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DISPOSITIVOS DO OLHAR

dispositivos do olhar manoela quintas

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memorial de TGI FAAP

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DISPOSITIVOS DO OLHAR

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fundação armando álvares penteado

faculdade de artes plásticas

curso de bacharelado em educação artística

habilitação em artes plásticas

DISPOSITIVOS DO OLHAR

Trabalho de Graduação Interdisciplinar, vinculado à disciplina Desenvolvimento

de Projeto Integrado II, apresentado como exigência parcial para obtenção de

certificado de conclusão de curso.

manoela laloni quintas

orientadora: regina johas

são paulo, 2009

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QUINTAS, Manoela

Dispositivos do olhar. Manoela Laloni Quintas

Trabalho de Graduação interdisciplinar – fap/faap – São Paulo, 2009.

1- Aparatos óticos; 2-Imagem-paisagem; 3- instalação e 4- luz

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha orientadora, e a todas as pessoas que estiveram ao meu redor

durante esses quatro anos. Aquelas que tiveram o cuidado em me acompanhar

e encaminhar o olhar pessoal sobre o meu processo. Cada uma a sua maneira

contribuiu para a realização deste trabalho.

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SuMáRIO

1. APRESENTAçãO ................................ 9

2. DISPOSITIVOS DO OLHAR ....................... 11

2.1. MEMORIAL DESCRITIVO ....................... 11

2.2. ENSAIO fOTOGRáfICO ........................ 15

2.3. ASPECTOS CONCEITuAIS ...................... 33

3. PROCESSO / PRODuçãO ANTERIOR ................ 39

4. REfERêNCIAS ARTíSTICAS ...................... 59

5. BIBLIOGRAfIA ................................ 63

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1. APRESENTAçãO

A produção que apresento como Trabalho de Graduação Interdisciplinar,

finalizando meu curso de graduação em Artes Plásticas na faap, consiste numa

instalação que intitulei “Dispositivos do olhar”.

Trata-se de um ambiente composto por retro-projetores, projetores de slides,

aparelhos de dvd, gabaritos de medições, slides, transparências e réguas, no

qual o observador é pensado como elemento integrante e fundamental – ao

penetrar no espaço ele vê sua sombra capturada entre as projeções, cores e

imagens de gabaritos que compõem o trabalho.

“Dispositivos do olhar” opera no campo tensionado em que os dispositivos

tecnológicos1 que construíram e constroem a nossa visualidade se fazem ver.

Sua materialidade, nesta instalação, está reunida no conjunto de aparatos,

lentes, projetores, impulsos elétricos e cor que a configuram.

1 Entende-se aqui por dispositivos tecnológicos os seguintes aparelhos: retro-projetor, projetor

de slide, projetor multimídia, dvds, máquina fotográfica e filmadora.

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Busco neste trabalho explorar as mediações entre nosso olhar e o mundo.

A exploração dos mecanismos – visíveis e explícitos em “Dispositivos do

olhar” – que se escondem por trás de toda mediação, de toda imagem que nos

é dada, me fez compreender o quanto nossa percepção de mundo é modulada

por tais mediações.

Os conceitos que estruturam nossa visão são resultantes dos nossos modos de

percepção, que se articulam, por sua vez, única e exclusivamente no instante em

que os dispositivos se armam para “informar” o olhar. Ou seja, são os modos

de percepção que “fabricam” o mundo. “Dispositivos do olhar“ investiga as

materialidades desta “fabricação”.

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2. DISPOSITIVOS DO OLHAR

2.1. MEMORIAL DESCRITIVO

“Meu corpo é portanto, no conjunto do mundo material, uma imagem que atua como as

outras imagens, recebendo e devolvendo movimento, com a única diferença, talvez, de que

meu corpo parece escolher, em uma certa medida, a maneira de devolver o que recebe.” 2

A instalação é constituída por dois retro-projetores, dois projetores de slides,

quatro projetores multimídia, quatro aparelhos de dvd, gabaritos de medições,

slides, transparências e réguas. O observador é pensado como elemento

integrante e fundamental do trabalho. As imagens projetadas permanecem

imóveis, elas apenas interagem e ganham movimentação conforme a entrada e

a circulação do observador.

O espaço é tratado como suporte e superfície para projeções de tais imagens,

assim como para projeções de áreas de cor. Todas as extremidades da sala

2 BERGSON, Henri (1859-1941). Matéria e Memória. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p.14.

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expositiva estarão incorporadas ao ambiente formado pela emissão luminosa.

Imagens entre imagens, ao penetrar no espaço o observador vê sua sombra

capturada e lançada sobre as paredes que compõem “Dispositivos do Olhar”.

As distâncias, o posicionamento dos aparatos técnicos e a profundidade de

campo foram modulados no sentido de se favorecer uma experiência de

imersão na luz e no tempo.

Na apresentação abaixo, realizada na faap, em dezembro de 2009, como parte

do projeto de conclusão do curso, a área total da instalação perfaz 42m2.

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2. DISPOSITIVOS DO OLHAR

2.2. ENSAIO fOTOGRáfICO

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2. DISPOSITIVOS DO OLHAR

2.3. ASPECTOS CONCEITuAIS

“A perspectiva gera a distância entre os seres humanos e as coisas. Mas a perspectiva

elimina também essa distância, quando faz chegar até o olhar este mundo de coisas, um

mundo autônomo que se confronta com o indivíduo. As regras perspectivas relacionam-se

com as condições psicológicas e físicas da impressão visual, e o modo como se realizam é

definido de acordo com a posição, escolhida livremente, de um ponto de vista subjetivo”.

Panofsky3

O trabalho começa voltado para o olho. São os mecanismos ópticos que possibilitam

que o mundo das imagens existam. Com os mecanismos de construção da

visualidade, passamos a olhar por intermédio de aparatos que nos permitem

construir infinitos horizontes, paisagens inventadas; um outro mundo.

3 PANOFSKY, Erwin. A perspectiva como forma simbólica, Arte e Comunicação. Lisboa: Edições

70, 1993. p. 63.

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Paisagens fabricadas pelas novas maneiras de se ver. Por outro lado, a nossa

maneira de perceber vai se transformando a cada minuto, e por isso o conceito

de paisagem também se transforma. Os modos de perceber o mundo são

resultantes dos dispositivos do olhar que vamos construindo a cada nova etapa

da evolução tecnológica, o que, por sua vez, molda todo o nosso sistema de

organização da visualidade .

Em seu estudo sobre a constituição do conceito de paisagem, Anne Cauquelin

irá mostrar como a paisagem foi pensada e construída como o equivalente da

natureza apenas a partir do Renascimento ao analisar como nossas percepções

espaciais foram moldadas pela prática pictórica daquele período.

Admitindo que “a idéia de paisagem e sua percepção dependem da apresentação

que se fez delas na pintura do Ocidente no século xv, que a paisagem só parece

natural ao preço de um artifício permanente”, ela nos aponta para o fato de

que a natureza é uma idéia que só aparece vestida por meio da linguagem – ela

própria historicamente constituída4.

Com as novas tecnologias audiovisuais criaram-se inúmeras outras possibilidades

de se perceber e conceber paisagens. No caso da máquina fotográfica, por

exemplo, a nossa percepção se viu transformada pelas possibilidades de

enquadramentos em extensão e profundidade, enquadramentos estes que

nosso olhar nunca pode alcançar anteriormente ao surgimento da fotografia.

Edmond Couchot comenta sobre o assunto:

4 CAUQUELIN, Anne. A invenção da paisagem: São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 29.

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“A técnica e a indústria... abrem horizontes antes desconhecidos, enriquecem o universo

do visível do qual fazem parte e dão acesso a um imenso “armazém de imagens e de signos”

sem comum medida com o que oferecia a tradição; fornecem uma “pastagem” nova à

imaginação. Isso porque a técnica e a indústria fazem parte da modernidade, atrás da qual

corre o “pintor da vida moderna”, perpetuamente preocupado em inovar, em se subtrair da

tradição e em substituir a natureza pelo artifício...”.5

Para Couchot, a experiência perceptiva do mundo, mediada pela tecnologia,

determina a qualidade de nossa percepção. É o que ele irá chamar de

“experiência tecnestésica” do mundo:

“ A imagem é uma atividade que coloca em jogo técnicas e um sujeito (operário, artesão ou

artista, segundo cada cultura) operando com essas técnicas, mas possuidor de um saber fazer

que leva sempre o traço voluntário, ou não, de uma certa singularidade. Como operador,

este sujeito controla e manipula técnicas através das quais vive uma experiência íntima

que transforma a percepção que tem do mundo: a experiência tecnestésica. As técnicas,

lembremo-nos, não são somente modos de produção, são também modos de percepção,

formas de representações elementares, fragmentárias e estilhaçadas do mundo...”6

O trabalho “Dispositivos do olhar” circula no campo dessas possíveis paisagens

– paisagens de segundo grau – que estão estabelecidas aqui como imagem.

Pensar na idéia de paisagem significa pensar em algo que podemos ver por

meio das modulações do nosso olhar: distância, profundidade, construção e

5 COUCHOT, Edmon. A tecnologia na arte: da fotografia à realidade virtual. Porto Alegre:

Editora ufrgs, p. 23.

6 idem, p. 15.

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sobreposição passaram a ser, desse modo, questões fundamentais para meu

trabalho. De acordo com Cauquelin, a idéia de paisagem e a de sua construção

dão forma, enquadramento e medidas a nossas percepções (distância,

orientação, pontos de vista, situação, escala)7.

É no âmbito dessas questões que o trabalho navega. O manifesto interesse por

réguas, gabaritos e medidas emolduradas, junto às luzes de projetores, gerou as

materialidades com que minha produção plástica se lançou.

Em “Dispositivos do olhar” percebi a importância da construção do espaço a partir

dos princípios de sobreposição e circularidade na configuração da instalação.

Para Vilém Flusser, “imagens são superfícies que pretendem representar algo” e

“ao vaguear pela superfície, o olhar vai estabelecendo relações temporais entre

elementos da imagem: um elemento é visto após o outro. O vaguear do olho é

circular: tende a voltar para contemplar elementos já vistos.

Assim, o “antes” se torna “depois”, e o “depois” se torna “antes”. O tempo

projetado pelo olhar sobre a imagem é um eterno retorno. O olhar diacroniza

a sincronicidade imagética por ciclos”8 . É banhado por essa circularidade que

o trabalho pretende revelar a existência das camadas de filtros que determinam

nosso olhar. O resultado pode ser visto também como um aglomerado de camadas

de tempo, em que tudo vai se acrescentando e se encaixando, estendendo-se

num circuito contínuo.

7 CAUQUELIN, Anne. op.cit., p. 10-11.

8 FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia, Rio

de Janeiro: Relume /dumará, 2002, p. 8.

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Outro grande interesse de “Dispositivos do olhar” é explorar as possibilidades

de interação das sombras do observador projetadas no campo da instalação,

e a conseqüente transformação da paisagem construída de luz e imagem.

Possibilitar essa imersão gerou a consciência das relações móveis de escala

no trabalho, assim como a compreensão da obra no campo de uma possível

interação com o observador.

Essas questões foram surgindo ao longo de meu processo, a partir da

experimentação. Se no início meu objetivo era trabalhar com projetores e criar

novas paisagens dentro de espaços modulados pela luz, posteriormente passei a

construir um outro tipo de relação com esses ambientes de instalação.

“Dispositivos do olhar” passou a ser, para mim, uma investigação da relação

do homem com as suas próprias construções e mediação com o mundo.

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3. PROCESSO / PRODuçãO ANTERIOR

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PRIMEIRA CAMADA

2007

Projeção sobre pintura

100 cm x 150 cm

Neste trabalho a investigação se deu na mistura de linguagens, de técnicas e de diferentes suportes - a imagem digitalizada e a imagem pintada. A pintura provém do frame de um vídeo: com a intenção de possibilitar o resgate da sombra de uma pessoa em movimento, criei uma situação de deslocamento da imagem fixa, na qual a imagem parada, emoldurada pela tela, recebeu uma segunda camada, rompendo com a delimitação da margem da tela.

É uma sobreposição de paisagens que constroem uma ponte entre duas diferentes naturezas. Cria-se então um rebatimento entre uma construção manual e pictórica da imagem e uma imagem calculada por um dispositivo técnico.

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POSSIBILIDADE DE ESTAR

2008

Vídeo-instalação

Maleta: 30 cm x 50 cm, projeção: 300 cm x 400 cm

Nesta vídeo-instalação há a imagem de uma maleta que contém o mini cenário de uma casa, filmado em dvd e projetado na parede com a escala dos móveis em tamanho real. Aproximadamente a um metro de distância da projeção encontra-se uma mesa de madeira e, sobre ela, um abajur e a maleta que foi filmada e projetada. A intenção é possibilitar ao espectador, como sombra, ocupar o espaço da imagem. Busca-se abrir um espaço de reflexão paisagens que mediam nosso estar

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ESPECuLAçãO INTIMA

2008

Vídeo sobre maleta

30 cm x 50 cm

A maleta contendo a projeção de um vídeo foi tomada como suporte para projeção de vídeos, visando a construção de “espaços impossíveis”, sobrepostos como uma colagem. Peter Greenaway, que esteve no Brasil no início de 2008, foi o grande impulsor deste trabalho. Já observava seu trabalho, me encantei com suas vídeo-instalações e resolvi utilizar o vídeo para testar novas possibilidades. A luz adveio com esta experiência e se instalou com grande força poética no trabalho. Esta investigação com suporte para projeções de vídeos foi uma das responsáveis pelo início da reflexão sobre o “Dispositivos do olhar”.

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CORTINAS DE ESPELHO

2008

Retro projetor, espelhos de tomada sobre mdf e fios elétricos

120 cm x 170 cm

O trabalho “Cortina de Espelhos” trouxe aspectos importantes à minha produção e já prenuncia as janelas do olhar. O reflexo da cortina e de sua sombra se encarregam de construir uma camada a mais no espaço “instalativo”: a da superfície de projeção nas paredes. A cortina constitui um anteparo no qual inúmeros orifícios geram elementos projetados, formados pela luz. O retro-projetor faz parte da instalação, pois é ele quem proporciona a paisagem de luz refletida, criando o circuito de reflexos.

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ESCALA REDuzIDA

2009

Gabaritos, papel, partes de microscópio e jogo de construção em metais

20 cm x 30 cm

A partir dessa experiência mais uma palavra se agregou materialmente e conceitualmente ao universo de questões de meu trabalho: a construção mecânica. Os gabaritos (gravados em escala reduzida) são a formulação de medidas em meios pré-estabelecidos, prontos para serem copiados e transferidos para o papel, para em algum momento subseqüente servirem de base para diferentes tipos de construções. Eles são vistos como uma anteparo que torna possível a construção de algo.

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MANuAL DO OLHAR

2009

Tinta de caneta esferografica preta sobre papel

23 desenhos A4

Esta série de desenhos está voltada diretamente a um processo de construção em etapas. Os papéis vegetais e vidros são transparentes, o que torna visível a sobreposição das camadas. A inspiração para a construção do trabalho surgiu de um manual de legos.

Aqui esta impregnado uma questão de sobreposição em etapas, de paisagens, que a cada transformação de nossa percepção é alterada e somada a anterior. O trabalho vem desvendar justamente essas sobreposições de paisagens, a transparência é usada para clarear esse processo de mutação do espaço onde vivemos , as construções que habitamos.

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MECANICIDADES TRANSPARENTE

2009

Tinta de caneta esferográfica sobre placas de vidro

15cm x 20cm

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CIRCuITO IMPRESSO

2009

Três vídeos, projetados

200 cm x 400 cm

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APARATO REfLExIVO

2009

Gabarito e transparência sobre retro-projetor

200 cm x 400 cm

Neste trabalho abandono toda a materialidade dos objetos usados anteriormente, como gabaritos e placas mães, para ocupar o espaço de outra maneira, com mais abrangência. A possibilidade de transitar ao redor da projeção faz com que em algum momento o espectador possa integrar-se à obra, fazendo-se parte dela por meio de sua sombra.

Assim, é possível o diálogo corporal com esses elementos escolhidos. Os gabaritos, agora projetados nas paredes, contém medidas e funções como: circuito impresso escala 2.1, caixas d’água retangulares e outras. É como se com essa alteração de escala se tornasse possível expor o espectador a um outro tipo de contato.

O mais importante é o questionamento dele sobre o próprio espaço que ocupa. Sobre a nova relação de grandeza que se estabelece entre seu corpo e a imagem projetada. Desloco esse material de seu eventual lugar de manuseio, e o transporto para uma outra ocupação na qual construirá outro significado.

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Marcel Duchamp (1887- 1968)

O grande vidro 1915-23

pintura a óleo sobre uma placa de vidro duplo dividido 260 cm x 160 cm

Caixa em Mala, 1935-41 (Boite-en-valise)

caixa de cartão com réplicas em miniatura 40,7 x 38,1 x 10,2 cm

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4. REfERêNCIAS ARTíSTICAS

A intersecção do trabalho de Duchamp com o projeto apresentado encontra-

se na materialidade, na construção de objetos e na escolhas de matérias que

dão suportes as projeções. Duchamp explora a relação óptica com a obra e

articula um jogo com a transparência e o espaço.

Entre 1915 e 1923 o artista dedicou-se à sua obra principal, “O grande vidro”,

que se dividia em duas partes: A parte superior chamou de “A noiva desnudada

pelos seus celibatários”; e a inferior, “Moinho de chocolate”. Toda a obra é um

pseudo-maquinismo.

Após “O grande vidro”, Duchamp dedicou-se aos mecanismos ópticos – que

chamou de “rotorrelevos”. Colocou o espectador diante de seus experimentos

óticos e propôs uma nova realidade sensorial do mundo.

A obra, “caixa-maleta”, de 1941, continha modelos reduzidos de suas obras.

A obra, “caixa verde”, de 1943, com fotos, desenhos, cálculos e notas reduz

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suas obras e o artista a insere em uma maleta que foi transformada em objeto

de arte (Caixa em Mala, 1935-41).1

No trabalho de Olafur Eliasson há o tratamento da luz e da perspectiva por

intermédio da criação de novos planos que abrem possibilidades de infinitas

espacialidades. A profundidade de campo é gerada pela luz, pela posição e

disposição, pela configuração da obra por articulação de dispositivos de projeção.

Os materiais utilizados por Eliasson me intrigam e me levam a refletir sobre os

suportes e máquinas que são necessários para a instalação de seus trabalhos.

Eles são compostos de uma maneira que o aparato da construção esteja

visível e organizado de forma cíclica como ação e reação, projeção e imagem,

construção e processo. Esse rebatimento interessa, de maneira decisiva, a

“Dispositivos do olhar” .

No caso de Turrel, interessa ao trabalho a disposição das projeções no espaço.

De modo especifico, como na primeira vídeo-instalação The inner way.

Interessa como ele manipula a dimensão de planos e como ele cria camadas e

profundidade com a luz.

As cores por meio da manipulação da ilusão ganham tridimensionalidade.

A luz provoca relação em que a silhueta do observador passa a estar presente na

imagem criada pelo artista. A cor é pensada no trabalho como configuradora

da espacialidade. A dimensão que é criada a partir da luz e da cor é presente

também em meu trabalho “Dispositivos do olhar”. Nele, a união da luz e da

cor buscam construir um novo espaço.

1 CABANNE, Pierre de. Marcel Duchamp: Engenharia do tempo perdido, Ed. Perspectiva, 1987.

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Olafur Eliasson

1m3 light, 1999

Spotlight, tripod, fog machine 100 cm x 100 cm x 100 cm

Wall eclipse, 2004

Glass mirror, 1 motor, HMI lamp, tripod dimensões variáveis

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James Turrel

The inner way, 2001

juke Green, 1968

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5. BIBLIOGRAfIA

BERGSON, Henri. Matéria e Memória. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

CABANNE, Pierre de. Marcel Duchamp: Engenharia do tempo perdido, coleções Debates. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1987.

COUCHOT, Edmond de. A tecnologia na arte: da fotografia à realidade virtual. Porto Alegre: Editora ufrgs, 2003.

CAUQUELIN, Anne. A invenção da paisagem: São Paulo: Martins Fontes, 2007.

LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: Ed. 34, 1996.

MACHADO, Arlindo. Arte e mídia: Rio de Janeiro:Ed. Jorge Zahar, 2008.

MERLEAU-PONTY, Maurice. O Olho e o espírito: São Paulo: Cosac e Naify, 2004.

PANOFSKY, Erwin. A perspectiva como forma simbólica, Arte e Comunicação. Lisboa: Ed. 70, 1993.

FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia, Rio de Janeiro: Relume /Dumará, 2002.

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