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7/23/2019 Dissertação Com Tudo
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁSESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS
LEONEL BATISTA PARENTE
A MÚSICA COMO REPRESENTAÇÃO SOCIALEM REGIMES TOTALITÁRIOS:
Varguis! " ! Ca#$! Or%"&#i'! '!! "s$u(!(" 'as!)
G!i*#ia+,-.
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LEONEL BATISTA PARENTE
A MÚSICA COMO REPRESENTAÇÃO SOCIALEM REGIMES TOTALITÁRIOS:Varguis! " ! Ca#$! Or%"&#i'! '!! "s$u(!
(" 'as!)
Dissertação apresentada ao Programa dePós-Graduação Stricto Sensu da Escola deMúsica e Artes Cênicas da Universidadeederal de Goi!s - Mestrado em Música -"como re#uisito para o$tenção do grau deMeste%
Li#/a (" 0"s1uisa: Música" Cultura e&ociedade%Ori"#$a(!ra: Dra% Ana Guiomar 'êgo&ou(a
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G!i*#ia+,-.
LEONEL BATISTA PARENTE
A MÚSICA COMO REPRESENTAÇÃO SOCIALEM REGIMES TOTALITÁRIOS:
Varguis! " ! Ca#$! Or%"&#i'! '!! "s$u(!(" 'as!)
Dissertação de)endida no Curso de Mestrado em Música da Escola de
Música e Artes Cênicas da Universidade ederal de Goi!s para a o$tençãodo grau de Mestre" aprovada em******de******" pela +anca E,aminadoraconstituda pelos seguintes pro)essoras.
******************************************************** Pro)% Dr%
Presidente da +anca
******************************************************** Pro)% Dr%
******************************************************** Pro)% Dr%
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D"(i'a$2ria
Agra("'i"#$!s
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Lis$a (" I4us$ra56"s
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SUMÁRIO
/ista de 0guas 11%2
Resumo ……7Abstract…….8
INTRODUÇÃO)))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))7
CAP8TULO - 9 O4/ar"s S!r" a N!5;! (" R"0r"s"#$a5;! S!'ia4 -<
3%3% Da 4oção de 'epresentação pelo 5i6s da Psicologia &ocial 37
3%3%3% Corrente Culturalista 38
3%3%9% Corrente &ocietal e a :eoria do 4úcleo Central 993%;% A 4oção de 'epresentação &ocial pelo 5i6s da <istória Cultural 97
CAP8TULO + 9 R"0r"s"#$a56"s '!! Es0"$='u4!s (" P!("r +79%3% A Música Como 'epresentação de Poder. o Panorama da Aleman=a4a(ista ;>
CAP8TULO > 9 O Varguis! " Sua I("!4!gia ?@
;%3% Construção de uma Matri( ?dentit!ria <omogênea 7@
;%9% stentaçBes de Poder no 'egime 5arguista 29
;%;% Mani)estaçBes r)enicas Como Espet!culos de Poder22
CAP8TULO ? Ca#$! Or%"&#i'! C!! Es$u(! (" Cas! <>%3% An!lise de CançBes @@
>%9% ,,,,,,@@
REFERÊNCIAS @@
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INTRODUÇÃO
:otalitarismo 6 uma )orma de governo cua concentração de
poderes centrali(a-se em torno de uma única pessoa ou )acção"
caracteri(ando-se" so$retudo" pelo autoritarismo" uso demasiado de
propaganda e concentração ideológica% 4esta )orma de regime toda
oposição poltica tende a ser eliminada" uma ve( #ue a e,istência de
v!rias correntes ideológicas se tornaria um entrave para #ue um
determinado pas se direcionasse para um sentido único% Pode-se di(er
#ue os maiores e,poentes do totalitarismo no s6culo )oram o 4a(ismo
de Adol) <itler" na Aleman=aF o ascismo de +enito Mussolini" na ?t!lia e o
&talinismo de ose) &talin" na União &ovi6tica% Contudo" =ouve outros
pases em #ue essa )orma de governo se )e( presente como" por e,emplo"
o ran#uismo na Espan=a" o &ala(arismo em Portugal" e" por #ue não
di(er" o 5arguismo no +rasil% De acordo com +ortuluce H9@@8I" um regime
totalit!rio possui" em sua essência" uma est6tica #ue serve como modelo
de sua organi(ação" controle e manutenção% Utili(a as artes visuais" o
cinema" a música" a ar#uitetura" a literatura e os meios de comunicação
como instrumentos #ue legitimam a sua poltica% Essa est6tica 6 em geral
caracteri(ada por uma padroni(ação do estilo artstico #ue tende a
suprimir todos os outros%
&egundo Arendt H3J8J" p%;K7I" a =omogeneidade dos elementos
de uma sociedade 6 condição )undamental para o nascimento do
totalitarismo% lder totalit!rio não 6 tão somente um indivduo sedento
de poder impondo aos seus governados uma vontade tirLnica e ar$itr!ria"
como o senso comum nos leva a crer% 4o 0m das contas" 6 tam$6m um
)uncion!rio das massas" e" como tal" pode ser su$stitudo% Em outras
palavras" o lder depende tanto do deseo das massas #ue ele incorpora"
#uanto as massas dependem dele% &em o lder" as massas perdem sua
representação e,terna e assim se tornam um $ando amor)oF sem as
massas" por outro lado" o lder seria uma nulidade% ?sso signi0ca #ue as
massas precisam ser con#uistadas por meio da propaganda" e" depois da
propaganda segue-se a doutrinação e o emprego de violência%
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Por essa perspectiva" Arendt assegura #ue o totalitarismo usa o
Estado como )ac=ada e,terna para representar-se perante o mundo não
totalit!rio% 5!rios regimes assim se esta$eleceram% 4a(ismo" por
e,emplo" estruturou-se a partir de uma plata)orma de ação #ue visava
construir um Estado supostamente com $ase na con0ança" =onra"
disciplina" ordem e dedicação% únior H3JJ3I ressalta #ue o 4a(ismo )oi
uma resposta situação de ansiedade perante pro)unda crise sócial e
econmica vivida pela Aleman=a pós Primeira Guerra Mundial" a #ual
produ(iu no Lmago dos elementos sociais =omogêneos o temor e a
aversão ao caos% autor a0rma #ue na origem do 4a(ismo encontram-se
elementos como regime democr!tico inst!vel e sem autoridade" e a
cristali(ação de sentimentos nacionais na pessoa de um lder" o Führer %
Para sua di)usão ideológica" os procedimentos propagandsticos
da poltica na(ista concentraram-se no conceito de Volksgemeinschaft
Hcomunidade do povoI% Essa nova comunidade" concreti(ada no
movimento e na atmos)era pr6-totalit!ria" $aseava-se na =omogeneidade
6tnica e racialF uma nação )undada no entendimento de sua suposta
superioridade )rente a todos os outros povos HA'E4D:" 3J8J" p% >@JI% &ua)orça residia num mundo imagin!rio e na capacidade de isolar as massas
do mundo real% De acordo com Arendt" o o$etivo da propaganda na(ista
era trans)ormar todos em simpati(antes de um movimento cuo o$etivo
era a de)esa de interesses ideológicos%
Compartil=ando com o pensamento de Arendt" Die=l H3JJ2I
a0rma #ue a propaganda na(ista desempen=ou uma )unção central no
4acional-&ocialismo" de maneira #ue a$rangeu todas as atividades sociais%?sso leva a compreender #ue para atingir seu o$etivo ideológico" a
m!#uina de controle popular do regime de <itler devia cingir todas as
classes da sociedade alemã% +uscando algo #ue pudesse c=egar a tal
propósito" os art0ces da propaganda na(ista utili(aram da arte em geral.
música" literatura" artes pl!sticas" cinema" dentre outras% Mantendo esse
o$etivo" em 3J;K )oi institudo o Tag der deutschen Kunst Hdia da arte
alemãI" organi(ando-se um gigantesco des0le militar a$erto com a :erceira &in)onia de Anton +rucNner HG?//?A4" 3JJK" p%K7I%
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4a música" o 4a(ismo privilegiou a o$ra de grandes
compositores alemães% 4essa e,pectativa" deu-se incio a um programa de
)omento o0cial unto ao estival de +aOreut= a 0m de =omenagear 'ic=ard
agner HCA/?C" 9@@9" p%9@@I% De acordo com Qarter H3JJKI" Adol) <itler
via o estival de +aOreut= como uma permanente cele$ração do 4acional-
&ocialismo e do :erceiro 'eic=% &ua presença no evento" desde 3J;;" o
trans)ormou em espet!culo nacional% 4este perodo" o estival )oi
convertido num dos principais veculos de manipulação na(ista R união
entre arte e poltica" Sagnerianismo e =itlerismo HQ A':E'" 3JJK" p% JJI%
utro grande compositor alemão apropriado pelo 4a(ismo )oi
+eet=oven" #ue passou a representar a imagem do Künstlerischen Führer 1
H<?'&C<" 9@3@" p%3@9I% Essa representação" segundo <irsc=" serviria para
legitimar a poltica do Partido 4a(ista" promovendo +eet=oven como
sm$olo dos ideais =eróicos do 4acional-&ocialismo% <irsc= comenta #ue a
música de +eet=oven )oi regularmente utili(ada em comcios e eventos"
sempre dentro de uma perspectiva manipulatória% &ua proeminência na
Aleman=a levou o crtico de arte" alter aco$s" a sugerir #ue a :erceira
&in)onia )osse eleita como representação musical do :erceiro 'eic=% oinessa perspectiva #ue" em 3J;2" ouviu-se o Finale da 4ona &in)onia nos
ogos lmpicos de +erlim% <irsc= o$serva #ue essa iniciativa vi(ava dar
signi0cação universal poesia de &c=Tler e música de +eet=oven na
atmos)era de um evento internacional% osep= Goe$$els" ministro da
propaganda" con=ecia a mensagem da o$ra e #ueria mostrar ao mundo a
imagem de uma Aleman=a )raterna% De acordo com <irsc=" os
organi(adores das limpadas viram essa ocorrência como a proclamaçãoda Volksgemeinschaft " )ato #ue se con0rma nas palavras de /ocNSood
H9@@KI ao pro)erir #ue
H%%%I a de alegria )oi apresentada" em 3J;2" nos ogoslmpicos de +erlim" com uma precaução #ue =oe pareceirnica" e )oi anunciada não como um sm$olo da )raternidadeinternacional" mas como a proclamação daVolksgemeinschaft
na(ista Hp% >K8I%1 Líder Artístico. Conforme Lockwood (2007 o termo foi criado em 19!" #e$o music%$o&o sim#ati'ante na'ista
Arno$d )c*erin& associando a ima&em de +eet*o,en - de Ado$f it$er.
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corrência semel=ante pode ser notada no +rasil durante o
governo de Getúlio 5argas" regime autorit!rio con=ecido como 5arguismo
ou Getulismo% &egundo /oureiro H9@@3I" o deseo de 5argas em educar a
massa por meio da música ps em pr!tica o proeto de 5illa-/o$os para o
ensino do canto or)enico nas escolas" implementando-o lentamente
durante os anos ;@% Assim" o presidente assina o decreto n 38%8J@" de 38
de a$ril de 3J;9" tornando o Canto r)enico o$rigatório nas escolas
pú$licas do 'io de aneiro" o #ue passaria a ser um dos principais veculos
de divulgação do 5arguismo% Ainda de acordo com /oureiro" por interm6dio
das grandes concentraçBes de alunos em est!dios e de des0les colegiais"
e,altava-se o sentido da coletividade" do patriotismo e da disciplina% Para
uNs H3JJ3I" as grandes concentraçBes or)enicas o$etiva desenvolver a
disciplina" o civismo e a educação artstica" nesta ordem de importLncia%
canto or)enico era apresentado nas e,ortaçBes cvicas" trans)ormando-se
em mani)estaçBes pú$licas de apoio e e,altação 0gura de Getúlio
5argas% C=egando a reunir cerca de >@ mil vo(es uvenis e mil $andas de
música" estes espet!culos eram apresentados )re#uentemente em
est!dios de )ute$ol e marcavam todos os )eriados nacionais%
A presença de escolares" em cerimnias pú$licas" cantando=inos e músicas #ue cele$ravam a grande(a do pas" audavaa criar a imagem de um povo saud!vel e disciplinado" de umpovo unido em torno do proeto de reconstrução nacionalcondu(ido pelo Estado 4ovo H/U'E?'" 9@@3" p%29I%
Para Contier H3JJ8I" a propaganda dirigida s massas por meio
do Canto r)eVnico o$etivando atra-las para a 0gura de Getúlio 5argas"
aca$ou se tornando um novo recurso para a sedimentação do conceito de
$rasilidade nas es)eras da música e da poltica% &egundo Contier" o car!ter
disciplinador" implcito no proeto do canto or)enico interessava ao
Estado" assim" durante toda a d6cada de ;@" os espet!culos or)enicos"
intimamente associados propaganda varguista" se tornaram notcia em
#uase todos os ornais e revistas do 'io de aneiro" &ão Paulo e outras
capitais% sentido nacionalista desses espet!culos" aliado a um momentode intensa eu)oria" tam$6m contri$uiu para 0,ar a imagem de 5illa-/o$os
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perante crtica e ao pú$lico em geral como compositor sm$olo da
identidade $rasielira%
Ponderando so$re isso" surgem as seguintes #uestBes. como a
música )oi utili(ada no regime varguistaW Xual a )unção da música na
construção do mito da unidade nacional no +rasil de 5argasW Xuais os
gêneros e estilos de música )oram apropriados pelo Canto r)enicoW
Partindo desses #uestionamentos" o presente tra$al=o $usca compreender
o sim$ólico e o representativo na música dentro de um conte,to totalit!rio
pela perspectiva das representaçBes sociais" em espec0co as
representaçBes de poder% /evanta-se a =ipótese de #ue o regime getulista
tin=a em mente uma poltica de apropriação da música como
espetaculari(ação de sua ideologia poltica%
A 0m de entender tal pr!tica" o tra$al=o em deslinde construiu
seu alicerce em três autores #ue discorrem acerca da :eoria das
'epresentaçBes &ociais. &erge Moscovici" Denise odelet e 'oger C=artier%
:am$6m se $uscou au,lio em Georges +alandier para #uestBes
relacionadas a espetaculari(ação do poder" pr!tica #ue permanece ao
longo dos tempos e ocorre em todas as sociedades% +uscando entender a#uestão do nacionalismo" o respaldo veio de +enedict Anderson" #ue ao
e,aminar como o nacionalismo capta e e,pressa anseios dentro de um
conte,to social" volta-se mais para a ascensão do sentimento nacionalista
do #ue para a instituição dos estados nacionais% Para )undamentar a
discussão acerca de identidade e da identidade nacional" o apoio teórico
vem de &tuart <all H9@@2I%
'evendo a literatura constatou-se a,istência de o$ras #ue tratamda música como representação de poder" em especial a ópera )rancesa no
Antigo 'egime" o caso da música de agner e de +eet=oven no
4a(ismo" a ópera no +rasil oitocentista" o &am$a e o Canto )enico na
Era 5argas%
Em lngua inglesa" mais diretamente ligada ao caso alemão"
Applegate e Potter" em Music and German national identity H9@@9I"
e,ploram #uestBes acerca de como a música passou a ser associada identidade alemã e #uando os alemães passam a ser considerados como"
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por assim di(er" o Ypovo da músicaZ% Para isso" as autoras $uscam
respaldo na musicologia e na literatura alemã" assim como nos principais
estudiosos da =istória da Aleman=a" e,aminando a 0loso0a" a poltica e as
correntes sociais% Com $ase nesses estudos" Applegate e Potter $uscaram
entender at6 #ue ponto a música desempen=ou um papel central no
imagin!rio nacional alemão e na )ormação da identidade alemã%
! Art, Culture, and Media nder the Third !eich, de autoria de
'ic=ard Etlin H9@@9I" 6 uma o$ra #ue se det6m mais nos aspectos
propagandsticos desenvolvidos pelos na(istas% Etlin )a( um estudo acerca
das maneiras pelas #uais os na(istas usaram a arte e a mdia para retratar
a Aleman=a como uma super nação cultural% A o$ra en)oca a )unção das
artes em geral no :erceiro 'eic= e a )orça #ue a propaganda teve como
veculo de )usão da cultura alemã e da ideologia do Partido 4a(ista pelo
vi6s artstico% Esta o$ra tam$6m inclui estudos so$re a atividade cultural
nos campos de concentração R no caso da música as or#uestras de
prisioneiros" revelando como v!rios domnios da arte serviram para
conceitualmente esta$elecer parLmetros entre di)erentes grupos 6tnicos"
como os udeus" por e,emplo%George /ac=mann Mosse não tem no te,to H3JK7I por sua ve("
em The nationali"ation of the masses# $olitical sym%olism and mass
mo&ements in Germany from the 'a$oleonic (ars through the Third
!eich" discute o poder do sim$olismo poltico" das artes" das )estas
pú$licas e do esporte como um meio de promover o nacionalismo%
:am$6m analisa" principalmente no último captulo" como a religião" a
poltica e as artes podem muitas ve(es se uni0car dentro de umadeterminada ideologia% ! o =istoriador Mic=ael Qarter em Com$osers of
the 'a"i )ra# )ight *ortraits )a( um estudo detal=ado da carreira de Arnold
&c=oen$erg" <ans P0t(ner" Carl r[" Qarl Amadeus <artmann" Qurt eill"
Paul <indemit=" 'ic=ard &trauss e erner EgN% ito proeminentes
compositores alemães #ue viveram e tra$al=aram em meio ditadura do
:erceiro 'eic= ou )oram e,ilados pelo regime na(ista% Qarter pesa
pro$lemas de acomodação e resistência" #uestionando se essescompositores se corromperam a serviço de um regime criminoso e se isso
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poderia ser perce$ido na música deles% Depois de discutir a situação
individual de cada compositor" Qarter conclui a o$ra )a(endo uma an!lise
da vida sociopoltica desses compositores o$servando como eles reagiram
ao regime totalit!rio de Adol) <itler%
Em lngua portuguesa destacam-se alguns autores #ue discutem
a música como representação de poder e as implicaçBes polticas na
ditadura varguista% Em YPassarin=ada do +rasil. canto or)enico" educação
e getulismoZ Arnaldo DaraOa Contier H3JJ8I analisando a politi(ação do
ensino de música no governo de Getúlio 5argas" a$orda a implantação dos
cursos de música e a )ormação cvica dos estudantes no Estado 4ovo%
Contier identi0ca a relação entre a poltica de 5argas e a atividade
musical" revelando #ue o canto or)enico nas escolas $rasileiras estava
associado a espet!culos cvicos artsticos% Ao o$servar a música como
aparel=o de divulgação do 5arguismo ressalta #ue" por meio desta" nos
anos 3J;@ =ouve um grande \u,o de e,altação ao EstadoF salienta #ue
nesse perodo o canto or)enico passou a ser visto como um importante
arti)cio na di)usão do sentimento de patriotismo e do desenvolvimento da
consciência nacional% :Lnia Garcia Costa H3JJJI" em seu artigo YA canção popular e as
representaçBes do nacional no +rasil dos anos ;@. a traetória artstica de
Carmem MirandaZ )a( um estudo da música popular na era 5argas"
tam$6m tida como uma das representaçBes do pas agregada
construção de uma identidade nacional% Garcia o$serva #ue a
representação do imagin!rio social e poltico dos anos 3J;@ constituiu-se
na canção popular ur$ana a partir das interpretaçBes de Carmem Miranda"eleita pelo Estado 4ovo como um sm$olo de $rasilidade% :odavia" salienta
#ue" como representação nacional" a música popular não dei,ou de
e,primir adesBes e resistências noção de $rasilidade pretendida pelo
Estado 4ovo" uma ve( #ue tra(ia em si in\uência estrangeira na sua
sonoridade%
! Adal$erto Paran=os H9@@9I" em Y5o(es dissonantes so$ um
regime de ordem unida. música e o tra$al=o no Estado 4ovoZ" revela #ueo 5arguismo na verdade tentou silenciar as pr!ticas #ue pudessem ir de
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encontro s normas esta$elecidas" levando a grande massa popular a
crer num suposto Ycoro da unanimidade nacionalZ% Em sentido
divergente" Paran=os a0rma #ue as vo(es dissonantes no Estado 4ovo se
mani)estariam tam$6m em sam$as produ(idos na 6poca" a despeito da
penosa censura dos órgãos o0ciais" notadamente o D?P HDepartamento de
?mprensa e PropagandaI% Para o autor" a ditadura estadonovista $uscou
instituir certo tipo de sociedade disciplinar" gerando um per0l identit!rio
de $rasilidadeF não o$stante" apesar da pressão do Estado" o coro dos
di)erentes não dei,ou de se mani)estar con)orme as circunstLncias%
ocando no sam$a como elemento de genuinidade musical
$rasileira" A$reu H9@33I em Y<istórias musicais da Primeira 'epú$licaZ"
saliente #ue a partir dos anos 3J;@ a e,altação do sam$a como música
genuinamente nacional relaciona-se com a incessante estrat6gia poltica
de Getulio 5argas a 0m de o0ciali(ar esse gênero% 4esse sentido" citando
Adal$erto Paran=os" a0rma #ue reali(aram-se apresentaçBes pú$licas de
artistas nacionais em eventos $astante divulgados" como o Dia da Música
Popular e a 4oite da Música Popular% Cantores )amosos" cantando sam$a"
acompan=aram a comitiva presidencial em viagem a pases latino-americanos ao mesmo tempo em #ue transmissBes radio)nicas o0ciais"
destinadas ao pú$lico estrangeiro" se incum$iam de propagar o sam$a
pelo mundo como genuno produto musical $rasileiro%
4o entanto" A$reu o$serva #ue em perodos anteriores"
correspondendo s imagens divulgadas so$re a +elle $o-ue" a música
popular teria sido perseguida" como uma imagem invertida ou
preparatória do #ue viria depois% De acordo com a autora" o sam$a )oium gênero tão detestado pelas classes dominantes das primeiras d6cadas
do s6culo a ponto de a poltica vigente mandar prender #uem o
cantasse" dançasse ou tocasse% /em$ra ainda #ue os primeiros
=istoriadores da música popular ur$ana no 'io de aneiro demonstram em
seus registros como a própria de0nição do sam$a e do #ue era
genuinamente $rasileiro situava-se num campo amplo de signi0cados e
disputas% sam$a dos anos de 3J;@ era apenas um rótulo" um arremedo
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de sam$a" poderia variar muito e estar prisioneiro dos de$ates polticos"
culturais e comerciais da 6poca%
As o$ras a#ui relatadas revelam parte do estado da arte acerca
da música como representação de poder% Apesar do material ! editado
em lngua vern!cula" nota-se #ue nos departamentos de música das
universidades $rasileiras o assunto em de$ate ainda 6 pouco discutido%
Desse modo" em )ace do atual estado das investigaçBes" esta pes#uisa
usti0ca-se por gerar con=ecimento so$re um assunto ainda pouco
e,plorado no Lm$ito musical acadêmico% Com isso" espera-se #ue este
tra$al=o possa contri$uir para o acr6scimo de material $i$liogr!0co na
es)era #ue se insere" servindo como )onte de consulta para pes#uisas
posteriores%
A presente pes#uisa lançou mão do paradigma #ualitativo por
meio da descrição" compreensão e interpretação do )enmeno o$servado%
Xuanto ao instrumental para o levantamento de dados )oi empregado a
pes#uisa $i$liogr!0ca e a pes#uisa documental. )ontes prim!rias R
documentos" cartas" )otogra0as" 0lmes" gravaçBes" di!rios" etc%
/evantamento e an!lise das )ontes secund!rias R material oriundo das)ontes primarias. livros" teses" dissertaçBes" artigos" etc% Para
interpretação dos dados" o$servou-se as convergências e divergências
entre os dados levantados cru(ados entre si e com o re)erencila utili(ado"
a 0m de c=egar ao o$etivo do tra$al=o% s resultados o$tidos durante a
pes#uisa serão pu$licados em )orma de artigos e" concluindo-a" torna-se
oportuna sua divulgação de maneira mais ampla em )orma de dissertação"
envolvendo a comunidade acadêmica e o pú$lico em geral%Xuanto sua estrutura" a dissertação )oi dividida em três captulos%
primeiro captulo a$orda a :eoria das 'epresentaçBes &ocias" a origem
desse conceito e suas principais correntes" )a(endo" com $ase nessa
teoria" uma conte,tuali(ação com os espet!culos de poder nos regimes
totalit!rios% segundo discorre so$re a ascensão do 5arguismo
)ocali(ando a espetaculari(ação do poder nesse regime por meio da
propaganda governista% Por 0m" o terceiro captulo reali(a um estudo decaso por meio da an!lise da partitura de alguns dos cantos or)enicos a
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0m de averiguar como este )oi apropriado pelo regime de Getulio 5argas
para servir de veiculo de manipulação social% 4o #ue respeita
metodologia" para sua reali(ação esta pes#uisa lançou mão do paradigma
#ualitativo por meio da descrição" compreensão e signi0cado do )enmeno
o$servado% oram reali(adas pes#uisas $i$liogr!0cas e investigação
documental em )ontes prim!rias% A pes#uisa $i$liogr!0ca apoiou-se
$asicamente no material oriundo das )ontes primarias" isto 6" livros" teses"
dissertaçBes" artigos de periódicos e outros tra$al=os relevantes% A
investigação documental 0cou por conta de constatar as ocorrências do
canto or)enico na era 5argas por meio de )otogra0as" 0lmes" gravaçBes e
ar#uivos de vdeo #ue estão ane,ados no 0m do tra$al=o%
CAP8TULO -
OLARES SOBRE A NOÇÃO DE REPRESENTAÇAO SOCIAL
A ideia de representação social" cuo conceito ser! assim entendido
somente a partir de 3J23 com a psicologia social de &erge Moscovici"
surge com $ase no pensamento sociológico )uncionalista de ]mile
DurN=eim H3878-3J3KI dentro da perspectiva de representaçBes coletivas%
Por sua ve(" a noção de representação coletiva aparece a partir do #ue
DurN=eim designava de consciência coletiva. Yo conunto de crenças e de
sentimentos comuns m6dia dos mem$ros de uma mesma sociedade #ue
)orma um sistema determinado com vida própriaZ HDU'Q<E?M" 3J8K" p%
J>I% Para Costa H3JJ3" a$ud +E/:E' ^ P/UME'" 9@@7I" essa consciência
coletiva 6 a )orma vigente da sociedade" com regras determinadas #ue se
imporiam aos indivduos no sentido de restringir os seus valores%
Con)orme Galliano H3J83I" citado por +oelter ^ Plumer" a consciência
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coletiva tam$6m se caracteri(a por constituir um sistema de crenças e
sentimentos di)undido na sociedade" mas tam$6m por ser independente
dos indivduos" em$ora somente se reali(e por meio destes% Concordando
com o pensamento de Costa e Galliano" +oelter ^ Plumer di(em.
H%%%I a consciência coletiva representa a organi(ação social por#ue6 o$etiva" não vem de uma só pessoa ou grupo" mas encontra-seespal=ada por toda a sociedade e" por isso" 6 e,terior ao indivduo%Portanto" não 6 _o #ue um indivduo pensa "̀ mas _o #ue asociedade pensa`% Ela age so$re o indivduo de )orma coercitiva"isto 6" e,erce uma autoridade so$re o modo como o indivduo deveagir no seu meio social% Ela impBe as regras sociais" dessa )orma" a=armonia do grupo H9@@7" p%2;I%
4esse sentido" +oelter ^ Plumer o$servam #ue para preservar essa=armonia" a sociedade deve assegurar a su$ordinação da consciência
individual consciência coletiva" #ue 6 o ponto alto de integração social%
Por conse#uência" a )unção primordial da punição 6 manter intacta a
coesão social" mantendo toda a vitalidade da consciência comum% Para
essas autoras" DurN=eim assegura consciência coletiva a
responsa$ilidade pela organi(ação social%
Apesar das e,plicaçBes e interpretaçBes la$oradas pelos autorescitados" DurN=eim a$andonou o conceito de consciência coletiva e passou
a empregar o conceito de representação coletiva% /ago et al H9@39I" a0rma
#ue essa nova a$ordagem resultaria de dois )atores. o primeiro seria o
entendimento de #ue a consciência coletiva se constituiria em )enmeno
raro nas sociedades contemporLneas" como e,posto na sua o$ra YDa
divisão do tra$al=o socialZ - uma parte circunscrita das sociedades atuais%
A noção de consciência coletiva relacionaria-se mais aos processos com
#ue as sociedades primitivas garantiam sua coesão" ve( #ue
caracteri(adas por maior =omogeneidade e regidas por regras #ue
serviam para avigorar a solidariedade e a coesão da#uelas )ormas de
organi(ação social" ou sea" estudar as crenças e sentimentos coletivos"
notadamente nos domnios da moral e da religião" considerados por
DurN=eim como argamassa da estrutura social% Em segundo lugar"
DurN=eim $uscava entender como os indivduos se ligavam sociedade e
como eram controlados por elaF como as crenças e os sentimentos
coletivos eram impostosF como a)etavam e eram a)etados por outros
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)atores da vida social e como estes eram mantidos e re)orçados% 4essa
perspectiva" o conceito de consciência coletiva di)erenciava crenças
cognitivas e crenças morais ou religiosas" tendo em vista #ue era por
demais a$rangente e est!tico% DurN=eim passa" então" a empregar o
conceito de representaçBes coletivas%
Como conceito c=ave da an!lise sociológica" a passagem daconsciência coletiva para as representaçBes coletivascaracteri(a-se pelo deslocamento da $ase e,plicativa dos)atos sociais" na _Divisão do tra$al=o social"` para avalori(ação do sim$olismo coletivo como princpio )undanteda realidade social H?/<" 9@@>" p%3;JI%
De acordo com &teven /uNes H3JKKI" comentarista da o$ra deDurN=eim" o sociólogo )rancês começou a empregar o conceito de
representaçBes coletivas por volta de 3J8K" em Y &uicdioZ" ao a0rmar
#ue a vida social 6 )eita de representaçBes%
4o entanto" apesar de separarmos desta )orma a vida socialda vida individual" não temos de )orma alguma a intenção dea0rmar #ue ele não tem nada de ps#uico% ] evidente #ue"pelo contr!rio" 6 essencialmente formada $or re$resenta./es% &implesmente" as re$resenta./es coleti&assão de uma nature(a muito di)erente da das representaçBesindividuais HDU'Q<E?M" 3J8;" p%3J; gri)o meuI%
Para DurN=eim" as representaçBes coletivas são estados da
consciência coletiva" di)erentes em nature(a dos estados da consciência
individual% Elas e,primem o modo pelo #ual o grupo conce$e a si mesmo
em suas relaçBes com os o$etos #ue o a)etam%
Com e)eito" as representaçBes coletivas tradu(em a maneiracomo o grupo se pensa nas suas relaçBes com os o$etos#ue o a)etam% ra" o grupo e constitudo de modo di)erentedo individuo e as coisas #ue o a)etam são de outra nature(a%/ogo" representaçBes #ue não e,primem nem os mesmossueitos nem os mesmos o$etos não poderiam depender dasmesmas causas% Para compreender a maneira como asociedade se representa a si própria e ao mundo #ue arodeia" precisamos considerar a nature(a da sociedade e nãoa dos particulares% s sm$olos com #ue ela se pensamudam de acordo com a sua nature(a% HDU'Q<E?M" 3J8;" p%KJI%
DurN=eim H?$idem" p%9399;29>;I alega #ue as representaçBes
religiosas são representaçBes coletivas #ue e,primem realidades
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coletivasF os ritos são maneiras de agir #ue nascem no seio dos grupos
reunidos e #ue são destinados a suscitar" a manter ou a re)a(er certos
estados mentais desses grupos% Da mesma )orma" assegura #ue a
linguagem e,prime a maneira pela #ual a sociedade" em seu conunto"
representa os o$etos da e,periênciaF as noçBes #ue correspondem aos
diversos elementos da lngua seriam" pois" representaçBes coletivas% Por
outro lado" revela #ue as representaçBes coletivas contem elementos
su$etivos sendo necess!rio #ue eles seam progressivamente depurados
para se tomarem mais pró,imos das coisas%
/uNes H3JKK" p%3JI comenta #ue o conceito de representação
coletiva em DurN=eim apresenta duas conse#uências signi0cativas.
primeiro" a ideia de representação re)ere-se tanto ao modo de pensar"
conce$er ou perce$er" #uanto ao #ue 6 pensado" conce$ido ou perce$ido%
&egundo" a representação 6 coletiva tanto em sua origem" #ue determina
o seu modo e sua )orma" #uanto em sua re)erência ou o$eto% :am$6m 6
coletiva" o$viamente" pelo )ato de ser comum aos mem$ros de uma
sociedade em grupo% Em outras palavras" as representaçBes coletivas são
geradas socialmente" re)erindo-se sociedade e estando so$re asociedade%
Ainda de acordo com /uNes" as representaçBes coletivas
resultam do su$strato de indivduos associados H#ue varia de acordo com
sua posição geogr!0ca" a nature(a e o número de seus canais de
comunicaçãoI" mas não podem ser redu(idas" nem inteiramente
e,plicadas pelas caractersticas de individuo" por#ue possuem
caractersticas sui generis% /uNes e,plica #ue DurN=eim relaciona asrepresentaçBes coletivas com os traços da vida social colocando-as dentro
do seu conceito de )atos sociais%
Eis" portanto" uma ordem de )atos #ue se apresentamcaractersticas muito especiais. consistem em maneiras deagir" de pensar e de sentir" e,teriores ao individuo e #ue sãodotadas de um poder de coerção em virtude do #ual esses)atos se impBem a ele% Por conseguinte" esses não poderiamse con)undir com os )enmenos orgLnicos" ! #ue consistem
em representaçBes e em açBesF nem com os )enmenosps#uicos" os #uais só tem e,istência na consciênciaindividual e atrav6s dela% Esses )atos consistem" portanto"
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uma esp6cie nova" e 6 eles #ue deve ser dada reservada#uali0cação de sociais% HDU'Q<E?M" 9@@K" p% ;->%I
4esse sentido" /uNes relata #ue as representaçBes coletivas
seriam )atos situados numa estrutura macro" numa superestrutura social%Con)orme liveira H9@39I" o conceito de representaçBes coletivas
6 central em DurN=eim e mant6m semel=anças com o conceito de )ato
social% :odavia" 6 menos imperioso e coercitivo #ue o último" ! #ue 6
)orado no cotidiano das interaçBes sociais%
Carval=o H9@@7I assevera #ue" socialmente" as representaçBes
coletivas sinteti(am o #ue os =omens pensam so$re si mesmos e so$re a
realidade #ue os cerca% Assim" as representaçBes alcançam o terreno daspr!ticas sociais" s #uais se ligam" em$ora essa relação não ten=a sido
su0cientemente desenvolvida por DurN=eim%
conceito de representaçBes coletivas 6 ao mesmo tempo )orma
de con=ecimento e guia para as açBes sociais" ustamente os sentidos
mais desenvolvidos por toda a corrente da Psicologia &ocial desenvolvida
e liderada por &erge Moscovici% conceito de representaçBes coletivas
Yperpassa a o$ra durN=eimiana e l=e con)ere sentido pro)undamentesociológicoZ H/?5E?'A" 9@39" p%J@I%
-)-) DA NOÇÃO DE REPRESENTAÇÃO PELO V8ES DA PSICOLOGIA
SOCIAL
A Psicologia &ocial surge no s6culo com o intento de )a(er
uma cone,ão entre a psicologia e as ciências sociais% 4essa perspectiva"&erge Moscovici" psicólogo romeno naturali(ado )rancês" numa releitura
crtica da noção durN=eimiana de representação coletiva" apresenta a
$ase teórica das representaçBes sociais" contemplada na sua tese YA
Psican!lise" sua imagem e seu pú$licoZ pu$licada em 3J23%
A leitura crtica de DurN=eim" reali(ada por Moscovici" constitui-
se no marco inicial da teoria das representaçBes sociais%
A &ociologia vê" ou mel=or" viu as representaçBes sociaiscomo arti)cios e,planatórios" irredutveis a #ual#uer an!liseposterior% H%%%I Assim" o #ue eu propon=o )a(er 6 considerar
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como um )enmeno o #ue era antes visto como um conceitoHM&C5?C?" 9@@K" p%>7I%
Para Moscovici as representaçBes coletivas de DurN=eim
a$rangiam uma cadeia completa de )ormas intelectuais #ue incluamciência" religião mito" modalidade de tempo- espaço" e isso se consistia
em pro$lema pelo )ato de ao se #uerer incluir demais se inclui muito
pouco% Moscovici acrescenta" portanto" duas #uali0caçBes #ue ulga
signi0cativas% 4a primeira e,pressa #ue as representaçBes sociais devem
ser vistas como uma maneira espec0ca de compreender e comunicar o
#ue ! se sa$e" a$straindo o sentido do mundo e nele introdu(indo ordem
e percepçBes #ue o representam de uma )orma signi0cativa% 4essesentido" sempre possuem duas )aces interdependentes" como as de uma
)ol=a de papel. a )ace icnica e a )ace sim$ólica" assim ancorando toda
imagem a uma ideia e toda ideia a uma imagem H?$idem" p%>2I%
4a segunda #uali0cação" mantendo-se 0el tradição aristot6lica
e Nantiana" Moscovici a0rma #ue o conceito de representação
durN=eimiano se mostrava $astante est!tico" algo parecido com a
concepção dos estoicos% Como conse#uência" as representaçBes)uncionavam como suportes para muitas palavras ou ideias" estagnadas
na atmos)era da sociedade% Moscovici não considera essa #uali0cação
como algo totalmente )also" contudo o$serva #ue na contemporaneidade
as representaçBes devem ser vistas dentro do seu car!ter móvel e
circulante" em suma" da sua plasticidade% Em outras palavras" as
representaçBes sociais atuam em um conunto de relaçBes e de
comportamentos #ue surgem e desaparecem unto com as própriasrepresentaçBes H?$idem" p%>KI%
Para Moscovici" mais ou menos interligadas livremente" as
representaçBes sociais se apresentam como uma rede de ideias"
met!)oras e imagens" sendo mais móveis e \uidas #ue as teorias%
H%%%I as representaçBes sociais em movimento seassemel=am mais estreitamente ao din=eiro #ue linguagem% Como o din=eiro" elas têm uma e,istência medida #ue são úteis" #ue circulam" ao tomar di)erentes)ormas na memória" na percepção" nas o$ras de arte e assimpor diante" em$ora sendo" contudo" sempre recon=ecidascomo idênticas" do mesmo modo #ue 3@@ )rancos podem ser
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representados por uma nota" um c=e#ue de viagem" ou umnúmero no e,trato da conta $anc!ria HM&C5?C?" 9@@K"p%9@8I%
Moscovici tam$6m a0rma #ue as representaçBes são sociaispor#ue se constituem em um )ato psicológico de três maneiras di)erentes.
3I possuem um aspecto impessoal" no sentido de pertencer a todosF 9I
são a representação de outros" pertencentes a outras pessoas ou a outro
grupoF ;I são uma representação pessoal perce$ida a)etivamente como
pertencente ao ego% Como o din=eiro" as representaçBes são construdas
com o duplo 0m de agir e avaliar" não pertencendo a um domnio
separado de con=ecimento são sueitas s mesmas regras de outras açBes
e avaliaçBes sociais H?$idemI%
&endo assim" as representaçBes sociais são entidades #uase
tangveis" uma ve( #ue circulam" se entrecru(am e se cristali(am
continuamente" por meio de uma palavra" de um gesto" de uma
cele$ração" de uma música" dentre os muitos )enmenos do cotidiano"
Correspondem" de um lado" su$stLncia sim$ólica #ue entra na sua
ela$oração" e" por outro" pr!tica espec0ca #ue produ( essa su$stLncia"
do mesmo modo como a ciência ou o mito correspondem a uma pr!tica
cient0ca ou mtica% Pessoas e grupos criam representaçBes no decurso da
comunicação e da cooperação e" uma ve( criadas" ad#uirem vida própria"
circulam" se encontram" se atraem e se repelem" dando oportunidade ao
YnascimentoZ de novas representaçBes" en#uanto as vel=as
representaçBes YdesaparecemZ H?$idem" p%3@>3I%
Moscovici a0rma #ue as representaçBes sociais tratam do
universo consensual e sua 0nalidade 6 esta$elecer um mapa das )orças"
dos o$etos e acontecimentos #ue são independentes dos deseos
=umanos e aos #uais se reage inconscientemente% Por outro lado" as
representaçBes restauram a consciência coletiva e l=e d! )orma"
e,plicando os o$etos e acontecimentos" de tal modo #ue eles se tornam
acessveis a #ual#uer um e coincidem com interesses imediatos% Para tal"
um o$eto deve tanto YaparecerZ e YparecerZ interessante #uanto
importante% As representaçBes sociais podem responder determinada
necessidadeF podem responder a um estado de dese#uil$rioF e podem"
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tam$6m" )avorecer a dominação impopular" mas impossvel de erradicar"
de uma parte da sociedade so$re outra H?$idem" p%79I7>I%
Moscovici )oi seguido por três grandes pes#uisadores. Denise
odelet" illem Doise e ean-Claude A$ric" cada um deles tra(endo um
aporte particular para o desenvolvimento da teoria das representaçBes%
Em Paris" na )scole des 0autes em Sciences Sociales R E<E&&" Denise
odelet manteve-se 0el proposta original" privilegiando claramente um
en)o#ue =istórico e cultural para a compreensão do sim$ólico% Em
Gene$ra" o grupo liderado por illem Doise articula as representaçBes
com uma perspectiva mais sociológica" en)ati(ando a inserção social dos
indivduos como )onte de variação dessas representaçBes% A Escola de
Midi" liderada por ean-Claude A$ric" da ni&ersit de *ro&ence" privilegia
a dimensão cognitiva das representaçBes" a partir de um en)o#ue
estrutural%
-)-)-) A C!rr"#$" Cu4$ura4is$a
&egundo Almeida H9@@7I" a corrente culturalista valori(a aarticulação entre as dimensBes sociais e culturais )ocali(ando o ogo da
cultura e de suas especialidades =istóricas" regionais" institucionais e
organi(acionais sem cair num particularismo preudicial ao intercLm$io e a
cooperação% Esta corrente centra-se nos seguintes aspectos. apreender os
discursos dos indivduos e dos grupos #ue mantêm a representação de um
dado o$etoF apreender os comportamentos e as pr!ticas sociais por meio
das #uais as representaçBes se mani)estamF e,aminar os documentos eregistros nos #uais os discursos" as pr!ticas e os comportamentos são
institucionali(ados" analisando as interpretaçBes #ue estes rece$em nos
meios de comunicação de massa" os #uais contri$uem tanto para a
manutenção #uanto para a trans)ormação das representaçBes%
'esumindo a a$ordagem culturalista" &êga H9@@@" p%39JI indica
as seguintes caractersticas como )undamentais para a de0nição de
representação social% 3I ] sempre representação de um o$etoF 9I tem
sempre um car!ter imag6tico e a propriedade de dei,ar intercam$i!veis a
sensação e a ideia" a percepção e o conceitoF ;I tem um car!ter sim$ólico
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e signi0canteF >I tem um car!ter construtivoF 7I tem um car!ter autnomo
e criativo%
Para Denise odelet H9@@3I" principal representante da corrente
culturalista" a noção de representação interessa todas as ciências
=umanas% Assim" ela pode ser encontrada na &ociologia" Antropologia e
<istória" #ue a estuda em suas relaçBes com a ideologia" os sistemas
sim$ólicos e as atitudes sociais re\etidas pelas mentalidades% Com $ase
em autores como Mic=elat ^ &imon H3JKKI" Mabtre H3JK9I" +ourdieu H3J89I
e aOe H3JK;I" Denise odelet a0rma #ue para o sociólogo a representação
social se relaciona a comportamentos polticos e religiosos" aparecendo"
pela sua o$etivação na linguagem e sua aceita$ilidade pelo discurso
poltico" como um )ator de trans)ormação social% ! para o =istoriador"
representação pode ser considerada como um elemento necess!rio da
cadeia conceitual" permitindo" assim" pensar as relaçBes entre o material e
o mental% Para o antropólogo" por seu turno" em cada )ormação social ela
atri$ui a propriedade de particulari(ar a ordem cultural de ser constitutiva
do realF e" da organi(ação social" de ter uma e0c!cia própria em seu devir%
odelet entende #ue a noção de representação social apresenta"como os )enmenos #ue ela permite a$ordar" certa comple,idade na sua
de0nição e em seu tratamento% &ua posição mista na encru(il=ada de
uma s6rie de conceitos sociológicos e de conceitos psicológicos implica
#ue ela sea relacionada com os processos #ue se erguem de uma
dinLmica social e de uma dinLmica ps#uica% Deve-se considerar" de um
lado" o )uncionamento cognitivo e o do aparel=o ps#uico" de outro" o
)uncionamento do sistema social" dos grupos e das interaçBes" namedida em #ue estes a)etam a gênese" a estrutura e a evolução das
representaçBes e são a)etados por sua intervenção% Pondera #ue odelet
#ue 6 necess!rio #ue as representaçBes sociais devem ser estudadas
articulando elementos a)etivos" mentais e sociais e integrando" ao lado da
cognição" da linguagem e da comunicação" a consideração das relaçBes
sociais #ue a)etam as representaçBes e a realidade material" social e ideal
so$re a #ual elas intervêm% Para a autora" )oi nessa perspectiva #ueMoscovici )ormulou e desenvolveu sua teoria% odelet menciona #ue =!
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representaçBes #ue atravessam os indivduos% &ão as #ue impBem uma
ideologia dominante" ou as #ue estão ligadas a uma condição de0nida no
interior da estrutura social% Mas" mesmo nesses casos" o compartil=ar
implica uma dinLmica social #ue considera a especi0cidade das
representaçBes H?$idem" p%;9I%
4o nvel dos processos de )ormação" a partir de Moscovici" odelet
di( #ue as representaçBes sociais se estruturam na o$etivação e na
ancoragem% :odavia" independentemente dos aspectos de
desenvolvimento" os processos de )ormação das representaçBes dão conta
de sua estruturação% ?sso vale" segundo a autora" particularmente para a
o$etivação" #ue se decompBe em três )ases. construção seletivaF
es#uemati(ação estruturante e naturali(ação% As duas primeiras" ligadas
ao pertencimento social dos indivduos" mani)estam notadamente o e)eito
da comunicação e das restriçBes% Xuanto ancoragem" esta interv6m na
)ormação das representaçBes assegurando sua incorporação no social e
enrai(ando-as numa rede de signi0caçBes #ue permite situ!-las )ace aos
valores sociais e dar-l=es coerência% 4o #ue respeita aos conteúdos das
representaçBes R conteúdos representativos R a0rma odelet #ue estesestão 0,ados nos di)erentes suportes. linguagem" discurso" documentos"
pr!ticas" dispositivos materiais" sem preulgar a e,istência de
correspondência entre eventos intraindividuais e coletivos% 4o nvel dos
conteúdos representativos" as representaçBes produ(em três tipos de
e)eito. as distorçBes" as suplementaçBes e os des)al#ues%
odelet di( #ue as representaçBes circulam nos discursos" são
carregadas pelas palavras" veiculadas nas mensagens e imagensmedi!ticas" cristali(adas nas condutas e agenciamentos materiais ou
espaciais% Essas representaçBes )ormam um sistema e dão lugar a teorias
espontLneas" versBes da realidade #ue encarnam as imagens ou
condensam as palavras" am$as carregadas de signi0caçBes% &egundo a
autora" por meio dessas diversas signi0caçBes" as representaçBes
e,primem os indivduos ou grupos #ue os )oram e dão do o$eto #ue
representam uma de0nição espec0ca% Essas de0niçBes partil=adas pelosmem$ros de um mesmo grupo constroem para esse grupo uma visão
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consensual da realidadeF visão" #ue pode entrar em con\ito com a de
outros grupos" 6 um guia para as açBes e trocas cotidianas H9@@3" p%93I%
As representaçBes sociais" na ótica de odelet" são )enmenos
comple,os sempre ativos #ue operam na vida social e #ue em sua ri#ue(a
)enomênica caracteri(am diversos elementos #ue são s ve(es estudados
de maneira isolada% Esses elementos podem ser in)ormativos" cognitivos"
ideológicos" normativos" crenças" valores" atitudes" opiniBes" imagens"
elementos culturais" ideológicos" dentre outros% 4ão o$stante" tais
elementos são sempre organi(ados como uma esp6cie de sa$er #ue di(
alguma coisa so$re o estado da realidade% Para odelet" a caracteri(ação
da representação social so$re a #ual =! acordo na comunidade cient0ca 6
a de #ue representação 6 uma )orma de con=ecimento" socialmente
ela$orado e compartil=ado" #ue tem um o$etivo pr!tico e concorre para a
construção de uma realidade comum a um conunto social% De igual modo
ressalva #ue marcado como sa$er do senso comum ou ainda sa$er
ingênuo" esta )orma de con=ecimento distingue-se do con=ecimento
cient0co% :odavia" 6 tida como um o$eto de estudo tão legtimo #uanto
a#uele" por sua importLncia na vida social" pelos esclarecimentos #ue tra(acerca dos processos cognitivos e as interaçBes sociais% Como )enmeno
cognitivo" di( odelet" associam o pertencimento social dos indivduos s
implicaçBes a)etivas e normativas" s interiori(açBes das e,periências" das
pr!ticas" dos modelos de conduta e de pensamento" socialmente
inculcados ou transmitidos pela comunicação social a #ual estão ligados%
Por esta ra(ão" seu estudo constitui uma contri$uição decisiva para a
apro,imação da vida mental individual e coletiva% H?$idem" p% ;2I4essa perspectiva" as representaçBes sociais são a$ordadas
simultaneamente como o produto e o processo de uma atividade de
apropriação da realidade e,terior ao pensamento e da ela$oração
psicológica e social da realidade% ?sso implica di(er #ue se est! interessado
em uma modalidade de pensamento" so$ seu aspecto constituinte" os
processos" e constitudo" os produtos ou conteúdos% Portanto" 6 uma
modalidade de pensamento #ue tem sua especi0cidade em seu car!tersocial% odelet esclarece #ue o ato de representar ou corresponde a um ato
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de pensamento pelo #ual o indivduo se relaciona com um o$eto% Este
o$eto tanto pode ser um evento material" ps#uico ou social" um
)enmeno natural" uma ideia" uma teoria" etc% Pode ser tanto real #uanto
imagin!rio ou mtico" mas sempre re#uer um o$eto% Portanto" declara a
autora. não =! representação sem o$eto% H?$idem" p%99I
Xuanto ao ato de pensar" #ue esta$elece a relação entre o
sueito e o o$eto" este tem caractersticas espec0cas em relação a outras
atividades mentais Hperceptiva" conceitual" memorial etc%I% De um lado" a
representação mental" como a representação pictórica" teatral ou poltica"
d! uma visão desse o$eto" toma-l=e o lugar" est! em seu lugarF ela o
torna presente #uando a#uele est! distante ou ausente% A representação
6" pois" a representante mental do o$eto #ue reconstitui sim$olicamente%
De outro lado" como conteúdo concreto do ato de pensar" a representação
carrega a marca do sueito e de sua atividade% De acordo com odelet" este
último aspecto remete ao car!ter construtivo" criativo e autnomo da
representação #ue comporta uma parte de reconstrução" de interpretação
do o$eto e de e,pressão do sueito H?$idemI%
-)-)+) A C!rr"#$" S!'i"$a4 " a T"!ria (! N'4"! C"#$ra4
De acordo com Almeida" a corrente societal" preconi(ada por
illem Doise" $usca a articulação de e,plicaçBes de ordem individual com
e,plicaçBes de ordem societal" evidenciando #ue os processos #ue os
indivduos dispBem para )uncionar em sociedade são orientados por
dinLmicas sociais interacionais" posicionais ou de valores e de crençasgerais%
Essa perspectiva pressupBe a integração de #uatro nveis de
an!lise% primeiro )ocali(a os processos interindividuais" analisando o
modo como os individuais organi(am suas e,periências com o meio
am$iente% segundo" centra-se nos processos interindividuais e
situacionais" $uscando nos sistemas de interação os princpios e,plicativos
tpicos das dinLmicas sociais% terceiro" leva em conta as di)erentes
posiçBes #ue os indivduos ocupam nas relaçBes sociais e analisa como
essas posiçBes modulam os processos do primeiro e segundo nveis%
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#uarto nvel de an!lise en)oca os sistemas de crenças"
representaçBes" avaliaçBes e normas sociais" adotando o pressuposto de
#ue as produçBes culturais e ideológicas" caractersticas de uma
sociedade ou de certos grupos" dão signi0cação aos comportamentos dos
indivduos e criam as di)erenciaçBes sociais" em nome de princpios gerais
Hp%39JI% &egundo Almeida" Doise entende as representaçBes sociais como
princpios geradores de tomadas de posição" ligados s inserçBes sociais
espec0cas" organi(ando os processos sim$ólicos #ue inter)erem nas
relaçBes sociais%
Doise de0ne o estudo das representaçBes sócias como a an!lise
das regulaçBes e)etuadas pelo metasistema das relaçBes sociais
sim$ólicas nos sistemas cognitivos individuais" o #ual deve responder
seguinte #uestão. #uais regulaçBes sociais atuali(am #uais
)uncionamentos cognitivos em #uais conte,tos espec0cosW 4esse
entendimento" propBe uma a$ordagem tridimensional para estudar as
representaçBes sociais" sendo #ue cada etapa dessa a$ordagem
corresponderia a uma =ipótese espec0ca% Para Doise isso signi0ca
identi0car o campo comum das representaçBes sociais" isto 6" identi0caros elementos comuns e a )orma como eles se organi(am no estudo das
representaçBes%
Dentro da a$ordagem estruturalista" de)endida por A$ric" destaca-
se a :eoria do 4úcleo Central" cuo )oco centra-se so$re os conteúdos
cognitivos das representaçBes" organi(ados e estruturados em torno de
um sistema central peri)6rico%
A organi(ação de uma representação apresenta umamodalidade particular" especi0ca. não apenas os elementosda representação são =ierar#ui(ados" mas ainda" todarepresentação 6 organi(ada em torno de um núcleo central"construdo de um ou alguns elementos #ue dão !representação sua signi0cação HA+'?C" 3JJ>" p%3J a$udA/ME?DA" 9@@7" p%3;9I%
&egundo Almeida" a ideia essencial da :eoria do 4úcleo Central 6 a
de #ue toda representação 6 organi(ada em torno de um núcleocentrali(ador" entendido como o elemento )undante" uma ve( #ue
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determina sua signi0cação e organi(ação interna% Assim" o núcleo central
seria composto de um ou mais elementos" mais est!veis" coerentes"
consensuais e =istoricamente de0nidos" cua essência destruiria a
representação ou l=e daria uma signi0cação completamente di)erente%
s elementos peri)6ricos por seu turno estão em relação direta com
o núcleo central" tendo uma importante )unção no )uncionamento da
representação )rente s pr!ticas sociais ligadas ao o$eto% Estes elementos
são menos est!veis e mais perme!veis ao conte,to imediato e por isso
são eles #ue vão permitir as variaçBes ou modulaçBes individuais%
Considerando os elementos centrais e peri)6ricos" constata-se #ue a
representação social 6 ao mesmo tempo est!vel e inst!velF rgida e
\e,vel% ] tam$6m tanto consensual #uanto marcada por )ortes di)erenças
interindividuais%
Para Almeida" a :eoria do 4úcleo Central )ornece elementos para
compreender e e,plicar o processo de trans)ormação das representaçBes%
Assim" uma mudança de representação só aconteceria se os elementos"
a#ueles #ue l=e dão signi0cação" )orem trans)ormados% &endo assim" A$ric
então classi0ca três )ormas de trans)ormação das representaçBes sócias.trans)ormaçBes resistentes" trans)ormaçBes progressivas e trans)ormaçBes
$rutais%
As trans)ormaçBes resistentes se dão #uando novas pr!ticas
contraditórias podem ser ainda geridas pelo sistema peri)6rico e pelos
mecanismos cl!ssicos de de)esa% Estes elementos podem ser
interpretação e usti0cação ad hoc" racionali(açBes" re)erência s normas
e,ternas das representaçBes" etc%As trans)ormaçBes progressivas ocorrer #uando novas pr!ticas
sociais não são totalmente contraditórias com o núcleo central das
representaçBes% s es#uemas ativados pelas novas pr!ticas vão se
integrar progressivamente aos es#uemas do núcleo central" constituindo
um novo núcleo" e" por conseguinte" uma nova representação%
As trans)ormaçBes $rutais acontecem #uando" sem possi$ilidade
de recorrer aos mecanismos de)ensivos" as novas pr!ticas pBem em ,e#ueo signi0cado central da representação% A partir disso" a relevLncia destas
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novas representaçBes" sua permanência e seu car!ter irreversvel
desencadeiam uma trans)ormação direta e completa do núcleo central" e"
portanto" de toda a representação%
De acordo com a an!lise de Almeida" os pressupostos teóricos da
:eoria do 4úcleo Central permitem #ue A$ric conclua #ue o estudo de uma
representação social não pode e não deve se limitar unicamente
identi0cação de seu conteúdo" devendo necessariamente incluir o estudo
de sua estrutura e organi(ação interna%
Almeida ressalta #ue as três correntes de estudo das
representaçBes sociais" representadas por uma a$ordagem de cun=o mais
culturalista ou mais sociológica ou pela a$ordagem estrutural" não
provocaram uma dissensão no interior da escola inaugurada por &erge
Moscovici% 4o entanto" o$serva #ue não )oi possvel evitar #ue lderes e
seguidores dessas correntes marcassem claramente suas di)erenças" e" ao
apontarem para os limites de cada uma delas" di)undiram suas
a$ordagens e con#uistaram novos adeptos%
-)>) A NOÇÃO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL PELO VIS DA ISTRIACULTURAL
Dentro do #ue menciona Almeida H9@@7I outro autor muito
con=ecido #ue se em$asou na ideia de representação coletiva proposta
por DurN=eim )oi 'oger C=artier" mas di)erentemente de Moscovici" #ue
tende para o espaço psicológico" C=artier o$serva as representaçBes pelo
vi6s da <istória Cultural" #ue surge a partir dos anos 3J9@ com os
=istoriadores )ranceses da Escola dos Annales% Esses =istoriadores
passaram a criticar severamente a =istória poltica metódica" acusando-a
de elitista" erudita e acrtica% Essa )orma de <istória" segundo os analistas"
não cola$orava na compreensão da sociedade" uma ve( #ue" priori(ando o
poltico" dei,ava de lado as mentalidades" o cultural e o social% pondo-se
a essa postura" a Escola dos Annales engendrou uma nova )orma de )a(er
<istória" #ue 0cou con=ecida como <istória Cultural%
Para 4ilo d!lia" na apresentação da o$ra de Peter +urNe" YArevolução )rancesa da =istoriogra0aZ H3JJ3I" a necessidade de uma
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=istória mais a$rangente e totali(ante surge do )ato de #ue o =omem se
sentia como um ser cua comple,idade em sua maneira de sentir" pensar
e agir" não podia redu(ir-se a um p!lido re\e,o de ogos de poder%
&egundo d!lia" )a(er uma nova =istória era menos redesco$rir o =omem
do #ue desco$ri-lo na plenitude de suas virtualidades" #ue se inscreviam
concretamente em suas reali(açBes =istóricas% 4esse sentido" surge
necessidade de ir $uscar em outras ciências os conceitos e os
instrumentos #ue permitiriam ampliar a visão do =omem%
Portanto" apoiada na interdisciplinaridade" nasce a <istória Cultural"
#ue $usca provocar re\e,Bes acerca de novas tem!ticas ao mesmo tempo
em #ue o)erece a oportunidade de coligar ao seu campo de estudo as
representaçBes sociais" as mentalidades" o imagin!rio coletivo" as pr!ticas
sim$ólicas" os mitos" etc% Com isso" a investigação =istórica se alargou no
=ori(onte da pes#uisaF passou-se a o$servar os sentimentos e os anseios
da cultura poltica de di)erentes grupos e as maneiras pelas #uais certas
atitudes são instauradas% A <istória Cultural" portanto procurou promover
uma re\e,ão so$re as culturas centrada nos sueitos =istóricos" en)ocando
os con)rontos polticos presentes em di)erentes espaços e pr!ticas sociais%
&egundo C=artier H9@@9" p%32I" Ya =istória cultural H%%%I tem por principal
o$eto identi0car o modo como em di)erentes lugares e momentos uma
determinada realidade social 6 constituda" pensada" dada a ler%Z 4esta
acepção" assegura #ue
H%%%I ao tra$al=ar so$re as lutas de representação" cua#uestão 6 o ordenamento" portanto a =ierar#ui(ação da
própria estrutura social" a =istória cultural separa-se semdúvida de uma dependência demasiadamente estrita deuma =istória social dedicada e,clusivamente ao estudo daslutas econmicas H%%%I" pois centra a atenção so$re asestratgias sim%2licas #ue determinam posiçBes e relaçBes e#ue constroem" para cada classe" grupo ou meio" um serperce$ido constitutivo de sua identidade HC<A':?E'" 3JJ3"p%38;% Gri)o nossoI%
Posicionando-se assim nos )undamentos da <istoria Cultural 6 #ue
'oger C=artier recorre a ]mile DurN=eim )a(endo uma releitura da sua
ideia de representaçBes coletivas" da #ual" segundo C=artier 6 possvel
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!"
en,ergar três con0guraçBes de relação com o mundo social% &endo assim"
a0rma.
Este retorno a H%%%I Emile DurN=eim e noção de_representação coletiva` autori(a a articular H%%%I trêsmodalidades de relação com o mundo social. de incio" otra$al=o de classi0cação e de recorte #ue produ(con0guraçBes intelectuais múltiplas pelas #uais a realidade 6contraditoriamente construda pelos di)erentes grupos #uecompBem uma sociedadeF em seguida" as pr!ticas #uevisam a )a(er recon=ecer uma identidade social" a e,i$iruma maneira própria de ser no mundo" a signi0carsim$olicamente um estatuto e uma posiçãoF en0m" as)ormas institucionali(adas e o$etivadas em virtude das#uais _representantes` HinstLncias coletivas ou indivduos
singularesI marcam de modo visvel e perp6tuo a e,istênciado grupo" da comunidade ou da classe HC<A':?E'" 3JJ3"p%38;I%
Para C=artier a ideia de representação 6 entendida como relação
entre uma imagem presente e um o$eto ausente" um valendo pelo outro
por #ue l=e 6 =omóloga% ?sso" con)orme o autor" permite discriminar
di)erentes categorias de signos da#uilo #ue 6 representado e caracteri(ar
o sm$olo por sua di)erença com outros signos% Por outro lado" C=artierassevera #ue poderia =aver possveis incompreensBes da representação"
pelo )ato de e,travagLncia de uma relação ar$itraria entre signo e o
signi0cado% 4esse conte,to" menciona.
As )ormas de teatrali(ação da vida social na sociedade deAntigo 'egime dão o e,emplo mais mani)esto de umaperversão da relação de representação% :odas visam" de )ato"a )a(er com #ue a coisa não ten=a e,istência a não ser na
imagem #ue e,i$e" #ue a representação mascare ao inv6sde pintar ade#uadamente o #ue 6 seu re)erente% HC<A':?E'"3JJ3" p%387I
C=artier o$serva #ue toda re\e,ão so$re a sociedade de Antigo
'egime9 redunda na perspectiva de se considerar a posição o$etiva de
cada indivduo como dependente do cr6dito #ue a#ueles de #ue espera
2 Anti&o Re&ime foi um termo criado #e$o *istoriador francs A$eis de 3oc4ue,i$$e (180/518/9 #ara se referir
ao sistema #o$ítico econ6mico e socia$ 4ue se ori&inou na rana e #osteriormente se difundiu ao $on&o dosscu$os :;< ao :;<<< #e$a =uro#a >cidenta$ abran&ido suas co$6nias nas Amricas e no restante do mundo. A
estrutura do Anti&o Re&ime marcada #e$a forte centra$i'a?o do =stado na m?o do rei a$&o con*ecido como
monar4uia abso$utista a 4ua$ te,e como &rande mode$o o monarca Luís :<; da rana (;<LAR 2010 #.1.
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recon=ecimento con)erem representação #ue d! a sim mesmo% Dessa
maneira a ideia de representação 6 pertur$ada pela )ra#ue(a da
imaginação" #ue )a( com #ue se tome o engano pela verdade" #ue
considera os signos visveis como ndices seguros de uma realidade #ue
não 6% A representação" nesse sentido" trans)orma-se em m!#uina de
)a$ricar respeito e su$missão% Assim" na 0delidade crtica tradição dos
Annales" como ele mesmo di(" C=artier de)ende #ue se deve rearticular as
pr!ticas culturais so$re as )ormas de e,erccio do poder" e" ao mesmo
tempo" uma re)ormulação na maneira de austar a compreensão das
representaçBes e das pr!ticas s divisBes do mundo social%
Para Carval=o H9@@7I" a ideia de representaçBes sociais proposta por
'oger C=artier e,prime um encadeamento de tensBes #ue $uscam
contra$alançar a dicotomia entre estruturalismo e 0loso0a do sueito%
Essas tensBes resultam da incorporação de elementos e,plicativos de
di)erentes tradiçBes intelectuais. a tensão entre representação
condicionada pelo social e a representação da matri( constitutiva do
socialF a tensão entre a )unção poltica e a )unção lógica das
representaçBesF a tensão entre a representação da realidade e a realidadeda representaçãoF a tensão entre as modalidades do )a(er crer e as )ormas
de crença Hp%37KI%
Das conceituaçBes de representação social e,postas a#ui" a #ue
mel=or se presta para reali(ar uma leitura do canto or)enico como
representação de poder 6 a#uela entendida segundo C=artier% Portanto a
$ase para essa leitura segundo as representação se 0,ar! nas proposiçBes
de C=artier%
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CAP8TULO +
'EP'E&E4:AE& CM E&PE:CU/& DE PDE'
A representação social do poder como espetaculari(ação resulta da )ormade dominação poltica dos regimes ditatoriais #ue" de maneira
dissimulada" propBem di)undir a ideologia da )orça dominante"
teatrali(ando os acontecimentos do cotidiano% A representação social do
poder" portanto" 6 a representação social do poder poltico vigente" uma
ve( #ue este 6 a )orma do poder institudo% 4esse conte,to" =! uma )orte
atuação das instituiçBes sociais na )ormação e no adestramento dos
cidadãos" $em como no controle das açBes e pr!ticas di!rias%
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Estado impBe um sistema de controle social e mascara esse
controle sistemati(ado so$ a )orma de representação )a(endo #ue não se
en,ergue a verdade por tr!s dos )atos% Amoretti H9@3@I )a( duas
o$servaçBes nesse conte,to. aI o poder poltico tem a tendência de se
institucionali(ar por#ue essa 6 a )orma #ue ele encontra para se legitimarF
$I =! um poder da ?nstituição e,ercido so$re o indivduo" uma ve( #ue =!
toda a =istória a )avor desta" e" por isso" ela 6 dotada de caractersticas
como e,terioridade" o$etividade coercitividade e =istoricidade%
Para Amoretti" #uando a representação social do poder poltico
estreita os laços de a0nidade com a ?nstituição" ela se caracteri(a
progressivamente como autorre\e,iva e autorre)erente% Dessa )orma"
presa ao processo de institucionali(ação" a poltica tende a perder a
capacidade de tradu(ir os anseios dos cidadãos" tornando-se comum e
natural ver o tratamento poltico" para #uestBes da realidade social"
restrito 0gura de um lder" #ue se incum$e de representar a nação%
A lógica das representaçBes sociais da poltica" nessa
perspectiva" dei,a aparecer o ogo de interesse" resistentes pelo =a$ito"
#ue colocam em c=e#ue toda a conunção social% Assim" no Lm$ito da
poltica como instituição" as representaçBes sociais dominantes tendem a
corromper-se para manter seu domnio HAM'E::?" 9@3@I% 4o conte,to
desse ogo de interesse poltico 6 comum se notar as pr!ticas
espetaculares" a teatralidade do poder instaurado" #ue" como di( &ou(a
H9@@KI 6 uma ocorrência inerente na sociedade%
A rigor pode-se di(er #ue o espet!culo 6 imanente constituição social" assim como os rituais" representaçBes"pap6is" m!scaras sócias" etc% Portanto" a espetaculari(açãodas relaçBes deve ser compreendida como inerente a todasas sociedades =umanas e" por conseguinte" presente emgrande parte das instLncias organi(ativas e pr!ticas sociaisHp%;>I%
Por tr!s de todas as )ormas de arrano da sociedade e de
organi(açBes dos poderes" o antropólogo Georges +alandier H3J89I relata
#ue est! sempre presente o governo dos $astidores% A essa )orma degovernar" +alandier c=ama de _teatrocracia%` termo )oi cun=ado com
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$ase na peça teatral do russo 4icolau Evreinov" #ue monta um tri$unal
para todas as mani)estaçBes da e,istência social" so$retudo as do poder
poltico% &egundo +alandier" como um regime permanente #ue se impBe
aos diversos regimes polticos" a _teatrocracia` tende a regular a vida
cotidiana da sociedade%
Ainda de acordo com o autor" o grande lder politico" #ue na
_teatrocracia` se con0gura como um ator poltico" comanda o real atrav6s
do imagin!rio% a(endo-se presente nas cenas polticas do regime
governista este ator produ( um espet!culo teatral" como se o$serva no
caso do rei /us ?5 da rança" #ue se torna comediante em seus
di&ertissements" )a(endo da ópera )rancesa um espaço poltico% +urNe
H9@@3I esclarece.
Em 32J9 )oi organi(ado um dos mais grandiosos espet!culospú$licos do reinado" o carrousel" numa praça em )rente s
:uileries% 4a ?dade Media" o carrossel )ora uma competiçãopopular em #ue =omens a cavalo deviam correr numpicadeiro e reali(ar proe(as H%%%I% A aparição de /us a cavalocomo _imperador dos romanos` )oi um e#uivalente de suasapariçBes no palco" com a di)erença de #ue nesta ocasião a
audiência era muito maior% H%%%I A importLncia poltica doevento" o primeiro divertimento de verdadeiro esplendor dorei H%%%I )oi ressaltado nas memórias reais Hp%K8I%
&egundo +urNe" a imagem de /us ?5 como _ator poltico` e
patrocinador magni0cente das artes rece$eu grande ên)ase durante o seu
reinado% Para o autor" isso tin=a o o$etivo de causar impacto so$re a
Europa" numa verdadeira guerra de diplomacia #ue primava em manter a
autoa0rmação do rei%
H%%%I os eventos do incio da d6cada de 322@ sugerem #ue o ovem rei e seus consel=eiros estavam determinados acausar um impacto so$re o pu$lico" tanto domestico #uantoestrangeiro% s meios empregados )oram a diplomacia e os)estivais" am$os cuidadosamente anunciados em outrosmeios de comunicação H+U'QE" 9@@3% p%K2I%
+urNe conclui di(endo #ue a vida di!ria de /us ?5 compun=a-
se de açBes #ue não eram simplesmente recorrentes" mas carregadas de
sentido sim$ólico" uma ve( #ue eram desempen=adas em pú$lico por um
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ator cua pessoa era sagrada% Assim" os o$etos mais intimamente
associados ao rei tam$6m se tornavam sagrados por#ue o representavam%
Perce$e-se #ue as mençBes de Peter +urNe re)erenciadas acima
se encadeiam com as ponderaçBes de +alandier H3J89I ao ressaltar #ue
por meio do espet!culo o poder se mostra como sua própria emanação"
assegurando sua representação e devolvendo uma imagem ideali(ada da
sociedade% 4o entanto" essa representação implica separação" esta$elece
=ierar#uias" muda os #ue estão em di)erentes cargos e )a( de toda a
sociedade um grande espet!culo%
4essa perspectiva" +alandier destaca #ue para marcar sua
entrada na =istória e a0rmar sua )orça" o poder poltico utili(a meios
espetaculares como comemoraçBes e mani)estaçBes artsticas% Para o
autor" a )esta d! motivo para a sociedade se mostrar idealmente de
maneira espetacular" uma ve( #ue situaçBes e circunstLncias contri$uem
para acentuar a teatralidade poltica% Assim" mais aparente em certas
sociedades do #ue em outras" a teatralidade" cua principal caracterstica
6 a ostentação e a decoração" 6 o meio pelo #ual o poder poltico o$t6m a
su$ordinação%4outro ponto" +alandier menciona #ue o #ue se impBe desde
logo 6 #ue a representação espetacular da vida social não se separa de
uma representação do mundo" de uma cosmologia tradu(ida em o$ras e
em pr!ticas% 4esse sentido" destaca #ue os sistemas polticos e as
encenaçBes de poder constituem uma re)erência necess!ria em vista do
esclarecimento de aspectos at6 então descon=ecidos Hp%3>I%
?gualmente" o$serva #ue a trans0guração provocada pelo podere a encenação da =ierar#uia se tornam evidentes nos regimes em #ue
a$undam os sm$olos" pois tudo se relaciona ao c=e)e de Estado" ao lder
so$erano% :udo se sim$oli(a e se dramati(a por ele% YEle esta no centro da
representação. pal!cio" cortesãos" desdo$ramento de )orça" cerimonial e
)esta" marcas de di)erenciação e comportamentos codi0cadosZ H+A/A4D?E'"
3J89" p%3KI%
+alandier di( #ue =! di)erentes modos de dramati(ação social enesse sentido o autor esta$elece uma di)erença entre o ocidente medieval
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Con)orme <esN H9@@KI" as Dionsias eram parte de um ogo
poltico no #ual Pisstrato manuseava a religião contra a aristocracia
ateniense" tentando 0rmar uma identi0cação entre o indivduo e o Estado%
A construção sim$ólica em torno das Grandes Dionsias agiaem )unção de um investimento nos processos identit!rios ede rea0rmação de um tipo de ideologia #ue valori(ava osne,os cvicos e a relevLncia para a $olis da participação doscidadãos nos Lm$itos social e poltico%
Xuanto :rag6dia" para Gold=ill H3J8KI ela )a(ia parte de um
conte,to poltico #ue aca$ava por desconstruir o discurso ideológico
apresentado pelo Estado grego" uma ve( #ue cerimnias pr6vias s
encenaçBes teatrais revelavam as relaçBes de poder sim$ólico
esta$elecidas antes de as :rag6dias serem postas em cena% YA trag6dia ser
vista em seu conte,to H%%%I como uma comple,a ação social #ue )a( alusão" no
ogo dram!ticoZ HME'+ECQ " 9@33" p%7 apud H'?ED'?C<"3JJ2" p% 92JI%
Para se )a(er uma leitura acerca da teatrali(ação mani)esta como
)erramenta do poder poltico" como o$servado no e,emplo das
Dionsias" al6m de +alandier H3J82I" tam$6m pode-se apoiar a De$ord
H9@@7I" #uando este autor a0rma #ue o espet!culo possui a tendênciade )a(er ver" por di)erentes mediaçBes especiali(adas" um mundo #ue
não se pode tocar diretamente% De$ord menciona #ue o espet!culo
apresenta-se ao mesmo tempo como a própria sociedade" como uma
parte da sociedade e como instrumento de uni0cação% Entretanto" a
uni0cação #ue se reali(a não 6 outra coisa senão uma linguagem o0cial
da separação generali(ada% ?sso por#ue o espet!culo #ue se reali(a" de
)orma manipulatória" 6 o lugar do ol=ar iludido e da )alsa consciência%&o$ o aspecto teatral do espet!culo" o poder poltico revela sua )orça
so$erana" e" em torno da ideologia de seu interesse" uni0ca di)erentes
grupos% Ele constrói um imagin!rio coletivo a partir da dramati(ação dos
acontecimentosF imagin!rio #ue" por via das representaçBes sociais" o
poder instaurado manipula a grande massa =umana a 0m de aproveit!-la
em seu )avor% 4esse conte,to" C=artier o$serva #ue as representaçBes
assim construdas são sempre determinadas pelos interesses de #uem as
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)ora" produ(indo pr!ticas sociais e polticas #ue tendem a impor uma
autoridade custa de outros para legitimar um proeto re)ormador%
Dessa )orma" di( C=artier" as representaçBes se convertem numa
m!#uina de )a$ricar respeito e su$missãoF trans)ormam-se num
instrumento #ue produ( uma e,igência interiori(ada" necess!ria
e,atamente onde )altar o possvel recurso )orça $ruta% Com $ase em
C=artier 6 possvel mencionar #ue nessa perspectiva a representação
tende a considerar a posição o$etiva de cada indivduo como dependente
do controle da#ueles #ue a constroem%
assunto #ue seguir! a$ai,o contemplar! um ol=ar so$re esse
aspecto" mas )ocando o uso da música como suporte representativo de
poder em um dos regimes totalit!rios mais con=ecidos do mundo
moderno. o 4a(ismo% ulga-se pertinente a e,posição dessa tem!tica uma
ve( #ue" como ser! visto mais a diante" 6 nesse sentido #ue o 5arguismo
incorporara o )ascnio dos espet!culos or)enicos a 0m de mascarar os
reais interesses da poltica governista%
+)- A si'a '!! r"0r"s"#$a5;! (" 0!("r: ! 0a#!raa(a A4"a#/a #ais$a
Considerado um dos maiores )enmenos sociopolticos da
=umanidade" o regime na(ista )e( parte das construçBes de ideologias
polticas #ue proli)eravam nos anos 3J;@" erguendo-se a partir de uma
plata)orma de ação #ue visava construir um Estado com $ase na
con0ança" =onra" disciplina" ordem e dedicação% De acordo com o
=istoriador e 0lóso)o social" oão 'i$eiro únior H3JJ3I" produ(indo temor e
aversão ao caos" o 4a(ismo )oi resposta a uma situação de ansiedade
perante o declnio das estruturas sociais e econmicas do Estado Alemão"
&egundo o autor" esse tipo de )enmeno originou-se em sociedades
industriais desenvolvidas" ou de m6dio desenvolvimento" nas #uais se
encontrava uma impetuosa classe capitalista" uma classe oper!ria
numerosa" organi(ada com uma ideologia potencialmente revolucion!ria"
e uma e,tensa camada pe#ueno-$urguesa" presa s contradiçBes entre o
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"!
capital e o tra$al=o" incapa( de encontrar sada para seus dilemas sociais"
polticos e econmicos%
4a origem do 4acional-&ocialismo encontram-se elementos como
regime democr!tico inst!velF poderosos partidos de es#uerdaF uma grave
crise econmica e a cristali(ação dos sentimentos nacionais e pessoais na
pessoa de um c=e)e HFührer I% 4o mesmo sentido dado por Mar," Engels e
/enin" 'i$eiro únior e,plica #ue o Estado na(ista )oi um aparel=o
$urocr!tico #ue mantin=a um car!ter materialista" coletivista"
transpersonalista" e" para alguns" tam$6m um car!ter mstico%; Al6m
disso" o 4a(ismo )oi um meio para servir comunidade do povo
HVolksgemeinschaft I em sua realidade =istórica e dinLmica cuo o$etivo
era" interiormente" conservar e mel=orar a raça H!asseI e" e,teriormente"
con#uistar o espaço vital H3e%ensraumI%
Em estreita relação com as a0rmaçBes de 'i$eiro únior" a 0lóso)a poltica
Alemã de origem udaica" <anna= Arendt H3J8JI" a0rma #ue o colapso do
sistema de classes e da poltica dos Estados-4açBes europeus" um dos
mais dram!ticos acontecimentos da recente =istória alemã" )oi um dos
)atores #ue mais )avoreceu a ascensão do 4a(ismo% Para esta autora" onacionalismo dos anos 3J;@ estava ligado ao governo com a )unção de
manter o e#uil$rio do Estado-nação% Entretanto" por outro lado o$serva
#ue
H%%%I os cidadãos nativos de um Estado-nação)re#uentemente ol=avam com despre(o os cidadãosnaturali(ados H%%%I #ue =aviam rece$ido seus direitos por lei enão por nascimento" H%%%I mas nunca c=egaram ao e,tremo
de propor a distinção pangermanista entre H%%%I aliengenasdo Estado H%%%I e aliengenas da nação" #ue mais tarde )oiincorporada legislação na(ista HA'E4D: 3J8J" p%923I%
4o conte,to acima descrito" Arendt menciona #ue o 4a(ismo )oi se
construindo gradativamente a partir de um pe#ueno partido" tipicamente
nacionalista" )ormado por um grupo de pessoas alienadas% A maioria dos
! )e&undo Couto (2008 o @isticismo a'ista uma subcorrente do a'ismo de nature'a 4uase re$i&iosa na
4ua$ se #ode obser,ar uma mistura da ideo$o&ia na'ista com o ocu$tismo esoterismo #ara#sico$o&ia ecri#to*ist%ria. =sta subcorrente $ida sobretudo com a nfases re$i&iosas dadas - fi&ura de it$er e a su#osta
miss?o do a'ismo na terra. o entanto sua eistncia co$ocada em dB,ida #or a$&uns #es4uisadores 4ue a
considera a#enas uma $enda dos dias modernos.
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seus mem$ros eram pessoas #ue nunca =aviam participado da poltica" o
#ue permitiu a introdução de novos m6todos de propaganda poltica e
indi)erença s ideias da oposição% Esse movimento" at6 então colocado
)ora do sistema de partidos e reeitado por ele" moldou um grupo #ue
nunca =avia sido atingido por nen=um dos partidos tradicionais%
Uma ve( consolidado o Partido 4a(ista" Arendt relata #ue seu novo
m6todo de propaganda visava tornar sua ideologia" totalit!ria e
etnocêntrica" simp!tica aos alemães" isolando-os do mundo e,terior
Aleman=a% Almeando isso" moldados segundo a administração regular do
Estado" o 4a(ismo instituiu uma s6rie de departamentos" como o de
'elaçBes E,teriores" Educação" Cultura" Esportes" etc% valor pro0ssional
dessas instituiçBes" conclui Arendt" era relativamente pe#ueno" mas untas
constituam um mundo de aparências #ue tentava reprodu(ir os aspectos
das naçBes democr!ticas%
ocando as novas estrat6gias polticas desenvolvidas pelo
:erceiro 'eic=" con)orme relatou Arendt" no livro YPropaganda e persuasão
na Aleman=a na(ista"Z a ornalista Paula Die=l H3JJ2I comenta #ue a
propaganda desempen=ou uma )unção central no 4a(ismo" de maneira
#ue sem ela seria impossvel coneturar o mundo totalit!rio na(ista%
&egundo a autora" para o partido 4a(ista a propaganda era o )undamento
respons!vel tanto pela conversão dos simpati(antes #uanto pela
manutenção da ordem arti0cial criada pelo regime em vigor% 4o caso do
na(ista" a propaganda não se limitava apenas aos meios de comunicação
de massa" ela a$rangia todas as atividades sociais%
Uma ve( #ue o universo totalit!rio se constrói em torno de uma
realidade arti0cial caracteri(ada pela manipulação dos )atos" Die=l H3JJ2I
a0rma #ue na Aleman=a governada por Adol) <itler a propaganda não
ocupava e,cepcionalmente um lugar estrat6gico" mas tin=a um papel
)undamental na )ormação e consolidação do imagin!rio alemão" motivo
pela #ual ela não pode ser vista apenas como arti)cio de conversão
poltica% 4a concepção de Die=l" na Aleman=a na(ista a propaganda
protegida as )r!geis estruturas de uma sua realidade criada%
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"/
A partir das consideraçBes apresentadas acima" pode-se
perce$er #ue o 4a(ismo pretendia construir um imagin!rio caracteri(ado
pela manipulação da YrealidadeZ% /ogo" a Aleman=a entre-guerras era um
am$iente ideal para se praticar o teatro poltico e cultivar espet!culos
sedutores" cua principal )unção era servir como meio de e,pansão da
doutrina na(ista% 4um Estado vivendo um processo de desesta$ilidade
econmica e social" Adol) <itler entre outros arti)cios $uscava a sedução
popular apresentado ao povo algo #ue )osse genuinamente identi0c!vel
com sua p!tria%
Como instrumento e0ca( no controle popular e demonstração de
poder" generali(adamente o regime <itlerista utili(ou-se $astante dos
meio artsticos% A partir da criação do YMinist6rio do 'eic= para
Esclarecimento Popular e Propaganda"Z em março de 3J;;" ocorreu o #ue
Pereira H9@@;I denominou de fna(i0cação` das atividades artsticas e
culturais alemãs% 4o Lm$ito descrito por Die=l" a m!#uina de propaganda
na(ista passou a ol=ar mais de perto a música dos grandes compositores
alemães como Anton +rucNner" +eet=oven e 'ic=ard agner R a 0m de
in0ltrar no imagin!rio coletivo a ideia de #ue os germLnicos eram" al6m detudo" tam$6m o _povo da música` HAPP/EGA:EF P::E'" 9@@9I%
A poltica na(ista entendendo isso $uscou notadamente em 'ic=ard
agner e +eet=oven uma )orma de representar a pure(a da arte alemã%
Atrav6s das ondas do '!dio" nessa 6poca a o$ra desses compositores
passou a ser transmitida diariamente para todo o pas" num processo
associativo entre música sin)nica e estrat6gia governista% Em suma"
pode-se di(er #ue a música de agner e +eet=oven )oi um instrumentodinLmico em mãos na(istas para 0ns e,pansivos e de demonstração de
poder%
Contudo" 6 importante gri)ar #ue para a divulgação de sua
ideologia" pelo vi6s artstico" o 4acional-&ocialismo pretendia
primeiramente depurar a arte de Ygermes contaminadoresZ% Essa
depuração consistia em eliminar #uais#uer elementos considerados como
essencialmente não alemão% Para Adol) <itler a arte alemã estavacontaminada com elementos estrangeiros" principalmente udaicos" #ue a
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tornavam uma arte corrompida% Pretendendo retirar da Aleman=a tudo
a#uilo #ue possivelmente pudesse ameaçar sua cultura artstica" a partir
da criação do Minist6rio do 'eic= para Esclarecimento Popular e
Propaganda" em março de 3J;;" ocorreu o #ue Pereira H9@@;I denominou
como _na(i0cação` das atividades artsticas e culturais alemãs" resultando
na eliminação de v!rias instituiçBes culturais% Para então cele$rar a pura
Arte germLnica" em 3J;K )oi institudo o YDia da Arte AlemãZ HTag der
deutschen Kunst I" cua comemoração se caracteri(ava por um gigantesco
des0le militar ao som da :erceira &in)onia de Anton +rucNner HG?//?A4"
3JJKI%
4o tocante a essa suposta _contaminação` da Arte alemã" Adol)
<itler H3J29I di(ia #ue a civili(ação da 6poca era inimiga da elevação
moral do esprito de um povo" no caso" o povo alemão% <itler se re)eria em
especial Arte de vanguarda" #ue adentrava o s6culo e se in0ltrava na
Arte Ycomo elemento #ue l=e era a$solutamente estran=o e
descon=ecidoZ H<?:/E'" 3J29" p%33;I% Para o lder na(ista" um desli(e
artstico e um suposto desvirtuamento do $om gosto est6tico poderiam
dar prova da runa da Arte e de um desvio intelectual% 4essa perspectiva"a0rma #ue
H%%%I o $olc=evismo da arte 6 a única )orma cultural possvelda e,teriori(ação do mar,ismo% Xuando essa coisa estran=aaparece" a arte dos Estados $olc=evi#ui(ados só pode contarcom produtos doentios de loucos ou degenerados #ue" desdeo s6culo passado" con=ecemos so$ a )orma de dadasmo ecu$ismo" como a arte o0cialmente recon=ecida e admirada%%%%h ] um dever dos dirigentes proi$ir #ue o povo caia so$ a
in\uência de tais loucuras% %%%h &o$ todos os aspectos"estamos em uma situação em #ue vicea o germe #ue" maiscedo ou mais tarde" =! de arruinar a nossa cultura H p%33>I%
Adol) <itler tam$6m a0rmava #ue a música e a ar#uitetura nada
deviam ao udasmo" por#ue de )ato nunca =ouve uma Arte udaica%
Para se ulgar o udasmo em )ace da civili(ação =umana" 6preciso salientar o traço caracterstico mais inerente suanature(a" a sa$er. #ue nunca =ouve uma arte udaica" como
=oe ainda não =!" e #ue as duas rain=as entre as artes - aar#uitetura e a música - nada de espontLneo l=e devem" o
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#ue tem )eito no terreno artstico 6 ou )an)arronice ver$al oupl!gio H?$idem" p%3;;I%
Para <itler" só os alemães eram os possuidores e os
disseminadores do verdadeiro sentimento artstico" uma ve( #ue na suavisão conservavam ao mesmo tempo Arte e ciência em sua cultura% 4esse
esprito u)anista" de )orma teatral" como menciona +alandier H3J82I" o
4a(ismo $uscou em agner e +eet=oven uma )orma de representar a
pure(a da Arte alemã" incutindo no imagin!rio social a concepção de #ue
os grandes lderes artisticos vieram do povo e se tornaram sm$olos
nacionais% Y artista prncipe" nascido do povo" unir! vida e Arte
anunciando o Estado-4ovoZ HC<E4" 3J8J a$ud 'A5?E'" 3JJ8" p% 82I% Em$asando-se nos princpios legitimadores de uma _raça superior"
` <itler via em 'ic=ard agner alguns dos ideais do 4a(ismo" como um
suposto antissemitismo" culto ao legado nórdico" mito do sangue puro e os
rudimentos de uma Arte legtima% Y'ic=ard agner" como músico" escritor
poltico e personalidade" representou a e,periência )undamental para a
)ormação de <itlerZ HE&:" 9@@7" p%37I% ] )ato #ue Adol) <itler nutria laços
de ami(ade com a )amlia de agner e #ue este )oi seu compositorpre)erido%
Aos do(e anos vi pela primeira ve( %%%h _/o=engrin`" a primeiraópera #ue assisti na min=a vida% &enti-me imediatamentecativado pela música% entusiasmo uvenil pelo mestre de+aOreut= não con=ecia limites% Cada ve( mais me sentiaatrado pela sua o$ra" e considero =oe uma )elicidadeespecial #ue a maneira modesta por #ue )oram as peçasrepresentadas na capital da provncia me tivesse dei,ado a
possi$ilidade de um aumento de entusiasmoem representaçBes posteriores mais per)eitas H<?:/E'" 3J29"p% 33I%
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I4us$ra5;! -: Adol) <itler com ine)red agner" nora de 'ic=ard agner" em 3J;;" noestival de +eireut=%
F!#$": =ttp.SSS%Sagneroperas%cominde,Sagner$aOreut=reic=%=tml
I4us$ra5;! +: Adol) <itler com os netos de 'ic=ard agner
F!#$": =ttp.SSS%Sagneroperas%cominde,Sagner$aOreut=reic=%=tml
Führer perce$ia o valor sim$ólico das óperas Sagnerianas para a
nação e por esse motivo deu incio a um programa de )omento o0cial unto
ao Yestival de +aOreut="Z a 0m de =omenagear 'ic=ard agner comogrande lder artstico e dissimuladamente ele mesmo" Adol) <itler" como o
grande lder poltico HCA/?C" 9@@9I% <itler via o Yestival de +aOreut=Z
como uma permanente cele$ração do 4a(ismo e do :erceiro 'eic=% Com
sua presença garantida no evento desde 3J;; o estival se trans)ormou
no espet!culo nacional da mais alta categoria e convertido num dos
principais veculos de espetaculari(ação do poder na(ista% Y?sso )oi o #ue
pode ser c=amado de per)eito casamento entre arte e poltica"Sagnerianismo e =itlerismoZ HQA':E'" 3JJK" p% JJI%
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Por outro lado" Calico H9@@9I menciona #ue" no incio" o ministro da
propaganda e da cultura" osep= Goe$$els" se opun=a ópera por ac=ar
#ue ela não alcançava o grande pú$lico" assim como ocorria como a
música popular e os 0lmes% Para Goe$$els" a opereta era menos s6ria #ue
a ópera e" portanto" mel=or serviria para os intentos do partido
Hentretenimento para o povoI% :odavia" assim como Adol) <itler" Goe$$els
tam$6m valori(ava o signi0cado sim$ólico das óperas Sagnerianas para a
nação e não #ueria #ue a Aleman=a )osse perce$ida como um pas
anticultural e reacion!rio% A propósito" Deat=ridge H9@@8I menciona #ue
após assistir a uma apresentação no estival de +aOreut= o ministro da
propaganda a0rmou #ue a música de agner H5ie 6alküreI soava como a
marc=a das colunas alemãs e #ue o compositor era um grande lder
essencialmente alemão%
processo de apropriação da música de agner )oi tão incisivo
#ue sua o$ra c=egou ser utili(ada como instigadora de esprito guerreiro
nos soldados alemães #ue lutavam na &egunda Guerra Mundial% 4esse
perodo mil=ares de soldados alemães eram levados para assistir ao
Yestival de +aOreut="Z a 0m de #ue" 0rmados no e,emplo dos tenoresSagnerianos" elevassem sua autoestima nos campos de $atal=a%
I4us$ra5;! >: &oldados indo assistir ao estival de +aOreut=%
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/0
F!#$":
=ttp.SSS%Sagneroperas%cominde,Sagner$aOreut=reic=%=tml
Ao lado de agner como representante da suprema Arte alemã"
aparece a 0gura de +eet=oven" considerado pelo 4a(ismo como grande
=erói ariano% <irsc= H9@3@I testi0ca #ue autores nacionalistas" pr6-
4a(ismo" ! =aviam propagado a imagem populari(ada de +eet=oven
desde a repú$lica de eimar% 4acional &ocialismo considerava
+eet=oven como uma esp6cie de con#uistador do mundo" e isso )oi umimportante elemento #ue permitiu aos musicólogos na(istas traçarem um
paralelo entre +eet=oven e <itler%
+eet=oven representava no imagin!rio na(ista a imagem do /der
Artstico% HKünstlerischen Führer I% Essa representação serviu para legitimar
a poltica do Partido 4a(ista" promovendo +eet=oven como um artista #ue"
similarmente 0gura de <itler" teria antecipado os ideias =eroicos do
4acional-&ocialismo% A proeminência de +eet=oven no :erceiro 'eic= levouo crtico alter aco$s a de)ender no K7lnische 8eitung" em 3J;>" #ue o
Partido 4a(ista elegesse a :erceira &in)onia como sm$olo musical do
:erceiro 'eic=% <irsc= comenta #ue" a despeito de os na(istas elegerem
Anton +rucNner para sim$oli(ar o :erceiro 'eic=" +eet=oven continuou
sendo um importante cone para o 4a(ismo% &ua música )oi regularmente
apropriada pelo partido em comcios e convençBes%
oi nesse conte,to" #ue em 3J;2" os na(istas utili(aram o Finaleda 4ona &in)onia nos ogos lmpicos de +erlim% <irsc= ressalva #ue com
essa iniciativa os na(istas #ueriam dar signi0cação universal poesia de
&c=iller e música de +eet=oven na atmos)era de um evento
internacional% Goe$$els con=ecia $em a mensagem da o$ra e" em car!ter
estritamente propagandstico" #ueria mostrar para o mundo a imagem de
uma Aleman=a )raterna%
Das declaraçBes de a$ertura do $artono at6 o 0nal do coro"o inale da 4ona &in)onia de +eet=oven a0rma a missão0losó0ca da sin)onia de ligar o individual ao universal% 4o
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entanto" =istoricamente" a universalidade na 4ona &in)onia)oi entendida em termos nacionais" particularmente naAleman=a e na ustria% A sin)onia representou tanto umindivduo #uanto um ideal para toda a =umanidade
HPA?4:E'" 9@@K" p% 92I%4o entanto" conclui <irsc=" os organi(adores das limpadas
viram essa ocorrência como proclamação da Volksgemeinschaft e
/ocNSood H9@@KI acrescenta uma palavra de contri$uição a <irsc= ao
pro)erir #ue
Musicólogo simpati(ante na(ista" <ans oac=im Mose"imaginou #ue _um $eio no mundo inteiro`" de &c=iller e
+eet=oven" muitas ve(es )oi mal compreendido nos anosvermel=os da Aleman=a" mas deve se re)erir simples ideiade uma =umanidade conce$ida de maneira mais germLnicapossvel% A ode alegria )oi apresentada" em 3J;2" nos ogoslmpicos de +erlim" com uma precaução #ue =oe pareceirnica" e )oi anunciada não como um sm$olo da)raternidade internacional" mas como a proclamação daVolksgemeinschaft na(ista H p% >K8I%
I4us$ra5;!: ? Apresentação da 4ona &in)onia de +eet=oven no anivers!rio deAdol) <itler em 3J>9
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F!#$": =ttps.SSS%Ooutu$e%comSatc=WvG<lPC;CAj9@
/ocNSood a0rma #ue era $astante )!cil para a propaganda na(ista
aproveitar a terceira e a #uinta sin)onias de +eet=oven como em$lemasdo :erceiro 'eic=" mas a nona apresentava pro$lemas nesse sentindo"
uma ve( #ue sua mensagem de )raternidade =umana di0cilmente poderia
ser en#uadrada na doutrina da superioridade racial ariana% /ocNSood
assegura #ue" com a mesma prudência com #ue )oi apresentada nas
limpadas de 3J;2" a 4ona &in)onia era apresentada )re#uentemente em
salas de concertos na Aleman=a" mas )oi mantida )ora do programa de
concertos reali(ados nos pases ocupados" so$retudo na Europa"o$viamente para evitar sua mensagem de )raternidade universal%
utro pro$lema #ue /ocNSood aponta entre a relação +eet=oven
e 4a(ismo era a legitimidade da descendência ariana de +eet=oven%
&egundo /ocNSood" a clara evidência \amenga dos ancestrais do
compositor )oi negada pelo 4a(ismo numa s6rie de artigos% s na(istas
#ueriam mostrar para a sociedade germLnica #ue o Künstlerischen Führer
não tin=a nen=um traço racial suspeito" ou não germLnico" em seupassado% /ocNSood cita um trec=o desses artigos #ue pululavam a
respeito da pure(a racial de +eet=oven%
4órdicos são" acima de tudo" os aspectos =eroicos das suaso$ras" #ue muitas ve(es se elevam a uma grande(a titLnica%] signi0cativo #ue" atualmente" no momento da renovaçãonacional" as o$ras de +eet=oven seam tocadas mais)re#uentemente do #ue as outras" e #ue seam ouvidas em#uase todos os eventos de teor =eroico% Hp%>KJI%
Acreditando #ue +eet=oven era um legtimo ariano" o YMinist6rio
do 'eic= para Esclarecimento Popular e PropagandaZ promoveu suas
o$ras" principalmente as mais con=ecidas e de car!ter =eroico" como se
estas se )ossem a essência da arte germLnica e ariana% impulso
pu$licit!rio das o$ras de +eet=oven" assim como as de 'ic=ard agner"
desenvolveu novos o$etivos e novos mecanismos para inserir nas
mentalidades ingredientes ela$orados em )avor da ideologia na(ista% :rata-se da construção de uma Ycomunidade imaginadaZ" para usar os
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/!
termos de &tuart <all" pela criação de novos sm$olos institudos em volta
dos grandes compositores alemães%
4acional-&ocialismo usou a música como tentativa de vincular
no imagin!rio da sociedade germLnica a imagem sim$ólica de agner e
de +eet=oven como Yartistas prncipesZ #ue uni0caria vida e arte em um
novo modelo de nação% A concepção do )ortalecimento de sm$olos
nacionais realçados como )ator de coesão nacional 6 en)ati(ada por
+alandier H3J89I ao a0rmar #ue o poder esta$elecido não consegue se
manter somente pela )orça $rutal ou pela usti0cação racional% &egundo o
autor" o poder só se reali(a e se sustenta pela transposição de imagens e
pela manipulação de sm$olosF nesse sentido" revela #ue a 0m de tomar e
manter o poder" o Y`PrncipeZ deve atuar como ator poltico e assim )a(er
uso de sua imagem como correspondente da#uilo #ue seus súditos
deseam encontrar%
s na(istas tentaram desenvolver mecanismos cua e0c!cia estaria
no poder sim$ólico" cultivando no imagin!rio social #ue agner e
+eet=oven poderiam uni0car o povo germLnico% Entretanto" os Yprncipes
uni0cadoresZ do Estado" em ve( de agner e +eet=oven" na verdade eraapenas um YprncipeZ" #ue se emoldurava sempre na 0gura de Adol) <itler%
Para austo H3JJ8I" o lder na(ista conseguiu trin)ar no seu intento por #ue
)oi capa( de apelar s massas e mo$ili(!-las" em uma situação de crise
econmica e social" apresentando-se como um =omem do povo construiu
e0cientemente sua imagem sim$ólica de representante da raça alemã"
o)erecendo um mundo de glória e dominação para todos os setores da
sociedade dispostos a segui-lo%
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/"
CAP8TULO >
O VARGUISMO E SUA IDEOLOGIA
governo de Getúlio Dornelles 5argas" 3J;@-3J>7" provocoumuita controv6rsia" desde #ue surgiu como conse#uência darevolução de 3J;@" e" não o$stante a variedade deinterpretaçBes" tem sido" de um modo geral" recon=ecidocomo o mais signi0cativo dos momentos decisivos na<istória contemporLnea do +rasil% A controv6rsia se resumeH%%I em sa$er se o regime representou meramente umamudança das personalidades polticas H%%%I ou um movimentolegitimamente revolucion!rio H%%%I" dotado de certo teorideológico H/AUE'<A&& r" 3J82" p%37I%
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//
&egundo D`Arauo H9@@@I" nos anos 3J;@ as conse#uências da
Primeira Guerra Mundial ainda mostravam a )ragilidade da ordem
nacional% A revolução sovi6tica de 3J3K" por sua ve(" criava um novo
ordenamento poltico #ue aparecia como um golpe de misericórdia na
sociedade li$eral em crise% 'eagindo ao /li$eralismo e tam$6m ao
comunismo emergente" cresciam as doutrinas totalit!rias de direita e a
propagação de rgidas crenças ideológicas" #ue davam ao mundo novas
concepçBes so$re o #ue deveria ser o Y=omem novoZ" a )unção do Estado
e a Y$oa sociedadeZ% As doutrinas totalit!rias tin=am em comum o mito do
Estado )orte e o culto personalidade" am$os tidos como )atores
)undamentais na )ormação da coesão social e da unidade nacional% Em
termos econmicos e sociais nas doutrinas totalit!rias prevaleciam os
ideais do intervencionismo estatal" isto 6" o Estado tin=a e deveria ter
#ualidades superiores s do indivduo e s da sociedade%
D`Arauo H9@@@I in)orma #ue em meio a essas ideologias" as
#uais mo$ili(avam multidBes" surgiu um regime ditatorial #ue no +rasil"
Portugal e Espan=a" rece$eram o nome de Estado 4ovo% De acordo com
D`Araúo" a maneira concreta como esse novo incidiu so$re um regimepoltico )oi o 4a(ismo" na Aleman=a" o ascismo" na ?t!lia e o
corporativismo de Estado no +rasil e em outros pases europeus% novo
nesses regimes representava o ideal poltico de encontrar uma via #ue se
a)astasse tanto do capitalismo li$eral #uanto do comunismo" doutrinas
polticas #ue desde meados do s6culo ?" e mais intensamente a partir
da revolução sovi6tica" competiam entre si a 0m de o)erecer uma
alternativa poltico-econmica para o mundo% Em am$as as doutrinas=avia a intenção de solucionar os pro$lemas do capitalismo. desigualdade
social" crises" insegurança econmica" con\ito de classes e de interesses%
Estado 4ovo criticava a sociedade li$eral capitalista e o
socialismo mar,ista" notadamente por estes regimes dei,arem em
segundo plano as tradiçBes nacionais" uma ve( #ue preconi(ava a
universalidade dos princpios polticos" a revolução prolet!ria como
solução geral para as sociedades capitalistas e o 0m da propriedade
privada% Com isso impun=a um modelo de estati(ação da produção por
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meio da ditadura do proletariado" o #ue aca$ava por se constituir na
ditadura de uma classe% 4ão o$stante" de acordo com D`Araúo H9@@@I" a
consciência prolet!ria e o 0m da propriedade privada não eram o alvo
principal das preocupaçBes do totalitarismo de direita% Para o Estado 4ovo"
por e,emplo" o inaceit!vel era a perda dos sentimentos nacionalistas" o
en)ra#uecimento da religiosidade e a imposição dos interesses de uma
classe so$re as outras% Por seu turno" como proposta #ue se #ueria
inovadora" o Estado 4ovo propun=a a conciliação desses sentimentos com
um sistema de produção #ue so$repusesse os interesses da 4ação aos das
classes" dos indivduos e dos grupos econmicos por meio da ação direta
do Estado%
D`Araúo H9@@@I a0rma #ue uma possvel solução poltica para o
s6culo " na visão das correntes totalitarista de direita" seria a ideia de
um Estado-4ação )orte" #ue poderia ser tradu(ido como autoritarismo e
ideologia nacionalista e,tremada" uma ve( #ue para se construir a 4ação
o Estado teria #ue regular as atividades dos cidadãos" promover o
desenvolvimento e )omentar o esprito de nacionalidade% Estado )orte
então seria di)undido por meio do seu lder" o c=e)e de Estado%
&egundo janelatto H9@39I" o perodo entre 3J;@ a 3J>7 0cou
con=ecido na =istoriogra0a como a Era 5argas" por#ue Getúlio 5argas )oi a
0gura predominante no cen!rio poltico nacional% 5argas assume o Estado
$rasileiro institudo por um movimento poltico de )orça. a c=amada
'evolução de 3J;@" da #ual ele )oi o principal lder% Desta data" at6 o ano
de 3J;>" governou como c=e)e do Governo Provisório" #uando passou a
ser o0cialmente presidente após a =omologação de uma nova
constituição" o #ue se e)etivou )undamentalmente em ra(ão das pressBes
internas #ue se evidenciam principalmente por meio da 'evolução
Constitucionalista de 3J;9 em &ão Paulo%
Este perodo 0cou então denominado como do Governo
Constitucional% &eu mandato deveria terminar no ano de 3J;8" por6m"
estendeu-se at6 3J>7" em ra(ão do golpe de 3J;K #ue instaurou o Estado
4ovo" #uando 5argas assume uma posição ditatorial )rente a um Estado
)orte e nitidamente corporativista H&E''A:" 9@@8I%
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Carneiro H9@33I salienta #ue no golpe militar liderado por Getúlio
5argas" o Estado apelou para um conunto de leis de e,ceção #ue serviram
para preparar o +rasil para rece$er as propostas revolucion!rias do
)ascismo e do na(ismo como novidades da modernidade% &egundo esta
autora" a imprensa $rasileira cuidou de reportar" com alguma admiração"
as con#uistas de Mussolini a partir de 3J99 e de Adol) <itler a partir de
3J;;%
s nacionalismos R alemão e italiano R se trans)ormaram em )ontes
de inspiração para o modelo de nação #ue se pretendia construir no pas.
)orte e =omogênea% Ainda de acordo com Carneiro H9@33I" governado por
Getúlio 5argas" o +rasil se tornou uma esp6cie campo livre para a
circulação de na(istas" )ascistas e integralistas" ! #ue as ideias de <itler
começaram a aportar no +rasil a partir de 3J9J" #uando imigrantes
alemães rec6m-c=egados )ormaram os primeiros núcleos na(istas no pas%
Xuanto s mani)estaçBes )ascistas" Corti H9@@7I salienta #ue estas se
)a(iam sentir no +rasil por meio da Ação ?ntegralista +rasileira HA?+I"
organi(ação )ascista liderada por Plnio &algado% Para D`Araúo
H%%%I no plano poltico" 5argas não dei,ou dúvidas so$re suassimpatias pelos regimes )ortes% ] o #ue se pode o$servar nopronunciamento #ue )e( em ul=o de 3J>@ para uma plateiade militares a $ordo do navio Minas Gerais" #uando criticou apoltica li$eral e a0rmou. _5el=os sistemas e )órmulasanti#uadas entraram em declnio H%%%I o Estado tem ao$rigação de assumir as )orças produtoras%` 4uma alusãodireta Aleman=a e ?t!lia" elogiava as naçBes )ortes #uese impBem pela organi(ação $aseada no sentimento daP!tria e pela convicção da própria superioridade H9@@@"
p%>2I%4esse mesmo clima de simpatia" Dietric= H9@@KI menciona #ue na
es)era pessoal" casamento de /ut=ero 5argas" 0l=o de Getúlio 5argas" com
a alemã ?nge$org :en=ae[ incentivou o di!logo entre +rasil e Aleman=a"
tornando-se sm$olo de cordialidade entre os dois pases% Como e,emplo
dessa $oa relação" Dietric= H9@@KI cita a correspondência entre 5argas e
<itler" em novem$ro de 3J;K" por ocasião da troca de em$ai,adores
alemães no +rasil% 4o enseo" 5argas se dirige a <itler como grande e $omamigo%
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k sua E,celência e &en=or Adol) <itler" grande e $om amigo%'ece$i a carta pela #ual 5ossa E,celência =ouve por $emparticipar-me #ue" tendo resolvido c=amar o &en=or Doutor&c=midt-ElsNop" deu por 0nda a missão #ue ele
desempen=ava no +rasil" na #ualidade de em$ai,adore,traordin!rio e plenipotenci!rio da Aleman=a H9@@K" p%3K;I%
Al6m do 4a(ismo e do ascismo" D`Araúo H9@@@I ressalta #ue a
poltica varguista so)reu )ortes in\uências da Polnia" da :ur#uia e da
'omênia% Da Polnia veio a inspiração para a Constituição de 3J;K" de
inspiração )ascista" uma ve( #ue suspendia todos os direitos polticos e
a$olia os partidos e as organi(açBes civis% Da :ur#uia veio a admiração
pelo movimento dos ovens militares #ue" so$ a liderança de Musta)!Qemal AtaturN" tomaram o poder em 3J99" impondo :ur#uia" pas de
tradição oriental" uma r!pida moderni(ação pela via autorit!ria% &egundo a
autora" no +rasil a )orça desse movimento 0cou con=ecida como Yovens
turcosZ" #ue entre 3J9@ e 3J;@ )oi um grupo de ovens o0ciais militares
moderni(adores e autorit!rios%
Do ponto de vista doutrin!rio" a in\uência maior veio da 'omênia%
grande )ormulador da doutrina corporativa #ue deu unidade teórica aoEstado-4ovo $rasileiro )oi o economista poltico romeno Mi=ail Manoilscu"
por meio do livro Y s6culo do corporativismoZ% 4essa o$ra" tradu(ida para
o português em 3J;8" Manoilescu associa o corporativismo com um
esprito medieval de comunidade e com a ideia de um Estado nacional
)orte e centrali(ado% ?sso leva a entender #ue a organi(ação social seria
edi0cada por meio de ramos das corporaçBes" uma ve( #ue os partidos e a
li$eralidade de organi(ação poltica deveriam ser su$stitudos por setoresda produção" organi(ados e liderados por um Estado )ortalecido%
HD`A'A" 9@@@I%
Assim inspirada" so$retudo pela ideologia de Mi=ail Manoilescu" a
poltica varguista pregava a necessidade de )ortalecer a autoridade do
Estado sem cair nos postulados do socialismo" #ue" para c=egar
)ortalecimento estatal en)ra#ueceria a 4ação e a noção de nacionalismo%
&egundo D`Araúo H9@@@I" os regimes $aseados nos pressupostos citados
acima são ditaduras por#ue" ao pregarem o 0m do con\ito poltico como
camin=o para a pa( e o desenvolvimento" usam a )orça do Estado para
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suprimir outras )ormas de poder% Por conseguinte" aca$am sendo
autorit!rios uma ve( #ue se impBem pela )orça e pelo policialismo%
Con)orme esta autora" o 4a(ismo e o ascismo são uma
mani)estação evidente desta ideologia" por#ue a o$ediência poltica 6
tradu(ida como civismo% Da" a importLncia das comemoraçBes cvicasF
mas" por outro lado" a discordLncia 6 interpretada como traição p!tria%
Com graus e nuanças particulares" )oi isso o #ue aconteceu no regime
varguista" em grande parte espel=ando um momento das doutrinas
polticas em todo o mundo%
Pode-se mencionar #ue semel=ança do 4a(ismo e do ascismo" o
Estado-4ovo $rasileiro )oi e,pressão das intençBes totalit!rias de direita"
#ue se revelavam por interm6dio das v!rias comemoraçBes cvicas
introdu(idas por Getúlio 5argas" como tam$6m pelo culto sua própria
personalidade% YH%%%I 4a ausência de um partido" Getúlio era o c=e)e
poltico #ue sim$oli(ava o poder do Estado e a nacionalidade% Era o c=e)e
de Estado e da 4açãoZ HD`A'A" 9@@@" p%3;I%
>)-) C!#s$ru5;! (" ua a$ri i#("#i$=ria /!!gH#"a
A pesar de a poltica varguista relegar $astante importLncia o
nacionalismo e a ideia do sentimento e unidade nacional" isso não )oi uma
novidade criada por Getúlio 5argas% De acordo com o =istoriador
/auer=ass únior H3J82I a ideia nacionalista ! vin=a percorrendo um longo
camin=o desde a 6poca do ?mp6rio% &egundo o raciocnio o =istoriador"
uma preocupação nacionalista da Era 5argas Y)oi mani)estada em seuprograma de promover" popularmente" um sentimento de identidade
nacional comum e positivo"Z Hp%3>JI% Em outras palavras" a construção de
uma matri( identit!ria =omogênea%
discurso da cultura nacional não 6" assim" tão modernocomo aparenta ser% Ele constrói identidades #ue sãocolocadas" de modo am$guo" entre passado e )uturo% Ele see#uili$ra entre a tentação por retornar a glórias passadas e oimpulso por avançar ainda mais em direção modernidade%As culturas nacionais são tentadas" algumas ve(es" a sevoltar para o passado" a recuar de)ensivamente para a#uele
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_tempo perdido`" #uando a nação era _grande`F são tentadasa restaurar as identidades passadas H<all" 9@@2" p%72I%
Ao mencionar so$re nacionalismo" /auer=ass únior H3J82I a0rma
#ue este 6 um )enmeno =istórico #ue surgiu no s6culo 5???" na Europa"
como uma ideologia #ue com$inava patriotismo com as teorias da
so$erania" e estadismo com as nascentes ideias de nacionalidade%
&egundo o autor" no 0m do s6culo 5??? o nacionalismo estendeu-se nos
planos institucional e popular" por meio da 'evolução rancesa" #uando )oi
derru$ada a Monar#uia e esta$elecida uma 'epú$lica em nome do povo
)rancês% Desta )eita" espal=ou-se rapidamente para outros pases europeus
a americanos" )ortalecendo as aspiraçBes de independência%
As ideias nacionalistas vindas da Europa se espal=aram no+rasil em 0ns do s6culo 5???" como ocorreu na Am6rica/atina em geral" )ortalecendo o patriotismo nativista !e,istente e )a(endo surgir variedades de protonacionalismoHalgo mais #ue o patriotismo local" mas carente de umsentimento de nacionalidade claramente de0nidoI" #uederam suporte ideológico a numerosos movimentos pelaindependência H/AUE'<A&& U4?'" 3J82" p%38I%
Entretanto" de acordo com autor" em ra(ão =aver sido alcançada a
separação de Portugal sem revolução e dentro da estrutura mon!r#uica da
Casa de +ragança" o nacionalismo $rasileiro representou um papel
)uncional menos importante na con#uista da independência% novo
imperador" Dom Pedro ?" simplesmente su$stituiu o vel=o rei" oão 5?"
como o$eto de lealdade em 3899% Em seguida" o novo monarca eliminou
as possi$ilidades ideológicas e institucionais apresentadas pelo
nacionalismo incipiente%
Durante a d6cada da 'egência H%%%I os dirigentes polticos#ue H%%%I poderiam ser atrados pelo nacionalismo utili(aramH%%%I o sm$olo da coroa" e não da nação" como o mais apto amanter a unidade H%%%I territorial% Por outro lado" H%%%I #uandoo imperador )oi a)astado por um golpe de estado" em 388J"o sm$olo uni0cador da Coroa desapareceu com ele H%%%I eh osm$olo da 4ação su$stituiu o da Coroa H/UE'<A&& 4?'"3J82" p% 9@I%
&eguindo" /auer=ass únior o$serva #ue nas primeiras d6cadas da
'epú$lica o 4acionalismo \oresceu" so$retudo" no plano ideológico" e"
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em$ora a sua institucionali(ação e a sua populari(ação estivessem se
)a(endo sentir na 6poca da Primeira Guerra mundial" seu principal
desenvolvimento ocorreu depois de 3J;@% Deste modo" ideologicamente"
esta$eleceu-se com rapide( e persistência uma mentalidade nacionalista"
mas como uma reação a crises internas e não relacionada con#uista da
independência ou a uma reação direta ao domnio poltico estrangeiro%
Para /au=er=ass únior o nacionalismo $rasileiro se caracteri(a da
)orma #ue descreve a$ai,o.
Em primeiro lugar e de maneira destacada" H%%%I onacionalismo $rasileiro tem-se preocupado com a procura daidentidade nacional% Em #ue consiste e,atamente a nação
$rasileiraW Xuem são os $rasileiros" o #ue os caracteri(a e#uais são as $ases da nacionalidade $rasileiraW Então" umave( desco$erta e compreendida a essência da $rasilidade"ela pde ser cultivada e utili(ada para )ortalecer a unidadenacional H3J82" p%9;I%
Menciona o autor #ue em$ora no nvel individual a agitação
nacionalista viesse sendo mantida =! v!rios anos" a primeira convocação
institucional importante para um es)orço coletivo )oi )eita pela !e&ista do
+rasil H3J32-3J9>I% Pu$licada em &ão Paulo" inicialmente so$ a direção de
Monteiro /o$ato" o periódico" seguindo a sua e,pressa 0nalidade" procurou
constituir um núcleo de propaganda nacionalista" estimulando os ovens
escritores a apresentarem estudos so$re os principais pro$lemas do pas e
as ra(es =istóricas da cultura $rasileira%
k medida #ue aumentou a consciência social dos intelectuais
passaram a se preocupar mais com os pro$lemas concretos #ue
assolavam o +rasil" a vida cultural se integrou mel=or na vida nacional
H/AUE'<A&& 4?'" 3J82I% Ao mesmo tempo" salienta o autor" os polticos se
voltaram para os intelectuais" ao $uscarem o apoio ideológico necess!rio
para legitimar e )ortalecer o regime varguista e a ideia de
desenvolvimento e identidade nacional% 4o meio dessas con)usBes e
dissensBes o nacionalismo intelectual mostrou )ormid!vel vitalidade"
)a(endo da#uele perodo um dos mais criativos e produtivos%
4o governo 5argas" segundo Carval=o H9@@9I" suscitar o
sentimento comum de pertencimento a uma comunidade nacional )oi
importante para o )ortalecimento de uma poltica mais centralista" na #ual
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as necessidades de todos os mem$ros da )ederação seriam atendidas a
partir de diretri(es do governo )ederal% Dentro disso" Contier H3JJ8I
ressalva #ue para os nacionalistas $rasileiros da Era 5argas o verdadeiro
$erço da civili(ação $rasileira estaria renascendo com o Getulismo% 4esse
renascimento da civili(ação $rasileira" destacam-se principalmente dois
intelectuais. Cassiano 'icardo e Gil$erto reOre%
&egundo /auer=ass únior H3J82I" Getúlio 5argas procurou
consolidar a )ragment!ria contri$uição #ue os intelectuais ! vin=am
apresentando anos anteriores e canali(ar os )uturos es)orços mais
e0ca(mente" mantendo em mente a ideia de desenvolvimento econmico"
ustiça social" e0ciência poltica" unidade nacional" patriotismo e orgul=o
da identidade nacional% De acordo com autor" esses elementos deviam ser
pensados com $ase nos limites de uma ideologia mais a$rangente%
Assim" em 3J>3" Cassiano 'icardo pu$licou na revista YCultura
PolticaZ" um dos veculos de propaganda do regime de 5argas" um artigo
denominado Y Estado-4ovo e seu esprito $andeiranteZ% Esta pu$licação
)oi impulsionada por sua o$ra anterior" Y +rasil no riginal"Z lançada em
3J;K" livro escrito em )orma de prosa no #ual Cassiano 'icardo a$orda o$andeirantismo como )enmeno social e poltico com intuito de mostrar a
contri$uição de &ão Paulo para a construção de uma identidade nacional
original no pas HCAMP&" 9@@2I%
Em Y Estado-4ovo e seu esprito $andeiranteZ o autor remete
0gura do $andeirante" miti0cando-o e o mostrando como uma 0gura
no$re" um tra$al=ador em analogia com o oper!rio do perodo getulista
" o verdadeiro $rasileiro" Ypovoando o interior do pas e possi$ilitando onascimento da uma autêntica democracia na #ual se identi0cariam as
origens do governo do Estado-4ovoZ HCA'5A/<" 9@@9" p%J9I%
A organi(ação sui generis da )amlia $andeirante" $aseadano regime patriarcal" ter! a sua contrapartida na organi(açãodo Estado $rasileiro% Como na )amlia )ormada no planalto" oc=e)e de Estado deve concentrar todos os poderes" namedida em #ue se destaca dos demais pelas suas
#ualidades espec0cas H'?CA'D
" 3J;K" p%3@2I%
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!
Da citação de Y+rasil riginal"Z pu$licado em 3J;K" perce$e-se
certa semel=ança entre o c=e)e $andeirante e o c=e)e Getúlio 5argas%
Al6m dessa analogia entre o c=e)e $andeirante e o c=e)e do Estado
+rasileiro" Carval=o H9@@9I realça #ue" na situação poltica do perodo
5argas" o movimento das +andeiras o)erecia os delineamentos de um
Estado democr!tico" social e nacionalista de um Estado moderno $aseado
no culto da tradição e do =erosmo%
Para Carval=o H9@@9I o personagem do $andeirante" mencionado
por Cassiano 'icardo" revela um sm$olo =eroico do passado =istórico da
4ação" e" portanto" deve servir de inspiração aos vivos" como algu6m #ue
sou$e vencer as adversidades" #ue se sacri0cou pela coletividade e #ue 6
um e,emplo de sa$edoria e de esprito solid!rio%
&egundo Carval=o" essa )oi uma estrat6gia poltica articulada pelos
ideólogos do Estado novo a 0m de tra(er tona um conunto de elementos
compartil=ados por uma comunidade" como lem$ranças" mitos e valores a
0m de )ormar os sim$olismos de identi0cação nacional com intentos
polticos% 4o sentido descrito por Carval=o" Contier H3JJ8I a0rma #ue a
$ase nacionalista do perodo 5argas )oi construda pelo es)orço derecuperar uma dimensão do passado na tentativa de contri$uir para a
legitimação da autoridade poltica da 6poca%
4a mesma ótica" Pereira H3JJKI menciona #ue o Estado-4ovo criou e
veiculou uma tradição nacionalista entendendo-a como pr!tica de
nature(a ritual e sim$ólica" criada para inculcar valores #ue associavam
imagem positiva do novo Estado% &egundo a autora" isso esta$elecia uma
continuidade" mesmo #ue arti0cial" entre o presente e certas pr!ticasligadas a um passado =istórico" com o o$etivo de legitimar a poltica do
presente% De acordo com Pereira" tendo como propósito a integração
nacional" o 5arguismo permitiu #ue pensadores pudessem tra(er suas
concepçBes acerca da ideia de nacionalismo e identidade nacional%
Pereira a0rma #ue disposição do Estado estavam os modelos das
sociedades nordestina" mineira e paulista como alternativas para a
construção de uma identidade $rasileira% 4esse sentido" amoroso /imadesenvolve um modelo mineiro de $rasilidadeF Cassiano 'icardo relaciona
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"
o Estado-4ovo com o movimento das $andeirasF Gil$erto reOre escreve
YCasa-grande e sen(ala. )ormação da )amlia $rasileira so$ o regime de
economia patriarcalFZ &6rgio +uar#ue de <olanda ela$ora Y'a(es do
+rasilFZ Caio Prado unior conce$e a Yormação do +rasil contemporLneo"Z
e M!rio de Andrade edita YMacunama" o =erói sem nen=um car!ter%Z ]
importante notar #ue todas estas o$ras" escritas durante a era 5argas"
procuram traçar as supostas origens e ar#u6tipos da identidade nacional
$rasileira% 4essa perspectiva" /auer=ass r% ^ 4ava H9@@KI o$servam.
Alguns dos mais importantes paradigmas para interpretarH%%%I a identidade nacional surgiram entre os anos de 3J9@ e
3J>@% Apesar das di)erenças de perspectivas e de o$etivose,istentes entre Gil$erto reOre" &6rgio +uar#ue de <olanda"Caio Prado únior e H%%%I Mario e sSald de Andrade" todosparecem partil=ar a mesma tendência de deslocar a noçãodeterminista de raça R predominante no s6culo ? R comoconceito $!sico para a an!lise social e a produção est6tica"em )avor do conceito de cultura H/AUE'<A&& '%F 4A5A" 9@@K"p%77I%
De acordo com /auer=ass únior H3J82I" $aseado na =armoniosa
mistura de raças e culturas" em YCasa-grande e &en(alaZ Gil$erto reOre
o)ereceu sua maior contri$uição para o pensamento nacionalista
$rasileiro% Con)orme o autor" apresentando um #uadro um tanto idlico das
relaçBes raciais no +rasil" a tese de Gil$erto reOre so$re a democracia
social $rasileira )oi" de modo acentuado" respons!vel pela criação de uma
nova imagem R em parte real e em parte mtica R #ue deu aos $rasileiros
um crescente sentimento de orgul=o nacional%
Gil$erto reOre procurou e,plicar as $ases =istóricas daidentidade nacional e divulgar uma nova e positiva imagemdo $rasileiro% Em sua incans!vel procura da identidade do+rasil e em suas consideraçBes acerca dos pro$lemasnacionalistas relacionados R unidade" preservação da cultura"legitimidade poltica e ustiça social R reOre" mais do #ue#ual#uer outro escritor de seu tempo" conseguiu rea$ilitar opassado nacional H/AUE'<A&& 4?'" 3J82" p%8JI%
5igorosamente" Gil$erto reOre de)endia a cultura nacional" atesta
/auer=ass únior" especialmente em )ace da ameaça do pangermanismono sul do +rasil" c=egando a mencionar o perigo da propaganda cultural
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pró-germLnica e anti$rasileira #ue se espal=ava entre as minorias de
imigrantes alemães% Entre os valores culturais )undamentais #ue deveriam
ser protegidos" nen=um era mais importante para reOre do #ue a#uilo
#ue c=amava de democracia social $rasileira Hracial" 6tnica e culturalI" o
#ue c=ocava" na 6poca" com as doutrinas raciais alemãs de arianismo%
reOre e,altava as virtudes do +rasil" para ele" o pas =istoricamente mais
$em-sucedido do mundo na )usão 6tnica e cultural H/AUE'<A&& 4?'"
3J82I%
&eguindo essa lógica" a poltica varguista apontava para o )ato
de #ue seria necess!rio pensar o +rasil a partir dele mesmo" isto" 6 da sua
própria identi0cação cultural% 4o entanto" para )alar de identidade e seus
processos de construção )a(-se imprescindvel recorrer a &tuart <all
H9@@2I" cuo tra$al=o" a partir de um posicionamento espel=ado em
Antonio Gramsci" centra-se principalmente no estudo das #uestBes
culturais%
Em sua an!lise" <all H9@@2I distingue três concepçBes de
identidade. a do sueito iluminista" do sueito sociológico e do sueito pós-
moderno% A concepção identit!ria do sueito iluminista sustenta oraciocnio de #ue no ?luminismo o =omem era totalmente centrado"
uni0cado" dotado das capacidades de ra(ão" de consciência e de ação"
cuo centro consistia num núcleo interior%
A ideia de sueito sociológico 6 o re\e,o da crescente
comple,idade do mundo moderno e a consciência de #ue este núcleo
interior do sueito não era autnomo e autossu0ciente" mas )ormado na
relação com outras pessoas signi0cativas para o sueito" as #uaismediavam os valores" sentidos e sm$olos dos mundos #ue =a$itava%
&egundo <all H9@@2I" a identidade na concepção sociológica
preenc=e o espaço entre o interior e o e,terior" entre o mundo pessoal e o
mundo pú$lico% 4essa lin=a de pensamento" a identidade atrela o sueito
estrutura ao mesmo tempo em #ue esta$ili(a tanto os sueitos #uanto os
mundos culturais #ue eles =a$itam" tornando am$os reciprocamente mais
uni0cados e predi(veis%
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! o sueito pós-moderno surge em conse#uência do colapso das
identidades #ue compun=am as paisagens sociais tradicionais #ue
asseguravam a con)ormidade su$etiva com as necessidades o$etivas da
cultura% De acordo com <all H9@@2I o sueito pós-moderno não apresenta
uma identidade 0,a" essencial ou permanente" uma ve( #ue esta se torna
Yuma cele$ração móvel. )ormada trans)ormada continuamente em relação
s )ormas pelas #uais se 6 representado ou interpelado nos sistemas
culturais #ue nos rodeiamZ Hp 33I%
Em outras palavras" o sueito pós-moderno assume identidades
di)erentes em di)erentes momentosF identidades #ue não são uni0cadas
ao redor de um _eu` coerenteF identidades muitas ve(es contraditórias"
empurrando em di)erentes direçBes" de modo #ue as identi0caçBes são
continuamente deslocadas% Assim" o sentimento de uma identidade
uni0cada" desde o nascimento at6 a morte" ocorre por#ue construmos
uma con)ortadora Ynarrativa do euZ%
4esse sentido" <all H9@@2I o$serva #ue a identidade plenamente
uni0cada" completa" segura e coerente 6 uma )antasia% Ao inv6s disso"
segundo o autor" medida #ue os sistemas de signi0cação erepresentação cultural se multiplicam" o indivduo 6 con)rontado por uma
multiplicidade desconcertante e cam$iante de identidades possveis" com
cada uma das #uais poderamos nos identi0car" ao menos
temporariamente% <all menciona #ue as identidades nacionais não são
coisas com as #uais nascemos" mas são )ormadas e trans)ormadas no
interior da representação%
Das concepçBes identit!rias elucidadas por <all" ao #ue parece" aidentidade sociológica 6 a #ue mais se en#uadra no #ue o 5arguismo
pleiteava" isto 6" uma sutura entre individuo e governo" uni0cando o pas
por diversos meioF da usar o canto or)enico com o intuito de gerar um
sentimento nacionalista% Dentro dessa concepção nacionalista )a(-se
imperioso realçar alguns esclarecimentos com re)erência ideia de nação%
&egundo Anderson H9@@8I" uma nação ser! sempre uma
comunidade so$erana" imaginada e limitada% &er! so$erana por#ue onacionalismo nasce ustamente num momento em #ue o ?luminismo e a
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revolução começam a destruir a legitimação dos reinos din!sticos e de
ordem divina% &er! imaginada por#ue na medida em #ue uma nação
consecutivamente se conce$e como estrutura de camaradagem
=ori(ontal" independentemente das =ierar#uias e desigualdades
e,istentes" ela esta$elece a ideia de um _nós` coletivo% &er! limitada
por#ue apresenta )ronteiras 0nitas e nen=uma se imagina como e,tensão
única da =umanidade%
! para &tuart <all H9@@2I" a nação não 6 apenas uma entidade
poltica" mas algo #ue produ( sentidos" um sistema de representação
cultural% Para este autor" as pessoas não são apenas cidadãs legais de
uma nação. elas participam da ideia de nação tal como representada em
sua cultura nacional% 4esse ponto de vista" a nação pode ser considerada
uma Ycomunidade sim$ólicaZ" visto #ue as culturas nacionais são
compostas não apenas de instituiçBes culturais" mas tam$6m por sm$olos
e representaçBes" o #ue e,plica o poder #ue uma nação tem para gerar
um sentimento de identidade e lealdade%
Com respeito constituição de um sentimento nacionalista" <all
H9@@2I menciona #ue ao produ(ir sentidos so$re a nação com os #uais aspessoas se identi0cam" a cultura de um pas aca$a criando uma
identidade nacional e ao mesmo tempo uma sensação de nacionalismo%
&egundo o autor" esses sentidos estão presentes nas =istórias contadas
so$re a nação" conectando passado e presente com as imagens #ue dela
são construdas%
4o sentido descrito acima por &tuart <all" Anderson H9@@8I
assegura #ue representaçBes como o ornal" o romance" o museu" oscensos e os mapas constituem-se em elementos signi0cativos na
e,pressão do esprito nacional% Dessas representaçBes Anderson destaca
mais notadamente o ornal e o romance% Para o autor" o ornal constitui-se
num elemento recorrente nas pr!ticas nacionais" tendo em vista #ue
pressupBe sempre a ideia de pro,imidade ao mesmo tempo em #ue
transmite notcias de locais distintos em tempos variados% romance" por
seu turno" destaca-se na construção coletiva de um passado comum eidenti0cado% Com ele se tem uma esp6cie de sustentação e solide( de
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uma comunidade" #ue naturali(a a =istória e o próprio tempo%
Anderson assegura #ue por meio desses elementos
representativos a nação se converte numa comunidade sólida" recorrendo
constantemente a uma =istória previamente selecionada e possi$ilitando
os governantes proetarem seus deseos e perspectivas% Apesar de todas
as vicissitudes da =istória" esses elementos" #ue são essenciais no car!ter
nacional" permanecem imut!veis" como um contnuo ao longo das
mudanças H<A//" 9@@8I%
As e,plicaçBes de &tuart <all e +enedict Anderson en#uadram-se
per)eitamente no conte,to do regime 5arguista" #ue" para imprimir a
imagem nacionalista do pas" envolveu" por assim di(er" uma intricada
rede de _ma#uiavelismos%` Entre o su$sdios utili(ados destacam-se o
YDepartamento de ?mprensa e PropagandaZ HD?PIF as revistas YCultura e
Ciência PolticaZF o ornal YA Man=ãZF o Y'!dio"Z e tam$6m as
mani)estaçBes or)enicas% &egundo a ótica da poltica varguista" Contier
a0rma #ue com a criação do D?P iniciou-se um empreendimento no
sentido de organi(ar um proeto cultural =egemnico no campo da música
erudita%&egundo Contier" este órgão possua amplos poderes para de)ender
a cultura $rasileira e a unidade nacionalF al6m disso" era o instrumento
#ue centrali(ava e coordenava a propaganda varguista em todo o
território nacional" promovendo mani)estaçBes cvicas e )estas populares
de cun=o patriótico% D?P deveria" tam$6m" entre outras atri$uiçBes"
gravar discos para registrar as vo(es dos grandes =eróis da p!tria" ou dos
cantos )olclóricos regionais" as o$ras de compositores eruditos ou asmani)estaçBes cvico-musicais de propaganda do 'egime% Ao D?P ca$ia a
missão de ser o deposit!rio de um acervo do #ue era considerado um
aspecto importante da cultura nacional% Y D?P apoiou a divulgação da
música nacionalista" visando trans)orm!-la num e0ca( instrumento de
propaganda do governo estadonovistaZ HC4:?E'" 3JJ8" p%7;I%
undamentalmente" com a criação do D?P" iniciou-se no+rasil" uma empresa para a organi(ação de um proetocultural =egemnico no campo da música erudita" segundo aóptica do Estado% De )ato" o D?P possua amplos poderes para
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de)ender a cultura $rasileira e a unidade es$iritual" paracentrali(ar e coordenar a propaganda em todo o territórionacional e tam$6m no e,terior" para e,ercer censura untoao cinema" teatro" para promover" organi(ar ou apoiar as
mani)estaçBes cvicas e as )estas populares de cun=opatriótico" e" ainda" para su$sidiar a organi(ação dee,posiçBes e concertos" entre outras atividades HC4:?E'"3JJ8" p%77I%
Al6m desses organismos" D`Araúo H9@@@I aponta #ue o Estado-
4ovo desenvolveu diversos proetos implicando a participação de
personalidades como M!rio de Andrade" 5illa-/o$os" Gustavo Capanema"
Carlos Drummond de Andrade e Manuel +andeira% &egundo D`Araúo"
desde a &emana de Arte Moderna de 3J99" a $usca de uma identidadenacional e de um proeto cultural autnomo era tema #ue animava poetas"
pintores" romancistas" ar#uitetos e educadores% A autora alega #ue a
essas am$içBes untaram-se interesses militares e civis" visando depurar
costumes sociais #ue pudessem )erir a construção de uma identidade
nacional% Acerca da relação entre Estado e o meio artstico" Contier H3JJ8I
relata #ue
H%%%I no caso da música a pr!tica poltica de algunsintelectuais envolvidos sentimentalmente pela proposta denacionali(ação da música $rasileira voltou-se para o Estadocomo único agente capa( de inter)erir no seio da sociedade"sem nen=um interesse partid!rio ou de classe" tão somentecomo uni0cador cultural da nação solapada pela músicaestrangeira erudita e popular% 4esse sentido pode-se notar ae,istência de de(enas de sugestBes apresentadas por 5illa-/o$os" /uciano Gallet" M!rio de Andrade" Magdalena
:aglia)erro" Eros 5olúsia" /ui( <eitor" entre outros" para #uese implementasse uma poltica em )avor da cultura nacional
Hp%98I%
4esse panorama" a Educação esteve associada ideia de civismo
e,istindo a preocupação de imuni(!-la contra in\uências estrangeiras% Um
primeiro passo importante nesse camin=o )oi a nacionali(ação do ensino
empreendida nos anos 3J;8 e 3J;J% Com essa medida 0cava proi$ido o
ensino em lnguas estrangeiras e o português deveria ser o idioma
utili(ado em todas as cerimnias pú$licas" mesmo #ue não o0ciais%
Posteriormente" numa e,tensão desse princpio" somente cidadãos
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$rasileiros poderiam ser propriet!rios de escolas de ensino regular
HD`A'A" 9@@@I%
&egundo Dietric= H9@@KI" um mapeamento )eito pelo
YDepartamento Especiali(ado de rdem Poltica e &ocialZ HDEP&I
constatou #ue na capital paulista =avia 3> escolas alemãs" #ue depois da
nacionali(ação )oram )ec=adas ou en#uadradas na lei" tendo seus
pro)essores alemães su$stitudos por $rasileiros% Em outros locais do pas"
como a região sul em particular" v!rias escolas tam$6m )oram )ec=adas
so$ alegação de disseminar ideias consideradas nocivas nação
$rasileira%
De acordo com D`araúo H9@@@I" a nacionali(ação da Educação
implicaria um pro)undo controle dos currculos e das atividades escolares
mesmo nos lugares mais remotos do pas% A escola nacionali(ada e
monitorada pelo governo seria a porta de entrada para a nacionalidade"
para a =omogeneidade nacional e o controle de tendências e,ógenas #ue
pudessem advir da multiculturalidade% D`Araúo ressalva #ue essas
preocupaçBes não eram novas" mas no Estado-4ovo elas encontraram
espaço para \orescer% Ainda no campo educacional" a especial atençãodada s aulas de educação )sica al6m de servir ao propósito de direcionar
os ovens tam$6m representava a preocupação com o aprimoramento
est6tico do $rasileiro em termos )sicos%
Mantendo o )oco na a0rmação de uma identidade nacional"
&egundo &i#ueira H9@@>I" os recursos utili(ados pela poltica varguista iam
de proeção de 0lmes em paredes de casas" instalação de alto-)alantes em
praças interioranas e entradas de )avelas estati(ação de veculos decomunicação e censura da imprensa" sempre so$ a o$servLncia dos
órgãos estatais de controle cultural e midi!tico%
'adio tam$6m cumpriu seu papel na #uestão do nacionalismo
com seu grande poder de in\uência na 6poca% 4esse sentido" &i#ueira
H9@@>I a0rma #ue em 3J>@ a '!dio 4acional )oi incorporada ao patrimnio
da União passando a ser totalmente controlada pelo Estado% Ainda
segundo o autor" no mesmo ano o radialista Almirante passou aapresentar programas musicais de conteúdo popular" tornando-se assim"
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por meio do r!dio" numa 0gura importante na propagação do ideal
nacionalista%
&i#ueira relata #ue nesse mesmo perodo )oi criada a r#uestra
&in)nica +rasileira" na 6poca so$ a regência de 'adam6s Gnattali #ue" na
onda nacionalista" utili(ava instrumentos tradicionais da música popular
$rasileira" como o cava#uin=o" o violão e v!rios instrumentos de
percussão% &urgiram tam$6m nesse nterim diversas composiçBes de
sam$istas )amosos #ue apoiavam o regime de Getúlio 5argas como
Ataul)o Alves" oão de +arro e Moreira da &ilva H& ?XUE?'A" 9@@>I% 4essa
perspectiva" a produção musical" notadamente s de procedência popular"
passou a ser visivelmente in\uenciada pela ideologia do Estado-4ovo%
oi dentro disso #ue o sam$a" tido na 6poca como _música de
$ote#uim` passou a )a(er parte do plano da propaganda do governo"
surgindo da o sam$a de car!ter patriótico e u)anista com enredos #ue
descreviam o pas como uma _il=a da )elicidade` H&?XUE?'A" 9@@>I%
YA#uarela do +rasilZ" composta por ArO +arroso" em 3J;J" e,empli0ca $em
o car!ter cvico desse tipo de sam$a" #ue convin=a com a poltica vigente"
uma ve( #ue a e,altação p!tria de seus versos poderia levar para mundoa imagem de um +rasil grandioso% YA#uarela do +rasil"Z assim como outras
cançBes de teor nacionalista" era entoada pelos or)eBes estudantis nas
grandes mani)estaçBes cvicas reali(adas em praças e est!dios de )ute$ol
de &ão Paulo e 'io de aneiro% Era o Estado usando o canto or)enico como
su$sidio na criação de um sentimento de identidade nacional%
4esse perodo intensa eu)oria nacionalista" o Canto r)enico
tornou-se num um elemento de relevLncia na geração de uma" por assimdi(er" sensi$ilidade patriótica" $em como e0ca( na veiculação da
propaganda governista da d6cada de 3J;@% +uscando a legitimação do
5arguismo" )oram reali(adas nessa 6poca inúmeras concentraçBes
or)enicas de car!ter cvico-artstico )ortalecendo o senso de civismo para
oper!rios" estudantes e o para o povo $rasileiro de )orma geral%
Com a $ase ! )eita por &tart <all H9@@2I" perce$e-se após esses
esclarecimentos #ue al6m de outros meios" tam$6m pela apropriaçãomúsica de car!ter nacionalista Getúlio 5argas pretendia estampar a
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identidade de um _+rasil $rasileiro`" tal como estava )a(endo Adol) <itler
na Aleman=a com a música de +eet=oven e 'ic=ard agner% ] nesse
conte,to #ue o varguismo vai usar grandiosamente as mani)estaçBes
or)enicas" en)ati(adas por um grande número de cançBes cvicas%
>)+) Os$"#$a56"s (" 0!("r #! R"gi" Varguis$a
Ao passo #ue alimentava a perspectiva de cun=ar uma matri(
identit!ria com a e,pressão do pas" no intento de ro$ustecer esse
propósito" a poltica estado-novista mantin=a a pr!tica de promover
espet!culos cvicos gigantescos" sustentando sempre como plano de
)undo a grande(a da nação e de seu lder% 4esse empreendimento" )oramempregadas v!rias )ormas de organi(ar e ocasionar a participação dos
ovens nas açBes cvicas" sendo uma delas a organi(ação de coros
or)enicos estudantis #ue na maioria das ve(es eram acompan=ados por
músicos pro0ssionais%
&egundo 4ascimento H9@39I" as concentraçBes or)enicas ! vin=am
acontecendo ao longo de toda d6cada de 3J;@" mas com a instauração do
Estado-4ovo" elas não só aumentaram sua )re#uência como passaram aser parte )undamental nas comemoraçBes o0ciais" passando tam$6m a
contar com alguns grandes nomes da música popular" como Augusto
Cal=eiros" rancisco Alves" &ilvio Caldas e Paulo :apaós% 4a sua maioria" o
repertório or)enico era composto por =inos cvicosF =avendo" por6m"
espaço para cançBes )olclóricas e sacras%
4a verdade" veladamente as mani)estaçBes pú$licas das
concentraçBes or)enicas eram uma demonstração da grande(a polticado regime 5arguista% :omando emprestadas as palavras de +alandier
H3J89I" pode-se re)erir #ue eram a parte cvica de uma _teatrocracia` #ue
pelo imagin!rio moldava o real% Para se ter uma ideia da ostentação
dessas mani)estaçBes" 4ascimento relata #ue ! em sua primeira
apresentação" reali(ada em 3J;3" o evento contou com 39%@@@ vo(es% 4o
entanto" na comemoração do YDia da ?ndependênciaZ em setem$ro de
3J>@" no est!dio do 5asco da Gama" al6m dos mil de músicos de $anda#ue 0(eram parte do evento" o número de alunos su$iu para #uarenta mil%
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s coros or)enicos tin=am participação assegurada nas principais
comemoraçBes cvicas como o YDia da ?ndependênciaZ" YDia do
:ra$al=adorZ e tam$6m os então institudos na 6poca. YDia da uventudeZ"
dia YDia da 'aça"Z e YDia da P!triaZ% Con)orme relata D`Araúo H9@@@I" as
apresentaçBes pú$licas reali(adas nestas datas comemorativas" #ue
geralmente ocorriam em est!dios de )ute$ol" se trans)ormaram em
verdadeiros cultos de louvor ao +rasil e a Getúlio 5argas%
I4us$ra5;! .: Comemoração do Dia da 'aça no est!dio do 5asco da Gama%
F!#$": D`A'A" Maria Celina% O Es$a(! N!!% 'io de aneiro. ja=ar" 9@@@%
Ainda como representação de poder" D` Araúo H9@@@I conta #ue
para cultuar a personalidade de 5argas a imprensa o0cial encomendou
uma e,tensa literatura acerca do Presidente% oram produ(idas v!rias
=istórias em #uadrin=os para crianças" demonstrando como desde seu
nascimento Getúlio estaria )adado a liderar seu povo em um grande
proeto e #ue tam$6m desde cedo tivera consciência de #ue a poltica"
partidos e parlamentos eram componentes danosos para a sociedade%
&egundo a autora" pelas estrat6gias usadas pelas polticas de culto
personalidade" a =istória de Getúlio 5argas era construda de maneira
=agiogr!0ca" ou sea" como se algu6m estivesse contando a =istória de
um grande lder espiritual" de um santo% Presidente )oi veiculado unto
aos ovens e crianças como um ser superior" construindo-se assim se o
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7"
mito 5argas" )ruto de seu carisma" mas tam$6m da e0ciente m!#uina de
propaganda então e,istente HD`'A" 9@@@I%
As ostentaçBes de poder não param por a% 4a ar#uitetura tam$6m
se adotou os padrBes est6ticos inspirados no neoclassicismo 4a(ista e
ascista% Como por e,emplo dessa pr!tica" D`araúo menciona a
construção do pr6dio do YMinist6rio da a(enda"Z no 'io de aneiro% utro
sm$olo de grandiosidade do governo 5argas )oi a Y'!dio 4acional"Z #ue
integrada ao patrimnio da União e rece$endo altos investimentos" estava
entre as cinco maiores emissoras de r!dios do mundo em termos de
alcance% &ua a$rangência era tão signi0cativa #ue em 3J>9 ela transmitia
em cinco idiomas para #uase todo o mundo% Por ela passaram todos os
grandes nomes da música" do =umor" do ornalismo" do teatro e do
esporte% HE'4A4DE&" 9@@JI%
I4us$ra5;! @: pr6dio do Minist6rio da a(enda em 3J>;%
F!#$": SS%sNOscrapercitO%coms=oSt=read%p=pWt3@;8J>;
I4us$ra5;! : 'adio 4acional em 3J>9
F!#$": =ttp.radioemrevista%comdesta#uee,posicao-vai-contar-a-=istoria-da-radio-
nacional
I4us$ra5;! <. Eventos musicais promovidos pela 'adio 4acional em 3J>;%
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7/
F!#$": =ttp.radioemrevista%comdesta#uee,posicao-vai-contar-a-=istoria-da-radio-
nacional
s testemun=os relatados com respeito 0gura de Getúlio 5argas
em seu regime poltico guarda um estreito relacionamento com o #ue di(
Peter +urNe H9@@3I ao se re)erir so$re a criação da imagem do rei /us ?5%
&egundo +urNe" as açBes do rei compun=am um plano de )undo sim$ólico
#ue envolvia um monarca tido como sagrado por seus súditos em
conse#uência da construção de sua imagem% :rançando um paralelo da
construção da imagem de Getúlio 5argas com o #ue menciona +urNe
H9@@3I pode-se o$servar #ue a 0gura do presidente 5argas )oi construda
semel=antemente imagem proetada do rei /uis ?5" isto 6" a de um
so$erano e,cepcionalmente dedicado aos negócios do Estado e ao $em-
estar de seus súditos%
Xuanto s pr!ticas la$oradas pelo 5arguismo" estas podem ser
compreendidas lu( do #ue di( +alandier H3J89I% Como ! mencionado
anteriormente" +alandier descreve #ue na _teatrocracia` o governo dos
$astidores condu( o real por meio do imagin!rio" mantendo-se nas cenas
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polticas por tr!s dos espet!culos ao mesmo tempo em #ue regula a vida
cotidiana da coletividade% Ao utili(ar-se dos meios espetaculares" como as
comemoraçBes e as mani)estaçBes artsticas" +alandier aponta #ue o lder
totalit!rio assegura sua representação construindo uma imagem
ideali(ada da sociedade%
:am$6m ca$e a#ui recorrer a 'oger C=artier H3JJ@I para o$servar
as representaçBes de poder por tr!s dos espet!culos% Ao mencionar #ue as
representaçBes sociais são determinadas a partir dos interesses da#ueles
#ue as constroem" perce$e-se com $ase em C=artier #ue em sua
totalidade as pr!ticas polticas da Era 5argas pretendia" sorrateiramente"
impor a autoridade do regime instaurado e sua )orma de ver o mundo% oi
nesse conte,to #ue o 5arguismo utili(ou-se do canto or)enico como parte
integrante da sua representação e espetaculari(ação de seu poder%
>)>) As a#i%"s$a56"s !r%"&#i'as '!! "s0"$='u4!s
(" 0!("r
4a primeira metade do s6culo ?" a partir de uma )orte tradição emcanto coral #ue remonta re)orma protestante" organi(a-se na Aleman=a
um movimento denominado 3iedertafel Hmesa de cançãoI% Esse
movimento $uscava desligar a pr!tica coral do Lm$ito eclesi!stico a 0m
de satis)a(er as e,igências culturais de uma nova classe social #ue
emergia" da começaram a surgir corais )ormados por diversos tipos de
pessoas" como m6dicos" advogados" c=aveiros e tam$6m por estudantes
de escolas regulares H4'4<A" 9@33I%Figura ++: mesa de canção H3iedertafel9:
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F!#$": =ttp.SSS%liederta)el%org
A partir do movimento 3iedertafel" a pr!tica coral )oi se radicandona Educação alemã" e" por essa 6poca" os coros estudantis passaram a
ad#uirir um car!ter cada ve( mais monumental e cvico-religioso% &egundo
4oron=a H9@33I" o modelo de Educação alemão" #ue englo$ava a pr!tica
do canto coral" )oi o parLmetro para a estruturação da educação prim!ria
na rança% Assim" ao se em$asar no modelo educativo alemão" os
)ranceses tam$6m institucionali(ariam a pr!tica coral nas escolas"
seguindo de perto tam$6m o #ue preconi(ava o movimento alemão3iedertafel" isto 6" al6m do cun=o educativo" tam$6m $uscava desligar a
pr!tica coral da es)era estritamente religiosa H4'4<A" 9@33I%
4esse conte,to" por volta de 38;@" o pedagogo musical Guillaume
/ouis +oc#uillon-il=em" residente em Paris" começou a reunir estudantes
das di)erentes escolas onde atuava a 0m de para )a(ê-los cantar untos%
Após três anos dessa pr!tica" no dia sete de outu$ro de 38;;" em uma
escola de Paris" il=elm organi(ava a primeira reunião mensal da&ociedade Coral #ue ele )undara e dera o nome de r)eão" em
=omenagem a r)eu" poeta e músico da mitologia grega% il=elm
organi(ou a primeira audiência pú$lica da &ociedade Coral r)eão" na sala
&aint-ean" nas dependências da pre)eitura de Paris% 4a ocasião" convidou
compositor italiano residente em Paris" /uigi C=eru$in H4?+E:" 38>;I% A
partir da &ociedade Coral r)eão o canto coral estudantil na rança passou
a ser c=amado de Canto r)enico%
I4us$ra5;! +>: Guillaume /ouis +oc#uillon-il=em
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F!#$": 4?+E:" Eug6nie% 'otice 0istori-ue sur la &ie et l;s ou&ragesde G: 3: +: 6ilhem% Paris. P%<% Qra$$e /i$raire ]diteur" 38>;%
4essa mesma 6poca" com apoio de 4apoleão ???>" 3 Presidente da
&egunda 'epú$lica rancesa e ?mperador do &egundo ?mp6rio rancês" o
Canto r)enico )oi institudo como atividade o$rigatória nas escolas
municipais de Paris" sendo #ue o or)eão de alunos comumente se reunia
para cantar em apresentaçBes pú$licas%
dilatamento dessas apresentaçBes" segundo Goldem$erg H3JJ7I"
deu incio s grandes mani)estaçBes or)enicas" #ue passariam a provocar
um enorme entusiasmo no pú$lico parisiense ao passo #ue se tornariauma atividade $astante con=ecida na rança ! nos meados do s6culo ?%
4oron=a H9@33I in)orma #ue este aumento da atividade or)enica na
rança coincide com a )ase em #ue se vê um processo de incremento do
ensino prim!rio" promovido pelo Estado" no intuito de integrar na
sociedade ur$ana os =a$itantes das (onas rurais%
A autora relata #ue #uando se inicia e se di)unde amplamente a
pr!tica or)enica o pas atravessava um momento em #ue a valori(açãoda vida ur$ana contrapun=a-se vida rural e essa oposição era um
entrave para a construção de uma unidade nacional% 4essa perspectiva" o
Canto r)enico #ue )ocava" so$retudo" o uso de marc=as e =inos cvicos
poderia servir de elemento uni0cador entre os =a$itantes do am$iente
ur$ano e os do am$iente rural%
" &o$rin=o e =erdeiro de 4apoleão +onaparte" durante seu reinado 4apoleão ???implementou a 0loso0a poltica pu$licada em seus ensaios <des na$oloniennes e
3=)>tinction du *au$rismeele" uma mistura de romantismo" li$eralismo autorit!rio esocialismo utópico% Com a e)ervescência dos nacionalismos e das lutas pelaindependência de povos dominados 4apoleão ??? passou a de)ender a ideais da polticadas nacionalidades%
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4oron=a H9@33I a0rma #ue a di)usão da pr!tica or)enica servia
como um instrumento de contenção social" uma ve( #ue permitia uma
atuação do Estado no sentido de unir as partes descone,as da sociedade
na construção de um todo nacional% Al6m disso" o Yor)eão era $aseado em
uma concepção peculiar da rança de meados do s6culo ?. a ideia de
#ue a música pode _apa(iguar` e _=armoni(ar` as dissensBes entre classesZ
Hp%8KI% 4o sentido acima descrito" por meio de cançBes #ue
proporcionavam um e)eito emocional vinculado transmissão de
conceitos de educação cvica e de valores morais" o Canto r)enico
procurou incutir mensagens e comportamentos nos seus praticantes e
tam$6m nos seus espectadores H4'4<A" 9@33I%
Xuanto pr!tica coral no ensino regular $rasileiro" a autora relata
#ue esta se iniciou ainda no 0nal do s6culo ?" por ocasião da re)orma do
ensino pú$lico ocorrida em 38JK% 4essa re)orma" o canto coral" #ue seguiu
o modelo )rancês denominado Canto r)enico" tornou-se uma atividade
o$rigatória nas escolas da então provncia de &ão Paulo% De acordo com
4oron=a H9@33I" o modelo do Canto r)enico paulista" na sua )ase inicial"
era o modelo )rancês" implantado no incio do s6culo ? nas escolas)rancesas% Esse modelo era" so$retudo" calcado no ensino da leitura e da
escrita musical" )a(endo $astante uso de marc=as e =inos como repertório
$!sico inicial%
4oron=a a0rma #ue no +rasil do 0nal do s6culo ? o canto coral
estudantil possua apenas uma acepção recreativaF mas" segundo /is$oa
H9@@7I" durante os anos de 3J3@ e 3J9@ podiam ser notadas no pas as
primeiras mani)estaçBes de um ensino caracteri(ado como Cantor)enico" utili(ado no am$iente escolar com o$etivo pedagógico e de
populari(ação do con=ecimento musical%
oi no estado de &ão Paulo #ue essas primeiras atividadesor)enicas se mani)estaram" cuos mentores )oram os educadores oão Gomes únior H3828-3J2;I e Carlos Al$erto Gomes CardimH38K7-3J;8I" #ue tra$al=aram com or)eBes na Escola Caetano deCampos" na capital paulista" e os irmãos /!(aro /o(ano H38K3-3J73I e a$iano /o(ano H388>-3J27I" #ue tra$al=aram comatividades or)enicas unto Escola Complementar
Hposteriormente" Escola 4ormalI em Piracica$a% :am$6m podemser citados outros nomes atuantes na mesma 6poca. <onoratoaustino" oão +aptista ulião" Maestro Antonio CLndido" Antonio
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Carlos únior" oão Gomes de Araúo e Carlos de Campos H/?&+A"9@@7" 28I%
&egundo Contier H3JJ8" p%3;I" em 3J37" a$iano /o(ano organi(ou
um conunto coral com alunos da Escola 4ormal de Piracica$a" )ormado
por #uatro vo(es mistas" ca$ella% Posteriormente" )undou o primeiro
or)eão do +rasil" constitudo de >8 componentes% Durante a d6cada de
3J9J" )undou o r)eão Piracica$ano" #ue apresentou no :eatro Municipal
de &ão Paulo" em ul=o de 3J98" e" no ano seguinte" na cidade do 'io de
aneiro% Con)orme relata Contier" esse or)eão )oi muito $em rece$ido pela
crtica e pelo pú$lico" em decorrência da escol=a de um repertório #ue
visava" )undamentalmente" o enaltecimento da 4ação%
4essa perspectiva" Contier H3JJ8I a0rma #ue num discurso pro)erido
em 3J93" na Escola 4ormal de &ão Paulo" oão Gomes unior en)ati(ou a
importLncia da música na )ormação cvica da uventude $rasileira" ao
mesmo tempo em #ue c=amava a atenção dos compositores no sentido de
#ue estes empregassem somente a lngua portuguesa em suas peças
corais% 4esse mesmo discurso" atesta Contier" oão Gomes unior e,altou
os conuntos corais alemães como modelos a serem importados pelosregentes $rasileiros em virtude de sua per)eição t6cnica e disciplina%
Contier ainda menciona #ue 5illa-/o$os" a$iano /o(ano e Mario de
Andrade tam$6m enalteciam sempre os coros alemães como e,emplos a
serem seguidos pelos corais $rasileiros%
Contier relata #ue o Canto r)enico )oi ardorosamente de)endido
por 5illa-/o$os" Mario de Andrade e a$iano /o(ano% Estes o viam com
instrumento para #ue o Estado tornasse o$rigatória a e,ecução de o$rasde compositores $rasileiros em todos os programas de concertos a serem
reali(ados no +rasil assim como o0ciali(asse o ensino do olclore nas
escolas de música%
H%%%I a o0ciali(ação do Canto r)enico nas escolas interessava aoseducadores e agentes polticos" uma ve( #ue a música poderiatra(er as massas cena poltica onde os polticos assumiriam opapel de sepultar a 'epú$lica 5el=a" instaurando" no lugar desta" a'epú$lica 4ova H3J;@I e o Estado 4ovo H3J;KI% Al6m disso" ospróprios músicos acreditavam na )orça disciplinadora do Cantor)enico como veculo capa( de unir todos os $rasileiros em tornode um único ideal de nação HC4:?E'" 3JJ8" p%9;I%
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Contier a0rma #ue numa entrevista concedida a ? @ornal" em
novem$ro de 3J;@" 5illa-/o$os admitia certa cone,ão entre a Arte
$rasileira e a revolução getulista" recon=ecendo o papel da música como
veculo de propaganda de governo% Con)orme Contier" 5illa-/o$os
acreditava #ue o Canto r)enico" al6m de despertar o senso est6tico e a
o amor P!tria" poderia igualmente servir como propaganda do regime
varguista" institudo em 3J;@%
4outro momento" em )evereiro de 3J;9" 5illa-/o$os enviou uma
carta a Getúlio 5argas na #ual" segundo Contier" o compositor dei,a claro
sua postura em relação música como elemento propagandstico% A$ai,o
segue o trec=o da carta #ue evidencia a posição de 5illa-/o$os%
H%%%I e0ca( de propaganda do +rasil" no estrangeiro" a músicah se)or lançada por elementos genuinamente $rasileiros H%%%I 0car!mais gravada a personalidade nacional" processo este #ue mel=orde0ne uma raça" mesmo #ue esta sea mista e não ten=a tido umavel=a tradição H%%%I% Mostre 5ossa E,celência &en=or Presidente" aosderrotistas mentirosos ou aos pessimistas #ue vivem nãoacreditando num milagre da proteção do governo s nossas artes"#ue 5ossa E,celência 6 de )ato o lutador consciente e reali(ador"tornando" incontinenti uma realidade H%%%I HC4:?E'" 3JJ8" p98I%
ortemente interessado no desenvolvimento do senso de civismo e
de $rasilidade nas crianças" em atenção aos apelos de 5illa-/o$os" Getúlio
5argas aprovou a criação da &uperintendência da Educação Musical e
Artstica H&EMAI" tornando o$rigatório o ensino do Canto r)enico nas
escolas do 'io de aneiro por meio do decreto n 38%8J@" de 38 de a$ril de
3J;9% 4esse momento" relata Contier" 5illa-/o$os começou a implantar" na
cidade do 'io de aneiro" um movimento em prol do Canto r)enico" nos
mesmos moldes #ue ! =avia concreti(ado em algumas mani)estaçBes
reali(adas em &ão Paulo" isto 6" mani)estaçBes or)enicas envolvendo
diversos segmentos da sociedade%
A atividade or)enica de 5illa-/o$os" respaldada pela polticagetulista" o$etivava alcançar as massas" um novo tipo de pú$licoconsumidor as camadas m6dias e o proletariado% Era por meiodas grandes concentraçBes or)enicas #ue 5illa-/o$os $uscava aconcreti(ação dos seus ideais de nacionalidade" de _nação coesa`H%%%I% Assim" 5illa-/o$os conseguia atingir toda uma coletividade"tocando todos emocionalmente" dando sentido a essa sim$ologiade identi0cação nacional" o #ue era muito importante para #ue se
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a0rmasse o conceito de nação e de identidade H4'4<A" 9@33"p%J;I%
Atendendo s diretri(es da &EMA R segundo as #uais a música
deveria ser ensinada no sentido de se tornar o principal veculo de
propagação do civismo R al6m do estado do 'io de aneiro" criaram-se
órgãos semel=antes #uele" isto 6" &EMA" nos estados do Grande do &ul"
&ão Paulo" +a=ia" &ergipe" Para$a" Piau" Cear!" Ama(onas" 'io Grande do
4orte e Minas Gerais% Al6m de outras )unçBes" a &EMA deveria via$ili(ar o
ensino do Canto r)enico assim como (elar pela e,ecução rigorosa e
correta dos =inos o0ciais e incentivar o gosto pelas cançBes de car!ter
cvico e artstico HC4:?E'" 3JJ8I%
Para via$ili(ar o ensino do Canto r)enico" a &EMA criou o cursode Pedagogia da Música e Canto r)enico" dividido em.Declamação 'tmica e Cali)onia" destinado iniciação" ou sea"disciplinar a vo(F Curso de preparação do ensino de Cantor)enicoF Especiali(ação em Música e Canto" estudo da evoluçãodos )enmenos musicaisF Curso de Pr!tica do Canto r)enico"tendo" como o$etivo" preparar programas" processos e m6todosde ensino HC4:?E'" 3JJ8" p%;@-;3I%
Contier relata #ue" )undamentalmente" o ensino do Canto r)enico
se apoiou numa ampla $i$liogra0a sugerida ou escrita ou por 5illa-/o$os%
Esta $i$liogra0a apresentava uma s6rie de crit6rios metodológicos como"
por e,emplo" aprimoramento da dicção" impostação vocal" a0nação
or)enica7 e outros% Al6m disso" tra(ia arranos de cantos )olclóricos e
criação espontLnea de cantos nacionais%
a$iano /o(ano escreveu numerosos tra$al=os direcionados aoensino de Canto r)enico" entre os #uais se destacam. Alegrianas )scolas e +i%lioteca ?rfenica )scolar R )ormada decomposiçBes de três a #uatro vo(es H%%%I% 4o livro &orrindo eCantando" coletLnea de =inos escolares" a$iano /o(ano de)endia antima cone,ão música-civismo como um componenteimprescindvel na )ormação do cidadão $rasileiro% 4a primeirapeça" E,ortação" música em compasso $in!rio" ritmo de marc=a"/o(ano e,alta o tra$al=o como a verdadeira mola do progresso H%%%IHC4:?E'" 3JJ8" p3>-37I%
/ De acordo com Contier" a0nação or)enica tin=a a ver com movimentos pl!sticosimitativos #ue acompan=avam e)eitos onomatopaicos" como por e,emplo" imitação dassonoridades das ondas do mar $rasileiro" da loresta Ama(nica" do canto dos p!ssaros"etc%
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Ainda segundo o autor" desde o s6culo ? o ensino do Canto r)enico
pretendia uma diretri( romLntica de conotaçBes cvico-patrióticas #ue
visava" so$retudo" despertar nas crianças o amor P!tria%
H%%%I não vos es#ueçais de #ue deveis cantar com os vossos alunoscançBes dolentes e melancólicas da nossa terra" #ue virãodespertar" neles o amor pelo +rasil% &im Cantai com eles aopulência das nossas \orestas" os arre$os HsicI sangrentos e c=eiosde saúde dos nossos crepúsculos" as glórias imorredouras da raça"pompa sempre rison=a e \orida da nossa eterna primavera e oscantos tão c=eios de doçura de um povo" #ue tendo nascido namais )ormosa das terras" tem tam$6m no coração a mais ardente ea mais $ela das pai,Bes R a música% :udo na nossa terra 6 musicalHGME& U4?'" 3J93 a$ud C4:?E'" 3JJ8" p% 33I%
Entre os e de)ensores do Canto r)enico como componente cvicono +rasil" a 0gura #ue vai se destacar $astante nesse particular 6" sem
dúvida" <eitor 5illa-/o$os" com a organi(ação de espet!culos or)enicos
gigantescos em praças pú$licas e est!dios de )ute$ol%
sentido nacionalista" cvico e pro)undamente romLntico dessesespet!culos" aliados a um momento de intensa eu)oria" com a#ueda de as=ington /u(" contri$uiu para 0,ar a imagem de 5illa-/o$os unto crtica e ao pú$lico em geral% Durante toda a d6cadade 3J;@" H%%%I esses espet!culos" H%%%I comh as declaraçBes de 5illa-/o$os" s ve(es $om$!sticas" H%%%I viraram notcia praticamente emtodos os ornais e revistas do 'io de aneiro" &ão Paulo e outrascapitais HC4:?E'" 3JJ8" p%9@-93I%
A re)erência desse modelo maestoso de espet!culo" envolvendo o
canto coral como elemento de civismo e cidadania" 5illa-/o$os )oi $uscar
na Aleman=a" segundo in)orma Contier% autor ressalva #ue nos anos
3J9@ o compositor assistiu" em distintas cidades alemãs" a v!rias
apresentaçBes corais reali(adas de )orma grandiosa e com um número
elevado de cantores" denotando um evidente car!ter nacionalista%
proeto traçado por 5illa-/o$os so$re canto or)enico )oiinspirado nos e,emplos alemães" por ocasião de suas visitas aalgumas cidades da Aleman=a" nos anos 9@% /!" ele =avia assistidoa diversas concentraçBes corais" reunindo" apro,imadamente"9@%@@@ pessoas% Com a ascensão do na(ismo" tal pr!tica )oi seampliando" e o )orte teor nacionalista contido nestasmani)estaçBes de canto coral aca$ou interessando a intelectuais$rasileiros" como a$iano /o(ano" 5illa-/o$os e oão Gomes" entreoutros HC4:?E'" 3JJ8" p%92I%
?nternacionalmente" nesse momento =istórico" o canto coral era
muito divulgado e )ortemente envolvido pela #uestão nacional nos seus
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mais diversos mati(es polticos% Entre outros pases" nesse
empreendimento destacavam-se Aleman=a" +rasil" Estados Unidos"
rança" <ungria e 'ússia% Em 3J>@" na Aleman=a na(ista" =avia uma
intrincada relação entre coro e totalitarismo" sendo #ue os corais =aviam
tomado um rumo nitidamente nacionalista em de)esa dos ideias arianos%
4esse pas" al6m de uma in0nidade de or#uestras e $andas militares"
e,istiam >@%@@@ corais e >@@ compositores atuantes HC4:?E'" 3JJ8I%
De acordo com 4oron=a H9@33I" 5illa-/o$os )oi con=ecer a
Aleman=a da repú$lica da 'epú$lica de eimar H3J38-3J;;I" perodo em
#ue os proetos educacionais alemães passaram a incluir o canto coral de
)orma e,pressiva em sua grade curricular% &egundo a autora" durante este
perodo de crescente nacionalismo" a Aleman=a vivia uma e,pansão
musical importante. \orescia no pas o conceito de música utilit!ria
HGe%rauschmusik I" #ue valori(ava a )uncionalidade da o$ra musical
composta a partir de determinados o$etivos" como por e,emplo" música
composta e,clusivamente para cinema" teatro" r!dio ou mesmo para
crianças" com 0nalidades pedagógicas" #ue )ora o caso do Canto
r)enico%4oron=a H9@33I menciona #ue $aseado no princpio da
Ge%rauschmusik " /eo Qersten$erg" respons!vel pela atividade musical no
Minist6rio da Ciência" da Cultura e da Educação" colocou em pr!tica o
proeto educacional alemão% Assim" al6m de 5illa-/o$os" alguns músicos
)ranceses de vanguarda" como Darius Mil=aud" tam$6m tiveram contato
com as e,periências alemãs e )oram por elas in\uenciados%
Contier H3JJ8I a0rma #ue de volta ao +rasil" depois de sua estadiana Europa" 5illa-/o$os sentiu #ue a conuntura poltica de 3J;@ era muito
)avor!vel ao desenvolvimento de suas ideias so$re o nacionalismo da
música $rasileira% Dessa )orma" com apoio e patrocnio do interventor de
&ão Paulo" oão Al$erto" no dia três de maio de 3J;3" no Par#ue Ant!rtica"
o compositor reali(ou a primeira grande concentração or)enica em solo
latino americano" denomina E,ortação-Cvica%
4esta concentração" #ue reuniu apro,imadamente 2@%@@@ pessoas"o programa resumiu-se $asicamente na apresentação de #uatro =inos.
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Meu *aBs, +rasil 'o&o, *4ra Frente, +rasil e 0ino 'acional" Al6m de
trec=os de ? Guarany " de Carlos Gomes" e outras peças% Con)orme Contier
menciona" com esse )eito 5illa-/o$os conseguiu canali(ar o pessimismo
dos paulistas em )ace da situação poltica do pas" lançando" assim" as
$ases de um discurso mais otimista e idealista #ue preconi(ava o
nascimento de um novo pas% Y canto or)enico tornou-se desde então"
um )ator importantssimo de di)usão do sentimento de patriotismo H%%%I
entre a massa e entre as novas geraçBesZ H5 ?//A-/+&" a$ud C4:?E'"
3JJ8" p%9@I%
Posteriormente" o compositor organi(ou outras mani)estaçBes
or)enicas reunindo mil=ares de pessoas%
Em 3J;>" 5illa-/o$os ideali(ou um proeto visando concreti(ar H%%%Ia maior demonstração cvico-artstico no stadium do luminenseoot-$al Clu$ com 2>% 3@@ e,ecutantes% Constavam do programaas seguintes peças. 0ino 'acional, 0ino ao Sol do +rasil, <n&oca.DoE Ci;ncia, A$oteose E Arte, 3egenda Mecnica Hcom o concurso de3@@ aviBesI" 0ino E +andeira, *=ra Frente, +rasil% 4esseespet!culo deveriam participar conuntos corais constitudos por97%@@@ policiais militares" 3@% @@@ estudantes H%%%I J%@@@ soldadosdo E,6rcito" 2%@@@ oper!rios" 9% @@@ marin=eiros" 9%@@@ músicos de$anda" 9%@@@ policiais e 9%@@@ escoteiros" totali(ando uma massacoral de 2>%@@@ vo(es" acrescida dos roncos de 3@@ aviBes C4:?E'"3JJ8" p%;JI%
Ainda nessas concentraçBes" menciona o autor #ue em 3J;7"
durante a reali(ação do K Congresso 4acional de Educação" na cidade do
'io de aneiro" compareceram ao est!dio do 5asco da Gama
apro,imadamente 3@@%@@@ pessoas% Y/! estavam presentes Getúlio
5argas" Pedro Ernesto HPre)eito do Distrito ederalI e Gustavo CapanemaZHC4:?E'" 3JJ8" p%>@I% Ainda segundo o autor" a partir de 3J;J as grandes
concentraçBes or)enicas organi(adas por 5illa-/o$os )oram se tornando
cada ve( mais )re#uentes e gigantescas" e" com o advento do Estado-
4ovo" passaram a ser mais $em planeadas%
A &olenidade <ora da ?ndependência" promovida para a
comemoração do dia K de setem$ro de 3J>@" ilustra a )ase do apogeu
desse tipo de mani)estação" con)orme relata Contier% proeto previa o
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comparecimento de >@%@@@ escolares e de 3%@@@ músicos de $anda" no
Est!dio do 5asco da Gama%
4a primeira p!gina do ornal A 4oite" de K de setem$ro de3J>@" encontramos. Est!dio do 5asco da Gama est!vivendo uma tarde ines#uecvel H%%%I numa esplêndidademonstração de Canto r)enico" em =omenagem ao Diada P!tria% Grande massa popular enc=e as dependências dapraça de esportes" numa e,traordin!ria vi$ração cvica% kc=egada do presidente da 'epú$lica" as aclamaçBesestrugiram aos últimos acordes do <ino 4acional HPAj" 9@@>"p%89I%
programa desta concentração or)enica inclua as seguintes
peças. 0ino 'acional H$andaI" ?ra.Do do *residente E 'a.Do +rasileira,
0ino 'acional Hcoro e $andaI" 0ino da <nde$end;ncia, ?ra.Do CB&ica
H&audação da uventude +rasileira ao Presidente Getulio 5argasI 0ino E
+andeira, Sauda.Do ?rfenica E +andeira, <n&oca.Do E Cru" HCvico-
religiosoI" Co-ueiral He)eitos or)enicosI" Meu @ardim Hcvico )olclóricoI"
?ndas e Terror <rnico He)eitos or)enicosI" *4ra Frente, +rasil, 0ino
'acional H$anda e coroI% 4o 0nal do espet!culo os alunos sairiam
marc=ando e cantando (C>3<=R 1998.
Em geral" os programas desses espet!culos eram constitudos deum repertório $!sico. <ino 4acional" =inos patrióticos diversos ecantos inspirados no )olclore $rasileiro% 5illa /o$os disse #ue erapreciso aproveitar o sortil6gio da música como um )ator de culturae de civismo e integr!-la na própria vida e na consciência R eis omilagre reali(ado em de( anos pelo Governo Getúlio 5argas% Canto r)enico representava uma arma contra o egosmo e oindividualismo" reinantes no +rasil durante a 5el=a 'epú$lica% Eraimprescindvel" agora" integrar o indivduo coletividade HC4:?E'"3JJ8" p%;7-;2I%
Contier a0rma #ue" no pensamento de 5illa-/o$os" o est!dio de
)ute$ol trans0gurava-se num templo onde o indivduo se con)undia com o
coletivo" ouvindo" em silencio" os discursos pro)eridos por Getúlio 5argas e
as músicas de louvor ! p!tria% Y4esse clima" a multidão silenciosa deveria
demonstrar o seu pro)undo respeito ao C=e)e" sm$olo e representante
m!,imo desse +rasil 4ovoZ Hp%;8I% &egundo autor" Getúlio 5argas se
entusiasmava com essas mani)estaçBes" #ue dis)arçadamente e,altava opoder do 'egime% Por e,emplo" ? Canto do *aH R escrito por 5illa para
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=omenagear Getúlio 5argas R era $astante e,ecutado nas concentraçBes
or)enicas%
Envolvido pelo clima estado novista" 5illa-/o$os escreveu diversaso$ras de car!ter cvico% Em 3J;8" comps uma música c=amadaMarcha $ara o ?este" com letra de &! 'oris% 4essa mesma 6pocatam$6m comps Sauda.Do a GetIlio Vargas" peça #ue representao lder da nação $rasileira como um novo $andeirante% Al6mdessas escreveu ?nvocação em De)esa da P!tria" compostae,clusivamente para a solenidade de em$ar#ue dos soldados$rasileiros #ue partiam para a ?t!lia durante e &egunda GuerraMundial HC4:?E'" 3JJ8" p%2@I%
Contier ressalva #ue dado o car!ter grandilo#uente" de conotação
u)anista" nas cele$raçBes programadas por 5illa-/o$os a música 0cava
numa posição secund!ria em )ace do discurso ver$ali(ado" de conteúdo
nitidamente poltico e moralista de Getúlio 5argas% YDe )ato" a música
deveria ine$riar os espectadores para #ue estes ouvissem os )ortes apelos
populistas assentados no nacionalismo de Getulio 5argasZ Hp%2KI% 4esse
vi6s" Contier menciona #ue a &uperintendência da Educação Musical e
Artstica H&EMAI patrocinou v!rios desses espet!culos or)enicos" assim
como diversos concertos o0ciais" c=amados de concertos para a
uventude%
H%%%I não 6 preciso encarecer =oe a e0ciência educacional dessaorgani(ação% +asta assistir a uma dessas demonstraçBesor)enicas" em #ue tomam parte trinta ou cin#uenta mil criançasdas nossas escolas" para veri0carmos #ue essa iniciativa redundounuma esplendida vitória para os pioneiros desse movimentonacionalista e numa das mais s6rias reali(açBes de car!ter cvico-cultural conseguidas pelo 4ovo +rasil H5?//A-/+&" a$ud C4:?E'"3JJ8" p%;3I%
&egundo 4oron=a H9@33I" as grandes concentraçBes or)enicas
promovidas por 5illa- lo$os serviam como verdadeiras teatrali(açBes do
patrimnio% Com elas alimentava-se a identi0cação dos valores nacionais
e" ao mesmo tempo" o posicionamento de uma cultura particular e única
em relação ao mundo% 4oron=a a0rma #ue a atuação de 5illa-/o$os
cola$orou para o )ortalecimento da ideologia nacionalista do governo de
Getúlio 5argas" so$retudo no sentido de construção de uma identidade
nacional conceito $!sico das ideologias nacionalistas " audando a
)ormar uma sim$ologia renovada e identi0cada com a#uela geração%
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4oron=a ainda relata #ue o proeto or)enico de 5illa-/o$os tam$6m
cola$orou no sentido de criar uma noção de continuidade =istórica entre
os $rasileiros" num momento em #ue a concepção de identidade nacional
se )a(ia necess!ria%
5illa-/o$os c=egou a di(er #ue com o proeto or)enico tin=asolucionado dois pro$lemas-c=aves. 3%I utili(ação da músicacomo um _)ator de civismo e disciplina` e 9%I a concreti(açãode um proeto #ue =avia contri$udo para a )ormação da_consciência nacional` no povo $rasileiro H4'4<A" 9@33"p%J;I%
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