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i
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS
Francisco Abel Pompeu de Campos
EVIDÊNCIAS DO LINEAMENTO TRANSBRASILIANO NA REGIÃO NORDESTE DE MATO GROSSO DO SUL: ASPECTOS LITO-ESTRUTURAIS E
AEROGEOFÍSICOS (MAGNETOMETRIA E GRAVIMETRIA)
Orientador
Profº. Dr. Amarildo Salina Ruiz
Co-orientadora
Profª. Dra. Roberta Mary Vidotti
CUIABÁ
2015
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
REITORIA
Reitora
Profª. Dra. Maria Lúcia Cavalli Neder
Vice-Reitor
Profº. Dr. João Carlos de Souza Maia
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
Pró-Reitora
Profª. Dra. Leny Caselli Anzai
INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
Diretor
Profº. Dr. Martinho da Costa Araújo
DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS
Chefe
Profº. Dr. Ronaldo Pierosan
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS
Coordenador
Profº. Dr. Paulo César Corrêa da Costa
Vice- Coordenadora
Profª. Dra. Ana Cláudia Dantas da Costa
iii
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Nº 59
EVIDÊNCIAS DO LINEAMENTO TRANSBRASILIANO NA REGIÃO NORDESTE DE MATO GROSSO DO SUL: ASPECTOS LITO-ESTRUTURAIS E
AEROGEOFÍSICOS (MAGNETOMETRIA E GRAVIMETRIA)
Francisco Abel Pompeu de Campos
Orientador
Profº. Dr. Amarildo Salina Ruiz
Co-orientadora
Profª. Dra. Roberta Mary Vidotti
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geociências do Instituto de Ciências Exatas e da Terra da Universidade Federal de Mato Grosso como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Geociências.
CUIABÁ
2015
iv
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.
P788e Campos, Francisco Abel Pompeu de.
Evidências do Lineamento Transbrasiliano na Região Nordeste de Mato Grosso do Sul: Aspectos Lito-Estruturais e Aerogeofísico (Magnetometria e Gravimetria) / Francisco Abel Pompeu de Campos. -- 2015
99 f. : il. color. ; 30 cm.
Orientador: Amarildo Salina Ruiz.
Co-orientadora: Roberta Mary Vidotti.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de
Ciências Exatas e da Terra, Programa de Pós-Graduação em Geociências, Cuiabá,
2015.
Inclui bibliografia.
1. Transbrasiliano. 2. Aerogeofísica. 3. Magnetometria. 4. Gravimetria. 5. Geologia Estrutural. I. Título.
Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).
Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.
v
EVIDÊNCIAS DO LINEAMENTO TRANSBRASILIANO NA REGIÃO NORDESTE DE MATO GROSSO DO SUL: ASPECTOS LITO-ESTRUTURAIS E
AEROGEOFÍSICOS (MAGNETOMETRIA E GRAVIMETRIA)
________________________________________________________________
BANCA EXAMINADORA
______________________________________ Profº Dr. Amarildo Salina Ruiz
Orientador (UFMT)
_______________________________________
Profº Dr. Frederico Soares Dias Examinador Interno (UFMT)
_______________________________________
Profº Dr. Elton Luiz Dantas Examinador Externo (UnB)
vi
Agradecimentos
A minha Família, meus avós, meus pais, meus tios, primos e irmãos, que me educaram, me
apoiaram e me incentivaram a sempre seguir em frente com a Geologia e com os estudos, sabendo dar valor ao conhecimento e respeitando o que estava fazendo mesmo não sabendo direito o que era. O meu Muito Obrigado!
Ao Orientador Amarildo Salina Ruiz que confiou a mim este desafio e tantos outros dando a oportunidade de aprender e crescer cientificamente, não só na confecção deste trabalho mas em todas as atividades exercidas no âmbito geológico. O meu Muito Obrigado!
A Orientadora Roberta Mary Vidotti por ter apoiado a nossa participação neste estudo e para que pudesse realizar este trabalho, me recebendo muito bem em Brasília e apoiando sempre que pôde, mesmo com a dificuldade da distância e outros compromissos. O meu Muito Obrigado!
Ao colega Rafael Cabrera e ao motorista da UFMT José Carlos pelo apoio e paciência na etapa de campo no Mato Grosso do Sul.
Aos colegas que me receberam em Brasília, ajudando na estadia, em especial ao Daniel (Lesado), Solón e Sérgio Colombiano.
A Júlia Curto, pelo apoio dado em pequenas conversas, porém de grande valia, desde o Simpósio do Centro Oeste em Cuiabá.
Ao Programa de Pós-Graduação em Geociências – PPGEC-UFMT, ao Grupo de Pesquisa e Evolução Crustal do Guaporé e ao INCT GEOCIAM, que vêm sendo ferramenta de extrema importância com auxílios em projetos, viagens, mini-cursos e oportunidades diversas que sempre foram bem aproveitadas;
A oportunidade dada pelo Projeto Transbrasiliano, de fortalecer o estudo desta feição da plataforma sulamericana, apoiando a união de diversas instituições e disciplinas, e dando suporte a trabalhos como este.
A todos os colegas que mesmo que de forma positiva ou negativa, indireta ou diretamente nos fortalece como ser humano e como geólogo através da amizade e das discussões geológicas, desde o início da graduação. Em especial a Élcio Rogério, Max Jr, Gilliard Medeiros, Lucas Benatti, Húlio Resende, Guilherme Passanelli, Frankie Fachetti; Letícia Redes, Endel Muller, Gabriel Zaffari.
“Se você encontrar um caminho sem obstáculos, ele provavelmente não leva a lugar nenhum.” – Frank Clark
vii
Sumário
Agradecimentos................................................................................................................................. vi
Resumo ............................................................................................................................................xii
Abstract .......................................................................................................................................... xiii
CAPÍTULO I..................................................................................................................................... 1
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1
1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA ...............................................................................................15
1.2 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................................................17
1.3 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS.................................................................................17
1.3.1. Objetivo Geral .................................................................................................................17
1.3.2. Objetivos Específicos ......................................................................................................18
1.4 CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL ...............................................................................18
1.4.1 PLATAFORMA SULAMERICANA ...................................................................................18
1.4.2 FAIXA PARAGUAI ............................................................................................................19
1.4.2.1 GRUPO CUIABÁ .............................................................................................................20
1.4.3 GRANITOS DA FAIXA PARAGUAI..................................................................................22
1.4.4. BLOCO PARANAPANEMA ..............................................................................................23
1.4.5 LINEAMENTO TRANSBRASILIANO ..............................................................................24
1.4.5. BACIA DO PARANÁ .........................................................................................................25
1.4.5.1 NEO-ORDOVICIANO – EOSSILURIANO ..................................................................26
1.4.5.2 DEVONIANO ...............................................................................................................27
1.4.5.3 CARBONÍFERO - PERMIANO ....................................................................................28
1.4.5.4 JURÁSSICO..................................................................................................................28
1.4.5.5 CRETÁCEO ..................................................................................................................29
1.4.5.6 TERCIÁRIO-QUATERNÁRIO .....................................................................................29
CAPÍTULO 2 ...................................................................................................................................30
MÉTODO DE TRABALHO .............................................................................................................30
CAPÍTULO 3 ...................................................................................................................................34
RESULTADOS ................................................................................................................................34
3.1 DADOS ORBITAIS DE ELEVAÇÃO ....................................................................................35
3.2 CHECAGEM GEOLÓGICA ...................................................................................................35
3.3 DADOS GEOFÍSICOS ...........................................................................................................36
3.4 PROCESSAMENTO GEOFÍSICOS........................................................................................36
3.4.1 PRODUTOS MAGNETOMÉTRICOS .............................................................................37
3.4.2 ANOMALIA BOUGUER .................................................................................................38
3.5 MATCHED FILTERING .........................................................................................................40
viii
3.6 DECONVOLUÇÃO DE EULER .............................................................................................42
CAPÍTULO 4 ...................................................................................................................................43
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS.........................................................................................43
4.1. ANÁLISE DOS LINEAMENTOS .........................................................................................44
4.2. CARACTERIZAÇÃO MAGNÉTICA ....................................................................................46
4.3 CARACTERIZAÇÃO GRAVIMÉTRICA ..............................................................................50
4.4 MATCHED FILTERING ........................................................................................................50
4.5 DECONVOLUÇÃO DE EULER ............................................................................................55
4.6 ARCABOUÇO LITOLÓGICO ...............................................................................................56
4.7 CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL ...................................................................................59
CAPÍTULO 5 ...................................................................................................................................63
CONSIDERAÇÕES E DISCUSSÕES .............................................................................................63
CAPÍTULO 6 ...................................................................................................................................65
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................65
ANEXO I .........................................................................................................................................71
ARTIGO SUBMETIDO AO BRAZILIAN JOURNAL OF GEOLOGY ...........................................71
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................73
2. CONTEXTO GEOLÓGICO .....................................................................................................74
2.1 FAIXA PARAGUAI .........................................................................................................75
2.2 BLOCO PARANAPANEMA .................................................................................................78
2.3 LINEAMENTO TRANBRASILIANO ....................................................................................78
2.4 BACIA DO PARANÁ ............................................................................................................79
3. METODOLOGIA .....................................................................................................................81
3.1 MATCHED FILTERING .........................................................................................................82
4. RESULTADOS.........................................................................................................................83
4.1 CARACTERIZAÇÃO TOPOGRÁFICA DA BACIA DO PARANÁ NA ÁREA DE ESTUDO .....................................................................................................................................................83
4.2 CARACTERIZAÇÃO MAGNÉTICA .....................................................................................85
4.3 MATCHED FILTERING .........................................................................................................87
4.3 CARACTERIZAÇÃO GRAVIMÉTRICA ..............................................................................91
4.4 ARCABOUÇO GEOLÓGICO ................................................................................................92
4.5 CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL ...................................................................................95
5. DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................97
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................................97
ix
Lista de Ilustrações da Dissertação Figura 1. Localização do Lineamento Transbrasiliano na América do Sul (Bizzi et al. 2003) e da área de estudos marcada pelo polígono em vermelho. ...............................................................................16
Figura 2. Mapa de localização e vias de acesso à área de estudo. .......................................................17
Figura 3. Ilustração da plataforma sulamericana com as bacias fanerozoicas influenciadas pelo lineamento transbrasiliano (traçado em vermelho). Poligonização das bacias do banco de dados vetoriais da carta do Brasil ao milionésimo disponibilizado pelo sítio eletrônico Geobank da CPRM .19
Figura 4. Comparação entre as colunas estratigráficas propostas para o Grupo. Tokashiki & Saes (2008). ..............................................................................................................................................21
Figura 5.Mapa da contextualização tectônica da Faixa Paraguai e sua correlação com a o Cráton Amazônico a oeste, a Bacia do Paraná e Araguaia a leste e a Bacia do Parecis a norte. ......................23
Figura 6. Mapa da porção centro-norte da bacia do Paraná como o traçado do Lineamento Transbrasiliano (em vermelho), abaixo a proposta estratigráfica geral desta porção da Bacia. ............27
Figura 7. Ilustração do fluxograma de trabalho executado para o desenvolvimento deste estudo. .......33
Figura 8. Mapa com a área coberta pelo levantamento áreo (hachurado), bem como a área de estudo (vermelho). .......................................................................................................................................36
Figura 9. (a) Mapa do Campo Magnético Anômalo (CMA), interpolado pelo método bi-direcional; (b) Inclinação do Sinal Analítico ou TILT Derivative (ISA/TILT); (c) Derivada vertical (1Dz); (d) Gradiente Horizontal. ........................................................................................................................38
Figura 10. Mapa de anomalia Bouguer residual dos dados gravimétricos da região, com o trend regional removido. ............................................................................................................................39
Figura 11 Produtos obtidos por meio do método Matched Filtering; a) Campo magnético anômalo para 3.371 m; b) Inclinação do sinal analítico para 3.371 m; c) Campo magnético anômalo para 10.266 m; d) Inclinação do sinal analítico para 10.266 m; e) Campo magnético anômalo para 25.433 m; f) Inclinação do sinal analítico para 25.433 m. ......................................................................................41
Figura 12. (a) Modelo digital de elevação da área de estudo em relevo sombreado; (b) mapa ds principais feições lineares extraídas de forma qualitativa; (c) Diagrama de roseta das azimutes extraídos da interpretação dos lineamentos topográficos, com um grupo maior de azimutes a NE (azul) e menor a NW (vermelho). ................................................................................................................45
Figura 13. Mapa do Campo Magnético Anômalo (a) e o mesmo reduzido ao pólo (b) com as principais descontinuidades magnéticas propostas, A) Serra Negra; B) Alcinópolis; C) Pedro Gomes; D) Baliza. Bem como as descontinuidades secundárias paralelas e ortogonais. ...................................................47
Figura 14. Mapa da Inclinação do Sinal Analítico para o campo magnético anômalo (a) e a Inclinação do Sinal analítico do CMA reduzido ao pólo (b), com as principais descontinuidades magnéticas propostas, A) Serra Negra; B) Alcinópolis; C) Pedro Gomes; D) Baliza. Bem como as descontinuidades secundárias paralelas e as secundárias ortogonais. ..................................................49
Figura 15. Mapa de anomalia Bouguer dos dados gravimétricos, com as principais descontinuidades gravimétricas identificadas. ...............................................................................................................50
Figura 16 A) Espectro de potência simétrico radial dos dados (verde) e o modelo equivalente multi-camada do espectro gerado pela filtragem (vermelho). B) Os três filtros passa-banda gerados das respectivas camadas equivalentes (como enumerados). ......................................................................51
Figura 17. Mapa dos lineamentos interpretados, com base nos diferentes níveis de profundidades do método matched filtering, corroborando com a continuidade tectônica vertical das estruturas da área. a) Campo magnético anômalo para 3.371 m; b) Inclinação do sinal analítico para 3.371 m; c) Campo magnético anômalo para 10.266 m; d) Inclinação do sinal analítico para 10.266 m; e) Campo magnético anômalo para 25.433 m; f) Inclinação do sinal analítico para 25.433 m. ............................53
Figura 18. Produtos obtidos por meio do método Matched Filtering; Campo magnético anômalo (três camadas superiores) e Inclinação do sinal analítico (três camadas inferiores) para 3.371 m; 10.266 m; 25.433 m;..........................................................................................................................................54
x
Figura 19. Mapa dos produtos de Campo Magnético Anômalo com as soluções das deconvolução de Euler sobrepondo-as, a) índice estrutural 0; b) índice estrutural 1. .....................................................55
Figura 20. Blocos ilustrativos em três dimensões da deconvolução de Euler mostrando a nuvem de soluções dispersas em profundidades, com um limite máximo em aproximadamente 27 quilômetros. 56
Figura 21. Mapa geológico proposto para a área de estudo, após assimilação dos dados apresentados no trabalho. Com ostração dos perfis propostos (linha vermelha – perfil AB, linha azul – perfil CD). 57
Figura 22 Perfis geológicos propostos, para exemplicar a estruturação da bacia para a região de estudo, uma característica extensional com configuração do tipo Horst em AB. Uma característica extensional com configuração do tipo hemi-gráben na borda oeste da Bacia em CD. ............................................58
Figura 23 Unidades relacionadas à área de estudo da base para o topo, em a) Granito Coxim relacionado à granitogênese da Faixa Paraguai, b) arenito da Formação rio Ivaí. ................................58
Figura 24 Unidades relacionadas à área de estudo em c) arenito esbranquiçado Formação Furnas, d) arenito da Formação Aquidauana. .....................................................................................................59
Figura 25. Unidades relacionadas à área de estudo, em e) Aspecto geomorfológico da Formação Botucatu, f) basalto da Formação Serra Geral. ...................................................................................59
Figura 26 Aspectos macroscópicos das unidades da bacia do Paraná para a área: (A) arenito da Formação Furnas com juntas NNE-SSW, transpondo juntas NWW-SEE; (B) arenito da Formação Furnas onde um sistema de juntas inicial NE-SW foi transposta por juntas NW-SE e N-S em cinemática dextral. ............................................................................................................................60
Figura 27 Aspectos macroscópicos das unidades do magmatismo Serra Geral em Costa Rica - MS: (A) e (B) aspectos da zona de cisalhamento NW oblíquo ao LTB; (C) em uma escala maior representação de sua deformação rúptil; (D) lineação de deslizamento subhorizontal, reflexo de um sistema de falha transcorrente. ....................................................................................................................................61
Figura 28. Diagramas de roseta para os principais conjuntos de fraturas da área, (A) conjunto principal NE-SW; (B) Conjunto que deloca o NW. ..........................................................................................62
xi
Lista de Tabelas da Dissertação
Tabela 1. Correlação da Litoestratigrafia com a estratigrafia de sequências proposta por Milani (1999), para as unidades cartografadas na área de estudo...............................................................................................................25
Tabela 2. As quatro camadas equivalentes geradas. (0) camadas do tipo dipolo, (1) camadas do tipo half
space........................................................................................................................................................48
xii
Resumo
O Lineamento Transbrasiliano é a mais importante zona de falha de escala continental reconhecida no
Brasil, transecta a plataforma sul-americana em uma direção NE-SW, influenciando nas diversas
compartimentações desta plataforma desde o brasiliano, entre elas relaciona-se a evolução e estruturação da
bacia do Paraná. Há pelo menos três reativações reconhecidas desde o Devoniano, a última relacionada a
abertura do Atlântico Sul no Cretáceo com geração do magmatismo Serra Geral associado à Bacia do Paraná.
Interpretações qualitativas de lineamentos magnéticos, sugerem descontinuidades magnéticas relacionadas ao
trend principal do Lineamento Transbrasiliano sob a Bacia do Paraná na Região nordeste do estado de Mato
Grosso do Sul. Os resultados da aplicação de filtragem combinada - Matched Filtering indica três níveis
magnetométricos com suas respectivas profundidades, onde sua continuidade vertical chega a pelo menos 25
quilômetros. Domínios de alta frequência podem ser relacionados ao magmatismo no nível mais raso desta
filtragem na porção leste da área de estudos, não havendo indicação da presença do mesmo na porção central
e oeste da área. Associa-se a ausência do magmatismo Serra Geral nesta região a falhamentos de natureza
extensional característico de um padrão do tipo horst, com posterior caráter erosivo recorrente às atividades
hidrográficas. Um sistema oblíquo intersecta as descontinuidades principais deslocando-os num rearranjo
estrutural dos blocos evidenciados nos dados geofísicos e em controle de campo, com sistemas de juntas
impostas ao magmatismo de idade cretácea.
Palavras-Chave: Lineamento Transbrasiliano, Bacia do Paraná, Aerogeofísica, Mato Grosso do Sul
xiii
Abstract
The Transbrasiliano Lineament is the most important continental scale fault zone recognized in Brazil,
crosscuts the South American platform in a NE-SW direction, influencing several domains in this platform
since the brasiliano, including the Paraná Basin development and structuring. There are at least three
reactivations recognized since the Devonian, the latter related to the opening of the South Atlantic in
Cretaceous with generation of the Serra Geral magmatism associated with the Paraná Basin. Qualitative
interpretations of magnetic lineaments suggest magnetic discontinuity related to the main trend of the
Transbrasiliano Lineament concealed by Paraná Basin in the northeastern of Mato Grosso do Sul state. The
results of the Matched Filtering application shows three magnetometric levels with their respective depths
where its vertical continuity reaches at least 25 km. High-frequency fields can be related to the magmatism in
the shallow level of this filtering in the eastern portion of the study area, with no indication of the presence in
the central and western portion of the area. Is associated with absence of the Serra Geral magmatism in this
region faults characteristic of extensional nature in a standard horst type, with subsequent recurring erosive
character of river activities. An oblique system intersects the main discontinuities moving them in a structural
rearrangement of the blocks evidenced in the geophysical data and field control, with joints imposed on
magmatism with cretaceous age.
Keywords: Transbrasiliano Lineament, Parana Basin, Airborne Geophysical Data, Mato Grosso do Sul.
CAPÍTULO I INTRODUÇÃO
Campos, F. A. P. 2015. Evidências do Lineamento Transbrasiliano na Região Nordeste de Mato Grosso do Sul: Aspectos Lito-Estruturais e Aerogeofísicos (Magnetometria e Gravimetria)
.
15
1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA
A maioria dos sistemas tipo “strike-slip” em escala intracontinental se estende direcionalmente
por centenas ou milhares de quilômetros, e dezenas de quilômetros de extensão lateral. São adjacentes
à cinturões orogênicos e a regiões de raízes crustais intensas, tais como litosferas oceânicas e escudos
pré-cambrianos. (Molnar e Dayem, 2010; Pirajno 2010; Yao et al. 2013).
O Lineamento Transbrasiliano (Fig. 1) é a mais importante zona de falha de escala continental
reconhecida no Brasil (Schobbenhaus et al. 1975, Milani e Zalán 1999, Feng et al., 2004), representa
uma mega-sutura que atuou na formação do supercontinente Gondwana, entre o final do Proterozóico e
início do Paleozoico (Cordani & Sato, 1999; Almeida et al., 2000). É considerado como feição
desenvolvida no Neoproterozoico, tendo sofrido eventos de reativação durante o Fanerozoico. Seu
sistema geométrico principal foi desenvolvido no Neoproterozoico com pelo menos três reativações no
Fanerozoico (Curto et al. 2014).
O Lineamento Transbrasiliano (LTB), transecta a plataforma sul-americana apresentando um
traçado preferencial que se estende do nordeste do Ceará, através da Bacia do Parnaíba, Província
Tocantins e Bacia do Paraná, terminando em território brasileiro na fronteira norte do Paraguai,
marcando uma direção característica NE-SW. Sua feição paleogeográfica contínua é reconhecida no
continente africano, no contexto da aglutinação do Gondwana Ocidental, onde é conhecido por
Lineamento Kandi-Hoggar (Fairhead e Maus 2003).
Devido a relevância de seu papel na configuração central da Plataforma Brasileira, mais
especificamente na estruturação das Províncias Tocantins e Borborema, além das reativações refletidas
no desenvolvimento e evolução das bacias fanerozoicas adjacentes. Diversos trabalhos vêm sendo
realizados para a compreensão de seu comportamento e influência na evolução tectônica e sedimentar
das regiões onde ocorre, todavia sua origem e evolução não são inteiramente compreendidas. Para tanto
justifica-se a realização de estudos com o auxílio de diversos métodos analíticos de cunho regional, entre
elas análise de dados aerogeofísicos e sua interpretação no setor centro-norte da Bacia do Paraná,
correlacionados a dados estruturais e assim poder analisar o controle estrutural refletido nas anomalias
magnéticas que foram impostas pelos regimes deformacionais ligados ao LTB nesta região em superfície
e no embasamento da bacia.
A interpretação qualitativa de dados geofísicos que envolve o traçado de lineamentos e domínios
magnéticos com base no comprimento de onda e amplitude das anomalias somados à interpretação
quantitativa tais como filtro combinado (matched filtering) e deconvolução de Euler permitirão a
avaliação de descontinuidades tectônicas à níveis crustais ocultadas pelos sedimentos da Bacia do
Campos, F. A. P. 2015. Evidências do Lineamento Transbrasiliano na Região Nordeste de Mato Grosso do Sul: Aspectos Lito-Estruturais e Aerogeofísicos (Magnetometria e Gravimetria)
.
16
Paraná, no segmento central do Lineamento Transbrasliano. Além de uma possível correlação do mesmo
à configuração crustal de natureza compressiva remetente à província Tocantins, mais especificamente
a faixa de dobramentos Paraguai, onde seu limite sudeste está sobreposto pela bacia.
Figura 1. Localização do Lineamento Transbrasiliano na América do Sul (Bizzi et al. 2003) e da área de estudos marcada pelo polígono em vermelho.
Campos, F. A. P. 2015. Evidências do Lineamento Transbrasiliano na Região Nordeste de Mato Grosso do Sul: Aspectos Lito-Estruturais e Aerogeofísicos (Magnetometria e Gravimetria)
.
17
1.2 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo situa-se na região centro-oeste do Brasil (Figs. 1 e 2), especificamente no setor
limítrofe entre os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Seu limite norte dista 234 km
de Cuiabá e seu limite sul dista 124 km de Campo Grande, com aproximadamente 57.200 km2. Mais
especificamente a área esta compreendida pelos municípios de Alto Taquari-MT, Alcinópolis-MS,
Costa Rica-MS, Pedro Gomes-MS, Sonora-MS, Coxim-MS e Rio Verde de Mato Grosso – MS. Os três
últimos interligados pela BR-163 foram utilizados como base para os estudos realizados em campo.
Figura 2. Mapa de localização e vias de acesso à área de estudo.
1.3 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS
1.3.1. Objetivo Geral
A presente dissertação pretende contribuir ao conhecimento do Lineamento Transbrasiliano em
um segmento recoberto pela Bacia do Paraná no centro-oeste do Brasil. Para tanto este estudo foi
Campos, F. A. P. 2015. Evidências do Lineamento Transbrasiliano na Região Nordeste de Mato Grosso do Sul: Aspectos Lito-Estruturais e Aerogeofísicos (Magnetometria e Gravimetria)
.
18
baseado na análise de dados geofísicos, de gravimetria e magnetometria. Para dar suporte às
interpretações geofísicas são utilizados, dados estruturais e estratigráficos de campo, para o
entendimento da disposição dos blocos crustais da região, correlatas à evolução estrutural do
Lineamento Transbrasiliano.
1.3.2. Objetivos Específicos
Os objetivos específicos propostos para esta dissertação são:
- Caracterizar e classificar as estruturas lineares ao longo do lineamento a partir de imagens
orbitais de levantamentos topográficos e óticos, bem como sua correlação com anomalias dos dados
aerogeofísicos;
- Realizar uma caracterização, quanto a configuração tectônica da área concernente à dados
geofísicos através de filtragens específicas (Matched Filtering e Deconvolução de Euler), para a
visualização dos grandes comprimentos de onda, possibilitando estimar esta configuração em grandes
profundidades;
- Realizar um estudo referente ao contexto estrutural de natureza rúptil da Bacia do Paraná em
subsuperfície com sua possível relação à atividade tectônica cronologicamente correlata a sua evolução
sedimentar;
- Compilando estes dados propõe-se refinar e aprofundar o escasso conhecimento, específico à
esta área, relativo ao controle estrutural das sequências sedimentares da Bacia do Paraná. Sequências
essas possivelmente afetadas pelo LTB, tanto em seu preenchimento sedimentar quanto nos reflexos
impostos pela estruturação de seu embasamento.
1.4 CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL
1.4.1 PLATAFORMA SULAMERICANA
A área de estudo deste trabalho situa-se na porção noroeste da Bacia do Paraná na região de
Coxim-MS e compreende também um embasamento metassedimentar do Grupo Cuiabá e do granito
Coxim, ambos da Zona Interna da Faixa Paraguai. Com o propósito de situar a área estudada no contexto
geologico-tectônico regional, será apresentado a seguir uma breve sumário sobre a Faixa Paraguai, o
Lineamento Transbrasiliano e a Bacia do Paraná.
Campos, F. A. P. 2015. Evidências do Lineamento Transbrasiliano na Região Nordeste de Mato Grosso do Sul: Aspectos Lito-Estruturais e Aerogeofísicos (Magnetometria e Gravimetria)
.
19
Figura 3. Ilustração da plataforma sulamericana com as bacias fanerozoicas influenciadas pelo lineamento transbrasiliano (traçado em vermelho). Poligonização das bacias do banco de dados vetoriais da carta do Brasil ao milionésimo disponibilizado pelo sítio eletrônico Geobank da CPRM
1.4.2 FAIXA PARAGUAI
Através dos processos tectônicos de amalgamação do supercontinente Gondwana (~600 Ma),
marcados pela convergência dos blocos Paranapanema, amazônico e São Francisco-Congo, registra-se
os cinturões orogênicos da Província Estrutural Tocantins (Almeida e Hasui, 1984), composta pelos
cinturões Araguaia, Brasília e Paraguai.
Campos, F. A. P. 2015. Evidências do Lineamento Transbrasiliano na Região Nordeste de Mato Grosso do Sul: Aspectos Lito-Estruturais e Aerogeofísicos (Magnetometria e Gravimetria)
.
20
Circundando a margem sudeste do Cráton Amazônico, ocorre a Faixa Paraguai, caracterizada
por um sistema deposicional de fácies marinha relacionada a uma bacia de plataforma continental,
reestruturada pela inversão e colisão dos blocos Paranapanema e amazônico. Grande parte da faixa está
encoberta pelas bacias do Pantanal, Paraná e Parecis, possui uma transição de um trend estrutural N-S
em sua porção sul desde a Serra da Bodoquena no estado de Mato Grosso do Sul, para um trend E-W
na região da Baixada Cuiabana e Nova Xavantina em Mato Grosso.
A Faixa Paraguai apresenta rochas sedimentares dobradas e metamorfizadas, que em direção ao
Cráton Amazônico passa progressivamente para sequências sedimentares com deformação rúptil, mas
sem metamorfismo. Com isso o Cinturão foi estruturado em três zonas por Almeida (1984), e
renomeadas por Alvarenga & Trompette (1993) de Zona Estrutural Interna Metamórfica com Intrusões
Graníticas, Zona Estrutural Externa Dobrada com pouco ou sem Metamorfismo e Cobertura Sedimentar
de Plataforma.
A Zona Estrutural Interna é caracterizada pelo dobramento isoclinal, metamorfismo de baixo
grau e intrusões graníticas pós-orogenéticas, por falhamento reverso a Zona Interna passa a Zona
Estrutural Externa que se caracteriza por conter dobramentos abertos com falhamento reverso associado
com metamorfismo anquizonal ou inexistente. A Cobertura Sedimentar de Plataforma é caracterizada
por suaves ondulações, metamorfismo inexistente e tectônica rúptil não penetrativa (Alvarenga &
Trompette, 1993).
1.4.2.1 GRUPO CUIABÁ
Almeida (1968) adota o termo Grupo Cuiabá utilizado pela primeira vez por Hennies (1966),
Luz et al. (1980) em mapeamento da folha SD-21 Cuiabá, dividem o Grupo Cuiabá em nove
subunidades, sendo uma indivisa. A base da seqüência é a Subunidade 1 que é formada por filitos
sericíticos intercalados com filitos e metarenitos grafitosos. A Subunidade 2 é composta por metarenitos
e filitos verde escuros a pretos, por vezes grafitosos com lentes de mármore calcítico. Subunidade 3
composta por filitos, filitos com seixos, metaconglomerados, metarenitos, filitos calcíferos e níveis de
hematita. Subnidade 4 predomina metadiamictitos com raras intercalações de filitos e metarenitos, de
cor cinza escuro, arroxeados e avermelhados. Subunidade 5 é representada por filitos, metarcóseos,
metaconglomerados, finos e quartzito. Subunidade 6 composta por filitos com seixos e metarenitos
quartzitos e mármores subordinadamente. Subunidade 7 consiste de metadiamictitos petromíticos com
filitos e metarenitos subordinados. Subunidade 8 ocorre mármores calcíticas, dolomitos,meta margas e
filitos sericíticos, sendo os contatos todos gradacionais.
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Tokashiki & Saes (2008) numa tentativa de resgatar as denominações e seções tipo clássicas da
literatura geológica sobre a Faixa Paraguai propõem uma coluna estratigráfica para o Grupo Cuiabá
individualizando três formações: Formação Campina de Pedras, formação basal correspondente à fase
rifte englobando as subunidades 1 e 2 de Luz et al. (1980) e Unidade Inferior de Alvarenga (1988). A
Formação Acorizal é correlacionada com as subunidades 3, 4 e 5 de Luz et al. (1980) e à Fácies
Intermediária da Unidade Média Turbidítica Glácio-marinha de Alvarenga (1988), correspondente à
fase de margem passiva da bacia Formação Coxipó, fase de fechamento de bacia, correspondente
parcialmente à Formação Marzagão de Almeida (1964), às subunidades 6 e 7 de Luz et al. (1980) e à
Fácies Proximal da Unidade Turbidítica Glácio-marinha de Alvarenga (1988) abrigando também a
Fácies Guia (mármores calcíticos e dolomíticos aflorantes na Sinclinal da Guia) e os quartzitos que
formam o alinhamento de serras que se estende da Serra de São Vicente até Barão de Melgaço (Fácies
Mata-Mata). A figura 5 ilustra a comparação entre as diversas propostas de empilhamento estratigráfico
sugeridos para as rochas do Grupo Cuiabá.
Figura 4. Comparação entre as colunas estratigráficas propostas para o Grupo. Tokashiki & Saes (2008).
Hasui e Almeida (1970) dataram, pelo método K-Ar, ardósias coletadas em testemunho de
sondagem da fazenda Bodoquena e obtiveram a idade de 693 Ma. Tassinari (1981) obteve uma isócrona
Rb-Sr de 484 ± 19Ma em filitos, e a interpretou como correspondente ao último evento orogenético que
afetou estas rochas. Alvarenga & Trompette (1989) atribuiram uma provável associação ao período
glacial Varangiano (670-630Ma.).
Campos, F. A. P. 2015. Evidências do Lineamento Transbrasiliano na Região Nordeste de Mato Grosso do Sul: Aspectos Lito-Estruturais e Aerogeofísicos (Magnetometria e Gravimetria)
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1.4.3 GRANITOS DA FAIXA PARAGUAI
Manzano (2009) e Godoy et al. (2010) agruparam os granitóides alojados em rochas do Grupo
Cuiabá em duas suítes, a suíte magmática sul, exposta no Mato Grosso do Sul e a suíte magmática norte,
exposto em Mato Grosso. É constituída por sete corpos de granitóides que apresentam feições
geológicas, mineralógicas, geoquímicas e geocronológicas distintas (Fig. 6).
Os granitóides da parte sul da Faixa Paraguai afloram no Estado de Mato Grosso do Sul e
apresentam feições geológicas que permitem agrupá-los segundo Godoy et al. (2007, 2010) e Manzano
et al. (2009) em dois conjuntos menores: os da parte setentrional (Sonora e Coxim) e os da parte
meridional (Rio Negro e Taboco). Estes granitóides ocorrem na forma de intrusões alongadas, fissurais
e alinhadas segundo NNE-SSW e controlados pela orientação, denominada de “Zona de Cisalhamento
Sul Matogrossense” e expostos nos contrafortes erosivos da Serra de Maracajú, consequente reativação
desta zona. Afloram no contato das rochas neoproterozóicas do Grupo Cuiabá com o contato erosivo
das rochas sedimentares da Formação Furnas e encontram-se parcialmente recobertos pelos sedimentos
recentes da Bacia do Pantanal.
Os granitóides da parte norte afloram no Estado do Mato Grosso e são constituídos pelos corpos
de natureza batolíticas denominado de São Vicente, Araguaiana e Lajinha, o primeiro intrudido na região
da inflexão das rochas do Grupo Cuiabá com direção oriunda da parte sul de (NNE-SSW) e que infletem
para ENE-WSW, e o Lajinha e Araguaiana que ocorrem no extremo leste da Faixa Paraguai, controlados
parcialmente pelo extremo sul da Zona de Cisalhamento Araguaia que novamente impõe às estruturas
metamórficas direção aproximadamente N-S nos metassedimentos da Faixa de Dobramento Paraguai.
No estado de Mato Grosso do Sul, a suíte magmática sul, mais antiga, é composta de sul para
norte, pelos granitos Taboco, Rio Negro, Coxim e Sonora, com idades de cristalização datadas pelo
método U-Pb, respectivamente de 540 ± 4.7 Ma, 547 ± 4.9 Ma, 540 ± 3.6 Ma e 548 ± 5.9 Ma. No estado
de Mato Grosso a suíte magmática norte, mais jovem, é composta pelo granitos São Vicente, Lajinha e
Araguaiana. Para o granito São Vicente Almeida e Mantovani (1975) atribuiram idade de cristalização
por Rb-Sr de 483 ± 8 Ma, porém McGee et al. (2011), atribui idade de 518 ± 4 pelo método U-Pb.
Segundo Godoy et al. (2010) os granitos da suíte norte, possuem idades respectivas de 504 ± 8.9 Ma,
505,4 ± 4.1 Ma e 509,4 ± 2.2 Ma. Os corpos magmáticos encontram-se intrusivos nas rochas do Grupo
Cuiabá que constitui regionalmente a Zona Interna da Faixa de Dobramentos Paraguai (Almeida, 1980)
Os granitos do norte em Mato Grosso, mais jovens, são gerados em ambientes tardi a pós-
colisional ou de descompressão durante a finalização do processo colisional, enquanto os granitos do
sul, mais antigos, em Mato Grosso do Sul são gerados em ambientes sin-colisional de arco continental.
Estes granitos foram gerados a partir de magmas de fontes diferentes e independentes, a partir do
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retrabalhamento de dois fragmentos crustais de idades distintas, ao sul, fragmentos paleoproterozóicos
e a suíte norte, mesoproterozóicos (Godoy et al. 2010).
Figura 5.Mapa da contextualização tectônica da Faixa Paraguai e sua correlação com a o Cráton Amazônico a oeste, a Bacia do Paraná e Araguaia a leste e a Bacia do Parecis a norte.
1.4.4. BLOCO PARANAPANEMA
O bloco litosférico Paranapanema (Quintas, 1995; Mantovani e Brito Neves, 2005), é um bloco
crustal sobreposto e totalmente ocultado pela Bacia do Paraná, inferido por dados gravimétricos, possui
separação dos crátons Rio de la Plata e Luis Alves com cerca de 300.000 km². Idades paleoproterozoicas
obtidas através dos escassos dados de amostragens de furo de sondagens e modelos TDM dos derrames
basálticos da Bacia do Paraná são atribuídas às rochas deste bloco (Cordani et al. 1984; Mantovani e
Brito Neves, 2005).
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1.4.5 LINEAMENTO TRANSBRASILIANO
O Lineamento Transbrasiliano - LTB (Schobbenhaus et al. 1975), transecta a plataforma sul-
americana, representando um sistema deformacional de falhas dúcteis-rúpteis. Apresenta um traçado
preferencial com uma característica direção NE-SW, que se estende do norte do Paraguai, através da
Bacia do Paraná, da Província Tocantins, Bacia do Parnaíba, rifte Jaibaras e culmina na plataforma
continental submersa do continente. Sua feição paleogeográfica contínua é bem reconhecida no
continente africano, no contexto da aglutinação do Gondwana Ocidental, pelo Lineamento Kand-Hoggar
(Caby et al., 1981; Caby, 1989, Cordani et al., 2003). Juntos podem chegar a 9000 quilômetros de
extensão, um dos maiores exemplos de sistemas transcorrentes intracontinentais de deformação da Terra
(Fairhead e Maus 2003).
Na plataforma sulamericana, é observado desde a região de Sobral-CE na zona de cisalhamento
Sobral-Pedro II. Em seu setor meridional o LTB separa na porção norte da Bacia do Paraná, a Faixa
Paraguai a oeste do arco magmético de Goiás ou Bloco Paranapanema a leste (Cordani et al. 1984).
Delimitado por meio de modelagem de ondas S, em seu setor sudoeste, caracteriza-se uma curvatura na
direção oeste abrangendo o sudeste da Faixa Paraguai e sul da Bacia do Pantanal (Feng et al. 2004).
Posterior em sua continuidade sul em território brasileiro, situa-se no contato leste do Bloco Rio Apa
(Cordani et al. 2009).
O LTB está relacionado a processos tectônicos de colisão de blocos crustais relacionados ao
fechamento do domínio oceânico Pampeano-Goiás-Pharusiano, culminando no supercontinente
Gondwana (Cordani et al. 2009). Separa dois grandes domínios na plataforma sulamericana junto ao
Lineamento Araguaia mais a norte, Domínio Amazônico a oeste (pré-toniano) e o domínio Brasiliano a
leste, por ser caracterizado por terrenos afetados pela Orogenia Brasiliana (Brito Neves e Fuck, 2013,
2014).
A reativação cenozoica é observada pela atividade sísmica e formação de platôs morfológicos,
com geração de leques aluviais associados aos sistemas fluviais de bacias recentes, como a Bacia do
Pantanal, cuja deposição é associada a movimentos tectônicos associados ao soerguimento dos Andes e
reativação do LTB (Assine e Soares, 2004).
Os dados disponíveis indicam que o LTB passou por pelo menos três momentos de reativações
no fanerozoico, duas bacias do tipo pull-apart, a de Jaibaras no estado do Ceará no Cambro-Ordoviciano
(Oliveira, 2001) e a de Água Bonita no Tocantins no Siluro-Devoniano (Carvalho et al., 2012). O
terceiro episódio ocorre com a abertura do oceano atlântico no Cretáceo, marcado por falhas normais e
causando deslocamentos no flanco norte da Bacia do Paraná (Alvarenga et al., 1998).
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No setor noroeste da Bacia do Paraná o LTB não possui caráter direcional único. ramificações
estruturais ocorrem no noroeste da Bacia do Paraná. A orientação primária do lineamento é N30°E,
atribuída ao lineamento Serra Negra. Curto (2015) caracteriza o lineamento Serra Negra como o
componente magnético regional mais evidente do Lineamento Transbrasiliano no noroeste da Bacia
do Paraná, separando dois blocos crustais principais, com características magnéticas e gravimétricas
distintas.
Curto et al. (2014) caracterizam descontinuidades condizentes com o esforço regional causado
pela convergência entre os blocos Paranapanema a sudeste e Amazônico a noroeste. Descontinuidades
estas nomeadas de Baliza (N60ºE) e General Carneiro (N70ºE), consistindo com o padrão direcional da
Faixa Paraguai para a região. A modelagem do relevo do embasamento sugere disposição de horsts e
meio-grábens, alinhados a NS, N30°E e N60°-70°E, resultantes da reativação de estruturas do
Lineamento Transbrasiliano.
1.4.5. BACIA DO PARANÁ
A Bacia do Paraná é um amplo sistema sedimentar do continente sul-americano, se estende pela
porção meridional do Brasil, Paraguai oriental, nordeste da Argentina e norte do Uruguai. com área
aproximada de 1,5 X 106 km2. Seu contorno atual se define pelos limites erosivos relacionados à história
tectônica mesocenozóica do continente (Milani, 2003). O flanco ocidental é definido por uma feição
estrutural positiva orientada a norte-sul, um amplo bulge flexural relacionado à sobrecarga litosférica
imposta ao continente pelo cinturão orogênico andino (Shiraiwa, 1994). Já o flanco oriental compreende
o trecho entre o sudeste brasileiro e o Uruguai, intensamente modelado por erosão, resposta ao
soerguimento crustal associado ao rifte do Atlântico sul (Zanotto, 1993; Milani, 2003) Sobre o bulge
inserem-se a região do Pantanal Mato-Grossense e o Arco de Asunción. Para sul-sudoeste, a bacia
prolonga-se ao Uruguai e Argentina, enquanto a borda norte-nordeste parece representar um limite
deposicional original, o que é sugerido pela natureza persistentemente arenosa das diferentes unidades
sedimentares da bacia naquele domínio (Milani, 2003).
O registro estratigráfico da Bacia do Paraná compreende um pacote sedimentar-magmático com
uma espessura total máxima em torno dos 7 mil metros, coincidindo geograficamente o depocentro
estrutural da sinéclise com a região da calha do rio que lhe empresta o nome. Milani (1997) reconheceu
no registro estratigráfico da Bacia do Paraná seis unidades de ampla escala ou Superseqüências, na forma
de pacotes rochosos materializando cada um deles intervalos temporais com algumas dezenas de
milhões de anos de duração e envelopados por superfícies de discordância de caráter interregional.
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De acordo com a estratigrafia de sequências de Milani (1997) (Tab. 1), quanto à ocorrência
geológica desta área, há as sequências: Rio Ivaí (Neo-ordoviciano – Siluriano), representado pelo Grupo
Rio Ivaí. Sequência Paraná (Devoniano), Formação Furnas e Ponta Grossa, uma pequena ocorrência
central da Sequência Gondwana I (Neocarbonífero – Eotriássico), da Formação Palermo. Sequência
Gondwana III (Neojurássico – Eocretáceo), da Formação Botucatu e magmatismo Serra Geral (Grupo
São Bento) e Sequência Bauru (Eo-Neocretáceo), Grupo Caiuá.
Tabela 1 – Correlação da Litoestratigrafia com a estratigrafia de sequências proposta por Milani (1999), para as
unidades cartografadas na área de estudo.
LITOESTRATIGRAFIA ESTRATIGRAFIA DE SEQUÊNCIAS
Grupo Rio Ivaí (Ordoviciano) Sequência Rio Ivaí (Neo-Ordoviciano –
Eossiluriano)
Grupo Paraná (Devoniano) Sequência Paraná (Eo/Neo-Devoniano)
Grupo Itararé (Carbonífero – Permiano) Sequência Gondwana I (Neocarbonífero)
Grupo São Bento (Jurássico – Cretáceo) Sequência Gondwana III (Neo-Jurássico – Eo-
Cretáceo)
Grupo Caiuá (Cretáceo) Sequência Bauru (Eo/Neo-Cretáceo)
1.4.5.1 NEO-ORDOVICIANO – EOSSILURIANO
O Neo-Ordoviciano/Eo-Siluriano da Bacia do Paraná está representado pelo Grupo Rio Ivaí
(Assine et. al 1994), compreendidos pelas formações Alto Garças, Iapó e Vila Maria. Assenta
diretamente em discordância litológica sobre o embasamento cristalino pré-cambriano da Bacia do
Paraná (Assine et. al 1998). Não exclusivo, este padrão deposicional difere para uma característica
angular quando o mesmo recobre unidades cambro-ordoviciana. Acerca da composição, para a região o
Grupo Rio Ivaí ocorre em natureza psefítica na seção basal (formação Alto Garças) e psamítica nas
seções superiores (formações Iapó e Vila Maria) com estratificação cruzada do tipo foreset com
ocorrência de clastos quartzosos e fragmentos herdados do embasamento.
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Figura 6. Mapa da porção centro-norte da bacia do Paraná como o traçado do Lineamento Transbrasiliano (em vermelho), abaixo a proposta estratigráfica geral desta porção da Bacia.
1.4.5.2 DEVONIANO
Sequências do eo/neo-devoniano na Bacia do Paraná foram caracterizadas pelo Grupo Paraná
sobreposto por discordância erosiva ao Grupo Rio Ivaí. Este Grupo foi divido desde trabalhos
primordiais sob a visão de dois consensos faciológicos gerais, um primeiro pacote de natureza psamítica
inferior (Formação Furnas) e um segundo pacote de natureza pelítica superior (Formação Ponta Grossa).
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O pacote devoniano como um todo na Bacia do Paraná apresenta uma espessura que pode chagar a até
800 m. (Milani, et. al 2007).
Para a formação Furnas (base) predominam rochas de natureza psamítica de composição
quartzosa e níveis psefíticos com granodecrescência da seção inferior à superior numa característica
transição para a formação sobreposta. Estruturalmente exibe estratificações cruzadas de várias naturezas
e do tipo hummocky (Assine, 1996). As idades U-Pb em zircão detrítico da Formação Furnas indicam
idade máxima de deposição em torno de 540 Ma. A análise de proveniência dos grãos de zircão, indica
que a principal contribuição neoproterozóica está associada as rochas do Arco Magmático de Goiás
(Santos, 2015). A Formação Ponta Grossa exibe uma característica composição geral de natureza
pelítica com um aporte sedimentar que pode ultrapassar os 600 metrosem subsuperfície (Milani, et. al
2007).
1.4.5.3 CARBONÍFERO - PERMIANO
Sequências de idade Carbonífera estão sobrepostas por discordância erosiva ao pacote
devoniano, caracterizado pela Formação Aquidauana. Esta unidade pertence ao Grupo Itararé
(Schneider et. al 1974; França e Potter, 1988), que é composta pela formações Lagoa Azul, Campo
Mourão, Taciba e Aquidauana sendo a última, única ocorrente na área de estudo. Fato este pela
Formação Aquidauana estar restrita a porção setentrional da bacia diferindo do Grupo Itararé por sua
generalizada oxidação e cor avermelhada (França e Potter, 1988). Schneider et al. (1974) dividem a
formação em três intervalos estratigráficos; o intervalo basal de natureza psefítica e psamítica com
estratificações cruzadas acanaladas; o intervalo médio, de natureza pelítica e psamítica; e o intervalo
superior, dominado por rochas psamíticas com estratificação cruzada.
1.4.5.4 JURÁSSICO
Schneider et al. (1970) descrevem esta unidade como arenitos avermelhados, róseos ou
arroxeados finos a médios e grossos na base, friáveis, grãos esféricos, arredondados e foscos. Barros et
al. (1982) caracteriza ainda esta formação como pouco argilosa, caulínica, feldspática, com grãos mal
selecionados no conjunto e bem selecionados nas extensas lâminas dos planos de estratificação
cruzada no Estado de Mato Grosso. A estratificação alternada entre cruzada tangencial, plano paralela.
O Neo-Jurássico está representado pela Formação Botucatu que constitui quase totalmente, em
toda sua ampla área de ocorrência, por arenitos médios a finos róseos, que exibem estratificação cruzada
tangencial, de médio a grande porte.
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1.4.5.5 CRETÁCEO
Parte do final da Sequência Gondwana III, Sobreposta à formação Botucatu ocorre a formação
Serra Geral. Um magmatismo intracontinental relativo a ruptura do supercontinente Gondwana
(Jurássico e Cretáceo), devido a fusão parcial do manto litosférico pela interação da pluma Tristão da
Cunha (Gallagher & Hawkesworth, 1994), no atlântico sul.
Algumas das feições tectônica-magmáticas mais importantes deste magmatismo estão
relacionados a um sistema de junção-tríplice do tipo rift-rift-rift responsável por processos distensivos
e de rifteamentos intracratônicos (Deckart et al., 1998). Ocorre em ampla distribuição em todo o estado,
todavia restrito às calhas dos principais rios do setor leste da área. Sua composição predominante é de
basaltos e andesitos basálticos, 95% vol. e riolitos e riodacitos, ~5% vol. (Bellieni et al., 1984).
Sobrepostos à formação Serra Geral na porção leste da área, a Sequência Bauru ocorre restrito
à formação Santo Anastácio, anteriormente tratado como uma formação psamítica ocorrente na base do
Grupo Bauru (Inhaez et al., 1983). Em trabalhos mais recentes, foi individualizado o Grupo Caiuá, o
qual esta formação enquadra (Fernandes & Coimbra, 1992), é composto por rochas de natureza
psamítica com estratificações cruzadas tangenciais de pequeno e grande porte, e de forma secundária
laminação plano-paralela depositados em um sistema transicional fluvial-eólico, da base para o topo
(Inhaez et al., 1983).
1.4.5.6 TERCIÁRIO-QUATERNÁRIO
A formação Cachoeirinha assenta sobre superfície de aplainamento esculpida em rochas
sedimentares do Carbonífero, Permiano, Jurássico e Cretácio, durante período de clima semi-árido do
Terciário como indicam estudos geomorfológicos. Ocorre no extremo nordeste do estado, divisa com
Goiás, em cerca de 1.400 km2, e abrange os municípios de Costa Rica e Chapadão do Sul, segundo
dados da Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo, folha Goiânia-SE.22 (Valente et al.,2004).
Segundo Pena e Figueiredo (1972), a unidade tem, em geral, de 20 a 30 m de espessura, mas pode
alcançar até 70 m.
Estes sedimentos ocorrem cobrindo o planalto da Bacia do Paraná sobrepostas às rochas
paleozoicas e mesozoicas da bacia nos estados da área de estudo. Há estabelecido três principais sistemas
de composição, sedimentos areno argilosos, argilitos e areia com seixos. Os sedimentos ocorrem como
cobertura do planalto da Bacia do Paraná, especialmente sobre rochas paleozóicas e mesozóicas de
Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Compreende (i) sedimentos areno-argilosos vermelhos,
parcialmente laterizados; (ii) argilitos cinza esverdeados com estratificação incipiente; e (iii) areias
mal selecionadas com níveis decimétricos lenticulares de cascalho.
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CAPÍTULO 2 MÉTODO DE TRABALHO
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Para alcançar os objetivos estabelecidos à esta dissertação foram empregadas as seguintes ações
às etapas de trabalho:
1.3.1. Etapa Preliminar
§ Levantamento e estudo do acervo bibliográfico;
§ Análise de dados de sensores remotos com o propósito de definir as principais feições
lineares preliminares.
§ Processamento dos dados aeromagnéticos gerando diversos produtos (CMA, Dx, Dy,
Dz, ASA, GHT, ISA), com o objetivo de interpretar lineamentos magnéticos;
§ Aplicação de filtros para análise de profundidade de fontes magnéticas; foram utilizados
o método de filragem combinada (Matched Filtering) e deconvolução de Euler.
1.3.2. Etapa de Coleta de Dados (Trabalhos de Campo)
Pela literal grandeza da área partimos do pressuposto de utilizar para o trabalho em campo uma
ótica de mapeamento 1:250.000. Porém em nenhum momento como um objetivo direto para este
trabalho. Com isto foram feitas:
§ Coleta de dados estruturais (fraturas, falhas, lineações) para análise descritiva, quanto a
cinemática das principais falhas que afetam a bacia do Paraná.
§ Correlação estratigráfica dos trabalhos de mapeamento existentes para os estados de
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul em escala 1.000.000 e do estado de Goiás , em escala 1:500.000,
todos executados pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM.
1.3.3. Etapa de Coleta de Dados (Trabalhos em Laboratório)
Esta etapa foi separada em dois tipos de análises para a realização dos produtos precedentes:
Análise de Dados de Sensores Remotos
§ Definir o padrão geral de feições lineares da área;
§ Correlacionar os dados do levantamento de campo com as estruturas lineares definidas
pela análise destes dados.
Análise de Dados dos Mapeamentos Geológicos Estaduais
§ Através disto foi gerado um mapa compilado dos mapeamentos estaduais em questão
modificados para uma melhor colocação à este tipo de trabalho.
Processamento e Análise de Dados Aerogeofísicos
§ Definir o padrão geral da assinatura aeromagnética do Lineamento Transbrasiliano
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neste segmento em questão;
§ Correlacionar os dados do levantamento de campo com as descontinuidades
aeromagnéticas definidas.
1.3.4. Etapa de Tratamento e Sistematização dos Dados Obtidos
O tratamento dos dados foram realizados nas seguintes plataformas:
§ Tratamento dos dados estruturais com emprego do software OpenStereo 0.1.2f;
§ Elaboração de cartas temáticas (geológicas, geofísicas, estruturais e faciológicas)
utilizando-se do conjunto de SIG’s ESRI ArcGis 10.
§ Processamento e tratamento dos dados geofísicos utilizando-se da plataforma Geosoft
Oasis Montaj 7.0.1.
1.3.5. Etapa de Conclusão e Divulgação dos Resultados
§ Elaboração da dissertação de mestrado;
§ Participação em Eventos de Divulgação Científica (Simpósios e Congressos)
Submissão de artigo em periódico especializado de circulação nacional ou internacional.
Para a execução da pesquisa foram realizados algumas análises e estratégias de abordagem que
podem ser sumarizadas no fluxograma a seguir (fig.7).
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Figura 7. Ilustração do fluxograma de trabalho executado para o desenvolvimento deste estudo.
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CAPÍTULO 3 RESULTADOS
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3.1 DADOS ORBITAIS DE ELEVAÇÃO
Em uma primeira instância de análise dos dados da área para um reconhecimento topográfico e
morfológico, disponíveis em domínio público, foram compiladas os dados de elevação de toda a região.
Para isso através de dados de sensores orbitais topográficos foram criados modelos digitais de elevação
para a região. Foram usados dados de dois satélites: ASTER (Advanced Spaceborne Thermal Emission
and Reflection Radiometer) de 30 metros de resolução e SRTM (Shuttle Radar Topography Mission),
que em primeira análise possuia resolução de 90 metros, porém já no estágio final deste trabalho foram
verificados também os dados de 30 metros de resolução liberados no ano de 2015.
Estes modelos digitais possibilitaram uma análise preliminar das feições superficiais da área,
com a extração manual das continuidades lineares que a topografia apresenta. Com o intuito de se
realizar uma caracterização estatística das feições estruturais em um estágio interpretativo preliminar
para o prosseguimento do trabalho.
3.2 CHECAGEM GEOLÓGICA
Pela grande amplitude da área e um mapeamento geológico não fazer parte dos objetivos deste
trabalho, usa-se para tanto dados geológicos de mapeamentos feitos pelo Serviço Geológico do Brasil –
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). Foram compilados os dados vetoriais
disponíveis para os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás (Fig. 9), bem como os dados
litológicos relacionados em coluna cronoestratigráfica da região (Fig. 10). Foram usados os seguintes
mapas:
• Mato Grosso 1:1.000.000 (Lacerda Filho et al. 2004a).
• Mato Grosso do Sul 1:1.000.000 (Lacerda Filho et al. 2006).
• Goiás 1:500.000 (Lacerda Filho et. al 2000).
Após a inserção dos dados em ambiente SIG (Sistema de Informação Geográfica), os mesmos
foram recortados para que se usasse apenas os pertencentes a área de estudo. Todos os procedimentos
até então, desde o processamento dos dados topográficos ao ajuste dos dados para o mapa geológico,
foram executados em plataforma ESRI ArcGis 10.
A etapa de análise e coleta de dados em campo foi realizada entre os dias 01/05 e 05/05 de 2014,
direcionadas à áreas chaves, com o propósito de verificar feições tectônicas e contatos entre as unidades,
estipuladas com o auxílio do mapa geológico.
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3.3 DADOS GEOFÍSICOS
Com a necessidade de estudos relacionados a bacias sedimentares, somado a um baixo custo de
levantamento e aquisição dos dados, os levantamentos aéreos de métodos potenciais são comuns sobre
bacias sedimentares. Todavia estes levantamentos são feitos em caráter regional com amplo
espaçamento entre as linhas de vôo e alta altitudes, resultando em uma baixa resolução (Gunn, 1997;
Isles & Rankin, 2013).
Para este estudo foram utilizados os dados do aerolevantamento gravimétrico e magnetométrico
da Bacia do Paraná realizado nos anos de 2009 e 2010 pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural
e Biocombustíveis – ANP (Fig. 8) com linhas de voo e controle espaçadas de 6.000 e 18.000 metros
respectivamente e altitude média de voo de 1800 metros.
Figura 8. Mapa com a área coberta pelo levantamento áreo (hachurado), bem como a área de estudo (vermelho).
3.4 PROCESSAMENTO GEOFÍSICOS
Os dados utilizados para este estudo foram recebidos, pré-processados com a redução das
observações de variações magnéticas gerados pelos efeitos magnéticos, como a variação diurna e a
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correção geomagnética. Esta última remove o efeito de um campo geomagnético de referência da Terra,
o IGRF – International Geomagnetic Reference Field (Maus & Macmillan, 2005), usado para a época
do levantamento, realizado entre 2009 e 2010.
Após o recorte dos dados de todo o levantamento aos limites da área de estudo, realizou-se a
sua interpolação para a geração de grids, pelo método de interpolação bidirecional (Bhattacharyya,
1969) com intervalo entre as células de 1500 m. A partir do qual foram gerados mapas ou produtos
geofísicos, apresentados no tópico 3.4.1.
As filtragens tem o propósito de realçar anomalias, e possivelmente indicar a localização da
fonte da magnetização (Milligan & Gunn., 1997; Nabighian et al., 2005). Tipicamente de intensidade
mais fraca, as anomalias geradas por sequências sedimentares como a Bacia do Paraná, são mascaradas
pelas maiores concentrações de minerais magnéticos do embasamento cristalino ígneo-metamórfico.
Porém em alguns casos podem ocorrer material magnético suficiente mesmo em camadas sedimentares.
Produzindo uma resposta contrária a normalidade (Gunn, 1997).
3.4.1 PRODUTOS MAGNETOMÉTRICOS
O campo magnético anômalo é o produto inicial tomado como referência em quase todos os
processos e transformações posteriores (Fig. 9A). Refere-se ao campo magnético total reduzido do
IGRF. Representa as anomalias geradas pela indução do campo magnético nas porções da crosta
terrestre acima da temperatura de Curie.
A primeira derivada vertical (Fig. 9C) pode ser expressa como o equivalente a medida do campo
magnético simultâneo em dois pontos verticalmente um acima do outro, subtraindo os dados e dividindo
o resultado pela separação espacial vertical dos pontos medidos (Milligan & Gunn, 1997). Esta
transformação realça as altas frequências, o que elimina os efeitos de grandes comprimentos de ondas
regionais.
Tilt derivative ou inclinação do sinal analítico (Fig. 9B), também conhecido como tilt de campo
potencial (Miller & Singh, 1994), é o arcotangente da razão da primeira derivada vertical (1DV) com o
módulo da derivada horizontal total – GHT (Fig. 9D). É usado para detectar a presença das fontes das
anomalias do campo potencial e fornecer a informação de sua extensão horizontal. Produz padrões
similares à primeira derivada vertical, porém tem uma característica única ao propor uma equalização
quanto as respostas das fontes mais profundas e mais rasas (Fig. 15).
���� = Tan !1DV
"#�
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Figura 9. (a) Mapa do Campo Magnético Anômalo (CMA), interpolado pelo método bi-direcional; (b) Inclinação do Sinal Analítico ou TILT Derivative (ISA/TILT); (c) Derivada vertical (1Dz); (d) Gradiente Horizontal.
Este processo aumenta o gradiente dos dados independente da amplitude, com isso realçando
dados de comprimentos de ondas mais longos, antes dominados pelos comprimentos de onda mais rasos.
Permite que as pequenas amplitudes das anomalias sejam discriminadas e fornece detalhes das zonas
magnéticas em quiescência e mais profundas. Particularmente é usual em mapeamentos de estruturas
crustais rasas (Stewart & Betts, 2009).
3.4.2 ANOMALIA BOUGUER
Assim como nos dados magnetométricos, o produto inicial dos dados gravimétricos gerados, o
mapa de anomalia Bouguer, foi feito por redução padrão dos dados e foi feita a interpolação para a
geração de grids, pelo método de interpolação bidirecional (Bhattacharyya, 1969). O mapa inicial obtido
apresentava um trend regional que foi retirado, para que o mapa de anomalia Bouguer residual fosse
gerado (Fig. 10).
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Figura 10. Mapa de anomalia Bouguer residual dos dados gravimétricos da região, com o trend regional removido.
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3.5 MATCHED FILTERING
Diversos métodos são utilizados para se obter informações de feições características em
subsuperfície referentes a dados de campo potencial, neste caso para a separação das anomalias de
acordo com a profundidade, foi utilizado matched filtering (Spector, 1968; Spector e Grant, 1970;
Syberg, 1972; Phillips, 2001). Trata-se de uma filtragem de separação passa-baixa aplicada à dados de
magnetometria. Realiza a separação de comprimentos de ondas curtos originadas de anomalias rasas
dos grandes comprimentos de ondas que geralmente são originadas de fontes mais profundas. Todavia
vale ressaltar que grandes comprimentos de ondas de procedência mais rasa não podem ser
discriminados (Phillips, 2001).
Este método fornece uma inferência quantitativa das anomalias referentes às fontes em multi-
camadas, fornecendo uma estimativa da profundidade das fontes para cada camada. Isso se deve ao fato
que o espectro de potência gerado destas anomalias depende da profundidade da fonte. Esta filtragem
fornece uma visão discrepante quanto a estruturação da área, os principais domínios e anomalias
relacionadas ao alcance da fonte magnética das mesmas, relativo aos diferentes comprimentos de onda.
Possui um grande potencial ao auxiliar interpretações de dados em bacias sedimentares, bem como, seu
embasamento.
A análise do Matched Filtering podem ser generalizada em três etapas:
1. O espectro de potência radial médio é computado do grid do campo magnético anômalo.
2. A forma do espectro é modelado às camada equivalentes, ajustados de acordo com as
profundidades das fontes. Em que camadas magnéticas rasas são modeladas como camadas dipolos e
camadas mais profundas como half space.
3. A amplitude e Wiener Filters são calculados para cada camada e aplicados a elas para
melhorar as anomalias nas profundidades de cada camada.
Cada camada de profundidade gerada corresponde a profundidade média máxima de uma
população estatística das fontes verdadeiras (Phillips, 2001). A Fig. 11 apresenta alguns dos produtos
gerados por esta filtragem, após a interpolação dos dados.
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Figura 11 Produtos obtidos por meio do método Matched Filtering; a) Campo magnético anômalo para 3.371 m; b) Inclinação do sinal analítico para 3.371 m; c) Campo magnético anômalo para 10.266 m; d) Inclinação do sinal analítico para 10.266 m; e) Campo magnético anômalo para 25.433 m; f) Inclinação do sinal analítico para 25.433 m.
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3.6 DECONVOLUÇÃO DE EULER
A deconvolução de Euler (Thompson, 1982) é um dos métodos mais usados de interpretação
automática de dados de campo potencial, principalmente quando há uma ampla cobertura destes dados.
É uma técnica para análise de perfis magnéticos baseado em relações de Euler para funções homogêneas.
A deconvolução de Euler propõe uma estimativa simultânea da magnetização e do volume das fontes
causadoras.
Seu objetivo é apresentar a posição horizontal e a profundidade destas fontes anômalas (Barbosa
& Silva, 2005). Para isso usa as derivadas de primeira ordem dx, dy e dz para determinar a localização
e profundidade de vários alvos idealizados (esférico, cilíndrico, dique e contato) cada um caracterizado
por um específico índice estrutural (Nabighian et al., 2005).
O método da deconvolução de Euler convencional (Reid et al., 1990; Thompson, 1982) pode
ser dado por:
($ − $&)'
'$�+ (( − (&)
'
'(� + () − )&)
'
')� = −*(+ − ,)
Onde, + são os dados de campo potencial original, x, y e z são as coordenadas observadas
conhecidas e x0, y0, e z0 são as coordenadas da fonte anômala desconhecida, B é o campo potencial de
fundo, e n é o índice estrutural, o qual delineia a natureza desta fonte anômala (Reid et al., 1990;
Stavrev,1997; Ma et al., 2014).
Todavia por ser um método automático e rápido de processamento e interpretação, geralmente
de uma grande quantidade de dados, possui muitas desvantagens, entre as principais podemos citar:
- A presença de grande quantidade de soluções erráticas e indesejáveis;
- O critério empírico e ineficiente de estimativa da fonte geológica.
Após o processamento das derivadas, foi possível quantificar a posição das fontes magnéticas
discriminadas pela deconvolução de Euler. O conjunto destas soluções configuraram padrões lineares
de direção principal NE-SW, auxiliando na caracterização magnética das principais descontinuidades
da área.
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CAPÍTULO 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
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Este capítulo tem como objetivo mostrar os resultados de uma análise qualitativa dos dados geofísicos.
Primeiramente pelos lineamentos interpretados pelos dados orbitais de modelos de elevação, após isso
mostramos a caracterização dos dados de métodos potenciais do levantamento geofísico utilizado para
este trabalho, bem como a utilização de uma filtragem combinada nestes dados (Matched Filtering),
para estimativas da estruturação da área em profundidade. Por fim apresentamos os dados geológicos
adquiridos em campo, com a atualização do mapa geológico ao qual propomos, bem como os dados
estruturais encontrados.
4.1. ANÁLISE DOS LINEAMENTOS
A área de estudo apresenta três patamares topográficos distintos, separados por
aproximadamente 1000 metros de elevação, em seu nível mais baixo (~80 metros) ocorre a bacia
cenozóica do Pantanal mato-grossense, a oeste. No setor intermediário (~350 metros) ocorrem as
unidades das supersequências iniciais da bacia, expostas por um grande ambiente erosivo, imposto pelas
bacias hidrográfica.s atuais dos rios que imprimem seu fluxo gravitacional convergindo ao nível mais
baixo. Em seu patamar mais alto (~1000 metros), a leste, ocorrem as rochas das supersequências mais
novas da bacia.
Com o intuito de se padronizar as estruturas identificadas nestes dados, fêz-se a extração
qualitativa de feições lineares (fig, 12A e B), impostas a morfologia superficial da bacia, onde se tem
um arranjo estatístico destas feições separadas em dois grupos distintos. Após a separação dos valores
azimutais das linhas, verificou-se que uma grande quantidade de feições possuem tendências direcionais
a NE e uma pequena quantidade a NW como mostrado no diagrama (Fig. 12C), ao todos foram extraídos
1395 lineamentos e distinguidos nestes dois conjuntos principais de direções.
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Figura 12. (a) Modelo digital de elevação da área de estudo em relevo sombreado; (b) mapa ds principais feições lineares extraídas de forma qualitativa; (c) Diagrama de roseta das azimutes extraídos da interpretação dos lineamentos topográficos, com um grupo maior de azimutes a NE (azul) e menor a NW (vermelho).
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4.2. CARACTERIZAÇÃO MAGNÉTICA
Através de uma análise qualitativa do campo magnético anômalo e suas transformações, a área de estudo
apresenta um padrão estrutural caracterizado por dois conjunos de lineamentos principais de acordo com a
extensão (Fig. 13 e 14).
O primeiro conjunto de lineamentos é composto por quatro grandes descontinuidades magnéticas: A)
Serra Negra; B) Alcinópolis; C) Pedro Gomes; D) Baliza (Fig. 13 e 14).
A primeira descontinuidade magnética (A) é correlata a descontinuidade de Serra Negra (Curto
et al. 2014) possui direção preferencial NE-SW, refletindo arranjo extensional paralelo à falhamentos
na região previamente estabelecidos em mapeamentos regionais. Ocorre em direção aproximada N30ºE
e é correlata ao trend principal do Lineamento Transbrasiliano e a Falha de Serra Negra. Nesta região
possui características de natureza extensional através de falhas normais e serve de parâmetro divisório
de dois domínios proterozóicos, a Faixa Paraguai e o Arco Magmático de Goiás.
A segunda descontinuidade magnética (B) possui direção aproximada N45ºE, é marcante nos
dados magnetométricos e não possui continuidade à norte onde sofre inflexão junto a descontinuidade
de Pedro Gomes, propomos o nome de Alcinópolis correlato ao município próximo.
A terceira descontinuidade magnética (C), transecta a porção central da área em direção
aproximada N65ºE, separa um possível alto estrutural de anomalia magnética do campo magnético
anômalo negativo do setor norte da área. Assim comoa descontinuidade Alcinópolis propomos o nome
de Pedro Gomes correlato ao município próximo
A quarta descontinuidade (D), correlata a descontinuidade magnética de Baliza (Curto et al.
2014), ocorre no extremo noroeste da área, possui uma relação com um sistema extensional que separa
a sequência cretácica da Formação Marília da Formação jurássica Botucatu. Possui direção preferencial
N60ºE e marca o limite noroeste de ocorrência do magmatismo Serra Geral.
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Figura 13. Mapa do Campo Magnético Anômalo (a) e o mesmo reduzido ao pólo (b) com as principais descontinuidades magnéticas propostas, A) Serra Negra; B) Alcinópolis; C) Pedro Gomes; D) Baliza. Bem como as descontinuidades secundárias paralelas e ortogonais.
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A segunda configuração pode ser dividida em dois sistemas menores devido a relação de sua
configuração direcional e subsequente correlação tectônica. Partindo da referência ao trend principal do
LTB na área, a primeira se caracteriza por ser correlatos ao Lineamento Transbrasiliano devido ao
paralelismo associado às principais descontinuidades descritas na configuração principal. Estes sistemas
subsidiários ocorrem devido a natureza tectônica da região quanto as reativações impostas pelo corredor
tectônico do LTB.
O segundo sistema possui caráter oblíquo. Ocorre num padrão preferencial N45ºW,
caracterizando um setor intermediário aos outros sistemas.
Um terceiro sistema de caráter ortogonal de natureza posterior, se caracterizando num último
estágio de reativação. Esta família por vezes transecta o trend principal e o segundo sistema, em alguns
casos há características de deslocamento das descontinuidades principais resultando em uma
deslocamento dos lineamentos numa fase posterior.
Correlações à sistemas rúpteis na bacia do Paraná em superfície são inevitáveis, possivelmente
um reflexo do arranjo crustal e reativações pós-devonianas a até cretácicas destes dois sistemas
descontínuos.
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Figura 14. Mapa da Inclinação do Sinal Analítico para o campo magnético anômalo (a) e a Inclinação do Sinal analítico do CMA reduzido ao pólo (b), com as principais descontinuidades magnéticas propostas, A) Serra Negra; B) Alcinópolis; C) Pedro Gomes; D) Baliza. Bem como as descontinuidades secundárias paralelas e as secundárias ortogonais.
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4.3 CARACTERIZAÇÃO GRAVIMÉTRICA
No mapa de anomalia Bouguer (Fig. 15) foram interpretados lineamentos que indicam
descontinuidades com feições similares àquelas identificadas nos dados magnetométricos. Foram
identificadas as descontinuidades de Baliza, Serra Negra que possuem direções preferenciais NE-SW,
assim como as descontinuidades ortogonais a estas, Pedro Gomes e Alcinópolis. Anomalias de alto valor
gravimétrico na porção oeste estão associadas a presença das granitogêneses da Faixa Paraguai
mapeadas na região, encaixado em um sistema sedimentar como o Grupo Cuiabá. No extremo noroeste
encontra-se o Granito Sonora, a oeste o Granito Coxim e no extremo sudoeste o Granito Rio Negro.
Figura 15. Mapa de anomalia Bouguer dos dados gravimétricos, com as principais descontinuidades gravimétricas identificadas.
4.4 MATCHED FILTERING
A simetria radial do espectro de potência dos dados deste estudo foi estabelecido (Fig 16A)
usando o modelo de equivalência de multi-camadas gerando duas camadas dipolo de equivalências rasas
e duas camadas half space de equivalências profundas (Fig 16B), a primeira camada gerada foi
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descartada, por apresentar equivalência de profundidade menor do que o levantamento barométrico ao
qual o levantamento foi feito, apresentando apenas ruído.
Figura 16 A) Espectro de potência simétrico radial dos dados (verde) e o modelo equivalente multi-camada do espectro gerado pela filtragem (vermelho). B) Os três filtros passa-banda gerados das respectivas camadas equivalentes (como enumerados).
Este método de filtragem passa-banda possui uma vantagem em relação a outros similares, pois
seu resultado nas separações das camadas equivalentes sempre gerará um espectro característico de
campo potencial. Pois o resultado desta filtragem gera uma média da profundidade das fontes gerando
um padrão horizontal. Portanto isto sempre possibilitará a geração de um novo grid de anomalia
magnética para cada camada, bem como a realização de suas respectivas filtragens e transformações
posteriores.
Com este levantamento regional com distâncias entre as linhas de vôo e altitude altas, este
método resultou em três novos dados de campo magnético total (CMA), a partir desta filtragem. Que
foram respectivamente: 3.171, 10.066 e 25.233 metros de profundidade.
Tabela 2. As três camadas equivalentes geradas. (0) camadas do tipo dipolo, (1) camadas do tipo
half space.
Camadas Profundidade (~)
(m)
Amplitude
(nT)
Tipo
1 3371 2955 0
2 10266 2,692 1
3 25433 6,502 1
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O produto mais raso (camada 1) mostrou um aspecto de alta frequência resultado da baixa
resolução do levantamento, indicando uma influência magnética geral de grandes comprimentos de onda
em altas profundidades, como mostrado nos produtos mais profundos (fig. 17a e 17b).
Na profundidade intermediária (camada 2) o padrão de arranjo das descontinuidades é
semelhante ao produto inicial sem o característico padrão de alta frequência na porção leste da área,
resultado da ausência do magmatismo Serra Geral (cretáceo) associad o à bacia do Paraná. Isto mostra
uma maior contribuição do embasamento na arquitetura estrutural das descontinuidades da região, ainda
com os domínios estruturais bem marcados (fig. 17c e 17d).
Assim como na porção intermediária (camada 3), os produtos resultantes de caráter mais
profundo (fig. 17), com anomalias de maiores comprimentos de onda, mostram ainda a característica
dos principais descontinuidades magnéticas marcadas nos produtos magnetométricos. Caracterizado
pelos sistemas de falhas extensionais e o forte padrão linear principal NE-SW do Lineamento
Transbrasiliano, indicando a continuidade destes lineamentos a níveis crustais(fig. 17e e 17f).
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Figura 17. Mapa dos lineamentos interpretados, com base nos diferentes níveis de profundidades do método matched filtering, corroborando com a continuidade tectônica vertical das estruturas da área. a) Campo magnético anômalo para 3.371 m; b) Inclinação do sinal analítico para 3.371 m; c) Campo magnético anômalo para 10.266 m; d) Inclinação do sinal analítico para 10.266 m; e) Campo magnético anômalo para 25.433 m; f) Inclinação do sinal analítico para 25.433 m.
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Figura 18. Produtos obtidos por meio do método Matched Filtering; Campo magnético anômalo (três camadas superiores) e Inclinação do sinal analítico (três camadas inferiores) para 3.371 m; 10.266 m; 25.433 m;
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4.5 DECONVOLUÇÃO DE EULER
A estimativa das fontes magnéticas pela deconvolução de Euler (Fig. 18) relaciona padrões de
estruturas lineares, corroborando com as principais descontinuidades, interpretadas nas figuras 13 e 14,
com direção NE-SW. A profundidade destas fontes foram estimadas em até 27 quilômetros (Fig. 19).
Figura 19. Mapa dos produtos de Campo Magnético Anômalo com as soluções das deconvolução de Euler sobrepondo-as, a) índice estrutural 0; b) índice estrutural 1.
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Figura 20. Blocos ilustrativos em três dimensões da deconvolução de Euler mostrando a nuvem de soluções dispersas em profundidades, com um limite máximo em aproximadamente 27 quilômetros.
4.6 ARCABOUÇO LITOLÓGICO
A partir da interpretação de imagens de satélite e checagem e coleta de dados geológicos e
estruturais em campo, foi possível produzir um mapa geológico na escala 1:250.000, a partir dos ajustes
feitos nas cartas geológicas de 1:1.000.000 dos estados de Mato Grosso (Lacerda Filho et al. 2004) e do
estado de Mato Grosso do Sul (Lacerda Filho et al. 2006), bem como o mapeamento 1:500.000 do estado
de Goiás (Lacerda Filho et. al 2000). O mapa geológico produzido está apresentado na figura 19 e os
perfis geológicos destacados na figura 20.
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Figura 21. Mapa geológico proposto para a área de estudo, após assimilação dos dados apresentados no trabalho. Com ostração dos perfis propostos (linha vermelha – perfil AB, linha azul – perfil CD).
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Figura 22 Perfis geológicos propostos, para exemplicar a estruturação da bacia para a região de estudo, uma característica extensional com configuração do tipo Horst em AB. Uma característica extensional com configuração do tipo hemi-gráben na borda oeste da Bacia em CD.
Dentre as unidades já reconhecidas em estudos precedentes identificamos na área de estudo (Fig.
20). As seguintes unidades geológicas:
O Granito coxim (Fig. 22A), ocorre na borda da serra, próximo ao município de Coxim-MS,
extremo oeste da Bacia do Paraná em contato posterior com a Formação Pantanal. Faz contato por falha
normal com a unidade basal da bacia, Formação Rio Ivaí (Fig. 21B). Unidades estas expostas pela calha
erosiva imposta pela bacia do Rio Taquari.
Figura 23 Unidades relacionadas à área de estudo da base para o topo, em a) Granito Coxim relacionado à granitogênese da Faixa Paraguai, b) arenito da Formação rio Ivaí.
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Arenitos esbranquiçados de composição quartzosa característicos da Formação Furnas (Fig.
23C), juntamente a Formação Ponta Grossa, ocorrem em configuração estratigráfica sobrepondo a
Formação Rio Ivaí, assim como os arenitos da Formação Aquidauna (Fig. 23D).
Figura 24 Unidades relacionadas à área de estudo em c) arenito esbranquiçado Formação Furnas, d) arenito da Formação Aquidauana.
Em um nível altimétrico mais elevado unidades geomorfológicas dos arenitos eólicos de
composição feldspática da Formação Botucatu (Fig. 24E), compõem a maior cobertura areal identificada
na região. Próximo ao Munícipio de Costa Rica-MS, na porção leste da área, exposto pela erosão
imposta pelo Rio Sucuriú, aflora os basaltos originários do magmatismo Serra Geral (Fig. 24F).
Figura 25. Unidades relacionadas à área de estudo, em e) Aspecto geomorfológico da Formação Botucatu, f) basalto da Formação Serra Geral.
4.7 CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL
Em estágio de trabalho para levantamento de dados em campo foi possível identificar as principais
unidades da seqüência estratigráfica da Bacia do Paraná previamente levantados por trabalhos de
mapeamento da CPRM. Sistemas rúpteis foram identificados relacionadas a direções correlatas às
descontinuidades caracterizadas nos produtos magnetométricos.
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Das unidades caracterizadas em campo as Formações Aquidauana de idade permiana, e as formações
Furnas e Ponta Grossa de idade devoniana apresentam um padrão de juntas mais antigo NE-SW que sofre
deslocamento por dois sistemas de juntas de caráter oblíquo e de cinemática dextral N-S e outra NW-SE
(Fig. 25A e 25B).
Figura 26 Aspectos macroscópicos das unidades da bacia do Paraná para a área: (A) arenito da Formação Furnas com juntas NNE-SSW, transpondo juntas NWW-SEE; (B) arenito da Formação Furnas onde um sistema de juntas inicial NE-SW foi transposta por juntas NW-SE e N-S em cinemática dextral.
A leste e mais especificamente sudeste da área encontra-se no município de Costa Rica – MS rochas
toleíticas pertencentes ao magmatismo Serra Geral, nesta unidade podemos correlacionar o sistema rúptil
oblíquo principal a uma zona de cisalhamento rúptil NW-SE com brechação (Fig. 26A, 26B e 26C), bem
como lineação de deslizamento sub-horizontal (Fig. 26D) de cinemática dextral.
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Figura 27 Aspectos macroscópicos das unidades do magmatismo Serra Geral em Costa Rica - MS: (A) e (B) aspectos da zona de cisalhamento NW oblíquo ao LTB; (C) em uma escala maior representação de sua deformação rúptil; (D) lineação de deslizamento subhorizontal, reflexo de um sistema de falha transcorrente.
No geral o conjunto de fraturas encontradas nas coberturas fanerozoicas da Bacia do Paraná na área de
estudo remete a dois sistemas oblíquos entre si NW-SE e NE-SW (Fig. 27a), que sofrem uma posterior
transposição por um sistema NWW-SEE, bem caracterizado nos basaltos Serra Geral. Estas
descontinuidades apresentam um padrão de deslocamentos de reativações pela área de estudo, como visto
em produtos de magnetometria, até mesmo em nível mais profundo.
Para a região central da área no alto estrutural de anomalia magnética dipolar, com a ausência de
correlações de certas sequências sedimentares e a limitação oeste e leste numa falha extensional. Leva-se a
crer que possivelmente não há raízes magnéticas nesta região pela ocorrência de um horst, o Horst de
Coxim.
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Figura 28. Diagramas de roseta para os principais conjuntos de fraturas da área, (A) conjunto principal NE-SW; (B) Conjunto que deloca o NW.
Das unidades caracterizadas em campo as Formações Aquidauana (Fig. 24D), Furnas (Fig. 23C) e
Ponta Grossa apresentam um padrão de juntas mais antigo NE-SW (Fig. 25) que sofre uma transposição por
dois sistemas de juntas de caráter oblíquo e de cinemática dextral uma N-S e outra NW-SE (Fig. 26).
A leste da área com evidências do magmatismo Serra Geral o mesmo aflora no município de Costa
Rica onde o sistema oblíquo principal se caracteriza em uma zona de cisalhamento rúptil NW-SE com intensa
brechação (Fig. 26C e D), bem como lineação de deslizamento sub-horizontal (Fig. 26D), em movimento
transcorrente com cinemática dextral.
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CAPÍTULO 5 CONSIDERAÇÕES E DISCUSSÕES
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Na profundidade intermediária o padrão de arranjo das descontinuidades é semelhante ao produto
inicial com uma marcante ausência da região com alta frequência na porção leste da área. Resultado da
ausência do magmatismo Serra Geral (cretáceo) associado à bacia do Paraná (Fig. 5a, 5c). Isto mostra uma
maior contribuição do embasamento na arquitetura estrutural das descontinuidades da região, ainda com os
domínios estruturais bem marcados.
As principais inferências dos dados magnetométricos acerca do embasamento sob a bacia do Paraná
e da estruturação crustal sob influência do Lineamento Transbrasiliano nesta região, possibilita a correlação
de descontinuidades numa direção NE-SW em um sistema de deslocamentos extensionais relacionados num
corredor de largura estimada em pelo menos 100 quilômetros de extensão e uma influência de fases rúpteis
oblíquas evidenciados nas sequências sedimentares da bacia do Paraná na superfície sob controle estrutural.
As raízes das fontes magnéticas evidenciadas nos padrões das anomalias da região chegam a 25
quilômetros de profundidade em filtragens quantitativas (Matched Filtering), indidcando que as
descontinuidades se estendem a níveis crustais. Isso é notável para as descontinuidades paralelas,
subparalelas , oblíquas e o corredor principal do Lineamento Transbrasiliano.
O padrão de alta frequência nas porções leste e sudeste (fig. 9), são causadas pela ocorrência do
magmatismo Serra Geral, ausente na região central da área. A ausência desta assinatura e do magmatismo
possivelmente está associada ao soerguimento da porção da bacia no Domínio Coxim, característico de um
horst, com posterior erosão das sequências superiores (fig. 22 – Perfil AB). Na porção basal da bacia à oeste,
o deslocamento topográfico e de contato estratigráfico é basculado por sistemas de falhas normais num
padrão de regime extensional do tipo hemi-gráben (fig. 22 – Perfil CD).
Do ponto de vista estrutural, os dados geológicos e geofísicos atestam a existência de uma tectônica
ruptil extensional, com direção geral N40-50E, responsável pela implantação de um horst, designado neste
trabalho como horst de Coxim (fig. 22). Define-se também um conjunto de blocos abatidos, controlados por
falhas normais/extensionais com direção preferencial N10-20E, responsáveis pela implantação de uma
provável estrutura de hemi-graben na borda NW da bacia do Paraná.
Sugere-se para trabalhos posteriores análises nas rochas sedimentares da bacia sob uma ótica
cronológica e cinemática, tanto com o auxílio da geologia isotópica, microtectônica em análises
petrográficas, quanto termocronologia por traço de fissão, com o intuito de sanar as dúvidas acerca das
reativações da área para esta região central do lineamento Transbrasiliano coberta por uma extensa bacia
sedimentar.
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CAPÍTULO 6 REFERÊNCIAS
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ANEXO I ARTIGO SUBMETIDO AO BRAZILIAN JOURNAL OF GEOLOGY
Campos, F. A. P. 2015. Evidências do Lineamento Transbrasiliano na Região Nordeste de Mato Grosso do Sul: Aspectos Lito-Estruturais e Aerogeofísicos (Magnetometria e Gravimetria)
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EVIDÊNCIAS DO LINEAMENTO TRANSBRASILIANO NA REGIÃO NORDESTE DE MATO GROSSO DO SUL: ASPECTOS LITO-ESTRUTURAIS E AEROGEOFÍSICOS
(MAGNETOMETRIA E GRAVIMETRIA)
FRANCISCO ABEL POMPEU DE CAMPOS (1,3), AMARILDO SALINA RUIZ (2,3), ROBERTA MARY VIDOTTI (4) REINHARDT ADOLFO FUCK (5)
(1) Programa de Pós-Graduação em Geociências, Instituto de Ciências Exatas e da Terra – (ICET),
Universidade Federal de Mato Grosso – (UFMT) – Avenida Fernando Corrêa da Costa, s/n, Bairro
Coxipó. CEP: 78060-900. Cuiabá-MT, Brasil. e-mail: [email protected];
(2) Departamento de Geologia Geral, ICET, UFMT. e-mail: [email protected];
(3) Grupo de Pesquisa em Evolução Crustal e Tectônica – Guaporé;
(4) Instituto de Geociências da Universidade de Brasília – IG/UnB. e-mail: [email protected]
(5) Instituto de Geociências da Universidade de Brasília – IG/UnB. e-mail: [email protected]
RESUMO: O Lineamento Transbrasiliano é a mais importante zona de falha de escala continental
reconhecida no Brasil, transecta a plataforma sul-americana em uma direção NE-SW, influenciando nas
diversas compartimentações desta plataforma desde o brasiliano, entre elas relaciona-se a evolução e
estruturação da bacia do Paraná. Há pelo menos três reativações reconhecidas desde o Devoniano, a última
relacionada a abertura do Atlântico Sul no Cretáceo com geração do magmatismo Serra Geral associado à
Bacia do Paraná. Interpretações qualitativas de lineamentos magnéticos, sugerem descontinuidades magnéticas
relacionadas ao trend principal do Lineamento Transbrasiliano sob a Bacia do Paraná na Região nordeste do
estado de Mato Grosso do Sul. Os resultados da aplicação de filtragem combinada - Matched Filtering indica
três níveis magnetométricos com suas respectivas profundidades, onde sua continuidade vertical chega a pelo
menos 25 quilômetros. Domínios de alta frequência podem ser relacionados ao magmatismo no nível mais
raso desta filtragem na porção leste da área de estudos, não havendo indicação da presença do mesmo na
porção central e oeste da área. Associa-se a ausência do magmatismo Serra Geral nesta região a falhamentos
de natureza extensional característico de um padrão do tipo horst, com posterior caráter erosivo recorrente às
atividades hidrográficas. Um sistema oblíquo intersecta as descontinuidades principais deslocando-os num
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rearranjo estrutural dos blocos evidenciados nos dados geofísicos e em controle de campo, com sistemas de
juntas impostas ao magmatismo de idade cretácea.
ABSTRACT: The Transbrasiliano Lineament is the most important continental scale fault zone
recognized in Brazil, crosscuts the South American platform in a NE-SW direction, influencing several
domains in this platform since the brasiliano, including the Paraná Basin development and structuring. There
are at least three reactivations recognized since the Devonian, the latter related to the opening of the South
Atlantic in Cretaceous with generation of the Serra Geral magmatism associated with the Paraná Basin.
Qualitative interpretations of magnetic lineaments suggest magnetic discontinuity related to the main trend of
the Transbrasiliano Lineament concealed by Paraná Basin in the northeastern of Mato Grosso do Sul state. The
results of the Matched Filtering application shows three magnetometric levels with their respective depths
where its vertical continuity reaches at least 25 km. High-frequency fields can be related to the magmatism in
the shallow level of this filtering in the eastern portion of the study area, with no indication of the presence in
the central and western portion of the area. Is associated with absence of the Serra Geral magmatism in this
region faults characteristic of extensional nature in a standard horst type, with subsequent recurring erosive
character of river activities. An oblique system intersects the main discontinuities moving them in a structural
rearrangement of the blocks evidenced in the geophysical data and field control, with joints imposed on
magmatism with cretaceous age.
1. INTRODUÇÃO
A maioria dos sistemas tipo “strike-slip” em escala intracontinental se estendem
direcionalmente por centenas ou milhares de quilômetros, e dezenas de quilômetros de amplitude lateral.
São adjacentes à cinturões orogênicos e a relativas regiões de raízes crustais intensas, tais como litosferas
oceânicas e escudos pré-cambrianos. (Molnar e Dayem, 2010; Pirajno 2010; Yao et al. 2013).
O Lineamento Transbrasiliano (Fig. 1) é a mais proeminente zona de falha de escala continental
reconhecida no Brasil (Schobbenhaus et al. 1975, Milani e Zalán 1999, Feng et al., 2004), representa
uma mega-sutura que atuou na formação do supercontinente Gondwana, entre o final do Proterozóico e
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início do Paleozoico (Cordani & Sato, 1999; Almeida et al., 2000). É considerado como feição
desenvolvida no Neoproterozoico, tendo sofrido eventos de reativação durante o Fanerozoico. Seu
sistema geométrico principal foi desenvolvido no Neoproterozoico com pelo menos três reativações no
Fanerozoico (Curto et al. 2014).
O Lineamento Transbrasiliano (LTB), transecta a plataforma sul-americana apresentando um
traçado preferencial que se estende do nordeste do Ceará, através da Bacia do Parnaíba, Província
Tocantins e Bacia do Paraná, terminando em território brasileiro na fronteira norte do Paraguai,
marcando uma característica direção NE-SW.
Seu papel na configuração central da Plataforma Brasileira é ímpar, não só pela sua magnitude
em si, mas especificamente pela participação na estruturação das Províncias Tocantins e Borborema,
além das reativações refletidas no desenvolvimento e evolução das bacias fanerozoicas. Seu
comportamento e reflexos foram explanados em diversos trabalhos desde então, todavia sua origem e
evolução não são inteiramente compreendidas. Para tanto justifica a realização de estudos com o auxílio
de diversas sistematizações de cunho regional, entre elas análises de dados aerogeofísicos para a
realização de um modelo magnetométrico do setor centro-norte da Bacia do Paraná, correlacionados a
um controle estrutural dos reflexos superficiais impostas pelos regimes deformacionais direto ou
indiretamente ligados ao LTB nesta região.
A interpretação de dados desta natureza somados à métodos de filtragens (matched filtering e
deconvolução de Euler) impulsiona pesquisas acerca das descontinuidades tectônicas à níveis crustais,
neste caso ocultadas pela Bacia do Paraná, no segmento central do LTB, bem como possibilita a análise
e correlação da geometria e encaixe cinemático dos blocos crustais pertencente aos estágios iniciais da
formação do Supercontinente Gondwana, neste contexto específico, o Lineamento Transbrasiliano.
2. CONTEXTO GEOLÓGICO
A área de estudo deste trabalho situa-se na porção noroeste da Bacia do Paraná na região de
Coxim-MS e compreende também um embasamento metassedimentar do Grupo Cuiabá e do granito
Coxim, ambos da Zona Interna da Faixa Paraguai. Com o propósito de situar a área estudada no contexto
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geologico-tectônico regional, será apresentado a seguir uma breve sumário sobre a Faixa Paraguai, o
Lineamento Transbrasiliano e a Bacia do Paraná.
Figura 1 – Ilustração da plataforma sulamericana com as bacias fanerozoicas influenciadas pelo lineamento transbrasiliano (traçado em vermelho). Poligonização das bacias do banco de dados vetoriais da carta do Brasil ao milionésimo disponibilizado pelo sítio eletrônico Geobank da CPRM.
2.1 FAIXA PARAGUAI
Circundando a margem sudeste do Cráton Amazônico, a Faixa de Dobramentos Paraguai, é
caracterizada por um sistema deposicional de fácies marinha relacionada a uma bacia de plataforma
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continental, reestruturada pela inversão e colisão dos blocos Paranapanema e amazônico. Grande parte
de sua porção está encoberto pelas bacias do Pantanal, Paraná e Parecis, possui uma transição de um
trend estrutural N-S em sua porção sul desde a Serra da Bodoquena no estado de Mato Grosso do Sul,
para um trend E-W na região da Baixada Cuiabana e Nova Xavantina em Mato Grosso.
A Faixa Paraguai apresenta rochas sedimentares dobradas e metamorfizadas, que em direção ao
Cráton Amazônico passa progressivamente para sequências sedimentares com deformação rúptil, mas
sem metamorfismo. Com isso o Cinturão foi estruturado em três zonas por Almeida e Hasui (1984), e
renomeadas por Alvarenga & Trompette (1993) de Zona Estrutural Interna Metamórfica com Intrusões
Graníticas, Zona Estrutural Externa Dobrada com pouco ou sem Metamorfismo e Cobertura Sedimentar
de Plataforma.
A Faixa Paraguai apresenta rochas sedimentares dobradas e metamorfizadas, que em direção ao
Cráton Amazônico passa progressivamente para sequências sedimentares com deformação rúptil, mas
sem metamorfismo. Com isso o Cinturão foi estruturado em três zonas por Almeida (1984), e
renomeadas por Alvarenga & Trompette (1993) de Zona Estrutural Interna Metamórfica com Intrusões
Graníticas, Zona Estrutural Externa Dobrada com pouco ou sem Metamorfismo e Cobertura Sedimentar
de Plataforma.
A Zona Estrutural Interna é caracterizada pelo dobramento isoclinal, metamorfismo de baixo
grau e intrusões graníticas pós-orogenéticas, por falhamento reverso a Zona Interna passa a Zona
Estrutural Externa que se caracteriza por conter dobramentos abertos com falhamento reverso associado
com metamorfismo anquizonal ou inexistente. A Cobertura Sedimentar de Plataforma é caracterizada
por suaves ondulações, metamorfismo inexistente e tectônica rúptil não penetrativa (Alvarenga &
Trompette, 1993).
Relacionado à evolução da Faixa de Dobramentos Paraguai ocorre no limite sudeste do Cráton
Amazônico a Província Granitoide Neoproterozoica Mato-grossense. Província esta constituída até
então por sete corpos ígneos distintos em dois eventos magmáticos intrusivos em rochas do Grupo
Cuiabá, caracterizadas como suíte magmática sul e suíte magmática norte (Godoy et al. 2010).
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No estado de Mato Grosso do Sul, a suíte magmática sul, mais antiga, se apresenta na forma de
intrusões fissurais alinhadas em direção preferencial NNE-SSW. São granitoides gerados em ambientes
sin-colisional de arco continental, onde a porção setentrional é composta pelos granitos Coxim e Sonora
e a porção meridional composta pelos granito Rio Negro e Taboco. Estes Granitoides ocorrem
sotopostos às formações basais da Bacia do Paraná em sua porção oeste aflorando junto aos
metassedimentos do Grupo Cuiabá na base da Bacia alinhadas e alongadas seguindo uma direção NNE-
SSW.
Figura 2 – Mapa geológico compilado mostrando o domínio da Faixa de Dobramentos Paraguai, bem como a granitogênese associada.
LTB
LTB
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2.2 BLOCO PARANAPANEMA
O bloco litosférico Paranapanema (Quintas, 1995; Mantovani e Brito Neves, 2005), é um bloco
crustal sobreposto e totalmente ocultado pela Bacia do Paraná, inferido por dados gravimétricos, possui
separação dos crátons Rio de la Plata e Luis Alves com cerca de 300.000 km². Idades paleoproterozoicas
obtidas através dos escassos dados de amostragens de furo de sondagense modelos TDM dos derrames
basálticos da Bacia do Paraná são atribuídas às rochas deste bloco (Cordani et al. 1984; Mantovani e
Brito Neves, 2005).
2.3 LINEAMENTO TRANBRASILIANO
O Lineamento Transbrasiliano - LTB (Schobbenhaus et al. 1975), transecta a plataforma sul-
americana, representando um sistema deformacional de falhas dúcteis-rúpteis. Apresenta um traçado
preferencial com uma característica direção NE-SW, que se estende do norte do Paraguai, através da
Bacia do Paraná, da Província Tocantins, Bacia do Parnaíba, rifte Jaibaras e culmina na plataforma
continental submersa do continente. Sua feição paleogeográfica contínua é bem reconhecida no
continente africano, no contexto da aglutinação do Gondwana Ocidental, pelo Lineamento Hoggar
4°50’- Kandi (Caby et al., 1981; Caby, 1989, Cordani et al., 2003). Juntos podem chegar a 9000
quilômetros de extensão nun dos maiores exemplos intracontinentais de deformação da Terra (Fairhead
e Maus 2003).
Na plataforma sulamericana inicia-se em Sobral-CE na zona de cisalhamento Sobral-Pedro II.
Em seu setor meridional o LTB separa na porção norte da Bacia do Paraná, a Faixa Paraguai a oeste do
arco magmético de Goiás ou Bloco Paranapanema a leste (Cordani et al. 1984). Delimitado por meio de
modelagem de ondas S, em seu setor sudoeste, caracteriza-se uma curvatura na direção oeste abrangendo
o sudeste da Faixa Paraguai e sul da Bacia do Pantanal (Feng et al. 2004). Posterior em sua continuidade
sul em território brasileiro, situa-se no contato leste do Bloco Rio Apa (Cordani et al. 2009).
O LTB está relacionado a processos tectônicos de colisão de blocos crustais relacionados ao
fechamento do domínio oceânico Pampeano-Goiás-Pharusiano, culminando no supercontinente
Gondwana (Cordani et al. 2009). Separa dois grandes domínios na plataforma sulamericana junto ao
Lineamento Araguaia mais a norte. Domínio Amazônico a oeste (pré-toniano) e o domínio Brasiliano a
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leste, por ser caracterizado por terrenos afetados pela Orogenia Brasiliana (Brito Neves e Fuck, 2013,
2014).
A reativação cenozoica é observada pela atividade sísmica e formação de platôs morfológicos,
com geração de leques aluviais associados aos sistemas fluviais de bacias recentes, como a Bacia do
Pantanal, cuja deposição é associada a movimentos tectônicos associados ao soerguimento dos Andes e
reativação do LTB (Assine e Soares, 2004).
Os dados disponíveis indicam que o LTB passou por pelo menos três momentos de reativações
no fanerozoico, duas bacias do tipo pull-apart, a de Jaibaras no estado do Ceará no Cambro-Ordoviciano
(de Oliveira, 2001) e a de Água Bonita no Tocantins no Siluro-Devoniano (Carvalho et al., 2012). O
terceiro episódio ocorre com a abertura do oceano atlântico no Cretáceo, marcado por falhas normais e
causando deslocamentos no flanco norte da Bacia do Paraná (Alvarenga et al., 1998).
No setor noroeste da Bacia do Paraná o LTB não possui caráter direcional único. ramificações
estruturais ocorrem no noroeste da Bacia do Paraná. A orientação primária do lineamento é N30°E,
atribuída ao lineamento Serra Negra. Curto (2015) caracteriza o lineamento Serra Negra como o
componente magnético regional mais evidente do Lineamento Transbrasiliano no noroeste da Bacia
do Paraná, separando dois blocos crustais principais, com características magnéticas ou
gravimétricas distintas.
Curto et al. (2014) caracterizam descontinuidades condizentes direcionalmente com o esforço
regional causado pela convergência entre os blocos Paranapanema a sudeste e Amazônico a noroeste.
Descontinuidades estas nomeadas de Baliza (N60ºE) e General Carneiro (N70ºE), consistindo com o
padrão direcional da Faixa Paraguai para a região. A modelagem do relevo do embasamento sugere
disposição de horsts e meio-grábens, alinhados a NS, N30°E e N60°-70°E, resultantes da reativação
de estruturas do Lineamento Transbrasiliano.
2.4 BACIA DO PARANÁ A Bacia do Paraná é um amplo sistema sedimentar do continente sul-americano com área
aproximada de 1,5 X 106 km2 que se estende pelo Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai. Seu contorno
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atual se define pelos limites erosivos relacionados à história tectônica mesocenozóica do continente
(Milani, 2003).
O flanco leste da bacia compreende o trecho entre o sudeste brasileiro e o Uruguai, intensamente
modelado por erosão, resposta ao soerguimento crustal associado ao rifte do Atlântico sul (Milani,
2003). Já o flanco ocidental é definido por uma feição estrutural positiva orientada a norte-sul, um amplo
bulge flexural relacionado à sobrecarga litosférica imposta ao continente pelo cinturão orogênico andino
(Shiraiwa, 1994). Sobre o bulge inserem-se a região do Pantanal Mato-Grossense e o Arco de Asunción.
Para sul-sudoeste, a bacia prolonga-se ao Uruguai e Argentina, enquanto a borda norte-nordeste parece
representar um limite deposicional original, o que é sugerido pela natureza persistentemente arenosa das
diferentes unidades sedimentares da bacia naquele domínio (Milani, 2003).
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Figura 3 – Mapa geológico compilado das sequências cronoestratigráficas da Bacia do Paraná. Elaborado a partir do banco de dados vetoriais de escala 1. 1.000.000 do Brasil do Serviço Geológico do Brasil – Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais – CPRM.
De acordo com a estratigrafia de sequências de Milani (1997), quanto à ocorrência geológica
desta área, há as sequências: Rio Ivaí (Neo-ordoviciano – Siluriano), representado pelo Grupo Rio Ivaí.
Sequência Paraná (Devoniano), Formação Furnas e Ponta Grossa, uma pequena ocorrência central da
Sequência Gondwana I (Neocarbonífero – Eotriássico), da Formação Palermo. Sequência Gondwana III
(Neojurássico – Eocretáceo), da Formação Botucatu. Pelo magmatismo Serra Geral, Grupo São Bento
e Sequência Bauru (Eo-Neocretáceo), Grupo Caiuá.
3. METODOLOGIA
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Para este estudo foram utilizados os dados do aerolevantamento gravimétrico e magnetométrico
da Bacia do Paraná (fig. 3) realizado nos anos de 2009 e 2010 pela Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis – ANP com linhas de voo e controle espaçadas de 6.000 e 18.000 metros
respectivamente e altitude de voo fixada em 1800 metros. Após a restringir os dados do levantamento
magnetométrico aos limites da área de estudo, realizou-se a interpolação dos dados do Campo
Magnético anômalo pelo método bi-direcional com célula de 1500 m a partir o qual foram gerados
produtos geofísicos.
Figura 4. Mapa com a área coberta pelo levantamento áreo (vermelho), bem como a área de estudo (verde).
3.1 MATCHED FILTERING
Diversos métodos são utilizados para se obter informações de feições características em
subsuperfície referentes a dados de campo potencial, neste caso para uma separação aproximada das
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anomalias de acordo com a profundidade, foi utilizado matched filtering (Spector, 1968; Syberg, 1972;
Phillips, 2001), uma filtragem de separação passa-baixa aplicada à dados de magnetometria. Fornece
uma abordagem mais usual para separação de comprimento de ondas curtas originadas de anomalias
rasas dos grandes comprimento de ondas que geralmente são originadas por maiores profundidades.
Todavia vale ressaltar que grandes comprimento de ondas de procedência mais rasa não dá para ser
discriminada (Phillips, 2001).
Este método fornece uma inferência quantitativa das anomalias referentes às fontes em multi-
camadas, fornecendo uma estimativa da profundidade das fontes para cada camada. Isso se deve ao fato
que o espectro de potência gerado destas anomalias depende da profundidade da fonte. Esta filtragem
fornece uma visão discrepante quanto a estruturação da área, os principais domínios e anomalias
relacionadas ao alcance da fonte magnética das mesmas, relativo aos diferentes comprimentos de onda.
Possui um grande potencial ao auxiliar interpretações de dados em bacias sedimentares, bem como, seu
embasamento.
4. RESULTADOS
4.1 CARACTERIZAÇÃO TOPOGRÁFICA DA BACIA DO PARANÁ NA ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo apresenta três patamares topográficos distintos, separados por
aproximadamente 1000 metros de altitude, em seu nível mais baixo (~80 metros) ocorre a bacia
cenozóica do Pantanal mato-grossense, a oeste. No setor intermediário (~350 metros) ocorre as unidades
das supersequências iniciais da bacia, expostas por um grande ambiente erosivo, imposto pelas bacias
hidrográficas atuais dos rios que imprimem seu fluxo gravitacional convergindo ao nível mais baixo.
Em seu patamar mais alto (~1000 metros), a leste, ocorre as rochas das supersequências mais novas da
bacia.
Com o intuito de se pradonizar as estruturas identificadas nestes dados, fêz-se a extração
qualitativa de feições lineares, impostas a morfologia superficial da bacia, onde se tem um arranjo
estatístico destas feições separadas em dois grupos distintos. Após a separação dos valores azimutais
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das linhas (1395 no total), verificou-se que uma grande quantidade de feições possuem tendências
direcionais a NE e uma pequena quantidade a NW (Figura 5 e 6).
Figura 5. a) Modelo digital de elevação da área de estudo em relevo sombreado; (b) mapa ds principais feições lineares extraídas de forma qualitativa; (c) Diagrama de roseta das azimutes extraídos da interpretação dos lineamentos topográficos, com um grupo maior de azimutes a NE (azul) e menor a NW (vermelho).
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Figura 6. Diagrama de roseta exibindo a tendência estatística das feições lineares extraídas da Bacia do Paraná na área de estudo.
4.2 CARACTERIZAÇÃO MAGNÉTICA
Através de uma análise qualitativa dos produtos magnetométricos de intensidade total e suas
respectivas transformações, a área de estudo apresenta um padrão de arranjo geométrico suportados por
duas configurações dinâmicas lineares principais estabelecidas de acordo com a magnitude e extensão
das anomalias (Fig. 7):
Configuração Principal
Através de uma análise qualitativa do campo magnético anômalo e suas transformações, a área de estudo
apresenta um padrão estrutural caracterizado por dois conjunos de lineamentos principais de acordo com a
extensão (Fig. 13 e 14).
O primeiro conjunto de lineamentos é composto por quatro grandes descontinuidades magnéticas: A)
Serra Negra; B) Alcinópolis; C) Pedro Gomes; D) Baliza (Fig. 13 e 14).
A primeira descontinuidade magnética (A) é correlata a descontinuidade de Serra Negra (Curto
et al. 2014) possui direção preferencial NE-SW, refletindo arranjo extensional paralelo à falhamentos
na região previamente estabelecidos em mapeamentos regionais. Ocorre em direção aproximada N30ºE
e é correlata ao trend principal do Lineamento Transbrasiliano e a Falha de Serra Negra. Nesta região
possui características de natureza extensional através de falhas normais e serve de parâmetro divisório
de dois domínios proterozóicos, a Faixa Paraguai e o Arco Magmático de Goiás.
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Figura 7 – Mapas de campo magnético anômalo – CMA (cima) e sua correspondente reduzida ao polo
(baixo), com a interpretação qualitativa de suas principais descontinuidades magnéticas.
A segunda descontinuidade magnética (B) possui direção aproximada N45ºE, é marcante nos
dados magnetométricos e não possui continuidade à norte onde sofre inflexão junto a descontinuidade
de Pedro Gomes, propomos o nome de Alcinópolis correlato ao município próximo.
A terceira descontinuidade magnética (C), transecta a porção central da área em direção
aproximada N65ºE, separa um possível alto estrutural de anomalia magnética do campo magnético
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anômalo negativo do setor norte da área. Assim comoa descontinuidade Alcinópolis propomos o nome
de Pedro Gomes correlato ao município próximo
A quarta descontinuidade (D), correlata a descontinuidade magnética de Baliza (Curto et al.
2014), ocorre no extremo noroeste da área, possui uma relação com um sistema extensional que separa
a sequência cretácica da Formação Marília da Formação jurássica Botucatu. Possui direção preferencial
N60ºE e marca o limite noroeste de ocorrência do magmatismo Serra Geral.
Configuração Secundária
A segunda configuração pode ser dividida em dois sistemas menores devido a relação de sua
configuração direcional e subsequente correlação tectônica. Partindo da referência ao trend principal do
LTB na área, a primeira se caracteriza por ser correlatos ao Lineamento Transbrasiliano devido ao
paralelismo associado às principais descontinuidades descritas na configuração principal. Estes sistemas
subsidiários ocorrem devido a natureza tectônica da região quanto as reativações impostas pelo corredor
tectônico do LTB.
O segundo sistema possui caráter oblíquo. Ocorre num padrão preferencial N45ºW,
caracterizando um setor intermediário aos outros sistemas.
Um terceiro sistema de caráter ortogonal de natureza posterior, se caracterizando num último
estágio de reativação. Esta família por vezes transecta o trend principal e o segundo sistema, em alguns
casos há características de deslocamento das descontinuidades principais resultando em uma
deslocamento dos lineamentos numa fase posterior.
Correlações à sistemas rúpteis na bacia do Paraná em superfície são inevitáveis, possivelmente
um reflexo do arranjo crustal e reativações pós-devonianas a até cretácicas destes dois sistemas
descontínuos.
4.3 MATCHED FILTERING
A simetria radial do espectro de potência dos dados (Fig. 6A) deste estudo foram estabelecidos
usando o modelo de equivalência de multi-camadas gerando duas camadas dipolo de equivalências rasas
e duas camadas half space de equivalências profundas (Fig. 6B).
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Figura 8. A) Espectro de potência simétrico radial dos dados (verde) e o modelo equivalente multi-camada do espectro gerado pela filtragem (vermelho). B) Os quatro filtros passa-banda gerados das respectivas camadas equivalentes (como enumerados).
Este método de filtragem passa-banda possui uma vantagem em relação a outros, pois seu
resultado nas separações das camadas equivalentes sempre gerará um espectro característico de campo
potencial. Pois o resultado desta filtragem gera uma média da profundidade das fontes gerando um
padrão horizontal. Portanto isto sempre possibilitará a geração de um novo grid de anomalia magnética
para cada camada, bem como a realização de suas respectivas filtragens e transformações posteriores.
Com este levantamento regional com distâncias entre as linhas de vôo e altitude altas, este
método resultou em quatro novos dados de campo magnético total (CMA) de 899, 5.171, 12.066 e
27.233 metros de profundidade como mostra a tabela abaixo.
Tabela 1. As quatro camadas equivalentes geradas. (0) camadas do tipo dipolo, (1)
camadas do tipo half space.
Camadas Profundidade
(~)
Amplitude Tipo
1 3371 m. 2955. 0
2 10266 m. 2.692 1
3 25433 m. 6.502 1
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O produto mais raso mostrou um aspecto de alta interferência e baixa qualidade e alta
interferência resultado da baixa resolução do levantamento, indicando uma influência magnética geral
de grandes comprimentos de onda em altas profundidades, como mostrado nos produtos mais profundos
(Fig. 7).
Na profundidade intermediária o padrão de arranjo das descontinuidades é semelhante ao
produto inicial com uma marcante ausência da característica interferência na porção leste da área,
resultado da ausência do magmatismo Serra Geral (cretáceo) associado à bacia do Paraná (Fig. 5a, 5c).
Isto mostra uma maior contribuição do embasamento na arquitetura estrutural das descontinuidades da
região, ainda com os domínios estruturais bem marcados.
Assim como na porção intermediária, os produtos resultantes em caráter mais profundo (Fig.
5b, 5d) inferidos pelos maiores comprimentos de onda mostra ainda a característica dos principais
domínios os sistemas extensionais e o forte padrão linear principal NE-SW característico do Lineamento
Transbrasiliano.
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Figura 9. Produtos resultantes do processamento para interpolação dos dados do levantamento magnético para a região de estudo, com a aplicação do método de filtragem Matched Filtering: A, C e E) Campo Magnético Anômalo – CMA para as respectivas profundidades: 3371 m. 10266 m. e 25433m.; B, D e F)
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4.3 CARACTERIZAÇÃO GRAVIMÉTRICA
Os dados de gravimetria mostrados em mapa de anomalia Bouguer (Fig. 10), indica as
descontinuidades indentidficadas nas configurações caracterizadas anteriormente dos dados
magnetométricos. Foi identificada as descontinuidades de Baliza, Serra Negra que possuem direções
preferencial NE-SW, assim como as descontinuidades ortogonais a estas. Anomalias de alto valor
gravimétrico na porção oeste, está assimilada a presença das granitogêneses da Faixa Paraguai mapeadas
na região, encaixado em um sistema sedimentar como o Grupo Cuiabá. No extremo noroeste encontra-
se o Granito Sonora, a oeste o Granito Coxim e no extremo sudoeste o Granito Rio Negro.
Figura 10. Mapa de anomalia Bouguer dos dados gravimétricos, com as principais descontinuidades gravimétricas identificadas.
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4.4 ARCABOUÇO GEOLÓGICO
A partir da interpretação de imagens de satélite e checagem e coleta de dados geológicos e
estruturais em campo, foi possível produzir um mapa geológico na escala 1:250.000, a partir dos ajustes
feitos nas cartas geológicas de 1:1.000.000 dos estados de Mato Grosso (Lacerda Filho et al. 2006a) e do
estado de Mato Grosso do Sul (Lacerda Filho et al. 2006b), bem como o mapeamento 1:500.000 do
estado de Goiás (Lacerda Filho et. al 2000). O mapa geológico produzido está apresentado na figura 11
e os perfis geológicos destacados na figura 12.
Figura 11. Mapa geológico proposto para a área de estudo, após assimilação dos dados apresentados no trabalho.
Com ostração dos perfis propostos (linha vermelha – perfil AB, linha azul – perfil CD).
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Figura 12. Perfis geológicos propostos, para exemplicar a estruturação da bacia para a região de estudo, uma característica extensional com configuração do tipo Horst em AB. Uma característica extensional com configuração do tipo hemi-gráben na borda oeste da Bacia em CD.
Dentre as unidades já reconhecidas em estudos precedentes identificamos na área de estudo (Fig.
11). As seguintes unidades geológicas:
O granito coxim (Fig. 13A), ocorre na borda da serra, próximo ao município de Coxim-MS,
extremo oeste da Bacia do Paraná em contato posterior com a Formação Pantanal. Faz contato por falha
normal com a unidade basal da bacia, Formação Rio Ivaí (Fig. 13B). Unidades estas expostas pela calha
erosiva imposta pela bacia do Rio Taquari.
Figura 13 - Unidades relacionadas à área de estudo da base para o topo, em a) Granito Coxim relacionado à granitogênese da Faixa Paraguai, b) arenito da Formação rio Ivaí.
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Arenitos esbranquiçados de composição quartzosa característicos da Formação Furnas (Fig.
14C), juntamente a Formação Ponta Grossa, ocorrem em configuração estratigráfica sobrepondo a
Formação Rio Ivaí, assim como os arenitos da Formação Aquidauna (Fig. 14D).
Figura 14 - Unidades relacionadas à área de estudo em c) arenito esbranquiçado Formação Furnas, d) arenito da Formação Aquidauana.
Em um nível altimétrico mais elevado unidades geomorfológicas dos arenitos eólicos de composição
feldspática da Formação Botucatu (Fig. 15E), compõem a maior cobertura areal identificada na região.
Próximo ao Munícipio de Costa Rica-MS, na porção leste da área, exposto pela erosão imposta pelo Rio
Sucuriú, aflora os basaltos originários do magmatismo Serra Geral (Fig. 15F).
Figura 15 - Unidades relacionadas à área de estudo, em e) microunidade geomorfológica da Formação Botucatu, f) basalto da Formação Serra Geral.
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4.5 CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL
Em estágio de trabalho para levantamento de dados em campo foi possível identificar as principais
unidades da sequência estratigráfica da Bacia do Paraná previamente levantados por trabalhos de
mapeamento da CPRM, com suas respectivas estruturas primárias convergindo à seu depocentro. Sistemas
rúpteis foram identificados relacionadas a direções correlatas às descontinuidades caracterizadas nos
produtos magnetométricos.
Das unidades caracterizadas em campo as Formações Aquidauana de idade permiana, e as
formações Furnas e Ponta Grossa de idade devoniana apresentam um padrão de juntas mais antigo NE-SW
que sofre transposição por dois sistemas de juntas de caráter oblíquo e de cinemática dextral N-S e outra
NW-SE (Fig. 8a e 8b).
Figura 16 – Aspectos macroscópicos das unidades da bacia do Paraná para a área: (A) arenito da Formação Furnas com juntas NNE-SSW, transpondo juntas NWW-SEE; (B) arenito da Formação Furnas onde um sistema de juntas inicial NE-SW foi transposta por juntas NW-SE e N-S em cinemática dextral.
A leste e mais especificamente sudeste da área encontra-se no município de Costa Rica – MS rochas
toleíticas pertencentes ao magmatismo Serra Geral, nesta unidade podemos correlacionar o sistema rúptil
oblíquo principal a uma zona de cisalhamento rúptil NW-SE com brechação (Fig. 9a, 9b e c), bem como
lineação de deslizamento sub-horizontal (Fig. 9d) de cinemática dextral.
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Figura 17 – Aspectos macroscópicos das unidades do magmatismo Serra Geral em Costa Rica - MS: (A) e (B) aspectos da zona de cisalhamento NW oblíquo ao LTB; (C) em uma escala maior representação de sua deformação rúptil; (D) lineação de deslizamento subhorizontal, reflexo de um sistema de falha .
No geral o conjunto de fraturas encontradas nas coberturas fanerozoicas da Bacia do Paraná na área
de estudo remete a dois sistemas oblíquos entre si NW-SE e NE-SW (Fig. 10), que sofrem uma posterior
transposição por um sistema NWW-SEE, bem caracterizado nos basaltos Serra Geral. Estas
descontinuidades apresentam um possível padrão de deslocamentos de reativações pela área de estudo,
como visto em produtos de magnetometria, até mesmo em caráter mais profundo.
Com o intuito de realizar uma melhor contextualização dos blocos superiores das sequências
sedimentares da Bacia do Paraná com suas descontinuidades lineares, propomos uma perfil esquemático
em relação ao padrão descontínuo principal, de direção NW-SE (Fig. 12). Os deslocamentos inferiores de
falhas extensionais são característicos, além das próprias inferências geofísicas, nas quebras descontinuas
da topografia existente principalmente à oeste nas sequências basais da Bacia.
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Para a região central dá área no alto estrutural de anomalia magnética dipolar, com a ausência de
correlações de certas sequências sedimentares e a limitação oeste e leste num sistema extensional. Leva-se
a crer que possivelmente não há raízes magnéticas nesta região pela ocorrência de um horst. Com o advento
do desgaste físico das sequências superiores, resulta na ausência de evidências do magmatismo Serra Geral.
Figura 18 – Diagramas de roseta para os principais conjuntos de fraturas da área, (A) conjunto principal NE-SW; (B) Conjunto que transpõe o anterior NW-SE.
5. DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na profundidade intermediária o padrão de arranjo das descontinuidades é semelhante ao
produto inicial com uma marcante ausência da região com alta frequência na porção leste da área.
Resultado da ausência do magmatismo Serra Geral (cretáceo) associado à bacia do Paraná (Fig. 5a, 5c).
Isto mostra uma maior contribuição do embasamento na arquitetura estrutural das descontinuidades da
região, ainda com os domínios estruturais bem marcados.
As principais inferências dos dados magnetométricos acerca do embasamento sob a bacia do
Paraná e da estruturação crustal sob influência do Lineamento Transbrasiliano nesta região, possibilita
a correlação de descontinuidades numa direção NE-SW em um sistema de deslocamentos extensionais
relacionados num corredor de largura estimada em pelo menos 100 quilômetros de extensão e uma
influência de fases rúpteis oblíquas evidenciados nas sequências sedimentares da bacia do Paraná na
superfície sob controle estrutural.
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As raízes das fontes magnéticas evidenciadas nos padrões das anomalias da região chegam a
25 quilômetros de profundidade em filtragens quantitativas (Matched Filtering), indidcando que as
descontinuidades se estendem a níveis crustais. Isso é notável para as descontinuidades paralelas,
subparalelas , oblíquas e o corredor principal do Lineamento Transbrasiliano.
O padrão de alta frequência nas porções leste e sudeste (fig. 9), são causadas pela ocorrência
do magmatismo Serra Geral, ausente na região central da área. A ausência desta assinatura e do
magmatismo possivelmente está associada ao soerguimento da porção da bacia no Domínio Coxim,
característico de um horst, com posterior erosão das sequências superiores (fig. 22 – Perfil AB). Na
porção basal da bacia à oeste, o deslocamento topográfico e de contato estratigráfico é basculado por
sistemas de falhas normais num padrão de regime extensional do tipo hemi-gráben (fig. 22 – Perfil CD).
Do ponto de vista estrutural, os dados geológicos e geofísicos atestam a existência de uma
tectônica ruptil extensional, com direção geral N40-50E, responsável pela implantação de um horst,
designado neste trabalho como horst de Coxim (fig. 22). Define-se também um conjunto de blocos
abatidos, controlados por falhas normais/extensionais com direção preferencial N10-20E, responsáveis
pela implantação de uma provável estrutura de hemi-graben na borda NW da bacia do Paraná.
Sugere-se para trabalhos posteriores análises nas rochas sedimentares da bacia sob uma ótica
cronológica e cinemática, tanto com o auxílio da geologia isotópica, microtectônica em análises
petrográficas, quanto termocronologia por traço de fissão, com o intuito de sanar as dúvidas acerca das
reativações da área para esta região central do lineamento Transbrasiliano coberta por uma extensa bacia
sedimentar.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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