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INTRODU˙ˆO Muito jÆ foi debatido sobre funªo social da propriedade imvel e rural, mas muito pouco sobre a funªo social da propriedade dos bens de produªo, que entendemos ser o cerne da atualidade. Nossa Constituiªo nada especifica sobre a funªo social desses bens. Facilmente percebemos que a propriedade imvel jÆ nªo Ø tªo importante quanto o emprego, quanto possuir ou ser proprietÆrio de um veculo para locomoªo nos grandes centros urbanos, quanto o plano de saœde, alØm de outros benefcios que recebemos ao exercer nossa atividade laboral. O nosso ordenamento jurdico Ø claro e especfico ao tratar da funªo social da propriedade imvel tanto urbano quanto rural (Constituiªo Federal, Plano diretor, Estatuto da Cidade, Medidas provisrias, etc). Entretanto, Ø obscuro e impreciso, ao tratar da funªo social da propriedade mvel, principalmente a dos bens de produªo, limitando-se aos enunciados dos incisos II e III do artigo 170 da Constituiªo Federal de 1988 e legislaıes esparsas, forando-nos a uma investigaªo jurdica sistŒmica e ampla. Interessante o que motiva o ser humano a conhecer, a saber. Todos desejam saber. A prpria vida cotidiana demonstra o interesse que cada um tem em descobrir, para alØm do que ouve, do que vŒ, do que sente, a realidade das coisas. O ser humano nªo comearia a procurar algo que ignora totalmente ou considere pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! “Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA

Dissert_Unimes_Função Social da Propriedade13_05_07

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  1. 1. INTRODUO Muito j foi debatido sobre funo social da propriedade imvel e rural, mas muito pouco sobre a funo social da propriedade dos bens de produo, que entendemos ser o cerne da atualidade. Nossa Constituio nada especifica sobre a funo social desses bens. Facilmente percebemos que a propriedade imvel j no to importante quanto o emprego, quanto possuir ou ser proprietrio de um veculo para locomoo nos grandes centros urbanos, quanto o plano de sade, alm de outros benefcios que recebemos ao exercer nossa atividade laboral. O nosso ordenamento jurdico claro e especfico ao tratar da funo social da propriedade imvel tanto urbano quanto rural (Constituio Federal, Plano diretor, Estatuto da Cidade, Medidas provisrias, etc). Entretanto, obscuro e impreciso, ao tratar da funo social da propriedade mvel, principalmente a dos bens de produo, limitando-se aos enunciados dos incisos II e III do artigo 170 da Constituio Federal de 1988 e legislaes esparsas, forando-nos a uma investigao jurdica sistmica e ampla. Interessante o que motiva o ser humano a conhecer, a saber. Todos desejam saber. A prpria vida cotidiana demonstra o interesse que cada um tem em descobrir, para alm do que ouve, do que v, do que sente, a realidade das coisas. O ser humano no comearia a procurar algo que ignora totalmente ou considere pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  2. 2. 2 absolutamente inatingvel. S a possibilidade de poder chegar a uma resposta, mesmo que remota, que consegue induzir-nos a sair da inrcia, a dar o primeiro passo. Conosco no foi diferente. Foi a partir da vida cotidiana que iniciamos a pesquisa sobre nossa exposio. Alm do conhecimento geral, das leituras de revistas, peridicos, conversas informais, da exposio da mdia, cursos e debates, e Internet, desenvolvemos, principalmente, uma busca bibliogrfica de informaes e constataes histricas, filosficas, cientficas e culturais a respeito do tema que pudessem embasar nossas consideraes e concluses. O ser humano como qualquer outro animal necessita suprir suas necessidades bsicas, fsicas e psquicas. As necessidades fsicas que dizem respeito diretamente sobrevivncia do corpo so supridas atravs dos recursos que a natureza disponibiliza direta ou indiretamente. As necessidades psquicas por sua vez sero supridas atravs das relaes sociais. Embora se consubstanciem em situaes distintas essas duas necessidades se complementam e se interelacionam. Parece notrio que a primeira premissa relacionada ao tema desse trabalho esteja diretamente ligada sobrevivncia de cada um. Com o transcorrer de nossa histria o ser humano no intuito de sobreviver da melhor maneira possvel se apodera de locais, utenslios e demais recursos e, os utiliza como fonte de mantena, defesa e conquista. A ao simples de sobreviver vai gerar, por parte de outros seres humanos ou grupos, uma reao de igual valor e sentido contrrio, ou seja, uma reao pela sobrevivncia nos mesmos moldes, qui aperfeioada. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  3. 3. 3 Essas relaes sociais de ao e reao foram evoluindo e se tornando cada vez mais complexas de modo que a simples fora fsica no podia mais garantir as fontes de sobrevivncia, elevando a complexidade das relaes com a criao de regras de conduta de aceitao geral. Esses regramentos devero ento estabelecer as reas que cada indivduo ou grupo ter sob sua guarda como fonte de satisfao de suas necessidades. E assim surgem as disputas pelas melhores fontes de recursos e suprimentos. Certamente no de hoje que a temtica propriedade envolve discusses econmicas, jurdicas e polticas. A histria humana est permeada de exemplos: lutas por terras, domnios, riquezas, armas, animais, inventos, tecnologias, recursos naturais etc. No importa qual o sistema de governo, poltico ou de produo eleitos ou vigentes, no importa a poca, a propriedade e sua utilizao estaro direta ou indiretamente localizadas no epicentro das discusses e disputas. E justamente por isso se torna um direito fundamental, essencial, que deve ser garantido a todos como forma de tutelar a pessoa humana. Apesar da propriedade nos dias atuais deixar de ser o nico meio de garantir a subsistncia, pois em seu lugar as garantias de emprego, salrio justo, aposentadoria dentre outras so mais palpveis, ela se consubstancia na fora motriz desses outros meios sem a qual eles no existiriam. E aqui reside a importncia do tema "propriedade". Essa importncia ganha mais notoriedade quando essa propriedade se referir a bens que produzem outros bens, no s pelo fornecimento de produtos e servios mas tambm pela convergncia de outros fatores e interesses que viabilizaro a aquisio da produo, bem como o desenvolvimento individual, coletivo e da nao. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  4. 4. 4 Certamente para estudarmos a temtica propriedade e funo social devemos nos valer do auxlio dos fundamentos das cincias econmicas e jurdicas, bem como do reflexo dessas cincias na vida real. Qualquer um que se empenhe nesse sentido dever considerar os fatores de produo, terra, trabalho, capital, ndices econmicos, mercado e os resultados da conjugao desses fatores no decorrer da histria do capitalismo brasileiro em relao ao desenvolvimento do ser humano. Nessa mesma linha tambm devemos verificar a evoluo jurdica do instituto nas diversas constituies federais e na legislao civil infraconstitucional, as quais legitimaro, sua poca, as relaes dominiais entre seus agentes, impondo limites e deveres, e fornecendo os instrumentos de defesa da propriedade, objeto dessas relaes. Por derradeiro, a influncia direta e indireta da propriedade dos bens de produo no convvio social, que confere um carter coletivo ao instituto e delimita vrios direitos e obrigaes, faz emergir a necessidade do exerccio de uma funo social traando verdadeiros parmetros de convvio em sociedade. Esses parmetros explcitos em nossa Constituio Federal vo conferir ao ser humano a viabilizao da vida digna, consubstanciando nas condies mnimas necessrias ao desenvolvimento de qualquer pessoa de maneira sustentvel. Esperamos que nossas consideraes sejam teis e despertem tanto os operadores do direito quanto a comunidade para a importncia do tema, sua inevitabilidade e quais necessidades so imprescindveis. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  5. 5. 11.. CONSIDERAES HISTRICAS ACERCA DA PROPRIEDADE NO OCIDENTE No se oponha tambm legitimidade da propriedade particular o fato de que Deus concedeu a terra a todo o gnero humano para a gozar, porque Deus no a concedeu aos homens para que a dominassem confusamente todos juntos. Encclica Rerum Novarum - 1891 A ao e lgica humana desencadeiam os fatos histricos que nunca se apresentam devidamente divididos e delimitados. A histria uma continuidade de fatos e acontecimentos sobrepostos. No h um momento certo e determinado onde algo comea ou acaba. A histria um todo indivisvel que ns tentamos compreender e conhecer, planificando, repartindo-a em fases, em perodos representativos de cada poca. Para tanto, escolhemos marcos que nos auxiliam na compreenso da evoluo da sociedade e do ser humano nas diversas fases. o que veremos nesse captulo. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  6. 6. 6 1.1 Propriedade na Pr - Histria Falar de propriedade falar de desigualdades; e buscar sua origem nos primrdios de nosso desenvolvimento no tarefa fcil, face falta de provas robustas e concretas. Tudo o que podemos relatar so apenas conjecturas, j que viciadas pelo nosso modo de vida social. Estamos embriagados, envolvidos, impossibilitados de voltar ao passado e conhecer os verdadeiros motivos de tanta desigualdade; mas sabemos que a propriedade, tanto quanto a conhecemos hoje, quanto nos primrdios foi, , e ser responsvel, por algum tempo ainda, pela desigualdade entre os seres vivos. Tradicionalmente a historiografia divide a evoluo do ser humano em dois grandes perodos: Pr-Histria e Histria. A Pr-Histria tem incio com o surgimento do ser humano (gnero Homo). No se tem certeza exata desse momento, mas conforme pontua nossa cincia, isso ocorreu pelo menos h 2 milhes de anos. J o marco do perodo chamado Histria o surgimento da escrita, por volta de 5.000 a 4.000 anos a.C.. A Pr-histria, por sua vez, subdividida em 3 perodos: Paleoltico (entre 2.000.000 e 15.000 anos a.C.), Mesoltico (15.000 / 12.000 a 10.000 anos a.C.), e Neoltico (entre 10.000 e 4.000 anos a.C.). Alguns ainda subdividem o perodo paleoltico em inferior compreendendo o perodo de 300.000 a 10.000 anos a.C. e superior situado em 10.000 a, mais ou menos, 5.000 ou 4.000 anos a.C.. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  7. 7. 7 Parece lgico afirmar que em todos esses segmentos histricos os seres vivos que existiram demarcaram territrios para poderem se alimentar, para segurana de sua prole, protegendo a rea de invasores; e os seres humanos tambm fizeram e o fazem. O ser humano, ao longo de sua existncia, se desenvolveu, aprendeu a se comunicar, estabeleceu hierarquias atravs dos mais fortes, dos que melhor se adaptaram. Por destino natural descobre o fogo, a metalurgia, e a questo territorial se transforma. As lutas por reas transmudam-se atravs da utilizao de utenslios que tambm so manuseados, em algum momento da histria, na agricultura. A questo espacial muda novamente; a quantidade de territrio passa a no ser essencial, mas composto por quantidade e qualidade. O interesse por uma dada rea dependia exclusivamente do que ela continha: abundncia de gua, rvores, cavernas, animais, grandes, pequenos significando maior ou menor perigo, vulces etc. Um perodo de guerra se trava pela posse dos territrios (questo de sobrevivncia) e aps algum tempo inicia-se, atravs da comunicao, uma relativa paz onde se associam e passam a dividir, a cooperar e se tornam mais fortes enquanto grupo. A necessidade de proteo territorial fixa o grupo num determinado lugar, espao. O grupo cresce, e a necessidade por mais espao inevitvel, e se inicia um crculo vicioso. Rousseau (1712 - 1778)1 parece ter constatado essa dinmica de desenvolvimento, in verbis: 1 Jean Jacques Rousseau, Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, p. 84 e 85. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  8. 8. 8 O primeiro que, tendo cercado, um terreno, arriscou-se a dizer: isso meu, e encontrou pessoas bastante simples para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. (...) O primeiro sentimento do homem foi o de sua existncia; sua primeira inquietao, a de sua preservao. (...) Tal foi a condio do homem ao nascer; tal foi a vida de um animal inicialmente limitado s sensaes puras que apenas aproveitava os dons que lhe eram oferecidos pela natureza, e que jamais pensava em tirar dela o que quer que fosse. Mas logo apareceram as dificuldades; foi preciso aprender a venc-las: a altura das rvores que o impedia de alcanar os frutos, a concorrncia dos animais que tambm procuravam se alimentar, a ferocidade daqueles que ameaavam sua prpria vida, enfim, tudo o obrigou a se aplicar aos exerccios do corpo; foi preciso tornar-se gil, rpido na corrida, forte no combate. As armas naturais que so os galhos das rvores e as pedras, logo caram em suas mos. Aprendeu a vencer os obstculos da natureza, a combater os outros animais quando necessrio, a disputar com os prprios homens sua subsistncia, ou a substituir o que era preciso ceder ao mais forte. (...) medida que o gnero humano se espalhou as dificuldades se multiplicaram com os homens. A diferena de solos, de climas, de estaes forou-os a adaptar sua maneira de viver. Anos estreis, invernos longos e rudes, veres escaldantes, que consomem tudo, exigiram deles uma nova indstria. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  9. 9. 9 Parece mais apropriada a assertiva histrica de que havia vrios grupos de humanides e cada um, conhecendo e interagindo com a natureza, se desenvolveu e sobreviveu, a seu modo. O filme A Guerra do Fogo mostra bem essa situao, onde um grupo de humanides conhecia o fogo e sabia utiliz-lo, mas no sabia produzi-lo, enquanto outro grupo, alm de conhec-lo e saber utilizar, conseguia produzi-lo. A discrepncia de desenvolvimento entre esses dois grupos era enorme, facilitando deslocamentos e a prpria sobrevivncia individual dos componentes do grupo. O estudo da histria da evoluo (do planeta e do ser humano) recheado de controvrsias, teorias e indcios, os quais nos conduz, embora no definitivamente, a assertiva de que foi no incio do perodo Neoltico que o ser humano passou de caador e nmade para cultivador da terra propiciando ento seu estabelecimento num determinado territrio O primeiro passo para a conscincia do eu individual em relao propriedade estava dado. Lewis Henry Morgan (1818 - 1881) citado por Friedrich Engels (1820 - 1895)2 distinguiu trs estgios principais de desenvolvimento ou evoluo do ser humano, que denominou: Selvagem, Barbrie, e Civilizao. Essa diviso coincide mais ou menos com a diviso da historiografia tradicional. Morgan ainda subdividiu cada um dos trs estgios em trs partes, a saber: inferior, mdia e superior. Em cada estgio e em cada fase houve progressos, 2 Friedrich Engels, A Origem da Famlia, da Propriedade Privada e do Estado, p. 21 e ss. (Ttulo do Original Alemo: Der Ursprung der Familie, des Privateigentaums und des Staats). Engels parte de um livro de 1877, A Sociedade Antiga, do antroplogo americano L. H. Morgan, que estudou a estrutura social dos ndios iroqueses situados margem direita do Rio Mississipi, nos EUA. Esse estudo possibilita Engels traar caractersticas das sociedades humanas primitivas, anteriores ao nascimento do Estado. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  10. 10. 10 uns mais significantes que outros, mas todos contriburam para aprimorar a produo dos meios de subsistncia do ser humano. Na fase inferior do estgio Selvagem a humanidade pode ser comparada a uma criana que inicia sua jornada de conhecimento sobre as coisas que a cercam. Nesse estgio, os bosques e as copas das rvores eram o habitat que fornecia proteo contra os predadores, e frutos para se alimentarem. Essa situao perdurou por milhares de anos. A articulao de uma linguagem mais complexa e elaborada o evento caracterstico desse perodo e a evoluo mais importante e marcante j ocorrida at ento. Na fase mdia passa a conhecer e dominar o fogo (primeiramente apenas o conhece e aps o reproduz). A dieta sofre uma brutal transformao, pois passa a se alimentar de peixes, crustceos, moluscos e outros animais aquticos, ricos em protena. Utilizando o fogo e reproduzindo torna-se menos dependente do clima e da geografia; seguindo cursos de rios e costas das mars exploram reas antes impossibilitadas; os utenslios e instrumentos eram precrios e extremamente primitivos, elaborados a partir da pedra, sem qualquer acabamento ou melhoramento (estamos na idade da pedra lascada). Esses objetos rsticos so encontrados em quase todos os continentes do planeta o que determina forte indcio do deslocamento que empreenderam. Na fase superior encontramos o instrumento de arco e flecha, que se constitua, em verdade, objetos de extrema complexidade, demandando larga experincia e conhecimento acumulados e transmitidos de gerao a gerao, pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  11. 11. 11 consubstanciando em um desenvolvimento mental mais avanado. Com esse instrumento a caa torna-se mais segura e portanto mais comum e regular. Ao se chegar prximo do estgio da barbrie encontramos indcios de formaes de aldeias, ou seja, local fixo, bem como, certa habilidade para produzir instrumentos destinados subsistncia. A grande maioria dos objetos e utenslios ainda so de madeira, embora seja possvel encontrarmos alguns instrumentos de pedra polida (perodo neoltico). Os tecidos, fabricados a mo, utilizam fibras de cortia. O fogo e o machado de pedra polida fornecem condies para a construo de coisas que demandam maior complexidade, feitas com um s tronco de rvore, como vigas para construo de casas. Adentrando na fase inferior do estgio da Barbrie surgem os primeiros objetos e utenslios de cermica, originrios, provavelmente do reiterado costume de revestir cestos ou vasos de madeira com argila, para torn-los resistentes ao fogo; ou ainda para armazenar alimentos ou sementes para cultivo, sendo a agricultura a caracterstica evolutiva mais marcante desse estgio. No demorou muito para se saber que a argila moldada no necessitava do cesto ou vaso de madeira para se fazer til, reduzindo assim o tempo de manufatura desse utenslio. Com o tempo, inclusive, so utilizados como objetos de adorno, proporcionando uma idia de valorao no apenas pela utilidade. Surge o suprfluo. A fixao proporcionada pela agricultura inicia um maior desenvolvimento da vida em sociedade e avano cultural. O curso da evoluo humana at esse estgio e fase pode ser tido como um fenmeno comum a todos os grupos de maneira geral (muito semelhante a todas as regies). As circunstncias e condies naturais, como clima, topografia, e pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  12. 12. 12 a quantidade, qualidade de espcies de animais e vegetais, comeam a se fazer sentir entre as localidades, regies e continentes. Em virtude dessas circunstncias naturais diferenciadas, a populao de cada hemisfrio ou regio desenvolve-se de maneira particular e nica; as caractersticas de desenvolvimento e descobrimento no se coincidem. Agora, na fase mdia da barbrie a domesticao de animais se inicia no oriente, enquanto que no ocidente encontramos cultivo de hortalias com o emprego de irrigao e do tijolo cru, secado ao sol, bem como pedras nas construes, o que proporciona mais resistncia e segurana. O mundo antigo (continente oriental), possua muitas espcies de animais domesticveis e todos os cereais propcios ao cultivo, exceto o milho. J o continente ocidental, a Amrica, tinha, apenas, um mamfero domesticvel, a lhama, o qual se encontrava apenas em uma parcela do sul do continente. No Oeste (Amrica) quando do descobrimento da Amrica pelos Europeus, existiam ao leste do rio Mississipi, ndios ainda na fase inferior da barbrie. Eles cultivavam milho, abbora, melo e outros cultivveis de horta, os quais desempenhavam papel essencial na alimentao. Haviam aldeias protegidas por paliadas, peas rolias de madeira fincadas verticalmente no solo; as pessoas viviam em casas de madeira. Apesar dessas constataes, as tribos que habitavam o Noroeste da Amrica, em especial as que se situavam no vale do rio Colmbia, encontravam-se, menos desenvolvidas ainda, na fase superior do estgio selvagem e desconheciam a cermica e o cultivo de plantas. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  13. 13. 13 No Novo Mxico, os ndios dos chamados "pueblos", os mexicanos, os centro-americanos e os peruanos da poca da conquista da Amrica, encontravam-se na fase mdia do estgio da barbrie. Estabeleciam-se em casas de adobe ou pedra, formando fortificaes, e cultivavam o milho e outros vegetais consumveis por eles (eram a sua principal fonte de alimentao) e seus animais; nessas plantaes eram utilizados sistemas de irrigao artificial. Os mexicanos domesticaram, principalmente, o peru, alm de outras espcies de aves; j os peruanos escolheram a lhama como animal domstico. Sabiam, ainda, trabalhar os metais, a exceo do ferro, e, portanto ainda utilizavam, na sua maioria, armas e instrumentos de pedra. Com a invaso e conquista espanhola toda evoluo e desenvolvimento, autnomo, posterior a essa fase, simplesmente desapareceu. No Leste (Oriente), a fase mdia da barbrie que teve seu marco inicial com a domesticao de animais que forneciam alimentos como leite e carne, o cultivo de plantas manteve-se totalmente desconhecido por muito tempo ainda. A domesticao de animais, a criao de gado e a formao de grandes rebanhos parece ter sido a causa do afastamento dos arianos e semitas dos demais povos brbaros. Assim, constatou-se algo interessante: os nomes com que os arianos da Europa e os da sia designam os animais ainda so comuns, mas os nomes com que designam as plantas cultivadas so, na sua maioria diferenciados. A formao de rebanhos conduziu, quando possvel, vida pastoril; foi o caso dos semitas, nas pradarias do rio Tibre e do Eufrates, e dos arianos, nos campos da ndia, Oxus, Jaxartes. bem provvel que a domesticao de animais se deu primeiramente nessas terras ricas em pastos. Por isso, parece s geraes pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  14. 14. 14 posteriores que os povos pastores procediam de reas que eram quase inabitveis para os seus antecessores selvagens. perfeitamente plausvel que o cultivo dos cereais tenha surgido nesses locais, inicialmente da necessidade de se produzir forragem para os animais, e aps, talvez, at por necessidade, para a alimentao das pessoas. A fase superior inicia-se com a manipulao e fundio do minrio de ferro, principalmente para a construo de armas e utenslios de proteo. A fase da civilizao marcada pela inveno da escrita alfabtica, bem como pelo seu emprego para registros literrios. No hemisfrio oriental existiu de maneira independente, e, sem sombra de dvida, superou todas as anteriores juntas, no que diz respeito aos progressos da produo. Nessa fase situam-se os gregos, as tribos talas de pouco antes da origem de Roma, os germanos de Tcito, e os normandos da poca dos vikings. poca essa em que, pela primeira vez, utilizou-se o arado de ferro, pesado, puxado por animais, o que tornou possvel plantar a terra em grande escala (agricultura), aumentando a produo dos meios de subsistncia como nunca havia se visto antes, possibilitando a existncia de grandes excedentes que podiam ser trocados ou comercializados; a p e o machado tambm desempenham papel importante na formao de pastagens e terras cultivveis, na medida que facilitam a manipulao dos recursos naturais. Tudo isso acarretou um rpido aumento da populao, que se instala, de maneira densa, em pequenas reas, possibilitando, pela primeira vez na histria, a formao de cidades e aglomeraes mais freqentes. Antes do cultivo da terra pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  15. 15. 15 somente circunstncias excepcionalssimas proporcionariam uma reunio de quinhentos mil Homens, no havendo indcios, porm, que tal fato tenha ocorrido. Na Ilada e em alguns outros poemas picos atribudos a Homero, podemos encontrar uma poca de grandes avanos (fase superior da barbrie). A principal herana trazida pelos gregos da fase da barbrie e levadas para a fase da civilizao, e que no podia deixar de ser mencionada, diz respeito aos instrumentos de ferro e seus aperfeioamentos; os foles de forja, o moinho a mo, a roda de olaria, o azeite e o vinho, o trabalho de metais categorizados como arte, carretas e carros de guerra, a construo de barcos com pranchas e vigas, os princpios de arquitetura como arte (novas valoraes), as cidades cercadas de muros com torres e ameias, as epopias homricas e de todo tipo de mito. Diante do exposto, possvel resumir a classificao de Morgan da forma seguinte: Estado Selvagem Perodo em que predomina a apropriao de produtos da natureza, prontos para serem utilizados ou consumidos; as produes artificiais do Homem so destinadas a facilitar essa apropriao (questo de sobrevivncia). A propriedade, naturalmente, comunal. Barbrie Perodo em que surge a criao de gado e a agricultura, e se aprende a incrementar a produo da natureza por meio do trabalho humano. A propriedade continua sendo comunal, mas j se tm indcios, na fase superior, de propriedade privada subordinada comunal; e bem prximo do final desse perodo surge a propriedade privada mvel (principalmente de utenslios e animais) e os pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  16. 16. 16 primeiros traos de concentrao humana, no sentido urbano, o que vai conduzir propriedade comunal urbana e a conseqente separao entre campo e cidade. Civilizao Perodo em que o ser humano apreende a escrita e, portanto, passa a documentar de maneira mais ordenada seus progressos. o perodo de avanos da produo industrial e da arte. Inicialmente a propriedade coletiva coexiste com a propriedade privada e num segundo momento essa ltima, como um todo, se instala, inclusive a imvel. O estudo nos fornece parmetros para afirmarmos que com as desigualdades surge a necessidade de proteo, o que nos remete ao Direito. Essas desigualdades surgem primordialmente na capacidade de produo dos meios de subsistncia. Parece que quanto mais desenvolvidos esses meios, mais desenvolvida a sociedade ou o grupo. o que nos ensina Friedrich Engels3 , citando Morgan, in verbis: (...)'a habilidade nessa produo (dos meios de subsistncia) desempenha um papel decisivo no grau de superioridade e domnio do homem sobre a natureza: o homem , de todos os seres, o nico que logrou um domnio quase absoluto da produo de alimentos. Todas as grandes pocas de progresso da humanidade coincidem, de modo mais ou menos direto, com as pocas em que se ampliam as fontes de existncia'. Desse modo, a primeira, e talvez a mais importante, distino que podemos fazer entre os seres humanos reside nas suas capacidades presentes e 3 Friedrich Engels, A Origem da Famlia..., p. 21 pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  17. 17. 17 futuras de subsistncia, bem como a capacidade de produo da vida material como um todo. Avancemos para a Histria. 1.2 Propriedade em Roma Sob os mais variados ngulos, e principalmente do ponto de vista jurdico, o sentido de propriedade tal qual herdamos, teve na antiguidade a sua fonte histrica. Tanto nas sociedades gregas como nas itlicas, a religio, a famlia e a propriedade estavam interligadas. A noo de propriedade to antiga quanto o ser humano. H cinco mil anos, na Babilnia, j existiam leis civis que faziam meno propriedade individual. O Cdigo de Hamurabi4 (sculo XX a.C.) um exemplo, e as cita nos pargrafos 25, 34, 39, 41, 54, 170, 172; h ampla utilizao, tambm, da palavra casa. Esse conjunto de normas tratou, alm de propriedade, sobre diversos outros assuntos como comrcio, famlia, sucesso, locao, trabalho, crimes, penas (normalmente pena de morte) e estendeu-se pela Assria, Judia e Grcia. Pelo que a histria nos informa a civilizao romana nasceu no centro da pennsula itlica, por volta do sculo VIII a.C. Nesse perodo o territrio estava ocupado por diversos povos, dentre eles: Gauleses, Etruscos, Italiotas, Gregos, 4 Hamurabi viveu entre 2003-1961 a. C.. O Cdigo foi elaborado em 1965 a. C. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  18. 18. 18 dentre outros. A cidade de Roma, fundada pelos Latinos s margens do rio Tibre h aproximadamente 1000 anos a.C., apresentou na sua evoluo poltica trs perodos: Realeza 753 a 509 a. C.; Repblica 509 a 27 a. C.; e Imprio 27 a 476. Aps esse perodo o Imprio romano oriental toma vulto. Na sociedade romana havia duas formas de propriedade coletiva5 : a da gens 6 ou cidade e a da famlia. Apesar desse fato, o sentido individualista propriamente dito de propriedade, surgiu efetivamente na era romana. No sistema gentlico poderia ser apropriado apenas meio hectare de terra ou o equivalente a 5.000 m2 , na cidade. A fortuna no saa de seu interior e as mulheres estavam excludas da herana, j que imperava o direito paterno. Num segundo momento, com o desaparecimento dessa propriedade coletiva, sobrevm a propriedade da famlia. A autoridade do pater famlias toma vulto e importncia na sociedade e de modo absoluto passa a administrar os bens familiares. A propriedade coletiva viu surgir, com o passar do tempo, a propriedade privada, sendo que primeiramente coexistiram. Aps, a segunda ascendeu fixando- se como forma de propriedade dominante, o que no se verificou imediatamente. Assim, podemos relatar quatro etapas de evoluo da propriedade privada. A primeira diz respeito apropriao de objetos necessrios existncia de cada um; utenslios necessrios para sobreviver e, portanto primordiais; A segunda caracterizada pela propriedade individual sobre os bens de uso particular, os quais podem e so motivos de escambo (utenslios no essenciais para a sobrevivncia ou 5 H quem afirme que desde a origem de Roma a propriedade sempre foi individual. Ver Caio Mrio da Silva Pereira, Instituies de Direito Civil. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 11a ed., 1992, p. 65. 6 O conjunto de 10 gens formava uma Cria, e o conjunto de 10 Crias formava uma Tribo. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  19. 19. 19 se essenciais poderiam ser facilmente construdos ou obtidos); A terceira j permite uma certa autonomia individual, pois a apropriao se refere aos meios de trabalho e de produo (terra e utenslios destinados a ela); A quarta evoluo permite sua explorao, at certo ponto, de maneira absoluta, como nos moldes capitalistas. A mudana ftica da propriedade coletiva para a propriedade individual, nos povos da antigidade, relaciona-se com a evoluo das relaes tidas como civis, bem como com o desaparecimento da sociedade lastreada na gens e ainda com o surgimento de uma sociedade poltica mais elaborada com base territorial, com tendncia de privilegiar os indivduos. Na sociedade romana no se distinguiam conceitos de direitos reais que o poder que se exerce sobre a coisa, dos direitos pessoais que dizem respeito s condutas humanas. Referida diferenciao ocorria apenas no plano processual, ou seja, nas aes judiciais da poca, perante os conflitos de interesse postos a serem analisados. A origem do termo ou palavra propriedade pode ter advindo do latim pois proprietas, que deriva, por sua vez, de proprius, designa algo que pertence a uma determinada pessoa. A propriedade indicaria, ento, num significado bem amplo, toda relao jurdica caracterizada por uma apropriao de um determinado bem corpreo. Tambm pode ter se originado da palavra domare, significando sujeitar ou dominar, correspondendo idia de domus, que quer dizer casa, onde o senhor dessa casa, desse domus, chama dominus. Portanto, podemos dizer que "domnio" pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  20. 20. 20 seria, ento, o poder, que algum, capaz e legitimado, exerce sobre as coisas ou bens que lhe so ou estiverem sujeitas. Vale ressaltar que na Itlia, largamente, de um extremo a outro, desde o sculo I a.C. j se falava latim. Isso ocorreu devido a profundas modificaes na estrutura poltico-social e econmica da cidade de Roma, a qual tornou-se grande centro comercial devido a incrementos e vultosos fluxos de capitais trazidos, principalmente, do leste. Na fase antiga da era romana, utilizava-se a expresso domnio. A expresso latina proprietas surgiu apenas na fase romano-bizantina7 . A palavra dominium tinha, no direito romano, um sentido mais restrito que "propriedade", indicando primeiramente tudo que pertencia ao chefe da casa, mesmo que fosse apenas um usufruto; e numa acepo mais ampla, abrangendo bens corpreos em geral. Na poca admitia-se o domnio to somente sobre bens materiais. Tambm as conhecidas expresses ius utendi, fruendi et abutendi no foram mencionadas pelos antigos romanos. Distinguia, ainda, o direito romano a posse do domnio. Enquanto a primeira era um poder de fato, ligada ao possuidor, o domnio constitua um poder de direito, legtimo, ligado ao proprietrio. Os romanos no definiram ou conceituaram o direito de propriedade. Foram os juristas que, a partir da Idade Mdia, lograram empreitada na extrao de 7 Essa fase representou a diviso do poder imperial sem sacrifcio da identidade do Estado, o que ocorreu no sculo IV (por volta de 395 d.C.), com a Morte do Imperador Teodsio I. O Imprio foi dividido entre seus dois filhos: Honrio que recebeu o Imprio Romano Ocidental que tinha como capital a cidade de Milo; e Arcdio que recebeu o imprio Romano Oriental (Bizantino) que tinha como capital a cidade de Constantinopla, antiga Bizncio (da o nome bizantino), atual Istambul. Essa diviso marca a fase medieval do Imprio Romano, na qual h um declnio gradativo de Roma e uma ascenso de Constantinopla que foi erigida a capital do Imprio. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  21. 21. 21 conceito de diversos escritos, incompletos ou fragmentados, alguns nem relativos a direitos reais, o que dificultou sensivelmente esse trabalho. No curso da histria romana, podemos notar quatro modalidades, ou situaes de propriedade: a quiritria, a pretoriana, a provincial e a peregrina. Num primeiro momento, no chamado, direito pr-clssico, surgiu somente a propriedade quiritria. E, num segundo momento, no perodo clssico (por volta de 150 a.C. a 284 d.C.), surgiram as demais modalidades bonitria, provincial e peregrina. A propriedade quiritria era de ordem estritamente nacional, ou seja, exercitada sobre solos romanos ou itlicos e por proprietrios romanos, no estrangeiros. Apenas os Quirites podiam ser titulares de propriedade. Adquiria-se a propriedade pela mancipatio (imveis) e traditio (mveis), bem como eram passveis de tutela atravs do rei vindicatio, todos modos de aquisio do direito civil (ius civille). A mancipatio era uma cerimnia de palavras e gestos solenes, com presena de testemunhas. A propriedade pretoriana, ou bonitria (in bonis habere) desenvolveu- se pela juris-prudncia do pretor, protegendo o adquirente de uma coisa, no caso a res mancipi (terrenos itlicos, servides rurais, cavalos, escravos, bois e animais domsticos, excetuando camelos e elefantes) contra quem no a tinha transferido mediante ato formal. Nasceu, portanto, da necessidade de proteger o adquirente de uma situao no prevista, at que se consumasse a sua correta aquisio, da propriedade, pelo usucapio ou ato formal (mancipatio). pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  22. 22. 22 O ius gentium (tradio e ocupao), surgiu da necessidade de acalmar os nimos dos plebeus que desejavam ser proprietrios. Em 493 a.C. foram institudos os tribunos da plebe, espcie de magistratura especial para defender interesses da plebe; e em 367 a.C. conquistaram o direito de ser proprietrios da terra. Era uma lei comum a todos os homens, sem distinguir nacionalidade. Essa legislao previa a escravido, propriedade privada e contratos e transaes comerciais. Concomitantemente a essa turbulncia (para a poca), em decorrncia das guerras e conquistas romanas, muitos peregrinos submetidos ao imprio, relacionavam-se com os romanos possibilitando a esses a aquisio de propriedades, consideradas diferentemente das quiritrias. Assim, atravs do ius gentium duas outras formas de propriedade surgiram: a provincial e a peregrina, dependendo de quem fosse as partes adquirentes e de quem se est adquirindo. A chamada propriedade provincial referia-se, ento, aos imveis situados nas provncias, pertencentes ao povo (plebe) romano, sobre os quais apenas se deferia a posse aos particulares, mediante o pagamento de certa quantia. Era alienvel e se transmitia por herana, bem como era tutelada pela ao real (rei vindicatio). A propriedade peregrina tambm garantia, aos peregrinos, que no possuam o ius commercii (direito de negociar), proteo (do Estado) contra terceiros, possibilitando a defesa de seus bens. Alm do ius civille, e do ius gentium, havia no direito romano o ius naturale; segundo esse ltimo, por uma questo decorrente da natureza todos os pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  23. 23. 23 homens tinham certos direitos que as autoridades ou governos no podiam recusar ou negar. Esse estgio do direito romano foi precedido pela Lei das Doze Tbuas8 , que continha na Tbua VI disposies acerca da propriedade e da posse. O acesso propriedade em Roma restringiu-se por vrios sculos a cidados de determinada classe social, consubstanciando num verdadeiro privilgio individual. Esse direito apenas em 212 d. C. com a Constituio de Caracala, no perodo justinianeu, estendeu-se a uma generalidade maior de cidados. Justiniano foi um dos idealizadores responsveis que, no perodo ps- clssico, mesmo aps a queda de Roma no ano 476, realizou a fuso da legislao civil e publicou o denominado Corpus Jris Civilis, tido como principal compilao do direito romano. Era formado por quatro partes distintas: 1) O Cdigo (Codex), conjunto de leis imperiais destinadas a substituir o Cdigo Teodosiano9 ; 2) O Digesto (Digesta ou Pandectas) consistia em uma compilao muito extensa com extratos de mais de mil e quinhentos livros escritos por juristas da fase clssica romana. Quase um tero dessa compilao foi retirada das obras de Gaio, Paulo, Ulpiano e Modestino; 8 A Lei das XII Tbuas foi o primeiro documento legal escrito do Direito Romano e influenciou, praticamente, todos os corpos jurdicos do ocidente, inclusive o Cdigo Napolenico. Tinha como contedo: Tbuas I e II: Organizao e procedimento judicial; Tbua III - Normas contra os inadimplentes; Tbua IV - Ptrio poder; Tbua V - Sucesses e tutela; Tbua VI - Propriedade; Tbua VII - Servides; Tbua VIII - Dos delitos; Tbua IX - Direito pblico; Tbua X - Direito sagrado; Tbua XI e XII - Complementares. 9 Compilao de textos jurdicos antigos realizada por ordem de Teodosiano II e visava agrupar o texto na ntegra de todas as constituies imperiais romanas. Publicado no ano 438, foi dividido em 16 livros que foram datados, identificados na autoria e interpretados. Foi revogado por Justiniano. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  24. 24. 24 3) As instituies (Institutiones) composta por quatro livros era um manual utilizado no ensino didtico do direito; e 4) As novelas ou leis novas (Novellae) que era um compndio de constituies do imprio romano da prpria poca de Justiniano. Foram promulgadas aps o Codex e so em nmero de cento e setenta e sete. O Corpus Jris Civilis pe fim diferena entre res mancipi e res nec mancipi, concede cidadania romana a quase todos os habitantes do Imprio, e institui cobrana generalizada de impostos dos imveis at ento isentos, e unificou as diversas modalidades de propriedade, considerando-as como domnio. Criou-se, ento, um mito, que tratava a propriedade romana como algo absoluto, ilimitada. Muitas restries foram impostas ao direito de propriedade. Incluam obrigaes de no fazer, de absteno, como no erigir construes que liberassem fumaa ou permitissem escorrer gua para o vizinho, at o dever de utilizar terras no produtivas, sob pena de perda do direito de propriedade, para o primeiro ocupante, que as cultivasse. J nessa poca, constatamos, o sentido econmico e social da propriedade perseguido como fator primordial de desenvolvimento. Na fase final do Imprio Romano, o aumento desordenado e sem limites de latifndios e o enfraquecimento da autoridade estatal possibilitou o surgimento de alguns tipos de propriedade, de caractersticas quase feudais. Pequenos camponeses renderam-se proteo de grandes proprietrios, cedendo- lhes as prprias terras. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  25. 25. 25 Em linhas genricas podemos dizer que na histria scio-econmica de Roma existiram vrios tipos de propriedades, prevalecendo a concepo de instituto de natureza absoluta e exclusiva, protegida pela mxima de que "no se causa dano no exerccio de um direito". As invases brbaras provocaram profundas modificaes no sistema de propriedade romano. Os germnicos no concebiam a propriedade da mesma forma que os romanos; eles as tinham como relao de uso, que se exprimia pelo termo gewere, equivalente em latim, a vestitura, ou investidura, ou alguma coisa prxima a um direito de usufruto. Possvel, para eles, ento, o fracionamento da propriedade em tantas unidades quantas as relaes de uso existentes ou fossem possveis. Essa nova doutrina com caractersticas feudais, tida como de vrios e concomitantes domnios, foi aceita e aplicada sob os conceitos de domnio til e domnio direto, incorporando e adaptando-se cultura brbara. 1.3 Feudalismo e Mercantilismo O sistema feudal instalado, politicamente, aps a queda de Roma, no ano de 476, teve como precedente imediato: invases brbaras, aumento de impostos, explorao desmedida de escravos e colonos e a debilitao do comrcio, culminando com a sada das populaes das cidades em direo ao campo, o que pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  26. 26. 26 mudou a organizao social at ento vigente. A rea rural passou a ser o ponto de partida. Desde j importante frisar que trataremos, especificamente, do sistema feudal na Europa e mais especificamente na Inglaterra e na Frana. Afinal foi, primordialmente, do continente europeu que herdamos a base de nossa cultura e por conseqncia dos diversos modos de produo da vida social. Assim, no trataremos desse sistema na sia. Esse sistema nasceu da miscigenao da cultura romana e brbara. Dentre as estruturas que contriburam para essa formao destacamos: Romanas: 1) vilas romanas grandes latifndios de economia agrria auto-suficiente; 2) Colonato sistema de trabalho semi-livre, onde o trabalhador preso terra; 3) poder poltico descentralizado enfraquecimento do poder central e fortalecimento do poder do nobre proprietrio de terra. Brbaras: 1) poder descentralizado e comitatus no havia hierarquia entre as diversas tribos, mas apenas relaes entre o chefe militar e seus soldados ou guerreiros; 2) direito consuetudinrio direito baseado nos costumes, no escrito. O feudalismo foi baseado na agricultura e, portanto o poder econmico e poltico estavam nas mos dos proprietrios de terras, embora existisse um rei. Entretanto, os pequenos proprietrios impossibilitados de sobreviver por no terem como trabalhar a terra ou porque no podiam se defender das invases brbaras que continuavam, cediam suas terras em troca de proteo aos proprietrios maiores e mais poderosos. Estabeleceu-se assim o benefcio, que a partir do sculo XI pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  27. 27. 27 passou a se chamar feudo. Esses pequenos proprietrios que doavam a totalidade de suas terras eram chamados de viles. Com o passar das geraes a propriedade se perpetuou, sendo transmitida apenas na linha masculina. Havia distino entre feudos de nobres e plebe, sendo que esses mais humildes contribuam onerosamente para os feudos de propriedade dos nobres, quando no eram despojados de suas terras. Como a terra era praticamente a nica fonte de sobrevivncia e riqueza - e conservada como bem "fora do comrcio" - seu controle por nobres e membros da alta hierarquia da Igreja garantia-lhes um imenso domnio poltico, jurdico e ideolgico sobre a populao. A sociedade feudal ou por estamentos estruturava-se em trs pilares sociais bsicos: Nobreza (lutavam), Clero (rezavam) e Servos (trabalhavam) e era caracterizada pela existncia de relaes servis de produo. Essas relaes consistiam em obrigaes impostas ao servo ou ao vilo, coercitivamente, para que fornecesse ao senhor feudal um excedente econmico. Os senhores feudais eram, em ordem crescente, os cavaleiros, os bares, os duques, condes, marqueses (esses trs ltimos no mesmo grau), e acima de todos o rei. Entre esses senhores feudais havia apenas a relao de vassalagem entre suserano e vassalo. Essa relao obrigava o suserano a cumprir deveres de hospedagem, servio militar, comparecimento ao tribunal dos iguais e contribuio para o dote e armao dos sucessores do vassalo. Esse, por seu lado, garantia ao seu suserano, principalmente, a posse de suas terras, fonte de riqueza e poder, pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  28. 28. 28 inclusive por proteo militar se necessrio fosse. Os senhores detinham o poder dentro de seus feudos; detinham poder militar, poltico e econmico, bem como, faziam suas prprias justias atravs do direito consuetudinrio, alm de cobrarem impostos, taxas e cunhavam suas prprias moedas. As terras do senhor feudal, o feudo, eram divididas basicamente em quatro grupos: Manso senhorial: terras e posses do senhor feudal; Manso servil: em terras utilizadas pelos servos para sustentarem suas famlias; Manso de Reserva: pastagens e pradarias utilizadas tanto pelo senhor feudal quanto pelos servos; e Burgo: originalmente, era a fortificao do senhor feudal, seu castelo. Burgueses, inicialmente, era a denominao genrica dos habitantes dos burgos; entretanto tambm se passaram a chamar burgo as pequenas cidades que surgiam nos cruzamentos de rotas comerciais, ou ao longo delas, muitas, inclusive, fortificadas. Na medida que essas cidades cresciam aglomeravam toda sorte de pessoas livres, isto , que no estavam mais submetidas s glebas dos senhores feudais. Dentre os servos existiam os da gleba e os moradores. Os primeiros eram trabalhadores presos terra submetidos inteiramente autoridade do senhor. J os moradores eram trabalhadores despossudos, no tinham terra para cultivar, viviam nas choupanas e na maioria das vezes trabalhavam para os viles. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  29. 29. 29 Dentre as obrigaes dos servos e viles podemos destacar a corvia, a talha, prestaes, banalidades, censo e capitao. A corvia era o trabalho gratuito desenvolvido pelo servo para o senhor feudal em suas terras por dias ou semanas. A talha era um tributo cobrado pelo senhor feudal do servo que recaa sobre sua produo. As prestaes eram servios que os servos tinham obrigao de prestar ao senhor feudal, tal como hosped-lo nas suas viagens pelo feudo. As banalidades, por sua vez, eram obrigaes decorrentes do uso das instalaes do senhor feudal, como prensa, moinho, fornos e outras estruturas. Os servos tinham o dever de, aps o uso desses instrumentos, entregar ao senhor feudal parte daquilo que produzissem (vinho, farinha, po etc). J o censo era o pagamento anual em dinheiro que o servo deveria efetuar ao senhor feudal; alguns senhores permitiam que esse pagamento fosse substitudo por produtos, dependendo da necessidade e interesse. Por fim, a capitao consistia em um imposto pessoalmente devido pelos servos da gleba. Essa estrutura hierrquica, extremamente, descentralizada, como podemos observar, permitia ao feudo produzir, tambm descentralizadamente, quase tudo do que necessitava consumir, permitindo pouqussimas trocas comerciais, entre os diversos feudos, enfatizando o comrcio interno. O objetivo era basicamente a subsistncia e no a produo de excedentes para acumulao, mesmo porque a grande maioria dos produtos eram perecveis e as tecnologias de produo e armazenamento ainda rudimentares no permitiam grandes sobras e tampouco estocagem. Essa agricultura de subsistncia no incentivava grandes inovaes. At ento o sistema de cultivo no possua uma eficincia tecnolgica que permitisse o melhor aproveitamento da terra, tanto em termos quantitativos como pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  30. 30. 30 qualitativos. A terra era explorada ao mximo at seu total esgotamento. Com a implementao do sistema de rodzio de trs campos (a terra arvel passou a ser dividida em trs reas de igual extenso) nas quais se cultivavam trs culturas diferentes (centeio ou trigo na primeira, aveia no segundo, e feijo ou ervilha na terceira essa disposio podia variar conforme as necessidades). A cada ano se cultivava uma cultura diferente, em duas das reas, deixando uma rea sempre em repouso. O aumento da produtividade e da qualidade, que chegou a 50%, possibilitou mais alimentos de forragens utilizados na alimentao dos cavalos que aos poucos substituram os bois como fora motriz de transporte e de produo. A partir do sculo X a Europa experimenta um aumento da populao, explicada em parte pelo aumento da produo agrcola, dos meios de subsistncia, e pela cessao de ataques e invases de hngaros, normandos e sarracenos (alm de outros motivos). A populao Europia duplicou entre os anos 1000 e 130010 . Nesse mesmo perodo apareceram mercadores que percorriam os feudos tentando vender todo tipo de produto. Um novo estgio se inicia, o comercial. Os Burgos, onde residiam os burgueses, foram os responsveis pelo surgimento das cidades. O aumento da populao causou uma diviso extrema das terras e uma explorao cada vez maior com produo cada vez mais escassa. No sculo XIII e meados do XIV a Europa atingida pela Grande Fome e pela Peste Negra (1347) que dizima grande parte dos servos trabalhadores, gerando uma superexplorao dos servos sobreviventes conduzindo-os s cidades (vida urbana) e 10 Harry A. Miskimin, The Economy of Early Renaissance Europe, 1300 1460 (Englewood Cliffs, N. J.: Prentice Hall, 1969), p. 20, apud , E. K. Hunt; Howard J. Sherman, Histria do Pensamento Econmico, 1994, p. 24. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  31. 31. 31 conseqentemente fabricao e comrcio de produtos no agrcolas intensificando as relaes comerciais. Concomitantemente a isso, com o abandono do campo e o estabelecimento dos mercadores prximos aos castelos, um burgo exterior (espcie de subrbio) comea a se formar. Nesses novos povoamentos o comrcio provoca o desenvolvimento de atividades artesanais e logo o centro comercial deslocado para esses povoamentos. Os senhores feudais ainda tentaram manter seus servos e evitar revoltas efetuando pagamentos em dinheiro e arrendando terras dos colonos, o que serviu de paliativo, pois a longo prazo, aps juntar certa economia, partiam para os centros comerciais em busca de melhores condies de vida. Nesses centros comerciais as oficinas medievais davam-lhe guarida. Uma oficina medieval possua trs categorias de trabalhadores: Mestres, Oficiais e Aprendizes. Os mestres eram os donos das oficinas, dos instrumentos, da matria-prima, bem como dos produtos e dos lucros obtidos. Os oficiais eram os trabalhadores assalariados, conhecidos tambm por jornaleiros. Os aprendizes no recebiam pagamentos pelo trabalho desenvolvido e quando aprendiam o ofcio eram promovidos a oficiais11 . Notadamente, nessa seqncia de acontecimentos o comrcio se intensificou e com ele uso de moeda. As Cruzadas 12 , movimento pregado pela Igreja Catlica com fins religiosos, polticos e, sem sombra de dvida, econmicos, tambm contriburam 11 Na idade mdia os artesos necessitavam fazer parte de um grmio e pagavam uma taxa por isso. Os aprendizes, normalmente, demoravam sete anos para serem promovidos e s conseguiam aps demonstrar ao mestre a habilidade adquirida. 12 Houve um total de oito cruzadas no perodo entre 1095 e 1270 d.C. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  32. 32. 32 para a expanso do comrcio, pois reabriram, ainda que parcialmente, rotas comerciais do mar mediterrneo que estavam sob domnio dos muulmanos. As cidades italianas de Gnova, Npoles, Veneza, Bari, Amlfi, dentre outras passaram a desenvolver-se, monopolizando o comrcio dos produtos orientais. Foi a partir do sculo XIV que o sistema feudal, em franca decadncia, sofreu seus maiores impactos. Com o desenvolvimento do comrcio e com o surgimento dos mercadores e artesos nos sculos anteriores, iniciou-se um processo de centralizao do poder no rei que, alm de ser, via de regra, o senhor feudal mais poderoso, se aliou aos comerciantes. Estava traado, ento, o surgimento das monarquias nacionais. O sistema feudal abalado nas suas estruturas econmicas, sociais, polticas, religiosas13 e culturais, parecia no resistir por muito tempo. O Renascimento Cultural influenciado pelo Renascimento Comercial fez surgir uma cultura antropocntrica e humanista em contraposio aos ensinamentos religiosos da Igreja. O individualismo passa a ser perquirido e o coletivismo esquecido, afetando as bases culturais da propriedade, abrindo caminho propriedade individual. Mas o chamado absolutismo que significava basicamente, a centralizao do poder poltico no rei, ainda dependia de alguns fatores importantes. Apesar do dinheiro estar garantido atravs do apoio dos comerciantes burgueses, alguns elementos ainda deviam ser enfrentados. O primeiro consistia em duas 13 Nessa poca surgem as universidades, centros de estudos criados pelos mercadores. At ento todo ensinamento era ministrado pela Igreja. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  33. 33. 33 grandes resistncias: os outros senhores feudais e a Igreja. E o segundo, embora decorrente do sucesso do primeiro era viabilizar uma unidade, ou seja, criar uma nao com cultura prpria (lngua, religio, costumes etc), que deveria ter um territrio a ser protegido (esse era o objetivo comum de todos). Claramente, esse processo se perpetuou e as regies mais avanadas nesse implemento passaram a ser conhecidas como Espanha, Portugal e Inglaterra. Alm dos fatores genricos que impulsionaram o surgimento do absolutismo podemos citar alguns fatores localizados e determinados importantssimos, como a Guerra da Reconquista, que perdurou por quase quatro sculos (Sculo XII ao XV) e teve como desfecho a expulso dos rabes pelos cristos, unindo os reinos de Castela, Arago, Navarra e Leo que deram origem monarquia Espanhola. Outro acontecimento importante foi a Guerra dos Cem Anos, de 1337 a 145314 , envolvendo Inglaterra e Frana. Essa guerra alm de enfraquecer a nobreza feudal fortaleceu o poder real na Frana, pois muitos domnios ingleses, em territrio francs, foram reconquistados. A Guerra das Duas Rosas, no perodo compreendido entre 1453 e 1485, foi outro fato marcante, ocorrido na Inglaterra entre duas dinastias, a dos York e a dos Lancaster. Ao final, Henrique Tudor, descendente da dinastia Lancaster, a qual, por ironia, representava a nobreza feudal, aps vencer a guerra, uniu as duas dinastias abrindo caminho ao absolutismo ingls. Assim formaram-se trs reinos importantssimos que aps a decadncia do sistema feudal, empreenderam foras produtivas voltadas ao artesanato e 14 Ano em que se deu a queda de Constantinopla e conseqentemente o fim do imprio romano do oriente. Esse ano o marco da historiografia do fim da idade mdia e o incio da idade moderna. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  34. 34. 34 manufaturas, incompatveis com o sistema feudal, as quais desempenharam papel essencial para o surgimento do capitalismo. Outras duas contribuies excepcionais dos sistemas absolutistas foi a centralizao do direito, bem como a retomada do direito escrito, desaparecendo o direito consuetudinrio e a criao de uma moeda nacional. A principal poltica econmica das Monarquias Nacionais ficou conhecida como Mercantilismo e tinha como principal objetivo fortalecer o Estado para fazer frente corrida pelo domnio do comrcio mundial predominantemente martimo. Ressalta-se que as viagens martimas de longa distncia tornaram-se viveis a partir do desenvolvimento do telescpio e da bssola, no sculo XVI. As incurses ndia, frica e Amrica at ento era de difcil consecuo, seno impossvel. O Estado necessitava de exrcitos e marinha tanto para fomentar e manter a produo de manufaturas e o comrcio delas, como para defender as colnias, fruto da prpria expanso naval, fechando o crculo. Claramente a burguesia desempenhava papel fundamental, j que era quem produzia e tambm pagava os impostos pelo Estado. A soberania de um estado depende essencialmente das fontes de dinheiro e de fora militar para fazer valer suas imposies, tanto internamente como externamente. O mercantilismo caracterizava-se, genericamente, pela utilizao de metais preciosos, ouro e prata, principalmente, como fonte de riqueza e pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  35. 35. 35 desenvolvimento. O Estado era intervencionista, regulamentava a produo incentivando-a, protegendo, desvalorizando a moeda, e impondo tarifas alfandegrias. Procurava manter a balana comercial favorvel, tambm, buscando novos mercados mais baratos. A formao de monoplios, que pertenciam ao Estado, era condio essencial para o desenvolvimento do comrcio e das manufaturas, alm arrecadar valores pela concesso que fazia aos burgueses. O protecionismo, como j dito, tambm era arma importante. Atravs dele proibia-se a exportao de matrias-primas e a importao de produtos manufaturados. A explorao das colnias tambm exerceu forte peso na economia mercantilista, no s como fonte de matrias-primas j conhecidas e desconhecidas (desenvolvimento de novas manufaturas a artesanato), mas tambm como fonte de metais preciosos que possibilitavam o fortalecimento do Estado, bem como auxiliava na balana comercial e na importao de matrias-primas necessrias produo de forma complementar. A partir desse estgio, Inglaterra, Frana, Espanha, Portugal, Holanda e outros pases se desenvolveram diferentemente. A Espanha no investia nem incentivava o desenvolvimento da produo e comrcio de manufaturas, e buscava explorar as colnias, extraindo metais preciosos e utilizando-os para importar produtos manufaturados. O equilbrio de sua balana comercial era extremamente dependente das colnias. Em 1588 a Espanha ataca a Inglaterra que vinha monopolizando o mercado comercial em diversos pases. A incrvel Armada de Felipe II derrotada e a Espanha perde o monoplio martimo. A mesma situao, com pequenas variaes, pode ser aplicada a Portugal. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  36. 36. 36 A Holanda era um importante produtor de manufaturas, embora o poder central fosse fraco. A partir de 1615 conquistou, da Espanha, regies importantes na produo de especiarias, na sia. Ocupou colnias na Amrica, principalmente nas Antilhas, passando a plantar e produzir cana-de-acar. O comrcio Holands era monopolizado por duas companhias: a Companhia das ndias Orientais (comrcio com o Oriente) e Ocidentais (comrcio com as Amricas) que eram praticamente autnomas e independentes do Estado. Os pases baixos, a partir do sculo XVII, tiveram a acumulao primitiva de capital intensificada. J a Frana, pas onde a monarquia absoluta era mais slida, era essencialmente agrcola, apesar de possuir a maior populao na poca. A partir do sculo XVI procurou e conseguiu desenvolver uma marinha forte necessria ao comrcio de suas manufaturas que se desenvolveram (tecido, linho, seda, porcelana etc). O principal problema francs era a concorrncia acirrada entre Holanda e Inglaterra. Apesar da concorrncia foi a Inglaterra que obteve maior sucesso em sua empreitada. Sua poltica econmica (do Estado) era uma poltica intermediria, ou seja, no era to intervencionista como a francesa e nem to fraca quanto a holandesa. A poltica inglesa foi certeira ao privilegiar o desenvolvimento da produtividade de manufaturas, principalmente a de tecidos, proibindo a importao de l e aumentando os impostos da aduana, impedindo, ento, que os tecidos franceses e holandeses pudessem concorrer com o nacional. A par dessas medidas, os Atos de Navegao (1651 1660) que consistiram na exclusividade de transporte pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  37. 37. 37 de produtos ingleses pela marinha mercante inglesa, e a colnia na Amrica, garantiram a supremacia e o monoplio ingls no mercantilismo. Como pudemos observar, o mercantilismo foi desenvolvido de maneira peculiar por cada Estado, em conformidade ao grau de desenvolvimento da poltica econmica e militar de cada um, o que possibilitou Inglaterra saltar na frente e realizar a Revoluo industrial bem antes que qualquer outro concorrente. 1.4 Revoluo Industrial A revoluo industrial representou a mais radical transformao da vida humana registrada em documentos escritos. No obstante, suas origens remontam o sculo XVI e qui os anteriores, j que o primeiro instrumento, produtivo, de apropriao foi a terra, fonte de excedentes, apropriveis, tanto pelo rei como pelo proprietrio produtor. Mas ela por si s no foi o bastante para desencadear as transformaes necessrias. Assim, o alicerce histrico do capitalismo foi construdo inicialmente com o acmulo de riquezas na chamada idade mdia15 , tendo como principais: 15 John Atkison Hobson, A Evoluo do Capitalismo Moderno: Um estudo da produo mecanizada, 1983, p. 07. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  38. 38. 38 1 O tesouro papal de Roma, formado atravs das contribuies dos fiis, o qual foi, espantosamente, aumentado durante o perodo das cruzadas, no total de oito como j citado. 2 os bens (terras, tesouros, escravo, manufaturas, etc) conquistados pelas ordens dos cavaleiros, principalmente a dos Templrios16 que havia estendido suas conquistas pela Grcia, Portugal, da Siclia Esccia e por todo o mundo conhecido. 3 Os tesouros reais de Inglaterra e Frana, bem como as riquezas dos postos mais elevados da nobreza feudal. 4 Os fundos pblicos de centros comerciais importantes, cidades como Veneza, Milo e Npoles, inicialmente, e aps, Bolonha e Florena na Itlia, Paris, Londres, Barcelona, Sevilha, Lisboa, Bugres, Anturpia (antiga Gante), Nurembergue e Colnia. Assim, alm do mercantilismo e da pilhagem temos tambm como forma de acumulao primitiva de capital, alm de outras em menor escala, o trfico de escravos, a pirataria, as apropriaes de terras depois vendidas como mercadorias gerando lucro. Mas o acmulo de riquezas, tambm, por si s, no seria como no foi suficiente. A monetarizao essencial para que o capital possa circular e 16 Inicialmente eram 9 cavaleiros, ligados por lao consangneo ou por casamento que se estabeleceram no Templo de Salomo (da o nome templrio), na chamada Terra Santa, no Imprio do Ocidente. A ordem foi extinta por volta do final do sculo XII e incio do XIII, aps perder uma batalha para Saladino (general mulumano) que conquistou Jerusalm. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  39. 39. 39 transformar-se em lucro, o que demanda mercado, quantidade em escala, bens de capital, mo de obra abundante de pessoas destitudas de posse e meios de subsistncia e uma estrutura direcionada ao implemento industrial. A Inglaterra preencheu todos requisitos, a comear pela sua geografia e tamanho facilitando o transporte seja por terra ou pelo mar, j que 112 Km era a maior distncia a ser percorrida para efetuar a comercializao dos produtos produzidos, dentro do pas. A guerra dos cem anos, iniciada no sculo XIV e finda no sculo XV (1337 1453), no fez, aps a vitria da Frana, apenas fortalecer o poder do rei naquele pas. Esse embate com a Inglaterra teve como cerne da disputa o controle da regio de Flandres, representativo centro comercial e manufatureiro 17 , principalmente de l. Com a derrota, a Inglaterra no teve alternativa a no ser incentivar o pastoreio, produo e comercializao da l em seu prprio territrio, para fazer frente demanda Flamenga pelo produto. Uma poro desse incentivo deu origem formao dos enclosures 18 , que consistia, basicamente, no cercamento de grandes reas de terras comunais, de origem feudal e no cultivadas, e a conseqente transformao em extensas reas privadas de criao de gado (principalmente l), com novos proprietrios sua frente, o que expropriou muitos pequenos lavradores e proprietrios, que destitudos dos meios de subsistncia eram 17 Genericamente, todo artesanato uma manufatura, mas nem toda manufatura um artesanato. O arteso era profundo conhecedor de todas as fases de fabricao e desempenhava sua funo at o produto estar acabado. No havia diviso de trabalho. J a manufatura, em sentido estrito, era caracterizada por uma diviso de trabalho, e quem manipulava o produto no necessitava conhecer todas as fases de fabricao seno apenas aquela que lhe competia. 18 Perduraram at quase o final do sculo XIX, tendo seu auge entre 1760 e 1850. Milhes de camponeses foram expulsos, gerando mo de obra ao novo sistema que surgia, o capitalista. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  40. 40. 40 livres para se assalariar, at mesmo no campo. Muitas dessas terras eram possesses da Igreja Catlica que foram usurpadas durante a Revoluo Puritana19 (guerra civil que se estendeu at 1645) de Oliver Cromwell que extinguiu o catolicismo como religio oficial e criou o Anglicanismo, subordinado ao poder real. Essa tomada de terras tambm teve como conseqncia a destituio de camponeses que se assalariaram, bem como, gerou impostos ao Estado. Cromwell, que governou como ditador militar at sua morte em 1658, ainda instituiu os Atos de Navegao. Os pedgios foram extintos e o comrcio nacional unificado. Mas nem tudo se desenrolava bem. Com os cercamentos dos campos uma onda de desemprego se espalhou pela Inglaterra e a populao no podia mais contar com o auxlio da igreja que estava destituda poltica e economicamente de suas funes20 . Em uma declarao do Parlamento aristocrtico Francs ao refutar, em 1776, os editos do rei que pretendiam abolir as corporaes de ofcios e a corvia real e instituir imposto territorial a ser cobrado de todos os proprietrios, encontramos a diviso poltica e funes bsicas das trs camadas sociais consideradas na poca21 : (...) O servio individual do clero desempenhar todas as funes relativas instruo, ao culto religioso e ajudar a aliviar o sofrimento dos infelizes por meio de esmolas. O nobre dedica seu sangue defesa do Estado e assiste com seus conselhos ao soberano. A ltima classe da nao, que no 19 Reforma Puritana foi o nome, ingls, dado s idias difundidas por Genebra Joo Calvino (1509 1564), conhecida por propagar a Reforma Calvinista. 20 A separao da Igreja da poltica e economia se iniciou com Henrique VIII que se declarou chefe da Igreja Anglicana em 1534. 21 Jean Tulard, Histria da Revoluo Francesa, 1990 (edio com apoio do Ministrio da Cultura da Frana), p. 28-29. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  41. 41. 41 pode prestar ao Estado servios to elevados, cumpre seu dever para com ele atravs dos tributos, da indstria e dos trabalhos braais (grifamos). O Estado ento assume a responsabilidade pela preservao do bem estar geral da populao. Outro acontecimento que contribuiu para que a Inglaterra fosse a pioneira na Revoluo Industrial foi a Revoluo Gloriosa que tratou da reforma poltica, enquanto Cromwell protagonizou reformas ligadas aos obstculos econmicos. Nessa Revoluo poltica, que em verdade consistiu em um golpe de Estado, Guilherme de Orange, prncipe da Holanda, com o apoio dos revolucionrios burgueses e grandes proprietrios, toma o poder de Jaime II. Logicamente a classe popular no participou (nessa poca no existia classe mdia; eram extremos opostos). Nesse processo de tomada de poder as terras da coroa e as da igreja foram confiscadas, apropriadas, o que garantiu mo de obra farta, j que muitos dos que trabalhavam nessas terras foram expulsos, no tendo alternativa seno se oferecerem como trabalhadores nas oficinas de arteses e nas indstrias. Os aliados, latifundirios e burguesia, promoveram uma reforma legislativa privilegiando os novos meios de subsistncia, baseado no comrcio sem fronteiras e na agricultura e pecuria direcionadas ao fornecimento de matrias- primas s indstrias que estavam emergindo. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  42. 42. 42 Ao final dessa revoluo, em 1689, Guilherme, em troca de sua subida ao poder aceitou, dos revolucionrios, o que se chamou de Declarao dos Direitos Sociais de 1689 (Bill of Rights), bem como uma limitao de seus poderes polticos como rei. Assim, o Parlamento, controlado pela burguesia e pelos latifundirios, passou a ditar as regras. Assim, os Lordes, primeiros espirituais e temporais e os membros da Cmara dos Comuns declararam um conjunto de direitos e liberdades incontestveis. Vejamos alguns22 : Ser ilegal autoridade real suspender ou dispensar leis ou seu cumprimento. Ser ilegal qualquer cobrana de impostos, para a Coroa, considerando ainda poca e modo de faz-la, sem a anuncia ou designao do Parlamento. Ser inexigvel fianas ou impostos excessivos, e penas demasiadas deveras. Ser possvel aos sditos peticionar ao Rei, e ilegais prises e vexaes decorrentes deste direito. Ser ilegal constituir ou manter dentro do pas um exrcito em tempo de paz, sem a autorizao do Parlamento. 22 Retirado do site http://www.dhnet.org.br/DIREITOS/anthist/decbill.htm. O texto na lngua inglesa da Declarao dos Direitos Sociais de 1689 pode ser encontrado no site http://www.duhaime.org/Law_museum/uk-billr.htm, acesso (ambos) em novembro de2003. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  43. 43. 43 Ser possvel aos sditos protestantes ter armas, desde que permitidas por lei, para exercerem sua defesa. Devem ser livres as eleies dos membros do Parlamento e os discursos pronunciados nos debates s podem ser examinados pelo prprio Parlamento. Que os Jurados eleitos que decidem sobre a sorte das pessoas em questes de alta traio devero ser livres proprietrios de terras. Implantou-se a liberdade de imprensa, a livre iniciativa econmica e reiterou-se os direitos individuais23 , alm de consolidar a supremacia do Parlamento e instituir a monarquia constitucional na Inglaterra. Desse modo, estabelecem-se as condies necessrias ao desenvolvimento da Revoluo Industrial e do Capitalismo, sendo que a posteriori essas bases se consolidam, perfazendo o que os historiadores passaram a chamar de primeira revoluo industrial. A expanso do sistema capitalista dependia (necessitava) da eliminao dos costumes e tradies feudais o que implicava, obviamente, eliminao da auto-suficincia econmica do sistema, o que foi muito bem trabalhado pelo Estado Ingls. 23 A Revoluo Gloriosa foi o processo de coroamento poltico de uma disputa desde 1215 que passou pela "Magna Charta Libertatum", pelo "Petition of Right", de 7 de junho de 1628, pelo "Habeas Corpus Amendement Act", de 1679. Todos esses documentos tinham em comum privilegiar direitos individuais e restringir o poder do rei. Desses documentos esboaram-se o que conhecemos, atualmente, por Hbeas Corpus, Devido Processo Lega,l Princpio da Legalidade e da Anterioridade dos tributos. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  44. 44. 44 importante frisar que bem antes do sculo XVII havia comrcio, havia arteses, trabalho assalariado, cidades e muitas outras relaes de dependncia econmica e financeira. Porm essas relaes embora de natureza capitalista eram incipientes, no representativas seno de um pr-capitalismo, uma pr-revoluo. A negociao de valores se iniciou na Grcia antiga24 , sendo que a primeira bolsa de valores que se tem notcia, mais prxima dos padres atuais foi fundada em Bugres na Blgica no sculo XIII. Nesse mesmo sculo havia uma indstria com caractersticas capitalistas em Flandres. No sculo seguinte constatou-se o surgimento de mais uma indstria txtil em Flandres. No entanto, ambas no se sustentaram devido ao regime social vigente poca. Em 1341, tambm, na cidade de Bolonha, foi possvel constatar referncias de uma organizao que produzia fios de tecido (fiao) utilizando energia hidrulica. Fora da indstria txtil, h referncia de uma grande empresa grfica na cidade de Nurembergue, por volta do final do sculo XV, a qual detinha 24 impressoras e mais de cem empregados. Estando as bases econmicas e polticas favorveis ao novo meio de produo da vida material a Inglaterra avana deixando para trs suas formas pr- capitalistas. Com uma dinmica concorrencial continuam as apropriaes de terras, as chamadas enclosures atingindo o auge entre 1760 e 1850, quando ento cerca de 4.000 decretos so emitidos. Foi a partir do sculo XVIII (1700), que a Inglaterra iniciou um crescimento em escala. J em 1698 foi fundada a Bolsa de Fundos Pblicos de 24 A Grcia Antiga abrange tradicionalmente compreende o perodo desde os primeiros jogos olmpicos em 776 a. C. at morte de Alexandre em 323 a.C. Alguns historiadores estendem seu incio at 1000 a.C.. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  45. 45. 45 Londres. A grande inovao que contribuiu para esse desenvolvimento foi a Mquina a Vapor25 . Inicialmente essas maravilhas mecnicas de ferro foram utilizadas nas minas de carvo26 e minrio de ferro, que cada vez mais profundas necessitavam bombear gua. Em 1769 a inveno, a vapor, foi aperfeioada e produzida em escala por Boulton, que financiava o projeto, e por Watt27 que havia projetado uma mquina que convertia o movimento de um pisto retilneo em fora rotativa. Essa nova inveno aperfeioada substitua a energia hidrulica que se limitava a locais onde havia gua e de forma suficiente para gerar energia. Essa libertao possibilitou a explorao da produo em escala nunca vista. Nesse ano, 1769, havia na Inglaterra mais de cem caldeiras a vapor, sendo que 57 delas operavam plenamente. Vagarosamente elas foram sendo substitudas pelas mquinas de Watt. Inicialmente operavam com carvo vegetal e no final do sculo XVIII passou a utilizar carvo mineral dando impulso minerao. Por sua vez, o aperfeioamento na utilizao do carvo mineral possibilitou novas invenes e processos como a laminao, tornos mecnicos, martelo a vapor e alto-forno. Ressalta-se que at ento o ferro era utilizado na produo de bens de consumo e no em bens de capital. Em 1720 o consumo desse produto girava em 25 Um matemtico e fsico que viveu no Egito, em Alexandria, chamado Hero descreveu, em 120 a.C., a primeira mquina a vapor, que, parece, no teve utilidade prtica. Era uma esfera metlica, pequena e oca montada sobre um suporte de cano ligado a uma caldeira de vapor. Dois canos em forma de L eram fixados na esfera. Quando o vapor escapava por esses canos a esfera movimenta-se em rotao. 26 Em 1698 Thomas Savery (1650-1715), mecnico ingls, patenteou a primeira mquina a vapor realmente prtica, uma bomba para drenagem de gua de minas. A mquina a vapor, para bombear gua das minas de carvo, foi inventada em 1712 por Thomas Newcomen e aperfeioada por James Watt em 1769. 27 s presses nas suas mquinas no ultrapassavam a presso do ar: 1kg/cm2 . No final do sc. XVIII e incio do sc. XIX foram construdas, pelo engenheiro ingls, Richard Trevithick, as primeiras mquinas a vapor de alta presso. A primeira delas operava sob 2kg de presso. Em 1815, um engenheiro norte-americano, Oliver Evans, construiu, uma mquina a vapor, sob presso de 14kg/cm2 . Nos dias atuais a presso de 70kg/cm2 considerada rotineira. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  46. 46. 46 torno de 50.000 toneladas, e aps sete dcadas pouco ultrapassou as 100.000 toneladas; pouco para uma fase onde a revoluo industrial encontrava-se relativamente adiantada. Os sculos XVIII e XIX tornaram-se pocas de grandes e numerosas invenes tcnicas, adquirindo propores nunca vistas. No sculo XVII tivemos uma dcada em que se registrou 102 patentes. Entre 1700 e 1759 as patentes registradas oscilaram entre 22, na primeira dcada e 92 na ltima. Na dcada correspondente a 1760, entretanto, houve 205 patentes registradas, aumentando na dcada seguinte para 294 e na posterior (1780) 477 patentes, representando um fator multiplicador quase cinco vezes maior em relao dcada do sculo XVII (102 patentes)28 . As invenes e inovaes tcnicas e industriais permearam a histria da evoluo humana. Dentre as principais, at 1927, o sculo XIX, foi responsvel por mais de 34% (108 invenes)29 . Foi mais ou menos no mesmo ano de 1720 que a populao inglesa iniciou uma expanso numrica mais significativa. Aumentou de 5,5 milhes, no incio do sculo XVIII, para quase 18 milhes em 185130 . A barreira, at ento, fundamentou-se nas guerras e revoltas anteriores, constantes e longas, bem como pela imigrao para a colnia da Amrica, que em 1701 tinha pouco menos de 300.000 habitantes e em 1790 j possua quase 4.000.000 de americanos. A guerra 28 Informaes constantes na obra de Reinhard Bendix.Work and Authority in Industry (Nova York & Row, Torchbooks, 1963), p. 27, apud E. K. Hunt; Howard J. Sherman, op. cit., p. 55. 29 Conforme tabela elaborada pelo Secretrio Executivo do Comit Econmico Nacional Temporrio dos EUA (no h meno especfica de que ano), constante da obra de Maurice Dobb, A Evoluo do Capitalismo, p. 273, nota de rodap 31. 30 Conforme dados de tabela disposta na obra Growth of English Industry, v. III, p. 935 e citada por John Atikson Hobson, op. cit., 1983, p. 14. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  47. 47. 47 dos cem anos 1337 a 1453 entre Frana e Inglaterra, juntamente com a Peste Negra 1348 / 1349 juntas reduziram a populao da Inglaterra de 4 milhes para 2,5 milhes de habitantes. Desse modo temos, alm das enclosures outra fonte do aumento do proletariado: o crescimento populacional que, conseqentemente aumenta a demanda por bens de consumo e subsistncia. A urbanizao, por sua vez, cria novas demandas, principalmente de servios, bem como novos problemas. Por volta de 1789 havia na Europa duas cidades que podemos chamar de grandes, considerando nossos padres: Londres que possua 1.000.000 de habitantes, mais ou menos; e Paris com a metade da populao. Havia ainda cerca de 22 outras cidades com mais de 100.000 habitantes 31 . A maioria dessas localidades tinha acesso direto ao mar Mediterrneo (bero das cidades) e / ou oceano Atlntico. Concomitantemente acumulao de riquezas proporcionada pelo mercantilismo (principalmente devido ao comrcio com a ndia) e ao aumento da populao e do proletariado, as tcnicas de produo agrcola e industrial vo se incrementando e uma indstria de natureza leve se forma, principalmente de tecelagem. A indstria txtil foi a que mais se aprimorou rapidamente, seja pela facilidade de obteno de matria-prima: l (no perecvel), seja pela demanda 31 Duas na Frana, duas na Alemanha, talvez quatro na Espanha, talvez cinco na Itlia, duas na Rssia, e apenas uma em Portugal, na Polnia, na Holanda, na ustria, na Irlanda, na Esccia e na Turquia europia. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  48. 48. 48 desses produtos pelo mercado mundial. A evoluo desse setor passou pelo tear manual at a lanadeira em 1730. A indstria de fiao, por sua vez, enquanto utilizava a roca de fiar no fazia frente indstria txtil com a lanadeira; aps, com o advento da mquina de fiar em 1760, uma pessoa fiava vrios fios concomitantemente. Em 1768 a mquina de fiar incorpora a energia hidrulica e aprimora as operaes ao incorporar a utilizao de cilindros e fusos. E por final, em 1780, passa a utilizar a energia a vapor. O tear mecnico, embora tenha sido inventado em 1785, por Cartwright, s foi utilizado de maneira mais generalizada aps 1820 / 1830. A utilizao e combinao desses aprimoramentos em escala criou novos mercados, novas idias e novos inventos formando um crculo vicioso e virtuoso em termos de tcnica de produo. Para Arnold Toynbee32 , quatro grandes invenes e dois processos produtivos revolucionaram a indstria de algodo antes de James Watt: 1 - a mquina de fiar, spinning-jenny, a qual foi patenteada em 1770 por Hargreaves; 2 o filatrio movido a gua de Arkwright em 1769; 3 o filatrio de Crompton, utilizado em 1779; 4 o filatrio autnomo, de Kelly, em 1792. Nos processos cita a reduo do carvo e a aplicao da mquina a vapor nos altos-fornos. Engels33 , por sua vez, faz as mesmas menes, acrescentando que as combinaes dessas invenes foi de extrema importncia. Formam-se, ento, organizaes simples constitudas por pequenas e mdias empresas familiares, sem utilizao de grandes tecnologias ou inovaes, 32 Arnold Toynbee, Lectures on the Industrial Revolution of the Einghteenth Century, [s.l:s.e.], [s.d], p. 90-91, apud Maurice Dobb, op. cit., p. 263. 33 Ibid, mesma pgina. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
  49. 49. 49 provavelmente pela dificuldade de expanso das idias proporcionada pela impossibilidade de transporte eficiente e rpido. Nesse perodo no h foras dominadoras, apenas concorrncia localizada e sem fora para conquistar o mercado como um todo. Havia espao para todos que pudessem empreender. No entanto, h notcias de grandes quantidades de fbricas de tecidos e fiao que empregavam de 150 a 600 trabalhadores. A demanda pelos produtos txteis ingleses no mercado externo era considervel. Entre 1700 e 1750 o mercado interno expandiu em torno de 7% enquanto o externo 76%. Nota-se que nesse perodo a populao cresceu pouco mais de 18%. No perodo compreendido entre 1750 a 1770 nova expanso de 7% para o mercado interno e 80% para o externo, enquanto a populao cresceu 14,86%34 . Provavelmente a exportao de produtos txteis tenha chegado aos dois teros em 1805. Notadamente a Inglaterra priorizava as exportaes, seja porque o lucro era maior, seja porque estimulava o transporte martimo que s podia ser feito pelos seus navios gerando mais lucro. Em 1685 a marinha de guerra inglesa era estimada em 100.000 to