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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS
ESCOLA DE ENGENHARIA CIVIL
FRANCE SILVA NASCIMENTO
DIRETRIZES PARA A CONCEPO DE SISTEMAS DE RESO DE
GUA EM EDIFICAES
Goinia
2007
Livros Grtis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grtis para download.
ii
FRANCE SILVA NASCIMENTO
DIRETRIZES PARA A CONCEPO DE SISTEMAS DE RESO DE
GUA EM EDIFICAES
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia do Meio Ambiente da Escola de Engenharia Civil da Universidade Federal de Gois para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia do Meio Ambiente. rea de concentrao: Saneamento Ambiental e Recursos Hdricos.
Orientador: Prof. Jos Vicente Granato de Arajo, Ph.D. Co-orientadora: Profa. Dra. Lcia Helena de Oliveira
Goinia
2007
Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)
(GPT/BC/UFG)
Nascimento, France Silva.
N244d Diretrizes para a concepo de sistemas de reso
de gua em edificaes / France Silva Nascimento.
Goinia, 2007.
xvi,119f. : il., color., figs., qds., tabs.
Orientador: Jos Vicente Granato de Arajo, Co- Orientadora: Lcia Helena de Oliveira.
Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de Gois, Escola de Engenharia Civil, 2007.
Bibliografia: f.86-90. Inclui listas de figuras, quadros, tabelas e de abreviaturas e siglas. Anexos.
1. gua Reutilizao Edificaes Concepo
2. gua Conservao 3. gua Alternativa 4. Ins- talaes hidrulicas e sanitrias I. Arajo, Jos Vi- cente Granato de II. Oliveira, Lcia Helena de III. Universidade Federal de Gois, Escola de Engenha- ria Civil IV. Titulo.
CDU: 644.6
iii
FRANCE SILVA NASCIMENTO
DIRETRIZES PARA A CONCEPO DE SISTEMAS DE RESO DE
GUA EM EDIFICAES
Dissertao defendida e aprovada em 29 de maro de 2007, pela Banca Examinadora
constituda pelos seguintes professores:
__________________________________________
Prof. Jos Vicente Granato de Arajo, Ph.D. UFG Orientador
__________________________________________
Prof. Dr. Andr Luiz Bortolacci Geyer UFG Examinador Interno
__________________________________________
Prof. Dr. Simar Vieira de Amorim UFSCar Examinador Externo
iv
Aos meus pais, Raimundo Moreira Nascimento e Maria de Lourdes Nascimento, incentivadores, exemplos e guias na descoberta do prazer da leitura e da pesquisa,
ao marido, Reinaldo Gonalves de Arajo,
aos meus queridos filhos, Lucas e Leandro.
v
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ser a fortaleza de minha vida nos momentos difceis.
Ao meu amigo e orientador Prof. Jos Vicente Granato de Arajo, Ph.D. pela
oportunidade da realizao de um grande sonho.
Profa. Dra. Lcia Helena de Oliveira, pela inestimvel sabedoria e companheirismo.
Ao Engenheiro Flvio Eduardo Rios, pelo apoio e fornecimento de dados valiosos
para o desenvolvimento deste trabalho.
Companhia de Saneamento do Estado de Gois
SANEAGO pela realizao das
anlises da gua de reso.
empresa de tubosistemas, Amanco Brasil S.A., pela doao de materiais para
montagem do sistema predial de reso de gua.
todos os funcionrios da Faculdade de Farmcia da UFG pela ateno e apoio na
realizao deste trabalho.
equipe do CEGEF por todo apoio no fornecimento de mo-de-obra e materiais, a
fim de possibilitar a execuo do sistema de reso de gua nas instalaes da Faculdade de
Farmcia da UFG.
Ao Curso de Mestrado em Engenharia do Meio Ambiente pelo apoio e credibilidade.
E a todos os amigos que me apoiaram fazendo com que os momentos de dificuldades
fossem superados, em particular colega Tnia, ao colega Ricardo Prado pelo grande apoio
na construo da minha dissertao, e a vrios outros que muito contriburam para o xito
deste trabalho.
vi
RESUMO
A gua, como bem essencial vida, deve ser adequadamente usada e reusada para dela auferir-se o mximo benefcio. Neste trabalho, estuda-se a utilizao dos sistemas de reso de gua no mbito dos sistemas prediais hidrulicos e sanitrios. O objetivo geral contribuir para a sustentabilidade das edificaes, por meio de aes de conservao da gua ampliando a oferta com o uso de gua de fontes alternativas. O objetivo especfico apresentar diretrizes para concepo, execuo, uso e manuteno desses sistemas, atendendo principalmente aos requisitos de segurana, de forma a evitar a contaminao da gua. A metodologia utilizada constou de trs etapas. Na primeira, levantou-se os diversos tipos de sistemas de reso de gua e os processos de tratamento utilizados para proporcionar uma escolha segura e econmica do sistema de reso a ser adotado. Na segunda etapa, realizou-se inicialmente um levantamento de dados mediante entrevistas com os projetistas e empreendedores para identificao de sistemas de reso de gua em mbito regional, seguido da pesquisa de campo, com visitas s edificaes que possuem sistemas implantados e em execuo, para verificar o desempenho do sistema e o grau de satisfao dos usurios. Finalmente, foi realizado um estudo de caso com a implantao de sistema de reso direto de efluentes dos equipamentos dos laboratrios da Faculdade de Farmcia da UFG, motivado pela qualidade e quantidade dos efluentes previamente avaliadas. Na terceira etapa foram elaboradas as diretrizes para a implantao de sistemas de reso em edificaes. Os resultados obtidos com esta pesquisa evidenciaram a necessidade da caracterizao criteriosa da gua de reso em funo da atividade-fim; da quantificao da demanda; da avaliao da oferta; e do treinamento da mo-de-obra para manter e operar o sistema. Os resultados indicaram ainda como diretrizes de projeto a utilizao das tubulaes, peas e conexes hidrulicas em cores e dimetros diferenciados; o cuidado para evitar contato da gua de reso com a gua potvel no reservatrio, alm da instalao de placas de alerta e controle da qualidade da gua. Os resultados deste trabalho serviro para subsidiar a implantao de sistemas de reso de gua em outras unidades acadmicas de mesma tipologia bem como contribuir para a normatizao de sistemas de reso no Brasil.
Palavras-chave: reso de gua; fontes alternativas de gua; conservao da gua.
vii
ABSTRACT
Water, as something essential for life, must be used and reused properly to maximize its benefits. This study focuses the water reuse in water supply system for domestic and academic facilities. The general objective is to contribute to the sustainability of buildings by means of water conservation practices which increase its availability by using alternative water sources. The specific objective of this work is to present guidelines for conception, execution, use and maintenance of these systems, to meet safety requirements in order to prevent water contamination. The methodology applied consisted of three steps. First, it was identified the various types of water reuse systems and discussed the available treatment processes to ensure a secure and economic choice of the system to be adopted. Second, professional project designers and constructors were interviewed to collect data to identify how the water reuse systems have being implementing in the region. At this time field research were conducted by visiting buildings where these systems are used and under construction in order to verify their performance and to evaluate user's satisfaction. Also a case study of direct reuse of water effluents was implanted in the laboratories of the Pharmacy School of the Federal University of Gois, motivated by the quality and quantity of the effluents previously identified. As a third step of the methodology, a series of devising guidelines for water reuse systems in buildings were proposed. Results of this research stresses the need to: perform a detailed characterization of the water to be reused according to its purpose; supply evaluation demand; qualify workmanship to maintain and operate the system; use different colors and diameters of piping and hydraulic connections; avoid contact between reusable and potable water in the storage tanks; set alert signs; and perform water quality control. The results of this study can subsidize the implantation of water reuse systems in other university schools of the same kind, as well as contribute to the regulation of water reuse systems in Brazil.
Key words: water reuse, alternative water sources, water conservation.
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 Reso indireto no planejado de gua ..................................................... 7
Figura 2.2 Reso indireto planejado de gua ............................................................ 7
Figura 2.3 Reso direto planejado de gua ............................................................... 8
Figura 2.4 Bacia sanitria com utilizao direta do efluente do lavatrio na
descarga ................................................................................................... 9
Figura 2.5 Sistema predial de reso de gua no potvel ......................................... 10
Figura 2.6(a) Vlvula de reteno dupla (Double Check DC).................................... 13
Figura 2.6(b) Esquema do reservatrio de gua de reso .............................................. 13
Figura 2.7 Exemplo de aviso de gua recuperada nos EUA ..................................... 15
Figura 2.8 Esquema da combinao de wetlands construdas, plantas aquticas e
filtros de areia para recuperao de efluente domstico e reso de gua 23
Figura 2.9 Corte transversal da clula 1 combinando wetland de fluxo vertical e
filtro de areia ............................................................................................ 23
Figura 2.10 Forma incorreta de execuo do sistema. Contato direto da tubulao
de gua potvel com a gua no potvel (conexo cruzada) ................... 25
Figura 2.11 Esquema de sistema de tratamento de efluente domstico ...................... 27
Figura 2.12 Sistema RTK da Acquabrasilis ................................................................ 32
Figura 2.13 Desenho esquemtico do sistema de tratamento RTK............................. 33
Figura 2.14 Sistema de tratamento das guas cinzas .................................................. 33
Figura 2.15 Sistema de tratamento da gua de chuva ................................................. 34
Figura 2.16 Taboas vegetao nativa de terrenos alagadios................................... 35
Figura 2.17 Corte transversal do sistema de escoamento subsuperficial (SFS).......... 36
Figura 3.1 Fluxograma da metodologia para elaborao de diretrizes para a
concepo de sistemas de reso de gua em edificaes........................ 50
Figura 4.1 Localizao da bomba de recalque, no jardim ao lado da rea das
piscinas..................................................................................................... 55
Figura 4.2 Esquema de tratamento de efluentes por valas de infiltrao ou
septodifusores .......................................................................................... 55
ix
Figura 4.3 Vista geral do sistema de tratamento de esgoto tipo ROTOGINE
construdo no Clube Nutico de Caldas Novas ....................................... 56
Figura 4.4 Etapas do sistema zona de razes .......................................................... 58
Figura 4.5(a) Sistema de zona de razes implantado no jardim da Fundao Pr-
Cerrado- Goinia...................................................................................... 58
Figura 4.5(b) Lrio do Brejo
espcie de planta aqutica utilizada no sistema zona
de razes .................................................................................................. 58
Figura 4.6(a) Vista do campo de futebol do Campus da UCG...................................... 60
Figura 4.6(b) Bacia sanitria do vestirio feminino....................................................... 60
Figura 4.7 Desenho esquemtico de localizao do Centro Internacional de
Neurocincias e Reabilitao................................................................... 61
Figura 4.8 Unidades do sistema de tratamento implantado....................................... 62
Figura 4.9 Fluxograma da estao de tratamento avanado de guas residurias
do CINR................................................................................................... 63
Figura 4.10 Registro de entrada da gua potvel (Rede de gua externa da
concessionria CAESB) e caixa de entrada da mesma tubulao. Topo
do reservatrio de efluente tratado no1 .................................................... 64
Figura 4.11 Entrada de gua potvel (opcional, normalmente utilizada quando a
cor e/ou cheiro do efluente no esto bons para o uso nas bacias
sanitrias) ................................................................................................. 64
Figura 4.12 rea de jardim e bacia sanitria, ambos com utilizao de efluente
tratado e sem alerta ao usurio da fonte de abastecimento
CINR da
Rede Sarah ............................................................................................... 64
Figura 5.1 Percentual referente quantidade de cada tipo de equipamento
destilador de gua da Faculdade de Farmcia, cujo efluente pode ser
reutilizado ................................................................................................ 65
Figura 5.2 Fotos do destilador do laboratrio de Bioqumica com a respectiva
vazo de descarte do efluente .................................................................. 70
Figura 5.3 Fotos do destilador de protenas do laboratrio de Fsico-qumica de
alimentos com a respectiva vazo de descarte do efluente ...................... 70
Figura 5.4 Foto da central de destilao do 2o pavimento ........................................ 75
Figura 5.4(b) Representao esquemtica do sistema de reso implantado .................. 75
Figura 5.5 Horta antes da implantao do sistema de reso ..................................... 75
Figura 5.6 Horta aps a implantao do sistema de reso ........................................ 75
x
Figura 5.7(a) Placa de alerta ao usurio da gua de reso. Torneira de
limpeza/jardim ......................................................................................... 76
Figura 5.7(b) Placa de alerta ao usurio. Sistema de irrigao...................................... 76
Figura 5.7(c) Placa de alerta ao usurio junto do reservatrio de gua de reso........... 76
Figura 5.8 Variao de temperatura .......................................................................... 77
Figura 5.9 Tubulao de coleta da gua de reso ..................................................... 78
Figura 5.10 Sistema de irrigao da horta medicinal .................................................. 78
xi
LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1 Descrio dos tipos de tratamento para reso de gua e gua
recuperada................................................................................................ 11
Quadro 2.2 Distribuio de consumo de gua em residncias unifamiliares de
interesse social em Goinia...................................................................... 13
Quadro 2.3 Classificao e parmetros do efluente conforme o tipo de reso........... 20
Quadro 2.4 Exigncias mnimas de qualidade da gua no-potvel em edifcios ...... 38
Quadro 2.5 Caractersticas fsicas, qumicas e bacteriolgicas das guas cinzas
originadas em banheiros brasileiros......................................................... 43
Quadro 2.6 Caractersticas fsicas, qumicas e bacteriolgicas da gua cinza
originada em edifcio residencial ............................................................. 44
Quadro 2.7 Parmetros de qualidade da gua de reso fornecida por uma
concessionria de gua do Estado de So Paulo...................................... 45
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 5.1 Potencial de gua descartada dos equipamentos dos Laboratrios da
Faculdade de Farmcia - UFG. Levantamento preliminar referente ao
ano de 2005.............................................................................................. 66
Tabela 5.2 Consumo mensal de gua nas Faculdades de Farmcia e Odontologia
da UFG em 2005...................................................................................... 67
Tabela 5.3 Potencial de gua descartada dos equipamentos dos Laboratrios da
Faculdade de Farmcia - UFG. Referncia ano 2006, antes do sistema
implantado ............................................................................................... 69
Tabela 5.4 Consumo mensal de gua nas Faculdades de Farmcia e Odontologia
da UFG em 2006...................................................................................... 69
Tabela 5.5 Resultado das anlises fsico-qumica e bacteriolgica da gua para
reso descartada dos destiladores ............................................................ 72
Tabela 5.6 Potencial de gua descartada dos equipamentos dos Laboratrios da
Faculdade de Farmcia - UFG. Referncia ms de setembro/2006,
aps sistema implantado .......................................................................... 74
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABES Associao Brasileira de Engenharia Sanitria e Ambiental
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas
CAESB Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal
CINR Centro Internacional de Neurocincias e Reabilitao da Rede Sarah
CNRH Conselho Nacional de Recursos Hdricos
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
COT Carbono Orgnico Total
CTCT Cmara Tcnica de Cincia e Tecnologia
DBO Demanda Bioqumica de Oxignio
DQO Demanda Qumica de Oxignio
ETA Estao de Tratamento de gua
ETE Estao de Tratamento de Esgoto
EUA Estados Unidos da Amrica
Fiesp Federao das Indstrias do Estado de So Paulo
FWS Sistema de Superfcie Livre da gua
GT-Reso Grupo de Trabalho sobre Reso de gua
IC Indicador de consumo
IR Impacto de reduo
LabCau Laboratrio Casa Autnoma de Arquitetura Sustentvel
NBR Norma Brasileira Regulamentada
SANEAGO Saneamento de Gois S/A
SCC Superintendncia de Cobrana e Conservao
SFS Sistema de Escoamento Subsuperficial
SINDUSCON-GO Sindicato da Indstria da Construo no Estado de Gois
SST Slidos Suspensos Totais
UFG Universidade Federal de Gois
UnB Universidade de Braslia
USEPA Environmental Protection Agency of USA
UV Ultravioleta
WHO World Health Organization
xiv
SUMRIO
1 INTRODUO............................................................................................... 1
1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 3
1.2 OBJETIVOS . ................................................................................................... 3
2 SISTEMAS DE RESO DE GUA.............................................................. 5
2.1 CONCEITUAO........................................................................................... 5
2.2 TIPOS DE SISTEMAS..................................................................................... 6
2.3 ELEMENTOS E COMPONENTES DO SISTEMA DE RESO DE GUA............................................................................................................... 10
2.3.1 Sistema de coleta de gua de reso................................................................ 10
2.3.2 Sistema de tratamento de gua de reso ...................................................... 11
2.3.3 Sistema de reservao de gua de reso ....................................................... 12
2.3.4 Sistema de distribuio de gua de reso ..................................................... 13
2.4 EVOLUO HISTRICA .............................................................................. 15
2.5 LEGISLAO SOBRE O RESO DE GUA NO BRASIL......................... 18
2.6 EXPERINCIAS SOBRE RESO EM SISTEMAS PREDIAIS.................... 21
2.6.1 Experincias internacionais ........................................................................... 21
2.6.2 Experincias nacionais ................................................................................... 27
2.7 ALTERNATIVAS TECNOLGICAS DE TRATAMENTO PARA EFLUENTES .................................................................................................... 30
2.7.1 Sistema RTK ................................................................................................... 31
2.7.2 Reso combinado de guas cinzas e gua de chuva..................................... 33
2.7.3 Sistema zona de razes ................................................................................ 34
2.8 QUALIDADE DA GUA DE RESO ........................................................... 36
2.8.1 Caractersticas das guas residurias .......................................................... 36
2.8.2 Controle da qualidade da gua de reso ...................................................... 37
2.9 FONTES ALTERNATIVAS DA GUA DE RESO .................................... 42
2.9.1 gua cinza ....................................................................................................... 43
2.9.2 Fornecimento de gua de reso ..................................................................... 45
2.10 REQUISITOS DE DESEMPENHO DO SISTEMA DE RESO DE GUA. 46
2.10.1 Requisitos de desempenho relacionados com a utilizao do sistema de reso de gua ................................................................................................... 47
2.10.1.1 Requisitos de desempenho do sistema de suprimento de gua de reso .......... 47
xv
2.10.1.2 Requisitos de desempenho do sistema de coleta de gua de reso................... 47
2.10.1.3 Requisitos de desempenho relacionados com as condies de exposio do sistema de gua de reso................................................................................... 48
3 METODOLOGIA DA PESQUISA ............................................................... 50
3.1 ENTREVISTAS................................................................................................ 51
3.2 PESQUISA DE CAMPO.................................................................................. 51
3.3 ESTUDO DE CASO: FACULDADE DE FARMCIA DA UFG .................. 52
4 COLETA DE DADOS .................................................................................... 54
4.1 CLUBE NUTICO .......................................................................................... 54
4.2 CAMPUS II UNIVERSIDADE CATLICA DE GOIS............................ 57
4.3 CINR BRASLIA-DF .................................................................................... 60
5 ESTUDO DE CASO - FACULDADE DE FARMCIA DA UFG ............. 65
5.1 ANLISE DOS PARMETROS FSICO-QUMICOS.................................. 73
5.2 ANLISE DOS PARMETROS BACTERIOLGICOS - COLIFORMES FECAIS E COLIFORMES TOTAIS................................................................ 73
5.3 ANLISE DO VOLUME DESCARTADO APS SISTEMA IMPLANTADO ................................................................................................ 73
6 RESULTADOS ............................................................................................... 79
6.1 DIRETRIZES PARA CONCEPO............................................................... 80
6.1.1 Caracterizao da gua de reso de acordo com a atividade-fim .............. 80
6.1.2 Quantificao da demanda de gua .............................................................. 81
6.1.3 Avaliao da oferta ......................................................................................... 81
6.1.4 Escolha do tipo de tratamento da gua a ser reutilizada ............................ 82
6.1.5 Elaborao do projeto de sistema de reso de gua .................................... 82
6.2 DIRETRIZES PARA EXECUO, MANUTENO E CONTROLE DO SISTEMA ......................................................................................................... 82
6.2.1 Treinamento de mo-de-obra ........................................................................ 82
6.2.2 Instalao de placas de alerta ao usurio ..................................................... 83
6.2.3 Controle de qualidade da gua ...................................................................... 83
7 CONSIDERAES FINAIS E RECOMENDAES ............................... 84
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................................... 86
ANEXOS
ANEXO I
CLASSIFICAO DOS CORPOS DE GUA EM FUNO DOS USOS PREPONDERANTES - RESOLUO CONAMA No
57/2005 91
ANEXO II - RESOLUO No 54/2005 CNRH ........................................... 93
ANEXO III PADRES DE QUALIDADE DA GUA PARA RESO ..... 98
xvi
ANEXO IV
PARMETROS DE CARACTERIZAO DOS
EFLUENTES DOMSTICOS.......................................................................... 102
ANEXO V
ROTEIRO PARA LEVANTAMENTO DE DADOS DAS
EDIFICAES COM O SISTEMA DE RESO............................................ 106
ANEXO VI
PLANILHA DE COLETA DOS DADOS DA
FREQNCIA DE UTILIZAO DOS DESTILADORES.......................... 109
ANEXO VII - PROJETO DO SISTEMA DE RESO DE GUA DA FACULDADE DE FARMCIA...................................................................... 111
ANEXO VIII
ANLISES FSICO-QUMICAS E BACTERIOLGICAS DA GUA ........................................................................................................ 114
ANEXO IX
PLANILHA DE CLCULO DO SISTEMA DE RESO DE GUA............................................................................................................... 119
1 INTRODUO
A gua um insumo essencial maioria das atividades econmicas e uma gesto
adequada de suma importncia para a manuteno de sua oferta em termos de quantidade e
qualidade. Aparentemente, os recursos hdricos no Brasil so abundantes, pois 12% das guas
doces do planeta e 53% do continente sul-americano esto em seu territrio. No entanto, a
distribuio dessas guas irregular nas diferentes regies do Pas, como ocorre tambm nas
maiores potncias mundiais que demandam gua em quantidade e qualidade cada dia maiores
(REBOUAS, 2002).
Com base na disponibilidade de menos de 1000 m de gua renovvel por pessoa/ano,
existem projees que antecipam a escassez progressiva de gua em diversos pases do
mundo, no perodo de 1955-2025 (MANCUSO; SANTOS, 2003).
Pelo fato dos mananciais superficiais estarem a cada dia mais poludos, este acarreta o
aumento dos custos de produo de gua de boa qualidade, limitando o seu uso para o
consumo humano. Com a degradao dos mananciais de superfcie, a tendncia a tentativa
cada vez mais freqente da utilizao das guas subterrneas para abastecimento pblico,
causando em muitas situaes a depleo desta importante reserva estratgica.
O setor da construo civil, por exemplo, como importante usurio de gua, ter que
adotar prticas de uso racional e eficiente da gua, de sorte a garantir seu prprio
desenvolvimento de forma sustentvel, permitindo novos investimentos, expandindo-se e
garantindo renda e emprego.
A otimizao do consumo de gua nas edificaes, a partir de medidas para evitar o
desperdcio por meio de aes de conservao da gua, consiste em uma contribuio para o
desenvolvimento sustentvel da edificao.
As guas alternativas so as fontes mais plausveis para satisfazerem as demandas
menos restritivas, liberando as guas de melhor qualidade para usos mais nobres, como
abastecimento domstico e consumo humano.
Segundo Hespanhol (2002): "as guas de qualidade inferior, tais como esgotos,
particularmente os de origem domstica, guas de drenagem agrcola e guas salobras devem,
sempre que possvel, ser consideradas como fontes alternativas para usos menos restritivos".
Nota-se uma preocupao em nvel mundial com o problema, buscando solues para
essa questo. Em conferncias, debates, dissertaes de mestrado e teses de doutorado tm-se
2
apresentado contribuies para o desenvolvimento de tecnologias compatveis com o reso de
gua em atividades industriais, urbanas e rurais.
As universidades brasileiras, os rgos pblicos sanitrios e ambientais, as associaes
de sade e saneamento e especialmente a Associao Brasileira de Engenharia Sanitria e
Ambiental - ABES tm-se preocupado com o problema, discutindo-o em seus encontros e
congressos cientficos e buscando parmetros para melhor conceituao tcnica e tecnolgica
dos aspectos relacionados ao reso da gua nas reas de saneamento, recursos hdricos e meio
ambiente.
No Brasil, a prtica do uso de esgotos - principalmente para a irrigao de hortalias e
de algumas culturas forrageiras - de certa forma difundida. Entretanto, constitui-se em um
procedimento no institucionalizado e tem se desenvolvido at agora sem nenhuma forma de
planejamento ou controle. Na maioria das vezes totalmente inconsciente por parte do
usurio, que utiliza guas altamente poludas de crregos e rios adjacentes para irrigao de
hortalias e outros vegetais, ignorando que esteja exercendo uma prtica danosa sade
pblica dos usurios e provocando impactos ambientais negativos. Em termos de reso
industrial, a prtica comea a se implementar, mas ainda associada a iniciativas isoladas, a
maioria das quais, dentro do setor privado.
A lei no
9.433 de 8 de janeiro de 1997, em seu Captulo II, Artigo 2o, Inciso 1,
estabelece: a necessidade de assegurar atual e s futuras geraes a necessria
disponibilidade de gua, em padres de qualidade adequados aos respectivos usos , como um
dos objetivos da Poltica Nacional de Recursos Hdricos. Verificou-se, por intermdio dos
Planos Diretores de Recursos Hdricos de bacias hidrogrficas - em levantamento realizado a
fim de se conhecer mais profundamente a realidade nas diversas bacias hidrogrficas
brasileiras - que h a identificao de problemas relativamente questo de saneamento
bsico, coleta e tratamento de esgotos e propostas para a implementao de planos de
saneamento bsico. Entretanto, no se consegue identificar atividades de reso de gua
utilizando efluentes ps-tratados. Isso se deve ao fato, talvez, do ainda relativo
desconhecimento dessa tecnologia e por motivos de ordem scio-cultural.
Mesmo assim, considerando que j existe atividade de reso de gua com fins
agrcolas em certas regies do Brasil, a qual exercida de maneira informal e sem as
salvaguardas ambientais e de sade pblica adequadas, torna-se necessrio institucionalizar,
regulamentar e promover o setor atravs da criao de estruturas de gesto, preparao de
legislao, disseminao de informao e do desenvolvimento de tecnologias compatveis
com as nossas condies tcnicas, culturais e scio-econmicas.
3
nesse sentido que a Superintendncia de Cobrana e Conservao - SCC - da
Agncia Nacional de guas, inova ao pretender iniciar processos de gesto a fim de fomentar
e difundir essa tecnologia e ao investigar formas de se estabelecer bases polticas, legais e
institucionais para o reso de gua no pas.
No Brasil, a primeira resoluo que estabelece modalidades, diretrizes e critrios
gerais para a prtica de reso direto no potvel de gua a Resoluo No
54 do CNRH de
28/11/2005, publicada em Maro de 2006.
1.1 JUSTIFICATIVA
Diante do quadro inicialmente esboado, o tema reso de gua apresenta-se
atualmente de suma relevncia. Devido a sua prtica descontrolada e cada vez mais freqente
pela populao necessita-se impor uma abordagem do assunto que envolva a tecnologia, a
qualidade da gua reutilizada, seu potencial e riscos advindos da reutilizao.
Justifica-se, ainda, pela importncia em dar suporte a projetistas e executores na
concepo, elaborao e execuo de sistemas eficazes de reso de gua nas edificaes e
contribuir para a melhoria dos sistemas prediais que utilizam guas de reso, em termos
quantitativos e qualitativos, enfatizando os problemas de reso e como esto sendo
implantados, ou seja, sem diretrizes especficas.
1.2 OBJETIVOS
Esta pesquisa tem como objetivo geral contribuir para a sustentabilidade das
edificaes, promovendo o uso sustentvel da gua por meio de aes de conservao de gua
que envolvam o uso racional e a utilizao de fontes alternativas de gua nos sistemas prediais
hidrulicos e sanitrios.
Os objetivos especficos so:
realizar estudo de caso na Faculdade de Farmcia da UFG por meio da
implantao de sistema de reso de efluentes dos equipamentos de destilao para
a irrigao da horta medicinal e colher subsdios para elaborar as diretrizes;
4
apresentar diretrizes para concepo, execuo, operao, uso e manuteno de
sistemas prediais hidrulicos e sanitrios com a utilizao de guas de reso,
atendendo aos requisitos de segurana, de forma a evitar contaminao no sistema.
5
2 SISTEMAS DE RESO DE GUA
Este captulo introduz os termos tcnicos relacionados ao reso de gua e descreve os
principais tipos de sistemas, seus elementos e componentes, bem como apresenta uma
evoluo sobre a prtica de reso atravs dos tempos antigos e modernos e as primeiras
tentativas para a regulamentao.
A seguir so discutidos aspectos da legislao brasileira abordando as classes e
caractersticas do efluente e recomendaes para a concepo de sistemas prediais de reso de
gua.
Finalizando, so relacionadas experincias internacionais e nacionais de reso de gua
nos sistemas prediais, apresentadas alternativas tecnolgicas de tratamento de efluentes,
caractersticas e controle da qualidade necessria, fontes alternativas da gua de reso e
requisitos de desempenho do sistema de reso de gua.
2.1 CONCEITUAO
O conceito de reso de gua no novo e so vrios os trabalhos que abordam esta
questo e apresentam as opes relacionadas a esta prtica, com a indicao das possveis
categorias de reso.
O reso de gua o aproveitamento de guas previamente utilizadas, uma ou mais
vezes, em alguma atividade humana, para suprir as necessidades de outros usos benficos,
inclusive o original, podendo ser direto ou indireto, bem como decorrer de aes planejadas
ou no-planejadas (MANCUSO; SANTOS, 2003).
A seguir so apresentados os termos mais utilizados em sistemas de reso de gua para
se descrever as formas de gua e de esgoto, alm de outros:
gua residuria - o esgoto, a gua descartada, os efluentes lquidos de
edificaes, indstrias, agroindstrias e agropecuria, tratados ou no.
gua recuperada - a resultante do tratamento de guas residurias, para uso
benfico direto ou uso controlado que no ocorra de outra maneira. tambm
utilizado como gua reciclada.
6
guas cinzas - esgoto proveniente da banheira, chuveiro, lavanderia (mquinas de
lavar roupas e tanque) e lavatrio.
guas negras - esgoto proveniente do bid e da bacia sanitria, esgoto
contaminado com matria fecal. Tambm se inclui na definio de guas negras
as guas da pia de cozinha e lavadoras de pratos.
guas brancas - neste trabalho denominam-se guas brancas aquelas descartadas
de equipamentos de laboratrios, tais como, destiladores, osmose reversa,
extratores de lipdios etc. os quais descartam efluentes com caractersticas de guas
lmpidas.
gua combinada - a gua de chuva aproveitada como complemento da gua de
reso.
gua de reso - a gua residuria que se encontra dentro dos padres exigidos
para sua utilizao.
Reciclo de gua - o uso das guas residurias que so coletadas e redirecionadas
dentro do mesmo esquema de uso da gua. O reciclo praticado freqentemente
em indstrias, ao nvel de operao da planta industrial. Tambm se utiliza como
sinnimo o vocbulo reciclagem .
Conexo cruzada (cross-connection) - ligao fsica por meio de uma conexo ou
pea que permite o fluxo da gua de um sistema para outro, podendo ser direta
(presso diferencial) ou indireta, quando o ponto de utilizao est prximo o
suficiente para que a gua servida possa ser succionada.
Retrossifonagem - o refluxo da gua em uma conexo cruzada indireta.
Neste trabalho considera-se como fontes alternativas de gua todas aquelas que
possibilitam a sua reutilizao, aps tratamento ou no, para consumo no potvel.
2.2 TIPOS DE SISTEMAS
Rodrigues (2005) sugere a seguinte classificao de tipos de sistemas de reso,
baseada na forma como o reso ocorre, o grau de planejamento, a conscincia da prtica, e a
finalidade para a qual este se destina:
7
a) Reso indireto no planejado - ocorre quando a gua, utilizada em alguma
atividade humana, descarregada no meio ambiente e novamente utilizada a
jusante, em sua forma diluda, de maneira no-intencional e no-controlada,
conforme ilustra a Figura 2.1. A gua flui at o ponto de captao para o novo
usurio sujeita s aes naturais do ciclo hidrolgico (diluio, autodepurao).
Figura 2.1 Reso indireto no planejado de gua. Fonte: Rodrigues (2005)
b) Reso indireto planejado - acontece quando os efluentes, depois de tratados, so
descarregados de forma planejada nos corpos de guas superficiais ou subterrneas,
para serem utilizadas jusante, de maneira controlada, no atendimento de algum
uso benfico, conforme ilustra a Figura 2.2. O reso indireto planejado da gua
pressupe a existncia de controle sobre as eventuais novas descargas de efluentes
no trajeto.
Figura 2.2 Reso indireto planejado de gua. Fonte: Rodrigues (2005)
8
c) Reso direto planejado - ocorre quando os efluentes, aps tratados, so
encaminhados diretamente de seu ponto de descarga at o local do reso, sem
descarga no meio ambiente. utilizado com mais freqncia na indstria ou em
irrigao, conforme apresenta a Figura 2.3.
d) Reciclagem de gua - o reso interno da gua, antes de sua descarga em um
sistema geral de tratamento ou outro local de disposio, para servir como fonte
suplementar de abastecimento do uso original. Este um caso particular do reso
direto planejado. Como exemplo, em sistemas prediais, tem-se o sistema de
descarga sanitria no qual o efluente do lavatrio cai diretamente na bacia sanitria,
como ilustra a Figura 2.4.
Figura 2.3 Reso direto planejado de gua. Fonte: Rodrigues (2005)
9
e) Reso direto no potvel de gua - abrange as seguintes modalidades:
reso para fins urbanos: utilizao de gua de reso para fins de irrigao
paisagstica, lavagem de logradouros pblicos e veculos, desobstruo de
tubulaes, construo civil, edificaes, combate a incndio, dentro da
rea urbana;
reso para fins agrcolas e florestais: aplicao de gua de reso para
produo agrcola e cultivo de florestas plantadas;
reso para fins ambientais: utilizao de gua de reso para implantao
de projetos de recuperao do meio ambiente;
reso para fins industriais: utilizao de gua de reso em processos,
atividades e operaes industriais; e,
reso na aqicultura: utilizao de gua de reso para a criao de animais
ou cultivo de vegetais aquticos.
Figura 2.4 Bacia sanitria com utilizao direta do efluente do lavatrio na descarga.
Fonte: www.atse.org.au/uploads/WRChap3.pdf
http://www.atse.org.au/uploads/WRChap3.pdf
10
2.3 ELEMENTOS E COMPONENTES DO SISTEMA DE RESO DE GUA
O sistema predial de reso de gua no potvel consiste em coletar, tratar e dispor os
efluentes dos tanques, chuveiros, banheiras e lavatrios de forma que sejam reutilizados em
bacias sanitrias, na lavagem de pisos e na manuteno de jardins. A Figura 2.5 ilustra o
fluxograma geral de como deve ser um sistema predial de reso de gua no potvel com seus
componentes e respectivas etapas, de coleta, tratamento, armazenamento e distribuio.
Figura 2.5 Sistema predial de reso de gua no potvel. Fonte: Fiesp (2005).
2.3.1 Sistema de coleta de gua de reso
Este sistema composto por ramais de descarga e de esgoto, subcoletores e coletores
que transportam os efluentes gerados nos equipamentos sanitrios e os destina ao tratamento e
armazenamento. Para a quantificao da demanda de gua nesse sistema importante
dimension-lo quando da elaborao do projeto hidrulico e sanitrio do edifcio, para que o
sistema de gua potvel o abastea, caso haja necessidade de fonte suplementar.
Quando em operao, se houver uma sobrecarga em qualquer parte do sistema, a gua
excedente direcionada para o coletor predial por meio de uma caixa de inspeo.
Sistemas de tratamento
Reservatrio de armazenamento
Sistema predial de distribuio de gua de reso
Atividade fim
Lanamento do efluente na rede geral de esgoto
Sistema predial de coleta de gua de
reso
11
2.3.2 Sistema de tratamento de gua de reso
Na escolha do processo de tratamento deve-se considerar a caracterizao da gua de
reso de acordo com a atividade fim. O Quadro 2.1 apresenta de forma sucinta os processos
de tratamento mais apropriados para os sistemas de gua recuperada e reso de gua em
edifcios.
Quadro 2.1 - Descrio dos tipos de tratamento para reso de gua e gua recuperada. Fonte: Fiesp (2005).
Processo Descrio Aplicao Separao lquido/slido
SEDIMENTAO
Sedimentao por gravidade de substncia particulada, flocos
qumicos e precipitao.
Remove partculas suspensas que so maiores que 30m. Tipicamente usado como
tratamento primrio e depois do processo biolgico
secundrio.
FILTRAO
Remove partculas atravs da passagem da gua por areia ou outro
meio poroso.
Remoo de partculas suspensas que so maiores
que 3m. Tipicamente usadas depois da
sedimentao (tratamento convencional) ou seguido de
coagulao/floculao.
Tratamento Biolgico
TRATAMENTO AERBICO BIOLGICO
Metabolismo biolgico do esgoto atravs de microrganismos em uma
bacia de aerao ou processo de biofilme.
Remoo de matria orgnica suspensa e dissolvida do esgoto.
DESINFECO
Inativao de organismos patognicos usando produtos qumicos oxidantes, raios ultravioleta, produtos qumicos
corrosivos, calor ou processos de separao fsica (membranas).
Proteo da sade pblica atravs da remoo de
organismos patognicos.
COAGULAO/ FLOCULAO
QUMICA
Uso de sais de ferro ou alumnio, polieletrlise e/ou oznio para promover desestabilizao das partculas colides do esgoto
recuperado e precipitao de fsforo.
Formao de fsforos precipitados e floculao de
partculas para remoo atravs de sedimentao e
filtrao.
12
Quadro 2.1 - Descrio dos tipos de tratamento para reso de gua e gua recuperada. Fonte: Fiesp (2005). (continuao)
Processo Descrio Aplicao Tratamento Avanado
TRATAMENTO COM CAL
Precipita ctions e metais de soluo.
Usado para modificao de pH e precipitao de
fsforo.
FILTRAO DE MEMBRANA
Microfiltrao, nanofiltrao e ultrafiltrao.
Remoo de partculas e microrganismos da gua.
OSMOSE REVERSA
Sistema de membrana para separar ons de soluo baseados no
diferencial da presso osmtica reversa.
Remoo de sais dissolvidos e minerais de soluo;
tambm eficiente na remoo de partculas.
2.3.3 Sistema de reservao de gua de reso
O volume de gua reutilizvel varia de acordo com a tipologia das edificaes. Em
edifcios comerciais este volume pequeno quando comparado ao dos edifcios residenciais,
onde a oferta de gua reutilizvel maior em funo da higiene pessoal.
O dimensionamento do reservatrio deve atender tipologia da edificao,
considerando as vazes dos equipamentos sanitrios (fontes produtoras de gua cinza) e a
demanda de gua dos aparelhos integrantes do sistema (fontes consumidoras de gua
reutilizada).
Os estudos sobre a quantidade de gua consumida por aparelho em uma residncia no
so muitos e variam bastante. Em pesquisa realizada por Oliveira et al. (2006), levantaram-se
os dados constantes do Quadro 2.2.
13
Quadro 2.2
Distribuio de consumo de gua em residncias unifamiliares de interesse social em Goinia.
Fonte: Oliveira et al., (2006).
Utilizao Percentual do Consumo (%)
Pia 17
Lavatrio 6
Rega de jardins 3
Chuveiro 43
Lavar roupa 12
Bacia sanitria 19
2.3.4 Sistema de distribuio de gua de reso
Do reservatrio a gua de reso distribuda aos pontos de consumo por um sistema
independente do sistema de gua potvel. Na insuficincia de gua de reso, a fonte de gua
potvel supre esta falta por meio de um sistema de alimentao de forma a evitar qualquer
risco de contaminao do sistema de gua potvel. Na interligao dos dois sistemas dever
ter um registro de gaveta e uma vlvula de reteno dupla, ilustrada nas Figuras 2.6(a) e
2.6(b), instalados de forma a impossibilitar o contato entre a gua potvel e a gua de reso
(conexo cruzada). Outra medida que deve ser adotada para evitar que ocorra contato entre a
gua potvel e a de reso que a cota da entrada no reservatrio de gua potvel esteja em um
nvel superior cota do nvel mximo do reservatrio de gua de reso.
Figura 2.6(a)
Vlvula de reteno dupla (Double Check DC).
Fonte: www.usc.edu/dept/fccchr/intro.html
Figura 2.6(b)
Esquema de reservatrio de gua de reso.
http://www.usc.edu/dept/fccchr/intro.html
14
O sistema de distribuio de gua para reso deve estar bem caracterizado, no projeto
e ps-execuo, para que se evitem conexes cruzadas e uso incorreto do abastecimento
pretendido. Segundo NBR 5626 (ABNT,1998), conexo cruzada significa: qualquer ligao
fsica por meio de pea, dispositivo ou outro arranjo que conecte duas tubulaes das quais
uma conduz gua potvel e a outra gua de qualidade desconhecida ou no potvel . A
implantao de redes em reas servidas por sistemas duplos de distribuio (potvel e no-
potvel) deve obedecer a um conjunto de critrios e normas (ABES apud SANTOS, 2003),
tais como:
obedincia a distncias entre as tubulaes de gua de reso, gua potvel, gua
pluvial e esgotos sanitrios, assim citadas na ordem usual de profundidades
crescentes de assentamento;
nos Estados Unidos, na localidade Irvine Ranch, como medida cautelar adicional,
adota-se material especial para as tubulaes nos pontos de cruzamento vertical
com o sistema distribuidor de gua potvel;
todas as vlvulas de sada da rede de reso so marcadas por cor diferente, como
na Califrnia, ou por caixas de forma diferente, como na Flrida;
todas as tubulaes da rede de reso so diferenciadas por cor diferente ou por
rtulos indicando Esgoto tratado, fixados por fitas adesivas de vinil a cada dois
metros ao longo da tubulao;
os hidrmetros do sistema so de marca diferente dos utilizados na rede de gua
potvel e so guardados em almoxarifados distintos, juntamente com suas peas de
reposio. Em So Petersburgo, nos EUA, os hidrmetros so marrons e trazem
uma faixa amarela, bem diferentes dos de gua potvel, que so prateados;
os aspersores de irrigao com gua no potvel e os registros de parada ou de
sada tm terminais de hastes com formato tal, que tornam propositalmente difcil
sua manobra por pessoal no autorizado;
o uso de mangueiras no permitido, sendo especialmente dificultado pela
ausncia de engates adequados na rede para conexo de mangueiras;
os operadores do sistema de gua de reso so treinados e contam com manuais
especficos para o desempenho de suas funes.
Conforme a U.S.EPA (2004), os sistemas de reso de gua devem conter avisos para a
populao no beber a gua recuperada, informando dentro de padres internacionais que a
15
gua no potvel. A Figura 2.7 apresenta o exemplo de smbolo usado para alertar sobre a
qualidade da gua e proibio de sua ingesto, nos Estados Unidos.
Figura 2.7 - Exemplo de aviso de gua recuperada nos EUA. Fonte: U.S.EPA, 2004.
2.4 EVOLUO HISTRICA
A natureza, por meio do ciclo hidrolgico, vem reutilizando a gua h milhes de
anos, com muita eficincia.
Cidades, lavouras e indstrias j se utilizam, h muitos anos, de uma forma indireta,
ou pelo menos no planejada de reso, que resulta da utilizao de guas, por usurios de
jusante que captam guas j utilizadas e devolvidas aos rios pelos usurios de montante.
Milhes de pessoas no mundo todo so abastecidas por esta forma indireta de gua de reso.
Provm da comunidade de Minos, na Grcia, o mais antigo registro de reso de gua
ocorrido, no caso, na reutilizao para a agricultura. Modernamente, tem-se notcia de reso
de gua, em Londres, no sculo XIX, quando da implantao dos coletores de esgoto. Era um
tipo de reso no planejado, por isso responsvel pelas epidemias de clera asitica e de febre
tifide nos anos 1840-1850. Essas epidemias foram solucionadas com a localizao das
captaes de gua montante e as descargas de esgotos jusante da cidade (ASANO;
LEVINE, 1996). Durante muitos anos este sistema funcionou de forma satisfatria, o que no
acontece mais em muitas regies, em face do agravamento das condies de poluio,
basicamente pela falta de tratamento adequado de efluentes urbanos, quando no pela sua
total inexistncia.
Evoluiu-se, ento, para uma forma denominada direta de reso, que aquela em que
um efluente tratado para sua reutilizao em uma determinada finalidade, que pode ser
16
interna ao prprio empreendimento, ou outra externa, para uma finalidade distinta da primeira
como, por exemplo, a prtica de reso de efluentes urbanos tratados para fins agrcolas. A
forma direta ou planejada utiliza tecnologias e prticas de renovao e reso de gua que
atravessaram uma srie de fases nos ltimos duzentos anos (FIESP, 2004).
A primeira fase foi motivada por uma vertente baseada no conceito conservacionista
em que os dejetos da sociedade deveriam ser conservados e utilizados para preservar a
fertilidade dos solos, enquanto a outra, numa abordagem mais pragmtica, era direcionada
para a eliminao da poluio dos rios. No final do sculo XIX, o conceito de tratamento de
efluentes domsticos por disposio nos solos foi utilizado na Gr-Bretanha, Alemanha e nos
Estados Unidos com um enfoque central na reduo da poluio dos rios e no como um
mtodo conservacionista de recarga de aqferos ou de aumento de nutrientes para o solo
(FIESP, 2004).
Na segunda fase, que se pode considerar at o final de 1990, o principal enfoque foi
basicamente a necessidade de se conservar e reutilizar gua em zonas ridas. Verificaram-se
grandes esforos de reso de gua para o desenvolvimento agrcola em zonas ridas dos
Estados Unidos, como Califrnia e Texas, e em pases como a frica do Sul, Israel e ndia.
Em Israel, um dos pases da regio de maior escassez de gua do planeta (possui apenas 1%
do estoque anual de gua renovvel do planeta), o reso de guas residurias tornou-se uma
poltica nacional em 1955. O plano nacional de guas inclua reso dos principais sistemas de
tratamento de efluentes das cidades no programa de desenvolvimento dos limitados recursos
hdricos do pas, tendo na produo de esgotos um significado crescente e confivel de gua
(FIESP, 2004).
A terceira fase, a atual, baseada na urgente necessidade de se reduzir a poluio dos
rios e lagos. Como as exigncias ambientais foram se tornando cada vez mais restritivas, os
planejadores concluram que, dados os altos investimentos requeridos para o tratamento dos
efluentes, se torna mais vantajoso reutilizar estes efluentes ao invs de lan-los de volta aos
rios (FIESP, 2004).
A substituio da gua potvel pela gua servida, com caractersticas diferentes da
gua potvel, comeou pelas comunidades globais mais desenvolvidas, onde j se tem a
conscincia que a responsabilidade pelo uso da gua de carter pessoal e individual.
No Japo, EUA, Austrlia, Canad, Alemanha, Sucia e Reino Unido, h algumas
dcadas, j ocorre a utilizao da gua servida para fins no potveis em edificaes, por
exemplo, nas bacias sanitrias e na irrigao de jardins, sendo desenvolvidas pesquisas sobre
as aplicaes das guas servidas. Nos EUA e na Austrlia, o reso da gua ganhou maior
17
aceitao e segurana, aps a implantao do Cdigo de Sistemas Prediais da Califrnia e do
Manual de Diretrizes para uso domstico de guas cinzas da Austrlia (2002), pois at ento a
Austrlia vinha enfrentando srios problemas de seca. No Japo, a alta densidade
populacional para o reduzido espao geogrfico levou prtica do reso de gua, no incio,
sem nenhuma regulamentao, o que gerou mais problemas, como exemplo, as epidemias
(DIXON et al., 1999).
Os primeiros regulamentos para irrigao de vegetais com o uso de esgoto foram
editados pelo Estado da Califrnia, em 1918, sobrevindo, somente em 1970, o Cdigo de
guas daquele Estado norte-americano que declarou expressamente a inteno do poder
legislativo do Estado de tomar todas as providncias para incentivar a construo de sistemas
com reciclagem de gua e para que a gua reciclada esteja disponvel para ajudar a suprir a
demanda estadual de gua (DIXON et al., 1999). O estado da Califrnia possui desde Janeiro
de 2005 um manual de reso de guas cinzas para irrigao de jardins internamente
propriedade, para auxiliar os contratantes a projetarem, instalarem e manterem o sistema de
acordo com os padres de exigncias do Estado.
Em 1958, o Conselho Econmico e Social das Naes Unidas declarou que gua de
qualidade superior, a no ser que exista em abundncia, no deve ser utilizada para um
propsito que tolere o uso de gua de uma qualidade inferior (OKUN, 1996 apud SILVA
et al., 2004).
Finalmente, em 1991, a Comisso das Comunidades Europias expediu diretrizes
declarando que guas residurias tratadas devem ser reutilizadas quando for apropriado.
Essas medidas devero minimizar os impactos adversos no meio ambiente
(ASANO;
LEVINE, 1996).
A evoluo da prtica de reso da gua representa importante contribuio ao
desenvolvimento sustentvel, definido como o que atende s necessidades atuais sem
comprometer a capacidade das futuras geraes de atenderem suas prprias necessidades
(AGENDA 21 PARA CONSTRUO SUSTENTVEL, 1992).
Na elaborao do documento AGENDA 21, objetivou-se integrar o desenvolvimento
econmico proteo ambiental de forma a melhorar a qualidade de vida dos seres humanos,
reforando, desta forma o conceito de desenvolvimento sustentvel. Em seu captulo 18, a
AGENDA 21 prope programas para o uso sustentvel da gua.
A promoo do uso sustentvel da gua d-se por meio das aes de conservao que
envolvem o uso racional da gua e a utilizao de fontes alternativas, no mbito da bacia
hidrogrfica, nos sistemas pblicos de abastecimento e nos sistemas prediais. Quanto a estes,
18
constataram-se ndices significativos no desperdcio de gua em aparelhos sanitrios, como
tambm, o elevado consumo de gua dos mesmos. De Oreo et al. apud OLIVEIRA (1999)
afirmam que os vazamentos podem representar 11,45% do consumo total de gua em uma
residncia. Como medida para minimizar estas perdas e combater o desperdcio,
indispensvel a gesto da demanda de gua, englobando a deteco e correo de vazamentos,
a utilizao de aparelhos economizadores de gua e o uso de fontes alternativas.
2.5 LEGISLAO SOBRE O RESO DE GUA NO BRASIL
As diversas normas que tratam da questo da gua e diretrizes de usos especficos tm
o amparo da Constituio Federal de 1988 e algumas j constavam da Constituio de 1946.
A primeira norma a tratar especificamente da gua foi o Decreto No
24.643, de 10 de
Julho de 1934, o Cdigo das guas, que definiu os vrios tipos de guas do territrio
nacional, os critrios para seu aproveitamento e os requisitos relacionados s autorizaes
para derivao, alm de abordar a questo relacionada contaminao dos corpos d gua
(CETESB, 1992b apud MIERZWA, 2002). Em seguida, surgiram a Lei Federal
No
6.938/1981 (Poltica Nacional do Meio Ambiente), a Lei Federal No
9.433/1997 (Poltica
Nacional de Recursos Hdricos) e a Lei Federal No
9.984/2000 (Agncia Nacional de guas).
No Brasil, embora no haja uma legislao especfica para reso, na citada Lei no
9.433/1997 j se ressaltam muitos aspectos direcionados para implantao de uma Poltica
Nacional de Recursos Hdricos que considere o reso como forma de maximizao destes
recursos.
Destaca-se tambm a Resoluo CONAMA No
20/1986 que foi substituda pela
No
357/2005, que dispe sobre a classificao dos corpos de gua e diretrizes ambientais para
o seu enquadramento, bem como estabelece as condies e padres de lanamento de
efluentes, e d outras providncias.
De acordo com a Resoluo CONAMA No
357, de 17 de maro de 2005, a
classificao das guas doces, salobras e salinas essencial defesa de seus nveis de
qualidade, avaliados por condies e padres especficos, de modo a assegurar seus usos
preponderantes. O Anexo I apresenta a classificao das guas doces enquadradas em cinco
classes consideradas por esta Resoluo.
A Resoluo CONAMA No
20 foi um dos principais instrumentos para o controle dos
processos de degradao da qualidade de nossos recursos hdricos, at 08 de janeiro de 1997
19
quando foi sancionada a Lei Federal No
9.433 que instituiu a Poltica Nacional de Recursos
Hdricos. Esta Poltica demonstra a importncia da gua e refora seu reconhecimento como
elemento indispensvel a todos os ecossistemas terrestres, como bem dotado de valor
econmico, alm de estabelecer que sua gesto deve ser estruturada de forma integrada, com
necessidade da efetiva participao social, e cria o Conselho Nacional de Recursos Hdricos
CNRH que um colegiado que desenvolve regras de mediao entre os diversos usurios da
gua sendo, assim, um dos grandes responsveis pela implementao da gesto dos recursos
hdricos no Pas. O CNRH possui dez cmaras tcnicas que auxiliam na execuo das suas
atribuies, entre elas existe a Cmara Tcnica de Cincia e Tecnologia CTCT, dentro da qual
foi criado o grupo de trabalho sobre reso de gua
GT-Reso, que possui como objetivo
propor ao CNRH mecanismos e instrumentos voltados para a regulamentao e
institucionalizao da prtica do reso no potvel de gua em todo territrio Nacional. Este
GT-Reso, formulou e foi promulgada em dezembro de 2005 a primeira legislao especfica
sobre o tema que a Resoluo N 54, de 28 de Novembro de 2005, que estabelece
modalidades, diretrizes e critrios gerais para a prtica de reso direto no potvel de gua em
todo o territrio nacional, (vide Anexo II).
Em So Paulo, foi promulgada a Lei No 14.018, de 28 de Junho de 2005 que instituiu o
Programa Municipal de Conservao e Uso Racional da gua e Reso em Edificaes, o qual
tem por objetivo instituir medidas que induzam conservao, uso racional e utilizao de
fontes alternativas para a captao de gua e reso nas novas edificaes, bem como a
conscientizao dos usurios sobre a importncia da conservao da gua.
Em relao ao sistema local de tratamento de esgotos, que tem tanque sptico como
unidade preliminar, alternativas tcnicas consideradas viveis para proceder ao tratamento
complementar e disposio final do efluente deste, a ABNT
Associao Brasileira de
Normas Tcnicas publicou a NBR 13969/1997. Essa norma define, em termos gerais, as
classificaes e respectivos valores de parmetros para esgotos, conforme o tipo de uso, como
possvel ver no Quadro 2.3. Veja-se que, neste Quadro, a Classe 3 refere-se a aplicao em
bacias sanitrias. Observa-se ainda que a NBR 13.969/1997 no se refere segregao de
guas cinzas das guas negras.
Quanto ao grau de tratamento necessrio, a NBR 13969 (ABNT,1997) - item 5.6.4, o
define para uso mltiplo de esgoto tratado, como regra geral, pelo uso mais restringente
quanto qualidade de esgoto tratado. No entanto, conforme o volume estimado para cada um
dos usos, podem-se prever graus progressivos de tratamento (por exemplo, se o volume
destinado para uso com menor exigncia for expressivo, no haveria necessidade de se
20
submeter todo volume de esgoto a ser reutilizado ao mximo grau de tratamento, mas apenas
uma parte, reduzindo-se o custo de implantao e operao), desde que houvesse sistemas
distintos de reservao e de distribuio.
Nos casos simples de reso menos exigentes como, por exemplo, descarga de bacias
sanitrias pode-se prever o uso da gua de enxge das mquinas de lavar, apenas
desinfetando, reservando aquelas guas e recirculando bacia sanitria, em vez de envi-las
para o sistema de esgoto para posterior tratamento (NBR13969/1997).
Quadro 2.3 - Classificao e parmetros do efluente conforme o tipo de reso. Fonte: NBR 13969 (ABNT,1997).
Classe Exigncias Aplicaes
1
Turbidez < 5 Coliforme fecal < 200 NMP/100 ml
Slidos Dissolvidos Totais < 200 mg/ml pH 6 - 8
Cloro residual 0,5 1,5 mg/L
Lavagem de carros e atividades requerem contato direto do usurio com a gua com possvel aspirao
de aerossis pelo operador
2 Turbidez < 5
Coliforme fecal < 500 NMP/100 ml Cloro residual 0,5 1,5 mg/L
Lavagem de pisos, caladas e irrigao de jardins, manuteno de lagos e canais para fins paisagsticos
3 Turbidez < 10 Coliforme Fecal < 500 NMP/100 ml
Descargas de bacias sanitrias
4 Coliforme fecal < 5000 NMP/100 ml
Oxignio Dissolvido > 2,0 mg/L
Pomares, cereais, forragens, pastagens para gados e outros
cultivos, as aplicaes devem ser interrompidas pelo menos 10 dias
antes da colheita
As recomendaes da NBR 13969 (ABNT,1997) para a concepo de sistemas de reso
de gua so:
Todo o sistema de reservao deve ser dimensionado para atender pelo menos duas
horas de uso de gua no pico da demanda diria, exceto para uso na irrigao da
rea agrcola ou pastoril;
Todo o sistema de reservao e de distribuio do esgoto a ser reutilizado deve ser
claramente identificado, atravs de placas de advertncia nos locais estratgicos e
21
nas torneiras, alm do emprego de cores nas tubulaes e nos tanques de
reservao distintas das de gua potvel;
Quando houver usos mltiplos de reso com qualidades distintas, deve-se optar
pela reservao distinta das guas, com clara identificao das classes de
qualidades nos reservatrios e nos sistemas de distribuio;
No caso de reso direto das guas da mquina de lavar roupas para uso na
descarga das bacias sanitrias, deve-se prever a reservao do volume total da gua
de enxge;
O sistema de reservao para aplicao nas culturas cujas demandas pela gua no
so constantes durante o seu ciclo deve prever uma preservao ou rea alternada
destinada ao uso da gua sobressalente na fase de menor demanda.
2.6 EXPERINCIAS SOBRE RESO EM SISTEMAS PREDIAIS
H pelo menos 30 anos, pases que j vislumbravam possibilidades de enfrentar
problemas relativos escassez da gua vm desenvolvendo pesquisas relacionadas ao uso
racional da gua, de forma a garantir a sustentabilidade dos recursos hdricos naturais
(THAME, 2000 apud SAUTCHK, 2004).
Figuram entre esses pases os localizados nas regies ridas e semi-ridas do planeta,
como no Oriente Mdio e em algumas regies desrticas dos Estados Unidos (Califrnia,
Arizona, Nevada, Colorado), muitos deles, como Austrlia, Japo, Itlia, Grcia, Portugal,
entre outros, com polticas de recursos hdricos voltadas para o futuro e para a preservao de
suas fontes de gua para abastecimento (VITORATTO; SILVA, 2004).
Nota-se uma conscientizao mundial da necessidade de reduzir-se o consumo de
gua, pois associado sua crescente demanda est o seu elevado custo para consumo.
2.6.1 Experincias internacionais
Em Sidney, na Austrlia implantou-se um projeto de reso domstico num bairro de
300 mil habitantes, onde a gua reutilizada para fins no potveis, na descarga de bacias
sanitrias, lavagem de carros, irrigao ornamental e de lugares abertos. Decidiu-se que seria
implantado um sistema de reso de gua com a finalidade de reduzir o consumo de gua
potvel e diminuir o impacto ambiental causado pela descarga de esgoto no rio prximo ao
22
bairro. Estimou-se que, com a implantao do sistema duplo de gua (potvel e reciclada) a
economia seria em torno de 40%, uma vez que o custo de gua de reso representa menos de
um tero do de gua potvel (LAW, 1996).
Um sistema relativamente recente, denominado wetlands (zona de razes), foi aplicado
na Carolina do Norte - EUA, para a recuperao de esgoto domstico e sua reutilizao nas
bacias sanitrias, irrigao de jardins e melhoria da caracterstica esttica da gua,
combinando wetlands construdas e filtros de areia. O projeto de fcil construo pode ser
implantado tanto em ambientes internos quanto em reas externas, pois esteticamente
agradvel, com a gua efluente sem qualquer odor e bastante clara.
Este sistema, projetado para tratar 4.500 litros/dia de esgoto domstico e reutiliz-lo
nas bacias sanitrias de uma escola na rea rural, simples e de baixo custo tecnolgico.
Utilizaram-se plantas selecionadas geneticamente para maximizar o potencial de recuperao
do esgoto. So plantas cujo habitat so ambientes aquticos e as espcies se desenvolvem em
funo do tipo de regio, localidade (margem, flutuante, submersa e emergente) e mobilidade.
Com a combinao de fluxos horizontais e verticais e controles na entrada e sada do sistema,
obteve-se a eficincia necessria da nitrificao, que a oxidao biolgica dos compostos
inorgnicos, como a Amnia NH3 em Nitrato NO3-, da desnitrificao, que a reduo do
Nitrato a Nitrognio molecular (N2), da remoo de matria orgnica e da adsoro do fsforo
(HOUSE et al., 1999).
O sistema aplicado, apresentado nas Figuras 2.8 e 2.9, resultou num potencial de
eficincia bastante satisfatrio, avaliado de janeiro de 1993 a dezembro de 1997, com reduo
de 77% na concentrao do nitrognio total e 97% na concentrao do nitrognio amoniacal.
Aps avaliao laboratorial no filtro verificou-se que o potencial de remoo de fsforo
atingiu 80%. Os slidos suspensos reduziram-se em 57% e a DBO 97%. Os microorganismos
patolgicos tiveram reduo mais eficiente com as clulas de fluxos verticais e horizontais
ligadas em srie (HOUSE et al., 1999).
23
Figura 2.8
Esquema da combinao de wetlands construdas, plantas aquticas e filtros de areia para recuperao de efluente domstico e reso de gua.
Fonte: House et al. (1999).
Figura 2.9 - Corte transversal da clula 1 combinando wetland de fluxo vertical e filtro de areia. Fonte: House et al. (1999).
24
Na Frana, nos ltimos anos, tm-se desenvolvido pesquisas para habitaes coletivas
para que o sistema predial apropriado ao reso de gua seja projetado segundo novas
regulamentaes sanitrias, ou seja, a serem criadas de acordo com a realidade local, uma vez
que at ento eram consideradas as regulamentaes editadas para toda a Comunidade
Europia (DERRIEN; GOUVELLO, 2003).
O Canad, considerado h tempos uma nao rica em gua, est enfrentando srios
problemas de poluio e escassez, devido a um longo perodo de uso descontrolado da gua
subterrnea e uma baixa tarifa cobrada. Por estas razes, programas de conservao e controle
do uso tm-se desenvolvido num esforo contnuo para aumentar a oferta de gua. Projetos
que promovem e desenvolvem tecnologias de reso de guas vm sendo implementados e
subsidiados pelo governo, resultando em incentivos para outras regies (SOROCZAN, 1998).
O Canad promoveu um concurso nacional para premiar a elaborao de projetos de
casas que apresentassem o menor consumo de gua. O projeto vencedor previu um sistema
de tratamento para gua da chuva, a ser usada na cozinha, por um mtodo de filtragem por
carvo ativado e desinfeco por radiao ultravioleta. A gua circula entre um tanque e um
filtro biolgico, donde encaminhada para um filtro de areia, outro de carvo ativado,
desinfetada por ultravioleta e finalmente utilizada em banhos, descargas, lavanderia e
jardinagem. Aps o uso a gua segue para outro tanque sptico e o excesso, sai do tanque de
recirculao e depositado em uma camada de cascalho (PALOHEMINO, 1996 apud
SILVA, 2004).
O Japo, um dos pases pioneiros no aproveitamento de gua de chuva e reso de
gua, construiu, em 1980, na cidade de Fukuoka, 20 edifcios pblicos, com sistema que
previu a utilizao de gua de reso nas bacias sanitrias, totalizando um volume de
400 m/dia. Devido ao grande sucesso, este projeto se estendeu para vrias outras edificaes
pblicas e particulares, com o subsdio do Ministrio da Construo (ASANO; LEVINE,
1996).
A Holanda tambm tem investido em reso de gua. Devido a grandes problemas
enfrentados na dcada de 1960, que se agravaram at a dcada de 1990, com a poluio das
fontes naturais e do meio ambiente, o governo holands subsidiou um projeto piloto de
construo de 30.000 casas, de onde seriam coletados os efluentes domsticos e reutilizados
para uso no potvel, nas bacias sanitrias, na lavagem de roupa e na rega de jardins.
Concomitantemente com a construo das casas implantou-se o sistema de gua residuria.
Com o intuito de se evitar futuros problemas tcnicos e sanitrios, foram tomadas algumas
precaues, como:
25
a construo de dois sistemas independentes, um de gua potvel e outro de gua
no-potvel;
tubulaes de materiais e cores diferentes;
a conexo para a mquina de lavar foi instalada com um dispositivo especial por
ser um equipamento que funciona sob presso;
e a presso no sistema de gua no-potvel foi maior do que a do sistema de gua
potvel.
A experincia foi positiva at descobrir-se contaminao causada por um ramal
provisrio de interligao dos dois sistemas (conexo cruzada) e que no havia sido
desativado quando do incio da operao do sistema, causando a poluio da gua potvel em
1.000 casas (SCHEE, 2003). A conexo cruzada um dos pontos crticos em um sistema de
reso, o que possibilita o contato do efluente tratado com a gua potvel, conforme ilustrado
esquematicamente na Figura 2.10. Assim, aps qualquer queda de presso, na rede de
distribuio que no tenha nenhum dispositivo de proteo que evite a retrossifonagem,
ocasionar a mistura da gua suja com a gua limpa. A falha do sistema est nesta
incoerncia, pois a presso do sistema de gua potvel era menor que a do sistema de gua
no-potvel.
Figura 2.10
Forma incorreta de execuo do sistema. Contato direto da tubulao de gua potvel com a gua no potvel (conexo cruzada).
Fonte: Mano e Schmitt, (2004) - modificado.
26
Tambm no houve o controle da execuo das instalaes de entrada de gua nas
residncias, as quais foram executadas pelos prprios moradores, ocorrendo, por isso, a
contaminao em uma residncia, identificada aps 17 meses de utilizao.
Em face desses problemas concluiu-se que o fator humano o mais importante para o
resultado positivo na construo de um sistema de gua residuria, vindo em seguida, a
necessidade de inspecionar todo o servio durante a construo e o suporte na operao e
manuteno do sistema para garantir a qualidade da gua e evitar a contaminao da gua
potvel.
A Figura 2.10 mostra um exemplo de conexo cruzada direta onde gua de chuva se
mistura com a gua potvel no ponto de entrada desta pelo contato direto. Pode ocorrer o
refluxo da gua de um sistema para outro pela diferena de presso entre os dois e a
inexistncia de vlvula contra retrossifonagem na tubulao de entrada de gua potvel.
Na Alemanha, o reso de gua tem avanado significativamente nos ltimos 10 anos.
Vrios sistemas de guas cinzas, construdos de acordo com as normas vigentes desde 1995,
operam hoje sem nenhum risco sade pblica. Estes sistemas, que foram verificados para o
uso na bacia sanitria, podem substituir toda a gua utilizada na descarga com completa
segurana e conforto no seu uso. Estudos para uma nova regulamentao quanto ao uso em
mquinas de lavar so possibilidades futuras, juntamente com um sistema duplo de gua com
duas qualidades, uma potvel e outra para usos menos nobres, nas residncias
(NOLDE, 1999).
A Figura 2.11 mostra um destes sistemas de tratamento aplicado, segundo
Nolde (1999), com muita eficincia e adequabilidade comprovadas por mais de 10 anos.
Inicia-se com um tanque de sedimentao, seguido de um tratamento biolgico em multi-
estgios, um tanque de clarificao e a desinfeco por ultravioleta (UV).
Como uma segunda alternativa e mais eficiente, instala-se um equipamento automtico
de remoo de lodo no tanque de sedimentao, seguido de um filtro de areia com fluxo
vertical descendente e acoplado ao tanque de clarificao para remoo da biomassa.
Eventualmente faz-se a desinfeco por UV antes de ser armazenado para posterior
bombeamento aos pontos de utilizao.
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Figura 2.11 Esquema de sistema de tratamento de efluente domstico. Fonte: Nolde (1999).
2.6.2 Experincias nacionais
A prtica de reso no Brasil vem crescendo em diversas regies, tanto nas semi-ridas
do Nordeste, quanto nos maiores plos urbanos como So Paulo e regio sul do pas.
No aeroporto da cidade de Aracaju-SE, a necessidade de se economizar gua potvel
incentivou estudos exploratrios e levantamentos, realizados por Daltro Filho e Matos (2005),
com base em procedimentos recomendados por normas, como por exemplo, a NBR 13969
(ABNT,1997) e resolues especficas.
Segundo Daltro Filho e Matos (2005) por meio do reconhecimento das unidades
geradoras dos esgotos identificaram-se as peas hidrulicas dos ambientes sanitrios, as
torneiras de jardim e outros pontos, com possibilidade de aplicao do sistema de gua de
reso. Com base em levantamentos anteriores, foi possvel quantificar as demandas e as
vazes de operao de cada uma daquelas peas. Alm dos levantamentos, foram realizados o
monitoramento da ETE e o estudo de alternativas para aproveitamento do efluente e de guas
de chuvas. Como resultado, obteve-se uma economia mnima de 60,64 m/dia em qualquer
poca do ano.
Na cidade de Passo Fundo, localizada na regio norte do estado do Rio Grande do Sul,
segundo Fiori (2005) identificou-se os pontos geradores de gua para reso, na obteno de
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dados quantitativos e qualitativos das guas e no conhecimento dos diferentes tipos de
tratamento de gua para uma escolha segura e econmica. Foram coletadas em apartamentos
amostras que foram homogeneizadas e transformadas em trs tipos de amostras para anlise.
Os apartamentos foram divididos por tipologia da seguinte forma:
amostra 1 - classificada por apartamento com crianas;
amostra 2 - em apartamento com animais; e
amostra 3 - apartamento sem crianas e sem animais.
Quanto diviso na anlise qualitativa, por tipologia de apartamentos e coletas em
diferentes pocas do ano no influenciou nos resultados da pesquisa.
Os resultados quantitativos da amostra piloto demonstraram que o volume total de
gua cinza gerado em cada apartamento de 18,8 m3 por ms.
Com os resultados quantitativos e qualitativos das guas analisadas, pde-se concluir
que com um tratamento secundrio, filtrao e desinfeco, como o recomendado pela
U.S.EPA (1992) para reso urbano, estas guas poderiam ser reutilizadas para fins no-nobres
como, na bacia sanitria, lavagem de piso e rega de jardins, em qualquer edificao, gerando
grande economia de gua potvel.
O controle de qualidade no processo de reso primou-se pelo monitoramento da
operao de reso e em particular no desempenho da desinfeco realizada no sistema,
principalmente para a gua cinza.
Em Florianpolis, o reso combinado de guas cinzas e guas pluviais oriundas de
uma unidade residencial, idealizada para cinco habitantes, possibilitou a implantao e
avaliao de alternativas tecnolgicas empregadas no tratamento destas guas com vistas ao
reso em bacia sanitria (PHILIPPI et al., 2005).
Nas avaliaes realizadas sobre a concepo de projetos de tratamento e reso, as
quais compreenderam coleta e anlises fsico-qumicas e bacteriolgicas dos efluentes
gerados nas diferentes unidades, medio de vazo, demanda de gua por unidades
hidrulico-sanitrias, quantificao de precipitao pluviomtrica, identificou-se uma
demanda mdia de 60 L/dia por unidade residencial de cinco pessoas, para a bacia sanitria.
Considerando uma precipitao mdia mensal para a regio da grande Florianpolis de
aproximadamente 150 mm/ms e a rea de superfcie do telhado de 35 m2, calcula-se uma
produo mdia diria de 175 L/dia, ou seja, suficiente para abastecer esta unidade. As guas
cinzas aps tratamento poderiam, portanto, ser reutilizadas para outras necessidades, como
irrigao de jardim (PHILIPPI et al., 2005). Nota-se, pela conferncia do clculo, que esse
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trabalho no considerou o coeficiente de runoff da rea de captao, no caso, o telhado,
superestimando o volume de gua captado.
Atualmente, na regio litornea de Florianpolis, todas as obras, ao iniciarem, devem
conter a instalao do sistema de reso, para que se reutilize o esgoto gerado e tratado no
prprio canteiro da obra (BARBOSA, 2005).
So Paulo, um dos Estados pioneiros em reso de gua, possui experincias em vrias
atividades. Uma delas o reso de gua para lavagem de veculos, onde por meio da
recirculao de gua proveniente desta lavagem possvel, aps tratamento, a reduo de
70% a 80% dos custos operacionais (MORELLI, 2005).
Foi construdo em So Paulo, em 2005, um condomnio com duas redes de gua: a
potvel e a de reso. Todas as casas tiveram que instalar um reservatrio independente e rede
interna para o reaproveitamento de gua na bacia sanitria. Com o custo de cerca de dois mil
reais estimou-se a reduo no consumo de gua em 30% ao ms para cada famlia. A estao
de tratamento do condomnio, que custou cerca de quatrocentos mil reais, dependeu da
movimentao de grande volume de gua para entrar em operao. Com 40 famlias residindo
no condomnio foi possvel iniciar a operao do sistema. Alm das casas, a gua tambm
ser reaproveitada em atividades do prprio condomnio, como para lavar as ruas e irrigar
jardins e gramados. Houve um interesse econmico na reutilizao, mas o objetivo essencial
o ambiental (NETO, 2005).
O Distrito Federal a unidade da Federao que possui a terceira menor taxa de gua
renovvel por habitante/ano, classificando-se como uma zona de estresse hdrico. Em vista
disso, o interesse de se conservar gua tem crescido muito nos ltimos anos (SILVA et al.,
2004). Em Braslia, o LabCau (Laboratrio Casa Autnoma de Arquitetura Sustentvel)
mantm uma pesquisa sistemtica sobre o reso das guas cinzas, com aprimoramento de
sistemas que possibilitem a utilizao das guas para fins no-potveis. Diversos sistemas
esto sendo pesquisados para atender os setores de lavanderias, lava-autos, postos de gasolina
e condomnios (VIGGIANO, 2005).
Desde 1998, um grupo de ps-graduao em Recursos Hdricos da Universidade de
Braslia desenvolve pesquisas para viabilizar a reutilizao da gua no Distrito Federal. Uma
das possibilidades estudadas foi a reutilizao da gua de esgotos tratados no
desenvolvimento da piscicultura. Essa pesquisa foi desenvolvida na estao de tratamento de
esgoto de Samambaia em convnio com a CAESB (Companhia de Saneamento Ambiental do
Distrito Federal) e, nesse caso, aproveitou-se a gua j tratada para a criao de peixes
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prprios para consumo. Os animais no foram utilizados como agentes despoluidores, mas
como fonte de protena para o consumo humano, tendo a pesquisa, assim, um duplo objetivo.
Em sistemas prediais, pesquisas esto sendo desenvolvidas com o objetivo de se
economizar 60% dos recursos hdricos urbanos: a gua usada para lavagem predial, nas pias,
lavatrios, chuveiros, banheiras e mquinas de lavar tratada e retorna para o uso em
sanitrios do mesmo edifcio. Uma das pesquisas foi realizada em um edifcio de uma super
quadra do Setor Sudoeste e, devido a sua grande viabilidade financeira e economia
financeira e ambiental que representa, agora dever ser comercializada por uma construtora
local. Um novo setor est sendo construdo na regio Noroeste, onde em todas as edificaes
a serem construdas devero constar o sistema de reso de gua (SOUZA et al., 2006).
Outra forma de reaproveitar os recursos hdricos comeou a ser estudada em 2003
em rea prxima Estao Experimental de Biologia da UnB. Trata-se do emprego da gua
recuperada dos esgotos domsticos para a manuteno de paisagens e jardins ornamentais.
Tambm foram feitos estudos sobre formas de reciclagem da gua nos lava-jatos. A
pesquisa foi encomendada por uma rede de postos de combustveis do Distrito Federal com
a proposta de que a gua dos sistemas de lavagem de veculos sejam reutilizados, aps
tratamento, para os mesmos fins, diminuindo, assim, no s os custos financeiros como
tambm os ambientais. Recentemente passou-se a exigir que todos os postos de
combustveis com lava-jatos implantassem o sistema de reso para esta finalidade (SOUZA
et al., 2006).
2.7 ALTERNATIVAS TECNOLGICAS DE TRATAMENTO PARA EFLUENTES
Em conjunto com os novos instrumentos de gesto dos recursos hdricos que esto
sendo implantados no pas, o uso de alternativas tecnolgicas para reso de efluentes
industriais, urbanos e domsticos poder reduzir os custos de produo nos setores
hidrointensivos, alm de promover a recuperao, preservao e conservao dos recursos
hdricos e dos ecossistemas urbanos. Assim, para promover a adoo de sistemas de
conservao da gua, h que se considerar alguns aspectos restritivos quanto gua
proveniente de reso.
No caso do reso interno, definido como o uso interno de efluentes, preciso ter
conscincia de que ele no substitui integralmente a necessidade de gua de um
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empreendimento, pois existem limitaes de ordem tcnica, operacional e ambiental que
restringem a utilizao de sistemas de circuito fechado.
Alm disso, o reso interno deve ser realizado aps uma avaliao integrada do uso da
gua durante a vida til do empreendimento. importante ter em mente que antes de se
pensar no reso de efluentes, preciso implantar medidas para a otimizao do consumo e
reduo de perdas e desperdcios, alm de programas de conscientizao e treinamento dos
usurios.
A tecnologia nos sistemas prediais depende da destinao final da gua recuperada,
pois existiro nveis de qualidade indicados para cada aplicao e, conseqentemente, nveis
de tratamento especficos para cada caso. Consideram-se como principais variveis as
caractersticas da gua residuria a ser tratada e os requisitos de qualidade requeridos pela
nova aplicao da gua recuperada.
A escolha do processo de tratamento da gua residuria a ser adotado de
fundamental importncia para o sucesso do empreendimento e, por isso, ela deve ser bastante
criteriosa e fundamentada na caracterizao do efluente a ser tratado, no conhecimento das
tcnicas existentes e requisitos da qualidade da aplicao do reso proposto.
As estaes biolgicas de tratamento de efluentes tm evoludo tecnologicamente no
aumento da eficincia, na reduo do espao requerido e na diversificao das possibilidades
de tratamento. Com a viabilizao do sistema de tratamento implantado, o qual dever atender
s premissas de reutilizao de gua, adviro os benefcios deste reso.
2.7.1 Sistema RTK
Uma das formas de reso de gua que vem ganhando destaque no Brasil a destinada
lavagem de veculos. Algumas empresas privadas j apresentam equipamentos capazes de
promover a recirculao dos efluentes provenientes da lavagem de veculos. De