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SUMRIO PGINAS
1. Apresentao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1
2. Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2.1. Objetivos gerais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2.2. Objetivos especficos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
8
3. Hipteses. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9
4. rea de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9 5. Referencial terico-conceitual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
14 5.1. Geografia Mdica e Epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 5.2. Clima Urbano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
33 5.3. A Dengue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
48 5.4. Geoprocessamento e Sua Aplicao na Sade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
52 6. Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 6.1. Geoprocessamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 6.1.1. O Inventrio Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
58 6.1.2. A Monitoria Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 6.1.3. A Avaliao Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 6.1.4. A Assinatura Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 6.1.5. Entrevistas e Estudo de Caso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 6.1.6. Simulaes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 7. Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 7.1- O Inventrio Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
81 7.2- A Monitoria Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
107
7.3- A Avaliao Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
113
7.4- A Assinatura Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
128
7.5- Entrevistas e Estudo de Caso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
130
7.6- Simulaes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
144
8. Discusses e Consideraes Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
9. Referncias Bibliogrficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
165
10. Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
170
1
1. Apresentao
A sade humana e a sade ambiental apresentam ligao estreita, j que o meio
ambiente condiciona a sade pblica, mesmo com as diferenas que acompanham as vrias
pocas e os diversos lugares.
O meio ambiente, ao qual devemos nosso surgimento e desenvolvimento, sofre
grandes impactos devido a uma evoluo gradativa rumo aos avanos tecnolgicos e
cientficos.
Matas foram e so destrudas; os pntanos aterrados; desenvolveram-se mtodos de
irrigao; as cidades cresceram e a populao aumentou. As plantaes se expandiam no solo
do planeta e at o incio do sculo XIX, as mudanas ecolgicas ganharam propores
gigantescas.
O crescimento da agricultura e o desmatamento das florestas para a expanso do
plantio alagaram reas inteiras com a criao de lagos e tanques para irrigao, ocasionando o
ataque da natureza.
Assim, colocou o homem em maior contato com insetos florestais, j que as
aglomeraes humanas cresciam e em seus quintais criadouros apareciam e o homem no foi
se dando conta das novas doenas que surgiam, pois criaram condies perfeitas para a
proliferao de mosquitos no meio ambiente.
Na rea da sade, Hipcrates, o pai da medicina, quando estudou as doenas
infecciosas associou-as a alteraes no meio ambiente. Ainda sem saber das aes dos
microrganismos, ele concluiu que as mudanas climticas causavam infeces e o surgimento
de doenas como a gripe, diarrias virais, resfriados, pneumonias e surtos de meningite.
2
At o sculo XIX, quando algum adoecia de malria, a enfermidade era atribuda ao
meio e no ao mosquito, pois acreditava-se que os pntanos continham substncias venenosas
e ao serem respiradas ocasionavam a malria (mau ar).
Foi no sculo XX que o mundo conheceu transformaes aceleradas, que nos levaria
ao progresso, mas tambm, resposta do meio natural atravs de doenas novas e do retorno
das antigas, trazendo conseqncias para a sade do homem. E neste mesmo sculo, os
mosquitos foram apontados como causadores de doenas como a febre amarela, a dengue e a
malria.
Em 1900, a invaso dos EUA ilha de Cuba exps suas tropas ao mosquito Aedes,
causador da febre amarela que atingia grande parte da populao cubana anualmente. E se
iniciou um combate s reas alagadas da cidade para conter a procriao dos mosquitos
transmissores das doenas.
No Brasil, Oswaldo Cruz seria o primeiro sanitarista que em 1903 deflagraria a
campanha contra a febre amarela. No incio do sculo XX, Oswaldo Cruz coletou
informaes que os americanos obtiveram em Cuba. Para eles, a relao entre os mosquitos e
as epidemias de febre amarela era clara. Assim, comearam os esforos para combater os
insetos aterrando as regies alagadas que serviam de criadouros para os mosquitos no Rio de
Janeiro.
As medidas de limpeza resultaram na eliminao da febre amarela no ano de 1904 e da
dengue tambm j que o mosquito transmissor era o mesmo.
Porm, no final do sculo XX, devido negligncia no combate ao mosquito, a
dengue retornou com fora total.
O desenvolvimento de malria nas cidades de alguns pases aumenta a preocupao
com a populao pobre, j que o sistema sanitrio bsico deficiente leva ao desenvolvimento
de diversos focos de proliferao dos mosquitos. Estes tm a capacidade de se adaptar a guas
3
insalubres de crregos e esgotos a cu aberto que foi o que aconteceu na ndia, Turquia e
Nigria.
Alm disso, as alteraes climticas podem ocasionar mais chuvas e elevar a
temperatura propiciando um meio adequado ao desenvolvimento das larvas de mosquitos de
dengue e malria.
A malria, assim como a dengue se acentua quando nas temperaturas elevadas, os
insetos mudam os seus hbitos alimentares, passando a picar um nmero cada vez maior de
vezes durante o dia potencializando sua transmisso.
Com o avano do aquecimento global haver aumento das terras de atuao dos
mosquitos da malria e da dengue estendendo-se para as zonas temperadas do planeta.
A dengue gerou epidemias a 1.700m no Mxico em 1998, o que nos induz a pensar
que os casos no sero maiores apenas em diversas latitudes como tambm aumentaro os
casos em maiores altitudes.
Os trs ltimos fenmenos de El nio de 1982-1983, 1993-1994 e 1997-1998, foram
os mais intensos do sculo, levantando dvidas sobre o fato de se tratar apenas de uma
variao natural de sua intensidade ou ser resultado do aquecimento planetrio e do efeito
estufa.
Na ltima dcada do sculo XX, comearam a ser estudados os efeitos do fenmeno El
Nio no surgimento de determinadas epidemias.
Foi documentado na Venezuela, aumento dos casos de malria que se seguiram a
eventos de El Nio. Chuvas e calor provocados em 1997-1998 ocasionadas no leste africano
contriburam para aumentar as epidemias de malria.
Outro exemplo onde o El Nio pode ser relacionado a doenas no caso da clera,
pois a intensidade das mones e o fenmeno El Nio favorecem o aparecimento de
epidemias dessa doena.
4
Segundo a Organizao Mundial da Sade (OMS), o ciclo El Nio est associado a
maiores riscos de algumas doenas transmitidas por mosquitos, como a malria, o dengue, e a
febre do Vale Rift. As transmisses da malria e da dengue so particularmente sensveis s
condies metereolgicas. A precipitao forte pode criar poas ou acmulo de gua em
recipientes, oferecendo condies favorveis para a reproduo de mosquitos. Nos climas
muito midos, eventos inesperados de seca podem tornar os rios em uma srie de piscinas, os
locais preferidos de reproduo de outros tipos de mosquitos.
Os mosquitos que transmitem a dengue, por exemplo, se reproduzem em recipientes
com gua limpa e as temperaturas mais elevadas associadas com El Nio podem ter um efeito
na transmisso do vrus. A ligao entre as condies meteorolgicas e a transmisso da
dengue e surtos ainda no est clara. Mesmo que as condies meteorolgicas estejam
favorveis, a populao local pode estar imune ao vrus prevalecente, o que dificulta a
visualizao. Em 1998, muitos pases na sia tiverem um nvel elevado de dengue e dengue
hemorrgico, alguns dos quais podem ser atribudos a episdios meteorolgicos extremos
associados ao El Nio.
A histria da dengue se iniciou durante a 2 Guerra Mundial. O vrus da dengue que
pode aparecer em quatro tipos diferentes, alarmava moradores do sudeste asitico, Oceania e
ilhas do Pacfico periodicamente, apresentando um tipo de vrus especfico em cada uma
destas localidades e por essa razo a dengue hemorrgica que se caracteriza quando somos
acometidos por um segundo episdio da doena e por outro tipo de vrus da dengue era muito
rara.
O aumento da dengue hemorrgica ocorreu durante a guerra entre americanos e
japoneses que na disputa de inmeras batalhas pelos territrios do Pacfico migravam de ilha
a ilha, e com os militares seguiam muitos mosquitos e vrus da dengue. Entulhos e lixos
deixados pelo bombardeio das reas, com as chuvas, facilitaram o surgimento de criadouros
5
perfeitos para a proliferao dos mosquitos, e os militares levavam a doena para outras
regies favorecendo uma nova contaminao da populao.
Devido ao progresso da industrializao no sculo XX, a populao inundada de
recipientes industriais que entulham os quintais das casas. A quantidade de plstico produzida
cresceu de 5 para 80 milhes de toneladas anuais nos ltimos 50 anos. Assim, esta grande
quantidade de vasilhames, garrafas, pneus, vasos, potes e outros funcionam como criadouros
para os mosquitos.
No Brasil, segundo dados oficiais, encontram-se 100 milhes de pneus abandonados
(que provavelmente no so fies realidade, no sendo totalmente contabilizados) aliados aos
mosquitos causadores da dengue. E hoje, muito mais difcil controlar a dengue que na poca
de Oswaldo Cruz, pois a populao urbana agora de 80% e no mais 20%.
O primeiro registro de dengue no Brasil foi em 1849. E as descobertas cientficas
sobre a doena ocorreram nos primeiros 40 anos deste sculo. Ela considerada epidmica no
Brasil desde 1980, mas atinge a condio de grave problema de sade pblica em 1996,
quando os infectados passam de 56.621 para 180.392. O estudo da doena no Rio de Janeiro
foi inicialmente descrito no municpio de Nova Iguau.
O pico ocorreu em maio de 1986 e seu final se deu na semana de 20 a 26/07/86,
representando uma taxa de incidncia para o Estado de 302,63 casos/1000.000 habitantes.
Foram registrados 31.861 casos entre abril e dezembro de 1986 no estado do Rio de Janeiro;
de janeiro a julho de 1987 foram notificados 58136 casos, totalizando cerca de 90.000 casos
conhecidos durante todo o perodo.
Em 1988 a atividade epidmica diminuiu bastante no Estado do Rio de Janeiro, com
1.621 casos notificados, sendo que 68,7% nos municpios do Rio de Janeiro, Nilpolis e
Niteri.
6
Em 1989 a transmisso da doena manteve-se num patamar baixo, sendo notificados
1.112 casos no Estado do Rio de Janeiro, desses 59,7% localizados no Municpio do Rio de
Janeiro.
Aps este perodo de baixa atividade, a doena recrudesceu de forma branda em abril
de 1990, coincidindo com o isolamento do sorotipo 2 do vrus da dengue. Em novembro de
1990 a epidemia voltou a ascender, atingindo seu pice em janeiro de 1991. Dados do
Ministrio da Sade registram 19.797 casos para o Estado em 1990 e 71.938 casos em 1991,
sendo que somente em janeiro de 1991 notificou-se 26.022 casos da doena e 3 bitos. Nesta
epidemia o fenmeno a ser destacado foi o aparecimento do dengue hemorrgico no Estado
do Rio de Janeiro, onde foram registrados 1.306 casos.
Hoje, a cada vero a dengue causa novas epidemias. O ano de 2002 bateu todos os
recordes dos anos anteriores, at mesmo no nmero de bitos que foi maior que todos os anos
juntos, 65 casos. Graas s intensas campanhas do governo em 2003, 2004 e 2005, esse ndice
caiu, voltando a aumentar em 2006.
O mais surpreendente so os trabalhos que mostram, pela anlise do material gentico
vrus, que sua grande variao ocorreu nos ltimos duzentos anos. Um aumento na populao
viral gerou maior diversidade gentica do vrus, o que coincide com o perodo de maior
produo de lixo industrial.
Como o mosquito da dengue o Aedes aegypti, o mosquito Culex transmissor da
encefalite do oeste do Nilo apresenta hbito peridomiciliar. Assim, os EUA fazem a mesma
campanha que o Brasil para acabar com pneus, caixas dgua, recipientes, garrafas, vasos,
latas e outros entulhos em geral.
Grandes cidades como Rio de Janeiro apresentam hoje o chamado clima urbano
resultante de todas as atividades criadas pelo homem na cidade, incluindo a poluio
industrial e a emisso de monxido de carbono (CO) dos automveis. As ilhas de calor e os
7
ndices de umidade relativamente altos tm sido atribudos s aceleradas taxas de urbanizao.
Os problemas ligados s altas densidades demogrficas, favelizao, falta de saneamento
bsico, circulao de veculos, poluio (do ar, da gua, sonora), s enchentes, ocupam
posio de destaque, uma vez que, em certas reas da cidade eles se somam, resultando em
pssimas condies de vida, com altos riscos para a sade da populao que nelas reside
(Brando, 1992).
No captulo 2, so expostos os objetivos gerais e especficos deste trabalho. No
captulo 3, encontram-se as hipteses com relao ao estudo da distribuio da dengue no
municpio do Rio de Janeiro. No quarto captulo esto descritas as caractersticas climato-
ambientais da rea de estudo. O captulo 5 reservado a uma reviso bibliogrfica dos
trabalhos sobre epidemiologia, geografia mdica e clima urbano e, ainda, um breve histrico
sobre a dengue e suas implicaes na sade. A importncia do uso das ferramentas de
geoprocessamento na tentativa de solucionar problemas relacionados sade tambm
inserida neste captulo. No captulo 6, a metodologia tratada a partir das funes bsicas do
SAGA/UFRJ como inventrio, monitoria, avaliao e assinatura. Tambm foi relatada a
metodologia adotada nas entrevistas dos estudos de caso nos trs bairros do municpio do Rio
de Janeiro escolhidos para anlise e nas simulaes de alguns parmetros que influenciam os
casos de dengue. No captulo 7, discute-se os resultados encontrados seguindo os mesmos
tpicos da metodologia para facilitar o acompanhamento pelo leitor. As consideraes finais
deste trabalho sero apresentadas no captulo 8. E finalmente nos captulos 9 e 10 encontram-
se citadas as referncias bibliogrficas e a bibliografia, respectivamente.
8
2. Objetivos
2.1. Objetivos gerais
Analisar a distribuio espacial de casos de dengue em bairros do municpio do Rio de
Janeiro, os fatores geoecolgicos e de origem antrpica que influenciaram na configurao
dos cenrios identificados, as implicaes na proliferao do mosquito vetor e
conseqentemente na qualidade de vida da populao, gerando subsdios para auxiliar no
apoio deciso.
2.2. Objetivos especficos
Analisar as causas da distribuio do mosquito vetor da dengue, o Aedes aegypti, em
alguns bairros do municpio do Rio de Janeiro.
Identificar reas de risco de epidemias de dengue atravs de geoprocessamento em
bairros do Rio de Janeiro.
Realizar estudo comparativo entre as taxas de incidncia em bairros com diferentes
funes urbanas e com a predominncia de casas ou apartamentos.
Buscar a influncia das condies socioeconmicas e da coleta de lixo na taxa de
incidncia de dengue nos bairros.
Estudar a possvel relao entre anos de El Nio e a incidncia de dengue no
municpio Rio de Janeiro.
Apontar as caractersticas geoecolgicas do stio e elementos da morfologia
antropognica que propiciam condies de proliferao do mosquito.
9
Obter conhecimento sobre os agentes modificadores do ambiente e propiciar apoio
busca de solues para o problema.
3. Hipteses
Estudos tericos e pesquisas realizadas constituem as bases para as seguintes hipteses:
H relao entre nvel socioeconmico da populao e o nmero de casos de dengue;
A deficincia na oferta de servios bsicos oferecidos populao na cidade, como a
coleta de lixo, e a proliferao de dengue apresentam estreita ligao;
Residncias do tipo casa possibilitam a maior formao de criadouros que as
residncias do tipo apartamento;
Os anos de efeitos extremos do fenmeno El Nio interferem no aumento dos casos de
dengue no municpio do Rio de Janeiro;
A proliferao dos mosquitos facilitada ou dificultada por caractersticas
geoecolgicas que os bairros apresentam.
4. rea de estudo
O estudo da ocorrncia de dengue no municpio do Rio de Janeiro, encontra grande
complexidade de anlise, uma vez que as caractersticas topogrficas, aliadas s
peculiaridades do seu quadro litorneo e s diferenas geradas pela prpria estrutura urbana,
fazem do Rio de Janeiro uma cidade de paisagens contrastantes. O quadro climtico do stio
urbano carioca bastante complexo, sendo perceptveis na cidade significativas variaes
10
espaciais-temporais nos atributos climticos, em funo da atuao diferenciada dos
componentes geoecolgicos e de uso do solo.
Figura 1: Municpio do Rio de Janeiro
11
O municpio do Rio de Janeiro localiza-se a 22 54 24 Lat. S e 43 10 21 Long.
W, e apresenta intensa radiao solar durante todo o ano, por estar pouco acima da linha do
Trpico de Capricrnio.
O clima do municpio do Rio de Janeiro reflete uma conjugao de fatores os quais se
especializam dando uma certa definio climtica local no quadro climtico regional O clima
urbano um clima local muito alterado por ao antrpica, sendo resultante de todos os
fatores que se processam sobre a camada de limite urbana e que agem no sentido de alterar o
clima em escala local.
O sistema tropical atlntico predomina com seus ventos de nordeste para norte,
principalmente no perodo de inverno, porm , tambm, influenciado pelo Anticiclone
migratrio polar e seus ventos sul durante todo o ano. Esse anticiclone responsvel pelo
avano de sistemas frontais que atingem constantemente o municpio, sobretudo no inverno.
Dois domnios fisiogrficos caracterizam o stio urbano carioca: O relevo representado
pelos macios litorneos, algumas serras, morros isolados e ilhas e as zonas das amplas
baixadas. Alm de se refletir na ventilao, o relevo tambm responsvel pela fragmentao
micro-climtica natural da cidade.
A Regio Metropolitana abrange as baixadas de Sepetiba, Guanabara e Jacarepagu,
de onde se sobressaem macios montanhosos, tais como os macios costeiros da Pedra
Branca, Tijuca e o macio intrusivo alcalino do Mendanha.
Na regio metropolitana, situa-se o maior aglomerado urbano do estado e o segundo
maior do pas, com uma populao superior a 10 milhes de habitantes e grande concentrao
populacional de 4366 hab/km2. Os problemas ambientais decorrentes dessa concentrao
populacional so bvios, sendo muitos terrenos inadequados para construes, tais como
mangues e brejos, principalmente no entorno da baa de Guanabara. Contudo, importantes
12
reas de manguezais resistem presso urbana, tais como os do recncavo das baas de
Guanabara e Sepetiba. Igualmente ameaada est a plancie flvio-lagunar de Jacarepagu,
devido expanso urbana da Barra da Tijuca e Jacarepagu. Tais terrenos, constitudos por
Gleissolos e Solos Orgnicos e altamente suscetveis a eventos de inundao so ocupados,
geralmente por populao de baixa renda, em decorrncia de processos de segregao e
excluso social.
As baixadas e as plancies costeiras sofreram expanso acelerada da malha urbano-
industrial, mesmo sendo mais bem drenadas. Nelas, ocorreram problemas ambientais,
destacando-se a contaminao de rios, do lenol fretico pouco profundo associados s
lagunas costeiras e s baas. As colinas isoladas do recncavo das baixadas da Guanabara e de
Sepetiba e os tabuleiros da Formao Macacu tambm foram stios englobados pela expanso
da malha urbana, possuindo caractersticas mais apropriadas para tal fim.
A populao de baixa renda ocupou reas mais alagadas e as baixas vertentes de alta
declividade dos alinhamentos serranos isolados e dos macios montanhosos. Este cenrio
demonstra, o crescimento acelerado e desordenado da metrpole nas ltimas dcadas,
traduzido pela formao de comunidades de baixa renda e pela ocupao urbana de terrenos
inadequados para tal uso.
Assim sendo, o macio da Tijuca, que abriga um Parque Nacional, est submetido a
uma intensa presso urbana sob todas as direes, devido ao processo de favelizao de suas
baixas encostas. Um processo difcil de ser revertido, mas de importncia capital para a
melhoria da qualidade vida para a populao que habita a Regio Metropolitana.
No recncavo das baixadas da Guanabara e de Sepetiba, prximo ao sop da escarpa
da serra do Mar, a ocupao urbana mais incipiente. Predominam, nesse trecho, as plancies
fluviais, colinas isoladas e morrotes e morros baixos. Nos baixos cursos dos rios Santana e
Ribeiro das Lajes, no sop da serra das Araras, as colinas isoladas e morrotes e morros
13
baixos apresentam-se alinhados e bem mais dissecados, devido a um condicionamento
estrutural mais expressivo, sendo, portanto, pouco indicados para ocupao intensiva.
As mais graves questes ambientais a serem enfrentadas concentram-se na Regio
Metropolitana, visto que esta regio tambm concentra a maior parte da economia e da
populao do estado. O grande adensamento populacional da Regio Metropolitana e o
significativo parque industrial a instalado, associado com uma falta de planejamento para
orientar a expanso da malha urbano-industrial nas ltimas dcadas, acarretou no atual
cenrio de degradao ambiental calcado na contaminao das guas (rios, lagoas, baas,
aqferos), do ar e dos solos; em populaes sobrevivendo em reas de risco a enchentes ou
escorregamentos; no congestionamento nos meios de transporte de pessoas e cargas etc. A
conteno deste processo de degradao da qualidade de vida e de recuperao scio-
ambiental destas reas exige um grande esforo poltico e financeiro, mas inadivel e que
deve levar em conta o conhecimento aprofundado do meio geobiofsico, no qual se assenta o
territrio, para melhor planej-lo. Neste sentido, as plancies flvio-marinhas (mangues) e as
plancies flvio-lagunares (brejos) consistem em reas limitantes frente interveno humana
devido alta suscetibilidade inundao, devendo, portanto, ter seus ecossistemas locais
preservados ou recuperados. As plancies costeiras, que se estendem em amplas reas na
Regio dos Lagos devem merecer o mesmo tratamento, principalmente, as reas com
vegetao de restinga preservada e campos de dunas, aliadas com um turismo de baixa
densidade e ecoturismo. A proliferao de loteamentos e condomnios nestes terrenos pode
acarretar a destruio desse frgil ecossistema.
14
5. Referencial terico-conceitual
5.1. Geografia Mdica e Epidemiologia
A geografia mdica estuda a distribuio e a prevalncia das doenas na superfcie da
terra, e todas as alteraes sofridas por elas por influncia de fatores geogrficos e humanos.
Ela estuda a influncia da geografia, dos climas e dos solos, sobre diferentes raas e sobre as
modificaes dos processos vitais, normais e patolgicos (Rouquayrol, 1993).
Segundo Ruellan (1950), a geografia mdica a pesquisa do conjunto de endemias ou
de epidemias que esto em ligao com certos caracteres geogrficos de uma regio, em
particular com os caracteres climticos e biolgicos.
Devemos observar que a anlise detalhada dos vrios complexos patognicos nos
traria melhores conhecimentos da dinmica das doenas, o estudo da extenso das doenas
infecciosas em uma dada regio e a correlao dos diversos fatores geogrficos e climticos,
com a prevalncia, gravidade ou com os surtos epidmicos das doenas consideradas,
facilitaria os meios de combat-las no mbito da sade pblica.
A geografia mdica baseia-se de tal forma nos estudos epidemiolgicos que certos
autores a consideram ramo da epidemiologia (Pessoa, 1978 p.122).
Stallybrass (1931), define a Epidemiologia como a cincia que trata das doenas
infectuosas e abrange o estudo de suas causas primrias, a propagao e a preveno.
Uma observao feita por Vitor Godinho j em 1909, diz respeito falta de regras para
fixar o termo epidemia.
Nunca se acordou, por exemplo, qual seria o nmero de casos de cada doena, em
relao populao, que deveria ser notado em uma regio para que a doena devesse ser
considerada ali epidmica ou endmica.
15
Se houvesse 10 casos de gripe numa cidade de 1000 habitantes, por exemplo, poderia
parecer sem importncia, mas se o mesmo coeficiente fosse aplicado em So Paulo, teramos
um nmero assustador de 30.000 casos.
Segundo Borges Vieira (1944) a interpretao de epidemiologia , de acordo com
Frost:
Estudar os caracteres, etiologia e meios de transmisso das doenas de acordo com as
circunstncias e condies de sua ocorrncia na natureza.
Explicando o sentido desta definio Frost assim caracteriza a Epidemiologia:
Em seu sentido mais geral, a epidemiologia pode ser definida como a cincia dos
fenmenos das doenas, no como ocorrem em indivduos, mas como so vistas em grupos da
populao, assim como o modo de sua natural incidncia e disseminao entre as pessoas, e a
relao desses fenmenos caractersticos como as numerosas condies de hereditariedade, de
hbitos e de meios que a determinam.
A epidemiologia estuda o processo sade-doena, sua distribuio e seus
determinantes em grupos humanos. A palavra epidemiologia significa etimolgicamente
cincia do que se abate sobre o povo.
John Snow (1854), considerado o pai da epidemiologia, conclui pela existncia de uma
associao de causa entre a doena e a gua contaminada por fezes de doentes, rejeitando a
possibilidade de miasmas1. O trabalho de Snow busca enfatizar os processos que definem a
distribuio das doenas nas condies de vida londrina, seu cotidiano, hbitos e modos de
vida, processos de trabalho e a natureza das polticas pblicas.
A epidemiologia foi ampliando seu campo desde o incio do sculo XX, e sua ateno
volta-se para s formas de transmisso e ao combate s epidemias.
1 Emanao ftida oriunda de animais ou plantas em decomposio
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A definio precisa de epidemiologia no simples, sua temtica dinmica e seu
objeto complexo. De forma simplificada pode-se conceitu-la como: cincia que estuda o
processo sade-doena em coletividades humanas, analisando a distribuio e os fatores
determinantes das enfermidades, danos sade e eventos associados sade coletiva,
propondo medidas especficas de preveno, controle ou erradicao de doenas e fornecendo
indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administrao e avaliao das aes de
sade.
interessante utilizar-se dos dados de morbidade (o comportamento das doenas e dos
agravos sade em uma populao exposta) sempre que o objetivo final for o controle de
doena ou agravos, as estatsticas de morbidade sero as informaes basilares. Alm de sua
importncia prevalecente no controle das doenas, os dados de morbidade so essenciais aos
estudos de anlise do tipo causa-efeito.
Mortalidade e morbidade so variveis caractersticas de seres vivos e se referem ao
conjunto de indivduos que morreram ou adquiriram doenas em um intervalo de tempo.
A ao da vigilncia epidemiolgica compreende as informaes, investigaes e
levantamentos necessrios programao e avaliao de medidas de controle de doenas e
situaes de agravos sade (art. 2. da lei n 6259/75).
O sistema nico de sade (SUS), criado pela constituio de 1988, reconhece um
conceito ampliado de sade e seus determinantes, fato que imps uma atualizao da
concepo do sistema de vigilncia epidemiolgica.
A lei n 8080 de 1990, que organizou o SUS, denomina vigilncia epidemiolgica um
conjunto de aes que proporcionam o conhecimento, a deteco ou preveno de qualquer
mudana e controle das doenas e agravos.
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Os quantitativos relativos s doenas so controladas pelo sistema de vigilncia
epidemiolgica e podem ser levantados a partir de registros mantidos por hospitais,
maternidades, ambulatrios da previdncia social, laboratrios e clnicas particulares.
O registro de internaes hospitalares, colhidos atravs da AIH (Autorizao de
Internao Hospitalar) referente a internaes da rede pblica e conveniada, e tem sido
muito utilizado para anlise de morbidade no Brasil.
Grandes irregularidades foram encontradas no sistema previdencirio, que a
principal fonte financiadora do SUS.
Podemos encontrar casos de cirurgias cesarianas, realizadas em meninas de nove anos,
operaes cardacas bem sucedidas em pacientes falecidos quatro anos antes da data da
cirurgia, e at mesmo extirpao de ovrios em indivduos de sexo masculino. (Rouquaryol,
1994)
Embora haja muitas imperfeies na fonte, sua utilizao sistemtica pode servir de
estmulo busca da melhoria da qualidade destes dados que sero teis para o estudo da
distribuio das doenas.
Distribuio em epidemiologia o estudo da variabilidade da freqncia das doenas
ao nvel coletivo, em funo de variveis ligadas ao tempo, ao espao ambiental e
populacional e pessoa. (Rouquaryol, 1994)
fundamental no estudo da epidemiologia o conhecimento das circunstncias sob as
quais se desenvolve o processo sade-doena na populao:
Onde, quando e sobre quem ocorre determinada doena?
H grupos especiais mais vulnerveis?
Existe alguma poca do ano em que a incidncia de casos aumenta?
Em que reas do municpio ou regio do pas a doena mais freqente? H
disparidades regionais ou locais?
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Indivduos idosos so mais atingidos do que crianas?
Pertencer a uma dada classe social determina diferenas nos riscos?
A epidemiologia poder responder estas questes e, alm disso, permitir a exposio
das circunstncias do fenmeno, possibilitando a gerao de novos conhecimentos acerca da
distribuio das doenas e dos fatores que as determinam.
A geografia mdica tornou-se uma cincia dinmica, denominada pelos gegrafos
alems de Geomedicina, tambm os epidemiologistas no ficaram estacionrios evoluindo
para uma epidemiologia dinmica. Smillie (1946) chama a epidemiologia dinmica de bsica
e para ele a ocorrncia, distribuio e tipo das doenas humanas, em pocas distintas do
tempo, e em vrios pontos da superfcie da Terra.
Na epidemiologia desenvolve-se mais o esprito dos profissionais da sade de
indagao, de fins e de exposio, j na geografia mdica prevalece o ponto de vista
geogrfico para o conhecimento da distribuio e evoluo das doenas, nas vrias regies do
globo.
O objetivo da geografia mdica, basear-se na realidade, em dados e fatos abordados
principalmente nos vrios ramos da medicina (epidemiologia e patologia) e da geografia
(fsica e humana). E ela liga fatos e fenmenos, e os mtodos usados na soluo de problemas
que a definem mantendo-a sempre em terreno slido e objetivo.
O estudo da geografia mdica nasceu na Antigidade, quando no havia interesse em
estudar as relaes existentes entre o meio ambiente e as doenas. Hipcrates escreveu a
primeira obra dedicada Geografia Mdica, Ares, guas e lugares. Ele ocupou-se em
mostrar como esses elementos agem sobre o homem, focalizando a climatologia na primeira
parte de seu estudo. Desta forma, at o sculo XVII nada de importante surgiu sobre
Geografia Mdica, que no estivesse explcito no livro Ares, guas e Lugares.
19
Para Hipcrates as doenas endmicas ou epidmicas eram influenciadas por fatores
geogrficos e climticos. Desta forma, ele estudou a ao do sol e dos ventos sobre a sade,
baseando-se no Mediterrneo de onde ele era originrio.
Nos trabalhos modernos sobre geografia mdica, destacam-se os trabalhos de Pasteur,
que aborda a influncia do meio fsico sobre o homem e sobre as doenas que o afligem.
Quando apontaram a penetrao e multiplicao das bactrias causa das doenas se perdeu a
viso do conjunto das causas que atuam sobre o homem. Confirmando o que Hipcrates
pensava, a ao dos micrbios acentua os efeitos dos climas e das condies meteorolgicas
sobre a sade e sobre a doena, j que preciso considerar-se que as cavidades do organismo
que sofrem o ataque do germe esto expostas s condies atmosfricas.
A pouca importncia atribuda a vrios outros fatores, cuja proeminncia se conferia
na era pr-pastoriana prevalncia das enfermidades, tais como a constituio individual, isto
, o meio interior, bem como a influncia da natureza sobre o homem, isto , o meio exterior,
conduziu a medicina estagnao quanto compreenso da dinmica das doenas e s causas
de sua distribuio geogrfica. Assim tambm se explica o declnio de obras importantes da
geografia mdica durante este meio sculo de progressos da microbiologia e da imunologia. A
geografia mdica perdeu terreno aps a poca pastoriana, mas ela desenvolveu
progressivamente. Modernos epidemiologistas como Winslow (1994) acreditam que hoje h
uma reao contra a importncia atribuda ao micrbio da influncia do clima, das estaes e
da nutrio sobre a resistncia vital.
Na climatologia mdica so investigadas as aes das radiaes sobre o organismo do
homem so ou doente, e para descrev-la sobre organismos animais e vegetais foi utilizada a
expresso bioclimatologia.
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O desenvolvimento da geografia mdica no Brasil ocorreu aps a fundao das
faculdades de medicina no Brasil e, a partir disso, foram feitos vrios trabalhos sobre temas
referentes geografia das doenas ou patologia geogrfica das vrias regies brasileiras.
Podemos destacar na histria da medicina no Brasil Santos Filho (1947), que
desenvolveu vrios trabalhos sobre geografia mdica, sendo de pouco valor nos dias de hoje.
Santos Filho (1947) destacou que os autores esmeravam-se em colecionar dados sobre a
temperatura, umidade, presso, calor, ventos, tempestades, dados cuidadosamente transcritos
nos tratados de patologia. Hoje, eles so teis para consulta, no somente para os mdicos e
sanitaristas como para o historiador ou gegrafo.
Em 1844, Sigaud publica o livro Du Climat et des Maladies du Brasil, onde enfatiza
sua inteno em traar uma climatologia, esboar a geografia mdica do Brasil e descrever as
doenas que constituem a patologia intertropical. Seu trabalho se divide em quatro partes: a
primeira aborda o clima; a Segunda, a geografia mdica; a terceira, a patologia intertropical e
a quarta trata de estatsticas mdicas do Brasil.
Afrnio Peixoto (1938), precursor da geografia Mdica em nosso pas, interpretou as
relaes entre o clima, o homem e a cultura.
Mdico e sanitarista, Peixoto foi um defensor do mundo tropical contra preconceitos,
que afirmavam que os povos da zona trrida eram inferiores naturalmente.
Em 1907, publicou um trabalho que tratava da relao entre clima e doenas no Brasil,
e nele propunha pensar os problemas brasileiros a partir de solues internas.
Afrnio Peixoto era contrrio linha determinista que analisava o homem dos trpicos
e defende a tese do possibilismo, enfatizando as influncias climticas nas adaptaes e novos
arranjos nas relaes sociedade-natureza.
As condies climticas atreladas s doenas e rea de sade pblica foram tratadas
por Peixoto em sua obra Clima e Sade (1938).
21
Desta forma, demonstra que no somente o clima, mas as condies de higiene e
salubridade influenciam nas reas endmicas; ou seja, aspectos socioeconmicos interferem
no processo de contgio.
Ainda nesta obra, o autor abordou questes sobre meteoropatologia, relacionando os
climas e as variaes sazonais, com casos de morbidez, epidemias e endemias. Assim, afirma
que algumas patologias so facilitadas enquanto outras so inibidas de acordo com essa
variao sazonal e quando detectadas podem ser reduzidas ou eliminadas.
Na dcada de 70 a Geografia do Bem estar, propunha um enfoque integrador capaz de
apagar as fronteiras desnecessariamente incrementadas entre as disciplinas geogrficas que
abordavam o tema do bem estar humano (Smith, 1972).
As terminologias Geografia Mdica e Geografia da Sade so as mais amplamente
debatidas e aceitas para identificar a direo da geografia, que surgida no sculo passado, se
ocupa da aplicao do conhecimento geogrfico, mtodos e tcnicas investigao na sade,
na perspectiva da preveno de doenas (Verhasselt, 1993, p.482).
Freqentemente se questiona a existncia independente da Geografia Mdica. Neste
sentido o professor brasileiro L. J. da Silva considera que a Geografia Mdica nunca se
estabeleceu firmemente como disciplina diferente da Epidemiologia (Silva, 1992). Esta
afirmao, que podemos aceitar como opinio de epidemilogos e outros profissionais das
Cincias Mdicas, no exclui a incorporao da linguagem de expresso geogrfica
(cartografia) pelos epidemilogos, nem as renovadas perspectivas que os conceitos e tcnicas
geogrficas, tm aberto aos profissionais da sade. De forma similar investigao geogrfica
na sade, incorpora as tcnicas bioestatsticas, amplamente desenvolvidas pelos
epidemilogos e outros profissionais da sade.
A importncia da Geografia Mdica se concretiza ao constituir-se em Lisboa a
Comisso de Geografia Mdica da UGI em 1949 e no informe desta comisso em 1952 que
22
impulsionou seu desenvolvimento. Quarenta anos depois, no congresso da Unio Geogrfica
Internacional celebrado em Washington, se modifica o nome desta Comisso pelo de
Ambiente-Sade e desenvolvimento.
Entretanto, a exceo de alguns pases entre os que se destacam o Reino Unido,
Frana, Blgica, Estados Unidos, Alemanha e Rssia, a Geografia Mdica ou da Sade no
conseguiu consolidar-se como direo cientfica e pouco conhecida, at entre os
profissionais da geografia.
Os mdicos brasileiros mostraram sua preocupao com a necessidade do
desenvolvimento dos estudos sobre a geografia das doenas em nosso territrio. No IV
Congresso Mdico Latino-americano, no incio no sculo XX, foram apresentados vrios
estudos sobre geografia mdica.
Se consultarmos os ndices de catlogos mdicos brasileiros, de J. Maia, referente aos
anos de 1937 a 1952, encontra-se poucos ttulos registrados. H apenas duas obras. Uma de J.
de Lima sobre As plancie costeira maranhense sob o ponto de vista sanitrio social, e o bem
conhecido (clssico) livro de Josu de Castro A geografia da fome. Entre as obras mais
recentes destacam-se: Climatologia do Cear (1925) de Gavio Gonzaga e Clima e Sade
de Afrnio Peixoto . (Pessoa, 1978 p. 118).
As contribuies brasileiras no campo da geografia mdica se limitam distribuio
geogrfica de certas doenas transmissveis e de seus vetores, principalmente malria, a
febre amarela, a esquistossomose, a doena de chagas, a filariose ou prevalncia regional de
outras endemias.
No campo da Sade Pblica, se desenvolve uma direo encaminhada elaborao de
desenhos epidemiolgicos e de tcnicas estatsticas para o estudo de padres espaciais e
temporais de doenas.
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O enfoque proveniente da evoluo da Geografia Crtica ou a nova geografia a
natureza modificada pela ao humana e, portanto, uma construo social. Esse enfoque
considera o espao como um conjunto de relaes e de formas, que se apresentam como
testemunho de uma histria escrita pelos processos do passado e do presente (Santos, 1978).
Esta conceitualizao de espao tem sido fundamentalmente explorada por
epidemilogos, apesar de que o arsenal terico provm da Geografia (Ferreira, 1991; Gadelia,
1995). Sabroza coloca que "o espao socialmente organizado, integrado e profundamente
desigual, no apenas possibilita, mas tambm determina a ocorrncia de endemias e sua
distribuio" (Sabroza, 1991 p.12).
A sade da populao constitui a expresso de determinantes e condicionantes de
carter estritamente biolgico, ambiental e social tanto histrico como atuais. Por outra parte
na Geografia, a produo social do espao, os processos de sua configurao e funcionamento
esto influenciados pelas condies (recursos) naturais e determinado tanto pelos modos de
produo precedentes como pelos atuais na escalas local, nacional e hoje mundial. O
caracterizam, portanto, pela sua totalidade, historicidade e escala (Iiguez, 1994).
A situao de sade de um espao populacional dado est influenciado tanto pelas
mudanas das formaes econmicas, das persistncias de origem natural (clima, solos,
relevo e outras), como pela experincia biolgica da populao em contato com diversos
agentes patgenos (Dubos, 1989).
Espao um conceito bsico em epidemiologia. MacMahon & Pugh (1978)
reconhecem que o estudo da distribuio geogrfica da enfermidade importante para a
formulao de hipteses etiolgicas, alm de ser til para propsitos administrativos.
O espao, no campo da epidemiologia, foi inicialmente compreendido como resultado
de uma interao entre organismo e natureza bruta, independente da ao e percepo
humanas. Da mesma forma, na geografia clssica, o espao foi entendido como substrato de
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fenmenos naturais, como o clima, a hidrografia, a topografia, a vegetao, etc. Porm, no
desenvolvimento do objeto tanto da epidemiologia como da geografia, manifestam-se as
dualidades que interrogou a lgica desse conhecimento: natureza e cultura, natural e artificial,
corpo e mente, subjetivo e objetivo, entre outras dualidades clssicas que caracterizaram a
emergncia das cincias. Para Santos (1987), as transformaes contemporneas no discurso
cientfico, ao questionar essas dicotomias, retomam contradies que se apresentaram desde a
origem e o desenvolvimento dessas disciplinas, estreitamente vinculadas ao contexto dos
estudos sobre as relaes entre espao e doena.
O uso do conceito de espao, em epidemiologia, acompanhou o desenvolvimento
terico da geografia, especialmente da rea denominada geografia mdica. Pensando a
especificidade desses estudos, destaca-se, mais uma vez, a importncia de compreender o
espao como uma totalidade integrada. Deve buscar-se incluir na compreenso do processo da
doena, dimenses sociais, culturais e simblicas.
Uma das mais importantes elaboraes tericas do conceito de espao geogrfico
vinculado ao estudo de doenas transmissveis foi feita por Pavlovsky na dcada de 30. O
conceito de foco natural expressa uma apreenso espacial que integra o conhecimento das
doenas transmissveis com a geografia e a ecologia.
Para Pavlovsky (s/d), um foco natural de doena existe quando h um clima,
vegetao, solos especficos e micro-clima favorvel nos lugares onde vivem vetores,
doadores e recipientes de infeco. Em outras palavras, um foco natural de doenas
relacionado a uma paisagem geogrfica especfica.
Assim, o homem torna-se vtima de uma doena animal com foco natural somente
quando permanece no territrio destes focos naturais em uma estao do ano definida e
atacado como uma presa por vetores que lhe sugam o sangue.
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O conceito de foco natural , assim, aplicado a ambientes que apresentam condies
favorveis circulao de agentes, independentemente da presena e da ao humanas. Pode
ocorrer em paisagens geogrficas variadas, desde que haja uma interao entre bitipos
especficos. A definio de foco natural circunscreve-se a doenas transmitidas atravs de
vetores, no se referindo ao estudo de doenas que, mesmo apresentando um agente etiolgico
definido, propagam-se atravs do contato direto ou mesmo pela inalao de ar contaminado.
Segundo Pavlovsky, a existncia de qualquer doena transmissvel est vinculada ao
trnsito contnuo de seu agente causal, do corpo do animal doador para o corpo do vetor. Essa
transmisso geralmente acontece quando o vetor suga o sangue do doador e logo, transmite o
agente causal para o receptor animal, freqentemente, quando suga seu sangue tambm; o
receptor infectado pode por sua vez, tornar-se um doador para outro grupo de vetores, etc.
Desta forma, havendo a circulao.
O conceito de foco antroprgico, tambm desenvolvido por Pavlovsky, introduziu a
idia da transformao do espao de circulao de agentes de doena pela ao humana.
Contudo, envolve somente a transformao inicial dos focos naturais no apresentando
elementos suficientes para o estudo das doenas transmissveis em situaes onde a dinmica
de modificao do espao pelo homem ocorreu de forma mais ampliada e acelerada.
Posteriormente, realizaram-se estudos que, partindo da teoria dos focos naturais de
Pavlovsky, dedicaram mais ateno influncia humana na transformao das paisagens
geogrficas onde se desenvolvem doenas associadas a focos naturais. Rosicky (1967)
ressaltou que desde a origem da sociedade agrcola e com a domesticao de animais, um
foco natural manifesta-se sob a influncia indireta de atividades humanas. Durante a ao
humana, as condies de existncia de certos vetores e reservatrios animais podem ser
erradicadas ou acentuadas.
26
Sinnecker (1971) props o conceito de territrio nosognico, o qual integra fatores
ecolgicos e sociais. As condies naturais de uma regio articulam esses fatores,
condicionando a sade dos homens e dos animais. A atividade das populaes transforma as
condies de desenvolvimento das doenas e por isso, as doenas tm diferentes distribuies
nos distintos territrios. As transformaes podem remover ou criar condies para o
surgimento de doenas. Sinnecker enfatiza tambm o perigo da emergncia de doenas
vinculadas ao intenso processo de urbanizao, j que a concentrao populacional cria novas
condies ecolgicas e sociais.
O conceito de complexo patognico, criado por Max Sorre, foi alm da abordagem de
Pavlovsky, j que aprofundou o poder analtico e explicativo, antes praticamente restrito
descrio do meio fsico. Sorre utiliza o conceito biolgico de que as relaes entre um meio
externo que varia e um meio interno que necessita adaptar-se para manter suas constantes
fisiolgicas e ao mesmo tempo, ele explicita que, ao se tratar de seres humanos, o conceito de
meio deve enriquecer-se e incluir tambm o ambiente produzido pelo homem.
Para Sorre (1951), os organismos apresentam uma interdependncia, j que atuam na
produo de uma mesma doena infecciosa e permite inferir uma unidade biolgica de ordem
superior: o complexo patognico. Compreende, alm do homem e do agente causal da doena,
seus vetores e todos os seres que condicionam ou comprometem a sua existncia.
A linha de investigao construda por Samuel Pessoa inspirou-se nas contribuies de
Sorre, e especialmente nos trabalhos de Pavlovsky. Ele criou uma escola de estudos em
geografia mdica no Brasil, no contexto da chamada medicina tropical. Estudou as endemias
prevalentes no Brasil, tambm, e especialmente, as transmitidas atravs de vetores, como
esquistossomose, doena de Chagas, filariose, malria, etc.
"O meio geogrfico cria, indiscutivelmente, condies constantes e necessrias para a
incidncia e propagao de inmeras molstias reinantes nos trpicos e, principalmente, em
27
relao s doenas metaxnicas, isto , quelas que exigem para sua transmisso vetores
biolgicos, como por exemplo, a malria, a febre amarela, as filarioses transmitidas por
mosquitos, a esquistossomoses por moluscos. O desenvolvimento dos vetores bem como a
multiplicao do agente patognico nestes hospedeiros est estritamente ligado ao meio
geogrfico e especialmente s condies climticas" (Pessoa, 1978:151).
"Os fatores que intervm na incidncia e propagao das doenas infecciosas e
parasitrias em uma regio, so numerosos e complexos. Atribu-los somente s condies
geogrficas e climticas to errneo como incriminar somente a presena do germe.
claro que, por exemplo, sem o bacilo 'virgula' da clera no pode existir esta grave
enfermidade, porm ningum nega a existncia de uma geografia da clera. No se deve
limitar, todavia, o termo 'geografia' de uma doena, no sentido estrito que se entende por esta
cincia. Se se pode, em um mapa, delimitar as reas de endemicidade ou epidemicidade da
clera, da peste, da malria, das leishmanioses, etc., que pelo termo geografia deve-se
considerar no s a geografia fsica, o clima e os demais fenmenos meteorolgicos, que
caracterizam geograficamente a regio, mas ainda as geografias humana, social, poltica e
econmica. E os fatores que mais intervm na variao e propagao das doenas, so
justamente os humanos" (Pessoa, 1978:153).
Milton Santos apresenta uma importante contribuio para as anlises da relao entre
espao e doena, especialmente as produzidas no Brasil. Esse autor conceitua espao como
"um conjunto indissocivel de sistemas de objetos e sistemas de aes" (Santos, 1996:18);
"um conjunto de fixos e fluxos que interagem" (Santos, 1996:50). O espao aquilo que
resulta da relao entre a materialidade das coisas e a vida que as animam e transformam. As
aes provenientes das necessidades humanas produzem uma configurao territorial
impregnadas de fatores histricos resultantes dessas relaes.
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Definidas como conjunto de centros funcionalmente articulados, as redes integram os
espaos configurando-se basicamente em dois aspectos: o material e o social. As redes
atravessam contextos materiais e scio-culturais diversificados e podem ser compreendidas
como constituindo espaos de circulao e difuso de agentes de doenas.
A estrutura epidemiolgica da doena se modificou com a transformao do espao.
Com base na teoria de foco natural e antroprgico de Pavlovsky, Milton Santos estudou os
elementos da paisagem geogrfica propcios ao surgimento, circulao e transmisso do vetor,
como clima, vegetao e solo. Por meio do conceito de espao socialmente organizado,
conseguiu integrar esses elementos em uma compreenso mais complexa: o espao foi
organizado no contexto da histria da ocupao econmica, e esta forma de organizao criou
um sistema de relaes que transformaram as condies fsicas do meio.
Segundo Carvalheiro (1986), a populao que migra do campo para a cidade um
grupo particularmente vulnervel, por sua precria insero social na cidade e pela ausncia
de imunidade em relao a doenas existentes nos centros urbanos. A diversidade das formas
de insero social reflete a desigual distribuio territorial e, tambm, diferentes perfis
epidemiolgicos, nos quais a populao de baixa renda a que mais sofre o impacto das
epidemias e endemias.
Assim, a erradicao e o controle das epidemias no dependem apenas de diagnstico
e interveno biolgica, mas de todos os elementos que participam da organizao social do
espao.
A maior parte desses estudos associou a emergncia de doenas ao espao urbano. A
cidade a protagonista da configurao espacial: o crescimento, a superlotao, a precria
rede de infra-estrutura (em especial nas periferias), a intensa movimentao de pessoas,
favorecem a circulao de parasitas. No s antigas doenas coabitam com novas, como
29
doenas anteriormente erradicadas ressurgem. As epidemias de meningite, clera, dengue,
leptospirose so algumas das apontadas pelos autores.
Assim, para explicar a configurao de grande parte dos problemas de sade pblica
na sociedade contempornea, so necessrios novos discursos e abordagens que alcancem
aprofundar a perspectiva multi ou transdisciplinar, incorporando dimenses do espao no
comumente utilizadas nos estudos epidemiolgicos.
Entre os processos que mais afetaram as condies de vida e a sade da populao nos
ltimos decnios, se destacam as desigualdades sociais, o intenso processo de urbanizao, as
mudanas na composio da fora de trabalho, na estrutura de idade da populao, no nvel
educativo, assim como, a organizao dos servios pblicos e, especialmente, o papel do
governo diante deles (OPS, 1994).
Na dcada de 80 o Brasil experimentou uma aguda crise econmica que obrigou a
aplicao de ajustes estruturais nos modelos de desenvolvimento. Dele resultou uma queda de
capacidade dos estados nacionais para investir em reas sociais, especialmente nos servios de
bem estar e sade da populao, desestabilizados ainda mais, com o incremento da
privatizao e alguns resultados desfavorveis da descentralizao.
Sem pretender aprofundar as causas, fundamental reconhecer que a formao do
profissional de Geografia deve propiciar a ao transdisciplinar, com outras Cincias,
especialmente a Biologia, a Epidemiologia, a Sociologia, a Psicologia, a Antropologia.
Segundo o Censo 2000, realizado pelo IBGE, o Brasil apresenta 81,23% da populao
vivendo em cidades. Na Regio Sudeste 88,7% vivem em reas urbanas das grandes cidades.
O crescimento migratrio foi estimulado pelo aumento da industrializao,
principalmente a partir da dcada de 1950, no incremento espetacular da populao, na
intensificao da ocupao dos subrbios e na expanso das favelas.
As migraes internas, principalmente os fluxos provenientes de estados prximos e,
30
depois, do Nordeste, contriburam bastante para isso, resultando da, tambm, um crescimento
rpido das reas suburbanas das grandes cidades.
A urbanizao acelerada e concentrada que ocorre, principalmente, nas grandes
metrpoles, como Rio de Janeiro e So Paulo, gera a ocupao urbana desordenada desses
espaos, devido grande disparidade social existente no pas.
Cerca de 10% dos domiclios no estado localizam-se em favelas ou assemelhados,
reas onde h maior carncia de servios pblicos.
A ocupao urbana recente se d desordenadamente em stios tpicos como sops e
topos de morros, bem como nas encostas desprotegidas de vegetao, em cotas muito acima
do limite oficial permitido para construo com alta densidade (cota cem). Por outro lado, as
baixadas inundveis continuam igualmente a ser devastadas e ocupadas pelas populaes
pobres, constituindo-se, hoje, em verdadeiras reas de risco e apresentando alto grau de
desequilbrio ambiental. Conseqentemente, os problemas ligados s inundaes e aos
movimentos de massa passam a ser cada vez mais freqentes e adquirem carter de
catstrofe.(Brando, 1992)
Em 2001, a Organizao das Naes Unidas (ONU) calculou o ndice de
Desenvolvimento Humano (IDH) da capital fluminense. Apesar de mostrar avanos na
educao, a pesquisa revela profundas desigualdades sociais. Enquanto os 10% mais ricos da
populao se apropriam de 45% da renda da cidade, os 40% mais pobres detm menos de 9%
da riqueza produzida.
Os problemas ambientais causados pela pobreza e pela segregao, que se refletem
atravs de deslizamentos, desmoronamentos e enchentes, atingem os prprios pobres urbanos.
Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, as favelas localizam-se em dois stios tpicos como
encostas de morros e margens de rios e canais.
31
As vtimas da segregao scio-espacial induzida so os que mais sofrem as
conseqncias de suas prprias estratgias de sobrevivncia, j que convivem diretamente
com impacto ecolgico causado por eles mesmos, que ocasionam problemas de natureza
catastrfica, at problemas de longo prazo como doenas diversas.
Esses problemas ambientais afetam a qualidade de vida dos indivduos, principalmente
dos pobres urbanos no contexto de sua interao com espao.
E devido forma desordenada com que foi ocupado esse espao, o atendimento de
infra-estrutura bsica no conseguiu acompanhar esse crescimento, havendo deficincia de
servios bsicos nesses espaos segregados como instalaes sanitrias e coleta de lixo.
Agravando esta situao temos nas grandes cidades, como o Rio de Janeiro, por
exemplo, o chamado clima urbano, resultante da poluio industrial e da emisso de
monxido de carbono (CO) dos automveis, entre outros. Os gases formam nuvens que
permanecem perto da superfcie, retendo parte da radiao infravermelha responsvel pelo
aumento da temperatura e formando "ilhas de calor".
As elevadas temperaturas e os ndices de umidade relativamente altos, tm sido
atribudos s aceleradas taxas de urbanizao e aos altos ndices de densidade de construo e
de verticalizao e de industrializao.
Alteraes climticas graves so provocadas ainda pelo desmatamento. A derrubada e
a queimada de florestas aumentam a temperatura do ar e deixam a superfcie devastada, sem
condies de reter a energia do sol nem de gerar fluxos ascendentes de ar.
Temos informaes de um clima mais ameno na cidade do Rio que antecedeu essa
fase de grande e acelerado crescimento urbano, chegando no vero a 30 C e no inverno a
quase 10 C , a partir dos anos 60 tem sido freqente o registro, por vezes durante dias
consecutivos, temperaturas mximas superiores a 40 C, chegando at 42 C a exemplo do
vero (97/98) com srias conseqncias, sobretudo para a populao carente apresentada por
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Brando (2001). Desta forma, os impactos causados pela sociedade sobre o ambiente e
mesmo fatores naturais, influenciam o clima.
As aceleradas taxas de urbanizao da sociedade atual levou concentrao da
populao, ocupao desordenada das cidades, junto a insetos adaptados ao ambiente
modificado, roedores e animais domsticos. Muitos riscos sade advindos do contato com
resduos domsticos e industriais, animais, aglomerao, foram amplificados. Hoje, 65% das
internaes hospitalares so relacionadas com problemas de sade, devido falta de sade
pblica.
As doenas infecciosas e parasitrias causadas pela falta de higiene e m qualidade de
vida da populao esto entre as principais grandes causas de internaes. Sem prioridades no
ministrio do planejamento, o saneamento como fator de sade pblica sofreu vrios cortes.
Diferentemente do que acontecia na dcada de 70, quando o dficit da rede de gua
tratada atingia a classe mdia, hoje, a parcela da populao que mais sofre a que tem menor
poder aquisitivo que vive na periferia das grandes cidades e nos ncleos rurais. J a
deficincia da rede de esgoto mais democrtica, a demanda generalizada.
Alm do acesso rede, tambm preocupante a falta de tratamento dos detritos. Cerca
de 80% do esgoto coletado so lanados ao meio ambiente sem qualquer tipo de tratamento.
Os esgotos so os principais poluentes de rios e crregos prximos aos centros urbanos.
A regio metropolitana do Rio de Janeiro, por exemplo, tem aproximadamente 60
lixes situados s margens de rios, lagoas, reas de mananciais e na Baa de Guanabara. A
mdia de lixo diria nesta regio por habitante de aproximadamente 1Kg.
Quase 90% do lixo brasileiro so jogados a cu aberto. H no pas uma dificuldade
para o controle de epidemias, pois os lixes fornecem condies propcias para a proliferao
de vetores de doenas, como moscas, baratas e ratos. Alm disso, o dano ambiental tambm
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grande, j que a decomposio do lixo libera o chorume, lquido que contamina o solo, o ar,
os rios e os lenis freticos.
As caractersticas ecolgicas e sanitrias dos diversos ambientes nas cidades so
resultados da interao desta sociedade e a natureza como citado acima, assim como a
desigualdade da qualidade urbana das diversas reas, que tambm tem conseqncias na
sade da populao.
A urbanizao atual da sociedade levou concentrao da populao humana,
habitaes e unidades produtivas, junto a insetos adaptados ao ambiente modificado. Muitos
riscos sade advindos do contato com resduos domsticos e industriais, animais,
aglomerao, foram amplificados.
Com o crescimento acelerado e concentrado das cidades essas alteraes climticas
ocasionam agravos a doenas tipicamente sazonais, doenas respiratrias. Alm de
favorecerem a ocorrncia de doenas endmicas e epidmicas que marcaram as dcadas
anteriores e continuam reincidindo no incio do presente sculo.
Os exemplos mais contundentes de problemas ambientais crticos, reflexo da
segregao espacial existente no Rio de Janeiro, so encontrados nas reas marginais
ocupadas pela populao de baixa renda, onde a carncia quase total de infra-estrutura bsica
resulta em alto grau vulnerabilidade s doenas e aos caprichos da natureza (Brando, 1992).
5.2. Clima Urbano
Acompanhando os 10 enunciados bsicos proposto por Monteiro em Sistema Clima
Urbano (1976), pode-se fazer a relao entre a ocorrncia de dengue e os fatores fsicos e
socioeconmicos que favorecem a prevalncia do seu vetor, o Aedes aegypti, no municpio do
Rio de Janeiro.
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1- O clima urbano um sistema que abrange o clima de um dado espao terrestre e sua
urbanizao.
A organizao do conjunto (CHRISTOFOLETTI, 1979) decorrente das relaes
entre os elementos, e o grau de organizao entre eles confere o estado e a funo de um todo.
Cada todo est inserido em um conjunto maior o universo -, que, formado por subsistemas,
compreende a soma de todos os fenmenos e dinamismos em ao (CHRISTOFOLETTI,
1979). Critrios diversos, no entanto, foram pautados por diferentes autores com vistas
individualizao dos conjuntos. Na concepo de Thorness e Brunsden (1977), medida em
que o sistema procura realizar determinada finalidade, a compreenso de seu funcionamento
depende da identificao dos elementos componentes e das relaes entre componentes e seus
atributos, bem como dos parmetros de entradas (os inputs) e sadas (os outputs) da matria e
da energia que responderiam pelo funcionamento do todo.
Assim , considera-se de forma geral a existncia (FORSTER et al., 1957) de trs tipos
de sistemas quanto ao grau de relao com o meio: sistemas isolados, que no realizam trocas
com o ambiente no qual se acham instalados; sistemas abertos, que trocam matria e energia
com o meio circundante, sistemas fechados, que trocam apenas energia.
Os fatores ambientais artificiais incluem, teoricamente, todas as condies e elementos
artificialmente implantados que, remota ou proximamente possam contribuir para gerar
doenas por presena ou por ausncia, por excesso ou falta.
As condies ambientais artificialmente criadas pelo homem como modificaes ou
destruio da paisagem natural, emisso de poluentes ambientais, tipos de habitao e a
organizao do espao urbano (padro de urbanizao) influenciam nas condies do
processo de desenvolvimento do vetor da dengue.
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A destruio da paisagem natural pode modificar o clima, atravs do adensamento
urbano, da construo de edifcios, da retirada da cobertura vegetal que alteram no somente
os regimes pluviomtricos, como os outros parmetros climticos globais e regionais.
A emisso de poluentes ambientais altera o clima regional contribuindo para a menor
ou maior incidncia das doenas, j que essa modificao d origem a fenmenos
meteorolgicos extremos. A organizao do espao urbano resultante da segregao da
populao carente faz com que os pobres urbanos construam habitaes em morros ou na
margem de rios, locais sem infra-estrutura e por isso alvo de doenas advindas principalmente
do descaso pblico, que no oferece os servios essenciais populao dessas reas.
2- O espao urbanizado, que se identifica a partir do stio, constitui o ncleo do sistema que
mantm relaes ntimas com o ambiente regional imediato em que se insere.
A articulao geogrfica entre o local e o regional (ncleo e ambiente) de extrema
importncia para a anlise. Para entender o fenmeno microclimtico no qual ocorre a
dengue, necessrio articular geograficamente o local e o regional.
Segundo Monteiro (2003), a abrangncia do climtico e do urbano conduz a noo de
espao que inclui o espao concreto e tridimensional (planos horizontal e vertical) no qual age
a atmosfera e os espaos relativos necessrios compreenso do fenmeno urbano. A teoria
geral dos sistemas de ncleo e ambiente aborda essa relao, pois o sistema se projeta tanto
em escala ascendente para um nmero infinito de integraes em sistemas superiores, quanto
se fraciona tambm infinitamente, em sistemas inferiores como, bairros, ruas, casas e
ambientes internos. Sendo assim, a viso sistmica torna-se fundamental para anlise das
relaes entre as diferentes partes em que se decompe o sistema.
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Para encontrar o elo perdido entre a parte elementar mais discreta (tomo) e o sistema
integral (o todo, na viso holstica), prope-se o conceito de hlon. Esse termo designa as
formas intermedirias de organizao que participam tanto das propriedades autnomas do
todo quanto das propriedades dependentes das partes.
Num sistema, o nmero de nveis hierrquicos muito importante para sua
caracterizao, revelando-lhe a profundidade. Eles so obtidos no plano vertical, aquele da
evoluo e do dinamismo do sistema.
Os hlons constituem ncleos de polaridade nos diferentes nveis. Mas os canais de
comunicao devem ser definidos, pois eles que estabelecem a comunicao e o controle
entre os diferentes nveis e condicionam o funcionamento dos hlons.
Se o mesmo raciocnio for retomado para as escalas taxonmicas inferiores, a
seqncia parece repetir-se na mesma proporo. Um clima local diversifica-se inicialmente
ao nvel de sua compartimentao geoecolgica, base mesma da identificao dos
mesoclimas, passando a organizar-se no nvel dos topoclimas e especializar-se nos
microclimas.
O clima do municpio do Rio de Janeiro um ponto dentro do regional, onde uma
conjugao de fatores especializa uma certa definio climtica. O clima urbano um clima
local muito alterado por ao antrpica, sendo resultante de todos os fatores que se processam
sobre a camada de limite urbano e que agem no sentido de alterar o clima em escala local.
"A ilha de calor representa o fenmeno mais significante do clima urbano e sua
intensidade depende das condies micro e mesoclimticas locais de cada cidade" (Brando,
2003:122).
Apesar do clima ser um elemento natural, j que sua presena independente da
interveno humana, o homem contribui para sua alterao, causando mudanas no
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ecossistema e no sistema climtico. Podemos assim perceber, que a capacidade de ao
antropognica torna-se evidente nas escalas inferiores do clima, principalmente, porque neste
nvel, ele criador de climas artificiais e por ao acumulativa esta influncia afeta
gradativamente as escalas mdias, mas j ser bastante limitada nas escalas superiores.
Segundo Monteiro (1999), o homem no tem ainda controle sobre a circulao
regional, sendo mesmo paciente, passivo, impotente face aos acidentes climticos.
Entretanto, devemos permanecer atentos s constantes aes negativas infligidas pelo homem
na atmosfera em efeito acumulativo, que se faz sentir na estrutura da atmosfera, como no caso
do buraco na camada de oznio e no balano das trocas trmicas, pela ao negativa no
efeito estufa.
As cincias da sade, especificamente a epidemiologia apenas recentemente
comearam a se preocupar com a anlise dos impactos das mudanas ambientais globais. O
maior desafio dar conta dos problemas de escala temporal e espacial, da complexidade dos
eventos e, em alguns casos, como no caso das mudanas climticas, da dependncia de
previses baseadas em cenrios (Confalonieri, 2000).
Assim, analisando o problema das escalas do clima, constatamos que na escala
zonal focamos a fundamentao fsico-metodolgica que nos capacita a entender os
fenmenos bsicos do desempenho atmosfrico; na escala regional estamos ligados a
fatores geogrficos causais na definio de interaes que produzem padres de organizao
natural a servio da adaptao ou derivao humana (Monteiro, 1999).
Podemos perceber que dentro dos conjuntos regionais h inmeros elementos locais,
na qual se principia a tarefa de observao meteorolgica, mas o conjunto regional transcende
a simples somatria de suas partes, pois estes variam em funo de vrios fatores como
explica Monteiro (1999):
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Dentro de um conjunto regional, um elemento local no alto de um morro prximo a
outro fundo de um vale revelaro, forosamente, valores bem diferenciados por influncia de
altitude, no obstante se assemelham quanto ao ritmo de sucesso dos tipos de tempo que
ocorrem no espao regional (Monteiro, 1999:25).
Para entender o fenmeno microclimtico no qual ocorre a dengue, necessrio
articular geograficamente o local e o regional, pois o espao urbanizado constitui o ncleo do
sistema que mantm relaes ntimas com o ambiente regional imediato em que se insere.
O pioneirismo dos ecologistas na utilizao da teoria da hierarquia explica-se pelo fato
de trabalharem com sistemas que variam de organismos at a biosfera. E a teoria aponta um
caminho til para lidar com sistemas complexos e multiescalares, focando um fenmeno e
uma escala tempo-espacial nica, pois limitando o problema, possvel defini-lo claramente e
escolher o sistema preciso para enfatizar.
Monteiro (1976) representa a teoria da hierarquia atravs do desenho de uma rvore,
mostrando a relao entre os troncos e os galhos, entre os galhos e os ramos, ramos e brotos.
Assim, analogamente representado o sistema hierrquico no esquema de ONeil
(1988), que foi adaptado e mostrado na figura 1. O nvel (0) o nvel de interesse que ser
componente de um nvel maior (+1), ou seja, a dinmica do nvel (0), que neste caso o
sistema climtico, ser limitada e controlada pelo nvel (+1), o sistema ambiental que o
nvel maior, que atribui significado ao nvel de interesse.
Segundo essa teoria a natureza subdivide-se dentro de um ecossistema hierrquico
com ambos: uma estrutura vertical e uma estrutura horizontal de hlons (Sherppad & Mc
Master, 2004).
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Figura 2- Teoria da Hierarquia
O sistema climtico (nvel 0) pode ser dividido em componentes que representam o
nvel -1 e as interaes entre os componentes fornecem mecanismos que explicam o
fenmeno no nvel de interesse, ou seja, significa que um fenmeno a conseqncia lgica
do comportamento e interaes de nveis mais baixos.
Assim, como sugerido por Monteiro (1999), poderemos utilizar a idia de diversificar
(zonal), organizar (regional) e especializar (local) na definio geogrfica dos climas para
refletir sobre a participao do homem e sua influncia na atmosfera.
Atravs da teoria da hierarquia podemos revelar um fenmeno para fora do seu
complexo contexto espao-temporal, pois se estudamos um organismo individual,
OBRIGAO (SIGNIFICADO)
COMPONENTES (EXPLICAO)
NVEL DE INTERESSE
+1
0
-1
O sistema ambiental
O sistema climtico
local regional zonal
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descobrimos estruturas reprodutivas e comportamentos que so difceis de explicar se nossa
ateno limita-se a um nico organismo.
A abordagem do clima urbano na cidade do Rio de Janeiro requer diferentes escalas
geogrficas de tratamento, exigindo objetivos especficos para cada nvel escalar. Analisar as
tendncias climticas anuais, sazonais e mensais com base na longa srie histrica disponvel
para a estao meteorolgica padro representativa da zona urbana na cidade do Rio de
Janeiro constitui o principal objetivo na escala local (Brando, 2003).
No que diz respeito s escalas meso, topo e microclimtica em que se subdivide o
clima local, a abordagem deve ser conduzida com o objetivo de analisar eventos episdicos
em meses das estaes de vero e de inverno, no sentido de avaliar as diferentes
possibilidades de formao de ilhas de calor de maior intensidade e sua influncia nos
elementos climticos pertinentes para a proliferao do mosquito da dengue.
Segundo Monteiro (1990), cada ponto expressa no momento em que foi registrado
o comportamento da atmosfera naquele ponto. Esta encerra, simultaneamente, em si mesmo,
as componentes da circulao atmosfrica regional, aquelas advindas da resposta local, ao
mesmo tempo em que deve refletir algo do contexto mesoclimtico definido pelas grandes
linhas da topografia e, sobretudo, est intimamente comprometido com as condies
microclimticas que a edificao urbana propiciou em larga escala.
Analisando a influncia da escala regional, citamos o El Nio que um fenmeno
atmosfrico-ocenico caracterizado por um aquecimento anormal das guas superficiais no
oceano Pacfico Tropical, e que pode afetar o clima regional e global, mudando os padres de
vento a nvel mundial, e afetando assim, os regimes de chuva em regies tropicais e de
latitudes mdias.
41
Os perodos de guas quentes no setor leste do Pacfico so acompanhados pelas
mudanas de presso atmosfrica nos setores leste e oeste do pacfico, chamadas de Oscilao
Sul. O ciclo completo agora chamado de El Nio Southern Oscillation ENSO (El Nio
oscilao sul).
As anomalias do sistema climtico que so mundialmente conhecidas como El Nio-
ENSO representam uma alterao do sistema oceano-atmosfera no Oceano Pacfico tropical.
Os processos de troca de energia e umidade entre eles determinam o comportamento do clima,
e as alteraes destes processos afetando o clima regional e global.
Alm da presena das guas quentes da Corriente El Nio observa-se um
enfraquecimento dos ventos alsios que sopram de leste para oeste na regio equatorial. Com
esse aquecimento do oceano e com o enfraquecimento dos ventos, comeam a ser observadas
mudanas da circulao da atmosfera nos nveis baixos e altos, determinando mudanas nos
padres de transporte de umidade e, portanto, variaes na distribuio das chuvas em regies
tropicais e de latitudes mdias e altas. Em algumas regies do globo tambm so observados
aumento ou queda de temperatura.
Essas mudanas podem ser observadas a nvel regional tambm, no Brasil, por
exemplo, os efeitos do El Nio ocorrem de forma moderada na regio sudeste, com aumento
das temperaturas mdias que acarretam no substancial aumento das temperaturas no inverno.
Com relao pluviosidade no h padro caracterstico de mudanas de chuvas no sudeste,
diferente da regio sul que apresenta chuvas abundantes principalmente na primavera e
chuvas intensas de maio a julho.
O ciclo El Nio est associado a maiores riscos de algumas doenas transmitidas por
mosquitos, como a malria, o dengue e a febre do Vale Rift. A transmisso da malria
particularmente sensvel s condies metereolgicas. A precipitao forte pode criar poas
42
ou acmulo de gua em recipientes, oferecendo condies favorveis para a reproduo de
mosquitos.
Os mosquitos que transmitem a dengue se reproduzem em recipientes e so menos
sensveis aos padres de precipitao, mas temperaturas mais elevadas associadas com El
Nio podem ter um efeito na transmisso do vrus. A ligao entre as condies
meteorolgicas e a transmisso da dengue e surtos ainda no est clara, mesmo que as
condies meteorolgicas estejam favorveis, a populao local pode estar imune ao vrus
prevalecente, o que dificulta a visualizao. Em 1998, muitos pases na sia tiverem um nvel
inusitante alto de dengue e dengue hemorrgico, alguns dos quais podem ser atribudos a
episdios meteorolgicos extremos relacionados com o El Nio.
Assim, considerando a complexidade na abordagem da influncia do clima nas
diferentes escalas geogrficas na anlise da proliferao do mosquito da dengue no municpio
do Rio de Janeiro, percebe-se que a teoria da hierarquia facilita a investigao geogrfica.
Desta forma, podemos observar na figura 2, uma adaptao do esquema apresentado por
Sherppad & Mc Master (2004), na qual os fenmenos naturais podem ser separados de acordo
com tempos e escalas espaciais distintas, simplificando a anlise multiescalar.
43
A HIRARQUIA DE ESCALAS ESPAO-TEMPORAIS
0
1
2
3
4
5
1 2 3 4 5
REA(sq.m)
TE
MP
O (
ano
s)
Figura 3- A Hierarquia das Escalas Espao-Temporais
Mudanas em escala local como desmatamentos, edificaes e poluio ocorrem em
uma escala de tempo menor, ou seja, de forma mais rpida, enquanto, no outro extremo,
fenmenos em escala global surgem de forma mais lenta, sendo mais difceis de serem
percebidas.
Bloom (1995), aps analisar os resultados de dois grandes inquritos internacionais de
opinio pblica, em relao aos problemas ambientais, que incluram o Brasil, observou que
questes como a depleo do oznio estratosfrico, aquecimento global, chuva cida e perda
de biodiversidade foram percebidas como "muito srias" por mais da metade dos
entrevistados, o que significou uma proporo maior do que aquela que considerou os
problemas ambientais de suas prprias comunidades como tambm muito srios.
A dificuldade da percepo nas diferentes escalas envolvidas no processo deve-se
falta de viso sistmica, pois as relaes travadas no meio ambiente so extremamente
10
10
10
10
10
10 10 10
10
10
Escala Grande
Desmatamento edificaes
Ilhas de calor
Distrbios no regime climtico
Mudanas
Climticas a longo prazo
10
44
complexas e exigem um olhar minucioso do pesquisador, fazendo da teoria da hierarquia um
importante aliado nesta rdua tarefa.
Desta forma, podemos perceber que as questes de escala so problemticas, devido
dificuldade de descrever e entender padres e processos de grande magnitude ao longo de
extensas reas.
Quando as escalas mudam, uma transformao na importncia das variveis ou na
direo de uma relao percebida tambm muda.
De qualquer modo, identificar a escala apropriada continua a ser um desafio, no s no
campo da Geografia, pois cada nvel de organizao caracterizado por uma variedade de
processos que tm suas prprias escalas espao-temporal, tendo o pesquisador que estar atento
para a escala que responde aos seus questionamentos.
3- O S.C.U. Importa energia atravs do seu ambiente, sede de uma sucesso de eventos
que articulam diferenas de estados, mudanas e transformaes internas, a ponto de gerar
produtos que se incorporam ao ncleo e/ou so exportados para o ambiente, configurando-
se como um todo de organizao complexa que se pode enquadrar na categoria dos
sistemas abertos.
Todos os fatos da observao do clima da cidade implicam em considerveis
transformaes, das quais a ilha de calor e a poluio do ar so as mais eloqentes
demonstraes. (O S.C.U. um sistema aberto)
Os aspectos do clima que mais perto influenciam as biocenoses (comunidades
resultantes de associao de populao as mais variveis, confinadas a determinados
ambientes dentro do ecossistema) e, portanto, os seres vivos implicados no processo de
transmisso de doenas so a temperatura do ar, a umidade relativa do ar e a precipitao
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pluviomtrica. Assim, mudanas nestes parmetros podem gerar alteraes no comportamento
do mosquito, provocando distores na ocorrncia da doena.
4- As entradas de energia no S.C.U. so de natureza trmica (oriundas da fonte primria de
energia de toda a Terra o Sol), implicando componentes dinmicos inequvocos
determinados pela circulao atmosfrica e decisivas para a componente hdrica englobada
nesse conjunto.
Todo o organismo urbano, atravs das diferentes formas de uso do solo e estrutura
urbana, que passa a exercer os efeitos decisivos de reflexo, absoro e armazenamento
trmico, em relao ao seu modo de transmisso, para isso, torna-se de extrema importncia a
anlise de cartas de uso do solo.
O modo de transmisso, entrada e fluxo de energia atravs do sistema, so
fundamentais. Eles explicam a gerao dos estados iniciais e a seqela de processos de
mudana e transformao no interior do sistema.
Devido acelerada taxa de urbanizao do municpio do Rio de Janeiro e grande
complexidade de anlise de seu clima como mencionado na rea de estudo, o clima urbano da
cidade deve ser tratado a partir de cartas de uso do solo e imagens de satlite.
O aumento da temperatura em alguns ncleos de bairros pode favorecer o
aparecimento de condies climticas adequadas ao desenvolvimento do mosquito da dengue
ou inibi-lo.
T.G.S.- Estado- mudana- transformao (habitual/ritmo)
5- A avaliao dessa entrada de energia no S.C.U. deve ser observada tanto em termos
quantitativos como, especialmente, em relao ao seu modo de transmisso.
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H razes extremamente importantes para que assim se proceda. Em primeiro lugar, a prpria
conceituao de clima sob a perspectiva dinmica conferindo o maior significado ao ritmo
de comportamento atmosfrico sobre dado espao terrestre.
Para estudar a dengue e perceber a relao entre a incidncia da doena e os dados
climatolgicos, necessrio que se trabalhe com dados dirios de temperatura, umidade do ar
e pluviosidade.
6- A estrutura interna do S.C.U. no pode ser definida pela simples superposio ou adio
de suas partes (compartimentao ecolgica, morfolgica, ou funcional urbana), mas
somente por meio da ntima conexo entre elas.
No caso do S.C.U. haver a maior necessidade de integrao entre os diferentes
elementos, aglutinando-se em partes, caracterizando atributos de cujas relaes dependem o
desempenho e a organizao funcional do sistema.
Para o estudo da dengue, necessrio considerar variveis como condies
meteorolgicas, topogrficas, ecolgica, etc, de forma interligada, j que o meio ambiente se
trata de um sistema complexo e integrado.
7- O conjunto- produto do S.C.U. pressupe vrios elementos que caracterizam a
participao urbana no desempenho do sistema. Sendo variada e heterognea essa
produo, faz-se mister uma simplificao classificadora que deve ser constituda atravs
de canais de percepo humana.
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Poluio do ar, ilha de calor, inundaes no espao urbano, dentre outras formas,
assumem destaque nos climas urbanos, refletindo, com isso, peculiaridades do clima da
cidade.
Grupamentos ordenados dessa produo atravs de canais da percepo humana, pois o
homem deve constituir sempre o referencial dos problemas e valores dos fatos geogrficos.
Mais adiante, veremos os canais de percepo no estudo da dengue.
a) conforto trmico
b) qualidade do ar
c) meteoros do impacto
8- A natureza do S.C.U. implica em condies especiais de dinamismo interno consoante o
processo evolutivo do crescimento e desenvolvimento urbano, uma vez que vrias
tendncias ou expresses formais de estrutura se sucedem ao longo do processo de
urbanizao.
importante para o sistema clima urbano dispor de forma de expresso quantitativa de
sua estrutura em segmentos temporais seqentes para que se possa avaliar os graus de
desenvolvimento de sua estrutura.
9- O S.C.U. admitido como passvel de auto-regulao, funo essa conferida ao elemento
homem urbano que, na medida em que o conhece e capaz de detectar suas disfunes,
pode, atravs do seu poder de deciso, intervir e adaptar o funcionamento do mesmo,
recorrendo a dispositivos de reciclagem e/ou circuitos de retroalimentao capazes de
conduzir o seu desenvolvimento e crescimento seguindo metas preestabelecidas.
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A percepo e a conscientizao dos problemas