Diss Mestrado Rute

Embed Size (px)

Citation preview

DECLARAO

Nome: Rute Sofia Borlido Fiza Fernandes Pinto. E-mail: [email protected] B. I.: 11494389

Ttulo da Dissertao: Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

Orientador: Professor Doutor Rui Antnio Rodrigues Ramos Co-Orientador: Antnio Jos Bento Gonalves

Designao do Mestrado: Mestrado em Engenharia Municipal (Ramo de Especializao em Planeamento Urbanstico) Ano de Concluso: 2007 AUTORIZADA A REPRODUO INTEGRAL DESTA TESE APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAO, MEDIANTE DECLARAO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.

Universidade do Minho, ___/___/______

Assinatura:____________________________________________________

queles que tornaram possvel a concretizao deste estudo expresso aqui os meus mais sinceros agradecimentos:

Ao Professor Doutor Rui Ramos, pelo enorme privilgio de ter tido a sua enriquecedora orientao cientfica e pelo voto de confiana. Ao Professor Doutor Bento Gonalves, por me ter acompanhado em mais uma etapa do meu percurso acadmico, sentindo-me lisonjeada pela sua importante co-orientao cientfica. Dr. Cristina Ribeiro, pelo empenho, determinao, confiana, rigor e pelos fantsticos resultados obtidos nas anlises. Pela simpatia contagiante. Ao Professor Doutor Miguel Bandeira, Professora Doutora Maribela Pestana, ao Professor Doutor Miguel Brito, pela disponibilizao de material e sugestes cientficas. Ao Eng. Rui Rodrigues, da Cmara Municipal de Braga, por ter facultado informao essencial. Aos proprietrios das 8 hortas, pontos de amostragem, que colaboraram ao longo de trs meses, sem a confiana e a ajuda dos quais no teria sido possvel concretizar este estudo. s pessoas que responderam ao inqurito, pela pacincia e pelo indispensvel contributo. Aos meus colegas de trabalho da ento Direco Regional de Agricultura de Entre Douro e Minho, em especial ao Eng. Joo Oliveira, ao Sr. Raul, ao Sr. Cravo, Eng. Paula Cunha, ao Eng. Henrique Santos, Eng. Rosa, Eng. Alda, Eng. Emlia Leandro, ao Eng. Paulo Natividade e a todos os outros que de alguma forma contriburam. Bela, ao Antnio Correia a Ana Fontes pela imprescindvel ajuda. s minhas amigas e amigos pelo incentivo, pelo nimo e pela energia positiva que sempre me transmitiram. Ao Raul, pelo apoio e pacincia.

Aos meus pais, por tudo.

i

ii

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de BragaRESUMO O desenvolvimento sustentvel enfatiza a impossibilidade de um crescimento contnuo num planeta finito e a necessidade de preservar os recursos naturais e ambientais de modo a que as geraes futuras disponham do mximo de opes para maximizar o seu bem-estar e qualidade de vida. Assim, criar uma cidade sustentvel deve passar por incorporar a dimenso do ambiente no desenvolvimento denso e complexo da urbe, procurando deste modo alcanar uma maior justia social, um modelo econmico sustentvel e sustentabilidade ambiental. Estes constituem os trs aspectos chave do desenvolvimento sustentvel, fundamentais considerar no desenvolvimento urbano. Considera-se que os espaos de agricultura urbana, tais como as hortas urbanas, enquanto espaos verdes, devem ser integrados no modelo de desenvolvimento da cidade. As hortas urbanas devem portanto integrar a estrutura verde urbana principal ou a estrutura ecolgica urbana. O objectivo deste estudo demonstrar a viabilidade ambiental das hortas urbanas para usos mltiplos, isto , enquanto: espao verdes, que permitem descongestionar o ambiente da cidade; espaos de alimentao, que permitem obter alimentos de forma simples, rpida e segura; espaos de economia, que permitem obter alimentos de forma econmica e assim aumentar a renda; e espaos de lazer e recreio, que permitem proporcionar momentos de descontraco. A cidade de Braga um bom exemplo da preservao da ruralidade no espao urbano. Esta apresenta uma paisagem envolvente eminentemente rural que convive com um centro urbano cada vez mais densamente urbanizado, embora ainda penetrado por ecossistemas mais ou menos naturais, como hortas urbanas. Estas representam na cidade os resqucios da vida rural intensamente vivida no concelho. No entanto, pela dimenso urbana que alcanou, a cidade de Braga apresenta j problemas tpicos das grandes cidades, tais como contaminao e poluio urbana, os quais pem em risco a viabilidade ambiental destes espaos agrcolas. Como forma de avaliar as condies ambientais foram realizadas anlises qumicas de amostras de alfaces e de solos em algumas hortas. Assim, os resultados analticos das amostras de alfaces e de solos mostraram que existem nveis preocupantes de contaminao e poluio pelos metais pesados Cdmio, Chumbo e Zinco, em hortas dentro do permetro urbano de cidade. Portanto, a principal concluso do presente trabalho a escassa viabilidade ambiental, sobretudo como espaos de alimentao, para o uso das hortas urbanas enquanto importantes espaos de agricultura urbana no permetro urbano de cidade de Braga. Neste sentido, h que melhorar a qualidade ambiental que condiciona a utilizao agrcola das hortas urbanas de Braga, para assim garantir o seu uso adequado, sem riscos para a sade pblica e para o ambiente da cidade, e contribuindo para o desenvolvimento sustentvel da cidade. Considerando que o futuro de Braga dever contemplar o aproveitamento eficaz e estratgico dos espaos de agricultura urbana, apresentam-se vrias propostas para o aproveitamento das hortas urbanas enquanto espaos para o desenvolvimento sustentvel de Braga. Palavras-Chave: Desenvolvimento Sustentvel; Cidade Sustentvel; Agricultura Urbana; Hortas Urbanas; Braga. iii

iv

Urban Kitchen Gardens: Spaces for the Sustainable Development of BragaABSTRACT The sustainable development emphasizes the impossibility of a continuous growth in a finite planet and the necessity to preserve the natural environment and resources, so that future generations can make use of maximum options to maximize its well-being and lifes quality. To create a sustainable city the environmental dimension must be incorporated in the development of the dense and complex urban region, in order to promote further social justice, a sustainable economic model and the environmental sustainability. These three key features are the basis of the sustainable development and must be also the basis for the urban development. Hence the urban agriculture and green spaces, such as urban kitchen gardens, must be included in the development model of the city. Therefore, urban kitchen gardens must integrate the main urban green structure or the urban ecological structure. The objective of this study is to demonstrate the environmental viability of urban kitchen gardens as multiple uses spaces: as green spaces, that allow to get a good health and free environment in the city; as supply spaces, that allow to get food in a simple, fast and reliable way; as economic spaces, that allow to produce food in a financial profit way and to increase the families income; and as leisure and recreation spaces, that allow to provide rest moments. The city of Braga is a good example of the preservation of the ruralite in the urban region. This presents an eminently agricultural involving landscape that coexists with the urban centre, every day more densely constructed however maintains some natural spaces, such as urban kitchen gardens. These spaces represent remaining portions of the agricultural life intensely once lived. However, Braga presents typical problems of large cities, in result of the urban growing, such as contamination and urban pollution, which puts in risk the environmental viability of these agricultural spaces. To analyse the environmental condition some chemical analyses of samples of lettuce and soil of Braga kitchen gardens have carried through. The analytical results of the samples of lettuce and soil have shown preoccupying levels of contamination and pollution, for heavy metals such as Cadmium, Lead and Zinc, in some urban kitchen gardens inside the citys urban perimeter. Therefore, the main conclusion of the present work is the inadequate environmental conditions identify in most urban kitchen gardens. So, nowadays these spaces dont have the conditions to be important spaces in urban agriculture. To achieve successful results, environmental features of urban kitchen gardens should be improved in order to guarantee the agriculture use, without risks for the public health and the environment of the city, and to contribute for its sustainable development. Some proposals for the Braga urban kitchen gardens are presented taking into account the importance of these spaces in the sustainable development of Braga. Keywords: Sustainable Development; Sustainable City; Urban Agriculture; Urban Kitchen Gardens; Braga.

v

vi

NDICE AGRADECIMENTOS...i RESUMO.iii ABSTRACT..v NDICE...vii NDICE DE FIGURAS.....x NDICE DE GRFICOS...xiv NDICE DE TABELAS.......xviii 1. INTRODUO ............................................................................................................ 2 1.1 Tema....................................................................................................................... 2 1.2 Objectivo................................................................................................................ 4 1.3 Metodologia ........................................................................................................... 5 1.4 Estrutura ................................................................................................................. 6 2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL.................................................................. 7 2.1 Objectivos e Orientaes ..................................................................................... 11 2.2 Contextualizao Temporal e Legal..................................................................... 13 2.3 Desenvolvimento Urbano Sustentvel ................................................................. 14 2.4 Planeamento Urbano Sustentvel......................................................................... 24 2.4.1 Objectivos e Orientaes ................................................................................. 26 2.4.2 Estrutura Verde Urbana .................................................................................... 29 2.4.2.1 Concepo de Espaos Verdes Urbanos ...................................................... 40 2.4.2.2 Funo de Espaos Verdes Urbanos ............................................................ 42 2.4.3 Estrutura Ecolgica Urbana .............................................................................. 43 3. AGRICULTURA URBANA...................................................................................... 49 3.1 Objectivos e Orientaes ..................................................................................... 54 3.2 Hortas Urbanas..................................................................................................... 56 3.3 Agricultura Urbana Sustentvel ........................................................................... 65 3.3.1 Agricultura Urbana Biolgica .......................................................................... 68 3.3.2 Hortas Biolgicas Urbanas............................................................................... 71 4. CONCELHO DE BRAGA ......................................................................................... 75 4.1 Enquadramento Geo-Administrativo ................................................................... 75 4.1.1 Localizao Geogrfica e Administrativa........................................................ 75 4.2 Enquadramento Urbano ....................................................................................... 77 4.2.1 Permetro Urbano de Cidade............................................................................ 77 4.2.2 Breve Anlise sobre a Evoluo da Estrutura Urbana ..................................... 80 4.2.3 Estrutura Verde Urbana ................................................................................... 85 4.3 Enquadramento Biofsico..................................................................................... 94 4.3.1 Solo .................................................................................................................. 94 4.3.2 Usos do Solo .................................................................................................... 95 4.3.3 Relevo .............................................................................................................. 96 4.3.4 Recursos Hdricos ............................................................................................ 97 4.3.5 Clima ................................................................................................................ 97 vii

4.3.6 Paisagem...........................................................................................................99 4.4 Enquadramento Populacional.............................................................................100 4.4.1 Populao Residente, em 1991 e 2001 ........................................................... 100 4.4.2 Populao Residente, segundo classes de idade e sexo, em 2001.................. 102 4.4.3 Populao Residente, segundo sector de actividade econmica, em 2001 ....103 4.5 Enquadramento Agrcola....................................................................................105 4.5.1 Populao Activa Total e Populao Agrcola e Silvcola, em 2001 .............105 4.5.2 Populao Agrcola Familiar, em 1989 e 1999 .............................................. 107 4.5.3 Composio da Superfcie Total das Exploraes Agrcolas, em 1989 e 1999..108 4.5.4 Utilizao das Terras Arveis das Exploraes Agrcolas, em 1989 e 1999 ..........................................................................................................................111 4.5.5 Exploraes e reas das Principais Culturas Permanentes, em 1989 e 1999 ..........................................................................................................................117 4.5.6 Exploraes e reas das Principais Culturas Temporrias, em 1989 e 1999. .........................................................................................................................120 5. HORTAS URBANAS: ESPAOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL DE BRAGA ..................................................................................... 127 5.1 Distribuio Geogrfica das Hortas Urbanas .....................................................130 5.2 Identificao do Tipo e Nmero de Hortas Urbanas Existentes......................... 132 5.3 Caracterizao das Hortas Estudadas .................................................................135 5.3.1 Hortas Pontos de Amostragem .......................................................................137 5.3.1.1 Horta 1 ........................................................................................................138 5.3.1.2 Horta 2 ........................................................................................................140 5.3.1.3 Horta 3 ........................................................................................................141 5.3.1.4 Horta 4 ........................................................................................................143 5.3.1.5 Horta 5 ........................................................................................................145 5.3.1.6 Horta 6 ........................................................................................................146 5.3.1.7 Horta 7 ........................................................................................................148 5.3.1.8 Horta 8 ........................................................................................................150 5.4 Avaliao da Viabilidade Ambiental das Hortas Estudadas (Aplicao Prtica)153 5.4.1 Seleco das Amostras ...................................................................................158 5.4.1.1 Alface .........................................................................................................161 5.4.1.2 Solo.............................................................................................................171 5.4.2 Seleco dos Metais Pesados..........................................................................179 5.4.2.1 Cdmio .......................................................................................................183 5.4.2.2 Chumbo ......................................................................................................185 5.4.2.3 Zinco...........................................................................................................187 5.4.3 Anlise Laboratorial .......................................................................................189 5.4.3.1 Alface .........................................................................................................189 5.4.3.1.1 Resultados Analticos .............................................................................189 5.4.3.2 Solo.............................................................................................................193 5.4.3.2.1 Resultados Analticos .............................................................................193 5.4.3.3 Concluses das Anlises das Alfaces e dos Solos......................................196 5.5 Propostas para Aproveitamento das Hortas Urbanas enquanto Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga ...................................................................199

viii

6. CONCLUSES ........................................................................................................ 217 7. PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS.................................................... 225 REFERNCIAS............................................................................................................ 227 ANEXOS ...................................................................................................................... 239 NDICE DOS ANEXOS............................................................................................... 241

ix

NDICE DE FIGURAS Figura 1 Efeitos da Industrializao, Adaptado de BRAUN, 2001....7 Figura 2 Dimenses da Sustentabilidade, Adaptado de BUCKINGHAM-HATFIELD & PERCY, 1999................................................................................................................9 Figura 3 Interrelaes do Desenvolvimento Sustentvel, Adaptado de HIGUERAS, 2006.........................................................................................................................10 Figura 4 Aspectos do Desenvolvimento Sustentvel, Adaptado de GOUZEE et al., 1995, in DIRECO GERAL DO AMBIENTE, 2000..10 Figura 5 Pesos da Mesma Balana Economia/Ambiente, Adaptado de BRAUN, 2000.11 Figura 6 Interpretaes Dbeis e Fortes do Desenvolvimento Sustentvel, Adaptado de Sutcliffe, 1992, in CARIDE & MEIRA, 2004........................................................12 Figura 7 Inputs e Outputs das Cidades, Adaptado de SARAIVA, 2005..................18 Figura 8 Modelo Convencional de Cidade, Adaptado de CROFT, 2001.18 Figura 9 Modelo Compacto de Cidade, Adaptado de CROFT, 2001...19 Figura 10 Cidade Insustentvel, Adaptado do GUIA UM COMPROMISSO PELO FUTURO Agenda 21 Eixo, 1993......20 Figura 11 Cidade Sustentvel, Adaptado do GUIA UM COMPROMISSO PELO FUTURO Agenda 21 Eixo, 1993......20 Figura 12 Paisagem Urbana Com e Sem Espaos Verdes, Adaptado de PRINZ, 1984.31 Figura 13 Fases da Estrutura Ecolgica, Adaptado de CANGUEIRO, 2005...........45 Figura 14 Relaes da Agricultura Urbana, Adaptado da REVISTA DE AGRICULTURA URBANA, N. 1, 2000...............................................................52 Figura 15 Hortas Sociais, Adaptado de LNEC, 1986...........................................60 Figura 16 Hortas Colectivas, Adaptado de CROFT, 2001...........................................64 Figura 17 Foras e Fraquezas da Produo Biolgica na Agricultura Urbana, Adaptado de SERRADOR, 2005.................................................................70 Figura 18 Horta Biolgica, Adaptado de PEARS & STICKLAND, 2006...73 Figura 19 Localizao Geogrfica do Concelho de Braga...76 Figura 20 Localizao Administrativa do Concelho de Braga.................................76

x

Figura 21 Freguesias do Concelho de Braga............................................77 Figura 22 Permetro Urbano da Cidade de Braga e respectivas Freguesias, em 2001.78 Figura 23 Permetros Urbanos definidos pela Cmara Municipal de Braga, em 2001.79 Figura 24 Mapa Braunio, Adaptado de Braun Georg (cuja execuo atribuda a Manoel Barbosa), 1594....82 Figura 25 Reconstituio do Espao Urbano de Braga, Adaptado de BANDEIRA, 2000.............................................................................................................................83 Figura 26 Edificao da Cidade de Braga, Adaptado de DOMINGUES, 2006.......84 Figura 27 Inquritos Populao Residente em Braga, Adaptado da REVISTA A NOSSA TERRA, 2004....92 Figura 28 Espaos Verdes no Centro Urbano de Braga, CMB, 2001..93 Figura 29 Verde Invade Corao de Braga, Adaptado da REVISTA ARQUITECTURAS, N. 24, 2007..94 Figura 30 Espaos de Agricultura Urbana no Permetro Urbano de Cidade, Ortofotomapas (1:2000) da CMB, 1999....................................................................100 Figura 31 Figura 31 Hortas Urbanas no Permetro Urbano de Cidade, Ortofotomapas (1:2000) da CMB, 1999....................................131 Figura 32 Classificao das Hortas Urbanas no Permetro Urbano de Cidade, Ortofotomapas (1:2000) da CMB, 1999....133 Figura 33 Hortas Urbanas Localizadas Dentro do Permetro Urbano de Cidade Ortofotomapas (1:2000) da CMB, 1999134 Figura 34 Hortas Pontos de Amostragem...135 Figura 35 Freguesias das Hortas Pontos de Amostragem......136 Figura 36 Distribuio das Hortas Pontos de Amostragem138 Figura 37 Horta 1 Freguesia de Lamas................................................................138 Figura 38 Horta 1 Proximidade Rede Viria....................................................139 Figura 39 Horta 1 Aptido Agrcola da Terra.................................................139 Figura 40 Horta 2 Freguesia de Morreira140 Figura 41 Horta 2 Proximidade Rede Viria....................................................140 Figura 42 Horta 2 Aptido Agrcola da Terra.....................................................141 xi

Figura 43 Horta 3 Freguesia de Adafe...................................................................142 Figura 44 Horta 3 Proximidade Rede Viria........................................................142 Figura 45 Horta 3 Aptido Agrcola da Terra.....................................................143 Figura 46 Horta 4 Freguesia de Lomar....................................................143 Figura 47 Horta 4 Proximidade Rede Viria........................................................144 Figura 48 Horta 4 Aptido Agrcola da Terra.........................................................144 Figura 49 Horta 5 Freguesia de Gualtar......................................................145 Figura 50 Horta 5 Proximidade Rede Viria....................................................145 Figura 51 Horta 5 Aptido Agrcola da Terra.....................................................146 Figura 52 Horta 6 Freguesia de Lamaes..........................................................147 Figura 53 Horta 6 Proximidade Rede Viria........................................................147 Figura 54 Horta 6 Aptido Agrcola da Terra.....................................................148 Figura 55 Horta 7 Freguesia da S......................................................................148 Figura 56 Horta 7 Proximidade Rede Viria....149 Figura 57 Horta 7 Aptido Agrcola da Terra.....................................................149 Figura 58 Horta 8 Freguesia de So Vicente...................................................150 Figura 59 Horta 8 Proximidade Rede Viria....................................................150 Figura 60 Horta 8 Aptido Agrcola da Terra.....................................................151 Figura 61 Sntese da Poluio Atmosfrica, Adaptado de ALVES, 1995.............153 Figura 62 Fontes de Poluentes Atmosfricos, Adaptado de www.qualar.org/, 2007...154 Figura 63 Interrelao Solo-Metais Pesados-Planta, Adaptado de ALLOWAY, 1995...............................................................................................................................156 Figura 64 Esquema dos mecanismos de Plantas Hiperacumuladoras: (a) Contaminantes no Solo; (b) Contaminantes Absorvidos pela Planta, Adaptado de DINARDI et al., 2003...157 Figura 65 Distribuio Geogrfica das Principais Zonas de Produo de Alface, Adaptado do ANURIO VEGETAL DE 2005, 2007..164 Figura 66 Tipo de Alface Escolhida para Anlise Alface do tipo Bola de Manteiga....165

xii

Figura 67 Horizontes do Perfil do Solo, Adaptado de FAO/UNESCO & US Soil Taxonomy Horizon in ALLOWAY, 1995....172 Figura 68 Solos do Concelho de Braga nos Pontos de Recolha de Amostras, INSTITUTO DO AMBIENTE, 1971........................................................................174 Figura 69 Geologia do Concelho de Braga nos Pontos de Recolha de Amostras, IGM, 2000...175 Figura 70 Alocao Espacial de Emisses 2003 de Metais pesados, Adaptado do INSTITUTO DO AMBIENTE, 2003....................181 Figura 71 Funo Biolgica dos Metais Pesados, Adaptado de GUILHERME & GIULIANO, 2007..182 Figura 72 Ciclo Biogeoqumico dos Metais Pesados, Adaptado de VARENNES, 2003...182

xiii

NDICE DE GRFICOS Grfico 1 Populao Residente, em 1991 e 2001...100 Grfico 2 Populao Residente, por freguesia, em 1991 e 2001101 Grfico 3 Populao Residente, segundo Classes de Idade e Sexo, em 2001102 Grfico 4 Populao Residente, por freguesia, segundo Classes de Idade e Sexo, em 2001...102 Grfico 5 Populao Residente, segundo Sector de Actividade Econmica, em 2001...103 Grfico 6 Populao Residente Empregada, por freguesia, segundo Sector de Actividade Econmica, em 2001...104 Grfico 7 Populao Activa Total e Populao Agrcola e Silvcola, em 2001.105 Grfico 8 Populao Agrcola e Silvcola, por freguesia, em 2001...105 Grfico 9 Populao Activa Empregada Total, por freguesia, em 2001106 Grfico 10 Peso da Populao Agrcola, por freguesia, em 2001..106 Grfico 11 Populao Agrcola Familiar e Nmero de Exploraes, em 1989 e 1999...107 Grfico 12 Populao Agrcola Familiar e Nmero de Exploraes, por freguesias, em 1989...108 Grfico 13 Populao Agrcola Familiar e Nmero de Exploraes, por freguesias, em 1999...108 Grfico 14 Superfcie Total das Exploraes Agrcolas, em 1989 e 1999.109 Grfico 15 Superfcie Agrcola Utilizada, em 1989 e 1999 ..109 Grfico 16 Superfcie Agrcola No Utilizada, em 1989 e 1999109 Grfico 17 Matas e Florestas Sem Culturas Sob-Coberto, em 1989 e 1999..110 Grfico 18 Outras Formas de Utilizao das Terras, em 1989 e 1999...110 Grfico 19 Superfcie Agrcola Utilizada, por freguesia, em 1989110 Grfico 20 Superfcie Agrcola Utilizada, por freguesia, em 1999111 Grfico 21 Total de Terras Arveis em Cultura Principal, em 1989 e 1999..112 Grfico 22 Total de Terras Arveis em Cultura Secundria Sucessiva, em 1989 e 1999...112

xiv

Grfico 23 Total de Terras Arveis em Cultura Secundria Associada Sob-Coberto de Permanentes, em 1989 e 1999...112 Grfico 24 Horta Familiar em Cultura Principal em Terras Arveis, em 1989 e 1999...113 Grfico 25 Horta Familiar em Cultura Secundria Associada Sob-Coberto de Permanentes em Terras Arveis, em 1989 e 1999.113 Grfico 26 Total de Culturas Temporrias em Cultura Principal em Terras Arveis, em 1989 e 1999..114 Grfico 27 Total de Culturas Temporrias em Cultura Secundria Sucessiva em Terras Arveis, em 1989 e 1999....114 Grfico 28 Total de Culturas Temporrias em Cultura Secundria Associada SobCoberto de Permanentes em Terras Arveis, em 1989 e 1999..114 Grfico 29 Horta Familiar em Cultura Principal em Terras Arveis, em 1989..115 Grfico 30 Horta Familiar em Cultura Principal em Terras Arveis, em 1999..115 Grfico 31 Horta Familiar em Cultura Secundria Associada Sob-Coberto de Permanentes em Terras Arveis, por freguesia, em 1989.116 Grfico 32 Horta Familiar em Cultura Secundria Associada Sob-Coberto de Permanentes em Terras Arveis, por freguesia, em 1999.117 Grfico 33 Total de Culturas Permanentes, em 1989 e 1999.117 Grfico 34 Vinha, em 1989 e 1999.118 Grfico 35 Frutos Frescos, em 1989 e 1999...118 Grfico 36 Citrinos, em 1989 e 1999.118 Grfico 37 Frutos Secos, em 1989 e 1999..118 Grfico 38 Frutos Sub-Tropicais, em 1989 e 1999118 Grfico 39 Total de Culturas Permanentes, por freguesia, em 1989.119 Grfico 40 Total de Culturas Permanentes, por freguesia, em 1999.119 Grfico 41 Total de Culturas Temporrias, em 1989 e 1999.120 Grfico 42 Cereais para Gro em Cultura Principal, em 1989 e 1999...120 Grfico 43 Cereais para Gro em Cultura Secundria Sucessiva, em 1989 e 1999...120 Grfico 44 Cereais para Gro em Cultura Secundria Associada Sob-Coberto de Permanentes, em 1989 e 1999...121

xv

Grfico 45 Leguminosas Secas para Gro em Cultura Principal, em 1989 e 1999121 Grfico 46 Leguminosas Secas para Gro em Cultura Secundria Sucessiva, em 1989 e 1999....121 Grfico 47 Leguminosas para Gro em Cultura Secundria Associada Sob-Coberto de Permanentes, em 1989 e 1999...121 Grfico 48 Prados Temporrios e Culturas Forrageiras em Cultura Principal, em 1989 e 1999121 Grfico 49 Prados Temporrios e Culturas Forrageiras em Cultura Secundria Sucessiva, em 1989 e 1999122 Grfico 50 Prados Temporrios e Culturas Forrageiras em Cultura Secundria Associada Sob-Coberto de Permanentes, em 1989 e 1999...122 Grfico 51 Batata em Cultura Principal, em 1989 e 1999..122 Grfico 52 Batata em Cultura Secundria Sucessiva, em 1989 e 1999..122 Grfico 53 Batata em Cultura Secundria Sucessiva Associada Sob-Coberto de Permanentes, em 1989 e 1999...122 Grfico 54 Culturas Hortcolas Extensivas em Cultura Principal, em 1989 e 1999..122 Grfico 55 Culturas Hortcolas Extensivas em Cultura Secundria Sucessiva, em 1989 e 1999123 Grfico 56 Culturas Hortcolas Extensivas em Cultura Secundria Associada SobCoberto de Permanentes, em 1989 e 1999123 Grfico 57 Culturas Hortcolas Intensivas ao Ar Livre ou Abrigo Baixo em Cultura Principal, em 1989 e 1999.123 Grfico 58 Culturas Hortcolas Intensivas em Estufa ou Abrigo Alto em Cultura Principal, em 1989 e 1999.123 Grfico 59 Total de Culturas Hortcolas Intensivas em Cultura Principal, em 1989 e 1999...123 Grfico 60 Flores e Plantas Ornamentais em Estufa ou Abrigo Alto em Cultura Principal, em 1989 e 1999.124 Grfico 61 Flores e Plantas Ornamentais ao Ar Livre ou Abrigo Baixo em Cultura Principal, em 1989 e 1999.124 Grfico 62 Total de Flores e Plantas Ornamentais em Cultura Principal, em 1989 e 1999...124

xvi

Grfico 63 Sementes de Culturas Forrageiras em Cultura Principal, em 1989 e 1999...124 Grfico 64 Sementes de Culturas Forrageiras em Cultura Secundria Sucessiva, em 1989 e 1999...124 Grfico 65 Sementes de Culturas Forrageiras em Cultura Secundria Associada SobCoberto de Permanentes, em 1989 e 1999....125 Grfico 66 Culturas Temporrias em Cultura Principal, por freguesia, em 1989..125 Grfico 67 Culturas Temporrias em Cultura Principal, por freguesia, em 1999..125

xvii

NDICE DE TABELAS Tabela 1 Factores de Sustentabilidade, Adaptado de AMADO, 2005.27 Tabela 2 Princpios Estratgicos de Sustentabilidade, Adaptado de AMADO, 2005.............................................................................................................................28 Tabela 3 Medidas e Princpios Essenciais, Adaptado de AMADO, 2005...29 Tabela 4 Estrutura Verde Urbana Utilizao, Adaptado de MAGALHES, 1991.................................................................................................................................36 Tabela 5 Estrutura Verde Urbana Tipologia, Adaptado de MAGALHES, 1991...37 Tabela 6 Tipologia de Espaos Verdes, Adaptado do ANEXO I da Portaria n. 1136/2001, de 25 de Setembro....38 Tabela 7 Tipos de Espaos Verdes, Adaptado de Palomo, 2003, in HIGUERAS, 2006.58 Tabela 8 Sistema de Espaos Verdes Plano Verde de Valncia, Adaptado de PALOMO, 2003..58 Tabela 9 Populao Residente e rea das Freguesias Urbanas do Concelho de Braga, 2001.....78 Tabela 10 Identificao das Hortas Pontos de Amostragem..137 Tabela 11 Identificao das Amostras160 Tabela 12 Composio Qumica da Alface, Adaptado de Folquet in RIPADO, 1993...............................................................................................................................162 Tabela 13 Teores Mdios de Cdmio, Chumbo e Zinco, em Alface Cultivada em Solos No Contaminados, Adaptado de Dudka & Miller, 1995, in MELO et al., 2004...168 Tabela 14 Nveis de Cdmio e Chumbo em Plantas em Concentraes Normais e em Concentraes Crticas, Adaptado de Kabata & Pendias, 1992, Alloway, 1995, in MELO et al., 2004.....168 Tabela 15 Teores Mdios de Cdmio e Chumbo nas Plantas, Adaptado de VARENNES, 2003....168 Tabela 16 Vias de Entrada no Homem de Cdmio e Chumbo, Adaptado de VARENNES, 2003....169

xviii

Tabela 17 Teores Mximos de Cdmio e Chumbo Presentes nos Gneros Alimentcios Produtos Hortcolas de Folha, Adaptado de Regulamento (CE) n. 1881/2006, de 19 de Dezembro de 2006.170 Tabela 18 Concentrao de Cdmio, Chumbo e Zinco em Solos Agrcolas, Adaptado de ALLOWAY, 1995173 Tabela 19 Valores de pH adequados Cultura de Alface, Adaptado de Foth, 1990, Wolf, 1999, Mengel & Kirkby, 2000, in VARENNES, 2003...174 Tabela 20 Concentraes de Cdmio, Chumbo e Zinco, em geral, nos Cambissolos, Adaptado de KABATA-PENDIAS & PENDIAS, 2001...175 Tabela 21 Concentraes de Cdmio, Chumbo e Zinco em Granitos, Adaptado de Malavolta, 1994, in MELO, et al., 2004................................176 Tabela 22 Deposio Total de Cdmio, Chumbo e Zinco (g/ha/ano) em reas Rurais e Urbanas, Adaptado de ALLOWAY, 1995............................................178 Tabela 23 Concentraes Limite de Cdmio, Chumbo e Zinco nos Solos em funo do pH, Adaptado da Portaria n. 176/96, de 3 de Outubro de 1996...179 Tabela 24 Resultados Analticos de Cdmio, Chumbo e Zinco das 17 Amostras de Alface.............................................................................................................................190 Tabela 25 Resultados Analticos de Cdmio, Chumbo e Zinco das 8 Amostras de Solo....194 Tabela 26 Compilao dos Resultados Analticos de Cdmio, Chumbo e Zinco das Amostras de Alface e de Solo197

xix

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

A cidade parece ser o meio natural do Homem, o seu nicho ecolgico favorito (ALLEGRE, 1996).

Um novo conceito de cidade deve ser pensado. (...) Em termos ecolgicos, devemos partir do princpio de que a cidade e o campo so fases diferentes de um mesmo sistema: uma no pode viver sem a outra. (...) O homem do futuro, do sculo XXI no ser rural nem urbano: ser as duas coisas ao mesmo tempo sem as confundir. () Na cidade do futuro deve ser reintegrada a ruralidade e a agricultura, a tempo parcial e complementar, ou mesmo de determinadas especialidades. () Uma cidade/regio, onde a ruralidade e a urbanidade estejam interligadas fundamental para encarar o futuro (TELLES, 1996).

No incio do sculo XXI, a humanidade encontra-se envolvida numa experincia sem precedentes: estamos a transformar-nos numa espcie urbana. As grandes cidades, no as aldeias e vilas, esto a tornar-se o nosso principal habitat. As cidades do sculo XXI so o espao em que se jogar o nosso destino, e onde ser decidido o futuro da biosfera. No haver mundo sustentvel sem cidades sustentveis (GIRARDET, 2007).

1

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

1. INTRODUO 1.1 Tema O desenvolvimento sustentvel est na ordem do dia. Enfatiza dois aspectos importantes: os limites ecolgicos, traduzidos na impossibilidade de um crescimento contnuo num planeta finito, e a solidariedade com as geraes futuras, traduzida na necessidade de preservar os recursos naturais e ambientais de modo a que essas geraes disponham do mximo de opes para maximizar o seu bem-estar e qualidade de vida. A cidade sustentvel um conceito que incorpora a dimenso do ambiente no desenvolvimento denso e complexo da urbe e o carcter participativo e solidrio, e que faz da diversidade e da mescla a chave da sua existncia e o seu principal sinal de identidade (BURDALO, 1995). Criar uma cidade sustentvel o objectivo nico do desenvolvimento urbano sustentvel. Ns, cidades, compreendemos que o conceito de desenvolvimento sustentvel nos ajuda a adoptar um modo de vida baseado no capital da natureza. Esforamo-nos para alcanar a justia social, economias sustentveis e sustentabilidade ambiental. A justia social ter que assentar necessariamente na sustentabilidade econmica e na equidade que por sua vez requerem sustentabilidade ambiental. () Alm disso, a sustentabilidade ambiental garante a preservao da biodiversidade, da sade humana e da qualidade do ar, da gua e do solo, a nveis suficientes para manter a vida humana e o bem-estar das sociedades, bem como a vida animal e vegetal para sempre (CARTA DAS CIDADES EUROPEIAS PARA A SUSTENTABILIDADE, 1994). Para termos cidade sustentvel precisa-se, entre outros aspectos, de preservar as reas verdes da cidade e, sempre que se revele necessrio, aumentar essas reas. Ao conjunto de reas verdes para uso, predominantemente, pblico, que asseguram um agregado de funes ecolgicas em meio urbano e ainda funes de estadia, de recreio e de enquadramento da estrutura urbana, chama-se estrutura verde urbana. Esta dever ser constituda por duas sub-estruturas, para as quais se apontam os seguintes dimensionamentos (MAGALHES, 1991): estrutura verde principal: 30 m2/habitante e estrutura verde secundria: 10 m2/habitante. Na estrutura verde urbana principal ou estrutura ecolgica urbana, que constituda pelos espaos verdes localizados nas situaes ecolgicas mais favorveis sua implantao e pelas reas de maior interesse ecolgico ou as mais importantes no funcionamento dos sistemas naturais, inserem-se os espaos de agricultura urbana tais como as hortas urbanas.

2

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

Por agricultura, lato sensu, entende-se a soma de tarefas capazes de transformar o meio natural no sentido de produzir matrias vegetais e de criar animais teis ao Homem. Nesta conformidade a agricultura urbana denomina o conjunto de actividades de produo animal e vegetal exercidas em meio urbano, visto como espao abrangente que inclui reas intersticiais no-construdas e superfcies periurbanas (MADALENO, 2000). A agricultura urbana pode trazer inmeros benefcios s cidades, entre os quais: fortalecer a segurana alimentar urbana; reduzir a pobreza urbana; melhorar a gesto do ambiente urbano; melhorar a sade; desenvolver uma administrao mais participativa e menos marginalizadora; e proteger a biodiversidade urbana. Existem diversas modalidades para praticar a agricultura urbana, entre as quais se destacam: hortas urbanas; quintais agro-florestais; arborizao urbana com rvores de fruto; e plantao/uso de plantas medicinais e ornamentais. As hortas urbanas, independentemente da respectiva tipologia, sejam hortas familiares, comunitrias, sociais, escolares, de recreio, ou de qualquer outro tipo, todas so fundamentais para a sensibilizao dos habitantes da cidade e da sociedade em geral, quanto alimentao saudvel, aos fundamentos naturais da agricultura, proteco da natureza e, enfim, aos alicerces de uma nova sociedade, mais justa, equitativa e sustentvel. A agricultura urbana pode revelar-se numa nova funo da cidade. Funo essa que tem necessidades, relaes e potencialidades, muito para alm da produo de alimentos e que, por tal, deve ser considerada no planeamento urbano, atendendo sua relao benfica com os outros componentes do ambiente urbano, tais como os servios, as reas verdes, os espaos de recreio e lazer, os edifcios, a economia, a paisagem, entre outros. Traz assim benefcios econmicos, ambientais e sociais para as cidades. Neste sentido, as polticas urbanas devem incentivar a implementao da agricultura urbana como forma de promover o desenvolvimento urbano sustentvel.

3

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

1.2 Objectivo Este trabalho tem como objectivo demonstrar viabilidade ambiental das hortas urbanas para usos mltiplos, isto , enquanto: espaos verdes que descongestionam o ambiente da cidade e espaos alternativos mas complementares ao espao verde tradicional, podendo-se constituir como jardins agrcolas; espaos de alimentao, onde os habitantes da cidade podem obter de forma simples, rpida e segura, os produtos que habitualmente consomem na sua alimentao; espaos de economia, onde aqueles podem de forma econmica obter alimentos e assim aumentar a respectiva renda; e espaos de lazer e recreio para os momentos de descontraco. Atendendo aos usos mltiplos que as hortas urbanas podem ter, considerou-se pertinente perceber se existe viabilidade ambiental para as hortas urbanas existentes no permetro urbano de cidade de Braga. urgente assumir que as hortas urbanas, enquanto espaos agrcolas no interior da cidade, podem contribuir significativamente para o desenvolvimento sustentvel da cidade. Contudo, devido s caractersticas do meio envolvente, dado que, pela dimenso que alcanou, a cidade de Braga apresenta j problemas particulares das grandes cidades, pode existir contaminao e at mesmo poluio, traduzidas pela presena de metais pesados em concentraes acima dos limites estabelecidos e que, por tal, podem causar danos significativos. Assim, o presente trabalho poder traduzir-se numa importante contribuio para fazer de Braga uma cidade sustentvel, melhorando os espaos de agricultura urbana, em especial as hortas urbanas.

4

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

1.3 Metodologia A metodologia utilizada para a concretizao deste trabalho assentou em duas fases. Numa primeira fase, essencialmente terica, desenvolveu-se uma intensa pesquisa de referncias sobre as vrias temticas abordadas visando a fundamentao do presente estudo. Nesta fase obtiveram-se referncias sobre: desenvolvimento sustentvel; sustentabilidade; desenvolvimento urbano sustentvel; planeamento urbano; planeamento urbano sustentvel; agricultura urbana; agricultura urbana sustentvel; agricultura biolgica; cultura da alface; solos; e metais pesados. Todas determinantes para fundamentar e atestar a actualidade e a importncia deste trabalho. Numa segunda fase, essencialmente prtica, desenvolveu-se um estudo sobre a viabilidade ambiental de um nmero determinado de hortas seleccionadas como pontos de amostragem. Assim, nesta fase procedeu-se seleco destes pontos de amostragem, correspondendo a 5 hortas dentro do considerado permetro urbano de cidade de Braga, e a 3 hortas fora deste permetro urbano, de onde foram colhidas as amostras para anlise qumica laboratorial. Foi utilizada a alface, nomeadamente a alface do tipo Bola de Manteiga, muito consumida no nosso pas e de crescimento favorecido na Primavera, enquanto produto hortcola de forte consumo na alimentao humana e espcie bioindicadora de metais pesados, sendo mesmo considerada a principal acumuladora de metais pesados, tais como: Zinco, Cobre, Chumbo, Cdmio e Nquel (JINADASA et al., 1999; SANTOS et al., 1999; MELO et al., 2000; DINARDI et al., 2003; MANTOVANI et al., 2003; NALI, 2003; MELO et al., 2004; JORDO et al., 2006). Neste sentido, os metais pesados, seleccionados para serem analisados nas amostras de alfaces e solos, foram o Cdmio, o Chumbo e o Zinco. Em cada uma das hortas pontos de amostragem foram colhidas 2 amostras de alfaces e 1 amostra de solo. Todas as amostras de alfaces e solos foram submetidas a preparao fsico-qumica e posteriormente a anlise qumica dos metais pesados seleccionados no Laboratrio de Espectrometria do Departamento de Cincias da Terra da Universidade do Minho (DCT-UM).

5

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

1.4 Estrutura A estrutura do trabalho est organizada por captulos. O captulo 1 corresponde introduo do trabalho, a qual procura dar uma viso geral do estudo, apresentando de forma breve o tema, o objectivo, a metodologia e a estrutura do trabalho. O captulo 2 visa proporcionar um enquadramento temtico, quer temporal, quer legislativo, do conceito de desenvolvimento sustentvel enquanto conceito base do trabalho; demonstrar a importncia da aplicao do conceito de desenvolvimento sustentvel ao desenvolvimento escala urbana; e realar a necessidade de introduzir o conceito de desenvolvimento sustentvel ao nvel do planeamento escala urbana, devendo este incluir uma estrutura ecolgica urbana coesa e integrada. O captulo 3 destaca a importncia da agricultura escala urbana, em especial de espaos agrcolas como as hortas urbanas, e mostra o interesse de aplicar o conceito de desenvolvimento sustentvel agricultura urbana, passando pela prtica de uma agricultura urbana biolgica. O captulo 4 intenta caracterizar geogrfica, fsica e socioeconomicamente o Concelho de Braga para enquadrar a rea de estudo. O captulo 5 apresenta a rea de estudo, o permetro urbano de cidade de Braga, identificando as hortas urbanas e caracterizando as hortas estudadas; expe a aplicao prtica do trabalho tendo em vista a avaliao da viabilidade ambiental das hortas estudadas, revelando as opes tomadas para as amostras e apresenta os respectivos resultados; e revela propostas de aproveitamento dos espaos agrcolas urbanos como as hortas urbanas enquanto espaos fundamentais para o desenvolvimento sustentvel de Braga. O captulo 6 corresponde s concluses do trabalho. Por fim, o captulo 7 apresenta algumas propostas para trabalhos futuros.

6

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL Aquando da Revoluo Industrial surgiu um modelo de desenvolvimento onde as necessidades econmicas se sobrepunham s necessidades de melhoria das condies de vida da populao. Este modelo de desenvolvimento, alm de preterir a realizao social para satisfao das necessidades econmico-financeiras, tambm considerava o ambiente apenas como mero fornecedor dos recursos naturais indispensveis produo, ou seja, a natureza era encarada simplesmente como a matria-prima original dos meios de produo humanos. O modelo de desenvolvimento industrial assentava essencialmente na busca do crescimento econmico, pois o objectivo era produzir cada vez mais e mais depressa tudo o que fosse possvel produzir, sem considerar os danos causados ao ambiente e aos valores humanos, representando pois o avano tecnolgico e as descobertas cientficas as solues para todos os problemas. A avaliao do estado de desenvolvimento de uma nao era mesmo feita com base em indicadores meramente econmicos, no sendo considerados indicadores to importantes como a qualidade ambiental e a equidade social. Os pases desenvolvidos, em particular, comearam a perceber que este modelo de desenvolvimento estava a levar a um crescente aumento dos problemas ambientais e sociais pois, a viso local de um dado problema ambiental ou social passou a ter abrangncia global na medida em que passou afectar as relaes econmicas do aglomerado urbano ou do pas onde ocorriam e tambm forra desse pas. Alm da interdependncia econmica a nvel mundial, existia tambm a interdependncia ambiental, pois qualquer problema ambiental podia ter uma enorme abrangncia devido aos seus efeitos no se circunscreverem apenas rea de ocorrncia. Estava-se perante um modelo de desenvolvimento, baseado no aparecimento de megaempreendimentos industriais, o que provocou grande crescimento econmico mas a maior parte das vezes com custos ambientais elevados (BRAUN, 2001), com a figura 1 procura traduzir. Assim, a causa essencial da crise ambiental estava Figura 1 Efeitos da Industrializao, Adaptado de BRAUN, 2001 vinculada dinmica do capitalismo, cuja apropriao da natureza tinha como objectivo o aumento da produtividade atravs de diferentes frmulas de artificializao. Em finais do sculo XX, por volta dos anos 60, assistiu-se ao comeo da consciencializao da populao mundial sobre a degradao do ambiente, levando ao 7

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

incio de reunies, conferncias, cimeiras, elaborao de acordos, tratados, declaraes e outros documentos, no sentido de discutir e estudar as causas, ao mesmo tempo que procuravam as solues e as alternativas para os problemas ambientais do planeta. Foi neste contexto que surgiu o conceito de desenvolvimento sustentvel, considerado, a nvel mundial, como o caminho a ser trilhado para alcanar nveis adequados de qualidade de vida no presente e no futuro. um desenvolvimento que afirma a sua condio de humano e sustentvel, tentando resumir, nestas duas expresses, boa parte dos valores que tm de se potenciar de forma cada vez mais acrrima. Alcanar o primeiro supe perseverar no objectivo tico de transmitir uma srie de atributos e valores morais do bem-estar de cada pessoa, de todas as comunidades e povos, e de o fazer atravs do esforo colectivo, do uso racional dos recursos e dos direitos em que assenta a liberdade, a justia, a solidariedade e a equidade social. O segundo implica que esse bem-estar se mantenha no tempo, revendo e adequando as polticas de gesto ambiental, populacional e administrativas, de modo que elas garantam uma harmnica relao entre a dinmica da sociedade e a dinmica da natureza (Trllez & Quiroz, 1995, in CARIDE & MEIRA, 2004). Assim, de forma genrica, o conceito de desenvolvimento sustentvel expressa a preocupao de garantir as necessidades actuais sem comprometer a vida das geraes futuras. O conceito de desenvolvimento sustentvel gerado entre a segunda metade do sculo XIX e o perodo entre guerras mundiais na primeira metade do sculo XX, quando se produz a hegemonia da orientao terica liberal da modernizao agrria, a extenso da agricultura industrializada e a emergncia da Revoluo Verde (GMEZ, 1997). Porm, at h bem pouco tempo, a utilizao do conceito de desenvolvimento sustentvel, apenas tinha sido efectuada pela classe poltica, e sempre no sentido de que qualquer proposta de desenvolvimento deve ser enquadrada no esprito e orientao do conceito (AMADO, 2005). Este facto, embora sendo importante, no por si s suficiente para a implementao do conceito. Conceito este que tem assim tanto de uma expresso atractiva como ambgua, sendo utilizada frequentemente nos discursos mais variados. Neste sentido, apresentam-se, em seguida, algumas definies, de entre as muitas existentes sobre o conceito, umas mais restritas outras mais abrangentes: desenvolvimento sustentvel vai ao encontro das necessidades das geraes presentes sem comprometer a capacidade de desenvolvimento prprio das geraes futuras (Wced, 1987, in AMADO, 2005); pode ser visto como o conjunto de programas de desenvolvimento que vo ao encontro dos objectivos de satisfao das necessidades humanas sem violar a capacidade de regenerao dos recursos naturais a longo prazo, nem os padres de qualidade ambiental e de equidade social (Bartelmus,

8

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

1994, in AMADO, 2005); deve reconhecer os factores sociais e ecolgicos, assim como os factores econmicos, da base de recursos vivos e no vivos e das vantagens e desvantagens de aces alternativas tanto a longo como a curto prazo (Garden, 1989, in AMADO, 2005); compreendido como uma forma de mudana social que se acrescenta aos tradicionais objectivos de desenvolvimento, o objectivo da obteno da sustentabilidade ecolgica (Lel, 1991, in AMADO, 2005). Refira-se que as quatro contribuies para a definio do conceito atrs descritas apresentam, de forma evidente, caractersticas distintas. A primeira apresenta uma dimenso mais inter-geracional, no fixando porm horizontes temporais relativos s geraes futuras. A segunda considera j a capacidade de regenerao dos recursos naturais e acrescenta as questes ambientais e sociais. A terceira abarca as trs dimenses importantes do conceito ambiental, social e econmica ressaltando a necessidade de se conhecer as vantagens e desvantagens das aces a implementar e das respectivas alternativas. A quarta, e ltima, aparece como a mais completa e abrangente, pois destaca a necessidade de existir integrao, nos tradicionais objectivos de desenvolvimento, da componente ambiental, no sentido de alcanar a sustentabilidade ecolgica. Em geral, o desenvolvimento sustentvel procura ento uma melhor qualidade de vida para todos, hoje e amanh. uma viso progressista que associa trs aspectos fundamentais para a sua concretizao (BUCKINGHAM-HATFIELD & PERCY, 1999): o desenvolvimento econmico, a proteco do ambiente e a justia social. Estes aspectos constituem as dimenses da sustentabilidade que se pode observar na figura 2.

LOCAL

Figura 2 Dimenses da Sustentabilidade, Adaptado de BUCKINGHAM-HATFIELD & PERCY, 1999

A figura 3 apresenta uma sntese das interrelaes que se estabelecem em qualquer processo de desenvolvimento sustentvel (HIGUERAS, 2006).

9

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

Ambiente (Ar, gua, Solo, etc.) Incio da Sustentabilidade

+Desenvolvimento (como Crescimento Econmico) Entende-se como um Conceito nico: Desenvolvimento

DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

Ambiente

Sustentabilidade Actual

Relaes Sociais Figura 3 Interrelaes do Desenvolvimento Sustentvel, Adaptado de HIGUERAS, 2006

Ao princpio, o conceito de sustentabilidade (Ver Anexo 1) era considerado a soma do ambiente e do desenvolvimento (como crescimento econmico) porm com aces individualizadas que no estavam integradas. Actualmente, no se pode entender o desenvolvimento sustentvel sem uma interaco entre o meio econmico, ambiental e social, e no qual aparece com uma especial relevncia a participao dos cidados, como objecto para garantir o xito do processo. Pois todo processo de desenvolvimento feito pelo Homem e para o Homem. S considerado desenvolvimento quando traz uma melhor qualidade de vida de longo prazo e no quando acumula riquezas e compromete o ambiente. A proposta do desenvolvimento sustentvel discutir qualidade de vida com preservao da biodiversidade para as geraes futuras (SEQUINEL, 2002). Para o desenvolvimento sustentvel contribuem fundamentalmente quatro categorias de aspectos (Comisso para o Desenvolvimento Sustentvel das Naes Unidas in DIRECO GERAL DO AMBIENTE, 2000): aspectos institucionais, que compreendem a estrutura e funcionamento das instituies, quer as instituies clssicas, de ndole mais ou menos estatal, quer as organizaes no governamentais (ONGs) e as empresas; aspectos econmicos, nas suas diferentes escalas, sejam micro Aspectos Institucionais ou macro; aspectos sociais; e Aspectos Sociais Aspectos Econmicos Desenvolvimento aspectos ambientais, como se pode Sustentvel observar na figura 4.Aspectos Ambientais Figura 4 Aspectos do Desenvolvimento Sustentvel, Adaptado de GOUZEE et al., 1995, in DIRECO GERAL DO AMBIENTE, 2000

10

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

Assim, da integrao e ponderao destes aspectos, com recurso aos indicadores correspondentes, resultam indicadores de desenvolvimento sustentvel na total abrangncia do conceito. 2.1 Objectivos e Orientaes Existem variadssimas definies e interpretaes sobre o conceito de desenvolvimento sustentvel, no entanto, a maior parte dessas definies coincidem nos seguintes objectivos: manuteno a longo prazo dos recursos naturais e da produtividade agrcola; minimizar os impactos adversos ao ambiente; retorno econmico adequado aos produtores; optimizao da produo com um mnimo de materiais externos; satisfao das necessidades humanas de alimentos e renda; e atendimento das necessidades sociais das famlias e das comunidades rurais (Veiga, 1994, in GMEZ, 1997). O desenvolvimento sustentvel enfatiza dois aspectos importantes: os limites ecolgicos e, por tal, a impossibilidade de um crescimento contnuo num planeta finito; e a solidariedade com as geraes futuras e, por tal, a necessidade de preservar os recursos naturais e ambientais de modo a que essas geraes disponham do mximo de opes para maximizar o seu bem-estar e qualidade de vida. tambm um conceito integrador, pois alia os aspectos globais aos locais, o longo e o curto prazo, mas que exige uma aco imediata para defender o futuro, pois as tendncias existentes podem conduzir catstrofe. Colocando os interesses econmicos e o conforto ambiental como dois pesos de uma mesma balana (BRAUN, 2001), como se pode observar na figura 5, o desenvolvimento sustentvel procura obter um equilbrio proporcionando o bem-estar social, econmico e ambiental.

Figura 5 Pesos da Mesma Balana Economia/Ambiente, Adaptado de BRAUN, 2001

Assim, o aproveitamento racional dos recursos naturais, isto , de forma sustentvel, exige tambm uma sociedade sustentvel e o fim da explorao de uns grupos sociais por outros grupos sociais donos da economia, da tecnologia e defensores de uma cultura de desenvolvimento a qualquer preo. Da que a aplicao do desenvolvimento sustentvel aos ambientes naturais e s cidades, enquanto ambientes urbanos, s ter xito se considerar o Homem como o principal recurso e tambm como um dos primeiros factores na variao dos ecossistemas. Consequentemente, no ser possvel atingir um desenvolvimento sustentvel sem uma sociedade sustentvel e sem

11

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

comunidades, tanto quanto possvel, auto-suficientes social, cultural e economicamente (CROFT, 2001). O desenvolvimento sustentvel reflecte a preocupao pela distribuio, equidade e redistribuio de todos os benefcios nas presentes e futuras geraes. Sendo certo que, tambm pode submeter-se a interpretaes dbeis ou fortes (Sutcliffe, 1992, in CARIDE & MEIRA, 2004). Podem-se observar os respectivos conceitos na figura 6.PRECEDENTESCrescimento Zero, Desenvolvimento Sustentado, Ecodesenvolvimento, Desenvolvimento Integrado, Desenvolvimento Humano, etc.

NEGAO Desenvolvimento Sustentado

DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

Interpretao Dbil necessrio introduzir correces nos mecanismos do mercado para evitar certos efeitos indesejveis sobre o ambiente (biofsico)

Interpretao Forte preciso introduzir mudanas radicais no modelo econmico e na sociedade para facilitar uma diviso equitativa dos custos e benefcios ambientais (equidade intra e intergeracional)

O desenvolvimento (crescimento) intrinsecamente bom para o ambiente: os pases ricos so os que mais investem na sua conservao. A pobreza gera degradao ambiental

O desenvolvimento (crescimento) no intrinsecamente bom para a preservao ambiental nem para a melhoria da qualidade de vida. Os mecanismos de mercado ignoram ambas as dimenses. A riqueza gera degradao ambiental

Tipo de Medidas: - Cincia e Tecnologia; - Econmicas (Taxas, Incentivos de Tipo Fiscal, de Mercado, etc.); - Controlo Demogrfico; - Normativas e Legislativas; - Mudanas Culturais (Ps-Maternalismo)

Tipo de Medidas: - Polticas Econmicas: transformao da sociedade de mercado; - Mudanas nos Estilos de Vida; - Actuao Directa sobre as Desigualdades Sociais e a equidade; - Gerar uma Nova tica

Figura 6 Interpretaes Dbeis e Fortes do Desenvolvimento Sustentvel, Adaptado de Sutcliffe, 1992, in CARIDE & MEIRA, 2004

Para que seja possvel imaginar um desenvolvimento humano orientado para a sustentabilidade necessria a integrao de vrios factores e processos, entre os quais se destacam os que tm os seus fundamentos na economia, na poltica, na educao, na ecologia e na tica. Em todos podem-se encontrar componentes chave fundamentais para incrementar a sensibilidade para as alternativas mais viveis ou mais eficazes para obter mudanas decisivas na sociedade em que vivemos. Pois, o desenvolvimento sustentvel aquele que oferece servios ambientais, sociais e econmicos aos

12

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

habitantes de uma comunidade sem ameaar a viabilidade dos sistemas naturais, urbanos e sociais, dos quais dependem. Existem duas caractersticas fundamentais no conceito de desenvolvimento sustentvel: o desenvolvimento sustentvel uma busca, pelo que no possvel afirmar que o desenvolvimento sustentvel de um pas pode ser alcanado em pouco tempo, nem que se tem uma referncia precisa para avaliar o grau de desenvolvimento sustentvel de um pas. No existe ainda essa referncia, pelo que o desenvolvimento sustentvel um conceito em construo, pois ainda no se sabe o que uma economia, uma poltica ou uma cultura sustentvel, mas sabe-se que a sustentabilidade um processo multidimensional que ainda deve ser esclarecida pela cincia; e o desenvolvimento sustentvel no pode ser alcanado apenas por um pas, mas sim um processo que requer a colaborao de vrios pases para a soluo dos problemas interligados do desenvolvimento (ZANCHETI, 2002). Estas duas caractersticas do processo de desenvolvimento sustentvel determinam que a formulao de polticas, programas, planos e projectos de desenvolvimento estejam no encalo de uma sustentabilidade restrita, isto , uma sustentabilidade parcial, no tempo e no espao, contudo pode contribuir para um processo a longo prazo. 2.2 Contextualizao Temporal e Legal Embora GMEZ (1997) considere que o desenvolvimento sustentvel gerado entre o final do sculo XIX e o incio do sculo XX, efectivamente o conceito comeou a ser aplicado apenas nos finais do sculo XX, tendo sido o mote para vrios Estudos, Conferncias, Cimeiras e Declaraes. Ainda hoje, em pleno sculo XXI, um tema amplamente discutido, abordado e alvo de profundas reflexes. Para que se tenha uma ideia concreta do que foi a contextualizao, quer escala mundial, quer escala europeia, e a respectiva evoluo temporal, do conceito de desenvolvimento sustentvel, apresentam-se no Anexo 2, alguns acontecimentos marcantes, desde Estudos, Conferncias, Cimeiras e Declaraes, entre outros, referindo brevemente os seus aspectos principais. Na legislao europeia o conceito de desenvolvimento sustentvel foi considerado desde o primeiro Tratado da Unio Europeia, designadamente o TRATADO DE MAASTRICHT (1992), o qual determinava que a Unio atribui-se os seguintes objectivos: a promoo de um progresso econmico e social equilibrado e sustentvel, nomeadamente mediante a criao de um espao sem fronteiras internas, o reforo da coeso econmica e social e o estabelecimento de uma Unio Econmica e Monetria, que incluir, a prazo, a adopo de uma moeda nica, de acordo com as disposies do presente Tratado e fixava os princpios que viriam a condicionar posteriormente todas

13

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

as polticas da Unio Europeia, pelo que a Comunidade tem como misso, atravs da criao de um mercado comum e de uma Unio Econmica e Monetria e da aplicao das polticas ou aces comuns, promover, em toda a comunidade, o desenvolvimento harmonioso, equilibrado e sustentvel das actividades econmicas, um elevado nvel de emprego e de proteco social, a igualdade entre homens e mulheres, um crescimento sustentvel e no inflacionista, um alto grau de competitividade e de convergncia dos comportamentos das economias, um elevado nvel de proteco e de melhoria da qualidade do ambiente, o aumento do nvel e da qualidade de vida, a coeso econmica e social e as solidariedade entre os Estados-Membros. O desenvolvimento sustentvel constitui assim um pilar bsico fundamental dos objectivos e princpios da Unio Europeia. A legislao nacional parca relativamente integrao do conceito de desenvolvimento sustentvel. Refira-se que, embora o conceito seja reconhecido, quer na Constituio da Repblica Portuguesa, quer em alguma legislao de ambiente, nomeadamente na Lei de Bases do Ambiente, s com o aparecimento da ESTRATGIA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL (2002) que o conceito de desenvolvimento sustentvel efectivamente utilizado. Neste sentido, apresentam-se no Anexo 3, os diplomas legislativos nacionais mais relevantes em termos de desenvolvimento sustentvel. 2.3 Desenvolvimento Urbano Sustentvel O planeta onde vivemos sofre modificaes contnuas de diversos tipos, sobretudo devido a efeitos ambientais, seja de aces naturais, seja de aces antropognicas, que se repercutem a diferentes escalas temporais e espaciais. As aces antropognicas, as que nos interessam neste estudo, tm tendncia para aumentar, em dimenso e gravidade, medida que aumenta a magnitude da capacidade de interveno humana. Referimo-nos, portanto, a aces geradas pelo Homem, indutoras de efeitos ambientais concretos, que podem ser traduzidos em modificaes da ecosfera, traduzindo-se numa realidade vasta e complexa. Estas aces sero indutoras de processos e de aces diferenciadas, com consequncias muito diversas, tais como: processos de eroso cujos efeitos se reflectem nas caractersticas e no comportamento do solo, da gua, do ar ou do biota; fenmenos de disperso e acumulao de poluentes e de resduos; processos de destruio de sistemas ambientais raros e/ou nicos; sobreutilizao de sistemas produtivos essenciais, necessariamente limitados; utilizao imponderada de recursos no renovveis ou localmente escassos; e desencadeamento de guerras ou de outros processos/procedimentos com efeitos cruis sobre a sua envolvncia, podendo implicar deslocaes de indivduos ou de populaes; essas migraes foradas podero pr em causa a sua cultura e/ou o seu patrimnio, 14

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

criando, pelo uso/abuso do poder, expatriados tnicos, ambientais, religiosos e outros que so, assim, marginalizados (OLIVEIRA, 2005). Neste sentido, fundamental promover o desenvolvimento sustentvel, isto , possibilitar a manuteno da dimenso e das caractersticas do crescimento econmico, sem pr em causa os bens e os recursos existentes, agindo ento ao nvel da eficincia do seu uso. Ser aqui que a gesto ambiental ter uma aco fulcral atravs da inventariao de recursos, da identificao de meios operacionais, da definio de objectivos que se pretendem atingir e de desenvolvimentos de polticas que ser indispensvel implementar, tudo para contrariar a tendncia actual de sobreutilizao dos recursos. Esta sobreutilizao claramente evidenciada nas cidades onde de se concentra maioritariamente a populao. A cidade sustentvel constitui pois o objectivo nico do desenvolvimento urbano sustentvel. A cidade sustentvel um conceito que incorpora a dimenso do ambiente no desenvolvimento denso e complexo da urbe e o carcter participativo e solidrio, e que faz da diversidade e da mescla a chave da sua existncia e o seu principal sinal de identidade (BURDALO, 1995). Promover uma cidade ambientalmente sustentvel, no s um objectivo bastante desejado mas tambm claramente necessrio, pois s assim se conseguir contrariar a tendncia das cidades contemporneas para o aumento da crise ambiental e social. Naturalmente que se trata de uma tarefa rdua e complexa, pois exigir uma modificao radical da lgica que preside ao desenvolvimento urbano actual. Lgica essa que se traduz num desenvolvimento baseado no consumo desmesurado de todo o tipo de recursos e no crescimento contnuo do trfego motorizado. Na Europa as cidades acolhem mais de 80 % da populao e a maior parte da sua actividade produtiva, pelo que sofrem uma grave deteriorao ambiental que ultrapassa cada vez mais o mbito estritamente local para alcanar umas dimenses planetrias, o que est a pr em perigo o equilbrio da biosfera (BURDALO, 1995). As cidades so fonte de vrios problemas ambientais. Devido excessiva concentrao demogrfica e econmica, o efeito de estufa, resultante das emisses de dixido de carbono, e de outros gases com efeito de estufa responsveis pelas alteraes climticas da Terra, encontra nas cidades a sua principal fonte de emisses, pelo que absolutamente necessrio melhorar as condies do ambiente urbano como forma de salvaguarda do planeta. Assiste-se ainda nas cidades a uma marginalizao da cultura ambiental na poltica urbana, nos seus diferentes sectores, como por exemplo no trfego e na ocupao do solo, sendo tambm um dos principais motivos da crescente deteriorao ambiental.

15

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

No mbito do planeamento urbano, enquanto importante ferramenta para a organizao, configurao e desenho da cidade, continuam a ser aplicados princpios funcionalistas que determinam a necessidade de um rigorosa separao espacial das actividades, com as nefastas consequncias da decorrentes para o meio urbano. Este modelo de separao funcional, defendido por LE CORBUSIER (1933), na Carta de Atenas, pressupe que as habitaes, as zonas comerciais, administrativas, de cio, educativas, verdes, entre outras, se deveriam separar no espao segundo a sua funo j que uma extensa rede de infraestruturas virias e de transporte se encarrega de manter unida a trama urbana. Porm, uma grave consequncia desta especializao funcional dos usos do solo o aumento insustentvel do trfego motorizado, pois a segregao zonal e o espalhamento do territrio das cidades obriga o cidado, nos dias de hoje, a deslocamentos cada vez maiores e mais numerosos para concretizar as suas tarefas rotineiras, tais como ir para o trabalho ou para a escola, ir s compras, ou simplesmente por motivos de lazer ou cio. Naturalmente que so mltiplos, e muito conhecidos, os efeitos adversos destas prticas urbanas, dos quais se destacam: saturao, congestionamento, poluio atmosfrica, rudo, perda de solos e de reas de infiltrao, perda tambm crescente dos espaos pblicos devorados pelo asfalto, e perda de tempo, espao e energia. Neste sentido, o desenvolvimento urbano sustentvel dever procurar modificar algumas destas prticas urbanas, reconhecendo a grande complexidade do ecossistema urbano e determinando uma abordagem mais ampla e integradora que inclua os aspectos ambientais. A chave do sucesso neste processo dever encontrar-se na promoo de uma maior densidade e complexidade funcional, atravs de usos mistos do espao baseados na coexistncia de pessoas e actividades, uma vez que a adequada combinao destes factores, levar a uma diminuio das necessidades de mobilidade e, em consequncia, a uma melhoria do ambiente, poder mesmo ser possvel a recuperao ecolgica da cidade, to importante para o bem-estar dos seus cidados. A necessidade de promover o desenvolvimento urbano sustentvel estava presente no Captulo 7 do documento resultante da Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente Urbano e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992, a Agenda 21, a qual considerava como aspectos fundamentais: a promoo do planeamento e do ordenamento sustentvel do uso do solo; a promoo de sistemas sustentveis de energia e transportes nas cidades, adoptando estratgias inovadoras de urbanismo, destinadas a abordar questes ecolgicas e sociais; o fomento do desenvolvimento das cidades mdias, bem como de uma srie de directrizes para desenvolver a ideia de cidades sustentveis e tambm de rede de cidades sustentveis internacionais para o

16

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

intercmbio de experincias e mobilizao de apoios tcnicos co-financiados, de mbito nacional e internacional (FRANCO, 2000). Muito tem sido feito nesta direco, sobretudo pela Unio Europeia, como disso exemplo o Livro Verde sobre o Meio Ambiente Urbano publicado em 1990, o Projecto Cidades Sustentveis, lanado pelo Grupo de Peritos em 1993, e a Estratgia Temtica para o Ambiente Urbano publicada em 2006. Refira-se que no Livro Verde sobre o Meio Ambiente Urbano em 1990 sugerido, como ideal, o planeamento de bairros ou reas residncias com vocao mista, ou seja, que integram no mesmo espao ordenado habitaes, escritrios, comrcios, escolas, laboratrios, espaos verdes, entre outros. Considera que esta mescla de usos e tipologias representa uma forma equilibrada de fazer cidade. Estes conceitos de proximidade e de coexistncia da diversidade cultural e social transformaram as cidades europeias, tornando-as num smbolo emblemtico da riqueza e diversidade cultural da Europa e principais centros de inovao e de desenvolvimento econmico e social. Paralelamente, e em consonncia com a estabilidade demogrfica que se verifica nas cidades europeias, asseguram os peritos que, para o futuro, se deveria por travo ao processo de urbanizao (BURDALO, 1995). Refira-se que as cidades se podem assemelhar a seres vivos envolvidos no ambiente a cidade pode ser vista perfeitamente desse ponto de vista: se o modelo da cidade como organismo no explica todas as caractersticas das cidades, a verdade que, tal como qualquer organismo, a cidade precisa de ar, gua e alimentos, tal como um organismo excreta e, tal como os demais organismos procura moldar o mundo a seu modo para poder sobreviver (defendendo um territrio, fixando os preos das matrias-primas de que necessita e estabelecendo canais de comunicao para o exterior). A cidade vivendo, at certo ponto, em simbiose com o meio, tem tambm produo de arte, cincias, tcnicas, produtos fabricados, ideias filosficas e religiosas, que procura trocar com o meio envolvente para, de forma pacfica, obter os produtos de que necessita (SARAIVA, 2005). As cidades podem ser entendidas como estruturas orgnicas reguladas por sistemas ecolgicos. Constituem ento organismos que consomem recursos bens, gua, combustveis, madeira, produtos alimentares e produzem lixos: gasosos, slidos e lquidos. Neste sentido, a maior parte dos recursos so fornecidos s cidades e, tambm, a maior parte da poluio originada nas cidades (CROFT, 2001). A figura 7 procura apresentar os principais inputs e outputs das cidades (SARAIVA, 2005).

17

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

Refira-se que as cidades Cincia, Filosofia, contemporneas no so Pessoas Arte, Religio auto-suficientes, pois Alimentos Organizao do Estado Ar, gua dependem, em larga A Cidade Produtos fabricados Energia medida, de recursos Poluio industrial Materiais exteriores que lhes chegam Poluio orgnica de todo o mundo, seja de Figura 7 Inputs e Outputs das Cidades, Adaptado de SARAIVA, 2005 comboio, carro, barco ou avio. A forma inadequada como os recursos so usados tem um impacto forte na biosfera, sendo denominada como a pegada ecolgica de cada cidade, correspondendo rea de terreno produtivo necessria para sustentar o estilo de vida de quem habita a cidade (www.ecologicalfootprint.org/), ou seja, as reas necessrias para fornecer a cidade com produtos alimentares ou madeira e para absorver o seu output em gases como o dixido de carbono. Assim, para atingirem a sustentabilidade, as cidades tm de se esforar para reduzir a sua dependncia dos territrios exteriores. A figura 8 retrata o modelo convencional da cidade (CROFT, 2001), ou seja, um modelo de cidade dispersa, baseada na segregao funcional das actividades (lazer, trabalho e habitao) e em grandes entradas/utilizaes de recursos, energia e materiais e em grandes sadas/produes de poluentes, lixos e desperdcios, funcionando assim num metabolismo linear de grandes entradas (inputs) e grandes sadas (outputs) que leva a uma saturao da cidade.

Figura 8 Modelo Convencional de Cidade, Adaptado de CROFT, 2001

J a figura 9 retrata o modelo compacto da cidade (CROFT, 2001), ou seja, um modelo de cidade integrado, baseado na interdependncia e concentrao das actividades (lazer, trabalho e habitao) e em baixas entradas/utilizaes de recursos, energia e materiais e em baixas sadas/produes de poluentes, lixos e desperdcios, funcionando assim num metabolismo circular, em que a cidade central e se encontra envolvida por uma cintura verde agrcola onde h uma reutilizao ou reciclagem de produtos, ou seja, corresponde cidade sustentvel pois tem menos entradas e sadas porque pratica a reciclagem. 18

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

Figura 9 Modelo Compacto de Cidade, Adaptado de CROFT, 2001

Perante um cenrio obscuro como o da cidade convencional ou moderna, em que o consumo cada vez mais oprimido devido saturao da energia, do espao, da matria-prima e do crescimento de resduos, s nos resta agir na direco de um desenvolvimento sustentvel, no sentido da cidade sustentvel, ou seja, do desenvolvimento urbano sustentvel. A sustentabilidade da cidade significa um sistema que se valoriza e utiliza, de forma sustentvel, os recursos contidos no seu territrio e que, numa atitude pr-activa, associa a sustentabilidade a uma tendncia dos agentes urbanos para criarem os seus prprios recursos a partir do potencial existente no territrio da cidade. A posio permanente, e de grande aceitao entre os agentes sociais locais, de gerao de recursos (humanos, financeiros, organizacionais, culturais e outros) o que define a sustentabilidade da cidade, isto , a cidade sustentvel. Porm, dois importantes problemas esto associados a esta ideia de sustentabilidade da cidade. Primeiro, nenhuma cidade pode ser sustentvel de forma independente, pois ela no poder gerar todos os recursos de que necessita. Assim, uma cidade sustentvel pode existir em relao com outras cidades, que actuam na forma de rede de cooperao. Segundo, mesmo actuando em redes de cooperao, as cidades produziro trocas desiguais de recursos pois elas possuem bases e potenciais de recursos diferenciados, e a sustentabilidade de partida de cada cidade na rede ser diferente. Para que o sistema de cidades em rede, possa actuar de modo sustentvel e equilibrado, ser necessrio que estejam presentes mecanismos compensatrios das trocas desiguais de recursos. Assim, a sustentabilidade das cidades depender muito de sistemas de gesto intra e interurbana de natureza complexa e multi-sectorial (ZANCHETI, 2002). Pode-se observar, nas figuras 10 e 11, um possvel retrato da cidade insustentvel e da cidade sustentvel, respectivamente (GUIA UM COMPROMISSO PELO FUTURO Agenda 21 Eixo, 1993).

19

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

O desenvolvimento urbano sustentvel implica uma nova forma de olhar para os problemas das cidades e novas lgicas de concepo e conduo dos processos de planeamento. Toda a aco de interveno dever partir de uma viso sistmica e integrada do desenvolvimento das cidades, envolvendo a comunidade e procurando solues com mltiplos impactos, promovendo a eficcia e a eficincia na utilizao dos recursos e procurando aprender com outras experincias j realizadas noutros locais. Este ltimo aspecto permitir, no s colocar as cidades e os municpios nas redes mundiais de aprendizagem e de troca de experincias, representando fontes de ampla promoo dos territrios, bem como aceder a financiamentos para a realizao de aces de interveno.

Figura 10 Cidade Insustentvel Aquela que no estabelece o seu crescimento e organizao pelos limites de carga dos sistemas naturais, pondo em perigo a sua existncia equilibrada no futuro, Adaptado do GUIA UM COMPROMISSO PELO FUTURO Agenda 21 Eixo, 1993

Na prossecuo dos objectivos e orientaes do desenvolvimento urbano sustentvel a CARTA DAS CIDADES EUROPEIAS PARA A SUSTENTABILIDADE (1994) define algumas linhas mestras: Ns, cidades, compreendemos que o conceito de desenvolvimento sustentvel nos ajuda a adoptar um modo de vida baseado no capital da natureza. Esforamo-nos para alcanar a justia social, economias sustentveis e sustentabilidade ambiental. A justia social ter que assentar necessariamente na sustentabilidade econmica e na equidade que por sua vez requerem sustentabilidade ambiental. () Alm disso, a sustentabilidade ambiental garante a preservao da biodiversidade, da sade humana e da qualidade do ar, da gua e do solo, a nveis suficientes para manter a vida humana e o bem-estar das sociedades, bem como a vida animal e vegetal para sempre. Refere ainda que estamos convencidas que a cidade a maior unidade com capacidade para gerir os numerosos desequilbrios urbanos que afectam o mundo moderno: arquitectnicos, sociais, econmicos, polticos, recursos naturais e ambientais mas, tambm, a menor unidade na qual se podero resolver estes problemas, duma forma eficaz, integrada, global e 20

Figura 11 Cidade Sustentvel Aquela que capaz de satisfazer as suas necessidades no presente sem comprometer a capacidade para satisfazer as suas necessidades no futuro, procurando a integridade e a estabilidade social e econmica e a qualidade de vida da sua populao, Adaptado do GUIA UM COMPROMISSO PELO FUTURO Agenda 21 Eixo, 1993

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

sustentvel. Uma vez que todas as cidades so diferentes, necessrio que cada uma encontre o seu prprio caminho para alcanar a sustentabilidade. Devem-se integrar os princpios da sustentabilidade em todas as polticas e fazer das especificidades de cada cidade a base das estratgias locais adequadas. Assim, cada cidade, com as suas particularidades, deve traar o seu caminho para alcanar a sustentabilidade, devendo, atendendo s suas caractersticas, apostar mais ou menos, em produtos e tecnologias ecolgicos, sistemas de construo sustentvel, diferentes tipos de espaos verdes, solues para trabalhar em comum no sector eco-industrial, sistemas de transporte urbano e tecnologias alternativas para veculos. Considera-se ento que, de forma geral, os principais desafios para alcanar o desenvolvimento urbano sustentvel so os que se seguem: a) a incluso dos sectores mais carenciados e marginalizados da populao nos processos produtivos, atravs da criao de emprego e do estmulo e melhoria do acesso ao crdito e s tecnologias ambientalmente adequadas, entre outros; b) a ampliao da criao de emprego na pequena empresa mediante a simplificao dos requisitos legais e do funcionamento administrativo, que a condicionam, e o estmulo competitividade econmica e eficincia ambiental destas unidades produtivas, tanto na rea urbana como na rural; c) a diminuio dos dfices habitacionais e a ampliao dos servios de infra-estruturas bsicos, encarando integralmente a problemtica do acelerado crescimento urbano, mediante a utilizao de tecnologias limpas e seguras; d) a promoo da qualidade de vida nas cidades, tomando em conta as caractersticas espaciais, econmicas, sociais e ambientais; e) a certeza de contar com as prticas industriais e de transporte mais eficientes e menos poluentes para reduzir os impactos ambientais adversos e promover o desenvolvimento sustentvel das cidades. As cidades representam, assim, uma unidade espacial de referncia. Constituem um territrio estratgico cuja qualidade do planeamento e da administrao realizada ao nvel local condiciona cada vez mais o desenvolvimento global. Este territrio estratgico constitui um sistema complexo, em que a gesto visa a eficcia dos resultados e a eficincia na utilizao dos recursos, isto , procura maximizar os resultados econmicos e sociais, com o menor custo econmico, social e ambiental. O desafio da sustentabilidade urbana procurar solucionar, tanto os problemas que as cidades conhecem, como os que por elas so causados, reconhecendo que as prprias cidades encontram muitas solues potenciais, em vez de os deslocar para escalas ou localizaes diferentes ou de os transferir para as geraes futuras. Nas cidades a gesto sustentvel dos recursos naturais reclama uma abordagem integrada para encerrar os ciclos de recursos naturais, energia e resduos. Os objectivos dessa abordagem devero incluir a reduo do consumo dos recursos naturais, especialmente dos no renovveis e 21

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

dos lentamente renovveis; a reduo da produo de resduos pela reutilizao e reciclagem, sempre que possvel; a reduo da poluio do ar, do solo e da gua; e o aumento da proporo das reas naturais e da diversidade biolgica nas cidades. Estes objectivos sero mais fceis de atingir em pequena escala, motivo pelo qual os ciclos ecolgicos locais podem ser ideais para a introduo de polticas mais sustentveis para os sistemas urbanos. O poder local desempenha, pois, um papel crucial. A sustentabilidade est solidamente ligada aos aspectos socioeconmicos das cidades. Torna-se necessrio criar condies que permitam s actividades econmicas beneficiarem de um funcionamento mais ambiental. Recomenda-se que os poderes locais explorem formas de criao de emprego atravs de medidas de proteco do ambiente, promovam um melhor comportamento ecolgico nas empresas existentes e fomentem a adopo pela indstria de uma abordagem eco-sistmica. As autoridades devero reforar o bem-estar da populao e promover a igualdade e integrao social assegurando-se que os servios e equipamentos bsicos, o ensino e a formao, a assistncia mdica, a habitao e o emprego esto disponveis para todos. Para resistir s tendncias recentes que consistem em ignorar os riscos ambientais e sociais dando prioridade acumulao de riqueza material necessrio transformar os valores subjacentes sociedade, bem como a base dos sistemas econmicos. Tambm conseguir uma acessibilidade urbana sustentvel uma etapa essencial para a melhoria global do ambiente urbano e a manuteno da viabilidade econmica das cidades. A realizao dos objectivos em matria de ambiente e de transportes exige abordagens integradas, que combinem o planeamento dos transportes, do ambiente e do espao. Para conseguir uma acessibilidade urbana sustentvel necessrio definir objectivos e indicadores de sustentabilidade, estabelecer metas e controlos, a par de polticas tendentes a melhorar no s as condies de mobilidade mas tambm a acessibilidade. A conciliao da acessibilidade, do desenvolvimento econmico e dos aspectos ambientais dever ser o objectivo principal da poltica de transportes urbanos. necessrio um sistema de transporte urbano multi-modal integrado, que promova modos de transporte complementares em vez de concorrentes. A regenerao urbana dever ser usada para alcanar os objectivos de desenvolvimento sustentvel mediante a reciclagem do solo anteriormente utilizado ou dos edifcios existentes, a conservao de espaos verdes e a proteco da paisagem, da fauna e da flora. Nos objectivos de sustentabilidade urbana (para uma anlise mais detalhada sobre os objectivos de sustentabilidade urbana consultar o Anexo 4) o estabelecimento de relaes ecolgicas, uma melhor acessibilidade, eficincia energtica e participao comunitria, devero tambm ser prosseguidos. A descontaminao do solo poludo, grande preocupao em muitos projectos de renovao urbana, dever ser vista como 22

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

parte de uma abordagem integrada que oferece a possibilidade de conseguir subsdios cruzados entre vrios locais. As actividades de lazer e turismo podem ter impactos significativos na qualidade do patrimnio cultural de uma cidade. O planeamento do turismo, do lazer e do patrimnio cultural dever ser integrado nas orientaes nacionais e polticas regionais que se ocupam de aspectos econmicos, sociais, ambientais e culturais. Alm disso, as questes relacionadas com turismo, lazer e patrimnio cultural devero fazer parte integrante do processo de planeamento urbano. O processo para cidade sustentvel assenta na criatividade e na mudana e dever por em causa as aces tradicionais das autoridades e procurar novas competncias e relaes organizativas e institucionais. Segundo TELLES (1998) existem dez medidas concretas para tornar as cidades sustentveis (devendo ser ajustadas s caractersticas de cada cidade): 1. Exigncia de um habitat familiar e individual no espao exterior construo, dentro ou fora da cidade, como recreio activo; 2. Limitao da construo em altura e espelhada; 3. Liberdade de deslocao para o exterior da cidade por meios de recreio e passeio higinico; 4. Recuperao da agricultura urbana e periurbana; 5. Condicionamento da publicidade; 6. Integrao das infra-estruturas na cidade; 7. No ocupao, por construo urbana, do que resta dos solos da cidade; 8. Criao de margens elsticas nas linhas de gua, em vez das margens rgidas e da canalizao; 9. Limitao e organizao dos lixos; 10. Resoluo dos problemas de circulao geral e local. Refere ainda que a cidade futura tem de ser equilibrada tem de ter equipamentos, emprego, habitao, lazer, cultura e um ambiente cada vez mais propcio: mais espaos verdes, mais zonas de convvio, um verdadeiro habitat. Tem de ser uma cidade solidria, sem excluses sociais; tem de ser justa, sem grandes desequilbrios econmico-sociais que gerem assimetrias; tem de ser lugar de mobilidade. () O factor sustentabilidade tem de estar sempre associado ao factor progresso. Perante isto o conceito de cidade sustentvel tem como objectivo fundamental o bemestar da populao de longo prazo, o que compreende a satisfao das suas necessidades econmicas e materiais, mas tambm as de ordem cultural, social e ambiental, assentando em trs princpios bsicos: competitividade econmica, justia social e sustentabilidade ambiental (INTELLIGENT CITIES, 2005).

23

Hortas Urbanas: Espaos para o Desenvolvimento Sustentvel de Braga

2.4 Planeamento Urbano Sustentvel A cidade surgiu da necessidade do Homem dar resposta s suas necessidades comunitrias, as quais no conseguia satisfazer enquanto indivduo isolado. Desde das pocas mais remotas que esta atitude levou a uma aproximao fsi