer nenhum tipo de registro formal. Tratam-se de direitos exclusivos e monopolsticos. (BRASIL, c2008c)
1 Disponvel em: . Acesso em: 11 jun. 2009.
31
J o Direito de Autor [...] o direito que o criador de obra intelectual tem de
gozar dos produtos resultantes da reproduo, da execuo ou da representao de
suas criaes. (BRASIL, c2008a). Aos autores pertencem dois tipos distintos de
direitos: os direitos morais e os direitos patrimoniais. Os direitos morais so aqueles
que unem indissoluvelmente o criador obra criada. Emanam da personalidade do
autor e imprimem um estilo a ela [...] (SANTOS, 2009, p. 82). Esses direitos so
inalienveis e irrenunciveis, ou seja, o autor no pode transferir ou renunciar tais
direitos. J os direitos patrimoniais so [...] os direitos pecunirios exclusivos do
criador, decorrentes da explorao econmica da obra [...] (SANTOS, 2009, p. 84).
Ou seja, os direitos patrimoniais so exclusivos e, para exibir, reproduzir, expor
publicamente, transmitir por meios digitais, dentre outros, necessrio uma
autorizao prvia e expressa do autor (ABRO, 2002).
Conforme a Lei brasileira n 9.610/1998 no captulo II, art. 24, incisos I ao VII,
so direitos morais do autor:
I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra;II - o de ter seu nome, pseudnimo ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilizao de sua obra;III - o de conservar a obra indita;IV - o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer modificaes ou prtica de atos que, de qualquer forma, possam prejudic-la ou atingi-lo, como autor, em sua reputao ou honra;V - o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada;VI - o de retirar de circulao a obra ou de suspender qualquer forma de utilizao j autorizada, quando a circulao ou utilizao implicarem afronta sua reputao e imagem;VII - o de ter acesso a exemplar nico e raro da obra, quando se encontre legitimamente em poder de outrem, para o fim de, por meio de processo fotogrfico ou assemelhado, ou audiovisual, preservar sua memria, de forma que cause o menor inconveniente possvel a seu detentor, que, em todo caso, ser indenizado de qualquer dano ou prejuzo que lhe seja causado. (BRASIL, 1998)
De acordo com o art. 41 da Lei de Direito Autoral, os direitos patrimoniais tm
validade de 70 anos contados do dia 1 de janeiro do ano subseqente ao da morte
do detentor de tais direitos. Caso a obra artstica, literria ou cientfica possua co-
autores, o art. 42 da mesma Lei observa que o prazo de 70 anos ser contado da
morte do ltimo co-autor sobrevivente. Aps esse perodo, estipulado pela Lei, a
obra cai em Domnio Pblico e pode ser utilizada pela sociedade sem precisar de
prvia autorizao dos antigos detentores dos direitos patrimoniais da obra. Vale
32
lembrar que o direito moral permanece para sempre, uma vez que o direito
paternidade da obra indissolvel.
Alm dos direitos morais e patrimoniais, a Lei de Direito Autoral brasileira
tambm protege os direitos que lhes so conexos, a saber:
Os Direitos Conexos tm como finalidade a proteo dos interesses jurdicos de certas pessoas ou organizaes que contribuem para tornar as obras acessveis ao pblico ou que acrescentem obra seu talento criativo, conhecimento tcnico ou competncia em organizao. No Brasil, chamamos Direitos Autorais o conjunto de Direito de Autor e Direito Conexos. Os titulares de direitos conexos so: o artista, sobre sua interpretao ou execuo; o produtor de fonogramas, sobre sua produo sonora; e o organismo de radiodifuso, sobre sua emisso. (BRASIL, c2008a)
O Direito Autoral brasileiro tem como base dois pilares que pretendem
equilibrar-se entre si. O primeiro deles [...] o interesse privado do autor que deve
ter assegurada a explorao econmica de sua criao intelectual [...] e o segundo
pilar [...] o interesse pblico da coletividade que deseja ter acesso obra.
(SANTOS, 2009, p.158). Buscando esse equilbrio entre o interesse pblico e
privado, ao mesmo tempo em que a Lei protege os direitos dos autores e suas
obras, ela tambm limita esses direitos atravs de normas que chamamos de
limitaes e excees. O site do Ministrio da Cultura explica:
Trata-se de atos que o usurio de uma obra protegida pode fazer sem ter de obter a autorizao prvia do autor, tais como cpia de pequenos trechos, as citaes para efeito de debate e polmica, a execuo musical e a representao teatral no recesso familiar, entre outros. (BRASIL, c2008b)
As limitaes e excees impostas pela Lei tm o objetivo de no torn-la
impeditiva para o desenvolvimento cultural e social. Por isso o art. 8, 41 e 46 tratam
especificamente dessas limitaes. O art. 8 da Lei elenca as criaes intelectuais
que no so protegidas pelo Direito Autoral. So elas:
33
I - as idias, procedimentos normativos, sistemas, mtodos, projetos ou conceitos matemticos como tais;II - os esquemas, planos ou regras para realizar atos mentais, jogos ou negcios;III - os formulrios em branco para serem preenchidos por qualquer tipo de informao, cientfica ou no, e suas instrues;IV - os textos de tratados ou convenes, leis, decretos, regulamentos, decises judiciais e demais atos oficiais;V - as informaes de uso comum tais como calendrios, agendas, cadastros ou legendas;VI - os nomes e ttulos isolados;VII - o aproveitamento industrial ou comercial das idias contidas nas obras. (BRASIL, 1998)
O art. 41 da Lei traz a temporalidade dos direitos patrimoniais: [...] perduram
por setenta anos contados de 1 de janeiro do ano subseqente ao de seu
falecimento, obedecida a ordem sucessria da lei civil. (BRASIL, 1998). E o art. 46
apresenta as limitaes dos direitos dos autores, a saber:
I - a reproduo:a) na imprensa diria ou peridica, de notcia ou de artigo informativo, publicado em dirios ou peridicos, com a meno do nome do autor, se assinados, e da publicao de onde foram transcritos;b) em dirios ou peridicos, de discursos pronunciados em reunies pblicas de qualquer natureza;c) de retratos, ou de outra forma de representao da imagem, feitos sob encomenda, quando realizada pelo proprietrio do objeto encomendado, no havendo a oposio da pessoa neles representada ou de seus herdeiros;d) de obras literrias, artsticas ou cientficas, para uso exclusivo de deficientes visuais, sempre que a reproduo, sem fins comerciais, seja feita mediante o sistema Braille ou outro procedimento em qualquer suporte para esses destinatrios;II - a reproduo, em um s exemplar de pequenos trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro;III - a citao em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicao, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crtica ou polmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra;IV - o apanhado de lies em estabelecimentos de ensino por aqueles a quem elas se dirigem, vedada sua publicao, integral ou parcial, sem autorizao prvia e expressa de quem as ministrou;V - a utilizao de obras literrias, artsticas ou cientficas, fonogramas e transmisso de rdio e televiso em estabelecimentos comerciais, exclusivamente para demonstrao clientela, desde que esses estabelecimentos comercializem os suportes ou equipamentos que permitam a sua utilizao;VI - a representao teatral e a execuo musical, quando realizadas no recesso familiar ou, para fins exclusivamente didticos, nos
34
estabelecimentos de ensino, no havendo em qualquer caso intuito de lucro;VII - a utilizao de obras literrias, artsticas ou cientficas para produzir prova judiciria ou administrativa;VIII - a reproduo, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes, de qualquer natureza, ou de obra integral, quando de artes plsticas, sempre que a reproduo em si no seja o objetivo principal da obra nova e que no prejudique a explorao normal da obra reproduzida nem cause um prejuzo injustificado aos legtimos interesses dos autores. (BRASIL, 1998)
Aps essas exposies, possvel afirmar que os direitos dos autores no
so absolutos, assim como tambm no so os da sociedade. No entanto, se houver
uma anlise do que foi visto at agora, ser possvel perceber que a Lei de Direito
Autoral brasileira bastante restritiva e dificulta os interesses sociais e o uso das
obras protegidas. O prprio site do Ministrio da Cultura considera a atual Lei uma
das mais restritivas e expe questes relativas s dificuldades impostas pela Lei:
[...] a Lei Autoral brasileira uma das mais restritivas, impedindo, por exemplo, a cpia privada de obra integral, a realizao de cpia de segurana por parte de museus e arquivos, da reproduo de obras para utilizao de portadores de necessidades especiais (exceto braile para deficientes visuais), entre outros. No estado atual da Lei, um ilcito, por exemplo, copiar uma msica de um CD legalmente adquirido para um IPOD ou um MP3 ou MP4. (BRASIL, c2008b)
H, sem dvida alguma, a necessidade de reviso dos conceitos
estabelecidos pela atual Lei, buscando o equilbrio entre os interesses sociais e os
interesses dos autores, ou seja, o equilbrio entre os objetivos a que a prpria Lei se
prope. Sabemos que o incentivo, bem como a remunerao, so funes
primordiais dos direitos dos autores pelas suas contribuies intelectuais. Isso
incentivaria mais as produes intelectuais e a evoluo da matria. No entanto,
tambm funo do Direito Autoral incentivar a difuso da cultura e estimular o
processo evolutivo das civilizaes. So essas razes que fazem com que os
autores, ao disponibilizarem o seu conhecimento sociedade, cumpram com o papel
social que o Direito Autoral se diz propor (SANTOS, 2009).
No prximo item sero abordadas questes relativas ao Direito Autoral na era
digital.
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2.2 Direito Autoral na Era Digital
Como j mencionado anteriormente, o surgimento do Direito Autoral tem forte
ligao com o surgimento de uma tecnologia. Tal tecnologia foi a imprensa de tipos
mveis, que no sculo XV revolucionou a reproduo dos textos, que passaram a
ser produzidos em larga escala. Sabe-se tambm da enorme necessidade da
humanidade em produzir conhecimento, e que este est proporcionalmente ligado
ao avano das tecnologias e as invenes criativas. Conforme afirma Santos (2009,
p.91):
[...] o desenvolvimento do homem est diretamente ligado sua capacidade de criar, de inventar, de construir ferramentas para facilitar sua vida ou proporcionar alguma sensao de conforto, de bem-estar. Sem o domnio da agricultura o homem no teria deixado de ser nmade, sem o conhecimento de tcnicas de metalurgia ele no poderia defender seu ncleo social de invasores, sem as caravelas no teria feito as grandes navegaes. Em outras palavras, sem o desenvolvimento tecnolgico, impulsionado pela capacidade criativa do ser humano, ainda estaramos vivendo em cavernas, no escuro, passando frio no inverno e calor no vero, e mudando periodicamente em busca de alimentos. Em sntese, a tecnologia compreendida como novas ferramentas e inventos, anda de mos dadas com a evoluo da humanidade.
Hoje, a inveno que causa maior impacto na humanidade a Internet aliada
s tecnologias de informao, tais como o MP3, I-Pods e telefones celulares de
ltima gerao. Seu impacto igual ao proporcionado pela inveno da imprensa
por tipos mveis de Gutenberg que teve como efeito o crescimento no fluxo da
informao, uma vez que a quantidade de documentos gerados e disseminados
elevou-se a grandes nveis. Tal crescimento talvez seja impossvel de ser
contabilizado. As informaes esto ao nosso alcance em fraes de segundos e
podemos acess-las, troc-las, envi-las atravs de mensagens, dentre muitas
outras possibilidades, com pessoas do outro lado do mundo, com culturas,
conhecimentos e vivncias diferentes.
Hoje, a Internet oferece em seu ambiente diversas ferramentas para a
navegao, [...] agindo como uma verdadeira incubadora meditica, j que d
espao para a criao de diversos dispositivos comunicacionais. (LEMOS, 2004,
36
p.119). Os exemplos so o e-mail, a WWW (World Wide Web), ferramentas que
permitem o dilogo em tempo real (Google talk, MSN, etc.), redes de
relacionamento, comunidades virtuais, blogs, dentre outros. Outra questo
importante a mencionar sobre a Internet que o usurio no s consome
informaes, como tambm contribui cientificamente com novas descobertas no
campo da pesquisa, disponibilizando-as na rede, aumentando a expanso do
conhecimento e do saber.
Cada vez mais a tendncia de colaborao de idias e saberes ascende na
Internet. o que chamamos de Web Social, mais conhecida como Web 2.0, que
constri o seu pilar na colaborao. Essa colaborao permite construir
coletivamente e criativamente o conhecimento na rede. A Web 2.0 :
[...] a segunda gerao de servios online e caracteriza-se por potencializar as formas de publicao, compartilhamento e organizao de informaes, alm de ampliar os espaos para a interao entre os participantes do processo. A Web 2.0 refere-se no apenas a uma combinao de tcnicas informticas (servios Web, linguagem Ajax, Web syndication, etc.), mas tambm a um determinado perodo tecnolgico, a um conjunto de novas estratgias mercadolgicas e a processos de comunicao mediados pelo computador. (PRIMO, 2007, p. 01)
Para Arnal (2008), a Web 2.0 sustenta-se em trs pilares: a web como
plataforma; a mistura da informao na web; e a arquitetura de participao. A web
como plataforma significa dizer que existem, hoje, servios disponveis capazes de
substituir a funo de desktop que utilizamos. Como exemplo temos o Google Docs2,
que substituem os editores de textos. A mistura da informao na web, isto , a troca
de informaes que acontece entre os diferentes sites existentes, possibilita a
criao de novos servios de sites a partir desses dados movimentados. J a
arquitetura de participao significa a presena constante do usurio, ou seja, o
usurio passa a ser o personagem principal da web. Alm de consumir informaes,
ele tambm contribui ativamente nesse ambiente produzindo informao.
Em se tratando de Direito Autoral, justamente nessa coletividade e nas
diversas possibilidades de criaes existentes na Internet que ele est esbarrando.
Santos (2009, p. 162) pondera:
2 Disponvel em: .
37
Em sntese a LDA [Lei de Direito Autoral] aplica-se Internet. Contudo, no podemos deixar de observar que essa norma nasceu h dez anos [1998], perodo em que a Internet ainda estava engatinhando. De l para c muita coisa mudou e por conta de situaes que no poderiam ter sido previstas pelo legislador, entendemos que algumas modificaes devem ser observadas, a fim de garantir maior segurana aos titulares dos direitos autorais, bem como permitir que a sociedade tenha acesso obra. Contudo, qualquer alterao na lei deve primar pelo equilbrio entre o direito do titular da obra e o direito de acesso da sociedade.
Projetos de licenas de uso colaborativos surgem na tentativa de proporcionar
um equilbrio nessas questes, referentes colaborao e coletividade existente
na rede, para quebrar as barreiras impostas pela Lei de Direito Autoral, que no
acompanhou as mudanas tecnolgicas impostas sociedade (SANTOS, 2009;
TRIDENTE, 2009). Vale ressaltar que foi nesse contexto de crescentes avanos
tecnolgicos, de facilidade de busca por informao, juntamente com a tendncia
colaborativa da rede, que se desenvolveu uma nova sociedade denominada
Sociedade da Informao.
Mas ser que as informaes contidas na Internet e consumidas pela
Sociedade da Informao so livres e podemos utiliz-las sem restries? A
resposta a essa pergunta no. A Internet, assim como o papel, mais um suporte
para disponibilizar a informao. Portanto, a maioria dessas informaes protegida
pelo Direito Autoral. A Lei n 9.610/98 clara em seu artigo 7 quando fala: So
obras intelectuais protegidas as criaes de esprito, expressas por qualquer meio
ou fixadas em qualquer suporte, tangvel ou intangvel, conhecido ou que se invente
no futuro [...] (BRASIL, 1998, grifo nosso).
evidente que medida que a internet e a era digital evoluem, evolui a
oportunidade de criadores intelectuais, cientistas e artistas exporem seus trabalhos
na rede, e se permite que os mesmos tenham alcance e visibilidade surpreendentes.
Mas o desafio de controlar o uso das obras enorme e difcil (SANTOS, 2009). No
por acaso que o Direito Autoral est intimamente ligado com a evoluo
tecnolgica (foi assim que ocorreu no decorrer da histria). Debates surgem a
respeito da matria, tentando entender se a Lei do Direito Autoral est de acordo
com a realidade tecnolgica e, acima de tudo, cumprindo o seu papel, incentivando
a criao intelectual ao mesmo tempo em que incentiva o acesso da sociedade
informao gerada.
38
No prximo item, sero abordadas as questes relativas ao Direito
informao e atuao do bibliotecrio nesse contexto.
2.3 Direito Informao: atuao do bibliotecrio
De acordo com o que j foi mencionado no decorrer desse trabalho, sabemos
que um dos fatores principais para estimular o desenvolvimento da sociedade o
acesso informao. Ela tem fundamental importncia na gerao do
conhecimento, que, por conseguinte, dever possibilitar a satisfao das diferentes
demandas da sociedade (AMARAL, 1995).
Pensando no direito da sociedade ao acesso informao, em 1948 a
Declarao Universal dos Direitos Humanos foi proclamada pela ONU. No seu art.
XXVII o acesso informao contemplado, onde diz:
1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do processo cientfico e de seus benefcios. 2. Toda pessoa tem direito proteo dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produo cientfica, literria ou artstica da qual seja autor. (ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS, 1948)
Observamos que j era inteno, desde a criao da Declarao Universal
dos Direitos Humanos, o equilbrio entre o direito do autor e o direito do cidado em
ter acesso informao, bem como de participar do processo cultural da sociedade,
permitindo, assim, que a liberdade de expresso e de opinio evolusse. A
Constituio brasileira de 1988 tambm nos garante o acesso informao em seu
artigo 5, pargrafo XIV, onde diz: assegurado a todos o acesso informao e
resguardado o sigilo da fonte, quando necessrio ao exerccio profissional (BRASIL,
1988). J no artigo 215, a Constituio diz que o governo garantir [...] a todos o
pleno exerccio dos direitos culturais e acesso s fontes da cultura nacional, e
apoiar e incentivar a valorizao e a difuso das manifestaes culturais.
(BRASIL, 1988).
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A tabela abaixo mostra a relao entre os direitos, as liberdades e os deveres
de cada ator na sociedade, neste caso, os profissionais, os cidados e o poder
pblico:
Direito Informao(Direitos, liberdades e deveres)
Profissionais Cidados Poder PblicoAcesso fonteSigilo da fonteDireito autoral
Acesso informao verdadeiraPluralismo informativoDireito de resposta
Administrao pblica abertaPolticas pblicas de comunicao
QUADRO 1 Relao entre o Direito Informao e os deveres dos profissionais, cidados e poder pblico.
Fonte: Adaptao de Brittes e Pereira (2007).
Percebe-se que cabe ao profissional cumprir com as determinaes
garantidas pelo Direito Fundamental do cidado em ter acesso informao. Para
isso, esse profissional necessita que as fontes de informaes estejam livres. J
para o poder pblico necessrio que a administrao seja aberta participao da
sociedade, criando-se, assim, a colaborao entre esses atores em todos os
processos de informao na sociedade (BRITTES; PEREIRA, 2007).
Mas quem ser o profissional que garantir o acesso informao e a sua
disseminao? Acredita-se que o profissional adequado para responder a esses
questionamentos o da informao e, dentre os quais, esto os bibliotecrios. Para
Santos e Passos (2000, p. 2):
Com o incio do sculo XXI, o chamado sculo do futuro, vrias indagaes continuam freqentes com relao s diversas formas de disseminao do conhecimento. O desenvolvimento cientfico e tecnolgico na rea de informao, determinou a criao de diversos formatos para utilizao das informaes, e por este acontecimento ocorrer de forma acelerada, houve uma certa expectativa em torno de qual seria a funcionalidade das bibliotecas [e dos bibliotecrios] [...].
A International Federation of Library Associations (IFLA) em seu manifesto
sobre a Internet afirma que uma das atividades essenciais das bibliotecas e dos
profissionais da informao garantir, independente das barreiras e dos suportes, o
livre acesso informao, bem como remover As barreiras para a circulao da
informao [...], especialmente aquelas que favorecem a desigualdade, a pobreza e
40
o desespero.3 (IFLA, 2008). Os profissionais da informao, ou seja, os
bibliotecrios, tm o dever de oferecer sociedade, atravs dos servios oferecidos
pela instituio na qual atuam, acesso informao e cultura.
No que concerne ao direito informao, podemos citar duas palavras
essenciais: acesso e acessibilidade. Segundo Gomes (2006), a palavra acesso
significa aproximao e a palavra acessibilidade significa livre acesso ou
possibilidade de aproximao. Por isso, sem acesso no se tem acessibilidade. A
sociedade enfrenta trs grandes limitaes para ter acesso informao. A primeira
de ordem econmica, devido ao alto custo de meios para o acesso a algo. A
segunda de ordem poltica, que ocorre devido autoridade que certos governos
possuem, fazendo com que a disseminao da informao se torne difcil. Outro
problema de cunho poltico ocorre quando algum detm a informao e reluta em
ced-la, devido ao poder que a posse de tal informao d. A terceira e ltima
limitao, de ordem tcnica, que diz respeito s habilidades para acessar a
informao e os meios disponveis para esse acesso (equipamentos, suporte, etc.)
(GOMES, 2006). Cabe ao bibliotecrio tentar, em meio a essas limitaes, propor
solues que possam diminu-las com o objetivo de oferecer sociedade o acesso
informao e cultura. Amaral (1995, p. 225) completa dizendo que Acesso
significa mais que a mera localizao. Trata-se de conectar idias e pessoas. O
desafio dos bibliotecrios [...] acrescentar algo com a informao oferecida ao
usurio [...]..
Desde que se tem conhecimento da profisso de bibliotecrio, a ela est
vinculada o esteretipo do guardio do conhecimento, ou aquele que preserva a
cultura humana. Esse papel se encaixava muito bem ao bibliotecrio do passado,
pois a produo e demanda por informaes era realmente reduzida. Contudo, hoje,
com a evoluo tecnolgica conquistada pela humanidade, desde a imprensa de
Gutenberg at a Internet, esse profissional teve que acompanhar esse
desenvolvimento para atender as novas demandas informacionais impostas pela
sociedade.
Atualmente, a funo atribuda aos bibliotecrios a de organizar, tratar e
disseminar a informao. Negativamente, a profisso ganhou o status de tecnicista
e, mais negativamente ainda, alguns profissionais se contentaram com esse rtulo e
3 Documento eletrnico. Disponvel em: . Acesso em: 17 out. 2009.
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se estagnaram como bibliotecrios catalogadores e classificadores. No entanto, por
estarmos inseridos na Sociedade do Conhecimento, o bibliotecrio deve assumir
mudanas em seu papel e valores profissionais. Tais mudanas vm agregadas com
a funo social que esse profissional pode exercer. Porm, segundo afirma Mueller
(1989, p. 63-64), essa funo est [...] sujeita s influncias do contexto, [e] exige
que a prtica profissional se modifique, para atender expectativas novas e
diversificadas que emergem da sociedade.. Apesar disso, Vieira (1983, p. 82)
ressalta que, embora o bibliotecrio trabalhe na rea social, este:
[...] no se faz sentir como necessrio pela sociedade, seja pelo simplismo de sua proposta profissional, seja pelo alheamento s questes sociais e polticas relevantes comunidade ao pas ou mesmo pela baixa qualificao desse profissional para o dilogo substantivo com os usurios de reas especializadas.
O Cdigo de tica Profissional do Bibliotecrio em sua seo II, art. 8, onde
constam os deveres e obrigaes desses profissionais diz: O Bibliotecrio deve
interessar-se pelo bem pblico e, com tal finalidade, contribuir com seus
conhecimentos, capacidade e experincia para melhor servir coletividade.
(BRASIL, 1986). Portanto, pensando nesse novo papel social que o bibliotecrio
deve criar novas demandas s suas atividades e desenvolver novas habilidades.
Contribuir para a diminuio das manipulaes de dominao e poder de
informao, com o objetivo de democratizar os avanos cientficos e tecnolgicos,
permitindo com que estes sejam distribudos de forma eficiente e igualitria na
sociedade, tambm fazem parte das atribuies que o bibliotecrio pode assumir.
Alm disso, ele igualmente:
[...] dever conhecer o cenrio onde atua a instituio mantenedora da unidade de informao sob sua responsabilidade. Desde os aspectos scio-culturais, econmicos, polticos, tecnolgicos, demogrficos e legais relacionados com o meio ambiente geral em nvel macro, como relativos ao ambiente especfico em que atua a instituio e o prprio ambiente interno, tudo deve ser estudado. (AMARAL, 1995, p. 226, grifo nosso)
Tratando-se de temas como disseminao, acesso e acessibilidade da
informao, percebemos que as instituies que tm como objetivos (alm dos
muitos outros), esses trs pilares so as bibliotecas, os museus, os arquivos, dentre
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outros centros e unidades de informao. Assim, o profissional da informao [...]
tem cada vez mais oportunidade de ser um multiplicador de suas funes, tendo em
vista as vrias direes que podem ser seguidas [...]. (SANTOS; PASSOS, 2000, p.
8) e adotadas para trabalhar com a disseminao da informao, sempre pensando
em contribuir com as necessidades impostas pela sociedade.
No entanto, conforme visto anteriormente no captulo dedicado ao Direito
Autoral, uma das barreiras enfrentadas pela lei diz respeito ao direito de acesso
informao da sociedade. Embora a lei tenha uma funo social, as restries
impostas por ela a tornam impeditiva para cumprir tal funo. Observa-se que a lei
brasileira no apresenta excees para instituies culturais como as bibliotecas, os
museus e os arquivos, nem para a totalidade dos portadores de necessidades
especiais. A nica exceo contemplada para os portadores de necessidades
visuais (SANTOS, 2009).
Se os bibliotecrios querem que a informao esteja acessvel a todos, sem
restries, devem trabalhar juntamente com os demais profissionais que desejam
isso, como os da rea jurdica e os autores que gostariam de disponibilizar suas
obras com maior facilidade sociedade. Todos os esforos deveriam ser no intuito
de criar um equilbrio entre o Direito Autoral e o acesso informao atravs das
leis, processos e regulamentaes que compem a sociedade.
No prximo item abordaremos as possveis solues para o acesso mais livre
s informaes, sem deixar de lado o direito que os criadores possuem sobre as
suas obras.
2.4 Possveis Solues
Neste item pretende-se abordar discusses levantadas para as possveis
solues do acesso s informaes de forma mais livre por parte da sociedade.
Portanto, assuntos como o Open Access, Open Archives Initiative, a doutrina do fair
use, as licenas colaborativas como o copyleft e o Creative Commons sero
examinados. Mas, primeiramente, uma breve introduo ser feita sobre as
questes cientficas, econmicas e sociais que foram determinantes para o
surgimento dos movimentos citados.
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A comunicao cientfica fator importante para o desenvolvimento da
cincia. Conforme afirma Meadows (1999, p.vii):
A comunicao situa-se no prprio corao da cincia. para ela to vital quanto a prpria pesquisa, pois a esta no cabe reivindicar com legitimidade este nome enquanto no houver sido analisada e aceita pelos pares. Isso exige, necessariamente, que seja comunicada. Ademais, o apoio s atividades cientficas dispendioso, e os recursos financeiros que lhes so alocados sero desperdiados a menos que os resultados das pesquisas sejam mostrados aos pblicos pertinentes. Qualquer que seja o ngulo pelo qual a examinemos, a comunicao eficiente e eficaz constitui parte essencial do processo de investigao cientfica.
Moreno e Mrdero Arellano (2005) afirmam que o fluxo de informaes dentro
de uma determinada comunidade cientfica se d atravs da disseminao e da
transferncia dessas informaes, variando conforme as redes de comunicao
estabelecidas nessas comunidades. Um dos objetivos que fazem determinado
pesquisador comunicar sua pesquisa em canais reconhecidos o prestgio na
comunidade cientfica e o apoio financeiro para o andamento ou para o incio de