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Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos GENEBRA GENEBRA Direitos Humanos Direitos Humanos e Elei e Elei çõ ções es GUIA DAS ELEI GUIA DAS ELEIÇÕ ÇÕES: ASPECTOS JUR ES: ASPECTOS JURÍDICOS, T DICOS, TÉCNICOS CNICOS E RELATIVOS AOS DIREITOS HUMANOS E RELATIVOS AOS DIREITOS HUMANOS Série de Formação Profissional n. º 02

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Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos

GENEBRAGENEBRA

Direitos HumanosDireitos Humanose Eleie Eleiçõçõeses

GUIA DAS ELEIGUIA DAS ELEIÇÕÇÕES: ASPECTOS JURES: ASPECTOS JURÍDICOS, TDICOS, TÉCNICOSCNICOSE RELATIVOS AOS DIREITOS HUMANOSE RELATIVOS AOS DIREITOS HUMANOS

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Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos

GENEBRA

Direitos Humanose Eleições

GUIA DAS ELEIÇÕES: ASPECTOS JURÍDICOS, TÉCNICOSE RELATIVOS AOS DIREITOS HUMANOS

NAÇÕES UNIDAS

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As cotas dos documentos da Organização das Nações Unidas são compostas porletras maiúsculas e por algarismos. A simples referência a uma cota num textosignifica que se trata de um documento da Organização.

** *

Os conceitos utilizados e a apresentação do material constante da presentepublicação não implicam a manifestação de qualquer opinião, seja de que carizfor, da parte do Secretariado das Nações Unidas, relativamente ao estatuto jurí-dico de qualquer país, território, cidade ou região, ou das suas autoridades, ouem relação à delimitação das suas fronteiras ou limites territoriais.

** *

A reprodução, no todo ou em parte, do conteúdo dos documentos publicadosé autorizada. Contudo, em tais casos, solicita-se que seja feita menção à fontee que seja enviado ao Centro para os Direitos Humanos/Alto Comissariado dasNações Unidas para os Direitos Humanos das Nações Unidas (1211 Genebra 10(Suíça)) um exemplar da obra no qual for reproduzido o extracto citado.

nota

*

HR/P/PT/2

PUBLICAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

N.o de Venda F.94.XIV.5

ISBN 92-1-254114-3

ISSN 1020-4636

N.T.As notas do tradutor (N.T.) constantes da presente publicação são da responsabilidade do Gabinete de Documentação

e Direito Comparado da Procuradoria-Geral da República e não responsabilizam a Organização das Nações Unidas.

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III

Deverá ser dado especial ênfase a medidas tendentes a estabelecere fortalecer instituições relacionadas com os Direitos Humanos, aoreforço de uma sociedade civil pluralista e à protecção de grupos quese tenham tornado vulneráveis. Neste contexto, reveste-se de particularimportância o apoio prestado a pedido de Governos para a realiza-ção de eleições livres e justas, incluindo a assistência em aspectos daseleições relativos a Direitos Humanos e a informação ao público sobreo processo eleitoral. É igualmente importante o apoio prestado na con-solidação do Estado de Direito, na promoção da liberdade de expres-são e na administração da justiça, bem como na participaçãoefectiva das pessoas nos processos decisórios.

DECLARAÇÃO E PROGRAMA DE ACÇÃO DE VIENA(Parte II, parágrafo 67)

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O Centro para os DireitosHumanosN.T.1 congratula-se porpropor este guia sobre direitoshumanos e eleições, o segundoda série de publicações desti-nadas à formação profissional.Esta é uma publicação sem pre-cedentes, devido à apresentação detalhada que for-nece das normas e das diferentes questõesrelativas à condução de eleições livres e regulares.Assim, esperamos que ela constitua um instru-mento prático e útil para os Governos, organiza-ções não governamentais, formadores e todosaqueles que se interessam pelas eleições.

O Centro para os Direitos Humanos ocupa-se daassistência eleitoral desde 1990, com o seu pro-grama de serviços consultivos e de assistênciatécnica, tendo já fornecido assistência eleitoral àRoménia (1990-1992), Albânia (1991), Lesoto(1991-1993), Eritreia (1992), Angola (1992), Cam-bodja (1992), Malawi (1992-1993) e África do Sul(1993). O Centro estabeleceu ainda directivas paraa análise das leis e procedimentos eleitorais, ela-borou um projecto de directivas para a avaliação,do ponto de vista dos direitos humanos, dos pedi-dos de assistência eleitoral e realizou um conjuntode actividades de informação relacionadas com osdireitos humanos e as eleições.

O Centro interessa-se pelas eleições por reconhe-cer que estas constituem um aspecto importantedos direitos humanos. Em primeiro lugar, porquepermitem ao povo exprimir a sua vontade polí-tica. Em segundo lugar, porque, para serem ver-dadeiramente livres e regulares, e conformes àsnormas internacionais, as eleições devem ser rea-

lizadas num clima de respeito pelos direitos fun-damentais da pessoa humana. Deve ser claro quea realização de eleições livres e regulares exigemuito mais do que urnas, listas e anúncios elei-torais.

As actividades de assistência eleitoral represen-tam para o Centro um momento no desenrolar doprocesso de democratização e o Centro está dispostoa completar a sua participação nos processos elei-torais através de outras formas de assistência quepodem ser determinantes para a consolidaçãodemocrática pós-eleitoral e para o estabelecimentode um processo de democratização duradouro.Dando seguimento às suas actividades de assis-tência eleitoral, o Centro pode assim informar osEstados sobre as outras formas de ajuda que estáapto a fornecer no âmbito do seu programa deserviços consultivos e de assistência técnica, des-tinadas a favorecer uma transição democrática.

O Centro mantém neste domínio estreitos e sóli-dos laços de cooperação com o Grupo de AssistênciaEleitoral e com o Programa das Nações Unidaspara o Desenvolvimento, o que lhe tem permitidoreforçar o seu papel em matéria de assistênciaeleitoral. Para a Organização das Nações Unidas,a assistência eleitoral constitui um verdadeiroempreendimento à escala de todo o sistema, quetira partido das competências e capacidades com-plementares dos diferentes organismos.

O recente aumento da procura de uma assistênciaeleitoral da ONU encontrou eco tanto nos pedidosformulados pelos próprios Estados, como nasrecomendações da Conferência Mundial sobre osDireitos Humanos, a qual, na Declaração e Pro-

V

Prefácio

N.T.1 No âmbito do pro-grama de reforma dasNações Unidas (A/51/950,para. 79), o Alto Comissa-riado para os DireitosHumanos e o Centro dosDireitos do Homem foramconsolidados a 15 de Setem-bro de 1997 num único AltoComissariado das NaçõesUnidas para os DireitosHumanos.

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VI

grama de Acção de Viena, preconizou o forne-cimento de assistência a pedido dos Governos,para a realização de eleições livres e regulares,incluindo uma assistência no que diz respeito aosaspectos das eleições relacionados com os direitoshumanos e a informação sobre as eleições. A publi-cação deste guia constitui um meio para o Centroprocurar responder a esta exigência claramenteformulada pela comunidade internacional.

O presente guia foi criado pelo pessoal do Centropara os Direitos Humanos e beneficiou do examee comentários de diversos dos nossos parceiros quetrabalham no domínio eleitoral. O Grupo de Assis-tência Eleitoral e o Programa das Nações Unidaspara o Desenvolvimento formularam comen-tários úteis sobre os projectos de redacção ante-riores. O Centro organizou ainda em Genebra,entre os dias 28 e 30 de Abril de 1993, uma reu-nião de peritos para examinar o guia. Diversosespecialistas em matéria de direitos humanos eeleições oriundos de cada uma das regiões domundo e outros ainda provenientes das principaisorganizações não governamentais activas neste

domínio, fizeram recomendações preciosas paraa redacção do presente guia. O Centro agradece atodos estes especialistas pelas suas contribuições,nomeadamente a Fakhruddin Ahmed (Bangla-desh), Felipe González-Roura (Argentina), AliouneBadara Sene (Senegal), Mirsolov Sevlieski (Bulgá-ria), Anders Johnson (União Interparlamentar) eMalamine Kourouma (Comissão Internacional deJuristas).

IBRAHIMA FALLO Subsecretário-Geral para os Direitos Humanos

Organização das Nações Unidas

Centro para os Direitos Humanos

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VII

Índice

PrefácioAbreviaturasNota sobre as citaçõesInstrumentos internacionais citados no presente guia

Parágrafos

Introdução 1-6

Cap. 01 Participação da Organização das Nações Unidasem processos eleitorais: Uma visão de conjunto 7-18

Cap. 02 Normas das Nações Unidas em matéria de Direitos Humanos no contexto de eleições em geral 19-26

a. Normas de base 19-21

b. Não discriminação 22-23

c. Autodeterminação 24

d. Participação política 25

e. Outros direitos fundamentais da pessoa humana 26

Cap. 03 Exame detalhado dos critérios internacionais 27-99

a. Eleições livres 28-62

1. A VONTADE POPULAR 28-29

2. GARANTIAS DA LIBERDADE 30

3. DIREITOS INDISPENSÁVEIS 31-60

(a) Liberdade de opinião 33-34

(b) Liberdade de expressão e informação 35-40

(c) Liberdade de reunião 41-43

(d) Liberdade de associação 44-45

(e) Independência da magistratura 46-47

(f ) Princípio de não discriminação 48-51

(g) Estados de excepção 52-60

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VIII

Parágrafos

4. ESCRUTÍNIO SECRETO 61

5. A ESSÊNCIA DE UMA ELEIÇÃO LIVRE 62

b. Eleições regulares 63-70

1. SUFRÁGIO IGUAL, UNIVERSAL E NÃO DISCRIMINATÓRIO 64-65

2. NÃO DISCRIMINAÇÃO E MEDIDAS POSITIVAS 66-67

3. A CADA UM O SEU VOTO 68-69

4. GARANTIAS JURÍDICAS E TÉCNICAS 70

c. Periodicidade e calendário eleitoral 71-75

1. PERIODICIDADE 71-72

2. ADIAMENTO DAS ELEIÇÕES 73-74

3. O CALENDÁRIO ELEITORAL 75

d. Eleições honestas 76-93

1. HONESTIDADE DOS PROCEDIMENTOS 76

2. HONESTIDADE DOS EFEITOS 77-78

3. UMA VERDADEIRA ESCOLHA 79-81

4. IGUALDADE DE ACESSO AOS CARGOS PÚBLICOS 82-86

5. UMA ESCOLHA INFORMADA 87-92

6. QUESTÕES JURÍDICAS E TÉCNICAS 93

e. Outras condições 94-99

1. O PAPEL DA POLÍCIA E DAS FORÇAS DE SEGURANÇA 94-97

2. O PAPEL DOS OBSERVADORES 98-99

Cap. 04 Elementos comuns das leis e procedimentos eleitorais 100-131

a. Administração das eleições 101-102

b. Divisão das circunscrições eleitorais 103-104

c. Recenseamento dos eleitores 105-106

d. Nomeações, partidos e candidatos 107-108

e. Voto, contagem e comunicação dos resultados 109-112

f. Queixas, pedidos de invalidação e recursos 113-114

g. Respeito pelos direitos fundamentais da pessoa humana 115-117

h. Infracções, sanções e manutenção da ordem 118-119

i. Acesso aos meios de comunicação social e regulamentação

da sua actuação 120-123

j. Informação e educação dos eleitores 124-125

k. Observação e verificação 126-128

l. Textos jurídicos de base 129-131

CONCLUSÃO 132

ANEXOS

I. PRINCÍPIOS INTERNACIONAIS EM MATÉRIA DE DIREITOS HUMANOS

NO CONTEXTO DAS ELEIÇÕES

II. PROJECTO DE PRINCÍPIOS GERAIS SOBRE LIBERDADE E NÃO DISCRIMINAÇÃO

EM MATÉRIA DE DIREITOS POLÍTICOS

III. REFORÇO DA EFICÁCIA DO PRINCÍPIO DA REALIZAÇÃO DE ELEIÇÕES PERIÓDICAS

E HONESTAS: ENQUADRAMENTO PARA ACÇÕES FUTURAS

IV. DISPOSIÇÕES PERTINENTES DE CERTOS INSTRUMENTOS REGIONAIS

EM MATÉRIA DE DIREITOS HUMANOS

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IX

OUA Organização da Unidade Africana

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

UNITAR Instituto das Nações Unidas para a Formação e Investigação

Nota sobre as citações

Nas citações, as palavras ou passagens em itálico que se encontrem seguidas

de um asterisco não constavam em itálico no texto original.

Abreviaturas

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X

Instrumentos Internacionaiscitados no presente manual

Compilação Droits de l’homme: Recueil d’instruments internationaux, vol. I (2 partes), Ins-truments universels (Publicação das Nações Unidas, N.o de Venda F.94.XIV.1); vol. II,Regional Instruments (Publicação das Nações Unidas, N.o de Venda E.97.XIV.1) [em portu-guês: “Direitos Humanos: Uma Compilação de Instrumentos Internacionais”, vol. 1(2 partes), “Instrumentos Universais”; vol. 2, “Instrumentos Regionais”]

Instrumentos Universais

Carta Internacional dos Direitos Humanos

Declaração Universal dos Direitos do HomemN.T.2

Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Cul-turais (entrada em vigor na ordem jurídica internacional: 3 de Janeiro de 1976)N.T.3

Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (entrada em

vigor na ordem jurídica internacional: 23 de Março de 1976)N.T.4

Protocolo Facultativo referente ao Pacto Internacional sobre osDireitos Civis e Políticos (entrada em vigor na ordem jurídica internacional: 23 de

Março de 1976)N.T.5

Segundo Protocolo Adicional ao Pacto Internacional sobre os Direi-tos Civis e Políticos com vista à Abolição da Pena de Morte(entrada em vigor na ordem jurídica internacional: 11 de Julho de 1991)N.T.6

Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher

Fonte

• Resolução 217 A (III) da Assembleia Geral, de

10 de Dezembro de 1948; Compilação, vol. I, p. 1.

• Resolução 2200 A (XXI) da Assembleia Geral,

de 16 de Dezembro de 1966, anexo; Compila-

ção, vol. I, p. 8.

• Resolução 2200 A (XXI) da Assembleia Geral,

de 16 de Dezembro de 1966, anexo, Compila-

ção, vol. I, p. 20.

• Resolução 2200 A (XXI) da Assembleia Geral,

de 16 de Dezembro de 1966, anexo; Compila-

ção, vol. I, p. 41.

• Resolução 44/128 da Assembleia Geral, de

15 de Dezembro de 1989, anexo; Compilação,

vol. I, p. 46.

• Resolução 640 A (VII) da Assembleia Geral,

de 20 de Dezembro de 1952, anexo; Compilação,

vol. I, p. 164.

N.T.2 Publicada no Diário da República, I Série A, n.o 57/78, de 9 de Março de 1978,mediante aviso do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

N.T.3 Assinado por Portugal a 7 de Outubro de 1976e aprovado para ratificação pela Lei n.o 45/78, de 11 de Julho, publicada no Diário da República, I Série A, n.o 157/78. O instrumentode ratificação foi depositado junto do Secretário-Geral das Nações Unidas a 31 deJulho de 1978).

N.T.4 Assinado por Portugal a 1 de Agosto de 1978 eaprovado para adesão pela Lei n.o 13/82, de 15 deJunho, publicada no Diário da República, I Série A,n.o 135/82. O instrumento de adesão foi depositadojunto do Secretário-Geral das Nações Unidas a 3 deMaio de 1983.

N.T.5 Assinado por Portugal a 1 de Agosto de 1978 e aprovado para adesão pela Lei n.o 13/82, de 15 de Junho, publicada no Diário da República, I Série A, n.o 135/82. O instrumento de adesão foi depositado junto

do Secretário-Geral das Nações Unidas a 3 de Maiode 1983.

N.T.6 Assinado por Portugal a 13 de Fevereiro de 1990 e aprovado para ratificação pela Resolução da Assem-bleia da República n.o 25/90, de 27 de Setembro, publicada no Diário da República, I Série A,n.o 224/90. Ratificado pelo Decreto do Presidente daRepública n.o 54/90, de 27 de Setembro, publicado noDiário da República, I Série A, n.o 224/90. O instru-mento de ratificação foi depositado junto do Secretário--Geral das Nações Unidas a 17 de Outubro de 1990.

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XI

Declaração sobre a Concessão de Independência aos Países e PovosColoniais

Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formasda Discriminação RacialN.T.7

Declaração sobre a Eliminação da Discriminação contra asMulheres

Proclamação de Teerão

Declaração sobre o Progresso e Desenvolvimento no DomínioSocial

Convenção Internacional sobre a Eliminação e Repressão doCrime de Apartheid

Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pelaAplicação da Lei

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discri-minação contra as MulheresN.T.8

Instrumentos Regionais

Convenção para a Protecção dos Direitos do Homem e das Liber-dades Fundamentais (Roma, 4 de Novembro de 1950)N.T.9

Protocolo Adicional à Convenção de Protecção dos Direitos doHomem e das Liberdades Fundamentais (Paris, 20 de Março de 1952)N.T.10

Convenção Americana sobre Direitos Humanos («Pacto de São José

da Costa Rica») [São José, 22 de Novembro de 1969]

Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos (Nairobi, 26 de

Junho de 1981)

• Resolução 1514 (XV) da Assembleia Geral, de

14 de Dezembro de 1960, Compilação, vol. I,

p. 55.

• Resolução 2106 A (XX) da Assembleia Geral,

de 21 de Dezembro de 1965, anexo; Compilação,

vol. I, p. 66.

• Resolução 2263 A (XXII) da Assembleia

Geral, de 7 de Novembro de 1967; Compilação,

vol. I, p. 145.

• Acta Final da Conferência Internacional sobre

os Direitos Humanos, Teerão, 22 de Abril a 13 de

Maio de 1968 (publicação das Nações Unidas,

n.o de venda: F.68.XIV.2), capítulo II; Compila-

ção, vol. I, p. 51.

• Resolução 2542 (XXIV) da Assembleia Geral,

de 11 de Dezembro de 1969; Compilação, vol. I,

p. 513.

• Resolução 3068 (XXVIII) da Assembleia

Geral, de 30 de Novembro de 1973, anexo; Com-

pilação, vol. I, p. 80.

• Resolução 34/169 da Assembleia Geral, de

17 de Dezembro de 1979, anexo; Compilação,

vol. I, p. 316.

• Resolução 34/180 da Assembleia Geral, de

18 de Dezembro de 1979, anexo; Compilação,

vol. I, p. 150.

Fonte

• Nações Unidas, Compilação dos Tratados,

vol. 213, p. 221; Compilação, vol. II.

• Nações Unidas, Compilação dos Tratados,

vol. 213, p. 221; Compilação, II.

• Nações Unidas, Compilação dos Tratados,

vol. 1144, p. 123; Compilação, vol. II.

• OUA, documento CAB.LEG/67/3/Rev. 5;

Compilação, vol. II.

N.T.7 Aprovada para adesão pela Lei n.o 7/82, de 29de Abril, publicada no Diário da República,I Série A, n.o 99/82. O instrumento de adesão foidepositado junto do Secretário-Geral das NaçõesUnidas a 24 de Agosto de 1982.

N.T.8 Assinada por Portugal a 24 de Abril de 1980 eaprovada para ratificação pela Lei n.o 23/80, de 26de Julho, publicada no Diário da República,I Série A, n.o 171/80. O instrumento de ratificaçãofoi depositado junto do Secretário-Geral das NaçõesUnidas a 30 de Julho de 1980.

N.T.9 O texto da Convenção foi modificado nos termos das disposições do Protocolo n.o 3 (STE N.o 45), entrado em vigor em 21 de Setembro de 1970, do Protocolo n.o 5 (STE N.o 55),entrado em vigor em 20 de Dezembro de 1971 e do Protocolo n.o 8 (STE N.o 118), entrado em vigor em 1 de Janeiro de 1990, incluindo ainda o texto do Protocolo n.o 2 (STE N.o 44) que, nos termos do seu artigo 5.o, parágrafo 3.o,fazia parte integrante da Convenção desde a sua entrada em vigor em 21 de Setembro de 1970. Todas as disposições modificadas

ou acrescentadas por estes Protocolos são substituídas pelo Protocolo n.o 11 (STE N.o 155), a partir da data da entrada em vigor deste, em 1 de Novembro de 1998. A partir desta data, o Protocolo n.o 9 (STE N.o 140), entrado em vigor em 1 de Outubro de 1994, será revogado.

N.T.10 Este Protocolo foi aprovado para ratificaçãopela Lei n.o 65/78, de 13 de Outubro (Depósito doinstrumento de ratificação em 9.11.78, Aviso no Diário da República, I Série, 2.1.79).

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1. Participar na condução dos assuntos públicosconstitui um direito fundamental da pessoahumana, crescentemente valorizado em todo omundo. A humanidade procurou, em diferentesmomentos da sua história e com diversos graus desucesso, meios para promover a participação dosindivíduos nas decisões colectivas. Presente-mente, a participação na direcção dos assuntospúblicos é considerada como um direito humanoessencial em todas as regiões do mundo.

2. No plano universal, o direito de participar nacondução dos assuntos públicos encontra-se pro-clamado e garantido na Declaração Universal dosDireitos do Homem e no Pacto Internacionalsobre os Direitos Civis e Políticos e é reconhecidoem muitos outros tratados e declarações. No planoregional, os sistemas africano, europeu e americanode direitos humanos reconheceram este direitofundamental, o qual foi consolidado por ocasião dereuniões, tais como a Conferência de Arushasobre a Participação Popular em África, realizadaem Fevereiro de 1990. A recente intensificação, emtodo mundo, do combate levado a cabo pelos sereshumanos, muitas das vezes correndo sérios riscospessoais, em prol de eleições livres e regulares,demonstra o quanto este direito se tornou impor-tante para todos. Os países e povos do nosso pla-neta reconhecem presentemente que as eleiçõeslivres e regulares constituem uma etapa decisivana via que conduz à democratização e são indis-pensáveis para permitir a expressão da vontadepopular, a qual constitui o próprio fundamentoda autoridade dos poderes públicos.

3. Com certeza que a democracia não deve serreduzida à realização de eleições periódicas. Em 1991,

o Secretário-Geral da Organização das Nações Uni-das declarou a este propósito:

As eleições em si não constituem amarca da democracia, da mesmaforma que não é através delas quese instaura a democracia. Não constituem um fim, masantes uma simples etapa, tão importante, e mesmoessencial, no caminho que leva à democratização dassociedades e à realização do direito de participar nadirecção dos assuntos públicos do seu país, previstonos principais instrumentos internacionais em maté-ria de direitos humanos. Seria lamentável confundir ofim e os meios, esquecendo assim que a democracia sig-nifica muito mais do que o simples facto de realizarperiodicamente um sufrágio e aplica-se ao conjunto doprocesso de participação dos cidadãos na vida políticado seu país.1

4. Para além de se tratar de um direito humanoem si, o direito dos cidadãos participarem na con-dução dos assuntos públicos, em particular atravésde eleições, exige, para ser exercido de forma efi-caz, o gozo de um certo número de outros direi-tos protegidos no plano internacional. Trata-senomeadamente dos direitos à liberdade de opi-nião, expressão, associação e reunião pacífica e daliberdade de não ser alvo de ameaças nem de inti-midação. Todos estes direitos, incluindo o direitode participar na direcção dos assuntos públicos,devem poder ser exercidos de forma igual portodos, sem qualquer distinção, nomeadamente deraça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ouqualquer outra opinião, origem nacional ou social,fortuna, nascimento ou qualquer outra situação. Porfim, um governo democrático – que assegure a rea-lização de eleições livres e regulares – constitui emsi mesmo um elemento essencial para o gozo

1

Introdução*

1 Vide o relatório do Secretário-Geral A/46/609e Corr. 1, parágrafo 76.

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pleno de um grande número dedireitos humanos. Em 1991, aAssembleia Geral das NaçõesUnidas sublinhou que as eleições periódicas ehonestas constituem um elemento necessário eindispensável dos esforços destinados a protegeros direitos e interesses dos administrados e que,tal como é demonstrado pela experiência prática,o direito de todos a participarem na direcção dosassuntos públicos do seu país constitui um factorcrucial no gozo efectivo por todos de um grandenúmero de outros direitos humanos e liberdadesfundamentais, incluindo os direitos políticos, eco-nómicos, sociais e culturais.2

5. Por outro lado, as exigências da democraciapolítica não podem ser separadas de outros impor-tantes factores da vida de um país. O apoio ao pro-cesso de democratização deve ir muito mais longe.Em 1990, o Secretário-Geral da Organização dasNações Unidas formulou a seguinte reserva:

[…] não podemos ignorar que, ape-sar de a democracia constituir umacondição necessária para o reco-nhecimento dos direitos funda-mentais da pessoa humana, ela

não é por si só suficiente para assegurar o gozo efec-tivo destes direitos. Com efeito, uma autêntica demo-cracia política tem poucas hipóteses de sobreviver e aestabilidade corre sérios riscos de se revelar ilusória senão forem acompanhadas de justiça social. Para con-solidar esta justiça, é necessário obter o apoio de todosaqueles que, a justo título, a encorajam, mas que aabandonam ao seu destino, uma vez que ela se encon-tre estabelecida.3

6. Os países solicitam por vezes uma assis-tência internacional para organizarem eleiçõeslivres e regulares, que lhes permita a confor-marem-se com as normas internacionais emmatéria de direitos humanos e estabelecer ereforçar as infra-estruturas jurídicas, técnicase materiais necessárias. Iremos examinar nopresente guia os princípios internacionais fun-damentais em matéria de direitos humanos rela-tivos à realização de eleições livres e regulares eo direito de participar na direcção dos assuntospúblicos. Veremos a forma como a Organizaçãodas Nações Únicas, e nomeadamente o Centropara os Direitos Humanos, ajuda os países aaplicarem estes princípios em matéria eleitoralnos planos jurídico, técnico e em matéria dedireitos humanos.

2 *Direitos Humanos e Eleições • Série de Formação Profissional n.º 02 [ACNUDH]

2 Resolução 46/137 daAssembleia Geral, de 17 de Dezembro de 1991, parágrafo 3.

3 Vide a declaração profe-rida pelo Secretário-Geral na reunião de Paris da Conferência sobre a Segurança e Cooperação na Europa, Comunicado de Imprensa SG/SM/1155(19 de Novembro de 1990).

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7. A Organização das Nações Unidas, por inter-médio dos seus diferentes órgãos subsidiários,participou desde a sua criação na realização deeleições, plebiscitos e referendos nacionais. Iniciouo seu trabalho neste domínio com a observação ofi-cial das eleições coreanas de 1948 e, desde então,tem prosseguido incessantemente esta actividade,que constitui um aspecto essencial dos seus pro-gramas em matéria de descolonização, resoluçãode conflitos e direitos humanos.

8. Os beneficiários destes esforços foramnomeadamente os povos de cerca de trinta terri-tórios sob tutela e territórios não autónomos,desde o Togoland, em 1956, aos Palaos, territóriosob tutela das Ilhas do Pacífico, em 1990. Noleque destes destinatários encontram-se igual-mente Estados independentes envolvidos emconflitos internacionais e outros Estados desejososde regular conflitos internos de forma democrá-tica e de alargar o campo dos direitos humanos.Foi desta forma que a Organização das NaçõesUnidas contribuiu, com graus de participaçãodiferentes, para a realização de consultas popu-lares livres e regulares na Namíbia (1989),Nicarágua (1990), Haiti (1990), Cambodja (1991--1993), Angola (1992), Roménia (1990-1992),Albânia (1991), Lesoto (1991-1992), Malawi(1993) e num grande número de outros países eterritórios.

9. Com o fim da guerra-fria e o surgimento deuma tendência geral de democratização, as normasdestinadas a assegurar eleições livres e regularessuscitaram claramente um interesse renovado.Neste contexto, a comunidade internacional redo-brou esforços para fortalecer a eficácia do princí-pio da realização de eleições livres e regulares e parafornecer assistência aos países desejosos de reali-zar tais eleições.

10. Para facilitar a crescente participação daOrganização das Nações Unidas em processoseleitorais, o Secretário-Geral, em conformidadecom a resolução 46/137 da Assembleia Geral,encarregou o Secretário-Geral Adjunto para osAssuntos Políticos (Departamento dos AssuntosPolíticos) de coordenar as actividades de assis-tência eleitoral. Foi criado o Grupo de Assis-tência Eleitoral para ajudar o centralizador acumprir a sua missão. O Grupo desempenha umpapel crucial no exame dos pedidos de assistên-cia, os quais passam todos pelo seu crivo. Sem-pre que recebe um pedido de assistênciaeleitoral, o Grupo, em cooperação com o Pro-grama das Nações Unidas para o Desenvolvi-mento (PNUD), o Centro das Nações Unidas paraos Direitos Humanos e outros organismos com-petentes do sistema das Nações Unidas, procedegeralmente a uma missão de avaliação das neces-sidades, com o objectivo de determinar o tipo de

Participação da Organização das Nações Unidas em Processos Eleitorais: Uma Visão de Conjunto* 3

Participação da Organização das NaçõesUnidas em processos eleitorais: Uma visão de conjunto

01*capítulo

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assistência exigida e oferece apoio para as fasesiniciais de elaboração do projecto. A partir domomento em que um projecto ou missão se tor-nam operacionais, a execução respectiva cabeinteiramente à organização competente, apesar deo Grupo continuar a fornecer apoio e a assegu-rar a coordenação das actividades ao longo detodo o processo.

11. A intervenção da ONU tem, na maior partedas vezes, início no momento em que a Orga-nização recebe um pedido formal de assistênciapor parte de um governo. Procede então aoenvio de uma missão de avaliação das necessi-dades no país, a qual examinará cuidadosa-mente, em consulta com o governo, os partidospolíticos, as organizações não governamentais eoutros actores, todos os elementos – a nível dasinfra-estruturas, jurídicos, políticos, materiais,financeiros e em matéria de direitos humanos –necessários para a realização de eleições. O rela-tório desta missão servirá de base à participaçãoda ONU.

12. As diferentes formas departicipação da Organizaçãodas Nações Unidas num pro-cesso eleitoral podem ser classificadas de acordocom diversas categorias.4 A primeira consiste naorganização e supervisão das eleições, sendo aONU que organiza de facto todos os aspectos doprocesso eleitoral. A segunda reside na supervi-são das eleições, a qual inclui a acreditação de umrepresentante especial do Secretário-Geral, oqual confirma a validade de certos aspectosessenciais do processo eleitoral. O terceiro tipode participação consiste na missão de verificação:o processo eleitoral é organizado e administradopor um órgão nacional e a Organização dasNações Unidas é solicitada a dar a sua opinião noque diz respeito ao grau de liberdade e à regula-ridade do processo.

13. Nos três casos acima considerados, a Orga-nização das Nações Unidas intervém geralmenteno âmbito de missões de manutenção da paz degrande envergadura. Trata-se sempre de circuns-tâncias excepcionais que devem obedecer a certos

critérios rígidos para que se verifique uma parti-cipação da ONU. Devem estar reunidas nomea-damente as cinco condições seguintes:

a) Um pedido expresso por parte do Estadoenvolvido;b) A participação da Organização das NaçõesUnidas beneficia de um vasto apoio por parte daopinião pública;c) Os prazos são suficientes para que a ONU

possa levar a cabo uma missão alargada;d) A situação reveste-se manifestamente de umadimensão internacional;e) Foi tomada uma decisãofavorável por um órgão compe-tente da ONU (isto é, pela Assembleia Geral ou peloConselho de Segurança)5.

14. Quando não estiveremreunidas algumas destas condi-ções, em particular nos casos em que os prazos nãopermitam organizar uma missão completa, aOrganização das Nações Unidas pode decidirintervir de uma das duas formas seguintes. A pri-meira consiste em organizar uma missão destinadaa acompanhar de perto o processo eleitoral e arelatar os seus resultados ao Secretário-Geral. Emcertos casos, o Centro para os Direitos Humanosou o Grupo de Assistência Eleitoral podem dis-ponibilizar pessoal especializado para a missão.A segunda consiste em coordenar e apoiar a acçãodos observadores internacionais que pertençam aoutras organizações. Nenhuma destas duas inter-venções pode ser considerada como uma missãoprolongada de organização de eleições, nemimplica um parecer oficial sobre o grau de liber-dade e regularidade do processo eleitoral. Con-tudo, elas asseguram um certo nível de presençada Organização das Nações Unidas, a qual pode con-tribuir para aumentar a confiança da população noprocesso eleitoral e para melhorar a qualidade daseleições.6

15. Outro tipo de participação da Organizaçãodas Nações Unidas consiste no fornecimento deassistência técnica para os aspectos materiais, anível de infra-estruturas, jurídicos e em matéria dedireitos humanos das eleições. A concessão de

4 *Direitos Humanos e Eleições • Série de Formação Profissional n.º 02 [ACNUDH]

4 Vide o relatório do Secretário-Geral A/47/668 e Corr. 1, parágrafo 63.

5 Ibidem, parágrafo 53.

6 Ibidem, parágrafos 61-62.

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Participação da Organização das Nações Unidas em Processos Eleitorais: Uma Visão de Conjunto* 5

uma assistência técnica cabe perfeitamente nasactuais atribuições do PNUD, do Centro para osDireitos Humanos e do Departamento de Desen-volvimento Económico e Social, de forma que nãoé necessário nenhum novo mandato no que diz res-peito exclusivamente à assistência técnica. Os ser-viços consultivos e a assistência técnica no âmbitodos aspectos jurídicos, técnicos e em matéria dedireitos humanos das eleições democráticas nãoimplicam qualquer participação da Organização dasNações Unidas na condução das eleições e tambémnão contêm qualquer elemento de observação.Estes serviços podem por isso ser fornecidos rapi-damente a pedido de um governo, sem ser neces-sário um exame prévio por um órgão director daOrganização das Nações Unidas.

16. Assim, o PNUD, o Centro para os DireitosHumanos e o Departamento do DesenvolvimentoEconómico e Social oferecem conselhos e assis-tência sobre uma série de questões eleitorais,nomeadamente no que diz respeito a questões deimportância capital em matéria de direitos huma-nos, organização das modalidades de inscriçãonas listas eleitorais, identificação dos cidadãoscom o auxílio de documentos mais apropriados,informatização das listas eleitorais, melhoria dofuncionamento da administração eleitoral, esta-belecimento de instituições para o tratamento docontencioso e das reclamações, tratamento elec-trónico dos dados eleitorais, técnicas de conta-gem dos votos, assistência jurídica e logística,instrução cívica e educação dos eleitores, comu-nicações radiofónicas e informação. Finalmente

podem ser ainda criados vastos programas de coope-ração técnica para prosseguir estes fins.

17. As normas das Nações Unidas relativas aosdireitos humanos em matéria eleitoral são vastas,podendo por isso ser aplicadas no âmbito de sis-temas políticos muito diversos. A assistência elei-toral da Organização das Nações Unidas nãoprocura impor um qualquer modelo político,baseando-se antes pelo contrário na ideia de quenão existe nenhum sistema político nem nenhummétodo eleitoral que convenha a todos os povose a todos os Estados. Apesar de serem úteis exem-plos comparativos para a edificação de instituiçõesdemocráticas que respondam às preocupaçõesnacionais, mantendo a sua conformidade com asnormas internacionais em matéria de direitoshumanos, a melhor formulação para cada juris-dição será ao fim e ao cabo aquela que tenhapodido ser definida com base nas necessidades par-ticulares, aspirações e realidades históricas dopovo em causa, dentro do enquadramento fixadopelas normas internacionais.

18. Finalmente, a actividade da Organização dasNações Unidas nestes domínios é levada a cabo emconformidade com os princípios fundamentais daigualdade soberana dos Estados e do respeito pelasua integridade territorial e independência política,tal como se encontram enunciados na Carta dasNações Unidas. Daqui decorre que só será pro-porcionada assistência nos casos em que esta forsolicitada pelas autoridades nacionais e em quebeneficie do apoio da população do país em causa.

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a. Normas de base19. As normas internacionais em matéria eleitoraldizem respeito a três direitos fundamentais: odireito de participar na direcção dos assuntospúblicos; o direito de votar e a ser eleito; e odireito de acesso, em condições de igualdade àsfunções públicas. A Declaração Universal dosDireitos do Homem prevê ainda que a vontade dopovo constitui o fundamento da autoridade dospoderes públicos. As normas em questão são asseguintes:

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM

Artigo 21.o

1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte nadirecção dos negócios públicos do seu país, querdirectamente, quer por intermédio de represen-tantes livremente escolhidos.

2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em con-dições de igualdade, às funções públicas do seu país.

3. A vontade do povo é o fundamento da auto-ridade dos poderes públicos; e deve exprimir-se atra-vés de eleições honestas a realizar periodicamentepor sufrágio universal e igual, com voto secreto ousegundo processo equivalente que salvaguarde aliberdade de voto.

PACTO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS CIVIS

E POLÍTICOS

Artigo 25.o

Todo o cidadão tem o direito e a possibilidade,sem nenhuma das discriminações referidas noartigo 2.o e sem restrições excessivas:

a) De tomar parte na direcção dos negóciospúblicos, directamente ou por intermédio de repre-sentantes livremente eleitos;

b) De votar e ser eleito, em eleições periódicas,honestas, por sufrágio universal e igual e porescrutínio secreto, assegurando a livre expressãoda vontade dos eleitores;

c) De aceder, em condições gerais de igualdade,às funções públicas do seu país.

20. O texto das normas internacionais de baseem matéria de direitos humanos no contexto de elei-ções encontra-se no anexo I do presente guia.

21. Os organismos das Nações Unidas quedesenvolvem actividades na área dos direitoshumanos trouxeram precisões a estas normasinternacionais. Em 1962 a Subcomissão de Lutacontra as Medidas Discriminatórias e de Protec-ção das Minorias adoptou o Projecto de Princí-

Normas das Nações Unidas em matéria de direitos humanos no contexto de eleições em geral* 7

Normas das Nações Unidas em matéria de Direitos Humanos no contexto de eleições em geral

02*capítulo

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pios Gerais sobre Liberdade eNão Discriminação em Matériade Direitos Políticos7, o qualveio trazer alguns esclarecimentos quanto aosignificado dos termos utilizados na Declara-ção Universal. Mais recentemente, em 1989, aComissão dos Direitos do Homem adoptou umquadro de acção futura para o reforço da eficá-cia do princípio da realização de eleições perió-dicas e honestas.8

b. Não discriminação22. Tanto a Declaração Universal dos Direitos doHomem (artigo 2.o) como o Pacto Internacionalsobre os Direitos Civis e Políticos (artigo 2.o) deter-minam que os direitos enunciados devem sergozados sem qualquer distinção, nomeadamentede raça, cor, sexo, língua, religião, opinião políticaou qualquer outra opinião, origem nacional ousocial, fortuna, nascimento ou qualquer outrasituação.

23. Outras declarações inter-nacionais e tratados prevêemque as mulheres gozem estes direitos em condi-ções de igualdade e proíbem a discriminação combase na raça.9

c. Autodeterminação24. Podemos afirmar que a noção de eleiçõesdemocráticas se encontra enraizada no conceitofundamental da autodeterminação. Este direitoessencial é reconhecido na Carta das Nações Uni-das (artigo 1.o, n.o 2) e no artigo 1.o comum aoPacto Internacional sobre os Direitos Civis ePolíticos e ao Pacto Internacional sobre os Direi-tos Económicos, Sociais e Culturais. A Carta subli-nha ainda a importância da autodeterminaçãoem relação aos territórios não autónomos e aosterritórios sob tutela (artigos 73.o, b), e 76.o, b)).Desta forma, apesar de as eleições não constituí-rem o único meio utilizado pelos povos para

exprimirem e exercerem o seu direito à auto-determinação, o seu papel histórico neste âmbitoé incontestável.

d. Participação política25. Diversos instrumentos in-ternacionais, mesmo sem men-cionarem expressamente aseleições, dão conta dos princi-pais elementos nos quaisassenta a noção de eleiçõesdemocráticas. Estes elementossão definidos como direito deos povos determinarem livre-mente o seu estatuto político10,como direito de todos os elemen-tos da sociedade participaremactivamente na definição e rea-lização dos objectivos comunsdo desenvolvimento11, como di-reito de todos os elementos dasociedade participarem activa-mente na definição e realizaçãodos fins comuns do desenvol-vimento12, ou ainda como odireito de todos à participação navida política do seu país.13

e. Outros direitos fundamentais da pessoahumana26. A Declaração Universal dos Direitos doHomem, o Pacto Internacional sobre os DireitosCivis e Políticos e outros instrumentos interna-cionais em matéria de direitos humanos prote-gem um certo número de direitos fundamentaisda pessoa humana, cujo gozo é determinante parao valor do processo eleitoral. O direito à liberdadede expressão, informação, reunião, associação e cir-culação, bem como o direito geral de não serobjecto de medidas intimidadoras, revestem-se deespecial importância em período eleitoral. Cada umdestes direitos é examinado no capítulo III infra.

8 *Direitos Humanos e Eleições • Série de Formação Profissional n.º 02 [ACNUDH]

9 Vide Secção B do anexo I.

10 Declaração sobre a Con-cessão de Independênciaaos Países e Povos Colo-niais, artigo 2.o; Pacto Inter-nacional sobre os DireitosCivis e Políticos e PactoInternacional sobre os Direi-tos Económicos, Sociais eCulturais, artigo 1.o, comumaos dois Pactos.

11 Declaração sobre o Progresso e Desenvolvi-mento no Domínio Social, artigo 5.o, c).

12 Este direito encontra-seconsagrado na DeclaraçãoUniversal dos Direitos doHomem e nos Pactos Inter-nacionais sobre os DireitosCivis e Políticos e sobre osDireitos Económicos,Sociais e Culturais, sendoretomado, em substância,no artigo 5.o da Procla-mação de Teerão, no artigo 5.o, c), da Convençãosobre a Eliminação deTodas as Formas de Discri-minação Racial, no artigo II, c), da Conven-ção Internacional sobrea Eliminação e Repressãodo Crime de Apartheid e no artigo 7.o da Conven-ção sobre a Eliminaçãode Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres.

13 Encontram-se reproduzi-dos no anexo I os extractosdos instrumentos internacio-nais pertinentes.

7 Vide o anexo II.

8 Vide o anexo III.

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27. As normas internacionais em matéria dedireitos humanos contêm um certo número decritérios fundamentais que devem ser satisfeitospara a realização de eleições livres e regulares.Estes critérios serão examinados detalhadamenteneste capítulo.

a. Eleições livres

1. A VONTADE POPULAR

28. A Declaração Universal dos Direitos doHomem prevê que todas as pessoas têm o direito departicipar na direcção dos assuntos públicos do seupaís, quer directamente, quer através de represen-tantes livremente escolhidos (artigo 21.o). O PactoInternacional sobre os Direitos Civis e Políticos e oPacto Internacional sobre os Direitos Económicos,Sociais e Culturais estipulam que os povos deter-minam livremente o seu estatuto político (artigo 1.o

comum aos dois Pactos) em virtude do seu direitoà autodeterminação. Este direito é reafirmado naDeclaração sobre a Concessão de Independênciaaos Países e Povos Coloniais (artigo 5.o), a qual prevêigualmente que a vontade e os votos dos povos quetenham sido livremente expressos devem reger atransferência dos poderes a seu favor.

29. A Carta das Nações Unidas manifesta preo-cupações idênticas, nomeadamente no que diz

respeito aos territórios sob tutela e aos territóriosnão autónomos, determinando a ajuda às popula-ções dos territórios não autónomos no desenvol-vimento das suas instituições políticas livres

(artigo 73.o, b). Quando se trata de territórios sobtutela, a Carta determina que um dos fins essen-ciais do regime de tutela consiste em favorecer umaevolução no sentido da capacitação dos territóriospara se administrarem a si mesmos, tendo nomea-damente em conta as aspirações livremente expres-sas das populações interessadas (artigo 76.o, b).Apesar de dizerem expressamente respeito aosterritórios sob tutela e não autónomos, estasnoções de liberdade mantiveram-se princípiosdirectores para a actividade da Organização emmatéria eleitoral, a qual visa principalmente aju-dar Estados independentes.

2. GARANTIAS DA LIBERDADE

30. Os instrumentos internacionais para a pro-moção e protecção dos direitos humanos existen-tes no âmbito das Nações Unidas encontram-se,como é fácil de verificar, repletos com apelos des-tinados a assegurar o carácter «livre» da participaçãopopular. Apesar de estes instrumentos não indi-carem (e de facto nem o poderiam fazer) nenhummétodo preciso para assegurar essa liberdade, aideia que lhes está subjacente parece clara. Para que

Exame detalhado dos critérios internacionais* 9

Exame detalhado dos critérios internacionais

03*capítulo

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a participação nas eleições possa ser consideradalivre deve a mesma verificar-se num ambientecaracterizado pela ausência de intimidação e pelorespeito de um grande número de direitos funda-mentais da pessoa humana. Para tal, devem ser eli-minados os obstáculos que se opõem a umaparticipação plena dos cidadãos, devendo estesreceber garantias de que a sua participação nas elei-ções não acarretará qualquer prejuízo a nível pes-soal. A fórmula especial que permite criar umambiente dessa natureza é indicada na Carta Inter-nacional dos Direitos Humanos, artigo por artigo.

3. DIREITOS INDISPENSÁVEIS

31. Se é verdade que cada um dos direitos enun-ciados na Declaração Universal dos Direitos doHomem e concretizados nos dois Pactos Interna-cionais contribuirá para a criação do ambientedesejado, não é menos verdade que alguns deentre eles se revestem de uma importância acres-cida no contexto eleitoral. Convém, a este propó-sito, mencionar em especial os direitos à liberdadede opinião e expressão, bem como à liberdade deinformação, reunião e associação, independênciados procedimentos judiciários e protecção contraa discriminação. A propaganda política, a educa-ção dos eleitores, as reuniões e concentrações polí-ticas, bem como as organizações partidáriasconstituem elementos do processo eleitoral, osquais devem funcionar sem entraves excessivos paraque as eleições decorram livremente.

32. Da mesma forma, os procedimentos judiciá-rios devem estar protegidos contra a corrupção eas influências partidárias, de forma a permitirema execução das funções eleitorais necessárias, taiscomo o exame dos pedidos de invalidação, as con-testações e as queixas. Por outro lado, as eleiçõesnão poderão ser regulares se não for asseguradauma participação igual de todos, através da aplicaçãode medidas não discriminatórias. Finalmente, asleis em vigor susceptíveis de desencorajar a parti-cipação política devem ser revogadas ou suspen-sas. O ambiente que rodeia as eleições devepautar-se pelo respeito pelos direitos humanos eliberdades fundamentais e caracterizar-se pela

ausência de factores de intimidação. O respeitopor todo um conjunto de direitos humanos enu-merados na Declaração Universal dos Direitos doHomem e nos dois Pactos Internacionais é essen-cial para a realização de eleições livre e regulares.

(a) Liberdade de opinião

33. Os direitos à liberdade de opinião, expressãoe informação são protegidos pelo artigo 19.o doPacto Internacional sobre os Direitos Civis e Polí-ticos, cujo texto é o seguinte:

Artigo 19.o

1. Ninguém pode ser inquietado pelas suasopiniões.

2. Toda e qualquer pessoa tem direito à liberdadede expressão; este direito compreende a liberdadede procurar, receber e expandir informações eideias de toda a espécie, sem consideração de fron-teiras, sob forma oral ou escrita, impressa ou artís-tica, ou por qualquer outro meio à sua escolha.

3. O exercício das liberdades previstas no pará-grafo 2 do presente artigo comporta deveres e res-ponsabilidades especiais. Pode, em consequência,ser submetido a certas restrições, que devem,todavia, ser expressamente fixadas na lei e quesão necessárias:

a) Ao respeito dos direitos ou da reputação deoutrem;b) À salvaguarda da segurança nacional, daordem pública, da saúde e da moralidade públicas.

34. O direito à liberdade deopinião é garantido no pará-grafo 1.o do artigo 19.o Este pre-ceito tem um carácter absolutoe não pode ser restringido nemsujeito a qualquer tipo de entra-ves14. A liberdade absoluta deexprimir uma opinião política éimperativa no contexto eleito-ral, uma vez que a afirmação deuma vontade popular autênticaé impossível num ambiente em

10 *Direitos Humanos e Eleições • Série de Formação Profissional n.º 02 [ACNUDH]

14 Vide Centro das NaçõesUnidas para os DireitosHumanos e UNITAR,Manuel relatif à l’établissement des rapportssur les droits de l’hommeprésentés en application dessix instruments internatio-naux de base relatifs auxdroits de l’homme [em português: Manual sobre a elaboração de relatóriosem matéria de direitoshumanos apresentados em aplicação dos seis instrumentos internacionaisde base sobre direitoshumanos] (número devenda F.91.XIV.1), p. 82,comentário sobre o artigo 19.o do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos.

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que essa liberdade se encontra ausente ou res-tringida de qualquer forma.

(b) Liberdade de expressão e informação

35. Todos os direitos à liber-dade de expressão e informaçãosão garantidos no n.o 2 doartigo 19.o do Pacto. No plano dorespectivo conteúdo, qualquerforma de ideia subjectiva ou susceptível de sertransmitida encontra-se protegida por este pre-ceito. Apesar do preceito não se limitar a umúnico meio de expressão (uma vez que cobreas formas de expressão culturais, artísticas eoutras) a sua importância para a expressão polí-tica é evidente15.O processo eleitoral constituium mecanismo cujo próprio objecto consiste naexpressão da vontade política do povo, de formaque o direito de exprimir ideias de índole parti-dária deve ser firmemente protegido em períodoeleitoral.

36. Contudo, o direito à liber-dade de expressão encontra-secontudo parcialmente limitadopelas disposições do n.o 3 doartigo 19.o. Porém, para poderinvocar os factores limitado-res enumerados no n.o 3, umEstado não se pode limitar aafirmar ter sido necessário res-tringir a liberdade de expressãopor razões de segurança nacio-nal ou por qualquer outra dasrazões indicadas16. Dito poroutras palavras, as limitações previstas no artigoem questão não devem servir para proporcionaraos Estados um pretexto para a imposição derestrições à liberdade de expressão. Todos osobstáculos à liberdade de expressão devemencontrar-se previstos na lei e ser necessários aum dos fins mencionados no artigo. O Comitédos Direitos Humanos, ao examinar casos destetipo, considerou que os Estados devem apre-sentar provas concretas, incluindo informaçõesdetalhadas sobre o acto de acusação e cópias dasactas verbais das audiências, mostrando existir

uma ameaça real e séria à segurança nacional ouordem pública17. É essencial limitar as possibi-lidades de um Estado invocar o n.o 3 no con-texto de eleições, o qual exige que a divulgaçãode todas as informações seja autorizada namaior medida possível a fim de assegurar que oseleitores sejam plenamente informados. Se oseleitores não estiverem bem informados, éimpossível garantir que as eleições traduzemrealmente a vontade do povo.

37. Quando se tratar da pro-tecção da moral pública, osEstados gozam de maior poderde apreciação, o que se explica pela ausência de umcritério universalmente aplicável na matéria18.Contudo, tal não deveria constituir uma ameaça emperíodo eleitoral, uma vez que a participação polí-tica de natureza pacífica não poderá ser conside-rada como colocando em perigo a moral pública.

38. Porém, um facto especial-mente importante consiste nopoder acrescido de que os Esta-dos gozam de regulamentar aliberdade de expressão quandoestejam em causa actividadesou expressões visando a destrui-ção de outros direitos reconhe-cidos no Pacto Internacionalsobre os Direitos Civis e Políti-cos19. Por exemplo, os Estadossão autorizados a regulamentaros apelos ao ódio nacional, racialou religioso que constituam umincitamento à discriminação,hostilidade ou violência20. Damesma forma, os Estados po-dem regulamentar as actividadesdos partidos políticos cuja linhapolítica seja contrária a um dosdireitos humanos enumerados no Pacto21. É, defacto, essencial restringir este tipo de actividadesem período eleitoral para assegurar a inexistênciade qualquer força no meio político que possa pro-curar intimidar os eleitores ou algum actor da vidapolítica, ou ainda que tente violar os direitos fun-damentais de um qualquer grupo.

Exame detalhado dos critérios internacionais* 11

15 Vide a decisão do Comitédos Direitos Humanos nocaso John Ballantyne e Elizabeth Davidson, eGordon McIntyre c. Canadá(359/1989 e 358/1989)[CCPR/C/47/D/359/1989 e 385/1989/Rev.1].

18 Vide Leo Hertberg eoutros c. Finlândia(61/1979), Selecção de deci-sões…, vol. 1, p.127.

19 Vide n.o 1, do artigo 5.o.

20 O n.o 2 do artigo 23.o doPacto Internacional sobre osDireitos Civis e Políticosprevê que qualquer apelodesta natureza é proibidopela lei. Vide J.R.T e oW.G.Party c. Canadá(104/1981), Sélection dedécisions prises en vertu duprotocole facultatif, Pacteinternational relatif auxdroits civils et politiques,volume 2, de la dix-septièmeà la trente-deuxième session(octobre 1982 – avril 1988)[em português: Comité dosDireitos Humanos, Selecçãode decisões adoptadas emvirtude do Protocolo Facul-tativo, Pacto Internacionalsobre os Direitos Civis ePolíticos, volume 2, dadécima sétima à trigésimasegunda sessão (Outubro de1982 – Abril de 1988)[publicação das NaçõesUnidas, número de vendaF.89.XIV.1] (adiante desig-nado como Selecção dedecisões…, volume 2),página 26.

21 Vide M.A. c. Itália(117/1981), Selecção de decisões …, vol. 2, página 33.

16 Vide Alba Petraroia c.Uruguai (44/1979), Comitédes droits de l’homme,Sélection de décisions prisesen vertu du protocole facul-tatif, Pacte internationalrelatif aux droits civils etpolitiques (de la deuxième àla sezième session) [em por-tuguês: Comité dos DireitosHumanos, Selecção de deci-sões adoptadas em virtudedo Protocolo Facultativo,Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos(da segunda à décima-sextasessão)] [ publicação dasNações Unidas, número devenda F.84.XIV.2] (adiantedesignado como Selecçãode decisões…, vol.1), p. 81,parágrafo 15.

17 Ibidem.

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39. Em suma, enquanto cada cidadão não se sen-tir livre para se exprimir e não puder divulgar deforma efectiva, e sem qualquer temor, as infor-mações políticas legítimas no contexto do diálogonacional, não se poderá garantir que as eleiçõesexprimem verdadeiramente a vontade do povo.

40. As exigências da liberdade de expressão e deinformação terão evidentemente importantesrepercussões no que concerne ao acesso equitativoaos meios de comunicação social e da utilização res-ponsável dos mesmos. Estes incidentes serão exa-minados mais adiante na Secção D.5 (Uma escolhainformada) e na secção I do capítulo IV (Acesso aosmeios de comunicação social e regulamentaçãoda sua actuação).

(c) Liberdade de Reunião

41. O direito de reunião pacífica é garantido peloartigo 21.o do Pacto Internacional sobre os Direi-tos Civis e Políticos, cujo texto é o seguinte:

Artigo 21.o

O direito de reunião pacífica é reconhecido. O exer-cício deste direito só pode ser objecto de restriçõesimpostas em conformidade com a lei e que sãonecessárias numa sociedade democrática, no inte-resse da segurança nacional, da segurança pública,da ordem pública ou para proteger a saúde e amoralidade públicas ou os direitos e as liberdadesde outrem.

42. Para que uma reunião possa receber a pro-tecção do artigo 21.o deverá a mesma ter umanatureza pacífica e, enquanto se desenrolar deforma não violenta, só poderá ser interrompida norespeito pelas limitações impostas pelo artigo 21.o.E, mesmo nesses casos, é necessário existir umaverdadeira necessidade para que um Estado recorraàs restrições previstas, uma vez que estas só sãoautorizadas quando impostas «em conformidadecom a lei». Por outras palavras, nenhum agentedo Estado poderá impedir arbitrariamente a rea-lização de uma reunião pacífica. Para o fazerdeverá ser autorizado por lei e a legislação emquestão deve respeitar as normas internacionaisacima enunciadas.

43. As restrições ao direito dereunião não podem ir para alémda necessidade de proteger osinteresses públicos indicados,devendo ser empregues os meiosmenos restritivos22. É ainda importante notar queos poderes públicos têm o dever de proteger os pró-prios manifestantes. O direito de reunião deve serrespeitado na medida em que as manifestaçõespúblicas e os encontros políticos fazem parte inte-grante do processo eleitoral e constituem ummecanismo eficaz para a divulgação de informa-ção política.

(d) Liberdade de Associação

44. O artigo 22.o do Pacto Inter-nacional sobre os Direitos Civise Políticos garante a toda equalquer pessoa o direito de seassociar livremente com outras.O alcance deste direito é vasto,incluindo nitidamente o direitode constituir organizações polí-ticas e de a elas aderir. O direito à liberdade de asso-ciação encontra-se intimamente ligado ao direitoà liberdade de reunião reconhecido no artigo 21.o

do Pacto. Por conseguinte, o n.o 2 do artigo 22.o

autoriza o mesmo tipo de restrições que os arti-gos 19.o e 21.o (segurança nacional, segurançapública, ordem pública, protecção da saúde emoralidade públicas ou protecção dos direitos eliberdades de outrem). O artigo 22.o prevê igual-mente garantias de processo semelhantes àquelasque são contempladas no artigo 21.o, nomeada-mente que as restrições impostas devem ser pre-vistas pela lei e ser necessárias para a protecção dosinteresses públicos numa sociedade democrática23.

45. O campo de aplicação doartigo 22.o encontra-se aindalimitado pelo artigo 5.o 24. Poroutras palavras, o direito à liber-dade de associação não pode serinterpretado como implicandouma actividade que venha pre-judicar algum dos outros direi-tos enunciados no Pacto. Tal

12 *Direitos Humanos e Eleições • Série de Formação Profissional n.º 02 [ACNUDH]

22 Vide Manuel relatif à l’établissment des rapportssur les droits de l’homme…(vide nota 14 supra), p. 83,comentário sobre o artigo21.o do Pacto Internacionalsobre os Direitos Civise Políticos.

22 Vide Manuel relatif à l’établissment des rapportssur les droits de l’homme…(vide nota 14 supra), p. 83,comentário sobre o artigo21.o do Pacto Internacionalsobre os Direitos Civise Políticos.

23 Ibidem, página 83,comentário sobre oartigo 22.o do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos.

24 O n.o 1 do artigo 5.o

do Pacto tem a seguinte redacção:

«1. Nenhuma disposição do presente Pacto pode serinterpretada como impli-cando para um Estado, umgrupo ou um indivíduoqualquer direito de se dedi-car a uma actividade ou derealizar um acto visando adestruição dos direitos e dasliberdades reconhecidos nopresente Pacto ou as suaslimitações mais amplas queas previstas no dito Pacto.»

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como é o caso no que diz respeito ao direito de reu-nião, é essencial que o direito de livre associaçãoseja respeitado, uma vez que a possibilidade deconstituir organizações políticas e de a elas aderirrepresenta um dos meios mais importantes paraa população participar no processo democrático.

(e) Independência da magistratura

46. No que concerne a protecção destes direitosindispensáveis, importa que a magistraturadesempenhe plenamente as suas funções e sejaindependente, uma vez que consiste na principalinstituição nacional encarregue de proteger a lega-lidade tanto durante, como entre os períodos elei-torais. Para que a população disponha de meioseficazes para apresentar queixas e contestaçõesrelativas ao processo eleitoral, é ainda necessáriogarantir que a magistratura se encontre total-mente protegida contra qualquer influência oucontrolo. Podemos citar, de entre os princípiosfundamentais em matéria de independência damagistratura:

a) A independência da magistratura é garantidapela Constituição ou legislação nacional;

b) Os magistrados dirimem as questões sobre asquais são chamados a pronunciar-se de formaimparcial, sem restrições e sem serem alvo deinfluências, incitações, pressões, ameaças ouintervenções indevidas, directas ou indirectas;

c) Os magistrados têm o poder exclusivo dedeterminar se um caso do qual se estão a ocuparcabe, ou não, na sua esfera de competência;

d) As decisões dos tribunais não são sujeitas arevisão. Estes princípios não invalidam o direito deo poder judiciário proceder a uma revisão e de asautoridades competentes atenuarem ou comutarempenas impostas pelos magistrados, em conformi-dade com a lei;

e) Os magistrados têm o direito e dever de asse-gurar que os debates judiciários se desenrolam deforma equitativa e que os direitos das partes sãorespeitados;

f ) Os Estados têm o dever defornecer os recursos necessá-rios para que a magistraturapossa desempenhar as suasfunções normalmente25.

47. Estes princípios estabe-lecem um mecanismo de se-gurança garantindo que arealização das eleições éregida pela legalidade e nãopor um determinado políticoou organismo externo. Quando a magistraturafunciona em conformidade com estes princípios,ela serve o importante objectivo de resoluçãopacífica dos diferendos, e ainda a protecção doprocesso eleitoral contra as fraudes e a falta de imparcialidade. Evidentemente que o papelda magistratura completa, mas não substitui, a função dos organismos eleitorais indepen-dentes.

(f ) Princípio de não discriminação

48. Finalmente, o princípio da não discriminaçãodeve ser respeitado de forma a que todos possamparticipar no processo eleitoral em condições deigualdade. Este direito encontra-se garantido naDeclaração Universal dos Direitos do Homem(artigos 2.o e 7.o) e é definido mais precisamentenos artigos 2.o, n.os 1, 3.o e 26.o do Pacto Interna-cional sobre os Direitos Civis e Políticos, os quaistêm a seguinte redacção:

Artigo 2.o

1. Todos os seres humanos podem invocar osdireitos e as liberdades proclamados na presenteDeclaração, sem distinção alguma, nomeada-mente de raça, de cor, de sexo, de língua, de reli-gião, de opinião política ou outra, de origemnacional ou social, de fortuna, de nascimento oude qualquer outra situação.

Artigo 3.o

Os Estados Partes no presente Pacto comprome-tem-se a assegurar o direito igual dos homens e dasmulheres a usufruir de todos os direitos civis e polí-ticos enunciados no presente Pacto.

Exame detalhado dos critérios internacionais* 13

25 Vide os PrincípiosBásicos Relativos à Inde-pendência da Magistra-tura, Sétimo Congresso dasNações Unidas para a Pre-venção do Crime e o Trata-mento dos Delinquentes,Milão, 26 de Agosto – 6 deSetembro de 1985: relatório elaborado peloSecretariado (publicaçãodas Nações Unidas,número de venda:F.86.IV.1), capítulo I;secção D.2. Estes PrincípiosBásicos foram aprovadospela Assembleia Geralatravés das resoluções40/32 e 40/146,respectivamente de 29 de Novembro e 13 de Dezembro de 1985.

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Artigo 26.o

Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito,sem discriminação, a igual protecção da lei. A este res-peito, a lei deve proibir todas as discriminações egarantir a todas as pessoas protecção igual e eficaz con-tra toda a espécie de discriminação, nomeadamentepor motivos de raça, de cor, de sexo, de língua, de reli-gião, de opinião política ou de qualquer outra opinião,de origem nacional ou social, de propriedade, de nas-cimento ou de qualquer outra situação.

49. Em conformidade com oartigo 26.o do Pacto, os Estadostêm simultaneamente uma obri-gação positiva, que consiste emimpedir a ocorrência de discri-minação e uma obrigação nega-tiva, que reside em abster-se dequalquer tipo de discriminação,não sendo prevista qualquer limitação a estes prin-cípios. Certos tipos de medidas positivas são, noentanto, autorizados se os mesmos tiverem umanatureza correctiva e forem aplicados com vista aremediar uma discriminação passada26.

50. Uma discriminação quenão seja autorizada não poderánunca ser justificada, mesmoque seja prevista com o objectivode proteger a segurança nacio-nal27. Com efeito, uma lei quenão se encontre em conformi-dade com as normas interna-cionais em matéria de igualprotecção não é justificada,mesmo que o tivesse sido sem oseu elemento discriminatório28.O artigo 26.o prevê ainda umaigual protecção da lei em todasas áreas em que um Estadolegisla, independentemente dofacto de se tratar de domíniosexpressamente protegidos peloPacto29.

51. Não será demasiado insis-tir na importância de que sereveste um ambiente despro-

vido de discriminação em período de eleições,devendo todos ter igualmente acesso a todas asmanifestações culturais. Um ambiente que tolerea discriminação facilita a intimidação e a mani-pulação dos eleitores, fenómenos estes que sãoincompatíveis com a realização de eleições livres.

(g) Estados de excepção30

52. As situações de excepção,declaradas ou não, são frequen-temente seguidas por períodosde transição democrática. Namedida em que as legislaçõesde emergência e outras disposi-ções de excepção limitadorasdos direitos fundamentais estejam na sua gene-ralidade em contradição com a realização de elei-ções livres, os Estados que pretendem realizareleições deverão examinar cuidadosamente estasleis com o objectivo de as revogar ou suspenderdurante o período da campanha eleitoral. Comefeito, qualquer lei em vigor que restrinja o gozonormal da liberdade de expressão, informação,reunião, associação, entre outras, deve ser consi-derada como incompatível com a realização deeleições livres e regulares.

53. De qualquer das formas, os Estados devemadoptar legislação que precise claramente a quemedida em que o ordenamento constitucionalpode ser modificado durante um estado de excep-ção. O estado de excepção só deverá ser proclamadoem conformidade com a lei e autorizado unica-mente em caso de perigo público excepcional queameace a existência da nação, em situações em queas medidas compatíveis com a constituição e as leisem vigor são manifestamente insuficientes parafazer face à situação.

54. As normas internacionais sobre a matériaexigem ainda que o estado de excepção seja ofi-cialmente proclamado antes da aplicação de qual-quer medida de excepção, devendo tais medidas serestritamente necessárias pelas exigências da situa-ção e não ser incompatíveis com as outras obri-gações impostas pelo direito internacional. Estasmedidas não devem igualmente dar origem a

14 *Direitos Humanos e Eleições • Série de Formação Profissional n.º 02 [ACNUDH]

26 No caso Rubén D. StallaCosta c. Uruguai(198/1985) [Selecção dedecisões…, volume 2,página 232], o Comité dosDireitos do Homem consi-derou que uma lei que, naadmissão à função pública,dê preferência a pessoas quetenham sido despedidaspelo governo militar ante-rior não constituía uma vio-lação da alínea c) do artigo25.o do Pacto, devido ao seucarácter compensatório.

27 Para exemplos de medidas que não devem ser conside-radas como discriminató-rias, vide o princípio XI doProjecto de PrincípiosGerais sobre a Liberdade eNão-Discriminação emMatéria de Direitos Políti-cos (vide anexo II infra).

28 Vide S. Aumeeruddy-Cziffra e outros c. Maurícias(35/1978), Selecção de deci-sões …, volume 1, página 69. Esta comunicação dizia res-peito ao estatuto de imigra-ção nas Maurícias, o qualera aplicável aos cônjugesestrangeiros de mulheresnaturais das Maurícias, masnão às cônjuges estrangeirasde homens naturais dasMaurícias. O Governo dasMaurícias tinha tentado jus-tificar este estatuto, invo-cando razões de segurançanacional, afirmando queem substância os homensestrangeiros representavamum maior risco para a segu-rança nacional que asmulheres estrangeiras.Foram assim constatadasviolações aos artigos 2.o, n.o 1, 3.o e 26.o do Pacto.

29 Vide S. W. M. Broeks c.Países Baixos (172/1984),Selecção de decisões…,volume 2, página 205; L. G. Danning c. Países Baixos (180/1984), ibidem,página 215 e F.H. Zwaan-de-Vries c. Países Baixos(182/1984), ibidem, página 220.

30 Vide o projecto de princí-pios a seguir para a redac-ção dos textos legais emmatéria de estados deexcepção submetido à Sub-Comissão de Luta contra asMedidas Discriminatórias ede Protecção das Minoriasna sua quadragésima terceira sessão(E/CN.4/Sub.2/1991/28/Rev.1, anexo I).

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situações de discriminação com base na raça, cor,sexo, língua, religião ou origem social.

55. De acordo com as normas internacionais nãoé autorizada nenhuma derrogação no que diz res-peito ao direito à vida, proibição da tortura e outraspenas ou tratamentos cruéis, desumanos oudegradantes); proibição de escravatura, tráfico deescravos e práticas semelhantes à escravatura; eproibição de prender alguém por desrespeito deuma obrigação contratual.

56. Ninguém, nem mesmo durante um estado deexcepção, poderá ser condenado por acções ouomissões que não constituíam um delito nomomento em que foram cometidas, de acordocom o direito nacional ou internacional. Damesma forma, não será imposta nenhuma penamais dura do que aquela que era aplicável nomomento em que foi cometida a infracção. Se,em momento posterior a esta infracção, a lei pre-vir a aplicação de uma pena mais ligeira, o delin-quente deve beneficiar da mesma.

57. O direito de todos ao reconhecimento da sua per-sonalidade jurídica também não poderá ser revo-gado, o mesmo sucedendo com o direito de todos àliberdade de pensamento. Cada um destes princípiosdeve ser consagrado na lei suprema do país.

58. Convém, por outro lado, considerar os traba-lhos informativos do Relator Especial das NaçõesUnidas sobre os Estados de Excepção. De entre asrecomendações formuladas pelo Relator Especial,podemos notar o seguinte: a independência e bomfuncionamento da magistratura devem ser prote-gidos; nenhuma medida adoptada em aplicaçãode um estado de excepção poderá restringir a com-petência dos tribunais no que diz respeito aoexame da legalidade dos estados de excepção ouà interposição de acções judiciais destinadas aproteger todos os direitos cujo exercício não seencontre afectado pela proclamação do estado deexcepção. Os órgãos legislativos nacionais nãopodem igualmente ser dissolvidos durante umestado de excepção e todos os membros dos órgãoslegislativos devem gozar os privilégios e imunidadesnecessários ao exercício do seu mandato.

59. Da mesma forma, e em conformidade com ostrabalhos do Relator Especial, quando termina umestado de excepção, devem ser desenvolvidos todosos esforços possíveis para que as pessoas cujosdireitos foram afectados pelas medidas adoptadasem aplicação deste estado de excepção, readquiramo pleno gozo dos mesmos, incluindo o direito departicipar no processo político, e sejam indemni-zadas pelos prejuízos sofridos.

60. Ninguém deverá ser submetido a qualquerforma de discriminação devido à sua participaçãonuma actividade ou expressão que tenha sido tor-nada ilegal pelo estado de excepção. Nenhuma dis-posição adoptada no seguimento da proclamação deum estado de excepção deverá restringir o direito dequalquer pessoa que alegue ter sido vítima de umaviolação de um dos direitos que a lei lhe reconhecedurante o estado de excepção, a procurar obter umacompensação junto dos tribunais, uma vez terminadaa situação de excepção. Tal engloba o direito de vero seu recurso decidido rapidamente. Em qualquercaso o Estado deve assegurar que após o termo deum estado de excepção, não subsiste nenhum efeitonegativo na participação política.

4. ESCRUTÍNIO SECRETO

61. O escrutínio secreto é um meio há longadata reconhecido para a protecção contra a inti-midação. O princípio de acordo com o qual as elei-ções se devem desenrolar através de um votosecreto foi inicialmente enunciado na DeclaraçãoUniversal dos Direitos do Homem, a qual dispõeque as eleições devem ter lugar «com voto secretoou segundo processo equivalente que salvaguardea liberdade de voto» (artigo 21.o, n.o 3). O Pacto Inter-nacional sobre os Direitos Civis e Políticos vaimais longe ao solicitar, de forma decisiva, que aseleições tenham lugar «por escrutínio secreto»(artigo 25.o, alínea b). Este princípio decorre daconvicção da comunidade internacional de que,para serem verdadeiramente livres, os processosdevem garantir o carácter absolutamente confi-dencial do conteúdo do voto – o que vai desde a con-cepção dos boletins de voto e das cabines, àsdisposições jurídicas que estabelecem que nin-

Exame detalhado dos critérios internacionais* 15

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guém poderá ser constrangidopor uma autoridade judiciáriaou governamental a revelar osentido do seu voto31. Devemser igualmente desenvolvidos esforços de edu-cação sobre esta questão destinados aos eleito-res, para que o público tenha confiança nestasgarantias.

5. A ESSÊNCIA DE UMA ELEIÇÃO LIVRE

62. Em última análise, aquilo que determina seuma eleição é livre, é a medida em que a mesmapermite a plena expressão da vontade política dopovo em causa. É esta vontade que, de acordo coma Declaração Universal dos Direitos do Homem(artigo 21.o, n.o 3) constitui o próprio fundamentoda autoridade pública.

b. Eleições regulares63. A necessidade de as eleições serem regularesconstitui igualmente uma norma internacionalfacilmente identificável. Qualquer medida sus-ceptível de limitar ou impedir a livre expressão davontade popular, constituirá evidentemente umaviolação da Declaração Universal dos Direitos doHomem (artigo 21.o, n.o 3) e tornará as eleições irre-gulares.

1. SUFRÁGIO IGUAL, UNIVERSAL

E NÃO DISCRIMINATÓRIO

64. O critério de regularidadeencontra-se directamente enun-ciado num conjunto de instrumentos interna-cionais em matéria de direitos humanos adoptadosapós a Declaração Universal dos Direitos doHomem. Algumas destas disposições incidemsobre a questão de saber quem deve ser autori-zado a participar nas eleições. No caso em pre-sença, tanto a Declaração Universal (artigos 2.o e21.o, n.o 2), como o Pacto Internacional sobre osDireitos Civis e Políticos (artigos 2.o e 25.o, alí-nea b) prevêem que o sufrágio seja não discri-minatório, igual e universal. A universalidade dosufrágio implica que seja garantido ao maior

conjunto possível e razoável de eleitores o direitode participar nas eleições. Em conformidade como Projecto de Princípios Gerais em Matéria deLiberdade e Não Discriminação em Matéria deDireitos Políticos adoptado pela Subcomissãode Luta contra as Medidas Discriminatórias eProtecção das Minorias em 196232, qualquer elei-ção ou consulta efectuada com recurso ao escru-tínio directo, deve ser feita com base numa listaeleitoral geral, na qual sejas inscritos todos oscidadãos que preencham as condições exigidas(princípios V, alínea c).

65. As condições exigidas limitam-se geralmentea questões de idade mínima, nacionalidade e capa-cidade mental. Os trabalhos do Comité dos Direi-tos do Homem fornecem inúmeras orientaçõesno que concerne a delimitação das restriçõesrazoáveis. Os membros do Comité, aquando dassuas deliberações em aplicação do Pacto Interna-cional sobre os Direitos Civis e Políticos, consi-deraram não serem autorizadas as seguinteslimitações aos direitos de voto:

a) As condições económicas,baseadas na obtenção de umassistência pública, posse debens ou rendimento33;

b) As exigências excessivasem matéria de residência34;

c) As restrições ao direito devoto dos cidadãos naturaliza-dos35;

d) As exigências linguísticas36;

e) A exigência de instrução37;

f ) As limitações excessivas aodireito de voto das pessoas con-denadas38.

Se forem autorizadas restriçõesàs pessoas reconhecidas comoculpadas de infracções eleitorais, deverão as mes-mas ser limitadas no tempo39.

16 *Direitos Humanos e Eleições • Série de Formação Profissional n.º 02 [ACNUDH]

31 Vide o princípio VI doProjecto de PrincípiosGerais sobre a Liberdade eNão Discriminação emMatéria de Direitos Políti-cos (anexo II infra).

32 Vide anexo II.

33 Vide CCPR/C/SR.161(1979) e rectificativo; eCCPR/C/SR.251 (1980) erectificativo.

34 O Comité considerouexpressamente ser excessivoexigir sete anos de residên-cia [Vide CCPR/C/SR.265(1981) e rectificativo].

35 Vide CCPR/C/SR.597(1985) e rectificativo.

36 Vide CCPR/C/SR.161(1979) e rectificativo.

37 Vide CCPR/C/SR.118(1978) e rectificativo.

38 Vide CCPR/C/SR.711(1987) e rectificativo.

39 Vide anexo II.

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2. NÃO DISCRIMINAÇÃO E MEDIDAS POSITIVAS

66. A Convenção Internacional sobre a Elimina-ção de Todas as Formas de Discriminação Racialproíbe todas as formas de discriminação racialque afectem o direito de voto ou de ser candidatoa eleições, solicitando expressamente a aplicaçãodo sufrágio universal e igual (artigo 5.o, alínea c).Outros três instrumentos proíbem a discriminaçãocontra as mulheres ou a sua exclusão do processopolítico. A Declaração sobre a Eliminação de Dis-criminação contra as Mulheres (artigo 4.o), a Con-venção sobre a Eliminação de Todas as Formas deDiscriminação contra as Mulheres (artigo 7.o) e aConvenção sobre os Direitos Políticos das Mulhe-res (artigos I a III). Finalmente, quando se trata docarácter equitativo e igual da participação, a Con-venção Internacional sobre a Eliminação e Repres-são do Crime de Apartheid proíbe a adopção demedidas legislativas ou outras, destinadas a impe-dir que um ou mais grupos raciais participem navida política do país (artigo II, alínea c).

67. Algumas medidas de natu-reza positiva, adoptadas noâmbito de eleições, não são consideradas comodiscriminatórias, desde que preencham certascondições. No princípio XI do projecto de princí-pios gerais40, a Subcomissão de Luta contra asMedidas Discriminatórias e Protecção das Mino-rias declarou que certas medidas não deveriamser consideradas como discriminatórias. Trata-sede medidas legislativas ou regulamentares quetêm em vista:

a) As condições razoáveis a preencher para oexercício do direito de voto ou o direito de acedera cargos públicas electivos;

b) As qualificações razoáveis exigidas para seser nomeado para um emprego na função pública,decorrentes da natureza das funções;

c) Um prazo razoável para o exercício dos direi-tos políticos, pelos cidadãos que tenham sido natu-ralizados, sob condição de as medidas seremacompanhadas por uma política liberal de natu-ralização; […]

O princípio XI autoriza ainda a adopção de dis-posições especiais para assegurar: a) a represen-tação satisfatória de um grupo da população de umpaís cujos membros, por razões políticas, econó-micas, religiosas, sociais, históricas ou culturais, nãopodem de facto exercer os seus direitos políticosnas mesmas condições, que a restante população;b) a representação equilibrada dos diferentes gru-pos da população de um país. Estas disposições sódevem permanecer em vigor enquanto responde-rem a uma necessidade e unicamente na medidaem que sejam necessárias.

3. A CADA UM O SEU VOTO

68. A universalidade do sufrágio consiste unica-mente num dos elementos que contribuem paraa regularidade do processo eleitoral. Outro desseselementos consiste na igualdade do sufrágio, umaideia que se encontra tradicionalmente expressa pelafórmula «a cada um o seu voto». Os procedimen-tos relativos à demarcação das circunscrições elei-torais, o recenseamento dos eleitores ou o voto osquais visam enfraquecer ou desvalorizar o voto decertos indivíduos, grupos ou regiões geográficas sãoinaceitáveis à luz do princípio internacional daigualdade do sufrágio. Em suma, cada voto deve tero mesmo valor, para poder satisfazer o critério deregularidade.

69. O projecto de princípiosgerais de 196241 prevê expres-samente que cada voto tem o mesmo valor e queas circunscrições eleitorais devem ser constituídasde uma forma equitativa, respondendo da maneiramais exacta e competente possível à vontade detodos os eleitores (princípio V, alíneas a e b).

4. GARANTIAS JURÍDICAS E TÉCNICAS

70. Finalmente, assegurar a regularidade daseleições exige um certo número de medidas técnicase jurídicas destinadas a proteger eficazmente oprocesso eleitoral contra os preconceitos, fraudes emanipulações. Tratam-se, nomeadamente, de dis-posições destinadas a estabelecer estruturas admi-

Exame detalhado dos critérios internacionais* 17

40 Vide anexo II.

41 Ibidem.

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nistrativas objectivas, proibir e reprimir as práti-cas de corrupção, assegurar a presença de obser-vadores e permitir um acesso equitativo aos meiosde comunicação social por parte de todos os par-tidos e candidatos. Podem-se encontrar outrosexemplos de tais medidas no capítulo IV infra.

c. Periodicidade e calendário eleitoral

1. PERIODICIDADE

71. A necessidade de as eleições se realizaremperiodicamente encontra-se enunciada de formaexpressa simultaneamente na Declaração Univer-sal dos Direitos do Homem (artigo 21.o, n.o 3) e noPacto Internacional sobre os Direitos Civis e Polí-ticos (artigo 25.o, alínea b). A importância desta dis-posição não deve ser minimizada. As eleições quese realizem uma só vez (por exemplo, nomomento da acessão de um país à independênciaou aquando da sua transição para a democracia apósum regime autoritário) não são suficientes à luz dasexigências internacionais em matéria de direitoshumanos. Esta disposição vem, pelo contrário,mostrar claramente a necessidade de uma ordemdemocrática duradoura, permanentemente res-ponsável pelos seus actos perante a população.

72. Apesar de os instrumentos não fixarem umaperiodicidade determinada, podemos discernirlimitações de ordem genérica ao poder discricio-nário do Estado. Pelo menos devem realizar-seeleições com uma frequência que permita assegurarque a autoridade pública continua a representar aexpressão da vontade do povo, a qual, como jánotámos, constitui o fundamento da legitimidadegovernamental.

2. ADIAMENTO DAS ELEIÇÕES

73. O adiamento de eleiçõesprevistas pode ser autorizadoem certas circunstâncias limi-tadas, devido a uma situação de emergênciapública, mas unicamente na estrita medida do quefor exigido pela situação (vide supra o parágrafo 52e seguintes sobre os estados de excepção). Qualquer

medida excepcional deste tipo deve ser compatívelcom todas as normas internacionais que digam res-peito a tais derrogações e não deve ameaçar ademocracia em si42. A própria Declaração Univer-sal dos Direitos do Homem proclama que os direi-tos e liberdades por si protegidos só podem sersubmetidos às limitações estabelecidas para «satis-fazer as justas exigências da moral, da ordempública e do bem-estar numa sociedade democrá-tica» (artigo 29.o, n.o2). Consequentemente, ainterrupção da periodicidade das eleições constituirá,salvo nas circunstâncias mais excepcionais, uma vio-lação das normas internacionais.

74. O Comité dos Direitos doHomem adoptou diversas deci-sões no que diz respeito à com-patibilidade de certas medidas de segurança comas disposições do Pacto Internacional sobre osDireitos Civis e Políticos, em particular com asregras do artigo 25.o, o qual proíbe as «restriçõesexcessivas» ao gozo dos direitos políticos. No casoJorge Landinelli Silva e outros c. Uruguai (34/1978),o Comité não viu quais as razões que pudessem jus-tificar a necessidade de tais medidas para o resta-belecimento da paz e ordem, tendo declarado que«o Governo […] não [tinha] provado que a proibi-ção de todas as formas de oposição política eraindispensável a fim de poder fazer face à pretensasituação de emergência e preparar o regresso àsliberdades políticas»43.

3. O CALENDÁRIO ELEITORAL

75. Sempre que são planeadas eleições, deve-seassegurar que as datas fixadas no calendário elei-toral para cada fase do processo deixam temposuficiente para que a campanha eleitoral e as acti-vidades de informação possam ser desenvolvidasde forma eficaz, os eleitores se informem e as dis-posições necessárias sejam adoptadas nos domíniosadministrativo, jurídico, logístico e de formação.O próprio calendário eleitoral deve ser tornadopúblico no âmbito das actividades de informaçãocívica, no quadro da preocupação de assegurar atransparência, compreensão e confiança da popu-lação em relação ao processo eleitoral.

18 *Direitos Humanos e Eleições • Série de Formação Profissional n.º 02 [ACNUDH]

42 Vide o artigo 4.o do PactoInternacional sobre os Direi-tos Civis e Políticos.

43 Selecção de decisões…,volume 1, página 69, parágrafo 8.4.

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d. Eleições honestas

1. HONESTIDADE DOS PROCEDIMENTOS

76. A Declaração Universal dosDireitos do Homem, bem comoo Pacto Internacional sobre osDireitos Civis e Políticos, dis-põem que as eleições devem ser«honestas», englobando este conceito cada um dos ele-mentos considerados no presente guia. Os trabalhospreparatórios do Pacto indicam que, para aquelesque estiveram envolvidos na elaboração deste ins-trumento, esta condição engloba dois aspectos prin-cipais. O primeiro dizia respeito ao procedimento eincluía as garantias de periodicidade, igualdade euniversalidade do sufrágio, bem como o segredo dovoto44. O segundo dizia respeito ao resultado, sendoas eleições honestas definidas como eleições que tra-duzam a livre expressão da vontade dos eleitores45.

2. HONESTIDADE DOS EFEITOS

77. Desta forma, são consideradas eleições hones-tas aquelas que traduzem e dão efeito à vontade livre-mente expressa do povo. As paródias eleitoraisdestinadas a sufocar temporariamente uma oposi-ção interna ou a desviar a atenção internacional, nãosatisfazem obviamente as normas internacionais.O mesmo raciocínio se aplica às eleições que nãodizem respeito aos principais órgãos do país. As elei-ções devem antes ter por objectivo permitir a trans-ferência de poder aos candidatos vencedores,através de um sistema previamente determinado eaceitável para a população, quer se trate de umamaioria relativa, absoluta ou qualificada. Cabe aopróprio povo, através dos órgãos eleitos ou dosórgãos representativos transitórios, determinar omodo de escrutínio a utilizar: escrutino maioritá-rio (escrutínio nominal ou sistema «the first past the

post»), mecanismo de representação proporcional(escrutínio de lista) ou outro sistema eleitoral.

78. A transferência de poder aos vencedores deveser simultaneamente aceite pelo partido no podere pelos partidos na oposição, e ser alvo de disposi-ções jurídicas destinadas à sua aplicação. Por outras

palavras, as eleições devem reger-se exclusivamentepelos princípios do direito e não ser submetidas aopoder arbitrário do governo no poder ou de um par-tido. É igualmente importante notar que as autori-dades eleitas devem ser efectivamente capazes deexercer o poder que lhes é confiado pela lei.

3. UMA VERDADEIRA ESCOLHA

79. Por outro lado, as eleições honestas concedemum verdadeiro poder de escolha aos eleitores. Ape-sar de tal não subentender nenhum sistema polí-tico particular, convém no plano institucional, queseja permitida uma verdadeira expressão da von-tade popular. A Declaração Universal dos Direitosdo Homem e o Pacto Internacional sobre os Direi-tos Civis e Políticos proíbem qualquer tipo de dis-criminação baseada na «opinião política ou […]qualquer outra opinião» no exercício do direito departicipar na direcção dos assuntos públicos, dodireito de livre associação e do direito de reunião.O pluralismo político é considerado hoje em diacomo um elemento essencial para conceder umaverdadeira escolha aos eleitores e o Comité dosDireitos do Homem atribui importância a estaquestão, aquando do exame dos relatórios apre-sentado pelos Estados Partes no Pacto.

80. Já em 1962, o projecto deprincípios gerais em matéria deliberdade e não-discriminação em matéria dedireitos políticos adoptado pela Sub-Comissão deLuta contra as Medidas Discriminatórias e Pro-tecção das Minorias46 estipulava (princípio VIII):

a) Os eleitores são livres de votar a favor de um can-didato ou lista de candidatos da sua escolha, porocasião de qualquer eleição para funções públicas enão pode ser constrangido a votar a favor de um can-didato ou de uma lista de candidatos determinados.

[…]

b) Deve ser assegurada a livre expressão da opo-sição política, através de meios pacíficos, bem comoa organização e livre funcionamento dos partidos polí-ticos e o direito de apresentar candidatos às eleições.

Exame detalhado dos critérios internacionais* 19

44 Vide, por exemplo, Documents officiels de l’Assemblée générale, Seizième session, TroisièmeCommission, 1096.a e1097.a sessões.

45 Ibidem, 1096.a sessão.

46 Vide anexo III.

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81. O pluralismo político exige igualmente que ospartidos sejam capazes de funcionar eficazmente.Devem ser assim estabelecidos mecanismos deprotecção jurídica destinados a assegurar a suaplena participação, devendo a legislação eleitoralprever um financiamento equitativo e transpa-rente das campanhas políticas (as quais podemprever uma certa forma de financiamento público).

4. IGUALDADE DE ACESSO AOS CARGOS PÚBLICOS

82. O enquadramento mais apropriado para asse-gurar que os eleitores beneficiam de uma verda-deira escolha, consiste num sistema que respeitecertos direitos políticos conexos. As normas inter-nacionais que prevêem um acesso sem restrição aoscargos públicos, contribuem para este objectivo.A Declaração Universal determina que todos têmo direito de aceder, em condições de igualdade, àsfunções públicas do seu país (artigo 21.o). Seriamincompatíveis com este direito as restrições exces-sivas sobre a apresentação das candidaturas, asquais colidiriam com o direito de escolha dosindivíduos. O Pacto Internacional sobre os Direi-tos Civis e Políticos precisa este princípio, deter-minando que qualquer cidadão tem o direito deser eleito e aceder às funções públicas do seu paísem condições gerais de igualdade (artigo 25.o, alí-neas b e c)

83. Os direitos de aceder àsfunções públicas e de se apre-sentar às eleições, bem como odireito de voto, não toleramqualquer discriminação combase na raça, sexo, religião ououtras classificações arbitrárias deste tipo. O Pactopermite que o acesso às funções públicas sejasujeito a certas condições, as quais devem serrazoáveis, tais como a idade mínima e a capacidademental. As actas verbais dos debates que tiveramlugar aquando da elaboração destas disposiçõessão claras quanto a esta interpretação47.

84. As restrições de ordem racial em matéria deacesso a cargos públicos são proibidas pela Con-venção Internacional sobre a Eliminação de Todas

as Formas de Discriminação Racial (artigo 5.o, alí-nea c) e pela Convenção Internacional sobre a Eli-minação e Repressão do Crime de Apartheid(artigo II, alínea c). A discriminação baseada no sexoé proibida neste contexto pela Declaração sobre aEliminação de Todas as Formas de Discriminaçãocontra as Mulheres (artigo 4.o, alíneas a e c), aConvenção sobre a Eliminação de Todas as Formasde Discriminação contra as Mulheres (artigo 7.o,alíneas a e b) e a Convenção sobre os Direitos Polí-ticos da Mulher (artigos II e III). A aplicação con-jugada de todas estas disposições assegura o maioragrupamento razoável de candidatos para umaeleições, garantindo desta forma aos eleitores umaverdadeira escolha, bem como o direito individualde se apresentar a eleições e de aceder a cargospúblicos.

85. O Comité dos Direitos doHomem reconheceu que a pri-vação de certos direitos políti-cos constitui uma sanção prevista na legislação dealguns países. Contudo, no caso Alba Pietraroia c.

Uruguai (44/1979), o Comité, referindo-se aoprincípio da proporcionalidade, considerou queuma sanção tão severa como a privação de todosos direitos políticos durante quinze anos deveriaser justificada de forma expressa48.

86. O Comité examinou igual-mente o alcance do direito a umarepresentação específica no casoGrand Chef Donald Marshall e

outros (sociedade tribal micmac)c. Canadá (105/1986)49. O Comitédeclarou na sua decisão que o artigo 25.o, alínea ado Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Polí-ticos não podia ser interpretado como assegu-rando um direito absoluto de fixar as modalidadesde participação na direcção dos assuntos públicose que «o sistema jurídico e constitucional doEstado Parte [deveria] fixar as modalidades destaparticipação»50.Trata-se de um princípio geral, deutilidade quando se trata da questão da participa-ção política e que mostra a importância do respeitopelos princípios políticos de cada Estado. Convémtodavia notar que este assunto diz respeito a umprocesso constitucional, e não às eleições pro-

20 *Direitos Humanos e Eleições • Série de Formação Profissional n.º 02 [ACNUDH]

47 Vide, por exemplo, as actas verbais analíticasdas 363.a a 367.a Sessõesda Comissão dos Direitos do Homem, realizadasaquando da sua nona sessão, em 1953(E/CN.4/SR.363-E/CN.4/SR.367).

48 Selecção de decisões…,volume 1, página 82, parágrafo 16.

49 Vide Documents officielsde l’Assemblée générale,Quadragésima sétima ses-são, Suplemento n.o 40(A/47/40), anexo IX, secção A.

50 Ibidem, parágrafos 5.4. e 5.5.

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priamente ditas. No que concerne às eleições, sãomuito mais numerosas as directivas internacionais.

5. UMA ESCOLHA INFORMADA

87. A noção de livre escolha contém implicita-mente o conceito de escolha informada. Como jávimos, para que sejam honestas, as eleiçõesdevem traduzir a vontade política do povo. Os elei-tores não podem formular nem exprimir esta von-tade sem terem acesso a informações sobre oscandidatos, os partidos e o processo eleitoral. Osprogramas de informação bem organizados eimparciais destinados aos eleitores e a divulgaçãosem entraves da propaganda eleitoral constituemassim elementos essenciais para assegurar a rea-lização de eleições honestas.

88. Uma instrução cívica imparcial deve desti-nar-se a informar os eleitores de todas as modali-dades («quem, o quê, quando, onde e como») dorecenseamento e votação, devendo igualmentecontribuir para informar a população sobre ques-tões tais como: porque é que devemos votar e quegarantias existem para proteger o direito de parti-cipação no processo eleitoral com confiança.

89. As informações destinadas aos eleitoresdevem ser acessíveis a todos os membros da socie-dade, independentemente da sua língua e nível deinstrução. O material educativo deve assim sermultimédia, multilinguístico e adaptado à culturados diversos grupos sociais.

90. As actividades de instrução cívica devemainda incluir uma formação especial destinada acertos grupos profissionais, os quais devem ser pre-parados para os seus respectivos papéis durante oprocesso eleitoral. Pode tratar-se nomeadamentede agentes responsáveis pelo recenseamento doseleitores e contagem de votos, de pessoal policiale de segurança, dos meios de comunicação ou dospartidos políticos.

91. O acesso aos meios de comunicação socialdeve ser igualmente garantido aos partidos políti-cos e aos candidatos, e ser repartido de forma

equitativa, o que supõe não só a concessão detempo de antena e de espaço nos jornais a todosos partidos e candidatos, mas igualmente de equi-dade a nível da colocação do texto ou do momentoda sua difusão (isto é, a difusão deve dar-se a umahora de grande audiência ou no fim do serão, oua publicação deve fazer-se na primeira página ounuma página interior).

92. A utilização dos meios de comunicação socialpara a campanha eleitoral deve, por outro lado, serresponsável no que diz respeito às declaraçõesdifundidas, para que nenhum partido profiradeclarações falsas, difamatórias, racistas ou queconstituam uma incitação à violência. Devem serigualmente proibidas as promessas irrealistas oumenos sinceras, bem como as falsas esperançasmantidas por uma utilização parcial dos meios decomunicação social. Podem encontrar-se no capí-tulo IV supra outras informações sobre o acesso aosmeios de comunicação social e a regulamentaçãosobre a matéria.

6. QUESTÕES JURÍDICAS E TÉCNICAS

93. Finalmente, é importante notar que, paraassegurar a honestidade das eleições não bastaanunciar uma política que favoreça um amploacesso aos cargos públicos e proclamar a sua ade-são às normas internacionais, sendo igualmentenecessário, no plano da execução prática, um certonúmero de medidas técnicas e jurídicas. Muitas des-tas questões são consideradas infra no capítulo IV.Trata-se de um domínio no qual os serviços con-sultivos e a assistência técnica podem assumir umpapel capital.

e. Outras condições

1. O PAPEL DA POLÍCIA E DAS FORÇAS

DE SEGURANÇA

94. A polícia e as forças de segurança desempe-nham uma dupla função no desenrolar das eleições.A boa administração da justiça em período eleito-ral exige a conciliação, por um lado, da necessidadede assegurar a segurança eleitoral e a manutenção

Exame detalhado dos critérios internacionais* 21

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da ordem e, por outra parte, a necessidade de nãocolocar obstáculos aos direitos dos cidadãos e asse-gurar um clima livre de intimidação. O Código deConduta para os Funcionários Responsáveis pelaAplicação da Lei, adoptado pela Assembleia Geralem 1979 impõe a todos os representantes da lei odever de servir a colectividade (artigo primeiro). Estanoção implica necessariamente que as forças desegurança se devem esforçar por fazer com quetodos os cidadãos beneficiem de eleições quesejam regulares no plano administrativo e quesejam protegidas contra todas as forças perturba-doras que procurem contrariar a livre expressão davontade popular.

95. Da mesma forma, o Código de Conduta prevêque «os funcionários responsáveis pela aplicaçãoda lei devem respeitar e proteger a dignidadehumana, manter e apoiar os direitos fundamentaisde todas as pessoas» (artigo 2.o). Isto diz não só res-peito ao direito de participar nas eleições, mas atodos os direitos humanos. Os serviços de políciaque não respeitem os direitos fundamentais dapessoa humana arriscam-se a criar um clima de inti-midação, o qual perturbará os eleitores e assimcomprometerá a autenticidade do resultado daseleições.

96. O Código de Conduta dispõe ainda que osfuncionários responsáveis pela aplicação da lei«[d]evem, igualmente, opor-se rigorosamente ecombater todos os actos desta índole» (artigo 7.o).Isto implica explicitamente o dever de impedir astentativas de fraude eleitoral, de usurpação deestado civil, de corrupção, intimidação ou quaisqueroutros actos susceptíveis de comprometer a auten-ticidade do resultado das eleições. O Código deConduta prevê igualmente que os funcionáriosresponsáveis pela aplicação da lei não devemcometer qualquer acto de corrupção» (artigo 7.o),o que se reveste de uma enorme importânciadevido ao papel negativo que as forças de políciae de segurança eventualmente desempenharamem relação ao processo eleitoral em certos países.Para que as forças de segurança permaneçamimparciais, o papel da polícia em matéria de segu-rança das eleições deve ser subordinado àqueledos funcionários eleitorais.

97. De qualquer forma, a presença policial noslocais de recenseamento eleitoral ou de votaçãodeve ser discreta, profissional e disciplinada. Demaneira geral, convém afectar um númeromínimo de polícias e de agentes de segurança a umdeterminado local para garantir a respectiva segu-rança. Estes agentes não devem ser nunca coloca-dos de forma a dificultar um acesso autorizado,intimidar os eleitores ou dissuadi-los de partici-parem nas eleições.

2. O PAPEL DOS OBSERVADORES

98. O Quadro de Acção Futura para Reforçar oPrincípio de Eleições Periódicas e Honestasadoptado pela Comissão dos Direitos do Homemem 1989 prevê que as «instituições nacionaisdeveriam garantir a universalidade e igualdadedo sufrágio, bem como a imparcialidade daadministração» (secção III). É possível que, paratal, o país anfitrião deva «convidar observadoresou solicitar o fornecimento de serviços consul-tivos. Num caso ou noutro, ou em ambos, elepoder-se-á dirigir às organizações regionais ouaos organismos das Nações Unidas» (secção IV).O recurso a observadores pode ser um bommeio de verificar a autenticidade do resultado daseleições, diminuindo a sua presença os riscos deintimidação ou fraude. Os observadores neutrose objectivos podem ainda inspirar um senti-mento de confiança no eleitorado e desta formafazer crescer não só o desejo dos eleitores departicipar no processo eleitoral, mas tambéma sua aptidão para exprimir livremente a suavontade política na câmara de voto sem temerrepresálias.

99. Para maximizar as vantagens que pode trazera presença de observadores imparciais, estesdevem ser legalmente autorizados a circular livre-mente, aceder a todas as manifestações eleitoraise ser protegidos contra quaisquer ofensas e qual-quer ingerência no exercício das suas funções ofi-ciais. É ainda importante que os observadoresestejam presentes em número satisfatório, para quea sua presença seja manifesta e admitida peloseleitores.

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100. A abordagem da Organização das NaçõesUnidas no que diz respeito ao fornecimento de ser-viços consultivos e de assistência técnica para a rea-lização de eleições democráticas é, acima de tudo,prática. O objectivo desta cooperação consiste emauxiliar os Estados a organizarem eleições livres eregulares, as quais se desenrolem num ambienterespeitador dos princípios de direitos humanos eque sejam aceites como legítimos por todos ossectores da sociedade. Para tal, os serviços con-sultivos e de assistência técnica colocam umaespecial ênfase no detalhe dos aspectos jurídicos,técnicos e relativos aos direitos humanos na rea-lização de eleições democráticas. Estes elementosfundamentais são consagrados na constituição elegislação nacionais da maior parte dos Estados,assegurando que as eleições são realizadas emconformidade com os princípios do direito.Cobrem as diferentes questões examinadas infra.

a. Administração das eleições101. As disposições legislativas devem assegurar ainstituição de uma estrutura administrativa objec-tiva, imparcial, independente e eficaz. As dispo-sições em matéria de nomeação, remuneração,funções, poderes, qualificações e estrutura hie-rárquica do pessoal eleitoral devem desta forma seralvo de uma grande atenção. O pessoal a todos osníveis deve estar protegido contra as pressões polí-ticas, sendo conveniente estabelecer uma estrutura

única de responsabilidade de última instância. Istoreveste-se de importância, independentementedo tipo de administração escolhido. Assim, algunsEstados adoptarão uma estrutura hierárquica comum responsável pelas eleições no seu topo, enquantooutros optarão por uma comissão eleitoral querepresente os partidos de forma equitativa ou queseja dotada de uma neutralidade reconhecida, ouentão por uma combinação das duas.

102. Independentemente da estrutura adoptada,devem ser estabelecidas garantias jurídicas para pre-servar a administração eleitoral contra a corrupçãoe falta de imparcialidade. É imperativo que todosos agentes eleitorais recebam atempadamenteuma formação adequada. Todas as actividades elei-torais, incluindo o processo de tomada de decisões,o processo jurídico e a organização das diferentesmanifestações devem ser desenvolvidas de formatransparente.

b. Divisão das circunscrições eleitorais103. A delimitação das circunscrições eleitoraisdeve ser feita em conformidade com o princípiointernacional de igualdade do sufrágio e não deveter por objectivo enfraquecer ou depreciar os votosde um determinado grupo ou região.

104. Os processos regulares estabelecidos paraeste fim devem ter em conta diversos elementos:

Elementos comuns das leis e procedimentos eleitorais* 23

Elementos comuns das leis e procedimentos eleitorais

04*capítulo

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dados dos recenseamentos disponíveis, integri-dade territorial, repartição geográfica, topografia,etc. As assembleias de voto devem ser repartidasde forma a garantir a igualdade de acesso em cadacircunscrição.

c. Recenseamento dos eleitores105. Se estiver previsto o recenseamento dos elei-tores antes de se proceder à votação, este processodeve ser cuidadosamente elaborado para asse-gurar a equidade e eficácia das disposições emmatéria de condições de inscrição nos cadernos elei-torais, as exigências em matéria de residência, oscadernos e os recenseamentos, bem como osmeios previstos para contestar esta documenta-ção. Os cadernos eleitorais devem poder ser con-sultados por todas as partes interessadas. Se nãoestiver previsto um recenseamento antes da vota-ção, devem ser adoptadas outras medidas para evi-tar os duplos votos e o voto de pessoas que nãopreenchem as condições exigidas para votar (porexemplo, através da utilização de uma tinta inde-lével).

106. Os factores que proíbem a inscrição noscadernos eleitorais não devem constituir uma dis-criminação não autorizada e devem ser limitados,de forma a assegurar a admissão máxima razoávelde indivíduos no sufrágio. Os procedimentosdevem permitir uma participação alargada e nãodevem impedir a participação de pessoas quepreenchem as condições exigidas, através da impo-sição de obstáculos técnicos inúteis. Convém, porexemplo, autorizar a inscrição antecipada dosjovens que atingirão a maioridade eleitoral antes dodia das eleições, mas após o encerramento doscadernos eleitorais. O encerramento dos cadernosdeve dar-se o mais tarde possível, a fim de facilitarao máximo a inscrição de eleitores.

d. Nomeações, partidos e candidatos107. As leis e procedimentos eleitorais devemimpedir que os candidatos que tenham o apoio dogoverno beneficiem de uma vantagem injusta. Asdisposições relativas às condições a preencherpelos candidatos devem ser claras e não dar origema qualquer discriminação contra as mulheres ouum determinado grupo racial ou étnico. As deci-

sões de recusa de candidaturas devem poder ser alvode um reexame independente.

108. Os partidos políticos não devem enfrentarrestrições excessivas quando se trate da sua parti-cipação nas eleições ou da sua campanha eleitoral.Os nomes dos partidos e os seus logótipos devemser juridicamente protegidos. Os procedimentosrelativos à designação dos representantes partidá-rios, o momento e local das nomeações, bemcomo o financiamento da campanha eleitoraldevem ser claramente fixados pela lei. O calendá-rio eleitoral deve ainda prever um período detempo suficiente para a realização da campanha elei-toral ou de actividades de informação.

e. Voto, contagem e comunicação dos resultados109. Para assegurar o seu bom desenrolar, as elei-ções livres e regulares devem ser regulamentadasatravés de disposições detalhadas no que diz res-peito à forma dos boletins de voto, concepção dasurnas e cabines de voto, bem como à forma deescrutínio. Estas disposições devem evitar as prá-ticas fraudulentas e assegurar o respeito pelosegredo do escrutínio.

110. Os boletins de voto devem ser redigidos comuma clareza absoluta e ser idênticos em todas aslínguas. A forma dos boletins deve ter ainda emconta a diversidade dos níveis de instrução nopaís. Devem ser elaboradas regras relativas ao votopor procuração e por correspondência, com vistaa favorecer a mais ampla participação sem com-prometer a segurança eleitoral. Devem ser tidos emconsideração os eleitores com necessidades espe-ciais, nomeadamente aqueles que tenham umadeficiência, as pessoas idosas, os estudantes, ostrabalhadores (incluindo os emigrantes que seencontrem fora do país), o pessoal consular ediplomático e os detidos que tenham conservadoo seu direito de voto.

111. Cada assembleia de voto deve dispor dematerial de voto em quantidades suficientes. Osagentes destacados para o escrutínio têm neces-sidade de obter directivas claras para a admissãoe identificação dos eleitores habilitados a votar.

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As questões que podem ser colocadas aos eleitoresnos locais de voto devem ser expressamenteprevistas por lei para impedir qualquer tipo deintimidação, abuso de poder e discriminação.Devem existir regras que rejam a presença deobservadores.

112. As partes implicadas devem poder assistiroficialmente enquanto observadores na contagemdos votos. Todos os boletins distribuídos, não dis-tribuídos e alterados devem ser sistematicamentedescontados. Os procedimentos relativos à conta-gem de votos, verificação, comunicação dos resul-tados e conservação dos documentos oficiaisdevem ser seguros e equitativos. Devem ser pre-vistos procedimentos para um novo desconto, emcaso de contestação dos resultados. Finalmente, oestabelecimento de procedimentos de verificaçãodiferenciados e independentes, por exemplo umacontagem paralela de votos, pode consistir numbom meio de contribuir para assegurar a con-fiança da população nos resultados do voto e na suaaceitação dos mesmos.

f. Queixas, pedidos de invalidação e recursos113. A legislação deve prever a possibilidade decontestação dos resultados das eleições e de exi-gência de uma indemnização às partes lesadas.Deve também precisar o campo de aplicação dorecurso, dos passos a seguir para interpor umrecurso e os poderes do órgão judiciário indepen-dente com competência na matéria. Devem serigualmente descritos os diversos níveis possíveisde recurso.

114. Os efeitos de irregularidade no resultado daseleições devem estar previstos na lei. Qualquerpessoa que se queixe da recusa do reconhecimentodo seu direito ao voto ou a outros direitos políti-cos deve poder interpor um recurso perante umaautoridade independente e obter uma indemni-zação.

g. Respeito pelos direitos fundamentaisda pessoa humana115. As garantias relativas à liberdade de expres-são, opinião, informação, reunião, circulação e

associação adquirem uma maior importância emperíodo eleitoral. As eleições devem desenrolar-senum clima de respeito pelos direitos humanos eliberdades fundamentais e ser marcadas pelaausência de factores de intimidação.

116. Tanto as leis em vigor que sejam susceptíveisde desencorajar a participação política, como asleis de emergência ou outras disposições deexcepção que restrinjam os direitos fundamentaisdevem ser revogadas ou suspensas. Só podemser impostas as medidas excepcionais estrita-mente requeridas pelas exigências da situação, nãodevendo essas medidas ser destinadas a cor-romper ou retardar indevidamente o processopolítico.

117. O respeito por um grande número de direi-tos humanos enumerados na Declaração Uni-versal dos Direitos do Homem e nos PactosInternacionais sobre os Direitos Civis e Políticose sobre os Direitos Económicos, Sociais e Cultu-rais é essencial para a condução de eleições livrese regulares.

h. Infracções, sanções e manutenção da ordem118. A legislação eleitoral nacional deve igual-mente proteger o processo político contra a cor-rupção, o abuso de poder, a obstrução, o abuso deautoridade, a usurpação de estado civil, o peculato,a manipulação, a intimidação e todas as outrasformas de práticas ilegais e de corrupção. Os pro-cessos judiciais e as sanções devem respeitar as nor-mas internacionais de direitos humanos relativasà administração da justiça.

119. As decisões relativas à manutenção da paz eda ordem nos locais de voto devem ser tomadasconciliando a preocupação de segurança com oefeito de intimidação que a presença de forçaspoliciais, militares ou de segurança poderá exercer.Os funcionários eleitorais devem estar habilita-dos a manter a ordem nos locais de voto. A res-ponsabilidade civil e penal deve ser imposta emcasos de abuso de poder, negligência e condutasdolosas cometidas pelos funcionários encarreguesdas eleições.

Elementos comuns das leis e procedimentos eleitorais* 25

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i. Acesso aos meios de comunicação sociale regulamentação da sua actuação

120. As disposições que garantem um acessoequitativo aos meios de comunicação social porparte dos candidatos e dos partidos constituemum elemento importante da legislação eleitoral.Tal torna-se especialmente evidente nos casosem que os principais meios de informação sãocontrolados pelo Estado. As disposições queregem os meios de informação devem prevergarantias contra a censura política, contra aconcessão de vantagens injustas ao governoe contra a desigualdade de acesso aos meiosde comunicação social durante a campanhaeleitoral.

121. Um acesso equitativo aos meios de comuni-cação social supõe não só que existe uma igualdadeao nível do tempo e espaço atribuídos, mas tam-bém que seja prestada atenção aos horários dedifusão (por exemplo, a difusão num horário degrande audiência ou ao fim da noite), bem comoo destaque escolhido pelos jornais (por exemplo apublicação na primeira página ou numa página inte-rior). Uma utilização equitativa dos meios decomunicação social pressupõe a responsabilidadede todas as pessoas e partidos que divulgam men-sagens ou comunicam informações através dosmeios de comunicação social (querendo isto dizerque estes devem divulgar informações verídicas,fazer prova de profissionalismo e abster-se defazer promessas irrealistas e de suscitar falsasesperanças).

122. Um bom meio de assegurar uma difusãoequitativa e responsável em período de eleições con-siste em encarregar um órgão independente desupervisionar as emissões políticas, a difusão deprogramas de educação cívica e a atribuição detempo de antena aos diferentes partidos políticos,bem como receber queixas relativas ao acesso aosmeios de comunicação social, à equidade e à res-ponsabilidade e dar-lhes seguimento. Esta funçãopoderia ser assegurada por órgãos representati-vos de transição, pela administração eleitoral ou poruma comissão independente dos meios de comu-nicação social.

123. A adopção de um código de conduta dosmeios de comunicação social contribuiria paraassegurar que a difusão e publicação de mensa-gens eleitorais é feita de forma responsável. Umtal método de regulamentação dos meios deinformação (a saber, a auto-regulação) seria semdúvida preferível à adopção de medidas legisla-tivas ou administrativas, que correm o risco desuscitar a questão de uma censura ilegal e delimitar os direitos à liberdade de informação eexpressão.

j. Informação e educação dos eleitores124. É conveniente ainda prever o financiamentoe administração das campanhas de educação einformação objectivas e imparciais destinadas aoseleitores. Esta educação cívica é especialmenteimportante para as populações com pouca ounenhuma experiência de eleições democráticas.A população deve ser bem informada sobre o locale data das eleições, bem como sobre a forma devotar e saber porque é importante votar. A popu-lação deve ter confiança na integridade do pro-cesso eleitoral e estar segura do seu direito de neleparticipar.

125. A documentação deve ser amplamente divul-gada e publicada nas diversas línguas nacionais, afim de contribuir para a garantia de uma partici-pação efectiva de todos os elitores com direito devoto. Devem ser utilizados métodos destinados aproporcionar uma educação cívica eficaz a pessoascom níveis de instrução diferentes com o auxíliodos multimédia. As campanhas de educação doseleitores devem ser levadas a cabo no conjuntodo território do país, incluindo nas regiões ruraise isoladas.

k. Observação e verificação126. A legislação eleitoral deve prever procedi-mentos para a observação e verificação da prepa-ração das eleições, da votação e contagem dosvotos pelos representantes dos partidos políticose pelos candidatos. A presença de observadoresimparciais pertencentes a organizações não gover-namentais nacionais e organizações internacionaispode ainda contribuir para assegurar a confiançada população no processo eleitoral.

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127. A presença de observadores deve ser expres-samente autorizada pela legislação e pelos proce-dimentos eleitorais, devendo o seu papel serclaramente explicado em brochuras de informaçãodestinadas ao público. Os observadores – quereles sejam oriundos do sistema das Nações Unidas,de organizações intergovernamentais regionais,de organizações não governamentais ou pertençama missões oficiais de outros Estados – devembeneficiar de liberdade de circulação e de acessoe ser protegidos contra quaisquer ofensas e inge-rência nas suas funções oficiais.

128. É importante prever um número suficiente deobservadores para assegurar a sua presença numconjunto suficiente de locais de voto e numnúmero suficiente de manifestações eleitorais. Osobservadores serão ainda mais úteis se as suasactividades forem coordenadas de forma eficaz eindependente. Para que a sua participação sejaproveitosa, devem ainda estar presentes desde o iní-cio do processo, receber uma formação apropriadae estar a par da cultura local.

l. Textos jurídicos de base129. As disposições que garantem o direito fun-damental a eleições periódicas livres e regulares,que se desenrolem por sufrágio universal, igual enão discriminatório e através de escrutínio secreto,bem como o direito de ser eleito e de aceder às fun-ções públicas em condições de igualdade devem serenunciado na constituição ou noutra lei orgânicado Estado.

130. Os textos jurídicos de base relativos aos direi-tos à liberdade de expressão, opinião, informação,reunião e associação devem fazer igualmenteparte da lei suprema do país. A formulação dedisposições jurídicas deve ser clara, concisa e sufi-cientemente precisa para prevenir eventuais abu-

sos de poder, discriminações ou limitações aosdireitos de livre expressão e de plena participaçãonas eleições. Estes textos não devem ser sexistas,por forma a encorajar a participação das mulherese ser traduzidos nas línguas de todos os grupos deeleitores.

131. As disposições subsidiárias, incluindo asregulamentações e instruções administrativas cla-ras e detalhadas, devem ser igualmente adoptadase satisfazer estas condições gerais.

CONCLUSÃO

132. O presente guia não pretende de formaalguma constituir um repertório exaustivo dasdiferentes questões relativas às eleições, limi-tando-se antes a dar uma ideia dos elementosfundamentais que caracterizam as eleições demo-cráticas modernas e a complexidade da sua conduta.Os serviços consultivos e de assistência técnica daOrganização das Nações Unidas, nomeadamenteaqueles que são prestados pelo Centro para osDireitos do Homem, o PNUD e o Grupo de Assis-tência Eleitoral, bem como outras instituições dasNações Unidas, apoiam-se na experiência do pes-soal da Organização, nas recolhas de legislaçãoeleitoral proveniente de diversas jurisdições, em lis-tas de peritos e na rede de instituições e organi-zações não governamentais, destinadas a ajudar osGovernos a garantir, sob os aspectos jurídicos, téc-nicos e de direitos humanos, o direito fundamen-tal a eleições livres e regulares. Simultaneamente,e sabendo que os períodos eleitorais constituem fre-quentemente para os países uma ocasião únicapara se debruçarem sobre as questões mais vastasda democracia e direitos humanos, a Organiza-ção das Nações Unidas está disposta a fornecerajuda neste domínio.

Elementos comuns das leis e procedimentos eleitorais* 27

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Princípios internacionais em matéria de Direitos Humanos no contexto das eleições

Anexo I

Princípios internacionais em matéria de Direitos Humanos no contexto das eleições* 29

a. O Direito de participar na direcção dosassuntos públicos

1. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS

DO HOMEM

Artigo 21.o

1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte nadirecção dos negócios públicos do seu país, querdirectamente, quer por intermédio de represen-tantes livremente escolhidos.

2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em con-dições de igualdade, às funções públicas do seu país.

3. A vontade do povo é o fundamento da auto-ridade dos poderes públicos; e deve exprimir-se atra-vés de eleições honestas a realizar periodicamentepor sufrágio universal e igual, com voto secreto ousegundo processo equivalente que salvaguarde aliberdade de voto.

Artigo 2.o

Todos os seres humanos podem invocar os direi-tos e as liberdades proclamados na presente Decla-ração, sem distinção alguma, nomeadamente deraça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opi-nião política ou outra, de origem nacional ousocial, de fortuna, de nascimento ou de qualqueroutra situação.

Além disso, não será feita nenhuma distinção fun-dada no estatuto político, jurídico ou internacionaldo país ou do território da naturalidade da pessoa,seja esse país ou território independente, sobtutela, autónomo ou sujeito a alguma limitaçãode soberania.

2. PACTO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS

CIVIS E POLÍTICOS

Artigo 25.o

Todo o cidadão tem o direito e a possibilidade,sem nenhuma das discriminações referidas noartigo 2.o e sem restrições excessivas:

a) De tomar parte na direcção dos negóciospúblicos, directamente ou por intermédio derepresentantes livremente eleitos;b) De votar e ser eleito, em eleições periódicas,honestas, por sufrágio universal e igual e porescrutínio secreto, assegurando a livre expressãoda vontade dos eleitores;c) De aceder, em condições gerais de igualdade,às funções públicas do seu país.

Artigo 2.o

1. Cada Estado Parte no presente Pacto com-promete-se a respeitar e a garantir a todos os indi-víduos que se encontrem nos seus territórios eestejam sujeitos à sua jurisdição os direitos reco-

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nhecidos no presente Pacto, sem qualquer distin-ção, derivada, nomeadamente, de raça, de cor, desexo, de língua, de religião, de opinião política, oude qualquer outra opinião, de origem nacional ousocial, de propriedade ou de nascimento, ou deoutra situação.

2. Cada Estado Parte no presente Pacto com-promete-se a adoptar, de acordo com os seus pro-cessos constitucionais e com as disposições dopresente Pacto, as medidas que permitam a adop-ção de decisões de ordem legislativa ou outracapazes de dar efeito aos direitos reconhecidos nopresente Pacto que ainda não estiverem em vigor.

3. Cada Estado Parte no presente Pacto com-promete-se a:

a) Garantir que todas as pessoas cujos direitose liberdades reconhecidos no presente Pactoforem violados disponham de recurso eficaz,mesmo no caso de a violação ter sido cometida porpessoas agindo no exercício das suas funções ofi-ciais;b) Garantir que a competente autoridade judi-ciária, administrativa ou legislativa, ou qualqueroutra autoridade competente, segundo a legislaçãodo Estado, estatua sobre os direitos da pessoa queforma o recurso, e desenvolver as possibilidades derecurso jurisdicional;c) Garantir que as competentes autoridadesfaçam cumprir os resultados de qualquer recursoque for reconhecido como justificado.

b. Igualdade e Não Discriminação

1. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE

A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS

DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL

Artigo 5.o

De acordo com as obrigações fundamentais enun-ciadas no Artigo 2.o da presente Convenção, osEstados Partes obrigam-se a proibir e a eliminara discriminação racial, sob todas as suas formas, ea garantir o direito de cada um à igualdade perantea lei sem distinção de raça, de cor ou de origem

nacional ou étnica, nomeadamente no gozo dosseguintes direitos:[…]c) Direitos políticos, nomeadamente o direitode participar nas eleições de votar e de ser candi-dato por sufrágio universal e igual, direito detomar parte no Governo, assim como na direcçãodos assuntos públicos, em todos os escalões, edireito de aceder, em condições de igualdade, àsfunções públicas;[…]

2. CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO

DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO

CONTRA AS MULHERES

Artigo 7.o

Os Estados Partes tomam todas as medidas apro-priadas para eliminar a discriminação contra asmulheres na vida política e pública do país e, emparticular, asseguram-lhes, em condições de igual-dade com os homens, o direito:

a) De votar em todas as eleições e em todos osreferendos públicos e de ser elegíveis para todosos organismos publicamente eleitos;b) De tomar parte na formulação da política doEstado e na sua execução, de ocupar empregospúblicos e de exercer todos os cargos públicos atodos os níveis do governo;c) De participar nas organizações e associaçõesnão governamentais que se ocupem da vida públicae política do país.

3. CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS POLÍTICOS

DAS MULHERES

Artigo PrimeiroAs mulheres terão o direito de voto em todas as elei-ções, em condições de igualdade com os homense sem qualquer discriminação.

Artigo IIAs mulheres serão elegíveis para todos os orga-nismos publicamente eleitos, constituídos em vir-tude da legislação nacional, em condições deigualdade com os homens e sem qualquer discri-minação.

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Artigo IIIAs mulheres terão o mesmo direito que os homensa ocupar todos os lugares públicos e a exercertodas as funções públicas criados em virtude dalegislação nacional, em condições de igualdade esem qualquer discriminação.

c. O Direito à autodeterminação

1. CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS

Artigo 1.o

Os objectivos das Nações Unidas são:[…]

2) Desenvolver relações de amizade entre asnações baseadas no respeito do princípio da igual-dade de direitos e da autodeterminação dos povos,e tomar outras medidas apropriadas ao fortaleci-mento da paz universal;

3) Realizar a cooperação internacional, resol-vendo os problemas internacionais de caráctereconómico, social, cultural ou humanitário, pro-movendo e estimulando o respeito pelos direitosdo homem e pelas liberdades fundamentais paratodos, sem distinção de raça, sexo, língua oureligião;[…]

Artigo 73.o

Os membros das Nações Unidas que assumiramou assumam responsabilidades pela administra-ção de territórios cujos povos ainda não se gover-nem completamente a si mesmos reconhecem oprincípio do primado dos interesses dos habi-tantes desses territórios e aceitam, como missãosagrada, a obrigação de promover no mais altograu, dentro do sistema, de paz e segurançainternacionais estabelecido na presente Carta, obem-estar dos habitantes desses territórios, e,para tal fim:[…]

b) Promover seu governo próprio, ter na devidaconta as aspirações políticas dos povos e auxiliá--los no desenvolvimento progressivo das suas ins-

tituições políticas livres, de acordo com as cir-cunstâncias peculiares a cada território e seushabitantes, e os diferentes graus do seu adianta-mento;[..]

Artigo 76.o

As finalidades básicas do regime de tutela deacordo com os objectivos das Nações Unidas enu-merados no artigo 1 da presente Carta serão:[…]

b) Fomentar o programa político, económico esocial e educacional dos habitantes dos territóriossob tutela e o seu desenvolvimento progressivopara alcançar governo próprio ou independênciacomo mais convenha às circunstâncias particula-res de cada território e dos seus habitantes e aosdesejos livremente expressos dos povos interessadose como for previsto nos termos de cada acordo detutela;c) Encorajar o respeito pelos direitos do homeme pelas liberdades fundamentais para todos sem dis-tinção de raça, sexo, língua ou religião, e favorecero reconhecimento da interdependência de todos ospovos;[…]

2. DECLARAÇÃO SOBRE A CONCESSÃO

DA INDEPENDÊNCIA AOS PAÍSES E POVOS

COLONIAIS

Artigo 2.o

Todos os povos têm o direito à autodetermina-ção; em virtude deste direito, determinam livre-mente o seu estatuto político e prosseguemlivremente o seu desenvolvimento económico,social e cultural.

Artigo 5.o

Nos territórios sob tutela, territórios não autóno-mos e quaisquer outros territórios que ainda nãotenham acedido à independência serão adoptadasmedidas imediatas, para transferir todos os pode-res aos povos destes territórios, sem imposição dequalquer condição ou reserva, em conformidadecom a sua vontade e votos livremente expressos,

Princípios internacionais em matéria de Direitos Humanos no contexto das eleições* 31

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sem qualquer distinção de raça, credo, cor, a fimde lhes permitir gozarem uma independência eliberdade completas.

3. Pacto Internacional sobre os Direitos Civis ePolíticos e Pacto Internacional sobre os Direitos Eco-nómicos, Sociais e Culturais.

Artigo 1.o (comum aos dois Pactos)1. Todos os povos tem o direito a dispor delesmesmos. Em virtude deste direito, eles determinamlivremente o seu estatuto político e asseguramlivremente o seu desenvolvimento económico,social e cultural.[…]

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Projecto de princípios gerais sobre liberdade e não discriminação em matéria de direitos políticosa

Anexo II

Projecto de princípios gerais sobre liberdade e não discriminação em matéria de direitos políticos* 33

PREÂMBULO

Considerando que os povos domundo afirmaram na Carta dasNações Unidas a sua determi-nação em proclamarem nova-mente a sua fé nos direitosfundamentais da pessoa humana, na sua dignidadee valor, na igualdade de direitos dos homens e dasmulheres, assim como das das nações grandese pequenas, de promover o progresso social e deinstaurar melhores condições de vida dentro de umconceito mais amplo de liberdade,

Considerando que a Carta menciona, no elenco dosobjectivos das Nações Unidas, a necessidade depromover e estimular o respeito pelos direitos dohomem e pelas liberdades fundamentais paratodos, sem distinção de raça, sexo, língua oureligião,

Considerando que a Declaração Universal dosDireitos do Homem, que retoma e concretiza o prin-cípio da não discriminação, proclama que todospodem invocar os direitos e liberdades enunciadosna referida Declaração, sem distinção alguma,nomeadamente de opinião política e prevê quenão seja feita qualquer distinção com base no esta-tuto político, jurídico ou internacional do país outerritório da naturalidade da pessoa,

Considerando que os interesses da maioria são fre-quentemente descurados quando o poder políticose encontra nas mãos de uma minoria, o direito decada um participar na direcção dos assuntos públi-cos do seu país constitui uma condição indispen-sável para permitir a todos o gozo efectivo dosoutros direitos humanos, incluindo os direitoseconómicos, sociais e culturais,

Considerando que o exercício dos direitos políticosse encontra directamente ligado ao respeito pelaliberdade de opinião e expressão e pela liberdadede reunião e de associação pacífica,

Considerando que os referidos direitos só podem serefectivamente garantidos num mundo em que osprincípios da Carta, em particular o princípio daautodeterminação dos povos, e os princípios con-sagrados na Declaração sobre a Concessão daIndependência aos Países e Povos Coloniais con-tida na resolução 1514 (XV) da Assembleia Geral,de 14 de Dezembro de 1960, serão alvo de uma apli-cação plena,

Consequentemente, são proclamados os seguintesprincípios gerais para que seja reconhecido atodos o direito de participar na direcção dos assun-tos públicos do seu país, bem como os outrosdireitos políticos conexos, e para que seja evitadaa discriminação no gozo destes direitos:

a Anexo à resolução 1 (XIV)adoptada pela Sub-Comis-são de Luta contra as Medidas Discriminatórias e Protecção das Minorias,na sua décima-quarta ses-são, em 1962; vide o relatório da décima-quarta sessão (E/CN.4/830-E/CN.4/Sub.2/218), par. 159.

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1. DIREITO DE TODOS OS POVOS

À AUTODETERMINAÇÃO

Todos os povos têm direito à autodeterminação; emvirtude deste direito, determinam o seu estatutopolítico e prosseguem livremente o seu desenvol-vimento económico, social e cultural;

2. DIREITOS POLÍTICOS DOS NACIONAIS

DE UM PAÍS

a) Todos os nacionais de um país podem invocarnesse país a plenitude dos direitos políticos, iguaispara todos, sem qualquer distinção, nomeadamentede raça, cor, língua, religião, opinião política ouqualquer outra opinião, origem nacional ou social,fortuna, nascimento ou qualquer outra situação.b) A ninguém pode ser recusada uma naciona-lidade e ninguém pode ser privado de uma nacio-nalidade se essa medida for destinada a negar-lheou a privá-lo dos seus direitos políticos.c) As condições de idade, a duração da residên-cia e outras condições impostas pela lei no que dizrespeito ao exercício de um qualquer direito polí-tico devem ser as mesmas para todos os nacionaisde um país ou, quando tal for o caso, os habitan-tes de uma unidade política do país.

3. LIBERDADE DE OPINIÃO E DE ASSOCIAÇÃO

A liberdade de opinião e de expressão e a liberdadede reunião e de associação pacíficas são essen-ciais ao gozo dos direitos políticos. Estas liberda-des, bem como o acesso às facilidades e meiosnecessários ao seu exercício devem ser assegura-dos a todos a todo o momento.

4. UNIVERSALIDADE DO SUFRÁGIO

Todos os nacionais têm o direito de votar em todasas eleições nacionais, referendos ou plebiscitosorganizados no seu país, bem como em todas asconsultas populares da mesma natureza organi-zadas na unidade política ou administrativa doreferido país onde têm a sua residência. O direitode voto não deve ser subordinado à faculdade deler e escrever, ou a outras condições que se pren-dam com o nível de estudos.

5. IGUALDADE DO SUFRÁGIO

a) Todos os nacionais de um país têm, em condi-ções de igualdade, o direito de voto em todas as elei-

ções e outras consultas populares se preencherem ascondições exigidas; todos os votos têm igual valor.b) Quando se proceder à votação por circuns-crições, estas devem ser consultadas de maneiraequitativa que responda da forma mais exactae completa possível à vontade de todos os actores;c) Todas as eleições ou consultas populares leva-das a cabo por escrutínio secreto são feitas com basenuma lista eleitoral geral na qual são inscritostodos os nacionais que preencham as condiçõesnecessárias.

6. CARÁCTER SECRETO DO VOTO

a) Todos os eleitores devem poder votar em con-dições que lhes assegurem o carácter secreto do seuvoto ou das suas intenções.b) Nenhum eleitor poderá ser coagido, em tri-bunal ou noutro lugar, a dizer qual foi o sentidoou qual é a intenção do seu voto e ninguém devetentar obter, de maneira directa ou outra, infor-mações sobre a forma como votou ou quais asintenções de voto de um eleitor.

7. PERIODICIDADE DAS ELEIÇÕES

As eleições para todos os cargos públicos elegíveisrealizam-se a intervalos razoáveis, de forma a quea vontade do povo seja sempre o fundamento daautoridade pública.

8. HONESTIDADE NAS ELEIÇÕES

E OUTRAS CONSULTAS POPULARES

a) Todos os eleitores são livres de votar no can-didato ou na lista de candidatos da sua escolha emqualquer eleição para cargos públicos e não devemser coagidos a votar num determinado candidatoou numa lista de candidatos.b) Todos os eleitores são livres de votar a favorou contra uma proposta submetida a um plebiscito,referendo ou outra consulta popular.c) As eleições e outras consultas populares, bemcomo a preparação e revisão periódica das listas elei-torais são supervisionadas por autoridades cujaindependência e imparcialidade sejam asseguradase cujas decisões possam ser objecto de recursoperante uma autoridade judiciária ou qualqueroutra instância independente e imparcial.d) Devem ser assegurados a livre expressão daoposição política através de meios pacíficos, bem

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como a organização e o livre funcionamento dospartidos políticos e o direito de apresentar candi-datos às eleições.

9. ACESSO A CARGOS PÚBLICOS ELEGÍVEIS

a) Todos os nacionais são elegíveis em condiçõesde igualdade para qualquer cargo público elegívelno seu país ou em qualquer unidade política ouadministrativa do referido país no qual residam.b) É determinada por lei a forma como esta regraserá aplicada às pessoas cuja eleição possa acarre-tar um conflito entre os seus deveres ou interessespessoais e os interesses do conjunto da colectividade.

10. ACESSO A CARGOS PÚBLICOS NÃO ELEGÍVEIS

a) Todos os nacionais devem poder ser nomea-dos em condições de igualdade para qualquercargo público não elegível no seu país, ou em qual-quer unidade política ou administraiva do refe-rido país no qual residam.b) É determinada por lei a forma como estaregra se aplica às pessoas cuja nomeação ou afec-tação a um cargo público não elegível pode acar-retar um conflito entre os seus deveres ouinteresses pessoais e os interesses do conjunto dacolectividade.c) Todas as nomeações para um cargo de fun-cionário de carreira devem realizar-se em condiçõesde objectividade e imparcialidade.

11. MEDIDAS QUE NÃO DEVEM SER

CONSIDERADAS COMO DISCRIMINATÓRIAS

Não são consideradas como discriminatórias asmedidas legislativas ou regulamentares que visem:

a) As condições razoáveis a preencher para oexercício do direito de voto ou do direito de acedera cargos públicos elegíveis;b) As qualificações razoáveis exigidas para anomeação para um emprego público, decorrenteda natureza das funções;c) Um prazo razoável para o exercício de direi-tos políticos por parte de cidadãos naturalizados,sob condição de que as mesmas sejam acompa-nhadas de uma política liberal de naturalização;

d) Sob reserva de só permanecerem em vigordurante o período de tempo em que respondam auma necessidade e unicamente na medida em quesejam necessárias, as disposições especiais adop-tadas para assegurar:

i. a representação satisfatória de um grupo dapopulação de um país cujos membros nãopossam, por razões políticas, económicas,religiosas, sociais, históricas ou culturais, defacto, exercer os seus direitos políticos nasmesmas condições que o resto da população;ii a representação equilibrada dos diferen-tes grupos da população de um país.

12. LIMITAÇÕES

Os direitos e liberdades acima enunciados nãopodem, em caso algum, ser exercidos de forma con-trária aos objectivos e princípios das NaçõesUnidas e só devem ser submetidos às limitaçõesestabelecidas pela lei que tenham exclusivamenteem vista assegurar o reconhecimento e respeitopelos direitos e liberdades de terceiros e o bem--estar geral numa sociedade democrática. Qualquerlimitação que possa ser imposta deve ser compa-tível com os objectivos e princípios das NaçõesUnidas.

13. GARANTIA CONSTITUCIONAL

A melhor forma de garantir os direitos e liberda-des acima proclamados consiste em inscrevê-los naconstituição ou noutras leis fundamentais, asquais não possam ser revogadas ou modificadasatravés do processo legislativo ordinário.

14. RECURSO A TRIBUNAIS INDEPENDENTES

Qualquer negação ou violação destes direitos eliberdades poderá ser objecto de um recurso, porparte da pessoa ou pessoas lesadas, perante tri-bunais independentes e imparciais.

15. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS

Estes princípios serão aplicados a todos os paísesindependentes e aos países que se encontrem sobdomínio estrangeiro.

Projecto de princípios gerais sobre liberdade e não discriminação em matéria de direitos políticos* 35

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Reforço da eficácia do princípio da realizaçãode eleições periódicas e honestas:enquadramento para acções futurasa

Anexo III

Reforço da eficácia do princípio da realização de eleições periódicas e honestas: enquadramento para acções futuras* 37

1. A VONTADE POPULAR

EXPRESSA ATRAVÉS

DE ELEIÇÕES PERIÓDICAS

E HONESTAS COMO

FUNDAMENTO DA

AUTORIDADE DOS PODERES

POLÍTICOS

a) Sufrágio universal e igual.b) Direito de participar na direcção dos assuntospúblicos do seu país, quer directamente, quer atra-vés de representantes livremente escolhidos.c) Direito de aceder, em condições de igualdade,aos cargos públicos do seu país.d) Necessidade de um voto secreto ou que res-peite um procedimento equivalente e assegure aliberdade de voto, garantindo a livre expressão davontade dos eleitores.e) Importância do direito à liberdade de reuniãopacífica.f ) Importância do direito à liberdade de asso-ciação.g) Importância do direito à liberdade de opiniãoe expressão, incluindo o direito de procurar, rece-ber e difundir informações e ideias de toda a espé-cie, sob forma oral, escrita, impressa ou artística,ou através de qualquer outro meio.h) Direito dos nacionais de um Estado mudaremo seu sistema de governo através dos meios cons-titucionais apropriados.

2. ACTIVIDADES DOS CANDIDATOS A CARGOS

PÚBLICOS

a) Concessão a todos os cidadãos de iguais opor-tunidades de se tornarem candidatos,b) Direito dos candidatos fazerem valer os seuspontos de vista políticos, individualmente ou emcooperação com outros.

3. ASPECTOS OPERACIONAIS: INSTITUIÇÕES

NACIONAIS

As instituições nacionais deveriam garantir a uni-versalidade e igualdade do sufrágio, bem como aimparcialidade da administração. É necessárioassegurar, em particular, um controlo indepen-dente, uma inscrição apropriada dos eleitores,um escrutínio fiável e métodos de prevenção dafraude eleitoral e de regulamentação dos dife-rendos.

4. ACTIVIDADES DE COOPERAÇÃO

DA COMUNIDADE INTERNACIONAL

Pode acontecer que o país hóspede pretenda con-vidar observadores ou solicitar a prestação de ser-viços consultivos. Tanto num caso como noutro,ou mesmo em ambos, pode-se dirigir às organi-zações regionais ou aos organismos das NaçõesUnidas.

a Resolução 1989/51 da Comissão dos Direitos do Homem, de 7 de Marçode 1989, anexo (Documentos oficiais do Conselho Económico e Social, 1989, Suplemento n.o 2(E/1989/20), capítulo II,secção A).

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Disposições pertinentes de certos instrumentos regionais em matéria de Direitos Humanos

Anexo IV

Disposições pertinentes de certos instrumentos regionais em matéria de Direitos Humanos* 39

a. O direito de participar na direcção dosassuntos públicos

1. CARTA AFRICANA DOS DIREITOS DO HOMEM

E DOS POVOS

Artigo 13.o

1. Todos os cidadãos têm direito de participarlivremente na direcção dos assuntos públicosdo seu país, quer directamente, quer por inter-médio de representantes livremente escolhidos,isso, em conformidade com as regras prescritasna lei.

2. Todos os cidadãos têm igualmente direito deacesso às funções públicas do seu país.

3. Toda a pessoa tem direito de usar os bense serviços públicos em estrita igualdade de todosperante a lei.

2. CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS

HUMANOS

Artigo 23.o • Direitos políticos1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintesdireitos e oportunidades:

a) De participar na direcção dos assuntos públi-cos, directamente ou por meio de representanteslivremente eleitos;

b) De votar e ser eleito em eleições periódicasautênticas, realizadas por sufrágio universal eigual e por voto secreto que garanta a livre expres-são da vontade dos eleitos; ec) De ter acesso, em condições gerais de igual-dade, às funções públicas do seu país.

2. A lei regular o exercício dos direitos e oportu-nidades a que se refere o inciso anterior, exclusiva-mente por motivo da idade, nacionalidade, residência,idioma, instrução, capacidade civil ou mental, ou con-denação, por juiz competente, em processo penal.

3. PROTOCOLO N.O 1

À CONVENÇÃO EUROPEIA

DOS DIREITOS DO HOMEMa

Artigo 3.o

As Altas Partes Contratantes obrigam-se a organizar,com intervalos razoáveis, eleições livres, por escrutíniosecreto, em condições que assegurem a livre expressãoda opinião do povo na eleição do órgão legislativo.

b. Igualdade e não discriminação

1. CARTA AFRICANA DOS DIREITOS DO HOMEM

E DOS POVOS

Artigo 2.o

Toda a pessoa tem direito ao gozo dos direitose liberdades reconhecidos e garantidos na pre-

a Convenção para a Protecção dos Direitos doHomem e das Liberdades Fundamentais.

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sente Carta, sem nenhuma distinção, nomea-damente de raça, de etnia, de cor, de sexo, delíngua, de religião, de opinião política ou dequalquer outra opinião, de origem nacional ousocial, de fortuna, de nascimento ou de qual-quer outra situação.

Artigo 3.o

1. Todas as pessoas beneficiam de uma totaligualdade perante a lei.

2. Todas as pessoas têm direito a uma igual pro-tecção da lei.

2. CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS

HUMANOS

Artigo 1.o • Obrigação de respeitar os direitos1. Os Estados Partes nesta Convenção com-prometem-se a respeitar os direitos e liberda-des nela reconhecidos e a garantir o seu livree pleno exercício a toda a pessoa que estejasujeita à sua jurisdição, sem discriminaçãoalguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, reli-gião, opiniões políticas ou de qualquer outranatureza, origem nacional ou social, posiçãoeconómica, nascimento ou qualquer outra con-dição social.

2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa étodo o ser humano.

Artigo 24.o • Igualdade perante a leiTodas as pessoas são iguais perante a lei. Por con-seguinte, têm direito, sem discriminação, a igualprotecção da lei.

3. CONVENÇÃO EUROPEIA DOS DIREITOS

DO HOMEMa

Artigo 14.o

O gozo dos direitos e liberdades reconhecidos napresente Convenção deve ser assegurado semquaisquer distinções, tais como as fundadas nosexo, raça, cor, língua, religião, opiniões políticasou outras, a origem nacional ou social, a pertençaa uma minoria nacional, a riqueza, o nascimentoou qualquer outra situação.

c. O Direito à Autodeterminação

CARTA AFRICANA DOS DIREITOS DO HOMEM

E DOS POVOS

Artigo 19.o

Todos os povos são iguais; gozam da mesma dig-nidade e têm os mesmos direitos. Nada pode jus-tificar a dominação de um povo por outro.

Artigo 20.o

1. Todo o povo tem direito à existência. Todo o povotem um direito imprescritível e inalienável à autode-terminação. Ele determina livremente o seu estatutopolítico e assegura o seu desenvolvimento económicoe social segundo a via que livremente escolheu.

2. Os povos colonizados ou oprimidos têm odireito de se libertar do seu estado de dominaçãorecorrendo a todos os meios reconhecidos pelaComunidade Internacional.

3. Todos os povos têm direito à assistência dosEstados Partes na presente Carta, na sua luta delibertação contra a dominação estrangeira, queresta seja de ordem política, económica ou cultural.

40 *Direitos Humanos e Eleições • Série de Formação Profissional n.º 02 [ACNUDH]

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Editor

Comissão Nacional para as Comemorações do 50.o Aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem e Década das Nações Unidas

para a Educação em matéria de Direitos Humanos

Gabinete de Documentação e Direito Comparado Procuradoria-Geral da República

Rua do Vale de Pereiro, 2, 1269-113 Lisboawww.gddc.pt

Tradução

Catarina AlbuquerqueGabinete de Documentação e Direito Comparado

Procuradoria-Geral da República

Revisão

Carlos LacerdaGabinete de Documentação e Direito Comparado

Procuradoria-Geral da República

Título original

Droits de l’homme et élections. Guide des élections: aspects juridiques,techniques et relatifs aux droits de l’homme.

Série de formation professionnelle n.o 2 – Nations Unies.

Design gráfico

José Brandão | Paulo Falardo[Atelier B2]

Impressão

Textype

Tiragem

1500 exemplares

isbn

972-8707-08-8

Depósito legal

183 634/02

Primeira edição

Julho de 2002

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Procuradoria-Geral da RepúblicaGabinete de Documentação

e Direito Comparado