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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA – CAEN
MESTRADO PROFISSIONAL EM ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO – MESP
VIVIANE MOURA DE FARIAS
EFEITO ELEITORAL SOBRE AS RECEITAS PÚBLICAS DOS MUNICÍPIOS
CEARENSES
FORTALEZA – CE
2018
VIVIANE MOURA DE FARIAS
EFEITO ELEITORAL SOBRE AS RECEITAS PÚBLICAS DOS MUNICÍPIOS
CEARENSES
Dissertação submetida à Coordenação do
Curso de Pós-Graduação em Economia,
da Universidade Federal do Ceará, como
requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Economia do Setor Público.
Área de Concentração: Economia do
Setor Público.
Orientador: Prof. Dr. Nicolino Trompieri
Neto
FORTALEZA – CE
2018
VIVIANE MOURA DE FARIAS
EFEITO ELEITORAL SOBRE AS RECEITAS PÚBLICAS DOS MUNICÍPIOS
CEARENSES
Dissertação de Mestrado apresentada ao
programa de Pós-Graduação em
Economia, da Universidade Federal do
Ceará, como requisito parcial para
obtenção do Título de Mestre em
Economia.
Área de concentração: Economia do Setor
Público
Aprovada em 09/07/2018.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________ Prof. Dr. Nicolino Trompieri Neto – IPECE e UNIFOR
Orientador
___________________________________ Prof. Dr. Roberto Tatiwa Ferreira – CAEN/UFC
Membro
___________________________________ Prof. Dr. Daniel Cirilo Suliano - IPECE
Membro
A Deus.
Aos meus Pais, José Azevedo de Farias
(in memorian) e Maria das Graças Moura
de Farias.
A meu esposo, Sérgio Cláudio Gomes
Pereira.
A minha filha Sophia Farias Gomes
AGRADECIMENTOS
Ao Grande Deus, por me conceder saúde, sabedoria e coragem para honrar
seu nome em todas as etapas da minha vida.
A minha mãe pelo amor, conselhos e cuidado ao longo da minha vida. Minha
mãe é essencial para todas as minhas conquistas.
A meu pai, que foi um exemplo de dedicação à família e de generosidade.
Ao meu esposo por ser meu companheiro de todas as horas e momentos.
Pela ajuda na correção ortográfica, conselhos, divisão de atividades.
A minha filha, por sua compreensão nos momentos de ausência.
A todos os demais membros de minha família, pelo incentivo dado a minha
opção de ser uma eterna estudante.
Ao Prof. Dr. Nicolino Trompieri Neto pela orientação e apoio incondicional na
minha escolha.
Aos meus colegas do TCE-CE, Ana Beatriz Maia e Antônio Leal Sobrinho
pelo fornecimento dos dados referentes a receitas públicas, essenciais a este
trabalho.
A minha colega Luciana Capistrano da Fonseca Maia, servidora da SEPLAG,
pela ajuda em momentos cruciais.
Aos meus colegas de trabalho Ana Maria Carneiro Figueiredo, Ana Karla
Martins da Silva, Marcos Correia Martins Bezerra e Raimunda Edna Xavier da Silva
pela compreensão, força e conselhos.
A todos os que participaram da pesquisa contida neste estudo, pela
contribuição à ampliação do conhecimento acadêmico.
A todas as pessoas aqui não mencionadas, que também contribuíram direta
ou indiretamente para o sucesso deste estudo.
RESUMO
Este trabalho objetiva a análise do efeito da eleição (ano eleitoral, da reeleição, das
características do Prefeito) sobre as receitas públicas (tributárias, de transferências
voluntárias e dos impostos: IPTU, ITBI e ISSQN) nos municípios cearenses. Para
tanto, foram utilizados dados de todos os 184 municípios do Estado do Ceará no
período de 2007 a 2015, empregando-se como metodologia a técnica de regressão
em painel com efeitos fixos. Os resultados indicam que a variável ano de eleição e
reeleição do Prefeito exercem efeito significante e negativo sobre a receita tributária
arrecadada pelos municípios. No que concerne às transferências voluntárias,
verificou-se que o ano de eleição tem efeito significante e positivo sobre referida
receita, enquanto a reeleição do Prefeito impacta negativamente. Com relação ao
IPTU, observou-se que o ano de eleição influencia de forma significante e positiva
sua receita, enquanto que a reeleição do Prefeito exerce influência significante e
negativa. No que concerne ao ITBI, os resultados obtidos indicam que o ano de
eleição e de reeleição do Prefeito exercem influência significante e positiva sobre
referida receita. Por fim, com relação ao ISSQN, verificou-se que o ano eleitoral e a
reeleição exercem efeito significante e negativo sobre a referida receita. Sobre o
impacto das caraterísticas do Prefeito sobre a receita tributária, observou-se que a
idade e o nivel superior do Prefeito influenciam de modo significante todas as
receitas objeto deste estudo. Neste trabalho também ficou evidenciado o significante
e positivo efeito do PIB per capita sobre as receitas utilizadas neste estudo. Os
resultados indicam efeito eleitoral sobre as receitas objeto do trabalho.
Palavras-chaves: Receita Tributária. Transferências voluntárias. IPTU. ITBI. ISSQN.
Eleição. Reeleição.
ABSTRACT
This paper aims to analyze the effect of the election (electoral year, reelection,
mayor's characteristics) on public revenues (tax, voluntary transfers and taxes: IPTU,
ITBI and ISSQN) in the municipalities of Ceará. For this purpose, data from all 184
municipalities in the State of Ceará were used in the period from 2007 to 2015, using
as a methodology the panel regression technique with fixed effects. The results
indicate that the variable year of election and reelection of the Mayor have a
significant and negative effect on the tax revenue collected by the municipalities.
Regarding voluntary transfers, it was verified that the year of election has a
significant and positive effect on its revenue, while the reelection of the mayor
impacts negatively. With respect to the IPTU, it was observed that the year of
election influences significantly and positively its revenue, while the reelection of the
Mayor exerts significant and negative influence. Regarding ITBI, the results indicate
that the year of the Mayor's election and reelection exercise a significant and positive
influence on its revenue. Finally, with respect to the ISSQN, it was verified that the
electoral year and the reelection have a significant and negative effect on its
revenue. Regarding the impact of the Mayor's characteristics on tax revenue, it was
observed that the Mayor's age and superior level significantly influence all the
revenues object of this study. In this work, the significant and positive effect of GDP
per capita on the revenues used in this study was also evidenced. The results
indicate electoral effect on the public revenues object of this study.
Keywords: Tax revenue. Voluntary transfers. IPTU. ITBI. ISSQN. Election.
Reelection.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Estatística descritiva das variáveis analisadas ............................................. 24
Tabela 2 - Resultados obtidos tendo a receita tributária como variável dependente. 26
Tabela 3 - Resultados obtidos tendo as receitas de transferências voluntárias como variável dependente ............................................................................................................. 27
Tabela 4 - Resultados obtidos tendo as receitas de IPTU como variável dependente. ................................................................................................................................................. 29
Tabela 5 - Resultados obtidos tendo as receitas de ITBI como variável dependente. ................................................................................................................................................. 31
Tabela 6 - Resultados obtidos tendo as receitas de ISSQN como variável dependente. ........................................................................................................................... 32
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CTN – Código Tributário Nacional
OCDE -Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IGP-DI - Índice Geral de Preços/Disponibilidade Interna
IPTU – Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana
ISSQN – Imposto sobre serviços de qualquer natureza
ITBI –Imposto sobre a transmissão de bens imóveis.
LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal
PIB – Produto Interno Bruto
PIB per capita - Produto Interno Bruto dividido pela população
TCE - CE – Tribunal de Contas do Estado do Ceará
TRE - CE - Tribunal Regional Eleitoral do Ceará
TSE -Tribunal Superior Eleitoral
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................. 14
2.1 Ciclo político-eleitoral ............................................................................................. 14
2.2 Receitas públicas municipais ............................................................................... 17
2.2.1 Receitas Tributárias ............................................................................................. 17
2.2.2 Transferências voluntárias ................................................................................. 20
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 21
4. RESULTADOS ...................................................................................................... 24
4.1 Estatísticas descritivas ........................................................................................... 24
4.2 Receitas Tributárias, transferências voluntárias, IPTU, ITBI e ISSQN como variáveis dependentes ................................................................................................... 25
5. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 37
11
1 INTRODUÇÃO
Imediatamente antes das eleições, os políticos em todos os níveis de
governo podem, de um modo ou de outro, apresentar um comportamento
oportunista, podendo introduzir medidas populares como a redução de impostos,
renúncia de receitas, aumento de transferências, aumento de despesa com
investimento, dentre outras medidas que aumentam a visibilidade do governo, de
modo a melhorar as chances de serem reeleitos.
No Brasil, as eleições, principalmente com o advento da reeleição, é um
período no qual os políticos, detentores de cargos públicos, podem utilizar-se da
máquina pública com fins meramente eleitoreiros, seja realizando mais gastos
(despesas), seja renunciando ou deixando de arrecadar receitas. Essa sistemática é
tão provável que a legislação relativa à responsabilidade fiscal e eleitoral impõe
restrições que devem ser observadas no último ano de mandato.
A Lei nº 101, de 04 de maio de 2000, norma de finanças públicas, conhecida
como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), por exemplo, estabeleceu algumas
restrições no que concerne a contratação de operações de crédito e a geração de
despesas no curso do calendário eleitoral.
A Lei nº 9.504/97, chamada de Lei Eleitoral, consoante o art. 73, inciso VI,
alínea “a”, também restringiu o recebimento de transferências voluntárias, os
chamados convênios, vedando o recebimento destes recursos nos três meses que
antecedem o pleito local.
As receitas públicas revestem-se de importância, haja vista que sua previsão
é necessária para fixar a despesa pública por ocasião do processo orçamentário, e
sua arrecadação é condicionante da execução da despesa orçamentária, consoante
os limites estabelecidos pela LRF. Ademais, a própria LRF, no seu art. 11, obrigou os
entes a arrecadarem os tributos de sua competência, sob pena de não o fazendo
serem penalizados com a vedação de realização de transferências voluntárias.
No âmbito dos municípios cearenses, o comportamento oportunista pode
ocorrer, pois é comum ouvir dos políticos a seguinte máxima popular: “Prefeito que
muito arrecada não se reelege”, daí observa-se o pouco interesse dos Prefeitos em
exercer com empenho a sua competência tributária, apesar da disposição contida no
art. 11 da LRF.
12
Os Órgãos de Controle Externo há muito tempo e tradicionalmente têm
focado sua fiscalização nas despesas públicas, sendo a receita pública relegada a
segundo plano, embora atualmente verifique-se, talvez impulsionada pela crise, uma
tentativa de olhar com mais seriedade para o problema da receita, por meio das
auditorias operacionais sobre este tema.
Referido tema visa contribuir para o estudo do comportamento das receitas
públicas, de modo que esta pesquisa tem como objetivo geral analisar se as receitas
tributárias, de transferências voluntárias e dos impostos IPTU, ITBI e ISSQN dos
municípios do Estado do Ceará são afetadas pela eleição. Especificamente, analisar
se a arrecadação de receitas tributárias municipais, transferências voluntárias e os
tributos próprios municipais (ITBI, IPTU e ISSQN) são influenciados pela eleição nos
municípios do Estado do Ceará, bem como verificar como se dá esta influência, caso
existente.
A metodologia empregada consiste na utilização da técnica de regressão de
dados em painel com efeitos fixos, onde serão utilizados dados de todos os 184
municípios do Estado do Ceará no período de 2007 a 2015. O painel de dados
acompanham microunidades individuais ao longo do tempo (HILL; JUDGE;
GRIFFITHS, 2010, p. 9). Dados em painel fornecem maiores informações para
análise, bem como permite identificar e mensurar efeitos que não são possíveis de
serem detectados por meio da análise de dados em corte transversal ou séries
temporais de forma isolada.
O tema objeto deste trabalho reveste-se de grande relevância, haja vista
proporcionar informações que serão de grande valia para Órgãos de Controle
Externo e para o Tribunal Regional Eleitoral, direcionando o foco para a receita,
diferentemente do enfoque tradicional da despesa, que é sempre o mais empregado
e visível.
Ademais, permite analisar o comportamento da receita pública municipal
cearense, o que além de ser um instrumento de gestão, possibilita verificar seus
efeitos econômicos. Adicionalmente, inova a pesquisa contribuindo na geração de
conhecimentos sobre receitas públicas, dada a escassez bibliográfica sobre esta
temática.
Neste contexto, este trabalho pretende responder o seguinte problema: as
eleições municipais influenciam a arrecadação de tributos próprios e recebimento de
transferências voluntárias nos municípios cearenses?
13
Além desta introdução, esta dissertação está dividida em mais três seções e
a conclusão. A segunda seção apresenta uma revisão de literatura subdividindo-se
duas subseções: ciclo político-eleitoral e receitas públicas municipais, sendo que
esta última subseção dividi-se em dois itens: receitas tributárias e transferências
voluntárias. A terceira seção apresenta a metodologia utilizada. A quarta seção
apresenta os resultados e subdivide-se em duas subseções: estatística descritiva; e
receitas tributárias, transferências voluntárias, IPTU, ITBI e ISSQN como variáveis
dependentes, a qual descrevem os principais resultados encontrados pelo modelo
econométrico estimado. Por último, é apresentada a seção de conclusão.
14
2 REVISÃO DA LITERATURA
Nas subseções seguintes, será realizada uma breve revisão de literatura
focando nas pesquisas de ciclo político-eleitoral e receitas públicas municipais,
necessários para melhor compreensão deste trabalho.
2.1 Ciclo político-eleitoral
Há muito tempo observa-se nas eleições que os políticos engajados em
cargos públicos de gestão, detentores de poder político, tendem a manipular a
política monetária ou fiscal, a fim de permanecerem no poder. Tais ações ocorreriam,
de forma cíclica, um pouco antes e durante o período eleitoral a fim de maximizar
votos e se reeleger. Ressalte-se, contudo, que no Brasil a política monetária é
determinada pelo Governo Federal.
As pesquisas sobre o ciclo político-eleitoral tiveram início antes de 1950,
contudo, foi a partir da década de 50, que a literatura científica sobre esta temática
avançou com o trabalho de Downs (1957, p. 74), o qual descreve um modelo
racional em que os governantes planejam suas ações para agradar os eleitores e
estes decidem como votar baseados nas ações governamentais, observando ser
esta uma relação circular de mútua interdependência, subjacente ao funcionamento
do governo democrático. Este trabalho contribuiu para o debate envolvendo as
questões político-econômicas que se intensificaram em meados da década de 70.
Neste contexto, surgiu o trabalho clássico de Nordhaus (1975, p. 187) que
em seu modelo teórico de ciclo político-econômico, no qual se examinou as variáveis
inflação e desemprego de países industrializados e democráticos, verificou que ao
longo de cada período de governo, políticos em exercício demonstraram um
comportamento oportunista, tomando decisões tendenciosas ao favorecer a relação
com a geração presente em detrimento das futuras.
Ainda na década de 70, podemos trazer a baila o trabalho de Hibbs (1977, p.
1467) que tratou da política macroeconômica e resultados associados a partidos de
direita e esquerda em democracias capitalistas. Referido estudo concluiu que
resultados macroeconômicos não são completamente endógenos à política, mas
obviamente influenciados, em uma parcela significativa, por escolhas políticas de
curto e longo prazos; ademais, os verdadeiros ganhadores das eleições são talvez
15
mais bem determinados examinando as consequências políticas da mudança
partidária em vez de simplesmente contando votos (HIBBS, 1977, p. 1487).
Em meados da década de 80, surgiram os modelos racionais, tendo como
pioneiros os trabalhos de Kenneth Rogoff (1987) e Rogoff e Sibert (1988). Kenneth
Rogoff (1987, p. 1) analisou um modelo de equilíbrio intertemporal no qual os
eleitores e políticos são racionais e maximizam sua utilidade, partindo do
pressuposto que o ciclo político orçamentário surge devido à assimetria temporária
de informação sobre a incumbente competência do líder da Administração Pública
em gerir a produção de bens públicos. O político no poder tem o incentivo de
enviesar a política fiscal no período pré-eleitoral; assim, previamente as eleições, os
impostos tendem a baixar e os gastos governamentais com consumo tentem a
aumentar.
Rogoff e Sibert (1988, p. 1) ao analisar dados das eleições nacionais dos
Estados Unidos e Alemanha, verificaram que o ciclo é conduzido por assimetrias
temporárias de informações, de modo que o político conhece seu desempenho
antes do eleitor. Acreditam, ainda, que os ciclos eleitorais em impostos, gastos
governamentais e crescimento monetário podem ser modelados como um processo
de sinalização de equilíbrio. Ressaltam, ainda, que a origem de um ciclo eleitoral na
política macroeconômica está relacionado ao fato de que os políticos tendem a se
engajar em política fiscal expansionista, reduzindo os impostos ou elevando os
gastos públicos.
Na seara empírica, Alesina e Roubini (1992), estudando países da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no que
concerne a implicação de vários modelos de ciclos políticos quanto ao tipo
oportunista ou partidário, observaram que não foi encontrado efeitos pré-eleitorais
sobre variáveis macroeconômicas tal como formulada por Nordhaus (1975); além
disso, verificaram que a inflação tende a aumentar imediatamente após as eleições,
talvez como resultado de políticas monetárias e fiscais pré-eleitorais; ademais,
encontraram evidências de diferenças partidárias temporárias na produção e no
desemprego e de diferenças partidárias de longo prazo na taxa de inflação; e, por
fim, vislumbraram ausência de evidência de diferenças partidárias permanentes no
crescimento do produto e do desemprego.
Vários outros estudos verificaram a influência eleitoral nas despesas públicas,
internacionalmente, pode-se citar os estudos de: Drazen e Eslava (2005), Aidt et al
16
(2011). A nível municipal, Mačkić (2013), analisando os municípios da Croácia,
verificou a existência de ciclo político-orçamentário oportunista nas eleições locais
na amostra examinada. Veiga e Veiga (2007) analisando, por meio de testes de
modelos de ciclo econômico-político racional, um conjunto de dados grandes e
inexplorados de municípios portugueses, observou comportamento oportunista dos
governos locais, verificando-se que nos períodos pré-eleitorais, eles aumentam o
total de gastos e alteraram sua composição, favorecendo itens que são altamente
visíveis para o eleitorado. No Brasil, podemos citar os trabalhos de Covre e Mattos
(2016), Videira e Mattos (2011) e Sakurai e Menezes-Filho (2011).
No que concerne à influência política na época eleitoral sobre as receitas
públicas, a literatura é escassa, no entanto, internacionalmente nessa temática,
podemos citar o estudo de Morozumi e Veiga (2014), que pesquisaram o efeito das
eleições presidenciais sobre as receitas de diversos países.
No Brasil, podemos citar os trabalhos de Soares e Melo (2016) que
estudaram os condicionantes políticos e técnicos sobre as receitas de transferências
voluntárias da União nos municípios brasileiros entre 1995 e 2010, observando que
as referidas transferências são influenciadas por fatores técnicos e políticos;
Moutinho e Kneiss (2017) que estudaram a correlação entre as transferências
voluntárias da União para municípios brasileiros e o partido do Prefeito, verificando
correlação entre o volume de recursos e a quantidade de Prefeitos da base aliada do
Estado; e Oliveira et al., (2016) que pesquisaram a relação entre as receitas
orçamentárias e fatores de ordem política nos municípios de Pernambuco de 2008 a
2014, observando que as receitas orçamentárias apresentaram relação
estatisticamente significante com impulsos positivos com as despesas orçamentárias
e outras transferências da União.
No que concerne as receitas públicas de forma mais abrangente, destaca-
se o estudo realizado por Lautenschlage (2016, p.24) sobre o impacto das
características dos políticos e da eleição sobre as receitas públicas em município
brasileiros, o qual revelou que, em anos eleitorais, os Prefeitos manipulam as
receitas públicas, observando-se que as características idade, gênero, ideologia,
formação superior, alinhamento com o Presidente da República e com o Governador
têm um impacto condicional no oportunismo.
Nos municípios não há margem de manobra para manipulação da política
monetária, contudo, embora haja restrições impostas pela LRF e a Lei Eleitoral,
17
pode haver manipulação da política fiscal do município previamente as eleições, seja
por oferecer subvenções, auxílios, diminuição ou não aumento de tributos, bem
como pelo aumento de gastos públicos em bens com maior visibilidade aos
eleitores.
Estudos como o de Lautenschlage (2016), que tratam da influência da
eleição nas receitas públicas dos municípios brasileiros são raros; referido trabalho
utilizou amostra de municípios que podem não representar o que ocorre no Estado
do Ceará, por exemplo. Ressalte-se, ainda, que como somos uma Federação
constituída por 26 Estados, os quais têm características sociais e econômicas
bastante divergentes que podem influenciar o estudo, pesquisas com a população
de municípios de cada Estado podem minorar problemas e tornar os resultados mais
representativos, proporcionando inferências mais adequadas para os municípios
daquele Estado, fornecendo assim subsídios para Órgãos de Controle.
2.2 Receitas públicas municipais
As receitas públicas, consoante art. 11 da Lei nº 4.320/64, são classificadas
em receitas correntes e de capital. As receitas correntes são constituídas por: receita
tributária, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, serviços,
transferências constitucionais e voluntárias. As receitas de capital, por sua vez, são
constituídas por: receitas de operação de crédito, alienação de bens, transferências,
dentre outras.
Dentre as receitas municipais, destacam-se as tributárias, que são
resultantes da cobrança de tributos pagos pelos cidadãos.
2.2.1 Receitas Tributárias
A Constituição Federal, inicialmente, em seu art. 145, prevê as seguintes
espécies tributárias: impostos; taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou
pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis,
prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; e a contribuição de melhoria,
decorrente de obras públicas. Os arts. 148, 149 e 149-A da Constituição Federal
fazem referência: ao empréstimo compulsório; contribuições sociais; de intervenção
no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas;
18
contribuição para o custeio do regime previdenciário dos servidores públicos; e a
contribuição para o serviço de iluminação pública.
O artigo 5º da Lei nº 5.172/66, chamada de Código Tributário Nacional,
assevera que tributos são classificados em impostos, taxas e contribuições de
melhoria.
A Constituição Federal atribuiu competência tributária ao município. Dentre
os tributos de competência municipal, destacam-se pelo volume de recursos os
seguintes impostos sobre: 1) a propriedade predial e territorial urbana (IPTU), 2) a
transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por
natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia,
bem como cessão de direitos a sua aquisição (ITBI); 3) serviços de qualquer
natureza não compreendidos na competência tributária dos Estados, definidos em
Lei Complementar (ISSQN). Assim, faz-se necessária a ação do Prefeito, que deve
criar e cobrar tais tributos, para garantir a arrecadação.
A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) assevera que cada ente da
Federação deve exercer sua competência tributária constitucional, conforme reza o
art. 11 da LRF, in verbis:
Art. 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação. Parágrafo único. É vedada a realização de transferências voluntárias para o ente que não observe o disposto no caput, no que se refere aos impostos.
A Competência tributária municipal está prevista na Constituição Federal que
reza:
Art. 30. Compete aos Municípios: [...] III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;
Os impostos como ITBI, ISSQN e IPTU necessitam de lei para serem
criados ou aumentados, consoante dispõe o art. 150, inciso I, da Constituição
Federal concomitante com o art. 97, inciso I e II do CTN:
Constituição Federal de 1988
19
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; Código Tributário Nacional Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: I - a instituição de tributos, ou a sua extinção; II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;
Embora os impostos possam ser criados e aumentados por lei, esta
autonomia encontra limitação no art. 150, inciso III da Constituição Federal:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III - cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) IV - utilizar tributo com efeito de confisco; V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público; [...] § 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
Assim a criação ou aumento dos impostos municipais ITBI, IPTU e ISSQN
faz-se por meio de lei, sendo que referido tributo não pode ser cobrado no mesmo
ano e antes de decorridos noventa dias da data da publicação da lei que instituiu ou
aumentou os tributos, o que deixa pouca margem de manobra política de referidos
impostos.
20
2.2.2 Transferências voluntárias
As receitas de transferência são recursos financeiros recebidos de outras
pessoas de Direito Público, podendo ser constitucionais ou voluntárias. As
constitucionais são previstas na própria Constituição, não havendo margem de
manobra para manipulações eleitoreiras. Já as transferências voluntárias podem ser
definidas como os recursos financeiros repassados pela União aos Estados, Distrito
Federal e Municípios ou dos Estados aos Municípios em decorrência da celebração
de convênios, acordos, ajustes ou outros instrumentos similares, cuja finalidade é a
realização de obras e/ou serviços de interesse comum; referida receita pode ser
manipulada durante o período eleitoral.
Assim, considerando a possibilidade da manipulação eleitoral das
transferências voluntárias, a Lei Eleitoral, art. 73, inciso VI, alínea “a”, vedou a
realização de transferências voluntárias nos três meses que antecedem o pleito,
consoante disposto a seguir:
Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais: [...] VI - nos três meses que antecedem o pleito: a) realizar transferência voluntária de recursos da União aos Estados e Municípios, e dos Estados aos Municípios, sob pena de nulidade de pleno direito, ressalvados os recursos destinados a cumprir obrigação formal preexistente para execução de obra ou serviço em andamento e com cronograma prefixado, e os destinados a atender situações de emergência e de calamidade pública;
No entanto, nada obsta que sejam realizadas transferências voluntárias com
viés eleitoreiro em período anterior aos três meses que antecedem a eleição.
21
3 METODOLOGIA
A tipologia da pesquisa pode ser classificada como quantitativa,
especialmente com a utilização de modelos econométricos. O objeto do estudo é
constituído por todos os municípios cearenses, assim os dados referem-se aos 184
municípios do Estado do Ceará, abrangendo um período de 9 anos (2007 a 2015), o
que corresponde a um total de 1656 observações.
Os dados empregados neste trabalho foram oriundos de uma ampla
pesquisa em órgãos e endereços eletrônicos de entidades governamentais. As
informações de natureza contábil referentes às seguintes receitas públicas
municipais arrecadadas (receita tributária própria, ISSQN, IPTU, ITBI e receitas de
transferência voluntária) foram fornecidas pelo Tribunal de Contas do Estado do
Ceará, mediante requerimento.
As informações de natureza eleitoral (ano de eleição e se reeleito) foram
obtidas no sítio eletrônico do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE). As
características dos Prefeitos foram obtidas no endereço eletrônico do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). Os dados referentes às características econômicas do
município, PIB per capita, foram obtidos no endereço eletrônico do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). Finalmente, as informações referentes às
características sociais e demográficas foram obtidas nos endereços eletrônicos do
IBGE e da Secretaria de Educação do Estado do Ceará (SEDUC).
Para o estudo do comportamento das receitas tributárias dos municípios
cearenses foram utilizadas como variáveis dependentes: Rprópriai,t , Transfvoli,t,
IPTUi,t, ITBIi,t e ISSQNi,t que representam respectivamente as receitas tributárias
(receita tributária de impostos, taxas e contribuições), as transferências voluntárias
(oriundas do Estado ou da União), a receita de IPTU, a receita de ITBI e a receita de
ISSQN no município i no ano t.
Na captação do ciclo eleitoral foi utilizada a variável binária Eleiçãoi,t, que,
assume o valor de 1 para o município i no ano t, se este for ano do sufrágio local e
zero, caso contrário.
Tendo em vista que este estudo pretende verificar o impacto do oportunismo
nas receitas públicas tributárias e de transferências voluntárias dos municípios
cearenses, serão investigadas se as características do Prefeito influenciam ou não
22
na condução das referidas receitas públicas municipais. Para tanto foram utilizadas
como variáveis independentes que caracterizam o Prefeito: idade (Idadei,t), ensino
superior (Sup i,t) e reeleição (Reeli,t).
A variável idade é constituída pela idade do Prefeito do município i no ano t.
A variável binária Sup i,t assume 1 caso o Prefeito do município i no período t seja de
nível superior e zero caso contrário. No que concerne a variável dummy reeleição
(Reeli,t), esta assumirá o valor de 1 caso o Prefeito tenha sido reeleito em um
município i no período t e zero, caso contrário.
Considerando que o nível de desigualdade sócio econômica dos municípios
cearenses podem influenciar as variáveis dependentes, foi utilizada como variável
independente o PIBi,t que representa o produto interno bruto per capita do município
i no ano t.
Considerando ainda que as características demográficas podem influenciar
as variáveis dependentes, como nível de urbanização, utilizou-se como variável
independente o MATi,t que evidenciou o número de matriculados nas escolas
urbanas no município i no ano t.
Os valores monetários correntes foram atualizados a preços constantes de
2017. Para a atualização dos valores foi utilizado o Índice Geral de
Preços/Disponibilidade Interna (IGP-DI), da Fundação Getúlio Vargas.
Posteriormente, os valores monetários, bem como o número de matriculados nas
escolas urbanas do município foram transformados em logaritmos naturais. A
aplicação de logaritmos tem como objetivo captar as elasticidades, ou seja,
variações percentuais das variáveis explicativas e uma correspondente variação
percentual na variável dependente.
Segue abaixo quadro com a descrição sintética das variáveis:
Quadro 1 – Descrição das Variáveis do Modelo
INDICADOR DESCRIÇÃO TIPO Receita Tributária (Rpropi,t) Receita tributária Dependente Transferências Voluntarias
(Transfvoli,t) Receita de Transferências
Voluntárias (União e Estado) Dependente
IPTUi,t Receita de IPTU Dependente ITBIi,t Receita de ITBI Dependente
ISSQNi,t Receita de ISSQN Dependente Eleiçãoi,t Se ano de eleição local Independente
Sup i,t Se nível superior Independente
Idadei,t Idade Independente
Reeli,t Reeleito Independente
23
INDICADOR DESCRIÇÃO TIPO PIBi,t Produto interno Bruto per capita Independente
MATi,t Número de matriculados nas escolas da zona urbana do
município Independente
Elaboração própria.
Para verificar a influência das variáveis independentes sobre as receitas
tributárias (receita tributária de impostos, taxas e contribuições), as transferências
voluntárias (oriundas do Estado ou da União), a receita de IPTU, a receita de ITBI e
a receita de ISSQN utilizou-se o modelo econométrico de regressão de dados em
painel com efeitos fixos, representado pela equação abaixo:
Yi,t = α + Eleiçãoi,t β1 + Supi,t β2 +Idadei,t β3 + Reeli,t β4+ PIBi,t β5 + MATi,t β6 + µi +εi,t
i = 1,', 184; t = 1,', 9
Onde, Yi,t representa a receita analisada; Eleiçãoi,t:representa a variável
dummy que assume 1 no caso de ser ano de eleição municipal; Supi,t : representa a
variável dummy que assume 1 no caso do Prefeito ser nível superior; Idadei,t :
representa a idade do Prefeito; Reeli,t representa a variável dummy que assume 1 no
caso do Prefeito ter sido reeleito; PIBi,t: representa o valor do PIB per capita; MATi,t :
representa o número de matriculados na escola urbana do município; µi representa
os efeitos fixos e o εi,t é o termo de erro. α, β1, β2, β3, β4, β5, β6 são os coeficientes
a serem estimados.
Também foi testado o modelo em painel com efeitos aleatórios, mas se
obteve resultados similares, assim optou-se por trabalhar com painel com efeitos
fixos. Ressalte-se que ao estimar o referido modelo observou-se a obtenção de
erros padrões robustos à presença de heterocedascidade e autocorrelação.
Uma das limitações da pesquisa foi a impossibilidade de estimar o efeito da
crise financeira sobre as receitas tributárias e de transferências voluntárias, já que a
crise pode ter influenciado referidas receitas. No entanto, se influenciaram de forma
significante, esta influência ocorreu em todos os municípios.
24
4. RESULTADOS
A análise dos resultados engloba a estatística descritiva dos dados e a
regressão de dados em painel com efeitos fixos.
4.1 Estatísticas descritivas
Realizou-se uma análise descritiva das variáveis de interesse na pesquisa
compreendendo a apresentação de informações sobre média, desvio-padrão,
máximo, mínimo, constante da tabela 1:
Tabela 1 - Estatística descritiva das variáveis analisadas Variável Mínimo Máximo Média D. Padrão
Receita tributária 23.708,06 1.494.332.309,99 9.376.046,87 14.267.048,81
Transferências 0,00 201.000.942,04 4.069.560,33 3.589.169,25
IPTU 0,00 366.099.832,84 1.596.138,47 2.898.537,64
ITBI 0,00 171.469.344,96 872.919,04 1.503.264,34
ISSQN 9.260,09 719.043.651,84 4.829.626,52 7.531.397,52
Idade 22,34 90,65 50,00 8,24
PIB per capita 3.522,17 59.922,66 8.185,51 2.918,98
Matriculas urbanas 680 683.619 10.677 10.590
Elaboração própria. As receitas tributárias, receitas de IPTU, ITBI, ISSQN apresentam grande
heterogeneidade, conforme se pode observar pelo desvio padrão superior a média
das variáveis estudadas. O ISSQN representa em média 51,5% da receita tributária,
seguido pelo IPTU, que representa em média 17% da receita tributária e do ITBI,
que represente em média 9% da receita tributária.
As receitas tributárias dos municípios apresentaram uma média de R$
9.373.046,87 e variaram de R$ 23.708,06 a R$ 1.494.332.309,99, indicando a
grande variabilidade na receita tributária nos diferentes municípios cearenses. O
IPTU teve uma receita média de R$ 1.596.138,47, variando de zero a R$
366.099.832,84, sendo que o valor zero indica que os municípios não exerceram sua
competência tributária. O ITBI tem média de R$ 872.919,04, com um comportamento
semelhante ao IPTU, com alguns municípios apresentando zero de receita,
enquanto o valor máximo chega à cifra de R$ 171.469.344,96. O ISSQN, por sua
25
vez, apresentou média de R$ 4.829.626,52, com receitas variando de R$ 9.260,09 a
R$ 719.043.651,84.
O ISSQN é um tributo que tem como fato gerador a prestação de serviços
previstos em sua legislação e como base de cálculo o valor desses serviços
prestados, sendo que no Estado do Ceará, o setor de serviços tem contribuído de
2010 a 2015 com um percentual médio de 74,2% e desvio padrão de 1,16% no valor
adicionado a preços correntes no PIB, conforme Anuário Estatístico do Ceará 2017
elaborado pelo IPECE (2017). Já o IPTU incide sobre propriedades territoriais e
prediais urbanas, apresentando uma faixa de propriedades isentas e tem como base
de cálculo o valor venal dos imóveis, que muitas vezes por conta da “negligência”
administrativa, apresentam-se desatualizados. Já o ITBI incide sobre a transmissão
de bens imóveis intervivos, tendo maior expressão quando o mercado imobiliário
está aquecido, seja pela produção e venda de novos imóveis ou pela negociação de
imóveis usados.
As transferências voluntárias também apresentaram grande
heterogeneidade, com média de R$ 4.069.560,33 e desvio padrão elevado de R$
3.589.169,25.
A idade média dos Prefeitos foi 50 anos com desvio padrão de 8 anos,
observando-se no estudo desde Prefeitos jovens com 22 anos até idosos com 90
anos de idade.
O PIB per capita apresentou média de R$ 8.185,51 e desvio padrão de R$
2.918,98, demonstrando uma dispersão equilibrada em relação à média, variando de
R$ 3.522,17 a R$ 59.922,66.
No que concerne ao número de matrículas nas escolas urbanas, observa-se
a grande heterogeneidade desses dados, haja vista que a média e desvio padrão
apresentam valores próximos, 10.677 e 10.590 respectivamente. Os dados variaram
de municípios com 680 matrículas a município com 683.619.
4.2 Receitas Tributárias, transferências voluntárias, IPTU, ITBI e ISSQN como variáveis dependentes
A tabela 2 apresenta os resultados da estimativa da receita tributária
municipal como variável dependente.
26
Tabela 2- Resultados obtidos tendo a receita tributária como variável dependente. Variável Coeficiente Erro Padrão Estatística t Significância
C 20,36155 1,668047 12,20682 (0,0000)*** Eleição -0,523618 0,029598 -17,69119 (0,0000)***
Reeleição -1,240925 0,055332 -22,42695 (0,0000)*** Idade 0,220431 0,018222 12,09691 (0,0000)***
Nível superior 2,684776 0,210294 12,76677 (0,0000)*** PIB per capita 1,208658 0,070657 17,10602 (0,0000)***
Número de matriculados em escolas urbanas
-3,498788 0,171504 -20,40061 (0,0000)***
R² R² ajustado F 0,633715 0,586493 13,41985
(0,000000)*** Elaboração própria. Nota: P-valores entre parênteses. Níveis de significância *10%, **5% e ***1%.
Os resultados apontam para um elevado poder explicativo da equação, haja
vista que o R² assume valor de 0,633715, o que sugere que aproximadamente
63,37% da variabilidade das receitas tributárias pode ser explicada por este modelo
de regressão. Ademais, o F é significativo, indicando que a relação estimada é
significante.
Todos os coeficientes são significantes ao nível de 1%. Os resultados
sugerem que o ano de eleição e a reeleição do Prefeito influenciam de forma
significante e negativamente a receita tributária arrecadada. Esse resultado pode
indicar um comportamento oportunista do Prefeito em não promover uma cobrança
mais incisiva ou evitar o aumento dos tributos. Assim, pode-se evidenciar um efeito
eleitoral sobre as receitas tributárias municipais.
Os resultados apresentados foram contrários aos observados por Nakaguma
e Bender (2006), que ao estudar o impacto da reeleição e da Lei de
Responsabilidade Fiscal sobre os ciclos políticos e desempenho fiscal dos Estados,
de 1986 a 2002, observaram um efeito significante e positivo do ano de eleição
sobre a receita tributária.
Observe que a variável reeleição tem um impacto mais intenso que a
variável eleição, o que pode apontar para um comportamento oportunista do
Prefeito, que na tentativa de manter-se no poder age de forma negligente com a
arrecadação, melhorando sua imagem em detrimento da arrecadação do município,
o que pode levar inclusive a graves problemas de gestão fiscal.
Verificou-se que o aumento de 1% no PIB per capita do município aumenta
em 1,21% a receita tributária, o que tem coerência, haja vista que esta receita tem
27
em sua composição um grupo de tributos que incidem sobre uma base de cálculo
que reflete o PIB municipal (receitas de produção de serviços, consumo de energia
elétrica, dentre outros).
Constatou-se que a variável nível superior tem um impacto significativo e
positivo sobre a receita tributária, indicando que o nível de instrução superior dos
Prefeitos favorece a arrecadação de tributos. Verificou-se também, que a cada ano
aumentado na idade do Prefeito, há aumento na receita tributária de 22%.
Resultados similares foram observados no estudo realizado por Lautenschlage
(2016), o qual utilizou como objeto uma amostra de municípios brasileiros.
Observou-se também que o aumento de 1% no número de matriculados em
escolas urbanas diminui em 3,50% a receita tributária municipal, tal efeito pode ser
devido à elevada taxa crescimento no número de alunos na zona urbana mesmo
quando a taxa de crescimento da receita municipal é menor ou decrescente.
A tabela 3 apresenta os resultados dos coeficientes da equação que possui
como variável dependente as receitas de transferências voluntárias.
Tabela 3 - Resultados obtidos tendo as receitas de transferências voluntárias como variável dependente
Variável Coeficiente Erro Padrão Estatística t Significância C 45,07412 2,490193 18,10065 (0,0000)***
Eleição 0,088295 0,048475 1,821458 (0,0687)* Reeleição -0,295420 0,071067 -4,156925 (0,0000)***
Idade -0,177368 0,026912 -6,590633 (0,0000)*** Nível superior -2,864227 0,294627 -9,721531 (0,0000)*** PIB per capita 0,746589 0,151009 4,944013 (0,0000)***
Número de matriculados em escolas urbanas
-3,776013 0,289130 -13,05993 (0,0000)***
R² R² ajustado F
0,460154 0,390556 6,611595 (0,000000)***
Elaboração própria. Nota: P-valores entre parênteses. Níveis de significância *10%, **5% e ***1%.
Os resultados apontam para um valor de R² de 0,460154, o que sugere que
aproximadamente 46,01% da variabilidade das receitas de transferências voluntárias
podem ser explicadas por este modelo de regressão. Ademais, o F é significativo,
indicando que a relação estimada é significante.
Todos os coeficientes, a exceção da variável ano de eleição, são
significantes ao nível de significância de 1%. A variável eleição foi significante ao
28
nível de significância de 10%. Os resultados apresentados indicam que a variável
ano de eleição influência de forma significante e positivamente as transferências
voluntárias. Resultado oposto foi obtido por Carneiro e Peixe (2017), que
observaram efeito significante e negativo ao analisar a influência do ano eleitoral
municipal sobre as transferências voluntárias da União aos municípios.
Tal resultado demonstra que há um aumento das transferências voluntárias
no ano de eleição, mesmo com a restrição legal prevista no art. 73, inciso VI, alínea
“a” da Lei Eleitoral, sugerindo que esta vedação é insuficiente para impedir a
influência eleitoral sobre as transferências voluntárias.
Uma explicação para tal resultado é que a vedação às transferências
voluntárias somente diz respeito há três meses antes do pleito, de modo que anterior
a este período, pode haver um grande aporte de transferências voluntárias, o que
seria favorável e oportuno ao Prefeito que estivesse no controle da máquina
administrativa.
Ante o exposto, os resultados apresentados sugerem que a eleição
influencia as receitas de transferência voluntária, mesmo com a vedação imposta
pela legislação eleitoral.
No que concerne à variável reeleição, os resultados sugerem que a
reeleição do Prefeito impacta negativamente na receita de transferência voluntária
do município. Um dos fatores que poderiam contribuir para explicar tal resultado
seria a falta de vontade política em obter transferências voluntárias, visto que estas
dependem de certa articulação política, bem como de cumprimento de determinados
critérios, como a apresentação de Certidão de cumprimento da Lei de
Responsabilidade Fiscal. Assim, se os municípios que possuem candidatos à
reeleição encontram-se com Certidão Negativa de cumprimento da LRF, não
poderão receber transferências voluntárias.
No que concerne à variável PIB per capita, verificou-se que um aumento de
1% nesta variável eleva em 0,74% o valor das transferências voluntárias no
município. O resultado apresenta certa coerência, pois é factível que municípios com
PIB per capita crescente também recebam maiores recursos de transferências
voluntárias.
Constatou-se também que a variável nível superior e idade tem um impacto
significante e negativo sobre a receita. Verificou-se que a cada ano aumentado na
29
idade do Prefeito, há uma diminuição da receita de transferências voluntárias de
17,73%.
Observou-se também que o aumento de 1% no número de matriculados em
escolas urbanas diminui em 3,77% a receita de transferências voluntárias. Tal efeito
pode ser devido à elevada taxa crescimento no número de alunos na zona urbana
mesmo quando há uma diminuição no crescimento das transferências voluntárias.
A tabela 4 apresenta os resultados dos coeficientes da equação que possui
como variável dependente as receitas de IPTU.
Tabela 4 - Resultados obtidos tendo as receitas de IPTU como variável dependente. Variável Coeficiente Erro Padrão Estatística t Significância
C -21,92317 0,659985 -33,21768 (0,0000)*** Eleição 0,318585 0,012405 25,68194 (0,0000)***
Reeleição -0,602883 0,019063 -31,62648 (0,0000)*** Idade -0,012171 0,007127 -1,707714 (0,0879)*
Nível superior -0,538773 0,080025 -6,732585 (0,0000)*** PIB per capita 0,074962 0,031955 2,345821 (0,0191)**
Número de matriculados em escolas urbanas
3,946985 0,072653 54,32638 (0,0000)***
R² R² ajustado F 0,967149 0,962914 228,3602
(0,000000)*** Elaboração própria. Nota: P-valores entre parênteses. Níveis de significância *10%, **5% e ***1%.
Os resultados apontam para um valor de R² de 0,967149, o que sugere que
alto poder para explicar o comportamento da receita de IPTU, assim se pode inferir
que 96,71% da variabilidade da receita de IPTU são explicadas por este modelo de
regressão. Ademais, o F é significativo, indicando que a relação estimada é
significante.
O IPTU é o imposto que incide sobre a propriedade de terrenos e prédios,
sendo cobrado anualmente. A sua legislação não pode ser modificada por decreto
do Prefeito, somente por meio de lei, a qual deve obedecer ao princípio da
anterioridade e noventena, de modo que o Prefeito não pode aplicar uma lei que, por
exemplo, aumente o IPTU no mesmo ano e antes de decorrido 90 (noventa) dias da
sua publicação.
Os coeficientes eleição, reeleição, nível superior e número de matriculados
em escola urbana são significantes ao nível de 1%. O coeficiente idade é significante
ao nível de 10% e o PIB per capita é significante ao nível de 5%.
30
O resultado apresentado indica que o ano de eleição influencia de forma
significante e positiva a receita de IPTU. Tal resultado sugere que não há uma
interferência eleitoral no sentido de reduzir tal receita no ano de eleição.
Uma explicação plausível para tal resultado é que o aumento da
arrecadação é devido ao próprio crescimento vegetativo da base tributária do
referido imposto, haja vista que é pouco provável que o Prefeito, no ano anterior a
eleição, promova uma modificação na legislação para aumentar as alíquotas ou
base de cálculo do referido tributo.
O resultado disposto acima vai de encontro ao trabalho de Lautenschlage
(2016) que observou uma redução no IPTU, imposto direto, no ano eleitoral.
No que concerne à variável reeleição do Prefeito, os resultados indicam que
tal variável afeta de forma significante e negativamente o desempenho da
arrecadação do referido tributo. Assim, os resultados sugerem que pode haver uma
conduta oportunista do Prefeito para se reeleger.
No que diz respeito ao PIB per capita, os resultados indicam que o aumento
de 1% no PIB per capita do município aumenta em 0,07% o valor da receita de
IPTU. O resultado apresenta certa coerência, pois é factível que municípios com PIB
per capita crescente também apresente uma maior receita de IPTU, haja vista que o
aumento do PIB indica que a economia está se desenvolvendo, inclusive com
produção de setores como o da construção civil, que produz novos imóveis,
impactando desta forma no IPTU.
Constatou-se também que a variável nível superior e idade tem um impacto
significante e negativo sobre a receita. Verificou-se, ainda, que a cada ano de
aumento na idade do Prefeito há uma diminuição de 1,21% na receita de IPTU.
Observou-se também que o aumento de 1% no número de matriculados em
escolas urbanas aumenta em 3,95% a receita de IPTU, tal resultado apresenta certa
coerência, pois com a urbanização, há necessidade de aumentar a quantidade de
imóveis urbanos objeto de incidência do IPTU.
A tabela 5 apresenta os resultados dos coeficientes da equação que possui
como variável dependente as receitas de ITBI.
31
Tabela 5 - Resultados obtidos tendo as receitas de ITBI como variável dependente.
Variável Coeficiente Erro Padrão Estatística t Significância C 25,51917 0,514225 49,62647 (0,0000)***
Eleição 0,547959 0,008424 65,04785 (0,0000)*** Reeleição 1,270911 0,024763 -51,32364 (0,0000)***
Idade -0,024031 0,005953 -4,036892 (0,0001)*** Nível superior -1,764006 0,068717 -25,67068 (0,0000)*** PIB per capita 1,402502 0,041839 33,52172 (0,0000)***
Número de matriculados em escolas urbanas
-3,730806 0,052890 -70,53887 (0,0000)***
R² R² ajustado F 0,992672 0,991727 1050,672
(0,000000)*** Elaboração própria. Nota: P-valores entre parênteses. Níveis de significância *10%, **5% e ***1%.
Os resultados apontam para um valor de R² de 0,992672, o que sugere um
alto poder para explicar o comportamento da receita de ITBI, o que implica que
99,27% da variabilidade da receita de ITBI são explicadas por este modelo de
regressão. Ademais o F, é significativo, indicando que a relação estimada é
significante.
O ITBI é um imposto que incide sobre a transferência de bens imóveis, o
qual somente pode ser criado ou aumentado por meio de lei, o qual deve obedecer
ao princípio da anterioridade e noventena, de modo que o Prefeito não pode aplicar
uma lei que, por exemplo, aumente o ITBI no mesmo ano e antes de decorrido 90
(noventa) dias da sua publicação.
Todos os coeficientes são significantes ao nível de 1%. O resultado
apresentado indica que a variável ano de eleição afeta de forma significante e
positivamente a receita de ITBI. Tal resultado sugere que esta receita tributária não é
objeto de interferência eleitoral no sentido de sua redução.
O resultado disposto acima vai de encontro ao trabalho de Lautenschlage
(2016), que observou uma redução no ITBI, imposto direto, no ano eleitoral.
O comportamento do efeito eleitoral sobre o ITBI é similar ao que ocorre com
o IPTU, sugerindo-se a mesma explicação, isto é, que o aumento da arrecadação é
devido ao próprio crescimento vegetativo da base tributária do referido imposto, haja
vista que é pouco provável que o Prefeito, no ano anterior a eleição, promova uma
modificação na legislação para aumentar as alíquotas ou base de cálculo do referido
tributo.
32
No que concerne à variável reeleição, observou-se que a reeleição do
Prefeito apresentou um efeito significante e positivo sobre a receita de ITBI, tal
situação pode indicar que não há interferência do Prefeito no sentido de promover
uma diminuição na arrecadação deste tributo quando vai tentar a reeleição.
Em relação ao PIB per capita municipal, os resultados indicam que o
aumento de 1% nessa variável aumenta em 1,40% o valor da receita de ITBI. Tal
resultado é bastante coerente haja vista que referido tributo incide sobre as
transferências de imóveis intervivos que, via de regra, estão aquecidas quando o
PIB está crescendo, isto é, quando há crescimento na produção de bens e serviços.
Constatou-se também que a variável nível superior e idade tem um impacto
significante e negativo sobre a receita de ITBI. Verificou-se, ainda, que a cada ano
aumentado na idade do Prefeito implica em uma diminuição de 2,40% da receita de
ITBI.
Observou-se também que o aumento de 1% no número de matriculados em
escolas urbanas diminui em 3,73% a receita de ITBI. O ITBI, embora seja bem
conhecido como um tributo que incide sobre vendas de imóveis, pode aumentar pelo
aquecimento da economia, com aumento da disponibilidade financeira, sem que seja
necessário aumentar a quantidade de imóveis. Assim, uma explicação sugerida para
o resultado apresentado seria que o aumento na urbanização cresce a altas taxas,
mesmo quando o incremento de receita de ITBI é menor ou há queda nesta receita.
A tabela 6 apresenta os resultados dos coeficientes da equação que possui
como variável dependente as receitas de ISSQN.
Tabela 6 - Resultados obtidos tendo as receitas de ISSQN como variável dependente.
Variável Coeficiente Erro Padrão Estatística t Significância C 12,23369 2,548918 4,799563 (0,0000)***
Eleição -0,725398 0,045120 -16,07722 (0,0000)*** Reeleição -1,670788 0,085191 -19,61230 (0,0000)***
Idade 0,240663 0,027867 8,636220 (0,0000)*** Nível superior 3,024861 0,321855 9,398200 (0,0000)*** PIB per capita 3,180106 0,108479 29,31540 (0,0000)***
Número de matriculados em escolas urbanas
-4,827825 0,261485 -18,46308 (0,0000)***
R² R² ajustado F 0,685767 0,645255 16.92764
(0,000000)*** Elaboração própria. Nota: P-valores entre parênteses. Níveis de significância *10%, **5% e ***1%.
33
Os resultados apontam para um valor de R² de 0,685767, o que sugere um
alto poder para explicar o comportamento da receita de ISSQN, o que implica que
68,57% da variabilidade da receita de ISSQN são explicadas por este modelo de
regressão. Ademais, o F é significativo, indicando que a relação estimada é
significante.
Todos os coeficientes são significantes ao nível de 1%. O resultado
apresentado indica que as variáveis ano de eleição e reeleição afetam de forma
significante e negativa a receita de ISSQN. Desta forma, fica evidenciado o efeito da
eleição sobre referida receita, indicando também um comportamento oportunista por
parte do Prefeito, no sentido de negligenciar a arrecadação de tão relevante receita
para melhorar suas chances de ser reeleito.
Referida receita tributária tem seu aumento, da mesma forma que o IPTU e
o ITBI, vinculados à existência de lei e obediência aos princípios da anterioridade e
da noventena. A alteração de alíquotas reduzindo o ISSQN no ano anterior à eleição
não parece ser uma alternativa aprazível, pois demandaria ajustes políticos e
orçamentários que dificultariam tal processo. Desta forma, no intuito de explicar os
efeitos obtidos, sugere-se a ocorrência de algumas formas de comportamento dos
Prefeitos que podem levar a queda na arrecadação: diminuição da fiscalização do
recolhimento do referido tributo, bem como, considerando que a Administração
Pública é responsável pelo maior percentual de consumo de serviços no município,
os quais devem ser retidos por ocasião do pagamento, pode a Administração na
época de eleição, ou não realizar os pagamentos aos prestadores de serviços,
deixando dívidas para seu sucessor, como é comum ou, pior, podem negligenciar a
retenção destes tributos.
O resultado disposto acima vai de encontro ao trabalho de Lautenschlage
(2016), que não observou qualquer alteração no ISSQN dos municípios no ano
eleitoral.
Os efeitos da eleição e da reeleição sobre esta receita indicam um
comportamento oportunista do Prefeito que negligenciam a arrecadação do tributo
que tem maior impacto no volume de receitas tributárias, podendo tal
comportamento ocasionar graves efeitos fiscais que serão herdados pelo próximo
Prefeito.
No que concerne ao PIB per capita, verificou-se que o aumento de 1% na
referida variável aumenta em 3,18% o valor da receita de ISSQN. Tal resultado é
34
bastante coerente haja vista que referido tributo está diretamente ligado à produção
de serviços, setor predominante na composição do PIB (média 2010-2015 de
74,2%). Ressalte-se que, sendo o PIB per capita a melhor métrica para riqueza da
comunidade, um elevado valor deste indicador faz referência a uma estrutura
econômica de promoção de bens e serviços que haja maior necessidade e, por sua
vez, maior utilização de serviços de qualquer natureza, que é o fator gerador do
ISSQN.
Constatou-se também que a variável nível superior e idade tem um impacto
significante e positivo sobre a receita de ISSQN. Verificou-se, ainda, que a cada ano
aumentado na idade do Prefeito implica em um aumento de 24% da receita de
ISSQN.
Observou-se também que o aumento de 1% no número de matriculados em
escolas urbanas diminui em 4,83% a receita de ISSQN. O ISSQN tem como base de
cálculo a prestação de serviços, o que geralmente é maior em ambientes
urbanizados. Assim, uma explicação coerente para o resultado apresentado seria
que o aumento na urbanização cresce a altas taxas, mesmo quando o incremento de
receita de ISSQN é menor ou há queda nesta receita.
Os efeitos das variáveis independentes sobre a receita de ISSQN e sobre a
receita tributária são similares, o que pode ser devido ao fato da receita tributária ser
composta em maior percentual pela receita de ISSQN, o que demonstra o grande
potencial deste tributo em ser manipulado na eleição, o que pode acarretar graves
problemas de falta de recursos no ano após a eleição.
Ante o exposto, verificou-se que a eleição, a reeleição do Prefeito e as
características do Prefeito influenciam de forma significante as receitas tributárias,
bem como as receitas de transferências voluntárias e valores referentes aos
impostos diretos (ISSQN, ITBI e IPTU) nos municípios do Estado do Ceará.
35
5. CONCLUSÃO
O objetivo do presente estudo consistiu em analisar o efeito da eleição
municipal sobre as receitas tributárias, de transferências voluntárias e dos impostos
diretos (IPTU, ITBI e ISSQN) nos municípios do Estado do Ceará. Para tanto,
utilizou-se dados de todos os 184 municípios do Estado do Ceará no período de
2007 a 2015, empregando-se como metodologia a técnica de regressão em painel
com efeitos fixos.
O modelo econométrico revelou que a variável ano de eleição e a reeleição
do Prefeito exercem efeito significante e negativo sobre a receita tributária
arrecadada pelos municípios. No que concerne às transferências voluntárias,
verificou-se que o ano de eleição influencia de forma significante e positivamente as
referidas receitas, enquanto a reeleição do Prefeito impacta negativamente. Com
relação ao IPTU, observou-se que o ano de eleição exerce efeito significante e
positivo sobre sua receita, enquanto que a reeleição do Prefeito exerce influência
significante e negativa sobre referido imposto. No que concerne ao ITBI, os
resultados obtidos indicam que o ano de eleição e a reeleição do Prefeito exercem
efeito significante e positivo sobre referida receita. Por fim, com relação ao ISSQN,
verificou-se que o ano eleitoral e a reeleição influenciam de forma significante e
negativa a referida receita.
Sobre o impacto das características do Prefeito sobre a receita tributária,
observa-se que a idade e o nível superior do Prefeito influenciam de modo
significante todas as receitas objeto deste estudo. Tendo as variáveis apresentado
efeito positivo sobre a receita tributária e o ISSQN e negativo no que tange as
demais receitas.
Neste estudo também ficou evidenciado o significante e positivo efeito do
produto interno bruto per capita sobre todas as receitas objeto desta pesquisa,
evidenciando que os impostos diretos municipais estão associados a produção de
riquezas pelo município.
Este estudo apresenta-se como uma valiosa fonte de pesquisa para o
Tribunal de Contas do Estado do Ceará podendo ser utilizado por este Órgão de
Controle Externo para o desenvolvimento de uma política de fiscalização que atente
para a influência da eleição junto aos tributos próprios, principalmente o ISSQN,
36
devido ao seu maior volume, bem como por servir de indicador de que o município
não está cumprindo sua competência tributária neste período.
Estudos relativos a influência da eleição sobre as despesas públicas são
muito explorados, evidenciando-se poucos estudos abrangendo as receitas públicas,
de modo que este trabalho vem a contribuir para o melhor entendimento da dinâmica
das receitas públicas no período eleitoral. Vale ressaltar que para um
aprofundamento do conhecimento sobre as receitas públicas mais estudos são
necessários, principalmente englobando outras variáveis, bem como outros períodos
como após e antes da eleição, para que sejam melhor caracterizados aspectos
como o oportunismo e o ciclo político eleitoral.
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