Dissert_Unimes_Função Social da Propriedade13_05_07
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INTRODU˙ˆO Muito jÆ foi debatido sobre funªo social da propriedade imvel e rural, mas muito pouco sobre a funªo social da propriedade dos bens de produªo, que entendemos ser o cerne da atualidade. Nossa Constituiªo nada especifica sobre a funªo social desses bens. Facilmente percebemos que a propriedade imvel jÆ nªo Ø tªo importante quanto o emprego, quanto possuir ou ser proprietÆrio de um veculo para locomoªo nos grandes centros urbanos, quanto o plano de saœde, alØm de outros benefcios que recebemos ao exercer nossa atividade laboral. O nosso ordenamento jurdico Ø claro e especfico ao tratar da funªo social da propriedade imvel tanto urbano quanto rural (Constituiªo Federal, Plano diretor, Estatuto da Cidade, Medidas provisrias, etc). Entretanto, Ø obscuro e impreciso, ao tratar da funªo social da propriedade mvel, principalmente a dos bens de produªo, limitando-se aos enunciados dos incisos II e III do artigo 170 da Constituiªo Federal de 1988 e legislaıes esparsas, forando-nos a uma investigaªo jurdica sistŒmica e ampla. Interessante o que motiva o ser humano a conhecer, a saber. Todos desejam saber. A prpria vida cotidiana demonstra o interesse que cada um tem em descobrir, para alØm do que ouve, do que vŒ, do que sente, a realidade das coisas. O ser humano nªo comearia a procurar algo que ignora totalmente ou considere pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files with ease! Get yours now! “Thank you very much! I can use Acrobat Distiller or the Acrobat PDFWriter but I consider your product a lot easier to use and much preferable to Adobe's" A.Sarras - USA
Dissert_Unimes_Função Social da Propriedade13_05_07
1. INTRODUO Muito j foi debatido sobre funo social da
propriedade imvel e rural, mas muito pouco sobre a funo social da
propriedade dos bens de produo, que entendemos ser o cerne da
atualidade. Nossa Constituio nada especifica sobre a funo social
desses bens. Facilmente percebemos que a propriedade imvel j no to
importante quanto o emprego, quanto possuir ou ser proprietrio de
um veculo para locomoo nos grandes centros urbanos, quanto o plano
de sade, alm de outros benefcios que recebemos ao exercer nossa
atividade laboral. O nosso ordenamento jurdico claro e especfico ao
tratar da funo social da propriedade imvel tanto urbano quanto
rural (Constituio Federal, Plano diretor, Estatuto da Cidade,
Medidas provisrias, etc). Entretanto, obscuro e impreciso, ao
tratar da funo social da propriedade mvel, principalmente a dos
bens de produo, limitando-se aos enunciados dos incisos II e III do
artigo 170 da Constituio Federal de 1988 e legislaes esparsas,
forando-nos a uma investigao jurdica sistmica e ampla. Interessante
o que motiva o ser humano a conhecer, a saber. Todos desejam saber.
A prpria vida cotidiana demonstra o interesse que cada um tem em
descobrir, para alm do que ouve, do que v, do que sente, a
realidade das coisas. O ser humano no comearia a procurar algo que
ignora totalmente ou considere pdfMachine - is a pdf writer that
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2. 2 absolutamente inatingvel. S a possibilidade de poder
chegar a uma resposta, mesmo que remota, que consegue induzir-nos a
sair da inrcia, a dar o primeiro passo. Conosco no foi diferente.
Foi a partir da vida cotidiana que iniciamos a pesquisa sobre nossa
exposio. Alm do conhecimento geral, das leituras de revistas,
peridicos, conversas informais, da exposio da mdia, cursos e
debates, e Internet, desenvolvemos, principalmente, uma busca
bibliogrfica de informaes e constataes histricas, filosficas,
cientficas e culturais a respeito do tema que pudessem embasar
nossas consideraes e concluses. O ser humano como qualquer outro
animal necessita suprir suas necessidades bsicas, fsicas e
psquicas. As necessidades fsicas que dizem respeito diretamente
sobrevivncia do corpo so supridas atravs dos recursos que a
natureza disponibiliza direta ou indiretamente. As necessidades
psquicas por sua vez sero supridas atravs das relaes sociais.
Embora se consubstanciem em situaes distintas essas duas
necessidades se complementam e se interelacionam. Parece notrio que
a primeira premissa relacionada ao tema desse trabalho esteja
diretamente ligada sobrevivncia de cada um. Com o transcorrer de
nossa histria o ser humano no intuito de sobreviver da melhor
maneira possvel se apodera de locais, utenslios e demais recursos
e, os utiliza como fonte de mantena, defesa e conquista. A ao
simples de sobreviver vai gerar, por parte de outros seres humanos
ou grupos, uma reao de igual valor e sentido contrrio, ou seja, uma
reao pela sobrevivncia nos mesmos moldes, qui aperfeioada.
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3. 3 Essas relaes sociais de ao e reao foram evoluindo e se
tornando cada vez mais complexas de modo que a simples fora fsica
no podia mais garantir as fontes de sobrevivncia, elevando a
complexidade das relaes com a criao de regras de conduta de aceitao
geral. Esses regramentos devero ento estabelecer as reas que cada
indivduo ou grupo ter sob sua guarda como fonte de satisfao de suas
necessidades. E assim surgem as disputas pelas melhores fontes de
recursos e suprimentos. Certamente no de hoje que a temtica
propriedade envolve discusses econmicas, jurdicas e polticas. A
histria humana est permeada de exemplos: lutas por terras, domnios,
riquezas, armas, animais, inventos, tecnologias, recursos naturais
etc. No importa qual o sistema de governo, poltico ou de produo
eleitos ou vigentes, no importa a poca, a propriedade e sua
utilizao estaro direta ou indiretamente localizadas no epicentro
das discusses e disputas. E justamente por isso se torna um direito
fundamental, essencial, que deve ser garantido a todos como forma
de tutelar a pessoa humana. Apesar da propriedade nos dias atuais
deixar de ser o nico meio de garantir a subsistncia, pois em seu
lugar as garantias de emprego, salrio justo, aposentadoria dentre
outras so mais palpveis, ela se consubstancia na fora motriz desses
outros meios sem a qual eles no existiriam. E aqui reside a
importncia do tema "propriedade". Essa importncia ganha mais
notoriedade quando essa propriedade se referir a bens que produzem
outros bens, no s pelo fornecimento de produtos e servios mas tambm
pela convergncia de outros fatores e interesses que viabilizaro a
aquisio da produo, bem como o desenvolvimento individual, coletivo
e da nao. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF
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4. 4 Certamente para estudarmos a temtica propriedade e funo
social devemos nos valer do auxlio dos fundamentos das cincias
econmicas e jurdicas, bem como do reflexo dessas cincias na vida
real. Qualquer um que se empenhe nesse sentido dever considerar os
fatores de produo, terra, trabalho, capital, ndices econmicos,
mercado e os resultados da conjugao desses fatores no decorrer da
histria do capitalismo brasileiro em relao ao desenvolvimento do
ser humano. Nessa mesma linha tambm devemos verificar a evoluo
jurdica do instituto nas diversas constituies federais e na
legislao civil infraconstitucional, as quais legitimaro, sua poca,
as relaes dominiais entre seus agentes, impondo limites e deveres,
e fornecendo os instrumentos de defesa da propriedade, objeto
dessas relaes. Por derradeiro, a influncia direta e indireta da
propriedade dos bens de produo no convvio social, que confere um
carter coletivo ao instituto e delimita vrios direitos e obrigaes,
faz emergir a necessidade do exerccio de uma funo social traando
verdadeiros parmetros de convvio em sociedade. Esses parmetros
explcitos em nossa Constituio Federal vo conferir ao ser humano a
viabilizao da vida digna, consubstanciando nas condies mnimas
necessrias ao desenvolvimento de qualquer pessoa de maneira
sustentvel. Esperamos que nossas consideraes sejam teis e despertem
tanto os operadores do direito quanto a comunidade para a
importncia do tema, sua inevitabilidade e quais necessidades so
imprescindveis. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality
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5. 11.. CONSIDERAES HISTRICAS ACERCA DA PROPRIEDADE NO OCIDENTE
No se oponha tambm legitimidade da propriedade particular o fato de
que Deus concedeu a terra a todo o gnero humano para a gozar,
porque Deus no a concedeu aos homens para que a dominassem
confusamente todos juntos. Encclica Rerum Novarum - 1891 A ao e
lgica humana desencadeiam os fatos histricos que nunca se
apresentam devidamente divididos e delimitados. A histria uma
continuidade de fatos e acontecimentos sobrepostos. No h um momento
certo e determinado onde algo comea ou acaba. A histria um todo
indivisvel que ns tentamos compreender e conhecer, planificando,
repartindo-a em fases, em perodos representativos de cada poca.
Para tanto, escolhemos marcos que nos auxiliam na compreenso da
evoluo da sociedade e do ser humano nas diversas fases. o que
veremos nesse captulo. pdfMachine - is a pdf writer that produces
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6. 6 1.1 Propriedade na Pr - Histria Falar de propriedade falar
de desigualdades; e buscar sua origem nos primrdios de nosso
desenvolvimento no tarefa fcil, face falta de provas robustas e
concretas. Tudo o que podemos relatar so apenas conjecturas, j que
viciadas pelo nosso modo de vida social. Estamos embriagados,
envolvidos, impossibilitados de voltar ao passado e conhecer os
verdadeiros motivos de tanta desigualdade; mas sabemos que a
propriedade, tanto quanto a conhecemos hoje, quanto nos primrdios
foi, , e ser responsvel, por algum tempo ainda, pela desigualdade
entre os seres vivos. Tradicionalmente a historiografia divide a
evoluo do ser humano em dois grandes perodos: Pr-Histria e Histria.
A Pr-Histria tem incio com o surgimento do ser humano (gnero Homo).
No se tem certeza exata desse momento, mas conforme pontua nossa
cincia, isso ocorreu pelo menos h 2 milhes de anos. J o marco do
perodo chamado Histria o surgimento da escrita, por volta de 5.000
a 4.000 anos a.C.. A Pr-histria, por sua vez, subdividida em 3
perodos: Paleoltico (entre 2.000.000 e 15.000 anos a.C.), Mesoltico
(15.000 / 12.000 a 10.000 anos a.C.), e Neoltico (entre 10.000 e
4.000 anos a.C.). Alguns ainda subdividem o perodo paleoltico em
inferior compreendendo o perodo de 300.000 a 10.000 anos a.C. e
superior situado em 10.000 a, mais ou menos, 5.000 ou 4.000 anos
a.C.. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF files
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7. 7 Parece lgico afirmar que em todos esses segmentos
histricos os seres vivos que existiram demarcaram territrios para
poderem se alimentar, para segurana de sua prole, protegendo a rea
de invasores; e os seres humanos tambm fizeram e o fazem. O ser
humano, ao longo de sua existncia, se desenvolveu, aprendeu a se
comunicar, estabeleceu hierarquias atravs dos mais fortes, dos que
melhor se adaptaram. Por destino natural descobre o fogo, a
metalurgia, e a questo territorial se transforma. As lutas por reas
transmudam-se atravs da utilizao de utenslios que tambm so
manuseados, em algum momento da histria, na agricultura. A questo
espacial muda novamente; a quantidade de territrio passa a no ser
essencial, mas composto por quantidade e qualidade. O interesse por
uma dada rea dependia exclusivamente do que ela continha: abundncia
de gua, rvores, cavernas, animais, grandes, pequenos significando
maior ou menor perigo, vulces etc. Um perodo de guerra se trava
pela posse dos territrios (questo de sobrevivncia) e aps algum
tempo inicia-se, atravs da comunicao, uma relativa paz onde se
associam e passam a dividir, a cooperar e se tornam mais fortes
enquanto grupo. A necessidade de proteo territorial fixa o grupo
num determinado lugar, espao. O grupo cresce, e a necessidade por
mais espao inevitvel, e se inicia um crculo vicioso. Rousseau (1712
- 1778)1 parece ter constatado essa dinmica de desenvolvimento, in
verbis: 1 Jean Jacques Rousseau, Discurso Sobre a Origem e os
Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, p. 84 e 85. pdfMachine
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8. 8 O primeiro que, tendo cercado, um terreno, arriscou-se a
dizer: isso meu, e encontrou pessoas bastante simples para
acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. (...)
O primeiro sentimento do homem foi o de sua existncia; sua primeira
inquietao, a de sua preservao. (...) Tal foi a condio do homem ao
nascer; tal foi a vida de um animal inicialmente limitado s sensaes
puras que apenas aproveitava os dons que lhe eram oferecidos pela
natureza, e que jamais pensava em tirar dela o que quer que fosse.
Mas logo apareceram as dificuldades; foi preciso aprender a
venc-las: a altura das rvores que o impedia de alcanar os frutos, a
concorrncia dos animais que tambm procuravam se alimentar, a
ferocidade daqueles que ameaavam sua prpria vida, enfim, tudo o
obrigou a se aplicar aos exerccios do corpo; foi preciso tornar-se
gil, rpido na corrida, forte no combate. As armas naturais que so
os galhos das rvores e as pedras, logo caram em suas mos. Aprendeu
a vencer os obstculos da natureza, a combater os outros animais
quando necessrio, a disputar com os prprios homens sua subsistncia,
ou a substituir o que era preciso ceder ao mais forte. (...) medida
que o gnero humano se espalhou as dificuldades se multiplicaram com
os homens. A diferena de solos, de climas, de estaes forou-os a
adaptar sua maneira de viver. Anos estreis, invernos longos e
rudes, veres escaldantes, que consomem tudo, exigiram deles uma
nova indstria. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality
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9. 9 Parece mais apropriada a assertiva histrica de que havia
vrios grupos de humanides e cada um, conhecendo e interagindo com a
natureza, se desenvolveu e sobreviveu, a seu modo. O filme A Guerra
do Fogo mostra bem essa situao, onde um grupo de humanides conhecia
o fogo e sabia utiliz-lo, mas no sabia produzi-lo, enquanto outro
grupo, alm de conhec-lo e saber utilizar, conseguia produzi-lo. A
discrepncia de desenvolvimento entre esses dois grupos era enorme,
facilitando deslocamentos e a prpria sobrevivncia individual dos
componentes do grupo. O estudo da histria da evoluo (do planeta e
do ser humano) recheado de controvrsias, teorias e indcios, os
quais nos conduz, embora no definitivamente, a assertiva de que foi
no incio do perodo Neoltico que o ser humano passou de caador e
nmade para cultivador da terra propiciando ento seu estabelecimento
num determinado territrio O primeiro passo para a conscincia do eu
individual em relao propriedade estava dado. Lewis Henry Morgan
(1818 - 1881) citado por Friedrich Engels (1820 - 1895)2 distinguiu
trs estgios principais de desenvolvimento ou evoluo do ser humano,
que denominou: Selvagem, Barbrie, e Civilizao. Essa diviso coincide
mais ou menos com a diviso da historiografia tradicional. Morgan
ainda subdividiu cada um dos trs estgios em trs partes, a saber:
inferior, mdia e superior. Em cada estgio e em cada fase houve
progressos, 2 Friedrich Engels, A Origem da Famlia, da Propriedade
Privada e do Estado, p. 21 e ss. (Ttulo do Original Alemo: Der
Ursprung der Familie, des Privateigentaums und des Staats). Engels
parte de um livro de 1877, A Sociedade Antiga, do antroplogo
americano L. H. Morgan, que estudou a estrutura social dos ndios
iroqueses situados margem direita do Rio Mississipi, nos EUA. Esse
estudo possibilita Engels traar caractersticas das sociedades
humanas primitivas, anteriores ao nascimento do Estado. pdfMachine
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10. 10 uns mais significantes que outros, mas todos contriburam
para aprimorar a produo dos meios de subsistncia do ser humano. Na
fase inferior do estgio Selvagem a humanidade pode ser comparada a
uma criana que inicia sua jornada de conhecimento sobre as coisas
que a cercam. Nesse estgio, os bosques e as copas das rvores eram o
habitat que fornecia proteo contra os predadores, e frutos para se
alimentarem. Essa situao perdurou por milhares de anos. A articulao
de uma linguagem mais complexa e elaborada o evento caracterstico
desse perodo e a evoluo mais importante e marcante j ocorrida at
ento. Na fase mdia passa a conhecer e dominar o fogo (primeiramente
apenas o conhece e aps o reproduz). A dieta sofre uma brutal
transformao, pois passa a se alimentar de peixes, crustceos,
moluscos e outros animais aquticos, ricos em protena. Utilizando o
fogo e reproduzindo torna-se menos dependente do clima e da
geografia; seguindo cursos de rios e costas das mars exploram reas
antes impossibilitadas; os utenslios e instrumentos eram precrios e
extremamente primitivos, elaborados a partir da pedra, sem qualquer
acabamento ou melhoramento (estamos na idade da pedra lascada).
Esses objetos rsticos so encontrados em quase todos os continentes
do planeta o que determina forte indcio do deslocamento que
empreenderam. Na fase superior encontramos o instrumento de arco e
flecha, que se constitua, em verdade, objetos de extrema
complexidade, demandando larga experincia e conhecimento acumulados
e transmitidos de gerao a gerao, pdfMachine - is a pdf writer that
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11. 11 consubstanciando em um desenvolvimento mental mais
avanado. Com esse instrumento a caa torna-se mais segura e portanto
mais comum e regular. Ao se chegar prximo do estgio da barbrie
encontramos indcios de formaes de aldeias, ou seja, local fixo, bem
como, certa habilidade para produzir instrumentos destinados
subsistncia. A grande maioria dos objetos e utenslios ainda so de
madeira, embora seja possvel encontrarmos alguns instrumentos de
pedra polida (perodo neoltico). Os tecidos, fabricados a mo,
utilizam fibras de cortia. O fogo e o machado de pedra polida
fornecem condies para a construo de coisas que demandam maior
complexidade, feitas com um s tronco de rvore, como vigas para
construo de casas. Adentrando na fase inferior do estgio da Barbrie
surgem os primeiros objetos e utenslios de cermica, originrios,
provavelmente do reiterado costume de revestir cestos ou vasos de
madeira com argila, para torn-los resistentes ao fogo; ou ainda
para armazenar alimentos ou sementes para cultivo, sendo a
agricultura a caracterstica evolutiva mais marcante desse estgio.
No demorou muito para se saber que a argila moldada no necessitava
do cesto ou vaso de madeira para se fazer til, reduzindo assim o
tempo de manufatura desse utenslio. Com o tempo, inclusive, so
utilizados como objetos de adorno, proporcionando uma idia de
valorao no apenas pela utilidade. Surge o suprfluo. A fixao
proporcionada pela agricultura inicia um maior desenvolvimento da
vida em sociedade e avano cultural. O curso da evoluo humana at
esse estgio e fase pode ser tido como um fenmeno comum a todos os
grupos de maneira geral (muito semelhante a todas as regies). As
circunstncias e condies naturais, como clima, topografia, e
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12. 12 a quantidade, qualidade de espcies de animais e
vegetais, comeam a se fazer sentir entre as localidades, regies e
continentes. Em virtude dessas circunstncias naturais
diferenciadas, a populao de cada hemisfrio ou regio desenvolve-se
de maneira particular e nica; as caractersticas de desenvolvimento
e descobrimento no se coincidem. Agora, na fase mdia da barbrie a
domesticao de animais se inicia no oriente, enquanto que no
ocidente encontramos cultivo de hortalias com o emprego de irrigao
e do tijolo cru, secado ao sol, bem como pedras nas construes, o
que proporciona mais resistncia e segurana. O mundo antigo
(continente oriental), possua muitas espcies de animais
domesticveis e todos os cereais propcios ao cultivo, exceto o
milho. J o continente ocidental, a Amrica, tinha, apenas, um
mamfero domesticvel, a lhama, o qual se encontrava apenas em uma
parcela do sul do continente. No Oeste (Amrica) quando do
descobrimento da Amrica pelos Europeus, existiam ao leste do rio
Mississipi, ndios ainda na fase inferior da barbrie. Eles
cultivavam milho, abbora, melo e outros cultivveis de horta, os
quais desempenhavam papel essencial na alimentao. Haviam aldeias
protegidas por paliadas, peas rolias de madeira fincadas
verticalmente no solo; as pessoas viviam em casas de madeira.
Apesar dessas constataes, as tribos que habitavam o Noroeste da
Amrica, em especial as que se situavam no vale do rio Colmbia,
encontravam-se, menos desenvolvidas ainda, na fase superior do
estgio selvagem e desconheciam a cermica e o cultivo de plantas.
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13. 13 No Novo Mxico, os ndios dos chamados "pueblos", os
mexicanos, os centro-americanos e os peruanos da poca da conquista
da Amrica, encontravam-se na fase mdia do estgio da barbrie.
Estabeleciam-se em casas de adobe ou pedra, formando fortificaes, e
cultivavam o milho e outros vegetais consumveis por eles (eram a
sua principal fonte de alimentao) e seus animais; nessas plantaes
eram utilizados sistemas de irrigao artificial. Os mexicanos
domesticaram, principalmente, o peru, alm de outras espcies de
aves; j os peruanos escolheram a lhama como animal domstico.
Sabiam, ainda, trabalhar os metais, a exceo do ferro, e, portanto
ainda utilizavam, na sua maioria, armas e instrumentos de pedra.
Com a invaso e conquista espanhola toda evoluo e desenvolvimento,
autnomo, posterior a essa fase, simplesmente desapareceu. No Leste
(Oriente), a fase mdia da barbrie que teve seu marco inicial com a
domesticao de animais que forneciam alimentos como leite e carne, o
cultivo de plantas manteve-se totalmente desconhecido por muito
tempo ainda. A domesticao de animais, a criao de gado e a formao de
grandes rebanhos parece ter sido a causa do afastamento dos arianos
e semitas dos demais povos brbaros. Assim, constatou-se algo
interessante: os nomes com que os arianos da Europa e os da sia
designam os animais ainda so comuns, mas os nomes com que designam
as plantas cultivadas so, na sua maioria diferenciados. A formao de
rebanhos conduziu, quando possvel, vida pastoril; foi o caso dos
semitas, nas pradarias do rio Tibre e do Eufrates, e dos arianos,
nos campos da ndia, Oxus, Jaxartes. bem provvel que a domesticao de
animais se deu primeiramente nessas terras ricas em pastos. Por
isso, parece s geraes pdfMachine - is a pdf writer that produces
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14. 14 posteriores que os povos pastores procediam de reas que
eram quase inabitveis para os seus antecessores selvagens.
perfeitamente plausvel que o cultivo dos cereais tenha surgido
nesses locais, inicialmente da necessidade de se produzir forragem
para os animais, e aps, talvez, at por necessidade, para a
alimentao das pessoas. A fase superior inicia-se com a manipulao e
fundio do minrio de ferro, principalmente para a construo de armas
e utenslios de proteo. A fase da civilizao marcada pela inveno da
escrita alfabtica, bem como pelo seu emprego para registros
literrios. No hemisfrio oriental existiu de maneira independente,
e, sem sombra de dvida, superou todas as anteriores juntas, no que
diz respeito aos progressos da produo. Nessa fase situam-se os
gregos, as tribos talas de pouco antes da origem de Roma, os
germanos de Tcito, e os normandos da poca dos vikings. poca essa em
que, pela primeira vez, utilizou-se o arado de ferro, pesado,
puxado por animais, o que tornou possvel plantar a terra em grande
escala (agricultura), aumentando a produo dos meios de subsistncia
como nunca havia se visto antes, possibilitando a existncia de
grandes excedentes que podiam ser trocados ou comercializados; a p
e o machado tambm desempenham papel importante na formao de
pastagens e terras cultivveis, na medida que facilitam a manipulao
dos recursos naturais. Tudo isso acarretou um rpido aumento da
populao, que se instala, de maneira densa, em pequenas reas,
possibilitando, pela primeira vez na histria, a formao de cidades e
aglomeraes mais freqentes. Antes do cultivo da terra pdfMachine -
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15. 15 somente circunstncias excepcionalssimas proporcionariam
uma reunio de quinhentos mil Homens, no havendo indcios, porm, que
tal fato tenha ocorrido. Na Ilada e em alguns outros poemas picos
atribudos a Homero, podemos encontrar uma poca de grandes avanos
(fase superior da barbrie). A principal herana trazida pelos gregos
da fase da barbrie e levadas para a fase da civilizao, e que no
podia deixar de ser mencionada, diz respeito aos instrumentos de
ferro e seus aperfeioamentos; os foles de forja, o moinho a mo, a
roda de olaria, o azeite e o vinho, o trabalho de metais
categorizados como arte, carretas e carros de guerra, a construo de
barcos com pranchas e vigas, os princpios de arquitetura como arte
(novas valoraes), as cidades cercadas de muros com torres e ameias,
as epopias homricas e de todo tipo de mito. Diante do exposto,
possvel resumir a classificao de Morgan da forma seguinte: Estado
Selvagem Perodo em que predomina a apropriao de produtos da
natureza, prontos para serem utilizados ou consumidos; as produes
artificiais do Homem so destinadas a facilitar essa apropriao
(questo de sobrevivncia). A propriedade, naturalmente, comunal.
Barbrie Perodo em que surge a criao de gado e a agricultura, e se
aprende a incrementar a produo da natureza por meio do trabalho
humano. A propriedade continua sendo comunal, mas j se tm indcios,
na fase superior, de propriedade privada subordinada comunal; e bem
prximo do final desse perodo surge a propriedade privada mvel
(principalmente de utenslios e animais) e os pdfMachine - is a pdf
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16. 16 primeiros traos de concentrao humana, no sentido urbano,
o que vai conduzir propriedade comunal urbana e a conseqente
separao entre campo e cidade. Civilizao Perodo em que o ser humano
apreende a escrita e, portanto, passa a documentar de maneira mais
ordenada seus progressos. o perodo de avanos da produo industrial e
da arte. Inicialmente a propriedade coletiva coexiste com a
propriedade privada e num segundo momento essa ltima, como um todo,
se instala, inclusive a imvel. O estudo nos fornece parmetros para
afirmarmos que com as desigualdades surge a necessidade de proteo,
o que nos remete ao Direito. Essas desigualdades surgem
primordialmente na capacidade de produo dos meios de subsistncia.
Parece que quanto mais desenvolvidos esses meios, mais desenvolvida
a sociedade ou o grupo. o que nos ensina Friedrich Engels3 ,
citando Morgan, in verbis: (...)'a habilidade nessa produo (dos
meios de subsistncia) desempenha um papel decisivo no grau de
superioridade e domnio do homem sobre a natureza: o homem , de
todos os seres, o nico que logrou um domnio quase absoluto da
produo de alimentos. Todas as grandes pocas de progresso da
humanidade coincidem, de modo mais ou menos direto, com as pocas em
que se ampliam as fontes de existncia'. Desse modo, a primeira, e
talvez a mais importante, distino que podemos fazer entre os seres
humanos reside nas suas capacidades presentes e 3 Friedrich Engels,
A Origem da Famlia..., p. 21 pdfMachine - is a pdf writer that
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17. 17 futuras de subsistncia, bem como a capacidade de produo
da vida material como um todo. Avancemos para a Histria. 1.2
Propriedade em Roma Sob os mais variados ngulos, e principalmente
do ponto de vista jurdico, o sentido de propriedade tal qual
herdamos, teve na antiguidade a sua fonte histrica. Tanto nas
sociedades gregas como nas itlicas, a religio, a famlia e a
propriedade estavam interligadas. A noo de propriedade to antiga
quanto o ser humano. H cinco mil anos, na Babilnia, j existiam leis
civis que faziam meno propriedade individual. O Cdigo de Hamurabi4
(sculo XX a.C.) um exemplo, e as cita nos pargrafos 25, 34, 39, 41,
54, 170, 172; h ampla utilizao, tambm, da palavra casa. Esse
conjunto de normas tratou, alm de propriedade, sobre diversos
outros assuntos como comrcio, famlia, sucesso, locao, trabalho,
crimes, penas (normalmente pena de morte) e estendeu-se pela
Assria, Judia e Grcia. Pelo que a histria nos informa a civilizao
romana nasceu no centro da pennsula itlica, por volta do sculo VIII
a.C. Nesse perodo o territrio estava ocupado por diversos povos,
dentre eles: Gauleses, Etruscos, Italiotas, Gregos, 4 Hamurabi
viveu entre 2003-1961 a. C.. O Cdigo foi elaborado em 1965 a. C.
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18. 18 dentre outros. A cidade de Roma, fundada pelos Latinos s
margens do rio Tibre h aproximadamente 1000 anos a.C., apresentou
na sua evoluo poltica trs perodos: Realeza 753 a 509 a. C.;
Repblica 509 a 27 a. C.; e Imprio 27 a 476. Aps esse perodo o
Imprio romano oriental toma vulto. Na sociedade romana havia duas
formas de propriedade coletiva5 : a da gens 6 ou cidade e a da
famlia. Apesar desse fato, o sentido individualista propriamente
dito de propriedade, surgiu efetivamente na era romana. No sistema
gentlico poderia ser apropriado apenas meio hectare de terra ou o
equivalente a 5.000 m2 , na cidade. A fortuna no saa de seu
interior e as mulheres estavam excludas da herana, j que imperava o
direito paterno. Num segundo momento, com o desaparecimento dessa
propriedade coletiva, sobrevm a propriedade da famlia. A autoridade
do pater famlias toma vulto e importncia na sociedade e de modo
absoluto passa a administrar os bens familiares. A propriedade
coletiva viu surgir, com o passar do tempo, a propriedade privada,
sendo que primeiramente coexistiram. Aps, a segunda ascendeu
fixando- se como forma de propriedade dominante, o que no se
verificou imediatamente. Assim, podemos relatar quatro etapas de
evoluo da propriedade privada. A primeira diz respeito apropriao de
objetos necessrios existncia de cada um; utenslios necessrios para
sobreviver e, portanto primordiais; A segunda caracterizada pela
propriedade individual sobre os bens de uso particular, os quais
podem e so motivos de escambo (utenslios no essenciais para a
sobrevivncia ou 5 H quem afirme que desde a origem de Roma a
propriedade sempre foi individual. Ver Caio Mrio da Silva Pereira,
Instituies de Direito Civil. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 11a ed.,
1992, p. 65. 6 O conjunto de 10 gens formava uma Cria, e o conjunto
de 10 Crias formava uma Tribo. pdfMachine - is a pdf writer that
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19. 19 se essenciais poderiam ser facilmente construdos ou
obtidos); A terceira j permite uma certa autonomia individual, pois
a apropriao se refere aos meios de trabalho e de produo (terra e
utenslios destinados a ela); A quarta evoluo permite sua explorao,
at certo ponto, de maneira absoluta, como nos moldes capitalistas.
A mudana ftica da propriedade coletiva para a propriedade
individual, nos povos da antigidade, relaciona-se com a evoluo das
relaes tidas como civis, bem como com o desaparecimento da
sociedade lastreada na gens e ainda com o surgimento de uma
sociedade poltica mais elaborada com base territorial, com tendncia
de privilegiar os indivduos. Na sociedade romana no se distinguiam
conceitos de direitos reais que o poder que se exerce sobre a
coisa, dos direitos pessoais que dizem respeito s condutas humanas.
Referida diferenciao ocorria apenas no plano processual, ou seja,
nas aes judiciais da poca, perante os conflitos de interesse postos
a serem analisados. A origem do termo ou palavra propriedade pode
ter advindo do latim pois proprietas, que deriva, por sua vez, de
proprius, designa algo que pertence a uma determinada pessoa. A
propriedade indicaria, ento, num significado bem amplo, toda relao
jurdica caracterizada por uma apropriao de um determinado bem
corpreo. Tambm pode ter se originado da palavra domare,
significando sujeitar ou dominar, correspondendo idia de domus, que
quer dizer casa, onde o senhor dessa casa, desse domus, chama
dominus. Portanto, podemos dizer que "domnio" pdfMachine - is a pdf
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20. 20 seria, ento, o poder, que algum, capaz e legitimado,
exerce sobre as coisas ou bens que lhe so ou estiverem sujeitas.
Vale ressaltar que na Itlia, largamente, de um extremo a outro,
desde o sculo I a.C. j se falava latim. Isso ocorreu devido a
profundas modificaes na estrutura poltico-social e econmica da
cidade de Roma, a qual tornou-se grande centro comercial devido a
incrementos e vultosos fluxos de capitais trazidos, principalmente,
do leste. Na fase antiga da era romana, utilizava-se a expresso
domnio. A expresso latina proprietas surgiu apenas na fase
romano-bizantina7 . A palavra dominium tinha, no direito romano, um
sentido mais restrito que "propriedade", indicando primeiramente
tudo que pertencia ao chefe da casa, mesmo que fosse apenas um
usufruto; e numa acepo mais ampla, abrangendo bens corpreos em
geral. Na poca admitia-se o domnio to somente sobre bens materiais.
Tambm as conhecidas expresses ius utendi, fruendi et abutendi no
foram mencionadas pelos antigos romanos. Distinguia, ainda, o
direito romano a posse do domnio. Enquanto a primeira era um poder
de fato, ligada ao possuidor, o domnio constitua um poder de
direito, legtimo, ligado ao proprietrio. Os romanos no definiram ou
conceituaram o direito de propriedade. Foram os juristas que, a
partir da Idade Mdia, lograram empreitada na extrao de 7 Essa fase
representou a diviso do poder imperial sem sacrifcio da identidade
do Estado, o que ocorreu no sculo IV (por volta de 395 d.C.), com a
Morte do Imperador Teodsio I. O Imprio foi dividido entre seus dois
filhos: Honrio que recebeu o Imprio Romano Ocidental que tinha como
capital a cidade de Milo; e Arcdio que recebeu o imprio Romano
Oriental (Bizantino) que tinha como capital a cidade de
Constantinopla, antiga Bizncio (da o nome bizantino), atual
Istambul. Essa diviso marca a fase medieval do Imprio Romano, na
qual h um declnio gradativo de Roma e uma ascenso de Constantinopla
que foi erigida a capital do Imprio. pdfMachine - is a pdf writer
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21. 21 conceito de diversos escritos, incompletos ou
fragmentados, alguns nem relativos a direitos reais, o que
dificultou sensivelmente esse trabalho. No curso da histria romana,
podemos notar quatro modalidades, ou situaes de propriedade: a
quiritria, a pretoriana, a provincial e a peregrina. Num primeiro
momento, no chamado, direito pr-clssico, surgiu somente a
propriedade quiritria. E, num segundo momento, no perodo clssico
(por volta de 150 a.C. a 284 d.C.), surgiram as demais modalidades
bonitria, provincial e peregrina. A propriedade quiritria era de
ordem estritamente nacional, ou seja, exercitada sobre solos
romanos ou itlicos e por proprietrios romanos, no estrangeiros.
Apenas os Quirites podiam ser titulares de propriedade. Adquiria-se
a propriedade pela mancipatio (imveis) e traditio (mveis), bem como
eram passveis de tutela atravs do rei vindicatio, todos modos de
aquisio do direito civil (ius civille). A mancipatio era uma
cerimnia de palavras e gestos solenes, com presena de testemunhas.
A propriedade pretoriana, ou bonitria (in bonis habere)
desenvolveu- se pela juris-prudncia do pretor, protegendo o
adquirente de uma coisa, no caso a res mancipi (terrenos itlicos,
servides rurais, cavalos, escravos, bois e animais domsticos,
excetuando camelos e elefantes) contra quem no a tinha transferido
mediante ato formal. Nasceu, portanto, da necessidade de proteger o
adquirente de uma situao no prevista, at que se consumasse a sua
correta aquisio, da propriedade, pelo usucapio ou ato formal
(mancipatio). pdfMachine - is a pdf writer that produces quality
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22. 22 O ius gentium (tradio e ocupao), surgiu da necessidade
de acalmar os nimos dos plebeus que desejavam ser proprietrios. Em
493 a.C. foram institudos os tribunos da plebe, espcie de
magistratura especial para defender interesses da plebe; e em 367
a.C. conquistaram o direito de ser proprietrios da terra. Era uma
lei comum a todos os homens, sem distinguir nacionalidade. Essa
legislao previa a escravido, propriedade privada e contratos e
transaes comerciais. Concomitantemente a essa turbulncia (para a
poca), em decorrncia das guerras e conquistas romanas, muitos
peregrinos submetidos ao imprio, relacionavam-se com os romanos
possibilitando a esses a aquisio de propriedades, consideradas
diferentemente das quiritrias. Assim, atravs do ius gentium duas
outras formas de propriedade surgiram: a provincial e a peregrina,
dependendo de quem fosse as partes adquirentes e de quem se est
adquirindo. A chamada propriedade provincial referia-se, ento, aos
imveis situados nas provncias, pertencentes ao povo (plebe) romano,
sobre os quais apenas se deferia a posse aos particulares, mediante
o pagamento de certa quantia. Era alienvel e se transmitia por
herana, bem como era tutelada pela ao real (rei vindicatio). A
propriedade peregrina tambm garantia, aos peregrinos, que no
possuam o ius commercii (direito de negociar), proteo (do Estado)
contra terceiros, possibilitando a defesa de seus bens. Alm do ius
civille, e do ius gentium, havia no direito romano o ius naturale;
segundo esse ltimo, por uma questo decorrente da natureza todos os
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23. 23 homens tinham certos direitos que as autoridades ou
governos no podiam recusar ou negar. Esse estgio do direito romano
foi precedido pela Lei das Doze Tbuas8 , que continha na Tbua VI
disposies acerca da propriedade e da posse. O acesso propriedade em
Roma restringiu-se por vrios sculos a cidados de determinada classe
social, consubstanciando num verdadeiro privilgio individual. Esse
direito apenas em 212 d. C. com a Constituio de Caracala, no perodo
justinianeu, estendeu-se a uma generalidade maior de cidados.
Justiniano foi um dos idealizadores responsveis que, no perodo ps-
clssico, mesmo aps a queda de Roma no ano 476, realizou a fuso da
legislao civil e publicou o denominado Corpus Jris Civilis, tido
como principal compilao do direito romano. Era formado por quatro
partes distintas: 1) O Cdigo (Codex), conjunto de leis imperiais
destinadas a substituir o Cdigo Teodosiano9 ; 2) O Digesto (Digesta
ou Pandectas) consistia em uma compilao muito extensa com extratos
de mais de mil e quinhentos livros escritos por juristas da fase
clssica romana. Quase um tero dessa compilao foi retirada das obras
de Gaio, Paulo, Ulpiano e Modestino; 8 A Lei das XII Tbuas foi o
primeiro documento legal escrito do Direito Romano e influenciou,
praticamente, todos os corpos jurdicos do ocidente, inclusive o
Cdigo Napolenico. Tinha como contedo: Tbuas I e II: Organizao e
procedimento judicial; Tbua III - Normas contra os inadimplentes;
Tbua IV - Ptrio poder; Tbua V - Sucesses e tutela; Tbua VI -
Propriedade; Tbua VII - Servides; Tbua VIII - Dos delitos; Tbua IX
- Direito pblico; Tbua X - Direito sagrado; Tbua XI e XII -
Complementares. 9 Compilao de textos jurdicos antigos realizada por
ordem de Teodosiano II e visava agrupar o texto na ntegra de todas
as constituies imperiais romanas. Publicado no ano 438, foi
dividido em 16 livros que foram datados, identificados na autoria e
interpretados. Foi revogado por Justiniano. pdfMachine - is a pdf
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24. 24 3) As instituies (Institutiones) composta por quatro
livros era um manual utilizado no ensino didtico do direito; e 4)
As novelas ou leis novas (Novellae) que era um compndio de
constituies do imprio romano da prpria poca de Justiniano. Foram
promulgadas aps o Codex e so em nmero de cento e setenta e sete. O
Corpus Jris Civilis pe fim diferena entre res mancipi e res nec
mancipi, concede cidadania romana a quase todos os habitantes do
Imprio, e institui cobrana generalizada de impostos dos imveis at
ento isentos, e unificou as diversas modalidades de propriedade,
considerando-as como domnio. Criou-se, ento, um mito, que tratava a
propriedade romana como algo absoluto, ilimitada. Muitas restries
foram impostas ao direito de propriedade. Incluam obrigaes de no
fazer, de absteno, como no erigir construes que liberassem fumaa ou
permitissem escorrer gua para o vizinho, at o dever de utilizar
terras no produtivas, sob pena de perda do direito de propriedade,
para o primeiro ocupante, que as cultivasse. J nessa poca,
constatamos, o sentido econmico e social da propriedade perseguido
como fator primordial de desenvolvimento. Na fase final do Imprio
Romano, o aumento desordenado e sem limites de latifndios e o
enfraquecimento da autoridade estatal possibilitou o surgimento de
alguns tipos de propriedade, de caractersticas quase feudais.
Pequenos camponeses renderam-se proteo de grandes proprietrios,
cedendo- lhes as prprias terras. pdfMachine - is a pdf writer that
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25. 25 Em linhas genricas podemos dizer que na histria
scio-econmica de Roma existiram vrios tipos de propriedades,
prevalecendo a concepo de instituto de natureza absoluta e
exclusiva, protegida pela mxima de que "no se causa dano no
exerccio de um direito". As invases brbaras provocaram profundas
modificaes no sistema de propriedade romano. Os germnicos no
concebiam a propriedade da mesma forma que os romanos; eles as
tinham como relao de uso, que se exprimia pelo termo gewere,
equivalente em latim, a vestitura, ou investidura, ou alguma coisa
prxima a um direito de usufruto. Possvel, para eles, ento, o
fracionamento da propriedade em tantas unidades quantas as relaes
de uso existentes ou fossem possveis. Essa nova doutrina com
caractersticas feudais, tida como de vrios e concomitantes domnios,
foi aceita e aplicada sob os conceitos de domnio til e domnio
direto, incorporando e adaptando-se cultura brbara. 1.3 Feudalismo
e Mercantilismo O sistema feudal instalado, politicamente, aps a
queda de Roma, no ano de 476, teve como precedente imediato:
invases brbaras, aumento de impostos, explorao desmedida de
escravos e colonos e a debilitao do comrcio, culminando com a sada
das populaes das cidades em direo ao campo, o que pdfMachine - is a
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26. 26 mudou a organizao social at ento vigente. A rea rural
passou a ser o ponto de partida. Desde j importante frisar que
trataremos, especificamente, do sistema feudal na Europa e mais
especificamente na Inglaterra e na Frana. Afinal foi,
primordialmente, do continente europeu que herdamos a base de nossa
cultura e por conseqncia dos diversos modos de produo da vida
social. Assim, no trataremos desse sistema na sia. Esse sistema
nasceu da miscigenao da cultura romana e brbara. Dentre as
estruturas que contriburam para essa formao destacamos: Romanas: 1)
vilas romanas grandes latifndios de economia agrria
auto-suficiente; 2) Colonato sistema de trabalho semi-livre, onde o
trabalhador preso terra; 3) poder poltico descentralizado
enfraquecimento do poder central e fortalecimento do poder do nobre
proprietrio de terra. Brbaras: 1) poder descentralizado e comitatus
no havia hierarquia entre as diversas tribos, mas apenas relaes
entre o chefe militar e seus soldados ou guerreiros; 2) direito
consuetudinrio direito baseado nos costumes, no escrito. O
feudalismo foi baseado na agricultura e, portanto o poder econmico
e poltico estavam nas mos dos proprietrios de terras, embora
existisse um rei. Entretanto, os pequenos proprietrios
impossibilitados de sobreviver por no terem como trabalhar a terra
ou porque no podiam se defender das invases brbaras que
continuavam, cediam suas terras em troca de proteo aos proprietrios
maiores e mais poderosos. Estabeleceu-se assim o benefcio, que a
partir do sculo XI pdfMachine - is a pdf writer that produces
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27. 27 passou a se chamar feudo. Esses pequenos proprietrios
que doavam a totalidade de suas terras eram chamados de viles. Com
o passar das geraes a propriedade se perpetuou, sendo transmitida
apenas na linha masculina. Havia distino entre feudos de nobres e
plebe, sendo que esses mais humildes contribuam onerosamente para
os feudos de propriedade dos nobres, quando no eram despojados de
suas terras. Como a terra era praticamente a nica fonte de
sobrevivncia e riqueza - e conservada como bem "fora do comrcio" -
seu controle por nobres e membros da alta hierarquia da Igreja
garantia-lhes um imenso domnio poltico, jurdico e ideolgico sobre a
populao. A sociedade feudal ou por estamentos estruturava-se em trs
pilares sociais bsicos: Nobreza (lutavam), Clero (rezavam) e Servos
(trabalhavam) e era caracterizada pela existncia de relaes servis
de produo. Essas relaes consistiam em obrigaes impostas ao servo ou
ao vilo, coercitivamente, para que fornecesse ao senhor feudal um
excedente econmico. Os senhores feudais eram, em ordem crescente,
os cavaleiros, os bares, os duques, condes, marqueses (esses trs
ltimos no mesmo grau), e acima de todos o rei. Entre esses senhores
feudais havia apenas a relao de vassalagem entre suserano e
vassalo. Essa relao obrigava o suserano a cumprir deveres de
hospedagem, servio militar, comparecimento ao tribunal dos iguais e
contribuio para o dote e armao dos sucessores do vassalo. Esse, por
seu lado, garantia ao seu suserano, principalmente, a posse de suas
terras, fonte de riqueza e poder, pdfMachine - is a pdf writer that
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28. 28 inclusive por proteo militar se necessrio fosse. Os
senhores detinham o poder dentro de seus feudos; detinham poder
militar, poltico e econmico, bem como, faziam suas prprias justias
atravs do direito consuetudinrio, alm de cobrarem impostos, taxas e
cunhavam suas prprias moedas. As terras do senhor feudal, o feudo,
eram divididas basicamente em quatro grupos: Manso senhorial:
terras e posses do senhor feudal; Manso servil: em terras
utilizadas pelos servos para sustentarem suas famlias; Manso de
Reserva: pastagens e pradarias utilizadas tanto pelo senhor feudal
quanto pelos servos; e Burgo: originalmente, era a fortificao do
senhor feudal, seu castelo. Burgueses, inicialmente, era a
denominao genrica dos habitantes dos burgos; entretanto tambm se
passaram a chamar burgo as pequenas cidades que surgiam nos
cruzamentos de rotas comerciais, ou ao longo delas, muitas,
inclusive, fortificadas. Na medida que essas cidades cresciam
aglomeravam toda sorte de pessoas livres, isto , que no estavam
mais submetidas s glebas dos senhores feudais. Dentre os servos
existiam os da gleba e os moradores. Os primeiros eram
trabalhadores presos terra submetidos inteiramente autoridade do
senhor. J os moradores eram trabalhadores despossudos, no tinham
terra para cultivar, viviam nas choupanas e na maioria das vezes
trabalhavam para os viles. pdfMachine - is a pdf writer that
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29. 29 Dentre as obrigaes dos servos e viles podemos destacar a
corvia, a talha, prestaes, banalidades, censo e capitao. A corvia
era o trabalho gratuito desenvolvido pelo servo para o senhor
feudal em suas terras por dias ou semanas. A talha era um tributo
cobrado pelo senhor feudal do servo que recaa sobre sua produo. As
prestaes eram servios que os servos tinham obrigao de prestar ao
senhor feudal, tal como hosped-lo nas suas viagens pelo feudo. As
banalidades, por sua vez, eram obrigaes decorrentes do uso das
instalaes do senhor feudal, como prensa, moinho, fornos e outras
estruturas. Os servos tinham o dever de, aps o uso desses
instrumentos, entregar ao senhor feudal parte daquilo que
produzissem (vinho, farinha, po etc). J o censo era o pagamento
anual em dinheiro que o servo deveria efetuar ao senhor feudal;
alguns senhores permitiam que esse pagamento fosse substitudo por
produtos, dependendo da necessidade e interesse. Por fim, a capitao
consistia em um imposto pessoalmente devido pelos servos da gleba.
Essa estrutura hierrquica, extremamente, descentralizada, como
podemos observar, permitia ao feudo produzir, tambm
descentralizadamente, quase tudo do que necessitava consumir,
permitindo pouqussimas trocas comerciais, entre os diversos feudos,
enfatizando o comrcio interno. O objetivo era basicamente a
subsistncia e no a produo de excedentes para acumulao, mesmo porque
a grande maioria dos produtos eram perecveis e as tecnologias de
produo e armazenamento ainda rudimentares no permitiam grandes
sobras e tampouco estocagem. Essa agricultura de subsistncia no
incentivava grandes inovaes. At ento o sistema de cultivo no possua
uma eficincia tecnolgica que permitisse o melhor aproveitamento da
terra, tanto em termos quantitativos como pdfMachine - is a pdf
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30. 30 qualitativos. A terra era explorada ao mximo at seu
total esgotamento. Com a implementao do sistema de rodzio de trs
campos (a terra arvel passou a ser dividida em trs reas de igual
extenso) nas quais se cultivavam trs culturas diferentes (centeio
ou trigo na primeira, aveia no segundo, e feijo ou ervilha na
terceira essa disposio podia variar conforme as necessidades). A
cada ano se cultivava uma cultura diferente, em duas das reas,
deixando uma rea sempre em repouso. O aumento da produtividade e da
qualidade, que chegou a 50%, possibilitou mais alimentos de
forragens utilizados na alimentao dos cavalos que aos poucos
substituram os bois como fora motriz de transporte e de produo. A
partir do sculo X a Europa experimenta um aumento da populao,
explicada em parte pelo aumento da produo agrcola, dos meios de
subsistncia, e pela cessao de ataques e invases de hngaros,
normandos e sarracenos (alm de outros motivos). A populao Europia
duplicou entre os anos 1000 e 130010 . Nesse mesmo perodo
apareceram mercadores que percorriam os feudos tentando vender todo
tipo de produto. Um novo estgio se inicia, o comercial. Os Burgos,
onde residiam os burgueses, foram os responsveis pelo surgimento
das cidades. O aumento da populao causou uma diviso extrema das
terras e uma explorao cada vez maior com produo cada vez mais
escassa. No sculo XIII e meados do XIV a Europa atingida pela
Grande Fome e pela Peste Negra (1347) que dizima grande parte dos
servos trabalhadores, gerando uma superexplorao dos servos
sobreviventes conduzindo-os s cidades (vida urbana) e 10 Harry A.
Miskimin, The Economy of Early Renaissance Europe, 1300 1460
(Englewood Cliffs, N. J.: Prentice Hall, 1969), p. 20, apud , E. K.
Hunt; Howard J. Sherman, Histria do Pensamento Econmico, 1994, p.
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31. 31 conseqentemente fabricao e comrcio de produtos no
agrcolas intensificando as relaes comerciais. Concomitantemente a
isso, com o abandono do campo e o estabelecimento dos mercadores
prximos aos castelos, um burgo exterior (espcie de subrbio) comea a
se formar. Nesses novos povoamentos o comrcio provoca o
desenvolvimento de atividades artesanais e logo o centro comercial
deslocado para esses povoamentos. Os senhores feudais ainda
tentaram manter seus servos e evitar revoltas efetuando pagamentos
em dinheiro e arrendando terras dos colonos, o que serviu de
paliativo, pois a longo prazo, aps juntar certa economia, partiam
para os centros comerciais em busca de melhores condies de vida.
Nesses centros comerciais as oficinas medievais davam-lhe guarida.
Uma oficina medieval possua trs categorias de trabalhadores:
Mestres, Oficiais e Aprendizes. Os mestres eram os donos das
oficinas, dos instrumentos, da matria-prima, bem como dos produtos
e dos lucros obtidos. Os oficiais eram os trabalhadores
assalariados, conhecidos tambm por jornaleiros. Os aprendizes no
recebiam pagamentos pelo trabalho desenvolvido e quando aprendiam o
ofcio eram promovidos a oficiais11 . Notadamente, nessa seqncia de
acontecimentos o comrcio se intensificou e com ele uso de moeda. As
Cruzadas 12 , movimento pregado pela Igreja Catlica com fins
religiosos, polticos e, sem sombra de dvida, econmicos, tambm
contriburam 11 Na idade mdia os artesos necessitavam fazer parte de
um grmio e pagavam uma taxa por isso. Os aprendizes, normalmente,
demoravam sete anos para serem promovidos e s conseguiam aps
demonstrar ao mestre a habilidade adquirida. 12 Houve um total de
oito cruzadas no perodo entre 1095 e 1270 d.C. pdfMachine - is a
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32. 32 para a expanso do comrcio, pois reabriram, ainda que
parcialmente, rotas comerciais do mar mediterrneo que estavam sob
domnio dos muulmanos. As cidades italianas de Gnova, Npoles,
Veneza, Bari, Amlfi, dentre outras passaram a desenvolver-se,
monopolizando o comrcio dos produtos orientais. Foi a partir do
sculo XIV que o sistema feudal, em franca decadncia, sofreu seus
maiores impactos. Com o desenvolvimento do comrcio e com o
surgimento dos mercadores e artesos nos sculos anteriores,
iniciou-se um processo de centralizao do poder no rei que, alm de
ser, via de regra, o senhor feudal mais poderoso, se aliou aos
comerciantes. Estava traado, ento, o surgimento das monarquias
nacionais. O sistema feudal abalado nas suas estruturas econmicas,
sociais, polticas, religiosas13 e culturais, parecia no resistir
por muito tempo. O Renascimento Cultural influenciado pelo
Renascimento Comercial fez surgir uma cultura antropocntrica e
humanista em contraposio aos ensinamentos religiosos da Igreja. O
individualismo passa a ser perquirido e o coletivismo esquecido,
afetando as bases culturais da propriedade, abrindo caminho
propriedade individual. Mas o chamado absolutismo que significava
basicamente, a centralizao do poder poltico no rei, ainda dependia
de alguns fatores importantes. Apesar do dinheiro estar garantido
atravs do apoio dos comerciantes burgueses, alguns elementos ainda
deviam ser enfrentados. O primeiro consistia em duas 13 Nessa poca
surgem as universidades, centros de estudos criados pelos
mercadores. At ento todo ensinamento era ministrado pela Igreja.
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33. 33 grandes resistncias: os outros senhores feudais e a
Igreja. E o segundo, embora decorrente do sucesso do primeiro era
viabilizar uma unidade, ou seja, criar uma nao com cultura prpria
(lngua, religio, costumes etc), que deveria ter um territrio a ser
protegido (esse era o objetivo comum de todos). Claramente, esse
processo se perpetuou e as regies mais avanadas nesse implemento
passaram a ser conhecidas como Espanha, Portugal e Inglaterra. Alm
dos fatores genricos que impulsionaram o surgimento do absolutismo
podemos citar alguns fatores localizados e determinados
importantssimos, como a Guerra da Reconquista, que perdurou por
quase quatro sculos (Sculo XII ao XV) e teve como desfecho a
expulso dos rabes pelos cristos, unindo os reinos de Castela,
Arago, Navarra e Leo que deram origem monarquia Espanhola. Outro
acontecimento importante foi a Guerra dos Cem Anos, de 1337 a
145314 , envolvendo Inglaterra e Frana. Essa guerra alm de
enfraquecer a nobreza feudal fortaleceu o poder real na Frana, pois
muitos domnios ingleses, em territrio francs, foram reconquistados.
A Guerra das Duas Rosas, no perodo compreendido entre 1453 e 1485,
foi outro fato marcante, ocorrido na Inglaterra entre duas
dinastias, a dos York e a dos Lancaster. Ao final, Henrique Tudor,
descendente da dinastia Lancaster, a qual, por ironia, representava
a nobreza feudal, aps vencer a guerra, uniu as duas dinastias
abrindo caminho ao absolutismo ingls. Assim formaram-se trs reinos
importantssimos que aps a decadncia do sistema feudal, empreenderam
foras produtivas voltadas ao artesanato e 14 Ano em que se deu a
queda de Constantinopla e conseqentemente o fim do imprio romano do
oriente. Esse ano o marco da historiografia do fim da idade mdia e
o incio da idade moderna. pdfMachine - is a pdf writer that
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34. 34 manufaturas, incompatveis com o sistema feudal, as quais
desempenharam papel essencial para o surgimento do capitalismo.
Outras duas contribuies excepcionais dos sistemas absolutistas foi
a centralizao do direito, bem como a retomada do direito escrito,
desaparecendo o direito consuetudinrio e a criao de uma moeda
nacional. A principal poltica econmica das Monarquias Nacionais
ficou conhecida como Mercantilismo e tinha como principal objetivo
fortalecer o Estado para fazer frente corrida pelo domnio do
comrcio mundial predominantemente martimo. Ressalta-se que as
viagens martimas de longa distncia tornaram-se viveis a partir do
desenvolvimento do telescpio e da bssola, no sculo XVI. As incurses
ndia, frica e Amrica at ento era de difcil consecuo, seno
impossvel. O Estado necessitava de exrcitos e marinha tanto para
fomentar e manter a produo de manufaturas e o comrcio delas, como
para defender as colnias, fruto da prpria expanso naval, fechando o
crculo. Claramente a burguesia desempenhava papel fundamental, j
que era quem produzia e tambm pagava os impostos pelo Estado. A
soberania de um estado depende essencialmente das fontes de
dinheiro e de fora militar para fazer valer suas imposies, tanto
internamente como externamente. O mercantilismo caracterizava-se,
genericamente, pela utilizao de metais preciosos, ouro e prata,
principalmente, como fonte de riqueza e pdfMachine - is a pdf
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35. 35 desenvolvimento. O Estado era intervencionista,
regulamentava a produo incentivando-a, protegendo, desvalorizando a
moeda, e impondo tarifas alfandegrias. Procurava manter a balana
comercial favorvel, tambm, buscando novos mercados mais baratos. A
formao de monoplios, que pertenciam ao Estado, era condio essencial
para o desenvolvimento do comrcio e das manufaturas, alm arrecadar
valores pela concesso que fazia aos burgueses. O protecionismo,
como j dito, tambm era arma importante. Atravs dele proibia-se a
exportao de matrias-primas e a importao de produtos manufaturados.
A explorao das colnias tambm exerceu forte peso na economia
mercantilista, no s como fonte de matrias-primas j conhecidas e
desconhecidas (desenvolvimento de novas manufaturas a artesanato),
mas tambm como fonte de metais preciosos que possibilitavam o
fortalecimento do Estado, bem como auxiliava na balana comercial e
na importao de matrias-primas necessrias produo de forma
complementar. A partir desse estgio, Inglaterra, Frana, Espanha,
Portugal, Holanda e outros pases se desenvolveram diferentemente. A
Espanha no investia nem incentivava o desenvolvimento da produo e
comrcio de manufaturas, e buscava explorar as colnias, extraindo
metais preciosos e utilizando-os para importar produtos
manufaturados. O equilbrio de sua balana comercial era extremamente
dependente das colnias. Em 1588 a Espanha ataca a Inglaterra que
vinha monopolizando o mercado comercial em diversos pases. A
incrvel Armada de Felipe II derrotada e a Espanha perde o monoplio
martimo. A mesma situao, com pequenas variaes, pode ser aplicada a
Portugal. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF
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36. 36 A Holanda era um importante produtor de manufaturas,
embora o poder central fosse fraco. A partir de 1615 conquistou, da
Espanha, regies importantes na produo de especiarias, na sia.
Ocupou colnias na Amrica, principalmente nas Antilhas, passando a
plantar e produzir cana-de-acar. O comrcio Holands era monopolizado
por duas companhias: a Companhia das ndias Orientais (comrcio com o
Oriente) e Ocidentais (comrcio com as Amricas) que eram
praticamente autnomas e independentes do Estado. Os pases baixos, a
partir do sculo XVII, tiveram a acumulao primitiva de capital
intensificada. J a Frana, pas onde a monarquia absoluta era mais
slida, era essencialmente agrcola, apesar de possuir a maior
populao na poca. A partir do sculo XVI procurou e conseguiu
desenvolver uma marinha forte necessria ao comrcio de suas
manufaturas que se desenvolveram (tecido, linho, seda, porcelana
etc). O principal problema francs era a concorrncia acirrada entre
Holanda e Inglaterra. Apesar da concorrncia foi a Inglaterra que
obteve maior sucesso em sua empreitada. Sua poltica econmica (do
Estado) era uma poltica intermediria, ou seja, no era to
intervencionista como a francesa e nem to fraca quanto a holandesa.
A poltica inglesa foi certeira ao privilegiar o desenvolvimento da
produtividade de manufaturas, principalmente a de tecidos,
proibindo a importao de l e aumentando os impostos da aduana,
impedindo, ento, que os tecidos franceses e holandeses pudessem
concorrer com o nacional. A par dessas medidas, os Atos de Navegao
(1651 1660) que consistiram na exclusividade de transporte
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37. 37 de produtos ingleses pela marinha mercante inglesa, e a
colnia na Amrica, garantiram a supremacia e o monoplio ingls no
mercantilismo. Como pudemos observar, o mercantilismo foi
desenvolvido de maneira peculiar por cada Estado, em conformidade
ao grau de desenvolvimento da poltica econmica e militar de cada
um, o que possibilitou Inglaterra saltar na frente e realizar a
Revoluo industrial bem antes que qualquer outro concorrente. 1.4
Revoluo Industrial A revoluo industrial representou a mais radical
transformao da vida humana registrada em documentos escritos. No
obstante, suas origens remontam o sculo XVI e qui os anteriores, j
que o primeiro instrumento, produtivo, de apropriao foi a terra,
fonte de excedentes, apropriveis, tanto pelo rei como pelo
proprietrio produtor. Mas ela por si s no foi o bastante para
desencadear as transformaes necessrias. Assim, o alicerce histrico
do capitalismo foi construdo inicialmente com o acmulo de riquezas
na chamada idade mdia15 , tendo como principais: 15 John Atkison
Hobson, A Evoluo do Capitalismo Moderno: Um estudo da produo
mecanizada, 1983, p. 07. pdfMachine - is a pdf writer that produces
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38. 38 1 O tesouro papal de Roma, formado atravs das
contribuies dos fiis, o qual foi, espantosamente, aumentado durante
o perodo das cruzadas, no total de oito como j citado. 2 os bens
(terras, tesouros, escravo, manufaturas, etc) conquistados pelas
ordens dos cavaleiros, principalmente a dos Templrios16 que havia
estendido suas conquistas pela Grcia, Portugal, da Siclia Esccia e
por todo o mundo conhecido. 3 Os tesouros reais de Inglaterra e
Frana, bem como as riquezas dos postos mais elevados da nobreza
feudal. 4 Os fundos pblicos de centros comerciais importantes,
cidades como Veneza, Milo e Npoles, inicialmente, e aps, Bolonha e
Florena na Itlia, Paris, Londres, Barcelona, Sevilha, Lisboa,
Bugres, Anturpia (antiga Gante), Nurembergue e Colnia. Assim, alm
do mercantilismo e da pilhagem temos tambm como forma de acumulao
primitiva de capital, alm de outras em menor escala, o trfico de
escravos, a pirataria, as apropriaes de terras depois vendidas como
mercadorias gerando lucro. Mas o acmulo de riquezas, tambm, por si
s, no seria como no foi suficiente. A monetarizao essencial para
que o capital possa circular e 16 Inicialmente eram 9 cavaleiros,
ligados por lao consangneo ou por casamento que se estabeleceram no
Templo de Salomo (da o nome templrio), na chamada Terra Santa, no
Imprio do Ocidente. A ordem foi extinta por volta do final do sculo
XII e incio do XIII, aps perder uma batalha para Saladino (general
mulumano) que conquistou Jerusalm. pdfMachine - is a pdf writer
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39. 39 transformar-se em lucro, o que demanda mercado,
quantidade em escala, bens de capital, mo de obra abundante de
pessoas destitudas de posse e meios de subsistncia e uma estrutura
direcionada ao implemento industrial. A Inglaterra preencheu todos
requisitos, a comear pela sua geografia e tamanho facilitando o
transporte seja por terra ou pelo mar, j que 112 Km era a maior
distncia a ser percorrida para efetuar a comercializao dos produtos
produzidos, dentro do pas. A guerra dos cem anos, iniciada no sculo
XIV e finda no sculo XV (1337 1453), no fez, aps a vitria da Frana,
apenas fortalecer o poder do rei naquele pas. Esse embate com a
Inglaterra teve como cerne da disputa o controle da regio de
Flandres, representativo centro comercial e manufatureiro 17 ,
principalmente de l. Com a derrota, a Inglaterra no teve
alternativa a no ser incentivar o pastoreio, produo e comercializao
da l em seu prprio territrio, para fazer frente demanda Flamenga
pelo produto. Uma poro desse incentivo deu origem formao dos
enclosures 18 , que consistia, basicamente, no cercamento de
grandes reas de terras comunais, de origem feudal e no cultivadas,
e a conseqente transformao em extensas reas privadas de criao de
gado (principalmente l), com novos proprietrios sua frente, o que
expropriou muitos pequenos lavradores e proprietrios, que
destitudos dos meios de subsistncia eram 17 Genericamente, todo
artesanato uma manufatura, mas nem toda manufatura um artesanato. O
arteso era profundo conhecedor de todas as fases de fabricao e
desempenhava sua funo at o produto estar acabado. No havia diviso
de trabalho. J a manufatura, em sentido estrito, era caracterizada
por uma diviso de trabalho, e quem manipulava o produto no
necessitava conhecer todas as fases de fabricao seno apenas aquela
que lhe competia. 18 Perduraram at quase o final do sculo XIX,
tendo seu auge entre 1760 e 1850. Milhes de camponeses foram
expulsos, gerando mo de obra ao novo sistema que surgia, o
capitalista. pdfMachine - is a pdf writer that produces quality PDF
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40. 40 livres para se assalariar, at mesmo no campo. Muitas
dessas terras eram possesses da Igreja Catlica que foram usurpadas
durante a Revoluo Puritana19 (guerra civil que se estendeu at 1645)
de Oliver Cromwell que extinguiu o catolicismo como religio oficial
e criou o Anglicanismo, subordinado ao poder real. Essa tomada de
terras tambm teve como conseqncia a destituio de camponeses que se
assalariaram, bem como, gerou impostos ao Estado. Cromwell, que
governou como ditador militar at sua morte em 1658, ainda instituiu
os Atos de Navegao. Os pedgios foram extintos e o comrcio nacional
unificado. Mas nem tudo se desenrolava bem. Com os cercamentos dos
campos uma onda de desemprego se espalhou pela Inglaterra e a
populao no podia mais contar com o auxlio da igreja que estava
destituda poltica e economicamente de suas funes20 . Em uma
declarao do Parlamento aristocrtico Francs ao refutar, em 1776, os
editos do rei que pretendiam abolir as corporaes de ofcios e a
corvia real e instituir imposto territorial a ser cobrado de todos
os proprietrios, encontramos a diviso poltica e funes bsicas das
trs camadas sociais consideradas na poca21 : (...) O servio
individual do clero desempenhar todas as funes relativas instruo,
ao culto religioso e ajudar a aliviar o sofrimento dos infelizes
por meio de esmolas. O nobre dedica seu sangue defesa do Estado e
assiste com seus conselhos ao soberano. A ltima classe da nao, que
no 19 Reforma Puritana foi o nome, ingls, dado s idias difundidas
por Genebra Joo Calvino (1509 1564), conhecida por propagar a
Reforma Calvinista. 20 A separao da Igreja da poltica e economia se
iniciou com Henrique VIII que se declarou chefe da Igreja Anglicana
em 1534. 21 Jean Tulard, Histria da Revoluo Francesa, 1990 (edio
com apoio do Ministrio da Cultura da Frana), p. 28-29. pdfMachine -
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41. 41 pode prestar ao Estado servios to elevados, cumpre seu
dever para com ele atravs dos tributos, da indstria e dos trabalhos
braais (grifamos). O Estado ento assume a responsabilidade pela
preservao do bem estar geral da populao. Outro acontecimento que
contribuiu para que a Inglaterra fosse a pioneira na Revoluo
Industrial foi a Revoluo Gloriosa que tratou da reforma poltica,
enquanto Cromwell protagonizou reformas ligadas aos obstculos
econmicos. Nessa Revoluo poltica, que em verdade consistiu em um
golpe de Estado, Guilherme de Orange, prncipe da Holanda, com o
apoio dos revolucionrios burgueses e grandes proprietrios, toma o
poder de Jaime II. Logicamente a classe popular no participou
(nessa poca no existia classe mdia; eram extremos opostos). Nesse
processo de tomada de poder as terras da coroa e as da igreja foram
confiscadas, apropriadas, o que garantiu mo de obra farta, j que
muitos dos que trabalhavam nessas terras foram expulsos, no tendo
alternativa seno se oferecerem como trabalhadores nas oficinas de
arteses e nas indstrias. Os aliados, latifundirios e burguesia,
promoveram uma reforma legislativa privilegiando os novos meios de
subsistncia, baseado no comrcio sem fronteiras e na agricultura e
pecuria direcionadas ao fornecimento de matrias- primas s indstrias
que estavam emergindo. pdfMachine - is a pdf writer that produces
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42. 42 Ao final dessa revoluo, em 1689, Guilherme, em troca de
sua subida ao poder aceitou, dos revolucionrios, o que se chamou de
Declarao dos Direitos Sociais de 1689 (Bill of Rights), bem como
uma limitao de seus poderes polticos como rei. Assim, o Parlamento,
controlado pela burguesia e pelos latifundirios, passou a ditar as
regras. Assim, os Lordes, primeiros espirituais e temporais e os
membros da Cmara dos Comuns declararam um conjunto de direitos e
liberdades incontestveis. Vejamos alguns22 : Ser ilegal autoridade
real suspender ou dispensar leis ou seu cumprimento. Ser ilegal
qualquer cobrana de impostos, para a Coroa, considerando ainda poca
e modo de faz-la, sem a anuncia ou designao do Parlamento. Ser
inexigvel fianas ou impostos excessivos, e penas demasiadas
deveras. Ser possvel aos sditos peticionar ao Rei, e ilegais prises
e vexaes decorrentes deste direito. Ser ilegal constituir ou manter
dentro do pas um exrcito em tempo de paz, sem a autorizao do
Parlamento. 22 Retirado do site
http://www.dhnet.org.br/DIREITOS/anthist/decbill.htm. O texto na
lngua inglesa da Declarao dos Direitos Sociais de 1689 pode ser
encontrado no site http://www.duhaime.org/Law_museum/uk-billr.htm,
acesso (ambos) em novembro de2003. pdfMachine - is a pdf writer
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43. 43 Ser possvel aos sditos protestantes ter armas, desde que
permitidas por lei, para exercerem sua defesa. Devem ser livres as
eleies dos membros do Parlamento e os discursos pronunciados nos
debates s podem ser examinados pelo prprio Parlamento. Que os
Jurados eleitos que decidem sobre a sorte das pessoas em questes de
alta traio devero ser livres proprietrios de terras. Implantou-se a
liberdade de imprensa, a livre iniciativa econmica e reiterou-se os
direitos individuais23 , alm de consolidar a supremacia do
Parlamento e instituir a monarquia constitucional na Inglaterra.
Desse modo, estabelecem-se as condies necessrias ao desenvolvimento
da Revoluo Industrial e do Capitalismo, sendo que a posteriori
essas bases se consolidam, perfazendo o que os historiadores
passaram a chamar de primeira revoluo industrial. A expanso do
sistema capitalista dependia (necessitava) da eliminao dos costumes
e tradies feudais o que implicava, obviamente, eliminao da
auto-suficincia econmica do sistema, o que foi muito bem trabalhado
pelo Estado Ingls. 23 A Revoluo Gloriosa foi o processo de
coroamento poltico de uma disputa desde 1215 que passou pela "Magna
Charta Libertatum", pelo "Petition of Right", de 7 de junho de
1628, pelo "Habeas Corpus Amendement Act", de 1679. Todos esses
documentos tinham em comum privilegiar direitos individuais e
restringir o poder do rei. Desses documentos esboaram-se o que
conhecemos, atualmente, por Hbeas Corpus, Devido Processo Lega,l
Princpio da Legalidade e da Anterioridade dos tributos. pdfMachine
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44. 44 importante frisar que bem antes do sculo XVII havia
comrcio, havia arteses, trabalho assalariado, cidades e muitas
outras relaes de dependncia econmica e financeira. Porm essas
relaes embora de natureza capitalista eram incipientes, no
representativas seno de um pr-capitalismo, uma pr-revoluo. A
negociao de valores se iniciou na Grcia antiga24 , sendo que a
primeira bolsa de valores que se tem notcia, mais prxima dos padres
atuais foi fundada em Bugres na Blgica no sculo XIII. Nesse mesmo
sculo havia uma indstria com caractersticas capitalistas em
Flandres. No sculo seguinte constatou-se o surgimento de mais uma
indstria txtil em Flandres. No entanto, ambas no se sustentaram
devido ao regime social vigente poca. Em 1341, tambm, na cidade de
Bolonha, foi possvel constatar referncias de uma organizao que
produzia fios de tecido (fiao) utilizando energia hidrulica. Fora
da indstria txtil, h referncia de uma grande empresa grfica na
cidade de Nurembergue, por volta do final do sculo XV, a qual
detinha 24 impressoras e mais de cem empregados. Estando as bases
econmicas e polticas favorveis ao novo meio de produo da vida
material a Inglaterra avana deixando para trs suas formas pr-
capitalistas. Com uma dinmica concorrencial continuam as apropriaes
de terras, as chamadas enclosures atingindo o auge entre 1760 e
1850, quando ento cerca de 4.000 decretos so emitidos. Foi a partir
do sculo XVIII (1700), que a Inglaterra iniciou um crescimento em
escala. J em 1698 foi fundada a Bolsa de Fundos Pblicos de 24 A
Grcia Antiga abrange tradicionalmente compreende o perodo desde os
primeiros jogos olmpicos em 776 a. C. at morte de Alexandre em 323
a.C. Alguns historiadores estendem seu incio at 1000 a.C..
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45. 45 Londres. A grande inovao que contribuiu para esse
desenvolvimento foi a Mquina a Vapor25 . Inicialmente essas
maravilhas mecnicas de ferro foram utilizadas nas minas de carvo26
e minrio de ferro, que cada vez mais profundas necessitavam bombear
gua. Em 1769 a inveno, a vapor, foi aperfeioada e produzida em
escala por Boulton, que financiava o projeto, e por Watt27 que
havia projetado uma mquina que convertia o movimento de um pisto
retilneo em fora rotativa. Essa nova inveno aperfeioada substitua a
energia hidrulica que se limitava a locais onde havia gua e de
forma suficiente para gerar energia. Essa libertao possibilitou a
explorao da produo em escala nunca vista. Nesse ano, 1769, havia na
Inglaterra mais de cem caldeiras a vapor, sendo que 57 delas
operavam plenamente. Vagarosamente elas foram sendo substitudas
pelas mquinas de Watt. Inicialmente operavam com carvo vegetal e no
final do sculo XVIII passou a utilizar carvo mineral dando impulso
minerao. Por sua vez, o aperfeioamento na utilizao do carvo mineral
possibilitou novas invenes e processos como a laminao, tornos
mecnicos, martelo a vapor e alto-forno. Ressalta-se que at ento o
ferro era utilizado na produo de bens de consumo e no em bens de
capital. Em 1720 o consumo desse produto girava em 25 Um matemtico
e fsico que viveu no Egito, em Alexandria, chamado Hero descreveu,
em 120 a.C., a primeira mquina a vapor, que, parece, no teve
utilidade prtica. Era uma esfera metlica, pequena e oca montada
sobre um suporte de cano ligado a uma caldeira de vapor. Dois canos
em forma de L eram fixados na esfera. Quando o vapor escapava por
esses canos a esfera movimenta-se em rotao. 26 Em 1698 Thomas
Savery (1650-1715), mecnico ingls, patenteou a primeira mquina a
vapor realmente prtica, uma bomba para drenagem de gua de minas. A
mquina a vapor, para bombear gua das minas de carvo, foi inventada
em 1712 por Thomas Newcomen e aperfeioada por James Watt em 1769.
27 s presses nas suas mquinas no ultrapassavam a presso do ar:
1kg/cm2 . No final do sc. XVIII e incio do sc. XIX foram
construdas, pelo engenheiro ingls, Richard Trevithick, as primeiras
mquinas a vapor de alta presso. A primeira delas operava sob 2kg de
presso. Em 1815, um engenheiro norte-americano, Oliver Evans,
construiu, uma mquina a vapor, sob presso de 14kg/cm2 . Nos dias
atuais a presso de 70kg/cm2 considerada rotineira. pdfMachine - is
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46. 46 torno de 50.000 toneladas, e aps sete dcadas pouco
ultrapassou as 100.000 toneladas; pouco para uma fase onde a
revoluo industrial encontrava-se relativamente adiantada. Os sculos
XVIII e XIX tornaram-se pocas de grandes e numerosas invenes
tcnicas, adquirindo propores nunca vistas. No sculo XVII tivemos
uma dcada em que se registrou 102 patentes. Entre 1700 e 1759 as
patentes registradas oscilaram entre 22, na primeira dcada e 92 na
ltima. Na dcada correspondente a 1760, entretanto, houve 205
patentes registradas, aumentando na dcada seguinte para 294 e na
posterior (1780) 477 patentes, representando um fator multiplicador
quase cinco vezes maior em relao dcada do sculo XVII (102
patentes)28 . As invenes e inovaes tcnicas e industriais permearam
a histria da evoluo humana. Dentre as principais, at 1927, o sculo
XIX, foi responsvel por mais de 34% (108 invenes)29 . Foi mais ou
menos no mesmo ano de 1720 que a populao inglesa iniciou uma
expanso numrica mais significativa. Aumentou de 5,5 milhes, no
incio do sculo XVIII, para quase 18 milhes em 185130 . A barreira,
at ento, fundamentou-se nas guerras e revoltas anteriores,
constantes e longas, bem como pela imigrao para a colnia da Amrica,
que em 1701 tinha pouco menos de 300.000 habitantes e em 1790 j
possua quase 4.000.000 de americanos. A guerra 28 Informaes
constantes na obra de Reinhard Bendix.Work and Authority in
Industry (Nova York & Row, Torchbooks, 1963), p. 27, apud E. K.
Hunt; Howard J. Sherman, op. cit., p. 55. 29 Conforme tabela
elaborada pelo Secretrio Executivo do Comit Econmico Nacional
Temporrio dos EUA (no h meno especfica de que ano), constante da
obra de Maurice Dobb, A Evoluo do Capitalismo, p. 273, nota de
rodap 31. 30 Conforme dados de tabela disposta na obra Growth of
English Industry, v. III, p. 935 e citada por John Atikson Hobson,
op. cit., 1983, p. 14. pdfMachine - is a pdf writer that produces
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47. 47 dos cem anos 1337 a 1453 entre Frana e Inglaterra,
juntamente com a Peste Negra 1348 / 1349 juntas reduziram a populao
da Inglaterra de 4 milhes para 2,5 milhes de habitantes. Desse modo
temos, alm das enclosures outra fonte do aumento do proletariado: o
crescimento populacional que, conseqentemente aumenta a demanda por
bens de consumo e subsistncia. A urbanizao, por sua vez, cria novas
demandas, principalmente de servios, bem como novos problemas. Por
volta de 1789 havia na Europa duas cidades que podemos chamar de
grandes, considerando nossos padres: Londres que possua 1.000.000
de habitantes, mais ou menos; e Paris com a metade da populao.
Havia ainda cerca de 22 outras cidades com mais de 100.000
habitantes 31 . A maioria dessas localidades tinha acesso direto ao
mar Mediterrneo (bero das cidades) e / ou oceano Atlntico.
Concomitantemente acumulao de riquezas proporcionada pelo
mercantilismo (principalmente devido ao comrcio com a ndia) e ao
aumento da populao e do proletariado, as tcnicas de produo agrcola
e industrial vo se incrementando e uma indstria de natureza leve se
forma, principalmente de tecelagem. A indstria txtil foi a que mais
se aprimorou rapidamente, seja pela facilidade de obteno de
matria-prima: l (no perecvel), seja pela demanda 31 Duas na Frana,
duas na Alemanha, talvez quatro na Espanha, talvez cinco na Itlia,
duas na Rssia, e apenas uma em Portugal, na Polnia, na Holanda, na
ustria, na Irlanda, na Esccia e na Turquia europia. pdfMachine - is
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48. 48 desses produtos pelo mercado mundial. A evoluo desse
setor passou pelo tear manual at a lanadeira em 1730. A indstria de
fiao, por sua vez, enquanto utilizava a roca de fiar no fazia
frente indstria txtil com a lanadeira; aps, com o advento da mquina
de fiar em 1760, uma pessoa fiava vrios fios concomitantemente. Em
1768 a mquina de fiar incorpora a energia hidrulica e aprimora as
operaes ao incorporar a utilizao de cilindros e fusos. E por final,
em 1780, passa a utilizar a energia a vapor. O tear mecnico, embora
tenha sido inventado em 1785, por Cartwright, s foi utilizado de
maneira mais generalizada aps 1820 / 1830. A utilizao e combinao
desses aprimoramentos em escala criou novos mercados, novas idias e
novos inventos formando um crculo vicioso e virtuoso em termos de
tcnica de produo. Para Arnold Toynbee32 , quatro grandes invenes e
dois processos produtivos revolucionaram a indstria de algodo antes
de James Watt: 1 - a mquina de fiar, spinning-jenny, a qual foi
patenteada em 1770 por Hargreaves; 2 o filatrio movido a gua de
Arkwright em 1769; 3 o filatrio de Crompton, utilizado em 1779; 4 o
filatrio autnomo, de Kelly, em 1792. Nos processos cita a reduo do
carvo e a aplicao da mquina a vapor nos altos-fornos. Engels33 ,
por sua vez, faz as mesmas menes, acrescentando que as combinaes
dessas invenes foi de extrema importncia. Formam-se, ento,
organizaes simples constitudas por pequenas e mdias empresas
familiares, sem utilizao de grandes tecnologias ou inovaes, 32
Arnold Toynbee, Lectures on the Industrial Revolution of the
Einghteenth Century, [s.l:s.e.], [s.d], p. 90-91, apud Maurice
Dobb, op. cit., p. 263. 33 Ibid, mesma pgina. pdfMachine - is a pdf
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49. 49 provavelmente pela dificuldade de expanso das idias
proporcionada pela impossibilidade de transporte eficiente e rpido.
Nesse perodo no h foras dominadoras, apenas concorrncia localizada
e sem fora para conquistar o mercado como um todo. Havia espao para
todos que pudessem empreender. No entanto, h notcias de grandes
quantidades de fbricas de tecidos e fiao que empregavam de 150 a
600 trabalhadores. A demanda pelos produtos txteis ingleses no
mercado externo era considervel. Entre 1700 e 1750 o mercado
interno expandiu em torno de 7% enquanto o externo 76%. Nota-se que
nesse perodo a populao cresceu pouco mais de 18%. No perodo
compreendido entre 1750 a 1770 nova expanso de 7% para o mercado
interno e 80% para o externo, enquanto a populao cresceu 14,86%34 .
Provavelmente a exportao de produtos txteis tenha chegado aos dois
teros em 1805. Notadamente a Inglaterra priorizava as exportaes,
seja porque o lucro era maior, seja porque estimulava o transporte
martimo que s podia ser feito pelos seus navios gerando mais lucro.
Em 1685 a marinha de guerra inglesa era estimada em 100.000 to