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Bombeiro Militar Direitos Humanos, Cidadania e Igualdade Racial Prof. Mateus Silveira

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Bombeiro Militar

Direitos Humanos, Cidadania e Igualdade Racial

Prof. Mateus Silveira

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Direitos Humanos, Cidadania e Igualdade Racial

Professor Mateus Silveira

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Edital

DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA: 5) Direitos Humanos. Conceitos. Dimensões ou gerações. Direito Positivo e Direito Natural. Histórico. Documentos internacionais históricos. 6) Declara-ção Universal dos Direitos Humanos (1948). 7) OEA e proteção aos direitos humanos. Declara-ção Americana dos Direitos e Deveres do Homem. Convenção Americana sobre Direitos Hu-manos (1969) – Pacto de San Jose da Costa Rica. 8) Abuso de autoridade (Lei n.º 4.898/65). 9) Tortura (Lei n.º 9.455/97 e Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura). 10) Uso de algemas (Enunciado n.º 11 da Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal).

BANCA: Fundatec

CARGO: Bombeiro Militar

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Direitos Humanos, Cidadania e Igualdade Racial

SISTEMA GLOBAL

1. O que são os direitos humanos?

Conceito: O conjunto de direitos e garantias assegurados nas declarações e nos tratados internacionais de direitos humanos.

Conjunto de direitos considerado indispensável para vida humana pautada na liberdade, na igualdade e na dignidade.

“Dá-se o nome de liberdades públicas, de direitos humanos ou individuais àquelas prerrogativas que tem o indivíduo em face do Estado.”

1.1. Concepções doutrinárias sobre a natureza dos direitos humanos

Concepção jus naturalista

Concepção ética

Concepção como princípios

Concepção legalista

Concepção de direitos subjetivos

2. Proteção Internacional da Pessoa Humana: direitos humanos, direito humanitário e direito dos refugiados

A TUTELA INTERNACIONAL DA PESSOA HUMANA E SEUS TRÊS EIXOS DE PROTEÇÃO

DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS: proteção do ser humano em todos os aspectos, englobando direitos civis e políticos, direitos sociais, econômicos, culturais e os direitos transindividuais.

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DIREITO INTERNACIONAL DOS REFUGIADOS: age na proteção do refugiado, desde a saída do seu local de residência, passando pela concessão do refúgio e incluindo seu eventual término.

DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO: foca na proteção do ser humano na situação específica dos conflitos armados (internacionais ou não internacionais – guerras civis).

O DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO

É também conhecido como o direito internacional da guerra, pois precede a própria formação do direito internacional dos direitos humanos. Surge a partir da iniciativa do suíço Henri Dunant que, após presenciar o massacre e a desumana situação de feridos na Batalha de Solferino (1859), ocorrida em solo italiano, decide criar a Cruz Vermelha e iniciar uma campanha internacional para a proteção dos militares feridos e doentes.

Com o sucesso obtido na sua empreitada em 1864, foi aprovada a primeira Convenção de Genebra.

À 1º Convenção de Genebra, sucederam-se diversas outras:

1. Segunda Convenção de Genebra – 1907, que visou a proteção de feridos, enfermos e náufragos das forças armadas do mar;

2. Terceira Convenção de Genebra – 1929, que instituiu regime jurídico e proteção dos prisioneiros de guerra;

3. Quarta Convenção de Genebra – 1949, que revisou as convenções anteriores e acrescentou a proteção em relação aos civis, inclusive em territórios ocupados.

Às Convenções de Genebra, seguiram-se três protocolos:

A) Protocolo I de 1977 – proteção das vítimas dos conflitos armados internacionais, considerando que conflitos armados contra dominação colonial, ocupação estrangeira ou regimes racistas devem ser considerados como conflitos internacionais;

B) Protocolo II de 1977 – proteção de vítimas em conflitos armados não internacionais (guerras civis);

C) Protocolo III de 2007 – adiciona o emblema do cristal vermelho ao lado da cruz vermelha e do crescente vermelho.

Assim, o direito humanitário não visa impedir a guerra, mas tão somente regulamentar o uso da força e da violência uma vez que o conflito armado é deflagrado.

Princípios de direito internacional humanitário:

A) Princípio da Humanidade: de acordo com esse princípio, a dignidade humana deve ser preservada, por mais precária e gravosa que seja a situação;

B) Princípio da Necessidade: os bens civis devem ser respeitados e não podem ser alvos de ataques e retaliações;

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C) Princípio da Proporcionalidade: as partes devem utilizar de seus recursos bélicos de forma proporcional a superar e vencer a parte adversa, rejeitando-se um malefício superior aos ganhos militares pretendidos.

O COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA (CICV): A principal entidade responsável pelo monitoramento do cumprimento do direito internacional humanitário pelos Estados é o CICV, em realidade, uma organização independente e não governamental, cujo status e prerrogativas são reconhecidos nas próprias Convenções de Genebra.

O CICV visa defender e amparar as vítimas de guerras e catástrofes naturais, além de auxiliar no contato com familiares e na busca por desaparecidos.

Embora não prevejam um órgão internacional voltado para aplicação de sanções, os tratados que compõem o direito internacional humanitário podem ser invocados perante a CIJ e o TPI.

Desse modo, o desenvolvimento do direito internacional humanitário é considerado como um dos precedentes históricos para a internacionalização dos direitos humanos.

O DIREITO INTENACIONAL DOS REFUGIADOS

O direito internacional dos refugiados também decorre de um “Convenção de Genebra”, que, a não ser pelo nome, não se identifica com aquelas relacionadas ao direito internacional humanitário.

O principal instrumento do direito internacional dos refugiados é a Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados, adotada em 28/07/1951 e com vigência a partir de 22/04/1954.

Essa Convenção definia o que se compreendia como refugiado e, ao mesmo tempo, estipulava regras para a sua proteção e a concessão de asilo político pelos Estados-membros. Contudo, ela possuía em grave limitados de tempo: somente se aplicava aos refugiados em relação a eventos ocorridos antes de 1º de 1951. A esse condicionamento denominou-se “reserva temporal”.

Após um período de discussões internacionais, foi elaborado o Protocolo relativo ao Estatuto dos Refugiados, que entrou em vigor em outubro de 1967.

Com esse protocolo, deixaram de existir limitações geográficas e temporais para o reconhecimento do status de refugiado a determinadas categorias de pessoas, buscando-se agora conferir efetiva proteção a todos aqueles que se deslocam em razão de uma crise política.

Refugiado: é todo o indivíduo que, em decorrência de fundados temores de perseguição, seja relacionada à sua raça, à religião, à nacionalidade, a determinado grupo social ou à opinião política e também por fenômenos ambientais, encontra-se fora de seu país de origem e que, por causa dos ditos temores, não pode ou não quer regressar a ele.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) foi criado em 1949 e é órgão integrante do Sistema da Organização das Nações Unidas (ONU), responsável por garantir e assegurar aos refugiados a observância dos seus direitos e por monitorar e acompanhar os movimentos de refugiados no globo.

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No Brasil, o direito dos refugiados foi regulamentado pela Lei nº 9.474/1997, que também criou o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), órgão colegiado vinculado ao Ministério da Justiça.

De acordo com o art. 1º dessa lei, será reconhecido como refugiado todo indivíduo que:

Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que:

I – devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país;

II – não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso anterior;

III – devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país.

Art. 2º Os efeitos da condição dos refugiados serão extensivos ao cônjuge, aos ascendentes e descendentes, assim como aos demais membros do grupo familiar que do refugiado dependerem economicamente, desde que se encontrem em território nacional.

O direito dos refugiados visa defender o ser humano em uma de suas condições mais fragilizadas: quando encontra-se desvinculado de sua terra natal e em ameaça de violência (seja física, psicológica ou econômica) caso a ela retorne.

3. Evolução histórica dos direitos humanos

HISTÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS

1. A ANTIGUIDADE ORIENTAL (período entre os séculos VIII e II a.C): é o primeiro passo rumo à afirmação dos direitos humanos, com a emergência do pensamento de vários filósofos de influência até os dias de hoje (Zaratustra, Buda, Confúcio, Dêutero-Isaías), cujo ponto em comum foi a adoção de códigos de comportamento baseados no amor e respeito ao outro.

• Antigo Egito: reconhecimento de direitos de indivíduos na codificação de Menes (3100-2850 a.C);

• Suméria antiga: Código de Hammurabi, na Babilônia (1792-1750 a.C) – 1º código de normas de condutas, preceituando esboços de direitos dos indivíduos, consolidando os costumes e estendendo a lei a todos os súditos do império.

• Suméria e Pérsia: Ciro II, no século VI a.C, aproximadamente em 539 a.C, os exércitos de Ciro, O Grande, 1º rei da antiga Pérsia, conquistou a cidade da Babilônia. Porém, foram as suas seguintes ações que marcaram um avanço muito importante para o homem. Ele libertou os escravos, declarou que todas as pessoas tinham o direito de escolher a sua própria religião e estabeleceu a igualdade racial. Esses e outros decretos foram registrados

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num cilindro de argila na língua acádica. Esse documento é conhecido atualmente como o Cilindro de Ciro.

O Cilindro de Ciro (declaração de boa governança) foi agora reconhecido como a 1º carta de direitos humanos do mundo. Está traduzido nas 6 línguas oficiais da ONU e é análogo aos quatro primeiros artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

• China: no século VI e V a.C., Confúncio lançou as bases para a sua filosofia, com ênfase na defesa do amor aos indivíduos.

• Budismo: introduziu um código de conduta pelo qual se prega o bem comum e uma sociedade pacífica, sem prejuízo a qualquer ser humano.

• Islamismo: prescrição da fraternidade e solidariedade aos vulneráveis.

A visão grega: consolidação dos direitos políticos, com a participação política dos cidadãos (Atenas: A pólis e as deliberações em praça pública, na praça denominada Ágora).

Platão, em sua obra A República (400 a.C), defendeu a igualdade e a noção de bem comum.

Aristóteles, em Ética a Nicômaco, salientou a importância do agir com justiça, para o bem de todos da pólis, mesmo em face de leis injustas.

Em Antígona (peça de Sófocles), a personagem luta para enterrar o seu irmão Polinice mesmo contra a ordem do tirano Creonte, que havia criado uma lei proibindo que aqueles que atentassem contra lei da cidade fossem enterrados.

Travou-se, assim, uma reflexão sobre a superioridade normativa de determinadas normas, mesmo em face da vontade do poder (contra a tirania, contra a injustiça e contra o Estado opressor).

A REPÚBLICA ROMANA: tem grande contribuição na sedimentação do princípio da legalidade. A Lei das Doze Tábuas, ao estipular a lex scripta como regente de condutas, deu um passo na direção da vedação ao arbítrio.

Reconhecimento da igualdade entre todos os seres humanos, em especial pela aceitação do jus gentium, o direito aplicado a todos romanos ou não.

Marco Túlio Cícero retoma a defesa da razão reta (recta ratio), salientando, na República, que a verdadeira lei é a lei da razão, inviolável mesmo em face da vontade do poder (apesar das diferenças os homens podem permanecer unidos se adotarem o “viver reto”).

• INFLUÊNCIAS DO CRISTIANISMO (ANTIGO E NOVO TESTAMENTO): Os cinco livros de Moisés (Torah): apregoam solidariedade e preocupação com o bem-estar de todos (1800-1500 a.C.). Antigo testamento: faz menção à necessidade de respeito a todos, em especial aos vulneráveis. Cristianismo contribui para a disciplina: há vários trechos da Bíblia (Novo Testamento) que pregam a igualdade e solidariedade com o semelhante.

A IDADE MÉDIA E A IDADE MODERNA

Na Idade Média, o poder dos governantes era ilimitado, pois era fundado na vontade divina (clero e a nobreza).

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Os primeiros movimentos de reivindicação de liberdades a determinados estamentos que surgiram foram a Declaração das Cortes de Leão, adotada na Península Ibérica em 1188 (Reino de Espanha), e a Magna Carta Inglesa, de 1215.

A Carta Magna (1215) foi possivelmente a influência inicial mais significativa no amplo processo histórico que conduziu o constitucionalismo ocidental hoje conhecido.

Em 1215, depois de que o Rei João Sem-terra da Inglaterra violou um número de leis antigas e costumes pelos quais a Inglaterra tinha sido governada, seus súditos, principalmente os barões revoltados com as arbitrariedades do seu soberano, forçaram o rei a assinar a Magna Carta que enumera o que mais tarde veio a ser considerados como direitos humanos. Entre eles, estava o direito da igreja de ser livre da interferência governamental e os direitos de todos os cidadãos livres de possuirem e herdarem a propriedade e ser protegidos de impostos excessivos. Os princípios do devido processo legal e da igualdade na lei, bem como as determinações que proibiam o suborno e a má conduta oficial.

• Renascimento e reforma protestante: a crise da Idade Média deu lugar ao surgimento dos Estados Nacionais absolutistas e a sociedade estamental (dividida por estamentos, o que impedia a ascensão social) medieval foi substituída pela forte centralização do poder na figura do rei. Com a erosão da importância dos estamentos (igreja e senhores feudais), surgiu a ideia da igualdade de todos submetidos ao poder absoluto do rei, o que não exclui a opressão e a violência, como a extermínio perpetrado contra indígenas na América.

O Século XVII: o Estado Absolutista foi questionado, em especial na Inglaterra. A busca pela limitação do poder é consagrada na Petition Of Rights de 1628.

A Petição de Direitos afirmou quatro princípios: 1) nenhum tributo pode ser imposto sem o consentimento do Parlamento; 2) nenhum súdito pode ser encarcerado sem motivo demonstrado (a reafirmação do direito de habeas corpus); 3) nenhum soldado pode ser aquartelado nas casas dos cidadãos; 4) a Lei Marcial não pode ser usada em tempo de paz.

A edição do Habeas Corpus Act (1679) formaliza o mandado de proteção judicial aos que haviam sido injustamente presos, existente tão somente no direito consuetudinário inglês (common law).

Em 1689 (após a Revolução Gloriosa): edição da Declaração Inglesa de Direitos a Bill of Rights (1689), pela qual o poder autocrático dos reis ingleses é reduzido de forma definitiva.

Em 1701: aprovação do Act of Settlement, que enfim fixou a linha de sucessão da coroa inglesa, reafirmou o poder do Parlamento e da vontade da lei, resguardando-se os direitos dos súditos contra a volta da tirania dos monarcas.

• Os pensadores e as principais ideias ligadas aos direitos humanos:

• Thomas Hobbes (Leviatã – 1651): é um dos primeiros textos que versa claramente sobre o direito do ser humano, que é ainda tratado sendo pleno no estado da natureza. Mas Hobbes conclui que o ser humano abdica de sua liberdade inicial e se submete ao poder do Estado (o Leviatã), cuja existência se justifica pela necessidade de se dar segurança ao indivíduo, diante das ameaças de seus semelhantes. Entretanto, os indivíduos não possuiriam qualquer proteção contra o poder do Estado.

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• Hugo Grócio (Da guerra e da paz – 1625): defendeu a existência do direito natural, de cunho racionalista, reconhecendo, assim, que suas normas decorrem de “princípios inerentes ao ser humano”.

• John Locke (Tratado sobre o governo civil – 1689): defendeu o direito dos indivíduos mesmo contra a Estado, um dos pilares contemporâneos do regime dos direitos humanos. O grande e principal objetivo das sociedades políticas sob a tutela de um determinado governo é a preservação dos direitos à vida, à liberdade e à propriedade. Logo, o governo não pode ser arbitrário e deve seu poder ser limitado pela supremacia do bem público.

• Abbé Charles de Saint-Pierre (Projeto de paz perpétua – 1713): defendeu o fim das guerras europeias e o estabelecimento de mecanismos pacíficos para superar as controvérsias entre os Estados em uma precursora ideia de federação mundial.

• Jean-Jacques Rousseau (Do contrato social – 1762): prega que a vida em sociedade é baseada em um contrato (o pacto social) entre homens livres e iguais (qualidades inerentes aos seres humanos), que estruturam o Estado para zelar pelo bem-estar da maioria. Um governo arbitrário e liberticida não poderia sequer alegar que teria sido aceito pela população, pois a renúncia à liberdade seria o mesmo que renunciar à natureza humana, sendo inadmissível.

• Cesare Beccaria (Dos delitos e das penas – 1766): sustentou a existência de limites para a ação do Estado na repressão penal, balizando os limites do jus puniendi que permanecem até hoje.

• Kant (Fundamentação da metafísica dos costumes – 1785): defendeu a existência da dignidade intrínseca a todo ser racional, que não tem preço ou equivalente. Justamente em virtude dessa dignidade, não se pode tratar o ser humano como um meio, mas sim como um fim em si mesmo.

AS DECLARAÇÕES DE DIREITOS E O CONSTITUCIONALISMO LIBERAL

As revoluções liberais, inglesa, americana e francesa e suas respectivas declarações de direitos marcaram a primeira afirmação histórica moderna dos direitos humanos.

A Revolução Inglesa: teve como marcos a Petition of Rights – 1628, que buscou garantir determinadas liberdades individuais, e o Bill of Rigths, de 1689, que consagrou a supremacia do Parlamento e o império da lei.

A Revolução Americana: retrata o processo de independência das colônias britânicas na América do Norte, culminado em 1776, e ainda a criação da Constituição norte-americana de 1787. Somente em 1791 foram aprovadas dez emendas que, finalmente, introduziram um rol de direitos na Constituição Americana. (1º Emenda Separação da igreja e o Estado; 2º Emenda direito de manter e portar armas;).

A Revolução Francesa: adoção da Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão pela Assembleia Nacional Constituinte francesa, em 27 de agosto de 1789, que consagra a igualdade e a liberdade que levou à abolição de privilégios, direitos feudais e imunidades de várias castas, em especial da aristocracia de terras. O lema dos revolucionários era: Liberdade,

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Igualdade e Fraternidade. O Projeto de Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, em 1791, proposto por Olympe de Gouges, reivindicou a igualdade de direitos de gênero.

Em 1791 – edição da 1º Constituição da França Revolucionária, que consagrou a perda dos direitos absolutos do monarca francês, implantando-se uma monarquia constitucional, mas ao mesmo tempo reconheceu o voto censitário.

Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789): consagrada como a 1º com vocação universal. Esse universalismo será o grande alicerce da futura afirmação dos direitos humanos do século XX, com a edição da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

CONSTITUCIONALISMO SOCIAL

Antecedentes: Final do século XVIII: próprios jacobinos franceses defendiam a ampliação do rol de direitos da Declaração Francesa para abarcar também os direitos sociais, como direito à educação e à assistência social.

Em 1793: revolucionários franceses editaram uma nova Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, redigida com forte apelo à igualdade e com reconhecimento de direitos sociais como educação.

Europa do Século XIX: movimentos socialistas ganham apoio popular nos seus ataques ao modo de produção capitalista. Expoentes: Karl Marx, Engels e August Bebel.

A Revolução Russa (1917): estimulou novos avanços na defesa da igualdade e justiça social.

Introdução dos chamados direitos sociais – que pretendiam assegurar condições materiais mínimas.

DIREITOS DO HOMEM: Inatos aos seres humanos – vida, liberdade, não há necessidade de codificação para que os mesmos sejam respeitados.

DIREITOS FUNDAMENTAIS: Estão positivados em uma Constituição de um país.

DIREITOS HUMANOS: Direitos do homem e/ou fundamentais positivados em tratados ou documentos de direitos humanos.

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: O mínimo que uma pessoa deve ter para sua existência.

OS DIREITOS HUMANOS ANTES DA ONU

A Liga das Nações foi uma organização internacional criada em abril de 1919, quando a Conferência de Paz de Paris adotou seu pacto fundador, posteriormente inscrito em todos os tratados de paz.

Ainda durante a Primeira Guerra Mundial, a ideia de criar um organismo destinado à preservação da paz e à resolução dos conflitos internacionais por meio da mediação e do arbitramento já havia sido defendida por alguns estadistas, especialmente o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson. Contudo, a recusa do Congresso norte-americano em ratificar o Tratado de Versalhes acabou impedindo que os Estados Unidos se tornassem membro do novo organismo.

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Com o fim da 1º Guerra Mundial (1914-1918), os países vencedores se reuniram em Versalhes, no subúrbio de Paris na França, em janeiro de 1919 para firmar um tratado de paz, o Tratado de Versalhes. Um dos pontos do tratado era a criação de um organismo internacional que tivesse como finalidade assegurar a paz num mundo traumatizado pelas dimensões do conflito que se encerrara.

Em 15/11/1920, teve lugar em Genebra/Suíça, a 1º Assembleia Geral da Liga das Nações. Os objetivos da organização eram impedir as guerras e assegurar a paz, a partir de ações diplomáticas, de diálogos e negociações para a solução dos litígios. Porém, infelizmente não se conseguiu impedir a 2º Guerra.

A Liga das Nações, segundo a Profª. Drª. Flávia Piovesan: "tinha como finalidade promover a cooperação, paz e segurança internacional, condenando agressões externas contra a integridade territorial e a independência política dos seus membros".

O Brasil aderiu desde o início à Liga das Nações, porém por ato isolado do presidente da República Artur Bernardes que, após seis anos, desligou-se (denunciou) do tratado sem a anuência do Congresso Nacional.

Já os Estados Unidos não ratificaram o tratado. As eleições para o congresso americano (Senado) em 1918 deram a vitória ao Partido Republicano, que era oposição ao Presidente Woodrow Wilson, portanto o Partido Republicano que assumiu o controle do Senado por duas vezes bloqueou a ratificação do tratado de Versalhes, favorecendo o isolamento do país, opondo-se à Sociedade das Nações. Assim, os Estados Unidos nunca aderiram à Sociedade das Nações e negociaram em separado a paz com a Alemanha: o Tratado de Berlim de 1921, que confirmou a pagamento de indenizações e de outras disposições do Tratado de Versalhes, mas excluiu explicitamente todos os assuntos relacionados com a Sociedade das Nações.

Sem a participação americana e não possuindo forças armadas próprias, o poder de coerção da Liga das Nações baseava-se apenas em sanções econômicas e militares. Sua atuação foi bem-sucedida no arbitramento de disputas nos Bálcãs e na América Latina, na assistência econômica e na proteção a refugiados, na supervisão do sistema de mandatos coloniais e na administração de territórios livres como a cidade de Dantzig. Mas ela se revelou impotente para bloquear a invasão japonesa da Manchúria (1931), a agressão italiana à Etiópia (1935) e o ataque russo à Finlândia (1939). Em abril de 1946, o organismo se autodissolveu, transferindo as responsabilidades que ainda mantinha para a recém-criada ONU.

A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi criada em 1919, como parte do Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial.

A sua constituição converteu-se na Parte XIII do Tratado de Versalhes (1919).

Fundou-se sobre a convicção primordial de que a paz universal e permanente somente pode estar baseada na justiça social. É a única das agências do Sistema das Nações Unidas com uma estrutura tripartite, composta de representantes de governos e de organizações de empregadores e de trabalhadores. A OIT é responsável pela formulação e pela aplicação das normas internacionais do trabalho (convenções e recomendações).

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As convenções, uma vez ratificadas por decisão soberana de um país, passam a fazer parte de seu ordenamento jurídico. O Brasil está entre os membros fundadores da OIT e participa da Conferência Internacional do Trabalho desde sua primeira reunião.Na primeira Conferência Internacional do Trabalho, realizada em 1919, a OIT adotou seis convenções.

Em 1944, à luz dos efeitos da Grande Depressão e da 2º Guerra Mundial, a OIT adotou a Declaração da Filadélfia como anexo da sua Constituição. A Declaração antecipou e serviu de modelo para a Carta das Nações Unidas e para a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH).

Em junho de 1998 (86º sessão), foi adotada a Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos Fundamentais do Trabalho e seu Seguimento. O documento é uma reafirmação universal da obrigação de respeitar, promover e tornar realidade os princípios refletidos nas Convenções fundamentais da OIT, ainda que não tenham sido ratificadas pelos Estados-membros.

Atualmente, a OIT estabeleceu um patamar mínimo de proteção dos trabalhadores e conseguiu identificar os sujeitos de proteção, tais como crianças, gestantes e idosos.

A OIT tem sede em Genebra/Suíça.

Direito Humanitário: As Convenções de Genebra (1949) e seus Protocolos Adicionais são a essência do Direito Internacional Humanitário (DIH), o conjunto de leis que rege a conduta dos conflitos armados e busca limitar seus efeitos. Eles protegem especificamente as pessoas que não participam dos conflitos (civis, profissionais de saúde e de socorro) e as que não mais participam das hostilidades (soldados feridos, doentes, náufragos e prisioneiros de guerra).

4. Características dos direitos humanos

INERÊNCIA: os direitos humanos pertencem a todos os seres humanos;

UNIVERSALIDADE: não importa a raça, a cor, o sexo, a origem, a condição social, a língua, a religião ou opção sexual;

TRANSNACIONALIDADE: não importa o local em que esteja o ser humano;

INDIVISIBILIDADE: os direitos humanos não são fracionados; implica em unicidade, assegurando não ser possível se reconhecer apenas alguns direitos humanos (atenção aos direitos sociais).

Universalismo x Relativismo cultural

A concepção universal dos direitos humanos delineada pela Declaração Universal de 1948 e reafirmada pela Declaração de Viena de 1993 sofreu e ainda sofre fortes resistências dos adeptos do movimento do relativismo cultural.

Para os relativistas, a noção de direito está estritamente relacionada ao sistema político, econômico, cultural, social e moral vigente em determinada sociedade. Segundo os relativistas, cada cultura possui o seu próprio discurso acerca dos direitos fundamentais, que está relacionado às específicas circunstâncias culturais e históricas de cada sociedade. Nesse

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sentido, acreditam os que se filiam ao relativismo cultural, que o pluralismo cultural impede a formação de uma moral universal, tornando-se necessário que se respeitem as diferenças culturais apresentadas por cada sociedade, bem como seu peculiar sistema moral.

No olhar relativista, há o primado do coletivismo. Isto é, o ponto de partida é a coletividade, e o indivíduo é percebido como parte integrante da sociedade. Já na ótica universalista, há o primado do individualismo. O ponto de partida é o indivíduo, sua liberdade e autonomia (a dignidade humana como elemento individualista), para que, então, se avance na percepção dos grupos e das coletividades.

INTERDEPENDÊNCIA: muitas vezes, para o exercício de um direito humano, passa-se obrigatoriamente pelo anterior de outra geração/dimensão.

INDISPONIBILIDADE: o ser humano não pode abrir mão, dispor de um direito humano, por ser inerente a ele, nem os Estados podem suprimi-los, a partir do momento que os reconhece;

IMPRESCRITIBILIDADE: um direito humano não prescreve por decurso de prazo.

Atualmente a majoritária jurisprudência do STJ está aplicando a imprescritibilidade dos direitos humanos.

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. INDENIZAÇÃO. REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. REGIME MILITAR. DISSIDENTE POLÍTICO PRESO NA ÉPOCA DO REGIME MILITAR. TORTURA. DANO MORAL. FATO NOTÓRIO. NEXO CAUSAL. NÃO INCIDÊNCIA DA PRESCRIÇÃO QUINQUENAL – ART. 1º DECRETO 20.910/1932. IMPRESCRITIBILIDADE.

RECURSO ESPECIAL Nº 1.165.986 – SP (2008/0279634-1) RELATOR : MINISTRO LUIZ FUX

Julgado em 16/11/2010.

INDIVIDUALIDADE: podem ser exercidos por apenas um indivíduo;

COMPLEMENTARIEDADE: os direitos humanos devem ser interpretados em conjunto, não havendo hierarquia entre eles;

INVIOLABILIDADE: esses direitos não podem ser descumpridos por nenhuma pessoa ou autoridade;

IRRENUNCIABILIDADE: são irrenunciáveis esses direitos.

INTERRELACIONARIEDADE: os direitos humanos e os sistemas de proteção se inter-relacionam, possibilitando às pessoas escolher entre o mecanismo de proteção global ou regional não havendo hierarquia entre eles;

HISTORICIDADE: estão vinculados ao desenvolvimento histórico e cultural do ser humano;

VEDAÇÃO DO RETROCESSO OU DO REGRESSO: uma vez estabelecidos os direitos humanos, não se admite o retrocesso visando sua limitação ou diminuição.

PREVALÊNCIA DA NORMA MAIS BENÉFICA: na solução de um caso concreto deve prevalecer a norma mais benéfica para a vítima da violação dos direitos humanos.

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5. Categorias e gerações dos direitos humanos

As dimensões ou gerações de direitos humanos: a doutrina menciona três dimensões clássicas desses direitos: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

LIBERDADE: protege os direitos civis e políticos individuais (liberdade, vida e segurança);

IGUALDADE: protege os direitos econômicos, sociais, culturais e trabalhistas;

FRATERNIDADE: também conhecida como “princípio da solidariedade”, protege os direitos difusos como meio ambiente, consumidor e desenvolvimento.

A classificação dos direitos humanos quanto à sua natureza restou fragmentada em dois campos em que os próprios tratados internacionais criaram uma classificação: a existência de direitos civis e políticos, por um lado e de direitos econômicos, sociais e culturais por outro.

Direitos Civis e Políticos: em regra, são direitos relacionados à vida, à liberdade e à participação política dos cidadãos. Também em regra, exigem uma atitude negativa dos Estados, que não podem coibir a liberdade nem proibir a manifestação política de seus nacionais.

Mas, em alguns momentos, impõe aos Estados certos deveres positivos, como a promoção de eleições periódicas pelos Estados (art. 25 do PDCP).

Direitos Econômicos, Sociais e Culturais: são os denominados direitos sociais, como direito à alimentação, à saúde, à educação e à habitação, que, por sua vez, obriga os Estados a exercerem prestações positivas, isto é, deverão proporcionar aos cidadãos serviços e bens públicos destinados ao cumprimento de condições materiais suficientes de existência.

Há também prestações negativas como a não interferência no direito à sindicalização (art. 8º do PIDCP).

Uma classificação tradicional dos direitos humanos é aquela que os divide em gerações ou dimensões segundo a doutrina mais atual.

Direitos de 1º Dimensão ou Geração: nasceu nas revoluções burguesas dos séculos XVII E XVIII e envolve os direitos de autonomia, defesa e participação, possuindo característica de distribuição de competências entre o Estado e o indivíduo. Essa geração refere-se aos direitos civis e políticos, também chamados de direitos de liberdade. As liberdades públicas negativas que buscavam a abstenção estatal, a não interferência do poder público na esfera dos interesses privados.

Direitos de 2º Dimensão ou Geração: Decorrente dos movimentos sociais do século XIX e XX, demandavam um papel ativo e interventivo do Estado. Também considerados direitos prestacionais, alcançam os direitos econômicos, sociais e culturais pautados pelo direito da igualdade.

Direitos de 3º Dimensão ou Geração: São os denominados direitos de solidariedade ou direitos globais, que incluem o direito ao desenvolvimento, o direito a um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado, o direito à paz, o direito à autodeterminação dos povos e o direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade. São denominados direitos transindividuais.

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Direitos de 4º Dimensão ou Geração: são os direitos decorrentes da globalização política e que correspondem à fase de institucionalização do Estado Social. Direitos dos povos.

5º Dimensão Futuro dos Indivíduos – Paz universal.

6º Dimensão Futuro dos Indivíduos – Acesso à água.

Dimensão ou Geração de DH

1º Dimensão ou Geração:Liberdades individuais Vida, liberdade, segurança e propriedade.

2º Dimensão ou Geração: Igualdade, Sociais, econômicos, culturais, trabalhistas, saúde, educação, habitação e lazer.

3º Dimensão ou Geração: Fraternidade dos povos, coletivos

Paz, meio ambiente, patrimônio histórico e cultural, consumidor.

4º Dimensão ou GeraçãoFuturo dos IndivíduosEvolução da Ciência

Globalização, bioética, biodireito, genética gerações futuras e realidade virtual.

6. Os Sistemas de Direitos Humanos

Sistema Universal Sistemas Regionais Sistema Nacional

1945 – Carta das Nações (ONU)

1948 – Declaração Universal dos Direito Humanos (DUDH)

1966 – Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP)

1966 – Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Pidesc)

Sistema Regional Europeu

Sistema Regional Americano

(OEA – Pacto de San Jose da Costa Rica)

Sistema Africano

Sistema Árabe-asiático

Constituições de cada país.

6.1 Sistemas Regionais de Direitos Humanos

Sistema Europeu

Sistema Americano

Sistema Africano

Sistema Árabe-asiático

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DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.

PREÂMBULO

Considerando que o reconhecimento da digni-dade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bár-baros que ultrajaram a consciência da Huma-nidade e que o advento de um mundo em que todos gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,

Considerando ser essencial que os direitos hu-manos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão,

Considerando ser essencial promover o desenvol-vimento de relações amistosas entre as nações,

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direi-tos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram pro-mover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,

Considerando que os Estados-Membros se com-prometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos di-reitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades,

Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta im-

portância para o pleno cumprimento desse compromisso,

A ASSEMBLÉIA GERAL proclama a presente DE-CLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIRETOS HUMA-NOS como o ideal comum a ser atingido por to-dos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da socieda-de, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberda-des, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância univer-sal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Artigo 1º

Todas os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Artigo 2º

1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabele-cidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, rique-za, nascimento, ou qualquer outra condi-ção.

2. Não será também feita nenhuma distin-ção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem go-verno próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

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Artigo 3º

Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4º

Ninguém será mantido em escravidão ou servi-dão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo 5º

Ninguém será submetido à tortura nem a tra-tamento ou castigo cruel, desumano ou degra-dante.

Artigo 6º

Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.

Artigo 7º

Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. To-dos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discrimina-ção.

Artigo 8º

Todo ser humano tem direito a receber dos tri-bunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamen-tais que lhe sejam reconhecidos pela constitui-ção ou pela lei.

Artigo 9º

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10.

Todo ser humano tem direito, em plena igual-dade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fun-damento de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo 11.

1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julga-mento público no qual lhe tenham sido as-seguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

2. Ninguém poderá ser culpado por qual-quer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito na-cional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo 12.

Ninguém será sujeito à interferências em sua vida privada, em sua família, em seu lar ou em sua correspondência, nem a ataques à sua hon-ra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ata-ques.

Artigo 13.

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fron-teiras de cada Estado.

2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Artigo 14.

1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em ou-tros países.

2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motiva-da por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Na-ções Unidas.

Artigo 15.

1. Todo ser humano tem direito a uma na-cionalidade.

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2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mu-dar de nacionalidade.

Artigo 16.

1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionali-dade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.

2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

3. A família é o núcleo natural e fundamen-tal da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.

Artigo 17.

1. Todo ser humano tem direito à proprie-dade, só ou em sociedade com outros.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo 18.

Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou cren-ça e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.

Artigo 19.

Todo ser humano tem direito à liberdade de opi-nião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procu-rar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo 20.

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.

2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21.

1. Todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livre-mente escolhidos.

2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.

3. A vontade do povo será a base da autori-dade do governo; esta vontade será expres-sa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou pro-cesso equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo 22.

Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação interna-cional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo 23.

1. Todo ser humano tem direito ao traba-lho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.

2. Todo ser humano, sem qualquer distin-ção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.

3. Todo ser humano que trabalhe tem direi-to a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se ne-cessário, outros meios de proteção social.

4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para proteção de seus interesses.

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Artigo 24.

Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive à limitação razoável das horas de tra-balho e férias periódicas remuneradas.

Artigo 25.

1. Todo ser humano tem direito a um pa-drão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimen-tação, vestuário, habitação, cuidados médi-cos e os serviços sociais indispensáveis, e di-reito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle.

2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matri-mônio, gozarão da mesma proteção social.

Artigo 26.

1. Todo ser humano tem direito à instru-ção. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A ins-trução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade en-tre todas as nações e grupos raciais ou re-ligiosos, e coadjuvará as atividades das Na-ções Unidas em prol da manutenção da paz.

3. Os pais têm prioridade de direito na esco-lha do gênero de instrução que será minis-trada a seus filhos.

Artigo 27.

1. Todo ser humano tem o direito de parti-cipar livremente da vida cultural da comu-

nidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios.

2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorren-tes de qualquer produção científica, literá-ria ou artística da qual seja autor.

Artigo 28.

Todo ser humano tem direito a uma ordem so-cial e internacional em que os direitos e liberda-des estabelecidos na presente Declaração pos-sam ser plenamente realizados.

Artigo 29.

1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, em que o livre e pleno desen-volvimento de sua personalidade é possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusi-vamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e li-berdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contra-riamente aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Artigo 30.

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qual-quer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

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DECLARAÇÃO AMERICANA DOS DIREITOS E DEVERES DO HOMEM (1948)

A IX Conferência Internacional Americana, Con-siderando:

Que os povos americanos dignificaram a pessoa humana e que suas Constituições nacionais re-conhecem que as instituições jurídicas e políti-cas, que regem a vida em sociedade, têm como finalidade principal a proteção dos direitos es-senciais do homem e a criação de circunstâncias que lhe permitam progredir espiritual e mate-rialmente e alcançar a felicidade;

Que, em repetidas ocasiões, os Estados ameri-canos reconheceram que os direitos essenciais do homem não derivam do fato de ser ele ci-dadão de determinado Estado, mas sim do fato dos direitos terem como base os atributos da pessoa humana;

Que a proteção internacional dos direitos do homem deve ser a orientação principal do direi-to americano em evolução;

Que a consagração americana dos direitos es-senciais do homem, unida às garantias ofereci-das pelo regime interno dos Estados, estabele-ce o sistema inicial de proteção que os Estados americanos consideram adequado às atuais circunstâncias sociais e jurídicas, não deixando de reconhecer, porém, que deverão fortalecê-lo cada vez mais no terreno internacional, à medi-da que essas circunstâncias se tornem mais pro-pícias;

Resolve:

Adotar a seguinte

DECLARAÇÃO AMERICANA DOS DIREITOS E DEVERES DO HOMEM

Preâmbulo

Todos os homens nascem livres e iguais em dig-nidade e direitos e, como são dotados pela na-tureza de razão e consciência, devem proceder fraternalmente uns para com os outros.

O cumprimento do dever de cada um é exi-gência do direito de todos. Direitos e deveres integram-se correlativamente em toda a ativi-dade social e política do homem. Se os direitos exaltam a liberdade individual, os deveres expri-mem a dignidade dessa liberdade.

Os deveres de ordem jurídica dependem da existência anterior de outros de ordem moral, que apoiam os primeiros conceitualmente e os fundamentam.

É dever do homem servir o espírito com todas as suas faculdades e todos os seus recursos, porque o espírito é a finalidade suprema da existência humana e a sua máxima categoria.

É dever do homem exercer, manter e estimu-lar a cultura por todos os meios ao seu alcance, porque a cultura é a mais elevada expressão so-cial e histórica do espírito.

E, visto que a moral e as boas maneiras consti-tuem a mais nobre manifestação da cultura, é dever de todo homem acatar-lhe os princípios.

CAPÍTULO PRIMEIRODIREITOS

Artigo I. Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança de sus pessoa.

Artigo II. Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm os direitos e deveres consagrados nesta Declaração, sem distinção de raça, língua, crença, ou qualquer outra.

Artigo III. Toda pessoa tem o direito de profes-sar livremente uma crença religiosa e de mani-festá-la e praticá-la pública e particularmente.

Artigo IV. Toda pessoa tem o direito à liberdade de investigação, de opinião e de expressão e di-fusão do pensamento, por qualquer meio.

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Artigo V. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra os ataques abusivos à sua honra, à sua reputação e à sua vida particular e familiar.

Artigo VI. Toda pessoa tem direito a constituir família, elemento fundamental da sociedade e a receber proteção para ela.

Artigo VII. Toda mulher em estado de gravi-dez ou em época de lactação, assim como toda criança, têm direito à proteção, cuidados e auxí-lios especiais.

Artigo VIII. Toda pessoa tem direito de fixar sua residência no território do Estado de que é na-cional, de transitar por ele livremente e de não abandoná-lo senão por sua própria vontade.

Artigo IX. Toda pessoa tem direito à inviolabili-dade do seu domicílio.

Artigo X. Toda pessoa tem direito à inviolabili-dade e circulação da sua correspondência.

Artigo XI. Toda pessoa tem direito a que sua saúde seja resguardada por medidas sanitárias e sociais relativas à alimentação, roupas, habi-tação e cuidados médicos correspondentes ao nível permitido pelos recursos públicos e os da coletividade.

Artigo XII. Toda pessoa tem direito à educação, que deve inspirar-se nos princípios de liberda-de, moralidade e solidariedade humana.

Tem, outrossim, direito a que, por meio dessa educação, lhe seja proporcionado o preparo para subsistir de uma maneira digna, para me-lhorar o seu nível de vida e para poder ser útil à sociedade.

O direito à educação compreende o de igualda-de de oportunidade em todos os casos, de acor-do com os dons naturais, os méritos e o desejo de aproveitar os recursos que possam propor-cionar a coletividade e o Estado.

Toda pessoa tem o direito de que lhe seja mi-nistrada gratuitamente pelo menos, a instrução primária.

Artigo XIII. Toda pessoa tem direito de tomar parte na vida cultural da coletividade, de gozar

das artes e de desfrutar dos benefícios resultan-tes do progresso intelectual e, especialmente das descobertas científicas.

Tem o direito, outrossim, de ser protegida em seus interesses morais e materiais, no que se re-fere às invenções, obras literárias, científicas ou artísticas de sua autoria.

Artigo XIV. Toda pessoa tem direito ao trabalho em condições dignas e o direito de seguir livre-mente sua vocação, na medida em que for per-mitido pelas oportunidades de emprego exis-tentes.

Toda pessoa que trabalha tem o direito de re-ceber uma remuneração que, em relação à sua capacidade de trabalho e habilidade, lhe garan-ta um nível de vida conveniente para si mesma e para sua família.

Artigo XV. Toda pessoa tem direito ao descanso, ao recreio honesto e à oportunidade de aprovei-tar utilmente o seu tempo livre em benefício de seu melhoramento espiritual, cultural e físico.

Artigo XVI. Toda pessoa tem direito à previdên-cia social, de modo a ficar protegida contra as conseqüências do desemprego, da velhice e da incapacidade que, provenientes de qualquer causa alheia à sua vontade, a impossibilitem fí-sica ou mentalmente de obter meios de subsis-tência.

Artigo XVII. Toda pessoa tem direito a ser re-conhecida, seja onde for, como pessoa com di-reitos e obrigações, e a gozar dos direitos civis fundamentais.

Artigo XVIII. Toda pessoa pode recorrer aos tribunais para fazer respeitar os seus direitos. Deve poder contar, outrossim, com processo simples e breve, mediante o qual a justiça a pro-teja contra atos de autoridade que violem, em seu prejuízo, qualquer dos direitos fundamen-tais consagrados constitucionalmente.

Artigo XIX. Toda pessoa tem direito à nacionali-dade que legalmente lhe corresponda, podendo mudá-la, se assim o desejar, pela de qualquer outro país que estiver disposta a concedê-la.

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Artigo XX. Toda pessoa, legalmente capacitada, tem o direito de tomar parte no governo do seu país, quer diretamente, quer através de seus re-presentantes, e de participar das eleições, que se processarão por voto secreto, de uma manei-ra genuína, periódica e livre.

Artigo XXI. Toda pessoa tem o direito de se reu-nir pacificamente com outras, em manifestação pública, ou em assembléia transitória, em rela-ção com seus interesses comuns, de qualquer natureza que sejam.

Artigo XXII. Toda pessoa tem o direito de se as-sociar com outras a fim de promover, exercer e proteger os seus interesses legítimos, de ordem política, econômica, religiosa, social, cultural, profissional, sindical ou de qualquer outra natu-reza.

Artigo XXIII. Toda pessoa tem direito à proprie-dade particular correspondente às necessida-des essenciais de uma vida decente, e que con-tribua a manter a dignidade da pessoa e do lar.

Artigo XXIV. Toda pessoa tem o direito de apre-sentar petições respeitosas a qualquer autori-dade competente, quer por motivo de interesse geral, quer de interesse particular, assim como o de obter uma solução rápida.

Artigo XXV. Ninguém pode ser privado da sua li-berdade, a não ser nos casos previstos pelas leis e segundo as praxes estabelecidas pelas leis já existentes.

Ninguém pode ser preso por deixar de cumprir obrigações de natureza claramente civil.

Todo indivíduo, que tenha sido privado da sua liberdade, tem o direito de que o juiz verifique sem demora a legalidade da medida, e de que o julgue sem protelação injustificada, ou, no caso contrário, de ser posto em liberdade. Tem tam-bém direito a um tratamento humano durante o tempo em que o privarem da sua liberdade.

Artigo XXVI. Parte-se do princípio de que todo acusado é inocente, até provar-se-lhe a culpabi-lidade.

Toda pessoa acusada de um delito tem direito de ser ouvida em uma forma imparcial e públi-ca, de ser julgada por tribunais já estabelecidos de acordo com leis preexistentes, e de que se lhe não inflijam penas cruéis, infamantes ou inusitadas.

Artigo XXVII. Toda pessoa tem o direito de pro-curar e receber asilo em território estrangeiro, em caso de perseguição que não seja motivada por delitos de direito comum, e de acordo com a legislação de cada país e com as convenções internacionais.

Artigo XXVIII. Os direitos do homem estão limi-tados pelos direitos do próximo, pela segurança de todos e pelas justas exigências do bem–estar geral e do desenvolvimento democrático.

CAPÍTULO SEGUNDODEVERES

Artigo XXIX. O indivíduo tem o dever de con-viver com os demais, de maneira que todos e cada um possam formar e desenvolver integral-mente a sua personalidade.

Artigo XXX. Toda pessoa tem o dever de auxiliar, alimentar, educar e amparar os seus filhos me-nores de idade, e os filhos têm o dever de hon-rar sempre os seus pais e de auxiliar, alimentar e amparar sempre que precisarem.

Artigo XXXI. Toda pessoa tem o dever de adqui-rir, pelo menos, a instrução primária.

Artigo XXXII. Toda pessoa tem o dever de votar nas eleições populares do país de que for nacio-nal, quando estiver legalmente habilitada para isso.

Artigo XXXIII. Toda pessoa tem o dever de obe-decer à Lei e aos demais mandamentos legíti-mos das autoridades do país onde se encontrar.

Artigo XXXIV. Toda pessoa devidamente habili-tada tem o dever de prestar os serviços civis e militares que a pátria exija para a sua defesa e conservação, e, no caso de calamidade pública,

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os serviços civis que estiverem dentro de suas possibilidades.

Da mesma forma tem o dever de desempenhar os cargos de eleição popular de que for incum-bida no Estado de que for nacional.

Artigo XXXV. Toda pessoa está obrigada a coo-perar com o Estado e com a coletividade na as-sistência e previdência sociais, de acordo com as suas possibilidades e com as circunstâncias.

Artigo XXXVI. Toda pessoa tem o dever de pagar os impostos estabelecidos pela lei para a manu-tenção dos serviços públicos.

Artigo XXXVII. Toda pessoa tem o dever de tra-balhar, dentro das suas capacidades e possibi-lidades, a fim de obter os recursos para a sua subsistência ou em benefício da coletividade.

Artigo XXXVIII. Todo o estrangeiro tem o dever de se abster de tomar parte nas atividades polí-ticas que, de acordo com a lei, sejam privativas dos cidadãos do Estado onde se encontrar.

* Resolução XXX, Ata Final, aprovada na IX Con-ferência Internacional Americana, em Bogotá, em abril de 1948.

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CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS – 1969 (PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA)

DECRETO Nº 678/92

A ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS

A Organização dos Estados Americanos é o mais antigo organismo regional do mundo. A sua origem remonta à Primeira Conferência Internacional Americana, realizada em Washington, D.C., de outubro de 1889 a abril de 1890. Esta reunião resultou na criação da União Internacional das Repúblicas Americanas, e começou a se tecer uma rede de disposições e instituições, dando início ao que ficará conhecido como “Sistema Interamericano”, o mais antigo sistema institucional internacional.

A OEA foi fundada em 1948 com a assinatura, em Bogotá, Colômbia, da Carta da OEA que entrou em vigor em dezembro de 1951. Posteriormente, a Carta foi emendada pelo Protocolo de Buenos Aires, assinado em 1967 e que entrou em vigor em fevereiro de 1970; pelo Protocolo de Cartagena das Índias, assinado em 1985 e que entrou em vigor em 1988; pelo Protocolo de Manágua, assinado em 1993 e que entrou em vigor em janeiro de 1996; e pelo Protocolo de Washington, assinado em 1992 e que entrou em vigor em setembro de 1997.

A Organização foi criada para alcançar nos Estados membros, como estipula o Artigo 1º da Carta, “uma ordem de paz e de justiça, para promover sua solidariedade, intensificar sua colaboração e defender sua soberania, sua integridade territorial e sua independência”.

Hoje, a OEA congrega os 35 Estados independentes das Américas e constitui o principal fórum governamental político, jurídico e social do Hemisfério. Além disso, a Organização concedeu o estatuto de observador permanente a 67 Estados e à União Europeia (EU).

Para atingir seus objetivos mais importantes, a OEA baseia-se em seus principais pilares que são a democracia, os direitos humanos, a segurança e o desenvolvimento.

A OEA utiliza uma estratégia quádrupla para implementar eficazmente esses objetivos essenciais. Os quatro pilares da Organização (democracia, direitos humanos, segurança e desenvolvimento) se apoiam mutuamente e estão transversalmente interligados por meio de uma estrutura que inclui diálogo político, inclusividade, cooperação, instrumentos jurídicos e mecanismos de acompanhamento, que fornecem à OEA as ferramentas para realizar eficazmente seu trabalho no hemisfério e maximizar os resultados.

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Convenção Americana Sobre Direitos Humanos – Pacto de São José da Costa Rica – PSJCR (1969)

Adotada por ocasião da Conferência Especializada Interamericana sobre DH, em 22/11/69. O Brasil só aderiu a ela em 09/07/92 e ratificou em 25/09/92, tendo o Decreto nº 678/92, promulgado.

O PSJCR entrou em vigor internacional em 18/07/78. O Brasil ao depositar as carta de adesão, fez ressalvas quanto a atuação da Comissão Interamericana de DH dentro do território brasileiro.

O texto do PSJCR possui um série de “Deveres dos Estados e direitos protegidos”. Há um destaque para os direitos civis e políticos, por influencia do PIDCP que inclusive deixou os direitos econômicos, sociais e culturais em segundo plano.

Para fiscalizar o rol de direitos, há os chamados “meios de proteção” ou seja, órgãos específicos para tal missão: a Comissão Interamericana de DH e Corte Interamericana de DH.

A Convenção Americana trata essencialmente dos direitos civis e políticos, sendo semelhante ao PIDCP de 1966. Pode ser analisada em duas partes, sendo que a primeira (arts. 1º ao 32 da Convenção) estabelece direitos civis e políticos acolhidos no sistema interamericano, tais como reconhecimento da personalidade jurídica, direito à vida (desde a concepção), direito a integridade pessoal (inclusive dos presos, que deveriam ser separados por idade), direito à liberdade pessoal (locomoção, residência, consciência religião, pensamento, expressão, reunião e associação), proibição da aplicação retroativa das leis, das garantias judiciais (defesa técnica em juízo e celeridade de tramitação), direito de resposta, privacidade, nacionalidade e de participação no governo entre outros.

A segunda parte da Convenção Americana (arts. 33 a 73 da Convenção) trata dos meios de proteção desses direitos pelos seguintes órgãos competentes: Comissão Interamericana de Direitos (CIDH) e a Corte Interamericana de Direitos Humanos (COIDH).

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CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS (1969) – PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA

Os Estados Americanos signatários da presente Convenção,

Reafirmando seu propósito de consolidar neste Continente, dentro do quadro das instituições democráticas, um regime de liberdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito dos di-reitos humanos essenciais;

Reconhecendo que os direitos essenciais da pessoa humana não derivam do fato de ser ela nacional de determinado Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma proteção internacional, de natureza convencio-nal, coadjuvante ou complementar da que ofe-rece o direito interno dos Estados americanos;

Considerando que esses princípios foram con-sagrados na Carta da Organização dos Estados Americanos, na Declaração Americana dos Di-reitos e Deveres do Homem e na Declaração Universal dos Direitos do Homem, e que foram reafirmados e desenvolvidos em outros instru-mentos internacionais, tanto de âmbito mun-dial como regional;

Reiterando que, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, só pode ser realizado o ideal do ser humano livre, isento do temor e da miséria, se forem criadas condições que permitam a cada pessoa gozar dos seus direitos econômicos, sociais e culturais, bem como dos seus direitos civis e políticos; e

Considerando que a Terceira Conferência Inte-ramericana Extraordinária (Buenos Aires, 1967) aprovou a incorporação à própria Carta da Orga-nização de normas mais amplas sobre os direi-tos econômicos, sociais e educacionais e resol-veu que uma Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos determinasse a estrutura, competência e processo dos órgãos encarrega-dos dessa matéria;

Convieram no seguinte:

PARTE I

DEVERES DOS ESTADOS E DIREITOS PROTEGIDOS

CAPÍTULO I ENUMERAÇÃO DOS DEVERES

Artigo 1º Obrigação de respeitar os direitos

1. Os Estados-partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem dis-criminação alguma, por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacio-nal ou social, posição econômica, nascimen-to ou qualquer outra condição social.

2. Para efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano.

Artigo 2º Dever de adotar disposições de direi-to interno

Se o exercício dos direitos e liberdades mencio-nados no artigo 1 ainda não estiver garantido por disposições legislativas ou de outra nature-za, os Estados-partes comprometem-se a ado-tar, de acordo com as suas normas constitucio-nais e com as disposições desta Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para tornar efetivos tais direi-tos e liberdades.

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CAPÍTULO IIDIREITOS CIVIS E POLÍTICOS

Artigo 3º Direito ao reconhecimento da perso-nalidade jurídica

Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua personalidade jurídica.

Artigo 4º Direito à vida

1. Toda pessoa tem o direito de que se res-peite sua vida. Esse direito deve ser prote-gido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente.

2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal competente e em conformidade com a lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o de-lito sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se apli-que atualmente.

3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido.

4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada a delitos políticos, nem a deli-tos comuns conexos com delitos políticos.

5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no momento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em estado de gravidez.

6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou comu-tação da pena, os quais podem ser conce-didos em todos os casos. Não se pode exe-cutar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de decisão ante a autori-dade competente.

Artigo 5º Direito à integridade pessoal

1. Toda pessoa tem direito a que se respei-te sua integridade física, psíquica e moral.

2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de li-berdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.

3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente.

4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circunstâncias excepcionais, e devem ser submetidos a tra-tamento adequado à sua condição de pes-soas não condenadas.

5. Os menores, quando puderem ser pro-cessados, devem ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para seu trata-mento.

6. As penas privativas de liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a re-adaptação social dos condenados.

Artigo 6º Proibição da escravidão e da servidão

1. Ninguém poderá ser submetido a escra-vidão ou servidão e tanto estas como o trá-fico de escravos e o tráfico de mulheres são proibidos em todas as suas formas.

2. Ninguém deve ser constrangido a exe-cutar trabalho forçado ou obrigatório. Nos países em que se prescreve, para certos delitos, pena privativa de liberdade acom-panhada de trabalhos forçados, esta dispo-sição não pode ser interpretada no sentido de proibir o cumprimento da dita pena, im-posta por um juiz ou tribunal competente. O trabalho forçado não deve afetar a digni-dade, nem a capacidade física e intelectual do recluso.

3. Não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios para os efeitos deste artigo:

a) os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de pessoa reclusa em cumprimento de sentença ou resolução formal expedida pela autoridade judiciária competente. Tais trabalhos ou serviços devem ser executados

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sob a vigilância e controle das autoridades públicas, e os indivíduos que os executarem não devem ser postos à disposição de parti-culares, companhias ou pessoas jurídicas de caráter privado;

b) serviço militar e, nos países em que se admite a isenção por motivo de consciên-cia, qualquer serviço nacional que a lei esta-belecer em lugar daquele;

c) o serviço exigido em casos de perigo ou de calamidade que ameacem a existência ou o bem-estar da comunidade;

d) o trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais.

Artigo 7º Direito à liberdade pessoal

1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais.

2. Ninguém pode ser privado de sua liber-dade física, salvo pelas causas e nas condi-ções previamente fixadas pelas Constitui-ções políticas dos Estados-partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas.

3. Ninguém pode ser submetido a deten-ção ou encarceramento arbitrários.

4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da detenção e notifi-cada, sem demora, da acusação ou das acu-sações formuladas contra ela.

5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais e tem o direi-to de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo.

6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal com-petente, a fim de que este decida, sem de-mora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura, se a prisão

ou a detenção forem ilegais. Nos Estados--partes cujas leis prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem aboli-do. O recurso pode ser interposto pela pró-pria pessoa ou por outra pessoa.

7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competente expedi-dos em virtude de inadimplemento de obri-gação alimentar.

Artigo 8º Garantias judiciais

1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal com-petente, independente e imparcial, estabe-lecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada con-tra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fis-cal ou de qualquer outra natureza.

2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, en-quanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:

a) direito do acusado de ser assistido gra-tuitamente por um tradutor ou intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua do juízo ou tribunal;

b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada;

c) concessão ao acusado do tempo e dos meios necessários à preparação de sua de-fesa;

d) direito do acusado de defender-se pes-soalmente ou de ser assistido por um de-fensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, com seu defen-sor;

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e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo Estado, remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não se defender ele próprio, nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei;

f) direito da defesa de inquirir as teste-munhas presentes no Tribunal e de obter o comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lan-çar luz sobre os fatos;

g) direito de não ser obrigada a depor con-tra si mesma, nem a confessar-se culpada; e

h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.

3. A confissão do acusado só é válida se fei-ta sem coação de nenhuma natureza.

4. O acusado absolvido por sentença tran-sitada em julgado não poderá ser submeti-do a novo processo pelos mesmos fatos.

5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os in-teresses da justiça.

Artigo 9º Princípio da legalidade e da retroati-vidade

Ninguém poderá ser condenado por atos ou omissões que, no momento em que foram co-metidos, não constituam delito, de acordo com o direito aplicável. Tampouco poder-se-á impor pena mais grave do que a aplicável no momento da ocorrência do delito. Se, depois de perpetra-do o delito, a lei estipular a imposição de pena mais leve, o delinquente deverá dela beneficiar--se.

Artigo 10. Direito à indenização

Toda pessoa tem direito de ser indenizada con-forme a lei, no caso de haver sido condenada em sentença transitada em julgado, por erro ju-diciário.

Artigo 11. Proteção da honra e da dignidade

1. Toda pessoa tem direito ao respeito da sua honra e ao reconhecimento de sua dig-nidade.

2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou reputação.

3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas.

Artigo 12. Liberdade de consciência e de religião

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião. Esse direito impli-ca a liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como a liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças, indi-vidual ou coletivamente, tanto em público como em privado.

2. Ninguém pode ser submetido a medidas restritivas que possam limitar sua liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças. A li-berdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujeita apenas às limitações previstas em lei e que se façam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais pessoas.

3. Os pais e, quando for o caso, os tutores, têm direito a que seus filhos e pupilos rece-bam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com suas próprias convicções.

Artigo 13. Liberdade de pensamento e de ex-pressão

1. Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direi-to inclui a liberdade de procurar, receber e difundir informações e idéias de qualquer natureza, sem considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua escolha.

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2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito à censu-ra prévia, mas a responsabilidades ulterio-res, que devem ser expressamente previs-tas em lei e que se façam necessárias para assegurar:

a) o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas;

b) a proteção da segurança nacional, da or-dem pública, ou da saúde ou da moral pú-blicas.

3. Não se pode restringir o direito de ex-pressão por vias e meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou par-ticulares de papel de imprensa, de frequ-ências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros meios destina-dos a obstar a comunicação e a circulação de idéias e opiniões.

4. A lei pode submeter os espetáculos pú-blicos a censura prévia, com o objetivo ex-clusivo de regular o acesso a eles, para pro-teção moral da infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2.

5. A lei deve proibir toda propaganda a fa-vor da guerra, bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que cons-titua incitamento à discriminação, à hostili-dade, ao crime ou à violência.

Artigo 14. Direito de retificação ou resposta

1. Toda pessoa, atingida por informações inexatas ou ofensivas emitidas em seu pre-juízo por meios de difusão legalmente regu-lamentados e que se dirijam ao público em geral, tem direito a fazer, pelo mesmo órgão de difusão, sua retificação ou resposta, nas condições que estabeleça a lei.

2. Em nenhum caso a retificação ou a res-posta eximirão das outras responsabilida-des legais em que se houver incorrido.

3. Para a efetiva proteção da honra e da re-putação, toda publicação ou empresa jorna-

lística, cinematográfica, de rádio ou televi-são, deve ter uma pessoa responsável, que não seja protegida por imunidades, nem goze de foro especial.

Artigo 15. Direito de reunião

É reconhecido o direito de reunião pacífica e sem armas. O exercício desse direito só pode es-tar sujeito às restrições previstas em lei e que se façam necessárias, em uma sociedade demo-crática, ao interesse da segurança nacional, da segurança ou ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais pessoas.

Artigo 16. Liberdade de associação

1. Todas as pessoas têm o direito de asso-ciar-se livremente com fins ideológicos, re-ligiosos, políticos, econômicos, trabalhistas, sociais, culturais, desportivos ou de qual-quer outra natureza.

2. O exercício desse direito só pode estar sujeito às restrições previstas em lei e que se façam necessárias, em uma sociedade democrática, ao interesse da segurança na-cional, da segurança e da ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a moral públi-cas ou os direitos e as liberdades das de-mais pessoas.

3. O presente artigo não impede a imposi-ção de restrições legais, e mesmo a privação do exercício do direito de associação, aos membros das forças armadas e da polícia.

Artigo 17. Proteção da família

1. A família é o núcleo natural e fundamen-tal da sociedade e deve ser protegida pela sociedade e pelo Estado.

2. É reconhecido o direito do homem e da mulher de contraírem casamento e de cons-tituírem uma família, se tiverem a idade e as condições para isso exigidas pelas leis in-ternas, na medida em que não afetem estas o princípio da não-discriminação estabeleci-do nesta Convenção.

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3. O casamento não pode ser celebrado sem o consentimento livre e pleno dos con-traentes.

4. Os Estados-partes devem adotar as me-didas apropriadas para assegurar a igualda-de de direitos e a adequada equivalência de responsabilidades dos cônjuges quanto ao casamento, durante o mesmo e por ocasião de sua dissolução. Em caso de dissolução, serão adotadas as disposições que assegu-rem a proteção necessária aos filhos, com base unicamente no interesse e conveniên-cia dos mesmos.

5. A lei deve reconhecer iguais direitos tan-to aos filhos nascidos fora do casamento, como aos nascidos dentro do casamento.

Artigo 18. Direito ao nome

Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes de seus pais ou ao de um destes. A lei deve regular a forma de assegurar a todos esse direito, mediante nomes fictícios, se for neces-sário.

Artigo 19. Direitos da criança

Toda criança terá direito às medidas de prote-ção que a sua condição de menor requer, por parte da sua família, da sociedade e do Estado.

Artigo 20. Direito à nacionalidade

1. Toda pessoa tem direito a uma naciona-lidade.

2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo território houver nasci-do, se não tiver direito a outra.

3. A ninguém se deve privar arbitrariamen-te de sua nacionalidade, nem do direito de mudá-la.

Artigo 21. Direito à propriedade privada

1. Toda pessoa tem direito ao uso e gozo de seus bens. A lei pode subordinar esse uso e gozo ao interesse social.

2. Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens, salvo mediante o pagamento de indenização justa, por motivo de utilidade pública ou de interesse social e nos casos e na forma estabelecidos pela lei.

3. Tanto a usura, como qualquer outra for-ma de exploração do homem pelo homem, devem ser reprimidas pela lei.

Artigo 22. Direito de circulação e de residência

1. Toda pessoa que se encontre legalmente no território de um Estado tem o direito de nele livremente circular e de nele residir, em conformidade com as disposições legais.

2. Toda pessoa terá o direito de sair livre-mente de qualquer país, inclusive de seu próprio país.

3. O exercício dos direitos supracitados não pode ser restringido, senão em virtude de lei, na medida indispensável, em uma socie-dade democrática, para prevenir infrações penais ou para proteger a segurança na-cional, a segurança ou a ordem públicas, a moral ou a saúde públicas, ou os direitos e liberdades das demais pessoas.

4. O exercício dos direitos reconhecidos no inciso 1 pode também ser restringido pela lei, em zonas determinadas, por motivo de interesse público.

5. Ninguém pode ser expulso do território do Estado do qual for nacional e nem ser privado do direito de nele entrar.

6. O estrangeiro que se encontre legalmen-te no território de um Estado-parte na pre-sente Convenção só poderá dele ser expul-so em decorrência de decisão adotada em conformidade com a lei.

7. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo em território estrangeiro, em caso de perseguição por delitos políticos ou comuns conexos com delitos políticos, de acordo com a legislação de cada Estado e com as Convenções internacionais.

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8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou entregue a outro país, seja ou não de origem, onde seu direito à vida ou à liberdade pessoal esteja em risco de viola-ção em virtude de sua raça, nacionalidade, religião, condição social ou de suas opiniões políticas.

9. É proibida a expulsão coletiva de estran-geiros.

Artigo 23. Direitos políticos

1. Todos os cidadãos devem gozar dos se-guintes direitos e oportunidades:

a) de participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de re-presentantes livremente eleitos;

b) de votar e ser eleito em eleições periódi-cas, autênticas, realizadas por sufrágio uni-versal e igualitário e por voto secreto, que garantam a livre expressão da vontade dos eleitores; e

c) de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país.

2. A lei pode regular o exercício dos direi-tos e oportunidades, a que se refere o inciso anterior, exclusivamente por motivo de ida-de, nacionalidade, residência, idioma, ins-trução, capacidade civil ou mental, ou con-denação, por juiz competente, em processo penal.

Artigo 24. Igualdade perante a lei

Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm direito, sem discriminação al-guma, à igual proteção da lei.

Artigo 25. Proteção judicial

1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro re-curso efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reco-nhecidos pela Constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que es-

tejam atuando no exercício de suas funções oficiais.

2. Os Estados-partes comprometem-se:

a) a assegurar que a autoridade compe-tente prevista pelo sistema legal do Estado decida sobre os direitos de toda pessoa que interpuser tal recurso;

b) a desenvolver as possibilidades de recur-so judicial; e

c) a assegurar o cumprimento, pelas auto-ridades competentes, de toda decisão em que se tenha considerado procedente o re-curso.

CAPÍTULO IIIDIREITOS ECONÔMICOS,

SOCIAIS E CULTURAIS

Artigo 26. Desenvolvimento progressivo

Os Estados-partes comprometem-se a adotar as providências, tanto no âmbito interno, como mediante cooperação internacional, especial-mente econômica e técnica, a fim de conseguir progressivamente a plena efetividade dos direi-tos que decorrem das normas econômicas, so-ciais e sobre educação, ciência e cultura, cons-tantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Bue-nos Aires, na medida dos recursos disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropria-dos.

CAPÍTULO IV SUSPENSÃO DE GARANTIAS,

INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO

Artigo 27. Suspensão de garantias

1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a in-dependência ou segurança do Estado-parte,

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este poderá adotar as disposições que, na medida e pelo tempo estritamente limita-dos às exigências da situação, suspendam as obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais disposições não sejam incompatíveis com as demais obriga-ções que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem discriminação alguma fun-dada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social.

2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos direitos determinados nos seguintes artigos: 3 (direito ao reconheci-mento da personalidade jurídica), 4 (direito à vida), 5 (direito à integridade pessoal), 6 (proibição da escravidão e da servidão), 9 (princípio da legalidade e da retroativida-de), 12 (liberdade de consciência e religião), 17 (proteção da família), 18 (direito ao nome), 19 (direitos da criança), 20 (direito à nacionalidade) e 23 (direitos políticos), nem das garantias indispensáveis para a prote-ção de tais direitos.

3. Todo Estado-parte no presente Pacto que fizer uso do direito de suspensão de-verá comunicar imediatamente aos outros Estados-partes na presente Convenção, por intermédio do Secretário Geral da Organiza-ção dos Estados Americanos, as disposições cuja aplicação haja suspendido, os motivos determinantes da suspensão e a data em que haja dado por terminada tal suspensão.

Artigo 28. Cláusula federal

1. Quando se tratar de um Estado-parte constituído como Estado federal, o governo nacional do aludido Estado-parte cumprirá todas as disposições da presente Conven-ção, relacionadas com as matérias sobre as quais exerce competência legislativa e judi-cial.

2. No tocante às disposições relativas às matérias que correspondem à competência das entidades componentes da federação, o governo nacional deve tomar imediatamen-te as medidas pertinentes, em conformida-

de com sua Constituição e com suas leis, a fim de que as autoridades competentes das referidas entidades possam adotar as dispo-sições cabíveis para o cumprimento desta Convenção.

3. Quando dois ou mais Estados-partes de-cidirem constituir entre eles uma federação ou outro tipo de associação, diligenciarão no sentido de que o pacto comunitário res-pectivo contenha as disposições necessá-rias para que continuem sendo efetivas no novo Estado, assim organizado, as normas da presente Convenção.

Artigo 29. Normas de interpretação

Nenhuma disposição da presente Convenção pode ser interpretada no sentido de:

a) permitir a qualquer dos Estados-partes, grupo ou indivíduo, suprimir o gozo e o exercício dos direitos e liberdades reconhe-cidos na Convenção ou limitá-los em maior medida do que a nela prevista;

b) limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam ser reco-nhecidos em virtude de leis de qualquer dos Estados-partes ou em virtude de Conven-ções em que seja parte um dos referidos Es-tados;

c) excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser humano ou que decor-rem da forma democrática representativa de governo;

d) excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Declaração Americana dos Direi-tos e Deveres do Homem e outros atos in-ternacionais da mesma natureza.

Artigo 30. Alcance das restrições

As restrições permitidas, de acordo com esta Convenção, ao gozo e exercício dos direitos e liberdades nela reconhecidos, não podem ser aplicadas senão de acordo com leis que forem promulgadas por motivo de interesse geral e com o propósito para o qual houverem sido es-tabelecidas.

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Artigo 31. Reconhecimento de outros direitos

Poderão ser incluídos, no regime de proteção desta Convenção, outros direitos e liberdades que forem reconhecidos de acordo com os pro-cessos estabelecidos nos artigos 69 e 70.

CAPÍTULO VDEVERES DAS PESSOAS

Artigo 32. Correlação entre deveres e direitos

1. Toda pessoa tem deveres para com a fa-mília, a comunidade e a humanidade.

2. Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos demais, pela segurança de todos e pelas justas exigências do bem comum, em uma sociedade democrática.

PARTE II

MEIOS DE PROTEÇÃO

CAPÍTULO VIÓRGÃOS COMPETENTES

Artigo 33. São competentes para conhecer de assuntos relacionados com o cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados-partes nesta Convenção:

a) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a Comis-são; e

b) a Corte Interamericana de Direitos Hu-manos, doravante denominada a Corte.

CAPÍTULO VII COMISSÃO INTERAMERICANA

DE DIREITOS HUMANOS

Seção 1ORGANIZAÇÃO

Artigo 34. A Comissão Interamericana de Direi-tos Humanos compor-se-á de sete membros, que deverão ser pessoas de alta autoridade mo-ral e de reconhecido saber em matéria de direi-tos humanos.

Artigo 35. A Comissão representa todos os Membros da Organização dos Estados America-nos.

Artigo 36.

1. Os membros da Comissão serão eleitos a título pessoal, pela Assembléia Geral da Or-ganização, a partir de uma lista de candida-tos propostos pelos governos dos Estados--membros.

2. Cada um dos referidos governos pode propor até três candidatos, nacionais do Es-tado que os propuser ou de qualquer outro Estado-membro da Organização dos Esta-dos Americanos. Quando for proposta uma lista de três candidatos, pelo menos um de-les deverá ser nacional de Estado diferente do proponente.

Artigo 37.

1. Os membros da Comissão serão eleitos por quatro anos e só poderão ser reelei-tos uma vez, porém o mandato de três dos membros designados na primeira eleição expirará ao cabo de dois anos. Logo depois da referida eleição, serão determinados por sorteio, na Assembléia Geral, os nomes des-ses três membros.

2. Não pode fazer parte da Comissão mais de um nacional de um mesmo país.

Artigo 38. As vagas que ocorrerem na Comis-são, que não se devam à expiração normal do mandato, serão preenchidas pelo Conselho Per-

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manente da Organização, de acordo com o que dispuser o Estatuto da Comissão.

Artigo 39. A Comissão elaborará seu estatuto e submetê-lo-á à aprovação da Assembléia Geral e expedirá seu próprio Regulamento.

Artigo 40. Os serviços da Secretaria da Comis-são devem ser desempenhados pela unidade funcional especializada que faz parte da Secre-taria Geral da Organização e deve dispor dos re-cursos necessários para cumprir as tarefas que lhe forem confiadas pela Comissão.

Seção 2FUNÇÕES

Artigo 41. A Comissão tem a função principal de promover a observância e a defesa dos direitos humanos e, no exercício de seu mandato, tem as seguintes funções e atribuições:

a) estimular a consciência dos direitos hu-manos nos povos da América;

b) formular recomendações aos governos dos Estados-membros, quando considerar conveniente, no sentido de que adotem medidas progressivas em prol dos direitos humanos no âmbito de suas leis internas e seus preceitos constitucionais, bem como disposições apropriadas para promover o devido respeito a esses direitos;

c) preparar estudos ou relatórios que con-siderar convenientes para o desempenho de suas funções;

d) solicitar aos governos dos Estados-mem-bros que lhe proporcionem informações so-bre as medidas que adotarem em matéria de direitos humanos;

e) atender às consultas que, por meio da Secretaria Geral da Organização dos Esta-dos Americanos, lhe formularem os Esta-dos-membros sobre questões relacionadas com os direitos humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar-lhes o assessora-mento que lhes solicitarem;

f) atuar com respeito às petições e outras comunicações, no exercício de sua autori-dade, de conformidade com o disposto nos artigos 44 a 51 desta Convenção; e

g) apresentar um relatório anual à Assem-bléia Geral da Organização dos Estados Americanos.

Artigo 42. Os Estados-partes devem submeter à Comissão cópia dos relatórios e estudos que, em seus respectivos campos, submetem anual-mente às Comissões Executivas do Conselho In-teramericano Econômico e Social e do Conselho Interamericano de Educação, Ciência e Cultura, a fim de que aquela zele para que se promovam os direitos decorrentes das normas econômi-cas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Bue-nos Aires.

Artigo 43. Os Estados-partes obrigam-se a pro-porcionar à Comissão as informações que esta lhes solicitar sobre a maneira pela qual seu di-reito interno assegura a aplicação efetiva de quaisquer disposições desta Convenção.

Seção 3COMPETÊNCIA

Artigo 44. Qualquer pessoa ou grupo de pesso-as, ou entidade não-governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados-membros da Organização, pode apresentar à Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violação desta Convenção por um Estado--parte.

Artigo 45.

1. Todo Estado-parte pode, no momento do depósito do seu instrumento de ratificação desta Convenção, ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que reconhece a competência da Comissão para receber e examinar as comunicações em que um Estado-parte alegue haver outro Estado--parte incorrido em violações dos direitos humanos estabelecidos nesta Convenção.

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2. As comunicações feitas em virtude deste artigo só podem ser admitidas e examina-das se forem apresentadas por um Estado--parte que haja feito uma declaração pela qual reconheça a referida competência da Comissão. A Comissão não admitirá nenhu-ma comunicação contra um Estado-parte que não haja feito tal declaração.

3. As declarações sobre reconhecimento de competência podem ser feitas para que esta vigore por tempo indefinido, por perío-do determinado ou para casos específicos.

4. As declarações serão depositadas na Se-cretaria Geral da Organização dos Estados Americanos, a qual encaminhará cópia das mesmas aos Estados-membros da referida Organização.

Artigo 46. Para que uma petição ou comunica-ção apresentada de acordo com os artigos 44 ou 45 seja admitida pela Comissão, será necessá-rio:

a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna, de acordo com os princípios de Direito Internacional geralmente reconhecidos;

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o presumido prejudicado em seus direitos te-nha sido notificado da decisão definitiva;

c) que a matéria da petição ou comunica-ção não esteja pendente de outro processo de solução internacional; e

d) que, no caso do artigo 44, a petição con-tenha o nome, a nacionalidade, a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa ou pes-soas ou do representante legal da entidade que submeter a petição.

2. As disposições das alíneas "a" e "b" do in-ciso 1 deste artigo não se aplicarão quando:

a) não existir, na legislação interna do Esta-do de que se tratar, o devido processo legal para a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham sido violados;

b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos recursos da jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e

c) houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados recursos.

Artigo 47. A Comissão declarará inadmissível toda petição ou comunicação apresentada de acordo com os artigos 44 ou 45 quando:

a) não preencher algum dos requisitos es-tabelecidos no artigo 46;

b) não expuser fatos que caracterizem vio-lação dos direitos garantidos por esta Con-venção;

c) pela exposição do próprio peticionário ou do Estado, for manifestamente infunda-da a petição ou comunicação ou for eviden-te sua total improcedência; ou

d) for substancialmente reprodução de pe-tição ou comunicação anterior, já examina-da pela Comissão ou por outro organismo internacional.

Seção 4PROCESSO

Artigo 48.

1. A Comissão, ao receber uma petição ou comunicação na qual se alegue a violação de qualquer dos direitos consagrados nesta Convenção, procederá da seguinte maneira:

a) se reconhecer a admissibilidade da peti-ção ou comunicação, solicitará informações ao Governo do Estado ao qual pertença a autoridade apontada como responsável pela violação alegada e transcreverá as par-tes pertinentes da petição ou comunicação. As referidas informações devem ser envia-das dentro de um prazo razoável, fixado pela Comissão ao considerar as circunstân-cias de cada caso;

b) recebidas as informações, ou transcor-rido o prazo fixado sem que sejam elas re-

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cebidas, verificará se existem ou subsistem os motivos da petição ou comunicação. No caso de não existirem ou não subsistirem, mandará arquivar o expediente;

c) poderá também declarar a inadmissi-bilidade ou a improcedência da petição ou comunicação, com base em informação ou prova supervenientes;

d) se o expediente não houver sido arqui-vado, e com o fim de comprovar os fatos, a Comissão procederá, com conhecimento das partes, a um exame do assunto exposto na petição ou comunicação. Se for necessá-rio e conveniente, a Comissão procederá a uma investigação para cuja eficaz realização solicitará, e os Estados interessados lhe pro-porcionarão, todas as facilidades necessá-rias;

e) poderá pedir aos Estados interessados qualquer informação pertinente e receberá, se isso for solicitado, as exposições verbais ou escritas que apresentarem os interessa-dos; e

f) pôr-se-á à disposição das partes interes-sadas, a fim de chegar a uma solução amis-tosa do assunto, fundada no respeito aos direitos reconhecidos nesta Convenção.

2. Entretanto, em casos graves e urgentes, pode ser realizada uma investigação, me-diante prévio consentimento do Estado em cujo território se alegue houver sido come-tida a violação, tão somente com a apresen-tação de uma petição ou comunicação que reúna todos os requisitos formais de admis-sibilidade.

Artigo 49. Se se houver chegado a uma solução amistosa de acordo com as disposições do inci-so 1, "f", do artigo 48, a Comissão redigirá um relatório que será encaminhado ao peticionário e aos Estados-partes nesta Convenção e poste-riormente transmitido, para sua publicação, ao Secretário Geral da Organização dos Estados Americanos. O referido relatório conterá uma breve exposição dos fatos e da solução alcança-da. Se qualquer das partes no caso o solicitar,

ser-lhe-á proporcionada a mais ampla informa-ção possível.

Artigo 50.

1. Se não se chegar a uma solução, e den-tro do prazo que for fixado pelo Estatuto da Comissão, esta redigirá um relatório no qual exporá os fatos e suas conclusões. Se o relatório não representar, no todo ou em parte, o acordo unânime dos membros da Comissão, qualquer deles poderá agregar ao referido relatório seu voto em separado. Também se agregarão ao relatório as ex-posições verbais ou escritas que houverem sido feitas pelos interessados em virtude do inciso 1, "e", do artigo 48.

2. O relatório será encaminhado aos Esta-dos interessados, aos quais não será facul-tado publicá-lo.

3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular as proposições e recomen-dações que julgar adequadas.

Artigo 51.

1. Se no prazo de três meses, a partir da re-messa aos Estados interessados do relatório da Comissão, o assunto não houver sido so-lucionado ou submetido à decisão da Corte pela Comissão ou pelo Estado interessado, aceitando sua competência, a Comissão po-derá emitir, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, sua opinião e conclu-sões sobre a questão submetida à sua con-sideração.

2. A Comissão fará as recomendações per-tinentes e fixará um prazo dentro do qual o Estado deve tomar as medidas que lhe com-petir para remediar a situação examinada.

3. Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, se o Estado tomou ou não as medidas adequadas e se publica ou não seu relatório.

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CAPÍTULO VIIICORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

Seção 1ORGANIZAÇÃO

Artigo 52.

1. A Corte compor-se-á de sete juízes, nacio-nais dos Estados-membros da Organização, eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida competência em matéria de direitos huma-nos, que reúnam as condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os propuser como candidatos.

2. Não deve haver dois juízes da mesma na-cionalidade.

Artigo 53.

1. Os juízes da Corte serão eleitos, em vo-tação secreta e pelo voto da maioria abso-luta dos Estados-partes na Convenção, na Assembléia Geral da Organização, a partir de uma lista de candidatos propostos pelos mesmos Estados.

2. Cada um dos Estados-partes pode pro-por até três candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro Es-tado-membro da Organização dos Estados Americanos. Quando se propuser uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional do Estado diferente do proponente.

Artigo 54.

1. Os juízes da Corte serão eleitos por um pe-ríodo de seis anos e só poderão ser reeleitos uma vez. O mandato de três dos juízes desig-nados na primeira eleição expirará ao cabo de três anos. Imediatamente depois da referida eleição, determinar-se-ão por sorteio, na As-sembléia Geral, os nomes desses três juízes.

2. O juiz eleito para substituir outro, cujo mandato não haja expirado, completará o período deste.

3. Os juízes permanecerão em suas funções até o término dos seus mandatos. Entretan-to, continuarão funcionando nos casos de que já houverem tomado conhecimento e que se encontrem em fase de sentença e, para tais efeitos, não serão substituídos pe-los novos juízes eleitos.

Artigo 55.

1. O juiz, que for nacional de algum dos Estados-partes em caso submetido à Cor-te, conservará o seu direito de conhecer do mesmo.

2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for de nacionalidade de um dos Estados-partes, outro Estado-parte no caso poderá designar uma pessoa de sua escolha para integrar a Corte, na qualidade de juiz ad hoc.

3. Se, dentre os juízes chamados a conhe-cer do caso, nenhum for da nacionalidade dos Estados-partes, cada um destes poderá designar um juiz ad hoc.

4. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no artigo 52.

5. Se vários Estados-partes na Convenção tiverem o mesmo interesse no caso, serão considerados como uma só parte, para os fins das disposições anteriores. Em caso de dúvida, a Corte decidirá.

Artigo 56. O quorum para as deliberações da Corte é constituído por cinco juízes.

Artigo 57. A Comissão comparecerá em todos os casos perante a Corte.

Artigo 58.

1. A Corte terá sua sede no lugar que for de-terminado, na Assembléia Geral da Organi-zação, pelos Estados-partes na Convenção, mas poderá realizar reuniões no território de qualquer Estado-membro da Organiza-

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ção dos Estados Americanos em que con-siderar conveniente, pela maioria dos seus membros e mediante prévia aquiescência do Estado respectivo. Os Estados-partes na Convenção podem, na Assembléia Ge-ral, por dois terços dos seus votos, mudar a sede da Corte.

2. A Corte designará seu Secretário.

3. O Secretário residirá na sede da Corte e deverá assistir às reuniões que ela realizar fora da mesma.

Artigo 59. A Secretaria da Corte será por esta estabelecida e funcionará sob a direção do Se-cretário Geral da Organização em tudo o que não for incompatível com a independência da Corte. Seus funcionários serão nomeados pelo Secretário Geral da Organização, em consulta com o Secretário da Corte.

Artigo 60. A Corte elaborará seu Estatuto e sub-metê-lo-á à aprovação da Assembléia Geral e expedirá seu Regimento.

Seção 2COMPETÊNCIA E FUNÇÕES

Artigo 61.

1. Somente os Estados-partes e a Comissão têm direito de submeter um caso à decisão da Corte.

2. Para que a Corte possa conhecer de qual-quer caso, é necessário que sejam esgotados os processos previstos nos artigos 48 a 50.

Artigo 62.

1. Todo Estado-parte pode, no momento do depósito do seu instrumento de ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que reconhece como obrigatória, de pleno direi-to e sem convenção especial, a competência da Corte em todos os casos relativos à inter-pretação ou aplicação desta Convenção.

2. A declaração pode ser feita incondicio-nalmente, ou sob condição de reciprocida-

de, por prazo determinado ou para casos específicos. Deverá ser apresentada ao Se-cretário Geral da Organização, que encami-nhará cópias da mesma a outros Estados--membros da Organização e ao Secretário da Corte.

3. A Corte tem competência para conhecer de qualquer caso, relativo à interpretação e aplicação das disposições desta Convenção, que lhe seja submetido, desde que os Esta-dos-partes no caso tenham reconhecido ou reconheçam a referida competência, seja por declaração especial, como prevêem os incisos anteriores, seja por convenção espe-cial.

Artigo 63.

1. Quando decidir que houve violação de um direito ou liberdade protegidos nes-ta Convenção, a Corte determinará que se assegure ao prejudicado o gozo do seu di-reito ou liberdade violados. Determinará também, se isso for procedente, que sejam reparadas as consequências da medida ou situação que haja configurado a violação desses direitos, bem como o pagamento de indenização justa à parte lesada.

2. Em casos de extrema gravidade e urgên-cia, e quando se fizer necessário evitar da-nos irreparáveis às pessoas, a Corte, nos assuntos de que estiver conhecendo, pode-rá tomar as medidas provisórias que consi-derar pertinentes. Se se tratar de assuntos que ainda não estiverem submetidos ao seu conhecimento, poderá atuar a pedido da Comissão.

Artigo 64.

1. Os Estados-membros da Organização po-derão consultar a Corte sobre a interpreta-ção desta Convenção ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos hu-manos nos Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Car-ta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires.

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2. A Corte, a pedido de um Estado-membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os mencionados instru-mentos internacionais.

Artigo 65. A Corte submeterá à consideração da Assembléia Geral da Organização, em cada pe-ríodo ordinário de sessões, um relatório sobre as suas atividades no ano anterior. De maneira especial, e com as recomendações pertinentes, indicará os casos em que um Estado não tenha dado cumprimento a suas sentenças.

Seção 3PROCESSO

Artigo 66.

1. A sentença da Corte deve ser fundamen-tada.

2. Se a sentença não expressar no todo ou em parte a opinião unânime dos juízes, qualquer deles terá direito a que se agregue à sentença o seu voto dissidente ou indivi-dual.

Artigo 67. A sentença da Corte será definitiva e inapelável. Em caso de divergência sobre o sen-tido ou alcance da sentença, a Corte interpretá--la-á, a pedido de qualquer das partes, desde que o pedido seja apresentado dentro de no-venta dias a partir da data da notificação da sen-tença.

Artigo 68.

1. Os Estados-partes na Convenção compro-metem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que forem partes.

2. A parte da sentença que determinar in-denização compensatória poderá ser exe-cutada no país respectivo pelo processo in-terno vigente para a execução de sentenças contra o Estado.

Artigo 69. A sentença da Corte deve ser notifi-cada às partes no caso e transmitida aos Esta-dos-partes na Convenção.

CAPÍTULO IXDISPOSIÇÕES COMUNS

Artigo 70.

1. Os juízes da Corte e os membros da Co-missão gozam, desde o momento da eleição e enquanto durar o seu mandato, das imu-nidades reconhecidas aos agentes diplomá-ticos pelo Direito Internacional. Durante o exercício dos seus cargos gozam, além dis-so, dos privilégios diplomáticos necessários para o desempenho de suas funções.

2. Não se poderá exigir responsabilidade em tempo algum dos juízes da Corte, nem dos membros da Comissão, por votos e opi-niões emitidos no exercício de suas funções.

Artigo 71. Os cargos de juiz da Corte ou de membro da Comissão são incompatíveis com outras atividades que possam afetar sua inde-pendência ou imparcialidade, conforme o que for determinado nos respectivos Estatutos.

Artigo 72. Os juízes da Corte e os membros da Comissão perceberão honorários e despesas de viagem na forma e nas condições que determi-narem os seus Estatutos, levando em conta a importância e independência de suas funções. Tais honorários e despesas de viagem serão fi-xados no orçamento-programa da Organização dos Estados Americanos, no qual devem ser in-cluídas, além disso, as despesas da Corte e da sua Secretaria. Para tais efeitos, a Corte elabo-rará o seu próprio projeto de orçamento e sub-metê-lo-á à aprovação da Assembléia Geral, por intermédio da Secretaria Geral. Esta última não poderá nele introduzir modificações.

Artigo 73. Somente por solicitação da Comissão ou da Corte, conforme o caso, cabe à Assem-bléia Geral da Organização resolver sobre as sanções aplicáveis aos membros da Comissão ou aos juízes da Corte que incorrerem nos casos previstos nos respectivos Estatutos. Para expe-dir uma resolução, será necessária maioria de dois terços dos votos dos Estados-membros da Organização, no caso dos membros da Comis-são; e, além disso, de dois terços dos votos dos

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Estados-partes na Convenção, se se tratar dos juízes da Corte.

PARTE III

DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

CAPÍTULO XASSINATURA, RATIFICAÇÃO,

RESERVA, EMENDA, PROTOCOLO E DENÚNCIA

Artigo 74.

1. Esta Convenção está aberta à assinatura e à ratificação de todos os Estados-membros da Organização dos Estados Americanos.

2. A ratificação desta Convenção ou a ade-são a ela efetuar-se-á mediante depósito de um instrumento de ratificação ou adesão na Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos. Esta Convenção entrará em vigor logo que onze Estados houverem de-positado os seus respectivos instrumentos de ratificação ou de adesão. Com referência a qualquer outro Estado que a ratificar ou que a ela aderir ulteriormente, a Convenção entrará em vigor na data do depósito do seu instrumento de ratificação ou adesão.

3. O Secretário Geral comunicará todos os Estados-membros da Organização sobre a entrada em vigor da Convenção.

Artigo 75. Esta Convenção só pode ser objeto de reservas em conformidade com as disposi-ções da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, assinada em 23 de maio de 1969.

Artigo 76.

1. Qualquer Estado-parte, diretamente, e a Comissão e a Corte, por intermédio do Se-cretário Geral, podem submeter à Assem-bléia Geral, para o que julgarem convenien-te, proposta de emendas a esta Convenção.

2. Tais emendas entrarão em vigor para os Estados que as ratificarem, na data em que houver sido depositado o respectivo instru-mento de ratificação, por dois terços dos Es-tados-partes nesta Convenção. Quanto aos outros Estados-partes, entrarão em vigor na data em que eles depositarem os seus res-pectivos instrumentos de ratificação.

Artigo 77.

1. De acordo com a faculdade estabeleci-da no artigo 31, qualquer Estado-parte e a Comissão podem submeter à consideração dos Estados-partes reunidos por ocasião da Assembléia Geral projetos de Protocolos adicionais a esta Convenção, com a finalida-de de incluir progressivamente, no regime de proteção da mesma, outros direitos e li-berdades.

2. Cada Protocolo deve estabelecer as mo-dalidades de sua entrada em vigor e será aplicado somente entre os Estados-partes no mesmo.

Artigo 78.

1. Os Estados-partes poderão denunciar esta Convenção depois de expirado o prazo de cinco anos, a partir da data em vigor da mesma e mediante aviso prévio de um ano, notificando o Secretário Geral da Organiza-ção, o qual deve informar as outras partes.

2. Tal denúncia não terá o efeito de desligar o Estado-parte interessado das obrigações contidas nesta Convenção, no que diz res-peito a qualquer ato que, podendo consti-tuir violação dessas obrigações, houver sido cometido por ele anteriormente à data na qual a denúncia produzir efeito.

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CAPÍTULO XI DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Seção 1 COMISSÃO INTERAMERICANA

DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 79. Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário Geral pedirá por escrito a cada Es-tado-membro da Organização que apresente, dentro de um prazo de noventa dias, seus can-didatos a membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. O Secretário Geral prepa-rará uma lista por ordem alfabética dos candida-tos apresentados e a encaminhará aos Estados--membros da Organização, pelo menos trinta dias antes da Assembléia Geral seguinte.

Artigo 80. A eleição dos membros da Comissão far-se-á dentre os candidatos que figurem na lis-ta a que se refere o artigo 79, por votação se-creta da Assembléia Geral, e serão declarados eleitos os candidatos que obtiverem maior nú-mero de votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Estados-membros. Se, para eleger todos os membros da Comissão, for necessário realizar várias votações, serão elimi-nados sucessivamente, na forma que for deter-minada pela Assembléia Geral, os candidatos que receberem maior número de votos.

Seção 2 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 81. Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário Geral pedirá a cada Estado-parte que apresente, dentro de um prazo de noventa dias, seus candidatos a juiz da Corte Interame-ricana de Direitos Humanos. O Secretário Geral preparará uma lista por ordem alfabética dos candidatos apresentados e a encaminhará aos Estados-partes pelo menos trinta dias antes da Assembléia Geral seguinte.

Artigo 82. A eleição dos juízes da Corte far-se-á dentre os candidatos que figurem na lista a que se refere o artigo 81, por votação secreta dos

Estados-partes, na Assembléia Geral, e serão declarados eleitos os candidatos que obtiverem o maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Estados-par-tes. Se, para eleger todos os juízes da Corte, for necessário realizar várias votações, serão elimi-nados sucessivamente, na forma que for deter-minada pelos Estados-partes, os candidatos que receberem menor número de votos.

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LEI Nº 4.898, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1965

Regula o Direito de Representação e o processo de Responsabilidade Administrativa Civil e Pe-nal, nos casos de abuso de autoridade.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei.

Art. 2º O direito de representação será exercido por meio de petição:

a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a respectiva sanção;

b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para iniciar proces-so-crime contra a autoridade culpada.

Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no má-ximo de três, se as houver.

Art. 3º Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:

a) à liberdade de locomoção;

b) à inviolabilidade do domicílio;

c) ao sigilo da correspondência;

d) à liberdade de consciência e de crença;

e) ao livre exercício do culto religioso;

f) à liberdade de associação;

g) aos direitos e garantias legais assegura-dos ao exercício do voto;

h) ao direito de reunião;

i) à incolumidade física do indivíduo;

j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. (Incluído pela Lei nº 6.657,de 05/06/79)

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;

b) submeter pessoa sob sua guarda ou cus-tódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei;

c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;

d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja co-municada;

e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei;

f) cobrar o carcereiro ou agente de autori-dade policial carceragem, custas, emolu-mentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor;

g) recusar o carcereiro ou agente de auto-ridade policial recibo de importância rece-bida a título de carceragem, custas, emolu-mentos ou de qualquer outra despesa;

h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando prati-cado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;

i) prolongar a execução de prisão tempo-rária, de pena ou de medida de segurança,

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deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade. (Incluído pela Lei nº 7.960, de 21/12/89)

Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou fun-ção pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração.

Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e penal.

§ 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso come-tido e consistirá em:

a) advertência;

b) repreensão;

c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimentos e vantagens;

d) destituição de função;

e) demissão;

f) demissão, a bem do serviço público.

§ 2º A sanção civil, caso não seja possível fi-xar o valor do dano, consistirá no pagamen-to de uma indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros.

§ 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em:

a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;

b) detenção por dez dias a seis meses;

c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três anos.

§ 4º As penas previstas no parágrafo ante-rior poderão ser aplicadas autônoma ou cumulativamente.

§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou mili-tar, de qualquer categoria, poderá ser comi-

nada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer funções de nature-za policial ou militar no município da culpa, por prazo de um a cinco anos.

Art. 7º recebida a representação em que for soli-citada a aplicação de sanção administrativa, a au-toridade civil ou militar competente determinará a instauração de inquérito para apurar o fato.

§ 1º O inquérito administrativo obedecerá às normas estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou federais, civis ou militares, que estabeleçam o respectivo processo.

§ 2º não existindo no município no Estado ou na legislação militar normas reguladoras do inquérito administrativo serão aplicadas supletivamente, as disposições dos arts. 219 a 225 da Lei nº 1.711, de 28 de outubro de 1952 (Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União).

§ 3º O processo administrativo não poderá ser sobrestado para o fim de aguardar a de-cisão da ação penal ou civil.

Art. 8º A sanção aplicada será anotada na ficha funcional da autoridade civil ou militar.

Art. 9º Simultaneamente com a representação dirigida à autoridade administrativa ou inde-pendentemente dela, poderá ser promovida pela vítima do abuso, a responsabilidade civil ou penal ou ambas, da autoridade culpada.

Art. 10. Vetado

Art. 11. À ação civil serão aplicáveis as normas do Código de Processo Civil.

Art. 12. A ação penal será iniciada, independen-temente de inquérito policial ou justificação por denúncia do Ministério Público, instruída com a representação da vítima do abuso.

Art. 13. Apresentada ao Ministério Público a re-presentação da vítima, aquele, no prazo de qua-renta e oito horas, denunciará o réu, desde que o fato narrado constitua abuso de autoridade, e re-quererá ao Juiz a sua citação, e, bem assim, a de-signação de audiência de instrução e julgamento.

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§ 1º A denúncia do Ministério Público será apresentada em duas vias.

Art. 14. Se a ato ou fato constitutivo do abuso de autoridade houver deixado vestígios o ofen-dido ou o acusado poderá:

a) promover a comprovação da existência de tais vestígios, por meio de duas testemu-nhas qualificadas;

b) requerer ao Juiz, até setenta e duas horas antes da audiência de instrução e julgamen-to, a designação de um perito para fazer as verificações necessárias.

§ 1º O perito ou as testemunhas farão o seu relatório e prestarão seus depoimentos ver-balmente, ou o apresentarão por escrito, querendo, na audiência de instrução e jul-gamento.

§ 2º No caso previsto na letra a deste artigo a representação poderá conter a indicação de mais duas testemunhas.

Art. 15. Se o órgão do Ministério Público, ao in-vés de apresentar a denúncia requerer o arqui-vamento da representação, o Juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa da representação ao Procurador--Geral e este oferecerá a denúncia, ou designará outro órgão do Ministério Público para oferecê--la ou insistirá no arquivamento, ao qual só en-tão deverá o Juiz atender.

Art. 16. Se o órgão do Ministério Público não oferecer a denúncia no prazo fixado nesta lei, será admitida ação privada. O órgão do Minis-tério Público poderá, porém, aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva e in-tervir em todos os termos do processo, interpor recursos e, a todo tempo, no caso de negligên-cia do querelante, retomar a ação como parte principal.

Art. 17. Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de quarenta e oito horas, proferirá despa-cho, recebendo ou rejeitando a denúncia.

§ 1º No despacho em que receber a denún-cia, o Juiz designará, desde logo, dia e hora

para a audiência de instrução e julgamento, que deverá ser realizada, improrrogavel-mente. dentro de cinco dias.

§ 2º A citação do réu para se ver processar, até julgamento final e para comparecer à audiência de instrução e julgamento, será feita por mandado sucinto que, será acom-panhado da segunda via da representação e da denúncia.

Art. 18. As testemunhas de acusação e defesa poderão ser apresentada em juízo, independen-temente de intimação.

Parágrafo único. Não serão deferidos pedidos de precatória para a audiência ou a intimação de testemunhas ou, salvo o caso previsto no artigo 14, letra "b", requerimentos para a re-alização de diligências, perícias ou exames, a não ser que o Juiz, em despacho motivado, considere indispensáveis tais providências.

Art. 19. A hora marcada, o Juiz mandará que o porteiro dos auditórios ou o oficial de justiça declare aberta a audiência, apregoando em se-guida o réu, as testemunhas, o perito, o repre-sentante do Ministério Público ou o advogado que tenha subscrito a queixa e o advogado ou defensor do réu.

Parágrafo único. A audiência somente dei-xará de realizar-se se ausente o Juiz.

Art. 20. Se até meia hora depois da hora marca-da o Juiz não houver comparecido, os presentes poderão retirar-se, devendo o ocorrido constar do livro de termos de audiência.

Art. 21. A audiência de instrução e julgamento será pública, se contrariamente não dispuser o Juiz, e realizar-se-á em dia útil, entre dez (10) e dezoito (18) horas, na sede do Juízo ou, excep-cionalmente, no local que o Juiz designar.

Art. 22. Aberta a audiência o Juiz fará a qualifica-ção e o interrogatório do réu, se estiver presente.

Parágrafo único. Não comparecendo o réu nem seu advogado, o Juiz nomeará imedia-tamente defensor para funcionar na audi-ência e nos ulteriores termos do processo.

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Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o Juiz dará a palavra sucessivamente, ao Ministério Público ou ao advogado que houver subscrito a queixa e ao advogado ou defensor do réu, pelo prazo de quinze minutos para cada um, prorrogável por mais dez (10), a critério do Juiz.

Art. 24. Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediatamente a sentença.

Art. 25. Do ocorrido na audiência o escrivão la-vrará no livro próprio, ditado pelo Juiz, termo que conterá, em resumo, os depoimentos e as alegações da acusação e da defesa, os requeri-mentos e, por extenso, os despachos e a sen-tença.

Art. 26. Subscreverão o termo o Juiz, o repre-sentante do Ministério Público ou o advogado que houver subscrito a queixa, o advogado ou defensor do réu e o escrivão.

Art. 27. Nas comarcas onde os meios de trans-porte forem difíceis e não permitirem a obser-vância dos prazos fixados nesta lei, o juiz poderá aumentá-las, sempre motivadamente, até o do-bro.

Art. 28. Nos casos omissos, serão aplicáveis as normas do Código de Processo Penal, sempre que compatíveis com o sistema de instrução e julgamento regulado por esta lei.

Parágrafo único. Das decisões, despachos e sentenças, caberão os recursos e apelações previstas no Código de Processo Penal.

Art. 29. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 9 de dezembro de 1965; 144º da Inde-pendência e 77º da República.

H. CASTELLO BRANCO

Juracy Magalhães

Este texto não substitui o publicado no DOU de 13.12.1965

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CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR E PUNIR A TORTURA (1985)

Os Estados Americanos signatários da presente Convenção,

Conscientes do disposto na Convenção Ame-ricana sobre Direitos Humanos, no sentido de que ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes;

Reafirmando que todo ato de tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes constituem uma ofensa à dignida-de humana e uma negação dos princípios con-sagrados na Carta da Organização dos Estados Americanos e na Carta das Nações Unidas, e são violatórios dos direitos humanos e liberdades fundamentais proclamados na Declaração Ame-ricana dos Direitos e Deveres do Homem e na Declaração Universal dos Direitos do Homem;

Assinalando que, para tornar efetivas as normas pertinentes contidas nos instrumentos univer-sais e regionais aludidos, é necessário elaborar uma convenção interamericana que previna e puna a tortura;

Reiterando seu propósito de consolidar neste Continente as condições que permitam o reco-nhecimento e o respeito da dignidade inerente à pessoa humana e assegurem o exercício pleno de suas liberdades e direitos fundamentais;

Convieram no seguinte:

Artigo 1º

Os Estados Partes obrigam-se a prevenir e a pu-nir a tortura, nos termos desta Convenção.

Artigo 2º

Para os efeitos desta Convenção, entender-se--á por tortura todo ato pelo qual são infligidos intencionalmente a uma pessoa penas ou so-frimentos físicos ou mentais, com fins de inves-tigação criminal, como meio de intimidação,

como castigo pessoal, como medida preventiva, como pena ou qualquer outro fim. Entender--se-á também como tortura a aplicação, sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a personalidade da vítima, ou a diminuir sua ca-pacidade física ou mental, embora não causem dor física ou angústia psíquica. Não estarão compreendidas no conceito de tortura as penas ou sofrimentos físicos ou mentais que sejam unicamente conseqüência de medidas legais ou inerentes a elas, contanto que não incluam a re-alização dos atos ou a aplicação dos métodos a que se refere este artigo.

Artigo 3º

Serão responsáveis pelo delito de tortura:

a) Os empregados ou funcionários públicos que, atuando nesse caráter, ordenem sua execução ou instiguem ou induzam a ela, cometam-no diretamente ou, podendo im-pedi-lo, não o façam.

b) As pessoas que, por instigação dos fun-cionários ou empregados públicos a que se refere a alínea a, ordenem sua execução, instiguem ou induzam a ela, cometam-no diretamente ou nele sejam cúmplices.

Artigo 4º

O fato de haver agido por ordens superiores não eximirá da responsabilidade penal correspon-dente.

Artigo 5º

Não se invocará nem admitirá como justificati-va do delito de tortura a existência de circuns-tâncias tais como o estado de guerra, a ameaça de guerra, o estado de sítio ou de emergência, a comoção ou conflito interno, a suspensão das garantias constitucionais, a instabilidade políti-ca interna, ou outras emergências ou calamida-des públicas.

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Nem a periculosidade do detido ou condenado, nem a insegurança do estabelecimento carcerá-rio ou penitenciário podem justificar a tortura.

Artigo 6º

Em conformidade com o disposto no artigo 1, os Estados Partes tomarão medidas efetivas a fim de prevenir e punir a tortura no âmbito de sua jurisdição.

Os Estados Partes assegurar-se-ão de que to-dos os atos de tortura e as tentativas de praticar atos dessa natureza sejam considerados delitos em seu Direito Penal, estabelecendo penas se-veras para sua punição, que levem em conta sua gravidade.

Os Estados Partes obrigam-se também a tomar medidas efetivas para prevenir e punir outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou de-gradantes, no âmbito de sua jurisdição.

Artigo 7º

Os Estados Partes tomarão medidas para que, no treinamento de agentes de polícia e de ou-tros funcionários públicos responsáveis pela custódia de pessoas privadas de liberdade, pro-visória ou definitivamente, e nos interrogató-rios, detenções ou prisões, se ressalte de manei-ra especial a proibição do emprego de tortura.

Os Estados Partes tomarão também medidas semelhantes para evitar outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.

Artigo 8º

Os Estados Partes assegurarão a qualquer pes-soa que denunciar haver sido submetida a tor-tura, no âmbito de sua jurisdição, o direito de que o caso seja examinado de maneira impar-cial.

Quando houver denúncia ou razão fundada para supor que haja sido cometido ato de tortu-ra no âmbito de sua jurisdição, os Estados Par-tes garantirão que suas autoridades procederão de ofício e imediatamente à realização de uma investigação sobre o caso e iniciarão, se for cabí-vel, o respectivo processo penal.

Uma vez esgotado o procedimento jurídico in-terno do Estado e os recursos que este prevê, o caso poderá ser submetido a instâncias interna-cionais, cuja competência tenha sido aceita por esse Estado.

Artigo 9º

Os Estados Partes comprometem-se a estabele-cer, em suas legislações nacionais, normas que garantam compensação adequada para as víti-mas de delito de tortura.

Nada do disposto neste artigo afetará o direi-to que possa ter a vítima de outras pessoas de receber compensação em virtude da legislação nacional existente.

Artigo 10.

Nenhuma declaração que se comprove haver sido obtida mediante tortura poderá ser ad-mitida como prova em um processo, salvo em processo instaurado contra a pessoa ou pesso-as acusadas de havê-la obtido mediante atos de tortura e unicamente como prova de que, o acu-sado obteve tal declaração.

Artigo 11.

Os Estados Partes tomarão as medidas necessá-rias para conceder a extradição de toda pessoa acusada de delito de tortura ou condenada por esse delito, de conformidade com suas legisla-ções nacionais sobre extradição e suas obriga-ções internacionais nessa matéria.

Artigo 12.

Todo Estado Parte tomará as medidas neces-sárias para estabelecer sua jurisdição sobre o delito descrito nesta Convenção, nos seguintes casos:

a) quando a tortura houver sido cometida no âmbito de sua jurisdição;

b) quando o suspeito for nacional do Esta-do Parte de que se trate;

c) quando a vítima for nacional do Estado Parte de que se trate e este o considerar apropriado.

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Todo Estado Parte tomará também as medidas necessárias para estabelecer sua jurisdição so-bre o delito descrito nesta Convenção, quando o suspeito se encontrar no âmbito de sua jurisdi-ção e o Estado não o extraditar, de conformida-de com o artigo 11.

Esta Convenção não exclui a jurisdição penal exercida de conformidade com o direito inter-no. Artigo 13

O delito a que se refere o artigo 2 será conside-rado incluído entre os delitos que são motivo de extradição em todo tratado de extradição cele-brado entre Estados Partes. Os Estados Partes comprometem-se a incluir o delito de tortura como caso de extradição em todo tratado de ex-tradição que celebrarem entre si no futuro.

Todo Estado Parte que sujeitar a extradição à existência de um tratado poderá, se receber de outro Estado Parte, com o qual não tiver trata-do, uma solicitação de extradição, considerar esta Convenção como a base jurídica necessária para a extradição referente ao delito de tortura. A extradição estará sujeita às demais condições exigíveis pelo direito do Estado requerido.

Os Estados Partes que não sujeitarem a extradi-ção à existência de um tratado reconhecerão es-ses delitos como casos de extradição entre eles, respeitando as condições exigidas pelo direito do Estado requerido.

Não se concederá a extradição nem se proce-derá à devolução da pessoa requerida quando houver suspeita fundada de que corre perigo sua vida, de que será submetida à tortura, tra-tamento cruel, desumano ou degradante, ou de que será julgada por tribunais de exceção ou ad hoc, no Estado requerente.

Artigo 14.

Quando um Estado Parte não conceder a ex-tradição, submeterá o caso às suas autoridades competentes, como se o delito houvesse sido cometido no âmbito de sua jurisdição, para fins de investigação e, quando for cabível, de ação penal, de conformidade com sua legislação na-cional. A decisão tomada por essas autoridades

será comunicada ao Estado que houver solicita-do a extradição.

Artigo 15.

Nada do disposto nesta Convenção poderá ser interpretado como limitação do direito de asilo, quando for cabível, nem como modificação das obrigações dos Estados Partes em matéria de extradição.

Artigo 16.

Esta Convenção deixa a salvo o disposto pela Convenção Americana dobre Direitos Humanos, por outras convenções sobre a matéria e pelo Estatuto da Comissão Interamericana de Direi-tos Humanos com relação ao delito de tortura.

Artigo 17.

Os Estados Partes comprometem-se a informar a Comissão Interamericana de Direitos Huma-nos sobre as medidas legislativas, judiciais, ad-ministrativas e de outra natureza que adotarem em aplicação desta Convenção.

De conformidade com suas atribuições, a Co-missão Interamericana de Direitos Humanos procurará analisar, em seu relatório anual, a si-tuação prevalecente nos Estados membros da Organização dos Estados Americanos, no que diz respeito à prevenção e supressão da tortura.

Artigo 18.

Esta Convenção estará aberta à assinatura dos Estados membros da Organização dos Estados Americanos.

Artigo 19.

Esta Convenção estará sujeita à ratificação. Os instrumentos de ratificação serão depositados na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos.

Artigo 20.

Esta Convenção ficará aberta à adesão de qual-quer outro Estado Americano. Os instrumentos de adesão serão depositados na Secretaria-Ge-ral da Organização dos Estados Americanos.

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Artigo 21.

Os Estados Partes poderão formular reservas a esta Convenção no momento de aprová-la, ra-tificá-la ou de a ela aderir, contanto que não se-jam incompatíveis com o objeto e o fim da Con-venção e versem sobre uma ou mais disposições específicas.

Artigo 22.

Esta Convenção entrará em vigor no trigésimo dia a partir da data em que tenha sido deposi-tado o segundo instrumento de ratificação. Para cada Estado que ratificar a Convenção ou a ela aderir depois de haver sido depositado o segun-do instrumento de ratificação, a Convenção en-trará em vigor no trigésimo dia a partir da data em que esse Estado tenha depositado seu ins-trumento de ratificação ou adesão.

Artigo 23.

Esta Convenção vigorará indefinidamente, mas qualquer dos Estados Partes poderá denunciá--la. O instrumento de denúncia será depositado na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos. Transcorrido um ano, contado a partir da data de depósito do instrumento de denúncia, a Convenção cessará em seus efeitos para o Estado denunciante, ficando subsistente para os demais Estados Partes.

Artigo 24.

O instrumento original desta Convenção, cujos textos em português, espanhol, francês e inglês são igualmente autênticos, será depositado na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos, que enviará cópia autenticada do seu texto para registro e publicação à Secreta-ria das Nações Unidas, de conformidade com o artigo 102 da Carta das Nações Unidas. A Se-cretaria-Geral da Organização dos Estados Ame-ricanos comunicará aos Estados membros da referida Organização e aos Estados que tenham aderido à Convenção as assinaturas e os depósi-tos de instrumentos de ratificação, adesão e de-núncia, bem como as reservas que houver.

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SÚMULA VINCULANTE 11

Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.