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XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática
A sala de aula de Matemática e suas vertentes
UESC, Ilhéus, Bahia de 03 a 06 de julho de 2019
2019. In: Anais do XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática. pp.1-12. Ilhéus, Bahia. XVIII EBEM. ISBN:
DISCALCULIA NO ENSINO DE MATEMÁTICA: CONCEPÇÕES DE
PROFESSORES DA REDE MUNICIPAL DE SENHOR DO BONFIM, BAHIA
Amanda Silva de Santana
Universidade do Estado da Bahia, DEDC VII/Senhor do Bonfim - BA
Caio Sérgio Oliveira Xavier
Colégio Marechal Antônio Alves Filho/Petrolina-PE
Colégio Estadual Rotary Clube/Juazeiro - BA
Helder Luiz Amorim Barbosa
Universidade do Estado da Bahia, DEDC VII/Senhor do Bonfim - BA
Resumo: Muitos alunos apresentam dificuldades para a compreensão dos conceitos de
Matemática, sendo esta uma das possíveis causas da discalculia. Nesse contexto, o presente
artigo tem como objetivo investigar as concepções dos professores que lecionam Matemática
nos anos finais do ensino fundamental na rede municipal em Senhor do Bonfim, Bahia, em
relação a discalculia. Para isto, utilizamos uma pesquisa de cunho qualitativo, com a coleta de
dados realizada por meio de questionário aplicado para doze professores que lecionam
Matemática. O questionário foi composto por perguntas abertas e fechadas sobre discalculia.
As perguntas abordavam a presença do tema na formação, experiência profissional,
conhecimento específico e estratégias pedagógicas utilizadas. Os resultados obtidos indicaram
que os professores entrevistados não possuem muito conhecimento sobre a discalculia, o que
dificulta a sua capacidade em identificar um caso suspeito. Diante da realidade vivenciada na
sala de aula, é importante que sejam oferecidas formações continuadas a esses profissionais de
maneira a auxiliá-los a identificar os alunos com dificuldades no desenvolvimento cognitivo.
Palavras-Chave: Discalculia. Dificuldade de Aprendizagem. Ensino de Matemática.
Formação do Professor.
INTRODUÇÃO
Tradicionalmente a Matemática é vista como uma disciplina de difícil compreensão.
Muitos alunos demonstram dificuldades na aprendizagem por diversos fatores, dentre eles: não
fazem a leitura do texto Matemático, não compreendem o enunciado dos problemas, ou até
mesmo, não sabem que operação utilizar. É importante salientar, que nem sempre essas
DISCALCULIA NO ENSINO DE MATEMÁTICA: CONCEPÇÕES DE
PROFESSORES DA REDE MUNICIPAL DE SENHOR DO BONFIM, BAHIA
SANTANA, Amanda Silva de; XAVIER, Caio Sérgio Oliveira; BARBOSA, Helder Luiz Amorim. Discalculia
no ensino de matemática: concepções de professores da rede municipal de Senhor do Bonfim, Bahia. 2019. In:
Anais do XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática. pp. 1-12. Ilhéus, Bahia. XVIII EBEM. ISBN:
dificuldades estão atreladas a falta de motivação ou desinteresse, podendo estar associadas a
um transtorno de aprendizagem denominado “discalculia”.
De acordo com Rebelo (1998, p. 230) “Discalculia deriva dos conceitos “dis” (desvio)
+ “calculare” (calcular, contar). Trata-se de um transtorno de aprendizagem em Matemática que
interfere negativamente [...].”, nas crianças, causando dificuldade em calcular, entender,
avaliar, refletir e raciocinar conceitos relacionados a números. Para Campos (2015, p. 22) a
discalculia pode ser definida como “[...] uma dificuldade significativa no desenvolvimento das
habilidades matemáticas e não é ocasionada por deficiência mental, deficiência visual ou
auditiva nem por má escolarização, é a falta do mecanismo do cálculo [...]”, ou seja, por
transtorno neurológico.” Já para Garcia (1998, p. 37):
A Discalculia é um distúrbio neurológico que afeta a habilidade com números. É um
problema de aprendizado independente, mas pode estar também associado à dislexia.
Tal distúrbio faz com que a pessoa se confunda em operações matemáticas, fórmulas,
sequência numérica, ao realizar contagem sinais numéricos e até na utilização da
matemática no dia-a-dia.
Desta maneira, os discalcúlicos apresentam dificuldades com medida, aritmética,
resolução de problema, podendo suceder com pessoas de qualquer nível de Quociente de
Inteligência (QI). É importante enfatizar que os discalcúlicos tem uma inteligência normal e que
sua dificuldade é somente em Matemática.
Existem, entretanto, poucos estudos sobre essa temática se comparado a outros
transtornos de aprendizagem, o que impossibilita a avaliação e tratamento por parte dos
professores. Apesar de reconhecer que o professor não é o único responsável para identificar se
o aluno é discalcúlico ou não, mas esses estudos de alguma forma, se baseiam na avaliação do
professor em relação ao comportamento do aluno. Se a discalculia não for identificada pelo
professor pode causar muitos danos na aprendizagem levando o aluno a perda de autoestima e
autoimagem.
Partindo desse pressuposto, levantamos o seguinte questionamento: Qual a concepção
referente a discalculia que é apresentada por professores que lecionam Matemática nos anos
finais do ensino fundamental? Quando se refere a discalculia, é preciso conhecer e compreender
o que permeia tal enfoque e como deve ser tratado no meio escolar.
No intuito de responder a esse questionamento traçamos como objetivo geral do
presente estudo: investigar as concepções dos professores que lecionam Matemática nos anos
DISCALCULIA NO ENSINO DE MATEMÁTICA: CONCEPÇÕES DE
PROFESSORES DA REDE MUNICIPAL DE SENHOR DO BONFIM, BAHIA
SANTANA, Amanda Silva de; XAVIER, Caio Sérgio Oliveira; BARBOSA, Helder Luiz Amorim. Discalculia
no ensino de matemática: concepções de professores da rede municipal de Senhor do Bonfim, Bahia. 2019. In:
Anais do XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática. pp. 1-12. Ilhéus, Bahia. XVIII EBEM. ISBN:
finais do ensino fundamental da rede municipal em Senhor do Bonfim, Bahia, em relação a
discalculia.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo Garcia (1998), o termo discalculia foi proferido pela primeira vez por
Ladislav Kosc no ano de 1974, sendo definido como uma desordem estrutural nas habilidades
em Matemática, sua origem em desordens genéticas ou congênitas nas partes do cérebro. O
estudioso classifica ainda a discalculia em seis subtipos. São eles:
QUADRO 1 – TIPOS DE DISCALCULIA Discalculia Verbal Dificuldades em nomear quantidades matemáticas, os números, os termos, e os símbolos
Discalculia Practognóstica Dificuldades para enumerar, comparar, manipular objetos reais ou em imagens
Discalculia Léxica Dificuldades na leitura de símbolos matemáticos
Discalculia Gráfica Dificuldades na escrita de símbolos matemáticos
Discalculia Ideognóstica Dificuldades em fazer operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos
Discalculia operacional Dificuldades na execução de operações e cálculos numéricos
FONTE: KOSC, 1974 (apud GARCIA, 1998, p. 213).
Registramos no Quadro 2, algumas causas desse transtorno de acordo com Bombonatto
(2004 apud PERETTI, 2009, p. 17).
QUADRO 2 – TRANSTORNOS DA DISCALCULIA Neurológica Desenvolvimento neurológico implica na maturação progressiva através das modificações do sistema
nervoso que se caracterizam pelas diferentes funções, que vão se estabelecendo ordenada, progressiva e cronologicamente [...]
Linguística O aluno com Discalculia apresenta carência na elaboração do pensamento devido às dificuldades no processo
de interiorização da linguagem
Psicológica Os indivíduos com alguma alteração psíquica tendem a apresentar transtornos da aprendizagem, pois o emocional também interfere no controle de determinadas funções como a atenção, a memória, a percepção,
entre outras.
Genética Não há comprovações, mas existem explicações da determinação do gen responsável por transmitir a herança dos transtornos no cálculo. Há significativos registros de antecedentes familiares de discalcúlicos
que também apresentem dificuldades em matemática
Pedagógica É a causa determinante, pois está diretamente vinculada aos fenômenos que se sucedem no processo da
aprendizagem
FONTE: BOMBONATTO, 2004 (apud PERETTI, 2009, p. 17).
Para a pesquisadora Lara (2004), a desordem estrutural pode ser notada até mesmo na
educação infantil. Uma criança que apresenta esse transtorno comete várias falhas durante as
atividades desenvolvidas, evidencia dificuldades, como por exemplo, na compreensão dos
números, sinais e contagem, apresenta ainda problemas verbais, ou não identifica o número que
vem antes ou depois. As dificuldades também podem ser percebidas nos processos de
construção das noções matemáticas, proporcionando baixo desempenho aritmético de acordo o
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PROFESSORES DA REDE MUNICIPAL DE SENHOR DO BONFIM, BAHIA
SANTANA, Amanda Silva de; XAVIER, Caio Sérgio Oliveira; BARBOSA, Helder Luiz Amorim. Discalculia
no ensino de matemática: concepções de professores da rede municipal de Senhor do Bonfim, Bahia. 2019. In:
Anais do XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática. pp. 1-12. Ilhéus, Bahia. XVIII EBEM. ISBN:
esperado para a sua série/idade. É importante compreender que tais dificuldades muitas vezes,
podem aparecer bem mais tarde.
Neste sentido, concordamos com Silva e colaboradores (2017, p. 7) quando mencionam
que “[...] são poucos os literatos brasileiros que discutem o transtorno de aprendizagem na
Matemática, havendo necessidade de ampliar tais discussões sobre o tema que se destaca no
contexto escolar.” Desse modo, é importante que os professores estejam atentos as dificuldades
apresentadas, bem como, a evolução e questionamentos dos alunos, a ausência na participação
das aulas e no que está sendo desenvolvido. Conforme assegura Peretti (2009, p. 7), “A
discalculia é pouco conhecida entre os professores. No entanto, torna-se necessário verificar de
que forma esse transtorno interfere no processo da aprendizagem Matemática [...]”. Diante
disso, entendemos que o maior desafio do professor pode estar relacionado com as dificuldades
de aprendizagem e a busca por outras metodologias na forma de ensinar.
A inclusão de alunos com transtorno de aprendizagem no ensino regular é legitimada
pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394/1996. No artigo 12 desta Lei,
verifica-se que os estabelecimentos de ensino necessitarão promover meios para recuperação
dos alunos que apresentarem rendimento abaixo do esperado. Já o artigo 13, determina que os
docentes deverão zelar pela aprendizagem, além de promover meios para recuperar os alunos
que não atingem os objetivos de aprendizagem esperados.
A Resolução CNE/CEB n.º 4 de 2009, modifica a LDB 9.394/1996, por meio do
disposto no capítulo V, Da Educação Especial, no que se refere ao Atendimento Educacional
Especializado (AEE). Desta maneira, a escola deve matricular os alunos com deficiência nas
classes do ensino regular e disponibilizar o AEE em salas de recursos multifuncionais na escola
ou em outra da rede pública. Em 2007 o Parecer CNE/CEB n.º 6 estabelece que o atendimento
educacional especializado, feito nas salas de recursos, é de natureza pedagógica conduzido por
profissional da educação especial. Para Pereira (2012, p. 36):
[...] é fato que o professor não pode sozinho dar conta das necessidades dos alunos
com distúrbios de aprendizagem em sala de aula, afinal mal somos preparados para
lidar com questões relacionadas a dificuldades de aprendizagem, o que dirá se
tivermos que trabalhar sozinhos e sem auxílio exterior as dificuldades dos alunos com
distúrbios?
Dessa forma, é de grande valia ao professor que leciona Matemática conhecer sobre a
discalculia. Além de saber levantar suspeita de alunos que podem apresentar indícios desse
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SANTANA, Amanda Silva de; XAVIER, Caio Sérgio Oliveira; BARBOSA, Helder Luiz Amorim. Discalculia
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transtorno, o professor precisa também informar aos setores pedagógicos da escola, para que
possam serem feitos os encaminhamentos necessários para a avaliação, seja ela
psicopedagógica, psicológica e neurológica. Ou seja, é preciso um trabalho em conjunto.
Assim, terão como ofertar aos alunos intervenções essenciais a fim de resgatar suas habilidades
prejudicadas e minimizar os problemas vivenciados.
CAMINHOS DA PESQUISA
Segundo Marconi e Lakatos (2010, p. 65), “o método é o conjunto das atividades
sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo –
conhecimentos válidos e verdadeiros – traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e
auxiliando as decisões do cientista”.
Para o desenvolvimento dos estudos e coleta dos dados necessitamos delimitar a questão
de pesquisa e, por isso, estabelecemos como objetivo geral: investigar as concepções dos
professores que lecionam Matemática nos anos finais do ensino fundamental na rede municipal
de Senhor do Bonfim, Bahia, em relação a discalculia.
Para compreender o problema optamos por uma pesquisa qualitativa, pois, de acordo
com Godoy (1995), possibilita o contato direto com os sujeitos e facilita a compreensão do
fenômeno que será pesquisado.
Quanto ao tipo de pesquisa, desenvolvemos uma pesquisa de campo, que permitiu obter
informações de acordo a realidade do objeto do estudo. Nesse sentido, Gonsalves (2001, p. 67)
sinaliza que “a pesquisa de campo é o tipo de pesquisa que pretende buscar a informação
diretamente com a população pesquisada. [...]”, ou seja, num contato mais direto.
O ambiente e os sujeitos da pesquisa são peças fundamentais para o objeto investigado.
Partindo dessa compreensão, a pesquisa foi desenvolvida em seis escolas municipais de Senhor
do Bonfim, Bahia, já que estas comtemplam os anos finais do Ensino Fundamental II, e teve
como sujeitos doze professores que lecionam Matemática, adotando como critério de inclusão,
aqueles que atuavam do 6° ao 9° ano no momento da coleta. Para analisar as respostas
fornecidas e manter sigilo dos nomes dos sujeitos, optamos por identificá-los com a letra P,
seguida de números em ordem crescente (P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7, P8, P9, P10, P11 e P12).
Para a coleta de dados, utilizamos um questionário composto por quinze questões
agrupadas em duas partes. A primeira, trazia aspectos relacionados a identificação dos sujeitos
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(escola, nome, formação, tempo de atuação, sexo, idade). Já a segunda parte, consta de
perguntas específicas como, a presença do tema na formação, metodologia utilizada,
experiência profissional, concepções sobre discalculia e estratégias pedagógicas.
Para a análise dos dados, utilizamos a técnica da análise de conteúdo proposta por
Bardin (1977, p. 38) como “[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que
utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. [...]”.
Com base nisso, as respostas foram organizadas e tabuladas e, após sucessão de leituras
cuidadosas buscamos compreender o sentido das falas presentes nos depoimentos dos sujeitos
investigados. Esses procedimentos foram realizados através dos agrupamentos das ideias
centrais tomando como base a similaridade das respostas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme sinalizamos na seção anterior, apresentamos os resultados considerando
inicialmente os aspectos relativos a identificação dos sujeitos (formação, tempo de atuação), e
em seguida, discutimos os relatos encontrados nas entrevistas. Analisando as respostas obtidas
na primeira parte, temos o quadro a seguir:
QUADRO 3: PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA
NOMES FORMAÇÃO TEMPO DE ATUAÇÃO
P1 Lic. em Matemática 20 anos
P2 Mestre em Educação Matemática 9 anos
P3 Lic. em Matemática 27 anos
P4 Lic. em Matemática 18 anos
P5 Pedagoga/ Lic. em Matemática em Curso 19 anos
P6 Lic. Em Ciências 35 anos e meio
P7 Lic. em Matemática 10 anos
P8 Lic. Em Letras 13 anos
P9 Lic. em Matemática 8 anos
P10 Lic. em Biologia 19 anos
P11 Pedagogia 9 anos
P12 Lic. em Matemática 15 anos
FONTE: Dados da Pesquisa, novembro, 2018.
Diante dos participantes apresentados, observa-se como algo positivo que grande parte
dos entrevistados são licenciados em Matemática. Outro dado importante é o fato dos
professores já estarem há um período significativo atuando na educação municipal. A
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SANTANA, Amanda Silva de; XAVIER, Caio Sérgio Oliveira; BARBOSA, Helder Luiz Amorim. Discalculia
no ensino de matemática: concepções de professores da rede municipal de Senhor do Bonfim, Bahia. 2019. In:
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experiência desses profissionais no convívio com os alunos que apresentam dificuldades em
Matemática, pode ser um diferencial na rapidez do diagnóstico.
Quanto as questões da segunda parte do questionário, perguntamos inicialmente quais
os transtornos de aprendizagem conhecidos pelos professores. Esse questionamento foi
realizado com o intuito de saber se já conheciam a discalculia, além de saber qual dos
transtornos mais conheciam. Analisando os resultados obtidos, verificamos que os transtornos
mais conhecidos apontados pelos entrevistados foram: déficit de atenção, hiperatividade e
dislexia. Identificamos que poucos reconhecem a discalculia. Sobre isso, Garcia (1998) afirma
que são recentes as pesquisas referentes às dificuldades de aprendizagem da Matemática, já que
o interesse resultou geralmente nas habilidades verbais e na leitura.
Os entrevistados também foram inquiridos sobre seu conhecimento acerca da
discalculia. Dos 12 participantes, 4 responderam que conhecem, enquanto 8 declararam
desconhecer a discalculia. Um importante dado verificado nas respostas indicaram que a
maioria dos participantes que afirmaram conhecer a discalculia tinham mais de dez anos de
atuação.
Conforme observado, diante das respostas dos professores, o termo discalculia é
desconhecido pela maioria dos pesquisados. Alguns citaram: “Já ouvir falar, porém nunca
pesquisei ou procurei adentrar no conteúdo.” (P2). Outro professor ainda destaca: “Já ouvir
falar em algum momento.” (P4). “Discalculia acho que seria dificuldade em aprendizagem de
Matemática.” (P10). “Não, depois de pesquisado conseguimos identificar alguns alunos com
essas características.” (P3).
Considerando a resposta do professor P10, vale alertar a necessidade de cuidado especial
para não rotular todos os alunos que apresentam dificuldades em Matemática, seja por
discalculia. Muitas vezes a dificuldade pode ser por conta da forma de ensino ou da metodologia
utilizada. Ainda em relação as respostas, neste caso a do professor P3, podemos entender que
existe possibilidade de haver dentro da sala de aula alunos que apresentaram tais características,
sem que o professor tenha identificado o transtorno.
Quanto a isso, Jacinto (2005, p. 8) menciona algo relevante ao dizer que o professor
deve ter cautela quanto ao pré-diagnóstico da discalculia. No geral, os professores não estão
habilitados para elaborar um diagnóstico exato e nem é o profissional habilitado para tal. Por
falta de conhecimento aprofundado acerca do problema, o professor pode, inclusive, rotular a
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SANTANA, Amanda Silva de; XAVIER, Caio Sérgio Oliveira; BARBOSA, Helder Luiz Amorim. Discalculia
no ensino de matemática: concepções de professores da rede municipal de Senhor do Bonfim, Bahia. 2019. In:
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criança que apresenta tais características, de dificuldade de aprendizagem matemática, como
discalcúlico.
Os professores que afirmaram conhecer, definem a discalculia como uma dificuldade
ou um transtorno do processamento da Matemática. Um deles afirmou: “Dificuldade que
impede o aluno de compreender as relações de quantidade, ordem, tamanho, distância, espaço
e as quatro operações.” (P8). Outro professor afirmou: “Transtorno de Matemática, ou seja,
atividades que envolvem conceitos matemáticos, raciocínio lógico são afetados.” (P1).
A partir dos dados colhidos na entrevista, podemos verificar que um grande número de
professores entrevistados, não apresentaram conhecimento sobre discalculia. Foi possível
perceber, dessa forma, na busca de neutralizar a falta de compreensão sobre o tema, que os
entrevistados apresentam características das dificuldades de aprendizagem como características
de discalculia.
Ao perguntar se na formação acadêmica tiveram disciplinas que abordaram essa temática,
a maioria dos professores relataram não ter cursado qualquer disciplina relacionada ao assunto.
Apesar disso, dois professores mencionaram que: “Não. Mas busquei me inteirar por necessidade,
pois a oito anos tive um aluno com discalculia.” (P1). “Não. Só dislexia, disgrafia.” (P3).
Vale salientar a importância de discutir os transtornos de aprendizagem no processo de
formação inicial, pois é uma preparação para o professor aprender a lidar com alunos que
apresentam dificuldades de aprendizagem. Thiele e Lara (2017, p. 46) corrobora, “ Embora a
discalculia seja um tema essencial para os professores, pouco se estuda sobre ela nos cursos de
graduação e pós-graduação [...]”. As autoras ainda complementam, em que propõem uma
formação continuada para os professores, como uma maneira de minorar as lacunas deixadas na
formação docente, em que explanam, “A formação continuada de professores proporciona a
possibilidade de reflexões e discussões sobre as práticas de ensino e as dificuldades decorrentes
desse processo[...]”. (THIELE e LARA, 2017, p. 46).
Ao serem questionados se já lecionaram para alunos que o fizeram suspeitar de
discalculia, oito professores, dos doze pesquisados, apontaram: “Sim, porém nunca
diagnosticado.” (P2). “Sim, isso é comum.” (P3). “Não tive como identificar, também não sei
identificar.” (P4). “Sim.” (P1, P5, P7). “Acredito que sim, embora não tenha conhecimento
deste distúrbio.” (P6). “Não sei diagnosticar apenas percebo um número grande de alunos com
dificuldades em Matemática.” (P11).
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Observando a maioria das respostas, identificamos uma contradição visto que na
pergunta que questionava sobre o entendimento da discalculia, a maior parte dos entrevistados
afirmaram desconhecer, o que não os qualificam como aptos a apontar casos suspeitos. Esse
transtorno específico de Matemática necessita de celeridade na sua identificação, pois se não
for diagnosticado previamente pode comprometer no desenvolvimento escolar do indivíduo.
Garcia (1998) registrou a importância de que esses alunos contem com a ajuda do professor
num diagnóstico pedagógico e encaminhamento para a equipe multidisciplinar em tempo hábil.
Ao serem questionados se adotaram diferentes métodos de ensino de acordo as
dificuldades dos alunos, muitos professores afirmaram que não trabalharam com metodologias
diferenciadas para aqueles que apresentaram dificuldades de aprendizagem. Estas informações
podem indicar possível desmotivações dos alunos. Sobre isto, alguns professores afirmaram:
“Às vezes.” (P5). “Nem sempre, mas gosto de trabalhos em grupos.” (P3). “Sim na medida do
possível.” (P4). “Sim, jogos e usos das tecnologias.” (P11).
De acordo Bernardi (2014), o professor pode ajudar o aluno proporcionando
intervenções pedagógicas que envolvam o conteúdo e a sua realidade. A autora orienta ainda,
que o professor instigue aos alunos as suas competências e habilidades, ajudando-os no
desenvolvimento de sua autoestima e da autoimagem, e não apenas aprofundando-se no déficit.
Em relação a adequação da escola para atender alunos com dificuldades de
aprendizagem, perguntamos se a escola oferece meios para ajudar o professor no processo de
ensino. As respostas mostraram o seguinte contexto: “Em parte, pois é ofertado o profissional
da área, porém não existe material e tempo adequado.” (P1). “Temos uma sala de recursos
equipada, porém nunca tivemos aluno com o diagnóstico de discalculia.” (P10). “Sim, com
projetos como o mais educação, feira de Matemática, projeto de leitura.” (P3).
Nas respostas dos entrevistados fica evidente que a realidade difere do que são
apresentadas nas legislações. Nota-se que algumas escolas não estão preparadas para receber
alunos, a depender de sua dificuldade. Conforme salienta Pereira (2012, p. 36) “É fato que a
legislação precisa ser revista, afinal estamos passando por uma fase de inclusão nas escolas, e
a não-inclusão destes alunos nas salas de recurso é a forma mais explícita que se pode ter de
exclusão.”
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SANTANA, Amanda Silva de; XAVIER, Caio Sérgio Oliveira; BARBOSA, Helder Luiz Amorim. Discalculia
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Por fim, apresentamos uma situação problema, com o objetivo de saber como os
entrevistados lidariam com a presença de um aluno discalcúlico em sala de aula. Para isso,
apresentamos o seguinte enunciado:
Um aluno de 12 a 16 anos não consegue compreender os conceitos Matemáticos, usar
números na vida cotidiana, leitura de quadros, gráficos e mapas, entendimento do
conceito de probabilidade, resolver problemas, execução mental e concreta de
cálculos numéricos. Você como professor saberia perceber a discalculia? Como você
lidaria com esse aluno na sala de aula?
Alguns professores afirmaram conseguir perceber a discalculia: “Sim, ao perceber tal
limitação, acionaria uma profissional da área da escola e juntos avaliaremos esse aluno através
de atividades/desafios para daí encaminhar a criança/adolescente ao médico, visando ajudar
esse aluno a lidar cada dia melhor com sua dificuldade/transtorno” (P1). “Sim. Encaminharia
para um atendimento especial” (P5). Outros professores responderam: “Não sei identificar.”
(P8). “Infelizmente não sei identificar a discalculia” (P4). “Gostaria que houvesse formação
nesta área, se eu estivesse aluno com discalculia tentaria outras formas de trabalho
(metodologia) para facilitar o processo de ensino aprendizagem” (P9).
As respostas evidenciam outra contradição por parte de alguns dos professores
entrevistados. Nos questionamentos anteriores afirmaram não saber distinguir a discalculia e
também afirmaram que não ouviram falar desse transtorno. Na situação-problema proposta,
entretanto, declararam conhecer e saber como lidar com alunos discalcúlicos. Se o professor
desconhece, por certo, impossibilita adotar novas metodologias, intervenções e, portanto, agir
diante de tal problema.
Diante disso, observamos que pode ser comum ter discalcúlico na sala de aula e que
muitas vezes o professor pode ter dificuldades em identificar, pois a discalculia não apresenta
uma única causa. Desta maneira, verificamos que há necessidade de um acompanhamento mais
aproximado dos professores e toda a equipe pedagógica da escola em relação ao processo de
ensino aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos dias atuais podemos encontrar diversas obras que versam sobre metodologias para
o ensino aprendizagem, mas relativamente pouca a respeito dos alunos e suas limitações. Diante
disso, construímos a presente pesquisa que buscou investigar as concepções dos professores
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PROFESSORES DA REDE MUNICIPAL DE SENHOR DO BONFIM, BAHIA
SANTANA, Amanda Silva de; XAVIER, Caio Sérgio Oliveira; BARBOSA, Helder Luiz Amorim. Discalculia
no ensino de matemática: concepções de professores da rede municipal de Senhor do Bonfim, Bahia. 2019. In:
Anais do XVIII Encontro Baiano de Educação Matemática. pp. 1-12. Ilhéus, Bahia. XVIII EBEM. ISBN:
que lecionam Matemática nos anos finais do ensino fundamental na rede municipal em Senhor
do Bonfim, Bahia, em relação a discalculia.
Os dados coletados mostraram que maioria dos professores pesquisados têm formação
em Licenciatura em Matemática, no entanto não eram conhecedores da discalculia e que
também não conseguiriam identificá-la em seus alunos. Os dados mostraram também que
maioria destes professores não buscaram metodologias diferenciadas para melhorar as
dificuldades de alunos quando estes não tiveram êxito na aprendizagem. Os dados mostraram
ainda que as escolas, na percepção dos professores, não estavam preparadas para o atendimento
a alunos com discalculia.
Diante das análises, podemos indicar que os professores necessitam de melhores
condições na escola e individualmente para identificar e acompanhar o aluno com discalculia,
seja por meio de formação continuada, práticas pedagógicas diferenciadas, seja por participação
ou promoção de projetos instituídos nas unidades escolares. Os resultados mostraram também
que a formação na Licenciatura em Matemática, obtida pela maioria dos professores
pesquisados, não abrange a temática em seus componentes curriculares. Este fato, inclusive,
pode ser um dos indicativos para o desconhecimento da discalculia dentre a maioria dos
pesquisados e que passaram pela mesma formação.
Entendemos, deste modo, que as escolas precisam estar preparadas para receber alunos
que apresentam tais dificuldades e assim, promover meios que possibilitem a aprendizagem.
Esta aprendizagem, entretanto, somente ocorrerá quando os professores, os principais
mediadores do aprendizado, estiverem preparados para lidar com esses alunos.
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
BERNARDI, J. Discalculia: o que é? como intervir? Jundiaí: Paco Editorial, 2014.
BRASIL. Lei n.° 9.394, de 20 de dez. de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. MEC: Brasília, DF, dez 1996.
BRASIL. Parecer CNE/CEB n.º 6, de 1 de fevereiro de 2007. Solicita parecer sobre definição
do atendimento educacional especializado para os alunos com necessidades educacionais
especiais, como parte diversificada do currículo, Brasília, DF, fev 2007. Disponível em: <
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DISCALCULIA NO ENSINO DE MATEMÁTICA: CONCEPÇÕES DE
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