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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE ENGENHARIA CIVIL FRANCE SILVA NASCIMENTO DIRETRIZES PARA A CONCEPÇÃO DE SISTEMAS DE REÚSO DE ÁGUA EM EDIFICAÇÕES Goiânia 2007

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS

    ESCOLA DE ENGENHARIA CIVIL

    FRANCE SILVA NASCIMENTO

    DIRETRIZES PARA A CONCEPO DE SISTEMAS DE RESO DE

    GUA EM EDIFICAES

    Goinia

    2007

  • Livros Grtis

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    FRANCE SILVA NASCIMENTO

    DIRETRIZES PARA A CONCEPO DE SISTEMAS DE RESO DE

    GUA EM EDIFICAES

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia do Meio Ambiente da Escola de Engenharia Civil da Universidade Federal de Gois para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia do Meio Ambiente. rea de concentrao: Saneamento Ambiental e Recursos Hdricos.

    Orientador: Prof. Jos Vicente Granato de Arajo, Ph.D. Co-orientadora: Profa. Dra. Lcia Helena de Oliveira

    Goinia

    2007

  • Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)

    (GPT/BC/UFG)

    Nascimento, France Silva.

    N244d Diretrizes para a concepo de sistemas de reso

    de gua em edificaes / France Silva Nascimento.

    Goinia, 2007.

    xvi,119f. : il., color., figs., qds., tabs.

    Orientador: Jos Vicente Granato de Arajo, Co- Orientadora: Lcia Helena de Oliveira.

    Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de Gois, Escola de Engenharia Civil, 2007.

    Bibliografia: f.86-90. Inclui listas de figuras, quadros, tabelas e de abreviaturas e siglas. Anexos.

    1. gua Reutilizao Edificaes Concepo

    2. gua Conservao 3. gua Alternativa 4. Ins- talaes hidrulicas e sanitrias I. Arajo, Jos Vi- cente Granato de II. Oliveira, Lcia Helena de III. Universidade Federal de Gois, Escola de Engenha- ria Civil IV. Titulo.

    CDU: 644.6

  • iii

    FRANCE SILVA NASCIMENTO

    DIRETRIZES PARA A CONCEPO DE SISTEMAS DE RESO DE

    GUA EM EDIFICAES

    Dissertao defendida e aprovada em 29 de maro de 2007, pela Banca Examinadora

    constituda pelos seguintes professores:

    __________________________________________

    Prof. Jos Vicente Granato de Arajo, Ph.D. UFG Orientador

    __________________________________________

    Prof. Dr. Andr Luiz Bortolacci Geyer UFG Examinador Interno

    __________________________________________

    Prof. Dr. Simar Vieira de Amorim UFSCar Examinador Externo

  • iv

    Aos meus pais, Raimundo Moreira Nascimento e Maria de Lourdes Nascimento, incentivadores, exemplos e guias na descoberta do prazer da leitura e da pesquisa,

    ao marido, Reinaldo Gonalves de Arajo,

    aos meus queridos filhos, Lucas e Leandro.

  • v

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, por ser a fortaleza de minha vida nos momentos difceis.

    Ao meu amigo e orientador Prof. Jos Vicente Granato de Arajo, Ph.D. pela

    oportunidade da realizao de um grande sonho.

    Profa. Dra. Lcia Helena de Oliveira, pela inestimvel sabedoria e companheirismo.

    Ao Engenheiro Flvio Eduardo Rios, pelo apoio e fornecimento de dados valiosos

    para o desenvolvimento deste trabalho.

    Companhia de Saneamento do Estado de Gois

    SANEAGO pela realizao das

    anlises da gua de reso.

    empresa de tubosistemas, Amanco Brasil S.A., pela doao de materiais para

    montagem do sistema predial de reso de gua.

    todos os funcionrios da Faculdade de Farmcia da UFG pela ateno e apoio na

    realizao deste trabalho.

    equipe do CEGEF por todo apoio no fornecimento de mo-de-obra e materiais, a

    fim de possibilitar a execuo do sistema de reso de gua nas instalaes da Faculdade de

    Farmcia da UFG.

    Ao Curso de Mestrado em Engenharia do Meio Ambiente pelo apoio e credibilidade.

    E a todos os amigos que me apoiaram fazendo com que os momentos de dificuldades

    fossem superados, em particular colega Tnia, ao colega Ricardo Prado pelo grande apoio

    na construo da minha dissertao, e a vrios outros que muito contriburam para o xito

    deste trabalho.

  • vi

    RESUMO

    A gua, como bem essencial vida, deve ser adequadamente usada e reusada para dela auferir-se o mximo benefcio. Neste trabalho, estuda-se a utilizao dos sistemas de reso de gua no mbito dos sistemas prediais hidrulicos e sanitrios. O objetivo geral contribuir para a sustentabilidade das edificaes, por meio de aes de conservao da gua ampliando a oferta com o uso de gua de fontes alternativas. O objetivo especfico apresentar diretrizes para concepo, execuo, uso e manuteno desses sistemas, atendendo principalmente aos requisitos de segurana, de forma a evitar a contaminao da gua. A metodologia utilizada constou de trs etapas. Na primeira, levantou-se os diversos tipos de sistemas de reso de gua e os processos de tratamento utilizados para proporcionar uma escolha segura e econmica do sistema de reso a ser adotado. Na segunda etapa, realizou-se inicialmente um levantamento de dados mediante entrevistas com os projetistas e empreendedores para identificao de sistemas de reso de gua em mbito regional, seguido da pesquisa de campo, com visitas s edificaes que possuem sistemas implantados e em execuo, para verificar o desempenho do sistema e o grau de satisfao dos usurios. Finalmente, foi realizado um estudo de caso com a implantao de sistema de reso direto de efluentes dos equipamentos dos laboratrios da Faculdade de Farmcia da UFG, motivado pela qualidade e quantidade dos efluentes previamente avaliadas. Na terceira etapa foram elaboradas as diretrizes para a implantao de sistemas de reso em edificaes. Os resultados obtidos com esta pesquisa evidenciaram a necessidade da caracterizao criteriosa da gua de reso em funo da atividade-fim; da quantificao da demanda; da avaliao da oferta; e do treinamento da mo-de-obra para manter e operar o sistema. Os resultados indicaram ainda como diretrizes de projeto a utilizao das tubulaes, peas e conexes hidrulicas em cores e dimetros diferenciados; o cuidado para evitar contato da gua de reso com a gua potvel no reservatrio, alm da instalao de placas de alerta e controle da qualidade da gua. Os resultados deste trabalho serviro para subsidiar a implantao de sistemas de reso de gua em outras unidades acadmicas de mesma tipologia bem como contribuir para a normatizao de sistemas de reso no Brasil.

    Palavras-chave: reso de gua; fontes alternativas de gua; conservao da gua.

  • vii

    ABSTRACT

    Water, as something essential for life, must be used and reused properly to maximize its benefits. This study focuses the water reuse in water supply system for domestic and academic facilities. The general objective is to contribute to the sustainability of buildings by means of water conservation practices which increase its availability by using alternative water sources. The specific objective of this work is to present guidelines for conception, execution, use and maintenance of these systems, to meet safety requirements in order to prevent water contamination. The methodology applied consisted of three steps. First, it was identified the various types of water reuse systems and discussed the available treatment processes to ensure a secure and economic choice of the system to be adopted. Second, professional project designers and constructors were interviewed to collect data to identify how the water reuse systems have being implementing in the region. At this time field research were conducted by visiting buildings where these systems are used and under construction in order to verify their performance and to evaluate user's satisfaction. Also a case study of direct reuse of water effluents was implanted in the laboratories of the Pharmacy School of the Federal University of Gois, motivated by the quality and quantity of the effluents previously identified. As a third step of the methodology, a series of devising guidelines for water reuse systems in buildings were proposed. Results of this research stresses the need to: perform a detailed characterization of the water to be reused according to its purpose; supply evaluation demand; qualify workmanship to maintain and operate the system; use different colors and diameters of piping and hydraulic connections; avoid contact between reusable and potable water in the storage tanks; set alert signs; and perform water quality control. The results of this study can subsidize the implantation of water reuse systems in other university schools of the same kind, as well as contribute to the regulation of water reuse systems in Brazil.

    Key words: water reuse, alternative water sources, water conservation.

  • viii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1 Reso indireto no planejado de gua ..................................................... 7

    Figura 2.2 Reso indireto planejado de gua ............................................................ 7

    Figura 2.3 Reso direto planejado de gua ............................................................... 8

    Figura 2.4 Bacia sanitria com utilizao direta do efluente do lavatrio na

    descarga ................................................................................................... 9

    Figura 2.5 Sistema predial de reso de gua no potvel ......................................... 10

    Figura 2.6(a) Vlvula de reteno dupla (Double Check DC).................................... 13

    Figura 2.6(b) Esquema do reservatrio de gua de reso .............................................. 13

    Figura 2.7 Exemplo de aviso de gua recuperada nos EUA ..................................... 15

    Figura 2.8 Esquema da combinao de wetlands construdas, plantas aquticas e

    filtros de areia para recuperao de efluente domstico e reso de gua 23

    Figura 2.9 Corte transversal da clula 1 combinando wetland de fluxo vertical e

    filtro de areia ............................................................................................ 23

    Figura 2.10 Forma incorreta de execuo do sistema. Contato direto da tubulao

    de gua potvel com a gua no potvel (conexo cruzada) ................... 25

    Figura 2.11 Esquema de sistema de tratamento de efluente domstico ...................... 27

    Figura 2.12 Sistema RTK da Acquabrasilis ................................................................ 32

    Figura 2.13 Desenho esquemtico do sistema de tratamento RTK............................. 33

    Figura 2.14 Sistema de tratamento das guas cinzas .................................................. 33

    Figura 2.15 Sistema de tratamento da gua de chuva ................................................. 34

    Figura 2.16 Taboas vegetao nativa de terrenos alagadios................................... 35

    Figura 2.17 Corte transversal do sistema de escoamento subsuperficial (SFS).......... 36

    Figura 3.1 Fluxograma da metodologia para elaborao de diretrizes para a

    concepo de sistemas de reso de gua em edificaes........................ 50

    Figura 4.1 Localizao da bomba de recalque, no jardim ao lado da rea das

    piscinas..................................................................................................... 55

    Figura 4.2 Esquema de tratamento de efluentes por valas de infiltrao ou

    septodifusores .......................................................................................... 55

  • ix

    Figura 4.3 Vista geral do sistema de tratamento de esgoto tipo ROTOGINE

    construdo no Clube Nutico de Caldas Novas ....................................... 56

    Figura 4.4 Etapas do sistema zona de razes .......................................................... 58

    Figura 4.5(a) Sistema de zona de razes implantado no jardim da Fundao Pr-

    Cerrado- Goinia...................................................................................... 58

    Figura 4.5(b) Lrio do Brejo

    espcie de planta aqutica utilizada no sistema zona

    de razes .................................................................................................. 58

    Figura 4.6(a) Vista do campo de futebol do Campus da UCG...................................... 60

    Figura 4.6(b) Bacia sanitria do vestirio feminino....................................................... 60

    Figura 4.7 Desenho esquemtico de localizao do Centro Internacional de

    Neurocincias e Reabilitao................................................................... 61

    Figura 4.8 Unidades do sistema de tratamento implantado....................................... 62

    Figura 4.9 Fluxograma da estao de tratamento avanado de guas residurias

    do CINR................................................................................................... 63

    Figura 4.10 Registro de entrada da gua potvel (Rede de gua externa da

    concessionria CAESB) e caixa de entrada da mesma tubulao. Topo

    do reservatrio de efluente tratado no1 .................................................... 64

    Figura 4.11 Entrada de gua potvel (opcional, normalmente utilizada quando a

    cor e/ou cheiro do efluente no esto bons para o uso nas bacias

    sanitrias) ................................................................................................. 64

    Figura 4.12 rea de jardim e bacia sanitria, ambos com utilizao de efluente

    tratado e sem alerta ao usurio da fonte de abastecimento

    CINR da

    Rede Sarah ............................................................................................... 64

    Figura 5.1 Percentual referente quantidade de cada tipo de equipamento

    destilador de gua da Faculdade de Farmcia, cujo efluente pode ser

    reutilizado ................................................................................................ 65

    Figura 5.2 Fotos do destilador do laboratrio de Bioqumica com a respectiva

    vazo de descarte do efluente .................................................................. 70

    Figura 5.3 Fotos do destilador de protenas do laboratrio de Fsico-qumica de

    alimentos com a respectiva vazo de descarte do efluente ...................... 70

    Figura 5.4 Foto da central de destilao do 2o pavimento ........................................ 75

    Figura 5.4(b) Representao esquemtica do sistema de reso implantado .................. 75

    Figura 5.5 Horta antes da implantao do sistema de reso ..................................... 75

    Figura 5.6 Horta aps a implantao do sistema de reso ........................................ 75

  • x

    Figura 5.7(a) Placa de alerta ao usurio da gua de reso. Torneira de

    limpeza/jardim ......................................................................................... 76

    Figura 5.7(b) Placa de alerta ao usurio. Sistema de irrigao...................................... 76

    Figura 5.7(c) Placa de alerta ao usurio junto do reservatrio de gua de reso........... 76

    Figura 5.8 Variao de temperatura .......................................................................... 77

    Figura 5.9 Tubulao de coleta da gua de reso ..................................................... 78

    Figura 5.10 Sistema de irrigao da horta medicinal .................................................. 78

  • xi

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 2.1 Descrio dos tipos de tratamento para reso de gua e gua

    recuperada................................................................................................ 11

    Quadro 2.2 Distribuio de consumo de gua em residncias unifamiliares de

    interesse social em Goinia...................................................................... 13

    Quadro 2.3 Classificao e parmetros do efluente conforme o tipo de reso........... 20

    Quadro 2.4 Exigncias mnimas de qualidade da gua no-potvel em edifcios ...... 38

    Quadro 2.5 Caractersticas fsicas, qumicas e bacteriolgicas das guas cinzas

    originadas em banheiros brasileiros......................................................... 43

    Quadro 2.6 Caractersticas fsicas, qumicas e bacteriolgicas da gua cinza

    originada em edifcio residencial ............................................................. 44

    Quadro 2.7 Parmetros de qualidade da gua de reso fornecida por uma

    concessionria de gua do Estado de So Paulo...................................... 45

  • xii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 5.1 Potencial de gua descartada dos equipamentos dos Laboratrios da

    Faculdade de Farmcia - UFG. Levantamento preliminar referente ao

    ano de 2005.............................................................................................. 66

    Tabela 5.2 Consumo mensal de gua nas Faculdades de Farmcia e Odontologia

    da UFG em 2005...................................................................................... 67

    Tabela 5.3 Potencial de gua descartada dos equipamentos dos Laboratrios da

    Faculdade de Farmcia - UFG. Referncia ano 2006, antes do sistema

    implantado ............................................................................................... 69

    Tabela 5.4 Consumo mensal de gua nas Faculdades de Farmcia e Odontologia

    da UFG em 2006...................................................................................... 69

    Tabela 5.5 Resultado das anlises fsico-qumica e bacteriolgica da gua para

    reso descartada dos destiladores ............................................................ 72

    Tabela 5.6 Potencial de gua descartada dos equipamentos dos Laboratrios da

    Faculdade de Farmcia - UFG. Referncia ms de setembro/2006,

    aps sistema implantado .......................................................................... 74

  • xiii

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABES Associao Brasileira de Engenharia Sanitria e Ambiental

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    CAESB Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal

    CINR Centro Internacional de Neurocincias e Reabilitao da Rede Sarah

    CNRH Conselho Nacional de Recursos Hdricos

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    COT Carbono Orgnico Total

    CTCT Cmara Tcnica de Cincia e Tecnologia

    DBO Demanda Bioqumica de Oxignio

    DQO Demanda Qumica de Oxignio

    ETA Estao de Tratamento de gua

    ETE Estao de Tratamento de Esgoto

    EUA Estados Unidos da Amrica

    Fiesp Federao das Indstrias do Estado de So Paulo

    FWS Sistema de Superfcie Livre da gua

    GT-Reso Grupo de Trabalho sobre Reso de gua

    IC Indicador de consumo

    IR Impacto de reduo

    LabCau Laboratrio Casa Autnoma de Arquitetura Sustentvel

    NBR Norma Brasileira Regulamentada

    SANEAGO Saneamento de Gois S/A

    SCC Superintendncia de Cobrana e Conservao

    SFS Sistema de Escoamento Subsuperficial

    SINDUSCON-GO Sindicato da Indstria da Construo no Estado de Gois

    SST Slidos Suspensos Totais

    UFG Universidade Federal de Gois

    UnB Universidade de Braslia

    USEPA Environmental Protection Agency of USA

    UV Ultravioleta

    WHO World Health Organization

  • xiv

    SUMRIO

    1 INTRODUO............................................................................................... 1

    1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 3

    1.2 OBJETIVOS . ................................................................................................... 3

    2 SISTEMAS DE RESO DE GUA.............................................................. 5

    2.1 CONCEITUAO........................................................................................... 5

    2.2 TIPOS DE SISTEMAS..................................................................................... 6

    2.3 ELEMENTOS E COMPONENTES DO SISTEMA DE RESO DE GUA............................................................................................................... 10

    2.3.1 Sistema de coleta de gua de reso................................................................ 10

    2.3.2 Sistema de tratamento de gua de reso ...................................................... 11

    2.3.3 Sistema de reservao de gua de reso ....................................................... 12

    2.3.4 Sistema de distribuio de gua de reso ..................................................... 13

    2.4 EVOLUO HISTRICA .............................................................................. 15

    2.5 LEGISLAO SOBRE O RESO DE GUA NO BRASIL......................... 18

    2.6 EXPERINCIAS SOBRE RESO EM SISTEMAS PREDIAIS.................... 21

    2.6.1 Experincias internacionais ........................................................................... 21

    2.6.2 Experincias nacionais ................................................................................... 27

    2.7 ALTERNATIVAS TECNOLGICAS DE TRATAMENTO PARA EFLUENTES .................................................................................................... 30

    2.7.1 Sistema RTK ................................................................................................... 31

    2.7.2 Reso combinado de guas cinzas e gua de chuva..................................... 33

    2.7.3 Sistema zona de razes ................................................................................ 34

    2.8 QUALIDADE DA GUA DE RESO ........................................................... 36

    2.8.1 Caractersticas das guas residurias .......................................................... 36

    2.8.2 Controle da qualidade da gua de reso ...................................................... 37

    2.9 FONTES ALTERNATIVAS DA GUA DE RESO .................................... 42

    2.9.1 gua cinza ....................................................................................................... 43

    2.9.2 Fornecimento de gua de reso ..................................................................... 45

    2.10 REQUISITOS DE DESEMPENHO DO SISTEMA DE RESO DE GUA. 46

    2.10.1 Requisitos de desempenho relacionados com a utilizao do sistema de reso de gua ................................................................................................... 47

    2.10.1.1 Requisitos de desempenho do sistema de suprimento de gua de reso .......... 47

  • xv

    2.10.1.2 Requisitos de desempenho do sistema de coleta de gua de reso................... 47

    2.10.1.3 Requisitos de desempenho relacionados com as condies de exposio do sistema de gua de reso................................................................................... 48

    3 METODOLOGIA DA PESQUISA ............................................................... 50

    3.1 ENTREVISTAS................................................................................................ 51

    3.2 PESQUISA DE CAMPO.................................................................................. 51

    3.3 ESTUDO DE CASO: FACULDADE DE FARMCIA DA UFG .................. 52

    4 COLETA DE DADOS .................................................................................... 54

    4.1 CLUBE NUTICO .......................................................................................... 54

    4.2 CAMPUS II UNIVERSIDADE CATLICA DE GOIS............................ 57

    4.3 CINR BRASLIA-DF .................................................................................... 60

    5 ESTUDO DE CASO - FACULDADE DE FARMCIA DA UFG ............. 65

    5.1 ANLISE DOS PARMETROS FSICO-QUMICOS.................................. 73

    5.2 ANLISE DOS PARMETROS BACTERIOLGICOS - COLIFORMES FECAIS E COLIFORMES TOTAIS................................................................ 73

    5.3 ANLISE DO VOLUME DESCARTADO APS SISTEMA IMPLANTADO ................................................................................................ 73

    6 RESULTADOS ............................................................................................... 79

    6.1 DIRETRIZES PARA CONCEPO............................................................... 80

    6.1.1 Caracterizao da gua de reso de acordo com a atividade-fim .............. 80

    6.1.2 Quantificao da demanda de gua .............................................................. 81

    6.1.3 Avaliao da oferta ......................................................................................... 81

    6.1.4 Escolha do tipo de tratamento da gua a ser reutilizada ............................ 82

    6.1.5 Elaborao do projeto de sistema de reso de gua .................................... 82

    6.2 DIRETRIZES PARA EXECUO, MANUTENO E CONTROLE DO SISTEMA ......................................................................................................... 82

    6.2.1 Treinamento de mo-de-obra ........................................................................ 82

    6.2.2 Instalao de placas de alerta ao usurio ..................................................... 83

    6.2.3 Controle de qualidade da gua ...................................................................... 83

    7 CONSIDERAES FINAIS E RECOMENDAES ............................... 84

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................................... 86

    ANEXOS

    ANEXO I

    CLASSIFICAO DOS CORPOS DE GUA EM FUNO DOS USOS PREPONDERANTES - RESOLUO CONAMA No

    57/2005 91

    ANEXO II - RESOLUO No 54/2005 CNRH ........................................... 93

    ANEXO III PADRES DE QUALIDADE DA GUA PARA RESO ..... 98

  • xvi

    ANEXO IV

    PARMETROS DE CARACTERIZAO DOS

    EFLUENTES DOMSTICOS.......................................................................... 102

    ANEXO V

    ROTEIRO PARA LEVANTAMENTO DE DADOS DAS

    EDIFICAES COM O SISTEMA DE RESO............................................ 106

    ANEXO VI

    PLANILHA DE COLETA DOS DADOS DA

    FREQNCIA DE UTILIZAO DOS DESTILADORES.......................... 109

    ANEXO VII - PROJETO DO SISTEMA DE RESO DE GUA DA FACULDADE DE FARMCIA...................................................................... 111

    ANEXO VIII

    ANLISES FSICO-QUMICAS E BACTERIOLGICAS DA GUA ........................................................................................................ 114

    ANEXO IX

    PLANILHA DE CLCULO DO SISTEMA DE RESO DE GUA............................................................................................................... 119

  • 1 INTRODUO

    A gua um insumo essencial maioria das atividades econmicas e uma gesto

    adequada de suma importncia para a manuteno de sua oferta em termos de quantidade e

    qualidade. Aparentemente, os recursos hdricos no Brasil so abundantes, pois 12% das guas

    doces do planeta e 53% do continente sul-americano esto em seu territrio. No entanto, a

    distribuio dessas guas irregular nas diferentes regies do Pas, como ocorre tambm nas

    maiores potncias mundiais que demandam gua em quantidade e qualidade cada dia maiores

    (REBOUAS, 2002).

    Com base na disponibilidade de menos de 1000 m de gua renovvel por pessoa/ano,

    existem projees que antecipam a escassez progressiva de gua em diversos pases do

    mundo, no perodo de 1955-2025 (MANCUSO; SANTOS, 2003).

    Pelo fato dos mananciais superficiais estarem a cada dia mais poludos, este acarreta o

    aumento dos custos de produo de gua de boa qualidade, limitando o seu uso para o

    consumo humano. Com a degradao dos mananciais de superfcie, a tendncia a tentativa

    cada vez mais freqente da utilizao das guas subterrneas para abastecimento pblico,

    causando em muitas situaes a depleo desta importante reserva estratgica.

    O setor da construo civil, por exemplo, como importante usurio de gua, ter que

    adotar prticas de uso racional e eficiente da gua, de sorte a garantir seu prprio

    desenvolvimento de forma sustentvel, permitindo novos investimentos, expandindo-se e

    garantindo renda e emprego.

    A otimizao do consumo de gua nas edificaes, a partir de medidas para evitar o

    desperdcio por meio de aes de conservao da gua, consiste em uma contribuio para o

    desenvolvimento sustentvel da edificao.

    As guas alternativas so as fontes mais plausveis para satisfazerem as demandas

    menos restritivas, liberando as guas de melhor qualidade para usos mais nobres, como

    abastecimento domstico e consumo humano.

    Segundo Hespanhol (2002): "as guas de qualidade inferior, tais como esgotos,

    particularmente os de origem domstica, guas de drenagem agrcola e guas salobras devem,

    sempre que possvel, ser consideradas como fontes alternativas para usos menos restritivos".

    Nota-se uma preocupao em nvel mundial com o problema, buscando solues para

    essa questo. Em conferncias, debates, dissertaes de mestrado e teses de doutorado tm-se

  • 2

    apresentado contribuies para o desenvolvimento de tecnologias compatveis com o reso de

    gua em atividades industriais, urbanas e rurais.

    As universidades brasileiras, os rgos pblicos sanitrios e ambientais, as associaes

    de sade e saneamento e especialmente a Associao Brasileira de Engenharia Sanitria e

    Ambiental - ABES tm-se preocupado com o problema, discutindo-o em seus encontros e

    congressos cientficos e buscando parmetros para melhor conceituao tcnica e tecnolgica

    dos aspectos relacionados ao reso da gua nas reas de saneamento, recursos hdricos e meio

    ambiente.

    No Brasil, a prtica do uso de esgotos - principalmente para a irrigao de hortalias e

    de algumas culturas forrageiras - de certa forma difundida. Entretanto, constitui-se em um

    procedimento no institucionalizado e tem se desenvolvido at agora sem nenhuma forma de

    planejamento ou controle. Na maioria das vezes totalmente inconsciente por parte do

    usurio, que utiliza guas altamente poludas de crregos e rios adjacentes para irrigao de

    hortalias e outros vegetais, ignorando que esteja exercendo uma prtica danosa sade

    pblica dos usurios e provocando impactos ambientais negativos. Em termos de reso

    industrial, a prtica comea a se implementar, mas ainda associada a iniciativas isoladas, a

    maioria das quais, dentro do setor privado.

    A lei no

    9.433 de 8 de janeiro de 1997, em seu Captulo II, Artigo 2o, Inciso 1,

    estabelece: a necessidade de assegurar atual e s futuras geraes a necessria

    disponibilidade de gua, em padres de qualidade adequados aos respectivos usos , como um

    dos objetivos da Poltica Nacional de Recursos Hdricos. Verificou-se, por intermdio dos

    Planos Diretores de Recursos Hdricos de bacias hidrogrficas - em levantamento realizado a

    fim de se conhecer mais profundamente a realidade nas diversas bacias hidrogrficas

    brasileiras - que h a identificao de problemas relativamente questo de saneamento

    bsico, coleta e tratamento de esgotos e propostas para a implementao de planos de

    saneamento bsico. Entretanto, no se consegue identificar atividades de reso de gua

    utilizando efluentes ps-tratados. Isso se deve ao fato, talvez, do ainda relativo

    desconhecimento dessa tecnologia e por motivos de ordem scio-cultural.

    Mesmo assim, considerando que j existe atividade de reso de gua com fins

    agrcolas em certas regies do Brasil, a qual exercida de maneira informal e sem as

    salvaguardas ambientais e de sade pblica adequadas, torna-se necessrio institucionalizar,

    regulamentar e promover o setor atravs da criao de estruturas de gesto, preparao de

    legislao, disseminao de informao e do desenvolvimento de tecnologias compatveis

    com as nossas condies tcnicas, culturais e scio-econmicas.

  • 3

    nesse sentido que a Superintendncia de Cobrana e Conservao - SCC - da

    Agncia Nacional de guas, inova ao pretender iniciar processos de gesto a fim de fomentar

    e difundir essa tecnologia e ao investigar formas de se estabelecer bases polticas, legais e

    institucionais para o reso de gua no pas.

    No Brasil, a primeira resoluo que estabelece modalidades, diretrizes e critrios

    gerais para a prtica de reso direto no potvel de gua a Resoluo No

    54 do CNRH de

    28/11/2005, publicada em Maro de 2006.

    1.1 JUSTIFICATIVA

    Diante do quadro inicialmente esboado, o tema reso de gua apresenta-se

    atualmente de suma relevncia. Devido a sua prtica descontrolada e cada vez mais freqente

    pela populao necessita-se impor uma abordagem do assunto que envolva a tecnologia, a

    qualidade da gua reutilizada, seu potencial e riscos advindos da reutilizao.

    Justifica-se, ainda, pela importncia em dar suporte a projetistas e executores na

    concepo, elaborao e execuo de sistemas eficazes de reso de gua nas edificaes e

    contribuir para a melhoria dos sistemas prediais que utilizam guas de reso, em termos

    quantitativos e qualitativos, enfatizando os problemas de reso e como esto sendo

    implantados, ou seja, sem diretrizes especficas.

    1.2 OBJETIVOS

    Esta pesquisa tem como objetivo geral contribuir para a sustentabilidade das

    edificaes, promovendo o uso sustentvel da gua por meio de aes de conservao de gua

    que envolvam o uso racional e a utilizao de fontes alternativas de gua nos sistemas prediais

    hidrulicos e sanitrios.

    Os objetivos especficos so:

    realizar estudo de caso na Faculdade de Farmcia da UFG por meio da

    implantao de sistema de reso de efluentes dos equipamentos de destilao para

    a irrigao da horta medicinal e colher subsdios para elaborar as diretrizes;

  • 4

    apresentar diretrizes para concepo, execuo, operao, uso e manuteno de

    sistemas prediais hidrulicos e sanitrios com a utilizao de guas de reso,

    atendendo aos requisitos de segurana, de forma a evitar contaminao no sistema.

  • 5

    2 SISTEMAS DE RESO DE GUA

    Este captulo introduz os termos tcnicos relacionados ao reso de gua e descreve os

    principais tipos de sistemas, seus elementos e componentes, bem como apresenta uma

    evoluo sobre a prtica de reso atravs dos tempos antigos e modernos e as primeiras

    tentativas para a regulamentao.

    A seguir so discutidos aspectos da legislao brasileira abordando as classes e

    caractersticas do efluente e recomendaes para a concepo de sistemas prediais de reso de

    gua.

    Finalizando, so relacionadas experincias internacionais e nacionais de reso de gua

    nos sistemas prediais, apresentadas alternativas tecnolgicas de tratamento de efluentes,

    caractersticas e controle da qualidade necessria, fontes alternativas da gua de reso e

    requisitos de desempenho do sistema de reso de gua.

    2.1 CONCEITUAO

    O conceito de reso de gua no novo e so vrios os trabalhos que abordam esta

    questo e apresentam as opes relacionadas a esta prtica, com a indicao das possveis

    categorias de reso.

    O reso de gua o aproveitamento de guas previamente utilizadas, uma ou mais

    vezes, em alguma atividade humana, para suprir as necessidades de outros usos benficos,

    inclusive o original, podendo ser direto ou indireto, bem como decorrer de aes planejadas

    ou no-planejadas (MANCUSO; SANTOS, 2003).

    A seguir so apresentados os termos mais utilizados em sistemas de reso de gua para

    se descrever as formas de gua e de esgoto, alm de outros:

    gua residuria - o esgoto, a gua descartada, os efluentes lquidos de

    edificaes, indstrias, agroindstrias e agropecuria, tratados ou no.

    gua recuperada - a resultante do tratamento de guas residurias, para uso

    benfico direto ou uso controlado que no ocorra de outra maneira. tambm

    utilizado como gua reciclada.

  • 6

    guas cinzas - esgoto proveniente da banheira, chuveiro, lavanderia (mquinas de

    lavar roupas e tanque) e lavatrio.

    guas negras - esgoto proveniente do bid e da bacia sanitria, esgoto

    contaminado com matria fecal. Tambm se inclui na definio de guas negras

    as guas da pia de cozinha e lavadoras de pratos.

    guas brancas - neste trabalho denominam-se guas brancas aquelas descartadas

    de equipamentos de laboratrios, tais como, destiladores, osmose reversa,

    extratores de lipdios etc. os quais descartam efluentes com caractersticas de guas

    lmpidas.

    gua combinada - a gua de chuva aproveitada como complemento da gua de

    reso.

    gua de reso - a gua residuria que se encontra dentro dos padres exigidos

    para sua utilizao.

    Reciclo de gua - o uso das guas residurias que so coletadas e redirecionadas

    dentro do mesmo esquema de uso da gua. O reciclo praticado freqentemente

    em indstrias, ao nvel de operao da planta industrial. Tambm se utiliza como

    sinnimo o vocbulo reciclagem .

    Conexo cruzada (cross-connection) - ligao fsica por meio de uma conexo ou

    pea que permite o fluxo da gua de um sistema para outro, podendo ser direta

    (presso diferencial) ou indireta, quando o ponto de utilizao est prximo o

    suficiente para que a gua servida possa ser succionada.

    Retrossifonagem - o refluxo da gua em uma conexo cruzada indireta.

    Neste trabalho considera-se como fontes alternativas de gua todas aquelas que

    possibilitam a sua reutilizao, aps tratamento ou no, para consumo no potvel.

    2.2 TIPOS DE SISTEMAS

    Rodrigues (2005) sugere a seguinte classificao de tipos de sistemas de reso,

    baseada na forma como o reso ocorre, o grau de planejamento, a conscincia da prtica, e a

    finalidade para a qual este se destina:

  • 7

    a) Reso indireto no planejado - ocorre quando a gua, utilizada em alguma

    atividade humana, descarregada no meio ambiente e novamente utilizada a

    jusante, em sua forma diluda, de maneira no-intencional e no-controlada,

    conforme ilustra a Figura 2.1. A gua flui at o ponto de captao para o novo

    usurio sujeita s aes naturais do ciclo hidrolgico (diluio, autodepurao).

    Figura 2.1 Reso indireto no planejado de gua. Fonte: Rodrigues (2005)

    b) Reso indireto planejado - acontece quando os efluentes, depois de tratados, so

    descarregados de forma planejada nos corpos de guas superficiais ou subterrneas,

    para serem utilizadas jusante, de maneira controlada, no atendimento de algum

    uso benfico, conforme ilustra a Figura 2.2. O reso indireto planejado da gua

    pressupe a existncia de controle sobre as eventuais novas descargas de efluentes

    no trajeto.

    Figura 2.2 Reso indireto planejado de gua. Fonte: Rodrigues (2005)

  • 8

    c) Reso direto planejado - ocorre quando os efluentes, aps tratados, so

    encaminhados diretamente de seu ponto de descarga at o local do reso, sem

    descarga no meio ambiente. utilizado com mais freqncia na indstria ou em

    irrigao, conforme apresenta a Figura 2.3.

    d) Reciclagem de gua - o reso interno da gua, antes de sua descarga em um

    sistema geral de tratamento ou outro local de disposio, para servir como fonte

    suplementar de abastecimento do uso original. Este um caso particular do reso

    direto planejado. Como exemplo, em sistemas prediais, tem-se o sistema de

    descarga sanitria no qual o efluente do lavatrio cai diretamente na bacia sanitria,

    como ilustra a Figura 2.4.

    Figura 2.3 Reso direto planejado de gua. Fonte: Rodrigues (2005)

  • 9

    e) Reso direto no potvel de gua - abrange as seguintes modalidades:

    reso para fins urbanos: utilizao de gua de reso para fins de irrigao

    paisagstica, lavagem de logradouros pblicos e veculos, desobstruo de

    tubulaes, construo civil, edificaes, combate a incndio, dentro da

    rea urbana;

    reso para fins agrcolas e florestais: aplicao de gua de reso para

    produo agrcola e cultivo de florestas plantadas;

    reso para fins ambientais: utilizao de gua de reso para implantao

    de projetos de recuperao do meio ambiente;

    reso para fins industriais: utilizao de gua de reso em processos,

    atividades e operaes industriais; e,

    reso na aqicultura: utilizao de gua de reso para a criao de animais

    ou cultivo de vegetais aquticos.

    Figura 2.4 Bacia sanitria com utilizao direta do efluente do lavatrio na descarga.

    Fonte: www.atse.org.au/uploads/WRChap3.pdf

    http://www.atse.org.au/uploads/WRChap3.pdf

  • 10

    2.3 ELEMENTOS E COMPONENTES DO SISTEMA DE RESO DE GUA

    O sistema predial de reso de gua no potvel consiste em coletar, tratar e dispor os

    efluentes dos tanques, chuveiros, banheiras e lavatrios de forma que sejam reutilizados em

    bacias sanitrias, na lavagem de pisos e na manuteno de jardins. A Figura 2.5 ilustra o

    fluxograma geral de como deve ser um sistema predial de reso de gua no potvel com seus

    componentes e respectivas etapas, de coleta, tratamento, armazenamento e distribuio.

    Figura 2.5 Sistema predial de reso de gua no potvel. Fonte: Fiesp (2005).

    2.3.1 Sistema de coleta de gua de reso

    Este sistema composto por ramais de descarga e de esgoto, subcoletores e coletores

    que transportam os efluentes gerados nos equipamentos sanitrios e os destina ao tratamento e

    armazenamento. Para a quantificao da demanda de gua nesse sistema importante

    dimension-lo quando da elaborao do projeto hidrulico e sanitrio do edifcio, para que o

    sistema de gua potvel o abastea, caso haja necessidade de fonte suplementar.

    Quando em operao, se houver uma sobrecarga em qualquer parte do sistema, a gua

    excedente direcionada para o coletor predial por meio de uma caixa de inspeo.

    Sistemas de tratamento

    Reservatrio de armazenamento

    Sistema predial de distribuio de gua de reso

    Atividade fim

    Lanamento do efluente na rede geral de esgoto

    Sistema predial de coleta de gua de

    reso

  • 11

    2.3.2 Sistema de tratamento de gua de reso

    Na escolha do processo de tratamento deve-se considerar a caracterizao da gua de

    reso de acordo com a atividade fim. O Quadro 2.1 apresenta de forma sucinta os processos

    de tratamento mais apropriados para os sistemas de gua recuperada e reso de gua em

    edifcios.

    Quadro 2.1 - Descrio dos tipos de tratamento para reso de gua e gua recuperada. Fonte: Fiesp (2005).

    Processo Descrio Aplicao Separao lquido/slido

    SEDIMENTAO

    Sedimentao por gravidade de substncia particulada, flocos

    qumicos e precipitao.

    Remove partculas suspensas que so maiores que 30m. Tipicamente usado como

    tratamento primrio e depois do processo biolgico

    secundrio.

    FILTRAO

    Remove partculas atravs da passagem da gua por areia ou outro

    meio poroso.

    Remoo de partculas suspensas que so maiores

    que 3m. Tipicamente usadas depois da

    sedimentao (tratamento convencional) ou seguido de

    coagulao/floculao.

    Tratamento Biolgico

    TRATAMENTO AERBICO BIOLGICO

    Metabolismo biolgico do esgoto atravs de microrganismos em uma

    bacia de aerao ou processo de biofilme.

    Remoo de matria orgnica suspensa e dissolvida do esgoto.

    DESINFECO

    Inativao de organismos patognicos usando produtos qumicos oxidantes, raios ultravioleta, produtos qumicos

    corrosivos, calor ou processos de separao fsica (membranas).

    Proteo da sade pblica atravs da remoo de

    organismos patognicos.

    COAGULAO/ FLOCULAO

    QUMICA

    Uso de sais de ferro ou alumnio, polieletrlise e/ou oznio para promover desestabilizao das partculas colides do esgoto

    recuperado e precipitao de fsforo.

    Formao de fsforos precipitados e floculao de

    partculas para remoo atravs de sedimentao e

    filtrao.

  • 12

    Quadro 2.1 - Descrio dos tipos de tratamento para reso de gua e gua recuperada. Fonte: Fiesp (2005). (continuao)

    Processo Descrio Aplicao Tratamento Avanado

    TRATAMENTO COM CAL

    Precipita ctions e metais de soluo.

    Usado para modificao de pH e precipitao de

    fsforo.

    FILTRAO DE MEMBRANA

    Microfiltrao, nanofiltrao e ultrafiltrao.

    Remoo de partculas e microrganismos da gua.

    OSMOSE REVERSA

    Sistema de membrana para separar ons de soluo baseados no

    diferencial da presso osmtica reversa.

    Remoo de sais dissolvidos e minerais de soluo;

    tambm eficiente na remoo de partculas.

    2.3.3 Sistema de reservao de gua de reso

    O volume de gua reutilizvel varia de acordo com a tipologia das edificaes. Em

    edifcios comerciais este volume pequeno quando comparado ao dos edifcios residenciais,

    onde a oferta de gua reutilizvel maior em funo da higiene pessoal.

    O dimensionamento do reservatrio deve atender tipologia da edificao,

    considerando as vazes dos equipamentos sanitrios (fontes produtoras de gua cinza) e a

    demanda de gua dos aparelhos integrantes do sistema (fontes consumidoras de gua

    reutilizada).

    Os estudos sobre a quantidade de gua consumida por aparelho em uma residncia no

    so muitos e variam bastante. Em pesquisa realizada por Oliveira et al. (2006), levantaram-se

    os dados constantes do Quadro 2.2.

  • 13

    Quadro 2.2

    Distribuio de consumo de gua em residncias unifamiliares de interesse social em Goinia.

    Fonte: Oliveira et al., (2006).

    Utilizao Percentual do Consumo (%)

    Pia 17

    Lavatrio 6

    Rega de jardins 3

    Chuveiro 43

    Lavar roupa 12

    Bacia sanitria 19

    2.3.4 Sistema de distribuio de gua de reso

    Do reservatrio a gua de reso distribuda aos pontos de consumo por um sistema

    independente do sistema de gua potvel. Na insuficincia de gua de reso, a fonte de gua

    potvel supre esta falta por meio de um sistema de alimentao de forma a evitar qualquer

    risco de contaminao do sistema de gua potvel. Na interligao dos dois sistemas dever

    ter um registro de gaveta e uma vlvula de reteno dupla, ilustrada nas Figuras 2.6(a) e

    2.6(b), instalados de forma a impossibilitar o contato entre a gua potvel e a gua de reso

    (conexo cruzada). Outra medida que deve ser adotada para evitar que ocorra contato entre a

    gua potvel e a de reso que a cota da entrada no reservatrio de gua potvel esteja em um

    nvel superior cota do nvel mximo do reservatrio de gua de reso.

    Figura 2.6(a)

    Vlvula de reteno dupla (Double Check DC).

    Fonte: www.usc.edu/dept/fccchr/intro.html

    Figura 2.6(b)

    Esquema de reservatrio de gua de reso.

    http://www.usc.edu/dept/fccchr/intro.html

  • 14

    O sistema de distribuio de gua para reso deve estar bem caracterizado, no projeto

    e ps-execuo, para que se evitem conexes cruzadas e uso incorreto do abastecimento

    pretendido. Segundo NBR 5626 (ABNT,1998), conexo cruzada significa: qualquer ligao

    fsica por meio de pea, dispositivo ou outro arranjo que conecte duas tubulaes das quais

    uma conduz gua potvel e a outra gua de qualidade desconhecida ou no potvel . A

    implantao de redes em reas servidas por sistemas duplos de distribuio (potvel e no-

    potvel) deve obedecer a um conjunto de critrios e normas (ABES apud SANTOS, 2003),

    tais como:

    obedincia a distncias entre as tubulaes de gua de reso, gua potvel, gua

    pluvial e esgotos sanitrios, assim citadas na ordem usual de profundidades

    crescentes de assentamento;

    nos Estados Unidos, na localidade Irvine Ranch, como medida cautelar adicional,

    adota-se material especial para as tubulaes nos pontos de cruzamento vertical

    com o sistema distribuidor de gua potvel;

    todas as vlvulas de sada da rede de reso so marcadas por cor diferente, como

    na Califrnia, ou por caixas de forma diferente, como na Flrida;

    todas as tubulaes da rede de reso so diferenciadas por cor diferente ou por

    rtulos indicando Esgoto tratado, fixados por fitas adesivas de vinil a cada dois

    metros ao longo da tubulao;

    os hidrmetros do sistema so de marca diferente dos utilizados na rede de gua

    potvel e so guardados em almoxarifados distintos, juntamente com suas peas de

    reposio. Em So Petersburgo, nos EUA, os hidrmetros so marrons e trazem

    uma faixa amarela, bem diferentes dos de gua potvel, que so prateados;

    os aspersores de irrigao com gua no potvel e os registros de parada ou de

    sada tm terminais de hastes com formato tal, que tornam propositalmente difcil

    sua manobra por pessoal no autorizado;

    o uso de mangueiras no permitido, sendo especialmente dificultado pela

    ausncia de engates adequados na rede para conexo de mangueiras;

    os operadores do sistema de gua de reso so treinados e contam com manuais

    especficos para o desempenho de suas funes.

    Conforme a U.S.EPA (2004), os sistemas de reso de gua devem conter avisos para a

    populao no beber a gua recuperada, informando dentro de padres internacionais que a

  • 15

    gua no potvel. A Figura 2.7 apresenta o exemplo de smbolo usado para alertar sobre a

    qualidade da gua e proibio de sua ingesto, nos Estados Unidos.

    Figura 2.7 - Exemplo de aviso de gua recuperada nos EUA. Fonte: U.S.EPA, 2004.

    2.4 EVOLUO HISTRICA

    A natureza, por meio do ciclo hidrolgico, vem reutilizando a gua h milhes de

    anos, com muita eficincia.

    Cidades, lavouras e indstrias j se utilizam, h muitos anos, de uma forma indireta,

    ou pelo menos no planejada de reso, que resulta da utilizao de guas, por usurios de

    jusante que captam guas j utilizadas e devolvidas aos rios pelos usurios de montante.

    Milhes de pessoas no mundo todo so abastecidas por esta forma indireta de gua de reso.

    Provm da comunidade de Minos, na Grcia, o mais antigo registro de reso de gua

    ocorrido, no caso, na reutilizao para a agricultura. Modernamente, tem-se notcia de reso

    de gua, em Londres, no sculo XIX, quando da implantao dos coletores de esgoto. Era um

    tipo de reso no planejado, por isso responsvel pelas epidemias de clera asitica e de febre

    tifide nos anos 1840-1850. Essas epidemias foram solucionadas com a localizao das

    captaes de gua montante e as descargas de esgotos jusante da cidade (ASANO;

    LEVINE, 1996). Durante muitos anos este sistema funcionou de forma satisfatria, o que no

    acontece mais em muitas regies, em face do agravamento das condies de poluio,

    basicamente pela falta de tratamento adequado de efluentes urbanos, quando no pela sua

    total inexistncia.

    Evoluiu-se, ento, para uma forma denominada direta de reso, que aquela em que

    um efluente tratado para sua reutilizao em uma determinada finalidade, que pode ser

  • 16

    interna ao prprio empreendimento, ou outra externa, para uma finalidade distinta da primeira

    como, por exemplo, a prtica de reso de efluentes urbanos tratados para fins agrcolas. A

    forma direta ou planejada utiliza tecnologias e prticas de renovao e reso de gua que

    atravessaram uma srie de fases nos ltimos duzentos anos (FIESP, 2004).

    A primeira fase foi motivada por uma vertente baseada no conceito conservacionista

    em que os dejetos da sociedade deveriam ser conservados e utilizados para preservar a

    fertilidade dos solos, enquanto a outra, numa abordagem mais pragmtica, era direcionada

    para a eliminao da poluio dos rios. No final do sculo XIX, o conceito de tratamento de

    efluentes domsticos por disposio nos solos foi utilizado na Gr-Bretanha, Alemanha e nos

    Estados Unidos com um enfoque central na reduo da poluio dos rios e no como um

    mtodo conservacionista de recarga de aqferos ou de aumento de nutrientes para o solo

    (FIESP, 2004).

    Na segunda fase, que se pode considerar at o final de 1990, o principal enfoque foi

    basicamente a necessidade de se conservar e reutilizar gua em zonas ridas. Verificaram-se

    grandes esforos de reso de gua para o desenvolvimento agrcola em zonas ridas dos

    Estados Unidos, como Califrnia e Texas, e em pases como a frica do Sul, Israel e ndia.

    Em Israel, um dos pases da regio de maior escassez de gua do planeta (possui apenas 1%

    do estoque anual de gua renovvel do planeta), o reso de guas residurias tornou-se uma

    poltica nacional em 1955. O plano nacional de guas inclua reso dos principais sistemas de

    tratamento de efluentes das cidades no programa de desenvolvimento dos limitados recursos

    hdricos do pas, tendo na produo de esgotos um significado crescente e confivel de gua

    (FIESP, 2004).

    A terceira fase, a atual, baseada na urgente necessidade de se reduzir a poluio dos

    rios e lagos. Como as exigncias ambientais foram se tornando cada vez mais restritivas, os

    planejadores concluram que, dados os altos investimentos requeridos para o tratamento dos

    efluentes, se torna mais vantajoso reutilizar estes efluentes ao invs de lan-los de volta aos

    rios (FIESP, 2004).

    A substituio da gua potvel pela gua servida, com caractersticas diferentes da

    gua potvel, comeou pelas comunidades globais mais desenvolvidas, onde j se tem a

    conscincia que a responsabilidade pelo uso da gua de carter pessoal e individual.

    No Japo, EUA, Austrlia, Canad, Alemanha, Sucia e Reino Unido, h algumas

    dcadas, j ocorre a utilizao da gua servida para fins no potveis em edificaes, por

    exemplo, nas bacias sanitrias e na irrigao de jardins, sendo desenvolvidas pesquisas sobre

    as aplicaes das guas servidas. Nos EUA e na Austrlia, o reso da gua ganhou maior

  • 17

    aceitao e segurana, aps a implantao do Cdigo de Sistemas Prediais da Califrnia e do

    Manual de Diretrizes para uso domstico de guas cinzas da Austrlia (2002), pois at ento a

    Austrlia vinha enfrentando srios problemas de seca. No Japo, a alta densidade

    populacional para o reduzido espao geogrfico levou prtica do reso de gua, no incio,

    sem nenhuma regulamentao, o que gerou mais problemas, como exemplo, as epidemias

    (DIXON et al., 1999).

    Os primeiros regulamentos para irrigao de vegetais com o uso de esgoto foram

    editados pelo Estado da Califrnia, em 1918, sobrevindo, somente em 1970, o Cdigo de

    guas daquele Estado norte-americano que declarou expressamente a inteno do poder

    legislativo do Estado de tomar todas as providncias para incentivar a construo de sistemas

    com reciclagem de gua e para que a gua reciclada esteja disponvel para ajudar a suprir a

    demanda estadual de gua (DIXON et al., 1999). O estado da Califrnia possui desde Janeiro

    de 2005 um manual de reso de guas cinzas para irrigao de jardins internamente

    propriedade, para auxiliar os contratantes a projetarem, instalarem e manterem o sistema de

    acordo com os padres de exigncias do Estado.

    Em 1958, o Conselho Econmico e Social das Naes Unidas declarou que gua de

    qualidade superior, a no ser que exista em abundncia, no deve ser utilizada para um

    propsito que tolere o uso de gua de uma qualidade inferior (OKUN, 1996 apud SILVA

    et al., 2004).

    Finalmente, em 1991, a Comisso das Comunidades Europias expediu diretrizes

    declarando que guas residurias tratadas devem ser reutilizadas quando for apropriado.

    Essas medidas devero minimizar os impactos adversos no meio ambiente

    (ASANO;

    LEVINE, 1996).

    A evoluo da prtica de reso da gua representa importante contribuio ao

    desenvolvimento sustentvel, definido como o que atende s necessidades atuais sem

    comprometer a capacidade das futuras geraes de atenderem suas prprias necessidades

    (AGENDA 21 PARA CONSTRUO SUSTENTVEL, 1992).

    Na elaborao do documento AGENDA 21, objetivou-se integrar o desenvolvimento

    econmico proteo ambiental de forma a melhorar a qualidade de vida dos seres humanos,

    reforando, desta forma o conceito de desenvolvimento sustentvel. Em seu captulo 18, a

    AGENDA 21 prope programas para o uso sustentvel da gua.

    A promoo do uso sustentvel da gua d-se por meio das aes de conservao que

    envolvem o uso racional da gua e a utilizao de fontes alternativas, no mbito da bacia

    hidrogrfica, nos sistemas pblicos de abastecimento e nos sistemas prediais. Quanto a estes,

  • 18

    constataram-se ndices significativos no desperdcio de gua em aparelhos sanitrios, como

    tambm, o elevado consumo de gua dos mesmos. De Oreo et al. apud OLIVEIRA (1999)

    afirmam que os vazamentos podem representar 11,45% do consumo total de gua em uma

    residncia. Como medida para minimizar estas perdas e combater o desperdcio,

    indispensvel a gesto da demanda de gua, englobando a deteco e correo de vazamentos,

    a utilizao de aparelhos economizadores de gua e o uso de fontes alternativas.

    2.5 LEGISLAO SOBRE O RESO DE GUA NO BRASIL

    As diversas normas que tratam da questo da gua e diretrizes de usos especficos tm

    o amparo da Constituio Federal de 1988 e algumas j constavam da Constituio de 1946.

    A primeira norma a tratar especificamente da gua foi o Decreto No

    24.643, de 10 de

    Julho de 1934, o Cdigo das guas, que definiu os vrios tipos de guas do territrio

    nacional, os critrios para seu aproveitamento e os requisitos relacionados s autorizaes

    para derivao, alm de abordar a questo relacionada contaminao dos corpos d gua

    (CETESB, 1992b apud MIERZWA, 2002). Em seguida, surgiram a Lei Federal

    No

    6.938/1981 (Poltica Nacional do Meio Ambiente), a Lei Federal No

    9.433/1997 (Poltica

    Nacional de Recursos Hdricos) e a Lei Federal No

    9.984/2000 (Agncia Nacional de guas).

    No Brasil, embora no haja uma legislao especfica para reso, na citada Lei no

    9.433/1997 j se ressaltam muitos aspectos direcionados para implantao de uma Poltica

    Nacional de Recursos Hdricos que considere o reso como forma de maximizao destes

    recursos.

    Destaca-se tambm a Resoluo CONAMA No

    20/1986 que foi substituda pela

    No

    357/2005, que dispe sobre a classificao dos corpos de gua e diretrizes ambientais para

    o seu enquadramento, bem como estabelece as condies e padres de lanamento de

    efluentes, e d outras providncias.

    De acordo com a Resoluo CONAMA No

    357, de 17 de maro de 2005, a

    classificao das guas doces, salobras e salinas essencial defesa de seus nveis de

    qualidade, avaliados por condies e padres especficos, de modo a assegurar seus usos

    preponderantes. O Anexo I apresenta a classificao das guas doces enquadradas em cinco

    classes consideradas por esta Resoluo.

    A Resoluo CONAMA No

    20 foi um dos principais instrumentos para o controle dos

    processos de degradao da qualidade de nossos recursos hdricos, at 08 de janeiro de 1997

  • 19

    quando foi sancionada a Lei Federal No

    9.433 que instituiu a Poltica Nacional de Recursos

    Hdricos. Esta Poltica demonstra a importncia da gua e refora seu reconhecimento como

    elemento indispensvel a todos os ecossistemas terrestres, como bem dotado de valor

    econmico, alm de estabelecer que sua gesto deve ser estruturada de forma integrada, com

    necessidade da efetiva participao social, e cria o Conselho Nacional de Recursos Hdricos

    CNRH que um colegiado que desenvolve regras de mediao entre os diversos usurios da

    gua sendo, assim, um dos grandes responsveis pela implementao da gesto dos recursos

    hdricos no Pas. O CNRH possui dez cmaras tcnicas que auxiliam na execuo das suas

    atribuies, entre elas existe a Cmara Tcnica de Cincia e Tecnologia CTCT, dentro da qual

    foi criado o grupo de trabalho sobre reso de gua

    GT-Reso, que possui como objetivo

    propor ao CNRH mecanismos e instrumentos voltados para a regulamentao e

    institucionalizao da prtica do reso no potvel de gua em todo territrio Nacional. Este

    GT-Reso, formulou e foi promulgada em dezembro de 2005 a primeira legislao especfica

    sobre o tema que a Resoluo N 54, de 28 de Novembro de 2005, que estabelece

    modalidades, diretrizes e critrios gerais para a prtica de reso direto no potvel de gua em

    todo o territrio nacional, (vide Anexo II).

    Em So Paulo, foi promulgada a Lei No 14.018, de 28 de Junho de 2005 que instituiu o

    Programa Municipal de Conservao e Uso Racional da gua e Reso em Edificaes, o qual

    tem por objetivo instituir medidas que induzam conservao, uso racional e utilizao de

    fontes alternativas para a captao de gua e reso nas novas edificaes, bem como a

    conscientizao dos usurios sobre a importncia da conservao da gua.

    Em relao ao sistema local de tratamento de esgotos, que tem tanque sptico como

    unidade preliminar, alternativas tcnicas consideradas viveis para proceder ao tratamento

    complementar e disposio final do efluente deste, a ABNT

    Associao Brasileira de

    Normas Tcnicas publicou a NBR 13969/1997. Essa norma define, em termos gerais, as

    classificaes e respectivos valores de parmetros para esgotos, conforme o tipo de uso, como

    possvel ver no Quadro 2.3. Veja-se que, neste Quadro, a Classe 3 refere-se a aplicao em

    bacias sanitrias. Observa-se ainda que a NBR 13.969/1997 no se refere segregao de

    guas cinzas das guas negras.

    Quanto ao grau de tratamento necessrio, a NBR 13969 (ABNT,1997) - item 5.6.4, o

    define para uso mltiplo de esgoto tratado, como regra geral, pelo uso mais restringente

    quanto qualidade de esgoto tratado. No entanto, conforme o volume estimado para cada um

    dos usos, podem-se prever graus progressivos de tratamento (por exemplo, se o volume

    destinado para uso com menor exigncia for expressivo, no haveria necessidade de se

  • 20

    submeter todo volume de esgoto a ser reutilizado ao mximo grau de tratamento, mas apenas

    uma parte, reduzindo-se o custo de implantao e operao), desde que houvesse sistemas

    distintos de reservao e de distribuio.

    Nos casos simples de reso menos exigentes como, por exemplo, descarga de bacias

    sanitrias pode-se prever o uso da gua de enxge das mquinas de lavar, apenas

    desinfetando, reservando aquelas guas e recirculando bacia sanitria, em vez de envi-las

    para o sistema de esgoto para posterior tratamento (NBR13969/1997).

    Quadro 2.3 - Classificao e parmetros do efluente conforme o tipo de reso. Fonte: NBR 13969 (ABNT,1997).

    Classe Exigncias Aplicaes

    1

    Turbidez < 5 Coliforme fecal < 200 NMP/100 ml

    Slidos Dissolvidos Totais < 200 mg/ml pH 6 - 8

    Cloro residual 0,5 1,5 mg/L

    Lavagem de carros e atividades requerem contato direto do usurio com a gua com possvel aspirao

    de aerossis pelo operador

    2 Turbidez < 5

    Coliforme fecal < 500 NMP/100 ml Cloro residual 0,5 1,5 mg/L

    Lavagem de pisos, caladas e irrigao de jardins, manuteno de lagos e canais para fins paisagsticos

    3 Turbidez < 10 Coliforme Fecal < 500 NMP/100 ml

    Descargas de bacias sanitrias

    4 Coliforme fecal < 5000 NMP/100 ml

    Oxignio Dissolvido > 2,0 mg/L

    Pomares, cereais, forragens, pastagens para gados e outros

    cultivos, as aplicaes devem ser interrompidas pelo menos 10 dias

    antes da colheita

    As recomendaes da NBR 13969 (ABNT,1997) para a concepo de sistemas de reso

    de gua so:

    Todo o sistema de reservao deve ser dimensionado para atender pelo menos duas

    horas de uso de gua no pico da demanda diria, exceto para uso na irrigao da

    rea agrcola ou pastoril;

    Todo o sistema de reservao e de distribuio do esgoto a ser reutilizado deve ser

    claramente identificado, atravs de placas de advertncia nos locais estratgicos e

  • 21

    nas torneiras, alm do emprego de cores nas tubulaes e nos tanques de

    reservao distintas das de gua potvel;

    Quando houver usos mltiplos de reso com qualidades distintas, deve-se optar

    pela reservao distinta das guas, com clara identificao das classes de

    qualidades nos reservatrios e nos sistemas de distribuio;

    No caso de reso direto das guas da mquina de lavar roupas para uso na

    descarga das bacias sanitrias, deve-se prever a reservao do volume total da gua

    de enxge;

    O sistema de reservao para aplicao nas culturas cujas demandas pela gua no

    so constantes durante o seu ciclo deve prever uma preservao ou rea alternada

    destinada ao uso da gua sobressalente na fase de menor demanda.

    2.6 EXPERINCIAS SOBRE RESO EM SISTEMAS PREDIAIS

    H pelo menos 30 anos, pases que j vislumbravam possibilidades de enfrentar

    problemas relativos escassez da gua vm desenvolvendo pesquisas relacionadas ao uso

    racional da gua, de forma a garantir a sustentabilidade dos recursos hdricos naturais

    (THAME, 2000 apud SAUTCHK, 2004).

    Figuram entre esses pases os localizados nas regies ridas e semi-ridas do planeta,

    como no Oriente Mdio e em algumas regies desrticas dos Estados Unidos (Califrnia,

    Arizona, Nevada, Colorado), muitos deles, como Austrlia, Japo, Itlia, Grcia, Portugal,

    entre outros, com polticas de recursos hdricos voltadas para o futuro e para a preservao de

    suas fontes de gua para abastecimento (VITORATTO; SILVA, 2004).

    Nota-se uma conscientizao mundial da necessidade de reduzir-se o consumo de

    gua, pois associado sua crescente demanda est o seu elevado custo para consumo.

    2.6.1 Experincias internacionais

    Em Sidney, na Austrlia implantou-se um projeto de reso domstico num bairro de

    300 mil habitantes, onde a gua reutilizada para fins no potveis, na descarga de bacias

    sanitrias, lavagem de carros, irrigao ornamental e de lugares abertos. Decidiu-se que seria

    implantado um sistema de reso de gua com a finalidade de reduzir o consumo de gua

    potvel e diminuir o impacto ambiental causado pela descarga de esgoto no rio prximo ao

  • 22

    bairro. Estimou-se que, com a implantao do sistema duplo de gua (potvel e reciclada) a

    economia seria em torno de 40%, uma vez que o custo de gua de reso representa menos de

    um tero do de gua potvel (LAW, 1996).

    Um sistema relativamente recente, denominado wetlands (zona de razes), foi aplicado

    na Carolina do Norte - EUA, para a recuperao de esgoto domstico e sua reutilizao nas

    bacias sanitrias, irrigao de jardins e melhoria da caracterstica esttica da gua,

    combinando wetlands construdas e filtros de areia. O projeto de fcil construo pode ser

    implantado tanto em ambientes internos quanto em reas externas, pois esteticamente

    agradvel, com a gua efluente sem qualquer odor e bastante clara.

    Este sistema, projetado para tratar 4.500 litros/dia de esgoto domstico e reutiliz-lo

    nas bacias sanitrias de uma escola na rea rural, simples e de baixo custo tecnolgico.

    Utilizaram-se plantas selecionadas geneticamente para maximizar o potencial de recuperao

    do esgoto. So plantas cujo habitat so ambientes aquticos e as espcies se desenvolvem em

    funo do tipo de regio, localidade (margem, flutuante, submersa e emergente) e mobilidade.

    Com a combinao de fluxos horizontais e verticais e controles na entrada e sada do sistema,

    obteve-se a eficincia necessria da nitrificao, que a oxidao biolgica dos compostos

    inorgnicos, como a Amnia NH3 em Nitrato NO3-, da desnitrificao, que a reduo do

    Nitrato a Nitrognio molecular (N2), da remoo de matria orgnica e da adsoro do fsforo

    (HOUSE et al., 1999).

    O sistema aplicado, apresentado nas Figuras 2.8 e 2.9, resultou num potencial de

    eficincia bastante satisfatrio, avaliado de janeiro de 1993 a dezembro de 1997, com reduo

    de 77% na concentrao do nitrognio total e 97% na concentrao do nitrognio amoniacal.

    Aps avaliao laboratorial no filtro verificou-se que o potencial de remoo de fsforo

    atingiu 80%. Os slidos suspensos reduziram-se em 57% e a DBO 97%. Os microorganismos

    patolgicos tiveram reduo mais eficiente com as clulas de fluxos verticais e horizontais

    ligadas em srie (HOUSE et al., 1999).

  • 23

    Figura 2.8

    Esquema da combinao de wetlands construdas, plantas aquticas e filtros de areia para recuperao de efluente domstico e reso de gua.

    Fonte: House et al. (1999).

    Figura 2.9 - Corte transversal da clula 1 combinando wetland de fluxo vertical e filtro de areia. Fonte: House et al. (1999).

  • 24

    Na Frana, nos ltimos anos, tm-se desenvolvido pesquisas para habitaes coletivas

    para que o sistema predial apropriado ao reso de gua seja projetado segundo novas

    regulamentaes sanitrias, ou seja, a serem criadas de acordo com a realidade local, uma vez

    que at ento eram consideradas as regulamentaes editadas para toda a Comunidade

    Europia (DERRIEN; GOUVELLO, 2003).

    O Canad, considerado h tempos uma nao rica em gua, est enfrentando srios

    problemas de poluio e escassez, devido a um longo perodo de uso descontrolado da gua

    subterrnea e uma baixa tarifa cobrada. Por estas razes, programas de conservao e controle

    do uso tm-se desenvolvido num esforo contnuo para aumentar a oferta de gua. Projetos

    que promovem e desenvolvem tecnologias de reso de guas vm sendo implementados e

    subsidiados pelo governo, resultando em incentivos para outras regies (SOROCZAN, 1998).

    O Canad promoveu um concurso nacional para premiar a elaborao de projetos de

    casas que apresentassem o menor consumo de gua. O projeto vencedor previu um sistema

    de tratamento para gua da chuva, a ser usada na cozinha, por um mtodo de filtragem por

    carvo ativado e desinfeco por radiao ultravioleta. A gua circula entre um tanque e um

    filtro biolgico, donde encaminhada para um filtro de areia, outro de carvo ativado,

    desinfetada por ultravioleta e finalmente utilizada em banhos, descargas, lavanderia e

    jardinagem. Aps o uso a gua segue para outro tanque sptico e o excesso, sai do tanque de

    recirculao e depositado em uma camada de cascalho (PALOHEMINO, 1996 apud

    SILVA, 2004).

    O Japo, um dos pases pioneiros no aproveitamento de gua de chuva e reso de

    gua, construiu, em 1980, na cidade de Fukuoka, 20 edifcios pblicos, com sistema que

    previu a utilizao de gua de reso nas bacias sanitrias, totalizando um volume de

    400 m/dia. Devido ao grande sucesso, este projeto se estendeu para vrias outras edificaes

    pblicas e particulares, com o subsdio do Ministrio da Construo (ASANO; LEVINE,

    1996).

    A Holanda tambm tem investido em reso de gua. Devido a grandes problemas

    enfrentados na dcada de 1960, que se agravaram at a dcada de 1990, com a poluio das

    fontes naturais e do meio ambiente, o governo holands subsidiou um projeto piloto de

    construo de 30.000 casas, de onde seriam coletados os efluentes domsticos e reutilizados

    para uso no potvel, nas bacias sanitrias, na lavagem de roupa e na rega de jardins.

    Concomitantemente com a construo das casas implantou-se o sistema de gua residuria.

    Com o intuito de se evitar futuros problemas tcnicos e sanitrios, foram tomadas algumas

    precaues, como:

  • 25

    a construo de dois sistemas independentes, um de gua potvel e outro de gua

    no-potvel;

    tubulaes de materiais e cores diferentes;

    a conexo para a mquina de lavar foi instalada com um dispositivo especial por

    ser um equipamento que funciona sob presso;

    e a presso no sistema de gua no-potvel foi maior do que a do sistema de gua

    potvel.

    A experincia foi positiva at descobrir-se contaminao causada por um ramal

    provisrio de interligao dos dois sistemas (conexo cruzada) e que no havia sido

    desativado quando do incio da operao do sistema, causando a poluio da gua potvel em

    1.000 casas (SCHEE, 2003). A conexo cruzada um dos pontos crticos em um sistema de

    reso, o que possibilita o contato do efluente tratado com a gua potvel, conforme ilustrado

    esquematicamente na Figura 2.10. Assim, aps qualquer queda de presso, na rede de

    distribuio que no tenha nenhum dispositivo de proteo que evite a retrossifonagem,

    ocasionar a mistura da gua suja com a gua limpa. A falha do sistema est nesta

    incoerncia, pois a presso do sistema de gua potvel era menor que a do sistema de gua

    no-potvel.

    Figura 2.10

    Forma incorreta de execuo do sistema. Contato direto da tubulao de gua potvel com a gua no potvel (conexo cruzada).

    Fonte: Mano e Schmitt, (2004) - modificado.

  • 26

    Tambm no houve o controle da execuo das instalaes de entrada de gua nas

    residncias, as quais foram executadas pelos prprios moradores, ocorrendo, por isso, a

    contaminao em uma residncia, identificada aps 17 meses de utilizao.

    Em face desses problemas concluiu-se que o fator humano o mais importante para o

    resultado positivo na construo de um sistema de gua residuria, vindo em seguida, a

    necessidade de inspecionar todo o servio durante a construo e o suporte na operao e

    manuteno do sistema para garantir a qualidade da gua e evitar a contaminao da gua

    potvel.

    A Figura 2.10 mostra um exemplo de conexo cruzada direta onde gua de chuva se

    mistura com a gua potvel no ponto de entrada desta pelo contato direto. Pode ocorrer o

    refluxo da gua de um sistema para outro pela diferena de presso entre os dois e a

    inexistncia de vlvula contra retrossifonagem na tubulao de entrada de gua potvel.

    Na Alemanha, o reso de gua tem avanado significativamente nos ltimos 10 anos.

    Vrios sistemas de guas cinzas, construdos de acordo com as normas vigentes desde 1995,

    operam hoje sem nenhum risco sade pblica. Estes sistemas, que foram verificados para o

    uso na bacia sanitria, podem substituir toda a gua utilizada na descarga com completa

    segurana e conforto no seu uso. Estudos para uma nova regulamentao quanto ao uso em

    mquinas de lavar so possibilidades futuras, juntamente com um sistema duplo de gua com

    duas qualidades, uma potvel e outra para usos menos nobres, nas residncias

    (NOLDE, 1999).

    A Figura 2.11 mostra um destes sistemas de tratamento aplicado, segundo

    Nolde (1999), com muita eficincia e adequabilidade comprovadas por mais de 10 anos.

    Inicia-se com um tanque de sedimentao, seguido de um tratamento biolgico em multi-

    estgios, um tanque de clarificao e a desinfeco por ultravioleta (UV).

    Como uma segunda alternativa e mais eficiente, instala-se um equipamento automtico

    de remoo de lodo no tanque de sedimentao, seguido de um filtro de areia com fluxo

    vertical descendente e acoplado ao tanque de clarificao para remoo da biomassa.

    Eventualmente faz-se a desinfeco por UV antes de ser armazenado para posterior

    bombeamento aos pontos de utilizao.

  • 27

    Figura 2.11 Esquema de sistema de tratamento de efluente domstico. Fonte: Nolde (1999).

    2.6.2 Experincias nacionais

    A prtica de reso no Brasil vem crescendo em diversas regies, tanto nas semi-ridas

    do Nordeste, quanto nos maiores plos urbanos como So Paulo e regio sul do pas.

    No aeroporto da cidade de Aracaju-SE, a necessidade de se economizar gua potvel

    incentivou estudos exploratrios e levantamentos, realizados por Daltro Filho e Matos (2005),

    com base em procedimentos recomendados por normas, como por exemplo, a NBR 13969

    (ABNT,1997) e resolues especficas.

    Segundo Daltro Filho e Matos (2005) por meio do reconhecimento das unidades

    geradoras dos esgotos identificaram-se as peas hidrulicas dos ambientes sanitrios, as

    torneiras de jardim e outros pontos, com possibilidade de aplicao do sistema de gua de

    reso. Com base em levantamentos anteriores, foi possvel quantificar as demandas e as

    vazes de operao de cada uma daquelas peas. Alm dos levantamentos, foram realizados o

    monitoramento da ETE e o estudo de alternativas para aproveitamento do efluente e de guas

    de chuvas. Como resultado, obteve-se uma economia mnima de 60,64 m/dia em qualquer

    poca do ano.

    Na cidade de Passo Fundo, localizada na regio norte do estado do Rio Grande do Sul,

    segundo Fiori (2005) identificou-se os pontos geradores de gua para reso, na obteno de

  • 28

    dados quantitativos e qualitativos das guas e no conhecimento dos diferentes tipos de

    tratamento de gua para uma escolha segura e econmica. Foram coletadas em apartamentos

    amostras que foram homogeneizadas e transformadas em trs tipos de amostras para anlise.

    Os apartamentos foram divididos por tipologia da seguinte forma:

    amostra 1 - classificada por apartamento com crianas;

    amostra 2 - em apartamento com animais; e

    amostra 3 - apartamento sem crianas e sem animais.

    Quanto diviso na anlise qualitativa, por tipologia de apartamentos e coletas em

    diferentes pocas do ano no influenciou nos resultados da pesquisa.

    Os resultados quantitativos da amostra piloto demonstraram que o volume total de

    gua cinza gerado em cada apartamento de 18,8 m3 por ms.

    Com os resultados quantitativos e qualitativos das guas analisadas, pde-se concluir

    que com um tratamento secundrio, filtrao e desinfeco, como o recomendado pela

    U.S.EPA (1992) para reso urbano, estas guas poderiam ser reutilizadas para fins no-nobres

    como, na bacia sanitria, lavagem de piso e rega de jardins, em qualquer edificao, gerando

    grande economia de gua potvel.

    O controle de qualidade no processo de reso primou-se pelo monitoramento da

    operao de reso e em particular no desempenho da desinfeco realizada no sistema,

    principalmente para a gua cinza.

    Em Florianpolis, o reso combinado de guas cinzas e guas pluviais oriundas de

    uma unidade residencial, idealizada para cinco habitantes, possibilitou a implantao e

    avaliao de alternativas tecnolgicas empregadas no tratamento destas guas com vistas ao

    reso em bacia sanitria (PHILIPPI et al., 2005).

    Nas avaliaes realizadas sobre a concepo de projetos de tratamento e reso, as

    quais compreenderam coleta e anlises fsico-qumicas e bacteriolgicas dos efluentes

    gerados nas diferentes unidades, medio de vazo, demanda de gua por unidades

    hidrulico-sanitrias, quantificao de precipitao pluviomtrica, identificou-se uma

    demanda mdia de 60 L/dia por unidade residencial de cinco pessoas, para a bacia sanitria.

    Considerando uma precipitao mdia mensal para a regio da grande Florianpolis de

    aproximadamente 150 mm/ms e a rea de superfcie do telhado de 35 m2, calcula-se uma

    produo mdia diria de 175 L/dia, ou seja, suficiente para abastecer esta unidade. As guas

    cinzas aps tratamento poderiam, portanto, ser reutilizadas para outras necessidades, como

    irrigao de jardim (PHILIPPI et al., 2005). Nota-se, pela conferncia do clculo, que esse

  • 29

    trabalho no considerou o coeficiente de runoff da rea de captao, no caso, o telhado,

    superestimando o volume de gua captado.

    Atualmente, na regio litornea de Florianpolis, todas as obras, ao iniciarem, devem

    conter a instalao do sistema de reso, para que se reutilize o esgoto gerado e tratado no

    prprio canteiro da obra (BARBOSA, 2005).

    So Paulo, um dos Estados pioneiros em reso de gua, possui experincias em vrias

    atividades. Uma delas o reso de gua para lavagem de veculos, onde por meio da

    recirculao de gua proveniente desta lavagem possvel, aps tratamento, a reduo de

    70% a 80% dos custos operacionais (MORELLI, 2005).

    Foi construdo em So Paulo, em 2005, um condomnio com duas redes de gua: a

    potvel e a de reso. Todas as casas tiveram que instalar um reservatrio independente e rede

    interna para o reaproveitamento de gua na bacia sanitria. Com o custo de cerca de dois mil

    reais estimou-se a reduo no consumo de gua em 30% ao ms para cada famlia. A estao

    de tratamento do condomnio, que custou cerca de quatrocentos mil reais, dependeu da

    movimentao de grande volume de gua para entrar em operao. Com 40 famlias residindo

    no condomnio foi possvel iniciar a operao do sistema. Alm das casas, a gua tambm

    ser reaproveitada em atividades do prprio condomnio, como para lavar as ruas e irrigar

    jardins e gramados. Houve um interesse econmico na reutilizao, mas o objetivo essencial

    o ambiental (NETO, 2005).

    O Distrito Federal a unidade da Federao que possui a terceira menor taxa de gua

    renovvel por habitante/ano, classificando-se como uma zona de estresse hdrico. Em vista

    disso, o interesse de se conservar gua tem crescido muito nos ltimos anos (SILVA et al.,

    2004). Em Braslia, o LabCau (Laboratrio Casa Autnoma de Arquitetura Sustentvel)

    mantm uma pesquisa sistemtica sobre o reso das guas cinzas, com aprimoramento de

    sistemas que possibilitem a utilizao das guas para fins no-potveis. Diversos sistemas

    esto sendo pesquisados para atender os setores de lavanderias, lava-autos, postos de gasolina

    e condomnios (VIGGIANO, 2005).

    Desde 1998, um grupo de ps-graduao em Recursos Hdricos da Universidade de

    Braslia desenvolve pesquisas para viabilizar a reutilizao da gua no Distrito Federal. Uma

    das possibilidades estudadas foi a reutilizao da gua de esgotos tratados no

    desenvolvimento da piscicultura. Essa pesquisa foi desenvolvida na estao de tratamento de

    esgoto de Samambaia em convnio com a CAESB (Companhia de Saneamento Ambiental do

    Distrito Federal) e, nesse caso, aproveitou-se a gua j tratada para a criao de peixes

  • 30

    prprios para consumo. Os animais no foram utilizados como agentes despoluidores, mas

    como fonte de protena para o consumo humano, tendo a pesquisa, assim, um duplo objetivo.

    Em sistemas prediais, pesquisas esto sendo desenvolvidas com o objetivo de se

    economizar 60% dos recursos hdricos urbanos: a gua usada para lavagem predial, nas pias,

    lavatrios, chuveiros, banheiras e mquinas de lavar tratada e retorna para o uso em

    sanitrios do mesmo edifcio. Uma das pesquisas foi realizada em um edifcio de uma super

    quadra do Setor Sudoeste e, devido a sua grande viabilidade financeira e economia

    financeira e ambiental que representa, agora dever ser comercializada por uma construtora

    local. Um novo setor est sendo construdo na regio Noroeste, onde em todas as edificaes

    a serem construdas devero constar o sistema de reso de gua (SOUZA et al., 2006).

    Outra forma de reaproveitar os recursos hdricos comeou a ser estudada em 2003

    em rea prxima Estao Experimental de Biologia da UnB. Trata-se do emprego da gua

    recuperada dos esgotos domsticos para a manuteno de paisagens e jardins ornamentais.

    Tambm foram feitos estudos sobre formas de reciclagem da gua nos lava-jatos. A

    pesquisa foi encomendada por uma rede de postos de combustveis do Distrito Federal com

    a proposta de que a gua dos sistemas de lavagem de veculos sejam reutilizados, aps

    tratamento, para os mesmos fins, diminuindo, assim, no s os custos financeiros como

    tambm os ambientais. Recentemente passou-se a exigir que todos os postos de

    combustveis com lava-jatos implantassem o sistema de reso para esta finalidade (SOUZA

    et al., 2006).

    2.7 ALTERNATIVAS TECNOLGICAS DE TRATAMENTO PARA EFLUENTES

    Em conjunto com os novos instrumentos de gesto dos recursos hdricos que esto

    sendo implantados no pas, o uso de alternativas tecnolgicas para reso de efluentes

    industriais, urbanos e domsticos poder reduzir os custos de produo nos setores

    hidrointensivos, alm de promover a recuperao, preservao e conservao dos recursos

    hdricos e dos ecossistemas urbanos. Assim, para promover a adoo de sistemas de

    conservao da gua, h que se considerar alguns aspectos restritivos quanto gua

    proveniente de reso.

    No caso do reso interno, definido como o uso interno de efluentes, preciso ter

    conscincia de que ele no substitui integralmente a necessidade de gua de um

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    empreendimento, pois existem limitaes de ordem tcnica, operacional e ambiental que

    restringem a utilizao de sistemas de circuito fechado.

    Alm disso, o reso interno deve ser realizado aps uma avaliao integrada do uso da

    gua durante a vida til do empreendimento. importante ter em mente que antes de se

    pensar no reso de efluentes, preciso implantar medidas para a otimizao do consumo e

    reduo de perdas e desperdcios, alm de programas de conscientizao e treinamento dos

    usurios.

    A tecnologia nos sistemas prediais depende da destinao final da gua recuperada,

    pois existiro nveis de qualidade indicados para cada aplicao e, conseqentemente, nveis

    de tratamento especficos para cada caso. Consideram-se como principais variveis as

    caractersticas da gua residuria a ser tratada e os requisitos de qualidade requeridos pela

    nova aplicao da gua recuperada.

    A escolha do processo de tratamento da gua residuria a ser adotado de

    fundamental importncia para o sucesso do empreendimento e, por isso, ela deve ser bastante

    criteriosa e fundamentada na caracterizao do efluente a ser tratado, no conhecimento das

    tcnicas existentes e requisitos da qualidade da aplicao do reso proposto.

    As estaes biolgicas de tratamento de efluentes tm evoludo tecnologicamente no

    aumento da eficincia, na reduo do espao requerido e na diversificao das possibilidades

    de tratamento. Com a viabilizao do sistema de tratamento implantado, o qual dever atender

    s premissas de reutilizao de gua, adviro os benefcios deste reso.

    2.7.1 Sistema RTK

    Uma das formas de reso de gua que vem ganhando destaque no Brasil a destinada

    lavagem de veculos. Algumas empresas privadas j apresentam equipamentos capazes de

    promover a recirculao dos efluentes provenientes da lavagem de veculos. De